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Período Regencial (1831-1840)

Prof. Nilton Ururahy


Período Regencial (1831-40)
“Evento emblemático, o 7 de abril
consagrou o espaço público como arena
de luta dos mais diversos grupos
políticos e camadas sociais, marcando a
emergência de novas formas de ação
política, em momento no qual,
transbordando a tradicional esfera dos
círculos palacianos e das instituições
representativas, tornava-se pública e se
assistia a uma rápida politização das
ruas.”
(BELISE, Marcello. “O laboratório da nação: A
era regencial (1831-1840). In: GRINBERG, Keila
& SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial.Volume II –
1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, A Abdicação de D. Pedro I, de Aurélio
2009, p.59).
Figueiredo, pintada em 1890.
Período Regencial (1831-40)
“[...] prefiro descer do trono com honra a
reinar desonrado e aviltado os nascidos no
Brasil congregaram se contra mim no
campo da aclamação. Não querem saber de
mim porque sou português . Estão dispostos
a se desfazerem de mim porque sou
português. Meu filho tem sobre mim a
vantagem de ser brasileiro. Os brasileiros
prezam-no. governará sem dificuldades e a
constituição garante-lhe seus direitos.
Renuncio a coroa conforme comecei,
constitucionalmente”.
(CARTA DE D. PEDRO I apud TAVARES,
Luís Henrique Dias. O fracasso do Imperador: a A Abdicação de D. Pedro I, de Aurélio
abdicação de D. Pedro I. São Paulo: Ática, 1986). Figueiredo, pintada em 1890.
Período Regencial (1831-40)
 Regência Trina Provisória (abril a
junho de 1831):

▪ Composição política:

- Senadores: Nicolau Campos Vergueiro e José


Carneiro de Campos.
- Deputado: brigadeiro Francisco de Lima e
Silva.

▪ Medidas políticas:

- Anistia aos presos políticos.


- Manutenção da Constituição de 1824.
- Suspensão temporária do Poder Moderador até
a maioridade de D. Pedro II.
- Proibição a concessão de títulos de Nobreza.
Período Regencial (1831-40)
 Regência Trina Permanente
(1831- 1835)
▪ Composição política:

- Deputados: brigadeiro Francisco de Lima e


Silva, José da Costa Carvalho e João
Bráulio Muniz.
▪ Medidas políticas:

- Manutenção dos interesses dos grandes


comerciantes e dos proprietários de terras:

a. Latifúndio.
b. Monocultura.
c. Escravidão.
d. Exportação de produtos tropicais.
Período Regencial (1831-40)
“A cultura política das elites brasileiras
contemporâneas lhes tem permitido transformar o
sono sobre um barril de pólvora em repouso em
berço esplêndido. Afinal, por séculos a fio, elas não
apenas conviveram como se reproduziram
mediante a exclusão social (...) Nesse sentido, é
possível que dois elementos tenham contribuído
desde sempre para o verdadeiro êxito histórico
desse padrão excludente: ...nossas elites inscrevem
a pobreza no mundo da natureza (...) O segundo
elemento refere-se ao comprometimento de toda a
sociedade com a exclusão (...)”.
(FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O
arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e
elite mercantil em uma economia colonial tardia (1790-
1840). 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001, p. 235-237).
Período Regencial (1831-40)
 A instabilidade política na
Regência

▪ Fatores:

- Aumento do custo de vida pelos


impostos abusivos.
- Descaso administrativo do governo
regencial.
- Insatisfação das camadas populares.
- Revoltas populares. O Período Regencial é uma época da História do Brasil entre
- Excessiva centralização política. os anos de 1831 e 1840, interpondo-se, portanto, entre as
fases do Primeiro e do Segundo Reinado. Quando o imperador
- Falta de autonomia política das D. Pedro I abdicou do poder em 1831, seu filho e herdeiro do
trono D. Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. A
províncias (governos regionais). Constituição brasileira do período determinava, neste caso,
que o país deveria ser governado por regentes, até o herdeiro
atingir a maioridade.
Período Regencial (1831-40)
“Estes motins [populares nas ruas
do Rio de Janeiro de 1831]...
tiveram a vantagem de
desenganar aos poucos facciosos e
anarquistas que ainda nos
incomodam, que o brasileiro não
foi feito para a desordem, e que o
seu natural é o da tranquilidade.”
(FEIJÓ, Diogo Antonio [1831]. In: O Período Regencial é uma época da História do Brasil entre
os anos de 1831 e 1840, interpondo-se, portanto, entre as
MOREL, Marco. O período das Regências fases do Primeiro e do Segundo Reinado. Quando o imperador
(1831- 1840). Rio de Janeiro: Zahar, D. Pedro I abdicou do poder em 1831, seu filho e herdeiro do
trono D. Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. A
2003, p. 55). Constituição brasileira do período determinava, neste caso,
que o país deveria ser governado por regentes, até o herdeiro
atingir a maioridade.
Período Regencial (1831-40)
 Reação do governo às
revoltas
▪ Criação da Guarda Nacional
- Força paramilitar que não pertencia
ao Exército.
- Comandada por latifundiários
(“Coronéis” ).
- Composta por pessoas escolhidas
pelos coronéis.
▪ Objetivos:
- Combater qualquer revolta popular Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional
que ameaçasse o poder político das (1840–1845), por Brito & Braga.
elites e da Regência.
Período Regencial (1831-40)
“A maior preocupação vinha, porém, da base
do exército, formada por gente mal paga,
insatisfeita e propensa a aliar-se ao povo
nas rebeliões urbanas. Uma lei de agosto de
1831 criou a Guarda Nacional, em
substituição às antigas milícias. A ideia
consistia em organizar um corpo armado de
cidadãos confiáveis, capaz de reduzir tantos
excessos do governo centralizado, como as
ameaças das classes perigosas. Compunham
obrigatoriamente a Guarda Nacional, como
regra geral, todos os cidadãos com direito de
voto nas eleições primárias que tivessem Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional
entre 21 e 60 anos”. (1840–1845), por Brito & Braga.
(FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo:
Edusp/FDE, 1996. p. 164).
Período Regencial (1831-40)
 Criador da Guarda “O período das regências constitui momento
Nacional crucial do processo de construção da nação
brasileira. Por sua pluralidade e ensaísmo [foi]
- Ministro da Justiça: Padre um grande laboratório político e social, no qual
Diogo Antônio Feijó. as mais diversas e originais fórmulas políticas
foram elaboradas e diferentes experiências
▪ Outras medidas de Feijó: testadas, abarcando amplo leque de estratos
sociais. O mosaico regencial não se reduz,
- Código do Processo Criminal portanto, a mera fase de transição, tampouco a
(1832): descentralizar a uma aberração histórica anárquica, nem mesmo
a simples ‘experiência republicana’”.
justiça para conceder maior
(BASILE, Marcello. “O laboratório da nação: A era
autonomia aos juízes nas regencial (1831-1840). In: GRINBERG, Keila &
SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial.Volume II –
decisões judiciais nos 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
municípios. 2009, p. 97).
Período Regencial (1831-40)
Tendências Políticas

Composição social Liderança Proposta política


Restaurador Comerciantes • José Bonifácio • Centralização monárquica.
(Caramuru) portugueses, militares • Favoráveis ao retorno do
conservadores e altos ex-imperador.
funcionários do Estado. • Manutenção da escravidão.
Liberal Aristocracia rural. • Padre Feijó • Monarquia Constitucional.
Moderado • Evaristo da Veiga Manutenção da escravidão.
(Chimango) • Bernardo Pereira • Contrários à volta do
de Vasconcelos imperador.
Liberal Classes médias urbanas, • Maj. Miguel Frias • Autonomia das províncias;
Exaltado exército e pequenos • Cipriano Barata • Descentralização política.
proprietários rurais.
Período Regencial (1831-40)
Tendências Políticas

“O que fazer com a revolução? Havia basicamente três


respostas: negar (os absolutistas ou ultramonarquistas),
completar e encerrar (vertente conservadora do
liberalismo) e continuar (vertente revolucionária do
liberalismo). Impossível era ignorá-la”.
(MOREL, Marcos. O período das Regências (1831-1840). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 21).
Período Regencial (1831-40)
 Ato Adicional de 1834 : “Art.1º - Câmaras dos Distritos e Assembléias
substituirão os Conselhos Gerais, sendo
▪ Definição: estabelecido em todas as províncias com o
título de Assembléias Legislativas Provinciais.
Foi uma lei que promoveu mudanças na
Constituição de 1824, atendendo a pressão [...]
pela autonomia provincial de políticos Art. 26º - Se o Imperador não tiver parente
moderados e exaltados. Em outros termos, algum, que reúna as qualidades exigidas, será
essa lei produziu uma descentralização política o Império governado, durante a sua
no país. menoridade, por um regente eletivo e
temporário, cujo cargo durará quatro anos,
▪ Reformas constitucionais:
renovando-se para esse fim a eleição de
- Concessão de maior autonomia aos governos quatro em quatro anos.
das províncias com a criação das Assembleias [...]
legislativas Provinciais para elaborar leis
regionais e locais. Art. 32º - Fica suprimido o Conselho de
- Suspensão temporária do Poder Moderador. Estado”.
- Substituição da Regência Trina Permanente (ATO ADICIONAL DE 12 de agosto de 1834
pela Regência Una, com mandato de quatros apud MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Império da Boa
anos. Sociedade: A consolidação do Estado Imperial Brasileiro
São Paulo: Atual, 1991).
Período Regencial (1831-40)
“No todo, a Regência parece não
ter tido outra função histórica
senão a de desprender o
sentimento liberal de aspiração
republicana, que, em teoria, é a
gradação mais forte daquele
sentimento”.
(NABUCO, Joaquim. Um Estadista do
Império: Nabuco de Araújo, sua vida, suas
Tela de Antônio Parreiras (1860-1937) representando a
opiniões, sua época. São Paulo: Editora
fundação do Rio de Janeiro, que se tornou autônomo da
Nacional, Rio de Janeiro: Civilização
província com o Ato adicional de 1834.
Brasileira, 1936, p.33).
Período Regencial (1831-40)

“O período regencial foi um dos


mais agitados da história
política do país. Naqueles anos,
esteve em jogo a unidade
territorial do Brasil, e o centro
do debate político foi dominado
pelos temas da centralização ou
descentralização do poder”.
Tela de Antônio Parreiras (1860-1937) representando a (FAUSTO, Boris. História do Brasil. São
fundação do Rio de Janeiro, que se tornou autônomo da Paulo: Edusp/FDE, 1996. p. 161).
província com o Ato adicional de 1834.
Período Regencial (1831-40)
 A morte de D. Pedro IV (D.
Pedro I no Brasil) em 1834
▪ Desdobramentos no Brasil:

- Frustração política de militares e


comerciantes portugueses que
apoiavam o retorno do ex-imperador
ao trono brasileiro.
- Extinção partido Restaurador
(Caramuru).
- Dois partidos dominantes no país:
D. Pedro em seu leito de morte em 1834,
1. Liberal. por José Joaquim Rodrigues Primavera.
2. Conservador.
Período Regencial (1831-40)
Partidos Políticos

Composição social Liderança Proposta política


Liberal Classes médias urbanas, • Padre • “Progressistas”.
clérigos e Proprietários Antônio • Autonomia das províncias
rurais encarregados do Feijó (descentralização política).
abastecimento interno.

Conservador Proprietários rurais • Araújo • “Regressistas”.


ligados a exportação, Lima • Fortalecimento do poder
Grandes Comerciantes, central (centralização
magistrados e política).
burocratas
(funcionários
públicos).
Período Regencial (1831-40)
 Regência Una de Padre
Feijó (1835-1837):
▪ Medidas políticas liberais e
descentralizadoras:
a. Conceder autonomia política as
províncias.
b. eliminar o poder moderador.
c. Abolir o Senado vitalício.
▪ Entraves (dificuldades):

- Crise econômica.
- Eclosão de revoltas no Pará
(Cabanagem) e no Rio Grande do Sul
(Farroupilha). Diogo Antônio Feijó, retratado por Oscar
Pereira da Silva.
- Renúncia de Feijó em 19 de setembro
de 1837.
Período Regencial (1831-40)
 Regência Una de Araújo
Lima (1837-1840):
▪ Medidas políticas conservadoras e
centralizadoras:
- Anulação do Ato Adicional de 1834,
visando fortalecer o poder central e
diminuir a autonomia das províncias.
- Subordinação da Guarda Nacional aos
delegados nomeados pelo governo
central.

Pedro de Araújo Lima, Marques de


Olinda,1860.
Período Regencial (1831-40)
 Regência Una de Araújo
Lima (1837-1840):
▪ Entraves (dificuldades):

- Agravamento das revoltas: Pará


(Cabanagem) e no Rio Grande
do Sul (Farroupilha), Bahia
(Sabinada) e Maranhão
(Balaiada).
- Encaminhamento para o
“Golpe da Maioridade” em
1840. Pedro de Araújo Lima, Marques de
Olinda,1860.
Período Regencial (1831-40)
 Clube da Maioridade (1840)

▪ Fundado pelos liberais e apoiado


pelos conservadores.
➢ Motivações:

- Evitar novas mobilizações e lutas


populares pela igualdade política e
social.
- Antecipar a maioridade de D. Pedro de “O Clube da Maioridade”, de Aurélio
Alcântara, pois as elites acreditavam Figueiredo.
que somente a autoridade do
imperador pudesse restaurar a ordem “Queremos D. Pedro
político-social-militar do país, Embora não tenha idade
suprimindo as revoltas provinciais que
ameaçavam a unidade territorial do A nação dispensa a lei
império brasileiro. E viva a maioridade.”
Período Regencial (1831-40)
“Desde 1835 cogitava-se antecipar a
ascensão ao trono de D. Pedro, prevista
pela Constituição para 1843, quando
completava dezoito anos. O ambiente
conturbado das Regências e o caráter
descentralizador das medidas animavam
a elite carioca no sentido de apostar na
saída monárquica. Em 1838 os jornais
da corte comentavam à solta a futura
coroação do imperador e seu caráter
obrigatoriamente sagrado [...]”.
(SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do “O Clube da Maioridade”, de Aurélio
imperador: D. Pedro II, um monarca nos Figueiredo.
trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010, p. 67).
Período Regencial (1831-40)
 Golpe da Maioridade (1840)

▪ Formalização:

- Aprovação de uma Emenda


constitucional (23/07/1840) que
decretava oficialmente a maioridade do
jovem imperador (de 14 anos).
- Coroação de D. Pedro II em
(18/07/1841).
- Tanto os liberais quanto os
conservadores viam na antecipação da
maioridade de D. Pedro de Alcântara
uma oportunidade de manipulá-lo em
razão de sua inexperiência política.
Período Regencial (1831-40)
“O imperador D. Pedro II era um mito
antes de ser realidade. Responsável desde
pequeno, pacato e educado, suas imagens
constroem um príncipe diferente de seu
pai, D. Pedro I. Não se esperava do futuro
monarca que tivesse os mesmos arroubos
do pai, nem a imagem de aventureiro, da
qual D. Pedro I não pôde se desvincular. A
expectativa de um imperador capaz de
garantir segurança e estabilidade ao país
era muito grande. Na imagem de um
monarca maduro, buscava-se unificar um
país muito grande e disperso”.
(SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador:
D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 64, 70, 91).
Período Regencial (1831-40)
 Revoltas Regenciais

▪ Motivações:

- A crise política e econômica que se


arrastava desde a época da
independência.
- A excessiva centralização político-
administrativa do Império.
- Sobrecarga de impostos.
- As péssimas condições de vida da
esmagadora maioria da população.
- Descontentamento de algumas
elites regionais com o governo
regencial.
Período Regencial (1831-40)
“As revoltas do período regencial
não se enquadram em uma
moldura única. Tinham a ver
com as dificuldades da vida
cotidiana e as incertezas da
organização política. Mas cada
uma delas resultou de
realidades específicas,
provinciais ou locais.”
(FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil.
2 ed. São Paulo: EDUSP, 2006. p. 88).
Período Regencial (1831-40)
“A fatalidade das revoluções é que sem os
exaltados não é possível fazê-las e com eles é
impossível governar. Cada revolução subentende
uma luta posterior e aliança de um dos aliados,
quase sempre os exaltados, com os vencidos. A
irritação dos exaltados [trouxe] a agitação
federalista extrema, o perigo separatista, que
durante a Regência [ameaçou] o país de norte a
sul, a anarquização das províncias. [...] durante
este prazo, que é o da madureza de uma geração,
se o governo do país tivesse funcionado de modo
satisfatório – bastava não produzir abalos
insuportáveis –, a desnecessidade do elemento
dinástico teria ficado amplamente demonstrada”.
(NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império: Nabuco
de Araújo, sua vida, suas opiniões, sua época. 2ed. São
Paulo: Editora Nacional, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1936, p.21).
Período Regencial (1831-40)
 Cabanagem, Pará (1835-1840)
▪ Fatores:

- Falta de autonomia política da província


desagradando a elite de fazendeiros da região.
- Péssimas condições de vida das camadas
populares (indígenas, mestiços e negros).

 Características:
- Movimento popular (revolta dos cabanos).

 Líderes:

- Batista Campos – cônego.


- Clemente Malcher (fazendeiro).
- Os irmãos Vinagre (Francisco e Antônio).
- Eduardo Angelim (seringueiro). “O Cabano Paraense”. Pintura de
Alfredo Norfini.
Período Regencial (1831-40)
“É preciso compreender que se fazer cabano no Pará
era uma opção difícil e que precisa ser analisada à
luz de todo um modo de pensar e de estratégias de
lutas, que, em certo modo, constituíam a vida
cotidiana daqueles homens e mulheres de 1835-
1837, porém que foram gestados muito tempo antes,
entre pessoas concretas que vinham de inúmeros
lugares, com línguas, tradições e trabalhos
diferenciados dentro da realidade amazônica”.
(Magda Ricci. “De la independencia a la revolución cabana: la
Amazonia y el nacimiento de Brasil (1808-1840)”. In: PEREZ,
José Manuel Santos & PETIT, Pere. La Amazonia Brasileña em
perspectiva histórica. Salamanca: Ediciones Universidade de
Salamanca,
“O Cabano Paraense”. Pintura de
2006, p. 88).
Alfredo Norfini.
Período Regencial (1831-40)
“Percebe-se ainda, no Pará, os efeitos da revolução de 1835.
Quase todas as ruas têm casas pontilhadas de balas ou varadas
por projéteis de canhão. Algumas foram apenas ligeiramente
avariadas,outras quase que complemente destruídas.”

(KIDELER, Daniel P. Reminiscências de viagens e permanência no Brasil,


compreendendo notícias históricas e geográficas do Império e das diversas
províncias. São Paulo: Livraria Martins. Ed. 1972. p. 168).

“Iniciada como conflito entre facções da elite local, a Cabanagem,


no Pará (1835-1840), aos poucos fugiu ao controle e tornou-se
uma rebelião popular. A revolta paraense atemorizou até mesmo
liberais como Evaristo da Veiga. Para ele, tratava-se de gentalha,
crápula, massas brutas. Em outras revoltas, o conflito entre elites
não transbordava para o povo. Tratava-se, em geral, de províncias
em que era mais sólido o sistema da grande agricultura e da
grande pecuária. Neste caso está a revolta Farroupilha, no Rio
Grande do Sul,que durou de 1835 a 1845”. “O Cabano Paraense”. Pintura de
(CARVALHO, José Murilo de Carvalho. A construção da ordem: a elite imperial.Teatro Alfredo Norfini.
de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 252-
253.)
Período Regencial (1831-40)
 Revolta dos Malês, Bahia (1835)
 Fatores:
- Manutenção da escravidão.
- Falta de terras.
- Obrigatoriedade da religião católica.

 Características da revolta:
- Abolicionista (extinguir a escravidão).
- Étnica (defesa da etnia nagô/iorubá).
- Religioso (defesa do culto islâmico).

 Líderes:
- Pacífico Licutan.
Moradia de negros, de Rugendas.
- Ahuna.
- Manuel Calafate.
Período Regencial (1831-40)
“Não há sombra de dúvidas sobre o papel
central desempenhado pelos muçulmanos na
rebelião de 1835. Os rebeldes – ou uma boa
parte deles – foram para as ruas com roupas
usadas na Bahia pelos adeptos do islamismo.
No corpo de muitos dos que morreram a
polícia encontrou amuletos muçulmanos e
papéis com rezas e passagens do Corão
usados para proteção”.
(REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.
Moradia de negros, de Rugendas.
158).
Período Regencial (1831-40)
 Guerra dos Farrapos, RS e SC
(1835-1845)
▪ Fatores:
- Excessivos impostos cobrados sobre o charque
(carne-seca) gaúcho, tornando o produto nacional
mais caro que o importado do Uruguai (Platino).
- Falta de autonomia política das províncias.
- Controle político dos chimangos (apoiavam a
Regência e a monarquia).

▪ Características da revolta farroupilha:


- Elitista (estancieiros – produtores de charque).

▪ Líderes:
- Estancieiro Bento Gonçalves (conquistou Porto Carga de cavalaria Farroupilha, de
Alegre - Piratini). Guilherme Litran.
- Italiano Giuseppe Garibaldi (conquistou Laguna
– Santa Catarina).
Período Regencial (1831-40)
“Eclodiu em 1835, no Rio Grande do Sul, a
Guerra dos Farrapos. “'Farrapos' ou
'Farroupilhas' são expressões sinônimas,
significando maltrapilhos, gente vestida com
farrapos. Os Farrapos gaúchos receberam de
seus adversários o apelido depreciativo. Mas a
verdade é que, se suas tropas podiam ser
“farroupilhas”, os dirigentes pouco tinham
disso, pois representavam a elite dos
estancieiros, criadores de gado.”
(FAUSTO, Boris. Historia concisa do Brasil. São Paulo: Carga de cavalaria Farroupilha, de
Edusp, 2008, p.91). Guilherme Litran.
Período Regencial (1831-40)
“A carne, o couro, o sebo, a graxa, além de
pagarem nas alfândegas do país o duplo do
dízimo de que se propuseram aliviar-nos
exibiam mais quinze por cento em qualquer
dos portos do Império. Imprudentes
Legisladores nos puseram, desde esse
momento, na linha dos povos estrangeiros,
desnacionalizaram a nossa província e de
fato a separaram da Comunhão Brasileira”.
(GONÇALVES, Bento. Manifesto do Presidente da
República Rio-grandense, 1838. In: GASMAN,
Lydinéa (Org.). Documentos Históricos Brasileiros,
“Proclamação da República Piratini” de
compilação. Brasília, MEC/FENAME, 1976, p. 119-
1939, de Antônio Parreiras (1915).
120).
Período Regencial (1831-40)
“Em nome do povo do Rio Grande, depus o
governador e entreguei o governo ao seu
substituto legal. E em nome do Rio Grande do
Sul, digo que nesta província extrema, afastada
da Corte, não toleramos imposições humilhantes.
O Rio Grande é a sentinela do Brasil que olha
vigilante o Rio da Prata. Não pode e nem deve
ser oprimido pelo despotismo. Exigimos que o
governo imperial nos dê um governador de nossa
confiança, que olhe pelos nossos interesses, ou,
com a espada na mão, saberemos morrer com
honra, ou viver com liberdade”.
(Carta escrita em 1835 por Bento Gonçalves, líder
farroupilha, ao Regente Feijó apud PESAVENTO, S.
J. A Revolução Farroupilha. São Paulo: Brasiliense, “Proclamação da República Piratini” de
1990). 1939, de Antônio Parreiras (1915).
Período Regencial (1831-40)
 Guerras dos Farrapos, RS e SC
(1835-1845)
▪ Fim da Guerra:
- Tratado de paz - Paz de Ponche verde

▪ Determinações dos farroupilhas:

✓ Garantir a anistia (perdão) geral dos revoltos.


✓ Incorporação dos oficiais farroupilhas ao exército
imperial.
✓ Devolução das terras ocupadas aos antigos
proprietários.
✓ Aumento do imposto sobre charque platino
(uruguaio).
✓ Libertação dos escravos que lutaram na revolução
farroupilha. Garibaldi liderando a expedição a
Obs.: Barão de Caxias (Luís Alves de lima e Silva) Laguna, de Lucílio de Albuquerque.
recebeu o título de “Pacificador do Império”.
Período Regencial (1831-40)
Rio-grandenses! Tenho o prazer de anunciar-vos
que a guerra civil que por mais de nove anos
devastou esta bela província está terminada. Os
irmãos contra quem combatíamos estão hoje
congratulados conosco e já obedecem ao legítimo
governo do Império do Brasil. União e
tranquilidade sejam de hoje em diante nossa
divisa. Viva a religião, viva o Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
Viva a integridade do Império.
(Proclamação feita pelo Barão de Caxias em 1845,
fim da Revolução Farroupilha. SOUZA, Adriana
Barreto de. Duque de Caxias: o homem por trás do
monumento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Garibaldi liderando a expedição a
2008). Laguna, de Lucílio de Albuquerque.
Período Regencial (1831-40)
 Sabinada, Bahia (1837-1838)
▪ Fatores:

- Falta de autonomia política da província


(governo local autoritário).
- Recrutamento forçado da população baiana
para combater os farroupilhas gaúchos.

▪ Características:

- Movimento das camadas médias (profissionais


liberais, militares, pequenos comerciantes e
membros do clero) de Salvador.
- Proclamar uma república temporária (somente Bandeira da República Bahiense: criada
até a coroação de D. Pedro de Alcântara. durante a Sabinada.

▪ Líder:
- Francisco Sabino Barroso (médico).
Período Regencial (1831-40)
 Balaiada, Maranhão (1838-1841)

▪ Fatores:

- Exploração imposta pelos grandes proprietários


aos escravos, vaqueiros e artesãos.
- Miséria na província.

▪ Características:

- Movimento popular (vaqueiros, artesãos, balaios


e escravos).

▪ Líderes: Boa parte dos revoltosos da Balaiada


eram negros fabricantes de balaios, isto
- Balaio Manuel Francisco dos Anjos. é, cestos de tala e palha, de Victor
- Negro Cosme Bento das Chagas – ex-escravo. Frond, 1859.
- Vaqueiro Raimundo Gomes.
Período Regencial (1831-40)
“O Povo de Cor é que é a Força do Brasil”
“Digam Senhores ... [se] estes homens de cor
[negros] porventura não serão Filhos de Deus.
Queiram senhores nos mostrar outro Adão e outra
Eva. Queiram sangrar três homens em um só vaso
– um branco, um negro e um caboclo –, e depois
queiram mostrar dividido o sangue de um e de
outro... Só se distingue o rico do pobre, o
virtuoso do libertino, o justo do pecador, no mais
tudo tem igual direito ...”.
(Ofício de Raimundo Gomes Vieira Jutahy ao Major Boa parte dos revoltosos da Balaiada
Falcão, 10 de Julho de 1840, em: Coleção Caxias, eram negros fabricantes de balaios, isto
Pacote 1, Documento 45, Arquivo Nacional, Rio de é, cestos de tala e palha, de Victor
Janeiro). Frond, 1859.

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