Você está na página 1de 28

A Guerra da Balaiada (1838-1841)

Adriana Barreto de Souza

Resumo

Entre 1831 e 1840, o Império do Brasil foi governado por regências. O primeiro

imperador, d. Pedro I, que havia assumido a direção do país em 1822, quando de sua

independência, foi forçado a abdicar do trono por um movimento político de base

popular em 7 abril de 1831. O período que tem início com este episódio foi marcado por

uma série de revoltas, que envolveram setores ampliados da sociedade: escravos, índios,

grupos urbanos e rurais pobres, profissionais liberais, grandes e pequenos proprietários.

Nem todas as revoltas, porém, amalgamaram em suas fileiras grupos sociais tão

distintos, menos ainda foram aquelas que tiveram à sua frente lideranças populares. A

Guerra da Balaiada, ou simplesmente Balaiada, ocorrida nas províncias do Maranhão e

Piauí, foi uma dessas revoltas. De caráter multifacetado, contou – ainda que em fases

distintas – com a participação de fazendeiros, escravos e quilombolas, além de ter sido

conduzida por líderes caboclos (perfil típico do norte do Brasil, que vive do trabalho na

roça e na mata) e um negro, que liderou um exército de mais de 3 mil quilombolas.

Esses homens lutavam pela liberdade e por seus direitos de cidadão, discurso

que vinha sendo amplamente mobilizado pelas elites letradas desde a independência.

A ação repressiva vitoriosa (pacificação), colocada em prática a partir de 1840,

investiu em duas estratégias: a partir da difusão de intrigas, procurou remeter cada

grupo a seu lugar social de origem, reconstruindo as hierarquias sociais e,

simbolicamente, investiu na desqualificação da guerra e de suas lideranças, que

entraram para a história como um movimento de bárbaros, cruéis e sanguinários.


Palavras-chave

Balaiada, Maranhão, revoltas regenciais, caboclos, quilombolas, cidadão, liberdade,

pacificação, ordem social.

O Brasil na época das regências (1831-1840)

O episódio que inaugurou o período das Regências foi a abdicação de d. Pedro I,

primeiro imperador do Brasil. O 7 de abril – como ficaria conhecido o movimento que

forçou a renúncia do imperador – reuniu uma multidão de cerca de 4 mil pessoas em

praça pública, no Rio de Janeiro, sede da corte imperial.1 Ainda que urdido no

parlamento, na imprensa e nos quartéis, agrupando políticos de diferentes tendências em

uma ampla frente contra d. Pedro I, o movimento fazia emergir nas ruas da cidade uma

diversidade de atores sociais ávidos por participar. Camadas pobres, brancos, pretos e

pardos, livres e libertos, entraram nessas disputas, produzindo leituras próprias dos

fatos.2

Na ausência de um herdeiro apto a assumir o trono, projetos de Brasil, mais ou

menos formalizados, amplificavam o campo político. Identificados com lutas populares,

entre os grupos mais organizados (os partidos políticos só foram criados em 1837),

havia os liberais exaltados. Apesar de terem protagonizado o 7 de abril, sublevando as

ruas da corte, foram alijados da montagem do governo regencial e, como o voto era

censitário, não conseguiam ter uma representação expressiva no parlamento. Defendiam

– mesmo com nuances – uma sociedade mais justa e igualitária, uma melhor

distribuição de renda, o fim da escravidão e a incorporação das camadas populares à

cidadania.3

No outro extremo, identificados com d. Pedro I, havia os restauradores. Críticos

severos da Abdicação, defendiam uma vertente política de matriz antiliberal, destacando

2
a soberania monárquica em detrimento da nacional ou popular. Interessante é que, na

defesa de seu projeto, também mobilizavam a população. Tal como os exaltados,

partiram para a luta armada e, com essa estratégia, lideraram motins entre 1832 e 1833.

O grupo que assumiu a Regência no 7 de abril foram os liberais moderados. Se

definiam a partir de um comportamento – a moderação. Autorrepresentação, sem

dúvida, retórica. Apresentavam-se ainda como defensores da liberdade. Porém, de uma

liberdade restritiva, entendida apenas como direito de impor limites ao Estado. Uma

liberdade que residia na prevalência da Câmara, da representação nacional, sobre o

Executivo. Durante os cinco anos em que governaram, realizaram várias reformas

institucionais para limitar os poderes da Coroa, criando a Guarda Nacional (cuja

contrapartida foi a desmobilização do Exército) e dando mais autonomia ao Judiciário.

Não previam debates sobre ampliação da participação política. A “rua” era a escória, a

desordem a ser refreada.4

Não por outra razão – e ironicamente – a repressão empreendida pela moderação

foi impiedosa. Seis meses após o 7 de abril, as cadeias da cidade estavam lotadas de

presos políticos e várias lideranças exiladas. Todavia, a crise estava longe de ser

contida. Revoltas mais complexas começavam a se espraiar por diversas províncias. A

Balaiada foi uma delas e, quando a guerra rebentou, em 1838, a conjuntura já era outra.

A morte de d. Pedro I em 1834, em Portugal, mudou significativamente o jogo

político. Afastado o fantasma da restauração, a dissensão se estabeleceu entre os liberais

moderados. Parte do grupo, aliando-se a alguns antigos caramurus, passou a trabalhar

pelo retorno ao modelo de Estado do Primeiro Reinado, forte e centralizador.5

A fim de abrir espaço para esse novo projeto político, o Regresso Conservador –

como o grupo dissidente se intitulava – explorou de forma sistemática o grande medo

gerado pelas revoltas, em especial as de base popular. Associando o que se passava no

3
Brasil às experiências do terror francês e do haitianismo, lutava sistematicamente no

Parlamento para aprovar reformas que redesenhavam a malha administrativa do

Império. A aprovação, criação e implantação das novas instituições, produto dessas

reformas, bem como a reorganização das antigas a partir dos princípios centralizadores,

ampliavam os mecanismos de intervenção do governo do Rio de Janeiro, sede da corte

imperial, sobre as províncias, fomentando novos movimentos de contestação.

Em meio a essa arena totalmente conflagrada, o Regresso Conservador (a partir

de 1837, Partido Conservador) investia em dispositivos simbólicos, se

autorepresentando – no Parlamento e na imprensa – como partido da ordem e da

neutralidade política. Dizia-se defensor dos interesses gerais e, para preservá-los –

orientava Paulino José Soares, grande jurista do Partido – era "preciso calar as vozes

mesquinhas de interesses locais".6 A liberdade só estaria assegurada – como defendia

Bernardo Pereira de Vasconcellos, outra liderança do partido – caso fosse subordinada à

ordem, "a uma perfeita segurança".7

O movimento que mais preocupava os conservadores nesse momento, em fins da

década de 1830, era a Farroupilha. Tendo irrompido em 1835, apenas um ano depois,

seus líderes se declaravam independentes do Império, fundando a República Rio-

Grandense. Todavia, esse não era o único movimento que ameaçava a ordem imperial.

Os cabanos da província do Pará também sustentavam armas desde 1835 e, em 1837,

rebentava em Salvador (capital da província da Bahia) a Sabinada. Para piorar o quadro

de instabilidade política, em 1838, mais um movimento eclodia no norte do Império – a

Balaiada, nas províncias do Maranhão e Piauí. Movimento que gerava um incômodo

particular: ele não só reuniu em suas fileiras – ainda que de forma efêmera –

proprietários, caboclos e quilombolas, como foi conduzido, desde o início, por

lideranças populares.

4
As gentes do Maranhão e sua história

O Brasil do século XIX é geralmente retratado como um país agroexportador e

escravocrata. A realidade, porém, era mais diversa e complexa.8 No Maranhão, a

expansão das grandes lavouras de algodão e arroz, fomentadas pelo mercado europeu,

ocorreu na virada para o século XIX e, logo em seguida, com a crise de 1817, entrou em

declínio. Durante esses anos, houve uma entrada maciça de escravos na província, cerca

de 100 mil africanos, aproximadamente 55% da população por volta de 1822. A mão de

obra escrava era empregada ainda nas fazendas de gado, que ocupavam vastas faixas do

território da província. A colonização se difundia pelo litoral, de Guimarães ao Baixo

Parnaíba, avançando pelo Alto Mearim, Baixo Itapecuru e se estendendo daí para o sul,

margeando a fronteira com o Piauí – região conhecida como Maranhão oriental (veja

figuras 1 e 2).9

[Inserir figura 1. Fig.1: Mapa do Brasil – 1822]

[Inserir figura 2. Fig.2: Mapa do Maranhão, 1838. Fonte: Adaptado de Mathias Röhrig
Assunção, De caboclos a bem-te-vis: formação do campesinato numa sociedade
escravista: Maranhão 1800-1850 (São Paulo: Annablume, 2018)]

Fora das áreas de plantation e criação de gado, havia vilas indígenas oriundas

das antigas missões religiosas que, em finais do século XVIII, tinham sido secularizadas

pela Coroa portuguesa. Paralelamente, desde meados do século, ocorriam frequentes

ondas de migração interna, de habitantes da região nordeste (em especial do Ceará) que

fugiam dos prolongados períodos de seca que assolavam suas terras. Depois de 1820,

com a crise da grande lavoura, formavam-se ainda povoados de negros forros,

crescendo, mesmo nas áreas de plantation, uma população livre pobre. Isso sem contar

as aldeias de quilombolas e as de indígenas insubmissos, de várias etnias, senhores da

parte ocidental da província.

5
Quando em 1838 rebentou a guerra da Balaiada, a população do Maranhão estava,

portanto, distante do padrão tradicionalmente reproduzido de brancos fazendeiros,

negros escravos e indígenas insubmissos. Além de brancos pobres oriundos de outras

províncias, havia ainda indígenas colonizados, negros libertos e livres. Todos integrados

à economia a partir de formas não capitalistas de produção, tendo sua subsistência

complementada pela pesca, coleta e caça nas matas da região, o que lhes garantia certa

autonomia.

As guerras de independência, que no Maranhão ocorreram entre 1823 e 1824,

não só criaram nova onda migratória, como alteraram a dinâmica das relações intra-elite

e de setores desta com a população. Ao contrário do que se costuma imaginar, a

independência do Brasil não foi resultado de uma negociação acordada pacificamente

em 1822. Após a ruptura da corte do Rio de Janeiro, então já sob o comando do príncipe

d. Pedro (filho de d. João VI) e a corte de Lisboa, em várias regiões, como Bahia, Pará,

Piauí e Maranhão, houve resistência. No Maranhão, uma junta governativa fiel à Coroa

e às cortes de Lisboa foi formada em 1822 na cidade de São Luís e, contando com apoio

de tropas do Pará e da Bahia, que já tinham aderido à causa portuguesa, resistia ao

movimento de independência. A notícia de que d. João VI readquiria, em Portugal, seus

poderes absolutos, dividia a junta. Enquanto isso, a partir de março de 1823, forças

militares favoráveis ao Rio de Janeiro, vindas do Piauí e Ceará, ganhavam vilas e

povoados do interior.10

Em agosto de 1823, o Maranhão aderiu formalmente ao Império do Brasil. Mas,

as lutas que levaram à dissolução da antiga ordem estavam longe de ter fim. O primeiro

presidente do Maranhão adotou uma política antiportuguesa radical, quebrando o pacto

intraoligárquico ao recorrer às tropas e à população de cor contra os portugueses, o que

aproximou – pelo medo do haitianismo – grupos mais radicais e tradicionais oligarquias

6
da província. Essa composição viabilizou a nova ordem política, porém, ficou muito

centrada numa aliança entre a elite de São Luís e do Baixo Itapecuru, deixando de fora

do poder regional outros importantes grupos de elite locais, como o da cidade de

Caxias, porta de entrada para a rica região de pecuária de Pastos Bons, no sul da

província.

Todas essas disputas contra portugueses se davam em nome da liberdade,

bandeira incessantemente evocada pela imprensa e pelos “patriotas”, nas guerras. Em

suas fileiras, estavam grupos subalternos, fossem eles negros livres e forros ou brancos

despossuídos. Ao engajarem suas vidas nessas lutas, criavam expectativas, ampliadas

com a promessa, legalmente concretizada pela Constituição de 1824, de se tornarem

cidadãos.11

Essa mobilização contra o despotismo do Antigo Regime, poucos anos depois, a

partir de 1828, se voltaria – como no Rio de Janeiro – contra o primeiro imperador,

ainda na chave do combate a portugueses tiranos. Criava-se, assim, uma tradição de luta

pela causa liberal entre grupos subalternos no Maranhão, que se consolidou com a

sequência de governos liberais entre 1832 e 1837, iniciada após a derrubada de d. Pedro

I.

Foi nessa tradição, e no tênue equilíbrio das relações intra-elite, que a nomeação

em 1837 de um presidente conservador para a província, seguindo a conjuntura

nacional, interferiu. A política centralizadora do novo partido, visando reestruturar a

administração do Estado, esvaziou instituições símbolo da luta liberal, como a justiça de

paz, e criou outras que alteravam integralmente a correlações de forças nas províncias,

removendo os liberais dos principais cargos.12 A Lei dos Prefeitos, aprovada no

Maranhão em 1838, é o melhor exemplo da força dessa reforma. Em ordem decrescente

de alcance jurisdicional, a lei criou para o governo de cada comarca, um prefeito; para

7
cada termo, um subprefeito; e, nos distritos, quantos comissários de polícia o prefeito

julgasse necessário. A todos esses funcionários foram atribuídos amplos poderes,

retirados dos juízes de paz eleitos nos municípios. O executivo municipal ficava, assim,

sob domínio dos prefeitos e, como estes eram nomeados pelos presidentes de província,

eliminava-se qualquer oposição.13

Não demorou, a tradição de luta liberal foi retomada. Não apenas por setores da

elite local, mas também pela população experiente nos combates dos anos anteriores.

A eclosão da guerra: cidadania e luta por direitos

A guerra da Balaiada – de acordo com a versão clássica – começou no dia 13 de

dezembro de 1838, na vila de Manga, quando o mestiço Raimundo Gomes, à frente de

alguns homens, assaltou a cadeia local para libertar seu irmão, preso por homicídio.

Além do irmão, liberou outros presos. A guarda da cadeia não reagiu. Ao contrário,

aderiu ao assalto.14 Há nessa história, porém, detalhes que por muito tempo não foram

contados. A prisão do irmão de Raimundo Gomes ocorreu de forma suspeita. Ele era

vaqueiro e, quando passou pela vila de Manga, tangia com seus companheiros manadas

do patrão. O grupo foi, então, interceptado por oficiais militares, que levaram alguns

como recrutas e o irmão de Gomes preso, por assassinato. Inconformado, Raimundo

Gomes decidiu agir. Primeiro, oficialmente. Enviou ao subprefeito uma petição. Nela

explicava o que julgava ser um mal-entendido. O subprefeito, um cabano (apelido dos

conservadores) indeferiu o pedido. Só, então, Raimundo Gomes partiu para o assalto.15

Esses detalhes trazem dois elementos importantes para se entender as

insatisfações que moviam esses homens. Uma delas é o recrutamento militar.

Popularmente conhecido como caçada humana, durante o século XIX o recrutamento

era realizado à revelia e com extrema violência.16 Tratava-se de um imposto a ser pago

8
pela população pobre que, sem renda, devia servir ao Estado. Problema tão central na

vida desses homens que também se acha na raiz do levante de Manuel Francisco dos

Anjos Ferreira, o Balaio.17 O caboclo, que vivia de sua roça e dos balaios (cestos de

palha) que fazia para vender, já era velho quando viu seu filho ser algemado e levado

como recruta. Apesar da idade, não pensou duas vezes. Reuniu alguns homens e,

armados, renderam a diligência, liberando seu filho e outros recrutas. A partir daí, a

briga pessoal ganhou sentido coletivo, o caboclo andava com seus homens, por estradas

e matas, assaltando diligências e liberando recrutas.

Raimundo Gomes, o Balaio e seus seguidores foram retratados pela

historiografia como bandidos, cruéis e inescrupulosos. A própria cunhagem do termo

Balaiada para designar o movimento busca fixar essa memória, da violência

desenfreada.18 Porém, a imagem de bandidos é nitidamente um meio de justificar, num

primeiro momento, o recrutamento. Depois, a dura repressão contra o movimento. Se o

Balaio era um caboclo, que vivia do cultivo da terra e extração nas matas, Raimundo

Gomes era vaqueiro. Ele administrava a fazenda de um padre, liberal de prestígio na

província. Esse é o segundo ponto importante da narrativa: a arbitrariedade a que esses

grupos subalternos estavam sujeitos.19 O recrutamento também era usado como

instrumento de perseguição política, sendo comum recrutar-se funcionários e

apadrinhados de nomes da oposição.

O sucesso da ação de Raimundo Gomes na vila de Manga transformou o

episódio num movimento ao qual foram se juntando, progressivamente, diferentes

grupos. Esse é um traço da guerra da Balaiada, foi um movimento socialmente

heterogêneo.20 Além de grupos de caboclos e vaqueiros, chefiados por diferentes

lideranças, a eles se juntaram, no início da guerra, fazendeiros e escravos. Um perfil

bastante incomum. A participação dos grupos variava de acordo com a região. O núcleo

9
da revolta foi o Maranhão oriental, onde havia uma concentração de população livre de

cor. Atingiu também áreas centrais da grande lavoura no Baixo Itapecuru, bem próximo

a São Luís, onde os rebeldes foram recrutados entre escravos das fazendas, índios,

caboclos e negros livres dos povoados da região. Ainda que tenha se desenvolvido de

forma paralela, com o avanço da revolta, os quilombos se multiplicavam.

O rio Paranaíba, que demarca a fronteira entre o Maranhão e o Piauí, não era

obstáculo. Os rebeldes o cruzavam de uma margem a outra e a revolta se estendeu por

quase toda o território do Piauí, tomando suas matas, vales e ribeiras dos principais rios,

além de povoações e vilas inteiras. Na verdade, foi no Piauí que houve a maior adesão

de fazendeiros abastados, todos articulados por Lívio Lopes Castello Branco, um

rebelde proeminente. Lutavam contra o barão da Parnaíba, que governava a província

desde 1823, tendo constituído ao longo desses anos uma ampla rede clientelista.21 No

sul do Maranhão, fazendeiros liberais também empunharam armas, mobilizando seus

escravos para a guerra.22

Muitos desses homens lutaram nas guerras de independência. Entre as

lideranças, participações certas foram a de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o

Balaio, e a do chefe Matroá. Em 1838, retomavam o ideário daqueles anos. Com

exceção dos fazendeiros – sobretudo os do Piauí, mais focados em derrubar o barão da

Parnaíba –, grande parte dos rebeldes identificava os conservadores com o “português

tirano”. Já os liberais, em função de sua tradição de luta, ainda gozavam de prestígio,

sendo identificados como defensores dos direitos dos cidadãos. Daí os rebeldes

reivindicaram para si a denominação dos liberais do Maranhão: bem-te-vis.23

Esse alinhamento político e o conjunto das reivindicações rebeldes ficam claros

no manifesto lançado por Raimundo Gomes logo após o assalto à prisão da vila de

Manga. Nele, a primeira exigência do líder balaio era a de que se garantisse a

10
Constituição e os direitos dos cidadãos. Em seguida, a lista deixa entrever o que – para

eles – seriam esses direitos. Exigiam a revogação da lei dos prefeitos, a fixação de

processo regular para os presos, a expulsão os portugueses solteiros, anistia para os

revoltosos, pagamento do soldo para as tropas rebeldes e confirmação dos oficiais

rebeldes em seus postos.24

As três primeiras reivindicações explicitam a base liberal da revolta e o quanto o

recrutamento forçado e as arbitrariedades das autoridades locais estiveram na origem do

movimento. Com a nova lei, fruto da reforma conservadora, o recrutamento bem como

o policiamento tornaram-se atribuições dos prefeitos. E, com a propagação das revoltas

pelo território do Império (em 1838, as províncias do Pará, Bahia e Rio Grande do Sul

também estavam conflagradas), a necessidade de homens para o Exército ampliou as

ações de recrutamento e, com elas, as arbitrariedades contra a população pobre.

A Constituição de 1824, ao revogar finalmente o dispositivo colonial da

“mancha de sangue”, considerando todos os cidadãos iguais perante a lei, criou

especialmente entre negros livres e libertos a expectativa de que, a partir de então, o

mérito regeria o acesso às instituições, inclusive, aos postos superiores das forças

militares.25

Em 1838, vendo-se como liberais (bem-te-vis), que travavam uma guerra contra

os conservadores (cabanos), os revoltosos imaginavam que lideranças liberais

assumiriam a direção do movimento. No entanto, os líderes do Partido Liberal de São

Luís logo se distanciaram da revolta e, no interior, os liberais adotaram uma postura

ambivalente. Se, no início, muitos aderiram, depois, quando se viram diante das forças

da legalidade, afirmaram que sua adesão tinha sido forçada pela violência dos ataques

rebeldes.26

11
O movimento seguia, assim, conduzido por lideranças populares sob o comando,

ainda que frágil, de Raimundo Gomes. As operações rebeldes continuaram marcadas

por êxitos sucessivos. Ocupando a cidade de Brejo, já abandonada por seus habitantes,

os rebeldes avançaram por várias frentes sobre Caxias e, em agosto de 1839, após quase

três meses de cerco, a cidade – a segunda da província em importância econômica – se

rendeu. De ambas as partes, a violência generalizou-se.27 Os rebeldes, a fim de

definirem a situação, organizaram um Conselho Militar e uma Junta Provisória,

integrada também por políticos locais. Em seguida, enviaram uma deputação à capital

São Luís para entregar ao governo as condições para a negociação da paz. Os termos de

paz, porém, não foram aceitos e a luta prosseguiu, com o crescente aumento das fileiras

rebeldes.

A estimativa é de que o movimento chegou a contar com 11 mil homens em

armas.28 As notícias do avanço rebelde chegaram ao Parlamento, no Rio de Janeiro e,

em dezembro de 1839, o Partido Conservador, então à frente da direção do Império,

decidiu lançar mão de uma antiga estratégia de força de d. Pedro I. Enviou para a região

uma “força de pacificação” cujo comandante acumularia a direção militar e civil da

província, sendo nomeado para o Comando de Armas e para a Presidência do

Maranhão: o coronel Luiz Alves de Lima e Silva (futuro duque de Caxias), que chegou

a São Luís em fevereiro de 1840.

O avanço das forças de repressão

O coronel Lima foi recepcionado em São Luís por autoridades de ambos os partidos –

liberal e conservador. Após um ano de rebelião, a economia da província estava falida e

sua estrutura escravocrata com sérias fissuras. A elite decidia superar as divergências

para reprimir o movimento.29 Porém, ao contrário do que se poderia imaginar, o coronel

12
Lima não capitaneou essa disposição para iniciar de imediato o combate aos rebeldes.

Com a ajuda de seu secretário, Domingos José Gonçalves de Magalhães (então, um

poeta renomado), o coronel elaborou um programa de intervenção militar e política.

Além de por fim à revolta, pretendia instituir um exercício regular de dominação, que

submetesse de forma duradoura o Maranhão ao governo imperial.30 A população da

província deveria ser alvo de uma ação firme, orientada por princípios hierárquicos.

Como parte expressiva da elite, o coronel Lima e seu secretário acreditavam que as

pessoas eram constituídas de matéria de qualidades distintas, e que esse princípio

deveria organizar a vida pública.31 Se, no início da revolta, proprietários foram capazes

de se aliar a caboclos e escravos, o fizeram – na avaliação de ambos – porque não

reconheciam seu lugar social. Caberia à ação pacificadora, assim, assumir um papel

pedagógico face a essa elite rebelde.

Não à toa, a primeira ação empreendida pelo coronel Lima no Maranhão

voltava-se para a elite. Em suas proclamações, o coronel afirmava a irresponsabilidade

dos que haviam aderido as fileiras rebeldes e que, em sociedades civilizadas, aos

“proprietários cabe cultivar a paz, condição da riqueza”. Se, com isso, procurava

ensinar à elite como se comportar para manter essa ordem social desigual, por outro

lado, colocava-se em um lugar externo às disputas. Apresentava-se como “agente

neutro”, que estava ali não para defender partidos, mas para mostrar as vantagens da

cultura civilizada que, em economia, significava prosperidade. Dissimulava, assim,

seus vínculos políticos e apresentava os princípios conservadores de governo como

nacionais.32

Desse raciocínio, adveio a primeira ação propriamente militar do coronel na

região: usou as forças militares para restaurar a navegação no rio Itapecuru,

interceptada pelos rebeldes. Ao desbloquear o rio, a guerra liberava o mais rápido e

13
barato acesso ao interior da província, por onde passariam mercadorias e, junto com

elas, as forças de repressão. Só após essa ação, o coronel decidiu deixar a capital,

iniciando a guerra pelas vilas que formavam uma espécie de cinturão de proteção a São

Luís: Icatu, Rosário e Itapecuru-Mirim.33 Cinturão geográfico que delimitava também

uma fronteira social. A partir daí, as correspondências oficiais do coronel não falavam

mais dos “maranhenses”. As palavras usadas eram outras: "mestiços", "bandidos" ou,

simplesmente, "facínoras". Alterava-se também a estratégia pacificadora. Entre os

meses de junho e julho de 1840, a repressão se intensificou, resultando em inúmeras

prisões e centenas de mortos. Os caboclos e negros quilombolas respondiam à altura,

retomando práticas usadas no início da guerra. Raimundo Gomes voltava a incendiar

fazendas, sublevando escravos para lhes ensinar a técnica e multiplicar os incêndios a

propriedades da região.34

Desde finais de 1839, a guerra – que sempre foi composta por diferentes grupos

com seus respectivos líderes – contava com mais uma liderança. Cosme Bento da

Chagas, conhecido como Negro Cosme, organizou um exército de 3 mil quilombolas,

intitulando-se tutor e imperador da liberdade.35 Os escravos também haviam participado

das lutas de independência e, desde antes da eclosão da Balaiada, grupos de

quilombolas atacavam fazendas e lutavam contra diligências montadas para capturá-los.

Mas, só em novembro de 1839, aparecem as primeiras notícias sobre o quilombo de

Negro Cosme e a ação mais firme do grupo, já agigantado por numerosas adesões, data

de julho de 1840.

Daí a preocupação do coronel Lima que, em fins de julho, já informava ao

ministro da Guerra como era difícil manter ânimo ativo diante da formação dessa "liga

aterradora" de caboclos e quilombolas. Decidiu, então, contra-atacar. Paralelamente à

14
repressão militar, contratou espias para desfazer essa liga, despertando a “indisposição

contra os negros” e introduzindo “a cizânia entre os rebeldes”.36

Essa ação – mais o aliciamento por meio de subornos – permitiu o

desbaratamento das tropas de Raimundo Gomes. Os líderes Pedrosa e Cândido do Lago

são nominalmente citados em uma lista de "despesas secretas" do coronel Lima. Mas, o

acordo com esses chefes rebeldes não foi de rendição imediata. Antes de se

apresentarem, deveriam "bater os negros". Assim, além de obter ótimos aliados na caça

aos escravos, que conheciam bem as matas do Maranhão, o coronel Lima pretendia

ensinar aos caboclos a respeitar as fronteiras sociais. Com eles, havia acerto possível.

Mas, com os quilombolas, não.

Enquanto o coronel Lima seguia com suas novas estratégias no Maranhão, no

Rio de Janeiro, um golpe antecipava a maioridade do príncipe d. Pedro (filho de d.

Pedro I). O fato tensionou a fase final da pacificação. Um mês após assumir o trono, no

dia 22 de agosto, d. Pedro II assinou um decreto amplo de anistia. No mesmo dia, uma

cópia foi enviada para o Maranhão. Preocupado com o teor do decreto, o coronel Lima

optou por não o publicar imediatamente na província. Antes, escreveu ao ministro da

Justiça, solicitando esclarecimento sobre “os rebeldes que juntam ao crime de rebelião,

frios assassinatos”. Apontava para o risco de a anistia arrastar os proprietários mais uma

vez para o conflito.37

Ainda que o coronel estivesse de fato preocupado com os efeitos da anistia na

província, ele pessoalmente não concordava com o decreto. Dizia-se solidário à dor das

“tristes vítimas”. A anistia, para ele, deveria ser aplicada apenas aos “rebeldes

políticos”, e essa era uma diferença importante para o coronel. A guerra dos caboclos,

vaqueiros e quilombolas era de “bandidos”, só a guerra dos proprietários era “política”.

15
Enquanto aguardava a resposta do Rio de Janeiro, o coronel Lima prosseguiu

com sua política pacificadora. Só em novembro publicou o decreto imperial. Mesmo

assim, para fazê-lo, se cercou de cuidados. Temia sobretudo a reação dos moradores de

Caxias. Os maiores atentados – em sua opinião – tinham ocorrido nessa cidade. Por

isso, decidiu ir, ele próprio, levar a notícia. Procurava, assim, acalmar os ânimos mais

exaltados.

Tão logo encaminhou a crise na cidade, mandou imprimir o decreto e espalhá-lo

por toda a província. A intenção era alcançar os rebeldes que se achavam na mata.38

Se não fosse por Raimundo Gomes e pelo negro Cosme das Chagas, o coronel

Lima poderia considerar a província pacificada. Decidiu, então, organizar uma grande

força militar para bater a região de Miritiba, em cujas matas, segundo se dizia, estava o

chefe rebelde e seu bando. Vendo-se cercado e vitimado pela fome, no dia 7 de janeiro

de 1841, Raimundo Gomes pediu, por um emissário, para ser perdoado por seus

crimes.39

Cumprindo o decreto de anistia, o coronel Lima mandou dizer que ele podia se

apresentar sem medo, fixando o dia 20 de janeiro como data limite. Comprometia-se

ainda a embarcar os homens e a família de Raimundo Gomes para o “sul”. O recurso

também estava previsto no decreto de anistia. Para tal, bastava que o rebelde assinasse

um "termo de evacuação", se comprometendo a residir fora da província. O fato de

Raimundo Gomes ter enviado um bilhete por um emissário, solicitando perdão, foi

entendido pelo coronel Lima como um recado, de que ele não se entregaria senão ao

próprio coronel. Seguiu, assim, para Miritiba. Só então, após tantos esforços e

recorrendo mais uma vez à força de sua presença, conseguiu “arrancar daquelas matas o

chefe dos sediciosos”.

A “guerra civil” – afirmava o coronel – estava encerrada.

16
O sentido da pacificação

O coronel Luiz Alves de Lima e Silva voltou para São Luís com Raimundo Gomes

preso, e só lá o anistiou. Tendo em vista os "crimes" que cometeu, o coronel

considerava a anistia lucro para o rebelde. O termo de evacuação que foi obrigado a

assinar era de oito anos, e Raimundo Gomes decidiu ir para a província de São Paulo.

Lá, pretendia encontrar sua família, embarcada alguns dias antes, o que acabou não

acontecendo.

Durante a viagem, Raimundo Gomes foi assassinado. Até onde nos foi dado

saber, o caso não gerou processo e, portanto, nunca foi apurado. Isso nos tira a

possibilidade de fazer uma análise precisa dos fatos. Porém, a lógica política que os

sustenta está dada. Se legalmente a anistia era obrigatória, o desejo de vingança dos

proprietários da província talvez tenha se realizado pela via da ilegalidade. E, como esse

desejo era tido por justo, inclusive pelo coronel Lima, comandante das forças de

repressão, a apuração pode ter sido dispensada. Avançando um pouco nesse trabalho

sobre conjecturas, face à falta de fontes documentais, é possível ainda imaginar que a

morte de Raimundo Gomes tenha sido um dos ajustes realizados pelo próprio coronel

Lima quando – preocupado com a reação da elite local – decidiu ir pessoalmente a

Caxias. Afinal, após algumas conversas, ele se sentiu mais confiante para publicar o

decreto imperial de anistia na província.

Manuel Francisco dos Anjos, o Balaio, já havia morrido há mais de um ano, em

outubro de 1839, em meio às batalhas pela retomada da cidade de Caxias.

Cosme Bento das Chagas, o líder dos quilombolas, após ter sido perseguido por

chefes rebeldes, foi capturado em fevereiro de 1841, tendo permanecido preso por mais

17
de um ano até ser executado em setembro de 1842. Negro Cosme tinha conhecido a

escravidão, foi alforriado provavelmente antes de 1830. Para ele, não houve anistia.40

O coronel Lima não acompanhou sua execução. Em junho de 1841, bem antes

do julgamento de Cosme, já embarcava de volta à corte imperial. Tão logo chegou, d.

Pedro II o promoveu a brigadeiro – primeira patente do generalato – e o admitiu nos

círculos da nobreza como barão de Caxias, celebrando a tomada da cidade foco da

resistência liberal. Sua carreira apenas se iniciava. Ele entraria para a história como

pacificador do Brasil.

Essa pacificação se construía, porém, a partir de um princípio restritivo e

desigual de liberdade. Restritivo porque, além de conviver com a escravidão, estava

subordinado à ordem. Desigual porque articulado em torno da retórica da autoridade

civilizatória.41 Ao se autorepresentar como nacional e entabular uma pacificação, os

conservadores do Rio de Janeiro procuravam evidenciar a incapacidade da elite

maranhense para exercer, sem influência do governo central, a direção da província. A

intervenção tornava-se, desse modo, uma peça fundamental para que a civilização

alcançasse com suas luzes os sertões, resgatando-os da barbárie. Em condições normais,

essa intervenção civilizadora se daria pela via da administração e, em casos limite, por

meio da guerra.

Distanciando-se – como ação civilizatória – do propósito de unicamente eliminar

o inimigo, pacificar implicava também em sua submissão.42 Proprietários, vaqueiros,

caboclos e escravos deveriam se submeter ao ordenamento social proposto pelo “agente

pacificador”, apresentado como único legítimo, distante das paixões políticas e engajado

tão somente na prosperidade nacional. Uma submissão que era também simbólica. Daí o

empenho do poeta e secretário do governo, Domingos José Gonçalves de Magalhães,

em deixar dois relatos para a posteridade. Um viria em forma de ode, e cantaria os

18
sucessos de Luiz Alves de Lima e Silva, erguendo-o como o salvador do Maranhão. Já à

Balaiada, as páginas de sua “memória histórica” consagrariam a imagem de um

movimento infrene, feito por uma gente ociosa e sanguinária guiada por mãos ocultas

(liberais).43

Revisão da literatura

As primeiras narrativas sobre a Balaiada são memorialistas, elaboradas por dois atores

com participação ativa nos eventos e posições políticas opostas. João Francisco Lisboa

– jornalista, escritor e um dos líderes do Partido Liberal de São Luís – dirigia à época o

jornal Crônica Maranhense.44 Foi em suas páginas, célebres por seu tom combativo,

que Lisboa narrou, de forma viva e engajada, as lutas políticas daqueles anos. Como

liberal, o jornalista responsabilizou o despotismo conservador, expresso especialmente

na lei dos prefeitos, pela eclosão da rebelião, lançando uma interpretação que,

posteriormente, se consolidaria na historiografia. No campo político oposto, Domingos

José Gonçalves de Magalhães rebateu essa versão dos fatos. Como secretário do

governo e braço direito de Luiz Alves de Lima e Silva na província, se esforçou por

despolitizar o movimento na memória que escreveu ainda durante a rebelião e foram

publicadas alguns anos depois, em 1848.45 Tendo – segundo conta – realizado um

trabalho de pesquisa nos jornais locais, Gonçalves de Magalhães responsabilizava a elite

maranhense, sem distinguir partidos, pela revolta. Segundo ele, o Maranhão era uma

sociedade de brutos, brutalidade cultivada por fazendeiros e políticos para resolver rixas

pessoais. Criavam, com isso, “cardumes de homens ociosos”, dedicados “à rapina e à

caça”. Os escravos também, só se rebelavam – afirmava o secretário – por conta do

bárbaro rigor com que eram tratados.46

19
Muito provavelmente, foi essa visão dos fatos que fundamentou a “estratégia de

neutralidade” adotada por Luiz Alves de Lima no Maranhão, tendo se mostrado, ainda

durante os eventos, uma interpretação politicamente eficiente para o Partido

Conservador e, depois, quando da publicação do livro, comprovadamente bem

sucedida.47

Mas não há só divergências entre as duas linhas interpretativas. Ambas vêem de

forma muito semelhante os grupos subalternos da sociedade: são homens “sem freios” e

violentos, que agiam de forma instintiva, movidos por paixões. Gonçalves de

Magalhães, porém, vai um pouco além. Afirma a incapacidade desses homens de

agirem por conta própria, vendo na rebelião a mão oculta dos liberais. Leitura rechaçada

por estes.

Uma segunda geração de escritores retoma o debate no início do século XX,

com destaque para a obra monumental de José Ribeiro do Amaral, fundamentada numa

vasta pesquisa em documentação oficial. Seus “Apontamentos para a história da

revolução da Balaiada na província do Maranhão”, em três volumes, publicados entre

1898 e 1906, se tornou, ao lado da Crônica Maranhense e da memória de Gonçalves de

Magalhães, referência e base de grande parte das narrativas que viriam

posteriormente.48

Ainda integrando essa geração, outro destaque é o livro de Carlota Carvalho,

publicado em 1924 e intitulado “O sertão”. Ele foi o primeiro a elaborar uma outra

imagem dos rebeldes, moderada e política. Inclusive, Carlota Carvalho foi também a

primeira escritora a associar as aspirações políticas dos rebeldes ao contexto das guerras

de independência, chamando atenção para o fato de que o líder Balaio havia participado

daquelas lutas ao lado dos patriotas.49 Uma linha seguida, alguns anos depois, em 1948,

por Astolfo Serra, no livro “A Balaiada”. Serra também se empenhou na reabilitação da

20
imagem dos líderes rebeldes. Reconstruiu a trajetória de vários deles para opor à

imagem de bandidos ou de vagabundos ociosos a de trabalhadores sertanejos em busca

de justiça. O mesmo olhar dedicou ao Negro Cosme, descrito por Serra como um “líder

de grande prestígio”, um “perfeito comandante”, um “chefe à altura da gente que

dirigia”.50

A partir da década de 1970, quando as pesquisas no Brasil já possuíam formato

acadêmico, uma importante contribuição foi a de Maria Januária Vilela dos Santos. Em

livro publicado em 1983, resultado de sua tese de doutoramento, a autora foi a primeira

a aprofundar a análise da participação escrava na revolta, mostrando a aproximação

entre rebeldes e escravos e a recusa daqueles de incluir em suas lutas o tema da

escravidão.51

Quatro anos depois, em 1987, era publicado o livro de Maria de Lourdes

Mônaco Janotti, intitulado a “Balaiada”. Voltado para um público mais amplo, o livro

inseriu o movimento no contexto das lutas regenciais e, ao invés de condenar esse

período da história do Brasil – tal como fazia a historiografia – como sendo “de triste

memória”, a autora destacou a importância desses movimentos para a formação social

brasileira.52

Resultado de uma tese de doutorado defendida em 1990, na Alemanha,

referência crucial é a pesquisa de Mathias Röhrig Assunção. De forma original,

combinando uma vasta pesquisa em arquivos com um meticuloso trabalho sobre

memória oral, o autor interpretou a Balaiada como movimento camponês. A partir da

análise de um complexo mosaico de identidades locais, de exploradores e explorados

por múltiplas formas não capitalistas de produção, Mathias Assunção viu a eclosão da

Balaiada como resultado de disputas por terra, pela apropriação de mão-de-obra, mas

sobretudo como resultado de uma mobilização – fundada em um liberalismo exaltado –

21
da população livre e pobre em busca de cidadania e contra a discriminação de pretos e

pardos pelas autoridades locais.53

Por fim, com recorte temático mais específico, é publicada em 2008 a pesquisa

de Mundinha Araújo sobre a trajetória de Cosme Bento das Chagas. Resultado de uma

meticulosa pesquisa em arquivos, o livro procura recompor a trajetória do líder negro a

fim de desconstruir a imagem de monstro infrene, consolidada por uma história oficial.

Ainda em 2008, outra pesquisa com recorte biográfico foi publicada: uma tese de

doutorado sobre a trajetória de Luiz Alves de Lima e Silva, de minha autoria.54 Ao

analisar as estratégias repressoras do general que se tornaria um século depois patrono

do Exército brasileiro, sendo intitulado “Pacificador do Brasil”, foi possível entender

não só como se deu a desarticulação do movimento, mas também como a vitória sobre

os balaios definia uma nova forma de ação militar que consolidaria o projeto político

conservador. Projeto que fundaria o Estado brasileiro a partir de em uma visão restritiva

e desigual da liberdade.

Fontes primárias

As principais coleções documentais sobre a Guerra da Balaiada estão depositadas em

dois arquivos no Brasil. No Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, a concentração maior

de documentos está na Coleção Caxias. Trata-se de uma coleção criada na década de

1920 com toda a correspondência oficial de Luiz Alves de Lima e Silva, oficial que

reprimiu a revolta. A organização das caixas e maços documentais é cronológica,

correspondendo aos cargos por ele ocupados. Há ofícios do então comandante de armas

e presidente do Maranhão para diferentes autoridades da corte imperial (ministro da

justiça, ministro da guerra, ministro do império, etc) e destas para ele. Para o período

anterior a sua chegada ao Maranhão, o mesmo tipo de documentação pode ser

encontrado nas correspondências dos presidentes de província e nos fundos relativos a

22
cada pasta ministerial do Império. Além disso, vale ainda pesquisar na documentação

relativa ao Comando de Armas da província do Maranhão, sobretudo a troca de ofícios

com o Ministério da Guerra.

Outro arquivo crucial é o Arquivo Público do Estado do Maranhão, situado na

cidade de São Luís. Nele podemos encontrar outro tipo de documentação, mais ligada a

problemas cotidianos da província e de seus municípios. Há ofícios dos juízes da paz,

das câmaras municipais, dos comandantes militares das vilas, dos prefeitos e

subprefeitos das comarcas, dos juízes de direito, além das correspondências dos

comandantes das colunas militares em operações e da guarnição da capital. Destaco

aqui um material mais raro, as correspondências dos rebeldes, em especial de Raimundo

Gomes. Por sua natureza local, é possível encontrar nessa documentação narrativas

detalhadas de disputas e conflitos. Os conselheiros municipais são particularmente

minuciosos em seus relatos. Às vezes, essa documentação sobe (isso ocorre com mais

frequência em períodos de convulsão social), nas trocas de ofícios com autoridades do

poder central, para o Rio de Janeiro. Além disso, há ofícios dos presidentes de província

com diversas autoridades do poder central que ficaram no Maranhão. Muitas são cópias.

Porém, para a realização de um estudo completo da Balaiada, o cruzamento das fontes

do Arquivo Público do Estado do Maranhão com as que estão depositadas no Arquivo

Nacional é uma estratégia importante.

Na seção de cartografia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, encontram-se

mapas da província do Maranhão. Destaco dois deles, produzidos ainda durante a guerra

da Balaiada: a “carta geral da província do Maranhão dividida em oito comarcas”, de

1838, e a “carta geral do província do Maranhão de 1841”, mandada fazer pelo próprio

coronel Luiz Alves de Lima e Silva para instruir suas ações na província.

23
Há ainda um conjunto documental impresso bastante diversificado. Alguns

deles estão disponíveis on-line: anais da Câmara dos Deputados, anais do Senado,

relatórios dos presidentes de província, relatórios ministeriais e a coleção de leis do

Império do Brasil. Outro material valioso está na base de dados da Hemeroteca Digital

da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o maior acervo de periódicos do Brasil.

Entretanto, alguns jornais locais só podem ser encontrados em São Luís do Maranhão,

na Biblioteca Pública Benedito Leite. Vale uma leitura cuidadosa os jornais: Bem-te-vi

(1838), Publicador Oficial (1841), Publicador Maranhense (1842), Jornal Maranhense

(1841-1842), além do tradicional Crônica Maranhense (1839-1841), disponível na

Hemeroteca Digital.

Por fim, há dois relatos de época preciosos: “O Jornal de Timon”, do escritor,

político e jornalista liberal João Francisco Lisboa55 e “Memória histórica da revolução

da província do Maranhão”, do poeta, professor, médico e político conservador

Domingos José Gonçalves de Magalhães.56 Destaca-se o fato de este último ter sido

ainda secretário de governo de Luiz Alves de Lima e Silva. O livro é resultado dos

estudos que realizou logo que chegou no Maranhão para orientar a campanha militar e o

governo civil do então coronel Lima, futuro duque de Caxias. Ambos disponíveis on-

line em diferentes edições.

Links para materiais digitais

Anais da Câmara dos Deputados:

https://imagem.camara.leg.br/diarios.asp?selCodColecaoCsv=A

Anais do Senado Imperial:

https://www.senado.leg.br/publicacoes/anais/asp/IP_AnaisImperio_digitalizados.asp

Relatórios dos presidentes de província:

24
http://ddsnext.crl.edu/titles?f%5B0%5D=collection%3ABrazilian%20Government%20Documen
ts&f%5B1%5D=grouping%3AProvincial%20Presidential%20Reports

Relatórios ministeriais do Império:


http://ddsnext.crl.edu/titles?f%5B0%5D=collection%3ABrazilian%20Government%20Documen
ts&f%5B1%5D=grouping%3AMinisterial%20Reports

Periódicos:
https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

Coleção de Leis do Império do Brasil:


https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio
Atlas do Império do Brasil, de 1862:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/179473

Jornal do Timon, de João Francisco Lisboa:


https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1098

Memória histórica da revolução da província do Maranhão, de Domingos José


Gonçalves de Magalhães:
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4156

Leitura Adicional:

Araújo, Mundinha. Em busca de Dom Cosme Bento das Chagas – Negro Cosme: tutor e

imperador da liberdade. Imperatriz: Ética, 2008.

Assunção, Mathias Röhrig. De caboclos a bem-te-vis: formação do campesinato numa

sociedade escravista: Maranhão 1800-1850. São Paulo: Annablume, 2018.

_______ . “Elite Politics and Popular Rebellion in the Construction of Post-colonial

Order. The case of Maranhão, Brazil (1820–41)”. Journal of Latin American Studies.

31(1999), 1-38.

25
Dias, Claudete Maria Miranda. Balaios e bem-te-vis: a guerrilha sertaneja. Teresina:

Instituto Dom Barreto, 2002.

Janotti, Maria de Lourdes Mônaco. A Balaiada. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

Mattos, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 2000.

Nunes, Odilon. Pesquisa para a história do Piauí. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.

Oliveira, Maria Amália Freitas de. Balaiada no Piauí. Teresina: Projeto Petrônio

Portella, 1985.Santos, Maria Januária Vilela dos. A Balaiada e a insurreição de escravos

no Maranhão. São Paulo: Ática, 1983.

Souza, Adriana Barreto de. Duque de Caxias: o homem por trás do monumento. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

Notas
1
Um bom relato de época sobre o 7 de abril é o texto de Silvério Cândido de Faria, Breve História dos
felizes acontecimentos políticos no Rio de Janeiro em os sempre memoráveis dias 6, 7 de abril de 1831
(Rio de Janeiro: Typographia de Thomas B. Hunt e C., 1831).
2
Marco Morel, O período das Regências (1831-1840) (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003).
3
Sobre os vários grupos políticos nos primeiros anos da Regência, ver: Marco Morel, As Transformações
dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820 - 1840) (São
Paulo: Hucitec, 2005); Marcello Otávio Neri Basile, O Império em construção: projetos de Brasil e a
ação política na corte regencial (Rio de Janeiro: tese de doutorado, PPGHIS/UFRJ, 2004).
4
Para o conceito de liberdade dos liberais moderados, além de Marco Morel e Marcello Basile: Ilmar
Rohloff de Mattos, O tempo saquarema: a formação do Estado imperial (São Paulo: Hucitec, 1990). Para
a reforma dos órgãos de repressão: Adriana Barreto de Souza, Duque de Caxias: o homem por trás do
monumento (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008). Já para a reforma no Judiciário: Thomas Flory,
El juez de paz y el jurado em el Brasil imperial (México: Fondo de Cultura Económica, S.A, 1986).
5
Referências para o pensamento político conservador são: José Murilo de Carvalho, A Construção da
Ordem: a elite política imperial; Teatro de Sombras: a política imperial (Rio de Janeiro: Editora UFRJ
Relume-Dumará, 1996); Ilmar Rohloff de Mattos, O Tempo Saquarema: a formação do Estado Imperial
(São Paulo: Editora Hucitec, 2004); Jeffrey Needell, The party of order: the conservatives, the state, and
slavery in the brazilian monarchy, 1831-1871 (California: Stanford University Press, 2006).
6
Relatório do Ministério da Justiça do ano de 1843 apresentado à Assembleia Legislativa pelo ministro
Paulino José Soares na sessão de 11 de janeiro de 1843. p.4.
7
Anais da Câmara dos Deputados, sessão de 12 de maio de 1838.
8
Nas últimas décadas, várias pesquisas vêm evidenciando a existência de um mercado interno e de uma
variedade de formas não capitalistas de produção na economia colonial e das primeiras décadas do século
XIX. Obra central nesse debate é João Luís Fragoso, Homens de grossa aventura: acumulação e
hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro, 1790-1830 (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1998).

26
9
Para uma história da formação econômica e demográfica do Maranhão, referência obrigatória é Mathias
Röhrig Assunção, De caboclos a bem-te-vis: formação do campesinato numa sociedade escravista:
Maranhão 1800-1850 (São Paulo: Annablume, 2018), 59-64.
10
Sobre a independência no Maranhão, ver: Arthur Cézar Pereira Reis, O Grão Pará e o Maranhão, in
Sérgio Buarque de Holanda, História Geral da Civilização Brasileira (São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1967), tomo 2, 71-172. Mathias Röhrig Assunção, Miguel Bruce e os “horrores da anarquia” no
Maranhão, 1822-1827, in István Jancsó, Independência: história e historiografia (São Paulo: Editora
Hucitec, 2005), 345-378. Assunção, De caboclos, 285-293.
11
Sobre a participação de grupos subalternos na Independência do Brasil, ver: João José Reis,
“Quilombos e revoltas escravas no Brasil”, Revista USP, nº 28 (1995/1996): 14-39; Macus Carvalho,
Liberdade. Rotinas e rupturas no escravismo (Recife: Editora Universitária da UFPE, 1998); Gladys
Sabina Ribeiro, “O desejo de liberdade e a participação de homens livres pobres e ‘de cor’ na
independência do Brasil”, Cadernos Cedes, v.22. nº 58 (2002): 21-45.
12
Vale ressaltar que até 1837 não havia partidos políticos constituídos como organizações estruturadas no
Brasil. No Maranhão, em 1838, o que havia eram facções que, no caso conservador, mantinha certa
continuidade com os absolutistas do período da independência, os portugueses que apoiavam o
autoritarismo de d. Pedro I e os restauradores de 1831-34. Assunção, De caboclos, 317.
13
Holanda, História, 158; Maria Januária Vilela dos Santos, A Balaiada e a insurreição de escravos no
Maranhão (São Paulo: Ática, 1983), 74.
14
Essa narrativa surge pela primeira vez ainda em 1858. Ver: Domingos José Gonçalves de Magalhães,
Memória histórica da revolução da província do Maranhão (São Luís: Typographia do Progresso, 1858).
15
Holanda, História, 159-160.
16
Há uma vasta historiografia sobre a violência do recrutamento no Brasil. Ver em especial: Michael C.
McBeth. “The Brazilian Recruit during the First Empire: Slave or Soldier?”, in Daril Alden, Warren Dean
(Eds.). Essays Concerning the Socioeconomic History of Brazil and Portuguese India (Gainesville:
University Presses of Florida, 1977), 71-86. Joan E Meznar, "The ranks of the poor: milital service and
social differentiation in Nonheast Brazil, 1839-1875", Hispanic American Historical Review, v. 72, n.3
(1992), 335-51. Fábio Faria Mendes, "A economia moral do recrutamento militar no império brasileiro",
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 38 (1998), 81-96. Hendrik Kraay, “Reconsidering
Recruitment in Imperial Brazil”, The Americas, vol. 55, nº 1 (1998), 1-33.
17
Um debate sobre a insurreição de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, é feito por: Mathias
Röhrig Assunção, Balaiada e resistência camponesa no maranhão (1838-1841), in Márcia Motta, Paulo
Zarth (orgs.), Formas de resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da
história (São Paulo: Editora UNESP, 2008), vol.1, 171-198. Assunção, De caboclos, 347-349.
18
Mathias Assunção discute a violência dos balaios e dos legalistas: Motta, Zarth, 2008, vol.1, 190-194.
19
Sobre Raimundo Gomes: Astolfo Serra, A Balaiada (Rio de Janeiro: Dedeschi, 1948), 195-201.
20
Maria de Lourdes Mônaco Janotti, “Balaiada: ação e exploração”, Revista de História, v. 52, nº 103
(1975), 343-365.
21
Claudete Maria Miranda Dias, Balaios e Bem-te-vis: a guerrilha sertaneja (Teresina: Instituto Dom
Barreto, 2002).
22
Assunção, De caboclos, 349.
23
Motta, Zarth, 2008, vol.1, 183-186.
24
Maria Raimunda Araújo, Documentos para a História da Balaiada (São Luís: Arquivo Público do
Estado do Maranhão, 2001).
25
Sobre cidadania na Constituição do Império, ver: Hebe Maria Mattos, Escravidão e cidadania no Brasil
monárquico (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000), 20. Sobre as expectativas dos homens de cor de
ascensão aos postos superiores das forças militares, ver, dentre outros: Hendrik Kraay, “Identidade Racial
na Bahia, 1790-1840”, in István Jancsó. Brasil: formação do Estado e da nação (São Paulo: Hucitec,
2003), 521-546. Luiz Geraldo Silva, “Negros patriotas. Raça e identidade social”, in Jancsó, 2003, 497-
520. Adriana Barreto de Souza, “O meio militar como arena política: conflitos e disputas por direitos no
Regimento de Homens Pardos do Rio de Janeiro, 1805”, Revista Tempo, v.26, nº1 (2020).
26
Motta, Zarth, 2008, vol.1, p.184. Adriana Barreto de Souza, Duque de Caxias: o homem por trás do
monumento (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008), 287-289.
27
Holanda, História Geral, p.161-162.
28
Esses números são repetidos por todos os historiadores desde o século XIX e têm sua origem nos dados
oficiais do governo legalista. Ver: Serra, A Balaiada, 194.
29
Astolfo Serra, Caxias e seu governo civil na província do Maranhão (Rio de Janeiro: Biblioteca Militar
Editora, 1949), 49.

27
30
Ver o relatório de governo de Luiz Alves de Lima e Silva, reproduzido na íntegra por Serra, Caxias,
148.
31
Matos, O Tempo, 162.
32
Uma análise dessas proclamações, bem como repressão empreendida pelo futuro duque de Caxias, é
feita por: Souza, Duque, 290-292. O único registro de uma reação a essa retórica civilizacional de Luiz
Alves de Lima e Silva foi entre os farroupilhas. Souza, Duque, 273-341.
33
Souza, Duque, 299-300.
34
Souza, Duque, 313-315.
35
Sobre o negro Cosme: Mundinha Araújo, Em busca de Dom Cosme Bento das Chagas – Negro Cosme:
tutor e imperador da liberdade (Imperatriz: Ética, 2008), 31-55.
36
Souza, Duque, 315-320.
37
Souza, Duque, 327.
38
Souza, Duque, 329.
39
Souza, Duque, 330-332.
40
Para o processo do Negro Cosme é Araújo, Em busca, 141-144.
41
A força dessa retórica civilizatória na história do Brasil, da colonização portuguesa até a atual política
de pacificação do Rio de Janeiro, é analisada no artigo: João Pacheco de Oliveira, "Pacificação e tutela
militar na gestão de populações e territórios", Mana, nº 20, vol.1 (2014), 125-161.
42
Uma reflexão sobre a recorrência da palavra pacificação na história do Brasil encontra-se em: Adriana
Barreto de Souza, Angela Moreira Domingues da Silva, Luís Edmundo de Souza Moraes, Maud Chirio
(Orgs.), Pacificar o Brasil: das guerras justas às UPPs (São Paulo: Alameda, 2017).
43
Domingos José Gonçalves de Magalhães, Ode ao pacificador do Maranhão o ilmo. Exmo. Sr. Coronel
Luiz Alves de Lima (São Luís: Tipografia de I.J. Ferreira, 1841). Magalhães, Memória, 23.
44
O jornal foi publicado entre 1838 e 1840 no Maranhão. Posteriormente, os artigos do jornalista foram
publicados como livro: João Francisco Lisboa, Crônica Maranhense: os artigos de João Francisco
Lisboa (Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1969).
45
Originalmente, as memórias foram publicadas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(RIHGB). Domingos José Gonçalves de Magalhães, “Memória histórica e documentada da revolução da
província do Maranhão desde 1839 até 1840”, RIHGB, vol.10 (1848), 263-362.
46
Magalhães, Memória, 15-18.
47
Quem analisa a participação de Gonçalves de Magalhães na elaboração da política de neutralidade de
Luiz Alves de Lima e Silva é: Souza, Duque, 294-295.
48
José Ribeiro do Amaral, Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do
Maranhão (São Luís: Typographia Teixeira, 1898-906).
49
Carlota Carvalho, O Sertão (Rio de Janeiro: Empresa Editores de Obras Científicas e Literárias, 1924).
50
Serra, A Balaiada, 207-208.
51
Santos, A Balaiada, 76-98.
52
Maria de Lourdes Mônaco Janotti, A Balaiada (São Paulo: Editora Brasiliense, 1987).
53
Assunção, De caboclos.
54
Araújo, Em busca. Souza, Duque.
55
João Francisco Lisboa, Jornal de Timon: eleições na Antiguidade, Idade Média, na Roma Católica,
Inglaterra, Estados Unidos, França, Turquia, Partidos e eleições no Maranhão (Brasília: Editora do
Senado Federal, 2004).
56
Magalhães, Memória.

28

Você também pode gostar