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Uma homenagem à Mania Chistina Leandro Ferreira

Trajetos equivocos:
discurso, deslimite e resistência .

Luciana lost Vinhas


Luciene Jung de Campos
Renata Marcelle Lara _
(Organizadoras)
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V784t Vinhas, Luciana lost; Campos, Luciene Jung de; Lara, Renata Marcelle (org.).

Trajetos Equivocos: discurso, deslimite e resistência. Uma homenagem à


Maria Cristina Leandro Ferreira /
Organizadoras: Luciana lost Vinhas, Luciene Jung de Campos e Renata
Marcelle Lara.
1. ed. - Campinas, SP : Pontes Editores, 2022.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-563-2.

1. Análise do Discurso. 2. Linguagem. 3. UFRGS.


I. Titulo. IE Assunto. IN. Organizadoras. IV. Homenageada.

Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846

Índices para catálogo sistemático:


1. Anälise do discurso. 401.41
2. Linguística. 410
1. Lingua e opacidade “Trajetos equivücos: discurso, deslimite e resistência

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio


[1975]. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009.

PÊCHEUX, Michel. Metáfora e Interdiscurso [1984]. In: ORLANDI, Eni


Puccinelli. Análise de Discurso: Michel Pêcheux. Textos escolhidos por Eni
Puccinelli Orlandi. Campinas: Pontes Editores, 2011. p. 151-161.
: | Sintaxe e discurso
ROMÃO, Lucília Maria Sousa. Opacidade e incompletude: essa estranha
tessitura do sujeito no discurso. In: BARONAS, Roberto Leiser; MIOTELLO, |
Valdemir. Análise de Discurso: teorizações e métodos. São Carlos: Pedro &
Joao editores, 2011. p. 115-134.
Fabio Ramos Barbosa Filho (UFRGS)
TFOUNI, Leda Verdiani. Autoria e contenção da deriva. In: TFOUNI, Leda
Verdiani. (org). Múltiplas faces da autoria. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2010. p.
141-152.
[...) o deslize, a falha e a ambiguidade são consti-
tutivos da lingua e é aí que a questão do sentido
surge do interior da sintaxe.
Michel Pâcheux

Introdução

Gostaria de pensar neste texto a pertinência de uma refle-


‚xäo sobre a sintaxe no fazer do analista! de: discurso. Confesso: que 0...
meu recorte é bastante pontual, |na 1 medida em
é que essa questão é ex- E

stá presente de ponta a ponta na reflexäo de Michel Pê cheux ee fun


: damental naa elaboração des sua semântica materialista. Armeu re ess

Arespeito do conceito de lingua em Michel Pêcheux, remeto o leitor aos excelentes trabalho.
de Ribeiro (2016) e Motta (2019). Além deles, Gasparini (2021) também ermpreéride tium pário
rama das relações entre língua e lalangue no percurso teórico de Pêcheux: :

70
} - Lingua e opacidade Trajetos equivocos: discurso. deslimite e resistência

recorte, por mais fnfimo que pareça, jé assume contornos de grande tando vaga, não se ocupa”. Estou, isso sim, construindo um jeito de en-
responsabilidade. sinar e fazer pesquisa que muito se inspira e ampara na sua obra, so-
Contudo, peço licença para fazer uma nota pessoal antes ‚bretudo pela reflexão séria e consistente a respeito da sintaxe em sua
de proceder diretamente ao assunto. Quando, em junho de 2018, ainda relação com o discursivo.
em Campinas, arrumei as malas para fazer o concurso da Universidade A meu ver, o seu trabalho torna-se ainda mais indispensável
Federal do Rio Grande do Sul, me deparei com uma interessante for- hoje, em meio a um esquecimento de que o fato da língua — para reto-
mulação: “Você vai fazer o concurso da vaga de Kitty?”. Essa pergun- “mar uma advertência de Pêcheux em “Ler o arquivo hoje” — é impe-
ta (que eu escutei uma dezena de vezes) parecia se desdobrar em ou- rioso no funcionamento dos processos discursivos. Diante de análises
tras. Ora como uma dúvida genuína (Trata-se, efetivamente, daquela “que apresentam um ímpeto hermenéutico acentuado, beirando a ex-
vaga?”), ora como um alerta ou advertência (“Você tem certeza disso? ~ plicação, o trabalho de Leandro-Ferreira insiste no fato de que a língua
Olha a responsabilidade...”). : impõe os seus limites: não há processo semântico que escape à sua
Ou seja, não se tratava apenas de mais um concurso : ordem, ainda que essa ordem reivindique o jogo e o equívoco como con-
do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, mas de um con- . dições estruturantes do dizivel.
curso que situava, para além de sua dimensão administrativa e uni-
versitária, um lugar de memória. Nessa vaga (que só estava vaga no jar- Um duplo risco
são formal do dispositivo universitário) estava condensado um jogo
de significações que convocava a própria memória da institucionali- : Correndo o risco de ser taxativo, eu diria que renunciar a uma
zação e presença da Análise de Discurso na universidade brasileira, reflexão consistente a respeito da sintaxe em Análise de Discurso é ce-
sendo a UFRGS um dos lugares de destaque na produção do conheci- der teoricamente a um duplo risco, ora logicista, ora sociologista face
mento em Análise de Discurso no Brasil não apenas pela importância à questão da língua”. E esses riscos não são equivalentes. O risco lo-
do SEAD - Seminário de Estudos em Análise de Discurso (nascido e re- gicista parece sustentar uma análise em dois tempos. Primeiramente,
alizado na UFRGS entre 2003 e 2013, migrando para a Universidade : o analista procederia a uma análise estritamente linguística (a qual
Federal de Pernambuco em 2015), mas sobretudo pela inegável rele-
vância dos trabalhos de Leandro-Ferreira (e também de Freda Indursky, 2:-:Não posso deixar de agradecer aqui a Ludana Tost Vinhas; colega àamiga querida que, feliz-
Solange Mittmann. e ‘Ana Zandwais), que formam e formaram toda . “ mente, partilha comigo esse espaço de trabalho na docência eia Produção de conhecimento.

uma geração, de pesquisadores Brasil afora. : Remeto aqui o leitor ao texto de Françoise Gadet € Michel Pécheux intitulado” “Há uma via
- para a linguística fora do logicisino e do” socio logismo?” (GADET; PÉCHEUX, 2011) é ao livro.
E “Sem contemplação ou reverência -= pa medida em que ambas : A língua inatingível (GADET; PECHEUX; 2004); onde a relaçao entre logicismo é sociologismo: .
é vastamente explorada. Em linhas gerais, os autores afirmani que” É: Ja tendência logicis-.
E Eas posturas dissolvem
« a possibilidade de um recuo crítico e encami-. :: ta nega a política falando aparentemente: de: outra coisa; enquanto atendencia sociologis-
“nham para uma relação paroquial que não me agrada ~ O que eu posso “ta recalca a política falando ou acreditando falar dela” (GADET; PÉCHEUX, 2014, p. 301).
Leandro-Ferreira (2000, p. 66) faz um “excelente comentário a respeito-dos efeitos políticos.
dizer éé que sinto profundo respeito pelo tr abalho de Leandro-Ferreira : dessa tomada de posição (supostamente: apolítica) sobre a lirigua: A perfeita biunivocidade : -
entre ideias claras e completas e frases: que: as: exprimem (ideal de clareza é completude lit: :
5 e me orgu ho. bastante de estar, hoje, não. “na vaga de Kitty” porque,
“ gado por efeito inverso à ambiguidade) insere-se'no quadro: de uma visão idealizada de so:
- como eu disse, essa vaga nunca esteve e nunca estará vaga e, não es- ciedade, composta de interlocutores ideais que convivem, harmoniosamente. A ordem social
é garantida pela língua (através da gramática); como elemento estável € cöliservador. Desse
modo, identidade de intenções e homogeneidade de representações passait a ser considera-
das como pressupostos das relações sociais”. RISE are

tas
af
- (+ Liigüa e opacidade :
Trajetos equívocos: discurso; deslimitee resistência:

ele pode, inclusive, chamar de descrição) e em seguida a uma análise “ retorna a questão da sintaxe”. Para ambos, o linguístico não “reflete”
discursiva, como se a análise linguística independesse de uma reflexão : (nem “refrata”) os processos söcio-histöricos na medida em que a lin-
teórica sobre o funcionamento das relações sintáticas, Essa posição “ gua é uma estrutura dotada de leis internas que não espelha o arranjo
parece sustentar a sintaxe como um modelo desprovido de pressupos- “material das relações sociais.
tos teóricos, como uma técnica neutra de descrição. Como se linguístico
Voltando à questão da palavra, cabe dizer que ela não é,
equivalesse a lógico e a descrição linguística equivalesse, pois, a uma
: em Pêcheux, concebida como um item lexical dotado de sentido. A pala-
descrição puramente lógica. Nessa posição, as línguas naturais não se
distinguem de outras linguagens (a matemática, por exemplo) e pos “vraé, antes de tudo, um traço - enisso ela se assemelha ao que Ferdinand
dem ser concebidas como um código cuja função precípua é a trans- “de Saussure chamou de significante ~ cujo valor é expressamente dife-
missão de informações ou dados. : rencial, não possuindo, portanto, valor em si. Pêcheux (1995, p. 262,
“grifos do autor) chega a falar em um “primado do significante sobre
já o risco sociologista parece sustentar uma compreensão teó- o signo e o sentido” para dizer que o sentido se deve à inscrição desse
rica que imbrica língua e discurso, Assim, quando Nikolai Marr afirma traço (ou significante) no interior de uma formação discursiva, pois
a existência de línguas de classe ou quando Valentin Volóchinov afirma é justamente nesse lugar que ele adquire (efeitos de) sentido. Ele nos
que a palavraé um fenômeno ideológico tem-se uma compreensão radi- : diz que “os significantes aparecem [...] não como as peças de um jogo
calmente diferente da de Pêcheux sobre a especificidade do linguístico “simbólico eterno que os determinaria, mas como aquilo que foi ‘sem-
(e, consequentemente, do discursivo). A ordem da língua é compreen- : pre-jé’ desprendido de um sentido: não há naturalidade do significan-
dida, no sociologismo, em uma relação de espelhamento com a ordem “te” (PECHEUX, 1995, p. 176, grifos do autor). Ou seja, uma “palavra”
do social”. “não tem (um) sentido (que lhe seja próprio). Ela é passível de produzir
Pécheux (2010, p. 58) é bastante enfático ao afirmar que a lin- : “efeitos de sentido quando inscrita em uma posição ideológica dada.
gua é um “sistema sintático intrinsecamente passível de jogo” e que © : Do ponto de vista heurístico, a compreensão sociologista conduz
é sobre (se levarmos a sério a noção de base) esse sistema que o discur- à uma análise que flerta com o conteudismo e com a fenomenologia
so se desenvolve.
A irredutibilidade da língua ao discurso é, inclusive, “ese assemelha a uma hermenêutica explicativa de cunho pedagógi-
fundamental
para sustentar a afirmação de que a ordem do discurso - co. Há, nessas análises, uma grande ocorrência de expressões como
não é homóloga à ordem da língua. Leandro-Ferreira (1999, p. 63) refor- “percebe-se”, “observa-se” e “nota-se”, justamente porque o material
- ça esse ponto, afirmando que o analista de discurso “tem acesso à or- quase sempre se presta a ilustrar funcionamentos discursivos. O gesto
Hu dem do discurso através da, organização da língua e aqui mais uma vez de leitura do analista se assemelha, pois, à uma explicação do material
A “Recomendo orienté nessa à "dined, além dos textos de Leandro-Ferreira (1999; 2000), o> que não desloca, portanto, O seu efeito de reconhecimento”.
: trabalho de Carrenho: (2021) que explora com primor a questäo da descrigäo fora de uma con-
Qu cepção logicista.. Além disso; cabe mencionar um importante texto de Pécheux que trata da Após o delineamento preliminar desses dois riscos, passo a um
cine especificidade dé uma descrição que leve'a sério'a distinção entre lingita e discurso: “Efeitos exame da relevância teórica e heurística de uma reflexão específica so-
a ‘| discursivos ligados ao funcionamento das relativas em francés” (PECHEUX, 201 1a).
Gadet Pécheux (2004, D. 102) afirmam que a “linguística marxista” de Marr, mias sobretudo :
dé Volóci nov, encontra as suas “[..] garantias materialistas em Plekhanov, sob a forma de Tso näo significa que os efeitos de sentido ses a produzam àapenas pelai inscrição do significante
u uma: psicossociologia da comunicação verbal”. Inclusive, a “radical incompreensão” (GADET; ‘em uma posição ideológica, ou seja, independentemente de uma relação com a sintaxe. Esse
:: PECHEUX, 2004; P::103) da psicanálise por parte de Volöchinov cumpre o expediente de uma ponte, que será desdobrado na próxima seção, é fundamental.
* psicossociologia húmanista da linguagem que não encontra ressonâncias nas elaborações © Me refiro aqui às considerações de Louis Althusser a respeito da distinção entre reconheci-
teóricas de Michel Pécheux. mento e conhecimento. Ver, a esse respeito; Althusser (2015). dies

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[= Lingua € opadidäde.
Trajétos equivocas: discurso; desi

bre a sintaxe que nos permita deslocar tanto a perspectiva logicista foi apontado recentemente por P. Henry; todo sistema
quanto a sociologista, rumo a uma compreensäo materialista da rela- linguistico, enquanto conjunto de estruturas fonolögi-
cao entre lingua e discurso. cas, morfológicas e sintäticas; é dotado de uma auto-
nomia relativa que o submete a leis internas, as quais
A relevância teórica de uma reflexão sobre a sintaxe em Análise constituem, precisamente, o objeto da linguística. É,
pois, sobre a base dessas leis internas que se desen-
de Discurso
volvem os processos discursivos, e não enquanto ex-
pressão de um puro pensamento, de uma pura ativi-
O conceito de discurso estabelece com o conceito de língua dade cognitiva, etc., que utilizaria “acidentalmente”
uma relação diferencial, mas necessária. Embora língua e discurso se- os sistemas linguísticos (PÊCHEUX, 1995, p. 91, grifos
jam, de acordo com Pêcheux (1995), objetos materialmente distintos, do autor).
o linguístico intervém como condição necessária (mas não suficiente)
dos processos discursivos, Ele é, inclusive, enfático na distinção entre : Essa ênfase nas leis internas nos permite avançar em uma dire-
essas duas realidades, ao afirmar que “ção que considera a primazia da sintaxe na produção dos efeitos se-
mânticos face a um atomismo semântico que colocaria o sentido como
[...] o sistema da lingua é, de fato, o mesmo para o ma- algo pertencente ao campo do lexical*. Ou seja, é nas relações e não
terialista e para o idealista, para o revolucionário e o “nas unidades (lexicais) que a significação ganha corpo”. De certo modo,
reacionário, para aquele que dispõe de um conheci-
‘6 conceito de língua evocado por Pêcheux (1995) nos obriga a convocar
mento dado e para aquele que não dispõe desse conhe-
o sintático, pois “[...] não há língua sem sintaxe, uma vez que a orga-
cimento. Entretanto, não se pode concluir, a partir dis-
nização das palavras não é jamais aleatória” (LEANDRO-FERREIRA,
so, que esses diversos personagens tenham o mesmo
1999, p. 62-63). Trata-se, portanto, de um primado das relações sin-
discurso: a língua se apresenta, assim, como a base co- ©
mum de processos discursivos diferenciados (PECHEUX,
táticas que retoma um velho tema da linguística saussuriana, a saber,
1995, p. 91, grifos do autor). 1 do funcionamento das relações sintagináticas como condição de es.
truturação da língua). BEST
Contudo, afirmar a língua como sistema e como base não auto-
riza um retorno à problemática logicista, que a concebe como um có- Ver a esse respeito a critica que Regine Robin (1976) dirige àà lexieologia: afirmando aa nec
digo que transmite informações, tampouco a problematica sociologista, idade dé romper com toda e qualquer semântica que conceba: ai palavia como indice de: i
| comportamento político. 7 o LE
que toma a lingua como um objeto que exprime as contradições da or-..
GE: Recomendo a esse respeito a ótima análise que Freda Indursky faz da palavra povo. em
dem social, desprovido, portanto, de leis internas irredutíveis a qual-
onstrução metafórica do povo brasileiro” ((NDURSKY, 2012). artes
quer ordem extrinseca. Ora, Pécheux enfatiza a necessidade de pensar :
ae) retorno contínuo é incessante à obra de Ferdinand de Saussure” é fundamental na:refie
a lingua como base justamente a partir dessas leis internas e é aí que ão dé analista de discurso. Faço menção ao incontornável capítulo do Curso: de: Linguis
a questão da sintaxe ganha força, Ele diz que oes Geral intitulado“ “Relações sintagmáticas e relações associativas” (SAUSSURE, 2007);i impres:
“eindível a qualquer consideracäo teórica sobre o funcionamento da língua como base: dos.
nu processos discursivos. Contra as caricaturas que impõem ao analista de discurso um or: :
[...] ao opor base linguística e processo discursivo, ini- ror ao “formalismo” saussuriano, cabe compreendê-lo a partir das próprias considerações
“de Pêcheux em inúmeros textos. Destaco aqui apenas três: o já citado A língua inatingível: :: E ei
cialmente estamos pretendendo destacar que, como “(GADET; PECHEUX, 2004), “Sobre a (des)construçäo das teorias linguísticas” (PÊCHEUR,
: 1999) e “A semântica e o corte saussuriano” (HAROCHE; HENRY; PECHEUX, 2020): “o

77
ES Lingua e opaddadé:
Trajetos equívocos: discurso: dé

Mesmo a metifords noção


t fundamental na compreensão dos pro-
' não há uma sintaxe ou a sintaxe! porque o seu reconhecimento: como
cessos semânticos em Pêcheux, vai ser considerada no interior de uma
“um espaço especificamente linguístico impõe
a necessidade de discer- E
reflexão sobre a sintaxe!!. Para o filósofo, a metáfora é concebida como
nir a especificidade do linguístico tanto do lógico quanto do social. |
um
Pêcheux (1999, p. 27-28, grifos do autor) sintetiza esse impasse ‘de for- :
ma magistral em uma das passagens mais significativas na direção
[...] processo sócio-histórico que serve como funda-
de um rompimento tanto com o logicismo quanto com o sociologismo:
mento da “apresentação” (donation) de objetos para su-
jeitos, e não como uma simples forma de falar que viria
Tentar pensar a língua como espaço de regras intrin-
secundariamente a se desenvolver com base em um
secamente capazes de jogo, como jogo sobre as regras,
sentido primeiro, não-metafórico, para o qual o objeto
é supor na língua uma ordem de regra que não é nem
seria um dado “natural”, literalmente pré-social e pré-
lógica, nem social: é fazer a hipótese de que a sinta-
“histórico (PÊCHEUX, 1995, p. 132, grifos do autor).
xe, como espaço especificamente linguístico nem uma
máquina lógica (um sistema formal autônomo, exte-
Isso não impõe à metáfora um estatuto puramente lexical, rior ac lexical, ao semêntico, ao pragmático e ao enun-
apartada de um funcionamento relacional. Nesse ponto, a afirmação
ciativo), nem uma construção fictícia de natureza
de Joélle Tamine de que a metáfora é um fato de linguagem enraizado metalinguística (redutível a efeitos de poder inscritos
na sintaxe” contrapõe-se àquelas interpretações lexicalistas já men- em um domínio que, supostamente, governa o discurso
cionadas, que colocariam o semantismo ao lado das palavras. Na medi- escrito).
da em que a sintaxe é concebida como lugar fundamental dos proces-
sos semânticos, a metáfora passa a ser o ponto em que o significante Mencionei anteriormente a reflexão de Saussure sobre as re-
desliza sobre essa base sintática, costurando relações com outros sig- “lações sintagmáticas e, de modo mais geral, sobre a irredutibilidade
nificantes, ou seja, é na trama sintática que a metáfora ganha cor- ‘da língua, objeto da linguística, ao campo do lógico (e mesmo do psico-
po. Françoise Gadet chega a enfatizar que “a metáfora é certamente lógico). É, sem dúvidas, a Saussure que Pêcheux recorre para formular
uma palavra por outra, segundo a expressãode Lacan, mas porque essa “uma reflexão sobre a língua come condição do dizível, mas também
palavra é tomada em um quadro sintáticoq dado” (GADET, 2016, p. 188- uma reflexão sobre o dizível como uma prática histórica assentada
189, grifos meus). na sintaxe.
“Ao mesmo tempo, reivindicar a importância da sintaxe não pode “= É também no campo da enunciação que Pêcheux tensiona de ma-
nos encaminhar para a tentação logicista de reconhecer nela uma téc- “neira incisiva a relação entre a sintaxe e os processos semânticos.
nica où modelo descritivo desprovido de premissas teöricas. Ou seja, Em um importante texto de 1971, intitulado “Língua, linguagens, dis-
o ur Ainda que Pécheux (sob o pseudônimo de Thomas Herbert) elabore uma
u 1a distinção entre me:
curso”,
ele nos diz que
“+. tonfaia e metáfora justamente a partir de uma relação da metáfora com a semântica e da me- :
“ tonímia com à sintaxe (HERBERT, 1995). Essa divisão, importanter no texto de 1967, é colocada.
em discussão nos textos posteriores de Pêcheux.
E 13 Pécheux chega aa formular a seguinte questão: “De que modo conceber as ‘sistematicidades’
12 Faço questão de trazer a passagem na íntegra: “Gi faut donner à métaphore un contenu pré-
fonológicas, morfológicas e sintáticas - que constituem as condições materiais linguísticas
cis, la notion n'est pas généralisable: il s’agit d'un fait de langage, enraciné dans la syntaxe”
de base sobre as quais se desenvolvem os processos discursivos~para que seja desfeita a ilu-
(TAMINE, 1979, p. 80), que traduzo por: “Se À metáfora deve ser dado üm conteúdo preciso, a . são que faz com que essas sistematicidades (e, sobretudo, a da sintaxe) apareçam como um
noção não é generalizavel: trata-se de um fato de linguagem; enraizado ha sintaxe”. bloco homogêneo de regras, uma maquina lógica?” (PÉCHEUX, 1995, p. 290).

79
“|- Lingua e opacidade ‘
Traietôs equivocos: discurso: déslimite

[..]a relação de articulação dos processos sobre a base (1) Homens e mulheres que gostam só de homens
linguística torna-se possível pela existência, no pró- são felizes.
prio interior desta base, de mecanismos resumidos
pelo termo enunciação, pela qual se efetua a tomada Diante desta sentença, várias questões podem ser levantadas.
de posição do “sujeito falante” em relação às represen- “Em primeiro lugar, podemos evocar problemas de conteúdo que qua-
tações das quais ele é o suporte (PECHEUX, 2011, p.
“se sempre encaminham para avaliações morais: “quem disse isso?”,
128-129, grifos do autor).
“como podem ter certeza disso?” ou “isso não é verdade”, por exemplo.
: Mas essa frase também produz o que alguns chamariam de “ambigui-
Em uma nota de rodapé desta passagem ele afirma ainda que os
: dade estrutural”. Uma certa “confusão” se produz por causa da posição
mecanismos enunciativos “representam no interior da base, a condi-
do conectivo e entre homens e mulheres: isto é, por causa da sintaxe.
ção geral de possibilidade dos processos” (PÊCHEUX, 2011b, p. 129).
Podemos, de um ponto de vista linguístico, dizer que há um problema
Acredito que foram elencados elementos suficientes para sus- de ambiguidade na sentença que se deve a uma relação do sintagma
tentar a relevância teórica de uma reflexão sobre a sintaxe em Análise nomina! coordenado [homens e mulheres] com a oração subordinada
de Discurso. De agora em diante, gostaria de pensá-la como uma das adjetiva relativa que o sucede. Partindo do reconhecimento dessa am-
condições da análise. biguidade, tomemos um possível desdobramento de (1):

À relevância heurística de uma reflexão sobre a sintaxe em Análise (1.1) Homens e [mulheres que gostam só de homens]
de Discurso são felizes,

Em (1.1) há uma divisão do sintagma nominal coordenado [ho-


Vimos na seção anterior que Pêcheux (1995) considera a língua
: mens e mulheres}. Essa divisão permite, sem maiores problemas, a de-
(e não o pensamento ou as ideias) como a base do discurso. Essa com-
“ terminação do elemento mais próximo da subordinada, ou seja, [mu-
preensão nos permite romper, sobretudo, com a concepção de língua
Theres]. Portanto, podemos parafrasear o segmento entre colchetes
como veículo de uma mensagem ou código destinado a transmitir infor-
[mulheres que gostam só de homens] - de algumas maneiras, como em
mações. Na medida em que a língua é uma base material, ela não vei-
cula nada: ela funciona. O que está em jogo, portanto, é o fato de que
(1.1.1) Homens e mulheres heterossexuais são felizes.
o seu funcionamento iimpõe efeitos materiais ao processo de produção
do discurso. Ou seja, o fato de o discurso se dar sobre uma base dotada
Fiquemos por aqui em relação a (1.1). Passemos a outra possibi-
de leis internas (fonológicas, morfológicas, sintáticas e enunciativas)
“lidade de segmentação de (1):
determina o funcionamento dos processos de produção do sentido.
Parto aqui de um breve gesto de leitura que busca dar visibilida- (1.2) [Homens e mulheres] que gostam só de homens
de a essa questao. Tomo, pois, uma sentenca que eescutei em um ponto são felizes.
de önibus‘em Campinas em 2018:: |
Aqui a coisa muda de cenário. Na interpretação (1.2) todo o sin-
tagma nominal coordenado é determinado pela relativa, Em (1.2) teri-
“amos, portanto, uma paráfrase como:

80
| - Lingua e opacidade
Trajetos equivoc

(1.2.1) Homens homossexuais e mulheres heterosse- sição do advérbio só na sentença. Assumir a. 3 como.o paréfrase de
« Do S
xuais são felizes,
seria abstrair a dimensão material da Ifigua; où seja, o jogo relacional .
que constitui o seu próprio e a distingue de toda e qualquer linguagem. .
Sustento, portanto, que é nesses lugares linguisticamente de-
marcáveis que reside a equivocidade semântica entre as duas interpre- Insisto, pois, no fato de que a sintaxe impõe efeitos materiais.
tações possíveis de (1). O que não significa, de modo algum, que essas ao processo de produção dos efeitos semânticos. Ela permite que o
duas sejam as duas únicas interpretações possíveis. As paráfrases aqui sentido não seja univoco, mas ao mesmo tempo impede que ele seja
evocadas não limitam as inúmeras possibilidades de deslinearização!* qualquer um. Observem que esses efeitos possíveis (e impossíveis,
de (1) e o consequente trabalho com paráfrases que poderiam, inclu- como em (1.5) não advém de uma ideia ou de um pensamento, mas de
sive, apontar a pertinência (ou não) de parafrasear [mulheres que gos- um arranjo sintático que impede que certos efeitos de sentido sejam
tam de homens] por [mulheres heterossexuais], por exemplo. As paráfra- produzidos a partir desse enunciado.
ses presentes neste texto buscaram sobretudo sustentar um recorte
no funcionamento da coordenação, da subordinação e do funciona- Conclusão
mento do advérbio só”.
Gostaria, no entanto, de apontar uma questão tão ou mais im-
Falar em sintaxe a partir de uma perspectiva discursiva implica
portante. A sintaxe é, sem dúvidas, fundamental para sustentar o como assumir a existência de uma ordem própria da língua que não se re-
(e não o porquê) dos processos semânticos. Mas ela é igualmente duz nem ao registro do lógico, nem do social. Implica, sobretudo, assu-
fundamental porque permite a compreensão de relações de sentido mir uma distinção entre língua e discurso, sob o risco de um retorno
da problemática conteudista que encerra o linguístico como puro ve-
que não teriam condições de emergir em certos arranjos linguísticos.
ículo de uma “mensagem” e o discursivo como uma espécie de “con-
Logo, tomando (1), uma interpretação como
teúdo” sócio-histórico desvinculado do fato de que o simbólico opera
(1.3) “Homens que gostam só de homens e mulheres como instância estruturante do sujeito e do enunciável. Ao mesmo
são felizes. tempo, a nossa posição não pode nos encaminhar nem para uma com-
preensão estritamente formal da sintaxe, nem para uma compreensão
é impossível por duas razões: a posição do pronome relativo : que a ignore solenemente, É essa a advertência de Pêcheux ao afirmar
que face ao sintagma nominal coordenado [homens e mulheres]; e a po-. anecessidade de um dispositivo que não se sustente nem em uma “se-
mantica puramente intralinguística”, nem em uma “pragmática insen-
sível às particularidades da língua” (PECHEUX, 2010, p. 49). Me per-
14 Falo em deslinearizacäo e não em dessintagmatizagäo para ressaltar 0 caráter não linear da .
sintaxe. Em outro trabalho, afirmei que “o efeitode linearidade da sintaxe dissimula as dobras mito, então, retomar os dois riscos°s (logicista e sociologista) evocados
do discurso” (BARBOSA FILHO, 2018, p. 12): Trata-se de'um efeito ideológico que se materia- logo no inicio do texto.
lizano funcionamento colinear da sintaxe e que deve; portanto, ser colocado em suspenso no. -
trabalho de análise, Além disso, a deslinearizaçäo aponta para funcionamentos que não são. E
necessariamente sintagmáticos (fonológicos' € morfológicos, “por: éxemmplo), mas instituem
Recenteménte, em conversa com um amigo, Phellipe Marcel,
efeito de unidade, horizontalidade e sequencialidade: Patrick Sériot (1986) trabalha bem essa falávamos que em alguns trabalhos: a questão da tradução operava
questão ao analisar o funcionamento das nóminálizações no discurso político soviético.
um curioso efeito ideológico. Em trabalhos que se ocupam de formu-
15 Cabe agui uma observação a respeito do advérbio só. “HA um gesto de leitura possivel em que
lações em outra língua, a tradução intervinha como uma etapa pura-
o “sé gosta de homen” pode deslizar para o “só gosta de homenii fe de mais nada)”, por exemplo.
Essa paráfrase (plausível, a meu ver) abre para interpretações ausentes neste texto. mente técnica e em seguida procedia-se, enfim, a questões de discurso.

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| ~ Lingua é opacidade
Trajetos'equivocos: discurso, destimite e resistência

Ora, esse é justamente o efeito técnico sustentado em algumas ané-


muiação”, Neste lugar, comparecem tanto as leis internas da lingua
lises que supõem o sintático como um lugar desinvestido de discur-
quanto as condições de produção e o interdiscurso como instâncias deci-
sividade. A descrição dos processos linguísticos no arquivo, tomada
“ sivas e é por isso que o intradiscurso é o fio do discurso e não da lingua.
nesse sentido, se reveste de um puro procedimento lógico que escapa
“Gostaria, no entanto, de deixar a relação entre sintaxe e intradiscurso
da inscrição no jogo dos sentidos. Se a descrição do analista demanda em suspenso para elaborá-la mais detidamente num trabalho futuro,
a paráfrase como instrumento, é preciso lembrar que a paráfrase é uma
relação tradutória, ainda que na mesma língua!* e que tanto na tradu- Por ora, e para encerrar, diria que a brevíssima análise aqui evo-
ção (entre línguas ou na “mesma” língua) quanto na descrição sintätit cada não busca esgotar a sentença analisada, Procedi a um recorte
ca do material de análise reaparece com força o problema saussuriano : bastante pontual que poderia deslizar para inúmeros outros funciona-
da primazia do valor sobre a significação. “mentos e efeitos de sentido. A partir da sentença analisada, podemos
montar tanto um arquivo que tome como ponto de partida sintagmas
Retomo a passagem em que Pêcheux (1999, p. 28) afirma que a nominais coordenados acrescidos de orações subordinadas adjetivas
sintaxe é (como em “Brasileiros e estrangeiros que queiram entrar no Brasil es-
tão dispensados de apresentar teste de Covid-19 negativado caso este-
o que toca mais de perto no próprio da língua enquan-
: jam vacinados”, por exemplo), quanto um arquivo das relações de gê-
to ordem simbólica, com a condição de dissimetrizar
“nero e sexualidade que interrogue as condições de parafrasagem de
o corpo de regras sintáticas, construindo aí os efeitos
“homens”, “mulheres” em outros arranjos documentais. Abre-se, nes-
discursivos que o atravessam, os jogos internos des-
te lugar, outro viés na montagem do arquivo que se estrutura em torno
ses espelhamentos léxico-sintáticos através dos quais
toda construção sintática é capaz da discursividade da sintaxe em sua relação com as condições de pro-
deixar aparecer
uma outra, no momento em que uma palavra desliza dução dos discursos sobre gênero e sexualidade no Brasil.
sobre outra palavra. Mas é preciso atentar ao segundo risco, o sociologista, na medida
em que essa segunda possibilidade de montagem de arquivo pode des-
Considerar a existência de. efeitos discursivos que atravessam | lizar muito facilmente para uma análise que beira o comentário ou a ex-
o corpo das regras sintáticas é um golpe de morte no logicismo. A passa- plicação, como fiz questão de ressaltar anteriormente. As formulações
gem da ambiguidade para o equívoco implica admitir justamente o fato do material às vezes “ilustram” os “exemplos” evocados pelo analista
de que a língua em funcionamento. só pode reconhecer uma sintaxe : em meio a uma abstração do fato da língua em que as análises se asse-
afetada pela discursividade: É dessa imbricação entre o corpo das re- melham a longos juízos, muito eruditos, por vezes, mas que em nada
gras e os efeitos discursivos. que o intradiscurso emerge como © espaço | tocam a relação entre a base material e os processos discursivos. _
que não diz respeito somente à ordem da língua, mas a ordern da for-
Acredito que os trabalhos de Leandro-Ferreira sejam um exce-
16 Haroche, Henry & Pécheux (2020) resialtam Ú caráter dutörio do moviniento de umri‘ signifi- :
lente espaço de elaboração em torno de uma prática de análise que in-
cante entre formaçües discursivas distintas: Eles: apontam que, “do ponto de vista saussuria-.' siste na relação do linguístico com o discursivo sem ceder à tentação
no a respeito da língua e do valor frente àquele speito das. significações e da linguagem,
há uma mudança radical de perspectiva: Apesar dessa mudança de perspectiva ~ “€ ainda que formalização oriunda do logicismo e ao efeito de reconhecimento so-
a referéncia à traduçäo tenha, neste caso; sempre, um alcance teórico e não prático -, conti- ciologista que constitui, com efeito, a nossa relação espontânea com o
nuamos a colocar de imediato o problema’ por meio: “daquele sobre a correspondência entre
duas ou mais línguas como se no interior dé uma mesma lingua nao
ni ocorressem problemas. :: {7 Courtine (2009, p. 101, grifos do autor) chega a definiro intradiscurso como uma “sequencia-
de traducäo” (HAROCHE; HENRY; PECHEUX, 2020, PD 20 = lização dos elementos do saber” para distingui-lo dá sintaxe.

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|—Lingua e opacidade
Trajetos equivacos: dise resistencia: 0302

sentido. De minha parte, deixo o meu agradecimento pelo cuidado e Fäbio César Montanheiro. In: BARONAS, Roberto Leiser (org). Andlise de
com os “fatos da lingua que brincam dentro de seu espaço com a própria discurso: apontamentos para uma história da noção-conceito de formação
ordem da regra” (LEANDRO-FERREIRA, 2000, p. 122, grifos da autora) discursiva. Araraquara: Letraria, 2020. p. 17-39,
e que permitiram, na minha própria trajetória, não esquecer nem da
HERBERT, Thomas. Observações para uma: teória geral das ideologias.
língua, nem do jogo. Tradução Carolina M. R. Zuccolillo, Eni P Orlandi e José H. Nunes. Rua,
“ Campinas, v. 1,n. 1, p. 63-89, 1995,
Referências
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à LEANDRO-FERREIRA, Maria Cristina. Da ambiguidade ao equivoco: a
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BARBOSA FILHO, Fabio Ramos. O discurso antiafricano na Bahia do século Editora da UFRGS, 2000.
XIX, São Carlos: Pedro e joão, 2018.
: LEANDRO-FERREIRA, Maria Cristina. O lugar da sintaxe no discurso. In:
CARRENHO, Júlia Mendes. “Eu vou contar” e outras cenas de testemunhos de : INDURSKY, Freda; LEANDRO-FERREIRA, Maria Cristina (org). Os múltiplos
mulheres: um estudo discursivo das relações entre arquivo, trauma e língua. territórios da Análise do Discurso. Porto Alegre: Editora Sagra-Luzzatto, 1999.
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COURTINE, Jean-Jacques. Análise do discurso político: o discurso comunista MOTTA, Valéria Regina Ayres. O poético na Andlise do Discurso de Michel
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GADET, Françoise. Trapacear a língua. Tradução Greciely Cristina da Costa. In: em francês. Tradução de José Horta Nunes. In: PECHEUX, Michel. Análise de
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GASPARINI, Edmundo Nartacci: Lingua e Ialangue na | Andlise do Discurso de. PECHEUX, Michel, Semântica e discurso: uma crítica à amando d óbvio.
Michel Pêcheux. Säo Carlos: Pedro e joão, 2021. o Tradução Eni Puccinelli Orlandi et. al, Campinas: Editorada UNICAMP, 1995.
HAROCHE, Claudine; HENRY, Paul; PECHEUX, Michel. Asemäntica eocorte :
saussuriano: lingua, linguagem, discurso. Tradução Roberto Leiser Baronas :

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1 Lihgua é opacidade :
Trajetos equivocas: discurso: deslimite e resistência:

PECHEUX, Michel. Sobre a (des)construgäo das teotias linguísticas.


Traducäo
Celene M. Cruz e Clömence Jouét-Pastré. Linguas e instrumentos linguisticos,
n. 2, p. 7-32, 1999,
RIBEIRO, Thales de Medeiros. Jogo nas regras, jogo sobre as
regras: jogo, valor
e real da lingua na obra de Michel Pêcheux. Dissertacäo (Mestra
do) - Instituto
de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de
2016.
Campinas, Campinas, A pesquisa em Análise do Discurso e suas
- relagoes com o Materialismo Histórico e
ROBIN, Régine. História e linguística. Tradução Adélia Bolle. São Paulo: : Dialético: tentativa de esboço de uma trajetória
Cultrix, 1976.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Tradução
de Antônio
Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix,
2007.
Ana Zandwais (UFRGS)
SÉRIOT, Patrick. Langue russe et discours politique soviétique:
analyse des
nominalisations. Langages, 21º année, n. 81, p. 11-41, 1986.

TAMINE, Joelle. Métaphore et syntaxe. Langages, 12° année, n.


54, p. 65-81
1979, introdução
|

Este estudo busca configurar alguns aspectos sobre a trajetória


de pesquisas institucionalizadas na França, ao final dos anos 1960,
nos domínios da Análise do Discurso. Esta disciplina se inaugura
sendo proposta por Michel Pêcheux e Jean Dubois, um filósofo e um
linguista, sendo ambos marxistas e com o interesse comum de inves-
tigaras condições de funcionamento do discurso político, enquanto
uma área de conhecimento híbrida que irá se debruçar sobre múlti-
plos objetos. Determinados objetos, tais como o discurso, as ideolo-
as, O sujeito é a língua são pensados a partir de articulações entre
os campos da Ciência da Linguagem, da Sociologia, da Psicologia
Social, do Materialismo, da História e da Psicanálise de modo a recon-
figurar as bases da tradição de estudos linguísticos e discursivos no ce-
_ nário francês, mais precisamente após os movimentos politico-sociais

‚1! Retomando o contexto histórico, fazemos referência, notadamente, à mobilização dos traba-
“ Thadores franceses através de uma greve geral deflagrada em 13 de maio de 1968, às manifes-
2° tações dos movimentos estudantis, à organização da União Nacional dos Estudantes (UNEF)
“e do Sindicato de Docentes do Ensino Superior que; aliados aos trabalhadores, promovem
: práticas políticas de resistência contrárias à política dé Charles De Gaulle e que colocam a
esquerda francesa em posição de ascensão no contexto político francés.

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