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Aula 10: Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

1. Anos inciais: a montagem do aparato da ditadura

Após o golpe de 1964, a presidência foi assumida por uma Junta Militar. Uma de suas
primeiras medidas foi a outorgamento do Ato Institucional n. 1 (AI-1), que decretava a realização
de eleições indiretas para presidente da República. Além disso, determinava também que poderiam
ser suspensos os direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos, em nome de “interesses
nacionais”. O AI-1 permitia também que o presidente decretasse estado de sítio sem aprovação
prévia do Congresso.

Inicialmente, a Constituição de 1946 foi mantida, sendo efetivadas diversas mudanças. A


ideia inicial da Junta Militar era impor ao Congresso um candidato militar, de forma a realizar a
“limpeza” desejada pelos conservadores.

O Congresso nomeou o marechal Castello Branco, apoiado por diversos nomes civis que
haviam participado do golpe – como Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto. Castello
Branco assumiu a presidência prometendo a “limpeza” das eleições de 1965.

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As medidas econômicas iniciais do novo governo comprovaram-se impopulares. Os


governos estaduais foram proibidos de emitir títulos, houve um aumento na maioria dos produtos de
consumo diário dos brasileiros, assim como nos impostos. A política de arrocho salarial diminuiu os
salários do setor público e rendeu o setor privado às negociações entre patrões e empregados. O
movimento sindical foi enfraquecido pelas prisões, torturas e intervenções, previstas na lei.

A insatisfação gerada refletiu-se nas eleições estaduais de 1965, quando os candidatos


apoiados pelos militares foram vencidos em diversos estados – como a prefeitura de São Paulo e o
governo da Guanabara e Minas Gerais.

A partir dessas derrotas eleitorais, percebeu-se um “endurecimento” do regime, com o


crescimento dos militares que defendiam a chamada “linha dura” na liderança da Ditadura. Em
outubro de 1965, foi decretado o AI-2, que fortalecia o Executivo, dando poderes ao presidente de
fechar o Congresso Nacional, Assembleias estaduais e Câmaras de Vereadores.

As eleições para presidente da República passaram a ser indiretas e foi decretada a extinção
dos partidos políticos, sendo criado um sistema bipartidário com a Aliança Renovadora Nacional
(Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

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2. O governo provisório torna-se efetivo

Em fevereiro de 1966, foi aprovado o AI-3, estendendo as eleições indiretas para


governadores de estado e prefeitos de municípios considerados áreas de “segurança nacional”. Em
outubro de 1966, o Congresso foi fechado após a cassação de diversos parlamentares, endo reaberto
pelo AI-4, em 1967, para aprovar uma nova Constituição.

A Constituição de 1967 legalizou uma série de poderes autoritários dados aos governantes –
como cassar mandatos políticos e decretar estado de sítio sem a autorização do Congresso. Também
criou uma superioridade do Executivo sobre os poderes Legislativo e Judiciário, anulando o
equilíbrio entre os três poderes, institucionalizou a eleição indireta para a presidência da República
e aumentou o controle do Executivo sobre os gastos públicos.
No início de 1967, Costa e Silva foi eleito presidente. A criação do partido de oposição
consentida, o MDB, mostrava a atuação limitada do Legislativo. A atuação dos parlamentares era
constantemente barrada, por meio de cassações ou fechamento do Congresso.

Com o acirramento das perseguições políticas, antigos aliados do governo militar juntaram-
se à oposição para articular um movimento de detenção do avançar do regime. Carlos Lacerda
procurou aproximar-se de Juscelino Kubitschek e de João Goulart. Juntos formaram a Frente Ampla
que teve sua atividade cerceada pela perseguição de seus principais líderes – tanto Lacerda quanto
JK tiveram seus direitos políticos cassados e foram exilados.

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As críticas às medidas autoritárias envolveram diversas parcelas da sociedade, como


estudantes, trabalhadores, artistas. Em março de 1968, as manifestações estudantis haviam crescido,
criticando problemas na Educação e falta de direitos políticos. Uma manifestação em frente ao
restaurante Calabouço, da UFRJ, exigia melhor qualidade de alimentação e preços mais baixos no
restaurante universitário. A polícia foi chamada e a brutalidade de sua reação resultou na morte do
estudante Edson Luís de Lima Souto.

A morte do estudante tornou-se um símbolo da repressão policial da ditadura e as


manifestações e passeatas aumentaram. Todas foram recebidas com grande violência das forças
policias, gerando solidarização de outros setores da sociedade para com os estudantes.

Em junho de 1968, a Passeata dos Cem Mil reuniu estudantes, setores da Igreja,
trabalhadores e artistas contra o governo, condenando as violências e a falta de liberdade no país.

Diante da mobilização, o governo decretou, em 13 de dezembro de 1968, o AI-5,


considerado o mais repressivo de todos. Por meio dele, o presidente tinha o poder de legislar sobre
todo e qualquer assunto, ficando acima do Congresso. O Executivo federal poderia, também,
intervir nos estados e apontar funcionários públicos. E, principalmente, o AI-5 suspendia o direito a
habeas corpus, em crimes considerados políticos.


3. Resistência e repressão

Após a morte e saída de Costa e Silva, Médici foi apontado para a presidência. Os anos de
sua presidência – de 1969 a 1974 – são considerados os mais repressivos e violentos da ditadura,
apontando para o grande radicalismo do período.

Os movimentos de luta de armada, que já existiam contra a governo militar, intensificavam


na atuação nas cidades. Assim como a ampliação do aparato repressivo. O movimento de guerrilha,
inspirado na atuação da Revolução Cubana de 1959, moldava a atuação dos grupos armados críticos
ao governo.

Alguns grupos defendiam as propostas de Che Guevara, de focos revolucionários e grupos


treinados no combate, atuando para desestabilizar o governo – como aquele liderado por
Marighella. Outros grupos entendiam a necessidade de criar uma base camponesa de apoio do
movimento revolucionário, seguindo as ideias de Mao Tse-Tung – como o movimento liderado por
Carlos Lamarca.
O movimento que envolveu mais pessoas e que durou mais tempo foi o do Araguaia, seus
participantes eram ligados ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), dissidência do PCB (Partido
Comunista Brasileiro). O foco guerrilheiro só foi descoberto pelo Exército em 1972 e destruído em
1975, na maior operação militar organizada pelo Exército brasileiro desde a Segunda Guerra
Mundial.


Em 1964, o governo militar havia criado o Serviço Nacional de Informações (SNI) com o
objetivo de recolher informações de caráter político, econômico e social que interessassem ao
governo. Ao SNI, se somaram os órgãos de informação e repressão militares (CENIMAR, da
Marinha, CIE, do Exército, e CISA, da Aeronáutica). Foram criados, também, a Operação
Bandeirantes (Oban), o CODI (Centro de Operações de Defesa Interna) e o DOI (Destacamento de
Operações e Informações) – que ficou conhecido como DOI-CODI. A Polícia Federal e o
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), existentes antes de 1964, também atuaram na
repressão aos opositores da ditadura.

Os meios de comunicação sofreram uma dura censura, sendo impedidos de publicar críticas
ao regime, divulgar determinadas informações ou denunciar violências cometidas pelo Estado.
Muitas vezes, havia uma censura de caráter moral sobre temas culturais. As atividades artísticas
também não escaparam ao controle da ditadura. Além da ação oficial, grupos paramilitares, como o
Comando de Caça aos Comunistas – CCC –, atacavam editoras e peças teatrais que consideravam
“subversivas” e contrárias ao regime, sem receber nenhum tipo de punição.


4. O “milagre” econômico

Às custas dos trabalhadores e a gradual perda de direitos, a inflação foi inicialmente


diminuída pelos governos militares, o que deixou a impressão de um bom momento econômico. A
entrada maciça de investimentos estrangeiros, fomentados pela ditadura, moldou a imagem de um
“milagre econômico”.

As taxas de juros para empresas internacionais foram reduzidas drasticamente e o governo


americano bombeou a economia brasileira, como forma de apoio ao governo militar. O PIB cresceu
11% ao ano, sendo revertidos em infraestrutura e exportações. Foram feitas obras grandiosas, com
objetivo de demonstrar o crescimento econômico, como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, a
hidrelétrica de Itaipu.

Surgia o mito do Brasil potência, alimentado pelos slogans ufanistas divulgados pela
propaganda oficial: “Ninguém segura este país”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, “Pra frente, Brasil”,
“Até 1964 o Brasil era o país do futuro: agora o futuro chegou”. Nesse contexto, a vitória da seleção
brasileira de futebol na Copa do Mundo, realizada em 1970 no México, foi amplamente explorada
pelo regime, com o intuito de criar uma imagem ufanista entre a população.

Nesse momento, a classe média brasileira conseguiu atingir seus objetivos mais imediatos,
isto é, o consumo. Nas grandes cidades, chegou-se a criar um modo de vida próprio: a casa própria,
cheia de eletrodomésticos, o segundo automóvel da família (o primeiro havia sido adquirido
provavelmente na época de Juscelino), o apartamento na praia ou o sítio no campo.
No entanto, a dependência em relação ao capital estrangeiro era bastante expressiva, e a
dívida externa crescia em proporções alarmantes. Os custos sociais das novas diretrizes econômicas
do governo foram elevados, principalmente com o arrocho salarial que atingiu vastos setores da
população mais pobre. Na verdade, o “milagre” gerou uma acentuada desigualdade da distribuição
de renda.

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