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“O que é a visão antropológica da Logoterapia?

Para Frankl, nós não somos seres constituídos somente das dimensões psíquica e
corpórea, mas sim, também, da espiritual. E essa tridimensionalidade, Frankl vai
chamá-la de Ontologia Dimensional. Talvez você esteja se perguntando: ‘o que é
Ontologia Dimensional?’ E é quando Frankl se refere a estas três dimensões da
existência humana: psíquica, corpórea e espiritual. Porque na visão dele, o que
faltava nas demais escolas psicológicas, era o olhar para esta dimensão espiritual do
homem. Que não tem nada a ver com religiosidade.
A dimensão espiritual do ser humano, é a dimensão do sentido da vida, da liberdade
de escolha, da responsabilidade pelas escolhas feitas. Então, essa é o diferencial da
Logoterapia. E é essa diferença que explica o porquê os problemas mente-corpo
normalmente não são solucionados. Porque de acordo com Frankl, a singularidade do
ser humano não pode ser encontrada considerando somente suas faces psicológica
(mente) ou biológica (corpo). As respostas para as aflições do indivíduo, também
devem ser procuradas em sua dimensão noológica, dimensão esta, que é parte
intrínseca do homem. A dimensão noológica é a dimensão espiritual, a qual citei
anteriormente. Sendo assim, a ontologia dimensional foi a saída encontrada por
Frankl para ilustrar aquilo que ele compreendeu, como sendo: As três categorias
ontológicas fundamentais para entender o ser humano.
Portanto, uma visão completa, considera:
• Corpo;
• Psiquismo;
• E espírito.
Complemento dizendo, que essas três dimensões não são isoladas, elas estão
conectadas entre si, uma influenciando na outra. E sabe o por que digo isso? Porque
por mais que a dimensão espiritual seja uma característica própria do ser humano, ela
não é a única dimensão do ser do homem. Nós somos uma totalidade de: corpóreo-
psíquico-espiritual. Em outras palavras, é somente nessa tripla unidade de corpo,
alma e espírito, que o humano no homem é acolhido e que sua humanidade é
respeitada. Essa é a visão antropológica de Viktor Frankl, sua visão integral do ser
humano. Quando falamos dos bios, estamos falando do corpo, psíquico, estamos
falando das emoções e quando falamos do espiritual, é aquilo que está além dessas
duas coisas. Estamos falando da dimensão do sentido da vida, da dimensão do homem
tentando se conectar com algo fora, ou seja, além dele mesmo. Da dimensão da
liberdade de escolha.
Características do vazio existencial
Veja se não são características típicas da atual sociedade:
Prazer pelo prazer;
Vício em consumir;
Vício em entorpecentes;
Individualismo;
Falta de Sentido;
Ausência de valores morais.
Pois bem… esses são os resultados da filosofia que reina na sociedade atual: o
Niilismo.
(Não. Esse e-mail não é uma aula de sociologia e filosofia, mas você verá como o
Niilismo instalado na sociedade atual causa o vazio existencial)
Caso não saiba, o Niilismo é uma filosofia que enxerga que a vida não tem sentido.
Para o niilismo a vida é desprovida de moral. A vida é desprovida de um sentido
maior. Em suma, a vida é desprovida de valores universais, os quais devem regê-las.
E algumas das consequências da sociedade Niilista, é exatamente essa que você leu no
início. Mas, descobertas da Psicologia provam que a ideia Niilista é falsa.
É comum que as abordagens da Psicologia abordam apenas a Dimensão Bio (Corpo
físico) e Psico (Mental Emocional) do ser-humano. Mas, Viktor Frankl, criador da
Logoterapia, identificou uma terceira dimensão do ser humano: a Dimensão Noética,
que está além das dimensões bio-psico. Justamente nessa terceira dimensão, estão os
valores humanos, significados, sentidos, questionamentos existenciais mais profundos
e também a liberdade e responsabilidade humana.
Então nós, seres-humanos, estamos condicionados a buscar sentido porque é uma das
nossas necessidades. E o Niilismo, sufoca essa necessidade de buscar um sentido,
ignorar nossos valores e também esquecer de nossa liberdade como indivíduo e
responsabilidade pelas nossas ações. Por esse motivo, o Vazio Existencial está
levando multidões de pessoas para a clínica e a tendência é aumentar mais e mais o
número de casos.
Afinal, a pandemia intensificou ainda mais o vazio existencial, seja pelo isolamento
social que ela provocou ou pelo fato de as pessoas passaram a reavaliar seus valores.
O que as levou a se questionarem mais sobre o sentido do seu trabalho, das suas
relações e de qualquer outra área da vida.
Afinal, a Logoterapia foi criada nos campos de concentração?
Para responder essa pergunta, precisamos voltar um pouco mais na história de Viktor
Frankl antes dos campos.
Frankl nasceu em 1905 na cidade de Viena que, na época, era o Berço da Psicologia.
Desde muito cedo, demonstrava talento e interesse pela Psicologia.
Prova disso é que seu trabalho de conclusão do ensino médio (veja bem, de ensino
médio!) teve como tema “Sobre a Psicologia do Pensamento Filosófico”.
Foi mais ou menos nessa época, por volta de 1923, que ele começou a se
corresponder com o já famoso psicanalista Sigmund Freud.
Nesse momento, Frankl recebe um grande incentivo:
Freud não apenas gosta do que lê, como encoraja o jovem que continue a escrever, ao
aceitar um artigo de Frankl para ser publicado em sua famosa revista de Psicanálise.
Mas, o interesse de Frankl pela psicanálise mudou com o passar do tempo, e ele
começou a aderir a psicologia individual do Adler.
Frankl começou a frequentar as aulas de Adler e passou a fazer parte do grupo de
estudos sobre a Psicologia Individual.
Em paralelo, ele começou a ter suas próprias ideias a respeito da Psicologia, o que
levou ao rompimento entre Frankl e Adler.
Viktor Frankl Continuou estudando medicina e desenvolvendo suas próprias ideias.
Nessa época, ele trabalhou em um hospital, numa ala de pacientes que tentavam o
suicídio.
Lá, ele atendeu 3.000 mulheres e, naqueles anos, esqueceu o que aprendeu com
Freud e Adler, e passou a aprender com seus próprios pacientes.
E, em 1926, usou pela primeira vez o termo "Logoterapia".
Ao decorrer dos anos, Frankl foi estudando e publicando artigos a respeito da
Logoterapia, sentido da vida e vazio existencial.
Até que em 1937 abriu o seu consultório, se casou, estava começando a ganhar certo
reconhecimento, mas essa realidade durou até 1942.
Neste ano, Frankl perdeu seus pais, seu emprego, sua esposa, seus irmãos;
Infelizmente, assim como ocorreu com muitos judeus, Frankl foi preso e levado para
os campos de concentração, onde ficou por 3 anos experimentando o inferno na
Terra.
Segundo Frankl, nos campos ele colocou em prática as suas ideias.
Lá, ele comprovou que suas ideias estavam certas, e que sua teoria se mostrava eficaz
em ajudar o indivíduo a encontrar sentido, mesmo em meio à total privação e
sofrimento.
Em 1945 Frankl foi libertado;
Quando chegou em Viena, teve que recomeçar sua vida novamente.
Sem seu emprego, sua esposa, seus pais, seus amigos e irmãos. Em meio à uma cidade
destruída pela guerra.
Ao longo de sua vida, Viktor Frankl:
Foi professor na universidade de Viena e manteve esse cargo por 25 anos.
Escreveu 30 livros, sendo um deles o livro "Em Busca de Sentido" que tornou-se um
best seller com mais de 16 milhões de exemplares vendidos.
Viajou ao redor do mundo e lecionou em mais de 209 universidades.
Ganhou 29 títulos de doutor honoris causa.
E faleceu em 1997, sendo reconhecido mundialmente como um grande psicólogo. E
aqui no Brasil, com sua teoria em ascensão, Frankl está ganhando o reconhecimento
que merece.
A Logoterapia não foi criada nos campos de concentração.
Ela foi validada e testada nos campos de Concentração por Frankl, o que mostra a
praticidade e eficácia dessa teoria em ajudar o indivíduo, mesmo em meio ao total
sofrimento, encontrar sentido.
As 4 formas em que o vazio existencial se manifesta na sociedade e no indivíduo e
que, durante esse tempo todo, estava diante dos seus olhos e talvez não tenha
percebido.
1 - Discurso de Ódio e Cultura do Cancelamento.
Principalmente com essa polarização política, discurso de ódio e cultura do
cancelamento ocorrem o tempo todo na internet.
Ninguém escuta ninguém. Só a opinião de um importa. O indivíduo é incapaz de
dialogar contra suas próprias crenças.
Conhece alguém assim?
Viktor Frankl diz, que uma das formas em que o vazio existencial se manifesta no
homem é através do fanatismo, onde o indivíduo desconhece a personalidade do
outro que não pensa igual a ele.
2 - Maria vai com as outras
Quem não conhece um ou uma "Maria vai com as outras"?
"Se vocês forem eu vou, se não forem não vou". "Mas fulano também estava fazendo
isso…"
Viktor Frankl chama isso de coletivismo.
Segundo Frankl, emitir juízos coletivistas serve, para fugir à responsabilidade de uma
opinião pessoal.
A maioria das pessoas hoje em dia não tem opiniões, as opiniões é que as têm.
Quando o indivíduo tem essa ideia de tribo, ele abre mão da sua liberdade.
Sendo essa uma outra forma comum do vazio se manifestar no indivíduo.
3 - "Oh, Raios. Oh, Céus"

Você conhece alguém que diz:


"Meus pais me mandaram fazer essa faculdade que eu não queria… não tinha o que
fazer".
"Nasci sem dinheiro, não há o que eu possa fazer para ganhar dinheiro".
"O Brasil está em crise, todo mundo desempregado. Não tem nada que eu possa
fazer".
Essa maneira fatalista de enxergar a vida, é uma das outras maneiras que o indivíduo
manifesta o vazio existencial. Segundo Frankl, o fatalismo é uma crença de um
destino inevitável.
O indivíduo não enxerga possibilidade de mudança, pois acha que o destino já está
determinado.

4 - "Deixa a vida me levar, vida leva eu"

Sabe aquela pessoa que não quer nada da vida? Apenas quer viver o hoje?
Ir às festas, encher a cara. Ganhar dinheiro e logo em seguida gastar tudo. Sempre
com a ideia de: "A vida é curta. Vamos aproveitar".
Essa seria também uma das formas de manifestação do vazio existencial no
indivíduo.
Viktor Frankl chama isso de atitude existencial provisória.
Segundo Frankl, a origem desse pensamento se deve às circunstâncias peculiares em
que viveu o homem no tempo da guerra, quando ele não sabia se estaria vivo no dia
seguinte.
Mergulhado nesse clima de transitoriedade evidente, o homem abandona-se ao fluxo
dos acontecimentos, e quando quer captar algo verdadeiro, percebe que já passou.
O homem que se mantém em uma atitude provisória não julga necessário tomar o
destino em suas mãos, enquanto o homem afetado pelo fatalismo, não julga isso
possível.
O homem da atitude provisória diz: Não vale a pena. Vê a vida uma transitoriedade.

O fatalista diz: Não depende de mim. Vê a vida uma fatalidade.


Essas são as 4 formas em que o vazio existencial pode se manifestar no indivíduo
contemporâneo.
Resumindo, elas são:
Fanatismo
Pensamento Coletivista
Fatalismo
Atitude Existencial Provisória

1) LIVRO: A TERAPIA DAS NEUROSES (RESUMO)

Neuroses psicogênicas
A psicogênese de neuroses autênticas não significa de maneira nenhuma, como
tantas vezes se imagina, que a neurose em questão seja condicionada por um trauma
psíquico ou por um conflito psíquico. O fato de um trauma anímico, ou seja, uma
experiência grave, ter sobre alguém um efeito danoso e prejudicial a longo prazo,
depende da pessoa, de toda a estrutura de seu caráter, e não da vivência em si pela
qual ela teve de passar.
O fundador da psicologia individual, Alfred Adler, costumava dizer: o homem é que
faz as experiências. Com isso ele queria dizer que depende da pessoa o fato de ela se
deixar - e de que maneira - influenciar pelo ambiente.
Nem todos os conflitos têm de ser patogênicos e levar a doenças psíquicas; é sabido
há muito que situações de extrema necessidade e crise, via de regra, são
acompanhadas por uma diminuição de doenças neuróticas; vemos com frequência
também, na vida dos indivíduos, que uma carga no sentido de uma exigência chega a
melhorar a saúde mental. De outro lado, também se mostra que exatamente as
situações de alívio - ou seja, de liberação de uma carga psicológica longa e intensa -
são perigosas do ponto de vista da higiene mental. Pensemos em situações como a
saída da prisão.
Não foram poucas as pessoas que só depois da libertação vivenciaram sua verdadeira
crise mental. No tempo em que ficaram encarceradas, foi essa pressão interna e
externa que as obrigou e as tornou aptas a dar o melhor de si, tanto psíquica quanto
moralmente. Ernst Kretschmer aponta, com razão, que a constituição decide se um
complexo se tornará patogênico ou não, que a constituição não raro "cria seus
próprios conflitos" e, como Wolfgang Kretschmer conseguiu provar, devido "à
influência potencializadora das interações constitucionais dentro da família".
Segundo Kurt Schneider, as neuroses sempre crescem sobre personalidades
psicopáticas. Resumindo: nem mesmo as neuroses autênticas, quer dizer, psicogê -
nicas, são totalmente psicogênicas.
Tudo isso deveria fazer com que, também no que diz respeito a essa categoria de
doenças - não psicossomáticas nem funcionais ou reativas, mas neuróticas no sentido
literal da palavra, ou seja, psicogênicas. [...]. Pois também onde estamos dispostos a
estipular uma base psicopática-constitucional, mesmo em relação a doenças
"psicogênicas" e, nesse sentido, a neuroses, isso não quer dizer que não exista sempre
um espaço suficiente para nossa intervenção psicoterapêutica. Exatamente quando
colocamos diante do paciente o cerne fatídico de uma constituição psicopática - por
exemplo, da psicopatia anancástica - como tal, como fatídico, poderemos corrigir a
postura errada em relação a esse destino e alcançar um êxito terapêutico ótimo,
reduzindo o sofrimento a um mínimo inevitável. Sabemos que a luta vã do paciente
contra os sintomas neurótico-obsessivos apenas torna esses mesmos sintomas mais
torturantes e, às vezes, até os estabelece pela primeira vez. Sob certas circunstâncias,
é possível transmitir ao paciente, por meio da logoterapia, aquele apoio espiritual
especialmente forte que a pessoa sã necessita menos, mas que é imprescindível
àquela insegura psiquicamente.
[...]. Se imaginarmos o campo de uma fenomenologia das neuroses psicogênicas
circunscrito numa elipse, medo e obsessão representariam ao mesmo tempo os dois
focos dessa elipse. Dois fenômenos clínicos primários.
E isso não acontece por acaso, pois o medo e a obsessão correspondem às duas
possibilidades básicas da existência humana, o "medo" e a "culpa” (o sentimento de
culpa tem grande importância na psicologia da neurose obsessiva). As condições
ontológicas para essas duas possibilidades, ou seja, aquilo que dá origem ao medo e à
culpa, são a liberdade e a responsabilidade do ser humano. Apenas um ser livre pode
ter medo (Kierkegaard: "O medo é a vertigem da liberdade"), e somente um ser que é
responsável pode ser culpado. Disso resulta que um ser que foi agraciado com a
liberdade e a responsabilidade foi também condenado ao medo e à culpa.
Evidentemente o medo e a culpa também têm seu papel nas psicoses. Mas (por
exemplo, no caso de depressões endógenas) enquanto no presente os sentimentos de
culpa são predominantes diante de antigos sentimentos de medo (veja p. 69 ss.),
podemos dizer que uma geração que não fez o que deveria tem culpa; uma geração
que não sabe o que fazer tem medo.
Neuroses noogênicas
Por fim, queremos mostrar que temos de seguir também o existir humano (e, dessa
maneira, também o homem doente) para além de ambas as dimensões do somático e
do psíquico até uma terceira dimensão, a do espiritual. Mas não somente isso: essa
última é a verdadeira dimensão do existir humano, o que o psicologismo não quer
aceitar. Podemos encontrar neuroses enraizadas também nessa dimensão - desse
modo, falamos de neuroses noogênicas (surgidas do espiritual). Pois também pode ter
uma doença neurótica um ser humano que está sob a tensão de um conflito de
consciência ou sob a pressão de um problema espiritual, assim como um ser humano
numa crise existencial.
Há crises de amadurecimento existenciais que transcorrem sob o quadro clínico de
uma neurose, sem ser uma neurose no sentido estrito da palavra, ou seja, no sentido
de uma doença psicogênica. Também é fácil entender que um ser humano que está
sob a pressão de um problema espiritual ou sob a tensão de um conflito de
consciência, pode adoecer por causa de uma sintomatologia vegetativa quanto
qualquer outro neurótico.
[...]. Não nos equivocaremos ao supor que atrás dessa "necessidade psicoterapêutica”
esteja a necessidade metafísica, ou seja, a necessidade do ser humano de perguntar-se
sobre o sentido de sua existência. No século XIX, Kierkegaard já dizia: "Os sacerdotes
já não são mais pastores de almas; agora são os médicos”. O médico religioso é o que
menos pode fugir dessa exigência. Justamente ele se absteria de uma alegria farisaica
caso o paciente não encontrasse apoio no sacerdote. Seria também hipocrisia se ele,
tendo em vista o sofrimento de um não crente, sentisse uma alegria maliciosa e
pensasse: se ele fosse crente, consolar-se-ia com o sacerdote. O médico que presta
cura médica de almas encontra-se numa situação compulsória, pois, "goste disso ou
não, o médico é obrigado a atuar como médico de almas em situações de necessidade
vital que não têm relação com a doença”. "São os pacientes que nos confrontam com
a tarefa de assumir o papel de médico de almas na própria psicoterapia” (Gustav
Bally), e foi o "nosso tempo" que "impeliu o médico a um papel de assumir mais e
mais tarefas que antes eram do âmbito do sacerdote e do filósofo" (Karl Jaspers).
Também para Alphons Maeder "esse deslocamento foi imposto pela própria
situação”: e "a psicoterapia com muita frequência é obrigada a desembocar na cura de
almas" (W. Schulte).
Em relação à "migração da humanidade ocidental do pastor de almas ao médico”: o
psiquiatra pode errar o diagnóstico diferencial entre o que é verdadeiramente doente
(como uma neurose) e o que é apenas humano (como uma crise existencial).

Neuroses iatrogênicas
As neuroses iatrogênicas formam um subgrupo das neuroses reativas. Chamamos de
neuroses iatrogênicas aqueles estados mórbidos (principalmente neuróticos) nos
quais se comprova, posteriormente, ter sido o médico - la-rpóc; (iatros) - seu fator
patogênico. Essa patogênese desencadeada pelo médico se apoia essencialmente na
ansiedade antecipatória; pelo menos esse é o caso quando a ansiedade antecipatória
fixa o sintoma correspondente. Há pouco citamos F. D. Roosevelt, que, mesmo num
contexto totalmente diferente, também vale aqui: não devemos temer nada tanto
quanto o temor em si. Além disso, nada nos deveria atemorizar mais do que aqueles
médicos que conseguem, a partir de afirmações imprudentes ou irresponsáveis para
os pacientes, a proeza de serem chamados, com razão, de iatrogênicos.
Se nos voltarmos à questão da possível profilaxia das neuroses iatrogênicas, podemos
dizer que ela deve começar com a anamnese. O principal nesse momento é deixar o
paciente falar e, dessa maneira, proporcionar-lhe um alívio que já deriva da própria
expressão: ela permite que o paciente objetive o sintoma e, ao mesmo tempo, se
distancie dele.
Tão precisa quanto a anamnese deve ser também a diagnose, o status do paciente: o
exame deve ser ostensivamente detalhado - sua precisão deve ficar patente. De
maneira alguma podemos banalizar as queixas do paciente ou considerá-las apenas
como nervosas, imaginárias, inventadas. Acreditamos que tais expressões displicentes
se devem à irritação do médico que, com um exame cansativo, que acaba chegando a
um resultado negativo, descarrega essa irritação sobre o paciente, que é liberado e
talvez até tachado de histérico. Mas todos os pacientes consideram que histeria é
simulação e, por isso, algo vergonhoso. No caso de queixas que não se baseiam em
causas orgânicas comprovadas, temos de dizer mais ou menos o seguinte ao paciente:
"Você não está imaginando nada - o que está sentindo é verdadeiro. Não quero lhe
tirar a razão; por sorte, porém, não há nenhum acometimento orgânico, o estado é
desagradável, mas não é perigoso, e isso é melhor do que se fosse o contrário”: Dessa
maneira é mais fácil tirar sua atenção do sintoma subjetivo, ao passo que, se
banalizamos tudo, criamos uma postura de protesto por parte do paciente. Muitas
vezes a possível cura está muito menos na eliminação do sintoma em si do que na
eliminação dessa atenção - pois exatamente no se concentrar (iatrogenicamente) nela
está o primeiro fator patogênico.

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