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A arte dos macondes é multiforme, como na maioria dos povos, mas é conhecida internacionalmente

pela escultura em madeira. Na região de onde os macondes são originários, no nordeste de


Moçambique e sueste da Tanzânia, é conhecida também pela música e dança e pelos entrançados de
palha, com que fazem belas esteiras, cestos e outros adereços para o lar.

A escultura maconde mais conhecida é feita em pau-preto, a madeira das árvores da espécie Dalbergia
melanoxylon, também conhecidas internacionalmente pelo nome swahili “mpingo”.[1] Estas esculturas
têm três estilos principais:

”Shetani”, que significa “demónio”, são esculturas de figuras humanoides ou animais muito estilizadas;

”Ujamaa”, que significa família ou união, e são formadas por uma quantidade de pessoas, seus
instrumentos de trabalho e, por vezes animais domésticos, artisticamente unidos; e

figurativo, incluindo imagens humanas ou de animais ou ainda, por influência da colonização, de


imagens religiosas, como crucifixos e imagens de Cristo ou de Nossa Senhora.

Um outro tipo de escultura, mas com outro significado cultural são as máscaras “Mapico”,
tradicionalmente usadas nas cerimónias finais e públicas dos ritos de iniciação masculina. Estas
máscaras são normalmente feitas com uma madeira leve e clara, muitas vezes da sumaúma brava,
amplamente ornamentadas com panos e penas, e são colocadas sobre a cabeça do dançarino, de modo
que ele consegue olhar pela boca da máscara. As cabeças são de animais ou pessoas, complementadas
com pelos ou cabelo naturais, e podem caricaturar personagens conhecidas da comunidade, incluindo
dirigentes ou antigos colonos ou militares.[3]

De nacionalidade tanzaniana, um dos artistas macondes mais conhecidos na Europa foi George Lilanga,
escultor e pintor.

Referências

O pau-preto, postado a 13 de Janeiro de 2005 por Jaime Luís Gabão no site Porto Amélia-Pemba
Arquivado em 25 de julho de 2009, no Wayback Machine. acesso a 22 de maio de 2009

MadeInAfrica.com exemplos de esculturas macondes[ligação inativa] acesso a 26 de maio de 2009

“O Mapico” no site MáscarasDaÁfrica.com.sapo.pt Arquivado em 18 de junho de 2013, no Wayback


Machine. acessado a 15 de junho de 2009

Bibliografia

Duarte, Ricardo Teixeira. 1987. Escultura Maconde. Universidade Eduardo Mondlane, Maputo. 142 pp.
Medeiros, Eduardo. 2001. Arte maconde: principal bibliografia. Africana studia: revista internacional de
estudos africanos, Nº 4: 165-182

Macondes

Povo étnico do Sudeste de África, oriundo do povo dos Bantos que viveu no sul do lago de Niassa.
Atualmente, os Macondes estão estabelecidos no planalto de Mueda, província de Cabo Delgado, a
norte de Moçambique (perto de 400 000 Macondes) e, também, no sul da Tanzânia (cerca de 900 000
Macondes).

Segundo uma lenda do povo maconde, um homem, que vivia sozinho no mato, esculpiu, a partir de um
cepo de uma árvore, uma mulher de quem teve três filhos. Os dois primeiros morreram à nascença e o
terceiro, que nascera num planalto, sobreviveu. Por este motivo, os primitivos Macondes escolheram os
planaltos para viverem. Esta etnia manteve-se aí isolada até ao início do século XX, altura em que os
Portugueses conseguiram transpor as florestas densas e as zonas íngremes que protegiam aquele povo.
Em consequência deste contacto tardio com outras culturas, os seus costumes conservaram uma forte
tradição e coesão. As atividades principais dos Macondes são a agricultura e a escultura. É por esta arte
que são mundialmente conhecidos, sobretudo pelas suas máscaras e esculturas em madeira,
reveladoras da estética e da cultura deste povo.

Quanto às máscaras, elas podem ser corporais ou faciais. Estas, em forma de elmo, as mais conhecidas
internacionalmente, representam o espírito de um antepassado na sua conduta moral e são utilizadas
durante a cerimónia de iniciação masculina que integra o mapico (complexo de crenças e de atividades
rituais dos Macondes). O lipico (singular de mapico) é o nome designativo da máscara ou do mascarado.
Relativamente às esculturas trabalhadas em madeira, sobretudo em ébano e pau-preto, há três grandes
tipos distintos: ujamaa, binadamu e shetani. Quanto ao primeiro tipo de esculturas, o termo ujamaa
apresenta vários significados, como família, cooperação, fraternidade, união. São esses valores que são
representados em escultura, em forma de torre de madeira esculpida, por isso, conhecida também por
"árvore da vida". No centro da escultura, surge uma grande figura patriarcal ou matriarcal, junto a um
tronco ou num espaço oco, à volta da qual se encontram vários elementos humanos, em tamanho mais
pequeno, entrelaçados entre si, que executam tarefas domésticas. Pela sua complexidade e pela
dificuldade em tornar harmoniosa essa torre esculpida, a ujamaa permite ao escultor demonstrar o seu
virtuosismo e a sua técnica.
Durante o período colonial e devido ao regime político da altura, muitos Macondes refugiaram-se na
Tanzânia (país fronteiriço de Moçambique). A FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), ao
iniciar a sua campanha de guerrilha contra os Portugueses, em 1964, defendeu os escultores, tentando
assegurar-se da permanência dos artistas no interior do país moçambicano, a fim destes poderem
continuar o seu trabalho. A solidariedade internacional, pela causa nacionalista moçambicana, levou a
que aquelas esculturas, símbolos ancestrais de cooperação e fraternidade, se tornassem em símbolos de
resistência e de unidade popular moçambicana, refletindo assim uma nova era política.

O segundo tipo, o binadamu, é constituído não só por figuras humanas esculpidas (um homem sentado
a fumar cachimbo, uma mulher carregando potes de água), como também por animais (leões, elefantes,
entre outros). Este estilo surgiu, na década de 1920, quando os portugueses, interessados em adquirir
os trabalhos de madeira dos Macondes, encomendaram simplesmente figuras esculpidas. O tipo de
esculturas criadas pelos artesãos, que mais não era do que a visão do quotidiano daquele povo, veio,
por um lado, reforçar a imagem estereotipada de uma África idílica e, por outro, obrigar os escultores a
aperfeiçoarem as suas técnicas realistas, tornando-os numa espécie de fotógrafos do povo. Mais tarde,
durante o período de guerra pela independência do país, estes temas idílicos foram substituídos por
temas sobre a opressão colonial.

O terceiro tipo de escultura, o shetani (por vezes traduzido, satanás ou diabo, e cujo plural é mashaitani)
surgiu pela primeira vez, em 1959, com o escultor Samaki Likankoa e representa espíritos benignos e
malignos. Posteriormente, este estilo tornou-se mais abstrato, representando esses espíritos de forma
distorcida e, por vezes, grotesca. Assim, para simbolizar o espírito maligno, a figura humana esculpida
pode apresentar: uma quebra de simetria provocada pela ausência de um membro do corpo; uma
deformação corporal; a localização de um braço ou uma perna na cabeça, entre outras formas.

Estes tipos de esculturas, que seduziram o público europeu na década de 60, lembram as obras do
Surrealismo, pela sua espantosa modernidade, apesar de nelas se retratar aspetos culturais e
tradicionais de África. Os seus principais escultores (uma profissão especializada e só exercida por
homens) são Samaki Likankoa, Alegria Mussaka, Rafael Nkutunga, Chilava, Nkabala, Cristiano Madanguo,
Constantino Mpagua, entre outros.

John Daniel enquanto conta a vida que levou vai esculpindo nas mãos os detalhes da sua cultura. “Sou
John Daniel, sou Maconde”, se apresenta objetivo o senhor de meia-idade que está trabalhando o perfil
de um rosto feminino no pedaço de pau-preto. Sem pausa, emenda com o sotaque cadenciado do
português moçambicano: “Aprendi a fazer esculturas com meus pais, que herdaram dos meus avós. A
tradição, eu escolhi para não deixar morrer minha cultura”. Já são mais de 200 anos que a escultura
permeia os costumes macondes, se afirmando como destaque artístico do continente e principal
representante do processo de afirmação cultural de seus criadores.

O povo, renomado por sua sensibilidade estética, habita o sul da Tanzânia e o norte de Moçambique, na
região do Cabo Delgado formando uma população que já ultrapassa a casa de um milhão.
Tradicionalmente, as esculturas eram consideradas uma forma de diversão, sendo confeccionadas para
fins de magias e rituais ou para usos ornamentais domésticos. De modo geral, representavam os
espíritos dos antepassados e eram enfeitadas com peças com fibras vegetais, tecido e cabelo, sendo a
madeira utilizada a sumaumeira brava. O uso de pau-preto, modelo que ficou reconhecido
internacionalmente, veio mais tarde.

John Daniel, que raramente levanta o rosto para falar, para não dar pausa ao trabalho, não se lembra da
arte antes do pau preto, que busca na mata semanalmente, mas confirma, no entanto, que a
profissionalização como artista é algo novo, dos últimos 50 anos. Seus avós, por exemplo, eram
agricultores que, esculpiam e talhavam durante as horas vagas. Foi no meio do século XX, que surgiu um
mercado, formado pelos colonizadores portugueses e outros europeus, transformando a escultura em
uma nova forma de sustento. Tal período é considerado, depois da ‘arte antiga’, o segundo momento
estilístico da escultura maconde, conforme Eduardo Medeiros, pesquisador e antropólogo especializado
na área de estudo.
Quando os artistas começam a se profissionalizar, a arte ganha um caráter mais realista. Pessoas,
animais, situações cotidianas passam a ser representadas pelos artífices para satisfazer encomendas dos
compradores, que também preferiam o uso do pau-preto por sua maior durabilidade, mudando então o
rumo do processo. Os escultores se adaptaram ao material e acrescentaram às obras um traço mais fino
e acabamento ainda mais delicado. Por outro lado, contrapondo-se com a demanda do mercado, a arte
de ‘horas vagas’ continua existindo e ganha um forte cunho político-social que critica intensamente a
presença do colonizador e suas consequências dentro da própria da cultura maconde.

É apenas após a independência que tem início a terceira fase artística. Com o contexto da recuperação
da identidade e a busca por valores africanos surgem novos conceitos na elaboração da escultura, que
passa a ser chamada de moderna. Nesse período, as obras ganham um caráter mais abstrato, tendência
crescente até os dias atuais. Além disso, passam a representar símbolos delicados dos valores sociais
macondes. As representantes desse gênero, que são conhecidas como Ujamaa e revogam a importância
da vida comunitária africana, se tornaram o principal modelo contemporâneo da arte, inspirando
escolas expressionistas de diferentes partes do globo.

“Ujamaa significa união, da família, da aldeia, dos antepassados. É a representação da comunidade”,


explica o escultor que lixa a peça, começando o processo de finalização da escultura. “Os itens ujamaas
são feitos utilizando a estrutura do tronco para dar forma a imagem, com personagens estilizados que
saem da base principal. Todos conectados”, explica John Daniel, que afirma não ter segredo para
esculpir uma estátua que não a imaginação e a prática. Pausando pela primeira vez o trabalho para
responder o que a escultura significa ele replica: “Isso é cultura. Significa um sinal, uma identificação.
Significa ser Maconde

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