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ARQUEOLOGIA GUARANI

NO LITORAL SUL DO BRASIL


Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2014 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra, poderá ser uilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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de 14/01/2010.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Elaborado por Sônia Magalhães
Bibliotecária CRB9/1191

Arqueologia Guarani no litoral Sul do Brasil / Rafael Guedes Milheira, Gustavo


A772 Perei Wagner (orgs.). – Curiiba : Appris, 2014.
2014 290 p. ; 23 cm. – (Ciências Sociais - Seção Antropologia e Sociologia)

Inclui bibliograias
ISBN 978-85-8192-293-5

1. Arqueologia – Brasil, Sul. 2. Índios Guarani. 3. História. I. Milhera, Rafael


I. Guedes. II. Wagner, Gustavo Perei. III. Série.
II.
III.
CDD 20. ed. – 930.1

Editora e Livraria Appris Ltda.


Rua José Tomasi, 924 - Santa Felicidade
Curitiba/PR - CEP: 82015-630
Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570
http://www.editoraappris.com.br/

Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Rafael Guedes Milheira e Gustavo Peretti Wagner (Orgs.)

Adriana Schmidt Dias


Antonio Lezama
Dione da Rocha Bandeira
Francisco Silva Noelli
Jairo Henrique Rogge
María Farías Gluchy
Mariana Araújo Neumann
Sergio Baptista da Silva

ARQUEOLOGIA GUARANI
NO LITORAL SUL DO BRASIL

Curitiba – PR
2014
FICHA TÉCNICA

DIREÇÃO - ARTE E PRODUÇÃO Sara C. de Andrade Coelho

EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho

ADMINISTRATIVO Selma Maria Fernandes do Valle

COMERCIAL Eliane de Andrade

LIVRARIAS E EVENTOS Silvana Vicente

DIAGRAMAÇÃO Lucas de Oliveira Santos

REVISORES Marta Zanata Lima | Gislaine Stadler

CAPA Adriana Polyanna V. R. da Cruz

COMITÊ EDITORIAL Edmeire C. Pereira - Ad hoc.


Iraneide da Silva - Ad hoc.
Jacques de Lima Ferreira - Ad hoc.
Marli Caetano - Análise Editorial

COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO


CIÊNCIAS SOCIAIS - SEÇÃO ANTROPOLOGIA & SOCIOLOGIA

DIREÇÃO CIENTÍFICA Fabiano Santos - UERJ/IESP

CONSULTORES Alícia Ferreira Gonçalves – UFPB José Henrique Arigas de Godoy – UFPB

Artur Perrusi – UFPB Josilene Pinheiro Mariz – UFCG

Carlos Xavier de Azevedo Neto – UFPB Leicia Andrade – UEMS

Charles Pessanha – UFRJ Luiz Gonzaga Teixeira – USP

Flávio Munhoz Soiai – USP, UFSCAR Marcelo Almeida Peloggio – UFC

Elisandro Pires Frigo – UFPR/Paloina Maurício Novaes Souza – IF Sudeste MG

Gabriel Augusto Miranda Sei – UnB Michelle Sato Frigo – UFPR/Paloina

Geni Rosa Duarte – UNIOESTE Revalino Freitas – UFG

Helcimara de Souza Telles – UFMG Rinaldo José Varussa – UNIOESTE

Iraneide Soares da Silva – UFC, UFPI Simone Wolf – UEL

João Feres Junior – UERJ Vagner José Moreira – UNIOESTE

Jordão Horta Nunes – UFG

APOIOS

STRATA
Consultoria em Arqueologia e
Patrimônio Cultural
AGRADECIMENTOS

A realização de um livro é uma aividade complexa que exige da orga-


nização um esforço imenso para a coleta de recursos e iltragem de informa-
ções, assim como um grande trabalho de editoração. Esse esforço, é claro,
icou centrado nas mãos dos organizadores, porém, uma série de colegas e
insituições comparilharam as tarefas para a confecção desse livro.
Inicialmente agradecemos ao colega Francisco Silva Noelli, que paricipou
como um consultor e críico do conteúdo do livro, desde a concepção original,
revisão geral dos capítulos e protagonismo na redação do capítulo inal e tabela
de síios.
Agradecemos também ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia
da Universidade Federal de Pelotas (PPGA-UFPEL) que acreditou no potencial in-
formaivo do projeto, como obra relevante para o meio acadêmico. Da mesma
forma, agradecemos ao Insituto de Ciências Humanas da UFPEL pelo incenivo e
parceria na realização do livro.
Finalmente, agradecemos aos colegas: Juliano Campos, Marco Aurélio
Nadal De Masi, Eliane Chim, Cleiton Silveira, Vanderlise Machado Barão, Luciana
Peixoto, Claudio Corrêa Pereira, Mariano Bonomo, Charles Miranda, Dione da
Rocha Bandeira e Jairo Henrique Rogge pela disponibilização de dados que per-
miiram enriquecer a tabela dos síios arqueológicos Guarani do litoral sul do
Brasil. Agradecemos também à acadêmica Daiane Marin e Chaiane Alves Qua-
drado pelo auxílio na editoração do livro e tabelas. Agradecemos também ao
colega Jonathan Duarte Marth pela elaboração dos mapas.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................9
(Gustavo Peretti Wagner e Rafael Guedes Milheira)

CAPÍTULO 1 – ARQUEOLOGIA GUARANI EM SANTA CATARINA:


LITORAL NORTE..........................................................................................................15
(Dione da Rocha Bandeira)

CAPÍTULO 2 – O POVOAMENTO GUARANI DO LITORAL NORTE DO


RIO GRANDE DO SUL E SUAS RELAÇÕES COM OS DEMAIS OCUPANTES
DA REGIÃO ..................................................................................................................39
(Gustavo Peretti Wagner)

CAPÍTULO 3 – A CERÂMICA GUARANI DO LITORAL NORTE


DO RIO GRANDE DO SUL ..............................................................................63
(Mariana Araújo Neumann)

CAPÍTULO 4 – ARQUEOLOGIA GUARANI NO LAGO GUAÍBA: REFLETINDO


SOBRE A TERRITORIALIDADE E A MOBILIDADE PRETÉRITA E PRESENTE........81
(Adriana Schmidt Dias e Sergio Baptista da Silva)

CAPÍTULO 5 – ASSENTAMENTOS LITORÂNEOS DA TRADIÇÃO TUPIGUARANI:


UM EXEMPLO DO LITORAL CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL .................... 115
(Jairo Henrique Rogge)

CAPÍTULO 6 – ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA GUARANI NO SUL DA


LAGUNA DOS PATOS E SERRA DO SUDESTE ......................................................125
(Rafael Guedes Milheira)

CAPÍTULO 7 – LA CUESTIÓN GUARANÍ COMO UN PROBLEMA DE


PERSPECTIVA .............................................................................................................155
(Antonio Lezama e María Farías Gluchy)
CAPÍTULO 8 – OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS GUARANI DO LITORAL SUL DO
BRASIL, URUGUAI E ARGENTINA: REGISTROS ATÉ 2013 ..................................177
(Francisco Silva Noelli, Rafael Guedes Milheira e Gustavo Peretti Wagner)

CAPÍTULO 9 – O ESPAÇO DOS GUARANI: A CONSTRUÇÃO DO MAPA


ARQUEOLÓGICO NO BRASIL, PARAGUAI, ARGENTINA E URUGUAI .......... 187
(Francisco Silva Noelli)

CAPÍTULO 10 – TABELA DE SÍTIOS GUARANI DO LITORAL SUL DO BRASIL,


URUGUAI E ARGENTINA ............................................................................................205
(Francisco Silva Noelli, Rafael Guedes Milheira e Gustavo Peretti Wagner)

BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................257
SOBRE OS AUTORES.................................................................................................289

8
INTRODUÇÃO

Gustavo Perei Wagner 1


Rafael Guedes Milheira 2

Este livro é fruto das discussões realizadas no Simpósio Tópicos em


Arqueologia Regional no Litoral Sul do Brasil, organizado por Gustavo Perei
Wagner e Rafael Guedes Milheira durante o XV Congresso da Sociedade de
Arqueologia Brasileira, realizado no ano de 2009, em Belém, Pará. Naquela
ocasião foram reunidos pesquisadores com interesse especíico na Região
Sul do Brasil, com contribuições de Dione da Rocha Bandeira, Gustavo Perei
Wagner e Rafael Guedes Milheira. Marco Aurélio Nadal de Masi e Flavio Calippo
pariciparam intensamente das discussões mediadas por Klaus Hilbert. Naquele
momento, as atenções foram direcionadas à Arqueologia dos sambaquis e ao
papel das sociedades ceramistas no povoamento da costa Sul do Brasil. Temas
como organização social, economia, territorialidade e cronologia marcaram
os debates. Outra caracterísica do simpósio foi a busca dos arqueólogos por
compor estudos a parir de diferentes fontes de pesquisa, tais como informações
arqueológicas, etnográicas e etnohistóricas. A aproximação de fontes diversas
e a variabilidade de temas cotejados, em nosso entendimento, tem colocado a
Arqueologia Guarani em uma linha de amadurecimento teórico e metodológico
resultante dos úlimos vinte anos de pesquisa, quando uma geração de
arqueólogos inconformados com a abordagem tradicional e acríica iniciou a
busca por novas orientações e abordagens. Essas pesquisas inluenciaram as
novas gerações abrindo as portas da academia para um movimento pluralista
insigando o enriquecimento do diálogo.
Foi com este espírito que o presente livro foi organizado. A meta esta-
belecida foi condensar trabalhos de diferentes autores com visões disintas da

1 Arqueólogo e Historiador. STRATA – Consultoria em Arqueologia e Patrimônio Cultural


– arqueologia.strata@gmail.com.
2 Professor do Bacharelado em Antropologia/Arqueologia e do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas. Pesquisador do LEPAARQ/UFPel -
milheirarafael@gmail.com.
Arqueologia Guarani, hora focadas no empirismo dos dados de campo, hora
orientadas para relexões de âmbito teórico. Bem como no cotejamento entre os
campos. A visão dos autores não contempla uma unidade teórica, tampouco foi
o objeivo dos organizadores compor uma obra que buscasse apresentar uma
perspeciva unilateral e deiniiva para a Arqueologia Guarani. Se o panorama
dos anos 1960 até 1990 foi de oposição entre as diferentes tendências, para-
digmas ou escolas teóricas na Arqueologia brasileira e, especiicamente, na Ar-
queologia Guarani, a parir da úlima década do século XX o que se viu foi uma
pluralização das práicas arqueológicas, incorporando uma muliplicidade de
vozes na paricipação da produção do conhecimento. Da mesma forma, nota-se
uma crescente ariculação de diferentes teorias arqueológicas, fomentando um
ambiente em que a estratégia para a melhor forma de consituir interpretações
ou compreensões sobre o comportamento, cultura e história das sociedades in-
dígenas é a abordagem holísica.
Todos os trabalhos publicados nesta obra são fruto da Arqueologia aca-
dêmica. Trata-se de sínteses de dissertações, Teses e projetos de pesquisa fo-
cados na Arqueologia Guarani nos litorais Sul do Brasil, Uruguai e Argenina, na
forma de capítulos, por vezes resultantes de projetos de pesquisa com inancia-
mento governamental. Nesse senido, esta obra possibilitará maior circulação
dos trabalhos, através de uma versão editorial de fácil acesso.
O livro é composto de dez capítulos. No primeiro capítulo, Arqueolo-
gia Guarani em Santa Catarina: litoral norte, Dione da Rocha Bandeira apre-
senta uma sistemaização detalhada dos dados etnohistóricos e arqueológicos
disponíveis para a Baía da Babitonga. O trabalho demonstra a tensão entre os
reiterados relatos da presença indígena na região e a ideniicação material de
ocupações notadamente Guarani. Uiliza a toponímia como indício tradicional
da presença indígena e denota a baixa incidência de síios nas mesmas áreas.
Para Bandeira, as cronologias recentes encontradas na Babitonga sugerem um
eixo de povoamento no senido interior-litoral, aproveitando as calhas luviais
existentes em diversos pontos da costa, originando um processo complexo que
culminaria na sobreposição de diferentes levas populacionais cronologicamente
disintas em uma mesma região.
O capítulo seguinte aborda O Povoamento Guarani do Litoral Norte do
Rio Grande do Sul e suas Relações com os Demais Ocupantes da Região, onde
Gustavo Perei Wagner sistemaiza os dados existentes para a região apresen-
tando o processo paulaino de ocupação do território. Sugere um modelo hi-
potéico de povoamento marcado por dois momentos especíicos, avaliando
os episódios de interação cultural entre as diferentes populações indígenas e

10
destas, com o elemento europeu. Inicialmente a conquista Guarani alija as po-
pulações Jês de suas tradicionais áreas de exploração, tanto através de conlitos
bélicos quanto através de relações de parentesco e reciprocidade. O momento
seguinte é marcado pela chegada das frentes de colonização ibéricas que condi-
cionam uma reestruturação das estratégias territoriais e culmina com o despo-
voamento gradual da costa.
No terceiro capítulo, A Cerâmica Guarani do Litoral Norte do Rio Grande
do Sul, Mariana Araújo Neumann considera tecnologia como a arena políica
onde diferentes agentes discutem a produção coleiva do cosmo. Neste senido,
admite que seus produtos traduzem diferentes formas de associação, diferentes
contornos sociais pariculares a contextos locais e temporais, orientando asso-
ciações possíveis para a história indígena pré-colonial. As análises da tecnologia
cerâmica focam no litoral norte do Rio Grande do Sul e oferecem uma leitura
categórica para uma área de grande relevância para o escopo desta obra.
Em Arqueologia Guarani no Lago Guaíba: Releindo sobre a Territoriali-
dade e a Mobilidade Pretérita e Presente, Adriana Schmidt Dias e Sergio Bapista
da Silva propõem compreender o uso do espaço lagunar pelas sociedades gua-
rani pré-coloniais, buscando avaliar aspectos de coninuidade e mudanças nos
padrões de ocupação indígena do território. Empreendem intenso levantamen-
to de dados arqueológicos e incorporam as lideranças Guarani na construção
das estratégias de pesquisa, caracterizando contribuição ímpar à temáica no
sul do Brasil. Desde o Delta do Jacuí até a desembocadura na Laguna dos Patos,
as aldeias anigas ocuparam preferencialmente os pontais, as ilhas e as baias,
buscando locais abrigados da incidência do vento sul e privilegiando as margens
do Guaíba, em detrimento das encostas graníicas, denotando intensa aividade
de navegação e sociabilidade.
Jairo Henrique Rogge sinteiza as pesquisas realizadas pelo Insituto
Anchietano de Pesquisas em Assentamentos Litorâneos da Tradição Tupiguarani:
Um Exemplo do Litoral Central do Rio Grande do Sul. O trabalho apresenta
uma caracterização geral dos síios e respecivas cronologias oportunizando
ao leitor correlacionar os dados arqueológicos locais às áreas adjacentes e
compor uma compreensão regional do processo de povoamento litorâneo. É
importante ressaltar que esse trabalho aponta disinções funcionais para síios
arqueológicos disintos, contribuindo para as discussões do modo de organiza-
ção territorial Guarani.
O capítulo initulado Arqueologia e História Guarani no sul da Laguna dos
Patos e serra do Sudeste, de Rafael Guedes Milheira, aborda a Arqueologia como
história indígena de longa duração. Como tal, o autor busca, em primeiro lugar,

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 11


romper com a perspeciva tradicionalmente imposta pela academia de Arqueo-
logia pré e pós-colonial, que tanto maririza e despersonaliza a história indígena
milenar. Em segundo lugar, o autor buscou cotejar fontes históricas, etnográi-
cas e arqueológicas, demonstrando que o processo de ocupação regional alcan-
ça uma profundidade temporal de aproximadamente 900 anos, num território
consituído entre as terras altas da serra do sudeste e as terras baixas da laguna
dos Patos. Por im, o trabalho busca quesionar a historiograia tradicional que
relega o papel das sociedades indígenas a um segundo plano na consituição da
idenidade local, na perspeciva de que os indígenas, assassinados, escravizados
e territorialmente desapropriados foram silenciados no processo histórico que
consituiu a cidade de Pelotas e região.
O séimo capítulo initula-se La Cuesión Guaraní como un Problema de
Perspeciva e aborda de forma ampla as diferentes caracterizações da cultura ar-
queológica Guarani. Antonio Lezama e María Farías Gluchy destacam que a dei-
nição do que se entende por Guarani, depende da amplitude com que o invesi-
gador enfoca o tema. Quando situada nas escalas coninental, regional ou local,
a categoria Guarani assume, através do pesquisador, diferenças idiossincráicas.
O oitavo capítulo consiste em um texto e uma longa lista de síios ar-
queológicos Guarani, incorporando síios e ocorrências situadas no litoral sul
do Brasil, Uruguai e Argenina, localizados até o ano de 2013. Os síios são sis-
temaizados na forma de uma tabela apresentada em capítulo separado, ao i-
nal dos textos que compõe a obra (capítulo 10). Não é pretensão dos autores a
completude dos dados representados na tabela, uma vez que diversos trabalhos
de levantamento realizados através de contrato não foram publicados e são de
acesso restrito. No entanto, contém a totalidade dos registros de síios publi-
cados até o ano 2013. As informações sobre os síios são divididas em Estado/
País, cidade, localidade, nome do síio, sigla, coordenadas geográicas, datação,
método de datação e fonte bibliográica. Com a referida tabela, o objeivo de
Francisco Silva Noelli, Rafael Guedes Milheira e Gustavo Perei Wagner é siste-
maizar informações que sirvam como subsídios e ferramentas de trabalho para
pesquisas, gestão do patrimônio cultural, projetos de desenvolvimento regional
e composição de Sistemas de Informação Geográica. Anexo à tabela de síios
arqueológicos apresentam-se mapas, cuja confecção permite visualizar as prin-
cipais áreas de ocorrência de síios Guarani no litoral.
O nono capítulo é uma republicação de autoria de Francisco Silva Noelli.
O texto initulado “O espaço dos Guarani: a construção do mapa arqueológico
no Brasil, Paraguai, Argenina e Uruguai” foi originalmente publicado no ano
de 2004 na Revista de Indias. O capítulo apresenta uma síntese da Arqueolo-

12
gia Guarani produzida nos úlimos 20 anos, no que se refere a uma abordagem
teórica que coteja informações arqueológicas, etno-históricas e etnográicas.
Além disso, o autor apresenta um mapa que demonstra a localidade dos síios
arqueológicos Guarani entre Brasil, Paraguai Uruguai, e Argenina, áreas essas
que coincidem com as informações extraídas das publicações dos cronistas e
viajantes dos séculos XVI e XVII.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 13


CAPÍTULO 1

ARQUEOLOGIA GUARANI EM SANTA CATARINA:


LITORAL NORTE3

Dione da Rocha Bandeira4

TRADIÇÃO GUARANI: NO BRASIL E


EM SANTA CATARINA

A Tradição Arqueológica Tupiguarani (grafada sem hífen para diferen-


ciar-se da família linguísica Tupi-Guarani) é deinida a parir de uma cerâmica
pintada (policrômica, com decoração geométrica, em predomínio) e/ou com
decoração plásica, de formas e funções variadas, encontradas em síios rasos
(manchas pretas) que ocorrem no litoral brasileiro e na bacia do rio Paraná
(incluindo Argenina, Uruguai e Paraguai). Além da cerâmica é caracterísico o
sepultamento em urnas.
Inicialmente essa tradição foi subdividida nas subtradições5: Corrugada6·,
com predomínio deste ipo de decoração plásica na cerâmica que ocorria em
síios no sul do Brasil (litoral e bacias dos grandes rios), Pintada7, com predomí-
nio deste ipo de decoração que ocorria em síios do litoral (Sudeste e Nordeste)
e Escovada, com predomínio deste ipo de decoração plásica que ocorria em
síios com inluência europeia (PROUS, 1992).
3 Este arigo baseia-se na tese de doutorado da autora Ceramistas Pré-coloniais da Baía da
Babitonga, SC – Arqueologia e Etnicidade defendida em 2004.
4 Arqueóloga e professora do Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille e do Museu
Arqueológico de Sambaqui de Joinville.
5 Inicialmente as diferenciações que deram origem às subtradições (predomínio de um ipo de deco-
ração) foram relacionadas a diferenças cronológicas entre elas, sendo a Pintada considerada a mais
aniga. Hoje essas diferenças são interpretadas como manifestações regionais (PROUS, 1992).
6 Atualmente esta subtradição é tratada, pela maioria dos arqueólogos, como tradição Guarani.
7 Atualmente esta subtradição é tratada, pela maioria dos arqueólogos, como tradição Tupinambá.
Pesquisas que reúnem informações arqueológicas, etno-históricas e
linguísicas apontam a Amazônia como local de origem dos povos que cons-
ituíram a tradição Tupiguarani e que teriam, há cerca de 3.000 anos A.P., se
dispersado para o sul, seguindo duas rotas, uma pelo interior, pelos Rios Ma-
deira, Guaporé e Paraguai e a outra, pela costa atlânica, a parir da foz do
Rio Amazonas (BROCHADO, 1980, 1989; SCATAMACCHIA, 1993-1995, BUARQUE,
1999). Elas são consideradas, devido aos aspectos acima mencionados, ancestrais
de falantes da família linguísica Tupi-Guarani (tronco linguísico Tupi), Guarani
(Tape, Carijó, Arachã, etc.) e Tupi (Tupinambá, Tupiniquim, entre outros).
No início da colonização, os Guarani viviam em áreas junto à bacia do
rio Paraná e litoral sul do Brasil (RS, SC, PR, MS e SP até Cananéia e países vizi-
nhos) e os Tupi no litoral sudeste e nordeste (PROUS, 1992). Por esta distribui-
ção, atualmente, as subtradições Corrugada e Pintada, estão sendo denomina-
das Guarani e Tupi, respecivamente. O limite das áreas ocupadas por elas é
o mesmo entre índios Tupi e Guarani, o rio Paranapanema, entre São Paulo e
Paraná (SCATAMACCHIA, 1984).
Com base nessa literatura, em termos gerais, pode-se airmar que os tu-
piguarani pré-históricos inham preferência por ambientes com temperatura e
umidade média, nunca ocupando áreas de clima seco e frio com mais de 400m
de alitude. Estavam sempre próximos a rios navegáveis - eram exímios navega-
dores luviais - à mata e muitos, também, junto ao oceano (PROUS, 1992).
Para a sua subsistência plantavam, caçavam, pescavam e coletavam di-
versos alimentos. Na plantação empregavam o sistema conhecido como coivara,
que consiste no estabelecimento de roças mistas temporárias (cerca de 3 a 4
anos) no meio da mata, próximo à aldeia, em que a reirada de plantas maiores e
a queima eram procedimentos prévios. Entre os culivos mais conhecidos estão
o milho e a mandioca, mas também feijões, amendoim e algodão, entre outros.
Há indicaivos de que faziam o manejo das matas próximas às suas aldeias,
expandindo ou até introduzindo espécies de interesse.
A tradição arqueológica Guarani é considerada ancestral dos Carijó ou
Cário, denominação dada aos Guarani do litoral catarinense, contatados desde a
chegada dos primeiros europeus no início do século XVI.
Se em relação à Tradição Guarani, como um todo, há vasta documenta-
ção (material arqueológico, documentos escritos e iconográicos) e milhares de
referências bibliográicas (MELIÁ et al., 1987; NOELLI, 19938, entre outros) que
permitem considerá-los um dos mais estudados no Brasil, para os Carijó, a do-

8 Trabalho que faz revisão críica de publicações arqueológicas, etno-históricas, etnológicas e


linguísicas referentes ao Guarani e grupos relacionados (falantes do tronco linguísico Tupi-
-Guarani) em todo o Brasil com ênfase ao aspecto subsistência.

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cumentação conhecida é pouca e menor ainda são os ítulos publicados. Dessa
forma, no litoral de Santa Catarina, o que se conhece hoje desse povo tem como
base documentos, publicações e estudos etnográicos dos Guarani que viveram
em outras regiões.
Há diversos relatos do século XVI que se referem a indígenas no litoral de
Santa Catarina. Para o norte do Estado os mais conhecidos são os de Binot Palmier
de Gonneville (PERRONE-MOISÉS, 1992), francês que alguns acreditam que este-
ve em São Francisco do Sul em 1503, e do espanhol Álvar Núñes Cabeza de Vaca
(1999). Este úlimo chegou a Assunção, no Paraguai, em 1541, parindo do litoral
de Santa Catarina na altura da foz do rio Itapocu seguindo o Peabiru9 (caminho
indígena) acompanhado e orientado por índios da Ilha de Santa Catarina.
A indicação da foz do rio Itapocu, em várias publicações (por exemplo,
CARDOSO e WESTPHALEN, 1986), como um dos pontos de entrada do Peabiru
ao coninente, conhecido pelos indígenas que viviam no litoral central de Santa
Catarina, como atesta a expedição de Cabeza de Vaca, tem levado a considerar
essa região como área de domínio dos Carijós, ou seja, Guarani.
O Guarani indígena, em termos gerais, segue o mesmo padrão da Tra-
dição Tupiguarani sucintamente caracterizada acima. Elementos disinivos que
podem ser apontados são, além de um percentual maior da decoração plásica
sobre a pintura em cerâmica, a preferência no culivo da mandioca ao invés do
milho e uma quase ausência do canibalismo.
As datações existentes indicam sua presença no Centro-Oeste e no sul do
Brasil entre 2.010 ± 75 anos A.P. (Foz do Iguaçu/PR) e 850 ± 75 anos A.P. (Foz do
Iguaçu/PR) (NOELLI, 1999-2000).
Um aspecto extremamente marcado neste grupo, segundo importantes
pesquisas arqueológicas realizadas (BROCHADO, 1989; NOELLI, 1993, 1999-
2000) é a sua paulaina expansão territorial associada ao crescimento demo-
gráico. A presença do Guarani em extenso território, que inclui o oeste e o sul
do Brasil mais territórios de países vizinhos, fez emergir uma imagem de con-
quistador que, ao se expandir, iria dominando, no dizer de alguns, guaranizando
(DE MASI, 2000) os povos ou pessoas (NOELLI, 1999-2000) que ia encontrando.
Segundo Noelli (1999-2000, p. 247-48), o Guarani inha “a prescriividade como
norma. As pessoas e as “coisas novas” eram incorporadas e enquadradas nos
9 Antes dele, em 1542, o português Aleixo Garcia tomou o mesmo caminho aingindo a Bolívia
e, em 1555, outros espanhóis, entre eles Hernando de Trejo, parindo da Ilha de São Francisco
chegaram a Assunção. Segundo Quandt (2003), o Peabiru pariria do canal de Três Barras na
porção nordeste da Baía da Babitonga. Cardoso e Westphalen (1986) indicam uma entrada na
altura do rio Itapocu e outra junto ao canal de Três Barras.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 17


seus códigos e estruturas [...] eram radicalmente prescriivos reproduzindo-se
coninuamente com pouca variabilidade na cultura material”.
Em suas aldeias viviam entre 300 a 600 pessoas, em média, reunidas em
famílias nucleares que compunham algumas famílias extensas em torno de uma
liderança. O líder não conquistava esta posição por herança, mas por suas qua-
lidades. Os assentamentos desses grupos se deram, em geral, como já airma-
mos, próximos a cursos de água.
Em termos de alimentação, além da caça e da pesca generalizada, a cole-
ta de plantas (e mel) e o planio eram a base da subsistência. A plantação era fei-
ta não somente nas roças dentro da mata, mas em outros locais tais como junto
às casas e caminhos (NOELLI, 1999-2000). Tinham um grande conhecimento das
regiões onde se instalavam, manejando espécies de interesse. Há informações
que indicam terem eles trazido para o sul espécies vegetais da Amazônia.
Há inúmeros estudos sobre a cerâmica que indicam uma grande varieda-
de de formas, tamanhos e tratamentos de superície em vasilhames que serviam
para a preparação de alimentos e para o consumo. Entre os primeiros destacam-
-se as panelas (yapepó), que pelo tamanho avantajado também podiam servir
de urna funerária, os cambuchí, talhas uilizadas para preparar e servir a bebi-
da fermentada da mandioca (cauim) e também uilizada como urna funerária.
Entre aqueles com função de servir alimento, destacam-se os copos (...) para a
bebida fermentada (cambuchí caguatá) e os pratos (ñae e ñaembé) (NOELLI,
1999-2000).
Em Santa Catarina pouco foi produzido pela Arqueologia sobre os Guarani.
Há bem mais referências a síios ideniicados com informações de moradores em
todo o estado do que a parir de pesquisas em síios arqueológicos. No litoral,
Piazza (década de 60), Eble e Rohr (década de 70) e Lavina, recentemente (1999,
2000), realizaram pesquisas em síios Guarani.
Desde a década de 1990, com o advento dos estudos ambientais, muitas
áreas passaram a ser alvo de levantamentos arqueológicos. Entretanto, nas áreas
aingidas pela Usina Hidrelétrica (UHE) Quebra Queixo (São Domingos e Ipuaçu),
pela Linha de Transmissão (LT) Quebra Queixo-Pinhalzinho (de Ipuaçu a Pinhal-
zinho, extremo oeste), pela UHE Barra Grande (de Anita Garibaldi a Lages), pela
UHE Salto Pilão (Ibirama, Lontras e Apiuna) e pela LT Blumenau-Itajaí, nenhum
síio Guarani foi encontrado10. Já no litoral sul e central, a maioria dos levanta-
mentos tem ideniicado síios dessa tradição11.

10 Conforme informação oral da arqueóloga Ana Lúcia Herbets que paricipou destes levantamentos.
11 Conforme informação oral da arqueóloga Ana Lúcia Herbets, no levantamento da BR-101,
doze novos síios Guarani foram localizados, além de três síios cerâmicos, provavelmente Ita-

18
Somente dois síios Guarani foram parcialmente estudados no litoral do
Paraná, segundo Chymz (2002). Os registros desses síios foram todos frutos
de descobertas pontuais, ou seja, poucas foram as áreas com levantamentos
sistemáicos. Esta falta de informação deve-se, segundo ele, ao privilégio dado
aos sambaquis.
Os registros de cerâmica Guarani no litoral do Paraná remontam ao início
do século passado, em Paranaguá e Antonina, associados a síios a céu aberto
(manchas pretas) (CHYMZ, 2002). Bigarella (1950-51) registra três síios com ce-
râmica que atribui aos Guarani, às margens da baía de Guaratuba. Chymz (2002)
em visita a estes síios constata que apresentam cerâmica Itararé. Somente um
deles teria camada com cerâmica Guarani sobre a Itararé. Esta cerâmica Guarani
corresponde a vasilhas com acabamento simples, corrugado ungulado e ungula-
do tangente e grãos grossos de aniplásico.
Apesar de a cerâmica analisada por Chymz ser considerada Guarani, con-
sultando-se relatos do século XVI, sobre presença indígena no litoral do Paraná,
encontram-se indícios de que lá estariam índios Tupiniquin, apontando uma con-
tradição entre dados arqueológicos e etno-históricos e levantando dúvida acerca
dos limites entre os Guarani e os Tupi.
Piazza trabalhou em Santa Catarina enquanto esteve vinculado ao
PRONAPA, no litoral norte, no planalto de Canoinhas, nos campos de Lages,
no vale do Itajaí e no médio e alto Uruguai. Este pesquisador ideniicou síios
Guarani somente no litoral norte e no médio e alto Uruguai (PIAZZA, 1971 e
1974). No litoral norte, localizou um síio (Poço Grande) a parir do qual criou a
fase Itapocu, da subtradição Corrugada, situada cronologicamente entre 1.500 e
1.600 depois de Cristo (d.C.)12. No médio Uruguai, ideniicou síios para os quais
propôs a fase Mondaí, da subtradição Corrugada, datada em torno de 500 d.C. Já
para o alto curso desse rio propôs duas fases, a Ita e a Ipira, sendo a primeira da
subtradição Corrugada e a segunda da Escovada. Para a fase Ita obteve datação
em torno de 1.000 anos A.P., enquanto para a Ipira, obteve uma cronologia que
estaria entre 1.500 e 1.600 d.C.
Esse mesmo autor realizou escavações no síio Rio Tavares, situado em área
de dunas em Florianópolis (PIAZZA, 1965). Para a Ilha de Santa Catarina, além dos
trabalhos de Rohr e Piazza, Schmitz (1959) faz uma síntese da cerâmica Guarani.

raré. Em Florianópolis, dois síios Guarani foram ideniicados em estudos ambientais na Praia
do Campeche.
12 Piazza indica em mapa na publicação de 1974 um síio Guarani na Ilha de São Francisco do
Sul próximo ao sambaqui Enseada. No entanto, este síio nunca foi encontrado em diversos
levantamentos realizados recentemente nem mencionado pelos anigos arqueólogos que
trabalharam na região como Bigarella, Tiburius, Beck e Rohr. O que nos leva a quesionar a
existência do mesmo.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 19


No Vale do Itajaí foram realizados levantamentos nas décadas de 60 e 70,
por Piazza e Eble (1969) que constataram a presença de grande número de síios de
diferentes ipologias – casas subterrâneas, abrigos-sob-rocha, grutas, síios cerâmi-
cos e síios abertos, mas um único síio Guarani (SC-VI-69) (EBLE e SCATAMACCHIA,
1974). Este síio, segundo Eble (1973, p. 47) “está completamente dissociado do
contexto geográico que normalmente suporta material tupiguarani, isto é, o litoral
e a região do Vale do Rio Uruguai”.
Rohr (1984), na sua publicação Sítios Arqueológicos de Santa Catarina
refere-se ao litoral registrando os seguintes paradeiros Guarani: 20 em Jagua-
runa, 02 em Imbituba, 02 em Garopaba, 01 em Paulo Lopes, 01 em Palhoça, 06
em Florianópolis e na bacia do Uruguai, 51 no município de Itapiranga, 02 em
Mondaí, 02 em Caxambu do Sul, 01 em Chapecó e 04 em São Carlos.
Note-se que os síios Guarani cadastrados por Rohr, no litoral de Santa
Catarina, ocorrem somente nos municípios do sul do Estado (o município mais
ao norte é Florianópolis), embora cadastre grande quanidade de sambaquis
e “síios rasos de sepultamento” (cerâmica Itararé) em vários municípios do
litoral norte.
O tamanho das aldeias Guarani varia entre 60m2 e 10.000m2 e estão, na
maioria das vezes, próximas a cursos de água doce (lagoas e rios) e até a 5km
de distância do oceano, principalmente em áreas de substrato arenoso, como as
resingas (ROHR, 1984; LAVINA, 1999 e 2000).
Há, entretanto, raros registros de síios Guarani em encosta de morro no
litoral, como é o caso do síio cadastrado por Lavina no canto norte da Praia do
Rosa, em Garopaba, a uns 60m de altura em frente a uma lagoinha.
Algumas vezes, a cerâmica Guarani ocorre sobre ou misturada com cerâ-
mica da Tradição Itararé. Este é o caso do síio raso da Tapera, em Florianópolis,
pesquisado por Rohr, cujo material foi revisto por Silva et al., (1990).
No litoral de Santa Catarina, as datações mais anigas indicam o início da
ocupação em torno de 500 anos antes da chegada dos primeiros europeus no
Brasil (1050 ± 150 anos A.P., mancha 19, Tubarão, Lavina, 1999).
No litoral sul, Lavina (2000), através dos estudos realizados para a cons-
trução da rodovia Interpraias, escavou três síios Guarani (Acampamento da
Escola Isolada Lagoa dos Esteves, Aldeia do Cemitério da Lagoa dos Esteves e
Aldeia da Lagoa Mãe Luzia). Datações de 720 ± 70 e 610 ± 60 anos A.P. foram
obidas para os úlimos dois síios. Esse mesmo arqueólogo, em estudo realizado
na ZPE, em Tubarão (LAVINA, 1999), também no litoral sul, localizou 25 estrutu-
ras de habitação. Das escavadas obteve datações entre 715 ± 75 e 1.050 ± 150
anos A.P. Nessa região, Eble e Schmitz (1972) escavaram um síio sobre dunas no
município de Laguna.

20
TRADIÇÃO GUARANI NA REGIÃO DA BAÍA DA
BABITONGA – LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA

No litoral norte, apesar das menções a indígenas desde o início da colo-


nização, os dados arqueológicos publicados a que ivemos acesso referem-se a
um único síio Guarani, situado às margens do rio Poço Grande, aluente do rio
Piraí (PIAZZA, 1974), nos limites entre os municípios de Joinville e Guaramirim,
localidade denominada Poço Grande, anteriormente mencionado. Há suspeita,
pela presença de poucos fragmentos cerâmicos corrugados, de síio Guarani jun-
to ao rio Sambaqui, aluente do rio Palmital, em Joinville. Segundo a arqueóloga
Mírian Bapista Carle (comunicação verbal) foi ideniicado síio Guarani em São
Francisco do Sul em 2011 na localidade de Iperoba (UTM 741437E/7097183S)
durante trabalhos de Arqueologia de contrato.
Outra referência a possível síio Guarani é de Gualberto (1908, p. 296)
quando se refere a sambaquis na região. Declara:

[...] se tem encontrado nos Sambaqui igaçabas ou urnas de barro,


como um facto raro, e eu mesmo encontrei e possuo fragmentos
que se podem atribuir a um desses vasos, achados em um Sambaqui,
perto da foz do rio Paraty, pouco distante do canal do Araguary, que
é a barra sul do rio de S. Francisco do Sul.

Pela terminologia que usa – igaçabas - parece estar referindo-se a um


síio com cerâmica Guarani. Entretanto, ao mencionar que possuía fragmentos,
parece não ter encontrado um vasilhame inteiro de grandes dimensões que é
caracterísico desta tradição. Além disso, não se tem, via de regra, ocupações
Guarani sobre sambaquis; isto tem sido uma caracterísica das ocupações Itara-
ré. Segundo Santos (apud CHYMZ, 1951, 2002, p. 75-95) o frei Gaspar da Madre
de Deus, no século XVIII, teria mencionado “achados de “...pedaços de panellas
quebradas...” em ostreiras da Província de Santa Catarina”. Acreditamos ser a
mesma situação.
Por outro lado, a toponímia das denominações de diversos acidentes geo-
gráicos, municípios, localidades e bairros da região indicam suas origens em lín-
gua indígena que acreditamos ser Tupi-Guarani. Para o nome da baía, Babitonga,
há diferentes interpretações. Para Gualberto (apud PEREIRA, 1984) Babitonga
seria uma variação de ibiporanga – ibi - terra e poranga - formosa. Teodoro Sam-
paio (apud PEREIRA, 1984) considera ser Babitonga variação de Bopitanga, por

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 21


sua vez, variação de mbipitanga que signiica - de vermelho ou avermelhar, ou
variação de mbaé-pitanga - a vermelha. Tenório de Albuquerque (apud PEREIRA,
1984) acredita ser corruptela de babaétoungá – lugar contornado pelas águas
ou lugar das pitangueiras.
Ideniicamos outros topônimos na região que parecem corresponder a pa-
lavras (ou radicais) de língua Guarani. Conforme o dicionário de Luiz Caldas Tibiriçá
(1989) e Bueno (1982), seus signiicados podem ser os seguintes (Quadro 1):

Quadro 1 – Topônimos da região Baía da Babitonga


Topônimo Tipo/Município13 Correlato em Guarani segun- Correlato em Guarani segundo
do Tibiriçá (1989) Bueno (1984)
Acarai Rio Caraí - senhor, vinho ou Acara – cascudo
chicha de cará
/SFS Caraí – variedades de macacos
A – fruto, semente, sombra,
alma Acaray – rio dos acarás
Araquari Município/ARA Ara – diaCuarahi – sol Araquara – esconderijo de
papagaio
Cuari – furo
Ara – dia, nascer, correr, alto

Quara – furado,

cuá, kuá - cintura, meio –

ri – líquido, água corrente,

Araguari – rio das baixadas dos


papagaios ou araras
Arataca Estrada/ Ara – dia, tempo, céu, irma- Arataca – armadilha para caça
mento, mundo, época de pequeno porte
JLL
Babitonga Baía/ Mba – totalidade Embopitanga – nome dado à
barreira avermelhada nas cos-
diversos tas de SC
Bupeva Localidade/SFS Peva (= pea) – esse (a), abrir, Yby – terra
sacar, separar.
Peba – chata, plana, planície
Cubatão Rio/JLL

13 SFS, São Francisco do Sul; ARA, Araquari; JLLE, Joinville; ITA, Itapoá; GUAR, Guaramirim.

22
Quadro 1 – Topônimos da região Baía da Babitonga
Topônimo Tipo/Município Correlato em Guarani segun- Correlato em Guarani segundo
do Tibiriçá (1989) Bueno (1984)
Gamboa Rio e Localidade/ Caá-mbó – o feixo, barreira para
peixe
SFS
Iperoba Localidade/SFS Ipe – na água, Ipé – pato Ypé-roba – casca amarga, igual
a Peroba
I – pé – o que é plano, raso
Árvore de lenho duro
Ro – amargo, rançoso, varie-
dade de mandioca.
Ipiranga Localidade/ I – água, rio Ipyrunga – começar

ARA Piri – junco, esteira Ypy – pé planta, fundo do rio

Anga – alma, espírito, essên-


cia, ânimo.
Iririú Bairro/JLL Iriru – recipiente de água Iriri = riri – ostra, molusco

Riru – vasilha, recipiente U – comer, beber, morder, pre-


to, negro
I – água, rio
Itapoá Município/ ITA Ita – pedra Ita-apuã – cabo de pedra

Po-a – sorte Ita – pedra

Pu-ã – levantar-se, por-se de Pu – onomatopéia de estampi-


pé do

Pu – rebentar, som. Ã – cousa, objeto, instrumento


redondo
à – sombra, alma.

Á – cair, desprender-se
Itaum e Bairro e rio/ JLL Ita – pedra Itaú – pedra preta
Itaum-açu
Hu (~) – negro, lecha.

Assu – lado esquerdo


Iinga Bairro/ Tingá – quebrar as pontas Iinga – água branca, rio branco

JLL I – água, rio I – água

Tinga – branco

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 23


Quadro 1 – Topônimos da região Baía da Babitonga
Topônimo Tipo/Município Correlato em Guarani segun- Correlato em Guarani segundo
do Tibiriçá (1989) Bueno (1984)
Itacoara Morro/ Ita – pedra Itakuara – cova de pedra, fur-
na, gruta
JLL Cuara (= cuá) – furo, cova,
oriício, abertura Taquara – bambu

I - água
Itapocu Rio/ Ita – pedra Itapucu – pedra comprida

diver- Pucu – comprido, alto


sos
Jacu Localidade/ARA Jacu – ave galinácea de car- Yacu – desconiado, ave
ne saborosa
Jacuinga Rio e Morro/SFS Jacu – ave galinácea de car- Yacu -inga – jacu branco
ne saborosa

Ingá – arvore da família


leguminosa
Jaguaruna Rio/Localidade/ Yaguara – cão, onça, igre
ITA
Una – preto
Jarivatuba Bairro/JLL Jarivá – variedade de pal- Jaribá – fruta que cai antes de
meira amadurecer

Tuva - pai Tuba – pai


Jaivoca Localidade/ Jai – monículo, amontoado Jaiv – ia-i – que está por inga,
ou abelhas claras
JLL Oca – praça, rua
Jaii – furúnculo, tumor

Boc – cova, buraco


Mutuca Rio/JLL Mutuca ou butuca – vespão,
mosca grande
Parana- Bairro/JLL Paraná – rio caudaloso Paranaguá – enseada do mar,
guá-mirim baía, porto
Guá – indica procedência
Mirim – pequeno
Miri (~) – pouco, pequeno.

24
Quadro 1 – Topônimos da região Baía da Babitonga
Topônimo Tipo/Município Correlato em Guarani segun- Correlato em Guarani segundo
do Tibiriçá (1989) Bueno (1984)
Parai Rio/ARA Pará – maizado, tabaco, Paraty – baía, porto e mar
mar, oceano. tranquilo

Ti (^,~) – nariz, bico, pudor, Paratyy – rio das tainhas


vergonha, urina, montão,
ponta, branco Pirai - tainha

Parai – Tainha
Pirabei- Distrito/ Pira – crua, cru. Pira – pelo, couro
raba
JLL Pirábiá – peixeiro, cevar peixe

Eirabiá – gosto do mel


Piraí Rio/JLL Pira – cru, crua Pira – couro, pele

Pirãi – peixe de dente agu- Pira – peixe de pele ou couro


çado terrivelmente agressivo
I – água
Quai Rio/GUA Cuai – pequeno roedor Quai – quai
Quiriri Rio e serra /JLL Kiriri – calar, silenciar, silên- Quiriquiri – gavião, falcão
cio, quietude
Saguaçú Lagoa/JLL Saguassu – grande
(fruta,semente), variedade
de bugio
Saí (Saí- Localidade/ Sai – galinheiro, Saí – pássaro
-mirim e
Saí-guas- ITA Sa-i - pequeno, pouco, es- Sai (~) – olhos pequenos, es-
su) casso perto

Sa-i – nome de várias aves

Miri (~) – pouco, pequeno

Guassu – grande
Tapera Localidade/SFS Taperá – espécie de andori- Taperá – andorinha
nha grande
Taba-era – taba (aldeia) aban-
Taperé – tapera, donada em ruínas
casa abandonada, em ruínas

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 25


Quadro 1 – Topônimos da região Baía da Babitonga
Topônimo Tipo/Município Correlato em Guarani segun- Correlato em Guarani segundo
do Tibiriçá (1989) Bueno (1984)
Ubatuba Rio e Localidade Tuva – pai Yba tyba – pomarUibá-tyba –
/SFS canavial das lechas

Ybá-tyba – porto das canoas


Una Localidade/SFS Una – preto,

Uná - grãos

A questão da toponímia será retomada mais adiante.


Em pesquisa realizada por nós em nosso doutoramento (BANDEIRA,
2004) não foram ideniicadas novas evidências arqueológicas de ocupação Gua-
rani. Nenhum dos 72 sambaquis prospectados por nós apresentou material que
possa ser associado a esta Tradição. Os arqueólogos entrevistados nesta pesqui-
sa que estudaram a região no passado (Anamaria Beck, Walter Piazza e João José
Bigarella) não inham informações além das já publicadas sobre síios Guarani.
Piazza não conirmou a existência de síio Guarani na Enseada. Além disso, fo-
ram obidas informações, com alguns moradores contatados, sobre sambaquis
com cerâmica, porém, nenhum deles apresentou cerâmica desta Tradição.
Considerando não ter sido ideniicado outro síio desta Tradição na re-
gião, realizamos (BANDEIRA, 2004) nova escavação no síio Guarani Poço Grande,
já mencionado, cujo alto grau de destruição produzido por quase 100 anos de
planio, inclusive com maquinário moderno, permiiu unicamente a coleta de
algum material cerâmico muito fragmentado e desgastado.
Além destes escassos dados arqueológicos, há uma vasta lista de publi-
cações e documentos que se referem ao litoral brasileiro nos primeiros séculos
de colonização. Entretanto, em se tratando de Santa Catarina e, em paricular o
litoral norte, são escassas.
A literatura mais acessível apresenta informações dos séculos XVIII e XIX
sobre o litoral central, como é o caso da publicação Ilha de Santa Catarina –
Relatos de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX (HARO, 1996). Alguns
desses viajantes esiveram no litoral norte e mencionam a cidade ou porto de
São Francisco ou São Francisco do Sul e cujos textos podem ser encontrados nos
volumes reeditados na Coleção Reconquista do Brasil, das editoras Itaiaia e da
USP. O inglês Mawe (1978, p. 57), que esteve em Santa Catarina em 1807, refere-
-se ao “magníico porto de São Francisco”. O francês Auguste Saint-Hilaire (1978)

26
apresenta, em Viagem a Curiiba e Província de Santa Catarina, capítulo especí-
ico sobre o Distrito de São Francisco, no qual teria estado em 1820. Seu relato
é interessante porque remete constantemente a outros autores que escreveram
sobre a região, no século XIX, como Aubé e Mawe, e também nos primeiros sé-
culos da colonização, como Gabriel Soares de Souza (em sua viagem de 1587).
Saint-Hilaire (1978) quando se refere aos indígenas da região menciona o Carijó.
Diz “A ilha de São Francisco inha sido outrora ocupada pelos índios Carijós”
(SAINT-HILAIRE, 1978, p. 141). Deixando claro, entretanto, com esta airmação e
com outra frase que inicia com “No tempo dos índios...” (SAINT-HILAIRE, 1978, p.
139), que na época de sua visita não havia mais índios na região.
Há várias outras publicações que tratam de visitas à região de São Fran-
cisco como as de Carl Seidler em 1825, de Robert Avé-Lallemant em 1858, de
Ferdinand Denis (1980) e do Pe. Aires de Casal (1976).
Entretanto, não há referência à presença indígena. Pelo decurso dos sé-
culos anteriores, não mais havia índios Guarani no litoral catarinense. Quando
mencionados nesses relatos, o foram com base em informações de personagens
que esiveram em Santa Catarina, nos séculos XVI e XVII.
Muitos foram os europeus que passaram pela costa catarinense nos dois
primeiros séculos da colonização. Nas obras clássicas que tratam da História de
Santa Catarina (BOITEUX, 1912; CABRAL, 1994; LUZ, 2000; PIAZZA, 1983) há re-
ferências, para o século XVI, aos seguintes viajantes:
Binot Palmier de Gonneville (1504); Dom Nuno Manoel e Cristovão de
Haro (1514) que deram o nome de São Francisco à região, conforme Boiteux
(1912); João Dias Solis (1515) que se refere à Ilha da Prata, que alguns conside-
ram Santa Catarina e outros, São Francisco, e deu o nome de São Francisco à
região, segundo Pereira (1984); Cristovão Jacques (1521); Fernão de Magalhães
(?); Alonso Garcia (1522); Garcia Jofre de Loyasa e Don Rodrigo de Acuña
(1525); Sebastião Caboto (1526 ou 1542); Martin Afonso de Souza (1531-1532);
Pedro Mendoza e Gonzalo de Mendoza (1534); Alonso Cabrera (1537); Don
Álvar Núñes Cabeza de Vaca (1541); Juan Hernandes (?), vindo do Paraguai
para incentivar o cultivo da mandioca entre os índios para abastecer navios
(conforme Cabral, 1994); Diego Sanabria (Filho de Juan de Senabria) com Juan
de Salazar y Espinoza (1553); Hans Staden (1549); Dom Pedro Ortiz de Zarate
(1572); Rui Dias de Melgarejo (1573); Don Diego Mandieta (1573); Francis Drake
(1581); Juan Ortiz de Zarate (?) e Jaime Rasquim (?).
A historiograia regional, em geral, tem considerado que a expedição do
capitão francês Binot Palmier de Gonneville esteve em São Francisco do Sul nos
primeiros anos do século XVI (de 05 de janeiro a 3 de julho de 1504). O municí-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 27


pio de São Francisco do Sul comemorou seus 500 anos em 2004. Entretanto, há
controvérsias se esta expedição esteve mesmo em São Francisco do Sul.
O relato dessa expedição seria o primeiro, e um dos poucos conhecidos até
o momento, que faz referência aos indígenas que viviam no litoral norte de Santa
Catarina nesse período. No livro de Leyla Perrone-Moisés (1992), initulado Vinte
Luas, há, na íntegra,14 o documento (Relação da Viagem do Capitão de Gonneville
às Novas Terras das Índias) em que Gonneville conta, resumidamente, como foi a
viagem e descreve as aldeias e alguns dos costumes indígenas, já que o diário de
bordo foi perdido com o naufrágio do navio após ataque de piratas.
Os aspectos da cultura material dos naivos descritos são fontes impor-
tantes para uma possível analogia entre as informações arqueológicas e dos
Guarani em geral. Destacamos os seguintes trechos:
[...] vivendo da caça e pesca, e do que a terra lhes dá de per si, e de
alguns legumes e raízes que plantam; indo meio nus, os jovens e a maioria dos
homens usando mantos, ora de ibras trançadas, ora de couro, ora de plumas,
como aqueles que usam em seus países os egípcios e os boêmios, exceto que
são mais curtos, com uma espécie de avental amarrado sobre as ancas, indo até
os joelhos, nos homens, e nas mulheres até o meio das pernas; pois homens e
mulheres se vestem da mesma maneira, exceto que a vesimenta da mulher é
mais longa.
E usam as fêmeas colares de pulseiras de osso e de conchas; não o homem,
que usa, em vez disso, arco e lecha tendo por virotão um osso devidamente ace-
rado, e um chuço de madeira muito duro, queimado e aiado no alto; o que cons-
itui toda a sua armadura.
E vão as mulheres e as meninas com a cabeça descoberta, tendo os cabe-
los genilmente trançados com cordéis de ervas ingidas de cores vivas e brilhan-
tes. Quanto aos homens, usam longos cabelos soltos, com um círculo de plumas
altas, de cores vivas e bem dispostas. [...].
Também dizem que o dito país é medianamente povoado.
E as habitações dos índios formam aldeias de trinta, quarenta, cinquenta
ou oitenta cabanas, feitas à maneira de galpões com estacas unidas umas às
outras, ligadas por ervas e folhas, com as quais os ditos habitantes são igualmen-
te cobertos; e têm por chaminé um buraco, para sair a fumaça. As portas são
bastões corretamente ligados; e eles as fecham com chaves de madeira, quase
como as que se usam, nos campos da Normandia, nos estábulos.
E seus leitos são as esteiras macias cheias de folhas ou penas, suas cober-
tas são esteiras, peles de animais ou plumagens; e seus utensílios domésicos

14 Tradução feita por esta autora do documento original em francês.

28
são de madeira, mesmo as panelas, mas estas são revesidas de uma espécie de
argila da espessura de um dedo, o que impede que o fogo as queime.
Também dizem ter notado que o dito país está dividido em cantões, cada
um com seu Rei; e embora os ditos Reis não sejam mais bem alojados e vesidos
do que os outros são muito reverenciados, por seus súditos; e nenhum é tão
atrevido que ouse desobedecer-lhes, já que eles têm poder de vida e de morte
sobre seus vassalos [...].
O dito rei era aquele em cuja terra permaneceu o navio; seu nome era
Arosca. Seu país inha a extensão de um dia, e era povoado de cerca de uma
dúzia de aldeias, cada uma das quais inha seu capitão paricular, e todos obe-
deciam ao dito Arosca.
[...] em paz com os Reis vizinhos, mas eles e seus vizinhos guerreavam
com outros povos das terras interiores: contra os quais invesiu duas vezes, du-
rante a estada do navio, levando de quinhentos a seiscentos homens cada vez
[...] (PERRONE-MOISÉS, 1992, p. 21-23).
Entretanto, para Pereira (1984) a questão acerca do local onde aportou
a expedição de Gonneville coninua em aberto. A semelhança entre a baía de
Babitonga e o rio francês Orne ideniicada pelos expedicionários quando aden-
traram a costa à procura de um porto não se conirma. Além das diferenças mor-
fológicas (o rio Orne seria muito menor), a questão básica é que a Babitonga não
é um rio, embora a maioria das baías brasileiras tenha sido ideniicada como
rios (Rio de Janeiro, por exemplo, entre outros). As publicações todas (Cândido
Mendes de Almeida, Tristão de Alencar Araripe, H. Boiteux, entre outros) que
airmam ter estado Gonneville e sua expedição na baía da Babitonga, basearam-
-se na conjetura do geógrafo francês Armand d’Avezac (PEREIRA, 1984 p. 24)
que, em 1869 publicou a relação autênica. Neste documento, declara:
Como a terra onde aportaram era ao sul do trópico e aí chegaram ao cair
das calmarias, torna-se evidente que o surgidouro deverá ser na costa do Brasil,
entre as laitudes de 24’ por lado e 27’ a 30’ por outro lado. Ora, na laitude mé-
dia entre os dois termos, aos 26’ e 10 sul, desemboca o Rio de São Francisco do
Sul, no país habitado pelos Carijós (apud PEREIRA, 1984, p. 17).
Aleixo Garcia (em 1522) e Álvar Nuñes Cabeza de Vaca (em 1541), tam-
bém esiveram na costa norte catarinense. Percorreram o caminho indígena co-
nhecido como Peabiru que ligava o Atlânico ao Pacíico. O segundo viajou até
Assunção e o primeiro até os Andes, tendo sido o primeiro europeu a conhecer
o império Inca (BOND, 1998). Ambos deram início à viagem na foz do rio Itapocu,
acompanhados de índios Guarani. Outro viajante, que também empreendeu
esta viagem, foi Juan de Salazar y Espinoza, em 1551.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 29


Tivemos acesso ao relato de Álvar Núñes Cabeza de Vaca, através da edi-
ção de 1999 de seu livro Naufrágio e Comentários. Entretanto, nada menciona
sobre o litoral norte e nem sobre indígenas que habitavam aquelas terras. Uni-
camente diz: “Cruzaram pelo rio Itabocu, tendo tomado posse do mesmo e de
toda aquela terra em nome de Vossa Majestade, como terra nova descoberta”
(CABEZA DE VACA, 1999, p. 156).
Hans Staden (1974), na segunda viagem que fez ao Brasil, em 1549, com
Juan de Salazar y Espinosa, esteve, devido ao naufrágio da embarcação em que
viajava, durante dois anos na Ilha de Santa Catarina. Menciona em alguns mo-
mentos a presença indígena, porém, sem apresentar maiores informações.
Dado importante relaivo a esta viagem é que parte da tripulação que
icou na ilha de Santa Catarina mudou-se para a Ilha de São Francisco e lá per-
maneceu por cerca de dois anos. Entre eles está o casal Hernando de Trejo e
Maria de Sanábria,15 que teve, nesta ilha, o ilho Hernando de Trejo y Sanábria,
posteriormente, bispo de Tucuman e fundador da Universidade de Córdoba. Em
1553, o jesuíta Leonardo Nunes, chega à ilha para resgatar as senhoras.
Entretanto, não encontramos nenhuma publicação que trouxesse maiores
informações sobre este período ou referência a documento produzido por alguns
dos membros da expedição.
Outro ipo de fonte em que é possível encontrar informações sobre indí-
genas de Santa Catarina, são os relatos de religiosos. Uma das mais importantes
referências é a obra de Seraim Leite (1945) História da Companhia de Jesus no
Brasil. Há um capítulo especíico no livro V sobre Santa Catarina.
São relatadas, para a segunda metade do século XVI e século XVII, as
missões dos seguintes padres: Leonardo Nunes em 1553, Pero Correia e João de
Souza em 1554, Agosinho de Matos e Custódio Pires em 1596, Jerônimo Rodri-
gues e João Lobato entre 1605-1607 (A Missão dos Carijó), Afonso Gago e João
de Almeida em 1609, João Fernandes Gato e João Almeida em 1617, Antônio de
Araújo e João de Almeida em 1622, Pedro da Mota e Pero Rodrigues em 1624,
Manuel Pacheco e Francisco de Morais em 1628, Inácio de Siqueira e Francisco
de Morais em 1635.
A missão dos padres Jerônimo Rodrigues e João Lobato, que ivemos
oportunidade de ler na íntegra, não se refere a índios do litoral norte de Santa
Catarina. Apesar de que, na relação produzida pelo Padre Jerônimo Rodrigues,
15 Em pesquisa no Arquivo Nacional www.arquivonacional.gov.br e Biblioteca Nacional
www.bn.br não encontramos informações disponíveis indexadas a este período e a estes
personagens. O mesmo ocorreu em pesquisa que fizemos no Arquivo Público de Santa
Catarina (só documentação a partir XVIII). O Catálogo de documentos avulsos manuscritos
referentes à Capitania de Santa Catarina – 1717-1827 de Serpa e Flores (2000) não aborda a
documentação referente aos primeiros séculos de colonização.

30
ao relatar a origem e uma das jusiicaivas da missão, diz “[...] em que lhe pedia
Padres pera virem com ele a pousar no Rio de S. Francisco, que está naquela
paragem, aonde os Carijós mataram nossos Irmãos [...]” (LEITE, 1940, p. 197).
Entretanto, o desino dessa missão era Laguna. Ao se referir à chegada a Laguna,
Padre Jerônimo diz “E assim chegamos à terra dos Carijós, aos 11 de Agosto de
1605 [...]” (LEITE, 1940, p. 215). Como se ali vivessem os Carijós e não, em outros
pontos do litoral.
Durante a viagem, são forçados a adentrar o Rio de São Francisco. Deste
trecho da viagem a única menção a indígenas é a seguinte:
Saídos, pois de Paranaguá, izemos nossa viagem com mares mui gros-
sos, e sempre a remos. E, chegando de fronte da barra de um rio, que se chama
Guaraiba, não achamos remédio pera nele podermos entrar, e botar muitos
escarcéus ao mar. E assim nos foi forçado (ainda que era quase noite) irmos, por
diante, ao Rio de S. Francisco, que estava dali a quatro ou cinco léguas, no qual
entramos perto da meia noite, como se entráramos por um rio morto, por ter
uma barra mui fermosa, grande e funda. Só dos padres moços ínhamos lási-
mas, por já não poderem consigo, com haverem remado sem descançar, desde
pela manhã até aquelas horas; mas quis-nos o Senhor logo consolar com achar-
mos alí uma canôa de Carijós, que logo pela manhã nos vieram visitar; pregando
um deles, e mostrando alegria com nossa vinda; mas, depois, não foi qual nos
cuidávamos que fôsse. Este foi um dos que o P. Custódio Pires e o P. Agosinho
de Matos inham trazido de S. Vicente aos Patos. E assim, logo disse ao Padre
que désse facas a todos os que ali inha consigo, sem nos oferecer nem sequer
uma talhada de carne de moquém da muita que inha (LEITE, 1940, p. 212-213).
Temos a impressão que já neste período não havia maiores concentra-
ções de índios no litoral norte. Por sua proximidade maior com paulistas, deve
ter sido uma das primeiras regiões alvo das sangrentas expedições de aprisio-
namento e escravização. Conforme Monteiro (1994, p. 37) “[...] já exisia, antes
mesmo da fundação de São Vicente, um modesto tráico de escravos do litoral
sul, encontrando-se, no meio do século [XVI], muitos escravos carijós nos enge-
nhos de Santos e São Vicente”.
O relato do padre Jerônimo refere-se a Carijós passando fome, aldeias
pequenas com poucos índios como atesta esse trecho em que conta:

[...] E assim nos metemos na primeira casa da primeira aldeia, que


segunda nem terceira e outra alguma inha. E assim são cá todas
as aldeias, de maneira que, a uma casa, chamam aldeia. E esta não
inha dentro em si mais de tres moradores, ou para melhor dizer
tres casai com tres ou quatro ilhos [...] (LEITE, 1940, p. 216-17).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 31


É indubitável o alto grau de alteração que o modo de vida destes índios
já sofrera no início do século XVII, o que torna qualquer tentaiva de usar estes
relatos como fonte para aingir o Guarani pré-colonial, muito frágil16.
Embora não trate da região que estamos focando, em consulta à obra do
padre jesuíta Antônio Ruiz de Montoya (1997) que missionou, em meados do
século XVII, pelas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape constatamos
que há várias indicações de costumes dos Guarani e diferenças entre eles.
Não há dúvidas que no litoral norte de Santa Catarina há indícios da pre-
sença Guarani atestada pelo síio cadastrado por Piazza parcialmente escava-
do por nós (BANDEIRA, 2004). Com todos os prejuízos que a cerâmica coletada
apresentava, percebeu-se elementos que podem ser relacionados à cerâmi-
ca Guarani. Aniplásico consituído de grãos de minerais e cacos de cerâmica
moídos (em menor quanidade). Fragmentos com espessuras de 15 mm, que
remetem a vasilhames de grandes proporções. Cerca de 15% dos fragmentos
com vesígios de pintura, além de fragmentos com decoração plásica dos i-
pos ungulado simples, digito-ungulado e ungulado em barra longitudinal. Essas
caracterísicas são as mesmas ideniicadas nas cerâmicas descritas para síios
de Paranaguá, Paraná (CHYMZ, 2002), de Florianópolis (SCHMITZ, 1959; PIAZZA,
1965) e do litoral sul de Santa Catarina (LAVINA, 1999 e 2000).
Além disso, o local de implantação – planície aluvial às margens do rio Poço
Grande – corresponde a um ambiente similar a outras anigas aldeias Guarani
no litoral de Santa Catarina. Entretanto, esse síio não está na baía da Babitonga.
Nesta, há somente um registro de síio Guarani (feito por Mirian Bapista Carle
anteriormente mencionado). Este fato, certamente, pode ser decorrente da baixa
visibilidade que estes síios têm se comparados aos sambaquis.
Também se pode considerar que suas aldeias esivessem justamente
onde hoje estão as cidades que margeiam a baía, já mencionadas. São frequen-
tes os registros de síios pré-históricos sob estruturas urbanas (por exemplo, o
sambaqui que havia onde está hoje o Clube Harmonia Lyra, em Joinville, no cen-
tro da cidade).
Outro ponto a se considerar é a maior ferilidade que os solos de anigas
aldeias apresentam. Com o acúmulo de matéria orgânica durante a ocupação,
estas áreas tornam-se melhores para a horicultura. Há registros de sambaquis
cuja superície foi uilizada para lavoura (por exemplo, sambaqui Espinheiros II
em Joinville e Bupeva I em São Francisco do Sul). O planio, como nós pudemos
constatar no síio Poço Grande, pode destruir as camadas arqueológicas, princi-

16 O impacto da Conquista Ibérica nas estratégias territoriais Guarani é igualmente destacado


Wagner, Dias e Bapista da Silva e Milheira neste volume.

32
palmente quando se trata de síios com camadas delgadas como é caracterísico
de síios Guarani, que não ultrapassam 50 cm (LAVINA, 1999). Entretanto, acre-
ditamos que todos os síios não podem ter sido destruídos.
A literatura etno-histórica que se refere explicitamente a grupos que vi-
viam nesta região, ainda é escassa. Descrição com maior detalhamento conhe-
cida é a relação de Gonneville, cujo ponto da costa que arribou não está inques-
ionavelmente deinido.
No litoral do Paraná a situação não é diferente – a presença indígena no
início da colonização não é conhecida. Chymz (2002, p. 74) diz o seguinte sobre
esta questão: “Pouquíssimos dados podem ser resgatados na documentação
existente com relação ao ipo humano e aos usos e costumes dos índios”.
A descrição que Gonneville faz dos indígenas que viviam na região, se
comparada com as produzidas para os Guarani em outras regiões, levanta algu-
ma dúvida quanto à sua vinculação com este grupo. Temos aqui uma situação
intrigante. Se Gonneville esteve mesmo na Ilha de São Francisco duas possibili-
dades se colocam:

✓ Contatou grupo Guarani com diferenças significativas daqueles des-


critos em outras regiões;
✓ Ou contatou grupos de outras etnias que vivam na região.
✓ Ambas as hipóteses levantam dúvidas acerca do modelo de ocupação
solidamente estabelecido para o litoral catarinense que preconiza que
eram os Guarani ou Carijó que viviam nesta região, no período da che-
gada dos europeus.

Por outro lado, ao se considerar Guarani o grupo mencionado, quesiona-


-se, também, a tese da manutenção, por estes índios, de um mesmo padrão cul-
tural por todas as regiões que ocupou, desde sua saída da Amazônia, defendida
por alguns (NOELLI, 1993).

Lavina (2000, p. 91), referindo-se a Gonneville como um dos primeiros


europeus a entrar em contato com os Guarani diz:

[...] embora uma leitura atenta da cultura material e da socieda-


de encontrada pelos navegadores levante dúvidas a respeito [da
vinculação dos indígenas descritos por eles e os Guarani], já que
muitos dados não condizem com o que se conhece a respeito da
cultura Guarani convencional.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 33


Em nossa avaliação17, pelo menos três pontos da descrição dos indígenas
feitas por Gonneville disinguem-se bem das descrições feitas dos Guarani:
1) Em todos os relatos é colocado como hábito Guarani o de dormir em
rede e não em esteiras.
Conforme Gonneville, seus ”leitos são as esteiras macias cheias de folhas
ou penas, suas cobertas são esteiras, peles de animais ou plumagens”. Descri-
ção que não está de acordo com o colocado para o Guarani, mas sim com os Jê
(LAVINA, 1994).
2) O mesmo pode-se dizer da panela. Embora em todos os relatos sobre
modo de vida Guarani haja menção à enorme variedade de formas de uilização
de madeira – para construção das casas, canoas, instrumentos musicais, armas
etc. não vimos referência a panelas revesidas de barro. Noelli (1993, p. 221)
referindo-se a recipientes de madeira, diz que “estes itens são quesionáveis,
sujeitos a serem rejeitados em outras análises, mas haveria a possibilidade de
exisir pratos, “cochos” escavados na madeira, a exemplo dos pilões e canoas”.
A descrição de Gonneville – “seus utensílios domésicos são de madeira, mesmo
as panelas, mas estas são revesidas de uma espécie de argila da espessura de
um dedo, o que impede que o fogo as queime” – vai contra ao descrito para o
Guarani. Ao referir-se a utensílios de cozinha seria de se esperar que ele mencio-
nasse as panelas de barro, também.
3) As habitações descritas por Gonneville – “feitas à maneira de galpões
com estacas unidas umas às outras, ligadas por ervas e folhas, com as quais os
ditos habitantes são igualmente cobertos; e têm por chaminé um buraco, para
sair a fumaça. As portas são bastões corretamente ligados; e eles as fecham com
chaves de madeira, quase como as que se usam, nos campos da Normandia, nos
estábulos”, também fogem do “padrão” Guarani. As ilustrações de Hans Staden
(1974), de 1557, dos Guarani da Ilha de Santa Catarina e de Ulrich Schmidl, de
1599 (PERRONE-MOISÉS, 1992), dos Cários não representam oriícios.
A maioria das fontes que estamos uilizando permitem quesionar o
domínio no litoral norte de Santa Catarina pelos Guarani.
A etno-história, a parir de informações conidas na documentação refe-
rente aos primeiros contatos entre naivos e europeus no início da colonização,
aponta dúvidas sobre a idenidade do grupo étnico que vivia no litoral norte de
Santa Catarina, no século XVI. Por um lado, há fonte (Gonneville) que os descreve
de modo diferenciado ao Carijó contatado em outros pontos do litoral. Por
outro lado, há uma falta de pesquisa sobre a documentação quinhentista sobre
esta região. As publicações que tratam da questão baseiam-se em publicações
anteriores e não em pesquisas na documentação original.

17 Rodrigo Lavina, com quem discuimos a questão, parilha a mesma opinião.

34
Além disso, são recorrentes, nessa literatura, indicações de fortes dife-
renciações sócio-culturais entre grupos tomados como um mesmo. A seguinte
citação de Montoya (1997, p. 211) indica, certamente, uma das causas para esta
percepção. “[...] Esta redução [Nossa Senhora dos Reis] forjou-se a Companhia
de várias nações de índios com a diversidade de suas línguas, ainda que todos se
entendam através da comum, guarani”.
Os relatos que falam dos Guarani, assim como demais indígenas no lito-
ral do Brasil no início do século XVI, em geral, mencionam a presença de outros
grupos, niidamente diferenciados, são chamados de Tapuias ou Guayana.
Gabriel Soares de Souza, em 1587 (2001, p. 93), ao se referir aos naivos
próximos ao porto de D. Rodrigo (Ilha de Santa Catarina) diz: “[...] Essa terra é
possuída dos tapuias, ainda que vivem algum tanto afastados do mar, por ser
esta terra desabrigada dos ventos”.
Isto indica que “apesar do quadro sugerido pelas primeiras fontes escri-
tas, os Guarani - conhecidos na época como Carijó ou Cario - não ocupavam esta
vasta região de modo homogêneo ou exclusivo” (MONTEIRO, 1992, p. 477).
Entretanto, isto tem sido mais facilmente aceito para o interior. Para o
litoral, há uma forte tendência em considerar o Guarani o único grupo em toda
a sua extensão, embora indicações ao contrário.
Isto retrata o predomínio, que via de regra, as fontes escritas têm perante
aos materiais. Mesmo parcial e supericialmente estudadas, como parece ser
o caso do litoral norte de Santa Catarina, as escritas têm sido tomadas como
fontes exclusivas de informações sobre passado. O estudo da cultura material
através da Arqueologia raramente ocorre e os poucos trabalhos produzidos não
são consultados.
Segundo Jones (1998, p. 219) “[...] a interpretação de grupos étnicos
dentro da Arqueologia Histórica está inserida dentro de uma estrutura narraiva
derivada de fontes escritas e relete o status privilegiado tradicionalmente con-
cedido às palavras”. E há diferenças entre as representações da etnicidade na
literatura e a forma como ela é inscrita e expressa nas práicas culturais, o que
torna necessária, para a interpretação de grupos étnicos, a superação da ques-
tão da interação do texto e da cultura material.
A materialidade permeia todas as aividades humanas, desde aquelas
mais coidianas, como as ligadas à produção de alimentos até aquelas mais es-
porádicas como os rituais relacionados ao nascimento ou à morte de membros
do grupo. Essas manifestações materiais, utensílios usados nas refeições ou as
pinturas corporais, por exemplo, são a um só tempo, relexos e condutores das
concepções culturais e relações sociais de grupos humanos. Consistem na cul-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 35


tura material que, nas palavras de Funari (1988, p. 79), é a “totalidade material
socialmente apropriada [...] e toda a representação ísica da cultura”.
O estudo da cultura material, através da Arqueologia, oferece a possibi-
lidade de uma abordagem mais ampla do passado, na medida em que se volta
para os vesígios de todos os segmentos da sociedade e não apenas àqueles do-
minantes (FUNARI, 1999). Perspeciva esta que jusiicou e norteou a pesquisa
que realizamos (BANDEIRA, 2004).
A possibilidade de haver regiões no litoral em que outras etnias exisiam,
é, pois, grande.
A questão da toponímia permanece em aberto, entretanto, é preciso
considerar três possibilidades alternaivas. Pela similaridade das línguas faladas
no litoral (Família Tupi-guarani), os conquistadores desenvolveram uma forma
de se comunicarem com todos os grupos uilizando elementos comuns delas, é
a Língua Geral (SCATAMACCHIA, 1993-1995). As denominações de origem indí-
gena podem estar relacionadas a esta língua. Durante o Estado Novo, através do
movimento em prol da construção de uma nacionalidade, há uma valorização
do mesiço. “Elementos da arte marajoara foram incorporados na arquitetura
de ediícios públicos e a mudança dos nomes de localidades para nomes em
língua Guarani representa uma etapa na construção de uma idenidade na-
cional” (HILBERT, 2001, p. 111). Essas alterações podem ter aingido a região.
Além disso, as similaridades linguísicas nem sempre estão relacionadas às si-
milaridades étnicas.
A questão do limite norte da ocupação Guarani não é uma questão
fechada. Chymz (2002), conforme já mencionado, levanta dúvida, com base
em informações etno-históricas, sobre a idenidade dos indígenas no Paraná.
Talvez a divisão políica entre sul e sudeste tenha inluenciado a deinição
entre as duas subtradições.
A Arqueologia, até o momento, não conseguiu produzir indicaivos para a
presença massiva de Guarani na baía da Babitonga. Embora tenha produzido in-
formação considerável para outras regiões de Santa Catarina, inclusive, no litoral.
De acordo com pesquisas arqueológicas (baseadas também em dados lin-
guísicos e etnográicos), os Guarani teriam sua origem no sudoeste da Amazônia,
região a parir da qual se dispersaram em direção ao sul, pelo interior do coninen-
te. Sua dispersão ocorreu “pelo sistema luvial Paraná-Paraguai-Uruguai, pela costa
atlânica adjacente e as bacias dos rios costeiros [...]” (BROCHADO, 1989, p. 74),
conforme já mencionado.
A tomada de direção para o litoral deve ter ocorrido a parir do interior, em
um ou mais pontos. Ao chegarem ao litoral, os Guarani teriam se dispersado tanto
para o sul como para o norte, nas áreas onde conseguiu penetração, uma vez que

36
o litoral como um todo deveria estar sendo habitado por outras sociedades.
As datações disponíveis para esta tradição em Santa Catarina indicam o
extremo oeste, Itapiranga, a região com a mais aniga ocupação, com data de
1.180 anos A.P. Um pouco mais recentes estão as datações no litoral sul de Santa
Catarina, em torno de 1.000 anos A.P. As mais recentes estão no litoral central,
910 e 555 anos A.P. (Gráico 1).
Com base nestas datações pode-se pensar que o Guarani estaria ocupan-
do o litoral de Santa Catarina mais tardiamente, a parir do sul. Aliás, isto já é um
consenso, embora datação recente para o litoral central tenha recuado bastante
a ocupação desta região.
De todo modo, pode-se cogitar a possibilidade de que as datações mais
recentes para o litoral de Santa Catarina estejam no norte. A datação em ter-
moluminescência (TL) de material cerâmico do síio Poço Grande forneceu uma
data de 340 ± 35 A.P. (BANDEIRA, 2004). Esta data, extremamente recente, se
conirmada, reforça esta ideia de uma ocupação tardia no norte e talvez por isso
mais tênue, mais rarefeita, que resulte baixa densidade de vesígios que parece
caracterizar a região.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 37


Gráico 1 – Datações absolutas de síios Guarani de Santa Catarina18.

18 As abreviações referem-se aos municípios em que se situam os síios datados - Joinville: JLL;
Florianópolis: FLO; Içara: IÇA; Tubarão: TUB e Itapiranga: ITP.

38
CAPÍTULO 2

O POVOAMENTO GUARANI DO LITORAL NORTE DO


RIO GRANDE DO SUL E SUAS RELAÇÕES
COM OS DEMAIS OCUPANTES DA REGIÃO

Gustavo Perei Wagner19

INTRODUÇÃO

O litoral norte do Rio Grande do Sul tem sido alvo de pesquisas arqueo-
lógicas ao longo dos úlimos dois séculos. Já em ins do século XIX iniciaram as
primeiras incursões de cunho exploratório na região, estendendo-se até a primei-
ra metade do século XX (KOSERITZ, 1884; BISCHOFF, 1928 [1887]; ROQUETTE-
-PINTO, 1970 [1906]; GLIESCH 1925, 1932; SERRANO, 1937; FREDIANI, 1952).
Tais pesquisas foram realizadas no litoral central e norte, priorizando as regiões
dos atuais municípios de Cidreira, Tramandaí, Osório, Arroio do Sal e Torres. A
parir de então as pesquisas passaram ao âmbito acadêmico-cieníico, orien-
tadas por problemáicas classiicatórias onde a ordenação e comparimenta-
ção dos elementos culturais forneceram as bases para o reconhecimento das
culturas arqueológicas (SCHMITZ, 1958; BOMBIM, 1964-1965, 1971; RUSCHEL,
2003 [1966]; MILLER, 1967, 1974; KERN, 1970, 1984, 1985, 1996, 1997; KERN,
LA SALVIA e NAUE, 1985; TOCCHETTO, 1987; JACOBUS e GIL, 1987; GAZZANEO,
JACOBUS e MOMBERGER, 1989; THADDEU, 1995; ROSA, 1996; JACOBUS, 1997;
WAGNER, 2004, 2008, 2009A, 2009B; ROGGE, SCHMITZ e ROSA, 2007; BECKER,
2007, 2008; ROGGE e SCHMITZ, 2010; WAGNER et al., 2011).
O presente trabalho caracteriza-se como uma síntese e reavaliação das
interpretações apresentadas em estudo anterior (WAGNER, 2004), onde foram
reunidos todos os dados arqueológicos até então existentes a respeito das ocu-

19 Arqueólogo e Historiador. STRATA – Consultoria em Arqueologia e Patrimônio Cultural


– arqueologia.strata@gmail.com.
pações pré-históricas dos grupos ceramistas no litoral norte do Estado. Contudo,
o crescimento urbano regional impulsionou a muliplicação das pesquisas ar-
queológicas em atendimento à demanda do licenciamento ambiental, oportuni-
zando o surgimento de novos dados sobre o tema. A tendência desenvolvimen-
ista acelerada impeliu a administração pública à realização de planos de gestão
e estratégias de proteção ambientais, resultando na condução de aividades de
reconhecimento e avaliação do patrimônio histórico e arqueológico em diferen-
tes municípios. Alguns exemplos bem sucedidos destas iniciaivas públicas en-
contram-se em Xangri-Lá (GIOVANNINI, 1995) e Arroio do Sal (ROGGE, SCHMITZ
e ROSA, 2007; ROGGE e SCHMITZ, 2010).
A região designada como litoral norte do Estado possui uma delimita-
ção pré-existente, compreendendo os balneários e municípios situados entre
o Balneário Quintão, município de Palmares do Sul e o município de Torres.
A divisão é orientada por critérios econômicos, baseando-se no coningente
populacional e infraestrutura para exploração turísico-imobiliária. Contudo, o
entende-se aqui como litoral norte, estende-se desde a desembocadura do Rio
Mampituba, na divisa com o Estado de Santa Catarina até o paralelo 30° sul, nas
imediações da desembocadura da Laguna de Tramandaí. O limite leste da área
caracteriza-se pela linha de praia oceânica, estendendo-se até os contrafortes da
Serra Geral, extremo oeste da área de pesquisa, envolvendo diferentes forma-
ções vegetais, sistemas hídricos e feições geomorfológicas.

O LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL:


SEUS RECURSOS E SUAS VÁRZEAS

O litoral norte do Rio Grande do Sul caracteriza-se como uma estreita


faixa arenosa limitada entre as escarpas da Serra Geral, a oeste e a linha de praia
oceânica, a leste. Sua extensão ainge aproximadamente 100 km de comprimen-
to, no senido sul-norte e uma largura que varia entre 15km no senido oeste-
-leste (região de Tramandaí) e 5km em Torres, extremo norte da área.
Na área de estudos a “isiograia de superície”, para parafrasear o autor
da primeira síntese sobre a planície costeira do Estado (DELANEY, 1965), com-
preende as terras altas de oeste, suas encostas abruptas e a planície arenosa.
Estas regiões foram intensamente exploradas pelas diferentes populações pré-
-históricas que nela habitaram desde 6.000 anos A.P. até o século XVI. Esta re-
gião será considerada neste trabalho em dois comparimentos: Planalto Meri-

40
dional e planície costeira, comparimentos estes que são integrados pelos vales
dos rios Maquiné, Três Forquilhas e Mampituba, os quais funcionaram como as
principais vias de acesso interior-litoral tanto para os grupos de caçadores cole-
tores quanto para os grupos ceramistas.
O Planalto Meridional pode ser descrito como uma superície elevada com
aproximadamente 1.000 m com feições suavemente planas que se inclinam para
oeste. Entrecorta-se pelas cabeceiras dos cursos d’água que contribuem para as
bacias dos rios Taquari-Antas, Caí e Sinos, tributários da bacia do Guaíba, bem
como os rios Três Forquilhas, Maquiné e Mampituba, que atravessam as escarpas
na direção leste, rumo ao litoral norte. A parte superior da estraigraia da Bacia do
Paraná alora nos paredões dos vales luviais, no limite oeste da área de pesquisa,
onde são visíveis as sequências vulcânicas e sedimentares denominadas forma-
ções Serra Geral e Botucatú (HORN-FILHO, 1987; TOMAZELLI e VILLWOCK, 2000).
As litologias da Formação Serra Geral estão representadas por rochas
básicas e ácidas que consituem os morros testemunhos e a escarpa da Serra
Geral. As rochas básicas, como os basaltos, são predominantes junto aos mor-
ros e nas porções basais da escarpa, enquanto nas partes superiores ocorrem
as rochas ácidas como granóiros, dacitos e vidros ácidos. Rochas básicas tam-
bém ocorrem junto à plataforma coninental, cerca de dois quilômetros a leste
da linha de costa, dando origem a Ilha dos Lobos. Esta possui cotas baixas, no
máximo 1,5 m acima do nível do mar, sendo preenchida por depósitos areno-
sos constantemente movimentados pela oscilação diária das marés (DELANEY,
1965; HORN-FILHO, 1987; REGINATO, 1996).
Os aloramentos areníicos conhecidos por Formação Botucatú encon-
tram-se sotopostos às rochas basálicas da Formação Serra Geral. Apresentam-
-se na forma de paredões que, por vezes, se aproximam aos 90° de inclinação,
bem como pequenas colinas de formato arredondado, sobretudo no limite no-
roeste da área. Os arenitos que situados no contato com as rochas vulcânicas so-
freram, há aproximadamente 220 milhões de anos, metamorfoses decorrentes
das altas temperaturas das lavas, originando camadas cenimétricas de rochas
conhecidas como arenitos siliciicados (REGINATO, 1996).
Feições erosionais ípicas desta litologia são as cavernas e grutas de abra-
são marinhas ideniicadas por Gomes; Ab’Sáber (1969) na margem oeste da
Lagoa Itapeva. Nos vales luviais encontram-se dezenas de abrigos rochosos
nos paredões encaixados dos rios Maquiné, Três Forquilhas e Mampituba, bem
como nas nascentes da grande bacia do Rio dos Sinos, voltadas para a Depressão
Central do Estado. Aqueles abrigos foram ocupados ao longo do Holoceno por
diversas populações pré-históricas, uilizando-os como cemitérios, acampamen-
tos de caça, síios cerimoniais ou moradia. Durante os séculos XVIII e XIX, alguns

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 41


destes locais foram novamente ocupados por diminutos grupos indígenas, ou
ainda por escravos forros e fugiivos (MILLER, 1967; 1969; 1974. RIBEIRO, 1997;
DIAS, 2003; WAGNER, 2004).
A evolução geológica da planície costeira foi condicionada por proces-
sos atuantes no interior de dois sistemas deposicionais siliciclásicos: Sistema
de Leques Aluviais, caracterizado pelos rios que provêem as lagoas litorâneas
e Sistema Laguna-Barreira, principal responsável pelas feições isiográicas de
superície da planície arenosa. Este esquema evoluivo foi proposto por Villwock
et al., (1986) e detalhadamente desenvolvido por Villwock e Tomazelli (1995) e
Tomazelli e Villwock (2000), tendo sido atualizado e amplamente discuido em
Hesp e Dillenburg (2009).
A Província Costeira evoluiu para leste através da coalescência lateral de
quatro sistemas deposicionais do ipo laguna-barreira, que registram, respeci-
vamente, um máximo transgressivo seguido de um evento regressivo. O sistema
Laguna-Barreira IV, de idade holocênica, instalou-se no úlimo máximo trans-
gressivo, há 5.100 anos, momento em que os níveis oceânicos aingiram entre
2m e 4m acima dos atuais20.
O sistema lagunar do litoral norte foi então invadido pelas águas oceâ-
nicas dando origem a uma grande laguna que incorporava todos os principais
corpos d’água. O sistema de leques aluviais inha seu luxo barrado pelas então
elevadas massas de água das lagoas, dando origem a amplas planícies deltaicas
que se estendiam ao longo do sopé da Serra Geral. O aumento da pluviosidade
causado pelo Óimo Climáico contribuiu signiicaivamente para a elevação do
suprimento de água, ampliando o sistema lagunar21 e diminuindo de forma con-
siderável as áreas secas emersas.

20 As cotas aingidas nos máximos transgressivos e suas datações vêm sendo discuidas desde a
década de 1960, resultando em diferentes curvas para as lutuações holocênicas. Pesquisas
recentes demonstram que as cotas máximas aingidas pelos níveis marinhos holocênicos entre
os estados de Pernambuco e Rio de Janeiro seriam de aproximadamente 4m, enquanto que
para a costa sul do Brasil não teriam ultrapassado 2.5m. Destaca-se ainda que o máximo trans-
gressivo teria sido alcançado em um período equivalente ao longo de toda a costa brasileira,
o qual se situaria entre 5.000 A.P. e 5.800 A.P. (cf. ANGULO, LESSA e SOUZA, 2006). Entretanto,
aquelas pesquisas excetuam a costa sul-rio-grandense e privilegiam os dados disponíveis para
os estados situados entre Santa Catarina e Rio Grande do Norte. Para uma discussão detalhada
sobre o comportamento dos níveis oceânicos e seus impactos no povoamento pré-histórico
do litoral do Rio Grande do Sul ver Wagner (2009a, 2009b).
21 O sistema lagunar engloba um complexo de ambientes deposicionais que se desenvolve no
espaço de retrobarreira que corresponde à região topograicamente baixa situada entre a bar-
reira e os terrenos interiorizados mais anigos. No caso especíico da planície costeira sul-rio-
-grandense, os sistemas lagunares situam-se para oeste das respecivas barreiras. Os ambien-
tes encontrados nesta superície podem ser além das próprias lagunas, lagos, pântanos, canais
inter-lagunares ou deltas intra-lagunares (TOMAZELLI, 1990).

42
Naquele período, as superícies que se maniveram secas foram as ele-
vações arenosas de aspecto terraceado formadas durante o úlimo máximo
transgressivo pleistocênico (120.000 A.P.), momento em que as cotas marinhas
elevadas permiiram a formação de terraços com 15m de alitude. Já o máximo
transgressivo holocênico, deu origem à barreira arenosa que, ancorada na Pedra
da Itapeva, estendia-se para sul por aproximadamente 100 km, interrompida
apenas na desembocadura da Laguna de Tramandaí. Esta elevação arenosa ain-
ge atualmente até 32m e encontra-se preservada na margem leste da Lagoa
de Itapeva (TOMAZELLI e VILLWOCK, 2000). As duas feições descritas aqui se
situam nas imediações do sistema lagunar holocênico do litoral norte, nas áreas
limítrofes com os ambientes deposicionais lagunares que posteriormente transi-
cionaram para ambientes paludiais e turfáceos ao longo dos úlimos 5.000 anos.
Populações caçadoras coletoras ocuparam diversos abrigos rochosos no
vale do Rio Maquiné. O síio RS-LN-01 (Cerrito Dalpiaz), foi habitado entre 5.950
± 190 (SI-234) e 4.280 ± 180 (SI-233), momento em que o síio teria sido aban-
donado deiniivamente (MILLER, 1967), denotando o povoamento do interior
dos vales do litoral norte como estratégia alternaiva durante os milênios de
instabilidade paleoambiental.
O recuo progressivo das águas oceânicas em curso a parir de 4.900 A.P.22
deu origem às paisagens com as quais interagiram as populações pré-históricas
que nelas se estabeleceram. A formação dos canais de ligação inter-lagunares
coniguraram um verdadeiro “rosário de lagoas”23 e disponibilizaram terras úmi-
das e húmicas para planio. Os anigos fundos lagunares24 do sistema Laguna-
-Barreira IV concentram espessas camadas de matérias orgânicas decompostas,
ricas em nutrientes com relaiva proximidade ao freáico, garanindo o provi-
mento de água aos culivares.
A faixa mais externa da planície arenosa, situada entre as lagoas e mar,
foi formada através do conínuo alinhamento de cordões arenosos entremeados
por pequenas lagoas estreitas e alongadas acumuladas em superícies de relevo

22 Esimaiva realizada com base em peril polínico descrito por Lorscheiter (2003) que evidencia
o sequencial aumento dos esporos de vegetação higróila de ambientes mixohalinos e a pro-
gressiva dessalinização dos terrenos adjacentes à paleolaguna do faxinal, atualmente sotopos-
ta pela Mata do Faxinal, a sudoeste de Torres.
23 Termo cunhado por Roquete-Pinto (1970 [1906]).
24 Os fundos lagunares são reconhecidos atualmente pela feição escurecida dos sedimentos
arenosos, tendendo do preto para o acinzentado, contendo conteúdos elevados de argilas e
biodetritos. Espacialmente, caracterizam as regiões susceíveis a alagamentos e inundações
sazonais. Correspondem às “áreas alagáveis” delimitadas na FiguraFigura 01.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 43


deprimido, denominadas cavas25 (GODOLPHIM, 1976). As elevações destes cor-
dões arenosos aingem entre 3m e 6m de alitude em relação ao nível do mar e
favorecem a instalação da vegetação de resinga na forma de pequenos capões
(RAMBO, 1956; HORN-FILHO, 1987). São sobre estes cordões que estão situados
os principais sambaquis do litoral norte (cf. WAGNER, 2009a; 2009b), bem como
grande parte dos síios ceramistas da planície arenosa mais externa.
Na medida em que o vento dominante de Nordeste empurra massas de
areia na direção sudoeste, todos os corpos lacustres e lagunares do litoral norte
são colmatados, iniciando-se uma sequência evoluiva lagoa-pântano-turfeira,
que em seu estágio inal consiste em novos campos de planio com elevado con-
teúdo de matérias orgânicas (TOMAZELLI, 1990).
No interior dos vales dos rios que drenam as terras altas de oeste a re-
gressão marinha acarretou na liberação de grande parte dos terrenos inundados
e úmidos, onde foram depositadas camadas de espessuras variadas de lamas
húmicas. Os solos hidromóricos conferem às superícies das várzeas o aspecto
plano caracterísico, favorecendo as práicas de planio desde a pré-história até
os dias atuais.
A história da Floresta Tropical Atlânica (Floresta Ombróila Densa), na en-
costa da Serra Geral é bastante recente, coincidindo com as temperaturas mais
elevadas e com a maior umidade do Óimo Climáico, momento em que as espé-
cies tropicais oriundas da Região Sudeste povoaram as escarpas migrando através
da “Rota Migratória da Costa Atlânica Brasileira” (cf. MENEGAT, 1998, p. 48).
As variações térmicas aingem médias de 22 a 26°C para o mês mais quen-
te, de 10 a 15°C para o mês mais frio, e anuais entre 16 e 20°C. O regime pluviomé-
trico situa-se entre 1000 mm e 1500 mm sendo, estas duas variáveis, responsáveis
pelo ritmo dos processos erosivos que transformam as rochas fontes de oeste em
solos férteis transportados e depositados pelo agente hidrológico26.
O regime de chuvas varia entre. Parte da água chuva lui para o sistema
luvial somando-se à carga já transportada, parte iniltra-se no solo em direção
ao freáico por percolação e parte escorre pela superície até encontrar horizon-
tes impermeabilizados por sedimento argilosos dando origem a turfeiras, lagos
e pântanos temporários.

25 Exemplos destas lagoas são as lagoas da Cavalhada e do Parque Tupancy, encontradas nos
balneários Camboim e Atlânico, respecivamente.
26 No sistema de classiicação tradicional de Köppen, o clima do Rio Grande do Sul caracteriza-
-se pelo ipo Cfa, onde “C” signiica mesotérmico, “f” indica precipitação bem distribuída ao
longo do ano e “a” indica a temperatura média do mês mais húmido superior a 22°C (RADAM-
-BRASIL, 1986). Uiliza-se aqui a classiicação moderna que atribui a Região Sul do Brasil o
clima Subropical Húmido (NIMER, 1989; STRAHLER e STRAHLER, 2000; NETO e NERY, 2005).

44
Naquelas depressões a vegetação tropical arbórea instala-se aproveitan-
do a umidade e ferilidade dos solos recém-formados, tanto nos anigos fundos
lagunares quanto nas cavas entre os cordões arenosos. A cobertura vegetal da
planície costeira mais externa é marcada pela sucessão de matas psamóitas
sobre cordões e matas tropicais paludosas nas cavas, compondo uma paisagem
intensamente biodiversiicada já descrita por Lamego (1946) e Rambo (1956)
como “resinga litorânea”.
Como resultado, os complexos processos geológicos deram origem às
paisagens geomorfológicas com as quais interagiram as populações pré-históri-
cas que ocuparam o litoral norte do Estado. O povoamento vegetal, as condições
de umidade e a abrangente rede hidrográica permiiram a formação de solos
férteis, possibilitando o estabelecimento das aldeias em áreas especíicas do li-
toral, dando origem aos padrões de povoamento e uso do espaço, abordados
nas páginas que seguem.

O POVOAMENTO GUARANI NO LITORAL NORTE DO


RIO GRANDE DO SUL

Os síios arqueológicos dos horicultores Guarani no litoral norte do Esta-


do são caracterizados pela inserção em unidades ecológicas especíicas, as quais
concatenam a proximidade aos solos férteis, a drenagem adequada dos terrenos
bem como presença de cobertura vegetal de inluência tropical. Os aspectos ísi-
cos da área de pesquisa foram sistemaizados na seção acima, resta demonstrar
e avaliar as formas de interação dos Guarani com o meio, materializadas nos
substratos dos síios arqueológicos e suas distribuições espaciais.
Em trabalho anterior, Wagner (2004) realizou levantamento bibliográico
geral acerca das ocupações Guarani ao longo do litoral Meridional do Brasil, in-
corporando as regiões Sudeste e Sul. Depreende-se que as localizações dos síios
arqueológicos dos grupos Guarani no litoral norte do Rio Grande do Sul indicam
a procura de locais elevados em meio à paisagem. Foram escolhidas, quando
possível, as elevações das dunas pleistocênicas já ixadas. As dunas já ixadas são
aquelas que não estão mais sujeitas às movimentações e realocações oriundas
da energia eólica, estão fora do campo de dunas aivas. Estes remanescentes
do sistema laguna-barreira III encontram-se principalmente no bordo oeste do
“rosário de lagoas”.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 45


A escolha daqueles locais permite a oimização do aproveitamento dos
recursos lacustres conjugados ao aproveitamento das zonas baixas para planio.
Estas zonas correspondem aos leitos de anigas lagoas costeiras, isoladas pelos
recuos das linhas de costa pretéritas, seguidas de forte processo de colmata-
ção, o qual ocasionou seu paulaino desaparecimento. Os leitos destes exintos
corpos aquosos são ricos em material orgânico decomposto e/ou em decom-
posição, consituindo excelentes locais para a práica da horicultura. A relaiva
proximidade do mar possibilitou a complementação da alimentação através da
pesca e eventual coleta de moluscos. A distribuição dos síios se insere nos limi-
tes da Floresta Ombróila Densa que ocorre junto às escarpas do planalto onde a
caça e coleta vegetal eram empreendidas. No interior dos vales que atravessam
concentram-se as principais fontes de captação de matérias-primas para as in-
dústrias líica e cerâmica.
A escolha daqueles locais está também relacionada a duas outras deman-
das principais, a boa drenagem dos solos durante os períodos de maior pluviosi-
dade e a situação estratégica defensiva.
Catafesto de Souza (1987), Noelli (1993, 1999-2000), Soares (1997) e Dias
(2003) consideram que a territorialidade Guarani tenha os conduzido ao conlito
com grupos vizinhos, tendo em vista que a noção defensiva seria norteadora
destes processos.
Adota-se como premissa deste trabalho que os assentamentos de maior
presígio ocupavam as várzeas e outros ambientes mais favoráveis ao sistema
econômico dos Guarani, enquanto as aldeias de menor produividade e, por
consequência, de menor presígio, eram instaladas nos vales mais encaixados.
Noelli (1993) estabelece os parâmetros ecológicos deste sistema de povoamen-
to Guarani, enquanto Soares (1997) privilegia os aspectos sociais do sistema,
centrando-se nas relações entre as diferentes parcialidades Guarani e destas
com os grupos não Guarani (Jê no âmbito do presente trabalho). Os autores
propuseram abordagens complementares ao problema da espacialidade Gua-
rani e consideram que as maiores e mais populosas aldeias corresponderiam às
aldeias mais anigas, comportando os clãs de maior presígio.
Arqueologicamente, aqueles aspectos estariam representados por síios
com estratos culturais mais profundos e solos arqueológicos de maior extensão
(cf. SOARES, 1997). Na realidade, a vinculação das “manchas pretas” às unidades
habitacionais já foi sugerida por Miller (1967) quando deiniu as fases Paranhana
e Maquiné no litoral norte. Sugere-se como critério de delimitação das propor-
ções dos síios as categorias deinidas por Brochado (1973) onde os síios peque-
nos possuem menos de 1.000 metros quadrados, os médios icam entre 1.000 e

46
5.000 metros quadrados, os grandes possuem entre 5.000 e 20.000 metros qua-
drados e, inalmente, os que possuem de 20.000 até 50.000 metros quadrados
podem ser considerados síios muito grandes.
Destaca-se que a conquista territorial Guarani desenvolveu-se conforme
proposta de Soares (1997), onde as relações de parentesco foram estabelecidas
através do cuñadazgo e, os inimigos, reduzidos através da guerra e antropofagia
ritual. A parir de então o território passa a ser ocupado lentamente e maneja-
do em nível socioambiental, desinando os locais mais férteis aos clãs de maior
presígio e, em expansão radial, novas aldeias seriam paulainamente fundadas
nas áreas de menor status. Brochado (1989) considera que o povoamento Gua-
rani tenha se dado através da estratégia de “enxameamento”.
Entretanto, apenas com o aumento do coningente populacional se tor-
naria possível aos grupos recém-chegados disputar as áreas mais favoráveis ao
estabelecimento de seu modo de vida. “Mas logo, na primeira grande expansão,
correspondente ao clímax da cultura, as aldeias se transferiram para as várzeas,
de terras mais férteis e mais profundas, onde havia bastante caça, pesca e mo-
luscos comesíveis (...)” (SCHMITZ, 1997, p. 305). Naquele momento, a pressão
territorial estaria concentrada na ocupação dos férteis deltas do sistema de le-
ques aluviais que drenam as terras altas de oeste. Em se considerando válidas
as datações de 1.102 ± 110 A.P. (SI-413) e 896 ± 100 A.P. (SI-412), para o siio
RS-LN-35 (Miller) 27 percebe-se a priorização do delta do Rio Maquiné como es-
tratégia de povoamento Guarani. A parir de então, a “(...) população já era su-
iciente para com os índios caçadores e coletores [ou ceramistas], que podiam
ser enxotados, destruídos ou incorporados. As aldeias, com isso, se tornariam
maiores e mais duradouras” (SCHMITZ, 1997, p. 305). O RS-LN-16 (Miller), com
52.200m2, maior síio do litoral norte, realmente possui uma datação que ainge
556 ± 200 (SI-411), bastante posterior às datas do RS-LN-35 (Miller), tornando
bastante viável a hipótese levantada.
Observando-se o mapa da ocupação Guarani no litoral norte (ver Figura
01), percebe-se que tanto a aldeia mais aniga, quanto a mais extensa, situam-se
sobre os elevados terrenos pleistocênicos, nas regiões limítrofes com as terras
férteis e baixas dos terraços lagunares holocênicos, nas proximidades dos recur-
sos dos vales luviais, tais como a pesca, a caça, a coleta, a captação de argila e
obtenção de matérias-primas líicas; explorando intensamente um sistema eco-

27 Os sobrenomes dos pesquisadores responsáveis pela descoberta dos síios Guarani no litoral
norte se faz necessária em função da uilização repeida das siglas de nomenclatura dos síios.
Diversos pesquisadores uilizaram as designações RS-LN (Rio Grande do Sul-Litoral Norte) para
cadastramento de síios. Como resultado, foram documentados três diferentes síios com a
mesma sigla: RS-LN-01, por exemplo.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 47


lógico no extremo sudeste da área de inluência da vegetação tropical brasileira.
Desta forma propõe-se que esta faixa de terreno, situada no sopé das escarpas
da Serra Geral, e que se estende ao longo do “rosário de lagoas”, seja a área
de maior presígio socioambiental no momento inicial da conquista Guarani no
litoral norte do Estado.
Provavelmente, os síios localizados entre as lagoas Malvas, Ramalhete e
Quadros façam parte de uma mesma ocupação dos Horicultores Guaranis. Os
síios maiores como RS-LN-32(Miller), RS-LN-33(Miller) e RS-LN-36(Miller) talvez
sejam explicados pela realocação dos centros residenciais (teyy ogá e amundá)
de um mesmo tekohá. Os síios RS-LN-26 (Miller), RS-LN-29 (Miller), RS-LN-34
(Miller), RS-LN-35 (Miller), RS-LN-48 (Miller) e LQQ01 – Walter Medeiros, em
função de suas proporções reduzidas, sejam áreas desinadas aos acampamen-
tos para incursões rápidas ou mesmo roças. É possível ainda que estes síios
médios e pequenos estejam associados apenas a ocupações pós-contato, pois
as famílias poderiam ter se dispersado em pequenos grupos. Catafesto de Souza
(1987) destaca que, naquele momento de desestruturação social, as próprias
casas seriam consideradas aldeias.
A distância máxima entre os síios do tekohá da Lagoa do Ramalhete é de
aproximadamente 8 km. Noelli (1997) sugere que, para ser possível inferir a área
de domínio dos tekohás, é necessário delimitar as distâncias das possíveis áreas
de captação de recursos inorgânicos. Tendo por base que as indústrias líicas
limitam-se ao uso de basaltos, dioritos, arenitos e geodos de quartzo ou calcedô-
nia28, pode-se inferir que as distâncias entre os síios e suas fontes de matérias-
-primas são basicamente, as distâncias entre estes e a encosta da Serra Geral. No
caso do tekohá da Lagoa do Ramalhete, a distância máxima a ser percorrida seria
de 14 km no senido de aingir os cursos alto e médio do Rio Maquiné.
A concentração de síios arqueológicos no entorno das lagoas Tramandaí,
Armazém, Biguá, Emboaba e Custódias provavelmente seja explicada pelo mes-
mo sistema de uso do espaço pelos Guarani. Alguns dos síios denominados por
28 No que diz respeito ao material líico encontrado nos síios, nota-se que a preferência para a
base das indústrias líicas é o basalto. Tal fato provavelmente está relacionado à proximidade
dos síios da formação basálica Serra Geral. São encontrados entre as coleções dos síios
seixos arredondados, os quais podem ser captados nos leitos dos rios que sulcam as escarpas
da Serra Geral em direção às lagoas costeiras. Foram encontrados ainda, placas de basalto
colunar, as quais poderiam ter sido coletadas junto às encostas ou nas margens dos rios. Outra
matéria-prima bastante encontrada foi a calcedônia. Esta rocha ígnea aparece quase em sua
totalidade, relacionada à técnica de lascamento bipolar, em que pese existam lascas bipolares
de quartzo e ágata em alguns síios. Os geodos de calcedônia podem ser coletados nos leitos
dos rios após o seu desprendimento das rochas basálicas. Há também, a curiosa ocorrência
de dois exemplares de arenito siliciicado. Um exemplar encontra-se junto ao material líico do
síio LQQ01 - Walter Medeiros, sendo o outro, associado ao LLe02 - Areal Moro.

48
Eurico Miller como “RS-LC” seriam, possivelmente, fruto das realocações deste
tekohá, ou mesmo síios anexos dentro da área de domínio.
A concentração de síios arqueológicos localizados entre as lagoas de
Itapeva e Quadros, dois dos maiores corpos lacustres do litoral norte, poderia
ser considerada outro tekohá. A área é bastante favorável ao desenvolvimento
da horicultura, com possibilidade de apoio na coleta de moluscos junto aos
banhados e ao mar, bem como à complementação da alimentação através da
caça nos limites da Mata Atlânica que se encontra junto às escarpas e ao vale
do Rio Três Forquilhas.
O síio do Areal se caracteriza como centro residencial (teyý ogá, ou mes-
mo um amundá), pois possui 10.000 m2. Outro síio de consideráveis proporções
é o síio Manoel João. Os síios do Lima, Onildo Aguiar, Família Nunes e Lomba
da Folia seriam síios de tamanhos médios e pequenos.
As matérias-primas para a produção dos artefatos líicos e cerâmicos po-
deriam ser obidas no vale do Rio Três Forquilhas, que dista menos de 10 km de
distância máxima do síio mais afastado.
Uma úlima concentração de síios encontrada na área de pesquisa se-
ria formada pelos síios RS-LN-16 (Miller), RS-LN-30 (Miller), RS-LN-31 (Miller) e
LLe02 – Areal Moro. Há ainda a informação de ter sido reirada uma urna fune-
rária do síio Fazenda do Casqueiro, o que caracterizaria outra ocupação Guarani
ainda neste úlimo tekohá. A distância máxima entre os síios é de 9 km e as fon-
tes de captação de recursos líicos e minerais dos rios Caraá e Maquiné distam
12km e 28km, respecivamente.
É possível, contudo, que todos os síios arqueológicos do litoral norte do
Rio Grande do Sul sejam integrantes de um mesmo tekohá que se estendeu ao
longo do tempo, dominando toda a área. As únicas datações existentes suge-
rem uma ocupação permanente na área iniciada 1.102 ± 110 A.P. (SI-413) no
RS-LN-35 (Miller), que perdurou até a chegada da colonização europeia. As in-
formações etno-históricas fornecem indícios da extensão desta área de domínio
dos grupos Guarani no litoral norte.
A terra em sí não é má. Pode ter em comprimento, desde Santa Catarina
até Taramiandiba, que está além de Boipiiba, aonde os brancos tambémvão
resgatar 40 ou 50 léguas, ao longo do mar, e ao longo de umas serras, que estão
do mar, meia légua, uma légua, até duas, em algumas partes; e dalí por diante
começam os Arachãs (...) (RODRIGUES, 1940 [1605], p. 229).
Naquele momento a presença dos síios Guarani no litoral central e norte
do Rio Grande do Sul limitaria o acesso dos grupos Jê aos recursos costeiros, le-
vando ao progressivo abandono destas estratégias de subsistência em função das

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 49


pressões expansivas dos tekohá. A inexistência de evidências materiais do contato
indígena-europeu nos síios Jê sugere a impossibilidade destes grupos de explorar
os recursos litorâneos, provavelmente em função da supremacia bélica e popula-
cional Guarani, que os teria privado das áreas tradicionais de domínio.
Se em um primeiro momento a ocupação dos migrantes amazônicos
coexisia com os grupos ceramistas da Tradição Taquara, agora não mais há
compeição por recursos ou áreas de caça e coleta. Os aldeamentos Guarani
estariam estabilizados no litoral norte do Rio Grande do Sul em pleno desen-
volvimento de seu modo de vida. Propõe-se que a conquista destes novos ter-
ritórios foi estruturada através de interações culturais em dois âmbitos princi-
pais, conlitos29 e reciprocidade.
Nas sociedades Tupi, a guerra compõe elemento essencial do ethos, pois
atua como ariício de coesão social e idenitária, conforme demonstrado por
Fernandes (1970) para as populações Tupinambá da costa leste e nordeste do
Brasil. No caso Guarani, a guerra permiiu a conínua expansão por novos terri-
tórios bem como a perpetuação de um sistema de liderança social calcado no
presígio individual. Neste senido, a guerra ritual, acompanhada das cerimônias
comunais de antropofagia, contribuiu para o enaltecimento dos “principais” (ca-
ciques), dando destaque às teýy dentro do tekohá, possibilitando a ocupação
das unidades ecológicas de excelência. A reciprocidade era igualmente fortaleci-
da naqueles momentos através dos convites aos parentes para paricipação nas
cerimônias públicas relacionadas, compreendendo desde as batalhas, a prepa-
ração do cauim pelas mulheres, a antropofagia em si ou mesmo nos discursos de
exacerbação individual e perpetuação da memória oral (MÉTRAUX, 1979; SOUZA,
1987; NOELLI, 1993; SOARES, 1997).
Nesta perspeciva, os vales dos rios Três Forquilhas e Sanga Funda po-
deriam ter sido habitados por aldeias menores, enquanto que os rios Maquiné
e Mampituba poderiam oferecer várzeas mais amplas e mais férteis, as quais
seriam ocupadas por aldeias intermediárias. É possível, então, que alguns dos
síios localizados na Planície Costeira, nas proximidades das desembocaduras

29 Referindo-se exclusivamente aos Coroados, Mabilde (1983 [1836], p. 45) informa a existên-
cia de rivalidades entre os grupos com as seguintes palavras: “Ainda que todos os coroados
tragam o mesmo disinivo da cabeça tonsurada e o cabelo cortado da mesma maneira, per-
tencendo, assim, à mesma nação, muitos não são amigos e pode-se dizer, sem correr risco de
errar ou exagerar, que entre as tribos, na sua grande maioria, existem sempre rivalidades, mais
ou menos fundamentadas (...)”. Rodrigues (1940 [1605], p. 236) documenta as rivalidades
entre Tapuia e Carijó na Região Sul do Brasil. “(...) E como os tapuias não estarão mais de 9 ou
10 léguas destes, todo o ano e toda a vida ainda aos saltos a eles, porque todos os meses vão
a eles. Mas não há muitos dias que os tapuias os tomaram em uma cilada e mataram uma bôa
soma deles (...)”.

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destes rios, estejam relacionados a áreas de aividades dos tekohá do interior
dos vales. A circulação dos grupos seria facilmente conseguida com a ajuda de
canoas, aproveitando os cursos inferiores dos rios para aingir as lagoas. Noelli
(1993) airma ser notória a preferência destes grupos pelos deslocamentos em-
barcados em detrimento dos trajetos a pé. Entretanto, é necessário destacar
que as áreas de maior interesse sejam as férteis várzeas das lagoas e canais que
formam o rosário lacustre do litoral norte.
O advento da chegada dos colonizadores europeus certamente caracte-
rizou-se como um elemento de desestruturação deste estável sistema de assen-
tamento e uso do espaço. As pressões escravagistas e as doenças trazidas pelos
“brancos” provavelmente empurraram os Guarani em direção ao planalto.
O litoral sul do Brasil, desde a região de Laguna até o sul do Rio Grande do
Sul, caracteriza-se como uma grande planície que não oferece portos naturais.
Essa condição topográica inluenciou o processo de povoamento europeu do
litoral. Apenas pequenas embarcações conseguiam atracar nas praias rasas, ou
entrar em rios como Araranguá, Mampituba e Tramandaí. Provêm deste con-
texto as primeiras informações a respeito da região limítrofe entre os Estados
de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, as quais decorrem das expedições de
Sebasião Caboto (1527-1530), e Marim Afonso de Sousa (1531-1532). Marim
Afonso foi responsável pelo primeiro registro dos rios Mampituba e Tramandaí,
o qual se encontra descrito em Gabriel Soares de Sousa como Rio de Marim
Afonso e caracterizado como um síio excelente para o estabelecimento de um
povoado (SOUSA, 1971 [1587]). Cesar (1998) destaca que as únicas noícias do
litoral norte na documentação colonial das duas primeiras décadas do século
XVI, informam apenas a existência de um rio povoado por índios que encontra
o mar em frente a uma ilha. Tratam-se provavelmente do Rio Mampituba e Ilha
dos Lobos, no município de Torres.
Naquele momento, os vales dos rios, anteriormente ocupados pelas aldeias
menores, agora seriam os únicos redutos seguros do litoral norte, tornando-se alvo
de disputas entre as pequenas e grandes aldeias em fuga. A planície litorânea con-
inuaria uma excelente área para pesca e coleta, mas somente poderia ser aprovei-
tada em incursões rápidas, através do uso de canoas. Os pequenos grupos Guarani
desceriam a foz dos rios Maquiné, Sanga Funda, Três Forquilhas e Mampituba em
rápidos deslocamentos em embarcações, estabelecendo-se em elevações nas mar-
gens das grandes lagoas. As elevações caracterizariam ao mesmo tempo a coninui-
dade de seu sistema econômico anterior e um ponto de vigia das embarcações e
tropas terrestres ibéricas que poderiam se aproximar.
As pressões expansivas coloniais resultaram na drásica diminuição das po-
pulações indígenas na América, seja através das doenças ou escravização. Na costa

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 51


brasileira Cardim (1939 [1584]) e Sousa (1971 [1587]) documentaram a fuga para
o interior dos grupos Tupinambá litorâneos em razão das preagens e pressão ter-
ritorial dos "brancos”. No litoral norte as bandeiras paulistas obrigaram os grupos
Carijó a deslocarem-se em direção ao interior, buscando guarida junto às missões
da Companhia de Jesus. No ano de 1635, o jesuíta Francisco Ximenes documenta
a presença de grande quanidade de indígenas nas cabeceiras do Rio Taquari, os
quais seriam originários da costa e teriam buscado assentamento nas proximida-
des da redução de Santa Teresa (cf. SOARES, 1997). Quando em marcha para o
Paraguai, Cabeza de Vaca (2009) relatou o encontro com um indivíduo natural da
costa do Brasil em curso pelo Peabiru nas proximidades de Assunção.
Como resultado, o litoral sul do Brasil presenciou, a parir do início do
século XVII, um período de paulaino despovoamento. Com efeito, no ano de
1658 o padre Luís Pessoa documenta nos Informes das Terras do Sul que “ainda
naquelas partes na ribeira do mar não há já genio, senão alguns poucos na la-
goa dos patos, aonde os nossos portugueses vão fazer suas compras de índios
pelas costas desta costa [...]” (CESAR, 1998, p. 30).
Brochado (1989) sugere que as migrações históricas dos grupos indígenas
Tupi e Guarani seriam impulsionadas por dois fatores principais, as pressões ter-
ritoriais escravagistas do período colonial, por forçarem a emigração e a possi-
bilidade de ocupação dos vazios deixados pelo impacto europeu no coningente
populacional indígena brasileiro, possibilitando a imigração.
De fato as pesquisas arqueológicas empreendidas na região central do
litoral evidenciaram ocupações Guarani e Jê com data de 280 ± 50 A.P. (Beta
202366), no síio RS-LC-80 (cf. ROGGE, 2006), sugerindo a retomada do povoa-
mento litorâneo pelas populações ceramistas do litoral norte. Dias (2003) depa-
ra-se com a mesma situação no atual município de Santo Antônio da Patrulha,
onde duas datações de 165 ± 20 A.P. (LVD 594) e 205 ± 25 (LVD 595) para o síio
RS-S-399 - Campestre Novo-1 denotam a presença Guarani na cabeceira do vale
do Rio dos Sinos30.
Em 1721 Manuel Gonçalves de Aguiar observa a presença de indígenas
nas terras do litoral norte e/ou central do Estado do Rio Grande do Sul da seguin-
te forma: “(...) são pouco habitadas de genio, e só ao pé da Serra, e antes de
chegar a ela se vêem bastantes fumaças de genio bravo, mas este não comercia
com ninguém” (CESAR, 1988, p. 67).
As presenças de ocupações indígenas nos vales dos rios Maquiné, Três
Forquilhas e Mampituba, são referidas nas crônicas de família dos primórdios do
povoamento das colônias alemãs e italianas, como por exemplo:
30 Cronologias recentes para a região central da planície costeira do Rio Grande do Sul são
igualmente referidas nos capítulos Rogge e Milheira neste volume.

52
[...] Por im, a longa descida da Serra do Umbu. São cinco quilô-
metros, da serra abaixo, serpenteando os precipícios. Na entrada
de uma gruta, índios fumavam, fazendo balaios de cipó. Coninua-
vam sentados, fazendo qualquer gesto hosil, quando a caravana
passou. Eles eram os verdadeiros donos daquelas matas, daque-
las serras. As cavernas eram lugares sagrados. Nelas, seus mortos
descansavam. Passar, os viajantes podiam. Parar e fazer morada,
jamais (MANSAN, 1999, p. 11).

AS RELAÇÕES COM OS DEMAIS OCUPANTES DA REGIÃO

As informações sistemaizadas acerca dos síios ceramistas do litoral norte


do Estado e regiões vizinhas indicam uma sucessão de ocupações e reocupações
ideniicadas através de três conjuntos materiais: cerâmica Taquara, cerâmica
Guarani e objetos de origem europeia, caracterizando um processo histórico de
longa duração.
Os processos de interação cultural no litoral norte são caracterizados por
três momentos claramente delimitados. Inicialmente os grupos ceramistas do pla-
nalto dominaram esta região coexisindo, possivelmente, com grupos pescadores
coletores dos sambaquis. Naquele momento os portadores da Tradição Taquara
maninham um sistema de exploração sazonal em três ambientes, conforme pro-
posto por Schmitz (1997). Esta estrutura modiicou-se pela chegada dos grupos
Guarani que teriam adentrado na planície litorânea a parir da bacia do Jacuí, con-
tornando o Planalto Meridional (BROCHADO, 1984)31. Desde então, a planície lito-
rânea foi paulainamente sendo dominada pelos invasores de origem amazônica
através do estabelecimento de relações de parentesco, oportunizando a formação
de um imbricado sistema de casamentos intergrupais, dando origem a múliplos
episódios de interação. O terceiro momento é marcado pelos contatos indígenas
com as expedições portuguesas que realizavam os primeiros reconhecimentos dos
mares e terras que viriam a pertencer à Província de São Pedro, bem como pelas
iniciaivas jesuíicas de catequese para expansão da fé.

31 Na realidade existem duas propostas daquele autor para a origem do povoamento Guarani no li-
toral norte do Estado. Inicialmente, Brochado (1973, 1975) propõe que as levas migratórias seriam
originárias do litoral de Santa Catarina que, atravessando a costa povoariam as duas margens da
Lagoa dos Patos. Anos mais tarde, Brochado (1980, 1984, 1989) inverteu o senido da migração
proposta e coloca os síios do litoral norte como originários do povoamento do vale do Jacuí e
Bacia do Guaíba, através dos qual teriam sido ocupadas as costas de Santa Catarina e Paraná.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 53


As cronologias disponíveis sugerem que os grupos ceramistas Jê32 do
Brasil Meridional (Tradição Taquara), já haviam se instalado na região extremo
leste do planalto e encostas voltadas para a planície costeira há 1.515 ± 105 A.P.
(SI-805) (SIMÕES, 1972). Suas expressões regionais icaram conhecidas, a parir
da década de 1960, como Fase Taquara (MILLER, 1967). As regiões das lagoas
do Porteirinho, Porteiro e Fortaleza, no litoral central do Estado, apresentam
ocupações Guarani que iniciaram33 em 1.900 ± 40 (Beta 206105), estendendo-se
até 280 ± 50 (Beta-202366), onde os síios, via de regra, apresentam associação
com cerâmica Jê (ROGGE, 2006). As únicas datações existentes no litoral norte
remontam aos trabalhos de levantamento de síios realizados por Eurico Miller
durante o desenvolvimento do PRONAPA, referindo-se aos síios RS-LN-35: 896 ±
100 A.P. (SI-412) e 1.102 ± 110 A.P. (SI-413) e RS-LN-16: 535 ± 200 (SI-410) e 556
± 200 (SI-411). Pesquisas realizadas recentemente nos sambaquis da barreira da
Itapeva demonstram uma ocupação tardia de síios concheiros na margem oeste
da Lagoa de Itapeva, onde o Sambaqui da Dorva - LII-43 foi habitado a parir de
1.110 ± 40 A.P. (Beta-244550, 1.080 a 940 cal. – probabilidade: 95%) (WAGNER,
2009a). Contudo, a contemporaneidade das populações sambaquieiras aos gru-
pos ceramistas Jê na região precisa ainda ser comprovada.
Evidências dos contatos entre os grupos pré-históricos sul-rio-grandenses
são os zoólitos encontrados por Ribeiro (1991) no síio RS-RP-171, localizado no
vale do Rio Pardo, que se situa cerca de 280km distante do litoral. Em que pese
trate-se de uma referência ao período pré-cerâmico, a ocorrência deste mate-
rial, caracterísico dos grupos sambaquieiros, reforça a hipótese da existência
de um comércio entre os grupos ocupantes da planície costeira e os grupos do
interior. Miller (1971) registrou a presença de um zoólito nas casas subterrâneas
da Fase Guatambu.
Muitos dos síios encontrados no litoral norte possuem ocorrências con-
jugadas de material cerâmico Jê e Guarani (ver Figura 02). Os síios arqueológi-
cos são: RS-LN-16 (Miller), RS-LN-18 (Miller), RS-LN-26 (Miller), LQQ01 - Walter
Medeiros, LII07 - Darci Leal, LII04 - Irmão Broda, LAA01 - Lauro Rodrigues, LLe02
- Areal Moro, RS-LN-07 (Hilbert), RS-LN-08 (Hilbert), RS-LN-22 (Hilbert) bem
como os dois síios estudados por Schmitz (1958).
Os episódios que deram origem às interações culturais entre os ceramis-
tas pré-históricos e, posteriormente, com os europeus, possibilitaram duas for-

32 Uma avaliação críica das tradições Casa de Pedra, Taquara e Itararé e suas relações com os
grupos Jê, pertencentes ao tronco Macro-Jê pode ser encontrada em Noelli (2005).
33 Rogge (2006) apresenta ainda uma datação de 2.142 ± 175 A.P. (LVD-660) para ocupação Guarani
que foi considerada demasiadamente aniga quando comparada com a cronologia regional.

54
mas gerais de interações: trocas sejam elas materiais (representadas nos síios
arqueológicos) e imateriais (ideias), ou confrontos.
Situações de interação na forma de confrontos possuem respaldo nas es-
cavações de Rohr (1966, p. 14) no síio da Praia da Tapera, onde “(...) Pelo menos
três indivíduos, seguramente, foram aingidos por lechas mortais”.
A despeito da existência de conlitos entre as populações ceramistas pré-
-históricas do litoral norte, destaca-se que mesmo eventos bélicos possibilitam prá-
icas comerciais, ou mesmo incorporação de indivíduos vencidos ao grupo. No que
diz respeito a tais práicas entre os Coroados, Mabilde (1983 [1836], p. 86) informa
que “Não dão nunca quartel a prisioneiros ou inimigos vencidos que sempre são
mortos com golpes de varapau, concedendo a vida às mulheres e às crianças que,
pela sua idade, estejam em condições de acompanhá-los em sua marcha (...)”.
Nos comentários redigidos por Pero Hernández acerca da expedição de
Cabeza de Vaca (2009, p. 145) a Assunção e terras vizinhas, evidencia-se que o
rapto de mulheres é práica comum entre as populações indígenas do Brasil Me-
ridional, pois os índios denominados agaces ao atacarem Buenos Aires “Rouba-
ram os armazéns dos espanhóis onde inham seus manimentos e levaram mais
de trinta mulheres guaranis.” O mesmo se dá na sociedade Guaicurú onde “As
mulheres possuem o direito de libertar o prisioneiro que os homens trazem para
junto deles, podendo este até coninuar a viver entre eles, se quiser, passando a
ser tratado como se fosse um integrante da tribo.”34

34 Quando consultadas as fontes etno-históricas sobre a “sub-cultura Tupi” (cf. BROCHADO, 1980)
percebe-se que as próprias expedições de guerra realizadas pelos Tupinambá da costa inham
objeivo de incorporação mesmo que temporária, de indivíduos às aldeias. Os relatos de Sta-
den (1999[1548]) proporcionam claras descrições da liberdade concedida pelos Tupinambá aos
prisioneiros, que transitavam livremente nas aldeias, paricipavam das aividades de pesca e
construção de canoas empreendidas por adultos e crianças e passavam o tempo confeccionando
objetos sem nenhuma restrição dos índios às formas e aparência dos produtos. Staden (1999
[1548]) chega a construir uma grande cruz de madeira ixando-a na praça central, em frente
a casa na qual se encontrava caivo. Léry (1960 [1557], p. 75) descreve as intensas inimizades
existentes entre os grupos Tapuia e Tupinambá e como as guerras estavam dizimando ambas as
populações. Contudo, mesmo em momentos de guerra o comércio de trocas era estabelecido.
“(...) o margaiá, o caraiá ou o tupinambá (assim se chamam as nações vizinhas), sem se iar no
uetacá mostra-lhe de longe o que tem a mostrar-lhe, foice, faca, pente, espelho, ou qualquer
outra bugiganga e pergunta-lhe por sinais se quer efetuar a troca. Em concordando, o convidado
exibe por sua vez plumas, pedras verdes que coloca nos lábios, ou outros produtos de seu terri-
tório. Combinam então o lugar da troca, a 300 ou 400pés de distância; aí o ofertante deposita o
objeto da permuta em cima de uma pedra ou pedaço de pau e afasta-se. O uetacá vai buscar o
objeto e deixa no mesmo lugar a coisa que mostrara, arredando-se igualmente, a im de que o
margaiá ou quem quer que seja venha procurá-la. Enquanto isso se passa são manidos os com-
promissos assumidos. Feita porém a troca, rompe-se a trégua e apenas ultrapassados os limites
do lugar ixado para a permuta procura cada qual alcançar o outro (...)”.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 55


Já no século XIX há a descrição da adoção de um escravo negro, foragido
nas matas de Vacaria aos Coroados, que inclusive acompanhava os homens nas
correrias e assaltos às colônias alemãs (MABILDE, 1983 [1836]).
O estabelecimento de interações sociais com grupos não Guarani deve ser
entendida como uma estratégia de expansão e conquista territorial, conforme
proposto por Soares (1997). Estas relações eram pautadas, sobretudo pela guerra
que, por um lado, proporcionava a tomada dos territórios, mas por outro lado,
oportunizava a incorporação de indivíduos. O objeivo era a “aquisição” de novas
mulheres, tendo em vista sua representaividade enquanto elemento de presígio
social para os “principais”, chefes das famílias extensas, líderes das teýy. O rapto de
mulheres pressupunha a assimilação de traços culturais Guarani pelas mulheres
raptadas bem como a imposição dos mesmos aos grupos subjugados em guerra.
O fenômeno da guaranização permiiu aos tekohá em expansão um me-
canismo de conquista de novas terras e o estabelecimento de novas aldeias,
inicialmente em áreas menos produivas onde jovens chefes, de ainda pouco
presígio, iniciariam sua ascensão social através da poligamia, acúmulo de rega-
los, de vassalos e vitórias em guerras (SOARES, 1997).
Kern (1994) destaca que o planio do milho, como estratégia de subsis-
tência dos grupos ceramistas Jê, teria sido decorrência de relações de interações
culturais, pois esta espécie vegetal teria sido introduzida na Região sul do Brasil
pelos grupos Guarani. Provas concretas da domesicação do milho pelos grupos
Jê foram suscitadas por Schmitz e Becker (1997 p. 271) “Restos de milho e de
cabaças foram encontrados em um dos abrigos da fase Guatambu [...]”.
Neste senido, as cerâmicas Jê, pertencentes à Tradição Taquara geral-
mente encontradas em síios Guarani no litoral norte, poderiam representar a
incorporação de mulheres através das relações de guerra e parentesco. O mes-
mo se aplica a outros elementos exógenos como matérias-primas líicas de lo-
cais distantes, bolas-de-boleadeira, como no síio RS-LN-34 (Miller), ou pontas
de projéil, como no RS-LN-16 (Miller).
As relações de reciprocidade entre as culturas arqueológicas ceramis-
tas que ocuparam o litoral norte ocorreram tanto entre os grupos Jê e Guarani
quanto entre as aldeias Guarani35.
As informações etno-históricas a respeito das relações de sociabilidade

35 É necessário considerar as possíveis relações existentes entre as aldeias localizadas na planície


arenosa e as aldeias localizadas nos vales dos rios que descem do planalto em direção ao litoral.
Há informações sobre a existência de síios dos Horicultores Guaranis no vale do Rio Maquiné,
mas não conhecidas suas localizações nem o material de suas coleções. Os vales escavados pelos
rios Sanga Funda, Três Forquilhas e Mampituba, caracterizam-se como áreas de grande poten-
cialidade para a ocupação Guarani, bem como o aproveitamento de suas encostas mais elevadas
para as aldeias Jê. Pesquisas futuras devam ser desinadas a estes vales, no senido de caracteri-
zar as ocupações dos grupos ceramistas ou mesmo dos caçadores-coletores que os precederam.

56
Guarani indicam que o cuñadazgo consiste em formar alianças entre cunhados
baseadas nas relações de parentesco e reciprocidade. Os laços estabelecidos são
acompanhados de obrigações de reciprocidade de bens dentro do círculo de pa-
rentesco. Estes bens compreendem escravos caivos, sobrinhas, irmãs, ilhas ou
objetos de valor. As mulheres são ofertadas por meio de casamentos conferindo
presígio social aos “principais” através da valorização da poligamia. Os objetos
de valor ou escravos são ofertados na forma de regalos, circulando amplamente
dentro e entre as aldeias, costurando as redes de parentesco através da recipro-
cidade (SOARES, 1997). O cuñadazgo envolve também a reciprocidade de con-
vites cerimoniais, sejam estes para rituais elaborados como a antropofagia, ou
para o acompanhamento em aividades diárias como a pesca, a caça, refeições,
estas úlimas expressas na forma de convites para “comer no mesmo prato” e
“beber no mesmo vaso” (SOARES, 1997).
No litoral norte, Rodrigues (1940 [1605], p. 230) documenta a manuten-
ção das relações comerciais entre os grupos Guarani quando relata: “[...] É a
mais pobre gente que cuido há no mundo... porque ele não tem cousa alguma,
scilicet, não tem algodão, nem peles, nem ipóias, nem io, nem arcos, nem fre-
chas, tudo isto lhes trazem os Arachãs [...]”.
A presença de evidências materiais dos contatos entre os grupos cera-
mistas do litoral norte pode estar relacionada a diversos episódios de interação:
roubo de objetos e víveres, rapto de mulheres, aprisionamento de guerreiros,
assimilação de indivíduos, trocas comerciais bem como em respeito às comple-
xas leis que regem as relações de parentesco e se expressam na ampla circulação
de objetos entre as aldeias, posteriormente materializada na diversidade mate-
rial intersíios.
Entretanto, a chegada das frentes de colonização ibéricas estabeleceu
uma série de mudanças no quadro geral do povoamento da área, deslocando
as comunidades indígenas de suas áreas de domínio originais e condicionando
o estabelecimento de novas estratégias de uso do espaço36. As pressões escra-
vagistas (preagens) e as doenças “brancas” contribuirão sobremaneira para a
redução do coningente populacional no Brasil Meridional. As interações cultu-
rais e comerciais entre indígenas e europeus foram dominadas pelas trocas de
mercadorias, informações e escravos.
Desde os primeiros contatos transcorridos no sul do Brasil entre guaranis
e europeus, as relações foram pautadas principalmente por trocas de objetos
europeus por prisioneiros indígenas. A aniguidade do comércio no sul é atesta-
do por Monteiro (1992, p. 490) quando ressalta que “[...] Desde meados do sé-
culo XVI, os primeiros povoadores da capitania de São Vicente... frequentavam

36 No capítulo 4, Dias e Bapista da Silva destacaram os efeitos do processo de Conquista ibérica


nas estratégias territoriais no Lago Guaíba.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 57


o litoral ao sul da capitania, travando um intenso intercâmbio com os grupos
Guarani da região, sobretudo na chamada laguna dos Patos37 [...]”.
O síio LII02 - Cemitério possui uma conta de colar em sua coleção, a qual
sugere o contato com os portugueses. Nos síios pesquisados por Schmitz (1958,
p. 115) foram igualmente encontradas “[...] três contas de vidro de origem eu-
ropeia [...]”. Estes objetos foram, por vezes, adquiridos em troca de indivíduos
de tribos rivais, que a sociedade branca absorvia como mão-de-obra escrava.
Aquelas práicas são presenciadas por Rodrigues (1940 [1605], p. 234-235) nas
regiões do Mampituba e restante do litoral norte do Rio Grande do Sul:

“[...] E daqui vem a venderem-se uns aos outro com tanta cruelda-
de, sem terem respeito às pessoas, que vendem, serem suas pa-
rentas ou não. E assim vendem a varejo quantas podem, scilicet,
sobrinhas e até alguns rapazes de manos de 15 anos têm ousadia
pera venderem. Depois que aquí chegamos, té houve índios que
venderam seus próprios enteados, a própria mulher, outros ven-
dem as verdadeiras sobrinhas porque não querem andar com elas,
ou por se contentar de uma mulher casada, pera haver, vendeu-lhe
o marido. Outro pobre moço, estando pescando, vem outro por
detrás e dá com ele no navio. Outro senhor de uma casa [...] vindo
vender um, foi alí vendido doutro [...].

Destaca-se no trecho referido de Rodrigues a existência de ocasiões em


que “principais” de casas são preados, demonstrando a profunda desestrutura-
ção da estrutura social que a colonização europeia da América representou nas
culturas indígenas e, em especial, nas culturas Tupi e Guarani. As palavras dos
próprios Carijó exempliicam esta desestruturação: “[...] E se os brancos dizem
ser os Carijós bons é porque se lhes vendem. E até os mesmos carijós estão
dizendo: - porque lhes vendemos nossos parentes dizem que somos bons [...]”
(Rodrigues 1940 [1605], p. 242).
As contas eram produtos do maior interesse para os indígenas, com as
quais ornavam colares, em subsituição aos ossos de animais e conchas ante-
riormente ostentados. Serrano (1937, prancha XX) encontrou três colares ainda
ariculados incluindo diversos objetos de origem europeia com dedais e contas
venezianas, sendo, um originário do município de Três Cachoeiras e, os outros
dois, originários do Sambaqui de Itapeva, município de Torres38. A carta de Cami-
37 Monteiro (1992) deixa claro que a Laguna dos Patos referida é a Laguna, em Santa Catarina e
não a atual Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul.
38 O sambaqui de Itapeva estava, certamente, desocupado no século XVI. Uma datação realizada
por Wagner (2009a, p. 49) evidencia a ocupação do sambaqui em 3.130 ± 40 A.P. (3.300 a

58
nha registra o interesse dos Tupinambá pelas contas com as seguintes palavras:
“Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhes dessem, e
folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois irou-as e meteu-as em
volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar
do Capitão, como se dariam ouro por aquilo”. Rodrigues (1940 [1605], p. 240)
atesta a importância das contas no comércio do litoral norte, que são adquiridos
dos europeus e possuem alto valor para trocas entre os indígenas. “Esimam
muitos os moumas, que levam pera Angola, e outras que são como canudinhos
que deita o mar fóra. E vão-nos buscar daquí a mais de 70 léguas. E com estas
contas hão quanto querem dos Arachãs.”
Mas não apenas escravos eram adquiridos pelos europeus, mas também
objetos. É mais uma vez Rodrigues (1940 [1605], p. 240) quem oferece testemu-
nho destas práicas na área de estudos. “(...) E estes tais em pago de lhes traze-
rem de tão longe (que muitas vezes com a fome e cansaço morrem) o io, redes,
ipóias, e pelejos, vendem os Tubarões aos brancos (...)”.
O LII14 - Síio do Lúcio (HILBERT et al., 2008) bem como os síios pesqui-
sados por Schmitz (1958) possuem “uma lamela de cobre perfurada para or-
nato” em seus respecivos acervos, demonstrando outro produto de interesse
indígena. Em Montoya (1985 [1639], p. 168) podem ser encontrados diversos
exemplos de objetos que despertaram interesse dos indígenas tais como “an-
zóis, agulhas e alinetes, contas de vidro e miçangas”. Sobre os Tupi da costa
Sudeste e Nordeste Gandavo (1964 [1576]) relata a presença maciça de cavalos
nas anigas capitanias de Ilhéus, Bahia e Pernambuco no século XVI. Entretanto
Cabeza de Vaca (2009) relata repeidas vezes o medo que os cavalos desperta-
vam nos Guarani que o acompanhavam na jornada iniciada em Santa Catarina
em direção à região de Assunção. Rodrigues (1940 [1605]) informa a incorpora-
ção do gado pelos Carijó do litoral norte já nos anos iniciais do século XVII.
Os fenômenos de interações culturais permiiram a integração de ele-
mentos novos ao universo cultural indígena Guarani. Exemplo claro destes pro-
cessos é a incorporação de alças como elementos funcionais à vasilha cerâmica
Guarani encontrada no síio Darci Leal - LII-07.
A observação das localizações dos síios arqueológicos Guarani com
evidências de contatos com o elemento europeu proporciona a clara ideia das
intensas modiicações transcorridas. Se em um primeiro momento, a planície
costeira era explorada através da ampla circulação luvial ao longo do sistema
de leques aluviais alimentados pelo planalto, bem como pelo rosário de lagoas
3.260 cal. – probabilidade: 95%, AMS). Desta forma, os colares possivelmente relacionem-se
a uma reocupação ceramista sobre o local, ainda que Kern, La Salvia e Naue (1985, p. 579)
expressem claramente que “(...) Não há nenhum nível estraigráico arqueológico canônico
indicando um estabelecimento de horicultores sobre a Pedra de Itapeva”.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 59


do litoral, a chegada das frentes de colonização europeia resultou na reestrutu-
ração deste sistema. Neste segundo momento, os vales dos rios, anteriormente
ocupados pelas aldeias menores, agora seriam o único reduto seguro do litoral
norte, tornando-se alvo de disputas entre as pequenas e grandes aldeias em
fuga. A planície litorânea coninuaria uma excelente área para pesca e coleta,
mas somente poderia ser aproveitada em incursões rápidas, através do uso de
canoas. Os pequenos grupos Guarani poderiam descer as fozes dos rios Maqui-
né, Sanga Funda, Três Forquilhas, Cardoso e Mampituba em rápidos desloca-
mentos embarcados, estabelecendo-se em terrenos altos às margens das gran-
des lagoas. As elevações caracterizariam ao mesmo tempo a coninuidade de
seu sistema econômico anterior e um ponto de vigília das embarcações e tropas
terrestres ibéricas que poderiam se aproximar.
As análises da cerâmica encontrada nos síios, bem como os resultados
das análises já publicados, demonstram que as contas de colar, os artefatos de
metal e as vasilhas com alças aparecem exclusivamente em síios de pequeno e
médio porte, localizados sobre elevações muito próximas das margens das lago-
as, as quais se ligam com as desembocaduras dos rios dando acesso ao interior
dos vales. Este é o caso dos síios LII07 - Darci Leal, BAM06 - Família Machado,
LII02 - Cemitério, LII14 – Síio do Lúcio e os síios localizados por Schmitz (1958)
às margens do rosário de lagoas do litoral norte.
As situações de conlitos documentadas nas páginas antecedentes foram
responsáveis pelo gradual desaparecimento de muitas parcialidades indígenas
que ocupavam o território brasileiro. O impacto dos anos inais do processo co-
lonial sobre a sociedade Guarani foi expresso nas palavras de Brochado (1975,
p. 1980) “[...] é tão deprimente que nem vale a pena nos estendermos a respei-
to [...]”. Os alivos guerreiros que devoravam os vencidos acabaram subjugados
pela supremacia bélica ibérica. A missionarização degenerou a base religiosa da
cultura Guarani. A uilização como coningente militar nas guerras entre portu-
gueses e espanhóis diminuiu sua população. A subjugação como mão-de-obra
escrava no sistema produivo colonial desagregou os grupos e privou-os do do-
mínio de suas respecivas terras. Desta maneira as populações Guarani foram
aniquiladas ísica e culturalmente, sendo geneicamente absorvidos pela misci-
genação que deu origem à sociedade luso-brasileira.
Nos dias atuais, a única forma de aproximarmo-nos das estruturas sociais
de populações indígenas pretéritas é através dos trabalhos arqueológicos. En-
tretanto, os arqueólogos têm assisido ao acelerado processo de destruição dos
vesígios materiais destas culturas em função da exploração imobiliária e cresci-
mento das malhas urbanas. Muitas questões coninuam à espera de respostas,
e muitos síios ainda precisam ser escavados. Resta-nos, aos proissionais da
Arqueologia, empenharmo-nos para que o nosso objeto de estudo resista ao
crescimento das cidades litorâneas.

60
Figura 01- Mapa contendo as localizações das aldeias
pré-históricas Guarani no litoral norte do Rio Grande do Sul.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 61


Figura 02- Mapa contendo os síios arqueológicos com evidências de contato entre os ceramistas
Guarani e Jê no litoral norte do Rio Grande do Sul.

62
CAPÍTULO 3

A CERÂMICA GUARANI DO LITORAL NORTE


DO RIO GRANDE DO SUL

Mariana Araújo Neumann 39

O litoral norte do Rio Grande do Sul possui uma das coleções mais com-
pletas de cerâmica arqueológica da chamada Tradição Guarani40 no Rio Grande
do Sul41. Oriundas das pesquisas desenvolvidas pelo Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) na região entre os anos de 1965 e 1966
(MILLER, 1967), elas encontram-se hoje sob a salvaguardada do Museu Arqueo-
lógico do Rio Grande do Sul (MARSUL). Destas coleções, destacam-se as 14 vasi-
lhas inteiras ou restauradas provenientes de sete síios arqueológicos42 localiza-
dos nos municípios de Osório e Capão da Canoa.
Apesar da falta de registro de muitos dos dados contextuais dos síios43,
os quais nos permiiriam análises mais aprofundadas sobre o material, apenas
39 Graduada e Mestre em História pela UFRGS. Atualmente é arqueóloga do Insituto do Patrimô-
nio Histórico e Arísico Nacional – IPHAN (neumann.mariana@gmail.com).
40 Embora uma “Tradição Guarani” não tenha sido deinida na literatura, convencionou-se,
a parir da publicação da tese de José Jusiniano Proenza Brochado (1984), chamar assim
os conjuntos arqueológicos semelhantes que se distribuem desde o Rio Madeira, seguindo
pelo interior do Brasil até a bacia do Rio da Prata, os quais correspondiam, na classiicação
do PRONAPA, à Sub-Tradição Corrugada da Tradição Tupiguarani.
41 A síntese sobre a ocupação Guarani nesta região pode ser consultada em Wagner, neste volume.
42 RS-LN-33: Lagoa Negra, RS-LN-35: Bassani 1, RS-LN-36: Ramalhete 2, RS-LN-40: Praia do Barco
1, RS-LN-44: Arroio Teixeira, RS-LN-47: Calipso, e RS-LN-48: Bassani 3.
43 A ausência deste ipo de dado se deve às preocupações e metodologias pronapianas. Com o obje-
ivo de formular cronologias relaivas da ocupação pré-colonial brasileira, o fundamental era cobrir
de pesquisas a maior parte do território nacional, ideniicando síios e materiais que pudessem ser
seriados. Neste intuito adotou-se uma metodologia de campo que privilegiava prospecções e cole-
tas de superície assistemáicas (DIAS, 1995; BARRETO, 1999/2000; PROUS, 1992) e as interpreta-
ções das coleções resultantes baseavam-se na variação quanitaiva de tratamento de superície e
aniplásico (FORD, 1962). Assim, todos os dados necessários para aingir o objeivo do Programa
estavam nas próprias coleções e, apesar da ênfase dada aos trabalhos de campo, não se desinou
muita atenção às informações contextuais e à metodologia de escavação.
o trabalho sobre estas coleções torna possível a compreensão de questões tecno-
lógicas como as dinâmicas de uso das diferentes categorias funcionais de vasilhas
e o padrão de aplicação dos graismos policromos, paricularmente bem preser-
vados neste contexto. Foi com o intuito, portanto, de explorar o potencial destas
coleções, que as retomamos através de um estudo tecnológico minucioso44.
Tecnologia é um dos principais conceitos da Arqueologia. Em toda a
história da disciplina, podemos ver que foi a preocupação com as diferentes
formas de produzir o mundo, principalmente o mundo material, que orientou
o olhar arqueológico para os conjuntos de artefatos encontrados em diferen-
tes contextos regionais e temporais45.
Segundo Ingold (2000), apesar das diferentes formulações que teve, tec-
nologia pode ser entendida como “os meios pelos quais um entendimento ra-
cional do mundo exterior é posto a favor da sociedade” (INGOLD, 2000, p. 312).
Conforme o autor, o conceito foi cunhado por e para o capitalismo, a im de
promover o que chama de “desembasamento” das relações sociais das relações
técnicas de produção, deslocando o sujeito do centro para a periferia do proces-
so. Isto visava garanir que o que se passasse na transformação do mundo mate-
rial não mais resultasse na transformação do mundo social, o que proporcionava
certo equilíbrio das tensões inerentes ao processo. Porém, em outros momentos
da história ou em outras sociedades não modernas ou não ocidentais, como as
Guarani que aqui consideramos, o fazer e o usar um objeto estabelecem uma
relação muito mais intrínseca com as demais dinâmicas sociais, carregando a
tecnologia de conteúdo social.
Neste senido, devemos retroceder o conceito de tecnologia até antes
de sua consituição capitalista, possibilitando retomar a carga de socialidade
subjacente às práicas tecnológicas e considerá-las como uma porta de aces-
so à (cosmo)lógica que as sociedades pretéritas davam ao mundo e às suas
relações. Isto implica em, nas palavras de Bruno Latour (2004, 2007), tornar
o conceito simétrico, ou seja, não mais signiicar a contraposição de dois con-
juntos de seres deinidos pela modernidade como ontologicamente disintos
e incompaíveis (como diferentes matérias-primas e os seres humanos que as
transformam), mas sim compreender as diferentes formas de associação entre
seres semelhantes (como diferentes matérias-primas e os seres humanos que

44 Este estudo corresponde a minha pesquisa de mestrado (Neumann, 2008), onde analisei com-
paraivamente coleções do litoral norte e do Vale do Rio da Várzea, com o objeivo de iden-
iicar peris tecnológicos pariculares a cada contexto, discuindo, assim, questões sobre a
História Guarani Pré-Colonial.
45 Sobre a discussão da aplicação do conceito de tecnologia em Arqueologia, ver Dobres (2000).

64
as transformam!)46. Isto posto, concordamos com Ingold (2000) ao mostrar que
este movimento indica que, mais que um conceito instrumental, uma tecnologia
é fundamentalmente social, pois se refere a seres humanos, vivendo e traba-
lhando em ambientes que incluem outros humanos assim como uma variedade
de agências e enidades não humanas. Através de suas experiências de troca
com estes vários componentes do ambiente, as pessoas desenvolvem aitudes
especíicas e sensibilidades, que são portadoras das técnicas. Reciprocamente,
através da disposição de suas habilidades técnicas, as pessoas aivamente cons-
ituem seus ambientes. Mas, nesta inter-relação mutuamente consituiva en-
tre pessoas e o ambiente não há dicotomia entre componentes humanos e não
humanos. Há técnicas para o engajamento com companheiros humanos, assim
como há técnicas para o engajamento com animais e plantas dos quais depen-
de a vida, ou com materiais como madeira, argila ou pedra na produção de um
equipamento (INGOLD, 2000, p. 321)
O que uma tecnologia revela, assim, é uma relação de socialidade ínima
entre humanos e não humanos, caracterizada como o debate que resulta na
consituição de um mundo comum, um coleivo. É esta relação simétrica que
compreendemos como tecnologia: uma arena políica – nas palavras de Latour
(2004) uma assembleia – onde humanos e não humanos iguram como proposi-
ções à formação do coleivo e defendem suas perspecivas (NEUMANN, 2008).
Neste senido, um artefato é a síntese deste debate, guardando em si os para-
digmas ideais do ipo de cosmo que humanos e não humanos desejaram produ-
zir. Desta forma, o conceito de tecnologia traduz também outros conceitos caros
à Arqueologia, como padrão de assentamento, consumo e mesmo socialidade,
tornando-se ainda mais fundamental à disciplina.
Neste cenário, a cerâmica assume um papel destacado. Como o produ-
to fundamental da tecnologia Guarani pré-colonial para a análise arqueológica,
nela se cruzam e se tencionam os poderes de diversos seres associados. Pen-
sando em pessoas, argilas, aniplásicos, fogos e alimentos como seres ontolo-
gicamente semelhantes, principalmente por serem todos dotados de agência,
a cerâmica surge como o coninente de uma série de relações políicas entre
os Guarani e o ambiente. Ela pode, através da sua composição de pasta, da sua
forma, dos graismos em sua superície, do seu uso e do seu descarte, inimidar
agências perigosas ou incorporar agências desejáveis à composição do cosmo.
Mais do que isto, ela é capaz, através de seu uso, de fazer transitar estas agên-
cias entre os membros do coleivo.

46 Tal premissa caracteriza a Arqueologia Simétrica, perspeciva teórica que recentemente come-
çou a se desenvolver a parir da inluência das propostas de Bruno Latour. Ver Neumann (2008;
2010 no prelo), Webmoore (2007), Whitmore (2007) e Shanks (2007).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 65


No caso das cosmologias ameríndias, a produção – de pessoas e artefatos
– é um conínuo processo de predação de agências de outras esferas cosmoló-
gicas, o que depende de uma série de premissas tecnológicas (FAUSTO, 2001;
BARCELOS NETO, 2002; LIMA, 2005; VAN VELTHEM, 2003; VIVEIROS DE CASTRO,
2002). Considerando tecnologia a arena políica onde os diferentes membros
dos coleivos indígenas discutem os alcances e limites desta predação, nossa hi-
pótese é que existem minúcias na produção das vasilhas que revelam diferentes
seres reproduzidos e, logo, diferentes formas de associação entre os Guarani e
sua cerâmica. Neste caso, a análise tecnológica revelará uma série de especiici-
dades em contextos regionais determinados, as quais podem revelar diferentes
contornos cosmológicos próprios aos coleivos indígenas pré-coloniais.
Para compreendermos todas estas relações possíveis, adotamos a me-
todologia de análise da cadeia operatória. Esta pode ser entendida como toda
a sequência de operações que envolvem a transformação da matéria em um
produto, releindo as escolhas feitas pelo artesão (DOBRES, 2000; LEMONNIER,
1992). Se aceitamos o conceito de tecnologia como a arena políica onde huma-
nos e não humanos debatem igualmente a produção do cosmo, então seus pro-
dutos guardam os detalhes deste debate, e o estudo de suas cadeias operatórias
serve como um “livro de atas”, descorinando as proposições aceitas e negadas,
listando a maneira como cada elemento entrou no jogo, cada poder que agregou
ao coleivo (NEUMANN, 2008). Desta forma, uma análise tecnológica nos permi-
te acompanhar os procedimentos levados a cabo para a produção do coleivo.
A metodologia desenvolvida foi inspirada tanto em modelos etnoarque-
ológicos como da Arqueologia experimental. Para compreender o início do pro-
cesso produivo, uilizamos o modelo de cadeia operatória desenvolvido por
Silva (2000), em seu estudo da produção cerâmica entre os Assuriní do Xingu.
Para compreender dinâmicas de uso, a parir das marcas que deste remanescem
nas vasilhas, uilizamos a metodologia de análise de marcas de uso de Skibo
(1992). Nossa análise inclui também a observação de alterações tafonômicas,
pois, embora não tenhamos suicientes dados contextuais dos síios para inter-
pretar a questão do descarte, estas marcas limitam e interferem a observação
dos demais critérios tecnológicos (SCHIFFER, 1987). Para compreender a relação
entre forma e função das vasilhas cerâmicas Guarani pré-coloniais, uilizamos o
modelo de Brochado e colaboradores (LA SALVIA e BROCHADO, 1989; BROCHADO,
MONTICELLI e NEUMANN, 1990; BROCHADO e MONTICELLI, 1994).
Os critérios considerados foram: aniplásico, técnica de confecção, tra-
tamento de superície, queima e acabamento de superície, parte consituinte,
aniplásico, tratamento de superície, marcas de uso internas e externas, altera-
ções tafonômicas e categoria funcional. Neste arigo enfaizaremos as relações

66
entre produção (representada pela análise da composição de pasta), forma (ca-
tegorias funcionais) e função (análise de marcas de uso), onde acreditamos que
residam as especiicidades dos conjuntos de vasilhas.

AS VASILHAS CERÂMICAS DO LITORAL NORTE

O objeivo da análise tecnológica de vasilhas inteiras foi quesionar sobre


as dinâmicas de uso das diferentes categorias funcionais conhecidas para a cerâ-
mica arqueológica Guarani, relacionando as demais caracterísicas tecnológicas
em termos de especiicidades morfológicas, funcionais e regionais47. Em nossa
análise parimos do princípio de que qualquer escolha tecnológica não é aleató-
ria, pois determina a re-produção de um ser especíico. Diferentes contornos de
bordas ou bases, a escolha das matérias-primas, as texturas e pinturas aplicadas,
assim como as marcas do desempenho de uma função, caracterizam as especii-
cidades e propriedades cosmológicas destes seres (VAN VELTHEM, 2003).
A coleção de vasilhas inteiras compõe-se por 14 peças48, sendo um tem-
birú ungulado (tombado sob o número T-367) recuperado no síio RS-LN-33: La-
goa Negra; três yapepó (números de tombo T-484, T-581 e T-582) e três tembirú
(números de tombo T-120, T-121 e T-122) recuperados no síio RS-LN-35: Bas-
sani 1; uma pequena “vasilha” inteira ungulada, certamente de treino de uma
artesã ainda criança (número de tombo T-088), no síio RS-LN-36: Ramalhete 2;
um yapepó corrugado-ungulado inteiro (número de tombo T-133), no síio RS-
-LN-40: Praia do Barco 1; um yapepó corrugado-ungulado inteiro (tombado sob
o número T-085) no síio RS-LN-44: Arroio Teixeira; um cambuchí caguaba pin-
tado externamente em vermelho e preto sobre branco, e internamente em pre-
to sobre engobo vermelho (número de tombo T-476) e dois cambuchí pintados
externamente em vermelho sobre branco (tombados sob os números T-1184 e
T-605) associados aos enterramentos escavados no síio RS-LN-47: Calipso; e um
cambuchí (número de tombo T-1187) no síio RS-LN-48: Bassani 3.
Apresentaremos as análises das relações tecnológicas por categoria fun-
cional (LA SALVIA e BROCHADO, 1989).

47 As comparações regionais podem ser consultadas em Neumann (2008).


48 Os croquis completos das marcas de uso para cada vasilha analisada podem ser consultados
em Neumann (2008).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 67


✓ Yapepó

O termo Guarani yapepó pode ser traduzido para o português como


“panela”49, e determina, para a Arqueologia, uma categoria genérica de potes
usados ao fogo. La Salvia e Brochado (1989) as caracterizaram como vasilhas que
possuem base conoidal ou arredondada, corpo com bojo saliente, borda côncava,
verical ou extroverida e boca restringida, cujo uso principal é cozer alimentos
ao fogo. Em sua deinição vemos uma variabilidade formal no que tange ao ipo
de bordas e bases, assim registradas por Montoya: yapepó rebí chûa (panela com
fundo conoidal) e yapepó rebí agûa (panela com fundo redondo) (LA SALVIA E
BROCHADO, 1989, p. 125-127). Estas diferenças ainda foram pouco exploradas
pela Arqueologia Guarani, moivo pelo qual optamos por enfaizar as caracterísi-
cas morfológicas para perceber quais escolhas tecnológicas se ligam a elas.
As coleções do litoral norte possuem quatro yapepó: dois com fundo arre-
dondado do ipo yapepó rebí agûa (T-581 e T-582) e dois com fundo conoidal do
ipo yapepó rebí chûa (T- 085 e T-133). Estas úlimas se caracterizam também por
possuírem contornos complexos, com múliplos ombros.
A análise tecnológica mostrou que a composição das pastas50 estabelece
diferenças entre os dois ipos de yapepó: pastas com baixa concentração de he-
maita (cor amarelada) para as yapepó rebí agûa, e pastas com alta concentra-
ção de hemaita (cor avermelhada) para as yapepó rebí chûa.
Quanto à opção de tratamento de superície, as coleções correspon-
dem à caracterísica ideniicada por Brochado, Monicelli e Neumann (1990)
e Brochado e Monicelli (1994) de que os yapepó possuem tratamentos super-
iciais plásicos, independente das peculiaridades morfológicas.
Quanto às marcas de uso, Fidryszewski (2007), em sua análise da coleção
de vasilhas Guarani inteiras do Alto Uruguai, percebeu que as diferenças morfo-
lógicas internas à categoria yapepó caracterizam panelas com funcionalidades
especíicas. Enquanto as panelas com fundo arredondado (yapepó rebí agûa)
possuem carbonização distribuída em faixas horizontais de diferentes intensi-
dades, concentradas principalmente nas bases, as panelas com fundo conoidal
(yapepó rebí chûa) possuem uma carbonização homogênea em toda a superície
49 Conforme La Salvia e Brochado (1989), a parir de Montoya (1876): YAPEPÓ = olla (de IA =
calabaço + PEPÓ = aba, borde; ou TATAPÓ = cosa que se pone al fuego).
50 A composição das pastas corresponde à análise dos aniplásicos presentes. A parir da leitura
da etnograia de Garlet e Soares (1998), sugerimos a interpretação desta questão conforme
a cor da pasta (a qual foi medida em relação à maior ou menos concentração de hemaita)
que, segundo os autores, ainda hoje é um critério que deine as formas de associação entre os
Guarani e sua cerâmica.

68
interna. Isto indica diferentes ipos de alimentos sendo cozidos em cada varieda-
de de panela. Nossos resultados são semelhantes a estes.
Em relação aos yapepó rebí agûa, creditamos a dois fatores o ipo de marca
de uso observado. O primeiro é o ipo de alimento sendo preparado. A carbo-
nização no fundo nos remete a alimentos pastosos a sólidos, em que a água do
cozimento evapora durante o processo, tal qual as vasilhas itoyom dos Kalinga
(SKIBO, 1992). Sugerimos que nestas vasilhas pudessem ser preparados os min-
gaus comentados na literatura etnohistórica (BROCHADO, 1991), e que ainda hoje
fazem parte da alimentação Mbyá-Guarani (TEMPASS, 2005). O segundo fator é
a forma arredondada do fundo, que faz com que as labaredas se concentrem na
parte inferior da vasilha, e a restrição da boca faz com que o calor ique preso no
interior (SKIBO, 1992). Uma panela assim permite que se ainja altas temperaturas
durante o cozimento, possibilitando acidentes de queima dos alimentos.
Em relação aos yapepó rebí chûa, os fatores forma e conteúdo também
estão agindo na produção das marcas. Quanto à forma, uma vasilha de fundo
cônico possui muito mais superície em contato com o fogo. Se um fundo arre-
dondado direciona as labaredas para os lados, concentrando o calor, um fundo
cônico direciona as labaredas para cima, permiindo que o fogo envolva boa
parte da vasilha, provocando a carbonização interna do conteúdo mesmo nas
partes mais altas, próximas ao pescoço. Além disto, para que as paredes internas
iquem uniformemente cobertas por carbonização, é necessário que seu con-
teúdo seja bastante líquido (para que não carbonize somente no fundo) e ao
mesmo tempo viscoso, possuindo muitas parículas sólidas que possam aderir
às paredes internas e carbonizar. Portanto, o conteúdo preparado deveria ser
algo como um líquido espesso. Baseada na literatura etnohistórica (Anchieta,
[1584]1964; de Lèry [1577]1926; Montoya, 1997 [1892]; Noelli, 1993; Staden
[1557]1956) sugiro que estas vasilhas fossem especiicamente uilizadas na pro-
dução do caium. Assim, consideramos que as yapepó rebí chûa sejam um ipo de
cambuchí devido a sua semelhança morfológica e funcional.

✓ Cambuchí

As coleções do litoral norte possuem três vasilhas cambuchí: T-605 e


T-1184, associadas aos enterramentos do síio RS-LN-47: Calipso, e T-1187, recu-
perada no síio RS-LN-48: Bassani 3.
O termo Guarani cambuchí foi traduzido por Montoya como jarro ou
cântaro (LA SALVIA e BROCHADO, 1989, p. 132). Caracterizadas como vasilhas

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 69


de contornos complexos, são sempre lembradas por serem bem acabadas com
elaboradas pinturas na face externa a parir da borda até o úlimo ponto de
inlexão, remetendo à função ritual que cumpriam na produção do cauim e pos-
teriormente nos sepultamentos. No entanto, existe uma variabilidade formal,
estéica e funcional interna à categoria. Se mesmo Montoya já indicava os dife-
rentes usos das vasilhas cambuchí – fermentar, guardar e servir líquidos – nos
cabe considerar esta variabilidade funcional na sua relação com as diferentes
escolhas tecnológicas.
Podemos pensar em pelo menos três subcategorias para os cambuchí,
conforme sua função: uma para armazenar água, e duas ligadas à produção de
bebidas alcoólicas – cozinhar os ingredientes51 e fermentá-los. Iniciamos pela
função de armazenamento, que não deixa marcas especíicas na superície ce-
râmica. Duas vasilhas da coleção do litoral norte (T-1184 e T-1187) não possuem
marcas especíicas em sua superície interna. Segundo a documentação dos sí-
ios, estas vasilhas estão associadas a sepultamentos.
Noelli (1993, p. 102) indica que o sepultamento é uma função secundária
na vida das vasilhas, ou seja, que antes de fazerem parte do conjunto funerá-
rio elas foram uilizadas em outras aividades. Na ausência de marcas de uso,
como é o caso, podemos considerar que sua função anterior tenha sido pouco
agressiva às paredes, como o armazenamento de líquidos – mas, sem descartar
a hipótese de que tenham sido produzidas exclusivamente para o enterramento,
pois não há regra nesta relação.
Quanto ao ipo de pasta uilizada, as vasilhas T-1184 e T-1187 possuem
matéria orgânica em sua composição de pasta, associada a altas concentrações
de hemaita, o que, como vimos, dá uma cor avermelhada à vasilha.
Entre as vasilhas do litoral norte não pudemos aprofundar a observação
sobre a variabilidade de graismos por que, das vasilhas decalcadas, apenas
T-1184 tem um bom grau de preservação, sendo que o cambuchí tombado sob o
número T-1187 apresenta apenas alguns fragmentos preservados.
Nesta vasilha pudemos ideniicar nove espaços gráicos: lábio, borda,
restrição da borda, pescoço, restrição do pescoço, primeiro ombro, restrição en-
tre os ombros, segundo ombro e diâmetro máximo (inlexão para o corpo da
vasilha). Na pintura das vasilhas Guarani, lábio e pontos de inlexão e restrição
são marcados com faixas comumente vermelhas que delimitam as áreas a serem
pintadas. Estas áreas se localizam na borda, pescoço e ombro (s), e recebem
composições de linhas que formam padrões mais elaborados.
Das áreas pintadas do cambuchí T-1187 obivemos decalque apenas de
parte do graismo presente no primeiro e no segundo ombro. Em ambos o gra-

51 Caso dos yapepó rebí chûa.

70
ismo se caracteriza por traços vericais e horizontais que se encontram em um
ângulo de 90º, lembrando a nós uma escada.
A vasilha tombada sob o número T-1184 (ver Figura 01) apresenta os mes-
mos nove espaços gráicos referidos para T-1187. Neste graismo o lábio e os pon-
tos de inlexão também foram evidenciados com faixas vermelhas, delimitando as
áreas de pintura. A primeira área pintada é a borda, na qual se observa a aplicação
de linhas vermelhas sobre fundo branco. O espaçamento entre estas linhas nos
mostra que elas estão dispostas aos pares, indicando a representação de linhas
vazadas cujos bordos são vermelhos e o interior branco. Estas linhas estão dispos-
tas diagonalmente formando triângulos que são o módulo do desenho. O espaço é
preenchido com a combinação dos módulos no senido superior e inferior, ou seja,
nos intervalos entre cada triângulo se coloca outro na posição inverida.
A segunda área pintada é o pescoço e aí ideniicamos o mesmo padrão
descrito para a borda. A repeição dos padrões também está presente na ter-
ceira e quarta áreas (primeiro e segundo ombros). O padrão de linhas vazadas
com bordos vermelhos e fundo branco se mantém, mas o desenho formado é
mais complexo. As linhas partem do limite das áreas – faixa vermelha nos pontos
de inlexão – vericalmente em relação à boca da vasilha, e em certo ponto se
curvam, formando meias-calotas. A combinação destas linhas forma o módulo
do desenho, cuja imagem nos lembra um cálice. O espaço é preenchido com a
combinação dos módulos no senido superior e inferior, ou seja, nos intervalos
entre cada módulo se coloca outro na posição inverida.
Quanto às vasilhas relacionadas à produção do cauim, inicialmente espe-
rávamos ideniicar apenas marcas de fermentação. No entanto, como explora-
mos no tópico anterior, as caracterísicas morfológicas e funcionais dos yapepó
rebí chûa nos levaram a concluir que estes sejam também um ipo de cambuchí,
responsáveis por uma etapa especíica da produção de cauim. No que tange à
função “clássica” dos cambuchí, a fermentação de bebidas alcoólicas, apenas
uma vasilha proveniente do litoral norte, T-605, apresentou tais marcas.
As marcas de fermentação podem apresentar-se em padrões bastan-
te variados. Fermentação é um processo através do qual a transformação dos
alimentos provoca a liberação de gás carbônico e, no caso do uso de vasilhas
cerâmicas, os líquidos envolvidos podem penetrar a superície interna e fazer
com que esta descame à medida em que tais gases são liberados. Estas desca-
mações são as marcas deixadas pela fermentação. Nossas análises indicam que
a descamação pode ser mais ou menos intensa conforme o ipo de aniplásico
e qualidade do alisamento interno da vasilha – o que causa maior ou menor pe-
netração dos líquidos fermentantes nas paredes.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 71


Montoya registrou alguns verbetes sobre o uso dos cambuchí em que se
alerta para o cuidado em não mexer com a vasilha para que o conteúdo não se
turve: erecó recó imé cambuchí húúnge ñemonãni ay hãgûâmâ = no menees el
vaso porque no se enturbie el vino (LA SALVIA e BROCHADO, 1989, p.134). Não
apenas a borra resultante da decantação das partes sólidas do cauim pode pro-
vocar esta turvação, mas também os fragmentos de superície cerâmica que se
despreendem na fermentação.
Devido a esta variação no processo, ivemos certa diiculdade para formu-
lar um modelo de distribuição destas marcas. Além disto, nem todas as vasilhas
analisadas estão completas. Mesmo T-605 é um grande fragmento de borda com
parte do corpo. Ainda assim ela pôde trazer informações quanto ao seu uso. Por
exemplo, que na fermentação a vasilha poderia estar cheia quase por completo
– uma vez que inclusive na área próxima à borda observam-se descamações.
Em relação às composições de pasta, T-605 apresentou pasta com con-
centração média de hemaita, apresentando uma coloração alaranjada.
A vasilha T-605 pôde ser decalcada (ver Figura 02). Este cambuchí pos-
sui seis espaços gráicos relacionados a seus contornos. O graismo aqui iden-
iicado foi traçado com linhas grossas e assimétricas, sendo provavelmente o
trabalho de uma pintora pouco experiente. Lábio, pescoço e inlexão entre os
ombros foram marcados com faixas vermelhas. Na borda, o módulo da pintura
são linhas vermelhas aplicadas sobre fundo branco. Estas estão dispostas desor-
denadamente, sobrepondo-se umas às outras. Nos dois ombros foi aplicado o
mesmo padrão de linhas vericais e horizontais que se encontram em ângulos
de 90º formando iguras quadradas. Ao contrário da vasilha T-163, onde estes
módulos possuem as mesmas dimensões e se combinam num ritmo constante,
o que vemos aqui são iguras irregulares, implicando a mudança no padrão de
aplicação do desenho.

✓ Ñaetá

O verbete de Montoya que traduz ñaetá indica: caçarola (de ÑAE = cosa
côncava e A=TÁ=RÁ=YA=cozer) (LA SALVIA E BROCHADO, 1989, p. 142). São for-
mas muito abertas, de contorno conoidal ou elipsóide simples, borda direta coní-
nua com a parede ou levemente convexa (BROCHADO, MONTICELLI e NEUMANN,
1990, p. 737). A coleção do litoral norte não possui nenhum exemplar de ñaetá,
então todas as referências à categoria serão expostas na análise dos fragmentos
do síio RS-LN-35, que segue adiante.

72
✓ Cambuchí caguaba

O verbete de Montoya para cambuchí caguaba indica: CAGUABA=


onde se bebe vinho, instrumento de beber (LA SALVIA E BROCHADO, 1989,
P.133). Estas vasilhas são conoidais de contorno simples ou complexo,
abertas ou levemente restringidas, que podem receber tanto tratamentos
plásticos quanto acabamentos pintados internos ou externos (BROCHADO,
MONTICELLI e NEUMANN, 1990, p. 734). Na coleção analisada temos dois
cambuchí caguaba: T-367 e T-476.
Quanto às composições das pastas, ambas as vasilhas apresentam pastas
com altas concentrações de hemaita, gerando tons avermelhados. Em relação
aos tratamentos e acabamentos de superície, temos tanto os plásicos quan-
to as pinturas. A vasilha T-367 possui a superície externa ungulada e a vasilha
T-476 (ver Figura 03) possui um ino acabamento pintado externo e interno que
foi decalcado.
Esta vasilha apresenta dois pontos de inlexão: restrição do pescoço e
ponto de maior diâmetro da peça (inlexão do bojo). Tipicamente, estas vasilhas
também têm o lábio e os pontos de inlexão marcados com faixas vermelhas,
delimitando as áreas a serem pintadas com padrões mais elaborados. Assim, em
T-476, o primeiro padrão foi pintado sobre o lábio, sendo uma faixa vermelha
que dá início à primeira área de pintura. Esta compreende o espaço entre a bor-
da e a inlexão do pescoço.
Nesta área, sobre um fundo branco, foram traçados pares de inas linhas
vermelhas que compõe linhas vazadas, cujos bordos são vermelhos e o inte-
rior branco. Estas linhas estão dispostas diagonalmente formando triângulos,
que são o módulo básico do desenho. O preenchimento do espaço se dá pela
combinação destes módulos no senido superior e inferior, ou seja, entre cada
triângulo se coloca outro em posição inverida.
O terceiro padrão é a faixa vermelha que destaca a restrição do pescoço,
limitando o im da primeira área e o início da segunda. Na segunda área pintada,
o padrão de linhas vazadas com bordos vermelhos e fundo branco se mantém,
mas o desenho que formam são mais complexos. As linhas possuem uma parte
reta e verical em relação à boca da vasilha, e em certo ponto se curvam, for-
mando meias-calotas. A combinação destas linhas forma o módulo do desenho,
que nos lembra um cálice. Da mesma maneira que no padrão anterior, o espaço
é preenchido com a combinação dos módulos no senido superior e inferior. Por
im, o ponto de maior diâmetro da vasilha é marcado com uma faixa vermelha,
marcando também o inal do graismo.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 73


Internamente, a vasilha possui um banho vermelho que dá o fundo para
a aplicação do graismo. Este consiste em uma cruz a parir da qual linhas si-
nuosas preenchem o espaço. Este graismo foi realizado com inta preta e pela
espessura e forma dos traços acreditamos que tenham sido feitos com os dedos.
Em relação ao uso destas vasilhas, ideniicamos poucas marcas. Basica-
mente eles possuem desgaste na base, que pode ser decorrente tanto do ar-
mazenamento – caso fossem guardadas com a boca para cima, o que parece
correto, dado que não observamos desgaste junto à borda ou lábio – quanto da
manipulação em uso (apoiando o fundo da vasilha com as mãos).

✓ Tembirú

Montoya deine tembirú como prato (de TEMBIÚ = comesível, comida,


onde U (1) = comer e beber) (LA SALVIA e BROCHADO, 1989, p.142), sendo usa-
dos para servir e consumir alimentos. Brochado, Monicelli e Neumann (1991)
deiniram suas caracterísicas morfológicas como vasilhas muito abertas, pos-
suindo base arredondada, borda direta ou côncava, inclinada para fora e coní-
nua com a parede. Estas vasilhas podem receber também acabamentos de su-
perície externos ou internos.
A coleção do litoral norte possui três tembirú: T-120, T-121 e T-122.
Quanto à questão das pastas, o tembirú T-120 não pôde ser analisado por
não apresentar quebra suiciente, e os demais foram confeccionados com pastas
caracterizadas pela presença de material orgânico e baixas concentrações de
hemaita – lhes conferindo tons amarelados.
Os três exemplares possuem acabamentos supericiais internos pintados,
tendo sido possível decalcar apenas T-122 (ver Figura 04). No entanto, não foi
possível compreendermos bem como se estabelece o padrão gráico. O lábio foi
pintado com uma faixa vermelha, sendo que em uma das extremidades da vasi-
lha esta se amplia abruptamente, se aproximando da base. Neste ponto há uma
fratura na peça, moivo pelo qual não sabemos que proporção teria esta faixa
em relação à vasilha, ou qual a sua forma. No corpo e base veem-se inas linhas
vermelhas pintadas sobre fundo branco. Estas linhas se iniciam em uma das ex-
tremidades da vasilha e seguem até o lado oposto, onde se curvam e voltam ao
ponto de origem. Devido à fratura não sabemos se este movimento coninua até
o im da peça ou se encerra na primeira volta.
Em relação aos padrões policromos aplicados nos tembirú do litoral
norte, podemos mencionar também um conjunto de fragmentos do síio RS-
-LN-35 remontados, que apresentam seu graismo muito bem preservado. Nes-

74
tes fragmentos vemos que sobre o lábio foi aplicada a ípica faixa vermelha.
Corpo e base possuem um fundo branco sobre o qual foram pintadas inas linhas
vermelhas semicirculares ou ondulares. As iguras formadas preenchem o espa-
ço relacionando a concavidade de uma com o início de outra. Assim, do interior
de um semicírculo partem as linhas que originarão outro, e, desta forma, as igu-
ras estão todas encaixadas.
Da mesma forma que para os cambuchí caguaba, ideniicamos poucas
marcas de uso entre os tembirú, sendo frequente o desgaste nas bases, decor-
rente do armazenamento ou do uso. A vasilha T-121 apresentou também um
desgaste em forma anelar ao redor da borda externa, indicando que a vasilha
pode ter ido algum ipo de amarração naquele ponto ou de ter servido como
tampa para outra vasilha.

A COLEÇÃO DO SÍTIO RS-LN-35: BASSANI 1:


QUESTÕES PARA A ANÁLISE DE FRAGMENTOS

Quando se trabalha sobre uma coleção cerâmica da Tradição Guarani, o


primeiro critério taxonômico considerado é a categoria funcional. Isto porque,
para estas vasilhas, devido aos trabalhos de Brochado e seus colaboradores nos
anos 1980 e 1990, a questão da relação entre forma e função parece ter sido
solucionada. No entanto, como vimos, existe uma série aspectos morfofuncio-
nais variáveis que perpassam a caracterização das categorias funcionais. E ainda,
estas variações também se reletem nos demais critérios tecnológicos que atra-
vessam a cadeia operatória das diferentes vasilhas.
Ao contrário do que pode parecer, considerar esta ampliação nas variá-
veis de análise para coleções de fragmentos, as quais nos trazem informações
ainda menos precisas, não implica em tornar inviável o entendimento. É possível
ideniicarmos algumas regularidades tecnológicas por categoria funcional nas
coleções de vasilhas inteiras, as quais podem ser transpostas e justamente resol-
ver alguns aspectos genéricos ideniicados na análise da coleção de fragmentos
do síio RS-LN-35: Bassani 1.
Uma questão interessante oriunda de nossa análise é a interpretação
da produção da pasta cerâmica a parir de sua cor, considerada em relação à
concentração de hemaita. Como vimos, as baixas concentrações, gerando tons
amarelados, se relacionam à produção e consumo de alimentos (yapepó rebí
agûa e tembirú). Já as altas concentrações, gerando tons mais avermelhados,

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 75


se relacionam à produção e consumo de bebidas fermentadas (cambuchí e
cambuchí caguabá).
Quando, na análise da coleção do síio RS-LN-35: Bassani 1, ideniicamos
fragmentos de diferentes categorias funcionais (com morfologia, tratamento su-
pericial e marca de uso caracterísicos), nenhuma especiicidade técnica icou
evidente pois havia uma grande variedade de pastas52 sendo usada, aparente-
mente, indiscriminadamente. Apenas a especiicação promovida pela análise de
vasilhas inteiras permiiu reconsiderarmos este aspecto genérico e compreen-
der um pouco melhor a coleção.
A análise da coleção de fragmentos do síio RS-LN-35: Bassani 1 mostrou
que os ipos de pastas se dividem de forma bastante desigual, sendo 88% de
pastas com baixas e baixíssimas concentrações de hemaita, e apenas 12% de
pastas com concentrações médias e altas, sem especialização em relação ao tra-
tamento de superície ou categoria funcional. Isto reforça o uso de pastas claras
para o uso de cerâmica comum, de uso coidiano, sendo as escuras, vermelhas,
reservadas às vasilhas especializadas, referentes às peças rituais.
Uma categoria funcional que não pôde ser apresentada em relação às vasi-
lhas inteiras, os ñaetá, pode aqui ser explorada. A coleção do síio RS-LN-35 possui
30 fragmentos de bordas desta categoria funcional. A análise de composição de
pastas para estes fragmentos mostrou o uso de pastas com baixas concentrações
de hemaita, ou seja, cores mais amarelas. Isto condiz com a premissa levantada
de que cores mais claras se relacionariam à produção e consumo de alimentos.
No entanto, as 18 bordas de cambuchí caguaba e as 49 de tembirú apre-
sentam pastas amarelas, ou seja, não conirmam este padrão. Mas as categorias
“de servir”, cambuchí caguaba e tembirú, são as mais susceíveis a variações
morfológicas, além da questão dos graismos policromos, que determinam es-
peciicidades que não puderam ser completamente exploradas.

POSSIBILIDADES DA ANÁLISE TECNOLÓGICA PARA A


HISTÓRIA PRÉ-COLONIAL

Considerando tecnologia como a arena políica onde diferentes agentes


discutem a produção coleiva do cosmo, seus produtos traduzem diferentes for-

52 A coleção do litoral norte chegou a apresentar 35 ipos diferentes de pastas cerâmicas ou


combinações possíveis de aniplásicos.

76
mas de associação, diferentes contornos sociais pariculares a contextos locais
e temporais. Portanto, a exploração minuciosa da tecnologia envolvida na pro-
dução de um conjunto artefatual traduz senidos possíveis na direção de uma
história Guarani pré-colonial.
Duas imagens opostas, resultantes da ampla dispersão Guarani pelo atual
território brasileiro, dominam os debates sobre a história Guarani anterior ao
contato europeu e durante os séculos XVI e XVII. Por um lado, as fontes da época
indicam uma unidade cultural e linguísica bastante abrangente em todo o ter-
ritório Guarani. Por outro, estas mesmas fontes apontam uma intensa fragmen-
tação políica e territorial marcada por alianças e hosilidades entre diferentes
grupos locais, bem como destes com seus vizinhos Guaycuru e Kaingang (ASSIS
e GARLET, 2002; MONTEIRO, 1992; SUSNIK, 1982).
A historiograia brasileira recentemente vem buscando invesigar a se-
gunda posição, revelando um quadro políico conliivo semelhante àquele re-
gistrado para os grupos Tupi da costa atlânica, tornando as interpretações sobre
a história indígena colonial cada vez mais complexas (MONTEIRO, 1992; FAUSTO,
1992). A Arqueologia, ao contrário, apesar de poder acrescentar novas fontes e
novos dados a este debate, tem permanecido centrada na imagem monolíica
e homogênea da grande nação Guarani. Segundo Noelli (1993, p. 9), desde que
adquiriram sua idenidade étnica a parir da proto-família linguísica Tupi-gua-
rani, os Guarani atravessaram mais de três mil anos até os primeiros contatos
com os invasores vindos da Europa, reproduzindo ielmente sua cultura material
e as técnicas de sua confecção e uso, sua subsistência. Concomitantemente, a
linguagem deinidora destes objetos, técnicas e comportamentos.
Do ponto de vista teórico aqui defendido, esta é uma visão bastante enges-
sada da história Guarani pré-colonial. Em uma perspeciva simétrica sobre a histó-
ria, a formação do coleivo é um debate constante sobre a aceitação ou rejeição
de novas propostas – humanas ou não humanas, – cujo resultado é a ampliação
ou manutenção de seus contornos. No caso das cosmologias Ameríndias, observa-
mos uma tendência à manutenção dos contornos estabelecidos. Isto se evidencia
pela ênfase dada à reprodução dos parâmetros demiúrgicos na (re)produção origi-
nal do cosmo (ASSIS, 2006; BARCELOS NETO, 2002; VAN VELTHEN, 2003).
Isto não signiica, no entanto, que haja uma ilosoia voltada para o pas-
sado. Pelo contrário, a manutenção de formas tradicionais de produzir pessoas
e coisas está centrada no presente – e no futuro do coleivo. Uma vez que o
cosmo indígena é habitado por uma ininidade de seres poderosos que atuam
à margem do social, a possibilidade de se reinstaurar o caos original está dada,

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 77


e apenas a reprodução acurada da ordem cósmica, socializando as diferentes
agências, pode garanir o evitamento de que esta possibilidade se concreize.
Em princípio, toda inovação resulta em poder não domesicado, o que
signiica perigo para a vida social (jusiicando a concepção prescriiva da cul-
tura material defendida por Noelli (1993)). Ao mesmo tempo, quando traba-
lhamos a história Guarani em termos de longa duração através da Arqueologia
pré-colonial, percebemos como uma de suas caracterísicas mais marcantes a
relação constante com a inovação ao longo de sua ampla dispersão pelo interior
da América do Sul, a parir de sua origem amazônica há 5.000 anos (BROCHADO,
1984). A questão que surge é: como se resolve este (aparente) paradoxo? Deslo-
cando do olhar do Guarani “padronizado” para o Guarani “parcializado”, ou seja,
para as fragmentações sociais indicadas na bibliograia etnohistórica e que estão
registradas nas coleções arqueológicas, podendo ser acessadas por análises
tecnológicas comparaivas minuciosas.

Figura 01- Cambuchí T-1184.

78
Figura 02- Decalque de fragmento do cambuchí T-605.

Figura 03- Cambuchí caguabá T-476. Notar semelhança com


o padrão observado em T-1184.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 79


Figura 04- Tembirú T-122.

80
CAPÍTULO 4

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LAGO GUAÍBA:


REFLETINDO SOBRE A TERRITORIALIDADE E
A MOBILIDADE PRETÉRITA E PRESENTE

Adriana Schmidt Dias53


Sergio Bapista da Silva54

Entre 2008 e 2009 foram realizados levantamentos arqueológicos de sí-


ios pré-coloniais da Tradição Guarani nas localidades de Itapuã, Morro do Coco
e Ponta da Formiga, situadas na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Gran-
de do Sul. Estas pesquisas foram coordenadas por Adriana Schmidt Dias e desen-
volvidas enquanto membro do Grupo Técnico (GT), consituído pela Fundação
Nacional do Índio (FUNAI), a im de ideniicar e delimitar terras indígenas mbyá-
-guarani no âmbito do Plano Operacional para a Ideniicação e Delimitação de
Terras Indígenas nas Regiões Sul do Lago Guaíba e Norte da Laguna dos Patos,
RS, sob coordenação geral de Sergio Bapista da Silva. As aividades do GT i-
veram por objeivo compreender a perinência das citadas áreas no complexo
muli-local que caracteriza a ocupação mbyá-guarani no sul e no sudeste do
Brasil, visando produzir relatórios de ideniicação e caracterização das terras
indígenas reivindicadas.
Durante os trabalhos do GT foram realizados estudos sistemáicos sobre
a presença guarani nesta área, desde as perspecivas etnológica, etnográica,
histórica, arqueológica e ambiental. As pesquisas arqueológicas visaram com-
preender o uso do espaço lagunar pelas sociedades guarani pré-coloniais, bus-
cando avaliar aspectos de coninuidade e mudança nos padrões de ocupação
indígena do território. Os objeivos dos trabalhos de campo foram localizar, geo-

53 Professora do Departamento e Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal


do Rio Grande do Sul. Pesquisadora do CNPq. dias.a@uol.com.br.
54 Professor do Departamento e Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. sergiobs@terra.com.br
-referenciar e avaliar o grau de preservação das ocupações pré-coloniais, bem
como veriicar sua relação com as ocupações historicamente mais recentes, ain-
da presentes na memória social mbyá. Conforme o Arigo 2° da VII Parte da
Portaria/FUNAI n° 14, na elaboração deste Relatório Circunstanciado de iden-
iicação e delimitação de terras indígenas, todos os trabalhos de campo fo-
ram realizados com a paricipação dos indígenas e no decorrer da pesquisa suas
manifestações e interpretações foram incorporadas aos relatórios produzidos.
Além dos trabalhos de campo, para a elaboração dos relatórios do GT também
foram efetuados levantamentos bibliográicos, documentais e cartográicos so-
bre os dados arqueológicos, históricos, etnográicos e etnológicos relacionados
aos Mbyá-guarani e à sua ocupação ao longo das margens e ilhas do Lago Gua-
íba e ao norte da Laguna dos Patos. Também foram realizados levantamentos
sobre as condições ambientais e ecológicas da área em questão.
A Região Hidrográica do Guaíba ocupa a porção centro-leste do Estado
e é formada pelas bacias que drenam direta ou indiretamente para o Lago Gua-
íba que deságua na Laguna dos Patos. A Bacia Hidrográica do Lago Guaíba está
situada na Depressão Central e Encosta do Sudeste e limita-se ao norte com as
bacias dos rios Caí e Gravataí, ao sul com a bacia do rio Camaquã, a leste com a
bacia do Litoral médio e a oeste com a do baixo Jacuí. As águas dos rios Gravataí,
Sinos, Caí e Jacuí desembocam no Delta do Jacuí, formando o Lago Guaíba, que
em Guarani signiica “lugar onde o rio se alarga” (gua = grande; i = água; ba =
lugar). A superície do Lago Guaíba é de 496km2, com profundidade média de
3 m, possuindo entre 900m e 19km de largura e 50km de comprimento entre
o Delta do Jacuí e o Pontal de Itapuã (NICOLODI, 2007). O Guaíba banha em
torno de 85km de terra na margem ocidental, onde situam-se os municípios de
Eldorado do Sul, Guaíba e Barra do Ribeiro, e 100km na margem oriental onde
ocorre uma ocupação urbana mais intensa associada aos municípios de Porto
Alegre e Viamão.
A bacia hidrográica do Lago Guaíba é caracterizada por um clima tem-
perado, moderadamente chuvoso, com média anual de temperatura de 20º C e
de pluviosidade de 1300 mm, distribuída regularmente ao longo do ano, porém
com tendência de esiagem no verão. No contexto local, o Lago Guaíba exerce
uma função termoreguladora em decorrência das encostas graníicas em suas
margens que controlam a incidência de ventos e concentram diferencialmente a
umidade. Nas encostas voltadas para o sul, a concentração de umidade favorece
o desenvolvimento de formações lorestais, predominando nas encostas volta-
das para o norte a formação de campos (MENEGAT et al., 2006).

82
O Lago Guaíba situa-se na interface entre dois domínios geomorfológi-
cos: o Escudo Cristalino Sul-Rio-Grandense e a Planície Costeira. O Escudo Cris-
talino Sul-Rio-Grandense é formado por granitos do Cinturão Dom Feliciano e
abrange o sudeste do Estado. Suas formas de relevo variam desde coxilhas, mor-
ros, pontões e cristas até chapadas, ocorrendo em ambas às margens do Lago
Guaíba pontais de 1 km a 2 km de extensão, conformando um conjunto conínuo
de baias, ilhas rochosas e morros interiorizados, com alitudes entre 50 a 265
metros. A Planície Costeira corresponde à porção leste do Estado, sendo forma-
da por depósitos arenosos, cuja dinâmica sedimentar obedeceu às variações dos
níveis marinhos quaternários (IBGE, 1986). A atual Planície Costeira formou-se
a parir da úlima transgressão marinha há cinco mil anos, sendo comparimen-
tada nas seguintes unidades: Planície Aluvial Interna, Coxilha das Lombas, Siste-
ma Lagunar Guaíba-Gravataí, Barreira Múlipla Complexa e o Sistema Lagunar
Patos-Mirim. Na Coxilha das Lombas ocorrem evidências de um anigo sistema
de ilhas-barreira que isolou do mar o sistema Lagunar Guaíba-Gravataí, hoje
ocupado pelas bacias hidrográicas do Lago Guaíba e do rio Gravataí (VILLWOCK
e TOMAZELLI, 1995).
Em termos isiográicos o Lago Guaíba insere-se na região da Depressão
Central, apresentando um relevo de terras baixas circundadas por elevações gra-
níicas (morros) correspondentes à parte nordeste da Serra do Sudeste, com
inluência da Planície Costeira. Localiza-se, portanto, na transição entre o Bioma
Mata Atlânica (Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombróila Densa) e o
Bioma Pampa (Formações Pioneiras da Planície Costeira) (IBGE, 1986).
Em função das caracterísicas climáicas e geomorfológicas, os solos da
região do Lago Guaíba são ípicos de zonas alagadiças variando de arenosos a
argilosos, sendo intensamente afetados pelas lutuações pluviométricas, pre-
dominando a dissecação no verão o que favorece a ação mecânica do vento.
Nos morros graníicos ocorre um acentuado intemperismo químico das rochas,
acompanhado pela ação erosiva pluvial e luvial, originando pequenos cones
aluviais, voçorocas e terraços luviais. Os solos, em geral, são rasos e imperme-
áveis, de granulação arenosa grosseira, rochosos e entremeados por blocos de
pedra ou matacões Nas encostas íngremes acumulam-se solos mais argilosos e
profundos, com maior permeabilidade e maior retenção de água. Nas planícies
das margens do Guaíba ocorrem solos aluviais arenosos, com baixo teor de nu-
trientes, alta permeabilidade e baixa retenção de água (IBGE, 1986).
Levantamentos ambientais realizados na área do Parque Estadual de Ita-
puã indicam a presença atual de 208 espécies de aves, destacando-se o trinta-
-réis (Sterna hirundo) e a batuíra (Pluviales dominica) como aves migrantes do

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 83


hemisfério norte e ainda o urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus) e o
gavião-de-rabo-branco (Buteo albicaudatus) (DRNR, 1997). Quanto à iciofauna,
das 106 espécies de peixes já registradas para o Sistema Lagunar dos Patos, 44
foram registradas na área atualmente ocupada pelo Parque Estadual de Itapuã e
34 para a região do Delta do Jacuí. Sua abundância local varia de acordo com as
estações, sendo inluenciada pela temperatura da água e pelo ciclo reproduivo
dos peixes, decrescendo apenas no inverno (DUFECH e FIALHO, 2009; SACCOL-
-PEREIRA e FIALHO, 2010). Predominam em número de espécies os caracídeos
(lambaris, dentuço), os pimelodídeos (pintado, jundiás) e os cíclídeos (carás).
Como a Laguna dos Patos possui ligação com o mar são também encontrados
em Itapuã espécies diádromas, como a tainha e a corvina, que durante seu ci-
clo vital realizam migrações entre as águas salgadas e doces. Destaca-se ainda
que as áreas adjacentes ao Parque Estadual de Itapuã atualmente propiciam a
ocorrência de pesca comercial e amadorísica, dirigida especialmente para as
seguintes espécies: pintado, jundiá, traíra, peixe-rei, piava, biru, bagre, corvina
e linguado (DRNR, 1997).
Como resultado dos levantamentos arqueológicos de campo e da revisão
dos dados de acervo relaivos a pesquisas anteriores, foi possível registrar a pre-
sença na região do Lago Guaíba de 37 síios arqueológicos da Tradição Guarani,
dentre os quais dois apresentam datações entre 610 e 440 anos AP. A distribui-
ção dos síios revela uma rica rede de assentamentos pré-coloniais que inter-
ligava o Delta do Jacuí com os pontais e ilhas do Lago Guaíba, estendendo-se
até a desembocadura com a Laguna dos Patos. Observa-se que as ocupações
guarani pré-coloniais conformam um horizonte sócio-cultural e ambiental que
atualmente coninua sendo palco da territorialidade mbyá-guarani através da
presença de inúmeras aldeias e acampamentos nesta área, como é o caso da
Aldeia do Cantagalo (Tekoá Jataity), da Aldeia de Itapuã (Tekoá Pindó Mirim) e
do acampamento do Lami (Tekoá Pindó Poty)55, na porção oriental sul do Lago
Guaíba, e dos acampamentos do Peim, Passo Grande e Flor do Campo e da
aldeia de Coxilha Grande (Tekoá Porã), no lado ocidental da parte centro-sul do
Lago Guaíba.
As áreas objeto dos trabalhos do GT estão especialmente vinculadas a
este horizonte espacial, ecológico e simbólico, tanto do ponto de vista de uma
temporalidade pré-colonial mais recuada, como do ponto de vista de uma his-
toricidade mais próxima. Muitos Mbyá-guarani moradores de Pindoty (Itapuã)
e Jataity (Cantagalo), mas também muitas pessoas que estão hoje em outras

55 Informações adicionais sobre estas e outras ocupações atuais mbyá-guarani da região metro-
politana de Porto Alegre podem ser conferidas em Bapista da Silva e colaboradores (2008).

84
aldeias do litoral sul e sudeste do Brasil, têm ligações fortes e recentes com o
Morro do Coco, o Parque Estadual de Itapuã e com a Ponta da Formiga. Além
de terem consituído aldeias junto com seus grupos de parentes e ains nestes
locais há poucas décadas atrás, igualmente lá têm enterrados seus mortos.

ASPECTOS DA TERRITORIALIDADE E DA MOBILIDADE


MBYÁ-GUARANI

Atualmente, a língua guarani no Brasil (Família linguísica Tupi-Guarani


do Tronco Tupi) costuma ser subdividida em três dialetos: o Mbyá, o Nhandeva
e o Kaiowá. Seus falantes distribuem-se em tekoá (aldeias) e acampamentos
com situação fundiária não regularizada, localizados principalmente nos Estados
brasileiros das regiões sul, sudeste e centro-oeste. A este ponto de vista linguís-
ico devem ser agregados elementos de idenidade sociocultural, o que permite
falarmos de três parcialidades étnicas atuais guarani (os Mbyá, os Nhandeva
ou Xiripá e os Kaiowá), que apesar de sua unidade linguísica, cultural e social,
especialmente em relação ao Ñandé Rekó56, passaram por diferentes processos
histórico-culturais de contato com populações não indígenas e com vários Esta-
dos Nacionais da América do Sul, culminando em idenidades sócio-políicas um
tanto diversas. Em outras palavras, temos no povo guarani uma unidade cultural
mito-cosmológica, mas que dialoga com uma diversidade de idenidades sócio-
-políicas consituivas das relações entre as três parcialidades étnicas e, mesmo,
entre os tekoá.
Os Mbyá-guarani distribuem-se entre os Estado do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, estando tam-
bém presentes no Uruguai, Argenina e Paraguai. A dinâmica societária que
orienta o processo de territorialização desta população caracteriza-se, conco-
mitantemente, pela descentralização em pequenos grupos familiares e pela in-
tensa ariculação destes mesmos grupos em redes de parentesco interaldeãs.
Neste senido, o território mbyá-guarani apresenta-se como um complexo de
conexões sociais e ambientais, uma vez que os recursos básicos para a reprodu-

56 Ñandé Rekó guarani, ou “nosso costume”, no qual tem fundamental importância as Belas Pala-
vras, expressas nos mitos e nos cantos sagrados, no sistema xamânico-cosmológico, no aguyje,
“estado de totalidade acabada”, de perfeição espiritual-religiosa, que é buscado constante-
mente, e no tapejá, o ser caminhante guarani que procura na Terra sem Mal, sob a liderança
dos xamãs e durante a vida terrena, o reencontro com a divindade e a imortalidade perdidas.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 85


ção da sociedade estão ariculados nas redes de parentesco, as quais condicio-
nam também o acesso a recursos naturais imprescindíveis para a reprodução do
modo de vida tradicional. Assim, sementes, plantas medicinais, materiais para
artesanato, dentre outros recursos, têm seu acesso mediado pelas redes de pa-
rentesco e pelo sistema simbólico vinculado ao ambiente.
O estudo de uma região paricular da territorialidade mbyá-guarani deve
ter por eixo a dimensão global do sócio e do cosmos deste coleivo indígena.
Este se inscreve em pequenas áreas (“ilhas”), num universo de relações que ex-
trapolam as dimensões do espaço ísico, envolvendo agências múliplas (huma-
nos e extra-humanos - divindades, animais, plantas e outros seres que povoam o
cosmos guarani), além de outros coleivos indígenas e não indígenas, através de
lógicas próprias que produzem as relações sociais nas aldeias e entre as aldeias
(BAPTISTA DA SILVA, 2008; PRADELLA, 2009). Portanto, para compreender as de-
mandas territoriais na porção sul do Lago Guaíba e na região norte da Laguna
dos Patos deve-se situá-las no complexo muli-local da territorialidade guarani,
atentando para as relações com as demais aldeias localizadas a leste, centro e
norte do Rio Grande do Sul, nos outros Estados do sul e sudeste do Brasil, bem
como nos países limítrofes do cone sul americano.
Ao analisar aspectos das noções de territorialidade e mobilidade mbyá
através da perspeciva histórica, Garlet (1997) sugere que o contato interétni-
co consituiu-se em um marco de resigniicação destas categorias, cujo impacto
tem uma longevidade de pelo menos 300 anos57. Garlet sugere que embora os
Mbyá se tornem “visíveis” aos ocidentais enquanto grupo étnico somente no iní-
cio do século XX, há fortes indícios nas fontes documentais do período colonial
de que as referências aos Ka’yguá (os do mato) tratem do mesmo grupo. Seu
território original situava-se onde hoje é o Paraguai, organizando-se a sociedade
a parir de grupos de parentesco (famílias extensas) e ains em torno de uma
liderança religiosa e/ou políica58. Neste contexto, a mobilidade circunscrevia-se
ao território conínuo, moivada pela circularidade regular das sedes de aldeias,
pela exploração sazonal do ambiente, pelo encontro com os extra-humanos nele
presentes ou por crises sociais internas. É a parir da segunda metade do sé-
culo XVII que o processo de testerritorialização mbyá inicia-se, em função da
expansão colonial voltada à exploração das imensas reservas de madeira e erva-
-mate a leste de Assunsión, área então dominada pelos Guarani não incluídos

57 Para análise da trajetória histórica dos Mbyá e suas repercussões sócio-políicas ver também
Garlet e Assis (2009).
58 Para uma análise etno-histórica da organização social dos Guarani entre os séculos XVI e XVII
ver Soares (1997).

86
no sistema reducional jesuíta ou no sistema colonial das encomiendas. Estes
sofreram um intenso processo de depopulação, causada pelos confrontos e epi-
demias e pela perda da quase totalidade do território original, exigindo uma
reestruturação das noções tradicionais de território e mobilidade espacial. De
acordo com Garlet (1997, p. 185),

“[...] o território que anteriormente possuía seus limites geográi-


cos relaivamente determinados, ou seja, limites conínuos, a parir
do contato inter-étnico passa a ser concebido como desconínuo.
Seus limites poderão ser sempre ampliados com a reterrritoriali-
zação. Atrelada a esta nova noção de território, ideniica-se uma
nova categoria de mobilidade, a migração. Tanto uma como a outra
são reelaborações feitas a parir de suas premissas culturais. O seu
território passa a ser desconínuo e fragmentado, mas para que os
novos locais possam ser a ele incorporados precisa possuir as ca-
racterísicas ambientais e simbólicas prescritas pela cultura”.

De acordo com Garlet (1997), a organização social também se reestrutu-


rou a parir desta nova noção de território, mantendo-se hoje a família extensa
como base da organização social. Porém, é conigurada de maneira dispersa en-
tre vários aldeamentos, dispostos na amplitude do território, sendo a mobili-
dade espacial a principal estratégia de re-elaboração dos laços sociais. Assim, a
dinâmica da ocupação do território mbyá caracteriza-se pela circularidade, uma
vez que os espaços escolhidos para ocupação e que correspondem minimamen-
te às pautas culturais são constantemente retomados por grupos familiares num
sistema de revezamento. Igualmente, a mobilidade contemporânea conigura-se
a parir de uma conjunção de fatores que a impulsiona e jusiica, destacando-
-se a busca de espaços que ofereçam condições mínimas para que a existência
ocorra de acordo com o ideal de vida projetado culturalmente, permiindo:

“[...] manter-se Mbyá através do caminhar. Portanto, mesmo não


havendo mais espaços ideais que permitam uma existência plena e
perfeita, através da circularidade é possível maximizar o potencial
existente sobre o território e viver de acordo com o modo de ser
tradicional (...) caracterizado por uma dinamicidade que recicla e
recria o novo a parir da lógica tradicional” (GARLET, 1997, p. 187).

Também na perspeciva cosmológica, é através dos deslocamentos que


os Mbyá repetem constantemente a ação paradigmáica das divindades, dando
origem a uma nova Terra Sem Males, fundada, estabelecida e culivada segundo
os princípios da cultura. Para Garlet (1997, p. 187).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 87


“Ao proceder desta forma, repetem outra ação paradigmática: criam
o mundo ao caminhar. Imitam os heróis culturais que ao caminharem sobre
a terra nominaram as plantas e os animais. Movimento (dança e caminhar) e
palavra (palavra-alma e reza) são os fundamentos do mundo. Ao caminhar e
dizer sua palavra ritualizada, os Mbyá fundam o seu mundo e podem ampliar
constantemente seu território. Da mesma forma, a palavra (proferida e rituali-
zada) e o movimento (caminhar, parir para outro espaço) podem ser tomados
como elementos culturais eicazes tanto na airmação da idenidade como de
resistência às pressões interétnicas”.
Atualmente vivem no Rio Grande do Sul mais de 2.600 indivíduos per-
tencentes a este coleivo indígena, habitando cerca de 83 áreas indígenas de
forma precária e em espaços exíguos em sua maioria59. Contudo, apenas uma
ínima parte destas áreas possui algum procedimento jurídico de reconhecimen-
to fundiário. Este fato, por si só, desestabiliza e compromete a permanência das
famílias nesses espaços devido à forte pressão social, políica e econômica da so-
ciedade envolvente. Durante décadas, os Mbyá-guarani esiveram à margem da
atuação do indigenismo oicial, que os considerava “estrangeiros”, devido a sua
concepção de territorialidade, e também diíceis de trabalhar dada a sua mobili-
dade social, o que acarretou a ausência de ideniicação e demarcação de terras
adequadas para sua reprodução ísica e cultural (BAPTISTA DA SILVA et al., 2010).
O foco das aividades deste GT estava relacionado à ideniicação e carac-
terização de terras indígenas associadas à regularização da atual área de implan-
tação da Aldeia de Itapuã (Tekoá Pindó Mirim), bem como à avaliação de outros
locais de uso tradicional e com potencial dentro das lógicas mbyá para reprodu-
ção do modo de ser guarani como o Morro do Coco, a Unidade de Conservação
Parque Estadual de Itapuã e a Ponta da Formiga. O núcleo residencial e as áreas
de roças da aldeia Pindó Mirim localizam-se no distrito de Itapuã e restringem-
-se a uma área de 26 hectares em uma porção de terras limítrofes com o Parque
Estadual de Itapuã.
O Parque Estadual de Itapuã e o Morro do Coco localizam-se na porção
oriental sul do Lago Guaíba, no distrito de Itapuã, no extremo sul do município
de Viamão, que faz limite ao norte com os municípios de Alvorada, Gravataí e
Glorinha, ao sul com a Lagoa dos Patos, a leste com Capivari do Sul, e a oeste
com Porto Alegre. O Morro do Coco é composto por quatro propriedades pri-
vadas, das quais duas são Reserva Paricular do Patrimônio Natural. A Ponta da
Formiga é uma área de preservação ecológica que pertencia durante as aivi-

59 Segundo levantamento efetuado pelo Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tra-
dicionais (NIT-UFRGS), no âmbito do projeto Guarani Transfronteiriços.

88
dades de campo do GT à empresa de produção de celulose Aracruz Celulose,
recentemente vendida para uma companhia chilena chamada Fíbria. Está loca-
lizada no município da Barra do Ribeiro que faz limite ao norte com o município
de Guaíba, ao sul com o município de Tapes, a oeste com os municípios de Ma-
riana Pimentel, Sertão Santana e Seninela do Sul, e a leste com o Lago Guaíba
e Laguna dos Patos.
Estas três áreas têm em comum o fato de serem extremamente ricas do
ponto de vista ambiental, consituindo-se em referenciais tradicionais impor-
tantes para o processo de reivindicação mbyá por permiirem a sustentação do
Ñandé Rekó, o modo de ser guarani. Na medida em que a concepção de terri-
torialidade mbyá não é contínua, estas áreas com riqueza de recursos naturais
para a coleta, a caça e a pesca são os “lugares eleitos” para o estabelecimento
de aldeias que podem ser comparadas a “ilhas” ou “arquipélagos” já que
entre as várias aldeias (e as imensas áreas circundantes a elas) constitui-se
uma complexa rede de relações de toda a ordem, atualmente cercadas pelas
sociedades regionais/nacionais. Nos trabalhos de campo do GT realizados
conjuntamente com os Mbyá-guarani inúmeros exemplos de plantas, animais,
divindades e outros seres cosmológicos foram ideniicados pelos indígenas, de-
monstrando a relação forte e indissociável que traçam entre seus corpos/pes-
soas e estas “matas sagradas” essenciais a coninuidade e manutenção mbyá.
Além dos seres extra-humanos, os síios arqueológicos ideniicados nas áreas
vistoriadas pelo GT foram compreendidos pelos Mbyá como “marcas do cami-
nhar dos avós” demonstrando uma relação de ancestralidade e imemorialidade
com o território reivindicado (BAPTISTA DA SILVA et al., 2010).
Ressalta-se ainda que as áreas diagnosicadas pelo GT diferem quanto
às suas condições fundiárias, gerando diiculdades no processo de demarcação
tendo em vista disintos interesses. Por um lado, os raros locais com bom estado
de preservação ambiental e abundância de recursos naturais no sul do Brasil, na
maioria já foram reservados para a criação de Unidades de Conservação Natu-
ral, não admiindo a presença humana no seu interior, como é o caso do Parque
Estadual de Itapuã60. Por outro lado, propriedades privadas e empresas tendem
a opor-se ao processo de demarcação de terras indígenas pelo fato de serem in-
denizados apenas pelas benfeitorias presentes em suas terras. No caso da Ponta
da Formiga há o agravante do ponto de vista econômico que a empresa de celu-
lose proprietária da área terá que desaivar sua unidade de produção, correndo
o risco de ser exinta (BAPTISTA DA SILVA et al., 2010).

60 Para análise da relação entre políicas ambientais e de demarcação de terras indígenas, anali-
sando em paricular o caso do Parque Estadual de Itapuã, ver Comandulli (2008).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 89


O TERRITÓRIO GUARANI PRÉ-COLONIAL NA REGIÃO
DO LAGO GUAÍBA

As pesquisas arqueológicas realizadas entre 1970 e 2010 na região do


Lago Guaíba atestam a presença de uma ocupação pré-colonial intensa, asso-
ciada a 37 síios arqueológicos da Tradição Guarani. As primeiras pesquisas ar-
queológicas sistemáicas nesta área foram realizadas entre as décadas de 1970 e
1980 por Guilherme Naue, Pedro Augusto Mentz Ribeiro, Eurico Theóilo Miller
e Sérgio Leite, estando estes acervos sob a guarda do Centro de Estudos e Pes-
quisas Arqueológicas da Poniícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(CEPA/PUCRS) e do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL). Proje-
tos de levantamento arqueológico foram retomados nos anos 1990 através das
aividades do Programa de Pesquisas Arqueológicas em Itapuã (RS), coordenado
por Sergio Bapista da Silva, e do Projeto de Levantamento de Síios Arqueoló-
gicos de Ocupação Indígena no Município de Porto Alegre, coordenado por Fer-
nanda Toccheto, estando os acervos derivados destas pesquisas sob a guarda
do Museu Joaquim José Felizardo (MJJF), do Laboratório de Arqueologia e Et-
nologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (LAE/UFRGS) e do Museu
Antropológico do Rio Grande do Sul (MARS). Mais recentemente no âmbito da
Arqueologia de contrato foram realizados salvamentos arqueológicos de síios
da Tradição Guarani sob efeito de impactos ambientais por Cláudio Bapista Car-
le, Beatriz Thiesen, Alberto Tavares Duarte de Oliveira, Gislene Monicelli e José
Otávio Catafesto de Souza, recebendo estas aividades salvaguarda insitucional
do MJJF, CEPA/PUCRS e LAE/UFRGS.
Estes trabalhos desenvolveram-se nos municípios de Porto Alegre, Gua-
íba, Eldorado do Sul, Viamão e Barra do Ribeiro e permiiram o registro de 33
síios arqueológicos associados à Tradição Guarani. Nas áreas abrangidas espe-
ciicamente por este GT foram ideniicados entre 1970 e 2009, 18 síios arque-
ológicos da Tradição Guarani, dentre os quais quatro foram localizados pela pri-
meira vez a parir de nossos trabalhos de campo, totalizando a amostragem de
37 síios arqueológicos acima referida.
A ênfase de nossas aividades foi registrar novos síios e monitorar as
condições de preservação de síios arqueológicos já ideniicados nas áreas de
interesse, registrando também suas coordenadas geográicas. Ressalta-se que
as consultas ao Cadastro Nacional de Síios Arqueológicos, manido pelo Ins-
ituto do Patrimônio Histórico e Arísico Nacional (IPHAN), e o levantamento
bibliográico realizado sobre o tema indicaram que os dados relaivos à maioria

90
destas pesquisas ainda se encontravam inéditos, sendo restrito o número de
publicações sobre o tema (BAPTISTA DA SILVA, 1992; CARLE e SANTOS, 2000; GA-
ZEANO, 1990; GAULIER, 2001-2002; NOELLI, 1993; NOELLI et al., 1997; POUGET
e THIESSEN, 2002; ROSA, S/D; ZORTEA, 1995). Tendo em vista estas limitações,
realizou-se uma pesquisa documental junto aos acervos das Insituições depo-
sitárias destas coleções com o objeivo coligir dados relaivos à localização e ao
grau de integridade dos síios arqueológicos no momento da pesquisa, conferir
possíveis sinonímias no registro dos síios e avaliar as condições de preservação
dos acervos e da documentação de campo, estando os resultados sistemaiza-
dos na tabela 01 e na Figura 01.

Tabela 01 - Síios Arqueológicos da Tradição Guarani na porção


norte do Lago Guaíba localizados entre 1970-2010

Nome do Sinonímia Coordenadas Intervenção Município Insituição


Síio
RS-119 RS-152: Ponte Sem registro Coleta de su- Eldorado do PUCRS
do Guaíba perície Sul
Arroio do 22J 0469 770 Coleta de Eldorado do Não locali-
Conde 6675 048 superície e Sul zado
sondagem
RS-SR-342: Complexo 22J 0469 294 Escavação Guaíba PUCRS
Santa Rita Automoivo da 6671 719 e datação:
Ford 540+60 AP
440+60 AP
RS-LC-71: RS-C-01 22J 0484 300 Escavação e Porto Alegre MARSUL
Ilha Chico 6651 800 datação: MARS
Manuel 610+50 AP MJJF

RS-87: Ro- Ponta do Chico Sem registro Coleta de su- Porto Alegre PUCRS
meu perície
G1: Vila da Sem registro Coleta de su- Porto Alegre FAPA
Resinga perície
RS.JA-74: 22J 0488 226 Escavação Porto Alegre FAPA
Lomba do 6669 014
Pinheiro 2

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 91


Nome do Sinonímia Coordenadas Intervenção Município Insituição
Síio
RS-JA-01: 22J 0493 050 Coleta de Porto Alegre MJJF
Reserva 6655 665 superície e
Biológica do sondagem
Lami
RS-JA-02: 22J 0493 025 Coleta de PortoAlegre MJJF
Lami Bernar- 6654 372 superície e
des* sondagem
RS-JÁ-16: 22J 0481 711 Coleta de Porto Alegre MJJF
Ponta do 6655 320 superície e
Arado sondagem
RS-JA-07: Morro São 22J 0490 337 Coleta de Porto Alegre MJJF
Lajeado* Pedro 6662 732 superície e
Morro das sondagem
Quirinas
RS-JA-23: 22J 0477 701 Escavação Porto Alegre MJJF
Praça da 6677 966
Alfândega
RS-JÁ-24: Sem registro Escavação Porto Alegre MJJF
Rede DMAE
Morro do Sem registro Registro Porto Alegre UFRGS
Osso
RS-88: Novo Sem registro Coleta de su- Viamão PUCRS
Lar dos Me- perície
nores
PA 300: Ro- Morro do Coco 22J 0493 665 Coleta de su- Viamão PUCRS
gério Christo 6651 662 perície
RS-LC-18: 22J 0495 718 Registro Viamão UFRGS
Morro do 6651 542
Coco
RS-272: Nei Sem registro Coleta de su- Viamão PUCRS
Bueno perície
RS-LC-01: G4 22J 0498 081 Coleta de su- Viamão MARS
Aldeia do Tekoá Jataity 6659 494 perície FAPA
Cantagalo

92
Nome do Sinonímia Coordenadas Intervenção Município Insituição
Síio
RS-LC-02: Sem registro Coleta de su- Viamão MARS
Colônia de perície
Itapuã
Pomar da Águas Claras 22J 0513 106 Coleta de Viamão UFRGS
Lagoa I 6663 477 superície e
sondagem
RS-LC-70: 22J 0493 700 Coleta de Viamão MARSUL
Ilha do Junco 6141 900 superície e
sondagem
RS-LC-74: RS-LC-03: Siio 22J 0495 161 Coleta de su- Viamão MARSUL
Praia da da Pedreira- 6641 730 perície MARS
Pedreira** -Morro do
Fortaleza
RS-LC-75: La- RS-LC-04: La- 22J 0500 977 Coleta de Viamão MARSUL
goa Negra* goa Negra I 6641 531 superície e MARS
RS-LC-06: La- sondagem
goa Negra II
RS-323: Ilha PA 253 22J 0496 400 Coleta super- Viamão PUCRS
das Pombas 6645 300 ície
RS-LC-39: 22J 0495 200 Escavação Viamão MARSUL
Morro da 6642 250 MARS
Fortaleza*
RS-LC-08: 22J 0496 303 Coleta de su- Viamão MARS
Praia das 6643 308 perície
Pombas**
RS-LC-07: 22J 0496 150 Registro Viamão MARS
Praia do 6640 750
Araçá
RS-LC-11: 22J 0495 088 Coleta de su- Viamão MARS
Praia da 6642 544 perície
Onça
RS-LC-15: 22J 0495 594 Coleta de Viamão UFRGS
Praia do Síio 6639 135 superície e
sondagem

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 93


Nome do Sinonímia Coordenadas Intervenção Município Insituição
Síio
RS-LC-16: 22J 0494 944 Registro Viamão MARS
Prainha 6638 618
RS-LC-17: 22J 0494 500 Coleta de Viamão UFRGS
Morro do 6638 400 superície e
Farol sondagem
RS-324: Riocel 22J 0489 112 Coleta de su- Barra do PUCRS
Tarumã Tekoá 6641 514 perície Ribeiro
Karaguata’ity
RS-LC-22: 22J 0490 802 Registro Barra do UFRGS
Tekoá Porã 6640 887 Ribeiro
RS-LC-21: 22J 0490 094 Registro Barra do UFRGS
Tekoá Mareÿ 6639 842 Ribeiro
RS-LC-20: 22J 0487 816 Registro Barra do UFRGS
Tekoá Yma 635 842 Ribeiro
Arroinho I 22J 0486 318 Registro Barra do PUCRS
6633 595 Ribeiro
*Possível associação com material líico da Tradição Umbu/** Atualmente destruídos.

2.1. A Presença Guarani Pré-colonial nos Municípios de


Guaíba e Eldorado do Sul

Nos municípios de Guaíba e Eldorado do Sul estão registrados três síios


arqueológicos da Tradição Guarani, associados ao Delta do Jacuí. O síio RS-199
(sinonímia RS-152: Ponte do Guaíba) foi pesquisado em 1972 por Guilherme
Naue, tendo sido realizada coletas de superície que geraram uma grande co-
leção lito-cerâmica. Embora não possua coordenadas geográicas registradas, a
consulta ao acervo documental do CEPA/PUCRS indicou localizar-se a 150 me-
tros à direita da BR 116, frente à antena da rádio Itaí, próximo da Ponte do Jacuí,
município de Eldorado do Sul. O síio estava associado a um terreno arenoso,
perturbado pelas máquinas que reiraram areia do local, e abrangia uma área
de 5.000 m2, sendo supericial e coberto por vegetação rasteira. A consulta à
documentação de acervo permiiu concluir que as coleções dos síios RS-199 e

94
RS-152: Ponte do Guaíba consituíam um mesmo conjunto, jusiicando a sino-
nímia aqui adotada.
O síio RS-56: Arroio do Conde também está registrado no acervo do
CEPA/PUCRS a parir de pesquisas de Sergio Leite em 1975, porém seu acervo
não foi localizado na Insituição. O acervo documental relaivo a este síio indica
que este se localiza em parte na área do Insituto de Pesquisas Veterinárias De-
sidério Finamor, em Eldorado do Sul (pertencente à Guaíba até 1988) e em parte
em uma propriedade paricular, no município de Guaíba, sendo cortado pelo
arroio que lhe deu nome. A intervenção realizou-se através de coletas de su-
perície e sondagens, tendo sido encontrado, além de conjuntos lito-cerâmicos,
uma urna funerária associada a cinco dentes humanos de um indivíduo com
idade entre 11 e 12 anos, sendo este síio objeto da dissertação de mestrado de
Francisco Noelli (1993).
Em 1998 Cláudio Bapista Carle foi responsável pelo registro do síio RS-
-SR-342: Santa Rita (sinonímia Complexo Automoivo da Ford) por ocasião do
projeto de Licenciamento de Instalação do Distrito Automoivo do Município
de Guaíba para a Empresa Ford do Brasil, contando com o apoio insitucional
do CEPA/PUCRS. O síio localiza-se em um topo de colina, próximo ao Lago
Guaíba, às margens da Estrada do Conde (Mato Alto), em meio a uma mata
de eucaliptos, tendo sido escavado sob a coordenação de Klaus Hilbert, entre
novembro de 1998 e janeiro de 1999, abrangendo uma área de 76 m2. O acervo
é composto por 4.551 peças, entre fragmentos cerâmicos, artefatos líicos e ves-
ígios arqueofaunísicos, tendo sido realizadas duas datações com os valores de
540+60 AP e 440+60 anos AP (CARLE e SANTOS, 2000).

2.2. A Presença Guarani Pré-colonial no


Município de Porto Alegre

No município de Porto Alegre pesquisas arqueológicas desenvolvidas


entre 1970 e 2010 permiiram a localização de onze síios da Tradição Guarani,
associados principalmente aos pontais e uma ilha da zona sul da cidade, entre
os bairros Belém Novo e Lami. Em 1970, Pedro Mentz Ribeiro registrou junto ao
MARSUL o síio RS-LC-71: Ilha Chico Manuel, situado em propriedade do Clube
Veleiros do Sul, na encosta nordeste da ilha, junto ao trapiche e zona de casas,
avançando para um pomar. Em 1991, o síio foi novamente pesquisado por Ser-
gio Bapista da Silva, no âmbito do projeto Programa de Pesquisas Arqueológi-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 95


cas em Itapuã (RS), tendo sido registrado como RS-C-01 (sinonímia). Foram reali-
zadas na ocasião duas sondagens e novas coletas de superície, encontrando-se
esta coleção junto ao acervo da MARS. Em janeiro de 2000 o síio foi objeto de
uma escavação de 23m2, coordenada por Patrícia Gaulier, no âmbito do projeto
Levantamento de Síios Arqueológicos de Ocupação Indígena no Município de
Porto Alegre, tendo sido obida uma datação de 610 + 50 anos AP. A coleção
decorrente encontra-se sob a guarda do MJJF e é formada por mais de 4.500
fragmentos cerâmicos, além de grande quanidade de vesígios líicos e arqueo-
faunísicos, analisados por Gaulier (2001-2002) e Rosa (s/d).
Em 1971 Guilherme Naue registrou o síio RS-87: Romeu (sinonímia Ponta
do Chico), Bairro Belém Novo, situado na localidade de Ponta do Chico a 10 m do
Guaíba, em área alagadiça, ocupada por uma lavoura. Foram realizadas coletas
de superície em uma área de 100 m2, gerando uma grande coleção lito-cerâmi-
ca que se encontra sob a guarda do CEPA/PUCRS.
Em 1972, Sergio Leite localizou no Bairro Resinga, o síio G1: Vila Res-
inga, tendo realizado coletas de superície de cerâmica da Tradição Guarani,
estando o acervo sob guarda da FAPA. Novas vistorias na área foram realizadas
em 2010, sob coordenação de Alberto Tavares Duarte de Oliveira, por ocasião
de acompanhamento arqueológico das obras de instalação de uma adutora do
Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE). O síio G1: Vila da Resin-
ga não foi relocalizado, porém, no bairro Lomba do Pinheiro foi encontrada uma
lâmina de machado polida junto ao terreno do Insituto Popular de Arte-Educa-
ção, indicando o potencial arqueológico da área. Por sua vez, uma ocorrência de
fragmentos de cerâmica Guarani foi ideniicada em associação as escavações do
síio RS.JA-74: Lomba do Pinheiro 2, que trata-se de uma casa do século XIX, cuja
ocupação foi datada entre 1830-1860 (OLIVEIRA, 2011).
O projeto Levantamento de Síios Arqueológicos de Ocupação Indígena
no Município de Porto Alegre, coordenado por Fernanda Toccheto, foi respon-
sável pela localização de quatro síios Guarani na zona sul de Porto Alegre, cujos
acervos encontram-se nas dependências do MJJF. Em 1993, foram registrados
no bairro Lami os síios RS-JA-01: Reserva Biológica do Lami e RS-JA-02: Lami
Bernardes, tendo sido realizadas coletas de superície e sondagens. No primeiro,
situado junto à trilha principal da Reserva Biológica do Lami, o material cerâmico
distribuía-se em superície por uma área de 360 m2, consituindo-se em um síio
sobre dunas, parcialmente destruído pela da extração de areia e culivos, sendo
baixa a densidade de material arqueológico. O segundo síio também se localiza
sobre uma duna, disperso em uma área de mais de 10.000 m2, apresentando
melhores condições de preservação estraigráica, com material em subsuperí-

96
cie até a profundidade de 40 cm, associado a manchas de solo orgânico. Além de
cerâmica, predomina no conjunto arqueológico grande quanidade de artefatos
líicos lascados, levando os pesquisadores a sugerir a hipótese de uma possível
ocupação caçadora coletora anterior à presença Guarani (Tradição Umbu). Em
1998, no bairro Belém Novo, foi registrado o síio RS-JA-16: Ponta do Arado,
tendo sido realizadas coletas supericiais e sondagens em áreas de roça, rodea-
das por vegetação lorestal. Embora o material em superície seja pouco visível
e escasso devido à cobertura vegetal, as sondagens realizadas em uma área de
2.000 m2 permiiram a ideniicação de cerâmica da Tradição Guarani em subsu-
perície, distribuída em duas concentrações, associadas a uma camada húmica
com profundidade de 15 cm (GAULIER, 2001-2002). Ainda em 2009 foi realizado
o registro junto ao MJJF do síio RS-JA-07: Lajeado, situado no bairro Lajeado,
na localidade de Morro das Quirinas (sinonímias Morro São Pedro e Morro das
Quirinas). O síio encontra-se em um topo de morro, a 169 m de alitude, estando
perturbado pela extração de terra preta para comercialização como adubo, já que
se encontra associado a vertentes e a zonas de alagamento permanente (turfei-
ras). A ideniicação inicial deste síio deu-se através de doação pelo proprietário
ao MJJF de uma grande quanidade de fragmentos cerâmicos da Tradição Guarani
coletados de forma assistemáica e de uma ponta de projéil líica. A vistoria ar-
queológica indicou a presença de fragmentos cerâmicos dispersos em superície e
em baixa densidade por uma ampla área perturbada pela extração de terra.
Em 2001, ocorrências esparsas de ocupação Guarani pré-colonial tam-
bém foram registradas na zona Central de Porto Alegre, através do monitora-
mento arqueológico das obras de instalação de dutos de telecomunicação ao
longo da Rua dos Andradas. Esta obra foi registrada junto ao MJJF como um
único síio, RS-JA-23: Praça da Alfândega, tendo sido ideniicados fragmentos
cerâmicos abaixo do aterro histórico da Rua dos Andradas, em frente à Praça da
Alfândega (POUGET e THIESEN, 2002). Salvamentos arqueológicos posteriores
na Praça da Alfândega no ano de 2006, registraram novas ocorrências de nature-
za semelhante. Igual situação refere-se à ideniicação em 2004 de fragmentos
de cerâmica Guarani associado a escavação de duto de canalização na área cen-
tral de Porto Alegre, obra registrada junto ao MJJF como síio RS-JA-24: DMAE.
Por im, em 2008, José Otávio Catafesto de Souza ideniicou a ocorrência de ce-
râmica da Tradição Guarani na localidade de Morro do Osso, Bairro Séimo Céu,
registrando este síio como Morro do Osso junto ao LAE/UFRGS.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 97


Presença Guarani Pré-colonial no Município de Viamão

No município de Viamão foram registrados entre 1970 e 2009 18 síios


arqueológicos associados à Tradição Guarani, cujos núcleos principais estão
associados ao Pontal do Morro do Coco, ao norte, e ao conjunto de enseadas e
ilhas atualmente pertencentes à área do Parque Estadual de Itapuã, ao sul. Em
1971 Guilherme Naue registrou junto ao CEPA/PUCRS o síio RS-88, situado em
terreno culivado próximo ao Novo Lar dos Menores. O síio foi localizado pelos
proprietários durante preparação do terreno para planio, quando foi encontra-
da uma vasilha cerâmica. O conjunto artefatual apresenta grande quanidade de
evidências lito-cerâmicas coletadas sobre uma superície de 1.200 m2, em asso-
ciação com material histórico, indicando perturbações estraigráicas.
Em 1972 Naue registrou na porção oeste do Morro do Coco o síio PA
300: Rogério Christo, tendo sido realizada na ocasião coletas supericiais que
geraram uma coleção numerosa de vesígios lito-cerâmicos, atualmente sob
guarda do CEPA/PUCRS. A documentação de campo original indicava uma área
de dispersão de material de 130 m2, a uma distância de 20 m da linha da praia.
Em 2008 por ocasião das aividades de campo do GT foram realizadas vistorias
neste síio, tendo sido ideniicado aloramento de cerâmica na linha de praia,
porém em pequena quanidade, sendo suas coordenadas geográicas registra-
das. A realização de novas vistorias ao longo nas praias da porção leste do Morro
do Coco, por sua vez, permiiram a ideniicação de um síio da Tradição Guarani,
RS-LC-18: Morro do Coco, que recebeu este número de registro de acordo com
a numeração de catálogo do Programa de Pesquisas Arqueológicas em Itapuã
(RS), coordenado por Sergio Bapista da Silva, entre 1989 e 1995. O síio apre-
sentava-se alterado, tendo sido ideniicado através de aloramentos esparsos
de fragmentos de cerâmica ao longo de 30 m da linha de praia, em função da
ação erosiva das cheias do Guaíba.
Em 1976, foi ainda registrado por Naue junto ao CEPA/PUCRS o síio Gua-
rani RS-272: Nei Bueno, contudo sua documentação de campo e coleção não
foram localizados no acervo da Insituição61.

61 Em 1973 Naue realizou pesquisas no Seminário de Viamão e na Chácara Nossa Senhora das
Graças. No primeiro local foi ideniicado o síio RS-132: Seminário, onde foi coletada em uma
superície de 400 m2 uma grande quanidade de artefatos líicos. Na segunda localidade, fo-
ram registrados dois síios líicos de natureza semelhante ao caso anterior: RS-181: Chácara
Nossa Senhora das Graças I e RS-182: Chácara Nossa Senhora das Graças II. Ambos locais dis-
tam poucos metros e neles foram realizadas coletas supericiais, tendo os síios sido destruí-
dos pela construção de uma Escola Municipal. A organização do acervo do CEPA/PUCRS apon-
ta que ambas as ocorrências tratam-se de um único síio, com duas áreas de concentração.

98
No âmbito do Programa de Pesquisas Arqueológicas em Itapuã (RS), co-
ordenado por Sergio Bapista da Silva, foram ideniicados em 1989 outros dois
síios arqueológicos da Tradição Guarani em Viamão, registrados como RS-LC-01:
Aldeia do Cantagalo (sinonímias G4 e Tekoá Jataity) e RS-LC-02: Colônia de Ita-
puã. O primeiro está localizado na localidade do Espigão, na Terra Indígena Tekoá
Jataity, tendo sido registrado junto ao MARS por Sergio Bapista da Silva e Sérgio
Leite no mesmo ano, jusiicando a sinonímia. O síio encontra-se perturbado
em função do planio de roças de subsistência, a uma alitude aproximada de
80 m, sendo composto por sedimentos arenosos. Foram realizadas coletas assis-
temáicas de cerâmica da Tradição Guarani em duas disintas áreas, sendo uma
destas o campo de futebol, formando um acervo de 22 fragmentos sob guarda
do MARS. O segundo síio situa-se na Vila de Itapuã, distribuindo-se o material
em quatro disintos núcleos associados a áreas agrícolas com as seguintes di-
mensões: 70 x 40, 80 x 60, 70 x 70 e 60 x 100 m. Foram realizadas coletas super-
iciais e sondagens que produziram uma coleção de 33 fragmentos cerâmicos da
Tradição Guarani e 53 vesígios de lascamento, sob guarda do MARS62.
Ainda em 2009, a presença de um síio arqueológico da Tradição Guarani
no município de Viamão foi registrada junto ao LAE/UFRGS por José Otávio Ca-
tafesto de Souza na localidade de Águas Claras. Trata-se de uma urna funerária
Guarani, associada a ossos humanos, descoberta ocasionalmente quando da
construção de uma cerca, tendo sido o material arqueológico resgatado e o síio
registrado como Pomar da Lagoa I.
O restante das informações sobre a ocupação Guarani pré-colonial no
município de Viamão estão associadas à área atualmente compreendida pelo
Parque Estadual de Itapuã, onde foram registrados 11 síios arqueológicos da
Tradição Guarani. As primeiras pesquisas arqueológicas nesta área foram reali-
zadas em 1970 por Pedro Augusto Mentz Ribeiro, responsável pela localização
de três síios arqueológicos da Tradição Guarani, cujos acervos encontram-se no
MARSUL. No extremo nordeste da Ilha do Junco foi registrado o síio lito-cerâ-
Embora não haja registro de cerâmica da Tradição Guarani em associação a este contexto, uma
avaliação preliminar da coleção sugere tratar-se de um síio de extração de matérias-primas
para a confecção de artefatos lascados e polidos que pode estar relacionado ao sistema de as-
sentamento Guarani pré-colonial. No entanto, a ausência de estudos detalhados condicionou
a não inclusão destes síios líicos na relação aqui analisada.
62 No âmbito deste mesmo projeto, entre 1992 e 1994 foram registradas junto ao MARS outras
seis ocorrências de presença de síios da Tradição Guarani na Vila de Itapuã com as seguintes
siglas: RS-LC-05: Vila de Itapuã I, RS-LC-09: Vila de Itapuã II, RS-LC-10: Vila de Itapuã III, RS-
-LC-12: Vila de Itapuã IV, RS-LC-13: Vila de Itapuã V e RS-LC14: Vila de Itapuã VI. Os acervos e
documentação referentes as pesquisas de campo não foram localizados na Insituição deposi-
tária, jusiicando a não inclusão destes síios no levantamento aqui apresentado.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 99


mico RS-LC-70: Ilha do Junco. Situado junto a linha d’água, o síio distribuía-se
por uma área de 150 m2, sobre solo arenoso, tendo sido parcialmente destruído
pelas cheias. Foram realizadas coletas de superície e uma sondagem que evi-
denciou material lito-cerâmico Guarani até a profundidade de 50 cm, em asso-
ciação com sedimentos húmicos. Em vistoria realizada pelo GT foram visitados
os prováveis pontos das intervenções anteriores, não tendo sido ideniicado
material arqueológico em superície. Optou-se por estabelecer uma coordenada
aproximada para este síio em função das descrições oferecidas pela documen-
tação de campo original.
Ribeiro também registrou junto ao MARSUL o síio RS-LC-74: Praia da
Pedreira, porém as informações originais são escassas, indicando apenas que fo-
ram realizadas coletas de superície de cerâmica Guarani por uma área de 1.600
m2, junto à praia. Em 1990, vistorias realizadas por Sergio Bapista da Silva no
local ideniicaram a presença de dois fragmentos cerâmicos em uma aniga área
de culivos entre a Praia da Pedreira e o Morro da Fortaleza, sendo esta ocorrên-
cia registrada como RS-LC-03: Síio da Pedreira-Morro da Fortaleza. Em função
da sobreposição das pesquisas, jusiica-se a sinonímia aqui adotada, sendo a
coordenada do síio esimada pelos registros de campo de Bapista da Silva. Em
1994 em nova vistoria realizada por Andréa Zortea não foram ideniicadas ne-
nhuma evidência em superície. Naquela ocasião, as casas e prédios comerciais
da Vila dos Pescadores diicultavam a visibilidade do solo, o mesmo se aplicando
a Praia das Pombas e a Praia do Araçá (ZORTEA, 1995). Por ocasião dos trabalhos
de campo do GT em 2009 o local foi novamente vistoriado e pode-se constatar
que toda a área anteriormente ocupada pela Vila de Pescadores foi terraplanada
em 1998 para a construção de vias de acesso e estacionamentos para o público
que usufrui desta praia, destruindo as evidências arqueológicas deste síio.
O síio RS-LC-75: Lagoa Negra também foi registrado por Pedro Augusto
Mentz Ribeiro, estando situado a 30 m ao norte da Lagoa Negra, em associação
a sedimentos arenosos cobertos por gramíneas. O síio foi descrito a parir da
presença de pequenos focos de material líico alorando em superície, disper-
sos por uma área de 50 m de diâmetro, tendo sido coletado material líico las-
cado, batedores, pedras com depressão semi-esférica e apenas um fragmento
de cerâmica da Tradição Guarani, sob guarda do MARSUL. Em 1990 o síio foi
novamente pesquisado por Sergio Bapista da Silva, tendo sido realizadas co-
letas supericiais de material da mesma natureza, recebendo neste momento
a designação de RS-LC-04: Lagoa Negra I. Em dezembro de 1991 e janeiro de
1992, foram realizadas intervenções a 400 m a leste do síio anterior, perfazen-
do uma área de escavação de 10 m2 que aingiram a profundidade de 1 metro,

100
recebendo este local a designação de RS-LC-06: Lagoa Negra II. O conjunto arte-
fatual resgatado em ambas as intervenções é predominantemente líico, encon-
trando-se sob a guarda do MARS. Tendo em vista as descrições de ocorrências
discretas que compõe a ocupação pré-colonial da área, optou-se por manter o
registro original, considerando os posteriores enquanto sinonímias, já que o síio
parece indicar um local de acampamento temporário, associado ao sistema de
assentamento Guarani e/ou caçador coletor anterior (Tradição Umbu), tendo
sido formado por várias ocupações discretas ao longo do tempo. Novas vistorias
neste síio realizadas em 2009 no âmbito do GT indicam que a área atualmente
é coberta por pastagens para o gado, cujo pisoteio contribui para comprometer
sua integridade. Também está sendo afetado por processos erosivos intensos,
em função cheias da Lagoa Negra, apresentando aloramento de materiais líi-
cos em superície.
Em 1980 Guilherme Naue registrou o síio RS-323: Ilha das Pombas (sino-
nímia PA253), realizando coletas supericiais e sondagens em uma área de 600
m2. O síio apresentava caracterísicas supericiais, tendo sido resgatada uma
signiicaiva coleção lito-cerâmica sob guarda do CEPA/PUCRS. Suas coordena-
das geográicas não foram registradas naquele momento, sugerindo-se aqui uma
coordenada aproximada a parir das descrições da documentação de campo.
Por sua vez, o síio RS-LC-39: Morro da Fortaleza foi registrado em 1981
por Eurico T. Miller junto ao MARSUL, tendo sido ideniicado em uma área la-
vrada nos patamares planos da encosta oeste do Morro da Fortaleza, voltado
para a Praia da Onça. Neste síio foi realizada uma escavação de 20,25 m2, reve-
lando uma rica coleção lito-cerâmica da Tradição Guarani, destacando-se ainda
a presença de duas pontas de projéil. A coleção encontra-se atualmente sob a
guarda do MARS e foi analisada por Zortea (1995). Por ocasião das aividades
de campo do GT a vertente leste do Morro da Fortaleza foi vistoriada em 2009,
porém não foram localizados vesígios arqueológicos pré-coloniais, não sendo
possível o acesso pela vertente oeste através da Praia da Onça, pois a área não
recebe manutenção há alguns anos e a circulação não é permiida pela adminis-
tração do Parque.
Entre 1989 e 1994, no âmbito do Programa de Pesquisas Arqueológicas
em Itapuã (RS), coordenado por Sergio Bapista da Silva, foram localizados ou-
tros seis síios arqueológicos da Tradição Guarani no Parque de Itapuã, tendo
este trabalho sido objeto da dissertação de mestrado de Andrea Zortea (1995).
Em 1990, foi registrado o síio cerâmico RS-LC-08: Praia das Pombas que distava
em torno de 15 m da linha d’água, alorando cerâmica Guarani em superície em
decorrência da ação erosiva das águas de vertente. O principal fator de perturba-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 101


ção deste síio naquele momento estava relacionado à presença de construções
de alvenaria da Vila de Pescadores (ZORTEA, 1995). Vistoria realizada na Praia das
Pombas durante os trabalhos de campo do GT em 2009 indicou que este síio
também teria sido destruído pela construção de benfeitorias no Parque em 1998,
a semelhança do ocorrido com o síio RS-LC-74: Praia da Pedreira.
Em 1991, foi registrado o síio RS-LC-07: Praia do Araçá, sendo ideniicada
cerâmica da Tradição Guarani alorando em função da ação erosiva de vertentes
que deságuam na praia, descendo em torrentes e abrindo profundas aberturas
no solo da encosta. Novas vistorias nesta área realizada em 1994 ideniicaram
aloramentos de material cerâmico em baixa densidade na porção sul da Praia
do Araçá, porém em nenhuma das ocasiões foram realizadas coletas supericiais
(ZORTEA, 1995). Em vistoria realizada no âmbito do GT em 2009 não foram iden-
iicados materiais arqueológicos em superície, porém destaca-se que as con-
dições da Praia do Araçá naquele momento possuiam baixa visibilidade de solo
em função da cobertura vegetal intensa e do acúmulo de dejetos trazidos pelas
cheias do Guaíba, já que esta não sofre manutenção por parte da administração
do Parque há alguns anos. As coordenadas registradas para este síio são apro-
ximadas, tendo em vista as informações presentes na documentação de campo
dos trabalhos anteriores, destacando-se que as coleções referentes a este síio
não foram ideniicadas no acervo do MARS.
Em 1993, foi localizado um síio lito-cerâmico da Tradição Guarani no cor-
dão arenoso da Praia da Onça, registrado junto ao MARS como RS-LC-11: Praia
da Onça. A densidade de material era baixa, tendo sido coletados 20 fragmentos
cerâmicos e 60 resíduos de lascamento. A consulta ao acervo do MARS permiiu
a ideniicação somente do conjunto líico, porém a cerâmica encontra-se des-
crita por Zortea (1995). Vistoria realizada em 2009 por ocasião dos trabalhos de
campo do GT não permiiu a ideniicação de materiais alorando em superície.
No entanto, as cheias do Guaíba por ocasião da inspeção haviam depositado
grande quanidade de dejetos nas areias, bem como a cobertura vegetal inha
avançado signiicaivamente em direção a linha de praia, em função da ausência
de manutenção da praia pela administração do Parque. A coordenada aproxima-
da aqui adotada baseia-se nas descrições do síio oferecidas por Zortea (1995).
Em 1994, foram ainda registrados os síios RS-LC-15: Praia do Síio, RS-
-LC-16: Prainha e RS-LC-17: Morro do Farol, cujos acervos estão sob a guarda
do LAE/UFRGS. A documentação referente ao síio RS-LC-15: Praia do Síio é
escassa, indicando apenas a realização de coletas de superície, compondo uma
coleção de 27 fragmentos cerâmicos. Em vistoria realizada em 2009 por oca-

102
sião do GT foram ideniicados ao longo da linha da praia dois fragmentos de
cerâmica da Tradição Guarani, que estavam deteriorados em função da ação
das águas, sendo as coordenadas do síio registradas a parir deste achado. No
síio RS-LC-16: Prainha a densidade de material arqueológico em superície era
menor tendo sido coletados sete fragmentos cerâmicos da Tradição Guarani que
não foram ideniicados no acervo do LAE/UFRGS. Este material encontrava-se
disperso na linha da areia, associados a um curso de água intermitente, e a um
pequeno terraço, com 10 m de alitude, distante 45 m da linha da praia (ZORTEA,
1995, p. 71-72 e 104). Em vistoria no local realizada em 2008 no âmbito do GT foi
ideniicada uma concentração de fragmentos de cerâmica da Tradição Guarani
na beira da praia de onde foram tomadas as coordenadas aqui adotadas. Por
im, o síio RS-LC-17: Praia do Farol corresponde a um síio lito-cerâmico super-
icial, perturbado pela ação agrícola, estando cortado pela trilha que conduz ao
Farol de Itapuã, do qual dista aproximadamente 300 m. As dimensões do síio
são de 14,4 x 17,7 m, estando situado sobre um patamar plano, na encosta do
úlimo promontório que separa o Guaíba da Lagoa dos Patos. O material arque-
ológico distribui-se em dois núcleos que receberam numeração de catálogo dis-
inta. O acervo referente a este síio é composto por 96 fragmentos cerâmicos,
constantes do acervo do LAE/UFRGS (ZORTEA, 1995).

A Presença Guarani Pré-colonial no Município de Barra do


Ribeiro:

No município de Barra do Ribeiro estão registrados cinco síios da Tradi-


ção Guarani, todos situados em áreas de preservação ecológica pertencentes
a uma Empresa de Celulose, entre o Pontal da Faxina e o Pontal do Morro da
Formiga. No Pontal da Faxinal, situa-se o síio RS-324: Tarumã (sinonímia Riocel e
Tekoá Karaguata’ity), pesquisado originalmente por Guilherme Naue em 1980.
O acervo documental do CEPA/PUCRS indicava que o síio localizava-se então em
propriedade da Indústria Riocell, estando à beira do Guaíba, na praia de Tarumã.
Apresentava grandes concentrações de material lito-cerâmico, distribuído por
uma área de 42.500 m2, sendo coberto por vegetação rasteira e assentado sobre
solo arenoso, em região de relorestamento de eucaliptos, tendo sido realiza-
das coletas de superície. O síio foi novamente localizado em vistoria realizada
no âmbito do GT em 2009 e suas coordenadas geográicas foram registradas,

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 103


tendo sido ideniicada uma dispersão de cerâmica a parir linha da praia em
direção à mata, cobrindo uma distância de mais de 150 m. Os Mbyá que acom-
panhavam a vistoria sugeriram que o nome deste síio arqueológico fosse Tekoá
Karaguata’ity (= aldeia da plantação de caraguatá pequeno), no entanto como
este já estava registrado, foi considerada aqui a sigla original.
Por ocasião dos trabalhos de campo do GT foram realizadas vistorias em
2009 no Pontal da Faxina e no Pontal da Formiga, tendo sido registrados três
novos síios da Tradição Guarani, de acordo com a numeração do catálogo do
Programa de Pesquisas Arqueológicas em Itapuã (RS), coordenado por Sergio
Bapista da Silva, entre 1989 e 1995. Os síios receberam os seguintes nomes
por sugestão dos Mbyá que acompanharam as vistorias: Tekoá Porã (= aldeia
bonita/sagrada), Tekoá Mareÿ (= terra sagrada/pura/perfeita) e Tekoá Yma (=
aldeia aniga)
No Pontal da Faxina, aproximadamente 2 km a leste do síio RS-324: em
Tarumã situa-se o síio RS-LC-22: Tekoá Porã. Está associado a uma duna, situada
a poucos metros do Guaíba, com uma alitude máxima de 12 m. O material lito-
-cerâmico da Tradição Guarani é abundante, distribuindo-se em duas concentra-
ções distantes aproximadamente 100 m, associadas à duna e a linha de praia.
O síio RS-LC-21: Tekoá Mareÿ localiza-se 1 km ao sul do anterior, em frente à
Ilhota, apresentando também um bom estado de preservação, sendo possível
observar manchas pretas de solo orgânico, gerados por ação antrópica. Ao todo
foram ideniicados neste síio cinco concentrações disintas de cerâmica e um
polidor em canaleta, distribuídas por uma área de 160 m.
Já o síio RS-LC-20: Tekoá Yma localiza-se ao norte da baia que delimita
o início do Pontal da Formiga, distando 4 km ao sul do conjunto de síios ante-
rior. Situa-se em áreas de dunas que distam 300 m do Guaíba. Apresenta baixa
densidade de material cerâmico alorando disperso sobre as dunas, associado
a sedimentos arenosos e a vegetação de resinga. Ainda no Pontal da Formiga,
o síio Arroinho I foi registrado por Gislene Monicelli em 2007 por ocasião de
trabalhos de levantamento arqueológicos contratados pela Aracruz Celulose, no
âmbito do projeto Caracterização Arqueológica em Áreas de Interesse da Ara-
cruz Celulose S/A no Estado do Rio Grande do Sul: Diagnósico para Estudos de
Impacto Ambiental, com apoio insitucional do CEPA/PUCRS. O síio está situado
na vertente oeste do Morro da Formiga, entre as localidades de Mato Preto e o
Arroinho63, tendo sido ideniicados fragmentos de cerâmica da Tradição Guarani e
63 Durante as aividades de campo do GT nesta mesma localidade também foi registrado em
2009 um síio líico, RS-LC-23: Itaty (= local de muitas pedras/onde as pedras estão nascendo/
tem vida). Este corresponde a uma alta concentração de lascas e núcleos, ideniicado em uma
trilha na mata em função do tombamento acidental de uma árvore de grande porte, alorando

104
uma lâmina de machado líico polido em área de dunas, afetada atualmente pela
ação de jipeiros que as uilizam para corridas clandesinas.

Reletindo sobre a Territorialidade e a Mobilidade Guarani


Pretérita e Presente

Analisando a distribuição e densidade dos síios arqueológicos da Tradi-


ção Guarani na região do Guaíba observa-se um padrão de distribuição regular
dos assentamentos, privilegiando determinados espaços estrategicamente posi-
cionados no ambiente lagunar. Desde o Delta do Jacuí até a desembocadura na
Laguna dos Patos, as aldeias anigas ocuparam preferencialmente os pontais, as
ilhas e as baias, buscando locais abrigados da incidência do vento sul e privile-
giando também a proximidade das margens do Guaíba, em detrimento das en-
costas graníicas. Esta orientação com relação ao sistema de ventos sinaliza, em
grande parte, a importância dos deslocamentos aquáicos neste território, su-
gerindo que os síios situados em ambas as margens do Guaíba, bem como nas
ilhas, estavam integrados em uma mesma rede de sociabilidade, tratando-se,
portanto, de um território com caracterísicas socioculturais conínuas, circuns-
crito a um espaço geográico disperso em função do ambiente lagunar. Assim
como se coniguram no presente os assentamentos mbyá, podemos pensar as
ocupações guarani pré-coloniais do Guaíba enquanto “ilhas” ariculadas por um
complexo sistema sócio-cosmológico, comparilhando os recursos do território
e conectando-se entre si também através dos “caminhos” das águas, ordenados
pelo sistema de ventos e correntes.
A hidrodinâmica do sistema lagunar do Guaíba é complexa e diversos fa-
tores interferem no escoamento das águas, em especial a forte inluência dos
ventos. O Lago Guaíba é ao mesmo tempo, um canal de extensão de seus tribu-
tários e um reservatório interligado à Laguna dos Patos. Devido à grande exten-
são da superície do Guaíba e as diversas situações de variação do nível de água,
a ação de represamento da Laguna dos Patos resulta em um complexo campo
de correntes com predominância no senido natural do escoamento para o sul.
Em geral, a velocidade das correntes é baixa, sendo a mínima de 6 cm/s com

material em associação às raízes, sendo suas coordenadas UTM 22J 0485748/6634809. A au-
sência de artefatos diagnósicos, no entanto, limitou a possibilidade de ailiação cultural, não
sendo computado conjuntamente entre as ocorrências da Tradição Guarani aqui referidas.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 105


vento norte e a máxima 15 cm/s com vento sul. As correntes só tornam-se mais
intensas nos pontos de estrangulamento de luxo como a Ilha da Pintada ao nor-
te e a Ilha do Junco ao sul. Por sua vez, os ventos predominantes no Lago Guaíba
ao longo do ano têm velocidade média de 2,5 m/s, advindo principalmente dos
quadrantes E/SE. No inverno, com o deslocamento de áreas de maior pressão
para o norte, há também maior incidência de ventos dos quadrantes N/NW e S/
SW e quando estes úlimos aingem velocidades maiores de 7 m/s podem ge-
rar padrões de ondas de até 0,55 m (NICOLODI, 2007; NICOLODI et al., 2010).
De acordo com Knippling (2002), esta ação do vento sul seria atualmente um
dos principais fatores que podem comprometer a segurança de navegação para
barcos de pequeno calado no Guaíba. O aumento da intensidade dos ventos S/
SW nos primeiros dias após a passagem de uma frente fria pode ocasionar uma
reversão de senido de ondas geradas por ventos predominantes do quadrante
E/SE. Este fenômeno é denominado “rebojo” e é favorecido pelas baixas profun-
didades do sistema Lagunar Guaíba-Patos, aumentando o tamanho das ondas e
formando cavas quase vericais.
As caracterísicas hidrodinâmicas do Lago Guaíba apontam, por um lado,
para uma facilidade de deslocamentos por canoas no período pré-colonial no
senido norte-sul e leste-oeste, tendo em vista o predomínio das correntes no
senido sul e dos sistemas de ventos do quadrante E/SE, ambos de baixa inten-
sidade. Por outro lado, as alterações dos sistemas de vento com a entrada de
frentes frias ao longo do ano, principalmente no inverno, podem gerar luxos de
ondas de maior intensidade, diicultando as possibilidades de atracagem, tendo
em vista que o sistema de arrebentação se dá na proximidade das praias. Assim,
posicionar as aldeias anigas na busca de proteção do vento sul, é um indício da
importância dos deslocamentos aquáicos na integração entre as diversas áreas
deste território. Exemplos desta seleividade estão representados por vários sí-
ios que ocupam pontais, como é o caso do síio Arroinho I, em Barra do Ribeiro,
situado no melhor ponto de atracagem na vertente oeste da Ponta da Formiga,
sendo protegido do vento sul pelo Morro. O mesmo se aplica ao síio Rogério
Christo, em Viamão, que ocupa uma praia protegida do vento sul, no sopé oeste
do Morro do Coco e ao síio da Ponta do Arado, em Porto Alegre, cujo posiciona-
mento situa-se ao norte do pontal.
Quando os síios localizam-se em praias abertas, estas também estão po-
sicionadas em locais de baixa incidência de ventos do quadrante sul pelas carac-
terísicas do relevo local. Por exemplo, os síios do Parque Estadual de Itapuã
estão concentrados nas baias abrigadas do vento sul pelos morros graníicos da
Fortaleza e do Pontal de Itapuã, sendo o mesmo padrão encontrado nos síios

106
do Parque do Lami, protegidos pelo Pontal do Morro do Coco, e no síio Tekoá
Yma, protegido pelo Pontal do Morro da Formiga. Quanto aos síios situados
nas praias da Ponta da Faxina, sua posição geográica é oposta a incidências dos
ventos do quadrante sul, facilitando inclusive o acesso por água a outras praias
em Itapuã, 4 km a leste, e em Belém Novo e Lami, 12km ao norte. Já a ocupação
das ilhas Chico Manuel, das Pombas e do Junco representam a materialização
desta ínima conexão entre terra e água que norteou o processo de ocupação e
exploração do território do Lago Guaíba no período pré-colonial. Deste conjun-
to de ocupações insulares, as escavações da Ilha Chico Manuel indicaram uma
ocupação intensa e de caráter permanente, representando que a isolamento
aquáico não era um fator de limitação a ser considerado.
Outro fator relevante para compreender o padrão de distribuição espa-
cial destes síios relaciona-se a distribuição dos recursos no território do Guaíba.
As caracterísicas geomorfológicas e itogeográicas da área apontam para uma
diversidade de paisagens de transição: entre morros graníicos e planícies alu-
viais, entre lorestas e campos alagadiços. As caracterísicas gerais dos solos da
área indicam um predomínio de solos arenosos com baixos níveis de nutrientes,
tanto nas planícies aluviais e quanto nos morros graníicos, sendo ambos inten-
samente afetados pela ação erosiva das lutuações pluviométrica. Somente nas
encostas íngremes acumula-se um solo mais argiloso e profundo, com maior
permeabilidade e maior retenção de água. Segundo Comandulli (2008), apesar
das condições do solo tecnicamente parecerem desfavoráveis para agricultura,
os Mbyá que viviam na área do Parque Estadual de Itapuã na década de 1970
adaptaram seus culivos a estas condições, posicionando suas roças nas zonas
de transição entre as encostas e as planícies, onde o solo apresenta-se mais fa-
vorável. Por outro lado, os trabalhos etnográicos de Freitas (2006) indicam que
os Mbyá realizam um etnozoneamento ideal da paisagem dividido em três ca-
tegorias: Yvy awaté (serras), Yvy á (encostas) e Yvy anguy (planícies). Yvy awaté
corresponde “as partes mais altas e íngremes dos morros”, apropriadas à caça e
a coleta. É reconhecido pela sua umidade e ferilidade, onde crescem as lores-
tas que não podem ser culivadas, pois são consideradas sagradas por conterem
as nascentes e as cabeceiras dos rios, bem como serem guardiões das lorestas.
O culivo e as construções nesta zona não são possíveis pela cosmologia Guarani
por estar vinculada à cura, colocando desta forma em risco o equilíbrio e a con-
inuidade do mundo. Em Yvy á, nas encostas dos morros, habitam os animais
primordiais e são locais abundantes em remédios e ibras para artesanato. Em-
bora não sejam áreas preferências para a agricultura, muitas vezes os Mbyá con-
sideram as encostas locais propícios para construir aldeias, quando apresentam

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 107


terrenos planos em meia encosta. É em Yvy anguy, as planícies, que os Mbyá
encontram os lugares ideais para fazer aldeia e realizar culivos, em função de
suas condições topográicas.
No sistema de assentamento guarani pré-colonial da região do Lago
Guaíba as aldeias também estão distribuídas, preferencialmente, nas planícies
aluviais, privilegiando uma localização próxima às praias. Embora as encostas
graníicas apresentem possibilidades de ocupação, até o presente apenas dois
síios com estas caracterísicas foram localizados no Morro da Fortaleza e no
Morro do Farol, em Itapuã. Porém, a baixa produividade dos solos da várzea
alagadiça não parece ter sido um fator limitante para a ocupação guarani do
Lago Guaíba, tendo em vista situações similares encontradas em outros locais de
ambiente litorâneo e lagunar no norte e no sul do Estado (WAGNER, 2004; MI-
LHEIRA, 2008)64. Também se pode aventar a possibilidade de as áreas de culivo
situarem-se igualmente nas zonas de contado entre planície aluvial e encosta, a
semelhança do relatado por Comandulli (2008), estando os espaços domésicos
próximos às praias.
Além da importância do deslocamento por canoas que interligaria facil-
mente diferentes áreas do território do Lago Guaíba, esta escolha das praias
em detrimentos das encostas para a localização das aldeias também pode ser
pensada em função da ampla disponibilidade de recursos aquáicos. Neste caso,
pode-se considerar tanto a abundância de peixes em todo o sistema lagunar,
quanto a exploração da fauna ípica dos banhados caracterísicos das planícies
aluviais, incluindo-se também uma maior disponibilidade sazonal de certas es-
pécies de aves e peixes, com destaque para a tainha e a corvina.
Do conjunto de síios até o presente ideniicados na porção oriental do ter-
ritório do Lago Guaíba, apenas dois apresentam posições mais interiorizadas (Can-
tagalo e Morro São Pedro). Ambos os casos, porém, podem estar representando
estratégias defensivas associadas ao período da Conquista, sendo a presença do co-
lonizador um fator de alteração dos padrões de ocupação tradicional já registrado
no litoral norte e do vale do alto rio dos Sinos (WAGNER, 2004; DIAS, 2003).
De acordo com os modelos sobre territorialidade e mobilidade guarani
pré-colonial defendidos por Noelli (1993), a densidade e profundidade tempo-
ral do registro arqueológico do Lago Guaíba pode ser entendida também em
função de estratégias de manejo dos recursos da loresta subtropical, que orde-
nados por complexas redes sócio-políicas, ofereciam sustentação a ocupações
de longa duração. Tomando por referência uma extensa revisão da bibliograia
dos cronistas do século XVI a XIX, Noelli sugere que os padrões de distribuição

64 Para mais detalhes consultar Wagner e Milheira nos capítulos 2 e 6 deste volume.

108
de síios de uma dada região devem ser interpretados em função do conceito de
tekohá, entendido enquanto território de domínio uilizado de forma comunal e
exclusiva pelos grupos familiares. Os tekohá eram formados por parcialidades ou
famílias extensas (teii) que viviam isoladas em diversas aldeias ou agrupadas em
uma mesma aldeia, em função das condições geográicas e políicas locais. Além
do domínio especíico da aldeia (amundá), o território do tekohá comportava as
áreas de roças (cog) e a vegetação circundante (caa).
As roças localizavam-se a diferentes distâncias das aldeias, sendo dividi-
das em lotes familiares, cuja localização e tamanho eram deinidos a parir do
consenso com os demais ou arbitrado pelo chefe da linhagem (teiiru ou tuvichá),
obedecendo a critérios relaivos à posição hierárquica na família extensa. Atra-
vés das fontes etno-históricas Noelli esima os lotes de roça para cada família
entre 0,5 e 2 hectares, resultando em uma área culivada de 30 a 120 hectares
para uma aldeia de 60 famílias. Nas roças também eram introduzidas árvores
fruíferas e plantas medicinais ou fornecedoras de matérias-primas, resultan-
do na compeição diferencial dos nutrientes por m2, o que criava resistência à
disseminação de pragas e diminuição dos impactos da erosão. Assim, quando a
produividade dos culivos diminuía, novas roças eram abertas em outros pon-
tos, passando as anigas a corresponder a locais onde predominavam aividades
de coleta, icando em repouso por um período de no mínimo 20 anos para nova-
mente ser transformados em roça. Na práica, o processo de abandono da roça
traduz a conversão de um sistema de culivo de curto prazo, em um sistema de
agricultura agrolorestal de longo prazo, resultando na possibilidade de ocupa-
ção permanente do mesmo assentamento sem esgotar a capacidade produiva
dos solos, da lora e da fauna.
Desta forma, o padrão de ocupação e colonização territorial guarani seria
temporal e espacialmente coníguo, releindo um modelo de mudança de sede
de aldeia dentro de locais anteriormente manejados no tekohá. Uma aldeia po-
deria dividir-se em função do crescimento populacional ou por dissidência polí-
ica interna, ocupando a nova aldeia a área mais externa dos locais manejados
e a original permanecendo no mesmo síio. Por sua vez, o tamanho da área de
captação de recursos de um tekohá poderia variar em função do grau de reci-
procidade do conjunto muli-comunitário, não sendo incomum a sobreposição
de áreas de ação de disintos tekohá que manivessem alianças políicas. A parir
dos dados etno-históricos e tomando como referencia as disponibilidades de
recursos associadas ao síio do Arroio do Conde, Noelli esimou em torno de 50
km a área de captação de recursos de um tekohá ao longo do ciclo anual, a parir
da sede da aldeia.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 109


Integrando o modelo territorial de Noelli aos dados aqui analisados, po-
demos pensar que a área de captação de recursos a qual o autor relaciona o síio
do Arroio do Conde poderia, na realidade, incorporar ambas as margens do Lago
Guaíba. Assim, teríamos um território de domínio simbolicamente coninuo, po-
rém geograicamente desconínuo em função das águas do Lago. As estratégias
de manejo de longa duração deste tekohá por pelos menos dois séculos é ates-
tada pelas datações entre 600 e 400 anos atrás disponíveis até o presente para a
área. Por sua vez, os 36 síios já ideniicados podem estar representando tanto
o deslocamento das sedes de aldeia neste tekohá ao longo do tempo, quanto à
distribuição de aldeias contemporâneas estrategicamente situadas em disintos
pontos da paisagem lagunar.
Embora as cronologias ainda sejam restritas para a região do Guaíba,
as datações mais anigas estão relacionadas ao síio Ilha Chico Manuel situado
em sua porção central, sendo compaíveis à cronologia inicial de ocupação do
vale do Jacuí e do litoral norte, situadas entre 1.800 e 1.000 anos A.P. (NOELLI,
1999/2000, 2004). Desta forma, levando-se em consideração as lógicas de colo-
nização através do manejo ambiental há indícios de uma ocupação guarani ain-
da mais aniga do território do Lago Guaíba, possivelmente associada à região
do Delta do Jacuí. Embora as datas do síio Santa Rita sejam mais recentes que as
do síio Ilha Chico Manuel, sua cronologia aponta para pelos menos 100 anos de
conínua ocupação da região do Delta. Parindo desta lógica, as ocupações dos
síios Santa Rita e do Arroio do Conde, distantes entre si em torno de 4 km, esta-
riam integradas, representando a circulação da sede de uma aldeia no ambiente
manejado, incluindo neste conjunto as evidencias encontradas na outra margem
do rio, no local onde é hoje o Centro Histórico de Porto Alegre.
Já a distribuição dos síios na paisagem lagunar segue um padrão similar,
compaível com a lógica de colonização de novos espaços previamente maneja-
dos. Tendo em vista tratar-se de uma ocupação de longa duração, o processo de
colonização da totalidade do território deve ter-se iniciado pelo Delta do Jacuí, e
por moivos demográicos e/ou políicos, novos assentamentos dirigiram-se em
direção ao sul para áreas previamente manejadas, aingindo a desembocadura
com a Laguna dos Patos. Embora os recursos sejam abundantes e perenes em toda
a região, podem-se perceber variações suis de oferta entre determinadas áreas,
como solos mais férteis para os culivos ao norte junto ao Delta do Jacuí, maior
concentração de lorestas nas encostas voltadas para o sul da porção centro-leste
do Lago Guaíba e maior diversidade de pesca e caça sazonal junto aos banhados
do sul delimitados pelos Pontais de Itapuã e do Morro da Formiga. Sugere-se, as-
sim, que na eminência da Conquista, o processo de colonização do território do

110
Guaíba estaria completo, sendo representado por um padrão disperso de aldeias
interligadas por laços de parentesco que ocupariam contemporaneamente pelo
menos estes três pontos da paisagem, o que seria evidenciado por uma maior
concentração de síios arqueológicos nestas áreas (ver Figura 01).
Estas são hipóteses que demandam ser testadas através da intensiica-
ção dos estudos arqueológicos na área, em paricular através de uma ampliação
das prospecções, de um melhor conhecimento da estrutura e variabilidade dos
assentamentos através de escavações sistemáicas, da ampliação das cronolo-
gias e de estudos comparaivos detalhados da cultura material. No entanto, a
compreensão desta territorialidade guarani no passado, tem muito a aprender
com o presente.
Os dados etnográicos obidos por estudos quanitaivos e qualitaivos rea-
lizados pelo NIT-UFRGS permitem airmar que os coleivos mbyá-guarani presen-
tes na região metropolitana de Porto Alegre têm como caracterísica uma cons-
tante mobilidade entre as suas diversas aldeias (BAPTISTA DA SILVA et al., 2008).
Os Mbyá hoje presentes no município de Porto Alegre não se caracterizam como
“unidades comunitárias” constantes e homogêneas, mas são parte de uma ampla
rede comunitária guarani (de relações de parentesco e ainidade) que abrange
muitos outros grupos populacionais, não só em outros Estados brasileiros, mas
também no Paraguai, no Uruguai e na Argenina. Uma parte considerável des-
ta extensa rede desloca-se sazonalmente através de um arquipélago de áreas de
tamanhos e caracterisicas fundiárias diversas que não estão limitadas às divisas
do Estado do Rio Grande do Sul, nem às fronteiras nacionais brasileiras. Portan-
to, apesar da existência de famílias extensas cujos membros permanecem, não é
incomum que também possua membros em diversos Estados brasileiros ou mes-
mo em outros territórios nacionais. Este fenômeno se dá por uma série de razões
pautadas tanto em questões de ordem social, como em premissas cosmológicas.
Atualmente, entre os Guarani os moivos do caminhar são diversos: exis-
tem deslocamentos por questões de saúde, em busca de tratamentos, sejam eles
xamânicos, (junto aos anciões onde quer que estes estejam) ou médicos (junto
aos hospitais), por moivos de relacionamento (casamentos e separações), por
saudades de parentes ou ainda para evitar o agravamento de conlitos (na óica
guarani, se afastar dos problemas é a forma preferencial de resolução). Em um
senido cosmológico-religioso, o jeguatá (caminhar) possui grande importância,
uma vez que é considerado inerente à condição humana guarani: caminha-se
depois de um sonho premonitório ou de uma visão, bem como por conta da
busca por um local mais adequado ao “modo de ser”.
Diante dessas considerações, é possível compreender porque apenas
25,31% dos Guarani que foram cadastrados pelo estudo acima citado nasceram

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 111


no município de Porto Alegre, bem como porque somente 77,30% deles são
naivos do território brasileiro (BAPTISTA DA SILVA et al., 2008). É possível com-
preender também o moivo da grande maioria dos Guarani residirem a apenas
de 1 a 4 anos nas terras indígenas em que atualmente se encontram.
Deste modo, moivos como visitar parentes ou buscar conselhos junto
a um karaí (xamã) em especíico, assim como seguir a orientação de sonhos ou
buscar alegria e felicidade, impulsionam mudanças e deslocamentos constantes.
Esta caracterísica é parte de uma sociocosmológica na qual a premissa de fron-
teiras e divisas entre Estados e Nações parece não ter a mesma signiicação do
que para pessoas com uma cosmovisão eurocêntrica. Trata-se de uma territo-
rialidade espelhada em experiências de ocupações do passado, atualizadas pela
memória, sonhos e indicações xamânicas, privilegiando a escolha por lugares
contempladores de um ambiente propício para se viver, onde se façam presen-
tes a mata (Ka’aguy porã) e determinados animais, consituindo um horizonte
ecológico-cultural de terras.
Além disso, a coniguração atual das aldeias e acampamentos mbyá no
Rio Grande do Sul permite analisar a consituição de seu socius. Gobbi (2008) e
Assis (2009) trazem a discussão o termo kuery (designaivo de coleivos em lín-
gua guarani), também uilizado para nomear o grupo de parentes relacionados
e ideniicados a um deles, geralmente um senior, que os aricula através de rela-
ções de consanguinidade e ainidade. Os kuery seriam coleivos formados pelos
“entre si dos humanos”. Gobbi (2008) realiza uma caracterização dos acampa-
mentos mbyá como consituídos por um kuery em mobilidade pelo território, ao
passo que a maioria das aldeias indígenas com situações fundiárias mais estabe-
lecidas (sejam áreas doadas por municipalidades, Estados ou regularizadas pela
União), teria na sua consituição dois ou mais kuery, com localização espacial
precisa e nucleada. Além disso, há uma forte disinção e diferenciação interna
entre estes coleivos. Isto signiica que atualmente há uma nucleação e atomi-
zação importante dos coleivos mbyá que se deslocam neste amplo território.
Certamente, esta atomização não impede a intensa mobilidade acima referida,
que se dá, de preferência, dentro destes coleivos, especialmente quando moi-
vados por visitas e consultas a xamãs. Igualmente, se observa que a mobilidade
em conjunto, abarcando uma quanidade expressiva de pessoas, num desloca-
mento deiniivo de uma área para outra, dá-se a parir da lógica do kuery.
Embora a noção de território e coleividade mbyá seja produto de uma si-
tuação histórica dada, as condições geográicas do Lago Guaíba, por ser o “lugar
onde o rio se alarga”, podem ter contribuído signiicaivamente para uma ten-
dência similar no passado de descentralização territorial das famílias extensas
(kuery). Estas, porém, se manteriam políica e simbolicamente unidas no proces-

112
so de exploração de um mesmo domínio territorial, de um mesmo tekohá, com-
parilhando através das redes de parentesco e ainidades os recursos materiais e
simbólicos mais abundantes em termos locais. Assim como hoje entre os Mbyá,
a família extensa (kuery) seria a base da organização social no passado, porém
conigurada de maneira dispersa entre vários aldeamentos dispostos na ampli-
tude do território, sendo a mobilidade espacial e a circularidade das pessoas
através da via terrestre e luvial a principal estratégia de manutenção dos laços
sociais. Assim, os espaços escolhidos para ocupação pré-colonial se manteriam
os mesmo em função da abundância de recursos locais, jusiicando os padrões
nucleados de síios observados junto a determinados comparimentos paisa-
gísicos. Estes eram os lugares de reprodução do Ñandé Rekó que ao longo de
séculos foram recorrentemente retomados pelos grupos familiares, num cons-
tante movimento de circularidade que buscava recriar o mundo coidianamente
através do caminhar pelas terras e pelas águas do tekohá do Guaíba.

AGRADECIMENTOS

Aos organizadores pelo convite para publicação, em paricular a Gustavo


Wagner pelas sugestões incorporadas no presente trabalho. A equipe do Plano
Operacional para a Ideniicação e Delimitação de Terras Indígenas nas Regiões
Sul do Lago Guaíba e Norte da Laguna dos Patos, RS, em paricular a Fernanda
Neubauer, Mariana Araújo Neumann, Marilise Moscardin dos Passos, Michael J.
Schaefer e Roberta Porto Marques que pariciparam das vistorias arqueológicas.
Agradecemos também os Srs. Carlos Abreu de Oliveira e Adilson Oliveira que
apoiaram as pesquisas arqueológicas no Parque Estadual de Itapuã e na Ponta
da Faxina na categoria de informantes. Nossos agradecimentos também se di-
rigem aos coordenadores do MJJF, MARS, MARSUL, CEPA/PUCRS, LAE/UFRGS e
FAPA, pelo acesso ao acervo documental das pesquisas de campo que origina-
ram os acervos sob sua guarda. Por úlimo, gostaríamos de agradecer aos Mbyá
que nos acompanharam nas pesquisas de campo do GT, comparilhando conos-
co suas Belas Palavras.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 113


Figura 01- Síios da Tradição Guarani no Lago Guaíba: 1) RS-JÁ-23: Praça da Alfândega; 2) Arroio
do Conde; 3) RS-SR-342: Santa Rita; 4) RS-JÁ-16: Ponta do Arado; 5 ) RS-LC-71: Ilha Chico Manuel;
6) RS-JÁ-02: Lami Bernardes; 7) RS-JÁ-01: Reserva Biológica do Lami; 8) PA-300: Rogério Christo;
9) RS-LC-18: Morro do Coco; 10) RS-JÁ-07: Lajeado; 11) RS-LC-01: Cantagalo; 12) RS-323: Ilha
das Pombas; 13) RS-LC-08: Praia das Pombas; 14) RS-LC-11: Praia da Onça; 15) RS-LC-70: Ilha do
Junco; 16) RS-LC-39: Morro da Fortaleza; 17) RS-LC-74: Praia da Pedreira; 18) RS-LC-07: Praia do
Araçá; 19) RS-LC-15: Praia do Síio; 20) RS-LC-16: Prainha; 21) RS-LC-17; Morro do Farol; 22) RS-
LC-75: Lagoa Negra; 23) RS-324: Tarumã; 24) RS-LC-22: Tekoá Porã; 25) RS-LC-21: Tekoá Mareÿ;
26) RS-LC-20: Tekoá Yma; 27) Arroinho I (ilustração: Rafael Rizzi; fonte: NOCOLODI, 2007).

114
CAPÍTULO 5

ASSENTAMENTOS LITORÂNEOS DA TRADIÇÃO


TUPIGUARANI: UM EXEMPLO DO LITORAL CENTRAL DO
RIO GRANDE DO SUL

Jairo Henrique Rogge65

O litoral do Estado do Rio Grande do Sul tem sido bastante pesquisado, em


termos arqueológicos, desde o início do século XX ou mesmo antes. Nos úlimos
anos, a pesquisa tem sido ainda mais intensa, tanto em sua parte norte (WAGNER,
2004 e 2009; BECKER, 2007 e 2009; ROGGE e SCHMITZ, 2010 entre outros) como
no litoral central (SCHMITZ et al., 2006; PESTANA, 2007) e sul (RIBEIRO e CALIPPO,
2000; SCHMITZ et al., 2006; MILHEIRA, 2008) entre outros.
Próximo à região em enfoque, entre os Balneários Pinhal e Quintão, da
mesma forma já ocorreram algumas pesquisas arqueológicas anteriores. Vários
síios foram localizados por Miller (1967) e Ribeiro (não public.), na década de
1960, especialmente no entorno das Lagoas da Rondinha e da Cerquinha. Infe-
lizmente, informações mais precisas da localização destes síios são inexistentes,
especialmente em função do longo tempo já decorrido daquelas pesquisas e
também da falta de publicações mais detalhadas sobre eles.
Por outro lado, pesquisas mais recentes foram realizadas pelo Insituto
Anchietano de Pesquisas na região de Dunas Altas e Granja Vargas, no município
de Palmares do Sul, ao longo da segunda metade da década de 1990 e primeiros
anos do século XXI.
A área coberta por essa pesquisa envolveu as coordenadas 30º 15’ e 30º
30’ de laitude sul e 50º 15’ e 50º 30’ de longitude a oeste de Greenwich. A com-
parimentação geomorfológica, conhecida como Planície Costeira, é formada,
na sua maior parte, por sedimentos quaternários de origem praial, retrabalha-
dos por intensa aividade eólica (TOMAZELLI e VILLWOCK, 2000). Existem local-
mente pelo menos três importantes zonas ecológicas, com caracterísicas dife-
65 Arqueólogo do Insituto Anchietano de Pesquisas, professor da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos - UNISINOS, São Leopoldo, RS. Bolsista de produividade do CNPq.
renciadas: um campo de dunas móveis atuais, que se estende da orla maríima
até cerca de 3 km a 6 km para o interior, onde predomina em certos pontos uma
vegetação baixa de gramíneas; mais para o interior encontram-se extensos ba-
nhados, restos de anigas lagunas pleistocênicas, onde predominam gramíneas
e ciperáceas e uma abundante fauna palustre, especialmente aves e, no passa-
do, cervídeos; separando o campo de dunas das áreas mais baixas de banhados,
ocorre um extenso complexo de lagoas paralelas à linha de costa, cujas bordas
voltadas para o coninente deveriam ser totalmente cercadas por matas de res-
inga, das quais alguns relictos ainda hoje existem, mais ou menos preservados.
Entre as matas de resinga, situadas sobre os terraços lagunares recentes
e a beira das lagoas, existem ainda áreas pantanosas, cobertas por ciperáceas. É
esta úlima zona ecológica, formada pelas lagoas, banhados e matas de resin-
ga lindantes, que consideramos de maior importância para o estabelecimento
humano pré-colonial, associada com a orla maríima, pois é onde podem ser
encontrados a maior parte dos recursos oferecidos pelo ambiente e que foram
explorados sistemaicamente.
Foram localizados, na área, vinte e dois síios, representando principal-
mente a ocupação por populações portadoras da tradição ceramista Tupigua-
rani, em muitos casos associados à presença de cerâmica dos portadores da
tradição Taquara e em menor escala, em um período anterior, ocupações pré-
-cerâmicas (ver Figura 01).
As poucas ocupações pré-cerâmicas possuem datas entre os úlimos sé-
culos antes de Cristo e os primeiros séculos de nossa era (RS-LC-82 e RS-LC-97,
datados, respecivamente, em 1.900 ± 40 anos A.P. (Beta-206105) e 2.170 ± 70
anos A.P. (Beta-200073). Eles estão localizados no lado ocidental do cordão de
lagoas paralelas a linha atual de costa, mas que não possuem hoje ligação direta
com o mar, distantes dele entre 5 km e 18 km. A maior parte desses síios estão
em área de mata de resinga ou que foram, no passado, áreas de cobertura
vegetal mais densa; somente um (RS-LN-96) está em área alagadiça, bem mais
para o interior, e que pode estar relacionado com os grupos cerriteiros que ocor-
rem no litoral mais ao sul.
Os recursos explorados pelos ocupantes dos síios pré-cerâmicos provêm
tanto do mar, como das lagoas e banhados e como da mata de resinga e áreas
abertas cobertas por campos. De uma maneira geral, estão muito presentes os
peixes, os moluscos marinhos e a caça terrestre, mais abundante nas estações
quentes do ano, entre novembro e março. Estão praicamente ausentes os ani-
mais indicadores da estação fria.
O ambiente local especíico pode, entretanto, ser considerado responsá-
vel por diferentes apropriações dos recursos disponíveis, mesmo em síios pró-

116
ximos e com cronologia quase igual, como aconteceu com os síios RS-LC-82 e
97. O primeiro tem numerosos restos de peixes de água doce e ausência de
peixes de água salgada. O segundo tem numerosos restos de corvina, maríi-
ma, possivelmente porque a lagoa próxima deveria ter possuído um canal que
a ligava ao oceano.
No síio que se localiza no campo alagadiço (RS-LN-96), em área bem mais
afastada do mar e das lagoas, há muitos vesígios de veado-campeiro e cervo do
pantanal, espécie que deveria ser muito abundante neste ambiente aberto.
Os síios pré-cerâmicos parecem representar sucessivos acampamentos
estacionais; a falta de indicadores arqueofaunísicos ligados ao período frio su-
gere que se tratam de assentamentos realizados no período quente do ano, es-
pecialmente o verão.
Os artefatos líicos, ósseos e conchíferos são inexpressivos e não atestam
ligação com os sambaquis ípicos do litoral Meridional do Brasil.
Em alguns casos, sobre os estratos pré-cerâmicos ocorreram ocupações
de grupos da tradição cerâmica Tupiguarani e, eventualmente, da tradição Ta-
quara, que na maior parte das vezes ocorre em associação direta com aquela.
A bem marcada ocupação Tupiguarani sobre o RS-LC-82, assentada sobre uma
ocupação pré-cerâmica, foi datada por termoluminiscência em 563 ± 45 anos
A.P., mostrando um grande intervalo cronológico entre os dois horizontes ocu-
pacionais. Nos outros síios em que se observa a mesma sobreposição, pode-se
supor distância cronológica semelhante, ou ainda maior, embora não tenhamos
dados concretos para airmar isso.
Existem também síios tupiguarani não sobrepostos a ocupações pré-
-cerâmicas, mas quase sempre associados a um componente relacionado à por-
tadores da tradição Taquara. RS-LC-80 é o mais caracterísico deles, coberto par-
cialmente por mata de resinga e por sedimentos eólicos atuais, que encobriram
e preservaram a camada de ocupação. Uma área escavada de 64 m2 evidenciou
um horizonte de ocupação formado por uma lente conínua de moluscos mari-
nhos, especialmente Mesodesma mactroides, com espessura média de 20 cm
(ver Figura 02).
Pouco mais de 800 fragmentos cerâmicos foram encontrados neste síio,
sendo que a maior parte deles estava diretamente associada a áreas de foguei-
ras e a buracos de estacas, que poderiam indicar o interior de uma pequena es-
trutura de habitação, de formato aproximadamente circular, com não mais que
6m de diâmetro. O vasilhame é, em geral, de tamanho mediano, com contornos
inleidos ou compostos, além de duas formas menores, de contorno simples A
maior parte possui decoração plásica, como o corrugado, o corrugado ungulado
e o ungulado; raras são as vasilhas com decoração pintada (ver Figura 03).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 117


O material líico associado é pouco abundante, composto por apenas
38 artefatos distribuídos entre lascas unipolares e bipolares, algumas com ação
térmica, além de aiadores em canaleta, polidores e fragmentos naturais, sem
indícios de ação humana. A matéria-prima predominante é o basalto, em poucos
casos o arenito friável.
Seus abundantes restos faunísicos estão predominantemente relacio-
nados com ambientes aquáicos, como o mar e as lagoas próximas. A datação
por C14 foi de 280 ± 50 anos A.P. (Beta-202366), uma ocupação consideravel-
mente tardia66.
Em contraste com os demais síios Tupiguarani da área, este parece re-
presentar um assentamento um pouco mais estável, mas mesmo assim de cará-
ter sazonal. O restante dos síios Tupiguarani da área apresentam muito menos
material arqueológico e ocupam espaços também muito menores.
A ocupação Tupiguarani, nessa região, parece ter-se realizado sob a
forma de acampamentos temporários de pequenos grupos familiares. Como
no síio mencionado, nos outros também costuma haver cerâmica da tradição
Taquara associada diretamente.
A associação direta, e não a sobreposição, dos elementos tupiguarani
com os de tradição taquara parecem indicar uma zona de fronteira onde porta-
dores das duas tradições cerâmicas maniveram, em um período relaivamente
recente, algum ipo de contato, possivelmente envolvendo a interação através
de luxo de objetos e pessoas.
A ausência de assentamentos de maior porte e mais estáveis, associada
às evidências de sazonalidade, pode indicar que estamos tratando de acampa-
mentos voltados para a exploração especialmente dos recursos locais marinhos,
associados àqueles das lagoas, banhados e matas de resinga. A origem dos gru-
pos acampados poderiam ser as aldeias que se encontram mais para o interior
da planície costeira. A matéria-prima uilizada na produção de artefatos líicos e
da cerâmica parece atestar isso.
Por outro lado, não podemos descartar a hipótese de que esses assen-
tamentos, de cronologia recente, também possam estar relacionados a um mo-
mento críico e desestruturador daquelas sociedades indígenas, que envolveu a
rápida conquista67 do sul do Brasil e, especiicamente do litoral, por populações
de origem europeia.

66 Ocupações tardias para síios Tupiguarani são igualmente referidas nos capítulos de Bandeira,
Wagner e Milheira neste volume.
67 Para outros aspectos mais pontuais do impacto da Conquista Ibérica nas ocupações Tupigua-
rani ver capítulos de Wagner, de Dias e Bapista da Silva, e Milheira.

118
Figura 01- Mapa da região de estudo, com a localização dos síios arqueológicos

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 119


Figura 02- Área escavada no síio RS-LC-80 (acima) e distribuição espacial de parte do vasilhame
cerâmico reconsituído junto às fogueiras e aos buracos de estacas

120
Figura 03- Reconsituição gráica do vasilhame cerâmico da tradição Tupiguarani na região de
Balneário Quintão

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 121


Sigla Município Utm Filiação cultural* Datações
564365 280 ± 50 A.P. (Beta
RS-LC-80 Palmares do Sul Tupiguarani e Taquara
6638544 202366)
564231
RS-LC-81 Palmares do Sul Tupiguarani e Taquara -
6638440
1.900 ± 40 A.P. (Beta
206105) para o pré-
-cerâmico
564151 Sambaqui pré-cerâmi-
RS-LC-82 Palmares do Sul 563 ± 45
6638305 co/Taquara/Tupiguarani
(LVD 665)
para a ocupação Tupi-
guarani
564273 Sambaqui pré-cerâmi-
RS-LC-83 Palmares do Sul -
6638365 co/Taquara
564933
RS-LC-84 Palmares do Sul Taquara -
6637710
562790
RS-LC-85 Palmares do Sul Tupiguarani -
6640402
562553
RS-LC-86 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6640939
562530
RS-LC-87 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6641038
561153
RS-LC-88 Palmares do Sul Tupiguarani e Taquara -
6641668
562181
RS-LC-89 Palmares do Sul Tupiguarani -
6642068
562407
RS-LC-90 Palmares do Sul Tupiguarani -
6636914
562279
RS-LC-91 Palmares do Sul Tupiguarani -
6636884
562204
RS-LC-92 Palmares do Sul Tupiguarani -
6636859
561918
RS-LC-93 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6634928
561899
RS-LC-94 Palmares do Sul Tupiguarani -
6634811

122
Sigla Município Utm Filiação cultural* Datações
561920
RS-LC-95 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6634699

550097 1.760 ± 60 (Beta


Cerrito pré-cerâmico/
RS-LC-96 Palmares do Sul 206106) para o pré-
6640104 Taquara/Tupiguarani
-cerâmico
Sambaqui pré-cerâ- 2.170 ± 70 A.P. (Beta
559115
RS-LC-97 Palmares do Sul mico/Tupiguarani e 200073)
6625511 Taquara para o pré-cerâmico
563007
RS-LC-98 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6639958
563044
RS-LC-99 Palmares do Sul Tupiguarani -
6639991
563018
RS-LC-100 Palmares do Sul Tupiguarani (?) -
6640050

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 123


CAPÍTULO 6

ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA GUARANI NO SUL DA


LAGUNA DOS PATOS E SERRA DO SUDESTE

Rafael Guedes Milheira68

INTRODUÇÃO

A história das populações Guarani na Laguna dos Patos, assim como em


toda porção sul do Estado do Rio Grande do Sul é pouco conhecida e tangencial-
mente incorporada à historiograia tradicional. Os relatos sobre as populações
indígenas pré-coloniais raramente ultrapassam as primeiras páginas dos livros
de história regional, sendo geralmente tema incorporado em capítulos relaivos
aos “primeiros habitantes da terra”. Tratados como habitantes de uma nature-
za intocada, os grupos indígenas, idílicos, romanizados e idealizados como ele-
mentos naturais, compõem narraivas históricas apenas para jusiicar a posse
da terra pelas populações do velho mundo a parir do século XVI e XVII.
Tanto portugueses como espanhóis viram as populações indígenas, ora
como aliadas, ora como empecilho às estratégias de dominação territorial. For-
çosamente integrados ao modo de vida colonial: Carijós, Tapes, Patos, Charrua
e Minuano – índios de diferentes etnias – foram sendo incorporados à vida dos
campos, da lida do gado, da vida nas charqueadas, nos aldeamentos missioná-
rios, nos fortes e nas ruas dos aglomerados urbanos em formação a parir dos
séculos XVII e XVIII. Sofreram perdas territoriais signiicaivas, buscando estraté-
gias de aldeamento e refúgio como maneiras de manter-se exisindo através de
um histórico de rupturas.
68 Professor do Bacharelado em Antropologia/Arqueologia e do Programa de Pós-graduação
em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas. Pesquisador do LEPAARQ/UFPel -
milheirarafael@gmail.com.
Esse processo histórico de impactantes mudanças sociais e culturais que
teve como palco o ambiente pampeano sofreu uma forte ruptura com a chegada
das populações Guarani em torno do século XII, quando os mesmos começaram
seu processo de expansão territorial em direção à planície costeira da Laguna
dos Patos. Iniciou-se, neste momento, um processo de interação com os grupos
construtores de cerritos que habitavam tradicionalmente as áreas úmidas e ala-
gadiças às margens da Laguna e seus aluentes, desde, pelo menos, 2.400 anos
A.P.. Ainda um segundo momento de intensiicação de ocupação destes espaços
é conhecido e teve um forte impacto na coniguração social do ambiente pam-
peano e costeiro. Trata-se da chegada dos novos imigrantes europeus no século
XIX. Italianos, alemães e franceses na região da Serra dos Tapes incorporaram
uma nova visão de mundo que se releiu no uso sistemáico da Mata Atlânica.
Com um comportamento exploratório dos ambientes naturais para a prepara-
ção de áreas de planio, tornou-se práica comum o enfrentamento direto des-
ses imigrantes do velho mundo com os refugiados indígenas que habitavam as
matas da Serra.
Assassinados, aprisionados, aldeados e culturalmente ameaçados ao
longo da História, os grupos Guarani e as demais populações indígenas da re-
gião resisiram através de diferentes estratégias. Não somente a documenta-
ção histórica escrita demonstra essa resistência, mas outros elementos tam-
bém demonstram essa coninuidade. A paisagem e seu repertório toponímico,
por exemplo, manifesta a forte presença indígena na região. Laguna dos Pa-
tos e Serra dos Tapes, ambos os estratos geográicos pertencentes ao bioma
pampa do sul do Brasil, que focamos neste estudo, denotam perfeitamente a
importância terminológica incorporada à paisagem Meridional, pois, tanto os
termos Patos como Tapes sugerem, e são ponto de discussão, uma origem indí-
gena (IHERING, 2003 [1907]). A própria cidade de Pelotas, cujo nome provém de
uma embarcação feita de couro amplamente uilizada pelas populações que ha-
bitavam a margem da Laguna dos Patos tem uma grande contribuição ameríndia
em sua formação, porém, bastante negligenciada pela historiograia tradicional.
Se atualmente a presença ameríndia é limitada, em grande medida, à no-
menclatura dos acidentes naturais e em limitadas terras que acolhem pequenas
famílias (LIEBGOTT, 2010), no passado, a presença indígena foi massiva e bastan-
te complexa em termos culturais. Dados arqueológicos tem demonstrado que a
ocupação indígena no pampa gaúcho ultrapassa um período de dois mil anos.
A ocupação Guarani, mais recente, não deve ter ocorrido antes de 900 anos
atrás (NAUE et al., 1968; 1971). A documentação histórica registra a presença
dos Carijó ainda no século XVI (MONTEIRO, 1992), período de intensiicação dos

126
processos conliivos nos quais esses grupos foram envolvidos após a chegada
das populações europeias. Seguindo nesta linha, documentos históricos tam-
bém apontam para uma inserção conturbada na vida urbana pós século XVIII na
região (AL-ALAM, 2008). Atualmente, o sul do Estado do Rio Grande do Sul com-
porta alguns focos de aldeamentos Mbyá-Guarani, como a aldeia da Pacheca, no
município de Camaquã e o acampamento do Morro Farroupilha, no município
de Pelotas (LIEBGOTT, 2010).
Aricular fontes arqueológicas, etno-históricas e etnográicas é um desa-
io. Parir desta ariculação e demonstrar que as rupturas históricas da história
indígena regional resultaram de um processo conínuo extremamente dinâmi-
co, complexo, mulicultural e conliivo entre o período pré e pós-contato é o
objeivo central deste trabalho. Buscaremos apresentar o panorama histórico
desde os dados arqueológicos e históricos, que demonstra uma massiva ocupa-
ção Guarani na região até a atualidade, em que a presença indígena é bastante
limitada e circunscrita espacialmente.

O CONTEXTO MULTICULTURAL DA OCUPAÇÃO


INDÍGENA PRÉ-COLONIAL NA LAGUNA DOS PATOS

A parir dos dados arqueológicos do litoral gaúcho, mais especiicamente,


da margem da Laguna dos Patos, desde o período pré-colonial foi traçado um pa-
norama mulicultural da laguna que envolve quatro culturas arqueológicas que
ocuparam o litoral ao longo dos úlimos 6 mil anos. Esses grupos culturais foram
agentes do processo histórico-cultural, dominando regiões amplas na costa litorâ-
nea e, por vezes, ariculando-se entre si através de diferentes formas de contatos
culturais. Ao longo da história da Laguna dos Patos vemos que as diferentes po-
pulações que ocuparam este ambiente iveram disintos interesses estratégicos
na ocupação do espaço e buscaram assentar-se de diversas formas a im de con-
templar esses interesses. De forma breve, apontaremos aqui os diferentes grupos
humanos que habitaram este ambiente lagunar antes da chegada das populações
Guarani, com algumas caracterísicas de implantação na paisagem.
1) Sambaquis: grupos de pescadores-caçadores-coletores, construtores
de estruturas feitas com conchas e areia com funções disintas (residências, ce-
mitérios, demarcadores territoriais, mirantes da paisagem), que ocuparam a re-
gião de Resinga na Laguna dos Patos, tendo ligação com o mar. Sua ocupação

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 127


na região é conhecida apenas pela localização dos síios arqueológicos (RIBEIRO
e CALLIPO, 2000; RIBEIRO et al., 2004) sem que, no entanto, estudos aprofun-
dados tenham sido realizados e que nos permitam ter uma noção maior de sua
temporalidade, geograia e inserção ambiental. Da mesma forma, essa falta de
estudos impede que tenhamos conhecimento sistemáico sobre a composição
desses síios, sua funcionalidade, processos de formação e cultura material. É
provável que estes sambaquis da resinga da Laguna dos Patos tenham relação
com os demais sambaquis da costa litorânea do sul do Brasil, aingindo uma
profundidade temporal de até 5 ou 6 mil anos A. P., porém, esta cronologia é
apenas relaiva, não ultrapassando o nível hipotéico resultado da ausência de
datações absolutas.
2) Povos Jê do Sul: grupos ceramistas conhecidos historicamente como
Kaingang, de matriz cultural Macro-Jê. Ocuparam a porção norte da Laguna dos
Patos a parir de 1300 A.P até a atualidade. Em termos arqueológicos, esta cultu-
ra de grupos falantes de língua Jê foi deinida através do esilo tecno-ipológico
da cerâmica como tradição Taquara e síios arqueológicos em superície. Segun-
do Noelli (1999-2000), esses grupos foram forçados a abandonar seus territó-
rios, primeiramente pelo contato com as populações Guarani, em torno de 700
A.P. Os Guarani teriam lhes empurrado para longe dos grandes rios e recursos
hídricos de grande parte do litoral, coninando-os nas terras altas da loresta de
Araucária do sul do Brasil, no planalto Sul-brasileiro. A parir do século XVI, com
a chegada dos colonizadores europeus, intensiica-se o processo de conquista
das terras dos grupos Jê do Sul, modiicando amplamente seu panorama de ocu-
pação territorial (NOELLI, 2004b).
3) Grupos cerriteiros: grupos de pescadores-caçadores-coletores que ha-
bitaram a região pampeana e litorânea do sul do Estado do Rio Grande do Sul,
o território uruguaio e o Nordeste argenino. Na região da Laguna dos Patos são
comumente encontrados em áreas alagadiças (banhados), sendo estas constru-
ções moniculares datadas de 2.500 A.P. até 200 A.P. (SCHMITZ, 1976). Os “Cerri-
tos de índios” são entendidos, arqueologicamente, como resultado da ocupação
dos grupos Charrua e Minuano e são interpretados como áreas de moradia, ce-
mitérios, demarcadores de fronteiras sociais, monumentos de memória e iden-
idade e marcos paisagísicos. Foram construídos no ambiente pampeano pelos
grupos ameríndios, a parir de aproximadamente 5.000 A.P. até, pelo menos,
200 A.P., quando então, dadas às transformações sociais e culturais vinculadas
ao processo colonizatório, pararam de ser construídos (SCHMITZ, 1976; MAZZ e
BRACCO, 2010).

128
4) O quarto grupo cultural conhecido pela literatura arqueológica é com-
posta pelos Guarani. Provenientes da Amazônia habitaram a porção Meridional
da Laguna dos Patos a parir de aproximadamente 900 A. P., até a atualidade
(NOELLI, 1999-2000, 2004a). Ocuparam a região da laguna através de um pro-
cesso de expansão territorial conhecido como “enxameamento” (BROCHADO,
1984), que envolve crescimento demográico e, consequentemente, construção
de novas aldeias em busca de novas terras culiváveis e novos locais de caça,
pesca e coleta. Buscaram ocupar a região da Laguna em áreas mais altas com
presença de dunas e paleodunas, próximos de áreas com vegetação de Mata
Atlânica e mata de resinga. A presença dos grupos Guarani, assim como os
construtores de cerritos, foi bastante documentada na região da Laguna dos Pa-
tos e o litoral Sul do Brasil como um todo, o que nos permite construir um pa-
norama histórico dessas populações a parir da óica do conquistador europeu.
Esse processo de conquista a parir do século XVI causou um forte impacto às
populações ameríndias da costa litorânea, gerando uma grande mudança cultu-
ral através de um intenso processo de escravização, assassinatos e violência (ver
mapa de distribuição das culturas indígenas pré-coloniais na bacia hidrográica
da Laguna dos Patos em Figura 01).

OS GUARANI E OS CERRITEIROS NA COMPOSIÇÃO DE


UM AMBIENTE MULTICULTURAL

✓ OS CERRITOS

O ambiente Meridional da Laguna dos Patos, quando da chegada das po-


pulações Guarani não era desabitado. Ao longo dos terrenos alagadiços e úmi-
dos localizados nas margens da Laguna e à beira do canal São Gonçalo, até a
Lagoa Mirim, habitavam populações de grupos pescadores-caçadores-coletores
adaptados a ambientes charcosos. Os vesígios de sua cultura são bastante pe-
culiares e percepíveis a longas distâncias na paisagem. Trata-se de monículos
de terra construídos para várias inalidades. As interpretações sobre os cerritos
comumente seguem a linha ecológico-adaptacionista em que os monículos de
terra serviriam como plataformas secas para implantação das tolderias - casas
feitas com uma estrutura arquitetônica bastante simples, assemelhando-se a um
para-vento feito de palhas e esteios. As escavações arqueológicas realizadas nos

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 129


monículos de terra têm demonstrado frequentemente a ocorrência de áreas de
aividade relaivas a estruturas de combustão e produção de alimentos, assim
como, depósitos de alimentos em áreas periféricas aos monículos que podem
ser interpretados como áreas de lixeira do espaço da aldeia (MAZZ e BRACCO,
2010; BONOMO, POLITIS e GIANOTTI, 2011).
Além disso, é abundante a ocorrência de vesígios arqueobotânicos e
zooarqueológicos, desde a base até o topo destes monículos, indicando que
esses grupos indígenas maninham sua economia baseada em práicas de pesca,
caça e coleta. Entre os recursos aquáicos mais comuns ideniicados no regis-
tro arqueológico, os peixes como a miraguaia, corvina, bagre, tainha, siri azul,
etc. sugerem ter sido extremamente importantes na dieta alimentar (SCHMITZ,
1976; MAZZ e BRACCO, 2010; ULGUIM, 2010). A caça é amplamente represen-
tada pelo veado-campeiro, roedores de pequeno e médio porte como os ratos
do banhado, preá, etc. Entre os botânicos uilizados pelos cerriteiros poucos são
os estudos que permitem ter certeza do que era coletado nas matas e o que
era culivado. Dados de paleobotânica de diferentes contextos da Argenina e
Uruguai têm indicado a presença de botânicos como o milho, feijão, amendoim,
batata doce, abóbora e sementes de um narcóico chamado chamico (MAZZ e
BRACCO, 2010, p. 258), indicando uma horicultura incipiente e de pequena es-
cala (BONOMO, POLITIS e GIANOTTI, 2011). A diversidade alimentar e as fontes
de matéria-prima uilizadas como instrumentos e construção das residências
indica que os grupos que construíam os cerritos praicavam uma economia de
amplo espectro, explorando o ambiente alagadiço e úmido de disintas maneiras
(BRACCO, PUERTO e INDA, 2008).
Com datações que recuam a aproximadamente 4500-5000 A.P. os primei-
ros cerritos construídos às margens da Lagoa Mirim, no território uruguaio, suge-
rem se tratar de grupos com um alto sistema de mobilidade, que construíam os
monículos como áreas de ocupação sazonal para permiir ou facilitar a captação
dos recursos nos ambientes úmidos (MAZZ e BRACCO, 2010; MAZZ e GIANOTTI
1999). Ao princípio da construção desses monículos, os mesmos não aparenta-
vam uma preocupação na estruturação orgânica do espaço de vivência, sendo as
áreas dos monículos representaivas de acampamentos simples. Segundo Mazz
e Bracco (2010) e Bonomo, Poliis e Gianoi (2011), ao longo da história de ocu-
pação e construção desses monículos de terra, os grupos construtores de cer-
ritos foram adaptando-se plenamente às condições dos ambientes charcosos,
passando a defender os seus territórios de incursões de populações de outras
regiões, bem como, disputando seus territórios de domínio internamente. Em
torno de 4 a 5 mil anos, no período formaivo americano, as populações huma-

130
nas apresentaram uma série de mudanças nos aspectos sociais e econômicos. O
aumento da temperatura mundial propiciou uma clara melhora nas condições
de vida, expressado em diminuição da mortalidade infanil e um aumento de-
mográico. A melhora na produividade permiiu novos complexos econômicos,
a ocupação de novos assentamentos e o surgimento de novas formas de organi-
zação social e políica (os cacicados).
A construção de cerritos sugere esse aumento demográico e ilustra cla-
ramente um processo de constante fragmentação da paisagem com estratégia
de apropriação da natureza, de controle social e gestão dos recursos. Como indi-
cadores arqueológicos desses processos de mudanças sociais em ampla escala,
observa-se que os cerritos passam a ter dimensões proeminentes na paisagem,
alcançando 5 e 6 metros de altura. Há casos em que os monículos foram es-
tendidos ou interligados por plataformas de terra, como uma espécie de terra-
plenagem (MAZZ e GIANOTTI 1999). Trata-se, portanto, da complexiicação dos
espaços das aldeias, em que os monículos deixaram de ser apenas locais de
moradia sazonal, para se tornarem espaços sistemaicamente cuidados e mane-
jados ao longo de sua História. Os cerritos adquiriram um status simbólico cada
vez mais importante pela sociedade, pois, além de servirem de área de moradia
e descarte de lixo, se tornaram locais de sepultamento dos mortos. Há muitos
casos, inclusive, de monículos que sugerem terem sido construídos exclusiva-
mente para a deposição ritual dos mortos.
No ambiente da Laguna dos Patos há mais de uma centena de cerritos
ideniicados (PERNIGOTTI e ALMEIDA, 1961. NAUE et al., 1968; 1971, SCHMITZ,
1976). Estudos realizados ainda nos anos 1970 indicaram que a ocupação dos
cerritos na Laguna dos Patos estaria relacionada à exploração sistemáica dos
recursos lacustres, como peixes (miraguaia, corvina, bagre) e crustáceos como o
siri-azul. Os cerritos seriam áreas de ocupação sazonal que serviam como acam-
pamentos para pesca e exploração do ambiente lacustre nas estações quentes
do ano (primavera e verão). A tecnologia cerâmica estudada corroboraria tal
interpretação. Cerâmicas com formas simples foram tratadas em seus aspectos
funcionais como “cerâmica uilitária” (SCHMITZ, 1976), servindo de suporte para
a manipulação dos pescados - a base da dieta alimentar desses indígenas -. A
“cerâmica uilitária” seria usada de forma expediente, sem haver, portanto, a
necessidade de aprimoramentos tecnológicos e/ou estéicos nas cerâmicas. Os
instrumentos líicos também seguiriam a mesma lógica funcionalista, em que,
a simplicidade tecnológica corroboraria a interpretação de um padrão de uso
expediente, provavelmente implicando na manipulação incipiente de botânicos,
dos pescados e da caça e para confecção de outros instrumentos líicos.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 131


Chama atenção no contexto de ocupação dos cerritos da Laguna dos Pa-
tos a presença de cerâmicas com decorações associadas geralmente às vasilhas
cerâmicas dos grupos Guarani. Decorações corrugadas, unguladas e até mesmo
com pinturas, sugerem que houve algum ipo de contato cultural entre os cons-
trutores de cerritos e as populações Guarani que habitaram a serra do Sudeste
e margens da Laguna dos Patos. Nesse caso, a porção Meridional da Laguna dos
Patos seria uma área de fronteiras culturais entre ambos os grupos indígenas,
fronteira esta que se estabeleceu dentro de um contexto de ocupação humana
referente a uma História milenar de longa duração (ver quadro cronológico para
ocupação pré-colonial da Laguna dos Patos em Figura 02).
Cerritos semelhantes aos estudados e publicados por Schmitz (1976) têm
sido ideniicados na região do município de Pelotas e Capão do Leão (veja mapa
com a localização dos síios arqueológicos ideniicados no município de Pelotas
em Figura 03). Até o momento já foram mapeados 24 cerritos, sendo um deles
localizado na Ilha da Feitoria, cujas datações primeiramente publicadas por Lou-
reiro (2008), apontam que se trate de um síio construído em torno de 1000 anos
A.P. usado como acampamento para pesca lacustre, mas com indícios de uso
como moradia permanente (ver também ULGUIM, 2010; GARCIA, 2010; BELLETTI,
2010). Outros cinco cerritos localizam-se na margem da Lagoa do Fragata, onde foi
ideniicado há aproximadamente 30 anos atrás uma coleção de materiais líicos
composta por dois zoólitos, representando um tubarão branco e uma ave colum-
biforme, além de duas bolas de boleadeira mamilares; materiais esses que são
comumente associados à cultura sambaquieira e dos grupos construtores de cer-
ritos, respecivamente (ver estudos sobre estas coleções em RIBEIRO et al., 2002;
MILHEIRA, 2005; GONZALEZ e MILHEIRA, 2004). Por im, no banhado do Valverde,
na beira do canal São Gonçalo e da Laguna dos Patos, foi ideniicado um complexo
de 18 cerritos, os quais se encontram ameaçados por empreendimentos imobi-
liários. Até o momento foi escavado um cerrito desse complexo do Valverde, o
qual apontou ser um monículo possivelmente uilizado para várias funções como
acampamento sazonal para pesca, moradia permanente e área de descarte, ques-
tões estas que serão melhor estudadas futuramente.

✓ OS GUARANI

No período que antecede à ocupação europeia na região pampeana, além


da ocupação dos grupos construtores de cerritos, são conhecidas também deze-
nas de localidades que se referem às anigas aldeias e acampamentos dos gru-

132
pos Guarani. Na região da Serra dos Tapes, pesquisas arqueológicas vêm sendo
realizadas desde os anos 1970, inicialmente pelos pesquisadores do PRONAPA
com o mapeamento de síios arqueológicos e o estudo das coleções cerâmicas
dos mesmos, a im de propor um panorama de caracterização histórico-cultural
das ocupações indígenas pré-coloniais. Poucos estudos foram feitos com relação
aos síios arqueológicos atribuídos às ocupações Guarani, construindo-se ape-
nas uma breve caracterização desse processo histórico, fator esse que coloca as
pesquisas atuais em um patamar ainda bastante especulaivo e hipotéico. Ou
seja, pouco se conhece sobre a cronologia de ocupação das aldeias e a compo-
sição do território, muito pouco foi explorado no senido de entender a aricu-
lação entre as aldeias, os acampamentos, as áreas de captação de recursos e a
relação dos Guarani com outras culturas.
Devem ser destacados alguns trabalhos que nos trazem dados fundamen-
tais para o entendimento da história de ocupação regional Guarani. A pesquisa
de Carle (2002) apresenta dados sobre uma aldeia Guarani localizada no Povo
Novo, município de Rio Grande. Esse trabalho objeivou analisar o síio numa
perspeciva sistêmica em que os artefatos e estruturas ideniicadas foram pensa-
dos principalmente do ponto de vista funcional. Informações densas foram gera-
das a parir dessas pesquisas como a discussão das formas de habitações e espa-
ços funcionais da aldeia. Mais recentemente, Pestana (2007) trouxe à luz alguns
dados sobre aldeias pré-coloniais Guarani localizadas na resinga da Laguna dos
Patos, RS. Além disso, o autor apresentou também um estudo tecnoipológico da
indústria cerâmica dos síios, propondo também a possibilidade de contatos cul-
turais entre os Guarani e as demais tradições arqueológicas de grupos ceramistas
(tradição Taquara e Vieira).
No litoral norte da Laguna dos Patos as pesquisas coordenadas pelo Prof.
Dr. Pedro Ignácio Schmitz, nos anos 1990, trouxeram discussões sobre a cronolo-
gia de ocupação regional, funcionalidade dos síios arqueológicos Guarani, dieta
alimentar, tecnoipologia, relações interculturais e estratégias de ocupação sis-
têmica do ambiente, assim como foi dada uma grande contribuição para a dis-
cussão de padrão de assentamento dos grupos Guarani no litoral (ROGGE, 1997;
1999; 2004; 2006. SCHMITZ, 2006). A descrição de síios acampamentos tempo-
rários Guarani compostos por conchas vem problemaizar as formas de assen-
tamento e o padrão de exploração lacustre desses grupos até então bastante
desconhecido pela Arqueologia. Esses estudos permiiram avançar também na
discussão de ocupação sistêmica e mobilidade regional Guarani, na medida em
que foi proposta, por essa pesquisa, a ocorrência de síios que atendem a neces-
sidades especíicas do sistema de assentamento, apresentando-se indicadores

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 133


de baixa mobilidade e um quadro cronológico de ocupação. Considerado uma
“instalação mais permanente”, o síio RS-LC-80 foi datado através da técnica de
termoluminescência em 563 ± 45 anos A.P., enquanto que a datação radiocar-
bônica do mesmo síio deu uma data mais recente: 280 ± 50 anos A.P. – (Beta
Laboratory Inc.n nº 202366) (SCHMITZ, 2006).
Na região do município de Pelotas foram mapeados até o momento 22
sítios arqueológicos Guarani no litoral e na Serra que remontam às anigas aldeias
e acampamentos Guarani localizados na margem da Laguna dos Patos e na Serra
do Sudeste. Nas praias do município de Pelotas foram ideniicados 07 síios, en-
tre os quais foram escavados os síios PS-02-Camping, PT-01-Sotéia, PT-03-lagoi-
nha e PS-03-Totó (para dados detalhados ver MILHEIRA 2008). Os síios Sotéia e
Lagoinha se localizam na Ilha da Feitoria e foram entendidos como acampamen-
tos desinados à coleta de recursos lacustres. Entre os acampamentos estuda-
dos, destaca-se o síio Camping que se extende numa área de aproximadamente
50m de raio. Neste síio arqueológico foi ideniicada uma estrutura de depo-
sição de refugos composta por uma lente de sedimento cinza escuro em for-
mato côncavo de aproximadamente 20 cm de espessura, associada a materiais
cerâmicos e arqueofaunísicos. Além disso, escavou-se também uma segunda
estrutura em que se pôde evidenciar um pote ariculado e semi-inteiro (ñaetá
com decoração escovada), em que, no seu interior se encontravam dezenas de
fragmentos de cerâmica de outras vasilhas, tratando-se, neste caso, de uma es-
trutura de combustão (Figura 04). Esse contexto foi datado através da técnica de
AMS em 380 ± 50 AP, sendo a data calibrada colocada numa faixa temporal mais
ampla, situada entre os anos 1450 a 1660 da Era Cristã ou 500 a 290 A.P. (Beta
Laboratory Inc., n° 234205).
O síio Totó, por sua vez, com uma área de aproximadamente 200 m de
raio foi interpretado como uma aldeia. Através de uma bateria de sondagens e
escavações de trincheiras e áreas amplas foi ideniicada uma urna funerária na
barranca do arroio Totó e uma estrutura de terra preta com formato elipsoidal.
Esta estrutura foi escavada primeiramente através de sondagens e trincheiras
(MILHEIRA, 2008) e, em um segundo momento, aingindo-se uma área ampla de
72 m² com plotagem individual de peças, cujo método permiiu obter-se a tridi-
mensionalidade dos vesígios arqueológicos da área do síio (ALVES, 2012). Essa
estrutura de terra preta apresentou duas áreas que chamam atenção. A primeira
delas é um pacote de sedimento cinza escuro à beira do arroio Totó associado a
milhares de peças arqueológicas como fragmentos de cerâmica, artefatos líicos,
arqueofaunísicos e arqueobotânicos. Essa estrutura foi interpretada como uma
área de lixeira, tendo sido datada pelo método radiocarbônico em 530 ± 40 AP

134
(protocolo Beta 237665), cuja data quando calibrada nos dá uma idade situada
numa faixa temporal mais ampla, entre os anos 1390 a 1440 AD ou 560 a 510 AP
(MILHEIRA, 2008; MILHEIRA e ALVES, 2009). A segunda área que chama a aten-
ção situa-se ao lado da área de lixeira e compõe o piso da casa Guarani, onde
foram ideniicadas estruturas de combustão como fogos e fogões para cozinhar
e aquecer o espaço residencial (Figura 05). Esse espaço residencial também teve
datação radiocarbônica entre os anos 1330 a 1340 A.D. ou 620 a 510 A.P. de 510
± 40 A.P. (protocolo Beta 282128) anos, sendo, possivelmente, contemporânea
à área de lixeira (ALVES, 2012).
Se, de um lado há síios arqueológicos intepretados como aldeias e acam-
pamentos localizados na margem da Laguna dos Patos, por outro lado, na região
da Serra do Sudeste foi ideniicada uma série de anigas aldeias Guarani. Em
meia encosta e topo de morro localizados na bacia hidrográica do arroio Pelo-
tas, os síios arqueológicos apresentam uma ampla dispersão de fragmentos de
cerâmica associados a manchas de terra preta que remetem a pisos de habita-
ção do espaço das aldeias. O síio PSGPA-04-Ribes destaca-se nesse contexto,
extendendo-se por uma área de meia encosta alcançando aproximadamente
um raio de 250m, onde se apresentam três manchas de terra preta comumente
deinidas pela literatura especializada como pisos de habitação (NOELLI, 1993).
O síio Ribes apresentou-se com um baixo potencial de pesquisa na área
das habitações anigas, uma vez que o histórico uso da terra para planio, a
exemplo dos demais síios arqueológicos da mesma região, causou uma gran-
de impactação no solo arqueológico, desconigurando o contexto de deposição.
Porém, em meio a um pequeno aloramento graníico dentro do espaço do que
seria a aldeia chamou a atenção pelo achado de uma vasilha cerâmica nos anos
1980, a qual, pelas caracterísicas narradas pelo proprietário da terra sugere se
tratar de uma urna funerária. Ao averiguar o local do achado percebeu-se que
se tratava de uma fossa do tamanho de uma urna funerária e, para nossa sur-
presa, no peril da fossa foi possível observar uma segunda vasilha. Sendo assim,
as pesquisas no síio arqueológico iveram seu foco deslocado para a área das
urnas funerárias, e, buscando-se um registro adequado do espaço arqueológico
realizou-se a escavação de uma área de 15m². A urna funerária escavada é uma
vasilha do ipo cambuchí guaçú, cuja borda foi fraturada por ações naturais. Esta-
va depositada em senido verical, com um pote do ipo cambuchí guaçú embor-
cado como tampa, que foi reirado inteiro. Fazendo parte do contexto funerário
ainda havia uma vasilha do ipo ñaetá acima da urna, provavelmente depositado
ali como oferenda no ritual de sepultamento (Figura 06). Em seu interior não foi
ideniicado qualquer ipo de vesígio de esqueleto humano nem mesmo carvão
que pudesse gerar uma amostra para datação, logo, a única possibilidade de data-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 135


ção foi através da técnica de Termoluminescência, apontando a idade de 510 ± 70
A.P. ou o ano de 1.440 da Era Cristã (protocolo 1968 do LVD-FATEC).
Essa datação chama atenção, não somente por permiir que tenhamos
um horizonte cronológico para as ocupações Guarani na Serra do Sudeste, mas,
sobretudo, porque sugere que as ocupações nesta serra sejam contemporâneas
às ocupações no litoral da Laguna dos Patos. Neste senido, pode-se pensar que
haja algum ipo de interação entre as aldeias do litoral e do interior da Serra,
fator esse que é corroborado também pela presença de artefatos líicos idenii-
cados na aldeia do Totó e nos acampamentos do Camping, da Sotéia e Lagoinha.
Nesses síios arqueológicos litorâneos, sobretudo no síio Totó, foram ideniica-
dos artefatos líicos confeccionados em matérias-primas variadas como o quartzo,
granito, calcedônia, basalto, arenito friável e siliciicado, os quais são inexisten-
tes na região litorânea do município de Pelotas. Entre estas matérias-primas as
mais próximas que poderiam ser aprivisionadas pelos Guarani do litoral seriam
o quartzo e o granito que ocorrem na Serra do Sudeste, justamente onde se
localizam as aldeias anigas estudadas. Esses materiais poderiam ser captados
com uma estratégia simples, em que os indivíduos poderiam ter acesso relaiva-
mente fácil, visto que as fontes de matéria-prima distam em torno de 30 km do
litoral. Por outro lado, uma estratégia mais soisicada deveria ser estruturada
para o aprovisionamento de calcedônias, arenitos e basaltos para a confecção
de instrumentos líicos. Com base na carta geológica do Estado do Rio Grande
do Sul é possível deinir que estas matérias-primas são exóicas ao ambiente la-
gunar, pois, a calcedônia poderia ser adquirida a, pelo menos, 200 km do litoral,
o arenito friável e siliciicado a 130 km e os basaltos a 120 km.69
Dessa maneira, se levarmos em consideração que os síios arqueológicos
litorâneos e serranos são contemporâneos e que as rochas sugerem que havia
estratégias de captação que ariculam ambos os ambientes, podemos pensar
que havia interação entre estes disintos estratos geográicos pelas populações
Guarani. Esta interação sugere que havia um sistema de assentamento Guarani
ariculado, de um lado, entre as aldeias serranas, provavelmente ocupadas tra-
dicionalmente pelas cheias mais reconhecidas e, de outro lado, pelas aldeias

69 Esta interpretação desconsidera, num primeiro momento, a possibilidadede que tais ipos de
rochas sejam ideniicáveis em cascalheiras de grandes rios com energia suiciente para trans-
postar estas matérias-primas em forma de seixos do interior do Rio Grande do Sul até o litoral,
ou mesmo, que ocorram aloramentos de tais matérias-primas mais proximas do litoral do
que estamos propondo. Entretanto, estamos lidando com uma lacuna em termos de dados
geológicos robustos que permitam inferir o contrário, ou seja, a ausência de uma descrição
sistemáica dos aloramentos litológicos litorâneos e das cascalheiras nos grandes rios que
deságuam na Laguna dos Patos impede que tenhamos uma noção mais clara das práicas de
aprovisionamento de rochas.

136
do litoral que podem ser entendidas como indicadoras do processo de anexação
territorial em operação pelos Guarani em torno do século XVI.
Este modelo de interpretação adéqua-se ao modo de organização territo-
rial dos grupos Guarani, tema este bastante discuido pela literatura especializa-
da. Segundo autores como Noelli (1993), Assis (1996) e Soares (1997), a organi-
zação territorial Guarani consitui-se a parir de diferentes dimensões espaciais,
desde a casa ou oka, onde reside a família nuclear; a aldeia ou amundá, onde
reside a família extensa ou teýy; o conjunto de aldeias inseridas em um territó-
rio ou teko’á e o conjunto de teko’á que forma um território amplo, como uma
nação, guará. Por deinição, o teko’á se consitui como o conjunto de aldeias
(amundá) e acampamentos (tapýi)70, interligados por caminhos (piabirú), com-
pondo um território de domínio e inluência simbólica, limitado por acidentes
geográicos como rios, morros, arroios etc.. Esses limites, além de serem dei-
nidos pelos aspectos simbólicos são também estabelecidos através das alianças
políicas que determinam graus de presígio e status social nas relações entre
aldeias. É a dimensão espacial que permite a plenitude da vida Guarani em seus
aspectos econômicos e simbólicos. Ou seja, é na amplitude de vivência e consi-
tuição do teko’á que os indivíduos e os coleivos Guarani podem desenvolver seu
modo de ser, adquirir, aprender e reproduzir o ñande rekó (o ethos). Do ponto
de vista econômico o teko’á pode aingir, segundo Noelli (1993), um raio de 50
km, abrangendo neste espaço vários ipos de ambientes, cujas caracterísicas
ísicas e os pontos estratégicos para exploração de seus recursos seriam mapea-
dos frequentemente pelos grupos, consituindo as partes do território.
Trazendo os dados apresentados para a discussão sistêmica do conjunto
de síios Guarani da margem área de estudo, podemos inferir que os mesmos se-
jam elementos de um teko’á que se aricula entre a região litorânea e serrana. O
teko’á do arroio Pelotas, como denominamos o território de domínio estudado,
abrangeria então uma área de pelo menos 35 km de raio, havendo duas porções:
a) A serra, onde se encontram aldeias em áreas de topo de morro e meia
encosta. Nesta região, os Guarani poderiam desenvolver com plenitude suas
formas de culivo, diversiicando sua dieta alimentar, complementando, possi-
velmente, com recursos lacustres provenientes do litoral, através de uma esfera
de interação de bens e alimentos, operada pelas relações de mutualidade entre
parentes e cheias que integram o território de domínio. Na serra, devido ao

70 Denominados pelos Guarani como tapýi (NOVAES, 1983; ASSIS, 1996), estes acampamentos se
localizavam geralmente às margens dos rios, córregos e lagoas e eram ocupados sazonalmen-
te. Eram bastante simples em suas estruturas arquitetônicas e eram usados como estruturas
auxiliares para o controle dos recursos na paisagem, para coleta de moluscos e manipulação
de alimentos, recursos estes uilizados para o abastecimento da aldeia.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 137


ipo de ambiente em que os Guarani estariam mais bem adaptados, habitariam
as cheias mais anigas e tradicionais, com maior poder de inluência e decisão
sobre as disintas esferas do teko’á. Seria a região onde o território de domínio
estaria mais bem consolidado e estruturado por uma ocupação mais aniga; de
onde teria parido, inclusive, o processo de expansão em direção ao litoral.
b) No litoral, por sua vez, se encontram as aldeias como a do Totó e os
acampamentos à margem da laguna. No litoral os Guarani poderiam ter acesso
a recursos lacustres, sobretudo os disintos ipos de frutos do mar que comple-
mentariam a dieta alimentar dos aldeamentos, contribuindo para o equilíbrio
econômico do sistema de ocupação Guarani. Como se trata de uma área possi-
velmente ocupada para complementar um processo de expansão territorial de
origem serrana, a porção litorânea do teko’á do arroio Pelotas pode ser pensa-
da também como uma área periférica do território de domínio regional. Neste
espaço “marginal” as cheias de menor presígio teriam assumido uma postura
de negociação não necessariamente belicosa frente aos grupos construtores
de cerritos, habitantes das terras baixas litorâneas há mais de dois mil anos.
A interação políica com os cerriteiros pode ter sido fundamental para que os
grupos Guarani aprendessem práicas de manejo lorestal nos terrenos com me-
nor produividade agrícola do litoral, assim como adquirissem conhecimentos
importantes sobre os pontos estratégicos para oimizar a captação dos recursos
lacustres, conhecimento este que requer um amplo reconhecimento do poten-
cial paisagísico e ambiental da região de ocupação.
Esse processo de expansão do território de domínio Guarani iniciado em
torno do século XII e que se intensiica ao redor dos séculos XV e XVI, parindo
do interior serrano em direção ao litoral, teria sido “barrado” pela chegada das
populações do velho mundo, ainda no século XVI e, mais fortemente a parir do
século XVII. As práicas belicosas e violentas, historicamente conhecidas, que fo-
ram desenvolvidas pelos europeus para a captura de escravos e para o domínio
territorial geraram um ambiente de terror e genocídio na região, não fugindo à
regra geral conhecida em todo litoral brasileiro.

A HISTÓRIA E O PRESENTE DOS GUARANI NA REGIÃO


DE PELOTAS

Várias são as denominações que constam nos registros históricos sobre


as populações indígenas que habitaram a região do atual município de Pelotas.

138
Evidentemente estas denominações devem ser problemaizadas, pois apresen-
tam classiicações regionais forjadas pelos europeus, seguindo uma lógica euro-
cêntrica e generalista para com as parcialidades indígenas. Aliás, grande parte
dos relatos e narraivas realizadas pelos europeus, a parir do século XVI foram
realizados por militares e clérigos, ambas as classes interessadas na conquis-
ta territorial e religiosa, respecivamente. Neste senido, as classiicações das
culturas humanas do “Sertão do Patos” (MONTEIRO, 1992), como fora descrita
inicialmente esta região, foram realizadas a im de tecer um panorama genérico
dos “genios”, em que constassem suas fraquezas, habilidades, modo de vida e
organização social, religiosidade e crenças, dispersão territorial, tecnologias, es-
tratégias e capacidade de guerrear. Neste senido, as denominações comumen-
te associadas às populações de grupos falantes da língua Tupi-Guarani: Tapes,
Tapuias, Patos, Carijós e Arachãnes, etc., devem ser entendidas como genera-
lizações culturais estereoipadas que atenderam às necessidades dos conquis-
tadores em operar uma lógica belicosa e moralista. Não são denominações que
permitem, de um ponto de vista antropológico, compreender plenamente as
parcialidades culturais e étnicas dos coleivos humanos, trazendo apenas um es-
pectro dos povos ameríndios que habitaram a Serra do Sudeste e as margens da
Laguna dos Patos. Além da generalização das parcialidades, sistemaicamente a
documentação histórica do século XVI em diante traz o termo “índio”, categoria
esta que vai sendo homogeneizada paulainamente nos censos regionais e que
diiculta, ao oício do historiador, de compreender o papel e a contribuição de
cada etnia em paricular no processo histórico regional. Ou seja, ica cada vez
mais diícil saber se os documentos falam dos Guarani ou dos Charrua-Minuano,
uma vez que o termo “índio” passa a ser comumente uilizado. Isso implica em
airmar que a História Guarani, por excelência, confunde-se ou integra-se a uma
História indígena regional.
A paisagem do município de Pelotas é bastante representaiva da presen-
ça indígena. Termos como arroio Pelotas, Serra dos Tapes, e Laguna dos Patos,
denotam a nomeação das localidades e acidentes geográicos, apontando a im-
portância dos grupos indígenas como ocupantes da região. O próprio termo Pa-
tos que dá nome à laguna, possivelmente resulta da ocupação dos índios Patos.
Sobre isto Ihering (2003 [1907]), em seu clássico texto onde aricula fontes his-
tóricas, como o arigo de Félix F. Outes: “El puerto de los Patos”, em que repro-
duz vários mapas anigos do Brasil e Paraguai com indicações sobre as diversas
parcialidades indígenas, aponta a relação entre o nome da Lagoa e a “tribo dos
Patos”, grupos de origem Guarani que, assim como os Carijó, teriam habitado o
litoral Sul-brasileiro. Esse estudo foi apresentado pelo autor de maneira incon-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 139


clusiva, pois as fontes são lacunares a respeito da existência de grupos indígenas
chamados Patos. Neste senido, o termo comumente encontrado na cartograia
aniga: “sertão dos Patos”, poderia relacionar-se também às aves palmípedes, o
Pato Real (Cairina moschata).
O arroio Pelotas, um dos principais corpos hídricos que banha o municí-
pio de Pelotas e que empresta seu nome à cidade, também pode ter seu nome
relacionado à presença dos grupos indígenas. As “pelotas” eram embarcações
feitas de couro usadas como transporte de carga. Embora não seja descartada a
hipótese de que estas embarcações tenham origem marroquina e tenham sido
trazidas para a região pelos espanhóis, as “pelotas” foram amplamente uili-
zadas pelas populações indígenas que habitaram a região Lagunar, sendo seu
uso descrito no período escravista das charqueadas pelo francês Jean Bapiste
Debret, dado este corroborado por Osório (1997, p. 54), em seu livro a “Cidade
de Pelotas” ao comentar que: “[...] as “pelotas” foram primiivamente usadas
pelos indígenas rio-grandenses. A “pelota”, conforme Saint Hilaire (2002 [1887],
p. 269), é um ipo de piroga:

“[...] é simplesmente um couro cru ligado nas quatro pontas e que,


desse modo, forma um barco que se pode confundir pela aparência
com as sacolas de papel onde se põe biscoitos. Enche-se a pelota
de objetos, ata-se nela uma corda ou ira de couro. Um homem, a
nado, prende a corda entre os dentes e faz passar assim a piroga”
(Figura 07).

Os relatos etnográicos de cronistas, viajantes e pesquisadores apresen-


tam um panorama de ocupação dos índios Guarani na região da Laguna dos Pa-
tos já a parir do século XVI em áreas bastante amplas. De acordo com Monteiro
(1992), nesse período, a região litorânea entre a Laguna dos Patos e Cananéia
era ocupada pelos Carijós. Regionalmente os Guaranis eram denominados Tapes
(PÔRTO, 1955 apud SUSNIK, 1979-1980), enquanto que nas margens da Laguna
dos Patos eram também denominados Arachãs ou Arachanes, os quais foram
descritos como ocupantes das ilhas lagunares, como a Ilha dos Marinheiros e
seu arquipélago, Ilha da Torotama e Leonídio (IHERING, 1912; METRAUX, 1948).
Segundo Guierrez (2001, p. 32), os Tapes foram descritos em função
das guerras travadas em defesa de suas terras ainda no século XVIII, quando se
instalavam no litoral de Rio Grande as primeiras ocupações coordenadas pelo
brigadeiro José da Silva Pais, que pretendia fundar o presídio Jesus-Maria-José,
expulsar os espanhóis de Montevidéu e terminar com o bloqueio à Colônia do
Sacramento. Só foi possível a fundação de Rio Grande em 1737 quando Silva Pais

140
auxiliou na formação de duas defesas à margem do canal São Gonçalo: uma no
passo da Mangueira e outra no arroio. Na manutenção dessas defesas Cristóvão
Pereira envolveu-se em lutas contra os Tapes, conforme as crônicas de Simão
Pereira de Sá:
“Os tapes mais escandalizados que temerosos entraram por vingança a
afugentar e debandar o gado vacum, que cobria a ferilíssima campanha [...]
e com tanta fortuna que cabendo mais de cem tapes a cada português, [...].
Abalizaram meia légua de terra a seu costume bárbaro para a escaramuça, e
com todas as vantagens, brandindo as lanças, entraram na peleja, que não foi
refutada dos nossos, por não perderem fugindo, o que havia ganho pelejando.
Depois de durar largas horas a batalha, perderam terreno e, feridos das nossa
espadas, conheceram os perigos e se reiraram com tanto medo e confusão
que nos deixaram com os mortos um importante despojo de cavalos, gado
e bestas muares, o que tudo foi com muitos prisioneiros ao alojamento do
Coronel, o qual honrou o valor com boas palavras e esimou a vitória por nos
custar o excesso, e desigualdade, só sete feridos e um morto.” (PEREIRA DE SÁ,
1969, p. 101 apud GUTIERREZ, 2001).
Através das incursões, os Tapes eram capturados e escravizados e, Segun-
do GUTIERREZ (2001), trabalhavam nas diversas construções que se executavam
no canal de Rio Grande e entorno. Foram usados na construção de dois núcleos
populacionais disintos erguidos entre 1738 e 1749: o do Porto (atual cidade de
Rio Grande), onde se situava o forte Jesus-Maria-José e algumas moradias; e o
do Estreito.
Em 1758, foi doado o rincão de Pelotas a Tomaz Luiz Osório, por seus feitos
na guerra Guaraníica, onde foram implantadas sete charqueadas, seis na margem
esquerda do arroio Pelotas e uma na Laguna dos Patos. O rincão possuía os seguin-
tes limites naturais: Laguna dos Patos; sangradouro da Mirim, atualmente chama-
do de canal São Gonçalo; arroios Pelotas e canal Correntes. Porém, a implantação
do núcleo saladeril só se deu a parir de 1780, após a expulsão dos espanhóis
(1763-1776) e do tratado de Sto. Ildefonso (1777) (GUTIERREZ, 2001, p. 41). Em
1780 a região de Pelotas é cotada para receber a Real Fazenda, devido às suas qua-
lidades em termos de recursos naturais e pela presença de índios que poderiam
ser usados como mão-de-obra: Sobre esta região o secretário da junta da Fazenda
do Rio Grande do Sul de 1775, Sebasião Francisco Betamio fez 29 observações:

“[...] entrando-se pelo sangradouro da Mirim, três ou quatro léguas


[19,8km a 26,4km], há muitas e admiráveis rochas de boa pedra,
havendo portos de mar que dão lugar à entrada de embarcações
grandes, e chegam quase ao pé dos cerros; que ali se transporte

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 141


a pedra para a vila, [...] uma companhia de cento e cinquenta ou
duzentos índios trabalhadores, e que estes se empreguem de baixo
da direção de pessoa inteligente em quebrar e arrancar pedras de
toda a qualidade [...]. 9ª - No mesmo síio em que se corta pedra,
há barro para telha e ijolo, e como na aldeia há índios que sa-
bem fazer estes dois materiais, [...] 12ª - Nas mesmas margens do
sangradouro da Mirim em pequena distância, consta-me haverem
excelentes madeiras, em cujo corte se podem empregar alguns ín-
dios, [...].” (BETTAMIO, 1980, p. 156 apud GUTIERREZ, 2001, p. 51).

Nota-se, com este breve histórico dos séculos XVIII e XIX, que envolvem
a formação de Pelotas e seu desenvolvimento urbano que os grupos indígenas
passaram por uma série de rupturas culturais, sendo forçados a abandonarem
seus locais de moradia tradicional, que foram mapeados arqueologicamente,
para servirem de mão-de-obra nas estâncias de gado e construção dos povoa-
dos formados a parir do século XVIII. Além do uso dos indígenas “locais”, era
comum que indígenas aprisionados em outras regiões do Brasil fossem trazidos
para incorporarem a mão-de-obra local e a defesa das povoações (NAUE et al.,
1971; MONTEIRO, 1992; NOELLI, 1999-2000).
Juntamente à perda territorial por parte dos grupos indígenas houve
uma queda demográica brutal na região registrada no início do século XIX. Um
censo que demonstra o baixo número de indígenas na região foi apresentado
por Saint Hilaire, quando de sua visita à Capitania do Rio Grande do Sul (atual
município de Rio Grande). Informado pelo cura da paróquia de Rio Grande, esta
capitania teria em 1819: “5.125 indivíduos, a saber: 1.195 brancos, 1.388 bran-
cas, 17 índios, 26 índias, 61 mulatos livres, 98 mulatas livres, 32 negras livres, 38
negros livres, 1.391 negros e mulatos escravos, 879 negras e mulatas escravas”
(SAINT-HILAIRE, 2002 [1887], p. 77). Esses números podem ter sido limitados à
contagem de pessoas na área limítrofe da zona urbana em formação, sendo as
comunidades indígenas interioranas descartadas do censo.
Em função das datações arqueológicas em cerritos localizados no municí-
pio de Rio Grande apresentarem ocupações em torno de 200 A.P. e pela grande
quanidade de vesígios arqueológicos regionais, esperaríamos uma quanida-
de maior de indígenas recenseados. Essa projeção, logo, demonstra que há um
descompasso bastante claro entre os dados arqueológicos e os dados históricos.
Escravizados, aprisionados, fugiivos e uilizados como mão-de-obra,
os indígenas que sofreram a esse processo de violência étnica passaram a en-
grossar a massa de pobreza da cidade de Pelotas, somando-se a homens livres,
negros fugidos e alforriados. É interessante notar que já no século XIX há um

142
aumento considerável de invesimentos da administração pública na cidade de
Pelotas, quando esta ainda era a Vila São Francisco de Paula, para a manutenção
da ordem social e urbana e controle dos “criminosos”, categoria esta em que
muitos indígenas foram enquadrados. Um oício da Câmara relata ao Presidente
da Província que uma força de 457 soldados na aiva e 95 na reserva formavam
a Guarda Municipal (AL-ALAM, 2008, p. 65). Nota-se com isso um aumento no
interesse em controlar os “criminosos”, que seriam, de acordo com a Câmara
“homens da fronteira, pessoas desconhecidas, e escravos” (AL-ALAM, 2008, p.
66). O invesimento só aumenta com o tempo. Em 1840-50 já se fala de um cor-
po Policial e não mais uma Guarda Municipal que se soma à Santa Casa de Mise-
ricórdia de Pelotas como aparelhos de manutenção do poder e da ordem social,
pois: “um dos maiores objeivos destas insituições seria o de irar de circulação
das ruas os indesejados, os desordeiros, os pobres” (AL-ALAM, 2008, p. 85).
A Casa de Correção Pelotense localizava-se à beira do arroio Santa Barbara,
na zona da “Cerquinha”, assim como a forca que fora consituída na aniga Praça
das Carretas (atual Praça Vinte de Setembro ou, como ela é conhecida popular-
mente: Praça dos Enforcados), estabelecida ali em 1850, próximo de onde foram
registradas aldeias indígenas ainda no século XIX. Esta região recebeu invesi-
mentos municipais, conforme CASTRO (1944):

“[...] num ato de reconhecimento e de justiça, a mandar levan-


tar, alto aterro, em torno da área que ocupavam, a fim de que
quando as águas do arroio ficassem cheias e transbordantes,
não fosse prejudicar as habitações dos nativos [...] como esses
acampamentos ficassem por de traz das “Cercas”, ficou por isso
denominado “Cerquinhas”.

Com a implantação da Casa de Correção e da forca nesta localidade e


com o estabelecimento do aparato de controle social em seu entorno, a admi-
nistração pública buscou ordenar e controlar essa zona marginal da cidade. Esta
interpretação leva a crer que as comunidades indígenas remanescentes localiza-
das naquela área estavam sujeitas ao mesmo ipo de preconceito social, sendo
sua existência focada pelos administradores como uma ameaça urbana. Porém,
não estavam de todo isoladas, pois segundo Al-Alam (2008), havia circulação
roineira de pessoas em embarcações e comerciantes, e, até mesmo, era comum
a práica das lavadeiras na margem do arroio.
Isso reforça ainda mais a ideia de integração de indígenas à malha urbana
em formação no século XIX, os quais, na mesma lógica de servirem como mão-
-de-obra, passaram a incorporar postos de trabalho “legalizado”, como demons-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 143


tra novamente AL-ALAM (2008, p. 89), ao comentar que 11 índios policiais fo-
ram internados na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas entre 1849-1855. Esta
práica de incorporar indivíduos indígenas no corpo policial da cidade também
foi relatada por Euclides Franco de Castro, em uma crônica sobre a história de
Pelotas publicada no jornal Princesa do Sul (1944, p. 19):

“Ezequiel Franco possuía as suas custas 12 índios para o serviço


policial da cidade e para capturar escravos foragidos. Naquela épo-
ca, como o serviço de vigilância policial era determinado em lei e
prestado gratuitamente por pariculares, houve quem se aprovei-
tasse dos seus índios para esse mister. [...] Havia índios pagos por
pariculares para esse serviço [...].

O contrário também ocorria. Comumente, indígenas se tornaram “crimi-


nosos”, pois, segundo Al-Alam (2008) conforme o registro de entrada e saída
de presos internados na mesma insituição hospitalar, entre os anos de 1848 e
1853, 2 (6,9%) eram índios.
Atualmente na Serra dos Tapes, na localidade da Colônia Santa Helena,
Rincão da Cruz, 8º Distrito do município de Pelotas, localiza-se a terra indíge-
na, não homologada, denominada na língua Mbyá-Guarani de Kapi’i Ovy (Capim
Verde). A área possui aproximadamente 23 hectares, distando cerca de três qui-
lômetros da região central da Colônia Maciel e oito quilômetros da BR 392. A
área ocupada pela família incluindo casas e roça tem menos de um hectare, na
encosta de um morro. Segundo informações orais dispersas, o local é habitado
com regularidade há cerca de 30 anos e a atual parentela está no local há quatro
anos. Esta parentela vive em condições de infraestrutura precária, sem com-
promeimento por parte dos órgãos governamentais responsáveis e por parte
da sociedade em geral, mantendo-se apenas do sustendo de sua pequena roça
e seu artesanato, assim como da solidariedade de alguns poucos vizinhos. Esta
terra é formalmente um parque ambiental (Parque Farroupilha), sob a responsa-
bilidade do governo municipal, sem que seja feito qualquer ipo de invesimento
que auxilie as famílias que ali habitam.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Após esse relato histórico que procuramos traçar nesse texto, em que
ica claro que as relações conlituosas entre os ocupantes do velho mundo e as

144
populações indígenas foram bastante intensas do ponto de vista da violência
ísica e moral, não surpreende que o sul do Estado do Rio Grande do Sul tenha
se tornado uma região onde a presença indígena foi “silenciada”. Por silencia-
mento entendemos não somente que as vozes indígenas foram caladas, pois,
atualmente, poucos são os indivíduos que se ideniicam como índios e buscam
seus direitos, mas, além disso, o silêncio a que nos referimos, diz respeito tam-
bém à historiograia tradicional que insiste em desconsiderar a contribuição das
populações indígenas no processo histórico regional.
Como dito na primeira parte do texto, os livros de História regional quan-
do se referem às populações indígenas os apresentam de uma forma extrema-
mente resumida, raramente ultrapassando as duas ou três primeiras páginas in-
trodutórias71. O índio é tratado nestes textos como o habitante original da terra,
o selvagem, o bravio. Romanceado, o índio se torna um personagem que atua
apenas no primeiro ato da peça histórica, cuja paricipação consiste em arrumar
o palco e abrir as corinas para o teatro da civilização - que se inicia no segundo
ato. Basta um breve olhar sobre a historiograia tradicional para vermos trechos
que reforçam nossa argumentação, que relega o elemento indígena a um segun-
do plano no processo histórico pampeano.
Em seu livro initulado “Sociogênese da Pampa Brasileira”, datado de
1927, o historiador renomado Fernando Osório escreveu o que podemos cha-
mar de um tratado sociológico que narra a epopeia da formação da “raça” gaú-
cha, a qual se fundamenta, sobremaneira, nos atos heroicos de indivíduos eu-
ropeizados, cuja força e bravura teriam sua origem na capacidade belicosa dos
portugueses e espanhóis. Aos indígenas, na narraiva do autor, coube apenas
sua função em servir de mão-de-obra e como peão de guerra: “[...] em nenhum
outro território americano teve o índio, como no Rio Grande, incorporado es-
pontaneamente a função social que exerceu, ao cabo de decênios nas milícias e
no cenário das estâncias” (OSÓRIO, 1927, p.41-42).
Após servir “espontaneamente” em sua função social em “defesa da Pá-
tria Brasileira”, como quer o autor, o indígena lentamente deixa a cena social em
prol da arianização da “raça gaúcha”:
“Proclama-se, ainda hoje, que nenhum desequilíbrio étnico apresenta
o Rio Grande, cujos habitantes são os mais arianizados do Brasil, bem como
o fato, aqui insoismável, da tendência, para a homogeneidade, com o predo-
mínio das caracterísicas nacionais, brasileiras, nos grandes grupos que repre-

71 Por exemplo, ver os ítulos que versam sobre a formação da cidade de Pelotas, cujas obras são
frequentemente citadas na historiograia tradicional: Magalhães (1993, 2000) e De León (2011
[1993]).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 145


sentam oitenta por cento, talvez, da nossa população de origem estrangeira”
(OSÓRIO, 1927, p. 42-43).
É ainda interessante destacar uma nota colocada em sua obra, que reme-
te ao trabalho de Oliveira Vianna, initulado “Evolução do Povo Brasileiro”, de
1923. Nesta nota consta que:
“É rápida, no extremo-sul, a destruição da população negra. Em menos
de um vintênio (quadro do recenseamento de 1872 a 1890) o seu coeiciente,
que é de 18,3 cai a 8,7, com uma grande redução, portanto, de 9,6%. Por sua vez,
o elemento indígena conserva-se, por assim dizer, estacionário, apresentando
mesmo uma pequena redução de 0,5. Ao passo que é magníico o movimento
ascensional do ipo ariano, que, em 1872, representa quase 60% da população e
que, em menos de vinte anos, em 1890, passa a representar os seus 70%. Mais
26%, portanto, do que a média geral do país” (OSÓRIO, 1927, p. 42).
A secundarização da presença indígena também é visível nos poucos mu-
seus da região, sobretudo nos museus da cidade de Pelotas. Os dois principais
museus históricos da cidade: O Museu da Baronesa e o Museu Histórico da Bi-
blioteca Pública Pelotense carecem de uma narraiva sobre as populações indí-
genas que elucide a contribuição destes na conformação da História regional. O
Museu da Baronesa gloriica, conforme Al-Alam (2008, p.22), “as histórias dos
barões, dos coronéis, da elite branca agrária e urbana da cidade de Pelotas [...]
como um modo de legiimação das desigualdades sociais do presente”.
No Museu Histórico da Biblioteca Pública Pelotense, composto por um
acervo bastante variado de instrumentos de culturas estrangeiras, assim como
materiais que remontam à História gloriosa da região, a marginalização da Histó-
ria indígena não é diferente. Destacam-se os objetos provenientes das Missões
jesuíicas, objetos do século XIX, quadros, bustos de heróis da História, objetos
de curiosidade pelo exóico como um narguilé Árabe e quatro vasilhas cerâmi-
cas Guarani, pontas de lecha pré-coloniais, bolas de boleadeira, etc.. Com certa
conformação, poderíamos descrever o acervo do Museu Histórico da Biblioteca
Pública Pelotense como um “gabinete de curiosidades exóicas”, que combina
diferenças, exoismos e objetos que não dialogam entre si, a não ser pelo sim-
ples fato de terem sido feitos pela mão humana (BRUNO, 1996).
Somam-se ao descaso com a história indígena o fato de que grande parte
da coleção do Museu Histórico da BPP estar sendo perdido sistemaicamente.
Em trabalho realizado anteriormente (MILHEIRA, 2006) constatou a perda de
mais de 80% do acervo arqueológico pré-colonial, conforme o montante de pe-
ças que constavam originalmente no livro tombo do acervo. Além disso, o dis-
curso de marginalização da História indígena deste Museu integra-se à falta de

146
ações patrimoniais e de memória da administração pública da cidade de Pelotas,
cujo desinteresse pela História indígena é evidente pela ausência da temáica
indígena em todas as fesividades e datas históricas.
Esta postura referente às populações indígenas não icou limitada ao
campo da disciplina de História ou ao espaço dos museus, mas permeia todo o
campo das humanidades, inclusive a própria Arqueologia. O termo pré-história
foi levado a cabo no Brasil, tendo sido incorporado de forma incisiva no cabe-
dal teórico desenvolvido pelos arqueólogos, sobretudo, com a implantação do
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). Com a insituição
desse programa no Brasil entre os anos 1965-70, os princípios teóricos histórico-
-culturalistas tornaram-se hegemônicos e seus adeptos viram nesta proposta
generalista e empirista uma estratégia adequada para o desenvolvimento da
pesquisa arqueológica no Brasil. O viés políico do programa, que assumia ares
de neutralidade, veio a formar um grupo de arqueólogos que, de certa forma,
desvinculou o fazer arqueológico das discussões indigenistas da época.
Além dos aspectos insitucionais e políicos, um problema preocupante
do programa foi o modelo de organização do conhecimento gerado a parir dos
trabalhos de campo e laboratório. O esquema de generalização do processo de
ocupação foi deinido através dos conceitos de tradições e fases. A organiza-
ção desses conceitos empiricamente elaborados promoveu uma ruptura entre
o registro material das culturas indígenas pretéritas e presentes. Nesse senido,
as tradições e fases desvincularam, por exemplo, os Tupi-Guarani pré-coloniais
dos Tupi-Guarani pós-coloniais. De forma explícita, foi pensada uma dissociação
entre cultura material e língua, nomeando-se a Tradição Ceramista Tupiguarani,
que passou a ser escrita sem hífen, em contraposição à língua Tupi-Guarani que
coninuaria a ser escrita com hífen. Essa perspeciva está relacionada ao pres-
suposto de que o registro material proveniente dos síios arqueológicos “pré-
-históricos” não teria correlação necessária com as populações indígenas do pe-
ríodo pós-contato, propondo-se, portanto, a desariculação da História indígena
através do isolamento de dois períodos - anterior e posterior ao contato - sem
levar em consideração a coninuidade histórica, pois, conforme Noelli (2008): “O
princípio norteador da Tradição Tupiguarani não tem por objeivo estabelecer a
coninuidade entre contextos arqueológicos e culturais, seguindo o pressuposto
‘tratar a cultura de uma maneira ariicialmente separada dos seres humanos’,
enunciada por Meggers (1955, p. 129)” (Noelli, 2008, p. 23).
A herança teórica que adquirimos foi, portanto, a consituição de mo-
delos interpretaivos desprovidos de signiicado histórico-social, visto que as
análises descriivas e empiristas, baseadas em procedimentos comparaivos de

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 147


atributos esilísicos e tecnológicos, permiiram tão somente a composição de
classiicações e estudos taxonômicos que dão conta de diferenças formais dos
objetos e dos síios arqueológicos, mas pouco contribuíram para o conhecimen-
to da História e da cultura indígenas de maneira essencial. A adoção da pers-
peciva da desconinuidade histórica foi responsável pela organização de um
esquema teórico que vislumbra os sistemas sociais indígenas como estruturas
fechadas em si mesmas, separadas e cristalizadas em bolhas, sendo uma forma-
da pelo período anterior ao contato e a outra pelo período pós-contato. Nesse
esquema, o contato (ou processo de colonização europeia) é o bloqueio entre as
duas bolhas, um marco de referência temporal isolante de duas metades. Essa
metáfora pode ser encaixada naquilo que Viveiros de Castro (1999) chamou de
estereóipos sociais vinculados aos conceitos de índio naturalmente selvagem e
índio civilizado, em que:

“[...] o mundo social ameríndio anterior ao contato com os euro-


peus é visto em ermos desconinuístas, estáicos e naturalizantes.
Como se a história só começasse, para esses povos, a parir do mo-
mento em que eles começassem a se transformar em apêndices
do Estado nacional. É só a parir dali que eles se tornam objeiva e
subjeivamente ‘desnaturalizados’, isto é, históricos, situacionados
[...]. Dá-se com isso, a impressão falsa de que os índios viviam, ‘de
certo modo’, dentro de universos sociológicos e cogniivos insula-
res, sem nenhuma noção de alteridade e nenhum disposiivo inte-
rétnico até o advento desnaturalizante dos europeus” (VIVEIROS
DE CASTRO, 1999, p. 167).

A desconinuidade histórica e cultural indígena, o rompimento entre o


período anterior e posterior ao contato, consituída em parte, pela forma empi-
rista e descriivista de pensar a cultura material indígena, levou os pesquisado-
res a comporem estereóipos sociais que não levam em consideração a História
indígena em larga escala ou, em outras palavras, uma história indígena de longa
duração. Além disso, segundo Noelli e Ferreira (2007), o PRONAPA permiiu aos
seus idealizadores reestruturar os fundamentos de uma Arqueologia colonialis-
ta, inaugurada ainda no século XIX. Essa reestruturação teórica, na verdade, te-
ria somente efeivado uma releitura das obras evolucionistas vigentes no Brasil
imperial e republicano, dando coninuidade a uma postura “degeneracionista”72.

72 Segundo Noelli e Ferreira (2007), o “degeneracionismo” diz respeito ao modo como as so-
ciedades indígenas foram compreendidas no processo histórico brasileiro e mesmo laino-
-americano. A degeneração social e cultural indígena foi uma premissa teórica clara entre os
cienistas dos séculos XIX e XX, que viram, em primeiro plano, na estrutura cultural indígena

148
Esta visão desconinuista passou a ser quesionada somente nos anos 1980,
quando uma forma nova de pesquisa em Arqueologia passou a tomar corpo
no cenário nacional brasileiro. Com uma perspeciva histórica verical que busca
uma relação direta entre as populações ameríndias do período pré e pós-contato,
a tese de Brochado (1984), pode ser considerada um marco referencial para uma
nova abordagem arqueológica, o que ica claro nas palavras do próprio autor:
“Gostaria, nesta tese, de contribuir no senido de que as futuras histó-
rias da América pré-colombiana possam oferecer uma visão mais integrada e
signiicaiva do que a mera descrição de formas culturais e do seu arranjo em
sistemas de referência geográica e cronológica. Portanto, a primeira coisa que
considerarei aqui é que a Arqueologia do leste da América do Sul deve ser vista
como a pré-história das populações indígenas históricas e atuais. Se não forem
estabelecidas relações entre as manifestações arqueológicas e as populações
que os produziram, o mais importante terá se perdido. Assim, as conotações
etnográicas das tradições e esilos não devem ser evitadas, mas, pelo contrário,
deliberadamente perseguidas” (BROCHADO, 1984, p. 1).
Neste contexto de descaso teórico concreizado em uma perspeciva des-
coninuísta da história indígena Guarani e de silenciamento das vozes dos naivos
na historiograia tradicional os ameríndios persistem. Ocupando apenas limita-
das porções de terra que não garantem nem mesmo as condições mínimas de
subsistência, uma vez que as terras indígenas são desprovidas de água potável
e saneamento básico; são localizadas em regiões onde os recursos hídricos são
contaminados e poluídos e sem as matas para a garania do sustento, limitando a
plenitude da vida Guarani. Em suas terras, segundo Liebgot (2010), dependem de
políicas assistencialistas das esferas de governo municipal e/ou estadual e, sendo
relegados a um plano marginal também pelas políicas públicas nacionais, embora
a consituição de 1988 seja muito clara quanto aos seus direitos.
O silenciamento às vozes coincide com o apagamento das fontes históri-
cas escritas e materiais da presença indígena na região, pois, além dos vesígios
arqueológicos sistemaicamente destruídos em nome do “progresso”, os docu-
mentos escritos raramente são conservados, contribuindo para a amnésia social
e histórica, como comenta Al-Alam (2008, p. 95):

“[...] muitos destes documentos foram destruídos em conturba-


ções sociais (revoluções, moins) ou naturais (enchentes, incên-

o cerne da involução sócio-cultural a que esses se maninham e, em segundo plano, nas bar-
reiras ambientais, o empecilho ao desenvolvimento sócio-cultural. Além da análise epistemo-
lógica, o que preocupa ainda mais os autores é que essa premissa ainda circula na produção
acadêmica contemporânea, sendo necessário degenerar a teoria degeneracionista.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 149


dios). Ou então que preciosos anexos foram remeidos para o go-
verno central no Rio de Janeiro e devem estar sob a custódia do
Arquivo nacional. Mas, certamente, o que deve ter contado para
o descaso com a preservação deste patrimônio documental foi o
invesimento persistente de nossas administrações públicas na am-
nésia social. Trata-se, sem dúvida, de uma memória seleiva que
descartou os traços dos desclassiicados, dos delinquentes, dos po-
bres em geral”.

Em um contexto de condições historicamente desfavoráveis os coleivos


indígenas resistem às imposições do Juruá – homem branco -. Mesmo após cente-
nas de anos ainda mantêm suas tradições, sua língua, seu sistema simbólico, sua
arte: Resistem! Cabe às novas gerações de cienistas sociais e humanos aponta-
rem o silenciamento e a amnésia social ideologicamente coordenadas, buscarem
as fontes históricas escritas e materiais e darem ouvidos às reinvindicações dos
direitos civis garanidos na Consituição brasileira aos grupos indígenas.

Figura 01- Mapa da região sul do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Destaque para a região das
bacias hidrográicas da Laguna dos Patos e Lagoa Mirim com a localização dos síios
arqueológicos das diferentes culturas indígenas.

150
Figura 02- Quadro cronológico da ocupação dos grupos construtores de Cerritos e dos grupos
Guarani na região da Laguna dos Patos. Elaboração: Tiago Atore.

Figura 03- Mapa do município de Pelotas com a localização dos síios arqueológicos Guarani e
dos construtores de cerritos.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 151


Figura 04- Contexto da estrutura de combustão escavada no síio acampamento
Guarani denominado PS-02-Camping, datada de 380 ± 50 AP. Foto: Rafael Milheira.

Figura 05- (a) Contexto de escavação do piso de habitação da aldeia Guarani do síio PS-03-Totó,
datado de 510 ± 40 AP; (b), (c), (d) artefato líico e fragmentos de vasilhas cerâmicas de uso quoidi-
ano; (e), (f), (g) contexto da estrutura de lixeira, datada de 530 ± 40 AP, localizada à beira do arroio
Totó, lindeira à habitação. Fotos: Aluisio Gomes Alves.

152
Figura 06- Contexto da estrutura funerária escavada no síio aldeia Guarani denominado
PSGPA-04-Ribes, datada de 510 ± 70 AP. Foto: Rafael Milheira

Figura 07- Ilustração de uma “Pelota”. Extraído de Osório (1997).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 153


CAPÍTULO 7

LA CUESTIÓN GUARANÍ COMO


UN PROBLEMA DE PERSPECTIVA

Antonio Lezama73
María Farías Gluchy74

INTRODUCCIÓN

La interpretación histórica de los restos arqueológicos identificados


como guaraníes requiere, necesariamente, de una precisa definición de lo
que identificamos como “cultura Guaraní”. La definición de “lo Guaraní”, a su
vez, depende, en buena medida, de la perspectiva en la que el investigador
se sitúa. No es lo mismo situarse desde una perspectiva continental, que
regional, sub-regional o local.
Desde una perspeciva coninental, entendida como un intento de
clasiicación de los grupos culturales al momento de la conquista, la presencia
cultural Guaraní – o más precisamente Tupí-Guaraní - comprende, de acuerdo a los
datos etnohistóricos, toda la veriente atlánica sudamericana hasta el Río de la Plata
afectando, incluso, a aquellos grupos que ideniicamos como “no Guaraníes”.
Desde ese punto de vista la interpretación del registro arqueológico no
puede dejar de tener en cuenta la existencia de una “lengua general”, desde
las Guyanas hasta el Plata, una luida comunicación maríima y luvial y claros
tesimonios de la circulación de noicias y de gentes. A su vez, la existencia de esa
intensa red de comunicaciones y el intercambio cultural que supone nos lleva a
plantear el tema de la difusión de prácicas y comportamientos cuando estas
son compaibles con los desarrollos locales y trasladar al escenario prehistórico

73 Universidad de la República, Uruguai – UDELAR.


74 Fundação Universidade do Rio Grande – FURG.
el problema de la deinición de idenidades culturales y su trascendencia
en el desarrollo histórico. A ítulo de ejemplo señalemos que la difusión del
crisianismo en la Europa no romana y sus innegables consecuencias no supuso,
necesariamente, la pérdida de las trayectorias locales.

Cual fue el peso del difusionismo en la deinición de la


“cultura Guraní”?

En casi todos los trabajos, etnográicos, históricos o arqueológicos, la


presencia “Guaraní” es el fruto de la “expansión” de dicha cultura desde un,
discuido, punto de origen. De ser así deberíamos poder contestar preguntas del
ipo: ¿Es la expansión fruto de un extraordinario crecimiento demográico? ¿Del
desarrollo de una poderosa estrategia militar? ¿Que sucedió con los habitantes
originales de los territorios ocupados? Preguntas que, prácicamente (solo la
úlima), no se formulan.
Ese expansionismo conservador, recordemos que su deinición
etnológica/arqueológica es estáica, cuyo resultado constata la etnología, debe
ser, necesariamente, probado por la arqueología. Ahora bien, si la deinición
etnológica era imperfecta, su deinición arqueológica, como concuerdan todos
los invesigadores que tratan el tema, es aún más imperfecta, limitándose a la
presencia o ausencia de determinados rasgos en la fabricación y decoración de
la cerámica. La debilidad de la deinición arqueológica es tal que ha llevado a
los arqueólogos - y es todo un mérito de la ciencia arqueológica - a la necesidad
de hablar de “guaraniización” en aquellos contextos arqueológicos en los que,
encontrándose algunos elementos “guaraníes”, la casi totalidad del resto del
registro arqueológico indica la coninuidad de situaciones anteriores.
A parir del paradigma difusionista una de las preocupaciones que ha tenido
la etnograía y también la arqueología es ubicar el lugar geográico que dio origen
a este grupo. Locus geográico a parir del cual se expandieron por diferentes vías
por buena parte del coninente. El intento no siempre resultó bien sustentado o con
una insuiciente base empírica. La dilucidación brindada a través de esta corriente de
pensamiento, carece de claridad explicaiva en cuanto a lo sucedido con los grupos
étnicos que ya estaban asentados en el momento de la supuesta expansión guaraní.
Una tal forma de ver el pasado asume implícita o explícitamente o bien un “vacio”
demográico previo a su ingreso, o bien un expansionismo arrollador que someió o
exterminó a los que se interponía a su frente.

156
El resultado de la aplicación del paradigma difusionista fue la percepción
de una enidad étnica homogénea expresada en la presencia de elementos de su
cultura material y pautas de comportamiento comunes, obviando o colocando
en segundo plano toda heterogeneidad. Existe una amplia gama del registro
arqueológico que aparece claramente sub representados u obviados en ellos
resultados de la indagación arqueológica, como por ejemplo el patrón espacial
de asentamiento, la estructura intra-siio, la industria líica y ósea, variabilidad
en el tratamiento de los muertos, entre otros, que deberían ser evaluados con
mayores detalles. Este esilo de vida guaraní, además es concebido sin mayores
modiicaciones o congelado a lo largo de cientos o miles de años.
Más recientemente, a parir de la década del sesenta del siglo XX, e desarrollo
de los enfoques funcional y procesual de los datos arqueológicos por parte de
los académicos estadounidenses, representó una susitución del interés por la
etnicidad a cambio de una renovada preocupación por como operaban y cambiaban
las culturas prehistóricas. Una despersonalización del pasado a favor de los procesos.
Se considera que este cambio de paradigma no brindó a la arqueología las
suicientes herramientas teóricas-metodológicas para que aportasen mayores
relexiones. El tema guaraní iene una enorme complejidad, donde cada uno de
sus enunciados consituye por sí mismos un desaío a la heterodoxia.
La complejidad del estudio de lo “guaraní” hace que para su comprensión,
sea necesario deconstruir su propio concepto. Esta desconstrucción exige
una complementariedad entre disintas formas de relecturas, aquellas que
provienen de los conceptos que hacen al plano arqueológico como las que
nacen desde la etnohistoria.
Para esta propuesta proponemos, en primer lugar, la revisión de los
conceptos de esilo/etnia, esilo/función, que forman parte de la construcción
e interpretación arqueológica de los restos ideniicados como guaraníes y en
segundo lugar una revisión de la información etnohistórica, realizada desde una
perspeciva regional y tratando de detectar en ella aquellas tendencias de “larga
duración” (en el senido braudeliano) que allí se maniiestan.

Los Conceptos de: Estilo/Etnia, Estilo/Función en la


Interpretacion Arqueológica

Las diicultades que planteaba su deinición en el campo de la


antropología, como era deinida o uilizada en la arqueología y su relación

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 157


directa en la construcción de lo guaraní. De la misma manera se pensó en lo
oportuno de revisar el concepto de “esilo” desde el punto de vista arqueológico
y su relación con el concepto de etnicidad. Se consideró que esta era una vía
posible para cuesionar arqueológicamente el rasgo más visible del axioma
guaraní, la cerámica.
El concepto de esilo lleva consigo diversas diicultadas y se advierten
diferentes deiniciones del concepto desde disintas posturas teóricas. ¿Cómo es
deinido? ¿Cuál es su función? ¿En donde reside? ¿Es usado por los arqueólogos
para deinir que asuntos? ¿Semejanzas esilísicas pueden ser vistas como
expresión de etnicidad? Las respuestas a estas preguntas siguen coninúan en la
arena del debate. A coninuación se presenta una breve síntesis de las diferentes
posturas acerca del concepto de “esilo y sus dicotómicos etnia y función.
En la escuela histórico cultural el esilo fue concebido como equivalente
a grupo étnico. Como una forma tradicional “del hacer” de los grupos, y una
manera de ideniicar culturas.
Los artefactos u otros vesigios arqueológicos son considerados como
representantes de las ideas de sus fabricantes. Relejan las ideas comparidas
que abarca la cultura exinguida, estos conceptos comparidos fueron llamados
conceptos normaivos o “planillas mentales” (WATSON, LE BLANC e REDMAN,
1974, p. 80). Los arqueólogos uilizaban el esilo para realizar seriaciones,
cronologías y casi siempre relacionan culturas arqueológicas con grupos étnicos
actuales. Esta ideniicación ha sido dependiente de la premisa de que ciertas
enidades culturales son monolíicas en el iempo (JONES, 1997).
En la escuela histórico cultural se consideraba que lo esilísico es
diagnósico por deinición, e implica la manera en la que las variaciones
morfológicas o formales entre los artefactos releja las unidades histórico-
culturalmente signiicaivas de la tradición étnica (SACKETT, 1982).
Los objetos que se veían como esilísicamente similares eran
interpretados como histórico-culturalmente vinculados en una secuencia
donde uno había engendrado al otro. La tarea del arqueólogo era ordenar el
registro arqueológico en unidades histórico-culturales disinivas de tradiciones
étnicas, conocidas bajo diversos rótulos como estadios, culturas, industrias.
De acuerdo a patrones de similaridad y diferencias artefactuales exhibidas por
los conjuntos representaivos de diferentes segmentos espacio-temporales del
contexto arqueológico.
En la “Nueva arqueología” el esilo es concebido en términos funcionales,
designan elementos no adaptaivos. Si bien no reniegan de la existencia del esilo
lo separan totalmente de lo tecnofuncional. Detrás de las ideas adaptacionistas

158
evoluivas subyace el principio costo-beneicio. La confección eiciente de
un artefacto para una inalidad o inalidades dadas estará pautada por
determinadas restricciones (ej. tecnológicas, forma, función, etc.). No obstante
existe cierto umbral de variabilidad, es decir un artefacto pensado para una
función o funciones determinadas puede ser llevado a cabo de disintas maneras,
la variación dentro de este umbral es la que ha sido deinida como esilísica.
Todo lo que queda fuera de lo tecnofuncional es el esilo, el cual cumple roles
funcionales pero dentro de otro orden: ideofuncional y sociofuncional
Binford deine el esilo como un residuo e independiente de las
variaciones funcionales y tecnológicas (BINFORD, 1965, p. 199). Los seguidores
de la “nueva arqueología” reconocen que los artefactos expresan la ideología,
la sociedad y la tecnología de quien fabrica un artefacto (MCPHERSON, 1997),
pero el esilo (que serían un elemento no adaptaivo) no interesa en el análisis.
El desarrollo de los enfoques funcional y procesual de los datos
arqueológicos representó una susitución del interés por la etnicidad, a cambio
de una nueva preocupación por como operaban y cambiaban las culturas
prehistóricas. Una despersonalización del pasado a favor de los procesos.
Robert Dunnell asienta las bases del evolucionismo neodarwiniano en
su arículo “Evoluionary theory in archaeology” (1980). Este autor planteó
la existencia de la dicotomía entre esilo y función desde una perspeciva
evolucionista y procesualista. Hace esta diferenciación conceptual pues las
funciones de los artefactos pueden ser deinidas en términos de procesos
evoluivos, mientras que en el esilo solo paricipan procesos estocásicos
Dunnell (1978) deine al esilo como elementos de diseño adaptaivamente
neutral, cuya función es la de transmiirla a la información social si es funcional.
Con relación a la discusión sobre el tema de donde reside el esilo, el autor señala
que es en cualquier elección que no tenga efecto en la adaptación genéica del
grupo de referencia. De acuerdo a Dunnell los rasgos que posen valor selecivo a
través del iempo pueden depender de la selección natural o de un conjunto de
condiciones exteriores. Los rasgos que son adaptaivamente neutros poseen un
comportamiento diferente: su frecuencia no puede ser directamente esimada
en términos de selección o de coningencias externas, pero si proceder de
procesos aleatorios (O’BRIEN e LEONARD, 2001, p. 1-23).
Para el pos-procesualismo el esilo es una forma referencial de hacer y de
ser (HODDER, 1982). El esilo desempeña un papel acivo en las estrategias sociales
debido a su contenido simbólico, iene función en la reiteración del sistema de
creencias social e individual así como de la autoexpresión y la expresión grupal.
Se expresa en las caracterísicas codiicadas de forma y contexto. Para esta

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 159


postura el arqueólogo debería uilizar el esilo para comprender la expresión
simbólica contextual y llegar al conocimiento simbólico de ese grupo.
Hodder opina que los arqueólogos no pueden aspirar a ideniicar todos
los grupos étnicos que exisieron en el pasado, pero pueden ideniicar la
etnicidad si por ella entendemos los mecanismos por los cuales los intereses
de los grupos uilizan la cultura para simbolizar su organización interna en
oposición y en competencia con los intereses de otros grupos (HODDER, 1979,
p. 452). Los contenidos simbólicos están vinculados a las relaciones sociales
y económicas entre los grupos étnicos, el estatus domésico, a los grupos de
edad y sexo. Ítems diferentes de la cultura material son manipulados por los
diversos segmentos sociales para reforzar, legiimar, o rechazar idenidades o
poderes. Pero los ejemplos etnográicos en la región de Baringo manejados por
Hodder han puesto en cuesión diversos postulados de los marcos explicaivos
norteamericanos (ej. la teoría de la interacción). En la región de Baringo obsevó
que exisía una amplia distribución geográica de artefactos semejantes (ligados
al mundo masculino) entre grupos culturales disintos. Mientras las calabazas
decoradas eran exclusivas de uno de estos grupos y estaban relacionadas al mundo
femenino (HODDER, 1982). Una amplia distribución geográica de artefactos
semejantes puede darse entre grupos culturales diferentes, por ejemplo si estos
están ligados al mundo masculino. En tanto que otros artefactos exclusivamente
femeninos son altamente diferenciados entre los mismos grupos,
Hodder (1982) asume que no siempre se puede ideniicar categorías
sociales o grupos lingüísicos, porque la cultura material no esta siempre
necesariamente empleada para expresar competencia interna o externa. Muchas
contradicciones étnicas pueden estar escondidas en el material arqueológico.
Siguiendo este razonamiento parece válida la advertencia que no todas
las semejanzas esilísicas pueden ser vistas como expresión de etnicidad. Existen
riesgos al interpretar el registro arqueológico en forma simpliicada.
En esta perspeciva, la etnicidad no es un conjunto atemporal, inmutable
de rasgos culturales (creencias, valores, ritos, reglas de conducta, lengua,
prácicas de vestuario o culinarias, etc.) transmiidos de la misma forma de
generación en generación en la historia del grupo. Hay una serie de factores que
provoca acciones y reacciones entre un grupo y los otros en una organización
social que no cesa de evolucionar
Otra posición es la de Wiessner (1983). Deine esilo como la variación
formal en la cultura material que transmite información sobre idenidad personal
y social. La comprensión de la variación de esilo depende fuertemente de la
comprensión del comportamiento que la generó.

160
La autora considera que hay por lo menos dos aspectos disintos dentro del
esilo y cada uno iene diferentes referencias y diferentes ipos de información,
generan disintos modelos de variación y por lo tanto requieren disintos ipos
de análisis (op. cit.). Disingue entre “esilo emblémico (emblemáico) y “esilo
aserivo”. Deine al esilo emblémico como la variación formal de la cultura
material que iene un referente diferente y transmite un claro mensaje a un
sector deinido de la población en relación con la conciencia de ailiación e
idenidad. Tiene una distribución inequívoca y discreta (op. cit.).
El esilo aserivo es deinido como la variación formal en la cultura
material, la cual es personal y basada en la información que soporta la
idenidad individual.
La postura de Wiessner se piensa que presenta grandes diicultades
para separar los atributos esilísicos que contengan información social y
aquellos que señalan diferencias o semejanzas personales principalmente en
el registro arqueológico.
Sacket por su parte deine al esilo como inherente a la elección de
los grupos dentro de un amplio espectro viable y alternaivo de acabar algo
funcional. El esilo es una variación isocrésica (isochresico) (SACKET, 1986)
por lo tanto reside en todos los aspectos de la variedad del artefacto, incluso
en aquellas dimensiones en las cuales aparece como explícitamente funcional
(JONES, 1997, p. 121).
El concepto de esilo isocrésico es opuesto a la uilización deliberada
de esilo, describiendo la selección que hace el hacedor del instrumento entre
las opciones disponibles siempre que no afecten la función de la herramienta.
Se asume entonces que algunas de estas variaciones isocrésicas pueden
correlacionarse con lo étnico.
Sacket argues that style resides in the choices made by arisans,
paricularly choices that result in the same funcional end. He calls the results of
such choices isochresic variaion, variants that are “equivalent in use” (SACKETT,
1982 apud HEGEMON, 1992, p. 522).
En los abordajes neoevolucionistas la dicotomía esilo-función, etnia-
esilo han sido discuidos ampliamente. Para esta corriente no todo la similaridad
es producto del mismo proceso (LEONARD, 2001).
Los autores de esta postura hacen una disinción entre las similaridades
que corresponden a procesos homólogos y las que ienen procesos análogos.
Los homólogos: son producto del relacionamiento histórico y los análogos son
el producto de respuestas similares para condiciones similares o convergencia
evoluiva (LEONARD, 2001, p. 65-97). El problema del arqueólogo es saber cuales

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 161


similaridades son homólogas y cuales son análogas para averiguar el lujo de la
información cultural.
Los arqueólogos evolucionistas hacen una disinción entre las tecnologías
bajo la operación directa de la selección natural y aquellas que no lo son
(DUNNELL, 1978; METZAER, 1981; NEIMAN, 1995 apud LEONARD, 2001). Un
agente desgrasante que permita cerámicas de paredes más delgadas y que
permita que el maíz pueda ser procesado más eicientemente, y con mayor
poder nutriivo y haga posible que más gente pueda ser alimentada uilizando
menos combusible, iene consecuencias directas en términos de reproducción,
y queda, por consecuencia, bajo la selección natural. Los símbolos uilizados
para decorar estas vasijas, con todo, resulta poco probable que queden bajo
la selección y su presencia es más probable que resulte de relacionamientos
históricos u homólogos (LEONARD, 2001).
Pero hay casos en que la pintura muchas veces es considerada como
marca cultural o de relacionamiento históricos cuando en realidad puede tener
un valor tecnofuncional. Algunas cerámicas están pintadas y pulidas alrededor
de los labios, estas caracterísicas hacen que el recipiente sea más efecivo
en el momento de volcar su contenido, se reduce el desperdicio del líquido al
traspasarlo a otro u otros ceramios (RICE, 1987; LEONARD, 2001, p. 83).
For example, many atributes, we have a number of ideas to be evaluated.
For example, many of the pots are polished and painted around the lip. Chris Van
Pool has proposed that this trait might be funcional, as polished and painted rims
reduce spillage (RICE, 1987). Reduced spillage is a clear evoluionary advantage.
This aspect of our research is just beginning, and we need to understand how
small diferences in technology may have led to major changes in reproducion
(LEONARD, 2001, p. 83).
De acuerdo a Siân Jones (1997) los artefactos son uilizados en prácicas
sociales y estructuras sociales. El material cultural es polísémico y su signiicado
debe variar según el momento e historia social paricular, juega un acivo rol en
las estructuras de las prácicas culturales.
Lo étnico es como se expresan determinados hábitos en términos de
comportamiento y decisiones en un momento histórico y con unas condiciones
sociales determinadas. Esto es lo que permite la objeivación de las diferencias
entre los grupos: es lo étnico (JONES, 1997).
Formas y esilos disinivos en la cultura material pueden ser mantenidos
acivamente y quedar detenidos en el proceso de señalización de la etnicidad,
aunque otras formas y esilos traspasar los límites étnicos (BARTH, 1969;
HODDER, 1982). El abordaje desarrollado por Jones sugiere que la elección de

162
formas y esilos culturales disinivos uilizados en la señalización de los límites
étnicos no es arbitraria. Por el contrario, la expresión autoconsciente de la
etnicidad a través de la cultura material se vincula al carácter estructural del
habitus75, el cual se infunde en todos los aspectos de las prácicas culturales y de
las relaciones sociales que caracterizan una modalidad paricular.

ETNIA/ESTILO: UNA PERCEPCIÓN REDUCCIONISTA?


UN CASO DE ESTUDIO, SOBRE EL RIO URUGUAY

En el caso de lo “guaraní”, el resultado del paradigma difusionista fue la


percepción de una enidad étnica homogénea jusiicada por la presencia de
elementos de su cultura material y pautas de comportamiento comunes, obviando
o colocando en segundo plano toda heterogeneidad. Sin testear otros ítem del
registro arqueológico, por ejemplo, el propio patrón espacial de asentamiento, el
material líico entre otros. Este esilo de vida guaraní, además, es concebido sin
mayores modiicaciones o congelado a lo largo de cientos de años.
Una premisa básica de la interpretación que debe ser discuida y analizada
es la insistencia con que los arqueólogos han asociado ciertos ipos pariculares
de cerámica – ej. tratamiento externo corrugado - con el grupo guaraní.
Algunos atributos diagnósicos, percibidos primariamente como esilísicos, han
diferenciado en el registro arqueológico a los guaraníes de otros grupos. Se ha
soslayado o colocado en un plano secundario, no obstante, el hecho de que
tras muchos de los atributos que se enienden por esilísicos son plausibles
explicaciones funcionales y fundamentalmente tecno-funcionales. La bibliograía
arqueológica relacionada al guaraní no ha hecho una mayor diferencia de estas
cuesiones y cuando se ha deinido lo guaraní ha sido a través de una percepción
reduccionista del ipo: etnia/esilo. Una perspeciva que quiebre la dicotomía

75 La pertenencia a una clase subalterna supone el uso y consumo de elementos simbólicos que
deinen a ese sector social. También es inherente la producción y resemanización de los
signos que forman parte de la cultura de las personas. Bourdieu explica este fenómeno con la
noción de habitus, que se consituye por el conjunto de aprendizajes que se interiorizan en el
individuo y que reproducen lo social. El habitus es una parte fundamental de la pertenencia
a un sector social, junto con su ubicación en el modo de producción. Claro que puede ser
modiicado por circunstancias internas o externas al individuo, aunque para Bourdieu el con-
sumo de signos entra en el campo de la estéica popular, caracterizada por el pragmaismo y
el funcionalismo, y le da preeminencia a la clase dominante como “el lugar por excelencia de
las luchas simbólicas” (BOURDIEU, 1990, p. 30).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 163


esilo/tecno-función a favor de un campo integrado, y los abordajes conscientes
de los ítems del registro como enidades polisémicas abren nuevas sendas para
la interpretación.

[...] As Shanks and Tilley (1987, p. 97) have indicated, a paricular


material form may remain the same, but its meaning will alter in di-
ferent contexts; it will be ‘consumed in diferent ways, appropria-
ted and incorporated into various symbolic structures according to
historical tradiion and social context’ On this basis it cannot be
assumed a priori that similarity in material culture relects the pre-
sence of a paricular group of people in the past, an index of social
interacion, or a shared normaive framework (SHANKS and TILLEY,
1987 apud JONES, 1997, p. 126).

Si asumimos el acabado externo corrugado, el rodete y el desgrasante


iesto molido como tecno-funcional, se podría considerar como análogos76 (en
términos de O’BRIEN e LEONARD, 2001) a los artefactos que presentan éstas
caracterísicas en América del Norte y en la América Meridional Atlánica. No hay
conexión histórica ni ísica alguna. El tratamiento de supericie externo es un rasgo
que ha sido observado en diversos conjuntos arqueológicos. El mismo puede
ser explicado como una adaptación tecno-funcional para opimizar las vasijas
desinadas a cocinar alimentos (RICE, 1987, p. 232). Además la uilización de iesto
molido mejora el comportamiento térmico del ceramio (RYE, 1981, p. 39-65).
Por lo tanto, una función posible, dentro de las diversas que admite ese
rasgo, es el aumento de la supericie del ceramio para opimizar la absorción
del calor del fuego. Contribuyendo a esta interpretación el tratamiento externo
corrugado se observa en conjunción a diseños cónicos, los cuales favorecen
asimismo un aprovechamiento ópimo de la fuente de calor (FLORINES, 1998).
Este ipo de tratamiento externo también facilita la manipulación y
transporte del ceramio. “Rough surface provide a beter grip, for example, for
carring a heavy, wet vessel and may also improve heat transfer in cooking” (RICE,
1987, p. 203).
Asumir una tal interpretación debilita la interpretación estócasica de este
rasgo presente en muchas partes del mundo. No obstante, pueden observarse
variaciones esilísicas (isocréicas en el senido de Saket) en la forma que se expresa
el tratamiento externo corrugado. Estas variaciones sí poseen valor diferenciador,
pueden representar desde diferencias personales intergrupales o grupales. Una
forma de percibir heterogeneidad donde antes se percibía homogeneidad.

76 En oposición a homólogo.

164
En la América Meridional Atlánica el paquete tecnológico alfarero
atribuido con exclusividad a la marca étnica guaraní estaba disponible para
quien lo requiriera. Dependía de ciertas circunstancias adaptaivas el uilizarle o
no, siendo un tecnología más eiciente que otras por su durabilidad, ahorro de
combusible, y compaibilidad con tamaños de contenedor mayores, entre otras
ventajas. El punto de vista que sosiene esta argumentación explora alternaivas
al axioma que sosiene que determinados atributos de los conjuntos alfareros
pueden ser considerados apriorísicamente como marcas étnicas.
Exisieron indiscuibles vínculos y conexiones históricas y ísicas entre los
grupos humanos de esta porción del coninente, sin embargo, estos complejos
procesos aparecen simpliicados tras la búsqueda de las rutas de difusión de una
cierta etnia expansiva que a su paso susituye o margina a otros grupos étnicos.
La introducción de una duda permite interrogar al registro hacia otras posibles
interpretaciones, derivadas fundamentalmente de una percepción más compleja
de la mutación permanente de los grupos étnicos y de sus interacciones.
Es signiicaivo mencionar que ya en la década del 50 Serrano mencionaba
la posibilidad que el corrugado fuera una técnica anterior ya existente, a la
estructuración cultural de los guaraníes.
La cerámica guaraní es lisa, pintada o corrugada. La segunda de ellas es la
más caracterísica y consituye por sí sola el índice de más alto valor para airmar
la presencia de la cultura guaraní. La cerámica corrugada iene casi el mismo
valor pero su presencia en culturas que no son guaraníes hace pensar que esta
técnica del corrugado sea anterior a la estructuración cultural de los guaraníes
(SERRANO, 1952, p. 128).
También Menghin (1957) advierte que la impresión corrugada es de
iliación preguaraní, de un sustrato panamazónico que fue adaptado y muchas
veces conservado por otras enidades. Menciona que se halló cerámica corrugada
en siios diferentes y en momentos cronológicamente tempranos para el NW
Argenino, planteando una génesis también disinta (CAGGIANO, 1991, p. 131).
Con las apreciaciones de Menghin se plantea nuevamente el problema
cronológico. No hay dataciones suicientes para veriicar si el corrugado es
anterior o no a las formas clásicas pintadas de los guaraníes. De la misma manera
no tenemos fechados para los ceramios pintados “guaraníes” en el Uruguay que
se han hallado con poca frecuencia (ACOSTA Y LARA, 1979).
De hecho, falta una base de datos, no existen dataciones para conirmar
o no la anigüedad del corrugado en el Rio Uruguay ni en el delta del Paraná.
La datación más anigua que se iene es de 1030 D.C. en territorio misionero
procedente del siio Panambí (SEMPÉ, 1988 apud CAGGIANO, 1990, p. 429).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 165


La más temprana es en la isla Marín García 1545 D.C. (CIGLIANO, 1968). La
explicación clásica de la presencia de rasgos guaraníes (básicamente alfarería),
en el Rio de la Plata, consideraba su irrupción en coincidencia con el momento
de la conquista. La datación obtenida, por termoluminiscencia para una urna
corrugada con enterramiento, del siio Arroyo Negro (Departamento de Rio
Negro, Uruguay) es de 1.410 D.C. (GLUCHY, 2005). Es por lo tanto 100 años
anterior a cualquier contacto con el europeo. De acuerdo a la interpretación aquí
sustentada, se puede airmar que el paquete tecnológico: rodete, aniplásico
y formas cónicas ya era conocido, coexisiendo con el paquete tecnológico
de las culturas básicas del litoral. Para someter a prueba esta hipótesis, no es
suiciente la información disponible, es necesario coninuar con la prospección
y excavación de nuevos siios logar una canidad suiciente de dataciones para
incrementar su iabilidad teniendo en cuenta el error estadísico del método.
Si el componente cultural alfarero del litoral, del 1400 decidieron adoptar
el paquete tecnológico (rodete, aniplásico, formas cónicas, corrugado), la
interrogante es saber por qué optaron por una tecnología diferente.
La respuesta para esta interrogante en este momento sólo puede
realizarse a nivel de hipótesis, que deben contrastarse contra el registro. Sin
embargo, algunas relexiones pueden ser hechas sobre esta cuesión.
Los cambios tecnológicos se suceden en los grupos humanos cuando
estos necesitan opimizar o mejorar disintos aspectos de sus estrategias de
supervivencia. La tecnología cerámica que poseyeron los alfareros del litoral
durante más de un milenio, era básicamente el modelado de la forma pariendo
de una masa de arcilla o el pasillaje. Los aniplásicos uilizados incluían una
variedad de adiivos (arena, ceniza, carbonatos, etc.) de irregular respuesta al
estrés térmico. Asimismo, estos aniplásicos sumado a la técnica de modelado
incide negaivamente complicando el curado del material, lo cual diiculta
formas mayores e inlexiones. La limitación esencial de esta tecnología es que
no permite obtener contenedores de grandes volúmenes, mayores a 10 litros
de capacidad (FLORINES, 1998, p. 180). No hay vasijas mayores descritas en
la literatura para el componente alfarero básico del litoral. El nuevo paquete
tecnológico (rodete, aniplásico de iesto molido, formas cónicas y corrugado)
posibilita trasponer esta limitante de los contenedores.
Hipotéicamente se puede plantear que alguna de las variables que
se mencionan a coninuación pudieron inluir en este cambio: necesidad de
almacenar, problemas demográicos, estrés ambiental, conlicto, etc..
Aun en el caso de detectar alguno de estos indicadores en el registro
arqueológico, se nos plantea el clásico dilema de que fue primero: el cambio

166
a nivel tecnológico induce transformación social o es al contrario los cambios
sociales son los que demandan una nueva tecnología.

AMBIENTE CULTURAL GUARANÍ O CULTURA


“PAN-GUARANI”

Desde una perspeciva coninental, entendida como un intento de


clasiicación de los grupos culturales al momento de la conquista, la presencia
cultural Guaraní – o más precisamente Tupí-Guaraní - comprende, de acuerdo a
los datos etnohistóricos, a toda la veriente atlánica sudamericana hasta el Río
de la Plata.
La revisión de la información etnohistórica nos indica un ambiente de
intenso intercambio, desde las guyanas hasta el plata, cuyo principal elemento es
la existencia de una “lengua general”, lengua que no puede mantenerse sin una
permanente comunicación. Comunicación que es refrendada por numerosos
tesimonios sobre la circulación de noicias, de objetos y de gentes.
Pero hay además un rasgo técnico que, entendemos, no ha sido
suicientemente ponderado hasta el presente y que es la clave del sistema de
comunicación, consistente en el dominio de la navegación luvial y maríima.
Basta observar el mapa hidrográico del coninente para darse cuenta
que el área de inluencia Tupí-Guaraní está directamente vinculada a las vias
de navegación y comprender que dicha técnica permite intensidades de
comunicación, por las distancias recorribles, por los volúmenes de gentes y
cosas transportables, por los iempos implicados, absolutamente incomparables
con el transporte pedestre.

LA NAVEGACIÓN INDÍGENA

Son numerosas las referencias al permanente ejercicio de la navegación


de cabotaje (es decir, sin alejarse de la costa), las que no dejan lugar a dudas
sobre la extensión de esta acividad (VARNHAGEN, 1927, p. 38, 266, 348, 354;
ANCHIETA, 1933, p. 307; SOUTHEY, 1862, p. 119; LÉRY, 1580).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 167


El jesuita José Anchieta, tesigo clave por su profundo conocimiento del
medio, destaca constantemente cómo los indios se desplazan por “mar y ierra”.
En una carta de su autoría fechada en 1565, encontramos un texto muy elocuente
sobre las caracterísicas técnicas y las dimensiones sociales y económicas que
había alcanzado la navegación indígena. Respecto de los tamoyos, indios de la
bahía de Guanabara, señala que:
tenían aparejadas docientas o más canoas, que hacen, cada una, de la
corteza de un solo árbol, poniéndoles otros pedazos de la misma corteza por
bordas, muy bien atados con lianas, y son tan grandes que llevan cada una de
ellas veinte a veinicinco y más personas, con sus armas y victuallas; y algunas
más de treinta, y pasan las olas y mares tan bravos que es cosa espantosa y que
no se puede creer, ni imaginar, sino quien lo ve y mucho mejor quien las pasa y
si se les inunda, se iran todos al agua, y la sacan a la playa, o en el mismo mar la
desagotan y vuelven a meterse en ella, y van su camino, y sucede muchas veces
que la gran furia de la tempestad se las hace pedazos, y ellos en su camino se van
a ierra (ANCHIETA, 1933, p. 203, carta fechada en 1565).
La navegación permiía también el rápido desplazamiento sobre kilómetros
de distancia, trayectos que, por otra parte, eran sumamente diicultosos por
ierra (Fernández de Oviedo, apud MEDINA, 1908c, p. 98; MEDINA, 1908b, p. 152,
256, 258, 314; DOCUMENTOS, 1925, p. 15).
El conocimiento de las rutas parece estar ampliamente difundido entre los
pobladores de la región. Es así que cuando Sebasián Gaboto llega al Río de la
Plata en 1527, Francisco del Puerto, sobreviviente del viaje de Solís de 1516, le
advierte con detalles sobre las diicultades de navegación existentes en el Paraná.
En paricular, la navegación indígena de la costa atlánica a la altura del territorio
uruguayo es conirmada por varios tesimonios (Ver LEZAMA, 2009). Entre ellos
destacamos el que resulta de la pregunta 55ª del juicio realizado a Sebasián
Gaboto a la vuelta de su expedición de 1527 (MEDINA, 1908b, p. 438, 466):

[…] sabe que, yendo la dicha armada a la isla de los Lobos, en el


paraje de la ierra de los beguacharrúas, vinieron a las naos dos
canoas de indios de la dicha nación [...] y el Capitán les preguntó
por una lengua indio que era de la dicha nación que traía el dicho
Capitán en la dicha nao (todos los resaltados son propios).

Tenemos referencias de que muchos de estos desplazamientos eran


masivos, de grupos enteros, con su corolario en cuanto a relaciones inter e
intra grupales: intercambio de genes, de regalos, ataques por sorpresa, robos
y saqueos, etc. En este senido Gabriel Soares de Sousa nos informa que los
tupinambás de la Bahía eran enemigos de otros tupinambás vecinos: “e faziam-

168
se cruel guerra uns aos outros por mar; onde se davam batalhas navaes em
canôas” (SOARES DE SOUSA, 1938, p. 362). Cuando Francisco de Mendoza llega
al río Paraná, viniendo desde el Perú en 1543, le salen al encuentro “300 canoas
de indios” quienes “comenzaron a levantar las palas en alto en señal de amistad”
(DÍAZ, 1836, p. 70).
La construcción de embarcaciones implicaba una acividad económica
destacable en el contexto de una economía con una mínima acumulación de
esfuerzo social; llegando a uilizarse como medio de pago. Sebasián Gaboto, en
1527, fue informado por Francisco del Puerto como “los chandules (guaraníes)
que son indios desta mesma jeneración questan sesenta o setenta leguas el
paraguay arriba” obtenían los metales preciosos trocándolos por “quentas e por
canoas” (RAMÍREZ, 1528 apud RELA, 2001, p. 111).
Exisían disintos ipos de embarcaciones indígenas. Normalmente eran
canoas monoxilas, fabricadas con un solo tronco, llamadas “igará”. Varnhagen
realiza numerosas observaciones sobre la acividad naval de los indígenas y señala
que algunas eran enormes, remadas hasta por 60 hombres, pero que “outras
vezes era só uma coriça de arvore, com pontaletes no meio, e apertada com
cipós, para icar convexa, e lhes chamavam ubás” (VARNHAGEN, 1927, p. 38).
Capistrano de Abreu, por su parte, describe otro ipo de embarcación
empleado en la costa norte del Brasil, construida con paja, lo que nos está
mostrando una variedad de tecnologías que a su vez son relejo de la inversión
en comunicación realizada por estas sociedades: (las embarcaciones eran), de
uma palha comprida como a das esteiras de tabúa que fazem em Santarem, a
que elles chaman periperi, a qual fazem em molhos muito apertados com umas
varas como vimes [...] com estes molhos atados em umas varas grossas, faziam
uma feiçao de embarcaçoes, em cabiam dez a doze indios, que se remavam muito
bem [...] muitas vezes fazerem os Caetés dessa palha tamanhas embarcaçoes
que vinham nellas, ao longo da costa, fazer seus saltos aos Tupinambás junto da
Bahía, que sao cincoenta leguas (VARNHAGEN, 1927, p. 38).
También el francés Jean de Léry, quien residiera en 1557-58 en el
establecimiento francés de Río de Janeiro hizo observaciones sobre las
caracterísicas de las embarcaciones indígenas y su uilización. Destaca la
capacidad de las canoas, que podían contener hasta cincuenta personas y la
técnica de navegación de cabotaje:
Cuando van por el agua (lo que hacen seguido) costeando siempre la
ierra y sin entrar mar adentro, se acomodan en sus barcas que denominan Ygat,
las cuales (son) fabricadas cada una de ellas de una sola corteza de árbol, que
pelan expresamente de arriba hacia abajo a esos efectos, son sin embargo tan
grandes, que cuarenta o cincuenta personas pueden caber en una de ellas. Así

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 169


bogando parados según su costumbre, con un remo chato en sus dos extremos,
al cual sosienen por el medio, dichas barcas (chatas como son) no se hunden
en el agua más de lo que lo haría un tablón, son muy gáciles de conducir y
manejar. Es verdad que no podrían soportar el mar un poco fuerte y agitado, y
menos la tormenta: pero cuando el iempo está calmo, nuestros salvages van a
la guerra, como verán algunas veces más de sesenta (canoas) en una lota, las
que siguíendose de cerca van tan rápido que inmediatamente se las pierde de
vista. Esas son entonces las armadas terrestres y navales de los Tupinambás en
los campos y en el mar (JEAN DE LÉRY, 1580. traducción nuestra).
Es en el marco de la nueva realidad surgida del dominio de la navegación
en que debemos comprender las transformaciones culturales que se producen
en las cuencas del Amazonas, del Plata y toda la costa Atlánica en los úlimos
cuatro milenios.
Es ella la que conforma nuevos “territorios” -cuyo corazón son las
vías de circulación y no las ierras adyacentes- donde se expresan las nuevas
modalidades culturales. Es en el marco de estos que debemos entender lo
paricular y lo general de los comportamientos ideniicados.
A su vez, la existencia de esa intensa red de comunicaciones y el
intercambio cultural que supone nos lleva a plantear el tema de la difusión de
prácicas y comportamientos cuando estas son compaibles con los desarrollos
locales y trasladar al escenario prehistórico el problema de la deinición de
idenidades culturales y su trascendencia en el desarrollo histórico.
¿De qué estamos hablando cuando señalamos diferencias arqueológicas?
Y, recíprocamente: ¿de qué estamos hablando cuando señalamos semejanzas?
Nuestra hipótesis es que la generalización de la técnica de la navegación
en canoas, con la necesaria interrelación que esta supone generó un ambiente
cultural único -que bauizamos como “panguaraní”- caracterizado por
comparir múliples prácicas culturales, conjuntamente con la permanencia de
adaptaciones locales; ambiente que, en lo fundamental, es el resultado de la
transformación de las poblaciones que originalmente ocupaban la región.

ALGUNOS DATOS DE LA REALIDAD ETNOHISTÓRICA


AL MOMENTO DEL CONTACTO

La documentación histórica tampoco deja dudas al respecto. Todos los


cronistas coinciden en la masiva presencia de la cultura tupí-guaraní en la región,

170
desde el Amazonas hasta el Plata y desde el Atlánico hasta los contrafuertes
andinos. Por ejemplo, en la carta que Luis Ramírez - miembro de la expedición
de Gaboto- dirige a su padre en 1528 desde la desembocadura del San Salvador
en el Río Uruguay, en el “puerto de las naos”, leemos:

[…] aquí con nosotros está otra generación que son nuestros ami-
gos los cuales Se llaman guarenis y por otro nombre chandris es-
tos andan derramados por esta ierra y por otras muchas [...] Estos
señorean gran parte de esta india y coninan con los que habitan en
la sierra (i.e. los Andes) (RAMÍREZ, 1528 apud RELA, 2001, p. 108).

También concuerdan en la extensión y la intensidad de sus comunicaciones


a lo largo de miles de kilómetros de ríos y costas (MEDINA, 1908, p. 260). Citemos
al respecto a Alvar Núñez Cabeza de Vaca, quien en 1541, cuando describe a las
poblaciones que encuentra en su travesía desde Santa Catalina hasta Asunción,
airma que “esta generación de los guaranies es una gente que se enienden
por su lenguaje todos los de las otras generaciones de la provincia” (CABEZA DE
VACA, 1853, p. 558).
En el mismo senido, Eurico Schmidel, quien vino con Pedro de Mendoza
en 1536 (tesigo valioso por su larga experiencia en la región y porque su
tesimonio, desinado al público alemán, no está pensado para jusiicar su
actuación como normalmente sucede con los autores ibéricos) (CHASE, 1964,
p. 28) señala, en 1554, que los tupíes “ienen idioma parecido (al de) los Carios
(guaraníes), con los que bien poca es la diferencia que hay” (SCHMIDEL, 1903,
p. 281).
Otra prueba de la extensión de la presencia guaraní la aporta el padre
José de Anchieta, integrante del primer grupo de jesuitas enviado al Brasil que
llegó en 1549 junto al primer gobernador de Bahía, Thomé de Souza. En 1584,
desde el colegio jesuita que fundara en San Pablo de Piraininga, Anchieta reiere
que: “Todo êste genio desta costa, que também se derrama mais de 200 leguas
pelo sertao, e os mesmos Carijós (carios o guaraníes) que pelo sertao chegam
até ás serras do Perú, teem uma mesma lingua que é grandissimo bem para su
conversao” (ANCHIETA, 1933, p. 302).
También Gabriel Soares de Sousa, respecto de las poblaciones de la costa
del Brasil, en 1587 traza un panorama común desde Pernambuco al Río de la
Plata: “Aunque los Tupinambás se dividan en bandos, y estén enemistados unos
con otros, todos hablan una misma lengua, que es casi general por la costa del
Brasil, y todos ienen las mismas costumbres en su modo de vivir y genilidades”
(SOARES DE SOUSA, 1938, p. 364).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 171


La elección de la lengua tupí-guaraní como instrumento de comunicación
entre las disintas parcialidades es un fenómeno precolombino que demuestra
el presigio de la cultura tupí-guaraní en toda el área. La lengua es un vehículo
cultural y la preponderancia del tupí-guaraní es fundamento suiciente para
suponer que numerosos rasgos del comportamiento cultural de sus hablantes
se difundieron junto a su lengua.
El valor del tupí-guaraní como “lengua general” (según la expresión de
varios cronistas) queda claro desde las primeras expediciones que llegan al
área sudatlánica, señalándose, con relación a la cuenca del Plata, que indios
de otras parcialidades tenían “ynterpretes guaranies” a través de los cuales se
comunicaban con los españoles77
Otro aspecto a considerar es el de las alianzas bélicas – que siempre
aparecen como variables y circunstanciales – que se establecían entre disintas
parcialidades, incluyendo generalmente algún componente panguaraní
(MEDINA, 1908b, p. 261, 468).
Estas alianzas implican desplazamientos de personas y convivencias más o
menos prolongadas entre miembros de disintos grupos. En estas circunstancias
necesariamente deben comunicarse, intercambiar ritos, costumbres,
informaciones y, seguramente, genes. A este respecto son reveladores los
constantes episodios de alianzas entre parcialidades que se producen durante
la conquista de la cuenca del Plata. Mencionemos el caso de Buenos Aires que,
luego de su segunda fundación, sufrió el ataque de “gente de varias naciones”
– entre ellos querandíes y charrúas - encabezado por Tabobá, cacique guaraní
elegido “por voto común de todos los aliados” (LOZANO, 1874, p. 240).
Complementando este panorama hay coninuas referencias a la
circulación de noicias y diversas evidencias de que los indios conocían lo que
sucedía aun a miles de kilómetros de distancia.
También tenemos tesimonios de desplazamientos sin que se explicite
los moivos: estando Gaboto en Sanci Spíritus, iene noicias por intermedio
de un grupo de “Querandíes” que estaba de visita entre los “Chandules” de las
riquezas de los Andes, así como de las diicultades del camino hacia el oeste
debido a la falta de agua; e incluso le informan “que de la otra parte de la sierra
(Andes) coninaba la mar y según dezian crecia y menguaba mucho y muy supito”
(MEDINA, 1908a, p. 163). Sabemos asímismo que a Gaboto se le advirió que
“si quería ir por ierra a las minas del Paraguay, que habían de pasar por unas

77 “Información de los méritos y servicios del Capitán Gonzalo de Mendoza” Asunción, Febrero
15 de 1545), tesimonio de Nicolás Colina, In: SCHMIDEL (1903, p. 383).

172
marismas o lagunas que duraban espacio de tres días, e que habían de dormir
una noche en las dichas lagunas”78.
Deinido este “ambiente panguaraní” de permanente comunicación
y circulación de gentes, objetos e ideas, es necesario plantear el problema
de cuál era efecivamente el grado de diferenciación entre las disintas
parcialidades indígenas disinguidas por los primeros cronistas, como los
“Charruases, Guaraníes, Chanaes, Chanaes, Atembures, Carcaraes, Carandíes
y Atambúes”, mencionados por Diego García al inal de su Memoria referida a
los acontecimientos que protagonizó en 1527, quien, marcando claramente la
diicultad de considerarlos como pertenecientes a etnias separadas, señala que
“todas estas generaciones son amigos e están juntos e hácense buena compañía”
(MEDINA, 1908c, p. 244).
Como hemos visto, los invesigadores que se han ocupado de este tema
han estado más preocupados por encontrar diferencias – que sin duda las hay
- que idenidades y similitudes. La actual discusión del concepto de “etnia” con
relación a lo “guaraní” permite hacerse una idea de la complejidad del problema
(GLUCHY, 2000). Con respecto a lo que nos ocupa, señalamos que en las
actuaciones realizadas como consecuencia de la expedición de Gaboto (1527) se
emplean indisintamente, como si fueran equivalentes – tanto en las preguntas
como en las respuestas - las denominaciones “chaneses imbúes” y “charrúas
imbúes” (MEDINA, 1908a, p. 185, 190, 199).
Debe tenerse en cuenta que las diversas denominaciones pueden referirse
tanto a disintas familias o caciques – dentro de la misma etnia - o algún aspecto
paricular, a los ojos del “otro”, de su comportamiento. Lafone – traductor y
comentarista de Schmidel - sosiene que “los Timbú derivaban su sobrenombre
de los adornos que se ponían en las narices, y fueron los Guarani quienes se lo
aplicaron” (SCHMIDEL, 1903, p. 59).
El problema de la ideniicación de los grupos por los nombres que les
atribuyen los cronistas e historiadores es que esas denominaciones no implican
necesariamente distancias culturales. En este senido es interesante la referencia
que aporta Díaz de Guzmán con relación a los indios imbúes de la zona de Santa
Fé: “todas las veces que se les muere un pariente, se cortan una coyuntura del
dedo de la mano, de manera que muchos de ellos estan sin dedos por la canidad
de deudos que se les han muerto” (DÍAZ, 1836, p. 10), prácica cultural que
luego encontraremos referida a los charrúas y minuanes de la Banda Oriental
78 Interrogatorio presentado por Sebasián Caboto en el pleito que le sigue Catalina Vázquez
- Sevilla, 27 de Agosto de 1530 (Archivo de Indias, PATRONATO, 1-2-1/8, ramo IV, pieza I,
fols. 67-79). Tesimonio de Juan de Valdevieso, “genil-hombre de la armada”, In: MEDINA
(1908b, p. 466).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 173


y el Entre Ríos. Inversamente, encontramos descripciones de rasgos culturales
reconocidos por la historia y la arqueología como ípicamente tupí-guaraníes
referidos a parcialidades que, de acuerdo a la visión tradicional, no pertenecerían
a ese grupo. Por ejemplo, Félix de Azara describe el uso del “tembetá” –adorno
facial caracterísico de los tupí-guaraní- entre los charrúas (AZARA, 1896, p. 191).
Por su parte, Lozano menciona a los “imbues, quiloasas y colasinés” como
“naciones del distrito de Santa Fé” que pracicaban el canibalismo (LOZANO, 1873,
p. 428), comportamiento que es ípicamente tupí-guaraní79.
Asímismo, esos documentos están generalmente desinados a jusiicar
acciones personales, normalmente frente a jurados europeos, por lo que, en ese
contexto, la descripción que se haga tanto de los amigos como de los enemigos
está pensada para jusiicar o condenar los hechos en cuesión. Tampoco debe
restarse importancia a las diicultades que presenta la comprensión de la
fonéica y fonología de las lenguas indígenas, aun para aquellos europeos que
se abocaron a esa tarea, como lo hicieran los sacerdotes jesuitas. Uno de ellos,
Antonio Vieira, quien vivió en Brasil desde 1641, menciona que muchas veces,
pese a “estar com o ouvido applicado á boca do Barbaro, e ainda do intérprete
[...] nao percebem os ouvidos mais que a confusao” (VARNAGHEN, 1927, p. 25).
También debemos considerar que, muy probablemente, aunque la base cultural
sea la misma, la adaptación a disintos ecosistemas – estamos hablando de
un área que abarca la tercera parte de Sudamérica - debe haber determinado
comportamientos disintos. Anchieta señala claramente estas diferencias de
comportamiento – en función de los ecosistemas, diríamos hoy - en el interior
del propio grupo tupí-guaraní (ANCHIETA, 1933, p. 329).

LAS TRANSFORMACIONES PROVOCADAS POR EL


DESCUBRIMIENTO Y LAS LIMITACIONES QUE ESTAS
IMPONEN AL MODELO ETNOLÓGICO

Otro elemento que no ha llamado la atención de los invesigadores es


preguntarse sobre la desaparición, luego de consolidada la realidad colonial, con
las parcialidades ideniicadas como guaranies que habitaban en la zona: ¿Qué
pasó con los Guaraníes de Asunción, y los “Guaraníes de las Islas”? ¿Qué pasó

79 Por otros comportamientos cf. LAFONE. In: SCHMIDEL (1903, p. 60), DE ANGELIS, apud DÍAZ
(1836).

174
con los Carios, Chandules, Carijós, Querandíes y otros sinónimos de “Guaraní”
que poblaban la cuenca del plata?
Prácicamente desaparecen en las primeras décadas de la conquista y
será recién, Misiones Jesuíicas mediante que el término “Guaraní” vuelve a
hacerse popular en documentos y crónicas.
¿Son los mismos “guaraníes”? Los supervivientes de los que ocupaban
toda la cuenca. ¿Son un grupo marginal que escapó a los estragos de la conquista?
¿Son otras parcialidades rebautizadas por obra de los jesuitas?
¿Cómo desapareció lo que, de acuerdo a todos los cronistas constituía la
mayor concentración demográfica en la región?
La explicación militar/sanitaria es completamente débil. ¿Dónde están
las masacres y genocidios? ¿No hubo tesimonio de epidemias que aniquilan
poblaciones enteras? ¿Porqué sobreviven los indios de San Pablo?
La falta de respuesta a esas preguntas nos lleva a la necesidad de
reconstruir el relato histórico asumiendo que la llamada “conquista” del Río
de la Plata comienza con la derrota militar de los castellanos y forzosa alianza
con las poblaciones locales. Serán los europeos los que se acojan a la cultura
panguaraní y no a la inversa.
El problema es que estos, los indios, en su mayoría, los autoideniicados
como “guaraníes, simplemente cambian su nombre y pasan a formar el
coningente “blanco – conquistador” del que nos hablan los documentos.
A parir de ese cambio el “indio” pasa a ser el que quedó fuera de la
posibilidad de cambiar de idenidad. Sin embargo, cambio de nombre no implica
cambio de pautas culturales y, en los hechos, serán indios discriminando indios.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 175


CAPÍTULO 8

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS GUARANI DO LITORAL SUL


DO BRASIL, URUGUAI E ARGENTINA: REGISTROS ATÉ 2013

Francisco Silva Noelli80


Rafael Guedes Milheira81
Gustavo Perei Wagner82

O objeivo principal da lista de síios Guarani das planícies costeiras da


Região sul do Brasil, Uruguai e Argenina é a pesquisa e o reconhecimento públi-
co do patrimônio arqueológico. O reconhecimento do patrimônio arqueológico
é fundamental para o seu desino futuro, tanto para a preservação e cumpri-
mento da legislação e das normas vigentes sobre proteção e gestão, quanto para
a sua valorização pelas comunidades locais. Na medida em que cresce o interes-
se pelo tema, seja de parte dos pesquisadores e da sociedade, desenvolvem-se
parâmetros para a preservação e ideniicação com o patrimônio arqueológico.
A distribuição geográica litorânea mostra que, em nível mais geral, os
síios e demais evidências arqueológicas Guarani ocorrem entre a Baía de Pa-
ranaguá e a foz dos rios Uruguai e Paraná, mais a zona costeira da Província de
Buenos Aires até o sul do rio Salado. Estes síios integraram uma grande rede de
assentamentos em uma vasta área do Brasil, Paraguai, Argenina e Uruguai, cuja
aniguidade remonta há pelo menos dois mil anos. (BROCHADO, 1984; NOELLI,
2004). Poucos estudos regionais deram conta de invesigar a ariculação espacial
e temporal da maioria dos síios arqueológicos, para veriicar os ipos de relação
entre os ocupantes dos assentamentos. A busca de elementos arqueológicos e

80 Professor aposentado da Universidade Estadual de Maringá, Paraná. fnoelli@wnet.com.br


81 Professor do Bacharelado em Antropologia/Arqueologia e do Programa de Pós-graduação
em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas. Pesquisador do LEPAARQ/UFPel -
milheirarafael@gmail.com.
82 Arqueólogo e Historiador. STRATA – Consultoria em Arqueologia e Patrimônio Cultural
– arqueologia.strata@gmail.com.
históricos para estabelecer os processos de ocupação local/regional e quais foram
os ipos de relação entre os síios nessas escalas, também é um objeivo do futuro
que está sendo gradaivamente construído.
Considerando que as conclusões sobre os vazios demográicos devem ser
enfrentadas com cautela deveriam sugerir novas propostas de invesigação. Es-
pecialmente pelo fato dos Guarani não originarem, no passado, assentamentos
isolados. Como demonstram as evidências arqueológicas e históricas, eles, ao
contrário do que se veriica nos úlimos 200 anos, construíram redes de aldeias
inter-relacionadas. Algumas áreas pesquisadas não apresentam evidências de
forma consistente e repeida, como é o caso do município de Joinville e adja-
cências, parcialmente invesigados desde o início do século XX, como mostra
Dione Bandeira no capítulo 1. Outro exemplo é a extensa faixa costeira entre o
sul do município de Rio Grande e as cercanias de Colônia do Sacramento, que
também não apresentam registros consistentes e repeidos da presença Gua-
rani, apresentando, contudo, uma alta densidade de síios do ipo Cerrito, com
destaque para a bacia da Lagoa Mirim, Laguna dos Patos e litoral norte uruguaio
(SCHMITZ, 1976; MAZZ, 2010).
Entendemos que o caso de Joinville é consequência do foco sobre as áre-
as de invesigação, mais dirigido às partes próximas do oceano em demanda dos
sambaquis, enquanto que o interior raramente foi alvo de levantamentos siste-
máicos. No caso da faixa entre o sul de Rio Grande e Colônia do Sacramento,
deve-se a uma conjuntura de limitações ecológicas para os padrões de assenta-
mento Guarani, associada à elevada densidade de cerritos e, proporcionalmen-
te, uma alta taxa demográica dos Minuanos e Charruas.
Vários indícios revelam que as áreas mais distantes das praias são prai-
camente desconhecidas e ignoradas pelos arqueólogos, apesar do seu grande
potencial para ocupação Guarani. É o caso dos terrenos não alagadiços das pla-
nícies, das faldas de morros e dos baixos cursos dos rios entre Paranaguá e o rio
Mampituba, consituindo áreas cobertas por Mata Atlânica de porte variado,
onde existe abundância dos recursos explorados tradicionalmente, justamente
as áreas com o maior potencial para a ocupação Guarani. O reconhecimento
arqueológico da ocupação do vale do Maquiné, no Rio Grande do Sul, é o maior
exemplo do que poderá ser encontrado ao norte do Mampituba.
Assim, há muitos temas e problemas inteiramente abertos à pesquisa.
Um deles é a necessidade de buscar uma deinição mais elaborada dos sistemas
de exploração e assentamento entre a linha de praias e o interior. Prevemos que
essa faixa com largura média de 40-10 km ainda revelará uma quanidade muito
maior de registros de síios em relação ao número atual.

178
Existem, por outro lado, áreas pesquisadas perto da praia há muitas dé-
cadas, por vários arqueólogos, com acúmulo de informações e a constatação de
importante concentração de síios. É o caso da longa faixa entre Florianópolis e
Rio Grande, que apresenta uma coninuidade e densidade importantes, mesmo
na zona de matas ciliares e de capões de mato junto da Lagoa dos Patos. Apenas
um trecho de 50 km do litoral sul de Santa Catarina é pouco conhecido, da mar-
gem norte do rio Mampituba até o sul do rio Araranguá. Os deltas dos rios Para-
ná e Uruguai também possuem diversos registros de síios, mas o levantamento
arqueológico é muito incompleto em relação à grande extensão do território
onde estão inseridos.
A quanidade de registros locais ou regionais também é um problema a
ser enfrentado, pois existem casos onde um único assentamento foi considerado
como diferentes síios arqueológicos. Tal problema resulta do modo como os
arqueólogos concebem os Guarani, especialmente quando adotaram a teoria da
degeneração, que aceita apenas o pressuposto de que eles inham baixa demo-
graia e ocupavam pequenas aldeias por curto período, por causa de supostas
limitações ambientais (cf. NOELLI e FERREIRA, 2007). Outras vezes o pressupos-
to foi registrar cada mancha de terra preta ou cada concentração de fragmentos
cerâmicos como um síio, mesmo que elas esivessem perto de outras manchas
ou concentrações. Tais predições, pelo menos no Brasil, foram possíveis por
causa de uma deiciência crônica, baseada no costume de aceitar o resultado
de prospecções apressadas, metodologicamente incompletas ou erradas, rara-
mente revisadas por pesquisas arqueológicas dedicadas a estabelecer os limites
espaciais e cronológicos de cada síio arqueológico.
Outro problema em relação às lacunas de registros arqueológicos sur-
ge quando consideramos as cidades litorâneas de médio e grande porte. Por
exemplo, Paranaguá, Guaratuba, Florianópolis, Joinville, São José, Porto Alegre,
Torres, Capão da Canoa, Tramandaí, Osório, Pelotas, Rio Grande, e a zona me-
tropolitana de Buenos Aires, possuem evidências registradas no inal do século
XIX e início do século XX. Contudo, atualmente, tais registros são praicamente
inacessíveis, encontrando-se embaixo das crescentes malhas urbanas, fato que
leva ao emprego de pesquisa sobre a história local, contatos mais estreitos com
as comunidades, etc.. O impacto sobre essas evidências arqueológicas também
é causado pelas pequenas cidades, vias rodoviárias e ferroviárias, portos, gran-
des obras, condomínios, extração de sedimentos, etc.. Tais empreendimentos
são implantados nos terrenos mais elevados da Planície Costeira, aqueles mais
secos e propícios ao assentamento humano, geralmente onde as populações
indígenas também faziam suas aldeias e acampamentos. Porém, mesmo com a

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 179


necessidade de maiores e mais ariculadas pesquisa futuras, a lista de síios que
apresentamos revela um quadro de ocupação Guarani no sul do Brasil, Uruguai
e Argenina.

RIO GRANDE DO SUL83

O litoral norte do Rio Grande do Sul apresenta um sistema de ocupação


e povoamento Guarani circundante às regiões lacustres e terraços luviais, con-
forme demonstrado por Gustavo Wagner no capítulo 2. No entanto, a maioria
dos vales luviais que descem do Planalto Meridional e alimentam o rosário de
lagoas costeiras foram pouco invesigados, sendo conhecidos apenas os cursos
médio e inferior do rio Maquiné, bem como o curso Inferior do rio Três Forqui-
lhas. Contudo, tais dados nunca foram efeivamente sistemaizados e analisa-
dos. Apenas Dias (2003) empreendeu a caracterização das ocupações Guarani
para o vale do Rio dos Sinos, que nasce no litoral norte, mas tem curso voltado
para a Depressão Central do Estado.
As pesquisas realizadas no litoral central do Rio Grande do Sul revelam
que os Guarani ocuparam e exploraram ambientes distantes da sua tradicional
área de cobertura lorestal, como mostra Jairo Rogge no capítulo 5. Nesta parte
há pouca cobertura lorestal e predomínio das matas ciliares, capões de mato,
banhados e superícies arenosas e/ou dunas. A planície a oeste de Osório-Pinhal,
que se estende pela várzea do rio Gravataí e conecta o litoral à Bacia do Guaíba,
também é pouco conhecida, apesar dos vários registros de síios. Logo ao sul,
na resinga que divide o Oceano Atlânico da Laguna dos Patos, o levantamento
preliminar constatou um padrão de ocupação semelhante ao dos litorais central
e norte (PESTANA, 2007).
A Bacia do Guaíba foi detalhadamente estudada por Adriana Schmidt
Dias e Sergio Bapista da Silva no capítulo 4 onde as praias, pontais e promontó-
rios graníicos foram priorizados nas prospecções. No entanto, quando examina-
mos a Laguna dos Patos, uma coninuidade do Guaíba, veriicamos a imensidão
das áreas com pouco ou nenhum levantamento na margem oeste e na porção
Setentrional (especialmente na zona das lagoas no entorno da Lagoa do Casa-
mento, dos rios e dos banhados). Podemos incluir o baixo vale dos rios que des-
cem o Escudo Cristalino e as diversas ilhas da laguna. A exceção é o médio-alto
rio Camaquã, que também revelou concentração de registros arqueológicos.

83 Ver os Mapas 01 e 02 com a localização dos síios Guarani entre o Estado do Paraná e a Argenina.

180
A porção Meridional da laguna dos Patos é pesquisada desde a década
de 1950, onde foram mapeados, datados e estudados síios que compõem do-
mínios territoriais ariculados entre o litoral e o Escudo Cristalino, conforme Mi-
lheira no capítulo 6. Contudo, devido a grande extensão dessa área, resta ainda
muito espaço para ser invesigado, na própria laguna, no rio São Gonçalo e nos
seus vários aluentes.
O Litoral sul do Rio Grande do Sul é uma área pouco invesigada. Houve
pesquisa na porção Meridional, no município de Santa Vitória do Palmar (SCHMITZ,
et al. 1997), onde predomina a cerâmica da Tradição Vieira, com escassas
evidências de cerâmica Guarani. Mas a extensa área do Banhado do Taim e das
zonas de inluência das Lagoas Mirim e Mangueira ainda precisa de invesigações
para que seja possível deinir os limites da expansão Guarani na região.

SANTA CATARINA

O conhecimento dos arqueólogos sobre litoral catarinense é muito he-


terogêneo. No litoral norte, o trabalho de Bandeira no capítulo 1 problemaiza
exatamente a quase total ausência de síios Guarani, sobretudo na baía de Ba-
bitonga. Apesar de tais evidências, a região ainda precisa de um levantamento
mais amplo e exausivo.
No litoral central, por sua vez, há um aumento considerável de síios Gua-
rani, sobretudo no entorno de Florianópolis, onde muitas pesquisas revelaram
um panorama ocupacional bastante intenso, com uma cronologia regional que
alcança 900 A.P. Contudo, a porção entre os municípios de Biguaçu e o sul de
Joinville revelou poucas evidências além dos sambaquis, facilmente encontra-
dos devido a sua monumentalidade e ao processo de fabricação de cal e ex-
tração de material para pisos rodoviários. Consideramos de fundamental im-
portância o levantamento das planícies e dos baixos vales que deságuam nos
oceanos, a exemplo dos rios Tijucas, Itajaí e Itapocu, praicamente ignorados até
o presente.
O litoral sul do Estado de Santa Catarina é, sem dúvida, uma das regiões
mais pesquisadas do litoral brasileiro. Como mostramos acima, existe uma coni-
nuidade de síios entre Laguna e Araranguá. Contudo, as planícies no entorno de
Laguna e de Tubarão também são quase desconhecidas, assim como os baixos
vales da região.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 181


PARANÁ

É o Estado brasileiro com menor incidência de síios Guarani, cuja baixa


quanidade de registros é proporcional a curta extensão do litoral, com pou-
co mais de 80 km. Em compensação as baías de Guaraqueçaba, Paranaguá e
Guaratuba, mais as diversas ilhas litorâneas abrigam centenas de sambaquis,
registrados desde os anos 1940 (BIGARELLA, 1950-1951; RAUTH, 1974; BLASI e
outros, 1987). A maioria dos baixos cursos dos rios presentes nos vales da Serra
Geral foi pouco invesigada, consituindo áreas para futuras pesquisas. Os síios
Guarani foram registrados principalmente por Fernandes (1947) e por Chmyz
(1976, 2002). Considerando a grande quanidade de registros para Curiiba e
áreas próximas, é muito grande o potencial para ocorrência de síios dos ricos
ecossistemas dos vales que ligam o planalto curiibano ao litoral, por um raio
aproximado de 70 km a parir de Paranaguá.

URUGUAI

O litoral Atlânico do Uruguai, devido a sua cobertura vegetal predomi-


nantemente campestre, também apresenta escassa presença Guarani, cujo pa-
drão de assentamento de aldeias é dependente de áreas com cobertura arbó-
rea. A baixa frequência de síios Guarani talvez pudesse ser explicada pelo fato
de que tanto o litoral atlânico como a bacia hidrográica da lagoa Mirim tenham
sido massiçamente ocupadas pelos construtores de cerritos (BRACCO et al.,
2008, MAZZ, 2010). Sabe-se, através de dados arqueológicos, que os construto-
res de cerritos ocuparam os corpos lagunares litorâneos e os banhados desde,
pelo menos, 4500 A.P., mantendo pleno domínio territorial até a chegada, pri-
meiros das populações Guarani no atual Rio Grande do Sul e, depois, a parir do
século XVII, pelos europeus. Nesse senido, a baixa ocorrência de síios Guarani
na faixa atlânica uruguaia pode ser decorrente da impossibilidade da manuten-
ção do seu sistema tradicional de assentamento dentro ou à beira das lorestas e
mata ciliriares, associada à resistência dos Minuano e Charruas. Sabe-se que um
dos fatores fundamentais para a escolha dos assentamentos é o meio ecológico
que permita o manejo agrolorestal e a implantação da agricultura de coivara,
fundamentais para a economia Guarani (BROCHADO, 1984; NOELLI, 1993). No
litoral uruguaio são poucos os locais que permitem reproduzir esse padrão de

182
assentamento, basicamente restritos a bacia do rio Uruguai. Consideramos que
a expansão para os territórios ao sul da Lagoa Mirim poderia ter icado restrita
à caça e coleta em incursões pontuais. Consideramos ainda, com base em dados
arqueológicos e históricos, que ocorreram diversos ipos de relação políica en-
tre os Guarani, os Minuano e os Charrua, sendo um tema que ainda precisa ser
invesigado.

ARGENTINA

A zona metropolitana de Buenos Aires, as ilhas do delta do rio Paraná e par-


tes do litoral da Província de Entre Ríos, forneceram registros síios Guarani desde a
década de 1870. Contudo, diversas razões maniveram as pesquisas de levantamen-
to arqueológico de baixa intensidade, resultando em poucos registros em proporção
ao grande tamanho do território argenino no litoral do rio da Prata. Felizmente, a
recente retomada das invesigações sobre a Arqueologia Guarani promete um futu-
ro promissor para novas descobertas, especialmente para apresentar um panorama
mais exato sobre a quanidade de síios na região (Pérez et al 2009).
Um aspecto importante das novas pesquisas é a descoberta de cerâmi-
ca Guarani ao sul do rio Salado (ALDAZABAL, 2008; ALDAZABAL, WEILER e EU-
GENIO, 2005). Aldazabal (2008, p. 78) sugere que a presença dessa cerâmica
produzida localmente, com predomínio do tratamento de superície corrugada,
poderia ser resultado da “incorporação de uma nova tradição [...] provavelmen-
te resultado de intercâmbios”. Esta cerâmica possui caracterísicas com “estrei-
ta relação com os Esilos da área norte da Província [de B. Aires] e do Litoral
mesopotâmico, que sustentam a hipótese de um corredor costeiro norte-sul”
(ALDAZABAL, 2008, p. 79).
Acreditamos que o aspecto mais importante a ser destacado é a coninui-
dade dos síios e evidências arqueológicas, mesmo que com uma baixa frequên-
cia de registros e apesar das diiculdades impostas pela região metropolitana
bonaerense e cidades litorâneas. Porém, apesar das pesquisas mostrarem que
havia boa adaptação em relação à exploração da fauna e a produção local da
cerâmica, ainda sabe-se pouco sobre o conjunto dos síios e sua densidade.
A tabela de síios Guarani do litoral apresenta os seguintes itens:
✓ Estado da federação brasileira em ordem alfabéica: Paraná, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina. Para a Argenina e o Uruguai não apresentamos as pro-
víncias e departamentos devido à diiculdade de obter informes precisos sobre

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 183


o município e localidade do registro. Na Argenina predominam os registros das
Províncias de Buenos Aires e Entre Ríos.
✓ Cidade de localização dos síios: No caso do Uruguai e da Argenina,
apresenta-se a província de localização dos síios quando a cidade não foi men-
cionada pela fonte. No caso do Brasil existem lacunas onde as fontes não citam
município ou localidade; também haverá diferença entre a nossa tabela e as
informações das publicações anteriores a criação dos novos municípios a parir
de 1997. Também haverá diferenças em relação aos trabalhos recentes que co-
piaram automaicamente os dados do CNSA, que se encontra desatualizado para
muitos registros anteriores a 1997.
✓ Localidade: Esse campo traz informações sobre o nome das localidades
dos síios.
✓ Nome do síio: Há casos de síios que são nomeados por extenso e há
casos de síios que apenas recebem numeração, geralmente a mesma numera-
ção das siglas de cadastro.
✓ Sigla: esse item apresenta as siglas dos síios conforme foram publica-
das e no CNSA-IPHAN. Há casos em que as siglas também reproduz o nome dos
síios. Há casos de síios que nunca foram cadastrados no CNSA e, portanto, não
receberam sigla. Também ocorrem situações de síios cadastrados mais de uma
vez, possuindo mais de uma sigla.
✓ Coordenadas: apontamos as coordenadas UTM dos síios arqueo-
lógicos. Em muitos casos, foram publicadas originalmente como coordenadas
geográicas (graus, minutos e segundos), que convertemos para UTM, para pa-
dronizar as referências. Muitos síios ainda não contêm suas coordenadas geo-
gráicas, sobretudo nas publicações mais anigas, totalizando 290 (44,20%) com
coordenada e 656 (55,80%) sem informar.
✓ Datação: Este campo apresenta as datações dos síios publicados. As
datações são apresentadas como Anno Domini (AD) ou em data radiocarbônica
(AP = antes do presente), dependendo da fonte de referência. Buscou-se, quan-
do publicado, manter a informação do protocolo dos laboratórios.
✓ Método de datação: esse campo refere-se ao método uilizado pelos
autores para a realização das datações: (TL = termoluminescência), (C¹⁴ = carbo-
no quatorze).
✓ Fontes: nesse campo estão as publicações consultadas para compor
a tabela. Buscou-se apontar o máximo de fontes sobre cada síio arqueológico,
oferecendo todas as informações possíveis à pesquisa. Para o Brasil, além das
publicações, foi consultado o Cadastro Nacional de Síios Arqueológicos (CNSA),
onde existem registros que não foram publicados na literatura da Arqueologia
sobre os Guarani.

184
AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos colegas: Juliano Campos, Marco Aurélio Nadal De Masi,


Eliane Chim, Cleiton Silveira, Vanderlise Machado Barão, Luciana Peixoto, Charles
Miranda, Dione da Rocha Bandeira e Jairo Henrique Rogge pela disponibilização
de dados que permiiram enriquecer a tabela dos síios arqueológicos Guarani do
litoral sul do Brasil. Agradecemos também a acadêmica Daiane Marin pelo auxílio
na editoração da tabela e Jonathan Duarte Marth pela elaboração dos mapas.

Mapa 01: localização dos síios Guarani entre o Uruguai e Argenina.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 185


Mapa 02: localização dos síios Guarani no litoral sul do Brasil.

186
CAPÍTULO 9

O ESPAÇO DOS GUARANI: A CONSTRUÇÃO DO


MAPA ARQUEOLÓGICO NO BRASIL, PARAGUAI,
ARGENTINA E URUGUAI84

Francisco Silva Noelli85

A produção de conhecimento arqueológico sobre os territórios dominados


pelos Guarani por mais de dois mil anos, está em construção desde 1872. Apesar
da grande quanidade de pesquisas, o mapa ainda está longe de estar completo,
consituindo para o futuro um trabalho enorme aos arqueólogos e historiadores.
Não bastasse a diiculdade para registrar os pontos relaivos aos síios arqueoló-
gicos e históricos no espaço geográico, existe outro desaio igualmente hercúleo,
que é a análise e a interpretação dos processos históricos relaivos à ocupação,
manutenção e perda territorial em nível local e regional (considerando as redes
de relações entre territórios com aldeias associadas que consituíam os “guarás”).
Sem falar de temas ainda pouco conhecidos, como demograia, relações interétni-
cas, ecologia histórica e variações de esilo tecnológico da cerâmica em nível regio-
nal. O mapa que se apresenta aqui é uma contribuição ao esforço de sistemaizar
as informações atualmente conhecidas, passo inicial para os desaios apontados
acima. Ele foi composto na Tulha, prédio do Laboratório de Arqueologia, Etnologia
e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá, entre 1999 e 2002, a par-
ir das informações acumuladas por mim, em parceria com Josilene Aparecida e
Carlos Panek Jr, para o banco de dados do projeto de História da Arqueologia na
Região Sul do Brasil (a sustentação mais detalhada do conteúdo deste trabalho foi
desenvolvida anteriormente em Noelli, 1993, 1996, 1998, 2000).
A distribuição Guarani alcançou grande parte do leste da América do Sul,
principalmente as bacias dos rios Paraná e Paraguai. Os dados históricos permi-

84 Este capítulo é uma versão modiicada do arigo publicado na Revista de Indias e na revista
Tellus (NOELLI, 2004a, b).
85 Professor Aposentado da Universidade Estadual de Maringá.
tem esimar que no começo do século 16, quando os europeus chegaram, os
Guarani viviam seu ápice geográico e demográico, com uma população que
poderia superar os dois milhões de pessoas. Desde os primeiros contatos no
rio da Prata, ao redor de 1513, a população diminuiu veriginosamente com a
introdução de vetores infectocontagiosos do Velho Mundo, com as guerras e
a escravidão. Sucessivamente, a foz do rio da Prata, os litorais dos estados de
Santa Catarina e do Paraná e os campos de Curiiba icaram vazios, ou quase,
até 1580. Foi o prelúdio do que ocorreria em outras regiões até o inal do século
17, quando restavam poucos núcleos Guarani com grande densidade populacio-
nal no Mato Grosso do Sul e no Paraguai. Ao redor de 1700, no Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, oeste de São Paulo, Uruguai e províncias de Buenos
Aires, Entre-Rios, Corrientes e Misiones, haviam grupos isolados, com tamanho
ínimo em comparação ao século 16.
As invesigações arqueológicas, históricas, etnográicas e de linguísica
histórica comparada, permitem a percepção do processo da ocupação Guarani.
De acordo com Rodrigues (1964, 1986, 2000; URBAN, 1992), a família linguísi-
ca Tupi-guarani, da qual a língua Guarani é ailiada, teve origem no sudoeste da
Amazônia, no atual estado de Rondônia. A hipótese linguísica é um recurso para
fazer frente à falta de dados arqueológicos Guarani naquela região, orientando
a interpretação do início do processo de expansão para o sul. Segundo os ar-
queólogos, a exemplo de Brochado (1984) e Noelli (1998, 2000, 2008), a origem
amazônica pode ser conirmada por estudos comparados de cultura material. Em
termos etnológicos, a classiicação mais aceita concebe a cultura Guarani essen-
cialmente amazônica, com poucos traços adotados de culturas de fora daque-
la região (MÉTRAUX, 1928; VIVEIROS DE CASTRO, 1986; NOELLI, 1993, 1996;
RODRÍGUEZ, 2000). Brochado construiu um modelo para as rotas de expansão
Guarani, desde Rondônia. Dispomos de evidências arqueológicas no Mato Grosso
do Sul. As principais rotas foram os rios Paraguai e Paraná, subindo seus aluen-
tes até os interlúvios, sempre no interior das selvas onde abriam clareiras para
instalar suas aldeias, roças, trilhas e outras aividades ecológicas e sociais. Novas
pesquisas acrescentam a Bolívia como espaço ocupado pelos Guarani. Devagar
e gradualmente (NOELLI, 1993, 1996, 2000; BALÉE, 2000), ocuparam e coloni-
zaram uma grande parte dos Estados meridionais do Brasil, o Paraguai oriental
e os bosques e matas galerias do Uruguai e do nordeste argenino. Esta estraté-
gia conformou todo o processo de colonização e inspirou os modelos de Lathrap
(1970) e Brochado (1984), que, seguindo e modernizando os princípios do difu-
sionismo, sugeriram que as rotas de expansão foram os rios maiores, gradual-
mente subindo pelos menores até os interlúvios. Os dados conhecidos indicam

188
que o processo de ocupação Guarani ocorreu através de uma autênica guerra de
conquista, que não respeitou as populações das regiões dominadas. Os registros
arqueológicos mostram que os síios foram instalados em áreas anteriormente
ocupadas por populações não guarani, aparentemente expulsas ou assimiladas.
A baixa variabilidade dos registros arqueológicos Guarani é uma prova de que
não ocorreu uma mudança no esilo tecnológico, na forma dos artefatos e nos
padrões de subsistência. A regra foi, ao contrário, a manutenção daqueles traços
culturais, cujos síios datados em um período de mais de 1500 anos, em várias
regiões, não apresentaram disinções consideráveis até agora. Em algumas áreas,
como a fronteira Tupinambá-Guarani do alto rio Paranapanema, correspondendo
a atual divisa dos Estados de São Paulo e Paraná, é possível ter ocorrido um luxo
bilateral de esilos tecnológicos e artefatos, como mostram alguns síios ípicos
Guarani e Tupinambá, assim como algumas vasilhas resultantes da mescla de for-
mas entre ambos os esilos (PIEDADE, SOARES, 2000). Mas, isto parecer ser um
caso raro, pois os Tupinambá são falantes de uma língua da família Tupi-guarani e
possuem elementos culturais muito semelhantes aos Guarani.
Nos aspectos sociopolíicos, a maioria das fontes aponta para a tendência
de incorporar gente não guarani, aparentemente integrada como escrava, even-
tualmente aliada, sob o ñande reko (ethos ou “modo de ser” Guarani, cf. MELIÀ,
1986). A cultura material conhecida de três mil síios arqueológicos (NOELLI s.d.),
aparentemente mostra que a incorporação não trouxe mudanças consideráveis,
mas ainda não é possível determinar seu efeito na organização social e outros as-
pectos da cultura Guarani. Sob uma unidade linguísica e cultural, as aldeias Gua-
rani se apresentavam como agrupamentos independentes, circunstancialmente
inimigos, compostos de comunidades de estrutura e dimensões variáveis.
A distribuição Guarani logo foi percebida pelos europeus na fase inicial da
exploração em 1515 (todas essas expedições podem ser estudadas no livro de
Mello (2005), a mais completa obra sobre o tema). O reconhecimento precoce
deveu-se à presença de um pequeno grupo de náufragos da expedição de Juan
Díaz de Solís, estabelecidos na área do rio Massiambu, em frente ao sul da ilha de
Santa Catarina (MEDINA 1897, 1908a). Logo foram incorporados como aliados
do tuvichá (cacique) Tupã Vera, casando-se com suas ilhas e sobrinhas. Por doze
anos o grupo consolidou relações políicas com os Guarani, criando uma base
de apoio logísico para os europeus e aproveitando a extensa rede Guarani para
explorar regiões distantes. A sua exploração mais conhecida começou por volta
de 1521, liderada por Aleixo Garcia (c. 1521) que, com vários Guarani, foi do lito-
ral catarinense até a Bolívia, atravessando o interior de Santa Catarina, Paraná e
Mato Grosso do Sul, onde o mataram quando retornava. Um dos sobreviventes

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 189


voltou ao Massiambu para informar a seus companheiros sobre as populações
e aquelas terras. Outra exploração que uma parte deste grupo paricipou, foi
ao delta do rio da Prata (c. 1521), aonde o navegador português Cristóvão Jac-
ques levou Melchor Ramírez como intérprete. A base de Santa Catarina também
serviu como porto para as expedições de Rodrigo de Acuña (1526), Sebasián
Caboto (1527-1530) e Diego Garcia (1528-1530). Caboto explorou o rio da Prata,
subindo os rios Uruguai e Paraná (até a ilha de Yaciretá) e, o rio Paraguai até 60
léguas adentro (MEDINA, 1897b, 1908b; GANDÍA, 1937; MELLO, 2005).
Entre os cronistas destas expedições, destacou-se a consideração de Luis
Ramírez (1528), como o primeiro a mostrar as relações entre os Guarani de di-
versas regiões. Ele escreveu que “aqui conosco está outra geração, que são nos-
sos amigos, os quais se chamam Guarenís e, por outro nome Chandris: estes an-
dam derramados por esta terra e por outras muitas, como corsários, á causa de
serem inimigos de todas [as] outras nações e de muitas outras… Eles dominam
grande parte desta Índia”. A carta explica com detalhes a expressão “derrama-
dos pela terra e outras muitas”, declarando que os Guarani de várias partes do
rio da Prata eram aparentados ou da “mesma nação”.
Este feito marcaria muitas outras cartas e documentos da burocracia
europeia. Durante a conquista, depois de 1535, os espanhóis subiram pelo rio
Paraguai até o Pantanal, invesigando outra vasta área do interior e veriicando
onde viviam os Guarani, que corresponde aos Estados do Mato Grosso do Sul e
do Mato Grosso, e ao Paraguai oriental. A região do médio rio Paraguai e do Pan-
tanal foi várias vezes explorada, sempre em companhia de aliados Guarani que
viviam na área de domínio da aldeia de Lambaré, perto de onde os espanhóis
fundaram Asunção em 1537. No inal de 1541, começo de 1542, outra marcha li-
derada por Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, percorreu a pé o longo trecho do litoral
norte de Santa Catarina até Asunção, fazendo novo reconhecimento do interior
do Paraná e da sua ligação com o Paraguai, abrindo uma rota muito usada no sé-
culo 16. Posteriormente, em 1543, os espanhóis subiram novamente o rio Para-
guai até o Pantanal em busca de ouro e de uma via de comunicação com o Peru.
Na década de 1550, o território Guarani entre os rios Paranapanema e
Tietê foi explorado a parir de Ciudad Real, fundada em 1557, na foz do rio Pi-
quiri, Estado do Paraná. Depois, foram fundadas Santa Fé, Jerez de la Fronteira e
Villa Rica, que serviram como base para a exploração do interior do Mato Grosso
do Sul, Paraná e Santa Catarina. A úlima parte dos territórios Guarani que foram
explorados foi o interior do Rio Grande do Sul, na década de 1620, com as pri-
meras missões jesuítas e os ataques dos bandeirantes de São Paulo (GANDÍA,
1936, 1937). Esses assentamentos coloniais também foram ponto de parida de

190
inúmeros surtos epidêmicos, que causaram grande impacto e perdas na demo-
graia indígena.
Em todas essas zonas, os Guarani foram reconhecidos pelos europeus
como sendo populações com elementos culturais homogêneos, com uma lín-
gua, com hábitos, meios de subsistência e organização políica e social similares.
As informações coloniais sobre um padrão material, cultural e políico aparente-
mente uniforme, relaivo a uma grande região, possuem paralelo nas evidências
materiais, elaboradas com um esilo tecnológico comum, com mais semelhan-
ças que diferenças, até quando existe distância temporal e espacial entre os sí-
ios arqueológicos.
Essas considerações históricas possibilitaram uma compreensão mais
ampla do contexto da distribuição das evidências arqueológicas Guarani. A evi-
dente coninuidade histórica e o panorama do século 16, ajudam a delimitar o
espaço máximo ocupado pelos Guarani na pré-história e a releir a respeito do
processo de expansão e distribuição geográica desde a Amazônia.

OBJETIVO

Este trabalho tem por objeivo a apresentação do mapa (ver mapa no


im do texto) da distribuição dos dados de aproximadamente três mil registros
arqueológicos Guarani. As fontes da Arqueologia são publicações, teses, disser-
tações, monograias, relatórios e catálogos insitucionais do Brasil, Argenina,
Uruguai, Paraguai e Bolívia, que somam mais de 1500 ítulos (CIGLIANO et al.
1963; MELIÀ et al. 1987; NOELLI s.d.; KIPNIS et al. 1995). Os dados seleciona-
dos foram inseridos em um sistema georeferenciado, construído pelo INPE (Ins-
ituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Brasil). Sua distribuição aparece marcada
nos territórios dos municípios, departamentos ou províncias, devido à escala
possível nesta publicação. O marcador empregado para estabelecer a localiza-
ção dos síios é fundamentalmente a cerâmica, o elemento disinivo da cultura
material no registro arqueológico Guarani.
A cultura material Guarani, entendida aqui como um “fenômeno social
total, que é simultaneamente material, social e simbólico” (PFAFFENBERGER,
1988), possui elementos regulares e constantemente reproduzidos. Este padrão
é notável na cerâmica, disinto das vasilhas não guarani. A minha proposição pro-
cura compreender o fenômeno antropológico da reprodução constante da cultura
material e da tecnologia Guarani, materializada nas evidências arqueológicas e

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 191


históricas conhecidas até o século 17. Concordo com Dobres e Hofman (1994),
que tecnologia signiica “o meio material de fazer artefatos, um fenômeno cultural
dinâmico em razão da ação social, da visão de mundo e da reprodução social”. A
produção da cultura material Guarani precisa ser considerada dentro da noção de
esilo tecnológico, isto é, “da maneira como os indivíduos fazem o seu trabalho,
incluindo as escolhas feitas por eles no que refere aos materiais e técnicas de pro-
dução” (REEDY, REEDY, 1994). É bom recordar com Hegmon (1992), que esilo
refere-se a um determinado modo de fazer algo ou alguma coisa, e que esse modo
de fazer implica em opções determinadas entre várias alternaivas.
Esta perspeciva ajuda explicar o fenômeno da reprodução do esilo tec-
nológico por mais de 1500 anos em uma vasta região. A chave sociológica, assim
acredito, era a comunicação constante entre as áreas Guarani, pois a cultura
material também é “um corpus de artefatos, comportamentos e conhecimentos
transmiidos de geração a geração, e uilizados nos processos de transformação
e uilização do mundo material” (SCHIFFER, SKIBO, 1987). A reprodução das
práicas agrícolas e do sistema econômico, ípicos do padrão amazônico (Balée
1994), incluindo a adaptação aos diversos ambientes, é a outra chave explicaiva
do fenômeno dessa ampla reprodução.

O MAPA DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA GUARANI

Considerei aqui somente a distribuição geográica, sem tratar dos pro-


cessos regionais de ocupação, já estudados preliminarmente por Brochado.
A complexidade da ocupação, considerando as diferenças ecológicas entre as
regiões e o contato com as populações, será apresentada futuramente, devido
ao grande volume de informações. Entretanto, alguns pressupostos devem ser
considerados:

1) não há síios arqueológicos isolados, nem sequer na periferia externa dos


territórios Guarani, mas existem muitas áreas sem surveys regionais completos;
2) não há síios em áreas campestres, sem mata, mas existem síios em
áreas desmatadas há muito tempo, até séculos, pelos europeus. Contudo, há
síios em áreas de transição da loresta para o campo (mas sempre situados na
mata), ou síios arqueológicos em áreas de cobertura lorestal limitada, como
as estreitas matas de galeria do delta do rio da Prata, do litoral da Província de
Buenos Aires e da margem do rio Uruguai, abaixo de São Borja;

192
3) a relação com a alitude acima do nível do mar demonstra adaptação
a disintos climas, desde o nível do mar até 900-1000 m, incluindo as áreas mais
frias da Serra Geral, no estado do Paraná;
4) o mesmo ocorre em relação ao solo, com ocupações em todas as classes,
do mais pobre ao mais rico;
5) em geral, a duração da ocupação dos assentamentos era longa e po-
deria chegar a mais de cem anos, como demonstram os solos antropogênicos
de cor preta;
6) o esgotamento do solo de uma roça não forçava o abandono do assen-
tamento, mas levava à rotação dos culivos, abrindo novas clareiras anualmente
e deixando os gastos em descanso por vários anos.
O conjunto de dados arqueológicos mostra claramente que os assenta-
mentos sempre formavam redes, pois em nenhuma área de distribuição existe
isolamento signiicaivo. Isso encontra paralelo nos dados históricos, cujos exem-
plos de isolamento resultaram do colapso demográico causado pelos europeus.
As redes não inham apenas uma função defensiva e econômica, objeivos funda-
mentais do comportamento conquistador e da necessidade de manter territórios,
mas incluíam outros aspectos práicos e simbólicos necessários à existência de
uma sociedade, principalmente o intercâmbio de pessoas, objetos, informações
e conhecimentos. Não foi em vão que os primeiros espanhóis escreveram que os
Guarani viviam organizados em “províncias”, às vezes ideniicadas com um tuvi-
chá principal, como foi o caso de Tupã Vera e outros muitos descritos nos séculos
16 e 17. As redes regionais e a estrutura políica e social de alianças, sustentadas
pelo intercâmbio permanente, explicam a reprodução constante da cultura mate-
rial e de outros elementos do ñande reko. O esilo tecnológico da cerâmica, com
suas regras e padrões reproduzidos por mais de 1500 anos, é uma prova material
da reprodução e airmação do comportamento tradicionalista Guarani.
A relação com a loresta é outro aspecto fundamental que marca os síios
arqueológicos Guarani, que também foi anotada por cronistas, historiadores e
antropólogos (SCHADEN, 1974; MELIÀ, 1986; NOELLI, 1993). Ali, com trabalho
coleivo, abriam clareiras para suas aldeias e roças, através do desmatamento
de espaços previamente deinidos, seguido da queima da vegetação derruba-
da. Estes feitos materializavam os locais essenciais para a subsistência e a vida
social. Regiões cobertas por extensas lorestas eram entrecortadas por milhares
de quilômetros de trilhas entre as aldeias vizinhas ou distantes, entre as aldeias
e suas diversas áreas de aividades econômicas, como roças, pesqueiros, portos,
áreas de coleta, aldeias abandonadas, fontes de matéria-prima líica e cerâmica;
e de aividades diversas, cemitérios e locais rituais (NOELLI, 1993).

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 193


Dentro das redes regionais e no interior das matas, os Guarani desenvol-
veram sua expansão ao ritmo do crescimento demográico, resultando as novas
aldeias da ição das anigas. As novas eram geralmente situadas no limite do
tekohá, o território de circunscrição políica de uma aldeia. Não foi uma difusão
da cultura material no senido mais tradicional do conceito, mas a expansão
geográica e demográica de suas populações que deixou uma imensa quani-
dade de síios arqueológicos.

A CERÂMICA GUARANI

Os dados arqueológicos Guarani não devem ser confundidos com aqueles


incluídos sob o rótulo Tupiguarani (sem hífen), um conceito criado no Brasil pelo
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA, 1970; Terminologia
1976), para “tratar a cultura de uma maneira ariicialmente separada dos seres
humanos” (MEGGERS, 1955). O conceito Tupiguarani abarca sem disinção a
cultura material relaiva a 60 povos falantes das línguas do tronco Tupi.
A cerâmica é o principal marcador do registro arqueológico Guarani. A
técnica de construção básica é o acordelado, o enrolamento espiralado (coiled)
de cilindros de argila, com queima geralmente incompleta. Brochado e colegas
(LA SALVIA, BROCHADO, 1989; BROCHADO, MONTICELLI, NEUMAN, 1990;
BROCHADO, MONTICELLI, 1994; BROCHADO, NOELLI, 1998), sugerem um
modelo classiicatório da cerâmica, baseado na taxonomia Guarani histórica,
dividido em 6 classes principais de vasilhas: 1) yapepó (panela); 2) cambuchi (ta-
lha); 3) ñaetá (caçarola); 4) ñaé (prato); 5) cambuchí caguabã (taça); 6) ñamopyú
(tostador). A forma destas classes possui variações de acordo com uma ordem
de combinações de segmentos, ou “unidades padrão de formas deinidas, que
superpostas, darão o contorno da vasilha” (LA SALVIA, BROCHADO, 1989, p.
116). Existem onze divisões de formas distribuídas em três classes estruturais de
vasilhas, de acordo com Sheppard (1956):
1) não restringidas, as quais podem apresentar contornos: (1) simples, (2)
composto, (3) inleido e (4) complexo;
2) restringidas simples (5) e dependentes, com contorno inleido (6),
composto (7) ou complexo (8);
3) restringidas independentes com contorno inleido (9), composto (10)
ou complexo (11).

194
Os pratos, taças, caçarolas e tostadores são mais frequentes na classe 1
e as panelas e talhas pertencem às classes 2 e 3. A base das vasilhas pode ser
cônica, arredondada ou plana. O tratamento da superície é dividido em cinco
técnicas principais, que as vezes são combinadas: 1) alisado; 2) corrugado; 3)
ungulado; 4) pintado; 5) escovado. O alisado é mais comum nas vasilhas que não
vão diretamente ao fogo, como os pratos, copos e talhas. O corrugado é mais
comum nas vasilhas que vão ao fogo, como as panelas, caçarolas e tostadores,
mas também ocorre nas talhas e pratos. O ungulado é mais comum nas vasilhas
de menor tamanho, especialmente os pratos (eventualmente está misturado ao
corrugado). O pintado (preto o marrom e vermelho sobre engobe branco) é mais
comum nas vasilhas que não vão ao fogo, como as talhas e as taças, usadas para
servir e tomar as bebidas fermentadas alcoólicas. O escovado se usa como o
corrugado. Ainda se conhece a incisão, os estampados, os acanalados, os nodu-
lados e os roletados. As formas possuem tamanhos disintos, divididos em gran-
des, médios e pequenos, mas sempre há uma regra de proporção para a forma
do corpo. As panelas e talhas são as maiores vasilhas, chegando a um metro de
altura e conter até pouco mais de cem litros. As caçarolas também chegam a diâ-
metros de sessenta/setenta cenímetros por vinte e cinco cenímetros de altura,
e até dez ou doze litros de coberturacidade. Uma panela pode conter entre dez e
cem litros, mas sua forma se altera apenas na proporção (Brochado, Monicelli,
Neuman 1990). É possível que o tamanho da vasilha varie com o contexto e com
o dono: 1) a panela maior se usava para fazer o cozido da família extensa; a me-
nor para a família nuclear; 2) o prato pequeno é individual, o grande é coleivo;
3) a taça pequena é individual, a grande é um objeto de presígio pessoal (os
Guarani valorizavam o grande bebedor, que às vezes poderia ser chefe, líder re-
ligioso, conselheiro, guerreiro, etc.). Ainda não são conhecidas todas as funções
das vasilhas e nem foi concluído o sistema de classiicação, que necessita de
novos estudos estaísicos e o complemento da análise química dos restos orgâ-
nicos nos fragmentos cerâmicos e nas vasilhas inteiras. Os tamanhos médios, as
miniaturas, as formas intermediárias e ipos incomuns ainda não possuem suas
classiicações e funções deinidas com segurança.

A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS SÍTIOS


ARQUEOLÓGICOS GUARANI

Os quadros regionais estão incompletos, como se pode ver no mapa de


distribuição dos síios Guarani. Os vazios representam mais a falta de pesqui-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 195


sas arqueológicas que propriamente a ausência de ocupação em boa parte das
áreas. Também há algumas distorções na escala espacial, quando foi possível
marcar apenas um departamento ou província, como no Uruguai e Paraguai.
Abaixo se descreve as regiões que possuem síios arqueológicos Guarani. São,
respectivamente, os estados brasileiros do Mato Grosso do Sul, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; o Paraguai oriental, o nordeste
de Argentina e o Uruguai.

MATO GROSSO DO SUL

O predomínio dos registros está na metade sul do Estado, concentrada


na bacia do rio Paraná, no quadrante oeste. A Figura 1 mostra uma grande área
a leste, sobreposta ao Pantanal, mas os síios estão limitados no entorno da
cidade de Campo Grande. Alguns municípios da parte central também indicam
presença Guarani, mas nesta parte a invesigação é incipiente e os achados são
isolados. Apesar dos vazios arqueológicos no Mato Grosso do Sul, as fontes his-
tóricas dos séculos 16 e 17 mostram que em grande parte do seu interior exis-
iam núcleos Guarani (LEONHARDT, 1927-1929; CORTESÃO, 1951-1970), in-
cluindo alguns que alcançavam o sudoeste de Goiás (MACHAIN, 1939; CABEZA
DE VACA, 1986). São relevantes, mas pouco invesigadas, as informações histó-
ricas que mostram as relações políicas e familiares entre os núcleos Guarani de
várias partes do Estado. Alguns síios estão datados, revelando uma ocupação
aniga, que chega a 1.248 ± 150 anos antes do presente (A.P.), Na margem do
rio Paraná, município de Brasilândia (MARTINS, KASHIMOTO, TATUMI, 1999).
Considerando o contexto da bacia do rio da Prata e as datações mais anigas ao
sul, é provável que no futuro os achados permitam datas próximas de 2.000 A.P.
As datações e os dados históricos revelaram que esta área foi coninuamente
ocupada até o século XXI, e que a presença brasileira coninou os Guarani em
certas áreas pelo interior. A região norte, especialmente ao longo do rio Mi-
randa, está revelando novos síios. A margem do rio Paraná é a área mais bem
conhecida, com levantamentos sistemáicos entre a boca do rio Paranapanema
e o rio Pardo, cerca de 200 km ao norte. A amostragem revelou que a densidade
e a distribuição são similar a outras áreas arqueológicas Guarani, conirmando a
regra de que não há ocupações isoladas.

196
SÃO PAULO

A presença Guarani está restrita a porção oeste do Estado, próxima do rio


Paraná, vizinha do Mato Grosso do Sul e ao longo do baixo e médio rio Paranapa-
nema, na fronteira com o Estado de Paraná. É provável que sejam localizados sí-
ios um pouco mais distantes destas áreas, para o interior de São Paulo, mas não
muito por causa da existência de uma fronteira consistente dos Jê e Tupinambá,
que impediu a expansão Guarani ao levante e ao norte, a parir da transição do
baixo ao médio rio Tietê. As fontes históricas dos séculos 16 e 17 conirmam os
limites arqueológicos e tratam de uma grande densidade demográica Tupinam-
bá na metade leste do Estado. As datações indicam que a ocupação é aniga,
cerca de 1.200 A.P. Na transição para o alto rio Paranapanema. Há várias datas
próximas de 1.000 A.P., no médio-alto rio Paranapanema (MORAIS, 2000). As
datas mais anigas em áreas próximas, no Estado do Paraná, indicam que se en-
contrarão ocupações mais anigas em São Paulo.

PARANÁ

A ocupação está bem distribuída pelo Estado, em todas as principais ba-


cias hidrográicas há evidências arqueológicas Guarani. As fontes históricas, a
parir de análise esimaiva de Melià (1986), indicam que o Paraná era densa-
mente povoado por aproximadamente um milhão e meio de pessoas no começo
do século 17. Na metade oeste do Estado, a exinta Província do Guayrá, às mar-
gens dos principais rios do interior, Tibagi, Pirapó, Iguaçu, Ivaí e Piquiri, apresen-
tam áreas onde se veriica a coniguidade dos síios, que se encontra a intervalos
regulares, geralmente próximos da foz dos aluentes e riachos, em intervalos
médios de dois quilômetros. As zonas interluviais e o curso dos aluentes maio-
res também possuem um padrão similar aos grandes rios, com uma distribuição
constante de síios. Em muitas partes as ocupações se entendem para os inter-
lúvios, distantes dos rios maiores, uma mostra da dimensão e amplitude das
redes de ocupação.
A adaptação às alitudes elevadas e mais frias da Serra Geral não foi uma
barreira para os Guarani. A ocupação do interior foi uma forma de adaptação
gradual, pois o domínio paulaino das terras acompanhou a ascensão por uma
linha de 550 km, a parir dos 200 metros de alitude no rio Paraná até os 1.000

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 197


metros acima do nível do mar de Ponta Grossa-Curiiba. Já a transição litoral-
-interior, pelo contrário, é marcada pelas altas escarpas da Serra Geral, com uma
ascensão abrupta do nível do mar até os 1.000 metros. Todavia, a diiculdade
do terreno não impediu que fosse uilizado como caminho para o interior, até a
área de Curiiba e aos territórios dos rios Tibagi, Piquiri e Ivaí. Se não fosse pela
densa ocupação dos Jê na área centro-sul, os Guarani teriam dominado todo o
Paraná, excetuando as partes campestres.
As datações revelam que todo o Paraná já estava ocupado pelos Guara-
ni ao redor de mil anos antes do presente. Mas existem datas anteriores, cuja
média mostra que a ocupação de várias áreas retrocede até 1500 A.P. Nas ocu-
pações mais anigas, no rio Paraná, alcançam 2.000 A.P. As datações do Paraná
e do Rio Grande do Sul são a evidência cabal da aniguidade da presença Gua-
rani na bacia do rio da Prata e indicam que as regiões mais ao norte, como São
Paulo e Mato Grosso do Sul, deverão, no futuro, apresentar datas próximas de
2.000 A.P., devido à rota de expansão principiada em Rondônia. As fontes dos
primeiros contatos com os europeus ilustram os dados arqueológicos, como o
exemplo legado por um dos primeiros espanhóis que caminharam do litoral de
Santa Catarina até o Paraguai. Em 1541, segundo Alonso Riquelme de Guzmán
(1942), companheiro do adelantado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, o caminho
“veio sempre por terra povoada de indios de geração Guarani”. Outras fontes
dos séculos 16 e 17 repetem ou detalham mais a respeito dessa povoação e da
sua distribuição pelo território atual do Paraná.

SANTA CATARINA

A ocupação é bem conhecida no litoral, no alto e médio rio Uruguai e


partes do médio rio Iguaçu. O interior e a fronteira centro-norte com o Paraná
são predominantemente campestres e quase não apresentam evidências dos
Guarani. Mas as partes não pesquisadas arqueologicamente ainda são muitas,
como as bacias dos rios Peperi Guaçu e Peperi Mini, na fronteira com Argenina,
onde os dados históricos informam que havia povoação.
Todo o litoral apresenta síios, cuja data mais aniga chega a 900 A.P., na
ilha de Santa Catarina (DE MAIS, 2001). Dos vales cobertos com Mata Atlânica
que chegam ao litoral, parece que somente as partes mais baixas foram ocupa-
das. Talvez apenas o vale do rio Itajaí foi dominado pelos Guarani até o seu alto
curso. Ao longo da linha marcada pelas cristas altas da Serra Geral, com até mil

198
metros de alitude, e na zona de transição da Mata Atlânica para os campos de
cima da serra, parece que tampouco houve ocupação, devido à presença dos
Jê. De toda extensão do litoral, somente a porção nordeste foi mais densamente
ocupada pelos Guarani, como na zona dos vales dos rios Itajaí e Itapocu, territórios
de passagem para o interior do Estado do Paraná (Campos de Curiiba, alto-médio
rio Iguaçu). As datas de Paraná, Rio Grande do Sul e Argenina indicam que o este
de Santa Catarina deverá apresentar uma ocupação que alcance mais de 1500 A.P.

RIO GRANDE DO SUL

Uma grande parte do Estado foi ocupada pelos Guarani, excetuando os


campos do nordeste rio-grandense e da Campanha, onde começa o Pampa. A
bacia do rio Uruguai favoreceu a ocupação do interior, pelos muitos vales dos
grandes e médios aluentes que nascem próximos da região central. A cobertura
destas partes foi outro grande atraivo para os Guarani.
As datações chegam até 1.800 A.P. no centro do Estado e há muitas datas
entre 1.300 e 1.000 A.P., indicando que fora do Rio Grande do Sul, ao norte, serão
encontradas datas mais anigas, especialmente nos rios Paraná e Paraguai. A
relação entre as datações do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são
chaves para a percepção do caminho da expansão desde o norte, sendo que o
litoral de Santa Catarina foi o úlimo espaço a ser dominado. O processo teria
várias frentes e as bacias dos rios Paraná e Uruguai foram os caminhos para o
sul, especialmente para as províncias de Corrientes e Entre-Rios, e a margem do
rio Uruguai.
O Rio Grande do Sul foi a úlima fronteira conquistada pelos europeus,
a parir de 1605, com incursões de uns poucos missionários jesuítas e, desde
1615-1620, com expedições de colonos de São Paulo, caçadores de escravos.
Os relatos também conirmam os dados arqueológicos, informando que havia
muita gente no interior e no litoral.

PARAGUAI ORIENTAL

Apesar da quanidade de dados históricos sobre a grande população


Guarani no Paraguai, as informações arqueológicas são poucas. Mas as conheci-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 199


das reletem bem o que atestam os registros escritos do tempo da conquista. A
região oriental do país, onde predominam as selvas, é a parte onde os Guarani
eram dominantes. A porção ocidental, quando se afasta do rio Paraguai, das
mostras de diminuição da densidade dos síios arqueológicos, acompanhando
a transição da loresta às paisagens abertas e campestres do “deserto” chaque-
nho. Mas a bacia do rio Bermejo parece ser o camino dos Chiriguano, um ramo
Guarani que ocuparam parte da Bolívia. O pouco que é conhecido da cultura
material, dos síios arqueológicos (VERA, 1930, 1941; SCHMIDT ,1932, 1934;
PERASSO 1978; PALLESTRINI, 1988), e dos objetos expostos nos vários museus
locais das pequenas cidades da fronteira paraguaio-argenina, são indício incon-
testável da Arqueologia do futuro. É provável que o Paraguai possua um con-
texto como do Paraná e do Rio Grande do Sul, com muitas datações anigas e
sequencias regionais que mostram a conínua e densa presença Guarani.

NORDESTE DE ARGENTINA

A região que compreende as Províncias de Misiones, Corrientes, Entre-


-Rios e Buenos Aires, forma o nordeste argenino. A porção dessa área domina-
da pelo rio Paraná possui lorestas úmidas e serras baixas. A porção sul, especial-
mente Entre-Rios e Buenos Aires, é dominada por áreas inundáveis compostas
por cordões arenosos que servem como base às matas de galeria, e possuem em
seus interlúvios serras baixas cobertas de loresta (PÉREZ et al., 2009).
A quanidade de síios e as datações até 1200 A.P. (Yaciretá), no médio rio
Paraná, e 900 A.P. (Oberá), no médio rio Uruguai, atesta a presença da ocupação,
que chegou aos limites da adaptação ecológica do padrão Guarani. Naquelas par-
tes foram ocupados até os úlimos espaços da mata galeria, incluindo os raros
locais secos cercados por áreas inundáveis, como a parte central dos Esteros de
Iberá e as ilhas do rio Paraná. As datas do vizinho Rio Grande do Sul indicam que
em Misiones e Corrientes é muito provável que sejam encontradas datas ainda
mais anigas que as conhecidas e que o principio da ocupação alcance cerca de
2.000 A.P. em Misiones e Corrientes. Os registros da expedição de Caboto revelam
grande densidade ao norte da Província de Entre-Rios, como também indicam vá-
rias áreas de ocupação na sua porção sul. Também revelam a presença no interior,
ainda pouco conhecida pela Arqueologia, tanto pelos relatos dos ataques dos Gua-
rani ao forte de Sanci Spíritu, como do conhecido relato do cosmógrafo Alonso de
Santa Cruz sobre o uso das ilhas do baixo rio Paraná para a agricultura.

200
A costa bonaerense e interior próximo, até o sul do rio Salado (Aldazabal
2008), apresentam 18 síios com evidências arqueológicas Guarani, reapresen-
tando uma presença signiicaiva que marca, talvez, uma expansão incipiente
por volta do século 16 (ou pouco antes). Mas as poucas invesigações e o ace-
lerado crescimento da metrópole que encubriu e destruiu os síios, tornam li-
mitados os conhecimentos no presente. O cenário da presença Guarani na foz
do rio da Prata ainda não há foi bem compreendido por muitos pesquisadores,
inclusive os mais recentes, que agora tratam de povos “guaranizados” na região
(PÉREZ, 1993, 1998). Esta incompreensão, reproduzida desde o inal do século
19, foi baseada no uso parcial das fontes históricas disponíveis, associadas a uma
perspeciva estáica que ignorou o processo histórico nos territórios indígenas às
margens do rio da Prata.
Não se percebeu que a presença europeia trouxe importantes modiica-
ções na demograia e na territorialidade naivas, começando pelas expedições de
João de Lisboa (1513-14) e Juan Díaz de Solís (1515). As fontes mais anigas de-
monstram claramente que a presença Guarani na foz do rio da Prata era consisten-
te e marcada por conlitos bélicos com os Charruas, Timbús e outras populações
que ali viviam há muito mais tempo, bem adaptadas ao ambiente inundável e
que lutavam contra os invasores Guarani que procuravam pelas restritas áreas de
vegetação arbórea. Parece que as limitações ambientais impostas a uma socieda-
de sedentária e agricultora limitaram o crescimento demográico observado nas
outras regiões, prendendo os Guarani às poucas áreas de mata galeria.
A presença europeia desequilibrou a balança em detrimento dos Guara-
ni, com a introdução dos vetores infectocontagiosos, que certamente mataram
mais que as armas e causaram um colapso demográico em pouco tempo. Depois
de Solís outras expedições esiveram na foz do rio da Prata, como a de Fernan-
do de Magalhães (1519) e Cristovão Jacques (1521), cujos tripulantes também
puderam trazer enfermidades letais. Os dados sobre a presença destes vetores
são explícitos somente com a expedição de Sebasián Caboto (1528-1530), cujos
homens já entraram doentes nas terras argeninas e uruguaias do rio da Prata.
Creio que isto é a chave para compreensão da modiicação da territorialidade,
pois o colapso liberou espaços para que os Charruas e outros grupos voltassem
às terras que os Guarani lhes tomaram séculos antes. O contexto proporcionado
por essas primeiras fontes geralmente foi ignorado e mal interpretado pelos his-
toriadores e arqueólogos, que se basearam nas fontes escritas a parir de 1530
e que já mostram outro cenário, sem os Guarani e dominado pelos Charrua,
Timbús e outros, descritos pelas expedições de Marim Afonso de Sousa (1531),
Pedro de Mendoza (1535) e posteriores. A seleção de dados feita pelos pesqui-

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 201


sadores levou à criação de um panorama étnico onde se apagam as importantes
mudanças ocorridas entre 1513 e 1530, período em que os Guarani entraram
em colapso e praicamente desapareceram.

URUGUAI

Quase tudo que se acaba de dizer serve ao território uruguaio. A pouca


área com vegetação lorestal limitou a ocupação Guarani à bacia do rio Uru-
guai e de seus aluentes maiores, como o rio Negro e as matas de Tacuarembó.
Evidências também foram encontradas no nordeste do país, na bacia da lagoa
Mirim e do rio Jaguarão. A maioria dos síios se encontra na zona de mata galeria
do rio Uruguai, com uma coninuidade da ocupação as cercanias da ilha de Mar-
ín García e pouco depois de Colônia, onde há evidências de vegetação arbórea
de grande tamanho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo procurou mostrar os aspectos mais gerais da distribuição


de evidências em aproximadamente três mil síios arqueológicos atribuídos aos
Guarani, cuja extensão territorial está entre as maiores alcançadas por falantes
de uma língua pré-colombiana na América. Os dados arqueológicos e históricos
mostram cabalmente que se trata de pessoas que reproduziram basicamente os
mesmos traços culturais durante dois mil anos, de forma admirável, que revelam
uma conínua comunicação entre as diversas regiões, como argumentei acima.
Estes dados arqueológicos corroboram o que descreveram os primeiros explo-
radores e os demais conquistadores nos séculos 16 e 17. Agora o trabalho dos
pesquisadores está dirigido aos estudos regionais, com o objeivo de revisar as
generalizações que não perceberam as peculiaridades locais, tanto dos elemen-
tos culturais, quanto das adaptações ambientais e das disintas estratégias de re-
lação dos Guarani com populações não guarani. Também se começa a introduzir
abordagens antropológicas mais soisicadas, com novas pautas de invesigação
da cultura material e social. A ampliação das áreas de pesquisa arqueológica
deverá preencher os vazios do mapa apresentado aqui. As demandas atuais de

202
invesigação estão colocando em campo equipes em número nunca antes visto,
e este feito contribuirá certamente para que o mapa da ocupação Guarani,
assim como o conhecimento dos processos regionais, seja mais completo na
próxima década.

AGRADECIMENTOS: A Oscar Calávia Sáez e José Henrique Rollo Gonçalves


pelo convite para escrever este texto. A Luiz Felipe Viel Moreira e Amílcar Dávila
de Mello, pela leitura atenta. A Marcos Rafael Nanni, pela elaboração da Figura 1.

ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL 203


CAPÍTULO 10

TABELA DE SÍTIOS GUARANI DO LITORAL SUL DO BRASIL, URUGUAI E ARGENTINA

Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Foz do rio Cara- Foz do rio Cara-
Argenina Belén de Escobar belas belas x x x Torres 1911
Foz do Arroyo
Argenina Belén de Escobar Paycarabi x x x x Torres 1911; Outes 1918
Próximo do Rio
Argenina Belén de Escobar Carabelas x x x x Torres 1911; Outes 1918
Palo 22H 423690/ Cigliano 1966; Cigliano,
Argenina Berisso La Florida Blanco 6141409 x Schmitz e Caggiano 1971
Las
Argenina Buenos Aires Las Conchas Conchas x x x Burmeister 1872
Argenina Buenos Aires Magdalena Magdalena x x x Ameghino 1918
Argenina Buenos Aires Monte Grande Monte Grande x x x Ameghino 1918
Outes 1916, 1917;
Lothrop 1932; Vignai
1936; Howard 1948;
Ilha Marín El Arbolito de 405 +35 AP Cigliano 1968; Bognanni,
Argenina Ilha Marín García García Molina x x (Grn-5146) Capparelli e Pérez 2012

Vignai 1936; Bogan


22H 384763/ 2005; Capparelli 2005;
Argenina Ilha Marín García Ilha Marín García Arenal Central x 62171111 x Pérez et al. 2009
206
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Torres 1911; Ameghino
Argenina Buenos Aires Ilha Paycarabí Isla Paycarabí x x x 1918
Outes 1917; Pérez et al.
Argenina Ilha Marín García Ilha Marín García Puerto Viejo x x x 2009
Argenina Escobar Tigre Anahí x x Lafón 1971
Bruzzone 1931; Pérez et
Argenina La Plata Punta Lara Punta Lara x al. 2009
Argenina Prov. Buenos Aires Arroyo Marínez Kirpach x x x Pérez et al 2009
Torres 1911; Outes
1918; Vignai 1941-
1946; Loponte e Acosta
2003-2005, 2007; Pérez
et al 2009; Mucciolo
690 ± 70 AP 2007, 2008; Acosta et al
22H 356911/ (UGA 10789) 2008; Pérez et al. 2008;
Argenina San Fernando Arroyo Fredes Arroyo Fredes x 6216087 / C¹⁴ Acosta e Mucciolo 2009
Lothrop 1932; Aparicio
1948; Serrano 1972;
Caggiano 1983; Tapia
Argenina Tigre Foz do rio Luján Arroyo Malo x x x 1999
Argenina x Arroyo San Juan x x x x Ambrosei 1895
Outes 1918; Howard
Argenina x Arroyo Largo Arroyo Largo x x x 1948; Pérez et al. 2009
Argenina x x Arazaí x x x Sosa 1957
Aldazabal 2008; Alda-
zabal, Weiler, Eugenio
Argenina Prov. Buenos Aires Los Molles x x x 2005
Aldazabal 2008; Alda-
zabal, Weiler, Eugenio
Argenina Prov. Buenos Aires La Loma x x x 2005
Aldazabal 2008; Alda-
zabal, Weiler, Eugenio
Argenina Prov. Buenos Aires Juancho x x x 2005
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Bigarella 1950-1951;
Sam-
Sambaqui Ponta 22J 732950/ Chmyz 1976, 2002;
baqui x
do Pita II 7182819 Marin, Suguio, Flexor,
nº 40
Paraná Antonina Ponta do Pita Azevedo 1988
Paraná Antonina centro urbano x x x x Leão 1900, 1919
Leão 1900; Marins
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

x x x x
Paraná Antonina centro urbano 1925; Chmyz 2002
Bigarella 1950-1951;
Sam-
22J 729163/ Chmyz 1976, 2002;
Morro do Ricardo baqui x
7138369 Marin, Suguio, Flexor,
nº 26
Paraná Guaratuba Rio Guanxuma Azevedo 1988
Bigarella 1950-1951;
Sam-
22J 739754/ Chmyz 1976, 2002;
Barra do Fincão baqui x
7141690 Marin, Suguio, Flexor,
nº 65
Paraná Guaratuba Rio Fincão Azevedo 1988
Bigarella 1950-1951;
Sam-
22J 738948/ Chmyz 1976, 2002;
Miringava baqui
7143367 Marin, Suguio, Flexor,
nº 66
Paraná Guaratuba Miringava Azevedo 1988
Bigarella 1950-1951;
Sam-
22J 738888/ Chmyz 1976, 2002;
Braço Seco baqui x
7140043 Marin, Suguio, Flexor,
nº 69
Paraná Guaratuba Rio Braço Seco Azevedo 1988
Bigarella 1950-1951;
Sam-
22J 735205/ Chmyz 1976, 2002;
Rio Laranjeiras baqui x
7139740 Marin, Suguio, Flexor,
nº 71
Paraná Guaratuba Rio Laranjeiras Azevedo 1988
PR - P - Chmyz 2002; CNSA
Vila Emboguaçu x x
Paraná Paranaguá Vila Emboguaçu 67 26671
Capela do Bom Leão 1900; Marins
x x x x
Paraná Paranaguá Jesus 1925; Chmyz 2002
Museu Paranaense;
Chácara Paiva x x x
Paraná Paranaguá Porto Cajú Chmyz 2002
207
208
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Fernandes 1947; Chmyz
x x x x
Paraná Paranaguá centro urbano 2002
Paranaguá até “baixada paranaen-
vários síios x x x Fernandes 1947
Paraná Caiobá se” (litoral)
Rio Grande RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Lagoa Itapeva I - 92 x x 35172
Rio Grande RS - LN 22J 614558/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Itapeva 1 - 264 6745503 x CNSA 02125
Rio Grande RS - LN 22J 612596/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Itapeva 3 - 266 6743571 x CNSA 02127
Rio Grande RS - LN 22J 613078/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Itapeva 4 - 267 6743588 x CNSA 02128
Rio Grande RS - LN 22J 612944/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Itapeva 5 - 268 6743620 x CNSA RS02129
Rio Grande Balneário Atlân- RS - LN 22J 612530/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Balneário Atlânico ico 2 - 295 6738600 x CNSA RS02147
Wagner 2004; Rogge
Rio Grande RS - LN 22J 611850/ e Schmitz 2010; CNSA
do Sul Arroio do Sal Parque Tupancy Parque Tupancy - 302 6737102 x 02155
Rio Grande RS - LN 22J 605586/ Rogge e Schmitz 2010;
do Sul Arroio do Sal Marambaia Marambaia 3 - 314 6727490 x CNSA RS02168
Rio Grande RS - LN 22J 612185/
do Sul Arroio do Sal Antena Antena - 317 6737715 x Rogge e Schmitz 2010
Rio Grande Balneário Atlân- RS - LN 22J 604829/
do Sul Arroio do Sal Balneário Atlânico ico 9 - 319 6729319 x Rogge e Schmitz 2010
Rio Grande RS - LN 22J 603894/
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Pousada da Lagoa - 321 6732094 x Rogge e Schmitz 2010
Rio Grande RS - LN 22J 604357/
do Sul Arroio do Sal Lagoa Itapeva Valdecir Gonçalves - 322 6732675 x Rogge e Schmitz 2010
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Rio Grande Sr. Miguel (Síio do Valente, Becker, La Salvia
do Sul Arroio Grande Arroio Chasqueiro Chasqueiro 48) x x x e Schorr 1971
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
RS
Rio Grande - AG - 22H 0316955/
do Sul Arroio Grande Arroio Sarandi RS - AG - 32C 32C 6440062 x Pereira 2005, 2008
Rio Grande Reserva do Mato 22H 341036/
do Sul Arroio Grande Grande x x 6440469 x Pereira 2008
Rio Grande Reserva do Mato 22H 341123/
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

do Sul Arroio Grande Grande x x 6440449 x Pereira 2008


Rio Grande Reserva do Mato 22H 340514/
do Sul Arroio Grande Grande x x 6441142 x Pereira 2008
Rio Grande 22H 329395/
do Sul Arroio Grande Foz da Canhada x x 6423134 x Pereira 2008
Rio Grande Foz do Arroio 22H 329266/
do Sul Arroio Grande Grande x x 6455682 x Pereira 2008
Rio Grande Farol e Ponta 22H 335048/
do Sul Arroio Grande Alegre x x 6412433 x Pereira 2008
Rio Grande Farol e Ponta 22H 335435/
do Sul Arroio Grande Alegre x x 6412833 x Pereira 2008
Rio Grande Camping/Arroio RS - LN
do Sul Arroio Teixeira x Teixeira - 130 x x Becker 2007
Rio Grande Tekoá Yma RS - LC 22J 487816/
do Sul Barra do Ribeiro Pontal da Formiga - 20 6638420 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Tekoá Mareÿ RS - LC 22J 0490094/
do Sul Barra do Ribeiro Pontal da Faxina - 21 6639842 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Tekoá Porã RS - LC 22J 0490802/
do Sul Barra do Ribeiro Pontal da Faxina - 22 6640887 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Tarumã - Riocel 22J 0489112/ Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Barra do Ribeiro Praia do Tarumã RS 324 6641514 x 01989
Rio Grande Arroinho I 22J 0486318/
do Sul Barra do Ribeiro Pontal da Formiga x 6633595 x Dias e Silva 2012
Rio Grande RS-274 A: Willy RS 274 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã Arroio do Curtume Hof 1 - A x x 1983; CNSA 00745
209
210
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS-274 B: Willy RS 274 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã Arroio do Curtume Hof 2 - B x x 1983; CNSA 00746
Rio Grande Arroio Velhaco RS-275-A: Jocó RS 275 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã do Sul Pedro Bernard - 1 - A x x 1983; CNSA 00747
Rio Grande Arroio Velhaco RS-275-B: Jocó RS 275 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã do Sul Pedro Bernard - 2 - B x x 1983; CNSA 00748
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x Alarico Meireles RS 276 x x 1983; CNSA 00749
Rio Grande RS-277-A: Wladis- RS 277 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x lau Schmievski - 1 - A x x 1983; CNSA 00750
Rio Grande RS-277-B: Wladis- RS 277 Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x lau Schmievski - 2 - B x x 1983; CNSA 00751
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x Emilio Alves Farias RS 278 x x 1983; CNSA 00752
RS-279 A e B:
Rio Grande Ataíde Rodrigues Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x Lucas - 1 e 2 RS 279 x x 1983; CNSA 00753
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x Zeferino Nunes RS 280 x x 1983; CNSA 00754
Rio Grande Dejalmo Marins Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x Ribeiro RS 281 x x 1983; CNSA 00755
Rio Grande Manuel Santana Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x (Bolicho) RS 282 x x 1983; CNSA 00756
Rio Grande Luiz Lacerda (Ven- Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x da) RS 283 x x 1983; CNSA 00757
Rio Grande Manoel dos Santos Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã Arroio Caiitu B. Marins RS 284 x x 1983; CNSA 00758
Brochado 1974; Gold-
Rio Grande Francisco Rodri- meier e Schmitz 1983;
do Sul Camaquã Costa do Suil gues RS 285 x x CNSA 00759
Brochado 1974; Gold-
Rio Grande Amarante Rodri- meier e Schmitz 1983;
do Sul Camaquã Costa do Suil gues RS 286 x x CNSA 00760
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Brochado 1974; Gold-
Rio Grande meier e Schmitz 1983;
do Sul Camaquã Costa do Suil Manuel A. Gouveia RS 287 x x CNSA 00761
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS-349 RS-349 x x 1983; CNSA 00050
Brochado 1974; Gold-
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande meier e Schmitz 1983;


do Sul Camaquã Costa do Suil Antonio Costa RS 352 x x CNSA 00053
Brochado 1974; Gold-
Rio Grande meier e Schmitz 1983;
do Sul Camaquã Costa do Suil Manuel A. Gouveia RS 353 x x CNSA 00054
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 354 RS 354 x x 1983; CNSA 00055
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 355 RS 355 x x 1983; CNSA 00056
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 356 RS 356 x x 1983; CNSA 00057
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 357 RS 357 x x 1983; CNSA 00058
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 358 RS 358 x x 1983; CNSA 00059
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 359 RS 359 x x 1983; CNSA 00060
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 360 RS 360 x x 1983; CNSA 00061
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 361 RS 361 x x 1983; CNSA 00062
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 362 RS 362 x x 1983; CNSA 00063
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 363 RS 363 x x 1983; CNSA 00064
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
x RS 364 RS 364 x x 1983; CNSA 00065
211

do Sul Camaquã
212
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 365 RS 365 x x 1983; CNSA 00066
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 366 RS 366 x x 1983; CNSA 00067
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Camaquã x RS 367 RS 367 x x 1983; CNSA 00068
Rio Grande RS - LN
do Sul Capão da Canoa Lagoa Itapeva Curumim 1 - 104 x x Marsul; CNSA 35176
Rio Grande Arroio Teixeira RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Capão da Canoa Arroio Teixeira TG + T - 93 x x 35173
Rio Grande Arroio Teixeira RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Capão da Canoa Arroio Teixeira TG + T - 94 x x 35174
Schmitz 1958; Gold-
meier e Schmitz 1983;
Rio Grande De Masi e Schmitz 1987;
do Sul Capão da Canoa Lagoa dos Quadros Lagoa dos Quadros RS 09 x x CNSA 35353
Rio Grande
do Sul Capão da Canoa Lagoa dos Quadros x x x x Paldaof 1900
Rio Grande RS - LN
do Sul Capão da Canoa x Ramalhete 1 - 32 x x Marsul; CNSA 35758
Rio Grande RS - LN
do Sul Capão da Canoa Praia do Barco Praia do Barco 1 - 40 x x Marsul; CNSA 35732
Rio Grande RS - LN
do Sul Capão da Canoa Praia do Araçá Praia do Araçá - 06 x x Marsul; CNSA 35733
Rio Grande Koseritz 1884a, 1884b;
do Sul Cidreira x x x x x Koseriz 1928
Rio Grande RS - LC
do Sul Cidreira Capororoca Capororoca 2 - 71 x x Marsul; CNSA 1346
Rio Grande RS - LC
do Sul Cidreira Capororoca Capororoca 3 - 72 x x Marsul; CNSA 1299
Rio Grande RS - LC
do Sul Cidreira Capororoca Capororoca 4 - 73 x x Marsul; CNSA 1298
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Roquete-Pinto [1906]
do Sul Cidreira-Torres x x x x x 1970
Rio Grande D. Pedro de Alcân- D. Pedro de Alcân- 22J 612846/ Monicelli et al. 2003;
do Sul tara tara Elmar Fernandes LII 05 6748626 x Wagner 2004
Rio Grande D. Pedro de Alcân- D. Pedro de Alcân- 22J 613032/ Monicelli et al., 2003;
do Sul tara tara Síio do Biólogo LII 14 6749197 x Wagner 2004
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande São Pedro - 150 m RS - 152 Ponte do CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Eldorado do Sul da BR 116 Jacuí RS 119 x x 36310, 36343
Rio Grande Inst. Desidério 22J 469770/ Leite 1975; Noelli 1993,
do Sul Eldorado do Sul Finamor Arroio do Conde RS 56 6675048 x 1997
Rio Grande Complexo Automo- RS - SR 22J 0469294/ 540+60 AP
Guaíba Santa Rita Dias e Silva 2012
do Sul ivo da Ford - 342 6671719 440+60 AP
Rio Grande RS -
Guaíba x RS - 119 x x CNSA 01808
do Sul 119
Rio Grande Ponte do Rio Jacuí RS -
Guaíba x x x CNSA 01841
do Sul (cat 152 GB 089) 152
Rio Grande Balneário Santa RS - LN 22J 586787/
do Sul Imbé Terezinha Santa Terezinha 1 - 17 6692881 x Marsul; Wagner 2009
Rio Grande Balneário Santa RS - LN 22J 587357/
do Sul Imbé Terezinha Santa Terezinha 2 - 18 6694229 x Marsul; Wagner 2009
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Imbé Imbé Velho Gustavo Machado RS 228 x x 1983; CNSA 00968
Rio Grande Gustavo Macha- RS 228 Goldmeier e Schmitz
do Sul Imbé Imbé Velho do B - B x x 1983; CNSA 01292
Rio Grande RS - LN
do Sul Maquiné X Pavão 1 - 03 x x Marsul; CNSA 15710
Rio Grande LQQ 22J 581331/ Monicelli et al., 2003;
do Sul Maquiné X Walter Medeiros 01 6709081 x Wagner 2004
Rio Grande RS - M 22J 588622/ 756 ± 100 AP Stuckenrath e Mielke
do Sul Maquiné X x - 35 6706669 (SI-412) 1970
Rio Grande Mário Boeira RS - LC 22J 554987/
do Sul Mostardas Praia do Bacopari Marins - 05 6621744 x Pestana 2007
213
214
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LC 22J 555092/
do Sul Mostardas Bacopari Bacopari 1 - 49 6621580 x Pestana 2007
Rio Grande João Emílio de RS - LC 22J 540098/
do Sul Mostardas Aguapé Sousa - 51 6606289 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC 22J 511114/
do Sul Mostardas Peixe Carambola - 52 6558136 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC 22J 517306/
do Sul Mostardas Peixe Parna I - 53 6562921 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC 22J 516081/
do Sul Mostardas Peixe Parna II - 54 6561322 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do A. Adolfo de Araú- RS - LC 22J 507997/
do Sul Mostardas Peixe jo A - 55 6556534 x Pestana 2007
Rio Grande Pontal do Cristovão Sambaqui Chico RS - LC 22J 483681/
do Sul Mostardas Pereira Bóis A - 11 6561920 x Pestana 2007
Rio Grande Pontal do Cristovão RS - LC 22J 483671/
do Sul Mostardas Pereira Chico Bóis B - 12 6561557 x Pestana 2007
Rio Grande Chácara Sr. Ilde- RS - LC 22J 490154/
do Sul Mostardas fonso Ildenfonso Braga A - 43 6557202 x Pestana 2007
Rio Grande Chácara Sr. Ilde- RS - LC 22J 511544/
do Sul Mostardas fonso Ildenfonso Braga B - 44 6557093 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC 22J 519551/
do Sul Mostardas Peixe Parna III - 61 6565962 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul Mostardas Arroio da Caveira Caveira 1 - 67 x x Marsul; CNSA 35317
Rio Grande Granja do “Rubi- Goldmeier e Schmitz
do Sul Mostardas Potreirinho nho” RS 82 x x 1983
Rio Grande
do Sul Osório Passo Fundo Faz. São Pedro A x x x 12ª SR IPHAN
520 ± 200
AP (SI-410) Leite 1995; Schmitz e
Rio Grande RS - LN 22J 574816/ 540 ± 100 AP Sandrin 2009; Wagner
do Sul Osório Passo Fundo x - 16 6688838 (SI-411) 2009
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Passo Fundo Faz. São Pedro B - 07 x 12ª SR IPHAN
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório x Palmital - 29 x x Marsul; CNSA 01358
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Lagoa Pinguela Pinguela - 30 x x Marsul; CNSA 01359
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Lagoa do Peixoto Peixoto - 31 x x Marsul; CNSA 35757
Rio Grande RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Osório Lagoa Pinguela Pinguela Camping - 106 x x 01360
Rio Grande RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Osório Lagoa do Peixoto Jazida da Figueira - 107 x x 00975
Rio Grande RS - LC
do Sul Osório Lagoa dos Barros Lagoa dos Barros I - 76 x x Marsul; CNSA 00971
Rio Grande RS - LN Jacobus 1994; CNSA
do Sul Osório Faxinal Calipso - 47 x x 00969
Rio Grande Faz. S. João do RS - LN
do Sul Osório Paraíso José Raupp I - 51 x x Marsul; CNSA 00967
Rio Grande RS - LN 22J 564642/ Becker 2007; Schmitz e
do Sul Osório Lagoa dos Barros Lagoa dos Índios - 64 6680717 x Sandrin 2009
Schmitz 1958; Gold-
meier e Schmitz 1983;
Rio Grande Romário M. Ma- De Masi e Schmitz 1987;
do Sul Osório Faz. do Arroio chado RS 08 x x CNSA 00962
Rio Grande RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Osório Osório FIAT - 95 x x 00972
Koseritz 1884a, 1884b;
Rio Grande Conceição do Koseriz 1928; Ihering
do Sul Osório Arroio x x x x 1895
Rio Grande Ramalhete 2 - Km RS - LN
do Sul Osório x 93 - 36 x x Marsul; CNSA 01369
215
216
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
870 ± 100
AP (SI 4120) Jacobus 1994; Schmitz
Rio Grande RS - LN 1070 ± 110 AP e Sandrin 2009; CNSA
do Sul Osório Morro Alto - Faxinal Bassani 1 - 35 x (SI-413) / C¹⁴ 01368
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Morro Alto Bassani 2 - 37 x x Marsul; CNSA 00966
Rio Grande RS - LN Jacobus 1994; CNSA
do Sul Osório Morro Alto Bassani 3 - 48 x x 00970
Rio Grande Lagoa dos Qua- RS - LN
do Sul Osório Lagoa dos Quadros dros 1 - 38 x x Marsul; CNSA 01370
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Lagoa Negra Lagoa Negra - 33 x x Marsul; CNSA 01362
Rio Grande RS - LN
do Sul Osório Faz. Pontal Fazenda Pontal - 34 x x Marsul; CNSA 01363
Monicelli et al. 2003;
Rio Grande Drink Shampoo - 22J 572145/ Wagner 2004; CNSA
do Sul Osório Morro Pelado Km 95.500 LAA 01 6695381 x 02308
Monicelli et al. 2003;
Rio Grande 22J 571385/ Wagner 2004; CNSA
do Sul Osório Lagoa da Pinguela Lauro Rodrigues LAA 02 6694478 x 02307
Monicelli et al. 2003;
Rio Grande 22J 574398/ Wagner 2004; CNSA
do Sul Osório Lagoa Peixoto Areal Moro LLE 02 6693925 x 02309
Rio Grande
do Sul Osório Arroio Caraá Torre 116 x x x CNSA 02742
Rio Grande Torre 135 / Torre
do Sul Osório Arroio Caraá 136 x x x CNSA 02743
Rio Grande
do Sul Osório Várzea do Padre Raul Moro 903 x x CEPA PUCRS
Rio Grande Fazenda do Cas-
do Sul Osório Lagoa da Caieira queiro x 22J 582912/6693678 x Wagner 2004
Rio Grande RS - M 474 ± 200 AP Stuckenrath e Mielke
do Sul Osório x x - 16 22J 575605/6688295 (SI-410) / C¹⁴ 1970
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
280 ± 50 AP
Rio Grande Lagoa da Portei- RS - LC (Beta 202366) Rogge 1999, 2006;
do Sul Palmares do Sul Quintão ra 1 - 80 22J 564370/6638546 / C¹⁴ Schmitz 2006
Rio Grande Lagoa da Portei- RS - LC Rogge 1999; Rosa 2006;
do Sul Palmares do Sul Quintão ra 2 - 81 22J 564263/6638473 x Schmitz 2006
Rio Grande Lagoa da Portei- RS - LC 563±45 AP Rogge 1999, 2006;
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

do Sul Palmares do Sul Quintão ra 3 - 82 22J 564143/6638303 (LVD 665) / TL Schmitz 2006
Rio Grande RS - LC
do Sul Palmares do Sul x RS-LC-83 - 83 22J 564236/6638381 x Rogge 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Quintão RS - LC - 85 - 85 22J 562790/6640402 x 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Lagoa da Lavagem IRGA - 88 22J 561153/6641668 x 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Lagoa da Porteira IRGA - 89 22J 562181/6642068 x 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Granjas Vargas Faz. Duas Lagoas - 90 22J 562407/6636914 x 2006; Rosa 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Granjas Vargas Faz. Duas Lagoas - 92 22J 562204/6636859 x 2006; Rosa 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Granjas Vargas Faz. João Terra - 94 22J 561899/6634811 x 2006
Rio Grande RS - LC Rogge 1999, 2006; Rosa
do Sul Palmares do Sul Granja Vargas Chácara do Leão - 96 22J 550142/6640209 x 2006
Rio Grande RS - LC Schmitz 1997; Rogge
do Sul Palmares do Sul Bacupari Bacupari - 97 22J 559173/6625477 x 2006
Rio Grande RS - LC
do Sul Palmares do Sul x RS-LC-99 - 99 22J 563044/6639991 x Rogge 2006
Rio Grande RS - LC
do Sul Palmares do Sul x RS-LC-100 -100 22J 563018/6640050 x Rogge 2006
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 65 x x 01754
217
218
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 66 x x 01755
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 67 x x 01756
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 68 x x 01757
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 69 x x 01758
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 70 x x 01759
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 71 x x 01760
Rio Grande Leonardo B. Sil- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Lagoa do Quintão veira RS 72 x x 01761
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Palmares do Sul Quintão Quintão - Praia RS 171 x x 36364
Rio Grande
do Sul Pelotas Praia do Laranjal Hospital PP 01 22J 0382932/6486256 x Milheira 2008a, 2008b
Rio Grande Milheira 2008a, 2008b;
do Sul Pelotas Colônia Z-3 Arroio Sujo PS 01 22J 0389668/6491882 x CNSA 02829
380±50 AP
Rio Grande (Beta 234205) Milheira 2008a, 2008b;
do Sul Pelotas Praia do Barro Duro Camping PS 02 22J 0388810/6490949 / C¹⁴ CNSA 02831
530±40 AP
(Beta 237665)
510±40 AP Milheira 2008a, 2008b;
Rio Grande (Beta 282128) Milheira e Alves 2009;
do Sul Pelotas Praia do Laranjal Totó PS 03 22J 0386716/6489544 / C¹⁴ Alves 2012; CNSA 02832
Rio Grande Milheira 2008a, 2008b;
do Sul Pelotas Ilha da Feitoria Sotéia PT 01 22J 4035980/6500022 x CNSA 02547
Rio Grande Milheira 2008a, 2008b;
do Sul Pelotas Ilha da Feitoria Lagoinha PT 05 22J 4004220/6502560 x CNSA 02548
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
RS
170/ CEPA PUCRS; Milheira
Rio Grande Campo de Tiro/ PSG - 2008a, 2008b; CNSA
do Sul Pelotas Laranjal Vila Assunção 17 22J 0380237/6484664 x 02830
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul Pelotas Laranjal José Hillal RS 94 x x 1983; CNSA 00980
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande Porto Alegre 1906;


do Sul Porto Alegre Santa Tereza Santa Tereza x x x Noelli et al. 1997
Rio Grande Porto Alegre 1906;
do Sul Porto Alegre Várzea do Gravataí x x x x Noelli et al. 1997
Rio Grande
do Sul Porto Alegre Vila Mapa Vila Mapa x x x Noelli et al. 1997
Rio Grande Couto 1940; Beiol
do Sul Porto Alegre Vila Nova Vila Nova x x x 1966; Noelli et al. 1997
Rio Grande Ponta Chico Ma- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Porto Alegre noel Sr. Romeu RS 87 x x 01776
Rio Grande Reserva Biológica RS - JA
do Sul Porto Alegre Lami do Lami - 01 22J 0493050/6655665 x Dias e Silva 2012
Rio Grande RS - JA
do Sul Porto Alegre Lami Bernardes - 02 22J 0493025/6654372 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Morro São Pedro/ RS - JA
do Sul Porto Alegre Morro das Quirinas Lajeado - 07 22J 0490337/6662732 x Dias e Silva 2012
Spalding 1939, 1940,
Rio Grande RS - JA 22J 0481711/6655 320 1943, 1967, s.d.; Noelli
do Sul Porto Alegre Belém Novo Ponta do Arado - 16 x et al. 1997; CNSA 02265
Rio Grande RS - JA Pouget e Thiesen 2002;
do Sul Porto Alegre Centro Praça da Alfândega - 23 22J 477701/6677 966 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Praça Brigadeiro RS - JA Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Porto Alegre Sampaio Rede DMAE - 24 x x 02294
Rio Grande RS - JA
do Sul Porto Alegre Lomba do Pinheiro Lomba do Pinheiro - 74 22J 0488226/6669014 x Dias e Silva 2012
219
220
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Spalding 1939, 1940,
1943, 1967, s.d.; Silva
1992; Noelli et al. 1997;
Rio Grande RS - LC Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Porto Alegre Ilha Chico Manoel Ilha Chico Manoel - 71 22J 0484300/6651800 610+50 AP 00988
Rio Grande Noelli et al. 1997; CNSA
do Sul Porto Alegre Vila Resinga Síio Vila Resinga G1 x x 35337
Rio Grande Caldre e Fião 1943;
do Sul Porto Alegre Morro do Osso Morro do Osso x x x Noelli et al. 1997
Rio Grande Bairro Passo da Caldre e Fião 1943;
do Sul Porto Alegre Areia Passo da Areia x x x Noelli et al. 1997
Spalding 1939, 1940,
Rio Grande Morro do Espírito 1943, 1967, s.d.; Noelli
do Sul Porto Alegre Santo Espírito Santo x x x et al. 1997
Rio Grande 22J 0496400/6645300 Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Porto Alegre Itapuã Ilha das Pombas RS 323 x 01988
Rio Grande Noelli et al. 1997; Dias e
do Sul Porto Alegre Ponta do Coco Rogério Christo PA 300 22J 0493665/6651662 x Silva 2012; CNSA 02005
Rio Grande RS - LS
do Sul Rio Grande x RS-LS 20 - 20 22J 380911/6474710 x LEPAN/FURG
Rio Grande RS - LS
do Sul Rio Grande x RS-LS 96 - 96 22J 380992/6474380 x LEPAN/FURG
Rio Grande José Pedro Leger- RS - LS
do Sul Rio Grande Povo Novo man - 45 22J 382875/6466837 x CNSA 01081
890±40 AP
(SI 1190) Naue, Schmitz e Becker
580±50 AP 1968; Naue, Schmitz, Va-
(Beta 64560) lente, Becker, La Salvia e
510±60 AP Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG (Beta 64284) e Schmitz 1983; Carle
do Sul Rio Grande Povo Novo Fazenda Soares - 02 22J 382832/6469100 / C¹⁴ 2002; CNSA 35460
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
e Schorr 1971; Schmitz
Rio Grande Lacides A. Gon- RS - RG 1976; Goldmeier e Sch-
do Sul Rio Grande Quitéria çalves - 03 x x mitz 1983; CNSA 01051
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Naue, Schmitz e Becker


1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
e Schorr 1971; Schmitz
Rio Grande RS - RG 1976; Goldmeier e Sch-
do Sul Rio Grande Arraial de Fora José S. Figueiredo - 08 x x mitz 1983; CNSA 35445
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Arraial de Fora João B. Faria - 09 x x 35446
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
e Schorr 1971; Schmitz
Rio Grande RS - RG 1976; Goldmeier e Sch-
do Sul Rio Grande Arraial de Fora Pedro Barros - 10 x x mitz 1983; CNSA 35447
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Lagoa Caiubá Denis Lauwson - 11 x x 35448
221
222
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Capão Novo Edmar M. Costa - 12 x x 15017
Brochado 1974; Gold-
Rio Grande RS - RG meier e Schmitz 1983;
do Sul Rio Grande Povo Novo Pesqueiro - 16 x x CNSA 35462
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Barra Falsa Valpírio M. Borges - 22 x x 35452; 36125
Rio Grande RS - RG Schmitz 1976; CNSA
do Sul Rio Grande Arraial de Fora Quinta - 28 x x 36220
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Quinta Floriano Fonseca - 29 x x 36221
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Quinta Floriano Fonseca - 30 x x 35456
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Quinta Floriano Fonseca - 31 x x 35457
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
RS - RG Valente, Becker, La Salvia
Rio Grande Marcelino A. - 32/RS 22H e Schorr 1971; Ribeiro
do Sul Rio Grande Quitéria Brancão 413 0378719/6455490 x 2006; CNSA 01071
Naue, Schmitz e Becker
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

1968; Naue, Schmitz, Va-


lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Vieira Álvaro da Silva - 33 x x 35464
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Pesqueiro Álvaro Bastos - 34 x x 35465
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Povo Novo Álvaro Bastos - 35 x x 35466
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande Fazenda José RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Povo Novo Lerchmann - 36 x x 35467
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande Taim/Lagoas Flores RS - RG e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande e Nicola Roger Llopart - 38 x x 35468
223
224
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Schmitz 1976; Gold-
meier e Schmitz 1983;
Rio Grande RS - RG Schmitz 2006; CNSA
do Sul Rio Grande Barra Falsa Oscar Mendes - 49 22J 380838/6475770 x 35433
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
Rio Grande e Schorr 1971; CNSA
do Sul Rio Grande Vieira Fam. Zogbi RS 15 x x 36207
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz, Va-
lente, Becker, La Salvia e
Schorr 1971; Goldmeier
Rio Grande e Schmitz 1983; CNSA
do Sul Rio Grande Barra Falsa Levi Magalhães RS 299 x x 35454
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
Rio Grande e Schorr 1971; CNSA
do Sul Rio Grande Ilha do Leonídio Jusiniano Nunes RS 39 x x 36230
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
Rio Grande e Schorr 1971; CNSA
do Sul Rio Grande Ilha da Torotama Rosalvo Costa RS 43 x x 36234
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Rio Grande Magalhães Alberto T. Pereira RS 44 x x 36235
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Rio Grande Arraial de Dentro Nair Vieira RS 46 x x 36237
Naue, Schmitz e Becker
1968; Naue, Schmitz,
Valente, Becker, La Salvia
Rio Grande Taim/Lagoa das e Schorr 1971; CNSA
do Sul Rio Grande Flores Faz. Terra 17 RS 51 x x 36242
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Rio Grande Taim Quitério Pereira RS 52 x x 35243
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Rio Grande Arroio Marins Nelson R. Oliveira RS 54 x x 35245
Rio Grande
do Sul Rio Grande Distrito Industrial Mujica x 22H 389265/6442334 x Ferreira e Alves 2009
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande
do Sul Rio Grande x Fernando Lopes x 22J 379538/6459662 x Telles 2010
Rio Grande
do Sul Rio Grande x Manuel x 22J 378505/6461810 x Telles 2010
Rio Grande
do Sul Rio Grande x Marcelino x 22H 379393/6455660 x Telles 2010
Rio Grande
do Sul Rio Grande x Placidino x 22J 377139/6470677 x Telles 2010
Rio Grande
do Sul Rio Grande x Mirim 01 x 22H 351638/6400706 x Vidal 2012
Rio Grande Quitéria Barreira RS - LS 22 Ribeiro 2006; CNSA
do Sul Rio Grande Quitéria 3-01 - 103 H0382686/6457896 x RS02241
Rio Grande Quitéria Barreira RS - LS 22H Ribeiro 2006; CNSA
do Sul Rio Grande Quitéria 3-02 - 104 0382660/6457599 x RS02242
Rio Grande Quitéria Barreira RS - LS 22H Ribeiro 2006; CNSA
do Sul Rio Grande Quitéria 3-03 - 105 0382684/6457374 x RS02243
Rio Grande Quitéria Barreira RS - LS 22H Ribeiro 2006; CNSA
do Sul Rio Grande Quitéria 3-04 - 106 0382555/6457263 x RS02244
Rio Grande Fazenda Pedro 22H
do Sul Rio Grande Quitéria Oliveira x 0382753/6457529 x Ribeiro 2006
Rio Grande Fazenda Adir Jesus 22H
do Sul Rio Grande Quitéria de Quadro x 0381763/6455835 x Ribeiro 2006
Vila de Nossa Se- Aldeia Nossa Se-
Rio Grande nhora da Conceição nhora da Concei- RS - LC
do Sul São José do Norte do Estreito ção do Estreito - 01 22J 421376/6478291 x Pestana 2007
225
226
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Capivaras Capivaras 1 - 03 22J 398593/6477249 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Capivaras Capivaras 2 - 04 22J 397798/6476043 x Pestana 2007
Naue, Schmitz, Valen-
te, Becker, La Salvia e
Rio Grande RS - LC Schorr 1971; Pestana,
do Sul São José do Norte Capivaras Capivaras 3 - 07 22J 398219/6474473 x 2007; CNSA 02513
Rio Grande RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul São José do Norte Passinhos Passinhos 1 - 08 22J 404352/6473906 x 02514
Rio Grande RS - LC Pestana 2007; 12ª SR
do Sul São José do Norte Curral Velho Sermi M. Miguel - 24 22J 472689/6514841 x IPHAN
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Curral Velho Romeu A. Costa - 26 22J 450606/6500795 x Pestana 2007
Rio Grande Dilmo Marins/ RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul São José do Norte Capão José Érico Weber - 27 22J 472102/6514495 x 02524
Rio Grande RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul São José do Norte Capão da Areia Dilmo Marins - 28 22J 472053/6514453 x 02524
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Capivaras Antenor Paiva - 29 22J 398219/6474473 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Capivaras Areias Gordas A - 30 22J 400856/6473288 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco A - 31 22J 469936/6504439 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco B - 32 22J 469791/6504207 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco C - 33 22J 469086/6503434 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco D - 34 22J 468776/6503105 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco E - 35 22J 468138/6502545 x Pestana 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Barranco F - 36 22J 470033/6504545 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Bojuru Velho A - 37 22J 464481/6498378 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Bojuru Velho B - 38 22J 464533/6498410 x Pestana 2007
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Passinho Passinho II A, B - 40 22J 403905/6472907 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Passinho Passinho III - 41 22J 402553/6471430 x Pestana 2007
Rio Grande Sambaqui Capão RS - LC
do Sul São José do Norte Capão da Areia da Areia - 59 22J 477667/6510033 x Pestana 2007
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC
do Sul São José do Norte Peixe Parna IV - 63 22J 493162/6534605 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Guarita Parna VI - 67 22J 491933/6532990 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Capivaras Ângela Waise - 68 22J 402502/6461691 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul São José do Norte Bojuru Velho Bojuru Velho C - 69 x x LEPAN; 12ª SR IPHAN
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Bojuru Velho Bojuru Velho RS 56 x x 01746
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Bojuru Velho RS 57 RS 57 x x 01747
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Divisa Elísio Firmino RS 58 x x 01748
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Capão da Areia João Castro RS 59 x x 01749
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Capão da Areia João Castro RS 60 x x 01750
Rio Grande CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São José do Norte Capão da Areia Antônio Farias RS 61 x x 36252
227
228
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Naue, Schmitz, Valen-
Rio Grande Síio te, Becker, La Salvia e
do Sul São José do Norte Ponta Rasa Arroio do Inhame 47 x x Schorr 1971
Síio
Jacinto Naue, Schmitz, Valen-
Rio Grande Síio Jacinto Inácio Inácio te, Becker, La Salvia e
do Sul São José do Norte Jacinto Inácio 46b 46b x x Schorr 1971
Rio Grande Monumento Bal- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul São Lourenço do Sul mário Balmário RS 158 x x 01847
Rio Grande Goldmeier e Schmitz
do Sul São Lourenço do Sul Faz. Timbaúva Dr. Crisanto RS 237 x x 1983; CNSA 01211
Rio Grande Manuel M. Ma- RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul Tavares Capão Comprido chado - 09 22J 483358/6522052 x 02515
Rio Grande RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul Tavares Capão da Marca Capão da Marca A - 14 22J 484548/6536092 x 02541
Rio Grande RS - LC Pestana 2007; 12ª SR
do Sul Tavares Guarita João R. Silva - 18 22J 0492838/6534314 x IPHAN
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Campo da Honra Campo da Honra A - 19 x x LEPAN; 12ª SR IPHAN
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Campo da Honra Campo da Honra B - 20 x x LEPAN; 12ª SR IPHAN
RS
Rio Grande Lino Azevedo Pires - LC - CEPA PUCRS; Pestana
do Sul Tavares Costa de Cima de Lima A 45/79 22J 492771/6554573 x 2007; CNSA 01768
Rio Grande Lino Azevedo Pires RS - LC
do Sul Tavares Costa de Cima de Lima B - 46 x x LEPAN; 12ª SR IPHAN
Rio Grande Estevaldino Rodri- RS - LC
do Sul Tavares Campo Comprido gues A - 56 22J 482935/6521322 x Pestana 2007
Rio Grande Sidnei da Silva RS - LC
do Sul Tavares Campo Comprido Machado - 57 22J 483129/6521982 x Pestana 2007
Rio Grande Levi Faria dos RS - LC
do Sul Tavares Campo Comprido Santos - 58 22J 482939/6521371 x Pestana 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Capororoca Capororoca II - 60 22J 494580/6538502 x Pestana 2007
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Rincão dos Linhares Taroca 1 - 62 x x Marsul; CNSA 00921
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Capororoca Capororoca I - 62 22J 495426/6538872 x Pestana 2007
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Rincão dos Linhares Taroca 2 - 63 x x Marsul; CNSA 00922
Rio Grande Pta. Cristovão RS - LC
do Sul Tavares Pereira Pontal 1 - 64 x x Marsul; CNSA 00926
Rio Grande Estevaldino Luis RS - LC
do Sul Tavares Capão Comprido Rodrigues II - 64 22J 482618/6520849 x Pestana 2007
Rio Grande Napoleão Araújo RS - LC Pestana 2007; CNSA
do Sul Tavares Capão Comprido Brum - Pontal 2 - 65 22J 485399/6524270 x 00927
Rio Grande RS - LC
do Sul Tavares Lagoa do Bonito Bonito - 66 x x Marsul; CNSA 00923
Rio Grande Pq. Nac. Lagoa do RS - LC
do Sul Tavares Peixe Parna V - 66 22J 490320/6530631 x Pestana 2007
Rio Grande Farol Capão da RS-75-Dona Con- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Tavares Marca ceição RS 75 x x 01764
Rio Grande Farol Capão da RS-78-Dona Con- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Tavares Marca ceição RS 78 x x 01767
Rio Grande Luiz Antônio Lis- CEPA PUCRS; CNSA
do Sul Tavares Tavares boa RS 80 x x 01769
Rio Grande
do Sul Terra de Areia Terra de Areia Km 50.540 898 x x CEPA PUCRS
Rio Grande
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Oliveira Cardoso 946 x x CEPA PUCRS
Rio Grande
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Manoel João 949 x x CEPA PUCRS
Rio Grande RS - LN
do Sul Terra de Areia Lagoa dos Quadros Sanga Funda - 39 x x Marsul; CNSA 01340
229
230
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Fazenda S. Antô- RS - LN Becker 2007; CNSA
do Sul Terra de Areia Cornélios nio- irmã da Giza - 96 x x 00973
Monicelli et al. 2000;
Rio Grande Wagner, 2004; CNSA
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Manoel João LII 09 22J 592756/6728786 x 02249
Monicelli et al. 2000;
Rio Grande Wagner, 2004; CNSA
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Síio do Lima LII 10 22J 592392/6727968 x 02248
Rio Grande Onildo R. de Monicelli et al. 2000;
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Aguiar LII 11 22J 593274/6727399 x Wagner, 2004
Rio Grande Monicelli et al. 2000;
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Lomba da Folia LII 12 x x Wagner, 2004
Rio Grande Monicelli et al. 2000;
do Sul Terra de Areia Lagoa Itapeva Síio do Areal LII 13 22J 594497/6727148 x Wagner, 2004
12ª SR IPHAN; Moni-
Rio Grande LQQ celli et al. 2003; Wagner
do Sul Terra de Areia Km 50,540/BR101 Família Nunes 02 22J 588047/6723795 x 2004
Rio Grande Monicelli et al. 2003;
do Sul Torres x Darci Leal LII 07 22J 614451/6745569 x Wagner 2004
RS-LN
- 02
Rio Grande (Hil-
do Sul Torres Itapeva RS - LN - 02 bert) 22J 619638/6748631 x Wagner 2004
RS-LN
- 03
Rio Grande Balneário de Ita- (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva peva bert) 22J 619319/6747987 x 02433
RS-LN
- 04
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva Caixa dágua bert) 22J 619475/6748422 x 02436
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
RS-LN
- 06
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva RS - LN - 06 bert) 22J 619867/6748648 x 02437
RS-LN
- 07
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA


do Sul Torres Itapeva Camping Itapeva bert) 22J 621211/6750704 x 02438
RS-LN
- 08
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva RS - LN - 08 bert) 22J 621014/6750413 x 02439
RS-LN
- 09
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva RS - LN - 09 bert) 22J 620914/6749950 x 02440
RS-LN
- 10
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Itapeva RS - LN - 10 bert) 22J 620863/6750616 x 02441
RS-LN
- 19
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Campo do Cortume RS - LN - 19 bert) 22J 621442/6752213 x 02448
RS-LN
- 21
Rio Grande (Hil- Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres Castelinho RS - LN - 21 bert) 22J 618726/6747011 x 02450
RS-LN
- 22
Rio Grande (Hil-
do Sul Torres Castelinho RS - LN - 22 bert) 22J 615442/6746763 x Wagner 2004
Rio Grande Entre Itapeva e Goldmeier e Schmitz
do Sul Torres x Lagoa do Jardim RS 204 x x 1983; CNSA 01278
231
232

Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Monicelli et al. 2003;
Rio Grande BAM Wagner 2004; CNSA
do Sul Torres BR 101 Família Machado 06 22J 618659/6755700 x 02297
Rio Grande TG da Lagoa de RS - LN
do Sul Tramandaí x Tramandaí - 248 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa do RS - LN
do Sul Tramandaí x Armazem - 249 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul Tramandaí Pontal Lagoa do Armazém - 15 x x Marsul; CNSA 01289
Rio Grande Passo Fundo - M RS - LN
do Sul Tramandaí Lagoa 16 - 16 x x CNSA 00965
Praia de SantaTe-
Rio Grande resinha 1 e 2 - M RS - LN Goldmeier e Schmitz
do Sul Tramandaí Tramandaí 17 - 17 x x 1983; CNSA 01290
Rio Grande Sambaqui Mato RS - LN
do Sul Tramandaí Mato Morto Morto - 14 x x 12ª SR IPHAN
Rio Grande RS - LN
do Sul Tramandaí Arroio Mato Morto Mato Morto 2 - 42 x x Marsul; CNSA 01301
Rio Grande RS - LN
do Sul Tramandaí Arroio Mato Morto Mato Morto 3 - 43 x x Marsul; CNSA 01302
Rio Grande Monicelli et al., 2003;
do Sul Três Cachoeiras x Cemitério LII 02 22J 601504/6739654 x Wagner 2004
Rio Grande Monicelli et al., 2003;
do Sul Três Cachoeiras x Mário Mengue LII 03 22J 601645/6739759 x Wagner 2004
Rio Grande Monicelli et al., 2003;
do Sul Três Cachoeiras x Irmãos Broda LII 04 22J 603730/6740383 x Wagner 2004
Rio Grande Monicelli e Domiks
do Sul Três Cachoeiras BR 101 Jazida de Areia 5 x x x 1998; CNSA 02103
Monicelli et al. 2003;
Rio Grande Wagner 2004; CNSA
do Sul Três Cachoeiras Chimarrão Chimarrão LII 01 22J 599090/6736438 x 02303
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Aldeia do Canta- RS - LC Silva 1992; Dias e Silva
do Sul Viamão Distrito do Espigão galo - 01 22J 0498081/6659494 x 2012
Rio Grande RS - LC Silva 1992; Dias e Silva
do Sul Viamão Itapuã Colônia Itapuã - 02 x x 2012
Silva 1992; Zortéa 1995;
Rio Grande RS - LC Noelli et al 1997; Dias e
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

do Sul Viamão Itapuã Praia das Pombas - 08 22J 0496303/6643308 x Silva 2012
Rio Grande RS - LC Zortéa 1995; Dias e Silva
do Sul Viamão Praia do Síio Praia do Síio - 15 22J 0495594/6639135 x 2012
Rio Grande RS - LC
do Sul Viamão Itapuã Prainha - 16 22J 0494944/6638618 x Dias e Silva 2012
Rio Grande RS - LC
do Sul Viamão Itapuã Morro do Farol - 17 22J 0494500/6638400 x Dias e Silva 2012
Rio Grande RS - LC
do Sul Viamão Morro do Coco Morro do Coro - 18 22J 0495718/6651542 x Dias e Silva 2012
Rio Grande Pedreira - Morro RS - LC Silva 1992; Dias e Silva
do Sul Viamão Itapuã da Fortaleza - 03 22J 0495161/6641730 x 2012
Rio Grande RS - LC Zortéa 1995; Dias e Silva
do Sul Viamão Praia da Onça Praia da Onça - 11 22J 0495088/6642544 x 2012
Silva 1992; Noelli et al.
Rio Grande RS - LC 1997; Dias e Silva 2012;
do Sul Viamão Itapuã Praia do Araçá - 07 22J 0496150/6640750 x CNSA 35379
Rio Grande RS - LC Dias e Silva 2012; Zortéa
do Sul Viamão Itapuã Morro da Fortaleza - 39 22J 0495200/6642250 x 1995
Rio Grande RS - LC Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Viamão Itapuã Praia da Pedreira - 74 22J 0495161/6641730 x 01313
Rio Grande Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Viamão laguna dos Patos Nei Bueno RS 272 x x 01940
Rio Grande Porto Alegre 1906; Silva
do Sul Viamão Itapuã x x x x 1992; Noelli et al. 1997
Spalding 1939, 1940,
Rio Grande 1943, 1967, s.d.; Noelli
Ponta dos Coaís x x x
233

do Sul Viamão Itapuã et al. 1997


234
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Lagoa Negra I (ex
RS-LC-04: Lagoa
Rio Grande Negra I e RS-LC-06: RS - LC Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Viamão Itapuã/Lagoa Negra Lagoa Negra II) - 75 22J 500977/6641531 x 01402
Rio Grande Novo Lar de Me- Dias e Silva 2012; CNSA
do Sul Viamão Jardim Lisboa nores RS 88 x x 01777
Rio Grande
do Sul Viamão Águas Claras Pomar da Lagoa I x 22J 513106/6663477 x Dias e Silva 2012
Silva 1992; Noelli et al.
Rio Grande RS - LC 1997; Dias e Silva 2012;
do Sul Viamão Itapuã Ilha do Junco - 70 22J 493700/6641900 x CNSA 00989
Rio Grande RS - LN Ribeiro 1982; CNSA
do Sul Xangrilá Praia de Xangrilá Capão Alto - M 19 - 19 22J 592905/6704099 x 02115; Wagner 2009
Rio Grande RS - LN Miller 1967; CNSA
do Sul Xangrilá Fazenda Nunes Nunes 1 - 20 22J 589429/6704088 x 35162; Wagner 2009
Rio Grande RS - LN Miller 1967; CNSA
do Sul Xangrilá Fazenda Nunes Nunes 2 - 21 22J 589479/6703939 x 35163; Wagner 2009
Rio Grande RS - LN Marsul; CNSA 35164;
do Sul Xangrilá Fazenda Nunes Nunes 3 - 22 22J 589485/6703752 x Wagner 2009
Rio Grande RS - LN
do Sul Xangrilá Fazenda Nunes Nunes 4 - 23 22J 589554/6703589 x Marsul; Wagner 2009
Rio Grande RS - LN Marsul; CNSA 35166;
do Sul Xangrilá Fazenda Nunes Nunes 5 - 24 22J 589695/6703442 x Wagner 2009
Rio Grande RS - LN
do Sul Xangri-lá Fazenda Nunes Nunes 6 - 26 22J 588376/6704544 x Marsul; Wagner 2009
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Fazenda Lucita I - 115 x x Becker 2007
Rio Grande Aldeia de Itapeva RS - LN
do Sul x x TG/Taquara - 122 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Síio do Gringo - 124 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Posto do Salim - 128 x x Becker 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Jazida do Valter - 129 x x Becker 2007
Rio Grande Fazenda Prof. Luiz RS - LN
do Sul x x C. Hainzerender - 131 x x Becker 2007
Rio Grande Aldeia do Guer- RS - LN
do Sul x x reiro - 132 x x Becker 2007
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande Aldeia TG da Ita- RS - LN


do Sul x x peva - 134 x x Becker 2007
Rio Grande João Fernandes RS - LN
do Sul x x Neto - 141 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Hilário Maggi - 142 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Margareth Weber - 143 x x Becker 2007
Rio Grande Luiz Nolasco de RS - LN
do Sul x x Souza - 144 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Osvaldo Bof - 146 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Ilda Borges - 151 x x Becker 2007
Rio Grande Aldeia Tupiguarani RS - LN
do Sul x x Tapera/Osório - 154 x x Becker 2007
Rio Grande Profa. Eroni RS - LN
do Sul x x Behenck - 157 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Aldeia Gaivota - 158 x x Becker 2007
Rio Grande TG/DNIT/Duplica- RS - LN
do Sul x x ção 101 - 166 x x Becker 2007
Rio Grande TG/Síio da Torre RS - LN
do Sul x x Telefônica - 167 x x Becker 2007
Rio Grande Família Raulino - RS - LN
do Sul x x Passo da Caveira - 170 x x Becker 2007
235
236
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande Pedro Raulino - RS - LN
do Sul x x Passo da Caveira - 171 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Família Behenck - 172 x x Becker 2007
Rio Grande Síio do Marino RS - LN
do Sul x x Jorge - 178 x x Becker 2007
Rio Grande Síio do Juca Fer- RS - LN
do Sul x x nandes - 179 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Síio do Cemitério - 181 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Síio do Alegre - 182 x x Becker 2007
Rio Grande Síio Pedro Macha- RS - LN
do Sul x x do Marins (Boró) - 183 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Família Schefer - 184 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Morro dos Lippert - 186 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Noir Evaldt Bof - 189 x x Becker 2007
Rio Grande Síio da Olaria - RS - LN
do Sul x x Km 51 - 202 x x Becker 2007
Rio Grande Síio da Sanga RS - LN
do Sul x x Funda - 203 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Síio da Lagoinha - 209 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Lagoa dos Quadros - 212 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Campo Bonito - 218 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG da Itapeva - 220 x x Becker 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG do Faxinal - 222 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG da Perdida - 225 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa dos RS - LN
do Sul x x Barros - 234 x x Becker 2007
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG da BR 101 - 238 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa da RS - LN
do Sul x x Pinguela - 239 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa do RS - LN
do Sul x x Peixoto - 240 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG do Pontal - 241 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG da Lagoa Negra - 242 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa do RS - LN
do Sul x Morro Alto Ramalhete - 243 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x TG da Areia - 247 x x Becker 2007
Rio Grande TG da Lagoa do RS - LN
do Sul x x Horácio - 251 x x Becker 2007
RS - LN
Rio Grande Lindomar Concei- - 65
do Sul x x ção Viegas (Bado) ABC x x Becker 2007
RS - LN
Rio Grande - 70
do Sul x x Orlando José Bohn ABC x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Mariante Gomes - 71 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Jazida da Formiga - 72 x x Becker 2007
237
238
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Nelson Müller - 77 x x Becker 2007
Rio Grande RS - LN
do Sul x x Darci Azevedo - 80 x x Becker 2007
Rio Grande Pedro Rubem RS - LN
do Sul x x Prestes - 86 x x Becker 2007
Santa Cata- Sambaqui da Foz
rina Araquari Rio Parai do Rio Parai x x Gualberto 1908
Aldeia da Man-
Santa Cata- gueira do Mar- ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Lagoa Mãe-Luzia celino 005 22J 6805800/663838 x CNSA 01092
Santa Cata- Escola Isolada ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Caverazinho Caverazinho 006 22J 6796114/649820 x CNSA 01093
Santa Cata- Aldeia do Levan- ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Hercílio Luz doski 007 22J 657746/6800919 x CNSA 01100
Santa Cata- Aldeia da Roça de ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Hercílio Luz Milho 008 22J 6599921/6801688 x CNSA 01101
Santa Cata- Aldeia da Roça de ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Campo Mãe-Luzia Melancia 009 22J 6627471/6803943 x CNSA 01102
610 ± 60 AP
Santa Cata- Aldeia da Lagoa ARA (LVD-FATEC) Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Barra Velha Mãe-Luzia 010 22J 663557/6805711 / TL CNSA 01103
Santa Cata- Morro dos Con- Morro dos Con- SC - LS
rina Araranguá ventos ventos - 06 x x 12ª SR IPHAN
Santa Cata- Ceramico Roça do
rina Araranguá x Mato Alto x 22J 644465/6795496 x De Masi 2007
Santa Cata- Lavina 2000; Lino 2007;
rina Araranguá Caverazinho Aldeia do Trevo x 22J 6796400/649851 x CNSA 01090
Santa Cata- Campo Mae Lu-
rina Araranguá Rio dos Porcos zia 01 x 22J 660532/6802444 x Lavina 2000; Lino 2007
Santa Cata- Campo Mae Lu-
rina Araranguá Rio dos Porcos zia 02 x 22J 660610/6802215 x Lavina 2000; Lino 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- Campo Mae Lu-
rina Araranguá Rio dos Porcos zia 03 x 22J 661055/6802904 x Lavina 2000; Lino 2007
Santa Cata- Campo Mae Lu-
rina Araranguá Rio dos Porcos zia 04 x 22J 661354/6803135 x Lavina 2000; Lino 2007
Santa Cata- Balneário Arroio do
rina Silva Arroio do Silva Arroio do Silva x 22J 654809/6794312 x IPAT/UNESC; Lavina 2000
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Santa Cata- Balneário Arroio do Balsa Morro dos ARA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Silva Conventos Aldeia da Balsa 011 22J 6568461/6794444 x CNSA 01106
Santa Cata- Cemitério B. Gai-
rina Balneário Gaivota Figueirinha vota 1 x x x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata-
rina Balneário Gaivota Lagoa do Rodeio Lagoa do Rodeio x 22J 636150/ 6777849 x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- Comunidade de
rina Balneário Gaivota Palmeira Palmeira x 22J 640131/ 6782169 x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- FLN
rina Florianópolis Pântano do Sul Florianópolis 39 004 x x Rohr 1984; CNSA 00281
Santa Cata- FLN Chmyz 1976; Rohr 1977,
rina Florianópolis Pântano do Sul Florianópolis 40 062 x x 1984; CNSA 55244
Santa Cata- Dunas do Pântano FLN Rohr 1977; Farias e
rina Florianópolis Pântano do Sul do Sul I 062 22J 745023/6924780 x Kneip 2010, CNSA 00339
Santa Cata- FLN Chmyz 1976; Rohr 1977,
rina Florianópolis Pântano do Sul Florianópolis 44 063 x x 1984; CNSA 55245
Santa Cata- Dunas do Pantano FLN
rina Florianopólis Pântano do Sul do Sul II 063 22J 745053/6924754 x Rohr 1977; CNSA 00340
Santa Cata- Dunas do Pantano FLN
rina Florianopólis Pântano do Sul do Sul III 064 22J 744827/6924784 x CNSA 00341
Santa Cata- Dunas do Pantano FLN Lavina 1988; CNSA
rina Florianopólis Pântano do Sul do Sul IV 065 22J 745299/6924707 x 00342
Ponta da Caiacan-
Santa Cata- ga- Açu/Florianó- FLN
rina Florianópolis Caiacanga Açu polis 41 066 22J 738182/6926640 x Rohr 1984; CNSA 00343
239
240
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Piazza 1965; Chmyz
Lagoinha do Rio 1976; Prous e Piazza
Santa Cata- Tavares/Florianó- FLN 1977; Rohr 1984; CNSA
rina Florianópolis Rio Tavares polis 42 067 22J 7423308/6956038 x 00344
Dunas da Lagoa da
Santa Cata- Dunas da Lagoa da Conceição/Floria- FLN
rina Florianópolis Conceição nópolis 43 068 x x Rohr 1984; CNSA 00345
Santa Cata- FLN
rina Florianópolis Lagoa da Conceição Rendeiras 069 22J 750549/6943743 x Rohr 1971; CNSA 00346
Schmitz 1959; Rohr
1959; Chmyz 1968,
1976; Prous e Piazza
1977; Schmitz, Verardi,
Santa Cata- SC - LF De Masi, Rogge e Jaco-
rina Florianópolis Base Aérea Base Aérea - 01 x x bus 1993; CNSA 55195
Rohr 1959, 1966; Chmyz
1976; Prous e Piazza
1977; Schmitz 1988; Sil-
va 1988; Silva, Schmitz,
Rogge, De Masi e Jaco-
bus 1990; Silva 1990;
SC - LF Chmyz 1976; Schmitz,
- 02/ Verardi, De Masi, Rogge
Santa Cata- FLN 1400 ± 70 e Jacobus 1993; CNSA
rina Florianópolis Tapera Tapera 058 22J 739918/6934533 A.D. / C¹⁴ 55240
Santa Cata- Rua das Garcas
rina Florianópolis x Campeche x 22J 746843/6934710 x De Masi 1999
Santa Cata- Costeira do Pira-
rina Florianopólis x jubaé x 22J 744057/6940470 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata- Ponta da Caicanga-
rina Florianopólis x -Açu x 22J 738182/6926640 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Florianopólis Jurerê Rio do Meio x x x Farias e Kneip 2010
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- Dunas do Pantano
rina Florianopólis x do Sul V x 22J 744823/6924872 x Lavina 1988
Santa Cata- Montardo e Bandeira
rina Florianópolis Ingleses Valda 1 x 1993
Santa Cata- Povoado do Cam-
rina Florianópolis Praia do Campeche peche x 22J 562790/6640402 x Rohr 1961
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Santa Cata-
rina Florianopólis x Pantano do Sul II x 22J 745372/6924565 x Rohr 1969
Santa Cata-
rina Florianópolis Campeche Lagoinha x 22J 748616/6938503 x Rohr 1971
Santa Cata- Dunas da Lagoa da
rina Florianópolis Conceição Florianópolis 44 x x x Rohr 1984
Santa Cata- Simas 1997 (com. Pes-
rina Florianópolis Naufragados Naufragados x 22J 739868/6919008 x soal)
Bigarella 1949; Rohr
1960; Duarte 1971;
SC - Lavina 2000; De Masi
Santa Cata- Porto Rio Verme- PRV 1999; De Masi 2007;
rina Florianópolis Rio Vermelho lho 1 - 01 22J 754385/6953086 910 A.D. / C¹⁴ CNSA 55227
Santa Cata- Aldeia da Praia da
rina Garopaba Praia da Ferrugem Ferrugem x x x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- Aldeia da Praia do
rina Garopaba Praia do Rosa Rosa x x x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- GRB Rohr 1984; Farias e
rina Garopaba Praia da Gamboa I Praia da Gamboa 2 002 x x Kneip 2010; CNSA 00405
Santa Cata- GRB Rohr 1984; Farias e
rina Garopaba Gamboa Garopaba 3 003 x x Kneip 2010; CNSA 00406
Santa Cata-
rina Garopaba Praia do Rosa Praia do Rosa x x x Bandeira 2004
Santa Cata- Armação da Pie- Armação da Pie-
rina Gov. Celso Ramos dade dade x x x Wiener 1876
Santa Cata- SC - VI Eble 1973; Eble e Scata-
x SC-VI-69 - 69 x x macchia 1974
241

rina Guaramirim
242
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- Farias e Kneip 2010;
rina Ibirama Rio Uruguai Ibirama I IIR 001 x x CNSA 00983
Santa Cata- IÇA Farias e Kneip 2010;
rina Içara Lagoa dos Esteves Praia do Rincão II 002 x x CNSA 00425
Santa Cata- IÇA Farias e Kneip 2010;
rina Içara Urussanga Velha Praia do Rincão III 003 x x CNSA 00426
IPAT/UNESC; Lavina
Santa Cata- Luquinha do Zé IÇA 2000; Farias e Kneip
rina Içara Lagoa dos Esteves Pequeno 004 22J 668478/6809435 x 2010; CNSA 00427
Santa Cata- Aldeia Sebasião IÇA
rina Içara Praia do Rincão Geraldo 005 x x CNSA 00428
Santa Cata- Aldeia do Camping IÇA Farias e Kneip 2010;
rina Içara Lagoa dos Esteves Vieira 007 x x CNSA 01089
Santa Cata- Aldeia do Areal do IÇA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Barra Velha Mussuline 008 22J 6805042/665572 x CNSA 01104
Aldeia do Cemité- 720 ± 70 AP
Santa Cata- rio da Lagoa dos IÇA (LVD-FATEC) Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Lagoa dos Esteves Esteves 009 22J 665644/6807591 / TL CNSA 56016
Santa Cata- IÇA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Lagoa dos Esteves Aldeia do Arseno 010 22J 667245/6808984 x CNSA 01095
Aldeia da Esc.
Santa Cata- Isolada da Lagoa IÇA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Lagoa dos Esteves dos Esteves 011 22J 666277/6808413 x CNSA 56021
Santa Cata- Aldeia do Mus- IÇA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Lagoa dos Esteves suline 012 22J 665572/6805042 x CNSA 56026
Santa Cata- IÇA Lavina 2000; Lino 2007;
rina Içara Lagoa dos Esteves Aldeia do Pomar 013 22J 665272/6807103 x CNSA 01105
Santa Cata- Aldeia Condomínio
rina Içara Lagoa do Faxinal Bouganville x x x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- Aldeia Lagoa do
rina Içara Lagoa dos Esteves Giassi x x x IPAT/UNESC; Lavina 2000
Santa Cata- Aldeia do Camping IPAT/UNESC; Lavina
rina Içara Lagoa dos Esteves Viana x 22J 6806193/665314 x 2000; Campos 2010
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- IPAT/UNESC; Lavina
rina Içara x Lagoa dos Freitas x 22J 673700/6812150 x 2000; Campos 2010
Acampamento
Santa Cata- da Plataforma da Lavina 2000; Campos
rina Içara Barra Velha Barra Velha x 22J 668977/6807260 x 2010
Santa Cata- Lavina 2000; Campos e
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

rina Içara Pedreiras Pedreiras x 22J 671920/6812157 x Lino 2003; Campos 2010
Santa Cata- Lavina 2000; Campos e
rina Içara Terra Firme Urussanga Velha x 22J 673150/6814732 x Lino 2003; Campos 2010
Santa Cata- Aldeia do Cam-
rina Içara Lagoa dos Esteves pestre x 22J 666999/6808104 x Lavina 2000; Lino 2007
Santa Cata- Aldeia do Camping
rina Içara Lagoa dos Esteves Silva x 22J 665314/6806671 x Lavina 2000; Lino 2007
Santa Cata-
rina Içara Praia do Rincão Praia do Rincão I x x x Farias e Kneip 2010
Santa Cata- Barreiros do Rio IMI
rina Imaruí D’Una Balsinha 5 011 x x Rohr 1984; CNSA 00439
Santa Cata- Barreiros do Rio IMI
rina Imaruí D’Una Balsinha 6 012 x x Rohr 1984; CNSA 00440
Santa Cata- Barreiros do Rio IMI
rina Imaruí D’Una Balsinha 7 013 x x Rohr 1984; CNSA 00441
SC -
Santa Cata- Eugeniano B PEST
rina Imbituba Penha Borges - 18 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- Eugeniano B PEST
rina Imbituba Penha Borges - 19 x x Eble e Reis 1976
Santa Cata-
rina Imbituba Centro da Cidade Imbituba 12 x x x Rohr 1984
Santa Cata-
rina Imbituba Sambaqui Imbituba 13 x x x Rohr 1984
Santa Cata- IMA
004 x x CNSA 00449
243

rina Imbituba Vila Nova Campo de Aviação


244
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- IMA
rina Imbituba Itapirubá Itapirubá 1 014 x x Rohr 1984; CNSA 00459
1000 ± 110 AP
810 ± 85
AP1040
±110 AP Lavina 2000; Lino 2007;
715± 75 AP Farias e Kneip 2010;
Santa Cata- IMA 1050 ±150 AP Milheira 2010; CNSA
rina Imbituba Nova Brasília Aldeia da ZPE 023 22J 726040/6876650 / TL 01087
Santa Cata- IMA Silva 1999; Farias e
rina Imbituba Nova Brasília Nova Brasília 025 22J 725493/6877980 x Kneip 2010
Santa Cata- Enseada de Imbi-
rina Imbituba tuba entre as dunas x x x Abreu 1928
entre as dunas,
Santa Cata- Enseada de Imbi- perto do caminho
rina Imbituba tuba do Mirim x x x Abreu 1928
Santa Cata- Morros de Itapi- perto da ponta de
rina Imbituba rubá Itapirubá x x x Abreu 1928
campo perto do
Santa Cata- sambaqui do Rio
rina Imbituba Foz do Rio de Una de Una x x x Abreu 1928, 1944
Santa Cata-
rina Imbituba x Araçatuba x 22J 727217/6886890 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Imbituba x Awyra x 22J 726874/6880844 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Imbituba x Engenho x x x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Imbituba x Km 265 x 22J 722920/6865345 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Imbituba Roça Grande Km 295 x 22J 722920/6865345 x Silva 1999; De Masi 2007
Santa Cata-
rina Imbituba x Cerâmico da Torre x 22J 725733/6872707 x De Masi 2007
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- Cerâmico do En-
rina Imbituba x genho x 22J 725456/6872707 x De Masi 2007
Santa Cata- Cerâmico Nova
rina Imbituba x Brasilia x 22J 725736/6876186 x De Masi 2007
Santa Cata- Aldeia Canto do
rina Imbituba Praia do Rosa Norte x 22J 731529/6886518 x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Santa Cata-
rina Imbituba Alto Arroio Alto Arroio x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Imbituba Arroio Arroio 1 x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Imbituba Arroio Arroio 2 x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Imbituba Sambaqui Darcí S. de Souza x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Imbituba Dunas de Guaiúba Dunas de Guaiúba x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Eble e Schmitz 1972;
Prous e Piazza 1977;
Santa Cata- SC - LL Marin, Suguio, Flexor,
rina Imbituba Guaiúba Guaiúba - 70 22J 723446/6868740 Azevedo 1988
520 ± 50 AP Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- (Beta 262753) e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito I JUU 01 22J 699077/6833937 / C¹⁴ Kneip 2010
510 ± 40 AP Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- (Beta 262754) e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito II JUU 02 22J 697129/6833686 / C¹⁴ Kneip 2010
440 ± 40 AP Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- (Beta 262755) e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito III JUU 03 22J 696340/ 6833244 / C¹⁴ Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito IV JUU 04 22J 698650/6834316 x Kneip 2010
245
246
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua III JUU 10 22 J 680214 6817362 x Kneip 2010; CNSA 00636
Rohr, 1969; Milheira
Santa Cata- 2010; Milheira e DeBla-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua IV JUU 11 22 J 682657 6823373 x sis 2011; CNSA 00637
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua V JUU 12 x x CNSA 00638
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua VI JUU 13 x x CNSA 00639
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua VII JUU 14 x x CNSA 00640
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua VIII JUU 15 x x CNSA 00641
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua IX JUU 16 x x CNSA 00642
Santa Cata-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’agua X JUU 17 x x CNSA 00643
Santa Cata- Albardão do Mor-
rina Jaguaruna Albardão ro Bonito JUU 34 x x CNSA 00659
Rohr, 1969; Milheira
440 ± 40 AP 2010; Milheira e DeBla-
Santa Cata- Riacho dos Fran- (Beta 262751) sis 2011; Farias e Kneip
rina Jaguaruna ciscos Laranjal I JUU 37 22J 701597/6832366 / C¹⁴ 2010; CNSA 00662
Santa Cata- Milheira 2010; Milheira
rina Jaguaruna x Campo Bom V x 22 J 686029 6825335 x e DeBlasis 2011
Santa Cata- Milheira 2010; Milheira
rina Jaguaruna x Jaguaruna IV x 22 J 692520 6832583 x e DeBlasis 2011
Santa Cata- Milheira 2010; Milheira
rina Jaguaruna Riachinho Riachinho II x 22 J 693486 6829626 x e DeBlasis 2011
Santa Cata- Milheira 2010; Milheira
rina Jaguaruna Riachinho Riachinho III x 22 J 693663 6830145 x e DeBlasis 2011
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- Milheira 2010; Milheira
rina Jaguaruna Riachinho Riachinho IV x 22 J 693422 6830444 x e DeBlasis 2011
470 ± 40 AP Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- (Beta 280654) e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Arroio Corrente Arroio Corrente V x 22 J 691901 6825308 / C¹⁴ Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e


rina Jaguaruna ciscos Laranjal II x 22J 702185/6832251 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Laranjal III x 22J 700993/6832429 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Laranjal IV x 22 J 699271 6829441 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Laranjal V x 22 J 699343/ 6829452 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Laranjal VI x 22 J 699507 6829595 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Laranjal VII x 22 J 695957 6828063 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito IX x 22J 697989/6832294 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito V x 22J 698456/6833956 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito VI x 22J 698595/6834588 x Kneip 2010
247
248
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito VII x 22J 697808/6834415 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito VIII x 22J 0696050/6832600 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro Bonito Morro Bonito X x 22J 697350/6833662 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Morro dos En- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Morro dos Encruzos cruzos x 22J 691910/6835037 x Kneip 2010
Rohr 1969; Milheira
Santa Cata- 2010; Milheira e DeBla-
rina Jaguaruna Campo Bom Campo Bom IV x 22 J 688393 6824414 x sis 2011
560 ± 40 AP
(Beta 280652)
920 ± 60 AP Rohr 1969; Milheira
Santa Cata- (Beta 280653) 2010; Milheira e DeBla-
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’água I x 22 J 675956 6813757 / C¹⁴ sis 2011
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna Olho D’água Olho d’água II x 22 J 678615 6816241 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos ciscos I x 22J 700003/6833329 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos ciscos II x 22J 700811/6833030 x Kneip 2010
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos ciscos III x 22J 700504/6832738 x Kneip 2010
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Samae x 22J 702781/6832549 x Kneip 2010
550 ± 60 AP Milheira 2010; Milheira
Santa Cata- Riacho dos Fran- (Beta 262752) e DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna ciscos Sibelco x 22J 695611/6832335 / C¹⁴ Kneip 2010
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

SC - J
- 16 /
Santa Cata- Costa Lagoa I / JUU Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna x Jaguaruna 33 30 x x 55564
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Ilhota Jaguaruna 14 17 x x 55561
Santa Cata-
rina Jaguaruna Faz. Arlete Faz. Arlete x x x LAU
SC - J Rohr 1969, 1984; Mi-
- 18 / lheira 2010; Milheira e
Santa Cata- Jaguaruna 34/Ar- JUU DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna x roio Corrente I 52 22 J 693326/6827328 x Kneip 2010; CNSA 55586
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Arroio da Cruz Jaguaruna 16 20 x x 55564
SC - J
- 24 / Rohr 1969, 1984; Farias
Santa Cata- Jaguaruna 36/Ar- JUU e Kneip 2010; CNSA
rina Jaguaruna x roio Corrente II 53 22 J 692699/6826787 x 55587
SC - J Rohr 1969, 1984; Mi-
- 25 / lheira 2010; Milheira
Santa Cata- Jaguaruna 37/Ar- JUU e DeBlasis 2011; CNSA
rina Jaguaruna x roio Corrente III 54 22 J 692626/6825302 x 55588
SC - J Rohr 1969, 1984; Mi-
- 26 / lheira 2010; Milheira e
Santa Cata- Jaguaruna 38/Ar- JUU DeBlasis 2011; Farias e
rina Jaguaruna x roio Corrente 48 22 J 693854/6826920 x Kneip 2010; CNSA 55582
249
250
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
SC - J
- 41 /
Santa Cata- JUU Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Torneiro Jaguaruna 47 33 x x 55567
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Albardão Jaguaruna 48 42 x x 55568
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Laranjal Jaguaruna 50 44 x x 55571
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Albardão Jaguaruna 52 47 x x 55538
Santa Cata- SC - J - Rohr 1969, 1984; CNSA
rina Jaguaruna Albardão Jaguaruna 53 48 x x 55537
Santa Cata-
rina Jaguaruna x Jaboicabeira IV x 22J 698064/6836589 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Jaguaruna x Riachinho V x 22 J 694050 6828647 x Rohr, 1969
Tiburius, Bigarela e Bi-
garela 1950-1951; Prous
e Piazza 1977; Neves
1988; Schmitz, De Masi,
Santa Cata- SC - LJ Verardi, Lavina e Jacobus
rina Joinville Itacoara Itacoara - 57 x x 1992; Bandeira 2000
Piazza 1974; Bandeira,
Santa Cata- 340 ± 35 AP 2004; 2012; Farias e
rina Joinville Poço Grande Poço Grande x 22J 0714993/7073270 / TL Kneip 2010
Santa Cata-
rina Laguna Km 37 BR 101 José M. Costa x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Abreu 1928; Meggers
1968; Beck 1971, 1972;
Hurt 1974; Prous e
Piazza 1977; Marin,
Santa Cata- SC - LL Suguio, Flexor, Azevedo
rina Laguna Morro da Glória Caieira - 29 22J 718209/6850914 1988; CNSA 55619
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- SC - LL Beck 1971, 1972; Rohr
rina Laguna Congonhas Congonhas 1 - 30 x 1984; CNSA 55842
Santa Cata-
rina Laguna x Cerâmico KM 308 x 22J 716307/6855519 x De Masi 2007
Santa Cata-
rina Laguna x Cerâmico Peixaria x 22J 719334/6859518 x De Masi 2007
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Santa Cata-
rina Laguna x Bentos I x 22J 716540/6856075 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Laguna x Bentos II x 22J 716275/6856430 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Laguna Ribeirão Pequeno Taquaruçu x 22 J 705517/6853000 x Assunção, 2010
SC -
Santa Cata- PEST
rina Palhoça Pinheira Sabino J. Silveira - 04 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Palhoça Pinheira Nestor M. Matos - 08 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Palhoça Albardão Saturnino A Santos - 11 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Palhoça Albardão Nestor C Santos - 16 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Palhoça Praia de Fora Praia de Fora - 24 x x CNSA 00739
Santa Cata-
rina Palhoça Massiambu Posto Massiambu x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Palhoça Três Barras Três Barras x x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata- 11ª SR IPHAN; Silva
rina Palhoça Massiambu Aviãozinho x 22J 733382/6920104 x 1999; De Masi 2007
251
252
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata- 11ª SR IPHAN; Silva
rina Palhoça Massiambu Faz. S. Inês x 22J 733216/6919925 x 1999; De Masi 2007
Santa Cata- PAC Rohr 1984; Farias e
rina Palhoça Praia da Pinheira Praia da Pinheira II 004 x x Kneip 2010; CNSA 00742
Santa Cata- Rodrigo Lavina, com.
rina Palhoça Maciambu Maciambu I x 22J 733120/6918236 x Pessoal; De Masi 2007
SC -
Santa Cata- PEST
rina Paulo Lopes Gamboa Ildefonso Vieira - 06 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Paulo Lopes Dunas de Gamboa x - 07 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Paulo Lopes Costa do Morro Amadeu A Moisés - 17 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Paulo Lopes Gamboa Vitauro Lopes - 21 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST
rina Paulo Lopes Gamboa Manuel F. Pereira - 22 x x Eble e Reis 1976
SC -
Santa Cata- PEST Farias e Kneip 2010;
rina Paulo Lopes Est. P/ Gamboa Paulo Lopes - 23 x x CNSA 55711
Santa Cata-
rina Passo de Torres x Passo de Torres II x 22J 622357/6759427 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Passo de Torres x Passo de Torres III x 22J 622661/6759419 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Passo de Torres x Passo de Torres IV x 22J 622800/6759327 x Farias e Kneip 2010
Santa Cata-
rina Passo de Torres x Passo de Torres V x 22J 622251/6759338 x Farias e Kneip 2010
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Santa Cata-
rina Passo de Torres x Passo de Torres I x 22J 623309/6763975 x Farias e Kneip 2010
SFS Bigarella, Tiburius e
042/ Sobanski 1954; Chmyz
Sam- 1976; Marin, Suguio,
Santa Cata- baqui Flexor, Azevedo 1988;
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

rina Araquari Ilha do Linguado Ilha do Linguado II nº 27 22J 733164/7081956 x CNSA 00906
Santa Cata- Sao Francisco do
rina São Francisco do Sul x Sul x 22J 738705/7096862 x Carle 2012
Santa Cata-
rina São Marinho x São Marinho 02 SM 02 22J 699797/6889112 x De Masi 2007
Santa Cata-
rina São Marinho x São Marinho 03 SM 03 22J 698988/6888256 x De Masi 2007
Santa Cata- 505-305 AP
rina São Marinho x São Marinho 05 SM 05 22J 699264/6886618 / C¹⁴ De Masi 2007
1280 AD
Santa Cata- 1320 AD
rina São Marinho x São Marinho 08 SM 08 22J 699365/6886511 1420 AD / C¹⁴ De Masi 2007
Santa Cata- ARA
rina Sombrio Guarita Guarita 1 013 x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata- ARA
rina Sombrio Guarita Guarita 2 014 x x 11ª SR IPHAN; Silva 1999
Santa Cata-
rina Sombrio Rio Novo Aldeia do Rio Novo x x x IPAT/UNESC
Uruguai Depto. Colonia x Riachuelo x x x Coirolo 1990
Uruguai Depto Río Negro Arroyo Viscaíno Arroyo Viscaíno x x x Ovalle 1968
Ovalle, Bernal, Schmitz e
Uruguai Depto Río Negro Bopicuá Bopicuá x x x Becker 1972; Díaz 1977
Banhado de San Mazz 2001; Blanco e
Uruguai Depto. Rocha Miguel Isla Larga x x x Bracco 1999
Uruguai Depto. Rocha Punta del Diablo Punta del Diablo x x x Baeza e Bosch 1973
253
254
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Baeza, Bosch, Femenías
e Bosch 1973; Bosch,
Bosch, Pinto, Pinto e
Uruguai Depto. Rocha Cabo Polonio Cabo Polonio x x x Baeza 1973; Mazz 2001
Sosa 1957; Baeza e Bos-
Uruguai Depto. San José Puerto La Tuna La Tuna x x x ch 1973; Trakalo 1987
Uruguai Depto. Soriano Yaguareté Yaguareté x x x Díaz 1977
Uruguai Depto. Soriano Isla de los Lobos Isla de los Lobos x x x Figuera 1892; Sosa 1957
Figuera 1892; Sosa 1957;
Ovalle, Bernal, Schmitz e
Uruguai Depto. Soriano Isla del Infante Isla del Infante x x x Becker 1973
Colonia La Con- Colonia La Con-
Uruguai Depto. Soriano cordia cordia x x x Sosa 1957
Rincón de la Hi- Rincón de la Hi-
Uruguai Depto. Soriano guera guera x x x Sosa 1957; Coirolo 1990
Sosa 1957; Ovalle, Ber-
nal, Schmitz e Becker
Uruguai Depto. Soriano Isla Naranjo Isla Naranjo x x x 1973
Araujo 1900; Devincenzi
1926-1928; Sosa 1957;
Ovalle 1969; Ovalle,
Bernal, Schmitz e Becker
1973; Trakalo 1987;
Coirolo 1990; Farias, Fe-
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Uruguai Depto. Soriano Isla del Vizcaíno Isla del Vizcaíno x x x 2001
Depto. Treinta y
Uruguai Tres Arroyo Cebollai Cebollai x x x Coirolo 1990
Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 1B x x x Prieto et al. 1970
Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 1E x x x Prieto et al. 1970
Datação/
Estado/País Cidade Localidade Nome do síio Sigla Coordenadas Método Fonte
Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 2A x x x Prieto et al. 1970
Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 2B x x x Prieto et al. 1970
Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 2C x x x Prieto et al. 1970
ARQUEOLOGIA GUARANI NO LITORAL SUL DO BRASIL

Depto. Treinta y
Uruguai Tres x 2D x x x Prieto et al. 1970
Depto. Treinta y
Uruguai Tres Puntal de Gabito Puntal de Gabito x x x Prieto et al. 1970
Ovalle, Bernal, Schmitz
e Becker 1973; Trakalo
Uruguai Fray Bentos Punta Negra Punta Negra x x x 1987
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SOBRE OS AUTORES:

Adriana Schmidt Dias: Graduada em história pela Universidade Federal


do Rio Grande do Sul, Mestre em História pela Poniícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul e Doutora em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e
Etnologia, Universidade de São Paulo. Professora dos Cursos de licenciatura e
bacharelado em História e do Programa de Pós-Graduação em História da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul.

Antonio Lezama: Graduado em História pelo Insituto Arigas, Uruguai.


Mestre e Doutor em Arqueologia pela l’École des Hautes Études en Sciences So-
ciales de Paris. Professor de Argueologia no Centro Universitario de la Regional
Este e Diretor do Centro de Invesigación del Patrimonio Costero, Universidad de
la República, Uruguai.

Dione da Rocha Bandeira: Graduada em Ciências Biológicas, mestrado em


Antropologia Social pela UFSC e Doutorado em História pela UNICAMP. Professora e
vice-coordenadora do mestrado interdisciplinar Patrimônio Cultural e Sociedade da
UNIVILLE. Coordenadora do Curso de especialização em Arqueologia da UNIVILLE.
Arqueóloga do Museu Arqueológico de sambaqui de Joinvile – MASJ.

Francisco Silva Noelli: Graduado em História pela Poniícia Universidade


Católica do Rio Grande do Sul, Mestre em História pelo Programa de Pós-Gradua-
ção em História na mesma insituição. Cursou Doutorado em Ciências Sociais pela
UNICAMP. Professor aposentado da Universidade Estadual de Maringá, Paraná.

Gustavo Perei Wagner: Graduado em História pela Poniícia Universi-


dade Católica do Rio Grande do Sul, Mestre, Doutor e Pós-doutor em História
pelo Programa de Pós-Graduação em História daquela Insituição. Pós-doutora-
do em Antropologia/Arqueologia junto ao Programa de Pós-Graduação em An-
tropologia da Universidade Federal da Bahia. Arqueólogo e Pesquisador junto a
STRATA - Consultoria em Arqueologia e Patrimônio Cultural.

Jairo Henrique Rogge: Graduado em Geologia, Mestre e Doutor em Histó-


ria pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor do Curso de licenciatura
em História e do Programa de Pós-Graduação em História na mesma insituição.
María Farías Gluchy: Graduada em Ciências Antropológicas pela Univer-
sidad de la República del Uruguay (UDELAR), Mestre e Doutora em História pelo
Programa de Pós-Graduação em História da PUC-RS. Professora do Curso de ba-
charelado em Arqueologia da FURG.

Mariana Araújo Neumann: Graduada e Mestre em História pela UFRGS.


Atualmente é arqueóloga do Insituto do Patrimônio Histórico e Arísico Na-
cional – IPHAN.

Rafael Guedes Milheira: Graduado em História pela UFPEL, Mestre e


Doutor em Arqueologia pelo MAE-USP. Professor do Curso de bacharelado em
Antropologia com linha de formação em Arqueologia e do Programa de Pós-
-Graduação em Antropologia da UFPEL. Professor do Programa de Pós-Gradu-
ação em Patrimônio Cultural da UFSM. Coordenador do Laboratório de Ensino
e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas
(LEPAARQ-UFPEL).

Sergio Bapista da Silva: Graduado em letras pela UFRGS, Mestre em An-


tropologia Social pela UFGRS e Doutor em Antropologia Social pelo MAE-USP.
Professor no Departamento de Antropologia, no Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social e no Curso de especialização em Educação Proissional
Integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de jovens e adultos: pro-
posta diferenciada para indígenas, na UFRGS. Coordenador do Núcleo de Antro-
pologia das Sociedades Indígenas da UFRGS (NIT-UFRGS).

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