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Notas sobre A Ditadura Civil-Militar no Brasil:

Podemos compreender o período da ditadura brasileira entre as


seguintes fases:

 1964-1968: relativa liberdade política, mas sem o processo democrático e


com uma “ditadura envergonhada”. Acreditava-se que os militares
estabeleceriam uma ordem política para em seguida entregar o poder aos
civis que participaram do golpe. O que não aconteceu;
 1968-1977: já estava claro que os militares não entregariam o poder.
Foram os anos de chumbo, com maior repressão e com a atuação de
órgãos especiais criados para reprimir a oposição com censura, prisões e
torturas;
 1977-1985: processo de distensão e abertura política, lenta e gradual,
como queriam os setores conservadores da sociedade civil e os militares,
pressionados por crises políticas;

O Governo Castelo Branco (1964 – 1967)

A parcela da sociedade brasileira que apoiou o golpe, assim como a


UDN e o PSD, acreditava que, após a intervenção militar, o poder
seria devolvido aos civis por meio da convocação de novas eleições.
No entanto, não foi o que aconteceu.

A partir do comando dos militares, por meio de decretos, foram


criadas normas chamadas de Atos Institucionais. No dia 9 de abril de
1964, foi imposto o Ato Institucional n. 1 (AI-1), que estabeleceu a
demissão de funcionários civis e militares ligados ao governo de João
Goulart, assim como a cassação de mandatos de políticos e a
alteração das regras das eleições, do mandato e dos poderes do
presidente da República. Segundo essa norma, o Executivo ganharia
mais poderes.

Criou-se, então, o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG),


cujo principal objetivo era controlar a inflação no país. Na legislação
trabalhista, houve uma mudança importante: até 1966, o funcionário
que trabalhasse dez anos em uma empresa poderia usufruir do direito
da estabilidade. O general Castelo Branco anulou essa lei e, por
intermédio de seu ministro do Planejamento, Roberto Campos, criou
em seu lugar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Em 1965, foi publicado o AI-2, que promoveu outras alterações na


Constituição: extinguiu a pluralidade partidária, estabelecendo o
bipartidarismo e determinando eleições indiretas para presidente e
para governador. Assim, evitava-se a vitória de algum político opositor
ao regime.

Os dois partidos permitidos pelo regime militar eram a Aliança


Renovadora Nacional (Arena), partido do governo, e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), a oposição consentida.

Em 1966, mais dois atos institucionais foram criados (o AI-3 e o AI-4),


ambos estabelecendo novas medidas para as eleições e aumento da
centralização política no Poder Executivo. Em 1967 foi estabelecida
uma nova constituição para o Brasil, consolidando a ditadura.

O Governo Costa e Silva (1967 – 1969)

A população começa a se manifestar ao perceber que não mais vivia em


uma democracia. Foi criada a Frente Ampla composta por políticos antes
rivais como Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart. Em
resposta os militares passaram a efetuar prisões, investigações, censuras e
até torturas. É criado o Serviço Nacional de Informações (SNI).

1968 foi o ano de maior tensão. Os estudantes de classe média saíram às


ruas, greves em parques industriais começaram a estourar. No Rio de
Janeiro ocorreu a Passeata dos Cem Mil cobrando uma posição do
governo sobre o assassinato do estudante Edson Luís morto em invasão da
polícia militar a serviço da repressão. Universidades foram invadidas e em
dezembro de 68 o governo decretou o AI-5, o pior de todos os atos e o
início da linha dura ditatorial. Entre as medidas do AI-5, destacam-se os
seguintes poderes do executivo:

 Decretar recesso do Congresso Nacional a qualquer momento;


 Cassar mandatos parlamentares;
 Intervir em municípios e estados;
 Suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer
pessoa;
 Suspender o direito ao habeas corpus dos cidadãos;
 Impor censura prévia a jornais, revistas e a programas de rádio
e TV.

Em resposta tem início a radicalização dos opositores ao governo. Era o


início da luta armada, alguns deles inspirados nas lutas revolucionárias da
américa latina e influenciados pelo ideal do socialismo e o combate ao EUA.
Entre os principais grupos, destacamos:

 Aliança Libertadora Nacional (ALN): grupo formado por uma


dissidência do Partido Comunista Brasileiro (contrário à luta
armada). Seu principal líder foi Carlos Marighella.
 Vanguarda Popular Revolucionária (VPR): formada por
militares contrários ao Golpe de 1964. Sua principal liderança
foi o militar Carlos Lamarca.
 Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8):
organização de orientação marxista, cujos membros pretendiam
a instalação de um governo socialista no Brasil. Seu nome é
uma homenagem ao dia da morte de Che Guevara.

Alguns grupos foram tentar a luta no interior do país, como foi o caso
da Guerrilha do Araguaia. Em geral esses movimentos foram
duramente reprimidos e seus membros presos, torturados e mortos
por atuação do Serviço Nacional de Informações (SNI) do
Destacamento de Operações e Informações e Centro de
Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) e de grupos como a
Operação Bandeirantes (Oban) e o Comando de Caça aos
Comunistas (CCC).

Esses grupos também passaram a perseguir qualquer grupo que


ousasse criticar as práticas da linha dura do governo, como aconteceu
com uma série de padres e demais pessoas ligadas à Igreja Católica
que eram presos e torturados por denunciar os problemas sociais no
Norte e Nordeste do país.

O Governo Médici (1969 – 1974)

O Governo de Médici foi conhecido por ter aumentado a linha-dura, as


torturas e prisões. Como não conhecia muito de administração pública, seu
governo foi marcado pela ação dos tecnocratas, pessoas contratadas para
efetuar as práticas econômicas de governo e as obras públicas.

Esses tecnocratas foram os responsáveis pelo chamado “Milagre


econômico”.

O “Milagre Econômico” foi o período entre 1970 e 1973 que o Brasil


apresentou um certo controle inflacionário e um crescimento econômico
relativamente alto. No entanto, isso não se traduzia em desenvolvimento,
visto que o salário continuava desvalorizado. Ou seja, existia uma grande
oferta de emprego, mas com salários abaixo do padrão necessário para se
consumir. As exportações cresceram, mas apenas poucos empresários,
ligados ao governo, de fato enriqueceram.

Esse crescimento ocorreu porque o governo investiu em setores agrícolas e


em grandes obras públicas, contando com um grande volume de
empréstimos de dinheiro estrangeiro ao Brasil. Neste momento, “obras
faraônicas” eram feitas (como a ponte Rio-Niterói e a Rodovia
Transamazônica), muitas delas eram foco de grande desvio de dinheiro e
corrupção das mais variadas.

Para passar uma imagem positiva, o Governo Médici criou a Assessoria


Especial de Relações públicas (Aerp), esse grupo não apenas censurava
todo e qualquer meio de comunicação como também passou a usar
elementos nacionalistas como campanha do governo. Os lemas mais
comuns eram o “Pra frente, Brasil”, “Brasil, ame-o ou deixe-o” e o “Ninguém
segura esse país”, além do uso da vitoriosa seleção brasileira de futebol
como propaganda.

O Governo Geisel (1974 – 1979)

Geisel governou o Brasil de maneira bem centralizadora, procurando saber


de tudo o que acontecia. No geral, repetiu o quadro de funcionários de
Médici com os tecnocratas e tentou abafar ainda mais os casos notórios de
corrupção de seu governo. No seu governo começou o início da distensão,
com uma gradual abertura do governo.

A estratégia da abertura política visava conseguir novamente o apoio da


população, após anos de controle ditatorial com o AI-5. No entanto, a
estratégia não deu certo, principalmente porque a conta do “milagre
econômico” chegou e o Brasil se viu em uma das piores crises econômicas
de sua História.

A crise internacional do petróleo fez com que o país passasse a gastar


muito dos recursos acumulados e com uma economia interna estagnada, o
governo passou a gastar dinheiro para criar alternativas energéticas para
reduzir o uso de gasolina no Brasil. Uma delas foi o Proálcool que pagava
aos latifundiários para investir em cana-de-açúcar para produzir etanol.
Outro gasto dessa época foi a instalação de usinas nucleares na região de
Angra dos Reis, o que gerou um custo maior de manutenção que o de
instalação.

O Governo se viu cercado. A inflação ficou descontrolado e o país atingiu os


maiores índices de desemprego e desvalorização monetária de sua História.
Em tentativa desesperada, o governo se valendo do AI-5, fechou o
congresso e lançou o Pacote de Abril que decretava novas eleições
indiretas para governador, escolha de 1/3 dos senadores pelo presidente
(os chamados senadores “biônicos”), aumento do mandato do presidente
para seis anos etc.

Vendo que não mais conseguiria controlar as manifestações políticas que


cresciam no Brasil, o governo foi obrigado a recuar. Existia pressão forte da
Igreja Católica, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os
estudantes criaram coragem para voltar para as ruas e vários
trabalhadores das indústrias metalúrgicas do ABCD paulista passaram
exigir o retorno dos direitos trabalhistas revogados pela constituição da
ditadura, com o então o movimento do novo sindicalismo que contava com
a liderança de Luiz Inácio “Lula” da Silva. Em resposta, o governo revogou o
AI-5 e deu início ao processo de abertura política.

O Governo João Figueiredo (1979 – 1985)

João Figueiredo assumiu o governo, dando continuidade à abertura política


iniciada no Governo Geisel. A censura foi suavizada, tanto que os jornais
apresentavam algumas críticas ao governo.

O Brasil ainda enfrentava os efeitos da crise econômica com a falência de


algumas indústrias e a inflação ainda crescente somada ao valor da dívida
externa brasileira por conta dos empréstimos do governo, com juros cada
vez maiores. Era a “Estagflação” (Estagnação + Inflação descontrolada)

O Governo figueiredo não buscava diálogo com a população e acabou por


promover apenas a continuidade da abertura política do governo anterior, o
que culminou com a Lei da Anistia, que era “ampla, geral e irrestrita”, ou
seja, contemplou todos aqueles que praticaram atos em nome da luta contra
a ditadura, mas também aos torturadores e demais membros do governo
que praticaram crimes contra a humanidade.

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