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Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara
pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele. O professor era gordo, grande e
silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto
demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele.
Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que,
ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas,
interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me
obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele
homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como
uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde
e vê um homem forte de ombros tão curvos.
(LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1997)
Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a sua própria estrutura composicional, que pode
apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse fragmento, a
sequência textual que caracteriza o gênero conto é a
a) expositiva, em que se apresentam as razões da atitude provocativa da aluna.
b) injuntiva, em que se busca demonstrar uma ordem dada pelo professor à aluna.
c) descritiva, em que se constrói a imagem do professor com base nos sentidos da narradora.
d) argumentativa, em que se defende a opinião da enunciadora sobre o personagem professor.
e) narrativa, em que se contam fatos ocorridos com o professor e a aluna em certo
tempo e lugar
Analisando a estrutura do conto, percebemos que o texto se caracteriza como narrativo, uma
vez que o relato possui os elementos característicos deste tipo textual:
• Sucessão de acontecimentos
• Personagens
• Marcação de tempo
• Enredo
• Narrador
Conforme o enunciado nos diz, é muito comum encontrarmos textos que possuem mais de um
tipo textual presente. Neste caso, observamos que, apesar de haver a presença de trechos
descritivos, o tipo textual que predomina é o narrativo. Além disso, estamos lidando com o
gênero textual conto, que possui o tipo textual narrativo como uma das suas características
principais.
2. (ENEM – 2017)
Cores do Brasil
Ganhou nova versão, revista e ampliada, o livro lançado em 1988 pelo galerista Jacques Ardies,
cuja proposta é ser publicação informativa sobre nomes do “movimento arte naïf do Brasil”,
como define o autor. Trata-se de um caminho estético fundamental na arte brasileira, assegura
Ardies. O termo em francês foi adotado por designar internacionalmente a produção que no
Brasil é chamada de arte popular ou primitivismo, esclarece Ardies. O organizador do livro
explica que a obra não tem a pretensão de ser um dicionário. “Falta muita gente. São muitos
artistas”, observa. A nova edição veio da vontade de atualizar informações publicadas há 26
anos. Ela incluiu artistas em atividade atualmente e veteranos que ficaram de fora do primeiro
livro.A arte naïf no Brasil 2 traz 79 autores de várias regiões do Brasil.
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bombas e Brigitte Bardot
É comum coexistirem sequências tipológicas em um mesmo gênero textual. Nesse
fragmento, os tipos textuais que se destacam na organização temática são
a) descritivo e argumentativo, pois o enunciador detalha cada lugar por onde passa,
argumentando contra a violência urbana.
b) dissertativo e argumentativo, pois o enunciador apresenta seu ponto de vista sobre as
notícias relativas à cidade.
c) expositivo e injuntivo, pois o enunciador fala de seus estados físicos e psicológicos e
interage com a mulher amada.
d) narrativo e descritivo, pois o enunciador conta sobre suas andanças pelas
ruas da cidade ao mesmo tempo que a descreve.
e) narrativo e injuntivo, pois o enunciador ensina o interlocutor como andar pelas ruas da
cidade contando sobre sua própria experiência.
No trecho da música, podemos observar a presença de dois tipos textuais: o narrativo e o
descritivo. Isso porque, observamos que há o objetivo de narrar o que o eu lírico está
fazendo, bem como detalhar como ele estava: “Sem lenço, sem documento”. Como o
próprio enunciado nos informa, é muito comum encontrarmos mais de um tipo textual
presente no texto, como podemos observar nesta música.
6. (ENEM – 2013)
A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social da tecnologia
para fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso, de forma
argumentativa, por meio de uma atitude
a) crítica, expressa pelas ironias.
b) resignada, expressa pelas enumerações.
c) indignada, expressa pelos discursos diretos.
d) agressiva, expressa pela contra argumentação.
e) alienada, expressa pela negação da realidade.
A tirinha se caracteriza como um gênero textual que tem como função retratar – de modo
crítico e/ou irônico – fatos sociais, político-ideológicos e comportamentais da sociedade;
consequentemente, se há uma crítica em relação a um fato, há a defesa de uma opinião.
Como já vimos anteriormente, o texto argumentativo é caracterizado por um autor que
defende um ponto de vista e tenta dissuadir o leitor a respeito dessa opinião.
Neste caso, de modo critico, o autor ironiza a falsa ideia de que as pessoas não são
preconceituosas, ignorantes e covardes ao utilizarem a internet.
7. (UERJ – 2010)
Viagem ao centro da Terra
De início, não enxerguei nada. Havia muito tempo sem verem a luz, meus olhos imediatamente se fecharam.
Quando consegui ver de novo, fiquei mais assustado que admirado:
– O mar!
– É – respondeu meu tio –, o mar Lidenbrock, e espero que nenhum navegador vá me contestar a honra de tê-lo
descoberto e o direito de batizá-lo com meu nome!
Um enorme lençol de água, o começo de um lago ou de um oceano, estendia-se até onde minha vista não podia
alcançar. As ondas vinham bater numa praia bastante recortada, formada por uma areia fina e dourada, salpicada por aquelas
conchinhas que abrigaram os primeiros seres da criação. As ondas quebravam com aquele barulho característico dos
ambientes muito amplos e fechados. Uma espuma leve era soprada por um vento moderado, e uma garoa me batia no
rosto. A cerca de duzentos metros das ondas, naquela praia ligeiramente inclinada, estavam as escarpas de rochedos
enormes, que se elevavam a uma altura incalculável.
Alguns deles, cortando a praia com sua aresta aguda, formavam cabos e promontórios desgastados pelos dentes
da arrebentação. Mesmo ao longe, seus contornos podiam ser vistos em contraste com o fundo nebuloso do horizonte. Era
realmente um oceano, com o contorno irregular das praias terrestres, mas deserto, com um aspecto selvagem assustador.
Se minha vista podia passear ao longe naquele mar, era porque uma luz “peculiar” iluminava seus menores detalhes. Não a
luz do Sol, com seus fachos brilhantes e sua irradiação plena, nem a da Lua, com seu brilho pálido e impreciso, que é apenas
um reflexo sem calor. Não, aquela fonte de luz tinha uma propagação trêmula, uma claridade branca e seca, uma
temperatura pouco elevada e um brilho de fato maior que o da Lua, evidenciando uma origem elétrica. Era como uma
aurora boreal, um fenômeno cósmico permanente numa caverna capaz de conter um oceano.
Júlio Verne Viagem ao centro da Terra. São Paulo: Ática, 2000.
Não, aquela fonte de luz tinha uma propagação trêmula, uma claridade branca e seca, uma
temperatura pouco elevada e um brilho de fato maior que o da Lua, evidenciando uma origem
elétrica.
A passagem transcrita acima revela uma característica na descrição do cenário que pode
ser definida como:
a) exemplificação do tema do diálogo entre personagens
b) intensificação do envolvimento do narrador com a cena
c) contraposição com os aspectos visuais relativos à paisagem
d) enumeração de elementos díspares na composição do espaço
Lembrem-se: no texto narrativo, o autor tem como objetivo central contar uma história.
Para isso, faz uso de elementos textuais como: sucessão de acontecimentos, personagens,
marcação de tempo, enredo, narrador etc.
Após uma leitura atenta do fragmento, percebe-se que o narrador/personagem se envolve
com a paisagem que está retratando, de forma que a descrição ganha um aspecto mais
emocional. Além disso, a repetição do termo “Não” reforça o descarte das descrições feitas
anteriormente, uma vez que aproximação emocional se intensifica.
8. (UERJ – 2015)
No início do texto, o autor cita entre aspas as frases de Joaquim Nabuco para, em seguida, se
posicionar pessoalmente perante seu conteúdo. Para o autor, a obra da escravidão
caracteriza-se fundamentalmente por:
a) manter-se através da educação excludente
b) atenuar-se em função da distribuição de renda
c) aumentar por causa do índice de analfabetismo
d) enfraquecer-se graças ao acesso à escolarização
O texto da questão é argumentativo, uma vez que o autor defende a ideia de que, por
mais que a abolição tenha ocorrido há muito tempo, os efeitos da escravatura perduram na
nossa sociedade até os dias atuais. Ainda: para ele, o ato de escravizar outras pessoas
corresponde à falsa ideia veiculada na época – mas que muitos ainda acreditam, mesmo que
de forma velada – de que existem pessoas superiores em relação a outras.
Ao longo do texto, vemos que o Cristovam Buarque acredita que a obra da escravidão com a
qual convivemos ainda nos tempos atuais se dá através da educação (ou a falta dela). Nesse
sentido, é muito cômodo para muitas camadas da sociedade que essa desigualdade não seja
interrompida, pois favorece os mais abastados, isto é, os mais escolarizados.
O TEXTO ARGUMENTATIVO – PARTE 1
ELEMENTOS BÁSICOS DA ARGUMENTAÇÃO:
A conquista do Brasil
“Por gerações, o brasileiro se acostumou a ver o seu país, sua história e sua cultura como exemplos de
paz e confraternização sem paralelo entre as nações. A imagem do brasileiro como um povo cordial que
aceita melhor a miscigenação e é mais tolerante com as diferenças sociais e políticas, num país
conciliador, que não se envolve em guerras e se mantém neutro diante de conflitos, se sobrepõe como
traço cultural, sem grandes traumas nem contestações.
Os brasileiros se orgulham de pensar que o Brasil não precisou de uma guerra com a que separou os
Estados Unidos da Inglaterra, nem passou por conflitos internos sangrentos como a Secessão. Manteve-se
afastado das conflagrações, a começar pelas duas guerras mundiais que marcaram a primeira metade do
século XX – na segunda delas, meio pró-forma, enviou expedicionários à Itália, numa fase em que o
conflito já se encaminhava para o fim. O país manteve-se neutro na maioria dos grandes conflitos
passados, recentes e contemporâneos. E saiu pacificamente de uma ditadura militar de 21 anos, em 1985,
com o restabelecimento do governo civil e, depois, da democracia.
Ao construir um modelo de concórdia, que combina com a fachada do povo pobre, mas alegre, que
se expressa pelo carnaval, o samba e o futebol, o Brasil esqueceu muita coisa. Foi o último país do
mundo a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888. Um dos seus maiores heróis nacionais,
Tiradentes, foi esquartejado. O Brasil dizimou a população masculina de um país vizinho na Guerra
do Paraguai. Deixou uma esteira de mortos nos porões do regime militar, que pela via do golpe
havia derrubado em 1964 o presidente João Goulart.
Aliviaram-se tensões sociais latentes e sepultou-se o passado beligerante sobre o qual foi
construída uma nação homogênea, mesmo em meio a tanta diversidade. O Brasil acomodou-se à
versão oficial de sua história, em que foram escondidas as rupturas, as questões sociais e os fatos
que não interessam tanto a sua autoimagem dentro do mundo civilizado.”
(Thales Guaracy)
Se tivéssemos que separar por parágrafos onde predominam tese, contratese e argumentos,
como poderíamos dividir esse texto?
Questão 2
A charge, por conta do seu viés crítico e voltado à reflexão, pode ser caracterizada em sua ideia
estrutural como um texto argumentativo. A partir dessa consideração, qual seria a tese e o
argumento da charge acima?
Tese: Em vez de pensar em redução da maioridade penal, o governo deve investir em educação e
lazer para as crianças e adolescentes.
Argumento: Espaços de lazer são uma mecanismos muito mais eficiente para resolver o
problema da criminalidade entre os jovens
“Eu aposto que nos últimos dias alguém lhe contou que não aguenta mais a vida. Que sente o
tempo passar de maneira descontrolada e que, mal a semana começa, já chega a quinta- feira e
com ela, o final de semana, mal aproveitado, diga-se de passagem.
E, ao que tudo indica, é muito possível que não apenas seu amigo se sinta assim, mas você
também, assim como eu, todos nós, sentimos que a vida, literalmente, escorre pelas mãos.”
Identifique a tese e os argumentos do texto em questão e extraia a ideia atribuída a cada um,
apontando o fragmento relacionado:
Questão 4 (ENEM –2019)
Você vende uma casa, depois de ter morado nela durante anos; você a conhece necessariamente
melhor do que qualquer comprador possível. Mas a justiça é, então, informar o eventual
comprador acerca de qualquer defeito, aparente ou não, que possa existir nela, e mesmo,
embora a lei não obrigue a tanto, acerca de algum problema com a vizinhança. E, sem dúvida,
nem todos nós fazemos isso, nem sempre, nem completamente. Mas quem não vê que seria
justo fazê-lo e que somos injustos não o fazendo? A lei pode ordenar essa informação ou
ignorar o problema, conforme os casos; mas a justiça sempre manda fazê-lo. Dir-se-á que seria
difícil, com tais exigências, ou pouco vantajoso, vender casas... Pode ser. Mas onde se viu a justiça
ser fácil ou vantajosa? Só o é para quem a recebe ou dela se beneficia, e melhor para ele; mas só
é uma virtude em quem a pratica ou a faz. Devemos então renunciar nosso próprio interesse?
Claro que não. Mas devemos submetê-lo à justiça, e não o contrário. Senão? Senão, contente-se
com ser rico e não tente ainda por cima ser justo.
COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
No processo de convencimento do leitor, o autor desse texto defende a ideia de que
e) o interesse do outro deve se sobrepor ao interesse pessoal.
b) a atividade comercial lucrativa é incompatível com a justiça.
c) a criação de leis se pauta por princípios de justiça.
d) o impulso para a justiça é inerente ao homem.
e) a prática da justiça pressupõe o bem comum.
Questão 5 (ENEM – 2021)