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COACHING PARA CONCURSOS – ESTRATÉGIAS PARA SER APROVADO

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TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

Tipos E Gêneros Textuais

Tipologia Textual

1. Narração

Modalidade em que um narrador, participante ou não, conta um fato, real ou fictício, que ocorreu num
determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há
uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. Estamos
cercados de narrações desde as que nos contam histórias infantis até às piadas do cotidiano. É o tipo
predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc.

2. Descrição

Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A
classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora.
Numa abordagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação
de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer
uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se Pega. É um tipo textual que
se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância em gêneros
como: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc.

3. Dissertação

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do
objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo.

3.1 Dissertação-Exposição

Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre


assuntos, expõe, reflete, explica e avalia ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe
ideias sobre um determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resumo, textos
científicos, enciclopédia, textos expositivos de revistas e jornais, etc.

3.1 Dissertação-Argumentação

Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto,


além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se
pela progressão lógica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em:
sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e
revistas.

4. Injunção / Instrucional

Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria,
empregados no modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do
presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para
montagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de
orientação (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de natal,
aniversário, etc.).

OBS1: Muitos estudiosos do assunto listam apenas os tipos acima. Alguns outros consideram que
existe também o tipo predição.

5. Predição

Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda está por
ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas,
previsões escatológicas/apocalípticas.

OBS2: Alguns estudiosos listam também o tipo Dialogal, ou Conversacional. Entretanto, esse nada
mais é que o tipo narrativo aplicado em certos contextos, pois toda conversação envolve

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personagens, um momento temporal (não necessariamente explícito), um espaço (real ou virtual), um


enredo (assunto da conversa) e um narrador, aquele que relata a conversa.

Dialogal / Conversacional

Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante nos gêneros: entrevista,
conversa telefônica, chat, etc.

Gêneros Textuais

Os Gêneros textuais são as estruturas com que se compõem os textos, sejam eles orais ou escritos.
Essas estruturas são socialmente reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com
características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em
situações específicas. Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam
em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio,
podendo então, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características. Exemplos:

Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativo-
argumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à sociedade ou a leitores. Quando se
trata de "carta pessoal", a presença de aspectosnarrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é
mais comum. No caso da "carta denúncia", em que há o relato de um fato que o autor sente
necessidade de o exporao seu público, os tipos narrativos e dissertativo-expositivo são mais
utilizados.

Propaganda: é um gênero textual dissertativo-expositivo onde há a o intuito de propagar informações


sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes,
mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo.

Bula de remédio: trata-se de um gênero textual descritivo, dissertativo-expositivo einjuntivo que tem
por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento.

Receita: é um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para
preparar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no
imperativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instruções.

Tutorial: é um gênero injuntivo que consiste num guia que tem por finalidade explicar ao leitor, passo
a passo e de maneira simplificada, como fazer algo.

Editorial: é um gênero textual dissertativo-argumentativo que expressa o posicionamento da empresa


sobre determinado assunto, sem a obrigação da presença da objetividade.

Notícia: podemos perfeitamente identificar características narrativas, o fato ocorrido que se deu em
um determinado momento e em um determinado lugar, envolvendo determinadas personagens.
Características do lugar, bem como dos personagens envolvidos são, muitas vezes,
minuciosamente descritos.

Reportagem: é um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem,


por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta.

Entrevista: é um gênero textual fundamentalmente dialogal, representado pela conversação de duas


ou mais pessoas, o entrevistador e o(s) entrevistado(s), para obter informações sobre ou do
entrevistado, ou de algum outro assunto. Geralmente envolve também aspectos dissertativo-
expositivos, especialmente quando se trata de entrevista a imprensa ou entrevista jornalística. Mas
pode também envolver aspectosnarrativos, como na entrevista de emprego, ou aspectos descritivos,
como na entrevista médica.

História em quadrinhos: é um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos


quadros através de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espécie de conversação.

Charge: é um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de
caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento
atual, em sua grande maioria.

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TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

Poema: trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em
estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético.
Dependendo de sua estrutura, pode receber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia,
poema figurado, dramático, etc. Em geral, a presença de aspectos narrativos e descritivos são mais
frequentes neste gênero. Importante também é a distinção entre poema e poesia. Poesia é o
conteúdo capaz de transmitir emoções por meio de uma linguagem, ou seja, tudo o que toca e
comove pode ser considerado como poético. Assim, quando aplica-se a poesia ao gênero
<poema>, resulta-se em um poema poético, quando aplicada à prosa, resulta-se na prosa
poética (até mesmo uma peça ou um filme podem ser assim considerados).

Canção: possui muitas semelhanças com o gênero poema, como a estruturação em estrofes e as
rimas. Ao contrário do poema, costuma apresentar em sua estrutura um refrão, parte da letra que se
repete ao longo do texto, e quase sempre tem uma interação direta com os instrumentos musicais. A
tipologia narrativa tem prevalêncianeste caso.

Adivinha: é um gênero cômico, o qual consiste em perguntas cujas respostas exigem algum nível de
engenhosidade. Predominantemente dialogal.

Anais: um registro da história resumido, estruturado ano a ano. Atualmente, é utilizado para
publicações científicas ou artísticas que ocorram de modo periódico, não necessariamente a cada
ano. Possui caráter fundamentalmente dissertativo.

Anúncio publicitário: utiliza linguagem apelativa para persuadir o público a desejar aquilo que é
oferecido pelo anúncio. Por meio do uso criativo das imagens e dalinguagem, consegue utilizar todas
as tipologias textuais com facilidade.

Boletos, faturas, carnês: predomina o tipo descrição nestes casos, relacionados a informações de um
indivíduo ou empresa. O tipo injuntivo também se manifesta, através da orientação que cada um traz.

Profecia: em geral, estão em um contexto religioso, e tratam de eventos que podem ocorrer no
futuro da época do autor. A predominância é a do tipo preditivo, havendo também características dos
tipos narrativo e descritivo.

Domínio Principal Gêneros textuais

Científico Artigo científico

Verbete de enciclopédia

Nota de aula

Nota de rodapé

Tese

Dissertação

Trabalho de conclusão

Biografia

Patente

Tabela

Mapa

Gráfico

Resumo

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Resenha

Jornalístico Editorial

Notícia

Reportagem

Artigo de opinião

Entrevista

Anúncio

Carta ao leitor

Resumo de novela

Capa de revista

Expediente

Errata

Programação semanal

Debate

Religioso Oração

Reza

Lamentação

Catecismo

Homilia

Cântico religioso

Sermão

Comercial Nota de venda

Nota de compra

Fatura

Anúncio

Comprovante de pagamento

Nota promissória

Nota fiscal

Boleto

Código de barras

Rótulo

Logomarca

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Comprovante de renda

Curriculum vitae

Instrucional Receita culinária

Manual de instrução

Manual de montagem

Regra de jogo

Roteiro de viagem

Contrato

Horóscopo

Formulário

Edital

Placa

Catálogo

Glossário

Receita médica

Bula de remédio

Jurídico Contrato

Lei

Regimento

Regulamento

Estatuto

Norma

Certidão

Atestado

Declaração

Alvará

Parecer

Certificado

Diploma

Edital

Documento pessoal

Boletim de ocorrência

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Propaganda

Publicitário Anúncio

Cartaz

Folheto

Logomarca

Endereço postal

Humorístico Piada

Adivinha

Charge

Interpessoal Carta pessoal

Carta comercial

Carta aberta

Carta do leitor

Carta oficial

Carta convite

Bilhete

Ata

Telegrama

Agradecimento

Convite

Advertência

Bate-papo

Aviso

Informe

Memorando

Mensagem

Relato

Requerimento

Petição

Órdem

E-mail

Ameaça

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Fofoca

Entrevista médica

Ficcional Poema

Conto

Mito

Peça de teatro

Lenda

Fábula

Romance

Drama

Crônica

História em quadrinhos

RPG

Gêneros Literários:

· Gênero Narrativo:

Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o


dramático. Com o passar dos anos, o gênero épico passou a ser considerado apenas uma variante
do gênero literário narrativo, devido ao surgimento de concepções de prosa com características
diferentes: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula. Porém, praticamente todas as obras
narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder a
questionamentos, como: quem? o que? quando? onde? por quê? Vejamos a seguir:

Épico (ou Epopeia): os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou de
uma nação, envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos, etc. Normalmente apresentam
um tom de exaltação, isto é, de valorização de seus heróis e seus feitos. Dois exemplos são Os
Lusíadas, de Luís de Camões, e Odisséia, de Homero.

Romance: é um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos e de caráter mais
verossímil. Também conta as façanhas de um herói, mas principalmente uma história de amor vivida
por ele e uma mulher, muitas vezes, “proibida” para ele. Apesar dos obstáculos que o separam, o
casal vive sua paixão proibida, física, adúltera, pecaminosa e, por isso, costuma ser punido no final. É
o tipo de narrativa mais comum na Idade Média. Ex: Tristão e Isolda.

Novela: é um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade do romance e a brevidade
do conto. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, de Machado de Assis,
e A Metamorfose, de Kafka.

Conto: é um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa, que conta situações rotineiras,
anedotas e até folclores. Inicialmente, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a
reproduzi-lo de forma escrita com a publicação de Decamerão. Diversos tipos do gênero textual conto
surgiram na tipologia textual narrativa: conto de fadas, que envolve personagens do mundo da
fantasia; contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto mais próximo da realidade;
contos folclóricos (conto popular); contos de terror ou assombração, que se desenrolam em um
contexto sombrio e objetivam causar medo no expectador; contos de mistério, que envolvem o
suspense e a solução de um mistério.

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TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

Fábula: é um texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil. As personagens principais são
não humanos e a finalidade é transmitir alguma lição de moral.

Crônica: é uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial. Pode ter
um tom humorístico ou um toque de crítica indireta, especialmente, quando aparece em seção ou
artigo de jornal, revistas e programas da TV..

Crônica narrativo-descritiva: Apresenta alternância entre os momentos narrativos e manifestos


descritivos.

Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e
reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado.
Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico,
filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em formalidades
como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico. Exemplo:Ensaio sobre a
tolerância, de John Locke.

· Gênero Dramático:

Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador
contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os
papéis das personagens nas cenas.

Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles


afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa,
em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror". Ex: Romeu e
Julieta, de Shakespeare.

Farsa: A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de processos como o absurdo, as
incongruências, os equívocos, a caricatura, o humor primário, as situações ridículas e, em especial, o
engano.

Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil. Sua
origem grega está ligada às festas populares.

Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente,


significava a mistura do real com o imaginário.

Poesia de cordel: texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo linguístico e cultural
nordestinos, fatos diversos da sociedade e da realidade vivida por este povo.

· Gênero Lírico:

É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no poema e que nem sempre corresponde à
do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões em face do mundo exterior. Normalmente os
pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há o predomínio da função emotiva da linguagem.

Elegia: é um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a morte é elevada como o ponto
máximo do texto. O emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É um
poema melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e yufa, de william shakespeare.

Epitalâmia: é um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites românticas com poemas e
cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais.

Ode (ou hino): é o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à pátria (e aos seus
símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O hino é uma
ode com acompanhamento musical;

Idílio (ou écloga): é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à natureza, às
belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de
desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais a
paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara);

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TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

Sátira: é o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico.

Acalanto: ou canção de ninar;

Acróstico: (akros = extremidade; stikos = linha), composição lírica na qual as letras iniciais de cada
verso formam uma palavra ou frase;

Balada: uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias) com ritmo
característico e refrão vocal que se destinam à dança;

Canção (ou Cantiga, Trova): poema oral com acompanhamento musical;

Gazal (ou Gazel): poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente médio;

Haicai: expressão japonesa que significa “versos cômicos” (=sátira). E o poema japonês formado de
três versos que somam 17 sílabas assim distribuídas: 1° verso= 5 sílabas; 2° verso = 7 sílabas; 3°
verso 5 sílabas;

Soneto: é um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quartetos e dois tercetos, com rima
geralmente em a-ba-b a-b-b-a c-d-c d-c-d.

Vilancete: são as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíricas,
portanto.

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GÊNEROS TEXTUAIS

Gêneros Textuais

Os gêneros textuais são classificados conforme as características comuns que os textos apresentam
em relação à linguagem e ao conteúdo.

Existem muitos gêneros textuais, os quais promovem uma interação entre os interlocutores (emissor
e receptor) de determinado discurso.

São exemplos resenha crítica jornalística, publicidade, receita de bolo, menu do restaurante, bilhete
ou lista de supermercado.

É importante considerar seu contexto, função e finalidade, pois o gênero textual pode conter mais de
um tipo textual. Isso, por exemplo, quer dizer que uma receita de bolo apresenta a lista de
ingredientes necessários (texto descritivo) e o modo de preparo (texto injuntivo).

Tipos de Gêneros Textuais

Cada texto possuiu uma linguagem e estrutura. Note que existem inúmeros gêneros textuais dentro
das categorias tipológicas de texto. Em outras palavras, gêneros textuais são estruturas textuais
peculiares que surgem dos tipos de textos: narrativo, descritivo, dissertativo-argumentativo, expositivo
e injuntivo.

Texto Narrativo

Os textos narrativos apresentam ações de personagens no tempo e no espaço. A estrutura


da narração é dividida em: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.

Alguns exemplos de gêneros textuais narrativos:

• Romance

• Novela

• Crônica

• Contos de Fada

• Fábula

• Lendas

Texto Descritivo

Os textos descritivos se ocupam de relatar e expor determinada pessoa, objeto, lugar, acontecimento.
Dessa forma, são textos repletos de adjetivos, os quais descrevem ou apresentam imagens a partir
das percepções sensoriais do locutor (emissor).

São exemplos de gêneros textuais descritivos:

• Diário

• Relatos (viagens, históricos, etc.)

• Biografia e autobiografia

• Notícia

• Currículo

• Lista de compras

• Cardápio

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GÊNEROS TEXTUAIS

• Anúncios de classificados

Texto Dissertativo-Argumentativo

Os textos dissertativos são aqueles encarregados de expor um tema ou assunto por meio de
argumentações. São marcados pela defesa de um ponto de vista, ao mesmo tempo que tentam
persuadir o leitor. Sua estrutura textual é dividida em três partes: tese (apresentação), antítese
(desenvolvimento), nova tese (conclusão).

Exemplos de gêneros textuais dissertativos:

• Editorial Jornalístico

• Carta de opinião

• Resenha

• Artigo

• Ensaio

• Monografia, dissertação de mestrado e tese de doutorado

Veja também: Texto Dissertativo.

Texto Expositivo

Os textos expositivos possuem a função de expor determinada ideia, por meio de recursos como:
definição, conceituação, informação, descrição e comparação.

Alguns exemplos de gêneros textuais expositivos:

• Seminários

• Palestras

• Conferências

• Entrevistas

• Trabalhos acadêmicos

• Enciclopédia

• Verbetes de dicionários

Texto Injuntivo

O texto injuntivo, também chamado de texto instrucional, é aquele que indica uma ordem, de modo
que o locutor (emissor) objetiva orientar e persuadir o interlocutor (receptor). Por isso, apresentam, na
maioria dos casos, verbos no imperativo.

Alguns exemplos de gêneros textuais injuntivos:

• Propaganda

• Receita culinária

• Bula de remédio

• Manual de instruções

• Regulamento

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GÊNEROS TEXTUAIS

• Textos prescritivos

Conheça mais gêneros textuais:

• Anedota

• Blog

• Reportagem

• Charge

• Carta

• E-mail

• Declaração

• Memorando

• Bilhete

• Relatório

• Requerimento

• ATA

• Cartaz

• Cartum

• Procuração

• Atestado

• Circular

• Contrato

Diferente do Gênero Literário, o Gênero Textual é o nome que se dá às diferentes formas de


linguagem empregadas nos textos. Estas formas podem ser mais formais ou mais informais, e até se
mesclarem em um mesmo texto, porém este será nomeado com o gênero que prevalecer. São
exemplos de gêneros textuais: o romance, o artigo de opinião, o conto e a receita, que são gêneros
escritos, ou ainda textos orais como a aula, o debate, a palestra, etc.

Os gêneros textuais são a forma como a língua se organiza para se manifestar nas mais diversas
situações de comunicação, são a língua em constante uso.

Não podemos confundir Gênero Textual com Gênero Literário. Há uma classificação para os gêneros
literários, ou seja, textos literários que são classificados segundo a sua forma: gênero lírico, gênero
épico, gênero dramático e gênero narrativo …

Quando falamos em gêneros textuais, não estamos nos detendo nos textos literários, mas sim
englobando todos os textos da língua, basta que possuam a capacidade de comunicar algo. Os
textos, orais ou escritos, que produzimos para nos comunicar, possuem um conjunto de
características, e são estas características que determinarão seu gênero textual. Algumas destas
características são: o assunto, quem está falando, para quem está falando, sua finalidade, ou se o
texto é mais narrativo, instrucional, argumentativo, etc.

Enfim, cada gênero textual possui seu próprio estilo e estrutura, possibilitando, assim, que nós o
identifiquemos através de suas características. Vejamos alguns exemplos:

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GÊNEROS TEXTUAIS

Carta: se caracteriza por ter um destinatário e um remetente específicos, pode ser uma carta pessoal,
ou uma carta institucional, pode ser ainda uma carta ao leitor, ou uma carta aberta. Dependendo de
qual seja seu OBJETIVO, ela adquirirá diferentes estilos de escrita, poderá ser dissertativa, narrativa
ou descritiva. A estrutura formal da carta é também uma característica marcante, pois é fixa,
apresentando primeiramente a saudação, em seguida o corpo da carta e por último a despedida.

Propaganda: este gênero costuma aparecer bastante na forma oral, mas também pode ser escrito.
Possui como característica marcante a linguagem argumentativa e expositiva, podendo também
haver pequenas descrições. O objetivo é sempre o mesmo: divulgar o produto/serviço e influenciar a
opinião do leitor para que ele “compre” a ideia. O texto é claro e objetivo, e as mensagens costumam
despertar sentimentos, emoções e sensações no leitor: calma, tranquilidade, emoção, adrenalina,
calor, frio, inquietação. Outro elemento importante é o uso das imagens.

Receita: é um texto instrucional permeado de descrições. O objetivo é instruir o leitor para preparar
algo, geralmente uma comida. A estrutura também é fixa, apresentando na sequência: os
ingredientes, o modo de preparo e o rendimento da receita. Quanto à linguagem, utiliza verbos no
imperativo, pois a partir da ordem, o leitor tenderá a seguir corretamente as instruções para adquirir
bom êxito.

Outros exemplos de textos instrucionais são a bula de remédio e o manual de instruções.

Notícia: este é um dentre os diversos gêneros jornalísticos, e pode ser facilmente identificado. Possui
como característica a linguagem narrativa e descritiva, e seu objetivo é informar um fato ocorrido.
Outra característica marcante é a presença de elementos como: o tempo, o lugar e as personagens
envolvidas no fato.

Há outros gêneros essencialmente jornalísticos como a Reportagem e a Entrevista.

Vejamos mais alguns exemplos de gêneros textuais:

• Conto maravilhoso;

• Conto de fadas;

• Fábula;

• Lenda;

• Narrativa de ficção científica;

• Romance;

• Conto;

• Piada;

• Relato de viagem;

• Diário;

• Autobiografia;

• Curriculum vitae;

• Biografia;

• Relato histórico;

• Artigo de opinião;

• Carta de leitor;

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GÊNEROS TEXTUAIS

• Carta de solicitação;

• Editorial;

• Ensaio;

• Resenhas críticas;

• Seminário;

• Conferência;

• Palestra;

• Entrevista de especialista;

• Relatório científico;

• Regulamento;

• Textos prescritivos;

Seria impossível estudar todos ao mesmo tempo, por isso ao escrever qualquer um destes ou outros
textos, é importante ler alguns exemplos e estudar a linguagem e as características, especialmente
se há uma exigência para que você seja fiel ao gênero textual.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Leitura e Relação Entre Textos

Reconhecimento das relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que
contribuem para sua continuidade

As habilidades que podem ser avaliadas por este descritor relacionam-se ao


reconhecimento da função dos elementos que dão coesão ao texto. Dessa forma, eles
poderão identificar quais palavras estão sendo substituídas e/ou repetidas para facilitar a
continuidade do texto e a compreensão do sentido.Essa habilidade é avaliada por meio de
um texto no qual é necessário que o aluno identifique relações entre as partes e as
informações do texto como um todo.
Exemplo:

O hábito da leitura
“A criança é o pai do homem”. A frase, do poeta inglês William Wordsworth,
ensina que o adulto conserva e amplia qualidades e defeitos que adquiriu quando
criança. Tudo que se torna um hábito dificilmente é deixado. Assim, a leitura poderia
ser uma mania prazerosa, um passatempo.
Você, coleguinha, pode descobrir várias coisas, viajar por vários lugares,
conhecer várias pessoas, e adquirir muitas experiências enquanto lê um livro, jornal,
gibi, revista, cartazes de rua e até bula de remédio. Dia 25 de janeiro foi o dia do
Carteiro. Ele leva ao mundo inteiro várias notícias, intimações, saudades, respostas,
mas tudo isso só existe por causa do hábito da leitura. E aí, vamos participar de um
projeto de leitura?
CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 31 de janeiro de 2004. p.7.
No trecho “Ele leva ao mundo inteiro várias notícias…” (? . 8), a palavra sublinhada refere-se ao
(A) carteiro.
(B) jornal.
(C) livro.
(D) poeta.

Este assunto faz parte da matriz de português: Coerência e coesão no processamento do texto.

Eu sugiro que você estude a matéria de coerência do texto que também é pedida da seguinte
forma: Reconhecimento das relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjun-
ções, advérbios, preposições, locuções etc.

E você, qual o concurso você vai fazer? Deixe um comentário para mim, pois posso fazer postagens
direcionadas para ele e te ajudar mais. Aproveita também para inscrever seu e-mail para receber con-
teúdos todos os dias.

Coesão e Coerência Textual – O que é isso?

Muito se ouve falar de Coesão Textual e de Coerência Textual. Mas afinal, o que é isso?

Para que um texto tenha o seu sentido completo, ou seja, transmita a mensagem pretendida, é ne-
cessário que esteja coerente e coeso. Na construção de um texto, assim como na fala, usamos me-
canismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que é dito ou lido.

Em resumo, podemos dizer que a COESÃO trata da conexão harmoniosa entre as partes do texto, do
parágrafo, da frase. Ela permite a ligação entre as palavras e frases, fazendo com que um dê sequên-
cia lógica ao outro.

A COERÊNCIA é a relação lógica entre as ideias, fazendo com que umas complementem as outras,
não se contradigam e formem um todo significativo que é o texto.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Coesão Textual

Quando falamos de COESÃO textual, falamos a respeito dos mecanismos linguísticos que permitem
uma sequência lógico-semântica entre as partes de um texto, sejam elas palavras, frases, parágrafos,
etc. Entre os elementos que garantem a coesão de um texto, temos:

Referências e reiterações: este tipo de coesão acontece quando um termo faz referência a outro
dentro do texto, quando reitera algo que já foi dito antes ou quando uma palavra é substituída por ou-
tra que possui com ela alguma relação semântica. Alguns destes termos só podem ser compreendi-
dos mediante estas relações com outros termos do texto, como é o caso da anáfora e da catáfora.

Substituições lexicais: este tipo de coesão acontece quando um termo é substituído por outro dentro
do texto, estabelecendo com ele uma relação de sinonímia, antonímia, hiponímia ou hiperonímia, ou
mesmo quando há a repetição da mesma unidade lexical (mesma palavra).

Conectores: estes elementos coesivos estabelecem as relações de dependência e ligação entre os


termos, ou seja, são conjunções, preposições e advérbios conectivos.

Correlação dos verbos (coesão temporal e aspectual): consiste na correta utilização dos tempos ver-
bais, ordenando assim os acontecimentos de uma forma lógica e linear, que irá permitir a compreen-
são da sequência dos mesmos.

Coerência Textual

Quando falamos em COERÊNCIA textual, falamos acerca da significação do texto, e não mais dos
elementos estruturais que o compõem. Um texto pode estar perfeitamente coeso, porém incoe-
rente. É o caso do exemplo abaixo:

“As ruas estão molhadas porque não choveu”

Há elementos coesivos no texto acima, como a conjunção, a sequência lógica dos verbos, enfim, do
ponto de vista da COESÃO, o texto não tem nenhum problema.

Contudo, ao ler o que diz o texto, percebemos facilmente que há uma incoerência, pois se as ruas es-
tão molhadas, é porque alguém molhou, ou a chuva, ou algum outro evento. Não ter chovido não é o
motivo de as ruas estarem molhadas. O texto está incoerente.

Podemos entender melhor a coerência compreendendo os seus três princípios básicos:

Princípio da Não Contradição: em um texto não se pode ter situações ou ideias que se contradizem
entre si, ou seja, que quebram a lógica.

Princípio da Não Tautologia: Tautologia é um vício de linguagem que consiste n a repetição de al-
guma ideia, utilizando palavras diferentes.

Um texto coerente precisa transmitir alguma informação, mas quando hárepetição excessiva de pala-
vras ou termos, o texto corre o risco de não conseguir transmitir a informação. Caso ele não construa
uma informação ou mensagem completa, então ele será incoerente

Princípio da Relevância: Fragmentos de textos que falam de assuntos diferentes, e que não se relaci-
onam entre si, acabam tornando o texto incoerente, mesmo que suas partes contenham certa coerên-
cia individual. Sendo assim, a representação de ideias ou fatos não relacionados entre si, fere o prin-
cípio da relevância, e trazem incoerência ao texto.

Coesão referencial e coesão sequencial

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

A coesão referencial e sequencial cria vínculos entre as palavras, orações e as partes de um texto,
contribuindo para a coerência interna e para a progressão temática e textual.

A coesão referencial e a coesão sequencial são chamadas de recursos coesivos por estabelece-
rem vínculos entre as palavras, orações e as partes de um texto.

Coesão Referencial

A coesão referencial é responsável por criar um sistema de relações entre as palavras e expres-
sões dentro de um texto, permitindo que o leitor identifique ostermos aos quais se referem. O termo
que indica a entidade ou situação a que o falante se refere é chamado de referente.

Exemplo:

Ana Elisabete gritou. Ela fica apavorada quando fica sozinha, apesar de ser uma menina calma e in-
teligente.

Nesse exemplo, o termo referente é Ana Elisabete. Todas as vezes que o referenteprecisa ser reto-
mado no texto, podemos utilizar outras palavras para que os leitores possam retornar e recuperar a
ideia.

É bastante frequente o uso de figuras de construção/sintaxe para a coesão referencial, como as aná-
foras, catáforas, elipses e as correferências não anafóricas (contiguidades, reiterações).

Coesão Sequencial

A coesão sequencial é responsável por criar as condições para a progressão textual. De maneira ge-
ral, as flexões de tempo e de modo dos verbos e as conjunções são os mecanismos responsáveis
pela coesão sequencial nos textos.

Os mecanismos de coesão sequencial são utilizados para que as partes e as informações do texto
possam ser articuladas e relacionadas. Além da progressão das partes do texto, os mecanismos de
coesão sequencial contribuem para o desenvolvimento do recorte temático.

Dessa forma, o autor do texto evita falta de coesão, garantindo boa articulação entre as ideias, infor-
mações e argumentos no interior do texto e, principalmente, a coerência textual.

Separamos para você alguns termos responsáveis pela coesão sequencial nos textos:

Adição/inclusão - Além disso; também; vale lembrar; pois; outrossim; agora; de modo geral; por iguais
razões; inclusive; até; é certo que; é inegável; em outras palavras; além desse fator...

Oposição - Embora; não obstante; entretanto; mas; no entanto; porém; ao contrário; diferentemente;
por outro lado...

Afirmação/igualdade - Felizmente; infelizmente; obviamente; na verdade; realmente; de igual forma;


do mesmo modo que; nesse sentido; semelhantemente...

Exclusão - Somente; só; sequer; senão; exceto; excluindo; tão somente; apenas...

Enumeração - Em primeiro lugar; a princípio...

Explicação - Como se nota; com efeito; como vimos; portanto; pois; é óbvio que; isto é; por exemplo;
a saber; de fato; aliás...

Conclusão - Em suma; por conseguinte; em última análise; por fim; concluindo; finalmente; por tudo
isso; em síntese, posto isso; assim; consequentemente...

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Continuação - Em seguida; depois; no geral; em termos gerais; por sua vez; outrossim.

Relações Entre Textos

Os estudantes que se preparam para o Enem e para vestibulares já sabem a importância do domínio
da interpretação de textos e da língua portuguesa. Um conteúdo bastante cobrado nessas provas é a
relação entre textos verbais e visuais e textos temáticos e figurativos.

No que diz respeito aos textos verbais e visuais, temos exemplos de exercícios que usam poesias,
charges, quadrinhos, fotografias e notícias, que mesclam elementos textuais e visuais para que o es-
tudante seja capaz de avaliar o contexto.Nesses casos, o aluno deve compreender o gênero textual e
a proposta da questão. Para isso, o conhecimento prévio e a interpretação são fundamentais.

Temos também nas provas um conceito chamado de intertextualidade, que acontece quando um
texto é elaborado a partir de outro texto. Isso significa que os autores buscam elementos para que di-
ferentes produções textuais possam estabelecer uma conexão, ou seja, uma relação de intertextuali-
dade.

No caso do texto temático, os alunos devem dominar a dissertação. Esse tipo de texto apresenta fa-
tos para serem interpretados. A produção textual é feita com o uso de tempo verbal no presente
atemporal, estilo impessoal, dinâmico e conceitual. O texto temático tem função interpretativa.

Por fim, temos o texto figurativo, que é do tipo narrativo e apresenta um efeito de realidade, com ter-
mos concretos, análises das relações humanas e de fatos relevantes. A função do texto figurativo é
representativa, e ele utiliza os tempos verbais no presente, imperfeito e futuro.

A coesão textual é como uma corrente ou como as costuras de um tecido: se um elo se parte
ou se uma costura sai do lugar, o texto fica mal construído. O que fazer, então, para estabelecer a
coesão? Quais são os mecanismos gramaticais utilizados?

Elementos coesivos são palavras ou expressões cuja função é estabelecer relações lógicas entre as
partes do texto – como os conectivos – ou fazer referência a outros elementos presentes no texto –
pronomes, advérbios, sinônimos. Vejamos um trecho de Aritmética da Emília, de Monteiro Lobato:

Aquele célebre passeio dos netos de Dona Benta ao País da Gramática havia deixado o Vis-
conde de Sabugosa pensativo. É que todos já tinham inventado viagens menos ele.

Ora, ele era um sábio famoso e, portanto, estava na obrigação de também inventar uma viagem e
das mais científicas. Em vista disso, pensou uma semana inteira, e por fim bateu na testa, excla-
mando numa risada verde de sabugo embolorado:

– Heureca! Heureca!

Emília, que vinha entrando do quintal, parou , espantada, e depois começou a berrar de alegria:

– O Visconde achou! O Visconde achou! Corram todos! O Visconde achou!

A gritaria foi tamanha que Dona Benta, Narizinho e Pedrinho acudiram em atropelo.

-Que foi? Que aconteceu?

– O Visconde achou! – repetia a boneca entusiasmada. – O danadinho achou!…

– Mas achou que coisa, Emília?

– Não sei. Achou. Só. Quando entrei na sala, encontrei-o batendo na testa e exclamando:”Heu-
reca”. Heureca é uma palavra grega que quer dizer “achei!”. Logo, ele achou.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Observe as palavras destacadas no texto. A que elas se referem? Em “Aquele passeio…”, o pro-
nome demonstrativo faz alusão ao passeio que a turminha do sítio fizera ao País da Gramática;
em “todos já tinham inventado…”, o pronome indefinido também faz referência aos personagens; em
“menos ele”, o pronome pessoal substitui Visconde de Sabugosa, assim como acontece em “encon-
trei-o”; “Em vista disso” substitui todo o trecho em que o narrador conta a ideia do sabugo de milho.

Tais informações são facilmente notadas pelo leitor e são resultados do uso de recursos de coe-
são textual.

A coesão estabelece relações de sentido. Alguns autores citam alguns fatores de coesão e vere-
mos alguns deles: a referência, a substituição e a conjunção.

Coesão Referencial

A referência pode ser pessoal, demonstrativa, comparativa. A pessoal é feita por meio de pronomes
pessoais e possessivos (“Quando entrei na sala, encontrei-o batendo na testa”); a demonstrativa uti-
liza pronomes demonstrativos de advérbios de lugar (“Aquele célebre passeio dos netos”); e a com-
parativa é feita por meio de similaridades, como aparece em um outro trecho da obra:” A minha
viagem é um pouco diferente das outras“.

Substituição

A substituição consiste na colocação de um termo em lugar de outro ou uma oração inteira. É um


recurso que evita a repetição de um termo em particular, como sugerimos em Como evitar repe-
tições no texto?.

Conjunção

A conjunção estabelece relações entre termos ou orações em um texto. As conjunções usadas


como elementos coesivos são as aditivas, adversativas, causais e temporais: “Quando entrei na
sala, encontrei-o batendo na testa.”

Coerência e coesão no processamento de texto (D02, D05, D10, D11, D15, D07, D08 e D09)

Neste tópico, enfatizam-se elementos que dizem respeito à organização textual. A coerência pode ser
entendida como o nexo, o sentido, a lógica que se constrói a partir da superfície do texto. Os elemen-
tos coesivos ou de coesão são aqueles que organizam o texto em sua materialidade.

Esses elementos podem ser gramaticais (como preposições, conjunções, pronomes) e lexicais (como
as repetições, os hipônimos, os sinônimos, os hiperônimos). São responsáveis por marcar, na super-
fície textual, as articulações que o sujeito-autor destaca para a produção de sentido ou para a cons-
trução da coerência.

Várias habilidades foram avaliadas nesse tópico:

estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições, substituições que contribuem
para a continuidade de um texto (D02);

interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propaganda, quadrinhos, foto, etc) (D05);

identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa (tempo, espaço,
personagens)(D10;

estabelecer relações de causa e consequência entre partes e elementos do texto (D11);

*distinguir um fato de uma opinião relativa a esse fato (D14);

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto marcadas por conjunções, advérbios, etc
(D15)

identificar tese de um texto (D07) ;

estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la (D08); * diferenciar as
partes principais das secundárias em um texto (D09).

Seguem alguns comentários sobre os descritores avaliados.

D02 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições, substituições que contri-
buem para a continuidade de um texto. Esse descritor relaciona-se à habilidade de construção das
relações referenciais do texto via mecanismos de coesão. Isto é, as relações de sentido são sinaliza-
das no texto por meio de elementos que o escritor utiliza.

Essas relações de sentido podem ser anafóricas (quando um elemento se refere a outro elemento
que apareceu anteriormente no texto. Por exemplo: na frase “Maria saiu cedo de casa. Ela foi visitar o
museu”, a palavra ela substitui a palavra Maria) ou catafóricas (quando um elemento se refere a outro
elemento que aparecerá posteriormente no texto.

Por exemplo, na frase “João quis ficar com tudo: a casa, os móveis e o gato”, a palavra tudo se refere
aos elementos que serão listados a seguir no texto, ou seja, a casa, os móveis, o gato). Ao observar
elementos coesivos que retomam ou apresentam os objetos a que o texto faz referência (pessoas,
coisas, lugares, fatos, etc), o leitor consegue construir a cadeia referencial, ou seja, consegue estabe-
lecer relações de continuidade e progressão do texto.

Para produzir sentido, algumas ações cognitivas são realizadas pelo leitor. Entre essas ações, está a
habilidade de interpretar material gráfico, como auxílio à palavra, para dizer, para interagir. Será fun-
damental entender, por exemplo, que, numa propaganda, o uso de uma logomarca pode ser funda-
mental à compreensão do que se está dizendo.

Um gráfico pode tornar mais claras informações que, de outra forma, seriam complexas ou de difícil
entendimento. Assim, o bom leitor sabe lidar com o material gráfico que acompanha ou faz parte dos
textos que lhe chegam às mãos, para compreendê-los.

D10 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa (tempo, es-
paço, personagens) -essa é uma habilidade que se desenvolve na leitura de textos narrativos. Esses
textos se constroem por meio da articulação de personagens, enredo (ou fatos), foco narrativo, es-
paço, tempo.

Esses elementos se articulam em torno de um conflito que gera toda a narração, da solução (ou não)
do conflito. Ao desenvolver habilidade na leitura de textos dessa natureza, o aluno será capaz de con-
jugar os vários elementos que tomam parte de uma narrativa, identificando a função de cada um de-
les.

D15 Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios,
etc. Essa se constitui como um exemplo significativo de habilidade cujo desenvolvimento depende de
trabalho constante, em níveis cada vez mais aprofundados, à medida que o grau de escolaridade au-
menta.

Essa habilidade foi contemplada de uma maneira mais ampla, na Matriz: vários tipos de relações
como as de lugar, de tempo, de modo, etc, foram verificadas; mas também foi avaliada por meio do
descritor que abrange, especificamente, as relações de causa e consequência entre partes e elemen-
tos do texto (D11).

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

As relações entre partes do texto (frases, períodos, parágrafos) são marcadas por meio de articulado-
res textuais, como conjunções, preposições, advérbios que sinalizam para o leitor as oposições, com-
parações, relações de anterioridade e posterioridade, entre outras, presentes num texto, isto é, entre
as ações realizadas pelos leitores, está a de construir, a partir de conjunções, preposições, advérbios,
e outros recursos linguísticos, as relações entre frases, parágrafos ou partes maiores do texto.

Muitas vezes, quando as relações não vêm marcadas por articuladores, pode-se tornar difícil para o
leitor compreender o texto.

Estabelecer relações lógico-discursivas nem sempre é fácil. Compreender o tipo de ligação que se
constitui entre os elementos de um texto, ou de uma frase, exige um nível mais abstrato de consciên-
cia tanto linguística quanto cognitiva. Levar o aluno a dominar essa habilidade demanda um trabalho
efetivo e sistemático de reflexão linguística realizado em sala de aula.

Vejam-se alguns exemplos de atividades:

explorar as imagens dos textos, antes de ler a parte verbal, por meio de perguntas que ajudam o
aluno a verificar para que as imagens foram utilizadas.

Propor atividades com tabelas e gráficos que aparecem nos textos (como, por exemplo, os que indi-
cam o tempo nos jornais). Pedir que os alunos leiam tirinhas e histórias em quadrinhos e expliquem
oralmente o que elas querem dizer, ressaltando-se o papel das imagens na compreensão;

apresentar pequenos textos, constituídos de conjuntos de frases elaboradas sem articuladores. Pedir
aos alunos que façam a reescrita do texto, acrescentando os conectivos (preposições, conjunções)
necessários para marcar mais claramente as relações.

Mostrar como o uso de um ou de outro articulador faz grande diferença na compreensão do sentido.
Da mesma forma, será interessante apresentar frases desencontradas, destituídas desses elementos
articuladores, e pedir aos alunos que as organizem, acrescentando esses articuladores, para marcar
explicitamente as relações entre elas;

apresentar um texto todo recortado, com os parágrafos fora de ordem, pedir aos alunos que organi-
zem os parágrafos de forma a constituírem um texto. Solicitar justificativas para as escolhas. Será in-
teressante que os alunos façam

reflexões sobre as estratégias usadas para decidir sobre a sequência sugerida para os parágrafos, de
modo a perceberem como o uso de conjunções, articuladores, advérbios, organizadores textuais são
essenciais para construir sentidos;

pedir aos alunos para reconhecerem as diferenças de sentido entre pares de texto, decorrentes do
emprego de uma ou outra conjunção. Para mostrar que compreenderam as diferenças de sentido, os
alunos deverão construir possíveis cenários/contextos que tornariam adequada a produção das fra-
ses com essa ou aquela conjunção;

trabalhar com textos predominantemente narrativos como contos, crônicas, lendas, fábulas, roman-
ces (com temas adequados ao interesse dos alunos) e solicitar que os alunos recontem esses textos
oralmente. Fazer paródias dos textos lidos exagerando características que os textos originais apre-
sentam. Essas tarefas podem ser realizadas em qualquer série. À medida que os alunos vão se tor-
nando mais desenvolvidos, os textos a serem estudados tornam-se mais complexos;

a leitura de romances, contos, peças de teatro, contos de suspense, mistério e aventura, a leitura de
notícias de jornal, de biografias, por exemplo, permite que os alunos aprendam a lidar com a organi-
zação de narrativas. A exploração pertinente dos elementos da narrativa estimula o leitor a construir
personagens, enredo (ou fatos), foco narrativo, espaço (ambiente).

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Podem ser exploradas as personagens, a relação entre elas, se as personagens são reais ou inventa-
das, se são seres animados ou inanimados. Também o enredo, ou fato que gerou o conflito e como
ele se organizou e se resolveu é um ponto a ser destacado nas aulas com narrativas.

Os alunos podem ler os textos, individual ou coletivamente, e depois dramatizá-los. A dramatização é


uma boa oportunidade para que os alunos percebam o tipo de enredo, se é aventura, terror, sus-
pense, ficção científica, amor; o foco narrativo, ou quem conta a história, o lugar e o tempo em que a
história acontece.

Em textos longos, as crianças precisam ser auxiliadas na leitura. O professor pode ler para elas, com
bastante expressividade, como quem conta uma história. Questões que contemplam a habilidade de
lidar com elementos da narrativa podem impor dificuldade quando o texto apresenta os fatos numa
ordem não cronológica, quando há muitos personagens ou muitos fatores que contribuem para cons-
trução do conflito, quando os textos são longos;

a leitura de notícias e reportagens de jornais pode ajudar os alunos a desenvolverem a habilidade de


distinguir fato e opinião. Nesses gêneros, quase sempre há marcas explícitas que separam o que é
fato do que é opinião. Partir de gêneros em que as marcas de opinião (utilização de primeira pessoa,
uso de advérbios e de adjetivos) são mais evidentes pode contribuir para o desempenho dos alunos.

A habilidade de identificar os elementos da cadeia referencial de um texto deve ser bastante enfati-
zada em sala de aula. A partir dessa habilidade, tem-se que o leitor recupera elementos do próprio
texto, construindo relações de continuidade e progressão.

No dia-a-dia da sala de aula, podem ser trabalhadas atividades em que os mecanismos de substitui-
ção de um elemento por outro, no texto, sejam enfatizados, com destaque para o uso de pronomes
substituindo nomes; para o uso de sinônimos, de antônimos, de elipses, bem como o de hiponímia
(retomadas que vão do mais específico ao mais geral como retomar o automóvel pelo veículo) e de
hiperonímia (retomadas que vão do mais geral pelo mais específico: a planta, a flor, a rosa).

O uso de elementos coesivos referenciais pode ser trabalhado na sala de aula em atividades de lei-
tura e de escrita. A utilização consciente desses elementos facilita a compreensão na leitura e elimina
repetições desnecessárias na escrita.

Trabalhar com textos lacunados, nos quais os elementos da cadeia referencial sejam retirados de
propósito, ajuda o aluno a entender a importância desses elementos.

Nas atividades de leitura, podem ser feitas perguntas acerca de elementos do texto que se referem a
outros já citados, visando recuperá-los, para a construção da coerência textual.

Nas atividades de escrita, podem ser discutidos textos dos próprios alunos em que, por exemplo, o
nome da personagem é apresentado repetidas vezes, indicando-se como esse nome pode ser substi-
tuído por pronomes, sinônimos, antônimos, elipses, etc.

Para trabalhar a argumentação na sala de aula há, em jornais e revistas de circulação, vários textos
que podem ser do interesse do aluno. Os veículos de comunicação não se limitam a informar, são
também formadores de opinião.

É importante que os alunos acompanhem, nesses veículos, os debates que se estabelecem na comu-
nidade, porque com isso a escola está contribuindo também para a construção de uma ética plural e
democrática por meio dos textos que propõe para leitura e reflexão.

Questões políticas nacionais, questões internacionais, assuntos que se relacionam à preservação da


natureza, assuntos que envolvem diretamente os jovens e adolescentes são debatidos nos editoriais
dos jornais e revistas, em colunas assinadas por articulistas, na seção de cartas do leitor.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Ler esses textos em sala de aula, discutir como se organizam, desmontá-los para observar como bus-
cam convencer são tarefas que contribuem para que os alunos-leitores aprendam a lidar com a argu-
mentação. Partindo da análise de textos predominantemente argumentativos de temas conhecidos,
os alunos podem se habilitar para lidarem com outros textos, mais densos ou de temas mais distan-
tes de sua realidade.

1.1.4 Relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido (D16, D17 e D19)

Pode-se dizer que esse tópico refere-se ao tipo de interlocução, de contato, de posição que o sujeito
que escreve tenta instituir, no texto e pelo texto, com o seu leitor. Para instituir essa proposta de inter-
locução, o sujeito-autor, por meio de recursos expressivos, sinaliza suas intenções, seus objetivos e
espera que o leitor, seguindo as instruções deixadas nas marcas textuais, chegue a determinados
efeitos de sentido.

Muitos recursos podem ser utilizados por quem escreve para gerar efeitos de sentido: os sinais de
pontuação, o itálico, o negrito, a caixa alta, o tamanho da fonte, a diagramação, a rima, a aliteração,
uma transgressão intencional ou voluntária do padrão sintático ou da convenção ortográfica, a metá-
fora, a ironia, a hipérbole, etc. Esses recursos nem sempre geram os mesmos efeitos, tudo vai depen-
der do contexto em que são usados e da leitura que o leitor fizer. O PAEBES verificou, por meio
desse tópico, se os alunos desenvolveram habilidades de leitura.

Foram Avaliados Os Seguintes Descritores:

Reconhecer efeitos de sentido decorrentes da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáti-


cos (D19);

D16 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados é uma habilidade importante, uma vez
que ler implica ir além do que é explicitamente apresentado no texto, para perceber efeitos de sen-
tido, ou seja, ações que o texto busca exercer sobre o leitor.

Entender a linguagem como interação leva a pressupor que, pelas ações de linguagem, os sujeitos
buscam efeitos como informar, convencer, fazer rir, emocionar, etc. Quando o leitor identifica, pelas
marcas dos textos, os efeitos pretendidos por quem os produziu, é sinal de que houve compreensão
de intenções subjacentes.

Diversos recursos linguísticos podem servir de sinais ou de instruções para o leitor: as escolhas lexi-
cais, os sinais de pontuação, a utilização de recursos morfossintáticos. O humor e a ironia são co-
muns em vários gêneros de texto, mas, muitas vezes, exigem do leitor um conhecimento relacionado
a experiências particulares vivenciadas para reconhecê-los.

No caso de textos em quadrinhos, tirinhas, charges, isso é especialmente relevante, uma vez que iro-
nia e humor estão normalmente presentes nesses gêneros textuais.

A percepção daquilo que causa riso e que, algumas vezes, pode ser percebido como forma de crítica
a costumes, valores, situações, pessoas, personagens é habilidade mais fina, que demanda trabalho
cuidadoso por parte do professor, para ser alcançada pelos alunos, para que a compreensão de tex-
tos chegue a níveis mais aprofundados.

D17 Reconhecer efeitos de sentido decorrentes do uso da pontuação e de outras notações.

Os sinais de pontuação e outros mecanismos de notação como o itálico, o negrito, a maiúscula, o ta-
manho da fonte, entre outros são recursos utilizados para gerar efeitos particulares em textos como
quadrinhos, roteiros de teatro, propagandas, notícias, etc.

D19 Reconhecer efeitos de sentido decorrentes da exploração de recursos ortográficos e/ou morfos-
sintáticos.

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A seleção lexical também é usada na construção do texto e diz muito sobre as intenções comunicati-
vas de quem o produziu. A escolha de determinadas palavras ou expressões, bem como o uso de fi-
guras de linguagem, deve ser percebida pelo leitor como mais uma maneira de o autor manifestar
suas intenções comunicativas.

A atenção a detalhes – como, por exemplo, o uso de um substantivo em lugar de um verbo, ou vice
versa, o emprego de uma expressão oral inesperada, ou ao contrário, a escolha de vocábulo mais
formal, a repetição de uma palavra em determinados contextos –- pode levar o leitor a compreender
além do explícito para descobrir efeitos de sentido.

Como se apontou, para a produção de sentido, o leitor utiliza conhecimentos que possibilitam ir além
do que está efetivamente explícito no texto. Coloca em jogo o que já sabe, já construiu, já discutiu, já
presenciou ou vivenciou. Na compreensão, entram em ação seus conhecimentos linguísticos de fa-
lante nativo, adquiridos, tanto quando da aquisição inicial da língua, quanto com o trabalho formal de
reflexão linguísticotextual, que a escola pode e deve desenvolver.

Sugestões Para Melhorar O Desempenho

Desenvolver nos alunos a capacidade de percepção dos efeitos de sentido, presentes em textos vari-
ados é papel que a escola pode/deve exercer. Como indivíduos sociais, colocamos em prática, cons-
tantemente, a habilidade de captar intenções, de notar reações e de saber reagir adequadamente, em
situações diversas. O senso de humor, a agilidade para acompanhar a ironia nas piadas, nas char-
ges, nas histórias em quadrinhos, nas situações vivenciadas pode, muitas vezes, fazer a diferença
entre ser bem-sucedido ou não na leitura.

Nesse caso, algumas atividades podem ser aplicadas pelo professor para ajudar o aluno a desenvol-
ver essa habilidade:

fazer a análise sistemática de charges, com os alunos. Essa não é uma atividade simples, porque vai
exigir, também por parte do professor, alguns cuidados extras: saber escolher o material a ser usado,
garantir que os fatos, personagens e situações tratados na charge sejam conhecidos, etc. Fazer a
análise de charges representa uma excelente oportunidade de trabalho interdisciplinar, uma vez que
a participação de professores de diferentes áreas – história, geografia, filosofia, ciências físicas e bio-
lógicas, etc – pode ser solicitada com regularidade.

Levar para a sala de aula, por exemplo, diferentes charges, de diferentes autores, que exploram a
mesma situação, para verificar como cada um vê o contexto, o evento, os indivíduos envolvidos e fo-
calizados. Também será interessante acompanhar uma sequência de charges de um mesmo char-
gista, em que determinado evento ou personagem é focalizado, para a percepção dos elementos que
tornam esse evento ou essa personagem dignos de discussão;

contrapor textos de gêneros diversos que tratam do mesmo assunto, para mostrar como é possível
compreender fatos sob diferentes ângulos. E de como é possível ver esses fatos sob diferentes óticas
– indignação, comiseração, deboche, etc. Assim, por exemplo, um acontecimento político qualquer,
apresentado na mídia, será alvo de reflexão.

Os alunos poderão trazer o material – apresentado em jornais, revistas, boletins, páginas de internet
de sites variados – e será feito um estudo desse material, para a descoberta dos pontos de vista de
autores, de empresas. O foco poderá estar na descoberta da posição assumida nesse material a pro-
pósito do que é relatado, apresentado, discutido. Será importante deter-se na ideia de que o trata-
mento humorístico dado a situações pode, muitas vezes, chamar mais a atenção das pessoas e levá-
las a compreender melhor determinados eventos, sendo-lhes, assim, possível também posicionar-se;

propor a leitura sistemática de tirinhas e histórias em quadrinhos, chamando a atenção para os deta-
lhes desses gêneros textuais que podem levar ao riso, que provocam o humor.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

O mesmo pode ser dito em relação ao estudo de piadas. Levar os alunos a perceberem as estraté-
gias usadas em textos de humor justamente para provocar o riso: o inesperado, o inusitado, a repeti-
ção, a ausência;

explorar o uso dos sinais de pontuação e de outras notações como o itálico, o negrito, letra maiús-
cula, tamanho de fonte. Levar o aluno a perceber como esses elementos comunicam. Muitas vezes
as palavras dizem uma coisa, mas esses recursos verbais fazem revelar outras. Usar propagandas,
notícias, outdoors e cartazes, por exemplo, para enfatizar os efeitos gerados pela pontuação;

explorar o efeito de sentido que a seleção de uma palavra e não de outra pode gerar num texto. Por
exemplo, uma coisa é se referir a alguém como “o menino”, outra é dizer “o peralta”, “senhor leva-
deza”;

explorar, nos textos, o uso de repetições de uma mesma palavra (ver os textos literários, principal-
mente os poemas), que podem destacar efeitos especiais nos textos. Fazer perguntas que levem o
aluno a perceber porque algumas palavras são repetidas;

explorar textos em que as palavras são escritas violando intencionalmente a ortografia para comuni-
car alguma coisa. Para refletir um pouco mais sobre os recursos que a língua dispõe para gerar efei-
tos de sentido é importante ler:

1.1.5 Relação entre textos: intertextualidade (D20 e D21)

Esse tópico focaliza os textos que se inter-relacionam, formando uma grande rede de sentidos. Mui-
tas vezes, para entender um texto, é necessário estabelecer relações com aquele que lhe deu ori-
gem. O leitor proficiente utiliza seu conhecimento de outros textos para produzir sentidos para os tex-
tos que lê.

Esse tópico inclui os seguintes descritores:

Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que abordam o
mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido
(D20);

Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo
tema (D21).

Sugestões para melhorar o desempenho

Para ajudar os alunos a perceberem relações de intertextualidade, é necessário que o professor pro-
mova um diálogo explícito entre os vários textos que circulam na sociedade.

É necessário que eles percebam que alguns textos citam os outros e que isso se dá, muitas vezes,
de modo implícito, portanto o leitor precisa conhecer os textos que estão sendo citados, do contrário
não perceberá a relação. Assim, o professor pode, por exemplo:

confrontar textos que são claramente intertextuais: paródias e paráfrases, levando os alunos a perce-
berem as intenções subjacentes à reescrita dos textos originais. Há muitas letras de música conheci-
das das crianças e dos jovens que lidam com o jogo intertextual. Essas podem ser um bom ponto de
partida;

assistir a programas de TV que brincam com os vários textos que circulam na sociedade e propõem
um novo modo de dizer esses textos.

Há programas humorísticos interessantes que se apoiam quase que exclusivamente nas paródias
e/ou paráfrases. Há também programas infantis que fazem releituras de textos literatura;

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

verificar como a publicidade se apropria de outros textos e gera propagandas muito interessantes.
Podem ser propostas na sala de aula atividades em que os alunos procuram uma propaganda em re-
vistas, jornais ou TV e juntos vão descobrir que marcas existem nos textos que os levam a outros tex-
tos conhecidos. O conhecimento de um aluno pode ajudar a aguçar a percepção de outros;

ler textos acadêmicos e pedir que os alunos identifiquem as formas de citação explícitas: Segundo
fulano (1999) ou para beltrano (2000);

ler artigos jornalísticos ou charges e observar como eles lidam com os textos que foram notícias.

De fundamental importância para conseguir perceber os textos que compõem os vários textos é am-
pliar a bagagem de leitura do leitor. Só é possível reconhecer que um texto cita o outro se o citado já
tiver passado pela experiência do leitor. Por isso, é preciso fazer com que as crianças e jovens leiam
e leiam muito.

Leitura precisa ser, para eles, além de fonte de muito prazer, uma necessidade vital. É nesse sentido
que a escola tem de atuar. É preciso fazer a leitura ganhar um espaço maior, uma dimensão mais
ampla em nossas escolas.

Isso só será possível se o conceito do que é ensinar Língua Portuguesa for ressignificado, se a pers-
pectiva de ensino passar a contemplar a noção de uso, se for entendido que linguagem é interAção.
Para se orientar na tarefa de ampliar a bagagem de leitura dos alunos, sugerimos:

1.3 Um Exemplo de como Trabalhar Leitura no Ensino Médio

Há uma grande diversidade de textos que circulam socialmente com o nome de resumos: resumos
escolares, resumos de obras literárias, resumos de artigos ou obras científicas, resumos de disserta-
ções ou teses. Mas, não existe uma forma fixa, uma receita para produção de resumos. Eles não se-
rão produzidos sempre da mesma forma porque dependem do para quê são escritos, para quem,
onde vão circular.

Podem ser encontrados, além de em situações de sala de aula, também em inúmeras situações fora
da escola, como nos jornais, em revistas, capas de livros. Antes que se exija dos alunos a produção
de resumos, é necessário que eles aprendam a ler resumos e a identificar para que eles foram escri-
tos.

Mesmo com alunos do Ensino Médio é preciso ensinar a resumir, por meio de atividades previamente
planejadas. Normalmente, o gênero resumo é muito usado na escola como instrumento de avaliação,
mas ninguém se lembra de ensiná-lo.

Em sala de aula, várias atividades podem ser realizadas para que os alunos percebam não só as ca-
racterísticas formais desse gênero como também possam apreender sua função social. Assim, o
aluno pode ser levado a:

Confrontar vários resumos que circulam socialmente. Fazer o levantamento dos pontos em comum e
dos aspectos divergentes encontrados nos vários resumos.

Isso certamente contribuirá para preparar os alunos para a leitura, para a compreensão de material
do mesmo gênero, em outros suportes, além de realçar as características textuais que compõem o
resumo, o que faz com que, munidos de olhar mais criterioso, os alunos possam vir a produzir bons
resumos que os auxiliarão em atividades de todas as disciplinas do currículo escolar.

Realizar atividades de leitura para distinguir o que é essencial e o que é acessório num texto. É im-
portante que o estudante tome consciência que resumir é uma capacidade que o ser humano possui
e que pode ser desenvolvida por meio de atividades direcionadas pela escola.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Para resumir bem, é necessário reconhecimento das partes principais de um texto; distinguir o que é
exemplo; o que tem caráter apenas ilustrativo; o que é argumento central e o que é secundário; é pre-
ciso sintetizar; parafrasear; entre outras habilidades. Com isso, aquele que resume demonstra um ní-
vel sofisticado de leitura, isto é, revela sua compreensão do texto.

Uma habilidade importante que se consolida na produção de resumos é a sumarização, processo


mental que ocorre durante a leitura. Na sumarização, normalmente, o leitor exclui informações irrele-
vantes, apaga conteúdos que podem ser inferidos, elimina adjetivação, suprime as informações que
justificam posições, agrupa elementos, etc.

No resumo, não são importantes, também, comentários e avaliações presentes no texto que está
sendo resumido. Identificar as situações de comunicação em que os resumos são produzidos.

Por exemplo, nos jornais há, entre outros, resumos das novelas de televisão; em revistas de varieda-
des, há resumos de notícias da semana; em revistas de divulgação científica, há resumos de desco-
bertas da Ciência; em periódicos, há resumos de trabalhos acadêmicos; no início de uma monografia,
de uma dissertação ou de uma tese, aparece um resumo da pesquisa que foi realizada; na contra-
capa de alguns livros, aparece um resumo do conteúdo deles.

Cada um desses resumos tem uma forma de apresentação diferente, tem estrutura muito particular.
Por isso, é que não adianta dar uma fórmula pronta para que os alunos aprendam a fazer resumo.
Ele precisa ter contato com os diversos resumos que circulam e inferir suas características a partir do
funcionamento social dos textos.

É preciso lembrar que há aspectos relevantes na leitura de textos que podem ser usados na produ-
ção de resumos: primeiramente, que somente uma leitura do texto não basta, deve ser feita mais de
uma; uma operação que pode ser feita é ensinar os alunos a fazer anotações acerca do que leram,
identificando as ideias principais.

Os conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto a ser lido devem ser, também, ende-
reçados, para avaliar sua adequação ao leitor-alvo. Evidentemente, fatores formais, fatores de signifi-
cado, e, ainda, o vocabulário serão levados em conta para decidir como trabalhar, o que trabalhar,
que atividades propor.

Recriar um texto oralmente. Quando se conta um fato, um caso, as ideias são sintetizadas. É por isso
que a atividade de contar oralmente é muito importante quando se quer ensinar alguém a resumir por
escrito. À medida que o aluno tenta reconstruir o texto por meio de sua exposição oral está organi-
zando as informações que possui.

Se o texto for curto, de estrutura sintática simples, a tarefa pode ser considerada fácil. Se o texto for
complexo, denso de informações, a tarefa será difícil, sua realização vai exigir mais tempo e trabalho.

Ler resumos e refletir sobre eles. Colocar os alunos em contato com exemplos variados de resumos
publicados em diferentes suportes, destinados a diferentes leitores, com diferentes objetivos, para
conduzir os alunos à observação desse material e à reflexão em torno daquilo que caracteriza o gê-
nero e a sua função social é atividade de suma importância no Ensino Médio.

Fundamentalmente, para que o aluno aprenda a produzir resumos ele precisa ler resumos. Os diver-
sos resumos precisam passar primeiro pela experiência do aluno como leitor para que ele possa pro-
duzi-los como escritor.

É por isso que muitas avaliações em sala de aula fracassam. Pede-se que o aluno faça um resumo
sem que antes o aluno tenha lido qualquer resumo.

Propor que os alunos levantem as semelhanças e diferenças entre os vários resumos em função de
sua circulação social.

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LEITURA E RELAÇÃO ENTRE TEXTOS

Relacionar as características formais dos textos (registro de linguagem, seleção de palavras, estru-
tura sintática, hierarquização das informações) às suas condições de produção e recepção. Explorar
os usos linguísticos de cada um dos textos selecionados pode se constituir em uma ótima forma de
refletir sobre a língua.

Assim sendo, o gênero resumo pode ser pensado como um dos que precisam fazer parte das aulas
de leitura no Ensino Médio. Aqui esse gênero é mote de exemplo. Outros gêneros como a definição,
a explicação, o verbete, a comparação, também são muito utilizados em sala de aula, mas, assim
como o resumo, acabam sendo apenas cobrados e não ensinados, como deveriam.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

Estratégia Argumentativas

Três estratégias argumentativas para melhorar sua redação

Estratégias argumentativas são mecanismos fundamentais para que a sua redação – se a pro-
posta for um texto opinativo, por exemplo – alcance o seu objetivo: defesa de posicionamento.

Em um texto de opinião, nosso objetivo é apresentar e defender um posicionamento crítico. Como


bem sabemos, para que isso seja alcançado, são necessários alguns cuidados com a elaboração de
nosso projeto de texto e o desenvolvimento de cada ideia selecionada por nós.

No texto dissertativo-argumentativo, temos esta organização textual:

Introdução: problematização do tema;

Desenvolvimento: argumentação/fundamentação/defesa do ponto de vista;

Conclusão: balanço da discussão realizada ao longo do texto.

Com essa divisão textual, podemos notar que o desenvolvimento é o maior representante da função
principal de um texto dissertativo-argumentativo, uma vez que a parte de maior concentração da ar-
gumentação está localizada ali.

Hoje, o sítio de Português, pensando na relevância do desenvolvimento de um texto de opinião, se-


parou três estratégias argumentativas para auxiliá-los na produção de textos argumentativos melho-
res.

→ Argumentação por exemplificação

Um exemplo é sempre um elemento que traz força para a defesa de um ponto de vista, visto que é a
melhor forma de comprovar uma opinião. Além desse benefício, há outro ganho ao fazer uso dessa
estratégia: é um mecanismo bastante acessível. O que isso quer dizer? Há, no geral, três formas de
exemplificação, e isso faz com que as possibilidades de uso pelos falantes sejam inúmeras. Obser-
vem:

– Fatos divulgados na mídia

“O artigo 5° da Constituição Federal diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza''. Mas, na prática, a legislação brasileira confere o privilégio de não ficar em cárcere comum
até o trânsito em julgado de uma decisão penal condenatória para alguns grupos. Como os detento-
res de diploma de curso superior. Com a decisão do Supremo, esse tempo vai se encurtar, mas a
cela especial continua lá.

O Senado Federal havia derrubado essa aberração presente no artigo 295, inciso VII, do Có-
digo de Processo Penal, mas a Câmara os Deputados barrou a mudança. Isso é bastante para-
digmático em um país em que milhares de pobres seguem presos sem julgamento de primeira instân-
cia – um escárnio.”

Estratégias argumentativas para melhorar a sua redação

As estratégias argumentativas são mecanismos fundamentais para que sua redação (no caso de um
texto de opinião) seja bem desenvolvido. Em um texto de opinião, o objetivo é defender um posicio-
namento crítico, para isso são necessários alguns cuidados que vão desde a elaboração do projeto
de texto até o desenvolvimento de casa idéiam a ser defendida.

Em um texto dissertativo-argumentativo, temos:

 Introdução: problematizado tema;

 Desenvolvimento: argumentação/fundamentação / defesa do ponto de vista;

 Conclusão: balanço da discussão realizada ao longo do texto.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

O desenvolvimento é a parte de maior concentração argumentativa, para auxiliá-los na elaboração de


um texto de opinião, separamos algumas estratégias argumentativas para auxiliar a elaboração de
textos argumentativos.

Argumentação por exemplificação

Um exemplo é o que dá força para o ponto de vista defendido, visto que a melhor forma de compro-
var uma opinião. Você pode utilizar fotos divulgadas, fatos fictícios, dados estatísticos, enfim, existem
uma infinidade de exemplos para serem explorados na sua argumentação.

Argumento de autoridade

A argumentação de autoridade consiste em apresentar e interpretar a opinião de outros autores. Esse


tipo de argumentação tem o objetivo de dar maior sustentação às ideias e assim credibilidade ao
texto. Ao acessar reflexões de autoridades no assunto (líderes políticos, artistas, filósofos, historiado-
res, dentre outros) você usa como fundamentação para seus argumentos, argumentos de especialis-
tas no assunto abordado.

Você pode usar os argumentos de autoridades em forma de citações (quando cita-se, precisamente,
a ideia de determinado autor. Nesse caso as palavras do autor devem estar entre aspas) e paráfrases
(quando apresentamos a ideia do autor com nossas palavras).

Argumento por alusão histórica

A intertextualidade é uma das intenções desse tipo de estratégia. Há, além disso, a relação com a ar-
gumentação por exemplificação, uma vez que fatos históricos também são meios que podem compro-
var determinada afirmação/reflexão critica. Assim, a alusão histórica tem a capacidade de comprovar
a nossa opinião e dar maior credibilidade ao texto, pois quando se demonstra entendimento da histó-
ria, se demonstra também autoridade no assunto.

Ao utilizar essa estratégia argumentativa, o autor compara presente e passado e a partir dessa com-
paração, começará a tecer a sua reflexão critica em relação ao recorte histórico.

1. Argumentação por causa/consequência (Raciocínio lógico)

Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é explicar os motivosque levaram você a posicio-
nar-se daquela forma. Esse é um dos tipos deargumentos mais frequentes e eficazes, visto que argu-
mentar é, justamente,dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado do ar-
tigo “Por um país da mala branca”, de Mauro Chaves.

Já que os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no mo-
mento), é preciso buscar novas formas deconter os distúrbios de nosso convívio humano e as amea-
ças à nossa jáprecária coesão social. E já que nossa sociedade se mostra tão avessa àpuni-
ção pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas), façamo-la, de vez, cum-
prir a lei apenas mediante incentivos.

Recente moda futebolística pode-nos apontar o caminho dessa transformação, que troca a san-
ção pelo estímulo e a punição pela perda de vantagem. É a chamada prática da
"mala branca", pela qual um clube pagaa outro para que este ganhe.

É claro que isso nada tem que ver com o suborno da "mala preta" - a execrável compra de golei-
ros, zagueiros eoutros de um time para que deixem a bola passar e percam o jogo. A "malabranca",
ao contrário, é um saudável incentivo para que os profissionais doesporte ajam corretamente, isto é,
esforcem-se ao máximo para ganhar um jogo.

Logo no primeiro parágrafo, o autor explicita nos seguintes trechos atese que defende: “é pre-
ciso buscar novas formas de conter os distúrbios denosso convívio humano e as amea-
ças à nossa já precária coesão social” e “façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incenti-
vos”. Segundo oautor, para tornar a lei mais eficiente, é preciso substituir práticas punitivaspor incen-
tivos a quem cumpre os regulamentos.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

Para sustentar essa tese, lança mão no mesmo parágrafo de doisargumentos de valor causal: “os va-
lores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento)” e
“nossa sociedade semostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleiçãoper-
doa tantos nas urnas)”. Veja que ambos os argumentos expressam osmotivos pelos quais o au-
tor adota sua tese; logo, são introduzidos por umconectivo que expressa rela-
ção de causa (“já que”), como você viu na lição sobre coesão textual.

No entanto, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado paranão expressar uma falsa rela-
ção de causa/consequência entre ideias que sãoapenas próximas, mas não desencadeadoras uma
da outra.

Argumentação Por Exemplificação

Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos reaisem que a tese se prova ver-
dadeira. Nesse sentido, é muito importanteselecionar exemplos fortes, preferencialmente de conheci-
mento geral ousurpreendentes. Um exemplo mal escolhido, por ser pouco representativo, por exem-
plo, pode suscitar no leitor desconfiança e uma forte contra-argumentação.

Veja abaixo, em um trecho da reportagem “Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente se-
guras?”, de Sérgio Pires, como a exemplificação foi empregada para defender determi-
nado ponto de vista.

Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?

Há anos o assunto é motivo de discussões. Nessa semana, de novo. Oprofessor do Instituto de Com-
putação da Universidade de Campinas, Jorge Stolfi, disse em audiência na Câmara Federal
que as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes.

Emais: que o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a
fraude seja detectada. Lembrou que vários países –Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Ingla-
terra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas
não são imunes ao que chamou de “riscos incontornáveis” de fraude.

Destacou que a única maneira de fazer com que o sistema seja totalmenteseguro é adotar o voto im-
presso, como maneira complementar para asegurança da votação. O professor afirmou ainda, contra-
riando técnicos dos TREs e do próprio TSE, que há sérios riscos “de fraudes feitas por pessoasinter-
nas ao sistema, que não podem ser detectadas antes, durante oudepois da eleição". E agora, José?

Jorge Stolfi manifesta claramente seu ponto de vista no trecho “as urnaseletrônicas utilizadas
nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: (...) o sistema pode ter interferên-
cias para beneficiar um ououtro candidato sem que a fraude seja detectada”. Para defender essa opi-
nião, utiliza como argumento exemplos de países que discordam do sistema de votação eletrônica:
“vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as ur-
nas eletrônicas comono Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de ‘ris-
cos incontornáveis’ de fraude”.

Perceba que o professor do Instituto de Computação da Universidade deCampinas foi cuida-


doso na seleção dos países que empregou para respaldarsua tese: Estados Unidos, Alemanha, Ho-
landa e Inglaterra são todos paísesdesenvolvidos que têm organizações políticas democráticas mun-
dialmente reconhecidas.

Argumentação Por Dados Estatísticos (Provas Concretas)

Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesqui-
sas feitas por órgãos de reconhecimento público. É preciso tomar cuidado, no entanto, para selecio-
nar quais dados serão usados, citando a fonte de que foram retirados.

Veja abaixo como o uso de valores numéricos calculados por agências especializadas foi usado
no artigo “Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009”.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorarem 2009

De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 So Ho
Square, as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Bra-
sil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente.
Na classe A, o percentual verificado foi de 41%.

Além disso, a pesquisa intitulada "O Sonho é maior que o medo -Panorama sobre o comporta-
mento de compra das mulheres brasileiras" apurou que 41% das mulheres da classe C e 36% da D
avaliam que aeconomia brasileira está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise.

Na opinião do presidente da agência que encomendou o estudo, Mauro Motryn, os números mos-
tram que as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na crise. "Elas es-
tão felizes de finalmenteterem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso
agora (...)Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano parapoderem continuar com-
prando."

Mauro Motryn tem um ponto de vista claro diante do comportamento dasmulheres das classes C e
D em relação à crise econômica: "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de con-
sumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do
ano parapoderem continuar comprando." Para justificar esse posicionamento, por residente da agên-
cia de publicidade 141 SoHo Square baseia-se em dados estatísticos de pesquisa que encomendou
ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Bra-
sil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente.
Na classe A, o percentual verificado foi de 41%”.

4. Argumentação por testemunho de autoridade (Argumento de autoridade)

Nos textos de escrita acadêmica, é muito frequente que, para respaldar uma tese, um autor se refira
a pesquisas anteriores, de outro pesquisador. Para isso, cite a fonte de onde retirou a citação empre-
gada em seu texto, tendo cuidado de empregar como argumento as palavras de alguémreconhe-
cido como profundo conhecedor da causa discutida.

Veja abaixo como esse recurso foi empregado na argumentação doartigo “Produção científica no Bra-
sil sobe, mas não o número de patentes”, do qual transcrevemos um trecho a seguir.

A produção científica brasileira subiu de 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os artigos cien-
tíficos publicados no mundo, mas esse conhecimento ainda não se traduz na prática. Quando se ana-
lisa o registro de patentes nos Estados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero.

"O Brasil está muito atrás de outros países que até produzem menosartigos científicos. Dificil-
mente um País que produz ciência não faz as duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas não é
o caso do Brasil", disse Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
soal de Ensino Superior (Capes).

O autor do artigo, em sua argumentação, denuncia o baixo número de patentes registrado no Bra-
sil, apesar da alta produção científica. Paradefender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo, o au-
tor se vale das palavras de uma autoridade no assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A própria instituição por ele presi-
dida é reconhecida internacionalmente comoreferência no que diz respeito à pesquisa científica.

Argumentação Por Contra-Argumentação

Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você já imagina quaisserão os possíveis posiciona-
mentos contrários de alguns leitores. Parafortalecer sua argumentação, você pode citar essas vi-
sões diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-argumentação.
É preciso tomar cuidado, no entanto, para refutar com consistência os argumentos que se opõem
à sua tese, ou seu posicionamento pode perder credibilidade.

Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Crise e poder”, de Rubens Ricupero, e atente para o uso
que o autor fez da contra-argumentação parar espaldar sua tese.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

A crise econômica é também uma crise da globalização. Dizia-se antesque o poder do Estado estava
sendo corroído pela interdependência da globalização. Ora, o que vimos é que esta foi de fato res-
ponsável pelo contágio da doença. O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacio-
nal por meio dos bancos centrais e dos Tesouros.

A primeira conclusão, portanto, é que, apesar da globalização, permanece intacta a configuração do-
minada pelo Estado-Nação, cujo poderem relação ao mercado e à sociedade é reforçado pela crise.

A tese central defendida pelo autor no trecho analisado é que, “apesar da globalização, perma-
nece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação”. No entanto, para chegar a essa afirma-
tiva, o texto parte de uma ideia contrária a ela: “Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo
corroído pela interdependência da globalização”.

Veja que essa ideia contrária à tese foi introduzida pela expressão “dizia-se”, a qual não de-
fine quem é que dizia que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globali-
zação. O agente responsável por essa ação não pode ser identificado no texto. Só o que sabemos
é que não se diz mais isso; chega-se a tal conclusão pelo tempo do próprio verbo em“ dizia-se”.

É importante perceber que a oposição entre essa afirmativa inicial e atese defendida pelo au-
tor não torna o texto contraditório. Na verdade, para fortalecer sua argumentação, o au-
tor afirma algo que era dito antigamentepara logo rechaçar essa ideia, na frase: “O remédio, porém,
vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros”. A pala-
vra “porém”, conectivo de oposição (conforme você estudou na lição sobre coesão textual) introduz
uma ressalva à ideia inicial do texto, dando suporte à tese defendida pelo autor.

Tema: Vestibular, um mal necessário.

Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economica-


mente.

Raciocínio lógico: Os candidatos que estudaram em escolas com infraestrutura deficiente, como as
escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles
que frequentaram bons colégios.

Contra-argumentação: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de con-
dição econômica inferior, evidenciando a inclusão social tão desejada por grande parte dos brasilei-
ros, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo
grau, comprometeria o ritmo do curso superior.

Conclusão (síntese): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras respon-
sáveis pela seleção dos candidatos mais ricos.

A argumentação é um recurso que tem como propósito convencer alguém, para que esse tenha a
opinião ou o comportamento alterado.
Sempre que argumentamos, temos o intuito de convencer alguém a pensar como nós.
No momento da construção textual, os argumentos são essenciais, esses serão as provas que apre-
sentaremos, com o propósito de defender nossa ideia e convencer o leitor de que essa é a correta.

Há diferentes tipos de argumentos e a escolha certa consolida o texto.

Argumentação por citação

Sempre que queremos defender uma ideia, procuramos pessoas ‘consagradas’, que pensam como
nós acerca do tema em evidência.
Apresentamos no corpo de nosso texto a menção de uma informação extraída de outra fonte.

A citação pode ser apresentada assim:

Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de
toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (Piaget,

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

1994, p.11). A essência da moral é o respeito às regras. A capacidade intelectual de compreender


que a regra expressa uma racionalidade em si mesma equilibrada.

O trecho citado deve estar de acordo com as ideias do texto, assim, tal estratégia poderá funcionar
bem.

Argumentação por comprovação

A sustentação da argumentação se dará a partir das informações apresentadas (dados, estatísticas,


percentuais) que a acompanham.
Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um ponto de vista equivocado.

Veja:

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o Mapa da Exclusão Educacional. O estudo
do Inep, feito a partir de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da Educação, mostra o
número de crianças de sete a catorze anos que estão fora das escolas em cada estado.

Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 % da população nessa faixa etária (sete a
catorze anos), para a qual o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula.

O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado, ou 92,8 mil, estão fora da escola. O me-
lhor, o Distrito Federal, com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio Grande do
Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7 mil).

(Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)

Nesse tipo de citação o autor precisa de dados que demonstrem sua tese.

Argumentação por raciocínio lógico

A criação de relações de causa e efeito é um recurso utilizado para demonstrar que uma conclusão
(afirmada no texto) é necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal que pode ser contestada.
Veja:

“O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os co-
merciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as
formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes,
cadeia.”

Estudo Das Estratégias Argumentativas

Karina Chrysóstomo de Sousa Nascimento (UFRJ)

Este trabalho pretende analisar as estratégias argumentativas presentes na peça “ O Oráculo” de Ar-
thur de Azevedo.

Serão analisados os tipos de argumentos utilizados pelos personagens a fim de defender suas teses.

Os dados serão descritos de acordo com a tipologia dos argumentos de Chaïm Perelman (1982) e o
conceito de concessão de Charaudeau (1992).

I- TIPOLOGIA DOS ARGUMENTOS

A argumentação tem como objetivo tentar obter a adesão do auditório para uma tese determinada, ao
invés de argumentador impor suas vontades por coação ou alienação.

Quando se lida com teses apresentadas no discurso argumentativo, elas têm como objetivo:

· provocar a adesão intelectual do auditório;

·ocasionar uma ação imediata.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

A aceitação de uma tese depende da apreciação dos argumentos apresentados. O argumento é a


arma fundamental do jogo argumentativo.

No discurso argumentativo, a escolha do tipo de argumento a ser usado para sustentar determinada
tese desempenha papel importante na persuasão do auditório.

No seu livro Tratado da argumentação - a nova retórica, Chaïm Perelmanestabelece uma tipologia
dos argumentos.

Segundo Perelman (1982), os argumentos são apresentados em forma de associação ou dissocia-


ção. O processo de associação baseia-se no princípio da solidariedade. Seu objetivo é aproximar os
elementos estabelecendo entre eles uma relação de união. O processo de dissociação, ao contrário,
tem como princípio básico a ruptura, a separação de elementos dentro de um conjunto. Seu objetivo
é apresentar ao auditório os inconvenientes das relações estabelecidas indevidamente entre os ele-
mentos da argumentação. Através da dissociação de idéias preconcebidas, uma pessoa tenta supe-
rar as incompatibilidades e restabelecer uma visão coerente da realidade.

Este trabalho limitar-se-á a análise exclusiva do esquema argumentativo de associação.

Podem-se identificar três tipos de associação:

1. Argumentos quase-lógicos - seguem os padrões do raciocínio lógico, matemático e formal.


Nesse grupo estão incluídos os argumentos de réplica (ataca uma regra, tornando sua incompatibili-
dade evidente), de reciprocidade (equipara dois seres ou duas situações, mostrando que expressões
correlatas devem ser tratadas da mesma maneira), de transitividade (se A=B e B=C, logo A = C ), de
inclusão (subordinação da parte ao todo), de divisão (enumeração das partes que compõem o todo) e
de comparação.

2. Argumentos baseados na estrutura da realidade-dependem das relações objetivas entre os ele-


mentos da realidade. A realidade pode ser estruturada por associações de sucessão (argumentação
baseada em fenômenos do mesmo nível ex:causa e efeito, fato e consequência, meio e fim) ou por
associações de coexistência (argumentação baseada em elementos pertencentes a diferentes níveis
ex: argumento de autoridade) .

3. Argumentos que visam a fundar a estrutura da realidade-a partir da análise de um caso particu-
lar estabelece-se um modelo geral. Nesse grupo, encontram-se os argumentos por exemplo, ilustra-
ção e modelo.

A argumentação pode ser vista como um jogo, no qual os argumentos são peças fundamentais para
que a vitória seja alcançada.

II - ANÁLISE DO CORPUS

A peça “ O Oráculo “ de Arthur de Azevedo é uma comédia curta, em um ato, representada pela pri-
meira vez no Rio de Janeiro, no Teatro Recreio Dramático, pela Companhia Dias Braga, em 2 de abril
de 1907.

Narra a história de um advogado rico, Nélson, que, após manter durante três anosum romance com a
viúva Helena, pede conselhos ao comendador Frederico Pontes, “oráculo do amor “, para terminar
com tal relação amorosa.

A partir desse enredo, destacam-se, nacomédia, duas cenas nas quais os personagens apresentam
um discurso, eminentemente, argumentativo: cenas IV e VI.

Na cena IV, ao pedir conselhos ao comendador, Nélson, primeiro, exalta suas qualidades e seus fei-
tos :

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

“ Eu sei bem que o comendador é um dos brasileiros que mais têm viajado(...) Sei também que mui-
tos rapazes inexperientes recorreram aos seus conselhos (...) e que eles alcançaram tudo quanto
pretendiam. “ ( p.82).

Confere, dessa forma, a Frederico Pontes uma comenda em assuntos de amor. A autoridade é atribu-
ída a Frederico Pontes em virtude de sua competência e tradição.

Todo discurso de Frederico Pontes sobre o caso de Nélson baseia-se no uso da argumentação por
autoridade (argumentum ad vericundiam), através da qualo prestígio de uma pessoa ou grupo é utili-
zado para conquistar a aceitação de uma tese.

Assim, o comendador detém esse poder que lhe é conferido, através de sua comenda pelo poder vi-
gente e, também, pelo próprio Nélson, que se coloca, imediatamente, na posição inferior de discípulo.

Contudo, Frederico Pontes divide sua autoridade com Balzac :

“ (...) foi esse grande psicólogo, Balzac, quem fez de mim em questão de amor, não um oráculo, mas
um conselheiro modesto.”(p.82)

Desse modo, sedimenta seu poder, já que alcançou esse status através da leitura de um clássico, o
que demonstra cultura e tradição (elementos importantes para a sustentação de uma autoridade).

Após a apresentação do problema, o comendador começa a levantar suas hipóteses sobre o motivo
que levou Nélson a se desinteressar de Helena:

§ “Tem ciúmes dela ? “

§“ Ela possui alguma enfermidade ou defeito físico?”

§ “É feia ? “

§ “Tem mau gênio? “

§ “(...) é tola, vaidosa, presumida (...)? “

§ “É devota? Anda metida nas igrejas? “

§ “Abusa do piano ou é desafinada ?”

§ “(...) gosta de outra mulher ? “

Contudo, Nélson rejeita todas as hipóteses, apresentando, como argumentos de refutação, fatos que
descrevem a rotina de Helena. Seus argumentos são baseados em associações de coexistência,
através das quais as afirmações sobre uma pessoa são justificadas pela maneira como essa se com-
porta. São o caráter da pessoa e suas intenções que dão significado a seu comportamento. Tais ar-
gumentos levam-nos a concluir que Helena é a mulher perfeita, logo não merece tamanha ingratidão.

Frederico Pontes, finalmente, depois de várias especulações a respeito do assunto, escolhe sua tese:
“O meu amigo aborreceu-se dela, porque não lhe descobriu defeitos .” ( p.83 )

Novamente, Nélson refuta a tese do comendador, enumerando seus próprios argumentos:

Arg. 1 à “ O caso é que esta ligação já durou mais tempo do que devia.“(p. 83)

Arg.2 à “A viúva tem uma filhinha (...) é conveniente fazer com que mais tarde nãoobrigue a mãe a
corar “ ( p.83)

Os dois argumentos acima baseiam-se na relação de causa e efeito, através da qualsão relatadas as
causas de determinado fato.

Não sendo convencido por esses supostos argumentos apresentados por Nélson, Frederico Pontes
contesta-oscom uma frase de efeito, o que lhe confere mais poder : “ O amor não conhece escrúpulos

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

nem conveniências. “ (p.83). Observa-se em toda peça que a utilização de frases de efeito é uma ca-
racterística marcante desse personagem. Através desse recurso, o autor enfatiza o papel de“oráculo
do amor “ desempenhado pelo comendador.

Finalmente, Nélson apresenta seu verdadeiro argumento que, como os anteriores, se baseia na rela-
ção de causa e efeito: “ Esta ligação pode prejudicar seriamente o meu futuro. ” (p.83)

Consciente do argumento que motivou a decisão do advogado, Frederico Pontes sugere a aplicação
da seguinte estratégia: questionar a fidelidade de Helena, para que, ao se sentir culpada, a própria se
incrimine. Segundo o comendador, o sucesso de tal procedimento estaria garantido, já que “não há
mulher por mais virtuosa, por mais amante, que não tenha alguma coisa de que a acuse a consciên-
cia. ” (p.85) - argumento de transitividade que pode ser desenvolvido através do seguinte silogismo:

A = Toda mulher éinfiel

B= Helena é mulher

C = Logo, Helena é infiel

A estratégia apresentada pelo comendador a Nélson não é considerada ética, de acordo com a Teo-
ria da Argumentação, pois, através de supostos argumentos, levanta-se falso testemunho a respeito
da conduta moral de outra pessoa.

Assim, o comendador encerra sua conversa com Nélson, exerce seu papel de oráculo, ou seja ,
aquele que, por sua sabedoria, é designado aconselhar os mais jovens e retira-se de cena.

Helena, após ouvir toda conversa entre o comendador e seu amado, retira-se da casa e volta a pro-
curar Nélson na cena VI , fingindo não ter escutado nada.

Ao encontrá-lo, em casa, Helena, aparentemente nervosa, exige que lhe sejam dadas algumas expli-
cações sobre seu sumiço: “ (...) que quer isto dizer? “ (p.87). Antes de escutá-las, ela mesma formula
suas hipóteses, já apresentadas anteriormente pelo comendador ao aconselhar Nélson:

§ “ Disseram-te mal de mim? “

§ “ Já não me amas? “

§ “Amas outra? “

Nélson, orientado por seu oráculo, aproveita o momento e inicia seu discurso, na esperança de des-
pertar na viúva sentimento de culpa e inconformismo.

Contudo, o inesperado ocorre: Helena, ciente do plano, assume o papel de mulher infiel, invertendo o
jogo. Agora, ela detém o poder da situação, ela “dita as regras do jogo “, enquanto Nélson se torna,
apenas, uma peça que passa a ser facilmente manipulada. Ele é o verdadeiro culpado.

Em seu discurso, Helena utiliza uma estratégia semelhante a usada por Antônio, no Júlio César de
Shakespeare (ato III, cena II). Tanto Helena como Antônio invertem a orientação argumentativa da
estratégia concessiva.

A argumentação concessiva, segundo Charaudeau (1992), estabelece dois movimentos argumentati-


vos básicos:

a) Reconhecimento da verdade de X

b) Invalidação do valor de X , direcionando o raciocínio para uma conclusão inversa a X, no caso Y.

Exemplificando:

X = Pedro estudouàpassou de ano

(logo)

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

MAS

Y = não passou de ano à conclusão inversa a X

Conclui-se que em enunciados do tipo: X mas Y, o argumento principal é o segundo, Y, que direciona
o ouvinte para a conclusão desejada, tese.

No discurso de Antônio, no Júlio César, ele inverte essa estratégia concessiva, a fim de induzir os ou-
vintes a vingar a morte de César. O imperador tinha sido assassinado por Bruto, que havia conquis-
tado a multidão para sua causa. Dessa forma, a colocação do tipo “ Bruto é honrado, mas César é fiel
e justo “seria perigosa, apesar de concessiva, uma vez que a população enfurecida se voltaria contra
o orador. Foi preciso, portanto, inverter a ordem das proposições, colocando a verdadeira tese do
texto em X, para que seu objetivo fosse alcançado. Assim, ao longo do seu discurso, os argumentos
a favor de César são constantemente renovados:

§César era fiel e justo

§César trouxe vários cativos para Roma

§César chorava diante dos pobres

§César recusara por três vezes a coroa

Ao passo que, o argumento, aparentemente, anti-César - Y - é uma repetição da frase: “ Mas Bruto
disse que ele era ambicioso e Bruto é muito honrado.” Tal repetição faz com que argumentativa-
mente Y perca seu poder persuasivo.

No discurso de Helena, repete-se essa estratégia usada por Antônio. Com o objetivo de mascarar sua
real intenção, convencer Nélson de que ela é a mulher certa, Helena apresenta um arsenal de argu-
mentos que ratificam a proposta de que ela é uma mulher indigna.

No decorrer do seu discurso, percebe-se a defesa da tese :

Eu te amo, mas não sou digna de ti . “ (p.88)

Os argumentos apresentados pela própria Helena, que aparentemente são contra ela, despertamo
sentimento de culpa do advogado:

“(...) foi a tua frieza , o teu despreendimento, o pouco caso com que afinal começaste a tratar-me,
que me determinaram a dar o mau passo que dei , e que tantas lágrimas me vai custar. Tu nunca me
compreendeste...nunca estimaste o incomparável tesouro que havia aqui.” ( p. 88 )

Todos esses argumentos são usados como justificativa para a traição, o que, aparentemente, con-
firma a conclusão de que Helena é uma mulher indigna. Contudo, comotais argumentos são basea-
dos no sentimento de culpa de Nélson, Helena se redime de ser indigna ou culpada, existe, portanto,
um só culpado, Nélson. Helena é, apenas, uma vítima do seu descaso, logo, pode ser considerada
uma mulher digna que ama, verdadeiramente, o advogado.

Os argumentos a favor de Helena são fortes e incontestáveis, pois ela argumenta através de suas
ações:

“ (...) Por ti segreguei-me da sociedade, sacrifiquei o futuro de minha filha, enterrei a minha moci-
dade, porque imaginei que o teu amor compensasse tudo isso !“ (p. 88)

Esses argumentos são decisivos para acentuar a culpa de Nélson e, consequentemente, provar o
amor de Helena , elevando-a ao pedestal de mulher digna, já que seus atos são louváveis, portanto,
merecedora do amor do advogado.

Pode-se classificar esse tipo de argumentação como: uma argumentação concessiva “às avessas “,
uma vez que a fórmula original é invertida.

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ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVAS

Na frase: Eu te amo, mas não sou digna de ti

X = Eu te amoà sou digna de ti e mereço seu amoràtese de Helena

(logo)

Y =mas não sou digna de ti ànão mereço seu amor

(logo)

Dessa forma, Helena consegue inverter o jogo armado, conquistando, mais uma vez , o amor de Nél-
son que, finalmente, marca a data do casamento.

III- CONCLUSÃO

Analisando o corpus, percebe-se a importância da escolha do tipo de argumento para a defesa da


tese de cada personagem.

Pode-se observar, no texto, o uso de tipos variados de argumentos: argumento por autoridade, base-
ado em associação de coexistência, baseado na relação de causa e efeito, de transitividade e por evi-
dências.

Todos eles pertencem ao esquema argumentativo de ligação, que visa a estabelecer uma relação as-
sociativa entre os elementos da realidade. Por isso, os argumentos apresentados, na peça, são estru-
turados a partir da relação objetiva de Nélson e sua amante.

É importante destacar, na peça, a importância da utilização da argumentação concessiva “ às aves-


sas “ para a defesa da tese de Helena. Através desse recurso, Helena consegue iludir seu adversário,
no caso Nélson, convencendo-o a fazer o que ela quer. Esse tipo de estratégia possui grande efeito
argumentativo, pois ao esconder sua verdadeira intenção, o argumentador consegue manipular mais
facilmente seu adversário.

Ressalte-se que qualquer tipologia textual só pode ser feita em termos de dominância, já que dificil-
mente se apresentam textos puros. Nesta peça, combinam-se sequências argumentativas e narrati-
vas. Pode-se considerar que, aqui, temos a argumentação à serviço da narração.

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ANALISE LEXICA

Analise Léxica

A análise léxica também conhecida como scanner ou leitura é a primeira fase de um processo de
compilação e sua função é fazer a leitura do programa fonte, caractere a caractere, agrupar os carac-
teres em lexemas e produzir uma sequência de símbolos léxicos conhecidos como tokens.

A sequência de tokens é enviada para ser processada pela analise sintática que é a próxima fase do
processo de compilação.

O analisador léxico deve interagir com a tabela de símbolos inserindo informações de alguns tokens,
como por exemplo os identificadores. A nível de implementação a analise léxica normalmente é uma
sub-rotina da análise sintática formando um único passo, porem ocorre uma divisão conceitual para
simplificar a modularizarão do projeto de um compilador.

Visão Geral

A análise léxica pode ser dividida em duas etapas, a primeira chamada de escandimento que é uma
simples varredura removendo comentários e espaços em branco, e a segunda etapa, a analise léxica
propriamente dita onde o texto é quebrado em lexemas.

Podemos definir três termos relacionados a implementação de um analisador léxico:

Padrão: é a forma que os lexemas de uma cadeia de caracteres pode assumir. No caso de palavras
reservadas é a sequência de caracteres que formam a palavra reservada, no caso de identificadores
são os caracteres que formam os nomes das variáveis e funções.

Lexema: é uma sequência de caracteres reconhecidos por um padrão.

Token: é um par constituído de um nome é um valor de atributo esse ultimo opcional. O nome de um
token é um símbolo que representa a unidade léxica. Por exemplo: palavras reservadas; identificado-
res; números, etc.

A tabela abaixo mostra os exemplos de uso dos termos durante a análise léxica.

Veja uma série de exemplos relacionados a identificação dos termos.

Exemplo 1

printf("Total = %d\n", score)

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ANALISE LEXICA

onde:

printf e score são lexemas que casam com o padrão identificador.

Total = %d\n é um lexema que casa com o padrão literal.

() lexemas que auxiliam a identificação de uma função.

Exemplo 2

const PI = 3.1416

onde:

const casa com o padrão const que também é um lexema.

PI é um lexema que casa com o padrão identificador.

= é um lexema que casa com o padrão do token atribuição.

3.1416 é um lexema que casa com o padrão do token numero.

Para implementar um analisador léxico é necessário ter uma descrição dos lexemas, então, podemos
escrever o código que irá identificar a ocorrência de cada lexema e identificar cada cadeia de carac-
tere casando com o padrão.

Também podemos utilizar um gerador de análise léxica que gera automaticamente o algoritmo para
reconhecer os lexemas.

Expressões regulares são um mecanismo importante para especificar os padrões de lexemas.

Tokens

Os tokens são símbolos léxicos reconhecidos através de um padrão.

Os tokens podem ser divididos em dois grupos:

Tokens simples: são tokens que não têm valor associado pois a classe do token já a descreve. Exem-
plo: palavras reservadas, operadores, delimitadores: <if,>, <else>, <+,>.

Tokens com argumento: são tokens que têm valor associado e corresponde a elementos da lingua-
gem definidos pelo programador. Exemplo: identificadores, constantes numéricas - <id, 3>, <numero,
10>, <literal, Olá Mundo> .

Um token possui a seguinte estrutura:

<nome-token, valor-atributo>

Onde o nome do token corresponde a uma classificação do token, por exemplo: numero, identifica-
dor, const. E o valor do atributo corresponde a um valor qualquer que pode ser atribuído ao token, por
exemplo o valor de entrada na tabela de símbolos.

Exemplo de analise léxica

Suponha que tenhamos o seguinte trecho de código:

total = entrada * saida() + 2

O seguinte fluxo de tokens é gerado.

<id, 15> <=, > <id, 20> <*, > <id,30>, <(>, <)> <+, > <numero, 2>

Temos os seguintes tokens classificados:

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ANALISE LEXICA

<id, 15> : apontador 15 da tabela de símbolos e classe do token id.

<=, > operador de atribuição, sem necessidade de um valor para o atributo.

<id, 20> : apontador 20 da tabela de símbolos e classe do token id.

<*, > : operador de multiplicação, sem necessidade de um valor para o atributo.

<id,30> : apontador 30 da tabela de símbolos e classe do token id.

<+, > : operador de soma, sem necessidade de um valor para o atributo.

<(, >: Delimitador de função.

<), >: Delimitador de função.

<numero, 2> : token número, com valor para o atributo 2 indicado o valor do número (constante nu-
mérica).

A seguir são apresentados alguns exemplos do resultado da análise léxica de um arquivo fonte.

Exemplo 1

Código fonte

while indice < 10 do

indice:= total + indice;

Sequência de tokens

<while,> <id,7> <<,> <numero,10> <do,> <id,7> <:=,> <id,12> <+,> <id, 7> <;, >

Tabela de símbolos

Exemplo 2

Código fonte

position = initial + rate * 60

Sequência de tokens

<id, 1> <=, > <id, 2> <+, > <id, 3> <*, > <numero, 60>

Tabela de símbolos

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ANALISE LEXICA

Exemplo 3

Código fonte

a[index] = 4 + 2

Sequência de tokens

<id, 1> <[,> <id, 2> <],> <=,> <numero, 4> <+,> <numero, 2>

Tabela de símbolos

Exemplo 4

Suponha que tenhamos a seguinte linha de código:

position = initial + rate * 60

Mapeamento de tokens.

Sequência de tokens gerado.

<id, 1> <=> <id, 2> <+> <id, 3> <*> <numero, 4>

Passos para identificar uma sequência de tokens

A análise léxica divide o código fonte em tokens que posteriormente são classificados de acordo com
a classe no qual o token pertence. Toda classe tem uma descrição do que ela representa na lingua-
gem de programação.

Veja as etapas para construir um analisador léxico:

Reconhecer a substring relacionada ao token através de um padrão;

Partir as strings de entrada em lexemas separando-as do restante dos arquivo fonte; e

Identificar e classificar o token de cada lexema.

Suponha que tenhamos a seguinte linha de código escrita em linguagem Java:

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ANALISE LEXICA

A entrada para o analisador léxico é a seguinte:

x = 0\nwhile (x < 10) {\n\tx++;\n}

Observe a presença do \n e do \t que representam, respectivamente, o caractere Nova Linha e Tabu-


lação.

Com base nesse trecho de código nos podemos concluir que:

Possui 10 ocorrências de caracteres em branco - incluindo nova linha, tabulação e espaço em


branco;

Possui 1 ocorrência de palavras reservadas;

Possui 3 ocorrências de identificadores do identificador x;

Possui 2 ocorrências de números; e

Possui 7 ocorrências de outros caracteres - representados por =, (, ), {, }, ++ e ;.

O analisador léxico realiza tarefas relativamente simples que basicamente agrupam caracteres para
formar as palavras que compõem a linguagem de programação.

Erros léxicos

A análise léxica é muito prematura para identificar alguns erros de compilação, veja o exemplo
abaixo:

fi (a == “123”) ...

O analisador léxico não consegue identificar o erro da instrução listada acima, pois ele não consegue
identificar que em determinada posição deve ser declarado a palavra reservada if ao invés de fi. Essa
verificação somente é possível ser feita na análise sintática.

Porem é importante ressaltar que o compilador deve continuar o processo de compilação afim de en-
contrar o maior número de erros possível.

Uma situação comum de erro léxico é a presença de caracteres que não pertencem a nenhum pa-
drão conhecido da linguagem, como por exemplo o caractere ¢. Nesse caso o analisador léxico deve
sinalizar um erro informando a posição desse caractere.

Expressões Regulares

Expressões regulares ou regex são uma forma simples e flexível de identificar cadeias de caracteres
em palavras. Elas são escritas em uma linguagem formal que pode ser interpretada por um processa-
dor de expressão regular que examina o texto e identifica partes que casam com a especificação
dada, são muito utilizadas para validar entradas de dados, fazer buscas, e extrair informações de tex-
tos. As expressões regulares não validam dados, apenas verificam se um texto está em uma determi-
nado padrão. <As expressões regulares são formadas por metacarateres que definem padrões para
obter o casamento entre uma regex e um texto.

Metacaracteres

São caracteres que tem um significado especial na expressão regular.

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ANALISE LEXICA

Abaixo uma tabela dos principais metacarateres.

Quantificadores

São tipos de metacaracteres que definem um número permitido de repetições na expressão regular.

Casar

Tem o significado de combinar uma expressão regular com texto, é quando os metacaractres especi-
ficados na expressão regular correspondem aos caracteres dos textos.

Veja os exemplos:

A regex \d,\d casa com 9,1 já \d,\d não casa com 91.

A regex \d{5}-\d{3} é utilizada pra validar CEP. Essa regex casa com os padrões de texto 89900-
000 e 87711-000 mas não casa com os padrões 87711-00077 e 89900000. A regex é formada pelo
metacaractere \d e o quantificador {5}

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ANALISE LEXICA

A regex [A-Z]{3}\d{4} é utilizada para validar a placa de um automóvel e casa com o pa-
drão ACB1234 mas não casa com o padrão ACB12345.

As expressões regulares estão diretamente relacionadas a autômatos finitos não determinístico e são
uma alternativa amigável para criar notações de NFA.

As regex são utilizadas por editores de texto, linguagem de programação, programas utilitários, IDE
de desenvolvimento e compiladores e seu padrões são independentes de linguagem de programa-
ção.

As expressões regulares dão origem a algoritmos de autômatos finito determinísticos e autômatos fi-
nitos não determinísticos que são utilizados por analisadores léxicos para reconhecer os padrões de
cadeias de caracteres.

Geradores de Analisadores Léxicos

Os geradores de analisadores léxicos e automatizam o processo de criação do autômato finito e o


processo de reconhecimento de sentenças regulares a partir da especificação de expressões regula-
res. Essa ferramentas são comumente chamadas de lex. Atualmente há diversas implementações
de lex para diferentes linguagens de programação.

O diagrama abaixo é uma representação de um autômato finito e uma implementação do funciona-


mento desse autômato.

Embora no exemplo seja simples implementar um analisador léxico, essa tarefa podem ser muito tra-
balhosa, como essa complexidade é frequente na evolução de uma linguagem de programação surgi-
riam ferramentas que apoiam esse tipo de desenvolvimento.

Existem diversas implementações para gerar analisadores léxicos para diferentes linguagens de pro-
gramação.

A notação ara utilização dessas ferramentas é denominada linguagem lex.

O ponto de partida para a criar uma especificação usando a linguagem lex é criar uma especificação
de expressões regulares que descrevem os itens léxicos que são aceitos.

Este arquivo é composto por até três seções:

Declarações: Nessa seção se se encontram as declarações de variáveis que representam definições


regulares dos lexemas.

Regras de Tradução: Nessa seção são vinculada regras que correspondentes a ações em cada ex-
pressão regular valida na linguagem.

Procedimentos Auxiliares: Esta é a terceira e última seção do arquivo de especificação. Nela são co-
locadas as definições de procedimentos necessários para a realização das ações especificadas ou
auxiliares ao analisador léxico

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ANALISE LEXICA

As regras de tradução são expressas no seguinte formato

Padrão { Ação }

Onde: Padrão é uma expressão regular que pode ser reconhecida pelo analisador léxico Ação é um
fragmento de código que vai se invocado quando a expressão é reconhecida.

Os geradores de analisadores léxicos geram rotinas para fazer a análise léxica de uma linguagem de
programação a partir de um arquivo de especificações contendo basicamente expressões regulares
que descrevem os tokens. Essas rotinas representam algoritmos de autômatos finitos - DFA e NFA.

É possível fazer a identificação de cada token através do seu padrão, após esse processo é gerado
um arquivo fonte com a implementação do analisador léxico baseado em uma autômato finito que
transforma os padrões de entrada em um diagrama de estados de transição.

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DISCURSO

Texto Como Atividade De Linguagem: Interacionismo Socio Discursivo

Sem desconsiderar os ensinamentos de Jakobson (1960), Bronckart (1999) propõe que demos mais
atenção às questões contextuais que constituem o texto, a fim de que possa- mos sair da
superficialidade do dito e partir para o que está por trás dele.

Vamos considerar a linguagem ou o discurso como uma atividade de interação dos sujei- tos com o
mundo, daí o nome da teoria: interacionismo sociodiscursivo. O interacionismo sociodiscursivo (ISD)
é um posicionamento epistemológico, inscrito no movimento do in- teracionismo social, cujo objetivo
principal é estudar o papel da linguagem e suas relações com o pensamento. É na linguagem (oral ou
escrita) que se constrói a interpretação do agir. Podemos compreender a linguagem como um meio
de interação e de construção da interpretação do agir e que caracteriza um modo de agir.

Nessa perspectiva, é necessário ir além da identificação dos seis elementos da comuni- cação e dar
maior atenção ao que não está dito, mas que pode ser apreendido pelo que o discurso revela. É
necessário não apenas identificar o emissor ou o receptor, mas buscar entender os sujeitos sócio-
históricos que existem nesses elementos.

Em virtude disso, produtores e leitores de textos, diante de uma ação discursiva, devem questionar:

▶ Quem fala no texto? Essa voz que aqui é lançada representa que papel social? Quem é esse
sujeito social, histórico, psicológico? O que ele faz? O que se sabe a respeito dele?

▶ Fala para quem? Que expectativas esse público-alvo pode ter perante o que você já conhece dele?

▶ Fala o quê? Qual é a materialidade do texto que está sendo apresentado? O que o texto diz
literalmente?

▶ Por quê? Com que intenções explícitas ou subliminares? Que pistas verbais ou não ver- bais
evidenciam a intenção? A literalidade do texto é fiel à intenção do autor?

▶ Como fala? Com que recursos e estratégias? Que gênero textual foi utilizado? Está ade- quado à
intenção do sujeito emissor? Está comprometido com a linguagem conotativa ou denotativa? Usou
recursos literários, persuasivos ou outros?

▶ Que efeitos são possíveis de acontecer? Perante o que você conhece do seu interlocu- tor, o que
você acha que é previsível?

▶ Em que contexto (restrito e amplo) esse texto está inserido? O contexto restrito refere-

-se ao que circunda o próprio momento da produção do texto e o amplo refere-se às questões
políticas, sociais, históricas, jurídicas que interferem ou dizem respeito ao que se diz no texto. O
conhecimento de mundo do leitor é fundamental no aprofunda- mento dessa questão.

▶ Com que outros textos ele dialoga? As vozes que aparecem no texto remetem a outros textos? Que
outros textos você consegue reconhecer?

Essas análises, ora mais voltadas a quem produz, ora a quem recebe ou receberá o texto,
ultrapassam a mera identificação e tornam-se essenciais a quem pretende desenvolver sua
competência comunicativa.

Atenção À Comunicação Verbal Escrita

A finalidade de quem escreve é interagir com o leitor de modo a atingir sua intenção e atender às
expectativas de quem lê. Em um ambiente corporativo, a escrita tem um valor denotativo, muitas
vezes, documental. Em virtude disso, ela merece mais cuidado, e de- manda do autor algumas
atenções especiais, como a norma culta, a clareza da escrita, a coesão e a coerência do texto, a
adequação da linguagem e do gênero ao interlocutor e ao objetivo do texto, entre outros cuidados.

Para essa tarefa, algumas ações habituais associadas à organização costumam auxiliar muito.
Vejamos algumas delas:

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DISCURSO

▶ Ao anotar algum recado, tenha atenção e organização enquanto anota;

▶ evite papéis soltos: números de telefones anotados em qualquer papel em branco ou em beiradas
de cadernos são sinônimo de desorganização e atrapalham o andamento do trabalho;

▶ organização é hábito: tenha um caderno além da agenda com horários para que seja seu diário,
anote tudo que precise somente neste caderno, com data sempre atualiza- da, e terá um amigo fiel
que lhe ajudará a lembrar de situações que, muitas vezes, não

são registradas nas agendas ou no computador;

▶ anotações nas mãos, nem pensar! Não existe coisa mais deselegante, pois o seu inter- locutor sabe
que aquele lembrete irá apagar;

▶ ao redigir um recado, e-mail ou solicitação é preciso ter cuidado com as normas de es- crita.
Lembre-se de que a obrigação de se fazer entender é de quem inicia a interação!

Dominio, Gêneros E Portadores Discursivos

Domínios discursivos representam os discursos institucionais e são marcados por ele- mentos que se
reúnem para caracterizá-los, como os domínios jornalístico, religioso, li- terário etc. Esses domínios
são formados por um conjunto de textos que servem a de- terminados campos de atividades ou
campos comunicativos, que se realizam, segundo Marcuschi (2002), por meio de gêneros textuais.

Gênero textual [também designado gênero discursivo, gênero do (de) discurso] é uma for- ma
concretamente realizada e encontrada nos diversos textos. Isto se expressa em designa- ções
diversas, construindo em princípio listagens abertas, como: telefonema, sermão, carta comercial,
carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula, notícia jornalísti- ca, horóscopo, receita
culinária, bula de remédio, instruções de uso, outdoor, entre outros, que são produções histórica e
socialmente situadas e relativamente estáveis. Sua definição não é linguística, mas de natureza
sociocomunicativa (MARCUSCHI, 2002).

Portador textual (ou discursivo) é o suporte textual e tem a ver centralmente com a ideia de um
portador do texto, mas não no sentido de um meio de transporte ou suporte estático, mas sim como
um lugar no qual o texto se fixa, repercutindo sobre o gênero que suporta. O porta- dor, para
Marcuschi (2002), comporta três aspectos: é um lugar físico ou virtual, tem formato específico e serve
para fixar e mostrar o texto. Um jornal, por exemplo, é portador de notícia, entrevistas, reportagens;
um outdoor pode ser portador de anúncios, de declarações; e os li- vros podem ser portadores de
poemas, contos, crônicas e muitos outros gêneros textuais.

No domínio discursivo jornalístico encontram-se os gêneros jornalísticos portadores de ampla


circulação social. Eles têm como objetivo divulgar e comentar fatos e pontos de vista sobre produções
culturais e acontecimentos de interesse social, os quais são relata- dos, comentados ou provocados.
Nesse domínio, destacam-se vários gêneros:

▶ Notícias e reportagens se estruturam como relatos (narração de acontecimentos que responde às


perguntas: O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Por quê?).

▶ Artigos de opinião, editoriais e ensaios partem de fatos, mas não têm como objetivo fazer relato,
mas sim, comentar esses fatos, defendendo pontos de vista frente a eles.

▶ Cartas do leitor, assim como resenhas, também são textos do mundo comentado. O primeiro
comenta matérias publicadas pelo jornal ou revista, o segundo comenta dife- rentes produções
culturais: esporte, peças teatrais, discos, filmes, livros etc.

▶ Entre os gêneros provocados temos, por exemplo, entrevistas e debates, que são cria- dos pela
instituição jornalística.

Domínio discursivo publicitário é composto por textos que aparecem em portadores de ampla
circulação social: jornais, revistas, folhetos, cartazes, outdoors, tendo como obje- tivo persuadir o
leitor a consumir produtos, ideias e serviços. Eles são geralmente curtos, construídos como textos

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DISCURSO

verbais e não verbais (com imagens, diagramação especial, fo- tos), com uma silhueta estreitamente
dependente do portador e do objetivo. São exem- plos de gêneros discursivos publicitários: as
propagandas, os anúncios, os classificados, os panfletos, os folders, as cartas publicitárias etc.

Domínio discursivo instrucional aparece em portadoresdestinadosa circular dentro de um segmento


social específico, como cartazes, folhetos, livretos. Eles têm como objetivo tornar

o recebedor capaz de fazer alguma coisa. São construídos como uma sequência de informa- ções e
procedimentos que visam esclarecer como realizar determinada atividade para obter um resultado
prático. São exemplos desse domínio discursivo os manuais de instruções, receitas culinárias e
medicinais, regras de jogos, bulas, contas a pagar, formulários etc.

Domínio discursivo literário trata-se dos gêneros literários que aparecem, especialmen- te, em livros,
mas podem também ser veiculados por jornais e revistas; não se ligam a ne- nhum objetivo imediato
e pré-definido, mas buscam o prazer estético e funcionam, com frequência, como forma de
entretenimento e ampliação cultural. Possuem forma, estrutu- ra, linguagem e extensão altamente
diversificada, mas são sempre marcados como textos que não fazem referência objetiva ao “mundo
real”. Podem ter uma estrutura narrativa ou épica (contos, lendas, fábulas, apólogos, parábolas,
romances, epopeias), lírica ou dramá- tica (peças de teatro) ou conceitual. São exemplos de gêneros
discursivos literários: contos (de fadas, caipiras, urbanos, policiais), crônicas, lendas, fábulas,
apólogos, parábolas, no- velas, romances, epopeias, poemas, peças de teatro, filmes, histórias em
quadrinhos etc.

Domínio discursivo acadêmico/científico/pedagógico tem como portadores usuais os livros e as


revistas de divulgação científica, tendo como objetivo básico instruir, ensinar, produzir e divulgar
saberes, ou seja, levar o leitor a assimilar conhecimentos e valores instituídos. Têm estrutura
basicamente referencial e conceitual, apresentando sutis di- ferenças entre os três campos:
pedagógico (mais direcionado à rotina de sala de aula);

acadêmico (produções de menor rigor, solicitadas na academia pelos professores); e científico (que
se desenvolvem como um argumento completo, maior rigor e um princípio a partir de provas
universalmente válidas). Os verbetes de dicionários são construídos como definições e os das
enciclopédias como síntese explicativa dos conhecimentos bá- sicos relacionados ao assunto.

Domínio discursivo documental e jurídico engloba textos que aparecem em portadores socialmente
reconhecidos: tipos específicos de papéis timbrados e formulários, para terem validade devem ser
assinados por pessoas investidas de certo tipo de poder, que têm como instituir a realidade, isto é, o
que eles dizem passa a valer socialmente a partir do próprio ato de dizê-lo. Possuem estrutura,
espacialização e linguagem fortemente marcadas por regras rígidas e fórmulas estereotipadas. Sua
validade depende de fatores como data, assinatura, local de emissão e publicação. Embora ambos os
domínios tenham validade documental, é possível distinguir um do outro, já que aqueles de domínio
jurídico são textos que compõem as etapas de um processo judicial, sendo seus autores investidos
de representação jurídica. Os gêneros são: petição, sentença, lei, recurso, decisão judicial, parecer
etc.

Os gêneros com teor documental têm valor de verdade, de provas, mas os seus autores não
precisam estar vinculados ao poder judicial para emiti-los. São exemplos disso car- tas formais,
procurações, requerimentos, atas, ofícios, declarações, abaixo-assinados, requerimentos, contratos
etc. Atente-se que um requerimento, por exemplo, por ser do- cumental, pode servir a um processo
jurídico.

Domínio discursivo íntimo e pessoal tem como objetivo a expressão pessoal e a comunica- ção
interpessoal. Não há interesse em que tenham ampla circulação social e aparecem em portadores
específicos: cartões, cartas, telegramas, cadernos, cadernetas de anotações. Define, na própria
estrutura, um emissor e um recebedor específicos. São textos datados e, normalmente, presosa
acontecimentos circunstanciaisda vida dosenvolvidos. São exemplos: bilhetes, cartões, cartas,
telegramas, diários, fofocas, recados, mensagens eletrônicas etc.

Domínio discursivo religioso tem como objetivo a invocação de entidades sobrenaturais, a


disseminação de uma doutrina de fé, a catequização. Aparece em livros considerados sagrados, em
livros orientadores dos rituais e destinados ao ensino da doutrina. Os textos religiosos estruturam-se
em fórmulas fixas, como os mantras, ladainhas, que são consi- derados infalíveis e sagrados.

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DISCURSO

Frequentemente, eles têm um sentido obscuro, baseiam-se na repetição de sons, ritmos e fórmulas
institucionalmente estabelecidas. Podem assu- mir, como os sermões, um caráter persuasivo. São
exemplos: rezas, ladainhas, sermões, textos sagrados, orações etc.

Dicas De Língua Portuguesa: Relações Discursivas

Dentre os assuntos que fazem parte de provas de Língua Portuguesa de centenas de concursos
todos os anos está o seguinte: "relações lógico-discursivas (causalidade, temporalidade, conclusão,
comparação, finalidade, oposição, condição, explicação, adição, entre outras) estabelecidas entre
parágrafos, períodos ou orações".

Causalidade

A causalidade é aquela que representa o motivo, a causa, pela qual uma ação aconteceu. A principal
conjunção utilizada é o ‘porque’, entretanto, no próprio texto pode não haver uma conjunção e aí será
necessário compreender o sentido de causa e efeito por si só, conforme o contexto. Exemplo:
"Porque/como/visto que estava doente, fui na farmácia".

Consequência

A consequência é o efeito que é declarado na oração principal. Geralmente, utiliza-se apenas a


conjunção ‘que’ para exprimir essa relação, como em: "Estava com tanta sede que bebi muitos litros
de água".

Condição

As relações condicionais são aquelas que expressam uma imposição para que algo aconteça. É
necessário impor para que seja realizado ou não. A conjunção mais conhecida da condição é a
partícula ‘se’, que já indica a probabilidade. Exemplo: "Se todo mundo concordar, libero a festa".

Concessão

Para o concurseiro não esquecer jamais o que indica concessão, tenha em mente a palavra
contraste, porque é esse tipo de simbologia que essa relação lógica-discursiva oferece. É na
concessão que acontece contradição, por exemplo, nesta frase: "Eu irei, mesmo que ela não vá".

Comparação

Para essa relação, utiliza-se muito a conjunção ‘como’, para estabelecer uma comparação entre os
elementos e pelas ações que serão proferidas na oração principal. Olhe um exemplo: "Ele come
como um leão". Mesmo que haja uma metáfora inserida, a comparação ainda existe metaforicamente,
indicando o quanto a pessoa se alimenta bem, por exemplo.

Conformidade

A conformidade é aquela relação em que só poderá realizar um fato se seguir uma regra, uma norma,
conforme como se pede. Pode-se utilizar “Segundo”, “De acordo”, “Conforme”. Exemplo: "Conforme
foi dito, realizei a tarefa".

Temporalidade

É no tempo que conseguimos exprimir as noções de posterioridade e anterioridade, além de


simultaneidade. É o fato que pode expressar essa causa de tempo, que geralmente está
acompanhado pela expressão ‘quando’. Por exemplo: "Sempre que acontece isso, você fica assim"
(expressa a condição do tempo, do que aconteceu).

Finalidade

A finalidade é aquilo que você responde: qual o objetivo da ação? A onde você quer chegar? Através
da construção ‘a fim de que’, ‘para que’, você consegue exprimir essa relação lógica-discursiva, como
acontece no período a seguir: "Fui viajar, para que pudesse esquecer de você".

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INTERDISCURSIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE

Interdiscursividade

Consiste na relação entre dois discursos caracterizada por um citar o outro.

Toda relação interdiscursiva é também uma relação intertextual. Contudo, a intertextualidade é mais
ampla: quando um discurso cita o outro, não há apenas uma referência ao texto ou partes do texto,
mas também à situação de produção dele (quem fez, para que, em que momento histórico, com qual
finalidade etc.), à ideologia subjacente e aos significados que esse discurso foi assumindo historica-
mente.

Texto 1

Do que a terra mais garrida


Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores,”
(trecho do Hino Nacional Brasileiro)

Texto 2

Nossas flores são mais bonitas


nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
(Mendes, Murilo. Canção do exílio.)

Texto 3

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(Dias, Gonçalves. Canção do exílio.)

Os três textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos dois primeiros, o que
ocorre é que estes fazem alusão àquele. Os dois primeiros citam o texto de Gonçalves Dias. Houve
aqui não só a citação de um texto pelos outros, mas também a relação de sentido (temática), o que
caracteriza a interdiscursividade.

O primeiro texto, de Casimiro de Abreu, foi escrito no século XIX; o segundo texto, de Oswald de An-
drade, foi escrito no século XX. As semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles é
o mesmo e há versos inteiros que se repetem. Portanto, o segundo texto cita o primeiro, estabele-
cendo com ele uma relação intertextual.

Observa-se, porém, que o segundo texto tem uma visão diferente da apresentada pelo primeiro.
Nesse, tudo na infância parece ser perfeito, rodeado por “amor”, “sonhos” e “flores”. Já no segundo
texto, esses elementos são substituídos por um simples “quintal de terra”, um espaço concreto e co-
mum, sem idealização. Além disso, com o verso “sem nenhum laranjais”, Oswald de Andrade ironiza
Casimiro de Abreu, como que dizendo: na minha infância também havia bananeiras, mas não havia
os tais “laranjais” que o Casimiro cita em seu poema.

Observe que Oswald de Andrade, com seu poema, não apenas cita o poema de Casimiro de Abreu.
Ele também critica esse poema, pois considera irreal a visão que Casimiro tem da infância.

Na opinião de Oswald de Andrade, infância de verdade, no Brasil, se faz com crianças brincando em
quintal de terra, embaixo de bananeiras, e não com crianças sonhando embaixo de laranjais. Esse
tipo de intertextualidade e de interdiscursividade é chamada também de paródia.

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INTERDISCURSIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE

Paródia

É um tipo de relação intertextual em que um dos textos cita outros, geralmente com o objetivo de fa-
zer-lhe uma crítica ou inverter ou distorcer suas ideias.

A paródia também é caracterizada pelo aproveitamento da estrutura (modelo estético) do texto antigo,
assim como do aproveitamento do modelo sonoro (rima e ritmo), o que se observa com bastante pro-
priedade entre os poemas de Casimiro de Abreu e de Oswald de Andrade.

Citação

Com muita frequência, um texto retoma passagens de outro. Quando um texto de caráter científico
cita outros textos, isso é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-
se o autor e o livro donde se extrai a citação.

Já em textos literários, como os poemas citados anteriormente, a citação de outros textos é implícita,
ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois
pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras
que compõem um determinado universo cultural.

Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para
compreensão global de um texto. Por isso o leitor competente deve possuir, além do conhecimento
linguístico, primariamente necessário para a interpretação textual, o conhecimento de mundo, ou
seja, para dialogar com textos mais antigos, deve conhecê-los.

Intertextualidade Explícita E Implícita

A intertextualidade é um elemento muito importante para o processo de construção de sentidos do


texto, ocorrendo de maneira explícita ou implícita.

Afinal, O Que É Intertextualidade?

Antes de falarmos sobre os tipos de intertexto, é importante que façamos uma breve análise sobre o
conceito de intertextualidade. Podemos dizer, basicamente, que a intertextualidade nada mais é do
que a influência de um texto sobre outro. Todo texto, em maior ou menor grau, é um intertexto, pois é
normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que estamos escre-
vendo e outros textos previamente lidos por nós. A intertextualidade pode acontecer de maneira pro-
posital ou não, mas é certo que cada texto faz parte de uma corrente de produções verbais e, consci-
entemente ou não, retomamos, ou contestamos, os chamados textos-fonte, fundamentais na memó-
ria coletiva de uma sociedade. Posto isso, passemos à análise dos tipos de intertextualidade.

A intertextualidade pode ser construída de maneira explícita ou implícita. Na intertextualidade explí-


cita, ficam claras as fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira in-
tencional. Pode ser encontrada em textos do tipo resumo, resenhas, citações e traduções. Podemos
dizer que, por nos fornecer diversos elementos que nos remetem a um texto-fonte, a intertextualidade
explícita exige de nós mais compreensão do que dedução. Observe os exemplos:

Poema de sete faces Até o fim

Quando nasci, um anjo torto Quando nasci veio um anjo safado


desses que vivem na sombra O chato do querubim
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
As casas espiam os homens Já de saída a minha estrada entortou
que correm atrás de mulheres. Mas vou até o fim
A tarde talvez fosse azul, "inda" garoto deixei de ir à escola
não houvesse tantos desejos. Cassaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
O bonde passa cheio de pernas: Nem posso ouvir clarim
pernas brancas pretas amarelas. Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim

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INTERDISCURSIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu co- Eu bem que tenho ensaiado um progresso
ração. Virei cantor de festim
Porém meus olhos Mamãe contou que eu faço um bruto su-
não perguntam nada. cesso
Em quixeramobim
O homem atrás do bigode Não sei como o maracatu começou
é sério, simples e forte. Mas vou até o fim
Quase não conversa. Por conta de umas questões paralelas
Tem poucos, raros amigos Quebraram meu bandolim
o homem atrás dos óculos e do bigode. Não querem mais ouvir as minhas mazelas
E a minha voz chinfrim
Meu Deus, por que me abandonaste Criei barriga, a minha mula empacou
se sabias que eu não era Deus, Mas vou até o fim
se sabias que eu era fraco. Não tem cigarro acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Mundo mundo vasto mundo Minha mulher fugiu com o dono da venda
se eu me chamasse Raimundo O que será de mim ?
seria uma rima, não seria uma solução. Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu
Mundo mundo vasto mundo, vou
mais vasto é meu coração. Mas vou até o fim
Como já disse era um anjo safado
Eu não devia te dizer
O chato dum querubim
mas essa lua
Que decretou que eu estava predestinado
mas esse conhaque
A ser todo ruim
botam a gente comovido como o diabo.
Já de saída a minha estrada entortou
Carlos Drummond de Andrade Mas vou até o fim

Chico Buarque de Holanda

É possível observar, após a leitura dos dois textos, que o poema de Drummond serviu de texto-fonte
para a música de Chico Buarque, pois há uma referência explícita aos versos do poeta, sobretudo no
início da canção.

A intertextualidade implícita demanda de nós um pouco mais de atenção e análise. Como o próprio
nome diz, esse tipo de intertexto não se encontra na superfície textual, visto que não fornece para o
leitor elementos que possam ser imediatamente relacionados com algum outro tipo de texto-fonte.
Sendo assim, pedem de nós uma maior capacidade de realizar analogias e inferências, fazendo com
que o leitor reative conhecimentos preservados em sua memória para então compreender integral-
mente o texto lido. A intertextualidade implícita é muito comum em textos parodísticos, irônicos e em
apropriações. Observe o exemplo:

Hora Do Mergulho

feche a porta, esqueça o barulho


feche os olhos, tome ar: é hora do mergulho

eu sou moço, seu moço, e o poço não é tão fundo


super-homem não supera a superfície
nós mortais viemos do fundo
eu sou velho, meu velho, tão velho quanto o mundo

eu quero paz:
uma trégua do lilás-neon-Las Vegas
profundidade: 20.000 léguas
"se queres paz, te prepara para a guerra"
"se não queres nada, descansa em paz"
"luz" - pediu o poeta
(últimas palavras, lucidez completa)
depois: silêncio

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INTERDISCURSIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE

esqueça a luz... respire o fundo


eu sou um déspota esclarecido
nessa escura e profunda mediocracia.

Engenheiros do Hawaii

Na letra da canção há uma referência a um famoso provérbio latino: si uis pacem, para bellum, cuja
tradução é Se queres paz, te prepara para a guerra, exemplificando, assim, aquilo que chamamos de
intertextualidade implícita, pois não foi feita a citação do texto-fonte.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Efeito de Sentido Decorrente

relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido

Na tirinha, há traço de humor em


(A) "Que olhar é esse, Dalila?"
(B) "Olhar de tristeza, mágoa, desilusão..."
(C) "Olhar de apatia, tédio, solidão..."
(D) "Sorte! Pensei que fosse conjuntivite!"

Análise

Na tirinha que embasa esta questão, o sentido de humor aparece na última fala. Vale lembrar que o
cômico é decorrência de uma distorção. No primeiro balão, Romeu dá a impressão de querer saber o
que está oculto por trás do olhar de Dalila. Quando, em seguida, ela revela a tristeza que sente, ele
considera sorte, por não se tratar de conjuntivite. Ou seja, rimos porque o último quadrinho distorce o
aparente interesse de Romeu pelo olhar da Dalila.

Orientações
Trabalhe o gênero textual piada. Em geral, ela tem textos curtos, que apresentam diálogos e explo-
ram jogos de linguagem capazes de aprofundar a leitura e aguçar o espírito crítico e a percepção das
estratégias linguísticas para a produção de sentidos. Faça uma boa seleção, apresente a todos, peça
que leiam e expliquem o que nelas é engraçado.

Identificar o efeito de sentido decorrente da pontuação e outras notações (Descritor 17)

O Encontro (fragmentos)

Em redor, o vasto campo. Mergulhado em névoa branda, o verde era


pálido e opaco. Contra o céu, erguiam-se os negros penhascos tão retos
que pareciam recortados a faca. Espetado na ponta da pedra mais alta, o
sol espiava atrás de uma nuvem.
5 "Onde, meu Deus?! - perguntava a mim mesma - Onde vi esta mesma

paisagem, numa tarde assim igual?


Era a primeira vez que eu pisava naquele lugar. Nas minhas andanças
pelas redondezas, jamais fora além do vale. Mas nesse dia, sem nenhum
cansaço, transpus a colina e cheguei ao campo. Que calma! E que deso-lação. Tudo aquilo -
10 disso estava bem certa - era completamente inédito

pra mim. Mas por que então o quadro se identificava, em todas as minúcias,
a uma imagem semelhante lá nas profundezas da minha memória?
Voltei-me para o bosque que se estendia à minha direita. Esse bosque
eu também já conhecera com sua folhagem cor de brasa dentro de uma
15 névoa dourada. "Já vi tudo isto, já vi... Mas onde? E quando?"

Fui andando em direção aos penhascos. Atravessei o campo. E cheguei


20 à boca do abismo cavado entre as pedras. Um vapor denso subia como
um hálito daquela garganta de cujo fundo insondável vinha um remotíssimo

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

som de água corrente. Aquele som eu também conhecia. Fechei


os olhos. "Mas se nunca estive aqui! Sonhei, foi isso? Percorri em sonho

estes lugares e agora os encontro palpáveis, reais? Por uma dessas extraordinárias
coincidências teria eu antecipado aquele passeio enquanto
dormia?"
Sacudi a cabeça, não, a lembrança - tão antiga quanto viva - escapava
25 da inconsciência de um simples sonho.(...)

Na frase "Já vi tudo isso, já vi... Mas onde?" (l. 15), o uso das reticências sugere
(A) impaciência.
(B) impossibilidade.
(C) incerteza.
(D) irritação.

Análise

Os recursos de pontuação (travessão, aspas, reticências, interrogação, exclamação etc.) são expres-
sivos e ultrapassam os aspectos puramente gramaticais. No trecho do texto destacado no item, as
reticências sugerem incerteza. Vale lembrar que elas indicam um prolongamento do pensamento.
Algo fica no ar, subentendido, para ser descoberto pelo leitor. É preciso reconhecer o sentido do sinal
de pontuação e não a regra.

Orientação

A piada também pode funcionar muito bem como material para desenvolver a habilidade referente a
esse descritor. A pontuação, nesse caso, é fundamental tanto para a compreensão do texto como
para orientar a sua oralização. Durante a leitura, deve-se procurar a entonação adequada para produ-
zir o efeito de humor desejado e a entonação pode variar de acordo com a pontuação.

Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de determinada palavra ou expres-


são (Descritor 18)

As Amazônias

Esse tapete de florestas com rios azuis que os astronautas viram é a


Amazônia. Ela cobre mais da metade do território brasileiro. Quem viaja
pela região não cansa de admirar as belezas da maior floresta tropical do
mundo. No início era assim: água e céu.
5 É mata que não tem mais fim. Mata contínua, com árvores muito altas,

cortada pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São mais de mil rios
desaguando no Amazonas. É água que não acaba mais.

SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995

No texto, o uso da expressão "água que não acaba mais" (l. 7) revela
(A) admiração pelo tamanho do rio.
(B) ambição pela riqueza da região.
(C) medo da violência das águas.
(D) surpresa pela localização do rio.

Análise

Toda escolha de termos implica uma interpretação e é essencial reconhecer os diferentes sentidos
deles em função da intenção do autor. Nesta questão, em que se pede o significado de "água que
não acaba mais", deve-se compreender a linguagem figurada. A autora admira o tamanho do Amazo-
nas e usa uma expressão hiperbólica para enfatizar o volume de suas águas.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Orientações

A leitura de textos jornalísticos é uma atividade excelente para trabalhar a habilidade. Explique que
muitos veículos afirmam buscar a objetividade, a imparcialidade e a neutralidade na transmissão das
notícias, o que é impossível porque a linguagem é carregada de pontos de vista e crenças de quem
produz o texto. Peça que a turma rastreie nas reportagens informações que podem ser consideradas
exatas e outras pessoais.

Reconhecer o efeito de sentido decorrente dos recursos ortográficos e/ou morfossintáti-


cos (Descritor 19)

Magia das Árvores

— Eu já lhe disse que as árvores fazem frutos do nada e isso é a mais


pura magia. Pense agora como as árvores são grandes e fortes, velhas e
generosas e só pedem em troca um pouquinho de luz, água, ar e terra.
É tanto por tão pouco! Quase toda a magia da árvore vem da raiz. Sob
5 a terra, todas as árvores se unem. É como se estivessem de mãos dadas.

Você pode aprender muito sobre paciência estudando as raízes. Elas vão
penetrando no solo devagarinho, vencendo a resistência mesmo dos solos
mais duros. Aos poucos vão crescendo até acharem água. Não erram
nunca a direção. Pedi uma vez a um velho pinheiro que me explicasse
10 por que as raízes nunca se enganam quando procuram água e ele me

disse que as outras árvores que já acharam água ajudam as que ainda
estão procurando.
— E se a árvore estiver plantada sozinha num prado?
— As árvores se comunicam entre si, não importa a distância. Na verdade,
15 nenhuma árvore está sozinha. Ninguém está sozinho. Jamais. Lembre-se

disso.

Máqui. Magia das Árvores. São Paulo: FTD, 1992.

No trecho "Ninguém está sozinho. Jamais. Lembre-se disso" (l. 15-16), as frases curtas produzem o
efeito de
(A) continuidade.
(B) dúvida.
(C) ênfase.
(D) hesitação.

Análise

A tarefa aqui exige identificar mudanças de sentido decorrentes das variações


nos padrões gramaticais da língua. No trecho destacado, as frases curtas aumentam o número de
pausas, proporcionando um efeito de ênfase, fazendo com que o leitor tenha tempo para incorporar a
ideia de que não existe solidão, nem entre as árvores nem entre as pessoas. O recurso já veio expli-
citado na questão. O que falta é atribuir um sentido a ele.

Orientações

Uma boa estratégia é ler com a moçada textos literários. Nessas leituras, proponha a observação do
que o autor "diz" (o conteúdo do texto) e do "como ele diz" (a maneira como o texto está escrito e os
recursos da linguagem aplicados). É o uso especial das palavras pelo autor que torna o texto literário
artístico.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Noções sobre Pontuação: Vírgula

Em qualquer idioma, inclusive na língua portuguesa, a pontuação tem a capacidade de articular e li-
gar as frases umas às outras, fazendo com que tenham um determinado sentido. É praticamente im-
possível ler e compreender um texto que não esteja pontuado, pois não haverá relação entre as ora-
ções.

Colocar a pontuação – vírgula corretamente parece algo muito simples e realmente é, no entanto,
muita gente ainda se confunde e acaba cometendo erros graves ao utilizar a vírgula! Esse sinal grá-
fico serve para colocar uma pequena pausa para o leitor no decorrer do texto, enumerar sequências,
introduzir uma especificação e muitas outras funções importantes.

Como usar pontuação – vírgula?

Primeira regra: a vírgula deve aparecer sempre que houver uma noção de sequência. Ou seja,
quando você quiser colocar dois ou mais elementos juntos na oração, eles devem ser separados en-
tre si pela vírgula. Apenas antes do último elemento há uma alteração e ao invésda vírgula, usa-se o
aditivo “e”, como nos casos abaixo:

• Fui ao supermercado e comprei maçãs, uma melancia, um cacho de uvas e um abacaxi.


• Na escola eu tive aula de português, geografia, história, biologia e física.

A vírgula também deve ser usada para isolar o vocativo, aquele termo que se refere ao interlocutor:

• Ana, você vai para a academia hoje?


• Amiga, o que acha de irmos para aquela festa?

Sempre que a frase tiver um aposto, ou seja, uma breve explicação sobre o substantivo ou pronome
anteriormente citado, ele deverá aparecer entre vírgulas. Observe:

• Doutor João, que é médico oftalmologista, vai me atender amanhã.


• São Paulo, a maior cidade do Brasil, fará aniversário na próxima semana.

Quando houver datas, a vírgula deve separar o lugar:

• Curitiba, 14 de janeiro de 2015.


• Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1999.

A pontuação – vírgula também é imprescindível para isolar algumas conjunções, como o mas, porém,
no entanto, todavia, entretanto, contudo, pois, embora. A oração deve ficar da seguinte maneira:

• Eu ia para a praia, mas, choveu.


• Queria comer uma pizza, no entanto, estou fazendo dieta.

Sempre quando um verbo ficar oculto em uma oração, porque está subentendido no contexto, a vír-
gula também precisa ser colocada, por exemplo:

• Eu estudo Jornalismo. Ele, Direito. (ficou oculto o verbo “estuda” na segunda oração).
• Minha mãe comprou um par de sapatos. Eu, duas camisetas. (suprime-se o verbo “comprei” que es-
taria na segunda oração).

Quando você for usar a expressão “e sim” ou “e não”, também precisa usar a pontuação – vírgula,
mas só uma vez, antes da expressão referida. Veja na prática:

• Minha irmã foi para a Europa, e não para a Ásia.


• Não queria ir para o centro da cidade hoje, e sim amanhã.

Nos enunciados em que aparecem duas ou mais orações, sem que haja conjunções interligando-as
(orações assindéticas), essa será a função da vírgula. Entenda melhor abaixo:

• O professor saiu da faculdade naquele dia, viajou, pesquisou muito sobre o assunto e depois docu-
mentou.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

• O rapaz olhou a moça fixamente, imaginou sua vida, viajou nos pensamentos por alguns segundos
e voltou a si.

Sempre que você começar uma frase indicando tempo, lugar ou modo, a palavra que indique isso de-
verá estar isolada pela pontuação – vírgula:

• Amanhã, nossas aulas vão começar.


• No litoral, faz muito calor.
• Calmamente, a menina se levantou e saiu.

Algumas expressões que indicam exemplo, explicação ou conformação também precisam ser isola-
das por esse sinal gráfico. É o caso de “isto é”, “ou seja”, “com efeito”, “aliás”, “ou melhor”, “logo” e
outras. Veja como fica:

• Meu irmão foi aprovado, logo, conseguiu se formar.


• Penso que essa seja uma boa ideia, ou melhor, é uma ideia excelente!

Por fim, no último caso regular de uso da vírgula, ela deve ser colocada antes do “e” dentro de sujei-
tos formados por núcleos diferentes:

• A paz, e o amor, e a tranquilidade são tudo o que podemos ter.

Todos esses casos citados acima demonstram o uso obrigatório da vírgula, para que esse sinal grá-
fico possa colocar um “respiro” nos lugares corretos do enunciado, sem que haja alteração do sentido
que se pretende dar às orações.

Embora a teoria principal seja essa, a única forma de efetivamente aprender a usar a vírgula e todos
os outros sinais de pontuação é por meio da prática. Escrever constantemente, prestando atenção
em todos os sinais gráficos e analisando se eles estão sendo usados nos lugares certos.

Vale colocar todas essas normas sobre a pontuação – vírgula em um cartaz e pendurar no seu local
de estudos, para que possa consultar sempre que tiver alguma dúvida e, ao mesmo tempo, ir assimi-
lando as regras aos poucos, até que todas elas se tornem naturais e se incorporem definitivamente
ao seu processo de escrita.

Emprego dos sinais de pontuação

Vírgula

Emprega-se a vírgula (uma breve pausa):

a) para separar os elementos mencionados numa relação:

Exemplos:

 A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias.

 O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

Observação

Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula deve ser
empregada.

Exemplo:

 Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as
unhas.

b) para isolar o vocativo:

Exemplos:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

 Cristina, desligue já esse telefone!

 Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.

c) para isolar o aposto:

Exemplos:

 Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador.

 Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou me-
lhor,aliás, além disso etc.):

Exemplos:

 Gastamos R$ 20.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado du-
rante anos.

 Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

e) para isolar o adjunto adverbial antecipado:

Exemplos:

 Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas.

 Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos:

Exemplos:

 O palácio, o palácio está destruído.

 Estão todos cansados, cansados de dar dó!

g) para isolar, nas datas, o nome do lugar:

Exemplos:

 São Paulo, 22 de maio de 1995.

 Roma, 13 de dezembro de 2005.

h) para isolar os adjuntos adverbiais:

Exemplos:

 A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.

 Os candidatos serão atendidos, das sete às onze horas, pelo próprio gerente.

i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:

Exemplos:

 Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.

 Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.

 Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

j) para indicar a elipse de um elemento da oração:

Exemplos:

 Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.

 Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

k) para separar o paralelismo de provérbios:

Exemplos:

 Ladrão de tostão, ladrão de milhão.

 Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial):

Exemplos:

 Com muito amor,

 Respeitosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas:

Exemplos:

 Marina, que é uma pessoa maravilhosa, levou todas as crianças para passear.

 Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

n) para isolar orações intercaladas:

Exemplos:

 Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.

 O filme, disse ele, é fantástico.

Ponto

1. Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de uma frase declarativa de um


período simples ou composto. Nesse caso, ele recebe o nome de ponto-final.

Exemplo:

 Desejo-lhe uma feliz viagem.

 A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conser-
vado com primor.

2. O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas.

Exemplos:

 fev. = fevereiro, hab. = habitante, rod. = rodovia.

Ponto e vírgula

Utiliza-se o ponto e vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma
pausa intermediária entre o ponto-final e a vírgula. Geralmente, emprega-se o ponto e vírgula para:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

a) separar orações coordenadas que tenham certo sentido ou aquelas que já apresentam sepa-
ração por vírgula:

Exemplo:

 Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se
uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:

Exemplo:

 Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

 I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

 II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

 III – pluralismo de ideias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de

 ensino;

 IV – gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;

 (Constituição da República Federativa do Brasil)

Dois-pontos

Os dois-pontos são empregados para:

a) uma enumeração:

Exemplo:

 Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado
de um ímpeto irresistível. (Machado de Assis)

b) uma citação:

Exemplo:

 Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:


– Afinal, o que houve?

c) um esclarecimento:

Exemplo:

 Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para
magoar Lucila.

Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de observações, notas ou exemplos.

Exemplos:

 Observação: na linguagem coloquial pode-se aplicar o grau diminutivo a alguns advérbios: cedinho,
longinho, melhorzinho, pouquinho etc.

 Nota: a preposição per, considerada arcaica, somente é usada na expressão de per si (= cada um
por sua vez, isoladamente).

 Parônimos são vocábulos diferentes na significação e parecidos na forma. Exemplo: descrimi-


nar/discriminar.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

OBSERVAÇÃO

A invocação em correspondência (social ou comercial) pode ser seguida de dois-pontos ou de vír-


gula:

Exemplos:

 Querida amiga:

 Prezados senhores,

Ponto de interrogação

O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta.

Exemplos:

 – O senhor não precisa de mim?

 – Não, obrigado. A que horas janta-se?

Ponto de exclamação

1. O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entona-
ção exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro,indignação etc.

Exemplos:

 – Viva o meu príncipe!

 – Que bom que você veio!

2. O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas:

Exemplos:

 Oh!

As vírgulas e a Mudança de Sentido

No artigo da semana passada (Clique aqui para acessar o artigo), eu procurei esclarecer alguns ca-
sos de emprego da vírgula, os mais básicos talvez, sem entrar muito no terreno, ‘tenebroso’ para mui-
tas pessoas, da análise sintática.

Desta vez vou discorrer sobre algumas situações em que o tal sinal pode alterar completamente a
mensagem e, se o emissor se distrair, pode acabar dizendo algo distinto daquilo que tinha em mente.

Nas redes sociais têm circulado algumas imagens que brincam exatamente com esse problema. Ob-
servem uma delas:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Para a gramática normativa (aquela a que devemos obedecer nas redações, provas e concursos), a
frase ‘Vou ali comer gente’ não apresenta desvio. Temos um sujeito oculto (eu), uma locução verbal
(vou comer) funcionando como transitiva direta, um objeto direto (gente) e um adjunto adverbial de
lugar (ali). A questão é que nossa sociedade não admite a antropofagia, portanto ‘comer gente’ vai
ser moralmente e criminalmente condenável e para ser aceita pela sociedade a frase deveria estar
pontuada: “Vou ali comer, gente.”

Brincadeiras à parte, alguns exercícios gramaticais apresentam frases parecidas, cuja diferença con-
siste graficamente na pontuação e solicitam que se aponte a diferença semântica (de sentido) e sintá-
tica (de função dos termos) entre elas, como estas:

I. Pedro, o gerente do banco ligou.


II. Pedro, o gerente do banco, ligou.

Ambas estão corretas, porém na frase I, Pedro funciona como vocativo, termo que chama a atenção
de um receptor para então passar a mensagem de que o gerente do banco havia ligado. Já na frase
II, Pedro funciona como sujeito, foi ele quem fez a ligação e o gerente do banco, termo isolado por
duas vírgulas, funciona como aposto, explicando quem é o Pedro.

Observe este outro caso de mudança de sentido, apenas alterando o emprego das vírgulas:

A) Os funcionários que fizeram greve foram demitidos.


B) Os funcionários, que fizeram greve, foram demitidos.

As palavras são exatamente as mesmas, mas temos dois enunciados completamente diferentes. Na
frase A, afirma-se que, de todos os funcionários, apenas os que fizeram greve foram demitidos, ou
seja, de um conjunto, apenas um subconjunto foi demitido.

Do ponto de vista sintático, a oração “que fizeram greve” é uma oração subordinada adjetiva restri-
tiva (restringe uma parte do total).

Na frase B, a informação é outra: todos os funcionários fizeram greve e todos foram demitidos. A ora-
ção “que fizeram greve” aparece agora entre vírgulas e, como vimos no artigo anterior, isso ocorre
quando essa informação é acessória, está ‘a mais’ e pode ser tirada, sem prejuízo da informação
principal. Do ponto de vista sintático é uma oração subordinada adjetiva explicativa.

Ah, cuidado com os ‘achismos’!

Às vezes eu escuto alguns alunos falando: “Mas parece que a oração que explica é a que está sem
vírgula…” Neste caso, como diria aquele árbitro-comentarista de futebol, a regra é clara: sem vírgu-
las, a oração é restritiva e a interpretação é ‘não são todos, apenas estes’; com vírgulas, a oração
é explicativa e a informação vale para todos.

E essa informação é relevante tanto para a leitura e interpretação de textos quanto para a resolução
de questões gramaticais. Observe esta questão da 2ª fase da Fuvest de alguns anos:

(FUVEST) Os meninos de rua que procuram trabalho são repelidos pela população.

a) Reescreva a frase, alterando-lhe o sentido apenas com o emprego de vírgulas.

b) Explique a alteração de sentido ocorrida.

Resolução:

a) Os meninos de rua, que procuram trabalho, são repelidos pela população.

b) A ausência de vírgulas frase original serve para instaurar o pressuposto de que nem todos os me-
ninos de rua procuram trabalho e aquele grupo que procura é repelido pela população. A oração que
procuram trabalho classifica-se como subordinada adjetiva restritiva.

A presença de vírgulas na frase reescrita no item a estabelece o pressuposto de que todos os meni-
nos de rua procuram trabalho e todos eles são repelidos pela população. A oração entre vírgulas
classifica-se como subordinada adjetiva explicativa.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

SINAIS DE PONTUAÇÃO

Os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita. Embora não consigam
reproduzir toda a riqueza melódica da linguagem oral, eles estruturam os textos e procuram estabele-
cer as pausas e as entonações da fala. Basicamente, têm como finalidade:

1) Assinalar as pausas e as inflexões de voz (entoação) na leitura;

2) Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;

3) Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

“Segundo a ótima definição de Júlio Ribeiro, pontuação é a ‘arte de dividir, por meio de sinais gráfi-
cos, as partes do discurso que não têm entre si ligação íntima, e de mostrar do modo mais claro as
relações que existem entre essas partes’ ” (Napoleão Mendes de Almeida, Gramática Metódica da
Língua Portuguesa, p. 570).

“Com Nina Catach, entendemos pontuação um sistema de reforço da escrita, constituído de sinais
sintáticos, destinados a organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas
orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da sintaxe, gramaticais, entona-
cionais e semânticas” (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, p. 604).

“A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos da língua falada. Para su-
prir esta carência, ou melhor, para reconstituir aproximadamente o movimento vivo da elocução oral,
serve-se da PONTUAÇÃO” (Celso Cunha & Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contempo-
râneo, p. 625).

Levando em consideração as definições acima, podemos dizer que os sinais de pontuação têm por
finalidade assinalar as pausas e as entonações na leitura, separar palavras, expressões e orações
que precisam ser destacadas – e para fazer esclarecimentos a respeito de algo que se escreveu.

Na nossa linguagem diária usamos a entoação mas, na maioria das vezes, nem percebemos. Ela é
capaz de mudar o significado do que dizemos. Observe:

Também, ao tentarmos reproduzir no papel a entoação que usamos ao falar, encontramos dificul-
dade, pois a pontuação não consegue cumprir bem essa finalidade. Então, na tentativa de reproduzir
um pouco do movimento vivo de nossa fala, usamos a pontuação.

Principais usos dos sinais de pontuação:

PONTO FINAL ( . )

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

É utilizado na finalização de frases declarativas ou imperativas:

Lembrei-me de um caso antigo.

Vamos animar a festa.

O ponto final também é utilizado em abreviaturas:

Sr. (senhor), Sra. (senhora), Srta. (senhorita), pág. (página).

PONTO DE INTERROGAÇÃO (?)

É utilizado no fim de uma palavra, oração ou frase,

indicando uma pergunta direta.


Quem é você? Por que ninguém ligou? Que dia é hoje?

Não deve ser usado nas perguntas indiretas.

Perguntei a você quem estava no quarto.

PONTO DE EXCLAMAÇÃO (!)

É usado no final de frases exclamativas, depois de interjeições ou locuções.

Marca o enunciado de entoação exclamativa.

Ah! Isso é demais! Mas que doce gostoso!

DOIS PONTOS ( : )

Os dois pontos são empregados nos seguintes casos:

- para iniciar uma enumeração.

O computador tem a seguinte configuração: memória RAM 256 MB;

HD 40 GB; fax-modem; placa de rede e som.

Precisamos comprar: leite, carne, ovos, pão e açúcar.

- antes de uma citação.

Já diz o ditado: tal pai, tal filho.

Como já diz a música: o poeta não morreu.

- para iniciar a fala de uma pessoa, personagem.

O repórter disse:

- Nossa reportagem volta à cena do crime.

- para indicar esclarecimento, um resultado ou resumo do que já foi dito.

Nota de esclarecimento:

Nossa empresa não envia e-mail a seus clientes.

Quaisquer informações devem ser tratadas em nosso escritório.

O Ministério de Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

RETICÊNCIAS (…)

Para indicar suspensão ou interrupção de pensamento. Para indicar hesitação. Para indicar ironia,
malícia ou qualquer outro sentimento que o autor não quer explicitar (Exemplo: Aqui jaz meu amigo.
Ele repousa e eu também…). Para dar tempo ao leitor para que ele reflita sobre o que foi escrito na
mensagem.

No caso a seguir, marca uma enumeração exaustiva, entremeada de pausas.


Ironiza-se o excesso de procedimentos de segurança adotados nos
Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996.

- para indicar suspensão ou interrupção do pensamento.

Estava digitando quando...

Guiava tranquilamente quando passei pela cidade e...

- para indicar hesitações comuns na língua falada.

Não vou ficar aqui por que... por que... não quero problemas.

- para indicar movimento ou continuação de um fato.

E a bola foi entrando...

- para indicar dúvida ou surpresa na fala da pessoa.

Rodrigo! Você... passou no vestibular!

Antônio... você vai viajar?

ASPAS (” “)

No início e no fim de uma citação ou de um trecho/texto transcrito de uma obra. Para indicar o uso
proposital de um vício de linguagem. Nos nomes de obras. Em legendas. Para dar ênfase ou desta-
car uma palavra, expressão ou frase. Se as aspas abrangem todo um trecho, elas devem ser coloca-
das depois do ponto final desse trecho.

- na indicação de nomes de livros.

Já li “O Ateneu” de Raul Pompéia.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

“Os Lusíadas” de Camões tem grande importância literária.

Na bandeira está escrito: “Ordem e Progresso”.

- nas citações ou transcrições de obras.

“Tudo começou com um telefonema da empresa, convidando-me para trabalhar lá na sede. Já havia
mandado um currículo antes, mas eles nunca entraram em contato comigo. Quando as seleções re-
começaram mandei um currículo novamente”, revelou Cleber.

- para destacar palavras que representem estrangeirismo, vulgarismo, ironia.

Que “belo” exemplo você deu.

Vamos assistir a “show” de mágica.

PARÊNTESES OU PARÊNTESIS ( )

São usados nos seguintes casos:

- na separação de qualquer indicação de ordem explicativa, para intercalar

uma informação acessória.

Predicado verbo-nominal é aquele que tem dois núcleos: o verbo (núcleo verbal) e o predicativo (nú-
cleo nominal).

- na separação de um comentário ou reflexão.

Os escândalos estão se proliferando (a imagem política do Brasil está manchada) por todo o país.

- para separar indicações bibliográficas.

(Mario Quintana, A Rua dos Cata-Ventos, Porto Alegre, 1972).

VÍRGULA ( , )

A vírgula é usada nos seguintes casos:

- para separar o nome de localidades das datas.

Recife, 28 de junho de 2005.

- para separar vocativo.

Meu filho, venha tomar seus remédios.

- para separar aposto.

Brasil, país do futebol, é um grande centro de formação de jogadores.

- para separar expressões explicativas ou retificativas, tais como:

isto é, aliás, além, por exemplo, além disso, então...

O nosso sistema precisa de proteção, isto é, de um bom antivírus.

Além disso, precisamos de um bom firewall.

Porém, os estudos foram encerrados.

Os estudos, porém, foram encerrados.

“O amor, por exemplo, é um sacerdócio.” (Machado de Assis)

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Escapamos, isto é, fugimos.

- para separar orações coordenadas assindéticas (não introduzidas por conjunção).

Não se perca de mim, nem desapareça.

Cobram muitos impostos, no entanto poucas obras são feitas.

- para separar orações coordenadas sindéticas (introduzidas por conjunção e classificadas


conforme as conjunções que as introduzem), desde que não sejam iniciadas por e, ou nem.

Ela ganhou um carro, mas não sabe dirigir.

Eu não quero ir ao cinema nem jogar futebol.

Preciso falar com você e combinar nosso passeio.

- para separar orações adjetivas explicativas.

A Amazônia, pulmão mundial, está sendo devastada.

- para separar o adjunto adverbial.

Com a pá, retirou a sujeira.

Observações:

- para evitar frases confusas e mesmo equívocas.

“A grita se levanta ao céu, da gente.” (Camões)

“É fácil dar bons conselhos; segui-los sempre, custa mais.” (J. Nogueira).

- para indicar a elipse do verbo.

“O colégio compareceu fardado; a diretoria, de casaca.” (R. Pompeia)

- para, nas datas, separar os topônimos.

Ex: São Paulo, 15 de maio de 2008.

Rua Boa Morte, 1.242

Caixa Postal 14 (correto)

Caixa Postal, 14 (errado)

Apartamento 80

Casa 26

PONTO E VÍRGULA ( ; )

Indica uma pausa mais longa que a vírgula, porém mais breve que o ponto final.

Emprega-se o ponto e vírgula nos seguintes casos:

- para separar os itens de uma enumeração (relação) feita até o penúltimo item; para separar
os considerandos de uma lei ou de um decreto; num trecho em que ocorreram muitas vírgulas.

As vozes do verbo são:

1. voz ativa;

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

2. voz passiva;

3. voz reflexiva.

- para aumentar a pausa antes das conjunções adversativas – mas, porém, contudo, todavia –
e substituir a vírgula.

Deveria entregar o documento hoje; porém, só o entregarei amanhã à noite.

A vírgula altera o sentido da frase?

O emprego da vírgula está condicionado a razões de ordem sintática. Dessa forma, a presença ou
não desse sinal de pontuação, além de ser fundamental para determinar a função sintática dos ter-
mos na oração, é imprescindível no sentido da frase. Observe:

O advogado do cantor, Sérgio Silva, requereu no Supremo Tribunal de Justiça a anulação da prisão
temporária de seu cliente.

O advogado do cantor Sérgio Silva requereu ontem no Supremo Tribunal de Justiça a anulação da
prisão temporária de seu cliente.

No primeiro exemplo, a presença das vírgulas indica que o nome do advogado do cantor é Sérgio
Silva e o nome do cantor é desconhecido por nós. Porém, no segundo exemplo, a ausência das vír-
gulas indica que Sérgio Silva é o nome do cantor. Neste caso, o nome do advogado é desconhecido
por nós.

Veja mais um exemplo:

João quer almoçar.

João, quer almoçar?

As duas orações são compostas das mesmas palavras, mas a pontuação diferente altera-lhes subs-
tancialmente o sentido.

Na primeira, há uma frase declarativa, marcada pelo ponto final. O termo "João" é o sujeito da oração.
Na segunda, há uma frase interrogativa. A vírgula, após o termo "João", indica que ele funciona como
vocativo da oração.

Qual o sentido você observa nas duas frases abaixo?

Os candidatos, que não levarem a identidade, não poderão fazer a prova.

Os candidatos que não levarem a identidade não poderão fazer a prova.

A Vírgula Fatal

A czarina russa Maria Fyodorovna certa vez salvou a vida de um homem, apenas mudando a vírgula
de sua sentença de lugar. Muito inteligente, ela que não concordava com a decisão de seu marido,
Alexandre II, usou o artificio a seguir. O Czar enviou o prisioneiro para a prisão e morte no calabouço
da Sibéria. No fim da ordem de prisão vinha escrito: “Perdão impossível, enviar para Sibéria.” Maria
ordenou que redigissem nova ordem, e fingindo ler o documento original, mudou uma vírgula, trans-
formando a ordem em: “Perdão, impossível enviar para Sibéria.” E o prisioneiro foi libertado.

A Vírgula De Um Milhão De Dólares

Pode parecer incrível, mas uma única vírgula causou uma confusão e prejuízo terrível para o governo
dos EUA. A história é a seguinte: Na lei de tarifa alfandegária aprovada pelo congresso em 6 de junho
de 1872, uma lista de artigos livres de impostos incluía: “plantas frutíferas, tropicais e semi-tropi-
cais”. Na hora de escrever o documento, um funcionário público distraído acrescentou sem perceber
uma nova vírgula, deixando o texto assim: “plantas, frutíferas, tropicais e semi-tropicais". Isso fez com

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

que todos os importadores de plantas americanos pleiteassem o direito de importação livre de impos-
tos. Isso causou uma fortuna em impostos aos cofres dos EUA, e a lei só foi reescrita em 9 de maio
de 1894. O desastrado funcionário público, ao que parece, não foi demitido.

A Vírgula Da Dieta Dos Pandas

O fascínio popular com erros de gramática valeu a Lynne Truss vários milhões de libras, quando seu
livro sobre pontuação, “Eats, Shoots and Leaves” – Uma frase encontrada num comentário sobre a
dieta dos pandas – chegou ao topo da lista de best sellers no Reino Unido e nos Estados Unidos nos
anos de 2003 a 2004 "Eats, Shoots and Leaves” com a virgula, significa “Come, Atira e Vai Embora”.
No documentário sobre Pandas, eles provavelmente queriam dizer sem a vírgula “Eats Shoots and
Leaves".O que significaria “Come Brotos e Folhas”.

A Vírgula Da Blasfêmia

A vírgula já causou embaraço também para os religiosos. Em várias edições da Bíblia do rei James,
Lucas 23:32 é alterado inteiramente pela maldita vírgula. Não por ela, mas sim pela falta dela. Na
passagem que descreve os outros homens crucificado com Cristo, as edições erradas dizem: “E ha-
via mais dois outros malfeitores”. A falta da vírgula colocou Cristo como malfeitor na própria Bíblia. O
correto seria “E havia mais dois outros, malfeitores".

Duplo sentido

Duplo sentido das frases é muito comum em escritas rápidas, como linguagem de Internet, por exem-
plo, que frases enormes são formadas em sites de relacionamentos sem nenhuma ou qualquer pon-
tuação. Se lida por 4 pessoas, certamente teremos mais de 8 interpretações diferentes de um mesmo
texto.

Um simples erro de colocação de virgula matou Lucas um homem inocente. A vírgula, se mal colo-
cada, muda totalmente o sentido das frases, ela é um simples detalhe que determina as pausas entre
as frases para sua compreensão, que deve ser utilizada como uma ferramenta da língua com cautela,
afinal por menor que seja é um recurso enorme e é capaz de matar alguém!

Num reino muito antigo, há muitos anos atrás Lucas, um homem inocente morre! Lucas teria sido
condenado à forcapor suposta tentativa de homicídio, de uma moça da nobreza. Minutos antes do en-
forcamento de Lucas o rei Robert recebe um pergaminho de Amélia uma espécie de delegada da
época, com os seguintes dizeres: "Homem bom não, mate-o!" Robert então deu o avaro para o enfor-
camento de Lucas, com a certeza de que era culpado, com os dizeres escritos por Amélia.

Amélia quis salvar Lucas, mas um erro de colocação da vírgula acabou por enforcar um homem ino-
cente.O correto seria:"Homem bom, não mate-o!"

Verdadeiro sentido :

Lucas morreu enforcado!

. *.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.

Os homem são com este pergaminho com uma vírgula no lugar errado, são capazes de se expressar-
se de diversas formas para expor seus sentimentos, assim pode forçar as pessoas a se questionarem
sobre estas expressões. O homem sabe utilizar as ferramentas figuras de linguagem para seu próprio
benefício, verbalmente; entretanto, muitas vezes, não é capaz de expor suas expressões manuscri-
tas, pois não consegue trabalhar de forma eficiente ao utilizar os sinais de pontuação.

Somos como um ponto de interrogação sempre questionando e sendo questionados.

As vírgulas em nossas vidas vêm para pausar a pressa que é a inimiga de nossa perfeição.

A vírgula matou Lucas!

Observe como cada uso da vírgula muda o sentido de cada enunciação:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

1. Vírgula pode ser uma pausa... ou não.


Não, espere.
Não espere.

2. Ela pode sumir com seu dinheiro.


23,4.
2,34.

3. Pode ser autoritária.


Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

4. Pode criar heróis.


Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

5. E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

6. Ela pode ser a solução.


Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

7. A vírgula muda uma opinião.


Não queremos saber.
Não, queremos saber.

8. SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE

TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

- Se você for mulher, certamente colocará a vírgula depois de MULHER.


- Se você for homem, certamente colocará a vírgula depois de TEM.

9. Esse texto é bem interessante:

Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e pena, e escreveu


assim:

"Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a
conta do alfaiate nada aos pobres".

Não teve tempo de pontuar - e morreu. A quem deixava ele a fortuna que
tinha? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas
pontuações numa cópia do bilhete:

"Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será
paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres".

A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito; e


pontuou-o deste modo:

"Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga
a conta do alfaiate. Nada aos pobres".

Surgiu o alfaiate que, pedindo cópia do original, fez estas


pontuações:

"Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será
paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres".

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade; e um


deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim:

"Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será
paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres".

10. Muda o sentido da oração:

I - Em pouco não haverá mais meninos que joguem tudo na rua.


II - Em pouco não haverá mais meninos que joguem tudo, na rua.

Na frase II a vírgula apenas explica que os meninos jogam tudo na rua,


enquanto na frase I, onde não há vírgula, há uma restrição, ou seja, os
meninos jogam tudo apenas na rua.

11. Muda o sentido da oração:

I - Era incriminador o olhar que recebi numa viagem de meu filho.


II - Era incriminador o olhar que recebi, numa viagem, de meu filho.

Na 1ª fase, a ideia é de que a viagem foi feita apenas pelo filho e que o
olhar não partiu dele, enquanto que na 2ª frase a ideia é de que mãe e
filho estavam juntos e que o olhar dirigido a ela foi do filho.

12. Muda o sentido da oração:

Matar o prefeito, não é crime.


Matar o prefeito não, é crime.

13. A vírgula e o ponto também:

"Um caçador tinha um cão e a mãe do caçador era também o pai do cão."
"Um caçador tinha um cão e a mãe. Do caçador, era também o pai do cão."

Ou seja: O caçador tinha um cão, a mãe do cão e o pai do cão.

14. Limita a significação do antecedente ou acrescenta informação:

O Olavo Bilac que escreveu O caçador de esmeraldas é um bom escritor.


O Olavo Bilac, que escreveu O caçador de esmeraldas, é um bom escritor.

15. Muda o sentido:

Se a corte condena, eu não absolvo.


Se a corte condena, eu não, absolvo.

16. Muda o sentido:

Enquanto o padre pasta, o burro reza.


Enquanto o padre pasta o burro, reza.

17. Como pontuar a frase abaixo?

Uma andorinha só não faz verão

Observe:

Uma andorinha só não faz: verão!

18. Limita a significação do antecedente ou acrescenta informação:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Encontrar você como combinamos não vai dar.


Encontrar você, como combinamos, não vai dar.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Informações complementares sobre o uso da vírgula:

A vírgula indica uma pausa pequena, deixando a voz em suspenso à espera da

continuação do período. Geralmente é usada:

- nas datas, para separar o nome da localidade.

São Paulo, 25 de agosto de 2005.

- após o uso dos advérbios "sim" ou "não", usados como resposta, no início da frase.

– Você gostou do vestido?


– Sim, eu adorei!
– Pretende usá-lo hoje?
– Não, no final de semana.

- após a saudação em correspondência (social e comercial).

Com muito amor,


Respeitosamente,

- para separar termos de uma mesma função sintática.

A casa tem três quartos, dois banheiros, três salas e um quintal.

Obs.: a conjunção "e" substitui a vírgula entre o último e o penúltimo termo.

- para destacar elementos intercalados, como:

a) uma conjunção

Estudamos bastante, logo, merecemos férias!

b) um adjunto adverbial

Estas crianças, com certeza, serão aprovadas.

Obs.: a rigor, não é necessário separar por vírgula o advérbio e

a locução adverbial, principalmente quando de pequeno corpo,

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

a não ser que a ênfase o exija.

c) um vocativo

Apressemo-nos, Lucas, pois não quero chegar atrasado.

d) um aposto

Juliana, a aluna destaque,passou no vestibular.

e) uma expressão explicativa

(isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc)

O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos,

tem seu princípio em Deus.

- para separar termos deslocados de sua posição normal na frase.

O documento de identidade, você trouxe?

-para separar elementos paralelos de um provérbio.

Tal pai, tal filho.

-para destacar os pleonasmos antecipados ao verbo.

As flores, eu as recebi hoje.

-para indicar a elipse de um termo.

Daniel ficou alegre; eu, triste.

- para isolar elementos repetidos.

A casa, a casa está destruída.

Estão todos cansados, cansados de dar dó!

-para separar orações intercaladas.

O importante, insistiam os pais, era a segurança da escola.

- para separar orações coordenadas assindéticas.

O tempo não para no porto, não apita na curva,não espera ninguém.

- para separar orações coordenadas adversativas, conclusivas, explicativas e

algumas orações alternativas.

Esforçou-se muito,porém não conseguiu o prêmio.


Vá devagar, que o caminho é perigoso.
Estuda muito, pois será recompensado.
As pessoas ora dançavam, ora ouviam música.

ATENÇÃO

Embora a conjunção "e" seja aditiva, há três casos em que se usa a vírgula
antes de sua ocorrência:

1) Quando as orações coordenadas tiverem sujeitos diferentes.

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Por Exemplo:

O homem vendeu o carro, e a mulher protestou.

Neste caso, "O homem" é sujeito de "vendeu", e "A mulher" é sujeito de


"protestou".

2) Quando a conjunção "e" vier repetida com a finalidade de dar ên-


fase (polissíndeto).

Por Exemplo:

E chora, e ri, e grita, e pula de alegria.

3) Quando a conjunção "e" assumir valores distintos que não seja da


adição (adversidade, consequência, por exemplo)

Por Exemplo:

Coitada! Estudou muito, e ainda assim não foi aprovada.

- para separar orações subordinadas substantivas e adverbiais, sobretudo quando vêm antes
da principal.

Por Exemplo:

Quem inventou a fofoca, todos queriam descobrir.


Quando voltei, lembrei que precisava estudar para a prova.

-para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas.

Por Exemplo:

A incrível professora, que ainda estava na faculdade, dominava todo o conteúdo.

Termos aos quais queremos dar ênfase (geralmente pleonásticos), mormente quando na

ordem inversa:

As folhas, levou-as o vento.

Ao homem, deu-lhe Deus a sensibilidade para amar o bem.

Palavras de mesma categoria gramatical (sujeito composto, vários adjuntos, objetos diretos etc):

A noz, o burro, o sino, o preguiçoso, nenhum sem pancada faz seu ofício.

Uso da vírgula entre as orações do período: quanto à vírgula separando orações, devemos observar
que todas as orações costumam, salvo exceções, admitir vírgula entre si.

Separando orações intercaladas

Os soldados, saltando a pulo as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal.

Não podemos, dizia ele, pagar o bem com o mal.

Observação: a oração intercalada pode vir também separada pelo duplo travessão e por parênteses.

Separando orações subordinadas adverbiais, quando iniciam período ou se intercalam:

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

Como Buda disse, tudo é dor.

Ainda que a situação fosse adversa, conseguimos bom resultado.

Quando ela desapareceu, o jovem recostou-se ao tronco da imburana e esperou.

Separando orações subordinadas adjetivas explicativas:

Os homens, que são seres racionais, dominam a natureza.

O juiz, que era íntegro, não se vendeu.

Observação: A oração subordinada adjetiva é aquela que desempenha função típica de um adjetivo,
atuando como adjunto adnominal em relação a um nome da oração principal.

Vem sempre associada a um nome e introduzida por um pronome relativo que, o qual (a qual,
os quais, as quais), quem, cujo (cuja, cujos, cujas), onde. Classifica-se em subordinada adjetiva
restritiva e explicativa. Oração subordinada adjetiva restritiva é aquela que, como o próprio nome já
diz, restringe ou particulariza o nome a que se refere a todos os elementos do conjunto.

A adjetiva restritiva não se separa da oração principal por meio de vírgula.

Há um conjunto formado por todos os alunos; dentro desse conjunto há um subconjunto formado ape-
nas pelos alunos que passarem na prova; a informação dada pela oração adjetiva que passarem na
prova aplica-se apenas ao subconjunto: entende-se, portanto, que os demais alunos (os que não pas-
sarem) não serão inscritos. Percebe-se então que esse tipo de oração adjetiva restringe, limita a ex-
tensão do termo a que se refere (no exemplo dado, esse termo é o substantivo alunos); daí ser classi-
ficada como oração adjetiva restritiva. Já a oração subordinada adjetiva explicativa é aquela que não
restringe nem particulariza o nome a que se refere: apenas põe em evidência uma propriedade inter-
pretada como pertencente a todos os elementos do conjunto a que se refere.

A adjetiva explicativa vem sempre isolada entre vírgulas.

Não se usa vírgula antes de:

Orações subordinadas substantivas:

Esperamos que ele vença.

Não se imaginava que a propaganda seria tão agressiva.

Observação: As orações subordinadas apositivas, quando deslocadas, vêm entre vírgulas.

Exs.: Proferiu o agonizante estas palavras: que nós não o devíamos abandonar.

Estas palavras, que nós não o devíamos abandonar, o agonizante proferiu.

Orações subordinadas adjetivas restritivas: conforme explicação dada acima.

Orações ligadas pela conjunção E:

Quando as orações são ligadas pela conjunção E, normalmente se utiliza vírgula.

Não obstante, coloca-se vírgula antes da conjunção E, quando:

As orações têm sujeitos diferentes:

A noite caía, e o baile começou.

A 2ª oração repete o conceito da 1ª (pleonástica):

Neguei-o eu, e nego.” (Rui Barbosa)

O E é puramente enfático (polissíndeto):

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EFEITO DE SENTIDO DECORRENTE

E suspira, e geme, e sofre, e sua.

O E tem valor de mas (adversativa):

Estudou, e foi reprovado.

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

Recursos Estilísticos e Estruturais

A linguagem é onipresente na vida de todos os homens. Cerca-nos desde o despertar da consciên-


cia, ainda no berço; segue-nos durante toda a nossa vida, em todos os nossos atos, e acompanha-
nos até na hora da morte. Sem ela, não se pode organizar o mundo do trabalho, pois é ela que per-
mite a cooperação entre os seres humanos e a troca de informações e experiências. Sem ela, o ho-
mem não pode conhecer-se nem conhecer o mundo.

Sem ela não se exerce a cidadania, porque ela possibilita influenciar e ser influenciado. Sem ela não
se pode aprender. Sem ela não se podem expressar sentimentos. Sem ela, não se podem imaginar
outras realidades, construir utopias e sonhos. Sem ela não se pode falar do que é nem do que pode-
ria ser.

A linguagem é objeto de estudo de várias disciplinas. A linguística, por exemplo, tem por finalidade a
explicação dos mecanismos da linguagem por meio da descrição das diferentes línguas faladas no
mundo.

Todas as línguas têm em comum certas propriedades e características universais, que definem o que
é inerente à natureza mesma da linguagem. Através da extraordinária diversidade das línguas do
mundo, hoje se busca a unidade da linguagem humana, aquilo que faz sua especificidade em relação
aos códigos não humanos.

A busca de uma origem única das línguas, o mito da torre de Babel, que seria responsável pela diver-
sidade linguística, a nostalgia do paraíso perdido onde se falava uma só língua, é isso que está na
base, no plano mítico, da pesquisa contemporânea dos universais da linguagem, das operações men-
tais que presidem ao funcionamento de todas as línguas. Podemos estudar esses universais e essas
operações, bem como a perda da capacidade de linguagem por lesões no cérebro. Nesse caso, a lin-
guística confina com a biologia e as ciências cognitivas.

Podemos debruçar-nos sobre as diferenças entre as línguas e então a linguística faz fronteira com a
antropologia e a etnologia. Podemos ocupar-nos da variação no espaço, como fazem a dialetologia e
a geolinguística, e aí a linguística acerca-se da geografia. Podemos examinar a variação de grupo so-
cial para grupo social e, nesse caso, a linguística limita-se com as teorias sociológicas. Podemos ob-
servar a variação de uma situação de comunicação para outra e então a linguística faz limites com a
teoria da comunicação.

Podemos pesquisar a mudança linguística e a evolução de uma língua ou de uma família de línguas e
aí a linguística avizinha-se da história. Podemos analisar a aquisição da linguagem e aí, dependendo
da posição teórica com que se faz a análise, a linguística confina com a biologia ou a antropologia.
Podemos ver a linguagem como um sistema formal e então a linguística se aproxima da matemática e
da computação.

Podemos investigar as unidades maiores do que a frase, isto é, o discurso e o texto. Nesse caso,
quando se põe acento na dimensão linguística, os estudos do discurso têm vizinhança com a retórica,
com a dialética, com a teoria da literatura. Quando se enfatiza a dimensão histórica do discurso, a
análise do discurso é limítrofe da história.

Poderíamos continuar a dar exemplos de formas de abordagem do fenômeno da linguagem, mas cre-
mos que os elementos expostos acima são suficientes para mostrar que a linguagem é, como dizia
Saussure, "multiforme e heteróclita"; está "a cavaleiro de diferentes domínios"; é, "ao mesmo tempo,
física, fisiológica e psíquica"; "pertence (...) ao domínio individual e ao domínio social". Por isso, con-
fina com diferentes campos do saber, não só das ciências humanas, mas também das ciências exa-
tas e biológicas.

A linguística pelo próprio objeto parece ter uma função interdisciplinar. Antes de avançar é preciso
pensar outra questão. Nas Letras, o campo dos estudos da linguagem tradicionalmente divide-se em,
de um lado, os estudos de língua e, de outro, as investigações sobre a literatura. Cada um desses do-
mínios é presidido por uma disciplina teórica: a linguística para o primeiro e a teoria da literatura para
o segundo. O primeiro, como já se disse acima, tem por objeto o estudo dos mecanismos da lingua-

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

gem humana por meio do exame das diferentes línguas faladas pelo homem. O segundo tem por fi-
nalidade a compreensão de um fato linguístico singular, que é a literatura. Embora claramente distin-
tos, esses dois módulos dos estudos da linguagem deveriam manter relações muito estreitas.

De um lado, um literato não pode voltar as costas para os estudos linguísticos, porque a literatura é
um fato de linguagem; de outro, não pode o linguista ignorar a literatura, porque ela é o campo da lin-
guagem em que se trabalha a língua em todas as suas possibilidades e em que se condensam as
maneiras de ver, de pensar e de sentir de uma dada formação social numa determinada época.

A literatura é a súmula de toda a produção do espírito humano ao longo da História. Já lembrava o


grande linguista Roman Jakobson em texto antológico:

Esta minha tentativa de reivindicar para a Linguística o direito e o dever de empreender a investiga-
ção da arte verbal em toda a sua amplitude e em todos os seus aspectos conclui com a mesma má-
xima que resumia meu informe à conferência que se realizou em 1953 aqui na Universidade de Indi-
ana: Linguista sum; linguistici nihil me alienum puto.

Se o poeta Ranson estiver certo (e o está) em dizer que "a poesia é uma espécie de linguagem", o
linguista, cujo campo abrange qualquer espécie de linguagem, pode e deve incluir a poesia no âmbito
de seus estudos.

A presente confe rência demonstrou que o tempo em que os linguistas, tanto quanto os historiadores
literários, eludiam as questões referentes à estrutura poética ficou, felizmente, para trás. Em verdade,
conforme escreveu Hollander, "parece não haver razão para a tentativa de apartar os problemas lite-
rários da Linguística geral".

Se existem alguns críticos que ainda duvidam da competência da Linguística para abarcar o campo
da Poética, tenho para mim que a incompetência poética de alguns linguistas intolerantes tenha sido
tomada por uma incapacidade da própria ciência linguística. Todos nós que aqui estamos, todavia,
compreendemos definitivamente que um linguista surdo à função poética da linguagem e um especia-
lista de literatura indiferente aos problemas linguísticos são, um e outro, flagrantes anacronismos.

Este trabalho pretende pensar o problema da interdisciplinaridade, depois discutir, de maneira mais
aprofundada, a questão da interdisciplinaridade em linguística, para terminar debatendo a problemá-
tica das relações entre linguística e literatura.

Interdisciplinaridade

Parece haver duas formas básicas de fazer ciência: uma é regida por um princípio de exclusão e a
outra, por um princípio da participação. Esses dois princípios criam dois grandes regimes de funcio-
namento das atividades de pesquisa.

O primeiro é o da exclusão, cujo operador é a triagem. Nele, quando o processo de relação entre ob-
jetos atinge seu termo leva à confrontação do exclusivo e do excluído. As atividades reguladas por
esse regime colocam em comparação o puro e o impuro. O segundo regime é o da participação, cujo
operador é a mistura, o que leva ao cotejo do igual e do desigual. A igualdade pressupõe grandezas
intercambiáveis; a desigualdade implica grandezas que se opõem como superior e inferior

Assim, há dois tipos fundamentais de fazer científico: o da exclusão e o da participação, ou, em ou-
tras palavras, o da triagem e o da mistura.

O fazer governado pelo princípio da triagem tem um aspecto descontínuo e tende a restringir a circu-
lação de objetos, que será pequena ou mesmo nula e, de qualquer maneira, desacelerada pela pre-
sença do exclusivo e do excluído.

É um fazer do interdito. Já a atividade gerida pelo princípio da mistura apresenta um aspecto contí-
nuo, favorecendo o "comércio" entre objetos, métodos, conceitos. Nela, o andamento é rápido. É a
atividade do permitido.

A triagem e a mistura variam em termos de tonicidade: átona e tônica. Há triagens mais ou menos
drásticas e misturas mais ou menos homogêneas, o que daria o seguinte esquema:

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

Cada um desses fazeres opera com um tipo de valor diferente: os da triagem criam valores de abso-
luto, que são valores da intensidade; os da mistura, valores de universo, que são valores da extensi-
dade. Os primeiros são mais fechados, tendendo a concentrar os valores desejáveis e a excluir os
indesejáveis; os segundos são mais abertos, procurando a expansão e a participação.

Até meados do século XVII, embora houvesse uma disciplinarização do conhecimento, que remon-
tava aos gregos, predominava o fazer científico regido pelo princípio da mistura. Num certo tempo,
por exemplo, não há diferença nítida entre alquimia e química ou entre astronomia e astrologia.

A ciência busca menos o modo de funcionamento do mundo do que seus grandes fins, menos
o como dos fenômenos do que seu porquê. Assim, Kepler, ao estabelecer as leis da mecânica ce-
leste, queria menos saber como se estrutura o universo e muito mais demonstrar que um mundo ma-
tematicamente perfeito só poderia ressoar a perfeição divina.

A partir do século XVIII, começa um movimento de especialização nas atividades científicas, ou seja,
uma atividade de investigação gerida pelo princípio da triagem. Estabelecem-se objetos muito preci-
sos, que não se misturam.

O ecletismo constitui um grave erro. Os objetos são puros, são autônomos. Assim, por exemplo, Sau-
ssure estabelece que o objeto da linguística é a langue. Esse objeto não se contamina da física, da
fisiologia, da psicologia, etc.

A língua será estudada em si mesma e por si mesma.*10 O gesto científico fundamental é dividir o ob-
jeto, para examinar seus elementos constituintes e, a partir daí, recompor o todo. Assim, a linguística
começa por dividir os períodos em orações; estas, em palavras; estas, em morfemas; estes, em síla-
bas; estas, em fonemas. Estudam-se, exaustivamente, esses componentes para chegar à compreen-
são do objeto, a língua.

Esse movimento de triagem chegou a seu apogeu no século XIX e atingiu dimensões alarmantes no
século XX, com especializações cada vez mais restritas, mais particulares. Não é preciso dizer que a
especialização e a consequente disciplinarização produziram resultados notáveis. São elas que expli-
cam o extraordinário desenvolvimento científico a que se assistiu nesse período.

O método da divisão e recomposição produz análises muito finas e possibilita a ampliação do conhe-
cimento. Mas principalmente é preciso dizer que opera uma mudança radical do que se compreende
como ciência: é a atividade que pretende descobrir o funcionamento das coisas.

A especialização não produziu só maravilhas. De um lado, é preciso considerar que o próprio desen-
volvimento da ciência propõe novos problemas que não cabem nesse programa científico. De outro,
ela deu lugar a uma institucionalização danosa do fazer científico, regulada também pelo princípio da
triagem. Os grupos de pesquisa atuam cindidos num regime de concorrência selvagem, cada um
competindo com outros.

A pesquisa torna-se secreta, o que é avesso ao ideal científico da construção do conhecimento num
processo de comunicação universal. Com a especialização, a triagem continua a operar e aí surgem
os dogmas, as igrejas, as purezas, as heresias, as excomunhões, os sumos sacerdotes, os cães de
guarda.... No entanto, não são esses os aspectos mais ruinosos da especialização.

O mais grave é o que ela produz sobre a formação e a cultura dos homens de ciência. Nos anos 20
do século passado, Ortega y Gasset, de modo premonitório, pois estávamos longe do auge do pro-
cesso, já denunciava a "barbárie da especialização":

Porque outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou me-
nos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma des-

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sas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especiali-
dade, mas tampouco é um ignorante, porque é "um homem de ciência" e conhece muito bem sua por-
ciúncula do universo.

Devemos dizer que é um sábio-ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que
se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância
de quem na sua questão especial é um sábio.

No domínio do conhecimento da linguagem, separam-se nitidamente os estudos linguísticos e os lite-


rários. Ficam de costas um para o outro. Embora, como se mostrou acima, Jakobson considere essa
atitude um verdadeiro anacronismo, linguistas e especialistas em literatura ignoram-se. Isso produziu
uma consequência devastadora: de um lado, é constrangedor verificar a ignorância literária dos lin-
guistas e, mais ainda, constatar que eles não dão à literatura nenhuma importância; de outro, é ainda
mais embaraçoso ouvir especialistas em literatura enunciando, com a petulância dos sábios-ignoran-
tes, banalidades do senso comum, eivadas de preconceito e de falsidade, sobre a língua.

Num texto famoso, Snow mostrava o distanciamento progressivo das ciências naturais das humani-
dades, com prejuízo para uma e outra. É curioso que, no domínio dos estudos da linguagem, parece
reproduzirem-se essas duas culturas.

Com efeito, algumas especialidades da linguística aproximaram-se das ciências biológicas ou das ci-
ências exatas, enquanto a literatura permanece solidamente ancorada entre as humanidades. Um jo-
vem professor de literatura, com a arrogância dos que têm um solene desprezo pelos outros, assim
resumiu essa dupla cultura no campo das Letras: os linguistas marcham e os especialistas em litera-
tura sambam. Qualquer brasileiro sabe o que é eufórico e o que é disfórico na perspectiva desse jo-
vem ignorante.

Mas não são apenas filósofos, humanistas e cientistas sociais que se preocupam com as consequên-
cias da especialização selvagem. Norbert Wiener, o criador da cibernética, diz:

Atualmente, podem contar-se nos dedos de uma mão os cientistas que não sejam exclusivamente
matemáticos, físicos ou biólogos. Pode haver topólogos, especialistas em acústica ou coleopteristas,
que dominam o jargão de sua especialidade e conhecem toda a literatura de sua área e suas ramifi-
cações, porém na maioria das vezes considerarão qualquer outra disciplina como algo que pertence a
um colega, que trabalha no mesmo corredor, três portas adiante, e crerão que qualquer interesse de
sua parte pelo tema é uma injustificável violação de privacidade.

Na linguística, essa especialização faz-se sentir fortemente. Já não se encontram mais linguistas,
mas foneticistas, sintaticistas, fonólogos, semanticistas, analistas do discurso e assim por diante.
Num processo de cissiparidade, talvez já não se encontrem mais semanticistas, mas semanticistas
formais, semanticistas lexicais, etc. Torna-se cada vez mais difícil encontrar alguém com uma forma-
ção linguística abrangente.

A preocupação, mesmo dos cientistas, com a especialização crescente, deriva do fato de que os es-
pecialistas trabalham apenas no domínio restrito, fazem progredir a ciência somente no interior de um
dado paradigma.

No entanto, as grandes criações científicas não foram feitas por especialistas, mas pelos sábios, que
tinham uma formação abrangente, multidisciplinar, aberta a todos os campos do saber. Gilbert Du-
rand mostra que, se olharmos, na história da ciência, para cada um dos grandes criadores, vamos ve-
rificar que eles não eram especialistas, mas cultivavam a mistura, com sua abertura, sua amplitude,
sua largueza e sua profundidade:

Os sábios criadores do fim do século XIX e dos dez primeiros anos do século XX, esse período áureo
da criação científica em que se perfilam nomes como os de Gauss, Lobohevsky, Riman, Poincaré,
Becquerel, Curie, Pasteur, Max Planck, Niels Bohr, Einstein, etc., tiveram todos uma larga formação
pluridisciplinar, herdeira do velho trivium (as "humanidades") e quadrivium (os conhecimentos científi-
cos e também a matemática) medievais, prudente e parcimoniosamente organizados pelos colégios
dos jesuítas e dos frades oratorianos e pelas pequenas escolas jansenistas do novo humanismo de
Lakanal.*15

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Atualmente, estamos num momento de mudança da forma de fazer ciência. Estamos passando de
um fazer científico regido pela triagem para um fazer investigativo governado pela mistura. Fala-se
em interdisciplinaridade, pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade, transdisciplinaridade e mesmo in-
disciplinaridade.

Hoje, esses termos são universais positivos do discurso, enquanto a especialização é vista como algo
fora de moda, relacionada a um pensamento autoritário. Afinal, a destruição das fronteiras é um fenô-
meno contemporâneo: as grandes entidades transnacionais, como a União Européia e o MERCO-
SUL, derrubaram as fronteiras econômicas, permitindo a livre circulação de bens e de capitais; a
queda do muro de Berlim deitou abaixo uma linha semântica divisória entre duas visões de mundo, a
famosa cortina de ferro; o espaço Shengen demoliu alfândegas e controles entre os estados nacio-
nais.

Por outro lado, estamos num tempo do elogio das margens, do descentramento, da alteridade, da he-
terogeneidade, do dialogismo, vivemos num tempo de mestiçagens e de imigrações, de recusa da pu-
reza. Esse ar do tempo leva a pôr em questão as divisões disciplinares, as fronteiras rígidas entre os
campos do saber.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da ciência, impulsionado por essa epistemé do que foi cha-
mado a pós-modernidade, leva os pesquisadores a começar a pensar problemas que estão situados
na fronteira das disciplinas e que, durante muito tempo, foram deixados de lado.

No entanto, que é realmente interdisciplinaridade? E multidisciplinaridade? E pluridisciplinaridade?


Transdisciplinaridade, então? E essa tal de indisciplinaridade? Ninguém sabe direito. Vamos tentar
uma definição a partir da etimologia das palavras. Esse conjunto de termos tem um radical comum, -
disciplina, um sufixo comunidade, e prefixos distintos in, multi, pluri, inter, trans. Não se criam diferen-
tes palavras para expressar o mesmo sentido.

A distinção do sentido está na parte diversificada e não na parte idêntica dos vocábulos. Disciplina
provém do latim disciplina, formada do radical indo-europeu dek-, que significa "receber" e está na
base de discere, "aprender", discipulus, "o que aprende"; disciplina, "o que se aprende". Moderna-
mente, a palavra tem dois grandes sentidos:

a) ramo do conhecimento, principalmente entendido como componente de um currículo;

b) normas de conduta. O sufixo -dade é formador de substantivos abstratos a partir de adjetivos. Para
definir os termos, a questão é pensar os prefixos, todos de origem latina, sempre a partir das raízes
indo-européias: in < ne(indica negação e aparece em palavras como nulo, neutro, negar, ninguém,
inútil); inter < en (denota "dentro de", "entre" e ocorre, por exemplo, em interior, íntimo, interno, entrar,
intestino); pluri < pel (remete ao sentido de "encher", "abundância", "grande número" e está presente
em vocábulos como plural, plenitude, plenipotenciário, cheio, pleno, suprir); multi < mel (traduz a no-
ção de "abundância quantitativa ou qualitativa" e aparece em muito, multidão, múltiplo, multiplicação,
melhor, etc.); trans < ter (quer dizer, "atravessar, chegar ao fim" e ocorre em termo, término, determi-
nar, traduzir, transportar, trás-os-montes e assim por diante).

Observando a etimologia das palavras em que aparecem os prefixos pluri e multi, pode-se dizer que
há um matiz diferenciador entre eles: o primeiro indica abundância de elementos homogêneos, en-
quanto o segundo não traz essa idéia de homogeneidade. No entanto, essa nuança de sentido per-
deu-se na história.

Podemos, pois, dizer que multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade querem dizer a mesma coisa.
Além disso, se deixarmos de lado o termo indisciplinaridade, porque, apesar do charme dado pela co-
notação libertária, indica apenas uma negação, sem qualquer valor positivo, temos três termos a defi-
nir: pluri e multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Pode-se pensá-los como
o continuum de um processo.

Na multidisciplinaridade (ou pluridisciplinaridade), várias disciplinas analisam um dado objeto, sem


que haja ligação necessária entre essas abordagens disciplinares. O que se faz é pôr em paralelo di-
ferentes maneiras de enfocar um tema, que são coordenadas com vistas ao conhecimento global de
uma determinada matéria. Tomemos, por exemplo, o caso da energia.

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Esse assunto deve necessariamente ser enfocado multidisciplinarmente: a física estuda as formas e
transformações da energia; a biologia investiga os processos para obtenção da biomassa; a geologia
examina as formas de descobrir jazidas de recursos não renováveis de produção de energia, como o
carvão mineral, o xisto, o petróleo e o gás natural; as engenharias pesquisam como aproveitar a ener-
gia, como extraí-la, como distribuí-la; a economia analisa a oferta e a procura de energia, as vanta-
gens e desvantagens econômicas do uso de uma dada forma de energia; a ecologia avalia os efeitos
do uso de certo tipo de energia no meio ambiente; a sociologia e a antropologia observam os efeitos
do uso da energia em determinada comunidade humana e assim por diante.

A interdisciplinaridade pressupõe uma convergência, uma complementaridade, o que significa, de um


lado, a transferência de conceitos teóricos e de metodologias e, de outro, a combinação de áreas. As-
sim, por exemplo, a sociologia pode utilizar conceitos da economia, como faz Pierre Bourdieu quando
se serve dos conceitos de capital, mercado e bens para todas as atividades sociais e não somente as
econômicas, ou quando faz largo uso da noção de troca.

Com muita frequência, a interdisciplinaridade dá origem a novos campos do saber, que tendem a dis-
ciplinarizar-se. A bioquímica, unindo biologia e química, estuda os processos químicos que ocorrem
nos organismos vivos. A sociobiologia é a tentativa de explicar biologicamente os comportamentos
sociais.

Quando as fronteiras das disciplinas se tornam móveis e fluidas num permeável processo de fusão,
temos a transdisciplinaridade. É transdisciplinar uma poética da ciência. Na poesia, percebem-se
analogias, observam-se correspondências, não se respeita a autoridade dos códigos, das estruturas,
da tradição, dos significados, do discurso.

Da mesma forma, a transdisciplinaridade é domínio da audácia, que leva a examinar todo o conheci-
mento, não somente a partir dos três axiomas da lógica clássica (o do terceiro excluído, o da identi-
dade e o da não contradição) nem apenas com base nos princípios que fundam a ciência moderna (o
da ordem, que engloba o da determinação; o da separação e o da redução), mas a partir de funda-
mentos analógicos, de conceitos como caos, irreversibilidade, degradação.

As interciências, como as Ciências Cognitivas e a Ecologia, são transdisciplinares. A ecologia é o


campo transdisciplinar emblemático, pois contém um saber científico diversificado, utilizado numa
concepção generosa, universalizante e redentora da vida do homem no planeta.

Examinemos mais detidamente a interdisciplinaridade, que é uma das formas mais interessantes e
produtivas de trabalho científico de nossa época. Poderíamos dizer que temos, basicamente, duas
práticas interdisciplinares:

a) transferência, que é a passagem de conceitos, metodologias e técnicas desenvolvidos numa ciên-


cia para outra;

b) intersecção, em que duas ou mais disciplinas se cruzam para tratar de determinados problemas.
Como se vê, a interdisciplinaridade não pressupõe a diluição das fronteiras disciplinares num ecle-
tismo frouxo.

Assim, a interdisciplinaridade da linguística com outras ciências não é o apagamento dos contornos
da ciência da linguagem e sua transformação em outros campos do conhecimento.

Não é a biologização, a matematização, a sociologização, a antropologização, etc. da linguística.


Como dizia Sírio Possenti, em recente conferência, o papel dos linguistas não é fazer uma história ou
uma sociologia de segunda, mas uma linguística de primeira. A interdisciplinaridade supõe disciplinas
que se interseccionam, que se sobrepõem, que se reorganizam, que buscam elementos noutras ciên-
cias.

Relação da Linguística com Outras Ciências

Como se disse, a interdisciplinaridade pressupõe, de um lado, a transferência de conceitos teóricos e


de metodologia e, de outro, a intersecção de áreas. Mostremos, com alguns exemplos, como isso se
deu na linguística.

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Transferência de conceitos da linguística para outras ciências

A antropologia estrutural importa da linguística, antes de tudo, um modelo de cientificidade. Toma mé-
todos e noções da linguística, considerada então ciência piloto das ciências humanas. Antes de Lévi-
Strauss, a antropologia estava ligada às ciências da natureza e comprometida com toda sorte de ra-
cismos e com a noção de determinismo biológico.

O antropólogo francês, para estudar as estruturas elementares de parentesco, toma da fonologia a


idéia da busca de constantes presentes sob a imensa variabilidade da realidade. Sob as múltiplas
práticas matrimoniais, aparecem as invariantes, as estruturas elementares, que determinam, basica-
mente, com quem se pode e com quem não se pode casar.

Lévi-Strauss coloca a proibição do incesto como um universal, entendido não como um interdito mo-
ral, mas como uma regra de positividade social, destinada a proteger a espécie contra os efeitos fu-
nestos dos casamentos consanguíneos. Assim, ele desbiologiza o fenômeno do parentesco, deslo-
cando a questão das relações consanguíneas para o caráter de transação, de comunicação, que se
instaura com a aliança matrimonial.

Diz ele que a "proibição do incesto exprime a passagem do fato natural da consanguinidade ao fato
cultural da aliança". A antropologia deixa a natureza e é colocada no terreno exclusivo da cultura. A
linguística, em particular a fonologia, permite, com seus métodos, suas teorias, suas noções, ultra-
passar o estágio dos fenômenos conscientes para atingir aquilo que é inconsciente; possibilita não
ver os termos em sua positividade, mas apreendê-los em suas relações internas, ou seja, tomar por
base da análise as relações entre os termos e não os próprios termos; propicia descobrir os sistemas
e pôr em evidência suas estruturas; proporciona desvendar leis gerais.

Lévi-Strauss mostra que se podem analisar certos fenômenos sociais, como, por exemplo, o paren-
tesco, de maneira análoga à da fonologia, porque eles são elementos dotados de significação, inte-
gram-se em sistemas inconscientes, resultam de leis gerais, dado que se encontram fenômenos simi-
lares em regiões bastante afastadas umas das outras.

Diz o antropólogo francês que, como os fonemas, os termos de parentesco só adquirem significação
quando se integram em sistemas. Na busca das invariantes para além da multiplicidade das varieda-
des percebidas, ele põe de lado todo recurso à consciência do sujeito.

Dá prevalência à sincronia. Da mesma forma, os mitos formam estruturas: as variantes de um mesmo


mito integram-se num sistema no qual cada elemento se opõe a todos os outros.

Lacan teve, para a psicanálise, o mesmo papel que Lévi-Strauss para a antropologia. A linguística
oferece para a psicanálise lacaniana um modelo de cientificidade. Por volta dos anos 50 do século
passado, na França, reinava uma biologização das conquistas freudianas e a psicanálise dissolvia-se
na psiquiatria.

Lacan denuncia também o behaviorismo, dominante nos Estados Unidos, como uma adaptação do
indivíduo às normas sociais, como uma teoria que tem uma função de ordem, de normalização. De-
seja a desmedicalização e a desbiologização do discurso freudiano e a retirada do inconsciente do
seio das estruturas psicologizantes behavioristas. Propõe uma ruptura enraizada na obra de Freud,
uma volta a Freud.

Esse retorno dar-se-ia, levando em conta o modelo da linguística. Para Lacan, há uma prevalência da
dimensão sincrônica na organização do inconsciente. Portanto, ele não considera essencial em Freud
a teoria dos estágios sucessivos, mas a existência de uma estrutura edipiana de base, caracterizada
por sua universalidade, indiferente às contingências de tempo e de espaço. Para ele, o homem só
existe enquanto tal pela função simbólica.

Ele é, pois, produto da linguagem, efeito dela. Isso permite ao psicanalista francês criar sua famosa
fórmula: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem." A existência simbólica do ser humano
deixa clara a importância dada à linguagem, à relação com o outro. Dessa forma, ele desmedicaliza a
abordagem do inconsciente, objeto da psicanálise, considerando-o como um discurso. A psicanálise
deixa de ser uma disciplina médica e passa a ser uma disciplina analítica.

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Lacan fundamenta-se na teoria saussuriana do signo, aportando-lhe uma série de modificações e


mesmo de torções. Saussure mostrara que o signo não une um nome a uma coisa, mas um conceito
a uma imagem acústica. Ele separou, portanto, o signo de qualquer relação com o referente.

O signo, sem qualquer vínculo com o referente, é, para Lacan, o fundamento da condição humana.
No entanto, diferentemente de Saussure, ele relega o significado a um lugar acessório.

A fala, cortada de qualquer acesso ao real, veicula apenas significantes que remetem uns aos outros.
O inconsciente, objeto que funda a identidade científica da psicanálise, é uma cadeia de significantes.

O inconsciente é um efeito da linguagem, de suas regras, de seu código. Lacan recorre aos conceitos
de metáfora e de metonímia desenvolvidos por Jakobson e assimila-os aos dois processos de funcio-
namento do inconsciente: a condensação e o deslocamento.

Além desses modelos gerais, Lacan toma conceitos particulares da linguística: por exemplo, de Da-
mourette e Pichon vem a divisão entre o je e o moi e o conceito de forclusão.

O primeiro serve para pensar a divisão entre o sujeito do inconsciente e o da consciência com seu
imaginário; o segundo, para mostrar que há um processo de fracasso do recalcamento originário, em
que não se conserva o que se recalcou, porque o recalcado é excluído ou barrado pura e simples-
mente, o que produz a psicose.

O recurso da psicanálise a conceitos linguísticos não era novidade. Freud baseara-se em Sperber e
Carl Abel, para justificar suas teses de que o simbolismo é sempre sexual, mesmo quando parece
que falamos de outra coisa, e de que os símbolos são ambivalentes, porque são aptos a significar
dois conteúdos opostos.

De Sperber tomou o longo ensaio "Da influência dos fatores sexuais na formação e na evolução da
linguagem" e utilizou-o como base para demonstrar que, se a linguagem se funda na sexualidade, en-
tão não existe contradição entre o funcionamento da linguagem e o simbolismo. A Carl Abel dedica
um estudo, intitulado "Sobre o sentido antitético das palavras primitivas".

O que interessava a Freud era a tese de Abel de que as línguas primitivas tinham uma só palavra
para denotar sentidos opostos. Isso comprovava sua tese sobre a ambivalência dos símbolos, que
podem representar qualquer coisa pelo seu contrário. No caso de um sonho, não se pode, em princí-
pio, saber se um elemento traduz um conteúdo positivo ou negativo.

Transferência de Conceitos de Outras Ciências Para a Linguística

A linguística histórica toma das ciências históricas, ao longo de seu desenvolvimento, três conceitos
de história:

a) a história como decadência;

b) a história como progresso;

c) a história como mudança.

O primeiro vem da Antiguidade e é expresso na doutrina das idades do gênero humano: por exemplo,
em Hesíodo, a humanidade vai da idade de ouro, em que os homens viviam como deuses, até a
idade do ferro, em que os homens estão sujeitos a toda espécie de males, passando pelas idades da
prata, do bronze e dos heróis.

Muitos comparatistas, por exemplo, Schleicher, defendiam que as línguas antigas estavam num está-
gio superior de desenvolvimento em comparação com as línguas modernas, que representariam uma
fase de decadência, de degeneração. Isso se devia à organização morfológica mais densa (declina-
ções e conjugações), que, segundo eles, implicava uma maior capacidade de expressão, por realizar
um número maior de distinções gramaticais.

A História seria, então, um processo degenerador, porque degradava as estruturas da língua. Daí a
relevância da reconstituição de seu passado, para buscar atingir o que seria o período áureo das lín-
guas.

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O conceito da história como progresso é uma idéia iluminista, que aparece, por exemplo, em Vol-
taire. Herbert Spencer concebe a história humana como um processo contínuo e linear de evolução.

Em Comte, aparece um determinismo sociológico. Sua lei dos três estados - o teológico, o metafísico
e o positivo - opera na ontogênese e na filogênese. Ela indica que, assim como os indivíduos, todas
as sociedades caminham para atingir o mais alto estágio de desenvolvimento. Otto Jespersen sus-
tenta que, na história das línguas, há progresso, há uma marcha na direção de formas mais aperfei-
çoadas.

Como as formas se abreviaram, estruturas analíticas tomaram lugar das formas sintéticas, as formas
irregulares regularizaram-se, a ordem das palavras tornou-se fixa, a língua ficou cada vez mais apta
para a expressão, porque adquire maior clareza e precisão e exige do usuário menor esforço de me-
mória e, até mesmo, menor esforço muscular na fala.

O modelo de Jespersen era o inglês, língua da qual escreveu uma monumental gramática. Vendryès
termina sua obra, Le langage, expondo a idéia de que a história das línguas é um aperfeiçoamento
constante desse instrumento criado pelo homem.

A idéia da história como mudança, não governada por nenhuma teleologia, rege as concepções atu-
ais em linguística histórica. Já Lucrécio negava o finalismo, aduzindo que ele põe antes o que vem
depois.

A linguística atual não trabalha mais com as idéias de decadência e de progresso. Mattoso Câmara
diz que: "a palavra evolução, em linguística, pressupõe apenas um processo de mudanças graduais e
coerentes."

Schleicher, que, além de linguista, era botânico, preconizava que a ciência da linguagem deveria es-
tar entre as ciências da natureza. Importa uma série de princípios da biologia. Seu objetivo era esta-
belecer leis gerais e rigorosas do desenvolvimento das línguas. Schleicher contrapunha a linguística à
filologia. Esta é um ramo da história, enquanto aquela, não. As três idéias que traz das ciências da
natureza são:

a) a língua é um organismo natural e, portanto, ela desenvolve-se até um certo ponto e, depois, entra
em decadência;

b) a mudança linguística deve ser entendida como uma evolução natural no sentido darwiniano;

c) a língua depende de traços físicos do cérebro e do aparelho fonador e varia segundo as raças do
mundo, sendo, portanto, um critério adequado para elaborar uma classificação racial. Mesmo que
hoje essas ideias nos pareçam completamente erradas, Schleicher teve uma importante influência em
temas como a classificação das línguas indo-européias, a reconstrução do indo-europeu, os estudos
de fonética, a classificação tipológica das línguas baseada na estrutura da palavra. Para Schleicher, o
ápice da evolução linguística era o indo-europeu; depois dele, começava a degeneração.

A chamada linguística matemática trouxe desta ciência diversos instrumentos para a realização da
análise linguística: teoria dos conjuntos, álgebra de Boole, topologia, estatística, cálculo de probabili-
dades, teoria dos jogos. Zellig Harris, por exemplo, publica um estudo da gramática em termos de te-
oria dos conjuntos.

Devem-se lembrar ainda os usos da estatística nos estudos de lexicologia e lexicografia. Da computa-
ção a linguística toma programas e técnicas para aplicá-los a aspectos da linguagem humana, fa-
zendo um tratamento automático das línguas: tradução automática, correção ortográfica, recuperação
de informações e busca nos textos, resumos automáticos, reconhecimento de voz, síntese vocal para
o estabelecimento da interface homem-máquina, etc.

Intersecção de Áreas

A sociolinguística estuda a língua como instrumento de integração social. Em primeiro lugar, inte-
ressa-se pela questão da variação linguística, examinando a covariância sistemática entre a estrutura
linguística e a estrutura social. Estuda, assim, a variação por grupos sociais. Analisa também a língua
como classificador social e como fator de coesão social para as etnias, as classes ou outros grupos

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sociais. Estuda as relações entre as línguas em função de fatores sociais, bem como toda a proble-
mática do contato das línguas e do bilinguismo. Como se vê, da sociologia vem a questão dos fatores
sociais e da linguística, a análise da língua. O que a sociolinguística faz é estabelecer a correlação
entre fatores sociais e fatos de linguagem.

A antropolinguística estabelece uma correlação entre língua e cultura. Não estão mais em pauta gru-
pos sociais como na sociolinguística, mas fatores culturais. Estuda-se a língua no contexto cultural.
Interessa à antropolinguística a questão da língua em relação ao sagrado (por exemplo, línguas cultu-
ais), as teorias populares e os mitos a respeito da linguagem, os tabus e as fórmulas mágicas e en-
cantatórias, a visão das relações entre a palavra e a coisa, as taxionomias, os sistemas de percepção
e de categorização do mundo.

A psicolinguística estuda o conjunto de operações mentais ligadas à linguagem. Assim, ocupa-se da


retenção e do esquecimento de informações verbais, da aquisição da linguagem, do processamento
da informação pelo cérebro, etc.

A geolinguística é um campo interdisciplinar, em que se unem a linguística e a geografia. A geolin-


guística ocupa-se de estudar as línguas no seu contexto geográfico. Preocupa-se com a identificação
e a descrição de áreas linguísticas (domínios linguísticos, áreas dialectais, etc.), com a análise das
dinâmicas geográficas das variações internas do idioma, com o estudo da importância territorial das
línguas e das suas variedades em diferentes escalas (local, regional, nacional, continental, mundial).

Com a análise das dinâmicas territoriais das línguas e das suas variedades (evolução demolinguís-
tica, territórios onde são faladas, dinâmicas de expansão e retrocesso territorial), com o estudo de si-
tuações de conflito territorial causado pelas diferenças linguísticas, com o conhecimento das repre-
sentações que as pessoas têm dos espaços linguísticos, das suas falas e da sua dinâmica territorial.

A neurolinguística, compartilhamento da neurologia e da linguística, durante muito tempo, estudou (e


continua ainda a fazê-lo) as lesões no córtex cerebral e as deficiências afásicas daí resultantes. No
entanto, ela não se restringe a isso, pois estuda a elaboração cerebral da linguagem.

Ocupa-se com o estudo dos mecanismos do cérebro humano envolvidos na compreensão e na pro-
dução linguística e no conhecimento da língua. Ocupa-se tanto da elaboração da linguagem normal
como das alterações linguísticas causadas por distúrbios. A neurolinguística leva a uma compreensão
das bases biológicas da linguagem.

Como se mostrou acima que a linguagem é multiforme e heteróclita e, portanto, a interdisciplinaridade


é da sua natureza, poderíamos continuar a mostrar a interdisciplinaridade da linguística com outras
ciências, em suas diferentes formas, ao longo da história. No entanto, é preciso chegar ao ponto final:
a discussão da relação entre linguística e literatura, os dois ramos em que se dividem as Letras.

Relação da Linguística Com a Literatura

Até por volta dos anos 60, a relação entre a linguística e a literatura era bastante simples: de um lado,
na medida em que a análise do texto literário era o estudo da substância do plano do conteúdo em
sua relação com uma realidade extralinguística, não era preciso recorrer a qualquer categoria linguís-
tica e, portanto, não havia qualquer ligação entre esses dois campos do conhecimento, em que, tradi-
cionalmente, se dividem os estudos da linguagem; de outro, no estabelecimento de textos e na estilís-
tica, havia certa vinculação, mas bastante rudimentar, entre esses dois domínios. Expliquemos me-
lhor essas afirmações.

Quando, por exemplo, a crítica machadiana mostra as tradições de que se valeu o autor para compor
sua obra; quando o acusa de "macaqueação de Sterne", como faz Sílvio Romero; quando detecta te-
mas comuns a seus romances, vinculados a sua biografia, como mostra Lúcia Miguel Pereira quando
demonstra, como Astrojildo Pereira, que Machado é o "romancista do segundo reinado"; quando des-
vela que as formas dos grandes romances machadianos imitam processos histórico-sociais, como faz
Roberto Schwarz e assim por diante, não há necessidade de recorrer à linguagem para estudar uma
obra literária, já que ela não é vista como linguagem, mas como representação de uma realidade ex-
terior a ela.

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Por outro lado, havia uma relação entre linguística e literatura, quando se estabeleciam textos anti-
gos. A literatura, nesse trabalho filológico, valia-se das categorias e das descobertas da linguística
histórico-comparada do século XIX, considerada como algo pronto e acabado. A relação entre língua
e literatura ocorria também no domínio da estilística.

Inicialmente, a estilística era o estudo dos meios de expressão dos conteúdos afetivos da língua, pois
um fato de estilo era entendido como uma ocorrência linguística que provocava um dado efeito no lei-
tor. Nessa estilística, estudavam-se, fragmentariamente, os fatos de estilo e, numa análise de textos,
o que se procurava observar era a soma de efeitos que os fatos estilísticos nele presentes produziam.

Essa estilística, tal como foi praticada por Bally e, entre nós, por Rodrigues Lapa e Mattoso Ca-
mara, valia-se de uma retórica reduzida, porque restrita à dimensão tropológica, e de uma análise lin-
guística elementar, que se encontra na gramática tradicional.

Nada, além disso. Por isso, também se considerava que não havia progresso a fazer no domínio dos
estudos linguísticos. Tudo estava feito e acabado. Lembra-me que, uma vez, uma professora de
grego me consultou sobre o que eu achava do desejo de um orientando seu de estudar o sistema
temporal do grego clássico.

Antes que eu respondesse que achava interessante fazer um estudo desse sistema do ponto de vista
das teorias da enunciação, ela asseverou, com muita certeza, que nada mais havia a estudar na gra-
mática grega, porque os alemães do século XIX haviam feito tudo nessa matéria. Que concepção de
ciência!

Mais tarde, a estilística, com Leo Spitzer e Damaso Alonso, torna-se mais orgânica, porque, para
eles, o estilo reflete o mundo interior de um dado autor, seu "conteúdo espiritual", sua intuição, suas
vivências. Apesar de ampliar seu escopo, a estilística continua valendo-se das descrições linguísticas
elementares de qualquer gramática escolar.

A linguística era algo que se aplicava no estudo do texto literário, de maneira errática, segundo o arbí-
trio do analista, para justificar uma interpretação que não tinha sido dada pela descrição linguística. O
ensino seguia as orientações de pesquisa. Nos cursos de línguas estrangeiras dava-se ênfase ao es-
tudo da literatura em detrimento dos estudos de língua.

Essa orientação nitidamente literária levava a um estudo de textos com abordagens estilísticas e filo-
lógicas. Pierre Hourcade, no Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, de 1934-
1935, traça as diretrizes gerais do ensino de Língua e Literatura Francesa na Faculdade. O aluno pre-
cisa ter uma visão geral da Literatura Francesa.

Os exercícios por excelência eram a explicação de textos e a dissertação, que era chamada, nos re-
latórios da cadeira, dissertação francesa. Portanto, o conhecimento linguístico era simplesmente ins-
trumental, destinava-se a permitir que os alunos lessem os textos no original. Pierre Hourcade previa
a criação de um curso de Literatura Medieval e História da Língua. O fato de o curso de História da
Língua estar atrelado ao de Literatura Medieval fazia com que ele fosse subsidiário para o acesso aos
textos medievais.

Nos anos 60, o panorama muda. Com o apogeu do estruturalismo, a literatura apóia-se nas aquisi-
ções da linguística para a elaboração de uma teoria do texto literário. Desloca-se o foco do autor (sua
biografia, sua subjetividade, o contexto social em que criou) para o texto.

Isso se fez, apesar das críticas acerbas e dos lamentos amargurados de muitos estudiosos da litera-
tura. Alguns chegavam, com base numa visão conspiratória da História, a dizer que o estruturalismo
linguístico era um programa de estudos financiado pela CIA, para naturalizar a linguagem e, assim,
afastar a História, com vistas a aumentar a alienação.

Deixando de lado esses pontos de vista que hoje nos parecem no mínimo estranhos, deve-se notar
que, nesse período, a literatura não mais buscava, na linguística, descrições de fatos próprios das lín-
guas naturais nem explicações de tropos, mas conceitos gerais, como conotação/denotação, signifi-
cado/significante, sintagma/paradigma etc. Na verdade, o que a literatura transfere da linguística são
os conceitos que explicam como se estruturam os sistemas significantes, quaisquer que eles sejam.

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

Mais do que a linguística, o que mantém relações com a literatura é uma semiologia, tal como fora
proposta por Saussure. Nesse período, duas vertentes dos estudos literários desenvolvem-se: a poé-
tica e a teoria da narrativa. A primeira, uma teoria da poeticidade, deriva do programa dos formalistas
russos e encontra em Jakobson seu grande formulador, que assim enuncia o princípio da função poé-
tica: "projeta o princípio de equivalência do eixo de seleção sobre o eixo de combinação.

A segunda vertente busca, com base na idéia de sistema, as invariantes paradigmáticas e sintagmáti-
cas, que ocorrem sob a diversidade quase infinita das narrativas realizadas. Esses dois ramos dos
estudos literários tiveram um desenvolvimento notável, apesar da acusação de muitos, fundados
ainda numa ideologia romântica, que, como diz Régine Robin, é anterior a Marx e a Freud, de que es-
ses modelos eram redutores.

Para esses estudiosos, os produtos humanos não podem ser examinados do ponto de vista de suas
invariantes, porque os seres humanos, em sua infinita criatividade, não estão submetidos a quaisquer
coerções sociais e psíquicas. Afinal, para eles, o sujeito é neutro, mestre de si mesmo, sem qualquer
determinação sócio-ideológica.

No entanto, o mais importante não foi o fato de que a literatura passou a utilizar-se de conceitos da
linguística, mas sim de que ela começou a fundar sua concepção de literatura na noção de arbitrarie-
dade do signo, princípio basilar da ciência da linguagem.

A obra é construção e não representação direta e imediata da realidade, seja ela a consciência do au-
tor ou a consciência de uma classe social ou de uma fração de classe. Se a literatura é construção,
ela é linguagem, regida, portanto, por códigos, que é preciso descobrir no estudo da obra literária.

Não se buscam mais as fontes extralinguísticas do texto literário e afasta-se a ideologia de que a lin-
guagem representa o real, de que a linguagem é reflexo da realidade. Isso não deveria causar, como
provocou, espanto ou fortes reações, pois, afinal, Antonio Candido, considerado o expoente da aná-
lise sociológica, já dissera que a "mimese é sempre uma forma de poiese". Mais que o contexto da
criação, interessa o estudo da obra em si mesma.

Entre o final dos anos 70 e o início dos 80, há um novo rompimento entre a linguística e a literatura.
De um lado, os estudiosos de literatura consideram que a linguística nada tem de interessante a dizer
sobre a literatura e voltam a utilizar a velha e elementar gramática tradicional para justificar algum fato
de língua que sirva de apoio a suas conclusões.

Muito da produção linguística, por sua vez, abandona a perspectiva mais ampla da semiologia, que
se ocupava de explicar os sistemas de signo em geral, a fim de voltar-se para os fatos de língua. É o
período do apogeu das idéias formalistas, como as da gramática gerativa.

Mesmo a pragmática, que se consagra ao estudo do uso da linguagem, dedica-se à análise da lin-
guagem verbal - cf., por exemplo, os trabalhos de Austin, Searle, Grice, Ducrot. Mas o campo da lin-
guística vai ampliando-se.

A partir dos trabalhos de Benveniste sobre a enunciação, a ciência da linguagem cria um novo objeto
teórico, o discurso. Diversas teorias do discurso são criadas. Uma delas, a semiótica francesa, busca
construir o projeto saussuriano de uma semiologia, agora tendo como objeto não mais os sistemas de
signo, mas a significação.

Debruça-se sobre os textos, manifestação do discurso. A obra de Bakhtin e a análise do discurso de


linha francesa procuram, com os conceitos de dialogismo e de interdiscursividade, mostrar o modo de
funcionamento real do discurso, sua inscrição na História. Paralelamente às teorias do discurso, apa-
rece uma linguística do texto, que se debruça sobre os fatores de textualidade, como a coesão, a co-
erência, a intertextualidade.

Uma relação entre linguística e literatura, atualmente, não se fundará no uso pela literatura de rudi-
mentos de uma gramática elementar nem em princípios de organização gerais sobre os quais assen-
tar os estudos literários, mas em conceitos que explicam a organização do discurso literário e seu
modo de funcionamento. Isso quer dizer que os conceitos linguísticos devem ser um instrumento de
investigação do texto literário, que será estudado como processo enunciativo e totalidade textual. É

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

preciso que o recurso aos conceitos desenvolvidos pela linguística do discurso sirva para desvelar
novas camadas de sentido. Não pode ser nunca um meio de validar conclusões oriundas da intuição
do analista. Por isso, não serão suficientes as descrições morfológicas e sintáticas.

É preciso recorrer a todos os estudos de fenômenos enunciativos (figurativização, isotopia, modaliza-


ção, temporalização, actorialização, espacialização, modulação tensiva, meta-enunciação, aspectuali-
zação, contrato enunciativo; atos de fala, gêneros do discurso, pressupostos e subentendidos, leis do
discurso, conectores argumentativos, cenografia, interdiscursividade, heterogeneidade, espaços dis-
cursivos, campos discursivos, dialogismo, éthos, estilo e assim sucessivamente), bem como àqueles
a respeito dos mecanismos de textualização (categorias plásticas, semi-simbolismo, etc.).

Mas as teorias do discurso permitem ainda ver o próprio processo de criação literária como um ato
enunciativo, como uma atividade, como uma práxis discursivas, o que possibilita analisar a adoção ou
rejeição de usos inovadores ou cristalizados e a criação dos cânones e dos best-sellers, o desgaste e
a cristalização das formas, a ressemantização de fórmulas desgastadas ou cristalizadas, etc.

Pensemos agora a questão do lado contrário: o que a linguística importa da literatura. É necessário
colocar o texto literário e os estudos literários no coração da linguística para pensar a natureza da lin-
guagem humana como um mecanismo que contém as regras de sua própria subversão, bem como
para ampliar a compreensão da linguagem e dos mecanismos linguísticos.

É a leitura de João e Maria, de Chico Buarque, com seu uso do pretérito imperfeito pelo presente
("Agora eu era herói/ E o meu cavalo só falava inglês"), ou do poema Profundamente, de Manuel
Bandeira, com sua presentificação do passado, que nos leva a ver a temporalização não como um
decalque do tempo do mundo, mas como a construção linguística de uma vertigem temporal, em que
presente se torna passado, em que passado se presentifica, em que futuro é passado e assim por di-
ante.

A leitura da Profissão de fé, de Bilac, um poeta que hoje não goza de qualquer favor da crítica univer-
sitária, permite apreender o modo de funcionamento real do discurso com suas recusas, aceitações,
deslizamentos, ressignificações, retomadas.

É a leitura de um poema de Manoel de Barros, como o que se inicia com o verso "A menina apareceu
grávida de um gavião", que possibilita pensar os deslimites da referenciação e as possibilidades, com
o processo de figurativização, de criação de realidades na linguagem.

O capítulo XV, intitulado "Marcela", de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis,
mostra para nós os processos de tematização e figurativização. A forma como Riobaldo revela à pes-
soa com quem conversa seus sentimentos por Diadorim e seu verdadeiro sexo obriga a postular uma
distinção entre o narrador e o observador. Manuel de Barros, no poema O apanhador de desperdí-
cios, leva a recusar o caráter utilitário da linguagem, mostrando que ela é uma fonte de prazer:

Uso a palavra para compor meus silêncios.


Não gosto das palavras
fatigadas de informar
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.

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RECURSOS ESTILÍSTICOS E ESTRUTURAIS

Sou um apanhador de desperdícios:


amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Poderíamos continuar a desfiar exemplos para mostrar que a literatura tem que estar no coração da
reflexão linguística, tem que ser nutrida por ela, pois não é possível construir uma teoria linguística
com frases como Maria compra arroz e João passeia pelo Rio de Janeiro. No entanto, resta uma úl-
tima pergunta: é possível renovar o diálogo entre a linguística e a literatura, ele tem chance de acon-
tecer?

A resposta é pessimista: nenhuma. Para que houvesse uma interdisciplinaridade entre as duas áreas,
seria preciso disposição para mudar hábitos intelectuais, respeito pela diferença, abertura para a alte-
ridade, vontade de abandonar a comodidade de trilhar os sendeiros já batidos.

Seria necessário olhar para nossos vizinhos de sala sem desprezo; admitir que, em ciência, não há
feudo, não há exclusividade; reconhecer a legitimidade do outro para tratar do assunto em que se é
especialista.

Entretanto, a ciência desertou de nossas escolas, pois, quando um ponto de vista teórico ou um
campo do saber são vistos como a totalidade do conhecimento, como a verdade, estamos longe do
discurso científico e muito perto do discurso religioso. Aí a aventura da interdisciplinaridade some,
porque aparecem sumos sacerdotes, dogmas, interdições, excomunhões... A triagem sobreleva a
mistura. É isso que vivemos em nossas "igrejas", que estão fazendo estiolar qualquer projeto cientí-
fico.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos linguísticos a que os autores recorrem para tornar a linguagem
mais rica e expressiva. Esses recursos revelam a sensibilidade de quem os utiliza, traduzindo particula-
ridades estilísticas do emissor da linguagem. As figuras de linguagem exprimem também o pensamen-
to de modo original e criativo, exploram o sentido não literal das palavras, realçam sonoridade de vocá-
bulos e frases e até mesmo, organizam orações, afastando-a, de algum modo, de uma estrutura gra-
matical padrão, a fim de dar destaque a algum de seus elementos. As figuras de linguagem costumam
ser classificadas em figuras de som, figuras de construção e figuras de palavras ou semânticas.

Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos estilísticos da linguagem utilizados para dar maior ênfase às
palavras ou expressões da língua, sendo classificadas de acordo com as características que querem
expressar, a saber:

 Figuras de Pensamento: estas figuras de linguagem estão relacionadas ao significado (campo se-
mântico) das palavras, por exemplo: ironia, antítese, paradoxo, eufemismo, litote, hipérbole, gradação,
prosopopeia e apóstrofe.

 Figuras de Palavras: semelhantes às figuras de pensamento, elas também alteram o nível semântico
(significado das palavras), por exemplo: metáfora, metonímia, comparação, catacrese, sinestesia e
antonomásia.

 Figuras de Som: nesse caso, as figuras estão intimamente relacionada com a sonoridade, por exem-
plo: aliteração, assonância, onomatopeia e paranomásia.

 Figuras de Sintaxe: também chamadas de “Figuras de construção”, estão relacionadas com a estrutu-
ra gramatical da frase, as quais modificam o período, por exemplo: elipse, zeugma, hipérbato, anacolu-
to, anáfora, elipse, silepse, pleonasmo, assíndeto e polissíndeto.

Figuras de Linguagem são recursos estilísticos usados para dar maior ênfase à comunicação e torná-la
mais bonita.

Elas são classificadas em

 Figuras de palavras ou semânticas

 Figuras de pensamento

 Figuras de sintaxe ou construção

 Figuras de som ou harmonia

Figuras de Palavras

Metáfora

Comparação de palavras com significados diferentes e cujo termo comparativo fica subentendido na
frase.

Exemplo: A vida é uma nuvem que voa. (A vida é como uma nuvem que voa.)

Na semântica, a metáfora representa uma das figuras de linguagem, ou seja, recursos linguísticos-
semânticos utilizados em diversos contextos a fim de dar mais ênfase aos enunciados.

Assim, a metáfora, considerada uma figura de palavra, utiliza os termos no sentido denotativo e os
transforma no modo figurado (conotativo), afim de estabelecer uma analogia (comparação metafórica),
tendo em vista a relação de semelhança entre eles.

Do grego, a palavra “metáfora” (metáfora) é formada pelos termos “metá” (entre), e “pherō” (carregar)
que significa transporte, transferência, mudança.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Da língua latina a palavra metáfora, representa a união dos termos “meta” (algo) e “phora” (sem senti-
do), no sentido literal é "algo sem sentido".

De acordo com estudos linguísticos, a metáfora é uma das figuras de linguagem mais utilizadas cotidi-
anamente.

Comparação

Comparação explícita. Ao contrário da metáfora, neste caso são utilizados conectivos de comparação
(como, assim, tal qual).

Exemplo: Seus olhos são como jabuticabas.

A comparação (ou símile) é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de palavras.

Ela é determinada por meio da relação de similaridade, ou seja, pela comparação de dois termos ou
ideias num enunciado.

Geralmente, é acompanhada de elementos comparativos (conectivos): com, como, tal qual, tal como,
assim, tão, quanto, parece, etc.

É muito comum o emprego da comparação na linguagem informal (coloquial) e nos textos artísticos,
por exemplo, na música, na literatura e no teatro.

Além da comparação, temos as figuras de palavras:

metáfora, metonímia, catacrese, perífrase (ou antonomásia) e sinestesia.

Exemplos

Para compreender melhor a figura de linguagem comparação, confira abaixo alguns exemplos na litera-
tura e na música:

 “É que teu riso penetra n'alma/Como a harmonia de uma orquestra santa.” (Castro Alves)

 “Meu amor me ensinou a ser simples como um largo de igreja.” (Oswald de Andrade)

 “Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador”. (Cecília Meire-
les)

 “Eu faço versos como quem chora/De desalento... de desencanto...” (Manuel Bandeira)

 “A vida vem em ondas,/como um mar/Num indo e vindo/infinito.” (Música “Como uma onda” de Lulu
Santos)

 “Avião parece passarinho/Que não sabe bater asa/Passarinho voando longe/Pareceborboleta que
fugiu de casa.” (Música “Sonho de uma flauta” de Teatro Mágico)

Comparação e Metáfora

É muito comum haver confusão entre as figuras de palavras: comparação e metáfora. Apesar de am-
bas utilizarem uma analogia entre termos, elas são diferentes.

Enquanto na metáfora ocorre uma comparação entre dois termos de forma implícita, na comparação
ela acontece de maneira explícita.

Importante ressaltar que a metáfora não utiliza um elemento comparativo, o qual surge na comparação.

Exemplos:

Nossa vida tem sido um mar de rosas. (metáfora ou comparação implícita)


Nossa vida tem sido como um mar de rosas. (comparação ou comparação explícita)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Metonímia

Transposição de significados considerando parte pelo todo, autor pela obra.

Exemplo: Costumava ler Shakespeare. (Costumava ler as obras de Shakespeare.)

Na semântica, a metonímia é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de palavra, as
quais são largamente utilizadas para dar ênfase aos discursos.

Dessa maneira, a metonímia é um recurso linguístico-semântico que substitui outro termo segundo a
relação de contiguidade e/ou afinidade estabelecida entre duas palavras, conceitos, ideias, por exem-
plo:

Aquele homem é um sem-teto (nesse caso, a expressão “sem-teto”, representa a substituição de um


conceito referente às pessoas que não possuem casa.

Do grego, a palavra "metonímia" (metonymía) é constituída pelos termos “meta” (mudança) e “onoma”
(nome) que literalmente significa “mudança de nome”.

Exemplos de Metonímia

A metonímia pode ocorrer de inúmeras maneiras sendo as mais comum os casos abaixo:

 Parte pelo todo: Ele possuía inúmeras cabeças de gado. (bois)

 Causa pelo efeito: Consegui comprar a televisão com meu suor. (trabalho)

 Autor pela obra: Li muitas vezes Camões. (obra literária do autor)

 Inventor pelo Invento: Meu pai me presenteou com um Ford. (inventor da marca Ford: Henri Ford)

 Marca pelo produto: Meu pai adora tomar Nescau com leite. (chocolate em pó)

 Matéria pelo objeto: Passou a vida atrás do vil metal. (dinheiro)

 Singular pelo plural: O cidadão foi às ruas lutar pelos seus direitos. (vários cidadãos)

 Concreto pelo abstrato: Natália, a melhor aluna da classe, tem ótima cabeça. (inteligência)

 Continente pelo conteúdo: Quero um copo d’água. (copo com água)

 Gênero pela espécie: Os homens cometeram barbaridades. (humanidade)

Catacrese

Emprego impróprio de uma palavra por não existir outra mais específica.

Exemplo: Embarcou há pouco no avião.

Embarcar é colocar-se a bordo de um barco, mas como não há um termo específico para o avião, em-
barcar é o utilizado.

A catacrese é uma figura de linguagem que representa um tipo de metáfora de uso comum que, com o
passar do tempo, foi desgastada e se cristalizou.

Isso porque ao utilizarmos tanto determinada palavra, não notamos mais o sentido figurado expresso
nela. Por exemplo: O pé da cadeiraestá quebrado.

O exemplo acima nos leva a pensar no sentido denotativo e conotativo das palavras. Ou seja, a cadeira
não possui um “pé”, que no sentido denotativo é uma extremidade do membro inferior encontrada nos
animais terrestres.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Lembre-se que o sentido denotativo é aquele encontrado nos dicionários, o qual representa o conceito
“real” da palavra. No exemplo acima, o pé da cadeira está no sentido conotativo (ou figurado) da pala-
vra.

Sendo assim, a catacrese é um tipo especial de metáfora que já foi incorporada por todos os falantes
da língua.

Mas, por ser uma expressão muito utilizada e, portanto, desgastada, estereotipada, viciada e pouco
original, ela é considerada uma catacrese.

Nesse sentido, utilizamos essa figura de linguagem por meio da aproximação ou semelhança da forma
de tal objeto.

Assim, a catacrese faz uma comparação e usa um determinado termo por não ter outro que designe
algo específico. De tal modo, a palavra perde seu sentido original.

Entenda mais sobre os conceitos de:

 Conotação e Denotação

 Metáfora

A catacrese está na categoria de figuras de palavras, ao lado da metáfora, metonímia, comparação,


antonomásia e sinestesia.

Exemplos de Catacrese

A catacrese é muito utilizada na linguagem coloquial (informal) e também em textos poéticos e músi-
cas. Pode ser considerada uma gíria, uma vez que facilita o processo comunicativo pelo uso de outras
palavras.

Confira abaixo alguns exemplos muito comuns de catacrese:

 Árvore genealógica

 Fio de óleo

 Céu da boca

 Boca do túnel

 Boca da garrafa

 Pele do tomate

 Braço do sofá

 Braço da cadeira

 Braço de rio

 Corpo do texto

 Pé da página

 Pé da cama

 Pé da montanha

 Pé de limão

 Perna da mesa

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Maçã do rosto

 Coroa do abacaxi

 Asa da xícara

 Asa do avião

 Dentes do serrote

 Dentes de alho

 Cabeça do alho

 Cabeça do prego

 Cabeça do alfinete

 Batata da perna

Exemplo de Catacrese na Literatura

“Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido
alguns anos.” (Graciliano Ramos em Vidas Secas.)

A expressão “cotovelo da estrada” é um tipo de catacrese, utilizada nos textos poéticos para oferecer
maior expressividade ao texto.

Exemplo de Catacrese na Música

“Usei a cara da lua/As asas do vento/Os braços do mar/O pé da montanha” (MPB-4 em “Composição
Estranha”)

As expressões “os braços do mar” e “o pé da montanha” são exemplos de catacrese.

Já as expressões “cara da lua” e “asas do vento” são exemplos de metáfora que ocorrem por meio de
uma relação de similaridade.

Curiosidades sobre Catacrese

Segundo a origem etimológica, a palavra catacrese vem do latim “catachresis” e do grego “katakhresis”
e significa “mau uso”.

Originalmente, o termo “embarcar” era utilizado para expressar a entrada num barco. Mas de tanto que
foi utilizada pelos falantes para entrar em outros meios de transporte, hoje a utilizamos sem notar seu
sentido original. Assim, a palavra “embarcar” trata-se de uma catacrese.

Da mesma forma, a palavra “azulejo” era utilizada para determinar ladrilhos azuis. Atualmente, a utili-
zamos para determinar qualquer cor de ladrilho. E, portanto, também se trata de uma catacrese.

Ainda temos a palavra “encaixar” que no sentido original significava “colocar em caixas”. O termo foi
tão utilizado pelos falantes da língua que hoje determina a colocação de algo num local que cabe per-
feitamente.

Sinestesia

Associação de sensações por órgãos de sentidos diferentes.

Exemplo: Com aquele olhos frios, disse que não gostava mais da namorada.

A frieza está associada ao tato e não à visão.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

A sinestesia é uma figura de linguagem que faz parte das figuras de palavras. Ela está associada com
a mistura de sensações relacionadas aos sentidos: tato, audição, olfato, paladar e visão.

Sendo assim, essa figura de linguagem estabelece uma relação entre planos sensoriais diferentes.

Ela é muito utilizada como recurso estilístico e, portanto, surge em diversos textos poéticos e musicais.
No movimento simbolista, a sinestesia foi muito empregada pelos escritores.

Além da sinestesia, outras figuras de palavras são: a metáfora, a metonímia, a comparação,


a catacrese e a perífrase (ou antonomásia).

Exemplos

Confira abaixo alguns exemplos de sinestesia na literatura:

 “E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas alagadas e lustrosas um frêmito alegre e doce.”
(Eça De Queiros)

 “Por uma única janela envidraçada, (…) entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras.” (Cla-
rice Lispector)

 “Insônia roxa. A luz a virgular-se em medo. / O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou / Gritam-
me sons de cor e de perfumes.” (Mário de Sá-Carneiro)

 “As falas sentidas, que os olhos falavam/ Não quero, não posso, não devo contar.” (Casimiro de
Abreu)

 “Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio
manacá, meio alfazema.” (Mário de Andrade)

 “O céu ia envolvendo-a até comunicar-lhe a sensação do azul, acariciando-a como um esposo, dei-
xando-lhe o odor e a delícia da tarde.” (Gabriel Miró)

 “Que tristeza de odor a jasmim!” (Juan Ramón Jiménez)

Sinestesia na Medicina

A sinestesia é um termo utilizado também na área da medicina. Trata-se de uma condição neurológica
(não é considerada doença), geralmente de causa genética (hereditária).

Ela faz com que um estímulo neurológico cognitivo ou sensorial provoque uma resposta numa outra via
cognitiva ou sensorial. Trata-se, portanto, de uma confusão mental.

Assim, um estímulo num determinado sentido provoca reações em outro, criando uma combinação
entre visão, audição, olfato, paladar e tato.

Pessoas que tem essa condição neurológica, por exemplo, ouvem cores e sentem sons.

Curiosidades

Do grego, o termo “synaísthesis” é formado pelos vocábulos “syn” (união) e “esthesia” (sensação). As-
sim, a palavra está relacionada com a união de sensações.

O termo “cinestesia” (com c) está relacionado com a percepção corporal por meio da ação dos múscu-
los e da sustentação do corpo.

Perífrase

Substituição de uma ou mais palavras por outra que a identifique.

Exemplo: O rugido do rei das selvas é ouvido a uma distância de 8 quilômetros. (O rugido do leão é
ouvido a uma distância de 8 quilômetros.)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

A perífrase é uma figura de linguagem que está relacionada com as palavras. Por esse motivo, ela está
na categoria de figuras de palavras.

A perífrase ocorre pela substituição de uma ou mais palavras por outra expressão. Essa substituição é
feita mediante uma característica ou atributo marcante sobre determinado termo (ser, objeto ou lugar).

Além de ser usada na linguagem coloquial (informal), é comum a utilização da perífrase como recurso
estilístico em textos poéticos e musicais.

Ainda que a perífrase e a antonomásia sejam consideradas a mesma figura de linguagem, a antono-
másia trata-se de um tipo de perífrase. Assim, a antonomásia é quando se refere a uma pessoa (no-
mes próprios).

Note que a perífrase é também chamada de circunlóquio uma vez que apresenta um pensamento de
modo indireto, com rodeios. Do grego, a palavra “períphrasis” significa o ato de falar em círculos.

Outras figuras de palavras são: metáfora, metonímia, comparação, catacrese e sinestesia.

Para saber mais sobre essa figura de linguagem, confira abaixo alguns exemplos.

Exemplos de Perífrase

 A cidade luz foi atingida por terroristas nessa tarde. (Paris)

 A terra da garoa está cada vez mais perigosa. (São Paulo)

 Sampa é o grande centro financeiro do país. (São Paulo)

 O país do futebol conquistou mais uma medalha nas olimpíadas. (Brasil)

 O país do carnaval celebrou mais uma conquista política. (Brasil)

 A cidade maravilhosa foi palco das olimpíadas 2016. (Rio de Janeiro)

 O Timão venceu mais um campeonato. (Corinthians)

 Mais ouro negro foi descoberto no Brasil. (Petróleo)

 O Velho Chico vem sofrendo com problemas ambientais. (Rio São Francisco)

 O pulmão do mundo está sofrendo com o desmatamento desenfreado. (Amazônia)

Exemplos de Antonomásia

 O poeta dos escravos escreveu diversos poemas abolicionistas. (Castro Alves)

 O rei do reggae recebeu em 1976 o prêmio de "Banda do Ano". (Bob Marley)

 A dama do teatro brasileiro foi indicada ao Oscar de melhor atriz. (Fernanda Montenegro)

 O divino mestre partilhou diversos ensinamentos. (Jesus)

 O pai da aviação foi um grande inventor brasileiro. (Santos Dumont)

 O poeta da vila é considerado um dos mais importantes músicos do Brasil. (Noel Rosa)

 O show do Rei estava lotado. (Roberto Carlos)

 O rei do pop faleceu em Los Angeles no ano de 2009. (Michael Jackson)

 A rainha dos baixinhos nasceu na cidade de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. (Xuxa)

 O rei do futebol é considerado um dos maiores futebolistas da história mundial. (Pelé)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Perífrase Verbal

No âmbito da gramática, a perífrase verbal é uma locução verbal que substitui um verbo simples, por
exemplo:

Ele deve trabalhar essa noite. (verbo auxiliar e verbo principal)

Hipérbole

Exagero intencional na expressão.

Exemplo: Quase morri de estudar.

Na língua portuguesa, a Hipérbole ou Auxese é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figu-
ra de pensamento, a qual indica o exagero intencional do enunciador.

Em outras palavras, a hipérbole é um recurso muito utilizado, inclusive na linguagem do dia-a-dia, a


qual expressa uma ideia exagerada ou intensificada de algo ou alguém, por exemplo: "Es-
tou morrendo de sede".

Note que o "contrário" da hipérbole, é a figura de pensamento denominada eufemismo, posto que ele
suaviza ou ameniza as expressões, enquanto a hipérbole as intensifica.

Figuras de Pensamento

Hipérbole

Exagero intencional na expressão.

Exemplo: Quase morri de estudar.

Na língua portuguesa, a Hipérbole ou Auxese é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figu-
ra de pensamento, a qual indica o exagero intencional do enunciador.

Em outras palavras, a hipérbole é um recurso muito utilizado, inclusive na linguagem do dia-a-dia, a


qual expressa uma ideia exagerada ou intensificada de algo ou alguém, por exemplo: "Es-
tou morrendo de sede".

Note que o "contrário" da hipérbole, é a figura de pensamento denominada eufemismo, posto que ele
suaviza ou ameniza as expressões, enquanto a hipérbole as intensifica.

Eufemismo

Forma de suavizar o discurso.

Exemplo: Entregou a alma a Deus.

Acima, a frase informa a morte de alguém.

O Eufemismo é uma figura de pensamento, que corresponde a um dos subgrupos das figuras de lin-
guagem, a qual está intimamente relacionada ao significado das palavras. Do grego, a palavra
“euphémein” é formada pelo termo “pheme” (palavra) e o prefixo "eu-" (bom, agradável), que significa
“pronunciar palavras agradáveis”.

Sendo assim, o eufemismo é um recurso estilístico muito utilizado na linguagem coloquial bem como
nos textos literários com o intuito de atenuar ou suavizar o sentido das palavras, substituindo assim, os
termos contidos no discurso, embora o sentido essencial permanece, por exemplo: Ele deixou esse
mundo. (nesse caso, a expressão “deixou esse mundo”, ameniza o discurso real: ele morreu.)

Dessa forma, esse recurso é utilizado muitas vezes pelo emissor do discurso, para que o receptor não
se ofenda com a mensagem triste ou desagradável que será enunciada. No entanto, há expressões em
que notamos a presença do eufemismo, com um tom irônico, por exemplo: Ela vestiu o paletó de ma-

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FIGURAS DE LINGUAGEM

deira, frase indicando a morte da pessoa, de forma que a expressão “paletó de madeira” faz referência
ao objeto “caixão, ataúde, urna funerária”.

Note que o eufemismo se opõe a figura de pensamento denominada hipérbole, visto que ela é baseada
no exagero intencional do enunciador do discurso. Em outras palavras, enquanto o eufemismo suaviza
as expressões, a principal função da hipérbole é intensificar ou aumentar o sentido das palavras.

Litote

Forma de suavizar uma ideia. Neste sentido, assemelha-se ao eufemismo, bem como é a oposição da
hipérbole.

Exemplo: — Não é que sejam más companhias… — disse o filho à mãe.

Pelo discurso, percebemos que apesar de as suas companhias não serem más, também não são boas.

Litote é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de pensamento. Ele é usado para
abrandar uma expressão por meio da negação do contrário. Ele permite afirmar algo por meio da ne-
gação, por exemplo:

Eu não estou feliz com a notícia da prefeitura. Nesse exemplo, a expressão “não estou feliz” atenua a
ideia de “ficar triste”.

Lembre-se que essas palavras de significados opostos são chamadas de antônimos, por exemplo: bom
e mau, feliz e triste, caro e barato, bonito e feio, rico e pobre, etc.

O litote é muito utilizado na linguagem coloquial (informal) e geralmente o locutor tem o intuito de não
dizer diretamente o que se pretende. Além disso, ele é empregado nos textos literários.

Isso porque algumas vezes a expressão pode soar desagradável ou mesmo ter um tom agressivo para
o ouvinte.

Exemplos

 Joana pode não ser das melhores alunas da classe. (é ruim, ou seja, não é boa)

 Luíza não é das mais bonitas. (é feia, ou seja, não é bonita)

 Essa camisa não é cara. (é barata, ou seja, não é cara)

 Seus conselhos não são maus. (são bons, ou seja, não são maus)

 Rafael não está certo sobre o crime. (está errado, ou seja, não está certo)

 Essa bebida não está quente. (está fria, ou seja, não está quente)

 Sofia não é nada boba. (é esperta, ou seja, não é boba)

 Samuel não é pobre pois tem uma grande casa na praia. (é rico, ou seja, não é pobre)

 Manuela não dançou bem na apresentação da escola. (dançou mal, ou seja, não dançou bem)

 O supervisor Marcos não está limpo. (está sujo, ou seja, não está limpo)

Litote e Eufemismo

O litote e o eufemismo são duas figuras que pensamento que podem causar confusão. Isso porque o
eufemismo também é usado para atenuar uma ideia, por exemplo: Salvador não está mais entre nós
(ele morreu).

Da mesma maneira, o litote suaviza um enunciado, mas lembre-se que ele ocorre mediante a negação
do contrário.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Sendo assim, o litote se opõe à figura de pensamento chamada hipérbole, uma vez que ela marca um
exagero intencional do enunciador.

Ironia

Representação do contrário daquilo que se afirma.

Exemplo: É tão inteligente que não acerta nada.

Sarcasmo e Ironia

O sarcasmo e a ironia são recursos estilísticos empregados pelos emissores dos textos (sejam os tex-
tos orais ou escritos) com o intuito de oferecer maior expressividade ao discurso enunciado.

Em outras palavras, o sarcasmo e a ironia são utilizadas quando o autor do texto pretende oferecer
uma maior dramaticidade ao discurso, utilizando, dessa maneira, as palavras em seu sentido conotati-
vo (figurado), em detrimento de seu sentido real, chamado de denotativo.

Diferença entre Sarcasmo e Ironia

Embora sejam termos que se aproximem e muitas vezes são empregados como sinônimos, o sarcas-
mo e a ironia possuem suas peculiaridades. Destarte, o sarcasmo é um recurso expressivo utilizado
sobretudo, com um sentido provocativo, malicioso e de crítica, enquanto a ironia é a uma figura de
linguagem que expressa o oposto do que o autor pretende afirmar.

Sarcasmo e Ironia

O sarcasmo e a ironia são recursos estilísticos empregados pelos emissores dos textos (sejam os tex-
tos orais ou escritos) com o intuito de oferecer maior expressividade ao discurso enunciado.

Em outras palavras, o sarcasmo e a ironia são utilizadas quando o autor do texto pretende oferecer
uma maior dramaticidade ao discurso, utilizando, dessa maneira, as palavras em seu sentido conotati-
vo (figurado), em detrimento de seu sentido real, chamado de denotativo.

Diferença entre Sarcasmo e Ironia

Embora sejam termos que se aproximem e muitas vezes são empregados como sinônimos, o sarcas-
mo e a ironia possuem suas peculiaridades. Destarte, o sarcasmo é um recurso expressivo utilizado
sobretudo, com um sentido provocativo, malicioso e de crítica, enquanto a ironia é a uma figura de
linguagem que expressa o oposto do que o autor pretende afirmar.

Em resumo, o sarcasmo e a ironia estão intimamente ligados, entretanto, diferem na intenção estabe-
lecida pelo escritor, ou seja, o sarcasmo sempre apresenta um tom provocador, mordaz e de zombaria,
que apela ao humor ou ao riso, todavia, a ironia apresenta um tom menos áspero, de forma que se
trata de uma contradição do sentido literal das palavras, sendo utilizada de forma mais amena, sutil.

Não obstante, para alguns estudiosos do tema, o sarcasmo corresponde a um tipo de ironia com um
teor provocativo, e por sua vez, a ironia pode ser classificada de três maneiras, a saber: a ironia oral,
que expressa a diferença entre o discurso e a intenção; a ironia dramática ou satírica, diferença entre a
expressão e a compreensão; e a ironia de situação que corresponde a diferença existente entre a in-
tenção e o resultado da ação.

Ambos termos são provenientes da língua grega: a palavra sarcasmo (sarkasmós) significa zombaria,
escárnio, enquanto a palavra ironia (euroneia) significa dissimular, fingir. Para o escritor contemporâ-
neo brasileiro Gabito Nunes: “Quando uso o humor como escudo, é ironia. Quando uso o humor como
arma, é sarcasmo”.

Exemplos

Para estabelecer melhor essa distinção entre o sarcasmo e a ironia, vejamos os exemplos abaixo:

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Ela é tão inteligente que errou todas as questões da prova. (Ironia)

 Sua maquiagem está linda, mas seu rosto é bem mais. (Sarcasmo)

Personificação

Atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais.

Exemplo: O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

Na língua portuguesa, a personificação (também chamada de prosopopeia ou animismo) é uma figura


de linguagem, mais precisamente, uma figura de pensamento muito utilizada nos textos literários.

Ela está diretamente relacionada com o significado (campo semântico) das palavras e corresponde ao
efeito de “personificar”, ou seja, dar vida aos seres inanimados.

Desse modo, a personificação é utilizada para atribuir sensações, sentimentos, comportamentos, ca-
racterísticas e/ou qualidades essencialmente humanas (seres animados) aos objetos inanimados ou
seres irracionais, por exemplo: O dia acordou feliz.

Segundo o exemplo, a característica de “acordar feliz” é uma característica humana, que, nesse caso,
está atribuída ao dia (substantivo inanimado).

Note que a personificação pode também atribuir qualidades de seres animados a outros seres anima-
dos, por exemplo, os animais: A cachorro sorriu para o dono.

A palavra personificação, derivada do verbo personificar, possui origem latina, sendo formada pelos
termos “persona” (pessoa, face, máscara) e o sufixo "–ção", que denota ação, ou seja, significa, ao pé
da letra, uma pessoa mascarada.

Da mesma maneira, a palavra prosopopeia, derivada do grego, é formada pelos termos “prosopon”
(pessoa, face, máscara) e “poeio” (finjo), ou seja, significa pessoa que finge.

Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos estilísticos muito utilizadas nos textos literários, de modo que o
enunciador (emissor, autor) pretende dar mais ênfase ao seu discurso. Assim, ele emprega as palavras
no sentido conotativo, ou seja, no sentido figurado, em detrimento do sentido real atribuído à palavra, o
sentido denotativo.

As figuras de linguagem são classificadas em:

 Figuras de Palavras: metáfora, metonímia, comparação, catacrese, sinestesia e antonomásia.

 Figuras de Pensamento: ironia, antítese, paradoxo, eufemismo, litote, hipérbole, gradação, personifi-
cação e apóstrofe.

 Figuras de Sintaxe: elipse, zeugma, silepse, assíndeto, polissíndeto, anáfora, pleonasmo, anacoluto e
hipérbato.

 Figuras de Som: aliteração, assonância, onomatopeia e paranomásia.

Exemplos de Personificação

Segue abaixo alguns exemplos em que a personificação é empregada:

O dia acordou feliz e o sol sorria para mim.


O vento assobiava esta manhã em que o céu chorava.
Naquela noite, a lua beijava o céu.
Após a erupção do vulcão, o fogo dançava por entre as casas.

Nos exemplos acima, nota-se a utilização da personificação, na medida em que características de se-
res animados (que possuem alma, vida) são atribuídas aos seres inanimados (sem vida).

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Note que os verbos ligados os substantivos inanimados (dia, sol, vento, fogo e lua) são características
dos seres humanos: acordar, sorrir, assobiar, chorar e beijar.

Antítese

Uso de termos que têm sentidos opostos.

Exemplo: Toda guerra finaliza por onde devia ter começado: a paz.

A Antítese representa uma figura de pensamento, pertencente a um dos subgrupos que compõem as
figuras de linguagem, que por sua vez, são recursos estilísticos que buscam proporcionar maior ênfa-
se, destaque ou expressividade ao discurso proferido.

De tal modo, a antítese corresponde a aproximação de palavras com sentidos opostos, por exemplo: o
ódio e a amor andam de mãos dadas. (nesse caso, o termo “ódio” está posicionada ao lado de seu
termo contrário, o "amor")

Na história literatura, a linguagem do período barroco (1580-1756), escola literária baseada nos con-
trastes, conflitos, dualidades e excessos, utilizou a antítese como um dos principais recursos estilísti-
cos. Do grego, a palavra “antithèsis” é formada pelos termos “anti” (contra) e thèsis (ideia), que significa
literalmente ideia contra.

Diferença entre Antítese e Paradoxo

Muito comum haver confusão entre as figuras de pensamento denominadas antítese e paradoxo, uma
vez que ambas estão pautadas na oposição.

No entanto, a antítese apresenta palavras ou expressões que contenham significados contrários, en-
quanto o paradoxo (também chamado de oximoro) emprega ideias opostas e absurdas entre o mesmo
referente no discurso.

Para entender melhor essa diferença, observe os exemplos abaixo:

 Durante a vida, acreditamos em muitas verdades e mentiras (antítese)

 Para mim, a melhor companhia é a solidão. (paradoxo)

Ambos exemplos estão pautados na oposição, no entanto, o primeiro buscou expor palavras contrárias,
ou seja, "verdade" e "mentira", enquanto no segundo, a oposição ocorre no mesmo referente, por meio
da ideia absurda de que a solidão é boa companhia, o que contraria o conceito ruim associado à condi-
ção da solidão: não ter amigos ou companheiros, ser um dos principais motivos da depressão, suicí-
dios, dentre outros.

Exemplos de Antítese

Segue abaixo alguns exemplos em que a antítese é empregada. Note que os termos em destaque
apontam para seus opostos:

 A relação deles era de amor e ódio.

 O dia está frio e meu corpo está quente.

 A vida e a morte: duas figuras de uma mesma moeda.

 A tristeza e a felicidade fazem parte da vida.

 Bonito para alguns, feio para outros.

 Vivemos num paraíso ou num inferno?

 Faça sol ou faça chuva, estarei no teatro.

 O céu e a terra se fundem tal qual uma pintura.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 A luz e a escuridão estavam presentes em sua obra.

 Não sei dizer qual verdade reside na mentira.

Paradoxo

Uso de ideias que têm sentidos opostos, não apenas de termos (tal como no caso da antítese).

Exemplo: Estou cego de amor e vejo o quanto isso é bom.

Como é possível alguém estar cego e ver?

Na literatura, o paradoxo (também chamado de oximoro) é uma figura de pensamento baseada na


contradição.

Muitas vezes pode apresentar uma expressão absurda e aparentemente sem nexo, entretanto, expõem
uma ideia fundamentada na verdade.

Esse conceito é também utilizado em outras áreas do conhecimento, tal qual a filosofia, psicologia,
retórica, matemática e física.

Do latim, o termo paradoxo (paradoxum) é formado pelo prefixo “para” (contrário ou oposto) e o sufixo
“doxa” (opinião), que literalmente significa opinião contrária.

Exemplo de Paradoxo

Para entender melhor o conceito de paradoxo, vejamos a seguir, o soneto do português Luís Vaz de
Camões (1524-1580).

O escritor utiliza o paradoxo como principal figura de linguagem, ao unir ideais contraditórias que, por
sua vez, apresentam uma coerência:

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Gradação

Apresentação de ideias que progridem de forma crescente (clímax) ou decrescente (anticlímax).

Exemplo: Inicialmente calma, depois apenas controlada, até o ponto de total nervosismo.

No exemplo acima acompanhamos a progressão da tranquilidade até o nervosismo.

A gradação (ou clímax) é uma figura de linguagem que está na categoria de figura de pensamento. Ela
ocorre mediante uma hierarquia dos termos que compõem a frase.

A gradação é empregada por meio da enumeração de elementos frasais. Tem o intuito de enfatizar as
ideias numa sentença de ritmo crescente, até atingir o clímax (grau máximo).

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Ou seja, ela oferece maior expressividade ao texto utilizando uma sequência de palavras que intensifi-
cam uma ideia de maneira gradativa, e por isso recebe esse nome.

Essa figura de estilo é utilizada na linguagem artística, seja em textos poéticos ou musicais.

Classificação

Na gradação, essa hierarquia pode ocorrer na forma crescente ou decrescente. Quando ela ocorre de
maneira crescente é chamada de clímax ou gradação ascendente.

Por sua vez, se ocorre de maneira decrescente é chamada de anticlímax ou gradação descendente.
Para compreender melhor, confira abaixo os exemplos:

 No restaurante, sentei, pedi, comi, paguei. (clímax)

 Ana estava pelo mundo e chegou no país, no estado, na cidade, no bairro. (anticlímax)

Exemplos de Gradação

Veja abaixo exemplos de gradação na literatura e na música:

 “Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,/eu era amor. Só isso encontro./Caminho, navego,
voo,/- sempre amor.” (Cecília Meireles)

 “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns cingidos de luz, outros ensangüentados (...).”
(Machado de Assis)

 “Em cada porta um freqüentado olheiro,/que a vida do vizinho, e da vizinha/pesquisa, escuta, esprei-
ta, e esquadrinha,/para a levar à Praça, e ao Terreiro.” (Gregório de Matos)

 “Oh, não aguardes, que a madura idade/Te converta em flor, essa beleza/Em terra, em cinza, em pó,
em sobra, em nada.” (Gregório de Matos)

 “O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se.” (Padre Antônio Vieira)

 “Ninguém deve aproximar-se da jaula, o felino poderá enfurecer-se, quebrar as grades, despedaçar
meio mundo.” (Murilo Mendes)

 “Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Monteiro Lobato)

 “Carregando flores/E a se desmanchar/E foram virando peixes/Virando conchas/Virando sei-


xos/Virando areia.” (Música “Mar e Lua” de Chico Buarque)

 “E o meu jardim da vida/Ressecou, morreu/Do pé que brotou Maria/Nem margarida nasceu.” (Música
“Flor de Lis de Djavan)

Apóstrofe

Interpelação feita com ênfase.

Exemplo: Ó céus, é preciso chover mais?

Apóstrofe é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de pensamento.

É caracterizada pelas expressões que envolvem invocações, chamamentos e interpelações de um


interlocutor (seres reais ou não).

Por esse motivo, a apóstrofe exerce a função sintática de vocativo, sendo, portanto, uma característica
dos discursos diretos.

De tal maneira, ela interrompe a narração com o intuito de invocar alguém ou algo que esteja presente
ou ausente no momento da fala.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

A apóstrofe é um recurso estilístico muito utilizado na linguagem informal (cotidiana), nos textos religio-
sos, políticos e poéticos.

Além da apóstrofe, as figuras de pensamento são: gradação (ou clímax), personificação(ou prosopo-
peia), eufemismo, hipérbole (ou auxese), litote, antítese, paradoxo (ou oxímoro) e ironia.

Exemplos

 Ó Deus! Ó Céus! Porque não me ligou?

 Senhor, tende piedade de nós.

 Padre, posso me confessar?

 Povo de São Paulo! Vamos vencer juntos.

 Liberdade, Liberdade! É isso que pretendemos nessa luta.

 Nossa! Como você conseguiu?

 Minha Filha! Que linda você está!

Exemplos na Literatura

 “Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal.” (Fernando Pessoa)

 “Olha Marília, as flautas dos pastores,/Que bem que soam, como são cadentes!” (Bocage)

 “Criança! não verás país nenhum como este:/Imita na grandeza a terra em que nasceste!” (Olavo
Bilac)

 “Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres.” (Vinícius de Moraes)

 “Deus, ó Deus! Onde estás, que não me respondes?” (Castro Alves).

 “Supremo Senhor e Governador do universo, que às sagradas quinas de Portugal, e às armas e cha-
gas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus?...” (Padre Antônio
Vieira)

Atenção!

Não confunda apóstrofe com apóstrofo. Enquanto o primeiro é uma figura de pensamento, o segundo é
um sinal gráfico (’) que indica a supressão de letras e sons, por exemplo: copo d’água.

A apóstrofe e o apóstrofo são palavras parônimas. Ou seja, termos que se assemelham na grafia e na
pronúncia, mas diferem no sentido.

Figuras de Sintaxe

Elipse

Omissão de uma palavra que se identifica de forma fácil.

Exemplo: Tomara você me entenda (Tomara que você me entenda).

A elipse é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de sintaxe (ou de construção).
Isso porque ela está relacionada com a construção sintática dos enunciados.

Ela é utilizada para omitir termos numa sentença que não forem mencionados anteriormente. No entan-
to, esses termos são facilmente identificáveis pelo interlocutor.

Exemplo: Comi no restaurante da minha avó na semana passada.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

No exemplo acima, sabemos que pela conjugação do verbo (primeira pessoa do singular), o termo
omitido foi o pronome pessoal (eu). Esse caso é chamado de “elipse de sujeito”. Além da omissão do
sujeito, a elipse pode ocorrer com outros termos da frase: verbos, advérbios e conjunções.

Utilizamos essa figura de linguagem (ou estilo) cotidianamente nos discursos informais (linguagem
oral).

Ela é também muito empregada nos textos de modo a oferecer maior fluidez textual, evitando, por
exemplo, a repetição de alguns termos nas frases. Importante notar que a ausência desses termos não
interfere na compreensão textual. Além da elipse, outras figuras de sintaxe são:

Zeugma, hipérbato, silepse, assíndeto, polissíndeto, anáfora, anacoluto e pleonasmo.

Exemplos

Confira abaixo alguns exemplos de elipse na música e na literatura:

 “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (Machado de Assis) – omissão do verbo “haver”. (Na
sala havia apenas quatro ou cinco convidados)

 “A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.” (Carlos Drummond de Andrade) – omissão
da conjunção “se”. (A tarde talvez fosse azul se não houvesse tantos desejos)

 “Onde se esconde a minha bem-amada?/Onde a minha namorada...” (música “Canto triste” Edu Lo-
bo) – omissão do verbo “está”. (Onde está a minha namorada...)

 “Quando olhaste bem nos olhos meus/E o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei.” (música
“Atrás da porta”) –omissão dos pronomes “tu” e “eu” (Quando tu olhaste bem nos olhos meus/E o teu
olhar era de adeus, eu juro que não acreditei)

Elipse e Zeugma

A zeugma, tal qual a elipse, é figura de sintaxe. Ela é considerada um tipo de elipse.

A diferença entre elas consiste na identificação do termo na frase. Ou seja, na elipse, o termo pode ser
identificado pelo contexto, ou mesmo, pela gramática. Mas, na elipse esses termos não foram mencio-
nados anteriormente.

Já na zeugma, os termos que foram omitidos já foram mencionados. Para compreender melhor, veja
abaixo os exemplos:

 Elipse: Andei por todo o parque. (Eu)

 Zeugma: Anne comprou banana, eu, maçã. (Comprei)

Atenção!

Quando a zeugma é empregada, o uso da vírgula, do ponto e vírgula ou do ponto final é obrigatório.

Exemplos:

 Na casa de Alfredo tinha jacuzzi; na minha, uma piscina. (omissão de “tinha”)

 Na casa de Maria havia laranjeira. Na minha, limoeiro. (omissão de “havia”)

 Mariana prefere artes plásticas, eu, cinema. (omissão de “prefiro”)

Curiosidades

 Do grego, o termo “élleipsis” significa “omissão” ou “falta”.

 Na matemática, o termo elipse define um tipo de forma ou de gráfico.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Na astronomia, as elipses designam órbitas planetárias.

Zeugma

Omissão de uma palavra pelo fato de ela já ter sido usada antes.

Exemplo: Fiz a introdução, ele a conclusão. (Fiz a introdução, ele fez a conclusão.)

A Zeugma é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de sintaxe ou de construção.
Isso porque ela interfere na construção sintática das frases.

Ela é usada para omitir termos na oração com o intuito de evitar a repetição desnecessária de alguns
termos, como o verbo ou o substantivo.

Sendo assim, ela torna a linguagem do texto mais fluida. Quando é utilizada, o uso da vírgula torna-se
necessário.

A zeugma é utilizada na linguagem informal, e também é empregada em diversos textos poéticos e


musicais.

Exemplos

Confira exemplos de frases literárias e musicais em que a zeugma foi utilizada:

 “O colégio compareceu fardado; a diretoria, de casaca.” (Raul Pompeia)

 “Um deles queria saber dos meus estudos; outro, se trazia coleção de selos.” (José Lins do Rego).

 “A vida é um grande jogo e o destino, um parceiro temível.” (Érico Veríssimo)

 “Pensaremos em cada menina/que vivia naquela janela;/uma que se chamava Arabela,/outra que se
chamou Carolina.” (Cecília Meireles)

 “O meu pai era paulista/Meu avô, pernambucano/O meu bisavô, mineiro/Meu tataravô, baiano.” (Chi-
co Buarque)

Zeugma e Elipse: Diferenças

É muito comum haver confusão entre as duas figuras de sintaxe: zeugma e elipse. No entanto, elas
apresentam diferenças.

Para muito estudiosos do tema, a zeugma é considerada um tipo de elipse, visto que também é em-
pregada por meio da omissão de um ou mais termos na oração.

A elipse é a omissão de um ou mais termos do discurso que não foram expressos anteriormente. Mas
estes são facilmente identificáveis pelo interlocutor (receptor). Já na zeugma, os termos já foram men-
cionados antes no discurso.

Confira abaixo os exemplos:

 Ficamos ansiosos com o resultado. (pelo conjugação verbal podemos identificar a omissão do pro-
nome “nós”.) – elipse

 Joaquim comprou duas calças, eu uma. (omissão do verbo no segundo período: comprei). – zeugma

Curiosidade

Do grego, o termo “zeygma” significa “ligação”.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Hipérbato

Alteração da ordem direta da oração.

Exemplo: São como uns anjos os seus alunos. (Os seus alunos são como uns anjos.)

O hipérbato ou inversão é uma figura de sintaxe que faz parte das figuras de linguagem. Ele é caracte-
rizado pela inversão brusca da ordem direta dos termos de uma oração ou período.

Na construção usual da língua, a ordem natural dos termos da oração vem posicionada dessa maneira:
sujeito + predicado + complemento.

Sendo assim, o hipérbato interfere na estrutura gramatical, invertendo a ordem natural dos termos da
frase. Por exemplo: Feliz ele estava. Na ordem direta a frase ficaria: Ele estava feliz.

Note que o uso do hipérbato pode comprometer muitas vezes o entendimento, ou mesmo gerar ambi-
guidade.

Anástrofe e Sínquise

Outras figuras de sintaxe que invertem os termos da frase são: a anástrofe e a sínquise.

A anástrofe é uma inversão suave dos termos frasais. Já a sínquise é uma inversão mais acentuada e
que pode prejudicar o entendimento do período.

Por esse motivo, a anástrofe e a sínquise são consideradas por diversos estudiosos como tipos de
hipérbato.

Hipérbato e Anacoluto

Muitas vezes o hipérbato é confundido com o anacoluto, no entanto eles são diferentes. O anacoluto
apresenta uma irregularidade gramatical na estrutura gramatical do período, mudando de maneira re-
pentina a estrutura da frase.

Exemplo: Ele, parece que está passando mal.

Dessa maneira, temos a impressão de que o pronome “ele” não exerce sua função sintática correta-
mente visto a pausa do período. E de fato, ele não possui relação sintática com os outros termos da
frase.

O anacoluto altera, portanto, a sequência lógica do plano sintático dos termos da frase, o que não ocor-
re no hipérbato.

Já o hipérbato não é marcado por uma pausa, e sim pela inversão sintática dos termos da frase.

Exemplos de Hipérbato

Tanto na literatura, como na música, o hipérbato é usado muitas vezes para auxiliar na rima e sonori-
dade dos versos.

Mas lembre-se que também utilizamos essa figura de linguagem no cotidiano, por exemplo:

 Está pronta a comida. (na ordem direta: a comida está pronta)

 Morreu meu vizinho (na ordem direta: meu vizinho morreu)

Hipérbato na Música

O hino nacional brasileiro é um exemplo notório em que o hipérbato foi utilizado muitas vezes. Analise
abaixo os trechos:

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante”

 “E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, /Brilhou no céu da Pátria nesse instante.”

Ordem direta do primeiro trecho: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um
povo heroico.

Ordem direta do segundo trecho: O sol da Liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da Pátria nesse
instante.

Hipérbato na Literatura

O hipérbato é utilizado com fins estilísticos para dar maior ênfase ou expressividade à linguagem literá-
ria.

“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada/E triste, e triste e fatigado eu vinha. /Tinhas a alma de sonhos
povoada, /E alma de sonhos povoada eu tinha...” (Olavo Bilac)

Na ordem direta, o poema de Olavo Bilac ficaria: E eu vinha triste, e triste e fatigado/ Tinhas a alma
povoada de sonhos/ E eu tinha a alma povoada de sonhos.

“Aquela triste e leda madrugada, /cheia toda de mágoa e de piedade, /enquanto houver no mundo sau-
dade, /quero que seja sempre celebrada.” (Luís de Camões)

Na ordem direta o primeiro verso do soneto de Camões ficaria: aquela madrugada triste e leda.

Polissíndeto

Uso repetido de conectivos.

Exemplo: As crianças falavam e cantavam e riam felizes.

O polissíndeto é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de sintaxe.

Ele é caracterizado pelo uso de síndetos, ou seja, de elementos conectivos (conjunções) nos períodos
compostos.

o polissíndeto forma as orações coordenadas sindéticas sendo que os elementos mais utilizados são:
e, ou, nem.

Essa figura de sintaxe é muito utilizada como recurso estilístico, sobretudo nos textos poéticos e musi-
cais.

Esse uso repetitivo das conjunções dá uma ideia de acréscimo, sucessão e continuidade, oferecendo
mais expressividade ao texto.

Exemplos

Confira abaixo alguns exemplos de frases com polissíndeto na música e na poesia:

 “As ondas vão e vem/ E vão e são como o tempo.” (Música “Sereia” de Lulu Santos)

 “Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ índios e padres e bichas, negros e mulheres/E
adolescentes fazem o carnaval.” (Música “Podre Poderes” de Caetano veloso)

 “Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,/Porque o presente é todo o passado e


todo o futuro.” (Ode Triunfal de Fernando Pessoa)

 “Do claustro, na paciência e no sossego,/Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!” (“A um poeta” de
Olavo Bilac)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Polissíndeto e Anáfora

A anáfora é uma figura de sintaxe que também está relacionada com a repetição.

O que a difere do polissíndeto é que essa repetição pode ser de palavras ou expressões, e não somen-
te de elementos conectivos. Geralmente, a anáfora aparece no início das frases.

Para compreender melhor, veja abaixo um exemplo de anáfora e polissíndeto:

"E o olhar estaria ansioso esperando


E a cabeça ao sabor da mágoa balançando
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando..."

("O olhar para trás", Vinícius de Moraes)

Acima, temos um exemplo em que as duas figuras de linguagem estão presentes por meio da repeti-
ção da conjunção "e".

Curiosidade: Você Sabia?

Do grego, o termo “polysýndeton” é formado pelo vocábulo “polýs” (muitos) e pelo verbo “syndéo” (unir,
ligar). Sendo assim, a palavra polissíndeto significa “muitas ligações”.

Assíndeto

Omissão de conectivos. É o contrário do polissíndeto.

Exemplo: Não sopra o vento; não gemem as vagas; não murmuram os rios.

O assíndeto é uma figura de linguagem, mais precisamente umafigura de sintaxe. Ela é caracterizada
pela ausência de síndeto.

O síndeto, nesse caso, é uma conjunção coordenativa utilizada para unir termos nas orações coorde-
nadas.

Logo, o assíndeto corresponde a uma figura de sintaxe marcada pela omissão de conjunções (conecti-
vos) nos períodos compostos.

Geralmente, no lugar dos conectivos são colocados vírgula ou ponto e vírgula, criando assim orações
coordenadas assindéticas.

Além de ser utilizada na linguagem oral, o assíndeto é empregado como recurso estilístico nos textos
poéticos e musicais com o intuito de aumentar a expressividade, bem como enfatizar alguns termos da
oração.

Exemplos de Assíndeto

 “Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar. Pra lua, a taxa é alta.
Pro sol: identidade.” (música “Carimbador Maluco” de Raul Seixas)

 “Por você eu largo tudo. Vou mendigar, roubar, matar./ Que por você eu largo tudo. Carreira, dinheiro,
canudo.” (música “Exagerado” de Cazuza)

 “Nascendo, rompendo, rasgando, E tomando meu corpo e então...Eu... chorando, sofrendo, gostan-
do, adorando.” (música “Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)” de Gonzaguinha)

 “A tua raça de aventura quis ter a terra, o céu, o mar/A tua raça quer partir, guerrear, sofrer, vencer,
voltar.” (“Epigrama nº 7” de Cecília Meireles)

 “Tive ouro, tive gado, tive fazendas.” (“Confidência do Itabirano” de Carlos Drummond de Andrade)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 “Era impossível saber onde se fixava o olho de padre Inácio, duro, de vidro, imóvel na órbita escura.
Ninguém me viu. Fiquei num canto, roendo as unhas, olhando os pés do finado, compridos, chatos,
amarelos.” (“Angústia” de Graciliano Ramos)

Assíndeto e Polissíndeto: Diferenças

Enquanto o assíndeto é determinado pela omissão de uma conjunção (síndeto), o polissíndeto é mar-
cado pela repetição da conjunção coordenativa (conectivo).

Exemplos:

 Maria correu, pegou o ônibus, foi para o trabalho. (Assíndeto)

 Maria correu e pegou o ônibus e foi para o trabalho. (Polissíndeto)

Saiba mais sobre os Conectivos.

Curiosidade: Você sabia?

Do grego, o vocábulo “asýndetos” é composto pelo “a”, que indica uma negação, e pelo verbo “syn-
déo”, que significa “unir”, “ligar”. Portanto, o termo assíndeto significa a ausência de ligação.

Anacoluto

Mudança repentina na estrutura da frase.

Exemplo: Eu, parece que estou ficando zonzo. (Parece que eu estou ficando zonzo.)

O anacoluto é uma figura de linguagem que está relacionada com a sintaxe das frases. Por esse moti-
vo, é chamada de figura de sintaxe.

Ele é caracterizado por alterar a sequência lógica da estrutura da frase por meio de uma pausa no dis-
curso. Assim, o anacoluto realiza uma “interrupção” na estrutura sintática da frase.

Note que as figuras de linguagem são muito utilizadas nos textos poéticos. Isso porque elas oferecem
maior expressividade ao texto.

No caso do anacoluto, na maioria das vezes, ele enfatiza uma ideia ou mesmo uma pessoa do discur-
so.

Normalmente, o termo inicial fica “solto” na frase sem apresentar uma relação sintática com os outros
termos. Por exemplo: Meu vizinho, soube que ele está no hospital.

A expressão "meu vizinho" parece ser o sujeito da oração, mas quando terminamos a frase podemos
constatar que ele não possui essa função sintática estabelecida.

Além de ser usado na linguagem literária e musical, o anacoluto é utilizado na linguagem coloquial
(informal). Na linguagem cotidiana ele é empregado pela espontaneidade típica desses tipos de discur-
sos.

Para compreender melhor essa figura de sintaxe, veja abaixo alguns exemplos:

Exemplos

Anacoluto na Linguagem Oral

 Eu, acho que estou passando mal.

 Nora, lembro dela sempre que chego aqui.

 A vida, não sei como será sem ele.

 Crianças, como são difíceis de lidar.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Lúcia, ouvi dizer que está viajando.

 Portugal, quantas lembranças tenho.

Anacoluto na Literatura

 “Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura.” (Manuel Bandeira)

 “Eu, porque sou mole, você fica abusando.” (Rubem Braga)

 “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”.
(Rubem Braga)

 “Umas carabinas que guardavam atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestá-
veis.” (José Lins do Rego)

 “A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)

 “E o desgraçado tremiam-lhe as pernas, sufocando-o a tosse.” (Almeida Garret)

Figuras de Sintaxe

Além do anacoluto, outras figuras de sintaxe (ou de construção) que interferem na estrutura gramatical
das frases são:

 Elipse

 Zeugma

 Hipérbato

 Silepse

 Assíndeto

 Polissíndeto

 Anáfora

 Pleonasmo

Pleonasmo

Repetição da palavra ou da ideia contida nela para intensificar o significado.

Exemplo: A mim me parece que isso está errado. (Parece-me que isto está errado.)

O pleonasmo é uma figura ou um vício de linguagem que acrescenta uma informação desnecessária
ao discurso, seja de maneira intencional ou não.

Do Latim, o termo “pleonasmo” significa superabundância.

Classificação

O pleonasmo é classificado de duas maneiras segundo a intenção do enunciador do discurso:

Pleonasmo Vicioso

Também chamado de redundância, o pleonasmo vicioso é utilizado como vício de linguagem.

Nesse caso, ele é um erro sintático não intencional que a pessoa comete por desconhecimento das
normas gramaticais.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Trata-se de um desvio gramatical que passa despercebido pelos falantes da língua. Note que ele é
muito utilizado no cotidiano e na linguagem coloquial.

Exemplos:

 subir para cima: o verbo “subir” já indica ir para cima, elevar-se.

 descer para baixo: o verbo “descer” já denota mover de cima para baixo, declinar.

 entrar para dentro: o verbo “entrar” já indica passar para dentro.

 sair para fora: o verbo “sair” é sempre passar de dentro para fora, afastar-se.

 encarar de frente: o verbo “encarar” significa olhar de frente, de cara. Ou seja, quando encaramos, já
estamos posicionados de frente.

 ver com os olhos: o verbo “ver” (perceber pela vista) está intimamente relacionado com os olhos, uma
vez que enxergamos com esse órgão

 hemorragia de sangue: a “hemorragia” é um termo que indica derramamento de sangue. Quando


utilizamos essa palavra, não é necessário utilizar o vocábulo sangue.

 multidão de pessoas: a palavra “multidão” já determina um grande agrupamento de pessoas.

 surpresa inesperada: a palavra “surpresa” já indica algo inesperado.

 outra alternativa: a palavra “alternativa” denota outra escolha dentre duas ou mais opções.

Pleonasmo Literário

Já o pleonasmo literário (ou intencional) é usado com intenção poética de oferecer maior expressivida-
de ao texto. Assim, nesse caso ele é considerado uma figura de linguagem.

Em outras palavras, o pleonasmo literário é utilizado intencionalmente como recurso estilístico e se-
mântico para reforçar o discurso de seu enunciador. Observe que nesse viés, o escritor tem 'licença
poética' para fazer essa ligação.

Exemplos:

 “E rir meu riso e derramar meu pranto” (Vinicius de Moraes)

 “E ali dançaram tanta dança” (Chico Buarque e Vinicius de Moraes)

 “Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã” (Chico Buarque)

 “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)

 “Morrerás morte vil na mão de um forte” (Gonçalves Dias)

 “Quando com os olhos eu quis ver de perto” (Alberto de Oliveira)

 “Chovia uma triste chuva de resignação” (Manuel Bandeira)

Vícios de Linguagem

Os Vícios de Linguagem são desvios das normas gramaticais que podem ocorrer por descuido do fa-
lante ou por desconhecimento das regras da língua.

Tratam-se de irregularidades que ocorrem no dia-a-dia, das quais se destacam: pleonasmo, barbaris-
mo, ambiguidade, solecismo, estrangeirismo, plebeísmo, cacofonia, hiato, eco e colisão.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Silepse

Concordância com o que se entende e não com o que está implícito. Há silepse de gênero, de número
e de pessoa.

Exemplos:

Vivemos na bonita e agitada São Paulo. (silepse de gênero: Vivemos na bonita e agitada cidade
de São Paulo.)

A maioria dos clientes ficaram insatisfeitas com o produto. (silepse de número: A maioriados clien-
tes ficou insatisfeita com o produto.)

Todos terminamos os exercícios. (silepse de pessoa: neste caso concordância com nós, em vez de
eles: Todos terminaram os exercícios)

A silepse é uma figura de linguagem que está na categoria de figura de sintaxe (ou de construção).
Isso porque ela está intimamente relacionada com a construção sintática das frases.

A silepse é empregada mediante a concordância da ideia e não do termo utilizado na frase. Dessa
forma, ela não obedece as regras de concordância gramatical e sim por meio de uma concordância
ideológica.

Classificação

Dependendo do campo gramatical que ela atua, a silepse é classificada em:

 Silepse de Gênero: quando há discordância entre os gêneros (feminino e masculino);

 Silepse de Número: quando há discordância entre o singular e o plural;

 Silepse de Pessoa: quando há discordância entre o sujeito, que aparece na terceira pessoa, e o ver-
bo, que surge na primeira pessoa do plural.

Exemplos

Para compreender melhor, confira abaixo exemplos de silepse:

 Silepse de Gênero: A velha São Paulo cresce a cada dia.

 Silepse de Número: O povo se uniu e gritavam muito alto nas ruas.

 Silepse de Pessoa: Todos os pesquisadores estamos ansiosos com o congresso.

No primeiro exemplo, notamos a união dos gêneros masculino (São Paulo) e feminino (velha).

No segundo exemplo, o uso do singular e plural denota o uso da silepse de número: povo (singular) e
gritavam (plural).

No terceiro exemplo, o verbo não concorda com o sujeito, e sim com a pessoa gramatical: pesquisado-
res (terceira pessoa); estamos (primeira pessoa do plural)..

Anáfora

Repetição de uma ou mais palavras de forma regular.

Exemplo: Se você sair, se você ficar, se você quiser esperar. Se você “qualquer coisa”, eu estarei aqui
sempre para você.

A anáfora é uma figura de linguagem que está intimamente relacionada com a construção sintática do
texto. Por esse motivo, ela é chamada de figura de sintaxe.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

A anáfora ocorre por meio da repetição de termos no começo das frases (ou dos versos). É um recurso
estilístico muito utilizado pelos escritores na construção dos versos com o intuito de intensificar uma
expressão.

Exemplos

A anáfora é muito utilizada na poesia, na música e nas propagandas publicitárias. Veja abaixo alguns
exemplos:

Anáfora na Música

"É o pau, é a pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira"

(Trecho da música “Águas de Março” de Tom Jobim)

Anáfora na Literatura

"É preciso casar João,


é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,


é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,


é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens


é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO."

(“Poema da Necessidade” de Carlos Drummond de Andrade)

Anáfora na Publicidade

"Tá na moda. Tá na mão, tá na C&A." (Publicidade da C&A - loja de vestuário)

Anáfora e Catáfora: Diferenças

Além da figura de linguagem anáfora, temos também a anáfora como mecanismo de coesão textual.

Nesse caso, ela retoma um componente textual, ou seja, faz referência a uma informação que já fora
mencionada no texto. Ela pode ser chamada de elemento anafórico.

Por sua vez, a catáfora antecipa um componente textual, sendo chamada de elemento catafórico.

Figuras de Som

Aliteração

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Repetição de sons consonantais.

Exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma.

A aliteração é uma figura de linguagem, mais precisamente uma figura de som (ou de harmonia).

É definida pela repetição de fonemas consonantais num enunciado. Isso significa que esses sons po-
dem ser parecidos ou iguais e, geralmente, estão localizados no início ou no meio da palavra.

A aliteração produz um efeito sonoro interessante, marcando o ritmo e sugerindo alguns sons seme-
lhantes às palavras que compõem o texto.

Sendo assim, a aliteração é um recurso linguístico muito utilizado nos textos poéticos para enfatizar
determinado som oferecendo maior expressividade ao texto.

Exemplos de Aliteração

Confira abaixo alguns trechos que utilizam a aliteração.

 “Vozes veladas, veludosas vozes,/Volúpias dos violões, vozes veladas/Vagam


nos velhos vórtices velozes/Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Souza) – repetição da con-
soante “v”.

 “Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.” (Luís de Camões) – repetição da consoante “v”.

 “O rato roeu a roupa do rei de Roma.” (provérbio popular) – repetição da consoante “r”.

 “Quem com ferro fere com ferro será ferido.” (provérbio popular) – repetição da consoante “f”.

 “O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.” (provérbio popular) – repetição
da consoante “s”.

Paronomásia

Repetição de palavras cujos sons são parecidos.

Exemplo: O cavaleiro, muito cavalheiro, conquistou a donzela. (cavaleiro = homem que anda a cavalo,
cavalheiro = homem gentil)

A paronomásia é uma figura de linguagem que está definida na categoria de figuras de som.

Isso porque ela está relacionada com a sonoridade das palavras. Dessa forma, ela utiliza os parônimos
para enfatizar uma ideia e por isso recebe esse nome.

Lembre-se que as palavras parônimas apresentam sonoridade e são escritas de forma semelhante.
Mas o significado delas é muito diferente.

Geralmente a paronomásia é utilizada em textos literários, mas também pode ser usada na linguagem
oral e popular.

Palavras Parônimas

As palavras parônimas se assemelham no som e escrita. Mas fique atento, pois um erro pode causar
grande confusão. Veja abaixo algumas palavras parônimas:

 Absolver (perdoar) e absorver (aspirar)

 Apóstrofe (figura de linguagem) e apóstrofo (sinal gráfico)

 Aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar)

 Cavaleiro (que cavalga) e cavalheiro (homem gentil)

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Delatar (denunciar) e dilatar (alargar)

 Docente (relativo a professores) e discente (relativo a alunos)

 Peão (aquele que anda a pé, domador de cavalos) e pião (brinquedo)

Exemplos de Frases com Paronomásia

 Eu vou te delatar se você não dilatar a pupila.

 Aprendeu nas aulas por meio da apreensão dos conhecimentos.

 José é um cavaleiro da fazenda muito cavalheiro.

 O docente aplicou a prova essa tarde para os discentes.

 Durante seu descanso o peão jogava pião com seus colegas.

Obs: O trava-línguas é um tipo de parlenda que faz parte da literatura popular. Um dos recursos estilís-
tico utilizado para dificultar o falante na recitação da frase é a paronomásia, por exemplo: "Fia, fio a fio,
fino fio, frio a frio".

Nesse caso, além da aproximação de palavras semelhantes, temos também a repetição da consoante
"f" e da vogal "o". Portanto, o uso das figuras de som: aliteração e assonância.

Assonância

Repetição de sons vocálicos.

Exemplo:

"O que o vago e incógnito desejo


de ser eu mesmo de meu ser me deu." (Fernando Pessoa)

A assonância é um tipo de figura de linguagem, chamada de figura de som ou harmonia. Ela é caracte-
rizada pela repetição harmônica de sons vocálicos (vogais) numa frase.

É um recurso estilístico muito utilizado na literatura, na música e nos provérbios populares. Ela oferece
maior expressividade ao texto por meio da intensificação da musicalidade e do ritmo.

Além da assonância, as figuras de som mais importantes são: aliteração, paronomásia, onomatopeia.

Exemplos

Confira abaixo dois exemplos de assonância na música:

“Juro que não acreditei, eu te estranhei/Me debrucei sobre teu corpo e duvidei/E me arrastei e te arra-
nhei/E me agarrei nos teus cabelos” (Atrás da Porta – Chico Buarque) – repetição das vogais “ei”.

“Meu amor/O que você faria/Se só te restasse esse dia?/Se o mundo fosse acabar/Me diz o que você
faria” (O que você faria – Lenine) – repetição das vogais “ia”.

Aliteração e Assonância

Quanto às figuras de som, há duas que geram maior confusão. São elas a aliteração e a assonância.

Enquanto a assonância é a repetição de vogais, a aliteração é a repetição de consoantes. Para clarifi-


car melhor, veja abaixo os exemplos:

 Aliteração: “O pato pateta pintou o caneco” (Vinícius de Moraes) – repetição das consoantes “p” e “t”.

 Assonância: “Minha foz do Iguaçu/Pólo sul, meu azul/Luz do sentimento nu(Djavan) – repetição da
vogal “u”.

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FIGURAS DE LINGUAGEM

Há muitos casos em que elas são utilizadas num mesmo verso ou frase, por exemplo:

“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse…/O sol, celestial girassol, esmorece…/E as canti-
lenas de serenos sons amenos/Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos…” (Eugênio de Castro)

No exemplo acima notamos o uso de ambas figuras de som. A aliteração dos fonemas “ss” e “c”, além
da repetição das consoantes “f”. Já a assonância é marcada pela repetição das vogais tônicas “e”.

Onomatopeia

Inserção de palavras que imitam sons.

Exemplo: Não aguento o tic-tac desse relógio.

A Onomatopeia é uma figura de linguagem que reproduz fonemas ou palavras que imitam os sons
naturais, quer sejam de objetos, de pessoas ou de animais.

Esse recurso aumenta a expressividade do discurso, motivo pelo qual é muito utilizado na literatura e
nas histórias em quadrinhos.

Exemplo de onomatopeia nos quadrinhos

Também é muito empregada nos textos enviados pela internet. São exemplos os fonemas que expres-
sam, por exemplo, o som do riso: “hahahaha, kkkkkk, rsrsrs”.

Do grego o termo “onomatopeia” (onomatopoiía) é formado pelos vocábulos “onoma” (nome) e “poiein”
(fazer”) o qual significa “criar ou fazer um nome”.

Exemplos

Segue abaixo lista das principais onomatopeias:

 Ratimbum: som de instrumentos musicais (Ra = caixa, tim = pratos, bum = bombo)

 Tic-tac: som do relógio

 Toc-toc: som de bater na porta

 Sniff sniff: som de pessoa triste, chorando

 Buááá: ruído de choro

 Atchim: barulho de espirro

 Uhuuu: grito de felicidade ou adrenalina

 Aaai: grito de dor

 Cof-cof: som de tosse

 Urgh: referente ao nojo

 Nhac: ruído de mordida

 Aff: som que expressa tédio e raiva

 Grrr: som de raiva

 Zzzz: som de homem ou animal dormindo

 Tchibum: som de mergulho

 Tum-tum: batidas do coração

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FIGURAS DE LINGUAGEM

 Plaft: som de queda

 Bum: ruído de explosão

 Crash: som de batida

 Smack: som de beijo

 Au Au: som do cachorro

 Miau: som do gato

 Cocóricó: som do galo cantando

 Piu-piu: som do passarinho

 Vrum-vrum: som de motor (moto, carro, etc.)

 Bang-bang: som de tiro

 Bi-bi: som de buzina

 Din-don: som da campainha

 Blém-blém: badalar dos sinos

 Trrrim-trrrim: ruído de telefone tocando

Confira na tabela abaixo o que diferencia cada uma das figuras de linguagem, bem como cada um dos
seus tipos.

Figuras de Palavras Figuras de Pensamento Figuras de Sintaxe ou cons- Figuras de Som


ou semânticas trução ou harmonia

Produzem maior Produzem maior expres- Produzem maior expressivi- Produzem maior
expressividade à sividade à comunicação dade à comunicação atra- expressividade à
comunicação atra- através da combinação vés da inversão, repetição comunicação
vés das palavras. de ideias e pensamentos. ou omissão dos termos na através da sono-
construção das frases. ridade.

 metáfora  hipérbole  elipse  aliteração

 comparação  eufemismo  pleonasmo  paronomásia

 metonímia  litote  zeugma  assonância

 catacrese  ironia  hipérbato  onomatopeia

 sinestesia  personificação ou pro-  silepse


sopopeia
 perífrase ou anto-  polissíndeto
nomásia  antítese
 assíndeto
 paradoxo ou oxímoro
 anacoluto
 gradação ou clímax
 anáfora
 apóstrofe

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CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS

Conhecimentos Linguísticos

O processo de elaboração de qualquer texto, seja ele escrito, seja oral ou multimodal, envolve mais
que criação, mais que inspiração. Envolve essencialmente trabalho sobre e com a linguagem. Esse
trabalho se traduz em atividade analítica e reflexiva dos sujeitos, nas múltiplas refações do texto. Do
ponto de vista da mediação pedagógica, tal trabalho se materializa nas práticas de análise linguística.
Diferentemente do trabalho das aulas convencionais de gramática, que privilegiam as classificações e
a correção linguística, a análise linguística se preocupa em auxiliar os alunos a dominar recursos
linguísticos e a refletir sobre em que medida certas palavras, expressões, construções e estratégias
discursivas podem ser mais ou menos adequadas ao seu projeto de dizer, auxiliando na ampliação
das capacidades de leitura e na produção textual dos alunos.

Assim, a reflexão sobre a linguagem tomando como objeto o próprio texto que se está elaborando
exige que o aluno analise possíveis (in)adequações das escolhas linguísticas – ao gênero, ao tema
em foco, à formalidade esperada etc. –, sua força expressiva ou eficácia argumentativa. Trata-se,
portanto, de uma atividade linguageira essencial nas diversas etapas da produção.

A prática de análise linguística pode se converter numa ferramenta importante para auxiliar os alunos
na percepção dos pontos Análise linguística e produção de textos: refl exão em busca de autoria
Márcia Mendonça em que podem melhorar seu texto e na mobilização dos conhecimentos que lhes
permitam fazer as mudanças devidas. Muito comumente, a ação dos alunos se dirige para os
aspectos mais “visíveis” dos textos escritos, para os ajustes mais salientes a serem feitos, quanto a
convenções da escrita e atendimento à norma linguística de prestígio, por exemplo, ortografia,
indicação gráfica de parágrafos, uso de letras maiúsculas, concordância e regência. Sem esquecer a
importância desses cuidados formais, é necessário também que os alunos saibam observar questões
de outra natureza, mais complexas, seja porque se estendem para unidades maiores – parágrafo ou
texto –, seja porque envolvem aspectos do discurso, ultrapassando o domínio daquele texto em
especial. Uma das capacidades necessárias a quem produz um texto é avaliar a pertinência dos
registros de linguagem para determinado gênero. Por exemplo, o uso do verbo ordenar para fazer
uma solicitação em uma carta formal, dirigida a uma autoridade, parece inadequado. Embora a
reflexão se dirija a uma palavra (ordenar), a avaliação quanto ao seu uso remete à situação
comunicativa como um todo: o gênero Carta de solicitação formal, o interlocutor a quem se dirige, a
finalidade dessa carta.

O investimento na ampliação das capacidades reflexivas dos alunos pode se dar antes do momento
de produção, durante ou depois dele, de forma mais ou menos integrada aos momentos de
escrita/elaboração de textos.

Antes da produção, em aulas dedicadas à leitura ou aos conhecimentos linguísticos, ainda que o alvo
imediato não sejam os textos dos alunos, estes ganham ao se apropriarem de recursos e estratégias
discursivas que passam a compor o seu rol de conhecimentos linguísticos e habilidades. Quando o
professor explora, na aula de leitura, os efeitos da ironia para a construção da argumentação, com
análise de exemplos, comparação de ocorrências, pesquisa de outros exemplos em fontes diversas,
criação de paráfrases irônicas, entre outras possíveis atividades, permite aos alunos perceber a
eficácia e os limites desse recurso, os diversos modos como se constroem enunciados irônicos,
conhecimentos que poderão ser estrategicamente usados nas suas produções. Investe-se em
atividades metalinguísticas – sobre a linguagem e seu funcionamento – para auxiliar as atividades
epilinguísticas, aquelas nas quais o aluno reflete sobre os usos que fez ou pretende fazer no texto
que está elaborando.

Benefício semelhante pode trazer um trabalho reflexivo com a constituição morfológica de palavras –
radical e afixos – que saliente a semelhança ortográfica e semântica de palavras, de acordo com a
permanência do radical (as denominadas “palavras da mesma família”, como lesão, lesionar,
lesionado) ou dos afixos (prefixos, sufixos e infixos). Por exemplo, os substantivos abstratos chatice,
meninice e velhice trazem o sufixo ICE, que se escreve com C. Na produção, caso o aluno tenha
dúvida sobre a escrita de gulodice, por exemplo, poderá lembrar do que estudou nas outras aulas
(claro, desde que tenha sido uma abordagem que privilegie o percurso de percepção da regularidade
até a construção mediada da regra). No caso, a regularidade morfológica é a grafia do sufixo ICE,
usado em substantivos abstratos que designam qualidade ou estado de algo.

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CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS

Durante a produção, espera-se que o aluno seja positivamente tensionado, pondo em xeque
possíveis (in)adequações dos recursos linguísticos e estratégias discursivas que pretende mobilizar,
diante do quadro mais geral da situação comunicativa. Isso significa avaliar se determinado uso
linguístico é mais ou menos adequado e estratégico e que efeitos de sentido pode produzir, tendo em
vista um conjunto de fatores interligados:

aquilo que pretende dizer;

gênero escolhido/solicitado;

os interlocutores, seus papéis sociais e a rede de relações de poder aí envolvidas;

as finalidades dessa interação verbal específica;

tom que deseja imprimir ao seu discurso (enfático, conciliador, irônico etc.);

o investimento estético com a linguagem, entre outros aspectos da produção discursiva.

Para produzir um artigo de divulgação científica, destinado a crianças, o aluno pode se deparar com
dúvidas do tipo qual o grau de aprofundamento do tema a ser tratado? Como “traduzir” para esses
leitores os conceitos mais complexos? Que estratégias de envolvimento do leitor usar? E isso envolve
escolhas linguísticas bem específicas. Um exemplo é o uso das explicações de conceitos. O que
explicaria melhor na situação comunicativa específica: paráfrases, analogias, exemplos, desenhos
esquemáticos etc.? E como inserir essas explicações no texto: entre parênteses, após dois pontos,
em boxes, em citações de falas de especialistas, quando for o caso? Decidir a respeito de o que
explicar, o quanto explicar, como explicar, quando explicar e como textualizar essa explicação no
texto envolve pôr na balança os ganhos e perdas de tais escolhas, tendo em vista os fatores já
mencionados.

A análise linguística pode ter ainda um papel muito importante nas devolutivas dos textos, já lidos e
comentados pelo professor ou por outros avaliadores/revisores (alunos, grupos de alunos, outras
pessoas). Nesse momento, chegam aos estudantes indicações de aspectos para aprimorar seu texto
que lhe escaparam anteriormente por serem, provavelmente, mais opacos, menos perceptíveis a
esses autores. Assim, indicações qualificadas dos pontos a serem ajustados podem detonar
processos reflexivos poderosos e fundamentais na ampliação das capacidades discursivas dos
alunos, desde que contem com a mediação docente adequada. O ato de tornar saliente para o aluno
um problema textual é muito distinto de apenas indicar que há um problema em determinado trecho.
Em se tratando de coesão, por exemplo, mais que destacar um período e escrever “problema de
coesão” na margem da folha (ou da tela), é preciso delimitar especificamente a sua natureza – por
exemplo, uso indevido de pontuação, conjunção, modo/ tempo verbal, ou falta de paralelismo. Dessa
forma, a revisão e a refação do texto podem ser preciosas oportunidades para aprender, não apenas
para higienizar o que foi escrito.

As atividades de análise linguística, seja em caráter prospectivo, quando ocorrem antes da produção;
seja em caráter retrospectivo, após o texto ter sido elaborado e avaliado ou durante a produção,
podem ser de grande importância para ampliar a apropriação, por parte dos alunos, das habilidades e
dos conhecimentos necessários para rever e aprimorar as suas produções, movimento que mesmo
os mais proficientes autores fazem ao longo de toda a vida. Os impactos das práticas de análise
linguística sobre a qualidade dos textos produzidos na escola são proporcionais à natureza reflexiva
de tais atividades: ao induzir os alunos a perceberem os efeitos e/ou as regularidades dos usos
linguísticos, contribui-se para que sintam a sua língua, cada vez mais sua.

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LINGUÍSTICA

Linguística

O termo “Linguística” pode ser definido como a ciência que estuda os fatos da linguagem. Para que
possamos compreender o porquê de ela ser caracterizada como uma ciência, tomemos como exem-
plo o caso da gramática normativa, uma vez que ela não descreve a língua como realmente se evi-
dencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais
(as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses.

Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos as palavras de André Mar-
tinet, acerca do conceito de Linguística:

“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando
se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome
de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, im-
porta especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como o objeto desta ci-
ência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação
imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz
para passar a recomendar o que deve dizer-se”.

MARTINET, André. Elementos de linguística geral. 8 ed. Lisboa: Martins Fontes, 1978.

O fundador destaciência foi Ferdinand de Saussure, um linguista suíço cujas contribuições em muito
auxiliaram para o caráter autônomo adquirido por essa ciência de estudo. Assim, antes de retratá-las,
constatemos um pouco mais acerca de seus dados biográficos:

Ferdinand de Saussure nasceu em 26 de novembro de 1857 em Genebra, Suíça. Por incentivo de um


amigo da família e filólogo, Adolphe Pictet, deu início aos seus estudos linguísticos. Estudou Química
e Física, mas continuou fazendo cursos de gramática grega e latina, quando se convenceu de que
sua carreira estava voltada mesmo para tais estudos, ingressou-se na Sociedade Linguística de Pa-
ris. Em Leipzig estudou línguas europeias, e aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o
sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias, defendendo, posteriormente, sua tese de
doutorado sobre o uso do caso genitivo em sânscrito, na cidade de Berlim. Retornando a Paris pas-
sou a ensinar sânscrito, gótico e alemão e filologia indo-europeia. Retornando a Genebra continuou a
lecionar novamente sânscrito e linguística histórica em geral.

Na Universidade de Genebra, entre os anos de 1907 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre
linguística, e em 1916, três anos após sua morte, Charles Bally e Albert Sechehaye, alunos dele,
compilaram todas as informações que tinham aprendido e editaram o chamado Curso de Linguística
Geral – livro no qual ele apresenta distintos conceitos que serviram de sustentáculo para o desenvol-
vimento da linguística moderna.

Entre tais conceitos, tornam-se passível de menção alguns deles, tais como as dicotomias:

Língua X Fala

Esse grande mestre suíço aponta que entre dois elementos há uma diferença que os demarca: en-
quanto a língua é concebida como um conjunto de valores que se opõem uns aos outros e que está
inserida na mente humana como um produto social, razão pela qual é homogênea, a fala é conside-
rada como um ato individual, pertencendo a cada indivíduo que a utiliza. Sendo, portanto, sujeita a
fatores externos.

Significante X Significado

Para Saussure, o signo linguístico se compõe de duas faces básicas: a do significado – relativo ao
conceito, isto é, à imagem acústica, e a do significante – caracterizado pela realização material de tal
conceito, por meio dos fonemas e letras. Falando em signo, torna-se relevante dizer acerca do cará-
ter arbitrário que o nutre, pois, sob a visão saussuriana, nada existe no conceito que o leve a ser de-
nominado pela sequência de fonemas, como é o caso da palavra casa, por exemplo, e de tantas ou-
tras. Fato esses que bem se comprova pelas diferenças existentes entre as línguas, visto que um
mesmo significado é representado por significantes distintos, como é ocaso da palavra cachorro (em
português); dog (inglês); perro (espanhol); chien (francês) e cane (italiano).

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LINGUÍSTICA

Sintagma X Paradigma

Na visão de Saussure, o sintagma é a combinação de formas mínimas numa unidade linguística su-
perior, ou seja, a sequência de fonemas se desenvolve numa cadeia, em que um sucede ao outro, e
dois fonemas não podem ocupar o mesmo lugar nessa cadeia. Enquanto que o paradigma para ele
se constitui de um conjunto de elementos similares, os quais se associam na memória, formando con-
juntos relacionados ao significado (campo semântico). Como o autor mesmo afirma, é o banco de re-
servas da língua.

Sincronia X Diacronia

Saussure, por meio dessa relação dicotômica retratou a existência de uma visão sincrônica – o es-
tudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica - estudo da linguística histórica, materia-
lizado pela mudança dos signos ao longo do tempo. Tal afirmação, dita em outras palavras, trata-se
de um estudo da linguagem a partir de um dado ponto do tempo (visão sincrônica), levando-se em
consideração as transformações decorridas mediante as sucessões históricas (visão diacrônica),
como é o caso da palavra vosmecê, você, ocê, cê, vc...

Mediante os postulados aqui expostos, cabe ainda ressaltar que a linguística não se afirma como
uma ciência isolada, haja vista que se relaciona com outras áreas do conhecimento humano, tendo
por base os conceitos dessas. Por essa razão, pode-se dizer que ela assim subdivide:

* Psicolinguística – trata-se da parte da linguística que compreende as relações entre linguagem e


pensamentos humanos.

* Linguística aplicada – revela-se como a parte dessa ciência que aplica os conceitos linguísticos no
aperfeiçoamento da comunicação humana, como é o caso do ensino das diferentes línguas.

* Sociolinguística – considerada a parte da linguística que trata das relações existentes entre fatos
linguísticos e fatos sociais.

Variação Linguistica

A língua abriga vários registros que dependem basicamente da situação de fala e de com quem se fala.
Há variações dentro da mesma língua decorrentes de fatores como: a região geográfica (nordestino,
mineiro, carioca, paulista etc.), o sexo, a idade, a classe social e o grau de instrução dos falantes e o
grau de formalidade do contexto (formal e informal).

Dentre as diversas variações pode-se dizer que a oposição mais importante se dá entre a chamada
linguagem culta (ou padrão) e a linguagem popular, coloquial.

A noção de certo e errado está ligada ao prestígio que a variedade culta adquiriu na sociedade. No
entanto, todas as demais variedades são legítimas e devem ser respeitadas, combatendo o preconceito
linguístico.

A variedade culta é difundida principalmente pela escola e pelos meios de comunicação e está relaci-
onada a um grupo de pessoas de maior prestígio social.

Aula de Português (Carlos Drummond de Andrade, 1999)

A linguagem

na ponta da língua, tão fácil de falar

e de entender.

A linguagem

na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe e vai desmatando

o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas,

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LINGUÍSTICA

atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora,

em que levava e dava pontapé,

a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima.

O português são dois: o outro, mistério.

Tipos de variação:

Variação histórica: acontece ao longo de um determinado período de tempo e pode ser identificada
ao serem comparados dois estados de uma língua. O processo de mudança é gradual: uma variante
inicialmente utilizada por um grupo restrito de falantes passa a ser adotada por indivíduos socioecono-
micamente mais expressivos. A forma antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, período
em que as duas variantes convivem; porém com o tempo a nova variante torna-se normal na fala, e
finalmente consagra-se pelo uso, na modalidade escrita. As mudanças podem ser de grafia ou de sig-
nificado.

Variação geográfica: refere-se a diferentes formas de pronúncia, às diferenças de vocabulário e de


estrutura sintática entre regiões. Dentro de uma comunidade mais ampla, formam-se comunidades lin-
guísticas menores, em torno de centros polarizadores da cultura, da política e da economia, que aca-
bam por definir os padrões linguísticos utilizados na região sob sua influência. As diferenças linguísticas
entre as regiões são graduais, nem sempre coincidindo com as fronteiras geográficas.

Variação social: agrupa alguns fatores de diversidade: o nível socioeconômico, o grau de educação,
a idade e o gênero do indivíduo. A variação social não compromete a compreensão entre indivíduos,
como poderia acontecer na variação regional. O uso de certas variantes pode indicar qual o nível soci-
oeconômico de uma pessoa, e há a possibilidade de que alguém, oriundo de um grupo menos favore-
cido, venha a atingir o padrão de maior prestígio.

Variação estilística: refere-se às diferentes circunstâncias de comunicação em que se coloca um


mesmo indivíduo: o ambiente em que se encontra (familiar ou profissional, por exemplo) o tipo de as-
sunto tratado e quem são os receptores. Sem levar em conta as graduações intermediárias, é possível
identificar dois limites extremos de estilo: o informal, quando há um mínimo de reflexão do indivíduo
sobre as normas linguísticas, utilizado nas conversações imediatas do cotidiano; e o formal, em que o
grau de reflexão é máximo, utilizado em conversações que não são do dia-a-dia e cujo conteúdo é mais
elaborado e complexo. Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua escrita efalada, pois
os dois estilos ocorrem em ambas as formas de comunicação.

Níveis das variações:

Fonética: alteração na pronúncia das palavras. Ex: planta/pranta; vossa mercê/ você/ocê/cê. Morfoló-
gica: alteração na forma das palavras.

Ex: Verão/ verãos, limão/limões (oposição aos – ões).

Sintática: alteração na correlação entre as palavras.

Ex: Os meninos fizeram o dever. / Os menino fez o dever. Lexical: alteração na escolha das palavras.

Ex: mandioca /aipim; “Choveu direto essa semana”/ “Choveu todos os dias nesta semana”

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LINGUÍSTICA

Variação Linguística

Variação linguística é o movimento comum e natural de uma língua, que varia principalmente por fato-
res históricos e culturais. Modo pelo qual ela se usa, sistemática e coerentemente, de acordo com o
contexto histórico, geográfico e sociocultural no qual os falantes dessa língua se manifestam verbal-
mente. É o conjunto das diferenças de realização linguística falada pelos locutores de uma mesma
língua. Tais diferenças decorrem do fato de um sistema linguístico não ser unitário, mas comportar
vários eixos de diferenciação: estilístico, regional, sociocultural, ocupacional e etário. A variação e
a mudança podem ocorrer em algum ou em vários dos subsistemas constitutivos de uma língua (fo-
nético, morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico). O conjunto dessas mudanças constitui
a evolução dessa língua.

A variação é também descrita como um fenômeno pelo qual, na prática corrente de um dado grupo
social, em uma época e em certo lugar, uma língua nunca é idêntica ao que ela é em outra época e
outro lugar, na prática de outro grupo social. O termo variação pode também ser usado como sinô-
nimo de variante.

Existem diversos fatores de variação possíveis - associados a aspectos geográficos e sociolinguísti-


cos, à evolução linguística e ao registro linguístico.

Variedade ou variante linguística se define pela forma pela qual determinada comunidade de falantes,
vinculados por relações sociais ou geográficas, usa as formas linguísticas de uma língua natural. É
um conceito mais forte do que estilo de prosa ou estilo de linguagem. Refere-se a cada uma das mo-
dalidades em que uma língua se diversifica, em virtude das possibilidades de variação dos elementos
do seu sistema (vocabulário, pronúncia, sintaxe) ligadas a fatores sociais ou culturais (escolaridade,
profissão, sexo, idade, grupo social etc.) e geográficos (tais como o português do Brasil, o português
de Portugal, os falares regionais etc.). A língua padrão e a linguagem popular também são variedades
sociais ou culturais. Um dialeto é uma variedade geográfica.[3]Variações de léxico, como ocorre
na gíria e no calão, podem ser consideradas como variedades mas também como registros ou, ainda,
como estilos - a depender da definição adotada em cada caso. Os idiotismos são às vezes considera-
dos como formas de estilo, por se limitarem a variações de léxico.

Utiliza-se o termo 'variedade' como uma forma neutra de se referir a diferenças linguísticas entre os
falantes de um mesmo idioma. Evita-se assim ambiguidade de termos como língua (geralmente asso-
ciado à norma padrão) ou dialeto (associado a variedades não padronizadas, consideradas de menor
prestígio ou menos corretas do que a norma padrão). O termo "leto" também é usado quando há difi-
culdade em decidir se duas variedades devem ser consideradas como uma mesma língua ou como
línguas ou dialetos diferentes. Alguns sociolinguistas usam o termo leto no sentido de variedade lin-
guística - sem especificar o tipo de variedade. As variedades apresentam não apenas diferenças de
vocabulário mas também diferenças de gramática, fonologia e prosódia.

Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, apresenta um
sem-número de diferenciações.[...] Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e até
individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o
gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a consciência que têm os
que a falam diversamente de se servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de manifesta-
ção e de emoção.

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LINGUÍSTICA

A sociolinguística procura estabelecer as fronteiras entre os diferentes falares de uma língua. O pes-
quisador verifica se os falantes apresentam diferenças nos seus modos de falar de acordo com o lu-
gar em que estão (variação diatópica), com a situação de fala ou registro (variação diafásica) ou de
acordo com o nível socioeconômico do falante (variação diastrática).e, de acordo com o contexto his-
tórico, geográfico e sociocultural no qual os falantes dessa língua se manifestam verbalmente. É o
conjunto das diferenças de realização linguística falada pelos locutores de uma mesma língua. Tais
diferenças decorrem do fato de um sistema linguístico não ser unitário, mas comportar vários eixos de
diferenciação: estilístico, regional, sociocultural, ocupacional e etário. A variação e a mudança podem
ocorrer em algum ou em vários dos subsistemas constitutivos de uma língua (fonético, morfoló-
gico, fonológico, sintático, léxico e semântico). O conjunto dessas mudanças constitui a evolução
dessa língua.

 1Tipos de variedades linguísticas

 2Definições

Tipos de variedades linguísticas

 Variedades geográficas: dizem respeito à variação diatópica e são variantes devidas à distância ge-
ográfica que separa os falantes.[9] Assim, por exemplo, a mistura de cimento, água e areia, se
chama betão em Portugal; no Brasil, se chama concreto.

As mudanças de tipo geográfico se chamam dialetos (ou mais propriamente geoletos), e o seu estudo
é a dialetologia. Embora o termo 'dialeto' não tenha nenhum sentido negativo, acontece que, erronea-
mente, tem sido comum chamar dialeto a línguas que supostamente são "simples" ou "primitivas". Di-
aleto é uma forma particular, adotada por uma comunidade, na fala de uma língua. Nesse sentido,
pode-se falar de inglês britânico, inglês australiano, etc. É preciso também ter presente que os diale-
tos não apresentam limites geográficos precisos - ao contrário, são borrados e graduais - daí se con-
siderar que os dialetos que constituem uma língua formam um continuum sem limites precisos. Diz-se
que uma língua é um conjunto de dialetos cujos falantes podem se entender. Embora isto possa ser
aproximadamente válido para o português, não parece valer para o alemão, pois há dialetos desta
língua que são ininteligíveis entre si. Por outro lado, fala-se de línguas escandinavas, quando, na rea-
lidade, um falante sueco e um dinamarquês podem se entender usando cada um a sua própria lín-
gua.

No que diz respeito ao português, além de vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, há dois
padrões reconhecidos internacionalmente: o português de Portugal e o português do Brasil.

 Variedades históricas: relacionadas com a mudança linguística, essas variedades aparecem quando
se comparam textos em uma mesma língua escritos em diferentes épocas e se verificam diferenças
sistemáticas na gramática, no léxico e às vezes na ortografia (frequentemente como reflexo de mu-
danças fonéticas). Tais diferenças serão maiores quanto maior for o tempo que separa os textos.
Cada um dos estágios da língua, mais ou menos homogêneos circunscritos a uma certa época é cha-
mado variedade diacrônica. Por exemplo, na língua portuguesa pode-se distinguir claramente o portu-
guês moderno (que, por sua vez, apresenta diversidades geográficas e sociais) e o português ar-
caico.

 Variedades sociais: compreendem todas as modificações da linguagem produzidas pelo ambiente


em que se desenvolve o falante. Neste âmbito, interessa sobretudo o estudo dos socioletos, os quais
se devem a fatores como classe social, educação, profissão, idade, procedência étnica, etc. Em cer-
tos países onde existe uma hierarquia social muito clara, o socioleto da pessoa define a qual classe
social ela pertence. Isso pode significar uma barreira para a inclusão social.

 Variedades situacionais: incluem as modificações na linguagem decorrentes do grau de formalidade


da situação ou das circunstâncias em que se encontra o falante. Esse grau de formalidade afeta o
grau de observância das regras, normas e costumes na comunicação linguística.

Os três tipos de variações linguísticas são:

 Variações diafásicas

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LINGUÍSTICA

Representam as variações que se estabelecem em função do contexto comunicativo, ou seja, a oca-


sião é que determina a maneira como nos dirigimos ao nosso interlocutor, se deve ser formal ou infor-
mal.

Variações Diatópicas

São as variações ocorridas em razão das diferenças regionais, como, por exemplo, a palavra “abó-
bora”, que pode adquirir acepções semânticas (relacionadas ao significado) em algumas regiões que
se divergem umas das outras, como é o caso de “jerimum”, por exemplo.

Variações Diastráticas

São aquelas variações que ocorrem em virtude da convivência entre os grupos sociais. Como exem-
plo podemos citar a linguagem dos advogados, dos surfistas, da classe médica, entre outras.

Definições

 Dialetos: variantes diatópicas, isto é, faladas por comunidades geograficamente definidas.

 Idioma é um termo intermediário na distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao sistema


comunicativo estudado (que poderia ser chamado tanto de um dialeto ou uma linguagem) quando sua
condição em relação a esta distinção é irrelevante (sendo, portanto, um sinônimo para lingua-
gem num sentido mais geral);

 Socioletos: variedades faladas por comunidades socialmente definidas ou seja, por grupos de indiví-
duos que, tendo características sociais em comum (profissão, faixa etária etc.), usam termos técnicos,
gírias ou fraseados que os distinguem dos demais falantes na sua comunidade. É também chamado
dialeto social ou variante diastrática. [10]

 Linguagem padrão ou norma padrão ou norma culta: variedade linguística padronizada com base
em preceitos estabelecidos de seleção do que deve ou não ser usado, levando em conta fatores lin-
guísticos e não linguísticos, como tradição e valores socioculturais (prestígio, elegância, estética etc.).
Corresponde à variedade usualmente adotada pelos falantes instruídos ou empregada na comunica-
ção pública.

 Idioletos: variedade peculiar a um único indivíduo ou o conjunto de traços próprios ao seu modo de
se expressar.

 Registros (ou diátipos): o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou profis-
sões

 Etnoletos: variedade falada pelos membros de uma etnia (termo pouco utilizado, já que geralmente
ocorre em uma área geograficamente definida, coincidindo, portanto, com o conceito de dialeto).

 Ecoletos, um idioleto adotado por um número muito reduzido de pessoas (membros de uma família
ou de um grupo de amigos, por exemplo).

Distinguem-se os dialetos, idioletos e socioletos não apenas por seu vocabulário, mas também por
diferenças na gramática, na fonologia e na versificação. Por exemplo, o sotaque de palavras tonais
nas línguas escandinavas tem forma diferente em muitos dialetos. Um outro exemplo é como pala-
vras estrangeiras em diferentes socioletos variam em seu grau de adaptação à fonologia básica da
linguagem.

Certos registros profissionais, como o chamado legalês, mostram uma variação na gramática da lin-
guagem padrão. Por exemplo, jornalistas ou advogados ingleses frequentemente usam modos ver-
bais, como o subjuntivo, que não são mais usados com frequência por outros falantes. Muitos regis-
tros são simplesmente um conjunto especializado de termos (veja jargão).

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LINGUÍSTICA

Variações Linguísticas

A linguagem é a característica que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de
expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente aos assuntos relacionados
ao nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social.

E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os níveis da fala, que são basicamente
dois: O nível de formalidade e o de informalidade.

O padrão formal está diretamente ligado à linguagem escrita, restringindo-se às normas gramaticais
de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos. Este fator foi
determinante para a que a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais.

Quanto ao nível informal, este por sua vez representa a linguagem do dia a dia, das conversas infor-
mais que temos com amigos, familiares etc.

Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, estão as chamadas variedades linguísticas, as


quais representam as variações de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas
em que é utilizada. Dentre elas destacam-se:

Variações históricas:

Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do tempo. Um
exemplo bastante representativo é a questão da ortografia, se levarmos em consideração a palavra
farmácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à linguagem dos internautas,
a qual fundamenta-se pela supressão do vocábulos.

Analisemos, pois, o fragmento exposto:

Antigamente

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas.


Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões,
faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

Carlos Drummond De Andrade

Comparando-o à modernidade, percebemos um vocabulário antiquado.

Variações regionais:

São os chamados dialetos, que são as marcas determinantes referentes a diferentes regiões. Como
exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais
como: macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade estão os sotaques, ligados às caracte-
rísticas orais da linguagem.

Variações sociais ou culturais:

Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também ao grau de instrução
de uma determinada pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.

As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos grupos, como os surfistas, cantores de rap,
tatuadores, entre outros.

Os jargões estão relacionados ao profissionalismo, caracterizando um linguajar técnico. Represen-


tando a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissionais da área de informática, dentre
outros.

As variações linguísticas reúnem as variantes da língua, que foram inventadas pelos homens e vem
sendo reinventada a cada dia.

Dessas reinvenções surgem as variações que envolvem diversos aspectos históricos, sociais, cultu-
rais e geográficos.

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LINGUÍSTICA

No Brasil, é possível encontrar muitas variações linguísticas, por exemplo, a linguagem regional.

Tipos de Variações Linguísticas

Há diversos tipos de variações linguísticas segundo o campo de atuação:

 Variações Geográficas: está relacionada com o local em que é desenvolvida, por exemplo, as varia-
ções entre o português do Brasil e de Portugal.

 Variações Históricas: ela ocorre com o desenvolvimento da história, por exemplo, o português medi-
eval e o atual.

 Variações Sociais: são percebidas segundo os grupos (ou classes) sociais envolvidos, por exemplo,
um orador jurídico e um morador de rua.

 Variação Situacional: ocorre de acordo com o contexto o qual está inserido, por exemplo, as situa-
ções formais e informais.

Exemplos

Dentre os tipos de variações linguísticas podemos destacar:

 Regionalismo: particularidades linguísticas de determinada região.

 Dialetos: variações regionais ou sociais de uma língua.

 Socioletos: variantes da língua utilizadas por determinado grupo social.

 Gírias: expressões populares utilizadas por determinado grupo social.

Linguagem Formal e Informal

Quanto aos níveis da fala, podemos considerar dois padrões de linguagem, a linguagem formal e in-
formal. Certamente, quando falamos com pessoas próximas utilizamos a linguagem dita coloquial, ou
seja, aquela espontânea, dinâmica e despretensiosa.

No entanto, de acordo com o contexto que estamos inseridos devemos seguir as regras e normas im-
postas pela gramática, por exemplo, quando elaboramos um texto (linguagem escrita) ou organiza-
mos nossa fala numa palestra (linguagem oral). Em ambos os casos, utilizaremos a linguagem formal,
a qual está de acordo com a normas gramaticais.

Observe que as variações linguísticas são expressas geralmente nos discursos orais, uma vez que
quando produzimos um texto escrito, seja em qual for o lugar do Brasil, seguimos as regras do
mesmo idioma: o português.

Preconceito Linguístico

O preconceito linguístico está intimamente relacionado com as variações linguísticas, uma vez que
ele surge para julgar as manifestações linguísticas ditas superiores.

Para pensarmos nele não precisamos ir muito longe, posto que no nosso país, embora o mesmo idi-
oma seja falado em todas as regiões, cada uma delas possui suas peculiaridades que envolvem di-
versos aspectos históricos e culturais.

Sendo assim, a maneira de falar do norte é muito diferente da falada no sul do país. Isso ocorre por-
que nos atos comunicativos, os falantes da língua vão determinando expressões, sotaques e entona-
ções de acordo com as necessidades linguísticas.

De tal modo, o preconceito linguístico surge no tom de deboche, sendo a variação apontada de ma-
neira pejorativa e estigmatizada.

Quem comete esse tipo de preconceito, geralmente tem a ideia de que sua maneira de falar é correta
e ainda, superior a outra.

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Entretanto, devemos salientar que todas variações são aceitas e nenhuma delas é superior, ou consi-
derada a mais correta.

Antigamente

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não
faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, fa-
ziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.

Carlos Drummond de Andrade

Ao travarmos contato com o fragmento ora exposto, percebemos que nele existem certas expressões
que já se encontram em desuso, tais como: Mademoiselles, prendadas, janotas, pé-de-alferes, balaio.

Caso fôssemos adequá-las ao vocabulário atual, como ficaria?


Restringindo-se a uma linguagem mais coloquial, os termos em destaque seriam substituídos por
“mina”, “gatinha”, “maravilhosas”, “saradas”, “da hora”, “Os manos”, “A galera,” “Davam uma cantada”,
e assim por diante.

Perceberam que a língua é dinâmica? Ela sofre transformações com o passar do tempo em virtude
de vários fatores advindos da própria sociedade, que também é totalmente mutável.

Existem diferentes variações ocorridas na língua, entre elas estão:

Variação Histórica - Aquela que sofre transformações ao longo do tempo. Como por exemplo, a pala-
vra “Você”, que antes era vosmecê e que agora, diante da linguagem reduzida no meio eletrônico, é
apenas VC. O mesmo acontece com as palavras escritas com PH, como era o caso de pharmácia,
agora, farmácia.

Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de acordo com a cultura de
uma determinada região, tomamos como exemplo a palavra mandioca, que em certas regiões é tra-
tada por macaxeira; e abóbora, que é conhecida como jerimum.
Destaca-se também o caso do dialeto caipira, o qual pertence àquelas pessoas que não tiveram a
oportunidade de ter uma educação formal, e em função disso, não conhecem a linguagem “culta”.

Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso, podemos des-
tacar as gírias, as quais pertencem a grupos de surfistas, tatuadores, entre outros; a linguagem colo-
quial, usada no dia a dia das pessoas; e a linguagem formal, que é aquela utilizada pelas pessoas de
maior prestígio social.
Fazendo parte deste grupo estão os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais especí-
fica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre outros.

Variantes Linguísticas

A língua pode transformar-se através do tempo devido a vários fatores vindos da própria sociedade.
Conheça as variantes linguísticas que ocorrem na língua

A língua pode transformar-se através do tempo devido a vários fatores vindos da própria sociedade,
pois ela não é regida por normas fixas e imutáveis. Uma mesma língua sempre estará sujeita a varia-
ções, como a diferença de épocas, regionalidade, grupos sociais e diferentes situações, como a fala
formal e informal.

Você já deve ter percebido que, mesmo dentro do Brasil, por exemplo, existem várias maneiras de
falar a Língua Portuguesa. As pessoas se comunicam de formas diferentes e diversos fatores devem
ser considerados no nosso falar, incluindo a época, a região geográfica, idade, ambiente e o status
sociocultural dos falantes.

As Variantes Linguísticas Que Ocorrem Na Língua

Diante de tantas variantes linguísticas, é importante ressaltar que não existe forma mais correta de se
falar, e sim a maneira mais adequada de se expressar de acordo com o contexto e o interlocutor. Nós
adequamos o nosso modo de falar ao ambiente e não falamos da mesma forma que escrevemos.

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Por exemplo, usar a linguagem formal escrita em uma comunicação informal é inadequado, pois pode
soar como artificial e pretensioso. O ideal é que saibamos adequar a nossa fala ao contexto de comu-
nicação, o que inclui o ambiente e o nosso interlocutor.

Confira a seguir quais são as diferentes variações linguísticas que ocorrem na língua:

 Variações diafásicas: Trata-se das variações que ocorrem em função do contexto comunicativo. A
ocasião determina como falaremos com o nosso interlocutor, podendo ser formal ou informal.

 Variações diastráticas: Variações que ocorrer devido à convivência entre os grupos sociais. Como
exemplos desta modalidade de variantes linguísticas temos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
Trata-se de uma variante social pertencente a um grupo específico de pessoas. As gírias pertencem
ao vocabulário de certos grupos, como, por exemplo, os surfistas, estudantes, policiais; já os jargões
estão relacionados com as áreas profissionais e se caracterizam pelo linguajar técnico. Como exem-
plo, podemos citar os profissionais da Informática, os advogados e outros.

 Variações históricas: A língua não é fixa e imutável, mas sim dinâmica e sofre transformações ao
longo do tempo. A palavra “você”, por exemplo, tem origem na expressão de tratamento “vossa
mercê” e que se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê” até chegar no
abreviado “vc”.

 Variações diatópicas: São as variações que ocorrem pelas diferenças regionais. As variações regio-
nais são denominadas dialetos e fazem referência a diferentes regiões geográficas, de acordo com a
cultura local. A palavra “mandioca”, por exemplo, em certos lugares do Brasil, recebe outras denomi-
nações, como “macaxeira” e “aipim”.

 Você já deve ter percebido que um mineiro não fala igual ao paulista, gaúcho ou nordestino, por
exemplo. São os sotaques, pertencentes a esta modalidade de variante linguística e que estão liga-
dos às marcas orais da linguagem.

 Estamos inseridos em um sociedade dinâmica, a qual se transforma com o passar do tempo e


acaba transformando o modo pelo qual as pessoas estabelecem seus relacionamentos interpessoais.

 Um bom exemplo de tais mudanças é a linguagem dos internautas, que em meio a tantas abrevia-
ções e neologismos termina por criar um universo específico, no qual somente os interlocutores são
capazes de decifrar o vocabulário por eles utilizado.

Partindo dessa prerrogativa, ocupemo-nos em discorrer acerca dos tipos de variações que as línguas
apresentam, os quais dependem de fatores específicos, tais como condição social, faixa etária, dife-
renças existentes entre uma região e outra, enfim...

Variações Diafásicas

Representam as variações que se estabelecem em função do contexto comunicativo, ou seja, a oca-


sião é que determina a maneira como nos dirigimos ao nosso interlocutor, se deve ser formal ou infor-
mal.

Variações Diatópicas

São as variações ocorridas em razão das diferenças regionais, como, por exemplo, a palavra “abó-
bora”, que pode adquirir acepções semânticas (relacionadas ao significado) em algumas regiões que
se divergem umas das outras, como é o caso de “jerimum”, por exemplo.

Variações Diastráticas

São aquelas variações que ocorrem em virtude da convivência entre os grupos sociais. Como exem-
plo podemos citar a linguagem dos advogados, dos surfistas, da classe médica, entre outras.

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Variação linguística – A língua em movimento

A variação linguística é um interessante aspecto da língua portuguesa. Pode ser compreendida por
meio das influências históricas e regionais sobre os falares.

Você sabe o que é variação linguística?

A variação linguística é um fenômeno que acontece com a língua e pode ser compreendida por inter-
médio das variações históricas e regionais. Em um mesmo país, com um único idioma oficial, a língua
pode sofrer diversas alterações feitas por seus falantes. Como não é um sistema fechado e imutável,
a língua portuguesa ganha diferentes nuances.

O português que é falado no Nordeste do Brasil pode ser diferente do português falado no Sul do
país. Claro que um idioma nos une, mas as variações podem ser consideráveis e justificadas de
acordo com a comunidade na qual se manifesta.

As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação, então é compre-


ensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas necessidades comunicativas. Os di-
ferentes falares devem ser considerados como variações, e não como erros. Quando tratamos as va-
riações como erro, incorremos no preconceito linguístico que associa, erroneamente, a língua ao sta-
tus. O português falado em algumas cidades do interior do estado de São Paulo, por exemplo, pode
ganhar o estigma pejorativo de incorreto ou inculto, mas, na verdade, essas diferenças enriquecem
esse patrimônio cultural que é a nossa língua portuguesa. Leia a letra da música “Samba do Arne-
sto”, de Adoniran Barbosa, e observe como a variação linguística pode ocorrer:

Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás


Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever.

Samba do Arnesto, Adoniran Barbosa

Há, na letra da música, um exemplo interessante sobre a variação linguística. É importante ressaltar
que o código escrito, ou seja, a língua sistematizada e convencionalizada na gramática, não deve so-
frer grandes alterações, devendo ser preservado. Já imaginou se cada um de nós decidisse escrever
como falamos?

Um novo idioma seria inventado, aboliríamos a gramática e todo o sistema linguístico determinado
pelas regras cairia por terra.

Contudo, o que o compositor Adoniran Barbosa fez pode ser chamado de licença poética, pois ele
transportou para a modalidade escrita a variação linguística presente na modalidade oral.

As variações linguísticas acontecem porque vivemos em uma sociedade complexa, na qual estão in-
seridos diferentes grupos sociais. Alguns desses grupos tiveram acesso à educação formal, enquanto
outros não tiveram muito contato com a norma culta da língua. Podemos observar também que a lín-
gua varia de acordo com suas situações de uso, pois um mesmo grupo social pode se comunicar de
maneira diferente, de acordo com a necessidade de adequação linguística. Prova disso é que você
não vai se comportar em uma entrevista de emprego da mesma maneira com a qual você conversa
com seus amigos em uma situação informal, não é mesmo?

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A adequação é um tipo de variação linguística que consiste em adequar a língua às diferentes situa-
ções comunicacionais

A tirinha Calvin e Haroldo, do quadrinista Bill Watterson, mostra-nos um exemplo bem divertido sobre
a importância da adequação linguística. Já pensou se precisássemos utilizar uma linguagem tão re-
buscada e cheia de arcaísmos nas mais corriqueiras situações de nosso cotidiano? Certamente per-
deríamos a espontaneidade da fala, sem contar que a dinamicidade da comunicação seria prejudi-
cada. Podemos elencar também nos tipos de variação linguística os falares específicos para grupos
específicos: os médicos apropriam-se de um vocabulário próprio de sua profissão quando estão exer-
cendo o ofício, mas essas marcas podem aparecer em outros tipos de interações verbais. O mesmo
acontece com os profissionais de informática, policiais, engenheiros etc.

Portanto, apesar de algumas variações linguísticas não apresentarem o mesmo prestígio social no
Brasil, não devemos fazer da língua um mecanismo de segregação cultural, corroborando com a ideia
da teoria do preconceito linguístico, ao julgarmos determinada manifestação linguística superior a ou-
tra, sobretudo superior às manifestações linguísticas de classes sociais ou regiões menos favoreci-
das.

A variação de uma língua é a forma pela qual ela difere de outras formas da linguagem sistemática e
coerentemente. Uma nação apresenta diversos traços de identificação, e um deles é a língua.
Esta pode variar de acordo com alguns fatores, tais como o tempo, o espaço, o nível cultural e a situ-
ação em que um indivíduo se manifesta verbalmente. Conceito Variedade é um conceito maior do
que estilo de prosa ou estilo de linguagem. Alguns escritores de sociolinguística usam o termo leto,
aparentemente um processo de criação de palavras para termos específicos, são exemplos dessas
variações:

• Dialetos (variação diatópica?), isto é, variações faladas por comunidades geograficamente definidas.

• idioma é um termo intermediário na distinção dialeto

-linguagem e é usado para se referir ao sistema comunicativo estudado (que poderia ser chamado
tanto de um dialeto ou uma linguagem) quando sua condição em relação a esta distinção é irrele-
vante (sendo, portanto, um sinônimo para linguagem num sentido mais geral); socioletos, isto é, vari-
ações faladas por comunidades socialmente definidas

• linguagem padrão ou norma padrão, padronizada em função da comunicação pública e da educa-


ção

• idioletos, isto é, uma variação particular a uma certa pessoa

• registros (ou diátipos), isto é, o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou
profissões

• etnoletos, para um grupo étnico

• ecoletos, um idioleto adotado por uma casa

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Variações como dialetos, idioletos e socioletos podem ser distinguidos não apenas por seu vocabulá-
rios, mas também por diferenças na gramática, na fonologia e na versificação. Por exemplo, o sota-
que de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma diferente em muitos dialetos. Um outro
exemplo é como palavras estrangeiras em diferentes socioletos variam em seu grau de adaptação à
fonologia básica da linguagem. Certos registros profissionais, como o chamado legalês, mostram uma
variação na gramática da linguagem padrão.

Por exemplo, jornalistas ou advogados ingleses frequentemente usam modos gramaticais, como o
modo subjuntivo, que não são mais usados com frequência por outros falantes. Muitos registros são
simplesmente um conjunto especializado de termos (veja jargão).É uma questão de definição se gí-
ria e calão podem ser considerados como incluídos no conceito de variação ou de estilo. Coloquialis-
mos e expressões idiomáticas geralmente são limitadas como variações do léxico, e de, portanto, es-
tilo.

Espécies De Variação

Variação Histórica

Acontece ao longo de um determinado período de tempo, pode ser identificada ao se comparar dois
estados de uma língua. O processo de mudança é gradual: uma variante inicialmente utilizada por um
grupo restrito de falantes passa a ser adotada por indivíduos sócio economicamente mais expressivo.
A forma antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, período em que as duas variantes
convivem; porém com o tempo a nova variante torna-se normal na fala, e finalmente consagra-se pelo
uso na modalidade escrita. As mudanças podem ser de grafia ou de significado.

Variação Geográfica Trata das diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática entre
regiões. Dentro de uma comunidade mais ampla, formam-se comunidades linguísticas menores em
torno de centros polarizadores da cultura, política e economia, que acabam por definir os padrões lin-
guísticos utilizados na região de sua influência. As diferenças linguísticas entre as regiões são gradu-
ais, nem sempre coincidindo com as fronteiras geográficas. Variação Social Agrupa alguns fatores de
diversidade: o nível socioeconômico, determinado pelo meio social onde vive um indivíduo; o grau de
educação; a idade e o sexo.

A variação social não compromete a compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer na varia-
ção regional; ouso de certas variantes pode indicar qual o nível socioeconômico de uma pessoa, e há
a possibilidade de alguém oriundo de um grupo menos favorecido atingir o padrão de maior prestígio.
Variação Estilística Considera um mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias de comunicação: se
está em um ambiente familiar, profissional, o grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem
são os receptores. Sem levar em conta as graduações intermediárias, é possível identificar dois limi-
tes extremos de estilo: o informal, quando há um mínimo de reflexão do indivíduo sobre as normas
linguísticas, utilizado nas conversações imediatas do cotidiano; e o formal, em que o grau de reflexão
é máximo, utilizado em conversações que não são do dia-a-dia e cujo conteúdo é mais elaborado e
complexo.

Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua escrita e falada, pois os dois estilos ocor-
rem em ambas as formas de comunicação. As diferentes modalidades de variação linguística não
existem isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma variante geográfica pode ser
vista como uma variante social, considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se que o
meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade, preserva variantes antigas. O
conhecimento do padrão de prestígio pode ser fator de mobilidade social para um indivíduo perten-
cente a uma classe menos favorecida.

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Preconceito Linguístico

Por uma Vida Melhor é um título da editora Global, de responsabilidade pedagógica da ONG Ação
Educativa (premiada pelo UNESCO na categoria Educação em 2000). A obra pertence à coleção Vi-
ver, Aprender, segunda colocada no Prêmio Jabuti de 2006, na categoria "Didático ou paradidático do
ensino fundamental e médio". A coleção Viver, Aprender foi logo adotada por instituições de ensino
privadas, e o volume Por uma Vida Melhor veio a ser lançado em 2009.

Por uma vida Melhor destina-se ao 7º ano do ensino fundamental do programa de Educação de Jo-
vens e Adultos (EJA). A seção de Língua Portuguesa é de autoria da Professora Heloisa Ramos. No
capítulo Escrever é diferente de falar, a autora aborda a matéria "concordância". À página 15, lemos:
"na norma culta, o verbo concorda ao mesmo tempo, em número (singular/plural) e em pessoa (1ª, 2ª
e 3ª) com o ser envolvido na ação que ele indica".

À página 16, no trecho sobre a concordância entre as palavras, lê-se que, na variedade popular, há a
forma "Nós pega o peixe". Na sequência, é explicada a regra da concordância canónica ou padrão,
frisando-se que ela deve ser usada nas situações formais.

Nessas lições, Ramos seguiu criteriosamente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Lín-
gua Portuguesa para o Ensino Fundamental, de 1997, os quais orientam os professores a tratar da
variação linguística sem discriminar variedades da língua, como se pode verificar pelo trecho abaixo:

Frente aos fenómenos da variação, não basta somente uma mudança de atitudes; a escola precisa
cuidar para que não se reproduza em seu espaço a discriminação linguística. Desse modo, não pode
tratar as variedades linguísticas que mais se afastam dos padrões estabelecidos pela gramática tradi-
cional e das formas diferentes daquelas que se fixaram na escrita como se fossem desvios ou incor-
reções.

E não apenas por uma questão metodológica: é enorme a gama de variação e, em função dos usos e
das mesclas constantes, não é tarefa simples dizer qual é a forma padrão (efetivamente, os padrões
também são variados e dependem das situações de uso).

Além disso, os padrões próprios da tradição escrita não são os mesmos que os padrões de uso oral,
ainda que haja situações de fala orientadas pela escrita (BRASIL, 1997, p. 82).

Em 2011, Por uma Vida Melhor foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) (1) e, então, distribuído a alunos de escolas públicas brasileiras integrantes da EJA. As obras
didáticas aprovadas em 2011 seguiam um PCN vigente há 14 anos, já que o ensino de variação é um
requisito do PNLD desde 1997.

Em maio de 2011, a imprensa brasileira noticiava que o Ministério da Educação havia comprado um
livro que "aceita erros de português" (O Globo, 14.05.2011) e "defende errar concordância" (Folha de
S. Paulo, 14.05.2011). Segundo os jornalistas, não classificar "Nós pega o peixe" como um "erro
crasso" é um "desserviço aos jovens de uma nação de iletrados sedenta de conhecimentos" (BETTI e

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LIMA, 2011), "um absurdo total" (ROSSI, 2011) e "não é apenas um equívoco, é um crime" (SAR-
DENBERG, 2011). Ramos e os linguistas em geral foram acusados de serem "obscurantistas" (BETTI
e LIMA, 2011).

A mídia transmitia fortemente a impressão de que os acusadores falavam de orelhada, baseando-se


em notícias lidas ou ouvidas, sem terem ido à fonte, sem terem sequer folheado o livro. A rapidíssima
multiplicação de novos comentários construídos sobre os velhos reforça o caráter viral atingido pelas
primeiras denúncias, que alcançaram forte apelo de público, construindo um sentimento generalizado
de indignação.

Por uma Vida Melhor tornou-se o escândalo do momento. A ideia de que o livro didático ensina a er-
rar ("aceita erros de português", traz "erros crassos de concordância"), cerne da oposição ao livro,
cairia por terra, entretanto, assim que alguém se desse ao trabalho de examinar a obra. Não obs-
tante, grande parte da mídia não achou necessário dar esse passo.

Disse José Miguel Wisnik (2011): "leio o capítulo do livro em questão e vejo, no entanto, que a autora
se dedica nele, a maior parte do tempo, a mostrar a importância da pontuação, da concordância e da
boa ortografia na língua escrita.

Onde está o erro?". Chama a atenção a própria insistência na divulgação de que o livro incorre em
erros de português e ensina os alunos a errarem, mesmo com tanta informação acessível sobre o seu
real conteúdo. De forma geral, não houve jornalismo investigativo e responsável, mas a exploração
de uma versão não fundamentada, preferida à verdade.

Nos textos de maior circulação à época, a adoção do livro era descrita como um "ato criminoso". Uma
Procuradora Geral da República prometeu processar criminalmente os responsáveis, fato ampla-
mente noticiado, tendo recebido diversas moções de apoio (NUNES, 2011).

Quando, porém, a própria procuradora se viu obrigada a reconhecer a ausência de base legal para
qualquer processo criminal, uma vez que o livro - em seu conteúdo, em sua distribuição ou em seu
uso escolar - nunca infringira a lei (ASCARI, 2011), tal recuo quase não foi divulgado.

A maioria dos textos veiculados na grande imprensa subscrevia análises e opiniões de pessoas sem
especialização nas áreas de Letras ou Linguística. Os pronunciamentos especializados quase não
obtiveram espaço. Por conta desse desequilíbrio, a ONG Ação Educativa reuniu em um documento
(POR UMA VIDA MELHOR, 2011) textos de cientistas e especialistas.

O Ministério da Educação publicou em seu portal o Dossiê Livro Didático (s.d.), com citações e alguns
completos sobre a polêmica. Heloísa Ramos foi entrevistada algumas vezes na TV e pela imprensa
escrita, mas a defesa do livro nunca teve o alcance do discurso contrário a ele, que atingia a reputa-
ção da autora, da ONG, da editora, do Ministério da Educação, do Governo Federal e dos linguistas
em geral.

Neste artigo, vamos analisar um texto bem representativo da condenação pública ao livro, Livro pra
inguinorantes, de Carlos Eduardo Novaes, que saiu primariamente no Jornal do Brasil, publicado em
16 de maio de 2011, à época do "escândalo", ocasião que também poderia ser chamada de época da
"desinformação, má-fé e preconceito" (CARVALHO, 2011).

Pesaram na sua escolha o fato de ele ter sido estampado num dos principais veículos de comunica-
ção brasileiros e o de ter alcançado grande circulação e longevidade, tendo sido republicado na inter-
net, em blogs e redes sociais. Sua postura ilustra bem a atitude da mídia e da população em geral
com respeito ao livro criticado.

O texto selecionado, como era usual entre os muitos que se opunham à obra de Heloísa Ramos,
omite que o livro ensina a norma padrão da língua e que não há erro algum de português nele, mas
apenas o reconhecimento de que as pessoas não fazem sempre a concordância canónica. Nessa
crónica, Novaes (2011) fala em ato criminoso (caracterizado como descumprimento da Constituição
ou da Lei Magna); tacha de "inguinorante" quem não domina a norma padrão; acredita que a norma
padrão leva à ascensão social; defende a unicidade da língua, acreditando que só exista uma ma-

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

neira de falar, a padrão; confunde norma culta com padrão; defende a primazia da língua escrita so-
bre a falada e critica Heloísa Ramos, o Ministério da Educação e os linguistas. Além disso, recusa a
ideia da existência do preconceito linguístico, mas deixa transparecer, através da sua avaliação nega-
tiva das variantes típicas de pessoas não escolarizadas, o seu preconceito.

Nosso objetivo é mostrar como o preconceito se constrói por meio dessa avaliação. Para nós, a falsa
polêmica sobre a obra Por uma Vida Melhor é uma reação instintiva de proteção a crenças ameaça-
das.

A Paródia do "Inguinorante": A Representação do Erro

A crônica de Carlos Eduardo Novaes, cujo título é Livro pra inguinorantes, é escrita propositalmente
com erros de ortografia e de concordância, tal como supostamente o fariam os usuários do livro que o
escandaliza, ou seja: os "inguinorantes". O grande êxito desse texto de Novaes decorre de tal carica-
tura refletir fielmente a visão do grande público sobre aqueles que não dominam a língua padrão.

Já de início, Novaes declara ter inveja da professora Heloísa Ramos, por ela ter vendido ao MEC 485
mil exemplares de um livro "com erros de português", proeza que ele jamais obtivera. A razão de ele
próprio, escritor profissional, nunca ter conseguido esse feito é cristalina para o autor: diferentemente
do que faz Ramos, ele escreve para quem sabe português.

Ao contrapor a incompetência de Heloísa Ramos à sua própria competência, o autor aponta o MEC
como injusto, por ter beneficiado quem não sabe, em detrimento de quem sabe. Está implícito, aí, que
a justa medida do merecimento é a capacidade de não errar em português.

De mãos dadas com o reconhecimento do mérito de quem não comete "erros" acha-se a naturaliza-
ção da ideia de que falar e escrever "acertadamente" promove a ascensão social, pois, se o mérito
deve premiar o "acerto", a rejeição aos que "erram" é justa. Se os que "erram" não ascendem, isso é
merecido: afinal, eles não se esforçaram por acertar. Por isso, é tão revoltante que alguém que "não
sabe o certo", como Heloísa, venda tantos livros, enquanto um representante dos que "sabem portu-
guês" não consegue realizar essa proeza.

Esse fato é interpretado como um sintoma de "subversão da ordem", como uma enorme injustiça. Ele
indica que os critérios do "mérito" falharam e que o mérito deve reger as condições de sucesso dos
indivíduos para que a sociedade seja justa.

Um sucesso avesso ao mérito é um sintoma disfuncional. Essa denúncia (implicando que o sistema
regulador das instituições sociais esteja à mercê da inépcia, e insinuando que haja corrupção) é o
grande motor do escândalo fomentado em torno de Por uma Vida Melhor.

No ponto em que compara a tiragem dessa obra de Heloísa Ramos às suas, o autor resvala num pro-
blema quantitativo: quantos são os brasileiros que "sabem português"? Quantos os que "não sabem"?
Se o debate fosse sobre representatividade, seria preciso, após uma aferição numérica, reconhecer
que a maioria da população brasileira "comete erros", e que, numa representatividade proporcional,
as obras destinadas a ela deveriam superar em tiragem, de longe, a quantidade de obras escritas
"para quem sabe português".

Não se discute, porém, a representatividade numérica: uma vez que só há uma forma de falar e es-
crever, a "certa", e que tudo o que se afasta dela é "erro". Essa desproporcionalidade representacio-
nal, portanto, pouco importa, pois, ainda que quase todos "errem", o acerto é que é meritório. O nú-
mero de "errados", mesmo que sobrepuje em muito o de "acertadores", não interfere no julgamento
de algo como "certo" ou "errado".

Com isso, queremos apontar que o sistema da "meritocracia" não dá nenhum espaço para a conside-
ração de qualquer desigualdade que exista entre os falantes da língua portuguesa. O critério do
acerto aplica-se igualmente a todos: a meritocracia não leva em conta o histórico do avaliado, mas
apenas seu desempenho no momento da avaliação.

Se a avalição aplicada a todos for a mesma, ela será considerada objetiva e justa, malgrado as dife-
renças patentes nas condições de preparação dos candidatos em exame. A "meritocracia", ao fechar

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

os olhos para tudo o que não seja o produto da avaliação, só pode concluir que punir quem não
acerta é muito natural; antinatural e revoltante é promover e beneficiar quem não acerta, como o MEC
fez, ao comprar e distribuir 485 mil exemplares de Heloísa Ramos. Esse é o pensamento que constrói
a fina ironia do início do texto.

Como já foi dito, todavia, não há fundamento para a denúncia de o livro estar eivado de "erros de por-
tuguês". Por que a mídia em geral deixou de verificar os fatos? Por que, para dar solidez ao discurso
denunciante, na linha do "mérito", foi necessário incluir o livro de Heloísa entre os detratores do
"certo"? Outro filhote do discurso meritocrático, que contrapõe a turma do português "certo" às de-
mais, é o maniqueísmo. Se o acerto é o meritório mocinho, o erro é o vilão. A professora Heloísa pre-
cisou ser incluída no grupo do erro para que o apoio do MEC a ela fosse interpretado como uma evi-
dência da vilania desse ministério, o qual se torna, então, um inimigo do patrimônio cultural que é a
língua portuguesa (a correta, obviamente).

Como o maniqueísmo não admite tons de cinza, apenas preto e branco, a crônica de Novaes divide
os falantes do português brasileiro em dois grupos: o dos que dominam a língua portuguesa, acertam
e, portanto, são inteligentes; e o dos que não a dominam, os "inguinorantes" do título. O autor constrói
essa divisão ao contrapor o livro da EJA, que é para "inguinorantes", aos dele ("escrevo para quem
sabe português!").

Nessa contraposição maniqueísta, inteligência é sinônimo de saber o português certo. O grupo de


mérito inclui Novaes, o público de seus livros e, por identificação, os seus leitores. Eis um golpe de
mestre na argumentação: visto que os subentendidos não estão em discussão, o leitor que os aceitar,
que absorver os alicerces invisíveis da ironia do texto, terá de tomar partido, ou seja, terá de escolher
a qual dos dois grupos pertence.

Tomar o lado dos inteligentes é muito mais laudatório e é sugerido na descrição de leitor oferecida na
crônica: o público-alvo do autor é "quem sabe português" e que se identifica, portanto, com ele, pensa
como ele, entende como é preciso estudar para não "tropessar" na língua e sente como é revoltante
que se dê espaço à turma "inguinorante".

O autor se dirige a seus iguais. A opção que resta ao leitor que não se identificar com Novaes é a de
se autoproclamar um "inguinorante", junto com o Ministro da Educação, por ter aprovado o livro, com
a autora, pelos supostos erros de português que o livro apresenta, e com o ex-presidente Lula, que
"fala muita coisa inadequada" e o termo "inadequada" é apresentado na crônica como um eufemismo
para "errada", mas que, não obstante, "vive dando palestras", ou seja, é também um estelionatário,
um dos beneficiados pelo escandalosa engrenagem evidenciada pelo "Programa Naçional do Livro
Didáctico", que subverte o sistema meritocrático, desviando para quem não sabe português benefí-
cios que, por direito, seriam do outro grupo.

Faz parte da exposição desse putativo esquema de subversão de valores a desqualificação dos alu-
nos da EJA. Não só o leitor de Novaes deve concluir, assumindo que Ramos escreve "para inguino-
rantes", que os adultos em processo de alfabetização são do grupo antagônico ao seu, mas também
que o próprio modo de falar desse grupo (o "errado") é motivo para se repudiar a obra Por uma Vida
Melhor, pois é exatamente o registro de um modo de falar desse grupo no livro que causa imensa re-
pulsa.

Se quem não sabe português é "inguinorante", é tolerado que esse "inguinorante" se disponha a
aprender, mas não que se inclua, numa obra impressa, de cunho didático, um registro de sua fala ha-
bitual. O modo de falar dos alunos da EJA, motivo de vergonha, objeto de achincalhamento público, é
impublicável.

É conveniente tratar como inexistentes modos de falar distintos do "certo", mesmo que esses modos
sejam estatisticamente majoritários, pois uma mera menção a eles na "palavra impreca" seria confe-
rir-lhes uma dignidade imerecida.

Os que falam português errado deveriam resignar-se à sua insignificância e contentar-se com a "lin-
guajem horal". Só quem "não tropessar na Gramática" merece ser alçado à dignidade de público-alvo

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ou objeto de citação na "linguajem escrevida". Tal posicionamento, de per si, encobre novo antago-
nismo, a saber, a contraposição entre escrita e oralidade, a primeira supervalorizada em detrimento
da segunda.

Ao comentar uma declaração de Heloisa Ramos de que, em seu livro, ela estaria privilegiando a lin-
guagem oral sobre a escrita, Carlos Eduardo Novaes a considera uma desculpa esfarrapada, argu-
mentando que, se a linguagem está registrada no papel, é "escrevida" e não oral; a linguagem que sai
pela boca, isto é, a falada, até pode escapar à obrigação de obedecer à gramática, mas, para a que
está no papel, essa obediência é um dever inescapável.

O trecho foi armado para denunciar o despreparo da professora, não obstante, revela uma concepção
tão comum como equivocada: a de que o registro em um suporte de papel torna a escrita mais impor-
tante que a fala e de que tudo o que é importante tem de estar certo, daí ser uma impropriedade um
livro registrar uma produção oral. Segundo esse pensamento, um erro até seria perdoável na orali-
dade, mas continuaria imperdoável por escrito.

Ao fazer tal separação, opondo a linguagem "horal" à "escrevida", Novaes precisa assumir que o su-
porte papel distingue a oralidade da escrita. Nessa acepção, livros, jornais e revistas trazem letras im-
pressas e, portanto, são língua escrita, ao passo que conversas são feitas por voz e, portanto, classi-
ficam-se como língua oral.

A diferença entre a língua oral e a escrita, entretanto, está longe de ser simples assim. Há um contí-
nuo gradual entre fala e escrita, o que resulta na "impossibilidade de situar a fala e a escrita em siste-
mas linguísticos diversos" e "o som não é uma condição suficiente para a definição da língua falada"
(MARCUSCHI, 2008, p. 191-192). Nos chats ou bate-papos na tela do computador, seja numa página
eletrônica de atendimento ao cliente, como a oferecida por sites de compra de passagens aéreas,
seja em atividades programadas como os grupos de discussão de cursos à distância ou mesmo em
trocas de mensagens pelo celular, é tudo escrito, mas essa escrita traz as características atribuídas à
oralidade: informalidade, menor monitoração, menor cobrança de "acerto" etc.

Como decidir se tais textos se classificam como linguagem oral ou como escrita? O problema não se
restringe apenas às situações-limite criadas por tecnologias eletrônicas, com a popularização da in-
ternet. As cantigas de amigos e de escárnio que lemos em livros didáticos de Literatura Portuguesa
no ensino médio foram feitas para serem cantadas com a lira e o fato de terem sido documentadas
em papel não muda o fato de serem exemplares de língua falada.

As histórias em quadrinhos atuais, as tradicionais fábulas de Esopo, as epopeias clássicas, como a


Ilíada e a Odisseia, também são exemplares de língua oral publicados em livro. Aliás, peças teatrais,
como Diálogo do Pênis e O tiro que mudou a História, sucessos de autoria do próprio Carlos Eduardo
Novaes, são textos criados para serem encenados por atores diante de uma plateia.

Mesmo impressas em papel, elas preservam todas as características de um ato de comunicação oral.
É insensata, portanto, a denúncia de Novaes ao despreparo da professora de português Heloísa Ra-
mos, calcada na insinuação de que ela não sabe que a palavra "botada no papel" não é "linguajem
horal". Visto que nada impede a linguagem oral de ser impressa, quem faz uma distinção apressada
como essa da crônica é que demonstra falta de conhecimento.

Além de visar à desqualificação daquela professora, o modo como é apresentada a diferença entre
oralidade e escrita na crônica impõe a supremacia da cultura escrita, livresca, sobre a oral, falada,
sustentando a visão de que a escolarização torna as pessoas melhores, uma vez que a alfabetização
e a cultura escrita estão a cargo da escola em nossa sociedade, o que equivale a dizer que quem tem
mais estudo é superior a quem tem menos.

Desconsidera-se aí o fato incontestável de que, no curso da história da humanidade, a fala é muito


anterior à escrita, e o de que, mesmo hoje, todas as sociedades humanas têm sua língua oral, em-
bora várias sejam agrafas.

Assim, sobrepor a escrita à fala já é excluir boa parte da humanidade. Levando em conta que a es-
crita depende de instrução, teremos de admitir que ela não esteja ao alcance de todos, mas só de
uma parcela da população, aquela que é alfabetizada. Ora, o público da EJA é composto exatamente

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por adultos que não tiveram acesso à escola no momento esperado. Por conseguinte, a sobrevalori-
zação da escrita, em contrapartida à desvalorização da oralidade, tem o efeito de negar valor ao patri-
mônio comum a todos os cidadãos brasileiros, reconhecendo valor apenas naquilo que o público-alvo
do livro Por uma Vida Melhor ainda não detém: o domínio da escrita.

É uma pincelada decisiva em sua representação como "inguinorantes". Promove-se, assim, a separa-
ção dos cidadãos em duas classes, dividas por uma linha de corte traçada em termos de escolari-
dade.

O texto em exame iguala saber ler e escrever ("bem") a “obedecer ao que manda a Gramática". Mas,
afinal, que gramática é essa? Que pistas nos dá a crônica sobre ela? A crônica diz que ela é privilégio
exclusivo dos altamente escolarizados, do mundo da "palavra impreça".

Trata-se de uma gramática na qual o Novaes, um escritor profissional, capaz de escrever "para quem
sabe português", segundo ele mesmo, tem de dar "um duro danado para não tropesssar". Em outras
palavras, dominá-la depende de esforço, aplicação e instrução. São regras que vamos aprender na
escola.

Tais regras são aquelas definidas por autoridades constituídas pelas instituições oficiais (as políticas
do governo, as instituições de ensino, a Academia Brasileira de Letras), e estão sujeitas a regulamen-
tação legal, como em reformas ortográficas. Como todo fruto de deliberação institucional, essas re-
gras são constituídas, em dado momento histórico, pelos detentores do poder e estão sujeitas a alte-
rações quando o poder muda de mãos.

Logo, elas não são imutáveis nem permanentes. O conhecimento desse corpo de regras depende de
exposição a documentos que as registrem e/ou de instrução. Receber ou não essa instrução é, nos
quadros da nossa sociedade, uma questão de oportunidade: quem não estudar não saberá esse tipo
de gramática. Quem ler mais dominará melhor esse saber, pois a indústria editorial obedece à regula-
mentação oficial da língua-padrão.

Quem não tem o hábito de ler, como é o caso dos alunos da EJA, estará obviamente em desvanta-
gem. Esse é um dos motivos pelos quais a "meritocracia" baseada na cobrança desse tipo de conhe-
cimento não pode ser tida nem como justa nem como igualitária: as oportunidades de adquirir esse
saber não são as mesmas para todos.

Existe, no entanto, outra noção de gramática, oriunda da ciência: é o conjunto de regras que deter-
mina as produções possíveis em cada língua natural, regras essas inescapavelmente seguidas pelo
falante, ainda que ele não tenha consciência delas e, portanto, não saiba descrevê-las. Por exemplo,
mesmo sem ter nunca tido aulas sobre o assunto, qualquer falante nativo de inglês vai colocar o adje-
tivo antes do substantivo ('civil war'), enquanto qualquer brasileiro vai usar a ordem inversa ('guerra
civil').

Nunca se ouvirá de um falante nativo de português *'civil guerra', qualquer que seja o seu nível de
instrução, motivo pelo qual se diz que essa ordem de combinação entre adjetivo e substantivo é gra-
matical em inglês, mas em português é agramatical (isto é, não constitui um produto possível da gra-
mática que rege nossa língua natural).

Essa gramática, chamada de internalizada, é um patrimônio comum a todos aqueles que têm o portu-
guês como sua língua materna (cf. DUARTE, 2011). Toda produção linguística, seja falada ou escrita,
obedece a tais regras.

Quer tenha ou não recebido instrução formal, qualquer falante, necessariamente, já sabe muito sobre
sua língua, entretanto esse saber tão complexo quanto democrático não tem sequer sua existência
reconhecida na visão do senso comum reproduzida pelo discurso de Novaes, quando ele dá valor tão
somente à gramática ensinada na escola.

Apagando de seu discurso a capacidade que os falantes têm de combinar as regras de sua língua de
diversas formas, de acordo com o contexto e com a sua vontade, Novaes deixa aflorar em sua crô-
nica uma visão popular sobre gramática que desprestigia a criatividade linguística de todo falante em

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favor do automatismo da obediência a regras convencionadas e reguladas por autoridades e institui-


ções sociais. Permanece ignorado em seu discurso o fato de que até mesmo aqueles falantes que
mais de perto seguem as prescrições dessa gramática institucionalizada não poderiam produzir seus
textos escritos ou falados apenas com base nessas leis, sem recorrer também ao conhecimento de
sua gramática internalizada.

Cria-se ou mantém-se, ao silenciar sobre isso, a ilusão de que a gramática institucionalizada seria su-
ficiente como lastro para as produções faladas ou escritas. Ela não é. De fato, ocorre o inverso: crian-
ças em idade pré-escolar usam com sucesso línguas humanas para comunicar-se, o que demonstra
a não necessidade de instrução oficial para ser fluente em uma língua.

Raramente, porém, um estrangeiro se tornará tão proficiente quanto essas crianças exclusivamente
por meio de instrução regular, apenas como resultado da leitura de obras didáticas e de referência
sobre aquela língua, o que mostra que a gramática institucionalizada não é autossuficiente, nem é o
bastante para a competência linguística.

A crônica ainda afirma que, sem a obediência à gramática das obras de referência e escolares, "a
nossa língua vai virar um vale-tudo sem normas nem regras". Essa predição catastrófica não tem es-
tofo científico, uma vez que toda produção linguística é regrada, como já exposto. Para o autor, "a
Gramatica eziste para encinar agente como falar e escrever corretamente no idioma português". Ele
se refere às regras da gramática institucionalizada. Quanto a essas, é claro que é possível falar e es-
crever sem respeitá-las. Até escritores sacramentados o fazem.

De fato, Machado de Assis escreveu, no Capítulo dos Chapéus, "janela meia aberta" (sic, grifo nosso)
e disse que a protagonista do conto Uns braços era "meia amiga" (sic, grifo nosso), de um persona-
gem. A própria crônica de Novaes, paradoxalmente, é mais um exemplo consumado de que isso é
possível. O autor personifica um dos "inguinorantes", deixando a crônica eivada de tropeços gramati-
cais, alguns dos quais já foram reproduzidos e comentados por nós.

Esses "tropeços" não obstaram, entretanto, a compreensão do leitor sobre as ideias expressas pela
crônica, tanto que a crônica causou sorrisos em um sem-número de pessoas, que a fizeram circular
por gostar de seu conteúdo; e tanto que aqui estamos nós, justamente, a debater esse conteúdo. Ele
é completamente acessível, apesar dos tantos "erros de português" do texto.

Vale repetir, porém, que o alerta feito na crônica para os prejuízos causados pela incitação ao erro
imputada à obra Por uma Vida Melhor não se preocupa em apresentar uma base factual que o sus-
tente, só cuidando de construir um juízo de valor negativo bastante persuasivo. A eficácia de argu-
mentos em discursos desse gênero depende bem mais de convicção firme e de uma elaborada expo-
sição que de provas.

Além de alarmar catastroficamente o leitor, induzindo-o a crer que, ao permitir ao aluno deixar de fa-
zer "o que manda a gramática", o livro de Ramos implantará um vale-tudo na língua, a crônica ainda
diz que, nesse caso, "agente nem precisamos ir a escola para aprender Português". Nesse ponto,
está claro que o texto subscreve a distinção entre linguista e professor proposta abertamente por
Evanildo Bechara, em seus pronunciamentos sobre Por uma Vida Melhor: só o professor (entenda-
se: aquele que ensina a norma padrão) deve ocupar a sala de aula; o linguista (aquele que suposta-
mente não condena formas de expressão distintas da norma padrão) deve ser mantido longe dela, à
grande distância, pois é perigoso.

O linguista é o cientista que investiga os fatos sobre as línguas. Esse cientista não (des) autoriza nin-
guém a falar de qualquer modo que seja, apenas descreve fenômenos linguísticos tais como se apre-
sentam. (Aliás, ninguém tem poder de extinguir práticas linguísticas. Essa pretensão só pode vir de
alguém avesso à ciência.)

Em lugar de separar abertamente ciência empírica de técnica aplicada, Novaes reforça sub-repticia-
mente a visão de que o linguista é um mau professor, fazendo da linguística um lugar de frustrados
que, por não dominarem as regras do bom português, não podem ser consultores de gramática ou
professores. O texto todo vende a ideia da incompetência da autora do livro da EJA, dos técnicos do
MEC e de sua corja, esses famigerados linguistas.

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O ponto mais perigoso dessa argumentação supersimplificada e maniqueísta talvez seja essa asser-
ção de que não haverá motivo para frequentar a escola se a palavra impressa não obedecer à gramá-
tica. Seu sustentáculo é uma meia verdade: a escola, necessária para ensinar a gramática institucio-
nalizada, não seria necessária nem suficiente para conferir aos alunos o domínio das regras da gra-
mática internalizada.

Logo, se o objeto é aprimorar esta última, a escola talvez seja desnecessária. Não obstante, não ha-
verá quem queira se opor à ideia de que ir à escola é um benefício. O problema é achar que a única
fonte desse benefício é a gramática institucionalizada que lá se ensina.

Achar que ir à escola é bom não obriga ninguém a concordar com essa visão maniqueísta de língua.
Não é incompatível com a valorização da escolaridade outorgar múltiplas funções à aula de língua
portuguesa, e não há antagonismo real entre a gramática institucionalizada e a internalizada.

A escola tem também o papel de levar a conhecer os fatos e a refletir sobre eles. A capacidade de
expressão e a criatividade linguística podem ser desenvolvidas na escola. Além de fazer conhecer a
norma padrão da língua, a escola tem o papel de expor o aluno às diversas normas da língua. Ao afir-
mar que "a Gramatica eziste para encinar agente como falar e escrever corretamente no idioma por-
tuguês", o autor encobre uma pluralidade de normas com o manto do mito da unicidade.

A norma padrão reúne as regras explicitadas nos manuais e obras de referência da língua-padrão, a
usada em textos oficiais e formais, mas há também a norma de cada comunidade linguística, no sen-
tido de tudo aquilo que é normal, frequente e usual entre os falantes (FARACO, 2008). Teremos aí
tantas normas quantas forem as comunidades linguísticas consideradas. Há uma norma carioca, dis-
tinta da paulista.

Há uma norma culta, que é típica de falantes cultos, as pessoas com pelo menos oito anos de escola-
ridade (ou 12, para quem considera o corte em outro ponto), e que se contrapõe a uma norma popu-
lar, que é a típica de adultos não escolarizados. Nem mesmo a norma culta coincide com a padrão:
pesquisas mostram que os brasileiros cultos não fazem o que manda essa gramática, a única exis-
tente, na visão que sustenta o texto.

A concordância exemplificada por "Nós pega o peixe" faz parte, porém, da norma popular, isto é, as-
sim se expressam os falantes com baixa escolaridade, que constituem a maioria do povo brasileiro.
Negar a existência da norma popular é uma atitude política de sonegação cultural.

Chamar as regras constitutivas dessa norma de "erro" e de "ignorância" é não só ser superficial, ou
cair em engano, mas é, sobretudo, menosprezar e querer intimidar uma imensidão de brasileiros.

O próprio Novaes confessa que "dá um duro danado para não tropessar na Gramática". As regras da
língua-padrão não são naturais: precisam ser estudadas com muita dedicação. Esse é um saber que
exige esforço e oportunidade para aprender, enquanto o saber natural, que é o da gramática interna,
é dado de forma espontânea.

Como ensina Duarte (2011), a norma que é ensinada nas escolas brasileiras foi construída sobre as
preferências dos europeus, que são muito distintas dos usos do Brasil. Assim sendo, não deveria ser
exigível de ninguém uma conformidade rigorosa com a norma-padrão.

Além disso, exigir do outro aquilo que não damos conta de fazer nós mesmos é a própria definição de
arbitrariedade. Quando o exigente ainda oculta dos outros e/ou de si mesmo que não sabe o que
exige que os demais saibam, entramos aí no domínio da hipocrisia.

Carlos Eduardo Novaes afirma que a gramática é uma espécie de constituição da língua. Essa ima-
gem desenha a gramática normativa como inquestionável, com peso de lei. O falante é visto, nessa
metáfora, com um cumpridor de regras que ele não pode questionar e cuja infração deve ocasionar
punição.

Por trás desse tipo de afirmação, há uma campanha para desprestigiar as pessoas que se comuni-
cam fazendo uso do conhecimento que têm da sua própria língua, e não o da "constituição" gramati-

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cal. Se entendermos "erros" como desvios da gramática ensinada tradicionalmente nas escolas, tere-
mos de concluir que todos os brasileiros erram, mas que alguns "erros", os cometidos pelos escolari-
zados, não incomodam nem suscitam reações apaixonadas, sendo prontamente desculpados, en-
quanto que certos "erros", os que marcam a fala da população brasileira de baixa escolaridade,
"doem no ouvido", provocando condenações veementes. Em suma, a percepção e o julgamento do
que conta como português "certo" ou "errado" nada tem de técnica, neutra, justa ou imparcial.

Percebe-se, no texto em exame, um preconceito exacerbado contra os que não se expressam de


acordo com a norma padrão, como o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O jornalista
diz, jocosamente, que a professora Heloísa Ramos substitui a noção de certo e errado pela de ade-
quado e inadequado para "livrar a cara do político" que, de acordo com o texto, fala muita coisa "ina-
dequada".

Novaes, portanto, está dando a 'inadequado' o valor de uma maquiagem para o erro. O absurdo a de-
nunciar, nessa lógica, é o fato de ganhar dinheiro com palestras um ex-presidente que fala como um
operário, fora das margens estreitas da língua-padrão.

Os proventos aferidos por tal palestrante são apontados como uma evidência da distorção de um sis-
tema que requer cegamente de todo falante o cumprimento das leis da gramática, "uma espéce de
Constituissão do edioma pátrio". Em tal lógica, quem sabe português deveria ser premiado, e quem
não sabe, castigado. E cada um teria o que merece, a justiça estaria feita.

Não basta clamar por justiça pedindo que a "lei" do idioma pátrio seja implacável com os inimigos,
mas deixe em paz os amigos, numa postura nada democrática e nada isenta, ou seja, não chega co-
brar os "erros" dos ignorantes e perdoar os dos altamente escolarizados, em nome de uma meritocra-
cia pretensamente imparcial, justa e equilibrada; Novaes conclama também o Ministro da Educação,
que saiu em defesa do livro da EJA com um discurso técnico, a ficar calado, porque a gramática é
que é a dona da verdade, e o MEC simplesmente deve acatá-la.

Essa postura autoritária reforça a força de lei dada a um conjunto de regras comparado às leis mag-
nas, irrevogáveis e inquestionáveis. A História está cheia de exemplos de leis injustas, como a da es-
cravidão, que tornava homens propriedades de outros homens, e as do estado nazista, que permitiam
tratar pessoas de outras etnias e religiões como animais. Há ocasiões em que questionar as leis é
uma necessidade para que se alcance a justiça.

O argumento de Novaes, enaltecendo a lei e a ordem, é também um argumento de autoridade, a fa-


vor de um status quo em que há flagrante abuso de poder: no Brasil de hoje, as classes abastadas
detêm o domínio de uma variedade linguística que as distingue das classes desfavorecidas.

Por isso, Novaes está tão incomodado com os "prêmios" dados aos incompetentes: um ocupa a
maior cadeira do Ministério da Educação, outro é convidado a dar palestras e a terceira tem uma obra
com uma tiragem de 485 mil exemplares. A ascensão social dos "despreparados" (leia-se, ex-operá-
rios, professorinhas) incomoda.

O MEC havia esclarecido que não é o Ministro quem escolhe os livros do PNLD, pois a decisão cabe
à Comissão de Especialistas designada para a disciplina. Essa declaração é apresentada na crónica
como uma desculpa que não cola, um "argumento" capenga para livrar o Ministro de responsabili-
dade.

Carlos Eduardo Novaes cunha a palavra "arjumento": é um "arjumento absurdo". Esse neologismo
compara a jumentos, os animais que, em nossa cultura, simbolizam a teimosia e a burrice, às pes-
soas que não dominam a "gramática". Novaes recorre à ironia para desqualificar um discurso técnico,
ao dizer que quem faz as análises dos livros didáticos só conhece a língua oral.

Isso equivale a dizer que a incompetência e o despreparo (os especialistas são acusados de não co-
nhecer a gramática indissociável da língua escrita) levou-os a aprovar livros com supostos "erros".
Essas críticas infundadas atropelam fatos consubstanciados em legislação vigente, como o PNLD, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Malgrado
os termos do PNLD, os PCNs e as DCNs estarem publicados e disponíveis, e não obstante uma sim-
ples consulta esclarecesse os fatos, mostrando que não cabe essa crítica, o dedo da acusação segue

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apontado para o MEC. Afinal, a retórica depende do tom apropriado e das figuras de linguagem, não
do respeito aos fatos.

Uma grande ferramenta retórica utilizada pelo autor de Livro pra inguinorantes a fim de ganhar seu
leitor é o efeito de humor. Novaes está parodiando os alunos da EJA em sua forma de escrever. Se-
tenta por cento (70%) dos erros cometidos pelo escritor nessa crónica são ortográficos, o que de-
monstra uma supervalorização da (orto) grafia.

A coesão, os mecanismos de coerência, esses não são afetados. Em decorrência, ao lermos essa
crónica, captamos sem dificuldade as suas ideias, apesar dos erros propositadamente cometidos pelo
autor.

Por trás dos "erros", o conteúdo permanece perfeitamente compreensível. Portanto, temos aí uma ex-
periência concreta do fato de que aquilo que o texto mais achincalha, os "erros", não prejudica a inte-
ligibilidade nem a interpretação de um texto.

Não obstante, a estratégia aumentou a força persuasiva da crónica de Novaes, já que inspira uma re-
ação quase involuntária de repúdio, aversão e condenação aos erros de português. Quem detecta os
erros, além de ver o "inguinorante" retratado, também vai se sentir superior, pois pode corrigi-los, o
que o coloca na classe dos não ignorantes.

O simples fato de que os erros não prejudicaram a compreensão é, contudo, um contraexemplo for-
tíssimo à tese principal do texto. Se a convenção da escrita não interfere na comunicação, por que
dar a ela tamanha primazia?

O texto, malgrado seus erros fabricados, é um primor retórico. Um texto incoerente, sem coesão, mas
sem quaisquer erros, seria preferível? Certamente não convenceria ninguém, nem seria guardado ou
enviado por e-mail como um troféu e um trunfo dos críticos ao livro da EJA e à decrepitude crescente
do sistema educacional, como essa peça argumentativa veio a ser.

Por baixo dos efeitos de ironia, vigorosamente captadas as benesses do leitor, esse texto exemplifica
a antítese de seu conteúdo, demonstrando pelo seu sucesso que os tão execrados erros ganham pe-
quena importância quando a criatividade linguística é preservada.

Esse texto alcançou grande sucesso justamente por muitas pessoas terem se identificado com as
opiniões que ele veicula. As pessoas que se identificaram com o texto certamente não foram ao livro
da EJA para conferir a verdade das alegações.

O efeito buscado no texto é o da ironia: a argumentação do autor contra a saída do binômio certo-er-
rado é reforçada pelo repúdio do leitor à inobservância proposital das regras da norma padrão. Golpe
de mestre: o preconceito do leitor, ativado e reacendido subliminarmente pela reação mais gutural e
inconsciente à forma da escrita, será alimentado e justificado pelo conteúdo do texto, transvestindo-
se de guerra santa por um sistema de mérito.

O texto de Novaes transpira uma visão muito preconceituosa em relação às pessoas envolvidas na
produção, distribuição e utilização da obra Por uma Vida Melhor. Novaes está reproduzindo a ideolo-
gia de que a língua é uniforme e, portanto, de que todos devem falar de uma só maneira, uma vez
que a norma padrão ensinada nas escolas deve ser única, inquestionável e rigorosamente obedecida:
as regras têm peso de lei, e quem as desobedecer merece ser punido.

A sua forma imita a redação de pessoas que não observam a norma padrão, mostrando a visão da-
queles que dão "um duro danado para não tropesssar na Gramática" sobre a produção linguística das
pessoas sem "nossão de 'certo e errado'".

Fica patente também, por esse expediente, como os "erros" imputados aos alunos da EJA os desva-
lorizam, aos olhos de "quem sabe Portugues".

O texto representa a posição da maior parte da mídia quanto ao episódio. Por isso, embora o conte-
údo do texto traga a voz do autor, ele é arauto do senso comum em matéria de atitude linguística.

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Ideologia e atitude linguística

Apontamos em Livro pra inguinorantes os pilares de uma visão sobre a língua portuguesa e o ensino
de língua materna que permeou toda a reação da mídia ao livro de Heloísa Ramos.

Um deles é o pensamento de que a "ascensão social" é produto direto de uma medição de "conheci-
mento", ou seja, que a "nação" é justa, imparcial e premia o mérito.

Só não ascende quem não quer. Nesse quadro, é natural que estejam mais bem de vida os cidadãos
detentores do "conhecimento" relevante, ou seja, os capazes de “obedecer ao que manda a Gramá-
tica"; dessa perspectiva, nada mais justo do que permanecerem mal de vida os "inguinorantes", pois
o "sucesso" é decorrência da obediência à gramática.

O discurso da meritocracia baseada no "conhecimento" vem sustentar a divisão dos cidadãos em


duas grandes classes: uma, premiada com o "sucesso", e a outra, desprivilegiada, sem "ascensão"
possível, como o produto de um mecanismo justo e meritório. A linha divisória que separa essas duas
classes de cidadãos é, em última instância, o nível de escolaridade, pois um bom professor, aquele
que respeita a gramática como "a dona da verdade", é quem vai "encinar agente como falar e escre-
ver corretamente no idioma português".

A validação das diferenças sociais, pela vinculação da posição usufruída ao mérito, opõe-se visceral-
mente ao reconhecimento da própria existência de um "preconceito linguístico". A atitude jocosa do
autor demonstra que ele não concorda com os linguistas quanto a descrever atitudes linguísticas
dessa maneira.

Preconceito, por definição, é uma atitude discriminatória disfarçada em um racional de tecnicidade,


encoberta numa capa de avaliação justa e imparcial, obtida por meio da aplicação aparentemente
neutra de um critério técnico. O preconceito é uma conduta cujos verdadeiros motivos não podem ser
confessados, não apenas por serem patentemente parciais e injustos, mas, também, por serem in-
conscientes.

Daí a grande mobilização da imprensa: a defesa da visão de que a forma de falar traduz superiori-
dade (só intelectual?) Requererá o uso de forte artilharia para derrubar a proposta dos especialistas
de levar para a sala de aula o tema da variação e do preconceito linguístico. Trataremos a seguir do
preconceito do ponto de vista da sociolinguística variacionista.

A língua é "um objeto constituído de heterogeneidade ordenada" (WEINREICH, LABOV e HERZOG,


2006, p.133).

Conforme ensina Callou (2008), "anomalia seria não haver diversidade, uma vez que uma língua se
define como língua na medida em que seus usuários se comunicam por meio dela para conviverem
socialmente, e os contatos sociais são, por sua vez, de natureza plural".

Acrescentaríamos que são traços inerentes da organização social não só a diversidade, mas também
a desigualdade.

A língua, além de ser instrumento de comunicação e de expressão entre indivíduos da espécie hu-
mana, é um fator extremamente importante para a identidade entre os membros dos grupos sociais, e
também demarca as diferenças sociais no seio de uma comunidade, ou seja, a língua marca identi-
dade e constitui um fator de suma relevância para identificar as diferenças existentes em uma socie-
dade (TARALLO, 1986).

Sempre que houver dois modos de se dizer alguma coisa, estaremos diante de variantes. Apesar de
o significado linguístico delas todas ser igual, o significado social de uma variante, ou seja, a forma
como os falantes a avaliam, nunca será o mesmo.

A avaliação ocorre naturalmente e inconscientemente. Se uma determinada variante 'dói no ouvido'; o


falante a está avaliando. Essa avaliação pode ser positiva (a variante é considerada prestigiada), ne-
gativa (a variante é considerada desprestigiada) ou, ainda, neutra (a variante é não marcada, ou seja,
nem considerada a melhor, nem a pior). Se, por exemplo, um carioca escuta um paulista falar, há um

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

estranhamento, pois, o ouvinte percebe aquela forma como nada usual na sua comunidade. Esse es-
tranhamento desencadeia um processo avaliativo. Um carioca encantado por São Paulo fará uma
avalição positiva, conferindo prestígio às marcas distintivas da fala paulista. Já alguém identificado
com o Rio de Janeiro fará avalição negativa, vai achar "feio" aquele jeito desviante de falar, estigmati-
zando o que é típico da fala paulista.

A avaliação, para Labov, é um processo com caráter ideológico e de crença. Não há, entretanto, cor-
respondência necessária entre a avaliação negativa de uma determinada variante linguística e o fato
de aquela forma ser considerada "errada" pela norma padrão.

As expressões linguísticas estranhas ao português ensinado nas escolas não recebem todas uma
mesma avaliação: algumas são bem aceitas, enquanto outras são estigmatizadas. Por exemplo, nós,
brasileiros, dizemos 'Eu te amo' em lugar de 'Eu o amo'. Isso é considerado "mistura de pronomes".
Por se tratar, contudo, de um "erro" de todos, dita forma de falar não será avaliada como "feia" ou "in-
correta".

Por que certos "erros" não soam mal? Porque o critério para avaliar negativamente não é, como
quase todo mundo crê, simplesmente que a variante esteja em desacordo com as regras do portu-
guês ensinado nas escolas. Nunca é meramente a forma linguística em si que é avaliada. O que está
recebendo um juízo de valor é um grupo social, a comunidade de fala identificada pela tal variante lin-
guística.

Uma das variantes de marcação do plural nominal, a da regra que produz "nós pega os peixe", é es-
tigmatizada por um único motivo: ela é típica de uma comunidade linguística socialmente desprestigi-
ada, no caso, do estrato social mais pobre da população brasileira.

Quando alguém reage a "nós pega o peixe", está avaliando o grupo social que assim se expressa.
Pesquisas sociolinguísticas comprovam que a variante popular da concordância nominal é mais fre-
quente entre falantes analfabetos ou semianalfabetos.

De acordo com Vieira (1995), entre os falantes cariocas não-escolarizados, apenas 2 % realizam a
concordância chamada de canónica ou redundante, a das escolas e dos livros de gramática que ensi-
nam a norma padrão.

Já entre as pessoas altamente escolarizadas, a realização da variante de concordância canónica


chega a 89%. Como, no Brasil, o acesso à escola está intimamente relacionado à classe social, en-
tende-se por que são as pessoas mais pobres da população que não realizam a concordância pa-
drão.

A norma padrão, ensinada e difundida nas escolas, tem regras diferentes das do vernáculo, da língua
materna dos brasileiros, aquela língua que os brasileiros adquiriram naturalmente, sem instrução.
Nossa norma padrão foi construída a partir dos usos lusitanos, e não da língua dos brasileiros (cf.
DUARTE, 2013).

Por isso é que há um grande abismo entre a norma padrão, que determina o que é "certo" e o que é
"errado", e a norma popular, a da língua materna, a língua com a qual as pessoas se comunicam an-
tes mesmo de entrar para a escola.

O grupo social estigmatizado por falar "errado", ou seja, por não falar de acordo com o que prescreve
a norma padrão, não teve acesso às mesmas condições escolares que o grupo social de prestígio.
Usam-se dois pesos e duas medidas para avaliar, esquecendo-se de que não há igualdade para to-
dos: não são todos os que leem, não são todos os que podem ir ao teatro, ao cinema e usufruir de
meios oficiais de promoção cultural.

Exige-se que todos falem da mesma maneira, como se a língua fosse única, mas essa "língua única"
é a ensinada na escola, a língua-padrão, e a escola, responsável por difundir a língua-padrão, até
pouco tempo era inacessível à maioria no Brasil.

Atualmente, estamos vivendo uma quase universalização do acesso ao ensino fundamental, mas
ainda há grandes questionamentos no que se refere à igualdade na qualidade desse ensino.

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Não é justo avaliar da mesma forma pessoas com condições de vida tão diferentes, como se bas-
tasse o esforço para que essas pessoas aprendessem. Não há justiça quando pessoas com condi-
ções distintas competem na mesma prova, submetidas às mesmas exigências, como se todos tives-
sem tido as mesmas oportunidades de preparação, ou seja, como se participassem da competição
em igualdade de condições.

A meritocracia, sistema baseado no "mérito" - que nada mais é que avaliar de forma igual as pessoas
em determinado momento, esquecendo toda a trajetória anterior, e atribuindo o "prêmio" ou o melhor
benefício àquele que mais se destaca só é justa quando todos têm de fato as mesmas condições de
atingir o patamar de desempenho esperado.

A partir do momento em que há diferenças entre as histórias de cada um, essas diferenças impedem
que a meta possa ser atingida por tantos.

O problema com a adoção de um critério "técnico" como o que legitima a meritocracia é que, se al-
guns estiverem em vantagem, a premiação do melhor resultado, numa competição desiquilibrada e
desigual, não poderá ser justa.

A avaliação jocosa a determinadas variantes linguísticas é vista, pelo senso comum, como uma ati-
tude correta (ou seja, imparcial, justa, técnica, objetiva), como uma maneira apropriada e neutra de
agir frente a um conjunto de variantes.

A maioria das pessoas defende, como muitos dos jornalistas que criticaram o livro Por uma Vida Me-
lhor, que corrigir os "erros" é justo e imparcial, pois isso se dá sob o ponto de vista técnico. Não são
todos os "erros", entretanto, os mal avaliados e corrigidos, mas somente os dos mais pobres, como
os "erros crassos de concordância".

Uma avaliação que depende de saber quem produziu o item sob avaliação, e não do mero resultado
produzido, não pode ser justa nem técnica. É por isso que as variantes linguísticas atribuídas aos me-
nos escolarizados estão intimamente relacionadas ao seu estrato social. E é assim que, no Brasil, a
"correção" e o "erro" são usados para mascarar uma atitude preconceituosa.

O texto analisado professa que corrigir os erros das pessoas é fazê-las entrar no caminho para o su-
cesso profissional, acreditando que basta dominar a norma padrão para obter prestígio social. A vari-
ação linguística ameaça essa ideia da obtenção do prestígio por meio do conhecimento da norma pa-
drão. Um livro que siga os PCNs de 1997 incomodará ao mostrar que, para a ciência, a norma popu-
lar é tão valiosa quanto a culta.

Nega-se a existência do preconceito linguístico, mas fica evidente o preconceito do autor, porta-voz
de toda uma massa representada pela mídia, para com aqueles que não conhecem perfeitamente a
norma padrão.

O preconceito se mostra na sua avaliação negativa das variantes de pessoas menos escolarizadas e
no seu repúdio destemperado aos trechos em que a obra didática contra a qual grita nada mais faz
além de reconhecer a existência de uma norma popular, ensinando a norma padrão.

A divisão da população entre, de um lado, os afinados com a norma "culta", a gramática "que é a
dona da verdade" e, de outro, os demais, bem como a licença para execrar quem não domina essa
única norma "certa", os "inguinorantes", dependem intrinsecamente de tomar o domínio da norma pa-
drão como evidência de superioridade intelectual. É preciso haver a crença de que tal superioridade
recebe reconhecimento.

Como ocorre com toda ideologia, a convicção de que a meritocracia premia o bom manejo da "língua
portuguesa" (entendida como a sua forma "certa") está entranhada na população em geral, sem que,
necessariamente, haja consciência de seu caráter ideológico.

Por caráter ideológico queremos indicar que uma crença pode se tornar bastante difundida e aceita,
sem nunca se sentir a necessidade de examinar se há ou não validade lógica (consistência) nos ar-
gumentos que ela encadeia, e sem que se ache necessário buscar fundamentos empíricos para ela,

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

ou seja, apesar de ela jamais ser posta à prova em temos de adequação para com os fatos observá-
veis. Como diz Chauí (2004, p. 5): "Um dos traços fundamentais da ideologia consiste, justamente,
em tomar as ideias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais
ideias expliquem aquela realidade" ou, mais resumidamente, a ideologia nada mais é que o "oculta-
mento da realidade social" (CHAUÍ, 2004, p. 8).

"Por seu intermédio, os homens legitimam as condições sociais de exploração e de dominação, fa-
zendo com que pareçam verdadeiras e justas" (CHAUÍ, 2004, p. 8-9). Ela é "um sistema de ideias
condenadas a desconhecer sua relação real com o real" (CHAUÍ, 2004, p. 11), daí ser inconsciente.
Por isso, suas contradições escapam aos que as professam.

Ora, o reconhecimento da existência do preconceito linguístico deixaria a nu o fato de que a merito-


cracia baseada no nível de "conhecimento" individual da "língua culta" é uma falsidade, ou seja, é só
um discurso feito para legitimar o perpetuamento de padrões sociais diferentes.

Eis porque o embate foi tão forte, eis porque Por uma Vida Melhor causou tanta comoção: a equipa-
ração técnica entre a "variedade popular" e "a língua culta" numa obra didática esvazia a justificativa
detratora para que se deem tratamentos desiguais a indivíduos de estrato social diverso, com base
na forma como se expressam, já que não permite mais sustentar, como verdade independente e in-
contestável, a crença de que "a língua culta" é superior, mais evoluída, melhor que a "variedade po-
pular".

Por uma Vida Melhor incomodou muito por ameaçar a ideologia dominante, ao neutralizar a crença
que dá lastro a uma atitude linguística discriminatória, a de que a forma de falar dos altamente esco-
larizados (um conjunto que, no nosso país, ainda coincide grandemente com o da população de mais
alta renda) espelha um valor e um mérito muito superiores aos dos menos ou não escolarizados (no
Brasil, esse conjunto ainda se sobrepõe ao da população de mais baixa renda).

O texto analisado nesse trabalho exala crenças que dão sustentação ao preconceito linguístico. As
ideologias partilhadas pelo senso comum vendem o repúdio a certas variantes como um procedi-
mento justo, imparcial e técnico de "correção".

O "escândalo" de maio de 2011 serviu para expor a visão de língua e de ensino de língua do senso
comum. Sendo essa visão unicista, é urgente que se coloque cada vez mais em prática o que os
PCNs já exigem desde 1997, para que os brasileiros com o privilégio de frequentar a escola deixem
de tratar as diferenças na forma de falar como uma credencial de castas sociais petrificadas.

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MARCAS LINGUÍSTICAS

Marcas Linguísticas

Que a língua não é um sistema invariável e uniforme já sabemos, embora, nem sempre, aceitemos
facilmente esse caráter de mutabilidade das línguas como um processo natural e inerentemente vá-
lido. Qualquer atividade de interação verbal envolve situações e sujeitos diversificados, marcados por
especificidades individuais e coletivas, que, naturalmente, vão manifestar-se no modo de falar, no pa-
drão de escolha das palavras e das estruturas gramaticais. Perceber tais variações como um pro-
cesso natural das línguas é desenvolver a capacidade de perceber como legítima a atitude do sujeito
de recorrer a variações de usos para adequar-se às condições particulares de cada situação. Numa
perspectiva bem mais ampla, recorrer a variações representa o reconhecimento da língua como mani-
festação das diversidades culturais; representa, ainda, o respeito pelo estatuto de igualdade de todos
os cidadãos frente ao exercício da faculdade da linguagem.

Descritor 10 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto

Por meio de itens deste descritor, pode-se avaliar a habilidade de o aluno identificar quem fala no
texto e a quem ele se destina, essencialmente, pela presença de marcas linguísticas (o tipo de voca-
bulário, o assunto etc.), evidenciando, também, a importância do domínio das variações linguísticas
que estão presentes na nossa sociedade. Essa habilidade é avaliada em textos nos quais o aluno é
solicitado a identificar o locutor e o interlocutor nos diversos domínios sociais, como também são ex-
ploradas as possíveis variações da fala: linguagem rural, urbana, formal, informal, incluindo as lingua-
gens relacionadas a determinados domínios sociais, como cerimônias religiosas, escola, clube etc.
Com este item, podemos avaliar a habilidade do aluno em identificar as marcas linguísticas que evi-
denciam o domínio social, ou seja, o ambiente em que a palavra “tá” é mais comumente empregada
em vez de “está”: se na escola ou em conversa com os amigos. O aluno também é solicitado a identi-
ficar se essa mesma marca linguística “tá” é normalmente estudada nas gramáticas ou encontrada
nos livros técnicos.

Exemplo de item:

Carta

Lorelai:

Era tão bom quando eu morava lá na roça. A casa tinha um quintal com milhões de coisas, tinha até
um galinheiro. Eu conversava com tudo quanto era galinha, cachorro, gato, lagartixa, eu conversava
com tanta gente que você nem imagina, Lorelai. Tinha árvore para subir, rio passando no fundo, tinha
cada esconderijo tão bom que a gente podia ficar escondida a vida toda que ninguém achava. Meu
pai e minha mãe viviam rindo, andavam de mão dada, era uma coisa muito legal da gente ver. Agora,
tá tudo diferente: eles vivem de cara fechada, brigam à toa, discutem por qualquer coisa. E depois,
toca todo mundo a ficar emburrando. Outro dia eu perguntei: o que é que tá acontecendo que toda
hora tem briga? Sabe o que é que eles falaram? Que não era assunto para criança. E o pior é que
esse negócio de emburramento em casa me dá uma aflição danada. Eu queria tanto achar um jeito
de não dar mais bola pra briga e pra cara amarrada. Será que você não acha um jeito pra mim?

Um beijo da Raquel. (...)

Em “Agora tá tudo diferente:” (ℓ. 7), a palavra destacada é um exemplo de linguagem

(A) ensinada na escola.

(B) estudada nas gramáticas.

(C) encontrada nos livros técnicos.

(D) empregada com colegas.

Observações:

Naturalmente, essa competência (variação linguística) deve ser trabalhada na sala de aula para que
os alunos possam desenvolver as habilidades de reconhecer e identificar as marcas linguísticas em-

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MARCAS LINGUÍSTICAS

pregadas nos diversos domínios sociais. Para isso, o professor deve selecionar textos que eviden-
ciem eventos de letramento com larga utilização das variantes linguísticas. Temos, como exemplo,
letras de música onde aparecem variantes de pronomes de tratamento, tirinhas, especialmente as de
Chico Bento, revistas em quadrinho, trechos de diário, narrativas etc. No entanto, é de fundamental
importância que o professor, ao lidar com alunos que utilizam exemplos da língua não-padrão, identi-
fique as diferenças e conscientize os alunos quanto a essas diferenças.

O Locutor E O Interlocutor

1. No texto dialogal (entrevista, debate, chat, etc.), há duas (ou mais) instâncias produtoras de dis-
curso que interagem: aquilo que um interventor diz determina e é determinado pelo que lhe é dito
pelo outro interventor. Os locutores num texto dialogal são automaticamente interlocutores e são
identificados à cabeça do texto.

2. Num texto não dialogal, ou seja, em textos dominados por seq{#u|u}ências descritivas ou narrativas
ou instrucionais ou argumentativas, o locutor é a instância que produz a enunciação, e o interlocutor é
aquele a quem se dirige a enunciação.

2.1. O interlocutor pode estar explicitado:

— por um vocativo:

«Aceitou este Maia; mas, gostando dele, e muito, por que é que não acabava de casar? Por quê? Eis
aí o mais difícil de aventar, amigo leitor. Jucunda não sabia o motivo» (in Machado de Assis, D. Ju-
cunda).

— através de formas pronominais e verbais de 2.ª pessoa:

«Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa,
não há um velho que se desengane. Que é isto? (...) Quero começar pregando-me a mim. A mim
será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir» (in Padre Antó-
nio Vieira, Sermão da Sexagésima).

2.2. O interlocutor tem de ser inferido: por exemplo, as respostas dadas aqui, no Cibe dúvidas, têm
como interlocutor imediato o consulente que faz a pergunta. Isso sabe-se porque o enquadramento
comunicacional em questão é o de um consultório

Estas duas palavras existem na língua portuguesa e estão corretas. Porém, seus significados são di-
ferentes e devem ser usadas em situações diferentes. A palavra locutor se refere a uma pessoa fa-
lante, podendo ser qualquer emissor ou apresentador e a palavra interlocutor se refere a um colocu-
tor, ou seja, a qualquer pessoa que fala com outra.

Locutor é um substantivo masculino com origem na palavra em latim locutore, que significa aquele
que fala. Locutore tem sua origem na palavra loqui, que significa falar. Assim, se refere a uma pessoa
que fala, ou seja, um falante, um emissor, um enunciador ou um destinador. Pode significar também
um profissional que apresenta programas, notícias, comunicações,…, ou seja, um apresentador, co-
mentador, comentarista ou narrador.

Exemplos:

Num processo de comunicação, o locutor assume o papel de emissor.


Ele é locutor de rádio e tem a voz mais bonita que eu já ouvi.
Ele é o melhor locutor de rodeio da atualidade.

Interlocutor é também um substantivo masculino, sendo formado a partir de derivação prefixal, ou


seja, é acrescentado um prefixo a uma palavra já existente, alterando o sentido da mesma. Assim,
temos o prefixo intermais a palavra em latim locutore, proveniente de loqui.

O prefixo inter- é de origem latina e pode transmitir uma noção de posição média ou de relação recí-
proca. Assim, indica a relação de reciprocidade existente entre cada uma das pessoas que participam
numa conversa. Pode significar também uma pessoa que que fala em nome de outra.

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MARCAS LINGUÍSTICAS

Exemplos:

Os interlocutores participam no processo de comunicação.


Estava tão distraído que mal ouvia as palavras de seu interlocutor.
Por favor, faça de meu interlocutor e resolva esse assunto para mim.

O que é o Interlocutor:

Interlocutor é quem participa de um diálogo, interagindo diretamente com outras pessoas através dos
diferentes tipos de comunicação.

Em suma, o interlocutor é qualquer indivíduo que fala com outro ou que fala em nome de outros, re-
cebendo o feedback da pessoa com quem se comunica.

Muita gente confunde, mas interlocutor e receptor são a mesma coisa, uma vez que o interlocutor,
além de se comunicar, também é aquele que recebe a comunicação alheia, logo pode ainda ser con-
siderado um ouvinte.

Etimologicamente, a palavra interlocutor se originou a partir do latim interloqui, que pode ser traduzido
como "intervir num debate".

O principal sinônimo de interlocutor é colocutor.

Locutor e Interlocutor

Ambas as palavras existem na língua portuguesas e estão corretas, no entanto apresentam significa-
dos distintos.

Locutor é referente a qualquer falante, pessoa que emite ou apresenta comunicação, sem que esta
seja diretamente destinada para um pessoa exclusiva.

Interlocutor, por outro lado, consiste no indivíduo que fala com outro, havendo, assim, uma relação de
reciprocidade na comunicação estabelecida entre ambos.

A noção de interlocução - que envolve os dois interlocutores e a situação - é uma noção fundamental
para qualquer trabalho com a linguagem. Foi escolhida por nós como uma das competências neces-
sárias para se chegar a ser um bom leitor e um bom usuário da língua, falada e escrita, porque a lín-
gua que nos interessa estudar e analisar é a língua em uso, que se dá entre aquele que fala ou es-
creve e aqueles que lêem ou escutam. A noção de interlocução, além de supor a existência de um lo-
cutor (o sujeito que fala ou escreve) e de alguém a quem a enunciação é dirigida (o interlocutor), su-
põe necessariamente a existência de uma situação, a situação de comunicação. É só no cruzamento
de um locutor com um interlocutor numa situação específica que um enunciado ganha sentido.

*Tomemos como exemplo a frase Estou com frio. É possível imaginar diversas situações em que ela
poderia ser proferida e os mais variáveis sentidos que poderiam ser a ela atribuídos:

1) Feche a janela, por favor.


2) Você sempre deixa a janela aberta.
3) Me aqueça.
4) Vamos embora?

Tomemos como segundo exemplo a frase Há mendigos novamente morando embaixo da ponte. Ima-
gine a diversidade de sentidos que ela pode ter, se proferida por um vereador preocupado com o em-
belezamento de sua cidade, se proferida por uma assistente pessoal,se proferida por um comerciante
das redondezas, etc.

Uma situação de escrita ou mesmo de fala não se dá sempre em forma de diálogo. Isto não significa,
no entanto, que não haja um locutor, um interlocutor e uma situação de comunicação. Um conto, por
exemplo: ele é narrado por alguém (neste caso, temos um narrador como locutor) e ele é escrito para
alguém (os interlocutores, neste caso, são leitores imaginados). Um discurso de um candidato a um
cargo político tem como locutor, obviamente, o candidato; como interlocutores, os possíveis eleitores,

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MARCAS LINGUÍSTICAS

os partidários e os adversários; a eles o político se dirige e a eles tentará sensibilizar, comover, per-
suadir, dissuadir.

Chegamos assim a perceber que a noção de interlocução traz outra, atrelada a ela: a noção de ade-
quação da linguagemaos interlocutores, à situação de comunicação e à intenção. As noções de inter-
locutor, locutor, dialogicidade da linguagem e adequação fazem parte do nosso currículo mínimo. Re-
solvemos aproveitar, aqui, trabalhos que estão disponibilizados na internet sobre os assuntos de
nosso currículo, este é um deles. Sugiro que a parte grifada em vermelho seja trabalhada por nós,
alunos e professores, através de dramatizações e produção de textos orais e escritos, contextuali-
zando e complementando com outras frases, em variadas situações de comunicação.

A Importância Do Interlocutor

É próprio da linguagem o seu caráter de interlocução. A língua é o meio privilegiado de interação en-
tre os homens. Em todas as circunstâncias em que se fala ou se escreve, há um interlocutor.

O interlocutor pode ser real ou imaginário, individual ou coletivo, pode estar mais ou menos próximo,
mudar em cada situação concreta.

Tipos de interlocutor: Na escrita podem-se identificar diferentes tipos de interlocutor: ele pode ser pre-
ciso, definido, como em uma carta, em uma petição; pode ser genérico ou ser um determinado seg-
mento social, como em um jornal; pode ser virtual; como na ficção científica ou no e-mail. Presença
do interlocutor: A presença desse interlocutor no discurso de um indivíduo não é algo neutro, sem va-
lor. Ao contrário, em alguma medida, está sempre interferindo no discurso do locutor. É do tipo de re-
lação entre locutor e ouvinte que decorre o tipo de ação a ser empreendida pelo locutor por meio do
seu texto.

Correspondências empresariais: É curioso, nesse sentido, que a maioria das correspondências em-
presariais ou não toquem na questão da interlocução ou falem na ausência de interlocutor, identifi-
cando-se aí uma das dificuldades do produtor do texto. Na situação empresarial, muitas vezes, se é
obrigado a escrever dentro dos padrões previamente estipulados e, além disso, já se espera de quem
escreve o conhecimento ou até mesmo o domínio da escrita.

Clareza na escrita: Na verdade, quem já não esteve com todas as ideias prontas, mas não conseguiu
colocá-las no papel? E como escrever tudo o que se quer dizer com a clareza necessária? Fatores da
elaboração: Portanto, é na interlocução que se constrói o sentido de um texto. Isso depende da capa-
cidade de o redator elaborar o seu texto, o que vai depender de vários fatores.

• Grau de conhecimento do redator sobre o assunto;


• Grau de conhecimento do leitor sobre o assunto;
• Grau de conhecimento dos recursos linguísticos utilizados (gramática);
• Grau de integração dos interlocutores entre si/ou no assunto.

Para atingir o seu objetivo, o autor de um texto deve assegurar ao seu leitor as condições necessá-
rias para que o mesmo seja capaz de reconhecer qual é o objetivo do texto.

Elementos da Comunicação

A comunicação está associada à linguagem e interação, de forma que representa a transmissão de


mensagens entre um emissor e um receptor.

Derivada do latim, o termo comunicação (“communicare”) significa “partilhar, participar de algo, tornar
comum”, sendo, portanto, um elemento essencial da interação social humana.

Os elementos que compõem a comunicação são:

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MARCAS LINGUÍSTICAS

 Emissor: chamado também de locutor ou falante, o emissor é aquele que emite a mensagem para
um ou mais receptores, por exemplo, uma pessoa, um grupo de indivíduos, uma empresa, dentre ou-
tros.

 Receptor: denominado de interlocutor ou ouvinte, o receptor é quem recebe a mensagem emitida


pelo emissor.

 Mensagem: é o objeto utilizado na comunicação, de forma que representa o conteúdo, o conjunto


de informações transmitidas pelo locutor, por isso.

 Código: representa o conjunto de signos que serão utilizados na mensagem

 Canal de Comunicação: corresponde ao local (meio) onde a mensagem será transmitida, por exem-
plo, jornal, livro, revista, televisão, telefone, dentre outros.

 Contexto: Também chamado de referente, trata-se da situação comunicativa em que estão inseridos
o emissor e receptor.

 Ruído na Comunicação: ele ocorre quando a mensagem não é decodificada de forma correta pelo
interlocutor, por exemplo, o código utilizado pelo locutor, desconhecido pelo interlocutor; barulho do
local; voz baixa; dentre outros.

Fique Atento!!!

A comunicação somente será efetivada se o receptor decodificar a mensagem transmitida pelo emis-
sor.

Em outras palavras, a comunicação ocorre a partir do momento que o interlocutor atinge o entendi-
mento da mensagem transmitida.

Nesse caso, podemos pensar em duas pessoas de países diferentes e que não conhecem a língua
utilizada por elas (russo e mandarim).

Sendo assim, o código utilizado por elas é desconhecido e, portanto, a mensagem não será inteligível
para ambas, impossibilitando o processo comunicacional.

Importância da Comunicação

O ato de comunicar-se é essencial tanto para os seres humanos e os animais, uma vez que através
da comunicação partilhamos informações e adquirimos conhecimentos.

Note que somos seres sociais e culturais. Ou seja, vivemos em sociedade e criamos culturas as quais
são construídas através do conjunto de conhecimentos que adquirimos por meio da linguagem, explo-
rada nos atos de comunicação.

Quando pensamos nos seres humanos e nos animais, fica claro que algo essencial nos distingue de-
les: a linguagem verbal.

A criação da linguagem verbal entre os seres humanos foi essencial para o desenvolvimento das so-
ciedades, bem como para a criação de culturas.

Os animais, por sua vez, agem por extinto e não pelas mensagens verbais que são transmitidas du-
rante a vida. Isso porque eles não desenvolveram uma língua (código) e por isso, não criaram uma
cultura.

Saiba mais! Leia Teorias da Comunicação.

Linguagem Verbal e Não Verbal

Importante lembrar que existem duas modalidades básicas de linguagem, ou seja, a linguagem verbal
e a linguagem não verbal.

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MARCAS LINGUÍSTICAS

A primeira é desenvolvida pela linguagem escrita ou oral, enquanto a outra pode ocorrer por meio de
gestos, desenhos, fotografias, dentre outros.

Meios de Comunicação

Os meios de comunicação representam um conjunto de veículos destinados à comunicação, e, por-


tanto, se aproximam do chamado “Canal de Comunicação”.

Eles são classificados em dois tipos: individual ou de massa (comunicação social). Ambos são muito
importantes para difusão de conhecimento entre os seres humanos na atualidade, por exemplo: a te-
levisão, o rádio, a internet, o cinema, o telefone, dentre outros.

Para ampliar os conhecimentos sobre o tema: Meios de Comunicação.

Tipos de Comunicação

De acordo com a mensagem transmitida a comunicação é classificada de duas maneiras:

 Comunicação verbal: uso da palavra, por exemplo na linguagem oral ou escrita.

 Comunicação não verbal: não utiliza a palavra, por exemplo, a comunicação corporal, gestual, de
sinais, dentre outras.

Funções da Linguagem

Os elementos presentes na comunicação estão intimamente relacionados com as funções da lingua-


gem. Elas determinam o objetivo e/ou finalidade dos atos comunicativos, sendo classificadas em:

 Função Referencial: fundamentada no “contexto da comunicação”, a função referencial objetiva in-


formar, referenciar sobre algo.

 Função Emotiva: relacionada com o “emissor da mensagem”, a linguagem emotiva, apresentada em


primeira pessoa, objetiva transmitir emoções, sentimentos.

 Função Poética: associada à “mensagem da comunicação”, a linguagem poética objetiva preocupa-


se com a escolha das palavras para transmitir emoções, por exemplo, na linguagem literária.

 Função Fática: relacionada com o “contato da comunicação”, uma vez que a função fática objetiva
estabelecer ou interromper a comunicação.

 Função Conativa: relacionada com o “receptor da comunicação”, a linguagem conativa, apresentada


em segunda ou terceira pessoa objetiva sobretudo, persuadir o locutor.

 Função Metalinguística: relacionada ao “código da comunicação”, uma vez que a função metalin-
guística objetiva explicar o código (linguagem), através dele mesmo.

 Numa situação de comunicação, há, pelo menos, duas pessoas interagindo por meio da linguagem,
os chamados interlocutores. Aquele que produz a linguagem é chamado de locutor; aquele que re-
cebe a linguagem é chamado de locutário.

 O professor exerce o papel de locutor e os alunos exercem o papel delocutários ou interlocutores.


 Para que a comunicação se realize com sucesso, é necessário que cada um dos interlocutores
compreenda bem o que o outro diz.

 Em resumo, o professor comunica que vai medir a percepção dos alunos e para isso abrirá um vidro
de perfume. Apesar de compreenderem bem a mensagem do professor, os alunos pensaram ter sen-
tido o cheiro de perfume.

 Na verdade, não havia perfume nenhum no vidro, logo as ideias do texto são justificadas pelo título
do texto “Celebração da desconfiança”. É necessário que desconfiemos de nossos próprios sentidos,
julgamentos e verdades, pois podemos estar sendo influenciados por outras pessoas.

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MARCAS LINGUÍSTICAS

 Você observou no conto lindo que, entre o professor e seus alunos, verifica-se uma situação de co-
municação. Todo ato de comunicação envolve sempre seis componentes essenciais. Veja quais são
eles a partir dos dois primeiros parágrafos do texto:

 · o locutor é o professor: aquele que diz algo a alguém

 · o locutário são os alunos: aqueles com quem o locutor se comunica

 · a mensagem é o texto (Isto está cheio de perfume. Quero medir a percepção de cada um de vo-
cês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão); o que foi transmitido entre os interlocuto-
res.

 · o código é a língua portuguesa: a convenção que permite ao interlocutor compreender a mensa-


gem

 · o canal (ou contato) é a língua oral (som e ar); é por meio físico que conduz a mensagem ao inter-
locutor;

 · o referente (ou contexto) é, em princípio, o desejo do professor de medir a percepção dos alunos
e, depois, mostrar-lhes como podemos nos deixar enganar: o assunto da mensagem.

O Homem, O Mundo E A Língua

Lucas K. Sanches Oda

Se, como diz o linguista, o papel da Linguística é o de delimitar-se a si própria, é lícito que suas fron-
teiras sejam tão permeáveis, que discussões intermináveis como a tenuidade das fronteiras entre a
semântica e a pragmática seja perpetuada. Quando Saussure legou à fala a obscuridade, não imagi-
nava que ela voltaria às claras e tentasse novamente definir esses inconstantes limites. Locutores,
ouvintes, situações, retóricas deixam de ser ignorados e passam a incorporar certas teorias linguísti-
cas que admitem que os recursos para a expressão dos sentidos são os mais diversos e não se en-
contram todos enclausurados nos limites do enunciado, dentro da língua – se é que se pode definir o
que lhe é interno e externo; outra indefinição.

Voltemos agora às bases: a semântica considera que o fulcro dos sentidos é um sistema de referên-
cias cultural e antropológico. Os sentidos da língua podem ser encontrados na própria língua, nos
enunciados, nas retomadas, anáforas, polissemias, homonímias, pressupostos... como se a língua
estivesse pronta e nos fosse instituída em algum momento pelos homens e sua cultura; como se
fosse um armazém cheio de provisões para os discursos, ambíguas ou não. Mas aqui, neste texto e
instituto, adota-se outra concepção: a língua é uma constituição, está sempre “em processo” sendo
construída a diversas mãos, nas diversas práticas discursivas. Como então garantir que o sistema de
referências seja estável, como se os falantes não mais produzissem sentidos que fundamentassem a
cultura e suas relações? Ilusão. O sistema de referências está também “em processo” a cada enunci-
ação.

Não quero aqui negar a semântica, mas mostrar como ela pode estabelecer relações dinâmicas com
a pragmática, sem dogmatismos. Creio que outrora já discuti a importância da semântica para resol-
ver o problema do jornalista do filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Lá o mistério era descobrir o
significado de rosebud. Não houve pragmática que resolvesse o mistério, pois não se podia encontrar
nenhum referente – dentro ou fora da língua. É através da primazia da semântica que Ulisses escapa
do Ciclope. Os irmãos do monstro, limitaram-se a um universo referencial onde o significado de nin-
guém não tem referente no mundo, como se fosse um referente nulo, ou algo parecido. Não levaram
em consideração o contexto, locutor, etc.

É através dos dados abaixo discutirei alguns aspectos sobre semântica e pragmática para que a ex-
plicação não fique apenas teórica, mas também lúdica. Arriscando agora uma esquizofrenia metalin-
guística, podemos notar já na frase anterior um implícito. Dizer “não apenas teórica, mas também lú-
dica” implica duas coisas: teorias são enfadonhas e análises de dados não o são. Esses implícitos
não necessitam do conhecimento de elementos da enunciação para serem apreendidos, eles estão
marcados no próprio enunciado através de apenas e mas também. Partamos aos dados:

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MARCAS LINGUÍSTICAS

“Errar é humano” é um clichê, um enunciado cuja estrutura é repetida em diferentes enunciados, tal
qual as palavras compostas, e remetem a um referente na língua que, nesse caso, significa generali-
zadamente que: o erro pode ser perdoado, afinal, todos erram.

Em diversas enunciações podemos encontrá-lo: quando alguém quer consolar um amigo que errou
algumas perguntas de uma prova; quando alguém quer se desculpar por ter traído o cônjuge, etc.
Nesses contextos o nosso clichê pode ser equivalente a desculpas, podendo assumir assim um cará-
ter performativo que será diferente e muito mais preocupante num contexto como o apresentado na
charge de Quino. O humor da piada concentra-se justamente no ato perlocutório realizado por esse
enunciado que vai provocar no paciente, no mínimo, um certo desespero; enquanto esse mesmo
enunciado, num contexto como o do marido traidor, provocaria, para ser muito otimista, compaixão.
Os médicos, supostos enunciadores, realizam um ato ilocutório de remissão – tal qual Pilatos, lavam
suas mãos.

As teorias de Austin, que introduzem efetivamente a pragmática nos limites da linguística, se não utili-
zadas para a análise de enunciados como o anterior, deixaria à análise exclusivamente semântica
uma certa incapacidade de interpretação. É a pragmática que nos permite rirmos da charge, e não
um fenômeno da língua como a ambiguidade causada por uma homonímia ou polissemia.

Algo parecido ocorre na música Gol Anulado da dupla Bosco/Blanc:

Quando você gritou mengo

No segundo gol do Zico

Tirei sem pensar o cinto

E bati até cansar.

Nesse caso mengo assume, mesmo sem a intenção do locutor, um caráter performativo pois, através
de um ato perlocutório e de todo um contexto envolvido, provoca a ira no marido. Há aqui que se con-
siderar toda a história do locutor e a enunciação (um jogo entre Vasco e Flamengo) para interpretar o
efeito de sentido atribuído pelo ouvinte.

Vejamos agora um dado de uma crônica de Veríssimo:

- Na noite em que fui concebido – suponho que tenha sido uma noite – eu era um entre milhões de
espermatozóides. Mas só eu cheguei ao óvulo de mamãe. Ou será bilhões?

- Acho que é óvulo mesmo.

- Não. Os espermatozóides. É milhões ou bilhões?

- Ahn... Não sei. (...)

- Então, imagina o seguinte. Pense bem. Amendoim.

- Amendoim. Estou pensando nele. Amendoim.

- Não. Me passe o amendoim e pense o seguinte. (...)

A saber: os interlocutores acima estão bêbados.

Primeiramente, se considerássemos os dêiticos destacados, encontraríamos um problema. Sabemos


que quem fecunda o óvulo é um espermatozóide, porém, como podemos atestar no fui concebido, o
locutor é um homem e não um gameta masculino, desautorizando a utilização dos eus conseguintes.
Para que o interlocutor não considere o locutor demente, é necessário um trabalho de identificação
de pressupostos e, como não há nenhuma marcação no enunciado, não são pressupostos, são su-
bentendidos. É necessário que o interlocutor leve em consideração as condições pragmáticas atuan-
tes no momento da enunciação, só assim ele poderá entender que o locutor considera que ele próprio
considera-se o gameta – meia verdade – que, saído do epidídimo, fecundou, se desenvolveu e culmi-
nou nele.

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MARCAS LINGUÍSTICAS

Outro problema encontra-se quando o locutor pergunta sobre a quantidade de óvulos e o interlocutor
responde uma pergunta que não era a feita pelo locutor. A resposta certamente é fruto da bebida,
mas pode ser analisada tanto através da semântica quanto da pragmática.

Se o interlocutor desconhecesse o significado da palavra óvulo e de bilhões, ele poderia, através do


contexto, classificá-las num mesmo campo semântico, possibilitando que houvesse uma confusão
com relação aos seus significados. Mas, assim mesmo, o contexto seria necessário. Podemos tam-
bém considerar que há algum problema referente às leis do discurso. Uma das máximas discursivas
está sendo violada: o locutor fere o princípio da cooperação, ele não explicita claramente se sua per-
gunta se refere à quantidade de espermatozóides ou à nomenclatura de óvulo. Porém o locutor se
esforça para cooperar, escolhe uma das alternativas e responde a pergunta do locutor egoísta. Nor-
malmente não haveria problema algum na pergunta, mas há que se considerar o estado alcoólico dos
interlocutores.

Uma última questão referente também às leis do discurso: amendoim. Novamente o locutor não coo-
pera. Ele considera que o seu interlocutor vá interpretar o implícito, o subentendido de seu enunciado,
mas considera errado. O interlocutor interpreta amendoim como um ato performativo, uma ordem
para pensar, quando a ordem era para passar o pratinho de amendoim. Se os interlocutores estives-
sem um pouco mais bêbados, talvez não interpretassem nem os pressupostos dos enunciados, as
homonímias, ou mesmo o significado, o referente da palavra.

Os sentidos das preposições ficam mais enriquecidos se analisados através de fatores semânticos e
pragmáticos. No entanto, a resistência em se admitir que a pragmática é essencial para a análise dos
dados lega à Linguística uma eterna indefinição de seus limites. Insistem em deixar o homem e seu
mundo fora da língua que estão construindo constantemente.

Texto literário e não literário - marcas linguísticas

Antes de partirmos, de modo enfático, para as características que delineiam ambas as modalidades,
faremos uma breve consideração no tocante aos aspectos primordiais que perfazem o texto, vistos de
maneira abrangente.

Toda e qualquer produção escrita é fruto de um conjunto de fatores, os quais se encontram interliga-
dos e se tornam indissociáveis, de modo a permitir que o discurso se materialize de forma plausível.
Portanto, infere-se que tais fatores se ligam aos conhecimentos de quem o produz, sejam esses de
ordem linguística ou aqueles adquiridos ao longo da trajetória cotidiana. Aliada a essa prerrogativa
existe aquela que inegavelmente norteia a concepção de linguagem, ou seja, a de possuir um caráter
dinâmico e estritamente social. Isso nos leva a crer que sempre estamos dialogando como o “outro”,
e que, sobretudo, compartilhamos nossas ideias e opiniões com os diferentes interlocutores envolvi-
dos no discurso.

A Abreviação Vocabular – Marcas Linguísticas

Dado o caráter dinâmico que norteia a língua – vista como uma entidade estritamente social –, eis
que nos deparamos com um dos elementos que também integram o processo de formação de pala-
vras, assim como tantos outros. Lembra-se da derivação e da composição?

Pois bem, nosso objetivo é enfatizar a abreviação vocabular que, literalmente, consiste na eliminação
de um segmento – referente a uma determinada palavra –, no intuito de se obter uma forma mais re-
duzida desta, sem que para isto haja alteração de sentido. Tal processo se concebe como ampla-
mente produtivo na redução de palavras muito longas, tais como:

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MARCAS LINGUÍSTICAS

Mesmo fazendo parte de uma linguagem coloquial, muitas abreviações já se incorporaram à modali-
dade padrão, conforme o que veremos adiante. E é justamente por este aspecto ligado ao coloquia-
lismo que podemos constatar marcas impregnadas de sentido, uma vez representadas por sentimen-
tos distintos, ora representando carinho, ora representando desprezo, zombaria, preconceito, entre
outros. Perfeitamente constatável em:

Ainda integrando esta modalidade, há um tipo de abreviação bastante recorrente na linguagem atual,
cuja característica consiste no uso de um prefixo ou de um elemento de uma palavra composta no
lugar do todo. Vejamos alguns exemplos:

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COESÃO TEXTUAL

Coesão Textual

Coesão refere-se as articulações gramaticais entre palavras de uma mesma oração, com o objetivo
de levar clareza e levar o sentido buscado pelo escritor. A coesão busca a harmonia entre estes ter-
mos e é percebida quando existe continuidade dos fatos expostos.

Segundo Halliday e Hasan existe cinco tipos de articuladores coesivos, que são:

Referência (Endofórica e Exofórica) , Substituição, elipse, conjunção e léxico.

Segundo Fávero e Koch , existe três tipos de coesão: Referencial ( Substituição e Reiteração) , Re-
correncial (Paralelismo, Paráfrase, Recursos fonológicos, segmentais e suprassegmentais) e Se-
quencial (Temporal e Por conexão).
Leonor Lopes Fávero faz critica a outras classificações com relação à coesão lexical e com relação à
referência exofórica.

Coesão Por Referência

Ocorre quando determinado elemento textual se refere a outro, substituindo-o. A referência, a princí-
pio, pode ser em relação a um dado externo (exofórica) ou interno (endoforica) ao texto.

Exofórica.: é aquela que se refere a um elemento fora do texto.

Ex.: A gente era pequena naquele tempo. E aquele era um tempo em que ainda se apregoava nas
ruas.

Endofórica.: pode se referir a algo mencionado anteriormente no texto à anáfora ou a algo menciona-
do posteriormente à catáfora.

Exemplo de anáfora:

· Maria é excelente amiga. Ela sempre me deu provas disso.

Exemplo de catáfora:

· Só desejo isto: que você não se esqueça de mim.

Coesão Por Substituição

Ocorre quando há colocação de um item no lugar de outro ou até de uma oração inteira. Pode ser
nominal (feita por meio de pronomes pessoais, numerais, indefinidos, nomes genéricos como coisa,
gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos, “ser” é o substituto existencial).

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COESÃO TEXTUAL

Elipse

A elipse acontece quando omitimos um termo que já foi apresentado anteriormente e que devido ao
contexto criado pela oração se torna fácil lembrar esta expressão. A elipse é bastante utilizada tanto
na linguagem escrita, quanto na oralidade, pois torna o entendimento do texto mais fácil, apesar da
omissão de termos.

Ex.: 01- O diretor foi o primeiro a chegar à sala. Abriu as janelas e começou a arrumar tudo para a
assembleia com os acionistas.
O termo “O diretor” foi omitido na segunda oração, antes do verbo “abriu” e do verbo “começou”.

Conjunção

É diferente das outras relações de coesão, pois não está apenas relacionada a retomada de algo já
expresso no texto. Os elementos conjuntivos são coesivos de maneira indireta, devido a relação que
faz entre os períodos e sentenças.
Tipos de elementos conjuntivos:

-Advérbios e locuções adverbiais


Ex.: Os seus pais passam muito bem.

-Conjunções coordenativas e subordinativas:


Ex.: (subordinativas) Não sabemos se ela realmente virá.

-Locuções conjuntivas
Ex.: desde que, uma vez que, já que, por mais que, à medida que, à proporção que, visto que, ainda
que, entre outras.

-Preposições
Ex: A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás,
atrás de, dentro de, para com.

-Itens continuativos
Ex: Então, daí.

-Coordenativas
Ex:

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COESÃO TEXTUAL

Léxico

É um tipo de coesão obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo refe-
rente. Inclui-se aí, também, o uso de nomes genéricos cuja função coesiva está no limite entre coe-
sões lexical e gramatical, nomes estes que estão a meio caminho do item lexical, membro de um
conjunto abeto e do item gramatical, membro de um conjunto fechado.

Gramaticalmente, os nomes como gente, a pessoa, a coisa, o negócio, dentre outros, funcionam co-
mo itens de referência anafórica. Lexicalmente, são membros superordenados (hiperônimos) agindo
como sinônimos dos itens a eles subordinados (hipônimos).

Outro fator de coesão lexical é a colocação, resultante da associação de itens lexicais que regular-
mente concorrem. Virtualmente não há colocações impossíveis, mas algumas são melhores do que
outras, tendendo para o padrão que, quando fortes, constituem os clichês.

Ex.: Convém desmistificar aquele político, desmascará-lo é nossa obrigação. (sinônimos)


Ex.: O manifestante jogou um tomate na cara do ministro. A fruta estava podre. (hipônimo)

Referencial

Por Substituição

A substituição se dá quando um componente é retomado ou precedido por uma pró-forma (elemento


gramatical representante de uma categoria como, por exemplo, o nome; caracteriza-se por baixa
densidade sêmica: traz as marcas do que substitui). No caso de retomada, tem-se uma anáfora e, no
caso de sucessão, uma catáfora.
As pro-formas podem ser pronominais, verbais, adverbiais, numerais.

Exemplos:

1- Lúcia corre todos os dias no parque. Patrícia faz o mesmo.

Faz: pro-forma verbal (sempre acompanhada de uma forma pro nominal: o, o mesmo, isto etc.)

2- Mariana e Luiz Paulo são irmãos. Ambos estudam inglês e francês.

Ambos: pro-forma numeral

3 - Paula não irá à Europa em janeiro. Lá faz muito frio.

Lá: pro-forma adverbial

Por Reiteração

A reiteração é a repetição de expressões presentes no texto e que tem a mesma referência.


Segundo Fávero, existe 5 tipos de Reiteração:

Repetição do Mesmo Item Lexical

Acontece quando se repete um termo já utilizado na oração.

Ex.: O fogo acabou com tudo. A casa estava destruída. Da casa não sobrara nada.

Sinônimo

Para Fávero, definir a Reiteração por Sinônimo é muito difícil, pois não existe um sinônimo verdadei-
ro, já que todas as palavras de uma língua tem significado próprio, por mais semelhantes que sejam.
É feita quando se utiliza um sinônimo para referir-se a um termo dito anteriormente.

Ex.: A criança caiu e chorou. Também o menino não fica quieto!

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COESÃO TEXTUAL

Hiperônimos e Hipônimos

Hiperônimo ocorre quando a primeira palavra mantém uma relação de maior totalidade com o segun-
do termo.

Ex.: Gosto muito de doces. Cocada, então, adoro.


*Neste caso, observa-se que o termo “doces” engloba o termo “cocada”, por isso tem-se um hiperô-
nimo.

Hipônimo ocorre quando a segunda palavra utilizada mantém uma relação de maior totalidade com o
primeiro termo.

Ex.: Os corvos ficaram à espreita. As aves aguardavam o momento de se


lançarem sobre os animais mortos.

*Neste segundo exemplo, nota-se que “aves” engloba o termo “corvos”, por isso tem-se hipônimo.

Expressões Nominais Definidas

Este caso de reiteração ocorre quando um novo termo retoma uma palavra já utilizada, para isto é
necessário conhecimento de mundo por parte do leitor, já que o termo substituinte é uma forma de
aposto da primeira palavra usada.

Ex.: O cantor Sting tem lutado pela preservação da Amazônia. O ex- líder da banda Police chegou
ontem ao Brasil. O vocalista chegou com o cacique Raoni, com quem escreveu um livro.

*Neste caso, a expressão utilizada “ex- líder da banda Police” retoma um termo já utilizado, “cantor
Sting”, assim apresenta ao leitor novas informações sempre que se utiliza este tipo de reiteração.

Nomes Genéricos

Os nomes genéricos são expressões bastante comuns à cultura de onde o texto foi escrito e por isso
podem ser usadas sem medo do não entendimento do texto pelo leitor. São algumas delas: coisa,
negócio, lugar, gente, dentre outras.

Ex.: Até que o mar, quebrando um mundo, anunciou de longe que trazia nas
suas ondas coisa nova, desconhecida, forma disforme que flutuava, e todos
vieram à praia, na espera... E ali ficaram, até que o mar, sem se apressar, trouxe a coisa; e depositou
na areia surpresa triste, um homem morto.

*A expressão “coisa” é utilizada, neste exemplo, para designar algo que só é apresentado no final da
frase, “um homem morto”.

Recorrencial

Por Paralelismo

Ocorre quando as estruturas de uma sentença são aplicadas de outra maneira, ou seja, o mesmo
conteúdo reutilizado de maneira diferente. O paralelismo é uma estrutura estilística bastante empre-
gada na literatura.

Ex.: Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que
o seu Criador? Jó 4:17

Por Paráfrase

Possui uma certa semelhança com o paralelismo, pois é uma reorganização ou reformulação. Este
elemento coesivo é um articulador entre novas e antigas informações de um texto, e se difere de uma
repetição pela criatividade do escritor.

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COESÃO TEXTUAL

Ex.: “A mente de Deus é como a Internet: ela pode ser acessada por qualquer um, no mundo todo.”
(Américo Barbosa, na Folha de São Paulo)
Reecrito: No mundo todo, qualquer um pode acessar a mente de Deus e a internet. (PARÁFRASE)

Sequencial

Os mecanismos de coesão sequencial são os que tem por função ,da mesma forma que os de recor-
rência ,fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional. Diferem dos de recorrência, por
não haver neles retomada de itens, sentenças ou estruturas.

Sequenciação Temporal

Qualquer sequência textual só é coesa e coerente se a sequencialização dos enunciados conseguir


satisfazer as condições conceptuais sobre localização temporal e ordenação relativa que sabemos
serem características dos estados de coisas no mundo selecionado pela referida sequência textual.

Assim ,a sequenciação temporal pode ser obtida por:

Ordenação Linear dos Elementos

É o que torna possível dizer

Ex:
-Vim,vi,venci
e não
-Venci,vi,vim.

Expressões que Assinalam a Ordenação ou Continuação das Sequencias Temporais

Ex:
-Primeiro vi a moto, depois o ônibus.
-Os capítulos anteriores tratam de eletrostática, agora falaremos da eletrodinâmica, deixando os pro-
blemas do eletromagnetismo para os próximos.

Partículas Temporais

Ex.:
Não deixe de vir amanhã

Correlação dos Tempos Verbais

Ex:
-Ordeno que deixem a casa em ordem.

-Paulo não chegou ainda embora tivesse saído cedo.

Sequenciação por Conexão

Em um texto, tudo está relacionado; um enunciado está subordinado a outros na medida em que não
só se compreende por si mesmo, mas ajuda na compreensão dos demais. Esta interdependência
semântica ou pragmática é expressa por operadores do tipo lógico, operadores discursivos e pausas.

Os operadores do tipo lógico tem por função o tipo de relação lógica que o escritor estabelece entre
duas proposições.

Os operadores do tipo lógico são:

Disjunção

Combina proposições por meio do conector ou, significando um ou outros. Essa relação só é verda-

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COESÃO TEXTUAL

deira se uma das proposições ou ambas forem verdadeiras.

Exemplos:
-Quer sorvete ou chocolate?
-quero os dois.
-Há vagas para moças e /ou rapazes.

Condicionalidade

Conecta proposições que mantêm entre si uma relação de dependência entre a antecedente e a con-
sequente.

Ex.: Se chover, não iremos á festa.

Causalidade

A relação de causalidade está inserida no tipo real da condicionalidade.

Ex.: Se Paulo é homem então é mortal

Mediação

As relações de medicação, do mesmo modo que as de causalidade, fazem parte da condicionalidade,


mas são destacadas por razões didáticas.

Ex.: Fugiu para que não o vissem.

Complementação

Expressa-se por duas proposições ,uma das quais complementa o sentido de um termo da outra.

Ex: Necessito de um livro.

Restrição

Expressa-se por duas proposições em que uma restringe ,limita a extensão de um termo da outra.
Ex.: Vi a menina que toca piano.

Quebra de Coesão

Regência Incorreta:

Ex.: “Nenhum dos encarregados está apto com assumir o cargo de gerente.”

Concordância Incorreta:

Ex.: “Ela chegou com o rosto e mãos feridas.” Correto : “Ela chegou com o rosto e as mãos feridos”.

Frases inacabadas:

Ex.: “Ainda não estou curado mas estou em vias de...”

Anacolutos:

Ex.: “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que
eu”. (Rubem Braga)”

"A coesão não nos revela a significação do texto, revela-nos a construção do texto enquanto edifício
semântico".

- Michael Halliday

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Fatores De Textualidade

Texto é um conjunto organizado de palavras onde podemos achar uma relação entre suas partes
dando um significado a ele. Para que este texto faça sentido temos vários fatores:

Coerência:

Coerência é um elemento fundamental de textualidade, responsável pelo sentido do texto, depende


não apenas da lógica interna do texto, como também da compatibilidade entre a rede conceitual
(mundo textual) e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso;

Coesão:

Coesão é a unidade formal do texto, que se dá por mecanismos gramaticais e lexicais. É a ligação
harmônica entre duas partes, utilizada na gramática como forma de obter um texto claro e compreen-
sível.

Intencionalidade:

Empenho do autor em construir um texto coerente, coeso, e que atinja o objetivo que ele tem em
mente. A intencionalidade é a principal ideia a ser passada pelo autor, a principal ideia que o autor
quer transmitir, mais para que isso ocorra, ele tem que ter todo o conhecimento específico sobre o
assunto a ser tratado.

Informatividade:

Todo texto tem um nível de informatividade, mas isso depende de quem lê. Um leitor que conhece o
assunto terá um nível baixo de informatividade, mas para aquela pessoa que não tem nenhum conhe-
cimento do assunto terá um nível alto de informatividade. Tanto a falta quanto o excesso de previsibi-
lidade, são prejudiciais à aceitação do texto por parte do leitor. Um bom índice de informatividade
atende à suficiência de dados.

Intertextualidade:

Intertextualidade refere-se às diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de um texto de-
pendem do conhecimento dos outros textos anteriormente produzidos. Nesse sentido pode-se falar
em : alusão, epígrafe, paródia, paráfrase, citação, metalinguagem e polifonia;

Aceitabilidade:

Na aceitabilidade, o leitor necessita um conhecimento prévio para avaliar o texto corretamente, dessa
forma, ficando ao seu critério aceitar ou não a intenção real do autor. Pois consequentemente, é atra-
vés de sua interpretação e interação que se pode dar o sentido a leitura, reconhecendo o que há de
implícito ou explícito que contenham no texto. A aceitabilidade é uma contraparte da intencionalidade,
pois ele nos deixa claro que para que se haja a aceitação é necessário que o autor, o texto e o leitor,
estejam em constante interação.

Situacionalidade:

Diz respeito à pertinência e à relevância do texto no contexto. Reúne fatores que tornam o texto ade-
quado a uma situação atual ou passada.

A Coerência Textual

A coerência resulta da configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes à sua superfí-
cie textual. É considerada o fator fundamental da textualidade, porque é responsável pelo sentido do
texto. Envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na medida em que de-
pende do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores.

Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com
o conhecimento de mundo do recebedor. Essa. O texto não significa exclusivamente por si mesmo.
Seu sentido é construído não só pelo produtor como também pelo recebedor, que precisa deter os
conhecimentos necessários à sua interpretação. O produtor do discurso não ignora essa participação

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

do interlocutor e conta com ela. É fácil verificar que grande parte dos conhecimentos necessários à
compreensão dos textos não vem explícita, mas fica dependente da capacidade de pressuposição e
inferência do recebedor.

Através dessa visão Ingedore villaça e Luiz Carlos travagua em seu livro “A coerência textual” pre-
tende em sua obra apenas introduzir os leitores ao estudo da coerência textual.

É a coerência que faz com que uma sequência linguística qualquer seja vista como um texto, porque
é a coerência, através de vários fatores, que permite estabelecer relações (sintático-gramaticais, se-
mânticas e pragmáticas) entre os elementos da sequência (morfemas, palavras, expressões, frases,
parágrafos, capítulos, etc), permitindo construí-la e percebê-la, na recepção, como constituindo uma
unidade significativa global. Portanto é a coerência que dá textura etextualidade à sequência linguís-
tica, entendendo-se por textura ou textualidade aquilo que converte uma sequência linguística em
texto. Assim sendo, podemos dizer que a coerência dá início à textualidade

Mesmo sendo uma obra que aponta vários fatores responsáveis pela coerência textual de um dis-
curso qualquer:a intencionalidade e aceitabilidade,fatores de contextualização, a situacionabilidade, a
informatividade e a intertextualidade,a intertextualidade e inferência , que têm a ver com os fatores
pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo ,acrescentamos com outros fatores relevan-
tes de outros autores com a intenção de ampliar ainda mais nosso estudo sobre coerência textual

Travando Conhecimento Com A Coerência

A idéia de incoerência depende de conhecimentos prévios sobre o mundo e do tipo de mundo em que
o texto se insere, bem como do tipo de texto.

Todos recursos estabelecidos pela a linguística chama de coesão textual.

A coesão textual revela a importância do conhecimento linguístico(dos elementos da língua, seus e


usos) para produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o estabelecimento da coerência.O
texto só é perfeitamente inteligível se houver conhecimento do uso dos elementos linguísticos eu, em
relação com a situação de comunicação.

O conhecimento de mundo é importante, não menos importante é que esse conhecimento seja parti-
lhado pelo produtor e receptor do texto. O produtor e receptor do texto devem ter conhecimento co-
mum.

Finalmente é preciso lembrar que o sentido que damos a um texto pode depender (e com frequência
depende) do conhecimento de outros textos, com os quais ele se relaciona.

Neste capitulo você deve ter intuído uma concepção básica do que seja o fenômeno da coerência e
do que depende. Busquemos a seguir uma visão mais detalhada e sistemática da coerência textual.

Conceito De Coerência

O que é coerência

Dificilmente se poderá dizer o que é coerência apenas através de um conceito, pó isso vamos defini-
la através da apresentação de vários aspectos e/ou traços que, em seu conjunto, permitem perceber
o que esse termo significa.

A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou seja,
ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida com
um principio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à
capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto. Este sentido, evidentemente,
deve ser do todo, pois a coerência é global. Para haver coerência é preciso que haja possibilidade de
estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.

A relação que tem de ser estabelecida pode ser não só semântica (entre conteúdos), mas também
pragmática, entre atos de fala, ou seja, entre as ações que realizamos ao falar (por exemplo: jurar,
ordenar, asseverar, ameaçar, prometer, avisar). Este fato é que levou Widdowson (1978) a dizer que

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

a coerência seria a relação entre os atos de fala que as proposições realizam (uma proposição é defi-
nida como representação linguística de um estado de coisas por meio de um ato de referencia e um
ato de predicação, daí a expressão conteúdo proposicional).

Beaugrande & Dressler (1981) e Marcushi (1983) afirmam que, se há uma unidade de sentido no todo
do texto quando este é coerente, então a base da coerência é a continuidade de sentidos entre os co-
nhecimentos ativados pelas expressões do texto. Essa continuidade diz respeito ao modo como os
componentes do mundo textual, ou seja, o conjunto de conceitos e relações subjacentes à superfície
linguística do texto, são mutuamente acessíveis e relevantes. Evidentemente, o relacionamento entre
esses elementos não é linear e a coerência aparece, assim, como uma organização reticulada, tenta-
cular e hierarquizada do texto.

A continuidade estabelece uma coesão conceitual cognitiva entre os elementos do texto através de
processos cognitiva entre os elementos do texto através de processos cognitivos que operam entre
os usuários (produtor e receptor) do texto e são não só de tipo lógico, mas também dependem de fa-
tores socioculturais diversos e de fatores interpessoais, entre os quais podemos citar:

 As intenções comunicativas dos participantes da ocorrência comunicativa de que o texto é o instru-


mento

 As formas de influencia do falante na situação de fala;

 As regras sócias que regem o relacionamento entre pessoas ocupando determinados “lugares soci-
ais”

O Simples cortejo das idéias, das expressões linguísticas que as ativam e das suas posições no texto
deixam evidente o caráter não linear, reticulando, tentacular da coerência.

A coerência se estabelece na interlocução entre os usuários do texto, (seu produtor e receptor). Tex-
tos sem que continuidade são considerados como incoerente, embora a continuidade relativa a um
dado tópico discursivo seja uma condição para o estabelecimento da coerência, nem sempre a conti-
nuidade representará incoerência. Os processos cognitivos operantes entre os usuários do texto ca-
racterizam a coerência na medida em que dão aos usuários a possibilidade de criar um mundo textual
que pode ou não concordar com a versão estabelecida do “mundo real”.

A coerência é algo que se estabelece na interlocução, na interação entre dois usuários numa dada
situação comunicativa. Carolles (1979) afirmou que a coerência seria a qualidade que têm os textos
que permitem aos falantes reconhece-los como bem formados, dentro de um mundo possível (ordiná-
rio ou não). A boa formação seria vista em função da possibilidade de os falantes recuperarem o sen-
tido de um texto, calculando sua coerência.

Considera-se , pois , a coerência como princípio de interpretabilidade, dependente da capacidade dos


usuários de recuperar o sentido do texto pelo qual interagem, capacidade essa que pode ter limites
variáveis para o mesmo usuário dependendo da situação e para usuários diversos, dependendo de
fatores vários (como grau de conhecimento sobre o assunto, grau de cursos linguísticos utilizados ,
grau de integração dos usuários.

A coerência tem a ver com a boa formação em termos da interlocução comunicativa, que determina
não só a possibilidade de estabelecer o sentido do texto, mas também, com frequência, qual sentido
se estabelece.

Não se deve pensar que a questão de estabelecimento de sentido esteja apensa do lado receptor. A
questão é mesmo de interação.

Van Dijk e Kintsch falam de coerência local, referente a parte do texto ou a frases ou a sequência de
frase dentro do texto; e em coerência global, que diz respeito ao texto em sua totalidade. Já mostra-
mos que a coerência do texto é global. A coerência local adv~em do bom uso dos elementos da lín-
gua em sequências menores, para expressar sentidos que possibilitem realizar uma intenção comuni-
cativa. Incoerências locais advêm do mau uso desses mesmos elementos linguísticos para o mesmo
fim. Ao se construir um texto, é preciso cuidado, pois o acumulo de incoerências locais pode tornar o
todo do texto incoerente.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Van Dijk e Kinstich (1983) mencionam diversos tipos de coherencia:

 Coerência semântica, que se refere à relação entre significados dos elementos das frases em se-
quência em um texto ou entre os elementos do texto como um todo.

 Coerência sintática, que se refere aos meios sintática para expressar a coerência semântica como,
por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais definidos e indefinidos.

A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabeleci-
mento da coerência.

 Coerência estilística, pela qual um usuário deveria usar em seu texto elementos linguísticos, (léxico,
tipos de estruturas, frases, etc.) pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro linguístico.

 Coerência pragmática, que tem a ver com o texto visto como uma sequência de atos de fala. Estes
são relacionados de modo que, para a sequência de atos ser percebida como apropriada, os atos de
fala que a constituem devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação co-
municativa. Caso contrário temos incoerência.

A divisão da coerência em tipo tem o mérito de chama a atenção para diferentes aspectos daquilo
que chamamos de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico e o sintático.

Mas é preciso ter sempre em mente que a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de
todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerên-
cia é, basicamente, um princípio de interpretabilidade do texto, caracterizado por tudo do que o pro-
cesso aí implicado possa depender inclusive a própria produção do texto, na medida em que o produ-
tor do texto quer que seja entendido e o constitui para isso, excetuadas situações muito especiais.

Relação Entre Coerência E Coesão

A coerência é subjacente, tentacular, reticulada, não-linear, mas, como bem observa Charolles, se
relaciona com a linearidade do texto. Isto quer dizer que a coerência se relaciona com a linearidade
do texto. Isto quer dizer que a coerência se relaciona com a coesão do texto, pois por coesão se en-
tende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a super-
fície textual.

A coerência , que é subjacente, a coesão é explicitamente revelada através de marcas linguísticas,


índices formais na estrutura da sequência linguística, índices formais na estrutura da sequência lin-
guística e superficial do texto, o que lhe dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na organiza-
ção sequencial do texto, tendo em vista a ordem em que aparecem , a coesão é sintática e gramati-
cal, mas também semântica , pois , em muitos casos, os mecanismos coesivos se baseiam numa re-
lação entre os significados de elementos da superfície do texto , como na chamada coesão referen-
cial.

Há duas grandes modalidades de coesão: a coesão remissiva ou referencial e a coesão sequencial.


A coesão referencial é a que se estabelece entre dois ou mais componentes da superfície textual que
remetem a (ou permitem recuperar) um mesmo referente (que pode, evidentemente, se acrescido de
outros traços que se lhe vão agregando textualmente). Ela é obtida por meio de dois mecanismos bá-
sicos.

 Substituição: anáfora, catáfora.

 Reiteração: se faz através de sinônimos, de hiperônimos, de nomes genéricos, de expressões nomi-


nais definidas, de repetição do mesmo item lexical, de nominalizações.

A coesão sequencial também se faz através de dois procedimentos: a recorrência e a progressão.

A sequenciação por recorrência (ou parafrástica) é obtida pelos seguintes mecanismos: recorrência
de termos, de estruturas (o chamado paralelismo), de conteúdos semânticos (paráfrase), de recursos
fonológicos segmentais e suprassegmentais (ritmos, rima, aliteração, eco, etc), de aspectos e tempos
verbais.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

A coesão sequencial por progressão (ou frástica) é feita por mecanismos que possibilitam:

 A manutenção temática;

 Os encadeamentos, que podem se dar por justaposição ou conexidade.

A relação da coesão com a coerência existe porque a coerência é estabelecida a partir da sequência
linguística que constitui o texto, isto é, os elementos da superfície linguística é que servem de pistas,
de ponto de partida para o estabelecimento da coerência. A coesão ajuda a estabelecer a coerência
na interpretação dos textos, porque surge como uma manifestação superficial da coerência no pro-
cesso de produção desses mesmos textos.

Embora a coesão auxilie no estabelecimento da coerência, ela não é garantia de se obter um texto
coerente. Observa Charolles, os elementos linguísticos da coesão não são nem necessários, nem su-
ficientes para que a coerência seja estabelecida.

Como a coesão não é necessária, há muitas consequências linguísticas com poucos ou nenhum ele-
mento coesivo, mas que constituem um texto porque são coerentes e por isso têm o que se chama
de textualidade.

Como a coesão não é suficiente, há sequências linguísticas coesas, para as quais o receptor não
pode ou dificilmente consegue estabelecer um sentido global que as faça coerentes.

O mau uso dos elementos linguísticos de coesão pode provocar incoerências locais pela violação de
sua especificidade de uso e função. Às vezes também ocorre um tipo de incoerência porque o não
uso de elementos necessários calcula-la de forma mais direta causa um estranhamento da sequência
pelo receptor. A separação entre coesão e coerência não é tão nítida, a coesão tem relação com a
coerência na medida em que é um dos fatores que permite calcula-a e , embora do ponto de vista
analítico seja interessante separa-las , distingui-las, cumpre não esquecer que são duas faces do
mesmo fenômeno.

Coerência, Texto E Linguística Do Texto

Coerência e texto

È a coerência que faz com que uma sequência linguística qualquer seja vista como um texto, porque
é a coerência, através de vários fatores, que permite estabelecer relações (sintático-gramaticais, se-
mânticas e pragmáticas) entre os elementos da sequência (morfemas, palavras, expressões, frase,
parágrafos, capítulos, etc), permitindo construí-la e percebe-la, na recepção, como constituindo uma
unidade significativa global. Portanto, é a coerência que dá textura ou textualidade à sequência lin-
guística, entendendo-se por textura ou textualidade.

A coerência dá origem a textualidade, o que responde a primeira questão. A coesão é apenas um dos
fatores de coerência, que contribui para a constituição do texto enquanto tal, representando fatos de
face linguística da coerência, mas não sendo nem necessária, nem suficiente para converter uma se-
quência linguística da coerência, mas não sendo nem necessária, nem suficiente para converter uma
sequência linguística em texto. A coesão não dá textualidade é a coerência que faz isso.

Para Beaugrande e Dressler, para quem a coerência é definida em função da continuidade de senti-
dos há sequências linguísticas incoerentes, que seriam aqueles em que o receptor não consegue
descobrir qualquer continuidade de sentido. Marcuschi e mesmo Fávero e Koch falam na existência
de textos incoerentes.

Já Charolles afirma que as sequências de frases não são coerentes ou incoerentes em si. Para Cha-
rolles não há texto incoerente em si. Charolles admite o tipo de incoerência que já referimos com o
nome de incoerência local e que pode resultar do uso inadequado de elementos linguísticos, violando
seu valor e função.

Bernárdez, ao falar do processo de criação de um texto coerente, propõe que ele se dá em três fases
e que, em cada uma delas, podem ocorrer falhas causadoras de incoerência em determinados casos:

 Na primeira fase, o produtor do texto tem uma intenção comunicativa.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

 Na segunda fase, o produtor do texto desenvolve um plano global que lhe possibilite conseguir que
seu texto cumpra sua intenção comunicativa, ou seja, tenha êxito face a todos os fatores envolvidos.

 Na terceira fase, o produtor realiza as operações necessárias para expressar verbalmente o plano
global, de maneira que, através das estruturas superficiais, oprecebedor seja capaz de reconstituir ou
identificar a intenção comunicativa.

Não existe o texto incoerente em si, mas que o texto poder incoerente em/para determinada situação
comunicativa. Assim, ao dizer que um texto é incoerente, temos que especificar as condições de inco-
erência.

O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta intenção
comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros elementos da situação, uso dos re-
cursos linguísticos, etc. Caso contrário, será coerente.

O mau uso de elementos linguísticos e estruturais cria incoerências no nível local. O produtor do
texto, em função de sua intenção comunicativa, levando em conta todos os fatores da situação e
usando seu conhecimento linguístico, de mundo , etc., constrói o texto, cuja superfície linguística é
constituída de pistas que permitem aos receptor calcular o (um) sentido do texto, estabelecendo sua
coerência, através da consideração dos mesmos fatores que o produtor e usando os mesmo recur-
sos.

A coerência não é nem característica do texto, nem dos usuários do mesmo, mas está no processo
que coloca texto e usuários em relação numa situação comunicativa. Tendo em vista:

 A coesão é uma manifestação da coerência na superfície textual;

 Os elementos linguísticos da superfície do texto funcionam como pistas que o produtor do texto es-
colheu em função de sua intenção comunicativa e do(s) sentido(s) que desejava que o receptor do
texto fosse capaz de recuperar – pode-se esperar que diferentes tipos de textos apresentem diferen-
tes modos, meios e processos de manifestação da coerência na superfície linguística.

Diferentes tipos de textos têm diferentes esquemas estruturas que, na Linguística Textual, recebem o
nome de superestruturas. Narrativos, descritivos, dissertativos, líricos, ficção, dramáticos, poéticos e
prosas. O conhecimento ou não, a utilização ou não das características de superestrutura de cada
tipo pode auxiliar ou dificultar o estabelecimento de coerência.

Os estudos da coerência e coesão nos textos orais, em comparação com os textos escritos, os usuá-
rios utilizam recursos diferenciados na superfície linguística, de modo que sua coerência tem de se
estabelecer e ser julgada por mecanismos e critérios diversos dos utilizados para o texto escrito, sob
pena de incorrermos em falhas de julgamento.

Coerência e Linguística Do Texto

Quando a linguística começou a tomar o texto como unidade de estudo, os estudiosos, acreditando
na existência de textos e não-textos, propuseram a formulação de uma gramática do texto. Com a
evolução dos estudos que não existe a sequência linguística incoerente em si e, portanto, não existe
o não texto.

Passou-se à construção de uma Teoria do texto ou Linguística do Texto, que é dizer a boa ou má for-
mação dos textos, mas permitir representar os processos e mecanismos de tratamentos dos dados
textuais que os usuários põem em ação quando buscar interpretar uma sequência linguística, estabe-
lecendo o seu sentido e, portanto, calculando sua coerência.

Tais processos e mecanismos, em sua atuação, sofrem restrições que obedecem a determinações
psicológicas e cognitivas, socioculturais, pragmáticas e linguísticas. Por isso, o estudo da produção,
compreensão e coerência textuais tornou-se um campo inter e pluridisciplinar. Charolles cabe aos lin-
guistas “delimitar, na constituição e composição textuais, qual é a parte e a natureza das determina-
ções (que referimos no parágrafo anterior) que resultam dos diferentes meios que existem na diferen-
tes línguas, para exprimir a continuidade ou a sequência do discurso”.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

O linguista deve, assim, fazer “a analise das marcas de relação entre as unidade de composição tex-
tual que a língua usa para resolver, o melhor possível, os problemas de interpretação que seu uso
possa gerar. Isto para além da generalidade dos processos psico e sociocognitivos que intervêm na
interpretação (da coerência) do discurso”.

Fatores De Coerência

A construção da coerência decorre de uma multiplicidade de fatores das mais diversas ordens: lin-
guísticos, discursivos, cognitivos, culturais e interacionais .

Elementos Linguísticos

È indiscutível a importância dos elementos linguísticos do texto para o estabelecimento da coerência.


Esses elementos servem como pistas para ativação dos conhecimentos armazenados na memória ,
constituem o ponto de partida para a elaboração de inferências, ajudam a captar a orientação argu-
mentativa dos enunciados que compõem o texto. Todo o contexto linguístico – ou co-texto – vai con-
tribuir de maneira ativa na construção da coerência.

Conhecimento de Mundo

O nosso conhecimento de mundo desempenha um papel decisivo no estabelecimento da coerência:


se o texto falar de coisas que absolutamente não conhecemos, será difícil calcularmos o seu sentido
e ele nos parecerá destituído de coerência.

Armazenando os conhecimentos, modelos cognitivos.

 Os frames armazenados sob um certo “rótulo”.

 Os esquemas em sequência temporal ou causal.

 Os planos como agir para atingir determinado objetivo

 Os scripts modos de agir altamente estereotipados em dada cultura, inclusive em termos de lingua-
gem;

 As superestruturas ou esquemas textuais – conjunto de conhecimentos sobre os diversos tipos de


textos, que vão sendo adquiridos à proporção que temos contanto com esses tipos e fazemos compa-
rações entre eles.

È o nosso conhecimento de mundo que nos faz considerar estranho o texto. È a partir dos conheci-
mento que temos que vamos construir u modelo do mundo representado em cada texto – é o uni-
verso (ou modelo) textual. Para que possamos estabelecer a coerência de um texto, é preciso que
haja correspondência ao menos parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso conheci-
mento de mundo , pois , caso contrário, não teremos condições de construir o universo textual dentro
do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido.

Conhecimento Compartilhado

È preciso que o produtor e receptor de um texto possuam , ao menos uma boa parcela de conheci-
mentos comuns.

Os elementos textuais que remetem ao conhecimento partilhado entre os interlocutores constituem a


informação “velha” ou dada, ao passo que tudo aquilo que for introduzido a partir dela constituirá a
informação nova trazida pelo texto. Para que um texto seja coerente, é preciso haver um equilíbrio
entre informação dada e informação nova.

 Constituem o co-texto;

 Aquele que fazer parte do contexto situacional

 Aqueles que são do conhecimento geral em dada cultura

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

 As que remetem ao conhecimento comum do produtor e do receptor.

O contexto (linguístico e situacional) permite desfazer a ambiguidade de termos e expressões da lín-


gua.

Inferências

Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor de um texto es-
tabelece uma relação não explicita entre dois elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto
que ele busca compreender e interpretar; ou, então, entre segmentos de textos e os conhecimentos
necessários para a sua compreensão.

Fatores De Contextualização

Os fatores de contextualização são aqueles que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa de-
terminada.

Segundo Marcushi podem ser de dois tipos: os contextualizadores propriamente ditos e os perspecti-
vos ou prospectivos. Entre os primeiros estão a data, o local, a assinatura, elementos gráficos, timbre,
etc., que ajudam a situar o texto e, portanto, a estabelecer-lhe a coerência.

Sem os elementos contextualizadores, fica difícil decodificar a mensagem. Também em documentos,


correspondência oficial e outros textos do gênero, o timbre, o carimbo, a data, a assinatura serão de
extrema importância, servindo, inclusive, para fé ao texto.

Entre os fatores gráficos, temos: disposição na página, ilustrações, fotos, localizações no jornal (ca-
derno, página), que contribuem para a interpretação do texto.

Os fatores perspectivos ou prospectivos são aqueles que avançam expectativas sobre o conteúdo – e
também a forma – do texto: titulo, autor, inicio do texto.

A leitura (compreensão) de um texto é uma atividade de solução de problemas. Ao descobrirmos a


solução final, teremos estabelecido a coerência do texto.

Situacionalidade

A Situacionalidade, outro fator responsável pela coerência, pode ser vista atuando em duas direções:

 Da situação para o texto

 Do texto para a situação

 Da situação para o texto – trata-se de determinar em que medida a situação comunicativo interfere
na produção recepção do texto e , portanto no estabelecimento da coerência., o contexto imediato da
interação, o contexto sociopolitico-cultural em que a interação está inserida.

 Ao construir um texto, verificar o que é adequado àquela situação especifica: grau de formalidade,
variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc.

 O lugar e o momento da comunicação, as imagens recíprocas que os interlocutores fazem uns do


outros, os papéis que desempenham, seus pontos de vista , o objetivo da comunicação.

 Do texto para a situação – também o texto tem reflexos importantes sobre a situação comunicativa:
o mundo textual não é jamais idêntico ao mundo real. O produtor recria o mundo de acordo com seus
objetivos, propósitos, interesses, convicções, crenças, etc.

 Os referentes textuais não são idênticos ao do mundo real, mas são construídos no interior do texto.
O receptor, por sua vez, interpreta o texto de acordo com a sua ótica, os seus propósitos, as suas
convicções – há sempre uma mediação entre o mundo real e o mundo textual.

Na construção da coerência , a situacionalidade exerce um papel de relevância. Um texto que é coe-


rente em dada situação pode não sê-lo em outra: daí a importância da adequação do texto à situação
comunicativa.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Informatividade

Diz respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto.Um texto
será tanto menos informativo se contiver apenas informação previsível ou redundante, seu grau de
informatividade será baixo; se contiver, além da informação de um texto for inesperada ou imprevisí-
vel, ele terá um grau máximo de informatividade, podendo, à primeira vista, parecer incoerente por
exigir do receptor um grande esforço de decodificação.

O grau máximo de informatividade é comum na literatura e na linguagem metafórica em geral.

Mas também são frequentes, tanto em texto poéticos como em textos publicitários ou manchetes jor-
nalísticas.

È a informatividade que vai determinar a seleção e o arranjo das alternativas de distribuição da infor-
mação no texto, de modo que o receptor possa calcular-lhe o sentido com maior ou menor facilidade,
dependendo da intenção do produtor de construir um texto mais ou menos hermético, mais ou menos
polissêmico, ou que está, evidentemente, na dependência da situação comunicativa e do tipo de texto
a ser produzido.

Focalização

A focalização tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma parte
do seu conhecimento, bem como com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo
textual. O produtor fornece ao receptor pistas sobre o que está focalizando. Diferenças de focalização
podem causar problemas sérios de compreensão, impedindo, por vezes, o estabelecimento da coe-
rência.

A mesma palavra poderá ter sentido diferente, dependendo da focalização. No caso de palavras ho-
mônimas, a focalização comum dos interlocutores permitirá depreender o sentido do termo naquela
situação especifica. A focalização determina também, em dados casos, o uso adequado de certos
elementos linguísticos. Um dos mais importantes meios de evidenciar a focalização é o uso do que
chamamos de descrições ou expressões definidas, isso é, grupos nominais introduzidos por artigo
definido (ou por demonstrativos). Tais expressões selecionam, dentre as propriedades e característi-
cas do referente, aquelas sobre as quais se deseja chamar a atenção.

O titulo do texto é, em grande parte dos casos, responsável pela focalização. Como já vimos anterior-
mente ativa e/ou seleciona conhecimentos de mundo que temos arquivados na memória, avançando
expectativas sobre o conteúdo do texto.

Intertextualidade

Outro importante fator de coerência é a intertextualidade, na medida em que , para o processamento


cognitivo (produção/recepção) de um texto, recorre-se ao conhecimento prévio de outros textos. A in-
tertextualidade pode ser de forma ou de conteúdo.

A intertextualidade de forma ocorre quando o produtor de um texto repete expressões, enunciados ou


trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados gêneros de dis-
curso. Um subtipo de intertextualidade formal é a intertextualidade tipológica, que também é impor-
tante para o processamento adequando do texto.

Os conhecimentos de mundo são armazenados em nossa memória sob forma de blocos – os mode-
los cognitivos globais, entre os quais estão as superestruturas ou esquemas textuais, que são conjun-
tos de conhecimentos que se vão acumulando quanto aos diversos tipos de textos utilizados em dada
cultura. Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que a intertextualidade é uma constante: os textos de
uma mesma época, de uma mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura, etc., dialogam,
necessariamente, uns com os outros. Essa intertextualidade pode ocorrer de maneira explicita ou im-
plícita.

Intertextualidade implícita não se tem indicação de fonte, de modo que o receptor deverá ter os co-
nhecimentos necessários para recupera-la; do contrário, não será capaz de captar a significação im-

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

plícita que o produtor pretende passar. Não havendo indicação da fonte do texto original, caberá re-
ceptor, através de seu conhecimento de mundo, não só descobri-la como detectar a intenção do pro-
dutor do texto ao retomar o que foi dito por outrem.

O reconhecimento do texto fonte e dos motivos de sua reapresentação, no caso da intertextualidade


implícita, é como se vê, de grande importância para a construção de sentido de um texto.

Intencionalidade e Aceitabilidade

O produtor de um texto tem, necessariamente, determinados objetivos ou propósitos, que vão desde
a simples intenção de estabelecer ou manter o contato com o receptor até a de leva-lo a partilhar de
suas opiniões ou a agir ou comportar-se de determinada maneira. A intencionalidade refere-se ao
modo como os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções, produzindo, para
tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados.

A aceitabilidade constitui a contraparte da intencionalidade. Já se disse que, segundo o Principio Co-


operativo de Grice, o postulado básico que rege a comunicação humana é o da cooperação, isto é,
quando duas pessoas interagem por meio de linguagem, elas se esforçam por fazer-se compreender
e procuram calcular o sentido do texto do(s) interlocutor(s), partindo das pistas que ele contém e ati-
vando seu conhecimento de mundo, da situação, etc.

A intencionalidade tem relação estreita com o que se tem chamado de argumentatividade. Se aceita-
mos como verdade que não existem textos neutros, que há sempre alguma intenção ou objetivo da
parte de quem produz um texto, e que este não é jamais uma “cópia” do mundo real, pois o mundo é
recriado no texto através da mediação de nossas crenças, convicções, perspectivas e propósitos, en-
tão somo obrigados a admitir que existe sempre uma argumentatividade subjacente ao uso da lingua-
gem. A argumentatividade manifesta-se nos textos por meio de uma série de marcas ou pistas que
vão orientar os seus enunciados no sentido de determinadas conclusões.

Entre estas marcas encontram-se os tempos os tempos verbais, os operadores e conectores argu-
mentativos, os modalizadores, entre outros.

A partir dessas marcas, como também das inferências e dos demais elementos construtores da textu-
alidade, o receptor construirá a sua leitura, entre aquelas que o texto, pela maneira como se encontra
linguisticamente estruturado, permite. È por isso que todo texto abre a possibilidade de várias leituras.

Consistência E Relevância

De acordo com Giora, dois requisitos básicos para que um texto possa ser tido como coerente são a
consistência e a relevância.

A condição de consistência exige que cada enunciado de um texto seja consistente com os enuncia-
dos anteriores, isto é, que todos os enunciados do texto possam ser verdadeiros dentro de um
mesmo mundo ou dentro dos mundos representados no texto.

O requisito da relevância exige que o conjunto de enunciados que compõe o texto seja relevante para
um mesmo tópico discursivo subjacente, isto é, que os enunciados sejam interpretáveis como falando
sobre um mesmo tema.

A relevância tópica é outro fator importante da coerência. A coerência não é apenas um traço ou uma
propriedade do texto em si, mas sim que ela se constrói na interação entre o texto e seus usuários,
numa situação comunicativa concreta, em decorrência de todos os fatores aqui examinados.

Coerência e Ensino

O objetivo é registrar alguns pontos fundamentais quando se pergunta em que as análises da linguís-
tica sobre coerência, coesão e texto podem auxiliar no trabalho do professor no ensino de língua ma-
terna. Lembraremos alguns aspectos que podem ser importantes para a adoção de uma postura me-
todológica pelo professor. Metodologia, uma questão de postura, ideologia, metas, objetivos e funda-
mentos e não apenas técnicas de ensino.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua rede de
conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o
mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

A coesão é a manifestação linguística da coerência: advém da maneira como os conceitos e relações


subjacentes são expressos na superfície textual. Responsável pela unidade formal do textual, cons-
trói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.

Entre os primeiros estão os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, a concordância, a correlação


entre os tempos verbais, as conjunções, por exemplo.

Todos esses recursos expressam relações não só entre os elementos no interior de uma frase, mas
também entre frases e sequências de frases dentro de um texto.

Fatores Importantes Para Obter Coerência Em Um Texto

 Intencionalidade – ela exige do produtor a construção de um discurso coerente e coeso, capaz de


satisfazer os objetivos em uma determinada situação comunicativa (informar, convencer, pedir, etc).

 Aceitabilidade – dá-se quanto à expectativa de que o recebedor tenha acesso a um texto coerente e
coeso.

 Situacionalidade – refere-se a que diz respeito à adequação do texto à situação sócio-comunicativo,


responsável pela pertinência e relevância do texto.

 Intertextualidade – para isso o texto deve interagir com outros textos que funcionam oco seu con-
texto

Os Fatores Pragmáticos Da Textualidade

Entre os cinco fatores pragmáticos estudados por Beaugrande e Dressler (1983), os dois primeiros se
referem aos protagonistas do ato de comunicação: a intencionalidade e a aceitabilidade.

A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e ca-


paz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A meta
pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender, etc., e é ela que
vai orientar a confecção do texto.

Em outras palavras, a intencionalidade diz respeito ao valor ilocutório do discurso, elementos da


maior importância no jogo de atuação comunicativa.

O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à expectativa do recebedor de que o con-
junto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de
levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.

Grice (1975. 1978) estabelece máximas conversacionais, que seriam estratégias normalmente adota-
das pelos produtores para alcançar a aceitabilidade do recebedor.

Tais estratégias se referem à necessidade de cooperação (no sentido de o produtor responder aos
interesses de seu interlocutor) e à qualidade (autenticidade), quantidade (informatividade), pertinência
e relevância das informações, bem como à maneira como essas informações são apresentadas (pre-
cisão, clareza, ordenação, concisão, etc).

Informatividada

O texto com bom índice de informatividade tem que apresentar todas as informações necessárias
para que seja compreendido com o sentido que o produtor pretende.

Não é possível nem desejável que o discurso explicite todas as informações necessárias ao seu pro-
cessamento, mas é preciso que ele deixe inequívocos todos os dados necessários à sua compreen-
são aos quais o recebedor não conseguirá chegar sozinho.

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Focalização

A focalização que tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma
parte do seu conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo tex-
tual. Seria como uma câmera que acompanhasse tanto o produtor como o receptor no momento em
que um texto é processado.

O primeiro fornece ao segundo determinadas pistas sobre o que está focalizando, ao passo que o se-
gundo terá de recorrer a crenças e conhecimentos compartilhados sobre o que está sendo focalizado,
para poder entender o texto (e as palavras que o compõem), de modo adequado.

Fatores Da Contextualização

Os fatores de contextualização que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada; a


situacionalidade, como outro fator responsável pela coerência, e que pode ser vista atuando em duas
direções: a) da situação para o texto; b) do texto para a situação; a informatividade que interfere na
construção da coerência no que diz respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da infor-
mação contida no texto;

Intencionalidade E Aceitabilidade

A intencionalidade e a aceitabilidade: a primeira refere-se ao modo como os emissores usam textos


para perseguir e realizar suas intenções, produzindo para tanto, textos adequados à obtenção dos
efeitos desejados; a segunda constitui a contraparte da intencionalidade que, por sua vez, tem rela-
ção estreita com o que se tem chamado de argumentatividade.

A obra expõe a constituição dos sentidos nos textos e seus fatores, tais como os elementos linguísti-
cos, o conhecimento do mundo, as inferências e a situação. Um de seus capítulos é dedicado ao re-
gistro de como a análise da coerência textual pode auxiliar no trabalho do professor no ensino da lín-
gua e em sala de aula.

Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua rede de
conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o
mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

Intertextualidade
A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou seja, é a influência e relação que um es-
tabelece sobre o outro. Assim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção de textos
que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos existentes em outro texto, seja a nível de
conteúdo, forma ou de ambos: forma e conteúdo.

Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de forma que essa relação pode ser esta-
belecida entre as produções textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escrita),
sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, dança, cinema), propagandas publici-
tárias, programas televisivos, provérbios, charges, dentre outros.

Tipos De Intertextualidade

Há muitas maneiras de realizar a intertextualidade sendo que os tipos de intertextualidade mais co-
muns são:

 Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmente, em forma de crítica irônica de caráter
humorístico. Do grego (parodès) a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (semelhante) e
“odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante à outra”. Esse recurso é muito utilizado pelos
programas humorísticos.

 Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a mesma ideia contida no texto original, en-
tretanto, com a utilização de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), significa
a “repetição de uma sentença”.

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 Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras, textos científicos, desde artigos, resenhas, monogra-
fias, uma vez que consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma relação com o
que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição
superior) e “graphé” (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio Cultural e a
epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): "A cultura é o melhor conforto para a velhice".

 Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção textual, de forma que dialoga com
ele; geralmente vem expressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem relacionar a fonte utilizada é consi-
derado “plágio”. Do Latim, o termo “citação” (citare) significa convocar.

 Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros textos. Do Latim, o vocábulo “alusão”
(alludere) é formado por dois termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).

Outras formas de intertextualidade são o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.

Exemplos

Segue abaixo alguns exemplos de intertextualidade na literatura e na música:

Intertextualidade Na Literatura

Fenômeno recorrente nas produções literárias, segue alguns exemplos de intertextualidade.

O poema de Casimiro de Abreu (1839-1860), “Meus oito anos”, escrito no século XIX, é um dos tex-
tos que gerou inúmeros exemplos de intertextualidade, como é o caso da paródia de Oswald de An-
drade “Meus oito anos”, escrito no século XX:

Texto Original

“Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”

(Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”)

Paródia

“Oh que saudades que eu tenho


Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais”

(Oswald de Andrade)

Outro exemplo é o poema de Gonçalves Dias (1823-1864) intitulado Canção do Exílio o qual já ren-
deu inúmeras versões. Dessa forma, segue um dos exemplos de paródia, o poema de Oswald de An-
drade (1890-1954), e de paráfrase com o poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):

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Texto Original

“Minha terra tem palmeiras


Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.”

(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)

Paródia

“Minha terra tem palmares


onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.”

(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”)

Paráfrase

“Meus olhos brasileiros se fecham saudosos


Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!”

(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”)

Intertextualidade Na Música

Há muitos casos de intertextualidade nas produções musicais, veja alguns exemplos:

A música “Monte Castelo” da banda legião urbana cita os versículos bíblicos 1 e 4, encontrados no
livro de Coríntios, no capítulo 13: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não ti-
vesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine” e “O amor é sofredor, é benigno; o
amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece”. Além disso, nessa
mesma canção, ele cita os versos do escritor português Luís Vaz de Camões (1524-1580), encontra-
das na obra “Sonetos” (soneto 11):

“Amor é um fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

Igualmente, a música “GoBack” do grupo musical Titãs, cita o poema “Farewell” do escritor chileno
Pablo Neruda (1904-1973):

“Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,


ya no se endulzará junto a ti mi dolor.
Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

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Fui tuyo, fuiste mía. ¿Qué más? Juntos hicimos


un recodo en la ruta donde el amor pasó.
Fui tuyo, fuiste mía. Tú serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.
Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.
...Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.”

Informação E Informatividade

A definição de "informatividade é usualmente utilizada pela literatura, que destaca o fato de que a
compreensão de um texto depende do conhecimento de outros textos" Val (1991, p.15). Na opinião
de Beaugrande e Dressler (1981), a informatividade diz respeito à quantidade de prever a informação.
Os conceitos de ambos os autores se complementam quando refletem que, para o individuo ter
acesso à informatividade, precisa ter dados suficientes para entender a informação.

A comunicação é o processo pelo qual os seres humanos trocam entre si informações, e, por mais
simples que pareça, necessita de elementos para o ato comunicativo entre o emissor, o receptor e a
mensagem.

A escolha do que é informativo ou não na formação dos sistemas de informação não é algo simples,
porque o conhecimento e a extensão das tarefas divergem quanto às circunstâncias que as juntam;
alguns domínios "têm alto grau de consenso e critérios de relevância explícitos", outros "têm paradig-
mas diferentes, conflitantes ..." (CAPURRO e HJORLAND, 2007).

A Informação e o Conhecimento

Como afirma Mañas (2002, p.47), "quando um estabelecimento apresenta problemas e procura suas
causas, certamente irá encontrar falhas e problemas de comunicação e informação". A informação é
um meio essencial para qualquer estabelecimento, seja rural ou urbano.

Existe uma emergencial necessidade de criação de uma nova área da administração, a de gerir infor-
mações, mas, com maior precisão, a gestão estratégica da informação. Surge também a nova classe
de problemas a formular e resolver, baseados nesse recurso estratégico, que é a informação. O que
dá a entender que um grande número dos responsáveis pelos estabelecimentos não está preparado
para tratar especificamente a informação como instrumento em si, e menos ainda para gerenciá-la,
considerando-a como ferramenta estratégica.

A informação também é empregada em muitos estabelecimentos como instrumento ou ferramenta de


gestão. No entanto, a administração efetiva de uma organização necessita da precisão dos valores
da informação e dos sistemas de informação.

Para permitir que a informação tenha valor, é preciso deixar claros os meios capazes de avaliá-la, o
que não é uma tarefa fácil. Entre algumas maneiras, utilizamos o juízo de valor, que, apesar de não
ser determinado, julga-se que o valor altera com o tempo e a perspectiva. Em certos casos, é nega-
tivo, como acontece com o exagero da quantidade na informação.

Sob essa perspectiva, segundo Moresi apud Cronin (2000), o valor da informação pode ser assim
classificado:

§ valor de uso: fundamentar-se na última utilização que se fará com a informação;

§ valor de troca: quem a utiliza está consciente de que pagará, sabendo que o valor variará conforme
as leis de oferta e demanda, podendo ser chamado de valor de mercado;

§ valor de propriedade, que denota o custo substitutivo de um bem;

§ valor de restrição, que ocorre no caso de informação sigilosa ou de interesse do mercado, quando o
uso fica limitado apenas a alguns indivíduos.

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Muitas vezes não é possível determinar o valor da informação, porém é estabelecida uma equivalên-
cia a uma soma em dinheiro. Sendo um bem abstrato e intangível, seu valor estará vinculado a um
contexto. Então, os valores de uso e de troca podem ser úteis na determinação de uma provável
igualdade de valor da moeda, tornando atrativa a qualidade da informação para a mensuração mone-
tária.

Segundo Mañas (2002), para produzir informações e conhecimento, na propriedade rural, é preciso
habilitar o produtor agrícola que conduzirá o processo das informações e o gerenciamento da proprie-
dade, o que é primordial para a correta tomada de decisões; esta depende principalmente das fontes
(origens) utilizadas e de como as informações fluem dentro e fora da propriedade agrícola. A adapta-
ção da propriedade rural ao mercado consumidor é de fundamental importância para alcançar os re-
sultados, e são várias as características de uma propriedade para se adaptar ao mercado, como a
escolha das melhores culturas, diversificação agrícola e utilização de sistemas produtivos, pois são
inovações que têm como objetivo maior tornarem-se competitivas para atingir os resultados em curto
espaço de tempo.

Temos como fatores da propriedade rural ideal: o retorno financeiro a curto prazo e a sobrevivência a
longo prazo; segmentos determinados, saber como proceder no mercado; estar preparado para se
adequar à mudança de ambiente e de aprendizagem para atingir o objetivo almejado.

Para que haja o crescimento e o desenvolvimento de um estabelecimento, é necessário que a quali-


dade da informação seja gerada no momento certo, e transmitida de forma correta, portanto dominar
a informação será determinante para a sobrevivência do estabelecimento.

Davenport (1998, p. 173) trata a gestão da informação como um processo definido por "um conjunto
estruturado de atividades que incluem o modo como os estabelecimentos obtêm, distribuem e usam a
informação e o conhecimento".

Contudo, o processo de gestão da informação em estabelecimentos, segundo Davenport (1998),


deve buscar melhorias e constante aperfeiçoamento, pode também fazer uso da abordagem da quali-
dade voltada para o treinamento das pessoas porque são elas que vão conduzir o processo.

É pela informação que os processos de tomada de decisão contribuem para que se obtenham os re-
sultados esperados, esses procedimentos favorecem a produção, alcançando maior desempenho
pelo uso do conhecimento.

Para Davenport (1998, p.19), o "conhecimento é a informação mais valiosa (...) é valiosa precisa-
mente porque alguém deu à informação um contexto, um significado, uma interpretação (...)". O co-
nhecimento pode ser pensado como a informação processada pelas pessoas.

O valor associado à informação está sujeito aos conhecimentos anteriores desses indivíduos. Sendo
assim, obtemos conhecimento pelo emprego da informação em nossas atividades. Contudo, o conhe-
cimento não pode ser desvinculado das pessoas; ele tem rigorosamente relação com sua percepção,
é o que reúne em códigos e os decodifica, distorce e usa a informação conforme suas características
individuais, ou de acordo com seus exemplos intelectuais.

Na busca para obter informações, Davenport (1998, p. 181) fragmenta essa procura em quatro ativi-
dades, constituídas por: exploração; classificação; formatação e estruturação de informações. E,
ainda, segundo ele, não existem exigências na sequência da execução dessas atividades.

Como ressalta Davenport (1998, p. 184), "o melhor ambiente de exploração, claro, é aquele no qual
todos executam a coleta de dados e depois compartilham as informações obtidas".

A próxima etapa estabelecida é a coleta de informações e classificação da informação; essa fase é


que determina a maneira de acesso à informação pelo usuário, trata-se de uma tarefa que implica
grande utilização de mão de obra.

A formatação e a estruturação das informações é a ocasião que se destina à melhor exposição da in-
formação, de maneira que seja mais segura, consequentemente, mais aceita e utilizada com maior
confiabilidade. Distribuição é o processo que formata e reúne emissor e receptor da informação; a
conjuntura efetiva da disposição, depende do desempenho funcional dos processos. Davenport

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(1998, p. 189) considera que "definir as exigências informacionais de uma organização ajuda a au-
mentar a consciência de que a informação é valiosa; o formato correto torna mais fácil a distribuição".
Faz-se necessária uma boa elaboração de estratégias para disseminação da informação, além da
conscientização quanto às limitantes na transferência da informação; essa preocupação é resultado
das restrições quanto à disseminação das informações, comprometendo, muitas vezes, a constante
troca de conhecimentos. De acordo com Davenport (1998), o tratamento para a obtenção da informa-
ção, busca, como principal objetivo, adquirir o conhecimento pela informação.

Luckesi (1996) procura chegar próximo da questão: o que é conhecimento? Escolhe responder, de-
clarando que conhecimento é a exposição ou o esclarecimento da realidade, e passa por um trabalho
de pesquisa para descobrir aquelas coisas que estão ocultas, que ainda não foram entendidas. Após
a compreensão de sua maneira de ser, o objeto é considerado conhecido. Obter conhecimento não é
entender a realidade guardando informações, mas empregá-las utilmente para descobrir o novo e
continuar, porque quanto maior for o entendimento do mundo mais importante será a influência do in-
divíduo que o detém.

A produção de conhecimento é uma reconstrução das estruturas mentais do ser humano elaborada
por meio de suas capacidades cognitivas, ou seja, é uma mudança em seu depósito mental de saber
acumulado, resultado de uma influência com a forma de informação. Na reconstrução, pode mudar o
modo de conhecimento do indivíduo, ou porque cresce seu conteúdo de saber acumulado, ou por se-
dimentar o conhecer já guardado, porque reformula a experiência anterior armazenada.

Na opinião de Miranda (1999), a divisão do conhecimento se dá pelos seguintes aspectos:

§ conhecimento explícito é a união de informações já evidenciadas em algum apoio didático (livros,


documentos, revistas), o que determina o saber acessível sobre determinado tema;

§ conhecimento tácito é a junção do saber prático sobre um assunto específico, que reúne certezas,
crenças, sentimentos, emoções, opiniões e outros fatores relacionados à experiência e à individuali-
dade de quem o detém;

§ O conhecimento estratégico é a harmonia entre o conhecimento explicito e o tácito, formado a partir


das informações estratégicas e de acompanhamento, agregando-se ao conhecimento de especialis-
tas.

Para Bio (1995), certamente, o objetivo do planejamento e o controle das informações é a tomada de
decisões, porque estas necessitam de informações relevantes, cujo teor deve ser adequado e seguro,
devendo haver uma reflexão, dos administradores, sobre os processos decisórios e a elaboração de
um sistema de informação que levem em conta esses processos de decisão de forma integrada e
precisa, não deixando as partes que compõem o todo sem a devida associação.

A informação por si só, de forma fragmentada, em apenas determinadas aplicações não terá resulta-
dos, faz-se necessária a utilização dos sistemas de informação para tornar o uso da informação com-
pleto, porque sua abrangência são todas as unidades produtivas.

Intencionalidade,

I. Intencionalidade: Caracterização Mais Geral Possível

Pretendo abordar o tema da intencionalidade e algumas de suas implicações, tarefa que, reconheço,
não é das mais amenas em filosofia. Partirei assim da idéia-força de Franz Brentano sobre a natureza
dos estados psicológicos, idéia em evidência junto à escola analítica desde a década de 60: em sua
enunciação, a idéia não oferece dificuldade de compreensão: tudo aquilo que se dirige, é sobre, faz
alusão, menção ou referência a alguma coisa possui a propriedade da intencionalidade.

A idéia de intencionalidade tem importância e repercussão ampla para os estudo em filosofia da


mente e da linguagem, pois (a) propõe um critério para distinguirmos entre o que é mental e o que
não e (b) gera implicações lógicas para a compreensão dos processos cognitivos e comunicativos.

Esta caracterização diz respeito ao que os estados mentais são, às suas condições de individuação e
reconhecimento, que os distingue dos fenômenos físicos. Não se pode falar da grande maioria dos
fenômenos mentais ou das representações, sejam lá de que tipo forem, intransitivamente, ou seja,

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

sem relacioná-los ao que se dirigem: se x representa, x representa alguma coisa; se dissermos que
um indivíduo pensa, estamos dizendo implicitamente que pensa em algo; quando dizemos que al-
guém acredita, que acredita em algo, e assim quando vê ou ouve. Uma crença é uma crença porque
concerne à propriedade de um objeto ou a uma relação entre objetos. Da mesma forma, um desejo,
uma intenção, um temor, uma expectativa, etc....

A intencionalidade parece ser uma propriedade — talvez a propriedade essencial — do conjunto de


todas as representações (proferimentos linguísticos, gestos, sinalizações e figuras). Daí se segue que
(a) o problema teórico das representações é idêntico ao problema teórico da intencionalidade e (b)
que há uma conexão necessária entre teorias sobre a linguagem e representações públicas e teorias
sobre fenômenos mentais intencionais.

Disse anteriormente que a propriedade da intencionalidade é ontológica. Vou usar um exemplo sim-
ples para ilustrar esse ponto. A distinção entre Nicole Kidman e quaisquer de suas representações
possíveis é inequívoca. A fotografia de Nicole Kidman é sobre um determinado indivíduo, mas Nicole
Kidman não é sobre nada. Não ser sobre nada é a propriedade conversa da intencionalidade.

Esta diferença entre aquilo que é representado e aquilo que representa não se dissipa quando cons-
tatamos que uma representação pode ser sobre uma outra representação. Existem relações intencio-
nais entre representações, digamos, relações intencionais de segunda ordem, nas quais uma repre-
sentação (r) é sobre outra representação (r'). Nesse caso, a representação representada passa a ser
um objeto. Exemplos: Um desenho feito sobre a fotografia do Papa e a nomeação (menção) de uma
palavra.

O primeiro caso se compreende imediatamente; o segundo requer duas pequenas explicações, entre
usar e mencionar (uso e menção) e entre representações de estados intencionais: uso a palavra ca-
deira para falar sobre uma cadeira, por exemplo e menciono a palavra cadeira para falar sobre a pa-
lavra que uso ou posso usar para falar sobre uma cadeira.

Por exemplo, estou mencionando a palavra “cadeira” quando digo que cadeira é uma palavra da lín-
gua portuguesa que designa um certo tipo de objeto normalmente usados como assento. Além disso,
uma crença pode ser sobre uma outra crença. Por exemplo, acredito que quando era jovem, acredi-
tava em mudar o mundo. Também aqui a crença na qual eu acreditava é o objeto de minha represen-
tação atual.

Há que considerar, nesse ponto, uma outra abordagem do assunto que, podemos dizer, agrega-se ao
tema da intencionalidade. Frege dizia que quando falamos das coisas, o fazemos por meio de signos
que possuem sentido e referência.

A referência é a própria coisa designada e o sentido é um tipo de objeto abstrato, que ele chamava
de modo de apresentação da referência ou pensamento. De qualquer modo, para Frege, o sentido
determina a referência. Assim, símbolos, segundo fregianos, são coisas que se referem a outras coi-
sas porque possuem sentido em certos contextos de cognição e fala. Em contextos especiais, como
nos chamados contextos intencionais (enunciados nos quais ocorrem verbos como acredita, deseja,
etc.s) ou enunciados indiretos (disse, nega, refuta, etc...), símbolos não se referem às próprias coisas
sob determinados aspectos, mas a objetos abstratos e complexos chamados por Frege de “sentidos”
ou “pensamentos”.

Pensamentos não são psicológicos, na acepção de Frege; são entidades objetivas que existem do
mesmo modo que a nota de um real que tenho em meu bolso. A diferença é que pensamentos são
entidades relacionadas à linguagem e apenas à linguagem. Essa não é uma questão apenas ilustra-
tiva aqui. Para o que importa entender, Frege dizia que não podermos ter acesso diretamente às coi-
sas, que nosso conhecimento delas é sempre dependente de um pensamento, que as determinam,
independentemente da existência ou não dessas coisas. E por quê ele dizia isto? Posso dizer que os
marcianos congelados em meu quarto são gigantes e você pode dizer a mesma coisa. Logo, aquilo
que dizemos expressa um mesmo pensamento, não privativo de nenhum de nós, mas comum a am-
bos e que pode ser verdadeiro ou falso.

Pensamentos são definidos como entidades objetivas, que podem ser verdadeiras ou falsas. Essa
noção é problemática, porque Frege não deslindou suficientemente tal conceito do ponto de vista me-
tafísico. Ele apenas constatou que compartilhamos de pensamentos idênticos e, por isso, essas enti-

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dades não são psicológicas. E também constatou que podemos nos referir ao mesmo objeto de mo-
dos diferentes. Por exemplo: Nicole Kidman e a ex-mulher de Tom Cruise são a mesma pessoa, mas
pensar que Nicole Kidman é a mais bela atriz de Holliwood não é o mesmo que pensar a ex-mulher
de Tom Cruise é a mais bela atriz de Holliwood. Afinal, posso saber quem é Nicole Kidman sem saber
que ela foi mulher de Tom Cruise.

Wittgenstein, como Russell, chamava os pensamentos de proposições, (e na linha de Frege) disse


que essas são definidas pela idéia de funções de verdade. Um enunciado tem sentido porque ex-
pressa algum tipo de proposição e essa possui uma mapa que mostra as possibilidades em que pode
ser verdadeira ou falsa.

Ele chamava esse mapa de tabela de verdade e pretendia que suas tabelas mostrassem precisa-
mente todas as possibilidades em que enunciados são falsos ou verdadeiros, sem dizer se eles são
falsos ou verdadeiros, porque a verdade (com exceção das proposições da própria lógica) são verda-
deiras ou não em vista de sua relação com o mundo. Por isto (também) Wittgenstein disse que as
proposições da lógica, por terem um mapa que mostra serem sempre verdadeiras, não possuem sen-
tido.

Muitos teóricos definem pensamentos/proposições de formas diferentes: uns o tomam como sendo
uma propriedade funcional de uma expressão (a expressão refere-se a algo porque desempenha um
determinado papel em inferências com as quais se relaciona). Outros dizem que modos de apresen-
tação não são sentidos, porque sentidos são o que duas expressões sinônimas preservam e existe
uma lei da lógica que diz que se substituirmos uma expressão sinônima por outra, numa sentença, o
valor de verdade da sentença não se altera.

Mas se Frege estava certo, se você não sabe que Nicole Kidman e a ex-mulher de Tom Cruise são a
mesma pessoa, então, para você, a sentença na qual ocorre “Nicole Kidman” pode ser verdadeira e a
sentença na qual ocorre “a ex-mulher de Tom Cruise” pode ser falsa. Na perspectiva de Brentano, te-
ríamos dois objetos intencionais distintos. Na de Frege, dois pensamentos distintos sobre o mesmo
objeto.

Do ponto de vista intencional, quando dizemos que as palavras “Nicole Kidman” representam alguém
determinado, estamos fazendo uso de uma noção intencional primária, estamos nos referindo (por
meio de um pensamento ou não) à pessoa mesmo e somente a partir dessa noção de referência a
algo é que a noção de intencionalidade de segunda ordem pode ser compreendida.

Ou seja, quando falamos em intencionalidade, fazemos uma distinção entre coisas intrinsecamente
intencionais (representações) e coisas intrinsecamente não-intencionais (objetos) que, de algum
modo, mantêm relações entre si.

A Intencionalidade e a Aceitabilidade Textual.

Sabemos que todos os textos são uma forma de comunicação e interação verbal, e é através dele
que se dá a inter-relação entre o autor e o leitor.

Sempre que se constrói um texto o autor tem como função de entrar num processo que se chama
enunciação, onde se coloca todo o seu conhecimento sobre o mundo. Desta forma o autor constrói o
texto para que assim, o leitor tenha como função captar suas intenções reais.

O texto é como uma ferramenta de comunicação e assim tem como objetivo, transmitir a principal
ideia do autor no seu contexto e no momento, assim havendo a intencionalidade do autor e a aceita-
bilidade do leitor.

É sempre no ato da leitura que se interpreta e se compreende o que o autor nos quer passar, pois
desta forma, o leitor buscará em sua memória tudo que se refere naquele assunto. Assim o leitor irá
construir o sentido do texto, após ter feito a leitura, e assim também irá ativar seu conhecimento dis-
cursivo.

Para que possa ocorrer a interação entre eles, o leitor tem como função ter um conhecimento básico
sobre o que o autor trata no texto, através de seu conhecimento linguístico, enciclopédico, interacio-
nais e de mundo.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

De acordo com PCN de Língua Portuguesa (1998, pp.69-70)

“A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do


texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que
sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra
por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência, e
verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita
controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante das dificuldades de compreensão,
avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.”

A Intencionalidade e a Aceitabilidade

O que podemos entender como intenção?

Podemos considerar uma intenção, como um conceito reservado, uma ideia sub - compreendida,
como se fosse um propósito disfarçado.

A intencionalidade do autor é tudo aquilo que ele quer expressar através do texto. Para que o autor
possa passar sua intenção sobre o texto, ele necessita de um conhecimento de tudo o que ele está
escrevendo, porque na construção de um texto, é preciso que o mesmo contenha coerência e coe-
são, ou seja, ele deve ser um texto coerente e coeso para poder alcançar o objetivo comunicativo,
pois em algumas das situações, considera-se necessário que o autor adote uma modelização da lin-
guagem para que assim, obtenha melhor a compreensão do leitor, pois assim, o autor pode utilizar
algumas “palavras chave” do mundo em que vive o leitor, dessa forma, o autor demonstra sua preo-
cupação em assimilar-se com sua ideia principal.

Já na aceitabilidade, o leitor necessita um conhecimento prévio para avaliar o texto corretamente,


dessa forma, ficando ao seu critério aceitar ou não a intenção real do autor. Pois consequentemente,
é através de sua interpretação e interação que se pode dar o sentido a leitura, reconhecendo o que
há de implícito ou explícito que contenham no texto.

De acordo com Koch, a aceitabilidade é uma contraparte da intencionalidade, pois ele nos deixa claro
que para que se haja a aceitação é necessário que o autor, o texto e o leitor, estejam em constante
interação.

Aceitabilidade

Segundo o autor Luiz Carlos Travaglia e Ingedore Grunfeld Kock a aceitabilidade acontece quando
duas pessoas estão conversando, ou seja, há um emissor e um receptor, eles procuram compreender
um ao outro por meio da ativação dos seus conhecimentos e relacionando com o que lhe foi passado,
para entender o sentindo do texto. Já segundo os autores Dayane da Silva e Ednéia de Cássia Anto-
nio dos Santos na aceitabilidade há uma relação entre a pessoa que escreve e a que lê, acontecendo
entre eles uma cooperação de sentidos, pois o autor explora todos os elementos possíveis para dar
coerência ao texto, fazendo com o que o leitor, através deles, ative os seus conhecimentos de mundo
e estabeleça uma interpretação.

Dessa forma a aceitabilidade constitui a parte oposta da intencionalidade, pois enquanto a primeira é
a ação do emissor em passar para o receptor um texto de acordo com a sua intenção e objetivos. A
aceitabilidade é a ação do receptor em associar ao que está sendo lindas alguma coerência e inter-
pretá-lo da forma que achar adequada.

Comunicabilidade

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 20
ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Comunicabilidade acontece quando uma mensagem é transferida de forma integral, correta, rápida e
economicamente. Essa transmissão integral significa que não há ruídos supressivos, deformantes ou
concorrentes.

Na transmissão correta há coerência entre a mensagem mandada pelo emissor e pelo receptor. A ra-
pidez supõe que a mensagem seja transmitida de maneira curta sem prolongação e a economia quer
dizer transmitir a mensagem da forma mais objetiva possível sem retornos e sem esforços para com-
preender o que foi dito. Pode-se falar numa comunicabilidade de código e de discurso.

Situacionalidade

A situacionalidade que tem função de adequar um texto a uma situação, ao contexto. Recebe-se que
uma situação define e conduz o sentido do discurso, na produção quanto na sua interpretação, por
isso que as vezes mesmo um texto com baixa coesão, e pouco claro pode funcionar melhor em uma
situação do que outro que seja mas completo.

Uma característica da situacionalidade é que o texto vai ser diretamente interferido na situação, da
mesma forma este terá reflexo sobre toda situação, pois o texto não é um simples reflexo do mundo
real. o homem deve ser apenas um mediador, com suas próprias ideais e crenças recriando a
situação,dessa forma uma situação nunca será descrita da mesma forma por duas pessoas, sempre
terá diferença.

Considerado como outro fator responsável pela coerência textual a situacionalidade, pode ser encon-
trado em duas situações:

A) Da Situação Para O Texto

No primeiro caso ao construir um texto é importante observar o que é adequado para aquela situa-
ção, a exemplo: formalidade, variedade dialetal, ou seja, o dialeto ou linguagem daquela localidade
ou região, então trata-se de determinar em que medida a situação comunicativa interfere na produção
e recepção do texto. Deve ser então restrita a comunicação para que haja o melhor entendimento do
interlocutor.

B) Do Texto Para A Situação

Já no segundo caso o texto também apresenta reflexos importantes sobre a situação comunicativa;
sendo que dessa vez será do texto para a situação.

Jamais o mundo real será idêntico ao mundo textual, o produtor cria o mundo de acordo com seus
pontos de vistas, seus objetivos, propósitos, etc., portanto o texto não é uma cópia fiel do mundo real,
mas sim o mundo tal como ele é visto pelo produtor. Por isso que quando pessoas descrevem o
mesmo fato nunca sai com depoimentos iguais.

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ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

A Situacionalidade Pode Ser Considerada Em Duas Direções:

Da situação para o texto; refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para uma
situação comunicativa podendo ou não ser construída.

Trata-se, de determinar em que medida a situação comunicativa, tanto o contexto imediato da intera-
ção, ou seja o entorno sócio-político-cultural em que a interação está inserida na produção do texto,
determinando assim os termos a serem escolhidos na construção do texto como por exemplo, grau
de formalidade, regras de polidez, variedade, linguística e o tratamento a ser dado ao tema.

Do texto para a situação: o mundo textual não é idêntico ao mundo real, por isso ao construir um
texto, o produtor reconstrói o mundo de acordo com suas experiências, seus objetivos e propósitos,
demonstrando sua maneira de ver o mundo. O interlocutor interpreta o texto de acordo com seus pro-
pósitos e perspectivas, por isso há sempre uma intermediação entre o mundo real e o mundo intertex-
tual.

Comunicabilidade

A comunicabilidade é a qualidade da comunicação otimizada, na qual a mensagem devia ser transmi-


tida com clareza, integralidade, rapidez e economia, podendo ser oral ou escrita. A rapidez supõe que
se é transmitida pela via, mas curta, a economia presume que não são necessários retornos, esforços
para decifrar e compreender, clareza é a eficiência e pureza que a mensagem é transmitida, integrali-
dade supõe que não há ruídos supressivos deformantes ou concorrentes.

Acessibilidade

Comunicação escrita que visualiza a passagem e melhor acesso de informações, se utilizando do au-
xílio de medidas como:

Segmentação textual: Na segmentação textual temos como objetivo dar ordem ao texto para que dele
possa ser naturalmente extraído as informações, passando melhor acessibilidade. Algumas dessas
ferramentas usadas para que haja a segmentação é a pontuação, assim como a:

- Pontuação sintagmática, que inclui o ponto, dois pontos, ponto e vírgula, vírgula, buscando separar
ou agrupar conteúdos de acordo com as informações contidas no texto. Essas pontuações vão orga-
nizar o texto em unidades, podendo-se também acrescentar o parágrafo como um sinal sintagmático.

- Pontuação polifônica: inclui sinais como as aspas, os travessões e os parênteses. Podem também
assumir essa mesma função de construção de unidades textuais:

Se os parênteses e os travessões permitem fazer ouvir “outras vozes”, essas vozes são muitas vezes
comentários ou pontos de vista do produtor do texto, textualmente organizadas como subunidades e
dotadas de valores argumentativos geralmente específicos, como valores de explicação ou justifica-
ção, de exemplificação ou de particularização. Em conclusão, podemos assumir que a pontuação as-
sume claramente uma função de organização textual.

-Unidade temática das partes:

Temática é o assunto central sobre qual é tratado o texto.

O propósito é manter o tema e torna-lo mais explícito sem que haja uma fuga da ideia.

Audibilidade

Como também na pronunciabilidade que é realizada por meio da elocução a audibilidade também de-
pende da mesma orientada a audição. Este tipo de comunicabilidade é utilizada pelo rádio.

Legibilidade

A legibilidade é a qualidade da comunicação escrita destinada a leitura, para que a legibilidade faça
sentido é necessário que a escrita esteja coreta e no caso da escrita a mão com letras legíveis, essa
comunicação é comum nas editoras de jornais e revistas.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 22
MORFOSSINTAXE

Morfossintaxe

A palavra pode ser classificada isoladamente, analisando apenas sua classe gramatical, ou pode ser
estudada a partir da função que estabelece dentro da oração. Se o objeto de estudo é a palavra, tem-
se a análise morfológica. Entretanto, se a busca é por sua função na oração, surge a análise sintá-
tica.

Quando a análise ocorre no âmbito da palavra e da frase, ou seja, quando o estudo envolve classe
gramatical e função sintática, as dúvidas são muitas quando essa análise é exigida. Em geral, ela não
é solicitada explicitamente. Entretanto, sempre que a função sintática é pedida, é importante pensar a
que classe gramatical a palavra pertence. Fazendo isso, ficará mais fácil definir sua função.

Embora a língua portuguesa não seja uma ciência exata, no caso da morfossintaxe é possível pen-
sar de forma mais objetiva, pois as funções sintáticas são definidas previamente. Por exemplo, o ad-
jetivo é um caracterizador, portanto, ou estará ao lado do nome, ou se relacionando com ele. Então, a
única função sintática dessa classe gramatical será a de adjunto adnominal. Por isso, é melhor que a
análise morfológica preceda à sintática.

Se a análise é morfológica, qual é o objeto de estudo? A palavra. Então, por alguns minutos, imagine
que a frase não exista, somente a palavra. “Corte-a” e indique sua classe gramatical. Coloque em
prática todo seu conhecimento. “Dialogue” com cada palavra. Pense em que classe gramatical ela se
enquadra. Se as dúvidas nos conceitos de substantivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio,
preposição, adjetivo, conjunção e interjeição aparecerem, é importante voltar e revisar.

Façamos a análise morfológica do enunciado abaixo, lembre-se de que o objeto de estudo é a pala-
vra:

A prova estava muito complicada.

A: Artigo

Prova: Substantivo

Estava: Verbo

Muito: Advérbio

Complicada: Adjetivo

Após classificarmos as classes gramaticais, passaremos a analisar a função sintática de cada


termo. Volte à classificação das palavras e defina sua função dentro da oração. Vejamos a seguir
exemplos de perguntas que auxiliam na hora de definir a função sintática dos termos na oração.

Qual é a função do artigo? Acompanhar o substantivo, não é? Sintaticamente, quem tem a função de
vir junto ao nome? Adjunto adnominal. Portanto, toda classe gramatical cuja função é a de acompa-
nhar o nome (numeral, pronome adjetivo, artigo) exercerá função sintática de adjunto adnominal.

E o substantivo? Que função pode exercer? Vamos recordar? Núcleo do sujeito, do objeto indireto, do
objeto direto, do predicativo, do agente da passiva, do complemento nominal e do aposto. Podendo
exercer ainda as funções de adjunto adnominal e adjunto adverbial, quando compõe locuções adjeti-
vas ou adverbiais. Qual o único termo do enunciado que estamos analisando que poderá exercer a
função de núcleo do sujeito? Prova, não é? Por quê? Porque é um substantivo.

Que função sintática terá o verbo? Se for significativo (intransitivo, transitivo direto, indireto ou direto e
indireto) terá a função de núcleo, ou seja, parte mais importante do predicado verbal ou verbo-nomi-
nal. Se a função dele for de ligar o sujeito ao seu predicativo, terá a função de verbo de ligação. O
verbo do enunciado que estamos analisando recebe esta classificação.

Há algum advérbio? Qual é a única função sintática exercida por essa classe gramatical? Núcleo do
adjunto adverbial. Então, no exemplo, a palavra muito (classificação: advérbio de intensidade – fun-
ção sintática: adjunto adverbial)

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MORFOSSINTAXE

O adjetivo também aparece no exemplo. Que função sintática será exercida por ele? É importante re-
cordar que o adjetivo pode ser núcleo do adjunto adnominal e do predicativo do sujeito. Para definir a
função do adjetivo, a pergunta que deve ser feita é: onde o adjetivo está posicionado, ao lado de um
nome, no sintagma nominal, ou no sintagma verbal? Se acompanhar um nome, sua função será de
adjunto adnominal. Se estiver no sintagma verbal caracterizando o sujeito, como é o caso do adjetivo
complicada, será um predicativo do sujeito, pois estará caracterizando-o.

Agora, ficou fácil classificar o sujeito e o predicado do exemplo, não é mesmo? Se o sujeito está ex-
plícito e só possui um núcleo, será sujeito simples. Se o predicado é constituído de verbo de ligação,
só poderá ser predicado nominal.

É possível perceber que, embora para facilitar o estudo haja uma divisão entre morfologia e sintaxe,
forma e função são inseparáveis. Por isso a morfossintaxe é tão importante.

Ao nos depararmos com ambas (Morfologia e Sintaxe), sabemos que se relacionam às subdivisões
conferidas pela gramática, e mais: que uma corresponde às classes gramaticais e a outra se refere
às distintas posições ocupadas por uma mesma palavra em se tratando de um dado contexto linguís-
tico.

Munidos de tal concepção, as elucidações descritas a seguir, certamente tornarão perfeitamente


compreensíveis, face ao prévio conhecimento das referidas modalidades. Sendo assim, a morfossin-
taxe está condicionada ao fato de um substantivo, numeral, artigo, dentre outros, desempenharem
diferentes funções quando dispostas em uma oração.

Visando à plena efetivação de nossos conhecimentos acerca deste assunto, ora concebível como
sendo de extrema relevância, ater-nos-emos a alguns casos em que esta ocorrência se materializa.
Analisemos:

As flores são um belo presente.

Toda mulher aprecia ganhar flores.

Gostamos muito do perfume das flores.

Patrícia gosta muito de flores.

Nem tudo são flores.

Flores, por que sois tão belas?

Defrontamo-nos com um típico exemplo em que um mesmo termo é visto sob diferentes ângulos, po-
dendo ser assim analisados:

1º enunciado – sujeito simples

2º - objeto direto, pois completa o sentido de um verbo transitivo direto.

3º - complemento nominal, haja vista que completa o sentido de um substantivo (perfume).

4º - objeto indireto, uma vez que completa o sentido de um verbo transitivo indireto.

5º - predicativo do sujeito, pois além de revelar uma característica a que o sujeito se refere, ainda se
liga a este por intermédio de um verbo de ligação, configurando um caso de predicado nominal.

6º - vocativo, pois invoca um chamamento.

A morfossintaxe compreende uma análise feita às orações a partir de termos sintáticos e morfológi-
cos. Sendo assim, a morfossintaxe compreenderá uma análise completa, abrangendo tanto a análise
sintática, como também morfológica.

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MORFOSSINTAXE

Por meio disso, é importante ressaltar e relembrar o que é uma análise sintática e uma análise morfo-
lógica. Elas serão fundamentais, uma vez que abrangem a morfossintaxe.

Sendo assim, temos que:

Análise morfológica: realiza a análise individual dos elementos componentes da ligação. A mesma
independe da ligação entre as palavras que compõem a oração;

Análise sintática: faz uma análise mais abrangente, compreendendo a relação das palavras dentro de
uma oração. Por meio disso, a função da análise sintática é entender a função que os elementos inte-
grantes da oração desempenham entre si;

Morfossintaxe: como fazer a análise conjunta

Como ressaltado anteriormente, para fazer a análise segundo a morfossintaxe de uma oração, é ne-
cessário combinar ambas as análises anteriormente apresentadas. A formação e o destrinchar da
oração se dará em duas etapas:

I) Com a análise morfológica;

II) Com a análise sintática;

Serão as duas as responsáveis por cobrir a morfossintaxe, a fim de entender a formação da oração.
Sendo assim, seja por meio da representação de cada palavra, ou do sentido da frase como um todo,
será possível entender o contexto e sentido.

Análise Morfológica

A análise morfológica tem como função a análise individual das classes de palavras. Entre elas, estão
o substantivo, o artigo, o adjetivo, o numeral, o pronome, o verbo, advérbio, preposição, conjunção e
interjeição.

Temos o exemplo, então:

Utilizamos a luz sem desperdício.

Utilizamos: 1ª pessoa do plural do verbo utilizar, com conjugação no presente do indicativo, da voz
ativa;

a: artigo definido;

luz: substantivo comum;

sem: preposição;

desperdício: substantivo do tipo abstrato;

Análise Sintática

Por outro lado, a análise sintática abrange a função de verificar a ligação dos termos que integram a
oração, a fim de compreender o contexto. Estão entre eles: complemento verbal e nominal, agente da
passiva, adjunto adverbial e adnominal e, por fim, o aposto.

A fim de compreender melhor o funcionamento, usaremos o mesmo exemplo anterior:

Utilizamos a luz sem desperdício.

(Nós) – há sujeito oculto;

Utilizamos: verbo transitivo direto e indireto;

a água: objetivo direto, com “água” sendo o núcleo do objeto direto;

sem desperdício: adjunto adverbial;

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MORFOSSINTAXE

Morfossintaxe

Por meio disso, teremos a morfossintaxe a simples combinação das análises. Ao cobrir tanto a aná-
lise individual, como o sentido do contexto, temos a análise morfossintaxe.

A morfossintaxe é a parte da gramática que estuda e analisa as palavras simultaneamente segundo


uma perspectiva morfológica e uma perspectiva sintática.

A análise morfológica das palavras preconiza a classificação isolada das palavras em diferentes
classes gramaticais.
A análise sintática das palavras preconiza a classificação da função que as palavras desempenham
inseridas numa oração.

Sendo a morfossintaxe a compreensão simultânea dessas duas perspectivas, a análise morfossin-


tática estuda, por exemplo, a função que um substantivo pode desempenhar numa oração, ou que
funções gramaticais podem desempenhar um pronome.

Análise morfológica

Tendo como base uma análise morfológica, as palavras podem ser classificadas em:

substantivo;

artigo;

adjetivo;

pronome;

numeral;

verbo;

advérbio;

preposição;

conjunção;

interjeição.

Exemplo de análise morfológica

Ontem, a Ana comprou um livro novo.

ontem: advérbio
a: artigo definido
Ana: substantivo próprio

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MORFOSSINTAXE

comprou: verbo comprar


um: artigo indefinido
livro: substantivo comum
novo: adjetivo

Análise sintática

Tendo como base uma análise sintática, os termos de uma oração podem ser classificados em:

sujeito;

predicado;

objeto direto;

objeto indireto;

predicativo do sujeito;

predicativo do objeto;

complemento nominal;

agente da passiva;

adjunto adnominal;

adjunto adverbial;

aposto.

Exemplo de análise sintática

A Ana comprou um livro novo.

sujeito: A Ana
predicado: comprou um livro novo
objeto direto: um livro novo
adjunto adverbial: ontem
adjunto adnominal: a, um, novo

Análise morfossintática

Através da análise morfossintática, ou seja, através da análise simultânea desses dois tipos de classi-
ficação, é possível compreender quais as funções que uma determinada classe gramatical pode de-
sempenhar numa oração.

Relação entre funções sintáticas e classes gramaticais

Sujeito: Pode ser representado por substantivos, pronomes pessoais retos, pronomes demonstrati-
vos, pronomes relativos, pronomes interrogativos, pronomes indefinidos e numerais.

Predicado: Pode ter como núcleo um verbo ou um nome.

Objeto direto: É representado principalmente por substantivos, pronomes substantivos e pronomes


oblíquos átonos.

Objeto indireto: É representado principalmente por substantivos e pronomes pessoais oblíquos.

Predicativo do sujeito: Pode ser desempenhado por adjetivos, locuções adjetivas, substantivos, pro-
nomes e numerais.

Predicativo do objeto: Pode ser desempenhado por adjetivo, locuções adjetivas e substantivos.

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MORFOSSINTAXE

Agente da passiva: Pode ser representado por substantivos e pronomes.

Complemento nominal: Pode ser representado por substantivos, pronomes e numerais.

Adjunto adnominal: Pode ser representado adjetivos, locuções adjetivas, pronomes adjetivos, nume-
rais adjetivos e artigos.

Adjunto adverbial: Pode ser desempenhado por advérbios e locuções adverbiais.

Análise morfológica – como fazer

Trata-se de uma análise individual, fazendo a definição das palavras de acordo com as seguintes
classes:

Substantivo;

Artigo;

Adjetivo;

Numeral;

Pronome;

Verbo;

Advérbio;

Preposição;

Conjunção;

Interjeição.

Vejamos dois exemplos de análise morfológica:

Exemplo 1:

Oração: Utilizamos a água sem desperdício.

Utilizamos = primeira pessoa do plural do verbo utilizar (nós), sendo conjugado no presente do indica-
tivo e possuindo voz ativa

a = artigo definido

água = substantivo comum

sem = preposição essencial

Desperdício = substantivo abstrato

Exemplo 2:

Oração: Ontem, a Bruna comprou um caderno novo.

Ontem = advérbio

a = artigo definido

Bruna = substantivo próprio

Comprou = verbo comprar

Um = artigo indefinido

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MORFOSSINTAXE

Caderno = substantivo comum

Novo = adjetivo

Conforme é possível observar, essa análise classifica as palavras de maneira objetiva e individual,
sem considerar qualquer tipo de relação entre elas.

Análise sintática – como fazer

Já com relação à análise sintática, é apontada a função e relação existente entre os termos da ora-
ção, fazendo uma análise um pouco mais complexa que a análise morfológica. Essa classificação
consiste em apontar:

Sujeito;

Predicado;

Complemento verbal;

Complemento nominal;

Agente da passiva;

Adjunto adnominal;

Adjunto adverbial;

Aposto.

Vejamos dois exemplos de análise sintática:

Exemplo 1:

Oração: Utilizamos a água sem desperdício.

Nós = sujeito oculto (expresso na conjugação do verbo utilizar – nós utilizamos)

Utilizamos = verbo transitivo direto

a água = objeto direto (água é o núcleo do objeto)

sem desperdício = adjunto adverbial

Exemplo 2:

Oração: A Bruna comprou um caderno novo.

A Bruna = sujeito

Comprou um caderno novo = predicado

Um caderno novo = objeto direto

Ontem = adjunto adverbial

A, um, novo = adjunto adnominal

Exercícios sobre morfossintaxe

1 – Aponte qual a alternativa correta com relação à análise sintática da frase:

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MORFOSSINTAXE

Lúcia e Marcelo estão cansados.

A – cansados é adjetivo e objeto direto.

B – cansados é adjetivo e predicativo do sujeito.

C – cansados é advérbio e predicativo do sujeito.

Resposta correta: B – cansados é adjetivo e predicativo do sujeito.

2 – Faça a análise de morfossintaxe (morfológica e sintática) com relação à frase:

Cozinha como ninguém!

Resposta

Análise morfológica Análise sintática

Sujeito oculto = ele, ela (classificado de acordo com a


Cozinha = terceira pessoa do verbo cozinhar,
conjugação do verbo cozinhar – ele cozinha, ela cozi-
conjugado no presente do indicativo, voz ativa
nha)

Como = conjunção Cozinha = verbo transitivo direto

Como ninguém = objeto direto. Ninguém é o núcleo


Ninguém = pronome indefinido
do objeto.

3 – Faça a análise de morfossintaxe da frase abaixo:

As meninas estavam preocupadas.

Resposta

Análise morfológica

As = artigo definido

Meninas = substantivo

Estavam = verbo estar

Preocupadas = adjetivo

Análise sintática

As meninas = sujeito simples

Estavam preocupadas = predicado nominal

Preocupadas = predicativo do sujeito

No caso de pessoas que estão estudando para provas mais específicas como Enem, vestibulares e
concursos ou simplesmente desejam saber mais sobre esta matéria, é recomendado realizar listas de
exercícios especificamente sobre morfossintática e consultar os melhores livros da área.

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CLASSES GRAMATICAS

Classes Gramaticais

Classes gramaticas: Substantivo, Gênero (masculino e f eminino), Número (singular e plural) e Grau
(diminutivo e aumetativo).

Segundo um estudo morf ológico da língua portuguesa, as palavras podem ser analisadas e cataloga-
das em dez classes de palavras ou classes gramaticais distintas, sendo elas: substantivo, artigo,
adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição.

Substantivo

Substantivos são palavras que nomeiam seres, lugares, qualidades, sentiment os, noções, entre ou-
tros. Podem ser f lexionados em gênero (masculino e f eminino), número (singular e plural) e grau (di-
minutivo, normal, aumentativo). Exercem sempre a f unção de núcleo das f unções sintáticas onde es-
tão inseridos (sujeito, objeto direto, ob jeto indireto e agente da passiva).

Substantivos simples

casa;

amor;

roupa;

livro;

f elicidade.

Substantivos compostos

passatempo;

arco-íris;

beija-f lor;

segunda-f eira;

malmequer.

Substantivos primitivos

f olha;

chuva;

algodão;

pedra;

quilo.

Substantivos derivados

território;

chuvada;

jardinagem;

açucareiro;

livraria.

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CLASSES GRAMATICAS

Substantivos próprios

Flávia;

Brasil;

Carnaval;

Nilo;

Serra da Mantiqueira.

Substantivos comuns

mãe;

computador;

papagaio;

uva;

planeta.

Substantivos coletivos

rebanho;

cardume;

pomar;

arquipélago;

constelação.

Substantivos concretos

mesa;

cachorro;

samambaia;

chuva;

Felipe.

Substantivos abstratos

beleza;

pobreza;

crescimento;

amor;

calor.

Substantivos comuns de dois gêneros

o estudante / a estudante;

o jovem / a jovem;

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CLASSES GRAMATICAS

o artista / a artista.

Substantivos sobrecomuns

a vítima;

a pessoa;

a criança;

o gênio;

o indivíduo.

Substantivos epicenos

a f ormiga;

o crocodilo;

a mosca;

a baleia;

o besouro.

Substantivos de dois números

o lápis / os lápis;

o tórax / os tórax;

a práxis / as práxis.

Gênero

Quanto ao gênero, os substantivos podem ser classif icados em: masculinos e f emininos. Temos por
regra que todo substantivo masculino é caracterizado pela desinência “o” e o f eminino pela desinên-
cia “a”. No entanto, nem todos os substantivos masculinos terminam em “o” (líder, telef onema, amor).
Então, podemos def inir o substantivo como do gênero masculino se vier anteposto pelo artigo “o”: o
gato, o homem, o amor, o líder, o telef onema.

O gênero f eminino irá seguir o mesmo raciocínio. São substantivos f emininos as palavras que tem an-
teposição do artigo “a”: a gata, a mulher, a pessoa, a criança.

Há, contudo, uma distinção a ser f eita entre: substantivos bif ormes e unif ormes. Substantivos bifor-
mes são os que apresentam uma f orma para o masculino e outra para o f eminino: menino, menina.
Já os substantivos unif ormes apresentam uma única f orma para o masculino e para o f eminino: cri-
ança, artista, testemunha.

No entanto, é por intermédio do artigo que classif icamos se o substantivo de dois gêneros é mascu-
lino ou f eminino. Veja:

o estudante (masculino)
a estudante (f eminino)

Além disso, é através do artigo que podemos def inir o signif icado do substantivo. Observe:

o cabeça (líder)
a cabeça (parte do corpo)

Número

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CLASSES GRAMATICAS

Quanto ao número, os substantivos podem ser f lexionados em: singular ou plural. O indicativo de um
substantivo no plural é a terminação “s”:

Exemplos: o colega > os colegas


a menina > as meninas

Porém, há algumas particularidades no que diz respeito ao plural dos substantivos. Vejamos algu-
mas:

No geral, os substantivos terminados em al, el, ol, ul, troca-se o “l” por “is”:
Exemplos: jornal > jornais
papel > papéis
barril > barris
anzol > anzóis
azul > azuis

Os substantivos terminados em “r” e “z” são acrescidos de “es” para o plural:


Exemplos: amor > amores
luz > luzes

Caso o substantivo terminado em “s” f or paroxítono, o plural será invariável. Caso seja oxítono, acres-
centa-se “es”:
Exemplos: ônibus > ônibus
país > países

Os substantivos terminados em “n” f ormam o plural em “es” ou “s”:


Exemplos: abdômen > abdômens
pólen > polens

Os substantivos terminados em “m” f ormam o plural em “ens”:


Exemplos: homem > homens
viagem > viagens

Os substantivos terminados em “x” são invariáveis no plural:


Exemplos: tórax > tórax
xérox > xérox

Os substantivos terminados em “ão” têm três variações para o plural: “ões”, “ães” e “ãos”:
Exemplos: eleição > eleições
pão > pães
cidadão > cidadãos

Grau

Os substantivos podem variar quanto ao seu grau. Deste modo, eles podem apresentar-se com seu
sentido diminuído ou aumentado.

No PALAVRAS DIMINUTIVOS AUMENTATIVOS

1 f aca f aquinha f acão ou f acalhão

2 rapaz rapazinho ou rapazote rapagão

3 bigode bigodinho ou bigodito bigodão ou bigodaça

4 chapéu chapeuzinho chapelão

5 porta portinha portão

6 sala salinha, salita, saleta salão

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CLASSES GRAMATICAS

7 gato gatinho gatão ou gatarrão

8 bala balinha balázio

9 papel papelinho papelão

10 cão cãozinho ou canito canzarrão

Há duas maneiras de f ormar o aumentativo e o aumentativo: sinteticamente e analiticamente.

Sinteticamente

Os graus aumentativo e diminutivo são f ormados a partir do acréscimo de um suf ixo ao grau normal
do substantivo.

Exs:

sala – salinha (diminutivo)

caderno – caderninho (diminutivo)

homem – homenzinho (diminutivo)

caneca – canecão (aumentativo)

dedo – dedão (aumentativo)

Os suf ixos aumentativos mais comuns do português são estes:

aça – caraça

aço – calhamaço

alha – muralha

ão – f ormigão, copão, cachorrão, pernão, dedão.

uça - dentuça

Os suf ixos diminutivos mais f requentes no português são:

acho – riacho

ebre – casebre

eco – padreco

ejo – vilarejo

-eto, -eta – maleta

inho – menininho

inha – menininha

-zinho, -zinha – irmãzinha

isco - chuvisco

Analiticamente

Os graus aumentativo e diminutivo são f ormados a partir do acréscimo de uma palavra com sentido
de aumento (grande) ou de diminuição (pequeno).

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CLASSES GRAMATICAS

Exs.:

sala pequena

caderno pequeno

caneca grande

dedo grande

Observação: Nem sempre o grau diminutivo é utilizado para indicar tamanho f ísico, muitas vezes ele
é utilizado para expressar desprezo e crítica em relação objetos ou pessoas.

Exs.:

Esse livreco não vale nada.

João é um padreco!

Povinho estranho.

Por outro lado, algumas palavras utilizadas no grau diminutivo também podem indicar carinho.

Exs.:

Minha maninha é um amor.

Minha mãezinha linda!

Camila é tão lindinha!

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Estrutura da Oração e do Periodo

Período

Período é a frase constituída de uma ou mais orações, formando um todo, com sentido completo. O
período pode ser simples ou composto.

Período Simples: é aquele constituído por apenas uma oração, que recebe o nome de oração
absoluta.

Exemplos:

O amor é eterno.
As plantas necessitam de cuidados especiais.
Quero aquelas rosas.
O tempo é o melhor remédio.

Período Composto: é aquele constituído por duas ou mais orações.

Exemplos:

Quando você partiu minha vida ficou sem alegrias.


Quero aquelas flores para presentear minha mãe.
Vou gritar para todos ouvirem que estou sabendo o que acontece ao anoitecer.
Cheguei, jantei e fui dormir.

Saiba que:

Como toda oração está centrada num verbo ou numa locução verbal, a maneira prática de saber
quantas orações existem num período é contar os verbos ou locuções verbais.

Objetivos da Análise Sintática

A análise sintática tem como objetivo examinar a estrutura de um período e das orações que
compõem um período.

Estrutura de um Período

Observe:

Ao analisarmos a estrutura do período acima, é possível identificar duas orações: Conhecemos mais
pessoas e quando estamos viajando.

Termos da Oração

No período "Conhecemos mais pessoas quando estamos viajando", existem seis palavras. Cada uma
delas exerce uma determinada função nas orações. Em análise sintática, cada palavra da oração é
chamada de termoda oração. Termo é a palavra considerada de acordo com a função sintática que
exerce na oração.

Segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira, os termos da oração podem ser:

1) Essenciais

Também conhecidos como termos "fundamentais", são representados pelo sujeito e predicado nas
orações.

2) Integrantes

Completam o sentido dos verbos e dos nomes, são representados por:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

complemento verbal - objeto direto e indireto;


complemento nominal;
agente da passiva.

3) Acessórios

Desempenham função secundária (especificam o substantivo ou expressam circunstância). São


representados por:

adjunto adnominal;
adjunto adverbial;
aposto.

Obs.:

O vocativo, em análise sintática, é um termo à parte: não pertence à estrutura da oração.

2- Termos Essenciais da Oração

Sujeito e Predicado

Para que a oração tenha significado, são necessários alguns termos básicos: os termos essenciais. A
oração possui dois termos essenciais, o sujeito e o predicado.

Sujeito: termo sobre o qual o restante da oração diz algo.

Por Exemplo:

As praias estão cada vez mais poluídas.

Sujeito

Predicado: termo que contém o verbo e informa algo sobre o sujeito.

Por Exemplo:

As praias estão cada vez mais poluídas.

Predicado

Posição do Sujeito na Oração

Dependendo da posição de seus termos, a oração pode estar:

Na Ordem Direta: o sujeito aparece antes do predicado.

Por Exemplo:

As crianças brincavam despreocupadas.

Sujeito Predicado

Na Ordem Inversa: o sujeito aparece depois do predicado.

Brincavam despreocupadas as crianças.

Predicado Sujeito

Sujeito no Meio do Predicado:

Despreocupadas, as crianças brincavam.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Predicado Sujeito Predicado

Classificação do Sujeito

O sujeito das orações da língua portuguesa pode ser determinado ou indeterminado. Existem ainda
as orações sem sujeito.

1 - Sujeito Determinado: é aquele que se pode identificar com precisão a partir da concordância
verbal. Pode ser:

a) Simples

Apresenta apenas um núcleo ligado diretamente ao verbo.

Por Exemplo:

A rua estava deserta.

Observação: não se deve confundir sujeito simples com a noção de singular. Diz-se que o sujeito é
simples quando o verbo da oração se refere a apenas um elemento, seja ele um substantivo (singular
ou plural), um pronome, um numeral ou uma oração subjetiva.

Por Exemplo:

Os meninos estão gripados.


Todos cantaram durante o passeio.

b) Composto

Apresenta dois ou mais núcleos ligados diretamente ao verbo.

Tênis e natação são ótimos exercícios físicos.

c) Implícito

Ocorre quando o sujeito não está explicitamente representado na oração, mas pode ser identificado.

Por Exemplo:

Dispensamos todos os funcionários.

Nessa oração, o sujeito é implícito e determinado, pois está indicado pela desinência verbal -mos.

Observação: o sujeito implícito também é chamado de sujeito elíptico, subentendido ou desinencial.


Antigamente era denominado sujeito oculto.

2 - Sujeito Indeterminado: é aquele que, embora existindo, não se pode determinar nem pelo
contexto, nem pela terminação do verbo. Na língua portuguesa, há três maneiras diferentes de
indeterminar o sujeito de uma oração:

a) Com verbo na 3ª pessoa do plural:

O verbo é colocado na terceira pessoa do plural, sem que se refira a nenhum termo identificado
anteriormente (nem em outra oração):

Por Exemplo:

Procuraram você por todos os lugares.


Estão pedindo seu documento na entrada da festa.

b) Com verbo ativo na 3ª pessoa do singular, seguido do pronome se:

O verbo vem acompanhado do pronome se, que atua como índice de indeterminação do sujeito. Essa

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

construção ocorre com verbos que não apresentam complemento direto (verbos intransitivos,
transitivos indiretos e de ligação). O verbo obrigatoriamente fica na terceira pessoa do singular.

Exemplos:

Vive-se melhor no campo. (Verbo Intransitivo)


Precisa-se de técnicos em informática. (Verbo Transitivo Indireto)
No casamento, sempre se fica nervoso. (Verbo de Ligação)

Entendendo a Partícula Se

As construções em que ocorre a partícula se podem apresentar algumas dificuldades quanto à


classificação do sujeito.

Veja:

a) Aprovou-se o novo candidato.

Sujeito

Aprovaram-se os novos candidatos.

Sujeito

b) Precisa-se de professor. (Sujeito Indeterminado)

Precisa-se de professores. (Sujeito Indeterminado)

No caso a, o se é uma partícula apassivadora e o verbo está na voz passiva sintética, concordando
com o sujeito. Observe a transformação das frases para a voz passiva analítica:

O novo candidato foi aprovado.

Sujeito

Os novos candidatos foram aprovados.

Sujeito

No caso b, se é índice de indeterminação do sujeito e o verbo está na voz ativa. Nessas construções,
o sujeito é indeterminado e o verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular.

c) Com o verbo no infinitivo impessoal:

Por Exemplo:

Era penoso estudar todo aquele conteúdo.


É triste assistir a estas cenas tão trágicas.

Obs.: quando o verbo está na 3ª pessoa do plural, fazendo referência a elementos explícitos em
orações anteriores ou posteriores, o sujeito é determinado.

Por Exemplo:

Felipe e Marcos foram à feira. Compraram muitas verduras.

Nesse caso, o sujeito de compraram é eles (Felipe e Marcos). Ocorre sujeito oculto.

3 - Oração Sem Sujeito: é formada apenas pelo predicado e articula-se a partir de um verbo
impessoal. Observe a estrutura destas orações:

Sujeito Predicado

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

- Havia formigas na casa.

- Nevou muito este ano em Nova Iorque.

É possível constatar que essas orações não têm sujeito. Constituem a enunciação pura e absoluta
de um fato, através do predicado. O conteúdo verbal não é atribuído a nenhum ser, a mensagem
centra-se no processo verbal. Os casos mais comuns de orações sem sujeito da língua portuguesa
ocorrem com:

a) Verbos que exprimem fenômenos da natureza:

Nevar, chover, ventar, gear, trovejar, relampejar, amanhecer, anoitecer, etc.

Por Exemplo:

Choveu muito no inverno passado.


Amanheceu antes do horário previsto.

Observação: quando usados na forma figurada, esses verbos podem ter sujeito determinado.

Por Exemplo:

Choviam crianças na distribuição de brindes. (crianças=sujeito)


Já amanheci cansado. (eu=sujeito)

b) Verbos ser, estar, fazer e haver, quando usados para indicar uma ideia de tempo ou fenômenos
meteorológicos:

Ser:

É noite. (Período do dia)


Eram duas horas da manhã. (Hora)

Obs.: ao indicar tempo, o verbo ser varia de acordo com a expressão numérica que o acompanha.
(É uma hora/ São nove horas)

Hoje é (ou são) 15 de março. (Data)

Obs.: ao indicar data, o verbo ser poderá ficar no singular, subentendendo-se a palavra dia, ou então
irá para o plural, concordando com o número de dias.

Estar:

Está tarde. (Tempo)


Está muito quente.(Temperatura)

Fazer:

Faz dois anos que não vejo meu pai. (Tempo decorrido)
Fez 39° C ontem. (Temperatura)

Haver:

Não a vejo há anos. (Tempo decorrido)


Havia muitos alunos naquela aula. (Verbo Haver significando existir)

Atenção:

Com exceção do verbo ser, os verbos impessoais devem ser usados SEMPRE NA TERCEIRA
PESSOA DO SINGULAR. Devemos ter cuidado com os verbos fazer e haver usados
impessoalmente: não é possível usá-los no plural.

Por Exemplo:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Faz muitos anos que nos conhecemos.


Deve fazer dias quentes na Bahia.

Veja outros exemplos:

Há muitas pessoas interessadas na reunião.


Houve muitas pessoas interessadas na reunião.
Havia muitas pessoas interessadas na reunião.
Haverá muitas pessoas interessadas na reunião.
Deve ter havido muitas pessoas interessadas na reunião.
Pode ter havido muitas pessoas interessadas na reunião.

Predicado

Predicado é aquilo que se declara a respeito do sujeito. Nele é obrigatória a presença de um verbo
ou locução verbal. Quando se identifica o sujeito de uma oração, identifica-se também o predicado.
Em termos, tudo o que difere do sujeito (e do vocativo, quando ocorrer) numa oração é o seu
predicado. Veja alguns exemplos:

As mulheres compraram roupas novas.

Predicado

Durante o ano, muitos alunos desistem do curso.

Predicado Predicado

A natureza é bela.

Predicado

Os Verbos no Predicado

Em todo predicado existe necessariamente um verbo ou uma locução verbal. Para analisar a
importância do verbo no predicado, devemos considerar dois grupos distintos: os verbos nocionais e
os não nocionais.

Os verbos nocionais são os que exprimem processos; em outras palavras, indicam ação,
acontecimento, fenômeno natural, desejo, atividade mental:

Acontecer – considerar – desejar – julgar – pensar – querer – suceder – chover – correr fazer –
nascer – pretender – raciocinar

Esses verbos são sempre núcleos dos predicados em que aparecem.

Os verbos não nocionais exprimem estado; são mais conhecidos como verbos de ligação.

Fazem parte desse grupo, entre outros:

Ser – estar – permanecer – continuar – andar – persistir – virar – ficar – achar-se - acabar – tornar-se
– passar (a)

Os verbos não nocionais sempre fazem parte do predicado, mas não atuam como núcleos.

Para perceber se um verbo é nocional ou não nocional, é necessário considerar o contexto em que é
usado. Assim, na oração:

Ela anda muito rápido.

O verbo andar exprime uma ação, atuando como um verbo nocional. Já na oração:

Ela anda triste.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

O verbo exprime um estado, atuando como verbo não nocional.

Predicação Verbal

Chama-se predicação verbal o resultado da ligação que se estabelece entre o sujeito e o verbo e
entre os verbos e os complementos. Quanto à predicação, os verbos podem
ser intransitivos, transitivos ou de ligação.

1) Verbo Intransitivo

É aquele que traz em si a ideia completa da ação, sem necessitar, portanto, de um outro termo para
completar o seu sentido. Sua ação não transita.

Por Exemplo:

O avião caiu.

O verbo cair é intransitivo, pois encerra um significado completo. Se desejar, o falante pode
acrescentar outras informações, como:

local: O avião caiu sobre as casas da periferia.

modo: O avião caiu lentamente.

tempo: O avião caiu no mês passado.

Essas informações ampliam o significado do verbo, mas não são necessárias para que se
compreenda a informação básica.

2) Verbo Transitivo

É o verbo que vem acompanhado por complemento: quem sente, sente algo; quem revela, revela
algo a alguém. O sentido desse verbo transita, isto é, segue adiante, integrando-se aos
complementos, para adquirir sentido completo. Veja:

S. Simples Predicado

As crianças precisam de carinho.

1 2

1= Verbo Transitivo
2= Complemento Verbal (Objeto)

O verbo transitivo pode ser:

a) Transitivo Direto: é quando o complemento vem ligado ao verbo diretamente, sem preposição
obrigatória.

Por Exemplo:

Nós escutamos nossa música favorita.

1= Verbo Transitivo Direto

b) Transitivo Indireto: é quando o complemento vem ligado ao verbo indiretamente, com preposição
obrigatória.

Por Exemplo:

Eu gosto de sorvete.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

2 = Verbo Transitivo Indireto

de= preposição

c) Transitivo Direto e Indireto: é quando a ação contida no verbo transita para o complemento direta e
indiretamente, ao mesmo tempo.

Por Exemplo:

Ela contou tudo ao namorado.

3= Verbo Transitivo Direto e Indireto

a= preposição

3) Verbo de Ligação

É aquele que, expressando estado, liga características ao sujeito, estabelecendo entre eles (sujeito e
características) certos tipos de relações.

O verbo de ligação pode expressar:

a) estado permanente: ser, viver.

Por Exemplo:

Sandra é alegre.
Sandra vive alegre.

b) estado transitório: estar, andar, achar-se, encontrar-se

Por Exemplo:

Mamãe está bem.


Mamãe encontra-se bem.

c) estado mutatório: ficar, virar, tornar-se, fazer-se

Por Exemplo:

Júlia ficou brava.


Júlia fez-se brava.

d) continuidade de estado: continuar, permanecer

Por Exemplo:

Renato continua mal.


Renato permanece mal.

e) estado aparente: parecer

Por Exemplo:

Marta parece melhor.

Observação: a classificação do verbo quanto à predicação deve ser feita de acordo com o contexto e
não isoladamente. Um mesmo verbo pode aparecer ora como intransitivo, ora como de ligação. Veja:

1 - O jovem anda devagar.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

anda = verbo intransitivo, expressa uma ação.

2 - O jovem anda preocupado.

anda= verbo de ligação, expressa um estado.

Classificação do Predicado

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu núcleo significativo está num nome ou
num verbo. Além disso, devemos considerar se as palavras que formam o predicado referem-se
apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. Veja o exemplo abaixo:

Os animais necessitam de cuidados especiais.

Sujeito Predicado

O predicado, apesar de ser formado por muitas palavras, apresenta apenas uma que se refere ao
sujeito: necessitam. As demais palavras ligam-se direta ou indiretamente ao verbo (necessitar é, no
caso, de algo), que assume, assim, o papel de núcleo significativo do predicado. Já em:

A natureza é bela.

Sujeito Predicado

No exemplo acima, o nome bela se refere, por intermédio do verbo, ao sujeito da oração. O verbo
agora atua como elemento de ligação entre sujeito e a palavra a ele relacionada. O núcleo do
predicado é bela. Veja o próximo exemplo:

O dia amanheceu ensolarado.

Sujeito Predicado

Percebemos que as duas palavras que formam o predicado estão diretamente relacionadas ao
sujeito: amanheceu (verbo significativo) e ensolarado (nome que se refere ao sujeito). O predicado
apresenta, portanto, dois núcleos: amanheceu e ensolarado.

Tomando por base o núcleo do que está sendo declarado, podemos reconhecer três tipos de
predicado: verbal, nominal e verbo-nominal.

Predicado Verbal

Apresenta as seguintes características:

a) Tem um verbo como núcleo;

b) Não possui predicativo do sujeito;

c) Indica ação.

Por exemplo:

Eles revelaram toda a verdade para a filha.

Predicado Verbal

Para ser núcleo do predicado verbal, é necessário que o verbo seja significativo, isto é, que traga
uma ideia de ação. Veja os exemplos abaixo:

O dia clareou. (núcleo do predicado verbal = clareou)

Chove muito nos estados do sul do país. (núcleo do predicado verbal = Chove)

Ocorreu um acidente naquela rua. (núcleo do predicado verbal = Ocorreu)

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

A antiga casa foi demolida. (núcleo do predicado verbal = demolida)

Obs.: no último exemplo há uma locução verbal de voz passiva, o que não impede o verbo demolir de
ser o núcleo do predicado.

Predicado Nominal

Apresenta as seguintes características:

a) Possui um nome (substantivo ou adjetivo) como núcleo;

b) É formado por um verbo de ligação mais o predicativo do sujeito;

c) Indica estado ou qualidade.

Por Exemplo:

Leonardo é competente.
Predicado Nominal

No predicado nominal, o núcleo é sempre um nome, que desempenha a função de predicativo do


sujeito. O predicativo do sujeito é um termo que caracteriza o sujeito, tendo como intermediário
um verbo de ligação. Os exemplos abaixo mostram como esses verbos exprimem diferentes
circunstâncias relativas ao estado do sujeito, ao mesmo tempo que o ligam ao predicativo.Veja:

Ele está triste. (triste = predicativo do sujeito, está = verbo de ligação)

A natureza é bela. (bela = predicativo do sujeito, é = verbo de ligação)

O homem parecia nervoso. (nervoso = predicativo do sujeito, parecia = verbo de ligação)

Nosso herói acabou derrotado. (derrotado = predicativo do sujeito, acabou = verbo de ligação)

Uma simples funcionária virou diretora da empresa. (diretora = predicativo do sujeito, virou = verbo de
ligação)

Predicativo do Sujeito

É o termo que atribui características ao sujeito por meio de um verbo. Todo predicado construído com
verbo de ligação necessita de predicativo do sujeito. Pode ser representado por:

a) Adjetivo ou locução adjetiva:

Por Exemplo:

O seu telefonema foi especial. (especial = adjetivo)


Este bolo está sem sabor. (sem sabor = locução adjetiva)

b) Substantivo ou palavra substantivada:

Por Exemplo:

Esta figura parece um peixe. (peixe = substantivo)


Amar é um eterno recomeçar. (recomeçar = verbo substantivado)

c) Pronome Substantivo:

Por Exemplo:

Meu boletim não é esse. (esse = pronome substantivo)

d) Numeral:

Por Exemplo:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Nós somos dez ao todo. (dez = numeral)

Predicado Verbo-Nominal

Apresenta as seguintes características:

a) Possui dois núcleos: um verbo e um nome;

b) Possui predicativo do sujeito ou do objeto;

c) Indica ação ou atividade do sujeito e uma qualidade.

Por Exemplo:

Os alunos saíram da aula alegres.

Predicado Verbo-Nominal

O predicado é verbo-nominal porque seus núcleos são um verbo (saíram - verbo intransitivo), que
indica uma ação praticada pelo sujeito, e um predicativo do sujeito (alegres), que indica o estado do
sujeito no momento em que se desenvolve o processo verbal. É importante observar que o predicado
dessa oração poderia ser desdobrado em dois outros, um verbal e um nominal. Veja:

Os alunos saíram da aula. Eles estavam alegres.

Estrutura do Predicado Verbo-Nominal

O predicado verbo-nominal pode ser formado de:

1 - Verbo Intransitivo + Predicativo do Sujeito

Por Exemplo:

Joana saiu contente.

Sujeito Verbo Intransitivo Predicativo do Sujeito

2 - Verbo Transitivo + Objeto + Predicativo do Objeto

Por Exemplo:

A despedida deixou a mãe aflita.

Sujeito Verbo Transitivo Objeto Direto Predicativo do Objeto

3 - Verbo Transitivo + Objeto + Predicativo do Sujeito

Por Exemplo:

Os pais observaram emocionados aquela cena.

Sujeito Verbo Transitivo Predicativo do Sujeito Objeto Direto

Saiba que:

Uma maneira de reconhecer o predicativo do objeto numa oração é transformá-la na voz passiva. Na
permutação, o predicativo do objeto passa a ser predicativo do sujeito. Veja:

Voz Ativa:

As mulheres julgam os homens insensíveis.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Sujeito Verbo Significativo Objeto Direto Predicativo do Objeto

Voz Passiva:

Os homens são julgados insensíveis pelas mulheres.

Verbo Significativo Predicativo do Sujeito

O verbo julgar relaciona o complemento (os homens) com o predicativo (insensíveis). Essa relação se
evidencia quando passamos a oração para a voz passiva.

Observação: o predicativo do objeto normalmente se refere ao objeto direto. Ocorre predicativo do


objeto indireto com o verbo chamar. Assim, vem precedido de preposição.

Por Exemplo:

Todos o chamam de irresponsável.


Chamou-lhe ingrato. (Chamou a ele ingrato.)

3 - Termos Integrantes da Oração

Certos verbos ou nomes presentes numa oração não possuem sentido completo em si mesmos. Sua
significação só se completa com a presença de outros termos, chamados integrantes. São eles:

complementos verbais (objeto direto e objeto indireto);

complemento nominal;

agente da passiva.

Complementos Verbais

Completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos. São eles:

1) Objeto Direto

É o termo que completa o sentido do verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o auxílio necessário
da preposição.

Por Exemplo:

Abri os braços ao vê-lo.

Objeto Direto

O objeto direto pode ser constituído:

a) Por um substantivo ou expressão substantivada.

Exemplos:

O agricultor cultiva a terra./ Unimos o útil ao agradável.

b) Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos.

Exemplos:

Espero-o na minha festa. / Ela me ama.

c) Por qualquer pronome substantivo.

Por Exemplo:

O menino que conheci está lá fora.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Atenção:

Em alguns casos, o objeto direto pode vir acompanhado de preposição facultativa. Isso pode ocorrer:

- quando o objeto é um substantivo próprio: Adoremos a Deus.

- quando o objeto é representado por um pronome pessoal oblíquo tônico: Ofenderam a mim, não a
ele.

- quando o objeto é representado por um pronome substantivo indefinido: O diretor elogiou a todos.

- para evitar ambiguidade: Venceu ao inimigo o nosso colega.

Obs.: caso o objeto direto não viesse preposicionado, o sentido da oração ficaria ambíguo, pois não
poderíamos apontar com precisão o sujeito (o nosso colega).

Saiba que:

Frequentemente, verbos intransitivos, podem aparecer como verbos transitivos diretos.

Por Exemplo:

A criança chorou lágrimas doídas pela perda da mãe.


Objeto Direto

2) Objeto Indireto

É o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Vem sempre regido de preposição
clara ou subentendida. Atuam como objeto indireto os pronomes: lhe, lhes, me te, se, nos, vos.

Exemplos:

Não desobedeço a meus pais.

Objeto Indireto

Preciso de ajuda. (Preposição clara "de")

Objeto Indireto

Enviei-lhe um recado. (Enviei a ele - a preposição a está subentendida)

Objeto Indireto

Obs.: muitas vezes o objeto indireto inicia-se com crase (à, àquele, àquela, àquilo). Isso ocorre
quando o verbo exige a preposição "a", que acaba se contraindo com a palavra seguinte.

Por Exemplo:
Entregaram à mãe o presente. (à = "a" preposição + "a" artigo definido)

Observações Gerais:

a) Pode ocorrer ainda o (objeto direto ou indireto) pleonástico, que consiste na retomada do objeto
por um pronome pessoal, geralmente com a intenção de colocá-lo em destaque.

Por Exemplo: As mulheres, eu as vi na cozinha. (Objeto Direto)


A todas vocês, eu já lhes forneci o pagamento mensal. (Objeto Indireto)

b) Os pronomes oblíquos o, a, os, as (e as variantes lo, la, los, las, no, na, nos, nas) são sempre
objeto direto. Os pronomes lhe, lhes são sempre objeto indireto.

Exemplos:
Eu a encontrei no quarto. (OD)

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Vou avisá-lo.(OD)
Eu lhe pagarei um sorvete.(OI)

c) Os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos podem ser objeto direto ou indireto. Para determinar
sua função sintática, podemos substituir esses pronomes por um substantivo: se o uso da preposição
for obrigatório, então se trata de um objeto indireto; caso contrário, de objeto direto.

Por Exemplo:

Roberto me viu na escola.(OD)

Substituindo-se "me" por um substantivo qualquer (amigo, por exemplo), tem-se: "Roberto viu o
amigo na escola." Veja que a preposição não foi usada. Portanto, "me" é objeto direto.

Observe o próximo exemplo:

João me telefonou.(OI)

Substituindo-se "me" por um substantivo qualquer (amigo, por exemplo), tem-se: "João telefonou ao
amigo". A preposição foi usada. Portanto, "me" é objeto indireto.

3) Complemento Nominal

É o termo que completa o sentido de uma palavra que não seja verbo. Assim, pode referir-se
a substantivos, adjetivos ou advérbios, sempre por meio de preposição.

Exemplos:

Cecília tem orgulho da filha.


substantivo complemento nominal

Ricardo estava consciente de tudo.


adjetivo complemento nominal

A professora agiu favoravelmente aos alunos.


advérbio complemento nominal

Saiba que:

O complemento nominal representa o recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um


nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de
complementar verbos, complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios em -mente.

4) Agente da Passiva

É o termo da frase que pratica a ação expressa pelo verbo quando este se apresenta na voz passiva.
Vem regido comumente da preposição "por" e eventualmente da preposição "de".

Por Exemplo:

A vencedora foi escolhida pelos jurados.


Sujeito Verbo Agente da
Paciente Voz Passiva Passiva

Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, o agente da passiva recebe o nome de sujeito.
Veja:

Os jurados escolheram a vencedora.

Sujeito Verbo Objeto Direto

Voz Ativa

Outros exemplos:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Joana é amada de muitos.

Sujeito Paciente Agente da Passiva

Essa situação já era conhecida de todos.

Sujeito Paciente Agente da Passiva

Observações:

a) O agente da passiva pode ser expresso por substantivos ou pronomes.

Por Exemplo:

O solo foi umedecido pela chuva. (substantivo)


Este livro foi escrito por mim. (pronome)

b) Embora o agente da passiva seja considerado um termo integrante, pode muitas vezes ser omitido.

Por Exemplo:

O público não foi bem recebido. (pelos anfitriões)

4 - Termos Acessórios da Oração

Sobre os Termos Acessórios

Existem termos que, apesar de dispensáveis na estrutura básica da oração, são importantes para a
compreensão do enunciado. Ao acrescentar informações novas, esses termos:

- caracterizam o ser;

- determinam os substantivos;

- exprimem circunstância.

São termos acessórios da oração: o adjunto adverbial, o adjunto adnominal e o aposto.

Vamos observar o exemplo:

Anoiteceu.

No exemplo acima, temos uma oração de predicado verbal formado por um verbo impessoal. Trata-se
de uma oração sem sujeito. O verbo anoiteceu é suficiente para transmitir a mensagem enunciada.
Poderíamos, no entanto, ampliar a gama de informações contidas nessa frase:

Por Exemplo:

Suavemente anoiteceu na cidade.

A ideia central continua contida no verbo da oração. Temos, agora, duas noções acessórias,
circunstanciais, ligadas ao processo verbal: o modo como anoiteceu (suavemente) e o lugar onde
anoiteceu (na cidade). A esses termos acessórios que indicam circunstâncias relativas ao processo
verbal damos o nome de adjuntos adverbiais.

Agora, observe o que ocorre ao expandirmos um pouco mais a oração acima:

Por Exemplo:

Suavemente anoiteceu na deserta cidade do planalto.

Surgiram termos que ser referem ao substantivo cidade, caracterizando-o, delimitando-lhe o sentido.
Trata-se de termos acessórios que se ligam a um nome, determinando-lhe o sentido. São
chamados adjuntos adnominais.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Por último, analise a frase abaixo:

Fernando Pessoa era português.

Nessa oração, o sujeito é determinado e simples: Fernando Pessoa. Há ainda um predicativo do


sujeito (português) relacionado ao sujeito pelo verbo de ligação (era). Trata-se, pois, de uma oração
com predicado nominal. Note que a frase é capaz de comunicar eficientemente uma informação.
Nada nos impede, no entanto, de enriquecer mais um pouco o conteúdo informativo. Veja:

Fernando Pessoa, o criador de poetas, era português.

Agora, além do núcleo do sujeito (Fernando Pessoa) há um termo que explica, que enfatiza esse
núcleo: o criador de poetas. Esse termo é chamado de aposto.

Adjunto Adverbial

É o termo da oração que indica uma circunstância (dando ideia de tempo, lugar, modo, causa,
finalidade, etc.). O adjunto adverbial é o termo que modifica o sentido de um verbo, de um adjetivo ou
de um advérbio. Observe as frases abaixo:

Eles se respeitam muito.

Seu projeto é muito interessante.

O time jogou muito mal.

Nessas três orações, muito é adjunto adverbial de intensidade. No primeiro caso, intensifica a
forma verbalrespeitam, que é núcleo do predicado verbal. No segundo, intensifica
o adjetivo interessante, que é o núcleo do predicativo do sujeito. Na terceira oração, muito intensifica
o advérbio mal, que é o núcleo do adjunto adverbial de modo.

Veja o exemplo abaixo:

Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça.

Os termos em destaque estão indicando as seguintes circunstâncias:

amanhã indica tempo;

de bicicleta indica meio;

àquela velha praça indica lugar.

Sabendo que a classificação do adjunto adverbial se relaciona com a circunstância por ele expressa,
os termos acima podem ser classificados, respectivamente em: adjunto adverbial de tempo, adjunto
adverbial de meio eadjunto adverbial de lugar.

O adjunto adverbial pode ser expresso por:

1) Advérbio: O balão caiu longe.

2) Locução Adverbial: O balão caiu no mar.

3) Oração: Se o balão pegar fogo, avisem-me.

Observação: nem sempre é possível apontar com precisão a circunstância expressa por um adjunto
adverbial. Em alguns casos, as diferentes possibilidades de interpretação dão origem a orações
sugestivas.

Por Exemplo:

Entreguei-me calorosamente àquela causa.

É difícil precisar se calorosamente é um adjunto adverbial de modo ou de intensidade. Na verdade,

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

parece ser uma fórmula de expressar ao mesmo tempo as duas circunstâncias. Por isso, é
fundamental levar em conta o contexto em que surgem os adjuntos adverbiais.

Classificação do Adjunto Adverbial

Listamos abaixo algumas circunstâncias que o adjunto adverbial pode exprimir. Não deixe de
observar os exemplos.

Acréscimo

Por Exemplo:

Além da tristeza, sentia profundo cansaço.

Afirmação

Por Exemplo:

Sim, realmente irei partir.


Ele irá com certeza.

Assunto

Por Exemplo:

Falávamos sobre futebol. (ou de futebol, ou a respeito de futebol).

Causa

Por Exemplo:
Com o calor, o poço secou.
Não comentamos nada por discrição.
O menor trabalha por necessidade.

Companhia

Por Exemplo:

Fui ao cinema com sua prima.


Com quem você saiu?
Sempre contigo irei estar.

Concessão

Por Exemplo:

Apesar do estado precário do gramado, o jogo foi ótimo.

Condição

Por Exemplo:

Sem minha autorização, você não irá.


Sem erros, não há acertos.

Conformidade

Por Exemplo:
Fez tudo conforme o combinado. (ou segundo o combinado)

Dúvida

Por Exemplo:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Talvez seja melhor irmos mais tarde.


Porventura, encontrariam a solução da crise?
Quiçá acertemos desta vez.

Fim, finalidade

Por Exemplo:

Ela vive para o amor.


Daniel estudou para o exame.
Trabalho para o meu sustento.
Viajei a negócio.

Frequência

Por Exemplo:

Sempre aparecia por lá.


Havia reuniões todos os dias.

Instrumento

Por Exemplo:

Rodrigo fez o corte com a faca.


O artista criava seus desenhos a lápis.

Intensidade

Por Exemplo:

A atleta corria bastante.


O remédio é muito caro.

Limite

Por Exemplo:

A menina andava correndo do quarto à sala.

Lugar

Por Exemplo:

Nasci em Porto Alegre.


Estou em casa.
Vive nas montanhas.
Viajou para o litoral.
"Há, em cada canto de minh’alma, um altar a um Deus diferente." (Álvaro de Campos)

Matéria

Por Exemplo:

Compunha-se de substâncias estranhas.


Era feito de aço.

Meio

Por Exemplo:

Fui de avião.
Viajei de trem.
Enriqueceram mediante fraude.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Modo

Por Exemplo:

Foram recrutados a dedo.


Fiquem à vontade.
Esperava tranquilamente o momento decisivo.

Negação

Por Exemplo:

Não há erros em seu trabalho.


Não aceitarei a proposta em hipótese alguma.

Preço

Por Exemplo:

As casas estão sendo vendidas a preços muito altos.

Substituição ou troca

Por Exemplo:

Abandonou suas convicções por privilégios econômicos.

Tempo

Por Exemplo:

O escritório permanece aberto das 8h às 18h.


Beto e Mara se casarão em junho.
Ontem à tarde encontrou um velho amigo.

Adjunto Adnominal

É o termo que determina, especifica ou explica um substantivo. O adjunto adnominal possui função
adjetiva na oração, a qual pode ser desempenhada por adjetivos, locuções adjetivas, artigos,
pronomes adjetivos enumerais adjetivos. Veja o exemplo a seguir:

O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu amigo de infância.

Sujeito Núcleo do Objeto Direto Objeto Indireto


Predicado Verbal

Na oração acima, os substantivos poeta, trabalhos e amigo são núcleos, respectivamente, do sujeito
determinado simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao redor de cada um desses substantivos
agrupam-se os adjuntos adnominais:

o artigo" o" e o adjetivo inovador referem-se a poeta;

o numeral dois e o adjetivo longos referem-se ao substantivo trabalhos;

o artigo" o" (em ao), o pronome adjetivo seu e a locução adjetiva de infância são adjuntos adnominais
de amigo.

Observe como os adjuntos adnominais se prendem diretamente ao substantivo a que se referem,


sem qualquer participação do verbo. Isso é facilmente notável quando substituímos um substantivo
por um pronome: todos os adjuntos adnominais que estão ao redor do substantivo têm de
acompanhá-lo nessa substituição.

Por Exemplo:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

O notável poeta português deixou uma obra originalíssima.

Ao substituirmos poeta pelo pronome ele, obteremos:

Ele deixou uma obra originalíssima.

As palavras o, notável e português tiveram de acompanhar o substantivo poeta, por se tratar de


adjuntos adnominais. O mesmo aconteceria se substituíssemos o substantivo obra pelo pronome a.
Veja:

O notável poeta português deixou-a.

Saiba que:

A percepção de que o adjunto adnominal é sempre parte de um outro termo sintático que tem como
núcleo um substantivo é importante para diferenciá-lo do predicativo do objeto. O predicativo do
objeto é um termo que se liga ao objeto por intermédio de um verbo. Portanto, se substituirmos o
núcleo do objeto por um pronome, o predicativo permanecerá na oração, pois é um termo que se
refere ao objeto, mas não faz parte dele. Observe:

Sua atitude deixou os amigos perplexos.

Nessa oração, perplexos é predicativo do objeto direto (os amigos). Se substituíssemos esse objeto
direto por um pronome pessoal, obteríamos:

Sua atitude deixou-os perplexos.

Note que perplexos se refere ao objeto, mas não faz parte dele.

Distinção entre Adjunto Adnominal e Complemento Nominal

É comum confundir o adjunto adnominal na forma de locução adjetiva com complemento nominal.
Para evitar que isso ocorra, considere o seguinte:

a) Somente os substantivos podem ser acompanhados de adjuntos adnominais; já os complementos


nominais podem ligar-se a substantivos, adjetivos e advérbios. Assim, fica claro que o termo ligado
por preposição a um adjetivo ou a um advérbio só pode ser complemento nominal. Quando não
houver preposição ligando os termos, será um adjunto adnominal.

b) O complemento nominal equivale a um complemento verbal, ou seja, só se relaciona a


substantivos cujos significados transitam. Portanto, seu valor é passivo, é sobre ele que recai a ação.
O adjunto adnominal tem sempre valor ativo. Observe os exemplos:

Exemplo 1: Camila tem muito amor à mãe.

A expressão "à mãe" classifica-se como complemento nominal, pois mãe é paciente de amar, recebe
a ação de amar.

Exemplo 2: Vera é um amor de mãe.

A expressão "de mãe" classifica-se como adjunto adnominal, pois mãe é agente de amar, pratica a
ação de amar.

Aposto

Aposto é um termo que se junta a outro de valor substantivo ou pronominal para explicá-lo ou
especificá-lo melhor. Vem separado dos demais termos da oração por vírgula, dois-pontos ou
travessão.

Por Exemplo:

Ontem, segunda-feira, passei o dia com dor de cabeça.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem. Dizemos que o aposto é sintaticamente
equivalente ao termo a que se relaciona porque poderia substituí-lo. Veja:

Segunda-feira passei o dia com dor de cabeça.

Obs.: após a eliminação de ontem, o substantivo segunda-feira assume a função de adjunto adverbial
de tempo.

Veja outro exemplo:

Aprecio todos os tipos de música: MPB, rock, blues, chorinho, samba, etc.

Objeto Direto Aposto do Objeto Direto

Se retirarmos o objeto da oração, seu aposto passa a exercer essa função:

Aprecio MPB, rock, blues, chorinho, samba, etc.

Objeto Direto

Obs.: o termo a que o aposto se refere pode desempenhar qualquer função sintática (inclusive a
de aposto).

Por Exemplo:

Dona Aida servia o patrão, pai de Marina, menina levada.

Analisando a oração, temos:

pai de Marina = aposto do objeto direto patrão.

menina levada = aposto de Marina.

Classificação do Aposto

De acordo com a relação que estabelece com o termo a que se refere, o aposto pode ser classificado
em:

a) Explicativo:

A Ecologia, ciência que investiga as relações dos seres vivos entre si e com o meio em que
vivem, adquiriu grande destaque no mundo atual.

b) Enumerativo:

A vida humana se compõe de muitas coisas: amor, trabalho, ação.

c) Resumidor ou Recapitulativo:

Vida digna, cidadania plena, igualdade de oportunidades, tudo isso está na base de um país melhor.

d) Comparativo:

Seus olhos, indagadores holofotes, fixaram-se por muito tempo na baía anoitecida.

e) Distributivo:

Drummond e Guimarães Rosa são dois grandes escritores, aquele na poesia e este na prosa.

f) Aposto de Oração:

Ela correu durante uma hora, sinal de preparo físico.

Além desses, há o aposto especificativo, que difere dos demais por não ser marcado por sinais de

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

pontuação (vírgula ou dois-pontos). O aposto especificativo individualiza um substantivo de sentido


genérico, prendendo-se a ele diretamente ou por meio de uma preposição, sem que haja pausa na
entonação da frase:

Por Exemplo:

O poeta Manuel Bandeira criou obra de expressão simples e temática profunda.


A rua Augusta está muito longe do rio São Francisco.

Atenção:

Para não confundir o aposto de especificação com adjunto adnominal, observe a seguinte frase:

A obra de Camões é símbolo da cultura portuguesa.

Nessa oração, o termo em destaque tem a função de adjetivo: a obra camoniana. É, portanto, um
adjunto adnominal.

Observações:

1) Os apostos, em geral, detacam-se por pausas, indicadas na escrita, por vírgulas, dois pontos ou
travessões. Não havendo pausa, não haverá vírgulas.

Por Exemplo:

Acabo de ler o romance A moreninha.

2) Às vezes, o aposto pode vir precedido de expressões explicativas do tipo: a saber, isto é, por
exemplo, etc.

Por Exemplo:

Alguns alunos, a saber, Marcos, Rafael e Bianca não entraram na sala de aula após o recreio.

3) O aposto pode aparecer antes do termo a que se refere.

Por Exemplo:

Código universal, a música não tem fronteiras.

4) O aposto que se refere ao objeto indireto, complemento nominal ou adjunto adverbial pode
aparecer precedido de preposição.

Por Exemplo:

Estava deslumbrada com tudo: com a aprovação, com o ingresso na universidade, com as
felicitações.

Vocativo

Vocativo é um termo que não possui relação sintática com outro termo da oração. Não pertence,
portanto, nem ao sujeito nem ao predicado. É o termo que serve para chamar, invocar ou interpelar
um ouvinte real ou hipotético. Por seu caráter, geralmente se relaciona à segunda pessoa do
discurso. Veja os exemplos:

Não fale tão alto, Rita!


Vocativo

Senhor presidente, queremos nossos direitos!


Vocativo

A vida, minha amada, é feita de escolhas.


Vocativo

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Nessas orações, os termos destacados são vocativos: indicam e nomeiam o interlocutor a que se
está dirigindo a palavra.

Obs.: o vocativo pode vir antecedido por interjeições de apelo, tais como ó, olá, eh!, etc.

Por Exemplo:

Ó Cristo, iluminai-me em minhas decisões.


Olá professora, a senhora está muito elegante hoje!
Eh! Gente, temos que estudar mais.

Distinção entre Vocativo e Aposto

- O vocativo não mantém relação sintática com outro termo da oração.

Por Exemplo:

Crianças, vamos entrar.


Vocativo

- O aposto mantém relação sintática com outro termo da oração.

Por Exemplo:

A vida de Moisés, grande profeta, foi filmada.


Sujeito Aposto

6 - Período Composto

Coordenação e Subordinação

Quando um período é simples, a oração de que é constituído recebe o nome de oração absoluta.

Por Exemplo:

A menina comprou chocolate.

Quando um período é composto, ele pode apresentar os seguintes esquemas de formação:

a) Composto por Coordenação: ocorre quando é constituído apenas de orações independentes,


coordenadas entre si, mas sem nenhuma dependência sintática.

Por Exemplo:

Saímos de manhã e voltamos à noite.

b) Composto por Subordinação: ocorre quando é constituído de um conjunto de pelo menos duas
orações, em que uma delas (Subordinada) depende sintaticamente da outra (Principal).

Por Exemplo:

Não fui à aula porque estava doente.

Oração Principal Oração Subordinada

c) Misto: quando é constituído de orações coordenadas e subordinadas.

Por Exemplo:

Fui à escola e busquei minha irmã que estava esperando.

Oração Coordenada Oração Coordenada Oração Subordinada

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Obs.: qualquer oração (coordenada ou subordinada) será ao mesmo tempo principal, se houver outra
que dela dependa.

Por Exemplo:

Fui ao mercado e comprei os produtos que estavam faltando.

Oração Coordenada (1) Oração Coordenada (2) (Com Oração Subordinada (3)
relação à 1ª.) e Oração
Principal (Com relação à 3ª.)

Período Composto Por Coordenação

Já sabemos que num período composto por coordenação as orações são independentes e
sintaticamente equivalentes.

Observe:

As luzes apagam-se, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo.

O período é composto de três orações:

As luzes apagam-se;
abrem-se as cortinas;
e começa o espetáculo.

As orações, no entanto, não mantêm entre si dependência gramatical, são independentes. Existe
entre elas, evidentemente, uma relação de sentido, mas do ponto de vista sintático, uma não
depende da outra. A essas orações independentes, dá-se o nome de orações coordenadas, que
podem ser assindéticas ou sindéticas.

A conexão entre as duas primeiras é feita exclusivamente por uma pausa, representada na escrita
por uma vírgula. Entre a segunda e a terceira, é feita pelo uso da conjunção "e". As orações
coordenadas que se ligam umas às outras apenas por uma pausa, sem conjunção, são
chamadas assindéticas. É o caso de "As luzes apagam-se" e "abrem-se as cortinas". As orações
coordenadas introduzidas por uma conjunção são chamadas sindéticas. No exemplo acima, a
oração "e começa o espetáculo" é coordenada sindética, pois é introduzida pela conjunção
coordenativa "e".

Obs.: a classificação de uma oração coordenada leva em conta fundamentalmente o aspecto lógico-
semântico da relação que se estabelece entre as orações.

Classificação das Orações Coordenadas Sindéticas

De acordo com o tipo de conjunção que as introduz, as orações coordenadas sindéticas podem
ser: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas.

a) Aditivas

Expressam ideia de adição, acrescentamento. Normalmente indicam fatos, acontecimentos ou


pensamentos dispostos em sequência. As conjunções coordenativas aditivas típicas
são "e" e "nem" (= e + não). Introduzem as orações coordenadas sindéticas aditivas.

Por Exemplo:

Discutimos várias propostas e analisamos possíveis soluções.

As orações sindéticas aditivas podem também estar ligadas pelas locuções não só... mas (também),
tanto...como, e semelhantes. Essas estruturas costumam ser usadas quando se pretende enfatizar o
conteúdo da segunda oração. Veja:

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

Chico Buarque não só canta, mas também (ou como também) compõe muito bem.
Não só provocaram graves problemas, mas (também) abandonaram os projetos de reestruturação
social do país.

Obs.: como a conjunção "nem" tem o valor da expressão "e não", condena-se na língua culta a
forma "e nem" para introduzir orações aditivas.

Por Exemplo:

Não discutimos várias propostas, nem (= e não) analisamos quaisquer soluções.

b) Adversativas

Exprimem fatos ou conceitos que se opõem ao que se declara na oração coordenada anterior,
estabelecendo contraste ou compensação. "Mas" é a conjunção adversativa típica. Além dela,
empregam-se: porém, contudo, todavia, entretanto e as locuções no entanto, não obstante, nada
obstante. Introduzem as orações coordenadas sindéticas adversativas.

Veja os exemplos:

"O amor é difícil, mas pode luzir em qualquer ponto da cidade." (Ferreira Gullar)
O país é extremamente rico; o povo, porém, vive em profunda miséria.
Tens razão, contudo controle-se.
Renata gostava de cantar, todavia não agradava.
O time jogou muito bem, entretanto não conseguiu a vitória.

Saiba que:

- Algumas vezes, a adversidade pode ser introduzida pela conjunção "e". Isso ocorre normalmente
em orações coordenadas que possuem sujeitos diferentes.

Por Exemplo:

Deus cura, e o médico manda a conta.

Nesse ditado popular, é clara a intenção de se criar um contraste. Observe que equivale a uma frase
do tipo: "Quem cura é Deus, mas é o médico quem cobra a conta!"

- A conjunção "mas" pode aparecer com valor aditivo.

Por Exemplo:

Camila era uma menina estudiosa, mas principalmente esperta.

c) Alternativas

Expressam ideia de alternância de fatos ou escolha. Normalmente é usada a conjunção "ou". Além
dela, empregam-se também os pares: ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, etc. Introduzem as
orações coordenadas sindéticas alternativas.

Exemplos:

Diga agora ou cale-se para sempre.


Ora age com calma, ora trata a todos com muita aspereza.
Estarei lá, quer você permita, quer você não permita.

Obs.: nesse último caso, o par "quer...quer" está coordenando entre si duas orações que, na verdade,
expressam concessão em relação a "Estarei lá". É como disséssemos: "Embora você não permita,
estarei lá".

d) Conclusivas

Exprimem conclusão ou consequência referentes à oração anterior. As conjunções típicas são: logo,

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

portanto epois (posposto ao verbo). Usa-se ainda: então, assim, por isso, por conseguinte, de modo
que, em vista disso, etc. Introduzem as orações coordenadas sindéticas conclusivas.

Exemplos:

Não tenho dinheiro, portanto não posso pagar.


A situação econômica é delicada; devemos, pois, agir cuidadosamente.
O time venceu, por isso está classificado.
Aquela substância é toxica, logo deve ser manuseada cautelosamente.

e) Explicativas

Indicam uma justificativa ou uma explicação referente ao fato expresso na declaração anterior. As
conjunções que merecem destaque são: que, porque e pois (obrigatoriamente anteposto ao verbo).
Introduzem as orações coordenadas sindéticas explicativas.

Exemplos:

Vou embora, que cansei de esperá-lo.


Vinícius devia estar cansado, porque estudou o dia inteiro.
Cumprimente-o, pois hoje é o seu aniversário.

Atenção:

Cuidado para não confundir as orações coordenadas explicativas com as subordinadas


adverbiais causais. Observe a diferença entre elas:

- Orações Coordenadas Explicativas: caracterizam-se por fornecer um motivo, explicando a oração


anterior.

Por Exemplo:

A criança devia estar doente, porque chorava muito. (O choro da criança não poderia ser a causa de
sua doença.)

- Orações Subordinadas Adverbiais Causais: exprimem a causa do fato.

Por Exemplo:

Henrique está triste porque perdeu seu emprego. (A perda do emprego é a causa da tristeza de
Henrique.)

Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre a oração explicativa e a precedente e que
esta é, muitas vezes, imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal.

Período Composto Por Subordinação

Classificação das Orações Subordinadas

As orações subordinadas dividem-se em três grupos, de acordo com a função sintática que
desempenham e a classe de palavras a que equivalem. Podem ser substantivas,
adjetivas ou adverbiais. Para notar as diferenças que existem entre esses três tipos de orações, tome
como base a análise do período abaixo:

Só depois disso percebi a profundidade das palavras dele.

Nessa oração, o sujeito é "eu", implícito na terminação verbal da palavra "percebi". "A profundidade
das palavras dele" é objeto direto da forma verbal "percebi". O núcleo do objeto direto
é "profundidade". Subordinam-se ao núcleo desse objeto os adjuntos adnominais "a" e "das palavras
dele ". No adjunto adnominal "das palavras dele", o núcleo é o substantivo "palavras", ao qual se
prendem os adjuntos adnominais "as" e "dele". "Só depois disso" é adjunto adverbial de tempo.

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ESTRUTURA DA ORAÇÃO E DO PERIODO

É possível transformar a expressão "a profundidade das palavras dele", objeto direto, em oração.
Observe:

Só depois disso percebi que as palavras dele eram profundas.

Nesse período composto, o complemento da forma verbal "percebi" é a oração "que as palavras dele
eram profundas". Ocorre aqui um período composto por subordinação, em que uma oração
desempenha a função de objeto direto do verbo da outra oração. O objeto direto é uma função
substantiva da oração, ou seja, é função desempenhada por substantivos e palavras de valor
substantivo. É por isso que a oração subordinada que desempenha esse papel é chamada de oração
subordinada substantiva.

Pode-se também modificar o período simples original transformando em oração o adjunto adnominal
do núcleo do objeto direto, "profundidade". Observe:

Só depois disso percebi a "profundidade" que as palavras dele continham.

Nesse período, o adjunto adnominal de "profundidade" passa a ser a oração "que as palavras dele
continham". O adjunto adnominal é uma função adjetiva da oração, ou seja, é função exercida por
adjetivos, locuções adjetivas e outras palavras de valor adjetivo. É por isso que são chamadas
de subordinadas adjetivas as orações que, nos períodos compostos por subordinação, atuam como
adjuntos adnominais de termos das orações principais.

Outra modificação que podemos fazer no período simples original é a transformação do adjunto
adverbial de tempo em uma oração. Observe:

Só quando caí em mim, percebi a profundidade das palavras dele.

Nesse período composto, "Só quando caí em mim" é uma oração que atua como adjunto adverbial de
tempo do verbo da outra oração. O adjunto adverbial é uma função adverbial da oração, ou seja, é
função exercida por advérbios e locuções adverbiais. Portanto, são chamadas de subordinadas
adverbiais as orações que, num período composto por subordinação, atuam como adjuntos
adverbiais do verbo da oração principal.

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EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE

Emprego Do Sinal Indicativo De Crase

CRASE: é uma palavra de origem grega e significa "mistura", "fusão". Nos estudos de Língua
Portuguesa, é o nome dado à fusão ou contração de duas letras "a" em uma só. A crase é indicada
pelo acento grave (`) sobre o "a". Crase, portanto, NÃO é o nome do acento, mas do fenômeno
(junção a + a) representado através do acento grave.

A crase pode ser a fusão da preposição a com:

1) o artigo feminino definido a (ou as): Fomos à cidade e assistimos às festas.

2) o pronome demonstrativo a (ou as): Irei à (loja) do centro.

3) os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo: Refiro-me àquele fato.

4) o a dos pronomes relativos a qual e as quais: Há cidades brasileiras às quais não é possível
enviar correspondência.

Observe que a ocorrência da crase depende da verificação da existência de duas


vogais "a" (preposição + artigo ou preposição + pronome) no contexto sintático.

Regras Práticas

1 - Substitua a palavra feminina por uma masculina, de mesma natureza. Se aparecer a


combinação ao, é certo que OCORRERÁ crase antes do termo feminino:

Amanhã iremos ao colégio / à escola.

Prefiro o futebol ao voleibol / à natação.

Resolvi o problema / a questão.

Vou ao campo / à praia.

Eles foram ao parque / à praça.

2 - Substitua o termo regente da preposição a por outro que exija uma preposição diferente
(de, em, por). Se essas preposições não se contraírem com o artigo, ou seja, se não surgirem as
formas da(s), na(s) ou pela(s), não haverá crase:

Refiro-me a você. (sem crase) - Gosto de você / Penso em você / Apaixonei-me por você.

Refiro-me à menina. (com crase) - Gosto da menina / Penso na menina / Apaixonei-me pela
menina.

Começou a gritar. (sem crase) - Gosta de gritar / Insiste em gritar / Optou por gritar.

3 - Substitua verbos que transmitem a idéia de movimento (ir, voltar, vir, chegar etc.) pelo verbo
voltar. Ocorrendo a preposição "de", NÃO haverá crase. E se ocorrer a preposição "da",
HAVERÁ crase:

Vou a Roma. / Voltei de Roma.

Vou à Roma dos Césares. / Voltei da Roma dos Césares.

Voltarei a Paris e à Suiça. / Voltarei de Paris e da Suiça.

Ocorrendo a preposição "de", NÃO haverá crase. E se ocorrer a preposição "da", HAVERÁ
crase:

Vou a Roma. / Voltei de Roma.

Vou à Roma dos Césares. / Voltei da Roma dos Césares.

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EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE

Voltarei a Paris e à Suiça. / Voltarei de Paris e da Suiça.

4 - A crase deve ser usada no caso de locuções, ou seja, reunião de palavras que equivalem a
uma só idéia. Se a locução começar por preposição e se o núcleo da locução for palavra
feminina, então haverá crase:

Gente à toa.

Vire à direita.

Tudo às claras.

Hoje à noite.

Navio à deriva.

Tudo às avessas.

No caso da locução "à moda de", a expressão "moda de" pode vir subentendida, deixando
apenas o "à" expresso, como nos exemplos que seguem:

Sapatos à Luiz XV.

Relógios à Santos Dummont.

Filé à milanesa.

Churrasco à gaúcha.

No caso de locuções relativas a horários, somente no caso de horas definidas e especificadas


ocorrerá a crase:

À meia-noite.

À uma hora.

À duas horas.

Às três e quarenta.

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Flexão Nominal E Verbal

O que é exatamente?

São morfemas colocados no final das palavras para indicar flexões verbais ou nominais.

Elas podem ser:

Flexões Nominais:

indicam gênero e número Ex.: casa – casas, gato – gata

De Gênero:

Os substantivos masculinos são antecedidos pelo artigo “o”. Como exemplo temos os substantivos o
lança-perfume, o tapa, o champanha, o dó, o diabetes.

Já os substantivos femininos são antecedidos pelo artigo “a”. É o caso de a agravante, a bacanal, a
fênix, a alface, a ênfase, a poetisa.

A maioria dos substantivos têm duas formas: uma para o masculino, e outra para o feminino. São os
substantivos biformes. Veja algumas regras de formação do feminino:

1) Substantivos terminados em -o mudam para -a. o sapo = a sapa o canário = a canária o piloto = a
pilota

2) Substantivos terminados em -ão mudam para -ã, outros para -oa e ainda para -ona (neste caso,
em aumentativos). o capitão = a capitã o tecelão = a tecelã/ teceloa o chorão = a chorona

3) Substantivos terminados em -or formam o feminino com o acréscimo de -a. o doutor = doutora o
coletor = coletora o trabalhador = trabalhadora

4) Alguns substantivos terminados em -or podem fazer feminino mudando essa terminação para -eira.
o arrumador = a arrumadeira o lavador = lavadeira o trabalhador = trabalhadeira 0 sufixo -eira pode
indicar qualidade e, portanto, adjetivação: mulher trabalhadeira; pessoa faladeira

5) Alguns substantivos com terminação -e podem fazer o feminino mudando a terminação para -a. o
infante = infanta o governante = a governanta o elefante = a elefanta

6) Substantivos terminados em -ês, -L e -z fazem o feminino com o acréscimo de -a. o freguês =a


freguesa o oficial = oficiala o juiz = juíza

Há ainda substantivos que são masculinos ou femininos, conforme o sentido com que se acham
empregados:

a cabeça (parte do corpo)/ o cabeça (o chefe) a grama (relva)/ o grama (unidade de peso)

De Números:

Os nomes ( substantivos, adjetivos, pronomes, numerais ), de modo geral admitem a flexão de


número: Singular e plural.

Plural Dos Substantivos Simples

Plural Dos Substantivos Simples

Aos substantivos que terminam em vogal, ditongo oral e consoante ‘n’ devem ser acrescidos a
consoante ‘s’ ao final da palavra.

Observe os exemplos:

herói – heróis

irmão – irmãos

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

plâncton – plânctons

Aos substantivos que terminam em consoante ‘m’ devem ser acrescidos as consoantes ‘ns’ ao final
da palavra.

Observe os exemplos:

abordagem – abordagens

modelagem – modelagens

homem – homens

Aos substantivos que terminam com as consoantes ‘r’ e ‘z’ devem ser acrescidos ‘es’ ao final da
palavra.

Observe os exemplos:

hambúrguer – hambúrgueres

chafariz – chafarizes

colher – colheres

Nos substantivos que terminam em ‘al’, ‘el’, ‘ol’, ‘ul’, deve ser substituída a consoante ‘l’ por ‘is’

Observe os exemplos:

girassol – girassóis

vogal – vogais

azul – azuis

* Há duas exceções:

mal – males

cônsul – cônsules

Os substantivos que terminam em ‘il’ são pluralizados de duas formas:

a) Em palavras oxítonas terminadas em ‘il’:

anil – anis

juvenil – juvenis

b) Em palavras paroxítonas terminadas em ‘il’:

inútil – inúteis

réptil – répteis

Os substantivos terminados em consoante ‘s’ fazem o plural de duas formas:

a) Em substantivos monossilábicos ou oxítonos, há o acréscimo de ‘es’.

paz – pazes

algoz – algozes

b) Os substantivos paroxítonos ou proparoxítonos são invariáveis.

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

férias – férias

ônibus – ônibus

Os substantivos terminados em ‘ão’ podem ser pluralizados de três formas:

a) Substituindo o ‘ão’ por ‘es’:

doação – doações

emoção – emoções

b) Substituindo o ‘ão’ por ‘ães’:

alemão – alemães

pão – pães

c) Substituindo o ‘ão’ por ‘ãos’:

cidadão – cidadãos

Os substantivos terminados em consoante ‘x’ são invariáveis

córtex – córtex

Flexões Verbais

Dentre todas as classe gramaticais, a que mais se apresenta passível de flexões é a representada
pelos verbos. Flexões estas relacionadas a:

Pessoa – Indica as três pessoas relacionadas ao discurso, representadas tanto no modo singular,
quanto no plural.

Número – Representa a forma pela qual o verbo se refere a essas pessoas gramaticais.

Por meio dos exemplos em evidência, podemos constatar que o processo verbal se encontra
devidamente flexionado, tendo em vista as pessoas do discurso (eu, tu, ele, nós, vós, eles).

Tempo – Relaciona-se ao momento expresso pela ação verbal, denotando a ideia de um processo
ora concluído, em fase de conclusão ou que ainda está para concluir, representado pelo tempo
presente, pretérito e futuro.

Modo – Revela a circunstância em que o fato verbal ocorre. Assim expresso:

Modo indicativo – exprime um fato certo, concreto.


Modo subjuntivo – exprime um fato hipotético, duvidoso.
Modo imperativo – exprime uma ordem, expressa um pedido.

Para que possamos constatar acerca de todos esses pressupostos, basear-nos-emos no caso do
verbo cantar, tendo em vista o modo indicativo.

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Modo Indicativo

Voz

A voz verbal caracteriza a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, classificada em:

Voz ativa – o sujeito é o agente da ação verbal.

Os professores aplicaram as provas.

Voz passiva – o sujeito sofre a ação expressa pelo verbo.

As provas foram aplicadas pelos professores.

Voz reflexiva – o sujeito, de forma simultânea, pratica e recebe a ação verbal.

O garoto feriu-se com o instrumento.

Voz reflexiva recíproca – representa uma ação mútua entre os elementos expressos pelo sujeito.

Os formandos cumprimentaram-se respeitosamente.

Compartilhe com outro link que explora sobre as vozes verbais de modo mais aprofundado.

Vozes do verbo - Compreenda como se materializa esta ocorrência linguística.

Flexão Nominal E Flexão Verbal

 Os vocábulos que se submetem aos processos de flexão são ditos variáveis.

 As desinências são morfemas que expressam categorias gramaticais.

 Desinências nominais:

a) Gênero (DG): [Ø] masculino ≠

[a] feminino

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

b) Número (DN): [Ø] singular ≠ [s] plural

 Desinências verbais:

a) Modo e tempo (DMT): [Ø, r, va, re, ra, sse, ria...] tempos verbais

b) Número e pessoa (DNP): [Ø, - s, -ste, -mos, -is, -m...] pessoas gramaticais

RADICAL

Estrutura básica dos nomes (substantivo, adjetivo, artigo, pronome e numeral)

NOME SD RAIZ VL SD SD VT DG DN

1. anzol Ø anzol Ø Ø Ø Ø Ø Ø

2. flhetins Ø folh- Ø -et- -in- Ø Ø -s

3. finalzinho Ø fim- Ø -al- -zinh- -o Ø Ø

4. desatualizados dês- -atual- Ø -iz- -ad- -o- Ø -s

5. afinadíssimos a- -fin- Ø -ad- -íssim- -o- Ø -s

6. florezinhas Ø flor- -e- - Ø -a- Ø -s

zinh-

RAD VT DG DN

GAROT O Ø Ø

GAROT O Ø S

GAROT Ø A Ø

GAROT Ø A A

RAD VT DG DN

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

IN-DELICAD O Ø Ø

IN-DELICAD O Ø S

IN-DELICAD Ø A Ø

IN-DELICAD Ø A S

RAD VT DG DN

DES-EN-CORAJ-A-DOR Ø Ø Ø

DES-EN-CORAJ-A-DOR E Ø S

DES-EN-CORAJ-A-DOR Ø A Ø

DES-EN-CORAJ-A-DOR Ø A S

RAD VT DG DN

EL E Ø Ø

EL E Ø S

EL Ø A Ø

EL Ø A S

Flexão Nominal De Gênero

Gênero não é sexo.

O gênero pode mudar


Vocábulos de gênero vacilante: o/a grama, o/a diabete, o/a chaminé etc.

Certos substantivos são indiferentes quanto gênero: o/a estudante, o/a cliente etc.

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Substantivos femininos às vezes tornam masculinos no aumentativo: cobrão, salão, agulhão etc.

Certos substantivos mudam de significado quando mudam de gênero: ovo/ova, o/a cabeça,
sapato/sapata etc.

Há, por fim, uns poucos substantivos que apresentam oposição de gênero com base no sexo:
gato/gata, menino/menina, brasileiro/brasileira etc.

Não existe flexão quando a oposição de gênero se faz com base em heterônimos: homem/mulher,
boi/vaca, cavalo/égua, abelha/zangão etc.

Em resumo, quanto ao gênero, os substantivos distribuem em três grupos:

1. nomes substantivos de gênero único:

(a) flor, (o) livro, (o) carro, (a) mão,

(a) lua, (o) avião, (o) cônjuge, (a) cobra, (o) jacaré etc.

2. nomes substantivos de dois gêneros sem flexão: (o, a) artista, (o,a) personagem, (o,a) mártir,
(o,a) diplomata, (o,a) aprendiz etc.

3. nomes substantivos de dois gêneros, com flexão: (o) menino, (a) menina;

(o) doutor, (a) doutora; (o) peru, (a) perua etc.

Descrição De Gênero:

Masculino: [Ø] Feminino: [a]

Na flexão de gênero, podem ocorrer alterações morfofonêmicas no radical. Nesse caso, tais
alterações devem ser consideradas marcas adicionais da oposição de gênero, ou redundâncias.

Flexão Nominal De Número

Desinências de:

[Ø] singular

[s] plural

Certos substantivos só são empregados no plural: as alvíssaras, as bodas etc.

Certos substantivos mudam de significado no plural: o bem ≠ os bens, a honra ≠ as honras etc.

Os coletivos, mesmo no singular, expressam idéia de plural.

Nomes terminados em /s/ no singular, em geral não se flexionam no plural, exceto se forem
oxítonos. Nesse caso, a oposição de número é marcada pela concordância: o(s) ônibus, o(s) lápis,
o(s) pires etc.

Descrição de número: Ver esquemas nas p. 75 a 77.

Pronomes

Morfologiacamente, não se distinguem dos nomes, pois flexionam em gênero e número.

Semanticamente, no entanto, os nomes representam e os pronomes indicam, isto é, são dêiticos.

O que é significado dêitico? O que é anáfora?

O que é catáfora?

Além disso, os pronomes representam outras categorias gramaticais:

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Gênero neutro

Caso

Pessoa

Estrutura Verbal

Tema (RAD) + VT + DMT + DNP

RAD VT DMP DNP

avis- -a- -r Ø

avis- -a- -re- -

mos

avis- -a- Ø -

mos

avis- -a- Ø -ste

RAD VT DMP DNP

Recorr- -e- -r

Recorr- -ê- -sse- -mos

Recorr- -i- -do

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Recorr- -e- -re- -i

Desinências Modo-Temporais (DMT):

Presente do indicativo: Ø

Pretérito perfeito do indicativo: Ø, -ra-

Pretérito mais que perfeito do indicativo: -ra-/-re- (átonos)

Futuro do presente do indicativo: -re-, -rá, -rã- (tônicos)

Futuro do pretérito do indicativo: -ria/- rie-

Pretérito imperfeito do indicativo: - va/-vê-, -a/-e-

Presente do subsjuntivo: -e (verbs de 1ª. conj.) e -a (verbos de 2ª. e 3ª. conj.)

Pretérito imperfeito do subjuntivo: - sse-

Futuro do subjuntivo e infinitivos: -r, - re-

Particípio: -do

Gerúndio: -ndo

Desinências Número-Pessoais:

P1: Ø, -o, -i

P2: -s, -ste

P3: Ø, -u

P4: -mos

P5: -(i)s, -stes, -des

P6: -m, -o

Temas verbais:

O tema é formado pelo radical + vogal temática. Esta pode ser Ø.

Tema 1:

Forma do verbo no infinitivo impessoal (não flexionado), menos a desinência modo-temporal [r].
Exemplos:

verbo no infinitivo tema

impessoal correspondente

cantar [cant-a]

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

esconder [escond-e]

sentir [sent-i]

medir [med-i]

Esse tema se repete nos seguintes tempos:

Imperfeito, futuro do presente e futuro do pretérito do indicativo; infinitivo, particípio e gerúndio.

Tema 2:

Forma do verbo na segunda pessoa do singular (P2) do pretérito perfeito do indicativo, menos a
desinência número pessoal [ste]. Exemplos:

Verbo na P2 do pretérito perfeito do Tema correspondente

indicativo

canta-ste [cant-a]

escondeste [escond-e]

sentiste [sent-i]

disseste [diss-e]

houveste [houv-e]

Esse tema se repete nos seguintes tempos:

Pretérito mais que perfeito do ind., no futuro do subjuntivo e no imperfeito do subj.

Tema 3:

Forma do verbo na primeira pessoa do singular (P1) do presente do indicativo, menos a desinência
número pessoal [o]. Exemplos:

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FLEXÃO NOMINAL E VERBAL

Verbo na P1 do Tema

presente do indicativo correspondente

[cant]
canto

escondo [escond]

sinto [sint]

digo [dig]

hajo [haj]

ouço [ouç]

caibo [caib]

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PONTUAÇÃO

Pontuação:

Os sinais de pontuação são recursos de linguagem empregados na língua escrita edesempenham a


função de demarcadores de unidades e de sinalizadores de limitesde estruturas sintáticas nos tex-
tos escritos. Assim, os sinais de pontuação cumprem o papel dos recursos prosódicos, utilizados
na fala para darmos ritmo, entoação e pausas e indicarmos os limites sintáticos e unidades de senti-
do.

Como na fala temos o contato direto com nossos interlocutores, contamos também com nos-
sos gestos para tentar deixar claro aquilo que queremos dizer. Na escrita, porém, são os sinais de
pontuação que garantem a coesão e a coerência interna dos textos, bem como os efeitos de senti-
dos dos enunciados.

Vejamos, a seguir, quais são os sinais de pontuação que nos auxiliam nos processos de escrita:

Ponto ( . )

Indicar o final de uma frase declarativa:

Gosto de sorvete de goiaba.

b) Separar períodos:

Fica mais um tempo. Ainda é cedo.

c) Abreviar palavras:

Av. (Avenida)

V. Ex.ª (Vossa Excelência)

p. (página)

Dr. (doutor)

Dois-pontos ( : )

Iniciar fala de personagens:

O aluno respondeu:

– Parta agora!

b) Antes de apostos ou orações apositivas, enumerações ou sequência de palavras que expli-


cam e/ou resumem ideias anteriores.

Esse é o problema dos caixas eletrônicos: não tem ninguém para auxiliar os mais idosos.

Anote o número do protocolo: 4254654258.

c) Antes de citação direta:

Como já dizia Vinícius de Morais: “Que o amor não seja eterno posto que é chama, mas que seja
infinito enquanto dure.”

Reticências ( ... )

Indicar dúvidas ou hesitação:

Sabe... andei pensando em uma coisa... mas não é nada demais.

b) Interromper uma frase incompleta sintaticamente:

Quem sabe se tentar mais tarde...

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PONTUAÇÃO

c) Concluir uma frase gramaticalmente incompleta com a intenção de estender a reflexão:

“Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas faces duns longes cor-de-rosa...” (Cecí-
lia - José de Alencar)

d) Suprimir palavras em uma transcrição:

“Quando penso em você (...) menos a felicidade.” (Canteiros - Raimundo Fagner)

Parênteses ( )

Isolar palavras, frases intercaladas de caráter explicativo, datas e também podem substituir a vír-
gula ou o travessão:

Manuel Bandeira não pôde comparecer à Semana de Arte Moderna (1922).

"Uma manhã lá no Cajapió (Joca lembrava-se como se fora na véspera), acordara depois duma
grande tormenta no fim do verão.” (O milagre das chuvas no Nordeste- Graça Aranha)

Ponto de Exclamação ( ! )

Após vocativo

Ana, boa tarde!

b) Final de frases imperativas:

Cale-se!

c) Após interjeição:

Ufa! Que alívio!

d) Após palavras ou frases de caráter emotivo, expressivo:

Que pena!

Ponto de Interrogação ( ? )

Em perguntas diretas:

Quantos anos você tem?

b) Às vezes, aparece com o ponto de exclamação para enfatizar o enunciado:

Não brinca, é sério?!

Vírgula ( , )

De todos os sinais de pontuação, a vírgula é aquele que desempenha o maior número de funções.

Ela é utilizada para marcar uma pausa do enunciado e tem a finalidade de nos indicar que os ter-
mos por ela separados, apesar de participarem da mesma frase ou oração, não formam
uma unidade sintática. Por outro lado, quando há umarelação sintática entre termos da oração,
não se pode separá-los por meio de vírgula.

Antes de explicarmos quais são os casos em que devemos utilizar a vírgula, vamos explicar primeiro
os casos em que NÃO devemos usar a vírgula para separar os seguintes termos:

Sujeito de Predicado;

Objeto de Verbo;

Adjunto adnominal de nome;

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PONTUAÇÃO

Complemento nominal de nome;

Predicativo do objeto do objeto;

Oração principal da Subordinada substantiva (desde que esta não seja apositiva nem apareça na
ordem inversa).

Casos em que devemos utilizar a vírgula:

A vírgula no interior da oração

Utilizada com o objetivo de separar o vocativo:

Ana, traga os relatórios.

O tempo, meus amigos, é o que nos confortará.

b) Utilizada com o objetivo de separar apostos:

Valdirene, minha prima de Natal, ligou para mim ontem.

Caio, o aluno do terceiro ano B, faltou à aula.

c) Utilizada com o objetivo de separar o adjunto adverbial antecipado ou intercalado:

Quando chegar do trabalho, procurarei por você.

Os políticos, muitas vezes, são mentirosos.

d) Utilizada com o objetivo de separar elementos de uma enumeração:

Estamos contratando assistentes, analistas, estagiários.

Traga picolé de uva, groselha, morango, coco.

e) Utilizada com o objetivo de isolar expressões explicativas:

Quero o meu suco com gelo e açúcar, ou melhor, somente gelo.

f) Utilizada com o objetivo de separar conjunções intercaladas:

Não explicaram, porém, o porquê de tantas faltas.

g) Utilizada com o objetivo de separar o complemento pleonástico antecipado:

A ele, nada mais abala.

h) Utilizada com o objetivo de isolar o nome do lugar na indicação de datas:

Goiânia, 01 de novembro de 2016.

Utilizada com o objetivo de separar termos coordenados assindéticos:

É pau, é pedra, é o fim do caminho.

Utilizada com o objetivo de marcar a omissão de um termo:

Ele gosta de fazer academia, e eu, de comer. (omissão do verbo gostar)

Casos em que se usa a vírgula antes da conjunção e:

Utilizamos a vírgula quando as orações coordenadas possuem sujeitos diferentes:

Os banqueiros estão cada vez mais ricos, e o povo, cada vez mais pobre.

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PONTUAÇÃO

2) Utilizamos a vírgula quando a conjunção “e” repete-se com o objetivo de enfatizaralguma ideia
(polissíndeto):

E eu canto, e eu danço, e bebo, e me jogo nos blocos de carnaval.

3) Utilizamos a vírgula quando a conjunção “e” assume valores distintos que não retratam sen-
tido de adição (adversidade, consequência, por exemplo):

Chorou muito, e ainda não conseguiu superar a distância.

A vírgula entre orações

A vírgula é utilizada entre orações nas seguintes situações:

Para separar as orações subordinadas adjetivas explicativas:

Meu filho, de quem só guardo boas lembranças, deixou-nos em fevereiro de 2000.

b) Para separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas, com exceção das orações
iniciadas pela conjunção “e”:

Cheguei em casa, tomei um banho, fiz um sanduíche e fui direto ao supermercado.

Estudei muito, mas não consegui ser aprovada.

c) Para separar orações subordinadas adverbiais (desenvolvidas ou reduzidas), principalmente se


estiverem antepostas à oração principal:

"No momento em que o tigre se lançava, curvou-se ainda mais; e fugindo com o corpo apresentou o
gancho." (O selvagem - José de Alencar)

d) Para separar as orações intercaladas:

"– Senhor, disse o velho, tenho grandes contentamentos em estar plantando-a...”

e) Para separar as orações substantivas antepostas à principal:

Quando sai o resultado, ainda não sei.

Ponto e vírgula ( ; )

Utilizamos ponto e vírgula para separar os itens de uma sequência de outros itens:

Antes de iniciar a escrita de um texto, o autor deve fazer-se as seguintes perguntas:

O que dizer;

A quem dizer;

Como dizer;

Por que dizer;

Quais objetivos pretendo alcançar com este texto?

Utilizamos ponto e vírgula para separar orações coordenadas muito extensas ou orações coor-
denadas nas quais já se tenha utilizado a vírgula:

“O rosto de tez amarelenta e feições inexpressivas, numa quietude apática, era pronunciadamente
vultuoso, o que mais se acentuava no fim da vida, quando a bronquite crônica de que sofria desde
moço se foi transformando em opressora asma cardíaca; os lábios grossos, o inferior um tanto ten-
so."

(O Visconde de Inhomerim - Visconde de Taunay)

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PONTUAÇÃO

Travessão ( — )

Utilizamos o travessão para iniciar a fala de um personagem no discurso direto:

A mãe perguntou ao filho:

— Já lavou o rosto e escovou os dentes?

b) Utilizamos o travessão para indicar mudança do interlocutor nos diálogos:

— Filho, você já fez a sua lição de casa?

— Não se preocupe, mãe, já está tudo pronto.

c) Utilizamos o travessão para unir grupos de palavras que indicam itinerários:

Disseram-me que não existe mais asfalto na rodovia Belém—Brasília.

d) Utilizamos o travessão também para substituir a vírgula em expressões ou frases explicativas:

Pelé — o rei do futebol — anunciou sua aposentadoria.

Aspas ( “ ” )

As aspas são utilizadas com as seguintes finalidades:

Isolar palavras ou expressões que fogem à norma culta, como gírias, estrangeirismos, palavrões,
neologismos, arcaísmos e expressões populares:

A aula do professor foi “irada”.

Ele me pediu um “feedback” da resposta do cliente.

b) Indicar uma citação direta:

“Ia viajar! Viajei. Trinta e quatro vezes, às pressas, bufando, com todo o sangue na face, desfiz e refiz
a mala”. (O prazer de viajar - Eça de Queirós)

Fique Atento!

Caso haja necessidade de destacar um termo que já está inserido em uma sentença destacada por
aspas, esse termo deve ser destacado com marcação simples ('), não dupla (").

Veja Agora Algumas Observações Relevantes:

Dispensam o uso da vírgula os termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem.

Observe:

Preferiram os sorvetes de creme, uva e morango.

Não gosto nem desgosto.

Não sei se prefiro Minas Gerais ou Goiás.

Caso os termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem aparecerem repetidos, com a fina-
lidade de enfatizar a expressão, o uso da vírgula é, nesse caso, obrigatório.

Observe:

Não gosto nem do pai, nem do filho, nem do cachorro, nem do gato dele.

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PRODUÇÃO DE TEXTOS

Produção de Textos

A apropriação da linguagem escrita assume hoje dimensões muito complexas. Assim, o ato de escre-
ver no âmbito escolar apresenta-se como desafios aos educadores. Nessa perspectiva, é fato que em
tempos atrás o uso da língua escrita se dava a partir da junção das sílabas para formação de pala-
vras sem nenhuma contextualização. Essa nova abordagem traz profundas modificações para o en-
sino-aprendizagem da escrita, pois definitivamente, não faz mais sentido querer supor que se deve
ensinar uma criança a escrever na base do bê-á-bá.

Nessa perspectiva, a criança que é acostumada a observar o uso diariamente da escrita, que desde
pequena já usam, lápis e papel para fazerem suas garatujas e rabiscos posteriormente elas imaginam
histórias interessantes. Testando o aprendiz observa, estabelece relações, organiza, interioriza con-
ceitos, duvida deles e reelabora até chegar ao código alfabético usado pelo adulto.

Desse modo, é coerente conhecer profundamente os níveis conceptuais linguísticas, observar seus
aspectos mais relevantes para obter um embasamento teórico mais claro.

Entre as dificuldades encontradas na execução da produção de textos estão: estudos aprofundados


sobre o tema, busca de uma conexão entre teoria e prática, falta de paciência para questionar as cri-
anças sobre o que escreveram.

A escrita pré-sílábica, apresenta fases distintas, tais como: fase pictórica, fase gráfica primitiva e fase
pré-silábica propriamente dita: já o silábico, quando a criança sente-se mais confiante porque desco-
bre que pode escrever com lógica. Conta os pedaços sonoros. Essa noção de que cada sílaba cor-
responde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional. O nível silábico alfabé-
tico, assim, como assinala a autora, por se tratar de um nível intermediário é mais uma vez um mo-
mento conflitante. Mas é o momento que o valor sonoro torna-se imperioso e a criança começa a
acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.

Desse modo, todas estar característica especifica dos níveis conceptuais linguísticos implica que
tanto no nível pré-silábico como, o silábico e silábico-alfabético a escrita realizada pela criança nes-
sas etapas ninguém consegue ler o que ela escreve, até que chegue ao nível alfabético, isto é, o ní-
vel que a criança chega a uma compreensão da logicidade da base alfabética da escrita.

Se permita às crianças serem participantes ativas, ensinando a si mesma a ler e escrever, de fato são
elas que devem dirigir o processo já que a mente de uma criança de 4, 5 e 6 anos está longe de ser
um espaço vazio na qual deve verter à informação vinculada à leitura e a escrita.

Para analisarmos a escrita de crianças pré-silábicas precisamos compreender inicialmente sua di-
mensão e complexidade. Especificamente na fase pictórica, a fase em que a criança registra garatu-
jas, rabiscos e desenhos, essa escrita não se trata de uma escrita qualquer, mas dos primeiros mo-
mentos em que começam se organizar para chegar à escrita alfabética.

Para mim, é essencial que as crianças estejam profundamente envolvidas com a escrita, que compar-
tilhem seus textos com os outros e que percebam a si mesmos como autores. Creio que estas coisas
estão interconectadas. Uma sensação de autora nas e de uma luta para imprimir no papel algo
grande e vital e da observação de que as próprias palavras, impressas atingem os corações e as
mentes dos leitores.

Neste contexto, para garantirmos que as crianças com hipóteses pré-silábica escrevam realmente é
fundamental propor que escreva e interpretam sua produção escrita utilizando o conhecimento que
dispõe e o professor com o seu papel fundamental de perguntar o significado dos rabiscos e dos de-
senhos produzidos pelas crianças ou até mesmo as letras utilizadas para escrever os textos. A partir
desses desafios o estudante tem a possibilidade de refletir sobre a escrita e avançar para os níveis
seguintes.

Para Jolibert (1994) a produção textual aponta para dois pontos extremos: as marcas que caracteri-
zam os textos como, contos, fábulas e a estrutura textual de um bilhete independente da hipótese de
escrita que os meninos e as meninas se encontram.

Ao ingressar nas séries iniciais do ensino fundamental, as crianças de seis anos, o sistema de escrita
já exerce forte influência no mundo delas. Desde muito cedo a linguagem escrita invade a vida das

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crianças, apesar de lhes despertar tanta atenção elas ao iniciar o aprendizado do sistema de escrita
se encontram em vários níveis da evolução da escrita. No entanto, a forma como a criança pode se
apropriar desse objeto do conhecimento é com ações pedagógicas que faz a criança tomar consciên-
cia do mundo que o cerca. Uma criança que domina o mundo que a rodeia é uma criança que se es-
força por atuar nesse mundo.

Nessa linha pensamento podemos afirmar que todas as dimensões que permeia a produção textual
podemos dizer que seria um erro irreparável privar as crianças de escrita pré-silábica, silábica, silá-
bico-alfabética e até mesmo as de escrita alfabética de produzir textos. Neste caso o professor deve
colocar-se no papel de escriba e registrar os textos ditados pelos estudantes.

Precursores e Seguidores da Literatura Infantil no Brasil

A literatura infantil começou no século XVIII. Nessa época a criança começava, efetivamente, a ser
vista como criança. Antes, ela participava da vida social adulta, inclusive usufruindo da sua literatura.

As crianças da nobreza liam os grandes clássicos e as mais pobres liam lendas e contos folclóricos
(literatura de cordel), muito populares na época.

Como tudo evolui, esse tipo de literatura também evoluiu para atingir ao público infantil: os clássicos
sofreram adaptações e os contos folclóricos serviram de inspiração para os contos de fadas.

Principais Autores E Obras

Perrault: “Chapeuzinho Vermelho”, “A Bela Adormecida”, “O Barba Azul”, “O Gato de Botas”, “Pe-
queno Polegar”, etc.

Irmãos Grimm: “A gata borralheira” (que de tão famosa recebeu mais de 300 versões pelo mundo
afora), “Branca de Neve”, “Os Músicos de Bremen”, “João e Maria”, etc.

Andersen: “O Patinho Feio”

Charles Dickens: “Oliver Twist”, “David Copperfield”

La Fontaine: “O Lobo e o Cordeiro”

Esopo: “A lebre e a tartaruga”, “O lobo e a cegonha”, “O leão apaixonado”

No Brasil a literatura infantil deu os primeiros passos com as obras de Carlos Jansen (“Contos seletos
das mil e uma noites”), Figueiredo Pimentel (“Contos da Carochinha”), Coelho Neto, Olavo Bilac e Ta-
les de Andrade.

Porém, o mais importante escritor infantil foi Monteiro Lobato. É com ele que se inicia, de fato, a litera-
tura infantil no Brasil.

Monteiro Lobato

José Bento Monteiro Lobato nasceu em 1882 em São Paulo. Sua obra consiste em contos, ensaios,
romances e livros infantis. Além de escritor, Monteiro Lobato foi tradutor. É considerado, juntamente
com outros escritores brasileiros, um dos maiores e mais importantes nomes da nossa literatura.

- Principais Obras

“Urupês”

“Cidades Mortas”

“Idéias do Jeca Tatu”

“Negrinha”

“Reinações de Narizinho” (livro que reúne várias histórias infantis)

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“Sítio do Pica-pau Amarelo”

“O Minotauro”

Além de Monteiro Lobato, outros escritores como Ziraldo e Ana Maria Machado também se dedicam
ao público infantil.

Ziraldo: “O Menino Maluquinho”, “A bonequinha de pano”, “Este mundo é uma bola”, “Uma professora
muito maluquinha”.

Ana Maria Machado: “A Grande Aventura de Maria Fumaça”, “A Velhinha Maluquete”, “O Natal de
Manuel”.

Apesar de tudo, a literatura infantil sofre alguns preconceitos, pois muitos escritores negam que suas
obras são escritas para os pequenos. Isso nos dá a impressão que essa literatura não é tão impor-
tante, se esquecem de que se sua obra for boa e tiver conteúdo, ela poderá influenciar crianças de
uma forma positiva.

Muitas obras consideradas adultas foram adotadas pelo público infantil (“As aventuras de Robson
Crusoé” – de Daniel Defoe, “Viagens de Gulliver” – de Jonathan Swift e “Platero e Eu” – de Juan Ra-
món Jiménez), assim como muitas obras do público infantil agradam os adultos (“Sitio do Pica-Pau
Amarelo”, por exemplo).

Professores, educadores e pais querem criar em seus filhos e alunos o hábito da leitura, porém, mui-
tos adultos não tem esse hábito e usam a falta de tempo e cansaço como uma justificativa para a
pouca dedicação aos livros, sem perceber que essa atitude vai tirando o interesse da criança, que no
início de sua trajetória de vida via o livro como algo encantador, mágico e cheio de mistério.

Características

É possível listar algumas características que marcam este universo:

- Narrativa movimentada, cheia de imprevistos


- Discurso direto
- Livros com muitas ilustrações
- Finais felizes na maioria das vezes

Desde a década de 70, a literatura destinada ao público pré-adolescente (11 - 12 anos até a adoles-
cência) vem sendo chamada de “Literatura Realista para Crianças”.

Como o próprio nome já diz, esse tipo de literatura tem como objetivo levar a realidade da vida para
as crianças abordando temas até então considerados impróprios (morte, divórcio, sexo e problemas
sociais).

Existe muita controvérsia a respeito desse tipo de literatura, alguns educadores alegam que esses
livros são mais projetos educativos (muitos são feitos por encomenda) do que literatura. Claro que a
conscientização da realidade pode ser feita de outra forma, já que o universo infantil é repleto de ma-
gia, facilitando a transmissão das mesmas ideias sem chocar tanto. O mais importante de tudo é que
as crianças conheçam todos os tipos de literatura, pois esse conhecimento irá ajudá-la a escolher a
leitura que mais lhe agrada.

Processos Cognitivos na Alfabetização

O trabalho desenvolvido por Piaget, ao longo de aproximadamente 50 anos, revelou-se em substan-


cial estudo a respeito do desenvolvimento infantil, contribuindo para diversos campos que na atuali-
dade usufruem de suas pesquisas. Na área educacional Piaget demarcou época, suas obras alicer-
çam nossos trabalhos e suplementam nossa prática em sala de aula, tendo elas lançado termos e en-
fatizado expressões chaves do desenvolvimento cognitivo que as caracterizam.

Recorremos, portanto, a Piaget para conhecermos um pouco mais as características padrões da evo-
lução mental infantil, enfocando, especialmente, os primeiros dois anos de vida, classificados como

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período sensório-motor e subdividido em três estágios: I – Dos Reflexos; II – Da Organização das


Percepções e Hábitos e III – Da Inteligência Sensório-Motor.

Dos Reflexos – A vida inicial do bebê sintetiza-se nos reflexos, nos impulsos instintivos acionados
pela fome, voz da mãe, dor, sensações prazerosas, sono, sensações táteis, etc. Antecipando a pre-
sença de uma atividade, sensório-motor. Um dos reflexos que se destacam é o da sucção, sendo sua
função principal tornar-se um instrumento, por intermédio do qual a criança toma conhecimento do
seu mundo material externo.

Ela experimenta sabores, texturas, sensações táteis, levando para o cérebro informações importantes
para a construção de seu conhecimento futuro. É como a construção de um quebra-cabeça que se
inicia nesta experimentação e vai sendo composto quando outras funções orgânicas já estiverem de-
senvolvidas.

É ponto comum entre as mães saberem e afirmarem que seus filhos recorrem à boca para colocarem
os objetos que estão ao seu alcance, sugando-os. Essa é a forma do bebê sentir, perceber, conhe-
cer, degustar, provar... Essa capacidade cognitiva desenvolve-se antes mesmo de a criança poder
enxergar ou manusear com precisão.

Das Organizações das Percepções e Hábitos - Após utilizar seus reflexos e aperfeiçoá-los em função
das suas necessidades, o bebê inicia uma fase mais complexa de assimilação. É quando chega o
momento de organizar suas percepções, compreendendo um pouco mais do que ocorre exterior-
mente.

Assim, a partir da quinta semana, aproximadamente, o bebê começa a sorrir e a reconhecer pessoas
mais próximas. Embora isso não indique ainda que essa evolução no comportamento faça parte da
noção de dissociação do ambiente exterior ao seu “eu”.

Nessa fase o bebê ainda percebe-se sendo parte de um todo e não algo dissociado do ambiente que
o cerca. Este estágio chega ao fim e é visualizado quando o bebê consegue pegar objetos do seu in-
teresse, conquistando a capacidade de preensão e manipulação. Pode-se dizer, então, que ele está
apto a organizar novos hábitos.

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