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Eleito Indiretamente
O golpe militar de 1964 pôs fim a primeira experiência de regime democrático no Brasil. Ao contrário das
outras intervenções militares na política ocorridas em momentos de crises institucionais vivenciadas pelo
país - nas quais os militares depuseram presidentes e logo em seguida entregaram o poder aos civis, ou
agiram como árbitro na defesa das regras constitucionais ou ainda visando seus interesses (como em
1930, 1937, 1945, 1954, 1955, 1961) -, desta vez os militares assumiram diretamente o governo. Por 21
anos os generais se sucederam na presidência da República. O regime pós 64 se transformou numa
ditadura altamente repressiva, que usou da prática de tortura e assassinatos de cidadãos para neutralizar e
eliminar os opositores políticos e os grupos subversivos. A ditadura remodelou as instituições políticas e a
economia do país. Na política, o período foi marcado pela centralização do poder a partir do
fortalecimento do poder Executivo Federal que exerceu amplo controle sobre os poderes Legislativo e
Judiciário. Foram também estabelecidas rígidas regras para o exercício da oposição política, e eleições
indiretas para os cargos de governador e presidente da República. Na área econômica, o governo
incentivou os investimentos estrangeiros no país, estimulou as exportações e a ampliação do crédito ao
consumidor.
Nos primeiros anos após o golpe, nem as oposições democráticas e nem mesmo os grupos políticos e
segmentos sociais que integravam a aliança golpista que depôs Jango (inclusive os próprios militares),
tinham absoluta clareza dos rumos a serem impressos à política nacional. A expectativa geral era de que a
intervenção militar na política fosse breve e que, em pouco tempo, o regime democrático seria
restabelecido. Mas isso não ocorreu. Os militares se sucederam no governo e consolidaram sua posição no
poder através de atos institucionais, que foram leis discricionárias promulgadas para sustentar todas as
mudanças e medidas políticas colocadas em prática durante o período. Em comparação com outras
ditaduras militares que se estabeleceram em toda a América Latina, nas décadas de 1960 e 1970, a
ditadura militar brasileira procurou legitimar-se politicamente por meio de atitudes pseudodemocráticas.
O fato de o Congresso Nacional manter-se aberto e em funcionamento fez parte da estratégia dos
militares de permanecerem no poder e mascarar a feição autoritária do regime. Depois de terem
expurgado do Legislativo todos os políticos vinculados ao governo de Jango, os militares fizeram
algumas articulações políticas que possibilitaram que o Congresso Nacional referendasse o nome do
marechal Humberto Castello Branco como presidente da República, em 11 de abril de 1964.
Indicado como presidente da República pela junta militar golpista, o marechal Humberto Castello Branco
era considerado um militar de tendência moderada. Em seu governo, porém, foi pressionado por militares
direitistas radicais para realizar uma série de Inquéritos Policiais Militares (IPMs).Os IPMs tiveram por
objetivo punir todos os cidadãos que tivessem vínculos políticos com o governo deposto de Jango ou que
passaram a fazer parte dos movimentos de oposição ao novo regime. As greves foram proibidas e houve
intervenção governamental em praticamente todos os sindicatos trabalhistas. Importantes organizações,
como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e inúmeras outras entidades da sociedade civil, também
sofreram intervenção ou foram completamente desarticuladas. Na área política, houve centenas de
cassações de mandatos de parlamentares e suspensão dos direitos políticos.
É recorrente nos estudos sobre o período inicial da ditadura militar, a interpretação das ações
governamentais no campo da política institucional como reações diante da reorganização das oposições
políticas. Assim, a vitória de políticos da oposição nas eleições para governador (nos estados de Minas
Gerais e Guanabara), em 1965, é apontada como o principal motivo da adoção de novas medidas
repressivas por parte do governo. Em outubro de 1965, Castello Branco assinou o Ato Institucional nº 2
(AI-2), que ampliou significativamente o poder do Executivo Federal e estabeleceu eleições indiretas para
presidente da República. Em seguida foi promulgado o AI-3, que extinguiu todos os partidos políticos e
estabeleceu eleições indiretas para os governos dos Estados. Com essas medidas, tem início o
estabelecimento do bipartidarismo, com a criação de duas agremiações políticas: ARENA e MDB.
A Aliança Nacional Renovadora (ARENA) foi o partido da situação, ou seja, integrou políticos que
apoiavam o governo e o regime ditatorial. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) foi o partido que
atuou como oposição consentida. A adoção do bipartidarismo foi mais um artifício da ditadura militar
brasileira a fim de dotar de feições democráticas o regime autoritário vigente. Desse modo, existiu
oposição, mas ela atuou dentro dos estritos limites impostos pelo governo dos generais. Ou seja, o tipo de
oposição que era praticado pelo MDB não ameaçou o poder dos militares e nem mesmo a manutenção da
ditadura. Castello Branco também promulgou o AI-4, obrigando o Congresso a discutir e aprovar uma
nova Constituição com características autoritárias.
No governo Castello Branco, o ministro do Planejamento, Roberto Campos, adotou uma política
econômica antiinflacionária que causou desemprego e provocou arrocho salarial (diminuição dos
salários). De 1964 a 1967, centenas de pequenas empresas decretaram falência. Em longo prazo, a política
econômica da ditadura militar, colocada parcialmente em prática no início do governo Castello Branco,
atendeu aos interesses das classes e grupos sociais que integravam a aliança golpista (burguesia industrial,
elites rurais).O governo incentivou os investimentos estrangeiros no país, as exportações e a produção
interna de bens duráveis (imóveis, automóveis, eletrodomésticos). O mercado consumidor se ampliou,
mas só quem se beneficiou do consumo da produção industrial de bens duráveis foram as classes médias e
os mais ricos. A concentração de renda impediu que as classes populares se beneficiassem do
desenvolvimento e crescimento econômico.
Para suceder Castello Branco, a junta de generais que integravam o Comando Supremo da Revolução,
indicou o nome do marechal Costa e Silva para presidente da República. No Congresso Nacional, ocorreu
mais uma vez a encenação do referendo, elegendo indiretamente Costa e Silva para o cargo de presidente.