Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
tendes
muitos
pais
Mark Hanby
e
Craig Lindsay Ervin
DEDICATÓRIA
(parei napágina 20)
A Stanley R. Hanby, meu querido pai natural e mentor espiritual que me ensinou a ver
Deus com os olhos da natureza e da vida simples.
Lembro-me de quando me deu minha primeira Bíblia. Ele me disse: "qualquer pessoa
pode ler o que está escrito aqui e repetir... Contudo, se você se tornar verdadeiramente um
estudioso deste Livro, todos irão querer repetir o que você disser".
Mas, ainda assim, em todos estes anos, sempre quis dizer o que meu pai disse.
AGRADECIMENTO
Tenho certeza que percebeu o nome de Craig Lindsay Ervin na capa do livro. Ele é
meu filho no ministério. Apesar de muitas outras pessoas terem contribuído com seu
aprendizado, Deus, em sua graça, honrou-me com o privilégio de marcar seu coração.
Craig carrega de verdade meu espírito. Não há dúvidas quanto à sua revelação e à sua
inspiração, tão precisas na poesia de sua escrita. Ele também - e isso é quase um defeito -
herdou minha obstinação e minha missão.
É difícil para eu distinguir quais partes foram minhas e quais foram dele à medida que
lia e relia os originais deste livro. Honestamente, a maioria das palavras que você vai ler
são dele. Craig se ofereceu para compilar muitas informações de minhas fitas e
manuscritos quando comecei este trabalho. Ele também acrescentou novas idéias e temas
de nossos estudos de pastores e de conversas pessoais. Por fim, ele propôs um esquema
e uma ordem para o material coletado, incluindo referências das Escrituras, as quais
categorizou segundo os temas. A única tarefa restante foi condensar e arrumar o material,
um trabalho que também ele fez. À medida que cada capítulo ficava pronto, tomei
consciência do dom incomum e da habilidade diferenciada deste homem de Deus. Não
deixou para mim muito mais do que ler, sugerir e ficar extremamente agradado.
Portanto, na próxima oportunidade que ouvir ou ver o nome 'Craig Lindsay Ervin' na
capa de um livro, compre-o sabendo que investe em sua vida e em seu ministério.
SUMÁRIO
Dedicatória
Agradecimento
Apresentação de T. D. Jakes
Quem é meu pai?
Prólogo
Introdução
1 O dilema do Pai
2 A ordem do Pai
3 A herança do Pai
4 O coração do Pai
5 A aliança do Pai
6 A voz do Pai
7 O amadurecimento do Pai
8 As vestes do Pai
9 A unção do Pai
10 O relacionamento do Pai
11 A honra do Pai
APRESENTAÇÃO DE T. D. ]AKES
Nosso Deus é organizado, ele não é caótico. Portanto, se quisermos ter prosperidade,
tanto espiritual quanto natural, deveremos nos esmerar para conhecer e funcionar dentro
desta ordem divina.
Sempre sou lembrado desta verdade quando leio sobre a criação de nosso mundo no
Livro de Gênesis. Lá Deus revela, em sua sabedoria eterna, sussurrando ao ouvido de
seus servos, a arquitetura da criação do universo. Quando lemos, tomamos contato com a
origem da história e a sucessão de eventos que marcaram o alvorecer do mundo como o
conhecemos. É no Livro de Gênesis que Deus começa a organização de uma estrutura,
para dela toda verdade emanar e florescer. Por exemplo, ele faz do barro informe de um
planeta desabitado as ervas, plantas e toda a vegetação. Criou plantas cujas sementes
reproduzem e crescem por milhares de anos à brandura da brisa de verão.
"E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto
segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez' (Gênesis
1:11)."
Ele criou de uma só vez a vegetação com a qual cobriria seus campos. Seu plano foi
tão visionário que cada semente encerra uma planta em potência. A semente tem a chave
da reprodução e por isto elimina as possibilidades de extinção da espécie.
Cada espécie de planta teve em sua origem um destino. Seu futuro é perpetuado na
integridade da semente. Enquanto houver sementes germinando, a espécie estará
representada em sua linhagem e assim seu destino não pode ser interrompido.
É este o princípio que governa toda a criação de Deus e, da mesma forma, este
princípio mantém a ordem no universo - cada ser produz uma semente. Sejam plantas,
aves ou peixes, essas formas de vida sobreviveram por causa de sua capacidade de
produzir sementes.
Eu acredito que esta verdade pode ser aplicada a algumas questões espirituais com
as quais nos deparamos no reino espiritual. Penso que a ordem natural apenas reflete para
nós, através da simplicidade metafórica, questões maiores das verdades espirituais.
"Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual." (1 Coríntios 15:46).
Assim, Deus designou um de seus melhores vasos para nos guiar até o cerne de uma
questão negligenciada há tempo demais. O Dr. Hanby traz à luz as grandes
potencialidades espirituais até então escondidas. Nosso crescimento tem sido prejudicado
pela falta de esclarecimento neste ponto problemático. Acredito que dons surgirão e
limitações serão superadas à proporção que passarmos a vislumbrar como alcançar os
filhos espirituais de quem anda no verdadeiro ministério. Não há como um líder espiritual
atingir estas verdades poderosas sem impactar sua geração. Uma libertação poderosa do
ministério vem do entendimento de seu relacionamento produtivo transmitido de uma
geração à seguinte.
Esta é a pergunta que vem inquietando os corações de muitas pessoas, a quem Deus
irá trazer o alívio nesta hora.
Apesar de ser verdade o fato de muitos homens terem contribuído para nossa
educação e enriquecimento espirituais, poucos deles foram dotados com o poder de nos
levar a herança que Deus nos prometeu. Como Benjamim, que recebeu seu nome profético
do pai, esperamos com paciência. Finalmente, Deus enviou uma palavra para lançar
claridade sobre uma questão complexa que reside na fundação de nossa identidade. É o
nome que proclama a identidade. No entanto, seria possível que muitos funcionem sem um
sentido verdadeiro de identidade?
Raquel, no fim da vida, deu um nome inapropriado a Benjamim. Ela o chamou Benoni,
"filho de meu lamento", mas o pai chamou Benjamim,"filho de minha destra", ou "filho de
minha força". Da fala profética do pai de Benjamim veio a linhagem do Rei Saul, o primeiro
a reinar em Israel. De forma semelhante, é uma tragédia para os filhos seguir pessoas que
não lhes podem falar sobre seu destino. A muitos de nós foram dados nomes equivocados
pelas mãos de um sistema social moribundo como Raquel, que o fez baseado em sua
própria calamidade. É a estes filhos que sangram, cuja identidade esfacelada e os sonhos
destruídos impediram seu crescimento, que estendo o seguinte convite: façamos uma
jornada pela longa estrada rumo à verdade que nos leva ao reconhecimento de nossos
pais, pois é nos braços paternos que recebemos os nomes reveladores de nosso destino.
Lembrem-se, os ministérios de alguns de nós já estão maculados pela ilegitimidade e o
inimigo trabalha incessantemente para nos extraviar por completo da estrada da verdade.
Portanto, da mesma forma que uma planta dá a semente para que sua sucessora
perpetue, nós devemos reconhecer e valorizar a paternidade. Há algo que os pais podem
nos dar que permite evitarmos as disfunções que lastimaram muitos ministérios por todo o
globo. E importante que estes homens não passem toda a vida com suas sementes
encerradas em um ministério inutilizado que não se perpetua na geração seguinte. Há
sementes para serem semeadas cujos frutos serão poderosos.
Aos pais eu digo: "transmitam o que têm à geração seguinte. Passem o estandarte à
geração seguinte de homens fiéis". Seus ministérios serão perpetuados nas vidas de
homens que sentiram a mão calorosa de seus conselhos e a semente valorosa de seus
ministérios.
Por muito tempo, a igreja vem tentando reproduzir com documentos frios e infecundos
uma relação paternal representada no papel, mas que não encontra exemplo na realidade.
Ser filho realmente não é decorrência da união entre homens pelos laços frios de uma
decisão legal ou por meio de um documento. Devido a esta razão, muitos homens se
perdem, pois de outra forma, precisa da mão de um pai para abençoá-los. Carecem
daquele cuidado que traz a sabedoria, e esta, por sua vez, se acumula através das eras.
Contudo, é triste saber que muitos homens trazem um sentimento de vazio e uma falta do
laço verdadeiramente produtivo entre pais e filhos.
Não resta dúvida que nos serão dadas na vida incontáveis oportunidades para
sermos inspirados, para voltarmos nossa atenção à eloqüência de vozes e à magnitude de
discursos. Mas ainda assim, ao final de todas estas falas admiráveis surgirá um vazio a
doer no coração solitário. Esta é a dor do coração partido em uma geração de homens
divinamente escolhidos, mas que perceberam possuir muitos preceptores, todavia não
muitos pais.
Não quero desrespeitar ninguém, mas preciso dizer que muitas pessoas bebem da
água da verdade em fontes frias, cujas torneiras foram enferrujadas e estão contaminadas
com os costumes do mundo. São numerosos os locais onde podemos ir e receber de
muitos preceptores informações desconexas e inúteis, estatísticas frias e citações pom-
posas, mas, a bem da verdade, o Dr. Hanby juntamente com apóstolo Paulo afirmam
corretamente ao dizer que não temos muitos pais.
PRÓLOGO
O objetivo destas palavras prévias é advertir os leitores sobre o fato de que a verdade
contida nestas páginas seguintes pode ser considerada altamente polêmica e, com isto,
provocar alguma reação inflamada no impetuoso e no descomedido, pois se sabe que na
Igreja de hoje, sempre quando se fala nos conceitos de ordem, governo adequado da
igreja, autoridade no relacionamento e reconhecimento honrado, soam os alarmes e tocam
as sirenes com toda a pressa que requer a emergência iminente.
Muita gente tem sido ferida por pessoas que usam a Palavra de Deus como espada
para amputar e decepar. Mas agora, como sempre, hesitam em face da aproximação do
poder que emana da revelação verdadeira. Malco, o servo do sumo sacerdote, teve a
orelha cortada pela espada de Simão Pedro quando foram ao jardim prender Jesus. Assim
como no caso de Malco, muitas pessoas sangram como conseqüência de antigos
ferimentos apostólicos, ainda assim não são capazes de escutar a verdade. Se esta
situação descreve você, peço-lhe encarecidamente que não permita às antigas concepções
errôneas anuviarem a revelação do presente. Não carregue a dor latejante de aflições
passadas como substituição ao pulsar do coração do Espírito. Oro para que as palavras
deste livro sejam fonte de cura no caminho da liderança, da mesma forma como a mão de
Cristo restabeleceu a orelha cortada de Malco.
Apesar de por muitos anos ter ensinado a ordem entre pais e filhos, sempre me
incomodava ser chamado de pai no ministério por causa das seguintes palavras de Jesus:
"A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está
nos céus" (Mateus 23:9). Esta Escritura constantemente percuta em meu coração quando
alguém me pedia para ser seu pai espiritual. Com o desejo perene de obedecer à Palavra,
recusava determinado minha paternidade.
Porém, esta Escritura só se revelou para mim quando a compreendi com a ajuda da
luz de outras passagens bíblicas. As profecias de Malaquias que Deus "converterá o
coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais" (Malaquias 4:6). João
Batista foi enviado para "converter o coração dos pais aos filhos" (Lucas 1:17). Paulo se
refere a si mesmo como pai aos coríntios (ver 1 Coríntios 4:15) e, de forma indireta, declara
sua paternidade sempre que chama Timóteo, ou Tito, de filho na Palavra (ver 2 Timóteo
1:2; 2:1; Tito 1:4). O apóstolo João se refere a três tipos de pessoas: filhos, adolescentes e
pais (ver 1 João 2:12-14). Com isto, se Jesus disse para não chamarmos homem nenhum
de pai, mas tanto Paulo quanto João chamaram pessoas na terra de 'pai' - e todos estes
casos estão na mesma Bíblia -, então talvez, tenhamos compreendido maI o significado
original das palavras de Cristo. Deste modo, examinemo-las mais de perto. O texto integral
está assim em Mateus: "Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso
Mestre, e vós todos sais irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um
é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso
Guia, o Cristo" (Mateus 23:8-10).
Esta Escritura não é contrária a nós nos referirmos a alguém como pai espiritual mais
do que é um mandamento contra chamar nosso progenitor de 'pai'. Ela foi, com efeito, um
recado aos fariseus e às pessoas ligadas à religião do tempo de Jesus, que colocavam as
palavras de sábios rabinos e declarações teológicas em pé de igualdade com a Escritura.
Os fariseus se referiam aos rabinos do passado como 'os pais'. Assim, encontramos a
referência aos 'pais' no sermão de Estevão em Atos (7:44,51-52) e outra em Hebreus (1:1).
Portanto, em Mateus 23:9, Jesus chama de 'Pai' a autoridade máxima de Deus em nossas
vidas e em nosso ministério. É necessário que nos desobriguemos de qualquer linha de
pensamento (incluindo as doutrinas dos homens) que exalte a si mesma contra a
paternidade de Deus. Este é o motivo pelo qual a proibição de se chamar um homem de
pai é igual à outra que proíbe chamá-lo de preceptor ou de mestre. Em verdade, um pai
espiritual jamais tomará a autoridade da Escritura. Então, a paternidade na terra é apenas
uma confirmação do "Pai nosso que está no céu".
Além disto, nossa discussão sobre pais e filhos não exclui de forma alguma, as
mulheres no ministério. É fundamental destacar que o conceito de 'pais e filhos' não está
relacionado com o gênero, mas com os herdeiros espirituais da promessa, tanto os homens
quando as mulheres. Verdadeiramente, acredito não haver "nem homem nem mulher" (ver
Gálatas 3:28). Os requisitos de uma mulher no ministério são os mesmos dos homens:
deve haver ligação com a casa de um pai. A Bíblia ensina que na ausência de um herdeiro
homem, as filhas recebem a herança do pai (ver Números 27:7-9). A única exigência para a
mulher receber sua herança é se casar com alguém da mesma tribo de seu pai (ver
Números 36:8). Enquanto estivermos" deste lado da cruz", é necessário que as senhoras
no ministério estejam alinhadas com os maridos para que recebam a proteção espiritual
(ver 1 Coríntios 11:45). É claro que este princípio também opera para homens que são
chamados a ser "marido de uma só mulher" (1 Timóteo 3:12). Por isto, o uso dos termos
'pais' e 'filhos' nesta obra não intenciona, em momento algum, denegrir ou negar as
funções importantes desempenhadas por mães e filhas no Reino. Os princípios do
ministério se conservam verdadeiros, independentemente do gênero. São tanto "vossos
filhos e vossas filhas" (Joel 2:28) que devem profetizar.
Quando apresentei parte do material deste livro a meu editor e a amigos para que o
lessem, fui bastante alerta do com respeito às semelhanças entre este e o que eles
chamam de "o movimento de pastoreio". Disseram-me que o tipo de idéias aqui contidas
despertam em muitas pessoas algum receio de que um dia elas já tenham sido controladas
pela mensagem de ministros cuja força da "autoridade patriarcal" deixava-as praticamente
agrilhoadas. Por exemplo, a algumas foi dito para não fazerem compras de valor alto (como
comprar carros) ou reformar a casa, sem antes terem o aval e as instruções de outras pes-
soas superiores a elas no Senhor. Este controle levou a interferências trágicas e
destrutivas em relações de famílias, nas quais chegou-se a ponto de alguns homens
reclamarem direitos conjugais sobre as esposas de outros homens.
A questão da autoridade paterna não somente causa temor em muita gente, mas,
igualmente, os termos 'filho' e 'filiação' são alarmantes. Houve em certa época uma
doutrina chamada "filhos manifestos". Esta velha mensagem, que de tempos em tempos
costuma emergir, firmou raiz nos EUA dos anos de 1940 e 1950. Ela afirmava claramente
que os filhos manifestos de Deus se consideravam uma elite de homens que eram, através
de sua perfeição em se tomarem como Cristo, a verdadeira encarnação de Deus no
mundo. Novamente reitero, não é sobre nada disto que trata este livro. Aquelas pessoas
não entenderam que nos tomarmos como Cristo não significa nos tomarmos divindades.
Muito da verdade se perdeu por ter sido coberta pelo erro. Pode haver uma flor
exuberante no jardim, mas se os raios do sol não a alcançarem e ela ficar sempre à
sombra de alguma árvore, a beleza de suas pétalas não pode ser vista. De maneira trágica,
a verdade com respeito a pais e filhos foi ocultada e perdida nos últimos anos, quando os
esforços de Deus para levar sua verdade até a luz se viu encoberta pelas concepções
errôneas e pelo egoísmo dos homens. Os pais presumiram que tinham o direito de
controlar os filhos; estes últimos pensaram ser, literalmente, a manifestação de Cristo na
terra.
Este livro pretende levar-nos a todos para um relacionamento terno entre pais e filhos,
pois é este o coração do Reino. Oro para que as páginas desta obra se mostrem úteis no
realinhamento da estrutura do Corpo de Cristo e na cura aos ferimentos infelizes do
molestamento espiritual, mostrando a função adequada da autoridade paterna e a honra
filial.
INTRODUÇÃO
Quando penso em como tudo começou, percebo que este livro ganhou vida há muitos
anos, durante meus estudos bíblicos para pastores do Livro dos Hebreus. Estava eu
trabalhando no quinto capítulo incessantemente. Enfatizava a importância e o poder do
sacerdócio de Cristo. O objetivo do curso era preparar os crentes para o ministério,
observando sempre a vida de Jesus. Os versículos de 12 a 14 deste capítulo se tornaram,
com efeito, a base da qual demonstrava a necessidade importante pela maturidade dos
crentes e a exigência de seguirem precisamente o exemplo:
"Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes,
novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios
elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de
alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça,
porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm
as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal"
(Hebreus 5:12-14).
Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como
aconteceu com Arão (Hebreus 5:4-5).
Ao vagar por esta questão aparentemente sem resposta, decidi testá-la junto aos
corações dos companheiros de um ministério e amigos em vários estudos e seminários.
Para minha surpresa, a resposta não foi apenas decepcionante, mas muito confusa para
mim. Muitos homens e mulheres bastante emocionados me cercavam após eu terminar
minhas pregações com a exclamação de Eliseu: "Meu Pai, Meu Pai!' e me pediam: "Dr.
Hanby, o senhor poderia ser nossa proteção no ministério? Nós, de fato, não temos um
pai".
Igualmente inquietante era o número de outras pessoas que vinham até eu dizer o
quanto se alegravam por terem pais na Palavra. Explicavam-me sobre o minuto e a hora
exatos de sua conversão, juntamente com o nome do irmão que os havia trazido para o
Senhor. Mas, acredito eu, este pensamento não está relacionado com o que eu dissera. A
questão não é sermos levados até o Reino e sim termos um pai no ministério. Outra reação
que me desanimava enormemente era ouvir os nomes de seminários, escolas bíblicas, e
material de estudo de uma enormidade de preceptores famosos como resposta à
necessidade de relacionamentos pai—filho.
Por fim, havia trilhado todo o caminho dos pensamentos angustiantes. Estes não
traziam sentimentos que normalmente acompanham novas idéias espirituais, a iluminação
ou a revelação, ao contrário, constituíam-se de um sentimento de temor e respeito que
sempre surge antes da repreensão. Sentia-me preso em um deserto árido e desolado,
onde se encontram as carcaças dos inumeráveis ministérios despropositados que, por
conseqüência, falharam. Aquele lugar arruinado estava posto entre as fontes do começar
esperançoso e as águas estagnadas da intransigência. Os poucos que conseguiram
sobreviver naquele lugar amparavam-se em verdades já ditas e em chavões que, de
alguma forma, faziam-nos se sentir seguros ao transmitir o conhecimento roubado de
outras fontes.
Foi em meio à vastidão desta visão angustiante que o Senhor começou a me falar. A
princípio, lutei com o que parecia um grupo desconexo de escrituras que prescindiam do
contexto, mas, insisti na tentativa de colocá-las juntas e assim o significado foi ficando cada
vez mais nítido. Uma das passagens foi Atos 17:30:
"Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens
que todos, em toda parte, se arrependam”.
"Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR;
ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu
não venha e fira a terra com maldição".
Eis que lá estava, "corações dos pais". Este trecho acabou com minha paz e me
encheu de remorso de forma que mal conseguiria relatar. O meu coração enquanto pai se
recusara a mudar. Soube que a passagem não significava que todas as pessoas a me pe-
dir a paternidade pertencer-me-iam automaticamente. Contudo, me confrontava a verdade
dura que algumas mulheres e homens machucados na obra da palavra haviam sido
rejeitados por mim, ficando órfãos, ou ainda pior, tomados por filhos bastardos. Além disto,
qualquer herança concedida tanto por dom quanto por unção estava sendo retida,
infligindo-lhes um tempo difícil, tornado-os errantes espirituais. Longe da unção, o fluir de
um ministério centrado foi interrompido. Eles se viam limitados a tomar a vida de seus
próprios vasos, usando água emprestada ou roubada para repor seus estoques. O
resultado só poderia ser o desapontamento e a frustração vazia.
Algumas das pessoas que lerem as palavras neste livro irão se identificar
imediatamente com os filhos solitários, enquanto outros experimentarão juntamente comigo
a dor da irresponsabilidade paternal.
Se esta introdução já se apresenta a você como aguda e direta, então, talvez seja
possível que se ofenda com os capítulos seguintes, pois são o resultado real de meu mais
profundo arrependimento e de minha busca pela verdade absoluta. Aqui você verá meu
coração desnudado e minha alma desvelada. Caso decida continuar a leitura, poderá
também, comigo e com Malaquias, decidir-se por lançar fora o anátema e com alegria
promulgar a vida de Elias.
o DILEMA DO PAI
Depois de uma longa viagem pelo oceano, o jovem missionário ainda lutava contra a
sensação de enjôo quando desceu do barco no cais de uma terra muito longe de casa. Os
anos de preparação, o estudo do idioma e as orações o haviam finalmente levado às praias
com que sonhara. Cheio de paixão por aqueles que haviam se perdido e morrido em sua
terra, o missionário ansiava por compartilhar o amor de Jesus com aqueles que
desconheciam seu nome. O que aquele jovem missionário não sabia era que a religião
ocidental havia alcançado aquele povo antes da chegada da Palavra do Reino.
Os ministros que precederam sua chegada serviram como plataforma para o avanço
de um sistema denominacional e de doutrinas, e não como promulgadores do Cristo de
Deus. Ao caminhar por aquela terra, casa por casa, o jovem ministro percebeu que cada
representante da pequena comunidade cristã se agrupava a outros sob alguma
denominação: Anglicana, Assembléia de Deus, Batista, Presbiteriana, Metodista, Igreja de
Deus, Igreja de Jesus Cristo, Apostólica... Ele cogitou se aqueles nomes serviriam como
rótulo de identidade ou simplesmente marcavam um patamar no qual cada um destes
grupos havia interrompido a progressão da revelação de Deus.
"É esta obra de Deus? É assim que Cristo constrói a sua igreja? Será que nos
perdemos do propósito e do desígnio e nos tomamos mais mundanos do que o próprio
mundo, o qual desejamos trazer para Jesus? Onde erramos e o que poderíamos fazer para
retornar à simplicidade em Cristo?"
Em raras oportunidades uma igreja recebeu mais de Deus do que recebera o povo da
antiga Corinto. Primeiramente introduzidos na verdade básica pelo apóstolo Paulo, o povo
de Corinto foi depois banhado pelo fluir eloqüente da revelação divina de Apolo.
Posteriormente, seriam ainda mais enriquecidos pela testemunha ocular maior do
ministério de Jesus naqueles dias, o apóstolo Pedro. Corinto foi, com efeito, querida pelo
Senhor. A igreja era repleta da Palavra; a abundância dos dons espirituais em Corinto
parece ímpar, até mesmo para os padrões do Novo Testamento. Considerando-se a
grande riqueza da revelação, a visão e a expressão carismática que foram depositadas
nesta comunidade cristã primeira, parecer-nos-ia correto considerar este cenário um
modelo de tudo aquilo que a igreja deveria se tornar. Porém, até mesmo uma leitura
descompromissada de nossa Bíblia da carta aos coríntios não revela o modelo, e sim a
desordem.
('Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar
como a filhos meus amados. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo,
não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus.
Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores. Por esta causa, vos mandei Timóteo,
que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo
Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja" (1 Coríntios 4:4-17).
Nestas poucas frases, o apóstolo mostra o caminho para a igreja de Corinto sair do
dilema. Paulo os alerta que devem segui-lo, pois é seu pai no evangelho. Fala a eles como
seus filhos e envia seu filho no Senhor, Timóteo, para lembrá-los da verdade apostólica. O
apóstolo Paulo não embarcou em uma viagem rumo ao estrelato espiritual ao pedir a um
grupo de cristãos para serem seus imitadores. Paulo teve plena consciência de sua própria
identidade, dizendo, mais tarde, na mesma epístola:
«Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo,
pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que
me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia,
não eu, mas a graça de Deus comigo" (1 Coríntios 15:9-10).
Paulo sabia quem era e também o motivo de a ele ser concedido o seu lugar em
Deus. Foi a igreja de Corinto que não aceitou a paternidade de Paulo e portanto não teve
um verdadeiro pai para seguir. Na medida que uma congregação ou um ministério fique
fora da ordem de Deus, as pessoas padecem de distúrbios e falta de identidade. Se
estivermos sem pai, estamos nós, igualmente, sem identidade, sem herança, sem tradição,
e sem irmãos verdadeiros.
A ordem de Deus em seu Reino é a ordem de pai e filho. Paulo escreve para uma
cultura caótica e carismática no trato de um pai com seus filhos e por isto apresenta
Timóteo como um modelo de quem é realmente um filho no ministério. O apóstolo então diz
que estas são formas de Paulo ser em Cristo, ensinando em todos os lugares e em todas
as igrejas. Se nossa meta é encontrar uma saída da confusão, faz-se necessário
encontrarmos nosso caminho no Reino.
Devemos retornar ao princípio divino de pai e filho. Esta verdade se perdeu na Igreja
devido ao fato de termos aplicado os modelos das práticas modernas e gestão e negócios
a nossos relacionamentos em lugar de seguirmos o padrão bíblico. Contratamos pastores e
líderes para exercerem determinadas funções dentro de uma estrutura organizacional que
se assemelha a qualquer franquia de hambúrgueres muito mais do que segue a verdade
espiritual.
Atualmente, uma pequena igreja se associa a um grande ministério ou à
denominação que lhe serve de "quartel general", como se fosse a franquia de alguma linha
de produtos famosa. Com isto, a pequena igreja recebe da outra o nome, a logomarca, a
segurança organizacional, na medida que adere a seu nome o de uma "rede" nacional. Os
pastores se tornam gerentes executivos nestas filiais, que por sua vez contratam
assistentes da gerência para atuarem em áreas determinadas: visitas, música, mocidade,
administração, etc. O pastor, juntamente com seus assistentes, ajuda no recrutamento e
treinamento do grupo de voluntários para que exerçam tarefas programadas. O resultado
deste trabalho são mais negócios e o recrutamento de novos clientes que financiam mais
prédios em melhores localizações. Damos a este movimento o nome de crescimento da
igreja. Damos a este movimento o nome de sucesso. Todavia, qual o nome que Deus dá a
isto?
Praticamos atos os quais Deus nunca nos disse para praticarmos. Deus nunca disse
para nos constituirmos exatamente como as nações do mundo. Nunca disse que
desenvolvêssemos sistemas para dividir a verdade em áreas separadas mediante a
nomeação e numeração das pessoas. Fomos nós quem fizemos nossas denominações
para parecermos com qualquer outra nação.
''Porque eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judd o sustento
e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água; o valente, o guerreiro e o juiz; o
profeta, o adivinho e o ancião; o capitão de cinqüenta, o respeitável, o conselheiro, o hábil
entre os artífices e o encantador perito" (Isaías 3:1-3).
Esta profecia reflete a situação vivida em 606 a.C., quando Nabucodonosor tomou à
Judéia todo o tesouro e as melhores pessoas para a Babilônia. Por exemplo, o profeta
Daniel e seus três amigos eram alguns dos príncipes e homens de poder que foram
levados ao cativeiro na qualidade de líderes de Israel daquela época (ver 2 Reis 24:13-16).
Como conseqüência do pecado de Israel, Deus retirou a excelência do aporte dado pela
liderança como julgamento ao restante do povo, para que este não incursasse em
transgressões ainda maiores e, desta forma, sofressem sentenças ainda mais pesadas.
Deus sempre retirará os melhores para que o restante se alinhe a seu propósito.
Diante deste quadro, perguntamos: onde está o poder de Deus na Igreja de hoje em
dia? Onde estão os homens de poder, apóstolos e profetas que outrora falavam e as
nações tremiam? Deus nos retirou a excelência a fim de que retornássemos a seu
caminho. O desejo de Deus é restabelecer a Igreja do Reino por completo. "Eis aqui estou
para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo"
(Hebreus 10:9). Deus extirpa a liderança madura; o resultado é a falta de excelência na
liderança.
''Dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles. Entre o povo, oprimem
uns aos outros, cada um, ao seu próximo,' o menino se atreverá contra o ancião, e o vil,
contra o nobre" (Isaías 3:4-5).
Quando o povo de Deus recusa a maturidade em Cristo, são sentenciados a perder a
maturidade e a conseqüência é haver indivíduos imaturos em posição e liderança - os pai?
são substituídos por filhos.
Ao ter dito aos coríntios "Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em
Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais" (1 Coríntios 4:15), Paulo se referiu à raiz do
problema: a falta de uma liderança paterna madura. No lugar de terem muitos pais,
possuíam dez mil preceptores. A palavra grega para preceptor é 'paidagogos', em
português 'pedagogo', cuja etimologia diz 'aquele que conduz a criança'. O termo se referia
ao servo cuja tarefa era levar as crianças à escola. Com isto, os pais foram substituídos por
servos que não estavam relacionados à herança espiritual.
Hoje, milhares de ministros são pessoas educadas nas melhores escolas. Muitos
tiveram a educação formal complementada com muitos recursos da tecnologia, bem como
livros e revistas especializados. Apesar de nunca ter havido de fato uma grande quantidade
de material bíblico disponível, há alguns pontos preciosos da manifestação do poder
bíblico. Por isto, conseguimos alcançar milhões de pessoas com nossas informações. Mas,
sem o relacionamento espiritual, a verdade a ser compartilhada não pode ser dada e
tampouco recebida.
A razão de não vermos alguma manifestação de poder nas proporções bíblicas é não
estarmos compartilhando—dando e recebendo—consoantemente com o padrão bíblico.
Temos dez mil preceptores que nos conduzem até a escola, todavia, não temos muitos
pais.
A família sem pai padece espiritualmente tanto quanto sofre de forma financeira,
social e psicológica. A pressão sobre as mães nesta condição e sobre as crianças sem o
pai é demasiada. Quando o pai não está presente para ensinar aos filhos as questões
relacionadas a Deus, os corações destes últimos se avultam em ira e, por isto, desonram a
autoridade (ver Efésios 6.1-4). Ocorre que a opressão surge quando pessoas imaturas
tomam conta das congregações, liderando o povo sem haver nenhuma visão verdadeira.
"Não havendo profecia, o povo se corrompe" (Provérbios 29:18).
Outro traço da igreja sem paternidade é o desejo por alguma identidade. Isaías
escreveu:
"Quando alguém se chegar a seu irmão e lhe disser, na casa de seu pai: Tu tens roupa, sê
nosso príncipe e toma sob teu governo esta ruína; naquele dia, levantará este a sua voz,
dizendo: Não sou médico, não há pão em minha casa, nem veste alguma; não me ponhais
por príncipe do povo (...). Sete mulheres, naquele dia, lançarão mão de um homem, dizendo:
Nós mesmas do nosso próprio pão nos sustentaremos e do que é nosso nos vestiremos; tão-
somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio" (Isaías 3:6-7; 4:1).
A ORDEM DO PAI
O pai do rapaz estava presente no recinto. Fora até lá com o único intuito de,
novamente, afiançar o filho para mantê-lo longe dos problemas. Nutria a esperança de que
um talão de cheques e uma caneta pudessem pagar pelo erro do filho. Mas ao juiz não
interessava seu dinheiro, contrariamente, pediu que o pai relatasse onde havia estado
durante a infância do filho.
O pai, então, narrou uma história breve de sua própria infância. Quando nascera, seu
velho pai já havia abandonado a família, razão pela qual fora obrigado a abrir mão da
infância e ser o "homem da casa". Ganhando pouco e trabalhando muito, maldizia o pai
que nunca conhecera por metê-lo em um mundo de pobreza que conhecera bem demais;
sendo assim jurou que seu filho jamais experimentaria a pobreza.
Diante do juiz, admitiu que em seus esforços para prover a família com uma vida
melhor, raramente teve tempo para cultivar a paternidade. Todavia, ressaltou o fato de
poder pagar todo tipo de conforto e luxo para seu filho. Mas, ao olhar de sua tribuna, tudo
que o juiz viu foi um menino pobre com muito dinheiro cujo crime foi roubar: infringia a lei
para roubar a atenção do pai. Diante destes fatos, como tal caso deveria ser julgado? a juiz
compadeceu, mas não poderia negligenciar os fatos, pois não deveria somar mais uma
atitude que mantivesse aquele círculo vicioso. Então, concluiu que a melhor solução seria
apertar as rédeas, porque, apesar de tal medida causar desconforto, conduziria aquele
jovem à maturidade.
O réu foi considerado culpado e seu pai foi responsabilizado. A sentença do filho foi
quarenta horas de prestação de serviços à comunidade para que aprendesse os valores da
honra e do respeito. Ao pai, foi exigido que desse uma grande quantidade de atenção ao
filho para aprender o valor do relacionamento.
O juiz bateu o martelo com precisão. O tribunal havia decidido em nome do futuro,
condenando o passado disfuncional. A justiça foi feita e os relacionamentos foram
assegurados por um juiz que levou ordem à casa do pai e do filho.
No início, a ordem do universo foi a perfeição, desde a minúscula flor até a maior das
aves era tudo harmonia - incluindo os relacionamentos. Mas quando o pecado entrou no
mundo, a ordem natural de perfeição tomou-se um caos. Em lugar de a perfeição
reproduzir a perfeição, muitos espinhos cresceram e a sufocaram.
Há que se começar novamente aprendendo a semear nas vidas das outras pessoas
para fazermos a colheita de relacionamentos corretos. E devemos começar com a ordem
de pai e filho.
Foi mediante esta ordem que Deus interveio e prometeu um Salvador através da
semente justa de Sete, "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o
seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3:15). Pois,
em nove gerações de Adão é possível ver o coração de Deus se voltando contra seus
filhos por causa da maldade destes. "Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia
multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se
arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração"
(Gênesis 6:5-6). Este teria sido o fim dos filhos de Adão, exceto porque "Porém Noé achou
graça diante do SENHOR" (Gênesis 6:8). Deus encontrou um filho que poderia tornar-se
pai. O Senhor salvou Noé, sua esposa, os filhos e esposas. Todos foram salvos por
pertencerem à casa de seu pai, Noé, que se tomou um pai para toda a raça humana e um
pai no ministério quando ofereceu um sacrifício pela ocasião de seu desembarque da arca.
Deus mais tarde iria abençoar um homem de nome Abraão, filho de Tera, filho de Naor,
descendentes de Noé. Deus levou Abraão a ser o pai de uma nação, "Por que eu o escolhi
para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho
do SENHOR" (Gênesis 18:19),
De Abraão vieram Isaque, Jacó e seus doze filhos: doze tribos, uma nação. Abraão,
Isaque e Jacó foram pais no ministério e pais de uma nação. Cada um dos filhos de Jacó
foram pais de uma tribo. A bênção de Deus passou de pai para filho.
Setenta e cinco pessoas foram para o Egito e milhões de lá voltaram. Quando Israel
esteve sob o jugo de Faraó, o coração de Deus se voltou para seus filhos. Deus viu a
nação inteira como seu filho. Assim, todos os primogênitos egípcios morreram e Israel se
libertou, porque "Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho meu primogênito" Êxodo 4:22.
Esta nação seria libertada por Deus mediante um pai no ministério ao qual chamaram
Moisés.
Apesar de Deus escolher dar a promessa a todos os filhos de Abraão, apenas uma
das tribos serviria em sua casa. O tabernáculo deveria ser administrado e seus serviços
executados por uma tribo, a de Levi. Da tribo dos levitas, uma família - a família de Arão -
foi escolhida para o sacerdócio no Santo dos Santos. Arão foi destacado por Moisés como
pai do sacerdócio, que também funcionava sob a ordem de pai e filho.
''Faze também vir para junto de ti Arão, teu irmão, e seus filhos com ele, dentre os
filhos de Israel, para me oficiarem como sacerdotes, a saber, Arão e seus filhos
Nadabe, Abiú, Eleazar e ltamar" (Êxodo 28:1).
''Farás também chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os
lavarás com água. Vestirás Arão das vestes sagradas, e o ungirás, e o consagrarás
para que me oficie como sacerdote. Também farás chegar seus filhos, e lhes vestirás
as túnicas, e os ungirás como ungiste seu pai, para que me oficiem como sacerdotes;
sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo durante as suas gerações" (Êxodo
40:12-15).
Arão e seus quatro filhos refletiam os cinco dons do ministério da Igreja: "E ele
mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres" (Efésios 4.11). Apesar de todos os israelitas serem
adoradores de Jeová, apenas Arão e suas gerações futuras poderiam servir no ministério
com o ofício de sacerdotes. Talento, inteligência, educação, dedicação e devoção ao
Senhor são atributos maravilhosos na família de Deus, mas não são jamais a qualificação
para o ministério. O único sacerdócio realmente duradouro acontece através das gerações.
Para ser sacerdote, seu pai há de ter sido também sacerdote.
Não eram apenas os sumo sacerdotes os únicos a seguir a ordem de pai e filho, mas
o diaconato do antigo testamento - os levitas - também foram escolhidos sob a mesma
ordem: "Também farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Levi, a tribo de teu pai, para
que se ajuntem a ti e te sirvam, quando tu e teus filhos contigo estiverdes perante a tenda
do Testemunho" (Número 18:2).
Os filhos de Levi serviram aos filhos de Arão. Desde tocarem música a carregarem
mobílias, os levitas serviram como ajudantes e assistentes aos sacerdotes.
Independentemente do quanto o trabalho parecesse subalterno, era considerado ministério
verdadeiro. Por isto os levitas eram ministros - porque a qualificação para seu ministério
era serem filhos de Levi. Assim como era necessário ser filho de Arão para alguém ser
sacerdote, não se poderia sequer limpar as cinzas do altar se não se tivesse Levi como pai.
Toda a humanidade pecou e caiu da glória do Senhor por causa de seu pai Adão. A
salvação do dilúvio ocorreu mediante um pai, Noé. Todo o povo de Israel foi escolhido por
um pai, Abraão. Todos os sacerdotes tinham um pai, Arão. Todos os levitas eram de um
pai, Levi. Tudo o que vem de Deus é de pai para filho. Qualquer desvio na ordem de Deus,
é um desvio de Deus.
Esta ordem foi pervertida na época de Eli, o sumo sacerdote. A luz do sacerdócio
esmaeceu quando os filhos de Eli, Hofni e Finéias (chamados por Deus de os filhos de
Belial), roubaram das oferendas e usaram seu ofício para manter relações sexuais ilícitas.
Mais tarde, estes falsos sacerdotes enfrentaram uma batalha contra os filisteus.
Imaginaram que se com a Arca da Aliança desfilassem perante os exércitos seriam,
seguramente, os vitoriosos, mas, simplesmente desfilar com uma aliança a qual não se
cumpriu não é o segredo para a vitória. E ao mesmo tempo, da linhagem de Eli nasceu o
filho de Finéias, Icabode, ou "A glória se foi". A conseqüência foi o fim da linhagem de Eli.
Contudo, Deus concebeu outra forma de se preservar a ordem de pai e filho, Deus
respondeu às orações de uma mulher chamada Ana, que entregou seu primogênito ao
serviço na casa de Deus. Ele chamou Samuel para ser o novo pai de Israel; ser: "um
sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente edificar-lhe-ei
uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre" (1 Samuel 2:35),
Samuel foi um homem de transição no desenvolvimento do povo de Deus rumo a seu
propósito definitivo de trazer-nos o Messias. Samuel foi, deste modo, a ponte entre a
rejeição da linhagem de um pai e o profeta que estabeleceu a linhagem do Messias.
"Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre Israel (...),Porém seus
filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram
subornos, e perverteram o direito. Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e
vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos
teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o
têm todas as nações. Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos
um rei, para que nos governe. Então, Samuel orou ao SENHOR" (1 Samuel 8:1,3-6).
Quando o povo desejou ser como as outras nações e seguir um rei no lugar de seguir
Deus, perdeu o fluir da bênção entre as gerações, transmitido de pai para filho. Ao alterar a
forma de sua submissão, o povo não só rejeitou a ordem de Deus, como também
interrompeu a bênção contida na ordem a qual rejeitava.
''Disse o SENHOR a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te
rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele. Segundo todas as obras que fez desde
o dia em que o tirei do Egito até hoje, pois a mim me deixou, e a outros deuses serviu, assim
também o faz a ti. Agora, pois, atende à sua voz, porém adverte-o solenemente e explica-lhe
qual será o direito do rei que houver de reinar sobre ele" (1 Samuel 8:7-9).
"Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei, e
disse: Este será o direito do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos
filhos e os empregará no serviço dos seus carros e como seus cavaleiros, para que
corram adiante deles; e os porá uns por capitães de mil e capitães de cinqüenta;
outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes; e outros para
fabricarem suas armas de guerra e o aparelhamento de seus carros. Tomará as
vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará o melhor das vossas
lavouras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus servidores. As
vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos
seus servidores. Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos
melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu trabalho. Dizimará o
vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos. Então, naquele dia, clamareis por causa
do vosso rei que houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia” (1
Samuel 8:10-18).
Davi foi ungido como rei. Ele lutou com valentia, governou com graça, mas pecou com
exagero. Entretanto, quando caiu, Davi procurou o reavivamento do coração e do espírito,
disponível para todos aqueles que se voltam ao pai.
Foi de Davi o desejo de construir uma casa para Deus. No entanto, Deus falou que
jamais lhe expressara, ou a qualquer outra pessoa, algum desejo que a construíssem. Ao
contrário, foi Deus quem construiu uma casa para Davi - uma casa edificada para sempre.
Quando as pedras do templo tornarem pó, a casa de Davi ainda verterá exuberância! Esta
casa é edificada na ordem de pai e filho; o filho de Davi estará sentado no trono para
sempre. Deus adotou Davi como seu primogênito e a casa de Davi como sua própria.
"Também O SENHOR te faz saber que ele, o SENHOR, te fará casa. Quando teus
dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o
teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma
casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei
por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de
homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não
apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti" (2 Samuel 7:11-15).
Deus jamais almejou que seu povo vivesse sob qualquer coroa humana, mas no
Reino de Deus. Os homens foram postos como reis por haverem antes rejeitado o caminho
de Deus. A ordem de pai e filho não é somente mais um tema dentre tantos nas Escrituras;
é, de fato, o princípio básico para todo o entendimento espiritual no Reino.
Quando foi do desejo de Deus se manifestar por inteiro, valeu-se da ordem de pai e
filho: "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as
coisas, pelo qual também fez o universo" (Hebreus 1:1-2). Quanto a Jesus, ele não operou
nada fora da completude perfeita da ordem de pai e filho. Por isto, é possível dizer que o
filho de Deus andou na ordem de pai e filho quando esteve na terra. Apesar de ser a
divindade encarnada, Jesus não realizou seus poderes divinos antes do comando do Pai.
Aquele que acalmou os mares, expulsou os demônios e foi erguido dos mortos disse: "o
Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai" (João 5:19).
Jesus veio ao mundo enviado por seu Pai, foi crucificado em sinal de obediência à vontade
do Pai e se ergueu novamente, ascendendo ao Pai! Além disto, Jesus não atuou em
qualquer ministério até que tivesse completo o padrão de pai e filho, realizado no rio
Jordão.
O Senhor Jesus, em quem Deus se manifestou em carne, não deu início a seu
ministério até ser declarado o Filho do Pai: "Ninguém, pois, toma esta honra para si
mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão. Assim, também
Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele
que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei" (Hebreus 5:4-5).
Todos nós já tivemos muitos instrutores e preceptores. Talvez tenhamos tido muito
mais de uma dúzia de professores no seminário, todavia, não temos muitos pais. O próprio
Jesus, exemplo máximo de todo ministério cristão, não operou qualquer ato ministerial em
exceção à ordem de pai e filho. Com isto, cabe concluir que se Jesus não obrou no
ministério fora da ordem de pai e filho, então, a nós não se reserva o direito de trabalhar no
ministério se não seguirmos a mesma ordem.
O ministério sempre flui de pai para filho. Quando Elias foi arrebatado na carruagem
de fogo, Eliseu não gritou "meu profeta" ou "meu mestre". Ele gritou "meu pai, meu pai" (2
Reis 2:12). Quando o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo ou a Tito, não se dirigiu a eles
como "meu assistente” ou “meu aluno", mas como "amado filho da fé" (1 Timóteo 1:2),
porque sem o relacionamento espiritual entre pai e filho, não há como acontecer a
transmissão das bênçãos e da autoridade verdadeira, tanto em espírito quanto em
identidade.
Timóteo, por exemplo, não foi filho biológico de Paulo. A ordem do ministério de
acordo com a Palavra de Deus é sempre de pai para filho, mas é uma ordem do Espírito,
portanto não necessita de gerações biológicas. Examinemos os seguintes exemplos:
Nós somos, com isto, o resultado da ordem de Deus de pai para filho, pois esta é a
ordem de nossa salvação; é a ordem do ministério; é o Reino de Deus.
''Ponde-vos também, agora, aqui e vede esta grande coisa que o SENHOR fará diante dos
vossos olhos. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao SENHOR, e dará
trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado
perante o SENHOR, pedindo para vós outros um rei" (1 Samuel 12:16-17).
A plantação foi destruída porque o reino dos homens foi suplantado pelo Reino de
Deus. Quando a Igreja rejeita a revelação de Deus e estabelece seu próprio reino, o
resultado é o arrasamento da plantação.
O povo deste mundo clama pelo Deus que o criou, mas a única forma de um dia se
conhecer o Pai é por intermédio do Filho. E a forma pela qual o mundo verá Jesus será
através da ordem de pai e filho que se manifesta na Igreja. Toda a criação geme e arqueja
na dor até hoje, esperando pela manifestação dos filhos de Deus (ver Romanos 8:19,22).
Se tanto pais como filhos não se voltarem uns para os outros, Deus cobrirá a terra
com um anátema, como profetizou Malaquias.
A HERANÇA DO PAI
Sentado a uma bela mesa de vidro muito bem polida, o pastor estudava para a
pregação da manhã de domingo. Apesar de seus sábados serem sempre dias de muito
trabalho, deveria de toda forma, preparar-se. Teria de estar pronto, pois muitas coisas
dependiam de sua liderança.
Ao correr os olhos por seu escritório tão bem montado era difícil não notar os tantos
diplomas e certificados protegidos por molduras muito bem talhadas. Aqueles papéis, nos
quais se viam assinaturas importantes, denotavam as realizações do pastor no campo da
teologia, bem como certificavam seu mérito com ordem honorífica. As comendas conferidas
pelos sacerdotes da cidade estavam entre suas favoritas. Com o olhar perdido e o espírito
inquieto contemplava as atividades daquela semana.
Na segunda-feira, houve uma reunião com o pessoal da igreja, pois algo teria de ser
feito com relação à má-orientação sobre os chamamentos e, sem qualquer dúvida, seria
inevitável alguma mudança a respeito da falta de iniciativa e de comprometimento. Na
terça-feira, o pastor passou o dia todo em reunião de aconselhamento e em visitas. Seus
filhos estavam tristes por ele ter faltado à sua peça na escola, mas o caso é que "Deus está
em primeiro lugar". Tentou ajudá-los a entender. Obviamente, a quarta-feira foi quase toda
dedicada à preparação para o estudo bíblico da noite, interrompida apenas pelos
numerosos telefonemas. Quinta-feira foi o dia das correspondências que, a propósito, ele
se esquecera da carta de recomendação para o pessoal do ministério da penitenciária.
Buscando uma pilha de papel, fez algumas anotações, quando se lembrou do fiasco de
sexta-feira à noite: sua esposa simplesmente não lhe entendeu.
Ele teria de ficar em casa trabalhando na mensagem que iria pregar, mas a esposa
insistiu que saíssem para jantar. Naquela noite, estava irritada, acusando-o de desatento e
calado demais. Ainda por cima, as explicações sobre seus afazeres para o fim-de-semana
e os problemas da igreja não ajudaram em quase nada para acalmá-la. Ela só queria
passar um tempo junto com ele e por isto fez o comentário ácido: "preferiria estar só".
Apesar de as palavras não terem, por prudência, deixado sua boca, ele protestou
mentalmente: "se fosse você quem tivesse de pregar no domingo, não agiria desse jeito".
Foram para a cama sem trocar outra palavra.
Já eram 14 horas e se lembrou que o filho implorara para que fosse ao seu jogo no
campeonato mirim às 17 horas. "Só tenho três horas... Devo me apressar!"
Como um general que antecipa a próxima batalha, o pastor traçou sua estratégia.
Devido ao escasso crescimento numérico, a pregação deveria ser evangelizadora. Todavia,
a constante inquietação e as críticas da congregação o fizeram cogitar falar sobre união e
comportamento cordial. Seria muito bom se a mensagem fosse acolhida como um
conselho... Precisava de alguma coisa fora do comum, algo bastante poderoso. Correndo
pela prateleira lotada de livros, buscou com os olhos autores como Spurgeon, Tozer,
Wiersbe, Wesley, Finney e obras do tipo de como estruturar um sermão com simplicidade
de Ford, Ajuda no púlpito... Às vezes o velho pode se apresentar como novo. Com seu
poder em apresentar os temas, poderia alcançar os resultados.
Mas, espere um momento. Qual era mesmo aquela nova mensagem sobre as trevas
e os espíritos... Espíritos... Quem sabe sobre os anjos. Ó Deus, Oxalá pudesse ter com um
deles agora!
Revirando a pilha de revistas sobre o ministério já tão lidas e relidas, anotou no papel:
"nada de novo aqui". Colocou uma fita no aparelho de som. Escutou com atenção a parte
introdutória daquela conferência. Um colega havia ficado impressionado com aquela
mensagem e recomendara que a ouvisse. "Muito boa! Como é poderosa esta mensagem!
Quem é este pregador?"
Lápis na mão. Anotou o tema, os tópicos e tomou emprestadas frases que ouvia. Está
pronto o esqueleto da pregação. "Agora, onde estão as chaves do carro?"
Acometido por uma segurança falsa e pela hipocrisia justificada, o pastor disse
consigo mesmo que todo mundo consegue seu material de trabalho em algum lugar. Então
confortou-se com a idéia de que "ninguém tem direitos sobre Deus", ou "não existe patente
registrada sobre a inspiração".
No dia seguinte, era chegada a hora. Subindo ao púlpito, sorria com simpatia à
congregação e começara a falar no conhecido tom profético: "Ontem, estava em meu
escritório mergulhado em orações e Deus falou comigo...
Uma das premissas básicas deste livro é que a bênção das gerações foi perdida pela
Igreja da atualidade. Na Bíblia, a geração atual deveria receber as promessas das
gerações anteriores através de seus pais, pois a revelação de Deus cresce através das
gerações: O "Deus de Abraão" se tornou o "Deus de Abraão e Deus de Isaque". Então ele
se tomou o "Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó".
A Bíblia é um livro escrito para as gerações. "Ficará isto registrado para a geração
futura, e um povo, que há de ser criado, louvará ao SENHOR" (Salmo 102:18). "Uma
geração louvará a outra geração as tuas obras e anunciará os teus poderosos feitos"
(Salmo 145:4). O propósito exato da Bíblia ter sido escrita é para recebermos Deus. Esta
verdade não está apenas em uma revelação, mas permeia todo o registro escrito do legado
rico que é o relacionamento entre as gerações. Hoje em dia tendemos a nos esquivar
propositadamente desta profusão de árvores genealógicas na Escritura. Todos estes
detalhes das gerações de Adão, Noé, Sem, Tera, Jacó, e as doze tribos de Israel,
recebemo-los como se não fossem essenciais. Apesar de estas árvores nos parecerem
irrelevantes, é imperativo que precisamente a presença delas, repetidas tantas vezes em
nossa Bíblia, indique um interesse enorme no coração de Deus pelas gerações.
Também o filho Isaque teve dois filhos. Aqui, o nascimento de gêmeos é significante
como sinal de porção dobrada no processo de geração espiritual. É o aumento das
gerações em Deus. O próximo aumento das gerações aconteceu na vida de Jacó. Teve
dois filhos de Raquel e outros dez mais de Lia e de duas concubinas. De um para dois e
depois para doze, o aumento de Deus pôde se ampliar de geração a geração (ver
Deuteronômio 32:30).
Depois de Jacó, os doze filhos se tornaram doze tribos. Uma nação de milhões tornou
a Canaã com poder e força. Se o crescimento numérico foi grande, a bênção foi ainda
maior. A semente de Abraão foi riquíssima, e em lugar de alguns palmos de terra, a nação
de Israel recebeu a terra em toda sua extensão. Os filhos dos homens que viveram em
cabanas agora poderiam usufruir de cidades que não construíram, plantações que não
cultivaram, vinhas que não plantaram, de gado que não criaram e de poços que não
cavaram, pois tudo isto receberam por terem um pai. Seu crescimento não foi apenas
físico, financeiro e social, mas também espiritual. Abraão, seu pai, esperou por muitas
noites escuras de vigília para ouvir a voz de Deus, afinal, sua semente encerrava, por
exemplo, a lei escrita de Moisés. Abraão sacrificou seus cordeiros, mas seus filhos
ganharam um sacerdócio firmemente estabelecido. O pai adorava sob as estrelas, sem
saber exatamente onde poderia encontrar Deus. Seus filhos já puderam fazê-lo na casa de
Deus: "Ali, virei aos olhos de Israel, para que, por minha glória, sejam santificados” (Êxodo
29:43).
Abraão conheceu Deus como "EI Shaddai" (o Todo-Poderoso), porém, seus filhos já o
chamavam de "Yahweh" (o Senhor). "Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus
Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, O SENHOR, não lhes fui conhecido" (Êxodo 6:3).
Esta é a progressão espiritual das gerações que começa com uma única nascente, mas
que flui para um oceano vasto de poder. Esta é a magnitude da bênção de Deus, passada
de pai para filho através da herança espiritual.
"E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor" (Efésios 6:4). Nós provocamos nossos filhos à ira porque lhes
retiramos a esperança do coração das novas gerações! Por que deveriam elas, então,
honrar seus pais e suas mães? Por que a geração atual deve buscar aprender com o
passado para poder ser um dia a bênção de seu futuro? Ela não vê futuro. Impusemos
muito vigorosamente o "aqui e agora" em seu espírito e apagamos qualquer paixão pelo
cultivo do relacionamento entre as gerações em Deus.
De todo o coração, acredito na volta física de Cristo à terra. Anseio com ardor por vê-
lo chegar nas nuvens de glória, mas o problema é nosso foco ser unicamente o retorno
definitivo de Cristo. Este pensamento nos distraiu das inúmeras vezes que Cristo vem à
nossa vida cotidiana - a verdadeira manifestação de sua presença a qual desejamos. Por
reduzirmos assim nosso foco, bloqueamos indefinidamente a progressão espiritual via as
gerações.
Todos estes itens e muitos outros fluem de geração a geração, mas nossa falha em
reconhecer ou participar nesta ordem de Deus nos desligou da verdade espiritual da
partilha no ministério. Quanto deveremos ter perdido em conseqüência de nossa falha em
honrar nossos pais? Qual seria o tesouro espiritual a habitar nossas vidas se tivéssemos a
condição adequada para recebê-lo? Quais os tropeços desnecessários experimentará a
geração futura do ministério se a ordem e o fluxo não forem restabelecidos no presente?
Esta primeira geração da Igreja que passou o legado dos santos à geração seguinte
de crentes nos deu as bênçãos que usufruímos até hoje. A perda atual de poder e a unção
apostólica diluída se devem à destruição e à negligência para com a ligação entre as
gerações. Jesus esperava que as gerações o seguissem, não apenas à sua obra, mas que
também multiplicassem o legado espiritual entre as gerações. "Em verdade, em verdade
vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai" (João 14:12). Isaías profetizou: "para que se
aumente o seu governo, (...) para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça,
desde agora e para sempre" (Isaías 9:7). As primeiras gerações de crentes de fato
mudaram o mundo. O problema é que, entre elas e nós, o fluir das bênçãos espirituais foi
rompido. Por séculos, cada nova geração da Igreja se viu obrigada a produzir nova gênese
em vez de aumentar o fluxo de crescimento das gerações anteriores.
A única forma de recebermos o legado de Deus é através da ligação entre pai e filho.
Precisamos da redenção porque, na condição de filhos de Adão, herdamos sua inclinação
ao pecado. A necessidade de renascermos para entrarmos no Reino tem base no fato
espiritual de que apenas os membros da família recebem a herança. Através de nossa
ligação espiritual com o Filho de Deus, nos tomamos filhos e herdeiros: "Ora, se somos
filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo" (Romanos
8:17). Tudo o que vem de Deus a um crente é, pois, um legado.
O nosso legado em Deus deve ser tratado com honra e respeito. Não devemos
vendê-lo a preço nenhum, como o fez Esaú, desprezando o direito à primogenitura
(Gênesis 25:29-34). O direito de primogenitura de Esaú lhe dava também o direito às duas
partes da casa de seu pai. Apesar de muitas pessoas julgarem Jacó como traiçoeiro, esta
não é uma história de traição, mas por outro lado, é a história de um negociador brilhante e
de um costume mundano. Esaú não foi enganado para abrir mão de seu direito à primo-
genitura; ele o vendeu, e não apenas o legado natural, mas também o espiritual pois queria
saciar sua carne. A Deus não apraz quem despreza a primogenitura. Por isto disse o
Senhor: "Amei a Jacó, porém aborreci a Esaú" (Malaquias 1:2-3). Esaú vendeu sua posição
na promessa por um prato de comida, tornando-se um tipo terrível de crente freqüente no
Novo Testamento, que se importa mais com o estômago do que com a alma, e se serve
mais de bens materiais do que de espirituais. "Nem haja algum impuro ou profano, como foi
Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também
que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de
arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado" (Hebreus 12:16-17).
A venda do legado de pai e filho foi também a questão entre Nabote e Acabe:
"Disse Acabe a Nabote: Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está perto, ao
lado da minha casa. Darte-ei por ela outra, melhor; ou, se for do teu agrado, dar-te-ei em
dinheiro o que ela vale. Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o SENHOR de que eu dê a
herança de meus pais." (1 Reis 21:2-3).
Nabote se recusou a vender a vinha qual fosse o preço, mesmo se isto significasse
servir-se da máquina política do Rei Acabe. Ele poderia conseguir terras melhores, ou
talvez viver com segurança financeira para o resto da vida, mas aquela não se tratava de
uma terra qualquer. Era a que seu pai lhe legara; era a ligação espiritual com as bênçãos
de Abraão. Deus proibiu que ele vendesse seu legado em Deus independentemente de
preço ou motivo. Nabote não se vendeu, por isto foi morto. Jezabel, esposa de Acabe,
arquitetou o assassinato para que seu marido pudesse gozar da vinha de Nabote. De todos
os atos deploráveis de Acabe, este mereceu destaque da parte de Deus. A ira de Deus foi
acendida quando Acabe cruzou a linha das bênçãos entre as gerações e roubou o legado
de Nabote no Senhor. Elias foi enviado a Acabe: "No lugar em que os cães lamberam o
sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo" (1 Reis 21:19). Elias
profetizou a morte de Acabe e o local onde aconteceria; seria no lugar onde cometeu a
ofensa contra o legado de Deus. Mesmo assim, o julgamento de Deus só foi completo com
a morte de toda semente da casa de Acabe. Assim, a sentença para quem destrói um
legado é ter o próprio legado destruído e a sentença espiritual é sempre promulgada contra
aqueles que infringem o legado espiritual (ver Deuteronômio 19:14; 27:17).
Um pai espiritual passa anos em oração e décadas cavando um poço em sua vida,
daí minam as águas doces da revelação aos rios do relacionamento espiritual. Qualquer
filho verdadeiro é bem-vindo a mergulhar nestas águas quando sentir necessário, porque é
seu direito de herança. Entretanto, sem estabelecerem o relacionamento ou possuírem o
direito, muitos ladrões de ministério irão roubar as águas para abastecer o poço de seu
próprio espírito. Pois acreditam que desta maneira ninguém irá saber que eles não têm
uma fonte de água viva dentro de si.
A história de Elias e Eliseu é forte representante do legado espiritual entre pai e filho
no ministério. Fugindo de Jezabel, Elias se vê abatido e lamenta:
"Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus
pais" (1 Reis 19:4). O Senhor respondeu ao dilema de Elias dando-lhe a instrução que
ungisse Eliseu como "profeta em teu lugar" (1 Reis 19:16). Eliseu serviu ao homem de
Deus por vários anos, "deitando água nas mãos de Elias" e seguindo-lhe o ministério (ver 2
Reis 3:11).
Pela ocasião de quando ambos sabiam estar próxima a separação pelo fogo,
"Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça, antes
que seja tomado de ti. Disse Eliseu: Peço-te que me toque por herança porção dobrada do
teu espírito. Tornou-lhe Elias: Dura coisa pediste. Todavia, se me vires quando for tomado de
ti, assim se te fará; porém, se não me vires, não se fará" (2 Reis 2:9-10).
Outros homens além de Eliseu também foram chamados de "filhos dos profetas".
Eliseu não se comparava a seu pai na obra, mas estava sempre atento ao que pudesse
receber de Deus. Foi seguidor fiel de Elias no serviço, jamais o perdendo de vista, sabendo
que deveria estar em posição adequada para receber dobrada porção. Eliseu entendeu que
a única forma de se tomar o pai da casa era sendo o primogênito. A marca do primeiro filho
é "ver o pai onde quer que vá". Uma tradução literal do termo apresentado em 2 Reis
2:10 seria "quando me vires olho no olho". Assim, deve haver uma visão em comum, uma
força no relacionamento, fé em Deus e em ambos, pai e filho, para que a herança seja
legada. Pessoas como Esaú não servem para esta posição, pois nem dez mil lágrimas não
qualificam um filho sob o olhar de Deus, mas é apenas o movimento do coração que
permite o alinhamento correto com a visão de um pai. Com o clamor de "meu pai, meu pai"
a ligação espiritual entre as gerações se faz completa.
Eliseu realizou seu ministério com poder de porção dobrada. A Igreja atual deve
recobrar a ligação entre as gerações e o legado espiritual. A Igreja deve retornar à ordem
de Deus no ministério: a ordem de pai e filho.
["Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do
SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais,
para que eu não venha e fira a terra com maldição" Malaquias 4:5-6].
O CORAÇÃO DO PAI
Mas era a hora de cumprir minha palavra. Ele poderia estudar este terceiro ano onde
quisesse. Mais de mil pensamentos correram por minha cabeça: será que ele estava
preparado? Será que eu o ensinara o suficiente para o mundo real e sinistro que o
aguardava? Será que ele se lembrava de nossas conversas, dos avisos, dos princípios da
vida que havíamos discutido e rediscutido nos últimos tempos que passamos juntos? Será
que ele fingia me escutar, ou aqueles sinais de aprovação com a cabeça, tão presentes em
minha memória, eram o retrato da razão e da verdade em sua mente?
Os pneus novos pareciam bons. Durariam os próximos dois anos, pois ele moraria no
campus e não usaria muito o carro; "espero que volte pelo menos para o Natal", eu
ansiava.
À fala dele eu disse 'sim' e não argumentei com mais outra pregação.
Foi então que a porta se abriu e saiu de lá a fonte de todas as minhas preocupações,
vestido de calça jeans, tênis e uma camiseta da faculdade. Antes mesmo de eu abrir a
boca para dizer alguma coisa, ele já estava pendurado em meu pescoço - meu bebê, meu
filho, meu homem. "Pai, vou me lembrar de tudo. Eu o amo, pai. Por favor, não se
preocupe". Eu o vi partir e chorei copiosamente; o sol da manhã riscando o arco-íris em
minhas lágrimas. As palavras do apóstolo João foram ao encontro de minhas emoções
visivelmente manifestadas: "Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus
filhos andam na verdade" (3 João 1:4).
Voltando à casa com vagar, lembrei-me de um dos vizinhos da fazenda dizer que seu
filho se formara na universidade. Aquele homem simples me dissera que seu filho era um
homem de negócios bem sucedido. Ele nos deixa muito orgulhosos e nunca se esquece da
mãe e nem de mim". Aqui está o verdadeiro coração do pai: seu filho deve fazer melhor,
saber mais, ir mais longe. Freqüentemente nossos desejos e amor possessivo fazem com
que os filhos fiquem onde estamos, ou os impelem a realizar os nossos sonhos. É com
egoísmo que os tornamos servos de nossos planos pessoais. Ainda assim, cada pai de
verdade sabe que chegará o dia em que seus sonhos irão ceder.
"Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR;
ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu
não venha e fira a terra com maldição"(Malaquias 4:5-6).
Estes dois versículos contêm uma profecia, uma promessa de bênção e a ameaça de
uma maldição ao mesmo tempo. A profecia é que Elias voltaria antes do dia do Senhor. A
promessa de bênção é que o relacionamento entre 'pais' e 'filhos' seria restabelecido. A
maldição é que se não houvesse uma "mudança nos corações", a terra seria ferida com
uma maldição.
Esta profecia sempre foi tomada seriamente pelo povo judaico. A celebração da
Páscoa ainda é mantida por milhões de descendentes do Êxodo, pois esta época serve
para lembrarem de bênçãos passadas, bem como para esperarem os acontecimentos
futuros de Deus. Todos os anos na celebração da Páscoa, um jogo de louças e talheres é
posto à mesa para a chegada do profeta Elias. Um prato extra e um copo de vinho são
colocados; ninguém deve deles usar, pois os filhos de Abraão aprenderam que devem
esperar a vinda de Elias.
Será que a Igreja terá um lugar reservado para Elias? Na condição de cristãos (que
são os seguidores da revelação completa de Deus), teríamos nós um jogo de louças e
talheres na vida do Corpo para Elias voltar e ser bem-vindo? Ambas as vezes que Elias e o
espírito de Elias vieram, os líderes do povo de Deus encontraram um lugar para ele. A
Igreja o receberá agora? Seríamos nós melhores que nossos pais?
A menção de "ambas as vezes" não é um erro de impressão. Elias veio pela primeira
vez nos dias do rei Acabe, e no mesmo espírito de Elias veio João Batista. A última
profecia do Velho Testamento viajou como uma lança arremessada pela mão de Deus atra-
vés de quatrocentos anos de silêncio e ousou aos pés e Zacarias. Quando ofertava incenso
ao altar, um anjo veio ao pai de João com mensagem sobre uma criança que chegaria à
sua casa: "E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração
dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o
Senhor um povo preparado" (Lucas 1:17). Devido ao fato de não ter recebido a palavra do
Senhor, Zacarias foi silenciado como os quatrocentos anos antes de si. Igualmente, a Igreja
não terá uma voz verdadeira até os pais receberem a 'palavra do Senhor e se converterem
a seus filhos. Então, como Zacarias, dirão "cheios do Espírito Santo" (ver Lucas 1:67).
O envio de Elias foi uma preparação para o retorno de Cristo à terra. Deus poderia ter
enviado outro Moisés para libertar seu povo. Poderia ter enviado um Jeremias ou um Isaías
se quisesse um profeta. Enviaria Enoque se seu desejo fosse por alguém que pudesse
retirar da terra sem ver a morte. Poderia ser um José ou um Salomão se sua intenção
fosse novamente sabedoria na terra. Ou Deus poderia ter mandado um Davi se quisesse
louvor e adoração para preparar sua vinda. Contudo, a questão fundamental é: por que
Deus enviou o "no espírito e poder de Elias" para preparar sua vinda? Por que não outra
pessoa? Por que Elias - ou alguém "no espírito e poder de Elias" - deveria voltar antes do
Senhor?
A resposta é simples: Elias foi a única pessoa na Bíblia a passar uma porção dobrada
de seu espírito Rara um filho no ministério. Se considerarmos nosso estudo dos capítulos
anteriores, o termo 'pais' se refere a pais no ministério do Reino e Deus. O termo filhos' se
refere aos filhos e filhas que seguem um pai no ministério. Esta é a razão pela qual o
Senhor enviou "o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor". O
Senhor quer sua igreja no serviço do ministério com o poder da porção dobrada. Deus quer
seu povo passando o legado no ministério à geração seguinte para esta poder crescer e
expandir, de pai para filho o Reino. Consideremos o aumento dos milagres entre Elias e
Eliseu. Elias experimentou cerca de quatorze atos miraculosos em seu ministério:
Eliseu experimentou pelo menos vinte e oito eventos miraculosos em seu ministério:
Eliseu experimentou duas vezes mais milagres do que Elias. Deus desejou que o
Reino fosse manifestado na vida de seu povo na plenitude da porção dobrada do
ministério. Mas isto só pode acontecer se como no caso de Elias, os pais no ministério
converterem seus corações aos filhos. O coração do pai deve se voltar primeiramente para
os filhos; aí então, os filhos podem se converter aos pais e assim não acontecer, Deus irá
ferir a terra com um anátema. Todavia, primeiramente o ministério deve desenvolver o
coração de um pai.
Vejamos como as palavras no versículo seguinte são colocadas lado a lado: "sendo
sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no
deserto" (Lucas 3:2). A instituição religiosa estava corrompida, em situação perversa. Não
pode haver dois sumos sacerdotes quando o certo é existir apenas um! Nenhum destes
homens conhecia Deus. Eles serviam no templo todos os dias, mas ainda assim a palavra
do Senhor não havia sido acolhida por eles. Desta forma, a palavra foi até João no deserto.
Deus prepara o coração de um pai ao chamá-lo para receber uma família que não
tem pai. Quando a torrente de Querite secou, Deus enviou Elias para a família: "Dispõe-te,
e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva
que te dê comida" (1 Reis 17:9). Quem não tinha pai era fraco nos dias da Bíblia. Parte do
coração de um pai deveria se voltar para aqueles que eram sem pai no ministério.
Elias realizou um grande milagre ao suprir a casa da viúva e do filho. Ele também,
através e intercessão, trouxe de volta à vida o filho morto.
"Então, clamou ao SENHOR e disse: Ó SENHOR, meu Deus, também até a esta viúva, com
quem me hospedo, afligiste, matando-lhe o filho? E, estendendo-se três vezes sobre o
menino, clamou ao SENHOR e disse: Ó SENHOR, meu Deus, rogo-te que faças a alma deste
menino tornar a entrar nele. O SENHOR atendeu à voz de Elias; e a alma do menino tornou a
entrar nele, e reviveu. Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe,
e lhe disse: Vê, teu filho vive. Então, a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és
homem de Deus e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade" (1 Reis 17:24).
Mais tarde, Elias voltou-se para um menino camponês de nome Eliseu, que foi
chamado para auxiliar no serviço. Eliseu se valeu da porção dobrada do legado de Elias.
Tudo o que Eliseu foi no ministério estava embasado no coração e seu pai, que obedeceu
o Senhor e ungiu um profeta em seu lugar (ver 1 Reis 19:16).
João Batista foi a ponte sobre a qual as bênçãos e promessas dos pais no Velho
Testamento foram transmitidas aos filhos do Reino de Deus iniciadas no ministério de
Jesus. João preparou o caminho para todas as gerações subseqüentes com o propósito de
que conhecessem a Deus em um relacionamento que todas as gerações anteriores só
puderam saber em sonho. Foi por isto que Jesus disse a João:
"Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João
Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista
até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.
Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. E, se o quereis reconhecer, ele
mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça”' (Mateus 11:11-15).
João foi O maior dos homens, mas o menor no Reino. João tinha o coração de um
pai, porque um pai deseja a geração seguinte seja maior do que ele pode imaginar. Os
discípulos de João Batista estavam preocupados que seu ministério fosse apagado por
aquele a quem batizava:
"E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do
qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro. Respondeu João: O
homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas
de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o
noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo.
Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:26-30).
Eis aqui a conversão do coração dos pais aos filhos. Este é o espírito de Elias que
deve ser enviado de Deus antes do grande e terrível dia do Senhor. O ministério não pode
descansar até a geração seguinte ser abençoada com unção. Os pais não podem mais
servir apenas em seus ministérios; devem ansiar para seus filhos no ministério
ultrapassarem todos os limites de seu tempo. Os pais devem diminuir e os filhos crescer...
Ou Deus irá ferir a terra com uma maldição.
O maior ministério de Elias não representa seus milagres, mas seu filho.
Eliseu curou leprosos, separou a água da terra seca, multiplicou o pão e alimentou
centenas de homens. Esteve tão pleno de poder que exércitos inteiros não conseguiram
derrotá-lo. Porém, ele teria morrido tocando um arado se Elias não tivesse legado tudo o
que tinha a seu primogênito no ministério.
João Batista viveu em um deserto, comia do que havia por lá e usava vestes
estranhas. Ele pregava debaixo do sol ao lado do rio Jordão. João não realizou nenhum
milagre porque estava preparando o caminho para o maior gerador de Milagres de todos os
tempos. O apóstolo João descreve o coração de um pai: "Não tenho maior alegria do que
esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade (3 João 1:4). O coração do pai deseja
seu filho não apenas apreenda as bênçãos de sua vida, como também que as ultrapasse.
Este é o coração de Elias e de todos os que vêm em seu espírito.
Qualquer ministério que viva para si próprio e constrói apenas para si irá, igualmente,
morrer sozinho. O pai no ministério não é ameaçado pelo crescimento do ministério do filho
sobre o seu, ao contrário, ele regozija por ter feito parte de algo maior que jamais sonhara
ser possível. Várias gerações judaicas prepararam um lugar à mesa da Páscoa para o
retorno de Elias. Por vários séculos os pratos estiveram vazios a esperar (esta é uma boa
imagem para a fome de ministério - aquela que traz o coração paterno). Seu desejo foi
saciado com a vinda de João Batista, que anunciou o Messias. Atualmente, o desejo de
Deus é para que a Igreja viva na porção dobrada o Espírito. O coração dos pais deve se
converter aos filhos. Devemos enxergar o aumento do poder de Deus encher a terra!
["Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro;
a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua" Gênesis 17:13].
A ALIANÇA DO PAI
A revelação de Deus ao povo de sua aliança sempre se deu na ordem de pai e filho.
É assim que acolhemos nossa condição de filhos de Deus e a forma pela qual recebemos a
salvação e estabelecemos o relacionamento com Deus. Este é nosso legado: "herdeiros de
Deus e co-herdeiros com Cristo" (Romanos 8:17). Nosso relacionamento com Deus é o
reflexo da ordem de pai e filho.
Apesar de Deus nos ter dado todas as coisas em Cristo, a Igreja não recebeu a
totalidade do legado porque seu ministério se manifesta mediante relacionamentos pai-
filho. Este é o motivo de Deus nos enviar o espírito de Elias. Deus irá restabelecer o
alinhamento entre pais e filhos no ministério. O relacionamento entre um pai e um filho no
ministério é multo mais que, por exemplo, a relação entre empregado e patrão. E mais do
que uma estrutura o mundo dos negócios, como presidente e vice-presidente, ou gerente e
assistente de gerência. A Igreja é um posto avançado do Reino de Deus - um Deus que
sempre lida com as situações em termos de parentesco. As ações e expressões de Deus
são a revelação de, sua pessoa e essência e, por este motivo, ele se nos revelou através
de um relacionamento de parentesco: Pai, Filho e Espírito. Ele nos criou e redimiu e nós
somos seus filhos. Deus necessita de que a aliança feita conosco por meio de seu Filho
seja igualmente um modelo para todos os relacionamentos no Reino. A palavra 'aliança'
aqui tem a acepção de "cortar". O sinal de um relacionamento de aliança entre Deus e a
semente de Abraão é o corte da circuncisão.
O homem Moisés, cujas mãos receberam de Deus a Lei, escritor da Torá, profeta em
Cristo, não cumpriu seu dever como para com seu filho quando não o circuncidou. Deus
investiu oitenta anos em um homem, desenvolvendo-o para libertar seu povo.
Acompanhou-o desde bebê, através de sua maturação e todo o processo de engatinhar e
tropeçar até aprender a andar perante Deus. Ainda assim, se o homem de Deus não
alinhar sua vida à ordem de Deus, ele virá matá-lo, pois não permite o alijamento de sua
ordem, mesmo que isto signifique não cumprir sua vontade na terra. Desta maneira, eis a
pergunta: Deus nos ama mais do que amou a Moisés? O que nos faz pensar que podemos
conduzir a Igreja da forma como nos convier e mesmo assim Deus nos poupará de sua ira?
Respondo que devemos converter nossos corações. Devemos voltar à ordem de pai e
filho no ministério. Deus não teria poupado Moisés se não tivesse sido um pai apropriado
para a nação que liderou à libertação. Devemos ter pais que sejam pais para os filhos.
Algumas pessoas podem não enxergar a importância do rito da circuncisão hoje em dia.
Sei que qualquer estudante do Novo Testamento e dos escritos de Paulo irá dizer que o rito
da circuncisão é totalmente desnecessário para nossa salvação. Obviamente isto está
correto. O apóstolo Paulo se opôs com veemência a qualquer tentativa dos mestres
religiosos de seus dias postularem outro requisito à salvação fora da fé em Cristo, razão
pela qual o apóstolo Paulo escreveu contra a circuncisão em várias oportunidades em suas
epístolas (ver Romanos 2:25-29, 1 Coríntios 7:18-19; Gálatas 5:11-12; Filipenses 3.2-3;
Colossenses 2:10-11; Tito 1:10-11). Paulo se opôs tanto aos ensinamentos da circuncisão
que chamou de "mutiladores" a quem os praticava.
Paulo quis dizer que eles deveriam se mutilar a si próprios com o sentido que
deveriam se castrar (ver Gálatas 5:12). Este pensamento é extremamente pesado, mesmo
para o apóstolo Paulo, que nunca se furtou de dizer a verdade. Dizer que ele foi resoluto
contra o rito da circuncisão é afirmação falaciosa, razão pela qual a seguinte passagem do
Livro de Atos parece tão estranha:
"Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma
judia crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio.
Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa dos judeus
daqueles lugares; pois todos sabiam que seu pai era grego" (Atos 16:3).
Timóteo era crente quando encontrou Paulo. É natural supor que tenha sido criado
como crente desde seu nascimento, ou que se converteu bastante jovem. Assim, Paulo
não o circuncidou para sua salvação, mas sim para o ministério, por que o pai de Timóteo
era grego e não há menção na Escritura de sua crença. Ainda assim, mesmo que
houvesse, Timóteo não possuía paternidade adequada para servir no ministério. Paulo não
o circuncidou para aceitar a Deus, mas para ser aceito pelos homens, fazendo-o em um ato
de pai para filho na preparação ao ministério.
Cabe ressaltar, contudo, que isto não significa que as pessoas no ministério devem
possuir algum requisito físico como qualificação para o serviço. A circuncisão foi sempre
mais do que uma marca física. Foi um sinal de aliança das gerações de Abraão. Foi um
sinal de sua obediência a Deus, marca passada de cada filho de Abraão à geração
seguinte, indicando a herança em Deus: o sinal da circuncisão do coração, implicando em
total devoção a Deus.
"Tão-somente o SENHOR se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes
deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê. Circuncidai, pois, o vosso coração e não
mais endureçais a vossa cerviz" (Deuteronômio 10:15-16).
Quando Paulo circuncidou Timóteo, não fez somente um sinal físico e visível. A
circuncisão sempre deixou uma cicatriz espiritual marca permanente de uma aliança
eterna. Esta foi uma operação espiritual para cortar fora a carne do coração de um filho no
ministério, ação que deve ser realizada por um pai no ministério para o filho poder
continuar com os ouvidos para ouvir e o coração aberto.
Um filho no ministério deve colocar sua vida nas mãos de um pai espiritual. Para
Timóteo ministrar o evangelho com eficácia total, teve de entregar a vida a Paulo. Desta
forma, esta vulnerabilidade é uma a abertura à mudança e ao compartilhar; é qualidade da
confiança de uma criança em seu pai; é o relacionamento próximo a família, na qual os
problemas, os erros e as imperfeições, bem como as esperanças, sonhos e desejos se
fazem conhecidos sob o manto de segurança do comprometimento. O filho deve confiar
integralmente em seu pai para realizar a cirurgia dolorosa da forma certa. Deve se tomar
Isaque, permitindo ao pai amarrá-lo e brandir uma lâmina afiada.
Um filho no ministério deve entender que aquilo que à primeira vista parece uma
agressão à carne é, na verdade, a retirada da agressão de sua vida. Alguns destes filhos
não suportarão sequer a primeira dor e irão correndo. Ainda sangrando se sentirão feridos
em lugar de honrá-los por serem filhos. Sentem-se agredidos pela tentativa de remoção de
sua carne. Outros abandonarão a casa do pai e o acusarão de um abuso que jamais
ocorreu. Guiados pela dor de seu ferimento em vez de guiados pelo Espírito, demonstram
com sua partida caluniosa a necessidade da circuncisão. A parte que sangra e requer
cuidados é exatamente aquela cuja remoção é imperativa. O fato triste é que este tipo de
filho irá da casa de um pai à outra, de igreja em igreja, deixando atrás de si um rastro de
sangue. O filho chorará por seus ferimentos até encontrar alguém para ouvi-lo, mas
recusando-se a operá-lo enquanto filho, pois, na tentativa de escapar da dor, escapa
também do propósito e da identidade em Deus. A recusa de ter a carne cortada fora, "corta
fora" também seu potencial para o serviço no Reino.
Um pai no ministério circuncida o filho quando lida com uma região da carne que deve
ser retirada da vida do filho. Ele não pode cortar demais, ou irá destruir a possibilidade do
filho de um dia ser pai. Apesar disto, o pai deve cortar o filho, ou este jamais encontrará a
plenitude de seu propósito. A operação espiritual é delicada e seu procedimento deve ser
conduzido pelo coração do pai, pois se seu desejo for apenas provocar o desconforto do
filho, talvez vá além de seu próprio ministério.
Qualquer homem pode querer ter um filho. Qualquer um de saúde perfeita pode
manter relação sexual com uma mulher e conceber. Porém, isto não é ser pai, é apenas
produzir um filho. Um pai faz mais do que ter filhos: cria-os para se tornarem adultos
maduros. Este processo é um relacionamento doloroso, custa muito caro, consome o
tempo, esgota a vida, acaba com inúmeras noites de sono e não é sempre uma experiência
prazerosa para o pai nem para o filho. O preço é tudo o que o pai traz dentro de si, o
resultado será o filho honrar seu pai.
"Então, os filhos de Jacó, por causa de lhes haver Siquém violado a irmã, Diná, responderam
com dolo a Siquém e a seu pai Hamor e lhes disseram: Não podemos fazer isso, dar nossa
irmã a um homem incircunciso; porque isso nos seria ignomínia. Sob uma única condição
permitiremos: que vos torneis como nós, circuncidando-se todo macho entre vós" (Gênesis
34:13-15).
Simeão e Levi não foram pais verdadeiros, mas filhos rebeldes que não tinham o
coração de seu pai, Jacó. Eles mataram todos os homens de Siquém, levando vantagem
sobre seus ferimentos. Capturaram a cidade e confiscaram toda a comida, os animais, as
mulheres e crianças. O sinal da aliança foi usado para retaliar.
Há alguns homens na Igreja que castram os filhos abaixo de si para serem a única
fonte de produção da casa. Um homem inseguro quanto às suas habilidades paternais se
torna o destruidor de todos aqueles com poder para um dia se tornarem pais; faz de todos
os que trabalham com ele servos e não filhos. Estes filhos são eunucos e não pais em
potencial. Este não é o relacionamento de aliança, mas a gerência de empregados sem
motivação. Aí não está o coração de um pai. Tal homem é um pai abusador. Ele só fere
para tomar algo, jamais para dar algo ao filho. A triste constatação é que muitos destes
pais abusadores existem atualmente na Igreja.
Deus não honra este tipo e um verdadeiro pai no ministério o rejeita. Jacó disse a
Simeão e a Levi: "Vós me afligistes e me fizestes odioso entre os moradores desta terra,
entre os cananeus e os ferezeus; sendo nós pouca gente; reunir-se-ão contra mim, e serei
destruído, eu e minha casa" (Gênesis 34:30). Em seu leito de morte, Jacó não lhes dá a
bênção, mas os amaldiçoa:
''Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho,
não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu
furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor,
pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel"
(Gênesis 49:5-7).
Abraão circuncidou todos os homens de sua casa, fosse escravo ou nascido na casa
como escravo. Fosse ou não da semente de Abraão, o ato da ordem de pai e filho deveria
ser seguido. Todos os que levassem a semente na casa de Abraão deveriam ser
circuncidados. O pai é o cabeça da casa, e carrega a responsabilidade de que cada pessoa
em sua casa siga o Senhor e o adore adequadamente. Este é o motivo pelo qual Abraão
teve de circuncidar não apenas seus filhos naturais, mas todos em sua casa.
O Senhor deu a Abraão a ordem para circuncidar ao mesmo tempo em que mudou-
lhe o nome, "Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas
nações te constituí" (Gênesis 17:5). 'Abrão' significa "antepassado famoso" e 'Abraão' quer
dizer "pai de uma multidão". Abraão ganhou um novo nome quando recebeu a revelação
com respeito à circuncisão. Com isto, sua identidade foi estabelecida em seu
relacionamento de aliança com Deus juntamente com a circuncisão ter sido estabelecida
com a marca de identificação da aliança. Assim, a circuncisão é quando um menino recebe
seu nome e sua identidade.
Abraão recebeu instruções para circuncidar sua semente no oitavo dia de nascida ver
(Atos 7:8; Filipenses 3:5). O oitavo dia é significante na ordem de pai e filho porque é o
mesmo número de dias necessários para a consagração dos filhos de Arão no ofício de
seu pai. Iremos discutir melhor este tema no oitavo capítulo, mas cabe dizer aqui que os
filhos de Arão não eram ungidos com óleo. Apenas Arão recebeu a unção como o cabeça
do sacerdócio. Seus filhos recebiam a unção ao usarem as vestes do pai por sete dias. No
oitavo dia, terminava seu período de consagração ver Levítico 8:6-13, 8:30-9:1). Após oito
dias, irrompiam da casa de Deus com seu pai Arão e os filhos no ministério. Neste dia os
filhos de Arão recebiam sua identidade. De forma semelhante, Jesus e João Batista
receberam seus nomes no oitavo dia de sua circuncisão.
"Sucedeu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu
pai, Zacarias. De modo nenhum! Respondeu sua mãe. Pelo contrário, ele deve ser chamado
João. Disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que tenha este nome. E perguntaram, por
acenos, ao pai do menino que nome queria que lhe dessem. Então, pedindo ele uma ta-
buinha, escreveu: João é o seu nome. E todos se admiraram. Imediatamente, a boca se lhe
abriu, e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus" (Lucas 1:59-64).
Dar-lhe o nome de 'João' foi significativo por não haver este nome na ordem natural
de seu pai. Os familiares presentes na hora da circuncisão pensaram que a criança se
chamaria como pai, Zacarias, até que Isabel interveio, pois aquele filho não deveria seguir
o caminho de seu pai natural.
Zacarias foi o pai de João no sentido físico, mas não necessariamente no espiritual.
João não estava destinado a seguir o sacerdócio de Arão, pois não seguiria um sistema
sem voz. Em vez disto, se tornaria a “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas" (Lucas 3:4). Zacarias serviu no templo; João seria visto
no deserto. Ele não foi nomeado como o pai, pois 'João' seria o nome daquele que
converteria os corações dos pais aos filhos. Apesar de a identidade de João ter sido dada
pelo pai no ato da circuncisão, foram o espírito e o poder de Elias os formadores de seu
ministério.
José e Maria também deram a seu filho o nome de acordo com instruções angelicais
no dia de sua circuncisão. "Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-
lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido" (Lucas 2:21). O
sangue de Jesus é sempre associado com o poder de seu nome. Quando dizemos "em
nome de Jesus", invocamos tudo o que há em sua pessoa e identidade. O nome foi
colocado no filho na hora da circuncisão porque era um rito que aliava a identidade no
Reino à identidade física.
Se os filhos têm pais apropriados no ministério, poderão ser capazes de um dia ter
seus próprios filhos. A maldição de um ministério ilegítimo, então, é transformada em
bênção incomensurável e o pai é honrado pelos filhos que lhe seguem o caminho. Os filhos
aumentam a cada geração, aumentando as camadas de bênçãos aos filhos que os
seguirem.
[Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.
Marcos 1:11]
6
A VOZ DO PAI
Depois foram para uma mesa próxima e começaram a fazer a tarefa de casa.
- Este homem não sabe quem sou. Estou solitária e é como se meu marido estivesse
morto. Sei que sou sua esposa e a ele quero me manter fiel, mas meu marido está morto
há seis anos, deitado nessa cama. Não consigo nutrir nenhum sentimento por esta pessoa
em minha frente. Vou entrar com o pedido de divórcio e buscar alguém para me ajudar a
criar as crianças.
O médico disse que a luz vermelha e a atividade na máquina duraram muitas horas
antes de voltarem ao normal. Agora sabiam com absoluta certeza - pela primeira vez
naqueles seis anos - que não havia nada de errado com a mente de David. Sua lucidez e
as faculdades mentais intactas o faziam compreender sua situação, porém, o corpo não
recebia os comandos da mente.
Não há nada de errado com a mente de Cristo. A mente do Pai trabalha com
perfeição. Este Deus pôde, com pequeno movimento dos lábios, criar a escuridão do céu
com seus bilhões e bilhões de estrelas e galáxias sem fim. Deus respira e os ventos
sopram e as ondas se avolumam. Não há nada de errado na mente de um Deus que fala e
a manhã nasce; que deita o sol ardente sob o céu da tarde. Este Deus criou tudo desde a
vastidão do oceano até a mais alta montanha, ao mais profundo vale. Criou desertos escal-
dantes e a exuberância da floresta amazônica; criou as falésias e as planícies férteis. Não
há nada de errado na mente de um Deus, cujos poderes se estendem, aos bilhões de
sistemas estelares. Mesmo no limiar do espaço conhecido, a voz criadora de Deus emana
vida no nada. Não há nada de errado com a mente de Deus. O problema parece ser ele
não conseguir nenhuma resposta de seu Corpo, que não ouve os comandos da Cabeça.
Há aí alguma conexão rompida.
O pai espiritual é aquele cuja vida e o ministério nos retiraram da simples imaturidade
e nos colocaram no crescimento adequado e na ordem. As palavras de um pai espiritual
perfuram além da casca de bênção até o coração e a medula de nossa existência,
provocando o realinhamento integral de nosso espírito. O pai espiritual não é
necessariamente aquele que lhe deu à vida no Reino, mas é quem o resgatou os umbrais
do abandono, recebendo-o em seu lar, dando-lhe um nome e fazendo-o filho.
Jesus não iniciou o ministério até a voz do Pai ser dita na terra: "E eis uma voz dos
céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus 3:17). Esta é
a maneira como um pai revela seu relacionamento com um filho no ministério. A voz do pai
declara o estado filial, portanto deve ser falada, ouvida e acolhida para estabelecer o
relacionamento pai—filho.
O Espírito de Deus nos envia sua voz em clamor. É a transmissão espiritual da voz
que declara: "ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus
pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição" (Malaquias 4:6). Este é um clamor
do Espírito advindo do Pai.
O rádio recebe variados tipos de sinal, desde Bach até Bom Jovi, passando por
esportes, notícias, até a proclamação do evangelho - podendo todos ser ouvidos do mesmo
aparelho receptor. De maneira igual a um rádio que pode pegar várias estações, nós
podemos receber vários tipos de mensagem do mesmo Espírito de Deus. Pelo Espírito nós
não somos somente trazidos ao Reino de Deus, mas recebemos também orientação diária,
"Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus" (Romanos 8:14).
Através do Espírito, o relacionamento pai—filho é reconhecido: "O próprio Espírito testifica
com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Romanos 8:16). Nosso espírito recebe a
mensagem e o Espírito do Filho em nosso coração declara que foi adotado por um pai:
"Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados,
mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai" (Romanos
8:15).
Esta mesma voz do Espírito que nos une a nosso Pai celestial nos leva ao
relacionamento com nosso pai no ministério.
Qualquer afirmativa de ligação na ordem de pai e filho deve ser julgada no tribunal de
nossos espíritos. O próprio Deus declarou do banco das testemunhas sobre pais, filhos e
herdeiros legais. Para validar as afirmações de qualquer testemunha no tribunal, ela deve
fazer um juramento. Antes de Deus ir ao banco das testemunhas e declarar sua palavra na
terra, fez um juramento:
"Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem
jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, te abençoarei e te multiplicarei. E assim,
depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa. Pois os homens juram pelo que
lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda. Por
isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade
do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas
quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio,
a fim de lançar mão da esperança proposta" (Hebreus 6:13-18).
Quando o Verbo se fez carne, apresentou a palavra do Pai e não disse "em verdade"
uma vez, mas em vinte e cinco oportunidades no evangelho de João, Jesus disse: "em
verdade, em verdade". Quando o Salvador orou por um apóstolo cuja fé estava para
desfalecer, disse "Simão, Simão" (Lucas 22:31). Quando Jesus apareceu a um fariseu que
enlouquecera disse "Saulo, Saulo" (Atos 9:4). Quando Deus promulga alguém como filho
do Reino, envia seu Espírito àquele coração para aclamá-lo no nome duplicado" Aba, Pai".
No Céu e na terra, o testemunho de Deus é dado por sua voz. Esta enunciação
duplicada da Divindade ocorre quase sempre em situações nas quais não há resposta
natural ou quando o fluir é interrompido. Assim, há épocas em que Deus toma soberana-
mente ambas as posições em uma ligação. Os céus e a terra são unidos por uma voz.
Deus falou no Céu e na terra "Abraão, Abraão" porque a situação estava fora de controle.
Não havia como Abraão entender o motivo de Deus desejar um sacrifício humano e depois
não o querer mais. A semente desta promessa morreria se um alinhamento com o Pai no
Céu não fosse feito por Deus, de forma soberana, com Abraão.
Não havia forma de Saulo de Tarso ser salvo sem alguém apresentar Jesus a ele.
Sem um sermão, sem a Bíblia, exemplos, preâmbulos, três cânticos e um poema, um
fariseu assassino não se prostraria à enunciação de "Saulo, Saulo". Deus fez por si a
ligação; uma vez no mundo celeste, uma vez na terra.
O Siló é um sistema sacerdotal do qual Deus está esgotado, pois procria apenas a
iniqüidade e a imundície nos "filhos de Belial". Quando um Eli produz um Hofni e um
Finéias - usurpadores de glória - Deus intervém. Não é, com efeito, compreensível para
nós, mas Deus permitiu que um filho dormisse nos fundos de sua casa, um filho entregue
pela própria mãe em uma condição de orações e jejum na qual ela fez a promessa. Ele se
encontrava lá para receber a voz de Deus.
Antes de a luz se apagar na casa de Deus, a Palavra do Senhor chegou ao menino e
conclamou "Samuel". Em três oportunidades a voz clamou o nome: "Samuel". Eli
finalmente reconheceu a voz e instruiu o jovem a receber a revelação. Quando a voz de
Deus finalmente permitiu que fosse reconhecida, Samuel disse ao Senhor que falasse,
percebemos aqui que Deus disse: "Samuel, Samuel" (ver 1 Samuel 3:1-10).
Na terra, Samuel não pôde reconhecer a voz celeste. Foi por isto que respondeu a Eli
e não ao Senhor. Isto é o que acontece com freqüência quando os homens ouvem a voz de
Deus. Voltam-se ao sistema humano e perguntam: "Será que esta é a voz de Deus?"
Voltam-se para sacerdócios falidos: "O que devo fazer?" Mas foi apenas quando a voz rara
do Pai disse soberana: "Samuel, Samuel" que foi ouvida.
Uma vez no Céu, uma vez na terra; uma vez na transmissão, uma vez na recepção: a
voz do Pai retumba em nosso espírito e por isto sabemo-la como uma ligação de Deus.
Este é um conhecimento espiritual e não é baseado em nossa sabedoria ou em nossa
posição; não é constituído pelo nome que tem, pelo quão grande é ou pelo tanto que é
compreendido, afinal, é a voz do Pai que toma ambas as margens do divino e constrói uma
ponte ligando o vazio entediante da capacidade humana ao propósito e ao poder de Deus.
A Bíblia nomeia estas de "coisas imutáveis", pois quando ouvimos essa voz, sabemos
que não ouviremos mentiras, pois Deus não mente (ver Tito 1:2). Se testemunharmos ouvi-
Ia apenas uma vez, talvez seja verdade, mas se ouvirmos tudo duas vezes, está
estabelecido (ver Mateus 18:16). Este fato explica a razão de Jesus falar as coisas que
falou:
''Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Outro é o que
testifica a meu respeito, e sei que é verdadeiro o testemunho que ele dá de mim. O Pai, que
me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim (...). Jamais tendes ouvido a sua
voz, nem visto a sua forma. Também não tendes a sua palavra permanente em vós, porque
não credes naquele a quem ele enviou" (João 5:31-32; 37-38).
“Então, lhe objetaram os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o teu testemunho
não é verdadeiro. Respondeu Jesus e disse-lhes: Posto que eu testifico de mim mesmo, o
meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou; mas vós não sabeis
donde venho, nem para onde vou. Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo. Se eu
julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou.
Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu
testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então, eles lhe
perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu
Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai" (João 8:13-19).
A cultura religiosa da época de Jesus não lhe entendia a identidade porque não ouvia
a voz do Pai. As pessoas não haviam ouvido sua voz e tampouco visto suas formas. Não
eram capazes de enxergar o verbo feito em carne por não ouvirem a palavra do Céu.
Recusavam as palavras do Rei e a ligação com seu Reino por falharem em receber a
palavra proveniente do Pai. Apesar de Jesus realizar grandes milagres bem em frente a
seus olhos, não conseguiam recebê-lo como Deus pelo fato de a palavra não habitar dentro
deles. Nem mesmo dois testemunhos são suficientes se há recusa em ouvir. Por este
motivo, Jesus disse em quinze oportunidades nos Evangelhos e no Apocalipse: "quem tem
ouvidos para ouvir, ouça".
As fundações da autoridade para o ministério de Jesus foram a voz do Pai, pois Jesus
não recebeu o aval dos homens como a base de sua autoridade.
Jesus sequer se apoiou no próprio testemunho, puro e único. O pai falou do Céu a
Palavra e confirmou que Jesus foi o Verbo feito em carne, manifestado na terra. A voz do
Pai é a autoridade da ligação entre Deus e o homem. Esta ligação só acontece quando a
voz do Céu é falada e escutada na terra. O testemunho de duas vezes é a base de todos
os acontecimentos e relacionamentos do Reino.
"E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o
céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se
uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo" (Lucas 3:21-22).
Esta palavra impulsionou Jesus para seu ministério, que também recebeu a palavra
enquanto fazia orações (ver João 12:28). A base da oração no Reino é "assim na terra
como no céu". A palavra procedente de Deus foi ouvida no Céu e na terra.
Jesus fundou seu ministério sobre o testemunho do Pai. Sem a voz do Pai, Jesus
teria permanecido na carpintaria serrando madeiros em vez de morrer em um deles.
Quanto a nós, reconhecemos a voz de um pai no ministério porque ele dirá uma
palavra procedente de Deus. Um pai encerra tal palavra nos lábios porque mantém um
relacionamento que procede de Deus. Isto é, esta palavra deve seguir uma ordem de
progressão tal que não se perca em algum ponto do processo de amadurecimento de um
filho, ou o mantenha alheio a seu potencial. Esta é a voz da verdadeira ordenação
espiritual. Esta é a palavra que procede de Deus para nossa maturidade como filhos para
um dia nos tomarmos pais para outrem; esta palavra vem sempre do coração de Deus.
"Mas o que sai da boca vem do coração" (Mateus 15:18).
''Então, responderam Labão e Betuel: Isto procede do SENHOR, nada temos a dizer fora da
sua verdade" (Gênesis 24:50).
Uma palavra que procede de Deus nos faz perceber como as coisas terrenas nunca
satisfarão, mas apenas "de tudo o que procede da boca do SENHOR" (Deuteronômio 8:3).
“Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra
que procede da boca de Deus" (Mateus 4:4).
"Se alguém pretende causar-lhes dano, sai fogo da sua boca e devora os inimigos; sim, se
alguém pretender causar-lhes dano, certamente, deve morrer" (Apocalipse 11:5).
"Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal que sai do trono de Deus e
do Cordeiro" (Apocalipse 22:1).
"Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de
ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino" (2 Samuel 7:12).
"Os restantes foram mortos com a espada que sala da boca daquele" (Apocalipse 19:21).
"Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hebreus 4:12).
Em grego, 'palavra' se diz 'rhema'. Não se refere apenas ao volume das Escrituras
inspiradas, mas, ao mesmo tempo, a uma palavra específica cortante que vem de Deus e
provoca a mudança estrutural e dinâmica na vida das pessoas. Esta palavra procedente de
Deus distingue as ligações da alma e do espírito, fazendo-nos ligados nas juntas e medulas
de nosso realinhamento e relacionamento espirituais.
Um pai espiritual traz o rhema procedente de Deus em sua boca, realiza a cirurgia
espiritual e nos desloca para o caminho com Deus, a fim de nos colocar na ordem correta.
A palavra de ‘Jaboque’ de sua boca transforma nossa caminhada, nosso nome e nossa
vida. Então, os filhos espirituais que progredirão de nosso ministério encerrarão o nome e o
legado desta mesma palavra. "Por isso, os filhos de Israel não comem, até hoje, o nervo do
quadril, na articulação da coxa, porque o homem tocou a articulação da coxa de Jacó no
nervo o quadril” (Gênesis 32:32). Saber ouvir a voz do Pai e saber falar a palavra que dele
procede na terra se constitui como a pedra angular da igreja.
"Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to
revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre
esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela"
(Mateus 16:16-18).
O nome de Simão foi convertido para "pedra", mas, é importante destacar que Pedro
não é a base da Igreja. Seu nome foi modificado porque, assim como no caso de Jacó,
Pedro recebeu a palavra (rhema) procedente do Pai. Como conseqüência, Pedro não foi
mais conhecido pelo nome de seu pai terreno, Barjonas, mas pela qualidade de seu
relacionamento com o Pai celestial. E o "Pai que está no céu" a fonte da qual Jesus afirma
emanar esta revelação. Simão recebeu a palavra que procede de Deus, e não dos homens.
Esta é a chave para o Reino: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na
terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus"
(Mateus 16:19). Uma tradução literal de parte da passagem para " o que ligares" seria "o
que tiveres já ligado". Esta ligação entre o Céu e a terra constituem nossa capacidade de
ouvir a voz de nosso Pai no Céu e a proclamação do que ele diz na terra. Por isto, oramos
"assim na terra como no céu".
Quanto a nós, enquanto não recebermos a palavra do Céu em nosso mundo, jamais
reconheceremos nosso pai no ministério. Os filhos não encontrarão o pai espiritual em
alianças organizacionais ou tendo como base a história pessoal. Um pai ministro é
reconhecido palavra procedente de Deus em sua boca.
Paulo escreveu que falar a verdade no amor de uns pelos outros faz o relacionamento
"osso ao seu osso" - determinador da posição, do alinhamento e da energia no Corpo de
Cristo - surgir e nos faz progredir em conjunto.
''Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de
quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxilio de toda junta, segundo a justa
cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em
amor" (Efésios 4:15-16).
Além da ocasião do batismo de Jesus, a voz do Pai foi ouvida pela segunda vez no
ministério. No quarto evangelho, André e Filipe encontraram um grupo de viajantes,
identificados como "gregos", eles desejavam ver Jesus. Não resta dúvida de que já tinham
ouvido falar sobre seu ministério miraculoso e sobre seus ensinamentos poderosos. Sem
saber se poderiam estar próximos dele, os gregos expressaram a vontade de vê-lo. Jesus
não deu uma resposta direta àquele pedido; diversamente, proclamou a verdade:
"Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade,
em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas,se
morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida
neste mundo preservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu
estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará. Agora, está
angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com
este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já
o glorifiquei e ainda o glorificarei. A multidão, pois, que ali estava, tendo ouvido a voz, dizia ter
havido um trovão. Outros diziam: Foi um anjo que lhe falou. Então, explicou Jesus: Não foi
por mim que veio esta voz, e sim por vossa causa. Chegou o momento de ser julgado este
mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei
todos a mim mesmo" (João 12:23-32).
Jesus não deu, de fato, muita atenção aos gregos, pois mergulhou em oração (como
no Getsêmani), em referência aos dias tempestuosos no porvir que já encrespavam as
águas em sua alma. Jesus orou quando estava no Jordão junto com João, e o Pai falou em
seu batismo de água (ver Lucas 3:21-22). Depois, sofrendo o batismo de morte, o
sepultamento e a ressurreição, Jesus orou novamente. Enfrentando a cruz, tendo de
suportar os pecados do mundo, Jesus invocou o Pai para lhe glorificar o nome. Foi então
quando uma voz do Céu clamou que Deus havia glorificado no Céu e iria glorificar seu
nome também na terra. Deus falou a mesma palavra duas vezes: a enunciação duplicada
da Divindade.
Jesus, ao ser erguido, atraiu para si todos os homens, mas nem todos o seguiram.
Alguns disseram que era apenas um homem, enquanto outros o tomaram como a
encarnação de Deus. Quando se ouve uma voz do Céu, alguns não a conceberão como se
proviesse de Deus e assim serão julgados pela forma como receberam a Palavra de Deus.
A voz de Deus é audível dentro dos corações de quem procura ouvi-Lo. Tanto pais
quanto filhos se reconhecerão uns aos outros através do clamor de uns pelos outros,
mediante a conversão de seus corações. O lamento provocado pela ausência de bênção
dentro do coração dos filhos irá clamar pelo fluir da herança espiritual no coração os pais e
verdade, que procuram um coração filial ara recebê-lo. Este é o "fragor das tuas
catadupas” que ao ser recebido faz "todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim"
(Salmo 42:7). A voz de Deus flui pelos canais auditivos espirituais e recobra o
entendimento estéril de ministérios órfãos com a inundação da revelação do Reino. É
através do encontro entre o jato poderoso do fluir espiritual e os canteiros ressequidos de
almas que pais e filhos se reconhecem.
"Virão com choro, e com súplicas os levarei; guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho
reto em que não tropeçarão; porque sou pai para Israel, e Efraim é meu primogênito"
(Jeremias 31:9).
O relacionamento entre pai e filho não é de escolha humana, pois é falado por Deus.
Eliseu arava um campo e jamais perceberia seu potencial em Deus, mas de repente,
apareceu o profeta Elias e mudou para sempre o rumo da vida daquele lavrador. Uma nova
direção em outro plano se manifestou quando Elias cobriu os ombros de Eliseu com seu
manto: "Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha
mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo" (1 Reis
19:20).
Elias falou a Eliseu que estava livre para se despedir dos pais terrenos e seguir seu
novo pai espiritual, acrescentando "pois já sabes o que fiz contigo". Elias percebeu que o
movimento de ter se colocado como – pai espiritual de Eliseu não era sua obra. Elias não
escolheu Eliseu, foi de Deus a escolha. Elias apenas obedeceu a voz celeste que disse
sobre Eliseu: "ungirás profeta em teu lugar" (1 Reis 19:16).
A voz de Deus que levou Eliseu ao ministério foi recebida quando Elias subiu à
montanha e se colocou perante Deus.
"Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o SENHOR. Eis que passava o SENHOR;
e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do SENHOR,
porém o SENHOR não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o SENHOR não
estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o SENHOR não estava no fogo; e,
depois do fogo, um cicio tranqüilo e suave" (1 Reis 19:11-12).
Deus queria se comunicar com Elias, então enviou primeiramente as forças dos
elementos que obedeceram seu comando. O vento, o terremoto e o fogo não foram
enviados para informar ou instruir. Deus enviou o vento forte para remover do caminho de
Elias qualquer coisa que o impedisse de ouvir a voz de Deus. Da mesma forma, o tremor
de terra serviu para retirar qualquer obstáculo no caminho do profeta. O fogo foi enviado,
mas não para falar com Elias, e sim para queimar qualquer entrave deixado pelo vento ou
pelo terremoto. Todos estes fenômenos aconteceram com Elias, tendo por objetivo
prepará-lo para ouvir a voz calma e o rumor tranqüilo de Deus. O Senhor raramente fala
em voz alta ou grita. Se sua voz tem de ser ouvida deve haver, pois, a paciência paternal
para recebê-la. Seguir o processo de se ouvir a palavra que procede de Deus é essência
para sermos pais no ministério.
Elias não foi o agente sobre a vida de Eliseu, porque foi a voz de Deus que fez o
chamamento. Elias foi apenas a manifestação da liderança espiritual à qual Eliseu se
submeteu para servir como filho. O relacionamento espiritual entre pai e filho no ministério
é obra e escolha de Deus.
Há muitos pais espirituais ávidos por ouvirem a voz de Deus, aguardando o momento
de poderem jogar seu manto sobre os ombros de alguém. Há, igualmente, filhos ansiosos
por adquirir pais. Contudo, este relacionamento tem por alicerce a obra humana, afinal,
meu pai espiritual não é quem me trouxe para Jesus ou aquele que me instruiu; não é
quem me organizou a atuação, tampouco é aquele que me colocou na maior das
plataformas políticas. O meu pai não é quem me concedeu o mais afável dos
relacionamentos, nem é a pessoa com a qual desejo passar a maior parte do tempo. Ora,
meu pai é aquele que fala a palavra e me lança à maturidade, permitindo a plenitude de
meu potencial em Deus.
Portanto, posso ter tido dez mil preceptores em Cristo, os quais me ergueram até
certo ponto, ainda assim deve haver uma voz, uma bênção que me colocou no caminho de
meu propósito: é assim que sei de fato quem é meu pai. É o chamamento mais profundo
em nossas vidas.
A ligação entre pais e filhos no ministério começa na voz do Pai. Esta voz que
procede de Deus é partilhada pelo Espírito; é o raio de luz queimando o filme da câmara
fotográfica: registra uma impressão permanente, a forma exata de uma fotografia. Através
da voz de um pai na terra que transmite a palavra procedente de Deus - fala a voz de Deus
a mim - revela-me quem sou. Esta partilha me mostra a fotografia de quem é meu pai e do
que poderei me tomar em Deus.
Esta palavra também nos une no processo com alguém. Jesus disse: "Se alguém me
serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o
Pai o honrará" (João 12:26). Ou, em outras palavras, "se quer me ver, deve ir através de
meu processo. Irei marcá-lo com esta imagem assim como ela está em mim. Onde estou,
estará você, em honras do Pai". Sempre quando nos ligamos em um relacionamento
espiritual, há benefícios e conhecimentos compartilhados pelas partes do laço de aliança.
Independentemente do processo ou dos problemas que as pessoas podem verter ao
relacionamento, eles devem ser enfrentados por ambas as pessoas. Pais e filhos no
ministério estão ligados em uma maré de vida e morte. Esta é a ligação" osso ao seu
osso". Se houver saúde ou doença em qualquer um são, pois, compartilhadas por ambos.
Quando algum é ferido no osso, todos os outros ossos sentem a mesma dor. Portanto, a
recusa da ligação em um relacionamento ordenado por Deus significa sermos amputados
do propósito do Reino.
A voz procedente do Pai a Maria foi a ligação formadora do ministério de João Batista.
“E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.
Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria
esta saudação" (Lucas 1:28-29).
Maria foi surpreendida pelas palavras do anjo. Cogitou o significado de tal saudação.
O anjo então lhe disse que teria um filho para se sentar no trono de Davi.
"Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?
Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá
com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de
Deus" (Lucas 1:34-35).
"Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade
de Judá, entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ouvindo esta a saudação de Maria, a
criança lhe estremeceu no ventre,' então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou
em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me
provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a
voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. Bem-aventurada a que
creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lucas
1:39-45).
Maria saudou Isabel da mesma maneira como o anjo a saudara. O poder de tal
saudação foi a palavra que procedeu de Deus e fluiu sobre Maria. Desde o anjo, a palavra
foi à Maria, até seu útero e então à Isabel e ao útero desta. Tal palavra fez o menino no
ventre de Isabel estremecer. Foi a palavra na saudação de Maria que desencadeou todo o
fluxo de poder divino e atingiu João Batista ainda dentro da carne de sua mãe.
Isabel disse: "Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que
lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lucas 1:45). Ela havia compreendido que sua
esterilidade acabara e uma vida agora estremecia dentro de seu ventre, unicamente por
Maria ter recebido a palavra procedente de Deus.
Caso Maria não tivesse recebido a voz do Pai, não haveria Jesus no mundo. Se não
houvesse o Messias, não seria necessário nascer alguém que o precedesse. A ligação
espiritual entre João Batista e Jesus jamais aconteceria se Maria não recebesse a visita do
anjo e a palavra procedente do Pai. De mesmo modo, na enunciação das palavras de
saudação de Maria, o poder do Espírito Santo fluiu conjuntamente: de Deus ao anjo, à
Maria, à Isabel. O bebê estremeceu, e Isabel testemunhou a veracidade da promessa de
Deus na terra.
Isabel e Zacarias não podiam ter filhos, e além disto ela havia passado da idade fértil,
mas, devido ao fato de Maria ter, de boa vontade, recebido Jesus em seu ventre, Deus
sorriu a Isabel: "Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu
maior do que João Batista" (Mateus 11:11).
Há muitos filhos ansiosos por ser concebidos no ministério atual. Seu desejo pela
realidade do Reino abriu o útero das possibilidades espirituais. Estes filhos estão prontos
para ser formados em vasos ungidos para conclamar o Cristo. Porém, a vida de Deus e a
unção do Espírito não descenderam nesses filhos em sua totalidade porque alguém sobre
eles no Senhor ainda não respondeu à voz de Deus.
Se os pais não responderem à voz de Deus Pai, a condição dos filhos não se
manifestará na terra. Sem a voz dos pais terrenos, o ministério jaz inerte no ventre a
possibilidade. Um filho pode ser perfeito na forma e reter conhecimento total de seu
propósito, mesmo assim, viver na completa paralisia por causa da falta da voz de um pai
para trazer-lhe a vida e a unção.
O clamor dentro dos corações dos filhos é para a ligação com seus pais. A voz dos
pais é a voz do Espírito e seu testemunho que faz o dom de Deus nos filhos estremecer,
tornando-os vivos. A voz o Pai é a palavra procedente que liga o poder ao propósito e a
unção a habilidade na vida de um filho no ministério. Quando recebem a voz do pai os
filhos espirituais constituem a ligação divina para a sucessão das gerações em Deus.
o AMADURECIMENTO DO PAI
"O que faz aqui? Por que esperar ordens que podem mandá-lo para a morte? Por
qual motivo? Certamente não é pelo dinheiro, pois uma companhia aérea regular pagar-
lhe-ia muito mais, além de oferecer mais segurança. Não pode ser nem por fama e nem por
reconhecimento, pois a batalha é segredo de Estado. Se falhar ou vencer, toma-se mártir
ou herói, mas ninguém jamais saberá. Então, qual a razão de estar aqui ainda? Por que
não se salvar?"
No entanto, essa foi uma missão que não poderia ser executada por uma pessoa
sozinha, mas apenas na condição de integrante da força aérea pôde realizar o plano
completo, muito maior do que o piloto e seu jato.
O evangelho de Marcos registra a seguinte passagem: "Então, foi ouvida uma voz dos
céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. E logo o Espírito o impeliu para o
deserto" (Marcos 1:11-12).
Em sua maior parte, Israel é uma terra fértil, abundante em agricultura. Possui clima
temperado e belíssimas montanhas. Pelo interior de suas terras coleia o Jordão, onde o
ministério de João e o de Jesus se encontraram no batismo. A água estava ainda fresca no
rosto de Jesus quando descendeu o Espírito Santo. Na aparência, Jesus era como a mãe,
mas quando a voz de Deus falou dos céus, ele era, indiscutivelmente, o Filho de Deus.
Depois de ter iniciado o ministério eterno, Deus enviou seu filho ao deserto, onde a
única coisa mais forte que o calor é a tentação. Porém, não há tentação superior à
grandeza de Deus. Por isto seguimos sem medo no "processo do deserto".
O primeiro lugar aonde o Espírito conduziu Jesus em seu ministério foi o deserto.
Deus enviou seu filho ao processo do deserto para testá-la; já o maligno, este o encontrou
para enganá-lo. O Pai envia seus filhos a provas para testá-las e demonstrar-lhes como
têm excelências, o inimigo vê o teste como oportunidade de provocar o fracasso dos filhos.
A tentação vivida por Jesus no deserto foi direcionada para a forma como ele
exerceria o poder de seu ofício. A maior estocada do ataque atingiu a maneira como Jesus
usaria a unção recebida de seu Pai. Assim como o piloto na história do início do capítulo, a
tentação tende a nos fazer usar determinados poderes sem a autoridade correta. Depois de
seu relacionamento filial estar estabelecido e ter recebido a unção, será que Jesus usaria a
condição de Filho para além da vontade do Pai?
"Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se
és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito
que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra'
(Mateus 4:5-6).
Esta não foi uma tentação para levá-lo a cometer suicídio. Tanto Jesus quanto
satanás sabiam que os anjos obedecem a todas as ordens do Senhor (ver Mateus 26:53).
A questão aqui era se Jesus usaria unção para arrebanhar grande número de seguidores e
adquirir plena aceitação social e da comunidade religiosa mais proeminente. Contudo, tal
ato implicaria em anular a operação realizada no Reino e a transferir para o mundo natural,
onde homens aceitam homens. Mas assim, Jesus teria ganhado as pessoas para si, não
para o Pai.
Jesus sempre ouviu a voz do Pai. Dinheiro, aceitação social por parte da comunidade
religiosa, poder e riqueza foram oferecidos a Jesus em troca do relacionamento pai—filho.
No deserto, Jesus usou a voz do Pai para rebater a oposição satânica. Quando o inimigo
tentava enganar e confundir, Jesus simplesmente citava a palavra procedente de seu Pai:
"Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de
Deus (...) Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus (...) Retira-te, Satanás,
porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto" (Mateus
4:4,7,10).
Jesus foi colocado na posição correta pelo deserto: "embora sendo Filho, aprendeu a
obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da
salvação eterna para todos os que lhe obedecem" (Hebreus 5:8-9). Mesmo antes de Jesus
congregar os discípulos ou operar milagres, teve de ir ao deserto; antes de conduzir as
pessoas ao Reino, teve de suportar a região desolada. A experiência no deserto serviu
para, ele realizar o potencial do ministério. Conquanto fosse Filho, teve de passar processo
de desenvolvimento espiritual.
Este processo não se revela uma simples passagem de tempo, por outro lado, é um
período de crescimento em todas as características de um filho. O deserto de José no Egito
o preparou para governar com sabedoria: "Adiante deles enviou um homem, José, vendido
como escravo; cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros, até
cumprir-se a profecia a respeito dele, e tê-la provado a palavra do SENHOR" (Salmo
105:17-19). A palavra procedente do Senhor estabeleceu a determinação para o coração
de José obedecer ao Senhor com mais força do que o ferro a lhe prender: A palavra será
sempre posta à prova: sempre estará para nos testar a sermos tudo o que o Pai disse que
somos.
José passou dezessete anos como escravo ou aprisionado antes da concretização
das visões de sua juventude. Jacó ficou vinte anos prestando serviços a Labão antes de
voltar à terra a qual comprara o direito à primogenitura. Davi matara um leão e um urso
antes mesmo de enfrentar Golias, depois serviu como escudeiro antes de se tornar filho de
Saul - Davi carregou armas antes de usar a coroa.
Eliseu recebeu a maior unção de sua vida, maior do que a de qualquer outro homem;
fez milagres poderosos, ressuscitou mortos e se aproximou mais do ministério de Jesus do
que qualquer outro homem de Deus no Velho Testamento. Apesar disso, Eliseu não é
reconhecido como grande profeta ou excelente pregador, mas como servo exemplar "o
maior dentre vós, será vosso servo" (Mateus 23:11).
A memória de Eliseu está sempre associada a grandes milagres mas, de forma mais
destacada, com o serviço leal prestado por um filho a um pai.
Antes de Jesus ouvir a voz do Pai e ser lançado ao deserto para dar início a seu
ministério, pregou, aos doze anos, no templo. Rabinos em túnicas e barbas longas e
filactérios no pescoço quedaram boquiabertos com a sabedoria daquele menino. Durante
três dias e três noites ele ensinou aos saduceus e aos fariseus até entrarem em total
estado de choque.
Ele próprio cuidava de suas necessidades físicas enquanto lá ficou: comida, abrigo,
roupas, dinheiro, entre outros; era capaz de viver por conta própria. Este é o maior dom de
ensinamento que existiu! Jesus tinha completa consciência de quem seu Pai era e,
propósito de sua vida. "Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na
casa de meu Pai?"
O menino Jesus já era perfeitamente capaz de ministrar. Ainda assim voltou para
Maria e José, "e desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém,
guardava todas estas coisas no coração. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça,
diante de Deus e dos homens" (Lucas 2:51-52). Passariam mais dezoito anos antes de o
rio de palavras fluir de seus lábios no templo mais uma vez. Foram estes dezoito anos de
silêncio ministerial que prepararam Jesus. A submissão a Maria e José foi necessária para
Jesus ouvir a voz de seu Pai. Sem este processo, não teria si o promovido à condição de
filho.
Moisés viveu quarenta anos no deserto antes de se tomar o libertador de seu povo,
pois o Egito pôde lhe mostrar como liderar homens, mas somente o deserto o ensinou a ser
homem de Deus. O local da preparação de João Batista não foi o chão de mármore do
templo de Herodes, tampouco seu reflexo foi visto no bronze polido dos altares. Para se
encontrar com João, era necessário ir a outro lugar diverso do pináculo de sucesso
religioso. "O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em
que havia de manifestar-se a Israel" (Lucas 1:80); "sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás,
veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto" (Lucas 3:2).
Quando Deus decidiu romper o silêncio de quatrocentos anos com voz profética, não
o fez por meio dos canais religiosos normais e aceitos. Um sumo sacerdote corrupto, que
negociava itens sagrados em benefício próprio, não poderia ser quem falaria por Deus.
Quando Deus anunciou a vinda do Messias, não escolheu as belas vozes dos corais.
Escolheu a "voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor" (Lucas 3:4).
João Batista veio do deserto. Foi tanto tempo conduzido pela voz do Senhor que, ao ser
questionado sobre sua identidade, descreveu a si mesmo apenas como a voz de Deus.
"Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos
enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que
clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías" (João 1:22-
23).
O ministério de João Batista foi "para converter o coração dos pais aos filhos,
converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo
preparado" (Lucas 1:17). O processo de amadurecimento é imprescindível para os filhos no
evangelho, por que é a única forma de se tomarem pais. O Senhor não vê o deserto da
mesma forma como nós o vemos. Jeremias nos disse que o Senhor compara o deserto à
lua-de-mel com sua Noiva:
''A mim me veio a palavra do SENHOR, dizendo: vai e clama aos ouvidos de Jerusalém:
Assim diz o SENHOR: Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor
quando noiva, e de como me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia" (ar 2:1-
2).
Deus entende o período que passamos no deserto como um começo. Foi no deserto
que o povo de Israel recebeu o "pão de cada dia", do qual seus pais não provaram.
Nenhuma outra geração viu uma coluna de nuvens durante o dia e outra de fogo durante a
noite. A água corria das pedras quando tinham sede. Suas roupas e calçados não foram
puídos. No deserto o povo de Deus estabeleceu um sacerdócio, um tabernáculo e ouviram
a voz de Deus. Foi no deserto onde Moisés cobriu o rosto porque a glória de Deus era tão
forte que por vezes o seu rosto fulgurava na presença do Senhor. O deserto foi um local de
abastecimento divino e de aparições poderosas. Porém, foi o local onde uma geração
inteira foi levada à morte - a lua-de-mel acabou quando desobedeceram a voz de Deus.
Este processo caracteriza a falsa maturidade. Sempre quando este espírito está em
uma pessoa, fará com que ela odeie outra mais justa ou mais abençoada. O espírito de
Caim não permite mudanças baseadas em exemplos edificantes. Ao contrário, faz de tudo
ao seu alcance para acabar com quem seja maior até não existir outro superior a ele,
brigando sempre pela primazia. Em resumo, o que faz é se comparar aos demais e eliminar
os competidores, afinal, Caim não aceitou um irmão de maiores dons e maior capacidade.
Ele mata o irmão e destrói o próprio potencial em um mesmo ato.
Balaão realizou algumas das profecias mais poderosas na Bíblia, mas também
vendeu seu chamamento e usou os dons para aumentar a fortuna pessoal e converter os
corações de Israel ao pecado. Balaão foi desviado do caminho da maturidade por causa
potencial em seus dons. Ele poderia ter se juntado aos israelitas em sua jornada. Apesar
de ter visto as belezas de Israel, julgou que conseguiria obter mais riqueza se buscasse em
outra fonte estranha ao Senhor. O mundo então usou seus dons em benefício próprio.
Balaão procurou abraçar dois mundos e perdeu a ambos.
“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós
falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto
de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição (...) abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de
Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça recebeu, porém, castigo da sua
transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a
insensatez do profeta" (2 Pedro 2:1,15-16).
Coré irá perecer por causa da revolta. A palavra para 'revolta' utilizada no texto grego
é antilogia, composta pelo prefixo 'anti-', que significa 'contrário', como em ' anticristo' e
'logos' que quer dizer 'palavra' e é utilizado na Escritura para se referir a Jesus, como em "e
o Verbo (logos) se fez carne" (João 1:14). Assim, a revolta (antilogia) significa "palavras
contra a palavra revelada", isto é, a utilização de palavras de revolta contra Jesus.
Quem perece à maneira de Coré utiliza palavras malignas contra a palavra da
revelação. Estas pessoas são descritas no Livro de Judas: "Ora, estes, da mesma sorte,
quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo
e difamam autoridades superiores (...) Os tais são murmuradores,são descontentes,
andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são
aduladores dos outros, por motivos interesseiros" (Judas 8,16). Os filhos de Coré serão
engolidos pela revolta por terem procurado usar seus dons para elevar a própria condição.
"Coré, filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão, filhos de
Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben. Levantaram-se perante Moisés com duzentos
e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação, eleitos por ela, varões de
renome, e se ajuntaram contra Moisés e contra Arão e lhes disseram: Basta! Pois que toda a
congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois,
vos exaltais sobre a congregação do SENHOR? Tendo ouvido isto, Moisés caiu sobre o seu
rosto" (Números 16:1-4).
Uma revolta foi deflagrada na congregação de Israel e contra Moisés e Arão por meio
dos filhos de Coré, que não achavam adequados o sacerdote decano, Moisés, e seu irmão,
o sacerdote Arão, manterem a posição de liderança sobre homens tão importantes como
eles. Por isto queriam voltar para o Egito - acreditavam ser preferível servir a um sistema
maligno do que a uma pessoa considerada em mesmo grau de autoridade, pois tomavam
Moisés como irmão, e não como pai. Baseavam este julgamento no fato de serem tão
agraciados por dons quanto o eram Moisés e Arão e consideravam os dons uma fonte de
liderança: confundiam um dom de poder com o manto da autoridade.
Deus oferece dons poderosos a seu Corpo, mas estes “dons de poder" não devem
ser usados pelo servo do Senhor como forma de estabelecer autoridade. Os dons são
concedidos para a edificação, exortação e para conforto, isto é, para construir o corpo,
jamais são medida para a liderança. As pessoas são colocadas em posição de liderança,
como pais no ministério, porque recebem o coração e a capacidade para desempenhar
tal função do Senhor. O coração do pai é a medida para a liderança, independentemente
da presença de dons poderosos.
Muitos pastores e líderes podem possuir dons menores em determinada área do que
as pessoas às quais lideram. A capacidade ou os dons para ensinar, profetizar ou
manifestar poder não fazem de alguém um líder do povo de Deus, razão pela qual Paulo
escreveu o versículo usado como tema deste livro: "Não vos escrevo estas coisas para vos
envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. Porque,
ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais:
pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus" (1 Coríntios 4:14-15). Seu alerta
apontava para não substituirmos os dons pelos pais no ministério.
Estes limites, se não estiverem no amor pelos seus filhos espirituais, podem se tomar
o combustível da revolta. Então, a situação que um pai encontra é que seu coração para o
Reino cria o monstro que arrebatará metade da congregação e a usará para fundar uma
igreja em cada esquina. Da mesma forma como no caso de Coré com Moisés, a razão
geralmente apresentada pelo filho revoltado é o dom em seu coração ser "demasiado
grande" para as limitações impostas por um pai que os fez crescer protegidos de tudo. Este
tipo de filho não pode se submeter à liderança paterna e permanece na imaturidade.
A receita do filho revoltado é fazer pedras se tornarem pão e dá-lo como alimento ao
egoísmo. O motivo mais comum para abandonarem a igreja é: "Deus me conduz a outro
lugar", mas, na verdade querem dizer: "Não era isto que eu queria, portanto, não pode ser
de Deus". Esta gente foi subjugada pelo ódio de Caim, encontrou Balaão bloqueando-lhes
o caminho, e foi engolida pela revolta de Coré.
Mas, poderiam ter tido ministérios maravilhosos! Poderiam ter se coberto com mantos
magníficos! Tantas bênçãos com eles se perderam! Perfazem uma lista de delinqüentes
ecoando pelas eras, desde o Velho Testamento, passando pelo Novo Testamento, até
mais além. A semente de Canaã não traz honra a seu pai. Os clamores de Esaú não
ouvidos por Isaque; a primogenitura vendida, a bênção acabada. Depois de roubar ouro e
vestes, Geazi trocou o legado pela lepra. Judas vendeu o apostolado e encomendou a
própria morte. Demas amou este mundo e perdeu a alma. Rúben era primogênito e perdeu
a dobrada porção porque dormiu com a serva e seu pai Jacó. As últimas palavras ditas a
ele por Jacó em seu leito de morte foram: Rúben, tu és meu primogênito, minha força e as
primícias o meu vigor, o mais excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso
como a água, não serás o mais excelente, por que subiste ao leito de teu pai e o
profanaste; subiste à minha cama" (Gênesis 49:3-4). Assim, ambos os filhos de José
seriam líderes de alguma tribo e Judá traria à vida o Cristo, mas a tribo de Rúben
desapareceria.
Absalão tomou o trono do pai: "quando alguém se chegava para inclinar-se diante
dele, ele estendia a mão, pegava-o e o beijava. Desta maneira fazia Absalão a todo o Israel
que vinha ao rei para juízo e, assim, ele furtava o coração dos homens de Israel" (2 Samuel
15:5-6) e assim morreu aprisionado pelo orgulho e pela revolta. Este é o fim de quem
seduz as pessoas para longe do pai no ministério.
Em Deuteronômio 8, nos é dito que Deus enviou os israelitas ao deserto e permitiu
que passassem fome para poder alimentá-los. Desta forma, a razão de muitos ministérios
atualmente vivenciarem o deserto e a infertilidade não é Deus desejar que passem fome,
mas pelo fato de o Senhor desejar provê-los com o pão do Céu. Este não é um pão
encontrado na fartura: "Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná,
que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de
pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem"
(Deuteronômio 8:3).
Portanto, não devemos amaldiçoar nosso deserto, pois é onde os filhos se tornam
pais.
[As vestes santas de Arão passarão a seus filhos depois dele, para serem ungidos nelas e
consagrados nelas. Sete dias as vestirá o filho que for sacerdote em seu lugar quando entrar
na tenda da congregação para ministrar no santuário Êxodo 29:29-30]
AS VESTES DO PAI
Seus irmãos também tocaram aquela túnica talar de mangas compridas, quando a
rasgaram no corpo de José que foi levado em seguida como escravo ao Egito; as vestes
caíram estraçalhadas ao chão. Os irmãos cobriram a mancha de seu pecado com sangue
de bode, vestindo-se com a vergonha.
José usou outras vestes, mas jamais perdeu o amor por seu pai ou a devoção a seu
Deus. Como escravo hebreu, tomou-se o mordomo da casa de Potifar e, mais uma vez
teve as vestes rasgadas. Novamente suas roupas haviam sido arrancadas de seu corpo e
usadas contra ele como uma capa de falsidade; sua honra lhe foi roubada para cobrir a
desonrada.
Jacó deu a seu filho um manto de autoridade e graça feito com o tecido do amor, do
esforço e do tempo. José o cerziu com honra e fidelidade. Foi assim costurado o
relacionamento entre pai e filho. Muitas pessoas buscam o poder da unção sem as vestes
de um pai. Assim, são incapazes de atuar com a verdadeira autoridade espiritual por não
estarem vestidos adequadamente. As vestes na Escritura são elementos que nos apontam
a herança espiritual de um pai a um filho. A ordem de pai e filho na linhagem de Arão
demonstra claramente a necessidade por vestes espirituais.
"Então, farás que Arão e seus filhos se cheguem à porta da tenda da congregação e os
lavarás com água; depois, tomarás as vestes, e vestirás Arão da túnica, da sobrepeliz, da
estola sacerdotal e do peitoral, e o cingirás com o cinto de obra esmerada da estola
sacerdotal; por-lhe-ás a mitra na cabeça e sobre a mitra, a coroa sagrada. Então, tomarás o
óleo da unção e lho derramarás sobre a cabeça; assim o ungirás. Farás, depois, que se
cheguem os filhos de Arão, e os vestirás de túnicas, e os cingirás com o cinto, Arão e seus
filhos, e lhes atarás as tiaras, para que tenham o sacerdócio por estatuto perpétuo, e
consagrarás Arão e seus filhos" (Êxodo 29:4-9).
É importante perceber que ao passo que Arão é ungido, seus filhos não o são. A eles,
não são entregues as vestes. Os filhos de Arão não foram ungidos na instauração do
ministério. Apenas sobre a cabeça de Arão derramou-se o óleo. A única unção que os
filhos receberam foi por intermédio daquela contida nas vestes de seu pai. A parte mais
importante desta passagem está na necessidade absoluta de se estabelecer a ligação
entre as gerações para haver a perpetuação do ministério.
"Disse o SENHOR a Moisés e a Arão no monte Hor, nos confins da terra de Edom: Arão será
recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, pois fostes
rebeldes à minha palavra, nas águas de Meribá. Toma Arão e Eleazar, seu filho, e faze-os
subir ao monte Hor; depois, despe Arão das suas vestes e veste com elas a Eleazar, seu
filho; porque Arão será recolhido a seu povo e aí morrerá. Fez Moisés como o SENHOR lhe
ordenara; subiram ao monte Hor, perante os olhos de toda a congregação. Moisés, pois,
despiu a Arão de suas vestes e vestiu com elas a Eleazar, seu filho; morreu Arão ali sobre o
cimo do monte; e Moisés e Eleazar" (Números 20:23-28).
A unção foi transmitida através do óleo que restou nas vestes do pai, o sumo
sacerdote, recebidas pelo filho por ocasião da morte daquele e, desde então, o primogênito
dos filhos de Arão a receberia como herança. Esta é uma verdade fundamental.
Apesar de buscarmos - até mesmo com desespero – a unção, não estamos com as
vestes apropriadas para recebê-la e, conseqüentemente, não estamos preparados para
perpetuar a ligação entre as gerações e o legado.
O povo de Deus tem se ocupado tanto em uma busca irrisória pelas gerações que lhe
caberá apenas um legado irrisório, — pois a unção é derramada sobre aqueles que oram e
recebem. Além do mais, sem as vestes, a fragrância e a essência do óleo se dissipam com
facilidade e não há o que transmitir para a geração seguinte. Conseqüentemente, cada
nova geração no ministério deve recomeçar novo desenvolvimento do legado e ter
esperança de que este sucederá para alcançar a revelação. Este é o motivo pelo qual
carecemos de pais no ministério. Um pai deve vestir o filho no evangelho com seu amor,
encorajamento e apoio. Com isto, o dom do pai transcenderá seu próprio coração e, mais
importante, os filhos poderão também oficiar no ministério.
Caso os filhos estejam descobertos e sem unção, é porque não têm pais
verdadeiros. Os corações dos pais devem se converter. É nossa obrigação coser "vestes
de louvor" para nossos filhos e recusar a morte antes de transmitir nossa unção.
"Faze também vir para junto de ti Arão, teu irmão, e seus filhos com ele, dentre os filhos de
Israel, para me oficiarem como sacerdotes, a saber, Arão e seus filhos Nadabe, Abiú, Eleazar
e ltamar. Farás vestes sagradas para Arão, teu irmão, para glória e ornamento. Falarás
também a todos os homens hábeis a quem enchi do espírito de sabedoria, que façam vestes
para Arão para consagrá-lo, para que me ministre o ofício sacerdotal" (Êxodo 28:3).
Aqui vemos a instituição de um ministério de cinco partes: Arão e seus quatro filhos.
Entendemos que a base do ministério está em ser filho de Arão. A primeira coisa que Deus
exige de um sacerdote no ministério é a criação de vestes sagradas, mas qual será a razão
para isto? A única forma de “a unção lhes [ser] por sacerdócio perpetuo durante as suas
gerações” (Êxodo 40:15) é através da criação de uma veste para reter a unção do pai.
Sem a veste, a obra de uma geração de Deus não pode ser realizada e a unção se
torna uma exibição da carne, "este me será o óleo sagrado da unção nas vossas gerações.
Não se ungirá com ele o corpo do homem" (Êxodo 30:31-32). A unção não deve tocar a
carne do sacerdote, pois não há como ungir a carne do ministério. As vestes foram criadas
para abrigar o óleo derramado em Arão, pois assim seus filhos também poderiam recebê-
lo. Ao se passarem as vestes e pai para filho, o óleo entrava mais no tecido. A veste
recebia o óleo de cada sumo sacerdote com o passar das gerações, saturando-a uma vez
mais. A unção era aumentada e a fragrância enriquecida nas gerações.
Quanto a nós, poderíamos ter maior unção derramada em nossas vidas. Jesus disse
que faríamos "também as obras que eu faço e outras maiores fará" (João 14.12) mas, por
enquanto, vemos muito pouco daquilo em que a Igreja do primeiro século superabundava.
A nós, falta poder, pois também nos faltam vestes para reter a unção. Não temos
vestes porque não temos muitos pais; saímos da ordem de Deus e perdemos o padrão
para as vestes, eliminando, desta maneira, nossas gerações (ver Êxodo 30:33). Os
uniformes do sistema educacional e das denominações se desgastam. O lucro financeiro,
as pregações eloqüentes e a posição social são apenas vinhetas criadas pela mão humana
que rapidamente secam por não serem capazes de reter o óleo e passar à geração
seguinte o legado. O sacerdote deve usar as vestes de seu pai para haver a saturação
necessária às gerações, a fim de que recebam sua parte.
''As vestes santas de Arão passarão a seus filhos depois dele, para serem ungidos nelas e
consagrados nelas. Sete dias as vestirá o filho que for sacerdote em seu lugar, quando entrar
na tenda da congregação para ministrar no santuário" (Êxodo 29:29-30).
"Também da porta da tenda da congregação não saireis por sete dias, até ao dia em que se
cumprirem os dias da vossa consagração; porquanto por sete dias o SENHOR vos
consagrará" (Levítico 8:33).
Um filho recebe a unção de seu pai quando usa suas roupas, pois o óleo entra em
contato com seu corpo e o impregna. Com o número de dias certos sete - atinge-se o
estágio perfeito no processo necessário à consagração no serviço divino. Quando o jovem
sacerdote usa as roupas do sumo sacerdote, começa a sentir o peso do ofício de seu pai
no tabernáculo de Deus. Assim, torna-se íntimo da fragrância da obra de seu pai e da
unção sacerdotal; o filho experimentou o legado da bênção e a dor advinda com o
ministério; foi apresentado tanto ao calor quanto ao peso de seu chamado.
Ao se identificar com seu pai no ministério, um filho deve também se identificar com o
fardo de seu pai. Tanto as partes boas quanto as más da história paterna devem ser
colocadas sobre os ombros do filho. É a única forma de a identidade paterna repousar-lhe
no coração. Em algum ponto no processo, o filho do sumo sacerdote seguirá os mesmos
passos e usará as mesmas vestes de seu pai. Alguém irá fazer o seguinte comentário:
Os pais devem fornecer as vestes a seus filhos. Elas são criadas através do louvor
(ver Isaías 61.3) presente no serviço obediente do filho. Os pais criam as vestes quando
cobrem os filhos com honra e apoio. Permitem aos filhos seguir seus passos na liderança e
fazer as próprias escolhas enquanto for necessário para aperfeiçoar-lhes o ministério.
Os pais não apenas fornecem as vestes para os filhos, mas através da partilha do
relacionamento de aliança os filhos devem, em determinadas ocasiões, cobrir os pais. Noé
estava deitado bêbado e nu em sua tenda quando Caim o viu e foi contar aos irmãos. Sem
e Jafé, por outro lado, foram até o pai andando de costas para não verem sua nudez e o
cobriram com uma capa; "o amor cobre multidão de pecados" (1 Pedro 4:8), e as vestes
escondem nosso estado original. Noé, desnudo em sua tenda, recebeu as vestes dos filhos
para lhe cobrirem a vergonha. Sob as roupas estava a honra dada ao pai no ministério
pelos filhos (ver Gênesis 9:20-27).
As vestes das quais falamos foram mais do que pedaços de pano costurados com
linha e agulha. Foram a manifestação material das vidas de pais e filhos, cerzidas no
serviço ao Senhor. Na ordem de pai e filho está a partilha da vida e do ministério,
enormemente importante para a recuperação da bênção das gerações na Igreja. Os filhos
e os pais estão ligados pela mesma palavra procedente de Deus, o mesmo chamamento e
o mesmo propósito. Por meio das experiências divididas, foram cerzidos um ao outro e
estabeleceram um fluir mútuo de bênçãos trazendo a torrente de "espírito a espírito" e de
"osso ao seu osso". Assim, produz-se a crescente ligação da manifestação e do caráter do
Reino nas gerações.
Elias e Eliseu não eram pai e filho biológicos. Seu relacionamento tinha por base a
ligação espiritual entre pai e filho. A voz de Deus foi até o homem de Deus:
“Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto (...). Disse-lhe o SENHOR: (...) Eliseu, filho
de Safate, de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. Partiu, pois, Elias dali e achou a
Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava
com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele" (1 Reis 19:13, 15-16,
19).
Eliseu não foi ungido com óleo. Assim como no caso dos filhos de Arão, as vestes de
seu pai no ministério foram colocadas sobre seus ombros. Foi o manto de um profeta que
tornou Eliseu também em profeta, sob seu pai – a ligação espiritual destinada a mudar para
sempre sua vida, pois deixou os pais biológicos e seus bois para seguir os passos do pai
espiritual. Elias, igualmente, se tornou mais do que um profeta ou um mestre, foi o pai de
Eliseu no ministério.
'Eliseu serviu a Elias com a fidelidade de um filho; e quando seu serviço filial estava
completo, "Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja
tomado de ti. Disse Eliseu: Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu
espírito" (2 Reis 2:9).
Eliseu recebeu a porção dobrada do espírito de seu pai quando este se foi,
arrebatado no carro de fogo. "O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de
Israel e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, tomando as suas vestes, rasgou-as em
duas partes" (2 Reis 2:12). Ao rasgar as próprias roupas, Eliseu recebeu o legado de seu
pai. Então realizou as obras do pai e dividiu as águas do Jordão, ferindo-as com o manto
de porção dobrada (seu direito de primogênito) que herdara de Elias (ver 2 Reis 13-14).
Não é necessário orarmos pela unção. Já somos ungidos ver 1 João 2:20,27. Nossa
tarefa é reter a unção. Esta é a razão de as vestes não serem uma forma arbitrária da
herança no Espírito. Não podemos ministrar para um mundo agonizante em nossa carne.
Devemos ter a porção dobrada do ministério na Igreja. Temos de orar para os pais
coserem vestes para os filhos, pois esta é sua herança.
Quando nasceu Jesus, uma declaração angelical informou a maneira de se identificar
o Messias dentre o grupo de pastores: "E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma
criança envolta em faixas e deitada em manjedoura" (Lucas 2:12). Desde as faixas da
infância às roupas luz entes da transfiguração e as peças de tecido inteiriças da maturidade
face à cruz, Jesus sempre pôde ser identificado por suas vestes.
Esta mulher representa um tipo freqüente na Igreja. Seus doze anos de deterioração
física reproduzem a falta do entendimento fundamental no Corpo de Cristo. Nós perdemos
a bênção das gerações de pai para filho e nossa vida se esvai de nós, nossa identidade e
os relacionamentos sofrem sem força. Vamos de conferência em conferência, buscado por
alguém que possa nos dar uma palavra ou um sinal, mas nada estanca nossa hemorragia,
impossibilitando-nos de nos relacionarmos no Reino e nos tomando completamente
incapazes de termos filhos no ministério.
Ainda assim, a mulher, apenas por ter tocado as vestes de Jesus, foi curada. A
menos que tenhamos vestes, a Igreja nunca reterá o poder do Espírito. O apóstolo Paulo
também transmitiu a unção em suas vestes. "E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres
extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal,
diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se
retiravam" (Atos 19:12). O pano que usava era um lenço. Este adereço, literalmente usado
para limpar o suor, foi instrumento de Paulo em sua obra.
Timóteo era tão próximo a Paulo, seu pai no ministério, que, na proporção que
trabalhavam juntos, embebia-se na unção. Então, quando Timóteo se viu sem o pai, era
enviado como um lenço na mão de Deus para curar os feridos e enxugar as lágrimas
daqueles que viviam mais longe.
Seria uma grande tragédia se pensássemos que a unção de Deus começa e termina
conosco. A perda se faria importante para a geração seguinte à nossa, formada por
profetas órfãos, vendo-nos arrebatados no fogo da glória e tendo de procurar por pais
perdidos em lugar de ministrarem com segurança para um mundo perdido.
Que sejamos nós pais para os filhos para tudo que recebemos em Cristo não morrer
com a nossa morte. Que transmitamos o legado - uma veste de relacionamento costurada
com todas as cores da graça!
[É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce
para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de
Sião. Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre Salmo 133:2-3]
A UNÇÃO DO PAI
O ministro pensou que a inspiração extraída com dificuldade e o trabalho árduo não
seriam perdidos. Pensou que havia salvado o trabalho também em um disquete - mas não
o fizera. Estava perdido... Tudo perdido. Imaginou que o arquivo estava sendo salvo à
medida que digitava. Pensou que tudo era salvo até acontecer o problema. "Será isto o que
chamam de vírus? Ou de bug? Será que foi sobrecarga elétrica? Ou terá sido o diabo?
Seja lá o que for, o trabalho foi bem feito, pois tudo se perdeu para sempre."
As palavras de seus amigos corriam pela cabeça do ministro: "Como assim 'não tenho
computador?' Você deveria adquirir um. Será uma bênção em sua vida. Todo mundo tem
computador hoje em dia. Vai ser um grande auxílio, inclusive para seu ministério. Você
precisa de um computador". É verdade, seria de grande ajuda, mas, naquele momento não
pensava exatamente assim – a não ser na ajuda de um pedaço de pau, ou de uma arma,
ou de algum tipo de explosivo.
Foi no ano de 1953, e sua turma da sétima série fazia uma excursão pelo prédio do
Banco Mutual. Lá havia um computador gigantesco. Ele e seus colegas de classe
descobriram que aquela máquina pesava cerca de trinta toneladas e ocupava quase quatro
andares do prédio. Naquela época, havia apenas uma centena de computadores em todo o
mundo e aquele era um dos modelos mais avançados. Seu apelido era "super-
computador".
O ministro fez a conta e teve alguma resistência em admitir que mais de cinqüenta
anos havia se passado. Os computadores definitivamente haviam evoluído bastante.
Desde as trinta toneladas, os quatro andares em um prédio, até os poucos quilos que
cabem em uma pasta. Seu número se multiplicou daquela centena às centenas de milhões
em toda parte — tudo no espaço de uma geração - cada vez menores, cada vez
melhores...
O ministro se referia com humor à sua máquina como " a besta", depois de ouvir
tantos sermões alegando que o anticristo estava no computador. A besta que dormia na
mesa do pastor tinha o processador mais rápido, os itens de multimídia mais avançados e
as placas de última geração. Era a configuração mais recente no mercado.
Ao fim das contas, ele não teve escolha, pois a indústria da informática se
desenvolvera muito rapidamente do 286, para o 386, para o 486, o Pentium e então não
encontrou mais limites. Em poucos anos, seu modelo já seria obsoleto e se tomaria
carcaça e serviria apenas como um monte de peças para reposição.
Ele gastou um bom dinheiro no melhor computador, com os programas mais novos, e
o havia colocado sobre a mesa somente para apanhar poeira até na semana anterior.
Ainda assim, com a velocidade no desenvolvimento dos processadores, teria em breve de
atualizá-lo.
Então ele voltou ao escritório. Posicionou o cursor sobre o ícone, clicou duas vezes e
lá foi ele. O pastor entrou no programa... oremos!
A Igreja tem mais pessoas, mais dinheiro, maior quantidade de edificações, maior
influência, mais apoio político e mais visibilidade na televisão e no rádio do que em
qualquer outra época, mesmo assim, não igualamos o fluir poderoso do Espírito vivido pela
primeira geração da Igreja. A nós, foi prometida na Bíblia superabundância de Deus maior
do que esta experimentada hoje em dia, contudo, o que temos são as histórias de alguns
encontros especiais, onde o poder de Deus se manifestou e, ainda assim, não são tão
grandiosos como aqueles do relato bíblico. Certamente, o problema não é Deus.
O apostolo Paulo orou para que a Igreja aprendesse “qual a suprema grandeza do seu
poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder" (Efésios 1:19). Nosso
Deus é o Deus da suprema grandeza. Aqui, o termo ‘grandeza’ significa que determinado
nível foi atingido, ou que um objetivo específico foi alcançado. Chegar a este lugar define a
grandeza. Por exemplo, um jogador de futebol é grande se acertar inúmeras vezes a bola
dentro do gol. Se algo alcança determinado ponto, ou uma magnitude é reconhecida como
maior ou melhor do que antes se conhecia, então temos a grandeza.
Deus é grande e também é supremo em sua grandeza. Ele simplesmente não atinge
determinado nível: sempre vai além do que fez antes. Deus não chega a uma posição de
grandeza e pára, vai muito além de nossa capacidade de compreender sua grandeza.
Deus não abençoou a Igreja e disse: "Já basta. A Igreja recebeu todo o poder necessário.
Chegou o tempo de estabilizar e conservar a situação como agora se encontra", isto
porque Deus não atinge um nível de excelência e interrompe o movimento para além deste
nível. Deus ultrapassa toda a excelência já manifestada, transpassa os próprios limites,
quebra os próprios recordes e supera o que alcançou por último. Ele sempre excede a
posição na qual esteve anteriormente. Nosso Deus é o Deus da suprema grandeza (ver
Efésios 3:20).
Diante deste quadro, o problema concernente à unção no Corpo de Cristo atual não é
a falta de poder, pois Deus sempre dá seu Espírito. Moisés disse:"Tomara todo o povo do
SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!" (Números 11:29). Deus
deseja que a unção seja derramada em todos os membros do Corpo, "vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre
os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias" (Joel 2:28-29).
Deus quer ultrapassar todas as suas realizações dos primeiros séculos da Igreja nos
dias de hoje: os últimos dias da Igreja. A razão pela qual não temos o poder da unção da
forma como poderíamos vivenciá-lo é não a recebermos adequadamente. Deus sempre a
derrama, mas não tomamos a posição adequada para sermos cobertos por inteiro com o
poder divino.
"Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a
cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É
como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a
sua bênção e a vida para sempre".
Arão não recebeu o óleo sobre outra parte senão a cabeça. No Salmo 133, vemos
que o óleo não foi derramado em seus braços, ou sobre o coração, ou primeiramente nas
pernas. Foi posto apenas sobre a cabeça, de onde a unção fluiu e o cobriu até a gola de
suas vestes.
Jesus prometeu aos discípulos a colocação do poder do Espírito sobre eles quando
lhes deixou a promessa do Pai: "Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai;
permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder" (Lucas 24:49). A
palavra traduzida como 'revestidos' está em grego 'enduo', que significa, neste contexto,
algo como "embeber em pano". Desde a Cabeça, vem a unção sobre a Igreja através das
vestes providenciadas pelo Espírito do Pai: a Igreja recebe o poder ao ser vestida com o
poder do Pai.
Jesus é o Cristo - é aquele que foi ungido. Quanto a nós, na condição de membros de
seu Corpo, somos revestidos com seu Espírito. A Igreja é o “novo homem" e "um só corpo"
mediante o qual "temos acesso ao Pai em um Espírito" (Efésios 2:15-18). Não há unção fora
da ligação com Cristo. A única unção que recebemos foi derramada sobre a Cabeça e
correu para o Corpo – a Igreja. Jesus nos disse que nos revestiria com poder, mas não
disse que derramaria óleo sobre nossas cabeças.
O que a Igreja denomina "a busca pela unção" não passa do reavivamento do dom de
Deus em um crente pelo fato de o Espírito viver dentro dele. Assim deve sempre acontecer.
Paulo encorajou Timóteo a fazer exatamente deste modo: "Por esta razão, pois, te admoesto
que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos
tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação" (2 Timóteo 1:6-7).
Timóteo foi aconselhado a reavivar o dom de Deus que estava nele para deixar as
mãos de seu pai no ministério se deitarem sobre ele. A forma de recebermos os dons para
o ministério é nos vestirmos de forma apropriada e nos posicionarmos adequadamente sob
o ministério de um pai espiritual. Desta forma receberemos um dom espiritual e também, de
forma constante, a unção, enquanto nesta posição nos mantivermos. A unção não flui para
cima, então, nos elevarmos não é a forma de receber a plenitude do poder de Deus. A
unção flui para baixo, por isto devemos acolher seu movimento natural para recebê-la.
O apóstolo Pedro disse: "Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais
velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus
resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a
poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte" (1 Pedro 5:5-6). Esta
passagem não se refere à idade cronológica; um "velho no Senhor" é alguém que possui
maturidade no ministério. A forma de sermos exaltados por Deus é permanecermos sob a
mão do pai no ministério que o Senhor nos designou. Como dissemos, a direção do fluir do
Espírito é para baixo. Se subirmos, remaremos contra a corrente de Deus e iremos de
encontro à sua resistência: “Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua
graça" (1 Pedro 5:5). Se erguermos a nós próprios e a nossos dons pessoais acima do
propósito, da posição, ou da pessoa sob a qual Deus nos colocou, sairemos do fluir. Se
subirmos a montanha, talvez colheremos o orvalho que lá se deposita, contudo, jamais
vivenciaremos o fluir poderoso do rio; talvez recebêssemos a unção, contudo, não teríamos
as vestes para retê-la.
"É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a
sua bênção e a vida para sempre" (Salmo 133:3). A unção sempre flui descendo, assim, sua
porção mais poderosa não está sobre a cabeça de Arão, mas em suas vestes. É como o
fluxo d'água mais poderoso, que não está no orvalho do monte Hermom, mas na torrente
do rio Jordão que corre ao pé da montanha. O Hermom atinge cerca de três mil metros de
altitude, sendo assim a montanha mais alta na Palestina. Ele pode ser visto a quase
duzentos quilômetros de distância. Das neves eternas em seu topo corre a fonte de água
principal do rio Jordão. Este rio segue por mais de duzentos quilômetros, é o maior e mais
importante na Palestina. Ele nasce no sopé do Hermom e corre para o Mar Morto. Sua
nascente fica a mais de trezentos metros acima do nível do mar e sua desembocadura está
a quatrocentos metros abaixo do nível do mar. O lago da Galiléia é formado pelo rio Jordão
e mede vinte e um quilômetros de norte a sul, e a sua largura é de treze quilômetros. Seu
ponto de maior profundidade mede trezentos e noventa metros. Na sua margem sul
continua o Jordão por mais cento e doze quilômetros até o Mar Morto. O Jordão despeja
em média seis milhões de toneladas de água a cada vinte e quatro horas no Mar Morto,
quase toda esta água advém do orvalho que se deposita no topo do Hermom. Desta
maneira, o orvalho da montanha se toma o rio do vale, proporcionando a maior torrente em
sua extensão final, e não na cabeceira. O nome 'Jordão' significa 'aquele que desce. Para
receber as águas do Jordão em seu ponto mais vigoroso, é necessário se posicionar em
seu ponto mais baixo. A razão pela qual o orvalho no topo do Hermom pode se transformar
em um rio poderoso, gerador de vida, é correr para baixo.
A Igreja há muito tempo vem tentando buscar a unção, mas o faz fora da ordem
correta. A Bíblia nunca disse para orarmos pela unção, buscá-la ou louvá-la com o objetivo
de a recebermos. Pelo fato de Deus sempre dar seu Espírito, a posição correta para
recebê-lo é o ponto crucial. Por isto, as pessoas que se elevam acima de sua liderança,
recebem apenas o orvalho da unção e têm como resultante uma posição inadequada para
receber o fluir de enorme poder na gola das vestes. Esta é a razão pela qual muitos
possuem unção em suas vidas, mas nunca atingirão a profundidade, o poder ou o efeito da
Igreja descrita no Livro de Atos.
Nós estamos "em Cristo". Deus quer que sua Igreja tenha de tudo o que colocara em
Cristo. Deus dá constantemente seu Espírito. Jesus Cristo é a Cabeça ungida do Corpo e
dele a unção conserva-se fluindo para cobrir toda a Igreja. A posição adequada dos filhos e
pais no ministério é essencial para recuperarmos o fluir do Espírito. Há que se ter pais que
se preocupem em derramar seus dons nos filhos, e filhos sob a mão paterna para recebê-
los. A Igreja está desalinhada para receber o fluir na completude do Senhor porque não
segue a ordem de pai e filho. Por este motivo, o legado das gerações apenas goteja ao
passo que poderia ser a fluência impetuosa. Por fim, acabamos trabalhando para receber
apenas algumas gotas de orvalho do poder, quando poderíamos ter a corredeira abundante
de um rio de poder fluindo por todos os membros do Corpo.
A ordem de pai e filho não é uma tentativa de se instituir o elitismo dentro do Corpo.
Tampouco separa apenas determinadas pessoas para receber a unção do Espírito, pois
não almeja produzir uma amputação destrutiva do poder. Ao contrário, este livro foi escrito
porque a ordem de pai para filho é a maneira pela qual Deus faz todos os membros rece-
berem a unção; é o curso pelo qual a unção deve fluir. A operação dos dons espirituais
deve fluir livremente dentro do Corpo inteiro, de acordo com a vontade do Senhor.
"É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e
desce para a gola de suas vestes" (Salmo 133:2). A unção deve fluir descendo pelo Corpo
para desta forma cobrir completamente a Igreja, de acordo com a intenção de Deus. A
unção desce da cabeça até a barba. A "barba" representa a maturidade da liderança,
afinal, barba não cresce no rosto de crianças; a unção não serve a movimentos
infantilizados de uma igreja imatura e nem à exaltação tola do talento individual ou de
demonstrações prematuras da eloqüência pessoal. A unção deve ser colocada sobre uma
liderança de uma Igreja crescida e madura.
O óleo então desce para os ombros do corpo. Esta parte anatômica representa
espiritualmente os cinco ofícios da Igreja: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu;
o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías 9:6). Arão carregava os nomes das doze tribos
sobre os ombros: "E porás as duas pedras nas ombreiras da estola sacerdotal, por pedras de
memória aos filhos de Israel; e Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros para
memória diante do SENHOR" (Êxodo 28:12). A Arca da Aliança foi levada sobre os ombros
dos sacerdotes: "Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas que nela
estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR" (1 Crônicas 15:15). O
óleo deve, primeiramente, correr pelos ombros, fluindo, só depois, pelo restante do corpo.
O que é verdadeiro para o corpo de Arão é verdadeiro também para o Corpo de
Cristo, a Cabeça da ti Igreja: "(...) Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à
sua direita nos lugares celestiais (...), para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a
qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas" (Efésios 1:20, 22-
23).
Os cinco ofícios – os ombros do governo da Igreja – devem ser compostos por uma
liderança madura para levá-la à maturidade.
"E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos
à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de
um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos
homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Efésios 4:11-15).
Quando a ordem de pai e filho não é estabelecida com propriedade dentro da Igreja, a
unção, apesar de existir, não cobre todos os membros, pois sua cobertura foi barrada. O
manancial infinito é interrompido pela falta do posicionamento adequado provocando a
escassez e unção sobre o corpo. Deus constantemente derrama o óleo sobre" toda a
carne". Ainda assim, alguma parte dela não o recebe porque está fora da posição
apropriada. O problema está no desalinhamento da Igreja porque não estabelece
relacionamentos adequados no Corpo para todos os membros receberem a unção. Por isto
a Bíblia compara a união à unidade dos irmãos: Oh! Como é bom e agradável viverem
unidos os irmãos! como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce" (Salmo 133:1-2).
A união é necessária para que a unção atinja, de maneira integral, todos os membros
do Corpo. Todavia, vale ressaltar que esta não é uma união de sentimentos ou de desejo
mútuo; não é o encontro de corações ávidos, pois é a confluência de pessoas colocadas
em posição adequada como membros sob uma cabeça.
Se um time de futebol pretende vencer, deve guardar de forma precisa suas posições,
manter-se motivado e praticar para aprimorar suas habilidades. Cada jogador deve
contribuir com seu melhor para o time, afinal, cada um possui qualidades distintas que se
aprimoram com os treinamentos e chegam mais próximas da perfeição pelas mãos do
treinador. Porém, não é apenas o espírito de equipe que chega à vitória. A
responsabilidade de vencer recai sobre cada um dos jogadores de cada posição. À medida
que cada um confia que os outros jogam bem em suas posições, o time avança rumo à sua
melhor formação. E quando um jogador marca gol, este vale para o time todo, da mesma
maneira, se um jogador fica em impedimento, todo o time perde a posse de bola.
"De quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a
justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em
amor" (Efésios 4:16). O manancial para cada membro do Corpo é a articulação entre cada
um deles e a Cabeça. Por este motivo, a ordem adequada no Corpo é fundamental para o
recebimento da unção em sua totalidade. Vez por outra, algumas situações criadas no
ministério provocam um fluir da unção fora da ordem de “Arão e seus filhos", isto é, a
ordem de pai e filho. Sem o relacionamento na ordem de pai e filho, qualquer unção no
ministério está fora de ordem, pois é um uso ilegítimo da unção colocar os dons pessoais
acima da ordem e da liderança. Além disto, a simples presença de unção não qualifica
ninguém como ministro ou governante de uma congregação. Exatamente como a cópia
falsificada de um perfume caro, é um clone (e não um filho natural) que considera a
manifestação de um dom no Espírito o único pré-requisito para se trabalhar no ministério.
Jesus possuía dons, mas "Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo
sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei"
(Hebreus 5:5). Não foram seus dons que o qualificaram, mas sua submissão
enquanto Filho.
Houve uma geração após Josué que não "conheceu" o Senhor, pois com ele não
mantiveram um relacionamento, "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o
que achava mais reto" (Juízes 21:25). No Livro dos Juízes, há o relato sobre várias
pessoas ungidas pelo Espírito durante um período de anarquia. Elas eram ungidas e
elevadas à condição de liderança do povo de Deus por um período de tempo curto, nunca
maior do que o de uma geração. Então, o povo era novamente feito cativo "e tornavam
piores do que seus pais" (Juízes 2:19). O povo clamara a Deus para, em sua misericórdia,
ungir outra pessoa para libertar novamente o povo.
Juízes como Gideão, Sansão, Jefté, entre outros, eram de bastante poder. Todos
eram ungidos, mas não na ordem de pai e filho, pois não havia a bênção das gerações.
Nos dias dos juízes não havia pais para cuidar dos filhos no ministério. Apesar de os juízes
serem conclamados por Deus para se tornarem pais de Israel, nenhum teve sucesso em
passar a unção à geração subseqüente. Mesmo sendo ungidos, os juízes não perfaziam o
padrão normalmente aceito por Deus, que lhes deu seu Espírito porque ouvia às orações
de seu povo implorando a libertação. A misericórdia divina os ungiu, mas isto não quer
dizer que Deus aprovasse qualquer lacuna na ordem.
Hoje em dia, muitas pessoas que operam dons no ministério são ungidas por
Deus, mas esta unção, de forma nenhuma, significa que Deus aprova seu caráter ou
modo de vida, afinal, Sansão, mesmo depois de dormir com Dalila, seguiu ungido
pelo Espírito.
Gideão conduziu o povo a grande vitória e continuou ungido apesar de ter feito
ilicitamente uma estola sacerdotal e por causa dela ter levado o povo à idolatria (ver Juízes
8:27). A presença de unção não é qualificadora para o ministério. Ela vem do Senhor e
pode se fazer presente na vida das pessoas, mesmo se estiverem desalinhadas da ordem
e do relacionamento (ver Mateus 7:21-23; 24:11-12).
O fluir de todo o poder do Reino de Deus acontece por meio do relacionamento que
mantemos uns com os outros. A privação de relacionamentos deixou a Igreja carente de
poder. A falta de ligação na ordem do povo de Deus atrofiou espiritualmente alguns de
seus membros. Outros estão fatigados pela responsabilidade desigual entre as partes do
Reino. Para haver a manifestação completa de Cristo a todo o mundo, há que se
restabelecer as ligações para o poder ser dividido entre todos os membros. O corpo
permanecerá desconjuntado, desfigurado e inapto a manifestar o poder da imagem de
Deus na terra caso não se ligue a Cristo, a Cabeça.
A Bíblia não afirma que o modo de conseguirmos a totalidade do Espírito seja através
das ligações organizacionais ou de alguma denominação, pois isto significaria liderança
sem relacionamento e autoridade sem aliança. Jamais irá a unção atingir seu nível máximo
na Igreja se houver apenas cultos monumentais em mega-igrejas. Portanto, multiplicar a
unção não é realizar uma operação com números gigantescos de pessoas com a porção
única, agrupadas em um culto, ou seja, a unção sem cobertura e o poder sem um
reservatório. O único canal adequado para o rio de unção fluir de Cristo para a Igreja é
construído no relacionamento de pai para filho.
["Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos
lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja" 1
Coríntios 4:17]
10
O RELACIONAMENTO DO PAI
(Gênesis 6).
Sobre a época dos juízes, a Bíblia nos diz: "Naqueles dias, não havia rei em Israel;
cada qual fazia o que achava mais reto" (Juízes 17:6). Há oportunidades nas quais Deus
permite haver uma situação desordenada antes de reerguer seu povo. Por certas vezes,
Deus dá passagem à ignorância até exigir a obediência ao conhecimento revelado. Nos
dias dos juízes, havia uma falta patente de liderança divina. A completude do padrão de
Deus ao ministério estava pervertida pela conversão dos corações humanos aos lucros
financeiros em lugar de converterem à paternidade.
"Havia um moço de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e se demorava ali. Esse
homem partiu da cidade de Belém de Judá para ficar onde melhor lhe parecesse. Seguindo,
pois, o seu caminho, chegou à região montanhosa de Efraim, até à casa de Mica. Perguntou-
lhe Mica: Donde vens? Ele lhe respondeu: Sou levita de Belém de Judá e vou ficar onde
melhor me parecer. Então, lhe disse Mica: Fica comigo e sê-me por pai e sacerdote; e cada
ano te darei dez sidos de prata, o vestuário e o sustento. O levita entrou e consentiu em ficar
com aquele homem; e o moço lhe foi como um de seus filhos" (Juízes 17:11).
Tal situação não pode estar mais fora de ordem, pois não retrata o relacionamento
pai—filho. O que vemos é um filho fazendo de Deus sua própria imagem de um pai que
não estabelece outro elo que não o de mercenário. O levita realizava obras em troca
apenas do dinheiro, e o fazia em nome de um pai. Nessa época, a tribo de Dã não havia
recebido sua herança na terra da promessa, por isto enviaram cinco homens para
encontrar alguma terra, herança de outros, a qual pudessem conquistar. Quando estavam
a ponto de fazê-lo:
"Porém, subindo os cinco homens que foram espiar a terra, entraram e apanharam a imagem
de escultura, a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de fundição, ficando o
sacerdote em pé à entrada da porta (...). Eles lhe disseram: (...) vem conosco, e sê-nos por
pai e sacerdote. Ser-te-á melhor seres sacerdote da casa de um só homem do que seres
sacerdote de uma tribo e de uma família em Israel? Então, se alegrou o coração do
sacerdote, tomou a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de escultura e entrou no
meio do povo. Assim, viraram e, tendo posto diante de si os meninos, o gado e seus bens,
partiram" (Juízes 18:17,19-21).
O levita não era nem pai, nem sacerdote. Era apenas uma figura religiosa contratada.
Quando surgiu uma outra oportunidade para ganhar mais e ter mais prestígio, não hesitou
em abandonar o antigo patrão e roubar-lhe objetos. A bem da verdade, as pessoas que o
pagavam pelo serviço, faziam-no somente porque o levita tinha as vestes certas. Utilizando
as vestes apenas para lograr em um mundo de religiosidade vazia, o levita era procurado
pela gente que via apenas nos adereços do sacerdote, como a estola, os requisitos ao
ministério.
O pai no ministério é um homem de Deus cujo coração está voltado para elevar
os filhos no evangelho, não em assegurar servos para seu próprio ministério;
O pai no ministério não é reconhecido pela estola que possui, mas pelo coração
convertido ao filho.
Sempre surgirão falsificações para as coisas legítimas. Por muitas vezes, um homem,
ou um movimento, tem início na Igreja originalmente com retidão, mas se tornam
distorcidos na forma religiosa sem substância. À época dos ministérios de João Batista e
Jesus, havia vários grupos distintos sob a égide do judaísmo, cada qual representativo do
que acontece quando a revelação de Deus é colocada sob um sistema no qual "cada qual
fazia o que achava mais reto" (Juízes 17:6).
Nos quatrocentos anos do silêncio de Deus entre Malaquias e Mateus, a religião
judaica se corrompeu e assumiu elementos de estruturas e de sistemas mundanos. Nos
dias de Jesus havia, principalmente, os saduceus, os fariseus e os herodianos. Os
saduceus eram os descendentes de Arão e controlavam o sacerdócio. Os herodianos
controlavam o governo e o prédio atualmente conhecido como "o templo de Herodes" (a
casa construída para Deus era conhecida pelo nome do homem que, imbuído de vilania e
assassínio no coração, chacinou os meninos de Belém (ver Mateus 2). Os fariseus
controlavam as sinagogas e exerciam grande poder sobre a população em geral.
De fato, cada um destes grupos era o resultado de uma ordem pervertida entre pai e
filho. Os saduceus eram o corrompimento do sacerdócio de Arão e de seus filhos. Os
herodianos tocavam um sistema malvado do reino de Davi e seus filhos. Os fariseus nas
sinagogas eram a perversão do ministério paterno no nível local. Estes três grupos
inverteram a ordem de Deus e a si próprios quando misturaram a revelação do Senhor com
os sistemas humanos, arruinando assim a pureza dos caminhos de Deus ao adicionar a ele
as tradições dos homens. Jesus admoestou seus discípulos quanto às ações de fariseus,
saduceus e herodianos com relação a seu fermento, pois poderia destruir a simplicidade e
a pureza de seu relacionamento com Deus.
"E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus"
(Mateus16:6).
O 'fermento' refere-se exatamente à levedura que faz a massa do pão crescer, mas
cujo excesso a faz azedar, por isto, "um pouco de fermento leveda toda a massa" (Gálatas
5:9). O fermento é perigoso na medida que apenas uma pitada a mais pode azedar todo o
pão.
Quando a Igreja começou, não possuía edifícios enormes nem grandes organizações
comandadas pelos compromissos humanos. A Igreja começou com Jesus em seu
relacionamento com os discípulos, dos quais escolheu doze e depositou todo o futuro do
propósito divino em seus corações.
"Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então,
designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de
expelir demônios" (Marcos 3:13-15).
Eles foram chamados segundo a ordem: primeiro, estariam com ele; segundo que ele
os enviaria para pregar; terceiro, teriam o poder para curar enfermos e expulsar demônios.
Este é o relacionamento de um pai para com um filho.
Jesus não foi apenas o Pai manifestado na carne (ver 1 Timóteo 3:16), mas também
foi pai no ministério para seus discípulos que, de maneira alguma, nasceram nos salões
dos entendidos da lei. Seus dons não lhes foram concedidos em uma conferência de final
de semana. A fundação do ministério da Igreja se constitui no relacionamento que os
discípulos mantiveram com Jesus.
"Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus
Cristo, graça e paz a vós outros" (1 Tessalonicenses 1:1).
"E enviamos nosso irmão Timóteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo, para, em
benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos" (1 Tessalonicenses 3:2).
"Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, nosso Pai, e no Senhor
Jesus Cristo" (2 Tessalonicenses 1:1).
"Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus
que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia" (2 Coríntios 1:1).
"Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive
bispos e diáconos que vivem em Filipos" (Filipenses 1:1).
"Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo" (Colossenses
1:1).
"Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, também nosso
colaborador" (Filemom 1:1).
Apesar de ser filho, Timóteo foi chamado de colaborador e irmão, sendo por vezes
posto no mesmo nível de Paulo. Este é o fruto do relacionamento pai—filho: Paulo pegou
um jovem que trabalhava no ministério de uma área reduzida e alargou seu potencial a
limites que, de outra forma, nunca alcançaria na vida. Um pai estabelece o relacionamento
com o filho no ministério que será para este o início de um novo caminho de revelação e
maturidade.
1. O Pai e Jesus;
2. Jesus e os discípulos;
3. Paulo e Timóteo.
1. Jesus foi desprezado por ter sido enviado pelo Pai (Salmo 22:6; Isaías 53:3; João
15:24).
2. Os apóstolos foram desprezados porque foram enviados por Jesus (Lucas 10:16;
João 15:20-21; 1 Coríntios 4:9-10).
3. Timóteo e Tito foram desprezados porque foram filhos enviados por seu pai no
ministério (1 Coríntios 16:10-11; 1 Timóteo 4:12; Tito 2:15).
Podemos ouvir o significado maior de ser um pai nas palavras de Paulo quando
descreveu Timóteo aos Filipenses: "Porque a ninguém tenho de igual sentimento que,
sinceramente, cuide dos vossos interesses; pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que
é de Cristo Jesus. E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo,
como filho ao pai" (Filipenses 2:20-22). Esta confirmação elogiosa foi como as vestes sobre
os ombros de Timóteo que deram a ele a liberdade para ministrar à igreja de Filipos.
Algumas pessoas passam toda a vida e nunca ouvem uma palavra positiva de seus pais,
por isto nunca se tornam o que poderiam ter sido em Deus.
"pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na
pureza. Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te faças
negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a
imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes
deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes" (1
Timóteo 4:12-16).
Aqueles que saem perdendo mais são os que não recebem os filhos. Tal fato mostra
também como nunca receberam o pai. "Todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai.
Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou" (João 5:23). Temos de honrar nosso pai
e uma forma de fazê-lo é honrar o filho enviado pelo pai.
[O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha
honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? - diz o SENHOR dos
Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Malaquias 1:6]
11
A HONRA DO PAI
Hoje ele está em uma cadeira de rodas, paralisado da cintura para baixo, sentado
desconfortavelmente de um só lado da cadeira, mantém-se preso a ela por um lençol
amarrado ao seu torso. Estava tentando desamarrar o nó quando cheguei. Sem
demonstrar qualquer sinal de que me reconhecera, perguntou se eu o tiraria "daquela
terrível prisão". Então, olhou para mim mais uma vez, emocionou-se sobremaneira e disse:
- Lucas, por onde você andou? Procurei por você a noite toda! (Lucas era seu irmão
mais velho).
- Pai, sou eu, Mark.
Ele tornou:
- Ah, é verdade!
Geralmente quando estou com Meu Pai, cantamos louvores e citamos as Escrituras
juntos. Se eu começo, ele quase sempre consegue terminar. O Mal de Alzheimer roubou-
lhe a mente, mas o Espírito Santo sustenta forte seu coração!
Trouxe aqui esta experiência pessoal por vários motivos, os quais desejo discutir
neste capítulo final.
Em primeiro lugar, não visito e tomo conta de meu pai por causa de alguma coisa que
ele pode me dar ou fazer para mim. Com efeito, há vários anos tenho sido abençoado com
o privilégio de poder ajudar a casa de minha mãe e de meu pai. Além disto, não há herança
a ganhar em troca de minha atenção a meus pais. Eles não tem economias, propriedades,
ou tesouros para deixar em testamento. O motivo de minha devoção infinita, cuidado e
apoio é simplesmente a honra.
Antes do homem decidir ajudar Deus sintetizando todos estes remédios religiosos,
sempre houve - e ainda há - um plano espiritual poderoso para cuidar e sustentar os idosos
e os pais da fé. A questão real a nos colocarmos não é a falta ou presença de padrão, mas
a ausência de coragem para mudar e acolher o plano de Deus em lugar do plano do
homem. É sempre bom lembrar que a religião do homem sempre morre aos prantos!
A primeira vez que fui entrevistado pelo pessoal da Secretaria de Saúde do Estado
sobre o mal de meu pai e a possibilidade de conseguir algum lugar para ficar durante o
tratamento, as perguntas foram na seguinte direção:
Expliquei que juntos, meu pai e minha mãe, recebiam cerca de $500,00 de
aposentadoria por mês.
Uma das funcionárias tirou os óculos impacientemente e perguntou: " Afinal, o que
eles têm?"
Minha ação não foi premeditada, ainda assim, naquele momento expressei um
princípio natural e mais, abalei o centro de um conceito espiritual poderoso: a herança dos
filhos pode, eventualmente, tornar-se a herança dos pais. Eis aqui a manifestação da
honra.
Há razões pelas quais nos falta a dobrada porção de unção e nos perdemos do
legado da verdade espiritual. As bênçãos financeiras e o dinheiro para o auxílio adequado
ao Reino não são mera coincidência. A Bíblia é um livro de bênçãos e maldições, em
outras palavras, se obedecemos, somos abençoados; se desobedecemos, somos
amaldiçoados. Então, talvez devêssemos apresentar o caso seguindo as Escrituras. Deus
disse que o relacionamento entre pais e filhos deve vir à ordem para preparar para a
manifestação de Jesus e do Dia do Senhor: "Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que
venha o grande e terrível Dia do SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração
dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição" (Malaquias 4:5-6). Por
favor, examinemos com cuidado o fim do versículo "para que eu não venha e fira a terra com
maldição".
Perdoem-me se soar sem rodeios e direto demais, mas novamente há motivos para
acreditarmos na existência de um número grande de ministérios totalmente fora de ordem.
Grande parte deles ordenam a si próprios ou são patrocinados por organizações e não
fazem idéia de sua verdadeira identidade paternal ou de sua responsabilidade. Estes
ministérios não são apenas órfãos ou sem pais, mas são com freqüência ilegítimos, sofrem
abusos e são rejeitados.
Davi foi sem dúvida o guerreiro mais amado da Bíblia. Suas vitórias da juventude
sobre ursos, leões e gigantes nos intrigam e fascinam. Sua luta com Saul é um clássico
trágico, mas ainda mais gloriosa é sua tenacidade que o fez persistir quinze longos anos do
óleo ao ouro! Por fim, coroado três vezes em Hebrom, Davi estabeleceu o reino e fez de
Jerusalém a "cidade de Davi", ergueu o tabernáculo e louvou a Jeová.
Os anos passaram, levando consigo o aroma e o frescor da vida. Vez por outra,
ocorria que o aroma na vida de Davi (e também na nossa vida é assim) tornava-se mau
cheiro. A vida não encerra apenas o conjunto dos bons momentos, pois o amálgama
destes fatos. Davi pecou, permitiu que a iniqüidade se mantivesse entre seus filhos e fez
prevalecer uma série de más decisões - ainda assim Deus disse que ele era um homem
segundo o coração do Senhor (ver Atos 13:22).
Nesta parte, desejo tratar brevemente da questão sobre a bagagem de um pai. O
pecado nunca deve ser coberto, assim como o verdadeiro arrependimento não pode ser
ignorado. Se usarmos como medida o exemplo dos pais na Bíblia, vemos que a perfeição
sempre foi rara, desviando do caminho a família inteira. O realinhamento sempre foi um
critério divino para a continuidade; os pais não deixam de ser pais porque suas vidas ou
atitudes são imperfeitas. Se este fosse o caso, então não haveria mais pais e,
conseqüentemente, também não haveria mais filhos! Contudo, como sempre acontece, a
recusa ao arrependimento e à conversão se mantêm como os maiores desqualificadores.
Não podemos nos esquecer de Noé, o homem mais reto que Deus conseguiu
encontrar naquele tempo. E sempre importante lembrarmos que sua obediência, contra
todo e qualquer lampejo de razão, salvou uma família humana durante a época de
descontentamento e ira divinas. É importante também não nos esquecermos que Noé
pecou. Ele plantou uma vinha e ficou bêbado devido à sua façanha bem-sucedida. Então,
seu filho Cam, ao ver o pai fraco e na vergonha, lançou fora a honra e conseguiu para si e
sua semente apenas uma maldição. Sem e Jafé, por outro lado, honraram e cobriram o pai
e, por isto, receberam bênçãos (ver Gênesis 9).
Com respeito a Davi, 2 Samuel 21:15 diz: "De novo, fizeram os filisteus guerra contra
Israel. Desceu Davi com os seus homens, e pelejaram contra os filisteus". A familiaridade
com o campo de batalha parece ter sido uma constante na vida de Davi. O episódio ao qual
agora nos referimos não é lá tão diferente de todos os outros, exceto por descobrirmos
neste que o grande guerreiro, que outrora se gloriava na batalha, ficara então "mui
fatigado". As Escrituras mostram como Abisai, um dos filhos de Israel, feriu e matou o
filisteu que atormentava Davi: "Porém Abisai, filho de Zeruia, socorreu-o, feriu o filisteu e o
matou; então, os homens de Davi lhe juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja, para
que não apagues a lâmpada de Israel" (2 Samuel 21:17).
Em Mateus 15, Jesus admoestou os líderes religiosos de seus dias por sua falta de
honra para com os pais:
"Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por
causa da vossa tradição? Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: quem
maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a
seu pai ou a sua mãe: é oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais
honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da
vossa tradição. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: este povo honra-
me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15:3-9).
Estas palavras de nosso Salvador refere-se a um furo na teologia dos fariseus criado
para subverter o plano de Deus, mas usando seu santo nome, para assim conservarem
seu estilo de vida ganancioso e uma aparente religiosidade reta. Se um pai estivesse
passando necessidade e pedisse a ajuda do filho, este poderia dizer apenas "Corbã", ou
"oferta". Esta palavra mágica reservava bens ou dinheiro como "separados para Deus",
portanto, qualquer pedido de ajuda poderia ser negado com a desculpa que tais bens e
dinheiro não poderiam ser para uso secular, exceto pelo seu detentor, o qual os "guardaria"
para Deus por um período de tempo indefinido. Assim, não era necessário honrar pai nem
mãe, pois o detentor se considerava desobrigado de tal responsabilidade.
Esta é uma atitude semelhante ao ministério de algumas pessoas hoje em dia que
não demonstram honra para com os pais no ministério. Confiantes no entendimento falso,
nós negamos e barramos os mandamentos de Deus em nossos relacionamentos sempre
quando nos desobrigamos das necessidades de um pai. Para tanto, nós o culpamos por
não jogar corretamente o jogo do "ore e pague", ou então citamos falas de falsa fé, como
"ele é homem de Deus; que Deus, portanto, tome conta dele".
Jesus cita também Isaías para nos mostrar que honrar não é simplesmente uma
questão de belas palavras, mas significa converter o coração para a outra pessoa. A
manifestação da honra deve ser ofertada na esfera de nossa capacidade para doar,
mostrar e fazê-la considerável. Uma manifestação verdadeira de honra requer mais do que
oratória. Devemos honrar nossos pais não apenas em nossos sentimentos, mas também
em nossas atitudes. Isaías profetizou: "Visto que este povo se aproxima de mim e com a
sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu
temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente
aprendeu" (Isaías 29:13). Não são apenas as tradições e mandamentos humanos que
apagam o temor e a honra que deveriam ser dadas a Deus, mas também apagam o temor
e a honra que deveriam ser dadas aos seus pais, tanto o físico quanto o espiritual.
Quem não honra desta forma, freqüentemente está imerso em um halo de orgulho.
Quem alimenta tal sentimento afirma ou manifesta a idéia de não precisar de ninguém ou, o
que é pior, sob o jugo de seu orgulho, atestam que tudo o que conseguiram na vida foi
resultado de seu próprio esforço e nada adveio do que receberam. Em Provérbios 15:33
aprendemos que certa atitude é necessária para que haja honra: "O temor do SENHOR é a
instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra". Em Provérbios 18:12 está escrito:
"Antes da ruína, gaba-se o coração do homem, e diante da honra vai a humildade". No
versículo 22:4, "o galardão da humildade e o temor do SENHOR são riquezas, e honra, e
vida". Portanto, devemos admitir que a falta de honra é também a falta de humildade, e a
falta de humildade indica, na maioria dos casos, uma enormidade de orgulho.
Não podemos nos esquecer: "Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em
Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais" (1 Coríntios 4:15). É fácil para nós recebermos
instruções e alcançarmos o entendimento segundo uma infinidade de fontes, sem ser
necessário abrirmos um espaço em nossas vidas para colocar a honra. Porém, Deus
precisa, no dia de hoje, que nos coloquemos na posição adequada e reconheçamos o valor
– com mais do que apenas os lábios – daqueles que passaram antes de nós, a fim de se
acabar com a maldição que abateu sobre o povo do Reino; os pais que estabeleceram o
governo, a ordem e as bases em nossas vidas devem ser honrados. Repito ainda, a
manifestação da honra, que ocorre na esfera de nossa capacidade para doar, faz-se clara
nas Escrituras.
Ela não é apenas clara, mas as Escrituras também mostram as formas de como a
honra se manifesta. Em Provérbios 3:9 está dito: "Honra ao SENHOR com os teus bens e
com as primícias de toda a tua renda". Honra e bens aparecem aqui como sinônimos.
Já que passamos algum tempo conversando sobre o Rei Davi nestas páginas, seria
bom darmos uma olhada em 1 Crônicas 29:28: "Morreu em ditosa velhice, cheio de dias,
riquezas e glória". O versículo 2 Crônicas 1:12 afirma: "sabedoria e conhecimento são
dados a ti, e te darei riquezas, bens e honras", Sobre Josafá, 2 Crônicas 17:15 diz: "O
SENHOR confirmou o reino nas suas mãos, e todo o Judá deu presentes a Josafá, o qual
teve riquezas e glória em abundância",
É bastante clara a ligação entre as riquezas e a honra, que andam lado a lado.
Com isto, as palavras do Senhor, "este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com
os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim", parecem indicar que as
palavras são ditas, mas não há riquezas. Quando Nabucodonosor passava por seu grande
dilema, ordenou que alguém viesse para levar-lhe a resposta em forma de interpretação
para seus sonhos. Ele disse, de acordo com Daniel 2:6, "mas, se me declarardes o sonho e a
sua interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto, declarai-me o
sonho e a sua interpretação". Além disto, o reconhecimento de Nabucodonosor sobre a
capacidade de Deus falar em sua vida pode ser vista em Daniel 11:38: "Mas, em lugar dos
deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que seus pais não conheceram, honrará com
ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis" .
Por isto, agora podemos ver mais claramente o significado das palavras de Deus em
Malaquias 1:6 - o tema deste capítulo:
"O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se
eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? - diz o SENHOR dos Exércitos a vós
outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu
nome?" (Malaquias 1:6).
Nesta passagem, os sacerdotes não demonstram remorso e revelam não fazer idéia
de sua responsabilidade com Deus. Enquanto dizem que honram Deus, julgam estar tudo
bem, mas Deus afirma que seu nome está sendo desprezado. Mais adiante em Malaquias,
podemos ler: "Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha
casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não
derramar sobre vós bênção sem medida" (Malaquias 3:10). Em outras palavras, Deus diz que
deseja retirar a maldição advinda do fato de não receber honra caso manifestemos nossa
honra na forma de tesouros e mantimentos. Tal ato abrirá a janela do céu e dará início ao
fluir de bênçãos em nossa vida.
Outra passagem em Segunda Crônicas nos fala de um rei: "Teve Ezequias riquezas e
glória em grande abundância; proveu-se de tesourarias para prata, ouro, pedras preciosas,
especiarias, escudos e toda sorte de objetos desejáveis" (2 Crônicas 32:27). Sabemos mais
adiante que Ezequias cometeu um grande erro ao mostrar estas bênçãos a seus inimigos,
que por fim se perderam quando Jerusalém foi tomada por Nabucodonosor. Estes e outros
erros só são levados adiante por quem pensa que honrar a si próprio é a forma mais alta
de honra que pode haver.
Esta história revela o espírito de muitas pessoas em nosso meio atualmente que não
conseguem pensar em outra honra senão a própria. São pessoas com influência no Reino
e, por isto, assumem que toda a honra lhes pertence. Por causa deste tipo de atitude,
muitos ministérios paralelos à igreja e organizações tomam o lugar dos pais nas vidas dos
outros, mas esta é honra roubada, porque vem do orgulho.
Estas pessoas, que não são senão depósitos de bênçãos, entendem também que
tudo o que conseguirem, independente da fonte, lhes pertence. Daí a fala de Jeremias:
"Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras,
cada um ao seu companheiro. Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a
sua própria palavra e afirmam: Ele disse" (Jeremias 23:30-31). Sem fazer muito mais do que
dizer 'obrigado' eles roubam temas, mensagens e proclamam revelações que "tomam
emprestado" junto a pessoas menos conhecidas, apregoando que eles próprios receberam
as revelações de Deus. Um pai não se importa que um filho use as coisas da casa.
Nenhum homem de Deus sente-se ofendido por outra pessoa com a qual tem
relacionamento por tomar emprestada sua inspiração, repetir revelações, ou usar idéias
espirituais, quando foram emprestadas pelos meios adequados de sua ligação. Um filho
não deve se sentir um ladrão quando usa as coisas de seu pai. O ladrão é quem invade na
calada da noite, coberto com o manto da traição e proclama que as coisas que tem são
suas quando, na verdade, tomou de outrem. Tal homem não é apenas ladrão, mas também
mentiroso.
Muitas das revelações e inspirações divulgadas hoje em dia são palavras e temas,
frutos do trabalho árduo de oração de mulheres e homens que por elas dedicaram a vida.
Passaram por uma etapa enorme, para conseguir tais frutos. Mas, depois de tanta
dedicação, são roubados por gente como Hamã no Reino, que acreditam pertencer a eles
a honra.
Um filho verdadeiro tem direito sobre todos os bens de seu pai por herança. Na
medida que honre o pai e expresse um motivo justo para usar os bens, jamais será privado
deles. Contudo, fora do relacionamento pai—filho, qualquer fruto retirado da árvore de
outro homem deve ser considerado honra roubada. Estas pessoas que "tomam
emprestado" não seguiram um preceito bíblico de dar "a quem honra, honra" (Romanos
13:7). Tendo suas árvores abarrotadas com frutos de revelações e com os galhos
sobrecarregados de verdades que não conseguiram enraizar através de seu próprio
trabalho, eles irão acabar pesando demais na copa e a árvore tombará.
O grande problema do rei Saul foi não achar errado tomar o lugar de Samuel. Pelo
fato de ser rei, entendeu que tinha o direito de oferecer o sacrifício. A resposta de Deus foi
então: "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de
carneiros" (1 Samuel 15:22).
Em 2 Crônicas 26:18 há o registro da história de Uzias, o rei que foi amaldiçoado pela
lepra porque achou que poderia queimar incenso ao Senhor, como se estivesse no ofício
de sacerdote:
"Resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o
SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para este mister; sai do
santuário, porque transgrediste; nem será isso para honra tua da parte do SENHOR Deus" (2
Crônicas 26:18).
Com isto, Uzias tomou uma honra que pertencia aos filhos de Arão.
Geazi não viu razão para não receber as vestes e a prata de Naamã, mesmo quando
Eliseu, por algum motivo estranho, recusou tal generosidade. Onde está o mal em receber
presentes de um sírio que foi curado?
"Ele, porém, entrou e se pôs diante de seu senhor. Perguntou-lhe Eliseu: Donde vens, Geazi?
Respondeu ele: Teu servo não foi a parte alguma. Porém ele lhe disse: Porventura, não fui
contigo em espírito quando aquele homem voltou do seu carro, a encontrar-te? Era isto
ocasião para tomares prata e para tomares vestes, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e
servas? Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então,
saiu de diante dele leproso, branco como a neve" (2 Reis 5:25-27).
Vale lembrar que Deus dá valor às pessoas que dão dízimo como se tivessem dado
tudo. É assim porque eles trazem o desejo de obedecer a Deus quando dão a décima
parte.
Deus é o Senhor, por isto, "chama à existência as coisas que não existem" (Romanos
4:17). É capaz de dizer "já que devem tudo o que têm a mim, e eu desejo tudo de . vocês,
não apenas o dízimo, farei um acordo. Se me . der o que eu peço, o dízimo, a décima
parte, então entenderei que me deram tudo, todo o milho e todo o vinho". Como é glorioso
o Deus fiel ao qual servirmos!
Ele continua falando em Números: "Assim, também apresentareis ao SENHOR uma oferta
de todos os vossos dízimos que receberdes dos filhos de Israel e deles dareis a oferta do SENHOR
a Arão, o sacerdote" (Números 18:28). Arão foi o sumo sacerdote. Era o pai dos filhos dos
sacerdotes.
"De todas as vossas dádivas apresentareis toda oferta do SENHOR: do melhor delas, a parte
que lhe é sagrada. Portanto, lhes dirás: Quando oferecerdes o melhor que há nos dízimos, o
restante destes, como se fosse produto da eira e produto do lagar, se contará aos levitas.
Comê-lo-eis em todo lugar, vós e a vossa casa, porque é vossa recompensa pelo vosso
serviço na tenda da congregação" (Números 18:29-31).
Em outras palavras, Deus não faz a conta do dízimo que as pessoas dão aos
pastores, ou aos levitas, até que estes o levem ao sumo sacerdote, ou ao apóstolo, ou a
seus pais, a décima parte de seu próprio dízimo. A décima parte do dízimo recebido junto
ao povo pertence a Arão, o sumo sacerdote.
Grande parte dos pastores dá o dízimo em sua própria igreja; pagam assim a si
próprios, mas isto não é ofertar o dízimo. O Novo Testamento, no Livro dos Hebreus,
quando trata de Abraão e Melquisedeque, e evidentemente o inferior pagou ao superior
(ver Hebreus 7:2,7). O dízimo deve sempre andar com a ligação até a cabeça. Quando o
óleo é derramado em Arão, flui primeiro de sua cabeça até a gola de suas vestes (ver
Salmo 133). O abandono dos pais provoca o rompimento da ligação, com isto, o óleo
derramado na liderança, não flui para o restante da Igreja.
Jesus afirmou: "Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que
me enviou" (Mateus 10:40)
Este parece ser um tema recorrente em seu ministério, como vemos mais adiante em
João: "a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o
Filho não honra o Pai que o enviou" (João 5:23). Podemos perceber que há uma ligação
entre pais e filhos.
Novamente em João, Jesus é acusado de estar possuído. Ele respondeu: "Eu não
tenho demônio; pelo contrário, honro a meu Pai, e vós me desonrais" (João 8:49). Então, a
seguir, explica: "Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória nada é; quem me glorifica é meu
Pai, o qual vós dizeis que é vosso Deus" (João 8:54). Nesta parte, Jesus diz que sua glória e
honra não são suas próprias, mas vêm do Pai e fluem do alto.
Para mostrar ainda que a honra flui para baixo por meio do relacionamento entre pais
e filhos, Jesus disse: "Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu
servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará" (João 12:26). Em outras palavras, se
servirmos a Jesus, não conseguiremos apenas sua bênção, mas também a do Pai que flui
através do Filho.
Por favor, pare aqui um momento e reflita. Quantas mulheres e homens de Deus
deram suas vidas em nome do evangelho, fundaram igrejas, criaram filhos como meu
querido pai o fez, para no fim morrerem na desonra e na pobreza? Quantas mulheres e
homens ainda se mantêm no serviço sobre o púlpito e no ministério quando eles próprios
reconhecem seus esforços como inadequados? Eles continuam simplesmente porque não
tem outro ganho ou auxílio financeiro se pararem.
A Escritura nos ensina que o sumo sacerdote não deveria servir no tabernáculo após
os cinqüenta anos, "mas desde a idade de cinqüenta anos desobrigar-se-ão do serviço e
nunca mais servirão; porém ajudarão aos seus irmãos na tenda da congregação, no
tocante ao cargo deles; não terão mais serviço. Assim farás com os levitas quanto aos
seus deveres" (Números 8:25-26).
O sumo sacerdote não deve mais queimar incenso ou carregar bandejas nem
acender velas, em vez disto, deve se sentar ao portão como um ancião conselheiro na
cidade. Todavia isto seria impossível no ministério de nossos dias. A única fonte de
sustento destes homens vem de sua capacidade de continuarem no ofício. Desta forma,
diminuímos o ministério e cerramos os portões à bênção.
Reconheço que minhas afirmações serão criticadas. Entendo que muita gente se
sentirá ofendida, especialmente quem é orgulhoso, pois as águas tomadas emprestadas e
a inspiração roubada crescem de forma alarmante no mundo da Igreja atualmente. Os
homens sabem que ao se tornarem velhos não haverá mais nada para eles. Portanto, em
vez de buscar o alívio bíblico para os problemas, muitos preferem implorar, tomar
emprestado ou até mesmo roubar para acumular bens suficientes antes que estejam
velhos demais para oficiar. Devem conseguir – a qualquer custo – casas, carros, roupas
enquanto ainda são jovens e fortes, porque não haverá herança quando estiverem idosos.
Devemos, deste modo, pegar a herança dos pais aos filhos e levá-la de volta aos pais,
como forma de honrá-los.
Lembro-me da história de Saul. Antes de se tomar rei de Israel, era apenas um jovem
enviado por seu pai à procura das jumentas. Ao perceber que não conseguiria encontrá-
las, decidiu, juntamente com seu servo, que deveria procurar alguém com sabedoria em
Deus que lhes pudesse ajudar. "Porém ele lhe disse: Nesta cidade há um homem de Deus, e é
muito estimado; tudo quanto ele diz sucede; vamo-nos, agora, lá; mostrar-nos-á, porventura, o
caminho que devemos seguir" (1 Samuel 9:6). Saul, que à época era humilde e não sobejava
em arrogância, disse ao servo que não poderia ir até o homem de Deus porque "presente
não temos que levar ao homem de Deus" (1 Samuel 9:7). Não levaria a revelação do
homem sem deixar algo em seu lugar. De acordo com o versículo oitavo, o servo
respondeu a Saul: "Eis que tenho ainda em mãos um quarto de siclo de prata, o qual darei
ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho" (1 Samuel 9:8). É importante lembrar
que Saul, antes de ser orgulhoso e arrogante a ponto de tomar o lugar do sacerdote, não
pediria sequer direção espiritual sem oferecer algum bem, uma manifestação de honra, ao
homem de Deus.
O livro de Tiago declara: "Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram
até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos" (Tiago 5:4). Nossos pais espirituais foram pioneiros
nas fronteiras do Reino para nós. Eles nos legaram regiões de revelação pelas quais não
pagamos nada, mas que lhes custou tudo. a Senhor ouve o clamor dos idosos que
carecem de apartamentos, quartos de hospital e moram em casas precárias. Ouve àqueles
que deram a vida pelo evangelho, os quais, agora, nós entregamos nas mãos do Estado.
Não podemos conclamar "Corbã" e fingir que uma dívida de honra não existe. Deveríamos
restaurar estes vasos de ouro à condição de sua época áurea. Talvez devêssemos
rememorar que se eles são nossos pais e devemos-lhes honra. Depois do reinado maligno
de Atalia, Joás regressou de seus sete anos de esconderijo e reinou na terra, trazendo
grande reavivamento e reforma à casa de Deus. A casa do Senhor havia sido esquecida e
havia muita carência em sua estrutura. Joás começou um projeto de restauração do templo
do Senhor à ordem apropriada.
"Disse Joás aos sacerdotes: Todo o dinheiro das coisas santas que se trouxer à Casa do
SENHOR, a saber, a taxa pessoal, o resgate de pessoas segundo a sua avaliação e todo o
dinheiro que cada um trouxer voluntariamente para a Casa do SENHOR, recebam-no os
sacerdotes, cada um dos seus conhecidos; e eles reparem os estragos da casa onde quer
que se encontrem" (2 Reis 12:4-5).
"Sucedeu, porém, que, no ano vigésimo terceiro do rei Joás, os sacerdotes ainda não tinham
reparado os estragos da casa. Então, o rei Joás chamou o sacerdote Joiada e os mais
sacerdotes e lhes disse: Por que não reparais os estragos da casa? Agora, pois, não recebais
mais dinheiro de vossos conhecidos, mas entregai-o para a reparação dos estragos da casa.
Consentiram os sacerdotes, assim, em não receberem mais dinheiro do povo, como em não
repararem os estragos da casa' (2 Reis 12:6-8).
O Senhor prometeu ferir a terra com um anátema, que virá se não houver uma
conversão dos pais para os filhos, mas também dos filhos aos pais. "Ele converterá o coração
dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com
maldição" (Malaquias 4:6). Se não consertarmos os estragos nas paredes, haverá sempre
estragos no Espírito. O Senhor também pode dizer aos filhos que não honram os pais: "não
receberem mais dinheiro do povo, como em não repararem os estragos da casa".
"Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que estava no
outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo (...). Quando chegaram à eira
de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram.
Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e
morreu ali junto à arca de Deus. Desgostou-se Davi, porque o SENHOR irrompera contra
Uzá; e chamou aquele lugar Perez-Uzá, até ao dia de hoje" (2 Samuel 6:3,6-8).
Ele morreu tentando segurar a arca. Mas esta era carregada por um carro de bois -
um padrão humano - em vez de ser carregada sobre os ombros do sacerdote. O lugar da
divindade deve estar na ordem que o "governo está sobre os seus ombros (...) e venha paz sem
fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a
justiça, desde agora e para sempre" (Isaías 9:6-7).
"Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o SENHOR, nosso Deus, irrompeu contra
nós, porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado" (1 Crônicas 15:13). Davi
descobriu a ordem do sacerdócio e percebeu que Uzá morreu, não pelo fato de Deus ser
cruel, mas porque exigia que a ordem revelada de seu desejo fosse obedecida.
Pessoas boas sofrem hoje em dia em uma ordem estragada que não concede a
honra no lugar aonde a honra deve ir. Se os filhos de um pai no ministério não seguirem a
ordem adequada de Deus, continuaremos a ter um ministério deteriorado, sem ligação no
legado e impossibilitado de dar à luz o verdadeiro ministério.
Se não honrarmos nossos pais, continuaremos no deserto até surgir uma geração
que obedecerá a voz do Senhor.
"Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia
da tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as
minhas obras por quarenta anos. Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes
sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos" (Hebreus 3:7-
10).
Caso os corações dos pais se convertam aos filhos e o coração dos filhos se
convertam aos pais, a terra e a Igreja estarão livres da maldição. Se temos um pai no
ministério, onde está sua honra? Será que está bloqueada até toda a herança ser
recebida? Ou será que recusamos depositar a honra onde deve ser, propriamente,
depositada? "Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto;
a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Romanos 13:7).