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BRASÍLIA, 2021
HELTON AZEVEDO
BRASÍLIA, 2021
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UMA VISITA AOS PRIMEIROS TRABALHOS DE FREUD
Helton Alves Azevedo: Declaro que sou autor deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido
copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas
públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daquelas cujos dados
resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3a Cláusula, § 4o, do Contrato de Prestação de Serviços).
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1- INTRODUÇÃO
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"Assim aprendemos, para dizê-lo em termos grosseiros que é uma experiência
afetiva marcante por trás da maioria dos fenômenos da histeria, se não de todos; e
mais, essa experiência de tal ordem que torna imediatamente inteligível o sintoma
com que se relaciona, mostrando uma vez mais, por conseguinte, que o sintoma é
inequivocavelmente determinado." FREUD (2016, p. 40 volume III)
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A lógica aplicada é de que há um aumento de excitação quando ocorre o
trauma psíquico, surge então uma inclinação a diminuí-la de alguma forma. Seja por
meio de palavras ou ações. Mas quando não ocorre a descarga de energia, esse
afeto continua com sua energia contida e pronta para ser descarregada quando a
possibilidade de uma situação similar surgir, a qual pode ser um vetor de acesso de
um trauma que não encontrou uma possível saída, uma descarga de energia. Os
pacientes histéricos apresentam (FREUD, 2016, p.46 volume III), nada mais do que
impressões que não perderam seu afeto (seu poder de afetar), e cuja lembrança
permanece viva.
Interessante perceber aqui que a linguagem utilizada é física, carga,
descarga, energia, que ao mesmo tempo dão um tom de grandeza física, porém
pelo contrário, quando se fala da energia de um processo psíquico, da alma, ou
seja, a energia se torna não passível de medição, a não ser por meio da
interpretação. E nos resta como averiguação a confirmação do paciente e sua
melhora, atenuamento de seu sintoma. Apesar da tentativa de rigor, podemos
perceber um nível de subjetividade difícil de mensurar. Como um caminho que deve
ser percorrido do consciente para o inconsciente a fim de minar o sofrimento da
alma, e seria possível conhecer todos os movimentos do inconsciente, para assim
não sofrer mais? Essa lógica nos prepara para uma posição de ver a consciência,
ou seja, nossa capacidade de desvendar como o inconsciente se manifesta, como o
caminho para a realização. Teria aqui um toque com a filosofia orientais? Conhecer
a mim com a ajuda do outro, seria algo que rodeia nosso pensamento até aqui. Uma
pitada de onipotência poderia ser vista aqui, senhor de si e de todos as
manifestações do mundo, como forma de cura? Não deixo de lembrar do caso da
criança e seu carretel de linha, em uma tentativa de tomar posse do que ocorre ao
seu redor (FREUD, 2016, p.25 volume XVIII). Seria essa tendência de uma
participação ativa sempre endereçada ao sujeito? Ou, é uma solução, recorrer a
novas formas de mimetizar, controlar, representar, o trauma, em uma maneira de
lidar com o sofrimento gerado? Talvez essas duas perguntas se encontrem, nossa
maneira de lidar com a dificuldade é criar uma cena que possa dar lugar para o
afeto tão difícil de suportar, estamos ao mesmo tempo inclinados ao retorno do
vivido para que um novo cenário seja possível de comportar as dificuldades.
Quando não há forma de atuação do sistema nervoso, tendo esse sujeito
vivido um trauma, sem condições de manipular o conteúdo talvez pela quantidade
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tamanha de energia ou por falta de recursos e em que as representações que
substituiriam esse trauma encontram barreiras sociais e pela falta de interesse. O
sujeito sem saber pode recorrer a delírios histéricos (FREUD, 2016, p. 53 volume
III), os quais podem revelar as representações frequentemente rejeitadas em seu
estado influenciado pela consciência principal, tendo inibido e suprimido para o
inconsciente. Como nos delírios de freiras que ocorrem blasfêmias e representações
eróticas. O que nos sugere que o inconsciente predispõem uma relação com o
social, com a moralidade, com a possibilidade de trazer para a linguagem, ou seja, a
opção de exprimir, seja de diferentes maneiras ou não, o afeto experimentado. Sem
essa promessa de poder expressar o que nos afeta, surge uma dificuldade de lidar
com as descargas de sensações, energias internas, travamos na tentativa repetida
de expressar fora de um circuito fechado. Surge a repetição, um retorno a traços
mnêmicos, tanto de tentativa de repetir o prazer, quanto na tentativa de expressar
angústias, para que haja descarga de energia acumulada.
Algumas hipóteses são dadas para saber o porquê do conteúdo da
consciência se dividir em duas, uma percebida e outra não. Podendo resultar de um
ato voluntário do sujeito, promovido por um esforço que pode ser especificado,
porém isso acontece por meio de atingir outra intenção, e ao invés de alcançar esse
objetivo alcança a divisão da consciência, FREUD(2016, p.54 volume III). Na
histeria de defesa, um de seus pacientes, de Freud, gozavam de uma vida com boa
saúde, até que em um determinado momento se confrontou com um experiência,
um sentimento que suscitou afetos aflitivos antigos e que desejara esquecer. Pois
não conseguia resolver o contradição da representação incompatível e seu eu por
meio da atividade do pensamento.
O método de cura catártico então, consiste em passar, transformar uma
manifestação da representação incompatível que encontrou seu caminho para uma
expressão somática, em psíquica. E assim, conseguir resolver a contradição através
da atividade do pensamento que é feita pela fala, completando a descarga de
excitação do afeto que havia sido guardada. Assim como ocorre em estados
similares ao sono, onde são suspendidos as distribuições da excitação da
consciência baseada na vontade da personalidade, ou seja, o que não foi excluído
da mente do sujeito. Dando mais espaço para o que estava oculto ao paciente. Ao
perceber a existência dessa segunda instância, ou segunda consciência, ou mesmo,
o inconsciente, é difícil de ser ignorado, é um caminho sem volta.
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3 - CONCLUSÃO
O que ocorreu para que nossa consciência fosse dividida? Seria aquele velho
dilema entre quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Digamos que o que é
reprimido, suprimido para a segunda parte da consciência seja algo não aceito, não
expressável, que tem suas repressões com base no social, na cultura, com uma
influência específica para cada tempo e lugar. Ao mesmo tempo podemos dizer que
a cultura ocorre por um processo de sublimação, ou seja, quando as moções
sexuais infantis não cessam mesmo em período de não expressão, por motivos de
repressão social, encontra outro fins, originadores da cultura (FREUD, 2016, p.168
volume VII). Esse desvio das forças e metas sexuais e sua orientação para novas
metas no processo, adquire poderosos componentes para todas realizações
culturais. O próprio surgimento da cultura e sistemas sociais que de certa forma não
podem ser vistos de maneira diferente, a sublimação dos processos sexuais, geram
manifestações sociais que ao mesmo tempo carregam em si a repressão ou a não
possibilidade da pulsão sexual original, assim, o sujeito é reprimido por questões
sociais as quais ele mesmo gera. Quem viria primeiro, a sublimação ou a repressão
das moções sexuais, criativas? Entrando na questão entre a natureza ou nutrição,
quando se fala de aspectos que influenciam o sujeito. Essa questão de difícil
resposta, creio que pode apenas pairar, e temos nós a aprender a conviver com
questões sem respostas, ou tentar acomodá-las de maneira a não nos afetar de
forma destrutiva.
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