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Título Original

The Rich Man and Lazarus


Por John Bunyan

Copyright © 2021 Editora O Estandarte de Cristo
Francisco Morato, SP, Brasil

1ª edição em português: 2021

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
Editora O Estandarte de Cristo.
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da
fonte.

Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas nesta
tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Tradução: William Teixeira & Camila Rebeca
Edição e Capa: William Teixeira

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Sumário
1
Os Ímpios Erguerão os Olhos no Inferno

2
Os Ímpios Serão Atormentados no Inferno

3
Tarde Demais para Arrependimento e Misericórdia

4
O Rico Deseja a Companhia e o Consolo de Lázaro

5
A Terrível Lembrança dos Condenados

6
Os Ímpios Serão Atormentados no Inferno para
Sempre

7
Os Ímpios Serão Atormentados pela Condenação de
seus Próximos
1
Os Ímpios Erguerão os Olhos no Inferno
___________________

“E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao


longe Abraão, e Lázaro no seu seio.” (Lucas 16:23)
____________________

Nesse versículo, o nosso Senhor mostra, em parte, o que acontece


e acontecerá aos réprobos depois desta vida. Ele diz: “E no inferno,
ergueu os olhos”, isto é, os ímpios, depois de partirem dessa vida,
erguem os olhos no inferno. A partir dessas palavras, podemos
observar o seguinte:
1. Há um inferno para as almas serem atormentadas quando
esta vida termina. Observe que depois de morto e estando já no
inferno, ele ergue os olhos.
2. Todos os ímpios, que vivem e morrem em seus pecados,
logo após morrerem vão para o inferno. “E morreu também o rico, e
foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos” (Lucas 16:22-23).
3. Alguns estão tão adormecidos e seguros em seus pecados,
que raramente se dão conta de para onde estão indo até chegarem
ao inferno. Eu entendo isso a partir destas palavras: “E no inferno,
ergueu os olhos”. Antes ele estava dormindo, mas o inferno o fez
abrir os olhos.
Como disse anteriormente, é evidente que existe um inferno
para as almas e os corpos serem atormentados depois de partirem
desta vida, como fica claro pelo fato de o Senhor Jesus Cristo, que
não pode mentir, ter dito que depois do pecador estar morto e
sepultado, “no inferno, ergueu os olhos”. Se alguém objetar que
inferno aqui significa a sepultura, eu nego que isso seja verdade:
1. Porque na sepultura o corpo não é sensível à aflição ou ao
conforto, porém naquele inferno para onde vão os espíritos dos
condenados, eles são sensíveis ao tormento e desejam escapar dali
para receber algum alívio. Que eles são sensíveis às necessidades
mais básicas, pode ser visto claramente nesta parábola, pois lemos:
“Manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me
refresque a língua” (Lucas 16:24).
2. Não se trata da sepultura, mas de algum outro lugar, pois
enquanto os corpos jazem nas sepulturas, eles não são capazes de
erguer os olhos para ver a condição gloriosa dos filhos de Deus,
como fazem as almas dos condenados. “No inferno, ergueu os
olhos”.
3. Não pode ser a sepultura, pois então seríamos levados a
concluir que a alma foi enterrada com o corpo, o que não condiz
com o estado aqui mencionado, pois é dito: “O homem rico morreu”,
ou seja, a alma dele foi separada do seu corpo e “no inferno, ergueu
os olhos”.
Se for objetado que não há inferno senão nesta vida, também
nego que isso seja verdade. Pois depois de estar morto e sepultado,
“no inferno, ergueu os olhos”. Permita-me dizer, ó alma: Não importa
quem você seja, se não estiver salvo no Senhor Jesus Cristo e não
se agarrar ao que ele fez e está fazendo pelos pecadores, você irá
para esse inferno após o fim desta vida e permanecerá ali para todo
o sempre.
E você, que é ímpio e que zomba dos servos do Senhor
quando eles falam sobre os tormentos do inferno, descobrirá que ao
partir desta vida, esse mesmo inferno saíra ao seu encontro e, com
os outros condenados, o saudará de modo que lhe encherá de tanta
tristeza que você jamais se esquecerá por toda a eternidade o
momento em que essa passagem da Escritura se cumprir na sua
alma:
O inferno desde o profundo se turbou por ti, para te sair ao
encontro na tua vinda; despertou por ti os mortos, e todos os
chefes da terra, e fez levantar dos seus tronos a todos os reis
das nações. Estes todos [os que estão no inferno]
responderão, e te dirão: Tu também adoeceste como nós, e
foste semelhante a nós (Isaías 14:9-10).
Algumas vezes, minha mente sido tomada por pensamentos
acerca de ir para o inferno e por considerar a eternidade da ruína
daqueles que vão para lá. Isso tem me impulsionado a buscar o
Senhor Jesus Cristo para que ele me livre daquele lugar e me
guarde de pensar levianamente sobre o inferno e de zombar dele.
“E no inferno, ergueu os olhos”; a nossa segunda observação é
a seguinte: Todos aqueles que vivem e morrem nos seus pecados,
assim que deixam essa esta vida, são lançados no inferno. Isto
também é demonstrado pelas palavras desta parábola, quando
Cristo diz: “O homem rico também morreu, e foi sepultado; e no
inferno, ergueu os olhos”. Após a morte, devemos ir para o céu ou
para o inferno. E assim como Cristo disse ao ladrão na cruz: “hoje
estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43), o Diabo também pode
dizer para a sua alma: “Amanhã estarás comigo no inferno”. Veja em
que situação miserável está aquele que morre em um estado não
regenerado. Ele sai de uma vida de dores para um inferno de dores
ainda maiores, das garras da morte para os tormentos eternos do
inferno.
“E no inferno, ergue os olhos”. Meu amigo, você deveria se
preocupar com a sua alma e perceber a loucura daqueles que
negligenciam a salvação dela. O que aproveitará à sua alma
desfrutar de prazer nesta vida, se depois tiver que experimentar
tormentos no inferno? É melhor renunciar aos seus pecados,
prazeres e companheiros ímpios ou qualquer coisa que lhe agrade
do que ter sua alma e corpo lançados no inferno. Amigo, não
despreze o nosso Senhor Jesus Cristo para que você não vá para o
inferno.
Considere o seguinte, não será de partir o coração estar no seu
leito de morte e — em vez de ter o conforto de uma vida bem gasta
e os méritos do Senhor Jesus Cristo junto com o conforto do seu
glorioso Espírito — olhar para trás e ver que você desperdiçou sua
vida, contemplar seus pecados diante de você enquanto a sua
consciência lhe acusa, os pensamentos sobre Deus o aterrorizam, a
morte lhe aperta com suas garras impiedosas, o Diabo está pronto
para lutar pela sua alma, o inferno preparado para o engolir e a
iminência de uma eternidade de miséria e tormento sem qualquer
alívio. Pois a morte, para uma alma não convertida, não vem
sozinha, mas acompanhada de tais males que a fariam tremer, caso
estivesse sensível a eles. Eu suplico que considere o que está
escrito em Apocalipse 6:8: “E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o
que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o
seguia”. Observe que, para os ímpios, a morte não vem sozinha, o
inferno a segue. Que consoladores miseráveis! Que união terrível —
a morte e o inferno vêm ao seu encontro. A morte se apodera do
corpo e o separa da alma. O inferno engole, ou antes esmaga, a sua
alma entre os seus trituradores eternos. Então a sua alegria e os
seus prazeres pecaminosos chegarão ao fim. Bem-aventurados são
todos aqueles que, pela misericórdia de Jesus Cristo recebida por
meio da fé, escapam desses companheiros assassinos da alma.
“E no inferno, ergueu os olhos”; a nossa terceira observação a
partir dessas palavras é a seguinte: Alguns estão dormindo um sono
tão profundo que mal se dão conta de onde estão até chegarem ao
inferno. Eu entendo isso a partir destas palavras: “No inferno,
ergueu os olhos”. Note que foi somente no inferno que ele ergueu os
olhos. Alguns compreendem por essas palavras que foi ali que ele
caiu em si e começou a considerar consigo mesmo a respeito do
estado em que se encontrava e do que foi privado — o que confirma
o que eu já disse. É somente ali que eles se conscientizam acerca
de quem realmente são e que se tornam sensíveis acerca do lugar
onde estão.
É certo que existem alguns homens que dificilmente saberão
onde estão até erguerem os olhos no inferno. Essas pessoas são
tão conscientes como alguém que está desmaiado. Um homem
desmaia em uma sala e então o levam para outra sala, mas ele não
sabe onde está até que recupere a consciência e abra os olhos.
Verdadeiramente, temos motivos para temer que esse seja o caso
de muitas almas miseráveis. Elas são tão insensatas, endurecidas e
cauterizadas em sua consciência que ignoram completamente o seu
estado. E, quando a morte chega, ela os surpreende como um
desmaio, especialmente se morrerem subitamente. Então eles são
sepultados e mal sabem onde estão até que abrem os olhos no
inferno. Esse é o caso daqueles que morrem no auge de sua vida,
enquanto desfrutam de paz e tranquilidade. Esse tipo de pessoas é
mencionado no Salmo 73:4-5: “Porque não há apertos na sua morte,
mas firme está a sua força. Não se acham em trabalhos como
outros homens, nem são afligidos como outros homens”. E também
em Jó 21:13: “Na prosperidade gastam os seus dias, e num
momento”, observe, num momento antes de se conscientizarem,
“descem à sepultura”.
De fato, isso é bem conhecido pela experiência. Por vezes,
quando vamos visitar os que que estão doentes nas cidades e
lugares onde vivemos, quão desprovidos de sensibilidade e quão
cauterizadas em sua consciência eles estão. Não são sensíveis nem
ao céu nem ao inferno, nem ao pecado nem a um salvador. Se
falarmos da condição e do estado das suas almas, os
encontraremos tão ignorantes como se não tivessem uma alma na
qual pensar. Outros, embora estejam prestes a morrer, no entanto,
continuam a se ocupar dos seus assuntos temporais como se
tivessem certeza de que permanecerão sempre vivos para desfrutar
deste mundo para sempre.
Além disso, há algumas pessoas que, quando lhes falamos
sobre o estado das suas almas, embora não tenham experimentado
um novo nascimento mais do que um animal, falarão com tanta
confiança acerca de seu estado eterno e do bem-estar das suas
almas como se tivessem experimentado o novo nascimento de
modo tão excelente como qualquer homem ou mulher no mundo, e
pudessem dizer com eles: “Terei paz”, quando, na verdade, o
próprio Senhor sabe que eles desconhecem o novo nascimento, a
natureza e a operação da fé e o testemunho do Espírito de Cristo,
como se essas coisas não existissem em qualquer dos santos de
Deus no mundo. Muitos deles se encontram nesse estado terrível
momentos antes de sua partida. Embora essas pobres almas
possam vir a público com a aparência de um cordeiro, no entanto,
se pudéssemos segui-las por um pouco e ouvir o que falam quando
estão longe das pessoas, temeríamos ouvi-las falar como se fossem
um leão a rugir no inferno. Eles estão em estado pior do que o de
Corá e seus companheiros cuja terra sob seus pés se fendeu e os
tragou subitamente.
O Diabo tira grande vantagem dos corações dos ignorantes por
meio disso. Ele sugere que pelo fato de o falecido ter partido tão
calmamente, isso é um sinal certo de que ele foi para o descanso e
para a bem-aventurança. Quando, infelizmente, é de temer que a
razão pela qual eles partiram tão tranquilamente tenha sido antes
porque estavam insensíveis e endurecidos em sua consciência,
mortos em seus delitos e pecados. Pois se tivessem tido algum
despertamento em seu leito de morte, como alguns já tiveram,
teriam se alarmado a ponto de fazer toda a cidade saber de sua
enfermidade. Mas porque suas mentes ignorantes estavam
cauterizadas, eles partiram silenciosamente. Portanto, o mundo lhes
ensinou que a “a vida foi feita para se viver”, mas não se importou
de lhes ensinar como viver e como morrer, e nem poderia. Por
conseguinte, o orgulho os envolve como uma corrente. Mas deixem
olhar para si mesmos e verem que, se não tiverem parte com o
Senhor Jesus agora enquanto vivem neste mundo, eles irão, quer
morram em paz ou em angústia, para o mesmo inferno no qual o
rico ergueu os olhos. Meus amigos, se vocês soubessem da
condição miserável em que estão aqueles que saem deste mundo
sem estarem unidos ao Filho de Deus pela fé, isso os faria bater no
peito e clamar na amargura de suas almas: “Homens e irmãos, que
devemos fazer para sermos salvos?”, e não somente isso, mas
vocês não descansariam até que encontrassem descanso para as
suas almas no Senhor Jesus Cristo.
2
Os Ímpios Serão Atormentados no
Inferno
“E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao
longe Abraão, e Lázaro no seu seio”. Isso resume o que eu falei
sobre a primeira parte do versículo, “no inferno, ergueu os olhos”.
De fato, embora eu tenha observado muitas coisas sobre essa
primeira parte, ainda muitas outras poderiam ser observadas. Mas
há somente mais uma coisa que eu quero mencionar: Parece-me
que o Senhor Jesus Cristo usou essa parábola para ensinar que os
homens não estão naturalmente dispostos a ver ou se
conscientizarem do seu triste estado. Digo “naturalmen-te” ou “por
natureza”, pois embora eles sejam voluntariamente ignorantes,
contudo, no inferno, eles ergueram os olhos, ou seja, ali verão e
compreenderão a sua condição miserável e, por isso, a estas
palavras, “no inferno levantará os olhos”, ele acrescenta, “estando
em tormentos”. É como como se tivesse dito:
Embora uma vez seus olhos estivessem fechados, embora
tenham sido voluntariamente ignorantes, no entanto, quando
partem para o inferno, eles serão tão miseravelmente
atormentados que serão forçados a abrir os olhos.
Enquanto os homens viverem neste mundo e estiverem num
estado natural, pensarão muito bem de si mesmos e de sua
condição. Eles concluirão que são cristãos, que são filhos de Abraão
e que o estado deles é tão bom quanto possível. Concluirão que têm
fé e uma boa esperança bem como os que são participantes do
Espírito Santo e do Senhor Jesus Cristo. Mas quando caírem no
inferno e ali erguerem os olhos, e se darem conta de que suas
almas estão em tormentos, que a sua morada é um poço sem
fundo, que suas companhias são milhares de almas condenadas e
inumeráveis demônios, e que a ardente vingança de Deus está
sendo violentamente derramada sobre suas cabeças, então eles
serão despertados do sono em que estiveram durante toda a sua
vida. Então, quando isso acontecer, eles ergueram os olhos no
inferno.
Além disso, podemos observar a partir destas palavras, “e no
inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos”, que os ímpios se
tornarão conscientes de seus pecados nos tormentos do inferno.
Tremo ao pensar nos tormentos do inferno em que caem os
condenados. Que tormentos indescritíveis! Que tormentos
intermináveis! Agora, enquanto a alma de vocês pode se livrar
daquele lugar de tormentos intoleráveis para onde os condenados
vão, mostrarei brevemente, em primeiro lugar, quais são os
tormentos do inferno a partir dos nomes pelos quais são descritos e,
em segundo lugar, o triste estado em que se encontrarão se forem
para lá.
Em primeiro lugar, os nomes que descrevem os tormentos do
inferno: Eles são descritos como verme que nunca morre (Marcos
9); fornalha ardente (Malaquias 4:1); fornalha de fogo (Mateus
13:40, 42, 50). Eles também são descritos como o poço sem fundo,
o fogo inextinguível, fogo e enxofre, fogo infernal, o lago de fogo,
fogo devorador, fogo eterno, chamas eternas e torrente de fogo.
1. Uma parte dos seus tormentos será esta: Vocês estarão
plenamente conscientes da vida que desperdiçaram do início ao fim.
Embora aqui possam pecar hoje e esquecer amanhã, ali vocês
serão levados a lembrar de como pecaram contra Deus em tal
momento e lugar, por tal coisa e com tal pessoa — e isso será um
inferno para vocês. “Eu te arguirei, e as porei por ordem diante dos
teus olhos” (Salmos 50:21).
2. A culpa de todos os seus pecados pesará sobre as suas
almas, não só a culpa de um ou dois, mas a culpa de todos eles
justamente. E ali jazerão em suas almas como se as suas barrigas
estivessem cheias de piche em chamas. Aqui os homens, por
vezes, podem pensar em seus pecados com prazer, mas ali, ao
pensarem neles, sentirão um tormento indescritível — entendo que
é esse o fogo a que Cristo se refere, o qual nunca se apagará. Por
vezes, mesmo enquanto os homens vivem aqui, como a culpa de
um pecado esmaga suas almas! Essa culpa leva o homem a uma
situação tão desesperadora que ele se enfada até de sua vida, de
modo que não encontra descanso em casa e nem fora dela, quer
dormindo ou acordado. Sei de alguns que foram tão atormentados
com a culpa de um único pensamento pecaminoso que chegaram a
se enforcar. Mas então quando você entrar no inferno e tiver não
apenas um ou dois ou cem pecados produzindo culpa em sua alma
e corpo, mas todos os pecados que você cometeu desde que
nasceu gritarão na sua consciência de uma só vez, isso será como
um ferro incandescente em seu peito, o que isso continuará ali por
toda a eternidade — que terrível miséria!
3. Então será trazido à sua lembrança o desprezo que você
nutriu pelo Evangelho de Cristo. Você meditará no quanto Cristo
esteve disposto a vir ao mundo para salvar os pecadores e como
você o rejeitou por tão pouco. Isso é claramente afirmado em Isaías
28:16, onde o Senhor Jesus Cristo é descrito como o fundamento da
salvação. Ali é dito acerca dos que rejeitam o Evangelho que
“quando passar o dilúvio do açoite” pela terra (que eu entendo ser
no fim do mundo), “vos arrebatará, porque manhã após manhã
passará, de dia e de noite”, isto é, continuamente, sem intervalo, “e
será que somente o ouvir tal notícia causará grande turbação”
(Isaías 28:19), isto é, um tormento ou uma grande parte das dores
do inferno será saber que as boas novas vieram ao mundo para os
pecadores, através da morte de Cristo. E você verá que isso é o que
o Espírito verdadeiramente tinha em mente se compará-lo com
Isaías 53:1, onde ele fala de homens que viraram as costas para as
ofertas da graça de Deus e do Evangelho. Ele diz: “Quem deu
crédito à nossa pregação [ou ao Evangelho que pregamos]?”.
Ora, será um grande tormento para os ímpios quando eles
entenderem que a bondade de Deus é tão grande que ele até
mesmo enviou o seu Filho para morrer pelos pecadores e, ainda
assim, eles foram tão tolos a ponto de odiá-lo sem causa e tão
insensatos que abriram mão do céu, de Cristo, da vida eterna e da
glória por preferirem a companhia de bêbados. Perderam suas
almas por um pouco de esporte, por amor a este mundo, por uma
prostituta e por aquilo que é mais vão do que a vaidade e o vazio.
Isso será um tormento muito grande para vocês.
4. Outra parte de seu tormento será esta: Vocês verão seus
amigos, seus conhecidos, seus vizinhos. Ou talvez vejam seu pai,
sua mãe, sua esposa, seu marido, seus filhos, seu irmão, sua irmã
com outros no reino dos céus e vocês mesmos expulsos: “Haverá
pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaque, Jacó e
todos os profetas no reino de Deus, e vós mesmos sereis expulsos”
(Lucas 13:28), ele acrescenta, “virão do oriente e do ocidente”, isto
é, aqueles que você conheceu durante toda a sua vida. E eles se
sentarão com seus amigos e vizinhos, sua esposa e seu filhos no
reino dos céus, e vocês, por seus pecados e desobediência, serão
excluídos, aliás, expulsos. Ah, que tormento terrível!
5. Ali a única companhia que terão será de almas condenadas
e de inumeráveis demônios. Enquanto vocês estiverem neste
mundo, o simples pensamento de que o Diabo pode aparecer diante
de vocês os leva a tremerem e arrepiarem-se. Mas o que vocês
farão quando não apenas imaginarem o aparecimento dos
demônios, mas estiverem acompanhados deles do inferno, e ambos
gritando e berrando de uma maneira tão horrível que fará vocês
desejarem correr furiosos e desvairados devido às angústias e
tormentos?
6. Com o propósito de lhes atormentar, o poderoso Deus do
céu derramará sua grande ira e vingança sobre vocês segundo a
força de seu glorioso poder. Como eu disse antes, ele não
derramará gotas, mas um dilúvio, a ira dele virá e trovejará sobre
seus corpos e almas tão copiosamente que vocês serão
atormentados além do que se pode mensurar. É isso que a Escritura
diz a respeito dos ímpios, “por castigo, padecerão eterna perdição,
longe da face do Senhor e da glória do seu poder” (2
Tessalonicenses 1:9)”, enquanto isso os santos estarão admirando a
bondade e a glória divinas.
Além disso, esse tormento não terá nenhum intervalo. Vocês
não terão nenhum alívio. Vocês serão atormentados a cada hora,
dia e noite, pois o verme nunca morre, mas rói continuamente e o
fogo nunca se extinguirá. Vocês estarão nesta condição para
sempre. E isso é tão triste quanto todo o resto, pois se um homem
tivesse todos os seus pecados colocados sobre ele, a companhia de
demônios e toda a ira que o grande Deus do céu pode infligir
apenas por um tempo, mesmo que durante um período de dez mil
anos, haveria algum motivo para consolo e esperança de libertação.
Mas aqui está a sua miséria: vocês deverão permanecer neste
estado para sempre. Quando você olhar e ver ao redor de si uma
incontável companhia de demônios gritando, este pensamento
aterrorizante invadirá sua mente — este é o meu castigo para
sempre. Você deverá permanecer no inferno por há tantos milhares
de anos quanto há estrelas no firmamento, gotas no oceano ou
areia na praia e, contudo, você jamais sairá de lá. Como as palavras
“para sempre” atormentarão a sua alma!
Amigos, apenas fazer esses breves comentários sobre os
tormentos do inferno fez que eu me sentisse mal! Não sou capaz de
comunicar o que minha mente concebe acerca dos tormentos do
inferno, entretanto, suplico que aceitem a misericórdia de Deus
através de nosso Senhor Jesus Cristo para que não venham a
experimentar o que não posso expressar com minha língua, e então
cheguem a dizer: “Estamos atormentados nesta chama” (Lucas
16:24).
3
Tarde Demais para Arrependimento e
Misericórdia
“E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda
a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a
língua, porque estou atormentado nesta chama” (Lucas 16:24). O
versículo 22 exemplifica a partida dos piedosos e dos ímpios desta
vida, pois ele diz: “o mendigo morreu” e “morreu também o rico”. O
versículo 23 mostra o lugar para onde vai tanto do ímpio como do
piedoso após a morte — um estava no seio de Abraão, na glória; o
outro estava no inferno. Agora o versículo 24 nos revela o
arrependimento tardio dos ímpios, quando eles são lançados no
inferno.
“E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim”. A
partir da palavra “clamando” podemos observar: (1.) A mudança
pela qual passarão os ímpios quando forem lançados no inferno. O
rico é retratado “clamando”, é como se ele tivesse passado todo o
tempo em que viveu em prosperidade na terra ao lado de seus
companheiros rindo, brincando, zombando, bebendo, escarnecendo,
ofendendo, amaldiçoando, praguejando e perseguindo os piedosos.
Mas agora o caso é diferente. O cenário mudou completamente.
Seu orgulho, força e coragem foram totalmente humilhados e ele
“clamou”. Nem sempre o riso dos ímpios passa tão rápido, mas com
certeza terminará em clamores. O triunfo dos ímpios é passageiro.
Considerem que vocês deverão passar por uma mudança aqui ou
no inferno. Se vocês não se tornarem novas criaturas, pessoas
regeneradas e como criancinhas antes de partirem deste mundo,
vocês sofrerão uma terrível mudança, pois, quando entrarem no
inferno, vocês vão clamar. Mas os bêbados que cantarolam e se
alegram no banco da velha casa não pensam nessa verdade, será
que ela os faria mudar seu semblante e clamar: “O que farei? Para
onde irei quando eu morrer?”. Porém, enquanto o Diabo, por um
lado, trabalha para fazer com que as almas miseráveis sigam em
seus pecados, por outro, também trabalha para manter os
pensamentos acerca da condenação eterna longe das mentes
delas. E, de fato, essas duas coisas estão quase tão ligadas entre si
que o Diabo não pode fazer a alma continuar a ter prazer no pecado
a menos que consiga manter o pensamento acerca da terrível
condenação eterna longe da mente dela. Mas eles devem saber que
não será assim para sempre, pois se, quando partirem, caírem na
destruição eterna, eles se tornarão tão sensíveis aos seus pecados
e à punição que lhes é devida que isso os fará clamar.
“E clamando”. Que mudança haverá entre os ímpios quando
eles partirem deste mundo. Talvez quinze dias ou um mês antes de
sua partida, eles fossem levianos, ousados, rudes, bêbados,
menosprezassem o povo de Deus, zombassem da piedade e se
deleitassem no pecado, seguissem o mundo, buscassem riquezas,
vivessem em deleites e fossem contados com os mais corajosos.
Mas então eles clamarão quando forem lançados no inferno. Um
pouco antes, eles estavam se enfeitando, alimentando as suas
luxúrias, seguindo suas prostitutas, roubando seus vizinhos,
contando mentiras, se entretendo e praticando esportes para passar
o tempo. Mas agora eles estão no inferno e clamam. Talvez ouviram
alguns bons sermões no ano que passou e foram convidados a
receber o céu, foram informados de que seus pecados seriam
perdoados se buscassem refúgio em Jesus, mas recusaram essas
ofertas e desprezaram a graça que um dia foi proposta, mas agora
estão no inferno e clamam. Eles tiveram tanto tempo que não
sabiam como gastá-lo sem se envolver em caça, prostituições,
danças e jogos; gastaram horas, e até mesmo dias e semanas,
satisfazendo as concupiscências da carne. Mas quando partem,
erguem os olhos no inferno e, ao considerarem sua condição
miserável e irrecuperável, clamam.
Em que condição você cairá quando partir deste mundo! Se
morrer sem se converter e sem ter nascido de novo, seria melhor ter
sido estrangulado assim que nasceu. Seria melhor ter sido
despedaçado. Seria melhor que você fosse um cão, um sapo, uma
serpente ou qualquer criatura, do que morrer não convertido. E isso
será verdade quando você erguer os seus olhos no inferno e clamar
ao pensar que quando o juízo final terminar e outros forem levados
para o reino eterno da glória, então você voltará para aquela
masmorra de escuridão de onde saiu para comparecer perante o
terrível tribunal, e ali será atormentado enquanto a eternidade durar,
sem o menor intervalo ou consolo.
Agora, ímpio, miserável, arrogante, orgulhoso, blasfemo e
mentiroso, isso deve ser desprezado e ridicularizado? Diga-me: não
é melhor deixar o pecado e se unir a Jesus Cristo, apesar da
reprovação que você enfrentará? Buscar o bem de sua alma não é
melhor do que desfrutar de alguns prazeres, satisfazer seus
desejos, recusar-se a ser justificado por Jesus e num momento
descer ao inferno e clamar? Considere os tempos e não adie a
misericórdia e a graça de nosso Senhor Jesus Cristo para que você
não abra os olhos apenas quando estiver no inferno clamando em
angústia de espírito!
“E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e
manda a Lázaro…”. Estas palavras não só evidenciam a condição
lamentável dos condenados e o seu triste gemido e lamento sob a
sua angústia de espírito, mas também evidenciam, como eu já
disse, o seu arrependimento demasiadamente tardio e também que,
se pudessem, de boa vontade gostariam de ser libertados da
miséria eterna em que se afundaram por causa dos seus pecados.
Essas palavras indicam o desejo que os condenados têm de ser
libertados daqueles tormentos em que agora se encontram.
Ele diz: “E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de
mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e
me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”.
Estas palavras “pai Abraão” podem ser difíceis de ser entendidas. É
possível que alguns entendam que elas se referem a Abraão e que
aqueles, ou aquele, que aqui clamam sejam os judeus. Outros
compreendem que essas palavras revelam o clamor que os
condenados dirigem Deus ou a Jesus Cristo seu Filho, o que penso
ser possível pois é o mesmo clamor proferido pelos ímpios em
outras passagens da Escritura: “Então começareis a dizer: Temos
comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas
ruas” e “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em
teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos
muitas maravilhas?” (Lucas 13:26; Mateus 7:22). Esses são os
clamores que fizeram no momento em que foram rejeitados. Eles
também clamaram: “Senhor, Senhor, abre-nos” (Lucas 13:25). E
Jesus rejeita todos esses ímpios, assim como faz nessa parábola.
Mas, independentemente de quem for este Abraão, as
seguintes verdades podem ser observadas: 1) Os condenados, os
quais se encontram em um estado irrecuperável, buscarão ou
desejarão a libertação da ira em que se encontram e permanecerão
por toda a eternidade. 2) Eles oram, se é que posso dizer assim,
sinceramente para que sejam libertados do seu estado miserável.
Estas duas coisas são claras a partir dessas palavras, pois ele não
apenas disse: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim”, mas clamou e
disse: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim”. Disso, inferimos uma
terceira observação: Existe um tempo em que os homens, mesmo
que clamem e orem, não receberão misericórdia da parte de Deus,
assim como aconteceu com esse homem.
Algumas pessoas estão tão iludidas pelo Diabo a ponto de
pensarem que Deus é tão misericordioso que concederá qualquer
coisa que pedirmos em oração. Elas pensam que tudo está
disponível para elas e que poderão obter qualquer coisa enquanto
estiverem aqui neste mundo porque são ignorantes a respeito da
verdadeira natureza da misericórdia de Deus e por desconhecerem
o modo como ele se torna propício aos pecadores. Em sua grande
ignorância, eles pensam que se apenas murmurarem alguma
fórmula de oração, embora não saibam o que dizem nem o que
pedem, ainda assim, Deus se agradará deles e do que fazem.
Amigos, eu lhes peço que se preocupem consigo mesmos e
busquem com sinceridade o Espírito de Cristo, para que ele os
ajude a lutar e orar, e também os capacite a se apegarem a Cristo a
fim de que as suas almas sejam salvas e não chegue o momento
em que, embora clamem, orem e desejem ter se apegado ao
Senhor Jesus, sejam condenados!
Assim, você pode ver que embora Deus esteja disposto a
salvar os pecadores em algum momento, esse tempo não dura para
sempre. Aquele agora que rejeita a Jesus Cristo em seu coração
será rejeitado por ele no futuro, e mesmo quando clamar e orar por
misericórdia, não a receberá. Deus determinou um tempo para se
encontrar com aqueles que não o buscam agora. Daqui em diante,
eles têm um tempo limitado para se arrependerem da sua loucura e
para deixarem de se enganar enquanto viram as costas para o
Senhor Jesus Cristo.
O Senhor diz: “Também de minha parte eu me rirei na vossa
perdição e zombarei, em vindo o vosso temor” (Provérbios 1:26).
Isso deveria nos admoestar a aproveitar o tempo enquanto ele é
concedido, para que não nos arrependamos da nossa incredulidade
e rebelião quando formos privados da misericórdia. Ah, amigos, o
tempo é precioso, e o nosso tempo para ouvir um sermão é valioso.
Tenho pensado na seguinte situação: Imagine se o Senhor enviasse
dois ou três dos seus servos, ministros do Evangelho, aos
condenados no inferno com uma comissão:
Vão ao inferno e preguem a minha graça aos que estão lá.
Que o sermão de vocês tenha a duração de uma hora;
proclamem os méritos do nascimento, justiça, morte,
ressurreição, ascensão e intercessão de meu Filho. Falem a
todos que todo o meu amor está em Cristo e que eu lhes
ofereço esse amor completamente, digam que mais uma vez
ofereço os meios da reconciliação.
Aqueles que agora rangem os dentes, e não possuem qualquer
esperança, saltariam de alegria diante da oferta da misericórdia.
Quem dera aqueles que conseguem passar dias, semanas e anos
rejeitando o Filho de Deus, se alegrassem agora com a bondade
dessa misericórdia!
“Pai”, ele disse, “tem misericórdia de mim”. Também podemos
observar, a partir dessas palavras, que a misericórdia seria bem-
vinda quando as almas estão debaixo do julgamento. Agora mesmo
essa alma está nas chamas do inferno para ser atormentada
debaixo da ira de Deus. Agora, tal homem está com os demônios e
os espíritos condenados e sente a vingança de Deus. “Agora, agora,
tem misericórdia de mim”. Aqui vocês podem ver que a misericórdia
é estimada por aqueles que estão no inferno. Eles ficariam muito
felizes, se pudessem obtê-la.
4
O Rico Deseja a Companhia e o Consolo
de Lázaro
“Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que
molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque
estou atormentado nesta chama”. Essas palavras revelam não
apenas que os ímpios desejam misericórdia, mas quais são as
misericórdias que essas criaturas miseráveis ficariam felizes de
receber: (1.) O rico desejou a companhia de Lázaro: “Pai Abraão,
tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro”. Lázaro era amado por
Deus e odiado por ele, portanto, (2.) observe que aqueles santos
que, enquanto viveram, foram desprezados pelos mundanos, após a
morte, esses mesmos mundanos ficariam contentes se pudessem
estar na companhia deles. “Envia Lázaro agora. Embora tenha
havido um tempo em que eu não gostava dele, agora, por favor,
permita-me ter um pouco da companhia dele”. Embora o mundo
despreze a companhia dos filhos de Deus, chegará o momento em
que eles desejarão estar, mesmo que por pouco tempo, na presença
deles. Observe que chegará o dia em que os santos que agora são
desprezados se alegrarão, pois serão consolados.
Se for possível, envie Lázaro. Aquele que eu desprezei mais
do que os meus cães, aquele a quem eu não tolerava entrar
em minha casa, mas apenas permitia deitar-se à minha porta
— mande-o vir até mim. Agora Lázaro será bem-vindo, eu
desejo receber algum conforto dele.
Mas o desejo do rico não será realizado. Por isso, vocês
podem ver, ó perseguidores dos santos, que chegará o momento
em que eles vos desprezarão tanto quanto vocês sempre os
desprezaram. Vocês falaram muitas palavras duras e mentiras
contra eles, perseguiram e lhes causaram males, mas, quando
estiverem em sua maior necessidade, eles não terão piedade de
vocês. Os justos se regozijarão quando virem a vingança de Deus
sobre vocês.
“E manda a Lázaro”. Naquele tempo, os santos serão
reconhecidos como santos. Agora, eles são considerados como se
pertencesse à seita de Himeneu e Fileto, mas, então, eles serão
vistos como os Lázaros de Deus, os filhos queridos do Pai. Embora
no presente momento os santos de Deus não recebam o tratamento
apropriado, pois são vistos como mendigos, humilhados, pobres e
desprezíveis entre o povo, no entanto, chegará o tempo em que
vocês os reconhecerão de modo diferente e desejarão estar na
companhia deles para receber alguma bondade da parte deles.
“Manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me
refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”. É
assim que as almas que permanecem nos seus pecados clamarão
em meio à amargura dos seus espíritos, quando estiveram
experimentando aflições terríveis e atormentados em suas
consciências ininterruptamente.
“Que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a
língua”. É como se o rico dissesse:
Que aquele a quem eu desprezei e não considerei, aquele
para quem eu fechei a porta da minha casa e que comia com
os meus cães — mande-o que molhe na água a ponta do seu
dedo e me refresque a língua.
Estas palavras, “que molhe na água a ponta do seu dedo e me
refresque a língua” denotam que ele desejaria receber até mesmo o
menor gesto de amizade ou favor: “Agora eu ficaria feliz se
recebesse a menor misericórdia e conforto, mesmo que fosse
apenas uma gota de água fria na ponta do seu dedo”. Poderíamos
pensar que isso foi um pedido bem pequeno, uma gentileza
insignificante. Uma gota de água — o que é isso? Tome um balde
cheio, se você quiser. Entretanto, observe, aos condenados no
inferno não é concedida sequer uma gota de água que molha a
ponta de um dedo. Aqueles que morrem sem estarem unidos a
Cristo serão atormentados enquanto a eternidade durar, e não terão
o menor refrigério, não poderão sequer engolir a sua saliva e muito
menos uma gota de água fria. Ah, que essas coisas comovam os
seus corações e os levem a buscar descanso para as suas almas
antes que seja tarde — antes que o sol do Evangelho se ponha
sobre vocês.
Considerem a miséria dos ímpios e evitem os seus vícios, que
os privam das ternas misericórdias, para que não participem da
mesma porção que eles e clamem na amargura das suas almas:
“Dê-me uma gota de água para refrescar a minha língua, porque
estou atormentado nesta chama”. De fato, a razão pela qual os
mundanos perdidos não desejam ardentemente a misericórdia é, em
parte, porque não consideram tão seriamente o tormento em que
certamente cairão, se morrerem sem Cristo. Se as pobres almas
considerassem a ira que lhes é justamente devida por causa dos
seus pecados contra Deus, elas recorreriam apressadamente a ele,
por meio de Cristo, em busca de misericórdia muito mais do que o
fazem. Então, devemos levá-las a dizer: “Busquemos a Cristo hoje,
antes que venhamos a cair em tal aflição”.
Mas porque é dito, “que molhe na água a ponta do seu dedo e
me refresque a língua”? Porque os vários membros do corpo têm a
sua participação na culpa do pecado e, logo, eles serão punidos de
acordo com isso. Portanto, quando Cristo admoesta seus discípulos
a não se afastarem dele e para não temerem ninguém exceto Deus,
ele diz: “Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar
no inferno… Temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno
a alma e o corpo” (Lucas 12:5; Mateus 10:28). Não apenas o
membro que se envolveu diretamente com a prática do pecado é
que será lançado no inferno, mas todo o corpo — as mãos, os pés,
os olhos, os ouvidos e a língua. Estou convencido de que embora
agora isso possa ser julgado como algo carnal por alguns, no
entanto, isso finalmente se revelará ser verdade para o aumento da
miséria daqueles que serão forçados a se submeter àquilo que Deus
lhes infligirá, segundo seu julgamento justo. Então eles clamarão:
“Dê-me uma gota que refresque o castigo pelas maldições,
maledicências, mentiras e zombarias que proferi, algum alívio para o
ardor da minha língua soberba, lisonjeira, ameaçadora e hipócrita”.
Agora os homens podem usar suas línguas para falarem o que
quiserem. Eles podem até dizer: “Com a nossa língua
prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é senhor sobre nós?”
(Salmos 12:4). Mas então seus pensamentos e palavras mudarão
completamente, eles dirão: “Dê-me algum alívio para a minha língua
enganosa!”. Frequentemente, fico estarrecido ao ver como alguns
homens são descuidados com suas línguas. Com certeza, eles
pensam que não serão responsabilizados pelas ofensas que
praticaram por meio delas. Se apenas pensassem que serão
obrigados a prestar contas àquele que julgará os vivos e os mortos,
certamente seriam mais cuidadosos e vigilantes com relação às
suas línguas.
“A língua”, diz Tiago, “é um mal que não se pode refrear; está
cheia de peçonha mortal… inflama o curso da natureza, e é
inflamada pelo inferno” (3:8, 6). Quanto mal a língua é capaz de
causar em tão pouco tempo? O quanto ela pode agredir e ferir?
Quão frequentemente, como diz Tiago, ela “amaldiçoa o homem”?
Quantas vezes a língua dá vazão àquele veneno infernal que está
no coração, o qual provoca a desonra de Deus, a dor do próximo e a
ruína total da própria alma? E vocês pensam que o Senhor ficará
indiferente e permitirá a malícia de suas línguas sem jamais chamá-
los à uma prestação de contas? Isso não acontecerá, o Senhor não
se calará para sempre, mas os repreenderá e exporá os pecados de
vocês diante dos seus olhos.
Ah, pecador, você e sua língua, juntamente com o restante dos
seus membros, serão atormentados por pecarem! E embora isso
seja considerado insignificante agora, creio que chegará o tempo
em que muitas pobres almas lamentarão o dia em que usaram as
suas línguas assim. Alguém dirá: “Como eu descuidei da minha
língua! Seria melhor eu ter calado do que falado desse e daquele
modo. Ah, quem me dera ter nascido sem língua! Minha língua!
Minha língua! Preciso de um pouco de água para refrescar língua,
pois estou atormentado nestas chamas para as quais a minha
língua, juntamente com o restante dos meus membros, me
trouxeram devidos aos pecados que cometeram!”.
Essas pobres almas agora são capazes de falar qualquer coisa
visando qualquer benefício, por menor que seja. Que tristeza haverá
naquele dia em que elas serão punidas pelos pecados que
cometeram através de suas línguas enquanto estiveram neste
mundo! Então, se amam as suas almas, tenham cuidado como as
suas línguas, para que não se lancem ao inferno devido aos
pecados dela de tal modo que jamais sairão dali por toda a
eternidade, pois vocês serão condenados pelas suas palavras, se
não tiverem cuidado de suas línguas. “Mas eu vos digo que de toda
a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia
do juízo” (Mateus 12:36).
5
A Terrível Lembrança dos Condenados
“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus
bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é
consolado e tu atormentado” (Lucas 16:25). Essas palavras são a
resposta ao clamor dos condenados. Anteriormente demonstrei
quais são os desejos que eles têm depois que partirem deste
mundo. Aqui está a resposta: “Filho, lembra-te”. A resposta indica
que em vez de receberem qualquer alívio ou consolo, eles serão
ainda mais atormentados por se lembrarem continuamente da sua
antiga vida desperdiçada enquanto estiveram no mundo.
“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os
teus bens em tua vida”, é como se dissesse:
Agora você está ciente do que significa perder a sua alma.
Agora você sabe o que é adiar o arrependimento. Agora
entende que enganou a si mesmo e que gastou seu tempo
em busca de coisas passageiras, terrenas, e que devia ter
buscado a Jesus Cristo como a segurança da sua alma. E
agora, pela sua angústia de espírito e pelas dores do inferno,
deseja desfrutar daquilo que desprezou no passado. Mas,
infelizmente, você estava enganado e agora está aqui
completamente frustrado.
O seu clamor não servirá de nada agora. Ele já não é mais
aceitável. Esse não é o momento para responder aos
desejos dos réprobos malditos. Se tivesse clamado com
sinceridade enquanto a graça era oferecida, você teria sido
atendido, mas foi descuidado e transformou a paciência e a
bondade de Deus em desgraça. Não foi dito a você que
aqueles que não deram ouvidos ao Senhor quando ele
chamava não serão ouvidos quando clamarem a ele? Ele rirá
da sua calamidade e zombará quando o seu temor chegar.
Então, em vez de esperar a menor gota de misericórdia e favor,
você se lembrará de como gastou aqueles dias que Deus lhe
permitiu viver. Lembrará que durante a sua vida você se comportou
como um rebelde contra o Senhor, que desprezou a Palavra e as
ordenanças dele e também o bem da sua própria alma. Por isso,
agora, em vez de esperar qualquer alívio, você é forçado a se
lembrar dos seus caminhos imundos, o que aumentará a sua
perturbação e confusão eternas.
“Lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida”,
aqueles que perdem sua alma, enquanto adiam seu arrependimento
e vivem em seus pecados, em vez de receberem o menor conforto
quando chegam ao inferno, terão sempre fresca em sua mente a
sua vida desperdiçada. Enquanto viverem aqui, eles podem pecar e
esquecer disso. Mas quando partirem, terão seus pecados sempre
diante deles. A capacidade da memória deles será notavelmente
aumentada e eles visualizarão muito clara e continuamente todas as
obras pecaminosas que praticaram enquanto estiveram no mundo.
“Filho, lembra-te”, disse Abraão. E então ele lembrará como nasceu
e viveu no pecado.
Lembre-se que muitas vezes o Evangelho foi pregado a você e
agora ele está removido por aquele que sustenta o Evangelho.
Lembre-se de que por amor aos seus pecados e luxúrias você
desprezou as ofertas do Evangelho de paz. Lembre-se de que a
razão pela qual perdeu a sua alma foi porque não se apegou à livre
graça e à bondade de um Jesus Cristo amoroso e de coração
disposto. Lembre-se de quão perto você esteve de se converter em
alguns momentos. Mas você estava sempre tão disposto a ir para as
farras, quando os bêbados o chamaram, a aproveitar os prazeres
que tinha oportunidade de desfrutar e a se preocupar com os
cuidados deste mundo, que essas coisas foram como espinhos que
sufocaram algumas convicções que vinham ao seu coração.
Lembre-se de como você estava disposto a se contentar com a
esperança dos hipócritas e como você nutria pensamentos sobre as
coisas de Deus, enquanto ignorava o poder e a vida delas. Lembre-
se de como você, ao ser admoestado a se converter, adiou a
conversão e o arrependimento.
Lembre-se de como dissimulou em tal momento, mentiu em
outro, enganou o seu próximo em determinada circunstância.
Lembre-se do tempo, lugar e acompanhado de quem você zombou,
escarneceu, desprezou, provocou, odiou e perseguiu o povo de
Deus. Lembre-se de que enquanto outros se uniam no temor do
Senhor para o buscarem, você era encontrado na companhia dos
vaidosos para pecar contra ele. Enquanto os santos oravam, você
os amaldiçoava; enquanto eles bendiziam o nome de Deus, você
falava mal dos santos de Deus.
Então, você terá uma vívida lembrança de todos os seus
pensamentos, palavras e ações pecaminosos — desde o primeiro
ao último deles — que cometeu em toda a sua vida! Então
descobrirá que é verdade aquilo que está escrito em Deuteronômio
28:65-67:
E nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta
de teu pé terá repouso; porquanto o Senhor ali te dará
coração agitado, e desfalecimento de olhos, e desmaio da
alma. E a tua vida, como em suspenso, estará diante de ti; e
estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria
vida. Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a noite! E à
tarde dirás: ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo de
teu coração, que sentirás, e pelo que verás com os teus
olhos.
Você não encontrará coisas que aumentarão mais a sua
desgraça do que as verdades da Escritura manifestas diante de si,
pois, de fato, não há língua capaz de expressar o horror, o terror, o
tormento e a eterna miséria a que essas pobres almas se
submeterão sem o menor descanso. Uma grande parte disso virá da
lembrança clara, completa e contínua dos seus pecados. Por isso,
estas palavras são muito solenes: “Filho, lembra-te de que
recebeste os teus bens em tua vida”.
Os ímpios se lembrarão ou terão em memória o quanto
desperdiçaram a sua vida: “Lembra-te de que recebeste os teus
bens em tua vida”. Podemos entender a palavra “bens”
simplesmente como as coisas boas deste mundo, que em si
mesmas são e podem ser chamadas de boas, ou então elas
denotam as coisas desta vida: todos os prazeres, deleites, ganhos e
vaidades, que os mundanos ignorantes reputam como as melhores
coisas e se alegram muito com elas. “E direi a minha alma: Alma,
tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe e folga” (Lucas 12:19).
Deus, segundo o seu glorioso poder e sabedoria, fará com que
as pobres criaturas se lembrem claramente da sua vida mal vivida.
Ele dirá: “Lembrem-se que as vidas de vocês foram assim e assim,
e que vocês se comportaram de tal e tal maneira”. Se os pecadores
pudessem escolher, manteriam os seus pecados e transgressões
completamente foram de sua lembrança, como evidentemente eles
buscam fazer enquanto vivem neste mundo, pois não suportam ter
sequer um pensamento sério acerca da vida pecaminosa que vivem.
Eles buscam evitar o máximo possível pensar que haverá um dia de
prestação de contas em que deverão receber a recompensa que
seus pecados merecem. Mas ali serão obrigados a se lembrar e a
pensar continuamente nos seus atos ímpios. Portanto, é dito que
quando o nosso Senhor Jesus Cristo vier para julgar, será para
convencer o mundo ímpio dos seus atos perversos e malignos,
observe, para os convencer. Agora, eles não reconhecem seus
pecados voluntariamente, mas então serão levados a fazer
reconhecê-los abertamente, pois aqueles que morrem sem Cristo
serão obrigados a ver, reconhecer e confessar a sua culpa. Quando
erguerem os olhos no inferno e se lembrarem das suas
transgressões, Deus será uma testemunha rápida contra eles e dirá:
“Lembrem-se do que vocês fizeram durante as suas vidas”. Amigo,
se nestes dias de luz você não se lembrar dos dias das trevas, da
morte, do inferno e do julgamento, então, quando os dias das trevas,
da morte, do inferno e do julgamento chegarem, você se lembrará
dos dias do Evangelho e de como o desprezou para sua própria
destruição e miséria eterna (Isso é indicado no capítulo 25 de
Mateus).
“Lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida”. O
grande Deus, em vez de dar aos ímpios qualquer alívio, antes
agravará os tormentos deles ao lhes dizer em que eles devem
pensar. Ele dirá:
Lembrem-se almas perdidas, que em suas vidas vocês
tiveram alegria, paz, confortos, deleites, facilidades, riqueza e
saúde. Lembrem-se que já tiveram o seu céu, a sua
felicidade e os seus bens enquanto viveram.
Que estado miserável! Vocês estarão em uma condição
realmente triste, quando virem que já passou o tempo em que
tiveram seus bens, suas melhores coisas e aquilo que lhes
agradava — isso é evidenciado a partir destas palavras: “Lembra-te
de que recebeste os teus bens em tua vida” ou “todas as coisas
boas nas quais você se alegrava”.
Devemos notar que há ainda outra verdade mais terrível do
que a que acaba de ser observada: Há muitas pessoas miseráveis
que desfrutam de todos os bens, facilidades e confortos desta vida,
enquanto estão neste mundo. Os bens dos ímpios em breve
chegarão ao fim e não durarão para além desta vida ou da vida
deles. Esta passagem das Escrituras não foi escrita em vão:
“Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela…”,[1]
quando espinhos são usados como lenha, a chama produzida por
eles cresce rapidamente, emite um pouco de calor durante algum
tempo, mas, logo, em vez de um calor, não encontraremos nada
mais do que algumas cinzas mortas, e em vez de um fogo ardente,
nada mais do que um cheiro de fumaça.
Chegará o momento em que os ímpios desejarão bens
superiores, quando virem que coisa vaidosa e miserável é ter
recebido os seus bens neste mundo. É verdade, enquanto estão do
lado de fora do inferno, eles pensam que não há nada que possa
ser comparado com as riquezas, honras e prazeres deste mundo,
eles dizem: “Quem nos mostrará qualquer bem que seja comparável
aos prazeres, ganhos e glória deste mundo?”. Mas, então, verão
que há outra coisa que é melhor e mais valiosa do que dez mil
mundos. Amigos, vocês não prantearão e ficarão perturbados,
perplexos e atormentados quando virem que perderam o céu por um
pouco dos prazeres e bens desta vida? Certamente que vocês
chorarão e ficarão extremamente perplexos quando se derem conta
de que abriram mão da bem-aventurança do céu por preferirem um
mundo cheio de montes de esterco.
Ah, o que vocês fizeram? Vocês deveriam ter considerado
consigo mesmos: “Devo me contentar com a minha porção neste
mundo e abrir mão do céu por causa dela?”. Pensem seriamente
nisso enquanto vocês têm a claridade do dia e a luz do Evangelho,
enquanto o Filho de Deus lhes oferece termos para que se
reconciliem com Deus, para que não tenham que ouvir palavras
como estas: “Filho, lembre-se que você recebeu os seus bens
durante sua vida — você já recebeu seus confortos, alegrias, paz e
todo o céu que você poderia desejar”. Ah, que céu miserável foi
esse! Que prazeres insignificantes! Que condição lamentável!
Considere, não seria algo miserável perder o céu em troca de vinte,
trinta ou cinquenta anos pecando contra Deus? Quando a sua vida
chegar ao fim, o seu céu também acabará. Quando a morte vier
separar a sua alma do seu corpo, nesse mesmo dia, você será
privado do seu céu e das suas alegrias para sempre. Pense nessas
coisas o quanto antes para que você não tenha os seus bens
apenas nesta vida, pois se recebermos os nossos bens apenas
nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
“Lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e
Lázaro somente males”. Considere que, quando outros homens, os
santos, vão receber os seus bens, você já haverá recebido os seus.
Quando outros estiverem recebendo a alegria, então a sua alegria
estará sendo tirada de você. Quando outros estiverem sendo
recebidos na presença de Deus, você estará indo fazer companhia
ao Diabo. Quão miserável você será! Seria melhor você nunca ter
nascido do que ter se tornado herdeiro de tais males. Cuide para
que esse não seja o seu caso.
6
Os Ímpios Serão Atormentados no
Inferno para Sempre
“E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de
sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam,
nem tampouco os de lá passar para cá” (Lucas 16:26). Essas
palavras ainda fazem parte da resposta que as almas no inferno
receberão por todos os gemidos, suspiros, gritos, lágrimas e anseios
por serem libertadas daquelas dores intoleráveis com as quais são
atormentadas. Penso que essas palavras, se forem bem entendidas,
são suficientes para fazer cair morto qualquer pecador de coração
endurecido que existir no mundo!
O versículo 25 que eu citei anteriormente é muito terrível e
agrava assustadoramente o tormento dos miseráveis pecadores,
quando ele diz: “Lembra-te de que recebeste os teus bens em tua
vida, e Lázaro somente males…” — essas palavras são
verdadeiramente terríveis para aquelas almas miseráveis que
morrem sem Cristo. Mas as palavras do versículo 26 fazem muito
mais do que manter os seus tormentos. Elas se referem ao estado
do pecador no inferno. Elas não apenas reforçam as primeiras como
agravam ainda mais a sua desgraça, tornando-a ainda mais
insuportável. O versículo 25 é suficiente para fazer o pecador
desmaiar. Mas o versículo 26 o fará cair morto, é como se ele
dissesse: “E além de tudo isso, há algo que fará sua miséria ainda
muito mais abundante”.
Agora falarei sobre a relação do que é dito nesse versículo com
o que foi dito nos versículos anteriores, é como se ele dissesse:
Você acha que o seu estado atual é insuportável. Isso o leva
a se arrepender de ter nascido. Agora não há nenhuma
misericórdia para você, nem mesmo uma gota dela. Agora
conhece o que é desprezar a doce graça de Deus. Você
soluça, suspira e geme copiosamente pela angústia em que
se encontra. Porém, além disso, tenho outras coisas para lhe
dizer que realmente partirão o seu coração. Você está
cortado do mundo dos viventes. Privado de ouvir o
Evangelho. O Diabo o tem sido severo com você e o levado a
sentir falta do céu. Agora você se encontra no inferno
acompanhado por uma multidão de demônios e todos os
seus pecados o assolam. Você está envolto em chamas e
não pode ter uma gota de água para refrescar sua língua.
Seu choro é em vão, pois nada lhe será concedido. Você vê
os santos no céu, o que aflige grandemente a sua alma
maldita. Você vê que nem Deus nem Cristo se preocupam
em lhe conceder algum alívio ou consolo. Mas, além de tudo
isso, você jazerá ali. Nunca pense em nenhuma facilidade.
Jamais espere conforto algum. O arrependimento agora não
lhe servirá de nada. O tempo já passou e nunca mais voltará.
Olhe para o que você tem agora, será isso que você terá
para sempre. De fato, eu já falei o suficiente para partir seu
coração, contudo, além de tudo isso, você jazerá no fogo e
nadará em chamas para sempre.
As palavras “além disso” são realmente terríveis. Eu lhe
explicarei o significado delas através de uma similitude. Imagine que
um home é amarrado em uma estaca e, com uma pinça
incandescente, começam a beliscar o corpo dele durante dois ou
três anos e, infelizmente, quando o pobre homem grita por alívio e
ajuda, os seus atormentadores respondem:
Não, além disso, você será tratado de modo ainda pior. Nós o
atormentaremos assim pelos próximos vinte anos e, depois
disso, cobriremos o seu corpo dilacerado de chumbo
derretido e o atormentaremos com ferros retirados das
brasas.
Isso não seria lamentável? No entanto, isso é apenas como a
picada de um mosquito quando comparado ao sofrimento daqueles
que vão para o inferno, pois se um homem fosse atormentado
assim, um dia a morte daria fim aos seus tormentos. Mas aquele
que vai para o inferno sofrerá tormentos dez mil vezes piores do que
esses e, ainda assim, jamais morrerá completamente. Ali, eles
lamentarão, chorarão, clamarão, gemerão e serão atormentados
sem jamais receber qualquer alívio, contudo, nunca serão
aniquilados nem deixarão de existir.
Se o maior demônio do inferno pudesse despedaçá-lo, reduzi-
lo a pó e aniquilá-lo, você consideraria isso um ato de misericórdia.
Mas ali vocês jazerão em chamas para sempre, terão que suportar
isso por toda a eternidade! Cristo disse: “Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”
(Mateus 25:41). Pensem nisso, vocês que não querem sair de casa,
porque está chovendo; que não querem sair de perto da lareira, em
dias frios; e que não querem andar nem mesmo meia milha para ir
ouvir a Palavra de Deus, só porque está um pouco escuro. Vocês,
que não querem deixar alguns companheiros vaidosos para edificar
suas almas, receberão abundantemente o fogo em que desejaram
se aquecer, as trevas nas quais não quiseram andar e a companhia
maligna que preferiram — então sentirão falta de Jesus Cristo. E,
além disso, vocês terão que suportar todas essas coisas para
sempre.
Ah, vocês que passam noites inteiras em entretenimentos,
farras e danças, vocês que são ousados para blasfemar e vocês
que amam pecar em secreto — todos vocês finalmente serão
condenados como hipócritas, pois embora sejam considerados
como estando entre os filhos de Deus, são inimigos das coisas de
Cristo em seus corações. A alma de todos vocês, que se deleitam
em seus pecados enquanto professam ser piedosos, cairá em
tormentos e angústias extremas assim que partirem deste mundo e,
então, ali no inferno, chorarão e rangerão os dentes. E, além isso,
vocês jamais encontrarão qualquer alívio. Vocês morrerão em seus
pecados e serão atormentados durante tantos anos quanto há
estrelas no firmamento ou grãos de areia na praia. E, além disso,
vocês serão atormentados assim para sempre.
“E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós,
de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não
poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá”. Há um grande
abismo. Vocês perguntam: “O que é isso?”. Eu respondo: essa é
uma boa pergunta. Portanto, em primeiro lugar, busquem entrar pela
porta estreita para só depois perguntarem curiosamente o que é
esse abismo. Mas, em segundo lugar, se vocês perderem o céu,
então saberão o que ele é, a saber, o decreto eterno de Deus; ou
seja, Deus decretou que aqueles que perdem o céu neste mundo,
nunca o desfrutarão no mundo vindouro. E verão que esse abismo é
tão profundo que jamais poderão atravessá-lo enquanto a
eternidade durar.
Cristo disse:
Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás
no caminho com ele, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial,
e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira
nenhuma sairás dali… (Mateus 5:25-26a).
Há um abismo, o decreto: você não sairá dali enquanto não
pagar a última moedinha. Portanto, compreendo que as palavras,
“está posto um grande abismo”, se refiram ao eterno decreto de
Deus. Deus decretou que aqueles que vão para o céu nunca mais
irão de lá para um lugar pior. E também decretou que aqueles que
vão para o inferno jamais sairão de lá. Amigo, esse abismo está
estabelecido de tal maneira que você jamais poderá atravessá-lo
para o outro lado, quer seja para o céu ou para o inferno.
Podemos ver como Deus manterá seguros aqueles que
morrem na fé. Deus os manterá no céu. Mas quanto àqueles que
morrem nos seus pecados, Deus irá lançá-los no inferno e o
manterá ali de modo que aqueles que estão no céu jamais poderão
passar para o inferno e nem os que estão no inferno irão para o céu.
Observe, que não é dito que eles não desejam passar de um lugar
para outro, pois como aqueles que perderam as suas almas por
uma luxúria, por algumas moedas, por um copo de cerveja, por uma
prostituta, por este mundo, desejarão indescritivelmente sair
daquela fornalha ardente da vingança eterna de Deus, se
pudessem. Mas aqui está a sua miséria: ninguém pode ir do inferno
para o céu. Deus decretou isso. Eis, então, a miséria: aqueles que
forem para o inferno não apenas irão para lá, mas estarão ali para
todo o sempre.
Portanto, se o seu coração a qualquer momento o tentar a
pecar, diga: “Não! Pois se eu pecar, irei para o inferno e ali ficarei
para sempre”. Se os bêbados, os blasfemadores, os mentirosos e
os hipócritas apenas considerassem essa doutrina bíblica com
seriedade, ela os faria tremer por apenas pensarem em pecar.
Entretanto, agora essas pobres almas fazem piadas e brincam com
o pecado como uma criança se diverte com um chocalho. Mas
chegará o momento em que esses chocalhos com que agora
brincam farão tal barulho nos seus ouvidos e consciências que
descobrirão que se todos os demônios no inferno gritassem aos
seus ouvidos, o barulho não seria comparável a isso. Amigo, os
seus pecados, como se fossem muitos cães de caça, primeiramente
o caçarão e depois o amararão e prenderão para sempre. Seus
pecados o prenderão e corroerão como se tivesse um ninho de
serpentes venenosas nas suas entranhas, e isso não acontecerá
apenas por um tempo, mas como já disse, para sempre, sempre e
sempre!
7
Os Ímpios Serão Atormentados pela
Condenação dos seus Próximos
“E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que
não venham também para este lugar de tormento” (Lucas 16:27-28).
Se assim posso dizer, essas palavras indicam uma razão pela qual
aqueles que estão no inferno ficam tão perturbados e choram tão
alto. É que os seus companheiros ainda podem ser libertados
daqueles tormentos intoleráveis a que serão e devem ser
submetidos, se não obtiverem a vida eterna por meio de Jesus
Cristo.
“Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois
tenho cinco irmãos…”. Apesar de terem vivido entre eles no mundo,
não eram tão sensíveis à sua ruína, mas agora foram tirados do
mundo e partilham daquilo de que antes foram avisados. Eles
podem falar: “Isso é real, é como me foi declarado várias vezes que
certamente aconteceria, e eu tenho cinco irmãos”. Por isso, você
percebe que pode existir e, de fato, existem famílias inteiras debaixo
da condenação do inferno, como nosso Senhor Jesus indica nesta
parábola. “Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
pois eles estão na mesma situação. Deixei todos os meus irmãos
em uma condição miserável”.
Enquanto vivem aqui, as pessoas não suportam ouvir que
todos estão em condições miseráveis. Mas quando estiverem sob a
ira de Deus, perceberão que é assim. Terão certeza disso, pois eles
próprios, quando estavam no mundo, viviam como os tais. Quando
eles perderem o céu, conhecerão qual é o fim daqueles que vivem
como eles viveram. “Envia alguém depressa à casa do meu pai, pois
toda a família está em um péssimo estado e todos serão ser
condenados se continuarem assim!”. Vemos que aqueles que estão
no inferno não desejam que os seus companheiros vão para lá, pois
é dito: “Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois
tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não
venham também para este lugar de tormento”.
Pergunta: Mas alguns podem indagar: “Qual seria a razão pela
qual os condenados desejariam não ter os seus companheiros na
mesma condição em que caíram, mas que fossem afastados dela e
escapassem desse estado horrível?”.
Resposta: Acredito que há tão pouco amor em qualquer um
dos condenados no inferno que eles, na verdade, não desejam a
salvação de qualquer pessoa. Porém, visto que há neles algum
desejo de que os seus amigos e parentes não vão para aquele lugar
de tormento, parece-me que isso é motivado mais visando a sua
própria comodidade do que o bem dos seus próximos. Pois,
permita-me dizer que será algo que agravará a dor e o horror deles
o fato de verem os seus conhecidos ímpios na mesma ruína que
eles, pois quando os ímpios vivem, morrem e descem juntos ao
abismo, cada um deles é um incômodo a mais para o outro.
Sim, se você morrer e for para o inferno antes dos seus
próximos ou companheiros, além da culpa dos seus próprios
pecados, você estará tão sobrecarregado com medo de que a
condenação dos outros acrescentasse dor à sua própria
condenação que clamará:
Envia um dos mortos para este e aquele companheiro com
quem tive comunhão durante a minha vida, pois vejo que a
minha maldita conduta será uma das causas da condenação
deles, se perderem a glória! Eu não apenas fui indiferente à
sua vida de pecados e ofensas, mas fui um dos primeiros
instrumentos para conduzi-los ao inferno. Serei culpado tanto
da minha maldição quanto da deles! Desejo que eles não
venham para este lugar, para que os meus tormentos não se
agravem com a chegada deles aqui!
Pois, assim como quando os ímpios habitam juntos, tornam-se
laço e tropeço um para o outro pelas suas práticas pecaminosas,
assim também eles serão um tormento mútuo, um agravará a
condenação um do outro. Um dirá:
Eu amaldiçoarei seu rosto sempre que eu olhar para ele! Foi
você quem me seduziu e me enganou. A sua conversa
imunda foi um tropeço para mim, assim como sua cobiça,
seu orgulho, seu convite para irmos aos bares, os seus jogos
e a sua prostituição. Foi por sua causa que perdi a vida
eterna. Se tivesse me dado um bom exemplo como me deu
um mau, talvez eu estivesse melhor do que agora. Mas eu
aprendi com você. Segui os seus passos. Aceitei os seus
conselhos. Ah, se eu nunca tivesse visto o seu rosto! Que
você nunca tivesse nascido para fazer um mal tão grande à
minha alma!
O outro responderá:
Eu posso lhe culpar da mesma forma. Você não lembra como
em tal tempo e naquele lugar você me atraiu e perguntou se
eu gostaria de ir com você, enquanto eu estava tratando de
outros assuntos da minha profissão. Foi você quem me
chamou. Você é tão culpado quanto eu. Embora eu fosse
cobiçoso, você era orgulhoso. E se aprendeu a cobiçar
comigo, eu aprendi o orgulho e a embriaguez com você.
Embora eu o tenha ensinado a enganar, você me ensinou a
me prostituir, mentir e a zombar daquilo que é bom. Embora
eu, que sou vil e desgraçado, tenha cometidos pecados,
você cometeu muitos outros. Posso culpá-lo tanto quanto
você me culpa. E se eu tiver de responder por algumas das
suas ações mais imundas, você terá de responder por
algumas das minhas. Eu não queria que você estivesse aqui.
Ver você aqui é algo que aflige a minha alma, pois olhar para
você evoca os meus pecados à minha mente — o tempo, a
maneira, o lugar, as pessoas com quem estivemos. Você
entristece a minha alma. Uma vez que não consegui evitar a
sua companhia em vida, desejo intensamente estar sem a
sua companhia aqui!
Enquanto os homens vivem aqui, podem se considerar
espertos por enganar, corajosos por mentir, espertos por cobiçar o
mundo, e se podem astutamente defraudar, arruinar, ferir e irritar os
seus vizinhos e até mesmo impedi-los de terem acessos aos meios
da graça e ao Evangelho de Cristo, eles se vangloriarão disso e
pensam que tudo vai muito bem com eles. E as suas mentes estão
de certo modo tranquilas ao serem enganadas pelo pecado. Mas,
amigo, quando você perder essa vida, erguer os seus olhos no
inferno e perceber que seus pecados imundos o levaram para ali, e
não somente você, mas também fez com que outros caíssem na
mesma condenação — e que uma das razões para a sua
condenação foi esta: Que você os induziu às práticas pecaminosas
e à concupiscência —, então você dirá: “Que alguém os impeça de
vir para cá, que eles não venham para esse lugar de tormento e não
sejam condenados como eu! Como isso me atormentará!”.
Balaão não se contentou em ser condenado sozinho, mas pela
sua maldade, fez outros tropeçarem e caírem. Os escribas e
fariseus não podiam se contentar em permanecer fora do céu, mas
se esforçavam para manter os outros fora dele também. Portanto, a
condenação deles é maior. O enganado não pode se contentar em
ser enganado sozinho, mas se esforçará para enganar outros. O
bêbado não pode se contentar em ir para o inferno pelos seus
pecados, mas sente necessidade de se esforçar para fazer com que
outros caiam na mesma fornalha que ele. Então, observe que aqui
haverá condenação sobre condenação — condenados pelos seus
próprios pecados, condenados por serem participantes com outros
nos pecados deles e condenados por serem culpados da
condenação de outros. Como os bêbados chorarão por conduzirem
os seus próximos à embriaguez! Como a pessoa cobiçosa gemerá
por dar ao seu próximo, ao seu amigo, ao seu irmão, aos seus filhos
e aos seus parentes um exemplo tão perverso, pelo qual não só
prejudicou a sua própria alma, mas também as almas dos outros! Ao
mentir, o mentiroso ensina outros a mentirem. O blasfemo ensina
outros a blasfemar. O devasso ensina outros a se prostituírem.
Agora todas essas pessoas, e outras semelhantes a elas,
serão culpadas não só da sua própria condenação, mas também da
de outros. Alguns homens têm sido tão responsáveis pela
condenação de outros, que estou inclinado a pensar que a
condenação desses outros os perturbará tanto quanto a sua própria
condenação. Receio que, no dia do juízo, alguns homens serão
encontrados como os responsáveis pela destruição de nações
inteiras. Pela condenação de quantas almas você acha que Balaão
será culpado, as quais destruiu com seus enganos? Maomé foi
responsável pela destruição de quantas almas? Aqueles fariseus
que subornaram os soldados para dizer que os discípulos roubaram
o corpo Jesus e, devido a isso, fizeram seus irmãos tropeçarem e os
dissuadiram de crer nas coisas de Deus e de Jesus Cristo até o dia
de hoje, serão responsabilizados pela condenação dos seus irmãos
que pereceram desde aquele tempo para cá. Por quantas almas
Bonner[2] terá que responder, e não somente ele, mas muitos
sacerdotes ímpios e cegos? Quantas pessoas têm sido o meio de
destruição de almas por meio de sua ignorância e por sua doutrina e
pregação corruptas? Receio que tais pessoas serão
responsabilizadas pela destruição de cidades inteiras.
Amigo, falo a você que está sob a responsabilidade
indescritível de pregar a Palavra de Deus ao povo. Não será algo
triste ver toda a sua congregação falar a você, no inferno:
Essa desgraça nos sobreveio por sua culpa. Você não nos
ensinou a verdade, antes nos enganou com fábulas. Teve
medo de nos falar sobre os nossos pecados, receando que
parássemos de lhe dar o nosso dinheiro. Maldito desgraçado,
por que mentiu para nós e nos bajulou? Devíamos ter ido
ouvir a Palavra de Deus em outro lugar. Se tão somente você
tivesse nos repreendido e nos anunciado o caminho de
Deus, mas você pregou heresias e falsas doutrinas para nós.
Guia cego, não se contentou em cair sozinho no abismo,
mas também nos arrastou consigo.
Vigiem a si mesmo para que não venham a clamar quando for tarde
demais:
Envia Lázaro ao meu povo, aos meus amigos, aos meus
filhos, à minha congregação a quem preguei e enganei em
minha insensatez. Enviem-no à cidade em que preguei por
último, para que eu não seja a causa da condenação dela.
Enviem-no aos meus amigos, para que eu não seja obrigado
a responder pela condenação das almas deles e pela minha
também.
Considere todas essas coisas e as guarde em seu coração
antes que seja tarde demais para se arrepender. Considere o
quanto o inferno é quente! A mão de Deus está levantada. A lei está
prestes a condenar sua alma. O dia do julgamento está próximo. As
sepulturas estão prontas e abertas para receber seu cadáver. A
trombeta está para soar. A sentença já está lavrada há muito tempo
e, quando tudo isso acontecer, você e eu não poderemos voltar no
tempo!
A editora O Estandarte de Cristo é fruto de um trabalho que
começou a ser idealizado por volta do início de 2013, por William e
Camila Rebeca, com o propósito principal de publicar traduções de
autores bíblicos fiéis. Fizemos as primeiras publicações no dia 2 de
dezembro de 2013 (publicação de 4 eBooks). De lá para cá já são
quase 7 anos e centenas de traduções de autores bíblicos fiéis,
sobre diversos temas da fé cristã.
Somos uma editora de fé cristã batista reformada e confessional.
Estamos firmemente comprometidos com as verdades bíblicas
fielmente expostas na Confissão de Fé Batista de 1689.

OEstandarteDeCristo.com
Conheça outros livros publicados pela editora
O Estandarte de Cristo

A Confissão de Fé Batista de 1689 + Catecismo Puritano compilado por C.H.


Spurgeon

❝ Nós precisamos de um estandarte pela causa da verdade; pode ser que esse pequeno
volume ajude a causa do glorioso Evangelho, testemunhando claramente quais são as
suas principais doutrinas… Aqui os membros mais jovens da nossa igreja terão um Corpo
de Teologia, que servirá como uma pequena bússola, e por meio de provas bíblicas,
estarão prontos para dar a razão da esperança que há neles… Apeguem-se fortemente à
Palavra de Deus que está aqui mapeada para vocês. ❞ — C.H. Spurgeon, 1855
A Interpretação das Escrituras
A.W. Pink

❝ Dificilmente encontraremos um “tratado sobre hermenêutica”, tão bíblico e completo,


tão profundo e ao mesmo tempo tão prático, como diz o próprio autor: Nestes capítulos
temos nos esforçado para colocar diante de nossos leitores as regras que temos usado
há muito tempo em nosso próprio estudo da Palavra; elas foram projetadas mais
especialmente para os jovens pregadores. Nós não poupamos esforços para torná-los
tão lúcidos e completos quanto possível, colocando em suas mãos esses princípios de
exegese que nos foram de grande proveito. ❞
Os Distintivos da Teologia Pactual Batista
Pascal Denault

❝ Pascal Denault merece muitos agradecimentos por seu trabalho ao pesquisar e


descrever as nuances da teologia do pacto da Inglaterra no século XVII. Ele mostrou
fatores significantes que contribuíram para as diferenças entre o pensamento e a prática
dos presbiterianos e batistas particulares, descrevendo categorias teológicas em termos
fáceis e acessíveis. ❞ — James M. Renihan, Ph.D. Deão e professor de teologia histórica Institute
of Reformed Baptist Studies
A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil
Jeffrey Johnson

❝ Jeffrey Johnson produziu uma interação minuciosa, vigorosa e impressionante com a


teologia pactual, enquanto usada como apoio para o batismo infantil. Ele expôs uma
análise detalhada de cada parte do sistema, aprovou o que era biblicamente
fundamentado, desafiou o que é indefensavelmente inventado e ofereceu alternativas
convincentes para cada parte do sistema que ele desafiou. ❞ — Tom J. Nettles, Ph.D.
Professor de teologia histórica Southern Baptist Theological Seminary
Um Guia para a Oração Fervorosa
A.W. Pink

❝ A oração particular é o teste de nossa sinceridade, o indicador de nossa espiritualidade,


o principal meio de crescimento na graça. A oração particular é a única coisa, acima de
todas as demais, que Satanás busca impedir, pois ele bem sabe que, se ele puder ser
bem sucedido neste ponto, o cristão falhará em todos os outros... Por mais desesperado
que seja o nosso caso, maior é nossa necessidade de orar, se a graça em nós está fraca,
a contínua negligência em orar a fará ainda mais fraca, se nossas corrupções são fortes,
a omissão em orar as fará ainda mais fortes. ❞
Oração: Orando com o Espírito Santo e com o Entendimento
John Bunyan

❝ A oração é uma ordenança de Deus que deve ser praticada tanto em público quanto em
particular. Além disso, é uma ordenança que conduz aqueles que possuem o espírito de
súplica para grande familiaridade com Deus, e também possui efeitos tão notáveis que
alcançam grandes coisas de Deus, tanto para a pessoa que ora como para aqueles por
quem ela ora. A oração abre o coração de Deus e através dela a alma, mesmo quando
vazia, é preenchida. Através da oração o cristão também pode abrir seu coração a Deus
como o faria com um amigo, e obter um testemunho renovado de Sua amizade. ❞
Piedade Cristã: Os Frutos do Verdadeiro Cristianismo
John Bunyan

Todo aquele que foi justificado pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo encontrará aqui
um excelente guia para que possa viver de modo agradável a Deus. Este livro faz
lembrar a magistral obra, A Prática da Piedade, do piedosíssimo Lewis Bayly, por seu
fervor e fidelidade bíblicos, e por sua sobriedade e zelo piedoso de obedecer aos
mandamentos do Senhor em todas as áreas de nossas vidas e em todos os nossos
relacionamentos. O autor nos exorta à prática da verdadeira piedade cristã a partir de Tito
3:7-8.
O Homo como Sacerdote em seu Lar
Samuel Waldron

❝ A ideia de que um homem é sacerdote em seu lar se deriva naturalmente da tese de que
todo ministério cristão tem caráter sacerdotal. No entanto, esse assunto confronta os
homens com algumas das responsabilidades mais difíceis que enfrentaremos. Quando
cumprimos nosso dever e sentimos nosso pecado e fraqueza nessa área, devemos
constantemente nos lembrar da graça e das promessas que Deus nos deu. Não podemos
fazer progresso confiado em nossas próprias forças. Somente cresceremos e assumiremos
nossas responsabilidades com a ajuda de Deus. ❞
A Doutrina da Trindade
John Owen

John Owen fez uma defesa magistral da grande doutrina bíblica da Santíssima Trindade
contra os socinianos. Dificilmente veremos hoje alguém que se denomine um sociniano,
mas não é tão raro assim encontrar alguém indouto e inconstante que segue as pisadas
deles e nega a verdade bíblica sobre a bendita doutrina da Trindade, para sua própria
perdição eterna (2Pe 3:16). Portanto a refutação que Owen faz das principais objeções dos
oponentes dessa doutrina permanece útil também para os nossos dias. Sobretudo é
proveitosa a exposição fiel e profunda feita por ele sobre os principais textos bíblicos que
revelam essa verdade fundamental sobre o único e verdadeiro Deus: Pai, Filho e Espírito.
Os 5 Pontos do Calvinismo
C.H. Spurgeon

Nesta excelente coletânea de sermões Charles Spurgeon expõe o ensino bíblico sobre
aqueles que ficaram conhecidos como os 5 Pontos do Calvinismo: 1. Depravação Total;2.
Eleição Incondicional; 3. Expiação Limitada; 4. Graça Irresistível; 5. Perseverança dos
Santos. A capacidade ímpar com que Deus dotou o pregador e a beleza e firmeza da
verdade bíblica por ele tratada fazem deste livro um recurso extremamente importante
para todos aqueles que desejam obter uma compreensão clara e robusta do ensino
bíblico acerca da soberania da graça divina na salvação dos homens.
Como Saltar em Segurança para a Eternidade
Lidiano Gama

❝ Com habilidade, o autor L.A. Gama desenvolveu a viagem de Greg Thopp rumo à
eternidade sempre ladeado pelas doutrinas que foram o fundamento e alicerce não
apenas dos batistas particulares (reformados), mas da própria Reforma Protestante e
do puritanismo inglês e norte-americano que se seguiu. O livro é valioso para todos os
cristãos, mas, sobretudo, é uma preciosa contribuição para os batistas e uma excelente
oportunidade para se examinar cuidadosamente esse documento, a Confissão de Fé
Batista de 1689. ❞ — Marcus Paixão
Teologia Bíblica Batista Reformada
Fernando Angelim

❝ Estou convencido da extrema necessidade e urgência da igreja brasileira, especialmente


os batistas, recuperar um entendimento bíblico profundo e piedoso sobre os pactos de
Deus. E estou igualmente convencido de que este livro tem muito a contribuir para esse
fim. Escrito de maneira clara e didática, e sobretudo bíblica, este livro se mostrará útil tanto
para o pai de família que deseja conhecer melhor sua Bíblia e guiar a sua família
piedosamente quanto para aquele que foi chamado a se “apresentar a Deus aprovado,
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”
(2 Timóteo 2:15). ❞ — William Teixeira

[1] Eclesiastes 7:6: “Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela,
tal é o riso do tolo; também isto é vaidade”.
[2] Edmund Bonner (1500–569), foi bispo de Londres de 1539-49 e de 1553-59.

Descrito por John Foxe, em seu Livro dos Mártires, como torturador e assassino
de centenas de mártires. — N.deT.

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