Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escavando a História de
São Raimundo Nonato - PI
ISBN 978-85-60382-27-9
Vários autores
CDD 981.22
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca
SIBI/UNIVASF
Bibliotecário: Lucídio Lopes de Alencar
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dra. Janaína Carla dos Santos, Dra. Gisele Daltrini Felice,
Dr. Leandro Surya Carvalho de Oliveira Silva, Msc. Mauro Alexandre Farias Fontes,
Msc. Vivian Karla de Sena, Msc. Waldimir Maia Leite Neto e Esp. Nívia Paula Dias
de Assis, membros da equipe de execução do Projeto PET/Arqueologia/UNIVASF.
Aos Srs. Alix Pereira Galvão, Dra. Ana Stela de Negreiros Oliveira, Sra.
Déborah Gonsalves Silva e Dra. Niède Guidon membros externos e parceiros na
execução do Projeto PET/Arqueologia/UNIVASF.
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 5
HISTÓRIA ............................................................................................................17
II SÃO RAIMUNDO NONATO, UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO
POLÍTICA
Jaime de Santana Oliveira
Gabriel Frechiani de Oliveira ......................................................................... 18
INTRODUÇÃO
Aos donos das terras agradavam as missões, quando elas se prestavam a ser
instrumento da submissão desses índios aos seus interesses pecuários. Quando,
porém, as missões tratavam os índios como pessoas humanas, instruindo-os,
educando-os e ensinando-os a se defender contra uma escravização, positiva ou
disfarçada, os curraleiros insurgiam-se contra os missionários. Recusavam-lhes os
meios, intrigavam os índios entre si e influíam com os governadores para impedir as
missões. Na maioria das vezes, os religiosos eram partidários da catequese para a
pacífica expansão colonizadora enquanto que os criadores optavam pelo
esmagamento completo do indígena, para expansão tranquila de seus rebanhos.
Em 1715, o imenso território do atual estado do Piauí era ainda uma simples
comarca do Maranhão. Tudo o que sabiam as autoridades a respeito do Piauí era da
7
1 INVASÕES DO PIAUÍ
Nunes (1972) propõe que “a invasão dos Tupis foi muito anterior ao
descobrimento de Cabral e, todavia, quando se deu início à obra de colonização, as
duas nações de gentios invasores ainda disputavam entre si o litoral e as matas de
rica fauna”. Em meio a uma época em que havia grande turbulência migratória
indígena, não se sabe se foram os tupis os primeiros a chegarem, de onde eles
vieram e que ligação eles tinham com os outros grupos. O historiador Nunes (1972)
prossegue afirmando que:
Nômades por natureza, sempre em busca de alimento nos rios, nas matas e
nos campos, imigrando constantemente por causa das guerras contínuas, é difícil e
quase impossível situar, com precisão rigorosa, os indígenas do solo piauiense.
Costuma-se situar as tribos pela análise do testemunho dos exploradores. Afirma-se
9
sesmarias de terras que beneficiaram, além destes dois fazendeiros, Francisco Dias
D’Ávila e Bernardo Pereira Gago. Essas terras foram doadas pelo governador de
Pernambuco, Dom Pedro de Almeida. As terras conquistadas por Domingos Afonso
Mafrense foram repassadas para a Companhia de Jesus. No Piauí, a ação da
Companhia de Jesus parece ter sido mais voltada para a atividade econômica do
que para a evangelização.
Esta (sic) entrada foi continuada pelo seu sucessor, Francisco Dias
D’Ávila e o neto deste, o segundo Francisco Dias D’Ávila, os quais
completaram a invasão e a ocupação. A família tornou-se assim
grande proprietária de terra e muito poderosa devido aos acordos e
acertos firmados com o governo (OLIVEIRA, 2007, p. 28).
2 A COLONIZAÇÃO DO PIAUÍ
1 A fazenda de gado piauiense é caracterizada pela vasta porção de terra que ocupava, utilizadas
para a pecuária extensiva. Embora chegassem a existir fazendas com mais de 11 léguas, a sua
ocupação geralmente se resumia a um ou poucos fogos (residências) e seus habitantes muitas
vezes não chegavam nem a uma dúzia de pessoas (MOTT, 1985).
12
marcada por extrema violência em uma guerra contínua que acabou por dispersar a
população nativa. Segundo Oliveira (2007, p. 26)
Foi no dia 06 de julho do ano 1832 que o nome do santo português Raimundo
Nonato teve a função de delimitar território, por força do Decreto regional 8.832.
Criou-se, assim, a Freguesia Eclesiástica de São Raimundo Nonato. Esta freguesia
estava antes dividida, em maior parte, no município de Jaicós, e em menor parte, no
município de Jerumenha que, devido à distância e à falta de comunicação entre
estes, não tinham como fazer prevalecer seus alegados domínios nem manter a
hegemonia territorial pretendida. Assim que foi criada, a Freguesia de São Raimundo
Nonato tinha sua sede no lugar chamado Confusões que se localizava no extremo
poente de seu território. Permaneceu neste local por cerca de quatro anos, até que,
por efeito da Lei provincial número 35, de 27 de agosto de 1836, transferiu-se para a
Fazenda Jenipapo cuja população dedicava-se à lavoura e à pecuária.
Em 1915 foi criada a Vila de Canto do Buriti, ficando a comarca nos termos
judiciários de São João do Piauí até o ano de 1917, transferida para Caracol. Assim,
os termos judiciários de São Raimundo Nonato e Canto do Buriti permaneceram em
Caracol, até o ano de 1938, quando Canto do Buriti foi elevada à categoria de
Cidade e seu termo foi transferido para São João do Piauí. São Raimundo Nonato
aparece como comarca na divisão territorial do Estado, constituída de um único
termo, o da sede, até que, em 1947, Caracol passa a ser distrito judiciário da
comarca de São Raimundo Nonato. Tais situações permanecem até hoje.
4 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
Autores:
Déborah Gonsalves Silva
Gabriel Frechiani de Oliveira
Jaime de Santana Oliveira
Ney Clemente Dias Brito
I SÃO RAIMUNDO NONATO, UM PROJETO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
INTRODUÇÃO
O primeiro tópico abrange a gênese das cidades antigas. Esta é a parte mais
desafiadora porque se refere a um período longínquo sobre o qual não se dispõe de
fontes que possibilitem analogias com dias atuais.
Para Coulanges (2004), o estudo das antigas regras de direito privado permite
entrever além do tempo chamado histórico, no período em que a família era a única
forma de sociedade existente. Coulanges (2004) coloca a família como gênesis da
formação das cidades. Como primeiro núcleo da sociedade, ela tem regras e direitos
pré-estabelecidos. Logo, para conhecer as regras da formação de cidades de um
período longínquo tem-se que conhecer o princípio da organização das famílias.
Para Coulanges (2004), várias famílias formavam a fratria, várias fratrias, uma
tribo, diversas tribos, uma cidade. As sociedades são, por conseguinte,
perfeitamente análogas e nascidas umas das outras por uma série de federações. O
termo fratria vem do grego e significa a junção de duas famílias que se misturam
21
sem abrir mão de sua religião particular pelo menos para celebrar outro culto que lhe
fosse incomum.
[...] Uma confederação que para isso viu-se obrigada, pelo menos
durante alguns séculos, a respeitar a independência religiosa, e civil
das tribos, das cúrias e da família, não tinha no principio de intervir
nos negócios particulares de cada um desses pequenos corpos. [...]
assim a cidade não é um agregado de individuo, mas uma
confederação de vários grupos previamente constituídos e que ela
deixa subsistir [...].
Aristóteles (2008), contudo, em sua obra Política, apresenta uma visão que
aproxima a cidade da comunidade política. Segundo ele, a cidade visa o bem maior
porque abrange outras comunidades menores e por que possui uma auto-suficiência
que a comunidade maior não alcança. Em seu discurso, Aristóteles aproxima o
cidadão da participação política dentro da cidade. Defende que o cidadão é quem
participa na vida política em funções deliberativas ou judiciais. Designa cidade como
a multidão de cidadãos em número suficiente para ser autarquia.
2
Conjunto de estudos, originados no hegelianismo, que tem por fim determinar categorias racionais
válidas para apreensão da realidade concebida como uma totalidade em permanente
transformação; lógica dialética.
23
Finley (1988) afirma que na Grécia antiga prosperou as polis que, em seu
sentido clássico, significa um estado que governa a si mesmo. As polis eram sempre
pequenas em área e população.
3
A. H. M. Jones, Professor de História Antiga da Universidade Cambridge.
25
4
Hilotas: servos de propriedades do estado que descendiam dos primitivos habitantes de Lacônia
dominadas pelos Dórios. Sem direitos políticos tinha seu trabalho explorado pelos espartanos.
5
Periecos; habitantes da periferia das pólis, Eram pequenos proprietários que se dedicavam às
atividades rejeitadas pelos espartanos, como o artesanato e o comercio em pequena escala.
6
Hipodomiano: Assim chamado em razão do nome do arquiteto grego que o projetou (Frederiksen,
1968 p.151).
7
M. W. Frederiksen: educado na universidade de Sydney e na de Oxford, é membro do Worcester
Collge, Oxford, desde 1959. Foi, anteriormente, Junior Research Fellow, do Corpus Christi
College, Oxford. Escreveu artigos sobre a topografia romana para Pauly-Wissowa, Real-
Encyclopaedie der classischen Altertumswissenschaft.
26
Segundo Franco Junior (2006, p. 11) a Idade Média durante muito tempo foi
vista com certo preconceito:
Descreve Franco Junior (2006) que, neste conceito havia certo desprezo
indisfarçado aos homens que viveram naquele período. O admirador do clássico, o
italiano Francesco Petrarca (1304-1374) referia-se ao período como idade das
trevas. No entanto, Le Goff (1998) destacava que a Idade Media não foi um período
de imundice. A higiene corporal, em particular era objeto de cuidado, seja no âmbito
privado, seja, mais tarde, em estabelecimentos especiais.
século XI. Ao descrever a formação das cidades antigas e medievais, Le Goff (1998,
p. 17) afirma que:
8
Ronald Raminelle: Ex-professor do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná e
atualmente na UFF. Autor de vários artigos sobre historiografia e história colonial. Mestre e doutor
pela USP é autor do livro Imagens da Colonização (Jorge Zarar editor, 1996).
29
Outro autor que descreve bem a Idade Média é Leo Hubermam (1986). Este
apresenta uma visão tripartite da sociedade feudal. Ele divide-a em sacerdotes,
guerreiros e trabalhadores. Esses grupos formavam uma sociedade de hábitos
diferentes dos de hoje. Os trabalhadores desempenhavam papel fundamental. Eram
eles que sustentavam o clero que pregava e os guerreiros que lutavam.
30
Afirma o autor, é mais fácil ligar capitais distantes por mares do que ligar os
campos às cidades.
Hobsbawm (2007) destaca bem o período de 1789. Diz que este foi um
período marcante para a história do Ocidente. Afirma que o mundo de 1789 era
essencialmente rural. Continua afirmando que é impossível entendê-lo sem assimilar
este ponto fundamental. Exemplifica, dizendo que, em países como a Rússia, a
Escandinávia e os Bálcãs, as cidades jamais se desenvolveram de forma acentuada.
Cerca de 90% a 97% da população era essencialmente rural. Somente em 1851, a
população urbana da Inglaterra ultrapassou a rural, pela primeira vez.
Para Holanda (1995), a escolha de um lugar para povoar pelos espanhóis era
verificada com cuidado. Escolhia-se um lugar de boa compleição sem enfermidades,
onde não houvesse coisas peçonhentas e nocivas, de boa e feliz construção, de céu
claro e ar puro.
Freyre (2004), talvez pelo seu lugar social, apresenta uma leitura diferente
quanto à ocupação e determinação do território do Brasil Colonial. Diz que é
plausível, no conhecimento histórico, levantarem-se novas abordagens e
interpretações, em vista de que não se pode ser imparcial no desenvolvimento da
pesquisa. Descreve que a ocupação do espaço dá-se por uma ordem a partir do
eixo de um triangulo. A partir do engenho, da casa grande com senzala e da capela
são introduzidos nesta paisagem desordenada, aqueles traços novos de ordem e de
regularidade dentro de uma geometria da colonização agrária.
Tabela 1 – Rede urbana do Brasil no final dos séculos XVI, XVII e XVIII9
Cidades 03 07 10
Vilas 14 51 60
População das Salvador 15.000 Salvador 30.000 Salvador - 40.00O
principais cidades e Olinda/Recife 5000 Recife 20.000 Recife - 25.000
vilas. São Paulo 1500 São Paulo 4000 Rio de Janeiro- 43.000
Rio de Janeiro 1000 Rio de Janeiro 3000 Ouro Preto - 30.000
São Luís - 20.000
São Paulo - 15.000
População do Brasil 60.000 300.000 3000000
9
Estimativa baseadas em cronistas contemporâneas, apud Darcy Ribeiro (2006).
38
Costa Filho (2002) lembra que, desde 1696, a povoação da Mocha era
freguesia de Nossa Senha da Vitória, subordinada ao governo eclesiástico de
Pernambuco. Evidência o autor que a existência de uma igreja era requisito
necessário para que o governo civil reconhecesse o lugarejo e incluísse-o na
hierarquia urbana.
10
Wilson Andrade Brandão: Advogado, professor de Direito Civil da UFPI, ex-Deputado Estadual, Ex-
Secretario da Cultura do Governo do Estado do Piauí, membro da Academia Piauiense de Letras
e do Instituto Histórico Geográfico do Piauí, pesquisador, historiador, jurista e ensaísta, com livros
publicados em todas estas áreas.
42
Brandão (1995) discorre que, por alvará de 1718 cuja execução veio em
1758, João Pereira Caldas toma posse do governo da capitania do Piauí. O ato
solene realizou-se em 20 de setembro de 1759, na Vila da Mocha, posteriormente
denominada Oeiras. Logo após, em 19 de junho de 1761, por medida da Carta régia,
instalaram-se Vila de Jerumenha, Campo Maior, Malvão e São José da Parnaíba.
11
Célis Portela Nunes & Irlane Gonçalves de Abreu: a primeira cursou Licenciatura em História e
Geografia pela faculdade Católica de Filosofia do Piauí, professora de Teoria da História e de
História do Piauí, na UFPI, chefe do Departamento de Geografia e História do Piauí, pesquisador e
autora de diversos trabalhos sobre a história do Piauí. A última cursou de Licenciatura em
Geografia pela faculdade Católica de Filosofia do Piauí, Mestrado em Planejamento Urbano e
regional pela Universidade do Rio de Janeiro, Professora.
43
Oeiras era muito pobre. Tudo o que nela se consumia vinha de longe. Além
dela, as outras vilas também tinham dificuldade de prosperar (Fig. 3). Apenas a
povoação de Poti, as vilas de Campo Maior e de Parnaíba tinham uma incipiente
atividade industrial, a charqueada e o beneficiamento do couro porque se
localizavam em lugares estratégicos para escoamento de seus produtos pelo mar. O
êxito da vila de Poti, privilegiada pela agricultura e por outros fatores econômicos,
provocou uma mudança no setor administrativo do estado.
Segundo Odilon Nunes (1975), a partir das margens do Rio São Francisco
emergiram as primeiras bandeiras em busca de novas terras. Em 1658, o capitão
Mor Domingos Barbosa Calheiro veio, de São Paulo, com uma poderosa expedição.
Ao chegar à Bahia, partiu para Jacobina, com mais de duzentos homens. Sua
expedição foi completamente destruída pelos índios, retornando ao litoral. Para punir
os índios, em 1669, declarou-se uma guerra de extermínio a esses índios e
organizaram-se novas bandeiras punitivas.
12
Nunes considera Sebastião da Rocha Pita um historiador contemporâneo do desbravamento do
Piauí.
46
Pe. Claudio Melo (1983, p. 26) corrobora seu ponto de vista quando afirma:
Rica em biodiversidade muito cedo a região foi habitada por grupos nativos.
Os últimos grupos de gentios a habitá-la foram denominados de Pimenteiras. Estes
pertenciam aos Tapuias. Nesta região desenvolveram-se com habitações rústicas,
extraindo da natureza somente os recursos necessários para sua sobrevivência.
O Senhor Noé Ribeiro Soares, afirma que a família Ribeiro teve papel
importante na povoação na região sul do atual estado do Piauí. Refere-se às
bandeiras e ao processo de pacificação desta área, mais precisamente da fazenda
Tamanduá, localizada na rota dos tropeiros entre Caracol e São Raimundo Nonato,
nas margens do rio Piauí. Relata que o processo de contato entre índios e
colonizadores não foi resultado de um único conflito. Diz que a relação mais comum
era de conflito, mas havia nativos dispersos que mantinham contato amigável com
os fazendeiros. A mesma história repetia-se em várias outras fazendas que viraram
núcleos de povoação (Tab. 2).
13
Noé Ribeiro Soares nascido em 1910, entrevista: Fevereiro 2009 Anísio de Abreu-PI.
14
Fonte: Acervo FUMDHAM. São Raimundo Nonato - PI. Inventários. Cartório do 1º Ofício. Ano1894-
1898.
49
Desde o início, a vila de São Raimundo Nonato foi povoada por famílias
tradicionais, de prestígio político no estado. O processo de colonização deu-se com
os Dias, nas bandeiras de Manuel Ribeiro Soares, sob o comando de Coronel Dias
Soares que, como os Ribeiros, instalaram-se nas proximidades do Rio Piauí.
A família Ribeiro foi um caso a parte. De origem fidalga, teve êxito em contar
a sua participação na história do povoamento desta região. Outro grupo familiar que
escreveu sua história é o dos Dias Soares que chega, às vezes, a confundir-se com
a história local. Sobre as famílias Macedo, Negreiros e Ferreira, com destaque
político na região, há pouca referência histórica (OLIVEIRA, 2009).
Conforme Ferreira (1959) o encontro do Baixão Vereda com rio Piauí, forma
um baixio de boas proporções, com excelentes terras para lavoura e pastagem e
abundantes lençóis de água potável subterrânea. Muito próximo destas águas
estavam as demais construções. Não se levou em conta que o solo muito úmido,
cercado de águas estagnadas durante o inverno, estavam sujeitos a inundações nas
grandes enchentes do rio Piauí.
51
Figura 4 - Região Sudeste do Piauí (Fonte: Oliveira, 2009, com destaque do autor)
15
Cartório municipal de São Raimundo Nonato - Piauí. Livro de compras e vendas de bens e imóveis
do Cartório 1º Ofício. 1884-1913.
56
Para Santana (2001), calculava-se que a exportação anual era de dez mil
arrobas. Bastava, porém, uma queda na colheita ou uma alteração no mercado
externo para que todo o comércio sofresse duras consequências. Assim, conforme
relatório do presidente da província, de 07 de setembro de 1886, em virtude da má
colheita do algodão neste ano, casas comerciais faliram.
16
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Cronologia do Piauí Republicano1889-1930. Teresina,
Fundação Cepro, 1988.
58
Gabriel Luís Ferreira foi o primeiro governo constitucional do Piauí. Foi eleito
pela Assembleia Estadual Constituinte. Dentre os fatos importantes destacaram-se a
instalação dos municípios de Gibués, Bertolínia, Floriano, Luzilândia, e Buriti dos
Lopes, além da criação do tribunal de Justiça do Piauí.
No que diz respeito à educação no Estado, Queiroz (1998, p. 77) pontua que
o analfabetismo era um traço de continuidade na história do Brasil. Afirma que o fim
do século XIX e o início do século XX tinham características similares.
Não foi somente São Raimundo Nonato que se beneficiou com a extração da
borracha da maniçoba, mas toda a região Sudeste do estado do Piauí. O boom da
borracha da maniçoba, favorecido por agentes externos, supriu a necessidade do
desenvolvimento da indústria automobilística e elétrica.
Figura 6 - Atuais limites territoriais de São Raimundo Nonato – PI (Fonte: Filho Oliveira
(2007 p. 108).
61
Em entrevista, Gaspar Dias Ferreira faz referências aos seus familiares que
tiveram êxito no cultivo e no comércio da borracha da maniçoba.
Teresinha Queiroz (2006, p. 33) faz uma interessante leitura sobre esta
atividade econômica no estado:
Como resultado deste otimismo teve-se uma leva migratória para a região
semi-árida. Logo os municípios da região Sudeste do Piauí tiveram um perceptível
aumento populacional. Os bons preços influenciaram a atividade do plantio
constituindo uma melhor organização das fazendas. Segundo Queiroz (2006), a
lucratividade do artigo da maniçoba contribuiu para o cultivo das espécies
Piauhyenses, Dichotoma e Heptaphylla. O plantio de espécies contribuiu para
alargar as áreas de ocorrência natural, uma vez que houve migração de sementes.
Povoado Municípios
Cacimba São Raimundo Nonato
Caracol São Raimundo Nonato
Tamanduá São Raimundo Nonato
Guaribas São João do Piauí
Fonte: Queiroz (2001, p. 158)
18
Noé Ribeiro Soares, 99 anos.
64
São Raimundo Nonato, desde muito cedo, era um pólo comercial. Muitas das
fazendas do seu entorno tinham com ela uma ligação comercial, apesar de não
existirem estradas satisfatórias. Não se dispunha sequer de estrada que ligasse São
Raimundo a Caracol. Esta foi construída somente em 1932. O transporte era feito
por tropeiros que levavam suas mercadorias no lombo de jumentos ou de burros.
Estes tinham bons valores no mercado. Eles eram úteis como meio de transporte e
como auxiliares na agricultura (Fig. 8).
Figura 8 - O animal era útil no tráfego dos tropeiros e no comércio local (Fonte: IBGE, 1959)
19
Guimarães Rosa. Grande Sertão Vereda.
65
20
Oliveira 2001, p.86. apud Cícero Batista.
66
Carvalho (1987) faz uma leitura de como o povo brasileiro encarou o novo
regime. Em conformidade com Aristides Lobo, afirma que o povo, pelo ideário
republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos. Na prática, assistiu
tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando, talvez, ser uma
parada militar.
Conforme Carvalho (1987, p. 35), alguns anos mais tarde, depois de assistir
aos acontecimentos que cercaram a proclamação da República, o povo do Rio, “(...)
antes surpreso que entusiasmado não pode compreender o que se passa”. O povo
brasileiro ficou totalmente a parte das decisões políticas, ficando estas nas mãos de
uma oligarquia.
Pode-se interpretar, por analogia, que, nos primeiros anos do século XX, São
Raimundo Nonato era um pedaço do sertão, com representação no campo religioso
e um poder político fraco e desorganizado.
Conforme Lima (apud PENA & NEIVA, 2003, p. 202) os dois pesquisadores
deixaram a seguintes impressões:
De acordo com Paulo Chaves (2009, p. 86): “Anísio foi eleito governador do
Piauí tendo Antonino Freire como seu vice. Atravessam um processo eleitoral
estranhamente calmo, e assumiram a nobre missão administrativa que se estenderia
do ano de 1908 a 1º de julho de 1912”. No Governo de Antônio Freire da Silva,
houve a criação da Escola Normal Oficial de Teresina, hoje Instituto de Educação
Antônio Freire, a criação da Vila Miguel Alves e a inauguração da imprensa oficial.
Gaspar Dias Ferreira por ter a família envolvida na política regional relata a
memória herdada de seus avós que protagonizaram disputas políticas nas primeiras
décadas do século XX.
eles tinham mais gente junto deles. O voto era a bico de pena, então
os “Coronéis” ficaram. Só veio a alterar a situação em 193021.
Gaspar Dias Ferreira relata que sua família obteve muitos lucros no comércio
da maniçoba, o que possibilitou a sua entrada na política.
Então nós tivemos neste extrativismo, o meu pai e o pai dele. Então
nós entramos neste comércio e aí foram muito bem sucedidos e
entraram na política em 1912 quando foi a emancipação da cidade.
Meu avô materno e paterno, Coronel José Dias Soares e um cidadão
chamado Manuel Carlos fundaram a oposição. Gostavam de dizer
que iam fundar a oposição aqui e que a oposição era que nem capim
de burro. Ele tinha ido a Teresina e tinha trazido um capim de burro
para plantar junto com a oposição, “a oposição e capim de burro não
iam acabar mais nunca. Nesta terra ainda hoje tem capim de burro e
a aposição não acabou. Sempre tem. Não é?23
21
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos.
22
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos
23
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos
71
Nos relatos de pessoas que viveram nesse período, encontrados nos livros de
Dias (2001), de Artur Pena e Belizário Neiva e em fontes orais, entende-se que a
emancipação política em São Raimundo Nonato não foi fruto de um desejo popular.
Ela aconteceu por meio de um decreto governamental.
José Meihy & Fabiola Holanda (2010, p. 35) destacam que a essência
subjetiva da história oral de vida decorre de narrativas que dependem da memória,
dos ajeites, dos contornos, das derivações, das imprecisões e até das contradições
naturais da fala. Por isso é que se entende a história oral como um processo
sistêmico que se inicia na elaboração do projeto e faz uso de depoimentos gravados
em aparelhos eletrônicos, vertido do oral para o escrito, com o fim de promover o
registro e o uso de entrevista (José Meihy, 2005).
72
Figura 9 - Gaspar Dias Ferreira (Fonte: Acervo pessoal de Jaime de Santana Oliveira)
24
Michael Pollak nasceu em Viena, Áustria, em 1948, e morreu em Paris em 1992. Radicado na
França, formou-se em Sociologia e trabalhou como pesquisador do Centre National de la
Recherche Scientifique - CNRS. Seu interesse acadêmico, voltado de início para as relações entre
política e ciências sociais, tema de sua tese de doutorado orientada por Pierre Bourdieu e
defendida na École Pratique des Hautes Études em 1975, estendeu-se a diversos outros campos
de pesquisa, que confluíam para uma reflexão teórica sobre o problema da identidade social em
situações limites.
73
Figura 10 - Noé Ribeiro Soares (Fonte: Acervo pessoal de Valmir Santana Oliveira)
Até 1912, vila de São Raimundo Nonato viveu o auge da maniçoba. Esta
atividade contribuiu para a criação de uma elite composta de comerciantes e donos
de barracões. Ela foi importante na elevação da vila à categoria de cidade. A criação
75
Figura 11 - Mapa elaborado por Olavo Pereira Silva Filho (2007), com destaque, em verde,
das estruturas arquitetônicas e urbanísticas de interesse para preservação
25
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos
77
Figura 12 – Perímetro urbano atual de São Raimundo Nonato - PI, em destaque o Bairro
Aldeia Nº 1, Centro Nº 2 e Bairro Santa Luzia Nº 3 (Fonte: IBGE)
78
Figura 13 - Local onde fica a Praça do Abrigo, em 1915. As belas casas mostram a área
mais urbanizada da cidade (Fonte: Acervo pessoal de Josimar Rocha)
efeitos do extenso período de estiagem, em 1915. Gaspar Dias Ferreira faz uma
descrição da preocupação com a seca no início do século XX.
Segundo Artur Neiva e Belisário Penna, em 1912, São Raimundo Nonato era
uma cidade que não dispunha de esgotos, nem se usam fossas para as fezes. Cada
quem se exonerava ao ar livre. A depuração das fezes era feita pelo sol. O registro
civil era deficiente. A única causa da morte e a morte natural.
26
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos
27
Entrevista: Gaspar Dias Ferreira, 78 anos
80
Figura 14 - Açude Aldeia construído em 1912 (Fonte: Acervo pessoal de Josimar Rocha)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CHAVES, Paulo Alberto Denis. Antonino Freire - uma biografia. Teresina: O autor,
2009.
COSTA FILHO, Alcebíades. Sob o signo das águas: a gênese urbana piauiense.
In. Revista do Instituto Camilo Filho – v.1 n.2, Teresina, 2002.
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. Tradução: Jean Melville. Editora Martin
Claret. 2004.
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 62 ed. – São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
MEIHY, José Carlos S. B.; HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer como
pensar. - 2 ed. – São Paulo: Contexto, 2010.
RÉMOND, Réne. Uma história Presente. In: Por uma História Política. 2 ed. Rio de
Janeiro: FGV, 2003.
RESENDE FILHO, Cyro de Barros. História Econômica Geral. 5 ed. São Paulo:
Contexto, 2000.
RIBEIRO, Manoel Bonfim Dias. Néfirmo, uma vida: o homem no seu tempo.
Salvador: Ed. do Autor, 1996.
SILVIO FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania São José
do Piauhy. Belo Horizonte. Ed do autor. 2007.
FONTES ORAIS
ACERVO
Biblioteca FUMDHAM
São Raimundo Nonato - PI
São Raimundo Nonato - Piauí. Fichas de Inventários do Cartório do 1º Ofício. 1836 -
1899.
Cartório Municipal
São Raimundo Nonato - PI
Cartório municipal de São Raimundo Nonato - Piauí. Livro de compras e vendas de
bens e imóveis do Cartório 1º Ofício, 1884-1913.
FONTES ELETRÔNICAS
http://www.fumdham.org.br/culturaimaterial/edificios_emblematicos.aspvv.
Acesso em 21/09/2011.
http://www.ibge.gov.br/mapasibge/
Acesso em 15/05/2011
III SERTANEJOS DA BORRACHA: O COMÉRCIO DA MANIÇOBA NO
MUNICIPIO DE SÃO RAIMUNDO NONATO (1890-1960).
INTRODUÇÃO
1 HISTÓRIA E A HISTORIOGRAFIA
acontecia, exatamente, o inverso. Segundo Furtado (2001, p. 131), foi neste curto
espaço de tempo e duração, que o Brasil reconheceu-se como dependente de mão-
de-obra, não se preocupando mais com preços, mas com a sua permanência no
mercado mundial.
No final dos seus comentários, Furtado (2001, p. 135) justifica a situação final
da Amazônia e dos seus trabalhadores:
Mahar (1978, p. 7), chega até mesmo a comparar a Amazônia com o deserto
do Saara. Afirma que ambos têm limitada capacidade de suportar a ocupação
humana. Outro desafio apontado por Dennis, diz respeito à dependência amazônica
da extração de produtos florestais, tais como, borracha, frutos, castanhas, couros e
peles, como fonte de renda e emprego para a população. Além disso, devido as
suas ligações diretas com os mercados internacionais, as atividades extrativas
criaram um indesejável grau de instabilidade na economia regional.
Mahar (1978, p. 12) afirma que houve a criação da Rubber Reserve Company
(depois Rubber Development Corporation - RDC), com um fundo de US$ 5 milhões,
especificamente para auxiliar o governo brasileiro, no aumento da produção da
borracha. De acordo com ele, a estrutura administrativa era encabeçada pelo Banco
de Crédito da Borracha (BCB), precursor do atual Banco de Desenvolvimento
Regional. Este banco tinha o monopólio de compra e venda da borracha, e ainda, a
responsabilidade pela criação de colônias agrícolas, produção alimentar, instalação
de um sistema de transportes, cooperativas e crédito rural.
Tendo por base essas informações, pode-se extrair delas a real situação da
borracha da Amazônia na época em debate. A produção teve um pequeno
crescimento, em vista dos investimentos do Governo e demais administradores.
Logo depois, decresceu, devido à grande escassez de mão-de-obra. A produção
cresceu quando a região disponibilizava de certo contingente de trabalhadores.
Quando este número caiu, a produção também caiu.
em 1842. Este processo consistia numa combinação de borracha com enxofre que
lhe dava flexibilidade e a tornava inalterável em qualquer variação de temperatura.
Este material fez-se largamente aproveitável na indústria de instrumentos cirúrgicos
e de laboratório. Em 1850, aproximadamente, começaram a ser empregados no
revestimento dos aros das rodas dos veículos. Esta aplicação, aperfeiçoada em
1890 pela introdução do pneumático, e pela larga difusão do automóvel, tornou
modernamente a borracha uma das principais matérias-primas industriais.
Prado (1994, p. 238) fala sobre a terrível problemática, pela qual passava a
Amazônia, nos períodos de sua ascensão e glória:
Prado (1994, p. 238) mostra seu ponto de vista sobre a real situação da
região. Afirma que ela e os seus administradores encontravam-se resumidos
somente ao capital e aos altos preços do produto. Esqueciam da conservação das
plantas e da manutenção de onde vinha todo o manancial de riquezas e aspirações.
Prado (1994, p. 239), chama a atenção para alguns dados. Relata que, em
1919, o Oriente contribuía com 382 mil, das 423 mil toneladas da produção mundial.
No Brasil, a produção fora resumida ao total de 34 mil toneladas que valiam apenas
105.000 contos (5.686.000 libras).
Segundo Oliveira (2001, p. 7), “no início do século XX, o Estado do Piauí
viveu o “boom” da borracha da maniçoba que era utilizada para a produção láctea e
99
29
José Clementino Alves Parente, 78 anos. São Raimundo Nonato. Entrevista realizada em 07 de
dezembro de 2011.
100
30
Gaspar Dias Ferreira, 78 anos. São Raimundo Nonato. Entrevista realizada em 07 de Novembro de
2011.
101
Figura 2 – José Clementino Alves Parente, 78 anos, descrevendo como se furava o chão
com a lega, para a extração do látex (Fonte: Ney Clemente Dias Brito)
31
Inácio Pereira da Silva, 85 anos. Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de dezembro de 2011.
103
Figura 3 – Lega, instrumento de trabalho dos maniçobeiros (Fonte: Ney Clemente Dias Brito)
Na Serra Branca havia um Olho D’Água que era a principal fonte para
dessedentação humana e animal. O Olho D Água da Serra localiza-se no limite de
São Raimundo Nonato com São João do Piauí. “O mesmo era um logradouro
público que abastecia uma zona fertilíssima e suficientemente habitada por inúmeras
famílias, ou seja, era fundamental para a sobrevivência dos trabalhadores em
regiões secas” (OLIVEIRA, 2001, p. 28).
Com relação aos arrendamentos de terras, Oliveira (2001, p. 30) faz entender
que na região Sudeste do Piauí, a documentação encontrada privilegiava áreas
menores e por maiores períodos de tempo, geralmente quatro léguas por uma de
largura e por quatro anos. Os arrendamentos concedidos, quando eram destinados
para o cultivo de maniçoba, possuíam mais de quatrocentos hectares e o prazo
variava entre quatro e dez anos.
Com a vinda de trabalhadores para o Piauí, muitos dos seus municípios foram
surpreendidos com a forte demanda de indivíduos, dando início à formação de
106
O que realmente acontecia entre estas classes era uma relação de troca. O
barraquista fornecia todos os instrumentos de trabalho ao maniçobeiro e tudo que
este necessitasse. O maniçobeiro vendia-lhe a maniçoba para sustentar a sua
família. Os maniçobeiros recebiam dos barraqueiros os produtos alimentícios
necessários a sua alimentação e à alimentação de sua família.
32
Inácio Pereira da Silva, Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de dezembro de 2011.
107
Havia locais com muita maniçoba, mas não havia barraquista. Neste caso, os
maniçobeiros deviam trabalhar dobrado para comprar as suas ferramentas de
trabalho e o alimento. Segundo Oliveira (2001, p. 69):
33
José Clementino Alves Parente, 78 anos. São Raimundo Nonato. Entrevista realizada em 07 de
dezembro de 2011.
108
Figura 5 – Lega com duas pontas (Fonte: Ana Stela de Negreiros Oliveira)
Figura 6 - Barro que forrava o leite da maniçoba (Fonte: Ney Clemente Dias Brito)
109
34
Inácio Pereira da Silva, 85 anos. Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de dezembro de 2011.
110
35
Inácio Pereira da Silva, 85 anos. Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de dezembro de 2011.
111
p. 41) descreve a Manihot Piauhyensis, como uma árvore de pequeno porte e muito
resistente à seca, atingindo maturidade por volta dos três anos. Segundo ela, “a
Manihot Piauhyensis estendeu-se das zonas naturais, a todo o Estado de origem.
Foi igualmente cultivada no Maranhão, n Ceará, em Pernambuco, em Alagoas e na
Bahia”.
Entende-se, por estas informações que, na década dos anos 90, a mesma
realidade pela qual passava o Brasil, era dominante no estado do Piauí. Este
Estado passava por um período turbulento ou mesmo de desordem nas suas mais
variadas estruturas, principalmente nos setores de mão-de-obra, de capitais para
financiamentos ou alocações de recursos e, por fim, de estradas e comunicações.
De acordo com Oliveira (2001, p. 22), “no Nordeste a maniçoba era utilizada
para a fabricação de borracha desde a primeira metade do século XIX”. Segundo
Lima Rebelo (1913, p. 37, apud Oliveira, 2001, p. 22):
36
Inácio Pereira da Silva, 85 anos. Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de dezembro de 2011.
115
Esse foi um ciclo de borracha que deu muito dinheiro para essa
gente. Melhorou a vida econômica e social de muita gente da cidade.
Daí para cá, deu muito dinheiro. Esse foi o ciclo inicial no começo do
século. Além daqui, tenho noticia que São João do Piauí produziu
muita borracha, Canto do Buriti, até Simplício Mendes. Tenho notícia
que era uma região produtora de borracha. O certo é que a maior
produção era daqui da nossa região e das nossas chapadas. Então
esse aí foi o ciclo da borracha37.
37
Gaspar Dias ferreira, 78 anos. Entrevista realizada em 07 de novembro de 2011.
116
Oliveira (2001) afirma que, no final do século XIX e início do século XX, o
Brasil, em especial o Nordeste, foi permeado por grandes secas e crises políticas e
sociais que de certa forma incentivaram as migrações internas. Nesta época, os
trabalhadores informados sobre o progresso das seringueiras na região amazônica,
migravam para lá, em busca de melhores condições de vida e trabalho e com
grandes esperanças na criação da indústria de extração da borracha seringueira.
38
Inácio Pereira da Silva, 85 anos. Novo Zabelê. Entrevista realizada em 07 de Dezembro de 2011.
118
Anos R$
1901 75: 648$366
1902 143: 006$821
1903 228: 942$104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
se pudessem voltar o tempo, voltariam a trabalhar com toda energia, garra e vontade
com este mesmo produto. A produção e venda da borracha era uma vida leve,
saudável, e harmoniosa. Nela, toda a população possuía todos os dias o seu
dinheiro no bolso. Poucas pessoas, na época, passavam por dificuldades, exceto
aquelas que não queriam trabalhar. Havia oportunidades para todos.
REFERÊNCIAS
PENA, Belisário e NEIVA, Artur. Viagem Cientifica pelo Norte da Bahia, Sudoeste
de Pernambuco. Op. Cit.
PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil. 45 ed. São Paulo: Brasiliense,
1994.
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na capitania de São
José do Piauí. Belo Horizonte: Ed. Do autor (três volumes), 2007.
ARQUEOLOGIA
Autores:
Felipe Silva Sales
Vívian Karla de Sena
Waldimir Maia Leite Neto
IV VISITAS DIDÁTICAS À CASA DE NECO COELHO
INTRODUÇÃO
O estudo sobre esse momento histórico, além de não ter sido aprofundado
pela historiografia, também não tinha sido alvo de estudo pela própria Arqueologia.
Em decorrência deste fato, pesquisas arqueológicas históricas vêm sendo
desenvolvidas na região por alguns professores integrantes do PET/Arqueologia,
desde o ano de 2009. Pretende-se compreender a história dos grupos sociais
formadores de São Raimundo Nonato sob a ótica dos pressupostos arqueológicos.
Num primeiro momento, o Sítio Casa do Neco Coelho foi pesquisado pela
Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM. Esta entidade realizou
125
39
Os primeiros resultados das pesquisas arqueológicas foram publicados por OLIVEIRA, A. S. N.;
IGNÁCIO, Elaine ; BUCO, C. . No Rastro da Maniçoba: Trilha Interpretativa da Fazenda Jurubeba.
FUMDHAMentos, v. VIII, p. 124-132, 2009.
40
A disciplina foi coordenada pela professora Vivian Karla de Sena e o professor Demétrio
Mutzemberg.
126
2 ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA
INTRODUÇÃO
Para esse enfoque teórico, “o objetivo básico dos arqueólogos deveria ser
explicar as mudanças das culturas arqueológicas em termo de processos culturais”
(TRIGGER, 2004, p. 286), mensuráveis por fórmulas estatísticas. As culturas seriam
percebidas por meio de regularidades e generalizações. A Arqueologia, com
enfoque processual da Antropologia Americana, propunha-se a aplicar uma
abordagem que considerasse a cultura como um sistema que tem por principal
propósito adaptar as comunidades humanas às alterações do ambiente natural.
“Nesta perspectiva, as atividades de subsistência são consideradas determinantes,
com as causas da mudança cultural, devendo ser buscadas no meio natural e na
tecnologia” (BINFORD, 1962 apud SYMANSKI, 2009, p. 8).
A percepção da escolha dos locais para abrigo como uma realidade definida
em função das respostas ao meio, compreendidas através de análises quantitativas
dos padrões, baseadas em modelos preestabelecidos da Arqueologia Espacial,
demonstram claramente o cunho processual da Nova Arqueologia desse trabalho.
Não obstante, trabalhos seguindo esse enfoque teórico não concebem a realidade
dinâmica e particular das culturas. Ao aplicar modelos, não evidenciam as
especificidades contextuais que podem ser percebidas na cultura material. Segundo
Johnson (2000), nessas abordagens os indivíduos são reduzidos a meros
comparsas em um sistema adaptativo e em um complexo de estruturas profundas.
São retratadas como vítimas passivas que se vêem obrigadas a seguir cegamente
regras preestabelecidas.
Sendo assim, para a maioria dessas pesquisas, assim como neste presente
trabalho, a Arqueologia Histórica é vista como:
goma de látex era comercializada em São Raimundo Nonato, de onde seguia para
Salvador ou Rio de Janeiro (RJ), por Remanso (BA) e Juazeiro (BA).
Outra alternativa a essas pessoas, quando não estavam inseridos nos limites
de barracões e não tinham condições de se financiar, era a de ocupar terras
152
A maior parte dos sítios arqueológicos que remontam a esse passado recente
está na área da Serra Branca. Mas, acessível à visitação e inserido na área da Trilha
Histórica da Jurubeba, o sítio arqueológico histórico Casa do Alexandre, relacionado
ao extrativismo da maniçoba, é um remanescente deste contexto arqueológico de
grande expressão para o entendimento de aspectos culturais dos agentes
maniçobeiros. Este sítio é foco desta pesquisa que se propõe a compreender
aspectos do modo de vida desses agentes culturais através das análises contextuais
dos artefatos de uso doméstico coletados em escavações arqueológicas.
escravo também se inseriu junto a esses brasileiros de baixo poder aquisitivo nessa
dinâmica.
Neste sentido, o que esperar dos bens relacionados a essas pessoas pobres,
que viviam de maneira itinerante e inseriram-se na dinâmica extrativista da região de
São Raimundo Nonato? No que diz respeito aos objetos do cotidiano relacionados a
eles, Queiroz (1998) e Oliveira (2002) referem-se como bastante simples e pouco
diversificados. Essas afirmativas justificam-se quando se compreende o contexto de
157
Dos sítios cadastrados, dez são classificados como abrigo sob-rocha (Qd. 1).
Neles houve adaptações para uso dos agentes maniçobeiros. As louças e os metais
são os materiais com maior representatividade. Todavia, a variedade de artefatos é
pouco expressiva porque a cultura material histórica foi recolhida em prospecções
158
Quadro 1 - Sítios com artefatos históricos em abrigos sob-rocha (Fonte: FUMDHAM, 2011)
A análise técnica dos artefatos teve como objetivo descobrir a função utilitária
dos artefatos e a contextualização das informações do universo dos maniçobeiros.
Fez-se, para isso, a identificação dos aspectos técnicos de 348 (trezentos e
quarenta e oito) fragmentos coletados no sítio Casa do Alexandre.
A opção pelo termo adotado para este produto justifica-se pela sua
consagração na literatura arqueológica e não se restringe às louças de origem
inglesa. É utilizado, também, para os produtos nacionais. Ademais, como pontua
Abreu (2010), “de modo algum, o termo faz a faiança fina ser menos cerâmica”.
Designa apenas uma categoria de cerâmicas de produção em larga escala.
Segundo Toccheto et alli, (2001, p. 22), “a faiança fina foi o resultado de uma
revolução da indústria cerâmica inglesa do século dezoito e possui características
próprias que a distinguem dos demais tipos de cerâmicas até então existentes”.
formava o ácido clorídrico que deixava sobre as peças uma camada de vidro de
silicato de sódio.
No Brasil a faiança fina foi a classe de louça doméstica mais popular, a partir
do século XVIII. Sua importação dava-se principalmente da Inglaterra a partir da
abertura dos portos, em 1808. “A produção brasileira deste tipo de louça iniciou em
princípios do século vinte, no Paraná e em São Paulo” (BRANCANTE, 1958 apud
TOCCHETTO et al., 2001, p. 23).
Figura 9 – Base de faiança fina do tipo whiteware, com motivo, faixa e friso rosa (A), borda
do tipo pearlware, com motivo, faixa e friso azul (B) e borda do tipo pearlware,
com motivo, faixa e friso em azul e rosa (Acervo da UNIVASF)
Os demais motivos produzidos a mão livre (Fig. 10) são: floral, blue edged e
borrão azul. O artefato com motivo floral presente no sítio apresenta o estilo
denominado peasant. É caracterizado pela pintura de pequenos elementos florais a
partir de leves pinceladas, mas deixando grande parte da peça sem decoração.
Esse tipo de motivo era mais comum em whitewares, sendo produzido entre as
décadas de 1810 e 1860.
Figura 10 – Borda de faiança fina, do tipo whiteware, com motivo floral e friso (A), borda do
tipo pearlware, com motivo Blue Edged ou Shell Edged (B) e bojo do tipo
pearlware, com motivo Borrão Azul (Acervo da UNIVASF)
175
Figura 11 - Borda de faiança fina do tipo pearlware, com motivo Blue Edged ou Shell Edged,
em baixo relevo. Fragmento de um prato (Acervo da UNIVASF)
O borrão azul (ou Flow Blue) designa um tipo de estampa em azul no qual a
tinta escorre intencionalmente dentro do esmalte, produzindo um aspecto borrado.
Segundo Lima (1989), foi introduzido na Inglaterra entre 1835 e 1845, sendo popular
até 1901, principalmente para exportação. Em relação aos motivos em técnica
decorativa carimbada, apenas é possível especificar qual é o motivo em um
fragmento. Esse motivo apresenta flores e desenhos geométricos. Sua cronologia
varia entre 1845 e o início do século XX.
Figura 12 - Borda de faiança fina do tipo whiteware, com motivo floral em baixo relevo.
Fragmento de um prato (Acervo da UNIVASF)
Os objetos produzidos pela técnica transfer printing eram os mais caros entre
as louças. O fragmento coletado na Casa do Alexandre é um exemplar dos motivos
orientais nos objetos de faiança fina que foram impressos por transferência de um
molde para a peça (Fig. 13). Essa técnica surgiu a parir de 1750 na Inglaterra em
substituição aos motivos pintados a mão. O fragmento com esta técnica, identificado
no sítio, insere-se no estilo chinoiserie. Segundo Tocchetto et alli (2001), este estilo
baseia-se em interpretações européias de padrões decorativos da porcelana
chinesa, sendo comum entre 1816 e 1836.
Figura 13 – Fragmento de faiança fina do tipo pearlware, decorado no estilo chinoiserie, com
a técnica transfer printing (Acervo da UNIVASF)
177
3.2.2.2 Porcelana
3.2.2.3 Grés
Esta moeda, que foi coletada em superfície. Associa-se ao período final da segunda
fase de exploração da maniçoba, no contexto da Segunda Guerra Mundial.
Figura 15 - Cabo de talher em alumínios e com decoração (A), concha em alumínio e anzóis
em metal ferroso de produção fabril (Acervo da UNIVASF)
Dois artefatos foram confeccionados por molde de peça única, sendo eles
diagnosticados por preservarem sua forma. Esta técnica foi desenvolvida no mesmo
período do molde duplo. Sua identificação dá-se pela presença de uma estria
horizontal causada pela união entre o corpo e o gargalo da garrafa, que eram
produzidos em moldes separados.
Figura 20 - Frasco de artigo de toucador (A) e de Perfume, produzido pela técnica molde de
peça única (Acervo da UNIVASF)
184
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARDOSO et. al. O Brasil Republicano. Tomo III: Estrutura e Poder (1889 1930).
Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
SALERNO, M. A.; ZARANKIN, A.. El sur por el sur: una revision sobre la historia
y el desarrollo de La arqueologia histórica em La América meridional. Vestígios
– Revista Latino Americana de Arqueologia Histórica, Minas Gerais, v. 1, n. 1, 2007.
______. Arqueologia Histórica no Brasil: uma revisão dos últimos 20 anos. In:
Morales, W. F.; Prado, F. M. (Edit). Cenários Regionais de uma Arqueologia Plural,
Annablume/Acervo, 2009
Autores:
Pávula Maria Sales Nacimento
Tânia Maria de Castro Santana
VI GUERRA DA TELHA: MEMÓRIA, HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E
PATRIMÔNIO
INTRODUÇÃO
A história contada é sempre uma história por ser contada. Ela constrói-se
junto à elaboração do discurso narrativo. Não existe fora da fala que a conta, da
escrita que a documenta, da memória que a lembra (POMPA, 1995).
Era uma manhã de outono do mês de abril do ano de 1927. O céu estava
coberto de nuvens, quando Domingos Alves de Santana e Otacílio Pamplona,
fazendeiros da fazenda Telha, proximidades de São Raimundo Nonato, atual
município de Dirceu Arcoverde - PI, iniciaram a Guerra da Telha41. As lembranças
relacionadas a este conflito ainda estão presentes no cotidiano da comunidade.
Segundo consta na memória local, Domingos e Otacílio, influenciados pelas histórias
do cangaço de Lampião, teriam iniciado um episódio violento, chefiando uma
chacina em que o sangue foi “derramado em cachoeira” (DIAS, 2000, p. 162).
Desde a minha infância, ouço falar sobre a Guerra da Telha. Meus avós,
sobreviventes desse conflito, sempre contavam esse episódio. Suas histórias
chamavam-me a atenção de forma que, ao contar e recontar as suas lembranças,
eles mal sabiam que assim estavam contribuindo para a disseminação da história de
um acontecimento que repercutiu no cotidiano daquela comunidade. O curso de
Arqueologia e Preservação Patrimonial possibilitou a oportunidade de narrar essa
41
A denominação “guerra da telha” é usada ao longo deste trabalho, mesmo o conflito não tendo as
dimensões de uma guerra.
196
história, por meio de metodologias que aprendi. Essas foram importantes para o
desenvolvimento desse trabalho que se estrutura em quatro eixos temáticos: a
memória, a história, a arqueologia e o patrimônio.
Além das suas implicações com a história, a memória pode também ser
objeto de uma metodologia de pesquisa. A partir dos estudos pautados na chamada
“história oral”, a memória pode ser um meio de adquirir informações em que os
narradores exprimem seus conhecimentos e as suas lembranças sobre o objeto de
pesquisa. As entrevistas orientam as premissas de uma metodologia específica.
Estes depoimentos são pautados na experiência dos narradores que, por sua vez,
geram informações baseadas nas memórias acerca de eventos passados. Ainda
sobre a memória, Bosi (2007 apud Nascimento 2009, p. 11) destaca que:
Assim, as leituras efetuadas pelas pessoas que vivem nas vizinhanças dos
sítios arqueológicos não só contribui para uma melhor análise arqueológica, como
também recebe dados preciosos sobre a interação com o meio local e inclusive
informações de cunho etnográfico sobre os vestígios e o próprio sítio. Infere
narrativas que constroem histórias mais próximas e íntimas das sociedades que
habitaram o local (BORGES, 2005).
De acordo com Atlan apud Le Goff (2003), utiliza-se uma linguagem falada e
depois escrita, sendo esta última uma extensão fundamental das possibilidades de
armazenamento da nossa memória. O indivíduo pode, graças a isso, sair dos limites
físicos do corpo para estar interposto seja em outras pessoas que ouvem as
narrativas ou nas que as lêem, nas bibliotecas.
Por outro lado, tem-se a Arqueologia, aqui entendida como o estudo das
sociedades passadas em seus diversos aspectos, usando como objeto principal de
pesquisa os restos materiais deixados como testemunho. “Ela estuda o homem a
198
partir da sua cultura material” (NAJJAR, 2005). Pesquisa tanto o período pré-
histórico como o histórico, tendo como diferença a natureza das fontes. Os
arqueólogos que trabalham em períodos históricos têm como fonte auxiliar para as
suas pesquisas, a memória e os documentos escritos.
Foi por esse estímulo que fazendeiros como Jorge Velho, Francisco Dias
D`Ávila e Domingos Mafrense tornaram-se os maiores sesmeiros piauienses. No
decorrer da colonização da região, acabaram perseguindo e, até mesmo,
42
Denominam-se bandeirantes os colonizadores de São Paulo, que, a partir do início do século XVI,
penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas. Inúmeras expedições conhecidas como
“Bandeiras” ou “Entradas”, eram organizadas com a finalidade de combater os povos nativos.
Expulsavam nos de suas terras ou aprisionavam-nos para utilizá-los como escravos nas fazendas.
Em geral as expedições passavam do Maranhão para o Pernambuco ou vice versa, adentrando as
caatingas e terras agrestes (DIAS, 2002, p. 69).
43
A primeira expedição desses colonizadores foi realizada em 1674, quando travaram violentos
combates com os povos Guesguês. Derrotados, foram feitos prisioneiros ou assassinados. As
mulheres e as crianças, escravizadas. Nesse momento, a Casa da Torre requereu as primeiras
sesmarias no rio Gurguéia (Dias, 2002, p.71).
44
Eram concessões administrativas em que o colono seria agente de uma imensa obra semi-pública,
pública no designo e particular na execução. As terras que não fossem exploradas podiam ser
retomadas pelo poder público. Daí a expressão, ainda hoje conhecida, de terras devolutas (FAORO
1976, p.79 apud MENDES, 1995).
201
45
Tribo Indígena que esteve presente no contexto social do Sudeste piauiense. Embora não se saiba
se os Pimenteiras são um ou vários grupos étnicos, existem documentos que assinalam a sua
presença localizada entre Pernambuco e Piauí desde 1676 até 1818 (PESSIS, 1991 apud
OLIVEIRA, 2009, p.16)
46
Localizava-se na então capitania de Pernambuco, na serra da Barriga, região hoje pertencente ao
município de União dos Palmares, no estado brasileiro de Alagoas. “Quilombos eram lugares de
refúgio dos escravos, que se estabeleciam em áreas isoladas e de difícil acesso, para se proteger
das autoridades coloniais e dos donos dos engenhos” (ALLEN, 2010, entrevista disponível em
www.revistabcz.com). Visitado em 09/10/2010.
47
A Casa da Torre localiza-se no atual município de Mata de São João, no litoral do estado da Bahia,
residência da linhagem dos D'Ávila.
202
48
Entre essas terras estaria a área que supostamente está inserida no Sudeste do Piauí o sítio
histórico Brejo do São João, um possível remanescente de uma fazenda jesuítica. Conferir em
(ASSIS, 2009).
203
se também política. Desta forma o clero, aos poucos, deixava de ser subordinado à
coroa portuguesa. Esta, não satisfeita, decretou a expulsão dos jesuítas e confiscou
seus bens (DIAS 2006, apud OLIVEIRA, 2009). Sobre a ordem de expulsão dos
Jesuítas, Dias (2002, p. 79), aponta que:
49
Em 1758, o Piauí foi desmembrado do Maranhão, quando foi criada a capitania de São José do
Piauí e designada como sede do governo a Vila da Mocha que mais tarde, no ano de 1761 passou
a ser conhecida como Oeiras. Esta foi capital do Piauí de 1759 a 1852. Nestes quase 100 anos
teve dez governadores, nove presidentes e mais a administração de Juntas Tríplices e de vices-
governadores e vice-presidentes (DIAS, 2002).
204
província tinha uma população de aproximadamente cem mil habitantes dos quais
vinte e cinco mil eram escravos. Vale lembrar que, a exemplo do restante do país,
desde os primórdios da colonização piauiense, utilizava-se o trabalho escravo.
50
Grifo meu.
51
Maria do Carmo do Amor Divino possuía sete escravos, entre eles cinco homens e duas mulheres,
e Florença Lopes de Azevedo, possuía um total de nove escravos, entre eles, quatro homens e
cinco mulheres. Os documentos que contêm essas informações (Inventários) estão localizados no
1° Cartório de Registro Cível de São Raimundo Nonato – PI.
205
Ainda nesse contexto, no ano de 1859, verifica-se que, no meio social onde
ocorreu o conflito Guerra da Telha, houve também a exploração da atividade
econômica pecuarista. Nos inventários das senhoras Maria do Carmo do Amor
206
52
Os documentos contendo essas informações (Inventários) estão no 1° Cartório de Registro Cível
de São Raimundo Nonato – PI.
207
Do final do século XIX ao início do século XX, o Sudeste do Piauí tem uma
configuração bem diferente daquela economia do período de colonização. Agora, há
novos elementos inseridos no contexto, novas fontes econômicas.
Bom Jardim, como era conhecida a região que hoje compreende o município
de Dirceu Arcoverde, fazia parte do município de São Raimundo Nonato até meados
do ano de 1979, quando foi desmembrado dessa cidade. O município tem uma
população de 6.066 habitantes. Compreende uma área total de 1.005,76 km², (Fig.1
e 2). Está localizado na microrregião de São Raimundo Nonato, e mesorregião do
Sudeste piauiense (CEPRO, 2005).
209
Figura 3 - Mapa com os municípios do entorno do Parque Nacional Serra das Confusões e
Serra da Capivara (Fonte: FUMDHAM)
Figura 4 - Locais que compõem o espaço da Fazenda telha: cemitério (1), serra (2), sede da
fazenda (3) e riacho (4) (Fonte: Google Earth com adaptação da autora)
212
54
Informações contidas no Projeto Pedagógico: Guerra da Telha, da Unidade Professora Isabel de
Macedo Ribeiro, comunidade Capim do Zé Macário, no município de Dirceu Arcoverde – PI, 2002.
213
Figura 6 - Localidades atingidas pela Guerra da Telha (Fonte: Google Earth com adaptação
da autora)
55
Vale ressaltar que a área que hoje compreende o município de Dirceu Arcoverde Piauí, local onde
está inserido o conflito “Guerra da Telha” objeto dessa pesquisa, no período do apogeu
maniçobeiro, pertencia ao município de São Raimundo Nonato.
2 MEMÓRIA
Pierre Nora (apud Le Goff, 2003, p. 473), por sua vez, compreende a memória
coletiva como “o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que os grupos
fazem do passado”. Aponta ainda que, quase até os dias atuais, “história e memória”
confundiram-se praticamente e a história parece ter se desenvolvido sobre o modelo
da memorização e rememoração.
gerações e de gêneros que se busca a memória viva e presente no dia a dia. Estes
lugares de memória são uma mistura de história e memória. Nesse sentido, não
existem mais possibilidades de se ter somente uma ou outra, possibilitando dessa
forma um hibridismo dessas duas maneiras de inferir sobre o passado (NORA apud
ARÉVALO, 2004, p. 4).
Para melhor visualização desse meio, das relações, de como surgiu e quem
eram as pessoas que formavam essa história, em entrevista, o Senhor Tiago Alves
de Santana relata que:
Ainda sob a ótica econômica da região, destaca-se que naquele período, nas
palavras da entrevistada Creusa Alves de Santana, a população era muito
massacrada pela seca, o que dificultava também o relacionamento entre vizinhos.
Cada um desses líderes da “guerra” tinha suas criações de gado e plantações que
dependiam de água e alimentos para sobreviver. Como as fontes desses recursos
56
Entrevista registrada no projeto pedagógico “Guerra da Telha” de organização de Agnaldo Ribeiro,
realizado a frente da unidade Professora Isabel de Macedo Ribeiro da comunidade Capim do Zé
Macário, zona rural do município de Dirceu Arcoverde-Piauí (2002, p. 10).
219
Nas palavras do Sr. José Alves de Santana Filho60, vê-se como era dividido
esse tipo de apoio:
57
Entrevista na integra com o Sr. José Santana Neto em 26/07/2010. Grifo meu.
58
As cidades de Pilão Arcado, Remanso e São Raimundo Nonato, são próximas do local onde
ocorreu o conflito. Fazem limites com o município de Dirceu Arcoverde - PI. No período do conflito,
inicio do século XX, o território da Fazenda Telha fazia parte de São Raimundo Nonato – PI.
59
Entrevista com o Sr. Alvino Francisco de Santana, concedida em 25/07/2010.
60
Entrevista com o Sr. José Alves de Santana Filho, concedida em 27/07/2010.
61
Entrevista com o Sr. José Alves de Santana Filho, concedida em 27/07/2010.
220
O conflito era realizado em “tocaias” que eram feitas para atacar e eliminar o
inimigo. Os primeiros a morrer numa tocaia foram dois homens do bando do
Domingos. Morreram os dois e feriu-se no braço um filho do Domingos. Essas
primeiras vítimas do conflito chamavam-se Claro e Dominguinhos62.
Os ataques eram muito bem articulados. Eram muito bem armados, com
mosquetes e espingardas winchester calibre quarenta e quatro papo amarelo (DIAS,
2000, p. 163). As primeiras pessoas que morreram em virtude do conflito, segundo o
Sr. José Alves de Santana Filho63, foram enterrados no cemitério da Telha, sendo os
primeiros a ser sepultados naquele lugar. Também, segundo o Sr. Alvino Francisco
de Santana64, “nos locais onde esses foram enterrados até os dias de hoje não é
capinado, não é limpo. A limpeza é realizada somente no restante do cemitério”.
No que diz respeito às mortes ocorridas por ocasião desse episódio, o Sr.
Raimundo Martins de Santana67 conta que, “morreu muita gente por causa desse
fuxico. Esse mal entendido acabou com as pessoas que moravam por aqui nessa
época. Uns morreram e os outros foram embora, fugidos”.
O conflito só teve fim com a intervenção das forças militares, que vieram por
ordem ao local. Segundo o Sr. Alvino Francisco de Santana68 “a guerra só acabou
na época do governo Getúlio Vargas, quando esse mandou as forças armadas para
acabar com o conflito”. Conta o Sr. Anfilófio Alves dos Passos69 que: “somente com
a ditadura de Getúlio Vargas o cangaço teve fim. O governo destruiu todos os
armamentos, prendeu cangaceiros e acabou com o banditismo.
62
Entrevista com o Sr. José Alves de Santana Filho concedida em 27/07/2010.
63
Entrevista com o Sr. José Alves de Santana Filho concedida em 27/07/2010.
64
Entrevista com o Sr. Alvino Francisco de Santana concedida em 25/07/2010.
65
Entrevista com o Sr. Tiago Alves de Santana realizada no dia 24/07/2010.
66
“Linha” madeira central que se encontra encima das casas para sustentar a cobertura.
67
Entrevista com o Sr. Raimundo Martins de Santana concedida em 28/07/2010.
68
Entrevista com o Sr. Alvino Francisco de Santana concedida em 25/07/2010.
69
Entrevista presente no projeto pedagógico guerra das telhas de organização de Agnaldo Ribeiro,
realizado na unidade educacional Professora Isabel de Macedo Ribeiro da comunidade Capim do
Zé Macário, zona rural do município de Dirceu Arcoverde - Piauí em 2002.
221
70
Palavras que surgem no decorrer da entrevista. Elas fazem parte do discurso histórico real do
episódio. As testemunhas deixam fluir, mesmo não tendo a intenção de falar sobre, pois na
maioria das vezes o entrevistado narra o que é interessante para ele, como os sucessos e
angústias. Cabe ao pesquisador saber ouvir a narração e abordar todos os pontos relevantes no
discurso.
71
Retirar, de uma coleção de miniaturas etnográficas, um conjunto de observações, uma ampla
paisagem cultural da nação, da época, do continente ou da civilização (GEERTZ, 1989, p. 15).
222
2.3.1 Cangaço
2.3.2 Seca
2.3.3 Coronelismo
3 ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO
72
As informações adicionadas à imagem foram fornecidas pelas pessoas que residem junto ao local.
73
O trabalho de prospecção da Fazenda Telha ocorreu de forma intensiva e extensiva. No terreno
das estruturas 2, 3 e 4 a prospecção foi bem detalhada (intensiva). No restante do terreno essa
ocorreu de forma extensiva, ou seja, ocorreu de forma breve, foram identificadas apenas as
estruturas.
229
74
Além dos vestígios; louça, metal, vítreo, cerâmica, olaria e madeira, há também, artefatos da
indústria lítica pré-histórica, no contexto da Fazenda Telha.
232
3.4.1 Louça
MORFOLOGIA: Base
FORMA: Prato
TÉCNICA DE DECORAÇÃO: Não Identificada
MOTIVO: Não Identificado
FUNÇÃO: Mesa
MARCA: J. & G. MEAKIN LTD
PRODUÇÃO: 1851-1967
OBS: Pratos fabricados em Ironstone, pela fábrica inglesa J&G Meakin Ltd. (1851-
1967)
OBS: Teve grande tradição ceramista e exportou muito para o Brasil durante o
século XIX e o início do século XX, provavelmente através do Porto de Antuérpia.
234
OBS: O termo Borrão Azul designa um tipo de estampado em azul no qual a tinta
escorre intencionalmente dentro do esmalte, produzindo um aspecto borrado.
Produzido na Inglaterra.
236
OBS: Pratos fabricados em Ironstone pela fábrica inglesa J&G Meakin Ltd. (1851-
1967).
238
3.4.2 Cerâmica
75
“The term ceramics‟ refers to products to made of Clay mixed with various additives and hardened
by applyng heat. Types of ceramics range from structural (e.g. bricks, tiles, drainpipes) and
decorative (e.g. vases, figures, artware) to useful (e. g. tablewere, teawere, kitchenwere), and are
characterised by both coarse and refined varieties” (ORSER, 2005, p. 106).
241
3.4.3 Olaria
76
Distal: Corresponde à peça com decoração na extremidade inferior.
Mesial: A decoração está centralizada na peça.
Proximal: Os motivos decorativos são encontrados na extremidade superior do artefato (CALDARELLI,
2000, p. 200).
242
3.4.4 Metais
Figura 26 - Bala de Rifle em posse de Sidney Alves de Santana, Lagoa do Buraco, Dirceu
Arcoverde – PI
Figuras 27 - Bala de Rifle em posse de Rodrigo Alves de Santana, Lagoa do Buraco, Dirceu
Arcoverde – PI.
3.4.5 Vítreo
3.4.6 Madeira
Figura 36 - Material de madeira. Segundo populares da região este seria um pilão usado
para triturar alimentos, feito a partir do tronco de uma arvore
3.5 PATRIMÔNIO
77
Em 1972, a Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (UNESCO) criou a
Convenção do Patrimônio Mundial, para incentivar a preservação de bens culturais e naturais
considerados significativos para a humanidade. Disponível em: www.iphan.gov. Visitado em
30/11/2010.
251
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, percebe-se que os principais objetivos deste trabalho, que tem
caráter introdutório, buscando apresentar e conhecer o conflito “Guerra da Telha”
foram alcançados. Ressalta-se que essa pesquisa não é e nem pode ser conclusiva,
pois muito tem por se fazer diante da abordagem Guerra da Telha.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Nívea Paula Dias. Sítio Arqueológico Brejo de São João: Um estudo de
caso sobre a Companhia de Jesus no Piauí – Séc. XVIII. São Raimundo Nonato,
2009.
BORNAL, Wagner Gomes. Sítio Histórico São Francisco: um estudo sob a ótica
da Arqueologia da Paisagem. Tese de Doutorado. São Paulo, 2008.
DIAS, Wiliam Palha. Papo Amarelo, Drástica solução. Teresina – PI. 2000, p. 161-
166.
NUNES, Maria Celis Portela; ABREU, Irlane Gonçalves. Vilas e Cidades do Piauí:
Piauí. Formação, desenvolvimento, perspectivas. Org. R. N. Monteiro de
Santana. Teresina: Halley. 1995, p. 83-112.
Sites Visitados:
www.revistabcz.com Visitado em 09/10/2010
www.iphan.gov Visitado em 30/11/2010.
PATRIMÔNIO
Autores:
Ana Stela de Negreiros Oliveira
Celito Kestering
Déborah Gonsalves Silva
Jucinéa dos Santos Mota
Juliana Ferreira Sorgine
Maria de Fátima Paes de Almeida Neta
Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues
Mauro Alexandre Farias Fontes
Rianne Maria Oliveira Paes
VII OS RITUAIS DO MORRO DO CRUZEIRO: ATRIBUTOS DA IDENTIDADE
SANRAIMUNDENSE
INTRODUÇÃO
Pretende-se deixar um pequeno registro de algo que foi importante e que hoje
não existe mais, na forma que tinha antes, devido às constantes mudanças na vida
cotidiana das pessoas ou por meio de intervenções políticas. Por este motivo, fez-se
a coleta de depoimentos de algumas pessoas da cidade. Para obter informações
relativas ao cruzeiro e entender como se deu e como continua a prática religiosa
referente ao Morro do Cruzeiro, aplicou-se um questionário. Cada entrevistado
relatou fatos ocorridos com ele e com o Morro do Cruzeiro.
258
1 PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL
aos bens materiais transmitidos de pai para filho. Daí o termo, ainda hoje, referir-se
à herança familiar.
A extensão do uso do termo como herança social apareceu na França pós-
revolucionária, quando o Estado decidiu tutelar e proteger as antiguidades nacionais
às quais era atribuído significado para a história da nação (MORAES, 2004). Os
bens, então considerados como patrimônio histórico, abrangiam não somente os
imóveis como igrejas ou palácios. Eram relativos, também, aos bens móveis, como
os documentos escritos ou os acervos dos museus.
Na Segunda Convenção da UNESCO (1972)78 definiu-se como patrimônio
cultural e natural:
(...) os monumentos, os conjuntos e os sítios (...)
(...) monumentos [são] obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas
monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas
e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da
história, da arte ou da ciência;
(...) conjuntos [são] grupos de construções isoladas ou reunidas, que,
por sua arquitetura, unidade ou integração à paisagem, têm valor
universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da
ciência;
(...) sítios são obras do homem ou obras conjugadas do homem e da
natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de
valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético,
etnológico ou antropológico.
São considerados Patrimônio Natural:
- os monumentos naturais constituídos por formações físicas e
biológicas ou por conjuntos de formações de valor universal
excepcional do ponto de vista estético ou científico;
- as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente
delimitadas que constituam habitat de espécies animais e vegetais
ameaçadas de valor universal excepcional do ponto de vista estético
ou científico e
- os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas
detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da
ciência, da conservação ou da beleza natural.
78
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura,
reunida em Paris, de 17 de outubro a 21 de novembro de 1972.
260
da vida social e econômica das sociedades em que estão inseridos. Preservar é, por
isso, livrar o patrimônio de algum mal, mantê-lo livre de corrupção, perigo ou dano,
conservá-lo, defendê-lo e resguardá-lo (LEMOS, 1987, p. 24). Em sua historia, o
Morro do Cruzeiro sofreu uma série de mudanças. Foi-se destruindo,
descaracterizando-se. Sofreu constantes modificações. Em cada intervenção,
perdeu características. Como parte do patrimônio material e imaterial da cidade, o
cruzeiro e o morro que o abriga devem ser preservados.
Atualmente, tal método é utilizado por profissionais que atuam nos meios de
comunicação, como emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas. Grandes
reportagens e biografias, filmes e documentários têm feito uso de depoimentos,
fotografias e ilustrações para sua produção (GOVEIA, 2009).
Sobre o surgimento da freguesia, Dias (2001, p. 31) afirma que “para dirimir
tão confusa situação, veio o Decreto Regencial, de 6 de julho de 1832, criando uma
freguesia eclesiástica com o nome de São Raimundo Nonato”. A freguesia ganhou
esse nome em homenagem ao santo. Devotos dele logo construíram uma pequena
capela que levou seu nome como homenagem. Por ter surgido de uma fazenda de
gado, a cidade de São Raimundo Nonato, até hoje, tem este santo como protetor e
padroeiro dos vaqueiros. Gouveia (2009) afirma que a construção da capela ocorreu
nesta mesma época do decreto que deu origem à freguesia de São Raimundo
Nonato, antes subordinada aos municípios de Jaicós e Jerumenha.
Figura 2 – Antiga Praça Getúlio Vargas, popularmente conhecida como rodinha do Bitoso,
atual praça Júlio Paixão (Fonte: Acervo da FUMDHAM)
266
Marcada pelas chuvas escassas e pelo solo pobre, essa região não era
propícia à monocultura de cana-de-açúcar, diferentemente das muitas cidades do
litoral nordestino, que tiveram sua economia baseada nesse tipo de cultivo. Por outro
lado, era uma área favorável ao desenvolvimento da pecuária extensiva, que foi
praticada até o final do século XIX, quando a seca constante e as dificuldades de
transporte se acentuaram, causando a decadência dessa atividade.
Seu jeito de pregar a palavra de Deus não agradava a todos. Ele foi
denunciado e condenado à morte. Percebendo, porém, que deixariam de ganhar
com a morte dele a solução que os mouros encontraram como castigo para
Raimundo foi perfurar os seus lábios com um ferro quente, e a fechar com um
cadeado. Sofreu outros tipos de castigos. Foi açoitado nas ruas e praças da cidade
e foi preso em uma masmorra (NEGREIROS, 2003, p. 21).
anos de idade. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação, sendo erguida ali uma
igreja, para abrigar seus restos mortais.
As graças alcançadas pelo seu intermédio cresciam cada vez mais. Com isso,
tendo em conta todos os testemunhos e fatos, a Igreja propôs-se a examinar sua
vida e suas virtudes. Com o passar dos dias, as solicitações para canonização deste
santo cresciam mais e mais. Em dezembro de 1628, Raimundo Nonato foi
canonizado (Fig. 3). Para sua comemoração foi escolhido o dia 31 de agosto. Devido
à condição difícil do seu nascimento, São Raimundo Nonato é também venerado
como padroeiro das parturientes, das parteiras e dos obstetras (NEGREIROS, 2003,
p. 36).
Para Dias (2001, p. 48): “(...) Não [foi] só pela fé, mas, também, pela razão,
que o nome do Distrito-Freguesia foi adotado em homenagem ao Santo de Portell,
por seu martírio. São Raimundo Nonato é festejado no dia 31 de agosto, data da sua
morte” (Fig. 4). Como o próprio nome da cidade propõe, a grande maioria da
população era e continua sendo católica apostólica romana.
Em 1218 foi fundada a Ordem de Nossa Senhora das Mercês, por intermédio
de São Pedro Nolasco. Tempos mais tarde, o papa João Paulo II elevou a Prelazia
de São Raimundo Nonato à categoria de Diocese, fato que aconteceu em 03 de
outubro de 1981.
Anos mais tarde, a Santa Sé nomeou Dom Ramón Vicente Hárrison Abello ou
D. Ramón Harrison, mercedário do Chile. Este tomou posse, em São Raimundo
Nonato, no dia 04 de outubro de 1927 e permaneceu na Prelazia, apenas 22 dias.
Devido a problemas de saúde, apresentou sua renúncia ao Santo Padre. Veio a
falecer no dia 09 de agosto de 1949 (ENCONTROS DE EVANGELIZAÇÃO E
MEMORIAL DA DIOCESE E DAS PARÓQUIAS (2006, p. 47).
de 1962. Em 19 de maio de 1963, foi nomeado Bispo. Anos mais tarde, por motivos
de saúde, ele comunicou sua renúncia à Santa Sé. D. Amadeu morreu em Madri, no
dia 20 de março e foi enterrado em Síndran, na Espanha, sua cidade natal.
D. Cândido ficou mais dois anos para que pudesse ser nomeado seu
sucessor D. Pedro Brito Guimarães, o segundo Bispo da Diocese de São Raimundo
Nonato. No dia 14 de setembro de 2002, Dom Pedro tomou posse.
Figura 5 – Gráfico com dados relativos às religiões existentes na cidade de São Raimundo
Nonato (Fonte: IBGE, 2000)
79
Encontra-se o texto transcrito no livro ainda não publicado O Fascínio da Cruz, de Padre
Herculano de Negreiros.
276
Em 1964, o cruzeiro que ficava em frente à Igreja Catedral foi derrubado pelo
prefeito da época. Restou, assim, somente a cruz da colina. Em 1994 o então
prefeito Hamilton Baldoino, substitui a cruz de madeira por uma de concreto, com
pontos de luz nas hastes (Fig. 6). Após a cruz de concreto que substituiu a de
madeira, no ano de 2000, edificou-se um cruzeiro, de vitral e zinco, com 25 metros
de altura (Fig. 7).
Figura 7 – A atual cruz do Morro do Cruzeiro (Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2011)
279
Para pagar sua promessa, ela subiu o morro do cruzeiro e rezou o terço de
joelhos. Soltou fogos de artifício em agradecimento pela graça alcançada. O fato
ocorreu quando ainda não havia escadaria. Existia somente um carreiro.
acreditavam mais no antigo por que as pessoas, hoje em dia, não têm mais aquela
devoção de antes. Hoje, o que há no local é a falta de respeito. Este local deveria
ser sagrado.
Há pessoas que acreditam que, apesar das mudanças ocorridas, a fé que era
depositada ao antigo cruzeiro ainda é a mesma no atual, como afirmam Maria
Hildenir dos Santos, D. Cândido Lorenzo Goncalez, Hercília de Castro Damasceno,
Inácio Pereira de Souza e Raimunda da Silva Souza.
4 ANÁLISE E RESULTADOS
Com o passar dos anos e por ser de madeira, o cruzeiro original caiu. No
mesmo local, construiu-se, então, um novo cruzeiro. Paralela e concomitantemente,
implantou-se, em uma colina próxima, uma replica em menor tamanho que o
original.
Em 1994, mais uma vez por intervenção política, a cruz do morro foi
substituída por uma de concreto. Por fim, novamente por intervenção política,
substituiu-se a cruz de concreto por uma estrutura metálica com vitral e zinco, que ali
se encontra até os dias atuais. Assim, ao longo dos anos, por intervenções políticas,
modificou-se o patrimônio cultural, símbolo da religiosidade popular da cidade de
São Raimundo Nonato.
Figura 8 – Local onde atualmente são acesas as velas, junto ao cruzeiro (Fonte: Acervo
pessoal dos autores, 2011)
Figura 9 – Outro local, junto ao cruzeiro, onde atualmente são acesas velas (Fonte: acervo
pessoal dos autores, 2011)
283
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A trajetória dos cruzeiros é outro fator que confirma essa religiosidade como
característica da população da cidade. A cruz é um dos símbolos mais importantes
da fé cristã. Ela confirma a forte presença da igreja católica na história da cidade de
São Raimundo Nonato.
284
O objetivo inicial dessa pesquisa que era resgatar e preservar uma pequena
parte da cultura imaterial da história de São Raimundo Nonato foi alcançado. Várias
questões ficaram sem resposta o que suscita outras pesquisas na área.
REFERÊNCIAS
CENSO DE 2002.
Disponível em: www.ibge.gov.br
PROTEÇÃO PATRIMÔNIO
Disponível em: www.apena.rcts.pt/aproximar/.../apoio/.../proteccao_patrimonio.pdf
INTRODUÇÃO
Autores como Pierre Nora (1981), Lee Goff (1994), Maurice Halbwchs (2006),
Cínthia Gindri (2005), Sandra Pesavento (2005), Mircea Eliade (1992), Roberto da
Matta (1997) nortearam teoricamente as investigações sobre o tema, inclusive na
elaboração e aplicação das entrevistas. Eles ajudaram a compreender melhor os
depoimentos dos entrevistados.
1 HISTÓRIA E MEMÓRIA
No Brasil, a História Oral surgiu para dar suporte aos pesquisadores. Uma
das primeiras experiências ocorreu, em 1971, no Museu da Imagem do Som MIS/SP
293
Segundo Freitas (2002), a história oral abre portas para vários narradores.
Por isso é que esse método de pesquisa é muito importante para que se possa
colher experiências de vida através de depoimentos. Esse método possibilita novas
versões da história e dá voz a diferentes narradores.
Pelos relatos orais, chega-se aos “lugares de memória” dos sujeitos. Com
eles podem-se reconstruir fatos históricos de uma determinada sociedade. A
aplicação de tal metodologia, porém, requer estudos de aplicação e cautelosa
interpretação das informações recolhidas.
Esses cuidados tornam-se cada vez mais necessários visto que a História
Oral alcança até os meios de comunicação, a exemplo das emissoras de TV, jornais,
294
É importante destacar que a Nova História Cultural foi além das mentalidades.
Implantou uma postura que trouxe as grandes massas ocultas da sociedade, o que
implicou em profundas transformações nos métodos e nas práticas, além do
interesse pelos sujeitos produtores e receptores da cultura popular. A História
Cultural é importante para identificar o modo como, em diferentes lugares e
momentos, a realidade social é construída e pensada, tendo como base as
representações das classificações e das exclusões que constituem as configurações
sociais e conceituais de um tempo ou de um espaço.
supremo. A promessa torna-se, portanto, um pacto que abriga os dois lados. É uma
ação positiva no sentido de resolver problemas, através de algum sacrifício ou pela
oferta de algo precioso para o santo de cada devoto. A lógica social faz com que as
pessoas que acreditam nesta fé tenham as suas súplicas atendidas.
80
GEERTZ , Clifford. A interpretação das Culturas. 1978, p. 116-117.
302
Figura 1 – Município de Dirceu Arco Verde no estado do Piauí (Fonte: IBGE, 2011)
303
A família Ribeiro é muito grande. Hoje ela encontra-se espalhada por todas as
partes do território brasileiro, com seu foco principal de fixação na região de São
Raimundo Nonato. “É uma família imensa que, desde os primeiros anos de
colonização, ajudou a povoar o Brasil” (RIBEIRO, 1996 p. 107).
A meta desta família era fazer um bom aproveitamento das terras do sertão
piauiense, para que o seu criatório fosse em frente. Ela teve grande influência no
povoamento e desenvolvimento do Piauí e também de São Raimundo Nonato. Diz a
tradição oral que, no início do século XIX, três irmãos da mesma família fizeram uma
longa cavalhada até São Raimundo Nonato, distante 85 léguas do Alto Longá
(RIBEIRO, 1996 p. 108). Conta-se que, a partir desse percurso, teve início a história
da família Ribeiro no sul piauiense.
81
Entrevista concedida por Abílio Leonardo da Costa em 06/08/2010 no povoado de Queimadas no
município de Dirceu Arco Verde - PI. Seu relato também se encontra no livro Homenagem a uma
vida (1996), escrito pela família Ribeiro.
82
Idem, 06/08/2010, no povoado de Queimadas, município de Dirceu Arco Verde – PI.
305
isso deram o nome de Queimadas por já encontrar esse lugar todo queimado. Aí
eles supõem que tinha sido os índios que fizeram essa queimada”83.
Pelos depoimentos e pelo que se encontra no livro escrito pela família Ribeiro
deduz-se que a família Ribeiro arranchou nas Queimadas com o objetivo de cultivar
boas pastagens para seu gado. Nesta região do semi-árido encontrava-se esse
terreno, que eles viram com um olhar positivo para morar e até hoje é conhecido
como Queimadas. Tudo indica que a família Ribeiro, vindo de Portugal, povoou o
lugar.
O termo religião conduz uma relação na forma de crer dos seres humanos. É
nesse sentido que a Igreja Católica acredita que os santos realizam milagres. Os
fiéis buscam soluções aos seus problemas com promessas feitas para os santos. A
religião predominante no povoado de Queimadas é a católica. Lá existe a tradição
das romarias ao Senhor do Bonfim (Fig. 2). São grandiosos a fé e o sentimento
religioso católico dos participantes. Eles fazem sacrifícios para agradar ao santo com
pagamento de promessas.
83
Entrevista concedida por Abílio Leonardo da Costa em, 06/08/2010, no povoado Queimadas,
município de Dirceu Arcoverde PI, e por Elizabete Ribeiro Soares (Betinha), em 07/03/2011, na
cidade de Dirceu Arcoverde – PI. O Festejo do Senhor do Bonfim funciona durante dez dias sendo
nove dias de novena e um dia do santo padroeiro que é muito adorado pelos fiéis.
84
Esse relato encontra-se em um pequeno trecho escrito pelo padre José de Anchieta Carvalho, em
1998, sobre algumas indagações feitas à senhora Arlinda que era moradora da localidade de
Queimadas. Hoje, Arlinda é falecida. Seu relato também está escrito no livro da família Ribeiro.
307
Figura 2 - Lugar onde os devotos depositam os ex-votos (Fonte: Acervo pessoal, 2010)
Então, aquele casal edificou uma pequena “casa de oração” que os devotos
valorizam muito. O santo foi sendo festejado, com grande devoção e carinho.
Figura 4 - Santuário das Queimadas. Romeiros fazendo pedido ao Santo (Fonte: Acervo
pessoal, 2010)
85
Entrevista concedida por Manuel Messias da Rocha, no dia 06/08/2010, na cidade de Dirceu Arco
Verde – PI.
310
86
Entrevista concedida por Eurico dos Santos, em 07/08/2010, em Dirceu Arcoverde – PI.
311
Com o passar dos anos, essa prática sofreu fortes alterações. Em seu lugar,
nos dias de hoje, encontram-se festas profanas que, segundo a Igreja, são
realizadas sem o seu consentimento.
Eurico dos Santos, que se considera uma pessoa muito devota do Santo
Senhor do Bonfim, menciona em seu depoimento que:
87
Entrevista concedida por Eurico dos Santos, no dia 10/08/2010, na cidade de Dirceu Arcoverde - PI
88
Entrevista concedida por Elizabete Ribeiro Soares (Betinha) em 07/03/2011 na cidade de Dirceu
Arcoverde - PI
314
Dessa forma, pode-se observar que há um grande descaso por parte dos fieis
em relação à doutrina religiosa. Tem-se o hábito de tratar todas as relações
cotidianas com intimidade. Isso gera uma situação em que seguir formalidades é de
livre arbítrio.
Figura 7 - Saída da Igreja matriz ao povoado de Queimadas (Fonte: acervo pessoal, 1010)
89
Entrevista concedida pelo senhor Geovane Alves da Silva, em 10/08/2011, na cidade de Dirceu
Arcoverde – PI.
316
A romaria tem início algumas horas antes da missa nas Queimadas. Por volta
das quatro horas da tarde, as pessoas saem, em caminhada, da Praça da Igreja
matriz de Dirceu Arcoverde que tem como padroeira Nossa Senhora de Fátima. Os
homens do terço vão até o Santuário das Queimadas. Na frente vai o padre e o
carro de som e, atrás, uma boa parte da população católica, cantando, rezando e
entoando louvores ao Nosso Senhor do Bonfim. Geovane explica:
A trajetória até agora a gente não tem papel como a gente deve
organizar. Através dessa organização, a gente sabe que é uma
caminhada muito longa, uma caminhada que as pessoas idosas,
jovens, adolescentes, crianças, também está procurando levar não
só como a nossa comunidade, mas para nossa diocese.90
90
Entrevista concedida pelo senhor Geovane Alves da Silva, em 10/08/2011, na cidade de Dirceu
Arco Verde – PI.
91
Entrevista concedida pelo Padre Emanuel Messias Nunes Soloneira, em 10/08/2011, na cidade de
Dirceu Arcoverde - PI.
317
Alguns católicos acreditam muito nele. Outros pensam que ele não é tão
importante assim. O mesmo padre menciona: “Pouca gente descobriu quem ele é”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia de
Letras, 1995.
MATTA, Roberto da. O que faz o Brasil, Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Rocco. 1998.
______ Carnavais, Malandros e heróis: para uma sociologia de dilema
Brasileiro. 6 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto
História. Revista de Estudos Pós-Graduados em História do Departamento de
História da PUC-SP. São Paulo – SP, 1981.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense. Coleção
Primeiros Passos, 1994.
THOMPSON, Paul. 1934 a voz do passado. História oral. Trad. Lólio Lorenço de
Oliveira. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1992.
INTRODUÇÃO
O objeto deste estudo são as edificações do bairro São Pedro. Este bairro,
primeiro povoado da cidade, teve início com a criação de gado e a exploração da
maniçoba. Era conhecido como Rua Velha, a antiga sede da fazenda Várzea
Grande.
comportamento ligado, aquilo que o pai deixa para os filhos. Desse sentido material,
chega-se ao figurado: aquilo que tem valor incomensurável.
A cidade de Coronel José Dias teve início com a chegada de Vitorino Dias
Paes Landim que recebeu aquele território, como prêmio ao massacre indígena. O
presidente da província do Piauí em exercício, Manoel de Sousa Martins, doou a ele
três fazendas: Boqueirãozinho, Serra Talhada e Serra Nova. Na sede da fazenda
Serra Nova originou-se o povoado de Várzea Grande. Isto deu-se no a Pno de
1829. O povoado foi autenticado e levado ao Cartório da Vila de São Raimundo
Nonato no dia 1º de abril de 1855. Para tal, o Cônego Sebastião Ribeiro Lima pagou
de emolumento a quantia de um cruzeiro e cinqüenta centavos.
A Fazenda Serra Nova era uma pequena vila constituída de uma igreja e um
conjunto de edificações de arquitetura colonial.93 Com a construção da BR-020, no
início da década de 1960, e com a emancipação política, houve um crescimento
populacional, um desenvolvimento econômico e uma expansão territorial que dividiu
o povoado de Várzea Grande em Rua Velha, hoje bairro São Pedro, e Barragem,
hoje centro da cidade. A Rua Velha, bairro mais antigo do município, é portador de
um arcabouço cultural importante para a memória da comunidade.
93
SANTANA, Edvaldo. Povoado São Pedro e os desbravadores que deram origem a cidade Berço do
Homem Americano. São Raimundo Nonato: INTA, 2010
322
1 PATRIMÔNIO MATERIAL
94
As referencias à Carta de Atenas foram extraídas da obra A Carta de Veneza (versão de Le
Cousier; tradução de Rebeca Sherer). São Paulo: Hucitec, Edusp, 1993. (Estudos avançados),
não- paginada.
324
95
Gian Carlo Gasperini, op.cit.,p .21
325
96
Artigo 1º da Convenção da UNESCO, “sobre o Patrimônio Mundial, Cultural e Natural”, adotada em
Paris, em 1972.
326
97
SANTANA, Edvaldo. Povoado São Pedro e os desbravadores que deram origem a cidade Berço do
Homem Americano. São Raimundo Nonato: INTA, 2010
327
98
Constituição de 1934, artigo 10º, III.
99
Constituição de 1937, artigo 134.
100
Constituição de 1946, artigo 175.
328
101
Carlos Frederico Marés. “A proteção jurídica dos bens culturais”. In: Cadernos de Direito
Constitucional e Ciência Política, n º 2, ano 1, p. 23, janeiro-março de 1993.
102
Constituição de 1988, artigo 216, parágrafo 1º
103
Constituição de 1988, artigo 216, V.
104
Id, artigo 216, parágrafo 1 º.
105
Decreto-Lei n º 25/37, artigo 1º, parágrafo 1º.
329
O artigo 4º do Decreto - Lei n º 25/37 prevê quatro livros do tombo, nos quais
deverão ser feitas as inscrições dos bens culturais que são: Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico, Belas Artes e Paisagístico em que são inscritos os bens
“pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e
popular”106 e os “monumentos naturais, bem como sítios e paisagens que importe
conservar e proteger pela feição notável com quem tenham sido dotados de
natureza ou agenciados pela indústria humana”107; Livro do Tombo Histórico em que
inscrevem-se “as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica” 108; Livro
de Belas-Artes que se destina à inscrição das “coisas de arte erudita, nacional e
estrangeira”109; Livro de Tombo das Artes Aplicadas que é reservado à inscrição das
“obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras”
110
.
112
Carta de El Rei, de 13 do 01 de 1699 – A.H.V/Pé – cód. 257. Fl.7
113
Carta de Domingos Jorge Velho a El Rei, datada de 05.07.1964. /M: ENNES – op. Cit; p. 201- 207.
331
resultou na formação do latifúndio que viria a ser uma das principais características
do Piauí.
período seco, as folhas caem para economia de água e só voltam com as primeiras
chuvas. A árvore produz o látex durante todo ano, porém os maniçobeiros preferiam
trabalhar logo após o inverno, isto é, de março a setembro. Nas épocas de seca
quando as folhas caem, a produção é menor (OLIVEIRA, 2001).
Até o final do século XIX, a maioria das terras na região em estudo: Bairro
São Pedro – Antiga Várzea Grande era utilizada na atividade pecuária e na
agricultura. Os trabalhadores iam chegando e ocupando a área em que iriam
trabalhar. Cada um procurava marcar o seu terreno e se adaptar da melhor maneira
possível.
Uma boa parte dos imigrantes chegou à região, no início do século XX,
primeira fase da borracha. Muitos dos seus filhos permaneceram na atividade até o
final dos anos 1940. Grande parte herdou o trabalho dos pais e, entre os dois
períodos de boa comercialização do produto, continuou fazendo a extração, apesar
da pouca procura da borracha, alternando-a com a agricultura de subsistência.
Na época de luta pela posse de terra, no século XIX, Vitorino Dias Paes
Landim tomou parte na conquista da terra dos índios que habitavam essas
caatingas. Na verdade o termo tomar parte é eufemismo porque o que ocorreu, de
fato, foi um massacre. Com essa ação violenta, o mesmo foi recompensado com
terras, conforme o registro eclesiástico feito em 1855:
115
Os documentos contendo essas informações (Inventários) estão localizados no 1° Cartório de
Registro Civil de São Raimundo Nonato –PI. Registro de Divisão, Separação e Aquisição das
Posses da Fazenda Várzea Grande, PP. 80 ess, 10, Cartório de São Raimundo Nonato em 1950.
116
Informação verba obtida em entrevista com a senhora Nailde Martins Dias, no dia 10/03/2010.
335
Figura 1 - Mapa de localização do Município de Coronel José Dias (Fonte: Google imagens)
336
Manoel Coelho Cavalcante (Neco) com sua esposa Ana e os filhos foi uma
das primeiras famílias a chegar à região de São Raimundo Nonato, no início do
século XX, provavelmente vindo de Pernambuco. Ele trabalhou, inicialmente, como
escrivão, na fazenda Serra dos Gringos, que pertencia ao industrial americano
Adolpho Hirchs. Relatos de médicos do Instituto Oswaldo Cruz, que passaram pela
região em 1912 e visitaram a fazenda Serra dos Gringos, citam a presença de mais
de 400 trabalhadores no que foi considerado, o maior empreendimento da região
(PENA e NEIVA, 1916). Neco Coelho adquiriu, posteriormente, outras propriedades,
dentre elas a fazenda Jurubeba (OLIVEIRA, 2001).
Na segunda fase da maniçoba, nos anos 1940, ainda houve grande migração
de pessoas oriundas de Pernambuco, da Bahia e de outros lugares, em busca de
extrair e comercializar a borracha.
Em 1959 Manoel Roberto e seus filhos compraram uma área de terra vizinha,
para onde transferiram sua casa e comércio. Neste mesmo ano iniciou-se a
construção da BR-020 cujo traçado passava próximo à sua residência e comércio.
117
Informação oral concedida pela senhora Isabel Neres de Oliveira, no dia 12/03/2010.
338
Em frente à Igreja havia um abrigo que servia como mercado público para
vendas de vários produtos como: frutas, verduras, legumes, leite, carnes e outros.
No mesmo local funcionava o açougue da época120.
118
Informação oral concedida pelo Sr. Expedito Rodrigues do Nascimento, no dia 13/03/2010.
119
SANTANA, Edvaldo. Povoado São Pedro e os desbravadores que deram origem a cidade Berço
do Homem Americano. São Raimundo Nonato: INTA, 2010
120
Informação oral. Entrevista com a senhora Isabel Neres de Oliveira ,concedida no dia 12/03/10.
121
SANTANA, Edvaldo. Povoado São Pedro e os desbravadores que deram origem a cidade Berço
do Homem Americano. São Raimundo Nonato: INTA, 2010
339
122
Informação oral concedida pelo Sr. Expedito Rodrigues do Nascimento, no dia 13/03/2010.
340
De acordo com a tradição oral, pode-se identificar o casario que deu origem
ao povoado. Isabel Neres, Jeremias Pereira, Nailde Martins e Expedito Rodrigues
relatam sobre seis edificações antigas que deram início ao povoado. Trata-se de
uma igreja e cinco casas que serviam de residência e, ao mesmo tempo, de local
para a comercialização de mercadorias.
3.2 ARQUITETURA
123
Tipo de estrutura constituída por pedras naturais ou artificiais sobrepostas e ligadas ou não por
argamassa. Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-tecnicos.pdf.
Acesso: 14/03/2011.
124
Essa técnica consiste em moldar o tijolo cru em fôrmas de madeira. O bloco de terra é seco ao sol,
sem que haja a queima do mesmo. A mistura a ser moldada pode ser feita apenas com água e
terra ou com o acréscimo de estabilizante e fibras naturais. Amassado com os pés, forma-se uma
mistura plástica. Os tijolos de adobe são usados em paredes, abóbadas, cúpulas, entre outras.
Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-tecnicos.pdf.
Acesso: 14/03/2011.
125
Altura entre o piso e o teto. Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-
tecnicos.pdf
Acesso: 14/03/2011.
126
Termo arquitectónico Platibanda designa uma faixa horizontal (muro ou grade) que emoldura a
parte superior de um edifício e que tem a função de esconder o telhado. Pode ser utilizado em
diversos tipos de construção, como casas e igrejas. Tornou-se um ornamento característico
durante estilo gótico. Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-
tecnicos.pdf
Acesso: 14/03/2011.
343
127
Água triangular de uma cobertura. Viga que une duas águas convergentes.
344
Para Silva Filho (2007), o retângulo foi à geratriz para o riscado das casas que
ora se apresentavam com grandes frentes, ora compostas tão somente de porta-e-
janela. Boa parte dessas casas é mais larga que profunda, a exemplo a cidade de
Oeiras, onde se caracteriza um tipo de ocupação derivada de posses e
demarcações promovidas no passado pelos os grupos dominantes.
128
Parte mais alta do telhado, onde se encontram as superfícies inclinadas (águas). A grande viga de
madeira que une os vértices da tesoura e onde se apóiam os caibros do madeiramento da
cobertura. Também chamada espigão horizontal
Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-tecnicos.pdf
Acesso: 14/03/2011.
129
Peça de madeira que sustenta as ripas de telhados ou de soalhos. Nos telhados, o caibro assenta
nas cumeeiras, nas terças e nos fechais. No soalho, apóia nos barrotes.
Fonte: http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-tecnicos.pdf
Acesso: 14/03/2011.
345
Figura 3 - Locais que compõem o espaço da Rua Velha (Fonte: Google Earth com
adaptação dos autores).
130
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy.
Belo Horizonte: Ed. do Autor. 2007.
347
132
Informação verbal concedida pelo Sr. Jeremias Pereira, no dia 11/03/2010.
349
Figura 6 - Casas antigas do povoado Várzea Grande (Fonte: Rianne Paes, 2010)
lombo de animais, utilizando a estrada que dava acesso a Teresina, passando pelo
pelo povoado de Várzea Grande. Os animais voltavam carregados dos produtos que
eram comercializados no povoado133.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas suas peculiaridades o bairro São Pedro pode ser registrado no
livro de Tombo Histórico no qual se destacam “as coisas de interesse histórico e as
obras de arte histórica. Nele encontram-se elementos de vários períodos de
ocupação. Começa-se pela ocupação indígena e seu massacre, com a chegada de
fazendeiros em busca da criação de gado. Prossegue-se, com a chegada de
imigrantes, nos anos 1960, para extrair e comercializar o látex da maniçoba.
Finaliza-se com a construção da Barragem e da Rodovia BR-020, quando o bairro
entrou em declínio, transferindo-se a maior parte da sua população.
REFERÊNCIAS
NUNES, Maria Celis Portela; ABREU, Irlane Gonçalves. Vilas e Cidades do Piauí:
Piauí. Formação, desenvolvimento, perspectivas. org. R. N. Monteiro de Santana.
Teresina: Halley. 1995, p. 83-112.
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São
José do Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007.
Site Visitado:
http://engenhariacivil.files.wordpress.com/2007/02/termos-tecnicos.pdf
Acesso: 14/03/2011.
X A TEMÁTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO CURRÍCULO ESCOLAR
INTRODUÇÃO
134
O Corredor Ecológico corresponde a 412 mil hectares. É uma espécie de “estrada verde” que foi
criado para proteger várias espécies vegetais e animais entre o Parque Serra da Capivara e
Parque Serra das Confusões. O Corredor Ecológico é gerenciado por várias esferas
administrativas, governo federal, estadual e municipal, entidades não-governamentais,
Universidade Estadual do Piauí, Ministério Público entre outros. Fonte: www.ecoviagem.com.br.
Acesso em 15 de março de 2009.
355
Para discutir tais questões, este estudo parte dos seguintes pressupostos:
135
A Fundação Museu do Homem Americano foi criada em 1986, uma entidade científica brasileira,
que desenvolve nessa região, pesquisas interdisciplinares que abrangem o estudo da interação
homem-meio, da pré-história aos dias atuais. Fonte: www.fumdham.org.br. Acesso em 12 de
março de 2008.
356
ações de cunho educativo nas comunidades e escolas situadas no entorno dos bens
tombados, no sentido de garantir maior proteção para esses bens.
136
Dados demográficos dos municípios que fazem limite com o Parque Nacional Serra da Capivara:
São Raimundo Nonato: 30.852 habitantes, em 2.428 Km²; Coronel José Dias: 4.358 habitantes,
1.822 Km²; João Costa: 3.199 habitantes, em 1.716 Km²; Brejo do Piauí: 3.181 habitantes, em
2.213 Km² ( Fonte: Censo IBGE 2007). Site www.ibge.gov.br. Acesso: 20 de janeiro de 2009.
362
137
De acordo com Plano de Manejo (2004, p. 5): “O plano de manejo de um parque nacional é um
instrumento teórico e operacional destinado a organizá-lo segundo suas características, de acordo
com as finalidades que originaram sua criação. Seu objetivo é fornecer as bases de organização e
a estratégia para coordenar a proteção do meio ambiente, do patrimônio cultural e a utilização
cultural e recreativa de uma área. O plano identifica as ações prioritárias para que os objetivos
definidos sejam alcançados, estabelece os procedimentos que regulam a utilização das áreas do
Parque Nacional e determina o cronograma operacional.”
364
também três refeições diárias e cuidados médicos por enfermeiros formados pela
FIOCRUZ do Rio de Janeiro.
Ninguém nasce feito, ninguém nasce marcado para ser isso ou aquilo. Pelo
contrário, nos tornamos isso ou aquilo, somos programados, mas para
aprender. A nossa inteligência se inventa e se promove no exercício do
social (PAULO FREIRE).
138
Comemoravam o padroeiro São José e a Padroeira Nossa Senhora de Fátima (GODOI, 1993).
139
Equipe de pesquisadores de uma cooperação científica bi-nacional (França-Brasil), responsável
pelas pesquisas realizadas no Parque Nacional Serra da Capivara. Tais pesquisadores criaram a
Fundação Museu do Homem, uma entidade cientifica, filantrópica, social civil (OSCIP), sem fins
lucrativos, declarada de utilidade pública, estadual e federal e cadastrada no Conselho Nacional
de Assistência Social (Fonte: www.fumdham.org.br). Acesso: 20 de julho de 2008.
140
Instituto de Pesquisas Antropológicas do Rio de Janeiro, responsável na época de realizar a
delimitação, o levantamento fundiário e a avaliação do número de habitantes do interior do PARNA
(ARRUDA,1997).
366
indenização foi tenso. Muitos moradores eram posseiros e não puderam receber
indenização por suas culturas temporárias (ARRUDA, 1997). Assim, parte da
população migrou para São Raimundo Nonato e Coronel José Dias, cidades do
entorno do Parque. Alguns construíram novas moradias, abriram pequenos
comércios e outros conseguiram empregos como feirantes, zeladores, entre outros.
141
Zona de preservação permanente é uma faixa de proteção de 10 km do perímetro do Parque.
Nessa área encontram-se mais de 500 sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Não é uma
área tombada, portanto existem várias comunidades alojadas, sobretudo assentamentos agrários,
onde ocorre a caça predatória de animais silvestres e a queima desordenada de madeira
(GUIDON, 1994).
367
Por outro lado, Laraia (2004) afirma que a cultura é dinâmica. O homem tem a
capacidade de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los. Não caberá a este
estudo fazer um aprofundamento sobre tais questões, mas é importante considerá-
las para se pensar o objeto aqui investigado.
142
A legislação brasileira proíbe a captura sem licença dos chamados animais silvestres em todo
território nacional. Tal proteção à fauna encontra-se determinada nos dispositivos da Carta Magna
Federal de 1988 e na Lei Federal nº. 9.605/98. No artigo 29 é proibido caçar, perseguir, matar,
apanhar e utilizar espécimes da fauna brasileira sem a prévia autorização ou licença do IBAMA,
com a obtida pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa, § 4º a pena é aumentada
se o crime é praticado em: V- uma Unidade de Conservação. Desta forma, comete crime
ambiental quem compra, vende, exporta, guarda, mantém em cativeiro ou transporta larvas, ovos
ou espécimes da fauna, bem como objetos e produtos dela oriundos, provenientes de criadouros
não licenciados e/ou autorizados e/ou sem permissão.
Fonte www.academialetrasbrasil.org.br/fcoaguiarxerimbabo.doc. Acesso: 31 de maio de 2009.
369
Até 2002, a comunidade Novo Zabelê não tinha uma instalação apropriada
para funcionar uma escola. As crianças e os jovens deslocavam-se diariamente para
escolas circunvizinhas, precisamente no centro da cidade de São Raimundo Nonato,
situada a 12 km do assentamento. O transporte era cedido pela Secretaria de
Educação, no entanto, devido às más condições em que era feito, os pais, mães e
responsáveis pelos alunos manifestaram insatisfação e reivindicaram uma escola na
comunidade. Em 2003, a gestão municipal construiu o prédio, fez remanejamento
dos alunos e lotação de professores (Fig. 4). Começou, assim, a funcionar a
Unidade Escolar Elzair Rodrigues de Oliveira.
143
Todas as informações descritas aqui foram cedidas pela diretora da escola, a Sra. Eliane da Costa
Oliveira, no dia 10/04/2009.
370
A escola deve adotar como uma das suas principais tarefas, refletir sobre a
sua intencionalidade educativa. Assim, ela procura fundamentar o conceito de
autonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado os outros
níveis da esfera administrativa educacional.
1ª porque a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve
dar o exemplo. A gestão democrática da escola é um passo
importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um fim
em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão
democrática da escola está prestando um serviço também à
comunidade que a mantém. 2ª porque a gestão democrática pode
melhorar o que é específico da escola, isto é, o seu ensino. A
participação na gestão da escola proporcionará um melhor
conhecimento do funcionamento da escola e de todos os seus atores;
propiciará um contato permanente entre professores e alunos, o que
leva ao conhecimento mútuo e, consequência, aproximará também as
necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos professores.
(1997, p. 35)
144
É pertinente reforçar que as questões patrimoniais podem ser aplicadas no projeto político-
pedagógico de diversas unidades escolares do Brasil, uma vez que o patrimônio cultural tanto
material como imaterial se manifesta em vários pontos do país. Por isso, a temática do
patrimônio cultural deveria ser um elemento constituído nos projetos político-pedagógicos das
escolas brasileiras. Assim se tornaria mais um elemento de proteção, disseminação e
preservação do patrimônio nacional. O IPHAN vem apostando na educação como instrumento
de preservação do patrimônio cultural garantindo a sua perpetuação para as gerações futuras.
376
habitaram a região do Parque Nacional Serra da Capivara. Assim, através das ações
sócio-culturais e ambientais pode-se desenvolver uma consciência cultural e
ambiental responsável que ajude a população ali assentada a ser capaz de enfrentar
as mudanças que surgiram e as que ainda estão por vir naquela região.
145
Em todo o contexto desta pesquisa, refere-se ao patrimônio cultural e natural do Parque Nacional Serra da
Capivara, pois se entende que, nesse caso, não se pode separar os dois patrimônios, uma vez que os
mesmos estão intrinsecamente ligados. São, portanto, indissociáveis, pois seja na preservação cultural ou na
ambiental, estão envolvidas ações de atribuição de valor, que ocasionam ações de preservação desses
valores e dos suportes que lhes dão materialidade.
146
Tem formação em Arte-Educação e em Arqueologia.
378
147
Entrevista realizada em 18/12/08 com Solange Negreiros, Diretora de Projetos da Secretária de
Educação do município de São Raimundo Nonato.
380
Através dessas concepções o educando vai se conhecer melhor e dar valor a sua
própria cultura, resgatando a cultura local.
* Quais outros pontos você considera relevante para serem incluídos no PPP
da referida Unidade?
148
Relato das professoras da escola: A cada quatro anos o governo federal e as editoras através do
Plano Nacional do livro didático enviam vários modelos de livros para as secretarias de educação
de todo país, para que os secretários de educação, coordenadores pedagógicos e educadores
analisem. A escolha dos livros leva em consideração os conteúdos que mais se aproximam do
contexto local. Em poucos casos encontram-se livros que podem ser contextualizados com as
questões locais da região. “Escolhemos o livro de história pela referência de uma gravura que
continha a pedra furada do Parque Nacional Serra da Capivara, mas dentro do livro o texto é
abordado superficialmente, é dada maior ênfase a arqueologia, pré-história, pinturas rupestres da
Europa”.
381
Buscar mais parcerias para que os educandos fiquem mais empolgados e assim
conheçam a si mesmos. Implantar a Educação Ambiental como disciplina desde as
séries iniciais.
4.2.1 Palestras
150
O projeto cidadania no mundo das letras é uma iniciativa da Caritas Diocesana de São Raimundo
Nonato em parceria com o Projeto Dom Helder Câmara. Tem como objetivo a valorização e o
desenvolvimento da cultura local, da produção literária de educadores, crianças, adolescentes e
jovens através do acervo de livros e da junção das metodologias dos projetos “Arca das Letras” e”
Baú de Leitura”. Em 2008 foram contempladas com o projeto as comunidades Novo Zabelê e
Lagoa das Emas. Maiores informações e-mail caritas.srn@hotmail.com. Fonte: Folder Cidadania
no mundo das letras, São Raimundo Nonato.
151
Dona Arlinda é uma das mais antigas moradoras do Zabelê. Ela participa ativamente de todas as
ações da escola. Ela diz “é só me chamar que venho contar a nossa história”.
385
152
Nora, definiu que os suportes de memória coletiva funcionam como “detentores” de uma sequência
de imagens, ideias, sensações, sentimentos e vivências individuais e de grupos, num processo de”
revivenciamento” ou de reconhecimento das experiências coletivas, que têm o poder de servir
como substância aglutinante entre os membros do grupo, garantindo-lhes o sentimento de
pertença e de identidade, a consciência de si mesmos e dos outros que compartilham essas
386
seus pais: “Antes da criação do Parque eles andavam muito entre os boqueirões a
procura de água. Corriam entre os vales e até ouviam vozes dos caboclos”. Quando
foi questionada quem eram os caboclos, respondeu: “Ah, meu pai disse que foram
os homens que fizeram essas pinturas ai”. As crianças, por sua vez, passavam
horas admirando as pinturas, a perfeição dos desenhos e questionando que muitas
coisas ali pintadas ainda existem atualmente, tais como os animais, o veado, o tatu e
a onça (Fig. 9 a 11).
Ficou claro que quando esse grupo compara, associa e rememora histórias
vividas nesse Parque, está reconhecendo-se como parte integrante do mesmo,
mesmo que inconscientemente. O contato in situ com as pinturas rupestres tornou-
se um forte instrumento de apropriação, pois os educandos e educadores diante dos
paredões rochosos conhecem de perto as evidências do passado, seu significado e
a importância dos testemunhos deixados pelo homem americano. Ao mesmo tempo,
percebem uma relação do homem de ontem como o homem de hoje.
Para Horta (1991), nada substitui o objeto real, fonte de informação sobre a
rede de relações sociais e o contexto histórico em que foram produzidos, utilizado e
dotado de significado pela sociedade que o criou. É esse contato que permite aos
sujeitos entender uma sucessão de informações a respeito desse patrimônio.
vivências. Reconstrói-se por essas memórias, a representação que um povo faz de si mesmo
(Nora, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Revista do programa de
estudos de pós-graduação em História e do Departamento de História. São Paulo, N 10,1998, p.
21-28)
387
Figura 9 - Visita à toca Boqueirão da Pedra Furada (Foto: Acervo IPHAN/Marian Helen)
153
O Técnico especialista em lascamento de pedra adverte aos educadores e educados que é
perigoso fazer isso sem orientação, portanto, não podem brincar de homens das cavernas
sozinhos, pois o mesmo passou por vários treinamentos para assim identificar uma peça lítica
esculpida pelo homem de uma peça lítica esculpida pela natureza.
389
Figura 12 - Ponta de uma flecha no Museu do Homem Americano (Foto: IPHAN / Marian
Nossa! Como eles conseguiam cortar uma carne com isso? Temos
tanta facilidade hoje em dia e nem percebemos (PROFESSORA);
Esses homens e mulheres eram muito inteligentes (ALUNOS);
Vou levar uma dessas para minha mãe cortar pão (ALUNOS);
Corta mesmo, é bem afiada (PROFESSORA QUE TIROU UMA
LASCA DA SUA CALÇA JEANS).
Trecho I
Trecho II
(...) Era uma vez um caçador valente, que matava todos os animais
ferozes, inclusive a onça. Ele usava uma flauta para atrair os bichos
e matar. Certa vez ele foi convidado por um fazendeiro para matar
uma onça que comia o gado dele (...), então subiu na serra e foi atrás
da onça que tanto atormentava o fazendeiro (...) (as crianças
gritavam e aplaudiam).
Trecho III
4.2.6 Cartilha
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
patrimônio. No entanto, verificou-se que esse tipo de ação não é eficaz em longo
prazo, uma vez que o Escritório Técnico não dispõe de um plano sistemático de
continuidade e tampouco de profissionais para este fim.
Não se pode mudar o passado, mas pode-se projetar o futuro sobre novas
perspectivas, trocando os problemas por soluções e experiências positivas. E a
educação é a principal mediadora nesse processo
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1978
SANTOS, Irene da Silva Fonseca dos. Patrimônio Cultural: leitura crítica dos
conceitos e suas implicações na prática escolar. Dissertação (Mestrado em
Educação). Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2008.
Autoras:
Déborah Gonçalves Silva
Estelita dos Santos Braga
XI O PAPEL DA MULHER NO DESENVOLVIMENTO SOCIO-ECONOMICO DE
SÃO RAIMUNDO NONATO: UM ESTUDO DE GÊNERO (1912 - 1970)
INTRODUÇÃO
A História Social pode dirigir sua atenção para uma classe social, uma
minoria, um grupo profissional, uma célula familiar, ou seja, para um subconjunto
específico da sociedade, visando compreender como se estabelecem as relações a
partir das experiências de vida. Esta amplitude da História Social contribuiu para que
alguns historiadores desenvolvessem estudos sobre as mulheres, a partir do campo
historiográfico dos estudos de gênero.
A renovação dos estudos históricos dá-se a partir das propostas dos Annales,
que colocam o interesse em se estudar o quotidiano das massas populares mais do
que o das elites. Até então, na História Social, as mulheres eram vistas como uma
categoria homogênea de pessoas biologicamente femininas que se moviam em
contextos e papéis diferentes, mas cuja essência, enquanto mulher, não se alterava.
Foi com a onda do movimento feminista, a partir dos anos 60, que finalmente
surgiu à história das mulheres. É notória a resistência por parte de alguns
historiadores em aceitar a mulher como objeto de sua própria história. Foi, porém,
inevitável que tal história surgisse.
relações de gênero (BARROS, 2009). Estes temas da História Social fazem interface
com a História Antropológica e a Etno-história. É neste contexto que se insere a
presente pesquisa. Analisa-se o gênero feminino em questões como: qual a
importância das mulheres na história e quais as dificuldades enfrentadas por elas,
até serem vistas como sujeito e objeto de pesquisa da história.
Segundo (Barros 2009), a História Social pode dirigir sua atenção para uma
classe social, uma minoria, um grupo profissional, uma célula familiar, ou seja, para
um subconjunto específico da sociedade. Entende-se, portanto que a História Social
pode tratar tanto de uma classe social geral, como de uma célula familiar isolada. É
dentro dessa subespecialidade da História Social que se procura desenvolver o
discurso historiográfico desta pesquisa, propondo analisar e discutir o gênero
feminino na historiografia brasileira e piauiense.
De acordo com Erick Hobsbawm (1995), em sua obra Era dos Extremos, a
ideia de família nuclear, modelo padrão na sociedade ocidental nos séculos XIX e
XX evoluiu. Naquela época pensavam-se as unidades familiares e de parentesco
muito maiores. Elas eram concebidas como parte do crescimento do individualismo
burguês ou qualquer outro. A idéia de família nuclear, daquele período, baseava-se
numa má compreensão da histórica e da natureza da cooperação social e sua
justificação nas sociedades pré-industriais. A crise da família estava relacionada
com mudanças bastante dramáticas nos padrões públicos que governam a conduta
sexual, a parceria e a procriação, sendo tanto oficiais quanto não oficiais. A grande
mudança em ambas está datada, coincidindo com as décadas de 1960 e 1970.
Tornaram-se, agora, permissíveis coisas até então proibidas, não só pela lei e
religião, mas, também, pela moral concedida, convenção e opinião da vizinhança.
403
historiografia pelos Annales, foi esta, porém, que contribuiu para que isso se
concretizasse num futuro próximo.
Michel de Certeau (1995), em sua obra A Cultura no Plural, faz uma alusão
às obras literárias francesas dos séculos XVII e XVIII distribuídas por livreiros
ambulantes e lidas pelo povo em geral. Ele afirma que foi graças a essa literatura
que se manteve a língua francesa. O fato de ela ter sido censurada como obras
literárias ditas como subversivas e imorais só ajudou porque foi preciso que ela
fosse censurada para ser estudada. Tornou-se, então, um objeto de interesse
porque seu perigo foi eliminado.
Assim, tempos depois, esses livros foram usados para estudos, sobretudo
após 1969, quando a erudição de inspiração marxista, ou pelo menos populista, foi
posta a serviço da cultura popular. Ela insere-se, também no que se segue a uma
história social em pleno desenvolvimento, há 30 anos. Ela desenha, enfim, a utopia
de outra relação política entre as massas e a elite.
Raquel Soihet (2007) afirma que, a partir de 1973, como resultado dessa
crise, as universidades francesas criaram cursos e grupos de reflexão que discutiam
a respeito desse movimento. A partir desses debates nasceu um boletim de
expressão em que era focalizado o mesmo objeto: Penelópe, Cahiers pour I´histoire
des Femmes. Em conseqüência disso, as pesquisas multiplicaram-se, tornando a
história das mulheres, um campo relativamente conhecido em nível institucional.
inventabilidade com relação às fontes, o que tem possibilitado maior intimidade com
aqueles segmentos e a ampliação dos horizontes da história. Dentro desta
perspectiva aumentam-se as produções historiográficas que tratam da história das
mulheres e a colocam como sujeito histórico participativo do lugar social onde estão
inseridas.
Era nas cidades, as quais trocavam sua aparência paroquial por uma
atmosfera cosmopolita e metropolitana, que se desenrolavam as
mudanças mais visíveis (...) a nova paisagem urbana, embora ainda
guardasse muito da tradição, era povoada por uma população nova e
heterogênea (MALUF e MOTT, 1998, p. 372).
Referente aos novos hábitos que surgiam da participação da mulher nas ruas,
trabalhando ou apenas passeando, surgem notas em revistas e jornais. Essas notas
descriminam essa iniciativa feminina, interpretando como ameaçadora à ordem
familiar. Segundo Maluf e Mott (1998), essa ordem era tida como o mais importante
409
Segundo Maluf e Mott (1998), por muito tempo foi depositada toda uma carga
de deveres para a mulher na vida privada Não lhe foi possível ter uma vida pública,
pois seu dever era estar no lar, fazendo dele um templo. À mulher era negado o
direito de igualdade com o homem e, no código civil de 1916, foi estabelecido o
papel a ser desempenhado por homens e mulheres na sociedade, sintetizando a
utilização da idéia do “lar feliz”.
De acordo com Maluf e Mott 1998, é difícil analisar a vida dessas mulheres do
Brasil, na transição dos séculos XIX e XX. Pelas mudanças ocorridas nas grandes
cidades como urbanização e industrialização, o trabalho feminino dividia-se entre o
lar e a rua. A mulher era responsável por fazer economia dentro do lar, evitando que
o dinheiro de seu marido fosse desperdiçado. Aquela que não tinha marido devia
trabalhar em dobro para dar conta do sustendo da casa.
A mulher teve que vencer vários preconceitos colocados pela sociedade para
conseguir ser reconhecida como força de trabalho e igualdade intelectual ao homem.
412
Isso aconteceu de diferentes formas. Para a mulher de classe alta, foi a educação
que proporcionou, de certo modo, essa igualdade e, para as mulheres de classe
baixa, foi o rompimento da moral machista colocada à prova pelas conquistas
femininas, ocupando posições sociais tidas como masculinas.
A participação feminina que antes estava voltada para a vida privada, com a
valorização dos espaços urbanos, passou a ser ampliada não apenas nos grandes
centros do país, como também nas demais regiões a exemplo do Piauí,
especialmente em Teresina, então capital do Estado. Segundo CASTELO (2005), a
mulher começou a participar com mais intensidade da vida urbana. Saiu do espaço
doméstico e buscou a participação na agitação das novidades modernas. Mesmo
sendo um processo gradual, mostrou-se irreversível, o que levava algumas cronistas
a prever o caos social e o fim da família. A mulher começou e se destacar, fazendo-
se presente, com expressividade, nos festivais religiosos. Muitas divulgavam das
festividades e participavam intensamente dessas manifestações religiosas.
Um dos objetivos da Escola Normal Livre, fundada por esses intelectuais que
tinham fortes ligações com a maçonaria e com idéias dos livres pensadores, era a
de fazer frente ao ensino ministrado no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Naquele
colégio, as mulheres recebiam forte orientação religiosa que não era aceita pelo
grupo de intelectuais cujos princípios e projetos eram libertários. A Escola Normal
Livre, logo nos primeiros anos de sua existência, começou a receber alunos de
outras cidades e vilas do interior como Parnaíba, Amarante, Floriano, Oeiras, São
Raimundo Nonato.
encantos suficientes para conquistar um homem, a que não sabia prendê-lo aos
seus encantos. Vista em tom de zombaria e de reprovação, a ela direcionavam-se
adjetivos como rabugenta, intrigante, histérica, maldosa entre outros tantos termos
pejorativos.
Para as mulheres pobres, o trabalho era visto mais como fator de provimento
para sobrevivência do que de emancipação. Quanto o trabalho honesto faltava ou
não supria todas as necessidades, a prostituição surgia como alternativa.
De um modo geral, no final do século XIX e início do XX, o Piauí foi marcado
por uma série de novos produtos, frutos do avanço tecnológico na vida cotidiana.
Entre essas novidades estavam o telefone, o cinema e o automóvel. O primeiro
aspecto dessas novas perspectivas para as mulheres era a inserção no mercado de
trabalho. Com ela, as mulheres exerceram atividades de telegrafia e datilografia
principalmente na educação primaria, na indústria têxtil, no setor educacional e no
funcionalismo público (CASTELO, 2005).
desse período, uma análise sobre quais os papeis desenvolvidos pelas mulheres
sanraimundenses no que diz respeito ao desenvolvimento social deste lugar.
A mulher era vista como esposa, mãe e dona-de-casa. Era esse tripé que
dava sustentabilidade à sociedade machista. Então, qualquer tipo de não
cumprimento dessa ordem era visto como fator de desequilíbrio social porque a
sociedade baseava-se no modelo de família nuclear (pai, mãe e filho).
155
Entrevista concedida por Arlinda, 77 anos.
424
Os motivos que levavam uma mulher pobre a trabalhar nunca eram por
emancipação, sim por necessidade. Aí está o fato de não ser observado um
preconceito com a mulher no trabalho junto ao homem. Era necessário que ela
buscasse trabalhar para se sustentar, pois seus pais não podiam dar-lhe tudo o que
ela precisava.
Nota-se que, no trabalho braçal, a mulher competia de igual para igual com o
sexo oposto. Ela não era vista como um ser frágil porque o que estava em jogo eram
a sua sobrevivência e a de sua família. Não era uma ocupação de destaque na
sociedade. O grupo em que ela estava inserida não discutia ou proibia sua
participação, mesmo o homem mantivesse seu papel de patriarca e defensor do lar.
Ela tinha o respeito de sua família. O marido precisava da ajuda de sua companheira
para suprir as necessidades financeiras e isso era tido como natural.
São Raimundo tem sua origem ligada à religião católica. As mulheres deste
lugar destacam-se por sua religiosidade e fé. Desde o início de cidade, participam
dos eventos religiosos. São elas as responsáveis pela organização dos cultos
religiosos e participam da Ordem Mercedária de Nossa Senhora das Mercês. São
responsáveis pela arrecadação do dízimo e comprometem-se a levar a palavra do
senhor aos hospitais, às delegacias e aos lares em que se encontram pessoas
enfermas. Ajudam na celebração dos cultos religiosos. Todas as primeiras sextas,
prestam conta das arrecadações dos dízimos ao padre e ainda organizam os leilões
e bingos para ajudar a paróquia. Nessas ordens religiosas alguns homens também
participam.
fé e dedicação aos filhos e ao esposo. “Eu me casei com vinte anos, já era velha por
que no meu tempo as moças se casavam com doze anos” (LOURDES, 80 ANOS).
Essa postura adotada por homens que não querem ser comparados ou
igualados em suas ocupações com mulheres levou a discussão de gênero em que
se baseia essa pesquisa. Por que no trabalho intelectual a mulher deve ser inferior
se no trabalho braçal ela pode ser igual ao outro gênero? Em que se baseia a
inferioridade feminina no que diz respeito ao intelecto masculino? Essa ideia
fundamenta-se no argumento de que a mulher, por ser emotiva, não pode estar na
esfera pública. Este lugar, viril e competitivo, deveria ser dominado por homens
cruéis e impiedosos, que jamais se curvariam a uma mulher. O que lhes garante que
as mulheres não podem ser também fortes? Tudo isso cai por terra quando
mulheres determinadas impõem-se e mostram que são capazes e competentes.
427
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação ao trabalho que dependia de força física não foi notado
preconceito com as mulheres que o praticavam, mas com relação a atividades
intelectuais havia resistência por parte dos homens para aceitar que uma mulher o
fizesse. Com relação à moral, os preconceitos são os mesmos tanto para mulheres
ricas quanto para as pobres.
O trabalho para as mulheres desse lugar não era visto como emancipação do
gênero. Era uma necessidade de sobrevivência. Os questionamentos referentes à
desigualdade entre homens e mulheres só é válido para as mulheres de classe alta
e intelectualmente desenvolvidas. Elas procuram por direitos sociais iguais aos dos
homens e buscam, no trabalho, sua emancipação profissional.
REFERÊNCIAS
HOBSBAWM, Eric J. 1917. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991.
Tradução Marcos Santa Rita. Revisão técnica Maria Célia Paoli. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
Ana Stela de Negreiros Oliveira: Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco
(2007), Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2001) e Graduada em
Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Piauí (1983). Atualmente é DAS do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tem experiência na área de História, com
ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: História Colonial, História
do Piauí, História Indígena, Arqueologia Histórica e Patrimônio Cultural.
Email: anastelanegreiros@hotmail.com
Celito Kestering: Licenciado em Filosofia, Psicologia e Sociologia pela Universidade do Sul de Santa
Catarina – UNISUL (1974); Engenheiro Agrônomo pela Faculdade de Agronomia do Médio São
Francisco – FAMESF (1980); Especialista em Realidade Brasileira, pelo Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento – IBRADES; Mestre em Pré-História (2001) e doutor em Arqueologia (2007) pela
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor Adjunto na Universidade Federal do Vale
do São Francisco – UNIVASF. Email: celito.kestering@mail.com.
Claudio Marcio Barbosa de Siqueira: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação
Patrimonial e bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: cmbs.qrql@gamil.com
Déborah Gonsalves Silva: Graduada em História, pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI,
Campus de São Raimundo Nonato, onde atuou como professora e coordenadora do quadro
provisório do Curso de História (2009-2011); Mestranda em História Social, na Universidade Federal
do Maranhão – UFMA. Desenvolve pesquisas sobre escravidão e relações de compadrio entre
escravos no Piauí. Tem experiência na área de História com ênfase nas temáticas: escravidão,
família, cultura material, Piauí Colonial. Email: deborahgonsalves@yahoo.com.br
Estelita dos Santos Braga: Graduada em História pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI,
Campus de São Raimundo Nonato - PI (2012).
Felipe Silva Sales: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF e
bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: felsales@hotmail.com
Gabriel Frechiani de Oliveira: Licenciado em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI
(2007); Especialização em Metodologia do Ensino de História e Geografia pelo Sistema Educacional
EADCON (2009); Aluno do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia da
Universidade Federal do Piauí - UFPI. Atuou como professor do quadro provisório na UESPI e
professor do quadro efetivo da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Piauí. Tem experiência
na área de História, Arqueologia e Preservação Patrimonial.
Ianthe Santos Silva: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF e
bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: ianthe.santos@gmail.com
Ingrid Lopes de Oliveira: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da
UNIVASF e bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: ingridlopes92@hotmail.com
Jaime de Santana Oliveira: Pós-graduando em nível de especialização Lato Sensu em Educação
Contextualizada no Semiárido, na Perspectiva da Educação do Campo, na Universidade Estadual do
Piauí - UESPI, com apoio do Ministério das Ciências e Tecnologia- MCT/CNPq/CT-Hidro/ Ações
Transversais. Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí -
UESPI e Graduando em Arqueologia e Preservação Patrimonial na Universidade Federal do Vale do
São Francisco – UNIVASF.
Jéssica Rafaella de Oliveira: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da
UNIVASF e bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: jessica.rafaella@hotmail.com
José Nicodemos Chagas Júnior: Estudante do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da
UNIVASF e bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Email: nicodemoschagas@gmail.com
Jucinéa dos Santos Mota: Nasceu em Dirceu Arcoverde - PI. Graduada em História pela
Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Campus de São Raimundo Nonato - PI (2012).
Juliana Ferreira Sorgine: Graduada em História (2002) e mestre em História Social (2005) pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é historiadora do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, lotada na Coordenação-Geral de Pesquisa e Documentação da
432