Você está na página 1de 18

Módulo 2

Produzindo textos

Apresentação do módulo
Quando falamos de produção de textos, prática de interação, de interlocução e de di-
falamos da necessidade que temos, em uma álogo, entre aquele que escreve e aquele que
sociedade letrada, de nos comunicarmos por lê, é fundamental para alcançar tal intuito.
escrito. Para tanto, serão requisitadas habili- Neste módulo, refletiremos sobre como co-
dades e competências para falar com o outro locar no papel o que pensamos, o que senti-
por meio de textos (escritos) eficientes, sob mos, o que precisamos, de maneira consis-
o ponto de vista comunicativo. A percepção tente e adequada à atividade profissional que
de que os textos escritos resultam de uma exercemos.

Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
• caracterizar os tipos textuais: narração, descrição e dissertação;
• diferenciar gêneros e tipos textuais, reconhecendo a importância de compreen-
der as características textuais a eles inerentes;
• elaborar textos dissertativos; e
• compreender os recursos que poderão contribuir para a efetividade de produção
de textos.

Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:
Aula 1 – Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais
Aula 2 – Recursos a serem considerados em uma dissertação
Aula 3 – Organização textual
14
Aula 1
Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais
Toda boa escrita consiste em mergulhar e prender a respiração.
F. Scott Fitzgerald

Muitos são os desafios de se produzir um texto com


uma “boa escrita”. Você já mergulhou de fato nesse desa-
fio? Já prendeu a respiração? Esse é um bom momento
para refletir sobre esse processo de escrita. Vamos lá?

1.1 Gêneros textuais


Comunicar ideias, pensamentos e EXEMPLO: Ao participar de um bate-papo no
sentimentos parece, a priori, algo fácil e Facebook, as pessoas não se atêm às normas
simples para qualquer pessoa, principal- gramaticais, como uso de maiúsculas ou pon-
mente se você considerar que todos, des- tuação; abreviam as palavras e preocupam-se
de crianças, usam cotidianamente a lin- sobremaneira com a agilidade do que se quer
guagem. Essa comunicação se realiza sem dizer. Utilizados na comunicação interpessoal,
que se reflita sobre as teorias e as regras esses textos caracterizam-se, especialmente,
mobilizadas intuitivamente nesse proces- por se aplicarem a situações sociocomunica-
so. Especialmente ao nos comunicarmos tivas, configurando-se, assim, como gênero
oralmente, priorizamos a expressão do textual. São gêneros textuais, por exemplo, e-
que queremos, em detrimento do cuidado -mails, poemas, bilhetes, postais, artigos, ora-
com os aspectos gramaticais. Utilizamos, ções, anúncios, avisos, memorandos, requeri-
na maior parte das vezes, as estruturas mentos, editais, resenhas, crônicas, relatórios,
que estão internalizadas e sobre as quais listas, ofícios, propagandas, receitas, notícias,
não precisamos nos deter. provérbios, cartas, bulas, dentre outros.

1.2 Modalidades textuais


Observe que as pessoas, de maneira blema é que essa concepção é válida como
geral, organizam os enunciados e interagem modalidade utilizada no processo de compo-
com o outro a partir de um determinado gê- sição dos diversos gêneros discursivos, mas
nero textual, considerando, para isso, as ca- não dá conta da classificação e análise de
racterísticas desse gênero e os objetivos que todos os textos utilizados pelos falantes de
querem alcançar naquela determinada situ- uma língua.
ação comunicativa. Os diferentes gêneros
Reveja a seguir as características
textuais, no entanto, muitas vezes não são
das três modalidades textuais.
considerados como ponto de partida para a
aprendizagem da produção de textos na es-
cola. É muito comum aprendermos a utilizar Narração:
os textos, considerando apenas sua tipologia: Contar histórias faz parte da nature-
narração, descrição e dissertação. O pro- za humana. As pessoas contam o que lhes

15
acontece de bom e de ruim, partilham expe- b) a personagem: quem participa do
riências, compartilham acontecimentos. As- enredo. É usualmente pessoa, mas pode ser
sim, a narração se vincula irremediavelmen- coisa ou animal.
te à vida cotidiana nas diferentes relações
c) o ambiente: o espaço onde ocorre o
que estabelecemos. Narrar impõe o relato de
enredo. Pode, naturalmente, variar muito no
histórias e acontecimentos, reais ou fictícios,
desenrolar da narrativa.
com marcante coerência interna para que a
história seja verossímil e, portanto, convin- d) o tempo: o momento em que se dá
cente ao receptor. o enredo. Pode ser presente, passado ou fu-
turo.
O texto narrativo contém os seguintes
elementos: e) o narrador: quem narra o enredo.
Pode ou não participar da história como per-
a) o enredo: também chamado de fato,
sonagem.
trama ou ação desenvolvida em torno dos
personagens. Deve apresentar sequência es- Veja um exemplo de narração em um
pacial e temporal ordenada. texto cujo domínio discursivo é o jornalístico.

Traficantes trocam tiros com a polícia e invadem hotel no Rio


(...) O confronto começou por volta das 8 horas. Segundo a polícia, um “bonde” de
traficantes da Rocinha, que fica no bairro, estava voltando para a favela depois de ter
passado a noite no Vidigal, morro próximo, dominado pela mesma facção criminosa. Na
Avenida Niemeyer, que liga Leblon a São Conrado, o grupo encontrou com policiais do 23º
BPM (Leblon). Começou então o tiroteio, que durou em torno de 10 minutos. Na fuga,
10 fugitivos armados com fuzis invadiram o Hotel Intercontinental, em frente à praia, e
fizeram 35 reféns na cozinha.
Foram quase duas horas de negociação com policiais do Batalhão de Operações Poli-
ciais Especiais (Bope). A mãe de um dos sequestradores, morador da Rocinha, chegou a
ser chamada para convencer o filho a se entregar. “Eu pedi, mas ele não quis me ouvir”,
disse Dinalva, chorando muito na porta do hotel. Mesmo assim, minutos depois, o grupo
libertou os reféns e se entregou à policia. (...)
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/traficantes-trocam-tiros-com-a-policia-e-invadem-hotel-no-rio/
n1237755546405.html. Acesso em: 10 de junho de 2013. (Texto adaptado para fins didáticos).

Observe agora um exemplo de narração em um texto cujo domínio é o literário.

Maneira de amar
O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava
manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O
girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os
girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças,
pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era
uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, en-
tretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na oca-
sião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos
canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de
assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e
censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste
de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o trata-
va mal, agora está arrependido?” “Não, respondeu, estou triste porque agora não posso
tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”
(ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 12)

16
Observe um exemplo de poema em que o autor apresenta uma narrativa.

Pequena crônica policial


Jazia no chão, sem vida,
E estava toda pintada!
Nem a morte lhe emprestara
A sua grave beleza...
Com fria curiosidade,
Vinha gente a espiar-lhe a cara,
As fundas marcas da idade,
Das canseiras, da bebida...
Triste da mulher perdida
Que um marinheiro esfaqueara!
Vieram uns homens de branco,
Foi levada ao necrotério.
E quando abriam, na mesa,
O seu corpo sem mistério,
Que linda e alegre menina
Entrou correndo no Céu?!
Lá continuou como era
Antes que o mundo lhe desse
A sua maldita sina:
Sem nada saber da vida,
De vícios ou de perigos,
Sem nada saber de nada...
Com a sua trança comprida,
Os seus sonhos de menina,
Os seus sapatos antigos!

(QUINTANA, Mário. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1978. p. 17)

Descrição: A descrição pode ser objetiva (quando se


restringe a descrever a realidade, sem julga-
O texto descritivo captura verbalmente mento de seu valor) ou subjetiva (quando as
as características, de maneira mais ou menos percepções do autor são impressas a essa re-
pormenorizada, de pessoas, estados de espí- alidade). Não raras vezes, as descrições ultra-
rito, objetos ou cenas. A descrição aparece passam o mero retrato da realidade, apresen-
recorrentemente em narrações para trazer tando uma interpretação dessa. As pinturas
pormenores dos personagens, do ambiente e as fotografias são um grande exemplo de
ou de algum objeto. Por isso, poucas vezes como isso acontece. Embora retratem a reali-
você verá descrições isoladas em outras mo- dade, permitem a expressão de um sem-nú-
dalidades textuais. mero de percepções. Veja o exemplo a seguir:

17
Fonte:https://www.google.com.br/search?hl=
ptPT&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=
1366&bih=641&q=policiais&oq=poliais

Observe a seguir outro exemplo de texto descritivo:

Dois velhinhos
Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.
Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia
olhar lá fora.
Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro,
as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anun-
ciava o primeiro:
— Um cachorro ergue a perninha no poste.
Mais tarde:
— Uma menina de vestido branco pulando corda.
Ou ainda:
— Agora é um enterro de luxo.
Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo,
para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu, antegozando
a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. Cochilou um instante — era
dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no
beco, um monte de lixo.
(TREVISAN, Dalton. Dois velhinhos. Disponível em:http://www.releituras.com/daltontrevisan_doisvelhinhos.asp>.
Acesso em: 10 jun. 2013).

A percepção da realidade pode, sem dúvi- A cabeça pensa a partir de onde os pés
da, variar de uma pessoa para outra, por isso é pisam. Para compreender é essencial conhe-
que nos textos técnicos prevalece a objetivida- cer o lugar social de quem olha. Vale dizer,
de e, em outros textos, a subjetividade. Nesse como alguém vive, com que convive, que
sentido, Leonardo Boff, ao falar da leitura, nos experiências tem, em que trabalha, que de-
traz um belo quadro do que representa a sub-
sejos alimenta, como assume os dramas da
jetividade no uso da linguagem, sejamos nós
leitores ou produtores do discurso: vida e da morte e que esperanças o animam.
Isso faz da compreensão sempre uma inter-
“Ler significa reler e compreender, inter- pretação.
pretar. Cada um lê com os olhos que tem. E
interpreta a partir de onde os pés pisam. Sendo assim, fica evidente que cada lei-
tor é coautor. Porque cada um lê e relê com
Todo ponto de vista é a vista de um pon-
to. Para entender como alguém lê, é neces- os olhos que tem, pois compreende e inter-
sário saber como são seus olhos e qual é a preta a partir do mundo que habita.”
sua visão de mundo. Isso faz da leitura sem- (BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição
pre uma releitura. humana. Petropólis, RJ: Vozes, 1997. p.9).

18
Dissertação A intencionalidade determina que tipo
de texto você produzirá:
O texto dissertativo objetiva expor, ex-
plicar ou interpretar determinada ideia e, Dissertação expositiva: nesse tipo de
para tanto, recorre a argumentos que a com- dissertação você apenas apresenta os fatos
provem ou a justifiquem. Assim como na e as ideias sem se posicionar criticamente a
descrição e na narração, dissertar pressupõe respeito.
uma intencionalidade discursiva que agrega- Dissertação argumentativa: nesse
rá informações que evidenciam nossa forma tipo de dissertação você agrega, aos fatos
de ver o mundo e nossas vivências. Trata-se, apresentados, o seu posicionamento em re-
antes de tudo, de questionar a realidade, lação ao tema abordado.
posicionando-se a respeito de um assunto.
Veja os exemplos a seguir que falam do
Portanto, o conhecimento do assunto é con-
mesmo tema, mas de forma diversa.
dição imprescindível à dissertação. Você não
poderá refletir sobre o que não conhece. Dissertação expositiva:

A droga: como surgiu


O crack surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 em bair-
ros pobres de Nova Iorque, Los Angeles e Miami. O baixo preço da
droga e a possibilidade de fabricação caseira atraíram consumidores
que não podiam comprar cocaína refinada, mais cara e, por isso, de
difícil acesso. Aos jovens atraídos pelo custo da droga juntaram-se
usuários de cocaína injetável, que viram no crack uma opção com
efeitos igualmente intensos, porém sem risco de contaminação pelo
vírus da Aids, que se tornou epidemia na época.
No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se dis-
seminou inicialmente em São Paulo. “O consumo do crack se alas-
trou no País por ser uma droga de custo mais baixo que o cloridrato
de coca, a cocaína refinada (em pó). Para produzir o crack, os tra-
ficantes utilizam menos produtos químicos para fabricação, o que a
torna mais barata”, explica Oslain Santana, diretor de Combate ao
Crime Organizado da Polícia Federal.
Segundo estudo dos pesquisadores Solange Nappo e Lúcio Gar-
cia de Oliveira, ambos da Universidade Federal de São Paulo (Uni-
fesp), o primeiro relato do uso do crack em São Paulo aconteceu em
1989. Dois anos depois, em 1991, houve a primeira apreensão da
droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões
em 1993 para 1.906 casos em 1995. Para popularizar o crack e
aquecer as vendas, os traficantes esgotavam as reservas de outras
drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando apenas as pe-
dras. Logo, diante da falta de alternativas, os usuários foram obriga-
dos a optar e aderir ao uso.
Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do
País. Os dados mais recentes sobre o consumo do crack estão sendo
coletados e indicarão as principais regiões afetadas, bem como o
perfil do usuário. Segundo, no entanto, pesquisa domiciliar realiza-
da pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em
parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psico-
trópicas (Cebrid) em 2005, 0,1% da população brasileira consumia
a droga.
Fonte: http://www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack/a-droga/como-surgiu.
Acesso em: 07 nov. 2013.

19
Dissertação argumentativa:

Polícia Comunitária
A nossa Carta Magna, a atual Constituição Federal de 1988
plantou a semente de uma nova polícia, uma polícia voltada para o
povo, para efetivamente proteger o povo, para ser a guardiã das Leis
Penais e da sociedade e, com o intuito principal de manter a ordem
estabelecida pelo Estado Democrático do Direito.
Da semente plantada nasceu a polícia cidadã. Cresceu, flores-
ceu e já vem dando alguns bons frutos para a sociedade brasileira,
embora muito ainda falte para o colhimento de uma ótima safra
advinda desta frondosa árvore protetora do povo. A nossa Carta
Magna recebeu o título carinhoso de Constituição Cidadã pelo fato
do primor em prática relacionado aos direitos fundamentais e sociais
de cada um, alicerçados na cidadania e na dignidade do ser humano.
A polícia cidadã é a transformação pela qual passou a polícia de
outrora por exigência da Constituição cidadã. Essa polícia estabelece
um sincronismo entre o seu labor direcionado verdadeiramente a
serviço da comunidade, ou seja, uma polícia sempre em defesa do
cidadão e não ao combate do cidadão como ocorrera nos anos de
chumbo da ditadura militar.
Não há como confundir o termo polícia cidadã, como sendo uma
polícia benevolente, negligente, que trata os infratores com flores,
delicadamente... Muito pelo contrário, a polícia cidadã é uma polícia
forte, destemida, honrada, justa, capaz de realizar qualquer ato le-
gal possível para defender os direitos ultrajados do cidadão cumpri-
dor dos seus deveres e obrigações.
O estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa de ter-
ceiros ou a sua própria defesa devem caminhar sempre juntos com
a polícia cidadã. Quando confronto houver com marginais em atos
contrários a estes três itens, deve sair sempre vitoriosa a polícia
cidadã.
A paz é a aspiração, o desejo fundamental de toda pessoa de
bom senso, entretanto, só pode ser atingida com a ordenação da po-
tencialidade da comunidade em somação ao poder público em torno
do ideal digno de uma segurança justa, cooperativa e interativa. A
paz deve estar em constante ação no seio da sociedade, de maneira
duradoura, não fugaz.
O estudo das relações humanas constitui uma verdadeira ci-
ência complementada por uma arte, a de se obter e conservar a
cooperação e a confiança das partes envolvidas, por isso a necessi-
dade preeminente de uma verdadeira e efetiva interatividade entre
a polícia e a sociedade.
Partindo do princípio de que a nossa polícia, a polícia cidadã
vivencia tudo isso, a polícia comunitária vivencia muito mais, pois
as suas ações são galgadas na amizade, na confiança mútua e na
parceria com o cidadão em benefício da própria comunidade.
(MARQUES, Archimedes José Melo.Polícia comunitária. Disponível em:http://
www.infoescola.com/sociedade/policia-comunitaria. Acesso em: 10 de jun.
2013) - Texto adaptado para fins didáticos.

20
1.2.1 Estrutura do texto dissertativo sequências, detalhamento do as-
sunto, análise de dados e situações
O texto dissertativo estrutura-se em que sirvam de exemplos, analogias,
três partes: dentre outros.
• Introdução: é a parte em que se • Conclusão: essa parte, também cha-
apresenta a ideia central que será mada de desfecho, retoma a questão
progressivamente desenvolvida no mais relevante do assunto tratado,
decorrer do texto. A ideia central traz apresentando as considerações finais
uma declaração breve e sintética do do autor. Deve-se ter um cuidado es-
assunto, de forma a evidenciar o po- pecial ao concluir, pois retomar não
sicionamento a respeito do tema tra- significa restringir-se a repetir o que
tado. é óbvio. Deve, a um só tempo, fechar
• Desenvolvimento: é nessa eta- o raciocínio apresentado, como tam-
pa que a ideia central ganha corpo, bém propiciar condições de reflexão
uma vez que são apresentados os ao leitor.
argumentos que comprovarão a va- Lembre-se de que as partes
lidade do posicionamento inicial do que compõem a dissertação
autor. Essa é a parte mais exten- são complementares e irre-
sa do texto dissertativo, pois é aqui mediavelmente interconec-
que se apresentam causas e con- tadas.

21
Aula 2
Recursos a serem considerados em uma dissertação

A partir de agora, você estudará alguns recursos que


poderão lhe auxiliar ao escrever textos. Nesta aula, são
apresentados inúmeros recursos que podem ser utiliza-
dos na produção de textos dissertativos de qualidade.

2.1 Refletindo sobre o tema:


O primeiro passo é pensar sobre o tema A partir desse ponto, você deverá de-
que nos foi apresentado. É preciso que você limitar o assunto. Muitas vezes são ofer-
questione: sei o suficiente sobre o assunto? tados temas amplos e é preciso, então,
Diante da resposta a essa questão, você de- restringi-los, evitando que se fique perdi-
verá, se preciso for, buscar textos que subsi- do em meio a um emaranhado de possibi-
diem sua argumentação. Lembre-se sempre lidades e ideias.
de que, os textos que você lê não são apenas
Delimitado o tema, é preciso definir o
fonte de informação, são também modelo de
pressuposto que gerará a ideia central do
escrita. Normalmente, as pessoas que lêem
texto, o que possibilitará a análise do ponto
muito têm maior facilidade ao escrever, até
de vista adotado, sua forma e suas variantes.
por estarem habituadas aos diferentes tex-
tos socialmente disponibilizados, como bons Você já estudou sobre isso na Aula 1,
livros, jornais e revistas. lembra?

2.2 Elaborando um esquema


A dissertação exige planejamento. A Quando se elabora um esquema, ou
reflexão cuidadosa e antecipada das partes seja, se planeja um texto, já se está preven-
que compõem o texto facilita a escrita, prin- do o que se vai escrever. Só depois é que se
cipalmente, por permitir separar as duas ati- pensa em como fazê-lo... Se você não plane-
vidades complexas que envolvem esse ato: jar o texto, vivenciará duas atividades com-
pensar e escrever. Você já estudou na aula 1 plexas, pensar no assunto e escrever sobre
que quando se escreve, é preciso definir três ele, simultaneamente, o que gera maior di-
questões fundamentais: ficuldade.
O esquema é um recurso que permite
planejar as ideias do texto, ordenando-as
O que escrever?
hierarquicamente: daquelas de sentido mais
Como escrever? amplo até as mais específicas. Ele deve ser
Para que escrever? expresso de maneira simplificada para que se
possa ter uma ideia clara sobre o conteúdo
a ser desenvolvido. Os esquemas podem ser
organizados de diferentes maneiras: em cha-

22
ve, numeração progressiva ou mapa concei- 2 – Consequências
tual. Vejamos alguns exemplos:
2.1 Aumento de crimes bárbaros.

Esquema em chave 2.2 Descontrole social.


2.3 Fragilização das instituições.
O título expressa a ideia central do tex-
to e os argumentos são apresentados com
3 – Soluções
os de sentido mais amplo ficando à esquerda
dos de sentido menos amplo; as ideias que 3.1 Políticas de prevenção à vio-
têm o mesmo tipo de relação ficam umas so- lência.
bre as outras. Observe: 3.2 Ações intersetoriais.
A violência nos grandes centros urbanos
1 – Causas Mapa conceitual:
1.1 Condições socioeconômicas. Mapas conceituais são representações
gráficas, que indicam relações entre concei-
1.2 Impunidade. tos ligados por palavras.
1.3 Precariedade da educação básica. Exemplo:

Numeração progressiva 2 – Consequências


2.1 Aumento de crimes bárbaros
As ideias são apresentadas hierarquica-
mente em forma de texto. Exemplo: 2.2 Descontrole social

A violência nos grandes centros urbanos 2.3 Fragilização das instituições


3 – Soluções
1 – Causas
3.1 Políticas de prevenção à vio-
1.1 Condições socioeconômicas lência
1.2 Impunidade 3.2 Ações intersetoriais
1.3 Precariedade da educação 3.3 Integração de programas go-
básica vernamentais

23
2.3 Elaborando a primeira versão: o rascunho
O rascunho é um esboço do texto defi- refletida que permite o repensar de trechos
nitivo. É fundamental exercitar a elaboração inteiros, o acréscimo de informações, a subs-
do rascunho, pois tal ação é fruto da compre- tituição de palavras, a eliminação de vícios e
ensão de que o texto não fica pronto logo em repetições, a revisão dos aspectos gramati-
sua primeira versão, mas é uma construção cais e até das ideias apresentadas.

2.4 Refletindo sobre seu estilo de escrever


Como você estudou na aula 1, cada pes- Uma boa maneira de sedimentar seu
soa se expressa de uma forma bastante par- estilo é observar os textos que você lê.
ticular, a partir de sua vivência. Dessa ma- Quando se deparar com textos que julgar
neira, os textos escritos também serão um agradáveis, bem construídos e cuja argu-
reflexo do que se sabe, se pensa e se sente. mentação seja apropriada, analise como
Por isso, evite regras rígidas de produção de
o autor iniciou o texto, que recursos utili-
texto que não permitam a mobilidade ne-
cessária para expressar com liberdade suas zou, como concluiu sua ideia. Dessa forma,
ideias. Não se prenda a números definidos você se identificará com alguns modelos
de parágrafos ou a uma extensão pré-deter- aos quais terá acesso e a eles incorporará
minada para cada parágrafo, pois tal postura novos elementos. Assim, criará seu estilo
intimida seu processo criativo. pessoal de escrever.

2.5 Revisando o texto


Um dos aspectos que deve ser conside-
rado antes de definirmos a versão final de
Clareza:
um texto é a revisão dos aspectos textuais, verificar se as ideias são expostas de for-
dos quais se destacam os seguintes: ma a serem plenamente compreendidas; e

Adequação: Coesão:
analisar se o texto está adequado ao verificar se as diversas partes do texto
tema e se atende ao objetivo que se quer estão interligadas de maneira a criar textua-
alcançar; lidade (rede lógica de sentido), ou seja, veri-
ficar se as partes do texto se ligam umas às
Coerência: outras. Quando, por exemplo, iniciamos um
parágrafo com a expressão “dessa forma”,
analisar se há, ao longo do texto, um fio estamos associando o que diremos a seguir
condutor do sentido; com o que já foi dito anteriormente.

24
Aula 3
Organização textual

Nesta aula, serão apresentados os ele- ção exige bom senso: que não seja tão curto
mentos que devem constar em um texto e a ponto de fragmentar a apresentação das
como organizá-los. ideias e empobrecer a argumentação, nem
A dissertação é uma grande unidade tão longo que se torne cansativo e disperse
textual composta por unidades textuais me- a atenção do leitor. Para reconhecer o mo-
nores, denominadas parágrafos, os quais são mento adequado de se mudar de parágrafo,
constituídos por um ou mais períodos inter- é oportuno lembrar que ele deve conter ape-
ligados semântica e sintaticamente. Os pa- nas uma ideia principal apoiada pelos argu-
rágrafos são o maior indicativo da organiza- mentos que a justificam, ou seja, que lhe dão
ção das ideias de um texto. Nesse sentido, a ênfase.
cada parágrafo, o leitor é chamado a parar e Como estudou anteriormente, a disser-
refletir sobre o assunto ali exposto. tação apresenta três partes básicas: a in-
O planejamento de textos em esquemas trodução, o desenvolvimento e a conclusão.
é estruturado, via de regra, a partir dos pa- Normalmente, temos um parágrafo de aber-
rágrafos que você construirá. Assim, apre- tura para a introdução; um ou mais parágra-
senta-se a ideia principal a ser abordada, em fos para o desenvolvimento da ideia central
seguida as ideias de apoio ou secundárias e, apresentada na introdução; e um parágrafo
facultativamente, a conclusão, que pode ser de encerramento para a conclusão.
um desfecho ou a preparação para o início do Fique atento! Pois a partir daqui você
parágrafo seguinte. estudará alguns recursos que poderá utilizar
Não há regras rigorosas no que tange nas diferentes partes que compõem a disser-
à extensão do parágrafo, mas sua formula- tação...

3.1 O parágrafo de introdução


Um parágrafo inicial bem formulado fa-
cilita o trabalho do escritor e do leitor, pois
Alusão histórica
orienta o desenvolvimento de todo o texto. Atos de violência e atrocidades, que hoje
Pode antecipar a ideia central do texto ou, chamamos de violações de direitos humanos,
de forma criativa, gerar no leitor diferentes fazem parte da história da humanidade – e
expectativas em relação ao teor do que está do Brasil também. Desde o massacre e es-
por vir. Dentre as possibilidades de constru- cravização dos povos indígenas, assim como
ção inicial de um texto, optamos pelas se- dos povos africanos, mesmo a história de um
guintes: País jovem como o Brasil é cheia de episódios

25
trágicos e violentos. A Declaração Universal podem converter-se em conflitos com os
dos Direitos Humanos somente foi criada em direitos de outras pessoas. Diante da se-
1948, como forma de reação contra as atro- guinte reflexão
cidades cometidas durante a Segunda Guer-
“Como estes conflitos podem ser re-
ra Mundial, quando Hitler comandou o geno-
solvidos”?, convém explicitar que “Todos os
cídio de judeus e outras minorias nos campos
conflitos devem ser resolvidos dentro de um
de concentração.
contexto de direitos humanos”.
(Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-
flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-
jun. 2013). flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10
jun. 2013).

Raciocínio dedutivo: sair de uma Analogia e paralelo


afirmação geral para o particular Uma área da psicologia diz que a agres-
O tráfico de pessoas é considerado uma sividade faz parte da energia humana e que,
das mais graves violações dos direitos hu- dependendo da circunstância, pode se trans-
manos neste século e deve ser compreendi- formar em violência. A agressividade é como
do como um fenômeno social complexo, al- água, pode irrigar ou inundar, depende de
tamente violador e que envolve, em muitos como focamos essa energia; podemos usá-
casos, a privação de liberdade, a explora- -la para coisas boas, colhendo bons frutos,
ção, o uso da violência. Hoje, este fenômeno ou para coisas ruins, gerando a violência. A
representa um tema de grande importância energia que faz um militante ir à rua para
para o Brasil, pela sua incidência dentro do uma passeata é, muitas vezes, a mesma que
país e entre os seus nacionais vivendo no faz outra pessoa quebrar um ônibus numa
exterior. greve ou queimar pneus na rua, para impe-
Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/ dir a passagem de carros. Como dissemos,
invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. os conflitos fazem parte do ser humano, mas
Acesso em: 10 jun. 2013).
podem ser violentos ou não-violentos, de-
pendendo da atitude das pessoas.
Raciocínio indutivo: sair de uma (Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con-
afirmação particular para o geral – flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10
jun. 2013).
a narração de um fato, por exemplo
Segundo Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domicílios (PNAD) de 2006, cerca
Citação
de 83% dos brasileiros vivem em cidades. Segundo Ana Paula Corti, pesquisadora
Esse “inchaço” dos centros urbanos é re- da Ação Educativa, de São Paulo, “a ques-
sultante de um modelo de desenvolvimen- tão está muito presente no horizonte das
to econômico que, desde o início do século gerações mais novas, mas as escolas não
20 até hoje, vem diminuindo o emprego a incorporaram como fonte de intervenção
no campo e atraindo muita gente para as pedagógica”. O desconforto em relação ao
cidades em busca de melhores condições assunto é fácil de entender. Trazer os temas
de vida. Isso ocorre no mundo inteiro, não do medo e da agressividade para a sala
só no Brasil. de aula não parece combinar com o papel
Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_con- construtivo e pacificador que o universo es-
flitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 colar, com razão, costuma chamar para si.
jun. 2013).
Mas algumas experiências, descritas nas
próximas páginas, indicam que vale a pena
Interrogação abandonar essa suposta neutralidade e en-
carar uma realidade que, de um modo ou
Como dissemos antes, nenhum direi- de outro, interfere diretamente na vida de
to humano pode ser usado para justificar todos nós.
a violação de outro. As pessoas começam (Fonte: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.
a identificar que os seus próprios direitos php?storyid=174. Acesso em: 10 jun. 2013).

26
3.2 O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação):
Há diversos processos para se desenvol- enfrentamento a este crime entre outros.
ver as ideias de um texto dissertativo. Esses (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/
processos variam de acordo com a natureza invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas.
Acesso em: 10 jun. 2013).
do assunto e o objetivo traçado, desde que
as ideias sejam formuladas de maneira clara,
objetiva e conveniente. Veja que os exem- Confrontar ideias, dados, estudos ou
plos que seguem foram retirados de um mes-
mo texto. Nosso intuito é que você perceba
características
que pode usar a combinação de vários des- A pena do crime de tráfico de pessoas
ses recursos em um mesmo texto: (pena de reclusão, de três a oito anos) é me-
nor do que as penas impostas ao crime do
Apresentar relação de causalidade tráfico internacional de armas e de drogas. E,
por mais que o tipo penal “tráfico de pesso-
É claro que estas condições e fatores as” tenha passado por diversas alterações le-
como a pobreza, a busca por melhores opor- gislativas, ainda permanece insuficiente para
tunidades de trabalho, necessidade de sus- contemplar as características do fenômeno
tentar a família, motivos ambientais (secas e todas as suas formas de exploração. Ain-
ou inundações) estão entre as motivações da convivemos com a distância entre o que
que levam a pessoas a cair em falsas pro- compreende o tráfico de pessoas e a pers-
messas que se revelam em situações de ex- pectiva criminal que o caracteriza.
ploração posterior. Mas as motivações podem (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/
ser mais complexas como, por exemplo, o invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas.
desejo de conhecer novas culturas, o desejo Acesso em: 10 jun. 2013).

de transformar o corpo, o casamento com um


estrangeiro, ou a necessidade de sair de uma Apresentar conceitos, citações, alusões
condição de violação de direitos (violência
doméstica, abuso sexual intrafamiliar, homo-
ou fatos históricos:
fobia). Assim, o tráfico se aproveita daquilo Vale ressaltar que no caso brasileiro, as
que é o bem mais precioso do ser humano - a respostas públicas a este fenômeno estão se
capacidade de sonhar, de querer mais, de ir estruturando há mais de uma década. Ratifi-
mais longe. Ele entra exatamente nos espa- camos o Protoloco de Palermo, que é a dire-
ços onde os sonhos ainda são negados, onde triz internacional para o tema, contamos com
restam poucas ou nenhuma alternativa, com uma Política Nacional de Enfrentamento ao
uma promessa que parece aceitável. Tráfico de Pessoas que é indutora de ações
(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/ de prevenção, repressão ao crime e atenção
invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas. e proteção às vítimas. Estamos sob a égide
Acesso em: 10 jun. 2013).
de um segundo plano nacional que envol-
ve 17 Ministérios na implementação de 115
Enumerar fatos que comprovem uma metas até 2016. E a cooperação com Esta-
opinião - exemplificar dos e Municípios, organismos internacionais,
ministério público e os poderes judiciário e
Contudo, fatores culturais e políticos legislativo, e a necessária articulação e per-
também reforçam esta ambiência para a manente diálogo com a sociedade civil refor-
ocorrência do crime, como: demanda por çam a característica democrática e integra-
serviços sexuais; aspectos culturais como a da da atuação brasileira no enfrentamento
desigualdade e iniquidades de gênero e raça, a este crime. O alerta e a sensibilização da
geracionais, a cultura patriarcal e a homo- sociedade sobre a existência deste fenômeno
fóbica; políticas migratórias restritivas que são importantes para desmistificar que a sua
criam barreiras à migração regular; modelos ocorrência não está tão longe assim da nossa
de desenvolvimento econômico como fatores realidade.
de expulsão e atração de pessoas e serviços;
(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/
a corrupção e conivência de funcionários pú- invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas.
blicos; e deficiências de respostas estatais no Acesso em: 10 de jun. 2013).

27
3.3 O desfecho: parágrafo de conclusão
A conclusão encerra o texto dissertativo, Lembre-se de que os exemplos apresen-
recorrendo a basicamente três possibilidades tados não encerram todas as possibilidades
de variação, a saber: de que dispomos para a construção discursi-
va, mas são indicativos para ajudá-lo na es-
Retomada: ratifica a tese apresentada critura de textos...

O envolvimento de distintos atores go- Ao iniciar esta aula, você estudou que
vernamentais e não governamentais, de se- os parágrafos são unidades textuais que em
tores da mídia, aumenta a visibilidade e co- conjunto formam o texto. Não basta, portan-
meça a provocar a desejada indignação para to, que você elabore bem os parágrafos como
que a sociedade brasileira não aceite que se fossem unidades isoladas, pois se assim
seus cidadãos sejam vendidos como merca- o fizer construirá, na verdade, uma enorme
doria e tampouco que cidadãos estrangeiros colcha de retalhos.
vivam em nosso território em condições de Para que um texto não seja apenas um
exploração. Liberdade não se compra. Digni- amontoado de palavras e frases que fazem
dade não se vende. E com este lema o Bra- sentido separadamente, mas não como um
sil pede que a sociedade esteja atenta, saiba conjunto, é preciso que você cuide dos as-
reconhecer o tráfico de pessoas e denuncie. pectos relacionados à coesão que estabelece
(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/ a ligação, a relação entre os elementos de
invis%C3%ADvel-realidade-do-tr%C3%A1fico-de-pessoas.
Acesso em: 10 de jun. 2013).
um texto. Observe o seguinte trecho:
Levantamos muito cedo. Fazia frio e a
Proposição de soluções água havia congelado nas torneiras. Até os
animais, acostumados com baixas tempera-
No mundo moderno, onde a mulher al- turas, permaneciam, preguiçosamente, em
cança os mais altos cargos políticos e empre- suas tocas. Apesar disso, deixamos de fazer
sariais, não se permite mais discutir sobre a nossa caminhada matinal com as crianças.
equiparação das oportunidades profissionais (AQUINO, Renato. Interpretação de textos. 10. ed. Rio de
entre homem e mulher. Urge, cada vez mais, Janeiro: Campus, 2008. p.14.
o debate acerca da estruturação das corpo- O trecho acima é composto por vários
rações, para que, em havendo situações ad- períodos e apresenta dois segmentos distin-
versas, gestões sejam concebidas para que tos. O primeiro segmento refere-se à con-
as mulheres sejam incluídas, a fim de que a dição de frio intenso e suas consequências.
sociedade possa cada vez mais usufruir da O segundo apresenta a decisão de não fazer
sua sensibilidade, como a segurança pública a caminhada com as crianças. O que temos
baiana já vem usufruindo. para ligar esses dois segmentos? A locução
(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/35549. “apesar disso” liga os períodos. Essa locução
Acesso em: 10 de jun. 2013).
possui valor de concessão, liga ideias opos-
tas, no entanto, o que temos no segundo seg-
Reflexiva: propõe um questionamento: mento é mais uma consequência do frio que
Se esse episódio não foi o primeiro, que fazia naquela manhã. Sendo assim, no lugar
seja o último. Se houver disposição de en- de “apesar disso”, deveríamos usar: por isso,
frentar realmente a corrupção da polícia, por causa disso, em virtude disso, etc.
haverá disposição renovada do lado de cá A coesão textual pode ser:
de trabalhar junto, construir caminhos para
uma nova realidade. Se há compromisso com • Referencial: quando um componen-
a vida, se há indignação real por trás dos dis- te do texto faz remissão, referência a
cursos inflamados, que comecem agora as outro elemento, tais como epítetos;
reformas estruturais das polícias, de limpeza palavras ou expressões sinônimas;
das instituições, sem desculpas burocráticas repetição de uma palavra, nome ou
ou medo de retaliação. Apoio não faltará. E parte dele; um termo síntese; prono-
coragem? mes, numerais e advérbios pronomi-
nais que substituem um nome; elip-
(Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/22828.
Acesso em: 10 de jun. 2013). se; dentre outros.

28
• Sequencial: quando são estabeleci- mos a análise observando; em pri-
das relações semânticas ou pragmá- meira instância, cabe analisar; etc.
ticas à medida que o texto se consti-
• Ratificar a análise: não podemos
tui, tais como em frases ligadas por
deixar de lado a questão de; é pre-
conjunções: Gostei da roupa, mas
ciso frisar ainda que; não podemos
não posso comprá-la. Nesse perío-
nos esquecer também; é essencial
do, a conjunção mas é elemento de
lembrar ainda; é fundamental insis-
coesão por impulsionar o prossegui-
mento do texto, imprimindo-lhe novo tir; não há como negar que; é possí-
sentido. vel alegar ainda que; além do mais;
paralelamente; acrescente-se a isso;
A coesão liga termos e orações dentro é inegável; é provável também; há
de um parágrafo, bem como liga um pará- ainda a possibilidade de; etc.
grafo a outro. A seguir, será apresentada
uma série de recursos de coesão que o aju- • Encerrar a análise: por conseguin-
darão a dar maior unidade aos textos, além te; consequentemente; por isso;
de chamar atenção para o sentido que neles dessa forma; em suma; em síntese,
está implícito: é possível dizer que; portanto; defi-
nitivamente; a partir desse contexto,
• Causa e consequência: como re- é plausível afirmar; finalmente; etc.
sultado; em virtude de; em função
de; em razão de; de fato; assim; • Enumerar outros fatores: não po-
portanto; por causa de; por motivo demos excluir; uma segunda causa a
de; porquanto; etc. ser apontada é; outro aspecto a ser
considerado; além desse fator, cha-
• Comparação por contraste ou por
ma a atenção; como terceira razão, é
semelhança: ao contrário de; em
preciso salientar; etc.
contraste com; como contraponto;
em comparação com; igualmente a; • Estabelecer oposição: a despeito
analogamente; assim também; do dessa posição; ao passo que; não
mesmo modo que; da mesma forma obstante sua avaliação; vai de en-
que; de maneira similar; de forma contro a; malgrado; em que pese
idêntica; nessa mesma perspectiva; tal afirmação... é preciso considerar;
em consonância com; etc. ainda que; muito embora reconhe-
• Acréscimo: além disso; outrossim; ça... há que se levar em conta; en-
ainda mais; por outro lado; desta fei- tretanto, no entanto; etc.
ta; nesse sentido; em função disso; Como você estudou, são muitas as pos-
a esse respeito; não só... mas ainda; sibilidades de uso de elementos de coesão.
etc. O uso correto deles é que dará ao seu texto
Além desses recursos, é possível recor- a coerência necessária para que a comunica-
rer à utilização de palavras ou expressões re- ção se efetive, pois o texto só faz sentido se
lacionais para: todos os envolvidos nesse processo de inte-
ração reconhecerem sua lógica interna.
• Iniciar uma análise: é fundamen-
tal inicialmente observar; há que se Agora é com você. Ler e escrever bem
analisar, primeiramente; a primeira são habilidades e, portanto, requerem treino
questão se referirá a; é fato; inicie- para serem adquiridas...

29
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que ...
• Aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia, qual seja nar-
ração, descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utili-
zada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá
conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de
uma língua.
• Narrar impõe o relato de histórias e acontecimentos, reais ou fictícios, com mar-
cante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convin-
cente ao receptor.
• O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de
maneira mais ou menos pormenorizada, de pessoas, estados de espírito, obje-
tos ou cenas.
• O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada ideia e,
para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem.
• O texto dissertativo estrutura-se em três partes: introdução, desenvolvimento e
conclusão.
• Dentre os recursos que poderão auxiliar na escrita de textos é possível citar:
reflexão sobre o tema, elaboração de um esquema, elaboração de rascunho,
reflexão sobre seu estilo pessoal e revisão de texto.
• Os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. A coesão
liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a
outro.
• A coesão textual pode ser referencial ou sequencial.
• Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem
adquiridas.

30

Você também pode gostar