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o deconer do onor 80, derde o Íinol

dácodo de 70, derenwlverom-re no

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o enlino e oprendizogem do leiluro a do

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robre como proporrionor oor olunor, do

lo oo 3o grou, o domínio lexluol em

olividoder de rompreenrôo ou produrôo


aurilo.

ffi[ililu[|flil
SUMÁRIO
(itpvright @ 2002 Pontes Editores
3" Edição (revisada) - 2002
Direitos adqúridos para publicação em língua portuguesa
(\urdenaçdo cditorial'. Emeslo Cuimaràes
Capa: Cláudio Roberto Marthi
Prcparação de Oiginaís e Digitação: Raquel Beatriz J. GuimaÍães
Elzira Divina Perpétua

Leitura e competência comunicativa


Daniel Coste....... .................................... 11

Intertextualidade, norma e legibilidade


Gerard Vigner..... .................................... 31

Introdução aos problemas da coerência dos textos


(Abordagem teórica e estudo das práticas pedagógicas)
Michel Charolles ..-.................................39

Situação da escrita, imprensa escrita e pedagogia


Sophie Moirand.. ........-........................... 91

Técnicas de aprendizagem da argumentação escrita


Gerard Vigner..... ...................................117

Leituras de narrativas
A. A1i Bouacha
D. Bertrand......... ...................................137

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Fone (019) 3252.6011
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2002
lmpresso no Brasil
I ;
CRIYEL, C . P rotluction de I' inté rê t ro mane sq ue . Paris/l'a Haye: Mouton, INTRODUCÃO AOS PROBLEMAS DA COERÊNCIA DOS TEXTOS*
1973. (Abordagem teórica e estudo das práticas pedagógicas)
GLTESPIN, L. Problématique des travaux sur le discours politique.
Michel Charolle.r
Langages. [s.1.], n. 23, sept. 1971.

JENNY, L. Stratégie de la form e. Poétique. ls.l.), n. 27, 19'76.

JAUSS, H.R. Littérature médiévale et théories des genres Poétique. 1s.1.1,

n. 1, 1970,

"Andótamos e escapavaru-lhe frases quase incoerentes. Apesqr


tlos meus esforços, mal acompanhava as suas palavras, Iimi-
tando-rue, enfim, em .fixti-las. A incoerência do discurso
depende de quem ouve. O espírito parece-me feito de talforma
que ek ndo pode ser incoerente pora si mesmo. Por isso ndo me
atrevi a classiJicar ksÍe como louco. Aliás, percebia vaga-
mente a ligação de suas idéias, não observava nelas nenhuma
contradição; além do nais, eu Íeia Íemido uma solução sint-
ples demais. " (Paul Valéry, "Senhor Teste" )

INTRODUÇÃO

Náo é qualquer conjunto de palavras que produz uma frase.


I Para que uma seqüência de morfemas seja admitida como frase
i por um locutor-ouvinte nativo, é preciso que respeite uma certa
ordem combinatória, é preciso que seja composta segundo o sis-
tema da língua. Todo membro de uma comunidade lingüística tem
um conhecimento intuitivo e uma prática imediata dessas
restrições estruturais. A ordem da língua aparece no uso sob a
forma de prescrições imperativas implÍcitas, constituindo uma
norma mínima a partir da qual todo falante é capaz de realizar
espontânea e ingenuamente operações discriminatórias funda-
mentais do gênero "não é português", "uma algaravia"... Essas
desqualificações radicais acarretam procedimentos severos de
exclusão: sancionando uma falta às regras constitutivas sobre as
quais repousa o consenso lingüístico, tem por conseqüência uma
marginalização em relação aos circuitos da troca comunicativa e
umâ marcaÇão sociológica mais ou menos redibitória. Em todo
* Publicâdo em adrrgae lrrarçaise. Paris: Lârousse, n. 38, 1978.

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caso, essas desqualificações são de natureza totalmente diferente junto (em princípio exaustivo) das regras de boa formação textu-
das avaliações lingüísticas pejorativas do tipo "familiar", "vul- al. Dessas regras podem-se derivN julgaruentos teóricos chama'
gar"... que remetem a infrações secundárias quc não colocam em dos de coerência, abrangendo, se possível, exatamente o campo
questáo o sistema e que têm por efeito simples desclassilicações das apreciações vemaculares de desqualificação máxima e 'Jul-
("inculto", "provinciano"...). gamentos de não padronização" correspondendo às depreciações
Essa ordem normativâ constitutiva implícita é explicitada de superfície.l
pela gramática (de trase) que a reproduz teoricamente, construin- Numa comunidade lingüística a maioria dos sujeitos tem um
do regras combinatórias sobre as quais repousa. A gramática domínio perfeito das regras de boa íormação frástica e textual; é,
substitui as discriminações ingênuas radicais por marcas aprecia- portânto, muito raro que um indivíduo tenha que produzir julga-
tivas teóricas ("gramatical/agramatical"), controláveis e eventual- mentos de desqualificação radical em relação às produções ver-
mente apuráveis no interior do modelo das quais resultam. A sub- bais dos seus semelhantes. E quase só nas obras lingüísticas que
rogação teórica das avaliações pejorativas entra da mesma se encontrâm, a título de exemplos especulaüvos, conjuntos de
maneira no campo da gramática, que troca as taxinomias ingênuas palavras ou de frases contrariando frontalmente o sistema consti-
por taxinomias técnicas ("não padrão", "semifrase"...) que são tutivo da língua. A construção das gramáticas e, de modo mais
igualmente derivadas do modelo de base segundo procedimentos geral, a elaboração teórica obrigam a recorrer a tais artifícios
especiais apropriados. Tanto num caso como no outro, os julga- heurísticos: para se descobrir uma regra fundamental, o meio mais
mentos de saÍda, engendrados pela gramática, têm (em princípio seguro ainda é raciocinar sobre enunciados desviantes que repre
e idealmente) a mesma abrangência empírica que os julgamentos sentam o avesso (e, logo, também o direito) do mecanismo procu-
ingênuos de entrada. rado. Estaríamos, contudo, errados se pensássemos que essas
As considerações que precedem foram introduzidas a partir aberrações só ocorrem no laboratório do lingüista; existem, com
da frase, mas têm o seu equivalente exato ao nível do texto. Da efeito, situações bem reais em que um sujeito (ou um grupo)
mesma maneira que um conjunto de palavras não produz uma chega a considerar tal ou tal desempenho verbal como fundamen-
frase, um conjunto de frases não produz um texto. Tanto ao nível talmente paradoxal. Essas situações são facilmente localizáveis:
do texto como no plano das Íiases, existe, então, critérios efi no interior de uma sociedade dada, é geralmente estabelecido que
cientes de boa formação que instituem \ma norma mínima de essas manifestações de linguagem mais ou menos teratológicas
composição textual. O uso dessa norma conduz a desqualificações emanam de categorias determinadas (doentes mentais, crianças)
maciças e ingênuas: "este texto não tem pé nem cabeça", "esta ou referem a modos de funcionamento particulares (arte,
história não tem cabimento"... muito mais poderosas que as magia...). Daí resultâ, aliás, que todo indivíduo confrontado com
avaliações depreciativas do tipo "mal escrito", "mal formulado", enunciados desse tipo sabe, segundo a situação (reconhecida),
que só dizem respeito aos arranjos de superfície, mas não blo-
queiam fundamentalmente o processo comunicativo. Essas
I A fundâção de uma gramática de texto repousa numâ argumentação original diretamente
desqualificações ingênuas são inconoebíveis se não forem rela- trânsferidâ daqueLâ a partir da qual foi consliluído o projelo de uma gramáticâ e transforma-
cionadas, elas também, com um sistema implícito de regras inte- cional (cf. CHOMSKY, 1969 e l97l). As gramáticâs textuâis sofrem, portânto, nas suâs
riorizadas igualmente disponíveis pal'a todôs os mcmbros de uma disposiçôes iniciais, de insuficiênciâ idênticas àquelas qu() forâm dctcctadas nas gÍamáticâs
comunidade lingüística. Esse sistema de regras dc base constitui gerâtivas e transformâcionais. Constatamos en(retanto que, quaisquer que sejlnr as reserva§
que possâmos enitir em relaçáo a conceitos como competência, /edorrt4irce. tais genera
a competêncía textual dos sujeitos, competência que uma teoria
lizâções pcrmitcm. priDreiÍanente, conslituir um quadÍo de sistematizâções bastante
ou gramática do texto ss propõe a instituir como modelo. opcmtório e ceÍamente insubstitüível. Os modelos etüâis desenvolvidos pelos gramáticos do
-Uma tal gramática- (cujo projeto é, em todos os pontos, com- texto ullÍap3ssâm Âliás considerâvelmenie esses linites originais, por causa notâdÂmente de
parável ao das gramáticas de frases cvocadas acima) tbrnece, no snâ dimensão pÍagmática (Cf. os trâbâlhos e a(igos de PETOFI e VAN DIJK citrdos nÂs
interior de um quadro formal e problemático determinado, o con- relerénciâs bibliogúfi cas).

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operar acomodaçÕes e dispõe de quadros de comportamento e de que dispomos, e em particular aqueles sobre os quais nos apoiare-
avaliação apropriados que podem, finalmente e eventualmente, mos ncste artigo (algumas na[ativas ou "textos liYrcs" de alunos
conduzir a reestabelecer a normalidade. Essas práticas são muito de Z , 3" e 4" séries, com as anotaçôes dos prolbssores), não Í-or
complexas de analisar em detalhes e cada caso necessitaria, evi- mam url corpas homogêneo. Por ocasião da coleta, não tomamos
dentementc, de um estudo especíÍico. O nosso trabalho incidirci o cuidado de anotar diversas infbrmaçõcs (sobre os alunos, os
exclusiv.tmente .\obre as estrcttéBies de intervenção que o profes- professores, os cxercícios) que seria certamente muito útil ter cm
sor desenvoLve frente .t certoit textos escritos de alunos julgados rnãos, para uma pcsquisa mâis aprofundada. As nossas reÍêrências
por ele como incoerenÍes. Nosso objetivo é, portanto, particulef e empíricas só têm, assim, um "valor cientílico" muito limitado;
rclatiyamente limitado, embora o tratamento de uma tal questio contudo, admitiremos (na ausência de algo melhor) que esscs
envolva, como se verá, um número considerável de problemas e dados são suÍicientemente representativos c até ar-riscaremos, a
muitas digressões. Mostraremos succssivamenle: partir deles, algumas genetalizações que deverão ser encaradas
\'orn Ioda a lludência que o assunto cxige.
que, geralmente, os professores denunciam ingenuamente as
malÍbrmações textuais que encontrâm nos textos dos alunos, e
ficam num estágio de avaliação pré teórico conduzindo â inter- 1 AS INTERVENÇÔES DOS PROFESSORES NOS ENUNCIADOS
-
ESCRITOS MALFORMADOS DOS ALUNOS
venções pedagógicas freqüentemente mal controladas e relati
vamente perigosas e pouoo eticazes;
que é possível explicitar, ao menos parciâl e grosseiramente Quando se compara a maneira como os professorcs intervêm
-(no interior de um quadro problemático que reÍira esqucuratica- nos cnunciados que consideram mâlformados, aparccem grandes
mente às gramáticas de texto) o sistema de regras de coerêncir diÍ'erenças conforme se trata de Íiases ou de textos
sobre o qual repousam as aprcciaçircs dos proÍêssores;
que um tal sistcma, uma vez constituído, não é aplicável I ) lntervenções nas Írases maLÍormadas
-
mecanicamente, mas sim estrategicamente, pois os professores
eÍêtuam muito t-reqüentemente, segundo os textos e segundo a Na quase totalidade dos textos examinados, percebe-se quc
situação, um ce o núml3ro de cálculos de adaptação, Ievando a as malformações Íiásticas:
estimativas de coerência não direÍamente previsíveis a partir
das regras. são tocalizadas, com precisão, por marcas gráficas conven-
-cionâis;
Nosso trabalho apoiar-se-á sobre dados cmpíricos que dizenr são indicâdâs (ao menos a partir da 4' série) por meio de
respeito às práticas pcdag<igicas dos prolêssores. Na ausência de quatificativos técnicos ("construção", "conjuBação"..), ou
um estudo sistemático sobre a maneira como os professores inter- semitécnicos ("incorreto", "mal esctito"...), reÍ'erindo-se a tal
vêm Íace aos textos que çonsideram como malformados,2l-aremos ou tal aspecto do sistema da língua;
uso de algumas informaçóes que pudemos colher por ocasião dc Íbrner.:em pletexto para exercícios adjacentes, para mani-
pesquisas conduzidas sem método rigoroso. Os documentos de -
putações complementares, que visam a uma eliminação
duradoura da falha obscrvada.
2 Existc u,n ccÍ(o nú,ncro dc cstndos sobÍc prá(icils dc professores franceses (ELUERD,
1972, LAUIiENT et al., 1973, VERTALIER, 1977, CERCLE DE LINGUISTIQUE ET DE
2) lntcrvenções nos textos maLforntados
PÉDAGOCIE l)U FRANÇAlS, I976, o núrnero 29 da Rewu Repércs) e váíos artigos sobre
â norma linsüística em siÍuâção escolar (BESSE. 1976, CENOUVRIER, 1972, PETIOT &
M^RCELLO-NIZIA. 1972) Infelizmente, n€sses trabalhos, o problcma das rcstrições de Para as rnalformações textuâis, ao contrário do que prececlc,
coerênciâ não é prâticrrnente âbordâdo. ol-rserva se:

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que de Íbrma geral, os eflos não estão exatamente loca- mente a "explicar" essas dificuldades pelo nível sociocultural das
-Iizadosno texto, são raramente grifados mas, em geral, estâo crianças, é bastante tentador se fazer a ligação entre essa diferença
marcados por indicâções gÍáficas colocadas na margem, ou por de interpretação e o domínio teórico desigual das resarições que
rasuras que riscam de maneira aproximativa passagens de operam no plano da frase e do texto.
dimensões variáveis; O relato empírico que precede é talvez muito esquemático e
que o vocabulário de denúncia não apresenta, freqüente- muito contestável, mas, se Ihe Íbr concedido algum valor repre-
-
mente, nenhum caráter técnico: traduz uma impressão global de sentativo, parece que há urgência em se desenvolver pesquisas (e
leitura ("incompreensível", "não quer dizer nada"...), uma difi- infbrmaçáo) na área da teoria do texto, aprotundando particular-
culdade de apreensão geral ("?") e empresta as suas imagens, mente esta questão de coerência. É por essa razão que
amplamente, do registro vemacular ("sem pé nem cabeça"...); gostaríamos agora de propor algumas orientações sobre esse
que as práticas corretivas são muito lieqüentemente brutais ponto, inspirando-nos (bastante livrementoj como se verá) em tra
-("refazer") e quase [unca acompanhadas de exercícios sis-
balhos de gramáticâs de texto nos quâis se encontram, atualmente,
temáticos de manipulação (a não ser para "os erros de tempo"). os elementos de teorização, a nosso ver, mais avançados e mais
conseqüentes. Claro, os esclarecimentos que se podem esperar
Dessa comparação ressalta que os professores, conÍrontados desta orientâção teórica não vão de maneira nenhuma üazer
com enunciados transÍiásticos malformados, não passanr geral- "soluções" aos problemas pedagógicos do texto escrito. Tudo que
mente do nível de apercepção imediata, da avaliação comum c se pode esperal num tal empreendimento, é nutdr ou provocaÍ
estáo relativamente sem recursos parâ consú-uir scqüônoias dc um movimento de reÍlexão que sirva para alimentar o diálogo
aprendizagem apropriadas. Tudo se passa então como sc não dis- entre, de um lado, a pesquisa Íundamental e a pesquisa pedagó-
pusessem, no plano do texto, de um conhecimento elbtivo do sis- gica e. úe outro. os pesquisarlorcs e os pralicantes.
tema de regras a partir do qual operam desqualiÍicações. Essa
situação é pedagogicamente prejudicial: o professor que não
domina teoricamente um quadro normativo é reduzido a fazer 2 PARA UMA ABORDAGEM TEÓRICA DO PROBLEMA DA
respeital a cada vez que surge um problema, uma ordem sobre a -
COERÊNCIA TEXTUAL E DISCURS]VA
qual não tem domínio. Disso decorre uma menor eficácia didáti-
ca, o uso de práticas diretivas e sobretudo uma ausência de Não se trata, no quadro deste artigo, de dal. Uma idéia precisa
controle do que está realmente em jogo sob a Íbrma irnposta. da Í'or-rna de uma gramática de texto.3 Na introdução, lembramos
Quem se remete ao uso mais ou menos cego de uma ordcm as grandes linhas do projoto que está na origem de uma tal
nomativa não tem outro caminho a não ser a censura, fica con- gramática, Iimitando-nos a uma visão geral da abrangência do
denado a "não compreender" e a rejeitar na a-normalidade, ou rra modelo, a flm de concentrarmos toda â nossa atenção sobre o
sub-normalidade, tudo o que não está de acordo. Sem qucrer problema particul da coerência para apresentar algumas reglas
dizer, em relação à questão de coerência textual, que os proÍbs- de boa Íbrrnação textual. Dado o caúter limitado das leÍ'erências
sores chegam a tais extremos, é bastante significativo obscLvirr fonrais que serão âqui levadas em contâ, não será possível lbr
que quando perguntados sobre os alunos que cometem erros dcssc mular-essas regras de maneira Iigolosa o, conseqüentemente, nos
tipo, conlbssâm-se sobretudo desarmados, evocam làcilmcntc tel'mos do rnodelo. Assim, limitar-nos-emos a enunciar e discutir
empecilhos intelectuais profundos ( "ausência de espírito lógico", quatro metarregra.s de coeràrcia lemetendo a umâ âpreensão
"incapacidade de raciocinar"...) e só raramente fazem alusão ao gcral, aproximativa e, ainda, pré-teórica dâ qucstão. Essas quatro
mcio familiar e cultural das cúanças. Quando sc considera que os metarregrâs serão chamadas:
mesmos professores, quando talam de alunos que têm problemas
com a sintaxe e com o léxico, ao contrário, chegam muito rapida- 3 Parâ unlâ tentâtiva de síntese sobrc o âssunÍo ct CHAROLLES. 1976.

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metarregra de repetição; palâmetros de desempenhos variados e complexos de analisar
- metarregra de progressão; (movimentos e velocidades de percepção, memorização...).
- metaregra de nãô contradição;
- metarregra de relação. 2 ) Coerência microestrutural e coerência macroestrutural
-
Para introduzi-las, apoiar-nos-emos em enunciados fabrica- Cefio número de gramáticos de texto6 estabelece uma dis-
dos para esse fim e apresentando malformações típicas. No tinção muito importante entre dois níveis de organização textual,
entanto, emborâ, cada vez que Íbr possível, procuraremos ultra- que qualiÍicam de macroestrutural e microestrutural. Para medir
passar este corpus ad hoc e artificial para raciocinar sobre tex- com precisáo a abrangência dessa distinção seria necessário
tos realmente produzidos.4 Recorreremos, ôntão, aos espécimes recolocá-la nô contexto do modelo que a sustenta. Sem chegar a
mais representativos de nosso conjunto de textos de alunos, isso, pode-se entretanto dar uma idéia da sua pertinência partindo
acompanhados eventualmente das correções do professor, o que das seguintes constatações que são, aliás, relativamente triviais.
nos permitirá: Seja o texto seguinte:

(l) Oscar partiu para São Paulo. Deixou cedo seu escritório para
por um lado, valer-nos das avaliações atestadas;
- por outro, verificar se as "apreciações ingênuas" dos profes- tomar o trem das 16 horas. Seu carro ficou no estacionamento da
-sores são uma ativação implícita das quatro metarregras apre- estação de Campinas.
Em São Paulo, Oscar deve encontrar alguns amigos com os
sentadas (o que já será uma primeira maneira de provar a sua quais tenciona preparar um número de uma revista de cinema.
vatidade). Vai trabalhar com eles para organizar um sumário coerente.

Três observações, antes de examinarmos cada uma dessas Esse texto compreende dois parágraÍbs cujo recoÍe parece
metarTegras. corresponder, numa primeira aproximação, a uma mudança de
perspectiva espaço-temporal e temática. Esses dois parágrafos
I ) Coerência e linearidade textual constituem dtas seqüênci.as (Sl e 52) incluídas na unidade supe-
rior e última formada pelo texto inteiÍo. Conforme se considera o
Não se pode refletir sobre a coerência de um texto sem levar plano seqüencial ou o textual, os problemas de coerência colo-
em conta a ordem de aparição dos segmentos que o constituem.s câm-se em termos mais ou menos diferentes:
Isso significa que a gramática de base, à qual referem em profun-
didade as metarregras de coerência, integra relagões de ordem: num nível local ou microestrutural; a questão incide exclusi-
essencialmente â relação "precedei' (notada (<=) pâra indicar que -
vamente nas relações de coerência que se estabelecem, ou não,
a coerência do "seguido" é função do'?recedente") e acessoria- entre as frases (sucessivamente ordenadas) da seqüência;
mente a relação inversa (=>), que é derivada da primeira, segun- num nível global ou macroestrutural, a questão incide, ao
do um processo úansÍbrmacional âpropriado. Essas relâções de
-
contúrio, nas relações que se estabelecem entre as seqüências
ordem que figuram no modelo são relações abstratas sem relação consecutivas.
direta com os mecanismos de leitura concretos nos quais intervêm
Com Íelação a esses dois níveis de ârticulação problemática,
4 Os textos de alunos ou trechos citados como exemplos seúo apÍesentâdos com o número admitir-se-á:
de ordem marcado poÍ um cíaculo.
5 CI" BELLERT. 1970. 6 Em panrcular VAN DllK. 1c72. lqTr lr)75r. lc76r. lSTbb

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a) que a coerência de um enunciado deve ser conjuntanxente cias consideráveis: esses dois pontos permitem, com efeito, fazer
deterntinada de um ponto de vistq locol e global, pois um texto a economia parcial de um nível de pesquisa e remetem, final-
pode muito bem ser microestrutuÍalmente coerente sem o ser mente, o essencial do problema ao plano microestrutural. Notar-
macroestruturalmente; isso fica claro se substituirmos em l, por se-á, contudo, que c proíbe a homologação pura e simples dos
exemplo, 52 por 53: dois níveis.

(2) Como os tomates são caros no inverno, aconselhamos a 3) Coerência e coesão


senhôra a não compná-los. Serão vantajosâmente substituídos
por concentrados que farão a alegria dos seus filhos. Numa gramáticâ de texto, a base do texto (sua representação
estrutlral profunda) é de natuÍeza lógico-semântica: os constitu-
b) qtre não há diferença fundamental ente as (meta)regras intes frásticos, seqüenciais e textuais figuram sob forma de uma
de macrocoerência e de microcoerência: cadeia de representações semânticas ordenadas de tal maneira que
c) q\e certas restrições específicas aparecem entretanto no sejam manifestadas suas relações conectivas. As regras de coerên-
I mac ro e struÍurali
n ív e cia agem sobre a constituigão dessa cadeia, sendo que as
d) que uma condição necessória para que um tacto seja 8lo- restrições que elas estipulam incidem, portanto, sobre traços
balmente coerente é que se lhe possa associaL por construção, (lógico)semânticos, isto é, afinal de contas, lingüísticos. Mostrar-
uma seqüência de macroestruturas e microestruturas coerentes. se-á, entretanto, que muitas dessas regras (e, portanto, também
Os pontos b e d merecem algumas explicações. Chama-se certos aspectos das metarregras que são a sua contrâpartida geral)
macroestrutura (ME) de uma seqüência a (ou as) proposição exigem que sejam levados em conta parâmetros pragmáticos que
(proposições) de superfície obtida(s) depois de um certo número remetem aos participantes do ato de comunicação textual. Com
de "regras de redução" (macrorregras de generalização, de apaga- essas regras, as gramáticas de texto ultrapassam o simples âmbito
mento, de integração, de construção...)7 terem sido aplicadas do texto para abordar o plano do discurso (do texto em situação),
sobre a seqüência de frases que a compõe. Assim, se considerar- o que não deixa de aumentar seu poder. No estddo atual das
mos que S1, 52 e 53 admitem respectivamente para ME: pesquisas (e teÍemos oportunidade de sentir isso) ndo mais parece
possível, tecnicamente, operar uma PartiÇõo rigorosa entre as
ME1 "Oscar partir para São Paulo" regras de abrangência texÍual e as de abrangência discursiva. As
ME2 - "Oscar vai preparar com outras pessoâs o número de gramáticas de texto rompem com as fronteiras geralmente admi-
-
um periódico" tidas entre a semântica e a pragmática, entre o imanente e o
ME3 "Aconselhamos as donâs de casa a não comprarem situacional; daí, em nossa opinião, a inutilidade presente de uma
tomate- no invemo" distinção coesão-coerênsia que algunsS propõem, baseando-se,
justâmente, em uma delimitação precisa desses dois territórios.
á diz simplesmente que as regras que definem a (micro)coerência
de S I , 52 e 53 são as mesmas que as que definem a coerência das l") Metarregra de repetição (]MRl): Para que um texto seia
seqüências de ME formadas por MEI + ME2 e MEI + ME3; e d é prec iso
(microestrutu[almente e macroestrut]Íalmer,te) coerente
enuncia que os textos T(S1 + 52) e T' (Sl + 53) são macroestru- que contenha, no seu desenvolvimento lineaí elemenÍos de recor-
turalmente coerentes quando as seqüências MEI + ME2 e MEI + rência estrita.
ME3 são microestrutuÍalmente coerentes; b e d têIIj. conseqüên-
8 Essencialmente SLAKTA, 1975. e em segúidâ ADAM. 1976 Essa queslão está evidente_
7 Pârâ essas Íegras cf. VAN DUK. 19764 em particular, e CHAROLLES, 1976, quc dá uma mente longe de seÍ Íesolvidâ, como se verí a leitum do númeÍo 38 de ful,que Fr&qaise' no
versão um pouco simplificada. quâl vários ârligos ÍefeÍem se à distinção coesâo/coerênciâ-

48 49
Segundo nos consta, I. Bellertg foi a primeira a formular de rnesmo tempo preceder e comandar o grupo ao qual refere. Toda
maneira rigorosa essa restriçáo. Em "On a condition of the cohe- intiação a essa regra conduz a enunciados abeÍTantes do gênero:
rence of texts", escreve (p. 336): "a repetição constitui uma
condição necessária embora evidentemente nl6 sufi6isn1s (5) 'EIe (l) (=>) sabe muito bem que Pedro (2) não estará de
-
parâ que uma seqüência -
seja coerente." Essa afirmação acordo com Mário (l)."
corresponde bem, a nosso ver, à idéia intuitiva que temos de um
enunciado coerente, a saber: o seu caráter seqüencial, seu desen- Num enunciado como (5) nAo é possível interpretar "ele"
vôlvimento homogêneo e contínuo, sua ausência de ruptura (sem como representando "Miírio"; diante de umâ tâl ocorrôncia, a
"alhos com bugalhos"). única solução consiste entáo em recuperar o pronome da 3" pes-
Para assegurar essas repetições, a língua dispõe de recursos soa como remetendo (exoforicamente) a um indivíduo diferente
numerosos e variados: pronominalizações, definitivações, de Pedro (2) e Mário (1), o qual deve-se supor que foi citado ante-
referenciações contextuais, substituições lexicais, recuperações riormente ou que é perfeitamente conhecido do emissor e do
pressuposicionais, retomadas de inferência... Todos esses proce- receptor. Se tal interpretação não for possível, "ele" é percebido
dimentos permitem ligar uma frase (ou uma seqüência) a uma como um afórico puro cuja aparição abre um vazio na seqüência
outra que se encontra no seu contexto imediato, lembrando pre- e quebra seu desenvolvimento conínuo.
cisamente tal ou tâl consütuinte num constituinte vizinho. As falhas desse tipo não são raras em textos escritos dos
alunos:
a) As pronominalizações- Sabe-se que a utilização de um pronome
torna possível a repetição, à distância, de um sintagma ou de uma (Ô" g* seguida os palhaços entrou na cabine e os três
frase inteira. No caso mais freqüentc da anátbra, a retomada se nYmeros reapareciam e os espectadores diziam 'bravo
efetua de frente para trás: bravo'. Em seguida o apresentador voltou e -
disse: 'crianças
vocês podem pegar eles, tem de todas as cores." (sublinhado
(3) Uma velhinha foi assassinada na semana passada em por nós no texto anotações do professor: "?" na margem)
Campinas. (<=) Ela foi encontrada estrangulada na banheira. -
A menção de palavras relatadas conduz freqüentemente a
No caso mais raro da catáfora o pronome antecipa (=>) sobre empregos pseudocatafóricos: um pronome de início introduzido
seu referente: o termo de retomada, primeiro vazio, só recebe como um exofórico situacional é reavaliado a posteriori segttndo
interpretação semântica depois de am feedback de restabeleci- um sistema de recuperação com ingerência enunciativa.
mento.l0
Q) "A outra mulher lhe disse: 'põe ela no chão', é a maleta que
(4) "Vou confessá-lo (=>): este crime me perturbou.,, tem que pôr no chão."

As pronominalizações resultam da aplicação de processos Às ,e2"" a elucidação do que veio antes é comprometida
transformacionais sobre os quais pesam restrições. A mais pelo afastamento.
conhecida é a proposta por Langackerrl, que estipula que um
pronome não pode, na representação sintagmática intermediária, ao Oigo a Paulo 'olha esse pássaro'. Ele me disse preste
@"eu
muita atenção pois se ela (=>) se agarrâ nos teus cabelos, Preci-
9 BELLERT. 1970. sará cortâr eles rente para poder snterrâr ela.
l0 Cf. MAILLARD, 1974, e COMBETTES. 1975. No dia seguinte, quando voltei, queria pôr um chapéu pois tinha
II CT FAUCONNIER. 1974,
medo que a guandira se emaranhasse nos meus cabelos "

50 5l
Outra malformação muito freqüente nas redações dos As crianças do primeiro grau parecem dominar bem esses
alunos: as ambigüidades reÍerenciais. prôcedimentos de retomadâ que utilizam, aliás, abundantemente,
sempre contra a vontade dos professores que caçam repetições.
(9 ) "Pedro e minha irmã estavam nadando no rio. Um dia, um
h-omem estava tomando banho; como ele sabia nadar, ensinou c) As substituições lexicais. O uso dos definitivos e dos dêiticos
para ele." contextuais é acompanhado freqüentemente de substituições lexi-
cais. Esse procedimento permite evitar as retomadas lexemáticas
Sem verdadeiramente romper a continuidade seqüencial, ao mesmo tempo em que se garante uma retomada estrita:
esses disfuncionamentos infoduzem 'Zonas de incertezas,, no
texto; certas ambigüidades são recuperáveis contextual ou estrate- (14) "Houve um cime nâ semanâ passada na cidade: uma ve-
gicamente (cf. MR3), outras, ao contriírio, são insuperáveis, crian- lhinha foi estrangulada na banheira. E§rs assassinato é odioso."
do um vazio interpretativo comparável àquele que resulta dos
empregos afóricos. Também nesse caso, certas restrições (semânticas) regula-
mentam rigorosamente o emprego das substituições t3; por exem-
b) As definitivações e as referenciações dêiticoli contextutti§-
plo, numa língua como o português, o termo mais genérico não
Como as pronominalizações, as definitivações permitem retomar
pode preceder seu represenlante:
declarada ou virtualmentel2 um substantivo de uma tiase para
outra ou de uma seqüência para outra: -ik(15) "Um homem desertou em Poços de Caldas, em 1932. O
"iUintra ayó Íem tluas cabras. Todos os clias, a gonte ia ao Paulista refugiou-se numa fazenda onde foi bem acolhido."
Q} (16) "Um Paulista desertou em Poços Caldas em 1932. O
0 jardim à 3 Km. As cabras (<=) passeiam cm volta."
homem refugiou-se numa fazenda, onde foi bem acolhido."
Certas restrições de proximidade, relativamente diÍíceis de
teorizar, parecem pesar sobre o emprego dos determinantes Por difícil que seja analisar essâs restrições, elas náo colo-
definidos; assim, quando o nome repetido se encontrâ no contex- cam problemas maiores no quadro de uma gramática de textos
to imediato que o precede, o emprego dos dêiticos contextuâis é com base semântica. Mais problemática é a questão de saber se o
mais natural: emprego simultâneo de um determinante definido com um lexe-
ma de substituiçáo é suficiente para estabelecer uma co-referência
(11) "Jerônimo acaba de comprar uma casa. A casa é grande e estrita. Evidentemente, enquaÍlto se consideram exemplos como
tem estilo." (14), (16) ou (17), não há nenhum problema:
(12) "Jerônimo acaba de comprar uma casa, Esta casa ó grandc t'"r.\---
-
e tem estilo."* (17) "Picasso morreu faz um ou dois anos. O artista deixou sua
coleção pessoal para o museu de Barcelona."
Entretanto, quando o substantivo inicial é introduzido con-
juntamente com outros como em
Pois imagina-se facilmente que o comPonente lexico-enci-
(13) "Jerônimo acaba de adquirir uma câsa com celeiro."
clopédico da gramátical4 fornece definições nas quais o termo de
â retomada pela definitivação não coloca nenhum problema:
retomada figura sob a entrada do seu referente. Entretanto, ao
(13) (continuação) "A casa é grande e tem estilo."
reÍ'letir sobre (18):
12 Sobre €ssa distinção ct MILNER, t976.
*Arespeitodosexemplos(10),(ll)e(12),note,sequeoartigotemumvaloÍmaisânâfóri,
Ct COMBETTES, 1975, e MILNER, 1976.
co em português do que em frâncês (N. do T.). Sobre esse pÍoblema, cl VAN DUK, l9?2, e, sobretudo, PETÔFI. 19'73. 1976a, 1976b.

52
(18) "Picasso morreu faz um ou dois anos. O autor das mamíferos, decorrenclo desse ponto de vistâ uma impressão de
Demoiselles d'Avignon deixou sua coleçáo pessoal para o descontinuidade resultante de uma infração à metarregra de
museu de Barcelona." repetiçáo.

Perguntamo-nos se é tecnicamente possível supor que a descrição d) As recuperações pressuposicionais e as retomadas de inferên-
definida "o autor das Demoiselles d'Avignon" será incluída na cla. Nos procedimentos que acabamos de examinar, os mecanis-
definição de Picasso, pois podemos questionar-nos sobre o nível mos de ràpetição são mais ou menos perceptíveis na superfície
de precisão enciclopédico ao qual o léxico deveria chegar. Não textual; no que diz respeito às recuperações pressuposicionais, a
haveria, claro, nenhum problema, se o emprego do determinante retomada incide nos conteúdos semânticos não manifestos (ainda
definido na descrição Íbsse suficiente para estabelecer uma li- que fundamentais) que devem ser reconstruídos para que
gação de retomada indiscutível, mas nào nos parece ser o câso em áp*"çu-, expliciumente, as recorrências.16 Seja, por exemplo' a
(18). Aliás, considerando (19): pergunta seguinle:

(19) "Picasso moreu faz um ou dois anos. O autor da Sagraçíro (20) "Será que Felipe vendeu seu carro?"
da Primavera deixou sua coleção pessoal para o museu de
Barcelona." e as respostas:

parece claro que a presença do dcfinido não obriga a considerar (21) "Não, ele vendeu a bicicleta."
que Picasso e o autor da Sogruçíut dcsignam uma só c mcsma (22) "Não, roubaram-lhe."
pessoa. Para nós, que sabemos que não é Picasso, mas (23) "Não, ele emagreceu."
Stravinski, que compôs essa obra, (19) parece, ao menos àr
primeira vista, saltar inexplicavelmente de alhos para bugalhos. Parece que as seqüências S1 ((20) + (21)) e 52 ((2O) + (22))
Esse ponto faz ressaltar claramente, em nossa opinião, o quan- são igualmente coerentes comparadas à 53 ((20) + (23))' da qual
to são espinhosos os problemas que tocam ao léxico. A intcrro, não parece ser possível reconstituir a continuidade' O fato que
gação sobre exemplos como (19) mostra que é praticarncnte (21), (22) e (23) retomam todas, graças ao "ele", o termo
impossível traçar uma fronteira nítida entre a semântica e a "Felipe" constando no (20) e que, apesar disso, S3 seja julgado
pragmática,15 pois vê-se que as informações enciclopédicas de forma diÍ'erente de Sl e 52, faz ressaltar nitidamente que as
(remetendo a um saber estabelecido) são finalmente rnenos condições de repetiçáo apresentadas até aqui são insuficientes
importantes que o saber (ou convicções) que os pârticipantcs, para garantir, por si mesmas, a coerência de uma seqüência A
no ato de comunicação, partilham ou não. Encontra-sc utn ãiL."nçu de avaliação entre S1, 52, 53 se explica se levarmos
ploblema análogo ao que acaba de ser evocado em relação a em conta que (21) e (22) repetem no seu posto uma das pressu-
(19) no texto citado em posições dà pergunta ("Felipe vendeu alguma coisa" em (21),
@. Esse trecho fornece um bom cxcrn- i'A"ánt""", alguma coisa com o carro de Felipe" em (22)),
plo de substituição semanticamente inaceitável, já quc par-ccc
estabelecer que "guandira" reloma "esse pássâr()". enquanto (23) náo retoma (recobre) nenhuma.
Rigorosamente Íàlando, tal retomada é impossível, ao tncn()s Poderíamos nos apoiar em numerosos textos de crianças nos
enquanto se lica numa apreensão estritamente lexico-cnci- quals esses mecanismos de retomada pressuposicional intervêm
clopédica do problema, já que os morcegos não são, "corno de maneira efetivâ, seja porque os alunos os dominam (o que
todos sabem" (como só as enciclopédias dizem), pássaros, rrras parece ser o caso mais freqüente), ou, ao contrário, porque não os

t5 ct PETôF]. t9"t4e 19i5. l6 Cí RUWET. 1975. e sobretudo BERRENDONNER. 1976.

54 55
dominam completamente. Mas queremos chamar a atençáo para lccuperações pressuposicionais, fortes Íàtores de coerência. Seja
um outro ponto. Quando se analisam certos temas de redâção que a seqüência seguinte;
são propostos às vezes aos alunos, observa-se que veiculam inlbr-
mações pressupostas que as crianças são obrigadas a aceitar (c (25) "Alice matriculou-se na Universidade. Desde que terminou
portanto reconhecer), visto que, como tbi notado várias vezes, é seus estudos secundários, não sabe mais para que profissão ori-
impossível contestar essas informações sem recolocar em questào entar-se."
a oportunidade mesma do ato de linguagem que as suporta, o que
não é muito concebível quando se trâtâ, em situação escolar, dc A primeira frase permite deduzir "Aliçe terminou seus
um ato professoral. Eis um exemplo, entre outros: estudos secundários", pois, no mundo que conhecemos (e que
neste.setor infelizmente só admite poucas exceções), estabele-
(24) "Três crianças passeiam num bosque. Brincam de explo, ceu-se que "pÍra que uma pessoa possa mâtricular-se no gnsino
radores. Chegam diante de um riacho muito largo e rnuito prrr superior, é preciso (e em geral é suficiente) que passe no
fundo. O que é que vão fazer?" vestibular depois de ter completado os estudos secundários". A
repetição dessa proposição inferida reforça indiscutivelmente a
A interrogação final pressupõe que as três crianças vão litzcr coerência da seqüência. Aliás, alguém que não se encontrasse
alguma coisa e que um aluno ignorando isso c contando. p(n. capacitado a efetuar a dedução mencionada estaria no direito de
acâso, que as folhas voam com o vcnk) c quc os pirssaros crntilnr. pedir ao emissor de (25) que precisasse a ligação (para ele
ver-se ia severamente punido por não tcr rcspcitad() () tcllla, isto ausenb) entre as duas frases.
é, no fundo, por ter fbmccid(, uma narrerçã() incocrcntc com No exercício escolar, que consiste em imaginar a continua-
relação à questão colocada. çáo de um texto, os professores esperam dos alunos sobretudo que
Dado um enunciado, sabemos quo se pode tilar dclc un) fomeçam expansões que sejam pelo menos coerenles com a
número bastante considerável de proposições. As proposiç<-rcs seqüência introdutória, encontrando então problemas de repetição
assim inferidas devem ser distinguidas das pressuposiçôes: as em todos os níveis (retomada dos nomes próprios, definiti-
pressuposições fazem parte consubstancialmente do cnunciado, vações...).2l A ativação das inferências tiradas do texto inicial
elas são "inalienáveis" e resistem a certas provas lingaiísticâs coloca sempre problemas aos alunos já que essa operação envolve
(negagão, interrogação, encadeamento); I 7 as inÍbrências são conhecimentos de mundo (ou de mundos) aos quais as crianças
menos fortes (elas não se mantêm sob negação), às vezes eslão podem não ter acesso. Assim, supondo um trecho escolhido como
ligadas ao léxico (cf. as implicações em R. Martin),I8 rcmetcm ponto de partida no qual seria dito que um personagem mora
freqüentemente ou a conhecimento de mundo (cf. as quase-irnpli- numa mânsão, ânda de Rolls-Royce e tem muitos empregados,
cações em I. Bellert),19 ou a leis do discurso (cf. os subentenclidos parece-nos normal inferir que um tal indivíduo é rico e, sem dúvi-
em O. Ducrot).2o Na prática, não é fácil operar uma divisâo da, acharíamos errado, a partir disso, toda prolongação na qual
rigorosa entre o conjunto das pressuposições e o conjunto tlas esse homem seria logo de início considerado como miserável (cf.
inferências ligadas a um enunciado; entretanto, se ficarmos nos MR3) ou doente (cf. MR4). A incoerência ou a esquisitice de car-
critérios habitualmente admitidos como distintivos, percebernos tos textos de alunos provêm, às vezes, do fato de que algumas
que no nível seqüencial as retomadas de inferência sáo, cotn() as inferências que supomos poderem se efetuar legitimamente não
são assumidas ou, pior, acham-se contraditadas (cf. MR3) no
l7 Cf. DUCROT, 1972,e 1973. próprio texto. É o que acontece no relato seguinte, que, contbrme
18 MARTIN. 1976, se remeta ao começo ou ao final, parece autorizar duas inferências
19 BELLERT, 1971,
20 DUCRÔT, 1972, Fnannoles.trr.

56
opostas: "o cachorrinho morreu" (iá que ele está "no lugar" do (27) "As viúvas só recebem a metade da aposentadoria de seus
coelho, "trazido" pelo cão de caça.-.) e "o cachorrinho está vivo" Íinados maridos. As mulheres não casadas recebem umâ pensão
Cá que os dois animais se tomam amigos): igual à metade daquela que recebia seu marido falecido Elas
têm só cinqüenta por cento das indenizações que recebiam
(26) "Era uma vez um caçador que andava na floresta para procu- seus maridos quândo estavam vivos. No tempo em que eles
rar um coelho. Então, o caçador atiÍa no coelho, depois seu câo estavam aposentados, as esposas dos aposentados desfru-
vai buscar e, no lugar dele, traz um cachorrinho. O caçador diz tavam com seu marido a totalidade de sua pensão'"
por que você trouxe o cachorinho no lugar do meu coelho.
A exigência da progressão semântica é evidentemente das
O cão diz para seu dono eu encontrei o cachorro no lugar dele
então o dono drz ao cão vai levar ele onde pegou e o cão nâo mais elementares e, à medida que o próprio ato de comunicar
quer, quer ficar com ele e no final os dois cachorrinhos se tor- supõe "alguma coisa a dizer", concebe-se que ela só muilo rara-
nam amigos." mente náo seja satisfeila. Acontece, entretanto' de se encontrar
certos textos de alunos que transgridem com toda evidência
As pronominalizações, as definitivações, as reÍ'erências MR2. Aqui está, por exemplo, um trecho de uma redação na
dêiticâs contextuais, a substituições lexicais, as lecupcr Ça)cs qual o aluno deveria descrever uma fotografia representando um
pressuposicionais e as retomadas de inferência contribuerr) dc ferreiro trabalhando (Os textos dos alunos apreseniavâm as
maneira determinante para o estabeleciInento dc ullla coerência rasuÍas e acréscimos feitos pelo professor, que nada assinalou na
tanto microestrutural quanto macroestrutural. Esses nrcctrrisnrls margem):
de repetição favorecem o desenvolviruenkt tenuitico <:ottlíturo <kt
enunciado, permitem um jogo, submetido a rcgras, dc rctornadas (28) "O f"oei,o está vestido com uma calçâ pretâ e um chapéu
a partir do qual se encontra estabelecido "um llo tcxtuâl c(mdu- ao- um paleto cinza e marrom escuro. Tem na mão a
tor". Quando um elemento de conteúdo é introduzido de lirrma ")-*o.
ponta dâ picareta e bate em cima com um martelo, sobre a ponta
absoluta (no início do texto ôu de uma seqüência) ou cnr conc- da picareta. Os gestos que fez, tem a ponta da picareta e com
lação com um outro já colocado, o texto o reproduz regulanncntc, seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta desta fer-
segundo vias diretas ou indiretas, e constrói, assim, um Íunclo dc ramenta que se chama a ponta da picareta é pontuda e a outra
referência temática contínua (texto de progrcssaro tcrliltica ponta é quadrada. Para tornar ela vermelha com a ponta da
constante) ou derivado (texto de progressão linear, dissociado...).22 picareta colocou ela no fogo e as mãos estão vermelhas "
(texto original)
2") Metarregra de progressdo (i[4F.Z): Para que um tcrto seje (28) "O ferreiro está vestido com uma calça preta, com um
microe struturalmente ou mactoesÍruturalmente coe re rxte, é p r., - chapéu marrom clâro e com um paletó cinza escuro' Tem na
ciso que haja no seu desenvolyimento uma contribuiçõo senúilti- mãó a ponta da picareta e bate em cima com um martelo'
ca conslanlemen te renovada. A ponta desta ferramenta é pontuda e a outra extremidade é

Essa segunda metarregra completa a primeira, no sentido dc quadrada. Para tomá-la vermelha, colocou-a no fogo e as mãos
que ela estipula que um enunciado, para ssr coerente, na() podc estão vermelhas." (texto c o rr i giào)
simplesmente, como âcontece no texto que segue, rcpclir
indefinidamente seu próprio assunto: O que chama a atenção nessa redação é a flagrante circula-
ridade do discurso, Çomo se o aluno (sem dúvida pelo temor do
vazio) acabassc produzindo uma lenga-lenga em que o discurso
22 Sobre esse problemâ, ci COMBETTES, 1975 e 1977; DANES, 1974i PET()1.'1. 197(,i
está quase sempre voltado pzlra si próprio. Existe nesse texto uma
VAN DUK, 1976c. desproporção muito grande entre a taxa de contribuição informa-

58 59
tiva e a taxa de repetiçáo, e, como se vê, o professor intervA tlas rainhas". Colocando-se de lado qualquer questáo de oportu-
diretamente na redação, diminuindo a primeira. Está certo que
Q! nidade, a introdução de uma informação inédita apresenta, então,
não é verdadeiramente incoerente. na reâlidade seria antes exces- rum problema de inserçáo na superfície
sivamente coerente (ao menos no sentido de MRl), mas está claro A reflexão sobre os esquemas de progressão temática nem
que a redundância exagerada que o caÍacteriza o torna fundamen- sempre faz apârecer esse ponto que, no entanto, é importante'
talmente inaceitável. A produção de um texto coerente supôe Supànhamos, com efeito, um texto que desenvolveria "normal-
enÍão que seja realizado um delicctdo equilíbrio (cuja natureza é mente" várias séries congruentes com hipertema constante do
difícil de avâliar exatamente) entre continuidade temdtica e pro- gênero "trabalho => diretor, criança, escola..." "férias => sol, mar
gressão semânÍica (ou rêmica). Um tal desempenho exige que amor...". Não há nenhuma dúvida de que um outro texto que
sejam conjuntamente dominadas as MRI e MR2. operasse uma "mistura topológica" destes temas ("escola, amor,
Num texto coerente, a introdução de informação nova não se diretor, sol...") seria percebido (salvo condição especial) como
faz de qualquer maneira e já mencionamos na conclusão da incoerente, ainda que, em teoriâ, esteja perfeitamente centrado em
exposição da MRI alguns esquemas de progressão. As pesquisas torno dos dois hipertemas em questão. A partir dessa observação,
atuais sobre a aÍticulação tema/rema fornecem numerosos excm- parece entáo necessário acrescentar um corolário à MR2 especi-
ficando que pard que um Íexto que desenvolve várias
plos de percursos progressivos e mostram como num texto bcm séries
formado a introdução dos elementos de "novidade sentântica" temáticq; profundas seja macroestruturalmente coerente, é
obedece a regras e faz-se de maneira programadâ na scqüência dc necessório que essas séries constituam, na supetfície, conjuntos
elementos já conhecidos. Não podemos cntrctanto ignorar quc, seqüenciais homoSêneos.
em certos momentos, surgem num texto ocorrências totalmcntc
inéditas que não podem ser ligadas diretarnentc a ncnhum tcma 3") Metarregra de não-contradiçao (MR3): Para que um texto
precedente ou não extraídos de um rema antcrior. A aparição s ej a microestruturalme nte ou macroe struturalmente
coerente, é
desses segmentos , coloca (do ponto de vistâ da cocrência) pieciso que no seu desenvolvimento não se introduza nenhum ele-
inúmeros problemas que serão examinados a partir da MR4, mas mento semântico que contradiga um conteúdo posto ou
gostaíamos, desde já, de chamar a atenção para um ponto parti, pressuposto por uma ocorrência anterior, ou deduzível desta por
cular. Eis um trecho da redação: inferência.
/Z\ Em lógica, como se sâbe, o princípio da não-contradição
(2r "Chegâ a carruagem das rainhas é a mais bela dc todas irs proíbe que se tenha, ao mesmo tempo, "p" e "não p" (- p): como
camragens. Tem barracas de tiro e de pastéis. E a lbstâ sc âcaba. à cálculo das proposições é fundamentalmente extensivo, "(p ^ -
Tem a carruagem da rainha com flores rosas e brancas dc papcl p)" estipula simplesmente que é inadmissível que uma mesma
crepom e os pagens que estão na frente." proposiçao seja conjuntamente verdadeira e não verdadeira, ou
iàlsa e não falsa. Se deixarmos o domínio das proposições lógicas
Mais ou menos na frente de "e a festa se acaba" o prol'cssor para nos interrogar sobre as relações que mantêm, por exemplo,
colocou um "?", que assinala uma falta de coerência expliciívcl ãuas frases numa seqüência, a questão fica muito complexa, por
pela regra MR3, e na altura de "tem barracas de tiro e dc pastéis" múltiptas razões: impossibilidade de raciocinar diretamente em
(que está riscado) nota-se na margem "aqui não!". Essa últinr:r termos de verdadeiro e de falso; obrigação de levar em conta
anotação é interessante porque mostra bem que o professor', sctu parâmetros temporais (exctuídos dos cálculos clássicos), necessi-
contestar o aluno quanto âo direito de inhoduzir uma inlbrrnaçao àade de considerar inÍbrmações semânticas não explicitamente
nova (julgada, sem dúvida, pertinente pâra o assunto, cl- MR4), o colocadas... Os casos de contradiçdo naÍural,1ue seriam os mais
censura, entretanto, por tê,la colocado em lugar errado, quchl an próximos daqueles tratados Pelos lógicos, são muito raros nos dis-
do a continuidade temática estabelecida em volta de "carruagcrn àursos ordinários. E, com efeito. excepcional que uma seqüência

60
de duas Íiases enuncie, por exemplo, que um mesmo objeto X tissas características definem tm regime enuncíativo que
goze, ao mesmo tempo, das propriedades "&" e "- &". ir() pode ser modificado, sem precauçoes especiais. Assim, se
Certamente podemos citar aporias do gênero: ;rclcsccntatmos inopinadamente (32) ou (33) a (31):

(30) "A luz é de natureza ondulâtória... A luz não é de natureza (32) "Malko senta e acende um havana."
ondulatória..." (33) "Não me lembro mais se Mâlko traziâ consigô uma caixa
de havanas-"
Todavia, em tais seqüências, a contradição é plenamente assumi
da e representada: o discurso contradiz-se com toda evidência losulta um eÍ-eito de contradição tal que as seqüências compostas
para manifestar, retoricâmente, para fins argumentativos, uma t(n-nam'se incoerentes.23
situação cujo caráter (provisoriamente) problemático se quer jus- Nos textos escritos dos alunos das primeiras séries, encon-
tamente enÍàtizar. Se esses textos não são de nenhuma maneira lram-se freqüentemente ÇontradiçÓes desse tipo. Eis dois exem-
incoerentes, outros são, ao contrário, portadores de contradições plos escolhidos entre vários:
não controladas que os tornam mais ou menos aberranles.
z.)\
Estudaremos sucessivamente as contradições enunciativas, Q! "Ort"m, fomos ver o desfile da Gazeta de Pinheiros.
as contradiçôes inferenciais e pressuposicionais e as contradiçeles em
Subimos a rua Teodoro Sampaio. Daí ficamos na calçada
de mundo(s) e de representações do(s) mundo(s). Esse recoltc ó fiente à loja do Sr. Barata. Passado algum tempo os cârros pu-
bastante superficial, já que pârâ análise de oada um dcsses tipos blicitários chegaram. Eles jogam para a gente papéis de pro-
seremos levados a Íàzer considerações que, de alguma maneira, paganda. Em baixo e em cima da avenida, os policiais dirigem
remetem aos outros. o1ráfego."
(35) ",+ntonio sai para um passeio com o Sr Esnobe Chegando
a) Contraclições enunciqtivas. Toda nraniÍtstação llástica ou tex- pHÍo de uma árvore, nós paramos para conversar. Francisco e
tual fixa seu próprio quadro enunciativo pclo mcnos de duas Julia querem jogar um jogo."
maneiras: de um lado, produzindo seu sistema de refêrência tem-
poral e, de outro, instaurando um modo de llncionamento discur- }\fs 6à o professor restabeleceu diretamente o passado nos
sivo determinado. Seja a seqüêneia 5cguintü: dois últimvos verbos e assinalou nl margem "alqnção com a
mudança de tempo", enquanto que. na frenre de (34). consta um
(3 I ) "Malko entrou sem bater no escritório do cheÍê da CIA. sirnples ponto de interrogação Essa diferença no õodo de inter-
Vestia uma roupa escura e trazia na mâo uma magníÍica maleta venção explica-se, se pensa[nos que as contradições temporais,
de crocodilo." por oposição às contradições de modalidade discursiva, só tornam
o texto incoerente de maneira punctual. Tudo leva. a]i(;. a pensar
(3 1) comporta um certo número de marcas lingüisticamente que em geral os prot'essores (como o que col rigiu (34) atribuem
identificáveis que fazem com que a seqüência seja percebida essas malformações temporais a falhas de desempenTio (falta de
globalmente: atenção) ou a um domínio imperÍêito das Í'ormas de conjugação'
mas só excepcionalmente as interpretam como erros de coerência'
como fazendo referência â um certo momento ("t1" anterior Inversamente as contradiçÕes de modo enunciativo são' geral-
ao momento "to" do ato de comunicação); tôn, ceÍa,nente. â nresnra origem e o mesmo alcance
23 Bsses dois tipos {le contíâdição não
como transparente do ponto de vista modal, isto ó, virgern dc Os elemenros de rcflexão âq0i levantados são natrralmente bastânte enrbrionáíios e seriâ
-todo índice fonnal signiticando a ingerência do sujeito da enun preciso alesenvolveÍ âs pesquisâs nesse nível lcvando em contâ os numerosos lÍabalhos já
ciação no enunciado. reâlizâdos sobÍe esse assunto.

62 63
mente, avaliadas como aberações de coerência. Elas são desig_ As contradições pressuposicionais são, em todo os pontos
nadas em termos teóricos e raramente dão pretexto para exercí_ de vista, comparáveis às contradições inferenciais, exceto pelo
cios complementares- fato de que é um conteúdo pressuposto que gntra em con-
tradição com uma proposição ulterior. Partindo de verbos fac-
b) Contradições inferenciais e pressuposicionais. Existe uma con_ tivos24 pode-se construir inúmeros exemplos que apresentam
tradição inferencial quando, a partir de uma proposição, pode_se contradições desse tipo. No exemplo seguinte, a segunda frase
deduzir outrâ que contradiz um conteúdo semântico pã.to ou põe que a mulher de Júlio é fiel, enquânto que a primeira pres-
pressuposto numa proposição circundante. Em (36) e (37): supõe o inverso:

(36) "Minha tia é viúvâ. Seu marido coleciona máquinas de (40) "Júlio ignora que sua mulher o sngana. Sua esposa lhe é
costura." completamente fiel. "
(37) "Pedro não tem carro. Vai vender o dele para comprar um
novo." Em certos enunciados, há ao mesmo tempo contradigão
pressuposicional e inferencial:
por.,viúva,'e ,.vendef'não só não são
as inferências aulorizadas
retomadas nas frases seguintes como tarnHm são expressarnente (41) "Se Maria me tivesse escutado, ela não teria recusado
contraditas por essas. O efeito de incoerência resulta aqui de incom_ definitivamente Paulo que queria casar com ela. Agora que é
patibilidades semânticas profundas às quais é precisó acrescentar sua mulher se arrePende."
considerações temporais, já que, como se vê, basta pôr no passado
"coleciona" e "vai vender" para suprimir as contradições. Apesar de A primeira frase de (41) é uma condicional irreal (contrafac-
existirem, as incoerências desse tipo ainda são bem poúco fre_ tual). Pressupõe que Maria repeliu definitivamente as propostas
qüentes nos textos escritos de alunos. As que são encontradas podem de Paulo, logo, que ela não se casou com ele; mas subentende,
incidir sobre uma seqüência de duas frases consecutivas: além disso, que Maria teria tido razão (não se teria arrependido)
de tomar-se a mulher de Paulo. A segunda frase contradiz tanto a
@ "O equilibrista sobe na corda e sem a vara anda sobre a pressuposição (ela é sua mulher) quanto a inferência subentendi-
corda ele se segura com uma mâo só sobre a corda.,, da ("ela se arrepende"). Tais exemplos são evidentemente bas-
tante superficiais; são difíceis de analisar justamente porque os
ou no plano seqüencial como nos dois últimos pará_ mecanismos pressuposicionais e infererrciais funcionam neles de
-aparecer
grafos do texto seguinte: maneira bastante sutil. Poder-se-ia pensar que as crianças têm
muita dificuldade em dominar esse gênero de sutileza. Ora, é sur-
@ "SaOuao passado quando eu voltava para câsa o gato da preendente constatar que, no final das contas, encontram-se pou-
empregada do correio estava sentado na beira da estrada, Um cas côntradições desse tipo nos seus textos.
carro estava chegando o gato se jogou. Ele bateu uma primeira Se, na lógica, os homens sáo ou sábios ou não sábios, na
vez debaixo do carro. A segunda vez foi a camioneta.
"realidade" as aposições dão-se sempre muito menos clara-
A empregada do correio veio pegar ele. Ela me disse vamos mente e, 1ogo, nos discursos naturais que falam dela. No que se
tentar cuidar dele. Colocou ele dentro do cesto, e estava acaba_ refere a certos assuntos, estamos aliás perfeitamente dispostos
do ele estava morto. (preparados) a admitir a existência de contradições de fatos que
Ela veio à tarde ela nos disse coloquei ele dentro do cesto e ela
se manifestam de maneira mais ou menos pâtente através dos
nos disse eu subi no quaío para ir ver se meu gato estava dor_
mindo." 24 Ci entÍe outros KARTTUNEN, 1973.

64
discursos que falam deles. Numerosos são os estudos que enunciados do gênero de (43), o emissor "solucione" a con-
mostram como um mesmo discurso, perfeitamente coerente na trâdição com a ajuda de conectores como "mas", "entretanto",
superfície, assenta-se sobre proposições completamente "contudo", indicando com isso que a percebe, a assume e, final-
opostas mais ou menos explícitas; são assim, por exemplo, as mente, a anula aproveitando-se dela. Esses conectores2s de recu-
famosas ambivalências em Psicanálise ("digo e repito que amo peração de coerência desempenham um papel fundamental do
meu pai, mas também digo e repito que o odeio"...). A con- ponto de vista da coerência, já que, afinal de contas, recuperam
tradição não é, portânto, um fator absoluto de incoerência. Os um enunciado que, sem eles, poderia eventualmente ser percebido
problemas, desse ponto de vista, são evidentemente muito com- como contrâditório. Mas não permitem efetuar toda e qualquer
plexos e não entraremos em detalhes nessa questão. Entretanto, recuperação e sua ação não é sem limites. Assim, "entretanto"
talvez possamos propor a idéia de que, se certas contradições soluciona a contradição inferencial em (44), mas não a con-
tornam os discursos que as contêm incoerentes enquanto tradição pressuposicional em (45).
outras não produzem esse efeito - prontos a
é porque estamos
reconhecer (através das nossas -,repr€sentações de mundo, cf. (44) "João detesta viajar Entretanto está muito contente de par-
item c, abaixo) que em pontos mais ou menos determinados, "a tir para os E.U.A., pois..."
realidade" é (ou pode ser) contraditória, enquanto que em ou- (45) "João imagina que seu pai quer denunciá-lo à polícia.
tros lugares não o é (ou não pode ser): aqui, um gato é um gato, Entretanto é verdade pois..."
lá, amar é odiar... Um dos recursos, aliás freqüentemente uti-
lizados nos textos, para assegurar a atenção do receptor, É claro que seria necessário examinar outros exemplos para
consisle justamente num jogo sobre as contradições. Seja a verificar que tais limitações estão de fato ligadas aos fenômenos
seqüência seguinte: de inferência e de pressuposição. Pode-se no entanto considerar
que certos conectores contribuem de maneira determinante para
(42) "Pedro, como todo mundo, não gosta de apanhar Quando estabelecer, ou restabelecer, a coerência dos discursos.
batem nele, nãô fica contente."
c) Mundo(s), represenktções do mundo (e dos mundos) e con-
(42), embora quase tautológico, não deixa de ser progressivo, já tradiçdo. Um grande número de contradições naturais não pode
que a segunda frase instancia a afirmação geral contidâ na ser explicado fora de uma problemática que integra as noções de
primeira. Sua contribuiçáo informativa é contudo muito pobre, mundo(s) e de representação. Tal problemática ultrapassa eviden-
pois a segunda proposição não vai muito além da repetição de temente o quadro habituat do campo lingüístico, embora, em
uma inferência imediata da primeira. Seja agora: alguns de seus aspectos, diga respeito diretamente a fenômenos de
linguagem. Nas páginas precedentes, já utilizâmos várias vezes os
(43) l'Pedro, como todo mundo, não gosta de apanhar. Fica temos de mundo e de rgpresentação, mas de maneira totalmente
contente quando sua mulher o chicoteia." intuiúva, e gostaríamos de aproveitar esta parte pâra trazer al8uns
esclarecimentos sobre este assunto e tentar prosseguir numa
(43), se bem que aparsntemente contraditório, não é (ao menos perspectiva mais teórica, que será, aliás, retomada e aprofundada
para nós-eu) incoerente, pois, num mundo que nós (eu) conhe- na exposição da MR4 e na última parte deste artigo. Para a clareza
cemos bem, sabemos que certos indivíduos sentem prazeres ines- da exposição, mas também, e sobreaudo, por râzões teóricas, dis-
perados em certas circunstâncias. Comparada com (42), (43) é. tinguiremos as contradiçôes de mundo(s) e as contradições de
apesar da sua aparência contraditória, "semanticamente mais
interessantc", pois, trazendo mais informações, situa-se num grau 25 Enúe a âbundânte IiteÍâturâ sobÍe os conectores, cf., em pârticular, DUCROT, 1972 e
superior na dinâmica comunicativa. E muito freqüente que, em 1973. FILLMORE. 1975. VAN DIJK, 1975b e 1977.

66 61
reprcsentação de mundo. Embora essa distinção seia, em nossa Ml). Seria perigoso pensar, dado o scntido que atribuímos habi-
opinião, relativamente fundada, ela pcrmanece discutível em tualmentc a um substantivo como "mundo", que somente verbo§
relação a mais de um ponto que. infelizmente, deixaremos de lado do gônero de "sonhar'' têm as propriedades que acabam dc ser
por lalta de espaço. rncncionadas. Na realidade, um grande número de vorbos, de sig-
. Contradições de mundos. Yindo da lógica modal,26 a noção nificação Íieqüenternente muito variada, se comporta como
de mundo foi recentcmcnte introduzida em Lingüística por alguns "sonhar": "pretender", "crer", "pensar", "gostar"... E não só ver-
pesquisadores dos quais utilizaremos amplâmente as análises e os bos têm essa propriedade dc serem criadores de mundos; pode-se
exemplos, em particul o famoso enunciado tirado de J. citar ainda expressões como "no caso de", "na hipótesc cm que"...
Morganz7 . construções particularcs: contrafactuais...; expressões intro-
clutórias como "seja", "era uma vez"... Quando se trabalha com
(46) "Pedro sonha que é alemão e que ninguém sabe disso." essa noção de mundo, os problemas de delimitação adquirem uma
importância primordial. Pelo quc sabemos, ainda subsiste muitas
em que interpretaremos "disso" como substituindo "que é incortozas ern tolno dessa questão; assim, quando se examina (47)
alemão". (46) comporta dois verbos principais: de um lado, e suas expansões, podem se constataÍ alguns fenômenos bastante
"sonhar", que consideraremos numa primeira aproximação eorno surpreendcntes e dificilmente explicáveis:
um implicativo negativo e, de oulro, "saber", que é um ÍactiYo. A
partir de "sonhar", int'ere-se "Pedro não é alemão", que contracliz 47) "Pedrc acha que lem câncer e que ninguém
a pressuposição "Pedro é alemão", resultante do Íactivo. Esse
raciocínio âparentemente conseqüente é, entfetanto, inexato, pois
leva a ooncluir que (46) é contraditório, o que não é de fato. Parà (47\-1 sabê"
ultrapassar essa dificuldade, existe outra solução, que é tratâr o
vcrbo "sonhar" (em torno do qual, como se vê, tudo gira) náo
como um implicativo ncgativo, mas collo um predicado especial (47\-2 sabe que tem uma doença grave."
capaz, num nível muito profundo, de instaurar uma diversificação
dos universos de referôncia. Baseando-se neste vetbo dito
"criador de mundo", opor-se-á então: S3 (47\-3 sabe que está condenado."

11m munde M0 (mundo enunciaÍivo a/a.r/, a partir do qual


-predica-se de Pedro que ele sonhâ)no qual é falso que Pedro is4 (47)-4 sabe que tem um fusca."
seja alemão;
um mundo M1 (alternaÍiva ace ssível de M0, que é "o mundo
-do sonho de Pcdro") no qual é verdadeiro que ele é alemão. Nas seqiiências 51, 52, 53 o campo do verbo "achar'
abrange (47) 1, (47)-2, (47)-3, mas na 54 não recobre completa-
Em (46), o cottpo tkr t,erbo "sonhar" estende se âo mesmo mente (47)-4. Sz1 pressupõe, com et'eito, que é verdadeiro em M0
tempo sobre "ser alcmão" o "todo mundo saber", o que elimina que Pedro tcm um fusca, enquanto que S I não pressupõe que clc
toda possibilidadc dc contradiçáo (há consistência no interior de tem câncer cm M0, o que é o oâso também em 52 e 53. Podemos
dar conta dcste "tato inesperado" lazendo valet que (47) l, (47)-
?6 Pârn urna inrrodução. cf. HUGHES & CRESSWELL. 1972, NEF, 1976. ALEXAN- 3 retomam. sob uma tbrma ou outra, "Pedro tem câncer", por
DRESCU. I976. oposição a (47)-4, que não tem relação (cf. MR4) com essa
27 Citâ.lo e discutido em KARTTUNEN. 1973. icléia; todavia. seria necessário verificar essa hipótese com

68 69
outros exemplos. A partir dessas observações é possÍvc1, parcce- l)cnsa ou entende:
nos, compreender melhoÍ qual é a origem das contradições em
enunciados como: que existe um mundo atual M0 no qual alguém comunica
-(53) a alguém;
(48) "Marcos procura uma casa antiga. Esta casa é do século que existe um mundo Ml no qual existe um indivíduo quc
xvl" veriÍica os predicados "ser Marx", "viver ao lado dos
(49) "Marcos sonha ter um cão. Estc cão gosta de crianças." proletáios"... indivíduos que veriÍicam o prcdicado "ser pro-
letário" e tais que "Marx sonhou qualquer coisa em relação a
A inconsistência de (48) e (49) explica-se pelo fato de que eles":
não existe meio de predicar num mundo M0 (onde Marcos que existe um sub-mundo M2 de Ml no qual os indivíduos
"procura" ou "sonha ter") qualquer coisa de um indivíduo ("casa"
-os indivíduos veül'icam ospredicados "ter uma vida mclhor"...
ou "cão") que só existe no Ml alternativo de M0. A restrição de
coerência que aparece aqui baseia se em consideraçõcs propria- Essa cadeia de mundos e sub-mundos é evidentemcnte diÍí-
mente lingüísticas, Tem a ver com os verbos empregados e cil de seguir logo que nos voltâmos para textos que, ainda que
impõe-se a todos os nativos, quaisquer que sejam suas convicções minimarnente descnvolvidos, não impedem que (a tal cadeia)
sobre Marcos, as casas antigas, os cães... O que demonstra isso, constitua um sistema dc regras que "tem sua lógica"28 c de onde
aliás, é que simples modiÍicações lingüísticas são sullcientes para o enunciado tira sua coerência.29
eliminar toda contradição em (48) e (49): modalizaçáo com . Contradições de representações do mundo e dos mundos,
"dever" do verbo da segunda frase: As contradições de representàção do mundo e dos mundos, por
oposição às que acabamos de estudar, são de natureza tipica-
(50) "Marcos procura uma câsâ antigâ. Esta casa deve ser do mente pragmática. Função das convicções dos pârticipantes do
século ato de comunicação textual, elas dependem da imagem que eles
xvl." fazem do mundo ou dos mundos de referência que o texto
(51) "Marcos sonha ter um cão. Este cão dcvc gostar de crianÇas." manifesta. A rclatividade subjetiva dessas contradições torna
ditícil seu rcconhecimento e con.lpreende-se que, nesse nível,
ou apagamcnto de "ter", na primcira a fi'ase de (48): não se possa fazer reÍ'erência ao sentimcnto de um nativo ideal.
A mais elcmentar das precauções consistc, portanto, nesse caso,
(52) "Marcos sonha com um cão. Esle cão gosta de crianças." em obter avaliações atestadas e identificadas sistematicamente.
Seja a seqüência que considetamos (pessoalmente) como
A atÍibuição dc um ou vários mundos de referência é uma contrâditória:
operação cujos fundamcntos repousam sobre traços propriamente
Iingüísticos. Qualqucr cnunciado apresenta marcas a partir das (54) "Oscar saiu do metrô. Estava cor-rendo de cabeça baixa
quais é scmprc possívcl rcconstituir teoricamente o universo ou os num conedor quando bateu com toda Íbrça numa árvore."
universos aos quais ele se reÍ'ere e que elc institui desde sua emis-
são. Qucm qucr que seja quc cscrcva ou leia: (54), como todo texto, instala scu universo de referência: aqui um
mundo enunciativo M0 e um mundo Ml no qual existem indiví-
(53) "Marx era Íitho da burguesia alemã. Viveu ao lado dos pro- duos, "Oscar", '1netrô"..., que veriticam os predicados "sair"...
Ietários e sonhou para eles uma vida ondc scus salários e
condições de vida scriam melhores." 28 Cf. ROIIER, 1973.
29 CF, PETÔFI, 1973,

70 11
Ii
Limitado a esse plano, a instanciação dos mundos remete a dispostos a acreditar que "existem" meios de cornunicação dotados
mecanismos puran-lente lingüÍsticos: as coisas cromcçam a dc qualidadc muito especiais. Quando se considera (56):
adquirir um caráter pragmático quando o receptor ultrapassa esse
níyel para interpretdr M I cot1lo idêntico act ruundo @ordintiri<t (56) "Oscar saiu do metrô magnético. Mergulhou num módulo
no qual não existe árvore nos corrcdores do metrô. A especifi aspirante e encontrou-se logo confortavelmente instalado num
cação de Ml em um mundo ordinário @baseia-se nas "inÍbr- ovo de relaxamento."
mações descritivas" contidas no enunciado cnquanto tal, mas ela
é Íunção, em última instância, de um procu'sso de reconhecimen- e (57), quc apresenta, aos mesmos olhos, uma certa forma de
to puramente subjetivo. Tudo leva a pensal, aliás, que os esque contradição:
mas representativos,30 a partir dos quais o sujcito desenvolve sua
atividade de reconhccimento, não são (totalmcnte) subjetivos, (57) "Oscar saiu do metrô uragnético. Mergulhou num módulo
mas de pret'erência culturalmente (sobre)determinados. O indiví- aspirante e encontrou-se logo num elevador de carga lotado."
duo não invelta livremente (todas) suas convicções sobre o esta-
do do mundo ou dos mundos, ele os oonstrói através de práticas parece âté que nós (eu?) temos a possibilidade de estimar a
sociais, recebe-os do seu meio. Como bem o demonstram as cocrôncia de um mundo, apcsar de tê-lo reconhecido como sendo
pesquisas atuais sobre a inteligência artificial,3l qualquet dc ficção,32 porque, no intcrior desse universo imaginário, atiYâ-
sociedade "impõe" a seus membros quadros cognitivos a pattir mos estruturas de crença (mais ou menos específicas) em relação
dos quais so constitui, no seio de uma comunidade, um Íundo dc às quais o julgamos conseqüente ou inconseqüentc.
crença totalmente estável e fixado investido constantemente nos Em situação pedagógica, não é raro que as avaliações for-
discursos que nela circulam; e é precisamente porquc essas muladas pclos proÍ'essores Í'açam intervir suas "próprias" repre-
crenças são estruturadas é que ó possível constituir â análise além sentações de mundos. Vejamos, por exemplo, tl começo de uma
do lingiiístico (até mesmo desenvolvê-la mecanicamente, como narrativa na qual um aluno conta um programa de pesca realizâ-
no tratamento automático dos textos). O campo das cstrutulas de do em companhia dos pais:
crença não se limita ao mundo (percebido como) ordinário.
Assim. "bater numa árvore nos corredorcs do metrô" não é mais (58)"... Chegamos à beira do rio. Meu tio arruma as pontas das
contraditório ou aberrante, ao que nos parece, em: vYras de pescar, desenrola a linha que é fina, prende ela na
pontâ da vara e a deixa cair. Nesta linha tem uma bóia quatro
(55) "Oscar saiu do metrô. Os conedores pegajosos descn- chumbos e o anzol que tert a isca, isso ó, a minhoca.
volviam um intestino esplêndido e exuberante. Como clc corria Procuramos uma sombra não muito pcrto de uma árvore para
olhando para o chão, numa passagcm, batcu com toda força quc o anzol não se prenda na árvore e num lugar tranqüilo. Jogo
numa árvore em flores." a linha."

porque a mírior pa[te dos indivíduos, numa cultura dada, dispõe de O trecho que vai de "procuramos" a "canto tliLnqüilo" está
relerências cognitivâs qLrc thes permite interpretar o mundo de (55) assinalado pelo professor, que anototl nâ malgem "nâo aqui"
como um mundo, digamos, de fantasia ou surrealista no qual estão Essa correção é bastante sutpreendentc à pdmeira vista. mas o
proÍ'essor nos cxplicou que era contraditório ("que não tinha nem
30 Pârâ todos csses problenrâs de repÊsenlaÇão. veÍ os tÍabalhos de CRIZE. 1974. 19764. pé ncm cabeça") "pretender" (drxil) que, quando se vai à pesca. se
1976b sobrc â noção de esquemâtizâçào. prepare a linha antes dc procurar um lugar ondc jogá-la. O sim-
ll Ci. SKYVINCTON, 1976. para uma introdüção sugestrvâ. assim como I)ENHIERE,
1975, SCHANK, 1974 eVAN DIJK, 1976d. 32 Numâ penpectiva lógica. cf. WOOI)S, 1973

12 13
,

ples tato de poder contestar tal afirmação ilustra periêitamente, (60) "Maria está dôente." ('"p")
parcce-nos, que ela provém de uma visão do mundo ordinário (61) "Maria logo vai dar à luz." ("q")
mais ou menos pessoal. Dada a imaginação habitualmente atlibuí- (62) "Os cantôres románticos desagradam âos intelectuais."
cla às crianças e os conselhos de liberdade que lhes são dados para ("r")
certos exercícios de exprcssão escrita, os protêssores são muito
freqüentementc confrontâdos com produções para cuja avaliaçâo Considerando a hipótese em que ffi = mundo ordinário, 'p"
sabem logo situar-se num universo de relerência não ordiniirio: c "q" sendo (como se admitirá) congruentes, a seqüência tbrmada
por (60) e (ó l) é percebida como coerente, enquanto que, sendo "p"
(59) a casa vê uma flor e gostaria muito de apanhá-la. E a flor c "r" incongruentes, a seqüência (60) + (62) é julgada incoerente.
gúlaria muito de apanhar um râio de sol. E o sol dormiu então Nos discursos nâturais, as relações de relevância factual são
a flor não pode pegar o raio." geralmente manitêstadâs por conectores que as explicitam semân-
ticamente:
Esse texto extraído de P Clanché33 (que o batiza de "lúdico"
pol oposição a outros, qualitrcados de "verossímil") seria evidente- (63) "Maria está doente porque logo vai dar à luz."
mente um tecido de contladições se Íbsse interpretado como (64) "Mada logo vai dar à luz mas está doente-"
rcferindo ao mundo ordinário, mas é perfeitamente coerente desde
que relacionado a um mundo de ficção ("poética") no qual constrói
A impossibilidade de ligar duas tiases por um conector
um desenvolvimento consistente, isto é, conÍblme ao que pensamos natural é, aliás, um bom teste para revelar uma incongruência:
que se possa dizer que acontece nele quando se é um aluno das
primeiras séries escrevendo para um professor numa escola de hoje. (65) "Maria logo vai dar à luz portânto os cantores românticos
desagradam aos intelectuais."
4") Metarregra da rektçíut (MR4} Para que unxa seqüência ou
um texto sejam coerentes, é preciso que os Íatos que se denotam Evidentemente sabemos que, no mundo ordinário (por
no mundo representado estejam relacionadcts.
exemplo), as disponibilidades de fatos são muito abertas e temos
Essa quarta regra é também de natureza Íundamentalmente
sempre o recurso de construir um curso de eventos inter-
pragmática; enuncia simplesmente que, para que uma seqüência seja
mediários no qual uma seqüência, embora âparentemente
admitida como coerente, é necessário que as ações, estados ou even- "esquisita" como:
tos que ela denota sejam percebidos como congruentes no tipo de
mundo reconhecido por quem a avalia. Á avaliação de congruência
(66) "Maria está doente porque os intelectuais detesÍam os can-
é uma relação bastante frouxa (por oposição à da não-contradição
tores românticos."
exposta em MR3), no sentido que repousa unicamente sobre a per-
cepção de uma relação de Íâtos. Dir-se-á que, num mundo represen-
eneontra-se rc. uperada nos Íalos;
tado M, dois cstados de coisas '?" e "q" são congruentes sc e
somente se'?" é pertinente ('lelevante" ) pam "q", ou mclhor, se e
(67) "Maria âdom as canções de um artistâ dc variedades da
somente se "p" é uma causa, condição, conseqüência pertinente pârâ
. moda, e está apaixonada por um prot'essor universitário que não
"q".34 Tomemos um exemplo. Sejam as três frâses seguintes, dcno-
os suporta, Portanto (66)."
tando respectivamente em @os Íatos "p", "q" e "r":

:lr ct-e,x,cfie, tqro- lszt. Notar-se-á contudo que (6ó) só é accitável se é justificada
34 SobÍeesso ponto, cf VAN DIJK, 1974, quc contém ânálises pa(iculaÍmente detalhadas (medializada) por um cnunciado prévio (como eln (67)), ou se o
e uolÍl Àbundantc biblio$afia. Pâm unla introdução aos píoblemâs Iógicos da "Íelevância', conteúdo desse enunciado de explicação remete a Íatos perf-eita
cf. WOODS, 1964, 1966.

'74 15
t
mente conhecidos pelo emissor e pelo receptor. A partir disso, (71) "Ontem vi um pardal quando fui por a garraÍa de leitc
talvez não seja inútil reÍbrmular MR4 cômo segue: sobre a mesa vi um ninho. Perguntei que pássaro estâva lá den-
Para que uma seqüência ou um texto sejqm coerentes, é pre- ro. É um panlal. Tem dois pardais. Ela me mostrou os dois par-
ciso que os Íatos que denotam no mundo representado estejam dais. Bem que você podia me foze r clesenhos mais bonitos! Esta
diretamente relacionados. Se bem que a melhora assim obtida manhã minha mãe é que foi buscar ela para dar mamadeira para
conduza a um ganho de precisão pouco satisfatório. A coerência
minha irmã."
de (60) + (ól) nada tem a ver com a repetição de Maria nas duas (72) "Segunda, terça, quinta, sexta que vai à escola. Quarta,
frases da seqüência e seria errado pensar, para esse caso, em uma
sábado, domingo que não vai à escola. Não deve roubar giz. Eu
aplicação pura e simples da MRI .
sei os meses do ano,"
Em (68), "Maria" é claramente repetida (por pronominaliza-
ção), como em (60) + (61), sem que por isso o enunciado seja
coerente (ao menos para nós-eu em @ ordinário). Às vezes, o laço de pei'tinência Íactual é a tal ponto tênue que
sua reconstruçáo obriga a voltas sutis e a cálculos de estratégias
(68) "Maria comprou um armário Luís XY Ela tem enxaquecas do gênero dos que serão rapidamente analisados na segunda parte
pavorosas." deste artigo.

Ao contrário, (69), que não comporta apârentemente


nenhum elemento de repetição, é geralmente percebido como OBSERVAÇÕES
coerente:
As quatro metarregras que foram apresentadas constituem
(69) "Está nevando. Os pássaros estão infelizes."
uma apreensão ainda pré-teórica do problema da coerência dos
textos: colocam um certo número de condições, tanto lingüísti-
porque é comumente admitido no @ ordinário que a neve é uma
cas como pragmáticas, que um texto deve satisfâzer para ser
condição relevante para a infelicidade dos pássaros.
considerado como bem formado (por um receptor dado, numa
O reconhecimento de uma ligação de pertinência factual
depende das qualidades atribuídas âo mundo interpretado. Assim, situação dada). Essas metarregras enunciam condições simples-
(70) pode ser avaliada diferentemente, conÍbrme nos colocamos mente necessárias e seria preciso perguntarmo-nos se essas
num mundu ordinário ou de ficçâo; condições são também suÍicientes. Possivelmente não; aliás,
nem se tem certeza se essas regras, na forma em que as expres
(70) "O despertador tocou. O teto levantou se e o cóu apareccu." samos, têm qualquer caráter de necessidade. Não há dúvida de
que, no modesto nível em que nos colocamos, há muito a Íazer;
ainda que se possa conjecturar que nos @ ditos maravilhosos, náo há dúvida, também, de que a reÍ1exão ganharia em
fantásticos, oníricos.., qualquer Íato não seja relacionável com consistência se se conseguisse situá-la num quadro teórico con-
qualquer outro. scqüente, pois os imperativos de uma sistematização rigorosâ
Ao estudar ceÍos textos de alunos das primeiras séries, permitiriam, certamente, evitar muitas das aproximações.
somos lieqüentemente incapazes (à primeira vista) de estabelecer Podemos evidentemente perguntarmo-nos, dada a importância
uma rclação de congruência entre os lirtos que eles denotam no
das variáveis pragmáticas que intervêm em numerosos julga-
interior de urn @; a impressão que resulta ó pert'eitamente exprcs-
mcntos de coerência, se não é utópico persistir em acrcditar na
sa pela metálbrâ de "alhos com bugalhos":
possibilidade de uma modelização. O debale, nesse terreno, fica

16 11
t
naturalmente âbeúo. Não nos parece, contudo, insensato apos- 1rio". Nada impede que, quando observamos bem de perto, as
târ em tal possibilidade, pois as pesquisâs âtuais em gramática priiticas dos proÍêssores, por mais intuitivas que nos pâreçam.
do texto mostram que os obstáculos que Íesultam dessa dimen- sao consideravelmente mâis poderosas e mais refinadas que
1
são pragmática do problema não são insuperáveis, contanto que cstir espécie de máquina ruim de julgamento que se poderia
se criem condições (graças a uma abertura pl uridi sciplinar) construir (num mundo evidentemente bcm alternativo!) a partir
pârâ integrar na base do modelo e sob uma forma apropria- rlas rcgras que propusemos. Como e por que as avaliações de
da tudo o que tem a ver com o sistema do sujeito. cocrência dos professores ultrapassam o nosso estreito disposi-
- Nas páginas
precedentes não abordamos (a não ser inciden- tivo de restrições é o que, em poucas palavras, queremos tentar-
temente) a questão dos graas de coerência reirual. Essa omissão cnlender na última plrte deste artigo.
é lamentável e há, também quanto a isso, muito que desenvolver.
Parece-nos todavia que essâ questão não é tratável enquanto não
se dispuser de um conjunto de regras teoricamente explícitas e 3 ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÀO DAS METARREGRAS DE
controladas. Para se chegar a tratar desse difícil problema com o COERÊNCIA
mínimo de seriedade, é na verdade indispensável (à maneira de
Chomsky) ter em mãos um conjunto ordenado e relativamente As únicas variáveis pragmáticas das quais ressaltamos até
bem dominado de regras que se articulam umas às outras. Mesmo agora a importância concemem à relação interpretativa que vai do
que o consideremos com complacência, nosso "quadro" está sujeito-receptor ao(s) mundo(s) denotado(s) pelo texto. Em
longe de oferecer tais garantias e tais recursos; antes então que relação a isso, estabelecemos certos julgamentos que dependem,
"dar um jeito", combinando (e graduando vagamente) nossas por exemplo, das convicções do receptor sobre tal ou tal aspecto
metaregras, preferimos deixar francamente de lado esse proble do mundo interpretado e mostramos, a partir de (54), que con-
ma delicado. forme um leitor ache:
Tais como são apresentâdas aqui, as quatro metarregras de
coerência já nos parecem ter algumas conseqüências no plano que a seqüência refere ou não âo mundo ordinário;
pedagógico. Essa questão ultrapassa nosso otljetivo, mas não é - que nestc mundo é verdadeiro ou falso que existam árvores
exagerado pensar, de Íbrma alguma, que o simples fato de ter -no metrô,
consciência de que certas estimações de coerência repousam,
por exemplo, sobre representações do mundo pode levar os pro- ele julga o texto contraditório ou não. Nessa óptica, as operações
Íbssores a localizarem mclhor a origcm dos crros quc dcnunci- de interpretação e de avaliâção se dcsenvolvem em sentido único,
am e sobretudo a tratarem mais justamente as malformações seguindo um plano teórico esquematizado pela figura:
incriminadas.35
Partimos da idéia de que as intervenções dos professores
sobre os textos de alunos eram, em relação a esta questão de
coerência, relativamente cegas e remetiâm a um nível de
apreensão situado aquém do que adotamos aqui. Este ponto de
vista en.rpírico é discutível; todâvia, manteremos "o seu princí

:]5 Cf. CHAROLLES- I977.

78 79
í

l)r'()ccsso de emissão específica centrado num sujeito inscrito


numa situaçáo precisa da qual ele pode reconhecer certos compo-
SUJEITO RECEPTOR ncntcs. Seja o texto seguinte:
(coNvtcÇoEs soBBE, ou
,,::\
IIVAGENS DOS IVIUNDOS POSSíVEIS) _tr- !!, Eu vou a Jundiaí comprat um par de botas. A gente sai.
Chegamos a Jundiaí. A gente passeia pela cidade..."

EEIyI Quando se aplica mecanicamente a metarregra I nesse tre-


cho, chega-se a um diagruistico de incoerência, já que a cadeia das
rcpetições pronominais comporta lãlhas ("eu" é claramente
retomada em "a gente" e "na 1'pessoa do plura[", mas esses dois
telmos de substituição têm uma extensão mais vasta e referem-se
a outros indivíduos, não explicitados, e portanto não ligados cf.
(EXTRAÇÃo) MR4 a "eu"). Ora, é surpreendente constatar que o -
professor,
-
em situação real de comunicação, não diria nunca que esse texto
é incoerente (mesmo relativamente) e não utiliza com relação a
ele nenhuma das expressões denunciativas habituais. Corrige
diretamente a primeira frase:

coNVrcÇoES soBRE, (74) "Es vou a Jundiaí com minha mãe comprar um par de
OU IMAGENS DE botas."

Acrescenta no texto uma informâção que tira do conheci-


mento da situação (familiar) do aluno. Em outros termos, ele tem
acesso ao mundo a partir do qual o texto foi emitido, o que lhe
permite, por um lado, aceitar o discurso como coerente (neste
mundo) e, por outro, restituílo a uma sistema de coerência con-
siderado como perfeito que é ao mesmo tempo o seu, o do aluno
e o de lodos o-s receptores eventuais.
(8) nos fornece um ouro exemplo baslante lípico de_sse pro-
cedimãnto. Se supusermos um professor que interprete @ como
referindo a um @ordinrlrio no qual ele acredita (sabe) que os
morcegos são mamíferos e não pássaros, ele só poderá emitir
sobre esse texto um julgamento de incoerênciâ. Entretanto, nesse
FIGURA 1 caso tâmbém, quando se estuda as correções de um professor que,
por outro lado, confessa acreditar (sâber) que os morcegos não
Essa maneira de cncarar as coisas, por mais necessária quc são pássaros e que reconhece que o texto tàla do mundo ordinário,
scja, ó evidentemente redutora na medida em que leva a negar o percebe-se que ele não "Íunciona" da mancira esperada. Para ele,
fato de qu€ o sujeito-receptor sabe que o texto que está interpr-c- o tcxto não coloca nenhum problema de coerência, não pula de
tando e avaliando não é um objeto intangível, mas resulta de um alhos par a bugalhos e ó inteiramente conseqüente e lógico, con-

80 8l
tanto que se coloque na perspectiva do aluno que acredita ("como Podemos verificar, então, que um modelo que desse conta
o texto prova" díxit) q\re os morcegos são pássaros. Em resumo, tlas capacidades avaliativas do sujeito deveria conter um compo-
o professor, sendo capaz de aceitar o mundo de crenças do aluno, llente estratégico no qual seriam formalizados todos os cálculos
aceita imediatamente âvaliar nesse quadro a coerência do seu (cfetivos ou eventuais) de reinterpretaçáo alternativa.36
texto, o que não lhe impede (mas é um outro âssunto) de denun- Podemos nos perguntaÍ por que o proÍ'essor que aceita
ciar a falsidade das convicções que o texto revela (e anota à (depois da reavaliação estratégica) um texto como coerente, per-
margem "as guandiras não são pássaros"). siste, contudo, em querer corrigiJo. É claro que o professor, quan-
Em teoria, tudo se passa como se na saída de um percurso do percebe, a partir do cálculo de recuperação, crenças errôneas
represenlável peLa FIG. I e desembocando num julgamento de no aluno, se sente na obrigação, dada sua função educativâ, de
incoerência o sujeito-avaliador chegasse, esÍrategicamente, a trazeÍ de volta essas convicções para o "verdadeiro saber". Mas
c<tlcular um outro julgamento, colocando-se nct mundo ( interpre- todo cálculo de reavaliação não passa forçosamente por conside-
tado) de onde o texto Íoi emititlo. rações desse tipo. Eis um último texto:

MUNDO DO RECEPÍOR MUNDO DO EMISSOFI (5) "segunda fejra 2 de maiu.


Eíive na casa do meu avô. Ajudei ele Meu avô plantou alface,
batatas doce, cenouras, rabanetes, vagens cogumelos trigo
arroz. Depois fui no carosset subi em cimâ de um tanque.
Precisava apefiar o botão esquerdo saía um boneco com uma
metralhadora.
O tanque funcionou?"
/a\
Numa primeira leitura- ()Parece realmente "não Íazer sen-
tido", visto que a interrogâção-final comporta uma pressuposiçáo
de eventualidade ("é possívet que o tanque não tenha funciona-

[E]-E=El do"), contradizendo (MR4) uma inferência deduzível das frases


precedentes (se "quando apertava... saía.." então "o tanque fun-
cionava"). Na base dessa constataçào, poder-se-ia pAver que o
professor denunciasse a incoerência manifesta de (5) to que,
------{ aliás. Iaz com a ajuda de um "?'na margem) e ficasse. como nós.
( Lr.uor.rro o. ) num nível relativamente insuperável de incompreensão. Para
{o'".=,--,' quem avalia de fora. (75)e na realidade muito difícil de resgatar
e não se vê de que modãrecuperar a contradição tinal. Entretanto,

CALCULO ESTRATEGICO o professor não sente as mesmas dificuldades. Ele não esquece,
por exemplo, que esse texto é uma carta endereçada a um aluno
de uma outra escola, o que é fundamental, já que ele compreende,
a partir daí, que a questão final não é colocada por ela mesma, ou

JULGAI\,IENTO DE 16 Concebe-se que a elÂbomção de um tal oomponenle coloca €nomles problcmas.


ACEIIAÇÃO DO Procurâmos num outro esludo abordaÍ mxis detalhadâmente os mecanismos grâçâs aos quâis
FIGURA 2 RECEPTOR üm receptor pode ou não recupeár a coelência de um fexto âpós acesso âo mündo do emissor'

82 83
para um leitor indeterminado, mas para um correspondente a cssas reavaliações são necessárias num processo educativo que
respeito de quem o autor deseja saber se ele teve, por sua vez, uma visa mais à correção (no sentido nobre do temo) que à sançáo.
experiência também feliz nos tanques do carossel. O cálculo ao Mas esses ar€umentos não sáo totalmente satisfatódos. Em
qual remete essa avaliação é complexo, supõe que o professor: situação comum, observa-se que receptores não forçosâmente
preparados fazem cálculos igualmente complicados quando são
saiba previamente que o aluno "a" escreve ao aluno "b"; confrontados com textos cuja coerência não percebem direta-
- acredita previamente que é possível que a criança "a" per mente. Como foi freqüentemente ressaltado, nada é mais
-gunte alguma coisa sobre os tanques do carrossel à criança "b". aparentemente incoerente, para um leitor neófito, que um ârtigo
de imprensa um pouco técnico sobre centrais nuoleares, as
e exige que, após a leitura, o professor possa estabelecer o que "a" nacionalizações, movimentos monetários... no qual se enÇontra
queria saber de "b", qual era sua experiência com tanques de ativado todo tipo de retomadas lexicais, de conteúdos implícitos,
carrossel. Esse cálculo permite ao professor acrescentar no texto de inferências mediatas e de ropresentações culturais... imper-
a pergunta final: meáveis para aquele que não dispõe das retaguardas (cognitivas e
outras) que o justifiquem. Entretanto, muito raros sáo os leitores
(76) "O tanque funcionava aí?" que chegam a julgar tais lextos como incoerentes. A contriírio,
tudo se passa como se o "receptor ignorante" desse um crédito
e restituir assim ao texto umâ coerência pelo menos aproximati- de coerência ao emissor, admitisse que ele tem suas razões
va. Por que o professor que "entendeu" tenta assim mesmo "nor- (superiores às dele) e se esforçasse para reencontrá-las, afim de
malizar" (75)? Sua intervençào não é evidentemente_comandadâ reconstruir a lógica de seu discurso.
por nenhuYimperativo cogni(ivo: se ele modifica (us) e a. futo O comportamento de lecuperaçáo por acesso estratégico ao
por uma razáo de deontologia discursiva superior:-o professor mundo da emissão é geralmente muito difundido, embora sofra
corrige porque percebe que o cálculo que ele pode realizar com variantes consideráveis. Quando lemos A. Artaud, quando lemos
sucesso não está forçosamente ao alcance de qualquer um (em um mito ameríndio, um texto cabalístico, ou um opúsculo cientí-
pârticular nãô está ao alcance do destinatário) e porque ele julga fico, reconhecemos a priori em todos esses discursos uma mesma
que todo tliscurso deve, quando não é imediatam<nte coerente, coerência, mas as vias pelas quais tentâmos reencontrar seu fio,
ier, pelo menos, facilmenie recuperáve1, (como f) modificado para nós perdido (?), sáo diversas, pois sabemos que esses textos
em (76)) por um receptor qualquer. O professor in-ntervém nesse não respondem às mesmas finalidades e temos claramente
texto de uma maneira inteiramente sutil e desempenha um duplo consciência de que as dificuldades que experimentamos para
papel: de um lado, coloca se no lugar de um receptor qualquer apreender sua organicidade não se prendem todas à mesma
que não entende ( daí seu "?" na margem), e, de outro, assume sou origem. Isso, para dizer que deve existil ao menos nos nossos sis-
papel de leitor inlbrmado e inteligente (daí, (76)). temas de pensamento e de linguagem, uma espécie de princípio
Com relação a todos os exemplos que acabaram de ser exa- tle coerência verbal (comparável ao princípio de cooperação de
minados nesta última parte, podemos aindâ nos perguntal por que Grice)37 esüpulando que, qualquer que seja um discurso, este
os professores despendem tantos esforços pâra tornâr coerentes tem forÇosamente nalguma parte uma coerência que é sua, pela
textos que eles poderiam, afinal, se contentar em denunciar como simples razão de que é produzido por um espírito do qual ndo se
malformados. Poder-se-á alegar a esse respeito que os profes- pode conceber, como escreve P Valery, citado no exerSo, que
sores, tendo um conhecimento prático (e apreendido) das cri "seja incoerente para si mesmo". Esse princípio, de uma
anças, têm acesso, com relativa tacilidade, a seus mundos e as
suas convicções e que as operações de estratégia em causa são, 37 Esse princípio está enunciado e exploÍado em GORDON & LAKOFF, 1973, e em VAN
portanto, imediatas para eles. Poder-se á também argumentar que DUK, 1976e Sobre esse assunto ver tamMm as lcis do discurso de DUCROT. 1972.

84 85
abrangência aparentemente muito geral, tem entretanto limites IIERRENDONNER, A. De quelques aspects logiques de l'isotopie'
que são sociais- A partir do momento em que o nível das dificul- Traraux du Centre de Recherches Linguistíques et SémíoLogiques de
dades de reconstrução alternativa atinge um certô limiar, a Lyon. n. 1,1976.
sociedade abandona ou recusa o esÍbrço; os discursos que
escapam assim aos dispositivos sociâis de recuperação estratégi- BESSE, H. La norme, les registrcs et I'apprentissage. ae Français dans le
ca são jogados na marginalidade ou radicalmente excluídos dos Monde.Paris: Hachette Larousse, n. t2l, mai/juin, 1976'
circuitos normais de comunicaçáo. CERCLE DE LINGUISTIQUE ET DE PÉDAGOGIE DU FRANCAIS,
PERPIGNAN. Description d'une pratique normative: la conection
de la rédaction dans le premier cycle. BreÍ, Paris: Larousse, n 7,
CONCLUSÃO nov., 1976.

Neste artigo, desenvolvemos sobretudo a exposição das CHABOLLES, M. Grammaire de texte. ThéoÍie du discours. Narrativité'
metarregras de coerência, insistindo sobre seu caráter ao mesmo Pratiques. }letz, n. 1l-12, 1976.
tsmpo lingüístico e pragmático. Se não há dúvidas de que a CHAROLLES, M. Sur le problàme de la cohérence verbale: théorie et pra-
pesquisa deve prosseguir deste modo, parece, também, que os tiques pédagogique s. Cahiers du CRELEE Besançon , n' 5' 19'17 '
resultados que podemos esperar dependem da atenção que se terá
em estudar de muito perto, especialmente nos seus componentes CHAROLLES, M. Stratégie tlu jugement d'acceptation. ColLoque mai,
sociais, as práticas empíricas de coerência. Interessamo-nos, aqui, 1976. (Univ de Lyon II à paraitre dans Travaux du Centre de
pelas intervenções dos pedagogos sobre os textos escritos dos Recherchers Semiologiques et Linguistiques, TT Nr.i't de Lyon II )
alunos das primeiras séries, mas o campo dos comportamentos a CHOMSKÍ N. Structures syntaxiqaes Trad. Paris: Seuil, 1969
questionar é muito vasto: não falta matéria, desde os comenta-
dores das literaturas de vanguarda aos psiquiatras e analistas que CHOMSKÍ N. Ásp ects de la théorie s)rntaxique. Trud Paris: Seuil, 1971 .

trabalham com os discursos ditos patológicos. CLANCHÉ, P. Les origines de ta prédication textuelle au cours prépara
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(Tradução: Paulo Otoni) Paris, n.328 XXX 10-13, i976-77.

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Utilizar a imprensa, comparar os jornais, âí estão exeroícios
VAN DIJK, T. A. Complex semantic information processing. Univ. hoje admitidos pelas "autoridades pedagógicas" e freqüentes nas
Amsterdam, 1976a. salas de Iíngua estrangeira, assim como nas de língua matema'
Mas, quando perguntamos, por ocasiáo de estágios diversos, aos
VAN DIJK, T. A. Macro-structures and cognition. Univ. Amsterdam, principalmente,
professores de francês como língua estrangeira, Ô
t976b. reflexão
que eles fazem de e com a imprensa, e por que o fazem, a
VAN DIJK, T. A. Sentence topic and discourse topic. Univ. Amsterdam, metodológica sobre a utilização da imprensa parece nos muitas
1976c. vezes superficial... As respostas obtidas ultrapassam raramente
VAN DIJK, T. A. Pragmatic macro-strutures and cognition. Univ. lugares comuns tais como: "é motivador" , " pode levar os alunos a
Amsterdam, 1976d. falar", "permite comparar a kleologia dos jornais"... "sensibiliza
para a linguagem da iruprensa"(t), ou "para o estilo iot'nalístico"
VAN DIJK, '1. A. Pragmotks of language and literature. Amsterdam: (!)... Na realidade, a partir de um jornal ou de um artigo, os
Nort Holland Publisching Company, 1976e. Pragmatics and poetics. professores praticam os exercícios habituais de língua: o texto
VAN DIJK, 'f. A. I'ragmatic connectives. Unly. Amsterdam, 1977. provoca uma discussão (exercício de expressão oral), suscita uma
narrativa escrita (comentário sobre o artigo ou sobre a discussão).
VERTALIER, T. Etude sur Ie discours magistral pendant la mise au point Ou ainda a comparação de artigos de jomais diferentes sobre um
de textes libres auCM. Repàres. Paris: INRP, n.30, p. 83-91, 1977. mesmo "aÇontecimento"l se transforma em explicâção de textos,
WOODS, J. Relevance. Logique et Analyse. Louvain, n.7, 1964. enfeitada por observações pretensamente "sociolingüísticas".
Os textos de imprensa servem de prc-Íexfos para exercícios
WOODS, J. Relevance revisited. Iogique et Analyse. Louvain, 1966. diversos... Ora, nesse caso, a escolha do texto depende inevitavel-
WOODS, J. Considérations sémantiques sur la logique de [a Í'iction. mente do "nível": o professor seleciona os artigos em função do
Dialogue. Montréal, t.12, fasc. l, 1973. léxico e das estruturas "conhecidas"; alSuns acreditâm, ainda, no
valor pedagógico de textos-filtros (tão pesados e pouco econômi-
cos)2; outros não hesitam em reescreYer textos de imprensa (afi-
nal, náo são prot'essores de língua?).
* Publicâdo no B.U.L.A.C., n-6, UniveÍsité de Besançon, 1979.
I Esta compaÉção âpaixonânte em línguâ mxtema corn o h,n de desenvolver umÀ leiturâ
críticâ da inprensâ nacional só podc alingir um objelivo idêntico em língua estmngeira se
houver sm bom domírio do sistemâ lingüístico e dos fâtos socioculluÍajs, sob penâ de
sonente o professor podeÍ se expressâr.
2 Ver a esse rcspeito a utiliz.rção de textos-liltÍos et1lkt F|tu/e e Dired' 1912'

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