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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciê ncias Humanas


Departamento de Histó ria
Prof. Dr. Rodrigo Goyena Soares
e-mail: rodrigo.goyenasoares@usp.br
1º semestre 2023 – FLH0341

HISTÓRIA DO BRASIL INDEPENDENTE I


HISTORY OF THE BRAZILIAN EMPIRE

Unidade II – A constituição da hegemonia conservadora

Debate teó rico: GALBRAITH, John Kenneth. A anatomia do poder. Sã o Paulo: Ediçõ es 70,
2007.

6. A política externa para o Prata (1836-1845)


 GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos. Fronteiras em conflito no espaço platino:
da Guerra dos Farrapos à Guerra Grande. In: NEUMANN, Eduardo Santos e
GRIJÓ , Luiz Alberto (orgs.). O continente em armas: uma histó ria da guerra do
sul do Brasil. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.
 FERREIRA, Gabriela Nunes. O rio da Prata e a consolidaçã o do Estado imperial.
Sã o Paulo: Hucitec, 2006. Capítulo 3: “A nova política no Prata: da neutralidade
à intervençã o”.

 Seminário: “A Farroupilha e a política externa para o Prata”

A Regência(1831-1840)

I] O trato negreiro

 Trato ou trá fico negreiro?


 Tipos de explicaçã o para compreender as pressõ es inglesas para o fim do trato
negreiro no Brasil:
o Liberal:
 William Wilberforce, abolicionista britâ nica, defende fim da
escravidã o nas colô nias inglesas.
 Ê xito parcial em 1807.
o Mercantil:
 Concorrência escrava, no Brasil, em relaçã o aos lucros auferidos
nas produçõ es antilhanas.
 Alto valor do escravo seria responsá vel por encarecer, na cadeia
industrial, todas as etapas de produçã o.
 Libertar a mã o de obra era libertar fracçã o de capital que tornaria
o antigo traficante de escravos em consumidor potencial.

 Pressõ es internacionais contra o trá fico vieram da Revoluçã o Francesa ou da


Revoluçã o Industrial?

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 Principal destino dos escravos africanos era o Brasil, seguido dos Estados Unidos.
o Baixa reprodutibilidade e alta mortalidade torna o comércio de escravos
essencial à estrutura produtiva brasileira.
o Consentir com fim do trato seria pô r em xeque os latifundiá rios brasileiros,
fossem eles ligados à produçã o açucareira ou cafeeira.
 1827-1831: Mais de 500.000 de escravos teriam ingressado no
Brasil.
 Muitos, comparados aos 750.000 que ingressaram entre
1800 e 1831.

II] O avanço liberal (1831-1837)

o Entusiasmo com a abdicaçã o.


o À s províncias interessavam mais as localidades do que o Rio de Janeiro.
o Nos primeiros meses de Regência, irrompem rebeliõ es denominadas “tropa e
povo”:
 Eram soldados pobres de baixa patente e pequenos funcioná rios
comprometidos com a expulsã o dos portugueses.
 Rebeliõ es ocorrem no RJ, CE e PE: localidades de maior presença
portuguesa.
 Primeiras reformas:

o 1831: criaçã o da Guarda Nacional (inspiraçã o em sua homó loga francesa).


 Reequilibrar as forças no seio do Exército.
 A cú pula de comando do Exército era composta por portugueses.
 Limite de 10 mil homens para o Exército (antes eram 30 mil).
 Guarda Nacional: formada por eleitores com renda de 200 mil réis (Rio de
Janeiro, Bahia, Maranhã o, Pernambuco) e de 100 mil réis (demais
localidades): eram proprietá rios brasileiros em defesa de suas posses, de
suas localidades.
 Manutençã o da ordem.

o Nomeaçã o do padre Antô nio Feijó para o ministério da Justiça:


 Avanço liberal em marcha acelerada:
 1832: criaçã o do Có digo do Processo Criminal:
o Habeas corpus e juiz de paz.
 Juiz de paz: eleito em base municipal, subordinando a Guarda
Nacional, também de formaçã o local.
 1834: Ato Institucional (ú nica reforma constitucional no período):
o Votado pela Câ mara de Deputados.
o Assembleias Provinciais tornam-se Assembleias
Legislativas Provinciais: capacidade legislativa.
o Município neutro do Rio de Janeiro.
o Suspensã o do Poder Moderador e do Conselho de Estado.
o Criaçã o da Regência Una: deveria ter concordâ ncia das
Assembleias Legislativas Provinciais, 4 anos de mandato.
o Feijó torna-se Regente Uno.

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 Mas!
 Presidentes de Província nomeados pelo Regente Uno.
 Senado permaneceria vitalício.
 Foram ambas concessõ es à s bancadas conservadoras.

 Caso Bernardo Pereira de Vasconcellos:


o Liberal na década de 1820, Bernardo Pereira de Vasconcellos foi redator do
Ato Adicional e franco expoente dos benefícios da descentralizaçã o.
o Final de década de 1830:
 Fui liberal; então a liberdade era nova no país, estava nas aspirações de
todos, mas não nas leis, o poder era tudo: fui liberal [...] Os perigos da
sociedade variam; o vento das tempestades nem sempre é o mesmo:
como há de o político, cego e imutável, servir no seu país? (...) Agora é
preciso fazer parar o carro da revolução” (Sessã o parlamentar de abril
1838).
o O quê levou Bernardo Pereira de Vasconcellos a mudar de posiçã o?
 Embates entre Assembleias Legislativas Provinciais e Juízes de Paz
(voz dos municípios). Cf. Juiz de Paz na roça, Afonso Pena.
 Autonomia provincial vs. Rio de Janeiro.
 Rebeliõ es
 Quais foram as rebeliõ es regenciais?
o As que veicularam protestos populares: reprimidas
veementemente. Eram sediçõ es populares.
o As que veicularam ideias governativas (revoltas
elitistas, em sua maioria): repressã o mais branda.
Eram forças centrífugas.
 Todas reprimidas, no entanto, o que reconforta a tese que
dissocia a Regência de uma experiência republicana.

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III] Sedições populares e forças centrífugas

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• Por que o Império não se esfacelou durante a Regência?

» Dissidências entre os insurretos.

» Severa repressã o.

» Liberais e conservadores, malgrado as discordâ ncias a


respeito da descentralizaçã o, não renunciaram à unidade
territorial.

» Regresso conservador.

IV] A Farroupilha (1835-1845)

• Interesses menos difusos do que as sediçõ es populares.

• Composiçã o menos heterogênea dos insurretos.

• Por que a Farroupilha se tornou a questã o espinhosa por excelência da Regência e


do início do Segundo Reinado?

• Posiçã o geográ fica.

• Relaçõ es políticas e econô micas com a regiã o do Prata.

• Farroupilha irrompe em 1835, quando Rosas assume o poder na


Confederaçã o Argentina.

– Dos 75 mil habitantes do Uruguai, 14 mil eram exilados


argentinos (concentrados em Montevidéu).

• Sequestro da política externa.

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• O quê caracterizou a Farroupilha:

• Conflito de interesses.

• Estancieiros: economia do gado nã o respeita fronteiras.

– Criaçã o do Uruguai causa desconforto para gaú chos.

– Estancieiros brasileiros, nomeadamente, o jovem alfares


Manuel Osó rio, possuem terras no Uruguai.

– Identidades comuns no que se refere à formaçã o das


elites.

– Lei Bernardo Pereira de Vasconcellos (1828): charque


argentino e uruguaio passa a competir com o gaú cho.

» Pior, gado brasileiro no Uruguai passa a ser


tributado.

• Charqueadores: estabelecidos na regiã o litoral e setentrional do


RS.

– Maior aproximaçã o com eixo produtivo fluminense.

– Relaçã o de mú tua dependência.

• Rio de Janeiro: gado gaú cho passa por 4 barreiras alfandegá rias
até chegar ao Rio de Janeiro; Rio Grande do Sul/Santa
Catariana/Sã o Paulo/Rio de Janeiro/Município Neutro.

– Ainda: Ato Adicional nã o contempla reivindicaçõ es


tributá rias do RS.

• Como estoura a revolta?

• Indicaçã o para presidente do RS.

• Charqueadores mantêm-se fiéis ao Rio de Janeiro, mas


estancieiros, nã o.

• Rio de Janeiro vs. cavalaria gaú cha.

• Personagens e guerras farroupilhas:

• Internos:

•Bento Manuel: participou da Guerra Cisplatina do lado do Império.

– Apoiou Bento Gonçalves, mas com eclosã o da Farroupilha, rejeita


investidas de Bento Gonçalves contra o Rio de Janeiro.

•Batalha do Fanfa, 1836: Bento Manuel vs. Bento Gonçalves.

– Tropas imperiais tomam Porto Alegre.

•Bento Gonçalves: responde à derrota na Batalha do Fanfa com a


Proclamaçã o da Repú blica de Piratini.

– Mas é preso pelas tropas imperiais.

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• Externos:

•Manuel Oribe, no Uruguai, assume o poder pelo Partido Blanco em 1835


em detrimento de Fructuoso Rivera, do Partido Colorado, aliado do
Brasil.

•Juan Manuel de Rosas:

» Refundar Virreinato del Rio de la Plata.

•Para líderes gaú chos, Oribe poderia auxiliá -los a escoar a produçã o de
gado via Montevidéu, já que o Rio Grande do Sul estava cercado por
mar e por terra.

– Dos 75 mil habitantes do Uruguai, 25 mil tinham ascendência


lusitana.

•1835-1838: aliança entre gaú chos, uruguaios e argentinos.

– Bento Gonçalves escapa da prisã o (na Bahia) e volta para o


RS.

– Bento Manuel troca de lado!

•1838: gaú chos retiram apoio de sua cavalaria a Oribe, já que o Presidente
uruguaio estava mais interessado ganhar a Grande Guerra (1839-
1851) contra os colorados.

– Oribe cede passagem ao gado argentino no Uruguai:


desconforto para gaú chos.

• 1838, Tratado de Cangü e: Bento Gonçalves aproxima-se das dissidências uruguaias


e argentinas, isto é, Fructuoso Rivera e José Justo Urquiza.

• Encontro de Paissandu.

– Ruptura do Pacto Federal de 1831, assinado entre Rosas e os


governadores de Santa Fé, Entre Rios e de Corrientes, para a
mú tua defesa.

• Estratégia de Rosas:

• Aproximaçã o com o Rio de Janeiro.

• Para Império, era neutralizar Rosas no Prata e pô r fim à


Farroupilha.

• Rivera visto pelo Brasil com desconfiança, por alianças com a


Farrapos.

• Para Rosas, aliança com o Império daria maior poder de barganha contra
possível aliança franco-inglesa que o obrigasse a abrir os rios platinos à
navegaçã o internacional.

• Objetivo da aliança: pacificar o Uruguai e o RS.

– Rosas forneceria cavalaria ao Império, para lutar contra os


gaú chos.

– O Império bloquearia Montevidéu, para sufocar Rivera.

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» 1843: Tratado militar contra Rivera.

» Rosas nã o ratifica o tratado!

• Era maneira de ganhar tempo:

• Conseguira debelar as pressõ es


dissidentes em Corrientes e a ameaça
anglo-francesa nã o parecia iminente.

• Afronta a Pedro II!

• Como o Império posicionou-se, entã o, frente a Rosas?

• Aproximaçã o com os gaú chos!

• Concessõ es.

– 1844: Assume partido liberal no Rio de Janeiro.

» Melhores entendimentos com os gaú chos e com os


colorados.

» 1845: Paz de Poncho Verde.

• Império deveria assumir dívidas gaú chas.

• Farrapos deveriam ser incorporados ao


Exército imperial resguardando seus
postos hierá rquicos.

• Privilégios alfandegá rios para produçã o


gaú cha no Uruguai.

• Bento Manuel troca de lado mais


uma vez!

• Reconhecimento da independência do Paraguai (1844).

• Envio da missã o Miguel Calmon du Pin e Almeida à Europa, em 1844


também:

• Objetivo era assinar acordo militar com a França e a Inglaterra


contra Rosas.

– Fracasso!

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