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1964-1985
Como se deu o golpe de 1964?
O golpe teve início em 31 de
março, com tropas de Minas Gerais
deslocando-se para o Rio de
Janeiro. A articulação contava com
o apoio do governador mineiro,
Magalhães Pinto, do fluminense
Carlos Lacerda, além de líderes
paulistas como Adhemar de Barros,
que acusavam o presidente de
subversivo. Convém lembrar que o
então governador de São Paulo,
Carvalho Pinto, ficou, em um
primeiro momento, ao lado das
forças legalistas, mas cedeu, mais
tarde, às pressões militares.
1964-1967
Castelo Branco pertencia a ala que defendia que, após abatidos
os focos de oposição, o poder deveria se entregue às mãos
dos civis alinhados à UDN, cabendo a eles na visão castelista, a
integração do Brasil à ordem internacional, para assim o país se
desenvolver em larga escala.
Em 15 de abril de 1964, Castelo Branco tomou posse, com
mandato previsto até 31 de janeiro de 1966. Uma de suas
primeiras medidas foi a criação do SNI, Serviço Nacional de
Informações, que iria prover o governo de informações sobre
amigos e inimigos do regime, formando uma poderosa rede de
informação.
Para contornar a crise econômica, Roberto Campos
(Ministro do Planejamento) e Otávio Gouveia de Bulhões
(Fazenda) elaboraram o PAEG – Programa de Ação
Econômica do Governo para implantar um conjunto de
ações em duas fases.
1 – Eliminar a inflação, normalizar as relações com o sistema
financeiro internacional.
II – Garantir o crescimento econômico.
Na primeira fase, o PAEG significou corte de gastos e
subsídios para diminuir o déficit público, impondo uma
política monetária rigorosa e uma reforma tributária que
centralizou na União a arrecadação.
Em paralelo, os salários foram sensivelmente reduzidos por
meio de reajustes anuais inferiores à inflação e pagamento
parcial dos ganhos de produtividade. O regime de
estabilidade do emprego foi substituído pelo FGTS (Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço), o que abriu caminho
para rotatividade na mão de obra. Apenas greves autorizadas
poderiam ser realizadas.
1969-1974
Um governo de extremos. De um lado, a repressão atingiu
seu grau máximo, por outro, o chamado “Milagre
Econômico” também chegou ao ápice, apresentando o
mais expressivo ciclo de crescimento econômico do Brasil,
desde o Governo JK.
Na essência, o modelo de JK foi replicado, com ênfase em
investimentos em infraestrutura, com capital estrangeiro
sendo aplicado nos setores mais dinâmicos e o capital
nacional atuando de forma complementar.
A luta armada atingiu seu ápice,
com a atuação de três focos
guerrilheiros, na Serra do Caparaó,
em Minas Gerais, no Vale do
Ribeira, em São Paulo e na região
do Araguaia no Pará.
Também a guerrilha urbana crescia,
através da Ação Libertadora
Nacional (ANL), comandada por
Carlos Marighella. Para fazer frente
a essa guerrilha urbana, mais difícil
de se combater, o governo criou
órgãos de repressão como a
Operação Bandeirantes (OBAN), o
Destacamento de Operações de
Informações – Centro de
Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI) e o Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS).
Além disso, as três Forças Armadas
mantinham seus centos de
informação: CIE, CENIMAR E Cisa.
As primeiras fissuras no milagre econômico começaram a se
perceber. O mercado interno fora severamente reduzido pelo
achatamento de salários, o que comprometia o crescimento
industrial. As exportações acompanhavam a mesma lógica, num
cenário internacional adverso em que o Brasil tinha pouca
competitividade dado a nosso atraso tecnológico.
O Estado inchava-se bastante, não sendo apenas gerenciador
da vida econômica, mas participante ativo, através do
surgimento de várias estatais.
A propaganda do governo,
porém, vendia a ideia de
que o país seguia muito
bem. Slogans como “Brasil,
ame-o ou deixe-o”,
“Ninguém segura este país”,
“Este é um país que vai para
frente” se tornaram
comuns nas transmissões
televisivas e de rádio,
totalmente submetidas à
censura.
A vitória na Copa do
Mundo FIFA de Futebol de
1970 foi utilizada à
exaustação pelo governo,
como ferramenta de
propaganda.
A máquina de propaganda era alimentada por obras
faraônicas de resultados pífios, como a Transamazônica,
apresentada como a rodovia da integração nacional, ou a
Hidrelétrica Itaipu Binacional, para muitos, mais um artefato
militar que uma geradora de energia.
Em 1973, o milagre mostrou sua fragilidade, diante da crise do
petróleo, originada no Oriente Médio. O endividamento
externo que cresceu de forma intensa, tornou o Brasil refém
dos dissabores globais, um país que francamente dependia do
petróleo do exterior.
A violenta concentração de renda patrocinada pelo regime e a
política econômica violenta do mesmo gerava reações mais
difíceis de se controlar. A fórmula da “linha dura” encontrava
cada vez mais resistência nas Forças Armadas, até pelo medo de
que os mecanismos de repressão escapassem ao controle, o
que de fato começava a ocorrer. Reforçava-se assim, a posição
castelista nas Forças Armadas, pressionando pela indicação do
então presidente da Petrobras, Ernesto Geisel, como o
sucessor de Médici na presidência.
OS GOVERNOS GEISEL E FIGUEIREDO E
O FIM DA DITADURA
A ditadura militar se sustentou enquanto a
economia viveu momentos de crescimento, mas,
quando a crise mundial de meados da década de
1970 atingiu o país, a manutenção do regime
tornou-se inviável, e o sistema político ditatorial foi
enfraquecendo. No período, ditaduras também
foram instauradas em outros países como o Chile
e a Argentina.
ERNESTO
GEISEL
1974-1979
Geisel herda a crise econômica, na
esteira do colapso do “milagre
econômico”, e o início do
enfraquecimento do regime, com o
crescimento, ainda que tímido, da
oposição. De forma propagandística, foi
lançada a candidatura de Ulysses
Guimarães, mesmo sabendo que as
chances de vitória eram nulas. A ideia
era aproveitar a eleição para denunciar
o regime, uma espécie de
anticandidatura.
Geisel tinha ciência da dificuldade que se
apresentava para manter as taxas de crescimento,
além das dificuldades políticas advindas com a
crise econômica.
Por isso mesmo, ao assumir, o presidente Geisel
falava em promover uma “abertura lenta, gradual e
segura”.
Geisel apresentou um novo plano
econômico, que tinha por objetivos:
• Ampliar a base do sistema
industrial, aumentando a produção
de insumos básicos (ferro, aço,
alumínio, celulose, produtos
petroquímicos, etc.)
• Incentivar a produção de bens de
capital para evitar a importação de
máquinas.
1979-1985
Um presidente que, por vezes, assumiu caráter
folclórico, João Figueiredo assumiu num quadro que
prenunciava uma intensa crise econômica, enquanto as
manifestações de massa pedindo a abertura do regime
eram retomadas.
Ainda ao final do governo Geisel,
as greves do ABC Paulista foram
retomadas, contra a política
econômica de arrocho salarial,
colocando fim ao clico de
amordaçamento do movimento
sindical. Desde 1975, o movimento
estudantil buscava se reconstruir, e
ainda em 1977, uma série de
passeatas e manifestações de
massa foram realizadas,
culminando na reconstrução da
UNE em 1978. Contudo, a
repressão se fazia sentir, como na
invasão da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo em 1977.
A cúpula militar, sabendo ser impossível
manter o regime com a crise que se
avolumava, assim, Figueiredo, outrora fiel aos
setores mais autoritários foi transformado
no presidente da abertura, o homem que
dizia que iria “prender e arrebentar” quem
fosse contra a restauração do processo
democrático.
No plano político, foi aprovada a Lei da
Anistia, permitindo o retorno ao país de
vários exilados pelo regime, como Leonel
Brizola, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros,
além de libertar os presos políticos.
Contudo, a linha
dura também foi
beneficiada, uma vez
que o projeto
também anistiava os
militares envolvidos
na repressão,
mesmo os que
praticaram a tortura
e a violência.
No mesmo ano, o Congresso aprovou a lei de
reformulação partidária: o bipartidarismo fora
extinto. Alguns historiadores acreditam que foi uma
maneira da ditadura esvaziar o MDB, então no auge
de seu poderio, e que poderia constituir-se como
uma frente de oposição que facilmente derrotaria o
partido governista.
No mesmo ano, o Congresso aprovou a lei de
reformulação partidária: o bipartidarismo fora
extinto. Alguns historiadores acreditam que foi uma
maneira da ditadura esvaziar o MDB, então no auge
de seu poderio, e que poderia constituir-se como
uma frente de oposição que facilmente derrotaria o
partido governista.
A Arena se transformou em
ARENA PDS (Partido Democrático
Social), congregando velhos
políticos udenistas, burocratas
da ditadura, militares
reformados, tendo em Paulo
PRP Maluf sua grande liderança.
Logo, o partido sofreu cisões:
PPB surgiu o PRP (Partido
Reformador Progressista), que
viraria o atual Progressistas e
o PFL (Partido da Frente
Liberal), atual Democratas.
O PMDB originou três partidos, o
bloco hegemônico fez nascer o
Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB),
liderado por Ulysses Guimarães e
tendo Tancredo Neves, Orestes
Quércia e outros.
Também surgiu o Partido
Democrático Trabalhista (PDT),
liderado por Leonel Brizola, que
reivindicava o legado varguista e o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
fundado por Ivete Vargas, mas que
conservava pouca semelhança com
o PTB de 1944.
À margem desse processo
oficial, o Partido dos
Trabalhadores (PT) formou-se
em outubro de 1979, a partir
da iniciativa de líderes
sindicais do ABC Paulista,
dissidentes do antigo MDB,
comunidades de bairro
organizadas pela Igreja
Católica (CEBs) e importantes
intelectuais. O líder máximo
do movimento era Luís Inácio
Lula da Silva, conhecido como
painho.
Nas eleições de 1980, a oposição elegeu os
governadores de estados importantes, mas o PDS
venceu na Câmara e no Senado, garantindo,
aparentemente, a maioria no Colégio Eleitoral para
a sucessão presidencial.
A “linha dura”, esvaziada de
poder, passou então a adotar
práticas repressivas e terroristas,
atacando bancas de jornais que
venciam periódicos de partidos
de esquerda, ataques a bombas a
entidades que lutavam pela
democracia, como a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) e a
Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), entre outras.
O episódio mais dramático foi
“um acidente de trabalho”,
envolvendo um sargento e um
oficial do Exército. Uma bomba
transportada por eles e que
supostamente seria utilizada num
atentado em um grande evento
no Riocentro (onde se
comemorava o 1º de maio) com
milhares de pessoas. O governo
foi omisso em apurar a
responsabilidade efetiva desses
atos criminosos.
A crise econômica se acentuava, à medida que os
juros aumentavam para conter a inflação. A saída do
governo foi incentivar as exportações, para tanto,
Delfim Neto, ministro do Planejamento, promoveu a
desvalorização cambial e a concessão de incentivos
fiscais ao setor exportador. Por um lado, essa medida
foi bem sucedida, pois o país atingiu altos indicadores
na balança comercial. Por outro, os lucros eram
canalizados para o governo, que repassava em moeda
brasileira os lucros aos empresários, canalizando para
o exterior via pagamento da dívida. Assim, criava-se
uma espiral inflacionária: mais moeda brasileira
(cruzeiro) era emitida, o que a desvalorizava, ao
mesmo passo que o arrocho salarial limitava o
mercado interno, para manter as exportações em
nível elevado.
As greves se espalhavam pelo país,
contando até mesmo com apoio
da classe média, ao mesmo passo
que a insatisfação com o regime
crescia.
Uma saída foi vislumbrada: uma
emenda constitucional, a Emenda
Dante de Oliveira, que permitiria
a realização de eleições diretas
para presidente da República. Era
o início da Campanha pelas
Diretas Já!
Manifestações foram realizadas por todo o país. Tancredo
Neves deu um ar lírico a campanha: a eleição para presidente
seria a solução para todos os problemas do país que há 20
anos não elegia o chefe de governo diretamente. As
possibilidades de aprovação da emenda eram mínimas, dado
que o PDS tinha a hegemonia do Congresso.
Sob forte esquema repressivo, em 25 de abril a emenda foi
votada e rejeitada. Cabia à oposição se articular parar as
eleições indiretas.
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND
1964-1985