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DITADURA CIVIL-MILITAR

1964-1985
Como se deu o golpe de 1964?
O golpe teve início em 31 de
março, com tropas de Minas Gerais
deslocando-se para o Rio de
Janeiro. A articulação contava com
o apoio do governador mineiro,
Magalhães Pinto, do fluminense
Carlos Lacerda, além de líderes
paulistas como Adhemar de Barros,
que acusavam o presidente de
subversivo. Convém lembrar que o
então governador de São Paulo,
Carvalho Pinto, ficou, em um
primeiro momento, ao lado das
forças legalistas, mas cedeu, mais
tarde, às pressões militares.

Governador Carvalho Pinto


As forças navais
estadunidenses haviam
organizado a operação
Brother Sam, deslocando um
porta-aviões, destróieres e
outras naves de apoio para o
litoral brasileiro. Se fosse
necessário, a operação
estava montada para apoiar
militarmente o golpe.
Contudo, apenas no Rio Grande do
Sul, sob a liderança de Brizola, foi
organizada uma resistência ao
golpe militar, concretizado em 1º de
abril. Qualquer recusa de Jango a
entregar o cargo implicaria
enfrentamento armado com franca
desvantagem, levando seus
apoiadores a uma derrota
sangrenta. Além disso, o próprio
Congresso mostrava sua
subserviência aos golpistas,
declarando vaga a presidência
enquanto João Goulart ainda
estava em território brasileiro. Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara dos
Deputados, ocupou o cargo por um
tempo, após a derrubada de
Jango.
Apesar de ter sido executada pelos
militares, a tomada do poder, em 1964,
deve ser entendida como um golpe civil-
militar, pois contou com a articulação
de políticos, de empresários e
banqueiros, das alas mais conservadoras
da Igreja, de membros da classe média
e de importantes meios de
comunicação. O Golpe de 1964
também teve o apoio e o financiamento
de grupos civis nacionais. Desprovido de
liderança coesa, o movimento visava à
derrubada de Jango e à eliminação do
que alegavam ser um governo corrupto
e infiltrado de comunistas.
A primeira medida adotada pelos golpistas foi a
criação do Supremo Comando Revolucionário, que
editaria os Atos Institucionais (AIs), decretos cujo
modo de aprovação e imposição se tornaria
constante durante os governos militares e que eram,
na realidade, uma substituição do texto
constitucional por uma decisão autoritária. Em toda
ditadura foram publicados 17 Atos Institucionais, os
cinco primeiros, porém, são os mais citados.
Centenas de sindicatos
sofreram intervenção e os
dirigentes foram presos. O
CGT (Comando Geral dos
Trabalhadores) foi extinto,
as Ligas Camponesas foram
colocadas na ilegalidade, a
sede da União Nacional dos
Estudantes foi invadida,
incendiada e destruída no
Rio de Janeiro, as principais
universidades invadidas,
professores afastados.
Estima-se que
aproximadamente 50 mil
pessoas foram presas nos
primeiros meses do
governo militar.
Os militares golpistas se
dividiam em duas linhas:
uma, liderada por Costa e
Silva, a linha dura, que
pretendia aplicar ao país a
rígida disciplina do
Exército. A outra, a
chamada linha branda,
liderada por Golbery do
Couto e Silva, apresentou
Castelo Branco,
reconhecido por uma
formação intelectual mais
sofisticada.
HUMBERTO DE ALENC AR
CASTELO BRANCO

1964-1967
Castelo Branco pertencia a ala que defendia que, após abatidos
os focos de oposição, o poder deveria se entregue às mãos
dos civis alinhados à UDN, cabendo a eles na visão castelista, a
integração do Brasil à ordem internacional, para assim o país se
desenvolver em larga escala.
Em 15 de abril de 1964, Castelo Branco tomou posse, com
mandato previsto até 31 de janeiro de 1966. Uma de suas
primeiras medidas foi a criação do SNI, Serviço Nacional de
Informações, que iria prover o governo de informações sobre
amigos e inimigos do regime, formando uma poderosa rede de
informação.
Para contornar a crise econômica, Roberto Campos
(Ministro do Planejamento) e Otávio Gouveia de Bulhões
(Fazenda) elaboraram o PAEG – Programa de Ação
Econômica do Governo para implantar um conjunto de
ações em duas fases.
1 – Eliminar a inflação, normalizar as relações com o sistema
financeiro internacional.
II – Garantir o crescimento econômico.
Na primeira fase, o PAEG significou corte de gastos e
subsídios para diminuir o déficit público, impondo uma
política monetária rigorosa e uma reforma tributária que
centralizou na União a arrecadação.
Em paralelo, os salários foram sensivelmente reduzidos por
meio de reajustes anuais inferiores à inflação e pagamento
parcial dos ganhos de produtividade. O regime de
estabilidade do emprego foi substituído pelo FGTS (Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço), o que abriu caminho
para rotatividade na mão de obra. Apenas greves autorizadas
poderiam ser realizadas.

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O PAEG alcançou os resultados previstos inicialmente: a
inflação caiu de 91% e m 1964 para 24,3% em 1967. Mas, essa
queda foi acompanhada de recessão, que gerava desemprego
e perda do poder de compra dos assalariados. Era a hora de
começar a segunda parte do plano.
A lei que restringia a remessa de lucros ao exterior foi
revogada e os salários mantidos baixos, como forma de atrair
investimento estrangeiro. Oligopólios tiveram a bênção do
governo para se formarem (via facilidades legais), ao mesmo
tempo que o país reatou com o FMI e estabilizou a
economia.
O presidente editou o AI-2, determinando que a
eleição ocorreria de forma indireta ocorreria de
forma indireta, pelo Congresso em sessão pública
e nominal. Os partidos políticos foram extintos e
apenas dois foram permitidos.
Aliança Renovadora Nacional (ARENA)
partido que agrupo a UDN, parcela do PSD e do
PSP, era a ala simpática ao governo militar.

Movimento Democrático Brasileiro (MDB)


incorporou o PTB, parte do PSD e o PCB.
A linha dura se sentiu agrada, enquanto
os civis que apoiaram o golpe, como
Carlos Lacerda (UDN) e Adhemar de
Barros (PSP), manifestaram seu
desacordo e se sentiram traídos.
Contudo, logo viria, em fevereiro de
1966, o AI-3, que determinou também
eleições indiretas dos governadores pelas
Assembleias estaduais e concedeu aos
governadores o direito de nomear os
prefeitos das capitais, por meio da
aprovação das respectivas Assembleias
estaduais, eliminando as eleições diretas
previstas para preencher esses cargos.
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Uma emenda constitucional permitiu que o mandato de
Castelo Branco fosse prorrogado até 1967, o que deu
tempo dos militares articularem a escolha do próximo
presidente, frustrando uma rápida volta aos quartéis. O
recrudescimento do regime foi completado com a
indicação de Costa e Silva para a sucessão presidencial.
Os planos idealizados por Castelo Branco e Golbery
foram frustrados.
Uma nova Constituição foi outorgada em
janeiro de 1967. A fim de aprovar essa
nova Constituição, Castelo fechou o
Congresso por um mês, em outubro de
1966 e o reconvocou, por meio do AI-4,
para aprovar a Carta Magna, a qual
conciliava partes desconexas: o texto
relativamente democrático de 1946 e os
três Atos Institucionais aprovados pelo
presidente. A nova Constituição legitimou
o regime militar e foi fortemente
influenciada pelo contexto da Guerra Fria,
tendo como um dos focos, combater os
inimigos internos e externos.
ARTUR DA
COSTA E SILVA
1967-1969
O presidente substituiu Golbery à frente do SNI por Emílio
Garrastazu Médici. O coronel Jarbas Passarinho e Antônio Delfim
Neto passaram para a área econômica. O governo endurecia o
regime, inviabilizando qualquer oposição parlamentar, empurrando
para a oposição até mesmo alguns políticos que antes apoiaram o
golpe, aproximando antigos inimigos como Magalhães Pinto,
Kubitschek e Jango (no exílio) em uma frente contra o regime. Os
Atos Institucionais, porém, impediam uma oposição eficiente. A
imprensa, censurada também não podia dar notícias contrárias ao
regime, limitando ainda mais a ação da chamada Frente Ampla.
Para dar continuidade ao PAEG foi criado o
PED – Programa Estratégico de
Desenvolvimento, agora com ênfase nos
investimentos externos.
Contudo, era na luta política que vivia o país
que o governo Costa e Silva se destacou. No
plano global, o movimento hippie ganhava as
ruas, ao mesmo tempo que em 1968, jovens e
estudantes manifestaram-se nas ruas de Paris
contra a ordem e o establishment. Na
Checoslováquia, uma luta política intensa por
um socialismo democrático desafiava o
poderio moscovita. Pipocavam manifestações
contra a Guerra do Vietnã.

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No Brasil, a situação era acentuada por uma ditadura cada vez mais repressiva, que
reforçava as desigualdades sociais e mantinha um sistema de ensino elitista. Por isso mesmo,
os estudantes foram os grandes catalisadores do descontentamento social. Grandes
manifestações contra o regime foram organizadas pela UNE, ainda que formalmente
proibida. O ápice se deu com o assassinato do secundarista Edson Luís Lima Souto durante
a repressão a uma manifestação no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. Na Passeata
dos Cem Mil ficou claro o repúdio ao assassinato do jovem.
Ainda em 1968, o movimento sindicalista esboçou uma reação. Em julho, operários
tomaram controle das principais fábricas de Osasco (SP), retomando a prática grevista. Em
outubro, uma greve de quatro dias ocorreu em Contagem (MG), ambas duramente
reprimidas pelo governo.
Os militares pressionavam por uma
resposta mais dura do governo. O ápice,
porém, foi um discurso do deputado
Márcio Moreia Alves, da Guanabara. Ele
criticou na Tribuna da Câmara os
métodos violentos empregados pelos
militares. Altos oficiais do Exército
reagiram, exigindo uma punição a
Moreira, que, porém, estava protegido
pela imunidade parlamentar. O governo
pediu licença ao Congresso para
processar o parlamentar, o que foi
recusado em 12 de dezembro de 1968.
No dia seguinte, a resposta do governo veio na forma da publicação do
pior de todos os Atos Institucionais, o AI-5 que determinava:
• O fechamento do Congresso Nacional – que só seria reaberto em 15 de
outubro para referendar a escolha de Médici para presidente da
República;
• O Fechamento das Assembleias Estaduais e das Câmaras de Vereadores –
sem prazo para o fim do fechamento;
• Suspensão de habeas corpus para crimes políticos e possibilidade de
prisão sem ordem judicial;
• Direito do governo cassar mandatos e direitos políticos por até 10 anos.
• Garantias constitucionais foram suspensas e Estados e municípios
sofreram intervenção federal.

O saldo foi: 51 parlamentares do MDB e 37 da Arena foram cassados.


O AI-5 gerou muitos protestos, seguidos de ações governamentais cada
vez mais duras. Intelectuais que se posicionaram contra foram afastados
das universidades, juízes considerados tolerantes perderam cargos,
Judiciário perdeu suas garantias. Para completar as medidas, o governo
decretou Estado de Sítio.
Então, Costa e Silva pediu a redação de uma nova Constituição que
preparasse a transição para a “normalidade”. Como Castelo Branco, ele
desejava deixar ao sucessor as regras de funcionamento do Estado,
reduzindo os poderes adquiridos pelo Exército. A reforma
constitucional foi anunciada em 7 de setembro de 1969, mas só correu
em 17 de outubro, porque em 28 de agosto, Costa e Silva sofrera um
derrame e fora afastado das suas funções.
Com uma postura moderada, Pedro Aleixo, vice-presidente foi impedido de
assumir a presidência. Em desacordo com a Constituição, uma junta militar,
formada por três ministros militares assumiu provisoriamente o poder: o
general Aurélio Lira Tavares; o almirante Augusto Rademaker e o marechal do ar
Márcio de Souza Melo.
A luta armada se intensificava no Brasil, com a prática de
sequestro de embaixadores de diplomatas em nome da troca
de presos políticos. Ao mesmo tempo, a Junta Militar
considerou extinto o mandato de Costa e Silva indicando para
presidente o chefe do SNI, Emílio Médici.
EMÍLIO
GARRASTAZU
MÉDICI

1969-1974
Um governo de extremos. De um lado, a repressão atingiu
seu grau máximo, por outro, o chamado “Milagre
Econômico” também chegou ao ápice, apresentando o
mais expressivo ciclo de crescimento econômico do Brasil,
desde o Governo JK.
Na essência, o modelo de JK foi replicado, com ênfase em
investimentos em infraestrutura, com capital estrangeiro
sendo aplicado nos setores mais dinâmicos e o capital
nacional atuando de forma complementar.
A luta armada atingiu seu ápice,
com a atuação de três focos
guerrilheiros, na Serra do Caparaó,
em Minas Gerais, no Vale do
Ribeira, em São Paulo e na região
do Araguaia no Pará.
Também a guerrilha urbana crescia,
através da Ação Libertadora
Nacional (ANL), comandada por
Carlos Marighella. Para fazer frente
a essa guerrilha urbana, mais difícil
de se combater, o governo criou
órgãos de repressão como a
Operação Bandeirantes (OBAN), o
Destacamento de Operações de
Informações – Centro de
Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI) e o Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS).
Além disso, as três Forças Armadas
mantinham seus centos de
informação: CIE, CENIMAR E Cisa.
As primeiras fissuras no milagre econômico começaram a se
perceber. O mercado interno fora severamente reduzido pelo
achatamento de salários, o que comprometia o crescimento
industrial. As exportações acompanhavam a mesma lógica, num
cenário internacional adverso em que o Brasil tinha pouca
competitividade dado a nosso atraso tecnológico.
O Estado inchava-se bastante, não sendo apenas gerenciador
da vida econômica, mas participante ativo, através do
surgimento de várias estatais.
A propaganda do governo,
porém, vendia a ideia de
que o país seguia muito
bem. Slogans como “Brasil,
ame-o ou deixe-o”,
“Ninguém segura este país”,
“Este é um país que vai para
frente” se tornaram
comuns nas transmissões
televisivas e de rádio,
totalmente submetidas à
censura.
A vitória na Copa do
Mundo FIFA de Futebol de
1970 foi utilizada à
exaustação pelo governo,
como ferramenta de
propaganda.
A máquina de propaganda era alimentada por obras
faraônicas de resultados pífios, como a Transamazônica,
apresentada como a rodovia da integração nacional, ou a
Hidrelétrica Itaipu Binacional, para muitos, mais um artefato
militar que uma geradora de energia.
Em 1973, o milagre mostrou sua fragilidade, diante da crise do
petróleo, originada no Oriente Médio. O endividamento
externo que cresceu de forma intensa, tornou o Brasil refém
dos dissabores globais, um país que francamente dependia do
petróleo do exterior.
A violenta concentração de renda patrocinada pelo regime e a
política econômica violenta do mesmo gerava reações mais
difíceis de se controlar. A fórmula da “linha dura” encontrava
cada vez mais resistência nas Forças Armadas, até pelo medo de
que os mecanismos de repressão escapassem ao controle, o
que de fato começava a ocorrer. Reforçava-se assim, a posição
castelista nas Forças Armadas, pressionando pela indicação do
então presidente da Petrobras, Ernesto Geisel, como o
sucessor de Médici na presidência.
OS GOVERNOS GEISEL E FIGUEIREDO E
O FIM DA DITADURA
A ditadura militar se sustentou enquanto a
economia viveu momentos de crescimento, mas,
quando a crise mundial de meados da década de
1970 atingiu o país, a manutenção do regime
tornou-se inviável, e o sistema político ditatorial foi
enfraquecendo. No período, ditaduras também
foram instauradas em outros países como o Chile
e a Argentina.
ERNESTO
GEISEL

1974-1979
Geisel herda a crise econômica, na
esteira do colapso do “milagre
econômico”, e o início do
enfraquecimento do regime, com o
crescimento, ainda que tímido, da
oposição. De forma propagandística, foi
lançada a candidatura de Ulysses
Guimarães, mesmo sabendo que as
chances de vitória eram nulas. A ideia
era aproveitar a eleição para denunciar
o regime, uma espécie de
anticandidatura.
Geisel tinha ciência da dificuldade que se
apresentava para manter as taxas de crescimento,
além das dificuldades políticas advindas com a
crise econômica.
Por isso mesmo, ao assumir, o presidente Geisel
falava em promover uma “abertura lenta, gradual e
segura”.
Geisel apresentou um novo plano
econômico, que tinha por objetivos:
• Ampliar a base do sistema
industrial, aumentando a produção
de insumos básicos (ferro, aço,
alumínio, celulose, produtos
petroquímicos, etc.)
• Incentivar a produção de bens de
capital para evitar a importação de
máquinas.

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A dívida econômica brasileira galopava, de
modo que já a partir de 1973 os efeitos do
“milagre econômico” se fizeram sentir. Geisel
ainda tentou lhe dar alguma sobrevida,
mantendo as exportações enquanto a dívida
externa continuava a crescer. Na prática,
Geisel apenas adiou para a década de 1980 o
desabamento econômico do país.
Na política, Geisel
representa a volta do
projeto castelista de
poder, em que o poder
lentamente voltaria aos
civis, de fato esse foi um
objetivo do penúltimo
presidente da ditadura
militar.
Golbery do Couto e
Silva elaborou a
estratégia de abertura
do regime. E logo
surgiria o primeiro
desafio: as eleições
legislativas de 1974.

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Candidatos da Arena e do MDB
se apresentavam na televisão
para realizar as campanhas e para
a surpresa dos militares, o
partido da oposição teve a
maioria dos votos. As eleições
foram uma espécie de plebiscito,
e a população reprovou a
ditadura. A vitória do MDB
demonstrava a insatisfação
popular com o regime militar.
Nas alas militares, espalha-se o
medo da perda de controle do
processo de abertura do país. A
linha dura voltou a ação,
intensificando a atuação da
OBAN no combate à subversão.
O operário Manoel Fiel Filho e o
jornalista da TV Cultura Vladimir
Herzog são mortos nesse
contexto.

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A figura de Sylvio Frota, principal
nome da linha dura começava a ser
um incômodo para Geisel que
sofria pressão pela linha dura,
como dito e também pela reação
social ampla às duas mortes citadas.
De um lado, o presidente demitiu
Eduardo D’Ávila, nomeando um
general castelista. Do outro, ele
fazia discursos afagando a linha
dura, que ainda foi contemplada
com um acordo nuclear com a
Alemanha para que o Brasil quem
sabe pudesse ter sua tão sonhada
bomba atômica para luar contra o
comunismo.
Para evitar novos resultados como os de 1974, o governo criou
a Lei Falcão, limitando as possibilidades de propaganda dos
candidatos.
Em abril de 1977, o governo apresentou o Pacote de Abril,
outorgado durante uma crise entre o Legislativo e o Executivo,
o qual não conseguiu a aprovação das emendas constitucionais
por dois terços do voto. Geisel decretou recesso do Congresso
e fez as emendas que queria: as eleições para governadores
seguiriam indiretas, estendia a Lei Falcão para as eleições do
Legislativo para o nível Federal e municipal, um terço dos
senadores seria indicado pelo Executivo, nascendo o Senador
Biônico, evitando que o MDB se tornasse maioria no Congresso.
Em paralelo, Geisel se indispôs com a linha dura, enfraquecendo-a e
garantindo o controle da transição. Geisel manteve diálogo com o
MDB, Associação Brasileira de Imprensa (ABI0, a Igreja Católica por
meio da sua Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com
vistas a restaurar as liberdades políticas. Entrava em cena a Emenda
Constitucional Nº 11 que revogava o AI-5 e restaurava o haveas
corpus.
A economia dava sinais de esgotamento. A combinação
empresas estatais e autoritarismo com obras faraônicas
levou a uma situação de ineficiência que corroía as
capacidades do país. A inflação disparou, deixando uma
herança para o sucessor de Geisel, o chefe do SNI do
governo Médici, João Figueiredo.
JOÃO BATISTA
DE OLIVEIRA
FIGUEIREDO

1979-1985
Um presidente que, por vezes, assumiu caráter
folclórico, João Figueiredo assumiu num quadro que
prenunciava uma intensa crise econômica, enquanto as
manifestações de massa pedindo a abertura do regime
eram retomadas.
Ainda ao final do governo Geisel,
as greves do ABC Paulista foram
retomadas, contra a política
econômica de arrocho salarial,
colocando fim ao clico de
amordaçamento do movimento
sindical. Desde 1975, o movimento
estudantil buscava se reconstruir, e
ainda em 1977, uma série de
passeatas e manifestações de
massa foram realizadas,
culminando na reconstrução da
UNE em 1978. Contudo, a
repressão se fazia sentir, como na
invasão da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo em 1977.
A cúpula militar, sabendo ser impossível
manter o regime com a crise que se
avolumava, assim, Figueiredo, outrora fiel aos
setores mais autoritários foi transformado
no presidente da abertura, o homem que
dizia que iria “prender e arrebentar” quem
fosse contra a restauração do processo
democrático.
No plano político, foi aprovada a Lei da
Anistia, permitindo o retorno ao país de
vários exilados pelo regime, como Leonel
Brizola, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros,
além de libertar os presos políticos.
Contudo, a linha
dura também foi
beneficiada, uma vez
que o projeto
também anistiava os
militares envolvidos
na repressão,
mesmo os que
praticaram a tortura
e a violência.
No mesmo ano, o Congresso aprovou a lei de
reformulação partidária: o bipartidarismo fora
extinto. Alguns historiadores acreditam que foi uma
maneira da ditadura esvaziar o MDB, então no auge
de seu poderio, e que poderia constituir-se como
uma frente de oposição que facilmente derrotaria o
partido governista.
No mesmo ano, o Congresso aprovou a lei de
reformulação partidária: o bipartidarismo fora
extinto. Alguns historiadores acreditam que foi uma
maneira da ditadura esvaziar o MDB, então no auge
de seu poderio, e que poderia constituir-se como
uma frente de oposição que facilmente derrotaria o
partido governista.
A Arena se transformou em
ARENA PDS (Partido Democrático
Social), congregando velhos
políticos udenistas, burocratas
da ditadura, militares
reformados, tendo em Paulo
PRP Maluf sua grande liderança.
Logo, o partido sofreu cisões:
PPB surgiu o PRP (Partido
Reformador Progressista), que
viraria o atual Progressistas e
o PFL (Partido da Frente
Liberal), atual Democratas.
O PMDB originou três partidos, o
bloco hegemônico fez nascer o
Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB),
liderado por Ulysses Guimarães e
tendo Tancredo Neves, Orestes
Quércia e outros.
Também surgiu o Partido
Democrático Trabalhista (PDT),
liderado por Leonel Brizola, que
reivindicava o legado varguista e o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
fundado por Ivete Vargas, mas que
conservava pouca semelhança com
o PTB de 1944.
À margem desse processo
oficial, o Partido dos
Trabalhadores (PT) formou-se
em outubro de 1979, a partir
da iniciativa de líderes
sindicais do ABC Paulista,
dissidentes do antigo MDB,
comunidades de bairro
organizadas pela Igreja
Católica (CEBs) e importantes
intelectuais. O líder máximo
do movimento era Luís Inácio
Lula da Silva, conhecido como
painho.
Nas eleições de 1980, a oposição elegeu os
governadores de estados importantes, mas o PDS
venceu na Câmara e no Senado, garantindo,
aparentemente, a maioria no Colégio Eleitoral para
a sucessão presidencial.
A “linha dura”, esvaziada de
poder, passou então a adotar
práticas repressivas e terroristas,
atacando bancas de jornais que
venciam periódicos de partidos
de esquerda, ataques a bombas a
entidades que lutavam pela
democracia, como a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) e a
Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), entre outras.
O episódio mais dramático foi
“um acidente de trabalho”,
envolvendo um sargento e um
oficial do Exército. Uma bomba
transportada por eles e que
supostamente seria utilizada num
atentado em um grande evento
no Riocentro (onde se
comemorava o 1º de maio) com
milhares de pessoas. O governo
foi omisso em apurar a
responsabilidade efetiva desses
atos criminosos.
A crise econômica se acentuava, à medida que os
juros aumentavam para conter a inflação. A saída do
governo foi incentivar as exportações, para tanto,
Delfim Neto, ministro do Planejamento, promoveu a
desvalorização cambial e a concessão de incentivos
fiscais ao setor exportador. Por um lado, essa medida
foi bem sucedida, pois o país atingiu altos indicadores
na balança comercial. Por outro, os lucros eram
canalizados para o governo, que repassava em moeda
brasileira os lucros aos empresários, canalizando para
o exterior via pagamento da dívida. Assim, criava-se
uma espiral inflacionária: mais moeda brasileira
(cruzeiro) era emitida, o que a desvalorizava, ao
mesmo passo que o arrocho salarial limitava o
mercado interno, para manter as exportações em
nível elevado.
As greves se espalhavam pelo país,
contando até mesmo com apoio
da classe média, ao mesmo passo
que a insatisfação com o regime
crescia.
Uma saída foi vislumbrada: uma
emenda constitucional, a Emenda
Dante de Oliveira, que permitiria
a realização de eleições diretas
para presidente da República. Era
o início da Campanha pelas
Diretas Já!
Manifestações foram realizadas por todo o país. Tancredo
Neves deu um ar lírico a campanha: a eleição para presidente
seria a solução para todos os problemas do país que há 20
anos não elegia o chefe de governo diretamente. As
possibilidades de aprovação da emenda eram mínimas, dado
que o PDS tinha a hegemonia do Congresso.
Sob forte esquema repressivo, em 25 de abril a emenda foi
votada e rejeitada. Cabia à oposição se articular parar as
eleições indiretas.
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Tancredo Neves – MDB/PFL Paulo Maluf - PDS


A oposição indicou o nome de
Tancredo Neves, considerado mais
palatável aos militares que o nome
de Ulysses Guimarães, identificado
com uma oposição mais agressiva
ao regime. Apenas o PT, nas
oposições, não o apoiou, já que o
partido se recusou a participar das
eleições no Colégio Eleitoral.
Na ala governista, as fissuras se avolumaram.
O candidato mais provável, em princípio, era
Mário Andreazza, ex-ministro dos
Transportes de Médici. Contudo, um nome
do PDS surgiu com força: Paulo Maluf,
governador e ex-prefeito de São Paulo, que,
contudo era rejeitado entre as velhas
lideranças do PDS tanto quanto a figura do
próprio Tancredo Neves. Logo após a vitória
de Maluf, uma facção do PDS deixou o
partido e fundou a Frente Liberal, liderada
pelo ex-presidente da Arena, o maranhense
José Sarney (nomes como Antônio Carlos
Magalhães, Aureliano Chaves e Marco Maciel
e outros expoentes do regime militar foram
para o futuro PFL, atual DEM).
Assim, Tancredo ganhava seu vice. No dia 15
de janeiro de 1985, com ampla margem,
Tancredo e José Sarney ganharam com
ampla margem.
Uma nota dramática ainda era reservada à história do Brasil.
Tancredo Neves foi hospitalizado em estado grave no dia 14 de
março de 1985. José Sarney foi empossado no dia seguinte,
como o primeiro civil presidente do Brasil após quase 21 anos
de ditadura militar.
Figueiredo, saiu pelas portas dos fundos do palácio, sem
transferir a faixa presidencial, um fim melancólico para o
período mais sombrio da história do país. Em 21 de abril de
1985, Tancredo Neves morreu, Sarney, ex-líder da Arena tinha
duas missões em suas mãos: reconduzir o país à normalidade
democrática e reconstruir a economia nacional.
DITADURA CIVIL-MILITAR

1964-1985

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