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PLANEAMENTO

UFCD
4331 TURÍSTICO E IMPACTOS
DO TURISMO
ufcd 4331 – Planeamento turístico e impactos do turismo

ÍNDICE

Introdução...................................................................................................................2

Âmbito do manual.....................................................................................................2

Objetivos..................................................................................................................2

Conteúdos programáticos...........................................................................................2

Carga horária............................................................................................................3

1.Planeamento turístico.................................................................................................4

1.1.Noção.................................................................................................................5

1.2.Etapas................................................................................................................7

1.2.1.Análise da procura.........................................................................................7

1.2.2.Análise da oferta..........................................................................................11

1.2.3.Previsão da procura.....................................................................................15

1.2.4.Custos de financiamento e implementação do plano.......................................20

1.2.5.Monitorização e avaliação.............................................................................21

2.Conceito de plano....................................................................................................23

2.1.Realidades.........................................................................................................24

2.2.Objetivos...........................................................................................................25

2.3.Implementação..................................................................................................26

3.Impacto turístico......................................................................................................29

3.1.Ambiental..........................................................................................................31

3.2.Social................................................................................................................34

3.3.Cultural.............................................................................................................39

3.4.Económico.........................................................................................................42

Bibliografia.................................................................................................................46

Termos e condições de utilização.................................................................................47

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Introdução

Âmbito do manual

O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de formação de


curta duração nº 4331 – Planeamento turístico e impactos do turismo, de acordo
com o Catálogo Nacional de Qualificações.

Objetivos

 Reconhecer a importância do planeamento no âmbito do turismo.


 Definir plano turístico e caracterizar as suas etapas.
 Definir estratégias conducentes à preparação de um plano de turismo.
 Avaliar o impacto do turismo sobre o meio ambiente e a economia.
 Enumerar os efeitos do turismo nas estruturas sociológicas e culturais.

Conteúdos programáticos

 Planeamento turístico
o Noção
o Etapas
 - Análise da procura
 - Análise da oferta
 - Previsão da procura
 - Custos de financiamento e implementação do plano
 - Monitorização e avaliação
o Conceito de plano

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 Realidades
 Objetivos
 Implementação
 Impacto turístico
o Ambiental
o Social
o Cultural
 - Económico

Carga horária

 50 horas

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1.Planeamento turístico

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1.1.Noção

O turismo tem-se revelado, em muitos países e regiões, como um motor importante de


desenvolvimento económico e de transformações sociais.

Em alguns casos, é o único elemento de dinamização económica do país/região, quer como


saída de um subdesenvolvimento crónico, quer para se recuperar do fosso gerado por
outras atividades outrora prósperas.

Atualmente, não deixa de gerar surpresa o elevado nível de rendimento por habitante que
auferem as regiões, cuja especialização é a atividade turística, destacando-se das outras
atividades produtivas.

No contexto do planeamento e desenvolvimento do turismo, este é definido como um


fenómeno multifacetado e interdisciplinar que envolve a inter-relação de componentes dos
produtos turísticos, de atividades e serviços fornecidos por entidades públicas e privadas.
Um conhecimento destes componentes é requerido para o sucesso do planeamento e
gestão do turismo.

Embora muitos dos governos foquem, principalmente, os benefícios económicos positivos,


tem-se vindo a reconhecer os potenciais custos ao nível social e ambiental e a necessidade
de investigação cuidadosa ao nível dos efeitos não económicos.

A necessidade da realização de planeamento estratégico em turismo e da intervenção do


governo, no processo de desenvolvimento, são as respostas típicas para os efeitos não
desejados do desenvolvimento do turismo, particularmente ao nível local.

O planeamento, no sentido amplo de um processo orientado, deve estar apto a minimizar


os potenciais impactos negativos, a maximizar os retornos económicos do destino turístico
e a encorajar uma resposta mais positiva da comunidade local relativamente ao turismo,
em termos de longo prazo.

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Genericamente, o processo de planeamento passa por um sistema composto por três


elementos: a informação, a decisão e a ação. Este sistema é contínuo, pois a cada ação
novas informações são agregadas, conduzindo a novas decisões e novas ações.

INFORMAÇÃO

ACÇÃO DECISÃO

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1.2.Etapas

O planeamento turístico compreende várias etapas:


 Diagnóstico
 Estabelecimento de objetivos e metas
 Definição de meios de obtenção dos resultados
 Implementação do plano
 Acompanhamento e avaliação

ANÁLISE DA PROCURA

ANÁLISE DA OFERTA

PREVISÃO DA PROCURA

IMPLEMENTAÇÃO

AVALIAÇÃO

1.2.1.Análise da procura

A análise da procura deve permitir responder a certas questões quantitativas respeitantes à


frequentação existente: quantos clientes? Que produtos turísticos consumiram? Onde

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ficaram hospedados (estabelecimento/local)? Durante quanto tempo (duração da estadia


por pessoa)? Quando (estação)? Que quantia gastaram no local?

Importa igualmente recolher informações qualitativas: que tipo de clientes (grupos-alvo)


vieram? Donde? O que é que esperavam, o que é que os atraiu, etc.? O que apreciaram
mais? O que apreciaram menos?

Note-se que, embora seja relativamente fácil obter dados quantitativos, desde que existam
estatísticas locais sobre o turismo, só um inquérito de terreno (junto dos clientes) permitirá
recolher informações qualitativas.

Análise quantitativa

Convém distinguir os “turistas” (clientes com estadia de pelo menos uma noite) e os
“excursionistas” (visitantes de um dia).

Conhecer a repartição das dormidas e das chegadas ao longo do ano permite determinar
as altas e as baixas estações e saber a que momento se deve melhorar a oferta e a
comercialização, a fim de utilizar os estabelecimentos e equipamentos turísticos o mais
tempo possível ao longo do ano.

É aconselhável comparar estes números num período mais longo para observar a evolução
do sector turístico local.

Identificar a repartição geográfica da procura na zona é também uma ajuda e informa


sobre os locais mais frequentados e os que só são visitados por um pequeno número.

É necessário determinar paralelamente a repartição das dormidas e das chegadas entre os


diferentes modos de alojamento (hotéis, parques de campismo, casas rústicas, quartos de
hóspedes, etc.).

Análise qualitativa

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Só um inquérito direto junto dos clientes permitirá obter informações qualitativas, ao


mesmo tempo que tornará possível a recolha de informações sobre os excursionistas.

Com efeito, estes últimos são mais difíceis de estudar porque, não pernoitando, não ficam
registados nos locais de alojamento.

Há um questionário em função das informações procuradas. Pode, por exemplo, incluir as


questões seguintes:
> Momento da viagem;
> Duração da viagem;
> Objetivos da viagem;
> Tipo de viagem (acompanhado? Não acompanhado?);
> Meio de transporte;
> Modo de alojamento;
> Ocupações durante as férias;
> Motivações, aspirações, grau de satisfação;
> Reputação do local;
> Escolha do local de férias;
> Gastos durante as férias;
> Frequência das férias no passado e planos de férias futuras;
> Dados estatísticos (idade, sexo, nível de escolaridade, profissão, rendimentos,
local de residência habitual).

O processamento destas informações facilita a elaboração de produtos turísticos que


respondam às aspirações de diferentes grupos-alvo. Estes dados são igualmente
necessários para o lançamento de uma campanha de promoção eficaz (estratégia
específica, escolha dos suportes mediáticos, etc.).

Métodos da análise da procura

A análise da procura turística local faz apelo à investigação documental (principalmente o


exame das estatísticas existentes sobre o número de dormidas) e aos estudos realizados

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regularmente no terreno (sob a forma de inquéritos orais, escritos ou por telefone junto
dos clientes). O conjunto permite dispor de informações pertinentes.

A elaboração do questionário e a escolha do método utilizado deveriam, pelo menos a


primeira vez, ser efetuadas em colaboração com especialistas. Contudo, há outras
possibilidades de menor envergadura que nem sempre dão resultados suficientemente
representativos.

> Os formulários de inscrição dos clientes dos prestadores de alojamento podem


fornecer informações úteis: ao lado de informações sociodemográficas (proveniência,
idade, sexo, etc.), estes formulários contêm também muitas vezes um certo número de
questões qualitativas (meio de transporte utilizado, pessoas que fazem parte da viagem,
etc.). O seu processamento (computorizado) fornece dados preciosos relativos às
características da clientela, à sua proveniência e aos meios de transporte utilizados.

> A anotação das chapas de matrícula automóvel permite saber facilmente a


proveniência dos visitantes. Pode-se, por exemplo, efetuar esta anotação nos parques
automóveis dos restaurantes e dos centros de recreação ou na proximidade de locais muito
frequentados. Pode-se aproveitar igualmente para interrogar os ocupantes dos veículos
(idade, sexo, número de filhos, etc.).

> A organização regular de mesas redondas com convidados selecionados entre a


clientela pode permitir recolher algumas informações qualitativas sobre as características
e aspirações dos visitantes.

Todavia, esta fórmula não pode ser considerada como complementar de outros inquéritos
para não se incorrer no risco de interpretações subjetivas e erróneas.

> Podem ser efetuados inquéritos individuais junto da clientela, desde que não lhes
tomem muito tempo. Note-se que é possível, muitas vezes, beneficiar de uma ajuda em
termos de metodologia e de realização deste tipo de inquérito no âmbito de uma
cooperação com uma universidade ou um estabelecimento de ensino superior.

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1.2.2.Análise da oferta

Elementos indispensáveis

Antes de mais, a análise da oferta turística local deverá possibilitar o levantamento dos
elementos seguintes:

Fatores naturais:
> Situação geográfica e extensão do território
> Situação geológica e condições climáticas
> Planos de água (mar, rios, lagos, etc.)
> Paisagens, fauna e flora

Fatores socioeconómicos:
> Estrutura económica (importância dos diversos sectores de atividade, etc.)
> Estrutura sociodemográfica (pirâmides etárias, saldo migratório, repartição
socioprofissional, etc.)
> Estrutura político-administrativa

Infraestruturas e serviços disponíveis:


> Equipamentos (água, gás, eletricidade, tratamento de resíduos, etc.)
> Transportes (rede rodoviária, ferroviária, transportes coletivos, etc.)
> Serviços (comércios, serviços de saúde, etc.)

Fatores culturais:
> História
> Tradições/produtos artesanais locais
> Configuração dos locais
> Monumentos e curiosidades
> Locais a visitar, visitas com guia
> Distrações, acontecimentos culturais, etc.

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Oferta: desporto e tempos livres


> Desportos náuticos, natação
> Aviação
> Equitação
> Passeios pedestres e cicloturismo
> Desportos de Inverno
> Golfe
> Outras atividades desportivas e de lazer

Oferta: saúde e curas


> Termalismo, curas, cuidados de saúde, condição física, desenvolvimento pessoal
> Terapias

Oferta: alojamento
> Capacidade global
> Repartição da oferta de camas e de estabelecimentos de alojamento segundo a
capacidade de alojamento
> Repartição da oferta de camas e de estabelecimentos de alojamento segundo o
tipo de alojamento
> Repartição local dos estabelecimentos de alojamento
> Qualidade e tarifas
> Possibilidades de férias na quinta, casas rústicas
> Campismo, caravanismo
> Desenvolvimento da oferta de alojamento

Oferta: restauração
> Capacidade global
> Repartição local dos restaurantes
> Qualidade e preço

Possibilidades de organização de conferências e seminários


> Centro (s) de congressos e de exposições

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> Hotéis com salas para seminários e os respetivos equipamentos técnicos

Mas na perspetiva de um desenvolvimento local apoiado no turismo, a análise da


oferta deve ir além destes elementos e considerar também os fatores seguintes:

População local
> A população está sensibilizada para o turismo?
> Quais são as suas aspirações?
> Como poderá contribuir para o seu desenvolvimento?
> Já existe um plano de desenvolvimento turístico?
> Quem pode desempenhar o papel de “locomotiva” e empreender os primeiros
projetos?
> Quem “faz” a opinião e quais são os “multiplicadores”?

Organizações turísticas locais


> Quais são as organizações turísticas já ativas localmente?
> Quais são as suas competências e campos de atividade?
> Quem são as pessoas que lá trabalham? A que título?
> De que orçamento dispõem?
> Quais são as possibilidades de cooperação com esses organismos?
> Quais são as atividades previstas?

Comercialização turística
> Qual é a política seguida quanto à oferta e ao preço?
> Quais são os canais de distribuição utilizados?
> Quais são os instrumentos de comunicação utilizados (publicidade, relações
públicas, vendas)? Quais são as suas qualidades e os seus defeitos?
> Quais são as estratégias de comercialização previstas?

Formação turística
> Qual é o nível de qualificação das pessoas que trabalham no turismo?
> Quais são os défices em matéria de formação?

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> Quais são as possibilidades de formação profissional, inicial e contínua a nível


local e regional?
> Quais são os programas de formação que considera necessários mas que não
existem localmente?

Cooperação entre operadores turísticos locais


> Que cooperações existem a nível local (encontros regulares entre hoteleiros,
adaptação das horas de abertura dos restaurantes, etc.)?
> Quem são os parceiros potenciais prontos a cooperar na zona em questão?
> Já há projetos? Há sinergias possíveis?

Apoio, ajudas, concursos


> Quais são as possibilidades de apoio aos agentes da economia turística?
> Há concursos no domínio do turismo nos quais poderia ser interessante
participar?

Métodos da análise da oferta

A análise da oferta necessita simultaneamente de investigação documental e de


investigação no terreno (consulta de pessoas-recursos, visitas aos locais, etc.).

Depois de ter determinado exatamente o território pertinente a estudar, começa-se por


recolher as informações a nível de cada autarquia, até se dispor dos dados essenciais para
o conjunto desse território.

Para facilidade de leitura, os resultados serão apresentados não só em texto ou em


quadros, mas também em gráficos. A realização de um mapa, comportando pictogramas
que indiquem claramente os sítios, alojamentos e equipamentos turísticos existentes no
território, permite, por exemplo, visualizar bem a oferta turística de um território.

Para analisar a oferta, torna-se muitas vezes útil para as duas partes uma cooperação com
as universidades e as escolas do ensino superior.

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No que diz respeito à imagem do território, outro elemento essencial da oferta, é


importante assegurar uma função de “vigilância”.

Para isso, bastam certos métodos muito simples: a consulta regular da imprensa diária, das
revistas especializadas, dos diferentes órgãos de comunicação social, etc. informa sobre a
evolução da opinião pública, permite antecipar as tendências e utilizar as informações
obtidas para operações de relações públicas.

1.2.3.Previsão da procura

As previsões da procura baseiam-se em dois tipos de análise: análise da concorrência e


análise das tendências.

Análise da concorrência

Elementos essenciais

A análise da concorrência consiste em reunir e analisar o máximo de informações possível


sobre os territórios concorrentes existentes e potenciais. Esta iniciativa, que supõe,
naturalmente, um conhecimento preciso dos seus próprios produtos turísticos, visa
responder às questões seguintes:
> Quais são os principais territórios concorrentes?
> Que produtos colocam no mercado?
> Quais são os seus pontos fracos e os seus pontos fortes?
> Como explorar utilmente as informações recolhidas sobre a concorrência?

É difícil definir os concorrentes, dada a diversidade e complexidade dos produtos visados,


mas, em teoria, todo o “destino de férias” pode ser considerado concorrente.

Um inquérito objetivo deverá incidir em regiões que ofereçam produtos turísticos


semelhantes aos do território visado e em zonas limítrofes ou próximas, sendo estas
últimas concorrentes sérios da clientela excursionista.

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A análise da concorrência pode levar às estratégias seguintes:


 Estratégia 1: “lmitar a concorrência” - Reprodução integral de um produto,
prestação ou conceito da concorrência.
 Estratégia 2: “Inspirar-se da concorrência” - Imitação de um produto, prestação,
conceito ou ideia da concorrência, embora reproduzido de outra forma.
 Estratégia 3: “Demarcar-se da concorrência” - Privilegia-se um produto, prestação,
conceito ou ideia que a concorrência não desenvolveu.

Cada uma destas estratégias tem vantagens e inconvenientes:

A estratégia 1 oferece a possibilidade de evitar os custos de inovação e de diminuir os


riscos de insucesso. Mas não permite diferenciar-se dos outros territórios, o que não lhe
traz qualquer vantagem comparativa em relação à concorrência.

A estratégia 3, em contrapartida, proporciona vantagens reais no mercado. Cria um


carácter de exclusividade que assinala ao mesmo tempo a chegada de novos produtos. No
entanto, é evidente que esta abordagem tem custos elevados e riscos de insucesso;

A estratégia 2 constitui um compromisso que comporta simultaneamente certas vantagens


e inconvenientes das duas abordagens. A análise da concorrência não deve conduzir à
criação de rivalidades, mas permitir, ao contrário, perceber melhor a sua posição no
mercado.

Métodos de análise da concorrência


Regra geral, basta uma investigação documental para obter as informações que permitam
analisar a concorrência. Podem-se utilizar como principais fontes de informação as
publicações dos concorrentes (relatórios turísticos, brochuras diversas).

A sua publicidade inserida em jornais, revistas especializadas, etc. Permite detetar, por
exemplo, a sua estratégia promocional (conceito, mensagem, slogan, suportes publicitários
escolhidos, etc.).

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O contacto com especialistas e associações do sector, a visita a salões do turismo, ou


mesmo os contactos pessoais, oferecem igualmente a possibilidade de recolher sem grande
custo outras informações.

Análise das tendências

A avaliação do potencial turístico de um território deve ter em conta a evolução das


condições exteriores gerais, nomeadamente as tendências que afetam o comportamento
dos consumidores: trata-se, com efeito, de antecipar as oportunidades e os riscos inerentes
às novas aspirações das diversas clientelas, a fim de poder elaborar novos produtos
turísticos adaptados a estas evoluções.

Para cada nova tendência identificada, é importante pôr as seguintes questões:


> Em que é que esta tendência envolve o território?
> Como afeta os concorrentes?
> A procura evolui no sentido dos pontos fortes da oferta turística local?
> Como tirar partido desta evolução?

Escusado será dizer que é muito difícil prever as tendências futuras exatas, sobretudo num
contexto de interpenetração crescente das culturas e da mundialização dos mercados.

Pode-se, apesar de tudo, mencionar algumas tendências gerais que, se forem tidas em
conta, poderão facilitar a tomada de decisão:
> A liberalização dos transportes aéreos, que engendrou uma baixa das tarifas,
provoca um forte aumento das deslocações, embora não se possam identificar
perentoriamente preferências vincadas para destinos precisos;
> Efeitos de “moda” ou acontecimentos de natureza geopolítica podem ter um
impacto muito importante na frequentação turística deste ou daquele território;
> Num contexto de internacionalização da concorrência e de expansão do sector
(entrada de um número considerável de novos operadores no mercado), assiste-se
a uma multiplicação dos produtos turísticos;

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> A abolição total dos controlos nas fronteiras internas da União Europeia e a
introdução da moeda única são outros tantos fatores que deveriam facilitar as
viagens;
> Em contrapartida, se a procura vier a estagnar, assistir-se-á a um
recrudescimento da concorrência em toda a Europa.

De qualquer modo, em matéria de orientação geral das políticas de desenvolvimento


turístico, há que esperar em todo o lado ações tendentes a:
> Melhorar a proteção do ambiente;
> Profissionalizar ou, em todo o caso, formar melhor os operadores turísticos;
> Dessazonalizar a frequentação turística;
> Melhorar as infraestruturas de transporte;
> Promover novas fórmulas de estadia;
> Aperfeiçoar os métodos de estudo de mercado e de marketing turístico;
> Aumentar a proteção do consumidor (rótulos de garantia de qualidade,
classificação dos diferentes produtos, controlo dos preços, etc.);
> Generalizar a utilização de sistemas telemáticos de reserva.

Do mesmo modo, os intervenientes locais do sector deverão elaborar produtos turísticos


que conjuguem as vantagens comparativas do seu território com as tendências presentes
ou previsíveis da procura:
> Nos próximos 30 anos, aumentará de 50% o número de pessoas com mais de 60
anos, diminuindo de 11% o número das que terão menos de 20. O envelhecimento
da população europeia aumenta sensivelmente o mercado dos turistas idosos;
> O interesse pelas questões ligadas ao ambiente e à saúde não pára de crescer;
> Observa-se uma tendência dos consumidores a abandonar o turismo de massa e
preferir produtos mais diferenciados;
> Já não existe consumidor “médio”, definido segundo características
sociodemográficas bem precisas;
> O “novo” consumidor exprime aspirações e escolhas de fórmulas de viagem
aparentemente contraditórias (a restauração rápida e as partidas de última hora
estão na mesma linha que as refeições gastronómicas e os cruzeiros de luxo);

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> A clientela urbana tende a partir menos tempo e mais vezes; daí a vantagem de
destinos com trajetos não muito longos ou de acesso fácil;
> O aumento do tempo livre e da mobilidade daí decorrente não deixarão de
provocar o aumento do tráfego rodoviário, o que contraria as aspirações do turista;
> Aumento do número de turistas à procura de férias calmas, num ambiente bem
preservado.

Métodos de análise das tendências

Recomenda-se, por razões de custos, recorrer essencialmente a estudos já realizados: com


efeito, é pouco provável haver localmente recursos financeiros e humanos para efetuar um
estudo aturado das tendências. A maior parte dos grupos de ação local pode, no entanto,
realizar eles mesmos as suas próprias análises, menos ambiciosas, mas extremamente
úteis.

É possível, por exemplo, organizar um debate que reúna turistas e profissionais locais do
turismo, bem como uma amostra representativa da população.

No primeiro encontro, pede-se aos participantes a elaboração de uma lista dos pontos que
lhes pareçam mais pertinentes em termos de:
> Tendências na sociedade (novos modos de vida, comportamentos mais
“individualistas”, gosto por uma alimentação mais sã, etc.);
> Tendências em matéria de turismo (férias “natureza”, férias “ativas”, etc.);
> Mudanças percetíveis na zona (aumento do consumo de produtos locais,
frequentação mais importante deste ou daquele sítio, etc.).

Para ser mais eficaz, o debate pode assumir a forma de discussão de grupo (uma dezena
de participantes, no máximo).

Trata-se, em seguida, de reunir e estruturar as observações recolhidas durante a operação


e de as confrontar com as outras fontes disponíveis (estudos de mercados externos, etc.).
As tendências são, então, classificadas e avaliadas em função do seu impacto geral e da
sua importância específica para o meio local.

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1.2.4.Custos de financiamento e implementação do plano

Implementação

A implementação do plano exige uma coordenação de ações. Não basta apenas definir as
responsabilidades, pois as ações definidas no plano possuem uma correlação que precisa
que as mesmas ocorram de forma coordenada.

Assim, recomenda-se que haja uma estrutura organizacional responsável pelo


acompanhamento da implementação do plano.

Considerando que a implementação das ações depende de organismos públicos a vários


níveis (municipal, regional e nacional), de empresas turísticas e da comunidade como um
todo, essa organização não pode ser exclusivamente pública nem tão-pouco privada.

Assim, convém que a implementação do plano seja acompanhada por um Conselho de


turismo (Municipal, regional ou nacional, conforme a área geográfica do plano), cuja
composição contenha representantes de todos os segmentos da sociedade envolvidos com
o desenvolvimento turístico.

Desta forma, o conselho deverá ser composto por representantes do poder público
(sectores do turismo, obras públicas, segurança, educação, cultura, etc.), do sector
turístico (hoteleiros, agentes de viagens, restaurantes, transportadoras, organizadores de
eventos, empresários do sector do entretenimento, entre outros), bem como da
comunidade local (Organizações não governamentais, associações de moradores,
associações de trabalhadores e profissionais liberais, etc.)

Este conselho de turismo deverá ter como responsabilidade acompanhar a execução do


plano, resolvendo as pendências existentes entre as tarefas de organismos diferentes,
avaliando a eficácia dessas ações em confronto com as restantes e corrigindo o seu rumo,
quando necessário.

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Tem também a função de se constituir como um meio de comunicação mais rápido entre
os vários agentes envolvidos com o plano.

Para isso, é necessário que os representantes dos vários segmentos componentes do


conselho sejam verdadeiramente representativos dos seus sectores, de forma a que as
resoluções desse conselho possam chegar mais efetivamente aos agentes envolvidos no
processo.

Além da estrutura organizacional de acompanhamento da implementação do plano, há a


necessidade de que as ações sigam uma sequência lógica que racionalize os investimentos
e permita um crescimento sustentado dos fluxos turísticos.

1.2.5.Monitorização e avaliação

O acompanhamento e avaliação do plano exige a montagem de alguns sistemas de


monitorização do fenómeno turístico.

A criação de um sistema de informações de mercado revela-se fundamental na gestão do


planeamento turístico.

Este sistema constitui-se como um banco de dados, permanentemente atualizado com um


conjunto de informações que permitam avaliar os resultados da atividade.

O banco de dados pode conter as seguintes informações:


 Registo dos serviços turísticos
 Taxas de ocupação dos equipamentos turísticos
 Volume de visitantes por categoria na localidade
 Permanência média dos turistas na localidade
 Gasto médio dos turistas na localidade
 Número de trabalhadores do sector
 Faturação média das empresas turísticas
 Impostos decorrentes da atividade

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 Avaliação dos turistas quando aos atrativos e serviços


 Registo dos operadores e agências de turismo dos mercados emissores de turistas
 Banco de imagens dos atrativos e infraestruturas da localidade.

Estes elementos são alguns exemplos de informações que permitem medir os impactos do
turismo. Certamente, o acompanhamento de informações externas à localidade também é
importante.

Os dados referentes ao comportamento dos mercados emissores é de maior importância


para o planeamento dos produtos e serem oferecidos localmente.

Os métodos para a recolha dessas informações são os mais diversos possíveis. A


contabilização dos fluxos de desembarque nos terminais de passageiros aéreos,
rodoviários, ferroviários e aquáticos é um dos métodos.

A implementação de formulários para serem preenchidos pelas empresas turísticas é outro


método. O importante é que as informações sejam confiáveis e permanentemente
atualizadas.

Não raramente, o orçamento destinado ao turismo é insuficiente, porque o sector não


consegue demonstrar às autoridades económicas a sua importância em termos de geração
de receitas e emprego. Sem estas medidas, essa demonstração é impossível.

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2.Conceito de plano

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2.1.Realidades

Ao nível do destino turístico, os elementos do processo de planeamento estratégico podem


ser aplicados de forma a alcançar um plano integrado passível de ser gerido, em tempo útil
e com eficiência de custos.

Um processo integrado de planeamento estratégico em turismo pretende responder às


seguintes questões:
(1) Para onde se deseja ir?
(2) Como se vai lá chegar?
(3) Como se sabe que se está a chegar lá?

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2.2.Objetivos

Para onde se deseja ir?

O primeiro passo de um processo de planeamento estratégico é identificar os propósitos


que a organização e/ou o responsável pelo planeamento deseja alcançar, para os ordenar
pela sua importância e para considerar como estão longe de se conciliarem uns com os
outros.

Antes dos objetivos ficarem explícitos, ninguém pode ter a certeza que eles serão
partilhados pelas pessoas para quem foram planeados; nem é possível de forma racional
preferir um plano a outro plano.

A formulação da missão, meta e objetivo, é porventura a componente crítica do


planeamento estratégico em turismo. Uma missão organizacional, metas e objetivos são
altamente interdependentes.

A formulação da declaração de missão e o desenvolvimento de metas e objetivos


necessitam de ser conduzidos em mão com a análise estratégica e a visão estabelecida.

A seleção de metas e objetivos é também muito importante, em termos de turismo


sustentado, porque eles conduzem à seleção de indicadores, pelos quais se atinge o
sucesso.

Contudo, a seleção de metas, objetivos e indicadores não é uma tarefa fácil, pois o
problema surge da integração de programas individuais (municípios) num plano coerente
(regional/nacional).

Esta questão levanta-se não só ao nível do que está contido no seio do documento de
planeamento, mas também no que respeita à estrutura organizacional e aos valores

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possuídos por aqueles que têm a responsabilidade da formulação e da implementação do


planeamento estratégico.

2.3.Implementação

Como se vai lá chegar?

Por causa do crescimento fragmentado da indústria do turismo, o planeamento global da


totalidade do sistema do turismo está atrasado, não há uma política global, uma filosofia
ou uma força de coordenação que conduza as muitas peças do turismo para uma harmonia
e assegure a continuidade do seu funcionamento harmonioso.

A necessidade de coordenação começa a ser uma das mais evidentes verdades do


planeamento e da política do turismo. Existe uma fraqueza séria na máquina dos governos
na negociação com o turismo relativamente à coordenação e cooperação com os
operadores quer públicos quer privados.

As políticas governamentais ou a falta delas sugerem uma obsolescência na administração


pública dedicada ao turismo.

A coordenação normalmente refere-se ao problema das decisões relacionadas, para que


elas se ajustem. Não se está a falar de propostas cruzadas, mas sim, de que as propostas
conduzam a uma razoável consistência e coerência das decisões.

Por seu lado, a coordenação é uma atividade política e será por causa disso que a
coordenação se traduz numa extrema dificuldade, especialmente, na indústria do turismo,
em que são em grande número as partes envolvidas no processo de tomada de decisão.

Numa abordagem colaborativa em relação ao planeamento estratégico, a atenção está


direcionada para o desenvolvimento de um planeamento com os stakeholders, em vez de
um planeamento para os stakeholders.

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Esta abordagem reforça a natureza complexa da gestão de um destino turístico, pelo


reconhecimento de que as opiniões, perspetivas e recomendações dos stakeholders
(externos) são justas e legítimas, como são as dos responsáveis pelo planeamento, dos
especialistas e dos responsáveis pela indústria.

Os resultados deste processo têm mais sucesso na sua implementação, porque os


stakeholders têm um maior grau de pertença, face ao plano e ao seu processo.

Para além disso, este processo pode estabelecer maior cooperação entre os vários
stakeholders no suporte às metas e aos objetivos das organizações do turismo; pode
também criar as bases para responder, de forma mais eficiente às mudanças.

Como se sabe que se está a chegar lá?

A avaliação, tomada numa base mais estratégica, está a começar a ser uma componente
significativa da política e do planeamento em turismo.

A avaliação consiste num qualquer processo que permita ordenar preferências. Para outros
autores, a avaliação confina-se a avaliar o que acontece após a implementação da
política/medida.

A monitorização constante das políticas de turismo pode alertar os decisores e os


legisladores para situações, em como as políticas oficiais estão a enviesar o sistema ou
situações em que as políticas não estão a atingir o público desejado.

Avaliar o programa, em termos dos seus objetivos originais”, pode revelar que a política
não está ser corretamente aplicada e que não conduzirá ao efeito planeado.

O sucesso ou insucesso das políticas pode resultar de muitos dos aspetos relacionados com
a sua elaboração (ambiguidade dos objetivos e das intenções), da implementação, da
política (burocracia e forças incontroláveis) ou de forças imprevistas (económicas, políticas
e sociais) e, ainda, da criação de mudanças nas necessidades públicas.

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ufcd 4331 – Planeamento turístico e impactos do turismo

A avaliação é uma tarefa dinâmica do planeamento estratégico (e é um elemento chave do


pensamento estratégico).

A incorporação da monitorização e da avaliação, no princípio do planeamento do turismo,


permite que o tipo de informação, requerida para a monitorização e para a avaliação, possa
ser definida durante a formação do plano e por avanço antes da implementação do plano.

Neste sentido, os indicadores jogam um papel importante na mensuração do sucesso, no


alcance de metas e objetivos. Um indicador efetivo ou um conjunto de indicadores ajudam
os destinos a responder à questão: (3) como se sabe que se está a chegar lá?

Alguns modelos conceptuais e outras abordagens foram explorados no campo da estratégia


dos destinos turísticos, porém os estudos empíricos, os resultados dos testes e a validação
dos modelos propostos foram limitados.

É assim entendido como relevante que mais estudos se devem realizar para que a
investigação em planeamento estratégico de destinos turísticos possa contribuir para o
desenhar e selecionar de estratégias mais sustentáveis para os destinos.

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3.Impacto turístico

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Os impactos do turismo podem dividir-se nos seguintes campos:


 Impacto ambiental
 Impacto social
 Impacto cultural
 Impacto económico

AMBIENTAL SOCIAL

CULTURAL ECONÓMICO

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3.1.Ambiental

O Turismo como outras atividades humanas, executadas em larga escala, podem ter
consequências adversas para a terra, a vegetação e a vida animal nos locais onde ocorrem.

Uma das ironias da sociedade moderna foi a transferência da população para os centros
urbanos, coincidindo com a melhoria da mobilidade a qual permitiu que grande número de
pessoas se deslocasse ao meio rural, à montanha e às praias por motivos de lazer.

Elas são atraídas pelo ritmo de vida mais lento e tranquilo longe das cidades, pela
oportunidade de observar a vida animal selvagem ou pela busca do sol e de praia. As
consequências ambientais do turismo não podem ser isoladas das resultantes da
demografia, da tecnologia ou da agricultura.

Os problemas ambientais são agora temas centrais do planeamento, muito poucos projetos
são analisados, sem um estudo de impactos ambientais. A qualidade do meio ambiente é
um assunto central do desenvolvimento turístico pois o turismo depende de forma
dramática daquele.

Existe uma longa lista de danos ambientais causados pelos motivos mais diversificados que
adiante se analisam.

Tipos de Impactos Ambientais:

Positivos:
 Conservação de áreas naturais importantes;
 Conservação de locais arqueológicos e históricos e de carácter cultural e
arquitetónico;
 Melhoramento da qualidade ambiental;
 Aumento da atratividade ambiental;
 Melhoramento das infraestruturas;

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 Consciencialização para os problemas ambientais;

Negativos:
 Poluição
o Visual (arquitetónica);
o Água, Ar, Sonora;
o Congestão (veículos e pessoas);
o Detritos;
o Perturbação Ecológica;
 Catástrofes Naturais;
 Alteração dos Ciclos da Natureza;
 Problemas derivados do mau uso dos solos;
 Saturação populacional;
 Saturação dos serviços e equipamentos;
 Degradação de locais históricos e arqueológicos;

Medidas de Controlo dos Impactos Ambientais

 Uso de técnicas de descarga de resíduos sólidos com reciclagem dos produtos;


 Tratamento de resíduos líquidos;
 Construção de sistemas de drenagem adequados para prevenir inundações durante
os períodos chuvosos;
 Desenvolvimento de redes de estradas e transportes que evitem a congestão do
tráfego e simultaneamente evitem a poluição do ar;
 Criação de sistemas pedonais;
 Gestão de fluxos dos visitantes;
 Utilização de desenhos arquitetónicos e uso de materiais de construção que se
insiram no ambiente local;
 Utilização de sinalética adequada, não publicitária, com tamanhos adequados e
autorizados;
 Controlo do uso de barcos a motor;
 Controlo da recolha de espécies raras de plantas, animais, conchas, corais e peixes
ornamentais para venda como “souvenirs” turísticos;

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 Proibição de deterioração de áreas de corais;


 Entre outros...

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ufcd 4331 – Planeamento turístico e impactos do turismo

3.2.Social

O Turismo é, sem dúvida, um agente de mudança, o que também se aplica aos aspetos
socioculturais.

Os turistas permanecem no país recetor por pouco tempo trazem consigo os seus valores e
expectativas.

Os turistas, sobretudo os que praticam um turismo de massas, viajam protegidos por uma
“bolha ecológica” (ecological bubble) – uma infraestrutura de facilidades baseada em
standards europeus que são criados até nos países mais pobres, que recria o meio
ambiente e os costumes do país de origem.

Em muitos países estes turistas não demonstram sensibilidade para com os habitantes
locais, nem para com a sua cultura. Ofendem sem disso ter consciência.

Qualquer país que recebe grande número de turistas acaba por se confrontar com uma
reação a esta situação.

A reação pode assumir um de dois aspetos:


 Rejeição;
 Aceitação (também designada por efeito de demonstração);

Em ambos os casos torna-se problemático, o que levanta algumas questões:


 Os turistas desconhecem usos, costumes e tradições locais (sobretudo os turistas
de massas);
 Os turistas produzem transformações no comportamento da população local,
levando ao desaparecimento de comportamentos e hábitos seculares;
 Os turistas permanecem num local, por algum tempo, aproveitando os seus
lazeres, enquanto o residente não tem muitas vezes a eles acesso.

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Índice de Irritação de Doxey e de Milligan

O efeito de demonstração (demonstration effect) leva a profundas alterações na sociedade


recetora:
 Esperança por parte dos residentes de atingir o nível de vida dos visitantes;
 Mudanças no campo político, religioso e moral;
 Aumento da delinquência por aumentarem também as oportunidades para exercer
essas atividades;

Outras consequências sociais do turismo:


 Criação de um artesanato e de um folclore para turistas;
 Tráfego de objetos com real valor artístico;
 Comportamentos por parte dos visitantes que chocam profundamente os habitantes
locais (ex: sex-tours, comportamento agressivo, excesso de álcool);
 Imagem do país recetor dada pelo operador turístico considerada desprestigiante
por parte dos residentes;
 Barreira linguística.

Um dos fatores chave na relação residente / visitante pode ser o volume. Com o aumento
do volume de turistas (conceito desenvolvido por Doxey) à medida que os visitantes
aumentam, as comunidades poderão atingir um ponto a partir do qual a irritação aumenta.

Vejamos, então, de uma forma mais desenvolvida algumas das consequências sociais e
culturais que o Turismo poderá acarretar:

Impactos Sociais

Turismo e Conduta Moral: Prostituição:


O crescimento da prostituição em certas zonas turísticas deve poder explicar-se a partir das
seguintes hipóteses:
1. O processo turístico criou locais e ambientes que atraem prostitutas e os seus
clientes: “Sun, Sea, Sand and Sex”;

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2. Pela sua natureza intrínseca Turismo quer dizer afastamento dos padrões puritanos
do quotidiano, sendo o anonimato assegurado pela distância do local de residência
e pela existência de dinheiro para gastar hedonisticamente. Estas condições
conduzem a sobrevivência e expansão da prostituição;
3. O Turismo proporciona oportunidades de emprego às mulheres o que lhes permite
usufruir de um melhor estatuto económico. Isto leva a uma liberalização de
costumes que pode levar algumas à prostituição para manter ou incrementar o seu
nível económico;
4. O Turismo é evocado como pretexto para justificar uma mudança de padrões
morais.

Crime

Neste caso também se podem encontrar argumentos explicativos de uma possível ligação
entre o Turismo e o Crime.
1. A densidade da população durante a época alta;
2. A localização da estância em relação à fronteira internacional;
3. O rendimento per capita dos residentes e dos turistas apresentar grandes diferença
o que encoraja o roubo;

Os efeitos do Crime nas comunidades recetoras parecem ser:


1. Aumento de despesas com o policiamento durante a época turística;
2. Perdas monetárias por roubo, vandalismo, estragos de propriedade, crescimento do
mercado negro;
3. Aumento da tensão;
4. A presença visível das forças policiais em patrulhas a pé e em controlo de trânsito
pode conduzir a um falso sentimento de segurança.

Jogo

A legalização do Jogo e a sua regulamentação foi feita com os seguintes objetivos:


 Gerar atividade turística;
 Gerar emprego e ativar a economia local;

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 Aumentar as fontes de rendimento, através dos impostos lançados sobre esta


atividade e das condições em que se fazia a concessão de exploração.

Apesar das objeções levantadas pela polícia local, pelas organizações religiosas e outros
grupos de pressão locais afirmando que esta nova situação atrairia as organizações
criminosas tipo Máfia, prostituição e violência.

Alguns destinos turísticos vivem contudo desta atividade como Monte Carlo, Las Vegas,
Tijuana, Atlantic City.

Religião

As peregrinações foram as viagens mais realizadas pelos homens desde a Antiguidade. As


peregrinações aos grandes templos egípcios e gregos foram relatadas pelos
contemporâneos.

Mais recentemente tornaram-se famosas as viagens realizadas pelos muçulmanos a Meca e


Medina, pelos cristãos a Roma, Fátima, Lurdes e Santiago de Compostela.

Os fiéis das grandes religiões ressentem-se, porém, das visitas realizadas pelos não
crentes, pelos turistas provenientes de espaços culturais e religiosos diferentes, acusando-
os de desvirtuarem a componente religiosa do local.

O Conselho Mundial das Igrejas em 1970 propôs que para obviar a violência dos impactos
se adotassem as seguintes medidas:

1. Educação da população local do país recetor. Incluiria uma reorientação das


atitudes para que desempenhassem o seu papel de forma responsável;
2. As igrejas e os países recetores devem manter relações que levem os visitantes a
dividir com os locais as ansiedades e problemas pessoais de forma amigável;
3. Assegurar aos turistas renovadas experiências como seres humanos, promover a
perceção das coisas menos percetíveis e promover uma renovação do pensamento
religioso.

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Língua
A língua é um instrumento de comunicação e parte dos atributos sociais e culturais de
qualquer povo.

Podemos avaliar os impactos do Turismo, neste domínio, tentando avaliar as relações entre
o crescimento turístico e as mudanças linguísticas ocorridas. Estas podem ocorrer pelos
seguintes motivos:

 Através das transformações económicas – os novos empregos associados ao


desenvolvimento turístico nem sempre são ocupados por naturais da região. Muitas vezes
regista-se uma forte imigração para ocupar esses cargos. Estes imigrantes exercem
pressão nos habitantes locais para falarem a sua língua;

 Através do “demonstration effect” – os residentes são muitas vezes levados pelos


turistas a interessarem-se por assuntos que ultrapassam os seus problemas locais.

Aspirações de atingir um estatuto idêntico aos turistas pode levar os residentes a adotarem
a língua ou alguns termos utilizados pelos visitantes.

 Através do contacto social direto – este tipo de influência exige comunicação direta o
que ocorre sobretudo com os trabalhadores ligados a serviços com relação direta ou
indireta com o Turismo. Estes têm por vezes tendência para abandonar a sua língua
materna e adotar a dos turistas.

Saúde:

1. O desejo de melhorar a estada física, mantendo assim a saúde é uma motivação


importante para a prática do Turismo;
2. A qualidade da saúde pública do país recetor melhora e enriquece o produto
turístico;
3. As doenças podem ser contraídas pelos turistas num local e transportado para
outro, por vezes para o país de origem.

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3.3.Cultural

 Comunicação Intercultural
 Formas materiais de Cultura
 Formas não materiais de cultura

Cultura: consiste num conjunto de modelos, explícitos e implícitos de e para


comportamentos adquiridos e transmitidos por símbolos, constituindo características de
grupos específicos e inclui os seus artefactos. O núcleo duro da cultura consiste em ideias
tradicionais (derivadas da sua história) e especialmente o valor que lhes é dado.

Assim, de acordo com esta definição a cultura é o elemento condicionante do


comportamento.

As mudanças culturais são induzidas por fatores internos e externos à cultura. A mudança
cultural, que ocorreria mesmo na ausência do Turismo é resultado das seguintes relações:
 A modificação do nicho ecológico ocupado pela sociedade;
 O contacto entre duas sociedades com culturas diferentes;
 A evolução da mesma sociedade;

As mudanças culturais introduzidas pelo Turismo ligam-se com a segunda razão de


mudança, ou seja, o contacto entre duas sociedades com culturas diferentes. Os
intercâmbios culturais entre turistas e comunidade recetora contribuem para promover a
compreensão mútua.

 O tipo de turistas – A tipologia de turistas de Cohen e de Plog, mais uma vez, ilustram a
forma como decorre as relações. Os alocêntricos ( Plog) e drifter’s e explorer’s desenvolvem
relações mutuamente enriquecedoras.

A forma como este tipo de turistas encaram a comunidade tentando conhecê-la e participar
da sua vida é gratificante para ambas as partes.

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ufcd 4331 – Planeamento turístico e impactos do turismo

Psicocêntricos e “organised and individual man tourists ” confinam o seu itinerário ao


proposto pelo Tour Operator e mantêm-se no seu ghetto onde tudo é familiar. Os
contactos são formais reduzidos à prestação de serviços e os próprios espetáculos culturais
(música, dança) são feitos para turistas, tal como o artesanato.

 O contexto temporal e espacial no qual têm lugar os contactos – a duração da estada, o


tempo de contacto entre os dois grupos, o espaço físico e social partilhado, a
compatibilidade e o desejo de ambos os grupos de dividir os seus valores, atitudes e
experiências.

 O papel dos intermediários – alguns indivíduos da comunidade recetora desempenham o


papel de Interpretes ou Guias, ou seja, são os porta-vozes da comunidade recetora. Têm a
grande responsabilidade de transmitir clara e concisamente os aspetos mais importantes da
região visitada.

Formas Materiais de Cultura:

Arte Popular

Os antropólogos estão de acordo ao atribuir a mudança nas formas de arte tradicionais a


três razões fundamentais:
 Desaparecimento dos artesãos, dos modelos e das técnicas particularmente aqueles
que executavam peças com significado religioso e mítico;
 Crescimento da degeneração. Desenvolve-se um tipo de artefactos sem qualidade,
produzidos em massa (airport art);
 Por vezes a esta fase segue-se outra de regeneração com o aparecimento de
artesãos de talento que reintroduzem modelos tradicionais e de grande significado
para a comunidade como resposta e reação à fase anterior.

Gastronomia

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A cozinha tradicional das regiões recetoras tem sido secundarizada a favor da cozinha
internacional, embora nos últimos tempos os turistas tendam a desejar experimentar os
pratos locais. Mais uma vez isto também se prende com o tipo de turistas que visita
determinada região.

Arquitetura

A Arquitetura utilizada em grande número de estâncias é idêntica em qualquer parte do


mundo e inspira-se em modelos internacionais criados pela civilização ocidental em meados
do século, sendo em muitos casos imitações desvirtuadas desses modelos de modernismo
ou mais recentemente do pós-modernismo.

Vestuário

A forma dos turistas se vestirem é por vezes considerada pouco respeitosa pela
comunidade recetora, sobretudo quando aqueles visitam lugares que a comunidade
considera sagrados (ex: proibições da Catedral de Sevilha).

O Turismo também teve um papel importante na reintrodução dos trajes típicos das regiões
recetoras. Os espetáculos para turistas ajudaram a manter esses elementos da cultura
tradicional.

Formas Não Materiais de Cultura:

Os turistas percecionam os países visitados através da imagem estereotipada e simplista


que lhe é transmitida pelas campanhas de marketing. Assim o país é visto em termos de
pitoresco superficial, exotismo ou aspetos típicos e experiência da vida local de uma forma
altamente seletiva e episódica.

Quanto mais curta é a visita, maiores são as distorções. A expropriação da cultura local e a
exploração das populações locais representando ou retratando a sua cultura é um
fenómeno mundial.

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3.4.Económico

Os principais impactos económicos do turismo centram-se em quatro aspetos:


a) Ganhos em moeda estrangeira;
b) Contribuição para as receitas do Estado;
c) Criação de emprego e rendimentos;
d) Contribuição para o desenvolvimento regional.

Ganhos em Moeda Estrangeira

Estes ganhos resultam das receitas obtidas através da venda de bens e serviços aos
visitantes não residentes no país de acolhimento.

Estas receitas podem ser realizadas em moeda forte, universalmente aceite e sem restrição
de câmbios ou em moeda fraca a qual por vezes é objeto de transferências condicionadas,
não contando com aceitação universal.

Pertencem ao 1º grupo os países desenvolvidos sob o ponto de vista económico como os


Estados Unidos e são as mais utilizadas no comércio internacional.

As estatísticas de gastos e de receitas da atividades turística permitem contabilizar os


benefícios económicos da atividade, embora, para obter resultados mais concretos se tenha
de utilizar indicadores de preços constantes e deflectores cambiais.

As análises dos multiplicadores e o sistema de input-output propiciam melhores


estimativas.

Os benefícios dos gastos com a prática do turismo espalham-se através de muitos sectores
da sociedade e podem ser acompanhados através do efeito multiplicador.

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O efeito multiplicador mede os gastos diretos dos visitantes e calcula como estes se
ampliam à medida que, a população residente gasta parte desse dinheiro ganho como lucro
ou rendimento de trabalho, estimulando assim a atividade económica.

Deve-se ter, contudo, em conta que os gastos iniciais dos turistas se dissipam devido a dois
fatores:
 Os turistas compram bens importados do que resulta que parte do benefício
reverte a favor de economias estrangeiras.
 Alguns dos ganhos iniciais são aforrados.

Contribuição para as Receitas do Estado:

Os rendimentos do Estado provenientes do turismo podem-se classificar em dois grandes


grupos:
 Diretos
Indiretos

Diretos são os provenientes de taxas e impostos sobre as empresas e os trabalhadores do


sector turístico. Este tipo de impostos se demasiado pesado podem ter um papel
desincentivador da atividade por não favorecer o reinvestimento.

Por outro lado nalguns países em vias de desenvolvimento a atividade económica principal
é a agricultura que é praticada muitas vezes ao nível da subsistência pelo que, os impostos
diretos sobre a pequena força de trabalho, com rendimentos acima daquele nível se tornam
fundamentais para a economia do país.

Indiretos resultam das taxas e impostos sobre bens e serviços oferecidos aos turistas.

Em alguns países, onde o Turismo tem um peso considerável como rendimento do Estado
não se efetuam contribuições diretas. Empresas e trabalhadores não são sujeitos a
impostos. As receitas são geradas de forma indireta através de taxas sobre bens e serviços.

Criação de Emprego e Rendimento

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O emprego gerado pelo turismo pode ser direto ou indireto.

Direto pode ser definido como um emprego criado especificamente pela necessidade de
satisfazer o sector turístico. Um exemplo óbvio desta situação é a criação de um emprego
num hotel.

Indireto é o caso do referido hotel poder socorrer-se de outras empresas que explorem o
sector da lavandaria ou dos transportes (táxis) o que representará a criação de postos de
trabalho de forma indireta.

O emprego no turismo é de difícil contabilização na medida em que se torna, por vezes


difícil delimitar o sector turístico. Em alguns países em vias de desenvolvimento é mesmo
necessário aplicar questionários específicos para estimar os empregos no turismo.

O turismo é muitas vezes descrito como uma atividade de trabalho intensivo. Parece pois
que o emprego neste sector será mais abundante do que noutros sectores
tecnologicamente sofisticados onde grandes investimentos criam poucos empregos.

Para os países em vias de desenvolvimento o turismo é pois visto como fonte de emprego
pouco especializado mas bem mais interessante do que o trabalho na agricultura por
proporcionar salários mais compensatórios e melhores condições e compensações.

Para o país recetor o turismo pode estimular as atividades económicas permitindo um mais
rápido desenvolvimento.

A capacidade de gerar empregos pelo Turismo, comparado com outras indústrias, tem sido
criticada por várias razões a saber:
 A maioria do emprego é sazonal;
 A população local é muitas vezes reduzida e não preenche toda a procura;
 Em muitas áreas há poucos trabalhadores com conhecimentos técnicos específicos,
assim como capacidades de gestão;

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 Pessoas vindas de fora são atraídas por salários mais compensadores, assim como,
pela possibilidade de viver num local agradável.

Contribuição para o Desenvolvimento Regional

O impacto regional do desenvolvimento turístico é sempre apreciável tanto mais que muitas
dessas regiões podem, por várias razões, ter poucas alternativas de desenvolvimento.
Nesses casos, o turismo gera rendimentos, emprego e atividade económica ajudando assim
a suportar a comunidade e a aumentar o nível dos seus rendimentos.

Por outro lado, o desenvolvimento de um sector turístico de grande importância impõe uma
série de custos para a população local, em equipamentos e infraestruturas várias, de forma
a impor-se como destino turístico competitivo.

Ao reclamar para si um papel de liderança no desenvolvimento da área frequentemente


reclama, prioridade sobre outros utilizadores de recursos idênticos (ex. energia dos hotéis
versus energia da indústria). Outros problemas nascem da operação dos serviços turísticos.

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Bibliografia

Baptista, Mário, Turismo, Competitividade Sustentável, Lisboa, Verbo, 1997

Cunha, Licínio, Perspetivas e Tendências do Turismo, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas,


s.d.

Cunha, Licínio, Introdução ao turismo, Ed. Verbo, 3ª edição, 2006

Ignarra, Luiz Renato, Fundamentos do turismo, Ed. Thomson, 2ª edição, 2003

Sites consultados

Turismo de Portugal
http://www.turismodeportugal.pt

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Termos e condições de utilização

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