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Grande Perdão para


Grande Pecado
Nº 2863
Um sermão para o culto de Vigília pregado por
Charles Haddon Spurgeon
Na noite de 31 de Dezembro de 1876
E publicado na quinta-feira, 24 de Dezembro de 1903

IMPRESSO COM UM COMENTÁRIO DE C.H.SPURGEON


SOBRE LUCAS 15 AO FINAL

“E é pelo sangue deste que temos a redenção,


a remissão dos pecados, segundo a riqueza da
Sua Graça.” Efésios 1:7.

Não há quase necessidade de dizer a vocês que Paulo está


aqui escrevendo em relação ao Senhor Jesus Cristo. De fato,
Cristo era seu tema constante, tanto na pregação quanto
na escrita. Tomei conhecimento de ministros que conse-
guem pregar um sermão sem mencionar do começo ao fim
o nome de Jesus. Se alguma vez vocês ouvirem um sermão
como esse, cuidem para que nunca mais ouçam outro ser-
mão desse homem! Se um padeiro assasse alguma vez para
mim um pão sem nenhuma farinha em sua composição, eu
tomaria as providências necessárias para que ele jamais fi-

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zesse isso de novo. E digo o mesmo a respeito do homem


que prega um Evangelho sem Cristo! Deixe que aqueles que
não valorizam suas almas imortais vão e ouçam-no; mas,
prezados amigos, sua alma e a minha são por demais pre-
ciosas para serem colocadas à mercê de tal pregador.

A harpa de Paulo tinha apenas uma corda, no entanto,


ele produziu com ela uma música que jamais emanou de
qualquer outra! Ele encontrou em Cristo tal multiplicidade
infinita que jamais esgotou seu tema. Com ele, era primeiro
Cristo, último Cristo, no entremeio Cristo, Cristo em todo o
lugar — e assim ele jamais empunhou sua pena sem escre-
ver algo em louvor de seu glorioso Senhor e Salvador! Paulo
tinha boas razões para fazer isto, pois Cristo o havia encon-
trado quando estava a caminho de Damasco, interrompeu
-o em sua carreira de perseguidor, renovou seu coração e
deu-lhe, posteriormente, uma inclinação permanente em
relação a seu novo Mestre. Paulo jamais esqueceu aquele
local na estrada para Damasco! Eu garanto que ele podia
encontrá-lo até o dia de sua morte — aquele local onde caiu
por terra e ouviu a Voz do Céu dizendo-lhe: “Saulo, Saulo,
por que Me persegues?”1 Ele passou a ser um homem di-
ferente depois daquilo! Aquele único evento mudou o cur-
so inteiro de sua vida, de modo que, daquele momento em
diante, para ele, viver era Cristo. Anteriormente, ele havia
exalado ameaças e morte a todos que levavam o nome de

1 Atos 9:4.

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Cristo. Agora ele exala Cristo e Seu Evangelho e não há ne-


nhuma outra coisa para a qual ele se importe em viver e está
mesmo disposto a morrer por Ele!

“Mas”, diz alguém, “você não pensa que Paulo foi longe
demais com essa ideia? O homem de uma única ideia ca-
valga em seu tema até a morte e não vê as outras coisas
que estão ao seu redor.” Ah, meu senhor! Paulo viu tudo
ao seu redor que valesse a pena ver! Para ele, tudo acima,
abaixo, por dentro, por fora, ao redor, tinha Cristo, exata-
mente como num dia ensolarado, tudo possui o brilho solar
em si. E, igual ao Apóstolo, jamais exageraremos quando
apropriadamente falarmos de Jesus, “pois nele habita cor-
poralmente toda a plenitude da Divindade”2, e Nele está
armazenado todo o tipo de riquezas e tesouros para as po-
bres criaturas pecaminosas igual a nós.

Vou exaltar Cristo, conforme Seu compassivo Espírito


ajudar-me, falando do perdão que nos alcança livremente
através da redenção que Ele para nós obteve por verter Seu
precioso sangue. Abordarei em duas partes. Primeiramente,
os pecados, dos quais fala nosso texto, são grandes pecados.
E, em segundo lugar, o perdão, do qual fala nosso texto, é
também grande — “segundo a riqueza de Sua Graça”3.

2 Colossenses 2:9.
3 Efésios 1:6.

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I. Primeiramente, então, OS PECADOS AQUI MENCIO-


NADOS SÃO GRANDES. Por pregarmos a grandeza da mi-
sericórdia de Deus, algumas mentes maldosas pensam que
pecado é apenas algo pouco importante. Mas, senhores,
não é bem assim. Se qualquer um de vocês está vivendo no
pecado, escutem-me enquanto eu tento mostrar quão gran-
de ele é.

Pois, primeiramente, veja o que o pecado tem feito a to-


dos nós. Nossos primeiros pais viveram num Jardim de de-
leites e, se não tivessem pecado, teríamos sido herdeiros de
uma vida feliz livre de doença, pesar e morte. Mas o pecado
entrou no Jardim do Éden e murchou todas as folhas, se-
cou cada flor e, logo em seguida, Adão foi conduzido para
fora para lavrar o solo que produziu espinhos e cardos em
abundância. Quanto à mulher, ela e suas filhas foram con-
denadas a gerar filhos em dor e sofrimento.

Agora olhe o resultado do pecado em todo o mundo — a


pobreza que é gerada da embriaguez, a doença que provém
da devassidão, as aflições de consciência que seguem toda a
maldade. E quando se encara a miséria agora existente nes-
ta terra, pense nos numerosos cemitérios, grandes e peque-
nos, com suas miríades de túmulos. O próprio pó que flutua
sobre nossas ruas abaixo esteve, muito dele, vivo como par-
te do corpo de um de nossos antepassados! Esta terra é, de
fato, um enorme necrotério. O que foi que assassinou todas

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essas pessoas e cavou todas essas sepulturas? Foi o pecado,


pois “o pecado, atingindo a maturidade, gera a morte”4.
Não é nada pequeno o que tem operado todo esse dano na
espécie humana!

Se qualquer de vocês duvida da grandeza do pecado, dei-


xe-me lembrá-los do que acontece àqueles que morrem
nele. Esta Bíblia, que é a Revelação de Deus, conta-nos que
os pecadores que morrem na impenitência são retirados da
Presença de Deus e empurrados para as trevas exteriores
onde haverá choro, gemido e ranger de dentes para sem-
pre! Não consigo representar adequadamente aquela terrí-
vel morada de almas perdidas, mas já existem miríades lá,
sem luz, ou esperança, ou alegria, ou conforto, esperando
pelo Dia do Julgamento quando seus corpos erguer-se-ão,
e corpo e alma permanecerão diante do Tribunal de Cristo.
E a seguir virá sobre eles “o terror do Senhor”5. Se tivesse
eu de descrever os ais do perdido, a linguagem que teria de
usar seria excessivamente forte, mas onde teria eu de pro-
curá-la? Não iria a Milton6 e a outros poetas, mas teria de
reunir símiles, as mais terríveis, dos lábios do gentil e amá-

4 Tiago 1:15 (Bíblia de Jerusalém).


5 2 Coríntios 5:11 KJV: the terror of the Lord — temor do Senhor em versões brasileiras.
6 John Milton (1608- 1674) “foi um poeta, polemista, intelectual e funcionário público
inglês da Comunidade da Inglaterra sob Oliver Cromwell, servindo como ministro de
línguas estrangeiras. Ele escreveu em um momento de fluxo religioso e agitação política,
e é mais conhecido por seu poema épico Paraíso Perdido (1667), escrito em verso branco
e que descreve a história cristã da ‘queda do homem’... Escrevendo em Inglês, Latim e
Italiano, ele alcançou fama internacional no transcorrer de sua vida...” (wikipedia).

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vel Cristo, pois é Ele que nos conta a maioria dessas coisas!
Por Ele ter amado os homens tão ternamente, alertou-os da
ira do porvir — e uma prova de que o pecado não é nenhu-
ma trivialidade é que a ira do porvir é terribilíssima!

Se alguém ainda duvida de que o pecado é algo grande,


peço a ele lembrar que o pecado deve ser grande porque
requer tamanha Graça para ser perdoado. Nosso texto
ensina-nos que o perdão do pecado está de acordo com a
abundância da Graça de Deus — como se, para livrar-se do
pecado, a Riqueza Infinita de Seu grande coração de amor
deva ser liberalmente despendida. Deus, que tem grande
prazer na misericórdia, teve de desembolsar uma fortuna
em Graça antes que o pecado pudesse ser perdoado! Por-
tanto, o pecado não é nada pequeno. Mas se você quer real-
mente saber quão grande é o pecado, lembre o que custou
a Cristo para ser o Perdoador dele. Vá ao Getsêmani e veja
o que custou a Cristo arcar com ele lá7. O pecado que o co-
briu com um suor de sangue8 não foi trivialidade nenhuma.
Então, acompanhe-O ao Palácio de Pilatos e ouça os cruéis
açoites caindo em Seus abençoados ombros, porque é com
aquelas chicotadas que você é curado, e uma doença preci-
sa ser terrível para necessitar de remédio tão amargo! Veja
os soldados levarem-No e O pregarem na Cruz. Lá Ele está
suspenso, entre Céu e terra, para morrer por pecadores cul-

7 Mateus 26:36-46, Marcos 14: 32:42 e Lucas 22:39-45.


8 Lucas 22:44.

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pados em meio a inenarrável agonia, a qual olho humano


nenhum pôde ver, nem nenhuma mente mortal pôde en-
tender. Contudo, jamais poderia ter havido qualquer per-
dão de pecado se não tivesse havido toda essa aflição da
parte do Substituto do pecador. Com certeza, o pecado deve
ser algo grande para precisar de um Sacrifício tão grande a
fim de que possa ser despojado.

Enquanto evoco essas conhecidas verdades de Deus, es-


pero que alguém esteja dizendo: “Ah, meu senhor, eu sei
que meus pecados são grandes! Não é necessário entrar em
detalhes pessoais, porque se o pecado de nenhum outro for
grande, o meu é.” Examinemos rapidamente nossos ante-
cedentes deste ano e vejamos se não ocorre assim conosco.
Vá buscar seu diário. Ah, você não registra tais coisas nele
— você tenta esquecê-las. Contaram-me que, em Nápoles,
havia uma cova para cada dia do ano, e a cada dia retira-
vam os mortos da cidade e os lançavam na cova daquele
dia. Portanto, havia 365 dessas covas que eram abertas, ano
após ano9. Semelhantemente, você tem enterrado seus pe-
cados nestes 365 dias. Removamos uma das grandes pedras
e olhemos para baixo. Não, não! Não conseguimos aguen-
tar fazer isso, pois mesmo um dia de pecados possui uma
vileza tal que choramos se estivermos em nosso bom juízo:

9 O pregador refere-se ao famoso Cemitério das 366 covas, realizado na metade do séc.
XVIII, em pleno iluminismo, por um grande arquiteto florentino, Ferdinando Fuga,
perto de Nápoles, em Poggioreale. Funcionou de 1762 a 1890. (Referência: http://www.
devia-design.com.br/pdf/2007_08.pdf.)

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“enterrem meus mortos longe de minha vista!” Pense o que


seus pecados têm sido. Pense nas palavras inúteis que você
tem falado — por cada uma delas você terá de prestar con-
tas. Pense nos pensamentos maus que você tem tido — pen-
samentos com raiva, pensamentos de soberba, pensamen-
tos de lascívia — são todos eles pecados. Oh, que grande e
terrível pilha eles formam! Alguém aqui gostaria de lançar
seus pecados nesta plataforma? Jamais consigo entender
como um assim chamado “sacerdote” consegue pedir às
pessoas para confessar seus pecados a ele. Não transforma-
ria eu meu ouvido num tubo de esgoto por toda a riqueza
do mundo! Que nojice deve haver na alma daquele que tem
escutado o que outros têm feito e que sabe do pecado que
ele próprio tem cometido! O pecado, quando vemos o que
ele realmente é, quer em nós ou em outros, horroriza-nos.

Mas há algo que quero que você se lembre. Se nada tem


sido feito, ou dito, ou pensado por você do qual você se
condene, e mesmo assim, se você não está agora amando
a Deus — se por outro ano você foi inimigo de Deus, se por
outro ano recusou a Cristo e tem vivido sem oração, sem ar-
rependimento e sem procurar estar bem com Deus. Se por
outro ano você foi indiferente às exigências do Altíssimo e
negligente com Seus mandamentos — se não tem feito nada
mais a não ser esquecer Deus —esse único pecado seria su-
ficiente para lançá-lo no Inferno para sempre! Lembre-se
das palavras de Davi: “os perversos serão lançados no in-

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ferno, e todas as nações que se esquecem de Deus”10.

II. Agora volto-me para o lado muito mais alegre do meu


tema, o qual é que O PERDÃO DO PECADO É TAMBÉM
UMA GRANDE COISA.

Existe algo igual ao perdão do pecado? Quando Martinho


Lutero estava em grande tribulação em razão de seu peca-
do, ele recebeu grande consolo de uma observação feita por
um amigo monge, que, notando-o tão deprimido, pergun-
tou-lhe: “Martinho, você consegue recitar o Credo?” Marti-
nho, claro, respondeu, “Sim”. “Então, você não se lembra”,
disse o monge, “que no Credo está escrito ‘Creio no perdão
dos pecados’?” Uma luz pareceu irromper sobre a escuri-
dão de Lutero por aquela simples pergunta, assim como eu
oro para que ela possa irromper sobre a sua, conforme eu
falo sobre aquele trecho abençoado de um verdadeiro credo
cristão.

Primeiramente, você deve julgar a grandeza do perdão


pela grandeza do pecado que Deus perdoa num momento
único. Não sei sua idade, meu caro amigo. Digamos, trin-
ta, quarenta, cinquenta, sessenta, oitenta anos — possivel-
mente, mesmo noventa — mas, se você agora crê no Senhor
Jesus Cristo, neste exato instante a massa inteira de seus
pecados desaparecerá para sempre! Tenho ouvido sobre al-

10 Salmo 9:17.

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guém que tinha emprestado muito dinheiro a um devedor e


que tinha recebido dele muitos títulos de crédito. E quando
percebeu que o devedor estava afundando em uma falên-
cia desesperada, pediu para chamá-lo e, após mostrar-lhe
os títulos, a quantia dos quais ele era incapaz de cumprir,
mesmo o valor de um penny11, o generoso credor disse: “Há
somente uma maneira em que podemos resolver toda esta
dívida”. E juntando todos os títulos em sua mão, lançou
-os ao fogo. “Agora”, disse ele, “Desejo a você um feliz ano
novo. Prossiga em seu caminho, pois você não possui dívida
nenhuma comigo”. Essa foi uma nobre ação para qualquer
um realizar, e tenho certeza de que o título no valor de mil
libras queimaria tão rapidamente quanto um título no valor
de cinquenta libras. Assim o Senhor tomou todos os títu-
los de nosso pecado durante todo o período de nossa vida e
colocou-os nas chamas de Sua Infinita Misericórdia — e de
tal maneira desapareceram, que se nossos pecados forem
procurados, não poderão ser achados!

Em seguida, meça a grandeza do pecado pela culpa do


pecado perdoado. Sempre sinto que devo falar cautelo-
samente sobre este ponto, mas serei tão arrojado quanto
puder. Pecador, se você confiar em Jesus, ele lhe perdoará
o mais negro pecado, no qual você tenha caído. Se (Deus
permita que não seja verdade!) o crime de assassínio esti-
ver em sua consciência. Se o adultério ou fornicação tiver

11 O penny corresponde ao valor de um centésimo da libra esterlina, moeda inglesa.

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enegrecido sua própria alma. Se todos os pecados que os


homens tenham cometido em qualquer época, enormes e
estupendos em sua agravação, forem debitados diretamen-
te em sua conta, ainda assim, lembre-se de que “o sangue
de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todos os nossos
pecados”12. E lembre-se, também, que “aquele que Nele crê
é justificado de todas as coisas”13, por mais negras que pos-
sam ser. Eu gosto da maneira como Lutero fala sobre este
tema, embora, seja algumas vezes demasiadamente ousa-
do. Diz ele: “Jesus Cristo não é um Salvador de imitação
para pecadores de imitação, mas Ele é um Salvador real que
oferece Expiação real para o pecado real, para crimes bru-
tais, para ofensas insensíveis, para transgressões de toda a
sorte e de todo o tamanho.”

E um Outro muito maior que Lutero disse: “Mesmo que


os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão al-
vos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o car-
mesim tornar-se-ão como a lã.”14 Abri eu completamente
a porta da Misericórdia, não abri? Ninguém aqui ousará
dizer: “Sr. Spurgeon disse que minha culpa é por demais
grande para ser perdoada.” Eu não disse nada parecido com
isso! Qualquer que seja o tamanho de sua culpa e de seus
pecados, como as grandes montanhas que se elevam acima
das nuvens, as inundações da Misericórdia Divina ultrapas-

12 1 João 1:7.
13 Atos 13:39.
14 Isaías 1:18.

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sam os cumes das montanhas mais altas da iniquidade sub-


mergindo-as todas! Deus deu a vocês a Graça de crer nisso
e de prová-Lo verdadeiro nesta exata hora!

Em terceiro lugar, a grandeza do perdão de Deus pode ser


avaliada pela gratuidade dele. Quando um pobre pecador
vem a Cristo em busca de perdão, Cristo não lhe pede para
pagar qualquer coisa por isso, ou para fazer qualquer coisa,
ou para ser qualquer coisa, ou para sentir qualquer coisa,
mas Ele gratuitamente perdoa-lhe. Eu sei o que você pensa.
“Deverei passar por uma determinada penitência da alma,
pelo menos; mesmo se não for do corpo. Terei de prantear
muito, ou orar muito, ou fazer muito, ou sentir muito.” O
Evangelho diz: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”15.
Confie em Jesus Cristo, e o perdão gratuito do pecado é, de
imediato, concedido “sem dinheiro e sem pagamento”!16

Uma outra coisa que indica sua grandeza é sua imedia-


tez. Deus perdoará a você imediatamente, assim que você
confiar em Cristo. Havia uma filha, muito amada por seu
pai, que, numa má hora, partiu de sua casa e veio a Lon-
dres. Aqui, não possuindo amigo nenhum, logo passou a ser
vítima de homens maus e tornou-se um completo e total
destroço. Um missionário urbano encontrou-a e falou-lhe
lealmente a respeito de seu pecado — e o Espírito Santo

15 Atos 16:31.
16 Isaías 55:1 (Bíblia de Jerusalém).

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trouxe-a aos pés do Salvador. O missionário perguntou o


nome e endereço de seu pai, e por fim ela lhe disse. Toda-
via, afirmou: “Não adianta você lhe escrever. Tenho trazido
tanta desonra para minha família que estou bem certa de
que ele não responderia à carta nenhuma.” Eles escreveram
ao pai e expuseram as circunstâncias — e a carta que re-
tornou tinha no envelope, sobrescrita em grandes letras, a
mão, a palavra “IMEDIATO”17. Internamente, ele escreveu:
“Tenho orado todos os dias para que eu pudesse encontrar
minha filha e vibro de alegria por receber notícias dela. Que
ela venha para casa imediatamente. Perdoei-lhe sem exigir
nada, e anseio apertá-la em meu peito.”

Pois bem, Alma, se procuras misericórdia, exatamente


isto é o que o Senhor fará contigo. Ele te enviará miseri-
córdia com a marca “IMEDIATO”, e tu a possuirás instan-
taneamente! Eu relembro como encontrei misericórdia,
logo, quando me disseram para olhar para Jesus que seria
perdoado. Olhei e, rápido, como o clarão do relâmpago, re-
cebi o perdão do pecado, no qual exulto em alegria até esta
mesma hora! Por que não pode acontecer igual com você
— o pecador mais negro e pior aqui — o mais insensível e o
menos suscetível de arrependimento? Senhor, concede-o, e
Tu terás o louvor!

17 IMMEDIATE em Inglês, ostentada no envelope poderia significar, no caso,


ENTREGA IMEDIATA ou URGENTE, ou VENHA IMEDIATAMENTE.

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Mais uma vez, a grandeza do perdão de Deus pode ser


medida pela completitude dele. Quando um homem con-
fia em Cristo e é perdoado, seu pecado é de tal maneira in-
teiramente anulado que é como se jamais tivesse existido!
Seus filhos trazem para casa os cadernos deles sem nenhum
borrão, mas se você olhar, cuidadosamente, consegue ver
onde foram apagados os borrões. Porém, quando o Senhor
Jesus Cristo apaga os pecados de Seu povo, Ele não deixa
marca nenhuma de rasura e os pecadores perdoados são
tão aceitos perante Deus como se jamais tivessem cometido
pecado!

Talvez alguém diga: “Você está expondo o assunto de for-


ma muito vigorosa.” Sei que estou, porém, não mais vigo-
rosa do que a Palavra de Deus expõe. O profeta Miqueias,
falando ao Senhor sob a inspiração do Espírito Santo, diz:
“Tu lançarás todos os nossos pecados nas profundezas do
mar.”18 Não nos baixos onde poderiam ser dragados nova-
mente, mas nas grandes profundidades, como no meio do
Atlântico. Em seguida, Isaías diz ao Senhor: “Tu lançaste
para trás das tuas costas todos os meus pecados.”19 Você
consegue dizer-me onde ficam as costas de Deus? O ros-
to de Deus está em todo o lugar — então onde estão suas
costas e onde estão os pecados de Seu povo? Ora, absoluta-
mente em lugar nenhum! Daniel diz que a obra do Messias

18 Miquéias 7:19.
19 Isaías 38:17 (Almeida Revista e Corrigida).

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é extinguir a transgressão — e ela está extinta para todos os


que Nele creem. Daniel também diz que Ele dará fim aos
pecados20 — por conseguinte há um fim para os pecados,
para todos que Nele confiam! A seguir há aquela gloriosa
passagem que não se pode dizer com muita frequência —
“Naqueles dias e naquele tempo, diz o Senhor, buscar-se-á
a maldade de Israel e não haverá nenhuma.”21 Quê?! To-
dos os meus pecados já não existem mais? Sim, todos eles
já não mais existem se você crê em Jesus, pois Ele os lançou
na tumba Dele onde estão enterrados para sempre. Isto é
o suficiente para fazer você dançar igual fez Davi diante da
Arca22, pois, quando Deus uma vez perdoa a um homem,
Ele jamais o condena de novo. Não é característica de Deus
agir sem sinceridade com as pessoas. Se estou em Cristo Je-
sus, o veredicto de “Nenhuma Condenação”23 é obrigatoria-
mente meu, sempre, pois quem pode condenar aquele por
quem Cristo morreu?24 Ninguém, pois, “os que justificou,
também os glorificou”.25 Se você confia sua alma à Expiação
realizada pelo sangue de Cristo, você está absolvido e pode
seguir seu caminho em paz, sabendo que nem morte, nem
Inferno jamais o separará de Cristo!26 Você pertence a Ele e
pertencerá a Ele eternamente!

20 Daniel 9:24.
21 Jeremias 50:20 (KJV).
22 2 Samuel 6:14.
23 Romanos 8:1.
24 Romanos 8:34.
25 Romanos 8:30.
26 Romanos 8:38 e 39.

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“Bom”, alguém perguntaria, “isso é formidável. Como


pode ser obtido?” Isso deve ser obtido por nada, simples-
mente, pelo pedir, simplesmente, por confiar em Cristo. Se
assim for, nada mais há a fazer, e todas esas bênçãos são
suas e suas para todo o sempre!

Agora encerro mostrando como efetivamente Deus per-


doa o pecado. Tenho certeza que Ele perdoa, pois tenho
provado isso em meu próprio caso e tenho ouvido de mui-
tos outros semelhantes ao meu. Soube de um homem cheio
de pecados ser alcançado pelo Senhor e, Este renová-lo e,
prontamente fazê-lo sentir, sentir realmente isto, também:
“Deus me ama”. E ele clamou: “Abba, Pai”, e começou a
orar e teve respostas à oração! E Deus manifestou Sua Gra-
ça Infinita a ele em milhares de maneiras. Não muito tem-
po depois, Deus confiou àquele homem algum serviço para
Ele, assim como a Paulo e a outros foi-lhes confiado o Evan-
gelho — e assim como ocorre a muitos de nós. Com alguns
de nós, o Senhor tem sido muito familiar e muito bondoso
e tem-nos abençoado com todas as bênçãos espirituais em
Cristo Jesus27.

Terei encerrado quando tiver já dito isto, visto que es-


tas coisas são verdadeiras, ninguém precisa desesperar-
se. Venha, irmã, desfaça sua testa franzida! Você tem dito:
“Jamais serei salva”, mas você não deve falar assim, pois

27 Efésios 1:3.

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o perdão de pecados efetuado por Cristo realiza-se “segun-


do as riquezas de Sua Graça”28. E, irmão, você está com
dificuldades porque pecou contra Deus? Tal como Ele está
tão disposto a perdoar-lhe, você deve estar arrependido por
ter ofendido um Deus tão benevolente! Tal como Ele está
tão disposto a perdoar, estejamos nós dispostos a sermos
perdoados! Não partamos desta casa, embora o badalar da
meia-noite esteja prestes a soar, até que tenhamos recebi-
do esta grande redenção, este grande perdão para grande
pecado!

Talvez alguém diga: “Quando eu chegar em casa, pedirei


perdão de Deus.” Não espere até chegar em casa! Suponha
que eu tivesse cometido alguma ofensa a qualquer de vocês
e que então eu tivesse sentado a seu lado — não acho que
deveria esperar até que entrássemos no ano novo antes de
pedir que você me perdoe. Faça o mesmo com Deus — diga
a Ele: “Visto que estás tão disposto a perdoar, peço para ser
perdoado. Eu creio que serei perdoado por intermédio de
Jesus Cristo, Teu Filho”. É uma grande coisa começar o ano
novo com um coração novo e um espírito novo! Deixaria os
sinos de sua alma retinindo. A pergunta é: Você crerá no Fi-
lho de Deus? No nome de Jesus Cristo que morreu na Cruz,
exijo sua fé Nele! Ele não é nenhum impostor. Ele não é ne-
nhum embusteiro, Ele é digno da confiança de seu coração,
portanto, creia Nele. Eu oro ao Espírito Santo para operar

28 Efésios 1:7.

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esta fé em você, que você possa ser salvo e salvo agora e re-
ceba de uma vez o perdão de todos os seus pecados!

Portanto, preguei o Evangelho a você. Se você rejeitá-lo,


o risco é seu. Eu desenho um círculo ao seu redor como
fez o embaixador romano ao redor do monarca oriental e
disse-lhe: “Pise fora desse círculo, e significará guerra com
Roma”29. Igualmente eu desenho um círculo ao redor da ca-
deira onde você está sentado e digo-lhe, em nome de Deus:
“Você não deve levantar-se dessa cadeira até que tenha paz
com Deus por meio da fé em Jesus Cristo, ou então tome so-
bre si a responsabilidade de permanecer inimigo de Deus,
pois nada mais posso dizer até o romper do Dia do Julga-
mento e terei de prestar contas por pregar este sermão — e
você terá de prestar contas por ouvi-lo! Não posso dizer-lhe
mais nada além disso! Existe perdão a ser obtido ao crer!
Jesus Cristo é plenamente digno de sua confiança — creia
Nele agora e você receberá perdão pleno e gratuito! O Se-
nhor lhe ajude a assim proceder, por amor de Jesus Cristo!
Amém.

29 Caio Popílio Lenate (173 a.C.), “enviado como um dos embaixadores romanos
frente do rei selêucida Antíoco IV Epífanes para advertir que não continuasse a guerra
contra o Egito Ptolemaico”. O círculo foi desenhado com uma cana de açúcar quando
o monarca oriental comprometeu-se a considerar, não tomando, com essa atitude,
nenhuma decisão (Ref.: Wikipedia).

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EXPLANAÇÃO FEITA POR C. H. SPURGEON


De LUCAS 15.

Temos lido junto este capítulo muitas vezes. Possivelmen-


te alguns de nós o temos lido centenas de vezes, contudo,
sempre que o lemos encontramos algo novo nele. Ele se
apresenta sempre reluzente e vivaz, pleno de diamantes e
outras pedras preciosas da Verdade.

Versículos 1-3. Aproximavam-se de Jesus todos os pu-


blicanos e pecadores para o ouvir. E murmuravam os fari-
seus e os escribas, dizendo: “Este recebe pecadores e come
com eles!” Então lhes propôs Jesus esta parábola.

Os sentimentos mais profundos do coração de nosso Sal-


vador parecem ter vindo à tona por força das duas classes
de pessoas aqui mencionadas: Sua piedade e compaixão em
relação ao pecaminoso, e Sua ira justa em face das objeções
perpétuas dos Fariseus e escribas hipócritas. Uma classe fez
com que seu coração transbordasse de amor, a outra inci-
tou Sua indignação ardente, mas mesmo assim, Sua alma
comoveu-se com piedade e ternura em relação ao desen-
caminhado e errante. Devemos ser gratos aos Fariseus por
terem induzido nosso Senhor a proferir as três maravilho-
sas parábolas que estamos prestes a ler. Lucas diz: “Con-
tou-lhes, então, esta parábola”, significando que as três são
realmente uma, uma pintura em três painéis. O plano todo

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da salvação não deve ser encontrado em cada uma das pa-


rábolas por si só, mas em todas as três combinadas. Alguns
pontos omitidos em qualquer uma delas será achado em al-
guma das outras. “Então, lhes propôs Jesus esta parábola:”

3-7. Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem


ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as no-
venta e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá
-la? Achando-a, põe-na sobre os ombros cheio de júbilo. E,
indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes:
‘Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha per-
dida!’ Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por
um pecador que se arrepende do que por noventa e nove
justos que não necessitam de arrependimento.

O pastor teve uma alegria extraordinária em seu rebanho


pelo desvio e recuperação daquela única ovelha. Se todas
tivessem ficado no redil e nenhuma delas tivesse-se desgar-
rado, ele teria ficado alegre, mas teria havido uma espécie
de torpor e mesmice acerca de sua satisfação constante com
elas. Mas aquela ovelha desviada incitou outras emoções em
seu coração e quando ele a achou, experimentou uma nova
alegria, uma alegria mais elevada da que anteriormente
conhecia! Portanto, embora seja o pecado um grande mal,
ainda assim ele tem sido revertido por Deus de tal modo a
introduzir uma nova alegria no universo.

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Canções de louvor que jamais teriam feito as harpas dos


anjos entoarem são agora ouvidas no Paraíso! Jamais te-
ria havido nenhum arrependimento se não tivesse havido
pecado algum — e o amor do Grandioso e Bom Pastor em
relação à ovelha errante jamais teria sido revelado se ne-
nhuma ovelha tivesse jamais se desgarrado do rebanho. Eu
imagino que foi algum sentimento como este que provocou
Agostinho a exclamar um tanto impetuosamente em rela-
ção à Queda: “O beata culpa!” — Ó bem-aventurada culpa
que, por consequência, tem sido manifesta a misericórdia
abundante de Deus! Visto sob um aspecto, todo o pecado
é uma calamidade indescritível, mas ao ter tido o efeito de
expor ainda mais a incomparável misericórdia de Deus na
Pessoa de Jesus Cristo, percebemos como, do mal, Deus faz
vir o bem!

O ponto principal da parábola é a alegria do pastor pro-


veniente do achado da ovelha perdida. Nosso Salvador não
precisou de nenhuma outra razão para preocupar-se com
publicanos e pecadores a não ser o fato de que Ele obteria
muito mais alegria proveniente deles do que provenien-
te dos Fariseus e escribas, mesmo que fossem aquilo que
professavam ser: “pessoas justas, que não necessitavam de
arrependimento nenhum”. Este primeiro painel da pintura
demonstra a obra do Filho de Deus. Por que não foi coloca-
da em primeiro lugar a obra do Pai, visto que a Trindade é
“o Pai, o Filho e o Espírito Santo”? Por que é que também,

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na bênção, Paulo escreve: “A Graça do Senhor Jesus Cris-


to, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo este-
jam com todos vós!”30 Por que? Porque o amor de Cristo é a
primeira coisa que o pecador apercebe-se! Nossa primeira
experiência cristã não é, por via de regra, um conhecimento
do Espírito Santo ou do Pai, mas, para nossa percepção, é
Jesus Cristo que primeiro é revelado a nós. Penso que é por
esta razão que a obra do Filho de Deus é aqui demonstrada
em primeiro lugar.

8-10. Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas31, se


perder uma, não acende a candeia, varre a casa e procura
diligentemente até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne
as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, por-
que achei a dracma que eu tinha perdido. Eu vos afirmo
que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por
um pecador que se arrepende.
Como já disse em relação à ovelha perdida, houve uma
nova alegria na recuperação da moeda de prata perdida. A
mulher sempre regozijava-se com as moedas de prata, mas
aquela moeda particular tinha sido a causa de uma nova
alegria — a alegria que é experimentada sempre quando a
dor da perda é preponderada pela alegria de reencontrar
aquela que estava perdida! Será que a intenção é que esta

30 2 Coríntios 13:13.
31 A dracma antiga era o nome de uma “unidade monetária encontrada em muitas
cidades-estados gregas e Estados sucessores, e em muitos reinos do Médio Oriente do
período helenístico” (wikipedia).

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mulher represente a Igreja de Cristo, e assim sendo, ela


nos é apresentada porque a Igreja é a grande agente, sob
o controle do Espírito Divino, na busca do perdido, levan-
do a candeia acesa da Palavra, varrendo com a vassoura da
determinação, pregando com fé, aplicando a Lei do Senhor
à consciência do homem e virando tudo às avessas até, por
fim, a moeda de prata perdida ser encontrada? Se assim for,
este segundo painel da pintura apresenta a obra do Espírito
Santo conforme é executada através da Igreja de Cristo.

11-13. Continuou: “Certo homem tinha dois filhos; o mais


moço deles disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que
me cabe.’ E ele lhes repartiu os haveres. Passados não mui-
tos dias — pois o pecado é muito rápido em seu desenvol-
vimento e os pecadores têm grande pressa em afastar-se de
Deus. O coração do jovem já estava em erro, senão não teria
desejado ser seu próprio mestre. Ele já estava fora no país
distante — tão longe quanto inquieto estava seu coração — e
não demorou muito para que seu corpo fosse em seguida.
“Passados não muitos dias...”

13-15. ... o filho mais moço, ajuntando tudo o que era


seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os
seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consu-
mido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele
começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou
a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os

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seus campos a guardar porcos.

Era o emprego mais degradante que um hebreu pudesse


conseguir, e, de semelhante modo, o pecado, antes de ser
concluído, produz degradação em seu caminho para a morte!

16. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os por-


cos comiam; mas ninguém lhe dava nada.

“Desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos co-


miam”, mas não podia, porque era um homem e não um
dos porcos. Mundanos estão felizes com seu próprio modo
pobre, e eu, por exemplo, jamais sinto inveja deles por suas
alfarrobas. Uma pessoa jamais ansiaria a lavagem que é
dada aos porcos. — Enchemos o coxo deles tanto quanto
queiram e jamais desejamos experimentar o mínimo que
seja! De maneira que, quando pecadores estão cheios de
alegrias mundanas, não nos é permitido invejá-los e tam-
pouco culpá-los. Que os porcos tenham suas alfarrobas.
Outrora, teríamos também desejado encher nossa barriga
com elas — e se não o fizemos, não foi porque não desejarí-
amos, mas porque não seríamos capazes.

17. Então, caindo em si.

Pois pecado é insanidade! Ele estava fora de si enquanto


esteve agindo de modo tão estúpido — “Então, caindo em si”.

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17-19. Disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão


com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei e
irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu
e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como um dos teus trabalhadores.

Foi o conhecimento de que havia fartura na casa de seu


pai que o fez voltar! E pode se fiar nisto, que a pregação da
plena salvação rica em bênção é uma forte persuasão para
fazer o pecador exclamar: “Levantar-me-ei e irei ter com
meu Pai”. Este filho pródigo poderia jamais ter voltado se
seu pai mantivesse uma casa em penúria com uma mesa
escassa. Mas ele sabia que até os servos na cozinha tinham
“pão com fartura”. Seu pai nunca os restringiu — tinham o
que necessitavam, e sempre havia mais do que conseguiam
comer — portanto, não havia necessidade nenhuma para
que seu filho “morresse de fome”. De modo semelhante, a
liberalidade semelhante de Deus em Cristo Jesus — a rique-
za de Sua Redenção gratuita é, não tenho dúvida, o meio de
trazer muitas almas famintas a Cristo.

O pródigo disse que os trabalhadores tinham “pão com


fartura”. Há alguns que parecem pensar que em Cristo há
apenas pão suficiente, mas acreditamos que a ideia mais
ampla possível de Sua Redenção pode ser tratada com ex-
cessiva generosidade e, muitas vezes, o pensamento que
entra primeiro no ouvido e coração do pecador é que se há

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“pão com fartura”, por que então não deveria ele ter, pelo
menos, um pouco do pão excedente? Esse foi o modo como
o pródigo raciocinou. Ele tinha certeza de que seu pai po-
dia alimentar outro trabalhador a ser empregado, portanto,
resolveu que pediria para ser contratado naquela condição.
No entanto, sabe-se que ele jamais chegou a pedir aquilo
— seu pai interceptou-o antes que ele pudesse fazer aquele
pedido.

20. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda


longe, quando seu pai o avistou. Talvez, antes que ele avis-
tasse seu pai — “seu pai o avistou”.
20. E, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.

O comentário de Matthew Henry32 sobre este versículo é


excelente — “’Seu pai o avistou’. Aqui havia olhos de mise-
ricórdia. ‘E, compadecido dele’. Aqui havia um coração de
misericórdia. ‘Correndo’. Aqui havia pés de misericórdia.
‘O abraçou’. Aqui havia braços de misericórdia. ‘E beijou.’
Aqui havia lábios de misericórdia.” Era tudo misericórdia,
do começo ao fim!

21. E o filho lhe disse. O pai beijou seu filho antes que ele
tivesse tempo para dizer qualquer coisa! E a compaixão Di-
vina é mais veloz que nossas orações.

32 Matthew Henry (1662-1714) foi um comentarista sobre a Bíblia e pastor


presbiteriano inglês (wikipedia).

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21, 22. Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos
seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o.

Ele não o deixou terminar sua oração com o pedido de que


poderia ser contratado como seu empregado. Essa parte
que era legítima ele interrompeu com um beijo e, em segui-
da, disse a seus servos: “Trazei depressa a melhor roupa,
vesti-o.”

22-24. Pondo-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;


trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e rego-
zijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu,
estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.

Esta, porém, foi uma alegria nova naquele círculo fami-


liar! Houve alegria quando o irmão mais velho nasceu e ale-
gria quando o filho mais jovem chegou ao lar — mas esta
alegria sobre seu retorno foi tal, que jamais teriam conhe-
cido se ele não tivesse ido embora. Portanto, existe alegria
a ser obtida mesmo proveniente de pecadores. O objetivo
de Cristo foi mostrar que, mal como eram os publicanos e
outros pecadores graves, e desprezados como eram pelos
fariseus e escribas, ainda assim havia alegria a ser obtida
proveniente deles. Por sua salvação, o próprio coração de
Deus enche-se de júbilo!

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30

25. Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quan-


do voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as
danças.

O filho mais velho em nossos dias: “Eu não creio nestes


cultos de avivamento. Eu gosto da forma regular, ordeira,
e não aprovo estes ajuntamentos de tantas pessoas vindo
para ouvir a Palavra com excitação tão imprópria em que
certamente deve resultar.” O irmão mais velho pensava que
sabia de tudo e mais alguma coisa. Ele não foi tomado pela
excitação, como as outras pessoas — era velho demais para
isso — ele era um homem de hábitos muito corretos e gos-
tava de tudo feito num estilo ortodoxo frio.

26. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era


aquilo. “O que todos vocês estão fazendo? Perderam a ca-
beça? Por que todos vocês estão dançando? Quem vai pagar
essa música? Era melhor que vocês estivessem comigo no
campo trabalhando. Qual o sentido de toda esta folia?”

27. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou ma-
tar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Esses
servos falaram como alguns de nós têm relatado a outros o
que o Senhor tem feito quando almas têm sido salvas — o
pecador ativo e aqueles que estavam distantes de Deus em
razão de obras más têm retornado para Ele. Temos relata-
do isso na simplicidade de nossos corações e temos estado

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tão alegres de relatar as boas novas que sentimos como se


pudéssemos continuar dançando com a música enquanto
realizamos a narrativa!

28. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém,


o pai, procurava conciliá-lo33. Eu nunca sei o que admirar
mais — o amor do pai em ir encontrar o pródigo de regresso
ou em sair para conversar com este irmão mais velho de
coração frio. Ele era um filho, mas não possuía o verdadeiro
espírito de seu pai — ele incorreu num estado mental muito
errado — exatamente igual a certos cristãos que conheço os
quais têm sempre sido muito corretos e que possuem pou-
ca simpatia por aqueles que são grandes pecadores. Parece
como se não quisessem ver pessoas como essas trazidas ao
Salvador. “Por quê?”, exclamam eles, “há moças da rua e
homens que têm sido assaltantes e toda a sorte de ralé sen-
do trazida para dentro da igreja!” Tenho ouvido tais comen-
tários e tenho visto o mesmo tipo de espírito exposto nos
olhares de outros que não gostariam de dizer o que pensam.
Mesmo não sendo eles próprios nenhum pouco melhores
que outros por natureza, contudo, a Graça tem feito muito
em contê-los do pecado no qual outros têm caído — e foi um
erro eles conversarem como se fossem puros legalistas, tal
como fez este farisaico irmão mais velho!

29. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que

33 Em outras versões: “Seu pai saiu para suplicar-lhe”.

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te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca


me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus
amigos.
Um cristão desta espécie parece dizer ao Senhor: “Tenho
sido Teu filho todos estes anos, no entanto, estou ainda
cheio de dúvidas e temores. Não tenho nem um pouco des-
tas grandes alegrias que vejo estas outras pessoas possuí-
rem! ‘Nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me
com os meus amigos.’ Estou triste cada manhã e vou sus-
pirando o dia inteiro. Parece que consigo apenas um pe-
queno consolo, no entanto, aqui se encontram estes jovens
que foram salvos não faz uma semana — parecem cheios de
autoconfiança e estão felizes o máximo. Com certeza não
podem pertencer à provada família de Deus! Como é que
conseguem ser sinceros com toda aquela música e dança?
Não posso suportar isso, pois nunca tive experiência igual.”

30, 31. Vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os


teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o
novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu
sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.

Pense nisso, vocês que são povo de Deus, mas têm inci-
dido num murmurante estado de coração. Não estão vo-
cês sempre com seu Senhor e tudo que Ele possui não é de
vocês? Se você nunca teve um cabrito para alegrar-se com
seus amigos, de quem é a culpa? Seu Pai jamais negou isso

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33

a você. Tudo na casa Dele é seu, portanto, aceite e alegre-


se com o bem que Ele lhe provê, porque então você estará
em condições de ir encontrar seu pobre irmão que regressa
e de recebê-lo com um sorriso no rosto e com um coração
alegre!

32. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos


alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e revi-
veu, estava perdido e foi achado.

Após essa resposta, não havia mais nada que pudesse ser
dito, mesmo por um irmão mais velho murmurador.

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34

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE


ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHE-
CIMENTO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO E
PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA.

FONTE
Traduzido de
http://www.spurgeongems.org/vols49-51/
chs2863.pdf

Todo direito de tradução protegido por lei inter-


nacional de domínio público

Sermão nº 2863
Volume 49 de The Metropolitan Tabernacle
Pulpit,
Tradução: Marcelo Barros
Revisão: Cibele Cardozo
Capa e diagramação: Salvio Bhering

Projeto Castelo Forte


www.projetocasteloforte.com.br

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cê tenha encontrado esse arquivo em sites de
downloads de livros, não se preocupe se é legal
ou ilegal, nosso material é para livre uso para
divulgação de Cristo e do Evangelho, por qual-
quer meio adquirido, exceto por venda. É veda-
da a venda desse material

SAIBA MAIS SOBRE C.H.SPURGEON EM:


Projeto Spurgeon - Proclamando
a CRISTO crucificado.
www.projetospurgeon.com.br
Charles Haddon Spurgeon, comumente referido como
C. H. Spurgeon (Kelvedon, Essex, 19 de junho de 1834 —
Menton, 31 de janeiro de 1892), foi um pregador batista re-
formado britânico.
Converteu-se ao cristianismo em 6 de janeiro de 1850, aos
quinze anos de idade. Aos dezesseis, pregou seu primeiro
sermão; no ano seguinte tornou-se pastor de uma igreja ba-
tista em Waterbeach, Condado de Cambridgeshire (Ingla-
terra). Em 1854, Spurgeon, então com vinte anos, foi cha-
mado para ser pastor na capela de New Park Street, Londres,
que mais tarde viria a chamar-se Tabernáculo Metropolita-
no, transferindo-se para novo prédio.
Desde o início do ministério, seu ta-
lento para a exposição dos textos bí-
blicos foi considerado extraordiná-
rio. E sua excelência na pregação nas
Escrituras Bíblicas lhe deram o título
de O Príncipe dos Pregadores e O Últi-
mo dos Puritanos.

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