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O que é e o que faz a

Análise da Conversação
Coleção O que é e o que se faz?

Volume 4
Reitor
José Daniel Diniz Melo

Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda

Diretoria Administrativa da EDUFRN


Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora)
Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto)
Bruno Francisco Xavier (Secretário)

Conselho Editorial John Fontenele Araújo


Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente) Josenildo Soares Bezerra
Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Ligia Rejane Siqueira Garcia
Adriana Rosa Carvalho Lucélio Dantas de Aquino
Alexandro Teixeira Gomes Marcelo de Sousa da Silva
Elaine Cristina Gavioli Márcia Maria de Cruz Castro
Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz Márcio Dias Pereira
Everton Rodrigues Barbosa Martin Pablo Cammarota
Fabrício Germano Alves Nereida Soares Martins
Francisco Wildson Confessor Roberval Edson Pinheiro de Lima
Gleydson Pinheiro Albano Samuel Anderson de Oliveira Lima
Gustavo Zampier dos Santos Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Secretária de Educação a Distância Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ


Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Jefferson Fernandes Alves – SEDIS
José Querginaldo Bezerra – CCET
Secretária Adjunta de Educação a Distância Lilian Giotto Zaros – CB
Ione Rodrigues Diniz Morais Marcos Aurélio Felipe – SEDIS
Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Cristina Leandro de Paiva – CE
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Maria da Penha Casado Alves – SEDIS
Nedja Suely Fernandes – CCET
Coordenação Editorial Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS
Mauricio Oliveira Jr. Sulemi Fabiano Campos – CCHLA
Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques Revisão Linguístico-textual
Fabíola Gonçalves
Gestão do Fluxo de Editoração
Mauricio Oliveira Jr. Revisão de ABNT
Edineide Marques
Conselho Técnico-Científico – SEDIS
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Revisão Tipográfica
Aline de Pinho Dias – SEDIS Maria das Graças Soares Rodrigues
André Morais Gurgel – CCSA
Antônio de Pádua dos Santos – CS Diagramação
Célia Maria de Araújo – SEDIS Maria Clara Galvão
Eugênia Maria Dantas – CCHLA Diagramação
Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Victor Hugo Rocha Silva
Isabel Dillmann Nunes – IMD
Gil Roberto Costa Negreiros
Ana Rosa Ferreira Dias
Organizadores

O que é e o que faz a


Análise da Conversação
Coleção O que é e o que se faz?

Volume 4

Natal, 2023
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir
impacto social, cultural e científico por meio de livros.
Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma
sociedade mais digna, igualitária e inclusiva.

Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A


seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada
pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/
SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica.

Catalogação da publicação na fonte


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Secretaria de Educação a Distância

Negreiros, Gil Roberto Costa.


O que é e o que faz a Análise da Conversação [recurso eletrônico] / organizado
por Gil Roberto Costa Negreiros e Ana Rosa Ferreira Dias. – 1. ed. – Natal:
EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz..., v. 4).
1900 KB; 1 PDF.

ISBN 978-65-5569-371-3

1. Análise da Conversão. 2. Texto. 3. Sujeito. 4. Enunciação. 5. Interação. I.


Dias, Ana Rosa Ferreira. II. Título.

CDU 81
N385q

Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488.

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
Dedicamos este volume ao Prof. Dr. Dino
Preti, exemplo de pesquisador e docente.
Os organizadores
Prefácio

O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da


Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), foi
criado em 1985 e conta com um grande número de pesqui-
sadores, pertencentes aos mais diversos Programas de Pós-
Graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados, os
quais, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elegem
como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades
e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado
pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem
como grandes temas i) processos discursivo-interacionais de
negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização em
contextos de interação diversos.
Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia
Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se
ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de
pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além
de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco
áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual
dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e
Pragmática.
Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem-
bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/UFRN)
e da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação
eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de
entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco
Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares
Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber:
• Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual,
organizado por Rivaldo Capistrano Júnior (UFES) e
Vanda Maria da Silva Elias (UNIFESP);
• Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos
Discursos, organizado por Maria das Graças Soares
Rodrigues (UFRN) e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP);
• Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado
por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco
Cabral (PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES);
• Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação,
organizado por Gil Negreiros (UFSM) e Ana Rosa
Ferreira Dias (PUC-SP; USP);
• Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, orga-
nizado por Lúcia Helena Martins Gouvêa (UFRJ), Maria
Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ) e Rosane Santos
Monnerat (UFF).
Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas,
perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor
da proposta da coleção.
Em resposta às perguntas de entrevista, cada entrevistado
tem a oportunidade de discorrer sobre o quadro e os avanços
teórico-metodológicos de sua área, de apontar (novas) questões
de investigação e de indicar aplicações de suas pesquisas para
o ensino, em seus diferentes níveis e modalidades.
Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomentar
atividades vinculadas à implementação, divulgação da pro-
dução científica e à formação e/ou consolidação de redes de
pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da Anpoll;
ii) apresentar e promover temas fundamentais dos estudos
sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do GT
LTAC junto à comunidade científica nacional e internacional;
iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas de aná-
lise e de investigação do texto; iv) promover a interface entre
essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a formação
inicial e continuada de professores e de pesquisadores.
Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas
teórico-metodológicas presentes nos cinco volumes da coleção
promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas
pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação.

Ana Lúcia Tinoco Cabral


Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Coordenadores da coleção O que é e o que faz…
Apresentação

O que é e o que faz a Análise da Conversação é uma das cinco


obras que compõem a coleção O que é e o que faz...., uma
publicação proposta pelo Grupo de Trabalho Linguística de
Texto e Análise da Conversação (GT LTAC), da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística
(ANPOLL) e reúne entrevistas com pesquisadores nacionais e
estrangeiros dedicados aos estudos do texto em suas diversas
modalidades e usos.
A presente obra, afinada com os objetivos da coleção, con-
templa dez expoentes pesquisadores que se dedicam à Análise
da Conversação, possibilitando que compartilhem interesses
e percursos das investigações. Por meio de entrevista escrita,
composta por dez perguntas comuns a todos eles, abordam:
aspectos teórico-metodológicos adotados em seus respectivos
estudos; as influências e contribuições de pesquisadores para
o avanço das investigações na área; a aplicabilidade dos
estudos em atividades didático-pedagógicas; o potencial que
a área possui para a realização de novas investigações, dentre
outros aspectos.
As perguntas que pautam as entrevistas são:
01) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais
autores lhe serviram de inspiração?
02) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros
impressos ou eletrônicos você destacaria?
03) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,
quais são seus procedimentos
metodológicos e suas principais categorias analíticas?
04) Quais são as preocupações específicas da Análise da
Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
05) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-
ceitos e de procedimentos analíticos, mas também saber as
possibilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Análise da Conversação?
06) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar
contribuições para o ensino?
07) A quais avanços da Análise da Conversação na con-
temporaneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
08) Que leituras você indicaria para quem está iniciando
seus estudos na Análise da Conversação?
09) O que chamamos hoje de Análise da Conversação
possui várias subáreas, cada uma com especificidades mar-
cantes. Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e
quais são as suas características?
10) Caso haja outros aspectos relevantes que não con-
templamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
As entrevistas que compõem esta obra estão organizadas
na ordem alfabética do nome dos entrevistados, que são
pesquisadores nacionais e internacionais renomados da área.
Para que o leitor possa ter uma prévia dimensão desta publi-
cação, inicialmente apresentamos o link que permite acessar
informações curriculares dos pesquisadores entrevistados e, a
seguir, breves considerações sobre as respectivas entrevistas.
A compreensão sobre o que é e o que faz a Análise da
Conversação necessariamente encontra suporte nas investi-
gações desenvolvidas pelos estudiosos aqui citados.
Ao entregarmos esta obra à leitura e à apreciação de pes-
quisadores, professores e estudantes interessados nos estudos
linguísticos da Análise da Conversação, manifestamos os
nossos mais profundos agradecimentos e a nossa absoluta
admiração a todos os que dela participaram.

Gil Negreiros
Ana Rosa Ferreira Dias
Organizadores
- Grupo I

- Beatriz Gallardo-Paúls (Universitat de València - https://


pauls.blogs.uv.es/) apresenta, em sua entrevista, os detalhes
de sua formação e de como ela chegou aos estudos do texto
oral, em um percurso intelectual que remonta aos estudos
pragmáticos e ao funcionalismo de Halliday, além da análise
conversacional etnometodológica oriunda da Universidade
da Califórnia. Além da apresentação de seu histórico for-
mativo, a pesquisadora brinda o leitor com dicas de como
os estudos conversacionais podem contribuir para a ciência
aplicada básica, em tratamentos de pacientes com afasia e com
outros protocolos de avaliação da linguagem e de intervenção
fonoaudiológica.
-Catherine Kerbrat-Orecchioni (Université Lyon 2 - http://
www.icar.cnrs.fr/membre/ckerbrat/), pesquisadora e teórica
fundamental nos estudos da análise da conversação, nos pre-
senteia com uma excelente entrevista, em que, primeiramente,
nos mostra sua formação epistemológica para, em seguida,
apresentar, em detalhes, como os linguistas podem colocar
os estudos que envolvem o texto interacional naquilo que ela
considera análise do discurso, levando-nos à sua “análise do
discurso em interação”. Em sua entrevista, Kerbrat-Orecchioni
também nos mostra alguns detalhes de seu espírito de pes-
quisadora, ao dizer que se diverte em aperfeiçoar ferramentas
que permitam atualizar os mecanismos em ação nas trocas
verbais, além de se fascinar com a infinita diversidade de
formas dos textos produzidos em interações orais.

- Grupo II

-Ataliba Teixeira de Castilho (Universidade de São Paulo


- http://lattes.cnpq.br/8995142541264871) , em sua entre-
vista, remonta aos anos 70 para destacar a novidade que
foi o surgimento das investigações sobre a língua falada e
registra o protagonismo do Projeto de Estudo da Norma
Linguística Urbana Culta (Projeto NURC). Cita a importância
da contribuição inicial do Prof. Marcelo Dascal, na análise
da oralidade, e as relevantes investigações de Dino Preti
(USP) e Luiz Antonio Marcuschi (UFPe). Nesta entrevista,
com generosidade intelectual, não só disponibiliza extensa
lista de publicações resultantes de pesquisas individuais e
de projetos coletivos por ele propostos e coordenados, como
o Projeto da Gramática do Português Falado, mas também
compartilha com o leitor , de maneira didática, um rol de
estudos de pesquisadores da área, criteriosamente sele-
cionados e citados, relevantes a quem deseja dar início a
investigações na Análise da Conversação
-José Gaston Hilgert (Universidade Presbiteriana
Mackenzie - http://lattes.cnpq.br/4255785040813204) ,
pesquisador do Projeto NURC-SP, relata que os trabalhos do
pesquisador Luiz Antônio Marcuschi , por ele considerado o
pioneiro da Linguística Interacional no Brasil, foram os que
mais o influenciaram a desenvolver estudos sobre análise
linguística da conversa . Conforme destaca, os estudos tra-
zidos da Alemanha por Marcuschi foram decisivos, a partir
da década de 1980, “na reconfiguração do objeto de estudos
e da metodologia de pesquisa do Projeto NURC/BR, então
em curso no país”. Ao responder às questões desta entrevista,
explicita e discute, com precisão e rigor científico, aspectos
teóricos e procedimentos analíticos, disponibilizando ao leitor
um farto e sólido conjunto de informações sobre a Análise da
Conversação como campo de pesquisa linguística no Brasil.
-Letícia Storto (Universidade Estadual do Norte do
Paraná - http://lattes.cnpq.br/0743245285126825), desde
2017 pesquisadora no Projeto NURC-SP, narra que os tra-
balhos publicados pelo projeto tiveram grande influência
em sua formação acadêmica desde o tempo da graduação,
no anos 2000, quando sob a orientação do Professor Paulo
de Tarso Galembeck deu início a pesquisas em Análise da
Conversação. Suas pesquisas mais recentes, com apoio e
fundamento também em Marcuschi, estão voltadas para a
relação entre oralidade e ensino, examinada em livros didá-
ticos e documentos de educação como os PCN e a BNCC.
Preocupada com a formação docente, em 2021, foi uma das
fundadoras do Laboratório Brasileiro de Oralidade, Formação
e Ensino – Labor . A entrevista de Letícia Storto oferece aos
estudiosos informações de práticas pedagógicas fundamen-
tadas nos princípios e métodos da Análise da Conversação.
Em sua exposição, emerge a didática do “como se faz” Análise
da Conversação.
-Luiz Antonio Silva (Universidade de São Paulo - http://
lattes.cnpq.br/7015461594398552) é pesquisador do Projeto
NURC-SP e seu relato reporta à experiência de , nos idos de
1986, fazer parte de seminários que discutiam importantes
estudos alemães sobre Análise da Conversação, à época reper-
cutidos no Brasil por Marcuschi. Suas pesquisas de mestrado
e doutorado, orientadas pelo Prof. Dino Preti, além de seu
estágio pós-doutoral, realizado na Espanha sob a supervisão
da Profa. Dra. Ana Maria Cestero Mancera, foram desenvol-
vidos com o referencial teórico-metodológico da Análise da
Conversação. Na entrevista, relaciona a significativa produção
bibliográfica que resultou das várias investigações que realizou
e, de modo incisivo, identifica vertentes e interfaces do campo
de pesquisa. Para o leitor interessado em subsídios dos estudos
da conversação para o ensino, além das contribuições que
reporta , sinaliza dar continuidade a investigações sobre a
relação oralidade e ensino da língua portuguesa, atentando,
inclusive, para o fato ser esse um recorte da proposta atual
das pesquisas do Projeto NURC-SP.
-Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
(Un iversid ade de São Pau lo - ht t p:// lat tes.cnpq.
br/6814316768356981), é pesquisadora do Projeto NURC-SP
desde 1995 e, ao retomar a diacronia de sua formação aca-
dêmica, registra as contribuições de vários pesquisadores
ligados aos estudos da língua falada e da análise da conver-
sação, dentre eles, Luiz Antônio Marcuschi , Ataliba T. de
Castilho, Dino Preti, Hudinilson Urbano e Leonor Lopes
Fávero, orientadora de suas pesquisas. Em sua entrevista, o
leitor terá acesso a uma bibliografia seminal sobre Análise da
Conversação e a publicações significativas da pesquisadora,
voltadas à oralidade e ensino, à mídia , a gêneros orais da
conversação, à organização do texto falado, dentre outras.
Destaque-se, ainda, informações objetivas sobre a necessi-
dade, relevância e possibilidades de pesquisas que analisem
as interações nas redes sociais, uma contribuição possível
dos estudos da conversação em interface com a Pragmática
Linguística, a Sociolinguística Interacional, a Retórica, a
Análise do Discurso Crítica, a Linguística Cognitiva, entre
outras.
-Marise Galvão (Universidade Federal do Rio Grande
do Norte - http://lattes.cnpq.br/1829337364208280) relata
que seus estudos sobre a Análise da Conversação deu-se,
inicialmente, por meio da leitura de duas obras básicas: A
Simplest systematics for the organization of turn taking for
conversation (SACKS; SCHEGLOFF; JEFERSON;1974) e
Análise da Conversação (MARCUSCHI, 1986). Seguindo
perspectivas analíticas da Análise da Conversação, a pesqui-
sadora tem investigado, em diferentes corpora, as interações
que ocorrem face a face em audiências de conciliações, salas
de aula, pronunciamentos e, as mediadas por cartas pesso-
ais e em comentários postados no Instagram. Atualmente,
desenvolve trabalhos em “Análise da Conversação Textual
Discursiva, de natureza interdisciplinar, que se orienta pelos
princípios da Análise da Conversação norte-americana, da
Linguística de Texto, da Sociolinguística Interacional, da
Análise do Discurso e da Semiótica”. Para os pesquisadores
que iniciam estudos na Análise da Conversação, sugere leituras
que reputa indispensáveis para a compreensão dos rumos,
desdobramentos e interfaces dessa perspectiva analítica.
-Marli Quadros Leite (Universidade de São Paulo - http://
lattes.cnpq.br/7194095531587318), atual coordenadora do
“Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta da
Cidade de São Paulo (Projeto NURC – SP)” , relata que o
seu primeiro contato com a Análise da Conversação ocor-
reu em 1989, quando pesquisou “a história, as atividades, a
produção científica e toda a organização do Projeto”, à época
coordenado pelo Prof. Dino Preti. Na entrevista, a professora
relaciona e detalha a significativa produção bibliográfica
resultante dos estudos vinculados ao Projeto NURC-SP e,
com propriedade, ocupa o lugar de fala de quem conhece e
participa da história dos estudos da Análise da Conversação
no Brasil. Por fim, as informações oferecidas sobre as pos-
sibilidades de contribuições do Projeto, que hoje vive a sua
terceira fase, reportam à sua inserção na modernidade dos
estudos que visam a contribuir para o desenvolvimento de
novas tecnologias “que possibilitem a interação com máquinas
que usam linguagem humana, falada e escrita em português,
para finalidades diversas.”
-Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (Universidade de São
Paulo - http://lattes.cnpq.br/7625238138687080) relata que
foi apresentada aos estudos da Análise da Conversação no
final da década de 80, por meio das investigações de Luiz
Antônio Marcuschi, introdutor dessas pesquisas no Brasil.
Com interesses voltados às perspectivas analíticas da Análise
da Conversação, realizou pesquisas de mestrado e doutorado,
sob a orientação da Profa. Leonor Lopes Fávero e partici-
pou de grupos de pesquisa como o Projeto da Gramática do
Português Falado, organizado pelo Prof. Dr Ataliba Teixeira
de Castilho, e o Projeto NURCSP, sob a coordenação do Prof.
Dr Dino Preti. Tendo desenvolvido relevantes pesquisas de
interface com a Análise da Conversação, compartilha com o
leitor uma bibliografia representativa de seus estudos sobre
as interações em diferentes contextos discursivos e sobre
o tratamento da oralidade no ensino da língua portuguesa.
Sumário
Ataliba T. de Castilho ........................................................................23

Beatriz Gallardo-Paúls .......................................................................59

Catherine Kerbrat-Orecchioni .........................................................85

José Gaston Hilgert ...........................................................................135

Letícia Jovelina Storto ......................................................................164

Luiz Antonio da Silva .......................................................................184

Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade.............. 201

Marise Adriana Mamede Galvão ..................................................220

Marli Quadros Leite .........................................................................235

Zilda Gaspar Oliveira de Aquino ..................................................261

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ATALIBA T. DE CASTILHO
Universidade de São Paulo - USP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Tudo começou com o Projeto de Estudo da Norma
Linguística Urbana Culta (Projeto NURC). Feitas as gravações
de acordo com a metodologia desse projeto, iniciamos as
análises, com base no Guia Questionário que integrava esse
projeto. Previa-se ali uma análise apenas gramatical.
Mas esse questionário não partia de hipóteses sobre a
língua falada – nem poderia tê-lo feito, pois tudo isso era uma
novidade na época, ou seja, nos anos 1970. Então, o Dino Preti
(USP), o Luiz Antonio Marcuschi (UFPE) e eu (Unicamp)
pedimos ajuda ao Prof. Marcelo Dascal, desta universidade,
especialista em Pragmática, o qual analisou uma entrevista
conosco, destacando aspectos da oralidade. Ou seja, ele fez

23
ATALIBA T. DE CASTILHO

uma análise da conversação, uma novidade para nós. Foi um


achado! Depois disso, o Marcuschi publicou seu livro Análise
da Conversação, o Dino deu início a uma série de ensaios
sobre a oralidade, escritos por colegas da USP, e eu propus
o desenvolvimento do Projeto de Gramática do Português
Falado. Desse projeto coletivo, surgiram vários volumes de
ensaios, consolidando-se tudo na série:
Vol. 1 – Clélia S. Jubran (Org.) – A construção do texto
falado. São Paulo: Editora Contexto, 2015.
Vol. 2 – Mary Kato e Milton do Nascimento (Orgs.) – A
construção da sentença. São Paulo: Editora Contexto,
2015.
Vol. 3 – Rodolfo Ilari (Org.) – Palavras de classe aberta,
São Paulo: Editora Contexto, 2014.
Vol. 4 – Rodolfo Ilari (Org.) – Palavras de classe fechada,
São Paulo: Editora Contexto, 2015.
Vol. 5 – Maria Helena de Moura Neves (Org.) – A
construção das orações complexas. São Paulo: Editora
Contexto, 2016.
Vol. 6 – Ângela Rodrigues e Ieda Maria Alves (Orgs.) – A
construção morfológica da palavra, São Paulo: Editora
Contexto, 2015.

24
ATALIBA T. DE CASTILHO

Vol. 7 – Maria Bernadete M. Abaurre (Org.) - A


construção fonológica da palavra, São Paulo: Editora
Contexto, 2013.
Com esse projeto, o português brasileiro foi a primeira
língua da România Nova a ter sua variedade falada
culta amplamente descrita.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Depende da área. Anexo meu curriculum vitae, para que
tenham uma ideia.
Livros autorais
•1965a. A Nova Nomenclatura Gramatical Brasileira e
suas Relações com a Terminologia Latina, em parce-
ria com Enzo Del Carratore. Marília: FFCL [Coleção
Estudos n. 1].
•1967a. A Sintaxe do Verbo e os Tempos do Passado
em Português. Marília: FFCL [Coleção Estudos n. 12].
Resenhas: Ricardo Carballo Calero, Sobre Lingua e
Literatura Galega. Vigo: Galáxia, 1971, pp. 266-268.
Manfred Sandmann, 1972, Romance Philology 26:
506-507.

25
ATALIBA T. DE CASTILHO

•1968a. Introdução ao Estudo do Aspecto Verbal na


Língua Portuguesa. Marília: FFCL [Coleção Teses n.6].
Resenhas: Luiz Carlos Travaglia, 1981, O Aspecto Verbal
no Português. Uberlândia: Un. Fed. de Uberlândia, pp.
24-26. Wolf Dietrich, 1983, El Aspecto Verbal en las
Lenguas Románicas. Madrid: Gredos, pp. 140-143.
• 1998a. A Língua Falada no Ensino de Português.
São Paulo: Contexto; 7a. ed., 2006. Resenha: Cassiano
Ricardo Haag e Gabriel de Ávila Othero – O lugar da
língua falada no ensino da língua materna. Revista
Virtual de Estudos da Linguagem ano 2, número 2
[www.revelhp.cbj.net].
• 2010. Nova Gramática do Português Brasileiro. São
Paulo: Editora Contexto, 768 páginas (ISBN 978-85-
7244-462-0). Resenhas: Maria Lúcia C.V.O. Andrade,
Estudos de Linguística Galega 3: 273-295, 2011. Eliete
Figueira Batista da Silveira, Revista de Estudos
Linguísticos e Literários. Diadorim (UFRJ) 8: 421-424,
2011.
• 2012. Pequena gramática do português brasileiro, em
coautoria com Vanda Maria Elias. São Paulo: Editora
Contexto, 471 págs. (ISBN 978-85-7244-714-0).

26
ATALIBA T. DE CASTILHO

Livros organizados
• 1962a. (Org.). Anais da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Marília, vol. I (1959-1961). Marília: FFCL.
• 1970a. (Org.). Projeto de Estudo da Norma Linguística
Culta de algumas das principais capitais brasileiras.
Marília: Conselho Municipal de Cultura.
• 1978a. (Org.). Subsídios à Proposta Curricular de
Língua Portuguesa para o 2o. Grau. São Paulo/Campinas:
Secretaria de Estado da Educação/UNICAMP, 1978, 8
vols.; republicação: São Paulo: Secretaria de Estado da
Educação, 1988, 3 vols.
• 1984a. (Org.). Atas do V Instituto Interamericano de
Linguística. Em: Cadernos de Estudos Linguísticos 6,
Unicamp, 1984.
• 1986. (Org., com Dino Preti). A Linguagem Falada
Culta na Cidade de São Paulo. São Paulo: TAQ/Fapesp,
vol. I, Elocuções Formais.
• 1987a. (Org., com Dino Preti). A Linguagem Falada
Culta na Cidade de São Paulo. São Paulo: TAQ/Fapesp,
vol. II, Diálogos entre dois informantes.
• 1987b. (Org.). A Ordem do Sujeito Nominal no
Português Culto Falado em São Paulo. Resultados de

27
ATALIBA T. DE CASTILHO

Grupo de Trabalho coordenado por Paola Bentivoglio,


Unicamp, inédito.
• 1989. (Org.). Português Culto Falado no Brasil. Estudos.
Campinas: Editora da Unicamp, 1989.
• 1990. (Org.). Gramática do Português Falado. Vol. 1,
A ordem. Campinas: Editora da Unicamp / Fapesp,
1990; 4a ed., 2002. Resenhas: Giampaolo Salvi, Lingua
e Stile 26: 661663, 1991; Madalena Colaço, Revista
Internacional de Língua Portuguesa 5/6: 235236, 1991.
• 1991. (Org.) Sistematização de Arquivos Públicos.
Campinas: Editora da Unicamp.
• 1993 a. (Org.). Gramática do Português Falado, vol.
3. Campinas: Editora da Unicamp / Fapesp, 1993.
• 1993b-1998 (Org., com Rodolfo Ilari). Atas do IX
Congresso Internacional da ALFAL, vols. I (Conferências),
II (Grupos de Trabalho). Campinas: Instituto de Estudos
da Linguagem, 1993; vols. III, IV, V (Comunicações).
Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem.
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• 2018 a. (Coord. 2018) – O Português Brasileiro em seu
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/ Fapesp, 2018.
• 2018b. (Coord. 2019). Mudança sintática das cons-
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Editora Contexto / Fapesp, 2019.
• 2019. (Coord. 2019) – Corpus diacrônico do Português
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• 1978d. Para o Ensino da História da Língua Portuguesa.
Em: A. T. de Castilho (Org. 1978a, vol. 6, pp. 92123).
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• 1985. O Artigo no Português Culto de São Paulo. Em:


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• 1989c. O Português do Brasil. Em: Rodolfo Ilari
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• 1989d. Para o estudo das Unidades discursivas do
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• 1989h. Processos de atenuação na fala culta. Em: Anais
do I Congresso Internacional da Faculdade de Letras da
UFRJ. Discurso e Ideologia. Rio de Janeiro: UFRJ/FJB,
pp. 258-261.
• 1990b. O Português culto falado no Brasil: História
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Em: Diário de Classe 3, Língua Portuguesa. São Paulo:
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• 1996 a. Gramática do português falado. Em: Atas do
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• 1996b. Sistemas de Preservação de Documentos
Literários: os arquivos e sua metodologia. Em: Anais
do 2o Encontro Nacional de Acervos Literários Brasileiros
[Cadernos do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS].
Porto Alegre: PUCRS, pp. 9-17.
• 1998 b. Langue parlée et processus grammaticaux. Em:
M. Bilger, K. van den Eynde; F. Gadet (Eds. 1998). Analyse
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Paris: Peeters, pp. 141-148.
• 1998 c. Aspectos teóricos de la descripción de la lengua
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• 1999 a. Advérbios de predicação quantificadora. Em:
Lélia Parreira Duarte et alii (Orgs. 1999). Para sempre
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Belo Horizonte: PUC Minas, 1999, pp. 96-113.
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A. Schönberger (Eds. 1999). Estudos de Gramática
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Samper Padilla; Magnolia Troya Déniz (Orgs. 2000).
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• 2000 d. Para um programa de pesquisas sobre a
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pp. 119-133.
• 2002 e. Adjectival hedges in Brazilian Spoken
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zwischen den Schulen. Soziolinguistische, konversa-
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• 2002 f. Aspecto verbal no português falado. Em Maria
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• 2002 h. Cartografias linguísticas no contexto latino-
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• 2003 a. Análise multissistêmica das preposições do
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mundoalfal.org/comissaodehistoriadoportugues.
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• 2004e. Reflexões sobre o português falado e o exercício
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Brasil en contexto: 1987-2007. Cali: Programa Editorial
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• 2007b. Abordagem da língua como um sistema
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R.E.V. Lopes; S.M.L. Cyrino (Orgs. 2007). Descrição,
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Pontes / Fapesp, pp. 329-360.
• 2007c. Análise multissistêmica das preposições do eixo
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• 2008b. Integrando a América Latina através da pesquisa


linguística. Em: Dermeval da Hora; Rubens Marques
de Lucena (Orgs. 2008). Política Linguística na América
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• 2008c. A teoria da pipoca cognitiva. Capítulo de
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Rodolfo Ilari. In: Rodolfo Ilari; Maria Helena de Moura
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v. 2, pp. 413-456.
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Editora Universitária, pp. 71-96 (reedição de 2008c).
• 2009b. Para uma análise multissistêmica das pre-
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• 2009d. Análise multissistêmica da sentença matriz.
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• 2009e. Análise multissistêmica das minissenten-
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2009). Dos sons às palavras: nas trilhas da língua por-
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EDUFBA. pp. 61-81.
• 2009f. O projeto caipira e a demografia histórica:
pontos de contacto. Em: Maria Sílvia C. B. Bassanezi;
Tarcísio R. Botelho (Orgs. 2009). Linhas e Entrelinhas:
as diferentes leituras das atas paroquiais dos setecentos
e oitocentos. Belo Horizonte: Obras em obras / Fapemig
/ Veredas, Cenários, pp. 235-256.
• 2010 a. Incorporação da oralidade no ensino do por-
tuguês. Em: Maria Célia Lima-Hernandes; Kátia de
Abreu Chulata, (Orgs. 2010). Língua Portuguesa em
foco: ensino-aprendizagem, pesquisa e tradução. Lecce:
Pensa MultiMidia Editore, pp. 113-130.
• 2010b. Mudança sintática sob a perspectiva funcional,
em coautoria com Célia Regina S. Lopes. Em: Dermeval
da Hora; Camilo Rosa Silva (Orgs.). Para a história do

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Pessoa: Ideia / Editora Universitária, 2010, v. VIII, pp.
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• 2010c. Para uma abordagem cognitivista-funcio-
nalista da gramaticalização. Em: Dermeval da Hora;
Camilo Rosa Filho (Orgs.). Para a História do Português
Brasileiro. João Pessoa: Ideia / Editora Universitária,
2010, v. VIII, p. 272-283.
• 2010d. Escrevendo gramáticas do português no séc.
XXI. Em: Conceição de M. A. Ramos; José de Ribamar
Mendes Bezerra; Maria de F. S. Rocha; Abdelhak Razky;
Marilúcia B. de Oliveira. (Orgs.). Pelos caminhos da
Dialetologia e da Sociolinguística: entrelaçando sabe-
res e vidas. Homenagem a Socorro Aragão. São Luís:
Editora da Universidade Federal do Maranhão, 2010,
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• 2011. Some representations of motion EP and BP
standards. Em: A.S. da Silva; A. Torres; M. Gonçalves
(Orgs. 2011). Línguas pluricêntricas. Variação linguística
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Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de
Braga, pp. 45-60.

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• 2012 a. Perspectiva multissistêmica da concordância na


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Moraes de Castilho. In: Maria Célia Lima-Hernandes;
Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (Orgs). História
do Português Paulista. Série Ensaios, vol. 3. Campinas:
Setor de Publicações do IEL/Unicamp, pp. 111-132.
• 2012b. Funcionalismo e gramáticas do português
brasileiro. Novos desdobramentos. Em: Edson R.F.
Souza (Org.) Funcionalismo linguístico. Novas tendên-
cias teóricas. São Paulo: Editora Contexto, 2012, pp.
17-42.
• 2013. Língua falada e ensino do português. Em:
Marco Antonio Martins; Maria Alice Tavares (Orgs.).
Contribuições da Sociolinguística e da Linguística
Histórica para o ensino de Língua Portuguesa. Natal:
Editora da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2013, pp. 191-212. ISBN 978-85-425-0030-1.
• 2014. Notas sobre a história da ALFAL (1999-2005). Em:
M. Luisa Calero Vaquera; Alfonso Zamorano Aguilar
(Coordinadores). Cincuenta años de la Asociación de
Linguística y Filología de la América Latina (ALFAL):
historia de una sociedade científico-linguística (1964-
2014). Montevideo: ALFAL, 2014, pp. 13-22.

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ATALIBA T. DE CASTILHO

• 2016. Contribuições de Luiz Antonio Marcuschi à


Linguística Brasileira. Em: Cleber Ataíde et al. GELNE
40 anos. São Paulo: Editora Edgar Blucher, 2016.
• 2017. Sistemas complexos e mudança linguística.
Estudo de caso: diacronia da concordância no Português
brasileiro. Gallaecia. Estudos de linguística portuguesa
e galega. Santiago de Compostela: Universidade de
Santiago de Compostela, pp. 95-118, 2017.
• 2019. Relatório da diretoria da ABRALIN, de 1983 a
1985. Em: Miguel Oliveira Jr. (Org. 2019). 50 anos de
Abralin. Memórias e perspectivas. Campinas: Pontes,
p. 95-100, 2019.
• 2019. Projeto NURC e teorização linguística. Em:
Miguel Oliveira Jr. (Org. 2019). NURC, 50 anos, 1969-
2019. São Paulo: Parábola, p. 19-54, 2019.
• 2019. Arte da aula. Em: Denilson Soares Cordeiro;
Joaci Pereira Furtado (Org. 2019). Arte da Aula. São
Paulo: Edições SESC, p. 49-63, 2019.
• 2019. Síntese dos achados do Projeto para a História
do Português Brasileiro. Em: Clarinda de Azevedo
Maia; Isabel Almeida Santos (Coords. 2019). Estudos
de Linguística Histórica. Mudança e estandardização.

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53-88, 2019.

Artigos em revistas especializadas


• 1962b. A Língua Portuguesa no Brasil. Alfa 1: 9-24,
1962
• 1962c. Estudos Linguísticos no Brasil. Alfa 2: 135-143,
1962.
• 1963. A Reforma dos Cursos de Letras. Alfa 3: 5-44,
1963.
• 1963b. Estruturalismo, História e Aspecto Verbal.
Alfa 4: 138-166, 1963.
• 1964 a. A Poesia de Carlos Drummond de Andrade.
Alfa 5/6: 9-40, 1994.
• 1965b. Metodologia da Redação. Didática 2: 35-48,
1965.
• 1965c. Recursos da Linguagem Impressionista em
Raul Brandão. Alfa 7/8: 19-38. 1965.
• 1965d. A Cadeira de Linguística no Curso de
Letras. Alfa 7/8: 155-161, 1965.

46
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 1967b. A Onomasiologia no Léxico e na Sintaxe, de


parceria com Enzo Del Carratore. Alfa 11: 129-150,
1967.
• 1969 a. Projeto de Descrição do Português Culto na
Área Paulista. Letras de Hoje 4: 73-78, 1969.
• 1969b. A Descrição do Português Culto. Suplemento
Literário de O Estado de São Paulo (OESP), 23.3.1969,
reproduzido em Letras de Hoje 3: 117-123, 1969.
• 1970b. Sur l’aspect verbal en portugais. Revue rou-
maine de linguistique 15: 247-249, 1970.
• 1972 a. Rumos da Dialetologia Portuguesa. Alfa 18/19:
115-153, 1972/1973. [Miscelânea de Estudos Dedicados
a Theodoro Henrique Maurer Jr.].
• 1973b. Pós-Graduação e Planejamento da Pesquisa
Linguística. Alfa 18/19, 497-515, 1972/1973.
• 1973c. O Estudo da Norma Culta do Português do
Brasil. Vozes 67/8: 21-25, 1973.
• 1974. A Linguística Aplicada ao Ensino do Português.
Didática 9/10: 5-14, 1974.
• 1978e. Análise Preliminar dos Demonstrativos. Estudos
Linguísticos 1: 30-35, 1978 [Anais dos Seminários do
GEL].

47
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 1978f. A Norma Urbana Culta da Cidade de São Paulo:


problemas de transcrição. Estudos Linguísticos 2: 310,
1978.
• 1978g. A Dimensão Textual do Verbo. Estudos
Linguísticos 2: 125-140, 1978.
• 1978h. Variação Dialetal e Ensino Institucionalizado
da Língua Portuguesa. Cadernos de Estudos Linguísticos
1: 18-25, 1978. Republicado com alterações em A. T. de
Castilho (Org. 1978a, vol. 4: 32-43), 1978.
• 1979b. A Constituição da Norma Pedagógica
Portuguesa. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
22: 9-18, 1979.
• 1982. Norma culta de São Paulo: singularidade ou
pluralidade? Boletim da ABRALIN 3: 18-31, 1982.
• 1983 a. O Papel da Linguística na identificação do
padrão linguístico. Boletim da ABRALIN 4: 60-66, 1983.
• 1983b. Variedades Conversacionais. Boletim da
ABRALIN 5: 40-53, 1983.
• 1984c. Ainda o Aspecto Verbal. Estudos Portugueses
e Africanos 4: 9-36, 1984.

48
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 1984d. Quinze anos de Grupo de Estudos Linguísticos


do Estado de São Paulo. Estudos Linguísticos 9: 10-20,
1984.
• 1987d. A Elipse do Sujeito no Português Culto Falado
em São Paulo. Estudos Linguísticos 14: 32-40, 1987.
• 1988. O Linguista Theodoro Henrique Maurer Jr.
Boletim da ABRALIN 10:53-63, 1991.
• 1989e. Da Análise da conversação para a análise gra-
matical. Estudos Linguísticos 17: 219-226, 1989.
• 1989f. Para uma Gramática do Português Falado.
Revista Internacional de Língua Portuguesa 1: 37-48,
1989.
• 1989g. O Papel do Grupo de Estudos Linguísticos do
Estado de São Paulo, de 1969 a 1971. Estudos Linguísticos
18: 14-20, 1989.
• 1990c. Português Falado e Ensino da Gramática.
Letras de Hoje 25/1, 103-136, 1990.
• 1990d. Sistema de Arquivos. Boletim do Centro de
Memória da Unicamp 3: 7-11, 1990.
• 1991b. Advérbios Modalizadores: um novo núcleo
predicador? em parceria com Mary Kato, como autora
principal. DELTA 7/1: 409-423, 1991.

49
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 1991c. Avanços na pesquisa sociolinguística: o estudo


da língua falada. Boletim da ABRALIN 12: 19-24, 1991.
• 1991d. Avaliação em Letras e Linguística. Boletim da
ANPOLL 15: 14-18, 1991.
• 1991e. Projeto de Gramática do Português Falado.
Revista Internacional de Língua Portuguesa 5/6: 169-179,
1991.
• 1993e. Adjetivos Predicativos, em parceria com Célia
M. Moraes de Castilho. Letras 5: 122-143, 1993.
• 1993g. A repetição no português falado. Linguística
5: 253-267, 1993.
• 1994 a. Problemas de Descrição da Língua Falada.
DELTA 10 (1): 47-71, 1994.
• 1994d. Para a História da Associação Brasileira
de Linguística, em parceria com Maria Cristina F.S.
Altman. Boletim da ABRALIN 16: 21-37, 1994.
• 1994e. Um ponto de vista funcional sobre a predica-
ção. Alfa 38: 75-96, 1994.
• 1995d. GEL, Novos Caminhos, em parceria com Dino
Preti, Mercedes S. Risso e Maria Bernadete M. Abaurre.
Estudos Linguísticos 24: 19-35 [Anais do GEL], 1995.

50
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 1997 a. A Gramaticalização. Estudos Linguísticos e


Literários [UFBa] 19: 25-63, março de 1997.
• 1997 b. Língua Falada e Gramaticalização. Filologia
e Linguística Portuguesa 1: 107-120, 1997.
• 1997 c. Projeto de Gramática do Português Falado.
Estudos Linguísticos 26: 62-73 [Anais do GEL], 1997.
• 1997 d. Para uma sintaxe da repetição. Língua falada
e gramaticalização. Língua e Literatura 22: 293-332,
1997.
• 1998 f. História do Português de São Paulo. Grupo
de Trabalho, com a participação de Marcelo Módolo,
Marcos R. Sagatio, Verena Kewitz e Glauce Passeri.
Estudos Linguísticos 27: 190-198 [Anais do GEL], 1998.
• 1999 c. Advérbios qualificadores no português falado.
Boletín de Filologia – Homenaje a Ambrosio Rabanales,
tomo XXXVII: 271-300, 1998-1999.
• 2000 a. O modalizador “realmente” no português
falado. Alfa 44: 2000, 147-170 [Miscelânea de Estudos
dedicados a Francisco da Silva Borba], 2000.
• 2000 b. 30 anos do GEL - novos compromissos cien-
tíficos. Estudos Linguísticos 29: 7-15 [Anais do GEL],
2000.

51
ATALIBA T. DE CASTILHO

• 2000 e. Seria a língua falada mais pobre que a língua


escrita? Impulso. Revista de Ciências Sociais e Humanas
[Unimep] 12 (27): 59-72, 2000.
• 2001 a. Reflexões sobre a Área de Filologia e Língua
Portuguesa. Filologia e Linguística Portuguesa 4: 221-
290, 2001.
• 2002 b. Linguística cognitiva e tradição funcionalista.
Estudos Linguísticos 32: 2002 (cd-rom), 2002.
• 2003/2004. Gramática do português culto falado
no Brasil – quadro descritivo e perspectivas teóricas.
Linguística 15/16: 69-98, 2003/2004.
• 2004 a. Unidirectionality or multidirectionality? Some
issues on grammaticalization. Revista do GEL 01: 35-48,
2004.
• 2004 b O problema da gramaticalização das preposi-
ções no Projeto para a História do Português Brasileiro.
Estudos Linguísticos 33 (2004), CD-ROM.
• 2006 a. Repercussões das pesquisas de graduação na
qualidade dos programas de pós-graduação. Cadernos
de Pesquisa na Graduação em Letras 3 (1): 13-16, 2006.
• 2007b. Fundamentos teóricos da gramática do por-
tuguês culto falado no Brasil: sobre o segundo volume,

52
ATALIBA T. DE CASTILHO

Classes de Palavras e construções gramaticais. Alfa 51


(1): 99-136, 2007.
• 2007c. An approach to language as a complex system.
New issues in Historical Linguistics. Signos linguísticos
6: Julio-diciembre: 83-120, 2007. Republicado em A. T.
de Castilho (Org. 2009: 119-136).
• 2007d. As Letras no Ensino e na Pesquisa. Veredas
on line – Ensino. Juiz de Fora MG, 2/2007, p. 5-22.
• 2010. Português Brasileiro: descrição, história, teori-
zação. Linguística 24: 77-100, 2010.
• 2011. História do Português de São Paulo. Apresentação.
Filologia e Linguística Portuguesa: 13 (1): 7-16, 2011.
• 2017. A UNESP e a linguística brasileira. Estudos
Linguísticos, 46 (1): p. 109-137, 2017.
• 2020. A repetição na língua falada - propriedades
discursivas e gramaticais, coautoria com Jose Elderson
de Souza-Santos, Abdulai Danfa. Revista do GEL vol.
17, DOI 10.21165/GEL.v17i3.2883, 2020.

53
ATALIBA T. DE CASTILHO

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Na metodologia, os critérios de transcrição das entrevistas.
Na análise, a identificação das categorias mencionadas no
cap. 5 de minha Nova Gramática do Português Brasileiro,
Conversação e texto.

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
A Análise da Conversação não é propriamente uma teoria
do texto. É o estudo empírico dessa manifestação linguística.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos, mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações, bem como interfaces da Análise
da Conversação?
Não sei se entendi bem a pergunta, mas não há dúvida de
que a Análise da Conversação abre caminhos para o estudo
da estrutura das línguas naturais, pois mostra a língua no
momento de sua produção.

54
ATALIBA T. DE CASTILHO

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Mostrar que antes de estudar a língua escrita, principal-
mente, deveríamos estudar a língua falada. As categorias
aí identificadas poderiam, então, ser comparadas com as
categorias da língua escrita. Isso mostrará aos alunos como
aprendemos a língua falada em família, e a língua escrita,
na escola.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
A principal contribuição da AC foi mostrar uma coisa
que estava diante de todos nós, mas de que não nos tínhamos
dado conta, que é a oralidade, ou seja, a língua da família.
Foi preciso esperar que se inventasse o gravador portátil para
podermos analisar as categorias da oralidade e seus correlatos
na língua escrita. Mostro isso em minha Nova gramática.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Menciono isso na gramática citada. Os dados bibliográ-
ficos completos aparecem na bibliografia dessa gramática:

55
ATALIBA T. DE CASTILHO

leituras sobre análise da conversação


• Grice (1967/1982), Sacks; Schegloff; Jefferson (1974 /
2003), Schenkein (ed. 1978), Ozakabe (1979), Beaugrande
(1980), Beaugrande; Dressler (1981), Goodwin (1981),
Coulmas (ed. 1981), Levinson (1983: cap. 6), Lavandera
(1984), Marcuschi (1986), Coulthard (1987), Andrade
(1990), Brait (1993, 2002), Koch; Barros (1993, Org.
1997, 2002), Aquino (1997), Oliveira (1997, 1998), Gavasi
(1987), Castilho (1998: cap. 1), Preti (Org. 2002, 2002),
Hilgert (2002), Galembeck (2002).
• Sobre unidades discursivas e parágrafos (= discursivi-
zação), ver Garcia (1967/1982), Pike e Pike (1977), Chafe
(1987a ), Castilho (1989b), Jubran et al. (1992), Jubran
(2006a ), Koch (2006), Risso, Oliveira e Silva e Urbano
(2006), Risso (2006), Urbano (2006), entre outros.
• Sobre reformulação tópica, repetição, correção, para-
fraseamento (= rediscursivização), ver Perini (1980),
Marcuschi (1983, 1992, 1996, 2006b); Ramos (1984),
Travaglia (1989 a,b), Hilgert (1989, 2006), Dutra (1990),
Koch (1990, 1992 a), Braga (1990), Castro (1994), Neves e
Braga (1996), Camacho (1996b), Castilho (1997c, 1998a),
Oliveira (1997, 1998), Camacho e Pezatti (1998), Fávero,
Andrade e Aquino (1996, 1998, 1999, 2006), entre outros.

56
ATALIBA T. DE CASTILHO

• Sobre descontinuação tópica, hesitação, interrupção,


digressão, parentetização (= desdiscursivização), ver
Andrade (1995), Jubran (2006b), entre outros.
• Sobre marcadores discursivos há uma rica bibliogra-
fia, desde os trabalhos pioneiros de Bally (1951, 1952),
Beinhauer (1964), Keller (1979), até a explosão dos estu-
dos sobre a oralidade, em que o Brasil assumiu uma
presença forte: Ilari (1986 b), Marcuschi (1986, 1989),
Andrade (1990), Rosa (1990), Risso (1993, 1996, 2006),
Urbano (1993, 2006), Castilho (1998a, cap. ii), Risso,
Oliveira e Silva e Urbano (2006, 2006), entre outros.

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Tenho lidado com os procedimentos conversacionais
sobre que assentam as categorias gramaticais. Não dá para
resumir tudo isso aqui.

57
ATALIBA T. DE CASTILHO

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Em algum momento, mais teorizações poderiam ser
feitas com base no que a Análise da Conversação descobriu.
Dei minha colaboração, desenvolvendo aquilo a que chamo
“Abordagem multissistêmica das línguas naturais”. Minha
Nova Gramática foi escrita com base nessa abordagem.

58
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS
Professora da Universidade de Valência
| UV – Departamento de Teoria das
Linguagens e Ciências da Comunicação

Antes de começar, gostaria de


expressar minha gratidão por seu
interesse nesta entrevista, espero
poder contribuir com minha
experiência. Muito obrigada.

Beatriz Gallardo-Paúls

1) Como chegou à Análise da Conversação? Que autores


lhe serviram de inspiração?
Iniciei os meus estudos de doutoramento em 1989; naquele
momento, o itinerário investigador da universidade espanhola
tinha um primeiro trabalho (tese de licenciatura) que servia

59
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

de antessala à tese de doutoramento. Li essa tese em 1990,


atendendo ao estado da questão dos estudos sobre discurso
oral. Paralelamente, comecei meu desenho de um corpus de
conversas gravadas (normalmente em contextos informais,
sem conhecimento dos demais participantes, bem como
conversas telefônicas). Nesses primeiros anos, usei o sistema
de transcrição desenvolvido por Gail Jefferson para suas
transcrições das aulas de Harvey SACKS, mas com algumas
peculiaridades devidas à adaptação a um teclado McIntosh
(eram outros tempos, não era fácil a interoperabilidade entre
sistemas nem a introdução de diacríticos no Word).
Naqueles momentos, toda a pragmática (considero que
tanto a análise conversacional como a análise do discurso
são dimensões aplicadas da pragmática) vivia uma etapa
de efervescência epistemológica e de tentativa de fixação
do objeto de estudo. A análise do discurso que me interes-
sava era o desenvolvido fundamentalmente pelos autores
de Birmingham, reunidos em torno de John Sinclair. Esta
escola tratava de realizar uma análise da língua falada que
se ajustasse aos orçamentos gramaticais estabelecidos por
HALLIDAY em seu artigo de 1961 “Categorias da teoria da
Gramática”. Isto explica que a segunda época da escola (nos
anos 1980) tenha sido desenvolvida, fundamentalmente, pelos
autores sistêmicos de Nottingham.

60
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

A pragmática nos remete, é claro, a nomes como Austin,


Searle e Grice, mas no estudo da interação falada do
momento se concretizava, especialmente, nos linguistas das
Universidades de Genebra e de Lyon, cujos representantes,
que agrupo sob a epígrafe de pragmática dialógica, destaco
Eddy Roulet e Catherine Kerbrat-Orecchioni, bem como
Antoine Auchlin o Trognon.
Ambas as tendências, a análise do discurso e a pragmá-
tica dialógica, tinham em comum uma tradição linguística
na qual se baseavam, e um tratamento dos dados bastante
reducionista. Em geral, não encontramos em seus trabalhos
dados procedentes da interação cotidiana, mas quase sempre
de conversas marcadas situacionalmente: professor-aluno,
médico-paciente, comerciante-cliente etc. São, em sua maio-
ria, interações transacionais, ou seja, concebidas com uma
finalidade posterior que as justifique. Esta restrição no corpus
é acompanhada além de outra limitação na análise, e é que
nunca se supera o âmbito do intercâmbio.
Do meu ponto de vista, estas abordagens eram necessaria-
mente parciais e inadequadas para oferecer uma verdadeira
análise conversacional. Se a etnografia da comunicação
de Dell Hymes já tinha identificado unidades superiores
ao intercâmbio (o evento comunicativo), e a sociologia da
linguagem de Joshua Fishman tinha oferecido também

61
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

alguma tentativa de sua classificação, a análise linguística,


pensava, não podia prescindir de suas contribuições, tendo
só em conta a tradição gramatical. O próprio Halliday tinha
também defendido uma teoria que tivesse em conta a inter-
dependência entre o sistema da língua e o seu ambiente. Este
tipo de reflexões aumentou o atrativo que para nós oferecia
a análise conversacional etnometodológica, desenvolvida na
Universidade da Califórnia por Harvey Sacks e seus colegas.
Em comparação com as duas escolas anteriores, estes eram
os seus sinais de identidade, realçados num artigo fundador
da SACKS de 1972 (On the usability of conversational data
for Doing Sociology):
• origem sociológica e não linguística;
• rejeição explícita de uma metalinguagem anterior à
análise dos dados;
• dados de conversas cotidianas reais gravadas;
• importância atribuída aos princípios sociais que regem
a interação;
• atenção à organização sequencial.
Estas características propiciavam uma análise conver-
sacional muito produtiva, e com uma grande capacidade de
descrição. Mas, evidentemente, falhava em outros aspectos.
Por exemplo, a rejeição inicial da Sacks em relação a uma

62
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

metalinguagem anterior tornou-se progressivamente a ausên-


cia de tal metalinguagem, e as noções básicas, como “sequên-
cia”, “preferência”, ou mesmo “turno”, eram manipuladas de
forma contraditória por cada autor. Por outro lado, o interesse
sociológico negligenciava a análise de traços gramaticais ou
pragmáticos, análise que, no entanto, a pragmática havia
desenvolvido com inegável acerto. Em terceiro lugar, embora
os linguistas europeus incorporem sempre as conclusões
básicas da análise conversacional americana (organização
tópica, a tomada de turno...), os autores norte-americanos
raramente demonstram alguma base linguística nas suas
análises.
Este era o quadro básico que refletia minha tese de licen-
ciatura, cuja pretensão final era poder oferecer um modelo
de descrição capaz de incorporar e conciliar as contribuições
fundamentais das três escolas.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos destacaria?
Há três trabalhos da minha fase inicial que se centram
na descrição do discurso conversacional.
• Em 1993, publiquei Lingüística perceptiva y conversa-
ción: secuencias (Ed. Universitat de València), texto no

63
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

qual caracterizei a unidade conversacional máxima,


a sequência, constituída por um intercâmbio ou con-
junto de intercâmbios dotado de entidade temática e/
ou funcional.
• Em 1996, na editora Episteme, publiquei Análisis con-
versacional y pragmática del receptor, Análise conver-
sacional e pragmática do receptor, quando me ocupei
dos níveis inferiores à sequência. Hoje, não subscreveria
algumas formas rígidas do modelo teórico que eu usei
então, mas basicamente mantenho o inventário de
categorias e unidades.
• Em 1998, publiquei dois cadernos na editora Arco, nos
quais propus as bases da análise conversacional e meu
modelo de análise estrutural.
Em quarto lugar, creio que há dois livros que podem
ser especialmente interessantes porque representam minha
aplicação da análise conversacional à linguística clínica: são
o livro de 2005 Afasia y conversación: las habilidades conver-
sacionales del interlocutor clave (Ed. Tirant lo Blanch), y el
libro Pragmática para logopedas (publicado pela Universidade
de Cádiz em 2007).
A minha dedicação à linguística clínica, desde 1999, veio
motivada, sobretudo porque o meu ensino na universidade

64
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

me levou a dar aulas aos futuros fonoaudiólogos (foniatras/


terapeutas da fala). Depois, constatei que, curiosamente, este
mesmo salto tinha sido feito também por alguns dos autores
que mais admirava em análise conversacional, como Charles
Goodwin e Emmanuel Schegloff. Comecei trabalhando com
dados de falantes com afasia e depois me ocupei de outras
situações de dano cerebral, como a síndrome de Williams,
o Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade
(considerados, atualmente, transtornos diferentes), ou as
lesões do hemisfério direito. Em todos estes casos apliquei a
análise conversacional a dados ecológicos conversacionais,
e dirigi o Corpus PERLA (percepção, Linguagem e Afasia)
de discurso patológico. Penso que esta linha de investigação
continua a ser extremamente frutuosa e é um exemplo claro
de como as Humanidades contribuem para a ciência aplicada
básica; os protocolos de avaliação da linguagem e de inter-
venção logopédica baseados na análise conversacional têm
demonstrado a sua eficácia desde a década de 1980, e ainda
há um longo caminho a percorrer.

65
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Creio que a ciência é a linguística e que, na sua compar-
timentação disciplinar, a análise conversacional corresponde
à manifestação aplicada da pragmática interativa. Os meus
anos de trabalho com dados orais de natureza muito diferente
levaram-me a elaborar um modelo de pragmática em três
níveis, cada um com a sua dimensão aplicada. Descrevo-o
brevemente a seguir.
1. A pragmática enunciativa é a que surge ao considerar
todo enunciado objeto de uma enunciação (no sen-
tido de Emile Benveniste); as categorias fundamentais
deste nível são o ato de falar, a dêixis, e as inferências
(pressuposições, implicações e superestimados), cujo
eixo fundamental é a intencionalidade comunicativa
do emitente.
2. O texto pragmático centra-se nos aspectos derivados
dos princípios de coesão e coerência; as suas categorias
fundamentais são as superestruturas textuais, e todas as
manifestações gramaticais da enunciação (conectores,
por exemplo). A organização temática e a paralinguagem
(o paratexto de Gerard Genette) fazem também parte
deste nível.

66
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

3. A pragmática interativa corresponde à análise conver-


sacional e surge quando todo enunciado se concebe
integrado em uma cadeia interativa. Gosto de citar
Gregory Bateson e sua ideia de que o objeto de inte-
resse são as reações dos indivíduos às reações de outros
indivíduos. No terreno estrutural, as categorias são
as manejadas pelas diferentes escolas (com a habitual
discrepância interna segundo autores), e que derivam
do processo da tomada de turno: intervenção, troca e
par adjacente, e sequência conversacional. Os princípios
fundamentais que regem a pragmática interativa são
dois: um de natureza interna (a previsibilidade), que se
encarrega de ordenar o encadeamento conversacional, e
outro de natureza externa (a preferência ou prioridade),
que atende à dimensão social dos intercâmbios e ao seu
efeito nas nossas relações.
Quanto à metodologia, penso que já ninguém pode
duvidar da exigência de trabalhar com dados ecológicos,
obtidos em situações naturais, e transcritos mediante sistemas
específicos de notação que permitam recolher em cada caso
a informação necessária.

67
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
A análise conversacional integra na descrição todos os
aspectos relevantes do texto interativo; como disse, considera
que todo turno surge em um contexto (vivencial ou conversa-
cional) ao qual o emissor reage. Portanto, exige a confluência
da análise gramatical e o pragmático, diante de outros modelos
mais imanentes que desvinculam texto e contexto.
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de concei-
tos e procedimentos analíticos, mas também conhecer as
possibilidades de seu campo de pesquisa. Poderia destacar
as delimitações, assim como as interfaces da Análise da
Conversação?
Já mencionei limitações da análise conversacional dos
etnometodólogos, sobretudo o indutivismo. Outros mode-
los atendem menos às variáveis da enunciação e focalizam
excessivamente o enunciado.

6) Dos resultados dos seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
No contexto do ensino de segundas línguas, penso que
o estudo da conversação, como o desenvolvimento da prag-
mática intercultural demonstrou, pode-se dizer objetivado.

68
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

Ao integrar a prioridade (“Preference” dos etnometodólogos)


como princípio básico da conversação, que hierarquiza as
eleições conversacionais, a análise permite abordar diferenças
culturais que ocorrem dentro de uma mesma língua, já que
os códigos de cortesia e de ameaça/proteção da imagem são
variáveis entre diferentes culturas.
Mas existem outros desenvolvimentos aplicados, como já
referi, que podem ser importantes no ensino. Por exemplo, a
predictibilidade conversacional é um aspecto fundamental
na reabilitação dos falantes com déficit linguístico por dano
cerebral; os terapeutas devem saber que o paradigma con-
versacional é mais importante que o paradigma gramatical,
e que o fundamental é que os falantes consigam expressar-se
e transmitir sua intenção comunicativa.

7) A que avanços da Análise da Conversação na contempo-


raneidade daria relevo e como vê os desafios do seu futuro?
As aplicações da análise da conversação são múltiplas,
desde a linguística clínica à linguística forense. Creio que há
um campo muito interessante de futuro.

69
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

8) Que leituras indicaria para quem está iniciando seus


estudos na Análise da Conversação?
Acho que sempre tem que ler as fontes originais. O artigo
que Harvey Sacks, Emmanuel Schelgoff e Gail Jefferson publi-
caram, em 1974, em Language, estabelecendo as bases da
análise conversacional, há de ser leitura obrigatória, ainda
que na atualidade os famosos 14 traços já estejam superados
(pois são redundantes muitos deles).
Para a análise do discurso, recomendaria o livro de Michel
Stubbs de 1989, Análisis del discurso (Análise do discurso),
que está traduzido pela Alianza.

9) O que hoje chamamos de Análise de Conversação tem


várias subáreas, cada uma com características distintas.
Em qual (ou quais) destas subáreas se situa e quais são as
suas características?
O rótulo “análise da conversação” (AC) é frequentemente
utilizado para se referir, exclusivamente, ao modelo iniciado
por Harvey Sacks, no final da década de 1960, em Berkeley.
Creio que aquilo a que os autores de Birmingham chamaram
“análise do discurso” ou os estudos de autores francófonos
ligados a Eddy Roulet cabem também na denominação geral
de análise da conversa.

70
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

Tirei elementos de todas estas escolas. Penso que a con-


tribuição fundamental da escola de Birmingham é a noção
de “previsibilidade”, cujo alcance operacional é enorme.
Paralelamente, os etnometodólogos utilizam a ideia de
“pertinência condicionada” e a pragmática dialógica fala
de “restrições de encadeamento”. Sem dúvida, estas noções
são um eixo essencial na análise da conversação de todas as
possíveis escolas.

71
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS
Professora da Universidade de Valência
| UV – Departamento de Teoria das
Linguagens e Ciências da Comunicação
Versão em espanhol

Preguntas de la entrevista
Antes de empezar, quiero trasladaros mi gratitud por
vuestro interés para esta entrevista, espero poder aportar
algo con mi experiencia. Muchas gracias.

1) ¿Cómo llegaste al Análisis de la Conversación? ¿Qué


autores te sirvieron de inspiración?
Inicié mis estudios de doctorado en 1989; en aquel
momento, el itinerario investigador de la universidad española
tenía un primer trabajo (la Tesina o Tesis de licenciatura)

72
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

que servía de antesala a la tesis de doctorado. Leí esa tesina


en 1990, atendiendo al estado de la cuestión de los estudios
sobre discurso oral. Paralelamente, comencé mi diseño de
un corpus de conversaciones grabadas (normalmente en
contextos informales, sin conocimiento de los demás partici-
pantes, así como conversaciones telefónicas). En esos primeros
años utilicé el sistema de transcripción desarrollado por
Gail JEFFERSON para sus transcripciones de las clases de
Harvey SACKS, pero con algunas peculiaridades debidas a
la adaptación a un teclado McIntosh (eran otros tiempos, no
era fácil la interoperabilidad entre sistemas ni la introducción
de diacríticos en Word).
En aquellos momentos toda la pragmática (considero que
tanto el análisis conversacional como el análisis del discurso
son dimensiones aplicadas de la pragmática) vivía una etapa
de efervescencia epistemológica y de intento de fijación del
objeto de estudio. El análisis del discurso que me intere-
saba era el desarrollado fundamentalmente por los autores
de Birmingham reunidos en torno a John SINCLAIR. Esta
escuela trataba de realizar un análisis de la lengua hablada que
se adecuara a los presupuestos gramaticales establecidos por
HALLIDAY en su artículo de 1961 “Categorías de la teoría de
la Gramática”. Esto explica que la segunda época de la escuela

73
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

(en los años 80) haya sido desarrollada fundamentalmente


por los autores sistémicos de Nottingham.
La pragmática nos remite, por supuesto, a nombres como
AUSTIN, SEARLE y GRICE, pero en el estudio de la inte-
racción hablada del momento se concretaba especialmente
en los lingüistas de las Universidades de Ginebra y de Lyon,
entre cuyos representantes, que agrupé bajo el epígrafe de
pragmática dialógica, destaco a Eddy ROULET y a Catherine
KERBRAT-ORECCHIONI, así como Antoine AUCHLIN o
TROGNON.
Ambas tendencias, el análisis del discurso y la pragmática
dialógica, tenían en común una tradición lingüística en la que
se apoyaban, y un tratamiento de los datos bastante reduc-
cionista. En general, no encontramos en sus trabajos datos
procedentes de la interacción cotidiana, sino casi siempre de
conversaciones marcadas situacionalmente: profesor-alumno,
médico-paciente, comerciante-cliente, etc. Son, pues, en su
mayoría, interacciones transaccionales, es decir, concebidas
con alguna finalidad ulterior que las justifica. Esta restricción
en el corpus se acompaña además de otra limitación en el
análisis, y es que nunca se supera el ámbito del intercambio.
Desde mi punto de vista, estos enfoques eran necesaria-
mente parciales, e inadecuados para ofrecer un verdadero
análisis conversacional. Si la etnografía de la comunicación

74
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

de Dell HYMES había identificado ya unidades superiores al


intercambio (el acontecimiento comunicativo), y la sociología
del lenguaje de Joshua FISHMAN había ofrecido también
algún intento de clasificación de las mismas, el análisis lin-
güístico, pensaba, no podía prescindir de sus aportaciones,
teniendo sólo en cuenta la tradición gramatical. El propio
HALLIDAY había defendido también una teoría que tuviese
en cuenta la interdependencia entre el sistema de la lengua y su
entorno. Este tipo de reflexiones aumentó el atractivo que para
nosotros ofrecía el análisis conversacional etnometodológico
desarrollado en la Universidad de California por Harvey
SACKS y sus colegas. Frente a las dos escuelas anteriores,
estas eran sus señas de identidad, puestas de manifiesto en
un artículo fundacional de SACKS de 1972 («On the usability
of conversational data for doing sociology»):
• procedencia sociológica y no lingüística
• rechazo explícito de un metalenguaje que fuera anterior
al análisis de los datos
• datos provenientes de conversaciones cotidianas reales
grabadas
• importancia concedida a los principios sociales que
gobiernan la interacción
• atención a la organización secuencial.

75
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

Estas características propiciaban un análisis conversacio-


nal muy productivo, y con una gran capacidad de descripción.
Pero evidentemente, fallaba en otros aspectos. Por ejemplo,
el rechazo inicial de SACKS hacia un metalenguaje previo se
convertía progresivamente en la ausencia de tal metalenguaje,
y las nociones básicas, como “secuencia”, “preferencia”, o
incluso “turno”, se manejaban de manera contradictoria por
cada autor. Por otra parte, el interés sociológico descuidaba
el análisis de rasgos gramaticales o pragmáticos, análisis que,
sin embargo, la pragmática había desarrollado con innegable
acierto. En tercer lugar, si bien los lingüistas europeos incor-
poran siempre los hallazgos básicos del análisis conversacional
estadounidense (organización tópica, la toma de turno...), los
autores norteamericanos rara vez demuestran alguna base
lingüística en sus análisis.
Este era el panorama básico que reflejaba mi Tesis de
Licenciatura, cuya pretensión final era poder ofrecer un
modelo de descripción capaz de incorporar, conciliándolas,
las aportaciones fundamentales de las tres escuelas.

76
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

2) ¿Cuáles de tus producciones en revistas y/o en libros


impresos o electrónicos destacarías?
Hay tres trabajos de mi etapa inicial que se centran en la
descripción del discurso conversacional.
• En 1993 publiqué Lingüística perceptiva y conversa-
ción: secuencias (Ed. Universitat de València), donde
caracterizaba la unidad conversacional máxima, la
secuencia, constituida por un intercambio o conjunto de
intercambios dotado de entidad temática y/o funcional.
• En 1996, en la editorial Episteme, publiqué Análisis
conversacional y pragmática del receptor, donde me
ocupaba de los niveles inferiores a la secuencia. Ahora
no suscribiría algunas rigideces del modelo teórico
que utilicé entonces, pero básicamente mantengo el
inventario de categorías y unidades.
• En 1998 publiqué dos cuadernillos en la editorial Arco
donde planteaba las bases del análisis conversacional y
mi modelo de análisis estructural.
En cuarto lugar, creo (me disculpo por la inmodestia) que
hay dos libros que pueden resultar especialmente interesantes
porque representan mi aplicación del análisis conversacional
a la lingüística clínica: son el libro de 2005 Afasia y conver-
sación: las habilidades conversacionales del interlocutor clave

77
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

(Ed. Tirant lo Blanch), y el libro Pragmática para logopedas


(publicado por la Universidad de Cádiz en 2007).
Mi dedicación a la lingüística clínica desde 1999 vino
motivada, sobre todo, porque mi docencia en la universidad
me llevó a impartir clase a los futuros logopedas (foniatras
/ terapeutas del habla). Luego comprobé que, curiosamente,
este mismo salto lo habían hecho también algunos de los
autores que más admiraba en análisis conversacional, como
Charles GOODWIN y Emmanuel SCHEGLOFF. Empecé
trabajando con datos de hablantes con afasia y luego me
ocupé de otras situaciones de daño cerebral, como el sín-
drome de Williams, el Trastorno por Déficit de Atención
y/o Hiperactividad (considerados actualmente trastornos
distintos), o las Lesiones de Hemisferio Derecho. En todos
estos casos apliqué el análisis conversacional a datos ecológicos
conversacionales, y dirigí el Corpus PERLA (PERcepción,
Lenguaje y Afasia) de discurso patológico. Creo que esta línea
de investigación sigue siendo tremendamente fructífera y es
un ejemplo claro de cómo las Humanidades contribuyen a
la ciencia aplicada básica; los protocolos de evaluación del
lenguaje y de intervención logopédica basados en el análisis
conversacional llevan demostrando su eficacia desde los años
80, y sigue habiendo un largo camino por recorrer.

78
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

3) Considerando el Análisis de la Conversación como


Ciencia, ¿cuáles son sus procedimientos metodológicos y
sus principales categorías analíticas?
Creo que la ciencia es la lingüística y que, en su comparti-
mentación disciplinar, el análisis conversacional corresponde
a la manifestación aplicada de la pragmática interactiva. Mis
años de trabajo con datos orales de muy distinta naturaleza
me han llevado a elaborar un modelo de pragmática en tres
niveles, cada uno de los cuales tiene su dimensión aplicada.
Lo describo brevemente a continuación.
1. La pragmática enunciativa es la que surge al considerar
todo enunciado objeto de una enunciación (en el sentido
de Émile BENVENISTE); las categorías fundamen-
tales de este nivel son el acto de habla, la deixis, y las
inferencias (presuposiciones, implicaturas y sobreen-
tendidos), cuyo eje fundamental es la intencionalidad
comunicativa del emisor.
2 La pragmática textual se centra en los aspectos derivados
de los principios de cohesión y coherencia; sus categorías
fundamentales son las superestructuras textuales, y
todas las manifestaciones gramaticales de la enunciación
(conectores, por ejemplo). La organización temática y
el paralenguaje (el paratexto de Gerard GENETTE)
forman parte también de este nivel.

79
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

3. La pragmática interactiva corresponde al análisis con-


versacional y surge cuando todo enunciado se concibe
integrado en una cadena interactiva. Aquí me gusta
citar a Gregory BATESON y su idea de que el objeto
de interés son las reacciones de los individuos a las
reacciones de otros individuos. En el terreno estruc-
tural las categorías son las manejadas por las distintas
escuelas (con la habitual discrepancia interna según
autores), y que derivan del proceso de la toma de turno:
intervención, intercambio y par adyacente, y secuencia
conversacional. Los principios fundamentales que rigen
la pragmática interactiva son dos: uno de naturaleza
interna (la predictibilidad), que se encarga de ordenar
el encadenamiento conversacional, y otro de naturaleza
externa (la preferencia o prioridad), que atiende a la
dimensión social de los intercambios y su efecto en
nuestras relaciones.
Respecto a la metodología, creo que ya nadie puede dudar
de la exigencia de trabajar con datos ecológicos, obtenidos
en situaciones naturales, y transcritos mediante sistemas
específicos de notación que permitan recoger en cada caso
la información necesaria.

80
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

4) ¿Cuáles son las preocupaciones específicas del Análisis


de la Conversación que la diferencian de otras teorías del
texto?
El análisis conversacional integra en la descripción todos
los aspectos relevantes del texto interactivo; como he dicho,
considera que todo turno surge en un contexto (vivencial o
conversacional) al que el emisor reacciona. Por tanto, exige
la confluencia del análisis gramatical y el pragmático, frente
a otros modelos más inmanentistas que desvinculan texto
y contexto.

5) Buscar implica no solo tener el conocimiento de con-


ceptos y procedimientos analíticos, sino también conocer
las posibilidades de su campo de investigación. ¿Podría
resaltar delimitaciones, así como interfaces del Análisis
de la Conversación?
YA he mencionado limitaciones del análisis conversacional
de los etnometodólogos, sobre todo el inductivismo. Otros
modelos atienden menos a las variables de la enunciación y
focalizan excesivamente el enunciado.

81
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

6) De los resultados de sus trabajos, ¿sería posible indicar


contribuciones para la enseñanza?
En el contexto de la enseñanza de segundas lenguas, sí creo
que puede objetivarse el estudio de la conversación, tal y como
ha demostrado el desarrollo de la pragmática intercultural. Al
integrar la prioridad (“preference” de los etnometodólogos)
como principio básico de la conversación, que jerarquiza las
elecciones conversacionales, el análisis permite abordar dife-
rencias culturales que ocurren dentro de una misma lengua,
ya que los códigos de cortesía y de amenaza/protección de la
imagen son variables entre diferentes culturas.
Pero existen otros desarrollos aplicados, como ya he
señalado, que pueden ser importantes en la enseñanza. Por
ejemplo, la predictibilidad conversacional es un aspecto fun-
damental en la rehabilitación de los hablantes con déficit
lingüístico por daño cerebral; los terapeutas deben saber que
el paradigma conversacional es más importante que el para-
digma gramatical, y que lo fundamental es que los hablantes
consigan expresarse y transmitir su intención comunicativa.

82
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

7) A qué avances del Análisis de la Conversación en la


contemporaneidad daría relieve y cómo ¿Ves los desafíos
de tu futuro?
Las aplicaciones del análisis de la conversación son múlti-
ples, desde la lingüística clínica a la lingüística forense, creo
que hay un campo muy interesante de futuro.

8) ¿Qué lecturas indicaría para quien está iniciando sus


estudios en el Análisis de la Conversación?
Creo que siempre hay que leer las fuentes originales. El
artículo que Harvey SACKS, Emmanuel SCHELGOFF y Gail
JEFFERSON publicaron en 1974 en Language, sentando las
bases del análisis conversacional, ha de ser lectura obligato-
ria, aunque en la actualidad los famosos 14 rasgos estén ya
superados (pues son redundantes muchos de ellos).
Para el análisis del discurso yo recomendaría el libro
de Michel STUBBS de 1989, Análisis del discurso, que está
traducido en Alianza.

83
BEATRIZ GALLARDO-PAÚLS

9) Lo que hoy llamamos el Análisis de la Conversación tiene


varias subáreas, cada una con características distintivas.
¿En cuál (o cuáles) de estas subáreas se ubica y cuáles son
sus características?
Es frecuente que se utilice la etiqueta «análisis de la conver-
sación» (AC) para referirse exclusivamente al modelo iniciado
por Harvey SACKS a finales de los años 60 en Berkeley. Yo
creo que lo que los autores de Birmingham llamaron «análisis
del discurso» o los estudios de autores francófonos vinculados
a Eddy ROULET caben también en la denominación general
de análisis de la conversación.
Yo he tomado elementos de todas estas escuelas. Creo
que la aportación fundamental de la escuela de Birmingham
es la noción de «predictibilidad», cuyo alcance operativo es
enorme. Paralelmente, los etnometodólogos utilizan la idea
de «pertinencia condicionada» y la pragmática dialógica
habla de «restricciones de encadenamiento». Sin duda estas
nociones son un eje esencial en el análisis de la conversación
de todas las posibles escuelas.

84
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI
Professora honorária, Université Lumiere
Lyon 2 e Institut Universitaire de France

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Sem voltar a toda minha carreira como linguista, recordo
o título da minha tese de doutorado (defendida em 1977), um
título na forma de um itinerário De la sémantique lexicale à
la sémantique de l’énonciation (um longo caminho, uma vez
que esta tese não é inferior a 1.700 páginas).
Com efeito, tendo entrado em linguística na época do
estruturalismo triunfante, e sendo desde sempre fascinada
pelos fenômenos de sentido, comecei por praticar a semântica
estrutural, dita “componencial” ou “sêmica” (na linhagem de
Greimas e de Bernard Pottier). Sem questionar a relevância
teórica e a eficácia metodológica deste modelo, logo me senti

85
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

limitada nesta abordagem lexical, e comecei a me interessar


por unidades de dimensão superior à palavra, até o texto e
passando pelo enunciado. Deve-se dizer que várias aborda-
gens ao discurso e aos textos estavam se desenvolvendo na
França: abordagem marxista-harrisiana de Michel Pêcheux,
abordagem narratológica de Greimas, abordagem semio-
lógica de Barthes...: tínhamos muitas escolhas a fazer. Ao
mesmo tempo, houve uma saída do dogma saussuriano da
“imanência” (para descrever a linguagem “em si e por si só”),
com importância crescente dada às condições de produção do
discurso, bem como aos seus métodos de recepção. Quanto
ao programa, estava interessada na sequência do trabalho
de Émile Benveniste (um dos meus grandes inspiradores
nesta fase da minha reflexão), nos vários locais de inscrição
na declaração de assunto de enunciação (unidades dêitica,
matricial e axiológica, modalização e outras manifestações
de «subjetividade» linguística: ver L’énonciation. De la sub-
jectivité dans le langage, publicado em 1980). Em termos
de recebimento, trata-se de tentar entender como os sujei-
tos estavam fazendo o “cálculo interpretativo”, utilizando
várias “habilidades”. (Linguisticamente, mas também no
que se refere ao “enciclopédico” e ao contextual, ao “lógico”
e ao “retórico-pragmático”, com a intervenção de “máximos
conversacionais”, conforme formulado por Paul Grice, Dan
Sperber e Deirde Wilson). Como a operação de extração do

86
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

sentido do enunciado é mais complexa no caso dos conteúdos


implícitos (pressupostos, subentendidos, inferências etc.), dedi-
quei-me a descrever este tipo de funcionamento semântico,
inspirando-me, desta vez, nos trabalhos de Oswald Ducrot
Paralelamente, fui levada a interessar-me também pelos atos de
linguagem indireta (desta vez, na perspectiva anglo-saxônica
de Austin e Searle), fenômenos que reformulei em termos de
“tropos ilocutórios”, o que me permitiu inseri-los no âmbito
de uma “teoria extensiva dos tropos”, teoria na qual os tro-
pos “semânticos” da retórica clássica foram acrescentados
aos tropos “pragmáticos”, como os tropos ilocutórios, mas
também “comunicativos” (ver L’implicite, 1986 e Les actes de
langage dans le discours, 2001[texto traduzido em português
em 2005, Atos de Linguagem no Discurso, Niterói, edUFF]).
Se me permito recordar tudo isto, é porque estes diversos
elementos de reflexão constituem instrumentos que, a meu ver,
são perfeitamente utilizáveis numa perspectiva conversacional.
Mas para terminar com este sobrevoo do meu itinerário, ele
ilustra o fato de que, pouco a pouco me aproximei da realidade
do funcionamento da língua, com este limite, no entanto: é
que os meus dados estavam constituídos, como era na época
o caso geral, quer de declarações fabricadas segundo as suas
necessidades, quer de textos escritos (jornalísticos ou literá-
rios). Ora, não se pode considerar que as produções escritas

87
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

sejam verdadeiramente “interativas”, porque são assumidas


por um sujeito único, que mesmo que faça ouvir várias vozes
no seu discurso (falar-se-á então de diálogo ou de polifonia)
orquestra todas essas vozes para produzir a seu bel-prazer
um texto que permanece basicamente “monologal”.
A outra é o funcionamento das trocas orais. Depois de ter
percorrido o campo da pragmática enunciativa (o enunciado
como lugar de inscrição do sujeito falante) e da pragmática
ilógica (o enunciado como meio de ação sobre o destinatário),
resta-me explorar uma “pragmática do terceiro tipo” que
assenta numa abordagem decididamente interacionista (sendo
as produções discursivas encaradas como uma coprodução,
resultante da ação conjunta dos diversos participantes no
intercâmbio).

2) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Responderei a essa pergunta a partir de vários pontos.
1. No que diz respeito ao princípio básico: falar é interagir
– a fórmula é de John Gumperz, e qualquer adepto da
abordagem interacionista pode evidentemente tomá-
-la por conta própria. Destaquemos de passagem este

88
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

paradoxo: parece difícil contestar o fato de que “falar


é interagir”; que “a interação verbal é a realidade fun-
damental da linguagem” (Mikhail Bakhtin) e que não
se pode, portanto, esperar compreender a verdadeira
natureza desta linguagem sem prestar atenção nos meios
empregados para alcançar os seus fins comunicativos.
No entanto, é igualmente indiscutível que essa não foi
a principal preocupação da linguística moderna, que
demorou muito tempo a levar a sério este fato difícil:
a função primária da linguagem verbal é permitir a
comunicação interpessoal nas várias situações da vida
cotidiana. Isto implica que, para compreender a lin-
guagem objeto, temos de olhar primeiro para os seus
resultados no ambiente natural, ou seja, analisar muito
de perto, com base no registro de dados “autênticos”,
o funcionamento dos intercâmbios de línguas efeti-
vamente testados. Curiosamente, foi preciso esperar
pelos anos 1980 na França para ver alguns linguistas
recorrerem sistematicamente a esta prática descritiva, e
isto sob a influência da sociologia americana (etnografia
das comunicações de Gumperz, etnometodologia de
Sacks). É necessário reconhecer que a noção de interação
foi, para a linguística francesa, uma noção importada,
e isto duplamente, pois ocorreu de um ponto de vista
simultaneamente geográfico e disciplinar. Em matéria

89
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

de interacionismo, a linguística francesa entrou em mar-


cha, com uma boa década de atraso. Mas, mesmo com
esse atraso na ignição, ela se empenhou em preenchê-lo
a um ritmo constante, como tentei mostrar no livro
de síntese em três volumes intitulado Les interactions
verbales (1990, 1992 e 1994).
Mas vamos voltar à fórmula de Gumperz. Ela significa
simplesmente que:
– o exercício do discurso envolve normalmente vários
participantes;
– que os participantes exercem constantemente uns aos
outros uma rede de influências mútuas: Falar é trocar e é
trocar.
2. No que diz respeito ao objeto a analisar: prioridade ao
discurso dialogado. É evidente que as formas escritas de
produção linguística têm uma importância considerável
nas nossas sociedades e que existe entre as produções
oral e escrita uma espécie de continuum. Mas não deixa
de ser verdade que é antes de tudo sob forma oral que
se realiza a linguagem verbal, como o próprio termo
“língua” traz consigo o seu traço. Ora, o oral apresenta,
em relação ao escrito, muitas especificidades, a começar
pelo seu caráter plurissemiótico, o que impõe ao analista

90
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

ter em conta, tanto quanto possível, além do material


propriamente linguístico, as unidades paralinguísti-
cas (prosódicas e vocais, veiculadas como unidades
linguísticas pelo canal auditivo) e gestuais (veiculadas
pelo canal visual, que só é operacional nas interações
face a face, ao contrário das trocas telefônicas).
3. No que diz respeito ao método: preocupação em trabalhar
a partir de corpus constituído por registros de interações,
tanto quanto possível autênticos. O material da análise
é constituído por amostras de trocas verbais colhidas
in sito e, cuidadosamente, transcritas. Em qualquer
caso, a transcrição nunca é mais do que um artefato,
já que um objeto sonoro se vê transformado em um
objeto gráfico. É uma simples ferramenta de trabalho
para o analista, que deve constantemente mergulhar
na gravação, que já é uma imagem empobrecida da
própria interação, especialmente se for apenas áudio
(ou seja, não levar o mapa para o território!)
4. Por último, no que diz respeito aos fatos pertinentes
a serem observados nos corpora sujeitos à análise, há
emergência de novos objetos, tais como:
-as regras e mecanismos que fundamentam a alte-
nância das “voltas de palavra” (porque uma conversa

91
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

é, antes de mais nada, um sistema que permite aos


diferentes participantes falarem “por turnos”);
–os processos que asseguram a construção progressiva
e coletiva do discurso: repetições e reformulações,
inacabadas e retificadas, “tropeços” e “sopros”;
“pequenas palavras” a que a linguística só recen-
temente se interessa, apesar do seu número e fre-
quência: fáticos e reguladores, apoios do discurso,
partículas diversas, conectores de todos os tipos, e
outros “marcadores da estruturação das conversas”.
Este inventário muito incompleto permite já responder
à pergunta seguinte, relativa às preocupações específicas da
Análise da Conversação.

3) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Para responder a esta pergunta, parece-me útil tentar uma
clarificação terminológica (admitindo, no entanto, que estes
diferentes termos estão longe de serem utilizados da mesma
forma por todos os investigadores):
• Um texto é geralmente concebido como uma produção
discursiva concluída, uma totalidade coerente, mesmo
que não esteja totalmente fechado sobre si mesmo (entre

92
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

outras coisas, devido a fenômenos de intertextualidade).


O termo se aplica de preferência às produções escritas.
• O termo “discurso”, pelo contrário, conota a oralidade,
ainda que a linguística do discurso o aplique tanto às
produções escritas como às orais, monologais e dialogais.
– As conversas são tipos especiais de discurso. No
seu uso ordinário, o termo é reservado às trocas de
caráter informal; mas quando se fala de “análise das
conversações” pode ser ouvido num sentido mais amplo,
incluindo todas as formas que podem tomar os discur-
sos que são trocados entre vários participantes ativos.
Pessoalmente, prefiro utilizar como termo genérico a
expressão discurso em interação (em conformidade
com o título do meu livro de 2005) e considerar que
as “conversas” são tipos particulares de “discurso
em interação”, que são tipos especiais de discurso.
Última observação: parece-me útil não identificar a
análise das conversas, cuja metodologia pode ser diversa,
com a “análise conversacional”. Esta expressão, que
traduz o inglês conversation analysis (CA), refere-se,
com efeito, a uma forma muito específica de abordar a
questão, em conformidade com o modelo desenvolvido
por Harvey Sacks e Emmanuel Schegloff, que, graças
aos trabalhos de Schegloff e dos seus seguidores, ocupa

93
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

uma posição central no vasto campo da linguística


interacionista. Para estes investigadores, a CA nada
tem a ver com a análise do discurso, enquanto para
mim, a análise de conversas é uma forma especial de
análise de fala.
Embora reconhecendo a abordagem conversacional stricto
sensu, a minha concepção como prática da “análise do discurso
em interação” (ADI) releva de um tipo de abordagem muito
mais “eclética”, o que me leva à questão seguinte.

4) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos, mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações, bem como interfaces da Análise
da Conversação?
Voltemos, em primeiro lugar, às especificidades do “dis-
curso em interação”: os enunciados são construídos dinâmica
e coletivamente, cada falante ajustando gradualmente o seu
próprio comportamento discursivo ao dos outros. O discurso
produzido é assim o resultado de uma bricolagem interativa
incessante. Mesmo os chamados “fracassados” do oral são,
na realidade, na maioria das vezes, funcionais, e a “desor-
dem aparente do discurso ordinário” (Charles Goodwin) é

94
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

apenas aparente: há também regularidades orais, que são


simplesmente de uma natureza diferente das que se observam
por escrito, porque as condições de produção/recepção são
de outra natureza. E se, durante tanto tempo, fomos cegos a
essas regularidades dissimuladas sob o aparente caos, foi sem
dúvida por nos termos habituado a “adaptar”, exclusivamente,
ao discurso escrito.
Mas se a análise das conversas, ou melhor, do discurso
em interação, tem contornos relativamente bem definidos no
que diz respeito ao seu objeto e objetivos, no que diz respeito
às ferramentas descritivas mobilizadas pode muito bem ser
de proveniência diversa. Se alguns são específicos deste tipo
de discurso (como a noção de “volta à palavra”), outros se
encontrarão igualmente bem em outros gêneros discursivos,
pois essas construções coletivas que são as conversas não são
construídas ex nihilo, mas a partir de um material (a “língua”,
seu léxico e suas regras de funcionamento) que é basicamente
o mesmo em todos os tipos de discurso.
Este é um dos pontos em que a minha abordagem diverge
da dos adeptos da CA na sua versão mais radical: lê-los, às
vezes, dá a impressão de que nada existe para a interação, e
que é exclusivamente durante o desenrolar da mesma que
“surgiria” uma espécie de gramática própria a cada ocorrên-
cia de discurso (Lorenza Mondada: as práticas discursivas

95
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

“recriam indexicamente a língua a cada um dos seus usos”).


Esta concepção “emergencial” aplica-se também ao contexto
e ao tratamento que convém conceder-lhe na descrição. Para
a análise conversacional “pura e dura”, o contexto como
instância descritivamente relevante não existe previamente à
interação. É somente a partir do momento em que se encon-
tram inscritos no texto da interatividade que podemos nos
permitir mencionar alguns elementos desse contexto. Mas a
atitude que consiste em proibir-se todo e qualquer recurso a
dados contextuais é artificial. Contradiz a afirmação segundo
a qual a descrição deve ser feita “do ponto de vista dos mem-
bros”, porque, quando entram numa loja ou sala de aula, ou
quando participam numa emissão televisiva, os membros
em questão têm, de fato, alguma representação prévia do
tipo de acontecimento em que se encontram envolvidos,
ou seja, convenções correspondentes, representações que
mobilizam permanentemente durante a interação. É certo
que o analista nem sempre tem acesso a essas informações;
deve então explorar os traços do contexto que se encontram
inscritos no próprio texto conversacional e recorrer ao que
John Gumperz chama de “indícios de contextualização”.
Mas, de um modo geral, não se vê em nome do que se deveria
proibir iniciar a análise, como preconiza o próprio Gumperz,
pela menção das características pertinentes do contexto a que
têm acesso os participantes na interação, e que determina

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

em grande parte seu comportamento nessa interação. O que


não quer dizer que o contexto seja um objeto fixo: ele pode
evoluir durante a troca, sendo o discurso uma atividade ao
mesmo tempo determinada (pelo contexto) e transformadora
(desse mesmo contexto). Por exemplo, a escolha do pronome
de endereço (tu vs você) depende de diferentes parâmetros
contextuais, mas o falante também pode, às vezes, explorar a
área de “jogo” que separa as duas formas para alterar o estado
da relação interpessoal (sendo esta componente do contexto
particularmente flexível).
Se o contexto preexiste à interação, o mesmo acontece
com a língua e os outros “recursos”, isto é, o conjunto das
regras, regularidades, convenções e normas que sustentam
a produção e a interpretação do discurso. Que a língua não
seja reinventada em cada instância de enunciação, Georges
Kleiber recorda-o a propósito dos significados lexicais, opon-
do-se àqueles que defendem um “construcionismo semântico
radical”, recusando às unidades lexicais a existência de um
sentido convencional: não se pode construir com nada e,
portanto, a existência de pedaços semânticos estáveis ou de
um sentido convencional é necessária para o funcionamento
interpretativo. Só porque o significado de um enunciado é
algo construído discursivamente não significa que tudo o que
leva a essa interpretação também seja construído durante a

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

troca. A construção dinâmica do sentido de um enunciado


não é só incompatível com o fato de se efetuar com elementos
de sentido estáveis e convencionais, como ainda mais o exige:
sem sentido convencional ou estável, dificilmente existe uma
construção semântica possível. (“Contexte, où es-tu ?”, Revue
de Sémantique et Pragmatique 1, 1997, p. 73)
A meu ver, é a noção de negociação que me parece mais
adequada para dar conta do fato de que o discurso em inte-
racção resulta de uma coconstrução a partir de recursos
reexaminados diversos. Estes recursos são em grande parte
partilhados pelos diferentes protagonistas do intercâmbio
(porque de outra forma não é possível qualquer colaboração
entre eles), mas em grande parte apenas, o que vai exigir
a intervenção de mecanismos de ajustamento, permitindo
que as improvisações coletivas das conversas se desenrolem
sem muitos choques. São esses mecanismos que eu chamo
de “negociações (conversacionais)”. Estas dizem respeito a
todos os ingredientes que compõem o discurso em interacção
e que todos são, a algum título, “negociáveis”: o script geral da
interação (em relação ao “gênero” a que pertence, que pode ele
próprio prestar-se à negociação), a abertura e o encerramento
da troca, a alternância das voltas de fala (com a gestão das
interrupções e das sobreposições), os temas tratados, os sinais
manipulados, o valor semântico e pragmático das declarações

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

trocadas, as opiniões expressas, o momento do encerramento,


as identidades mútuas, a relação interpessoal etc. (o capítulo
2 do Discours en interaction é inteiramente dedicado a esta
noção de negociação conversacional).
Para completar esta panorâmica dos princípios que orien-
tam a minha prática da análise das conversas (e outras formas
de interação verbal), direi que, para mim, essa análise deve
desenrolar-se a diferentes níveis, principalmente:
1 O nível da gestão local das voltas alternadas dos turnos
(a “maquinaria da conversação”, tão bem descrita pelos
especialistas da análise conversacional propriamente
dita).
2 O nível da coerência sintático-semântico-pragmática
da interação, com as unidades hierárquicas que são a
“intervenção” (que não coincide necessariamente com
a volta de palavra), a “troca” ou a “sequência”.
3 Por fim, o nível da relação interpessoal: gestão dos
diversos tipos de “relações” (horizontais: marcado-
res da relação de familiaridade/distância; e verticais:
marcadores da relação hierárquica, que pessoalmente
chamo “taxèmes”). Para dar conta do que se passa a este
nível que se pode dizer também “ritual”, inspirei-me
em Erving Goffman, claro (Les rites d’interaction), mas

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

também na teoria da polidez linguística proposta pela


Penelope Brown e por Stephen Levinson, para quem
a cortesia pode ser tratada em termos de face-work,
ou seja, concebida como um conjunto de processos de
“cuidado” e de “valorização” das “faces” de outrem.
As noções de base deste sistema, tal como o concebo,
são as da FTA (face threateningact) e da FFA (face
flatteringact), o que permite descrever duas formas de
exercício da polidez, respectivamente “protecionista”
(minimização dos FTAs) e “produtionista” (produção
de FFAs eventualmente maximizada). Sem entrar no
detalhe desta maquinaria (ver o segundo volume das
Interactions verbales, bem como o capítulo 3 do Discours
en interaction), direi simplesmente que o recurso a este
tipo de sistema permite explicar um grande número de
fatos que permaneceriam misteriosos; por exemplo e
entre outros, a frequência das formulações indiretas dos
atos de linguagem: “Fecha a porta!” preferimos “podes
fechar a porta, por favor?” - é que o custo cognitivo
suplementar que tal formulação impõe tanto ao falante
como ao destinatário é largamente compensado pelo
benefício psicológico que obtêm um e outro; ou ainda,
a agramaticalidade de “merci un peu” que se opõe à
extrema frequência de “Obrigado muitas/mil vezes/
infinitamente”, e que não explica nenhuma consideração

100
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

de ordem sintática ou semântica: esta agramaticalidade


só pode ser de natureza “sociopragmática”; devido a uma
incompatibilidade entre o caráter “valorizando pela
face” deste FFA que é o agradecimento e o valor restri-
tivo do advérbio. No sistema da língua estão inscritos
assim um grande número de fatos cuja existência não se
justifica, e que só são interpretáveis se os considerarmos
em relação ao sistema das faces e da cortesia. Fatos
aparentemente muito heterogêneos, que até agora a
linguística tinha tratado em ordem dispersa (no quadro
da retórica clássica, ou da pragmática contemporânea);
mas que, de repente, referem-se aos princípios da cor-
tesia, a fazer sistema, ao mesmo tempo que se revela a
sua profunda unidade funcional: permitir uma gestão
harmoniosa da relação interpessoal. O que mostra
ao mesmo tempo que o nível da “relação”, sobretudo
nas interações que se desenrolam “face a face”, é tão
importante como o do “conteúdo”, pois uma boa parte
do material de que são feitas as afirmações é desprovida
de qualquer valor informativo; e que as regras desta
“retórica interacional” merecem ser incorporadas na
caixa de ferramentas dos linguistas, aos quais permitem
dar conta eficazmente de aspectos importantes das
línguas e dos discursos.

101
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

Este é apenas um exemplo entre outras virtudes do que


eu chamo de “ecletismo metodológico”, que em matéria de
instrumentos descritivos não hesita em fazer o seu mercado
em fontes teóricas diversas, a fim de se adaptarem melhor às
suas necessidades específicas.

5) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Minha ambição nunca foi construir uma nova “teoria” ou
um novo “modelo” suscetível de se acrescentar aos existentes,
ou mesmo de competir com eles. O que me interessa e me
diverte é elaborar ou aperfeiçoar ferramentas que permitam
atualizar os mecanismos em ação nas trocas verbais, ver
como os discursos em interação são fabricados e interpreta-
dos por sujeitos constitutivos diferentes, mas que, apesar de
tudo, conseguem construir em muitos algo que no final se
assemelha a um “texto”.
O que também me fascina é a infinita diversidade de
formas que esses textos, construídos coletivamente, podem
assumir, em função, entre outras coisas, do gênero interacional
de que dependem, e da cultura em que se inscrevem: estes são
dois fatores de variação que sempre me preocuparam muito.

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

No que diz respeito à questão dos gêneros, considera-se


geralmente que a “conversação” constitui a realização por
excelência (o “protótipo”) do discurso em interação, pelo
que não é de admirar que os especialistas da análise dita
“conversacional” se tenham inicialmente centrado neste tipo
de interações (sobre as conversas familiares, ver por exemplo
Véronique Traverso, L’analyse des conversations, 1999). Mas
outras formas de intercâmbio de caráter mais institucional
deram também lugar a numerosas investigações, por exemplo
e entre outros: a comunicação em sala de aula; a grande família
das interações midiáticas; as consultas médicas, entrevis-
tas clínicas e terapêuticas; interações em contexto judicial,
entre outras. No que me diz respeito, interessei-me muito
particularmente por dois tipos bem diferentes de situações
comunicativas.
Em primeiro lugar, os diálogos nos comércios e nos ser-
viços. Juntamente com a minha colega Véronique Traverso,
dirigimos durante vários anos uma equipe de investigadores
e investigadoras (na sua maioria estudantes de mestrado ou
de doutoramento). Após gravar esses diálogos e depois trans-
crevê-los em diferentes tipos de sites comerciais, analisaram
esse material segundo um protocolo comum, que permitiu
tanto identificar as constantes do gênero “interações em
lojas e serviços”, como variações relacionadas a diferentes

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

parâmetros (natureza do produto vendido, mas também


tamanho do comércio e vários fatores socioculturais).
Os locais em questão: padaria, açougue, papelaria, taba-
caria, florista (no mercado e na loja), sapateiro, garagem,
salão de cabeleireiro; mas também prefeitura, correios, banco,
bilheteria SNCF...
Os aspectos considerados: o script da interação; o funciona-
mento das civilidades e da cortesia (abertura e encerramento,
saudações, formas de endereço, agradecimentos, desculpas...);
a realização da transação (formulação de pedidos e recusas,
processos argumentativos, eventualmente regateio); gestão de
“incidentes” e conflitos; formas de convivência: narrativas,
confidências, declarações sobre chuva e bom tempo; piadas
e outros tipos de trocas lúdicas.
Uma outra dimensão comparativa foi permitida por
alguns estudos efetuados fora da França (Alemanha, Escócia,
Tunísia, Síria, Líbano, Vietname) - para uma síntese parcial
desses trabalhos, ver C. Kerbrat-Orecchioni e V. Traverso
(dir.). Les interactions en site commercial (2008). O que me
permite evocar este outro e importante fator de variação que
é a variação cultural.
Quando se trabalha no domínio das interações verbais,
não se pode deixar de nos encontrar num momento ou

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

noutro confrontado com esta questão: se é evidente que não


se comunica em todas as sociedades da mesma maneira,
qual é a parte das variações e universais neste caso? E qual
é exatamente o papel da linguagem nessas variações? Essas
questões complexas podem ser abordadas de vários ângulos.
Pode-se interessar pelo funcionamento comparado de um
tipo particular de interação, como acabamos de ver; ou de
um tipo particular de unidades, como fizemos com as formas
de endereço - veja S’adresser à autrui. Les formes nomina-
les d’adresse dans la perspective comparative interculturelle.
Endereçando-se aos outros. As formas nominais de endereço
na perspectiva comparativa intercultural, publicada em 2014
(que dá seguimento ao volume sobre as formas nominais de
endereço em francês publicado dois anos antes). No final
desta análise comparativa (as línguas/culturas estudadas são
o italiano, o espanhol, o português de Portugal e do Brasil, o
romeno, o inglês da Austrália, o alemão, o chinês e o árabe),
verificou-se que, embora os sistemas de endereços sejam
muito semelhantes de uma língua para outra, os comporta-
mentos de endereço variam sensivelmente de uma cultura
para outra. De forma mais ambiciosa, pode-se estabelecer
como objetivo definir, a partir da observação de um conjunto
de fatos considerados particularmente significativos a este
respeito, o ethos global de uma determinada sociedade (o seu
“perfil comunicativo”, mais ou menos próximo ou distante,

105
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

caloroso ou frio, hierárquico ou igualitário, modesto ou imo-


derado, ligado ao “território” ou à “face” etc.) - o tomo III das
Interactions verbales é inteiramente dedicado a esta questão.
Acrescentarei, no entanto, que esta reflexão me permitiu
fazer descobertas apaixonantes, mas também medir a com-
plexidade das relações existentes entre os comportamentos
comunicativos dos membros de uma determinada sociedade,
(seria ingênuo acreditar que o primeiro é um espelho fiel dos
segundos). Ensinou-me a desconfiar da tentação que espreita
a investigação intercultural, a das generalizações apressadas,
que nem sempre têm suficientemente em conta as variações
contextuais ou os preconceitos metodológicos, ao risco de
reproduzir certos clichês e estereótipos culturais (ver sobre
este problema o último capítulo do Discours en interaction).
Passemos agora ao segundo tipo de interações a que me
interessei mais recentemente: os debates político-midiáticos e,
mais particularmente, os que se desenrolam por ocasião das
eleições presidenciais - ver: Les débats de l’entre-deux-tours
des élections présidentielles françaises. Constantes et évolutions
d’un genre (2017) ; e Le débat Le Pen Macron du 3 mai 2017 :
Un débat « disruptif » ? (2019). Os títulos destas duas obras
dizem o essencial: incidem sobre um gênero bem particular,
tão particular que o corpus analisado pôde ser “exaustivo”,
compreendendo a totalidade das realizações do gênero em

106
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

questão, desde a sua criação em 1974 (debate entre os dois can-


didatos à primeira volta, Valéry Giscard d’Estaing e François
Mitterrand), até ao debate de 2017 entre Marine Le Pen e
Emmanuel Macron (o debate de 2022 ainda não tinha sido
realiado!). Porque se trata de confrontos, sob a guia de dois
animadores cujo papel consiste essencialmente em distribuir
os turnos e velar pelo respeito das regras do debate, entre dois
pretendentes à função suprema; interações de tipo “polêmica”
portanto, trata-se de “guerras verbais”, mas que obedecem
a regras muito restritivas, que permitem, apesar de tudo,
aos debatedores uma certa liberdade de manobra. Foi o que
tentei mostrar no primeiro volume, no qual os seis primeiros
exemplares do gênero são examinados sob todos os pontos de
vista e mais precisamente: o desenrolar do debate, os aspectos
estilísticos e retóricos, as modalidades do confronto (com par-
ticular interesse nos “clashs” que animam os debates), enfim,
como são explorados os três registros da persuasão: logos, ethos
e pathos. De 1974 a 2012, o gênero permaneceu relativamente
estável, embora se verifique uma certa evolução no sentido
de uma formalidade menor (os últimos debates são menos
“encorpados” que os primeiros), bem como um aumento do
grau de interatividade e de “polêmica”: os debates são cada vez
mais “vivos”. Essa característica se afirma no debate de 2017,
que se caracteriza principalmente pela dissimetria flagrante
do comportamento dos dois beligerantes. Quando Emmanuel

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

Macron se mostra preocupado em respeitar o quadro e as


regras do debate, Marine Le Pen tem um prazer perverso em
subvertê-los, mostrando-se, ao mesmo tempo, extremamente
brutal e estranhamente indisciplinada, entregando-se a uma
agitação desordenada que se revelou catastrófica, não só
para o conjunto do debate, mas também para a imagem da
candidata que mais tarde teve que reconhecer ela mesma que
seu desempenho tinha sido pelo menos “fracassado”.

6) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Finalmente, mencionarei um princípio de variação, ao qual
também me interessei: o “formato participativo” (Goffmann),
com, entre outros, o número de participantes (ver o livro
intitulado Le trilogue, que organizei em 1995, com Christian
Plantin, bem como On Polylogues, número especial da revista
Journal of Pragmatics, publicado em 2004). No entanto, estas
são formas de polílogos infinitamente mais complexas e
diversas que foram vistas recentemente em smartphones e na
web (SMS e e-mails, fóruns de discussão e redes sociais) que
estes diferentes tipos de escritos digitais constituem verda-
deiros desafios para a análise, entre outros, porque merecem
incontestavelmente ser incorporados na grande família dos

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

discursos em interação mesmo que se realizem por escrito,


o que confunde as fronteiras dos gêneros.
Assim, há muito trabalho a fazer e muito para analisar para
os adeptos da análise das conversas: a linguística interacional
ainda tem bons dias pela frente!

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CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI
Professora honorária, Université Lumiere
Lyon 2 e Institut universitaire de France
versão em francês

1) Comment j’en suis arrivée à l’analyse de la conversation…


Sans revenir sur l’ensemble de mon parcours de linguiste,
je rappellerai le titre de ma thèse de Doctorat (soutenue en
1977), titre en forme d’itinéraire : De la sémantique lexicale
à la sémantique de l’énonciation (un long itinéraire puisque
cette thèse ne fait pas moins de 1700 pages).
En effet, étant entrée en linguistique à l’époque du struc-
turalisme triomphant, et étant depuis toujours fascinée par les
phénomènes de sens, j’ai commencé par pratiquer la sémanti-
que structurale (dite « componentielle » ou « sémique », dans
la lignée de Greimas et de Bernard Pottier). Sans remettre en
cause la pertinence théorique et l’efficacité méthodologique

110
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

de ce modèle, je me suis vite sentie à l’étroit dans cette appro-


che lexicale, et j’ai commencé à m’intéresser à des unités de
dimension supérieure au mot, jusqu’au texte en passant par
l’énoncé. Il faut dire que se développaient alors en France
diverses approches des discours et des textes : approche
marxisto-harrisienne à la Michel Pêcheux, narratologique à
la Greimas, sémiologique à la Barthes… : nous n’avions que
l’embarras du choix. Parallèlement s’opérait une sortie du
dogme saussurien de l’« immanentisme » (décrire la langue
« en elle-même et pour elle-même »), avec une importance
croissante accordée aux conditions de production du dis-
cours ainsi qu’à ses modalités de réception. Pour ce qui est
de l’émission, je me suis intéressée, dans le sillage des travaux
d’Émile Benveniste (un de mes grands inspirateurs à ce stade
de ma réflexion), aux différents lieux d’inscription dans
l’énoncé du sujet d’énonciation (unités déictiques, évalua-
tives et axiologiques, modalisation et autres manifestations
de la « subjectivité » langagière : voir L’énonciation. De la
subjectivité dans le langage, paru en 1980). Pour ce qui est de
la réception, il s’agissait de chercher à comprendre comment
les sujets effectuaient le « calcul interprétatif », en mobili-
sant pour ce faire diverses « compétences » (linguistique
mais aussi « encyclopédique » et contextuelle, « logique » et
« rhétorico-pragmatique », avec l’intervention des « maximes
conversationnelles » telles qu’elles ont été formulées par Paul

111
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

Grice et à sa suite Dan Sperber et Deirde Wilson). L’opération


d’extraction du sens de l’énoncé étant plus complexe dans
le cas des contenus implicites (présupposés, sous-entendus,
inférences, etc.), je me suis employée à décrire ce type de fonc-
tionnement sémantique, en m’inspirant cette fois des travaux
d’Oswald Ducrot. J’ai été parallèlement amenée à m’intéresser
aussi aux actes de langage indirects (cette fois dans la pers-
pective anglo-saxonne d’Austin et Searle), phénomènes que
j’ai reformulés en termes de « tropes illocutoires », ce qui m’a
permis de les insérer dans le cadre d’une « théorie étendue
des tropes ». Théorie dans laquelle les tropes « sémantiques »
de la rhétorique classique se sont vu adjoindre des tropes
« pragmatiques », comme les tropes illocutoires mais aussi
« communicationnels » (voir L’implicite, 1986 et Les actes de
langage dans le discours, 2001 [texte traduit en portugais en
2005, Os Atos de Linguagem no Discurso, Niteroi, edUFF]).
Si je me permets de rappeler tout cela, c’est parce que ces
divers éléments de réflexion constituent autant d’outils qui
sont à mon avis tout à fait réutilisables dans une perspec-
tive conversationnelle. Mais pour en finir avec ce survol de
mon itinéraire, il illustre le fait que petit à petit, je me suis
rapprochée de la réalité du fonctionnement de la langue,
avec cette limite toutefois : c’est que mes données étaient
constituées, comme c’était à l’époque le cas général, soit

112
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

d’énoncés fabriqués selon ses besoins, soit de textes écrits


(journalistiques ou littéraires). Or on ne peut pas considérer
que les productions écrites sont véritablement « interactives »,
car elles sont prises en charge par un sujet unique, qui même
s’il fait entendre plusieurs voix au sein de son discours (on
parlera alors de « dialogisme » ou de « polyphonie »), orchestre
toutes ces voix pour produire à sa guise un texte qui reste
fondamentalement « monologal ».
Tout autre est le fonctionnement des échanges oraux.
Après avoir arpenté le champ de la pragmatique énonciative
(l’énoncé comme lieu d’inscription du sujet parlant) et de la
pragmatique illocutoire (l’énoncé comme moyen d’action sur
le destinataire), il me restait à explorer une « pragmatique du
troisième type », qui repose sur une approche résolument
interactionniste (les productions discursives étant envisagées
comme un co-production, résultant de l’action conjointe des
divers participants à l’échange).

2) L’analyse des conversations : principes théoriques, pro-


cédures méthodologiques et catégories analytiques
Je répondrai à cette vaste question en plusieurs points.
1. En ce qui concerne le principe de base : Speaking is
interacting – la formule est de John Gumperz, et tout

113
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

adepte de l’approche interactionniste peut évidemment


la reprendre à son compte. Soulignons au passage ce
paradoxe : il semble difficile de contester le fait que
« parler c’est interagir » ; que « l’interaction verbale
est la réalité fondamentale du langage » (Mikhail
Bakhtine), et qu’on ne saurait donc espérer compren-
dre la véritable nature de ce langage sans porter une
attention minutieuse aux moyens qu’il met en œuvre
pour parvenir à ses fins communicatives. Or il est tout
aussi incontestable que telle n’a pas été la préoccupation
majeure de la linguistique moderne, qui a mis bien du
temps à prendre au sérieux ce fait difficilement con-
testable : le langage verbal a pour fonction première de
permettre la communication interpersonnelle dans les
diverses situations de la vie quotidienne. Ce qui implique
que pour appréhender l’objet-langue, il faut d’abord
s’intéresser à ses réalisations en milieu naturel, c’est-à-
dire analyser de très près, sur la base d’enregistrement de
données « authentiques », le fonctionnement d’échanges
langagiers effectivement attestés. Curieusement, il a
fallu attendre en France les années 1980 pour voir
certains linguistes recourir systématiquement à cette
pratique descriptive, et cela sous l’influence de la sociol-
ogie américaine (ethnographie des communications
à la Gumperz, ethnométhodologie à la Sacks) : il faut

114
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

le reconnaître, la notion d’interaction a été pour la


linguistique française une notion importée, et cela
doublement, puisqu’elle l’a été d’un point de vue à la
fois géographique et disciplinaire. En matière d’inter-
actionnisme, la linguistique française a pris le train
en marche, avec une bonne décennie de retard. Mais
ce retard à l’allumage, elle s’est ensuite employée à le
combler à un rythme soutenu, comme j’ai tenté de le
montrer dans l’ouvrage de synthèse en trois volumes
intitulé Les interactions verbales (1990, 1992 et 1994).
Mais revenons à la formule de Gumperz. Elle signifie
simplement :
– que l’exercice de la parole implique normalement plu-
sieurs participants,
– lesquels participants exercent en permanence les uns
sur les autres un réseau d’influences mutuelles : parler, c’est
échanger, et c’est changer en échangeant.
2. En ce qui concerne l’objet à analyser : priorité au dis-
cours dialogué oral. Il est bien évident que les formes
écrites de production langagière ont dans nos sociétés
une importance considérable, et qu’il existe entre les
productions orales et écrites une sorte de continuum.
Mais il n’en reste pas moins que c’est d’abord sous forme

115
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

orale que se réalise le langage verbal, comme le terme de


« langue » en porte lui-même la trace. Or l’oral présente
par rapport à l’écrit bien des spécificités, à commencer
par son caractère multicanal et plurisémiotique, ce
qui impose à l’analyste de prendre autant que possible
en compte, outre le matériel proprement linguistique,
les unités paralinguistiques (prosodiques et vocales,
véhiculées comme les unités linguistiques par le canal
auditif) et mimogestuelles (véhiculées par le canal visuel,
qui n’est opérationnel que dans les interactions en face
à face, à la différence des échanges téléphoniques).
3. En ce qui concerne la méthode : souci de travailler à
partir de corpus constitués d’enregistrements d’inte-
ractions autant que possible authentiques. Le matériau
de l’analyse est constitué d’échantillons d’échanges
verbaux prélevés in situ et soigneusement transcrits. En
tout état de cause, la transcription n’est jamais qu’un
artefact, puisqu’un objet sonore se voit transformé en
un objet graphique. C’est un simple outil de travail
pour l’analyste, qui doit sans cesse se replonger dans
l’enregistrement, lequel est déjà une image appauvrie de
l’interaction elle-même, surtout s’il n’est qu’audio (autre-
ment dit : ne pas prendre la carte pour le territoire !)

116
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

4. En ce qui concerne enfin les faits pertinents à obser-


ver dans les corpus soumis à analyse : émergence de
nouveaux objets, tels que :
– les règles et mécanismes qui fondent l’alternance
des « tours de parole » (car une conversation, c’est
d’abord un système permettant aux différents par-
ticipants de parler « à tour de rôle ») ;
– les procédés qui assurent la construction progressive
et collective du discours : reprises et reformula-
tions, inachèvements et rectifications, bafouillages
et « soufflages » ; « petits mots » auxquels la lin-
guistique ne s’intéresse que depuis peu, en dépit
de leur nombre et de leur fréquence : phatiques et
régulateurs, ponctuants et appuis du discours, parti-
cules diverses, connecteurs en tous genres, et autres
« marqueurs de la structuration des conversations ».
Cet inventaire très incomplet permet déjà de répondre à
la question suivante, concernant :

3) Les préoccupations spécifiques de l’analyse de conversa-


tion qui la différencient d’autres théories du texte
Pour répondre à cette question il me semble utile de tenter
une clarification terminologique (étant toutefois admis que

117
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

ces différents termes sont loin d’être utilisés de la même


manière par tous les chercheurs) :
– Un texte est généralement conçu comme une production
discursive achevée, une totalité cohérente même si le
texte n’est pas totalement clos sur lui-même (entre autres
du fait des phénomènes d’intertextualité). Le terme
s’applique de préférence aux productions écrites.
– Le terme de discours connote au contraire l’oralité,
même si la linguistique du discours l’applique aussi
bien aux productions écrites qu’orales, monologales
que dialogales.
– Les conversations sont des types particuliers de discours.
Dans son usage ordinaire, le terme est réservé aux
échanges à caractère informel ; mais lorsque l’on parle
d’« analyse des conversations » il peut être entendu en
un sens plus large, incluant toutes les formes que peuvent
prendre les discours qui sont échangés entre plusieurs
participants actifs. Personnellement, je préfère utiliser
comme terme générique l’expression discours-en-inter-
action (conformément au titre de mon ouvrage de 2005),
et considérer que les « conversations » sont des types
particuliers de « discours-en-interaction », lesquels sont
des types particuliers de discours.

118
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

Dernière précision : il me semble utile de ne pas identifier


l’analyse des conversations, dont la méthodologie peut être
diverse, avec l’« analyse conversationnelle ». Cette expression,
qui traduit l’anglais conversation analysis (CA), renvoie en effet
à une façon bien particulière d’aborder la question, conformé-
ment au modèle développé par Harvey Sacks et Emmanuel
Schegloff, qui occupe grâce aux travaux de Schegloff et de
ses épigones une position centrale dans le vaste champ de la
linguistique interactionniste. Pour ces chercheurs, la CA n’a
rien à voir avec l’analyse de discours, alors que pour moi,
l’analyse des conversations est une forme particulière d’analyse
des discours.
Tout en reconnaissant ce qu’elle doit à l’approche con-
versationnaliste stricto sensu, ma conception comme ma
pratique de l’« analyse du discours-en-interaction » (ADI)
relèvent d’un type d’approche nettement plus « éclectique »,
ce qui me mène à la question suivante.

4) Pourriez-vous souligner les délimitations ainsi que les


interfaces de l’analyse de conversation ?
Revenons d’abord sur les spécificités du discours-en-in-
teraction : les énoncés sont construits dynamiquement et
collectivement, chaque locuteur ajustant au fur et à mesure

119
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

sur celui d’autrui son propre comportement discursif. Le


discours produit est ainsi le résultat d’un bricolage interactif
incessant. Même les soi-disant « ratés » de l’oral sont en réalité
le plus souvent fonctionnels, et le « désordre apparent du
discours ordinaire » (Charles Goodwin) n’est qu’apparent :
il y a aussi à l’oral des régularités, qui sont simplement d’une
autre nature que celles qui s’observent à l’écrit, parce que
les conditions de production/réception y sont elles-mêmes
d’une autre nature. Et si l’on a été si longtemps aveugle à ces
régularités dissimulées sous l’apparent chaos, c’est sans doute
pour s’être trop accoutumé à « accommoder » exclusivement
sur le discours écrit.
Mais si l’analyse des conversations, ou plutôt du dis-
cours-en-interaction, a des contours relativement bien définis
en ce qui concerne son objet et ses objectifs, en ce qui concerne
les outils descriptifs mobilisés ils peuvent fort bien être de
diverse provenance. Si certains sont spécifiques de ce type de
discours (comme la notion de « tour de parole »), d’autres vont
se rencontrer tout aussi bien dans d’autres genres discursifs.
Car ces constructions collectives que sont les conversations
ne sont pas construites ex nihilo, mais à partir d’un matériau
(la « langue », son lexique et ses règles de fonctionnement)
qui est en gros le même dans tous les types de discours.

120
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

C’est là un des points sur lesquels mon approche diverge


de celle des adeptes de la CA dans sa version la plus radicale :
à les lire on a parfois l’impression que rien ne préexiste à
l’interaction, et que c’est exclusivement au cours du dérou-
lement de celle-ci qu’« émergerait » une sorte de grammaire
propre à chaque occurrence de discours (Lorenza Mondada :
les pratiques discursives « recréent indexicalement la langue
à chacun de ses usages »). Cette conception « émergentiste »
s’applique aussi au contexte, et au traitement qu’il convient
de lui accorder dans la description. Pour l’analyse conver-
sationnelle « pure et dure », le contexte en tant qu’instance
descriptivement pertinente ne préexiste pas à l’interaction,
c’est seulement à partir du moment où ils se trouvent inscrits
dans le texte de l’interaction que l’on peut se permettre de
mentionner certains éléments de ce contexte. Mais cette atti-
tude consistant à s’interdire tout recours a priori aux données
contextuelles est artificielle. Elle entre en contradiction avec
l’affirmation selon laquelle la description doit être effectuée
« du point de vue des membres », car lorsqu’ils pénètrent dans
un magasin ou une salle de classe, ou lorsqu’ils participent à
une émission télévisuelle, les membres en question ont bien
quelque représentation préalable du type d’événement dans
lequel ils se trouvent engagés ainsi que des conventions corre-
spondantes, représentations qu’ils mobilisent en permanence
au cours de l’interaction. Certes, l’analyste n’a pas toujours

121
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

accès à ces informations ; il doit alors exploiter les traces du


contexte qui se trouvent inscrites dans le texte conversationnel
lui-même, et recourir à ce que John Gumperz appelle des
« indices de contextualisation ». Mais d’une manière générale,
on ne voit pas au nom de quoi il faudrait s’interdire de com-
mencer l’analyse, comme le préconise Gumperz lui-même,
par la mention des caractéristiques pertinentes du contexte
auxquelles ont accès les participants à l’interaction, et qui
détermine en grande partie leur comportement dans cette
interaction. Ce qui ne veut pas dire que le contexte soit un
objet figé : il peut évoluer au cours de l’échange, le discours
étant une activité tout à la fois déterminée (par le contexte) et
transformatrice (de ce même contexte). Par exemple, le choix
du pronom d’adresse (Tu vs Vous) est tributaire de différents
paramètres contextuels, mais le locuteur peut aussi parfois
exploiter la zone de « jeu » qui sépare les deux formes pour
modifier l’état de la relation interpersonnelle (cette compo-
sante du contexte étant particulièrement flexible).
Si le contexte préexiste à l’interaction, il en est de même
pour la langue et les autres « ressources », c’est-à-dire l’ensemble
des règles, régularités, conventions et normes qui sous-tendent
la production et l’interprétation du discours. Que la langue ne
soit pas réinventée à chaque instance d’énonciation, Georges
Kleiber nous le rappelle à propos des significations lexicales,

122
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

s’élevant contre ceux qui prônent un « constructionnisme


sémantique radical », refusant aux unités lexicales l’existence
d’un sens conventionnel : « On ne peut construire avec rien et
donc l’existence de morceaux sémantiques stables ou d’un sens
conventionnel est nécessaire au fonctionnement interprétatif.
Ce n’est pas parce que le sens d’un énoncé est quelque chose
de construit discursivement que tout ce qui mène à cette
interprétation est également du construit durant l’échange.
Non seulement la construction dynamique du sens d’un
énoncé n’est pas incompatible avec le fait qu’elle s’effectue avec
des éléments de sens stables et conventionnels, mais bien plus
encore elle l’exige : sans sens conventionnel ou stable, il n’est
guère de construction sémantique possible. » (« Contexte, où
es-tu ? », Revue de Sémantique et Pragmatique 1, 1997, p. 73)
Pour ma part, c’est la notion de négociation qui me semble
la plus appropriée pour rendre compte du fait que le discou-
rs-en-interaction résulte d’une co-construction à partir de
ressources préexistantes diverses. Ces ressources sont en
grande partie partagées par les différents protagonistes de
l’échange (car sinon aucune collaboration entre eux n’est
possible), mais en grande partie seulement, ce qui va nécessiter
l’intervention de mécanismes d’ajustements, permettant
à ces improvisations collectives que sont les conversations
de se dérouler sans trop de heurts. Ce sont ces mécanismes

123
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

que je désigne sous l’appellation générique de « négociations


(conversationnelles) ». Ils concernent tous les ingrédients
qui composent le discours-en-interaction, et qui tous sont à
quelque titre « négociables » : le « script » général de l’inte-
raction (en relation avec le « genre » dont elle relève, qui peut
lui-même prêter à négociation), l’ouverture et la clôture de
l’échange, l’alternance des tours de parole (avec la gestion des
interruptions et des chevauchements), les thèmes traités, les
signes manipulés, la valeur sémantique et pragmatique des
énoncés échangés, les opinions exprimées, le moment de la
clôture, les identités mutuelles, la relation interpersonnelle,
etc. (le chapitre 2 du Discours en interaction est entièrement
consacré à cette notion de négociation conversationnelle).
Pour compléter ce survol des principes qui guident ma
pratique de l’analyse des conversations (et autres formes
d’interactions verbales), je dirai que pour moi, cette analyse
doit se déployer à différents niveaux – principalement :
1 Le niveau de la gestion locale de l’alternance des tours
(la « machinerie de la conversation », si bien décrite
par les spécialistes de l’analyse conversationnelle pro-
prement dite) ;
2 Le niveau de la cohérence syntactico-sémantico-prag-
matique de l’interaction, avec ces unités hiérarchisées

124
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

que sont l’« intervention » (qui ne coïncide pas forcément


avec le tour de parole), l’« échange », ou la « séquence » ;
3. Le niveau enfin de la relation interpersonnelle : gestion
des divers types de « relationèmes » (horizontaux :
marqueurs de la relation de familiarité/distance ; et
verticaux : marqueurs de la relation hiérarchique, que
j’appelle personnellement « taxèmes »). Pour rendre
compte de ce qui se passe à ce niveau que l’on peut dire
aussi « rituel », je me suis inspirée d’Erving Goffman
bien sûr (Les rites d’interaction), mais aussi de la théo-
rie de la politesse linguistique proposée par Penelope
Brown et Stephen Levinson, pour qui la politesse peut
être traitée en termes de face-work, c’est-à-dire conçue
comme un ensemble de procédés de « ménagement »
et de « valorisation » des « faces » d’autrui. Les notions
de base de ce système tel que je le conçois étant celles
de FTA (face threatening act) et de FFA (face flattering
act), cela permet de décrire deux formes d’exercice de la
politesse, respectivement « protectionniste » (minimi-
sation des FTAs) et « productionniste » (production de
FFAs éventuellement maximisés). Sans entrer dans le
détail de cette machinerie (voir le deuxième volume des
Interactions verbales, ainsi que le chapitre 3 du Discours
en interaction), je dirai simplement que le recours à ce

125
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

genre de système permet d’expliquer un grand nombre


de faits qui resteraient sinon mystérieux ; par exemple
et entre autres, la fréquence des formulations indirectes
des actes de langage : à « Ferme la porte ! » on préfère
très généralement « Est-ce que tu pourrais fermer la
porte s’il te plaît ? » – c’est que le coût cognitif supplé-
mentaire qu’une telle formulation impose au locuteur
comme au destinataire est très largement compensé
par le bénéfice psychologique qu’ils en tirent l’un et
l’autre ; ou bien encore, l’agrammaticalité de « Merci
un peu », qui s’oppose à l’extrême fréquence de « Merci
beaucoup/ mille fois/ infiniment », et que n’explique
aucune considération d’ordre syntaxique ou sémanti-
que : cette agrammaticalité ne peut être que de nature
« sociopragmatique », tenant à une incompatibilité entre
le caractère « valorisant pour la face » de ce FFA qu’est
le remerciement, et la valeur restrictive de l’adverbe.
Dans le système de la langue sont ainsi inscrits un grand
nombre de faits dont l’existence ne se justifie, et qui ne
sont interprétables, que si on les envisage par rapport au
système des faces et de la politesse. Faits fort hétérogènes
en apparence, et que la linguistique avait jusqu’ici
traités en ordre dispersé (dans le cadre de la rhétorique
classique, ou de la pragmatique contemporaine) ; mais
qui se mettent soudain, si on les rapporte aux principes

126
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

de la politesse, à faire système, en même temps que se


dévoile leur profonde unité fonctionnelle : permettre
une gestion harmonieuse de la relation interpersonnelle.
Ce qui montre à la fois que le niveau de la « relation »,
dans les interactions surtout qui se déroulent en « face à
face », est tout aussi important que celui du « contenu »,
puisqu’une bonne part du matériel dont sont faits les
énoncés est dénuée de toute valeur informationnelle ;
et que les règles de cette « rhétorique interactionnelle »
méritent bien d’être incorporées à la boîte à outils des
linguistes, auxquels elles permettent de rendre compte
efficacement d’aspects importants des langues et des
discours.
Ce n’est là qu’un exemple parmi d’autres des vertus de ce
que j’appelle l’« éclectisme méthodologique », qui en matière
d’outils descriptifs n’hésite pas à faire son marché dans des
boutiques théoriques diverses, quitte à refaçonner les outils en
question afin qu’ils s’adaptent mieux à ses besoins spécifiques.

5) Quelques résultats de mes travaux…


On l’aura compris, mon ambition n’a jamais été de cons-
truire une nouvelle « théorie » ou un nouveau « modèle »
susceptible de venir s’ajouter aux existants, voire de les

127
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

concurrencer. Ce qui m’intéresse et m’amuse, c’est d’éla-


borer ou de perfectionner des outils permettant de mettre à
jour les mécanismes à l’œuvre dans les échanges verbaux, de
voir comment les discours-en-interaction sont fabriqués et
interprétés par des sujets constitutivement différents, mais
qui parviennent malgré tout à construire à plusieurs quelque
chose qui au final ressemble bien à un « texte ».
Ce qui me fascine aussi c’est l’infinie diversité des formes
que peuvent prendre ces textes construits collectivement, en
fonction, entre autres, du genre interactionnel dont ils relèvent,
et de la culture dans laquelle ils s’inscrivent : ce sont là deux
facteurs de variation qui m’ont toujours vivement concernée.
Pour ce qui est de la question des genres, on considère
généralement que la « conversation » constitue la réalisation
par excellence (le « prototype ») du discours-en-interaction,
il n’est donc pas étonnant que les spécialistes de l’analyse
dite « conversationnelle » se soient dans un premier temps
focalisés sur ce type d’interactions (sur les conversations
familières, voir par exemple Véronique Traverso, L’analyse
des conversations, 1999). Mais d’autres formes d’échanges
à caractère plus institutionnel ont aussi donné lieu à de
nombreuses investigations, par exemple et entre autres : la
communication en classe ; la grande famille des interactions
médiatiques ; les consultations médicales, entretiens cliniques

128
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

et thérapeutiques ; les interactions qui se déroulent en contexte


judiciaire… En ce qui me concerne, je me suis intéressée tout
particulièrement à deux types bien différents de situations
communicatives.
D’abord, les échanges dans les commerces et les services.
Avec ma collègue Véronique Traverso, nous avons dirigé
durant plusieurs années une équipe de chercheurs et chercheu-
ses (pour la plupart étudiants.e.s en Master ou Doctorat), qui
après avoir procédé dans différents types de sites commerciaux
à des enregistrements puis à leur transcription ont analysé
ce matériel selon un protocole commun, ce qui a permis à la
fois de dégager les constantes du genre « interactions dans les
commerces et les services », et les variations liées à différents
paramètres (nature du produit vendu, mais aussi taille du
commerce et divers facteurs socioculturels).
Les sites en question : boulangerie, boucherie, papeterie,
bureau de tabac, fleuriste (au marché et en boutique), mar-
chand de chaussures, garage, salon de coiffure ; mais aussi
mairie, bureau de poste, banque, guichet SNCF…
Les aspects envisagés : le « script » de l’interaction ; le
fonctionnement des civilités et de la politesse (ouverture
et clôture, salutations, formes d’adresse, remerciements,
excuses…) ; la réalisation de la transaction (formulation des
requêtes et des refus, procédés argumentatifs, éventuellement

129
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

marchandage) ; la gestion des « incidents » et des conflits ;


les formes de la convivialité : récits, confidences, propos sur
la pluie et le beau temps ; blagues et autres types d’échanges
ludiques…
Une autre dimension comparative a été permise par quel-
ques études effectuées en dehors de la France (Allemagne,
Écosse, Tunisie, Syrie, Liban, Vietnam) – pour une syn-
thèse partielle de ces travaux, voir C. Kerbrat-Orecchioni et
V. Traverso (dir.), Les interactions en site commercial (2008).
Ce qui me permet d’évoquer cet autre et important facteur
de variation qu’est la variation culturelle.
Quand on travaille dans le domaine des interactions
verbales, on ne peut pas ne pas se trouver à un moment ou
à un autre confronté à cette question : s’il est évident que
l’on ne communique pas dans toutes les sociétés de la même
manière, quelle est dans cette affaire la part des variations et
des universaux ? Et quel est exactement le rôle de la langue
dans ces variations ? Ces questions fort complexes, on peut les
aborder sous divers angles. On peut s’intéresser au fonction-
nement comparé d’un type particulier d’interactions, comme
on vient de le voir ; ou d’un type particulier d’unités, comme
nous l’avons fait avec les formes d’adresse – voir S’adresser
à autrui. Les formes nominales d’adresse dans la perspective
comparative interculturelle, paru en 2014 (qui fait suite au

130
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

volume sur Les formes nominales d’adresse en français paru


deux ans plus tôt). Au terme de cette analyse comparative (les
langues/cultures étudiées étant l’italien, l’espagnol, le portu-
gais du Portugal et du Brésil, le roumain, l’anglais d’Australie,
l’allemand, le chinois et l’arabe), il nous est apparu que si les
systèmes d’adresse sont très similaires d’une langue à l’autre,
les comportements d’adresse varient sensiblement d’une culture
à l’autre. De façon plus ambitieuse, on peut se donner pour
objectif de définir, à partir de l’observation d’un ensemble de
faits jugés particulièrement significatifs à cet égard, l’éthos
global d’une société donnée (son « profil communicatif », plus
ou moins proche ou distant, chaleureux ou froid, hiérarchique
ou égalitaire, modeste ou immodeste, attaché au « territoire »
ou à la « face », etc.) – le tome III des Interactions verbales est
entièrement consacré à cette question. J’ajouterai toutefois
que cette réflexion m’a permis de faire des découvertes pas-
sionnantes, mais aussi de mesurer la complexité des relations
existant entre les comportements communicatifs des membres
d’une société donnée, et les caractéristiques de la société en
question (il serait naïf de croire que les premiers sont un
miroir fidèle des secondes). Elle m’a appris à me méfier de
la tentation qui guette la recherche interculturelle, celle des
généralisations hâtives, qui ne prennent pas toujours suffi-
samment en compte les variations contextuelles ou les biais
méthodologiques, au risque de reproduire certains clichés et

131
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

stéréotypes culturels (voir sur ce problème le dernier chapitre


du Discours en interaction).
Venons-en pour terminer au deuxième type d’interac-
tions auquel je me suis plus récemment intéressée : les débats
politico-médiatiques, et plus particulièrement ceux qui se
déroulent à l’occasion des élections présidentielles – voir :
Les débats de l’entre-deux-tours des élections présidentielles
françaises. Constantes et évolutions d’un genre (2017) ; et Le
débat Le Pen Macron du 3 mai 2017 : Un débat « disruptif » ?
(2019). Les titres de ces deux ouvrages disent l’essentiel : ils
portent sur un genre bien particulier, si particulier même
que le corpus analysé a pu être « exhaustif », comprenant la
totalité des réalisations du genre en question, depuis sa mise
en place en 1974 (débat entre les deux candidats arrivés en
tête au premier tour, Valéry Giscard d’Estaing et François
Mitterrand), jusqu’au débat de 2017 entre Marine Le Pen et
Emmanuel Macron (le débat de 2022 n’avait pas encore eu
lieu !) On peut à ce sujet parler de « duels », puisqu’il s’agit
d’affrontements, sous la houlette de deux animateurs dont le
rôle consiste essentiellement à distribuer les tours de parole et
à veiller au respect des règles du débat, entre deux prétendants
à la fonction suprême ; interactions de type « polémique »
donc – il s’agit de « guerres verbales », mais qui obéissent à
des règles très contraignantes, qui permettent tout de même

132
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

aux débatteurs une certaine liberté de manœuvre. C’est ce


que j’ai tenté de montrer dans le premier volume, où les six
premiers exemplaires du genre sont examinés sous toutes
les coutures et plus précisément : le déroulement du débat,
les aspects stylistiques et rhétoriques, les modalités de l’af-
frontement (avec un intérêt particulier porté aux « clashs »
qui émaillent les débats), enfin la façon dont sont exploités
les trois registres de la persuasion : logos, éthos, et pathos.
De 1974 à 2012, le genre est resté relativement stable, même
si l’on constate une certaine évolution dans le sens d’une
formalité moindre (les derniers débats sont moins « corse-
tés » que les premiers), ainsi qu’une augmentation du degré
d’interactivité, et de « polémicité » : les débats sont de plus en
plus « vifs ». Cette caractéristique s’affirme avec le débat de
2017, qui se caractérise surtout par la dissymétrie flagrante
du comportement des deux belligérants. Quand Emmanuel
Macron se montre soucieux de respecter le cadre et les règles
du débat, Marine Le Pen prend un malin plaisir à les subvertir,
se montrant à la fois extrêmement brutale et étrangement
indisciplinée, se livrant à une agitation brouillonne qui s’est
avérée catastrophique, non seulement pour l’ensemble du
débat, mais aussi pour l’image de la candidate qui a dû par
la suite reconnaître elle-même que sa performance avait été
pour le moins « ratée ».

133
CATHERINE KARBRAT-ORECCHIONI

6) Les défis pour l’avenir…


Je mentionnerai enfin un principe de variation auquel
je me suis également intéressée : le « format participatif »
(Goffmann), avec entre autres le nombre des participants
(voir l’ouvrage intitulé Le trilogue que j’ai dirigé en 1995 avec
Christian Plantin, ainsi que On Polylogues, N° spécial de la
revue Journal of Pragmatics, paru en 2004). Or ce sont des
formes de polylogues infiniment plus complexes et diverses
que l’on a vu récemment apparaître sur les smartphones et
le Web (SMS et courriels, forums de discussion et réseaux
sociaux), ces différents types d’écrits numériques constituant
de véritables défis pour l’analyse, entre autres parce qu’ils
méritent incontestablement d’être incorporés à la grande
famille des discours-en-interaction alors même qu’ils se réa-
lisent par écrit, ce qui vient brouiller les frontières des genres.
Donc, beaucoup de pain sur la planche et de grain à
moudre pour les adeptes de l’analyse des conversations : la
linguistique interactionnelle a encore de beaux jours devant
elle !

134
JOSÉ GASTON HILGERT
Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Foram os trabalhos de Luiz Antônio Marcuschi que
me despertaram o interesse pela Análise da Conversação,
enquanto eu ainda estava fazendo o Mestrado em Linguística,
concluído em 1979. Ele trouxera da Alemanha conhecimen-
tos resultantes das primeiras pesquisas em andamento nas
Universidades de lá, nesse campo de estudos. A influência de
Marcuschi, aliás, foi decisiva, a partir da década de 1980, tanto
na introdução da Análise da Conversação – como campo de
pesquisa linguística no Brasil – quanto na reconfiguração do
objeto de estudos e da metodologia de pesquisa do Projeto da
Norma Urbana Culta (NURC/BR), então em curso no país.

135
JOSÉ GASTON HILGERT

Por indicação dele e graças a uma bolsa de estudos do


DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdientst/Serviço
de intercâmbio acadêmico alemão), fiz um estágio de estudos
(1979-1980) na Universidade de Freiburg (Alemanha), sob
orientação do Professor Doutor Hugo Steger. Além de me
proporcionar o acesso a bibliotecas da Universidade, Steger me
apresentou a jovens pesquisadores, alguns sob sua orientação,
em cuja companhia fui me introduzindo nesse novo objeto
de investigação. Cabe lembrar que, embora de origem socio-
lógica, a Análise da Conversação, em Universidades alemãs,
teve acolhida praticamente simultânea em Departamentos
de Sociologia e de Linguística. Esse fato fez com que, no
âmbito da Linguística, ela assumisse um forte viés socioló-
gico ao final da década de 1970 e primeiros anos de 1980.
Os linguistas, com um pé nos princípios sociológicos de
origem da Análise da Conversação (Conversation Analysis)
e outro nas potencialidades linguísticas que esse objeto de
estudo oferecia, estavam, na verdade, à busca de um horizonte
linguístico para ele. O desafio, nesse sentido, era duplo: por
um lado, deixar o interesse quase exclusivo na análise de
enunciados escritos (textos e suas instâncias estruturadoras),
para, por outro, passar a investigar, em seus mínimos deta-
lhes, os enunciados da fala constitutivos das conversas. Foi
no contexto desse movimento da escrita para oralidade e da
análise da conversação de cunho sociológico para a análise

136
JOSÉ GASTON HILGERT

da conversação linguística que iniciei os meus estudos no


referido estágio na Universidade de Freiburg.
Foram muitos os autores que me serviram de inspiração,
tanto os vinculados à perspectiva etnometodológica (socioló-
gica) do campo de estudos quanto os que buscavam, no mesmo
objeto de investigação, horizontes de exploração linguística
incorporando, na medida da pertinência, conhecimentos já
desenvolvidos por aqueles. Entre os etnometodólogos estão,
evidentemente, Harvey Sacks, Emanuel A. Schegloff e Gail
Jefferson, autores dos textos inaugurais da Conversation
Analysis. Entre os linguistas, pioneiros da análise linguística
da conversação, menciono Hugo Steger (Univ. de Freiburg/
Alemanha), que, como falei, me proporcionou um primeiro
contato com os estudos da língua falada; e Eisabeth Gülich,
sob cuja orientação pesquisei na Universidade de Bielefeld
(Alemanha), em 1980, e de cuja autoria refiro estudos na
sequência desta entrevista. Mas quem mais me influenciou
e inspirou de forma continuada foram meus colegas e ami-
gos de convívio acadêmico, a começar com Luiz Antônio
Marcuschi, que, além de ter sido o grande responsável pela
virada metodológica do Projeto NURC, foi o mestre de toda
uma geração de estudiosos da análise linguística da conversa.
Com ele, tive a oportunidade de conviver diariamente, durante
três meses de estudo na Universidade de Freiburg, em 1987,

137
JOSÉ GASTON HILGERT

quando ele lá estava em estágio de pós-doutorado, e eu, em


período-sanduíche, escrevendo minha tese de doutorado.
Igualmente influentes foram meus colegas do Projeto da
Gramática do Português Falado, com destaque a Ingedore
Koch e Clélia Jubran, a quem muito devo por sua generosidade
intelectual, sempre dispostas a compartilhar seus conheci-
mentos com os colegas do Projeto; e não menos influentes
foram meus companheiros de pesquisa do Projeto NURC/
USP, com destaque a Dino Preti, que, além de ter sido meu
orientador de Doutorado, conduziu esse Projeto com dedica-
ção e pertinácia, legando-o a seus discípulos, que o mantêm
vivo e produtivo até hoje.

2) Considerando a Análise da Conversação como ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Creio que a melhor forma de apresentar os procedimen-
tos metodológicos e as principais categorias analíticas da
Análise da Conversação em sua perspectiva linguística, que
é o enfoque desta entrevista, é situá-los no contexto de um
breve percurso histórico da disciplina, que vai desde a origem
etnometodológica, passa para a especialização linguística e, no
âmbito desta, prossegue nos desenvolvimentos atuais. É nesse
percurso, na efetiva prática analítico-descritiva, que vão se

138
JOSÉ GASTON HILGERT

circunscrever os objetos de estudo, burilar os conceitos, definir


as categorias de análise, e desenvolver e testar os métodos.
Tratarei desse percurso em três pequenos tópicos: no primeiro,
tentarei definir a noção de conversa; no segundo, apresentarei
os fundamentos etnometodológicos da análise da conversa;
e, no último, tratarei do enfoque linguístico-discursivo dela.
Antes, porém, cabem algumas observações terminoló-
gicas. A denominação Análise da Conversação é a tradução
de Conversation Analysis. Com esse nome, nasceu o novo
objeto de estudos da Etnometodologia, que efetivamente
se restringiu, no início, a analisar e descrever conversas,
conforme atesta Harvey Sacks (1992a, p. 622): “Comecei com
conversas documentadas com gravador”. No Brasil, a Análise
da Conversação se mantém entre pesquisadores que tratam
da conversa com interesse linguístico. Já os que se ocupam
dela à luz dos preceitos e com fins etnometodológicos, cos-
tumam identificá-la por Análise da Conversa, fato que, aliás,
se justifica, uma vez que o termo conversação, ainda que
dicionarizado, é pouco comum em português para designar
uma interação linguística face a face informal e corriqueira.
E mesmo a palavra conversa tem sido substituída por estes
últimos por fala-em-interação, por proposição de Shegloff
(2007, p. xiii), que diz preferir esta última denominação,
seja para contornar a conotação de trivialidade muitas vezes

139
JOSÉ GASTON HILGERT

atribuída ao termo conversa, seja para dar conta da amplitude


atual do campo de investigação, cujos cenários interacionais
analisados vão muito além do que se identifica por conversa.
No que respeita ao atual estudo linguístico-discursivo da
conversa, como disse, mantém-se entre nós a denominação
Análise da Conversação. No entanto, a partir dos anos 2000,
Selting e Couper-Kuhlen (2001) introduziram a denominação
Linguística Interacional (Interactional Linguistics), com o
propósito de, sob ela, abrigar os diferentes estudos de caráter
linguístico, dos prosódicos aos lexicais, sintático-gramaticais
e até discursivos, desde que desenvolvidos por algum enfoque
interacional. Por ser a denominação internacionalmente aceita
nesse âmbito de estudos e também já usada em publicações
no Brasil, vou adotá-la também a seguir.

2.1 A noção de conversa


Do ponto de vista do senso comum, pode-se dizer que a
conversa é um fato corriqueiro e trivial em nosso cotidiano,
ao mesmo tempo social e linguístico. Ela é a forma primeira e
primária de uso da língua. Por meio dela, somos introduzidos
na língua e nos consolidamos como seus usuários. Na medida
em que conversamos, vamos internalizando, ainda na mais
tenra infância, que o uso da língua não é uma ação isolada e

140
JOSÉ GASTON HILGERT

individual, mas sempre envolve o outro, com quem se conversa


nos diferentes “campos de comunicação discursiva”, para
usar a expressão de Bakhtin (2011). É por meio da conversa
que nos constituímos como membros de uma sociedade e
realizamos a maior parte de nossas práticas sociais.
Já em perspectiva linguística, podemos dizer que a conversa
é uma interação linguística em que ao menos dois indivíduos,
em situação face a face, falam sobre um tema sem preparação
prévia, isto é, sobre um tema que se define e se desenvolve
a partir do encontro dos interlocutores. O termo conversa,
embora denomine, em princípio, a enunciação conversacional
(o aqui e agora da conversa em curso), também identifica o
enunciado conversacional (o registro da conversa). Quando
se fala em análise da conversa, seja qual for a perspectiva dela,
o que está em foco é precisamente esse enunciado, produto
da conversação. Stokoe (2018, p. 89) faz uma analogia muito
esclarecedora nesse sentido:

Lembre-se da última vez que você andou de montanha


russa. Você deve ter visto o instantâneo fotográfico que
alguém fez de você descendo em alta velocidade a ladeira
íngreme. Flagrantes de montanha russa revelam como
você se comportou num dado momento, mesmo que você
não seja capaz de lembrar-se dele ou de reproduzi-lo. Da
mesma forma não somos capazes de relembrar e reprodu-
zir – com as palavras exatas, na mesma entonação e com

141
JOSÉ GASTON HILGERT

expressão facial idêntica – o que dissemos, digamos, em


trinta e três segundos de uma conversa específica. Estudar
a conversa cientificamente permite-nos congelar esse
momento e escrutiná-lo a fim de ver como ele funcionou,
o que funcionou e o que não funcionou.

A análise da conversa, etnometodológica ou linguística,


dá destaque a esse fato e, por isso, insiste em seus procedi-
mentos metodológicos, tanto na gravação e na filmagem
das conversas quanto na transcrição criteriosa delas, o que
permite uma análise minuciosa das interações, por força de
repetida e atenta audição e observação.
Três elementos essenciais concorrem para a definição
e a caracterização da conversa (GÜLICH, 1991; GÜLICH;
MONDADA, 2008): a interação, a ordem e a realização. O
primeiro elemento, a interação, é o primordial. Sem ele, não há
conversa. A alternância de turnos, com maior ou menor inten-
sidade, dá evidência a esse caráter. Mesmo em conversas de um
turno só, ou seja, em que um dos falantes detém o monopólio
da palavra e outro se limita ao papel de ouvinte, mantém-se
a natureza interacional do turno do falante. Segundo Gülich
(1991, p. 334), na interação “cada participante mostra como
compreende ou interpreta a atividade do outro e como quer
que o outro compreenda e interprete a sua”. Portanto, o turno
de um falante não é somente determinado pelo do interlocutor
que o antecedeu mas também pela expectativa do que este

142
JOSÉ GASTON HILGERT

ou outro interlocutor (no caso de uma conversa com três ou


mais participantes) dirá na sequência, dentro do contexto do
tema em desdobramento. Além disso, o caráter interacional
da conversa permite que os falantes negociem aqui e agora,
em função das contingências de cada lugar e momento da
sequencialidade interativa, da escolha das palavras e estrutu-
ras, do sentido delas, da propriedade das atividades a realizar
e da sua interpretação.
O segundo elemento a concorrer para o conceito de con-
versa é a ordem. Ela é inerente à constatação de que os falantes
se valem de uma “metodologia” para administrar as diferentes
atividades que desenvolvem no percurso conversacional. A
ordem está intrinsecamente vinculada à natureza sequencial
de um desdobramento interativo e se revela particularmente
no sistema de alternância, atribuição e tomada de turnos. O
princípio da ordem na sucessão dos turnos aponta para outros
níveis de organização que permitem conceber o processo
conversacional – porque organizado – como um constructo
estruturado e metódico.
O terceiro fator definidor da conversa, diretamente vincu-
lado aos dois anteriores, é a realização, no sentido de atividade,
de trabalho conjunto desenvolvido pelos interlocutores para a
execução das tarefas demandadas pela evolução do processo
interacional, que, em última instância, se destinam a produzir

143
JOSÉ GASTON HILGERT

e a compreender sentidos. Segundo Gülich (1991, p. 336),


“a constituição do sentido resulta do ‘trabalho’ dos partici-
pantes” da conversa. Também Kerbrat- Orecchioni (1995, p.
28 e 29) denomina de “trabalho” esse processo conjunto e
sincronizado da construção da conversa e da produção dos
sentidos que a move:

O sentido de um enunciado é o produto de um “trabalho


colaborativo” que é construído em comum pelas dife-
rentes partes em presença – a interação podendo então
ser definida como o lugar de uma atividade coletiva de
produção do sentido, atividade que implica a necessidade
de negociações explícitas ou implícitas que podem chegar
a bom termo ou a fracassar.

Em resumo, a conversa é uma atividade de natureza social


– pois envolve pessoas em convívio e interação –, linguistica-
mente realizada. Dessa sua realização, emergem regras que
regulam a ordem social, e outras, determinadas por estas,
que comandam e caracterizam a construção linguístico-
-discursiva. A conversa constitui-se, assim, como objeto de
estudo tanto para a Sociologia (Etnometodologia) quando
para a Linguística.

144
JOSÉ GASTON HILGERT

2.2. A origem etnometodológica


Quem deu início ao estudo da conversa na perspectiva
etnometodológica foi Harvey Sacks (1935-75), que trabalhou
em estreita colaboração com Emanuel A. Schegloff e Gail
Jefferson (1938-2008). Seu interesse no estudo da conversa
era sociológico e não linguístico, o que fica muito explícito
nesta manifestação de Sacks (1992a, p. 622):

Não foi por especial interesse pela linguagem ou em razão


de alguma formulação teórica do que seria estudado, que
comecei com conversações documentadas com gravador.
Mas, simplesmente, porque as poderia manipular e estudar
repetidas vezes; e, também, porque outros poderiam avaliar
o que eu havia estudado e fazer o que lhes permitisse sua
capacidade, caso, por exemplo, quisessem discordar de
mim.

São desses autores os textos inaugurais da Conversation


Analysis, dentre os quais se destacam: Sacks (1963, 1972);
Schegloff (1968); Schegloff e Sacks (1973); Sacks, Schegloff e
Jefferson (1974); Schegloff, Jefferson e Sacks (1977). Entre esses,
merece menção singular o de 1974, A Simplest Systematics for
the Organization of Turn Taking for Conversation, publicado
em Language, v. 50, n. 4, p. 696-735, por ser o artigo mais
citado até hoje do periódico em que foi publicado (FORD;
COUPER-KUHLEN, 2014, p. 726).

145
JOSÉ GASTON HILGERT

Segundo Gülich e Mondada (2008, p. 17), os analistas


da conversação encontram sua identidade distintiva em sua
“mentalidade de análise”, na medida em que orientam meto-
dologicamente seu trabalho à luz dos princípios definidores
da natureza da conversa, anteriormente apontados. Com
base no princípio da ordem, cabe ao analista “explicitar e
descrever as estruturas organizacionais construídas pelos
interlocutores” (GÜLICH; MONDADA, 2008, p. 17). Em razão
do princípio da sequencialidade e da temporalidade, o analista
não isola conversações nem enunciados que as constituem,
mas os considera na sequencialidade do contexto em que
ocorrem, de acordo com o seu desdobramento temporal.
Considerando o princípio da perspectiva dos interlocutores,
o analista deve reconstruir o modo como as ações são rea-
lizadas e interpretadas na interação, sempre considerando
o ponto de vista dos participantes da interação e não o do
analista. Finalmente, o princípio do primado da interação,
determina que todo evento da interação, por mais que ele seja
atribuído a somente um dos participantes, terá de ser sempre
interpretado na perspectiva interacional. “Por isso aspectos
cognitivos, sintáticos ou gramaticais, que tradicionalmente
são vistos interacionalmente independentes, precisam ser
redefinidos segundo uma orientação interacional” (GÜLICH;
MONDADA, 2008, p. 18).

146
JOSÉ GASTON HILGERT

2.3. O desenvolvimento linguístico-discursivo


A recepção da análise etnometodológica da conversa na
Linguística foi particularmente favorecida pela natureza do
objeto de investigação e o contexto histórico dos estudos
linguísticos em que a recepção ocorreu. Quanto ao primeiro
fator, é preciso destacar que, embora Sacks afirme não ser
sua investigação movida por razões linguísticas, mas, sim,
por interesse sociológico, a conversa como fato social só se
realiza por meio da interação linguística. Nesse sentido, tanto
Sacks quanto seus colegas instituíram, de alguma forma, a
“vertente linguística” da Etnometodologia (COULON, 1995,
p. 23; KERBRAT-ORECCHIONI, 1990, p. 197).
Nesse sentido, os próprios fundadores da Conversation
Analysis, particularmente Shegloff e Jefferson (Sacks faleceu
muito jovem, vítima de um acidente automobilístico) con-
vidam, no decorrer de suas publicações, os linguistas a se
engajarem com eles em projetos interdisciplinares (FORD;
COUPER-KUHLEN, 2014, p. 726-740). E os linguistas acei-
taram com entusiasmo o convite, especialmente porque o
novo objeto de investigação entrava em perfeita sintonia com
interesses dos linguistas na época em que a Conversation
Analysis tomou evidência. Na Alemanha, por exemplo, muito
cedo os linguistas despertaram para as potencialidades da
Análise da Conversa na Linguística, destaque-se Elisabeth

147
JOSÉ GASTON HILGERT

Gülich, que, como exímia romanista que era, descreveu os


sinais de articulação macrossintáticos no francês falado
(GÜLICH, 1970).
Ainda, a partir da década de 1970, os estudos das intera-
ções faladas entraram em sintonia com o desenvolvimento
da Pragmática e da Linguística Textual. À luz deles, a Teoria
dos Atos da Fala foi criticamente retomada, já que ela, em
síntese, distinguia diferentes tipos de atos identificados a partir
da ação de um falante sobre um ouvinte, sem considerar,
no entanto, a correspondente ação deste. Ou seja, era uma
teoria da ação pela fala e não da interação. A esse propósito,
Henne e Rehbock (1982, p. 17-18), envolvendo falante e ouvinte
num ato de interação, concebem o que chamam de “ato de
comunicação”, que seria “uma categoria de análise dentro
de uma linguística pragmática concebida por uma teoria
conversacional”. Em acordo com essa concepção, Schlieben-
Lange (1979, p. 16) define a Pragmática como uma “linguística
do diálogo”. Também no desenvolvimento da Linguística
Textual, o estudo etnometodológico da conversa encontrou
eco, especialmente no fato de ela abandonar a restrição à
análise de textos escritos e se voltar também aos “textos” da
fala (RATH, 1979, p. 185).
Em síntese, a influência da Conversation Analysis na
análise linguística da conversa resultou, num sentido, na

148
JOSÉ GASTON HILGERT

reorientação de interesses tradicionais da Linguística, como


foi o caso de abordagens da Linguística Textual e de estu-
dos gramaticais. Os pesquisadores passaram a analisar e a
descrever registros de interações faladas, visando a observar
possíveis reconfigurações de categorias e procedimentos gra-
maticais e de construção textual, determinadas por coerções
do desdobramento interacional. Noutro sentido, a influência
se deu mais no âmbito da metodologia de coleta e transcrição
de dados. Atentos às reais manifestações dos informantes
e interessados em analisar a língua realmente em uso nas
mais variadas práticas sociais dos falantes, os pesquisadores
passaram a adotar práticas criteriosas de registro dos dados
de seus informantes. À pergunta seguinte tentarei responder,
explicitando as preocupações específicas da análise linguís-
tica da conversa, à qual me referirei daqui por diante por
Linguística Interacional.

3) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Esta pergunta pressupõe que a Linguística Interacional
seja uma teoria de texto. Simplificando, podemos dizer que,
na concepção bakhtiniana (BAKHTIN, 2011), texto é um todo
organizado de sentido de completude tal que a ele se pode
responder, podendo a resposta ser a simples compreensão

149
JOSÉ GASTON HILGERT

(“compreensão responsiva”) ou, então, um outro texto ou


uma ação desencadeada por esse todo. À luz dessa concepção,
uma conversa é texto quando a sequência de turnos que a
constitui resulta num todo de sentido em relação ao qual se
pode tomar uma “atitude responsiva” (BAKHTIN, 2011). Por
esse fundamento, pode-se, então, admitir que a Linguística
Interacional é, efetivamente, uma teoria de texto.
O aspecto principal que a distingue de outras teorias é
o fato de a Linguística Interacional ter mantido, ao menos
inicialmente, o mesmo objeto de estudos da Conversation
Analysis, a conversa, constituída pela interação linguística
face a face entre indivíduos, na realização de suas práticas
sociais. Ela, contudo, deixou de ser analisada com objetivos
etnometodológicos para ser submetida à análise à luz de fun-
damentos e propósitos linguístico-discursivos, preservando,
contudo, a “mentalidade de análise” dos etnometodólogos.
Selting e Couper-Kuhlen (2001, p. 259) observam que os
linguistas começaram a focalizar “a relevância sistemática de
fenômenos linguísticos para a organização da interação social”
e para tanto puseram em relação métodos de trabalho advin-
dos da Linguística e da Conversation Analysis. Inicialmente,
houve particular interesse pela análise de fenômenos pro-
sódicos e fonéticos em situações de interrupção e de sobre-
posição e, também, na organização dos turnos da conversa

150
JOSÉ GASTON HILGERT

(COUPER-KUHLEN, 2001; COUPER-KUHLEN; SELTING,


1996, 2001; MONDADA, 2001; GÜLICH; MONDADA, 2008;
KERN, 2010; FORD; COUPER-KUHLEN, 2014).
Cedo, o enfoque da prosódia na fala se estendeu a tópicos
gramaticais com os quais ela está naturalmente vinculada,
particularmente à morfossintaxe. Nessa perspectiva, ampliou-
-se o interesse pelo papel da gramática na organização con-
versacional, a ponto de existirem, hoje, grupos de pesquisa
e inúmeras publicações tratando de gramática e conversação
ou gramática e língua falada.
Na medida em que foi se ampliando o leque de interesses
linguísticos no estudo das interações, a Linguística Interacional
estendeu o seu campo para além do cenário conversacional
propriamente dito, voltando-se também para interações insti-
tucionais, como as que se estabelecem entre professor e aluno
em sala de aula, entre entrevistador e entrevistado, entre os
debatedores de embates políticos, jurídicos e outros marca-
dos por seu caráter polêmico, e até mesmo para interações
em que um dos interlocutores, no caso, o destinatário, não
assume voz de fala, mas tem presença ativa na constituição
da manifestação do destinador, como é o caso de comícios,
discursos de improviso, alguns sermões. Aliás, como disse
acima, foi em razão dessa ampliação de interesses e cenários,
saindo da especificidade das interações conversacionais,

151
JOSÉ GASTON HILGERT

que Selting e Couper-Kuhlen sugeriram a denominação de


Linguística Interacional para a área de estudos.
Considerando que as relações sociais são o lugar do uso
da língua e que, portanto, esse uso precisa ser descrito à luz
das inúmeras circunstâncias que configuram essas relações,
Selting e Couper-Kuhlen (2001, p. 261) consideram que

[...] trabalhos em Linguística Interacional buscam o


desenvolvimento de um veio de investigação linguística,
que, com base na análise empírica do uso da linguagem
em interações naturais, pretende definir e descrever, em
nova perspectiva, categorias e estruturas linguísticas
como meios de produção de atividades interacionais e de
organização de conversas.

Mondada (2001, p. 154) ratifica e complementa essas


considerações, dizendo que

[...] a observação da imbricação dos recursos formais e dos


procedimentos interacionais modifica de alguma forma
as concepções tradicionais da gramática e da língua. Ela
convida a uma redefinição da gramática no sentido de que
ela seja mais plástica, adaptável à diversidade dos contex-
tos de enunciação, das determinações sociocognitivas e
discursivas. Isso implica uma revisão de certas categorias
descritivas e, em termos mais gerais, de hipóteses sobre a

152
JOSÉ GASTON HILGERT

relação entre língua e exploração dos recursos linguísticos


em situação.

Em suma, a Linguística Interacional se fundamenta teórica


e metodologicamente no fato de que categorias e estrutu-
ras linguísticas conformam-se às necessidades e funções
das inúmeras atividades realizadas pelos interlocutores no
desdobramento interacional e de que, portanto, as referidas
categorias e estruturas precisam ser identificadas, analisadas,
descritas e definidas na perspectiva dessas atividades.

4) A Análise da Conversação, como a conhecemos hoje,


se estende por várias subáreas, mantém interfaces com
outros campos de investigação e segue com avanços recentes
significativos. Poderia tratar dessas perspectivas do campo
de estudos e, também, de sua inserção atual nele?
Mais uma vez, considero que o interesse pela Análise
da Conversação nesta entrevista é de ordem linguística, ou
seja, é atinente à Linguística Interacional, de cujas subáreas,
interfaces e avanços se quer saber. Vou privilegiar, em minhas
considerações, o desenvolvimento do campo de estudos no
Brasil, que reflete evolução similar em outros países, particu-
larmente, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha e na
França. Como disse anteriormente, o pioneiro da Linguística

153
JOSÉ GASTON HILGERT

Interacional, no Brasil, foi Luiz Antônio Marcuschi, que,


trazendo da Alemanha os primeiros desdobramentos da
Conversation Analysis em âmbito linguístico, reorientou o
desenvolvimento do Projeto NURC nessa perspectiva.
Esse Projeto tinha como objetivo a definição e caracteri-
zação de uma norma padrão do português falado no Brasil.
Para tanto, os pesquisadores reuniram, em gravações, um
vasto conjunto de dados de fala, constituído por entrevistas,
diálogos e elocuções formais produzido por falantes escolhi-
dos por critérios que, presumivelmente, os elegeriam como
falantes da norma a ser definida pelo Projeto. É importante
notar que, embora os dados recolhidos fossem efetivamente
de natureza falada, as primeiras pesquisas feitas com base
neles foram conduzidas à luz de práticas de investigação
da língua escrita. Foi particularmente nesse aspecto que a
contribuição de Marcuschi interveio, já que trouxe critérios
específicos para conceber as interações faladas, e metodologia
própria, emanada dos fundamentos etnometodológicos, para
analisá-las e interpretá-las.
A partir de então, além dos estudos do Projeto NURC,
começaram a proliferar monografias, dissertações e teses
que estudaram fenômenos especialmente recorrentes nas
interações faladas como pausas, hesitações, sobreposições,
repetições, correções, paráfrases. Ou seja, no primeiro

154
JOSÉ GASTON HILGERT

momento do desenvolvimento da Linguística Interacional


no Brasil, fizeram-se publicações com temas mais vinculados
às questões de que se ocuparam os fundadores da análise
etnometodológica da conversa.
Aos poucos, no entanto, o campo de investigação começou
a se ampliar, fato, aliás, já patrocinado pelo próprio corpus
do Projeto NURC que, além dos diálogos entre dois infor-
mantes (D2), mais marcados pelo caráter conversacional,
também incluía entrevistas, ou diálogos entre informante e
documentador (DID), e elocuções formais (EF). Especialmente
estas promoviam uma extensão do campo de estudos da
Linguística Interacional, na medida em que consistiam, em
geral, em aulas ministradas pelo informante para um público
fisicamente presente, que, em princípio, não interagia com
ele, mas influía decisivamente na constituição do texto do
professor.
Na esteira dessa evolução, desenvolveram-se trabalhos
sobre interações entre professor e alunos em sala de aula,
sobre debates políticos e jurídicos na televisão, sobre cortesia
e descortesia na fala, sobre entrevistas em diferentes formatos
e com temas variados, merecendo destaque as realizadas
pela TV Cultura, no Programa Roda Viva. Aliás, os eventos
televisivos apontaram para novos horizontes no desenvol-
vimento da Linguística Interacional. Voltarei a este ponto

155
JOSÉ GASTON HILGERT

adiante, pois quero, antes, destacar uma série de produções,


cuja sequência testemunha, de certa forma, o desenvolvimento
da disciplina em relação aos tópicos que acabo de mencionar
e a muitos outros.
Trata-se da série Estudos Paralelos, composta de 14 volu-
mes, que publicam resultados de pesquisas realizadas por um
grupo de professores universitários, coordenado por Dino
Fioravente Preti, vinculado ao Projeto NURC/USP. Apresento
aqui a relação desses volumes, com o ano da 1ª edição (as
referências completas aparecem ao final desta entrevista), cujos
títulos põem em evidência os grandes temas focalizados pelos
pesquisadores. Como se pode ver, os volumes se sucedem, em
média, de dois em dois anos, traçando, assim, um percurso
cronológico do avanço da Linguística Interacional no Brasil:
(I) Análise de textos orais (1993); (II) O discurso oral culto
(1996); (III) Estudos de língua falada: variações e confrontos
(1998); (IV) Fala e escrita em questão (2000); (V) Interação
na fala e na escrita (2002); (VI) O léxico na língua oral e
na escrita (2003); (VII) Diálogos na fala e na escrita (2005);
(VIII) Oralidade em diferentes discursos (2006); (IX) Cortesia
verbal (2008); (X) Oralidade em textos escritos (2009); (XI)
Variações na fala e na escrita (2011); (XII) Comunicação na
fala e na escrita (2013); (XIII) Oralidade e mídia (2017); (XIV)
Oralidade e ensino (2020). Convido o leitor interessado a

156
JOSÉ GASTON HILGERT

entrar na amazon.com.br, onde todos os volumes, exceto o


de número 8, estão disponíveis, inclusive em edição Kindle,
por um preço simbólico. Cada volume tem em torno de 12
capítulos, o que representa aproximadamente 170 textos de
vários autores, retratando um amplo panorama dos interesses
atuais da Linguística Interacional.
Voltando à influência exercida pela televisão no desen-
volvimento da disciplina, é relevante destacar que programas
oferecidos por ela, especialmente entrevistas e debates, pos-
sibilitaram aos pesquisadores a constituição fácil e rápida de
excelentes corpora para estudo, não só de expressão linguística
mas também mímico-gestual. Esse fato deu origem a estudos
de natureza multimodal, voltados à análise e interpretação de
realizações discursivas em linguagem sincrética. É indiscutível,
por exemplo, que um certo olhar ou outro movimento facial,
que acompanha a enunciação linguística de um determinado
turno, é decisivo para a interpretação e compreensão desse
turno. Os dados do NURC/BR, infelizmente, carecem desse
recurso visual, já que, na época de sua coleta, a tecnologia para
tanto não existia ou não estava disponível em escala portátil.
Cabe, aliás, lembrar que o desenvolvimento dos estu-
dos conversacionais e, em decorrência, dos da Linguística
Interacional, sempre foi determinado pela evolução tecno-
lógica. No início, os etnometodólogos reconhecem que foi

157
JOSÉ GASTON HILGERT

graças ao surgimento do gravador de som que puderam ter


acesso a conversas, que podiam ouvir quantas vezes quisessem,
transcrever e retranscrever o quanto fosse necessário, para
então observá-las em detalhes, fazer sua descrição, análise e
interpretação (SACKS, 1992a).
O advento da filmadora portátil facilitou muito o registro
de interações sincréticas, possibilitando investigar dados de
natureza e procedências diversas das que ofereciam pro-
gramas televisivos. Tornou-se prática dominante que novos
corpora para análises interacionais fossem documentados
por imagem e som, o que não diminuiu a relevância dos mais
antigos apenas registrados em sua realização sonora. Aliás,
é imprescindível o cuidado que se deve ter com os bancos
de dados do passado, pois são documentos preciosos para,
entre outras finalidades, fundamentar estudos diacrônicos
da língua falada.
Mas o momento culminante dessa relação entre a evolução
tecnológica e o desenvolvimento da Linguística Interacional
foi, sem dúvida, o do advento do computador, desde o de mesa,
passando para o laptop e chegando ao celular. O surgimento
do computador e a evolução da informática multiplicaram,
exponencialmente, as facilidades para o registro em som e
imagem de corpora sobre uma variedade infinita de temas
e em quantidades inimagináveis antes. Muito mais do que

158
JOSÉ GASTON HILGERT

isso, porém, a nova tecnologia levou à criação de programas


de transcrição automática de falas; à rapidez e precisão no
levantamento e na análise de certos tipos de ocorrências num
corpus; ao acesso praticamente universal de bibliografias que,
há não muito tempo, eram restritas a poucos; à difusão e ao
compartilhamento de conhecimentos; e, mais recentemente,
com o boom das redes sociais, à emergência de um novo
objeto de estudos na Linguística Interacional, as interações
nas redes sociais, e, em relação a ele, à discussão de novos
conceitos e métodos.
Não tenho aqui tempo e espaço para tratar exaustivamente
dessa renovação de perspectivas teórico-metodológicas. Eu
me limito a poucas linhas sobre dois pontos: a ampliação do
conceito de oralidade e a influência do contexto digital na
configuração dos interlocutores, de seus temas, das caracte-
rísticas de sua linguagem e de seus estilos.
Quanto ao primeiro ponto, com o acesso praticamente
universal ao celular, à internet e às redes sociais, nunca se deu
voz a tantos para interagir sobre tudo e todos, com conhe-
cidos e desconhecidos. E a absoluta maioria das interações
ocorre de forma informal, em tom de conversa, ainda que os
interlocutores tenham de fazê-lo por escrito, o que determina
uma escrita marcada pela oralidade. Nesse sentido, obvia-
mente, oralidade não é expressão fônica, é um modo de ser

159
JOSÉ GASTON HILGERT

do próprio discurso que se materializa numa textualidade


marcada por certos traços de estrutura composicional e de
estilo que evocam uma conversa. Desencadeia-se, a partir
daí, uma discussão sobre o conceito de oralidade e gênero
oral nas interações medialmente escritas nas redes sociais.
É uma discussão extremamente necessária e atual, que está
em franco desenvolvimento não só entre linguistas brasilei-
ros – notadamente os do GT de Linguística do Texto e de
Análise da Conversação da ANPOLL – mas também entre os
pesquisadores de diferentes centros acadêmicos mundo afora.
No que concerne ao outro ponto, a influência do contexto
digital na configuração das interações nas redes sociais é
um tema cuja discussão está recém iniciando no Brasil. Ela
teve um impulso especial a partir da tradução para o portu-
guês da obra L’analyse du discours numérique: dictionnaire
des formes et des pratiques, de Marie-Anne Paveau. Com o
título A análise do discurso digital: dicionário de formas e
práticas, a obra foi publicada, no Brasil, em 2021. Ela trata
dos discursos em geral que têm origem e circulação nas redes,
entre os quais se incluem, obviamente, as interações objeto de
estudo dos analistas da conversa em qualquer perspectiva. As
propostas teóricas e metodológicas da obra foram gestadas à
luz de olhares múltiplos vindos tanto da Linguística quanto
das Ciências da computação, atendendo, assim, à natureza

160
JOSÉ GASTON HILGERT

complexa dos signos e dos discursos digitais nativos ou,


como diz a autora, dos “tecnossignos”, dos “tecnodiscursos”,
dos “tecnogêneros”. É precisamente no reconhecimento e no
desvelamento dessa complexidade que está o cerne teórico
da obra, do qual também decorre sua originalidade e seu
potencial inovador e crítico para os estudos dos discursos.
Para concluir essas considerações sobre as subáreas, inter-
faces e avanços da Análise da Conversação, me é perguntado
ainda sobre qual dessas orientações mais determina meus
trabalhos atuais. Em resumo, continuo trabalhando com
os colegas do Projeto NURC/USP, que tratam de diferentes
temas sempre relacionados com a oralidade e a interação,
conforme registrei acima. Além disso, já faz alguns anos que
também me dedico a estudos sobre as interações nas redes
sociais. Nesse contexto, focalizo diferentes temas, tanto em
publicações próprias quanto na orientação de mestrandos e
doutorandos.

5) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Poderia organizar minha produção, em meu percurso
acadêmico, aproximadamente em cinco períodos, cada um
identificado por nele predominarem publicações sobre uma

161
JOSÉ GASTON HILGERT

certa temática. Sempre no âmbito da Linguística Interacional,


foram estes os meus principais interesses de estudo: o para-
fraseamento; a construção da compreensão e dos sentidos;
a atenuação, a cortesia e a descortesia; a otimização dos
enunciados na perspectiva da metaenunciação; a oralidade
e a interação nas redes sociais. Limito-me a apontar uma
publicação sobre cada um desses temas: (1) Parafraseamento
(2015); 2) A emergência da compreensão na conversa, mostrada
no trabalho colaborativo de otimização de enunciados (2014);
3) Atenuação e cortesia em intervenções metaenunciativas na
conversa (2014); 4) O trabalho metaenunciativo na otimização
de enunciados em interações televisivas (2017); 5) Elementos
para a discussão do conceito de gênero oral (2020).

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
A preocupação com o ensino de língua e de literatura
sempre foi inerente aos Programas de Pós-Graduação em
Letras em que trabalhei, já que neles se formavam mestres e
doutores que, por sua vez, iriam atuar na formação de pro-
fessores para o ensino fundamental e médio. Relaciono três
contribuições minhas nesse sentido: 1) O parafraseamento em
entrevistas: geração de sentidos e construção da compreensão
(2020); A linguagem da proximidade em textos de divulgação

162
JOSÉ GASTON HILGERT

para crianças (2018); 3) A oralidade em textos de divulgação


científica para crianças (2009).

7) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Indico, nesse sentido, leituras relacionadas à análise
etnometodológica da conversa e à Linguística Interacional,
algumas de circulação internacional e outras mais voltadas
aos leitores em língua portuguesa. No primeiro conjunto
relaciono: 1) Sacks, H.; Schegloff, E. A.; Jefferson, G. (1974);
2) Sidnell, J. e Stivers, T. (2014); 3) Marcuschi, L. A. (1986).
No segundo grupo aponto: 1) Couper-Kuhlen, E.; Selting, M.
(2018); 2) Jubran, C. S. (2015); 3) os livros da coleção Estudos
Paralelos, organizados por Preti e Leite.

163
LETÍCIA JOVELINA STORTO
Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Conheci a Análise da Conversação (ou Linguística
Interacional, ou Estudos da Fala-em-Interação) por meio
do Professor Doutor Paulo de Tarso Galembeck e sua pes-
quisa em oralidade durante a minha graduação em Letras,
concluída em 2007, na Universidade Estadual de Londrina
(UEL). À ocasião, pedi ao professor para me orientar em um
de seus projetos, o que ele aceitou prontamente. Eu comecei a
trabalhar com a expressividade na língua falada, estudando
os textos dos pesquisadores do NURC, Núcleo USP, espe-
cialmente as obras publicadas na coleção Projetos Paralelos,
coordenada pelo Professor Doutor Dino Preti e, desde 2017,
pela Professora Doutora Marli Quadros Leite. Orgulho-me

164
LETÍCIA JOVELINA STORTO

de integrar o projeto desde 2017 e de hoje ser parceira das


minhas referências básicas.
Voltando um pouco, fui orientada pelo professor Paulo
Galembeck, na UEL, em duas pesquisas de iniciação científica,
na especialização, no mestrado e no doutorado, sempre com
temas relativos à Análise da Conversação. Minha primeira
pesquisa de iniciação científica versava sobre expressividade
na fala; a segunda, sobre monitoramento da conversa. No
mestrado, pesquisei os processos de monitoramento em
conversações mediadas por tecnologias digitais. Na tese de
doutorado, analisei as marcas da oralidade, as máscaras dis-
cursivas e a argumentação no gênero discursivo oral pregação
religiosa. Em meu pós-doutorado, realizado na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sob supervisão
da Professora Doutora Beth Brait, estudei especificamente
gêneros discursivos orais em contexto da sala de aula, tais
como o seminário, a entrevista e a receita culinária.
Como componentes curriculares, na graduação, cursei
uma disciplina especial ministrada pelo professor Paulo
Galembeck sobre a Língua Falada. Durante o doutorado, cur-
sei a disciplina “Língua Falada e Interação Verbal”, ministrada
por ele, meu eterno e querido orientador. Ele e eu seguimos
trabalhando em parceria até o falecimento, em maio de 2016.

165
LETÍCIA JOVELINA STORTO

Como se percebe, desde o início de minha formação acadê-


mica, estive atrelada à Análise da Conversação.
Várias foram as inspirações para meus estudos, mas pre-
ciso ressaltar algumas. A principal delas é o Professor Doutor
Paulo de Tarso Galembeck, meu grande mestre e incentivador.
Também é muito importante para minha formação o saudoso
Professor Doutor Luiz Antônio Marcuschi, referência básica
para todos os estudiosos da Análise da Conversação. Outros
importantes pesquisadores para minha formação são Professor
Doutor Dino Preti, Professor Doutor Ataliba de Castilho,
Professora Doutora Catherine Kerbrat-Orecchioni, Professora
Doutora Ingedore G. Villaça Koch, Professora Doutora Leonor
Lopes Fávero, Professora Doutora Ana Rosa Dias, Professor
Doutor Hudinilson Urbano, Professor Doutor Luiz Antônio
da Silva e Professor Doutor José Gaston Hilgert.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Tenho um carinho especial pelo livro que organizei com
Juliana Kiyosen Nakayama e Vanessa Hagemeyer Burgo em
homenagem ao professor Paulo, Texto, contexto e discurso:
homenagem a Paulo de Tarso Galembeck, publicado em 2014,
dois anos antes do seu falecimento. Para mim, foi emocionante

166
LETÍCIA JOVELINA STORTO

ver a emoção dele ao receber esse tributo, jamais me esquecerei


de sua reação, de ele tentando disfarçar as lágrimas. Ele me
disse que não há honraria maior a um acadêmico do que
receber uma obra em sua homenagem. Poder realizar isso
para ele, que é tão importante em minha formação acadêmica,
me deixa muito satisfeita. Entre os autores dos 14 textos que
compõem a obra, como convidados, estão Beth Brait, Leonor
Lopes Fávero, Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira
Andrade, Luiz Antonio da Silva, Juliano Desiderato Antonio,
Esther Gomes de Oliveira. Os capítulos versam a respeito de
temas relativos à Análise da Conversação, Linguística Textual,
Análise Dialógica do Discurso etc.
Também estou bastante contente com minhas publicações
mais recentes, frutos do meu amadurecimento científico e
pessoal. Nelas, o foco está na vertente pedagógica da Análise
da Conversação, ou seja, na relação entre oralidade e ensino.
Desses textos, saliento “Tratamento da oralidade na sala de
aula”, publicado em Oralidade e Ensino, organizado pela
professora Marli Quadros Leite (2020). Esse capítulo também
é importante porque é minha primeira produção na coleção
Projetos Paralelos e primeira como pesquisadora do Projeto
Norma Urbana Culta (NURC). No texto, discuto como a
oralidade tem sido apresentada em documentos de educação,
como os PCN e a BNCC, descrevo o gênero oral seminário,

167
LETÍCIA JOVELINA STORTO

analisando alguns seminários produzidos por estudantes do


curso de Letras e, em seguida, apresento a síntese de uma
proposta de ensino desse gênero.
Outro artigo relevante é “Um decálogo para a inserção da
oralidade na formação docente”, escrito em coautoria com
Tânia Guedes Magalhães, Luzia Bueno e Débora Amorim
Gomes da Costa-Maciel e publicado na Veredas – Revista de
Estudos Linguísticos, da UFJF (2022). O artigo traz reflexões
oriundas de anos de pesquisas de cada uma das autoras. É
o primeiro artigo do Laboratório Brasileiro de Oralidade,
Formação e Ensino – Labor, que nós quatro fundamos em
2021. Nele, apresentamos um conjunto de dez princípios
para o processo de ensino/aprendizagem da oralidade e de
gêneros orais.
Também ressalto o texto “Ensino de gêneros discursivos
orais em livros didáticos de língua portuguesa”, escrito com a
Professora Doutora Beth Brait e publicado na Revista Cadernos
de Estudos Linguísticos (Unicamp). Nele, a professora Beth
e eu analisamos o modo como livros didáticos apresentam
os gêneros orais e como são as atividades de compreensão e
de produção desses gêneros. Notamos que: a oralidade tem
um espaço ínfimo nos livros analisados; não há clareza nas
características da fala; os textos orais são apresentados por
meio de transcrições ortográficas, perdendo características

168
LETÍCIA JOVELINA STORTO

relativas à acústica, ao visual, ao gestual etc.; em geral, não há


produção de textos orais; o foco está limitado ao assunto dos
gêneros; a oralidade é tratada quase que exclusivamente como
instrumento de ensino para outras questões etc. (STORTO;
BRAIT, 2020).
Apesar de não ser uma produção em revistas ou em livros,
gostaria de destacar um minicurso que está disponível no canal
da Parábola Editorial no YouTube https://www.youtube.com/
playlist?list=PLJTYyIbC0TwmdUGRnJTe33Q-fuLl-2Evm). São
cinco videoaulas em que discuto questões relativas às carac-
terísticas da língua falada, à presença do ensino da oralidade
em documentos de educação, aos desafios e às possibilidades
de trabalho com a oralidade e com gêneros orais em sala de
aula. Esses textos marcam importantes momentos da minha
vida acadêmica e profissional e refletem meu caminhar nos
estudos da oralidade.

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Cumpre comentar que considero a Análise da Conversação
uma vertente, um ramo ou uma disciplina da Linguística, essa,
sim, a Ciência da Linguagem. No que tange à metodologia, a

169
LETÍCIA JOVELINA STORTO

Análise da Conversação parte dos princípios da etnometodo-


logia (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974) etnográfica
e sociológica (MARCUSCHI, 2006). Conforme afirmava o
professor Paulo Galembeck, a falta de planejamento prévio
da língua falada e sua fluidez “requerem uma metodologia
específica, que dê conta dos fenômenos peculiares a essa
modalidade de língua” (GALEMBECK, 1999, p. 111). Por
isso, o analista da conversação cria e recria categorias que
deem conta do seu objeto de análise.
Os fenômenos da oralidade devem ser analisados e cate-
gorizados a partir do seu contexto (a situação e as condições
de enunciação) de produção, circulação e recepção. Por
conseguinte, o analista costuma partir de uma abordagem
empírica e indutiva prevalecendo interpretações e descrições
de natureza qualitativa (MARCUSCHI, 2006; GALEMBECK,
1999), como convém aos estudos de materiais obtidos em
situações autênticas de interação discursiva. Interações
reais espontâneas e não planejadas “impõem a adoção do
método empírico-indutivo” (GALEMBECK, 1999, p. 111).
Empírico, porque a Análise da Conversação trata de inte-
rações verídicas que não apresentam modelos preexistentes
(MARCUSCHI, 2006; GALEMBECK, 1999). Isso porque se
postula que a língua não deve ser descrita como um objeto
autônomo, mas como evento de interação social, considerando

170
LETÍCIA JOVELINA STORTO

a dinamicidade da relação entre o mundo e os sujeitos. “Os


dados coletados excluem, por si, o uso de um modelo formal
estabelecido previamente, a partir de hipóteses formuladas
aprioristicamente e de instituições sem correspondência
com a realidade” (GALEMBECK, 1999, p. 111). A pesquisa é
indutiva, pois “inexistem modelos a priori” (MARCUSCHI,
2006, p. 7). Consequentemente, são os dados observados e
suas ocorrências que levam a uma conclusão.
Apesar de prevalecerem as análises qualitativas, pesquisas
de natureza quantitativa também são realizadas em Análise da
Conversação (MARCUSCHI, 2006; GALEMBECK, 1999), já
que, em estudos da língua falada, podem-se levantar a frequên-
cia dos dados e a possibilidade de ocorrências (GALEMBECK,
1999). Para Galembeck (1999), a realização de pesquisas em
língua falada abrange três grandes fases: a) preparação da
pesquisa; b) execução dos inquéritos; c) exegese e análise dos
materiais.
Na fase de preparação da pesquisa, considerando os
objetivos do estudo, são determinadas as condições da pes-
quisa, estabelecidos os contextos de interesse da pesquisa,
definidos os informantes etc. Galembeck ilustra a primeira
fase com o seguinte exemplo:

171
LETÍCIA JOVELINA STORTO

Se houver interesse em estudar a linguagem dos migrantes


nordestinos na área metropolitana de São Paulo, caberá
selecionar um ou mais bairros que apresentem concen-
tração de habitantes originários do Nordeste e, também,
escolher informantes que vivam nessas comunidades e
sejam oriundos daquela região. Após a delimitação da
área, caberá efetuar estudos acerca de sua história e de suas
características físicas e humanas, como forma de compre-
ender melhor os traços da população. Caberá, também,
definir o material a ser coletado (entrevistas, conversações
casuais etc.), de acordo com a finalidade da pesquisa e as
características dos informantes (GALEMBECK, 1999, p.
115-116).

Atualmente, pode-se, por exemplo, fazer o levantamento


de dados na internet, em sites que armazenam e divulgam
vídeos, áudios e similares. Para a seleção dos materiais, é
preciso, portanto, estabelecer os objetivos e as condições que
devem caracterizar o corpus desejado.
Em seguida, na fase de execução da pesquisa, os dados
são coletados mediante a gravação das interações discursivas
(GALEMBECK, 1999). Hoje, é possível que haja o levan-
tamento dos dados na internet. Logo, nesse momento do
estudo, o pesquisador selecionará os materiais disponíveis na
internet, primando por ter uma cópia salva em seus arquivos
pessoais. Para isso, é importante observar se as características
definidas na primeira etapa são atendidas no material e se a

172
LETÍCIA JOVELINA STORTO

interação é verídica, portanto, não artificial, como em filmes


e novelas, por exemplo. Isso porque o analista da conversação
deve primar por interações autênticas (MARCUSCHI, 2006;
GALEMBECK, 1999).
A terceira fase é dedicada à transcrição, descrição, expli-
cação e interpretação dos dados. A transcrição da fala é
importante por facilitar a análise dos materiais e a produção
de relatórios. Todavia, ela não substitui a observação atenta e
repetida dos materiais audiovisuais. Recomendo a utilização
de transcrição grafemática e as orientações presentes nas
obras do NURC/SP (Projetos Paralelos) e em Marcuschi
(2006). Nessa fase, “é preciso selecionar fenômenos variáveis
que sejam produtivos no córpus e apresentem diferentes
possibilidades de realização (GALEMBECK, 1999, p. 116).
Em seguida, os dados são quantificados (se isso foi de inte-
resse do pesquisador), descritos, explicados e interpretados
qualitativamente.
As categorias de análise são criadas e recriadas conforme o
corpus de pesquisa, sendo variadas, distintas e até imprevisíveis
(GALEMBECK, 1999). “Isso porque os fenômenos que mais de
perto caracterizam a língua falada têm uma correspondência
direta e imediata com o contexto, e a situação de enunciação
com as condições de produção do enunciado” (GALEMBECK,
1999, p. 111). Exemplos de categorias já estudadas por mim são:

173
LETÍCIA JOVELINA STORTO

marcadores conversacionais, paráfrase, marcas da oralidade


na linguagem digital, processos de construção do texto falado,
processos de monitoramento da fala, expressividade da/na
língua falada, envolvimento dos interlocutores, tópico, turno,
repetição, polidez, marcas da oralidade em textos escritos,
argumentação no texto falado, oralidade em discursos especí-
ficos (discurso religioso, político, jurídico etc.) e outros. Enfim,
são muitos os campos de estudos, especialmente aqueles
voltados a contextos pouco explorados, como a oralidade no
direito, nas interações religiosas etc.

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Creio que a principal distinção da Análise da Conversação
de outros ramos de estudos do texto e do discurso está no fato
de essa vertente dos estudos linguísticos investigar interações
discursivas orais autênticas.

174
LETÍCIA JOVELINA STORTO

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
Tenho pesquisado a Análise da Conversação na interface
com a Linguística Textual, a Análise Dialógica do Discurso
e as Teorias da Argumentação, especialmente por um viés
textual-discursivo e também didático-pedagógico. Já estudei
aspectos da Análise da Conversação relacionados à Homilética
e à Linguística Forense, sei que são campos férteis para outros
e novos estudos. Assim como o professor Paulo Galembeck,
penso que uma delimitação para a Análise da Conversação
esteja na relação com a Análise do Discurso francesa, especial-
mente na noção de assujeitamento do sujeito, e com disciplinas
que desconsideram os contextos discursivos.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Creio que, atualmente, a minha maior contribuição e
atuação para a Análise da Conversação está em sua vertente
pedagógica. Desde 2012, tenho me dedicado a pesquisar o
processo de ensino/aprendizagem da oralidade e de gêneros

175
LETÍCIA JOVELINA STORTO

discursivos orais em contextos variados (Ensino Superior,


Educação Básica, Ensino Técnico, Educação Especial ou
Inclusiva etc.). Desde então, ministrei alguns cursos e pales-
tras, várias comunicações em congressos e publiquei alguns
textos sobre a temática. Em termos de produção, saliento os
textos já citados (STORTO; BRAIT, 2020; MAGALHÃES;
BUENO; STORTO; COSTA-MACIEL, 2022).
Além disso, tenho orientado trabalhos de iniciação cien-
tífica, de conclusão de curso de graduação e dissertações de
mestrado cuja centralidade está na relação entre a oralidade e
seu ensino. Também tenho orientado projetos de Residência
Pedagógica focalizados no ensino de gêneros discursivos orais
na Educação Básica.
Devido a essa experiência, a Professora Doutora Tânia
Guedes Magalhães (Universidade Federal de Juiz de Fora –
UFJF) convidou-me a, com ela e com a Professora Doutora
Luzia Bueno (Universidade São Francisco – USF) e a
Professora Doutora Débora Amorim Gomes da Costa-Maciel
(Universidade de Pernambuco – UPE), fundarmos e coor-
denarmos o Laboratório Brasileiro de Oralidade, Formação
e Ensino – LABOR em 2020 (https://www2.ufjf.br/labor/). O
LABOR tem ofertado cursos de extensão relativos à oralidade
e seu ensino, promovido palestras e lives sobre a temática,

176
LETÍCIA JOVELINA STORTO

além de manter um repositório atualizado com publicações


e materiais didáticos de acesso livre.
Também fui a responsável pela inclusão de disciplinas
voltadas à formação de professores para o trabalho com a
oralidade tanto na graduação em Letras da UENP, campus de
Cornélio Procópio, quanto em cursos de especialização ofer-
tados desde 2015 no curso e no Programa de Pós-Graduação
em Ensino (PPGEN). Assim, ao colaborar com a formação de
professores, estou contribuindo com o processo de ensino/
aprendizagem da oralidade e de gêneros discursivos orais
em contextos diversos.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Acredito que a Análise da Conversação avançou bas-
tante desde seu surgimento, cujos estudos já descreveram
várias categorias relativas à língua falada e a gêneros orais.
Na atualidade, muitos estudos têm focado na oralidade em
contextos digitais, como em redes sociais, e no emprego de
tecnologias para a análise dos dados. Mais timidamente, há
pesquisas que tratam do ensino da oralidade.

177
LETÍCIA JOVELINA STORTO

Entre os desafios está a pouca a visibilidade dos estudos da


oralidade em relação a pesquisas centradas nos textos escritos.
Apesar de sua importância, ainda são poucos os grupos que
focam no trabalho com a oralidade, estando presentes em
um número limitadíssimo de instituições de ensino superior
e grupos de pesquisa.
Ademais, outro desafio está na integralização das pesqui-
sas em Análise da Conversação (ou os estudos da oralidade
em geral) com o ensino. Ainda hoje, enfrentamos preconceitos
para inserir disciplinas de estudo da oralidade em grades
disciplinares em cursos de graduação e de pós-graduação.
Em minha atual pesquisa (ainda em andamento), observei
o número baixo de trabalhos de mestrado e de doutorado a
respeito da oralidade, mais ainda da relação entre oralidade
e ensino. Isso tem se reflito no tratamento dado à oralidade
em materiais didáticos (STORTO; BRAIT, 2020) e em docu-
mentos oficinais de educação, como diretrizes nacionais,
currículos estaduais e municipais, nos quais há incoerências
conceituais no que tange à fala, pouco espaço para o trabalho
com gêneros orais etc.

178
LETÍCIA JOVELINA STORTO

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
A primeira leitura, sem dúvida, seria o livro Análise da
Conversação, do professor Luiz Antônio Marcuschi (2006).
Trata-se de obra seminal e inaugural dessa disciplina no
Brasil. É um livro bastante sucinto e acessível, de linguagem
clara e direta. Também é importante ler a obra Análise da
Conversação: princípios e métodos, da professora Catherine
Kerbrat-Orecchioni (2006). A respeito da trajetória da Análise
da Conversação, indico o artigo de Marli Quadros Leite e
Gil Negreiros, “A Análise da Conversação no Brasil: rumos e
perspectivas” (2014); e sobre o Projeto NURC indico “Projeto
NURC: histórico”, Luiz Antônio da Silva, e o livro NURC – 50
anos: 1969-2019, organizado por Miguel Oliveira Jr. (2019)
Acredito que todos os livros do Projetos Paralelos, do
NURC/SP Núcleo USP, são fundamentais para quem quer
trabalhar com a Análise da Conversação. São quatorze obras
que tratam de vários aspectos importantes da oralidade,
de sua relação com a escrita, de sua presença em variados
contextos, também de distintos conceitos e categorias, tais
como correção, turno, tópico discursivo, marcador conver-
sacional etc. Os primeiros doze volumes foram organizados
pelo Professor Doutor Dino Preti (2011, 2009, 2008, 2006,
2005, 2003, 2002, 2000, 1998, 1996, 1993) e os dois seguintes

179
LETÍCIA JOVELINA STORTO

pela Professora Doutora Marli Quadros Leite (2017, 2020), que


também organizou o volume 11 ao lado do professor Dino.
Outros três títulos relevantes são: A Construção do
Texto Falado, organizado pela professora Clélia Spinardi
Jubran (2015) para a o projeto Gramática do Português Culto
Falado no Brasil, coordenador pelo professor Ataliba T. de
Castilho; A Língua Falada no Ensino de Português, de Ataliba
T. de Castilho (2000); e Linguística de Texto e Análise da
Conversação: panorama das pesquisas no Brasil, organizado
por Anna Christina Bentes e Marli Quadros Leite (2010).
Para quem está iniciando, acho que essa bibliografia é
suficiente para começar a enveredar pelos estudos da orali-
dade. Os textos são bem acessíveis (todas as obras do Projetos
Paralelos estão disponíveis na Amazon), há excelente discussão
teórica, muito bem fundamentada em autores estrangeiros
e brasileiros, além de excelentes análises de textos orais. É
um belo começo!

180
LETÍCIA JOVELINA STORTO

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Atualmente, estou focada na vertente didático-pedagó-
gica da Análise da Conversação, pesquisando o trabalho
com a oralidade e com gêneros orais no processo de ensino/
aprendizagem em contextos variados. Também tenho tratado
da descrição e do exame de gêneros discursivos orais rela-
cionando a Análise da Conversação à Análise Dialógica do
Discurso, essa representada por Bakhtin e o Círculo.
A primeira subárea caracteriza-se por fomentar o trabalho
com a oralidade em sala de aula, promovendo pesquisas e
discussões sobre o assunto, além de propostas de ensino.
Entendemos que a oralidade é tratada como secundária no
ensino de Língua Portuguesa no Brasil, tanto no espaço que
lhe é dado, seja nas aulas, seja em documentos oficiais, seja em
materiais didáticos. Em geral, no ensino de língua materna,
foca-se quase que exclusivamente na leitura e na escrita, por
haver uma compreensão muitas vezes equivocada do papel
da oralidade no desenvolvimento e na atuação dos estudantes
e dos cidadãos. Isso decorre especialmente da ausência de
reflexão sobre isso na formação docente (inicial, continuada
e em serviço), da falta de disciplinas que tratam do ensino

181
LETÍCIA JOVELINA STORTO

da oralidade e de gêneros discursivos orais nas grades dos


cursos de Letras e de Pedagogia.
A consequência disso é o trabalho com a oralidade ser
realizado por meio da transcrição ortográfica da fala, na qual
as marcas da oralidade são em geral suprimidas, por meio
de produções escritas, por meio de atividades de oralização
de textos escritos ou da leitura em voz alta de modo quase
exclusivo. Com isso, há pouquíssimo espaço para produções
orais autênticas, para a elaboração e apresentação de gêneros
discursivos orais mais formais e para a reflexão a respeito de
aspectos não verbais da oralidade, como postura corporal,
expressões faciais etc. Estudar essas limitações e apresentar
propostas para superá-las é tarefa atual e necessária, o que
reverberará no ensino e na formação docente.
A segunda subárea à qual tenho me dedicado é caracteri-
zada por ser discursiva e dialógica, considerando a interação
discursiva e a arquitetônica dos gêneros. Vários autores recor-
rem aos estudos de Bakhtin e do Círculo em trabalhos da
Análise da Conversação ou sobre a oralidade, especialmente
Beth Brait. Para mim, as especificidades mais marcantes dessa
imbricação partem do entendimento de que o ouvinte nunca
é passivo, mas é responsivamente ativo e responsável pela/
na interação discursiva e de que todo discurso dialoga com

182
LETÍCIA JOVELINA STORTO

outro em uma cadeia discursiva, considerando os discursos


anteriores e posteriores com os quais dialoga.

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Nada a acrescentar!

183
LUIZ ANTONIO DA SILVA
Universidade de São Paulo - USP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Entrei em contato com a Análise da Conversação nos
idos de 1986, quando iniciei as atividades do Mestrado. Era
orientado pelo Professor Doutor Dino Preti e, logo, me integrei
às reuniões do Projeto NURC/SP.
Na época, os integrantes do Projeto NURC/SP haviam
participado de um seminário na UNICAMP, ministrado
pelo Professor Doutor Luiz Antônio Marcuschi sobre ques-
tões relativas a transcrições de língua falada. O Professor
Marcuschi retornara da Alemanha e, na bagagem, vieram
as inovações do Projeto de Estudo do Alemão Falado. Dessa
forma, ele trouxe as novidades bibliográficas referentes a

184
LUIZ ANTONIO DA SILVA

essa nova modalidade de estudo, que se chamava Análise


da Conversação.
Depois do seminário sobre Transcrição de texto falado,
o Professor Dino organizou um grupo que se dedicava ao
estudo sistemático sobre Análise da Conversação. Começamos
a estudar um texto que se tornou um clássico dessa área,
denominado A Simplest Systematics for the Organization
of Turn-Taking for Conversation, escrito por Harvey Sacks,
Emanuel Schegloff e Gail Jefferson, publicado em 1974, na
revista Language, 50, em 1974. Posteriormente, esse texto foi
traduzido para o português e publicado, no Brasil, na revista
Veredas, v. 7, n. 1 e 2, em 2003.
Paralelamente a essas reuniões, outros pesquisadores
buscaram diversos autores para desenvolverem trabalhos
relativos à Análise da Conversação. Foi assim que foram
constituídos vários grupos que se dedicaram a estudar e a
aplicar os recortes teóricos da Análise da Conversação ao
corpus do Projeto NURC/SP. Tive o privilégio de integrar
o grupo destinado a estudar o turno conversacional. Dessa
forma, foi publicado o primeiro texto em língua portuguesa
e com aplicação a um corpus em português sobre o turno
conversacional. Essa publicação, Preti (1990), foi pioneira
em língua portuguesa. Além do turno conversacional, há

185
LUIZ ANTONIO DA SILVA

ensaios sobre paráfrase, correção, sobreposição de vozes na


conversação.
Foi dessa maneira que cheguei a conhecer a Análise da
Conversação. Tive o privilégio de me integrar a uma equipe,
composta por pesquisadores experientes, que também se
interessaram por essa nova modalidade de recorte teórico.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Escrevi diversos textos sobre o assunto, porém, destaco três
publicações. A primeira foi minha Dissertação de Mestrado,
concluída em 1990, na qual pesquisei os chamados marca-
dores do ouvinte. A segunda foi minha tese de Doutorado,
finalizada em 1997, na qual abordo estratégias de interação
entre professor e alunos na sala de aula. A terceira foi minha
primeira publicação sobre Análise da Conversação, publicada
em 1990, sobre o turno conversacional. Seguem as indicações
bibliográficas de cada uma.
SILVA, Luiz Antônio da. Processos de monitoramento do
ouvinte (Projeto NURC/SP). Dissertação de Mestrado, FFLCH/
USP, 1990.

186
LUIZ ANTONIO DA SILVA

SILVA, Luiz Antônio da. Interação no discurso de sala de aula


(Projeto NURC/SP). Tese de Doutorado, FFLCH/USP, 1997.
GALEMBECK, Paulo de T.; SILVA, Luiz Antônio da &
ROSA, Margarete de M. O turno conversacional. In: PRETI,
Dino(Org.). A língua falada culta na cidade de São Paulo. São
Paulo: Fapesp/TAQueiroz, 1990.
Além dessas publicações, destaco os seguintes capítulos
de livros:

SILVA, Luiz Antônio da. O diálogo professor/aluno na aula


expositiva. In: PRETI, Dino(Org.). Diálogos na fala e na
escrita. São Paulo: Humanitas, 2005, p.19-43.
SILVA, Luiz Antônio da. Os diálogos: uma comparação entre
textos falados. In: GIL, Beatriz D.; CARDOSO, Elis de A. &
CONDÉ, Valéria G. (Orgs.). Modelos de análise linguística.
São Paulo: Contexto, 2009, p.201-220.
LEITE, Marli Q.; BARROS, Diana L. P. de; DIAS, Ana R. &
SILVA, Luiz Antônio da. A Análise da Conversação no Grupo
de Trabalho Linguística do Texto e Análise da Conversação
da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e
Linguística. In: BENTES, Ana C. e LEITE, Marli Q. (org.).
Linguística de Texto e Análise da Conversação: panorama das
pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010, p. 49-87.

187
LUIZ ANTONIO DA SILVA

SILVA, Luiz Antônio da. Cortesia e atenuação nos atos


diretivos dos documentadores do Projeto NURC/BR. In:
PRETI, Dino (org.). Variações na fala e na escrita. São Paulo:
Humanitas, 2011, p. 273-297.
SILVA, Luiz Antônio da. Conversação no discurso acadêmico.
In: STORTO, Letícia J.; NAKAYAMA, Juliana K. & BURGO,
Vanessa H. Texto, Contexto e Discurso. Homenagem a Paulo
de Tarso Galembeck. Curitiba: Appris, 2014, p.91-105.
SILVA, Luiz Antônio da. Oralidade e comunicação via internet.
In: LEITE, Marli Q.(Org.). Oralidade e mídia. São Paulo:
Humanitas, 2017, p.249-268.
Também, foi publicado, em parceria, um livro sobre
Análise da Conversação já fazendo incursões na área da
Pragmática:

SILVA, Luiz Antônio e VERCEZE, Rosa M. N. A cortesia na


língua culta falada em Porto Velho (Rondônia). Porto Velho:
Temática Editora, 2019.

Destaco, ainda, a seguir, estudos publicados em revistas


científicas:

SILVA, Luiz Antônio da. Marcadores conversacionais: sinais


do ouvinte. Estudos Linguísticos, v. 15, 1987, p.391-399.

188
LUIZ ANTONIO DA SILVA

SILVA, Luiz Antônio da. A repetição como processo de intera-


ção conversacional. Estudos Linguísticos, v. 17, 1989, p. 612-620.
SILVA, Luiz Antônio da. A interferência do ouvinte na con-
versação diádica. Estudos Linguísticos, v. 19, 1990, p. 601-608.
SILVA, Luiz Antônio da. Interação conversacional e assalto
ao turno. Estudos Linguísticos, v. 23, 1994, p. 1343-1350.
SILVA, Luiz Antônio da. Análise da Conversação e oralidade
em textos escritos. Filologia e Linguística Portuguesa, v. 17
(1), 2015, p. 131-155.
SILVA, Luiz Antônio da. Um caso particular: diálogo ou
entrevista? Revista Letras, vol.1, 2020, p.79-96.

Entre os anos de 2001 e 2002, tive o privilégio de realizar


um estágio pós-doutoral, financiado pela Capes e realizado
na Universidad de Alcalá, na cidade espanhola de Alcalá de
Henares. O estágio esteve sob a supervisão da Professora
Doutora Ana Maria Cestero Mancera, uma das referências na
Espanha na área de Análise da Conversação. Nessa ocasião,
pude conhecer o Professor Doutor Antonio Briz Gómez,
Catedrático em Língua Espanhola da Universitat de Valencia,
que também se dedicava ao estudo da Análise da Conversação.

189
LUIZ ANTONIO DA SILVA

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
A Análise da Conversação é uma corrente de investigação
que incorpora os princípios da Etnometodologia e tem em
Sacks, Schegloff e Jefferson seus grandes incentivadores.
Caracteriza-se por trabalhar com técnicas de análises empíri-
cas, método de trabalho indutivo e baseado em conversações
espontâneas.
Os procedimentos metodológicos da Análise da
Conversação seguem, basicamente, quatro etapas.
1. Coleta de materiais: este primeiro procedimento com-
preende a gravação de conversações ocorridas de forma
natural em diferentes contextos, porque certas carac-
terísticas da interação não são recuperáveis de outro
modo. Além do mais, a gravação permite observar
várias vezes a interação, o que é importante tanto para
transcrever como para desenvolver as análises.
2. Transcrições minuciosas das gravações: tais transcri-
ções são muito importantes, pois permitem a escuta
repetida e facilitam a localização dos fenômenos que
se deseja estudar. As normas de transcrição, por mais
minuciosas que sejam, não permitem reproduzir o

190
LUIZ ANTONIO DA SILVA

que está gravado, contudo, permitem fixar os aspectos


pertinentes para as análises. O mais recomendável é
utilizar, ao mesmo tempo, a gravação e a transcrição.
Quando se utiliza somente a gravação, é mais difícil
delimitar e estudar os fenômenos e, quando se utiliza
apenas a transcrição, perdem-se dados importantes.
Ressalte-se que, caso a gravação não seja ouvida, não
se pode saber em que medida a transcrição é confiável.
Não há, propriamente, a melhor maneira de transcre-
ver, pois, para cada tipo de análise, haverá uma forma
mais adequada de transcrever. É por isso que o Projeto
NURC/SP apresenta normas de transcrição básicas, que
podem ser aprimoradas, dependendo das necessidades
do trabalho a ser feito.
3. Análise dos materiais: essas análises dizem respeito às
constatações e ao exame minucioso dos fenômenos
analisados. A Análise da Conversação segue o método
indutivo, pois inexistem modelos a priori. Nesse aspecto,
é necessário fazer uma ressalva. Os analistas da con-
versação mais conservadores consideram, apenas, as
conversações espontâneas. Ainda que sejam artificiais
e reproduzam intuição da fala real, há outros analistas
da conversação que trabalham com materiais extraídos

191
LUIZ ANTONIO DA SILVA

de obras literárias, filmes, peças de teatro e novelas de


televisão.
4. Apresentação dos resultados: habitualmente, as conclu-
sões se apresentam exemplificadas. Em geral, os dados
são abertos e se prestam a comparações com outros
tipos de material. Não é comum haver a preocupação
com a quantificação de dados, ainda que haja trabalhos
em que essa preocupação se evidencie à medida que os
dados passem a ser significativos e tenham importância
para as análises

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
A Análise da Conversação é uma corrente de estudos
que surgiu no final dos anos 1950 e início dos 60. O objetivo
principal era descobrir e documentar as organizações
sistemáticas da fala na interação conversacional. Os fundadores
dessa corrente não eram linguistas, eram sociólogos e antro-
pólogos. Foi concebida como uma tentativa de romper com
a Sociologia tradicional e, para isso, criaram uma corrente
chamada Etnometodologia, definida como o estudo dos
procedimentos que os membros da sociedade utilizam para
produzir e interpretar as ações sociais cotidianas. Trabalhar

192
LUIZ ANTONIO DA SILVA

com a Etnometodologia era realizar uma atividade prática,


propondo entender as atividades rotineiras dos membros
de uma sociedade. Tais atividades revelam regras e pro-
cedimentos, por isso a observação e a análise permitirão
descobrir como os interactantes interpretam e criam cons-
tantemente a realidade social. Assim, esse campo de estudo
busca investigar as interações verbais e as conversações. Em
síntese, os chamados analistas da conversação de cunho
etnometodológico concentraram-se no estudo das estruturas
e das propriedades formais da linguagem. Harvey Sacks, um
dos primeiros analistas da conversação, e seu grupo centram
a atenção sobre a organização da interação conversacional,
buscando descobrir e descrever os mecanismos de produção
empregados pelos interactantes de uma dada interação social,
para tratar aspectos técnicos da conversação, tais como a
entrada coordenada na conversa, os princípios e regras da
tomada de turno, aberturas e fechamentos da conversação.
Em síntese, o trabalho desse grupo consiste em analisar
materiais linguísticos, isto é, conversações ocorridas de forma
natural, pois afirmam que, para conversar, os interactantes
devem estar atentos a determinadas regras de uso da língua.
Os primeiros trabalhos buscavam, basicamente, estudar a
organização geral da conversação cotidiana, que ocorre de
forma natural.

193
LUIZ ANTONIO DA SILVA

Pelo fato de não nascer no seio da Linguística, nem sempre


foi fácil situar a Análise da Conversação. Basta observar os
principais congressos de Linguística realizados no Brasil.
O analista da conversação sempre teve dificuldades para se
alojar, pois, dificilmente, havia um grupo teórico definido
como Análise da Conversação. Dessa forma, sempre foi neces-
sário acomodar-se entre diferentes correntes teóricas, como
Análise do Discurso, Sociolinguística, Linguística Textual ou
Pragmática. Isso se deve ao fato de a Análise da Conversação
manter um estreito diálogo com essas correntes teóricas.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
No Brasil, a Análise da Conversação foi introduzida por
Luiz Antônio Marcuschi, especialmente a partir da publicação
de um influente e sucinto livro, Análise da Conversação,
publicado em 1986, pela Editora Ática. A partir de então,
vieram a público vários trabalhos, buscando descrever e
estudar a organização geral da conversação. Aos poucos,
porém, os estudos foram se afastando das preocupações

194
LUIZ ANTONIO DA SILVA

estruturais e organizacionais para se centrarem nos aspectos


textuais e discursivos.
Assim, no Brasil, é possível dizer que há duas vertentes da
Análise da conversação. Uma delas se manteve fiel aos princí-
pios teóricos e metodológicos dos primeiros teóricos ligados
à corrente etnometodológica. Trata-se de um grupo ligado à
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e à Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, coordenado pelo Professor Doutor
Pedro Garcez. O outro teve origem na Universidade de São
Paulo, ligado à equipe do Projeto NURC/SP, coordenado pelo
Professor Doutor Dino Preti. No início, houve vários trabalhos
seguindo os pressupostos etnometodológicos, mas que, aos
poucos, deles foram se afastando e seguindo uma linha mais
textual e discursiva, expandindo-se os estudos da oralidade
e da relação entre fala e escrita. De qualquer forma, os dois
grupos têm proporcionado contribuições valiosas para os
estudos da língua portuguesa.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Minha tese de Doutorado faz uma intersecção entre os
estudos referentes à Análise da Conversação e situações
relativas ao ensino de Língua Portuguesa. Nesse estudo,

195
LUIZ ANTONIO DA SILVA

investigo a interação entre professor e aluno(s) na sala de


aula. Como corpus, utilizei inquéritos do Projeto NURC, do
tipo EF (Elocuções Formais), isto é, aulas gravadas, tanto do
Ensino Médio como do Ensino Superior. Parte desse estudo
foi dedicado a fazer um diagnóstico dos aspectos interacionais
que se concretizam nas quatro paredes de uma sala de aula.
Outro estudo dedicado exclusivamente ao ensino foi publi-
cado em 1985: O diálogo professor/aluno na aula expositiva.
Considero como um dos textos mais importantes de minha
carreira de pesquisador. Ressalto, também, que faço parte
do Projeto NURC/SP que, atualmente, tem-se dedicado a
pesquisar as relações entre oralidade e ensino.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Sem dúvida, a grande contribuição da Análise da
Conversação no Brasil foram os estudos sobre oralidade e
sobre a relação fala e escrita. Tais estudos possibilitaram
avanços significativos no ensino de língua portuguesa, desde
os Parâmetros Curriculares até o atual documento chamado
Base Nacional Comum Curricular. Basta correr os olhos
pelo documento relativo ao ensino de língua portuguesa

196
LUIZ ANTONIO DA SILVA

para percebermos a influência das pesquisas decorrentes


dos estudos proporcionados pelos analistas da Conversação.
O grande desafio para o futuro é dar prosseguimento às
pesquisas relativas às questões ligadas ao ensino de língua
portuguesa. Penso que a Academia deva voltar os olhos para
as questões práticas do cotidiano brasileiro.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
BENTES, Anna C. e LEITE, Marli Q. (org.). Linguística de
texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no
Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.
BRIZ GÓMEZ, Antonio. El español coloquial en la conversa-
ción: esbozo de pragmagramática. Barcelona: Ariel Linguística,
2001.
CESTERO MANCERA, Ana M. El intercambio de turnos de
habla en la conversación. Alcalá de Henares: Universidad de
Alcalá, 2000.
JUBRAN, Clélia C.A.S. e KOCH, Ingedore G. V. (org.).
Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas:
Editora da Unicamp, vol1, 2006.

197
LUIZ ANTONIO DA SILVA

KERBRAT-ORECHIONI, Cathérine. Análise da Conversação:


princípios e métodos. Campinas: Parábola, Tradução para o
português de Carlos Piovezani Filho, 2006.
LEITE, Marli Q. e NEGREIROS, Gil. A Análise da Conversação
no Brasil: rumos e perspectivas. In: GONÇALVES, Adair e
GÓIS, Marcos L. de S. (org.). Ciências da linguagem: o fazer
científico. Campinas: Mercado de Letras, vol.2, 2014, p.105-135.
LODER, Letícia L. e JUNG, Neiva M. (org.). Fala-em-interação
social: introdução à análise da conversa etnometodológica.
Campinas: Mercado de Letras, 2008.
LODER, Letícia L. e JUNG, Neiva M. (org.). Fala-em-interação
institucional: a perspectiva da análise da conversa etnometo-
dológica. Campinas: Mercado de Letras, 2009.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Análise da Conversação. São
Paulo: Ática, 1986.
RODRIGUES, Isabel M. G. Sinais conversacionais de alter-
nância de vez. Porto: Granito Editores e Livreiros, 1998.
SACKS, Harvey; SCHEGLOFF, Erving & JEFFERSON, Gail.
A simplest systematics for the organization of turn-taking for
conversation. Language 50, p.696-735, 1974.
SILVA, Luiz Antônio da. Conversação: modelos de análise.
In: SILVA, Luiz Antônio da (org.). A língua que falamos.

198
LUIZ ANTONIO DA SILVA

Português: história, variação e discurso. São Paulo: Globo,


2005, p.31-71.
TUSÓN VALLS, Amparo. Análisis de la conversación.
Barcelona: Ariel Practicum, 1997.

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Como já foi comentado acima, há duas vertentes distintas
da Análise da Conversação no Brasil: a corrente etnometodo-
lógica e a corrente textual e discursiva. Nos primeiros anos
de contato com a Análise da Conversação, escrevi alguns
trabalhos que seguiam a linha etnometodológica, isto é,
havia uma preocupação mais estrutural e organizacional da
conversação. Aos poucos, fui-me afastando dos pressupostos
etnometodológicos a fim de me concentrar mais nos aspectos
discursivos da conversação, interessando-me, sobretudo, pelas
questões ligadas à oralidade, à relação entre fala e escrita
e, especialmente, na relação oralidade e ensino de língua
portuguesa.

199
LUIZ ANTONIO DA SILVA

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Quero ressaltar que os três estágios pós-doutorais, finan-
ciados pela Capes e realizados na Universitat de Valencia,
na Espanha, foram fundamentais para a mudança de rumo
em meus trabalhos. Nessa universidade, está sediado um
grupo, chamado Val.Es.Co (Valencia, Espanhol Coloquial),
coordenado pelo Professor Doutor Antonio Briz Gómez,
que se dedica a estudar aspectos pertinentes à conversação.
Nesse grupo, há diversos trabalhos sobre questões relativas à
oralidade, à (des)cortesia e atenuação. Esse grupo desenvolveu
um sistema próprio de transcrição e possui um rico acervo
de gravações de conversações espontâneas. Trata-se de um
grupo de pesquisa muito semelhante ao Projeto NURC.

200
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO
DE OLIVEIRA ANDRADE
Universidade de São Paulo - USP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Nos anos de 1980, depois de concluída a graduação em
Letras na Universidade de São Paulo, comecei a lecionar em
colégios de Ensino Fundamental e Médio e senti necessidade
de fazer cursos de extensão voltados para o ensino de língua
e literatura. Então, fiz alguns cursos da PUC-SP e me entu-
siasmei a fazer um curso de especialização que se estenderia
por um ano. Nesse curso, havia vários módulos: fonologia,
morfologia, sintaxe, semântica e linguística textual. O curso
era ministrado por diferentes professores e todos os módulos
eram muito enriquecedores, mas gostei e me interessei mais
pela parte relativa à Linguística Textual, desenvolvida pelas

201
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

professoras Leonor Lopes Fávero e Ingedore G. V. Koch.


Assim, no ano seguinte (1986), me candidatei a uma vaga no
curso de pós-graduação (nível mestrado) na PUC-SP e tive
como orientadora a professora Leonor Lopes Fávero.
Durante o mestrado, houve um Congresso de Língua
Portuguesa com várias mesas-redondas, conferências e sessões
de comunicação. A conferência que me chamou a atenção
foi a proferida pelo professor Luiz Antônio Marcuschi sobre
Linguística Textual. O público estava tão envolvido que não
queria que a conferência terminasse e muitas pessoas queriam
fazer perguntas. Como o auditório em que estávamos seria
ocupado por outra atividade do evento, o professor Marcuschi
pediu aos organizadores se poderia continuar a conversar
com os estudantes e o público interessado em outra sala. O
professor recebeu o aval dos organizadores e fomos todos
para outra sala com o professor. Foi um dia inesquecível:
respostas, explicações, comentários e reflexões do professor
Marcuschi deixaram todos encantados e desejosos de seguir
os caminhos traçados por ele. A partir desse dia, comecei a ler
tudo o que o professor Marcuschi havia indicado a respeito de
Linguística Textual e cada vez mais ficava interessada pelas
propostas e perspectivas encontradas.
Naquele ano fiz uma disciplina com a professora Leonor
Lopes Fávero e, a partir do trabalho final que realizei, a

202
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

professora Leonor me incentivou a aprofundar a pesquisa


sobre operadores discursivos, tendo como base teórica a
Linguística Textual; e a apresentar no Seminário do Gel que
haveria naquele ano e seria realizado na cidade de Santos. A
professora começou a me orientar e eu desenvolvi a pesquisa
sobre o operador “então” em textos escritos. Fiz minha comu-
nicação no GEL e uma das pessoas presentes no auditório era
o professor Rodolfo Ilari. Ele fez alguns comentários no final
de minha apresentação e deu alguns direcionamentos para
o meu trabalho, o que foi muito gratificante.
Depois desse evento, a professora Leonor me apresentou
alguns textos sobre Língua Falada e Análise da Conversação
e propôs que eu observasse o operador “então” em diálogos
recolhidos pelo Projeto NURC. Nessa época, já tinha lido
o livro “Análise da Conversação” do professor Marcuschi e
alguns artigos de autores brasileiros e estrangeiros sobre essa
nova linha de pesquisa.
Ainda no mestrado, fiz uma disciplina na PUC-SP com
um professor convidado: tratava especificamente de Língua
Falada e foi proposta pelo professor Ataliba T. de Castilho,
então professor titular na UNICAMP. A partir daí, entrei em
contato com todas as pesquisas que estavam sendo realizadas
na UNICAMP, na USP e em outras universidades federais
com base nos materiais do Projeto NURC.

203
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

Foi nesse momento que direcionei minha pesquisa de


mestrado para o estudo dos marcadores conversacionais
e utilizei como corpus os materiais do Projeto NURC-SP
(Elocuções Formais, Diálogos entre dois informantes, Diálogos
entre informante e documentador). Todos esses materiais
foram organizados pelos professores Dino Preti, Ataliba T.
de Castilho e Hudinilson Urbano em quatro volumes, com
financiamento da FAPESP. Por intermédio da professora
Leonor, entrei em contato com outros integrantes do Projeto
NURC-SP, por exemplo, os professores Dino Preti, Hudinilson
Urbano, Lygia Correa Dias de Moraes, Diana Luz Pessoa de
Barros, Ieda Maria Alves, Beth Brait, Ângela Cecília de Souza
Rodrigues, Paulo de Tarso Galembeck, José Gaston Hilgert,
entre outros.
Depois que defendi meu mestrado, em 1990, a convite
da professora Leonor, passei a integrar, como pesquisadora
auxiliar, o Projeto de História do Português Falado no Brasil
(PGPF-FAPESP), coordenado pelo professor Ataliba T. de
Castilho. Nesse projeto, integrei o subgrupo Organização
Textual-Interativa, coordenado pela professora Ingedore G.
V. Koch. Tive a oportunidade de conviver com importantes
pesquisadores brasileiros como: Luiz Antônio Marcuschi,
Clélia S. Jubran, Mercedes S. Risso, Luiz Carlos Travaglia,
Hudinilson Urbano, José Gaston Hilgert, entre outros. Com

204
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

todos esses pesquisadores, tive contato com o desenvolvimento


inicial das pesquisas relativas ao Tópico Discursivo como
elemento condutor do processo interacional. Depois que
defendi meu doutorado em 1995 sobre a digressão no texto
falado, já estava lecionando na USP e o professor Dino Preti
me convidou para integrar o Projeto NURC-SP, o que foi
muito importante para meu aprimoramento em pesquisas
sobre língua falada.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Durante o mestrado e o doutorado, sempre fui incentivada
por minha orientadora a participar de eventos nacionais
e internacionais e depois publicar o material apresentado.
Como integrante do projeto PGPF, tive a oportunidade de
desenvolver vários artigos e capítulos de livro, em coautoria
com a professora Leonor Fávero e o professor Hudinilson
Urbano. Ou trabalhos individuais. Dentre esses trabalhos,
destaco:

205
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

FÁVERO, L. L.; DIAS, ANDRADE, M. L. C. V. O; DIAS, A.


R. F.; LIMA, G. de O. S.; TAFARELLO, M. C. de M.; LINS, M.
da P. P.; GALVÂO, M. A. M. e CAPISTRANO JÚNIOR, R..
Topicalidade em comentários on-line do Instagram. Revista
(Con)Textos Linguísticos- Linguística de Texto e Análise da
conversação: abordagens metodológicas. V. 15, n. 31, p. 146-
169. 10-03-2021
FÁVERO, LEONOR LOPES; ANDRADE, MARIA LÚCIA C. V.
O. Cortesia verbal e ensino de língua: reflexões sobre competên-
cia comunicativa, jogo interpessoal e normatividade. Filologia
e Linguística Portuguesa, v. 17, p. 101-129, 2015.
ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. ; FÁVERO, L. L. .
A movimentação tópica numa visão pragmático-discursiva.
Cadernos de Estudos Lingüísticos (UNICAMP) v. 48(1), p.,

85-104, 2006.
ANDRADE, M. L. C. V. O.; Blühdorn, H. Tendências recentes
da linguística textual na Alemanha e no Brasil. Filologia e
Linguística Portuguesa, v. 7, p. 13-48, 2005.
ANDRADE, M. L. C. V. O. Relevância e Contexto: o uso de
digressões na língua falada. São Paulo: Editora Humanitas/
FAPESP, 2001.

206
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

ANDRADE, M. L. C. V. O.. O discurso da mídia: a interação


nas entrevistas de TV (SBPC 99). Linha d’ Água. São Paulo,
n. Especial, p. 73-77, 2000.
FÁVERO, Leonor Lopes ; ANDRADE, M. L. C. V. O. ; AQUINO,
Z. G. O. . Discurso e interação - a polidez nas entrevistas.
Estudos de Linguística Textual do Português, v. 1, p. 217-230,
2000.
ANDRADE, M. L. C. V. O.. Oralidade e discurso jornalístico.
Revista de Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, n.3,
p. 105-120, 1999.
ANDRADE, M. L. C. V. O.; FÁVERO, L. L. ; AQUINO, Z.
G. O. . Discurso e interação: a reformulação nas entrevistas.
DELTA. Documentação de Estudos em Linguística Teórica
e Aplicada, São Paulo, v. 14, n. Especial, p. 91-103, 1998.
ANDRADE, M. L. C. V. O.. A repetição como elemento con-
dutor do tópico discursivo. Filologia e Linguística Portuguesa,
São Paulo, v. 2, p. 179-204, 1998.
ANDRADE, M. L. C. V. O.. Contexto e funcionamento do
discurso oral. Revista da ANPOLL. São Paulo, v. 4, p. 203-
220, 1998.
ANDRADE, M. L. C. V. O.. Digressão: palavra desviante ou
estratégia argumentativa. Língua e Literatura (USP), São
Paulo, v. 23, p. 121-149, 1997.

207
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

ANDRADE, M. L. C. V. O.. A digressão e a organização do


texto falado. ABRALIN (Curitiba), n.14, p. 425-434, 1993.

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
A Análise da Conversação busca estudar a fala em situa-
ções concretas de interação. Para tanto, preocupa-se, sobre-
tudo, com a descrição das estruturas da conversação e seus
mecanismos organizadores. Assim, esse modelo de análise
partiu, inicialmente, do princípio básico de que todos os aspe-
tos da ação e interação face a face poderiam ser examinados
em termos de organização estrutural convencionalizada ou
institucionalizada, descrevendo e explicando a sua predomi-
nância nos estudos organizacionais da conversação.
A Análise da Conversação se preocupa com a especi-
ficação dos conhecimentos linguísticos, paralinguísticos e
socioculturais que devem ser partilhados para que a intera-
ção seja bem-sucedida. Como a análise das estruturas já foi
devidamente realizada, passaram-se a observar os processos
cooperativos presentes na atividade conversacional, levando
os analistas a fazer uma interpretação de estratégias e dados
encontrados.

208
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

Verifica-se que a Análise da Conversação tem como proce-


dimento metodológico a indução e parte de dados empíricos
em situações reais, o que lhe dá uma vocação naturalística
com poucas análises quantitativas e prevalência de descrições
e interpretações qualitativas. Assim, os dados recolhidos não
são experimentais ou gerados a partir de um roteiro prévio,
mas são sempre coletados no ambiente em que ocorrem.
Portanto, os dados não provêm de coletas realizadas por meio
de entrevistas preconcebidas, questionários ou experimen-
tos com intervenções. A Análise da Conversação investiga
fatos e situações que acontecem no dia a dia e da maneira
como ocorrem espontaneamente. Investiga-se, então, como
as pessoas envolvidas em uma interação social compreendem
o que sua fala está fazendo; como usam seus conhecimen-
tos linguísticos e outros para criar condições adequadas à
compreensão mútua; como criam, desenvolvem e resolvem
conflitos interacionais.
O foco da Análise da Conversação não é o significado sub-
jetivo para os participantes, mas a forma como essa interação
é organizada. O ponto central é o estudo da vida cotidiana
em que as interações ocorrem e o modo como o texto falado
é construído passo a passo. Para tanto, as categorias de aná-
lise são: o tópico discursivo, o turno, os pares adjacentes, os

209
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

marcadores conversacionais, as correções, as repetições, as


paráfrases, entre outras.

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Talvez a maior diferença entre a Análise da Conversação
e as outras teorias que enfocam o texto seja a preocupação
em trabalhar com a interação cotidiana, observando os indi-
víduos em situações de interação face a face, em contextos
diversificados. Assim, é preciso que o material a ser analisado
seja recolhido por meio de áudio ou vídeo para que se possa
observar a situação em seu momento de construção. Depois
o analista precisa transcrever esse material produzido na
interação verbal e, na medida do possível, marcar também
os elementos não verbais que possam ser notados, como:
gestos, risos, movimentos com as mãos, rosto, cabeça, olhos
etc. e que sejam significativos para a conversação instaurada.
Verifica-se, assim, que o texto conversacional, isto é, o texto
falado propriamente dito, constitui-se no próprio ato de
produção.
Já em 1988, durante o 3º Encontro Nacional da Anpoll,
Marcuschi afirmava que a conversação deve ser entendida
“como uma interação centrada da qual participam pelo menos

210
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

dois interlocutores que se revezam, tomando cada qual pelo


menos uma vez a palavra, dando-se o evento comunicativo
em uma identidade temporal” (conforme texto: Questões
Atuais na Análise da Conversação, p. 319-320). Ainda nesse
estudo, Marcuschi afirma que o termo conversação deve ser
tomado em sentido amplo, abrangendo todas as formas de
interação: “entre médicos e pacientes, no tribunal, em sessões
de terapia, na escola, nos aconselhamentos, nas entrevistas,
na interação intercultural, interétnica” (p. 322).
Por fim, podemos dizer que a Análise da Conversação tem
como objeto de estudo a conversação. Esta pode ser definida
como um texto em processo, isto é, uma atividade interacional
específica, produzida a duas ou mais vozes, que implica a
participação conjunta dos interactantes na dinâmica evolutiva
de um evento comunicativo, localmente processado.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
Como já foi dito anteriormente, a Análise da Conversação
tem como objeto de análise a conversação face a face. Os

211
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

primeiros trabalhos nessa perspectiva foram desenvolvi-


dos por sociólogos como Sacks, Shegloff Jefferson, em 1974.
Esses pesquisadores se autodenominavam etnometodólo-
gos. A Etnometodologia é uma abordagem interpretativa da
Sociologia que focaliza a vida cotidiana como feito depen-
dente de habilidades e os métodos que as pessoas usam para
produzi-la. Entretanto, deixa de lado questões como poder,
ideologia, classe social, desigualdade social, entre outras.
Os analistas da conversação produziram estudos relativos
a vários aspectos da conversação: aberturas e fechamentos
convencionais; como o tópico discursivo é instaurado, desen-
volvido, mudado, encerrado; como as pessoas relatam histórias
no curso de conversas; como ocorre a troca de turnos etc. Os
autores citados estabeleceram regras e criaram um modelo
elementar para a conversação baseados no sistema de tomada
de turnos, conforme podemos verificar no livro escrito por
Marcuschi em 1986 e intitulado Análise da Conversação.
Importa destacar que os estudiosos da Análise da
Conversação fizeram contribuições importantes para um
novo olhar relativo à natureza do diálogo, descrevendo suas
estruturas. Entretanto, não desenvolvem uma orientação
social relativa ao discurso oral, isto é, não tratam de temas
que são desenvolvidos na Análise do Discurso, tais como:
heterogeneidade discursiva, interdiscursividade, mudanças

212
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

históricas na configuração dos estilos, construção do ethos na


interação etc. Um caminho bastante produtivo e que já está
sendo realizado faz algum tempo é a interface dos estudos
da Análise da Conversação com a Pragmática Linguística, a
Sociolinguística Interacional, a Retórica, a Análise do Discurso
Crítica, a Linguística Cognitiva, entre outras.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Sem dúvida, fiz vários trabalhos voltados para o ensino
de língua, mas o que posso indicar como uma grande con-
tribuição é o livro que publiquei em coautoria com as pro-
fessoras Leonor Lopes Fávero e Zilda Gaspar O. de Aquino,
intitulado Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de
língua materna, da editora Cortez, em 1999, que atualmente
está na 8ª edição.
Outro texto que escrevi e que está voltado para o ensino
é o capítulo: “Da arte de escrever cartas à prática escolar: a
correspondência pessoal e o uso de tecnologia”. In: Marli
Quadros Leite. (org.). Oralidade e Ensino. São Paulo: Editora
da FFLCH-USP, 2020, v. 14, p. 98-119. Nesse capítulo, trabalho
com as estratégias de envolvimento e distanciamento no
gênero correspondência pessoal e aponto como o professor

213
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

de língua portuguesa pode trabalhar com esse gênero, quais


as diferenças e semelhanças com a conversação face a face,
destaco como essa é uma atividade possível de ser realizada na
escola, associando-a, também, ao uso de novas tecnologias
presentes em nosso cotidiano, como o uso do e-mail ou do
WhatsApp, as formas de tratamento, o uso de marcadores
conversacionais, o uso de emojis, as marcas de envolvimento e
distanciamento e as estratégias de cortesia/descortesia verbal.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Nos últimos anos, os analistas da conversação têm procu-
rado analisar questões relativas às interações em redes sociais
como Facebook, Instagram, Twitter, observando como se
desenvolve o processo interacional nesse universo tecnológico.
Um dos temas recorrentes entre os pesquisadores é o da
cortesia/descortesia verbal, pois os internautas não se preocu-
pam muito com questões relativas a uma certa solidariedade
linguística nos textos conhecidos como “comentários” nas
redes sociais.
Desenvolvi recentemente, em coautoria com colegas de
outras universidades, um trabalho sobre Topicalidade e a

214
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

(des)cortesia verbal a partir de comentários produzidos no


Instagram. Nesse trabalho, verificamos que a organização
tópica é muito mais variada que a desenvolvida em uma
interação face a face e isso se explica pelas especificidades
relativas às formas de interação que ocorrem em comentários
construídos em relação a determinada postagem. Creio que
a partir do trabalho relacionado às tecnologias digitais e a
multimodalidade, os pesquisadores encontram um leque de
possibilidades para temas de novas pesquisas e também a
necessidade de relacionar essas novas pesquisas com pers-
pectivas de aplicação no ensino de língua.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Sem dúvida alguma, o livro básico é Análise da Conversação
de Luiz Antônio Marcuschi, publicado em 1986 pela Editora
Ática, na série Princípios. Outros livros importantes são os
organizados pelo professor Dino Preti a partir das pesquisas
do grupo NURC-SP, série projetos Paralelos, que contêm
capítulos dos integrantes do projeto e também de autores con-
vidados, como: Luiz A. Marcuschi, Ingedore G. V. Koch, Elisa
Guimarães, Maria Helena de Moura Neves, Anna C. Bentes,
entre outros. Elenco, a seguir, algumas dessas publicações:

215
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

v. 1 Análise de Textos Orais


v. 2 O discurso oral culto
v. 3 Estudos de língua falada: variações e confrontos
v. 4 Fala e escrita em questão
v. 5 Interação na fala e na escrita
v.6 Léxico na língua oral e na escrita
v. 7 Diálogos na fala e na escrita
v. 8 Oralidade em diferentes discursos
v.9 Cortesia verbal
v.10 Oralidade em textos escritos
v.11 Variações na fala e na escrita
v.12 Comunicação na fala e na escrita
v.13 Oralidade e mídia
v.14 Oralidade e ensino.
Cabe destacar que o volume 12 foi organizado pelos pro-
fessor Dino Preti e pela professora Marli Quadros Leite e, a
partir do volume 13, a organização passou a ser somente da
professora Marli, que assumiu a coordenação do grupo de
pesquisa, com a saída do professor Dino Preti.
Outros livros igualmente fundamentais são:

216
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

- Da fala para a Escrita: atividades de retextualização,


de Luiz A. Marcuschi, publicado pela Ed. Cortez, 2001
- Produção Textual, análise de gêneros e compreensão, de
Luiz. A. Marcuschi, publicado pela Ed. Parábola, 2008
- Linguística de Texto e Análise da Conversação: panorama
das pesquisas no Brasil, organizado por Anna Christina
Bentes e Marli Quadros Leite, publicado pela Editora
Cortez, em 2010. Nesse livro, escrevi um capítulo em
coautoria com vários colegas do grupo da Anpoll,
intitulado Interação em diferentes contextos.

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Os trabalhos e projetos que desenvolvi ao longo de
minha vida acadêmica estão relacionados com a Análise
da Conversação e a Linguística Textual. Nas duas últimas
décadas, tenho desenvolvido pesquisas voltadas não só para
os estudos de Língua Falada mas também de Língua Escrita,
observando as marcas de oralidade no jornalismo impresso, as
estratégias de envolvimento e distanciamento utilizadas pelo
enunciador em textos publicitários, por exemplo.

217
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

Outra perspectiva bastante relevante é associar os estudos


de Análise da Conversação e a Análise Crítica do Discurso.
Por meio desse caráter interdisciplinar, é produtivo analisar a
cortesia e a descortesia verbal presentes no mundo digital, por
meio dos discursos produzidos na internet, em redes como
Facebook, Instagram, Twitter, como uma manifestação da
conduta social dos atores mostrada nas relações de interação
e poder em comentários on-line, por exemplo.
Nesse sentido, é possível revelar e divulgar aquilo que
está implícito, rejeitando a “naturalização” dos processos
sociais e permitindo que as ideologias subjacentes ao discurso,
bem como as relações de poder e dominação instituídas
por elas, sejam evidenciadas. São temas recorrentes as
pesquisas sobre desigualdade social, racismo, inclusão e
exclusão social, desigualdade de gênero etc. Assim, a partir dos
estudos críticos, podemos repensar os objetivos das Ciências
da Linguagem e destacar o papel social que a linguagem tem
na formação, manutenção e transformação da história do
comportamento e das relações humanas.

218
MARIA LÚCIA DA CUNHA VICTÓRIO DE OLIVEIRA ANDRADE

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Creio que o grande desafio dos estudos linguísticos neste
século é tratar das questões éticas e geopolíticas. O profes-
sor Marcuschi já dizia em suas conversas e reflexões que a
agenda para a Linguística do século XXI está diretamente
relacionada a tratar, de modo mais completo, os processos
interacionais, observando os aspectos cognitivos voltados
para uma perspectiva social. É importante refletir como a
linguagem, a cultura e a sociedade se entremeiam, se entrela-
çam. É preciso também discutir uma agenda ética, tratando
de diversidade linguística, dos fenômenos interculturais e dos
processos sociointeracionais do mundo contemporâneo em
uma perspectiva crítica.

219
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Meu contato com a Análise da Conversação ocorreu,
inicialmente, durante um curso de especialização em Língua
Inglesa, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
em Belo Horizonte, durante o biênio 1989-1991. Entre as
teorias linguísticas abordadas, havia um espaço para a dis-
cussão de estudos pragmáticos, entre estes, a Análise da
Conversação, AC. Nesse caso, foram adotadas duas leituras
básicas: A Simplest systematics for the organization of turn
taking for conversation (SACKS; SCHEGLOFF; JEFERSON,
1974) e Análise da Conversação (MARCUSCHI, 1986).

220
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

Quando ingressei no mestrado em Letras, da Universidade


Federal de Pernambuco, em 1992, o livro Análise da
Conversação fazia parte das referências de leitura para o
ingresso no mestrado naquela instituição. Além disso, consta-
vam da bibliografia do curso, em várias disciplinas, trabalhos
de autores como Goffman (1976), Gumperz (1982), Jefferson
(1972), Levinson (1983), Labov (1972) os quais orientavam
teoricamente o grupo de linguistas da Universidade Federal
de Pernambuco, liderado por Luís Antônio Marcuschi. As pes-
quisas desses estudiosos serviram de base para as discussões
durante o curso de Mestrado na UFPE, acrescidos de outros
cujas orientações assumi em discussões relativas ao tópico
discursivo na perspectiva da Análise da Conversação, entre
estes, Bublitz (1988) e Barros (1991). A pesquisa de Barros
(1991), especificamente, possibilitou o acesso para observar
a interação em sala de aula, quando elegi o tópico em aulas
de Língua Inglesa como objeto de investigação.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou livros impressos


ou eletrônicos você destacaria?
Inicialmente, destaco dois trabalhos que foram ponto
de partida para pesquisas que resultaram em publicações
posteriores. Em 1986, defendi a dissertação de mestrado na
Universidade Federal de Pernambuco, intitulada O tópico

221
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

discursivo na sala de aula de língua inglesa, pesquisa cujo cor-


pus se constituiu de interações em salas de aula na graduação
em Letras, a partir de metodologias de ensino diferenciadas.
A pesquisa do doutorado, cursado na Universidade Estadual
Paulista (Campus de Araraquara) abordou, também, um
aspecto da organização discursiva em sala de aula, desta feita,
na pós-graduação, sob o título: A topicalidade discursiva:
um estudo das digressões na interação em sala de aula. Essas
duas investigações, alinhadas com os estudos interacionais,
na perspectiva da Análise da Conversação, encaminharam
para outras pesquisas com diferentes corpora na língua falada.
Entre as produções desenvolvidas, ressalto a continuidade
dos estudos interacionais, seguindo a perspectiva da Análise
da Conversação, analisando interações face a face, como em
audiências de conciliações, salas de aula, pronunciamentos,
além de investigações mediadas por cartas pessoais. A mais
recente publicação enfoca a língua em uso na internet, em
comentários de usuários em postagens no Instagram.
Destaco, assim, em ordem cronológica decrescente, os
seguintes trabalhos publicados, principalmente em periódicos:
FÁVERO et al. Topicalidade em comentários on-line do
Instagram. (CON)TEXTOS LINGUÍSTICOS, v. 15, p. 146-
169, 2021;

222
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

GALVÃO, M. A. M. A organização tópica em audiências de con-


ciliação. In: AQUINO, Z. G. O de; GONÇAVES-SEGUNDO, P.
R; PINTO, M. A. G.. (org.). Argumentação e discurso: fronteira
s e desafios. 1. ed. São Paulo: FFLCH/USP, 2020, v.1, p. 172-187;
GALVÃO, M. A. M.; LANZILLO, A. S. da Silva. Audiências de
conciliação: determinações legais e interação. LINHA D’AGUA,
v. 34, p. 81-102, 2021;
NASCIMENTO, E. M.; GALVAO, M. A. M. O parafraseamento
em audiências de conciliação. VERBUM - Cadernos de Pós
Graduação, v. 08, p. 110-124, 2019;
LOURENCO, M. V. N.; GALVAO, M. A. M. A organização da
fala e papeis dos participantes na interação: um estudo em
audiências de conciliação. Intersecções. Revista de Estudos
sobre Práticas Discursivas e Textuais, v. II, p. 01-67, 2018;
GALVAO, M. A. M.; SILVA, L. A. Notas sobre a amizade: um
estudo acerca do envolvimento interacional em cartas pessoais.
Filologia e Linguística Portuguesa, v. 02, p. 305-336, 2012;
GALVAO, M. A. M.. Interação e ensino: considerações sobre
a aula no ensino de graduação. Intersecções (Jundiaí), v. 06,
p. 142-160, 2011.

223
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Seguindo as orientações de Marcuschi (1986, p. 6-7), a
conversação, por um lado, “não é um fenômeno anárquico e
aleatório, mas altamente organizado e por isso mesmo passível
de ser estudado com rigor científico”. Por outro lado, essa
organização é percebida pelos participantes, o que implica a
atenção aos aspectos contextuais e semânticos, com base em
pressupostos cognitivos, éticos e culturais que influenciarão
as interpretações dos interactantes. Nesse sentido, a análise
da conversação parte de dados empíricos, de situações de
interações entre as pessoas em seu cotidiano, de um modo
geral.
A análise da Conversação tem a origem anglo-ameri-
cana, a partir da proposta etnometodológica de Garfinkel
(1967), tendo, inicialmente, centrado a atenção na estrutura
e nas regras da conversação espontânea, face a face. No
contexto brasileiro, a publicação de Análise da Conversação
(MARCUSCHI, 1986) foi o marco dos estudos científicos em
relação ao funcionamento da língua, de modo que teoria e
método pudessem revelar sua prática social.
Dois grupos de pesquisa de base etnometodológica se
destacaram no Brasil, como apontam Leite e Negreiros (2014,

224
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

p. 115-116): “um cuja tendência é estudar a língua portu-


guesa falada no Brasil a partir do ‘texto conversacional’, pela
exploração dos recursos da oralidade – confrontando-os,
ou não com os da escrita – empregados em todos os gêneros
discursivos [...]”. Na esteira mais aproximada dos princípios
etnometodológicos da AC, o outro grupo tem tido a preocu-
pação com a descrição de procedimentos que os indivíduos
usam para interagir.
O primeiro grupo tem demonstrado interesse em um
modelo que parte da observação de dados interacionais, enfo-
cando as questões que caracterizam o texto. Seus trabalhos
contemplam aspectos originários da Etnometodologia, além
daqueles que abordam marcas de ordem discursivo-textuais
e linguísticas. O segundo grupo direciona o trabalho de base
etnometodológica para a fala como ação social, na inter-
pretação da relação da linguagem com o mundo. Assim, a
perspectiva é “êmica”; relacionam-se aspectos sociais, entre
estes, gênero, raça, identidade social; e aspectos interacionais
como turnos, pares adjacentes, sequencialidade etc.

225
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
A Análise da Conversação congrega algumas preocupações
que a diferenciam de outras teorias do texto. Destacam-se
as questões mais amplas relativas à interação face a face, à
língua falada, às diferentes situações dos intercursos verbais.
São tratadas as questões do funcionamento da língua em
contextos de uso, tendo em vista os fatores enunciativos nos
processos de produção do texto. Nessa concepção de língua
interacional, a Análise da Conversação ressalta a visão de
que o processamento formulativo-interacional é visível na
materialidade textual. Retomando Marcuschi (1986, p. 7), a
Análise da Conversação busca respostas para questões como:
“como é que as pessoas se entendem ao conversar? Como
sabem que estão se entendendo? Como sabem que estão
agindo coordenada e cooperativamente? Como usam seus
conhecimentos linguísticos e outros para criar condições
adequadas à compreensão mútua?”. É nisso que residem as
especificidades da Análise da Conversação ao assumir uma
visão de ação verbalmente realizada

226
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
A Análise da Conversação, como ressaltam estudos desde
a sua origem, contemplou níveis macro, médio e micro de
estruturas conversacionais. Deteve-se em fases conversa-
cionais, em nível mais amplo; em turnos da fala, sequências
conversacionais, atos de fala, marcadores, em nível médio;
e, no nível micro, na análise de elementos internos do ato de
fala, a saber, os que constituem a estrutura sintática, lexical,
fonológica e prosódia, como menciona Hilgert (1989).
Ao longo do tempo, os trabalhos do GT de Linguística
de Texto e Análise da Conversação da Anpoll revelaram
como as pesquisas nessa perspectiva foram delimitadas e
que interfaces foram realizadas, de acordo com Leite, Barros,
Dias e Silva (2010). Inicialmente, houve a preocupação em
definir o conceito de conversação, definir tarefas, apresentar
as especificidades da fala e da escrita. Até os dias atuais, os
trabalhos mostram o diálogo da Análise da Conversação com
Linguística Textual, haja vista a busca de inserir a AC em um
quadro mais amplo de teorias do texto e do discurso; destacam
a direção etnometodológica dessa perspectiva, relacionando

227
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

procedimentos linguísticos e interação; as especificidades da


relação fala e escrita.
A crítica relativa à “[...] falta de uma teoria mais ampla do
discurso ou do texto que permita o exame dos procedimentos
discursivos e de seus efeitos interacionais no caso de uma
organização discursiva mais completa [...]” (LEITE; BARROS;
DIAS; SILVA, 2010, p. 51) favoreceu o diálogo interdisciplinar
com vários estudos do texto. Nessa direção, esses autores
ressaltam que partindo de dados empíricos, de situações reais,
as produções existentes mostram o diálogo, por exemplo, com
a Linguística Textual e com a Semiótica discursiva. Com a
primeira, já havia uma relação teórico-metodológica, haja
vista que o texto falado, conversacional, busca uma noção
dessa unidade em suas investigações; com a teoria semiótica,
como argumentam Leite, Barros, Dias e Silva (2010, p. 81), “o
bom caminho da integração é o do exame dos textos conver-
sacionais e das microrrelações sociais nele privilegiadas”, de
modo que sejam observadas as relações sociais, integrando
as mais amplas às de nível micro.

228
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
As contribuições dos trabalhos realizados para o ensino
são visíveis, por exemplo, nas propostas desenvolvidas tendo
como objeto a interação em sala de aula. Nesse caso específico,
pesquisar interações mediadas por abordagens e metodolo-
gias de diferentes professores na orientação de disciplinas
e organização de conteúdos propicia conhecimentos que
contemplam dois aspectos: o de ordem da própria interação,
e dessa interação como lugar de construção do conhecimento
sistematizado.
Além disso, a perspectiva da Análise da Conversação
possibilita que sejam realizadas reflexões relativas ao fun-
cionamento de diversos gêneros conversacionais para que
o conhecimento dessas especificidades possa ser levado
para os diferentes níveis de ensino. A título de ilustração:
o que ocorre em uma audiência de conciliação, naquilo que
a caracteriza e a distingue de tantas outras com relação aos
aspectos discursivos, textuais, institucionais, nas interações,
merece atenção dos usuários da língua e de pesquisadores. Em
suma, as propostas desenvolvidas, os trabalhos que produzi,
tanto as interações pedagógicas quanto outras interações,
espontâneas e planejadas previamente, puderam constituir
materiais empíricos para discussões relativas aos aspectos

229
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

discursivo-textuais e interacionais nas aulas de graduação e


de pós-graduação por mim ministradas.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Os avanços na Análise da Conversação podem ser
observados no percurso delineado pelos seus pesquisado-
res. Inicialmente, a preocupação incidia nas descrições de
estruturas conversacionais e dos mecanismos de organização.
Atualmente, delineiam-se pesquisas com aspectos genui-
namente etnometodológicos, além daquelas que priorizam
questões do texto e do discurso em eventos interacionais
diferenciados. Nessa direção, é evidente que os avanços tecno-
lógicos, o uso da internet em larga escala, a formação de novos
contextos de uso da língua ocupem cada vez mais espaços
de investigação. Destaco, desse modo, que a abundância
de possibilidades de contatos nas redes sociais, síncronos e
assíncronos, forneçam o uso de elementos que entram nesse
novo circuito para novas investigações sobre o uso da língua
em diversas situações e espaços.
Com esse panorama, os lugares de interações são múlti-
plos, criando-se, assim, novas formas, tempos, com modos de

230
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

participação diferenciados entre os usuários da língua. Nesse


sentido, novos textos conversacionais são criados, aos quais
as pessoas reagem, dos quais participam, que descartam,
conforme seus interesses. Há de ajustar, dessa forma, a lupa,
para que não somente as inovações sejam reconhecidas mas
também que sejam comparadas às anteriormente existentes.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Para os que iniciam os estudos na Análise da Conversação,
é necessário ler algumas pesquisas que delineiam o panorama
dessa perspectiva, desde o início até os dias atuais. Considero
indispensáveis os textos de autores que inauguraram essa
perspectiva analítica, entre estes, “A simplest systematics for
the organization of turn-talking for conversation”, publicado
por Sacks, Schegloff e Jefferson (1974), na revista Language,
50; “Sequencing in conversational openings”, pesquisa de
Schegloff (1972), publicada na revista Directions in socio-lin-
guistics; Conversation: how talk is organized, livro cuja autora
é Margaret Mclaughlin (1984); a obra Análise da Conversação,
de autoria de Luiz Antônio Marcuschi (1986); Análise da
Conversação: princípios e métodos, cuja autora é Catherine
Kerbrat-Orecchioni (2006); “A perspectiva da Análise da
conversa etnometodológica sobre o uso da linguagem em

231
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

Interação social”, texto de Garcez (2008), publicado em


Fala-em-interação social: introdução à análise da conversa
etnometodológica, livro organizado por Loder e Jung; “A
Análise da Conversação no Grupo de Trabalho Linguística
de texto e Análise da Conversação da Associação Nacional de
Pós-Graduação em Letras e Linguística”, de autoria de Leite,
Barros, Dias e Silva (2010), Capítulo 2 do livro Linguística
de Texto e Análise da Conversação: panorama das pesquisas
no Brasil, organizado por Bentes e Leite. O texto de Leite
e Negreiros (2014), sob o título “A Análise da Conversação
no Brasil: rumos e perspectivas” compõe a obra Ciências
da linguagem: o fazer científico, volume 2, organizado por
Gonçalves e Góis; e o artigo de Frazão e Lima, intitulado
“Análise da Conversação no Brasil: os desdobramentos de um
campo de formação multidisciplinar” fornecem uma visão
atual do que se tem produzido nessa perspectiva de estudo.
Também, o livro organizado por Loder e Jung (2008) traz
uma importante contribuição acerca da Análise da Conversa
Etnometodológica, contendo capítulos que abrangem dis-
cussões desde essa perspectiva, até o modelo Jefferson de
transcrição de dados.

232
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
De forma como já foi explicitado, o trabalho que desen-
volvo atualmente se situa na subárea que hoje é denominada
ACTD – Análise da Conversação Textual Discursiva, de
natureza interdisciplinar, que se orienta pelos princípios da
Análise da Conversação norte-americana, da Linguística de
Texto, da Sociolinguística Interacional, da Análise do Discurso
e da Semiótica. Nessa perspectiva, tenho privilegiado os textos
oriundos de interações orais, na busca de compreender essas
interações de contextos de maior ou menor informalidade e
os aspectos discursivos instaurados pelos interlocutores. Com
esse objetivo, damos conta do texto como evento, com suas
marcas de natureza pragmática, os aspectos linguísticos e
discursivo-textuais, tendo em vista as especificidades dos
que interagem.

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Considero que os questionamentos feitos contemplaram
as questões de maior relevo sobre a perspectiva da Análise

233
MARISE ADRIANA MAMEDE GALVÃO

da Conversação e suscitaram esclarecimento acerca do que é


e como se faz. Como se observa, é necessário que os estudos
realizados avancem na direção de uma perspectiva que com-
preenda a conversação em rede, as negociações nas quais as
pessoas atuam de forma reativa. Desse modo, saliento que as
pessoas se apropriam de sistemas diferentes em suas práticas
sociais, estabelecendo formas muito mais públicas de interagir,
comparadas às que foram investigadas em outras épocas.

234
MARLI QUADROS LEITE
Universidade de São Paulo - USP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
O meu contato com a Análise da Conversação (AC)
começou em 1989, quando fui estudante de pós-graduação
da USP e participei da turma da disciplina “Sociolinguística
do Português”, ministrada pela Professora Doutora Edith
Pimentel Pinto. Na oportunidade, ela solicitou que eu falasse
sobre o “Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta
da Cidade de São Paulo (Projeto NURC-SP)”, naquela altura
coordenado pelo Professor Doutor Dino Preti. Gentilmente,
a professora Edith me apresentou ao professor Dino e eu
comecei a estudar a história, as atividades, a produção cien-
tífica e toda a organização do Projeto. Fiquei encantada com
tudo o que li e aprendi. Fiz, então, um seminário sobre o

235
MARLI QUADROS LEITE

NURC e, tendo “dado conta do recado”, a professora Edith


sugeriu que eu me candidatasse a uma vaga de monitoria,
que então havia sido aberta para o projeto. Fiz a seleção e fui
aprovada. Em 1990, comecei a trabalhar como monitora no
Projeto NURC e sob orientação do Professor Dino. Tendo me
envolvido muito com os assuntos do NURC e com a orien-
tação do professor Dino, resolvi direcionar meus estudos de
mestrado para a área de Análise da Conversação, pois tinha
muito contato com os materiais gravados e as transcrições dos
diálogos (Diálogos entre dois Informantes – D2), entrevistas
(Entrevistas entre documentador e informante – DID), além
de aulas e conferências (Elocuções Formais – EF). Desse modo,
originou-se a minha dissertação, cujo título é A relevância
do “porque” na conversação – Projeto NURC/SP. A pesquisa
e a redação do trabalho exigiram muito envolvimento com
os materiais sonoros e com as transcrições. Aquele foi um
trabalho muito prazeroso, pois mostrou como o operador
discursivo “por que/porque”, em suas várias funções, é um
elemento multifuncional que é visto e estudado apenas por
sua função conjuncional.
Vale lembrar que eu havia sido selecionada em prova para
ingresso na pós-graduação da USP, pelo Departamento de
Linguística, em 1989, como orientanda da Professora Leonor
Lopes Fávero, com quem também cursei o doutorado de 1992

236
MARLI QUADROS LEITE

(ano da conclusão do mestrado) a 1996. Não obstante, tinha


contato muito próximo com o professor Dino e com ele discu-
tia muitos dos aspectos da dissertação e, mais tarde, também
da tese. Nem todos os estudantes de pós-graduação têm, ou
tiveram, a sorte que eu tive de ter dois mestres a dar o suporte
necessário para o desenvolvimento dos trabalhos acadêmicos.
Acho que correspondi à exigência dos orientadores, pois,
por meio de processo seletivo, como era a norma da época,
em 1994, tornei-me docente do Departamento de Filologia e
Língua Portuguesa e dei início à longa jornada como docente
e pesquisadora, tendo passado por vários concursos até chegar
ao último degrau da carreira, como professora titular. Destaco
a minha proximidade como o professor Dino, pois, desde
2013-14, fui por ele indicada, com aquiescência dos colegas
pesquisadores do Projeto NURC/SP – Núcleo USP, a conduzir,
como coordenadora, os trabalhos do Projeto.
Volto ao relato dos idos anos da década de 1990. Ao tempo
em que fazia a tese, atuava também como monitora da dis-
ciplina ministrada pelo professor Dino, “Língua Portuguesa
VII”, cuja ementa era voltada para variação linguística e,
portanto, contemplava grande parte dos conteúdos pertinentes
à modalidade oral da língua portuguesa. Nem preciso dizer
o quanto aprendi com o mestre, tanto no que diz respeito ao

237
MARLI QUADROS LEITE

conteúdo da disciplina quanto em relação à metodologia de


pesquisa e didática do ensino.
O termo “relevância” constante do título da dissertação
tem sentido preciso, vindo da pragmática defendida por
Sperber e Wilson (1988). Além disso, a dissertação baseia-se
também no Funcionalismo de Halliday (1985), na semântica
contextualista, na época defendida por Van Dijk (1984) e,
evidentemente, também em autores diversos que estudavam
a Análise da Conversação de base etnometodológica, entre
eles: Levinson (1983), Marcuschi (s.d. e 1986), Chafe (1985),
Castilho (1985) Preti e Castilho (1986, 1987), Preti e Urbano
(1986), Preti (1991). A conjunção de princípios que extraí
das teorias e das aplicações dos citados autores possibilitou o
desenvolvimento do trabalho, feito com base em dois vetores:
a condição de emprego do item linguístico em estudo e o
esquema inferencial dos interlocutores envolvidos na rea-
lização e compreensão dos enunciados proferidos por meio
do operador em análise. A investigação das condições de
emprego do “porque/por que”, uma inovação que a dissertação
trouxe na época, refere-se à aplicação de meio tecnológico
para proceder-se à análise linguística do corpus. Trata-se
de um software criado especialmente para a identificação
das estruturas linguísticas em que os operadores “porque/
porque” ocorriam.

238
MARLI QUADROS LEITE

Depois de toda a análise, chegou-se à conclusão de que


o “porque e por que” atuam como operadores discursivos
dos tipos: argumentativo (ODA); interativo (ODI). A hipó-
tese do trabalho era a de que haveria, também, o operador
lógico (ODL). Este, nós prevíamos que conectasse estruturas
P porque Q, quando Q traz um valor de verdade universal, o
que não apareceu no corpus examinado, e os que ocorreram
foram apenas os dois primeiros. O trabalho mostrou que a
diferença propugnada em alguns manuais de gramática sobre
o papel sintático do “porque/por que” é mais complexo do
que parece, pois ele pode aparecer tanto em uma estrutura
sintática completa, em que há uma oração antecedente (P) e
outra consequente (P), sendo ambas conectadas pelo porque/
por que. Contudo, apareceram estruturas em que faltava o
antecedente (P) e a estrutura era então ∅ pq Q. Isso é possível
quando a parte faltante da estrutura foi dita muito antes ou
quando o seu conteúdo está implícito entre os interactantes.
Nesse caso, o “porque” atua claramente como um opera-
dor interacional (ODI), do mesmo modo como em outras,
completamente formadas, P pq Q, em que o “porque” é um
operador argumentativo (ODA). Características gramaticais
do operador porque/por que foram também consideradas,
mas não vêm ao caso no momento.

239
MARLI QUADROS LEITE

Ao escolher fazer a dissertação sobre um tema da língua


falada, eu fiquei para sempre ligada à Análise da Conversação,
ou, como prefiro dizer atualmente, aos estudos da oralidade.
No curso do tempo, passei por várias fases positivas no Projeto
NURC, ao lado do Professor Dino. Participei, ainda quando
era doutoranda, da redação/publicação do primeiro livro da
coleção Projetos Paralelos, criada pelo professor Dino. Para
esse trabalho, atuei em conjunto com Rosane Peruchi, também
doutoranda e orientanda do professor Dino, quando ficamos
responsáveis por redigir e organizar um breve glossário de
termos específicos da AC. O volume I, Análise de textos falados
(1993), foi publicado e fez muito sucesso, tendo sido reeditado
muitas vezes e foi (talvez ainda seja) integrante de bibliografias
de cursos de Letras de muitas universidades brasileiras. Vale
lembrar que hoje, esse e todos os outros volumes da coleção
estão em formato digital na Amazon.
Depois desse volume, participei como autora de capítulos
de todos os demais volumes (14 até hoje). Essa coleção, arrisco
dizer, traz uma variedade importante de temas sobre língua
falada e sobre a comparação fala/escrita, que não se vê em
nenhuma outra coleção. Minha contribuição para a pesquisa
do Projeto sempre teve como centro a questão do uso e da
norma linguística.

240
MARLI QUADROS LEITE

No doutorado, estudei a questão do “purismo linguístico”


exatamente porque esse era um tema que revelava o embate
de normas linguísticas, a que corresponde ao padrão escrito
e mais tradicional e outros padrões de escrita mais próxi-
mos da fala. A tese foi a de que o purismo, como atitude
linguística, é um fenômeno de preservação de norma e que,
portanto, existem diferentes manifestações de purismo: um
que chamei histórico ortodoxo, típico da defesa da prática
da norma lusitanizante no Brasil; o purismo nacionalista,
praticado em defesa da norma brasileira no século XX, até
aproximadamente os anos 1960; e, finalmente, o purismo
heterodoxo, exercido depois da chegada da Sociolinguística
no Brasil, a partir dos anos 1970.
O trabalho nasceu da necessidade de investigar como a
norma brasileira ia-se estruturando com base no jogo de duas
forças antagônicas: uma conservadora, que vinha da escrita
formal; e outra inovadora, originária da fala espontânea.
Naquele tempo, a discussão sobre a questão da inovação da
norma linguística brasileira estava de novo na pauta. Falava-se
muito da diversidade linguística, contudo, sendo a língua um
objeto histórico-cultural, ficava evidente que a inovação não
era o único player no tabuleiro da normalização da língua.
A diversidade joga contra um adversário também forte, a
tradição, que refreia a inovação e, assim, da interação dessas

241
MARLI QUADROS LEITE

duas forças, a inovadora e a conservadora, vai-se sempre


construindo o equilíbrio normativo da língua.
Para estudar esse panorama, recuei a textos do século
XIX (as discussões metalinguísticas de José de Alencar), do
começo do século XX (a polêmica linguística travada sobre
a redação do Código Civil, por Rui Barbosa, Réplica, contra
Carneiro Ribeiro, que havia sido convidado a fazer correções
à redação do Código, e que respondeu ao seu contendor por
meio de uma Tréplica). Também foi objeto de estudo a cor-
respondência metalinguística travada entre Monteiro Lobato
e seu amigo Godofredo Rangel, além, é claro, dos textos de
Mário de Andrade sobre o português dos brasileiros em
oposição ao dos portugueses. O trabalho metalinguístico de
Mário foi vitorioso e não é exagero dizer que a maior conquista
do Modernismo no Brasil deu-se no campo linguístico. Foi
o embate da oralidade brasileira contra a “escrituralidade”
portuguesa que construiu a norma brasileira e lhe deu “direito
de cidade”, a ponto de fazer nascer um “purismo brasileiro”.
Por essa razão, o livro que teve origem na tese foi publicado
sob o título: Metalinguagem e discurso: a configuração do
purismo brasileiro (LEITE, 1999, 2006).
O relato desses trabalhos de grau tem objetivo de mos-
trar como me formei sob uma base que considero sólida,
pelo estudo de conceitos linguísticos fundamentais para a

242
MARLI QUADROS LEITE

compreensão global do fenômeno da formação contínua da


língua pelo entrelaçamento das modalidades linguísticas pelas
quais nos comunicamos cotidianamente. Ao longo de trinta
e dois anos de trabalho no NURC/SP-Núcleo USP, nós, todos
os pesquisadores do Projeto, muito fizemos em termos de
pesquisa. Publicamos quatorze livros, com temáticas diversas,
mas sempre tratando da oralidade em sua conexão, ou não,
com a escrita, de modo a responder a muitas perguntas de
pesquisa, como as que resumo a seguir. A contribuição que dei
em cada etapa da pesquisa vai igualmente citada, do seguinte
modo: primeiro, as perguntas de pesquisa que orientaram
o trabalho; depois, o título do volume, em versalete e, o
título de meu capítulo em negrito.
Coleção Projetos Paralelos – Coordenação Professor Dino
Preti. (Todos os volumes estão disponíveis em www.amazon.
com.br).
• Volume 1 – De que modo a teoria da Análise da
Conversação contribui para o esclarecimento das
questões pertinentes a características estruturais e
linguísticas relativas ao texto falado?
Análise de textos orais. | LEITE, M. Q. Glossário
• Volume 2 – O que configura o discurso oral culto? Quais
são suas características? O que caracteriza linguística

243
MARLI QUADROS LEITE

e pragmaticamente a norma culta? O que caracteriza


o falante culto?
O discurso oral culto. | LEITE, M. Q. Purismo no
discurso oral culto.
• Volume 3 – Quais são as fronteiras entre o discurso
oral e o escrito? Quais são os procedimentos cognitivos
implicados na realização do discurso oral? Que aspectos
sociolinguísticos são revelados na interação verbal?
Estudos de língua falada: variações e confrontos.
| LEITE, M. Q. Língua falada: uso e norma.
• Volume 4 – Quais são as características dos gêneros
discursivos intermediários entre a fala e a escrita? Que
estratégias discursivas estão presentes tanto em textos
falados quanto em escritos? Que repercussão as normas
da língua falada exercem na norma prescritiva?
Fala e escrita em questão. | LEITE, M. Q. A influ-
ência da língua falada na gramática tradicional.
• Volume 5 – Que repercussão a interação exerce no texto,
falado ou escrito? Que aproveitamento de aspectos
típicos da interação oral há no texto escrito?
Interação na fala e na escrita. | LEITE, M. Q.
O espaço da interação autor/leitor na gramática
tradicional.

244
MARLI QUADROS LEITE

• Volume 6 – De que modo as transformações sociais


ficam marcadas no léxico? De que modo o léxico reflete
a variação dos gêneros discursivos? Qual a relação do
léxico com a organização estrutural da conversação?
Léxico na língua oral e na escrita. | LEITE, M.
Q. Aspectos de uma língua na cidade: marcas da
transformação social no léxico.
• Volume 7 – De que estratégias discursivas e cognitivas
os falantes se servem durante o diálogo? Que fatores
podem desencadear mal-entendidos entre interlocu-
tores? Como o discurso reportado se manifesta nas
interações espontâneas? De que natureza e quais são as
características do diálogo ocorrido entre professores e
alunos? Como a conversação é representada em textos
literários?
Diálogos na fala e na escrita. | LEITE, M. Q. O
diálogo no diálogo: a dupla expressão do discurso
do outro.
• Volume 8 – Que se pode entender por oralidade? Como
os textos escritos assimilam marcas de oralidade e que
efeitos de sentido essas marcas constroem? Como a
oralidade se manifesta em textos jornalísticos?

245
MARLI QUADROS LEITE

Oralidade em diferentes discursos. | LEITE, M. Q.


Oralidade, escrita, gênero e mídia: entrelaçamentos.
• Volume 9 – Quais as origens da cortesia e como ela se
tem manifestado em textos resultantes de interação
oral e escrita? Que características tem a cortesia nos
diferentes gêneros discursivos?
Cortesia verbal. | LEITE, M. Q. Cortesia e descor-
tesia: a questão da normatividade.
• Volume 10 – Textos falados e escritos têm a mesma
gramática? Como se relacionam os conceitos de orali-
dade e linguagem popular? Que efeitos de sentido cria
a oralidade nos textos escritos? Oralidade em textos
escritos. Em que dimensões da linguagem o termo
variação se aplica, e que efeitos tem nos diversos gêneros
discursivos?
Oralidade em textos escritos. | LEITE, M. Q.
Oralidade em textos escritos.
• Volume 11 – Que implicações a(s) variação(ções) lin-
guística(s) têm na oralidade e na escrita? As varia-
ções linguísticas chegam aos manuais de gramática?
Como a variação linguística tem relação com gêneros
discursivos?

246
MARLI QUADROS LEITE

Variação na fala e na escrita. | LEITE, M. Q.


Variação linguística: aspectos históricos.
• Volume 12 – Sob que pontos de vista teóricos diferen-
tes é possível tratar a comunicação na oralidade e na
escrita? Que diferenças pode haver entre a comunicação
humana expressa em obras artísticas e aquela própria
da interação espontânea? Como é possível interpretar
sensações e emoções na comunicação orla?
Comunicação na fala e na escrita. | LEITE, M. Q.
O acordo fiduciário entre os interactantes.
• Volume 13 – Como a oralidade manifesta-se em dife-
rentes mídias? Em textos oralizados da mídia televisiva,
qual a interferência de características da escrita? Quão
complexas são as modalidades linguísticas manifesta-
das pelas redes sociais? Como a imprensa registra as
entrevistas colhidas oralmente?
Oralidade e mídia. | LEITE, M. Q. A conversa é aqui
nos telejornais.
• Volume 14 – Como tratar a oralidade em sala de aula?
A oralidade nos currículos escolares, como tratá-la?
Qual a contribuição da Sociolinguística para o ensino?
Como o conhecimento do discurso e da língua falada

247
MARLI QUADROS LEITE

contribui para a detecção de mentiras divulgadas pelas


redes sociais.
Oralidade e ensino. | LEITE, M. Q. O lugar da ora-
lidade no livro didático.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Creio que meus trabalhos mais significativos nessa linha
de pesquisa eu os reservei para publicar na coleção Projetos
Paralelos, do Projeto NURC, antes apresentada. Segundo
penso, talvez os textos mais significativos tenham sido os que
o professor Dino selecionou para publicação nos primeiros
capítulos dos seguintes volumes:
• Volume 6 – Léxico na língua oral e na escrita
Capítulo 1 – Aspectos de uma língua na cidade: marcas
da transformação social no léxico, p. 17-45.
Sumário: Considerações iniciais; 1. Anotações sobre os
conceitos de norma culta x norma popular; 2. Algumas
reflexões sobre a interação; 3. Marcas do desenvol-
vimento social no léxico; 3.1 A cidade; 3.2 Metrô;
3.3 Computador; Considerações finais; Referências
bibliográficas.

248
MARLI QUADROS LEITE

Nesse capítulo, procuramos, de um lado, trazer alguns


argumentos para enfrentar o problema do conceito de norma
culta e, de outro, a partir de um diálogo tecido em norma
culta, mostrar como os falantes revelam em seu discurso,
especialmente pelo léxico, aspectos da cidade onde vivem. A
análise teve como apoio, principalmente, o léxico atualizado
em um diálogo travado, na década de 70 do século XX, entre
dois irmãos, na presença de um documentador.* Teoricamente,
o trabalho baseou-se em princípios da análise dialógica do
discurso, da Sociolinguística Interacionista e da Análise da
Conversação de base etnometodológica. Nossa hipótese,
conforme os princípios enunciados, foi a de que os falantes,
naturalmente, quando produzem seus discursos, revelam
aspectos da sociedade em que vivem. Nesse caso, interessou-
-nos observar o caso particular da sociedade paulistana, por
meio do discurso de falantes cultos da primeira faixa etária.
*Trata-se do D2 – 343 (corpus oficial do Projeto NURC/
SP) – Diálogo entre dois informantes: (L1) homem, 26 anos,
solteiro, engenheiro, paulistano; (L2) mulher, 25 anos, solteira,
psicóloga, paulistana. Grau de intimidade: acentuado (irmãos).
Registro 15/03/1976.
• Volume 7 – Diálogos na fala e na escrita
Capítulo 3 – O diálogo no diálogo: a dupla expressão
do discurso do outro, p. 85-117.

249
MARLI QUADROS LEITE

Sumário: Considerações iniciais; 1. Nota sobre os dois


diálogos; 2. O discurso direto no corpus; 3. Os frames
e os efeitos de sentido do DD; 4. Estrutura e modos de
organização do DD; 5. Aspectos linguístico-discursivos
do DD; 6. Natureza das enunciações e vozes citadas;
Considerações finais; Referências bibliográficas.
Focalizamos, nesse capítulo, o “discurso relatado” no uso
da língua em diálogos reais. Partimos do conhecimento já
elaborado sobre o assunto, especialmente da teoria de Bakhtin
(1988) e de seu desdobramento nas teorias de Authier-Revuz
(1978, 1995, 1998) e Ducrot (1987), e procuramos verificar
como, na linguagem cotidiana, os falantes constroem os
sentidos de seus enunciados, por meio da citação de outros
discursos, isto é, de enunciações encaixadas, que tanto podem
ser de terceiros como dos próprios falantes. Restringimos, vale
ressaltar, nossa investigação a uma das variedades do discurso
citado, ao discurso direto (DD), tratando do assunto na medida
em que aparece nos diálogos analisados.* O discurso direto
é uma estratégia discursiva escolhida pelo sujeito falante
por dois motivos principais: porque é eficaz para imprimir
o efeito de sentido de verdade, de realidade, de objetividade
que a situação exige, ou porque o momento interacional
em sua plenitude aceita, ou exige, que o conteúdo venha

250
MARLI QUADROS LEITE

acompanhado de pormenores, da simulação da enunciação


em que apareceu originalmente o discurso citado.
Não mais se admite hoje que a diferença entre o DD e
o DI seja a de que este reproduz o conteúdo de um outro
discurso e aquele, a forma. Em verdade, ambos são apenas
a representação de outros discursos, de outras enunciações.
Mais do que descrever a sintaxe e a semântica das falas citadas
diretas, comentaremos o efeito de sentido que se forma por
meio da citação de uma enunciação em outra, observando,
assim, a natureza das enunciações e das vozes citadas. Isso
será feito a partir de dois pontos de vista: primeiro, daquele
da enunciação citada (real ou fictícia); depois, daquele da
enunciação citante, esta secundária em relação à citada.
Toda a análise está de acordo com o estudo da “enunciação
sobre a enunciação”, para, desse modo, mostrar que, em
muitos casos, o discurso citante manipula o citado, fazendo-o
corresponder a certos frames, a fim de fazê-lo “servir” aos
propósitos ou àbideologia do sujeito falante, ou, simplesmente,
para emprestar um efeito de verdade, de realidade ou con-
fiabilidade a sua fala.
* Diálogos entre dois informantes (D2) 343, 62, 255, 396
e 333.
• Volume 9 – Cortesia verbal

251
MARLI QUADROS LEITE

Capítulo 2 – Cortesia e descortesia: a questão da nor-


matividade, p. 19-87.
Sumário: Considerações iniciais; 1. Sobre as diferenças
entre os conceitos de cortesia e o de polidez: uma pro-
posta; 2. Recursos linguísticos da manifestação da cortesia;
3. Algumas reflexões sobre o fenômeno da cortesia no
corpus do NURC/SP; Considerações finais; Referências
bibliográficas.
* Diálogos entre dois informantes (D2) 62, 255 e 360.
A cortesia é um fenômeno social importante, embora para
alguns pareça apenas uma futilidade. O estudo histórico do
tema revela como o homem precisou refrear seus instintos
para que a sociedade da qual faz parte pudesse alcançar o
patamar da civilização. O amplo domínio do assunto – boas
maneiras na fala, na postura, nos gestos, nas atitudes à mesa,
ou seja, no comportamento social em geral –, por si, mostra
sua relevância social, antropológica, histórica e psicanalítica.
Inclui-se essa última nesse rol porque a repressão de senti-
mentos e atitudes é uma forte característica do fenômeno, o
que afeta o ser humano.
Dessa gama de possibilidades, escolhemos estudar um
aspecto da cortesia: seu fundamento normativo, ligado dire-
tamente a seu caráter repressivo e obrigatório a todos os que

252
MARLI QUADROS LEITE

numa sociedade se integram harmonicamente às relações


interpessoais. Para mostrar a normatividade do fenômeno
que, enfim, é o ponto fulcral do texto, optamos por fazer uma
pesquisa de caráter historiográfico, uma vez que recorremos
a monumentos históricos em que se registraram os primeiros
discursos sobre o assunto.
São esses documentos: o livro De civilitate morum pueri-
lium, de Desiderius Erasmus, mais conhecido como Erasmo
de Roterdã, escrito em latim, em 1530. Analisamos, porém,
a obra pela edição francesa (La civilité morale des enfans),
pela qual comentamos o discurso fundador do autor, para
a sociedade ocidental moderna, no campo das boas manei-
ras; e o Du bon et du mauvais usage dans les manières de
s’exprimer. Des façons de parler bourgeoises et en quoy elles
sont differentes de celle de la Cour. Suitte des mots à la mode,
de François Callières, escrito em 1693, para examinar, por
meio do discurso também fundador, nesse caso da cortesia
linguística, como o autor trata do problema, igualmente no
que diz respeito à modernidade ocidental.
O recorte para o estudo da normatividade encontra sub-
sídio na teoria da norma social, de base durkheimniana, pela
interpretação e pelos acréscimos que a ela faz a socióloga
francesa Ramonino (1994, 2007). Com base nisso, e também
nas reflexões que fizemos sobre o assunto, examinamos dois

253
MARLI QUADROS LEITE

casos contemporâneos que envolvem o fenômeno da corte-


sia: uma entrevista concedida pelo então presidente francês
Nicolas Sarkozy e outra dada por Marcus Elias, empresário
brasileiro do ramo dos laticínios. O texto desenvolve-se sob
três eixos: a apresentação do conceito de cortesia e seus cor-
relatos, a discussão acerca da normatividade do fenômeno e,
finalmente, a observação empírica do fenômeno.
• Volume 10 – Oralidade em textos escritos.
Capítulo 3 – Do falado ao escrito e vice-versa.

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Não considero a Análise da Conversação “uma ciência”,
porque “a conversação” é um objeto difuso, isto é, que não é
circunscrito, não é uno. A conversa tem de ser estudada pela
oralidade, pela interação, pelo texto e por todas as caracte-
rísticas que a estruturam. Na primeira fase dos estudos do
Projeto NURC, realmente, foi a Análise da Conversação
que propiciou os primeiros estudos (Cf. PRETI; URBANO,
1989 e PRETI, 1993). Todavia, logo ficou evidente que a AC
era mais um método do que uma teoria, pois os estudos
realizados partiam de princípios de outras teorias, como

254
MARLI QUADROS LEITE

da Sociolinguística Interacionista, da Psicolinguística, do


Funcionalismo, da Linguística de Texto e, depois, da teoria do
Gênero do Discurso, da Enunciação e de tudo o que conforma
a pesquisa científica sobre a oralidade.
Como se pode historicamente observar, as “categorias”
que fizeram parte da Análise da Conversação (tópico, turno e
marcadores discursivos, além de pausas, hesitações, paráfrases,
correções, repetições etc.) foram exaustivamente estudadas e,
logo, ficaram esgotadas. É claro que a Análise da Conversação
permaneceu em vigor mais como uma disciplina que, não
obstante tudo isso, dá origem a muitas pesquisas fundamen-
tadas em princípios teóricos de diversa origem, como antes
comentado.
Ainda outra observação sobre a Análise da Conversação
diz respeito ao que seria o seu mais evidente objeto: a conver-
sação, ou o ato de conversar, ou, ainda, a conversa. O que é a
conversa? Apenas uma “troca” informal entre dois falantes?
Mas isso é também um “diálogo” ou uma “entrevista”, ou
uma “discussão”, ou um “debate” ou tudo isso... Sim, pode
ser, sem dúvida, porém, será inevitável recorrer à teoria dos
gêneros discursivos para delimitar esse objeto, pelo menos.
Diante disso, creio ter esclarecido por que não trato da Análise
da Conversação como uma teoria, embora, sem dúvida, seja
uma das disciplinas integrantes das Ciências da Linguagem

255
MARLI QUADROS LEITE

e, portanto, a “conversação”, de qualquer gênero torna-se


um objeto científico a ser estudado à luz de uma (ou mais
de uma) ciência.

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Como expliquei antes, no início, a Análise da Conversação
diferenciou-se porque tratou especificamente da estrutura
da “conversa”. Depois, essa descrição integrou um método
que, aliado a outros princípios, servem para analisar tanto
os textos falados quanto outros dados da interação.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
Creio ter-me antecipado bastante quando respondi à ter-
ceira questão. A Análise da Conversação é hoje uma das dis-
ciplinas das ciências da linguagem que, em colaboração com
outras teorias, é uma ferramenta para descrição e análise de
aspectos de textos orais. Eu diria que a Análise da Conversação,
por si só, não existe, pois já nasceu da combinação de outras

256
MARLI QUADROS LEITE

disciplinas aliadas à Linguística (Etnometodologia, Psicologia,


Sociologia, Pragmática).

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
No último volume publicado, o décimo quarto, Oralidade
e ensino, escrevi o capítulo intitulado “O lugar da oralidade
no livro didático”, no qual penso ter mostrado aspectos his-
tóricos relevantes sobre a tentativa de se explorar a linguagem
falada na escola. Nesse volume, o leitor encontra dez capítulos
completamente voltados ao tema da abordagem didática da
oralidade.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Na minha opinião, a Análise da Conversação começa a ser
beneficiada pela tecnologia para a interpretação de aspectos
antes impossíveis de ser captados pelo ouvido humano ou pelo
simples gravador. Refiro-me (i) à interpretação de entonação,
ritmo, melodia e outros aspectos da voz humana, assim como
(ii) a aspectos expressivos do rosto e do corpo dos falantes, que
completam o significado dos textos. Os recursos citados em

257
MARLI QUADROS LEITE

(i) são imprescindíveis para a segmentação do texto realizada


por meio cientificamente mais rigoroso e os referidos em (ii),
aliados aos de (i), permitem ao analista interpretar com mais
segurança dados relativos às emoções dos falantes.
Isso já é realidade para o Projeto NURC, que vive nova
fase, a terceira do desenvolvimento do NURC | Núcleo USP.
Estamos em parceria com o Projeto Tarsila, que é um dos
grandes Projetos do Center for Artificial Intelligence (C4AI).
Aqui vemos uma conexão nova NURC + Projetos tecnológicos
de ponta em São Paulo e no Brasil.
A International Business Machines (IBM), a Universidade
de São Paulo (USP) pelo Instituto de Ciências Matemáticas e da
Computação (ICMC) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria, criaram o Centro
de inteligência Artificial | Center for Artificial Intelligence,
também referido pela sigla, em inglês, C4AI, que funciona
no prédio do Centro de Pesquisa e Inovação (InovaUSP),
localizado no campus USP – Butantã. O campo das pesquisas
do C4AI é relativo a diversos domínios do conhecimento,
inclusive ao Processamento da Linguagem Natural, sempre
com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de tec-
nologias, no nosso caso, daquelas que possibilitem a interação
com máquinas que usam linguagem humana, falada e escrita
em português, para finalidades diversas. O Projeto NURC/

258
MARLI QUADROS LEITE

SP – Núcleo USP integra esse imenso projeto e é, então, essa


a nossa nova inserção.
Completamente século XXI, de repente, vemos como
nosso trabalho deu uma guinada para a modernidade e,
mais uma vez, edita o futuro. Em breve, teremos análises dos
diálogos do NURC sendo realizados com base em condições
tecnológicas, o que facilitará o trabalho do cientista.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Sem dúvida, a coleção Projetos Paralelos traz textos que
interessam a todos quantos se interessam ou venha a inte-
ressar-se pela Análise da Conversação.

9) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui


várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Essa pergunta afirma, de algum modo, o que eu disse
acima sobre o ecletismo teórico do que se denomina Análise
da Conversação. Meu trabalho é sempre relacionado, de um
lado, à problemática na normatividade e, de outro, à da
interatividade.

259
MARLI QUADROS LEITE

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
A entrevistada não respondeu.

260
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO
Universidade de São Paulo - USP

1) Como você chegou à Análise da Conversação? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
As inquietações em torno de estudos do texto que fossem
além das teorias gramaticais constituíram questão central
para que eu me interessasse pela Linguística de texto e, logo
a seguir, pela Análise da Conversação. Tive o prazer de ser
apresentada a esses estudos a partir de uma conferência do
querido introdutor dessas pesquisas no Brasil, que foi Luiz
Antonio Marcuschi, durante um Congresso do Instituto de
Pesquisas (IP) na PUCSP, no final da década de 1980. Logo
a seguir, especificamente sua obra Análise da Conversação
se constituiu em leitura introdutória, mas instigante para
aquele momento, de tal modo que possibilitou reflexões que

261
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

serviram de ponto de partida para o encaminhamento de


inúmeras pesquisas em nosso país.
A partir desse contato, Marcuschi nos abriu para um
mundo de possibilidades numa época em que pouco se
viajava para congressos internacionais, as bibliotecas não
se atualizavam na velocidade necessária, nem tínhamos as
possibilidades de contato que se abriram com o uso da internet
– ele nos trazia as fontes importantes para as pesquisas. Foram
muitos os autores que embasaram meus trabalhos àquela
época das primeiras pesquisas, dentre os quais, destaco:
Halliday e Hasan, com a obra de 1976 Cohesion in English;
o grandioso John Gumperz, com a obra Discourse strategies
de 1982; Deborah Schiffrin, autora de Discourse markers, de
1987; Deborah Tannen, autora de inúmeros trabalhos com a
língua falada com destaque para as metamensagens – o que se
faz quando se diz algo e que vai muito além dos elementos lin-
guísticos contidos na formulação linguística, como o de 1981;
Analyzing discourse: text and talk, Elionor Keenan e Bambi
Schieffelin; com a obra de 1983, Acquiring conversational
competence, Sacks, Schegloff e Jefferson, Douglas Maynard,
Gaetano Berruto, Gardner, Beaugrande e Dressler, Brown
e Levinson, Craig e Tracy; além de nosso Marcelo Dascal,
um de nossos grandes nomes em pesquisa e que traduziu (e

262
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

financiou) uma coleção a partir da qual tivemos contato com


os trabalhos de Austin, Grice e tantos outros.
Além disso, o Mestrado, finalizado em 1991, pela PUCSP
(a duração era de 04 anos) e o Doutorado, realizado na
USP e finalizado em 1997 (com duração de 05 anos), sob
a supervisão da Professora Doutora Leonor Lopes Fávero,
abriu-me as maiores possibilidades de participação em gru-
pos de pesquisa como o Projeto da Gramática do Português
Falado, organizado pelo Professor Doutor Ataliba Teixeira
de Castilho, e o Projeto NURCSP, sob a coordenação do
Professor Doutor Dino Preti.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
AQUINO, Zilda. Tópico e conflito em interações discursivas.
ROMANICA STOCKHOLMIENSIA.1. p. 1415-1423, 2000.
AQUINO, Zilda. O jogo argumentativo nas coalizões e con-
flitos. Actas del Congreso Internacional La Argumentación.
P. 919-925. 2003.
AQUINO, Zilda. Gêneros orais, argumentação e ensino de lín-
gua portuguesa. Filologia e Linguística Portuguesa (Online).
17, n.1. p.227-248, 2015.

263
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

AQUINO, Zilda. G.O.; FÁVERO, Leonor Lopes ; ANDRADE<


Maria Lúcia C.V.O. . Oralidade e escrita - perspectivas para
o ensino de língua materna. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
v. 01. 126p .
AQUINO, ZILDA; GONÇALVES SEGUNDO, P. R. (Org.) .
Estudos do Discurso - Caminhos e Tendências. São
Paulo: Paulistana, 2016.
AQUINO, ZILDA; PALUMBO, RENATA. Diálogos com
Marcuschi: sociocognição, argumentação e ensino.
Filologia e Linguística Portuguesa (Online). 21, 1. p.9-24, 2019.
AQUINO, Z.; PALUMBO, R. SILVA, A.C.B. Frames e
Argumentação: Analisando o discurso presidencial de
Michel Temer PÓS-IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF.
(Con)textos linguísticos. 13, 25, p.125-134. 2019.
OBS: citei apenas esses artigos/livros, em razão
de o número ser extenso e de serem facilmente
localizados no cv lattes.

3) Considerando a Análise da Conversação como Ciência,


quais são seus procedimentos metodológicos e suas prin-
cipais categorias analíticas?
Os procedimentos metodológicos que adotei corresponde-
ram à análise qualitativa dos dados coletados empiricamente,

264
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

a partir de interações reais face a face. Esses dados eram


transcritos de acordo com as normas do Projeto NURC-SP.
Inicialmente, como categoria de análise, optei pelo tópico
discursivo, mais especificamente quanto à mudança de tópico
na conversação e aí já inseri discussões sobre frames. Esses
procedimentos e categorias nortearam minha pesquisa de
mestrado, defendida na PUCSP, em 1991, que teve por título A
mudança de tópico no discurso oral dialogado. No doutorado,
continuei com a linha teórica da AC, porém já com mais
acréscimos. Hoje, já se adotam procedimentos quali-quanti,
dados os resultados diferenciados que são passíveis de ser
alcançados.

4) Quais são as preocupações específicas da Análise da


Conversação que a diferenciam de outras teorias do texto?
Além da coleta de dados a partir de interações reais, em
sua maioria, face a face, o que não se verificava em pesquisas
brasileiras voltadas ao texto/discurso na década de 1980, a AC
preocupa-se com o que ocorre durante o envolvimento entre
os participantes da atividade conversacional, de tal modo
que a sintaxe que se apresenta constitui um todo em termos
de construção específica que não se repete, não resulta de
memorização, e para a qual contribuem elementos não só lin-
guísticos mas também de toda ordem, como suprassegmentais,

265
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

paralinguísticos com a inserção da corporalidade e, atual-


mente, de memes, por exemplo. A AC preocupa-se em estudar
o que os falantes fazem enquanto conversam, interagem e
processam as formulações que são imprevisíveis de ante-
mão, espontâneas e que revelam mecanismos de organização
específicos ao texto falado. Na construção da textura conver-
sacional, os participantes formulam, reformulam, repetem,
corrigem seus textos, conferindo-lhes coesão e coerência que
se constituem de modo específico em interações face a face.
Todos esses elementos delineiam os estudos da AC e a tornam
uma teoria com contornos específicos, diferenciando-a das
demais teorias que analisam o discurso.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces da Análise da
Conversação?
Entre as interfaces que sempre me interessaram, a
Cognição e a Retórica-Argumentação se destacam. A pri-
meira, por permitir delinear o processamento cognitivo que
se revela pelo todo interacional, com destaque para os frames
e as metáforas. A segunda, por propiciar que se conheça o
empreendimento argumentativo, as estratégias utilizadas

266
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

pelos participantes para persuasão do interlocutor, além de


conseguirmos observar a construção do ethos, o delineamento
do logos e o uso estratégico do pathós, elementos de extrema
importância na retórica aristotélica. Além disso, é inegável a
possibilidade de relação entre a Análise da Conversação e a
Análise Crítica do Discurso, tendo em vista a preocupação
desta última em observar as relações de poder e as ques-
tões de ideologia que permeiam e se inscrevem no discurso
nas sociedades. Claro está que a ACD também se interessa
pelos textos escritos, mas a AC muito tem contribuído para
a compreensão e a análise de textos falados na correlação
com a ACD.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Uma das maiores contribuições ocorreu em livro lançado
pela editora Cortez, como publicação conjunta com as pro-
fessoras Leonor Lopes Fávero (minha orientadora) e Maria
Lúcia Andrade. O livro foi lançado em 1999, teve por título:
Oralidade e escrita – perspectivas para o ensino da língua
materna e contou 8 edições e 3 reimpressões. Até hoje, vem
sendo adotado em pesquisas em nosso país e por disciplinas
que se dedicam a questões de oralidade no ensino. Nessa obra,
mostramos a importância de os professores conhecerem a

267
ZILDA GASPAR OLIVEIRA DE AQUINO

organização da língua falada para poderem ensinar seus alu-


nos, primeiramente, a observar como organizam seus textos
falados, e, em seguida, poderem produzir seus textos escritos
com propriedade, sem interferência de uma modalidade na
outra, por exemplo.
Além disso, em disciplinas oferecidas a professores e em
pesquisas realizadas por nossos orientandos em torno da
oralidade, tem sido possível a aplicação de trabalhos em sala
de aula voltados à construção da imagem pública/do ethos, à
interação e ao uso de argumentos em contextos diferenciados.
Assim, temos observado e registrado a riqueza de procedi-
mentos que podem ser utilizados em sala de aula a partir dos
conhecimentos da Análise da Conversação e de suas interfaces
com outras teorias e o ensino de língua portuguesa.

7) A quais avanços da Análise da Conversação na contem-


poraneidade daria destaque e como vê os desafios de seu
futuro?
Um grande desafio – que, aliás, sempre a acompanhou – é
dar mais visibilidade à AC. Estudar língua falada, apesar de
sua importância inconteste, sempre correspondeu a enfrentar
problemas quanto à posição de quem apenas conhece teorias
voltadas ao texto escrito. Penso estarmos ainda em uma fase

268
inicial de estudos, apesar de mais de três décadas de seu sur-
gimento no Brasil, dado o número reduzido de pesquisadores
que se interessam pela Análise da Conversação.
Um grande avanço não está restrito somente ao plano teó-
rico, em que a correlação com outras áreas do conhecimento,
como a Cognição, a Filosofia, a Sociologia, a Educação, e
outras disciplinas, como a Argumentação, se faz necessária,
mas também no plano de inclusão de uma disciplina voltada
aos estudos da língua falada nos cursos superiores de Letras
e de Educação, visando à formação de professores aptos a
trabalharem com a língua falada em sala de aula, de modo a
valorizá-la tanto quanto se faz com a língua escrita e com a
produção nas mídias digitais.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Análise da Conversação?
Sem dúvida, a obra básica Análise da Conversação, de Luiz
Antonio Marcuschi, editora Ática; também a de Catherine
Kerbrat-Orecchioni, Análise da Conversação: Princípios e
métodos. São Paulo: Parábola; todos os exemplares da coleção
do Projeto NURCSP, publicados pela editora da USP; além
de Oralidade e escrita – perspectivas para o ensino de língua
materna, de Fávero, Andrade e Aquino, editora Cortez.
09) O que chamamos hoje de Análise da Conversação possui
várias subáreas, cada uma com especificidades marcantes.
Em qual (ou quais) dessas subáreas você se situa e quais
são as suas características?
Conforme vamos dando continuidade às pesquisas que
realizamos, vamos criando certo perfil, uma identidade espe-
cificada que distingue cada pesquisador. Todas as subáreas são
de extrema importância, mas inicialmente estive bem atrelada
à Sociolinguística interacional, afeita aos estudos da AC, em
seguida, busquei aproximar-me dos preceitos da Análise
Crítica do Discurso, de Norman Fairclough, passei à junção
de Teorias da Argumentação, dado o fato de me interessar
pelas estratégias utilizadas na formulação dos discursos e,
atualmente, retomei as questões voltadas à Cognição, que havia
iniciado no final dos anos 1980 e que se constitui da análise
dos frames no discurso. Tendo em vista os avanços no meio
digital, acabei por incorporar essa mídia em minhas análises.

10) Caso haja outros aspectos relevantes que não contem-


plamos nas questões anteriores, poderia apresentar-nos?
Uma questão importante, para finalizar, considero a tarefa
de nosso GT. A Análise da Conversação merece ter mais
visibilidade. Se observarmos o número de pesquisadores
adeptos à Linguística de texto comparado aos participantes
que se voltam à AC em nosso GT, já teremos um quadro da
situação em que se encontra e que chega a ser preocupante.
A abertura para um público maior, por meio de ações
concretas, poderia permitir que se apresentasse a importância
e a necessidade de se ampliarem estudos na área. Além disso,
levar conhecimentos dos preceitos da AC para professores de
todos os níveis de escolaridade permitiria, não tenho dúvidas,
a melhoria dos resultados junto aos alunos no ensino de
língua portuguesa, além de que muitos professores poderiam
despertar interesse para serem pesquisadores na área.
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Os organizadores

Gil Roberto Costa Negreiros


Professor Associado do Departamento de Letras
Vernáculas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
onde atua na graduação em Letras (licenciatura e bachare-
lado) e na Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras (linha de
pesquisa “Estudos do Texto e Práticas Linguísticas”). É o
atual Diretor do Centro de Artes e Letras da UFSM (mandato
2022-2026). Tem experiência na área de Letras (língua portu-
guesa) e Linguística, com ênfase nas seguintes áreas: Análise
da Conversação, Sociolinguística Interacional, Linguística
Textual e Pragmática.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/5584643092386755

Ana Rosa Ferreira Dias


Professora do quadro de carreira, categoria titular, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
atuando como nos cursos de Pós-Graduação de Língua
Portuguesa e de Literatura e Crítica Literária; e professora
doutora efetiva da Universidade de São Paulo (USP), atuando
no Curso de Letras. Tem experiência na área de Letras, com
ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos
seguintes temas: jornalismo popular, redação de vestibular,
discurso da violência, discurso literário, humor e criticidade.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/0891735141191969

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