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TEMA

Tal como um diálogo, o


monólogo pode propiciar
reflexões diversas.

ENSINO FUNDAMENTAL - ANOS FINAIS

O QUE SE PASSA NA MENTE


HUMANA?
Você já se flagrou falando sozinho? Caso isso já tenha ocorrido, saiba que você criou
um monólogo, ou seja, um discurso oposto ao diálogo. Nele, não há um interlocutor,
alguém para quem uma fala é dirigida, mas sim a expressão contínua de pensamen-
tos, sentimentos e emoções sem qualquer necessidade de interação. Esse é um gênero
textual muito tradicional no teatro, mas que ganhou espaço também na literatura, no
cinema e, às vezes, manifesta-se em nosso cotidiano. Nas produções artísticas, o mo-
nólogo permite que espectadores tenham acesso irrestrito à mente dos personagens, o
que pode enriquecer muito a complexidade de uma obra. A linguagem e estrutura desse
gênero, por fim, variam muito, uma vez que ele remete à subjetividade. Confira alguns
exemplos para fazer a atividade proposta.

TEXTO 1

Um segredo
Houve um tempo em que eu adorava jogar xadrez. […] A parte da estratégia sem-
pre foi um desafio pra mim, a ponto de eu precisar praticar comigo mesma para tentar
melhorar meu desempenho – e impressionar aquele garoto, claro. Mas o que realmente
me estimulava no jogo era essa possibilidade de me superar sempre. […]

CORRÊA, Natália. Um segredo. Monólogos de pijama. Disponível em: http://manteroumudar.blogspot.com/2014/07/um-segredo.html?m=1.


Acesso em: 4 jan. 2022.

TEXTO 2

Os desastres de Sofia
[…] Passei a me comportar muito mal na sala. Falava muito alto, mexia com os cole-
gas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
— Cale-se, ou expulso a senhora da sala!
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava,
senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperara tanto que se tornara doloroso para
mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava
como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastrada-
mente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem
forte de ombros tão curvos. Ele me irritava.
[…] Eu queria o seu bem, e em resposta ele me odiava. Contundida, eu me tornara o
seu demônio e tormento, símbolo do inferno que devia ser para ele ensinar aquela turma
risonha de desinteressados. Tornara-se um prazer já terrível o de não deixá-lo em paz. O
jogo, como sempre, me fascinava. […]

LISPECTOR, Clarice. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira, 1999. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4091399/mod_
resource/content/1/LISPECTOR_Clarice_Os%20desastres%20de%20Sofia_In%20______A%20Legi%C3%A3o%20Estrangeira%20%E2%80%93%20
contos_Rio%20de%20Janeiro_Rocco_1999_p%2011-26.pdf. Acesso em: 4 jan. 2022.

VÍDEO 1

Monólogo humorístico
Lea Maria Jahn é uma atriz e comediante alemã, instalada no Brasil já há alguns
anos. Em suas redes sociais, há conteúdos variados, inclusive breves monólogos hu-
morísticos nos quais ela reflete sobre a nova vida e as características das cidades bra-
sileiras por onde passa durante suas turnês. Confira um exemplo a seguir, tentando
identificar se você já se viu fazendo reflexões semelhantes em alguns momentos.

Acesse: https://youtu.be/gva-2QjVVcU

VÍDEO 2

Os efeitos de um monólogo sobre espectadores


Nas artes, os monólogos possuem um efeito impactante, pois quase sempre reve-
lam sentimentos e pensamentos que sensibilizam, promovem certa identificação
entre leitores ou espectadores e os personagens. No vídeo que pode ser acessado
pelo link a seguir, o apresentador lista seus dez monólogos preferidos do cinema.
Note que, antes de exibi-los, ele comenta suas impressões sobre cada um, a fim de
justificar os motivos pelos quais, para ele, as cenas merecem destaque.

Já no início, ele afirma “para mim, um bom monólogo é aquele que casa texto com
interpretação e com o personagem em cena”. Assista ao conteúdo buscando identifi-
car essa característica nos exemplos citados e resgatar outros mais de seu repertório.
Lembre-se de procurar no dicionário as palavras que você ainda não conhece.

Acesse: https://youtu.be/5zEuBlV_fvA

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Após a análise dos modelos, responda às questões:

1) Nos textos 1 e 2, identifique trechos que revelam sentimentos ou pensamentos ínti-


mos das narradoras.

2) O que caracteriza o vídeo 2 como um monólogo?

3) Nos exemplos do vídeo 2, a maior parte das cenas contém mais de um persona-
gem. Ainda assim, o que permite a classificação dos trechos como monólogos e não
diálogos?
Respostas nas orientações.

Agora que você está mais familiarizado com o conteúdo, é hora de colocar os novos
aprendizados em prática. Sua tarefa será criar um monólogo inspirado em uma das
pinturas de Edward Hopper, artista estadunidense reconhecido por retratar a vida de
indivíduos nas cidades modernas.

Acesse o link https://www.wikiart.org/pt/edward-hopper/all-works#!#filterName:Genre_


genre-painting,resultType:masonry e escolha uma das opções apresentadas. Em segui-
da, pesquise brevemente sobre a obra e oriente-se pelos critérios a seguir na produção
de seu texto.
• Dê um título ao monólogo.
• Anexe uma imagem da pintura escolhida ao seu texto.
• Utilize a 1a pessoa do singular e a norma-padrão do português como base.
• Organize o texto em começo, meio e fim, mesmo que essa ordem não seja tão
explícita.
• Seu monólogo deve remeter à obra escolhida de algum modo, então explore ao má-
ximo a criatividade!
• Mínimo de 22 e máximo de 30 linhas.

Bom trabalho!
Professora Andressa Tiossi

AVALIAÇÃO

O texto elaborado corresponde a um


monólogo?

O conteúdo atende à proposta de criar um


monólogo inspirado em uma pintura de
Edward Hopper?

Os textos verbais e não verbais relacionam-se


de modo articulado, coerente, atraente e
convincente?

A linguagem é clara, objetiva e adequada ao


gênero proposto?

O texto indica uso reflexivo e consciente da


norma-padrão do português?

ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR


A atividade propõe a criação de um monólogo que dialogue com uma obra de arte. Para tanto, a inspiração deve
partir do pintor Edward Hopper e seus retratos da solidão nos contextos urbanos. Em aula, essas pinturas podem
ser acessadas coletivamente para que a turma discuta suas impressões e interpretações. Em seguida, cada estudante
deve escolher sua preferida e imaginar o que se passa na mente dos personagens nas cenas retratadas. O aspecto
fundamental a ser explorado é a linguagem utilizada nos textos e a expressão de pensamentos e subjetividades
diversos. Por isso, a análise dos modelos 1 a 3 será importante, uma vez que os discursos literários diferem daqueles
encenados no cinema. Caso queiram, todos poderão também encenar seus monólogos ao final da produção.
Sugestões de respostas:
1) Entre outros trechos possíveis para destaque, tem-se: Texto 1: “bem minha cara se apaixonar pelo cara mais
nerd da turma em vez do atleta popular”. Texto 2: “Mas eu o exasperara tanto que se tornara doloroso para mim ser
objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava”.
2) O vídeo é caracterizado como um monólogo por expor as impressões e os pensamentos da humorista por meio
de uma narração sobreposta às imagens nas quais ela aparece refletindo sem a presença de qualquer interlocutor.
Além disso, é perceptível um fluxo de ideias descontínuo.
3) Os trechos são monólogos exteriores, pois, embora haja mais personagens em cena, o discurso é proferido
apenas por um deles, cujo fluxo de consciência independe de um diálogo. Ou seja, eles não discursam para interagir,
mas para expressar pensamentos e sentimentos íntimos que, de algum modo, afetam os interlocutores em cena e
os próprios espectadores.

IMAGEM 1: Kateryna Holodniuk/iStockphoto.com


IMAGEM 2: Darumo/iStockphoto.com

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