Você está na página 1de 234

O que é e o que faz a

Análise Textual
dos Discursos
Coleção O que é e o que se faz?

Volume 2
Reitor
José Daniel Diniz Melo

Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda

Diretoria Administrativa da EDUFRN


Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora)
Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto)
Bruno Francisco Xavier (Secretário)

Conselho Editorial John Fontenele Araújo


Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente) Josenildo Soares Bezerra
Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Ligia Rejane Siqueira Garcia
Adriana Rosa Carvalho Lucélio Dantas de Aquino
Alexandro Teixeira Gomes Marcelo de Sousa da Silva
Elaine Cristina Gavioli Márcia Maria de Cruz Castro
Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz Márcio Dias Pereira
Everton Rodrigues Barbosa Martin Pablo Cammarota
Fabrício Germano Alves Nereida Soares Martins
Francisco Wildson Confessor Roberval Edson Pinheiro de Lima
Gleydson Pinheiro Albano Samuel Anderson de Oliveira Lima
Gustavo Zampier dos Santos Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Secretária de Educação a Distância Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ


Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Jefferson Fernandes Alves – SEDIS
José Querginaldo Bezerra – CCET
Secretária Adjunta de Educação a Distância Lilian Giotto Zaros – CB
Ione Rodrigues Diniz Morais Marcos Aurélio Felipe – SEDIS
Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Cristina Leandro de Paiva – CE
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Maria da Penha Casado Alves – SEDIS
Nedja Suely Fernandes – CCET
Coordenação Editorial Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS
Mauricio Oliveira Jr. Sulemi Fabiano Campos – CCHLA
Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques Revisão Linguístico-textual
Fabíola Gonçalves
Gestão do Fluxo de Editoração
Mauricio Oliveira Jr. Revisão de ABNT
Edineide Marques
Conselho Técnico-Científico – SEDIS
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Revisão Tipográfica
Aline de Pinho Dias – SEDIS Maria das Graças Soares Rodrigues
André Morais Gurgel – CCSA
Antônio de Pádua dos Santos – CS Diagramação
Célia Maria de Araújo – SEDIS Maria Clara Galvão
Eugênia Maria Dantas – CCHLA Diagramação
Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Victor Hugo Rocha Silva
Isabel Dillmann Nunes – IMD
Maria das Graças Soares Rodrigues
Sueli Cristina Marquesi
Organizadoras

O que é e o que faz a


Análise Textual dos
Discursos
Coleção O que é e o que se faz?

Volume 2

Prefácio
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria Das Graças Soares Rodrigues

Tradução
Maria das Graças Soares Rodrigues
Maria Eduarda Giering
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rosalice Pinto

Natal, 2023
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir
impacto social, cultural e científico por meio de livros.
Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma
sociedade mais digna, igualitária e inclusiva.

Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A


seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada
pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/
SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica.

Catalogação da publicação na fonte


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Secretaria de Educação a Distância

Rodrigues, Maria das Graças Soares.


O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos [recurso eletrônico] /
organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues e Sueli Cristina Marquesi. – 1.
ed. – Natal: EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz..., v. 2).
1800 KB; 1 PDF.

ISBN 978-65-5569-372-0

1. Análise do Discurso. 2. Discurso. 3. Sujeito. 4. Enunciação. 5. Interação. I.


Marquesi, Sueli Cristina. II. Título.

CDU 81
R969q

Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488.

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
Prefácio

O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da


Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), foi
criado em 1985 e conta com um grande número de pesqui-
sadores, pertencente aos mais diversos Programas de Pós-
Graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados,
que, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elege
como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades
e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado
pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem
como grandes temas i) processos discursivo-interacionais de
negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização em
contextos de interação diversos.
Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia
Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se
ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de
pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além
de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco
áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual
dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e
Pragmática.
Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem-
bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/UFRN)
e da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação
eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de
entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco
Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares
Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber:
Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual, organizado
por Rivaldo Capistrano Júnior (Ufes) e Vanda Maria da Silva
Elias (Unifesp);
Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos,
organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN)
e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP);
Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado
por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco Cabral
(PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES);
Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação,
organizado por Gil Roberto Costa Negreiros (UFSM) e Ana
Rosa Ferreira Dias (PUC-SP; USP);
Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, organizado
por Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ), Lúcia Helena Martins
Gouvêa (UFRJ) e Rosane Santos Monnerat (UFF).
Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas,
perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor da
proposta da coleção. Em resposta às perguntas de entrevista,
cada entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o
quadro e os avanços teórico-metodológicos de sua área, de
apontar (novas) questões de investigação e de indicar apli-
cações de suas pesquisas para o ensino, em seus diferentes
níveis e em diversas modalidades.
Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomentar
atividades vinculadas à implementação, à divulgação da
produção científica e à formação e/ou consolidação de redes
de pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da
ANPOLL; ii) apresentar e promover temas fundamentais dos
estudos sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do
GT LTAC junto à comunidade científica nacional e interna-
cional; iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas
de análise e de investigação do texto; iv) promover a interface
entre essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a for-
mação inicial e continuada de professores e de pesquisadores.
Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas
teórico-metodológicas presentes nos cinco volumes da coleção
promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas
pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação.
Apresentação

Este volume integra a coleção O que é e o que faz..., que se


constitui de cinco coletâneas, as quais reúnem entrevistas com
célebres professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros,
dedicados aos estudos orientados pela Análise Textual dos Discursos (ATD)

fundada por Jean-Michel Adam. Os pesquisadores brasileiros


são professores universitários e membros do GT Linguística
de Texto e Análise da Conversação da Associação Nacional de
Pós-graduação em Letras e Linguística (ANPOLL), enquanto
os entrevistados estrangeiros são professores e pesquisadores
universitários de instituições dos seguintes países: França,
Romênia e Suíça.
Foram entrevistados nove professores e pesquisadores,
os quais responderam as mesmas perguntas. As entrevistas
são textos acadêmico-científicos, e, assim, certamente, con-
tribuirão não só com os alunos da graduação mas também
com mestrandos, doutorandos e demais pesquisadores que
se interessam por questões linguísticas à luz das diferen-
tes modalidades de manifestação da língua: falada, escrita,
multimodal e digital. Além disso, a coleção também trará
contributos para os professores de Língua Portuguesa do
Ensino Básico.
A ordem de colocação da entrevista neste volume seguiu
dois critérios: (1) a primeira entrevista é com Jean-Michel
Adam, fundador da Análise Textual dos Discursos (ATD), e
(2) seguiu-se a ordem alfabética do primeiro nome dos oito
entrevistados, que se encontram após Jean-Michel Adam.
A primeira pergunta dirigida aos entrevistados é indutora
de uma contextualização histórica acerca do envolvimento
do pesquisador com a abordagem teórica focalizada neste
volume. Nessa direção, o leitor terá acesso ao percurso dos
convidados a partir do primeiro contato com a Análise Textual
dos Discursos.
Ressalta-se que o primeiro entrevistado deste volume, Jean-
Michel Adam, professor emérito da Universidade Lausanne,
socializa que seu ponto de partida nos anos 1970 se deveu
à “tomada de consciência de um déficit de textualidade da
análise de discurso (AD)”. Isso levou o autor a considerar,
evidentemente, a anterioridade dos trabalhos dedicados à
textualidade por outros grandes autores, de variados olhares
teóricos, em diferentes países. Essa postura revela ética, res-
peito, conhecimento, valorização do que já estava disponível
em circulação acerca do tema. Para o autor, “o conceito de
texto deve integrar os diferentes grandes regimes mediológi-
cos: orais, escriturais, icônicos e digitais”. O autor é membro
do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos
(ATD) registrado na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico Diretório (CNPq), assim como do
Center of Comparative Studies of Literatures in European
Languages (CLE), da Universidade de Lausanne.
O segundo entrevistado é Alexandro Teixeira Gomes, pro-
fessor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. O autor relata que seu primeiro contato com a
Análise Textual dos Discursos (ATD) foi com a obra A lin-
guística textual: introdução à análise textual dos discursos, de
Jean-Michel Adam. O ponto de vista do autor acerca dessa obra
segue transcrito ipsis litteris: “Encantei-me completamente
pela obra em função da riqueza de detalhes, da consistência
teórica, da proposta analítica e do refinamento do texto. Senti
como um divisor de águas na minha formação [...]”. Destaca-se
que o entrevistado adotou essa abordagem teórica em suas
várias publicações. É pesquisador do Grupo de Pesquisa em
Análise Textual dos Discursos. Lidera o Grupo de Pesquisa
Laboratório de Estudos Linguísticos da UFRN.
O terceiro entrevistado é o professor e pesquisador da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Ananias
Agostinho da Silva. O autor ressalta que seu “encontro com
a Análise Textual dos Discursos (ATD) ocorreu durante o
curso de doutorado, na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, no início de 2012, sobretudo pelo ingresso no
Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos [...]”.
O entrevistado publicou inúmeros trabalhos, ancorando-se
teoricamente na ATD, contribuindo, pois, para a difusão
dessa abordagem teórica e o desenvolvimento de análises
que se interessem pelo texto e pelo discurso. É pesquisador
do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos,
do Grupo de Pesquisa Protexto, Grupo de Pesquisa Texto,
Escrita e Leitura e lidera o Grupo de Pesquisa em Estudos
Linguísticos do Texto.
A quarta entrevistada é a professora e pesquisadora da
Universidade Stefan cel Mare, na Romênia, Corina Iftimia. A
professora explica que seu envolvimento com a Análise Textual
dos Discursos teve início com a tradução para o romeno da
obra Linguística Textual: introdução à análise textual dos
discursos, de Jean-Michel Adam. Expressa seu ponto de vista
concernente à contemporaneidade da ATD, comentando que
“quanto aos desafios, creio que a ATD tem tudo para se dedicar
ao campo das produções textuais digitais”. Sublinha-se que
a entrevistada desenvolve pesquisa nos campos da tradução,
do discurso político, entre outros.
A quinta entrevistada é a professora e pesquisadora da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Maria
Eliete de Queiroz. A entrevistada relata que seu primeiro
contato com a Análise Textual dos Discursos foi em um evento
realizado na Universidade Federal do Ceará, por ocasião
do lançamento da tradução do livro Linguística Textual:
introdução à análise textual dos discursos, de Jean-Michel
Adam, em 2008. A autora destaca como um ponto de diferença
entre a ATD e outras teorias “o tratamento discursivo que
é dado a suas categorias de análise”. Ademais, aponta como
“grande desafio para os estudiosos do texto e do discurso
[...] as discussões sobre o texto digital, o texto digital nativo
e seus regimes de textualidade”. A professora desenvolve seus
trabalhos com ancoragem teórica na ATD. É pesquisadora
do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos
e do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto,
respectivamente, da UFRN e da Uern.
O sexto entrevistado é o professor e pesquisador da
Universidade de Lorraine, Guy Achard-Bayle. Esse autor des-
taca que foi a partir das diferentes obras de Jean-Michel Adam
que ele se envolveu com a Análise Textual dos Discursos. Relata
que seguiu e estudou “as reedições de sua obra Introdução à
Análise Textual dos Discursos [...] a evolução de seu percurso
na linguística textual até a ATD”. Considera que a “linguística
textual de corpus e comparativa permitiu avanços significativos
em matéria de ATD”. O autor é renomado por seus trabalhos
sobre língua, texto, discurso. Integra o Grupo de Pesquisa
Praxiteste, da Universidade de Lorraine.
O sétimo entrevistado é o professor titular e pesquisador,
Luis Passeggi, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Integra a equipe da UFRN de tradutores das seguintes
obras de Jean-Michel Adam, publicadas individualmente
ou em coautoria: Jean-Michel Adam (2008/2011) - A lin-
guística textual: introdução à análise textual dos discursos;
Jean-Michel Adam; Ute Heidmann (2011) - O texto literário,
por uma abordagem interdisciplinar; Jean-Michel Adam;
Ute Heidmann; Dominique Maingueneau (2010) - Análises
textuais e discursivas. Metodologia e aplicações; Jean-Michel
Adam (2022) - A noção de texto. Seu envolvimento com a
Análise Textual dos Discursos começou com a obra de Jean-
Michel Adam; Jean-Pierre Goldenstein (1975) - Linguistique
et discours littéraire: théorie et pratique des textes (Larousse).
É vice-líder do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos
Discursos, da UFRN.
A oitava entrevistada é a professora emérita e pesquisadora
da Universidade de Toulon, Michèle Monte. Seu envolvimento
com a Análise Textual dos Discursos está ligado aos traba-
lhos de Jean-Michel Adam, assim como de outros autores
e os próprios trabalhos que a autora desenvolve com textos
poéticos. A autora propõe “uma análise enunciativa que se
aplica tanto ao poema como à narrativa ou à argumentação”.
Ela distingue “o enunciador textual responsável pelo texto do
autor social e do locutor (identificado pelas marcas dêiticas)”.
Ademais, a pesquisadora propõe “a análise de qualquer texto
como a conjunção de três dimensões: semântica, estética
e enunciativa”. A autora integra o Laboratoire Babel, em
que se desenvolvem pesquisas sobre linguagens, literaturas,
civilizações e sociedades.
A nona entrevistada é a professora e pesquisadora Rodica-
Marioara Nagy, da Universidade Stefan cel Mare. Recebeu
influência de vários autores orientais, assim como ocidentais
que focalizam o texto e o discurso em seus estudos. Nessa
direção, relata que “as pesquisas científicas da segunda metade
do século XX, distinguem-se particularmente das que tratam
dos problemas de linguagem e de comunicação [...] das que têm
como objeto as estruturas que ultrapassam o nível da frase”.
Explica, ainda, a “análise textual do discurso tem por objeto
as produções transfrásticas com certa significação social”.
Espera-se que este conjunto de entrevistas contribua
com os interlocutores interessados pela Análise Textual dos
Discursos. Ressalta-se que essa abordagem teórica é inter-
disciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar, oferecendo,
assim, contributos para várias áreas do conhecimento.

Junho de 2023.
Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN)
Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP)
Organizadoras
Sumário
Jean-Michel Adam ..............................................................................18

Alexandro Teixeira Gomes ...............................................................56

Ananias Agostinho da Silva ..............................................................68

Corina Iftimia ......................................................................................98

Maria Eliete de Queiroz ...................................................................110

Guy Achard-Bayle .............................................................................116

Luis Passeggi .......................................................................................147

Michèle Monte ...................................................................................157

Rodica-Mărioara Nagy .....................................................................172


JEAN-MICHEL ADAM
Universidade de Lausanne - Suíça
Tradução – Maria das Graças Soares Rodrigues

Questões gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
A tomada de consciência de um déficit de textualidade
da análise de discurso (AD) é o ponto de partida de minhas
pesquisas, no início dos anos 1970. Essa constatação me
levou a focalizar as teses, introduzidas na França por Denis
Slakta e Bernard Combettes, do Segundo Círculo de Praga
(Mathesius, Firbas, Danes) sobre a dinâmica tema-rema da
frase, as progressões temáticas e os encadeamentos interfrás-
ticos. Interessei-me muito cedo pelas “gramáticas de texto”
anglo-saxônicas e, em particular pelos trabalhos de Teun A.

18
JEAN-MICHEL ADAM

van Dijk, Harald Weinrich, Michael A. K. Halliday e Ruqaiya


Hasan, Robert E. Longacre e Eugenio Coseriu.
A linguística da enunciação de Émile Benveniste e seu
programa de “translinguística dos textos e das obras”, for-
mulado na “Semiologia da língua” (1969), serviram-me de
referência para articular as pesquisas da textualidade e a
questão da discursividade. Benveniste apresenta a semântica
do discurso como uma superação intralinguística da semió-
tica saussuriana e a superação “translinguística” como uma
“metassemântica” construída ancorada na “semântica da
enunciação”. A linguística da enunciação assegura a conti-
nuidade do dispositivo entre a subjetivação enunciativa da
língua e a produção de um texto. A finalidade da “Semiologia
da língua” é inseparável das pesquisas que Benveniste fazia
sobre “A língua de Baudelaire”1. Benveniste teorizou progra-
maticamente a abertura do campo da linguística no discurso
(abertura fundada na enunciação) e em uma linguística dos
textos que não excluía as obras da arte verbal.
Os trabalhos dinamarqueses de Lita Lundquist sobre a
linguística textual (LT) me permitiram avançar epistemologi-
camente, no diálogo permanente com meus amigos Bernard
Combettes e Michel Charolles, bem como com Jean-Paul

1 LAPLANTINE, Chloé (ed.). Emile Benveniste: Baudelaire. Limoges:


Lambert-Lucas, 2011.

19
JEAN-MICHEL ADAM

Bronckart e sua teoria do interacionismo sociodiscursivo.


Essas trocas me levaram a desenvolver uma concepção da
LT enunciada pela primeira vez em Éléments de linguistique
textuelle (1990) e, em 1992, na primeira exposição do conjunto
de minha teoria das sequências textuais: Les Textes: types et
prototypes.
Minha pesquisa da unidades textuais transfrásticas
identificáveis se desenvolveu a partir dos anos 1960 sobre
a narrativa: trabalhos de Roland Barthes, Tzvetan Todorov,
Gérard Genette, Algirdas J. Greimas, Paul Larivaille e Gérard
Genot, na França, de William Labov e Joshua Waletzky nos
Estados Unidos, de Umberto Eco na Itália, mas também os
de psicologia cognitiva e de psicolinguística textual desen-
volvidos, em particular, nos laboratórios de Dijon (Michel
Fayol) e de Poitiers, com os quais tive a chance de dialogar
muito ativamente nos anos 1980. Quase ao mesmo tempo,
interessei-me pela descrição (devo muito aos trabalhos de
poética de Philippe Hamon e à sua consideração da tradição
retórica). Em seguida, trabalhei sobre a argumentação, em
contato com os pesquisadores da Escola de Bruxelas, suces-
sores de Chaïm Perelman (Marc Dominicy, Emmanuelle
Danblon e Michel Meyer), e sobretudo com os pesquisadores
do Centro de pesquisas semiológicas de Neuchâtel. Em diálogo
com Jean-Blaise Grize e Marie-Jeanne Borel, que era minha

20
JEAN-MICHEL ADAM

colega na Universidade de Lausanne, teorizei a questão da


explicação e da sequência explicativa, depois a do diálogo e
da sequência dialogal, estimulado pelas pesquisas realizadas
em Genebra por Eddy Roulet e, em Lyon, por Catherine
Kerbrat-Orecchioni.
Ao lado desses trabalhos de LT, minha abordagem da ques-
tão dos gêneros discursivos se desenvolveu em diálogo com
os trabalhos de Dominique Maingueneau e sob a influência
dos Genres du discours, de Tzvetan Todorov2 (Seuil, 1978).
Isso me permitiu superar a problemática dos “tipos de textos”
considerando que as regulações de alto nível são antes de tudo
discursivas e genéricas. Os trabalhos de William Labov sobre
piadas ou insultos rituais (LABOV, 1972), esse gênero próprio
de um grupo sociolinguístico (o inglês vernacular dos jovens
dos guetos americanos) se tornou para mim um modelo de
análise de fatos linguísticos estreitamente relacionados e
determinados pelos gêneros de discurso. Pude, assim, verificar
microlinguisticamente a justeza das proposições teóricas
de Mikhaïl M. Bakhtine e de Valentin N. Vološinov sobre a
aprendizagem conjunta da língua e dos gêneros de discurso
(ver meu artigo traduzido para o português: O contínuo
da linguagem: língua e discurso, gramática e estilística. In.
Estudios linguísticos/Linguistic studies, n. 9, 2014, p. 15-25).

2 N.T. Traduções brasileiras.

21
JEAN-MICHEL ADAM

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Sou muito apegado ao meu primeiro livro sobre LT
(Éléments de linguistique textuelle. Bruxelles: Mardaga, 1990.)
e ao meu último, sobre a questão do parágrafo (Le Paragraphe:
entre phrases et texte. Paris: Armand Colin, 2018.), bem como
ao meu texto na Encyclopédie grammaticale du français sobre
A noção de texto (2019), que acabou de ser traduzido por Maria
das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto e Luis
Passeggi (A noção de texto. Natal: EDUFRN, 2022).
Dos meus trabalhos, os mais lidos, citados, inclusive,
traduzidos no Brasil, são A linguística textual: introdução
à análise textual dos discursos, tradução Maria das Graças
Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi
e Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. São Paulo, Cortez,
2008/2011, e Textos: tipos e protótipos, tradução Mônica
Magalhães Cavalcante et al. São Paulo: Editora Contexto, 2019.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
Participei da introdução na França da LT, porque a AD
apresentava um déficit na definição do conceito de texto. A

22
JEAN-MICHEL ADAM

prioridade, portanto, por um tempo, foi dar um lugar à LT


ao lado da AD. Hoje se admite que os analistas de discurso
devem se apoiar nos aportes da LT, quando estudam textos
reunidos em um corpus. Assumo, de minha parte, o papel
auxiliar do trabalho sobre as unidades dos diferentes níveis e
etapas da análise e de desenvolvimento de uma LT a serviço
da análise da diversidade das práticas discursivas.
Com as edições sucessivas de La Linguistique textuelle.
Introduction à l’analyse textuelle des discours (1.ed., em
2005), desenvolvi progressivamente uma teoria global dos
níveis de estruturação: no nível microtextual, distingo o plano
frástico e os diferentes planos interfrásticos de estruturação
(microligações e fatos de segmentação); no nível mesotextual,
considero as sequências textuais e os parágrafos como
unidades transfrásticas de estruturação: no nível macrotex-
tual, interesso-me pelas organizações composicionais globais:
planos de textos e fenômenos peritextuais, agrupamentos
de textos em uma unidade superior como as hiperestrutu-
ras jornalísticas e que a gente encontra nos manuais e nas
enciclopédias, composições textuais semioticamente mistas
(textos icônicos publicitários e literários).
A ATD torna-se discursiva a partir do momento em que
o texto estudado é colocado em relação com outros tex-
tos, no seio de um corpus constituído para a análise. Fiquei

23
JEAN-MICHEL ADAM

interessado, há alguns anos, pelo fato de que não conheço


texto literário ou político que apresente um só estado tex-
tual. Estamos sempre lidando com vários estados textuais,
manuscritos principalmente, editoriais, mas também com
diferentes traduções para os textos literários, com estados
frequentemente orais e escritos para os discursos políticos.
A comparação desses estados textuais é muito interessante
e se trata mesmo de uma introdução filológica, frequente-
mente negligenciada e que tem como consequência o fato de
considerar o texto como um objeto natural, uma evidência,
quando ele é o resultado de uma construção, que é necessário
descrever as etapas e as razões. É isso que proponho nas
páginas de Linguística textual (Capítulo 7) nas quais coloco
em relação o Apelo de 18 de junho de 1940 e a alocução de
capitulação do Marechal Pétain de 17 de junho; faço também
no estudo do cartaz da França Livre e de sua tradução inglesa
em Problèmes du texte. Leçons d’Aarhus3 (2013). Para dar
apenas mais um exemplo, estudei o célebre discurso proferido
pelo general de Gaulle, na sacada da Prefeitura de Montreal,
em 24 de julho de 1967, procedendo à comparação dos estados

3 ADAM, Jean-Michel. Problèmes du texte. Leçons d’Aarhus. Pré-Publications,


n. 200, Aarhus Universitet, Fransk Institut for Æstetik og Kommunikation,
2013. Disponível em: https://docplayer.fr/8410133-Problemes-du-texte-la-
-linguistique-textuelle-et-la-traduction.html. Acesso em: 8 jun. 2023.

24
JEAN-MICHEL ADAM

textuais escritos e audiovisuais dessa célébre gafe diplomática


do presidente francês4.

4) Quais são os objetivos específicos da ATD que a dife-


renciam de outras teorias do texto?
A análise textual dos discursos deve ser situada em rela-
ção “a vários campos disciplinares: uns literários, outros
mais linguísticos”. Competindo com a estilística literária, a
análise textual literária foi desenvolvida na Bélgica (Cahiers
d’analyse textuelle fundados em 1959 e muito ativos até os
anos 1970). Em 1979, Michel Riffaterre se posiciona contrário
em A Produção do texto, no qual ele considera que “o texto é
único em seu gênero” e, querendo explicar, ele opõe a AT à
estilística do desvio, à retórica e à poética, por considerá-las
muito gerais. Roland Barthes também situou dois dos seus
estudos no campo da análise textual: análise textual de um
texto bíblico, em 1972, e análise textual de um conto de Edgar
Poe, em 1973. Ele opôs, então, a análise textual à análise
estrutural, em que ele empreendeu a desconstrução com o
que se tornou a “semiologia negativa”. No campo linguístico,

4 ADAM, Jean-Michel. L’analyse textuelle des discours. L’exemple de “Vive


le Québec libre !”. In : CORCUERA, J. Fidel; GALAN, Antonio Gaspar;
DIJAN, Mónica; VICENTE, Javier; BERNAL, Chesús (dir.). Les discours
politiques. Paris: L’Harmattan, 2016. p. 11-31.

25
JEAN-MICHEL ADAM

Lafont e Gardès-Madray fizeram da Introduction à l’analyse


textuelle (LAROUSSE, 1976) uma introdução à praxemática
(desenvolvida pelos linguistas da Universidade Paul Valéry,
de Montpellier). A linguista dinamarquesa Lita Lundquist,
próxima da Textanalyse alemã (PLETT 1975; TITZMANN
1977), publicou em forma de livro, em 1983, o conteúdo de sua
tese sobre A coerência textual: sintaxe, semântica, pragmática
(1980) falando, ela também, de análise textual. Teun A. van
Dijk definiu a dupla tarefa da análise textual como ao mesmo
tempo teórica (definir as propriedades de todos os textos) e
descritiva (estudar um só texto ou determinado corpus). É
preciso acrescentar que o termo “análise textual” toma hoje
um sentido novo e dominante: o da análise dos dados textuais
ou análise textual utilizada pelos cientistas da computação.
Quando falo, de minha parte, sobre a ATD, estou próximo
de van Dijk, Lundquist e da Textlinguistik anglo-saxônico no
que concerne às pesquisas de linguística textual (LT), mas
coloco esse domínio em relação com a AD. Distingo a ATD
da LT, que tem por objetivo propor uma teoria do conjunto
das unidades e dos níveis de análise microtextual, mesotextual
(parágrafos e sequências textuais) e macrotextual (problemas
de composição e planos e textos, plurissemioticidade dos
textos icônicos e questões de coletâneas de textos). Essa des-
crição geral dos procedimentos de textualização, articulada

26
JEAN-MICHEL ADAM

com a diversidade das práticas discursivas e dos gêneros de


discurso, tem por objetivo viabilizar a análise linguística
de textos precisos constituídos em corpus pelo pesquisador.
Trata-se, pois, como um último recurso, de dar conta com
a ATD do que importa prioritariamente: a produção co(n)
textual de sentido.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Vocês têm razão, a ATD deve ser situada em relação à lin-
guística do discurso geral, em relação à análise conversacional
e às interações sociodiscursivas, à sociolinguística, à psicologia
cognitiva, às ciências da informação e da comunicação, à
semiologia da imagem e a todas as pesquisas linguísticas que
focalizam as unidades da discursividade (anáforas, correfe-
rências conectores, tempos verbais etc.).

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?

27
JEAN-MICHEL ADAM

Sei que meus trabalhos são muito usados no domínio da


aprendizagem das línguas, mas sou incapaz de responder
precisamente a sua questão. Meus trabalhos permitem ter
consciência do fato de que a passagem da língua como sistema
ao discurso é uma operação complexa que vem quase de duas
linguísticas complementares (tese de Benveniste). Em meus
trabalhos, o conceito de texto torna-se de primeira ordem
da linguística, em conformidade com o princípio enunciado
por Saussure, em 1984, e comentado por Benveniste5 em um
artigo em que ele reconstitui o ensinamento do linguista suíço
na Escola dos Altos estudos: “Antes de tudo, não devemos
nos afastar desse princípio que o valor de uma forma está
completamente no texto de onde ele é extraída, quer dizer, no
conjunto das circunstâncias morfológicas, fonéticas, ortográ-
ficas, que a circundam e a esclarecem”6. Weinrich o disse com
outras palavras na sua última edição de Tempus: “Os textos
de uma língua não se encontram nem no fim, nem além da

5 BENVENISTE, Emile. Ferdinand de Saussure à l’École des Hautes Études.


Annuaire 1964-1965, de l’École Pratique des Hautes Études, 4ème section,
1965. p. 20-34.
6 SAUSSURE, Ferdinand de. Sur le nominatif pluriel et le génitif singulier
de la déclinaison consonnantique en lithuanien. Recueil des publications
scientifiques de Ferdinand de Saussure, 1922 [1894]. p. 514.

28
JEAN-MICHEL ADAM

gramática, mas no seu ponto de partida”7. O que ilustra seus


trabalhos sobre os tempos verbais: “[...] as formas temporais
nos chegam principalmente – e nos revisitam – através dos
textos. É isso que elas exprimem com outros signos, e também
com outros tempos, um complexo de determinações, uma
rede de valores textuais”. Mais recentemente, Franck Neveu
considera o texto como “um observatório da língua”8 e ele
atribui a esse conceito uma tripla função definidora “de esta-
belecimento, de atestação e de instituição dos acontecimentos
linguísticos”.

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Respondo essa questão mais adiante: questões 10 e 11.

7 « Die Texte einer Sprache stehen also nicht am Ende oder gar weit jenseits
der Grammatik, sondern an ihrem Anfang » (Tempus, Stuttgart-Belin-Köln,
Kohlhammer, 1994 [1964/1971]. p. 308; trad. Française, Le Temps. Paris:
Seuil, 1973, p. 13).
8 NEVEU, Franck. Critique du concept d’homonymie textuelle. Langages, n.
163, 2006, p. 86.

29
JEAN-MICHEL ADAM

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
Os livros que citei em resposta à questão 2 bem como o
livro escrito com Ute Heidmann e Dominique Maingueneau:
Análises textuais e discursivas, no qual colaboraram Maria
das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis
Passeggi (São Paulo, Cortez editora, 2010). Devo acrescen-
tar, todavia, os mais importantes e interessantes trabalhos
brasileiros de Ingedore Koch e de Luiz Antônio Marcuschi:
KOCH, Ingedor G. Villaça. Introdução à Lingüística Textual.
São Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOCH, Ingedor G. Villaça; FÁVERO, Leonor. Lingüística
Textual: Introdução. São Paulo: Cortez, 1983.
MARCUSCHI, Luiz A. A Lingüística de texto: o que é e como
se faz. Recife: EDUFPE, 1983.

30
JEAN-MICHEL ADAM

Questões específicas

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Na minha opinião, a ATD tem dois objetivos principais: a
teorização precisa de três níveis de textualização (micronível,
mesonível e macronível) e da articulação da textualidade
com a genericidade (os gêneros de discurso e o que se chama
hoje as “tradições discursivas”). Para uma descrição dos três
níveis de textualização, remeto ao número 27 de Letra Magna:
“Micronível, mesonível e macronível da estrutura textual”
(Letra Magna, ano 17, n. 27, 1. sem. 2021. Disponível em:
http://www.letramagna.com/artigos.html).
Para a articulação com a enunciação, disse acima (questão
1) que meu programa de trabalho se situava no desenvolvi-
mento da “translinguística dos textos, das obras” de Émile
Benveniste, e remeto, por isso à primeira parte do capítulo
1 de A linguística textual (páginas 39 e 40 e Esquema 2). A
consideração da ancoragem enunciativa garante a inscrição
da LT na AD e é, para mim, todo o sentido da ATD: descrever
a singularidade de uma ancoragem contextual (enunciativa
e discursiva) que transforma a língua (sistema “semiótico”)
em discurso (“língua discursiva” do próprio Saussure).

31
JEAN-MICHEL ADAM

Remeto, por exemplo, ao ponto 2.4. do capítulo 3 de A


linguística textual (páginas 156-161) em que mostro como os
signos da língua do Século XVII, os adjetivos “bela” e “bonita”,
adquirem um novo sentido na língua discursiva dos contos em
prosa de Charles Perrault. A enunciação é essa operação de
transformação dos lexemas da língua em vocábulos de dado
texto. Igualmente, no ponto 6.2 desse mesmo capítulo (páginas
199-203), descrevo o posicionamento enunciativo de Charles
de Gaulle em um cartaz da Segunda Guerra mundial (1940).
A forma como uma cena de enunciação é construída a fim de
tornar possível e de legitimar a fala, com o objetivo último
de tornar possível um ato de discurso (aqui “O Apelo de 18
de junho de 1940”), é o objeto da análise textual e discursiva.
Quanto aos gêneros de discurso, meu trabalho trata
sobre os gêneros instrucionais e programadores9 ou sobre os
gêneros de contos10, para tomar apenas esses dois exemplos,
que tiveram claramente por objetivo articular ATD e AD
acerca dessa questão, que só foi reconhecida como central
na AD nos anos 1980. É por isso que trabalhei muito sobre

9 Ver as páginas 253 a 297 de Textos. Tipos e protótipos. Coordenadora da


tradução, Mônica Magalhães Cavalcante. Tradução Mônica Magalhães
Cavalcante et al., São Paulo: Contexto, 2019, p. 253-297.
10 Remeto, em particular, ao livro escrito com Ute Heidmann: O texto literário.
Por uma abordagem interdisciplinar. Organizador da tradução, João Gomes
da Silva Neto; coordenadora da tradução Maria das Graças Soares Rodrigues;
tradução Maria das Graças Soares Rodrigues et al. São Paulo: Cortez, 2011.

32
JEAN-MICHEL ADAM

os gêneros da mídia escrita e, antes de explorar os gêneros de


contos, sobre dois grandes gêneros da retórica – o epidítico
e o deliberativo –, aplicando-os no discurso publicitário
e no discurso político. Em Genres de récits. Narrativité et
généricité des textes (Louvain-la-Neuve, Academia, 2011),
tomo o exemplo dos usos de uma das grandes formas de
textualização, a narrativa, definida como um gênero textual
atualizado em diferentes gêneros de discursos: no discurso
literário com os casos da narrativa no teatro e na poesia, os
usos da narrativa no discurso publicitário e nos diferentes
gêneros da mídia escrita (fait divers, breve e anedota) e nos
vários gêneros do discurso político (face a face, televisado,
entrevista, discurso de campanha). O mesmo trabalho falta ser
feito com os gêneros textuais da descrição, da argumentação,
da explicação e do diálogo.

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Respondo a essa questão em uma conferência on-line:
Por uma teoria modular do texto que integra os regimes
semiomediológicos de textualidad. Ciclo de conferências:
Cartografia dos gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube,

33
JEAN-MICHEL ADAM

Université Fédérale du Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novem-


bre 2021 https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A.
Na minha opinião, o conceito de texto deve integrar os
diferentes grandes regimes mediológicos: orais, escriturais,
icônicos e digitais. Esses quatro regimes semiomediológicos
determinam as formas de textualidade, algumas vezes dife-
rentes e entrecruzadas. Assim, a codificação digital possui
uma propriedade particular: todo i-Phone ou i-Pad reúne os
regimes mediológicos da escrita e da fala, da imagem fixa e
móvel, da navegação na internet, da ecrileitura digital. As
formas mistas são, portanto, de um grande interesse para a
linguística do texto e do discurso.
Reinvesti nesse sentido em meus trabalhos sobre a ico-
notextualidade publicitária e jornalística (com a questão
das hiperestruturas na mídia escrita) e sobre as variações
escriturais e audiovisuais do domínio textual. A comple-
xidade dos problemas do texto exige cruzar as fronteiras
e, portanto, deve-se dar uma grande atenção aos trabalhos
desenvolvidos em outras disciplinas. Isso implica muita
modéstia e, parece-me, a necessidade de não se rejeitarem
rapidamente os trabalhos desenvolvidos, no início, a partir
de corpus prioritariamente escritos. Jack Goody, especialista
na interface entre o oral e o escrito, sublinhou, já em 1987,
que as propriedades da escritura não foram abolidas pelo

34
JEAN-MICHEL ADAM

mundo digital. Não deixamos, dizia ele, o mundo da escrita,


que se tornou simplesmente mais complicado. É isso que a
ATD deve tentar descrever com muita precisão e modéstia:
não é somente acumulando as análises e os estudos de textos
digitais que poderemos avançar.

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Respondo longamente a essa questão complementar da
precedente em A noção de texto (Natal, EDUFRN, 2022).
Insisto somente aqui no fato de que ampliei minha definição
do conceito de texto, incorporando o que era o objetivo de
um dos maiores linguistas do texto: o linguista húngaro János
Sándor Petöfi. Como disse em resposta à questão precedente,
“a maior parte dos textos é de textos multimidiáticos [...] a
linguística orientada para o texto deve pesquisar os mais
vastos fundamentos interdisciplinares”11.

11 PETÖFI, János S. La textologie sémiotique et la méthodologie de la recherche


linguistique. Cahiers de l’ILSL, n. 6, p. 213, 1995.

35
JEAN-MICHEL ADAM
Universidade de Lausanne
Versão em francês

Questions générales

1) Comment êtes-vous arrivés à l’Analyse Textuelle des


Discours (ATD) ? Quels auteurs vous ont-ils inspirés ?
La prise de conscience d’un déficit de textualité de l’analyse
de discours (AD) est le point de départ de mes recherches, au
début des années 1970. Ce constat m’a amené à me tourner
vers les thèses, introduites en France par Denis Slakta et
Bernard Combettes, du Second Cercle de Prague (Mathesius,
Firbas, Danes) sur la dynamique thème-rhème de la phrase,
les progressions thématiques et les enchaînements inter-
phrastiques. Je me suis intéressé très tôt aux « grammaires
de texte » anglo-saxonnes et, en particulier aux travaux de

36
JEAN-MICHEL ADAM

Teun A. van Dijk, Harald Weinrich, Michael A. K. Halliday


& Ruqaiya Hasan, Robert E. Longacre et Eugenio Coseriu.
La linguistique de l’énonciation d’Émile Benveniste et son
programme de « translinguistique des textes et des œuvres »,
formulé dans « Sémiologie de la langue » (1969), m’ont servi
de repère pour articuler les recherches sur la textualité et la
question de la discursivité. Benveniste présente la sémantique
du discours comme un dépassement intra-linguistique de la
sémiotique saussurienne et le dépassement « translinguis-
tique » comme une « métasémantique » construite sur la
« sémantique de l’énonciation ». La linguistique de l’énon-
ciation assure le continu du dispositif, entre subjectivation
énonciative de la langue et production d’un texte. La fin de
« Sémiologie de la langue » est inséparable des recherches que
Benveniste menait sur « La langue de Baudelaire ». Benveniste
a théorisé programmatiquement l’ouverture du champ de la
linguistique au discours (ouverture fondée sur l’énonciation)
et à une linguistique des textes qui n’excluait pas les œuvres
d’art verbal.
Les travaux danois de Lita Lundquist sur la linguistique
textuelle (LT) m’ont permis d’avancer épistémologiquement,
dans un dialogue permanent avec mes amis Bernard Combettes
et Michel Charolles, ainsi qu’avec Jean-Paul Bronckart et sa
théorie de l’interactionnisme socio-discursif. Ces échanges

37
JEAN-MICHEL ADAM

m’ont poussé à développer une conception de la LT énoncée


pour la première fois dans Éléments de linguistique textuelle
(1990) et, en 1992, dans le premier exposé d’ensemble de
ma théorie des séquences textuelles : Les Textes : types et
prototypes.
Ma recherche d’unités textuelles transphrastiques identi-
fiables s’est développée à partir des travaux des années 1960
sur le récit : travaux de Roland Barthes, Tzvetan Todorov,
Gérard Genette, Algirdas J. Greimas, Paul Larivaille et Gérard
Genot, en France, de William Labov et Joshua Waletzky
aux États-Unis, d’Umberto Eco en Italie, mais aussi ceux
de psychologie cognitive et de psycholinguistique textuelle
développés, en particulier, dans les laboratoires de Dijon
(Michel Fayol) et de Poitiers, avec lesquels j’ai eu la chance
de dialoguer très activement dans les années 1980. Je me
suis, presque en même temps, intéressé à la description (je
dois beaucoup aux travaux de poétique de Philippe Hamon
et à sa prise en compte de la tradition rhétorique). J’ai ensuite
travaillé sur l’argumentation, en contact avec les chercheurs de
l’École de Bruxelles, successeurs de Chaïm Perelman (Marc
Dominicy, Emmanuelle Danblon et Michel Meyer), et surtout
avec les chercheurs du Centre de recherches sémiologiques
de Neuchâtel. En dialogue avec Jean-Blaise Grize et Marie-
Jeanne Borel, qui était ma collègue à l’université de Lausanne,

38
JEAN-MICHEL ADAM

j’ai théorisé la question de l’explication et de la séquence


explicative, puis celle du dialogue et de la séquence dialogale,
stimulé par les recherches menées, à Genève autour d’Eddy
Roulet et, à Lyon, autour de Catherine Kerbrat-Orecchioni.
À côté de ces travaux de LT, mon approche de la question
des genres discursifs s’est développée en dialogue avec les
travaux de Dominique Maingueneau et sous l’influence des
Genres du discours de Tzvetan Todorov (Seuil 1978). Cela m’a
permis de dépasser la problématique des « types de textes »
en considérant que les réglages de haut niveau sont avant
tout discursifs et génériques. Les travaux de William Labov
sur les vannes ou insultes rituelles (LABOV, 1972), ce genre
propre à un groupe socio-linguistique (l’anglais vernaculaire
des jeunes des ghettos américains) est devenu pour moi un
modèle d’analyse de faits linguistiques en rapport étroit de
détermination par les genres de discours. J’ai ainsi pu vérifier
micro-linguistiquement la justesse des propositions théo-
riques de Mikhaïl M. Bakhtine et Valentin N. Vološinov sur
l’apprentissage conjoint de la langue et des genres de discours
(voir mon article traduit en portugais : « O contínuo da lin-
guagem : língua e discurso, gramática e estilística », Estudios
linguísticos/Linguistic studies, 9, Lisboa, Edições Colibri &
Revista do CNUL, 2014, p. 15-25).

39
JEAN-MICHEL ADAM

2) Parmi vos publications dans des revues, des livres impri-


més et des livres numériques, quelles sont celles que vous
considérez les plus remarquables ?
Je suis très attaché à mon premier livre sur la LT (Éléments
de linguistique textuelle, Bruxelles, Mardaga, 1990) et à mon
dernier, sur la question du paragraphe (Le Paragraphe : entre
phrases et texte, Paris, Armand Colin, 2018), ainsi qu’à ma
notice de l’Encyclopédie grammaticale du français sur La
notion de Texte (2019), qui vient d’être traduit par Maria das
Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto & Luis
Passeggi (A noção de texto, Natal, EDUFRN, 2022).
Mes travaux les plus lus, cités et d’ailleurs traduits au
Brésil, sont A lingüística textual (São Paulo, Cortez editor;
trad. Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva
Neto & Luis Passeggi, 2008 & 2011) et Textos. Tipos e protó-
tipos (São Paulo, Editora Contexto, trad. Mônica Magalhães
Cavalcante et al., 2019).

40
JEAN-MICHEL ADAM

3) Si l’on considère l’ATD comme un champ d’études situé


dans la Linguistique textuelle, discursive et énonciative,
quelles démarches théoriques-analytiques pourrez-vous
mettre en relief ?
J’ai participé à l’introduction en France de la LT parce que
l’AD présentait un déficit de définition du concept de texte.
La priorité a donc été, un temps, de donner une place à la LT
à côté de l’AD. Il est aujourd’hui admis que les analystes de
discours doivent s’appuyer sur les apports de la LT, quand ils
étudient des textes réunis dans un corpus. J’assume, pour ma
part, ce rôle auxiliaire de travail sur les unités des différents
niveaux et paliers d’analyse et de développement d’une LT au
service de l’analyse de la diversité des pratiques discursives.
Avec les éditions successives de La Linguistique textuelle.
Introduction à l’analyse textuelle des discours (1 édition en
ère

2005), j’ai progressivement développé une théorie globale


des paliers de structuration : au palier micro-textuel, je dis-
tingue le plan phrastique et différents plans interphrastiques
de structuration (micro-liages et faits de segmentation) ; au
palier méso-textuel, je considère les séquences textuelles
et les paragraphes comme des unités transphrastiques de
structuration ; au palier macro-textuel, je m’intéresse aux
organisations compositionnelles globales : plans de textes et
phénomènes péri-textuels, groupements de textes dans une

41
JEAN-MICHEL ADAM

unité supérieure comme les hyperstructures journalistiques


et celles que l’on trouve dans les manuels et les encyclopédies,
compositions textuelles sémiotiquement mixtes (icono-textes
publicitaires et littéraires).
L’ATD ne devient discursive qu’à partir du moment où le
texte étudié est mis en relation avec d’autres textes, au sein
d’un corpus constitué pour l’analyse. Je me suis intéressé,
depuis quelques années, au fait que je ne connais pas de texte
littéraire ou politique qui présente un seul état textuel. On a
toujours affaire à plusieurs états textuels, manuscrits d’abord,
éditoriaux ensuite, mais aussi à différentes traductions pour
les textes littéraires, à des états très souvent oraux et écrits
pour les discours politiques. La comparaison de ces états
textuels est très intéressante et il s’agit même d’un préalable
philologique trop souvent négligé et qui a pour conséquence
le fait de prendre le texte pour un objet naturel, une évidence,
alors qu’il est le résultat d’une construction dont il faut décrire
les étapes et les raisons.
C’est ce que je mets en œuvre dans les pages de Linguistique
textuelle (Chapitre 7) où je mets en relation l’Appel du 18 juin
1940 et l’allocution de capitulation du maréchal Pétain du 17
juin. Je le fais aussi dans l’étude de l’affiche de la France Libre
et de sa traduction anglaise dans Problèmes du texte. Leçons
d’Aarhus (2013). Pour ne prendre qu’un autre exemple, j’ai

42
JEAN-MICHEL ADAM

étudié le célèbre discours prononcé par le général de Gaulle


au balcon de l’Hôtel de ville de Montréal, le 24 juillet 1967,
en procédant à la comparaison des états textuels écrits et
audio-visuels de cette célèbre gaffe diplomatique du président
français.

4) Quelles sont les objectifs spécifiques de l’ATD, qui la


rendent différente d’autres théories du texte?
L’analyse textuelle des discours doit être située par rapport
à plusieurs champs disciplinaires : les uns littéraires, les autres
plus linguistiques. En concurrence avec la stylistique littéraire,
l’analyse textuelle littéraire a été développée en Belgique
(Cahiers d’analyse textuelle fondés en 1959 et très actifs jusque
dans les années 1970). Opposition sur laquelle revient Michael
Riffaterre, en 1979, dans La Production du texte où il considère
que « le texte est unique en son genre » et, voulant expliquer
l’unique, il oppose l’AT à la stylistique de l’écart, à la rhé-
torique et à la poétique, qu’il trouve trop générales. Roland
Barthes a, lui aussi, situé deux de ses études dans le champ de
l’analyse textuelle : analyse textuelle d’un texte biblique, en
1972, et analyse textuelle d’un conte d’Edgar Poe, en 1973. Il
opposait alors l’analyse textuelle à l’analyse structurale dont
il entreprenait la déconstruction avec ce qui allait devenir la
« sémiologie négative ». Dans le champ linguistique, Lafont

43
JEAN-MICHEL ADAM

et Gardès-Madray ont fait de leur Introduction à l’analyse


textuelle (Larousse, 1976) une introduction à la praxématique
(développée par les linguistes de l’université Paul Valéry de
Montpellier). La linguiste danoise Lita Lundquist, proche
de la Textanalyse allemande (Plett 1975 et Titzmann 1977),
a manuélisé, en 1983, le contenu de sa thèse sur La cohérence
textuelle : syntaxe, sémantique, pragmatique (1980) en parlant,
elle aussi, d’analyse textuelle. Teun A. van Dijk définissait
quant à lui la double tâche de l’analyse textuelle comme à
la fois théorique (définir les propriétés de tous les textes) et
descriptive (étudier un seul texte ou un corpus précis). Il faut
ajouter que le terme « analyse textuelle » a pris aujourd’hui
un sens nouveau et dominant : celui de l’analyse des données
textuelles ou analyse textuelle outillée des informaticiens.
Quand je parle, pour ma part, d’ATD, je suis proche de van
Dijk, Lundquist et de la Textlinguistik anglo-saxonne pour ce
qui concerne les recherches de linguistique textuelle (LT), mais
je mets ce domaine en relation avec l’AD. Je distingue l’ATD
de la LT, qui a pour but de fournir une théorie d’ensemble
des unités et des paliers d’analyse micro-textuel, méso-tex-
tuel (paragraphes et séquences textuelles) et macro-textuel
(problèmes de composition et plans de textes, plurisémio-
ticité des icono-textes et questions des recueils de textes).
Cette description générale des procédures de textualisation,

44
JEAN-MICHEL ADAM

articulée à la diversité des pratiques discursives et des genres


de discours, a pour but de permettre l’analyse linguistique de
textes précis constitués en corpus par le chercheur. Il s’agit
bien, en dernier recours, avec l’ATD, de rendre compte de ce
qui importe prioritairement : la production co(n)textuelle
de sens.

5) Faire de la recherche ne signifie pas seulement avoir la


connaissance des concepts et des procédures analytiques
spécifiques, mais aussi connaître les possibilités de son
champ de recherche. Dans cette perspective, quelles seraient,
selon vous, les délimitations et aussi quelles seraient les
interfaces de votre approche théorique-analytique ?
Vous avez raison, l’ATD doit être située par rapport à la
linguistique du discours en général, par rapport à l’analyse
conversationnelle et des interactions socio-discursives, à la
socio-linguistique, à la psychologie cognitive, aux sciences
de l’information et de la communication, à la sémiologie de
l’image et à toutes les recherches linguistiques portant sur
les unités de la mise en discours (anaphores, co-référence,
connecteurs, temps verbaux, etc.).

45
JEAN-MICHEL ADAM

6) A partir des résultats de vos travaux, est-ce que vous


pourriez indiquer des contributions pour l’apprentissage
d’une langue ?
Je sais que mes travaux sont beaucoup utilisés dans le
domaine de l’apprentissage des langues, mais je suis inca-
pable de répondre précisément à votre question. Mes travaux
permettent de prendre conscience du fait que le passage de la
langue comme système au discours est une opération complexe
qui relève presque de deux linguistiques complémentaires
(thèse de Benveniste). Dans mes travaux, le concept de texte
devient un concept premier de la linguistique, conformément
au principe énoncé par Saussure en 1894 et commenté par
Benveniste dans un article où il retrace l’enseignement du
linguiste suisse à l’École des Hautes Études : « Avant tout on
doit ne pas se départir de ce principe que la valeur d’une forme
est tout entière dans le texte où on la puise, c’est-à-dire dans
l’ensemble des circonstances morphologiques, phonétiques,
orthographiques, qui l’entourent et l’éclairent ». Weinrich le
dit autrement dans la dernière édition de Tempus : « Les textes
d’une langue ne se trouvent pas à la fin ni même au-delà de la
grammaire, mais à son point de départ ». Ce qu’illustrent ses
travaux sur les temps verbaux : « […] les formes temporelles
viennent d’abord à nous – et nous reviennent – à travers des
textes. C’est là qu’elles dessinent avec d’autres signes, et aussi

46
JEAN-MICHEL ADAM

avec d’autres temps, un complexe de déterminations, un


réseau de valeurs textuelles ». Plus récemment, Franck Neveu
considère le texte comme « un observatoire de la langue »
et il assigne à ce concept une triple fonction définitoire
« d’établissement, d’attestation et d’institution des événements
linguistiques ».

7) Quels sont les progrès de l’ATD qu’aujourd’hui vous


aimeriez souligner et comment envisagez-vous les enjeux
de son avenir ?
Je réponds à cette question plus loin : questions 10 et 11.

8) Quelles lectures pourriez-vous suggérer pour quelqu’un


qui vient de débuter dans le domaine de l’ATD ?
Les livres que je citais en réponse à votre question 02,
ainsi que le livre écrit avec Ute Heidmann & Dominique
Maingueneau : Análises textuais e discursivas, auquel ont
collaboré Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes
da Silva Neto, Luis Passeggi (São Paulo, Cortez editora, 2010).
Je dois ajouter toutefois les très importants et intéressants
travaux brésiliens d’Ingedore Koch et de Luiz A. Marcuschi :
Koch, Ingedor G. Villaça. Introdução à Lingüística Textuale,
São Paulo, Martins Fontes, 2004.

47
JEAN-MICHEL ADAM

Koch, Ingedor G. Villaça; Fàvero, Leonor. Lingüística Textuale.


Introdução, São Paulo, Cortez, 1983.
Marcuschi, Luiz A. A Lingüística de texto: o que é e como se
faze. Recife: UFPE, 1983.

Questions spécifiques

9) Compte tenu du fait que l’ATD a ses origines dans la


Linguistique textuelle et dans l’Énonciation, comment la
caractériseriez-vous aujourd’hui ?
Selon moi, l’ATD a deux objectifs principaux : la théorisa-
tion précise des trois niveaux de textualisation (microtextuel,
mésotextuel et macrotextuel) et de l’articulation de la textualité
avec la généricité (les genres de discours et ce que l’on appelle
aujourd’hui les « traditions discursives »). Pour une description
des trois niveaux de textualisation, je renvoie au numéro 27
de Letra Magna : « Micronível, mesonível e macronível da
estrutura textual » (Letra Magna, Ano 17-n°27. 1 semestre
er

2021. http://www.letramagna.com/artigos.html).
Pour l’articulation à l’énonciation, j’ai déjà dit plus haut
(question 01) que mon programme de travail se situait dans
le développement de la « translinguistique des textes, des
œuvres » d’Émile Benveniste, et je renvoie, pour cela à la

48
JEAN-MICHEL ADAM

première partie du chapitre 1 de A lingüística textual (pages 39


et 40 et Esquema 2). La prise en compte de l’ancrage énonciatif
assure l’inscription de la LT dans l’AD et c’est, pour moi,
tout le sens de l’ATD : décrire la singularité d’un ancrage
contextuel (énonciatif et discursif) qui transforme la langue
(système « sémiotique ») en discours (« langue discursive »
de Saussure lui-même).
Je renvoie, pour exemple, au point 2.4 du chapitre 3 de de
A lingüística textual (pages 156-161) où je montre comment
des signes de la langue du XVIIe siècle, les adjectifs « belle » et
« jolie », prennent un sens nouveau dans la langue discursive
des contes en prose de Charles Perrault. L’énonciation est
cette opération de transformation des lexèmes de la langue
en vocables d’un texte donné. De même au point 6.2 de ce
même chapitre (pages 199-203), je décris le positionnement
énonciatif de Charles de Gaulle dans l’affiche de la seconde
guerre mondiale (1940). La façon dont une scène d’énonciation
est construite afin de rendre possible et de légitimer la parole,
dans le but ultime de rendre possible un acte de discours (ici
« l’Appel du 18 juin 1940 »), est l’objet d’une analyse textuelle
et discursive.
Pour ce qui est des genres de discours, mes travaux sur les
genres instructionnels et programmateurs ou sur les genres
de contes, pour ne prendre que ces deux exemples, ont eu

49
JEAN-MICHEL ADAM

clairement pour but d’articuler ATD et AD autour de cette


question qui n’a été reconnue comme centrale dans l’AD
que dans les années 1980. C’est pour cela que j’ai beaucoup
travaillé sur les genres de la presse écrite et, avant d’explorer
les genres de contes, sur deux grands genres de la rhéto-
rique – l’épidictique et le délibératif –, en les appliquant au
discours publicitaire et au discours politique. Dans Genres de
récits. Narrativité et généricité des textes (Louvain-la-Neuve,
Academia, 2011), je prends l’exemple des usages d’une des
grandes formes de textualisation, le récit, défini comme un
genre textuel actualisé dans différents genres de discours :
dans le discours littéraire avec les cas du récit au théâtre et
dans la poésie, les usages du récit dans le discours publicitaire
et dans différents genres de la presse écrite (fait divers, brève
et anecdote) et dans plusieurs genres du discours politique
(face-à-face télévisé, entretien, discours de campagne). Le
même travail reste à faire à propos des genres textuels de la
description, de l’argumentation, de l’explication et du dialogue.

10) Compte tenu de la réalité des nouvelles textualités des


textes numériques, quelles procédures analytiques de l’ATD
pourriez-vous suggérer à ceux qui se dédient à la recherche
dans le domaine des textes numériques ?
Je réponds à cette question dans une conférence en ligne :

50
JEAN-MICHEL ADAM

Por uma teoria modular do texto que integra os regimes


semiomediológicos de textualidad. Ciclo de conferências :
Cartografia dos gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube,
Université Fédérale du Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novem-
bre 2021 https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A.
Selon moi, le concept de texte doit intégrer les différents
grands régimes médiologiques : oraux, scripturaux, iconiques
et numériques. Ces quatre régimes sémio-médiologiques
déterminent des formes de textualité à la fois différentes et
entrecroisées. Ainsi, le codage numérique possède une pro-
priété particulière : tout i-Phone ou i-Pad réunit les régimes
médiologiques de l’écrit et de la parole, de l’image fixe et
mobile, de la navigation internet, de l’écrilecture numérique.
Les formes mixtes sont donc d’un très grand intérêt pour la
linguistique du texte et du discours.
Je réinvestis dans ce sens mes travaux sur l’icono-textualité
publicitaire et journalistique (avec la question des hyperstuc-
tures dans la presse écrite) et sur les variations scripturales
et audio-visuelles d’un même discours politique. Comme le
disent les spécialistes du domaine du textiel, la complexité
des problèmes du texte exige un dépassement des frontières
et donc une très grande attention aux travaux menés dans
d’autres disciplines. Cela implique beaucoup de modestie et,
me semble-t-il, la nécessité de ne pas trop rapidement rejeter

51
JEAN-MICHEL ADAM

les travaux développés, au départ, sur des corpus prioritai-


rement écrits. Jack Goody, spécialiste de l’interface entre
l’oral et l’écrit, soulignait déjà, en 1987, que les propriétés
de l’écriture n’ont pas été abolies par le monde numérique.
Nous n’avons pas quitté, disait-il, le monde de l’écriture, qui
est simplement devenu beaucoup plus compliqué. C’est ce que
l’ATD doit tenter de décrire avec beaucoup de précision et de
modestie : ce n’est qu’en accumulant les analyses et études de
textes numériques que nous pourrons avancer.

11) Compte tenu du progrès de l’ère numérique, quel est


votre concept de texte aujourd’hui ?
Je réponds longuement à cette question complémentaire de
la précédente dans A noção de texto (Natal, EDUFRN, 2022).
J’insiste seulement ici sur le fait que j’ai élargi ma définition
du concept de texte, en rejoignant ce qui était l’objectif d’un
des plus grands linguistes du texte : le linguiste hongrois János
Sándor Petöfi. Comme je le dis en réponse à la précédente
question, « la plupart des textes sont des textes multimédiaux
[…] la linguistique orientée vers le texte a dû rechercher de
plus vastes fondements interdisciplinaires ».

52
JEAN-MICHEL ADAM

Références bibliographiques des travaux


de J.-M. Adam concernant l’ATD
2022. A noção de texto, trad. Maria das Graças Soares Rodrigues,
João Gomes da Silva Neto e Luis Passeggi, Natal, EDUFRN.

2021. « Micronível, mesonível e macronível da estrutura textual »,


Letra Magna, Ano 17-n°27. 1 semestre 2021. http://www.letramagna.
er

com/artigos.html
2020 [2005]. La Linguistique textuelle. Introduction à l’analyse
textuelle des discours, 4 édition, Paris, Armand Colin. Tradução : A
ème

lingüística textual, São Paulo, Cortez editor; trad. Maria das Graças
Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto & Luis Passeggi, 2008 &
2011.

2020. La notion de Paragraphe. Notice de l’Encyclopédie


Grammaticale du Français

http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php

2020. Le texte est-il soluble dans le textiel ? Corela, HS-33 | 2020,


http://journals.openedition.org/corela/11938

2019. La notion de Texte. Notice de l’Encyclopédie Grammaticale du


Français,

http://www.encyclogram.fr/notx/026/026_Notice.php

2018. Le Paragraphe: entre phrases et texte, Paris, Armand Colin.

2017 [1992]. Les Textes: types et prototypes, 4 édition, Paris,


ème

Armand Colin. Tradução : Textos. Tipos e protótipos, São Paulo,


Editora Contexto, trad. Mônica Magalhães Cavalcante et al., 2019.

53
JEAN-MICHEL ADAM

2017. « O que é Linguística Textual ? », in Linguística textual.


Interfaces e delimitações, Edson Rosa Francisco de Souza, Eduardo
Penhavel & Marcos Rogério Cintra, dir., Sao Paulo, Cortez editora, p.
23-57.

2016. « Uma abordagem textual da argumentação : “esquema”,


sequência e período », ReVEL, edição especial vol. 14, n°12, p. 297-319.
Tradução Georgiana Miranda e Camile Maria Botelho Tanto.

[http://www.revel.inf.br/files/72c08a41ab6fd277b1be53924f0b19e9.
pdf].

2014. « O contínuo da linguagem : língua e discurso, gramática e


estilística », Estudios linguísticos/Linguistic studies, 9, Lisboa, Edições
Colibri & Revista do CNUL, p. 15-25.

2009. Le texte littéraire. Pour une approche interdisciplinaire, Jean-


Michel Adam & Ute Heidmann, Louvain-la-Neuve, Academia-
Bruylant. Tradução : O texto literário. Por uma abordagem
interdisciplinar, São Paulo, Cortes, trad. Maria das Graças Soares
Rodrigues et al., 2011.

2010. Análises textuais e discursivas, Jean-Michel Adam, Ute


Heidmann, Dominique Maingueneau, Maria das Graças Soares
Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi, São Paulo,
Cortez editora.

1999. Linguistique textuelle. Des genres de discours aux textes, Paris,


Nathan.

1996. L’analyse des récits, Jean-Michel Adam & Françoise Revaz,


Paris, Seuil, coll. Mémo n°22. Tradução : A análise da Narrativa,
Lisboa, Gradiva, trad. Maria Adelaide Coelho da Silva e Maria de
Fátima Aguiar, 1997.

54
JEAN-MICHEL ADAM

1990. Éléments de linguistique textuelle, Bruxelles, Mardaga.

Deux conférences en ligne :

Por uma teoria modular do texto que integra os regimes semiome-


diológicos de textualidad. Ciclo de conferências : Cartografia dos
gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube, Université Fédérale du
Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novembre 2021

https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A

Faire texte : os níveis de análise linguística. Do interfrástico ao


transfrástico / Les paliers d’analyse linguistique. De l’interphras-
tique au transphrastique.

Conférence donnée en français dans le cadre de l’association brési-


lienne des linguistes

ABRALIN ao Vivo-Linguist Online, le 20 juillet 2020

https://www.youtube.com/watch?v=5Ae3GOox4Ss

55
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Perguntas Gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Meu primeiro contato com a Análise Textual dos
Discursos, doravante ATD, se deu ao tomar conhecimento
da tradução da obra A linguística textual: introdução à análise
textual dos discursos, de Jean-Michel Adam, realizada por
Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva
Neto, Luis Passeggi e Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin,
em 2008. Encantei-me completamente pela obra em função
da riqueza de detalhes, da consistência teórica, da proposta
analítica e do refinamento do texto. Senti como um divisor
de águas na minha formação, no sentido de que me deu

56
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

muitas respostas a perguntas que até o momento eu não


conseguia responder com as demais teorias. Importante dizer
que, após a leitura de Adam (2008), formulei um projeto
de doutoramento sob a égide da ATD resultando na tese
intitulada A responsabilidade enunciativa na sentença judicial
condenatória, defendida em agosto de 2014.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Desde 2010, minhas pesquisas têm se ancorado no âmbito
da ATD. Foram livros, capítulos de livros, artigos em perió-
dicos publicados, dentre os quais destaco os seguintes:
1- Organização do dossiê especial do periódico Letra
Magna intitulado “Interlocuções no âmbito da Análise Textual
dos Discursos”, em parceira com a Profa. Dra. Maria das
Graças Soares Rodrigues;
2- Organização do livro intitulado Análise Textual dos
Discursos: perspectivas teóricas e metodológicas, em parceria
com o Prof. Dr. Luiz Álvaro Sgadari Passeggi e com a Profa.
Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues;
3- Publicação do artigo intitulado “A responsabilidade
enunciativa no texto jurídico: uma análise dos conectores

57
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

no gênero discursivo sentença judicial condenatória”, em


parceria com o Prof. Dr. Lucélio Dantas de Aquino;
4- Publicação do capítulo de livro intitulado “A responsa-
bilidade enunciativa na denúncia contra a presidente Dilma
Rousseff: uma análise da seção conclusão do parecer emitido
pelo relator do processo na câmara dos deputados”, em par-
ceria com a Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues;
5- Publicação do capítulo de livro intitulado “A categoria
do mediativo: noções básicas”, em parceria com a Profa. Dra.
Maria das Graças Soares Rodrigues.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
A ATD caracteriza-se por uma proposta teórica, metodoló-
gica, descritiva e empírica pautada, sobretudo, por uma sólida
consistência teórica e por uma rica proposta analítica. Nesse
sentido, destacamos como procedimentos teórico-analíticos
mais salientes, no âmbito da ATD, os seguintes:
I. a criação de uma unidade textual elementar de
análise;
II. a proposição de que o estudo do texto e do discurso
ocorra a partir de determinados níveis de análise,

58
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

funcionando como teorias parciais no âmbito da


ATD;
III. a orientação de que as análises sejam sempre pau-
tadas em textos e/ou discursos empíricos;
IV. a prescrição de que a relação entre texto e dis-
curso ocorre de maneira sempre contextualizada
e articulada;
V. a compreensão de que os gêneros textuais/discur-
sivos ocorrem como elemento de intersecção entre
texto e discurso.

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
Considero que os procedimentos teórico-analíticos
propostos pela ATD são as preocupações específicas que a
diferenciam de outras teorias do texto, com destaque para i)
a proposição de uma unidade textual elementar de análise; ii)
a orientação de que o estudo do texto e do discurso ocorra a
partir de determinados níveis de análise; iii) a prescrição de
que a relação entre texto e discurso ocorre de maneira sempre
contextualizada e articulada, tendo os gêneros textuais/dis-
cursivos como elemento de intersecção entre texto e discurso.

59
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
No âmbito da ATD, nossas investigações têm considerado,
sobretudo, o nível 7, que focaliza o fenômeno da respon-
sabilidade enunciativa, entendido por Adam (2008) como
o fenômeno que permite aferir o grau de engajamento do
locutor em um ato de enunciação.
No seio dos estudos enunciativos da linguagem, as dis-
cussões sobre a responsabilidade enunciativa podem e devem
realizar interfaces com diferentes quadros teóricos, a exemplo
da teoria da polifonia, da teoria dos atos de fala, da teoria das
operações enunciativas, da teoria do ponto de vista, da teoria
do quadro mediativo, entre outras.
Importante destacar que essa possibilidade de interface é
uma das grandes contribuições da ATD no sentido de assegu-
rar aos pesquisadores condições para o desenvolvimento de
pesquisas articuladas do ponto de vista teórico, metodológico
e analítico.

60
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Evidentemente. As investigações que realizamos sob a
ótica da ATD buscam analisar/explicar o discurso com base
nas marcas/pistas textuais. Em Gomes e Araújo (2005), nós já
destacávamos que, ao usar a abordagem teórica, metodológica
e descritiva de estudo do texto, conforme proposto pela ATD,
o professor poderá oferecer ferramentas para uma melhor
compreensão de inúmeros aspectos do ensino de línguas no
âmbito do ensino de gramática, de leitura, de produção de
texto, de convenções gráficas e ortográficas, além de poder
considerar os elementos de ordem cultural, bem como questões
voltadas para identificação de crenças, valores, variações
linguísticas, níveis de formalidade e de polidez, entre outros.
Isso permite uma reorientação do ensino, deixando de lado
práticas pautadas no paradigma puramente formal para se
realizar um trabalho com os elementos linguísticos sob uma
ótica discursiva. O resultado, compreendemos, fará com que os
alunos consigam aprender melhor e, consequentemente, usar
adequadamente os recursos linguísticos nos textos produzidos
com vista a alcançar seus propósitos argumentativos. Isso por-
que “se trata de uma abordagem diferente da visão tradicional,
uma vez que aqui a materialidade do texto é entendida como
‘detalhes semiolinguísticos das formas-sentido mediadoras

61
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

dos discursos’” (ADAM, 2010, p. 9), ou seja, não diz respeito


a analisar os signos linguísticos apenas do ponto de vista
formal, dissociados dos seus contextos de uso, mas, sim, de
estudar tais elementos a partir de seu entendimento textual
e discursivo (GOMES, 2014).

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Acredito que o maior avanço da ATD na atualidade é sua
consolidação como teoria enunciativa de estudo do texto e do
discurso. Frente a isso, penso que seu maior desafio seja o de
explicar mais algumas questões que ainda carecem de melhor
sistematização, a exemplo do conceito e da abrangência de
proposição-enunciada e da discussão sobre em que medida
os procedimentos analíticos de corpora do off-line podem
ser empregados, usando as mesmas ferramentas, em corpora
do on-line, considerando as textualidades digitais.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
ADAM, J-M. A. Linguística textual: introdução à análise
textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2011.

62
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

GOMES, A. T.; PASSEGGI, L.; RODRIGUES, M. G. S. (org.).


Análise Textual dos Discursos: perspectivas teóricas e meto-
dológicas. Coimbra: Grácio Editor, 2018.
GOMES, A. T.; RODRIGUES, M. G. S. Interlocuções no
âmbito da Análise Textual dos Discursos. Letra Magna, v.
17, 2021.
JUAN, H. C. Teorías de pragmática, de lingüística textual y
de análisis del discurso.Z Cuenca: Ediciones de la Universidad
de Castilla la Mancha, 2006.
RODRIGUES, M. das G. S.; NETO, J. G. da S.; PASSEGGI, L.
Análises textuais e discursivas: metodologia e aplicação. São
Paulo: Cortez, 2010.

Perguntas Específicas:

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Caracterizo a ATD, hoje, como uma teoria enunciativa
de estudo do texto e do discurso.

63
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Em Gomes e Rodrigues (2021), já havíamos comentado que

A grandeza da ATD é ser dinâmica, é ser adequada ao


tratamento linguístico de dados tanto lineares como
multilineares, é, também, prestar-se à análise de textos
multimodais, conseguindo, assim, desvelar a singularidade
de cada texto e de cada discurso, ou seja, recobre os mais
variados dispositivos enunciativos que constituem os
textos concretos e dos quais subjazem múltiplos discursos.

Nesse sentido, entendo que todos os procedimentos ana-


líticos da ATD podem ser usados em qualquer modalidade
de texto, incluindo, obviamente, os textos digitais ou textos
on-line. De todo modo, entendo, outrossim, que é preciso que
nós pesquisadores do âmbito da ATD nos debrucemos na
discussão sobre em que medida os procedimentos analíticos
de corpora do off-line podem ser empregados, usando as
mesmas ferramentas, em corpora do on-line, considerando
as textualidades digitais. É um grande desafio que temos,
cuja discussão não pode ser prescindida pela ATD.

64
ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Com base em Cavalcante (2016) e Adam (2022), compre-
endemos o texto como um evento comunicativo dialógico e
negociável de sentido completo, determinado por formas de
textualidade oral, escritural, multimodal e digital, que podem
ser, ao mesmo tempo, diferentes e entrecruzadas, lineares e
multilineares. Trata-se de uma abstração única e irrepetível,
marcada pela coerência e por propósitos comunicativos claros
a partir de suas condições de produção histórica, social e
cultural.

65
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA
Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Perguntas Gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Essa questão possui, pelo menos, dois percursos de res-
posta, os quais não se excluem. No primeiro deles, posso dizer
que o meu encontro com a Análise Textual dos Discursos
(ATD) ocorreu durante o curso de doutorado, na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, no início de 2012, sobretudo
pelo ingresso no Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos
Discursos, coordenado pela professora Maria das Graças
Soares Rodrigues e pelo professor Luis Passeggi. Naquele
momento, o grupo começava a se consolidar como centro

66
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

de pesquisa especializado em análises textuais do discurso,


com a publicação de alguns trabalhos de referência, como:
I. a tradução de A linguística textual: introdução à
análise textual dos discursos, de Adam (2008);
II. a organização e tradução do livro Análises textuais e
discursivas: metodologia e aplicações, por Rodrigues,
Silva Neto e Passeggi (2010);
III. a publicação de um capítulo sobre análise textual
dos discursos no livro de celebração dos vinte e
cinco anos do Grupo de Trabalho Linguística de
Texto e Análise da Conversação, da Associação
Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística
(ANPOLL), Linguística de texto e análise da conver-
sação: panorama das pesquisas no Brasil, organizado
por Bentes e Leite (2010);
IV. o artigo “A carta-testamento de Getúlio Vargas
(1882-1954): genericidade e organização textual
no discurso jurídico”, de Rodrigues, Silva Neto,
Passeggi e Marquesi (2012), publicado na revista
Filologia e Língua Portuguesa;
V. a tese de doutorado Representações discursivas no
discurso político. “Não me fiz sigla e legenda por

67
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

acaso”: o discurso de renúncia do senador Antonio


Carlos Magalhães (30/05/2001), de Queiroz (2013).
Se, por um lado, essa listagem de referências aponta a
produtividade do grupo à época e a sua inserção no qua-
dro de pesquisas nacionais dos estudos da linguagem, por
outro, desponta para a consolidação, no Brasil, da ATD como
uma teoria da produção co(n)textual de sentido, situada no
campo da Linguística do Texto e no quadro mais amplo
da análise do discurso. Também essa listagem direciona
para o outro percurso de resposta possível para a questão
acima, pelo contato com autores que serviram de base para as
minhas pesquisas em ATD. De longe, e assim não poderia ser
diferente, o autor de maior inspiração é Jean-Michel Adam,
responsável pela configuração da teoria. Adam é, hoje, um
dos principais especialistas contemporâneos dos estudos do
texto e do discurso, conhecido não somente por sua exímia
capacidade de sistematização mas também pela constante
atualização de seu pensamento. A notável teoria das sequências
textuais, por exemplo, considerada como uma de suas maiores
contribuições aos estudos linguísticos do texto, tem passado,
desde a década de 1990, por importantes atualizações, que
levam em conta a complexificação do objeto texto com os
avanços da tecnologia e das formas de relação do homem
com a linguagem mediadas por ela.

68
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

De igual maneira, a teoria da ATD tem passado por impor-


tantes revisões, desde a publicação, em 2005, na França, da
primeira edição de La linguistique textuelle: Introduction
à l’analyse textuelle des discours. Na condição de teoria de
conjunto, a ATD toma de empréstimo conceitos de diferen-
tes abordagens dos estudos da linguagem para arranjar um
quadro teórico-metodológico suficiente para compreender o
texto e suas relações com o discurso. Atribuir coerência a esse
arranjo demanda não somente alto empreendimento e esforço
intelectual mas também a sensibilidade para atentar à neces-
sidade de constantes revisitações à teoria. Tal exercício tem
sido produtivamente realizado por Adam, segundo atestam
as reedições revistas e aumentadas de sua obra, fundamentais
para a consolidação da teoria internacionalmente. No Brasil, já
há duas edições da obra, tendo sido a segunda também revista
e aumentada. A obra é referência imperativa e imprescindível
para quem deseja estudar sobre e desenvolver pesquisas em
ATD, já que as bases epistemológicas, o quadro teórico e
análises empíricas são nela encontrados.
Nessa mesma esteira, é preciso destacar os trabalhos de
Ute Heidmann, sobretudo aqueles desenvolvidos em parceria
com o próprio Adam, como referenciais de base para os
estudos em ATD e com os quais tive contato durante o curso
de doutorado. Com ênfase na análise de textos literários, a

69
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

autora tem contribuído para demonstrar, por meio de análises


empíricas, como a análise textual, a partir de uma abordagem
discursiva e interdisciplinar, pode ampliar as possibilidades
de interpretação do texto literário. Entre suas obras, focalizei,
especialmente, os livros Textualité et intertextualité des contes
(2010) e O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar
(2010), escritos em coautoria com Adam.
No Brasil, também é possível listar alguns autores de
referência, especialmente os responsáveis pela introdução e
difusão da ATD no país, entre os quais, Maria das Graças
Soares Rodrigues, Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto
e Sueli Cristina Marquesi, do Grupo de Pesquisa em Análise
Textual dos Discursos. Há mais de uma década, esses pro-
fessores têm se empenhado em realizar aplicações do qua-
dro teórico-metodológico da ATD e, a partir dos exercícios
analíticos, apresentar contribuições para o refinamento da
teoria, em diálogo estreito, inclusive, com o próprio Adam. A
vasta produção (pesquisas e publicações) desses professores
confirma a produtividade da ATD na análise de textos con-
cretos de diferentes domínios discursivos – político, jurídico,
religioso, jornalístico, acadêmico, literário, cotidiano etc. O
contato e o diálogo com esses professores no grupo e em aulas
da pós-graduação foi decisivo para os redirecionamentos
dados às minhas pesquisas em ATD.

70
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Desde o ingresso no Grupo de Pesquisa em Análise Textual
dos Discursos, tenho me dedicado ao desenvolvimento de
pesquisas sustentadas teórica e metodologicamente em pres-
supostos e procedimentos da ATD, as quais têm resultado
na publicação de alguns trabalhos em periódicos e livros.
Entre essas produções, julgo ser importante mencionar pelo
menos duas delas:
I. o artigo “Representações discursivas sobre Lampião
em notícias de jornais mossoroenses (1927): o mais
audaz e miserável de todos os bandidos”, publi-
cado na revista Intersecções, em coautoria com a
professora Maria das Graças Soares Rodrigues.
Considerando o nível semântico dos textos, anali-
samos, nesse artigo, a construção de representações
discursivas sobre o cangaceiro Lampião em notícias
que tratam da invasão cometida por seu bando à
cidade de Mossoró, no interior do estado brasileiro
do Rio Grande do Norte, na década de 1920. São
mobilizadas três operações textuais de construção
de representações discursivas: a referenciação, a
predicação e a modificação, que permitem analisar
como são elaboradas textualmente as imagens do

71
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

cangaceiro para que efeitos de sentidos pretendidos


pelos jornais sejam alcançados.
II. o capítulo “Representações discursivas em Vidas
Secas: a predicação como elemento humanizador da
cachorra Baleia”, publicado no livro Análise Textual
dos Discursos: Perspectivas teóricas e metodológicas,
organizado por Gomes, Rodrigues e Passeggi (2018).
Nesse capítulo, levando em conta especificamente
a operação textual de predicação, demonstro
como os verbos são fundamentais ao processo de
humanização da cachorra Baleia, do romance de
Graciliano Ramos, sendo, portanto, responsáveis
pela construção das representações discursivas a
ela atribuídas.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
O quadro teórico-analítico da ATD compreende níveis de
análise textual e níveis de análise do discurso, o que supõe a
articulação entre texto e discurso, estabelecida pelos gêneros.
Esses níveis de análise (estrutural, semântico, enunciativo
etc.) são associados a determinadas categorias ou unidades

72
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

textuais, que operacionalizam o funcionamento dos textos e


são, portanto, observadas pelo analista em análises empíricas.
Referente ao nível semântico de análise textual, algumas cate-
gorias podem ser consideradas: a correferência e as anáforas, as
colocações, as isotopias e a representação discursiva. A última
categoria dessa lista tem sido mais pormenorizadamente
focalizada em meus trabalhos, considerada como as imagens
do discurso construídas pelo conteúdo referencial dos textos,
já que toda atividade discursiva de referência constrói uma
representação semântica de um objeto.
Uma representação discursiva apresenta-se minimamente
como um tema ou como um objeto de discurso e o desenvolvi-
mento de uma predicação a seu respeito, cuja forma linguística
se estrutura a partir da associação de um sintagma nominal
e de um sintagma verbal, isto é, de um enunciado mínimo
proposicional, ou ainda de um nome e de um adjetivo. Essa
organização estrutural, mesmo sendo mínima, no caso desta
última forma mais reduzida, segundo Adam (2011), consegue
preencher o microuniverso semântico das representações
discursivas, porque constrói um “pequeno mundo” (ADAM,
2011) de forma coerente e estável, apresentado ao interlocutor
como que uma imagem da realidade.
A esse respeito, acompanhando Rodrigues, Passeggi e Silva
Neto (2010, p. 173), consideramos que todo texto constrói,

73
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

com maior ou menor explicitação, representações discursivas


de “seu enunciador, de seu ouvinte ou leitor e dos temas ou
assuntos tratados”. Essa colocação tem origem no postulado
das representações, de Grize (1990), para quem as ativida-
des discursivas dos interlocutores são orientadas por um
conjunto complexo de representações dos temas tratados,
da situação de discurso e dos interlocutores. Isso quer dizer
que, ao interagir, o locutor deve ter uma representação da
situação de comunicação da qual participará, ou seja, ele
deve conhecer não só o seu interlocutor e o tema tratado no
seu discurso mas também deve ter uma ideia de si mesmo
como interveniente no processo comunicativo e consciência
das intervenções que poderá fazer.
Para Grize (1990), em toda situação de comunicação, têm
lugar dois interlocutores (A e B) que esquematizam imagens
de si, do outro e do tema tratado na comunicação. A desem-
penha uma atividade de construção dessas imagens; e B,
de reconstrução, em função da finalidade da interação, das
representações que têm da situação e dos pré-construídos
culturais. As representações reconstruídas por B podem não
coincidir com as construídas por A, porque os interlocutores
são seres distintos, reais e únicos e a comunicação não é um
processo simétrico, já há uma série de fatores que toma parte
desse processo e que o determina. Além disso, a finalidade

74
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

(o propósito comunicativo) de A na situação de comunicação


é diferente da finalidade de B, uma vez que não há simetria
entre eles, porque B se limita a informações colocadas por
A – ainda que os lugares de A e B sejam alternados quase
sempre pelos sujeitos que os ocupam.
Textualmente, as representações discursivas são construí-
das a partir de operações semânticas como a referenciação, a
predicação, a modificação, a localização e a conexão. Essas
operações são semânticas, mas na ATD são interpretadas
numa perspectiva textual. Por isso, elas não correspondem,
biunivocamente, a uma categoria gramatical, lexical ou mesmo
discursiva, todavia, antes, incorporam-nas. É por meio do
exame dessas operações que os analistas conseguem observar
as representações discursivas construídas nos textos e os
sentidos delas decorrentes a partir de uma análise co(n)textual,
que considera não só a materialidade (cotexto) mas também
os elementos contextuais mais amplos, inscritos na situação
comunicativa e reconstruídos nos textos.

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
A ATD é uma teoria de conjunto que se volta para a análise
co(n)textual de sentido de textos concretos. Essa assunção tem

75
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

algumas implicações que a diferenciam de outras teorias do


texto e do discurso. A primeira delas refere-se ao deslocamento
teórico-metodológico operado por Adam (2011) para situar
decididamente a Linguística do Texto no quadro amplo da
Análise do discurso. Embora essas duas abordagens, desde
a década de 1950, tenham se desenvolvido de maneira inde-
pendente, ainda que sempre tenha sido possível estabelecer
alguma associação entre ambas, Adam observa que

É sobre novas bases que propomos, hoje, articular uma


linguística textual desvencilhada da gramática de texto e
uma análise de discurso emancipada da análise de discurso
francesa (ADF). Nossas referências bibliográficas tornarão
explícito o que nos separa do quadro estrito da ADF e nos
orienta, sobretudo, para a análise de discurso tal como
é delineada por Dominique Maingueneau (1991, 1995)
(ADAM, 2011, p. 25).

O procedimento metodológico adotado pelo autor supõe


a Linguística do Texto como sendo uma corrente que superou
os limites da Gramática do Texto, e a Análise de discurso
como linha emancipada da análise do discurso de orien-
tação francesa (aquela desenvolvida por Michel Foucault,
amplamente difundida aqui no Brasil, especialmente pelos
estudos de Eni Orlandi e Rosário Gregolin). Pensadas sobre
essas novas bases, ele estabelece, “ao mesmo tempo, uma

76
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

separação e uma complementariedade das tarefas e dos objetos


da linguística textual e da análise do discurso”: a primeira
teria como objetivo “descrever os princípios ascendentes que
regulam os encadeamentos complexos, mas não anárquicos,
das proposições no seio de um sistema da unidade texto que
apresenta relações sempre especiais”, e a segunda deverá se
deter, prioritariamente, a “descrição das regulações descen-
dentes que as situações de interação, as línguas e os gêneros
impõem aos componentes da textualidade” (ADAM, 2011, p.
43). Sendo essas tarefas cmplementares, o analista, a partir de
uma abordagem discursiva, deve tomar em conta o funciona-
mento comunicativo do texto, desde as regulações procedentes
da língua, do tipo de discurso e do gênero específico que
impõe ao texto determinadas convenções ou prescrições
temáticas, composicionais, enunciativas ou estilísticas, de um
ponto de vista textual, observar as regulações que dirigem as
operações de encadeamento e de segmentação das unidades
que compõem o texto. Esse movimento é, com razão, um dos
diferenciais da ATD.
Dele se supõe também a articulação feita entre texto e
discurso. O objeto da ATD é o texto, mas sempre visto na
relação com o quadro mais amplo das práticas discursivas
humanas. É que a compreensão desse objeto, isto é, de um
texto concreto, é processada tanto pela interpretação que faz o

77
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

analista de sua materialidade (cotexto) como pelos elementos


contextuais mais amplos, decorrentes da própria situação
comunicativa e do contexto social e histórico no qual ela se
desenvolve. É nesses termos que a ATD se constitui como uma
teoria da produção co(n)textual do sentido, porque considera
tanto a materialidade textual quanto o contexto de produção.
Segundo explica Herrero Cecília (2006, p. 151), na ATD,

El texto es al mismo tiempo resultado de la actividad


discursiva (enunciación) de un sujeito que se dirige a un
interlocutor en una situación de comunicación determi-
nada, y una unidad semántica de comunicación organizada
en torno a un tema (encadenamiento de proposiciones
integradas en secuencias dentro de un esquema compo-
sicional que confiere unidad al conjunto).

Assim, o texto é um construto semiótico, mas também his-


tórico-social. É nesse sentido que Charaudeau e Maingueneau
(2008) consideram texto e discurso como duas faces comple-
mentares de um objeto comum tomado pela Linguística do
Texto e pela Análise do discurso. Nessa condição,

O texto é fabricado com regras que lhe sao próprias, que


é preciso atualizar e que testemunham, ao mesmo tempo,
restrições e estratégias do sujeito falante, todas elas, coi-
sas que constroem a “materialidade textual” [...]. Mas,
ao mesmo tempo, há discurso, ou mais propriamente,

78
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

discursos que circulam sob os textos (quer sejam orais ou


escritos) e que é preciso detectar, por meio dos jogos de
intertextualidade e interdiscursividade que os constituem
(CHARAUDEAU, 2015, p. 125-126).

Com esse contorno, o texto não é um objeto autoexistente


nem autoconstitutivo com existência a priori no mundo real.
Para Adam (2015), o texto é uma construção do mundo que
resulta do olhar que lançamos sobre ele quando acontece
um evento de comunicação. “Uma vez havendo um texto,
ou seja, uma vez reconhecido o fato de que uma série verbal
ou verbo-icônica forma uma unidade de comunicacao, há
um efeito dc generecidade, isto é, há uma inscrição dessa
série de enunciados em uma classe de discurso” (ADAM,
2019, p. 34). Sob essa ótica, não existe texto sem gênero, e é
a partir do sistema de gêneros que a textualidade alcança a
discursividade. O gênero é, portanto, o elemento que media
a articulação entre texto e discurso. É por meio dele que
as formas da língua (ou de outras semioses) são colocadas
organizadamente em discurso. Dar esse lugar ao gênero é
outro investimento importante da ATD.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos, mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia

79
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

ressaltar delimitações, bem como interfaces de sua abor-


dagem teórico-analítica?
Em um interessante trabalho a respeito da metodologia
da pesquisa em estudos linguísticos, a professora Vera Lúcia
Menezes de Oliveira e Paiva, da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), reúne um conjunto de orientações de pesquisa
voltadas particularmente para pesquisadores iniciantes. Não
obstante o caráter genérico dessas orientações, a professora
trata com deferência inúmeros problemas relativos à prática
de pesquisa. Numa delas, alerta:

Nao é ético criticar um trabalho que usa uma teoria para


falar de um fenômeno só porque a teoria que você abraça
vê o mesmo fenômeno com outra lente. Nada te impede
de mostrar as formas distintas como um fenômeno é visto,
mas nao joque pedra em quem nao reza pela sua cartilha
(PAIVA, 2019, p. 111).

A disputa entre teorias que tomam um mesmo fenômeno


como objeto é comum, porque todas as práticas discursivas
travam uma luta pelo estabelecimento de verdades. Danosa,
claro, é a crítica infundada, sustentada apenas na pura vaidade
do pesquisador e na crença cega ou no endeusamento de uma
teoria. Essa não pode ser uma prática de quem trabalha com a
ATD. Dispensando o problema ético envolto nessa questão, a
ATD demanda um caráter interdisciplinar, que lhe diferencia

80
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

de muitas outras abordagens do texto e do discurso. A ATD é


proposta por Adam (2011) como uma teoria de conjunto, que
opera deslocamentos conceituais e metodológicos de outras
teorias e abordagens discursivas, enunciativas e textuais para
dar conta da complexidade de seu objeto. Essa preocupação
epistemológica é claramente colocada pelo autor:

O texto é certamente um objeto empírico tão complexo


que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes
teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas rela-
ções com o domínio mais vasto do discurso em geral que
temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de
conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo
quadro e uma indispensável coerência (ADAM, 2011, p. 26).

Não somente pela articulação com a Análise do dis-


curso, mas sobretudo pela aproximação com outras teorias
e abordagens é que à ATD pode ser atribuído um caráter
interdisciplinar. Por exemplo, o fenômeno da representação
discursiva, principal categoria do nível semântico da análise
textual, é compreendido a partir da articulação que a teoria
estabelece com a Lógica Natural da Linguagem, segundo
Grize. De maneira semelhante, também o fenômeno da res-
ponsabilidade enunciativa, categoria do nível enunciativo
da análise textual, é tomada a partir do diálogo com teorias
enunciativas, como a teoria do ponto de vista de Alain Rabatel

81
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

e a teoria escandinava da polifonia linguística. Lançar mão


dessas e de outras abordagens para elaboração de uma teoria
requer arranjos vários para atribuir à proposta uma unidade de
coerência dentro do conjunto. E isso Adam faz com maestria.
Todavia, isso não significa que a ATD não enfrente limi-
tações no tratamento do seu objeto. Ainda que seja uma teoria
de conjunto, não deve ser tomada como se fosse substituta
própria da Linguística ou como se se tratasse de um projeto
de Linguística Integral e, portanto, como se desse conta de
todas as formas de abordagens da língua. A ATD é uma
abordagem teórica e descritiva que toma o texto como objeto
na sua relação com o discurso. O seu limite de análise é a
proposição-enunciado, uma unidade textual mínima efeti-
vamente realizada e produzida por um ato de enunciação
– um enunciado mínimo – expressa pela articulação entre
um sintagma nominal e um sintagma verbal. Tudo o que
for inferior a essa unidade não é de interesse da ATD nem
objeto de estudo.
Além disso, a ATD se depara com desafios para lidar com
certos tipos de texto, a exemplo dos textos nativos digitais.
Ainda que alguns empreendimentos possam ser vistos como
exitosos – como o nosso trabalho sobre o plano de texto no
tratamento da escrita em mídia digital móvel (SILVA, 2020); o
estudo de Rodrigues (2021) sobre o ponto de vista emocionado

82
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

em comentários on-line; e, ainda, o trabalho de Marquesi et al


(2021) a respeito do gênero digital artigo de divulgação para
crianças –, algumas categorias da ATD são mais dificultosas
de serem analisadas em textos do ambiente digital, como o
fenômeno da responsabilidade enunciativa, por exemplo. Esses
textos testemunham um aumento da enunciação, devido à
conversação da web social ou às ferramentas de escrita base-
adas na onipresença, que permitem uma escrita colaborativa
e coletiva num único enunciado, conforme explica Paveau
(2021). Outro desafio reside no estabelecimento dos limites
do texto digital, quer dizer, na demarcação do início e do fim,
já que esses textos não se desenvolvem necessariamente num
eixo sintagmático específico e podem ser, ao longo tempo,
editados e/ou aumentados.
Por essas razões, a ATD poderia ser acusada de não ter
sido uma teoria elaborada para dar conta dos textos nativos
digitais. Reconheço, como lembra Paveau (2021), que textos
produzidos de modo on-line têm características que as teorias
do texto e do discurso do contexto pré-digital não conseguem
dar conta, como a explicação do funcionamento das hashtags,
a categorização de URL, a descrição de fomas digitais de
discurso relatado e de formas de classificação automática
declarações on-line. Apesar disso, por se tratar de uma teoria
passível de atualizações, alguns investimentos têm sido feitos

83
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

a fim de buscar compreender o funcionamento dos regimes


de textualidades digitais, como o recente trabalho de Adam
(2022).

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Ainda que a ATD não consista em uma teoria de finali-
dade pedagógica, é possível vislumbrar contribuições dessa
abordagem para o ensino, sobretudo se considerarmos que
a Linguística Textual, de maneira geral, tem impactado sig-
nificativamente, ao longo dos anos, no tratamento dado ao
texto em sala de aula. Listo, a seguir, ao menos dois trabalhos
que tratam do ensino de língua portuguesa a partir de lentes
teórico-metodológicas da ATD.
I. O capítulo “Linguística Textual e Ensino: a classifi-
cação tipológica dos textos e o ensino de gramática”,
publicado no livro Teorias linguísticas em contextos
de ensino: diversas abordagens, múltiplos objetos,
organizado por Silva, Andrade e Silva (2018), em
coautoria com a professora Maria das Graças Soares
Rodrigues;
II. O capítulo “A sequência narrativa em fanfics retex-
tualizadas a partir de contos de mistério”, publicado

84
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

no livro Experiências em linguagens e práticas de


ensino no PROFLETRAS, organizado por Pereira,
Barbosa e Sampaio (2020), em coautoria com Maria
Cleniuda da Silva.
No primeiro deles, demonstramos que o ensino de gramá-
tica na escola pode partir da organização linguística dos textos,
ou seja, se o estudo da gramática considerar as tipologias
dos textos, poderá permitir que os alunos aprofundem seus
conhecimentos sobre a estrutura da língua e dos processos
de produção e compreensão dos textos. Assim, por exemplo,
a proposta classificatória dos textos a partir da organização
de suas sequências prototípicas constitutivas, como propõe
Adam (2011), poderia permitir que o professor trabalhe cate-
gorias da língua não de forma imanente, mas avaliando o
funcionamento dessas categorias na organização dos textos.
Pensar dessa forma pode trazer implicações fundamentais
para modificar o trabalho com a gramática na escola, de
forma a distanciá-lo de uma abordagem meramente estrutural.
O segundo texto trata de uma experiência prática realizada
por uma orientanda de mestrado no âmbito do Programa de
Mestrado Profissional em Letras (Profletras). Focalizamos
especificamente a sequência narrativa a partir de Adam (2011)
para elaborar uma proposta de trabalho com o gênero fanfic. A
didatização da estrutura da sequência narrativa sob o formato

85
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

de um caderno pedagógico contribuiu significativamente


para os processos de ensino e de aprendizagem da língua
portuguesa, notadamente no que refere à prática de produção
de textos, pelo que se verificaram vários avanços positivos na
escrita dos estudantes. Essas duas experiências são indiciais
das contribuições que a ATD pode apresentar para o ensino,
sobretudo para o ensino de línguas.

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
A ATD tem permitido o exame especializado de textos
de diversos domínios, mas, notadamente aqui no Brasil,
ocorreu uma verticalização nas análises de textos do domí-
nio jurídico, e nisso consiste um dos avanços da teoria na
contemporaneidade. O estudo dos textos que compõem os
sistemas de gêneros desse domínio tem cumprido funções
muito importantes. Se, de um lado, permite a compreensão
do funcionamento textual-discursivo dos gêneros jurídicos,
atentando não apenas para a linguagem especializada empre-
gada mas também para aspectos relativos à organização
composicional (plano de texto), bem como para a construção
dos sentidos e do funcionamento enunciativo desses textos;
por outro, tem motivado a comunidade jurídica a avaliar os
modos de escrever e fazer circular para o público em geral

86
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

o discurso da justiça, como ocorre no trabalho de Lanzillo


(2016). De igual modo, no domínio acadêmico, o exame de
textos produzidos na universidade tem apresentado também
um caráter aplicado, fazendo repensar a maneira pela qual se
ensina a escrever a estudantes de graduação e pós-graduação,
conforme ressaltam Bernardino e Rodrigues (2014). Esse
caráter aplicado pode ser interpretado como um dos avanços
da ATD na contemporaneidade.
Referente aos desafios da teoria, a resposta a essa ques-
tão está estritamente ligada, ao menos em parte, ao que já
discutimos na questão de número cinco. Sem dúvidas, um
dos grandes desafios da ATD para o futuro é adaptar seus
dispositivos teórico-analíticos para o tratamento de textos
nativos digitais. Isso requer novos contornos teóricos a fim
de redimensionar o conceito de texto, bem como arranjos
metodológicos que permitam ao analista ter acesso aos textos
em seus ambientes e levar em conta todas as suas nuances.
As transformações desencadeadas pelas tecnologias digi-
tais são tão aceleradas que novos formatos de textos surgem
quase a todo momento e, ainda que os compreender seja uma
necessidade incontornável, é tarefa difícil para os linguistas,
especialmente para os linguistas do texto.

87
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
Talvez, ao menos em parte, essa questão já tenha sido
atendida em minha primeira resposta. Não há, ainda, um
consenso na área a respeito de um programa de estudo sobre
ATD. Todavia, conforme já mencionamos, algumas referências
de base colocam-se quase como que leituras obrigatórias
para quem deseja iniciar estudos em ATD. Primeiramente,
o livro A linguística textual: introdução à análise textual dos
discursos, que apresenta um detalhamento epistemológico,
teórico e analítico da abordagem. Além de conceitos-chave
como texto, discurso, gênero, co(n)texto, plano de texto,
sequência textual, Adam (2011) apresenta uma sistematização
do formato organizacional da ATD, que situa a Linguística do
Texto na Análise do discurso e apresenta os níveis de análise
textual e do discurso que devem ser considerados por quem
faz análise textual numa perspectiva discursiva.
Uma segunda referência importante para pesquisadores
iniciantes na área é o capítulo “A análise textual dos discursos:
para uma teoria da produção co(n)textual dos sentidos”, de
Rodrigues, Silva Neto e Passeggi (2010). Nesse texto, num
esforço de síntese, os autores apresentam uma resenha da
obra de Adam (2008), com uma discussão concisa a respeito
dos níveis de análise do texto e das unidades textuais a eles

88
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

correspondentes. De maneira mais detalhada, os autores


focalizam o nível enunciativo de análise, atentando às noções
de responsabilidade enunciativa e ponto de vista. Para ilustrar
esses fenômenos, eles ainda recorrem a uma amostra ana-
lítica de textos extraídos dos domínios político, acadêmico
e literário, observando os funcionamentos das categorias
textuais propostas pela ATD. É, pois, um trabalho que permite
ao leitor conhecer, além dos dispositivos teóricos básicos, a
aplicabilidade da teoria em textos concretos.
Nessa mesma direção, o livro Análise textual dos discursos:
perspectivas teóricas e metodológicas, de Gomes, Passeggi
e Rodrigues (2018), pode ser uma leitura relevante para
pesquisadores iniciantes, porque, nessa coletânea, além de
discutirem e ampliarem os fundamentos teóricos da ATD a
partir de interfaces com outros abordagens dos estudos do
texto, do discurso e da enunciação, são apresentadas análi-
ses empíricas com textos de variados domínios discursivos,
nos quais se evidenciam os procedimentos metodológicos
empregados pela teoria para observar como os sentidos são
co(n)textualmente construídos nos textos. Logo, trata-se de
uma leitura que poderá contribuir de forma expressiva com
quem deseja desenvolver pesquisas em ATD, sobretudo no
que diz respeito ao tratamento analítico dos textos, ou para

89
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

quem busca estabelecer interfaces com outras abordagens de


pesquisa, dado o caráter interdisciplinar que a ATD apresenta.

Perguntas Específicas:

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Conforme inicialmente definida por Adam (2011), a ATD
é uma abordagem teórico-metodológica voltada para a análise
co(n)textual dos sentidos de textos concretos. É caracterizada,
sobretudo, por tomar o texto em articulação com o discurso,
já que, nesse empreendimento, como pontuei, a Linguística
do Texto é situada na Análise do discurso.
São numerosos os trabalhos que, de alguma maneira, já
apresentam essa perspectiva. De modo geral, num esforço de
síntese, entendo, atualmente, a ATD como abordagem teórica
e descritiva que, assim como a Linguística do Texto, apesar de
se interessar por aspectos sociointeracionais e discursivos, ela
não tem por função o tratamento metodológico das práticas
discursivas em termos de suas restriçoes semânticas globais.
O seu objetivo, na verdade, é descrever o texto que se estabe-
lece nessas práticas discursivas, e que é sempre evidência de

90
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

aproximações e distanciamentos de vários discursos. O seu


objeto de estudo são as regularidades que colaboram para a
produção e interpretação dos sentidos no texto em contexto,
ou seja, são as regularidades que operam os encadeamentos
e as segmentações de enunciados elementares no âmbito da
unidade de grande complexidade que constitui o texto.

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Se a análise dos textos nativos digitais é o grande desafio
da ATD, assim como de muitas outras abordagens do texto e
do discurso, é preciso apontar alguns (des)caminhos que essa
abordagem pode adotar. Uma primeira questão que carece de
reflexão refere-se ao fato de que, como afirma Adam (2022),
como nunca antes, o texto precisa ser pensado em redes de
texto, já que, no ambiente digital, ele não somente se mostra
mas também se faz texto (faire-text) durante a navegação.
Paveau (2021) trata desse aspecto a partir dos conceitos de
relacionalidade e aumento, duas das características de tex-
tos nativos digitais. Para ela, esses textos estão sempre em
relação com outros textos, com dispositivos tecnológicos,
com interlocutores e leitores (os escrileitores, segundo ela),
e testemunham a todo instante um aumento da enunciação.

91
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

Isso se torna um problema quando se pensa que, dessa forma,


o texto rompe inteiramente com os seus limites, não sendo
possível demarcar seu fim, por exemplo. Seria radicalmente
difícil mobilizar procedimentos analíticos da ATD, como o
plano de texto, se não se consegue delimitar o início e o fim
de um texto. Além disso, em função da natureza compósita
dos textos nativos digitais (e multissemiótica), é desafiador
examinar como a noção de plano de texto pode ser neles
operada. Seria um caminho de análise produtivo ou um
obstáculo impossível de ser superado? A questão está aberta
para pesquisa.
Também, como já havia sinalizado na questão cinco desta
entrevista, a categoria da responsabilidade enunciativa é outro
procedimento analítico sobre o qual aqueles que lidam com
o texto nativo digital precisam se debruçar. Como ressaltou
Cavalcante (2020), nesse tipo de texto, o quadro enunciativo,
tradicionalmente polarizado nos dois papéis de locutor e de
interlocutor nos textos pré-digitais, se complexifica com a
participação das máquinas e de seus programadores nes-
ses circuitos comunicativos. E se complexifica ainda mais
em situações de escrita do tipo colaborativa, em que vários
sujeitos podem estar envolvidos simultaneamente e de modo
on-line na produção de um texto sem adotar um percurso
linear, como é o caso de textos do tipo wiki, que adotam

92
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

um sistema aberto de edição, no qual inúmeros usuários


podem editar um mesmo tempo – são exemplos desses textos
os verbetes produzidos na Wikipédia. Também ocorre nos
textos poligeridos, como aqueles que são construídos por
comentários de vários usuários a respeito de determinado
tema numa interação polêmica, em que o gerenciamento
de vozes acontece livremente. Em todos esses casos, como
pensar a assunção ou não da responsabilidade enunciativa?
No caso de textos wiki seria, por exemplo, a rastreabilidade
um caminho para a análise desse fenômeno? Mais uma vez,
a questão está em aberto.
Creio que esses dois exemplos são suficientes para demons-
trar como é desafiadora e instigante, além de necessária, a
empreitada de análise de textos nativos digitais a partir de
procedimentos analíticos da ATD. Sendo essa uma teoria
voltada para análise de textos concretos, não pode abortar
os textos nativos digitais.

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Atribuir um conceito para texto é uma das atividades
mais difíceis da Linguística do Texto, por mais paradoxal

93
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

que isso pareça ser, já que o texto é o seu objeto. Entretanto,


é uma tarefa difícil por várias razões:
I. o texto é um objeto complexo, que possui várias
dimensões;
II. o texto é objeto legítimo de disciplinas relativamente
distintas;
III. nem sempre é possível estabelecer com clareza os
seus limites;
IV. não há uma única definição de texto dentro e fora
da Linguística do Texto;
V. o conceito de texto tem sido alterado ao longo da
história da Linguística do Texto;
VI. o próprio objeto texto sofre constantes modificações
para atender às diferentes e variáveis necessidades
humanas;
VII. é extrema a diversidade e heterogeneidade de textos
possíveis.
Essa última razão é medida por Adam (2022), citando
Molino (1989, p. 41), como o principal obstáculo encontrado
por todo aquele que pretende atribuir uma definição para
texto.

94
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

Que definição seria, ao mesmo tempo, aplicável e fecunda


para abarcar textos tão diferentes como uma tragédia
de Racine, um artigo e jornal esportivo, um tratado de
anatomia humana ou de bioquímica, um editorial político,
uma monografia publicada nas resenhas da Academia de
Ciências, um romance e uma tese de história?

Entre muitas definições existentes no quadro da Linguística


do Texto, a definição de Koch (2004, p. 85) foi aceita e utilizada
em inúmeros trabalhos no Brasil. Para a autora,

[...] na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual


os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o
texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação
e os interlocutores, sujeitos ativos que – dialogicamente –
nele se constroem e por ele são construídos. A produção
de linguagem constitui atividade interativa altamente
complexa de produção de sentidos que se realiza, eviden-
temente, com base nos elementos linguísticos presentes na
superfície textual e na sua forma de organização, mas que
requer não apenas a mobilização de um vasto conjunto
de saberes (enciclopédia), mas a sua reconstrução e a dos
próprios sujeitos – no momento da interação verbal.

O conceito da autora compreende aspectos muito impor-


tantes de uma definição de texto: aborda os aspectos linguís-
tico, interacional, social e cognitivo constitutivos dos textos.
Levar em conta a dimensão sociocognitiva que a atividade de

95
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

produção de textos supõe revela grande amadurecimento e


evolução da Linguística do Texto na abordagem do seu objeto.
Porém, sem esforço, vemos que se trata de uma definição
limitada, no sentido de que não dá conta dos numerosos
arquétipos de textos, configurados a partir de diferentes
semioses, dos quais dispomos na atualidade. A restrição ao
verbal (linguístico) é característica de diversas definições que,
ao longo do tempo, têm sido abortadas, entre outros motivos,
precisamente por essa razão.
É que a problemática da definição de texto se intensifica
consideravelmente com os avanços da era digital, que atribui
aos textos novos arranjos inimagináveis nos tempos pré-
digitais. Como apontei, acompanhando Paveau (2021),
lidar com características como deslinearização, aumento
enunciativo, natureza compósita (linguageiro e tecnológico),
imprevisibilidade, entre outras, é um desafio à Linguística e,
portanto, à Linguística do Texto e à própria ATD. No caso
dessas disciplinas, demanda uma ampliação importante do
conceito de texto, que, se não der conta de todas as possibili-
dades de produção de textos no ambiente digital e em outros
ambientes, ao menos não se limita ao formato verbal do
pré-digital. O próprio Adam (2021, p. 121), em estudo mais
recente, já tem apontado para tal preocupação:

96
ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

Uma definição de texto deve, portanto, dar conta não


apenas das formas textuais próprias à escrita e próprias à
oralidade, mas também da inserção de módulos icônicos
tanto na escrita (textos icônicos) quanto em componentes
de certas interações orais (suportes icônicos que acom-
panham uma conferência, um curso ou uma emissão
televisiva).
[...]
“Na internet há, sobretudo o texto [...]”.

Sem perder de vista que o texto é uma entidade multifa-


cetada, com variados níveis de complexidade, na atualidade,
acompanho a definição de texto que vem sendo adotada
pelo Grupo de Pesquisa Protexto, da Universidade Federal
do Ceará, liderado por Mônica Cavalcante, que entende o
texto como um enunciado, que acontece como evento único
e irrepetível, compondo uma unidade de comunicação e
de sentido em contexto, expressa por uma combinação de
sistemas semióticos (CAVALCANTE et al., 2019). Essa uni-
dade é sempre negociada e sempre tem início, meio e fim
(CAVALCANTE, 2016), ainda que o fim possa ser significado
pelo início de outro texto, cotexto ou fragmento (ADAM,
2021).

97
CORINA IFTIMIA
Universidade Stefan cel Mare
Tradução Maria Eduarda Giering

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Foi traduzindo o livro Linguística Textual: introdução
à análise textual dos discursos, de Jean-Michel Adam, que
descobri a ATD.

2) Entre suas publicações em periódicos, livros impressos


e livros digitais, quais você considera mais marcantes?
Corina Iftimia, 2020, Le petit prince ne va pas bien. Essai
sur une pédagogie à rebours, CONCORDIA DISCORSE vs.
DISCORDIA CONCORS, nr. 12/2019, Editura Universității
Suceava, (ISSN 2065-4057), 2020, pp. 113-124.

98
CORINA IFTIMIA

Corina Iftimia, 2013, Pascal Quignard et la violence décon-


textualisante du langage in ANADISS no 16 /2013, pp. 27-37
(ISSN – 1842-0400)
Corina Iftimia, 2011, Les avatars d’un discours dans l’histoire
in ANADISS no 11/2011, Editura Universității Suceava, pp.
98-104 (ISSN – 1842-0400).
Corina Iftimia, 2006, Le profil politique de C.V. Tudor lors
des élections présidentielles de 2004 in ANADISS, nr.1/2006,
pp. 111-129
Corina Iftimia, 2004, Dor et Désir in “Analele Universitaţii
“Ştefan cel Mare”, Seria Filologie, An XIII, Tom X, Nr. 2, 2004,
pp. 139-146 (ISSN- 1584-2878).

3) Se considerarmos a ATD como um campo de estudo


situado na Linguística textual, discursiva e enunciativa,
que abordagens teórico-analíticas você poderia destacar?
Em meus artigos, baseei-me principalmente na obra de
Dominique Maingueneau. Vindo do campo dos estudos
literários, fui seduzida por suas paratopias em Le discours
littéraire. Paratopie et scène d’énonciation (Paris, Armand
Colin, 2004), bem como pela abordagem discursiva da litera-
tura em Contre Saint Proust ou la fin de la littérature (BELIN,
2006). Da mesma forma, sua teoria do ethos pré-discursivo

99
CORINA IFTIMIA

foi útil para mim na análise do discurso político durante as


eleições presidenciais de 2004.

4) Quais são os objetivos específicos da ATD que a dife-


renciam das demais teorias do texto?
Parece-me que um dos objetivos principais é acabar de
uma vez por todas com a estrita demarcação entre texto e
discurso, que tem sido bastante polêmica. Outro objetivo foi
abrir o texto e conectá-lo a outros textos que o antecederam
(para além dos limites teóricos da intertextualidade), ir do
texto para além do texto, libertando-o dos constrangimentos
do estruturalismo.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações, bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
A entrevistada não respondeu.

100
CORINA IFTIMIA

6) Com base nos resultados do seu trabalho, você poderia


indicar contribuições para o aprendizado de línguas?
A entrevistada não respondeu.

7) Que avanços da ATD você gostaria de destacar hoje e


como vê os desafios para o futuro?
Eu mencionaria primeiro essa abordagem discursiva dos
textos. Quanto aos desafios, creio que a ATD tem tudo para
se dedicar ao campo das produções textuais digitais.

8) Que leitura você indicaria para quem está começando


na área de ATD?
É claro que devemos começar com a obra de Jean-Michel
Adam, mas sobretudo com a obra de Eugène Coseriu sobre
a Linguística do texto, passando pela Grammaire du sens et
de l’expression de Patrick Charaudeau.

101
CORINA IFTIMIA

Perguntas específicas

9) Considerando que a ATD tem sua origem na Linguística


Textual e na Enunciação, como você a caracterizaria hoje?
Como uma ciência que ainda não deu sua última palavra
e que ainda tem um futuro brilhante pela frente, desde que
se concentre no texto-discurso.

10) Tendo em conta a realidade das novas textualidades


dos textos digitais, que procedimentos analíticos da ATD
você poderia sugerir àqueles que se dedicam à pesquisa no
campo dos textos digitais?
Considero que o investigador que quer iniciar nesta área
também deve ter sólidas competências digitais, saber utilizar
motores de busca, softwares, pelo menos na fase de cons-
tituição da sua base de dados. Por exemplo, softwares que
quantificam as recorrências de palavras/sintagmas-chave em
um texto de grandes dimensões.

11) Considerando o avanço da era digital, qual é o seu


conceito de texto hoje?
Na minha opinião, na era digital, dificilmente pode-
mos falar da materialidade do texto, de sua estabilidade e

102
CORINA IFTIMIA

durabilidade. O texto digital tornou-se fluido, fácil de modi-


ficar e de transformar de acordo com os imperativos ou
com as ideologias do momento. Não se pode mais falar de
qualquer exemplaridade do texto no momento em que todos
podem se colocar como escritores. Tratar-se-ia, portanto, de
um texto instável, que poderia trazer problemas no futuro se
pensarmos na fase de organização do texto, por exemplo, na
tradução ou na edição dos textos de um autor.

103
CORINA IFTIMIA
Universidade Stefan cel Mare
Versão em francês

Questions générales

1) Comment êtes-vous arrivés à l’Analyse Textuelle des


Discours (ATD) ? Quels auteurs vous ont-ils inspirés ?
C’est en traduisant le livre de Jean-Michel Adam
Linguistique textuelle. Introduction à l’analyse textuelle des
discours que j’ai découvert l’ATD.

104
CORINA IFTIMIA

2) Parmi vos publications dans des revues, des livres impri-


més et des livres numériques, quelles sont celles que vous
considérez les plus remarquables?
Corina Iftimia, 2020, Le petit prince ne va pas bien. Essai
sur une pédagogie à rebours, CONCORDIA DISCORSE vs.
DISCORDIA CONCORS, nr. 12/2019, Editura Universității
Suceava, (ISSN 2065-4057), 2020, pp. 113-124.
Corina Iftimia, 2013, Pascal Quignard et la violence décon-
textualisante du langage in ANADISS no 16 /2013, pp. 27-37
(ISSN – 1842-0400)
Corina Iftimia, 2011, Les avatars d’un discours dans l’histoire
in ANADISS no 11/2011, Editura Universității Suceava, pp.
98-104 (ISSN – 1842-0400).
Corina Iftimia, 2006, Le profil politique de C.V. Tudor lors
des élections présidentielles de 2004 in ANADISS, nr.1/2006,
pp. 111-129
Corina Iftimia, 2004, Dor et Désir in “Analele Universitaţii
“Ştefan cel Mare”, Seria Filologie, An XIII, Tom X, Nr. 2, 2004,
pp. 139-146 (ISSN- 1584-2878).

105
CORINA IFTIMIA

3) Si l’on considère l’ATD comme un champ d’études situé


dans la Linguistique textuelle, discursive et énonciative,
quelles démarches théoriques-analytiques pourrez-vous
mettre en relief?
Dans mes articles, je me suis appuyée surtout sur les
travaux de Dominique Maingueneau. Venant du champ des
études littéraires, j’ai été séduite par ses paratopies dans Le
discours littéraire. Paratopie et scène d’énonciation (Paris,
Armand Colin, 2004), ainsi que par son approche discur-
sive de la littérature dans Contre Saint Proust ou la fin de
la littérature (Belin, 2006). De même, sa théorie de l’èthos
prédiscursif m’a été utile dans l’analyse du discours politique
lors des présidentielles de 2004.

4) Quelles sont les objectifs spécifiques de l’ATD, qui la


rendent différente d’autres théories du texte ?
Il me semble que l’un des objectifs principaux est d’en
finir une fois pour toute avec la délimitation stricte texte/
discours qui a fait assez polémique. Un autre objectif a été
d’ouvrir le texte et le connecter à d’autres textes qui l’on pré-
cédé (au-delà des limites théoriques de l’intertextualité), d’aller
du texte au-delà du texte, en l’affranchissant des contraintes
du structuralisme.

106
CORINA IFTIMIA

5) Faire de la recherche ne signifie pas seulement avoir la


connaissance des concepts et des procédures analytiques
spécifiques, mais aussi connaître les possibilités de son
champ de recherche. Dans cette perspective, quelles seraient,
selon vous, les délimitations et aussi quelles seraient les
interfaces de votre approche théorique-analytique ?
L’interviewée n’a pas répondu.
A entrevistada não respondeu.

6) A partir des résultats de vos travaux, est-ce que vous


pourriez indiquer des contributions pour l’apprentissage
d’une langue?
L’interviewée n’a pas répondu.
A entrevistada não respondeu.

7) Quels sont les progrès de l’ATD qu’aujourd’hui vous


aimeriez souligner et comment envisagez-vous les enjeux
de son avenir ?
Je mentionnerais d’abord cette approche discursive des tex-
tes. Quant aux enjeux, j’estime que L’ATD a tous les atouts pour
s’engager sur le terrain des productions textuelles numériques.

107
CORINA IFTIMIA

8) Quelles lectures pourriez-vous suggérer pour quelqu’un


qui vient de débuter dans le domaine de l’ATD ?
Bien sûr, il faudrait commencer par les travaux de Jean-
Michel Adam mais surtout par les travaux d’Eugène Coseriu
sur la linguistique du texte en passant par la Grammaire du
sens et de l’expression de Patrick Charaudeau.

Questions spécifiques

9) Compte tenu du fait que l’ATD a ses origines dans la


Linguistique textuelle et dans l’Énonciation, comment la
caractériseriez-vous aujourd’hui ?
Comme une science qui n’a pas encore dit son dernier
mot et qui a encore de beaux jours devant elle, pourvu qu’elle
focalise sur le textdiscours

10) Compte tenu de la réalité des nouvelles textualités des


textes numériques, quelles procédures analytiques de l’ATD
pourriez-vous suggérer à ceux qui se dédient à la recherche
dans le domaine des textes numériques ?
Je considère que le chercheur qui veut se lancer dans ce
domaine devrait avoir aussi des compétences numériques

108
CORINA IFTIMIA

solides, savoir utiliser des moteurs de recherche, des logiciels,


du moins dans l’étape de la constitution de sa base de données.
Par exemple, des logiciels qui quantifient les récurrences des
mots/syntagmes-clé d’un texte de dimensions importantes.

11) Compte tenu du progrès de l’ère numérique, quel est


votre concept de texte aujourd’hui ?
A mon avis, à l’ère du numérique, on peut difficilement
parler de la matérialité du texte, de sa stabilité et de sa dura-
bilité. Le texte numérique est devenu fluide, facile à modifier
et à transformer selon les impératifs ou les idéologies du
moment. On ne peut plus non plus parler d’une quelconque
exemplarité du texte, du moment où tout un chacun peut se
poser en écrivain. Il s’agirait donc d’un texte instable, ce qui
pourrait poser problème à l’avenir si l’on pense à l’étape de
l’établissement du texte, par exemple, lors de la traduction
ou de l’édition des textes d’un auteur.

109
MARIA ELIETE DE QUEIROZ
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Perguntas Gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Cheguei à ATD por meio de um evento na Universidade
Federal do Ceará (UFC) quando Adam fez o lançamento, em
2008, do livro ADAM, Jean-Michel. A Linguística Textual:
introdução à análise textual dos discursos. Tradução Maria
das Graças Soares Rodrigues; João Gomes da Silva Neto; Luis
Passeggi e Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. São Paulo:
Cortez, 2008. Depois do lançamento, iniciei os diálogos sobre
a ATD com os colegas da UFRN, Graças Soares, João Neto
e Luis Passeggi, que foram os meus maiores inspiradores.

110
MARIA ELIETE DE QUEIROZ

Em seguida, em 2010, ingressei no PPGEL como aluna do


doutorado, orientanda do Passeggi.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
QUEIROZ, Maria Eliete de; CARVALHO, Jorge Luis
Queiroz; BERNARDINO, Rosângela Alves Dos Santos.
Responsabilidade enunciativa e representações discursivas
em relatórios produzidos por estagiários do curso de Letras/
inglês. Revista Signótica, [s. l.], v. 28, p. 285-309, 2016.
QUEIROZ, Maria Eliete de. Análise textual do discurso
político de renúncia: a representação discursiva de ACM
como vítima. In: GOMES, Alexandro Teixeira; PASSEGGI,
Luis; RODRIGUES, Maria das Graças Soares (org.). Análise
textual dos discursos: perspectivas teóricas e metodológicas.
1. ed. Coimbra: Grácio Editor, 2018. v. 1. p. 289-300.
QUEIROZ, Maria Eliete de; OLIVEIRA NETA, Albaniza
Brígida de. Representações discursivas de Dilma Rousseff:
discurso de defesa do impeachment. Diálogo das Letras ,
[s. l.], v. 8, p. 42-59, 2019.
OLIVEIRA, Lucas; QUEIROZ, Maria Eliete. Plano de texto e produ-
ção escrita. (Con)textos linguísticos, [s. l.], v. 14, p. 299-319, 2020.
QUEIROZ, Maria Eliete de; LOPES, F. L. Representação

111
MARIA ELIETE DE QUEIROZ

discursiva em homilia do Papa Francisco. Letra Magna


(Online), [s. l.], v. 27, p. 1-20, 2021.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
Destaco o nível semântico do texto, o da representação
discursiva e o nível da estrutura composicional, o do plano
de texto.

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
O tratamento discursivo que é dado a suas categorias de
análise. A estreita relação dos níveis textuais com as práticas
discursivas.

112
MARIA ELIETE DE QUEIROZ

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Investimos no tratamento dos aspectos semânticos do
texto, suscitando a interface gramática e semântica no sentido
de compreender como o texto se articula de forma a construir
um todo coeso e coerente para a produção de seus efeitos de
sentido.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Sim. Por exemplo, o trabalho de OLIVEIR A,
Lucas; QUEIROZ, Maria Eliete. Plano de texto e produção
escrita. (Con)textos linguísticos, [s. l.], v. 14, p. 299-319, 2020.

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Destaco o avanço das discussões e produções na definição
de texto e na relação texto e discurso. Como grande desafio
para os estudiosos do texto e discurso, destaco também as

113
MARIA ELIETE DE QUEIROZ

discussões sobre o texto digital, o texto digital nativo e seus


regimes de textualidade.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
Para o iniciante indico sempre, além de Adam (2011),
todas as publicações de Rodrigues, Passeggi e Silva Neto.

Perguntas Específicas:

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
A ATD é uma área de perspectiva teórica, metodológica,
descritiva e interpretativista que concebe “o texto e o discurso
em novas categorias” que se complementam e são condicio-
nadas mutuamente (ADAM, 2011, p. 24).

114
MARIA ELIETE DE QUEIROZ

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Indico os procedimentos analíticos, desde aqueles da
estrutura composicional (plano de texto) até os de maiores
complexidades: o nível semântico, o enunciativo e o da orien-
tação argumentativa.

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
O texto como objeto singular, produto das relações cul-
turais, sociais e históricas em que foi produzido, que se con-
cretiza e ganha sentido dentro do seu contexto enunciativo,
a partir da efetivação das práticas sociais.

115
GUY ACHARD-BAYLE
Universidade de Lorraine - França
Tradução - Ana Lúcia Tinoco Cabral

Questões gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Para a ATD stricto sensu, Jean-Michel Adam, através
de suas diferentes publicações: segui as reedições de sua
obra Introdução à Análise Textual dos Discursos e estudei a
evolução de seu percurso na linguística textual até a ATD
(ver referências a seguir, na resposta para a questão 02). Além
disso, em termos de linguística textual, estive em contato e
fui influenciado especialmente por Bernard Combettes na
virada dos anos 1970-80, em seguida, por Michel Charolles,
que foi orientador da minha tese nos anos 1990.

116
GUY ACHARD-BAYLE

Outras influências nos meus “anos de formação”? A


semântica referencial de Georges Kleiber e a lógica natural
de Robert Martin, que, de uma maneira ou de outra, tocam
na articulação texto-discurso (ver a seguir, na resposta para
a questão 02, referências 3, 5 e 6). Enfim, ao contato com
colegas tchecos do Círculo linguístico de Praga, a influência
da perspectiva funcional da frase.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
1. Se eu me reporto à minha resposta (1), eu citaria: Texte
et discours se comprennent-ils? In:
MONTE, Michèle; PHILIPPE, Gilles (ed.). Genres et textes
[Études offertes à Jean-Michel Adam]. Lyon: Presses
Universitaires, 2014. p. 23-38.
2. Também questionei particularmente (em colaboração) a
articulação texto-discurso em: Introdução: (Re-) Penser
le texte et le discours dans le paysage actuel des sciences
du langage. In:
ABLALI, Driss, REBOUL-TOURÉ, Sandrine; TEMMAR,
Malika (ed.). Texte et discours en confrontation dans l’espace
européen. Berne: Peter Lang, 2018. p. 9-32.

117
GUY ACHARD-BAYLE

3. Eu acrescento à parceria e à articulação texto-discurso,


a cognição, em: Texte, Discours, Cognition. In:
GARRIC Nathalie; NAGY, Marius (dir.). Les frontières du
discours. Revista Semiotica, Berlin, Mouton De Gruyter,
n. 223, 2018, p. 71-85.
4. Destaco também um livro no prelo, que vai ser lançado
em fim de 2022, que estou organizando com Driss
Ablali: French Theories on Text and Discourse, Berlin,
Mouton De Gruyter. Introdução: “Language/Speech vs.
Text/Discourse: a ‘family resemblance”? (2023, p. 1-17).
5. Sobre a semântica referencial, lógica natural e linguística
textual: Linguistiques textuelles et discursives. In:
ACHARD-BAYLE, Guy; PETITJEAN, André (dir.). Anais
da jornada de estudos. Enjeux et utilité de Pratiques, entre
linguistique, littérature et didactique, dossier da revista
Pratiques n° 185-186, 2020, p. 1-8, Disponível em: https://
journals.openedition.org/pratiques/8521.
6. Do lado do grupo “praguense” (com Ondřej Pešek).
Linguistique et texte. Contribution franco-tchèque à
l’histoire et au rayonnement de l’École de Prague. In:
HOSKOVEC, Tomáš (dir.). Expérience et avenir du structu-
ralisme. Travaux du Cercle linguistique de Prague, nouvelle

118
GUY ACHARD-BAYLE

série, v. 8, PLK (Pražský lingvistický kroužek): Praha &


OPS, Kanina, 2019, p. 229-249.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
Os trabalhos que eu pude desenvolver no âmbito da ATD,
tomando particularmente como corpus e objeto de estudos
sequências textuais e tipologias textuais (narrativas, descri-
tivas, acionais), foram também influenciados, como eu pude
mencionar ou fazer alusão a elas, de um lado, pela questão
da referência evolutiva, no que diz respeito à semântica da
semântica lógica; de outro lado, pela questão da organização
informacional da frase e do texto, dito de outra forma, pro-
gressões temáticas. Desenvolvendo (como em 2018) a noção de
“dinâmicas textuais”, tento combinar teoria e análise “referen-
cialista” (ou representacional) e “textualista” (ou imanente). A
dificuldade do projeto é ver e saber até que ponto os modelos
“textuais” são compatíveis com os esquemas cognitivos e os
quadros da memória, que dependem, eles mesmos, seja da
memória de longo prazo, ou enciclopédica; seja da de curto
prazo (“memória de trabalho”), dito de outra forma, da orga-
nização (da “gramática”) textual. De maneira geral, é difícil
calcular sua interação, sobretudo quando o corpus de análise,

119
GUY ACHARD-BAYLE

como o meu, compreende narrações literárias (narrativas de


metamorfoses); somente o gênero das receitas de cozinha me
permitiu, parece nesse estágio, avançar nesse sentido.

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
Eu não diria nada além do que avançou e mostrou em
vários decênios Jean-Michel Adam (ver minha publicação
de 2014): o texto é uma “redução” do discurso em razão da
necessidade, uma linguística de objetos (linguageiros) sub-
metidos a uma análise, digamos, de laboratório. Dito isso, a
tarefa do pesquisador em ATD (ou do professor-pesquisador
se antecipamos um pouco a questão 06) é fazer mostrar a
diferença entre essa abordagem experimental (“in vitro”),
ou seja, para nós “textual”, de matérias e procedimentos
discursivos e uma análise de conteúdo tal como ela pode ser
praticada seguindo as metodologias, em análise do discurso
e em literatura.

120
GUY ACHARD-BAYLE

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abordagem
teórico-analítica?
Minha resposta 04 deixa entender que as disciplinas ou
as áreas da filosofia (identidade, mudança) da lógica (modal,
natural), das ciências cognitivas (memória, categorizações),
das teorias da ação (principalmente sobre o modelo de Texto
e ação de Ricoeur) são importantes para a análise dos corpora
e dos fenômenos que eu escolhi, preferencialmente, para e
desde a minha tese sobre os referentes evolutivos.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Penso principalmente no desenvolvimento das com-
petências textuais que passam, entre outros, pelo domínio
das progressões textuais no que diz respeito às tipologias
das sequências e dos textos. É, aliás, por esse viés que eu
me interessei, na virada dos anos 1970-80 pelos trabalhos
inicialmente “escolares” de Bernard Combettes (coautor de
De la phrase au texte, série de manuais destinados aos alunos
de primeiro grau franceses).

121
GUY ACHARD-BAYLE

Hoje, no âmbito das abordagens ditas acionais em ditática


das línguas estrangeiras, é sobretudo a ligação texto-ação (no
modelo, como disse, de Ricœur, em Texte et Action, 1986,
Paris, Éditions du Seuil) que eu tento aprofundar com meus
doutorandos em ditática; veja essa comunicação durante
uma Escola doutoral:
• L’approche ‘text’actionnelle’. In: RADIMSKÝ, Jan;
KYLOUŠEK, Petr (dir.). Actes de la XX École docto-
e

rale de l’Association Gallica, de l’École doctorale de


l’Université Halle-Wittenberg, de l’Université de Szeged
et l’Université Masaryk de Brno. Telč / České Budějovice
2016, 1. Vyd, Brno, Masarykova univerzita, 2018, p.
247-259.

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Creio que a linguística textual de corpus e comparativa
permitiu avanços significativos em matéria de ATD. Eu citaria,
por exemplo, os trabalhos do laboratório LATTICE (https://
www.lattice.cnrs.fr/) na França, publicados em:
• Langue française: https://www.cairn.info/revue-langue-
francaise-2017-3-page-5.htm

122
GUY ACHARD-BAYLE

• Langages: https://www.cairn.info/revue-langages-2021-4.
htm
Do lado praguense, eu citaria os trabalhos de nossos cole-
gas tchecos do Instituto de Romanística da Faculdade de
Letras e aqueles do Instituto de Linguística Formal e Aplicada
da Faculdade de Matemáticas e Física, dois institutos da
Universidade Charles em Praga, que serão objeto de uma
publicação próxima em: https://www.eer.cz/ (ver no rodapé da
página inicial do site, a chamada para contribuições lançada no
ano passado para o número especial 2022, “Textos-Corpus”).
De qualquer forma, eu diria que o progresso ou os pro-
gressos que essas pesquisas apresentam dizem respeito à
linguística textual na medida em que eles permitem calcular
ou “medir” os modos e comparar as maneiras de assegurar a
coesão das produções discursivas inclusive na sua variedade
tipológica e genérica. A fim dar a conhecer esses trabalhos
aplicados mas, digamos, estritamente textualistas, organi-
zamos diversos eventos, por exemplo, aquele que aconteceu
em Metz, em abril de 2018: http://crem-tmp.univ-lorraine.fr/
linguistique-textuelle-et-linguistique-de-corpus
Ver também pergunta 10.

123
GUY ACHARD-BAYLE

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
Sem dúvida nenhuma, a última edição de Línguística
Textual, Introdução à ATD, de Jean-Michel Adam. Fazendo
eco à pergunta anterior, eu gostaria igualmente de citar uma
passagem de Achard-Bayle & Pešek (2019, cf. supra ref. 6
pergunta 02):

Atualidades da LT [linguística textual] “à francesa”:


tratamento sociodiscursivo dos gêneros, dos textos e
dos contextos.

Os desenvolvimentos mais recentes e mais inovadores


em matéria de LT “à francesa” ou em francês, são, sem
nenhuma dúvida, os trabalhos de J-M Adam. O itinerá-
rio desse autor (que se estende sobre quarenta anos, no
mínimo) é ao mesmo tempo emblemático da forte base
da LT na língua francesa, da sua longevidade, portanto,
da sua atualidade, mas também da permanente renovação
que esse investigador tem procurado dar a essa disciplina
que sempre foi desafiada ou mesmo vencida pela linguís-
tica discursiva e pelas múltiplas formas de análise do
discurso. Pode-se constituir o itinerário de J.-M. Adam
(cf. Achard-Bayle 2014) tentando colocar em primeiro
plano sua lógica, sua continuidade, que o fizeram integrar,
aos fundamentos propriamente textuais de seu quadro
teórico [Nota: Que segue sua famosa fórmula dos anos 80:
texto = discurso – contexto], uma dimensão sempre mais

124
GUY ACHARD-BAYLE

discursiva, em primeiro lugar, no sentido da “análise de


discurso à francesa”, das “formações discursivas” à moda
de Foucault, mas também ao sentidos (i) de Bakhtin para
as questões das partilhas, da polifonia e do dialogismo às
comunidades interdiscursivas, e (ii) de Benveniste para
as assunções de reponsabilidade subjetivas... Em suma,
J.-M. Adam trabalha hoje sobre os gêneros, essencialmente,
dando aliás destaque aos trabalhos um pouco esquecidos
de Barthes [1970. “La linguistique du discours”, reedição
em 2002, em Œuvres complètes, Éric Marty (éd.), Paris,
Éditions du Seuil, v. 3, p. 611-616] sobre as “situações de
discurso”, a “práxis social”, para estudar sua determinação
na composição dos textos (por exemplo, com o gênero
“contos”).

Mas se vê, ao mesmo tempo, que o texto como tal está


sempre presente no método atual de J.-M. Adam, dita
de análise linguística dos gêneros de discurso, através das
propriedades “propriamente” intrínsecas que caracterizam
a composição do texto e fazem deste último um produto.

125
GUY ACHARD-BAYLE

Questões específicas

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Se retomamos e conservamos essas duas origens, que
eu diria, de um lado “praguense”, de outro “benvenistiano”,
então, eu me penderia para o lado da primeira, como fonte,
inspiração, tradição. A ATD é uma soma, e eu creio que poucos
linguistas como Jean-Michel Adam puderam conduzir com
sucesso a empreitada “englobante” que consiste em abordar os
“textos-discursos” sob diversos ângulos que ele esquematizou,
como na página 193 de seu artigo para Filologia e linguística
portuguesa, de 2012, n° 14-2: https://www.revistas.usp.br/flp/
article/download/59909/63018/77346.
No entanto, e ao mesmo tempo, percebo que meus colegas
tchecos reivindicam sua abordagem no contexto de obras
que fazem parte da tradição do que chamam de segunda
Escola de Praga (cf. supraquestão n° 02), aquela de Daneš ou
Firbas. Penso, portanto, que os trabalhos atuais, alimentados
pela linguística de corpus comparativa (cf. supraquestão 07),
sobre as operações e ferramentas que asseguram a coesão,
expressões de (co-)referência às progressões temáticas são
uma declinação atual de uma das vertentes da ATD, aquela

126
GUY ACHARD-BAYLE

que eu chamava em questões anteriores “praguenses”. Ver


por exemplo:
• Achard-Bayle Guy (2010), Du Cercle de Prague à une
linguistique du texte “à la française”, L’Analisi linguistica
e letteraria, XVIII, p. 431-436. Também disponível em:
http://www.educatt.it/libri/all/ALLPDF/201002BayleC.
pdf
• Em Achard-Bayle & Pešek (2019), analisamos na última
parte, as “Contributions françaises au rayonnement de la
seconde École de Prague”: as de Jean-Michel Adam (ver
supraquestão 08), Michel Charolles, Bernard Combettes,
Robert Martin, André Petitjean, entre outros.

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Trabalhei duas retomadas sobre a questão do hipertexto,
com dois colegas oriundos e portadores da tradição “textua-
lista” da Europa central: uma primeira vez com Eva-Martha
Eckkrammer, em 2004; uma segunda com Ondřej Pešek, em
2022. Posso, pois, remeter a esses dois textos e suas biblio-
grafias, pelo menos para dizer em uma palavra que, se, de
acordo comigo, e de acordo conosco, os ambientes multimídias

127
GUY ACHARD-BAYLE

permitem revelar e multiplicar as propriedades hipertextuais


do texto, são também elas que, na origem, permitiram o desen-
volvimento das técnicas de pesquisa, exploração, expansão
hipertextual. Dito de outra forma, e contrariamente ao que
a “doxa” dos anos 1990 afirmava, o hipertexto não é uma
versão “superior” do texto, e o texto uma versão “menor” do
hipertexto: o texto, fundamentalmente, é hipertextual, veja,
por exemplo, o que significa para Ricœur o texto em seu
Umwelt; eis as referências citadas:
• Achard-Bayle Guy, Le Voile et la Toile. Introduction au
texte et à l’hypertexte. In:
ACHARD-BAYLE, G.; ECKKRAMMER, E.-M. (ed.). Texte
et hypertexte, Verbum, Nancy, Presses Universitaires, v. 26,
n. 2, 2004, p. 129-173.
e:
• ACHARD-BAYLE, Guy; ONDŘEJ, Pešek. Le paragraphe
et thématico-graphique du texte dans les nouveaux
écrits numériques. In:
MAGRI, Véronique (ed.). Nouvelles textualités? Le Français
moderne, n.1, 2022, p. 75-101.
Inspiramo-nos também nestas pesquisas, especialmente
a primeira, dos trabalhos de Christian Vandendorpe que
mostram a continuidade e não a ruptura das diferentes formas

128
GUY ACHARD-BAYLE

da textualidade, Du papyrus à l’hypertexte, (Do papiro ao


hipertexto), como ele diz (e o título de sua obra de 1999, Paris,
La Découverte).
Os trabalhos de Jean-Michel Adam e Gilles Lugrin foram
para nós outra fonte de inspiração (e de demonstração):
L’hyperstructure: un mode privilégié de présentation des
événements scientifiques? Les Carnets du Cediscor, n.6, 2000, p.
133-149. Também disponível em: https://journals.openedition.
org/cediscor/327.

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Completo aqui as observações feitas anteriormente, em
resposta à pergunta 10. Quando se defende (e ilustra: porque os
dois artigos citados acima, na pergunta 10, são propriamente
demonstrativos, necessariamente representados por imagens)
a ideia de que o texto é fundamentalmente hipertextual;
se se trabalha sobre as formas digitais do texto, digamos,
desenvolvido, expandido, e não reduzido em número de
caracteres, então, somos forçados a constatar que o texto
digital ou digitalizado não é fundamentalmente outro, do
ponto de vista das propriedades formais e semânticas que
caracterizam a textualidade tal como nós a definimos, como

129
GUY ACHARD-BAYLE

linguistas do texto – e não como analistas de conteúdos de


discurso.
Assim, depois que, neste último artigo mencionado
(ACHARD-BAYLE; PEŠEK, 2022), comparamos as versões
em papel e digital (html et PDF) dos mesmos artigos de jornal,
eis quais foram as conclusões:

A diferença que nos pareceu ser a mais significativa con-


cerne à disposição “material global”. Os textos em papel
permitem uma visão simultânea e estruturada da globa-
lidade material do texto, enquanto as versões eletrônicas
propõem deles apenas um fragmento, limitadas que elas
são pelas coerções técnicas da tela. Isso tem consequências
significativas sobre a leitura: para o que diz respeito de fato
ao ganho informacional que o leitor pode obter graças a
essa percepção global simultânea, o texto eletrônico parece
empobrecido em ralação ao texto em papel […].

A edição do texto explora o potencial técnico específico


de cada um dos suportes – papel e eletrônico –, o que se
manifesta especialmente no nível da gestão do espaço no
quadro do qual o texto aparece. Mas, no fim das contas,
qualquer que seja a perfeição das funcionalidades técnicas
das edições digitais, estas não criam uma entidade de
uma outra natureza qualitativa: um texto eletrônico é
verdadeiramente um texto cujos parâmetros estruturais
fundamentais são idênticos àqueles de uma versão “clás-
sica” do texto.

130
GUY ACHARD-BAYLE
Universidade de Lorainne - França
Versão em francês

Questions générales

1) Comment êtes-vous arrivés à l’Analyse Textuelle des


Discours (ATD)? Quels auteurs vous ont-ils inspirés?
Pour l’ATD stricto sensu, Jean-Michel Adam, à travers
ses différentes publications: j’ai suivi les rééditions de son
Introduction à l’ATD, et j’ai même étudié l’évolution de son
parcours de la linguistique textuelle à l’ATD (voir références
infra réponse à la question 02).
Sinon, en termes de linguistique textuelle, j’ai été en con-
tact avec et influencé notamment par Bernard Combettes au
tournant des années 70-80, puis Michel Charolles qui a été
mon directeur de thèse dans les années 90.

131
GUY ACHARD-BAYLE

D’autres influences dans mes « années de formations »?


La sémantique référentielle de Georges Kleiber et la logique
naturelle de Robert Martin, qui d’une manière ou d’une autre
touchent à l’articulation texte-discours (voir infra, question
02, références 3, 5 et 6).
Enfin, au contact de collègues tchèques du Cercle linguis-
tique de Prague, l’influence de la perspective fonctionnelle de
la phrase.

2) Parmi vos publications dans des revues, des livres impri-


més et des livres numériques, quelles sont celles que vous
considérez les plus remarquables?
1. Si je me reporte à ma réponse (01), je citerais: 2014, « Texte
et discours se comprennent-ils? », in Michèle Monte &
Gilles Philippe (éds), Genres et textes [Études offertes
à Jean-Michel Adam], Lyon, Presses Universitaires,
pages 23-38.
2. Sinon, j’ai particulièrement interrogé (en collaboration)
l’articulation texte-discours dans: 2018a (avec Driss
Ablali, Sandrine Reboul-Touré & Malika Temmar, éds),
Texte et discours en confrontation dans l’espace européen,
Berne, Peter Lang. Introduction: « (Re-) Penser le texte

132
GUY ACHARD-BAYLE

et le discours dans le paysage actuel des sciences du


langage », pages 9-32.
3. J’ajoute à la paire et à l’articulation texte-discours, la
cognition dans: 2018b, « Texte, Discours, Cognition », in
Nathalie Garric & Marius Nagy (dir.), « Les frontières
du discours », n° 223 de la revue Semiotica, Berlin,
Mouton De Gruyter, pages 71-85.
4. Je signale aussi un livre sous presse, à paraître fin 2022,
co-dirigé avec Driss Ablali: French Theories on Text &
Discourse, Berlin, Mouton De Gruyter. Introduction:
“Language/Speech vs Text/Discourse: a ‘family resem-
blance’?” (pages 3-21 en l’état du manuscrit).
5. Sur sémantique référentielle, logique naturelle et lin-
guistique textuelle: 2020, « Linguistiques textuelles et
discursives », in Guy Achard-Bayle & André Petitjean
(dir.), Actes de la journée d’études « Enjeux et utilité de
Pratiques, entre linguistique, littérature et didactique »,
dossier de la revue Pratiques n° 185-186, pages 1-8, en
ligne: https://journals.openedition.org/pratiques/8521.
6. Du côté « pragois »: 2019 (avec Ondřej Pešek), « Linguistique
et texte. Contribution franco-tchèque à l’histoire et au
rayonnement de l’École de Prague », in Tomáš Hoskovec
(dir.) Expérience et avenir du structuralisme. Travaux

133
GUY ACHARD-BAYLE

du Cercle linguistique de Prague, nouvelle série, volume


8, PLK (Pražský lingvistický kroužek), Praha & OPS,
Kanina, pages 229-249.

3) Si l’on considère l’ATD comme un champ d’études


situé dans la Linguistique textuelle, discursive et énon-
ciative, quelles démarches théoriques-analytiques pour-
rez-vous mettre en relief?
Les travaux que j’ai pu mener dans le cadre de l’ATD, en
prenant particulièrement pour corpus et objet d’études des
séquences et des typologies textuelles (narratives, descriptives,
actionnelles), ont été aussi influencés, comme j’ai pu le men-
tionner ou y faire allusion, d’une part par la question de la
référence évolutive, du côté de la sémantique logique, d’autre
part, par la question de l’organisation informationnelle de la
phrase et du texte, autrement dit des progressions thématiques.
En développant (comme dans 2018b) la notion de « dyna-
miques textuelles », j’essaie de combiner théorie et analyse
« référentialiste » (ou représentationnelle) et « textualiste »
(ou immanente). La difficulté du projet est de voir et savoir
jusqu’à quel point les modèles « textuels » sont compatibles
avec les schémas cognitifs, et les cadres de la mémoire, qui
eux-mêmes dépendent soit du long terme ou de l’encyclopé-
dique, soit du court terme (« mémoire de travail »), autrement

134
GUY ACHARD-BAYLE

dit de l’organisation (de la « grammaire ») textuelle. Il est de


manière générale difficile de calculer leur interaction, surtout
quand un corpus d’analyse, comme le mien, comprend des
narrations littéraires (récits de métamorphoses); seul le genre
des recettes de cuisine m’a, semble-t-il à ce stade, permis
d’avancer dans ce sens.

4) Quelles sont les objectifs spécifiques de l’ATD, qui la


rendent différente d’autres théories du texte?
Je ne dirais vraiment rien d’autre de ce qu’a avancé et
montré sur plusieurs décennies Jean-Michel Adam (voir ma
publication 2014): le texte est une « réduction » du discours
pour les besoins de la cause, une linguistique d’objets (langa-
giers) soumis à une analyse, disons, de laboratoire. Cela dit,
la tâche du chercheur en ATD (ou de l’enseignant-chercheur
si l’on anticipe un peu sur la question 06) est de faire et de
montrer la différence entre cette approche expérimentale (« in
vitro »), autrement dit pour nous « textuelle », des matières
ou des productions discursives et une analyse des contenus
des discours, telle qu’elle peut se pratiquer, suivant les métho-
dologies, en analyse de discours et en littérature.

135
GUY ACHARD-BAYLE

5) Faire de la recherche ne signifie pas seulement avoir la


connaissance des concepts et des procédures analytiques
spécifiques, mais aussi connaître les possibilités de son
champ de recherche. Dans cette perspective, quelles seraient,
selon vous, les délimitations et aussi quelles seraient les
interfaces de votre approche théorique-analytique?
Ma réponse 04 laisse entendre que les disciplines ou les
domaines de la philosophie (identité, changement), de la
logique (modale, naturelle), des sciences cognitives (mémoire,
catégorisations), des théories de l’action (notamment sur
le modèle de Texte et Action de Ricœur), sont importantes
pour l’analyse des corpus et des phénomènes que j’ai choisis,
préférentiellement, pour et depuis ma thèse sur les référents
évolutifs.

6) À partir des résultats de vos travaux, est-ce que vous


pourriez indiquer des contributions pour l’apprentissage
d’une langue?
Je pense notamment au développement des compétences
textuelles qui passe entre autres par la maîtrise des progres-
sions textuelles au regard des typologies des séquences et des
textes. C’est d’ailleurs par ce biais que je me suis intéressé au
tournant des années 70-80 aux travaux d’abord « scolaires »

136
GUY ACHARD-BAYLE

de Bernard Combettes (co-auteur de De la phrase au texte,


série de manuels destinés aux élèves de collège français).
Aujourd’hui, dans le cadre des approches dites action-
nelles en didactique des langues étrangères, c’est plutôt le lien
texte-action (sur le modèle, comme je l’ai dit, de Ricœur, in
Texte et Action, 1986, Paris, Éditions du Seuil) que j’essaie de
creuser avec mes doctorants didacticiens; voir cette commu-
nication lors d’une École doctorale:
• 2018, « L’approche ‘text’actionnelle’ », in Jan Radimský
& Petr Kyloušek (dir.), Actes de la XXe École doctorale de
l’Association Gallica, de l’École doctorale de l’Université
Halle-Wittenberg, de l’Université de Szeged et l’Université
Masaryk de Brno. Telč / České Budějovice 2016, 1. Vyd,
Brno, Masarykova univerzita, pages 247-259.

7) Quels sont les progrès de l’ATD qu’aujourd’hui vous


aimeriez souligner et comment envisagez-vous les enjeux
de son avenir?
Je crois que la linguistique textuelle de corpus et compa-
rative a permis des avancées significatives en matière d’ATD.
Je citerais par exemple les travaux du laboratoire LATTICE
(https://www.lattice.cnrs.fr/) en France parus dans:

137
GUY ACHARD-BAYLE

• Langue française: https://www.cairn.info/revue-langue-


francaise-2017-3-page-5.htm
• Langages : https://www.cairn.info/revue-langages-2021-4.
htm
Du côté pragois, je citerais ceux de nos collègues tchèques
de l’Institut de Romanistique de la faculté de Lettres et ceux de
l’Institut de Linguistique Formelle et Appliquée de la faculté
de Mathématiques et Physique, deux Instituts de l’Université
Charles à Prague, qui feront l’objet d’une publication prochaine
dans : https://www.eer.cz/ (voir au bas de la page d’accueil
du site, l’appel à contributions lancé l’an dernier pour le n°
spécial 2022 « Textes-Corpus »).
Dans tous les cas, je dirais que l’avancée ou les avancées que
présentent ces recherches concernent la linguistique textuelle
dans la mesure où ils permettent de calculer ou « mesurer »
les modes et comparer les manières d’assurer la cohésion
des productions discursives, qui plus est dans leur variété
typologique et générique. Afin de faire connaître ces travaux
outillés mais, disons, strictement textualistes, nous avons
organisé diverses manifestations, par exemple celle-ci qui s’est
tenue à Metz en avril 2018: http://crem-tmp.univ-lorraine.fr/
linguistique-textuelle-et-linguistique-de-corpus
Voir aussi question 10.

138
GUY ACHARD-BAYLE

08) Quelles lectures pourriez-vous suggérer pour


quelqu’un qui vient de débuter dans le domaine de l’ATD?
Sans aucun doute la dernière édition de Linguistique tex-
tuelle. Introduction à l’ATD, de Jean-Michel Adam.
En écho à la question précédente, je voudrais également
citer un passage d’Achard-Bayle & Pešek (2019, cf. supra réf.
6 question 02):

Actualités de la LT [linguistique textuelle] « à la fran-


çaise »: traitements socio-discursif et cognitif des genres,
des textes et des contextes

Les développements les plus récents et les plus novateurs


en matière de LT « à la française » ou en français, sont
sans aucun doute le fait de J.-M. Adam. L’itinéraire de
celui-ci (qui s’étale sur quarante ans au bas mot) est à
la fois emblématique de l’assise forte de la LT en langue
française, de sa longévité, donc de son actualité, mais aussi
du renouvellement permanent que ce chercheur a essayé de
donner à cette discipline qui a toujours été concurrencée
voire battue en brèche par la linguistique discursive et les
multiples formes d’analyses de discours… On a pu recons-
tituer l’itinéraire de J.-M. Adam (cf. Achard-Bayle 2014) en
essayant de mettre en avant sa logique, sa continuité, qui
lui ont fait intégrer aux fondements proprement textuels de
son cadre théorique [Note : Suivant sa fameuse formule du
des années 80 : texte = discours – contexte], une dimension
toujours plus discursive, d’abord au sens de l’« analyse de

139
GUY ACHARD-BAYLE

discours à la française », des « formations discursives » à


la Foucault, mais aussi aux sens (i) de Bakhtine, pour les
questions de partages, de la polyphonie et du dialogisme
aux communautés inter-discursives, et (ii) de Benveniste
pour les prises en charge subjectives… Bref, J.-M. Adam
travaille aujourd’hui sur les genres, essentiellement, en
remettant d’ailleurs à l’honneur les travaux un peu oubliés
de Barthes [1970, « La linguistique du discours », rééd. en
2002 in Œuvres complètes, Éric Marty (éd.), Paris, Éditions
du Seuil, vol. 3, p. 611-616] sur les « situations de discours »,
la « praxis sociale », pour étudier leur détermination sur
la composition des textes (par ex. avec le genre « contes »).

Mais on voit, dans le même temps, que le texte en tant


que tel est toujours présent dans la méthode actuelle de
J.-M. Adam, dite d’analyse linguistique des genres de dis-
cours, au travers des propriétés « proprement » intrinsèques
qui caractérisent la composition du texte et font de ce
dernier un produit.

140
GUY ACHARD-BAYLE

Questions spécifiques

9) Compte tenu du fait que l’ATD a ses origines dans la


Linguistique textuelle et dans l’Énonciation, comment la
caractériseriez-vous aujourd’hui?
Si l’on reprend et conserve ces deux origines, que je dirais
d’un côté « pragoise », de l’autre « benvenistienne », alors je
pencherais du côté de la première, comme source, inspira-
tion, tradition. L’ATD est une somme et je crois que peu de
linguistes, à l’instar de Jean-Michel Adam, ont pu mener à
bien l’entreprise « englobante » » qui consiste à aborder les
« textes-discours » sous les divers angles qu’il a schématisés,
comme à la page 193 de son article pour Filologia e linguística
portuguesa de 2012 n° 14-2: https://www.revistas.usp.br/flp/
article/download/59909/63018/77346.
Pour autant, et parallèlement, je remarque que mes collè-
gues tchèques revendiquent son approche dans le cadre des
travaux qui s’inscrivent dans la tradition de ce qu’ils appellent
la seconde École de Prague (cf. supra question n° 02), celle
de Daneš ou Firbas. Je pense donc que les travaux actuels,
alimentés par la linguistique de corpus comparative (cf. supra
question 07), sur les opérations et les outils qui assurent la
cohésion, des expressions de (co-) référence aux progressions
thématiques, sont une déclinaison actuelle d’un des deux

141
GUY ACHARD-BAYLE

versants de l’ATD, celui que j’appelais plus haut « pragois ».


Voir par exemple:
• Achard-Bayle Guy (2010), « Du Cercle de Prague à
une linguistique du texte “à la française” », L’Analisi
linguistica e letteraria, XVIII, pages 431-436. Également
disponible en ligne : http://www.educatt.it/libri/all/
ALLPDF/201002BayleC.pdf
• Dans Achard-Bayle & Pešek (2019), nous analysons
en dernière partie les « Contributions françaises au
rayonnement de la seconde École de Prague » : celles
de Jean-Michel Adam (voir supra question 08), Michel
Charolles, Bernard Combettes, Robert Martin, André
Petitjean, entre autres.

10) Compte tenu de la réalité des nouvelles textualités des


textes numériques, quelles procédures analytiques de l’ATD
pourriez-vous suggérer à ceux qui se dédient à la recherche
dans le domaine des textes numériques?
J’ai travaillé à deux reprises sur la question de l’hyper-
texte, avec deux collègues issus et porteurs de la tradition
« textualiste » d’Europe centrale: une première fois avec
Eva-Martha Eckkrammer en 2004, une seconde avec Ondřej
Pešek en 2022. Je peux donc renvoyer à ces textes et leurs

142
GUY ACHARD-BAYLE

bibliographies, sinon pour dire en un mot que si, selon moi,


et selon nous, les environnements multimédias permettent
de révéler et démultiplier les propriétés hypertextuelles du
texte, ce sont aussi celles-ci qui, à la source, ont permis le
développement des techniques d’exploitation, exploration,
expansion hypertextuelle. Autrement dit, et contrairement à
ce que la « doxa » des années 90 affirmait, l’hypertexte n’est
pas une version « supérieure » du texte, et le texte une version
« moindre » de l’hypertexte: le texte, fondamentalement, est
hypertextuel, voir par exemple ce que signifie pour Ricœur
le texte dans son Umwelt; voici les références citées :
• Achard-Bayle Guy (2004), « Le Voile et la Toile.
Introduction au texte et à l’hypertexte », in G. Achard-
Bayle & E.-M. Eckkrammer (éds), « Texte et hyper-
texte », Verbum, XXVI, 2, Nancy, Presses Universitaires
pages 129-173)
et:
• Achard-Bayle Guy & Pešek Ondřej (2022), « Le para-
graphe et thématico-graphique du texte dans les nou-
veaux écrits numériques », in Véronique Magri (éd.),
« Nouvelles textualités? », Le Français moderne, 1-2022,
pages 75-101.

143
GUY ACHARD-BAYLE

Nous nous sommes également inspirés dans ces recherches,


notamment l’initiale, des travaux de Christian Vandendorpe
qui montrent la continuité et non la rupture des différentes
formes de la textualité, Du papyrus à l’hypertexte, comme il
dit (et titre son ouvrage de 1999, Paris, La Découverte).
Les travaux de Jean-Michel Adam et Gilles Lugrin ont été
pour nous une autre source d’inspiration (et de démonstration):
• (2000), « L’hyperstructure: un mode privilégié de pré-
sentation des événements scientifiques?», Les Carnets
du Cediscor 6, pages 133-149. Disponible également en
ligne: https://journals.openedition.org/cediscor/327.

11) Compte tenu du progrès de l’ère numérique, quel est


votre concept de texte aujourd’hui?
Je complète ici les remarques faites précédemment, en
réponse à la question 10.
Si l’on défend (et illustre : car les deux articles cités ci-des-
sus, question 10, sont proprement démonstratifs, nécessai-
rement imagés) l’idée que le texte est fondamentalement
hypertextuel ; si par ailleurs, on travaille sur des formes
numériques du texte, disons, développé, expansé, et non réduit
en nombre de caractères, alors force est de constater que le
texte numérique ou numérisé n’est pas fondamentalement

144
GUY ACHARD-BAYLE

autre, du point de vue des propriétés formelles et sémantiques


qui caractérisent la textualité telle que nous l’avons définie,
comme linguistes du texte – et non comme analystes de
contenus de discours.
Ainsi, après que nous avons dans le dernier article cité
(Achard-Bayle & Pešek, 2022) comparé les versions papier et
numériques (html et PDF) de mêmes articles de journaux,
voici quelles étaient nos conclusions:
La différence qui nous est parue comme la plus significa-
tive concerne la disposition « matérielle globale ». Les textes
papier permettent une vision simultanée et structurée de
la globalité matérielle du texte, alors que les versions élec-
troniques n’en proposent qu’un fragment, limitées qu’elles
sont par les contraintes techniques de l’écran. Ceci a des
conséquences significatives sur la lecture: pour ce qui est en
effet du gain informationnel que le lecteur peut obtenir grâce
à cette perception globale simultanée, le texte électronique
paraît appauvri par rapport au texte papier (…)

L’édition du texte exploite le potentiel technique spécifique


de chacun des supports – papier et électronique –, ce qui se
manifeste notamment au niveau de la gestion de l’espace
dans le cadre duquel le texte apparaît. Mais en fin de
compte, quelle que soit la perfection des fonctionnalités
techniques des éditions numériques, celles-ci ne créent

145
GUY ACHARD-BAYLE

pas une entité d’une autre nature qualitative: un texte


« électronique » est bel et bien un texte dont les paramètres
structurels fondamentaux sont identiques à ceux d’une
version « classique » du texte.

146
LUIS PASSEGGI
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - Brasil

Perguntas Gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Uma das principais inspirações foi o próprio J.-M. Adam,
a partir da leitura de sua obra de 1975, Linguistique et discours
littéraire: théorie et pratique des textes (Larousse), em cola-
boração com J.-P. Goldenstein. Essa obra foi, à época, uma
verdadeira revelação para mim, no sentido de que fundamen-
tava teorias e procedimentos de descrição linguística, que,
embora direcionados para o discurso literário, aplicavam-se
naturalmente a qualquer texto. Ela ia ao encontro do meu

147
LUIS PASSEGGI

interesse principal (que se mantém até hoje), a saber, a análise


linguística de textos.
A outra inspiração, praticamente simultânea, foi a obra de
1976, de R. Lafont e F. Gardès-Madray Introduction à l’analyse
textuelle (Larousse). Tive o privilégio de ter o prof. R. Lafont
como meu orientador de mestrado (uma análise textual de
um texto de L.-F. Céline) e doutorado (sobre questões de
semântica lexical na perspectiva da linguística praxemática,
que elaborava, naquele período, meu orientador).
Nessas circunstâncias, presenciei e, de certa forma, par-
ticipei da elaboração de Introduction à l’analyse textuelle,
entre 1975 e 1976, quando, nos seminários de “Stylistique
structurale”, o prof. Lafont levava as provas de autor do livro
em gestação para nossas reuniões, nas quais eram apresentados
e discutidos conceitos e análises. (Muitos) anos depois, em
2008, tive outro privilégio: a participação na tradução de
“La linguistique textuelle. Introduction à l’analyse textuelle
des discours”.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
No âmbito da ATD, as produções a serem destacadas são,
sem dúvida, aquelas realizadas em coautoria com os colegas

148
LUIS PASSEGGI

e amigos Maria das Graças Soares Rodrigues e João Gomes


da Silva Neto. Mais especificamente:
RODRIGUES, M. G. S.; SILVA NETO, J. G.; MARQUESI, S.
C.; PASSEGGI, L. A. S. A Carta-Testamento de Getúlio Vargas:
genericidade e organização textual no discurso político.
Filologia e Linguística Portuguesa, v. 14, p. 282 - 304, 2012.
RODRIGUES, M. G. S.; SILVA NETO, J. G.; PASSEGGI, L.
A. S. Voltarei. O povo me absolverá...: a construção de um
discurso político de renúncia. In: Análises textuais e dis-
cursivas - Metodologia e aplicações.1. ed. São Paulo: Cortez
Editora, 2018, v. 1, p. 150-195.
RODRIGUES, M. G. S.; PASSEGGI, L. A. S. Tentam colocar
medo no povo: vozes, emoções e representações num texto
jornalístico In: Língua Portuguesa e Lusofonia: Historia,
Cultura e Sociedade.1. ed. São Paulo: EDUC, 2016, v.1, p.
259-272.
RODRIGUES, M. G. S.; PASSEGGI, L. A. S. Émotions, argu-
mentation et points de vue dans l’ affaire Nafissatou Diallo
contre Dominique Strauss-Kahn. Une analyse textuelle et dis-
cursive de chroniques de la Folha de São Paulo. In: Comment
les médias parlent des émotions. L’affaire Nafissatou Diallo
contre Dominique Strauss-Kahn..1a ed.Limoges: Lambert
Lucas, 2015, p. 291-306.

149
LUIS PASSEGGI

RODRIGUES, M. G. S.; PASSEGGI, L. A. S. Planos de texto e


representações discursivas: a seção de abertura em procesos-
-crime In: Língua Portuguesa e Lusofonia. 1. ed. São Paulo:
EDUC / IP-PUC-SP, 2015, v.1, p. 241-255.
RODRIGUES, M. G. S.; SILVA NETO, J. G.; PASSEGGI, L. A.
S.La lettre testament du président Getúlio Vargas. In: Genre &
Textes Déterminations, évolutions, confrontations.1a ed.Lyon:
Presses Universitaires de Lyon, 2014, p. 253-267.
PASSEGGI, L. A. S.; RODRIGUES, M. G. S.; SILVA NETO,
J. G.; SOUSA, M. M. F.; SOARES, M. E. A Análise Textual
dos Discursos: para uma teoria da produção co(n)textual de
sentido. Linguística de texto e análise da conversação. 1. ed.
São Paulo: Cortez, 2010, p. 262-312.

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ-


ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais
procedimentos teórico-analíticos você destacaria?
Além da articulação Análise dos Discurso/Análise
Textual (que retomarei na próxima questão), destacaria três
procedimentos:
Em primeiro lugar, a abrangência da abordagem, con-
siderando cinco dimensões textuais (planos, níveis) que,
parece-me, cobrem os diferentes aspectos do texto tal como

150
LUIS PASSEGGI

os apreendemos hoje, os quais incorporam, reinterpretam e


desenvolvem 40 anos de estudos linguísticos do texto. São essas
dimensões: Textura/Estrutura composicional/Semântica/
Enunciação/Pragmática – Argumentação. A essas dimensões,
eu acrescentaria a de Genericidade.
Em segundo lugar, é importante salientar que, com exceção
da Textura e da Estrutura composicional, sobre a qual se
focalizou a contribuição de J.-M. Adam, essas dimensões não
estão vinculadas a uma determinada teoria. Para cada uma
dessas três dimensões restantes, há várias teorias possíveis,
cabendo ao pesquisador articulá-las adequadamente.
De fato, a ATD pode ser vista como uma teoria modular
— abordagem usual em várias teorias linguísticas —, isto é,
cada módulo (dimensão, nível) teria suas regras específicas
e, ainda, regras de interface com os outros módulos. Essa
perspectiva, que parece evocada por J.-M. Adam, em alguns
momentos, mas não desenvolvida, parece-me hoje bastante
promissora para a ATD.
Em terceiro lugar, uma característica incontornável da
ATD é sua abordagem empírica e minuciosa dos textos. Com
efeito, cada noção, cada afirmação é sustentada e exemplifi-
cada com análises textuais empíricas detalhadas. Esse proce-
dimento diferencia notavelmente a ATD de outras abordagens
que “pinçam” exemplos, por vezes descontextualizados.

151
LUIS PASSEGGI

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
Salientaria três preocupações principais.
Em primeiro lugar, a articulação Discurso/Texto, inscrita
na própria denominação da abordagem: Análise Textual dos
Discursos. Entender a linguística textual como um subdo-
mínio da análise dos discursos articulando suas categorias
revela tanto uma perspectiva inovadora e produtiva quanto
uma coragem epistemológica considerável, dadas as fronteiras,
não raro excludentes, existentes entre as várias abordagens.
Em segundo lugar, o papel atribuído à gramática na lin-
guística textual. De fato, a gramática transfrástica — vinculada
à gramática frástica — é um dos componentes da linguística
textual (cf. Adam 2017, esquema 3). Qual gramática transfrás-
tica que caberia é uma questão a ser desenvolvida, embora
tudo indique que seria de tipo discursivo-funcional, sem
descuidar dos aspectos estruturais.
Em terceiro lugar, nessa perspectiva, aprofundando as
dimensões de Textura e Estrutura composicional, destacamos
a distinção de três níveis de textualização/estruturação textual
(microtextual, mesotextual e macrotextual), assim como a
distinção dos planos de análise (Intra-P, Inter-P, Trans-P).

152
LUIS PASSEGGI

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Adam (2017), ao considerar a linguística textual como
um ramo da linguística, coloca duas tarefas principais: a
primeira, definir o conceito de texto; a segunda, situar-se em
relação à Linguística e suas escolhas teóricas e metodológicas.
Focalizando tão somente a segunda tarefa, temos um vasto
programa a ser desenvolvido.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Sem dúvida, o interesse da ATD para o ensino é bastante
direto, considerando o foco textual das propostas curriculares
contemporâneas. Passaria pela articulação Discurso/Texto e
pelas categorias de análise propostas. Naturalmente, a questão
da didatização da ATD está em aberto.

153
LUIS PASSEGGI

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Em primeiro lugar, a retomada da releitura e do desen-
volvimento dos seus conceitos básicos, ações estas que devem
ser permanentes para aprofundar a abordagem. Em segundo
lugar, coloca-se atualmente o desafio teórico e descritivo dos
textos digitais no sentido amplo — e suas subcategorias. Até
que ponto estamos ainda no campo da linguística textual,
ou da linguística, é uma questão a ser debatida.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
• ADAM 2011: o clássico Linguística textual. Uma intro-
dução à análise textual dos discursos.
• ADAM 2017: o capítulo 1 “O que é linguística textual?”
In: ROSA; PENHAVEL; CINTRA. Linguística textual.
Interfaces e delimitações.
• ADAM 2020: A noção de texto, especialmente os capí-
tulos 3, 4 e 5.

154
LUIS PASSEGGI

Perguntas Específicas:

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Retomaria afirmações básicas, tais como (parafraseando):
“estudo da produção co(n)textual de sentido, fundamentada
na análise de textos concretos”, “subdomínio da análise de
discursos”; “abordagem modular das dimensões textu-
ais”, (comportando uma Teoria do Texto, uma Gramática
Transfrástica e uma Análise Textual).

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Na medida em que as textualidades digitais comportam
“textos” linguísticos tais como entendidos tradicionalmente
na linguística textual, ainda que contendo imagens e áudio,
se aplicariam as mesmas categorias de análise, ressalvadas as
especificidades de cada contexto (ADAM, 2022). Na medida
em que elas vão “além dos textos”, cabe interrogar-se sobre
a capacidade da ATD — e da linguística em geral, a tratar
dessas novas textualidades.

155
LUIS PASSEGGI

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Depende, se quisermos ficar no campo da linguística/
linguística textual ou utilizar outras abordagens que não são
apenas linguísticas, tais como a “Análise do Discurso Digital”
(M.-A. Paveau). Alguns avanços da era digital automatizam ou
simplificam o que era realizado analógica ou manualmente,
sem trazer diferenças qualitativas relevantes (ao menos se
pensar que “quantidade determina a qualidade”, perspectiva
perfeitamente legítima).
Para aqueles avanços que vão além do material linguístico
dos textos, coloca-se a interrogação das áreas/disciplinas a
serem engajadas. A esse respeito, cf. ADAM 2020 “Postface.
Le texte est-il soluble dans le textiel?” Rev. Corela. Cognition,
représentation, langage. «Textuel, textiel. Repenser la textualité
numérique”». HS33 df.

156
MICHÈLE MONTE
Universidade de Toulon - França

Perguntas Gerais

1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração?
Comecei a me interessar pela linguística textual numa
perspectiva didática: encontrei na linguística textual os
conceitos e métodos que me permitiam ajudar mais eficaz-
mente os alunos na produção de textos coesivos e coerentes.
Os trabalhos de Jean-Michel Adam e de todo o coletivo da
revista Pratiques foram muito importantes para mim. Mais
tarde, o meu encontro com a teorização por Maingueneau da
cena de enunciação e dos diferentes tipos de gêneros textuais
foi outro marco importante. O desenvolvimento na França
do dialogismo de inspiração bakhtiniana (Authier-Revuz,

157
MICHÈLE MONTE

Bres) dava-me bases sólidas para estudar a complexidade


enunciativa dos textos. A concepção alargada da enunciação
e da subjetividade desenvolvida por Alain Rabatel tal como
a noção de ponto de vista que foi elaborando também tive-
ram um grande impacto nos meus trabalhos. À medida que
ia me debruçando sobre textos da mídia e textos políticos,
pareceu-me indispensável associar a análise do discurso e
a linguística textual para poder propor estudos que arti-
culassem a dimensão sociopragmática dos textos e a sua
estrutura interna. Também tenho de destacar a importância
que teve para mim o encontro com os trabalhos da nova
retórica pós-Perelman, especialmente aqueles desenvolvidos
por Ruth Amossy acerca das noções do “ethos”, da “doxa”,
da “polêmica”. É assim que cheguei a praticar uma Análise
Textual dos Discursos, que fui também desenvolvendo na
área dos textos poéticos.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Vai sair em 2022 um livro que é uma síntese de todos
os meus trabalhos sobre a enunciação na poesia contem-
porânea: La parole du poème. Approche énonciative de la
poésie de langue française (1900-2020). O leitor encontrará um
resumo das minhas propostas no artigo “Pour une approche

158
MICHÈLE MONTE

linguistique de la poésie contemporaine: à la rencontre de


James Sacré et d’Ariane Dreyfus” (Pratiques 179-180, 2018,
on-line). Relativamente aos textos políticos, posso citar dois
artigos na revista Mots. Les langages du politique: L’exposé des
motifs: un discours d’autorité. Le cas des lois françaises de
2003, 2010 et 2014 sur les retraites” (Mots 107, 2015, em linha),
“Les discours d’investiture des Premiers ministres portugais
(2002-2011). Comparaison gauche/droite” (Mots 101, 2013,
em linha) e um artigo no Congresso do CMLF: Énonciation
et argumentation dans les rapports parlementaires autour
du gaz de schiste: impartialité ou influence? (2020, on-line).

3) Considerando a ATD como um campo de estudos situado


na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais pro-
cedimentos teórico-analíticos você destacaria?
O que me parece fundamental é o fato de a ATD levar
em conta ao mesmo tempo a inserção social dos discursos,
os seus objetivos argumentativos (numa concepção ampla
da argumentação que se assenta na distinção de Amossy
entre fim (visée) e dimensão argumentativa e também na
concepção extensiva da enunciação segundo Rabatel) e a
sua estrutura interna, por exemplo no nível da sintaxe e da
cadeia dos enunciados. Ou seja, a ATD articula uma visão
macro do texto (os objetivos que pretende alcançar o locutor,

159
MICHÈLE MONTE

os modelos genéricos aos quais se refere, a imagem de si


que ele quer comunicar) e uma visão micro atenta a todos
os pormenores linguísticos. Intenta responder ao “para que
este texto?” mas também ao “como está escrito” e procura
articular as respostas às duas questões.

4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a


diferenciam de outras teorias do texto?
Tal como referenciado no ponto 3, a ATD intenta propor
uma visão completa do texto articulando as preocupações da
análise do discurso (especialmente a relação com o interdis-
curso, o posicionamento do locutor, o objetivo do texto) e as
da linguística textual (planos de texto, coesão, progressão
semântica, representação do tempo e das pessoas enunciativas,
articulações dos pontos de vista, polifonia enunciativa). A
especificidade da ATD, portanto, assenta numa visão global do
texto como objeto cultural inserida numa rede interdiscursiva
complexa e como objeto linguístico possuindo características
que ultrapassam a simples sequência interfrástica. Pode-se
enfatizar a atenção especial da ATD para os níveis interme-
diários de estruturação entre o nível interfrástico (anáforas,
conectores, progressão temática dentro do parágrafo) e o texto,
ou seja, a atenção dada à sucessão ou ao encaixamento das

160
MICHÈLE MONTE

sequências (no sentido que Adam dá a essa palavra) e planos


de texto, mas sempre em relação aos modelos genéricos.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con-


ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber
as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia
ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
Não sei se isso responde bem à pergunta, mas me parece
que a ATD corre dois riscos:
- por um lado, ficar no nível da coesão/coerência textual,
sem a devida atenção à dimensão sociopragmática do texto;
- por outro lado, confundir as ferramentas teóricas com
uma substância do texto, essencializar noções como sequên-
cias ou atos de linguagem, esquecendo-se de que são maneiras
de descrever a estrutura ou a dinâmica do texto que são
reconstituídas a posteriori pelo intérprete e que, portanto,
podem diferir de um receptor para outro.
Na análise do texto, a ATD tem interesse em dialogar
com os trabalhos dos psicolinguistas tanto sobre a maneira
como as crianças aprendem a produzir textos como sobre a
maneira como arquivamos na nossa memória os textos que
acabamos de ler.

161
MICHÈLE MONTE

06) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível


indicar contribuições para o ensino?

Proponho uma análise enunciativa que se aplica tanto


ao poema como à narrativa ou à argumentação. Distingo o
enunciador textual responsável pelo texto do autor social
e o locutor (identificado pelas marcas dêiticas). Qualquer
texto (inclusive o texto oral na conversa diária) possui um
enunciador textual que é (pouco ou muito) diferente da pessoa
social na medida em que a nossa fala constrói uma imagem
de nós (um ethos discursivo) que se pode afastar do nosso
ser social. Esse enunciador textual é um ser de palavras que
nós projetamos quando falamos. Pode criar um locutor com
quem poderá ou não ser identificado, mas pode também
produzir um texto sem dêiticos, o que não impede oposições
de pontos de vista. Pode-se resumir isso no seguinte quadro:

162
MICHÈLE MONTE

O sujeito biográfico empírico (que pode ou não ter


uma personalidade social distinta como autor)

se torna no seu texto

um enunciador textual

que decide ou não pôr em cena que organiza

um locutor/enunciador, sujeito dêitico


e modal, responsável pelo macro-
ponto de vista que emerge do texto
a confrontação
que pode ceder de pontos de
e que organiza
a palavra a vista (assumidos

a confrontação dos por enunciadores

pontos de vista assumi- não locutores)


locutores
dos por esses locutores
representados
ou por enunciadores
não locutores

A grande vantagem desse modelo é que unifica as análises:


aplica-se tanto a textos argumentativos como aos explicati-
vos, narrativos ou poéticos. Em qualquer um desses casos, o
enunciador textual tem a opção de criar no texto a figura de
um locutor com marcas dêiticas (eu ou nós) ou de produzir
um texto sem locutor, o que não significa um texto desprovido
de pontos de vista, já que a subjetividade do léxico, das cons-
truções sintáticas etc. introduz necessariamente um ponto de

163
MICHÈLE MONTE

vista sobre o que é dito. Tal modelo é uma simplificação muito


grande em relação à variedade de descrições enunciativas
em que se fala de narrador para as narrativas, de poeta para
os poemas, de orador para os discursos etc. Chama também
a atenção a relação entre o enunciador textual e o locutor,
dado que a identificação de um ao outro não tem nada de
obrigatório: embora o seu ponto de vista seja muitas vezes
dominante, o eu do texto não representa necessariamente
o ponto de vista do enunciador textual e este pode indicar,
de uma maneira ou de outra, certa distância em relação às
posições defendidas pelo eu, através, por exemplo, da ironia.
Outro aporte que desejaria realçar é a minha proposta de
analisar qualquer texto como a conjunção de três dimensões:
semântica, estética e enunciativa. Conforme os gêneros e
a finalidade da comunicação, as três dimensões possuirão
características diferentes. No plano semântico, se opõem textos
cujos enunciados constroem representações semânticas já
admitidas dentro da comunidade falante e que não exigem um
grande esforço de interpretação e textos que, pelo contrário,
descrevem estados de coisas ou eventos apreendidos a partir de
uma linguagem especializada (tais como os textos científicos)
ou de uma linguagem criativa que modifica a nossa visão
do mundo (tais como os textos poéticos). Ambos os tipos

164
MICHÈLE MONTE

de textos exigem do receptor um esforço para assimilar os


conhecimentos ou a experiência que o texto quer transmitir.
No plano estético, se opõem os textos cuja dimensão
material (sons ou grafia) é extremamente importante, pro-
duzindo significado por si só, e textos em que essa dimensão
só produzirá efeitos indesejáveis se é percebida pelo receptor,
dado que virá criar significados independentes da mensagem
que o texto quer transmitir. A primeira categoria reúne textos
poéticos e publicitários que procuram atuar não só sobre o
intelecto mas também sobre a sensibilidade e que, para isso,
mobilizam todos os recursos da linguagem. A segunda cate-
goria reúne os textos cujo produtor só pensa no significado
que quer transmitir e não dá atenção à materialidade verbal.
No plano enunciativo, se opõem os textos em que a ceno-
grafia (no sentido de Maingueneau) se afasta do que se espera
em função do contrato de comunicação (Charaudeau) e oferece
uma originalidade produzindo significados novos e os textos
em que a cenografia é uma mera reprodução da cena genérica.
Cabe salientar que em muitos gêneros o enunciador textual
tende a ser percebido como idêntico ao sujeito empírico que
produz o texto – tal é o caso das conversas, dos discursos
políticos, das reportagens de rádio e televisão – ou permanece
anônimo, como se o texto fosse escrito por uma instância
não humana (textos de lei, por exemplo). Em tais textos, a

165
MICHÈLE MONTE

situação de enunciação é dada como transparente, enquanto


que em outros textos ela é problematizada e se chama a aten-
ção do receptor sobre ela. A situação nos textos literários é
um pouco mais complexa: é admitido nesses gêneros que a
localização da enunciação no tempo e no espaço possa não
corresponder àquela do produtor empírico do texto, e que
o enunciador textual ou os locutores que tomam a palavra
tenham características que podem entrar em contradição
com a realidade. Nos poemas ou nos contos, há animais,
objetos ou árvores que falam ou a quem se dirige a palavra.
No entanto, tal cenografia não gera perplexidade, uma vez
que faz parte das normas do gênero. Portanto, a disjunção
entre as normas e exigências genêricas e o texto concreto
tem de ser apreciada em função do gênero, tal como para as
outras dimensões: o que seria transgressivo em um gênero é
perfeitamente comum em outro.
Neste meu modelo, em cada dimensão, há um polo mar-
cado, que exige mais esforço da parte do receptor (representação
semântica nova ou exigindo conhecimentos especializados,
dimensão estética produtora de significados, cenografia
original em relação à situação de comunicação) e outro não
marcado (representação semântica partilhada, dimensão
estética inativada, enunciação transparente), mas as combi-
nações entre as três dimensões são muito variáveis em função
da época do texto, dos objetivos pragmáticos do produtor,

166
MICHÈLE MONTE

dos recursos linguísticos de que dispõe. Torna-se, assim,


possível caraterizar os textos de uma maneira fina, já que
um texto pode ser muito marcado em uma das dimensões e
muito comum nas outras duas. Por exemplo, um poema pode
ser extremamente criativo no campo estésico (com muitas
aliterações, assonâncias, ou um arrojado arranjo gráfico) e
muito pouco inovador no campo semântico e enunciativo.
Podemos, então, perceber mais porque gostamos mais deste
poema do que daquele outro, conforme damos mais peso a
uma ou outra dimensão ou ao equilíbrio entre elas.

7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria


destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Parece-me que chegamos a um bom nível de compreensão
dos mecanismos relativos à responsabilidade enunciativa e
ao dialogismo, e que temos conceitos e instrumentos sólidos
para analisar os textos nesse nível. O estudo das normas
genéricas é muito desigual conforme os gêneros: alguns são já
bem descritos, enquanto que outros merecem mais aprofun-
damentos. Do ponto de vista da coesão textual, os conceitos
para analisar a progressão temática (ou seja, a oposição tema/
rema ou topic/comment) permanecem rudimentares: os três
tipos de progressão (linear, tema constante, tema subdivido
em subtemas) não permitem analisar todas as progressões. Da

167
MICHÈLE MONTE

mesma maneira, a oposição entre os conteúdos já conhecidos


ou pressupostos e os conteúdos novos, que fazem o objeto da
asserção, acarreta bastantes dificuldades quando se trabalha
com textos complexos: parece que os grupos destacados, por
exemplo, às vezes contêm informação nova, outras vezes
relembram coisas já partilhadas. A noção de “arrière-plan”
(background) partilhado tem de ser aprofundada. A relação
coesão/coerência também: por exemplo, no campo didático, há
demasiados trabalhos sobre a coesão por conectores e anáforas
e faltam trabalhos sobre uma coerência semântica que passa
pelas isotopias e pelos saberes partilhados sem necessidade
de marcas formais. Os alunos muitas vezes – pelo menos na
França – produzem textos cheios de conectores mas despro-
vidos de coerência, porque o trabalho sobre as semelhanças/
oposições semânticas e a responsabilidade enunciativa é
insuficiente. Como se vê, ainda há muitos desafios para a ATD.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na ATD?
Para os professores do ensino secundário, eu gosto muito
de Produção textual, análise de gêneros e compreensão, de
Luiz Antônio Marcuschi (Parábola, 2010). Mas não tenho
um conhecimento suficiente do campo editorial brasileiro
para responder a esta pergunta.

168
MICHÈLE MONTE

Perguntas Específicas:

9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na


Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac-
teriza hoje?
Parece-me que já respondi acima a esta pergunta quando
salientei que a especificidade da ATD se assenta na articulação
entre linguística textual e análise de discurso, com a enuncia-
ção pertencendo a esses dois campos, conforme é estudada: a
linguística textual vai encarar o uso dos pronomes dêiticos e
dos tempos verbais do ponto de vista da coerência, enquanto
que a análise de discurso vai querer determinar quem fala,
em nome de quem, em apoio ou em oposição a quem.

10) Considerando as novas textualidades do mundo digital,


quais procedimentos analíticos da ATD você indica para
os que se dedicam à pesquisa de textos digitais?
Os trabalhos de Maingueneau sobre os novos regimes de
textualidade (especialmente Discours et analyse du discours.
Paris: Armand Colin, 2014) propõem distinguir 3 tipos de
textualidade: imergida, em que os interlocutores não podem
ter uma apreensão global da sua atividade (tal é o caso na
conversa informal); planificada (em que os interlocutores
programam e avaliam a produção textual em relação a normas

169
MICHÈLE MONTE

genéricas interiorizadas); navegante, em que cada internauta,


pelas escolhas que faz enquanto navega na Internet, fabrica
o hipertexto que está lendo. Na internet, produz-se uma
fragmentação dos gêneros discursivos, pela simultaneidade de
vários gêneros na mesma página e pela ausência de hierarquia
entre texto principal e paratexto, e uma amplificação da
cenografia que doravante, além da cenografia verbal, integra
componentes digitais relativos ao design do site e às maneiras
de passar de uma página para outra. Por isso, parece-me que a
análise da atividade do leitor, por meio da observação, torna-se
imprescindível para a ATD, o que dificulta bastante o estudo.
Evidentemente, uma maneira mais fácil de trabalhar sobre
textos digitais consiste em estudar os fóruns de discussão,
a alimentação do Twitter ou os comentários que suscita um
artigo. Nesse caso, os instrumentos mais adequados são a
análise argumentativa, a semântica discursiva (estudo da
evolução semântica das palavras chave em contexto) e o
estudo do dialogismo.

11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito


de texto hoje?
Temos de distinguir vários tipos de textos: se continuam
a existir textos estáveis (conversas que podem ser grava-
das, textos impressos, textos importados nos sites), existem

170
MICHÈLE MONTE

também textos fragmentários que só podem ser analisados


do ponto de vista de quem os lê e os relaciona entre eles. Por
isso, temos que desenvolver estudos sobre as práticas de leitura
na Internet para poder caracterizar mais esses textos digitais.

171
RODICA-MARIOARA NAGY
Universidade Stefan cel Mare - Romênia
Tradução Rosalice Pinto

Perguntas gerais

1) Como (a senhora) chegou à Análise Textual dos Discursos


(ATD)? Quais autores a inspiraram?
Qualquer nova área de estudo deve ser divulgada no campo
acadêmico, a partir de currículos universitários que deem,
ao mesmo tempo, a história de uma disciplina, assim como
as últimas descobertas e os resultados de pesquisa, ainda que
controversos. Depois, é claro, as publicações especializadas,
às quais um pesquisador tem acesso, devem estar accessíveis,
próximas, de imediato, à abertura de um novo caminho de
pesquisa, uma vez que os conhecimentos científicos estão

172
RODICA-MARIOARA NAGY

muito mais democratizados, graças aos mecanismos de


difusão digital.
Entretanto, não era a mesma situação, há mais de 30 anos,
quando eu estudava filologia, na época comunista, em um
país do Leste Europeu. Apesar disso, a formação acadêmica
romena era fortemente ligada às ideias inovadoras do Ocidente,
ao mesmo tempo pelas colaborações do corpo docente, com
seus colegas estrangeiros, por periódicos, também por con-
ferências, publicações e traduções da literatura fundamental.
Nesse sentido, uma primeira abertura às teorias textuais nos
foi oferecida pelos estudos literários, porque tudo o que o
dialogismo e a polifonia bakhtiniana propunham estavam
na moda (Mikhail Bakhtine, A Poética de Dostoiéwski, Paris,
Le Seuil, 1ª edição 1970, em romeno, em um volume coletivo,
intitulado Poétique, Esthétique, Sociologie, Éditions Univers),
os gêneros de discurso de Tzevan Todorov (Les Genres du
discours, Paris, Le Seuil, 1978), Genette, Gérard. Introduction
à l´architexte, Paris, Seuil, 1979, traduction em romeno (1994,
Introducere în architexte. Fictiume si dictiune, Bucareste,
Univers. Mais precisamente, não fazia parte do programa
de formação dos filólogos uma disciplina independente da
análise do texto ou da análise do discurso. Na verdade, o que
tivemos foram ideias recentes sobre esse conteúdo que foram
inseridas nos cursos de poética, teoria literária ou semiótica.

173
RODICA-MARIOARA NAGY

Então, veio a queda da Cortina de Ferro, o que levou o


ensino e a pesquisa romenos a tentarem se inserir mais ainda
nos modelos teóricos de investigação ocidentais, substituindo
e introduzindo novas disciplinas/especializações pela intensi-
ficação do fenômeno das traduções e abrindo cada vez mais o
acesso às publicações científicas. A tendência semiótica resiste
em alguns centros universitários, embora haja a concorrência
de novas perspectivas. Trabalhos de autores aparecem, então,
tentando conciliar o lado linguístico com o lado semiótico,
como o trabalho de Carme, Vlad, intitulado Textul-aisberg,
Maison d´édition Casa Cartii, Cluj, 2000. Trata-se de uma
descrição não francófona, mas complementar dos componen-
tes do texto, o que, na sua definição, leva a um especialista
romeno, mais conhecido pelo seu integralismo linguístico,
em certas universidades espanholas alemãs e sul-americanas,
Eugenio Coseriu. Com essa base, aprendemos que, entre
as iniciativas por sugestões e possibilidades interpretativas
formuladas pela retórica antiga e medieval, mas, sendo obri-
gatório estabelecer princípios de análise rigorosos, estes foram
observados no rastro dos existentes nas ciências da linguagem
e em outras disciplinas culturais e sociais. A respeito, o
século XXI herdou esse dever de resolver certos problemas
levantados no século precedente, na medida em que eles não
encontraram fronteiras claras e soluções satisfatórias.

174
RODICA-MARIOARA NAGY

Tornar evidente complexos linguísticos que vão além


da frase é, em grande parte, consequência de orientações,
iniciadas, entre outras, por certos alunos de Ferdinand de
Saussure, em busca do nível da fala, determinante e com
capacidade de definir pela própria existência da língua, sob
o ponto de vista do exercício de suas funções. Todavia, os
trabalhos publicados, durante as últimas décadas, com esse
objeto, ainda que muitos deles de qualidade, não conseguiram
impor uma disciplina científica articulada com todos os
pontos de vista, um título aceito de forma unânime, pela
razão que acabamos de expor. Nesse contexto, além de outras
propostas, dois títulos chamaram a atenção: particularmente,
análise do discurso e linguística textual, que deveria incluir
pesquisas visando a tais objetivos, ainda que as pesquisas
não sejam sempre conduzidas pelo mesmo meio. É, então,
útil que atualmente seja dada uma perspectiva, ao menos
em suas grandes linhas ou nos seus significativos, sobre a
situação na qual se apresenta o discurso ao qual tais títulos
foram atribuídos, e do fundamento dos próprios nomes, em
vista do que é visado, por objeto, por modo de tratamento e
por finalidade, no seu espaço.
É claro, por princípio, a própria distinção entre “discurso”
e “texto”, como objeto de estudo, aparece numa tal empreitada,
porque, reconhece-se normalmente que tais noções refletem

175
RODICA-MARIOARA NAGY

a existência de duas realidades. Em um artigo precedente,


estabeleci, a partir de Eugeniu Coseriu, que a possibilidade
de distinguir o discurso do texto consiste no fato de que o
primeiro é um ato linguístico individual e que o outro é o
produto desse ato (“uma unidade sintática, semântica e prag-
mática superior à frase”). A partir disso, Coseriu considera
que o texto pode ser o objeto de uma disciplina particular,
a linguística do texto, como reflexo da orientação para o
estudo da “fala”, diferentemente do método estabelecido pela
concepção saussuriana, que considera a linguística como um
estudo da língua. Todavia, o referido linguista não fala muito
claramente das possibilidades e dos resultados da análise do
discurso, uma disciplina que foi de suma importância durante
as últimas cinco décadas, evidentemente com o mesmo obje-
tivo de pesquisar a fala, suas condições e suas regras.
Nesse sentido, após 1990, na universidade onde traba-
lho, com a contribuição de especialistas francófonos (Vasili
Dospinescu e Sanda Maria Ardeleani), um centro de análise do
discurso foi criado e a revista desse centro foi lançada, Anadiss,
que reúne, hoje em dia, o apoio de especialistas estrangeiros,
com colaborações cada vez mais engajadas. Também, a maté-
ria Análise do Discurso faz parte do módulo de formação
obrigatória para os estudantes da especialização em filologia.
Sob a tutela dessa entidade acadêmica, elaboram-se pesquisas

176
RODICA-MARIOARA NAGY

para analisar o discurso político e midiático, mas também


abordagens fortemente ancoradas no presente (discursos
eleitorais, discursos pandêmicos, discursos de guerra etc.).

2) Dentre suas publicações em revistas, livros impressos e


digitais, quais são aquelas que a senhora considera mais
notáveis?
Sendo responsável pelo curso de sintaxe da língua romena,
considero que meu trabalho dedicado a essa área (Sintaxe de
la langue roumaine actuelle. Unidatés, rapports et fonctions
syntaxiques, Maison d´édition de l´Institut Européen, Iasi,
2004) propõe uma visão modernizada sobre a pesquisa da
sintaxe da língua romena contemporânea, em uma perspectiva
clássica. Ainda, o Dicionnaire d´analyse du discours (2015) é
uma obra útil, pois fornece um guia para aqueles que estudam
o discurso e o texto, mesmo se, às vezes, não temos dúvidas
sobre isso, nele, encontram-se também situações que serão
interpretadas de outro modo. Da mesma forma, os livros
e a história da língua literária romena, na época moderna,
propõem uma série de princípios de pesquisa que pode sugerir
uma abertura para outros campos de análise.

177
RODICA-MARIOARA NAGY

3) Se se considera o ATD como um campo de estudos situado


na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais pro-
cedimentos teórico-analíticos a senhora poderia destacar?
Do nosso ponto de vista, para responder a esta questão,
partiríamos da relação entre discurso e texto. A propósito,
pensamos que convém debater algumas observações de prin-
cípio, que visem a analisar a correspondência desses termos
e conceitos em várias línguas europeias. Se examinamos os
trabalhos de Eugeniu Coseriu, constatamos, por um lado, que
existem trabalhos que reproduzem a expressão do próprio
linguista em romeno e, nesse caso, o uso de tais termos é
reflexo de sua maneira de se exprimir. Por outro lado, há obras
traduzidas das línguas românicas, a maioria do espanhol, mas
algumas do francês e, nessas situações, há a possibilidade de
uma correspondência completa entre o romeno e essas línguas,
sob um ponto de vista terminológico, na medida em que os
tradutores demonstrem cuidado. Entretanto, certas tradu-
ções foram feitas a partir de originais alemãs e, nesse caso, a
tradução em romeno pode apresentar alguns problemas sob
o ponto de vista terminológico. Por coincidência, até a obra
científica de base da área que examinamos foi publicada em
alemão, de maneira que o que se apresentou para as noções
de “discurso” e “texto” não tem correspondência unívoca,
em romeno. Assim, o conceito de “discurso” foi traduzido

178
RODICA-MARIOARA NAGY

por Coseriu como Rede, com o sentido que tem como base
“fala”, usado quando da transposição de fala da teoria de
Ferdinand de Saussure. Em alemão, contudo, há também o
empréstimo Diskurs, que Coseriu só utiliza para traduzir o
discurso do francês: “Im französischen Sprachraum wird die
Textlinguistik in einer ganz besonderen Form, als analyse
du discours (Diskursanalyse) betrieben”. Dessa formulação,
convém notar que, segundo Coseriu, la Linguistique du texte
(Texlinguistik) em alemão tem como correspondente francês
a analyse du discours, mas “sob uma forma muito específica”.
Assim, conclui-se que não existe um equivalente ao próprio
sentido da palavra.
O fato de o termo alemão Rede combinar os sentidos de
“fala” e “discurso” parece favorizar a orientação básica de
Coseriu em direção ao estudo da fala, espantosamente, ele
pensa que o produto da fala deve ser estudado, não a fala,
como tal, mas o discurso propriamente dito, ainda que, neste
estudo, ele considere as condições de sua realização. A esse
respeito, ainda que ele dê um papel primordial à compreensão
da língua como enérgeia (atividade), esse linguista não se atém
muito ao ato (atividade) representado pelo discurso, mas ao
resultado (érgon “coisa acabada”), representado pelo texto.
Na ausência de uma correspondência inequívoca com
o termo romeno discurs, a palavra alemã Rede pode causar

179
RODICA-MARIOARA NAGY

problemas aos tradutores, podendo levar a dificuldades de


compreensão de trechos da tradução escrita. Assim, no
texto original, há um parágrafo (p. 52-53), no qual a expres-
são Universum der Rede é usada, primeiramente, como tal
e, em uma segunda vez, no plural (Universen der Rede), os
tradutores romenos, transpondo o primeiro caso para o uni-
verso do discurso e, o segundo, para os universos da fala (p.
69). Ao fazê-lo, ainda mais porque as traduções prosseguem
pelo universo da fala, pareceria que nós falávamos, às vezes,
de coisas distintas do universo do discurso. Com muita pru-
dência, quanto a esse aspecto, o tradutor italiano da obra
de Coseriu usa universo del discorso e universi di discorsi. O
termo discorso sendo utilizado sistematicamente para traduzir
Rede do alemão.
Entre as obras que traduzem diretamente para o romeno
a língua e a terminologia usadas por Coseriu, aparecem,
primeiramente, as que representam suas aulas e conferências
feitas nas universidades romenas. Assim, quando da confe-
rência sobre a Competência Linguística, o linguista mostra
que a linguagem como atividade, ao nível individual, é o
discurso, uma unidade concreta da fala e a competência expres-
siva é de “saber falar, em certas situações, de certas coisas,
com certas pessoas, isto é, saber construir discursos”, aos
quais poderia ser acrescentada a completude (os discursos),

180
RODICA-MARIOARA NAGY

correspondentes a cada uma das situações. Em seguida, na


sua apresentação sobre a Arquitetura e a estrutura da língua,
segundo sua concepção, Coseriu menciona a fala repetitiva
ou o discurso repetido, por oposição à técnica livre, em que
a palavra discurso é usada como núcleo de um termo binário.
Entre os planos gramaticais, “possíveis numa língua”, Coseriu
considera (o colóquio Sintaxe funcional) “um nível do t e x
to, na medida em que, em uma língua, há funções além da
frase, funções próprias a este nível”.
Em seguida, a palavra discorso em espanhol corresponde a
discurs, em romeno, sendo que a relação entre o texto original
e o traduzido é realizada, no caso, sem problemas em termos
de terminologia. No estudo de 1956, Coseriu formula uma
definição, segundo a qual o discurso representa “o ato ou a
série de atos (de fala) de cada indivíduo nestas circunstâncias”.
Aqui é também mencionado o objeto da linguística do texto:
“há... uma linguística do texto [(no original, lingüística del
texto)] ou da fala em um nível particular (que é também o
estudo do “discurso” e desta “ciência”). Advém dessa for-
mulação que, segundo Coseriu, a partir da Linguística do
texto, se efetue o estudo do discurso e, por conseguinte, do
ato ou atos que produziram o texto, assim como o estudo da
competência do locutor.

181
RODICA-MARIOARA NAGY

Um conceito frequentemente ligado ao discurso de Coseriu


é o “quadro” (ou os quadros) que representa as “circunstân-
cias nas quais se fala”, pois “as circunstâncias guiam todo
o discurso, dando-lhe um sentido e podem até determinar
o nível de verdade dos enunciados”. Distinguem-se quatro
tipos de quadro – a situação, a região, o contexto e o universo
do discurso – como fá-lo-emos na Linguística do texto. O
que se deve notar nos dois casos é que o que para Coseriu é
o contexto corresponde àquilo que os promotores franceses
da análise do discurso donominam cotexto, enquanto que os
outros “quadros” correspondem ao contexto.
Continuando a seguir a relação entre discurso e texto,
quando se tornam objeto de pesquisa de Eugeniu Coseriu,
o estudo seguinte chama a atenção: Socio- et etnolinguística.
Suas bases e suas tarefas, que corresponde à comunicação
apresentada em 1978, em um congresso no Brasil. Traduzida
em romeno, a partir da versão espanhola, tal estudo permite,
é claro, uma correspondência terminológica ótima, mas se
vê aqui que o autor integra, às vezes, o discurso ao texto: “o
estudo da “língua” e do “discurso” (ou do “texto”)” representa
o objeto da linguística do discurso (ou do texto)”. Há muitas
situações em que os dois termos não estão ligados e o termo
discurso é preferido (por exemplo, “para a história do discurso,
não temos ainda todos os dados suficientes”, ainda que ele

182
RODICA-MARIOARA NAGY

proponha uma disciplina para estudar as estruturas mais


aprofundadas do que a frase, denominada, como já mencionei,
a linguística do texto. Esta disciplina, insiste o linguística,
deve ser uma “uma linguística do sentido” com seus próprios
objetivos e métodos e não uma linguística transfrástica”, isto
é, um estudo gramatical, conduzido, segundo princípios
estabelecidos e aplicados a estruturas complexas além da frase.
Sendo uma “linguística do sentido”, a linguística do texto,
concebida por Eugeniu Coseriu, é uma hermenêutica do
sentido ou, em outras palavras, a interpretação do sentido
no nível da macroestrutura representada pelo texto, que tem
dimensões que podem variar entre uma única palavra e uma
obra inteira, uma reconstituição do sentido a partir da exegese
do significante textual, levando-se em conta uma designação
feita a partir dele mesmo. Na concepção desse linguista, o
sentido é atualizar a significação; realizando a designação,
poder-se-ia deduzir daí que tais processos realizados pelo ato
(ou pelos atos) de fala que compõe(m) o discurso, uma análise
do discurso propriamente dita, que se diferencia da linguística
do texto, deveria levar em conta esses processos. Tal ideia não
é expressa por Coseriu como tal, mas se compreende que o
texto só se refira ao que é intra e intertextual e o discurso
inclui, além deles, também ao que é extratextual.

183
RODICA-MARIOARA NAGY

Pode-se, assim, ver que Eugeniu Coseriu, assim como


outros pesquisadores, considerou o discurso e o texto como
um objeto de estudo de maneira cumulativa, embora, de um
ponto de vista teórico, os tenha distinguido e tenha dado
definições a partir das quais podemos distingui-los. É por-
que, para ultrapassar a distância entre concepção teórica e
investigação prática – quando o discurso e texto se tornam
objeto de estudo –, julgamos útil utilizar o composto texto-
-discurso, que tem um valor operatório, mas que, é claro, não
pode resolver o problema do nome da disciplina para a qual
os especialistas propuseram soluções diversas.
Coseriu não é o único a usar a solução linguística do
texto, mas ele atribui, como menciona especificamente,
outras perspectivas em busca do texto diferentemente dos
especialistas que usaram esse sintagma terminológico, pois
uma comparação, mesmo breve, como com a obra publicada
por Heinz Vater, em 1992, prova um conteúdo particular
e objetos determinados, ainda que, em princípio, o objeto
do estudo continue o mesmo. Em Vater, uma abordagem
mais ligada à forma de pesquisar iniciada e desenvolvida
pelos pesquisadores franceses é observada, incluindo assumir
certas sugestões da capitalização da neoretórica. Mas Coseriu
admitiu, igualmente, que, na retórica, há alguns problemas
que visam à linguística do texto. Outros autores seguiram

184
RODICA-MARIOARA NAGY

a mesma via, ainda que tenham apelado para seus próprios


meios e sobretudo para exercícios sobre casos concretos de
outra natureza.
Alguns pesquisadores franceses usaram o termo linguística
textual que, segundo Jean-Michel Adam, é uma análise textual
dos discursos e constitui um campo da análise do discurso.
Como tal, esse pesquisador considera que a análise do dis-
curso e a linguística textual são duas disciplinas distintas e
complementares, definindo “a linguística textual como uma
sub-área do campo mais vasto das práticas discursivas”.
Uma autoridade na pesquisa da área dos discursos, Teun
A. Dijk, usou as expressões discourse analysis (análise do
discurso) e Tekstwetenschaft, tradução do termo neerlandês
tekstwetenschap (ciência do texto); outros autores de expressão
alemã optaram por termos tais como a gramática do texto
(Textgrammatik) e a semântica do texto (Textsemantik), que
seguem os métodos (repudiados por Coseriu) de estender, no
nível do texto, os meios analíticos habituais de tratamento
da frase.
O discurso é, ao mesmo tempo, fala, constituindo uma
forma de ação que envolve o locutor, o interlocutor e as cir-
cunstâncias da interação; o texto é uma série de enunciados
que forma um conjunto coerente a fim de dar um sentido,
sendo, em princípio, o resultado do discurso. Mas o texto

185
RODICA-MARIOARA NAGY

não é somente o resultado de uma atividade discursiva mas


também seu objetivo e, em alguns casos, a atividade em
questão é organizada em função dele. Consequentemente,
pareceria que a orientação dos pesquisadores, que consideram
que o estudo do texto conduz implicitamente ao estudo do
discurso seja admissível, ao menos em seus aspectos mais
importantes. Todavia, deve-se notar que, se esse estudo é
denominado linguística do texto, cria o inconveniente de
englobar, na esfera da linguística, numerosos aspectos que
vão além dela e tal inconveniente não é eliminado, ainda
que assimilado ao sentido original do termo filologia, como
o faz Coseriu.
Outra equivalência do termo filologia (“descrição científica
da língua ou da literatura, isto é, a interpretação de textos”)
com a análise do discurso e a análise do texto que se encontra
no dicionário editado por Hadumod Bussman mostra-se
também pouco recomendável.
Em contrapartida, Enrique Aldaraz Varó e Antonia
Martinez Linares Martinez Linares ponderam que o
termo Análise do texto é o sinônimo para comentário do texto;
utiliza-se esse termo em referência às técnicas de descoberta
dos elementos significativos “do texto ou do discurso, e, par-
ticularmente, dos elementos léxico-semânticos”; a análise do
texto desenvolve, assim, um sentido secundário da expressão

186
RODICA-MARIOARA NAGY

Discourse Analysis, proposta em 1952, por Z. S. Harris e


retomada por certos pesquisadores americanos e franceses.
O uso do termo analyse no quadro do estudo do texto parece
só ter sido cunhado por causa da simetria com o estudo do
discurso, uma vez que o texto é um fato de linguagem e, por
conseguinte, sua investigação é uma questão da ciência da
linguagem, da linguística e, sendo assim, o termo linguistique
(linguística) é mais apropriado para o estudo do texto. Patrick
Charaudeau e Dominique Maingueneau notam no prefácio
de seu dicionário (2002) que a análise do discurso resulta da
convergência progressiva de iniciativas a partir de diferentes
bases, surgindas nos anos 1960 na Europa e nos Estados
Unidos. Os autores de outro dicionário da área, C. Détrie, P.
Siblot e B. Verine (2001), ainda que com uma focalização certa
(“uma abordagem praxemática”), completam a perspectiva,
considerando o discurso como representante das práticas da
linguagem, assim como o seu contexto (as condições para
produzir declarações em sua dimensão social, psicológica e
intersubjetiva), uma ideia com a qual estamos de acordo, de
maneira que a análise (textual) do discurso apresenta um
problema “mais aberto” do que o visado pelo estudo do texto.

187
RODICA-MARIOARA NAGY

4) Quais são os objetivos específicos da ATD, que a tornam


diferente de outras teorias do texto?
Ainda que ela possa ter outros aspectos, a apresentação,
até o momento, é suficiente para formular um ponto de vista
sobre o problema em pauta: a inclusão e a denominação da
análise textual do discurso que tem por objeto as produções
transfrásticas com certa significação social. Pode-se, assim,
afirmar que se o texto é o resultado de um discurso, então, a
ciência que estuda o discurso e está superposta à que estuda
o texto – como sugere Jean-Michel Adam, uma vez que o
discurso inclui também o contexto e não apenas o cotexto
–, caso se leve em consideração o fato de que, geralmente a
ação de fazer alguma coisa e seu resultado estão unidos pela
consciência (frequentemente sob o mesmo nome), então a
necessidade de considerar o estudo do discurso é suficiente-
mente motivada, dando ao termo uma extensão que engloba
o texto. Considerando-se que este estudo ultrapassa, de certa
forma, os limites da linguística, a expressão linguística do
texto não é a preferida: a mais apropriada, na nossa opinião,
é o termo análise (textual) do discurso (ATD).

188
RODICA-MARIOARA NAGY

5) Fazer pesquisa não significa somente ter conhecimento


dos conceitos e procedimentos analíticos específicos mas
também conhecer as possibilidades de seu campo de pes-
quisa. Nessa perspectiva, quais seriam, na sua opinião, os
limites e também quais seriam as interfaces de sua abor-
dagem teórico-analítica?
É claro que a apropriação de noções específicas é uma
condição obrigatória para efetuar análises do texto-discurso,
caso o objetivo de tais análises seja útil para a ciência, em
geral, mas também para a sociedade. Sob esse ponto de vista,
propusemos, por exemplo, com especialistas de vários cen-
tros universitários, no quadro de um projeto financiado
pelo ministério responsável pela pasta da pesquisa no país,
de analisar o patrimônio alimentar tradicional, para sua
preservação, o que envolve a gravação de um corpus que será
objeto de uma enquete (analisando o discurso oral atual, a
história narrada, os rituais e seus significados etc.).
Outra direção seria a de capitalizar o conhecimento da
análise do discurso para um programa de pesquisa doutoral
coerente proposto para aqueles que se interessam por textos
pertencentes a algumas esferas funcionais menos abordadas
na linguística romena: textos administrativos provenientes
dos arquivos de documentos de zonas situadas antigamente
sob ocupação austro-húngara, textos jurídicos que dificultam

189
RODICA-MARIOARA NAGY

a comunicação com o cidadão, nas condições da integração


europeia, textos de guias turísticos (tese de doutorado em
cotutela com a Universidade de Poitiers, defendida em 2022
por Iona Daniela Balauta) a fim de assinalar sua ineficácia e
de propor modelos adaptados ao novo tipo de turista, textos
de vulgarização da ciência do período comunista etc.
Vale salientar que as delimitações entre esses ramos ou
disciplinas das ciências humanas podem se dar por razões
metodológicas e didáticas, mas, na realidade, para a des-
crição e a interpretação de um tal objeto sagrado – o logos
– e submetido ao movimento permanente do pensamento
e da consciência, várias perspectivas são necessárias, com
instrumentos teóricos e fundamentos que permanecem,
infelizmente, imperfeitos.

6) A partir dos resultados de seus trabalhos, será que pode-


ria indicar contribuições para o aprendizado de uma língua?
Os estudos contrastivos da análise do discurso, com
as novas condições oferecidas pelas plataformas digitais,
poderiam contribuir para facilitar as línguas estrangeiras,
assim como a análise textual do discurso poderia contribuir
para revelar os fenômenos da evolução de continuidade e
de modernização de uma língua, no que concerne os fatos

190
RODICA-MARIOARA NAGY

da língua atual com relação aos estágios anteriores e talvez


fazer progredir certas tendências futuras. Desenvolvemos
uma direção, nesse sentido, por exemplo, elaborando uma
edição crítica bilingue de um manual de aprendizado da
língua romena, publicado pela primeira vez em 1865 (V.
Mircesco, Grammaire de langue roumaine, edição crítica,
estudo introdutório, comentários e notas de Rodica Nagy,
Editura USV, 2019)

7) Quais são os progressos da ATD que, hoje, a senhora


gostaria de sublinhar e como vê as perspectivas para o seu
futuro?
Eu consideraria que os progressos reais na análise textual
do discurso provêm mais das ciências filológicas clássicas, do
integralismo linguístico, do que da área altamente ideologi-
zada das ciências sociais contemporâneas; por conseguinte,
um retorno às significações e aos valores clássicos, com o
apoio da tecnologia digital, mas não sendo subordinadas a
esta, poderia ser uma atividade no futuro.
Por exemplo, na sua tese de doutorado, Iona-Daniela
Balauta demonstrou a necessidade do uso das ferramentas
da informática na investigação de um corpus de textos, con-
siderando que os dados quantitativos obtidos com a ajuda

191
RODICA-MARIOARA NAGY

desses recursos permitiriam uma melhor justificativa das


ideias propostas. Um teste do corpus com ferramentas da
informática permite a observação dos fenômenos linguísticos,
os mais importantes que possam ser encontrados num corpus,
a extração de dados e a escolha das direções de pesquisa.
Cremos que as duas direções da pesquisa, com ferramentas
da informática, baseadas na análise de um corpus, podem
ser complementares.

8) Quais as leituras que poderia indicar a alguém que acaba


de se iniciar na área da ATD?
Está claro que a bibliografia da área é extremamente
generosa, rica, diversificada sob o ponto de vista dos métodos
de investigação do texto, mas algumas sugestões podem ser
formuladas: os trabalhos da escola francesa da análise do
discurso (por exemplo, o dicionário de P. Charaudeau e D.
Maingueneau), a linguística textual de Eugeniu Coseriu, os
trabalhos de síntese romenos (por exemplo, Daniela Roventa
Frumusani, 2012), mas também as obras clássicas mais anti-
gas, invocadas acima, relativas à análise do discurso ou à
teoria dos gêneros.

192
RODICA-MARIOARA NAGY

Perguntas específicas

9) Levando-se em conta o fato de que a ATD tem suas


origens na Linguística textual e na Enunciação, como a
caracterizaria, hoje?
Como já o demostramos, as preocupações mais recentes
da análise do discurso convergem para a descoberta dos
mecanismos de estruturação de certos textos e para sua her-
menêutica, sob o ponto de vista dos efeitos de poder, controle,
resistência ou liberdade, sendo que os fatos da linguagem
podem determinar a continuidade de certas hipóteses lançadas
pelos teóricos dos atos de linguagem.
Hoje, estamos menos interessados por descrição, aná-
lise, interpretação, comparação de textos poéticos de um
mesmo autor, por exemplo, a fim de estabelecer tipologias
ou características do texto-obra através uma crítica genética
dos estados textuais, realizada pela poética, como também,
há pouca preocupação com a “restauração” de um texto
original, baseada nos estados textuais heterogêneos, sob
um ponto de vista editorial, na tradição filológica. Quase
ninguém se interessa pelo raciocínio ou pela necessidade
de reconhecer uma unidade tranfrástrica, levando-se em
conta que o conceito de “enunciado” satisfaz, hoje, todas as
exigências teóricas de uma unidade soberana na área das

193
RODICA-MARIOARA NAGY

investigações pragma-linguísticas. À medida que um texto/


discurso marca as diferenças e estabelece identidades, ele é
concebido, hoje em dia, como um sistema coerente de relações
de causa a efeito, adaptado a certas exigências que estipulam
a diminuição tecnológica de tudo o que é ineficaz, sendo um
objeto integrado em uma economia pós-moderna consumista
ou um instrumento de poder capaz de assegurar o domínio
ou a coerção (por exemplo, as narrativas”; os discursos dos
regimes “politicamente corretos” etc.)

10) Levando-se em conta a realidade das novas tecnologias


dos textos digitais, quais procedimentos analíticos da ATD
a senhora poderia sugerir àqueles que se dedicam à pesquisa
na área dos textos digitais?
O extraordinário progresso do tratamento automático dos
textos obriga a pesquisa a acompanhar esse imperativo, ainda
que seja preferido, nessas bases, o princípio quantitativo de
avaliação, que deve ser complementado pela interpretação dos
dados obtidos. Com bons resultados nas pesquisas conduzidas
pelos doutorandos de nossa universidade, foram usados os
programas Iramuteq e Cordial Pro (para os textos elabora-
dos em francês); Tropes, em duas versões, com dicionários
integrados para cada língua (ao mesmo tempo para textos

194
RODICA-MARIOARA NAGY

em romeno e em francês); assim como o concordanciador


Lucon (para a pesquisa com textos em romeno).

11) Levando-se em conta o progresso da era digital, qual é


o seu conceito de texto, hoje?
O estudo da dimensão pragmática do texto conduz à
identificação das funções, indo além do quadro linguístico
e o integrando a um processo mais vasto de comunicação,
no qual a situação, o contexto, os participantes estão envol-
vidos, isto é, os fatores subjacentes à geração de um sentido
dinâmico e vivo em ação, a propósito, considera-se que o
texto é uma declaração, em um contexto comunicativo, feito
sob forma oral ou escrita, consistindo em uma palavra ou
uma sequência mais ampla. Os fatores que asseguram a
textualização, sob um ponto de vista semântico-pragmático,
devem ser admitidos como a intencionalidade – a atitude da
pessoa que produz o texto, situacionalidade – a pertinência
de um texto em uma situação dada. A intertextualidade – as
relações existentes entre um texto e outros textos (prece-
dentes) e a informatividade – a informação transmitida e
sua quantidade. Nota-se, então, que se levando em conta as
características da enunciação, estabelece-se uma contamina-
ção do conceito de “texto” pelo de “discurso”, funcionando,
o mais frequentemente, de maneira indistinta com um dos

195
RODICA-MARIOARA NAGY

dois termos considerados como sinônimos; para responder


à pergunta, eu me valeria de uma solução de compromisso,
aceitando o complexo terminológico texto-discurso, que
evidencia hipóstases conceituais complementares do objeto
abordado sob diversos ângulos.
Com a implementação da comunicação digital, novos
desafios aparecem na análise do texto-discurso, um deles
seria a dimensão enorme e opressora de tudo o que pode
ser gravado, a partir de uma comunicação humana univer-
sal. A capacidade de estocagem colossal das bases de dados
torna difícil a administração do hipertexto, a menos que haja
direcionamentos claramente estabelecidos para a pesquisa.
Além do mais, uma distinção axiológica operante em
outras épocas, que opunha textos mais elaborados (inclusive
teóricos), dignos de análise (ou considerados como fundamen-
tos científicos) e outros, sem importância, está, hoje, obsoleta,
face à pressão da democratização geral e da equalização digital.
Assim, um estudante terá necessidade de ser guiado na
nossa vasta paisagem do hiper-macro-texto, no qual, ele
poderia se perder como num labirinto, mais ainda do que
se perderia caso consultasse as listas bibliográficas clássicas.
Em vez disso, há vantagens formidáveis oferecidas pela era
digital, que vêm com soluções instantâneas para o tratamento
automático do texto, com programas de tradução automática e

196
RODICA-MARIOARA NAGY

certamente com outras inovações que serão, ao mesmo tempo,


novas ferramentas, mas também novos questionamentos sobre
o caminho sinuoso em direção ao sentido, através do discurso.

197
RODICA-MARIOARA NAGY
Universidade Stefan cel Mare - Romênia
Versão em francês

Questions générales

1) Comment êtes-vous arrivés à l’Analyse Textuelle des


Discours (ATD) ? Quels auteurs vous ont-ils inspirés ?
Tout nouveau champ d’étude doit être promu dans le
champ académique, à travers des cursus universitaires qui
donnent à la fois l’histoire d’une discipline et les dernières
découvertes et résultats de recherche, fût-ils controversés.
Ensuite, bien sûr, les publications spécialisées auxquelles
un chercheur a accès doivent être accessibles, à proximité
immédiate de l’ouverture d’une nouvelle voie d’investigation.
De tels objectifs sont faciles à atteindre aujourd’hui, alors

198
RODICA-MARIOARA NAGY

que les connaissances scientifiques se sont beaucoup plus


démocratisées grâce aux mécanismes de diffusion numérique.
Mais ce n’était pas la même situation il y a plus de 30 ans,
quand j’étudiais la philologie, à l’époque communiste, dans un
pays d’Europe de l’Est. Cependant, la formation académique
roumaine était fortement liée aux idées novatrices de l’Occi-
dent, à la fois par les collaborations du personnel enseignant
avec leurs collègues étrangers, ainsi que par des conférences,
des publications dans des magazines et des traductions de la
littérature fondamentale. En ce sens, une première ouverture
aux théories textuelles fut offerte par les études littéraires, car
tout ce qui proposait le dialogisme et la polyphonie bakhti-
nienne était alors à la mode (Mikhaïl Bakhtine, La Poétique
de Dostoïevski, Paris, Le Seuil, 1 éd. 1970, en roumain, un
re

volume collectif, intitulé Poétique, Esthétique, Sociologie,


Éditions Univers), les genres de discours de Tzvetan Todorov
(Les Genres du discours, Paris, Le Seuil, 1978), Genette, Gérard,
Introduction à l’architexte, Paris, Seuil, 1979, traduction en
roumain (1994), Introducere în arhitext. Ficţiune şi dicţiune,
Bucureşti, Univers. Plus précisément, ce n’était pas inclus dans
le programme de formation des philologues une discipline
indépendante d’analyse de texte ou d’analyse du discours,
mais plutôt de telles idées récentes ont été insérées dans les
cours de poétique, de théorie littéraire ou de sémiotique.

199
RODICA-MARIOARA NAGY

Puis vint la chute du rideau de fer, lorsque l’enseignement


et la recherche roumains tentèrent de se synchroniser encore
plus avec les modèles théoriques d’investigation occidentaux,
en prenant le relais et en introduisant de nouvelles disciplines/
spécialisations, par l’intensification du phénomène des tra-
ductions et en ouvrant encore plus l’accès aux publications
scientifiques. La direction sémiotique résiste dans certains
centres universitaires, bien que concurrencée par de nouvelles
perspectives, et des travaux d’auteurs apparaissent qui tentent
de concilier le côté linguistique avec le côté sémiotique, comme
l’ouvrage de Carmen Vlad, intitulé Textul-aisberg, Maison
d’édition Casa Cărţii de Ştiinţă, Cluj, 2000. Une perspective
non francophone, mais complémentaire dans la description
des composantes du texte et dans la définition de cette entité,
amène un spécialiste roumain, connu pour son intégralisme
linguistique plutôt dans certaines universités espagnoles,
allemandes et sud-américaines, Eugen Coşeriu. Sur cette
base, nous avons appris que parmi les initiatives scientifiques
de la seconde moitié du XXe siècle, se distinguent particu-
lièrement celles qui traitent des problèmes de langage et de
communication et, parmi elles, par leurs conséquences et
leur continuité, celles qui ont comme objet les structures qui
dépassent le niveau de la phrase. De telles initiatives ont parfois
été soutenues par des suggestions et des possibilités interpré-
tatives formulées par la rhétorique antique et médiévale, mais

200
RODICA-MARIOARA NAGY

à cette occasion l’impératif d’établir des principes d’analyse


rigoureux a été observé, dans la lignée de ceux existant dans
les sciences du langage et d’autres disciplines culturelles et
sociales. A ce titre, le XXIe siècle a hérité de ce devoir de
résoudre certains des problèmes relevés au siècle précédent,
dans la mesure où ils n’ont pas trouvé de frontières claires et
de solutions satisfaisantes.
La mise en évidence des complexes linguistiques qui vont
au-delà de la phrase est en grande partie la conséquence
d’orientations, initiées entre autres même par certains élèves
de Ferdinand de Saussure, vers le niveau de la parole, déter-
minantes et définitoires pour l’existence même de la langue
du point de vue d’exercice de ses fonctions. Cependant, les
travaux qui ont paru au cours des dernières décennies avec
cet objet, bien que beaucoup d’entre eux méritoires, n’ont pas
réussi à imposer une discipline scientifique articulée à tous
égards et aucun titre unanimement accepté pour cela. Dans
ce contexte, outre d’autres propositions, deux appellations
ont été particulièrement distinguées, analyse du discours et
linguistique textuelle, qui devraient inclure des recherches
visant de tels objectifs, bien que ces recherches ne soient pas
toujours menées avec les mêmes moyens et avec les mêmes
finalités, même lorsqu’ils sont distribués sous le même nom.
Il est donc utile que, à l’heure actuelle, soit donnée une

201
RODICA-MARIOARA NAGY

perspective, au moins dans ses grandes lignes ou dans des


cas significatifs, sur la situation dans laquelle se présente la
recherche du discours auquel de tels noms ont été attribués
et du fondement des noms eux-mêmes, en vue de ce qui est
visé, par objet, par mode de traitement et par finalité, dans
leur espace.
Bien entendu, par principe, la distinction même entre «
discours » et « texte » comme objets d’étude apparaît dans une
telle entreprise, car, on le reconnaît généralement, ces notions
reflètent l’existence de deux réalités. Dans un article précédent,
j’ai établi, à la suite d’Eugeniu Coşeriu, que la possibilité de
distinguer entre discours et texte consiste dans le fait que le
premier est un acte linguistique individuel, et que l’autre est
le produit de cet acte (« une unité syntaxique, sémantique
et pragmatique supérieure à la phrase »). Partant de cette
distinction, Coşeriu considère que le texte peut faire l’objet
d’une discipline particulière, la linguistique du texte, comme
reflet de l’orientation vers l’étude de la « parole », différente
de la méthode établie notamment par la conception saussu-
rienne, qui considère la linguistique comme une étude de la
langue. Cependant, ce linguiste ne parle pas très clairement
des possibilités et des résultats de l’analyse du discours, une
discipline qui a été particulièrement proéminente au cours

202
RODICA-MARIOARA NAGY

des cinq dernières décennies, évidemment avec le même


objectif d’enquêter sur la parole, ses conditions et ses règles.
En ce sens, après 1990, à l’université où je travaille, avec la
contribution de spécialistes francophones (Vasile Dospinescu
et Sanda Maria Ardeleanu), un centre d’analyse du discours
a été créé et la revue de ce centre a été lancée, Anadiss, qui
rassemble aujourd’hui le soutien de spécialistes étrangers, avec
des collaborations de plus en plus engagées. Aussi, la matière
Analyse du discours fait partie du module de formation
obligatoire pour les étudiants à la maîtrise en philologie.
Sous la tutelle de cette entité académique, des recherches sont
menées pour analyser le discours politique et médiatique,
mais aussi des approches fortement ancrées dans le présent
(discours électoraux, discours pandémique, discours de la
guerre, etc).

2) Parmi vos publications dans des revues, des livres impri-


més et des livres numériques, quelles sont celles que vous
considérez les plus remarquables ?
Étant responsable du cours de syntaxe de la langue
roumaine, je considère que mon travail consacré à ce domaine
(Syntaxe de la langue roumaine actuelle. Unités, rapports et
fonctions syntaxiques, Maison d’édition de l’Institut européen,

203
RODICA-MARIOARA NAGY

Iaşi, 2004) propose une vision modernisée sur la recherche


de syntaxe de la langue roumaine contemporaine, dans une
perspective classique. Ensuite, le Dictionnaire d’analyse du
discours (2015) est un ouvrage utile, car il fournit un guide
pour ceux qui étudient le discours et le texte, même si parfois,
nous n’en doutons pas, ils trouveront aussi des situations dans
lesquelles ils auront d’autres avis. De même, les ouvrages
consacrés à l’histoire de la langue littéraire roumaine, l’époque
moderne, proposent une série de principes d’investigation qui
peuvent suggérer une ouverture à d’autres champs d’analyse.

3) Si l’on considère l’ATD comme un champ d’études situé


dans la Linguistique textuelle, discursive et énonciative,
quelles démarches théoriques-analytiques pourrez-vous
mettre en relief ?
De notre point de vue, pour répondre à cette question,
nous partirions du rapport entre discours et texte. A cet égard,
nous pensons qu’il convient de discuter quelques observations
de principe, qui visent à analyser la correspondance de ces
termes et concepts dans plusieurs langues européennes. Si
nous examinons les travaux d’Eugen Coşeriu, nous consta-
tons, d’une part, qu’il existe des travaux qui reproduisent
l’expression du linguiste lui-même en roumain et, dans ce
cas, l’utilisation de ces termes est un reflet direct de sa façon

204
RODICA-MARIOARA NAGY

de s’exprimer. Ensuite, il y a des œuvres traduites des langues


romanes, la plupart d’entre elles de l’espagnol, mais certaines
aussi du français, et dans ces situations il y a la possibilité d’une
correspondance complète entre le roumain et ces langues
d’un point de vue terminologique, dans la mesure où les
traducteurs ont fait preuve d’attention. Cependant, certaines
traductions ont été faites à partir d’originaux allemands, et
dans ce cas, la traduction en roumain peut poser quelques
problèmes d’un point de vue terminologique. Par coïnci-
dence, même l’ouvrage scientifique de base du domaine que
nous examinons a été publié en allemand, de sorte que le
rendu des notions de « discours » et de « texte » n’a pas de
correspondants univoques en roumain. Ainsi, le concept de
«discours» est rendu par Coşeriu par Rede, avec le sens de
base «parole», utilisé lors de la transposition de parole de la
théorie de Ferdinand de Saussure. En allemand, cependant, il y
a aussi le prêt Diskurs, que Coşeriu n’utilise que pour traduire
le discours du français: „Im französischen Sprachraum wird
die Textlinguistik in einer ganz besonderen Form, als analyse
du discours (Diskursanalyse) betrieben”. De cette formulation,
il convient de noter que, selon Coşeriu, la linguistique du texte
(Textlinguistik) en allemand a pour correspondant français
l’analyse du discours, mais «sous une forme très spécifique»,
donc pas un équivalent au sens propre du mot.

205
RODICA-MARIOARA NAGY

Le fait que le terme allemand Rede combine les signifi-


cations de «parole» et «discours» semble favoriser l’orienta-
tion de principe de Coşeriu vers l’étude de la parole, mais,
étonnamment, il pense que le produit de la parole doit être
étudié, pas la parole en tant que telle, le discours proprement
dit, bien que dans cette étude, il prend également en compte
les conditions de sa réalisation. À ce titre, bien qu’il accorde
un rôle prédominant à la compréhension de la langue comme
enérgeia (activité), ce linguiste ne s’attarde pas sur l’acte (acti-
vité) représenté par le discours, mais sur le résultat (érgon
«chose faite»), représenté par le texte.
Mais, en l’absence d’une correspondance sans équivoque
avec le terme roumain discurs, le mot allemand Rede peut poser
des problèmes aux traducteurs et peut entraîner des difficultés
de compréhension des extraits de la traduction écrite. Ainsi,
dans le texte original, il y a un paragraphe (pp. 52-53) dans
lequel l’expression Universum der Rede est utilisée, d’abord
en tant que telle et la deuxième fois au pluriel (Universen
der Rede), les traducteurs roumains transposant le premier
cas à travers l’univers du discours, et le second à travers les
univers de la parole (p. 69). Ce faisant, d’autant plus que les
traductions se poursuivent à travers l’univers de la parole, il
semblerait que nous parlions parfois d’autre chose que de
l’univers du discours. Très prudemment sur cet aspect, le

206
RODICA-MARIOARA NAGY

traducteur italien de l’œuvre de Coşeriu utilise universo del


discorso et universi di discorso, le terme discorso étant utilisé
systématiquement pour traduire Rede de l’allemand.
Parmi les ouvrages qui traduisent directement en roumain
la langue et la terminologie utilisées par Coşeriu figurent, tout
d’abord, celles qui représentent ses cours et conférences tenus
dans les universités roumaines. Ainsi, lors de la conférence
sur la Compétence Linguistique, le linguiste montre que le
langage comme activité, au niveau individuel, est le discours,
une unité concrète de la parole, et la compétence expressive
c’est de « savoir parler dans certaines situations, de certaines
choses, avec certaines personnes, c’est-à-dire savoir construire
des discours », auxquels pourraient s’ajouter la complétion
(les discours) correspondant à chacune des situations. Ensuite,
dans sa présentation sur l’Architecture et la structure de la
langue, selon sa conception, Coşeriu mentionne la parole
répétée ou le discours répété, par opposition à la technique
libre, où le mot discours est utilisé comme noyau d’un terme
binaire. Parmi les plans grammaticaux «possibles dans une
langue», Coşeriu considère (le colloque Syntaxe fonctionnelle)
«un niveau du t e x t e, dans la mesure où dans une langue il
y a des fonctions au-delà de la phrase, des fonctions propres
à ce niveau».

207
RODICA-MARIOARA NAGY

Ensuite, le mot discorso en espagnol a un correspondant


discurs en roumain, le rapport entre le texte original et celui
traduit étant réalisé dans ce cas sans problèmes en termes
de terminologie. Dans l’étude de 1956, Coşeriu formule une
définition selon laquelle le discours représente « l’acte ou la
série d’actes [de parole] de chaque individu dans ces circons-
tances ». Ici est également mentionné l’objet de la linguistique
du texte : « il y a ... une linguistique du texte [en original,
lingüística del texto] ou de la parole à un niveau particulier
(qui est aussi l’étude du « discours « et de cette « science «) ».
Il découle de cette formulation que, selon Coşeriu, à travers
la linguistique du texte, s’effectue l’étude du discours, donc
de l’acte ou des actes qui ont produit le texte, ainsi que l’étude
de la compétence du locuteur.
Un concept souvent lié au discours de Coşeriu est « le
cadre » (ou les cadres) qui représente les « circonstances
dans lesquelles on parle », car „les cadres guident tout dis-
cours en lui donnant un sens et peuvent même déterminer
le niveau de vérité des énoncés ». On distingue quatre types
de cadres - la situation, la région, le contexte et l’univers du
discours - comme on le fera dans la Linguistique du texte. Ce
qu’il faut noter dans les deux cas, c’est que, chez Coşeriu, le
contexte est ce que les promoteurs français de l’analyse du

208
RODICA-MARIOARA NAGY

discours appellent cotexte, tandis que les autres « cadres »


correspondent au contexte.
En continuant à suivre la relation entre discours et texte,
lorsqu’ils deviennent l’objet de la recherche d’Eugeniu Coşeriu,
l’étude suivante attire l’attention : Socio- et ethnolinguistique.
Leurs bases et leurs tâches, qui est la communication présentée
en 1978 lors d’un congrès tenu au Brésil. Traduite en roumain
après la version espagnole, cette étude a permis, bien sûr, une
correspondance terminologique optimale, mais on voit ici que
l’auteur assimile parfois le discours au texte : « l’étude de la
« langue » et du « discours » (ou du « texte ») » , représente
l’objet de la linguistique du discours (ou du « texte ») »”. Il
y a bien sûr des situations où les deux termes ne sont pas
liés, auquel cas le terme discours est préféré (par exemple, «
pour l’histoire des discours nous n’avons pas encore toutes
les données suffisantes »), bien que lorsqu’il propose une
discipline pour étudier les structures plus approfondies que
la phrase appelée, comme je l’ai mentionné, la linguistique
du texte. Cette discipline, insiste le linguiste, doit être une «
linguistique du sens » avec ses propres objectifs et méthodes,
et non une « grammaire transphrastique », c’est-à-dire une
étude grammaticale, menée selon des principes établis et
appliquée à des complexes au-dessus de la phrase.

209
RODICA-MARIOARA NAGY

Étant une «linguistique du sens», la linguistique du texte


conçue par Eugeniu Coşeriu, est une herméneutique du sens
ou, en d’autres termes, l’interprétation du sens au niveau de la
macrostructure représentée par le texte, qui a des dimensions
qui peuvent varier entre un seul mot et une œuvre entière,
une reconstitution du sens à partir de l’exégèse du signifiant
textuel dans la perspective de la désignation faite à travers lui.
Puisque, dans la conception de ce linguiste, le sens est d’ac-
tualiser la signification en faisant la désignation, on pourrait
en déduire que ces processus réalisés par l’acte (ou les actes)
de parole qui composent le discours, une analyse du discours,
différenciée de la linguistique du texte, devrait-elle prendre
en compte ces processus, une idée que Coşeriu n’exprime pas
en tant que telle, mais on comprend que le texte ne se réfère
qu’à ce qui est intra- et intertextuel, et le discours inclut aussi
ce qui est extratextuel, mais intra- et inter-discursif.
On peut donc voir qu’Eugeniu Coşeriu, comme d’autres
chercheurs, a considéré le discours et le texte comme un objet
d’étude de manière cumulative, bien que, d’un point de vue
théorique, il les ait distingués et ait donné des définitions
par lesquelles on peut les distinguer. C’est pourquoi, pour
surmonter ce décalage entre conception théorique et inves-
tigation pratique - lorsque le discours et le texte deviennent
l’objet d’étude - nous avons jugé utile d’utiliser le composé

210
RODICA-MARIOARA NAGY

texte-discours, qui a une valeur opératoire mais qui, bien sûr,


ne peut pas résoudre le problème du nom de la discipline pour
laquelle les spécialistes ont proposé des solutions diversifiées.
Coseriu n’est pas le seul à utiliser la solution linguistique
du texte, mais il attribue, comme il le mentionne explici-
tement, d’autres perspectives à la recherche du texte que
les spécialistes qui ont utilisé ce syntagme terminologique,
car une comparaison, même brève, avec un ouvrage tel que
celui publié par Heinz Vater, en 1992, prouve un contenu
particulier et des objectifs marqués, bien que, en principe,
l’objet de l’étude reste le même. Chez Vater, une approche
plus liée à la manière d’enquêter initiée et développée par
les chercheurs français est observée, y compris la prise en
charge de certaines suggestions de la capitalisation de la
néorétorique, mais Coşeriu a également admis que dans la
rhétorique, il y a quelques problèmes qui visent la linguistique
du texte. D’autres auteurs ont suivi cette voie, même s’ils ont
eu recours à leurs propres moyens et, surtout, à des exercices
sur des cas concrets d’une autre nature.
Certains chercheurs français ont utilisé le terme de lin-
guistique textuelle qui, pour Jean-Michel Adam, est une
analyse textuelle des discours et constitue un champ dans
l’analyse du discours. En tant que tel, ce chercheur considère
que l’analyse du discours et la linguistique textuelle sont

211
RODICA-MARIOARA NAGY

deux disciplines distinctes et complémentaires, définissant «


la linguistique textuelle comme un sous-domaine du champ
plus large de l’analyse des pratiques discursive ». Une autre
autorité dans la recherche du domaine du texte-discours, Teun
A. Dijk a utilisé les expressions discourse analysis (analyse
du discours) et Textwissenschaft, traduction du terme néer-
landais tekstwetenschap (science du texte); d’autres auteurs
d’ expression allemande ont opté pour des termes tels que
la grammaire du texte (Textgrammatik) et la sémantique du
texte (Textsemantik), qui suivent les méthodes (répudiées par
Coseriu) d’étendre, au niveau du texte, les moyens analytiques
habituels de traitement de la phrase.
Le discours est en même temps de la parole, une forme
d’action, qui implique le locuteur, l’interlocuteur et les cir-
constances de l’interaction; le texte est une série d’énoncés
qui forment un ensemble cohérent afin de rendre un sens,
étant, en principe, le résultat du discours. Mais le texte n’est
pas seulement le résultat d’une activité discursive, mais aussi
son but et, dans ce cas, l’activité en question est organisée en
fonction de celui-ci. Par conséquent, il semblerait que l’orien-
tation des chercheurs qui considèrent que l’étude du texte
conduit implicitement à l’étude du discours soit admissible,
du moins dans ses aspects les plus importants. Toutefois,
il faut noter que si cette étude s’appelle la linguistique du

212
RODICA-MARIOARA NAGY

texte, elle crée l’inconvénient d’englober dans la sphère de


la linguistique de nombreux aspects qui la dépassent, et cet
inconvénient n’est pas éliminé même en l’assimilant au sens
original du terme philologie, comme le fait Coşeriu.
Une autre équivalence du terme philologie (« description
scientifique de la langue ou de la littérature, c’est-à-dire
interprétation des textes »), avec l’analyse du discours et
l’analyse du texte qui se trouve dans le dictionnaire édité
par Hadumod Bussmann, reste également peu convenable .
D’autre part, Enrique Alcaraz Varó et Antonia Martínez
Linares (2004) Martínez Linares estiment que le terme ana-
lyse de texte est le synonyme pour commentaire du texte;
on l’utilise en référence aux techniques de découverte des
éléments significatifs « du texte ou du discours, en particulier
les éléments lexico-sémantiques »; l’analyse du texte développe
ainsi un sens secondaire de l’expression Discourse Analysis,
proposée en 1952 par Z. S. Harris et reprise par certains cher-
cheurs américains et français. L’utilisation du terme analyse
dans le cadre de l’étude du texte semble n’être motivée que
par la symétrie avec l’étude du discours, car le texte est un
fait du langage et, par conséquent, son investigation est une
question de science du langage, de linguistique et, par consé-
quent, le nom linguistique est plus approprié pour l’étude du
texte. Patrick Charaudeau et Dominique Maingueneau notent

213
RODICA-MARIOARA NAGY

dans la préface de leur dictionnaire (2002) que l’analyse du


discours résulte de la convergence progressive d’initiatives
sur différentes bases, apparues dans les années 60 en Europe
et aux États-Unis. Les auteurs d’un autre dictionnaire du
domaine, C. Détrie, P. Siblot et B. Verine (2001), bien qu’avec
une orientation déterminée (« une approche praxématique »),
complètent la perspective, considérant le discours comme
représentant les pratiques du langage ainsi que leur contexte
(les conditions pour produire des déclarations dans leur
dimension sociale, psychologique et intersubjectives), une
idée que nous partageons également, , de sorte que l’analyse
(textuelle) du discours présente un problème « plus ouvert »
que celui visant à l’étude du texte.

4) Quelles sont les objectifs spécifiques de l’ATD, qui la


rendent différente d’autres théories du texte ?
Bien qu’elle puisse avoir d’autres aspects, la présentation
jusqu’à présent est suffisante pour formuler un point de vue
sur le problème envisagé: l’inclusion et la dénomination de
l’analyse textuelle du discours qui a pour objet les productions
transphrastiques avec une certaine signification sociale. On
peut donc affirmer que si le texte est le résultat d’un discours,
alors la science qui étudie le discours est superposée à celle
qui étudie le texte, comme le suggère Jean-Michel Adam, du

214
RODICA-MARIOARA NAGY

point de vue du fait que le discours inclut aussi le contexte, et


pas seulement le cotexte ; s’il est pris en compte le fait que,
généralement, l’action de faire quelque chose et son résultat
sont unis par la conscience (souvent sous le même nom), alors
la nécessité de considérer l’étude du discours est suffisamment
motivée, donnant au terme discours une extension qui inclut
le texte. Étant donné que cette étude dépasse à certains égards
les limites de la linguistique, l’expression linguistique du
texte n’est pas préférable: plus approprié, selon nous, reste
le terme analyse (textuelle) du discours (ATD).

5) Faire de la recherche ne signifie pas seulement avoir la


connaissance des concepts et des procédures analytiques
spécifiques, mais aussi connaître les possibilités de son
champ de recherche. Dans cette perspective, quelles seraient,
selon vous, les délimitations et aussi quelles seraient les
interfaces de votre approche théorique-analytique ?
Bien entendu, l’appropriation de notions spécifiques est
une condition obligatoire pour effectuer des analyses du
texte-discours, si le but de ces analyses est profitable pour la
science en général, mais aussi pour la société. À cet égard, nous
avons proposé, par exemple, avec des spécialistes de plusieurs
centres universitaires, dans le cadre d’un projet financé
par le ministère de la recherche, d’analyser le patrimoine

215
RODICA-MARIOARA NAGY

alimentaire traditionnel, pour sa préservation, ce qui implique


l’enregistrement d’un corpus, qui fera l’objet d’une enquête
(en analysant le discours oral actuel, en analysant l’histoire
racontée, les rituels et leurs significations, etc.).
Une autre direction serait de capitaliser sur la connaissance
de l’analyse du discours dans un programme de recherche
doctorale cohérent proposé à ceux qui s’intéressent aux textes
appartenant à certaines sphères fonctionnelles moins abordées
dans la linguistique roumaine : textes administratifs issus
des archives de documents des zones situées autrefois sous
occupation austro-hongroise, textes juridiques, qui rendent
difficile la communication avec le citoyen, dans les conditions
de l’intégration européenne, textes de guides touristiques
(thèse de doctorat en cotutelle avec l’Université de Poitiers,
soutenue en 2022 par Ioana Daniela Bălăuţă) afin de signa-
ler leur inefficacité et de proposer des modèles adaptés au
nouveau type de touriste, textes vulgarisant la science de la
période communiste, etc.
Il va sans dire que les délimitations entre ces branches ou
disciplines des sciences humaines peuvent être opérées pour
des raisons méthodologiques et didactiques, mais qu’en réalité,
pour la description et l’interprétation d’un tel objet sacré – le
logos – et soumis au mouvement permanent de la pensée et de
la conscience, plusieurs angles de vue sont nécessaires, avec

216
RODICA-MARIOARA NAGY

des instruments théoriques et des fondements qui restent,


malheureusement, imparfaits.

6) A partir des résultats de vos travaux, est-ce que vous


pourriez indiquer des contributions pour l’apprentissage
d’une langue ?
Les études contrastives de l’analyse du discours, dans les
nouvelles conditions offertes par les plateformes numériques,
pourraient contribuer à faciliter les langues étrangères, tout
comme l’analyse textuelle du discours pourrait contribuer
à révéler les phénomènes d’évolution, de continuité et de
modernisation d’une langue, en ce qui concerne les faits de
la langue actuelle par rapport à ses stades plus anciens, et
peut-être faire progresser certaines tendances futures. Nous
avons développé une telle direction, par exemple, en élaborant
une édition critique bilingue d’un manuel d’apprentissage de
la langue roumaine, publié dans la première édition en 1865
(V. Mircesco, Grammaire de la langue roumaine, édition
critique, étude introductive, commentaires et notes de Rodica
Nagy, Editura USV, 2019).

217
RODICA-MARIOARA NAGY

7) Quels sont les progrès de l’ATD qu’aujourd’hui vous


aimeriez souligner et comment envisagez-vous les enjeux
de son avenir ?
Je considérerais que les progrès réels dans l’analyse textu-
elle du discours proviennent des sciences philologiques clas-
siques, de l’intégralisme linguistique, plutôt que du domaine
hautement idéologisé des sciences sociales contemporaines
; par conséquent, un retour aux significations et aux valeurs
classiques, qui sont soutenues par la technologie numérique,
et non subordonnées à celle-ci, pourrait être une entreprise
future.  
Par exemple, dans sa thèse de doctorat, Ioana-Daniela
Bălăuță a démontré la nécessité d’utiliser des outils infor-
matiques dans l’investigation d’un corpus de textes, l’auteur
considérant que les données quantitatives obtenues avec
leur aide permettent une meilleure justification des idées
avancées. Un test du corpus avec des outils informatiques
permet l’observation des phénomènes linguistiques les plus
importants que l’on trouve dans un corpus, l’extraction de
données et le choix des directions de recherche.
Nous croyons que les deux directions de l’investiga-
tion avec des outils informatiques basés sur des corpus et
des outils informatiques basés sur des corpus peuvent être
complémentaires.

218
RODICA-MARIOARA NAGY

8) Quelles lectures pourriez-vous suggérer pour quelqu’un


qui vient de débuter dans le domaine de l’ATD ?
Bien sûr, la bibliographie du domaine est extrêmement
généreuse, riche, diversifiée du point de vue des méthodes
d’investigation du texte et du discours, mais quelques sugges-
tions peuvent être formulées: les travaux de l’école française
de l’analyse du discours (par exemple, le dictionnaire de
P. Charaudeau et D. Maingueneau), la liguistique textuelle
d’Eugen Coşeriu, les travaux de synthèse roumains (par ex.,
Daniela Rovenţa Frumuşani, 2012), mais aussi les œuvres
classiques plus anciennes, invoquées ci-dessus, relatives à
l’analyse des discours ou à la théorie des genres.

Questions spécifiques

9) Compte tenu du fait que l’ATD a ses origines dans la


Linguistique textuelle et dans l’Énonciation, comment la
caractériseriez-vous aujourd’hui ?
Comme nous l’avons déjà montré, les préoccupations plus
récentes de l’analyse textuelle du discours convergent vers
la découverte des mécanismes de structuration de certains
textes et vers leur herméneutique du point de vue des effets
de pouvoir, de contrôle, de résistance ou de liberté, que

219
RODICA-MARIOARA NAGY

les faits du langage peuvent déterminer, dans la continuité


de certaines hypothèses lancées par les théoriciens des actes
de langage.
Aujourd’hui, nous sommes moins intéressés par la des-
cription, l’analyse, l’interprétation, la comparaison de textes
poétiques d’un même auteur, par exemple, afin d’établir
des typologies ou des caractéristiques du texte-oeuvre, à
travers une critique génétique des états textuels, réalisée par
la poétique, tout comme il y a peu de préoccupation pour la
«restauration» d’un texte original, basée sur des états textuels
hétérogènes d’un point de vue éditorial, dans la bonne tradition
philologique. Presque personne ne s’intéresse au raisonnement
ou à la nécessité de reconnaître une unité transphrastique,
étant donné que le concept de « énoncé» satisfait aujourd’hui
toutes les exigences théoriques d’une unité souveraine dans
le domaine des investigations pragma-linguistiques. Dans la
mesure où un texte/discours marque les différences et établit
des identités, il est conçu aujourd’hui comme un système
cohérent de relations de cause à effet, adapté à certaines
exigences qui stipulent la diminution technologique de tout ce
qui est inefficace, étant un objet intégré dans une économie
postmoderne consumériste ou un instrument du pouvoir,
capable d’assurer la domination ou la coercition (par

220
RODICA-MARIOARA NAGY

ex., les «narratifs», les discours des régimes totalitaires, les


discours «politiquement corrects», etc).

10) Compte tenu de la réalité des nouvelles textualités des


textes numériques, quelles procédures analytiques de l’ATD
pourriez-vous suggérer à ceux qui se dédient à la recherche
dans le domaine des textes numériques ?
L’extraordinaire progrès du traitement automatique
des textes oblige la recherche à s’aligner sur cet impératif,
même s’il est privilégié, sur ces bases, le principe quantitatif
d’évaluation, qui doit être complété par l’interprétation des
données obtenues. Avec de bons résultats dans les recherches
menées par les doctorants de notre université ont été utilisés
les programmes Iramuteq et Cordial Pro (pour les textes
élaborés en Français), Tropes, en deux versions, avec des
dictionnaires intégrés pour chaque langue (à la fois sur les
textes en roumain et sur les textes en français), ainsi que
le concordancier Lucon (pour l’investigation des textes en
roumain).

221
RODICA-MARIOARA NAGY

11) Compte tenu du progrès de l’ère numérique, quel est


votre concept de texte aujourd’hui ?
L’étude de la dimension pragmatique du texte a conduit
à l’identification des fonctions en surmontant le cadre
linguistique et en l’intégrant dans le processus plus large
de communication, dans lequel la situation, le contexte, les
participants sont impliqués, c’est-à-dire les facteurs sous-
jacents à la génération d’un sens dynamique et vivant en action;
à cet égard, il est considéré que le texte est une déclaration dans
un contexte communicatif, faite sous forme orale ou écrite,
consistant en un mot ou une séquence plus large. Les facteurs
qui assurent la textualisation d’un point de vue sémantique-
pragmatique doivent être admis comme l’intentionnalité –
l’attitude de la personne qui produit le texte, la situationnalité
– la pertinence d’un texte dans une situation donnée, l’in-
tertextualité – les relations existant entre un texte et d’autres
textes (précédents) et l’informativité – l’information transmise
et sa quantité. On remarque donc qu’en tenant compte des
attributs de l’énonciation, on établie une contamination du
concept de « texte » par celui de « discours », fonctionnant
la plupart du temps de manière indistincte avec l’un des
deux termes considérés comme synonymes; pour répondre
à la question, je ferais appel à une solution de compromis en
acceptant le complexe terminologique texte-discours, qui met

222
RODICA-MARIOARA NAGY

en évidence les hypostases conceptuelles complémentaires de


l’objet abordé sous différents angles.
Avec la mise en œuvre de la communication numérique, de
nouveaux défis apparaissent dans l’analyse du texte-discours,
l’un d’eux étant la dimension énorme et écrasante de tout
ce qui peut être enregistré à la suite d’une communication
humaine universelle. La capacité de stockage colossale des
bases de données rend difficile la gestion de l’hypertexte,
à moins qu’il n’y ait des directions clairement établies de
l’investigation.
D’autre part, une distinction axiologique opérante à d’au-
tres époques, qui opposait des textes précieux (y compris
théoriques), dignes d’analyse (ou considérés comme des
fondements scientifiques) et d’autres, sans importance, est
aujourd’hui obsolète, sous la pression de la démocratisation
générale et de l’égalisation numérique.
Ainsi, un étudiant aura besoin d’être guidé dans le vaste
paysage de l’hyper-macro-texte, dans lequel il pourrait se
perdre comme dans un labyrinthe, plus que lorsqu’il aurait
consulté les listes bibliographiques d’une bibliothèque classi-
que. Au lieu de cela, il y a des avantages formidables offerts
par l’ère numérique, qui vient avec des solutions instantanées
pour le traitement automatique du texte, avec des programmes
de traduction automatique et certainement avec d’autres

223
innovations qui seront en même temps, de nouveaux outils.
mais aussi de nouvelles interrogations sur le chemin sinueux
vers le sens, à travers le discours.

224
REFERÊNCIAS
ACHARD-BAYLE, Guy; ONDŘEJ, Pešek. Le paragraphe et
thématico-graphique du texte dans les nouveaux écrits numériques.
In: MAGRI, Véronique (ed.). Nouvelles textualités? Le Français
moderne, n. 1, p. 75-101, 2022.

ADAM, J.-M. A linguística textual: introdução à análise textual


dos discursos. Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues,
João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi, Eulália Vera Lúcia Fraga
Leurquin. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

ADAM, J.-M. A noção de texto. Tradução de Maria das Graças


Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto e Luis Passeggi. Natal:
EDUFRN, 2022.

ADAM, J.-M. Eléments de linguistique textuelle: théorie et pratique


de l’analyse textuelle. Liège: Mardaga, 1990.

ADAM, J.-M. Genres de récits narrativité et généricité des textes.


Louvain-la-Neuve: L’Harmattan-Academia; DL 2011.

ADAM, J.-M. Introduction aux problems du text. In: ADAM, J. -M.


(org.). Faire Text: frontières textuelles de textualisation. Besançon:
Presses Universitaires de France-Comté, 2015. p. 11-33.

ADAM, J.-M. La linguistique textuelle: Introduction à l’analyse


textuelle des discours Paris: Armand Colin, collection “Cursus”, 2005.

ADAM, J.-M. La linguistique textuelle: introduction à l’analyse


textuelle des discours. Paris: [s.n.], 2008.

ADAM, J.-M. Problème du texte - Leçons d`Aarhus. 2013. Disponível


em: http://cc.au.dk/fileadmin/dac/.../Prepub_no_200_-_nov_2013.
pdf. Acesso em: 25 abr. 2023.
ADAM, J.-M. Textos: tipos e protótipos. São Paulo: Contexto, 2019.

ADAM, J.-M. Textualité et intertextualité des contes. Paris:


Classiques Garnier, 2010.

ADAM, J.-M.; HEIDEMANN, U.; MAIGUENEAU, D. Análises


textuais e discursivas: metodologias e aplicações. São Paulo: Cortez,
2010.

ADAM, Jean-Michel. A lingüística textual: introdução à análise


textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008.

ADAM, J-M. A. Linguística textual: introdução à análise textual dos


discursos. São Paulo: Cortez, 2011.

BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São


Carlos: Pedro e João Editores, 2010.

BAKHTIN, Mikhail; VOLOSHINOV, Valentin N. Marxismo e


Filosofia da Linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2014.

BENTES, Anna Christina; LEITE, Marli Quadros. (org.). Linguística


de texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil.
São Paulo: Cortez, 2010.

BENVENISTE, Émile. Semiologia da língua. In: BENVENISTE,


Émile. Problemas de linguística geral II. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1989.

BERNARDINO, R. A. S.; RODRIGUES, M. G. S. Contribuições do


conceito de responsabilidade enunciativa para o ensino da produção
textual na universidade. Linha Mestra, v. 24, p. 2935-2938, 2014.

CAVALCANTE, M. M. Abordagens da argumentação nos estudos de


Linguística Textual. In: ReVEL, v. 14, n. 12, p. 106-124, 2016.
CAVALCANTE, M. M. Abordagens da Argumentação nos estudos de
Linguística Textual. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, v.14,
p.106-124, 2016.

CAVALCANTE, M. M. et al. O texto e suas propriedades: definindo


perspectivas de análises. Revista (Con)Textos Linguísticos, v. 13, n.
25, p. 25-39, 2019.

CAVALCANTE, M. M. MARIE-ANNE PAVEAU. L’Analyse du


discours numérique. Dictionnaire des formes et des pratiques.
Lingüística, v. 36, p. 153-158, 2020.

CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do


Discurso. São Paulo: Contexto, 2008.

CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Le maelstron de


l’interdiscours. In: SOULAGES, J. C. (org.). L’analyse de discours:
as place dans les sciences du langage et de la comunication. Rennes:
Presses Universitaires de Rennes, 2015. p. 125-138.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. 2. ed. São Paulo:


Contexto, 2015.

GOMES, A. T. A responsabilidade enunciativa na sentença


judicial condenatória. 2014. 208 f. Tese (Doutorado em Estudos
da Linguagem) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

GOMES, A. T.; PASSEGGI, L.; RODRIGUES, M. G. S. (org.). Análise


Textual dos Discursos: perspectivas teóricas e metodológicas.
Coimbra: Grácio Editor, 2018.

GOMES, A. T.; RODRIGUES, M. G. S. Interlocuções no âmbito da


Análise Textual dos Discursos. Letra Magna, v. 17, 2021.
GOMES, F.; ARAÚJO, R. Pesquisa Quanti-Qualitativa em
Administração: uma visão holística do objeto em estudo. In:
SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 8, 2005, São Paulo. Anais
[...]. São Paulo: FEA/USP, 2005.

GRIZE, J. B. Logique et langage. Paris: Ophrys, 1990.

HEIDMANN, U.; ADAM, J-M. O texto literário: por uma aborda-


gem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2010.

HEIDMANN, U.; ADAM, J-M. Textualité et intertextualité des


contes: Perrault, Apulée, La Fontaine, Lhérritier... Paris: Classiques
Garnier, 2010.

HEIDMANN, U.; MAINGUENEAU, D. Análises textuais e


discursivas. São Paulo: Cortez, 2010.

HERRERO CECÍLIA, J. Teorias de pragmática, de linguística tex-


tual y de análisis del discurso. Cuenca: Ediciones de la Universidad
de Castilha-La Mancha, 2006.

HERRERO CECÍLIA, J. Teorias de pragmática, de linguística tex-


tual y de análisis del discurso. Cuenca: Ediciones de la Universidad
de Castilha-La Mancha, 2006.

JUAN, H. C. Teorías de pragmática, de lingüística textual y de


análisis del discurso. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla
la Mancha, 2006.

KOCH, I. G. V. Introdução à Linguística Textual: trajetória e


grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

KOCH, Ingedor G. Villaça. Introdução à Lingüística Textual. São


Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOCH, Ingedor G. Villaça; FÁVERO, Leonor. Lingüística Textual:
Introdução. São Paulo: Cortez, 1983.

LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Philadelphia:


University of Philadelphia Press, 1972.

LAFONT, Robert; GARDÈS-MADRAY, Françoise. Introduction à


l’analyse textuelle. Paris: Larousse, 1976.

LANZILLO, A. S. S. Ponto de vista e responsabilidade enunciativa


em sentenças de pedido de falência. 2016. 180f. Tese (Doutorado em
Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2016.

LUNDQUIST, Lita. La cohérence textuelle: syntaxe, sémantique,


pragmatique. Copenhague: Nyt Nordisk Forlag Arnold Busck, 1980.

MARCUSCHI, Luiz A. A Lingüística de texto: o que é e como se faz.


Recife: EDUFPE, 1983.

MARQUESI, S. C. et al. O gênero digital artigo de divulgação da


ciência para crianças: plano de texto, interação e interfaces para o
tratamento da leitura e da escrita. (Com)textos linguísticos, v. 15, p.
105-125, 2021.

PAIVA, V. L. M. O. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. São


Paulo: Parábola, 2019.

PASSEGGI, L. et al. A análise textual dos discursos: para uma teoria


da produção co(n)textual de sentido. In: LEITE, M. Q.; BENTES, A.
C. (org.). Linguística de Texto e Análise de Conversação: panorama
das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.

PAVEAU, M.-A. Análise do discurso digital: dicionário das formas e


das práticas. Campinas: Pontes, 2021.
PEREIRA, C. C.; BARBOSA, M. S. M. F.; SAMPAIO, M. L. P.
Experiências em linguagens e práticas de ensino no PROFLETRAS.
Mossoró: EDUERN, 2020.

PLETT, Heinrich F. La cohérence textuelle: syntaxe, sémantique,


pragmatique. Copenhague: Nyt Nordisk Forlag Arnold Busck, 1980.

QUEIROZ, M. E. Representações Discursivas No Discurso Político:


“Não me fiz sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do
senador Antonio Carlos Magalhães (30/05/2001). Tese (Doutorado) –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013.

QUEIROZ, M. E. Representações discursivas no discurso político


- “Não me fiz sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do
senador Antonio Carlos Magalhães (30/05/2001). Tese (Doutorado
em Linguística) – Programa de Pós0Graduação em Estudos da
Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal,
2013.

RIFFATERRE, Michael. A produção do texto. São Paulo: Martins


Fontes, 1989.

RODRIGUES, M. das G. S.; NETO, J. G. da S.; PASSEGGI, L. Análises


textuais e discursivas: metodologia e aplicação. São Paulo: Cortez,
2010.

RODRIGUES, M. G. S. et al. A carta-testamento de Getúlio Vargas


(1882-1954): genericidade e organização textual no discurso político.
Filologia e linguística portuguesa, n. 14, v. 2, p. 285-307, 2012.

RODRIGUES, M. G. S. Ponto de vista emocionado no gênero


discursivo comentário on-line – violência verbal. In: Linha D’água, v.
34, p. 13-28, 2021.
RODRIGUES, M. G. S.; PASSEGGI, L.; SILVA NETO, J. G. “Voltarei.
O povo me absolverá...”: a construção de um discurso político de
renúncia. In: ADAM, J. M.; HEIDEMANN, U.; MAIGUENEAU, D.
Análises textuais e discursivas: metodologias e aplicações. São Paulo:
Cortez, 2010. p. 150-188.

RODRIGUES, M. G. S.; SILVA NETO, J. G.; PASSEGGI, L (org.).


Análises textuais e discursivas: Metodologia e aplicações. São Paulo:
Cortez, 2010.

RODRIGUES, Maria das Graças Soares et al. Carta-Testamento de


Getúlio Vargas (1882-1954): genericidade e organização textual no
discurso político. Filol. linguíst. port., v. 14, n. 2, p. 285-307, 2012.

SILVA, A. A. Linguística Textual e Novas Tecnologias: o plano de


texto no tratamento da escrita em mídia digital móvel. In: GOMES,
J. A. C.; PONTES, V. M. A. (org.). As TDIC e o ensino no presencial.
São Carlos: Pedro e João Editores, 2020. p. 155-172.

SILVA, A. A. Representações discursivas em Vidas Secas: a predica-


ção como elemento humanizador da cachorra Baleia. In: GOMES,
A. T.; PASSEGGI, L.; RODRIGUES, M. G. S. Análise Textual dos
Discursos: Perspectivas teóricas e metodológicas. Coimbra: Grácio
Editor, 2018. p. 3-1-314.

SILVA, F. V.; ANDRADE, L. H. S.; SILVA, M. A. Teorias linguísticas


em contextos de ensino: diversas abordagens, múltiplos objetos. São
Carlos: Pedro e João Editores, 2018.
SILVA, A. A.; RODRIGUES, M. G. S. Linguística Textual e Ensino:
a classificação tipológica dos textos e o ensino de gramática. In:
SILVA, F. V.; ANDRADE, L. H. S.; SILVA, M. A. Teorias linguísticas
em contextos de ensino: diversas abordagens, múltiplos objetos.
São Carlos: Pedro e João Editores, 2018. p. 187-212.SILVA, A. A.;
RODRIGUES,

M. G. S. Representações discursivas sobre Lampião em notícias de


jornais mossoroenses (1927): o mais audaz e miserável de todos os
bandidos. Intersecções, v. 01, n. 10,017, p. 116-137, 2017.

SILVA, M. C.; SILVA, A. A. A sequência narrativa em fanfics


retextualizadas a partir de contos de mistério. In: PEREIRA, C.
C.; BARBOSA, M. S. M. F.; SAMPAIO, M. L. P. Experiências em
linguagens e práticas de ensino no PROFLETRAS. Mossoró:
EDUERN, 2020. p. 88-112.

WEINRICH, Harald. Tempus. Belin: Kohlhammer, 1994 [1964; 1971].


[Trad. française. Le temps. Paris: Seuil, 1973].

Você também pode gostar