Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A revolução de Maquiavel.
Diferentemente dos teólogos, que formularam teorias políticas com base na Bíblia e no
Direito Romano, e diferentemente dos contemporâneos renascentistas, que se baseavam
nos filósofos greco-romanos, Maquiavel partia da experiência real de seu tempo.
Como diplomata e conselheiro dos governantes de Florença, presenciou as lutas europeias
de centralização monárquica, o ressurgimento da vida urbana na Europa e, com ela, a
ascensão da burguesia comercial das grandes cidades. Ao mesmo tempo, viu uma Itália
fragmentada, dividida em reinos, ducados, repúblicas e cidades dirigidas pela Igreja.
A compreensão e a interpretação do sentido dessas experiências históricas convenceram
Maquiavel de que as concepções políticas antigas e medievais não eram capazes de
abarcar verdadeiramente o que é o poder. Tornara-se necessária, sobretudo para a Itália e
para Florença, uma nova concepção da sociedade e da política, que levasse em conta a
observação direta dos acontecimentos. Foi com isso em mente que escreveu O príncipe.
1. Maquiavel não admitia um fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou
Razão).Toda cidade (isto é, toda sociedade), dizia ele, está originariamente dividida entre o
desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem
comandado. Essa divisão evidencia que a cidade não é uma comunidade homogênea
nascida da vontade divina, da ordem natural ou da razão humana. Na realidade, a
sociedade é constituída de lutas internas que a obrigam a instituir um polo superior -o poder
político- que possa unificá-la e dar-lhe identidade. Assim, a política nasce das lutas sociais e
é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade.
2. Maquiavel não aceitava a ideia da boa comunidade política constituída para o bem
comum e a justiça. Como vimos, ele considerava a divisão social entre os grandes e o povo
o ponto de partida da política. Essa imagem de comunidade una, indivisa, homogênea e
voltada para o bem comum, dizia Maquiavel, é uma máscara com que os grandes recobrem
a realidade social para enganar, oprimir e comandar o povo, como se todos tivessem os
mesmos interesses e fossem irmãos e iguais numa bela comunidade.
A finalidade da política não é a justiça e o bem comum, e sim, como sempre souberam os
políticos, a tomada e manutenção do poder. O verdadeiro príncipe sabe tomar e conservar o
poder e, para isso, jamais se alia aos grandes, pois estes também querem o poder para si.
Por isso, ele deve aliar-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao
desejo de opressão e mando dos grandes. A política não é a lógica racional da justiça e da
ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei.