Você está na página 1de 2

Análise da situação geral do Haiti

Relatório # 1 – 26 de janeiro de 2016.

Crise Política

Em 10 de dezembro de 2013 foi publicado no “Le Moniteur” – órgão oficial do Governo Haitiano a Lei
Eleitoral do país. Nas considerações iniciais, é citado um acordo político assinado no dia 24 de dezembro
de 2012 pelo qual foi criado o Colégio Transitório do Conselho Eleitoral Permanente (CTCEP),
encarregado das eleições para renovação dos 2/3 do Senado e dos membros das Coletividades
Territoriais pelo país – atrasadas desde o fim de 2011.

Em 14 março de 2014 foi assinado um outro acordo político entre o governo – representado pelo Chefe
do Executivo e atual presidente da República, o presidente em exercício e secretário da Mesa do Senado,
o presidente da Câmara dos Deputados, e os representantes de alguns partidos políticos, sob a mediação
da Conferência Episcopal do Haiti. O Acordo El Rancho1 foi criado, após dois meses de discussão, para
tentar por fim à crise política do país, organizar as eleições legislativas – pendentes desde o final de 2011,
e aprovar emendas à Constituição. Segundo o texto do próprio acordo, haviam três temáticas: a
governança, as eleições, e a constituição. Para a oposição, à época, esse foi um esforço desnecessário e
em vão, uma vez que a própria constituição do país já prescrevia as vias para a boa governança, para a
realização das eleições e o processo legal e transparente para emendas. Um dos termos do acordo era a
realização do 1º turno das eleições legislativas em 26 de outubro de 2014 – as quais não aconteceram.

Entre os políticos que se opuseram categoricamente à assinatura do acordo estava o senador Moïse
Jean-Charles (3º colocado nas eleições de 25 de outubro de 2015), assim como os partidos MOPOD e
Fanmi Lavalas – os três partidos de maior mobilização civil-militar do país. Segundo a jornalista Isabelle
Papillon, para a oposição o presidente Martelly só assumiu o governo do país por imposição da força de
ocupação da ONU/OEA. Frente às fortes manifestações de rua e paralisações gerais do final de 2013, e a
fim de se manter no poder, buscou o diálogo com a oposição através da intermediação da Igreja Católica
Romana aproveitando-se da nomeação pelo Vaticano do primeiro Cardeal Haitiano da História. A matéria
termina lembrando que a cúpula católica no país nunca esteve ao lado do povo e dos oprimidos, mas, do
poder, e que somente a mobilização popular pode trazer solução à crise política do país, a saber: a
retirada do governo “tetkale-duvaliériste”2.

Naquele ano (2014) não houve grandes avanços pós “El Rancho”. A Lei Eleitoral não foi votada a tempo, e
a meta de 26 de outubro não pode ser cumprida. Durante o segundo semestre duas grandes paralisações
foram organizadas pela Federação Nacional dos Sindicatos de Transportes, onde escolas, comércio e
indústria fecharam suas portas, e todo o transporte público foi suspenso deixando ruas desertas em

1
O texto na íntegra pode ser encontrado no endereço:
http://lenouvelliste.com/lenouvelliste/article/128860/Le-texte-de-laccord-dEl-Rancho-sanctionnant-le-Dialogue-politique-et-institutionnel-inter-
haitien.html
2
Matéria publicada no periódico “Haiti Liberté”, # 36, Vol 7, 19 a 25 de março de 2014, página 4. Este periódico é de linha ideológica bolivariana,
e por tanto, suas matérias defendem o discurso da oposição ao governo.
plena luz do dia. Sob a reinvindicação da não descida dos preços dos combustíveis face à desvalorização
do Gourde, partidos políticos da oposição aproveitaram o bonde e se lançaram em meio à multidão para
pedir a saída do Presidente Martelly, e iniciar a campanha por um Governo de Transição.

No dia 02 de março de 2015, enfim, foi publicado no “Le Moniteur”, o Decreto Eleitoral de 2015,
estabelecendo um Conselho Eleitoral Provisório, uma vez que o Poder Legislativo ficou impossibilitado de
compor o Conselho Eleitoral Permanente – com a não realização da eleição legislativa desde o final de
2011, no dia 12 de janeiro de 2015 o mandato do último 1/3 de senadores e de todos os Deputados
expirou, ficando o Presidente investido constitucionalmente de poderes para legislar por decreto nas
matérias previstas na carta magna do país.

O CEP (Conselho Eleitoral Provisório) divulgou o calendário eleitoral na 1ª quinzena de março, contendo
três escrutínios : 09 de agosto (1º turno para 2/3 do Senado + 118 Deputados), 25 de outubro (2º turno
Legislativas + 1º turno Presidenciais + Locais) e 27 de dezembro (2º turno Presidenciais). Diante das datas
e limites para inscrição e cumprimento da lei eleitoral, a oposição acabou trocando tempo por terreno, e
as manifestações tiveram um bom período de tréguas enquanto todos tratavam de iniciar a corrida
eleitoral.

Às vésperas do 1º escrutínio, 09 de agosto, partidos de oposição realizaram uma operação psicológica


sobre a população causando medo e pavor geral resultando no baixíssimo comparecimento às urnas.
Segundo o CEP na zona metropolitana da capital, Porto Príncipe, apenas 10% dos eleitores
compareceram, e o percentual no país foi de 18%. Outro problema enfrentado pelo CEP foi a não
realização de eleições válidas em 22 circunscrições eleitorais, obrigando-o a reprisá-las 25 de outubro.

A ONU e a OEA ofereceram apoio ao governo para garantir maior segurança e observação internacional
para o escrutínio de outubro, possibilitando assim, aumento na participação popular para 30% dos
eleitores, com significativas melhorias relatadas pelos principais órgãos nacionais e internacionais de
observação. Não houve registro de atentados ou manifestações anteriores ou mesmo no dia das eleições
de 25 de outubro.

Você também pode gostar