Você está na página 1de 1

Exercitando imagens: representações de mulheres e iconografia nos livros didáticos de História.

O presente trabalho tem como objetivo introduzir um debate a respeito das imagens que são
utilizadas nos livros didáticos de História. Tem-se como base a coleção “História”, de Ronaldo
Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira e Georgina dos Santos, da Editora Saraiva, aprovada
pelo PNLD 2018. Discutem-se as imagens atribuídas às mulheres no contexto da Inquisição
Moderna, levando em consideração, principalmente, aquelas utilizadas pelos exercícios nos livros
didáticos. Este trabalho deriva da pesquisa de mestrado efetuada durante os anos de 2018 a 2020, no
Programa de Pós-Graduação de História da Universidade de Brasília.
O uso de imagens suscita discursos e representações que mobilizam o imaginário e
contribuem para o aprendizado histórico de alunas e alunos. É necessário levar em consideração de
que forma os livros didáticos utilizam as imagens em articulação com seu conteúdo. Essa análise
conduz ao entendimento das representações acionadas pelos autores, editores, diagramadores e
tantos outros atores responsáveis pelos livros didáticos.
Entende-se que é possível, a partir da análise das imagens utilizadas nos exercícios, entender
de que forma os discursos são mobilizados para auxiliar as alunas e alunos no processo de
compreensão histórica. O entendimento sobre o passado e sua relação com o presente constrói-se,
também, por intermédio de associações imagéticas, principalmente, o que Elias Saliba chama de
imagens canônicas. Ou seja, imagens que estão imbricadas no imaginário coletivo, imagens
utilizadas repetidas vezes em contextos educativos e midiáticos, de modo a constituírem pontos de
referência inconsciente.
No contexto da Inquisição Moderna, considera-se de que forma os exercícios tecem suas
narrativas a respeito da figura de mulheres durante o período de perseguição e caça às bruxas nos
séculos XV e XVI. Compreende-se que a utilização de imagens que remetem à violência sem
problematização contribui para a perpetuação de um discurso de imobiliza mulheres em situações
derrogatórias e subalternas. Questiona-se se os livros didáticos contribuem para os debates sobre o
contexto histórico das imagens utilizadas, de forma a historicizar a iconografia.
Analisar tais imagens e seu uso no contexto dos exercícios permite compreender de que
forma a coleção didática constrói suas relações com o passado, e que tipo de discursos e
representações são mobilizadas para o conhecimento histórico. A partir dessas reflexões, propõe-se
a utilização de imagens que contribuem para uma história do possível, como diz Tânia Navarro-
Swain. Uma narrativa histórica que possibilite a compreensão das identidades e protagonismos de
mulheres ao longo da história. Dessa forma, contribui-se para a construção de uma educação
libertadora, abrindo espaço para debates sobre os preconceitos, violências e apagamentos sofridos
pelas mulheres na sociedade. A partir disso, torna-se possível a construção de uma sociedade
preocupada com a equidade, respeitando as diferenças entre todas e todos.

Você também pode gostar