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Período Regencial (1831 – 1840) criaram o clima para a eclosão de rebeliões em quase todas as regiões do

país.
O período compreendido entre 1831 e 1840 foi um dos mais
agitados da história brasileira. Após a abdicação de dom Pedro I em Alguns desses conflitos, sobretudo os de caráter federalista e
favor de seu filho de apenas 5 anos de idade, determinou-se a escolha de republicano, chegaram a ameaçar a integridade do Império. Ecoando o
uma regência para governar o país. Segundo a Constituição, entretanto, temor das elites que controlavam o poder central, o regente Feijó chegou
a eleição dos regentes deveria ser feita pela Assembleia Geral que, a dizer em 1836: “o vulcão da anarquia ameaça devorar o Império”.
naquele momento, estava em recesso, com boa parte dos parlamentares
ausentes da capital, o Rio de Janeiro.  Revolta das Carrancas (Minas Gerais, 1833)

Para contornar a situação, os poucos deputados presentes na Foi a maior condenação à pena de morte por enforcamento
capital decidiram escolher uma Regência Provisória, até que os demais aplicada a escravos no Brasil durante o Império: 16, no total. A revolta,
parlamentares retornassem e a eleição pudesse, enfim, ser realizada. A pelo clima de terror instaurado, com a invasão das sedes das fazendas e
Regência Trina Provisória governou até 17 de junho de 1831, quando a morte de fazendeiros e familiares, é considerada a maior revolta escrava
Assembleia Geral elegeu a Regência Trina Permanente. da província de Minas Gerais.

A Regência Trina Permanente, com um mandato de quatro Iniciada na freguesia de Carrancas, região estratégica próxima
anos, foi eleita por deputados e senadores reunidos em Assembleia das estradas que ligavam Minas Gerais com as províncias de São Paulo
Geral. Foi indicado para o Ministério da Justiça Diogo Antônio Feijó, e Rio de Janeiro, restringiu-se às fazendas da família Junqueira. Seu
que se tornou responsável por manter a ordem no país, reprimindo as início, numa revolta contra castigos e por liberdade, deu-se em meio às
constantes e crescentes rebeliões. Criou, logo no início de seu mandato, disputas políticas regionais entre restauradores (caramurus) e liberais
a Guarda Nacional, milícia armada dirigida por brasileiros abastados, moderados. Entre seus participantes, os autos destacam como líder
que passou a ser o principal instrumento do governo para reprimir os principal o escravo Ventura Mina.
levantes populares.  Cabanada (Pernambuco e Alagoas, 1832 – 1835)
O comando dessa milícia cidadã em cada município cabia ao Entre 1832 e 1835, a área compreendida entre o sul de
coronel, patente geralmente vendida pelo governo aos grandes Pernambuco e o norte de Alagoas foi palco de uma guerra rural que
fazendeiros. Ao garantir, localmente, a ordem e os poderes existentes, envolveu principalmente a população pobre da região. Era a Cabanada
eles acabavam por assumir o papel do Estado, ao mesmo tempo em que ou Guerra dos Cabanos, revolta armada que ganhou esse nome porque
defendiam seus interesses pessoais. seus participantes viviam em habitações rústicas.
Em 1834, a Assembleia Geral aprovou o Ato Adicional. Os cabanos lutavam pelo direito de permanecer em suas
Tratava-se de uma importante reforma na Constituição, pela qual era terras, que vinham sendo ocupadas, cada vez mais, pelos grandes
extinto o Conselho de Estado, cujos membros haviam sido nomeados proprietários rurais. Eles também pregavam a alforria dos escravizados
por dom Pedro I, e criadas as Assembleias Legislativas provinciais. e o retorno de dom Pedro I ao Brasil. O governo regencial entendeu que
Órgãos do Poder Legislativo, as Assembleias provinciais tinham por o movimento representava grave ameaça ao país e enviou tropas para a
função elaborar leis de interesse local e nomear funcionários públicos. região.
Com sua criação, as províncias conquistaram maior autonomia em
relação ao poder central. As epidemias e a falta de alimentos provocada pela destruição
das plantações por parte das forças do governo ajudaram a enfraquecer
O Ato Adicional de 1834 criou também a Regência Una, que o movimento. A Cabanada perdeu mais força ainda após a morte de dom
deveria substituir a Regência Trina Permanente, determinando a eleição Pedro I, em 1834. No início de 1835, a maior parte dos cabanos havia
do regente por meio do voto popular para um mandato de quatro anos. morrido nos confrontos ou encontrava-se presa. Nessas circunstâncias,
Nessa nova fase, aconteceram as regências de Feijó (1835- vários líderes dos cabanos preferiram se entregar às autoridades.
1837) e de Araújo Lima (1837-1940), o primeiro de orientação mais  Cabanagem (Pará, 1835 – 1840)
liberal e descentralizadora, e o segundo, conservador e centralista.
Nesses dois períodos ocorreram no país diversas revoltas que De 1835 a 1840 ocorreu no Pará um levante que teve como
questionavam a autoridade central do Império, o regime monárquico, a ponto de partida a divisão da elite paraense em torno da nomeação do
estrutura de classes e a escravidão, conforme o projeto político de cada presidente da província. Contou com a adesão da população pobre:
revolta. indígenas, mestiços e negros da região, que viviam em cabanas na beira
dos rios – daí serem chamados cabanos –, em condições miseráveis. Os
Durante as regências surgiram as duas principais forças rebeldes tomaram a cidade de Belém, e assumiram o governo provincial
políticas do Império, o Partido Liberal, composto pela classe média e decidiram proclamar a independência da província.
urbana, clérigos e proprietários rurais do Sudeste e Sul do país (tendência
denominada progressista), e o Partido Conservador, em sua maioria O movimento, de caráter eminentemente popular, acabou
grandes proprietários rurais, comerciantes, magistrados e burocratas fracassando pela traição de vários participantes, pela falta de consenso
(tendência regressista). Os liberais eram favoráveis à manutenção da entre seus líderes e pela indefinição quanto aos rumos do governo da
autonomia provincial das Assembleias e adeptos do governo Feijó, província. Foi violentamente sufocado por tropas governamentais
enquanto os conservadores eram mais centralistas e defendiam total enviadas à região: a “pacificação”, em 1840, custou a vida de
rigor contra os questionamentos à ordem social, política e econômica do aproximadamente 20% da população total da província.
Império.
 Revolta dos Malês (Bahia, 1835)
Em 1840, os liberais que lutavam para recuperar o poder
Salvador era a cidade mais populosa da Bahia, e 90% de sua
fundaram o Clube da Maioridade, que reivindicava a antecipação da
população livre – estimada em 38 mil pessoas – vivia no limiar da
maioridade de dom Pedro II, na época com 14 anos. Segundo eles, a
pobreza. Essa situação se agravou ainda mais nas décadas de 1820 e
presença do imperador no trono poria fim às revoltas regionais em curso
1830, quando a região foi assolada por fortes secas.
e afastaria o fantasma da fragmentação política e territorial do país,
argumento que cativou a elite política. Negros e pardos livres e escravizados representavam a maior
parte dessa população (cerca de 72%). Vítimas constantes do
Depois de muitos debates, no dia 23 de julho de 1840, a
preconceito racial e da opressão social, muitos deles se rebelaram em 24
Câmara e o Senado aprovaram o projeto liberal, concedendo a
de janeiro 1835, em Salvador. Foi a Revolta dos Malês, cujo objetivo
maioridade a dom Pedro de Alcântara, e declarando-o imperador do
declarado era destruir a dominação branca na região e construir uma
Brasil como dom Pedro II. O episódio ficaria conhecido como Golpe da
Bahia só de africanos. Do movimento fizeram parte principalmente os
Maioridade.
malês, nome dado aos escravos seguidores do islamismo.
 Rebeliões regenciais Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados pelas
O período regencial caracterizou-se por ser uma época de forças policiais, que utilizavam armas de fogo. Centenas de participantes
transição marcada pela passagem do poder das mãos dos portugueses da revolta morreram ou ficaram feridos. Após a rebelião, desencadeou-
para as da elite nacional. As acomodações e tensões resultantes desse se violenta repressão contra os africanos e afro-brasileiros. Muitos foram
processo político, o agravamento da situação econômica, além das condenados ao açoite, à prisão ou à deportação.
condições precárias e desumanas em que os pobres e os escravos viviam,
 Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos (Rio Grande a unidade nacional, esforçando-se por construir um sólido aparato
do Sul, 1835 – 1845) administrativo, jurídico e burocrático do Estado.
A Revolução Farroupilha teve início em 1835, quando Bento O imperador procurou agir conciliando as forças, oferecendo
Gonçalves, filho de um rico proprietário de terras no Rio Grande do Sul, seu apoio ora ao Partido Liberal, ora ao Partido Conservador.
tomou a cidade de Porto Alegre, depondo o presidente da província. No
ano seguinte, os revoltosos proclamaram a República Rio-Grandense, Embora as diferenças ideológicas entre os dois partidos
com sede na Vila Piratini. fossem pequenas – ambos representavam setores diferentes do grande
comércio e da grande propriedade da terra –, sempre que um gabinete
Reivindicavam maior autonomia provincial e a redução dos liberal dava lugar a um conservador, e vice-versa, era trocada toda a
altos impostos que incidiam sobre o charque gaúcho (carne-seca). Os estrutura administrativa do Império. Fazendo largo uso do clientelismo,
estancieiros não tinham condições de competir em situação de igualdade os novos integrantes do poder substituíam os presidentes de província,
com o charque da região do Prata; outros subprodutos do gado, como prefeitos, delegados, coletores de impostos e demais funcionários
couro e sebo, destinados às demais províncias, enfrentavam obstáculos públicos.
semelhantes.
Após algumas situações iniciais de confronto entre os dois
Durante o Segundo Reinado, a rebelião entrou em declínio, grupos, foi estabelecido o parlamentarismo, em 1847, reforçando a
especialmente diante da repressão empreendida pelo governo central. consolidação do Império. Era o chamado parlamentarismo às avessas,
Em novembro de 1842, dom Pedro II nomeou o marechal de campo Luís de caráter centralizador e oligárquico, não representativo da sociedade
Alves de Lima e Silva para a presidência da província e para o comando brasileira, em virtude da exclusão escravista e do critério censitário.
das tropas imperiais no Rio Grande do Sul. Lima e Silva, que ficaria
conhecido como Duque de Caxias, que tinha por missão debelar a A manutenção do esquema conciliador foi impedida pela
Revolução Farroupilha. Em 1845, conseguiu chegar a um acordo com os emergência na vida política de novos setores sociais ligados ao café, bem
rebeldes e pôr fim ao conflito. O acordo de paz com o Império garantia como pelos efeitos da Guerra do Paraguai (1865-1870). Além disso,
anistia geral aos revoltosos e o atendimento de algumas reivindicações alguns membros do Partido Liberal passaram a exigir reformas sociais
que originaram a revolta. Por sua importante atuação, Caxias recebeu o mais profundas, como a ampliação do direito de voto, maior autonomia
título de “Pacificador do Império”. provincial e a abolição gradual da escravidão, fundando em 1870 o
Partido Republicano.
 Sabinada (Bahia, 1837 – 1838)
 Ascensão do café
O recrutamento forçado da população, em 1837, para
combater os farroupilhas gaúchos, foi o estopim para a revolta contra as Por volta de 1760, já podiam ser encontrados cafeeiros na
dificuldades econômicas da população da província. Expressava o cidade do Rio de Janeiro, cultivados em hortas e pomares. De lá, a planta
descontentamento dos grupos médios urbanos e a resistência da expandiu-se para o litoral fluminense e, depois, para o vale do rio Paraíba
população local contra as determinações do governo central. do Sul. Ali, ela se espalhou rapidamente, chegando a cidades como
Resende e Vassouras, no Rio de Janeiro, e Areias, Guaratinguetá e
Os revoltosos, tendo à frente o médico Francisco Sabino Taubaté, em São Paulo.
Barroso – de quem deriva o nome do movimento –, conquistaram o
poder na Bahia e proclamaram a República Bahiense. Os fazendeiros do vale do Paraíba empregavam técnicas
agrícolas rudimentares, como a queimada para limpar o terreno. Além
As tropas regenciais, com a ajuda dos senhores de engenho da disso, não utilizavam arados nem adubos. Com o tempo, o solo da região
região do Recôncavo, fiéis ao Rio de Janeiro, cercaram e venceram os empobreceu e, por volta de 1870, a produção declinou.
revoltosos em Salvador, em 1838, aprisionando e executando milhares
de pessoas, entre as quais seus líderes mais expressivos. Em busca de novas terras, os fazendeiros expandiram as
plantações de café em direção ao Oeste paulista na segunda metade do
 Balaiada (Maranhão, 1838 – 1841) século XIX.
A economia maranhense enfrentava graves dificuldades em Em contraste com as regiões ditas “velhas” da lavoura
razão da concorrência norte-americana na produção de algodão. Os cafeeira (Vale do Paraíba), as áreas “novas” (Oeste Paulista) firmaram-
pobres e miseráveis da região, inclusive escravos, que compunham mais se após a proibição do tráfico de africanos escravizados para o Brasil,
da metade da população da província (216 mil recenseados), logo nos anos 1850. Diante da necessidade de mão de obra da área cafeeira,
passaram a contestar os privilégios dos latifundiários e comerciantes voltada sobretudo para o abastecimento dos crescentes mercados norte-
portugueses. Milhares de rebeldes do Maranhão logo ganharam apoio de americano e europeu, ganhou impulso o tráfico interno (interprovincial
rebeldes do Piauí, ampliando o movimento. e intraprovincial) de escravos.
Os principais líderes rebeldes foram o vaqueiro Raimundo No tráfico interprovincial, as províncias do Norte e do
Gomes, o “Cara Preta”, Manuel dos Anjos Ferreira, o “Balaio”, Nordeste passaram a suprir as áreas de café do Sudeste. No
fabricante de cestos e o negro Cosme Bento, que liderou uma força de intraprovincial (ou intermunicipal), o fluxo se deu de áreas mais pobres
cerca de 3 mil escravos. Os balaios chegaram a ocupar a Vila de Caxias, para áreas mais dinâmicas, por exemplo, de áreas urbanas para as
importante centro urbano da província, e ameaçavam tomar também a lavouras.
capital, São Luís.
À medida que foram ganhando maior importância na vida
O movimento foi derrotado pelas tropas do governo sob o econômica e política do país, com a transformação da Província de São
comando do coronel Luís Alves de Lima e Silva, que graças a essa Paulo em novo eixo econômico, os chamados “barões do café” fixaram-
vitória recebeu o título de barão de Caxias. Cosme Bento foi enforcado se nos elegantes arredores das cidades. Contavam com o
e os negros rebelados foram novamente escravizados. desenvolvimento dos meios de transporte (estradas de ferro e portos) e
de comunicação (telégrafo e telefone). Não raro, dedicavam-se a outras
atividades econômicas urbanas, como o comércio, bancos e indústrias,
Segundo Reinado (1840 – 1889) diversificando a economia nacional.

Com a antecipação da maioridade de dom Pedro II, em 1840, A partir da década de 1820, o café assumiu a liderança das
teve início o Segundo Reinado, apogeu da Monarquia brasileira, exportações brasileiras, enquanto produtos até então importantes, como
representante legítima dos interesses das elites. Deu-se continuidade à açúcar, algodão, fumo e couros, perdiam posição. Nos anos 1880, a
centralização política e administrativa iniciada em 1837 e “pacificou-se” produção cafeeira brasileira já era responsável por 56% da produção
o país, com a repressão às revoltas herdadas do período anterior, bem mundial, ampliando-se ainda mais nas décadas seguintes, na época
como a novos movimentos que colocariam em risco a ordem republicana.
monárquica.
 O fim do tráfico africano de escravos
No curso desses 49 anos, o governo esteve fortemente
Em 1845, surgiu uma nova lei que abalou os interesses de
centralizado em torno da figura do monarca. Numa época em que as
traficantes de escravos e encheu de preocupação os escravistas
províncias se encontravam isoladas umas das outras e lutavam por maior
brasileiros. Essa lei, chamada Bill Aberdeen, aprovada na Inglaterra,
autonomia em relação ao poder central, o imperador procurou assegurar
permitia que os navios da marinha britânica fiscalizassem e
combatessem o tráfico de escravos, mesmo em embarcações e águas a aliança entre os poderosos do país, como os membros da alta
territoriais de outros países. magistratura, do grande comércio e da grande propriedade.
Em 1850, essa pressão externa, somada ao medo de novas Consolidado internamente o projeto político imperial, as
rebeliões de escravos como a dos Malês, em 1835, na Bahia, e ao clamor atenções governamentais voltaram-se para a política externa. Nessa fase,
dos que, internamente, se opunham à escravidão, levou à aprovação da ocorreram diversos conflitos na região do Prata, no extremo sul do país,
Lei Eusébio de Queirós, que proibia definitivamente o tráfico de e atritos diplomáticos com a Inglaterra.
africanos escravizados para o Brasil. Dessa vez, para provar que a
determinação seria de fato cumprida, importantes fazendeiros que Os frequentes empréstimos ingleses ao governo brasileiro
tentaram desrespeitar a lei foram presos e capitães de navios negreiros criaram uma forte dependência econômica. Durante o Segundo Reinado,
que continuavam a traficar escravos sofreram duras penas. porém, o Brasil obteve alguma autonomia, graças às crescentes
exportações de café, que dinamizavam a economia.
 A mão de obra dos imigrantes
Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial havia se expandido,
A cafeicultura, porém, em franca expansão, demandava mais alcançando a França, a Alemanha e os Estados Unidos, dos quais o Brasil
trabalhadores. Diante do problema, os fazendeiros, a partir da segunda passou a comprar gêneros industrializados, ameaçando a tradicional
metade do século XIX, agenciaram a vinda de milhares de imigrantes hegemonia da nação inglesa, antes conhecida como “oficina do mundo”.
europeus para trabalhar nos cafezais.
Em meio às tensões entre os dois países, emergiu a questão do
A primeira iniciativa importante de incentivo à imigração foi tráfico de escravos, contestado pela Inglaterra e tido como fundamental
o sistema de parceria. O sistema consistia em custear, a título de para a estrutura produtiva brasileira agroexportadora.
antecipação dos rendimentos, o transporte de trabalhadores europeus até
A decisão do governo brasileiro de não renovar o tratado de
as fazendas, bem como sustentá-los e a suas famílias nos primeiros
comércio com a Inglaterra, aprovando em seu lugar a Tarifa Alves
tempos de permanência na propriedade. A parceria, no entanto,
Branco, em 1844, aliviou a situação financeira do governo imperial, mas
fracassou. Os juros cobrados sobre a dívida inicial eram elevados (de até
afetou diretamente o comércio inglês no país.
12% ao mês); os trabalhadores eram maltratados pelos fazendeiros –
habituados ao sistema escravista –; e a remuneração paga pelo café Em resposta, o Parlamento inglês aprovou a Bill Aberdeen,
cultivado era muito baixa. que dava à marinha inglesa poderes para apreender qualquer navio
negreiro que cruzasse o Atlântico em direção ao Brasil.
O impulso da emigração para o Brasil contou com a difícil
conjuntura europeia da segunda metade do século XIX. À crise  Guerra do Paraguai (1864 – 1870)
econômica agregaram-se os efeitos de diversas guerras, obrigando uma
grande massa camponesa a abandonar seu país e procurar oportunidades As disputas territoriais, o desejo de controlar a navegação nos
em outras regiões. A Itália e a Alemanha, que passavam por muitas rios da Bacia do Prata, para garantir o acesso a algumas províncias,
dificuldades, como as guerras pela unificação nacional, foram os especialmente Mato Grosso, e a tentativa de impedir o surgimento de
maiores “exportadores” de mão de obra para o Brasil. algum poderoso Estado rival nas fronteiras brasileiras do Sul foram
razões para que o Brasil se envolvesse em conflitos armados na região
Ao mesmo tempo, no Brasil, avançava a campanha do rio da Prata, a partir de 1850.
abolicionista e investia-se no trabalhador estrangeiro. O governo
imperial adotou o sistema de imigração subvencionada, substituindo a O Paraguai no século XIX era um país que destoava do
iniciativa privada pela estatal, e regulamentou as relações entre conjunto latino-americano por ter alcançado certo progresso econômico,
fazendeiros e trabalhadores. a partir da independência em 1811. Durante os longos governos de José
Francía (1811-1840) e Carlos López (1840-1862), erradicara-se o
 Lei de Terras (1850) analfabetismo no país e haviam surgido fábricas – inclusive de armas e
pólvora –, indústrias siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente
Temendo que os imigrantes deixassem de trabalhar nas
sistema de telégrafo.
fazendas e ocupassem as áreas devolutas (pertencentes ao Estado), o
governo e a Assembleia Geral instituíram a Lei de Terras, que restringia Em agosto de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai –
o acesso da população à terra. país independente desde 1828 –, derrubaram o presidente uruguaio
Atanásio Aguirre, do Partido Blanco, acusado de ter posto em prática
A legislação em vigor até então permitia a qualquer pessoa se
medidas antibrasileiras, e colocaram no lugar seu opositor, Venâncio
instalar em uma área de terras devolutas e posteriormente requerer um
Flores, do Partido Colorado.
título de propriedade sobre ela. Com a Lei de Terras, aprovada em 1850,
quem quisesse se tornar proprietário de um lote deveria comprá-lo do Interpretando a invasão do Uruguai como uma ameaça aos
governo. Além disso, a lei fixou dimensões mínimas para os lotes a interesses de seu país, em novembro de 1864 o presidente do Paraguai,
serem comprados, proibiu a venda a prazo e estabeleceu que os Solano López, aliado de Aguirre, apreendeu um navio mercante
imigrantes só poderiam adquirir terras após dois anos de residência no brasileiro no rio Paraná e, em dezembro, ordenou a invasão da província
país. do Mato Grosso. Em seguida, declarou guerra à Argentina, porque o
governo de Buenos Aires não permitiu que o exército paraguaio cruzasse
 Revolução Praieira (Pernambuco, 1848 – 1850)
o território argentino em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai. Em
A Revolução Praieira (1848-1850) foi o desfecho de um longo maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai (já presidido por Flores)
ciclo revolucionário pernambucano, depois do qual a região se inseriu firmaram o Tratado da Tríplice Aliança, um acordo político, econômico
na ordem política do Império. O movimento recebeu esse nome porque e militar contra o Paraguai.
o jornal divulgador dos ideais dos revoltosos tinha sua sede na Rua da
O governo brasileiro não estava preparado para uma guerra
Praia. Nesse jornal, em 1848, os rebeldes publicaram o “Manifesto ao
desse porte e por isso, em janeiro de 1865, assinou um decreto criando
Mundo”, escrito por Borges da Fonseca, no qual expunham suas
o corpo de Voluntários da Pátria. Nele podiam se alistar
principais reivindicações: voto livre e universal, liberdade de imprensa,
espontaneamente homens entre 18 e 50 anos. Para atraí-los o governo
garantia de trabalho, nacionalização do comércio (que estava em mãos
oferecia uma quantia em dinheiro e um pedaço de terra. Como forma de
de portugueses), independência dos poderes e extinção do poder
aumentar ainda mais o número de combatentes, o governo brasileiro
Moderador. Contavam com o apoio de alguns senhores de engenho
prometeu alforria a todos os escravos que fossem lutar no Paraguai e
ligados ao Partido Liberal.
pagou uma indenização aos senhores de escravos que enviavam seus
A Revolução Praieira teve suas origens nas difíceis condições cativos à frente de batalha.
econômicas e sociais da Província de Pernambuco e na enorme
A guerra se alastrou rapidamente. Em um primeiro momento,
concentração fundiária nas mãos de poucos proprietários. A rebelião foi
os paraguaios tiveram vitórias significativas. Aos poucos, porém, as
derrotada em 1850 pelas tropas governamentais.
tropas aliadas se recuperaram e passaram à ofensiva. Os combates corpo
 Política externa do Segundo Reinado a corpo foram sangrentos, marcados por atrocidades de ambos os lados:
saques, degolas, fuzilamentos. Muitos combatentes – entre eles, crianças
No início do Segundo Reinado, a atenção do governo esteve e adolescentes – morreram vítimas de tifo, cólera, malária, fome, frio e
voltada para a ordenação política e social, consolidando pouco a pouco por causa das péssimas condições de higiene.
A guerra só terminou em 1870, com a morte de Solano López. Os afro-brasileiros tiveram seus direitos formalmente
O Paraguai saiu arrasado do confronto. A população masculina adulta reconhecidos. A emancipação, contudo, não foi acompanhada de
foi dizimada, a economia destruída e o país ainda perdeu 40% do medidas de reparação nem foram postos em prática projetos de
território para seus adversários. integração dos libertos na sociedade, como propunham muitos
abolicionistas. Na verdade, os negros não receberam nenhum tipo de
No que se refere ao Brasil, o conflito fortaleceu o Exército e amparo. Dessa forma, eles se tornaram vítimas de um novo quadro de
contribuiu para afirmar o sentimento de identidade nacional. Mas desigualdades sociais e étnicas cujos reflexos podem ser sentidos até
provocou também a morte de 30 mil combatentes entre os 139 mil hoje na sociedade brasileira.
enviados para a frente de batalha. Para compensar as perdas financeiras,
o Brasil se viu obrigado a contrair novos empréstimos no exterior,  Fim do Império
aumentando sua dívida externa.
Outro fator de desgaste do governo imperial no final do século
O fim dos combates também contribuiu para pôr em xeque o XIX foi o atrito com a Igreja católica, em virtude de conflitos derivados
governo de dom Pedro II: tornaram-se cada vez mais intensas as críticas do regime do padroado, ou seja, o poder do imperador de nomear os
à escravidão e começou a ganhar força a ideia de se pôr um fim à bispos, controlando a hierarquia eclesiástica e o conjunto do clero.
Monarquia e instaurar a República.
Paralelamente, no final do século XIX, membros do exército
 Abolição lenta e gradual foram assumindo uma posição cada vez mais contrária ao governo
imperial. Alguns oficiais do exército passaram a assumir posições
Com o término da Guerra do Paraguai, em 1870, a Campanha radicalmente contrárias às da monarquia em todas as questões relevantes
Abolicionista começou a se difundir pelo país e passou a conquistar do final do Império, defendendo a abolição e a instalação da República.
adeptos no Exército. O convívio de negros e brancos durante o conflito
havia contribuído para que muitos militares mudassem de opinião a No Brasil, pregava-se, acima de tudo, a modernização, que
respeito da escravidão, pois os negros – que representaram, com os passaria pela instalação de uma República, no lugar do “carcomido”
miscigenados, a maior parte dos soldados brasileiros – começaram a ser regime imperial. Ao exército caberia garantir firmemente a ordem, para
vistos com simpatia pelo fato de terem lutado bravamente nos campos viabilizar o progresso capitalista, livrando o Estado dos civis (“casacas”)
de batalha. corruptos e antipatriotas.
 Lei do Ventre Livre (1871) Em 1870, a imprensa do Rio de Janeiro publicou o Manifesto
Republicano, elaborado por membros de uma dissidência radical do
O envolvimento governamental na efervescência das Partido Liberal. Pouco tempo depois, fundou-se o Partido
campanhas abolicionistas e a posição conservadora dos cafeicultores Republicano e, em 1873, o Partido Republicano Paulista.
chegaram ao ápice em 1871, quando foi aprovada a Lei do Ventre
Livre, mesmo com os votos contrários das províncias de São Paulo, O poder econômico dos cafeicultores, no entanto, não
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Pela encontrava contrapartida na política, uma vez que o Império era
lei, os filhos de escravas nascidos a partir daquela data seriam excessivamente centralizado no Rio de Janeiro. Assim, surgia um
considerados livres. descompasso entre a modernização paulista e o imobilismo burocrático
do governo imperial.
Os escravocratas protestaram, e os efeitos da Lei do Ventre
Livre foram reduzidos. Estabeleceu-se que o escravo permaneceria sob Os cafeicultores, sabendo que qualquer mudança no quadro
a tutela do proprietário da mãe até atingir 8 anos de idade, quando o institucional do Império geraria resistência da burocracia estatal,
senhor escolheria se preferia receber uma indenização ou explorar abraçaram o ideal de República, que envolvia a ideia de federação, isto
gratuitamente o trabalho do escravo “livre” até que completasse 21 anos. é, de autonomia para os estados-membros.

 Lei dos Sexagenários (1885) A aliança entre membros do exército, cafeicultores paulistas
e setores médios urbanos, todos sem participação no cenário político do
Em 1885, a Assembleia Geral aprovou a Lei Saraiva- Império, possibilitou o advento do republicanismo, observado
Cotegipe, também conhecida como Lei dos Sexagenários, pois passivamente pela Igreja. Os membros das aristocracias agrárias
libertava os escravos com mais de sessenta anos. A alforria para esse tradicionais (nordestina e sulista), por sua vez, viam na abolição da
grupo, entretanto, não era imediata, pois os cativos deveriam trabalhar escravidão uma traição do governo imperial. Por isso, distanciaram-se
por mais três anos a título de indenização. dele a partir de 1888, enfraquecendo ainda mais o regime.
A legislação abolicionista criada pelo governo imperial, Na noite de 14 de novembro, as unidades militares
mesmo sem grandes resultados na prática imediata, não conseguia estacionadas em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, se rebelaram. Na
aplacar o movimento abolicionista, particularmente forte na imprensa. A manhã do dia seguinte, os rebeldes marcharam em direção ao centro da
essa altura, a Campanha Abolicionista mobilizava multidões nas ruas cidade, sob o comando de Deodoro, e depuseram o imperador, enviado
das grandes cidades. para o exílio dois dias depois. Na tarde do mesmo dia, na Câmara
Assim, a impossibilidade de controlar as cada vez mais Municipal do Rio de Janeiro, José do Patrocínio declarava a
frequentes fugas de escravos também acelerou o processo de abolição. proclamação da República. Enquanto isso, os cafeicultores do Oeste
Até o Exército brasileiro, fortalecido politicamente após a Guerra do Paulista aplaudiam e preparavam-se para participar da montagem do
Paraguai, tinha fortes tendências abolicionistas, não sendo raros os novo regime.
oficiais que desobedeciam às ordens de caça a escravos fugidos.
O movimento abolicionista confundia-se com o crescente
republicanismo, em suas críticas ao Império. Aumentava a agitação
política pelo fim da escravidão, com atividades panfletárias e
jornalísticas nos grandes centros urbanos, especialmente no Rio de
Janeiro.
 Lei Áurea (1888)
O golpe final contra a escravidão foi dado no dia 13 de maio
de 1888, quando a princesa Isabel – à frente do governo na ausência de
dom Pedro II, que viajara ao exterior – assinou a Lei Áurea, libertando
os 723 mil escravos que ainda restavam no país. Esse número
representava 5% da população afrodescendente que vivia no Brasil. Ao
contrário do que desejavam os fazendeiros, eles não foram indenizados
pela perda de seus cativos.
Entre os fazendeiros que ainda defendiam a escravidão, como
os cafeicultores do vale do Paraíba, o sentimento foi de derrota. Muitos
passariam a fazer oposição à monarquia, que cairia no ano seguinte.

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