por esse chão pra dormir, A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir, Por me desixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague...
Chico Buarque (1971)
Enfrentamento do Sofrimento Psíquico DESEMPREGO E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
Desemprego e internações em hospitais psiquiátricos
Situação global da economia é um fator condicionante da saúde mental; Foi encontrada uma relação entre as flutuações do ciclo econômico e as internações em hospitais psiquiátricos; Todas as pesquisas reforçam que o desemprego provoca um estresse maior que pode levar ao aparecimento de transtornos psíquicos e hospitalização posterior. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Efeitos do desemprego no bem-estar psicológico Estes efeitos serão analisados em sua relação com os seguintes aspectos: Desemprego e transtornos psíquicos menores Estudos tem verificado que é a experiência de desemprego que causa o problema, e não uma prévia deficiência de saúde mental. As conseqüências psicológicas negativas derivadas de estar desempregado podem por sua vez, incrementar o risco do sofrimento por transtornos que requerem tratamento psiquiátrico. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Desemprego e depressão Existem numerosos estudos relacionando desemprego e depressão, mas eles tem conclusões contraditórias. Estudos mostram que o desemprego é a causa de redução do bem-estar psicológico e, mais precisamente, de um aumento do sentimento de depressão. Foi feita uma pesquisa com jovens, verificou-se que entre jovens de um grupo “socialmente privilegiado” podem encarar a falta de trabalho como um período de férias antes de começarem a trabalhar. Embora tudo indique que seja um fator de risco de depressão, certamente ele está combinado com a moderna representação social do trabalho. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Desemprego e autoestima
A inconsistência nos resultados das pesquisas sobre os efeitos do
desemprego na autoestima torna necessária uma reconsideração da idéia de que o desemprego conduz inevitavelmente a uma deterioração da autoestima. Observou-se que jovens desempregados tinham uma autoestima mais baixa que os empregados, mas o que se observou foi que havia um aumento na autoestima dos que encontravam trabalho. Tem se verificado que a má situação de status e do prestígio social = sentimento de incapacidade pessoal e de culpa que leva a mudanças na avaliação pessoal. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Desemprego e suicídio Não se pode afirmar que existe uma relação de causa e efeito. Tanto o desemprego quanto a conduta suicida poderiam ser causados por fatores pessoais, como problemas psíquicos anteriores à perda do emprego, ou por fatores sociais, como problemas econômicos unidos ao desemprego. Se o desemprego não tem um efeito de precipitação, pode ser etiologicamente significativo como fator de pré-disposição, afirma Platt (1984).
Desemprego e relações familiares
Constatou-se que as conseqüências negativas do desemprego não afetam apenas a pessoa que não tem trabalho, mas também outros familiares. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Os estudos realizados costumam mencionar geralmente, a diminuição da renda e a perda de status como a principal causa de perda da estabilidade familiar. O impacto do desemprego nem sempre é negativo (Bakke, 1940), pois a experiência de estar desempregado pode ser utilizada como uma oportunidade para realizar atividades que implicam uma mudança nos papéis familiares, como mudança nas funções domésticas, uma viagem familiar, a dedicação de mais tempo às crianças, etc. A falta de trabalho atua como um fator que acentua o tipo de relação familiar conflituosa, intensificando o stress e a tensão nas famílias que já apresentavam um desgaste nas relações entre seus membros. Tem se verificado a importância do apoio dado pela família. As pessoas desempregadas menos apoiadas experimentarem maior desgaste tanto psicológico quanto na autoimagem. Enfrentamento do Sofrimento Psíquico Desemprego, saúde física e mortalidade Estudos mostram que aqueles que Encontravam-se desempregados declara- vam com mais freqüência do que aqueles que estão trabalhando, sofrer sintomas psicossomáticos como: dores de cabeça, perda do apetite, dificuldades de respi- ração, enjoos, dificuldades para dormir E incômodos, dores gerais entre outros. Além disso, parece haver uma clara associação positiva e significtaiva entre taxas de desemprego e taxas de mortalidade. Projeto do CPAT/USP “Formas de lidar com o desemprego: possibilidades e limites de um projeto de atuação em psicologia social e do trabalho”. Autoras: Anete S. Farina e Tatiana Stokler das Neves Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Projeto voltado a mulheres e homens desempregados com mais de 24
anos, moradores da região metropolitana de São Paulo.
Objetivo: constituir um espaço de reflexão e de encontro entre pessoas
em situação de desemprego, com o objetivo de ampliar as discussões sobre trabalho, desemprego, geração de renda e incentivar redes sociais, como elementos importantes de suporte junto a essas pessoas. Projeto do CPAT/USP Modos de fazer:
1º encontro- apresentação mútua
Discutir os objetivos do projeto e expectativas das pessoas; Ouviu-se as demandas; Perguntavam se tratava-se de um teste/ avaliação não explicitados (Intenção não revelada?) Questionamentos de se o projeto iria abrir novas oportunidades; Formas de “digerir certos sapos” Projeto do CPAT/USP Segundo encontro – compreensões e repercussão do desemprego Compreender as percepções e as informações sobre o atual desemprego e realizar debate contextualizando o fenômeno do desemprego contemporâneo; Para estimular as discussões: charges que através de sátiras e ironias, apresentavam de forma crítica questões relativas ao desemprego e mundo do trabalho atual; Mote para começar a discussão, permitindo a imersão do tema e desinibição dos participantes; Apontou para explicações tanto de caráter individual, como como caráter macro-social; Relatos de renda provenientes de trabalhos informais, mas era tido como algo provisório; Projeto do CPAT/USP Relato de estar desempregado há um ano apesar de ter concluído ensino superior: problematizar a compreensão da relação entre emprego/ qualificação. Foram apontadas questões relativas ás repercussões do desemprego: aceitar ou não todo tipo de trabalho; medo e necessidade de “dar cara a bater”; cansaço e desesperança; desejo de sentir-se valorizado através do trabalho; tensão existente entre apoio familiar e olhares preconceitusos. Projeto do CPAT/USP Terceiro encontro- percepções sobre o mundo do trabalho Conhecer e discutir percepções sobre o mundo do trabalho e a ocupações, deslocando o foco do desemprego e considerando interpretações sobre emprego, trabalho, “bico”, trabalho doméstico. Os mais valorizados são o trabalho na fábrica e escritório; Trabalho artístico: visto como possibilidade de realização pessoal em um trabalho; Alguns são vistos: ora como “bico”, ora como trabalho. (Camelô) Projeto do CPAT/USP Quarto encontro: rememoração de trajetórias de trabalho Possibilitar a rememoração do que foi vivido e experienciado e poder abrir novas significações; Em trios eles contariam uns para os outros suas histórias de trabalho, depois trariam para o grande grupo; Buscava fazer com que eles pudessem refletir sobre táticas de superação para situações consideradas difíceis; Eles relataram que há tempos não pensavam sobre suas experiências e que relembrar foi uma forma de retomar o caminho, dar-lhe novo siginificado, diminuindo em parte o sentimento de incapacidade; Relataram situações de exploração, submissão e humilhação que não os impediram se serem demitidos. Projeto do CPAT/USP Quinto encontro: identificação de diferentes táticas ou estratégias de geração de renda e trabalho Conhecer as tática e estratégias utilizadas pelos participantes para gerar renda e trabalho; Cada um fez uma síntese das histórias e apresentou aos demais; Partiu-se das experiências e histórias trazidas pelos participantes para ampliar os conhecimentos que construíram sobre diferentes formas de trabalho e modos de gerar renda, para além do emprego e da carreira Por táticas entende-se: ações para gerarem alguma renda, mas que são provísórias. Ex. “bicos” Por estratégias entende-se: ações planejadas no tempo, possibilitando mais tarde atingir o objetivo de conseguir um trabalho. Projeto do CPAT/USP Em um segundo momento, buscou-se articular essas experiências dos participantes com outras estratégias apresentadas através de boletins informativos e outros recursos (elaborados pela nossa equipe) que abordavam temas como: trabalho autônomo, cooperativismo, formação de redes interpessoais e de redes de desenvolvimento local, microcrédito, políticas públicas de emprego e trabalho. Projeto do CPAT/USP Sexto encontro: saberes e conhecimentos construídos no percurso de trabalho Discutiram-se os saberes não reconhecidos – aqui definidos como experiências, conhecimentos e habilidades desenvolvidos ao longo da vida e não reconhecidos no mercado informal. Discussão sobre limites e possibilidades de um caminho profissional, essa discussão permitiu ressignificar o currículo e os possíveis plano de intenções futuras de trabalho. No início dos encontros eram comuns frazes: “eu não sei o que fazer”. E silêncios frente a perguntas: “o que vc sabe fazer”, “Que tipos de trabalho conhece?” Foram surgindo relatos: saber cozinhar, saber plantar, pintar casas...E outros conhecimentos construídos no seu cotidiano como, ajudar pessoas, realizar atividades artesanais, etc Projeto do CPAT/USP Referente às questões de gênero, pode-se perceber: as atividade de planejamento e organização nas empresas eram marcas do trabalho do homem. Enquanto atividades corporais, e de ajuda eram realizadas por eles no seu tempo livre. No caso das mulheres, com 3º grau completo, realizavam atividades de planejamento vendas. Projeto do CPAT/USP Sétimo encontro: discussão de projetos e atividades possíveis de geração de renda e trabalho A prática do registro das discussões possibilitou a apresentação da síntese das discussões feitas. Trouxeram propostas de projetos, identificaram formas de viabilizá-lo e apresentaram como dificuldades: falta de assistência às pessoas em situação de desemprego, medo do fracasso e da humilhação frente ás tentativas recorrentes. Projeto do CPAT/USP Possibilidades de projetos: Continuar na busca por emprego; Rever os tipos de trabalhos que buscavam; Tentar gerar renda no mercado informal; Mapear e acessar trabalhos no Terceiro Setor; Manter a procura por um trabalho no setor público; Projeto do CPAT/USP Considerações finais Importância do suporte social, seja pelo acolhimento dos sofrimentos vividos, seja pela troca de experiências, seja como lugar de reconhecimento de si e de outros, seja como espaço para produção de certos conhecimentos, seja como local de acesso á informações. Importância de rememorar e resignificar sua trajetória de trabalho; Possibilidades de reverem posicionamentos e problematizar ideários atrelados ao desemprego, retomando aspectos políticos, sociais e históricos; Trata-se de uma forma de minimizar os impactos do desemprego, sem ter a pretensão de solucionar a dimensão estrutural do desemprego; Constituir momentos de ajuda e de encontro com pessoas que vivem essa situação para reflexão, construção, reconstrução sobre novas possibilidades. REFERÊNCIAS Farina, Anete S. e Neves, Tatiana F. S. – Formas de lidar com o desemprego: possibilidades e limites de um projeto de atuação em psicologia social e do trabalho. Cadernos de Psicologia Social e do Trabalho, 2007, vol. 10, n1. Ovejero Bernal, Anastasio. Psicologia do trabalho em um mundo globalizado: como enfrentar o assédio psicológico e o estresse no trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2010. Wickert, Luciana F. O adoecer Psíquico do Desempregado. Revista Ciência e Profissão, 1999. Zanelli, José Carlos et alli. Psicologia, organizações e trabalho no brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.