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Trabalho Psicanalítico

Formação completa em psicanálise

Apostila de teoria psicanalítica

Curso Baroni Educar


Prof. Luisa baroni

Trabalho Psicanalítico

A História do Movimento Psicanalítico

No final do século XIX, Sigmund Freud criou a psicanálise. As


descobertas feitas por ele abalaram o mundo e refletiram mudanças na ciência,
sociedade e história do pensamento humano. Quando Freud escreveu o artigo
sobre A História do Movimento Psicanalítico, em 1914, sua intenção era
mostrar à sociedade da época os postulados que faziam parte da Psicanálise.

O primeiro período do movimento psicanalítico vai de 1898 até 1902,


época em que Freud trabalhou sozinho. Foi um período fundamental para
estudo e aperfeiçoamento de teorias

O segundo período foi de 1902 a 1910. Esta foi a época de divulgação


da teoria e Freud fez um grande esforço para ter suas idéias ouvidas pela
comunidade médica conservadora da época. Apesar de rejeição por parte de
muitos, as teorias de Freud chamaram a atenção de algumas pessoas
importantes e garantiram o seu lugar dentro do espaço acadêmico. É a época
da primeira grande parceria de Freud com Joseph Breuer (1842/1925), um
médico austríaco que foi bastante importante no desenvolvimento da
psicanálise. Breuer estudava como a hipnose era capaz de acessar o
inconsciente e assim entender sintomas físicos que tinham fundo emocional,
uma vez que desapareciam no estado de transe hipnótico.

Breuer e Freud começaram a elaborar um tratamento pelo método


catártico. Esse método busca acessar os sintomas no inconsciente, entender
os traumas, emoções e memórias associadas à esses sintomas e fazer o
paciente reviver essas experiências e emoções liberando a descarga
emocional e libertando os afetos presos na lembrança.

Além de Breuer, foram importantes para Freud outros nomes


fundamentais no estudo sobre histeria, como Charcot e Chrobak, ambos
considerados por Freud como “mestres”.

Em 1897 Freud abandona a hipnose e desenvolve outro método, o da


livre associação. Freud então elabora um dos principais pontos da teoria
psicanalítica, o “Complexo de Édipo”, relacionando os sintomas não só com
traumas reais, mas como fantasias, criando assim o conceito de realidade
psíquica permeada por fantasias, às quais, por sua vez, proporcionariam a
representação ligada à vida sexual.

Freud se une com um dos seus principais discípulos, S.G. Jung, que
Freud escolheu com seu sucessor. Juntos eles ampliam a divulgação das
teorias sobre psicanálise. Depois de um tempo, Jung e Freud começam a
discordar em vários pontos da teoria e seguem estudos separados.

Além desses nomes importantes já citados ainda existem Melanie Klein,


Donald Winnicott e Jacques Lacan, que resgataram as ideias freudianas e
muitas outras embasadas em psicanalistas do calibre de Wilfried Bion,
Françoise Dolto e Juan David Nasio.

ALGUNS TIPOS DE CARÁTER ENCONTRADOS NO TRABALHO


PSICANALÍTICO

Para entender caráter, temos que compreender personalidade.


Personalidade é o resultado da combinação entre ego, id e superego e caráter
é uma característica da personalidade e, por isso, permeia o ego, id e
superego.

Freud está mais preocupado com os sintomas dos diferentes tipos de


caráter do que com a definição de cada um. Esses sintomas são as
características que pessoas com determinado caráter apresentam, em
especial, pacientes.

Os sintomas estão sujeitos a interpretação. É um lado do inconsciente


recalcado que precisa ser decifrado. Esse sintoma não é inerente à
personalidade, pelo contrario, é aquilo que foge ao controle, da compreensão e
parece estranho ao sujeito.

Já o caráter é o lado não recalcado do inconsciente e por isso não se


oferece à interpretação. Por estar ligado ao inconsciente, tem relação com o
prazer e a abdicação das imposições do princípio de realidade impostos pelo
superego. O caráter é o perfil comportamental diante das pulsões e das
relações entre princípio de prazer e realidade.

Em 1916, em um artigo intitulado Alguns tipos de caráter encontrados no


trabalho psicanalítico, Freud expõe três tipos de caráter.

Exceções

O tipo caráter “exceções” refere-se às pessoas que acham que já


sofreram muito, mais do que qualquer outra pessoa a sua volta e por isso
possuem direitos especiais, como uma recompensa pelos sofrimentos vividos.

Esse tipo apresenta uma grande resistência em renunciar às satisfações


imediatas impelidas pelo Id, pois julgam já terem aberto mão de muita coisa na
vida e agora se sentem no direito de satisfazer todos seus desejos sem
impedimento como um direito de reparação.

Ser uma exceção coloca o paciente em uma posição privilegiada em


relação aos outros, e por isso, inconscientemente, todos nós queremos ser
exceções. Por isso é normal que as pessoas valorizem seus sofrimentos e
enfatizem aquilo que já tiveram que abrir mão na vida. É uma tentativa
inconsciente de se colocar como exceção.
Consequentemente, pessoas com esse tipo de caráter podem tender a
culpar os outros por seus fracassos e não assumir responsabilidade pelos
caminhos da sua própria vida. Pois se ele sofreu, alguém o faz sofrer. A
ausência do sentimento de culpa e de responsabilidade pelos seus atos é
comum para esse perfil.

Esse é o único caráter que não vem em decorrência do complexo de


Édipo.

Fracasso pelo Êxito

Esse tipo de caráter está nas pessoas que conquistaram algo desejado,
tiveram êxito nas conquistas da vida, mas começam a desenvolver doenças
psicológicas e psicossomáticas que o impedem de usufruir de suas conquistas.

O tipo “fracasso pelo êxito” tem origem da culpa edipiana na satisfação


do desejo incestuoso (desejo pela mãe). O paciente não aceita os próprios
êxitos, se sabotando ou se impedido de usufruir o que conquistou. Esse tipo se
comporta de forma contrária ao tipo “exceção”, pois, movidos pela culpa, se
impedem de realizar seus impulsos e de obter prazer e sedem suas vontades
para o prazer do outro.

Criminosos Devido ao Sentimento de Culpa

O tipo “criminoso devido ao sentimento de culpa” vem do sentimento de


culpa anterior ao crime, então o crime se torna consequência da culpa sentida.
O crime é cometido para aplacar a culpa sentida.

Pessoas com esse caráter sentem-se em dívida com os outros, culpado


pela dor alheia e o crime vem para justificar aquele sentimento sentido. Esse
tipo de caráter também se relaciona ao complexo de Édipo, mas não só no
desejo pela mãe, mas também na culpa por querer matar o pai.
CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE

Freud lecionou da Universidade de Viena com o título de "professor


extraordinário", onde teve a chance de fazer uma ampla exposição e
divulgação de suas idéias. Muitas de suas aulas e palestras acabaram virando
livros, entre eles se destacam as Conferências introdutórias à psicanálise,
publicadas em 1916 e 1917 que se tornou um best-seller e foi traduzido para
muitas línguas. O livro tem, em três partes, a explicação de Freud sobre a
psicanálise. Nele, ele elabora sobre os fenômenos inconscientes mais comuns,
expõe sua abordagem das neuroses, apresenta a terapia psicanalítica e no que
consiste o trabalho psicanalítico.

Parapraxis, Atos Falhos ou Lapsos

Na primeira parte das Conferências Introdutórias, Freud fala sobre o ato


falho, parapraxis ou lapsos, que são “vazamentos” inconscientes de
informações omitidas. São atos cotidianos que trazem consigo fatos psíquicos
que podem ser lidos (ouvidos) e interpretados pelo terapeuta, basta seguir um
modelo interpretativo. Atos falhos são sintomas que revelam fenômenos
psíquicos mais complexos.

Freud dá especial atenção aos lapsos verbais, pois esses são


considerados os mais apropriados para a investigação psicanalítica. Ao
enunciar algo distinto do que intencionava, o que cada sujeito encontra é
perplexidade ou irritação como resposta afetiva. Esses sentimentos levam o
sujeito a questionar o que ele quis dizer.

O primeiro ponto para interpretar um ato falho é examinar as condições


na qual ele ocorre, as influencias que determinam a mudança no sentido da
informação expressada. Assim, é possível identificar a explicação para aquele
ato falho.

Depois, é necessário identificar a intenção do ato falho. As condições da


ocorrência do ato falho interferem na intenção inconsciente do enunciado.
Avaliando esses dois cenários é possível interpretar o conteúdo inconsciente
que escapa pelo ato falho.

Sonhos

Freud já havia falado sobre sonhos em 1900, mas nas Conferências


introdutórias à psicanálise. Freud retoma esse tema e traz detalhes da
construção e compreensão dos sonhos, um evento psíquico comum e
conhecido por todos, mas que é capaz de revelar muitas informações
inconscientes que aparecem como desejos distorcidos e significados
simbólicos.

Por tanto, os sonhos também podem ser interpretados dentro do


processo psicanalítico. A interpretação deve ser feita focada em um processo
analítico, relacionando idéias dos sonhos com os da vida cotidiana pelo método
da livre associação. Pois, diferente dos atos falhos, a sensação quanto aos
sonhos não é de estranheza, mas de familiaridade, por mais fantasioso que o
sonho possa ser.

LUTO E MELANCOLIA

Freud dedica boa parte dos seus estudos a compreender luto e


melancolia. Ele correlaciona os dois temas pois possuem semelhantes
manifestações, mas origens distintas. O luto é uma reação normal diante da
perda de alguém querido, já a melancolia é uma tristeza profunda e persistente
que não está atrelada á um único fato ou perda, mas no rememoramento
constante de uma dor que nunca é superada.

Luto

O luto não é uma condição patológica e sim uma reação natural à perda
de um ser amado. Não há um período certo para a superação de um luto, mas
a dor vai se tornando mais leve com o tempo e eventualmente passa. Se o luto
não passar de forma natural é porque acarretou uma patologia, a melancolia
(depressão).

Os sintomas do luto são: desânimo, desmotivação, perda de interesse


por coisas que antes gostava e apatia. É comum apresentar também perda de
apetite, crises de choro e insônia.

A perda de um ser amado gera um “vazio emocional”, uma libido que


perdeu objeto e acumula dentro de si, sem encontrar caminho de saída. Se o
luto for muito profundo pode haver perda de interesse pelo mundo externo e
pelas outras pessoas. Surtos de raiva e até alucinações podem acontecer
embora não seja comum em um luto normal.

Pessoas que já tem uma tendência neurótica podem sentir culpa pela
perda ou por algo que fizeram ou deixaram de fazer enquanto a pessoa vivia.
Outras pessoas podem culpar a terceiros e até entidades metafísicas como o
destino e a Deus.

A superação do luto é sempre longa e dolorosa e exige um enorme


gasto de energia psíquica. A resignificação do ser perdido não é linear, ou seja,
mesmo depois de passado algum tempo e a pessoa já se sentir recuperada,
ela pode ser tomada por rompantes de dor profunda e choro compulsivo. Isso
deve durar por pouco tempo, até que a pessoa recupere o progresso na
resignificação.

Em 1960, a psiquiatra Kübler-Ross estuda as fases pelas quais passaria


o luto a partir de sua experiência profissional com pacientes terminais. A
obra Sobre a morte e o morrer, publicada em 1969, analisa os estágios pelos
quais passam as pessoas no processo de terminalidade Estes são: negação e
isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Essas fases do luto são
consideradas até hoje por especialistas. Embora nem todo mundo viva todas
as fazes e nem sempre seja nessa ordem, o luto para a maior parte das
pessoas costuma ser experienciado como analisado por Kübler-Ross.
Embora não tenha uma fórmula para vivenciar ou passar pelo luto,
normalmente o luto é superado em até 2 anos após a perda. Os sintomas de
desânimo são mais fortes nas primeiras semanas logo após a perda. Porém, se
a pessoa for estimulada, ela recupera seus interesses e consegue se “distrair”
do sofrimento.

Melancolia

Hoje conhecida com depressão, a melancolia é o sentimento recorrente


de tristeza, desmotivação, desânimo e outros sintomas comuns ao luto, mas
geralmente acrescida de baixa auto-estima e auto-recriminação, características
que não aparecem no processo de luto.

A melancolia pode ter origem em um luto não superado, mas também


em diversas outras causas internas e externas além de traumas, como causas
psíquicas. A melancolia pode estar relacionada a fatores ambientais,
alimentação, fatores fisiológicos e genéticos.

Na melancolia, a libido não encontra um objeto e acaba voltando para o


próprio ego e o identifica com o objeto perdido. Assim acontece a “perda de si”,
um sentimento de profundo vazio interior que não está naquilo perdido, mas na
própria perda do eu.

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