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FUNÇÕES DE LINGUAGEM

1. Assinale a alternativa em que o(s) termo(s) em negrito do fragmento citado NÃO


contém (êm) traço(s) da função emotiva da linguagem.

a) Os poemas (infelizmente!) não estão nos rótulos de embalagens nem junto aos frascos de
remédio.
b) leitura ganha contornos de “cobaia de laboratório” quando sai de sua significação e cai no
ambiente artificial e na situação inventada.
c) Outras leituras significativas são o rótulo de um produto que se vai comprar, os preços do
bem de consumo, o tíquete do cinema, as placas do ponto de ônibus (...)
d) Ler e escrever são condutas da vida em sociedade. Não são ratinhos
mortos (...) prontinhos para ser desmontados e montados, picadinhos (...)

2. Leia as passagens abaixo, extraídas de São Bernardo, de Graciliano Ramos:

I. Resolvi estabelecer-me aqui na minha terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo planeei
adquirir a propriedade S. Bernardo, onde trabalhei, no eito, com salário de cinco tostões.
II. Uma semana depois, à tardinha, eu, que ali estava aboletado desde meio-dia, tomava café e
conversava, bastante satisfeito.III. João Nogueira queria o romance em língua de Camões, com
períodos formados de trás para diante.
IV. Já viram como perdemos tempo em padecimentos inúteis? Não era melhor que fôssemos
como os bois? Bois com inteligência. Haverá estupidez maior que atormentar-se um vivente por
gosto? Será? Não será? Para que isso? Procurar dissabores! Será? Não será?
V. Foi assim que sempre se fez. [respondeu Azevedo Gondim] A literatura é a literatura, seu
Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é
outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia.

Assinale a alternativa em que ambas as passagens demonstram o exercício de


metalinguagem em São Bernardo:

a) III e V.
b) I e II.
c) I e IV.
d) III e IV.
e) II e V.

3.

A Questão é Começar
Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo
numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom
dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto
servindo, fala-se do tempo ou de futebol. No escrever também poderia ser assim, e deveria
haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para
um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na
lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o
que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de
conversar.

Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início,
escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim
predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora
(quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer
do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi
pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente
escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em
você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho.”
Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis,
virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes.
Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos.
Termina-se sabe Deus onde.

(MARQUES, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).

Observe a seguinte afirmação feita pelo autor: “Em nossa civilização apressada, o “bom
dia”, o “boa tarde” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo,
fala-se do tempo ou de futebol.” Ela faz referência à função da linguagem cuja meta é
“quebrar o gelo”. Indique a alternativa que explicita essa função.

a) Função emotiva
b) Função referencial
c) Função fática
d) Função conativa
e) Função poética

4.

O canto do guerreiro
Aqui na floresta
Dos ventos batida, Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?

(Gonçalves Dias.)

Macunaíma (Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.

Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se
acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos
puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do
deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a
terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber
do Herói?

(Mário de Andrade.)

Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que


a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no
segundo texto.
b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a
linguagem formal.
c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem
indígena.
d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da
linguagem e, no segundo, no relato de informações reais.
e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto,
está ausente no primeiro.

5.

Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá.
Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa
da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária
eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou
zangado.

CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).

Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da


linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da
crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois

a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.


b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

6.

O telefone tocou.
— Alô? Quem fala?
— Como? Com quem deseja falar?
— Quero falar com o sr. Samuel Cardoso.
— É ele mesmo. Quem fala, por obséquio?
— Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel?
Faça um esforço.
— Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se trata?
(ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.)

Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no texto a


função

a) metalinguística.
b) fática.
c) referencial.
d) emotiva.
e) conativa.

7.

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada origem e ainda sem definição que lhe apanhe
em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática,
tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou talvez, vicedito:
indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que,
tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não
tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.

(ROSA, G. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001) (fragmento).

Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa, depreende-se a predominância de uma


das funções da

a) metalinguística, pois o trecho tem como propósito essencial usar a língua portuguesa
para explicar a própria língua, por isso a utilização de vários sinônimos e definições.
b) eferencial, pois o trecho tem como principal objetivo discorrer sobre um fato que não
diz respeito ao escritor ou ao leitor, por isso o predomínio da terceira pessoa.
c) ática, pois o trecho apresenta clara tentativa de estabelecimento de conexão com o
leitor, por isso o emprego dos termos “sabe-se lá” e “tome-se hipotrélico”.
d) poética, pois o trecho trata da criação de palavras novas, necessária para textos em
prosa, por isso o emprego de “hipotrélico”.
e) expressiva, pois o trecho tem como meta mostrar a subjetividade do autor, por isso o
uso do advérbio de dúvida “talvez”.

8.

A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em
unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma tem múltiplos mecanismos
que regulam o número de organismos dentro dele, controlando sua reprodução, crescimento e
migrações.

DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Predomina no texto a função da linguagem

a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em relação à ecologia.


b) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem.
d) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor.
e) referencial, porque o texto trata de noções e informações conceituais.

9.

Canção do vento e da minha vida


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[...]

O vento varria os sonhos


E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
Predomina no texto a função da linguagem:

a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.


b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do
texto.

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

1.

A língua tupi no Brasil

Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase
sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o
português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a
Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela
gente não se explica em outro idioma”.

Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no


século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos
mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos
bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho,
o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de
Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou
lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer
anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.

“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e
antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi
paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O
resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado.

ANGELO. C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado).

O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao


papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua
indígena

a) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos dos
lugares designados.
b) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical também
está a fala de variadas etnias indígenas.
c) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses vindos
de Lisboa.
d) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas
investidas contra o Quilombo dos Palmares.
e) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a
língua dos bandeirantes paulistas.

2.

TEXTO I

A língua ticuna é o idioma mais falado entre os indígenas brasileiros. De acordo com o
pesquisador Aryon Rodri gues, há 40 mil índios que falam o idioma. A maioria mora ao longo
do Rio Solimões, no Alto Amazonas. É a maior nação indígena do Brasil, sendo também
encontrada no Peru e na Colômbia. Os ticunas falam uma língua considerada isolada, que não
mantém semelhança com nenhuma outra língua indígena e apresenta complexidades em sua
fonologia e sintaxe. Sua característica principal é o uso de diferentes alturas na voz.

O uso intensivo da língua não chega a ser ameaçado pela proximidade de cidades ou mesmo
pela convivência com falantes de outras línguas no interior da própria área ticuna: nas aldeias,
esses outros falantes são minoritários e acabam por se submeter à realidade ticuna, razão pela
qual, talvez, não representem uma ameaça linguística.

Língua Portuguesa, n. 52, fev. 2010 (adaptado).

TEXTO II

Riqueza da língua

“O inglês está destinado a ser uma língua mundial em sentido mais amplo do que o latim foi na
era passada e o francês é na presente", dizia o presidente americano John Adams no século
XVIII. A profecia se cumpriu: o inglês é hoje a língua franca da globalização. No extremo oposto
da economia linguística mundial, estão as línguas de pequenas comunidades declinantes.
Calcula-se que hoje se falem de a línguas no mundo todo. Quase metade delas
deve desaparecer nos próximos 100 anos. A última edição do Ethnologue – o mais abrangente
estudo sobre as línguas mundiais –, de 2005, listava línguas em risco de extinção.

Veja, n. 36, set. 2007 (adaptado).

Os textos tratam de línguas de culturas completamente diferentes, cujas realidades se


aproximam em função do(a)

a) semelhança no modo de expansão.


b) preferência de uso na modalidade falada.
c) modo de organização das regras sintéticas.
d) predomínio em relação às outras línguas de contato.
e) fato de motivarem o desaparecimento de línguas minoritárias.

3.
De domingo

–– Outrossim...
–– O quê?
–– O que o quê?
–– O que você disse.
–– Outrossim?
–– É.
–– O que é que tem?
–– Nada. Só achei engraçado.
–– Não vejo a graça.
–– Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
–– Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
–– Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
–– Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
–– “Ônus”.
–– “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
–– “Resquício” é de domingo.
–– Não, não. Segunda. No máximo terça.
–– Mas “outrossim”, francamente...
–– Qual o problema?
–– Retira o “outrossim”.
–– Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que
usa “outrossim”.

VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada.


Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa.


Esse uso promove o(a)

a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
b) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
c) caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de
palavras regionais.
d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com
significados pouco conhecidos.
e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de
um dos interlocutores do diálogo.

4.
O humor e a língua

Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua constituição linguística. Por
isso, embora a afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que posso garantir que
se trata de uma verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores
retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e
dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro.
Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de
piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças, instituições
(igreja, escola, casamento, política), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que
circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os
antropólogos ainda não prestaram a devida atenção a esse material, que poderia substituir com
vantagem muitas entrevistas e pesquisas participantes. Saberemos mais a quantas andam o
machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do que qualquer
outro corpus.

POSSENTI. S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado).

A piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura brasileira,
sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfatizada por

a) sua função humorística.


b) sua ocorrência universal.
c) sua diversidade temática.
d) seu papel como veículo de preconceitos.
e) seu potencial como objeto de investigação.

5.
Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo”

Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do futebol brasileiro a derrotar a


cartolagem e a conquistar o Passe Livre, há exatos 40 anos

Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez, então com a camisa do
Santos (porque depois voltaria a atuar pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos), em 1972,
quando foi questionado se, finalmente, sentia-se um homem livre. O Rei respondeu sem
titubear:
— Homem livre no futebol só conheço um: o Afonsinho. Este sim pode dizer, usando
as suas palavras, que deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. O resto é
conversa.
Apesar de suas declarações serem motivo de chacota por parte da mídia futebolística e
até dos torcedores brasileiros, o Atleta do Século acertou. E provavelmente acertaria
novamente hoje.
Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano. Pelo reconhecimento
do caráter e personalidade de um dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. E
principalmente em razão da história de luta — e vitória — de Afonsinho sobre os cartolas.

ANDREUCCI, R. Disponível em: http://carosamigos.terra.com.br. Acesso em: 19 ago. 2011.

O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas
marcas é identificada em:

a) “[...] o Atleta do Século acertou.”


b) “O Rei respondeu sem titubear [...]”.
c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.”
d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez [...]”.
e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões) a seguir.

O lema da tropa

O destemido tenente, no seu primeiro dia como comandante de uma fração de tropa,
vendo que alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie da
guerra, gritou, com firmeza, para inspirar seus homens a enfrentarem o grupamento inimigo
que se aproximava:
– Ou mato ou morro!
Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade fugiu
para o morro.

6. No texto acima, considerando os aspectos morfológicos da Língua Portuguesa, a


construção do humor se efetua, principalmente, pela

a) falta de capacidade linguística dos combatentes que, ao confundirem as palavras do tenente,


no contexto, atribuíram valores de advérbios aos verbos pronunciados pelo tenente.
b) ausência de interpretação plausível por parte dos combatentes que, ao ouvirem as palavras,
confundem suas classes gramaticais, atribuindo a elas valores inadmissíveis na Língua
Portuguesa.
c) capacidade que os combatentes tiveram de interpretar as palavras pronunciadas,
confundindo verbos com substantivos, justificando, com isso, a vasta flexibilidade de
sentidos de uma língua em sua situação de uso.
d) capacidade de os combatentes trocarem, propositalmente, as classes morfológicas das
palavras pronunciadas pelo tenente, justificando o medo deles e a rigidez de significados e
inflexibilidade de sentidos de tais palavras.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Ora pois, uma língua bem brasileira

A possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais teoricamente


essenciais e responder “sim, comprei”, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é
uma das características que conferem flexibilidade e identidade ao português brasileiro. A
análise de documentos antigos e de entrevistas de campo ao longo dos últimos 30 anos está
mostrando que o português brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português
europeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do inglês britânico. O português
brasileiro ainda não é, porém, uma língua autônoma: talvez seja – na previsão de especialistas,
em cerca de 200 anos – quando acumular peculiaridades que nos impeçam de entender
inteiramente o que um nativo de Portugal diz.
A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis
explicações, que fazem o urubu de São Paulo ser chamado de corvo no Sul do país, e as
raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do trabalho de cerca de 200
linguistas. De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), uma inovação do
português brasileiro, por enquanto sem equivalente em Portugal, é o R caipira, às vezes tão
intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne.
Associar o R caipira apenas ao interior paulista, porém, é uma imprecisão geográfica e
histórica, embora o R desavergonhado tenha sido uma das marcas do estilo matuto do ator
Amácio Mazzaropi em seus 32 filmes, produzidos de 1952 a 1980. Seguindo as rotas dos
bandeirantes paulistas em busca de ouro, os linguistas encontraram o R supostamente típico
de São Paulo em cidades de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e oeste
de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, formando um modo de falar similar ao português do
século XVIII. Quem tiver paciência e ouvido apurado poderá encontrar também na região
central do Brasil – e em cidades do litoral – o S chiado, uma característica hoje típica do falar
carioca que veio com os portugueses em 1808 e era um sinal de prestígio por representar o
falar da Corte. Mesmo os portugueses não eram originais: os especialistas argumentam que o
S chiado, que faz da esquina uma shquina, veio dos nobres franceses, que os portugueses
admiravam. [...]
Os documentos antigos evidenciam que o português falado no Brasil começou a se
diferenciar do europeu há pelo menos quatro séculos. Uma indicação dessa separação é o
Memórias para a história da capitania de São Vicente, de 1793, escrito por frei Gaspar da
Madre de Deus, nascido em São Vicente, e depois reescrito pelo português Marcelino Pereira
Cleto, que foi juiz em Santos. Comparando as duas versões, José Simões, da USP, encontrou
30 diferenças entre o português brasileiro e o europeu. Uma delas é encontrada ainda hoje:
como usuários do português brasileiro, preferimos explicitar os sujeitos das frases, como em “o
rapaz me vendeu o carro, depois ele saiu correndo e ao atravessar a rua ele foi atropelado”.
Em português europeu, seria mais natural omitir o sujeito, já definido pelo tempo verbal – “o
rapaz vendeu-me o carro, depois saiu a correr…” –, resultando em uma construção
gramaticalmente impecável, embora nos soe um pouco estranha.
Um morador de Portugal, se lhe perguntarem se comprou um carro, responderá com
naturalidade “sim, comprei-o”, explicitando o complemento do verbo, “mesmo entre falantes
pouco escolarizados”, observa Simões. Ele nota que os portugueses usam mesóclise – “dar-
lhe-ei um carro, com certeza!” –, que soaria pernóstica no Brasil. Outra diferença é a distância
entre a língua falada e a escrita no Brasil. Ninguém fala muito, mas muinto. O pronome você,
que já é uma redução de vossa mercê e de vosmecê, encolheu ainda mais, para cê, e grudou
no verbo: cevai?
“A língua que falamos não é a que escrevemos”, diz Simões, com base em exemplos
como esses. “O português escrito e o falado em Portugal são mais próximos, embora também
existam diferenças regionais.” Simões complementa as análises textuais com suas andanças
por Portugal. “Há 10 anos meus parentes de Portugal diziam que não entendiam o que eu
dizia”, ele observa. “Hoje, provavelmente por causa da influência das novelas brasileiras na
televisão, dizem que já estou falando um português mais correto”.
“Conservamos o ritmo da fala, enquanto os europeus começaram a falar mais rápido a
partir do século XVIII”, observa Ataliba Castilho, professor emérito da USP, que, nos últimos 40
anos, planejou e coordenou vários projetos de pesquisa sobre o português falado e a história
do português do Brasil. “Até o século XVI”, diz ele, “o português brasileiro e o europeu eram
como o espanhol, com um corte silábico duro. A palavra falada era muito próxima da escrita”.
Célia Lopes acrescenta outra diferença: o português brasileiro conserva a maioria das vogais,
enquanto os europeus em geral as omitem, ressaltando as consoantes, e diriam ‘tulfón’ para se
referir ao telefone.
Há também muitas palavras com sentidos diferentes de um lado e de outro do
Atlântico. Os estudantes das universidades privadas não pagam mensalidade, mas propina.
Bolsista é bolseiro. Como os europeus não adotaram algumas palavras usadas no Brasil, a
exemplo de bunda, de origem africana, podem surgir situações embaraçosas. Vanderci
Aguilera, professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (Uel), levou uma amiga
portuguesa a uma loja. Para ver se um vestido que acabava de experimentar caía bem às
costas, a amiga lhe perguntou: “O que achas do meu rabo?”.

FIORAVANTI, Carlos. In: Revista Pesquisa FAPESP, ed. 2030, abr. 2015. Disponível em:
<http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/>. Acesso em:
01 ago. 2015. (Texto adaptado).

7. O objetivo central do texto é apresentar ao leitor uma discussão sobre

a) as variações da língua portuguesa ao longo da história, como exemplificado no trecho: “O


português brasileiro ainda não é, porém, uma língua autônoma: talvez seja – na previsão de
especialistas, em cerca de 200 anos – quando acumular peculiaridades que nos impeçam de
entender inteiramente o que um nativo de Portugal diz.” (1º parágrafo)
b) as diferenças entre a língua falada no Brasil e em Portugal, como exemplificado no trecho:
“Os documentos antigos evidenciam que o português falado no Brasil começou a se
diferenciar do europeu há pelo menos quatro séculos.” (4º parágrafo)
c) a relevância de documentos históricos sobre a língua portuguesa, como exemplificado no
trecho: “Seguindo as rotas dos bandeirantes paulistas em busca de ouro, os linguistas
encontraram o R supostamente típico de São Paulo em cidades de Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.” (3º
parágrafo)
d) a simplicidade linguística do português brasileiro em relação ao europeu, como
exemplificado no trecho: “A possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais
teoricamente essenciais [...], é uma das características que conferem flexibilidade e
identidade ao português brasileiro.” (1º parágrafo)

8.
MAHIN AMANHÃ

Ouve-se nos cantos a conspiração


vozes baixas sussurram frases precisas
escorre nos becos a lâmina das adagas
Multidão tropeça nas pedras
Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
“é amanhã, é amanhã.
Mahin falou, é amanhã”
A cidade toda se prepara
Malês
bantus
geges
nagôs
vestes coloridas resguardam esperanças
aguardam a luta
Arma-se a grande derrubada branca
a luta é tramada na língua dos Orixás
“é aminhã, aminhã”
Malês
bantus
geges
nagôs
“é aminhã, Luiza Mahin falô

ALVES, Miriam. Mahin amanhã. In: Quilombhoje (Org.). Cadernos negros: os melhores
poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 104.

Tendo em vista a temática da obra Cadernos Negros — os melhores poemas, pode-se


afirmar que, nesse texto, o sujeito poético
01) deixa evidenciada a ideia de que fronteiras étnicas e linguísticas dificultam o intercâmbio
cultural entre africanos e afrodescendentes.
02) imagina uma possível união dos negros pertencentes a grupos étnicos culturais diferentes
na luta pela defesa da cidadania.
04) revê criticamente o registro oficial de um fato histórico, que envolve a memória dos negros
no Brasil.
08) retém imagens auditivas e visuais que recompõem o passado transfigurado por meio de
uma representação linguística criativa.
16) utiliza o verso “a luta é tramada na língua dos Orixás” (v. 18) para ressaltar que a cultura e
a religiosidade africanas transitam no espaço do sagrado e do não sagrado.
32) apresenta imagens e pensamentos inseridos numa trama épica em que os protagonistas
lembram um passado de glórias.
64) considera a Revolta dos Malês como um momento em que grupos negros reagem contra o
sistema opressor.

9. Leia a tirinha abaixo para responder à questão.

Sobre a linguagem dos personagens da tirinha, retirada da página do Facebook “Bode


Gaiato”, avalie as assertivas abaixo.

I. O texto verbal, embora escrito, revela aproximação com a oralidade. A grafia da palavra
“nãm” evidencia esse aspecto.
II. Os falantes se utilizam de uma linguagem com fortes marcas regionais, como, por exemplo,
a escolha da palavra “mainha”.
III. O diálogo entre mãe e filho revela o registro formal da linguagem, como podemos perceber
pela utilização das expressões “venha cá pra eu...” e “que nem...”.
IV. O vocábulo “boizin”, formado a partir da palavra inglesa “boy”, é uma marca linguística típica
de grupos sociais de jovens e adolescentes.
V. Visto que todas as línguas naturais são heterogêneas, podemos afirmar que a fala de Júnio
e sua mãe revelam preconceito linguístico.

Estão CORRETAS apenas as afirmações contidas nas assertivas

a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) II, IV e V.
d) II, III e IV.
e) III, IV e V.

10.

A compreensão do texto, no informe publicitário acima, exige que o leitor perceba que,
nele, apresentam-se duas normas linguísticas. Para diferenciá-las, o principal recurso
utilizado pelo autor foi o de

a) representar, nas ilustrações, duas diferentes classes sociais. Isso justifica, por exemplo, as
imagens de pessoas bem-vestidas juntamente com outras, de pessoas malvestidas.
b) mesclar, no texto, elementos verbais com elementos não verbais. Isso possibilitou que o
texto fosse escrito na ‘norma culta’, e as imagens representassem a ‘norma popular’.
c) grafar algumas palavras em desacordo com as convenções ortográficas, porém de maneira
mais aproximada da fala. Isso justifica, por exemplo, as diferentes grafias de “bem está” /
“bem-estar”.
d) distribuir o texto em diferentes planos. Isso permitiu que a norma considerada ‘culta’ ficasse
destacada em primeiro plano, e a norma considerada ‘não culta’ ficasse em segundo.
e) trazer, para o texto, diferentes gêneros. Isso possibilitou que a ‘norma culta’ fosse expressa
na forma de versos, no gênero poema; e a ‘norma não culta’ fosse expressa na forma de
prosa, no gênero anúncio publicitário.

GABARITO
FUNÇÕES DE LINGUAGEM

1. C
2. A
3. C
4. C
5. C
6. B
7. A
8. E
9. E

GABARITO
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

1. A
2. D
3. B
4. E
5. D
6. C
7. B
8. 02 + 04 + 08 + 16 + 64 = 94.
9. A
10. C

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