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CAMINHOS DA APRENDIZAGEM
HISTÓRICA: HISTÓRIA INDÍGENA E
HISTÓRIA DAS AMÉRICAS
Reitor:
Prof. Dr. Marcelo Augusto Santos Turine - UFMS
Vice-Reitora:
Profa. Dra. Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Esporte:
Prof. Dr. Marcelo Fernandes.
Direção da Faculdade de Ciências Humanas:
Profa. Dra. Vivina Dias Sol Queiroz 2
Coordenação do Curso de História:
Prof. Dr. Cleverson Rodrigues
Rede:
www.revistasobreontes.site
Coordenador
Everton Crema
Ficha Catalográfica
Candado, Rejane Aparecida Rodrigues; Sousa, Fábio da Silva (org.)
Caminhos da Aprendizagem Histórica: Ensino de História Indígena e das
Américas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Sobre Ontens/UFMS, 2021.
ISBN: 978-65-00-24361-1
Ensino de História; História Indígena; História das Américas
Sumário
APRESENTAÇÃO: O PORQUÊ DE UM ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA E DAS
AMÉRICAS
Fábio da Silva Sousa e Rejane Aparecida Rodrigues Candado .................................... 6
Conferências
3
FORMAÇÃO DE PEDAGOGAS(OS) E HISTÓRIA INDÍGENA: EXPERIÊNCIA NO
CURSO DE PEDAGOGIA/DOURADOS-MS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MATO GROSSO DO SUL
Beatriz dos Santos Landa ........................................................................................... 10
A HISTORICIDADE NA PESQUISA: APONTAMENTOS SOBRE MEMÓRIAS E
DOCUMENTOS DOS POVOS INDÍGENAS DE OIAPOQUE
Carina Santos de Almeida e Cleisy Narciso Silva ....................................................... 19
EXPERIÊNCIAS EM ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA NOS CURSOS DE
FORMAÇÃO PARA PROFESSORES INDÍGENAS
Meire Adriana da Silva ................................................................................................ 26
Comunicações
DO MITO DO “BOM SELVAGEM” AO DO “ÍNDIO SUSTENTÁVEL”: O
MULTICULTURALISMO NO DISCURSO JORNALÍSTICO
Álvaro Ribeiro Regiani ................................................................................................ 34
MEMORIA Y PENSAMIENTO HISTÓRICO SITUADO: UNA APUESTA
INTERCULTURAL POR LAS COMUNIDADES INDÍGENAS EN BOGOTÁ, COLOMBIA
Ángela M Márquez Silva e Fabián Andrés Llano......................................................... 42
"DECIFRANDO A HISTÓRIA A PARTIR DE MANUSCRITOS”: OFICINAS DE
HISTÓRIA DO PIAUÍ NA EDUCAÇÃO BÁSICA – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Antônia Natália de Sousa Arrais ................................................................................. 51
CAPRICHOSO E GARANTIDO NA SALA DE AULA: USO DE TOADAS NAS AULAS
DE HISTÓRIA DA AMÉRICA AMERÍNDIA
Bruno Miranda Braga .................................................................................................. 57
CABICHUÍ: NO EPICENTRO DA GUERRA DO PARAGUAI
Cleberson Vieira de Araújo ......................................................................................... 66
ASPECTOS DO ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO
“HISTÓRIA DO BRASIL PARA EXAME DE ADMISSÃO”, DE ALFREDO TAUNAY E
ROBERTO ACCIOLI
Clivya da Silveira Nobre.............................................................................................. 73
AS DEIDADES FEMININAS ASTECAS NA OBRA HISTÓRIA GENERAL DE LAS
COSAS DE NUEVA ESPAÑA DO FREI FRANCISCANO BERNARDINO DE
SAHAGÚN NO SÉCULO XVI
Daniela Rigon Ratochinski e Natally Vieira Dias ......................................................... 81
A COLONIZAÇÃO E O OBSCURANTISMO HISTÓRICO QUE ENVOLVEU A
HISTÓRIA DOS POVOS NATIVOS EM PERNAMBUCO APÓS AS CAMPANHAS DE
CONQUISTA DOS SEUS TERRITÓRIOS: A IMPORTÂNCIA DE SE CONSTRUIR
OUTRAS NARRATIVAS A RESPEITO DA HISTÓRIA DOS POVOS ORIGINÁRIOS E
O PAPEL DO PESQUISADOR E PROFESSOR DE HISTÓRIA PARA A ESCRITA E
ENSINO DESTAS NARRATIVAS
Eduardo Augusto de Santana ..................................................................................... 88 4
6
É com bastante alegria e satisfação, que esta sétima edição do Simpósio
Eletrônico Internacional de Ensino de História inaugurou uma mesa dedicada à
temática Indígena e das Américas. Juntá-las possibilitou a presença de uma
diversidade de artigos resultantes de pesquisas, projetos de extensão, relatos de
experiências de intervenções, aulas, entre outros, que poderão ser conferidos
nos textos a seguir.
Boa leitura!
Referências biográficas
Referências bibliográficas
9
FORMAÇÃO DE PEDAGOGAS(OS) E HISTÓRIA
INDÍGENA: EXPERIÊNCIA NO CURSO DE
PEDAGOGIA/DOURADOS-MS DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL 10
Esta mesma autora, ao discutir a Lei 11645/08, que alterou a LDB 9394/96 no
seu art. 26, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena, nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio,
públicos e privados, destaca que esta é uma mudança epistemológica radical,
pois não se trata somente de acrescentar estes conteúdos ao currículo escolar,
mas promover um olhar que permita descolonizar o poder instituído ao ocultar,
invisibilizar e desqualificar as participações. Outras nas narrativas históricas, o
apagamento destas e induz as populações que compõe estes segmentos
historicamente marginalizados, a sociedade de entorno a acreditarem que estas
trajetórias não são importantes e significativas o suficiente para figurarem nos
livros de História. Assim, quem pertence a estes grupos são considerados a-
históricos ou possuem histórias que serão sempre coadjuvantes e dependentes
das ações dos europeus ou das elites locais, resultando em baixa estima pela
sua ancestralidade. O relato a seguir, de Daniel Munduruku evidencia esta
situação:
“Quando eu era criança não gostava de ser índio. Sentia vergonha de sê-lo
quando alguém dizia que o índio era preguiçoso, selvagem, sujo, covarde,
canibal. Mesmo sem entender a metade dessas palavras, meu espírito ficava
chocado com a violência que representavam (SÃO PAULO, 2019, p.10).
Estas pinturas podem se localizar no rosto, nos braços, no peito e dorso, pernas,
mãos, feitas com tintas naturais produzidas a partir dos elementos presentes na
natureza -quando o meio ambiente assim o permite- ou mesmo com tintas
adquiridas nos comércios locais, quando os processos históricos os afastaram
dos seus territórios tradicionais ou quando o ambiente está comprometido pelo
desmatamento, pelas perdas territoriais, pela dificuldade ou inexistência destes
materiais nas cidades.
Não é uma disciplina que objetiva tratar do transcurso histórico dos povos
indígenas stricto sensu, mas apresentar os avanços, conquistas e desafios da
oferta da educação escolar indígena nos territórios indígenas no país sem
abordar os aspectos históricos mais gerais que impactaram e vem impactando 12
estes coletivos, significaria perpetuar o apagamento das suas vivências e
histórias de resistência ao longo destes mais de cinco séculos de contatos com
a sociedade envolvente. Para o arqueólogo e antropólogo Eremites de Oliveira
(2012), existe um encobrimento da presença indígena no continente americano
e no Brasil, por isso, é preciso na disciplina retroceder ao período anterior aos
primeiros contatos com os portugueses, mesmo que de maneira pontual, para
desconstruir que a história do Brasil inicia com a chegada da esquadra cabralina
na Bahia em 1500, e discutir porque os diferentes povos que aqui já ocupavam
este amplo território, foram quase que imediatamente apagados.
Contribuir para que não sejam reproduzidos estereótipos sobre a selvageria dos
indígenas por seus costumes, hábitos e crenças, além de minimizar os
equívocos com que estes são apresentados, é um dos objetivos da disciplina ao
apresentar uma perspectiva outra que coloca os povos indígenas como
protagonistas de suas histórias. Apresentar uma versão histórica em que estes
sejam apresentados de uma forma mais condizente com suas lutas de
resistência ao apagamento histórico, desaparecimento físico, desqualificação
social e subalternização cultural, é tarefa que as professoras e os professores
da educação infantil e da primeira etapa do fundamental devem estar
preparadas/os para que promovam uma sociedade mais justa e respeitosa.
É importante situar que este curso é ofertado na cidade de Dourados/MS, onde
está localizada a maior reserva indígena do país com uma população estimada
em mais de 15 mil indígenas (ALMEIDA, 2019, p. 135) pertencentes às etnias
Kaiowá, Guarani e Terena, em uma área de 3600ha. Este espaço territorial foi
criado no ano de 1917 para acomodar os indígenas que ocupavam municípios
que estão no entorno de Dourados, pois era partilhada a ideia, inclusive pela 13
Antropologia, de que os índios seriam transitórios e deixariam de existir em
poucas décadas. Esta previsão mostrou-se errônea, pois os povos indígenas
apresentam atualmente taxa de natalidade superior à sociedade nacional.
Mesmo com uma das maiores contingentes indígenas morando neste município,
a população de entorno desconhece as causas que conduziram esta reserva a
estar em um contexto complexo, onde por um lado há escolas que oferecem da
educação infantil ao ensino médio, com maioria de professores e professoras
indígenas com formação adequadas à etapa ao qual atendem, e por outro lado
falta água, há famílias em vulnerabilidade social extrema que leva crianças e
jovens a pedirem comida na cidade, índice de violência elevado, ausência de
políticas públicas para as diferentes necessidades da reserva, entre outros
aspectos não abordados adequadamente pelas políticas públicas.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. “Os índios na História do Brasil no século
XIX: da invisibilidade ao protagonismo” in REVISTA HISTÓRIA HOJE, v. 1, n.
2, 2012. p. 21-39.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1 ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019a.
KRENAK, Edson. Edson Dorneles de Andrade. “O indígena como usuário da lei:
um estudo etnográfico de como o movimento da literatura indígena entende e
usa a lei nº 11.645/2008” in CAD. CEDES, CAMPINAS, v. 39 n. 109, set.-
dez, 2019b, p. 321-356
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber 18
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.
MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio: versão infantil. São Paulo, Callis, 2019
A narradora explicou que “Quando um homem casa com uma mulher que está
estudando, e faz com que a mulher largue os estudos, era considerado uma
infração! Ele era mandado pro Encruzo ali para trabalhar um certo tempo. E
depois liberado. E se o indígena quiser ficar mais um tempo além do que já ficou
para trabalhar, ele ganhava uma diária, conforme o tempo que ficasse.” Mas o
Encruzo além de um lugar de punição e expiação, tratava-se de um espaço
privilegiado de vigilância, único caminho que conectava o baixo rio Oiapoque,
adentrando pelo Oceano Atlântico e da Guiana Francesa, para se ter acesso aos
rios e aldeias dos povos Karipuna, Palikur e Galibi (Marworno).
Cleisy já havia conversado com sua avó paterna chamada Maria Dorica e a irmã
dela, sua tia avó Isoleide, um ano antes da pandemia. A narrativa de Dorica
destacou que “Antes nós vivíamos em várias aldeias, distribuídas ao longo do
rio, não ficávamos em um só lugar, mudávamos assim como mudávamos de
roça. A roça é o que fazia com que fossemos para outros lugares. As nossas
casas de palha e folha de inajá lembram-me quando ia para escola, ia de canoa
remando para o Kumarumã. Quando chegava lá eu tinha medo, sempre
sentando no fundo com as amigas. Lembro quando a gente errava as respostas
da tabuada, éramos castigos com a palmatória. Estudávamos com dois
professores ao mesmo tempo, um homem e uma mulher. O professor não 23
pegava tão pesado como nós, mas a professora não queria nenhum erro e se
errar repetia tudo de novo. Quando ela cansava dos que erravam, pedia a eles
que sentassem e estudassem, porque quando for chamar de novo, ia ser
palmatória. A palmatória doía demais. Uma vez tinha uma festa de Santa Maria
no Kumarumã, que nós fomos proibidos de ir a festar pela professora, quando
chegar em sala de aula e não souber responder a tabuada ia ser castigado com
a palmatória. Ela pediu ao seu filho, um rapaz novo, que vigiasse para ver quem
fosse para festa. Eu e umas amigas, como somos jovens, queríamos ir, e
resolver ir. Quando chegou o dia da aula ela logo falou: – Quem estudou vai se
dar bem e quem não estudou e resolveu ir a festa vai ser castigado. E nós lá no
fundo com medo, nem mesmo nossos colegas queriam sentar perto de nós, para
que não apanhassem junto com a gente. Eu lá quieta com medo! Não queria que
a professora me chamasse, mas sim que o professor me chamasse para fazer
as perguntas. Mas não escapamos do castigo. Em uma mão levamos 6 vezes e
na outra 6 também, total de 12 vezes. As mãos chegaram a inchar de tanto
apanhar, lembro também que meu marido foi mandado para o Encruzo, foi preso
devido que ele casou comigo só porque eu era menor de idade. Era muito nova
ainda. Ele ficou trabalhando no Encruzo por um ano. Depois que ele saiu e
voltou, ficamos juntos. [...] A nossa língua é que foi mais afetada, antes era o
Galibi. Meus pais falavam pouco o Galibi, mas eu fui criada falando o Kheoul até
hoje.”
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Carina S. de.; OLIVEIRA, Leonia R.; OLIVEIRA, Lilia R.. “No tempo
do SPI”: proteção e indianidade entre os povos indígenas de Oiapoque. Tellus,
Campo Grande, MS, ano 19, n. 38, jan./abr. 2019, p. 79-102.
BARROS, Elisssandra. Fala parente! A covid-19 chegou entre nós. Macapá: Ed.
UNIFAP, 2021.
Nesse sentido, tendo como base uma formação calcada nessas áreas de
conhecimento, e o envolvimento da autora com formação de professores
indígenas, paralelamente às suas especializações em História e Ciência Sociais,
com pesquisas entre os Povos Indígenas do MS (Mato Grosso do Sul) e AP
(Amapá) e norte do Pará, parte de suas experiências serão apresentadas. Com
esse intento, segue inicialmente um breve relato de parte da trajetória
profissional da autora desde sua graduação no curso de Licenciatura em História
até a atuação junto a alunos de Magistério Indígena e Licenciaturas Indígenas
dos povos Guarani e Kaiowá, e dos povos Galibi Marworno, Galibi do Oiapoque,
Palikur, Wajãpi, Karipuna, Wayana, Apalai, Katxuyana e Tiriyó. Posteriormente,
a autora relata alguns dos desafios no ensino de história indígena.
Um dos textos que utilizei como referência para essa primeira aula foi “Novos e
Velhos Saberes”, de Dominique Gallois (1999). Usei a seguinte metodologia:
enquanto eles liam o texto, levantei uma série de palavras, que eu imaginava
não fazer parte do convívio de alguns alunos, e expliquei-as a partir da 28
discussão. Lembro-me de ter pedido para que falassem outras palavras que não
soubessem o significado, mas, além da difícil comunicação com parte do grupo
devido à minha fala somente em português (com o adendo de que minha
variedade linguística é a do português sul-mato-grossense, com um “r” retroflexo,
marcado), havia uma certa timidez (ou uma característica do jeito de ser), por
parte de alguns alunos em se pronunciarem diante da turma toda. Então, não
surgiram muitas palavras a partir deles e, com isso, segui com as palavras que
eu imaginava serem as necessárias para o entendimento do texto. A palavra
saberes aparecia o tempo todo no texto e era uma palavra-chave para seu
entendimento. Contudo, na minha concepção, a palavra saber ou saberes seria
do conhecimento de todos. Assim, finalizei a discussão, achando que tinha sido
muito bem sucedida. Quando eu havia finalizado a aula, um aluno Palikur foi ao
meu encontro e fez-me a seguinte pergunta: “professora, o que significa
saberes?”. Expliquei o significado da palavra e toda a minha satisfação de achar
que a primeira experiência em uma turma tão diversa tinha dado certo se esvaiu
naquele momento.
Diante dessa experiência, avaliei que eu havia dado muita ênfase à discussão
do texto a partir das palavras que eu achava que eles não sabiam o significado,
dentro da minha lógica de palavras difíceis, sem avaliar a contento a diversidade
linguística e os jeitos de ser e de falar ou não em público dos povos com os quais
eu estava em contato. No decorrer do curso, fui observando melhor esse
universo de diferentes graus de entendimento e convívio com a língua
portuguesa e tentando diminuir as minhas incompreensões e equívocos. Isso
porque os procedimentos usados, já citados anteriormente, como ouvir e repetir
informações sempre que possível é preciso, nem sempre davam certo com
povos que haviam tido um contato com a língua portuguesa de forma mais
intensa em períodos recentes. Passei, então, quando possível, a buscar um
diálogo de modo individual com alguns alunos que durante as aulas se
mantinham quietos.
Porém, apesar das tentativas de amenizar o impacto do meu não domínio das
línguas indígenas, esse desafio sempre foi constante. Indagava-me sobre como
eu iria entendê-los e como me faria entender diante da diversidade linguística e
das formas de pensamento em português e nas línguas indígenas, em especial
junto àqueles em que a presença da língua indígena era intensa.
O fato de o ensino de história indígena nas licenciaturas indígenas ser algo novo
na atuação para muitos profissionais de História proporciona reflexões quanto à
escolha dos conteúdos. Muitos dos projetos dos cursos de Licenciaturas
Indígenas foram feitos com a participação dos alunos e de lideranças indígenas, 30
no entanto, apesar dessa salutar participação, a complexidade de se pensar
quais rumos pedagógicos deveriam ser tomados era e é algo complexo, que
requer, inclusive, uma constante presença indígena na continuidade do
desenvolvimento das propostas pedagógicas desses cursos, bem como um
melhor diálogo entre Universidades e Secretarias Estaduais ou Municipais de
Educação. Para além do fato de os movimentos indígenas e indigenistas terem
pressionado as universidades para a abertura desses cursos, parece-me que
essa presença indígena (não somente dos alunos) de forma mais holística e
contínua na avaliação e no desenvolvimento dos cursos foi incipiente na fase
inicial desses.
Algumas considerações
Entre outras motivações que me fizeram relatar essas experiências, uma delas
foi o fato de acreditar que essas reflexões possam de alguma forma contribuir
para o aperfeiçoamento de nosso processo de aprendizagem e de construção
do conhecimento no ensino de história indígena, em cursos de formação de
professores indígenas e não indígenas. Também penso que possam contribuir
para a desconstrução do pré-conceito ainda presente em nossa sociedade em
relação aos povos indígenas, como exemplificado na sequência. Em
determinada ocasião, um aluno de licenciatura não indígena da Unifap me
perguntou se eu não tinha medo de dar aula na aldeia e de ficar lá (as primeiras
etapas da Licenciatura Indígena ocorreram na aldeia). Infelizmente esse
imaginário ainda está muito presente entre muitos setores de nossa sociedade,
e cabe a nós, professores não indígenas e indígenas, discutirmos e refletirmos
com nossos pares e com os alunos estratégias pedagógicas do ensino de
história indígena fora dos territórios indígenas, para que esses exemplos não se
repitam.
Por fim, considero que o aprender ser professora com alunos e professores
Guarani e Kaiowá, Galibi Marworno, Galibi do Oiapoque, Palikur, Wajãpi,
Karipuna, Wayana e Apalai, Katxuyana e Tiriyó não me tornou uma pessoa sem
estranhamentos com o novo, com o diferente, mas, certamente, esses
estranhamentos me fizeram uma pessoa melhor no sentido de compreender e
de respeitar a diversidade indígena existente, principalmente no sul do Mato
Grosso do Sul, no Amapá e norte do Pará, e de buscar melhores estratégias
pedagógicas que contribuam com um repensar a história do Brasil a partir dos
estudos da história indígena e do ensino de história indígena.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
33
DO MITO DO “BOM SELVAGEM” AO DO “ÍNDIO
SUSTENTÁVEL”: O MULTICULTURALISMO NO
DISCURSO JORNALÍSTICO
Álvaro Ribeiro Regiani 34
Introdução
Para Queiroz a 'harmonia' com a natureza foi uma atribuição dada aos indígenas
por alguns ativistas, ambientalistas e jornalistas, exemplificada pela divulgação
da “exótica peregrinação” da liderança Caiapó Raoni Metuktire em companhia
do cantor Sting pela Europa. O ativismo de Raoni contra a política ambiental
brasileira atraiu a atenção internacional, mas também a desconfiança de grupos
de interesse nacionais. Segundo a ensaísta, “Raoni tem despertado tanto ou
maior admiração que os seus antepassados em visita ao rei Charles IX [Carlos
IX] (1550-1574), em Ruão [ou Rouen na França], em 1562” (QUEIROZ, 1990, p.
4).
De forma diferente ao que os ibéricos fizeram, mas similar em seus fins, o mito
do bom selvagem foi uma figuração que beneficiou o projeto colonial francês.
Quando o filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1582) escreveu seus
“Ensaios” (1580), já havia na cidade de Rouen a circulação de xilogravuras e
miniaturas que celebravam a representação do bom selvagem e a aliança entre
ameríndios e franceses. As possíveis manipulações que indígenas “brasileiros”
poderiam sofrer por “estrangeiros” exemplificam os temores de grupos de
interesse brasileiros em 1990.
Para esses grupos, às queixas de indígenas na mídia internacional para ativistas
de organizações não governamentais e missionários estrangeiros feria a
soberania nacional, sendo parte do estratagema das potências imperialistas na
apropriação dos recursos naturais. Por meio de supostas manipulações das
lideranças indígenas, suas denúncias desmoralizaram a credibilidade de grupos
de interesse privado e da ação governamental para resolver esses conflitos.
Conforme explicou Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno: 36
O sentido dialético descrito nas entrelinhas, pelo qual através de conflitos algo
positivo surgiria, condicionam mais um uso multicultural na análise histórica.
Quando a autora escreveu o “nosso” passado, incorporou também os passados
indígenas, mas indicou apenas a existência de um único protagonismo, a do
Ocidente-europeu. Nesta perspectiva, as narrativas históricas fundamentaram-
se na ilusão da universalidade e da racionalidade, pois partem “sempre” do
mesmo parâmetro técnico-científico, filosófico e espacial, a Europa.
Conclusão
“Quem nasceu primeiro aqui no Brasil não foi branco, foi índio. Avô de índio
nasceu primeiro, no Brasil inteiro. Chegou português, chegou briga, começou
matar. Essa coisa para mim não é alegre. Branco roubar terra, procurar madeira,
procurar outro. Eu não aceito mais, eu não aceito. (...) O governador branco tem
que respeitar mais meu povo. Nós não são bicho-do-mato. Minha terra Xingu eu
não quero garimpeiro entra, fazendeiro entra. Se entrar e Funai não fizer nada,
eu mesmo prendo. (...) Eu nunca fala mal do branco, do Sarney, do governador,
então por que branco fala mal do índio? Coitado meu povo, está morrendo. (...)
Eu não quero, eu não deixa branco entrar minha terra. Vocês têm que saber
cultura do índio. A polícia não respeita mais meu povo. Essa é minha
preocupação. Meu povo tá apertado. Não quero mais branco invadir nossa terra.
Não quero mais mais matar branco” (LEONARDI, 2016, pp. 352-353).
A narrativa de Raoni não foi uma descrição cronológica, mas uma evocação da
ancestralidade para a vivência e resistência socioecológica. Como indivíduo,
Raoni, foi construído numa determinada cosmovisão e mantém os padrões
dessa sociedade, por isso, em sua história, a vivência e a resistência não dão
lugar para o singular em sua separação do “homem” da “sociedade” e da
“natureza” do “ser”, esse seria o ‘saber’ de sua cultura, uma contraposição ao
individualismo e o ao racionalismo. Como efeito da colonização e da
colonialidade, estas dicotomias tornaram-se um modo de vida que, infelizmente,
ameaça a vida de todos no planeta e até agora as soluções encontradas nesta
lógica não apresentam-se como promissoras.
Referências biográficas:
Referências bibliográficas:
QUEIROZ, Maria José de. O mito do bom selvagem. O Estado de São Paulo,
São Paulo, ano VII, n. 494, 13 de jan. 1990. Cultura.
“Nosotros, PIUREK- hijos e hijas del agua, del sueño, la palabra y el arco iris, de
los que no pudiste matar ni torturar nos encontramos hoy aquí, después de 485
años clamando justicia por la memoria de la resistencia y reexistencia de
nuestros Taitas Payan, Yazguen, Calambas y Petecuy y Mama Machagara, de
los miles de nativos que combatieron en las guerras Sanguinarias” … Movimiento
de autoridades Indígenas del Sur Occidente, Resolución N- 0535 de 12 de abril
de 2019
Esta declaración realizada por los pueblos Piurek de Colombia se vincula al juicio
que se le efectuó a la estatua de Sebastián de Belalcázar conocido
históricamente como conquistador del sur de Colombia. Este controversial juicio
alrededor del monumento ubicado en el morro de Tulcán puso en entredicho la
figura emblemática que representa para la historiografía tradicional colombiana,
un conquistador poseedor de todos los territorios que componen el Valle del
Puben. La pretensión de derribar el monumento no solo llamó la atención del
gobierno en cabeza del Ministerio de Cultura, sino que, además, gran parte de
la ciudadanía se volcó al apoyo de esta comunidad indígena que buscaba una
restitución simbólica de su memoria.
Sin desconocer el campo de las disciplinas escolares, ni negar los estudios sobre
la enseñanza de la historia, se advierte sobre la necesidad de vincular a la
discusión identidades subordinadas por el mismo ejercicio historiográfico. En
este sentido el presente proyecto de investigación doctoral plantea un abordaje
diferente sobre los estudios del pensamiento histórico. Si se tiene en cuenta que
algunos prejuicios racistas han sido legitimados dentro de una mitología
fundacional colombiana, es posible comprender que el espacio para la
reivindicación de la identidad indígena sea la misma escuela. Esta entrada parte
de la preocupación por comprender que la forma como se enseña la historia en
la escuela crea sesgos racistas que influyen en la construcción de barreras al
acceso a los derechos fundamentales de las comunidades indígenas y su
inclusión en la sociedad en términos de igualdad. Lo anterior es problemático en
la medida que los estándares, los currículos, los planes de estudio, las didácticas
están soportados sobre la concepción de una historia occidental que no ha
involucrado las percepciones, los sentidos y los significados del pasado, de los
recuerdos y los olvidos de las identidades indígenas.
Siguiendo los aportes Van Dijk (2003, citado por Basualdo 2011, p 99) la
concepción de racismo cimentada en lo biológico implica en el plano filosófico,
ético y político, el control sobre la vida y la muerte de una población en su relación
con la superioridad o inferioridad. En este sentido el biopoder que surge en el
siglo XIX pretende mantener el equilibro de grupos poblacionales, creando
políticas para prescindir de vidas de comunidades inferiores en pro de la mejora
de las condiciones de vida y del manteniendo del poder de las clases superiores.
Lo que constituirá una serie de creencias y representaciones sociales que
propician la aceptación de la desaparición de ciertas comunidades inferiores, así
como las prácticas que imposibilitan a estas el acceso a los mínimos necesarios
para sobrevivir y desarrollarse.
La relación del racismo con la educación y este con los textos escolares se
caracteriza por valoraciones de las comunidades indígenas como seres
inferiores, desde la perspectiva de cronistas, historiadores y antropólogos y no
desde su propia voz, así como la realización de actividades didácticas para los
estudiantes que se limitan a mantener la información que sostiene la perspectiva
racista, no permite posiciones críticas ni indagaciones que cuestionen estas 46
visiones, manteniendo la invisibilización de los indígenas y el control al acceso
de los derechos fundamentales con intención de mantenerlos en el plano de
inequidad.
Tomando para el dialogo el trabajo realizado por Carla Peck (Peck & Seixas,
n.d.) para la construir nuevas comprensiones del conocimiento de la historia, la
enseñanza aprendizaje de esta, así como de las herramientas de evaluación de
las habilidades del pensamiento histórico. Considerando la pregunta realizada
por el investigador del departamento de política económica Richard Rothstein,
¿Estamos listos para evaluar los desempeños en historia? (Peck & Seixas, n.d.),
cuestionamiento apropiado en un país como Canadá, donde la educación ha
sido un campo de batalla acerca de los propósitos y enfoques de la educación
de la historia. En este caso como en Colombia la educación se encuentra 48
marcada por las narrativas de héroes y villanos, así como dentro de una
trayectoria lineal desde la conquista hasta la actualidad.
Referencias biográficas
Referência bibliografíca
49
Aman, R., Doctorado, C., Linköping, U. De, & Karlstad, U. De. (2010). El
indígena latinoamericano en la enseñanza: representación de la comunidad
indígena en los manuales escolares europeos y latinoamericanos; Estudios
Pedagógicos XXXVI, N.º 2: 41-50, 2010
50
"DECIFRANDO A HISTÓRIA A PARTIR DE
MANUSCRITOS”: OFICINAS DE HISTÓRIA DO PIAUÍ
NA EDUCAÇÃO BÁSICA – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Antônia Natália de Sousa Arrais 51
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise e discussão acerca da
experiência obtida na realização de oficinas educativas proposta pelo Projeto de
extensão: Decifrando a história a partir de manuscritos: leitura, interpretação e
escrita da história do Piauí colonial.
Metodologia
Resultados e discussões
Uma das cartas utilizadas para construção do material didático foi escrita pelo
mestre de campo Bernardo de Carvalho Aguiar, ao Rei D. João V, que relatava
as guerras e o extermínio contra os grupos étnicos nativos. A partir da análise
dessa carta construímos uma discussão acerca da ocupação e formação do
território do Piauí, ressaltando como este processo de expansão foi genocida, o
perigo que os grupos chamados por “gentio bárbaro” traziam para os
colonizadores, visto que eram populações que resistiam ao processo de
conquista, causando conflitos mais intensos tanto para as autoridades como
para os moradores.
Considerações finais
Diante do debate empreendido até aqui, foi possível percebermos que o projeto
atingiu os objetivos esperados, posto que, através do estudo dos documentos e
leitura da bibliografia recomendada houve a produção de material didático e
apresentação do mesmo em duas escolas nos municípios de Picos e Pio IX.
Dessa forma, com a execução da oficina foi possível contribuirmos no
conhecimento crítico do alunado fora da Universidade, tornando assim o Projeto
executado como uma interseção entre o ensino, pesquisa e extensão. Ademais,
ressaltamos que o Projeto possibilitou um estreitamento das relações entre
universidade e educação básica.
55
A oficina possibilitou trabalhar com cartas e ofícios do Conselho Ultramarino de
forma que foi viável desconstruirmos a homogeneização de grupos étnicos
nativos, havendo ainda uma análise dos processos de dualismo entre nativos
“mansos” e “bravos”, visto que as fontes históricas trazem essa problemática
partindo de um viés eurocêntrico.
Durante a minha participação no projeto desde o ano de 2019 posso afirmar que
apesar das dificuldades enfrentadas, este foi um projeto de extrema importância
para a minha formação, ao ler e analisar os textos orientados pelo professor
coordenador tive um interesse ainda maior pela temática de história indígena fui
me aprofundando e tendo cada vez mais interesse pela questão trabalhada, e
me permitindo também desconstruir discursos sobre a inferiorização
historiográfica da população nativa, como também percebendo o grande perigo
da reprodução de uma história única, sobre os estereótipos e invisibilidade que
ofertamos a essa parte importante da historiografia que por ventura é chamada
de “minorias”, uma história que ainda parte do Colonialismo, em uma visão
eurocêntrica e errônea, esta que ainda é reproduzida na contemporaneidade,
inclusive no ensino de história, e como há esse abismo entre conhecimento
produzido na academia e na sociedade, é que se faz necessária a efetivação de
projetos como esses.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
PINSKY, Jaime & PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma História prazerosa e
consequente. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos,
práticas e propostas. 6ª ed. São Paulo: Editora Contexto, 2016, p. 17-36.
Fonte
Amárica, América,
Ybyrabytanga, Arabotan
Brasis...América..
Eles já foram dezenas de milhões
No continente aguerridos, 60
A lutar contra os grilhões
Mas logo serão esquecidos.
Arcos e flechas não veremos mais
Só tapiris queimando entre os vegetais.
Ferido em princípios tribais,
O valente cacique pede paz
Uma das toadas mais expressivas do boi Caprichoso, sem dúvidas, repleta de
poesia e termos e história por detrás. De início o eu lírico canta e chama América,
a índia América, remetendo também ao possível anagrama para Iracema como
propôs, possivelmente José de Alencar. Ibirapitanga é o nome do Pau-brasil.
Esse nome foi dado pelos colonizadores para designar as terras de Ibirapitanga
ou terras do pau-brasil. Ibirapuera, deriva de Ibirapitanga. Arcos e flechas não
vemos mais, pois diante da situação atual da questão indígenas, a queimada de
sua casa, terras, os “fragilizaram”. Tapiris são moradias em formato circular
cobertos a palhas de alguns grupos indígenas, os tapiris queimando entre os
vegetais remonta às queimadas da Amazônia. Mesmo ferido em seus princípios
étnicos, o valente cacique, que é o chefe dos grupos indígenas, pede paz! A
toada é como um todo um apelo à causa indígena que desde sempre esteve
presente na América.
A toada assim como a anterior é uma lenda amazônica da ameríndia. Ela narra
a formação da Amazônia e a composição de seus diferentes grupos étnicos a
partir de uma diáspora possivelmente ocorrida após a conquista hispânica. Os
índios da Amazônia, teriam viajado pelas águas a partir de Machu Picchu após
a derrocada de Atahualpa pela invasão. Foram as tribos pro leste morar, e se
estabeleceram na Amazônia e se tornaram filhos do Inca: Tariano, Tukano,
Baniwa, Dessana, Bará, todos grupos que ainda hoje residem na região do Alto
Rio Negro falantes da língua tukano, com exceção dos Baniwa que falam aruak.
Cahuapana, Candoa, Parima, Manôa, Yurimá são as lendárias cidades incas nas
quais corriam rios de ouro, e que no imaginário do viajante quinhentista, sua
descoberta acarretaria riquezas aos seus reinos. A incidente fala nas flautas,
alude para as conhecidas “flautas de Pã”, instrumento musical utilizado
amplamente pelas culturas andinas.
Ô, ô, paleoíndio
Eu vi chegar
Os primeiros primitivos
Andarilhos da glaciação
Errantes caçadores 63
Aos bandos predadores
Deixaram desenhos nas pedras de icá
E lascas de cerâmica aroxí
Para onde eles foram?
Restaram-me as pontas de pedras
Usadas nas lanças
Como armas de caça ou de guerra
Amazônia quaternária
Pré-histórica
Dos grandes animais
Javari Ituí
Javari Curuçá
Javari Itaquaí
Bacia dos belos Matsuí
Berço bravo dos Mayoruna-Curuçá
Sina feliz dos Kulina Itaquaí
Braço forte dos Marubo Javari
Cacete de morte dos Kixitos Kaniuá á á...
Vale do Javari
Vale das madeiras
Perola á á...
Palmeiras do Javari
Dos índios arredios
Perola á á...
Nada vale como um Vale de lágrimas
Vale pela vida, pelo sangue dos Mayorunas
Pelo riso dos Matis
Pelo viço dos Kulinas
Pela arte dos Marubos
Pelo cacete dos Korubos
Pelo grito de guerra á á...
Dos Kanamarís... 64
Ê ê ê iê iê ê...
Remate dos males
Atalaia do Norte
Estirão do equador
Pelo riso dos Matis
Pelo viço dos Kulinas
Pela arte dos Marubos
Pelo cacete dos Korubos
Pelo grito de guerra á á...
Dos Kanamarís...
Ê ê ê iê iê ê...
Considerações finais
Ensinar requer uma postura criativa. Ensinar história, requer uma postura criativa
e crítica dos diferentes recursos que podemos utilizar no ensino-aprendizagem.
A história indígena ainda em construção no Brasil alude para uma seara na qual
nós historiadores. O uso da música popular no ensino como apresentou Marcos
Napolitano (2002), tornou a predileta do público e isso alude que “é ela, sem
dúvida, que tem mais condições de tornar-se importante fonte de informações
históricas, de ser investigada no sentido de contribuir para maior compreensão
da produção cultural da nossa sociedade” (BITTENCOURT, 2009, p. 378).
Referências biográficas
Referências bibliográficas
Nesse sentido, vários periódicos surgiram, e entre tanto alguns unicamente para
fins de informações de guerra ou mesmo encorajamento dos combatentes.
Entre esses periódicos, um dos mais aclamados foi o Cabichuí, que nesse breve
trabalho terá o seu volume um analisado com vistas a entender a sua dinâmica
e o muito que pode oferecer em termos de entendimento de um conflito tão
emblemático como a Guerra do Paraguai.
Posto isso, esse trabalho tem como objetivo geral analisar o Cabichuí nº 1 ao
passo que se confronta o seu conteúdo com o vivenciado na Guerra do Paraguai.
Esse trabalho se faz importante por levar em conta o periodismo de guerra, esse
de forma diferenciada dada o seu desfecho e papel que compunha nesse conflito
beligerante e se mostrar como uma grande oportunidade de trabalho com as
fontes, também, no contexto do ensino de história.
Analisando o Cabichui Nº 1
E o processo interpretativo não tardaria, desde a capa (Figura 1), das primeiras
imagens onde já se mostrava um negro sendo picado por um enxame de vespas
agressivas, as cabichuís, e os próprios correspondentes usavam como
pseudônimos os nomes de vespas perigosas. O periódico surgiu em 13 de maio
de 1867 e se manteve ate o dia 20 de agosto de 1868 com periodicidade de duas
vezes por semana em um total de 95 edições (COSTA, 2006; CAPDEVILA,
2007).
68
Na verdade, segundo Costa (2006), muitos dos periódicos desse período foram
criados para fortalecer a moral dos soldados onde as publicações eram feitas em
guarani, espanhol e mesmo em português e, como propaganda, espalhadas nos 69
acampamentos, inclusive brasileiros. Repleto de imagens pesadas, esses
periódicos eram distribuídos gratuitamente entre os membros do exército
paraguaio.
Todo processo contava com a ação direta de López e toda a sua cúpula
administrativa de guerra que guiava e manipulava as informações, ao passo que
direcionavam as informações com vistas favorecer eles.
Mas, se engana quem pensa que esse seria um jornal de guerra apenas atento
aos fatos e fenômenos típicos de um conflito, e nessa direção já garante em sua
primeira página que fará brincadeiras com os acontecimentos da guerra e contra
os invasores.
Não para de fazer referências negativas aos aliados e deixa uma marca ao
referir-se ao brasileiro como macaco. Chama a “Tríplice aliança” de animal
nascida da ambição, iniquidade e crime e diz claramente que essa ficou muito
tempo escondida por vergonha.
E, para o Cabichuí a guerra teria como três grandes culpados: Pedro II, Mitre e
Flores, refere-se a Pedro II como macaco maior, todos unidos contra uma virgem
(o Paraguai).
Tenta apontar Mitre (líder argentino) como ex-aliado e agora destituído de chefe
do exército aliado. Fala da guerra de Curupaity como uma batalha formidável
com vitórias sucessivas para o Paraguai.
“El Mariscal López empleaba todos los medios á su alcance para fortalecer el
espíritu y mejorar en lo posible la moral del ejército. A este fin, á más del
Semanario, que no solo registraba en sus columnas los sucesos de la guerra,
sino que hacía una propaganda tenaz contra los aliados en el sentido de
desacreditar su causa ante la opinión, mandó fundar un periodiquín llamado El
Centinela, […] y otro llamado el Lambaré, que se redactaba en guaraní […] Estos
dos periódicos veían la luz en la capital, y se distribuían profusamente en la
campaña y en el ejército. En Paso Pucú se estableció una imprenta, y por
indicación del Mariscal se fundó un periódico satírico de caricaturas. El que
escribe estas memorias fue encargado de la dirección e redacción del mismo […]
fue aceptada a la idea mía de que fuese llamado Cabichuí” (CENTURIÓN, 1894,
p. 320-321).
Considerações Finais
Uma guerra que foi além das linhas e campos de batalha e atingiu, também, o
imaginário dos quatro povos envolvidos com uma vasta produção de notícias,
imagens e falácias em meio a um grande conflito armado.
Para além das brincadeiras e deslizes éticos cometidos pelo jornal, também
ajudava a levantar o ânimo das tropas em guerra, o que servia também para que 72
esses mesmo que recebendo notícias falsas, mantivessem a esperança em uma
vitória que se avizinhava.
Portanto, com espaço para constantes críticas o Cabichuí escreveu seu nome
na história a partir de uma das maiores guerras do continente americano, a
Guerra do Paraguai, e hoje desponta como fonte de informação e análise do
campo de batalha dessa emblemática guerra e suas muitas versões e desejos
por reparação.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
A História do Ensino de História como objeto de pesquisa é uma área que está
se expandindo, especialmente pelos atuais esforços de pesquisadores e
professores de História em integrar ensino e pesquisa. Desse modo, cada vez
mais o livro didático, como produto central no processo de ensino e
aprendizagem, está sendo utilizado como fonte histórica para problematização
na área do Ensino de História no Brasil. Este artigo tem como objetivo principal
compreender quais temas, sujeitos históricos e valores são enfatizados e
silenciados pelo discurso presente num material didático específico.
Materialidade, autoria, aspectos pedagógicos e historiográficos são questões
essenciais nessa análise.
No total são cerca de 40 ilustrações, das quais mais da metade são retratos de
pessoas, entre brancos colonizadores e indígenas. Maior parte dos
colonizadores representados eram personagens históricos e têm seus nomes
citados na legenda, o que não ocorre com as ilustrações de nativos. Isso indica
um traço dos objetivos dessa narrativa histórica, que é a exaltação de figuras
políticas na construção do ideal de nação. A minoria das ilustrações tem a sua
origem apontada na legenda, o que indica utilização das figuras na perspectiva
de “janelas para o passado”.
Autoria da obra
A partir dos dados presentes no site Memória IBGE, Roberto Bandeira Accioli
nasceu no Rio de Janeiro, em 1910, e faleceu em 1999. Com formação em
Direito, foi professor catedrático de História Geral e do Brasil no Colégio Pedro
II e diretor na mesma instituição. Ocupou cargos públicos na área de educação,
como diretor do Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura,
secretário geral de Educação e Cultura da Prefeitura do antigo Distrito Federal e
membro efetivo do Conselho Federal de Educação (1962). Teve sua carreira
interrompida ao ser aposentado pelo regime militar, por meio do Ato Institucional
nº 5, em 1964.
Esta análise dialoga com a de livros didáticos da Primeira República, nos quais
também é possível identificar o caráter formador atribuído à educação formal e,
de modo especial à disciplina de História. Ao analisar a obra didática de
Esmeralda Azevedo, Magno Santos afirma:
“Se a escola era tida como espaço de formação de novos cidadãos, os manuais
escolares passavam a exercer função correspondente à de guias na orientação
dos sentimentos da juventude. Assim, a civilização brasileira deveria emergir dos
bancos escolares, com a valorização da ordem e dos valores cívicos. Essa
atribuição era atinente a todas as disciplinas escolares. Todavia, a história
passava a exercer protagonismo na disseminação dos valores patrióticos, e isso
exigia recondicionamento do papel da história pátria.” (SANTOS, 2017, p. 206).
Considerações finais
A partir dessa análise foi possível identificar alguns elementos presentes na obra,
que indicam demandas e intencionalidades do Estado brasileiro no contexto da
escrita, em relação ao ensino de História do Brasil. Uma característica
pedagógica da obra é a busca por minimizar os nomes e datas e privilegiar a
narrativa. Também é possível identificar a utilização de ilustrações para enfatizar
o conteúdo do texto escrito, na perspectiva de imagem como “janela para o
passado”. O grupo social mais destacado como protagonista dos fatos narrados
no livro é o composto por homens brancos e luso-brasileiros da elite política.
Referência Biográfica
Referências Bibliográficas
Sahagún aproxima a deusa Cioacóatl da mãe cristã Eva, a qual foi enganada
pela cobra. Segundo o frei franciscano, a tradução de Cioacóatl seria “Mulher da
cobra”, mas também poderia se chamar Tonantzin, cuja tradução é “nossa mãe”.
Então, ele a comparou com a figura cristã da Eva. Para Sahagún, Cioacóatl seria
como Eva, responsável por criar os outros humanos. (SAHAGÚN, 2020 [1577],
p. 35)
Outras deidades femininas dos astecas são aproximadas pelo frei a deusas da
mitologia greco-romana, como é o caso de Chicomecóatl, que é relacionada à
deusa Ceres. Ele descreve essa deusa asteca como responsável pelos
alimentos que se comem e se bebem, enquanto Ceres representava a
agricultura, sendo ela responsável por ensinar os homens a cultivar a terra.
SAHAGÚN, 2020 [1577], p. 51-52)
Essa deusa aparece como uma das principais deidades astecas na obra de
Sahagún, porém, os trabalhos acadêmicos atuais sobre a religiosidade mexica
não abonam essa visão. Segundo os estudos dos historiadores, as principais
deidades do panteão asteca eram aquelas que tinham ligação com grandes
rituais ou com a criação do mundo, dos sóis ou dos humanos, o que não era o
caso de Tzaputlatena. (SANTOS, 2002; WACHTEL, 1990)
Fonte:
Graças a alianças firmadas entre os colonos e grupos rivais dos caetés e das
estratégias de combate dos invasores europeus, pouco a pouco os nativos foram
sendo empurrados para longe do litoral. Some-se a isso a contínua expansão
das vilas e engenhos açucareiros que foram sendo estabelecidos a partir das
guerras de conquista, o que impedia o retorno dos antigos habitantes às suas
terras de origem (ABREU, 1998. p. 39). Além do mais, os poucos sobreviventes
ainda tinham de fugir ou lidar com a escravidão que lhes era imposta pelos
colonos que tencionavam utilizar essa mão de obra na indústria do açúcar.
Outra questão que torna as guerras de conquistas ainda mais aguerridas são os
boatos, correntes à época, que reforçaram a antiga tese de que havia metais e
pedras preciosas em abundância na região do São Francisco. A esse respeito
(FERLINI, 1998, p. 16) comenta que “as preocupações com defesa, fixação de
colonos e descoberta de metais preciosos mesclavam-se sempre a incentivos
para o desenvolvimento da produção de açúcar” (FERLINI, 1998. p. 16).
Algumas lideranças indígenas, por outro lado, que se aliaram aos portugueses
nessas expedições de conquista, tinha o entendimento da importância para a
Coroa portuguesa desse apoio e, em troca disso, negociavam a obtenção de
certos privilégios para si e seus comandados, dentro daquela nova sociedade
que, pouco a pouco, iria se desenhando na América portuguesa. Por outro lado,
outros grupos nativos persistiam na luta para tentar barrar o avanço da empresa
colonial sobre as suas terras, o extermínio e a escravização dos seus
(POSSAMAI, 2012. p. 22-24).
Este cenário era ideal para os mercadores de escravos e para a Coroa, pois
significava a oportunidade de ganhos exorbitantes, pois as terras conquistadas
careceriam de braços para cultivar as lavouras de cana e para fazer funcionar
as engrenagens dos engenhos de açúcar. E, sendo os portugueses os maiores
exploradores do tráfico negreiro na época e com as taxações inferidas naquele
negócio pela Coroa, essa atividade rendeu muitos lucros para o reino.
(ALBARNEZ, 1640)
(...) a destruição dos índios da costa, por doenças, abusos ou guerras, também
impulsionava os colonos a se internar nos sertões, agora em busca de mais mão
de obra necessária para os engenhos de açúcar, cuja economia crescera nas
décadas de 1570-1580. Esta política de deslocamento forçado de indígenas se
fazia no exato momento da transição do trabalho forçado para o importado, isto
é para a escravidão africana. Por outro lado, os grupos indígenas aliados ou
pacificados permitiam uma margem de segurança à empresa colonial perante as
ameaças externas (PUNTONI, 2009. p. 29,30 e 49).
Não seria exagero frisar o quão desagregadoras eram essas expedições para
os nativos, haja vista que, no desenrolar desse processo de lutas sangrentas,
aldeamentos e etnias foram dizimados e os sobreviventes que não caíram nos
grilhões da escravidão adentraram para os sertões da capitania, buscando fugir
do extermínio e da escravização que lhes estavam sendo impostos. Naqueles
novos territórios buscaram ressignificar e preservar as suas tradições e modos
de vida.
Portanto, nomeá-los como indígena é algo que os invisibiliza e lhes tira o direito
a terem a sua identidade cultural reconhecida quais se lhes remetem a sua
cultura ancestral. Desta forma, em sua prática docente, o historiador deve se
utilizar de sua expertise e erudição para trabalhar este tema em sala de aula.
Buscando, assim, para revisitar, no sentido da ressignificação, da história dos
povos nativos do Brasil.
Ainda sobre isso, a historiadora Antonia Terra (TERRA, 2020), nos mostra que
a história deste país foi construída com base na diversidade de sujeitos
históricos, incluindo nações invasoras e povos que aqui viviam ou que foram
trazidos para cá. Mas a História contada na escola tem desde muito tempo
excluído esses povos formadores como se fossem apenas coadjuvantes e não
protagonistas da história nacional. Obedecendo a uma lógica, firmada ainda no
século 19 por uma historiografia comprometida com os valores da elite de sua
época, que escolheu identificar a história por meio do falseamento histórico,
segundo a qual a história do Brasil foi forjada graças à exclusividade do
protagonismo do europeu e seus descendentes.
É essa história que deve ser trabalhada em diálogo com os estudantes, onde
esses grupos têm a sua humanidade reabilitada e posta em relevo, diante das
lutas que travaram visando a sua sobrevivência e a preservação de suas
práticas culturais ao longo dos séculos. Mostrando-os como elemento histórico
indissociável do processo de formação de nossa cultura (NAPOLITANO,2010).
Assim uma nova narrativa embebida em novas discussões trazidas pelos novos
temas, objetos, pesquisas e documentos construídos a respeito da história dos
povos nativos deve ser dada a conhecer ao conjunto da sociedade brasileira.
Referência biográfica
Referências bibliográficas
FERLINI, Vera Lucia Amaral. Terra, Trabalho e Poder: o mundo dos engenhos
no Nordeste colonial. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.
SILVA, Maria Beatriz Nizza. Ser nobre na Colônia. São Paulo: Editora UNESP,
2005.
Além disso, o referido livro didático, de forma sutil e talvez despretensiosa, acaba
segregando as culturas indígena e europeia (espanhola), apresentando-as
minimamente e de forma sempre específica (apartada), quando a realidade da
vida do povo mesoamericano neste período, como mostra o historiador Serge
Gruzinski, era um emaranhado cultural muito diversificado (GRUZINSKI, 2003).
Portanto, o material não propicia ao estudante a possibilidade de entrever essas
conexões.
No que diz respeito a esta diversidade de relações étnicas no contexto da
colonização da Mesoamérica, há uma aproximação, ainda que bastante
sintética, do material didático com a historiografia. Assim como León-Portilla
(LEÓN-PORTILLA, 2012), Stern busca enfatizar as diferenças (especificidades)
e a não universalidade dos povos americanos nativos – reunidos pelos
colonizadores na categoria de “índios” (STERN, 2006). Entretanto, há uma 100
aproximação relativa da historiografia com o material didático neste aspecto: o
capítulo pretende abranger os dois pontos de vista. O enfoque dado pelo capítulo
é regional, ou seja, não muito ligado ao que acontecia no leste do Atlântico. Mas
existe toda a narrativa das ações dos europeus e do mundo que eles
encontraram no início do processo de colonização. E também há a narrativa das
ações indígenas e das suas partes na relação com os europeus (COTRIM;
RODRIGUES, 2018, p. 127 - 129). Contudo, na escrita do material didático o
personagem do indígena é muito mais objeto do que sujeito, e o personagem do
europeu, por sua vez, é muito mais protagonista que coadjuvante ou
antagonista.
A partir desta análise do livro didático para o ensino fundamental percebe-se que
o docente precisa estar muito consciente acerca do material com que trabalha,
das suas opções e recortes teóricos e metodológicos a fim de orientar seus
objetivos didáticos. Assim, os recortes e opções dos historiadores professores
são fundamentais, pois contribuem sensivelmente para as representações que
a sociedade forma sobre estes grupos. Contudo, ainda persistem ideias
bastantes problemáticas convencionadas no senso comum, como a da
passividade dos indígenas e mesmo o pensamento de que “indígena é coisa do
passado” (SANTOS, 2014).
Referências biográficas
Referências bibliográficas
SCOTT, Ridley. 1492 - A conquista do paraíso. Produção: Mimi Polk Gitlin, Alain
Goldman. Roteiro: Roselyne Bosch. Gravação de produtoras Gaumont Film
Company, Légende Enterprises, France 2, Due West, CYRK Films. Espanha:
Paramount Pictures, Pathé, 1992. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ip9H_2MjWJY. Acesso em: 26 abr. 2021.
STERN, Steve. Paradigmas da Conquista: História, Historiografia e Política. In.
BONILLA, Heraclio. Os conquistados: 1492, e a população indígena das
Américas. Tradução: Magda Lopes. São Paulo: Hucitec, 2006. 426 p. p. 27 a 64.
Introdução
Gráfico produzido pela autora com base nos dados disponíveis no Portal do
INEP
Fonte: http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos; Acesso em: 23 de julho de
2020.
A questão acima trata da busca pela criação de uma identidade nacional, pode-
se concluir que esta não se apropria das questões pertinentes ao protagonismo
dos povos indígenas para a expansão territorial. Como esclarece na tese: Tupis,
Tapuias e Historiadores: Estudos de História Indígena e do Indigenismo, o autor
John M. Monteiro, intelectual que aglutina trabalhos dentro da historiografia o
qual considera os índios como sujeitos históricos. “De fato, o isolamento dos
índios no pensamento brasileiro, embora já anunciado pelos primeiros escritores
coloniais, começou a ser construído de maneira mais definitiva a partir da
elaboração inicial de uma historiografia nacional, em meados do século XIX.”
(MONTEIRO, 2001)
Figura 3
Prova do ano de 2011 - Disciplina da História - Questão: 118- Resposta-
(E) Fonte: http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos; Acesso em: 10 de
julho de 2020.
A forma com que a historiografia abordou o tema indígena foi por muito tempo
bem limitada, “A ausência quase total de fontes textuais e iconográficas
produzidas por escritores e artistas índios por si só impõe uma séria restrição
aos historiadores.”(MONTEIRO,2001). E isso acabou por propagar formas de 112
fazer história que emergiam em cada momento. “De certo, a poderosa imagem
dos índios como eternos prisioneiros de formações isoladas e primitivas têm
dificultado a compreensão dos múltiplos processos de transformação étnica que
ajudariam a explicar uma parte considerável da história social e cultural do
país”(MONTEIRO,2001).
Ao utilizar a frase “Mais uma vez”, no texto I da questão, Marcos Terena pode
está fazendo menção indireta a chegada dos portugueses missionários ao Brasil.
Ronald Ramieli em seu livro Imagens da colonização: A representação do índio
de Caminha a Vieira, aborda representações do índio, escritas e gráficas, entre
os séculos XVI e XVII e esclarece que a suposta superioridade europeia
respaldava a conquista, a colonização e a catequese usada “sobre a
degeneração promovida pelos séculos de isolamento” na intencionalidade de
transformar os povos indígenas em cristãos. Ainda segundo o autor, o padre
Manoel da Nobrega, por exemplo, concebia os nativos como página em branco.
Já o Padre Anchieta destacava o povo Ibiraiaras por sua inteligência e mansidão
dos costumes(RAMINELLI, 1996). No entanto, à medida que pautamos as lutas
e cultura dos povos indígenas, esta prática propicia uma visão mais ampla dos
fatos. Nasce, então, a problematização dos interesses, desencontros e erros
(intencionais ou não) ao longo da construção da história desses povos.
Conclusão
De fato há um grande alcance das ideias presentes nesses exames, para além
das pessoas que fazem a prova também deve-se considerar que os demais
agentes envolvidos neste processo são atingidos pelos discursos presentes nas
questões. Inicialmente, uma análise imediata das questões analisadas, nos
levou à percepção de que elas não têm levado em consideração um processo
de luta, cotidiano ou cultura de um coletivo.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
SANTOS, José Luiz dos, 1949- O que é cultura / José Luiz dos Santos. São
Paulo : Brasiliense, 2006. - (Coleção primeiros passos ; 110). Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5767487/mod_resource/content/1/O%2
0que%20%C3%A9%20Cultura%20%20-
%20Jose%20Luiz%20dos%20Santos.pdf; Acesso em: 29 de abril de 2021.
FONSECA, Dante Ribeiro da. Das bandeiras às fronteiras: São Paulo, Belém e
a expansão a oeste de Tordesilhas. A Defesa Nacional, revista de problemas
militares e assuntos de problemas brasileiros. Rio de Janeiro, Biblioteca do
Exército – BIBLIEX. Ano CV, no. 834, 3º. quadrimestre de 2017, ISSN 0011-
7641. Disponível em:
http://www.uel.br/cch/his/ISNHM/AnaisPDF/danterfonseca.pdf; Acessado em:
29 de abril de 2021.
Gregoleti
Introdução
Desenvolvimento
“Si algún Paraíso se puede decir en la tierra, es donde se goza un temple tan
suave y apacible. Porque para la vida humana no hay cosa de igual pesadumbre
y pena, como tener un Cielo y aire contrario, y pesado, y enfermo; ni hay cosa
mas gustosa y apacible, que gozar de el Cielo y aire suave, sano, y alegre. [...]
Este rodea nuestros cuerpos: éste nos entra en las mismas entrañas y cada
momento visita el corazon, y así le imprime sus propriedades. Si es aire corrupto,
entantico mata: si es salubre, repara las fuerzas; finalmente, solo el aire podemos
decir que es toda la vida de los hombres. Así que aunque haya mas riquezas y
bienes, si el Cielo es desabrido y mal sano, por fuerza se há de vivir vida penosa
y disgustada. Mas si el aire y Cielo es saludabre, y alegre y apacible, aunque no
haya de outra riqueza, da contento y placer” (ACOSTA, 1894, p. 162).
Como exemplo tem-se os registros sobre a Erva Petum. Descrita pelo francês
André Thévet (1502-1590) na obra “As singularidades da França Antártica”,
também é relatada por Jean de Léry (1536-1613) em sua “Viagem a Terra do 121
Brasil”. A partir da observação dos moradores do Novo Mundo a planta é “[...] de
grande estima entre os selvagens [...]” (LÉRY, 1961, p. 141). Fazendo o uso das
similitudes, Thévet (1978) afirma que era semelhante às “língua-de-vaca”, já
conhecidas na Europa, e seu uso assemelha-se ao descrito por Léry (1971) em
que “[...] colhem-na e preparam em pequenas porções que secam em casa [...]”
(LÉRY, 1971, p. 141). Thevet (1978) narra que “[...] depois de estar seca,
envolvem uma certa quantidade dela numa folha de palmeira [...]”, posteriorente
“[...] acendendo uma das pontas, aspiravam a fumaça pelo nariz e pela boca [...]”
(THEVET, 1971, p.110), registrando as maneiras de usar o elemento.
Conclusão
Referências Biográficas
Fontes
ACOSTA, Joseph de. Historia Natural y Moral de Las Indias, Bde. Madrid [1590],
1894
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província
Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal,
Conselho Editorial, 2008.
LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. [S.I.]: Biblioteca do Exército, 1961.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil. São Paulo: Brasiliana,
1971.
CERTEAU, Michel de. La cultura en plural. Buenos Aires: Nueva Visión, 1994
LEE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Una historia del cuerpo en la Edad
Media. Barcelona: Paidós, Ibérica, 2005.
127
Este hecho indicó claramente la inestabilidad de esa frontera norte virreinal ante
los ataques indios, a lo que se sumaba también la amenaza continua y constante
de Francia e Inglaterra (y un poco más delante de los nacientes Estados Unidos
de América), así como de comerciantes y bandidos, cuando no ambas cosas a
la vez, provenientes generalmente de la colonia francesa de Luisiana y, por
descontado, de los propios residentes de todo tipo de la porción española.
Y, por si todo esto no fuera suficiente, tampoco los vecinos de las villas se
mostraban siempre dispuestos a defender sus regiones respectivas, a no ser 129
ante el peligro inminente de invasión nómada comprobada, aunque regularmente
situando reparos y obstáculos para su participación en los destacamentos
armados que eran convocados a formar, cuando no también con los recursos
que los vecinos debían aportar.
Pero no podía ser de otra manera en general, pues los resultados de los ataques
nómadas despertaban entre los hispano-criollos y sus aliados pusilanimidad y
miedo, cuando no pavor o un terror pánico, ante dichos atacantes. Por ello eran
comunes las críticas por “retirarse con cobardía o escusarse con frivolidades”
ante estos ataques, mientras que los colonizadores justificaban sus temores
diciendo que un solo indio significaba una efectividad en el combate de media
docena o más de militares y milicianos hispanos y criollos.
Por otra parte, también hay que argumentar que los hispano-criollos tomaban a
la sazón medidas vesánicas contra estas tribus nómadas, clamando por el
exterminio (sic) de los indios, así como por el destierro perpetuo de los mismos
de la tierras del Septentrión. Ello se verificaba con mucha fuerza hacia La
Habana, Cuba, tanto para trabajar como esclavos en la construcción y
reconstrucción de sus fortalezas -tras la retirada británica de La Habana en 1763
y las continuas asechanzas de Inglaterra y Francia en las décadas que se les
continuaron-, mientras las mujeres y las niñas y niños eran enviados a engrosar
la terrible institución de la esclavitud doméstica entre los vecinos pudientes, altos
funcionarios y militares e incluso instituciones diversas de la Iglesia católica.
Para que se tenga una idea del estado de malestar y de alarma que causaron
los ataques de esos bravos nómadas y esclavos de la Isla, sólo entre fines del
siglo XVIII y casi las dos primeras décadas del siglo XIX, es decir, en una
veintena de años, se destinó casi la mitad del presupuesto del Real Consulado,
para combatir a dichos sublevados, a quienes denominaban como
“Yndios”. Destacamos esta información a falta de cifras más concretas, dado el
ocultamiento de la información al respecto.
Referência biográfica
Dr. Hernán Maximiliano Venegas Delgado (1946) y Dr. Carlos Manuel Valdés
Dávila, Profesores-Investigadores de la Escuela de Ciencias Sociales,
Universidad Autónoma de Coahuila, México.
Referências bibliográficas:
Fuentes Archivísticas:
Bibliografía
GÁLVEZ, BERNARDO. Noticia y reflexiones sobre la guerra que se tiene con los
apaches en la provincia de Nueva España, por ms de D. Bernardo de Gálvez.
publicado y anotado por Felipe Teixidor, en Anales del Museo Nacional de
México, Nº. 3, 1925, págs. 537-555, bajado de:
https://scholar.google.com.mx/scholar?hl=es&as_sdt=1%2C5&q=NOTICIA+Y+
REFLEXIONES+SOBRE+LA+GUERRA+QUE+SE+TIENE+CON+LOS+APACH
ES+EN+LA+PROVlNCL%5C+DE+NUEVA+ESPA~A+MS.+lllU%3E.+BERXA.R
DO+DE+%28+~AI%2CVEZ+&btnG=
VALDÉS DÁVILA, Carlos Manuel. Los bárbaros, el rey, la iglesia. Los nómadas
del noreste novohispano frente al Estado español. Saltillo, México, Universidad
Autónoma de Coahuila, Quintanilla Ediciones, 2017, 453 p.
De 2001 a 2014, passando pela lei 11.645/2008, que obriga o ensino da cultura
indígena, percebe-se algumas mudanças, sobretudo, com a aparição mais
detalhada dos povos, menos estereótipos, livros que se contradizem, todavia,
alguns preceitos se perpetuam, como frases e parágrafos idênticos em
diferentes livros e edições, defendendo a hegemonia de um processo violento
contra os povos, mostrado e comprovado a partir da análise de livros didáticos
da Editora Scipione.
Por fim, a pesquisa entra na análise dos exercícios propostos pelos livros, visto
que não há grande diferença entre os livros didáticos analisados antes e depois
da lei n° 11645/08. Também foram analisadas as fontes utilizadas para compor
os livros. Constatamos uma maior quantidade de fontes sobre a abordagem
indígena nos livros mais antigos, porém, muitas fontes são clássicos ou
pesquisas que datam da primeira metade do século passado, portanto, ainda
carregadas de estereótipos que já poderiam ter sido eliminados, além de utilizar
muitas pesquisas feitas por europeus, reforçando ideias ideologicamente
defendidas, que não deveriam estar em livros didáticos. Quando vamos para a
análise dos livros mais atuais, encontramos menos quantidade de fontes, porém,
elas são bem mais contemporâneas do que as utilizadas nos livros mais antigos. 136
Contudo, essas fontes são bem generalizantes, ou dão enfoque aos
personagens colonizadores como os bandeirantes. Por fim, podemos verificar
um padrão nos autores que escreveram os livros didáticos: quase sempre eles
escreveram todos os materiais analisados; alguns, sem formação em História,
mas Bacharelado em Ciências Sociais, ou com formação em História, porém,
nenhuma especialização na temática indígena. Podemos inferir que o discurso
é replicado, com algumas variações e nuances.
Referências biográficas
Referências bibliográficas:
COSTA, Luís César Amad; MELLO, Leonel Itaussu A. História Geral e do Brasil:
da Pré-história ao século XXI. São Paulo: Scipione, 2008.
Introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar informações a respeito dos cursos de
graduação em História das universidades públicas do Brasil no que tange à
presença de disciplinas de histórias indígenas em suas grades curriculares,
tendo em vista o conteúdo proposto nas ementas dessas disciplinas, além de
discutir brevemente sobre a relação da temática com disciplinas de História das
Américas e do Brasil. Ademais, será também abordado sobre a importância do
estudo de história indígena no ensino superior e, no que nos cabe, nos cursos
de História, considerando o lugar do conhecimento histórico e dos que exercem
o ofício.
E completa:
Podemos perceber que as regiões Norte, Centro Oeste e Sul do país, tendo em
vista a oferta de disciplinas e considerando a falta de informações, são as que
mais dedicam espaço nas grades curriculares de seus cursos ao ensino da
temática, mesmo a presença indígena sendo significativa em estados do
Nordeste e Sudeste.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
DE CARIE, Nayara Silva; DE OLIVEIRA LIMA, Pablo Luiz. Da história dos índios
às histórias indígenas: descolonizando o ensino de história. Educação (UFSM),
v. 43, n. 4, p. 773-790, 2018.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo (Nova edição). Editora
Companhia das Letras, 2019.
146
GUIMARÃES, Manoel Luis Lima Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o
Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história
nacional. Revista Estudos Históricos, v. 1, n. 1, p. 5-27, 1988.
Introdução
A Marcha Para o Oeste foi o movimento Varguista que a partir do Estado Novo
visou o povoamento, a integração e o desenvolvimento das regiões Centro Oeste
e Norte do Brasil. A Missão Oeste do Brasil foi um projeto missionário da Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUS) que, entre as décadas de 1920 a
1960, empreendeu a evangelização protestante no Estado de Goiás, dentre
outros estados. No pressuposto de que há concomitância temporal entre os dois
movimentos, esta pesquisa será desenvolvida numa perspectiva dialógica entre
ambos.
Embora, em primeira análise, a Missão Oeste do Brasil tenha tido início antes
mesmo do projeto expansionista de Getúlio Vargas, a efetivação desse abriu
portas para o desenvolvimento daquela. O objetivo aqui é, portanto, identificar e
refletir sobre como esta ação missionária presbiteriana se desenvolveu no
compasso da Marcha Para o Oeste.
A história da Igreja Presbiteriana do Brasil, tem como marca, entre outras, a ação
missionária intencional e organizada. A chegada do presbiterianismo ao Brasil 148
se deu a partir do movimento missionário norte-americano do século 19
(MATOS, 2009). Seu fundador foi o missionário americano Rev. Ashbel Green
Simonton (1833-1867), que chegou ao Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro
em 12 de agosto de 1859. Este foi enviado ao Brasil pela Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos da América (PCUSA).
“Seu trabalho no Brasil estendeu-se por poucos anos, nos quais, além da Igreja
do Rio de Janeiro, ele criou um jornal (Imprensa Evangélica), um pequeno
seminário e o primeiro concílio da nova denominação, o Presbitério do Rio de
Janeiro, organizado em 1865. O pioneiro faleceu aos 34 anos, vitimado pela
febre amarela. Em 1860 e 1861 haviam chegado para ajudá-lo dois colegas –
Alexander Blackford e Francis Joseph Christopher Schneider. Outros mais
vieram nos anos seguintes, como George Whitehill Chamberlain e Robert
Lenington”.
Ribeiro (2008) atesta que o protestantismo nos centros urbanos, nesse contexto,
desenvolvia-se a passos lentos, mesmo em cidades em franco crescimento,
como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre, uma vez sua
mensagem não alcançava a classe dominante, ainda fortemente imersa no
catolicismo, o qual predominava não apenas por questões religiosas, mas
também políticas.
“Por encontrar maior resistência ao seu crescimento nos centros urbanos, onde
o catolicismo assumia uma postura dominante pela presença física tanto das
igrejas como dos párocos, o protestantismo buscou terreno para seu
crescimento no ambiente rural. Seguindo o caminho da expansão cafeeira [...],
os missionários protestantes investiram na evangelização dos interiores,
penetrando pelas zonas rurais da província de São Paulo e zonas fronteiriças da
província de Minas Gerais, dali se encaminhando para toda a área do cinturão
caipira delimitado por Antônio Candido (2001) indo até Mato Grosso e Goiás,
áreas distantes fisicamente da Igreja Católica e fora dos patrimônios dos santos
de devoção” (RIBEIRO, 2008, p. 115).
Entretanto, para além da análise empreendida por Ribeiro (2008), verifica-se que
a chegada da MOB em Goiás se dá em um contexto de desenvolvimento e
modernização do território sob as projeções varguistas de ocupação
populacional e expansão econômica das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.
No estado de Goiás, projetos como a Colônia Agrícola Nacional de Goiás
(CANG) e o aumento da malha rodoviária foram marcos desse movimento, como
será discutido no próximo tópico. A transferência da capital goiana em 1937 da
Cidade de Goiás para a recém-criada Goiânia, também fora um fator motivador
para a chegada de missionários da Missão Oeste do Brasil.
Vale salientar que, de acordo com Arnold (2012), muitos colonos que ocuparam
a cidade de Ceres eram presbiterianos, o que contribuiu para o rápido
crescimento do presbiterianismo na região. Segundo Pádua (2007), a
distribuição dos lotes de terra ocorreu de forma gratuita numa área de
aproximadamente 106 mil hectares, sendo que cada lote media de 20 a 30
hectares cada. Para a autora, a implantação da Cang foi de certa forma bem
sucedida, uma vez que o regime de pequena propriedade resistiu, ainda que
temporariamente, fixando parcela dos imigrantes nessas glebas. Apesar da falta
de distribuição de créditos aos pequenos produtores, da grande distância dos
centros consumidores e da forte dominação do capital mercantil em Goiás, a
implantação da Cang promoveu assentamento para milhares de pessoas,
favoreceu o parcelamento de terras e a produção agrícola alimentar em Goiás
de forma significativa na primeira metade do século passado.
“Nos dias atuais, a “Belém-Brasília” [...] e a “Estrada do Boi” (GO-164), que liga
a cidade de Goiás à BR-153 à altura de Alvorada do Tocantins, através do vale
do médio Araguaia, já contam uma outra história: a das transformações mais
recentes do espaço ocorridas em nosso Estado, sobretudo a partir dos anos
1940. Com toda evidência, elas foram, ao lado da Estrada de Ferro Goiás, os
caminhos que maiores impactos produziram na vida socioeconômica e política
dos Estados de Goiás e do Tocantins. Por exemplo: a “Belém-Brasília” tirou do
isolamento em que se encontrava até praticamente os anos 1950 toda a
Mesopotâmia goiana – a extensa região situada entre os rios Tocantins e
Araguaia –, incorporando-a definitivamente à economia de mercado” (TEIXEIRA
NETO, 2009, p.12).
Referências biográficas
Dra. Luana Nunes Martins de Lima, docente do curso de Geografia e do
Mestrado em Estudos Culturais, Memória e Patrimônio (PROMEP) da
Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Referências bibliográficas
ARNOLD, Frank L. Uma Longa Jornada Missionária. São Paulo: Cultura Cristã,
2012.
MATOS, Alderi Souza de. Uma Igreja Peregrina. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
Esse texto tem como objetivo relatar uma experiência em uma aula de história
que ocorreu em uma turma do 8º ano do ensino fundamental no Colégio Estadual
Governador Lourival Baptista, localizado na cidade de Porto da Folha, Sergipe.
Em uma das aulas de história no mês de abril de 2019 foi proposto a leitura e
declamação de um cordel com 24 estrofes em formato de sextilha, sobre a
temática das representações da cultura indígena Xocó, a iniciativa faz parte de
um projeto escolar que foi batizado no colégio com o nome de rimando, rimando
a história vamos estudando, esse consiste nas produções de cordéis que são
apresentados, declamados aos alunos no momento em que será introduzido,
iniciado um novo conteúdo em ensino de história, pois
“Esta nação, no século passado, era bastante numerosa, vivia com tranquilidade,
trabalhando e desfrutando das riquezas da terra. Não demorou muito para a paz
ser interrompida, com a chegada, na região, de um senhor, que se dizia dono
das terras, conhecido como coronel, João Porfírio de Brito, em que, invadiu as
terras, e brutalmente, violentou e expulsou o povo indígena à custa de
“pancadas” e chicotadas com o auxílio dos jagunços, como comenta uma
professora da escola indigenista e também remanescente da tribo Xocó em”
(Povo Xocó, SEED: 8)
O cordel trabalhado com os alunos, em sala de aula, foi construído apresentando
a história do povo xocó, principalmente os acontecimentos da década de 1970,
período em que ocorreu a reconquista das terras da Caiçara, que estava nas
mãos de um latifundiário que invadiu as terras e muito maltratou o povo xocó,
para essa luta de reconquista foi de fundamental importância o apoio das CEBs
(Comunidades Eclesiais de Base), ligada à Igreja Católica Romana, através de
seu bispo a época, Dom José Brandão de Castro que chefiava a Diocese de 154
Propriá, Sergipe, esses momentos de apoio se davam através da organização
de romarias da terra, onde muitos religiosos da diocese acompanhavam o bispo
e padres como Frei Enoque Salvador de Melo, essa corrente de pensamento
estava atrelada a teologia da libertação, movimento que ganhou destaque no
Brasil na década de 1970, se destacando também na luta contra a ditadura militar
no Brasil.
O cordel também tratou em suas 24 estrofes sobre a relação dos índios xocós
com a natureza, e com o rio São Francisco, a necessidade de conservação e
preservação desse, as canoas de toldas que durante muitos anos era o principal
meio de transporte entre a comunidade e outras cidades, a exemplo de Propriá
que durante muito tempo era o principal polo comercial da região. A religiosidade,
crenças do povo xocó foram narradas nas estrofes do cordel, assim como o ritual
do toré, e a festa de seu padroeiro São Pedro, a maioria do povo xocó são
católicos, tendo o Frei Doroteu como seu pioneiro colonizador, implantando os
ensinamentos do catolicismo na comunidade.
Trabalhar com o cordel em sala de aula, com a temática sobre a história e cultura
do povo xocó, também procurou estabelecer o aprofundamento dos alunos com
a sua história local, próxima da realidade desses alunos, objetivando o seu
desenvolvimento social, afetivo, construindo suas identidades em contato com
os outros e os elementos culturais advindos de sua região. A cidade de Porto da
Folha tem uma rica diversidade cultural, representada pelas manifestações
culturais dos vaqueiros do sertão e seus modos de vida, da comunidade
quilombola do Mocambo e suas expressões artísticas e culturais, e a única tribo
indígena de Sergipe, objeto de estudo e discussão deste trabalho, onde o uso
do cordel em sua forma declamada e escrita é dinâmico, criativo, lúdico,
possibilitando as mais variadas situações de contato com a cultura, formas de
expressão e arte dos povos indígenas como os xocós, pois
“No que diz respeito ao trabalho com a Literatura de Cordel na sala de aula se
dar devido a grande proporção que a cultura popular tem na sociedade, já que a
Literatura de Cordel é conhecida como patrimônio histórico e cultural do povo
nordestino e brasileiro. A utilização do Cordel no ambiente escolar deve explorar
todas as possibilidades de sentidos oriundos do texto como as vozes sociais que
tratam de vários temas” (SILVA, 2016, p. 8)
Referências biográficas
Referências bibliográficas
DANTAS, Beatriz Góis; DALLARI, Dalmo de Abreu. Terra dos índios Xocó:
estudos e documentos. São Paulo: Comissão Pró-Indio /São Paulo, 1980. - Povo
Xokó – Livro impresso: Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
FONSECA, Selva Guimarães. História local e fontes orais: uma reflexão sobre
saberes e práticas de ensino de História. História Oral (RJ), v. 9, p. 125-
141,2006.
SANTOS, Ary Leonan Lima. Utilização do cordel como ferramenta para o ensino
de história: conceitos, repertórios e experiências. 2018.102f. Dissertação
(Mestrado Profissional em Ensino de História) – Universidade Federal de
Sergipe, São Cristóvão, 2018.
SEED. Povo Xocó: Histórias que marcaram nossa vida. (colab.) Eliane Amorim
de Almeida / (coord.) Maria da Conceição S. G. Mascarenhas. Secretaria de
Estado da Educação do Desporto e Lazer. Aracaju:
MEC/SEF/CGAEI/SEED/DED/DEF/NEI,
2000.
158
PROPOSTA INTERDISCIPLINAR ENTRE MATEMÁTICA
E HISTÓRIA NUMA COLEÇÃO MATEMÁTICA
INDÍGENA DO ESTADO DE MATO GROSSO
Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk 159
As origens
Iniciaram trezentos alunos, de trinta e uma etnias diferentes que passaram por
dez etapas durante a capacitação que ocorreu em serviço, ou seja, esses
docentes já estavam em sala de aula nesse período. Algumas etapas presenciais
demandaram dias de férias escolares, respeitando as particularidades de cada
professor; sendo descentralizadas em cinco polos para facilitar a articulação:
Juína, Canarana, Campinápolis, Xingu (Alto) e Xingu (Médio).
A iniciativa
O material
A coleção permite seu uso tanto pelos docentes quanto pelos discentes. No caso
dos professores, serve como guia para definir e planejar as aulas a partir dos
objetos de conhecimento apresentados (MATO GROSSO, 2021, p. 5); para os
estudantes como mediador da compreensão e construção de conceitos
matemáticos (MATO GROSSO, 2021, p. 5). Nas duas situações há uma
contextualização da realidade para todos os envolvidos na educação,
valorizando práticas da etnomatemática da cultura indígena.
O livro Matemática Cinta Larga contou com Adriana Maãn Cinta Larga, Ana Terra
Cinta Larga, Beatriz Cinta Larga, Carlos Man Cinta Larga, Edir Cinta Larga,
Felipe Kakin Cinta Larga, Fátima Cinta Larga, Jorge Cinta Larga, Luciano Cinta
Larga, Luis Cinta Larga, Milton Cinta Larga (Juína), Milton Cinta Larga 161
(Aripuanã), Rosana Cinta
Larga, Sônia Cinta Larga, Ricardo Cinta Larga, Valda Cinta Larga que atuaram
como autores dos textos e das ilustrações.
O exemplar conta com História da Matemática do Povo Cinta Larga; seguido por
Noções de grandeza, Números e desenho, Formas de medida do Povo Cinta
Larga, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, As formas geométricas dos
artesanatos, Pinturas corporais, O tempo na cultura Cinta Larga, Calendário do
Povo Cinta Larga; seguidos pelo Jogo da Serpente e Jogo da Memória;
finalizando com Página de Exercícios.
No exemplar Matemática Myky figuram entre autores dos textos e das ilustrações
Kawyxi Myky, Jaukai Myky, Umena Myky, Kiwuxi Myky, Wajakuxi Myky,
Jaapatau Myky, Kawyxi Myky e Tupy Myky. A disposição dos assuntos
compreende A grande caçada, Matemática Myky, Formas geométricas,
Contando na língua dos Myky, Sequência dos números, Conjuntos, Adição,
Subtração, Multiplicação, Divisão, Medidas, Tempo, Calendário anual, Formas
geométricas no cotidiano da aldeia, Jogo da memória.
O livro Matemática Terena teve a autoria dos textos e das ilustrações por apenas
uma pessoa, Sirlene Correia Da Silva Terena. Os assuntos seguem a ordem: A
Matemática do Povo Terena, Noções de posição, Noções de grandeza, Adição,
Subtração, Multiplicação, Divisão, Matemática presente nas pinturas, Números
ordinais, Números ímpares, Números pares, Números e desenhos, Jogo da
memória e Página de exercícios.
A proposta
Em nove dos onze livros da coleção existe um tema em comum que introduz os
assuntos que serão abordados e permite o diálogo inicial entre as disciplinas de
Matemática e História que pode ser explorado, considerando as informações
sócio-históricas que se delineiam até alcançar seu objetivo matemático (História
da Matemática do Povo Cinta Larga, A Matemática do Povo Haliti-Paresi, História
da Matemática do Povo Kayabi, Matemática do Povo Nambikwara do Vale, A
Matemática dos Katitaurlu, Matemática do Povo (Sabane), História da
Matemática do Povo Zoró, A Matemática Rikbaktsa, A Matemática do Povo
Terena). Trata-se de um referencial que contempla as origens de cada povo e
como passaram a perceber a Matemática em seu cotidiano, usando como base
seus antepassados e referindo-se temporalmente à eles como “antigamente”.
Apenas nas obras das etnias Manoki-Irantxe e Myky eles não estão presentes.
164
Outros capítulos que permitem essa articulação são aqueles que tratam das
pinturas corporais especificamente (Cinta Larga, Haliti-Paresí, Nambikwara-
Sabane) e o Matemática presente nas Pinturas dos Terena que além de
buscarem apresentar as concepções geométricas dos desenhos, ressaltam
questões de pertencimento e estratificação social dentro de cada etnia, além de
usos em datas importantes. E ainda, o tema Origem das Pinturas do Povo
Irantxe-Manoki desenvolve suas concepções mitológicas a respeito dessa
manifestação e A Matemática nas Pinturas Corporais dos Nambikwara do Vale
do Guaporé demonstram essa representação como prática religiosa e de guerra
indo muito além da questão estética.
O tempo também é abordado sob o viés cultural de cada etnia, sendo trabalhado
O Tempo na Cultura Cinta Larga que tem referenciais nos astros e na natureza
para mensurá-lo; o Tempo (Myky e na Haliti-Paresí) onde naquela aparece como
base as estações do ano e o uso de uma corda com nós como objeto para marcar
o tempo, e nesta última a divisão entre o tempo da seca e o da chuva que orienta
todas as atividades da aldeia.
Nesse sentido, seguindo-se por esse viés e nos capítulos apresentados acima
que tratam de objetos de conhecimento da Matemática com contexto histórico,
essa proposta interdisciplinar atende em História a unidade temática História,
tempo, espaço e formas de registro, os objetos de conhecimento contemplam A
questão do tempo, sincronias e diacronias: reflexões sobre o sentido das
cronologias e As origens da humanidade, seus deslocamentos e os processos
de sedentarização; está contemplando a habilidade EF06HI05 – Descrever
modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de
sociedade, com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos,
e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridos (BNCC, 2017) e
aquela EF06HI01 – Identificar diferentes formas de compreensão da noção de
tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas)
(BNCC, 2017).
Referências biográficas
Referências bibliográficas
AK: O trato dos poderes com a Constituição piorou. Mas não é algo que
acontece só nos últimos tempos.
“O SPI foi produto orgânico [...] motivado pela emoção nacional. Em nenhum
momento chegou a renovar as propostas constitucionais [...] para os índios nem
os tratou como nações soberanas. Via o índio como um ser digno de conviver
na comunhão nacional, embora inferior numa escala cultural e evolutiva. Como
pensava quase todo mundo à época, a exemplo do próprio Sigmund Freud, os
índios – o primitivo – tinham uma mentalidade infantil, que necessitava da tutela
do Estado” (GOMES, 2017, p. 92).
Se por um lado esse órgão indigenista foi responsável por ações positivas,
como as primeiras demarcações de terras em território Terena (tanto que
Rondon é visto como um herói por essa etnia até nossos dias), por outro, essa
instituição foi alvo de denúncias de casos de corrupção e de conivência de
membros do SPI com práticas de etnocídio e de retiradas forçadas de
contingentes indígenas. Por esses motivos, a instituição criada por Rondon foi
extinta em 1967.
Apesar da FUNAI ter como uma de suas diretrizes guiar o processo educacional
de diversos povos, suas práticas não levavam em conta sua demandas locais,
calendários e modos de vida tradicionais. Ao se valer do discurso de “trazê-los
à comunhão nacional”, o governo militar tentou retirar de diversas etnias o
direito ao manejo sustentável de seus próprios recursos naturais, valendo-se
do órgão tutor. Contudo, a FUNAI deixa de ter autonomia para deliberar sobre
a educação indígena, pois na década de 1990, essa responsabilidade foi
transferida ao Ministério da Educação (MEC). Nos dias atuais, a FUNAI sofre
com o corte de verba, conforme indicado em: 171
Caso isso ocorra, tanto os movimentos indígenas quanto de seus aliados serão
seriamente prejudicados pelo Poder Público que, em teoria, deveria apoiá-los.
“[...]
A integração dos índios à comunhão nacional. Do SPI à FUNAI, SIL
[Summer Institute of Linguistics, instituto responsável por levar linguistas
internacionais, ligados à missões religiosas, para territórios indígenas] e outras
missões religiosas [Grifos do autor]. Embora o Estado, por meio da criação
do SPI, em 1910, tivesse tentado dar outro rumo à educação dos povos
indígenas, a elaboração de políticas indigenistas foi organizada por missões
religiosas.
A formação de projetos alternativos de educação escolar. Da participação
de organizações não governamentais aos encontros de educação para
índios. [...] inicia-se no final dos anos 70, com o surgimento de organizações
não governamentais em defesa da causa indígena (PEREIRA, 2010, p. 26-27).
“As universidades, como a USP, UFRJ, UNICAMP, entre outras [...], passaram
a prestar assessoria às organizações indígenas e demais organizações
indigenistas até a promulgação da Constituição de 1988, que estabeleceu a
garantia de vários direitos fundamentais dos povos indígenas” (PEREIRA,
2010, p. 27-28).
https://biblioteca.trabalhoindigenista.org.br/wp-
content/uploads/sites/5/2018/06/14-monografia-sobreHist%C3%B3ria-do-
Povo-Terena.pdf (acesso: 20 jan. 2021)
A parceria entre indígenas e ONGs com ideias afins tornou-se imperativa, pois
os indígenas passaram a perceber que sua tradição oral, como determinante
cultural, também se constituía como um mecanismo de reivindicação e luta,
conforme apontou Maria Elisa Ladeira em entrevista (2013), ao falar da
contribuição que o CTI forneceu aos professores Terena na década de 1990,
frente à escassez de documentos escritos, apresentada por eles. 175
Referências biográficas
Sites de referência
KRENAK, Ailton. Discurso, 1987. In: FERNANDES, Bob (Org.). O céu dos
genocidas “está caindo”. 22 set. 2020.
https://youtu.be/D16kT5X7ak8 (acesso: 30 dez. 2020)
177
ENSINO DE HISTÓRIA NAS ESCOLAS INDÍGENAS:
REFLEXÕES INICIAIS DE UMA PESQUISA EM
INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Maria Luiza Ferreira do Carmo Souza 178
Introdução
“Um ponto que deve ser observado com atenção é que os povos indígenas
sempre estiveram presentes na História Oficial e apareceram juntamente com os
negros e brancos nos livros didáticos. Portanto, os índios nunca estiveram
ausentes das narrativas veiculadas em sala de aula. O problema evidente está
na forma como esses índios foram e ainda são representados nesses livros [...]
Apesar de todos os esforços e críticas lançadas, discursos e práticas continuam
a produzir uma visão pejorativa sobre as populações indígenas” (FERNANDES,
2017, p. 03).
Então, é de suma importância que o ensino de História, dentro desta escola com
uma educação específica e diferenciada, atue no sentido da valorização da
diversidade, da valorização da memória histórica dos povos indígenas, que
possa ser usada para privilegiar uma discussão que deem conta das relações
entre povos indígenas e os não-indígenas, dos povos indígenas entre si, que
evidencie e discuta sobre o protagonismo indígena, buscando combater o que
Fernandes (2017) apresenta ao final do trecho, a forma pejorativa com que os
indígenas são representados nos discursos presentes em muitos livros
didáticos.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
LUCIANO, Gersem José dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa
saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje – Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade;
LACED/Museu Nacional, 2006. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/indio_brasileiro.pdf;
Acesso em: 29 abr. 2021.
ATUALIDADE”
Mariana Ponciano Ribeiro Rennó e Nataly Souza
Silva
O presente texto tem por finalidade socializar a experiência do Estágio
Supervisionado Obrigatório do ano de 2019, especificando sobre o
desenvolvimento de uma regência aplicada pelos alunos do curso de História da
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus Jacarezinho/PR. O
trabalho desenvolveu-se abordando a temática dos indígenas no Brasil sendo
aplicado na turma do 7º ano C do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Rui
Barbosa de Jacarezinho/PR. Visando a obtenção de melhores resultados com a
regência, utilizou-se de fontes históricas algumas revistas e jornais e
principalmente parte da carta de Pero Vaz de Caminha, além disso, como
instrumento metodológico, recorremos a utilização de ferramentas tecnológicas
e remetemos o conteúdo para a história local, com o intuito de buscar uma
aproximação entre o aluno e sua identidade como sujeito histórico. A seguir, será
demonstrado a importância da temática, e como se desenvolveu a regência para
que os objetivos, já expostos, fossem alcançados. Por fim, apresentaremos os
resultados colhidos com a regência, tanto os positivos quanto as dificuldades
encontradas.
A primeira aula inicia-se com uma atividade diagnóstica aplicada à turma, para
que resgatássemos seus conhecimentos prévios acerca da temática central.
Oportuno se torna dizer que, para auxiliar no resgate prévio dos alunos quanto
aos indígenas, utilizou-se como fonte um trecho da Carta Pero Vaz de Caminha.
A atividade proposta ocorre junto a leitura da carta que contém uma descrição
de um português sobre indígenas em meados de 1500. A partir da leitura, foi
proposto que os alunos se expressassem descrevendo os indígenas e sua
cultura utilizando da escrita ou do desenho, deixando-os em um ambiente
confortável para a realização da atividade. Nitidamente, nesse primeiro momento
os resultados obtidos estavam repletos de estereótipos, entretanto, acerca
desses resultados exploraremos futuramente mais detalhadamente.
O último recorte regional teve um caráter muito significativo para que os alunos
se reconhecessem no conteúdo ministrado em sala de aula, uma vez que se
tratava da região na qual eles estão incorporados. Para concretizar essa parte
da aula sobre a Terra Indígena de Laranjinha de Santa Amélia/PR foi efetuada
uma pesquisa de campo no local e apresentado para os alunos o material
colhido, através de imagens e vídeos, o que beneficiou muito o transcorrer da
aula, uma vez que os alunos se identificaram, de fato, com as crianças da
comunidade. Nessa ocasião foi possível observar a quebra dos primeiros
estereótipos constatados na atividade diagnóstica.
189
Diante das considerações apontadas, a aula mantém-se buscando
principalmente a desconstrução dos estereótipos apontados pelos alunos. Para
essa realização apresentamos vídeos curtos em relação a quebra de
preconceito, ensinando a terminologia correta, a título de exemplo, utilizar
indígena ao invés de índio. Ademais, entre os vídeos curtos selecionados para
esse momento da aula, foi apresentado um no qual os alunos perceberam o
quanto a cultura indígena está presente na nossa sociedade, como na
alimentação e no vocabulário, por exemplo.
Feito essa última exposição de cunho mais interativo com os alunos a respeito
do papel dos indígenas nos dias de hoje, desenvolveu-se a atividade final da
aula, para que verificássemos de forma materializada se os objetivos propostos
foram realmente alcançados. Nesta atividade, utilizamos de parâmetros a
atividade diagnóstica desenvolvida no início da aula, pedindo para que ao lado
das primeiras impressões deles sobre os indígenas nos apresentassem o que a
aula agregou para seus conhecimentos, ou seja, qual a perspectiva que após a
aula eles puderam compreender melhor acerca dos povos indígenas.
Ter a possibilidade de trabalhar com essa temática tão delicada de histórias tão
vivas e necessárias, foi muito marcante para nós, pois compreendemos também
a importância do estágio para a formação do discente em licenciatura,
possibilitando a conciliação da teoria e prática desenvolvendo a práxis
pedagógica, como aponta Lima e Pimenta (2012, p. 34):
Por fim, de volta ao tema central do texto, é possível afirmar que abordar
questões indígenas no ensino de História é uma estratégia pedagógica
fundamental para desenvolver debates acerca da diversidade, que deve-se ser
o centro de toda prática educativa, principalmente da Rede de Educação Básica.
Além disso, é importante ressaltar, que o Estágio Supervisionado Curricular
representa uma das estratégias de oposição alcançáveis ao embate contra o
preconceito. Que utilizamos, cada vez mais, da educação como ferramenta na
luta pela diversidade.
Referências biográficas
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de
Janeiro: FGV, 2010.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São
Paulo: Cortez,2012.
Introdução
Transitando entre os séculos XVI e XVII Guerra Civil e Revolução não eram
expressões semelhantes, mas também não se tratava de condições
extremamente opostas. A Guerra Civil remetia a uma conjuntura violenta oriunda
das lutas em família, o Estado, por sua vez, tratou de monopolizar o direito à
violência em questões de guerras internas e externas, atribuindo a Guerra Civil
a condição de ilegalidade. Por conseguinte, a Revolução em seu caráter trans-
histórico passou a ser usada como acontecimentos a longo prazo ou
acontecimentos políticos que eclodiam de forma inesperada e rápida. Por fim, as
rebeliões eram entendidas como desordens sociais e levantes foram reprimidos.
As categorias nos permitem atribuir sentido ao mundo como um caminho que 196
nos permite chegar à casa que construímos como nosso reflexo. Em outras
palavras, as categorias nos permitem construir o discurso da representação e da
autorrepresentação. Seguindo essa linha, destacamos como categorias de
pesquisa os treze Livros Didáticos de História para o ensino médio, aprovados
do PNLD 2018: Revolução, América Latina e Cuba.
A partir dessas questões foi possível identificar alguns problemas no que tange
a discussão historiográfica do Livro Didático de História, como (a) a influência da
historiografia francesa que faz desse material didático uma fonte estática e
engessada sobre a América Latina e (b) o livro, como material simbólico que, por
vezes, assume a função de reproduzir os ideais considerados importantes para
uma parcela específica da sociedade, como observou Bourdieu (1982).
Conclusão
Por fim, esperamos com esse trabalho desenvolver uma noção crítica sobre
educação e a aplicabilidade disso na prática diária do professor de história,
especialmente nas atividades relacionadas ao ensino de história das américas,
com o objetivo de compreender fenômenos tão importantes para nossa
historiografia e constituição social como as revoluções latino-americanas. 197
Esperamos contribuir também para a ampliação da compreensão do conceito de
revolução que atualmente tem sido utilizado e desenvolver a capacidade de
leitura crítica dos livros e materiais didáticos dispostos para os professores da
Educação Básica do nosso país.
Referências biográficas
Referências bibliograficas
CAIMI, Flávia Eloisa. O que sabemos (e o que não sabemos) sobre o livro
didático de História: Estado do conhecimento, tendências e perspectivas. In:
GALZERANI, Maria Carolina Bovério. BUENO, João Batista Gonçalves.
JÚNIOR, Arnaldo Pinto. (orgs). Paisagens da pesquisa contemporânea sobre o
livro didático de história. Jundiaí: Paco editorial; Campinas: Centro de Memória/
Unicamp, 2013.
CHOPPIN, Alain. História dos livros didáticos e das edições didáticas: sobre o
estado da arte. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.3, p. 549-566, set./dez.
2004.
GOTT, Richard. Cuba – uma nova história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,
2004.
KLEIN, Marcus. Sociedad e ideologias de massas, siglo XX. IN: JAKSIC, IVÁN
e GAZMURI, Susana (Ed). História política de Chile, 1810-2010 (Tomo IV) -
Intelectuales y pensamiento político. Santiago de Chile, FCE, UAI, 2018.
LOWY, Michel (org.). Marxismo na América Latina. Uma antologia de 1909 aos
dias atuais. 3. Ed. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.
Infelizmente, embora seja vista como local ideal para a desconstrução de uma
visão negativa em torno do indígena, a escola acaba reproduzindo essa visão.
Um exemplo disso é a comemoração tradicional ao dia do Índio de forma
incorreta, atrelando-o ao passado, sem conectividade com o presente e com a
realidade deles na contemporaneidade. Em um trabalho pertinente realizado por
Oliveira (2011) vemos que grande parte dos estudantes entram em contato com
percepções equivocadas e preconceituosas sobre os índios na escola, no
contato com os livros didáticos e nas aulas dos docentes. O que é alarmante,
pois, o espaço educacional deveria estar voltado para a superação de equívocos,
e não o inverso (OLIVEIRA, 2011, p.200).
Na visão de Edson Silva (2012, p.215), antes quanto se falava sobre ministrar
assuntos referentes à temática indígena muitos professores/as se sentiam
desconfortáveis pelo fato de não disporem de uma especialização na área,
sendo desafiados a lidar com a questão sem estudo. É Eduardo Natalino dos 204
Santos que ressalta sobre a relevância do oferecimento desse assunto dentro
das universidades, em especial nas licenciaturas, em que jovens estão sendo
formados para serem professores/as. Segundo Santos:
Hoje, parte dos cursos de graduação já possuem disciplinas com ênfase para a
temática indígena, contribuindo no conhecimento e formação docente. O que já
é um avanço. Sobre a importância da presença dos povos indígenas nos
currículos dos cursos de graduação em História, Santos salienta que:
Sobre o uso de outras ferramentas que podem ser manuseadas pelos docentes
em sala de aula, Pinsky (2005, p.8) chama a atenção para “os usos e abusos”
que os historiadores podem fazer das inúmeras fontes históricas existentes. No
livro intitulado “Fontes Históricas”, organizado pela autora, “fontes documentais,
arqueológicas, impressas, orais, biográficas e audiovisuais” são mencionadas
como possibilidades para um ensino diferenciado. Sobre o uso de documentos
em sala de aula, Bittencourt (2008, p.327) salienta que:
Seria pertinente que a escola e/ou professores não ficassem limitados apenas
às datas comemorativas, mas levassem a problematização da questão indígena
para além do espaço escolar. Possibilitando, através da relação entre a
universidade e a escola, palestras e oficinas em que também os povos indígenas
se fizessem presentes. Que essas fossem oportunidade de, não apenas
satisfazer a curiosidade de uma plateia sobre hábitos culturais, mas, sobretudo,
abordar temas como conflitos socioambientais, preconceito, estratégias usadas
para o fortalecimento da identidade, luta por direitos, bem como outros que
surjam do interesse deles próprios. Diante do exposto até aqui somos
conduzidos às seguintes indagações: que tipo de sujeitos a escola está
formando? A Constituição Federal (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam a importância de
uma educação voltada para a pluralidade cultural e para a formação de um
sujeito crítico, respeitador das culturas e das diferenças. Mas, será que isso está
acontecendo? É isso mesmo que temos visto?
Por conseguinte, muitos são os desafios que precisam ser vencidos para que
haja um ensino de história indígena que retire o índio da invisibilidade a que ele
foi relegado e contribua com a construção de uma sociedade mais justa e menos
intolerante à diferença. Embora a lei 11.645/2008 tenha sido implementada como
obrigatoriedade, percebemos lacunas, brechas e espaços que precisam ser
preenchidos. Um pequeno avanço houve, assim como conquistas, mas são
necessárias mais inserção e inclusão desses sujeitos em lugares antes
inocupados.
Referência Biográfica
206
Marta Lima Alves, mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
Referências Bibliográficas
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da. Introdução: Educação
e Diversidade. In: A temática indígena na escola: novos subsídios para
professores de 1. e 2. graus. 1. ed. São Paulo: MEC/Ministério da Educação e
do Desporto, MARI-Grupo de Educação Indígena/USP e UNESCO, 1995, p. 15-
23.
São estéticas que representam como a vida do mais banal dos seres – e sua
capacidade de sensação e de imaginação – pode ser interessante e criativa.
Impossível não lembrar do tom trivial impresso pelo narrador roseano no início
do conto Partida do audaz navegante: “Na manhã de um dia em que brumava e
chuviscava, parecia não acontecer coisa nenhuma”. (ROSA, 2001, p. 166).
Tais referências ressoam na telenovela Velho Chico que tem como tema o
grande rio que corta sete estados nacionais. No último capítulo do folhetim o
personagem-herói Martim de Sá Ribeiro (Lee Taylor) é lembrado em uma
conversa entre Afrânio de Sá Ribeiro (Antônio Fagundes), seu pai, e dona Ceci
(Luci Pereira), conhecida vendedora de raízes e chás, nascida em uma tribo
indígena às margens do rio Opará, nome pelo qual o seu povo conhecia o rio
São Francisco. Durante a cena a presença espiritual de Martim, assassinado na
história, aparece flanando tranquilamente na beira do rio enquanto se
apresentavam referências à imensidão de narrativas cotidianas que ele
vivenciara. Martim fala sobre a força do São Francisco, do qual também é filho,
assim como os pescadores, os lavradores, as lavadeiras e os remeiros.
209
Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5344936/programa/
Em Velho Chico Carvalho fez de suas lentes, pincéis para colorir existências com
dignidade. Ele se propôs a pintar a poesia das comunidades ribeirinhas do rio
São Francisco, deslocando-as das margens do esquecimento para o centro da
memória nacional. Seu grande trunfo foi conseguir retratar com sensibilidade
essa ethos popular esquecido divulgando-o para o grande público por meio da
“novela das 8”, programa que se destaca por ser recorde de audiência da maior
rede de televisão do País. Nesse sentido, o trabalho de Carvalho produz um
processo contínuo de emancipação dos corpos e palavras de personagens da
cultura popular sem cair na armadilha da caricatura e dos estereótipos fáceis.
“Aqui na floresta tem tudo o que há de mais sofisticado... a gente tem muito o
que aprender com a natureza... são 4 bilhões de anos de experiência... uma
simbiose, uma cooperação benéfica de todos, onde todo mundo trabalha movido
pelo prazer, sem exploração, sem competição, sem rivalidade... o esforço de um
que gera o bem estar de todos”
A novela foge à trama batida sobre a classe média urbana branca. Seu elenco
foi formado por um contingente considerável de atores mestiços e nativos. O site
Memória Globo afiança que cerca de 70% dos atores de Velho Chico era do
Nordeste. Carvalho alerta para o preconceito em relação em relação a cultura
popular:
Para Carvalho é preciso adotar uma perspectiva mais crítica e inclusiva capaz
de quebrar este ciclo de silenciamento. Essa compreensão pode ser traduzida
no pensamento de Djamila Ribeiro: “falar a partir de lugares é também romper
com essa lógica de que somente os subalternos falem de suas localizações,
fazendo com que aqueles inseridos na norma hegemônica sequer se pensem”.
(RIBEIRO, 2017).
O olhar estético adotado por Luiz Fernando consegue expor com sensibilidade
sertanejos e nordestinos sem recorrer ao infeliz estereótipo da miséria e da
“velha praga” lobateana, que costumava retratar personagens populares como
pessoas sem cultura e hábitos rudimentares. Assim, a direção de Carvalho
mostrou que privações na vida não significam, automaticamente, ausência de 211
liberdade existencial. Na obra, o diretor tentou dirimir a separação e
distanciamento entre aqueles considerados agentes da história e os excluídos.
O grande acerto de Velho Chico foi questionar essa realidade excludente através
personagens que lutavam pela justiça social, ressaltando a condição daqueles
que precisavam vencer os males do coronelismo, altamente marcado pelo
autoritarismo e a corrupção. Na estética de Carvalho, pode-se inferir que “o povo
não é uma classe entre outras. É a classe do dano à comunidade e a institui
como ‘comunidade’ do justo e do injusto”. (RANCIÈRE, 1996). Sua arte expõe
que não pode haver transformação sem a inclusão dos sem-partes que buscam
ser contados na partilha do sensível. Por isso, o diretor questiona o pacto
narcísico da branquitude na TV aberta brasileira.
Estereótipos na TV
Os equívocos se acumulam. Quem foi capaz de engolir Priscila Fantin, branca e 212
de olhos verdes, transformada na indígena Serena em Alma Gêmea (jun.2005-
mar.2006), novela de Walcyr Carrasco com direção de Jorge Fernando? Na
trama, a suposta pureza e ingenuidade da personagem representavam uma
visão equivocada e romantizada do indígena como um ser à margem da
civilização. Serena e suas falas pareciam saídas das páginas dos romances
Iracema ou O Guarani, de José de Alencar. Só que em pleno século XXI!
Dois Irmãos
A minissérie Dois Irmãos, escrita por Maria Camargo, foi uma adaptação em 10
episódios do romance homônimo, de Milton Hatoum, ganhador do prêmio Jabuti
de 2001. Acompanhamos na tela a vida da índia Domingas (Sílvia Waiãpi) levada
para a casa de Halim (Antonio Fagundes) e Zana (Eliane Giardini) ainda criança
para servir como empregada doméstica. A menina cresce servindo o casal e
seus filhos gêmeos, Yaqub (Cauã Raymond), com quem acaba se envolvendo,
e Omar (Cauã Raymond), que lhe estupra. Sua vida é, assim, parte da saga de
ciúme, inveja e orgulho vivida por esses dois irmãos gêmeos em Manaus, entre
as décadas de 1920 e 1980. A narrativa se desenrola de maneira que o
telespectador fica sempre na dúvida de quem seria realmente o pai de Nael
(Irandhir Santos).
Fontes: http://gshow.globo.com/Bastidores/noticia/2016/07/no-super-chef-andre-
goncalves-diz-que-so-cortaria-cabelo-por-personagem.html;
http://contamais.com.br/fotos/veja-a-trajetoria-de-andre-goncalves-o-aureo-de-morde-
e-assopra/451; http://gshow.globo.com/programas/video-
show/v2011/VideoShow/Noticias/0,,MUL1679073-
16952,00;MEMORIA+ANDRE+GONCALVES+DEU+VIDA+AO+INDIO+APINGORA+E
M+A+MURALHA.html
Referências bibliográficas
KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002.
14-17 p.
PATAI, Daphne. História oral, feminismo e política. São Paulo: Letra e Voz,
2010.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento;
Justificando, 2017.
Botelho (2019) afirma que além do seu uso econômico, as moedas também são
utilizadas como instrumento de divulgação e propaganda política e, ao longo da
história, elas se consolidaram como de crucial importância para a análise das
sociedades antigas.
O que hoje é chamado de Brasil, outrora já foi conhecido como ilha de Vera Cruz,
nome dado pelo português Pedro Alvares Cabral, navegador que liderou a
expedição portuguesa que culminou no “descobrimento das terras brasileiras”.
Por outro lado, existe a tese da intencionalidade, que surgiu no Brasil durante o
segundo reinado com incentivo do próprio imperador, como uma demonstração
do orgulho que a nação passou a sentir de si mesma. (MÖLLER, 2003) Além
disso, outros historiadores afirmam que os portugueses estiveram aqui antes de 218
1500. Hollanda (2000) relata o recebimento de uma carta pelo rei de Portugal
em 1514, onde o remetente declara ter estado no território a 20 anos atrás, ou
seja, “já viviam portugueses no Brasil por volta de 1493 ou antes”. (HOLLANDA,
2000)
Fausto (1996) corrobora com essa declaração dizendo que, “[...] tudo indica que
a expedição de Cabral se destinava efetivamente às índias. Isso não elimina a
probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, terem
frequentado a costa do Brasil antes de 1500.”
Sabe-se que Pedro Álvares Cabral saiu de Portugal com 1500 soldados, mais
alguns franciscanos, comerciantes e aventureiros, com uma dupla intenção na
expedição, que pode ser observada na narrativa de Abreu (1998):
Em 1510, chegou a São Vicente, Gonçalo da Costa, que por volta de 1520
casou-se com a filha do Bacharel, a qual já se encontrava em terras vicentinas.
Gonçalo tornou-se braço direito do seu sogro, além de ser um conhecedor e
explorador da região do Rio da Prata (PERRUGOIA, 2006). Assim, em 1527,
com a chegada de Diogo Garcia, foi contratado como intérprete da região.
(WASHINGTON, 1976).
Logo após, em abril do mesmo ano, ele chega na baía do Rio de Janeiro e ali se
estabelece por três meses. Apenas em 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso
chega pela primeira vez a São Vicente. É muito provável que tenha sido recebido
com as devidas homenagens pelo Capitão Antônio Ribeiro e diversos
moradores, como Antonio Rodrigues, Diogo Braga e seus filhos, João Ramalho,
vindo do planalto onde morava, e outros habitantes do povoado. (PERRUGOIA,
2006).
Embora não tenha sido o fundador, foi ele que elevou oficialmente o povoado a
vila em 22 de janeiro de 1532. Com ressalva de que, não se tem nenhum
documento que realmente comprove que o povoado passou a ser vila a partir
desta data. Conforme consta no site da prefeitura da cidade de São Vicente,
estado de São Paulo:
“São Vicente não possui nenhum documento que possa afirmar categoricamente
que foi elevada a Vila, a 22 de janeiro de 1532. Essa data, 22 de janeiro, é uma
data convencionada pelos diversos historiadores que dela trataram. Portanto,
quando se diz que São Vicente foi fundada, ou mais corretamente elevada à Vila
nesta data, se está apenas dizendo o mesmo que tantos historiadores disseram,
sem que tenha-se tido nunca um só comprovante histórico, documento ou
crônica, ou quaisquer outros, de que realmente a Vila de São Vicente passou a
existir como Vila a partir daquela data “22 de janeiro de 1532”. (PERRUGOIA,
2006).”
Nem todos os índios têm seus nomes destacados no rol da história, embora
merecessem, na moeda em estudo temos o busto de apenas um, que representa
inúmeros outros desconhecidos, mas não menos importantes que este.
Cacique Tibiriçá nasceu na aldeia dos piratiningas, seu nome na língua Tupi é
Teberryça, que significa maioral ou vigilância da terra. Foi cacique de um grande
número de índios guaianases e possuía três irmãos, Araraí, Piquerobi e o
cacique Caiubi. Tibiriçá foi o primeiro a ser catequizado pelo padre Anchieta, e
ao se converter ao catolicismo foi batizado e recebeu o nome de Martin Afonso
Tibiriçá, que era um amigo seu. Tinha uma filha de nome tupi M´bicy, mais
conhecida por Bartira, que se tornou companheira de João Ramalho. Tibiriçá
teve participação na formação do colégio dos jesuítas em 25 de janeiro de 1554,
na vila de Piratininga, atual cidade de São Paulo, onde atualmente existe o
mosteiro de São Bento. Foi um forte participante na defesa dessa vila, a mesma
em 9 de julho de 1562, foi atacada por seu sobrinho Jogoanharo, que era chefe
dos índios tupis, guaianás e carijós.
No reverso, o valor 100 réis entre dois pontos e no alto uma panóplia composta
por um cocar, uma lança, um tacape, um arco flecha e a sigla WT do Gravador
Walter Rodrigues.
A Lança era uma arma longa que podia ser usada atirando ou não. Na ponta
existia uma espécie de faca feita de pedra que perfurava facilmente o alvo
atingido, era usada para caçar, pescar e guerrear. (FOLCLORANDO, 2020).
O tacape era uma arma usada desde os homens da pré-história, é uma espécie
de bastão cilíndrico alongado, feito com um pedaço de madeira grande ou outro
material firme, que facilitava atingir o alvo. Na caça era usado para abater
animais, exemplo onças, e na guerra era usado para atingir os crânios dos
inimigos. (FOLCLORANDO, 2020).
A flecha era composta por uma haste em madeira e com a ponta aguda, podia
ser lançada a uma grande distância com a ajuda do arco. Para os indígenas, a
flecha é um símbolo da guerra e da paz, pois é usada tanto para proteção quanto
para o sustento na hora da caça (SÍMBOLOS, 2020).
Considerações finais
Referências bibliográficas
Um dos principais objetivos das viagens de Colombo era a busca por metais
preciosos, que abasteceriam a Europa que sofria a escassez dos mesmos. O
próprio Colombo disse: “Teríamos de converter rapidamente para a nossa fé
um grande número de povos e ganhar, ao mesmo tempo, grandes quantidades
de ouro” (HISTÓRIA VIVA, 2004, p.34), o que prova a associação entre a
conversão à fé católica e a procura pelos metais. Ao mesmo tempo, de acordo
com Woortemann (2004), perante uma visão escatológica, o resgate dessas
almas indígenas, através da conversão, serviria de apoio à salvação dos reis
diante de Deus, já que eles seriam os responsáveis pela disseminação da fé
católica.
O encontro parece ter sido responsável, ainda, por fomentar muitos mitos
existentes. A opulência das cidades astecas, a grande quantidade de ouro
encontrada nos Andes, trouxe a busca pelo Eldorado e por outras lendas, como
as minas do Rei Salomão. A exuberância das matas remetia alguns ao Paraíso
Terrestre, as práticas canibais ao demônio, além de muitas outras.
Outro aspecto das visões européias acerca dos indígenas e das terras
americanas diz respeito a uma idealização que se verificou de diversas formas.
Caminha observa nos índios traços que decorrem de três atributos principais:
a inocência, a bondade e a alegria, e na carta ele pontua os momentos em que
isso se daria. Caminha vai enfocando os principais atributos do "outro", o
indígena, sempre em confronto com os atributos e/ou as referências do
conquistador português. Aquilo que Caminha vê ou parece ver no corpo do
índio lhe vem como uma "outra realidade", longe de seus referenciais.
Referências biográficas
Referências Bibliográficas
CHAUNU, Pierre. Coquista e exploração dos novos mundos (século XVI). São
Paulo: Pioneira/EDUSO, Nova Clio, 1984.
Com isso, não havia mais aquela perspectiva, de que os documentos eram todos
verdadeiros e inquestionáveis, pois tudo que a humanidade fez e fazia era visto
como fonte de interpretação, para a compreensão da mentalidade humana. 234
Todo esse processo, em que houve uma mudança de visão quanto ao que era
história, proporcionou uma grande transformação e um afloramento de diversas
linhas de estudos da história e métodos historiográficos. (JÚNIOR, 2012)
Depois dessa breve reflexão historiográfica, fica evidente, que nem sempre ouve
uma consideração em valorizar adequadamente as articulações entre a vida
social e a material, pois a historiografia foi durante um tempo inapta em
incorporar as fontes materiais ao seu processo de produção de conhecimento.
Essa realidade veio mudar por voltas dos anos de 1960, com o surgimento de
um novo grupo, que achava esses pensamentos obsoletos. Pois entendiam que
a equação entre tipologias de objetos e culturas parecia simples e insuficiente.
E tinham a ambição de mudar o sentido do que era arqueologia, não apenas
como uma técnica de obtenção de informação, mas uma verdadeira ciência
social. Grupo esse intitulado como New Archaeology. (REDE, 2012)
É importante exemplificar, que com esse processo uma especial atenção foi
dada aos assuntos que se relacionavam com o meio ambiente e ao papel da
cultura. E é nesse ponto, que queremos chegar, pois a partir dessa perspectiva,
que começaremos analisar aspectos da cidade de Cabo Frio e a Cultura Material
por meio dos sambaquis.
Fundada pelos portugueses em 1616, como Vila de Santa Helena de Cabo Frio
era alvo de constantes saques de piratas franceses e holandeses na exploração 235
do pau-brasil, que era de excelente qualidade. O local já era habitado pelos
índios tamoios, que tinham uma aliança com os Portugueses, no qual
procuravam a ajuda deles para a exploração do local.
O fato de Cabo Frio ser uma cidade estruturada no período colonial, além de
apresentar um conjunto de bens arquitetônicos e elementos naturais que datam
desse período, contribuiu para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, autarquia federal que responde pela preservação do Patrimônio
Cultural Brasileiro, viesse a tombar, em 1967, seu conjunto paisagístico
composto por monumentos e espaços públicos através do IPHAN. (BARBOSA,
2019, p. 38).
Cabo Frio é conhecido por suas lindas praias, entretanto poucos sabem da
existência do sítio arqueológico Sambaqui e das Dunas, que fica localizado na
Praia do Forte. A praia mais conhecida da cidade e uma das mais conhecidas
da região. O processo de tombamento das dunas, se deu em 08/04/1988.
Só que antes do sítio dos sambaquis ser estudado e tombado como tal, ele já
fazia parte do tombamento paisagístico, feito nos anos 1950. Pois o tombamento
feito em cabo frio, pelo IPHAN, é um tombamento paisagístico que considera
elementos da paisagem urbana e da paisagem natural. Valendo destacar como
ficou demarcado o tombamento paisagístico de Cabo Frio a partir do processo
0757-T-65:
Descrição da oficina
A oficina consta de um informe prévio, em que se explicam as circunstâncias do
descobrimento de um conjunto de montes de conchas, pertencentes ao período
quaternário, na localidade de Cabo Frio, nas dunas da Boa Vista.
Objetivos
Estratégia
A segunda pista é uma página de uma revista científica, sobre o caminho para
as espécies ameaçadas de extinção: a pesca pré-histórica no sudeste do Brasil.
Que traz informações principalmente, sobre a prática da pesca dos grupos
sambaquis na costa atlântica do Brasil. (LOPES, 2016,)
Terceira pista é uma fotografia, no sítio Ilha de Cabo Frio para exemplificar O
movimento eólico, que é um fenômeno que cobre e descobre o sítio
rotineiramente, chegando a transportar pequenos ossos de fauna para dentro do
mar.
Pista 1:
Fonte: Artefatos líticos (moedores) provenientes do Sambaqui Ilha da Boa
Vista- I, Rio de Janeiro. (Em<https://www.researchgate.net/figure/Figura-4-
Artefatos-liticos-moedores-provenientes-do-Sambaqui-Ilha-da-Boa-Vista-I- 239
io_fig2_321981544>. Acesso em: 02 de março de 2020)
Pista 2:
Fonte:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0154476
Pista 3:
Fonte: Crânio humano exposto por ação eólica no sítio Ilha do Cabo Frio I.
(GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de
Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2000.)
Pista 4:
Conclusão
Podemos concluir, que existe uma discussão historiográfica, que trate das 240
atribuições de valores, sobre o quanto o período da Pré-história é importante
para o entendimento do passado.
Acreditamos, que não há uma grande valorização quanto a esse tema no ensino
de história local em Cabo Frio, por diversos fatores, seja a distância temporal,
que tem esse período, a dificuldade da obtenção de materiais, para o estudo do
período, que em sua maioria vem de uma cooperação multidisciplinar, de
arqueólogos, químicos, geógrafos, antropólogos, historiadores, que escavam o
solo a procura de vestígios daquela sociedade ou até mesmo de produção de
materiais didáticos que possam ligar os estudos de Pré-História com a
historicidade local. Enfim, podemos listar inúmeros problemas e dificuldades
para o estudo desse tão longo, mas ao mesmo tempo tão misterioso período.
Referências biográficas
Referência bibliografia
INEPAC. http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/63.
Acesso em 02/12/2020.
JÚNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Fazer defeitos nas memórias: para que
servem o ensino e a escrita da história ?. Qual o valor da história hoje ?. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2012.
242
FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS EM
RONDÔNIA: ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE
A EDUCAÇÃO ESPECÍFICA E DIFERENCIADA NA
AMAZÔNIA BRASILEIRA 243
Além disso, é preciso refletir sobre o modo como sujeitos e coletivos indígenas
têm se articulado em defesa do fortalecimento da escola indígena. Dentre os
diferentes sujeitos envolvidos, os professores indígenas têm demonstrado ser a
ponta de lança de um longo processo de luta pela conformação desta rede
educacional. Nesse sentido, dentre os objetivos deste trabalho consideramos
problematizar a questão da Educação Escolar Indígena, tomando como base os
processos característicos que informam as articulações desenvolvidas por
professores indígenas do Estado de Rondônia, de modo a fortalecer a luta por
um modelo educacional específico e diferenciado que auxilie no reconhecimento
da diversidade e diferença de povos existentes no Brasil. Assim, apresentaremos
algumas reflexões sobre movimentos e formação de professores indígenas em
Rondônia, indicando de que modo tais protagonismos educacionais têm se
desenvolvido na região.
Mario Roberto Venere (2010) nos conta que no ano de 1998, no Estado de
Rondônia, o projeto açaí fora estabelecido como curso de formação de
professores indígenas para habilitação em nível médio. Ainda segundo o autor,
o projeto açaí foi o resultado de muitos debates e do reconhecimento da 246
necessidade de protagonismo indígena dentro das escolas presentes nas
comunidades indígenas. A construção do projeto pedagógico contou com a
Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) e as lideranças indígenas para
elaborá-lo. Venere (2010) ainda observou que dentre os principais objetivos da
formação de professores indígenas em Rondônia estariam:
O Projeto Açaí foi uma estratégia de caráter educacional voltado para os povos
indígenas, tendo grande importância, especialmente, por sua realização em
território rondoniense, pois respeita os pontos chaves para se realizar uma
educação escolar, bilíngue e diferenciada na região. Além disso, foi um projeto
inovador, pois nunca antes houveram propostas que contassem com uma
educação específica voltada a formar professores indígenas colocando-os à luz
de um protagonismo educacional escolarizado. Tal iniciativa representa um
importante marco no fortalecimento da educação escolar indígena em Rondônia,
na medida em que auxilia no fortalecimento da formação de professores
indígenas, assegurando um ensino de base intercultural e favorecendo a defesa
da autonomia educacional dos povos indígenas (VENERE, 2010).
Por outro lado, conforme indicado por Fernandes (2020), o acesso de indígenas
no ambiente universitário deve ser entendido como uma estratégia de interação
com a comunidade envolvente e que tal fenômeno se constitui como importante
estratégia para o fortalecimento dos movimentos indígenas. Ademais,
ressalvada qualquer dificuldade, o aluno que adentra a um curso de nível
superior geralmente conta com o apoio de sua comunidade para que se
mantenha no curso. Edneia Aparecida Isidoro, por exemplo, fala que é muito
importante para a comunidade indígena ter seus filhos estudando em uma
universidade, que sempre quando há reuniões eles são convocados para
administrá-las, percebemos assim o valor que a formação superior tem para as
comunidades indígenas. Em suas palavras, Isidoro nos diz:
“Quando se fala de língua e cultura na colocação digo que a formação fez com
que a gente perdesse a vergonha de falar a língua do nosso povo. Então língua
e cultura são coisa do nosso povo da qual fazemos parte, então o que a formação
trouxe foi a coragem ela nos colocou coragem de a gente ter força e falar a nossa
língua e viver nossa cultura, o modo de ser desse povo, depois da formação
trouxe essa outra visão, para nós’’ (Professor indígena, José Roberto Jabuti apud
ISIDORO, 2020)
Considerações pontuais
Referências biográficas
Referências bibliográficas
BAETA NEVES, Luís Felipe. O combate dos soldados de Cristo na terra dos
papagaios. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 1978.
CASTRO, Eduardo Vieira de. No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não
é. Povos Indígenas do Brasil. 2006. Disponível em:
https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo
_%C3%A9_%C3%ADndio.pdf; Acesso em: 21 jan. 2021.
LUCIANO, Gersem José dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa
saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Ministérios da Educação,
Secretaria de Educação Continuada, alfabetização e Diversidade, Brasília-DF:
LACED/Museu Nacional, 2006. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/indio_brasileiro.pdf;
Acesso em: 28 abr. 2021.
PAULA, Luís Roberto de. O ensino superior indígena como política pública:
elementos para a construção de um modelo metodológico de avaliação e
comparação de experiências locais. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, v. 94, n. 238, p.795–810, 2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176; Acesso em: 10
mar. 2021.
RESISTINDO!