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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO

DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
CURSO DE FILOSOFIA

Juliana Yoshie Fujii


RA 120196

Principado civil, dinamismo e dissensões

Maringá
2021
Juliana Yoshie Fujii

Principado civil, dinamismo e dissensões

Trabalho apresentado como condição total para


avaliação da disciplina Filosofia Política
ministrada pelo Prof Dr Jose Antonio Martins
INTRODUÇÃO

Segundo a narrativa de Maquiavel em sua obra, especialmente no capítulo IX, sendo


este um capítulo mais normativo, nos apresenta aspectos diversos do principado, bem como
formas de ascensão ao poder, elementos e atributos necessários para que isto ocorra e se
mantenha. Logo apresentaremos um sucinto relato o qual iremos discorrer, sobre a dinâmica
do campo do político, dos humores à teoria dos conflitos, como se apresentam essas forças e
as movimentações necessárias e primordiais das engrenagens do corpo político.
ACERCA DO CAMPO POLÍTICO

Através de sua obra, Maquiavel nos apresenta alguma dimensão das movimentações
que se dão no campo do político, desde a ascensão do príncipe, citando as formas que este
ascende, sendo por apoio popular ou dos “grandes”. Bem como a desenvoltura que se faz
necessária nessa assunção de poder. E que para ser alçado ao poder não seria necessária virtú
nem fortuna, porém uma astúcia afortunada, ou seja, é necessário argúcia, não sendo esta uma
astúcia deletéria mas sim astúcia capaz de mensurar a ocasião oportuna, articulações e ações
necessárias, sobretudo a ocasião.
O príncipe pode emergir do povo ou dos grandes segundo a oportunidade que tiver
uma ou outra dessas partes. Se o príncipe se encontra no poder através do apoio popular deve
se ater de que, em meio aos grandes encontra outros apetites, sabendo que vez ou outra, terá
que favorecer articulações com este seleto grupo. Podemos ter por exemplo uma crise na
república, onde o senado percebendo a iminência do povo ao poder e, para evitar isso, indica
um dos seus para assim desafogar a ânsia de poder e opressão ao povo. Em outra situação, o
povo temendo a opressão e tendo a ocasião, faz sua escolha de modo a deter o domínio dos
grandes, podemos assim assumir que o principado nasce de uma crise política. A crise política
na república acontece de maneira que o senado e a plebe sempre estarão em choque, e o
conflito como algo inerente.
A dinâmica política se dá enquanto existe a animosidade. Consideremos também uma
peculiaridade, a de que o povo quando quer o poder não é exitoso, sendo porém desejante.
Não é possível a política com fins de concórdia, não há que negar essa dinâmica,
havendo vida civil, há política, em meio a uma crise da república, esta pode se tornar um
principado apoiado nos grandes, ou no povo.
A respeito do príncipe, quando este emerge dos grandes, não encontra segurança. Pois
devido a avidez pelo poder dos integrantes deste meio, deles não se pode fiar.
Eis então a fragilidade de se apoiar nestes. Logo é primordial que o príncipe saiba onde
se está apoiando.
Maquiavel também nos faz saber que: se tornar príncipe por meios esdrúxulos, através
da truculência é possível, porém é falível. Não se possui virtú quando da utilização de
expedientes de crueldade. Maquiavel não exalta a prática e sim faz a observação de que seja
sucinta, evidenciando ao povo a utilidade da mesma, mas que não seja recorrente para não se
transformar em injúria. Sendo incompatíveis a crueldade, a fama e o respeito. Nos damos
conta da existência de elementos primordiais inerentes aos integrantes de uma cidade. Como
uma certa teoria que podemos chamar de teoria dos humores. Seriam apetites inatos e
inerentes aos seres, algo latente, intrínseco aos indivíduos.
Os cidadãos em sua natureza humana, são dotados de pulsões, ímpetos e se distinguem
em classes: dos não pretensos que buscam apenas não serem oprimidos, em antagonia à uma
minoria, uma pequena elite que tem avidez pelo poder, domínio e opressão ao qual se refere
Maquiavel por “grandes”.
Nos apropriamos da ideia que nos dá Maquiavel dessa força primitiva e primordial
inerente ao povo. Força essa natural e reativa, de pessoas que simplesmente não desejam ser
oprimidas. Um simples desejo de não serem usurpados, acachapados por forças coercitivas,
ainda que estejam sendo regidos e comandados, não desejam experienciar formas opressivas.
É este o mais intrínseco desejo e talvez um grande temor. Creio que este aspecto que é
apresentado na obra, remete à elementos que estão nos recônditos da natureza humana,
intrincados em sua primitividade; como o temor; o terror, senão o medo.
Sobre o medo como inerente à condição humana, é este um elemento que impulsiona
ou paralisa, logo criando uma ação. Influenciando padrões comportamentais; mecanismos de
ação e reação, importantes e necessários à sobrevivência da espécie, logo este fator sendo um
condicional colaborador à dinâmica do antagonismo de forças.
Havendo por outro lado; em contrapartida, o apetite voraz dos grandes. O apetite de
dominância, de caráter opressivo e impositivo.
Este caráter de forças antagônicas consiste e fundamenta o cenário do campo político.
Essa interação de forças é que movimenta e dá vivacidade ao organismo político. Sem
essa dualidade, sem a atuação dessas forças não se dá a política.
Se faz necessária essa dança; este conflito de interesses, para que subsista o organismo
político. Essa entidade é constituída desse antagonismo de forças, como que em dois polos.
Sendo de um lado o povo, sem apetites e anseios de domínio, constituindo algo como um polo
negativo; e de outro alguns poucos , os ávidos pelo poder e dominância em outro polo.
Havendo estas tensões, disposições antagônicas, delas emergem 3 efeitos segundo
Maquiavel. Sendo estes; ou o principado, ou a liberdade ou a licença. Poderíamos caracterizar
a liberdade como república e a licença como anarquia.
Sobre esta república, seria ela constituída pelo senado (governo de alguns), pelo povo
(tribuno da plebe) e um terceiro elemento que constitui o governo de um só (cônsules). Esse
modelo de governo seria um modelo de maior sustentação, que mais perdura, visto que outros
modelos como aristocracias, também sendo estes, regimes frágeis. E sendo o principado
nascido de uma crise política.
Sobre a dinâmica antagônica entre o povo e os grandes, não poderia ser essa uma
relação similar à uma relação de caráter patológico, refiro-me a alguma possível semelhança
entre a relação de um algoz e seu codependente? Realizando um paralelismo à certas
dinâmicas mais aproximadas a um contexto com elementos do psiquismo humano.
Maquiavel descreve o apetite voraz do grande de domínio e sobretudo opressão, e por
outro lado o povo; com certa passividade, que não se rebela se tão somente não for oprimido.
Estes papéis de certa forma remontam uma relação entre algoz e subserviente, onde
este tem consciência da perniciosidade; mas tem um caráter vitimista, martirizando-se porém
sem estratégias efetivas e contundentes, para romper com a subjugação. O algoz sempre se
utilizará de alternância entre maus feitos e alguma “benesse”. Numa eficaz calibragem de
modo a que não se evidencie seu caráter predatório.
Sendo algo como uma “dança macabra”, mas onde o povo se aninha de maneira pueril,
se vitimiza e retorna ao seu lugar de resignação. Com lamúrias, porém costumeiramente
aguardando um açoite acalentador.
Parecendo como algo que estivesse internalizado nos seres a nível primitivo, basal
como uma propensão a se necessitar de um cuidador. Tal como um infante que carece de
figura paterna, então a relação do povo e dirigente também poderia ser um modelo patriarcal,
em dimensões de um inconsciente coletivo e ampliado.
No que se trata a respeito da impetuosidade humana e suas paixões, mesmo os
oprimidos tem uma fantasia de alguma homogeneidade, almejam a pacificidade, buscam a
concórdia. Porém na realidade do âmbito da dinâmica política isso não seria possível, não há
como aniquilar a dicotomia, pois senão cessa a animosidade, e cessam as forças para se
moverem as engrenagens do mecanismo político. Essa interação de forças é a que propulsiona,
expande. Logo podemos constatar que tanto o povo como os regentes ambicionam. O povo
também é desejante tendo suas pulsões, ou seja os seres são dotados pelo desejo de possuir e
que esse desejo de possuir, de ter para si, se bem canalizado é expansionista. Novamente o
antagosnismo dos desejos não deve ser aniquilado, porém regulado. Então nunca deverá haver
supressão absoluta de nenhuma das forças, e sim uma moderação, regulação por meio das
instituições e ordenamentos.
Ao final se assemelham a duas faces da mesma moeda que precisam ser reguladas para
coexistirem, tendo maior êxito a parte que for dotada de melhores estratégias, por se tratar ao
que parece de uma guerra implícita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obra maquiaveliana, especialmente o capítulo IX, nos revelou o caráter político,


como advindo das das próprias paixões humanas, tendo o exercício de poder como finalidade,
não como bem comum e sim primando pelo exercício de poder.
Revela-nos a face de uma política operacional, bem como a arte de conquistar e manter
o poder.
Elucidando e descortinando os melindres da arte política, nos permitindo algumas
acepções sobre essa intrigante dinâmica do organismo político.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAQUIAVEL, N. O príncipe. 6º Edição. São Paulo. Editora WMF Martins Fontes, 2004.

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