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O que é e o que faz

a Semiolinguística
Coleção O que é e o que se faz?

volume 5
Reitor
José Daniel Diniz Melo

Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda

Diretoria Administrativa da EDUFRN


Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora)
Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto)
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Conselho Editorial John Fontenele Araújo


Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente) Josenildo Soares Bezerra
Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Ligia Rejane Siqueira Garcia
Adriana Rosa Carvalho Lucélio Dantas de Aquino
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Elaine Cristina Gavioli Márcia Maria de Cruz Castro
Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz Márcio Dias Pereira
Everton Rodrigues Barbosa Martin Pablo Cammarota
Fabrício Germano Alves Nereida Soares Martins
Francisco Wildson Confessor Roberval Edson Pinheiro de Lima
Gleydson Pinheiro Albano Samuel Anderson de Oliveira Lima
Gustavo Zampier dos Santos Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Secretária de Educação a Distância Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ


Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Jefferson Fernandes Alves – SEDIS
José Querginaldo Bezerra – CCET
Secretária Adjunta de Educação a Distância Lilian Giotto Zaros – CB
Ione Rodrigues Diniz Morais Marcos Aurélio Felipe – SEDIS
Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Cristina Leandro de Paiva – CE
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Maria da Penha Casado Alves – SEDIS
Nedja Suely Fernandes – CCET
Coordenação Editorial Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS
Mauricio Oliveira Jr. Sulemi Fabiano Campos – CCHLA
Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques Revisão Linguístico-textual
Edineide Marques
Gestão do Fluxo de Editoração Fabíola Gonçalves
Mauricio Oliveira Jr.
Revisão de ABNT
Conselho Técnico-Científico – SEDIS Edineide Marques
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente)
Aline de Pinho Dias – SEDIS Revisão Tipográfica
André Morais Gurgel – CCSA Maria das Graças Soares Rodrigues
Antônio de Pádua dos Santos – CS
Célia Maria de Araújo – SEDIS Diagramação
Eugênia Maria Dantas – CCHLA Marina Santos
Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Diagramação
Isabel Dillmann Nunes – IMD Victor Hugo Rocha Silva
Lúcia Helena Martins Gouvêa
Maria Aparecida Lino Pauliukonis
Rosane Santos Mauro Monnerat
Organizadores

O que é e o que faz


a Semiolinguística
Coleção O que é e o que se faz?

volume 5

Prefácio
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues

Natal, 2023
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir
impacto social, cultural e científico por meio de livros.
Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma
sociedade mais digna, igualitária e inclusiva.

Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A


seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada
pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/
SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica.

Catalogação da publicação na fonte


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Secretaria de Educação a Distância

Gouvêa, Lúcia Helena Martins.


O que é e o que faz a Semiolinguística [recurso eletrônico] / organizado por
Lúcia Helena Martins Gouvêa, Maria Aparecida Lino Pauliukonis e Rosane
Santos Mauro Monnerat. – 1. ed. – Natal: EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz...,
v. 5).
2200 KB; 1 PDF.

ISBN 978-65-5569-374-4

1. Semiolinguística. 2. Discurso. 3. Sujeito. 4. Texto. 5. Poder. I. Pauliukonis,


Maria Aparecida Lino. II. Monnerat, Rosane Santos Mauro. III. Título.

CDU 81
G719q

Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488.

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
Prefácio

O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da


Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL),
foi criado em 1985 e conta com um grande número de pes-
quisadores, pertencente aos mais diversos Programas de
Pós-graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados,
que, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elege
como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades
e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado
pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem
como grandes temas i) processos discursivo-interacionais
de negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização
em contextos de interação diversos.
Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia
Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se
ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de
pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além
de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco
áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual
dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e
Pragmática.
Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem-
bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/
UFRN) e da Editora da Universidade do Rio Grande do
Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação
eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de
entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco
Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares
Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber:
Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual,
organizado por Rivaldo Capistrano Júnior (UFES) e Vanda
Maria da Silva Elias (UNIFESP);
Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos
Discursos, organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues
(UFRN) e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP);
Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado
por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco Cabral
(PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES);
Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação,
organizado por Gil Roberto Costa Negreiros (UFSM) e Ana
Rosa Ferreira Dias (PUC-SP; USP);
Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, orga-
nizado por Lúcia Helena Martins Gouvêa (UFRJ), Maria
Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ) e Rosane Santos Mauro
Monnerat (UFF).
Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas,
perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor
da proposta da coleção.
Em resposta às perguntas de entrevista, cada entrevistado
tem a oportunidade de discorrer sobre o quadro e os avanços
teórico-metodológicos de sua área, de apontar (novas) questões
de investigação e de indicar aplicações de suas pesquisas para
o ensino, em seus diferentes níveis e em diversas modalidades.
Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomen-
tar atividades vinculadas à implementação, divulgação da
produção científica e à formação e/ou consolidação de redes
de pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da
ANPOLL; ii) apresentar e promover temas fundamentais dos
estudos sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do
GT LTAC junto à comunidade científica nacional e interna-
cional; iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas
de análise e de investigação do texto; iv) promover a interface
entre essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a for-
mação inicial e continuada de professores e de pesquisadores.
Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas
teórico-metodológicas, presente nos cinco volumes da coleção,
promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas
pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação.

Ana Lúcia Tinoco Cabral


Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Coordenadores da coleção O que é e o que faz...
Apresentação

A linguagem é um poder, talvez o primeiro poder do homem.


Mas esse poder da linguagem não cai do céu. São os homens
que o constroem, que o amoldam através de suas trocas, seus
contatos ao longo da história dos povos. (...)A linguagem é
uma atividade humana que se desdobra no teatro da vida
social e cuja encenação resulta de vários componentes,
cada um exigindo um “savoir-faire, o que é chamado de
competência. (CHARAUDEAU, 2008, Prefácio)

Apoiando-nos na citação de Charaudeau (2008)¹1, rela-


cionada ao papel social da linguagem e à funcionalidade
dos atos linguísticos portadores de sentido e de vínculo
social, vimos apresentar o volume 5, O que é e o que faz a
Semiolinguística do Discurso, da Coleção O que é e o que faz...
Trata-se de uma coletânea de entrevistas coordenada pelo GT

1 CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização.


Coordenação da equipe de tradução Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia
Machado. São Paulo: Contexto, 2008.
da ANPOLL Linguística do Texto e Análise da Conversação,
entrevistas essas com pesquisadores reconhecidos por sua
atuação na área, incluindo membros do GT e demais convi-
dados de Instituições nacionais e internacionais.
O objetivo geral é fomentar atividades vinculadas à divul-
gação de produção científica das áreas em foco e a consoli-
dação de redes de pesquisa entre os membros pertencentes
ao GT LTAC da ANPOLL e outros pesquisadores.
O objetivo específico deste volume é trazer a público
reflexões de pesquisadores de várias universidades brasilei-
ras e do criador da Semiolinguística, Patrick Charaudeau,
a respeito da Teoria, por meio de reflexões sobre os con-
ceitos básicos que a fundamentam e que estejam relacio-
nados a suas experiências no campo da aplicação em
diferentes corpora.
O volume reúne respostas de questões comuns aos vários
volumes da coleção e perguntas específicas, com o intuito de
representar o que os investigadores pensam sobre a teoria e
quais as contribuições de seus trabalhos de pesquisa, que
muito a enriqueceram em terras brasileiras.
As entrevistas selecionadas, publicadas em ordem
alfabética do primeiro nome dos autores, – exceção
feita ao criador da teoria –, versam sobre temas caros à
Semiolinguística do Discurso e que constituem seu arcabouço
teórico, entre os quais citam-se: o ato de linguagem como mise-
-en-scène, o processo de semiotização do mundo, os sujeitos
do ato de linguagem, o contrato de comunicação, os modos
de organização do discurso, os imaginários sociodiscursivos,
os efeitos patêmicos e a ação de influência dos enunciadores
sobre os destinatários.
Os entrevistados tiveram a oportunidade de discorrer
sobre o quadro conceitual e teórico-metodológico do campo
da Semiolinguística, com total liberdade, de acordo com
suas convicções. Puderam relatar o desenvolvimento de seus
trabalhos, o estágio atual de suas pesquisas, bem como apontar
novas questões de investigações e interfaces que estabelecem
com corpora que analisam.
Os textos representam um produto do amadureci-
mento da teoria entre nós e testemunham sua vitali-
dade nos inúmeros trabalhos publicados e na formação
de grupos de pesquisa que vicejam em universidades
de renome.
Desejamos que o contato com os diferentes pesquisado-
res seja testemunho das especificidades dos discursos que
circulam na sociedade brasileira e que as reflexões contribuam
para o fortalecimento da Teoria Semiolinguística.

Lúcia Helena Martins Gouvêa


Maria Aparecida Lino Pauliukonis
Rosane Santos Mauro Monnerat
Organizadoras
Sumário
Patrick Charaudeau..........................................................................14

Amanda Heiderich Marchon......................................................... 37

Beatriz dos Santos Feres ................................................................. 48

Helênio Fonseca de Oliveira........................................................... 71

Ida Lucia Machado........................................................................... 87

Ilana da Silva Rebello ...................................................................... 98

João Benvindo de Moura.............................................................. 123

Luciana Paiva de Vilhena Leite.................................................... 146

Maria Eduarda Giering ................................................................ 177

Michelle Alonso Dominguez ........................................................191

Patricia Ferreira Neves Ribeiro ....................................................211

Verônica Palmira Salme de Aragão............................................. 245

William Augusto Menezes .......................................................... 264


PATRICK CHARAUDEAU
Université Paris 13, CNRS

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Eu faço parte de uma geração que teve a chance de ver
chegar a Paris, durante meus estudos, todos os especialistas
de uma linguística nascente que se chamava a Linguística:
Bernard Pottier pela semântica, Antoine Culioli pela enun-
ciação, Jean Claude Chevalier pela história da gramática,
André Martinet pelo funcionalismo etc. E eu, então, estudei
os diferentes aspectos das línguas (fonética, fonologia, mor-
fologia, sintaxe, semântica) do ponto de vista da linguística
estrutural.
Depois, chegaram a linguística gerativa, a sociolinguística
e a pragmática com a teoria dos atos de fala. Paralelamente,
segui os cursos de semiótica, com Algirdas Greimas, Gerard

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PATRICK CHARAUDEAU

Génette, Roland Barthes, Umberto Eco etc, e as lições de


filosofia de Michel Foucault no Colégio de França. Eu estava,
então, imerso em um banho linguístico e semiótico, o que
me levou a fazer uma tese de doutorado de Estado, relacio-
nando os fatos da língua aos fatos semióticos do discurso, do
qual surgiu a ideia de uma semio-linguística.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Não me é possível fazer uma escolha, pois eu procurei
aplicar – e continuo a fazer – esse modo de análise a diversos
objetos: essencialmente o discurso de informação midiá-
tica, o discurso político, o discurso publicitário, o discurso
humorístico, o discurso didático, o discurso da polidez, o
discurso da violência verbal etc. Paralelamente, eu escrevi
sobre noções particulares: os gêneros discursivos, o contrato
de comunicação, o sujeito do discurso, a persuasão em uma
perspectiva discursiva, a controvérsia, a polêmica, a manipula-
ção, a competência linguageira etc. Essas diferentes atividades
de escritura se enriquecem mutuamente: os escritos sobre as
noções enriquecem as análises dos objetos discursivos, e as
análises dos objetos discursivos enriquecem as noções. Tudo
isso pode ser encontrado nas publicações que aparecem no
meu site (patrick charaudeau.com)

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PATRICK CHARAUDEAU

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas? E como se relacionam os conceitos
de contrato de comunicação, visadas discursivas e gêneros
textual-discursivos?
O conceito central é o de contrato de comunicação que, às
vezes, chamo de contrato de fala. Ao redor dele, gravita o sujeito
de fala, que é o organizador da mise-en-scène enunciativa do
discurso, empregando certas estratégias discursivas (de legiti-
mação, credibilidade e captação). O contrato de comunicação
remete ao conceito de situação de comunicação, com seus
diferentes componentes: a identidade dos sujeitos, as visadas
discursivas e as circunstâncias de comunicação. Ele constitui
o que orienta e dá sentido ao ato de comunicação. Ele é, então,
determinante de toda análise do discurso em situação.
A identidade dos sujeitos é definida conforme a perspectiva
de um desdobramento: o sujeito falante se desdobra em sujeito
comunicante e sujeito enunciante (enunciador): o sujeito recep-
tor se desdobra em sujeito destinatário e sujeito interpretante,
o que explica que não há simetria entre o processo de produção
do ato de linguagem e o processo de interpretação, a visada
discursiva (ou intenção) não correspondendo totalmente ao
efeito produzido (ou interpretação). Dessa forma, o sentido

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PATRICK CHARAUDEAU

de todo ato de linguagem é o resultado de um reencontro,


de uma coconstrução.
As visadas discursivas constituem a finalidade discursiva
do contrato de comunicação. É fato que o contrato de comu-
nicação político tem como finalidade discursiva uma visada
de incitação a fazer e a crer; que o contrato de comunicação
midiático tem por visada discursiva um fazer saber e que o
discurso didático tem por visada discursiva um fazer saber
fazer etc.
As circunstâncias de comunicação se definem conforme os
diversos componentes que constituem o dispositivo no qual se
desenrola o ato de linguagem. Trata-se dos elementos mate-
riais que determinam o quadro da comunicação: o número
de participantes, sua disposição, a relação que mantêm (de
proximidade, a distância, interpessoal, coletiva), a forma de
fala que empregam (oral, escrita), o suporte material que
utilizam (direto, audio-oral, audiovisual etc.).
É esse conjunto, ao redor do ato de comunicação, que
determina, numa primeira aproximação, o gênero de dis-
curso. Desse modo, pode-se falar de contrato de comunicação
político, publicitário, didático etc., ou de gênero político,
publicitário, didático. E, ao mesmo tempo, é esse contrato
que fornece instruções discursivas aos sujeitos – locutor,

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PATRICK CHARAUDEAU

para colocar em cena seu ato de linguagem; e receptor, para


interpretar.

4) Em que se aproximam e se distanciam os seus conceitos


de imaginários sociodiscursivos e representações sociais
do conceito de ideologia abordado por outras teorias da
análise do discurso?
Esse processo de performance discursiva está a serviço de
pensamentos que eu denomino de imaginários sociodiscursivos
reutilizando as noções empregadas em sociologia (Castoriadis)
e psicologia social (Moscovici). Eu expliquei em meu livro
Discurso político: as máscaras do poder (CHARAUDEAU,
2006b) as razões pelas quais eu prefiro essa denominação em
vez de “ideologia”. A primeira é porque o termo ideologia
recebeu diversas definições, depois daquela, fundadora do
Destutt de Tracy, passando por Marx e as críticas que foram
feitas; e depois pelo fato de que é empregada cada vez que se
quer criticar um pensamento. Dito de outra forma, a ideologia
é sempre a do outro, do campo adversário.
Eu não nego que a ideologia exista, mas eu a reservo
para o caso em que o imaginário social se torna um sistema
de pensamento fechado em si mesmo, qualquer que seja o
valor a que se refere. Assim, isso me permite demonstrar, do

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PATRICK CHARAUDEAU

mesmo modo, o que são as matrizes do discurso ideológico


de direita ou de esquerda, o que é ideologia de dramatização
do discurso de informação midiática.

5) A teoria dos sujeitos é fundamental para a Semiolinguística.


Que relação se pode estabelecer entre a teoria dos sujeitos e
os conceitos de ethos e pathos da Retórica Clássica?
A relação entre a teoria dos sujeitos e as noções de ethos e
pathos da retórica se faz por meio de estratégias discursivas.
O sujeito falante, consciente das determinações do contrato
de comunicação, empenha-se a partir delas a se fazer com-
preender pelo seu interlocutor (seja individual, seja coletivo),
a persuadir, a seduzir, para o melhor (conivência) ou para o
pior (manipulação).
Para fazer isso, é preciso satisfazer a duas condições: ser
credível e obter um impacto sobre o interlocutor. A primeira
condição permite construir de si mesmo uma imagem de uma
pessoa em que se deva crer, seja de forma racional (referência
ao saber), seja de forma irracional (carisma). Trata-se do ethos,
por meio de estratégias de credibilidade. No discurso político,
elas são descritas na produção desse nome.
Mas o sujeito deve igualmente se empenhar em fazer com
que seu interlocutor (individual ou coletivo) seja captado pelo

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PATRICK CHARAUDEAU

seu discurso. E um dos melhores meios é fazer ele aderir de


forma imediata e espontânea ao discurso do sujeito falante.
Trata-se do pathos, por meio de estratégias de captação.

6) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
É preciso considerar, no campo de uma disciplina, nas
diferentes correntes de análise, se elas têm uma especificidade,
se às vezes elas se opõem, ou se se encontram, na realidade, em
uma complementaridade. Nenhuma delas pode pretender dar
conta da totalidade de um fenômeno, mas, ao contrário, pode
trazer um esclarecimento particular. Como outras correntes
de discurso, a semiolinguística procura relacionar as marcas
linguísticas aos fatos discursivos. Às vezes, ela persegue um
mesmo objetivo com uma terminologia diferente. Por exem-
plo, apoiando-se na teoria da enunciação, a semiolinguística
repousa seu olhar sobre os efeitos de influência dos atos de
linguagem, sua orientação em direção ao interlocutor, como
faz a pragmática com outra concepção, a dos atos de fala. Mas
é a mesma orientação.
Eu diria que esse aporte da semiolinguística é um aspecto
mais comunicacional, paralelamente aos conceitos de des-
dobramento dos sujeitos, de contrato de comunicação e de

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PATRICK CHARAUDEAU

estratégias discursivas. Com efeito, a hipótese que subentende


esse modelo é a de que os imaginários sociais (e a ideologia
que aí se encontra) dependem de toda a aparelhagem da
“performance” comunicativa. Isso evita essencializar as
categorias ideológicas. Por exemplo, se quer analisar o dis-
curso da violência verbal, não se pode fazer de forma global.
É preciso antes determinar as situações e os contratos que
a elas correspondem para poder determinar se tal ato de
linguagem corresponde a uma violência.

7) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Concordo, mas essa questão se relaciona àquela da inter-
disciplinaridade. Escrevi sobre essa questão que suscitou um
debate interessante na Revista Questions de communication
(2010, no.17) em que proponho a ideia do que chamei de uma
interdisciplinaridade focalizada. Trata-se de não se contentar
com o acúmulo de pontos de vista de diferentes disciplinas
sobre um mesmo tema, como se faz em diversas publicações
(o que tem sua utilidade). Trata-se de interrogar as noções
e os conceitos que se encontram nas diferentes disciplinas
das ciências humanas e sociais (sujeito, norma, estratégia,

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PATRICK CHARAUDEAU

representação etc.) para tomar a medida das diferenças e


semelhanças, a fim de enriquecer as definições de cada dis-
ciplina. Assim, a solidariedade entre as disciplinas permitirá
estabelecer uma verdadeira interdisciplinaridade.

8) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
O ensino sempre foi uma de minhas preocupações, pois
não é suficiente ser um pesquisador, é preciso também saber
transmitir. Ora, transmitir o saber aos estudantes que não o
possuem não pode ser o mesmo saber, o qual tem suas próprias
exigências. Não se pode contentar com a exposição de uma
análise que se faria na presença de outros pesquisadores, seus
pares. É preciso de um trabalho de transposição do saber com
finalidade explicativa que acarreta escolhas e formulações
adaptáveis ao público.
Durante um tempo, eu me ocupei da didática do
ensino das línguas, e posso dizer que há dois aspectos
de meus trabalhos que podem trazer utilidade para o
ensino. Para o ensino da língua materna ou estrangeira,
a partir de minha Gramática do sentido e da expressão²2,

2 De onde uma parte foi adaptada para o português por uma equipe de pro-
fessores da UFRJ e da UFMG, sob o título de Linguagem e discurso: modos
de organização. (Contexto, 2008).

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PATRICK CHARAUDEAU

a condição de não se aplicar sistematicamente, mas de se


inspirar para certas explicações. Quanto ao ensino de análise
do discurso, trata-se de sensibilizar os estudantes a tudo o que
está em jogo quando se fala ou se escreve, de forma que eles
tomem consciência do que implica comunicar-se com o outro.

9) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Vejo de maneira negativa aquele ou aquela que afirma
poder dizer como será o futuro nesse mundo cheio de trans-
formações. As perspectivas não são animadoras. Sobre a
interdisciplinaridade, primeiramente, porque, apesar das
grandes declarações, a tendência atual das disciplinas das
ciências humanas e sociais – e mesmo no interior de uma
mesma disciplina entre diversas correntes – é de se fechar
sobre si mesma para defender seu território, ignorando o
aporte das outras. Isso é, particularmente, visto nos estudos
sobre a política em que reina a ciência política. Seria necessário
que se fizessem colóquios que confrontassem a sociologia, a
psicologia social, a antropologia e as ciências da linguagem.
Em seguida, sobre o que se chama o posicionamento do
pesquisador. Há, atualmente, uma tendência de confundir a
posição militante com a posição do pesquisador. Cada uma

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PATRICK CHARAUDEAU

dessas posições tem sua razão de ser, mas cada uma funciona
de acordo com condições que lhe são próprias. Confundir
as duas posições é danoso para a pesquisa porque esta perde
em credibilidade e se afasta de sua missão, que é de prestar
conta dos fenômenos da sociedade de forma mais rigorosa
e objetiva possível.

10) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Parece-me que, a cada ensinamento, é necessário fazer
uma seleção. Para isso, recomendo o exposto no Dicionário
de Análise do Discurso³3

Tradução: Lúcia Helena Martins Gouvêa, Maria Aparecida


Lino Pauliukonis, Rosane Santos Mauro Monnerat.

3 CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de


Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004.

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PATRICK CHARAUDEAU
Université Paris 13, CNRS

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Je fais partie d’une génération qui a eu la chance de voir
arriver à Paris, pendant mes études, tous les spécialistes d’une
linguistique naissante qu’on appelait la linguistique : Bernard
Pottier pour la sémantique, Antoine Culioli pour l’énonciation,
Jean-Claude Chevalier pour l’histoire de la grammaire, André
Martinet pour le fonctionnalisme, etc. Et j’ai donc étudié
les différents aspects des langues (phonétique-phonologie,
morphologie, syntaxe, sémantique) du point de vue de la
linguistique structurale.
Puis sont arrivées la linguistique générative, la sociolin-
guistique et la pragmatique avec la théorie des actes de parole.

25
PATRICK CHARAUDEAU

Parallèlement, j’ai suivi des cours de sémiotique, avec


Algirdas Greimas, Gérard Genette, Roland Barthes, Umberto
Eco, etc., et les leçons de philosophie de Michel Foucault au
Collège de France.
J’étais donc plongé dans un bain linguistique et sémio-
tique, ce qui m’a amené à faire une thèse de doctorat d’État
reliant des faits de langue à des faits sémiotiques de discours,
d’où l’idée d’une « sémio-linguistique »

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Il ne m’est pas possible de faire un choix, car j’ai cherché
— et je continue de le faire — à appliquer ce mode d’analyse
à divers objets : essentiellement, le discours d’information
médiatique, le discours politique, le discours publicitaire, le
discours humoristique, le discours didactique, le discours de
la politesse, le discours de la violence verbale, etc.
Parallèlement, j’ai écrit sur des notions particulières :
les genres discursifs, le contrat de communication, le sujet du
discours, la persuasion dans une perspective discursive, les
controverses et la polémique, la manipulation, la compétence
langagière, etc. Ces différentes activités d’écriture s’enrichis-
sent mutuellement : les écrits sur les notions enrichissant les

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PATRICK CHARAUDEAU

analyses d’objets discursifs, les analyses d’objets discursifs


enrichissant les notions.
Tout cela se trouve dans les publications qui apparaissent
dans mon site (<patrick-charaudeau.com>).

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas? E como se relacionam os conceitos
de contrato de comunicação, visadas discursivas e gêneros
textual-discursivos?
Le concept central est celui de contrat de communication
que parfois j’appelle contrat de parole. Autour de celui-ci
gravite le sujet de parole qui est l’ordonnateur de la mise en
scène énonciative du discours en employant certaines stratégies
discursives (de légitimation, crédibilité et captation).
Le contrat de communication renvoie lui-même au concept
de situation de communication, avec ses différentes composan-
tes : l’identité des sujets, les visées discursives et les circonstances
de communication. Il constitue ce qui oriente et donne du
sens à l’acte de communication. Il est donc déterminant pour
toute analyse du discours en situation.
L’identité des sujets est définie selon la perspective
d’un dédoublement : le sujet parlant se dédouble en sujet

27
PATRICK CHARAUDEAU

communiquant et sujet énonçant (énonciateur) ; le sujet


récepteur se dédouble en sujet destinataire et sujet interprétant,
ce qui explique qu’il y ait asymétrie entre le processus de
production de l’acte de langage et le processus d’interprétation,
la visée discursive (ou intention), ne correspondant pas en
tout point à l’effet produit (ou interprétation). Et donc le sens
de tout acte de langage est le résultat d’une rencontre, d’une
coconstruction.
Les visées discursives constituent la finalité discursive
du contrat de communication. Le fait que le contrat de
communication politique ait comme finalité discursive une
visée d’incitation à faire et à croire ; le fait que le contrat de
communication médiatique ait pour visée discursive un
faire savoir ; le fait que le discours didactique ait pour visée
discursive un faire savoir faire ; etc.
Les circonstances de communication, elles, se définissent
selon diverses composantes qui constituent le dispositif dans
lequel se déroule l’acte de langage. Il s’agit des éléments maté-
riels qui déterminent le cadre de la communication : le nombre
de participants, leur disposition, la relation qu’ils entretiennent
(de proximité, à distance, interpersonnelle, collective), la forme
de parole qu’ils emploient (oral/écrit), le support matériel
qu’ils utilisent (direct, audio-oral, audio-visuel), etc.

28
PATRICK CHARAUDEAU

C’est cet ensemble, autour du contrat de communica-


tion qui détermine, dans une première approximation, le
genre de discours. Ainsi pourra-t-on parler de contrat de
communication politique, publicitaire, didactique, etc., ou
de genre politique, publicitaire didactique. Et c’est en même
temps ce contrat qui donne des instructions discursives aux
sujets locuteur pour mettre en scène son acte de langage et
au récepteur pour interpréter.

4) Em que se aproximam e se distanciam os seus conceitos


de imaginários sociodiscursivos e representações sociais
do conceito de ideologia abordado por outras teorias da
análise do discurso?
Ce processus de mise en scène discursive fonctionne au
service de contenus de pensées que j’appelle les imaginaires
sociodiscursifs, en réutilisant les notions employées en socio-
logie (Castoriadis) et psychologie sociale (Moscovici).
J’ai expliqué dans mon livre Le discours politique. Les mas-
ques du pouvoir (Lambert-Lucas), les raisons pour lesquelles
je préfère cette dénomination à celle d’idéologie. La première
est que le terme d’idéologie a reçu diverses définitions depuis
celle, fondatrice de Destutt de Tracy, en passant par Marx et les
critiques qui en ont été faites ; et puis parce qu’il est employé

29
PATRICK CHARAUDEAU

chaque fois que l’on veut critiquer une pensée. Autrement


dit, l’idéologie est toujours celle de l’autre, du camp adverse.
Je ne nie pas que l’idéologie existe, mais je la réserve
au cas où l’imaginaire social devient un système de pensée
fermé sur lui-même, quel que soit la valeur qui est concernée.
Ainsi, cela me permet de montrer, aussi bien ce que sont les
matrices du discours idéologique de droite et de gauche, ce
qu’est l’idéologie de dramatisation du discours d’information
médiatique.

5) A teoria dos sujeitos é fundamental para a Semiolinguística.


Que relação se pode estabelecer entre a teoria dos sujeitos e
os conceitos de ethos e pathos da Retórica Clássica?
La relation entre la théorie des sujets et les notions d’ethos et
pathos de la rhétorique se fait à travers les stratégies discursives.
Le sujet parlant, conscient qu’il est des déterminations du
contrat de communication, s’emploie, à partir de celles-ci, à
se faire comprendre de son interlocuteur (qu’il soit individuel
ou collectif), à le persuader, à le séduire, pour le meilleur
(connivence) ou le pire (manipulation).
Pour ce faire, il doit satisfaire à deux conditions: être
crédible et avoir un impact sur l’interlocuteur. La première
condition l’amène à construire de lui-même une image de

30
PATRICK CHARAUDEAU

personne en qui l’on doit croire, soit de façon rationnelle


(référence de savoir), soit de façon irrationnelle (charisme). Il
s’agit là de l’ethos, à travers des stratégies de crédibilité. Pour
le discours politique, elles ont été décrite dans l’ouvrage de
ce nom.
Mais le sujet doit également s’employer à faire en sorte
que l’interlocuteur (individuel ou collectif) soit capté par son
discours. Et l’un des meilleurs moyens de le capter est d’avoir
recours à un discours émotionnel de façon à ce que celui-ci
adhère de façon immédiate et spontanée au discours du sujet
parlant. Il s’agit alors du pathos, à travers des stratégies de
captation.

6) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Il faut d’abord accepter que dans le champs d’une disci-
pline les différents courants d’analyse, s’ils ont chacun une
spécificité, et si parfois ils s’opposent, se trouvent en réalité
en complémentarité. Aucun d’eux ne peut prétendre rendre
compte de la totalité d’un phénomène, mais en revanche,
chacun apporte un éclairage particulier. Comme d’autres
courants d’analyse, la sémiolinguistique cherche à relier les
marques linguistiques avec les faits de discours. Parfois, elle

31
PATRICK CHARAUDEAU

poursuit un même objectif avec une terminologie différente.


Par exemple, s’appuyant elle-même sur la théorie de l’énon-
ciation, la sémiolinguistique porte son regard sur les effets
d’influence des actes de langage, leur orientation vers l’inter-
locuteur, comme le fait la pragmatique avec un autre langage,
celui des actes de paroles. Mais c’est la même orientation.
Je dirai que ce qu’apporte la sémiolinguistique est un
aspect plus communicationnel, de par les concepts centraux
de dédoublement des sujets, de contrat de communication et
de stratégie discursive. En effet l’hypothèse qui sous-tend ce
modèle est que les imaginaires sociaux (et l’idéologie qui
s’y trouve) dépendent de tout l’appareillage de la mise en
scène communicative. Cela évite d’essentialiser les catégories
idéologiques. Par exemple, si l’on veut analyser les discours
de violence verbale, on ne peut le faire de façon globale. Il
faut d’abord déterminer les situations et les contrats qui leur
correspondent pour pouvoir déterminer si tel acte de langage
correspond à une violence.

32
PATRICK CHARAUDEAU

7) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
C’est juste, mais cette question renvoie à celle de l’inter-
disciplinarité. J’ai écrit sur cette question qui a suscité un
débat intéressant dans la revue Questions de communica-
tion (2010, n° 17), dans lequel je propose l’idée de ce que j’ai
appelé une « interdisciplinarité focalisée ». Il s’agit en effet
de ne pas se contenter d’accumuler des points de vue de
disciplines différentes sur un même sujet, comme on le fait
dans diverses publications (ce qui a cependant son utilité),
il s’agit d’interroger les notions et concepts que l’on trouve
dans différentes disciplines des sciences humaines et sociales
(sujet, norme, stratégie, représentation, etc.) pour prendre la
mesure des différences et des ressemblances, afin d’enrichir
les définitions de chaque discipline.
Ainsi le compagnonnage entre les disciplines permettra
d’établir une véritable interdisciplinarité.

33
PATRICK CHARAUDEAU

8) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
L’enseignement a toujours été une de mes préoccupations,
car il ne suffit pas d’être un chercheur, il faut aussi savoir le
transmettre. Or, transmettre le savoir à des étudiants qui
ne possèdent pas le même savoir a ses propres exigences.
On ne peut se contenter de d’exposer une analyse comme
on le ferait en présence d’autres chercheurs, en présence de
ses pairs. Il y faut un travail de transposition du savoir à des
fins explicatives qui entraîne des choix et des formulations
adaptées au public.
Pendant un temps, je me suis occupé de didactique de
l’enseignement des langues, et je peux dire que bien des aspects
de mes travaux peuvent avoir une utilité pour l’enseignement.
Pour l’enseignement de la langue maternelle ou étrangère, à
partir de ma Grammaire du sens et de l’expression44, à con-
dition de ne pas l’appliquer systématiquement, mais de s’en
inspirer pour certaines explications. Quant à l’enseignement
de l’analyse du discours, il s’agit de sensibiliser les étudiants
à tout ce qui est en jeu lorsque l’on parle ou écrit, de façon à

4 Dont une partie a été adaptée au portugais par une équipe de professeurs de
l’UFRJ et de l’UFMG, sous le titre Linguagem e discurso: modos de organização
(Contexto,2008).

34
PATRICK CHARAUDEAU

ce qu’ils prennent conscience de tout ce qu’implique com-


muniquer avec autrui.

9) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Bien malin, celui ou celle qui pourrait dire de quoi sera
fait le futur dans ce monde qui est en pleine transformation.
Les perspectives ne sont pas très réjouissantes. Sur l’interdis-
ciplinarité d’abord, parce que, malgré de grandes déclarations,
la tendance actuelle des disciplines en sciences humaines et
sociales — et même à l’intérieur d’une même disciplines entre
divers courants — est de s’enfermer sur elles-mêmes pour
défendre leur territoire, en ignorant l’apport des autres. Cela
est particulièrement net dans les études sur la politique où
règne la science politique. Il faudrait davantage de colloques
qui fassent se confronter la sociologie, la psychologie sociale,
l’anthropologie et les sciences du langage.
Ensuite, sur ce que l’on appelle le positionnement du cher-
cheur. Il y a en effet, dans l’actualité, une tendance à confondre
la position militante avec la position de chercheur. Chacune
de ces positions a sa raison d’être, mais chacune fonctionne
selon des conditions qui lui sont propres. Confondre ces deux
positions est dommageable pour la recherche car celle-ci perd

35
PATRICK CHARAUDEAU

en crédibilité et déroge à sa mission qui est de rendre compte


des phénomènes de société de la façon la plus rigoureuse et
objective possible.

10) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
C’est, me semble-t-il, à chaque enseignant de faire sa
sélection, en s’aidant du Dictionnaire d’analyse du discours55

5 Dicionário de análise do discurso (Contexto).

36
AMANDA HEIDERICH MARCHON
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Tive a oportunidade de conhecer a Teoria Semiolinguística
em uma disciplina da pós-graduação, na UFRJ, ministrada
pela Professora Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis,
minha orientadora de mestrado e de doutorado e minha
grande inspiração na carreira acadêmica. Os autores basilares
para o desenvolvimento de minhas pesquisas foram, além
do próprio Patrick Charaudeau e da própria Aparecida Lino
Pauliukonis, Lúcia Helena Martins Gouvêa, com textos acerca
da argumentação, e Rosane Monnerat, com propostas de
análise de textos imagéticos.

37
AMANDA HEIDERICH MARCHON

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Recentemente, comecei a associar a Teoria Semiolinguística
à análise de imagens em textos midiáticos. Nesse sentido,
destaco artigo intitulado “Argumentação multimodal:
uma proposta metodológica”, escrito em parceria com o
Professor Welton Pereira e Silva (UFF), publicado na Revista
Acta Scientiarum, em 2021, em que conjugamos proposta
de Santaella (2012) e de Kress & van Leeuwen (2006) sobre
índices imagéticos ao Modo de Organização Argumentativo
do Discurso, conforme Charaudeau (2009). Nesse trabalho,
buscamos demonstrar que a dimensão argumentativa de
um texto pode ser engendrada pelo emprego estratégico de
diferentes modalidades, apresentando uma perspectiva teórica
e metodológica para a análise de textos argumentativos mul-
timodais. Em outro artigo, publicado na Revista (Con)Textos
Linguísticos, em 2021, produzido em parceria com Professor
Carlos Eduardo Nunes Garcia (CEFET-MG), seguindo a
mesma proposta de interface teórica, buscamos descrever a
mecânica argumentativa constitutiva do gênero meme, a fim
de mostrarmos como o enunciador pode valer-se do emprego
de palavras e imagens para agir sobre o enunciatário.

38
AMANDA HEIDERICH MARCHON

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
A Semiolinguística, como disciplina integrante do con-
junto das ciências da linguagem, tem como principais cate-
gorias analíticas o sentido de língua e o sentido de discurso,
buscando analisar componentes internos (espaços de locução,
relação e tematização) e externos (aspectos situacionais e
psicossociais) do ato comunicativo. Em termos metodológicos,
o semiolinguista debruça-se sobre corpora de dados reais
da língua em uso, levando em conta o recorte genérico e
situacional para empreender análises comparativas.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Talvez, uma das principais diferenças entre a Teoria
Semiolinguística e outras teorias do discurso esteja na forma
como se concebe a figura do sujeito da linguagem. Para
Pêcheux, por exemplo, o sujeito do discurso é regido pelo
inconsciente e pela ideologia, sendo um sujeito assujeitado,
descentralizado, afetado pelo real da língua e pelo real da
história. Charaudeau não desconsidera que o sujeito seja
condicionado pela sociedade e pela cultura, todavia, defende

39
AMANDA HEIDERICH MARCHON

que o lado psicossocial-situacional garante a esse sujeito traços


de individualidade que o tornam responsável por seus atos
– de acordo com Machado (2001), para a Semiolinguística, o
sujeito não é nem completamente social, nem completamente
coletivo, mas um amálgama dos dois. Além disso, cumpre
ressaltar o destaque que a Semiolinguística confere ao material
linguístico – para Charaudeau, esse material linguageiro é,
ao mesmo tempo, representação e parte da realidade – e aos
elementos internos e externos que constituem a situação de
comunicação – algumas teorias do texto focalizam menos
dados externos à superfície textual.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Considerando-se a interdisciplinaridade característica da
Semiolinguística, as possibilidades de interfaces teóricas são
numerosas. Em minha pesquisa de doutorado, por exemplo,
propus a associação de pressupostos da Semiolinguística e
conceitos do Funcionalismo Clássico, para defender a tese
de que o emprego de orações adverbiais atua na organização
argumentativa do discurso. Nesse sentido, considerarei não
só o nível microtextual, pautado nas orações e nos conectores

40
AMANDA HEIDERICH MARCHON

que as introduzem, mas também o nível macrotextual, que


representa o imaginário sociodiscursivo do enunciador frente
aos questionamentos sobre o mundo. Ainda no campo dos
estudos da argumentação, atualmente, tenho me dedicado ao
estudo do emprego de índices imagéticos na construção da
dimensão argumentativa do discurso. Para isso, proponho a
interface entre a Semiolinguística e a Gramática do Design
Visual, de Kress e van Leeuwen (1996), bem como nas pro-
postas semióticas de Santaella (2012).

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Embora não trabalhe diretamente com questões relaciona-
das ao ensino, acredito que meus trabalhos sobre o emprego
de orações adverbiais na tessitura da argumentação, de certa
forma, podem contribuir para o desenvolvimento de ativida-
des de produção textual. Quanto às pesquisas mais recentes
acerca da análise da associação entre palavra e imagem, creio
que, talvez, elas possam contribuir para instrumentalizar o
professor a trabalhar com textos que apresentam múltiplas
semioses. Ao procurar tecer considerações sobre a forma
como a relação entre diferentes semioses em textos argu-
mentativos é determinante para que os efeitos de discurso
sejam efetivamente compreendidos pelo leitor, meus estudos

41
AMANDA HEIDERICH MARCHON

vão ao encontro da ampliação proposta pela Base Nacional


Comum Curricular (BNCC), a qual propõe a passagem do
eixo de análise linguística para a análise linguística/semiótica,
recomendando o trabalho com o despertar do senso crítico
dos alunos da educação básica.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Acredito que uma grande contribuição da Semiolinguística
aos estudos da linguagem seja a proposta de conceber o ato
comunicativo como encenação condicionado por um contrato
de comunicação, considerando tanto a perspectiva da pro-
dução quanto a perspectiva da interpretação. Nesse sentido,
Charaudeau propõe um desdobramento dos lugares enun-
ciativos, que passam a ser realizados por quatro sujeitos, não
apenas por dois, como na teoria da comunicação de Roman
Jakobson. Além disso, destaco que pesquisas semiolinguísticas
têm se preocupado em demonstrar que argumentos capazes
de fazer com que o interlocutor experiencie determinada
emoção também podem ser objeto de investigação no âmbito
dos estudos do discurso – algumas teorias, embora reco-
nheçam que a mobilização das emoções possa figurar na
prática argumentativa, sugerem que essa mobilização pode
influenciar o raciocínio de modo equivocado. Evidentemente,

42
AMANDA HEIDERICH MARCHON

trabalhos sobre o pathos enfrentam alguns limites, uma vez


que a Semiolinguística não dispõe de instrumental teóri-
co-metodológico para analisar as emoções experienciadas
pelo interlocutor, apenas as visadas pelo enunciador. Outro
desafio que se impõe aos semiolinguistas diz respeito às
especificidades dos discursos que circulam em ambientes
digitais, discursos esses que exigem abordagens distintas,
uma vez que enunciadores humanos e não humanos atuam
em conjunto, conforme explica Paveau (2021).

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Para pesquisadores que estão iniciando seus estudos
na Teoria Semiolinguística do Discurso, indicaria a leitura
do livro Linguagem e discurso: modos de organização, de
Patrick Charaudeau (2008), em que conceitos basilares da
teoria são apresentados, como as noções de “contrato de
comunicação” e de “modos de organização do discurso”.
Pensando na possibilidade de aplicação de pressupostos da
Semiolinguística ao trabalho de professores da educação
básica, o livro Semiolinguística aplicada ao ensino, organizado
por Glayci Xavier, Ilana Rebelo e Rosane Monnerat (2021),
apresenta exemplos de análise de gêneros diversos, além de

43
AMANDA HEIDERICH MARCHON

propostas de exercícios para aplicação nas aulas de Língua


Portuguesa.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Alicerçada em postulados bakhtinianos de dialogismo
e de alteridade, segundo os quais a linguagem é vista como
um constante processo de interação mediado pelo diálogo, a
Semiolinguística considera que toda situação de comunicação
é regulada por um contrato de comunicação – regras que
determinam tanto os comportamentos linguístico-discursivos
como também os sociointeracionais. A noção de contrato
proposta por Charaudeau (2009), ao levar em conta tanto
a relação social de reconhecimento entre os interlocutores
quanto a codificação discursiva que é própria ao contexto
sociocultural da interação social, aproxima-se, de certo modo,
do conceito de gênero discursivo postulado por Bakhtin:
“tipos relativamente estáveis de enunciados”. A relativa esta-
bilidade pode ser associada à codificação do discurso, já que
os enunciados nascem da/e na interação entre os sujeitos
envolvidos no ato comunicativo. Nesse sentido, o contrato de
comunicação delimita e permite prever expectativas do ato
comunicativo – o contrato, além de fornecer as regras do que

44
AMANDA HEIDERICH MARCHON

pode e deve ser dito, também abre espaço para que o sujeito
empregue estratégias variadas para alcançar o seu objetivo.

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Para Aristóteles (2005), as provas retóricas são de três
espécies: (i) as provas baseadas no ethos estão relacionadas com
a imagem de si que o enunciador projeta em seu discurso; (ii)
as provas com base no pathos estão centralizadas na emoção
que o enunciador, por meio do discurso, quer suscitar no
outro; (iii) as provas relacionadas ao logos têm relação com a
manifestação da razão no discurso, pelo que este demonstra ou
parece demonstrar. Amparado nesses conceitos aristotélicos,
a Semiolinguística também elege o ethos e o pathos como
categorias de análise. Em termos analíticos, a investigação de
marcas da enunciação permite que o semiolinguista delineie
o ethos do enunciador; no que tange, porém, à investigação
do pathos, a teoria não dispõe de métodos para descrever as
emoções efetivamente despertadas no interlocutor, razão que
leva Charaudeau a abordar a mobilização das emoções como
uma categoria de efeito visado pelo enunciador na construção
de seu discurso. No que se refere à construção do ethos e à
mobilização do pathos no momento da troca linguageira,

45
AMANDA HEIDERICH MARCHON

ambas são dependentes dos imaginários sociodiscursivos


embasados em saberes de crença e de conhecimento. Em
outras palavras, os imaginários sociodiscursivos dos partici-
pantes do ato comunicativo precisam ser compartilhados para
que enunciador e enunciatário construam o mesmo ethos e
mobilizem os mesmos efeitos de pathos. Silva (2020) destaca
que as emoções são experienciadas de maneira diversa por
indivíduos diferentes, visto que eles apresentam sistemas de
crença diferenciados.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
De acordo com a Semiolinguística, no ato comunicativo,
o enunciador, regido por um contrato de comunicação, apro-
pria-se da língua e a transforma em discurso, tendo um inter-
locutor como parâmetro. Desse processo, fazem parte quatro
sujeitos, a saber: o sujeito comunicante (EUc), ser empírico que
lança e engendra um projeto discursivo; o sujeito enunciador
(EUe), ser discursivo projetado pelo sujeito comunicante; o
sujeito destinatário (TUd), relativo à imagem que o sujeito
comunicante faz de seu interlocutor; e o sujeito interpretante
(TUi), também empírico, sendo entendido como o interlocutor

46
AMANDA HEIDERICH MARCHON

propriamente dito. Os sujeitos empíricos ocupam o “espaço


do fazer”; os sujeitos discursivos situam-se no “espaço do
dizer”. Como a Semiolinguística concebe o ato comunica-
tivo como uma encenação, um jogo de imagens criadas no
e pelo discurso, interessa ao analista investigar elementos
linguístico-discursivos que desvelam os sujeitos discursivos,
acessados, pois, pelas marcas de enunciação – sobre os seres
sociais e empíricos não se pode fazer conjecturas por não
serem passíveis de análise pelos parâmetros metodológicos
delineados pela Teoria Semiolinguística.

47
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
Universidade Federal Fluminense - UFF

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
A Teoria Semiolinguística foi a mim apresentada pela
professora Rosane Monnerat, em 2001, quando assumiu a
orientação de minha dissertação de mestrado (A escola faz
questão de leitores autônomos ou autômatos?), no Programa
de Pós-Graduação em Letras da UFF. Eu havia feito um curso
sobre Linguística Textual ministrado por ela e expressei meu
desejo de desenvolver uma pesquisa relacionada à inter-
pretação de textos na escola básica. A Semiolinguística foi
fundamental para o entendimento do processo de construção
de sentido. Além disso, foi muito proveitoso, teoricamente,
iniciar na teoria já fazendo uma interface com a Linguística
Textual. O livro Linguagem e discurso: modos de organização,

48
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

de Patrick Charaudeau, não havia sido publicado no Brasil (a


primeira edição é de 2008), então, os primeiros artigos que
li ou eram em francês, do próprio Charaudeau, ou eram os
divulgados pelo NAD (Núcleo de Análise do Discurso) da
UFMG, alguns escritos por Ida Lúcia Machado, por exemplo.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Do início de minha atuação como pesquisadora, destaco o
livro Leitura, fruição e ensino: com os meninos de Ziraldo,(2011,
EDUFF), que é uma adaptação de minha pesquisa de dou-
torado (Competências para l/ver Ziraldo: subsídios teóricos
para formação de leitores), realizada no Programa de Pós-
Graduação em Letras da UFF, também sob orientação de
Rosane Monnerat. Nela, a semiótica peirciana foi utilizada
em interface com a Semiolinguística, base teórica principal,
para tratar (também) da semiose imagética e do conceito de
fruição.
Já como professora e pesquisadora da UFF, organizei
algumas coletâneas, das quais destaco Análises de um mundo
significado: a visão semiolinguística do discurso, em conjunto
com Rosane, publicado igualmente pela EdUFF (FERES;
MONNERAT, 2017). Nesse livro, o capítulo “A encenação

49
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

descritiva em livros ilustrados para crianças: marcas de um


discurso formativo”, escrito por mim, também guarda forte
relação com o processo leitor e com a escola. Nesse texto, o
modo descritivo de organização do discurso (CHARAUDEAU,
2008) é observado na semiose verbo-visual e, portanto, no
funcionamento do signo imagético também, em sua consti-
tuição motivada, menos arbitrária do que a do signo verbal.
Mais recentemente, em 2021, no livro Semiolinguística
Aplicada ao Ensino, organizado por Rosane, Glayci Xavier
(minha primeira orientanda de doutorado e, atualmente,
professora da UFF) e Ilana Rebello (também professora da
UFF, que foi minha aluna na escola pública há muitos anos),
publicado pela Editora Contexto, também há um capítulo ela-
borado por mim: “Da interpretação à compreensão de textos”.
Mais uma vez, o interesse pelo processo leitor desenvolvido
na/pela escola é central no trabalho.
Há vários artigos publicados em coautoria e individual-
mente que gostaria de destacar, mas, devido ao limite desta
resposta, menciono alguns bem recentes, publicados em
2021, em plena pandemia: “A mulher por ela mesma em
três clipes brasileiros: uma análise semiodiscursiva”, em
coautoria com Rosane, publicado na Revista de Estudos do
Discurso, do Porto (Portugal); “Análise do discurso amoroso
em contos ilustrados: uma contribuição para a sociologia das

50
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

emergências”, publicado na Revista Gragoatá, do Programa de


Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da UFF, relacionado
à minha pesquisa de pós-doutoramento supervisionada pela
Professora Regina Michelli (UERJ); além de “Rostos, afetos
e intencionalidade: análise semiolinguística de marcas da
pandemia”, em coautoria com Rosane (novamente) e Patrícia
Ribeiro, publicado na Revista Linha D’água. De 2020, destaco
“Implícitos codificados e a representação da mulher em textos
verbo-visuais”, publicado na Revista Matraga, em que revisito
o conceito de implícito codificado proposto por Charaudeau, e
“Mimimi de mulher em ‘memes’: referenciação, estereotipagem
e reenunciação”, publicado na Revista Gragoatá, que escrevi
em coautoria com Patrícia, Rosane e Ilana.
Todos esses artigos são fruto de muita discussão rea-
lizada, principalmente, junto ao Grupo de Pesquisa em
Semiolinguística: Leitura, Fruição e Ensino (CNPq/UFF).
São produtos que, por meio da investigação sobre a relação
entre linguagem e sociedade, revelam como a realidade é
pensada e avaliada e, portanto, imbuem-se não só do propósito
característico dos estudos sobre texto e discurso, mas, sobre-
tudo, de um compromisso com a resistência a imaginários
sociais bastante cristalizados e, quase sempre, preconceituosos
e segregadores, manifestos ordinariamente nas interações
sociais.

51
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
As pesquisas filiadas à Semiolinguística realizam-se a
partir de análises qualitativas, preferencialmente com cor-
pora cujos elementos se organizam em comparação ou em
contraste, mais sincrônica do que diacronicamente. Os textos
para análise não se apresentam “ensimesmados”, mas “discur-
sivizados”, isto é, embebidos nas circunstâncias em que são
enunciados e nos saberes partilhados pelos interagentes das
trocas comunicativas. As categorias analíticas fundamentais,
então, ligam-se ao discurso, ao contrato de comunicação,
aos sujeitos da linguagem, aos imaginários sociodiscursivos
e, no nível da materialidade textual, aos modos de organi-
zação do discurso: o enunciativo, o descritivo, o narrativo e
o argumentativo.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Em primeiro lugar, destaco a preocupação com o vín-
culo entre a linguagem e as circunstâncias comunicativas,
incluindo, no nível situacional de construção de sentido,
os sujeitos da linguagem, nem totalmente subjugados pelas

52
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

ideologias, nem totalmente livres para dizer e agir, já que reféns


dos rituais de interação partilhados pelos grupos sociais. São
sujeitos que interagem durante o processo comunicativo, em
um processo de influência mútua. Esse aspecto mostra-se
bastante relevante nas pesquisas de base semiolinguística.
Segundo essa teoria, o que determina efetivamente o sentido
de um texto é a situação em que se dá a troca – fato que inclui
os sujeitos interagentes, seus papéis sociais, as identidades
sociodiscursivas, as maneiras de dizer carregadas de implí-
citos codificados, os ambientes da troca, os imaginários,
enfim, dados externos aos textos, responsáveis pelo burilar
dos sentidos, seja na implicitação operada pelo produtor do
texto, seja nas inferências realizadas pelo “interpretador”. Em
relação ao tratamento das línguas naturais, a Semiolinguística
apresenta um arcabouço teórico que permite transpor os
limites do sistema linguístico (e suas categorias de língua)
para se chegar ao discurso, aos aspectos que circundam as
escolhas textuais e que especificam os sentidos atribuídos aos
signos sob determinadas condições de uso (isto é, alcançando
as categorias de discurso). É uma teoria de texto, portanto,
essencialmente discursiva, que privilegia as circunstâncias
enunciativas.
Em segundo lugar, não se pode omitir a importância dos
imaginários sociodiscursivos nas análises propiciadas pela

53
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

Semiolinguística. Nos imaginários, estão reunidos saberes


variados, mais ou menos comprováveis, que, em grande
medida, são responsáveis pelo acionamento do interdiscurso
na implicitação de sentidos. Sendo uma teoria preocupada
com a relação entre forma e conteúdo, mas uma relação imersa
em dados psicossociais próprios do processo comunicativo,
a força dos imaginários tem sido fartamente explorada nas
análises.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
A delimitação frequentemente exposta nos textos de
Charaudeau diz respeito ao papel desempenhado pelo analista
do discurso: partindo sempre daquilo que é materializado
nos textos, isto é, da forma em sua inexorável relação com
os dados circunstanciais e interdiscursivos, os sentidos não
ditos, mas latentes, podem ser detectados e auferidos. Desse
modo, flagram-se identidades, estereótipos, preconceitos,
opressões sociais, manipulação ideológica. O objeto de estudo
da Semiolinguística é o discurso que subjaz a um texto.

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BEATRIZ DOS SANTOS FERES

Muitas vezes, somos questionados a respeito dos limi-


tes entre Semiolinguística e Linguística de Texto. Alguns
conceitos presentes nas análises filiadas a ambas as teorias
são comuns e bastante relevantes, cada um refletindo seu
modo de análise. Costumo explicar que a diferença mais
aparente reside no foco de investigação de cada uma dessas
teorias: para a Semiolinguística, o discurso, a mise-en-scène
que produz os sentidos de um texto e justifica a organização
de sua materialidade é o que está em primeiro plano; para a
Linguística de Texto, está em primeiro plano o texto em si, a
materialidade significativa, embora não se possa prescindir
do discurso, do contexto que o conforma.
A abertura para interfaces com outras áreas do conheci-
mento, como a própria Linguística de Texto, mas também com
a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a Psicologia Social,
a Semiótica/Semiologia, a Teoria da Literatura (em alguns
casos), entre outras, é uma característica bastante peculiar da
Semiolinguística. A imbricação com outros ramos do pen-
samento não só permite o aprofundamento de certos temas,
como também abre espaço para configurações analíticas
muito originais como, por exemplo, o tratamento discursivo
da verbo-visualidade em si e de gêneros verbo-visuais como
a publicidade, a charge, o meme, os quadrinhos, os livros
ilustrados. Soma-se a isso a possibilidade de direcionar a

55
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

pesquisa para o campo da Educação, instrumentalizando o


educador para o desenvolvimento da competência linguageira
do alunado e para a criticidade.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
A maior parte de meus trabalhos é vinculada ao ensino,
sobretudo, porque meu interesse de pesquisa mais constante
é o processo leitor, as estratégias utilizadas na construção de
sentidos de um texto, que podem auxiliar no desenvolvimento
da competência leitora – uma das mais importantes respon-
sabilidades da Escola. Também costumo dizer aos alunos que
o analista do discurso é o leitor mais especializado que pode
existir, portanto, o professor iniciado na Semiolinguística
passa a dominar estratégias de leitura que não só indicam
facilmente o caminho das inferências necessárias para uma
interpretação competente, como também permitem avaliar
as razões das dificuldades apresentadas pelo alunado durante
a leitura conjunta com o mediador.
Como exemplo de contribuição para o ensino, cito
a aplicação do conceito de “competência de linguagem”
(CHARAUDEAU, 2001) ao ato de ler conduzido na escola,
assim como, a partir dele, o de “competência fruitiva” (FERES,

56
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

2011), desenvolvido no doutorado. Charaudeau delineava,


à época, uma competência diretamente relacionada ao uso
da linguagem, composta por três subcategorias, de acordo
com os três níveis de construção de sentido de um texto: a
semiolinguística, a discursiva e a situacional. Analisando
quatro livros ilustrados de Ziraldo, procurei demonstrar
que, na escola, para além de se desenvolver a capacidade
que dota o leitor de habilidades para a construção de sen-
tidos (intelectivos), próprias da competência de linguagem,
é preciso desenvolver também uma competência específica
para a fruição, que recobre todas as outras, para o “sentido”,
para o sentimento (como ato de sentir) por meio do texto. É
uma competência vinculada à sensibilidade, às inferências
patêmicas, orientadas pelos imaginários, mas também pela
capacidade perceptiva do leitor.
Além disso, tenho desenvolvido vários projetos de pesquisa
cujo objeto de estudo é o texto verbo-visual, especialmente
os livros ilustrados (quase sempre direcionados ao público
infantil). A leitura/interpretação da verbo-visualidade carece
(ainda) de investigação, sobretudo quando direcionada ao
ensino. Textos sintéticos como charges, cartuns e memes
parecem ser subaproveitados nas atividades escolares por
falha na formação do professor. São poucos os cursos de
licenciatura que se preocupam com a formação de mediadores

57
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

de leitura com consciência do processo leitor, com domínio da


leitura verbo-visual (para dizer o mínimo), que saibam lidar
com a densidade de gêneros como os citados e com a leitura
sensível de livros ilustrados, geralmente utilizados no Ensino
Fundamental. São textos altamente complexos, exigentes de
muitas inferências e de investimento interpretativo, ricos
para o trabalho de mediação, porém, tomados, muitas vezes,
simplesmente como pretexto para ensino da norma culta,
por exemplo.
Atualmente, venho me debruçando na “análise do discurso
amoroso”, tomando o amor como ética, como defende bell
hooks (2020), na análise, mais uma vez, de livros ilustrados.
Os licenciados em Letras, que atuam no Fundamental II como
professores de Língua Portuguesa e lidam constantemente
com leitura, literária inclusive, quase sempre terminam a
graduação sem preparo para isso. Acredito que pesquisas vol-
tadas para o discurso verbo-visual, ou, mais especificamente,
iconoliterário sejam mais uma contribuição para o ensino,
para a formação de mediadores de leitura comprometidos com
o desvendamento de textos sensíveis e, por desdobramento,
com a promoção de uma convivência mais crítica, respeitosa
e humana.

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BEATRIZ DOS SANTOS FERES

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
No Brasil, acompanhamos muitas pesquisas voltadas
para semioses multimodais, principalmente em ambiente
digital, mas também para temáticas urgentes (sobretudo para
nós, brasileiros) como o racismo estrutural, a misoginia, a
homofobia, a violência contra a mulher, estampadas nos
textos mais ordinários, assim como nas expressões artísticas.
O desafio da Semiolinguística, a meu ver, é se manter como
uma teoria voltada para análise do discurso, sem se perder
nas interfaces.
Também se tornam mais frequentes análises de base
semiolinguística de textos extraídos do ambiente digital,
mas defendo junto a meus pares tomar como desafio um
investimento maior em relação à análise de textos ficcionais, e
não apenas aqueles de caráter rotineiro, ordinário, igualmente
relevantes para descortinar os imaginários e os processos de
manipulação de massa, por exemplo. Os textos ficcionais,
assim como aqueles que descrevem poeticamente a sociedade,
a meu ver, precisam ganhar mais destaque nas pesquisas,
pois, além de refletir os imaginários, apresentam importante
poder persuasivo, por causa da fácil adesão identitária do
“interpretador” ao projeto de sentido em função da projeção
a que é levado a realizar. Atualmente, oriento uma tese sobre

59
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

a representação LGBTQIA+ nas novelas brasileiras e uma


dissertação sobre o candomblé nos sambas de enredo. Há
outras pesquisas sendo desenvolvidas no Brasil com propostas
semelhantes. Ambas tratam de bens culturais de grande
alcance social que reverberam crenças, valores, posiciona-
mentos. Trazê-los à visibilidade por meio das pesquisas é uma
atitude que parece colaborar, de um lado, com a identificação
de estereótipos, entre outros elementos que podem promover
segregação social e, por outro, com a progressiva resistência
a eles. (Outros trabalhos podem ser consultados a partir do
site semiolinguística.uff.br.)
Penso que o maior desafio para as Ciências Humanas,
como um todo, e para a Semiolinguística, que é nosso fer-
ramental, seja lutar por uma sociedade mais consciente de
suas mazelas e mais crítica em relação às atitudes humanas.
Essa é uma teoria que permite revelar o que fazemos quando
dizemos algo e, assim, o que temos sido como humanidade.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
A primeira leitura que sempre recomendo é a do livro de
Patrick Charaudeau Linguagem e discurso: modos de organi-
zação, pois pode ser considerado, no Brasil, a melhor fonte da

60
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

teoria, aquela que contém pressupostos essenciais, assinada por


aquele que postulou a teoria. Depois, claro, o Discurso político
e o Discurso das mídias (todos publicados pela Contexto).
Mas há também muitos artigos do próprio Charaudeau, de
fácil acesso no site dele, como “Uma análise semiolinguística
do texto e do discurso” (inicialmente publicado no livro Da
língua ao discurso: reflexões para o ensino, organizado pelas
professoras Aparecida Pauliukonis e Sigrid Gavazzi) e “Uma
teoria dos sujeitos da linguagem” (publicado inicialmente
pelo NAD).
Recentemente, foi lançado, pela Contexto também, o livro
Semiolinguística aplicada ao ensino (já mencionado), fruto
de aulas de um curso de extensão homônimo oferecido pelo
grupo de professores do GPS-LEIFEN/UFF. Os conceitos da
teoria explorados em cada capítulo estão relacionados com
atividades didáticas. Há também muitos artigos espalhados
pelas revistas de referência, escritos por pesquisadores bra-
sileiros, altamente recomendados.

61
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
O contrato de comunicação tem se mostrado o conceito
basilar da Semiolinguística, atestando seu caráter psico-so-
ciocomunicativo, conforme postula Charaudeau. O fato de
haver um contrato entre os interagentes, isto é, um acordo
tácito baseado em rituais comunicativos carregados de inten-
cionalidade prova o condicionamento a que se submete o
texto e sua forma, amparado pelas circunstâncias daquela
enunciação específica, que incluem os sujeitos da interação,
seus papéis sociais, a ambientação da troca, os gêneros discur-
sivos acionados, os valores circulantes, os saberes partilhados.
Se o contrato não for aceito pelo interlocutor, ou não for
observado, provavelmente haverá ruído na comunicação. É
o contrato que permite a finalização do sentido, que garante
uma desambiguação, que comprova uma ironia, entre outros
aspectos. Uma análise que não considere o contrato comuni-
cativo não pode ser vista como semiolinguística.

62
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Os imaginários sociodiscursivos abrigam saberes de
conhecimento e de crença, rituais, comportamentos, julga-
mentos, modos de viver. Estando inscritos em um processo
de interação, os sujeitos se moldam a imagens colhidas nos
imaginários, seja para criar uma imagem de si (ethos) favorável
à sua proposta comunicativa, seja para propor um “enqua-
dramento sensível” (pathos) a seu interlocutor. As imagens
de si e do outro precisam ser reconhecíveis, portanto, devem
guardar semelhanças ou direcionamentos colhidos nos ima-
ginários a partir de dados discursivos, ou “discursivizáveis”,
que dizem respeito à seleção lexical ou à variedade linguística
selecionada, por exemplo, mas também ao modo de o sujeito
se apresentar como enunciador, de agir, de se vestir, de se
comportar, de avaliar os corpos. Tudo devidamente “autori-
zado” pelos imaginários.

63
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Tendo sido chamada pelo próprio Charaudeau de “teoria
dos sujeitos da linguagem”, a discriminação de sujeitos “exter-
nos” ao texto (sujeito comunicante e sujeito interpretante) e
“internos” (sujeito enunciador e destinatário), também ratifica
o caráter psico-sociocomunicativo da teoria. A funcionalidade
desses conceitos pode ser observada quando se isola o “dizer”,
a materialidade do texto, descreve-se sua composição e se
justificam as escolhas feitas em razão do “fazer”, do circuito
externo ao texto. O sujeito comunicante escolhe os recur-
sos comunicativos de acordo com o que identifica na outra
extremidade da troca, com o que imagina ser seu destinatário
(imagem essa que pode ou não ganhar a aderência do sujeito
interpretante).
No caso do leitor, por exemplo, na extremidade da com-
preensão textual, ele pode iniciar a construção dos sentidos
pela materialidade do texto, mas não sem envolver sua exter-
nalidade (incluindo a identificação do gênero discursivo
como elemento “conformador” do texto). Em outras palavras,
a diferenciação dos sujeitos conforme a Semiolinguística

64
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

permite vários movimentos de identificação de implícitos


oriundos das escolhas formais e dos dados externos ao texto.
Parece fácil dimensionar a funcionalidade desses conceitos
no episódio protagonizado por Augusto Aras, procurador geral
da República, quando, no Conselho Nacional do Ministério
Público, pretendeu homenagear as brasileiras no 8 de março
– dia dedicado internacionalmente à luta pelos direitos das
mulheres. Disse ele: “Esse dia é um dia de homenagem à mãe,
às filhas. É um dia de homenagem à mulher. À mulher no
seu sentido mais profundo, da sua individualidade, da sua
intimidade. À mulher que tem o prazer de escolher a cor da
unha que vai pintar. À mulher que tem o prazer de escolher o
sapato que vai calçar. Pouco me importa que tipo de escolha
ela faça, porque essas maravilhosas mulheres que integram as
nossas vidas e as nossas instituições são tão dedicadas a todas
as causas em que se envolvem” (EM HOMENAGEM..., 2022).
Após repercussão dessa fala, tentando remendar o estrago
da declaração, defendeu-se dizendo que estava sendo mal
compreendido e completou: “apenas destaquei que é possível
buscar qualquer posição, até o mais alto posto da República,
sem abrir mão de sua feminilidade” (SOUZA, 2022).
Como sujeito comunicante que se desdobra em enunciador,
Augusto Aras, em seu papel social de procurador-geral da
República, declara explicitamente a intenção de fazer uma

65
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

homenagem às mulheres, portanto, espera-se que apresente


uma qualificação positiva sobre elas, a fim de enaltecê-las. Em
outras palavras, o efeito visado por ele é o de afetar emocional
e positivamente seu destinatário (ideal), a mulher brasileira,
para quem ele dirige sua fala no emblemático dia da mulher,
dia de luta por respeito e por igualdade de direitos, de espaços,
de escolhas. Ele projeta então um sujeito enunciador que tem
o direito (e quase o dever, em função de seu cargo) de exaltar
características positivas de suas interlocutoras – mas que
deixa implícito, naquilo que diz, aspectos combatidos pelo
pensamento feminista.
No seu dizer, Aras destaca aspectos frívolos (escolher a cor
da unha e os sapatos), funções “naturalmente” atribuídas às
mulheres, relacionadas ao espaço doméstico (“mães e filhas”),
subalternidade e marginalidade em relação aos homens (“essas
mulheres maravilhosas que integram nossas vidas”) e uma
bem conformada “feminilidade” moldada pela sociedade
patriarcal (“sem abrir mão de sua feminilidade”). O machismo
estrutural e, em sua fala, “oficialmente” institucionalizado,
transborda de suas escolhas e, diferentemente do efeito visado
pelo produtor do texto – que se dirigia a uma coletividade
ainda crédula do lugar “menor” ocupado pelas mulheres –,
acaba sendo responsável por um efeito produzido (mas não
planejado) na parcela de sujeitos interpretantes que não aderem

66
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

ao sujeito destinatário previsto nesse ato de linguagem. São


esses sujeitos interpretantes, no espaço do “fazer”, que resistem
ao “dizer” equivocado do procurador-geral da República, e
“gritam” nas redes sociais.

Figura 1 – Sujeitos da linguagem

AUGUSTO ARAS: procurador-geral


sujeito-comunicante da República que pretende homenagear
(sujeito do fazer) as mulheres em seu dia de luta – 8 de
março

AUGUSTO ARAS: aquele que qualifica


sujeito-enunciador as mulheres como frívolas, orbitando os
(sujeito do dizer) homens e cumprindo seu papel “natural”
no espaço doméstico

sujeito-destina-
tário MULHERES projetadas como aquelas cuja
(sujeito do dizer) feminilidade é representada pela frivoli-
idealizado pelo dade e subalternidade
sujeito-comunicante

SOCIEDADE, público em geral,


sujeito interpretante
dividido entre aqueles que aderem ao
(sujeito do fazer)
projeto de fala e aqueles que o rejeitam

Fonte: autoria própria

67
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

A ação projetada por Augusto Aras, então, não corresponde


exatamente à ação realizada, pois a homenagem, para aqueles
que se revoltaram nas redes sociais, vibrou como declaração
sexista, fruto do machismo estrutural que rege os modos de
pensar de nossa sociedade. O sujeito comunicante Augusto
Aras, ao tentar projetar um enunciador que homenagearia
as mulheres, mostrou, implicitamente, pelo discurso, um
outro enunciador extremamente machista. Seu papel social
como procurador-geral que deve fazer uma homenagem às
mulheres é, de certo modo, maculado em sua fala, em seu
dizer, pois revelador de uma atitude bastante preconceituosa
– e é esse enunciador que é percebido na extremidade oposta
da comunicação, na posição dos espectadores, dos sujeitos
interpretantes, que não aderem nem ao projeto de fala, nem
à imagem do destinatário planejada.
Parece relevante ainda dizer que, em muitas análises,
esses desdobramentos dos sujeitos podem ser muito mais
complexos, às vezes, considerando-se, por exemplo, o sujeito
comunicante com uma instância compósita (por exemplo, na
publicidade, quando essa instância é constituída pela agência
e pelo contratante), ou circuitos englobantes e englobados
(por exemplo, nas charges, em que se consideram os sujeitos
interagentes no circuito estabelecido entre chargista e leitor,
além dos sujeitos-personagens no circuito da narrativa). A

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BEATRIZ DOS SANTOS FERES

funcionalidade desses conceitos está justamente na identifi-


cação da “passagem” da materialidade “objetiva” dos textos
para a conformação “subjetiva” das intencionalidades e dos
sentidos visados e/ou produzidos.
Toda essa percepção se filia aos imaginários sociodiscur-
sivos, isto é, aos imaginários que estão marcados nas “formas
de dizer” e, portanto, permitem construir a “imagem de si”
do enunciador, seu ethos, assim como reverberam um estado
emocional socialmente partilhado pelas representações, um
“afeto” (pathos). A imagem que Aras constrói discursivamente
para si mesmo, seu ethos, pode ser descrita simplesmente
como “machista” e suas palavras, planejadas inicialmente para
“lisonjear” as mulheres, passaram a provocar patemicamente
o sujeito interpretante de maneira negativa, revoltante, com
indignação, dado o anacronismo da qualificação implícita
apresentada.
Nesse breve exemplo, a partir de um ato de linguagem
situado, atribuído a um produtor específico e a um gênero
próprio, é possível vislumbrar a aplicação de alguns dos
conceitos basilares da Semiolinguística que, embora não
sejam exclusivos dela, corroboram sua perspectiva analítica,
ancorada em dados externos, acionados pelos elementos
constitutivos dos textos e pela interação, em uma influência
mútua orquestrada pelas circunstâncias da troca.

69
BEATRIZ DOS SANTOS FERES

Haveria muito mais a dizer acerca das categorias discur-


sivas utilizadas nas análises semiolinguísticas, assim como
sobre a ampliação de seu escopo investigativo em termos de
outras semioses diversas do verbal, ou mesmo dos elementos
linguísticos estudados nessa perspectiva, porém já nos esten-
demos demais. Obrigada pela oportunidade de tratar dessa
teoria, que não deixa de ser “minha” também.

70
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA
Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ

1)Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Até o início da década de 1990, fui influenciado pala
Linguística Gerativa. O contato com as colegas Maria Aparecida
Lino Pauliukonis e Regina Angelim – e algum tempo depois
com Agostinho Dias Carneiro – despertou-me para a impor-
tância dos estudos do discurso. Estes colegas e eu fundamos o
CIAD (Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso), que
veio a fazer parceria com o CAD de Paris (Centre d’ Analyse
du Discours), liderado por Patrick Charaudeau, fundador
da Análise Semiolinguística do Discurso (a que me referirei
daqui para a frente como ASLD). A partir de então, o CIAD
tem participado de eventos (simpósios, congressos, fóruns
etc.) com publicação de trabalhos nessa área, estabelecendo

71
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

parceria também com outras universidades do Rio de Janeiro


e do Brasil. Destaque-se a esse respeito nossa troca de expe-
riências com a UFMG, na pessoa da analista do discurso Ida
Lúcia Machado. Hoje, o CIAD conta com a participação de
importantes pesquisadores, como Rosane Monnerat, André
Valente, Patrícia Neves Ribeiro, Beatriz dos Santos Feres,
Luciana Vilhena Leite, Michelle Alonso, Amanda Heiderich
Marchon, entre outros. Registre-se também a participação,
na época inicial do CIAD, dos colegas Leo Bárbara Machado
e Edwaldo Cafezeiro.
Quanto à segunda parte da pergunta, quem mais me serviu
de inspiração foi o próprio Patrick Charaudeau.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Tenho produzido, no mínimo, dois artigos por ano desde
1990 – como docente da UFRJ até 2001 e, depois, UERJ.
Menciono alguns a seguir:
• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. “Prós” e “contras”
ou a argumentação ponderada. In: CONGRESSO DA
ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM
DO RIO DE JANEIRO (ASSEL/RIO), 3., 1994, Rio de

72
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: ASSEL/RIO, 1995.


p. 13-18.
• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Os conectores da
disjunção. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas,
UNICAMP, v. 28, p. 45-58, jun./jul. 1995.
• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Categorias do modo
argumentativo de organização do discurso e relatores.
In: GÄRTNER, Eberhard et al. (ed.). Estudos de lin-
guística textual do português. Frankfurt: TFM, 2000.
p. 173-190.
• OLIVEIRA, Helênio F. de. Conflito entre a natureza
pejorativa ou meliorativa das escolhas lexicais e a
orientação argumentativa do texto. In: HENRIQUES,
C. C. e SIMÕES D. (org.). Língua portuguesa, educação
& mudança. Rio de Janeiro: Europa, 2008. p. 116-122.
• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Os estudos do discurso
e o ensino da leitura. In: COSTA, Acaciamaria de Fátima
O. Fernandes da (org.) Coletânea de Estudos Linguísticos
e Literários Said Ali. Niterói: Nitpress, 2010. p. 21-31.
• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Imaginário linguís-
tico, “certo” e “errado” & ensino da língua. Revista de
Humanidades, Fortaleza, Fundação Edson Queirós,
UNIFOR, v. 26, n. 2, p. 284-294, jul./dez. 2011.

73
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

• OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. O temor de corri-


gir a linguagem do aluno: suas origens. Revista de
Humanidades, Fortaleza, v. 29, n. 1, p. 22-38, jan./jun.
2014.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Tenho uma opinião heterodoxa sobre a cientificidade da
AD. O cientificismo do século XIX ainda influencia até hoje
o trabalho de produção de saber, levando os pesquisadores a
apresentar seu trabalho sob o rótulo prestigioso de “científico”.
O saber científico é uma das formas de conhecimento existen-
tes. Não é a única. Existe o conhecimento do senso comum,
o intuitivo, o revelado (para os que nele creem) entre outros.
Os estudos da linguagem – entre eles a AD – correspondem
a teorias, não necessariamente científicas. Teoria, porque
se trata de um conjunto de informações sistematizadas; e
não necessariamente científicas, porque não aplicam o que
se poderia considerar como método científico. O método
científico típico é o das ciências da natureza. Segundo Perini
(2008, p. 28-35), a Linguística se encontra atualmente na
mesma situação em que se encontravam os estudos biológicos
antes de Darwin, ou seja, numa fase pré-científica, o que não

74
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

a torna falsa nem inútil. Pode-se dizer algo semelhante da


AD também. A não cientificidade não impede disciplinas
com esse perfil de descreverem adequadamente seus objetos
nem de encontrarem aplicação prática, nem ainda de terem
e serem objeto de pesquisas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A AD utiliza a metodologia da análise de corpora (escritos


ou orais). Normalmente, tais análises são qualitativas, mas
nada impede que em alguns casos se tornem quantitativas. O
próprio fundador da AD, Michel Pêcheux, fazia levantamentos
quantitativos no léxico de seus corpora. Não custa lembrar:
Pêcheux “funda” a AD na década de 1960 e Charaudeau cria
a análise semiolinguística do discurso (ASLD) na de 1980.

CATEGORIAS ANALÍTICAS

As principais categorias analíticas da ASLD, ou sejam,


seus conceitos básicos, são: os sujeitos do discurso (sujeitos
comunicante, enunciador, destinatário e interpretante, além
de um on, que é a “voz do povo”); os modos de organização do
discurso (descritivo, narrativo, argumentativo e enunciativo);
os imaginários sociais e os contratos de comunicação (de cada
gênero textual). Falemos brevemente de cada um.

75
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

1.o) Sujeitos do discurso

Os sujeitos da comunicação são “personagens” que cir-


culam pela terminologia da ASLD. Vou permitir-me fazer
uma autocitação:

O sujeito-comunicante (ou eu-comunicante) é uma pessoa


com identidade psicossocial, ou seja, de carne e osso, a
quem cabe a autoria do texto. É quem pode ser acionado na
Justiça, se o texto contiver conteúdos caluniosos, racistas,
difamatórios etc. [...]. O sujeito-enunciador (ou eu-enun-
ciador), [...] equivale à imagem que o eu-comunicante
deseja que o sujeito-destinatário [ou eu-destinatário] tenha
dele.. É também a imagem que o tu-interpretante [ou
sujeito-interpretante] tem do eu-comunicante. Ou seja,
há dois sujeitos enunciadores: um do ponto de vista de
quem fala ou escreve e outro, na visão de quem interpreta
o texto. (OLIVEIRA, 2014, p. 30).

Prossigo:

O tu-interpretante é quem efetivamente interpreta o texto,


tendo, portanto, como o eu-comunicante, identidade
psicossocial. O tu-destinatário é um perfil do tu-inter-
pretante ao qual o eu-comunicante se dirige. É, por con-
seguinte, uma hipótese de quem seja o tu-interpretante
formulada pelo eu-comunicante ao produzir seu texto. É
sempre a esse ser hipotético, no entanto, que quem fala ou
escreve se dirige, daí o grande investimento em pesquisa

76
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

de opinião que os anunciantes fazem [muitas vezes] antes


de veicular seus anúncios. Quanto maior o tamanho
da amostra analisada, mais próximo o tu-destinatário
chegará do tu-interpretante, reduzindo a algo próximo
de zero a probabilidade de insucesso, ou seja, de os dois
“personagens” não coincidirem [...] O ‘on’ [...] é a ‘voz
do povo’. Serve para tratar o conteúdo da comunicação
como uma verdade consensual, que não pode ser refutada”
(OLIVEIRA, 2014, p. 30-31).

A essa voz do povo Charaudeau se refere como “on”, neo-


logismo que consiste na substantivação do pronome francês
indeterminador do agente, utilizado pelo autor para referir-se
a uma “voz” coletiva, a um consenso, criado estrategicamente
por quem argumenta, como forma de fazer o próprio discurso
parecer irrefutável: “on sait que...” = “sabe-se que...”, “é sabido
que...”, “todo mundo sabe que...” (CHARAUDEAU, 2008, p.
43-55 apud OLIVEIRA, 2014, p. 22-38).

2.o) Modos de organização do discurso

Volto a fazer autocitação:

Patrick Charaudeau (1992) procura distinguir tipos de


textos (publicitário, noticioso, didático, científico etc.) de
modos de organização do discurso (descritivo, narrativo,
argumentativo e enunciativo). [...] Segundo a metáfora

77
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

didática de Charaudeau, o modo enunciativo é o cocheiro


de uma carruagem puxada por três cavalos que equivalem
aos outros três modos, ou seja, o modo enunciativo de orga-
nização do discurso “comanda” os demais (OLIVEIRA,
2000, p. 39).

O modo enunciativo, pela sua natureza metadiscursiva,


tenderá a estar a serviço dos demais. Por isso, dificilmente
predominará sobre os outros num texto, embora possa haver
exceções,
Continuando a citar Oliveira (2000, p. 39):

Charaudeau opera na verdade com três conceitos: modos


de organização do discurso, tipos de textos e gêneros
textuais. Os modos referem-se a diferenças estruturais, que
têm a ver com o modo de organizar internamente o texto,
independentemente da finalidade a que ele se destine. O
termo tipos de textos refere-se a produtos culturais, como
o texto jornalístico, o didático, o literário, o publicitário e
assim por diante. Quanto à diferença entre tipos de textos
e gêneros textuais, é questão de parte e todo. Dentro de um
tipo (por exemplo: o jornalístico) existem vários gêneros:
notícia, editorial, coluna social, anúncio etc.

Circulam no meio universitário outras terminologias para


a classificação dos textos, mas limito-me à de Charaudeau,
uma vez que o objetivo aqui é apresentar a ASLD.

78
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

3.o) Imaginários sociais

Todo texto é produzido dentro de uma visão de mundo, ou


seja, de um imaginário, termo preferível a ideologia, por ser
este fortemente “emocionalizado” e carregado de “traumas”
coletivos. É impossível interpretar um texto sem o situar no
universo de crenças em que ele se insere.

4.o) Contratos de comunicação

O conceito de gênero textual está ligado ao de contrato


de comunicação, que por sua vez é inseparável do de situação
comunicativa. O que é permitido ou interditado num ato de
linguagem, dentro de um tipo mais ou menos padronizado
de situação comunicativa, constitui as convenções de um
gênero textual, ou seja, o contrato de comunicação desse
gênero – (cf. CHARAUDEAU, 1993, p. 93).

4) Quais as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Chamaram-me a atenção dois aspectos da ASLD que a
caracterizam como uma teoria original. Há outros, mas falo
dos que mais me “tocaram”.

79
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

O primeiro diz respeito à relação entre discurso e poder.


Para o sociólogo Bourdieu

(BOURDIEU, 1982), a força do discurso de um indivíduo


emana do seu poder, isto é, do segmento social a que ele
pertence. É como se a sociedade fosse constituída de “bone-
cos” sem rosto e a força da personalidade de cada um não
existisse. Ora, a credibilidade do discurso de quem fala
ou escreve é a resultante de um sistema de forças do qual
participa não só o status do produtor do texto, mas também
a eficiência com que ele explora a margem de manobra
do contrato de comunicação envolvido (CHARAUDEAU,
1996).

O segundo refere-se ao conceito de argumentação da


ASLD. Para Oswald Ducrot, que é um dos criadores da semân-
tica argumentativa, todo texto, em maior ou menor grau, seria
argumentativo (DUCROT, 1977, 1981, 1983). Charaudeau
reformula essa colocação, definindo como argumentativo o
texto que contém argumentos explícitos. Visar a persuadir
não basta para caracterizar um texto como argumentativo.
Uma fábula, por exemplo, segundo ele, embora tenha por
finalidade persuadir o leitor da tese contida na chamada
“moral da história”, não é um texto argumentativo, porque
não contém argumentos explícitos. A explicitação dos argu-
mentos é, portanto, o que caracteriza o modo argumentativo
de organização do discurso. Segundo ele, o que Ducrot quis

80
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

dizer é que todo produtor de um texto oral ou escrito pro-


cura trazer o interlocutor para o seu universo de discurso,
seja argumentando, narrando, descrevendo etc., colocação
brilhantemente lúcida, que, a meu ver, encerra a questão.
Ducrot, em lua de mel com o conceito de argumentação, via
argumentatividade em todo e qualquer discurso.
O modo argumentativo de organização do discurso
caracteriza-se pela relação TESE/ARGUMENTO, que se
materializa no texto sob a forma TESE porque ARGUMENTO
ou ARGUMENTO portanto TESE, podendo as conjunções
porque e portanto ser sinonimizadas ou ficar subentendidas.
Os constituintes ARGUMENTO e TESE dessas fórmulas
podem variar de “tamanho”, correspondendo a um termo de
uma oração, a uma oração, a um parágrafo e até a grandes
porções de texto. Pode dar-se o caso também de a tese ficar
implícita. O que não fica jamais implícito nesse modo de
organização discursiva são os argumentos. Note-se que, muito
adequadamente, dizemos modo argumentativo (e não modo
“tesivo”) de organização do discurso.

81
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
As interfaces são muitas. A própria sigla CIAD (Círculo
Interdisciplinar de Análise do Discurso) se refere a isso. Entre
os analistas do discurso, há linguistas, sociólogos, historia-
dores, críticos literários etc. Certa vez, um psicanalista disse
que a psicanálise não cura perna quebrada. Parafraseando-o,
podemos dizer que a AD não desvenda os mistérios do uni-
verso, mas ajuda a entender como utilizamos a linguagem
na interação (presencial ou a distância, escrita ou oral) com
outras pessoas.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Nós, do CIAD, sempre priorizamos a aplicação didática
do conhecimento que produzimos. Os três últimos artigos
mencionados no item 2 tratam explicitamente da aplicabili-
dade pedagógica da AD.

82
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Eu destacaria A conquista da opinião pública de Patrick
Charaudeau (cujo subtítulo é “como o discurso manipula as
escolhas políticas”), publicado em português em 2016 pela
Editora Contexto. Percebe-se que toda a obra de Charaudeau,
desde o início de sua carreira, obedece a um macroprojeto
de pesquisa. Ele começou analisando o discurso publicitário,
depois o midiático e, mais recentemente, o discurso político.
Uma importante tarefa da AD, daqui para a frente, no que
se refere a sua vertente pedagógica, seria talvez traduzir os
conceitos da disciplina mais aplicáveis ao ensino em linguagem
de sala de aula.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Talvez um bom começo seja a leitura de:
• CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos
de organização. São Paulo: Contexto, 2008.

83
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Como digo no artigo de 2010 mencionado no item 2:
“Quem ouve ou lê uma notícia o faz esperando da parte de
quem a produziu um compromisso com a verdade dos fatos.
Não é que a notícia não tome partido. A imparcialidade
midiática é um mito. As tomadas de posição, em tais casos,
se manifestam, no entanto, na escolha do que noticiar, nas
omissões, nas opções lexicais, utilizando vocabulário pejora-
tivo, meliorativo ou neutro, e assim por diante, mas nunca na
pura e simples mentira. O leitor de um conto, ao contrário,
frui o texto numa atitude de consumidor de ficção, ou seja,
não espera do autor que relate fatos verídicos.” (OLIVEIRA,
2010, adaptado).
Ou seja: só se pode interpretar um texto levando em conta
as convenções do contrato de comunicação do gênero textual
a que ele pertence.

84
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Na literatura infantil do tempo de Monteiro Lobato, era
aceitável uma postura discursiva hoje considerada racista. Um
exemplo mais recente: na época do cômico Costinha, admi-
tiam-se piadas hoje consideradas homofóbicas. Conclusão:
certas opções discursivas podem ou não comprometer o ethos
do enunciador, dependendo do imaginário sociodiscursivo
de cada época. Dentro dessa mesma linha de raciocínio, o
grau do pathos (porque não se trata de um atributo binário)
deverá ser o adequado ao contrato de comunicação do gênero
que está sendo produzido, o qual, por sua vez, leva em conta
o imaginário “vigente”.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Nunca nos dirigimos diretamente ao sujeito interpre-
tante (vimos isso no item 3). Formulamos uma hipótese de
qual seja seu perfil e dirigimo-nos a essa “hipótese”, que é
o sujeito destinatário, conceito tão fundamental, que, como

85
HELÊNIO FONSECA DE OLIVEIRA

vimos, as empresas de publicidade e seus clientes investem


elevadas quantias em pesquisas de opinião, para que o sujeito
destinatário fique o mais próximo possível do interpretante.

86
IDA LUCIA MACHADO
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Na verdade, “não cheguei”, foi a teoria que veio ao meu
encontro, em 1989, por meio do próprio Patrick Charaudeau,
seu criador! O que considero um grande privilégio em minha
vida. Explico melhor: acabara de defender meu doutorado
sobre Ironia na França e conheci Charaudeau em um con-
gresso internacional de professores de francês organizado pela
Professora Eunice Dutra Galéry. Foi ela quem me apresentou
ao analista do discurso. A professora em questão, antes desse
primeiro encontro presencial, explicara-me que Charaudeau
estava buscando parceiros brasileiros para levar a cabo um
projeto sobre a Análise do Discurso (doravante AD). Devo
dizer que, até então, meus conhecimentos se limitavam ao

87
IDA LUCIA MACHADO

modo de analisar discursos da AD fundadora da disciplina,


ou seja, a de Michel Pêcheux e a algumas reflexões de Sophie
Moirand e seu então orientador, Prof. Jean Peytard. Essa
primeira conversa com Charaudeau aconteceu em um cor-
redor! No local onde as comunicações do congresso estavam
acontecendo). Charaudeau explicou-me rapidamente como
concebia a AD e seus objetivos ao propor uma associação
com parceiros brasileiros. Devo lembrar que havia um grande
interesse nessa colaboração na época, vindo do Professor
Jean-Paul Rebaud, do Serviço cultural da Embaixada francesa
no Brasil. Este professor incentivou nossas primeiras trocas
com o professor Charaudeau. A primeira aconteceu sob a
forma de uma missão brasileira (da qual participei ao lado
das professoras Eunice D. Galéry/UFMG e Telma Boudou/
UFES) no Centre d’Analyse du Discours de Charaudeau em
Paris. A questão da futura parceria e dos propósitos da teoria
idealizada pelo mestre francês foram então tomando mais
forma. Tal fato culminou com outra missão no sentido con-
trário, isto é o pesquisador francês veio a Belo Horizonte-MG
e ministrou um curso (para professores de francês) sobre a
Semiolinguística, na FALE/UFMG. Foi nessa ocasião que,
juntos, redigimos do próprio punho o primeiro projeto diri-
gido a dois organismos de financiamento brasileiro e francês,
ou seja, ao binômio CAPES/COFECUB. Quem ajudou (e
muito) na elaboração do projeto e na redação deste, foram

88
IDA LUCIA MACHADO

alunos meus da graduação em francês. Destaco, sobretudo


o hoje Coordenador do Programa de Estudos Linguísticos
da UFMG, Wander Emediato. Encontramos respaldo para
tais ações não só em Jean-Paul Rebaud (já com cargo em
Brasília), como também em sua substituta em Belo Horizonte,
Professora Sylvie Martin. Graças a ela, encontramo-nos com
o Professor Evando Mirra, na época vice-Reitor da UFMG.
Era um engenheiro adepto fervoroso da AD. Em 1992, eu já
havia entrado na UFMG (antes trabalhava na UFOP/MG) e o
Professor Evando não só apoiou nosso projeto, como também,
solicitou-me que, como nova professora, o difundisse e lutasse
pela inclusão da AD na pós-graduação em Linguística desta
Universidade. Com uma audácia que não sabia que podia ter,
entrei com o projeto na CAPES e Charaudeau fez o mesmo
no COFECUB. Para surpresa nossa, o projeto foi muito bem
aceito pelos dois órgãos! E, assim, por cerca de quase 10 anos
mantivemos nosso acordo CAPES/COFECUB. Uma ocasião
única, que mudou minha maneira de conceber a AD e deu
um novo sentido à minha carreira.
Resumindo, o autor que me serviu e serve ainda de ins-
piração foi o próprio Charaudeau com quem estabeleci, além
das trocas de saberes, uma sólida amizade.

89
IDA LUCIA MACHADO

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Levando em conta que sempre tomei a AD semiolinguís-
tica como guia, e isso desde minhas primeiras produções
escritas, no princípio dos anos de 1990 até hoje (sempre fui
fidelíssima à Semiolinguística) minhas produções não foram
poucas. Incluem vários artigos, livros, dissertações e teses
por mim orientadas (quase 100). Organizei (com colegas
ex-alunos) várias coletâneas e escrevi, recentemente, um
livro que quero destacar aqui. Trata-se de: MACHADO, I.
L. Reflexões sobre uma corrente de análise do discurso e sua
aplicação em narrativas de vida. Coimbra: Grácio Ed., 2018.
As reflexões em questão são sobre a Semiolinguística. Destaco
também o livro Narrativas de vida – Saga familiar & Sujeitos
transclasse, ib., 2020.
Nos dois procurei introduzir novos aportes à
Semiolinguística.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Irei enumerá-los:

90
IDA LUCIA MACHADO

i. o esquema enunciativo (já concebido por Charaudeau


em 1983) que apresenta o desdobramento dos sujeitos
de comunicação;
ii. os modos de organização do discurso;
iii. as considerações sobre efeitos do discurso;
iv. a tomada em conta das emoções;
v. a introdução do conceito de imaginários sociodis-
cursivos na AD semiolinguística.

4) Quais as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Creio que estão ligadas à/ao introdução/desdobramento
do sujeito do discurso (comunicante/enunciador; destinatário/
interpretante) que revelam a ousadia de Charaudeau ao propor
tal categoria, em uma época (1983-1992) em que dominava o
conceito de “sujeito assujeitado” ou não sujeito, isto é, leva-se
em conta, sobretudo, que as vozes que comandariam os dife-
rentes enunciados seriam vozes das ideologias dominantes em
cada sujeito-falante ou grupo de sujeitos. Graças ao que pude
aprender e trocar com Charaudeau, ao longo de mais de três
décadas, e tantas leituras e trocas com o Mestre, acredito que
o sujeito-comunicante possa ser visto como alguém que não é
totalmente submisso ou assujeitado por uma voz dominante,

91
IDA LUCIA MACHADO

se pensarmos na singularidade de todo ser que pensa; no


entanto, é preciso convir que ele também não é totalmente
livre, pois, age dentro de um universo linguageiro de repre-
sentações e códigos que, quer queira ou não, pode em certas
ocasiões, limitar suas ações linguageiras. Em outras palavras:
o indivíduo que comunica espera ser percebido pelo outro, ou
melhor ainda, ser por ele compreendido. Desse modo, tenta
produzir um discurso que se adapte ou que seja pertinente
com a situação na qual se desenvolve a troca linguageira.
Além disso, ressalte-se o fato de a Semiolinguística ser
essencial e fundamentalmente interdisciplinar.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Sinceramente, não vejo delimitações, pois trata-se de uma
teoria compósita e, logo, bastante aberta à interdisciplina-
ridade. As interfaces mais predominantes são, sem dúvida:
a sociologia, a psicologia social e, creio eu, a antropologia...
Ultimamente, tenho sugerido outras como a das neurociências.

92
IDA LUCIA MACHADO

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Minha maneira de escrever sempre foi distribuída entre
teoria e sua aplicação prática. Logo, creio que tudo o que
escrevi até agora pode ser aplicado em diferentes cursos.
Mas não há nada de original nisso: sempre segui o modo de
escrever de Charaudeau. Logo, tento (ao meu modo) ser o
mais didática possível.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Avanços e desafios da Semiolinguística

Consideramos como avanços:


i. o fato de a teoria ter sido sempre orientada para
o estudo da persuasão e da sedução em diferentes
discursos;
ii. a grande versatilidade da semiolinguística, que per-
mite a aplicação de seu instrumental em diferentes
discursos, incluindo o literário;
iii. o fato de ter introduzido o conceito de imaginários
sociodiscursivos. Sobre esse item, gostaria de me
estender um pouco mais:

93
IDA LUCIA MACHADO

Charaudeau se inspirou em Castoriadis – que ele cita em


alguns de seus livros e artigos – para conceber sua noção de
imaginários sociodiscursivos. Para o linguista, o imaginário
social possui dimensões variáveis condicionadas “à extensão
do grupo, ao jogo de comparação possível entre grupos e,
sobretudo, à memória coletiva que se constrói por meio da
história” (CHARAUDEAU, 2018, p. 43), no caso da grande
História.
A semiolinguística qualifica os imaginários como socio-
discursivos ao tomar a palavra como sua forma de manu-
tenção/difusão. Assim, eles comportam tanto a presença
de sentimentos como a de pensamentos racionais, segundo
Charaudeau (idem, ibidem).
Ou seja, de acordo com Charaudeau, a construção desses
imaginários é feita por meio de uma acumulação de discursos
narrativos e argumentativos que propõem uma descrição e
uma explicação dos fenômenos do mundo e dos comporta-
mentos humanos. Levar em conta tal fenômeno parece-nos
ser um enorme passo para uma teoria de análise do discurso.

Os desafios

Com o tempo, a Semiolinguística, por vezes, é esquecida


como a brilhante teoria que é. Cabe a nós seus difusores/

94
IDA LUCIA MACHADO

as continuar a mostrar como tal teoria é sempre moderna,


atualizada e brilhante. Ela não se estagnou como várias outras
correntes, bem ao contrário! A Semiolinguística continua
se inovando e abordando campos diversos. Isso lhe confere
uma grande modernidade conjugada às suas primeiras bases
teóricas. Em contrapartida, Charaudeau sempre me concedeu
ampla liberdade de pensamento por nunca ter “esmagado”
sua teoria sobre dogmas fixos!

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Os livros e artigos (ou capítulos) elaborados pelo Núcleo
de AD da UFMG, bem como aqueles resultantes do trabalho
de Maria Aparecida Lino e seus colegas do CIAD-Rio. Além
disso, destaco as teses que orientamos. No meu caso específico,
indicaria aqui as orientadas por Wander Emediato (como a de
Karina Druve, por exemplo) e por mim mesma (como as de
William Menezes, Pollyanna Fernandes, Gabriela Pacheco,
Adriana Figueiredo, Maira Guimarães, entre outras), dispo-
níveis on-line no site do PosLin/FALE/UFMG.

95
IDA LUCIA MACHADO

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
É por meio desse contrato – visto de maneira ampla, ou
seja, aplicado a vários enunciados, em diferentes situações de
discurso – que os parceiros da troca comunicativa recebem/
avaliam as propostas de uns e outros, no âmbito da comuni-
cação. É um ponto importante para as trocas comunicativas,
mas, as publicações mais recentes de Charaudeau (a partir dos
últimos 20 anos) têm nos mostrado que a Semiolinguística não
é apenas isso. Há mais pontos interessantes para se assimilar.

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Acho difícil responder em meu caso. Desde que tomei
conhecimento da fórmula “imagem de si”, em vez de debru-
çar-me sobre conceitos da Retórica, preferi utilizá-lo por não
limitar meus raciocínios e análises, colocando-os em “gavetas”
ou compartimentos estanques. Por outro lado, a “chegada” dos
imaginários sociodiscursivos na Semiolinguística, levou-me a
prescindir desses conceitos. Pelo menos, na análise do discurso
charaudiana tal como a vejo e aplico.

96
IDA LUCIA MACHADO

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
O desdobramento da instância subjetiva proposto por
Charaudeau sempre me pareceu bastante claro e preciso. Nos
dias de hoje, não podemos mais nos centrar em conceitos vin-
dos de “teorias que se fixaram no tempo”, repito. Charaudeau
o compreendeu bem ao propor tal divisão.

97
ILANA DA SILVA REBELLO
Universidade Federal Fluminense - UFF

1) Como você chegou à teoria Semiolinguística? Quais


autores lhe serviram de inspiração?
Em 1998, ingressei no curso de Letras – Português/Italiano
da Universidade Federal Fluminense. Ao longo da minha
graduação, por duas vezes, tive a oportunidade de ser aluna
da Professora Rosane Monnerat, que me apresentou à teoria
Semiolinguística de Análise do Discurso, por ocasião de um
Projeto de Iniciação Científica. Durante dois anos seguidos,
2001 e 2002, participei como bolsista do projeto de Iniciação
Científica intitulado “Mecanismos linguístico-discursivos de
intensificação na construção de sentido do discurso publici-
tário”, da professora Rosane Monnerat.
Durante os dois anos do Projeto, li alguns textos a respeito
da teoria Semiolinguística, dentre os quais, cito “Uma teoria

98
ILANA DA SILVA REBELLO

de Análise do Discurso: a Semiolinguística” (MACHADO,


2001), da Professora Ida Lúcia Machado; “Uma teoria dos
sujeitos da linguagem” (CHARAUDEAU, 2001), De la com-
petencia social de comunicación a las competencias discursivas
(CHARAUDEAU, 2001), “Análise do discurso: controvérsias
e perspectivas (CHARAUDEAU, 1999) e “Para uma nova
análise do discurso” (CHARAUDEAU, 1996), esses quatro
últimos do criador da teoria, o Professor Patrick Charaudeau.
Além desses textos, tive a oportunidade de participar de
algumas palestras/minicursos sobre a teoria e de ler a tese
de doutorado da Professora Rosane Monnerat, Uma leitura
semiolinguística dos conectores E e SE no texto publicitário
(UFRJ, 1998), cujo aporte teórico-metodológico principal foi
a teoria Semiolinguística de Análise do Discurso.
Ainda em relação a esses dois anos de Iniciação Científica,
como produção das pesquisas realizadas, escrevi “O adjetivo
– garoto propaganda do discurso publicitário” (2001), traba-
lho apresentado no XI Congresso da ASSEL-Rio (PUC Rio,
outubro de 2001) e no 11º seminário de Iniciação Científica
e Prêmio UFF Vasconcellos Torres de Ciência e Tecnologia
(UFF, novembro de 2001) e “Desvelando os processos de
formação de palavras no texto publicitário” (2002), trabalho
apresentado no 12º Seminário de Iniciação Científica e
Prêmio UFF Vasconcellos Torres de Ciência e Tecnologia

99
ILANA DA SILVA REBELLO

(UFF, novembro de 2002) e publicado no Caderno de Letras


da UFF (nº30-31, 2004/2005).
O fim da bolsa de Iniciação Científica coincidiu com
o fim da minha graduação. Fazia planos de continuar os
estudos e de ler mais sobre a teoria Semiolinguística. Em
2003, então, iniciei o curso de Especialização em Língua
Portuguesa da UFF. Ao final do curso, escrevi a monografia
A repetição na construção de sentido do discurso publicitário
escrito, orientada também pela Professora Rosane Monnerat.
A partir dessa monografia, escrevi o artigo “‘Brasil. É bonito,
é bonito, é bonito.’: a repetição na construção de sentido do
discurso publicitário escrito”, apresentado no IX Congresso
Nacional de Linguística e Filologia, realizado em agosto de
2005, na UERJ.
Já no ano seguinte, em 2004, como aluna do Programa de
Pós-graduação em Letras da UFF, no Mestrado em Língua
Portuguesa, participei do projeto de pesquisa da Professora
Rosane Monnerat, intitulado “Modalidades enunciativas no
texto midiático: interface com a linguística do texto”. Fazendo
um recorte desse projeto, estudei as modalidades do ato delo-
cutivo – a asserção e o discurso reportado no texto publicitário
escrito. Para o desenvolvimento da dissertação O produto
(marca) como garoto-propaganda: as modalidades do ato
delocutivo e a intertextualidade - uma leitura semiolinguística

100
ILANA DA SILVA REBELLO

do texto publicitário escrito (UFF, 2005), o maior desafio


foi ler os capítulos da Grammaire du sens et de l’expression
(CHARAUDEAU, 1992) sobre os modos de organização do
discurso, em especial, o enunciativo. Em 2006, um resumo
expandido da dissertação foi publicado na Revista SOLETRAS
(UERJ/FFP, nº 11, 2006).
Dando continuidade aos estudos, em 2006, iniciei o douto-
rado em Letras na UFF, sob orientação novamente da Professora
Rosane Monnerat. Foi uma excelente oportunidade para eu
me aprofundar mais na teoria Semiolinguística. Durante o
doutorado, tive o prazer de ler três excelentes livros exclusivos
da teoria: Discurso das mídias (CHARAUDEAU, 2006a),
Discurso político (CHARAUDEAU, 2006b) e Linguagem e
discurso – modos de organização (CHARAUDEAU, 2008),
todos os três traduções de trabalhos do Professor Patrick
Charaudeau. A partir da tese desenvolvida, alguns trabalhos
foram apresentados e publicados, entre eles, “Conteúdos de
interpretar – a leitura como passaporte para a interação com o
mundo”, publicado na Revista SOLETRAS (UERJ/FFP, 2011).
Hoje, o pesquisador que deseja trabalhar com a
Semiolinguística tem a seu favor inúmeros artigos e livros
sobre a teoria, inclusive com aplicações em corpora diversos.
Introduzida no Brasil pelo próprio Professor Charaudeau, a
teoria tem sido difundida por meio do Núcleo de Análise do

101
ILANA DA SILVA REBELLO

Discurso (UFMG), pelo Centro Interdisciplinar de Análise


do Discurso (CIAD-RIO – UFRJ/UFF/UERJ), pelo Grupo
de Pesquisa em Semiolinguística – Leitura, Fruição e Ensino
(GPS – LEIFEN/UFF) e se espalhado por várias Universidades
do Brasil.
Na UFF, por exemplo, o Programa de Pós-Graduação
em Estudos de Linguagem tem, atualmente, em sua grade, a
disciplina Semiolinguística, o que dá mais ainda visibilidade
à teoria. O interesse pela teoria tem crescido cada vez mais,
resultando na orientação de muitas teses e dissertações e no
desenvolvimento de projetos de pesquisa sob a perspectiva
da Semiolinguística, teoria que, segundo a professora Ida
Lúcia Machado (2010), desembarcou nos trópicos e parece
ter gostado da nova “aclimatação”.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Ao longo de alguns anos, mais precisamente, desde 2001,
ainda como bolsista de Iniciação Científica na UFF, utilizo
o aporte teórico da Semiolinguística para nortear as minhas
pesquisas. Por motivos óbvios, a pesquisadora de hoje não é
a mesma de dez anos atrás. Por conta disso, citarei trabalhos

102
ILANA DA SILVA REBELLO

mais recentes, que contêm reflexões mais amadurecidas em


relação à teoria.
Em 2017, publiquei, na coletânea Análises de um mundo
significado: a visão semiolinguística do discurso (FERES;
MONNERAT, 2017), o capítulo “Do mundo a significar ao
mundo significado: estratégias linguísticas e discursivas
na construção do(s) sentido(s) de capa de revista”, em que
escrevo sobre o processo de semiotização de mundo com
vistas à leitura aprofundada do texto, que suplanta a mera
decodificação de signos e a simples compreensão, ao relacionar
as informações trazidas pelo texto à experiência partilhada
pelos sujeitos do ato comunicativo ou ao conhecimento do
mundo (REBELLO, 2017). Proponho a análise de uma capa da
revista Veja, tomada como o resultado de uma manifestação
material da mise-en-scène comunicativa. A capa impactou
fortemente os leitores, com a imagem de Aylan, o menino
sírio de três anos de idade, que morreu vítima do naufrágio
de um barco de refugiados da guerra, no Mediterrâneo, e foi
encontrado na praia de Bodrum, na Turquia. Mesmo em meio
à correria da vida, a imagem de uma criança sensibiliza, mexe
com as emoções mais profundas do ser, por isso, a escolha
estratégica da revista para não apenas informar, mas, antes
de tudo, captar a atenção do leitor.

103
ILANA DA SILVA REBELLO

Em 2018, participei de outra coletânea, agora em come-


moração aos 25 anos do CIAD-Rio, com o capítulo “Entre o
discurso e a língua: análise da conotação em capas da Veja
com vistas à formação de leitores críticos” (REBELLO, 2018),
em que analiso a conotação em duas capas da revista, a par-
tir do arcabouço teórico não só da Semiolinguística, mas
também da Linguística Textual e da Semiótica Peirciana, a
fim de mostrar que, nas capas, a conotação pode estar sendo
utilizada para o eu-comunicante se proteger diante de uma
informação que quer transmitir para o tu-interpretante sem
se comprometer com ela.
Nos anos de 2020 e 2021, escrevi alguns artigos sobre
o pathos. A título de exemplificação, cito “A patemização
em capas da Veja - a encenação a serviço do espetacular”
(REBELLO, 2020) e “Ethos e pathos: a mise-en-scène em capa da
IstoÉ a serviço do espetacular” (REBELLO, 2021). No primeiro
trabalho, analiso uma capa em que se noticia um assassinato
cometido pelo exército. O acontecimento é semiotizado por
meio de uma bandeira do Brasil manchada de sangue e uma
manchete, com letras grandes, pondo em evidência a quanti-
dade absurda de tiros dada – oitenta. No segundo trabalho,
analiso uma capa em que a revista associa o Presidente da
República Jair Bolsonaro a um antigo imperador de Roma,
o Nero. Nos dois trabalhos, identificamos como um mesmo

104
ILANA DA SILVA REBELLO

acontecimento bruto (fato) é noticiado/semiotizado em uma


capa e no índice da revista e como a Semiolinguística trabalha
o conceito de pathos. Ainda, como o corpus é do domínio
discursivo midiático, no primeiro trabalho, também utilizo
uma categorização da produção das emoções proposta por
Emediato (2007) para o discurso jornalístico.
Por último, destaco uma produção também de 2021,
publicada na coletânea Semiolinguística aplicada ao ensino,
pela Editora Contexto. Nesse livro, organizado por mim e
pelas Professoras Glayci Xavier e Rosane Monnerat, ambas
também da UFF, escrevi o capítulo “A Semiolinguística vai
para a escola”. Como primeiro capítulo da coletânea, apresento
o que é a Semiolinguística em meio a outras teorias de Análise
do Discurso e dois importantes conceitos da teoria – o de ato
de linguagem e o de contrato de comunicação, finalizando
com uma proposta de atividade prática em sequência didática
(DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004), com vista à
leitura e à compreensão proficientes de textos.
Antes de finalizar esta resposta, gostaria de ressaltar que,
dado o caráter interdisciplinar da Semiolinguística, foco de
outra questão que responderei mais à frente, nas pesquisas
desenvolvidas, valho-me, por inúmeras vezes, de outras teorias
que dialogam com a Semiolinguística e que contribuem para
uma análise mais completa do corpus.

105
ILANA DA SILVA REBELLO

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
No texto “Análise do discurso: controvérsias e perspec-
tivas” (CHARAUDEAU, 1999), Charaudeau descreve três
diferentes percursos possíveis para a análise de um corpus – (i)
cognitivo e categorizante, (ii) comunicativo e descritivo, e (iii)
representacional e interpretativo.
Utilizando-se do primeiro percurso, o pesquisador prio-
rizará categorias linguísticas, objetivando entender como
determinado elemento gramatical/lexical/discursivo funciona
no texto. Nesta perspectiva de análise, o objeto de estudo é
um conjunto de mecanismos discursivos, o sujeito é cognitivo
e o corpus pode ser aleatório. Aqui, não há a preocupação
com o contexto situacional que resultou na produção do
texto sob análise.
Se o pesquisador optar pelo segundo percurso meto-
dológico – o comunicativo e descritivo, deverá levar em
consideração as informações do fazer-situacional como, por
exemplo, a identidade dos sujeitos, a finalidade do contrato,
as circunstâncias materiais. Nesta perspectiva, o sujeito é
visto não apenas como fruto do coletivo, mas também como
gerenciador de uma identidade que lhe permite fazer escolhas
e agir sobre o mundo.

106
ILANA DA SILVA REBELLO

Por fim, no terceiro percurso metodológico, representa-


cional e interpretativo, o pesquisador elabora hipóteses sobre
as representações sociodiscursivas de um dado momento da
sociedade. Trata-se de uma abordagem mais ideológica, que
analisa textos normalmente ligados a uma instituição social,
ou textos constituídos por um conjunto de signos-sintomas
que representam sistemas de valores. Diferentemente da
segunda abordagem, na perspectiva representacional, de forma
geral, o sujeito é mais identificado pela sua passividade, pois
a sua identidade é diluída na consciência do grupo social.
Embora Charaudeau se valha dos três percursos metodo-
lógicos, o segundo percurso metodológico ganha relevo, tendo
em vista que os textos são mais analisados pelas condições do
fazer-situacional, o que fica bem evidente quando se estuda
o contrato de comunicação. Não que as marcas linguísticas,
presentes no fazer-discursivo, sejam descartadas, mas que
apenas não recebem um tratamento especial em detrimento
das condições situacionais de produção do texto, como fazem
algumas correntes teóricas cognitivas.
Assim, uma pesquisa em Análise do Discurso
Semiolinguística deve se debruçar sobre um corpus, buscando
relacionar o fazer-situacional ao fazer-discursivo, em um
determinado contrato de comunicação em oposição a outros
contratos. De forma mais detalhada, o pesquisador deve

107
ILANA DA SILVA REBELLO

identificar a identidade dos parceiros, a finalidade do contrato,


o propósito, os dispositivos materiais, os procedimentos de
ordem enunciativa e enunciva, os saberes compartilhados e
as escolhas linguísticas materializadas no texto e os possíveis
sentidos pretendidos.
Utilizando-se, dessa forma, dos três percursos metodo-
lógicos, o pesquisador terá a sua visão mais ampliada frente
ao objeto de estudo e terá possibilidade de entender melhor
a mise-en-scène do ato de linguagem sob análise.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Aqui, destaco dois aspectos: o diálogo que a Semiolinguística
tem com outros estudos teóricos, o que Charaudeau (2013)
chama de interdisciplinaridade focalizada e, dentro da teo-
ria, a articulação entre os planos situacional e linguístico.
Charaudeau, em sua teoria, evita abordagens que priorizam
apenas o circuito externo do ato de linguagem (o contexto
social), em detrimento do circuito interno (análise linguística).
Nesse sentido, a Semiolinguística se diferencia de outras
teorias do texto ao analisar o ato de linguagem em sua dupla
dimensão – fazer-situacional e fazer-discursivo, pois uma
encenação não existe sem a outra.

108
ILANA DA SILVA REBELLO

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Em qualquer teoria, nada é totalmente novo, até porque,
de acordo com as ideias de Bakhtin (2003, p. 330), um texto
não pertence a um único sujeito, pois, “em cada palavra
há vozes às vezes infinitamente distantes, anônimas, quase
impessoais [...], quase imperceptíveis, e vozes próximas, que
soam concomitantemente”.
Nesse sentido, todo discurso nasce de um outro que serve
de matéria-prima para a construção de um novo texto que,
por sua vez, continuará em outros. Trata-se, na verdade,
de um continuum. Além disso, para que um pesquisador
delimite bem as bases de sua teoria precisa conhecer outras
para, a partir daí dizer o que a sua teoria não é, ou a que ela
não se aplica, ou, ainda, em que ela avança em relação aos
estudos existentes.
Por exemplo, os estudos a respeito dos sujeitos que parti-
cipam de um ato de linguagem não são recentes. Ao longo da
história da filosofia e das ideias linguísticas, tenta-se identifi-
car quem são esses sujeitos, se são polifônicos, se simétricos
ou assimétricos, se alternam posições, entre outras questões.

109
ILANA DA SILVA REBELLO

Sem dúvidas, esses estudos contribuíram para a formulação


do quadro de sujeitos proposto por Charaudeau (2001).
Assim, a teoria Semiolinguística de Análise do Discurso,
criada pelo Professor Patrick Charaudeau, nos anos de 1980,
apresenta, em seu aporte teórico, ideias oriundas de vários
teóricos franceses, como Benveniste, Barthes, Greimas; ideias
de autores ingleses, como Austin, Grice, Searle e Bakhtin.
Tendo como ferramenta básica o discurso, a
Semiolinguística se abre ao diálogo com outras correntes
teóricas e outros ramos do conhecimento. Por exemplo, as
pesquisas que focalizam os discursos sociais, a fim de con-
seguirem dar conta da análise mais detalhada do corpus,
valem-se de contribuições provenientes de outras disciplinas,
como a Sociologia, a Psicologia Social, a Antropologia, o
Direito etc. Trata-se de uma interdisciplinaridade focalizada
(CHARAUDEAU, 2013), uma abordagem que, segundo o
autor, mantém o “múltiplo pertencimento disciplinar dos
fenômenos sociais (interdisciplinaridade) e o rigor de uma
disciplina (focalizada)” (CHARAUDEAU, 2013, p. 47).

110
ILANA DA SILVA REBELLO

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Como professora de Língua Portuguesa, tenho sempre a
preocupação de conciliar teoria e prática. A pesquisa precisa
chegar à sala de aula! É papel do professor de língua levar
o aluno a não apenas decodificar um texto, mas a fazer a
compreensão da significação indireta (CHARAUDEAU,
2018). Acredito estar contribuindo, de alguma forma, para
a ampliação da visão quanto às formas de ensino de língua
materna, tão desgastado ainda em algumas escolas, pelo modo
tradicional e enfadonho como tem sido desenvolvido. Os
resultados obtidos nas análises empreendidas, com corpora,
principalmente do domínio discursivo midiático, podem ser
não só objeto de aplicação pedagógica nas aulas de leitura e
produção textual, como também podem ser utilizados em
outras disciplinas, pelo viés da interdisciplinaridade.
De forma prática, a exemplo do que propus no capítulo “A
semiolinguística vai para a escola” (2021), o professor pode, a
partir dos textos fornecidos pelo livro didático adotado pela
escola e de outros indicados também pelos alunos, elaborar
pequenas sequências didáticas, que objetivem o desenvol-
vimento da competência leitora dos alunos, articulando
categorias de língua a categorias de discurso, como propõe

111
ILANA DA SILVA REBELLO

Charaudeau, em sua Grammaire du sens et de l’expression


(1992).

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Como já mencionei no início da entrevista, a
Semiolinguística desembarcou no Brasil e parece ter gos-
tado do nosso clima, pois tem servido de arcabouço teórico
principal para muitas pesquisas que se preocupam não apenas
com o social, mas também com o linguístico, entendendo
a importância de se analisarem os dois circuitos do ato de
linguagem.
Para além dos temas que têm sido abordados nos livros e
artigos do Professor Patrick Charaudeau, no Brasil, a partir
dos postulados básicos propostos pelo semiolinguista, como
o conceito de sujeitos do ato de linguagem, contrato de comu-
nicação, processo de semiotização de mundo, visadas discur-
sivas, imaginários sociodiscursivos, patemização, gêneros e
modos de organização do discurso, sobressaem-se algumas
pesquisas que discutem o feminismo, o racismo estrutural e
a diversidade social e cultural em diferentes corpora – pági-
nas de jornal, capas de revista, memes, hastags, charges,
quadrinhos, livros ilustrados, samba, funk, entre outros.

112
ILANA DA SILVA REBELLO

Assim, várias investigações e aplicações semiolinguísticas


vêm sendo realizadas no Brasil, inclusive, sobre temas ainda
não tão desbravados pela teoria, como as novas tecnologias
e os gêneros emergentes.
Como desafio, destaco a preocupação sempre presente
nas pesquisas em Semiolinguística de fazer uma efetiva
análise do discurso. Ao se abrir para uma intertextualidade
focalizada e dialogar com outras teorias e disciplinas, prin-
cipalmente, de base social, a Semiolinguística corre o risco
de ser entendida como uma teoria muito sociológica. Nesse
sentido, vejo como desafio a necessidade de os pesquisadores
em Semiolinguística ratificarem o lugar da teoria entre outras
em análise do discurso, mostrando que, em seus trabalhos,
Charaudeau sempre leva em consideração a relação do signo
linguístico com outros signos e com o próprio discurso. Na
verdade, trata-se de uma teoria que conjuga os dois circuitos
do ato de linguagem: fazer e dizer.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Para quem está iniciando os estudos na Semiolinguística,
indico a leitura dos artigos do próprio Charaudeau publicados
em revistas e livros e alguns também disponíveis em seu site

113
ILANA DA SILVA REBELLO

(http://www.patrick-charaudeau.com/). Além dos artigos,


há também alguns livros do professor já traduzidos para o
português como, por exemplo, Linguagem e discurso: modos
de organização (CHARAUDEAU, 2008), uma tradução e
adaptação para o contexto brasileiro de parte do Langage et
discours (CHARAUDEAU, 1983) e da Grammaire du sens et
de l’expression (CHARAUDEAU, 1992); Discurso das mídias
(CHARAUDEAU, 2006a), Discurso político (CHARAUDEAU,
2006b) e A conquista da opinião pública (CHARAUDEAU,
2016).
Por fim, indico Semiolinguística aplicada ao ensino
(XAVIER; REBELLO; MONNERAT, 2021), coletânea orga-
nizada por mim e pelas professoras Glayci Xavier e Rosane
Monnerat, que reúne capítulos teóricos aplicados à prática do
ensino de língua portuguesa. As propostas reais para o estudo
da língua em funcionamento são ancoradas, sobretudo, em
uma gramática do sentido.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
De acordo com a Semiolinguística, o ato de linguagem
diz respeito à totalidade da encenação linguageira, com seus

114
ILANA DA SILVA REBELLO

dois circuitos: externo, onde atuam os seres sociais – eu-co-


municante e tu-interpretante, e interno, onde atuam os seres
discursivos – eu-enunciador e tu-destinatário. Esse ato de
linguagem é orientado por um contrato de comunicação que
prevê restrições e estratégias.
No escopo das restrições, que podem ser, de acordo com
Charaudeau (2001), de três tipos: comunicacional, psicossocial
(situacional) e intencional (discursivo), os sujeitos, na troca
comunicativa, precisam observar o quadro físico em que estão
inseridos, quem e quantos são os parceiros, se estão face a face,
qual canal é utilizado (restrições do tipo comunicacional),
qual a idade, o sexo, a profissão, a relação de parentesco e o
estado emocional dos envolvidos na situação de comunicação
(restrições do tipo psicossocial), os conhecimentos que os
parceiros possuem um do outro, os imaginários culturais e
os saberes que se supõe serem partilhados (restrições do tipo
intencional). Essas restrições do contrato orientam a troca
comunicativa na medida em que sinalizam para o eu-comu-
nicante o que ele pode ou deve dizer/escrever se quiser obter
êxito com o seu projeto de fala/escrita.
Ainda sobre as restrições, é importante destacar que as
do tipo intencional orientam o eu-comunicante a produzir
o seu texto em função dos saberes partilhados e dos rituais
linguageiros para, a partir daí, escolher as estratégias mais

115
ILANA DA SILVA REBELLO

adequadas com vistas a produzir determinados efeitos de


sentido que deem conta da intencionalidade do projeto de
fala/escrita. Nesse sentido, essas restrições atuam em um
espaço de interseção entre as limitações do contrato e as
estratégias discursivas que serão colocadas em cena na troca
comunicativa.
Antes de finalizar, de forma prática, quem compra um
livro de fábulas de La Fontaine espera ler narrativas ficcionais,
em versos ou em prosa, normalmente, encenadas por animais
e que, ao final, trazem uma moral; quem compra a revista Veja
espera ler notícias e reportagens sobre fatos que aconteceram
ao longo da semana. Nesses dois contratos exemplificados, o
eu-comunicante precisa pensar no público-alvo, nos saberes
compartilhados, no tipo de linguagem que pode empregar,
entre outras restrições. Um livro de fábulas endereçado a uma
criança não pode apresentar exatamente a mesma linguagem
de um livro de fábulas endereçado a um adulto, sob pena de
não ser compreendido e, consequentemente, de não atingir
à intencionalidade do projeto de escrita. No entanto, ainda
dentro de um contrato de comunicação, há um espaço de
liberdade, que permite ao eu-comunicante utilizar estraté-
gias discursivas. Assim, a revista Veja, a despeito de ter que
noticiar os fatos da semana, pode escolher como reportar
os fatos, o tamanho da letra dos títulos, a cor, as fotos que

116
ILANA DA SILVA REBELLO

farão parte das notícias, as legendas, a capa da edição, por


exemplo. Não se trata, obviamente, de uma liberdade total,
mas daquela que não entra em conflito com as restrições do
contrato, pois, quando as variantes excedem o que é possível
dentro do espaço das restrições, tem-se a transgressão de
um gênero. Para compreender melhor a diferença entre
variantes e transgressão de gêneros, sugiro a leitura do texto
“Visadas discursivas, gêneros situacionais e construção tex-
tual” (CHARAUDEAU, 2004).

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Em todo ato de linguagem, os sujeitos envolvidos inter-
pretam a realidade a partir de saberes de crença e de conheci-
mento produzidos e partilhados pelos membros de um mesmo
grupo. Esses saberes configuram-se em imaginários sociais
– representações que os indivíduos e os grupos sociais fazem
das atividades sociais, conceito introduzido por Castoriadis,
entre os anos de 1960 e 1970.
Ao abordar esse conceito, Charaudeau (2006b) acrescenta
o elemento discursivo, pois, segundo o pesquisador, os imagi-
nários sociais são materializados nos discursos. A construção

117
ILANA DA SILVA REBELLO

do ethos, sobretudo o coletivo, e a produção dos efeitos de


pathos passam pela noção de imaginários sociodiscursivos.
O ethos é uma imagem de si construída pelo parceiro
eu-comunicante, no momento em que coloca em cena o seu
“outro eu”, o protagonista eu-enunciador. Do lado da recepção,
o parceiro tu-interpretante, apoiado em suas experiências, em
seus saberes de crença e de conhecimento, procura reconhecer
a máscara ou as diversas máscaras que o eu-comunicante, no
papel de eu-enunciador, assume na mise-en-scène do ato de
linguagem.
Nesse sentido, Charaudeau (2006b), considerando o ethos
social, atrelado à identidade social do sujeito, preexistente ao
discurso, e o ethos discursivo, atrelado à identidade discursiva,
que se constrói a partir do discurso, enfatiza que, a despeito
de o sujeito que fala poder construir um ethos, aquele que
interpreta, o tu-interpretante, pode também construir uma
imagem daquele que comunica e, para isso, tomará por base
o que sabe sobre o locutor e o que percebe no ato de lingua-
gem. Por isso, a noção de ethos, sobretudo o coletivo, passa
pela noção de imaginários, porque os sujeitos materializam
nos discursos a realidade elaborada pelos imaginários que
circulam socialmente. Por exemplo, em um comício, um
político tentará construir o seu ethos discursivo levando em
consideração os imaginários sobre o que é um político ideal,

118
ILANA DA SILVA REBELLO

quais atributos deve possuir uma pessoa que quer representar


o povo em alguma instância da vida pública. Da mesma forma,
uma revista feminina, para conquistar os seus leitores, em
especial, as mulheres, precisa construir um ethos de revista
atualizada com as questões de interesse do público feminino. A
partir daí, é possível dizer que existem, em um mesmo grupo,
ethé fixados, que são relativamente estáveis, convencionais,
fruto da percepção que se tem dos imaginários sociais.
Em relação ao pathos, Charaudeau (2010) propõe que seja
analisado discursivamente como um efeito visado e, como
qualquer outra categoria de efeito, depende das circunstâncias
em que se inscreve. Nesse sentido, um mesmo enunciado
poderá produzir diferentes efeitos patêmicos de acordo com
a cultura, com o país, enfim, com a situação de comunicação.
Por exemplo, o vocábulo “rato” para significar um animal
nocivo e sujo ou um animal sagrado é preciso que se insira
em um discurso de inteligibilidade do mundo que aponta
para sistemas de valores que caracterizam os grupos sociais.
Em nossa cultura, o rato nocivo suscita efeitos patêmicos de
repulsa, ao contrário do efeito que suscita na Índia, em que
o animal é adorado.
Pelo exposto, fica claro como os imaginários sociodis-
cursivos interferem na construção do ethos e na produção
dos efeitos de pathos. Apesar de, para a Semiolinguística,

119
ILANA DA SILVA REBELLO

os sujeitos não serem assujeitados, passivos, somos também


seres sociais, permeáveis aos impactos do inconsciente e do
contexto sócio-histórico.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Antes de responder o específico da questão, gostaria de
revisitar algumas noções básicas da teoria. De acordo com a
Semiolinguística, todo ato de linguagem é uma mise- en-scène
comandada, pelo menos, por quatro sujeitos: dois externos
e dois internos ao ato de linguagem. Os sujeitos externos,
do FAZER, de carne e osso, com identidade social, são os
parceiros EUc (eu-comunicante) e TUi (tu-interpretante). O
EUc é quem detém a iniciativa do ato de linguagem, com o
objetivo de influenciar o TUi.
Ao colocar em cena o texto, o EUc veste uma máscara, uma
identidade discursiva, e coloca, no texto, um protagonista, o
EUe (eu-enunciador). Ainda no circuito interno, no DIZER,
pensando no TUi, o EUc idealiza outro protagonista, o TUd
(tu-destinatário), ser abstrato, com identidade também apenas
discursiva.

120
ILANA DA SILVA REBELLO

A identidade social é aquela reconhecida e legitimada


por normas, as quais regem as práticas sociais e atribuem
papéis aos indivíduos. De forma prática, um indivíduo pode
desempenhar um papel social de advogado e professor, mas,
para isso, antes precisa estudar e prestar um concurso ou ser
contratado por uma empresa para desempenhar a determinada
função. Concursado ou não, o indivíduo precisa mostrar que
tem legitimidade social para desempenhar o papel.
Ao contrário da social, a identidade discursiva é construída
pelo EUc, quando coloca em cena o EUe. É uma identidade
legitimada pelo “saber fazer”. Por exemplo, um jogador de
futebol pode se tornar um comentarista de jogos de futebol.
A legitimidade a ele atribuída é dada por já ter atuado como
jogador de futebol, por “saber fazer”, mesmo sem ter realizado,
por exemplo, algum curso de jornalismo. Assim, a identidade
discursiva pode confirmar ou não a identidade social. Qual,
então, é a funcionalidade desses conceitos para os estudos
do texto e do discurso?
Em linhas gerais, os desdobramentos da instância subjetiva
em sujeitos sociais e discursivos nos permitem perceber que
as escolhas linguísticas/discursivas que os sujeitos realizam
em um ato de linguagem estão em função do tempo em um
determinado contexto social, reafirmando o que Bakhtin já

121
ILANA DA SILVA REBELLO

mostrava em seus estudos sobre a dinamicidade da linguagem


e da natureza social da enunciação.
Assim, se consideramos o texto como a materialização
do discurso, resultado de um ato de linguagem, a linguagem
passa a ser entendida não apenas como portadora de conteúdos
proposicionais, mas como construtora de identidades sociais
e discursivas, que coloca em cena além de valores referenciais,
também dados dos enunciadores e da situação de comuni-
cação que, sem dúvida, colaboram para a compreensão da
significação indireta (CHARAUDEAU, 2018) de um texto.
Portanto, o desdobramento da identidade dos sujeitos é
de crucial importância para percebermos que a referência ao
real deve ser analisada pelo âmbito da influência e da intera-
tividade dos seres discursivos, no processo de semiotização
de mundo, realizado por meio das restrições e permissões
de ordem linguística, gramatical, social e interacional do
contrato de comunicação.

122
JOÃO BENVINDO
Universidade Federal do Piauí - UFPI

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
Os primeiros contatos que tive com a Semiolinguística
se deram por meio da leitura das obras Langages et discours
(1983) e Grammaire du sens et de l´expression (1992), ambas
de Patrick Charaudeau, além de artigos de sua autoria e de
seus primeiros livros publicados no Brasil: Discurso polí-
tico (2006) e Discurso das mídias (2007). Tais leituras me
influenciaram bastante, sobretudo pela proximidade com
os discursos sociais, pela abordagem psicossocial, pela nova
forma de inserir a ideologia nos estudos da linguagem, pela
estreita ligação que estabelece com os estudos da Pragmática
e pelo forte referencial linguístico, o que provoca uma rea-
proximação entre os estudos do discurso e a Linguística, a

123
JOÃO BENVINDO

meu ver distanciados pela abordagem filosófica de Pêcheux


em sua Análise de Discurso Materialista, bem como pela
forte inclinação sociológica de Norman Fairclough em sua
Análise de Discurso Crítica.
Tal contato me motivou a elaborar um projeto de pesquisa
de doutorado, submetido em 2007 à UFMG, com o qual tive
êxito, realizando tal curso naquela IFES entre os anos de
2008 e 2011. Na oportunidade, pude debater e aprofundar tal
instrumental teórico com meu então orientador, Prof. Renato
de Mello, e meu coorientador, Prof. Melliandro Galinari.
Ali tive também a oportunidade de conhecer e participar
do Núcleo de Análise do Discurso (NAD) e de conhecer
outros pesquisadores que atuam neste campo. Destaco os
professores Wander Emediato, Ida Machado, Helcira Lima
e Emília Mendes.
Tive também a oportunidade de acompanhar algumas
palestras com o Prof. Patrick Charaudeau na UFMG e na
UFRJ que me possibilitaram compreender melhor a teoria
e utilizá-la de forma satisfatória nas minhas pesquisas de
doutorado e pós-doutorado. Os autores que mais me servi-
ram de inspiração foram, portanto, o próprio Charaudeau,
criador da teoria, além de outros teóricos com os quais ele faz
parceria. Destaco os trabalhos de Dominique Maingueneau
e de Ruth Amossy.

124
JOÃO BENVINDO

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Em 2012, fundamos na Universidade Federal do Piauí,
o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Análise do Discurso
(NEPAD). A partir de então, passamos a desenvolver pesquisas
diversas, cujos resultados foram publicados em periódicos
nacionais ou em coletâneas organizadas pelo NEPAD ou por
outros grupos de pesquisa no Brasil.
Entre os livros de minha autoria ou dos quais participei
da organização, destaco Discurso, memória e inclusão social
(MOURA; BATISTA JÚNIOR; LOPES 2015); Sentidos em
disputa, discursos em funcionamento (MOURA; BATISTA
JÚNIOR; LOPES, 2017); Linguagem, discurso e produção de
sentidos (LOPES; BATISTA JÚNIOR; MOURA, 2018); Análise
discursiva de editoriais do jornal Meio Norte: um retrato do
Piauí (MOURA, 2020); Discursos, imagens e imaginários
(MOURA; LOPES 2021); Fluxos discursivos na sociedade
em rede (MOURA; MAGALHÃES, 2021) Semiolinguística e
Retórica: interfaces (MOURA; ROCHA, 2021); Texto, discurso
e sentidos (ROCHA; PAIVA; MOURA; PIANCÓ, 2021); Entre
a língua, o texto e o discurso (ROCHA; PAIVA; MOURA;
PIANCÓ; SILVA, 2023).
Os artigos em periódicos com maior fator de impacto
foram: Os EU(s) e seus outros: os sujeitos da linguagem

125
JOÃO BENVINDO

estabelecidos na interligação semiolinguística EUc/TUi


no filme Bicho de sete cabeças (MOURA; MAGALHÃES;
VIEIRA, 2016); O jogo de imagens na constituição dos sujei-
tos discursivos: uma abordagem ideológica e sociopolítica
em cartuns (MOURA; LIMA; BORGES, 2016); O discurso
midiático e os princípios da comunicação numa perspec-
tiva semiolinguística (CARVALHO; OLIVEIRA; MOURA,
2019); Imaginários sociodiscursivos: um estudo a partir da
revista Revestrés (SOUSA; MOURA, 2021); A semiolin-
guística aplicada a uma notícia: o caso do padre Robson
e a Associação Filhos do Pai Eterno (ROCHA; TORRES;
MOURA, 2022); Uma análise semiolinguística dos processos
de identificação e dramatização no discurso literário de Fontes
Ibiapina (CASTELO BRANCO; MOURA, 2022); Análise
Semiolinguística do vídeo Courage to Change, da campanha
de Alexandria Ocasio-Cortez (RIBEIRO; REIS; CORREA-
ROSADO; MOURA; CHAVES, 2023); Semiolinguística: da
teoria às práticas de ensino de leitura de notícias e reportagens
(MOURA; CERQUEIRA, 2023).

126
JOÃO BENVINDO

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Não considero a Semiolinguística propriamente uma
ciência. Trata-se de uma teoria científica em construção e,
como tal, apresenta suposições e especulações. Diferente de
uma ciência devidamente instaurada, cujos postulados foram
exaustivamente testados e amplamente aceitos como válidos.
Com relação aos procedimentos metodológicos,
Charaudeau (1996) aponta para uma perspectiva que considera
os estudos discursivos como empírico-dedutivos, ao invés de
experimentais, ou seja, considera a linguagem como material
empírico organizado numa dada substância semiológica
(verbal), sendo tal organização passível de ser percebida e
manipulada, determinando, a partir daí, as compatibilidades
e incompatibilidades que permitirão atribuir as categorias
conceituais adequadas para a análise.
A semiolinguística, portanto, procura caracterizar os
comportamentos linguageiros (como dizer) considerando as
condições psicológicas que os regulamentam de acordo com
as situações de intercâmbio (contrato). Instaura-se, assim, uma
relação de reciprocidade entre as condições para os compor-
tamentos linguageiros possíveis e entre os comportamentos
linguageiros efetivos e suas condições. Além disso, sugere-se

127
JOÃO BENVINDO

a construção de um corpus que opere a partir de relações de


contrastividade, permitindo ao analista a comparação dos
contratos a partir de suas semelhanças e diferenças. A semio-
linguística apresenta como principais categorias de análise:
• O ato de linguagem – dispositivo que corresponde à
totalidade da encenação linguageira, com seus dois
circuitos: externo – o da relação contratual entre par-
ceiros – e interno – o da encenação do dizer, com seus
dois protagonistas.
• As circunstâncias de discurso – conjunto de saberes
partilhados entre os protagonistas da linguagem, sobre
seus pontos de vista (filtros construtores de sentido)
e a respeito do mundo (práticas sociais partilhadas).
• Os múltiplos sujeitos da linguagem – Charaudeau
propõe a existência de quatro sujeitos em todo e
qualquer ato de linguagem: EUe (eu enunciador);
TUd (tu destinatário); EUc (eu comunicante) e TUi
(tu interpretante).
• O contrato de comunicação – conjunto de restrições
que codificam as práticas sociolinguageiras a partir
de componentes como: a finalidade, a identidade
dos participantes, o propósito e as circunstâncias
materiais.

128
JOÃO BENVINDO

• Os modos de organização do discurso - procedimen-


tos de ordem linguageira que consistem no uso de cer-
tas categorias de língua, ordenando-as em função das
finalidades discursivas do ato de linguagem. São eles:
enunciativo, descritivo, narrativo e argumentativo.
• As estratégias discursivas – conjunto de ações por
meio das quais o sujeito comunicante concebe, orga-
niza e concretiza suas intenções de modo a produzir
determinados efeitos sobre o sujeito interpretante,
influenciando este último a se identificar com o sujeito
destinatário idealizado e construído pelo primeiro.
• Os imaginários sociodiscursivos – são formas de
apreensão do mundo que nascem a partir das repre-
sentações sociais. Constroem a significação sobre
os fenômenos e objetos do mundo, sobre os seres
humanos e seus comportamentos, transformando a
realidade em real significante.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Considero que a Semiolinguística tem muitas proximida-
des com outras teorias do discurso, porém, apresenta também

129
JOÃO BENVINDO

particularidades que a diferenciam. Destaco quatro delas


abaixo:
A construção de uma gramática do sentido

Charaudeau parte do princípio de que a linguagem é o


material que permite ao homem construir o sentido no mundo
e estabelecer uma comunicação com o outro, pois é ela sen-
tido, expressão e comunicação, não sendo sucessivamente
nem uma das três coisas, mas as três a um só tempo. Com
isso, rompe com a tradição gramatical normativa, calcada
na internalização de regras para o “bom uso da língua”,
estruturadas por meio de uma taxonomia que instaura clas-
sificações e nomenclaturas diversas, muitas vezes dissociadas
da realidade do aluno.
O linguista propõe, portanto, sua gramática do sentido
e da expressão, que se interessa em descrever os fatos da
língua em função de três condições: a primeira diz respeito
às intenções do sujeito falante, as quais são suscetíveis de
exprimir, o que requer que os diferentes sistemas da língua
sejam reagrupados ao redor dessas intenções; a segunda
trata das instâncias comunicativas que os fatos da linguagem
revelam, o que exige que os diferentes sistemas da língua sejam
tratados do ponto de vista do sentido; a terceira se debruça
sobre os efeitos do discurso que os diferentes sistemas da

130
JOÃO BENVINDO

língua podem produzir, o que exige que os variados registros


de uso linguístico sejam passados em revista, e não apenas
os usos literários.

A consideração dos múltiplos sujeitos da linguagem

A semiolinguística dá uma nova roupagem à noção de


sujeito. Considera que existem quatro sujeitos da linguagem
e não apenas dois (emissor e receptor), como imaginava
Benveniste. Tal abordagem desloca a noção de linearidade
(uma linha reta entre emissor e receptor) para a noção de
circularidade, que passa a considerar outros aspectos na
enunciação. Também permite uma melhor compreensão
do “jogo de imagens” apresentado por Pêcheux, ao delinear
as imagens de si e criar expectativas a respeito das imagens
dos outros.
Há, portanto, numa extremidade, um Eu comunicante
que arquiteta o projeto de fala, mobilizando duas outras
instâncias que funcionam como projeção: Eu enunciador e Tu
destinatário. Na outra extremidade, há um Tu interpretante
sobre o qual não se tem nenhum controle, razão pela qual
todo ato de linguagem funciona como uma expedição e uma
aventura, na visão de Charaudeau.

131
JOÃO BENVINDO

A abordagem psicossocial

O principal pressuposto da TS é o de que a linguagem


mantém uma estreita relação com o contexto psicossocial
no qual ela se realiza. De acordo com Corrêa-Rosado (2014),
ela insere o discurso num quadro teórico que estabelece
uma ligação entre os fatos da linguagem e certos fenôme-
nos psicológicos e sociais, tais como a ação e a influência,
sendo, portanto, uma teoria interdisciplinar. Ao analisar os
discursos com base na TS, o analista observa os estatutos
que os parceiros reconhecem entre si (idade, sexo, profissão,
parentesco, posição hierárquica etc.), além das atitudes do
Eu comunicante no tocante ao seu discurso, ao mundo que o
rodeia (aspecto social) e ao outro, para quem a comunicação
é dirigida.

Uma abordagem diferenciada acerca da noção


de ideologia

Talvez para demarcar uma nova perspectiva teórica ou


para fugir da celeuma conceitual na qual foi inserido o termo
ideologia ao longo dos tempos, Charaudeau pouco menciona
tal palavra em seus escritos. O autor considera que há muita
imprecisão e inconsistência teórica em torno da noção de
ideologia.

132
JOÃO BENVINDO

Em seu lugar propõe a noção de imaginários sociodiscur-


sivos. De acordo com Charaudeau (2017), esses constituem
formas de apreensão do mundo que nascem na mecânica
das representações sociais, construindo significação sobre os
objetos do mundo, os fenômenos que se produzem, os seres
humanos e seus comportamentos, transformando a realidade
em real significante.
Ao preferir usar o termo “imaginários sociodiscursivos”
ao invés de “estereótipo” ou “ideologia”, o linguista demons-
tra, mais uma vez, seu vínculo com a Psicologia Social e,
consequentemente, com uma abordagem psicossocial acerca
da linguagem.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
Ao considerar as intencionalidades do sujeito em seus
estudos, a Semiolinguística relativiza a noção de assujeita-
mento proposta por Pêcheux, delimitando, assim, um novo
campo teórico. Ao propor uma gramática do sentido, com
modos de organização do discurso que se desdobram entre
a lógica e a encenação, a TS apresenta uma forte conotação

133
JOÃO BENVINDO

Linguística, também se distanciando de outras abordagens


como a Análise Crítica do Discurso.
Os estudos semiolinguísticos apresentam forte interface
com a Semiótica (de onde vem a primeira parte do nome
da teoria), a Linguística (que dá conta do material lingua-
geiro), a Pragmática (relacionada ao uso da língua), além
da Antropologia, da Psicologia Social e da Sociologia, entre
outras áreas.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
A aplicação do instrumental teórico da TS, com seus
postulados e categorias de análise, têm propiciado um melhor
rendimento na sala de aula, no tocante ao desenvolvimento
no aluno de uma maior capacidade de interpretar textos,
atribuindo-lhes sentidos, algo que ainda se apresenta como
uma deficiência no ensino de Língua Portuguesa no Brasil.
Ao observar os sujeitos da enunciação, o contrato de
comunicação que ali se estabelece, as circunstâncias de dis-
curso, os modos de organização do discurso, entre outras
categorias, o aluno consegue apreender com maior facilidade
os implícitos que atuam no jogo da enunciação.

134
JOÃO BENVINDO

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Considero que dois avanços merecem destaque em
particular:
• A inserção cada vez maior nos estudos acerca da
mídia moderna e das novas formas de comunicação,
incluindo as redes sociais e os novos gêneros digitais,
objetos de inúmeros trabalhos desenvolvidos a partir
de uma base semiolinguística;
• A aplicação da semiolinguística ao ensino. Nesse
quesito, destaco a importante obra Semiolinguística
aplicada ao ensino, organizada por pesquisadoras
da Universidade Federal Fluminense (XAVIER,
REBELLO; MONNERAT, 2021).
Aponto como desafios sua aplicabilidade a outros cam-
pos discursivos diversos, tais como o literário, o jurídico, o
humorístico e o religioso, entre outros, o que exige ajustes e
desdobramentos nos postulados para que possam ser desvela-
das as diversas nuances desse emaranhado de possibilidades.

135
JOÃO BENVINDO

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Considero o livro Linguagem e discurso: modos de organi-
zação (CHARAUDEAU, 2008), uma leitura básica. Trata-se de
uma obra que foi adaptada para o público brasileiro trazendo
uma síntese de outras duas importantes obras de Patrick
Charaudeau publicadas na França: Langages et discours (1983)
e Grammaire du sens et de l´expression (1992).
Outras obras fundamentais do mesmo autor que apre-
sentam uma aplicação prática desse arcabouço teórico são:
Discurso político (CHARAUDEAU, 2006); Discurso das
mídias (CHARAUDEAU, 2007) e A conquista da opinião
pública (CHARAUDEAU, 2016). Destaco, ainda, a obra
Semiolinguística aplicada ao ensino (XAVIER, REBELLO;
MONNERAT, 2021), organizada por pesquisadoras da UFF.
Todas essas obras foram publicadas pela editora Contexto.
Outras publicações e artigos diversos sobre a
Semiolinguística podem ser encontrados no site www.patri-
ck-charaudeau.com.

136
JOÃO BENVINDO

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Ao participarmos de qualquer enunciação, o fazemos
a partir de normas estabelecidas socialmente. Tais normas
delimitam as práticas sociais comuns a cada sociedade.
Considerar o discurso como parte de um processo socioin-
terativo consiste em levá-lo ao domínio da intertextualidade
cultural, que possui em si conceitos éticos, acordos prévios,
normas de convivência de um determinado grupo social etc.
O conhecimento das regras que convivem no intertexto e que
fazem a interseção de conhecimento recebe de estudiosos,
como Maingueneau (1997), a denominação de competência
discursiva, enquanto outros utilizam a terminologia contrato
de leitura, como é o caso de Véron (1980) e Greimas (1973). No
âmbito da Teoria Semiolinguística, tal noção é denominada
contrato de comunicação.
O termo contrato tem origem no campo jurídico e, de
forma geral, dita os direitos e deveres das pessoas e as sanções
para quem transgredir alguma cláusula. Em outras palavras,
o contrato estabelece limites e aponta permissões e restrições
convencionadas a priori. Um contrato pode ter suas cláusulas
alteradas, incluídas, suprimidas de acordo com os ajustes
possíveis que podem ser feitos nele. Tudo isso irá depender

137
JOÃO BENVINDO

dos valores mobilizados em uma determinada época e em


uma determinada cultura. O relacionamento de um jornal
com os seus leitores, por exemplo, impõe regras ao veículo,
que procura se estruturar visando ao fortalecimento dessa
relação.
No âmago da Teoria Semiolinguística, o contrato de
comunicação está relacionado ao nível situacional do quadro
enunciativo. Assim sendo, a situação de comunicação pres-
supõe um conjunto de dados (acordos, normas, convenções)
que fornece um quadro de restrições discursivas e um espaço
de estratégias. A noção de contrato consta da correlação entre
os limites a que se submetem os falantes e as estratégias que
eles selecionam. Essa noção é empregada por Charaudeau e
Maingueneau (2004, p. 130) para “designar o que faz com
que o ato de comunicação seja reconhecido como válido do
ponto de vista do sentido”.

10) Como se pode relacionar o conceito de “imaginários


sociodiscursivos”, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
No campo da Semiolinguística, os imaginários sociodis-
cursivos são definidos por Charaudeau (2017) como “repre-
sentações que circulam em dado grupo social”, nas quais

138
JOÃO BENVINDO

estão inseridas as realidades possíveis em que um sujeito


falante pode ser inserido. Dessa forma, esses imaginários
estão diretamente relacionados às representações sociais e, a
partir deles, atribuímos significações ao mundo. Essa noção
é baseada nos estudos preliminares de Durkheim (1963) e,
posteriormente, no pensamento de Moscovici (1978).
A própria palavra “imaginários” pressupõe uma relação
etimológica com “imagem”, com “imaginação” e, conse-
quentemente, com o domínio da emoção, algo diretamente
relacionado com as noções de ethos e pathos, advindas da
retórica aristotélica. Compreende-se, no entanto, que, ao falar
de ethos, Aristóteles se refere às imagens de si, produzidas pelo
orador no momento da enunciação. Trata-se, portanto, de uma
imagem individualizada. A noção de imaginário pressupõe
uma coletividade, a existência de saberes (de conhecimento
ou de crenças) compartilhados por um determinado grupo
social.
A mobilização dessas representações influencia sobrema-
neira a argumentação, produzindo, como diria Perelman, a
adesão dos espíritos. Dessa forma, as noções de ethos (relacio-
nado ao orador) e de pathos (relacionado ao auditório) estão
diretamente relacionadas à ideia de imaginários, uma vez que,
ao defender ou contrapor-se a determinadas representações

139
JOÃO BENVINDO

sociais, o orador revela uma imagem de si, podendo ou não


persuadir o seu auditório.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Ao retomar a discussão sobre a noção de sujeito e esta-
belecer uma distinção entre parceiros (EUc – comunicante
e TUi – interpretante) e protagonistas (EUe – enunciador e
TUd – destinatário), Charaudeau expõe uma diferença nítida
entre as instâncias de produção e de recepção, mostrando
que ambas são compósitas. Nessa concepção, todo ato de
linguagem possui esses quatro sujeitos da enunciação, embora
alguns deles possam não estar marcados.
Tais postulados nos permitem compreender que não
existe um único emissor, nem um receptor isolado. As ins-
tâncias de produção, assim como as de recepção, possuem
desdobramentos. Quando aplicados aos estudos do texto e do
discurso, essas categorias propiciam uma melhor compreensão
dos sujeitos da enunciação e, consequentemente, ajudam na
apreensão dos sentidos.

140
JOÃO BENVINDO

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145
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE
Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro - UNIRIO

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
A Semiolinguística me foi apresentada durante o mestrado
que cursei de 2000 a 2003 no Programa de Pós-Graduação
em Letras Vernáculas (área de concentração em Língua
Portuguesa) na UFRJ. Já tinha ouvido falar em Análise do
Discurso de maneira difusa e pouco consistente durante a
graduação e a especialização, esta última cursada na UFF
em 1999, mas a abordagem era concentrada nos estudos de
Michel Pêcheux, lembrando que foi justamente na década de
1990 que os estudos sobre o discurso e a própria Análise do
Discurso ganharam corpo no Brasil.

146
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Ainda que me parecesse interessante uma abordagem


que ultrapassasse a visão formalista de língua em direção
ao discurso - a partir da concepção do sujeito inscrito na
linguagem e constituído pela linguagem -, assumir esse
sujeito como “assujeitado” sempre me pareceu insuficiente.
Foi a partir da leitura de Semântica e discurso: uma crítica à
afirmação do óbvio, de Michel Pêcheux, que pude perceber
que o sujeito, nessa abordagem, aparecia como não produtor
de sentido e, por conseguinte, sem autonomia e sem controle
sobre o que dizia.
Quando comecei a frequentar o primeiro curso, durante
o mestrado na UFRJ, com o professor Helênio Fonseca de
Oliveira no ano de 2000, tive acesso a uma primeira leitura,
que me chamou à atenção: o livro O discurso da mídia, organi-
zado por Agostinho Dias Carneiro, em sua 1ª edição de 1996.
Apesar de ser uma excelente publicação com a contribuição
de muitos pesquisadores que discutiam, naquele momento,
questões que relacionavam discurso e mídia, foi o prefácio
que me capturou: nele, Patrick Charaudeau anunciava uma
“nova” Análise do Discurso, propondo suas bases, elucidando
alguns conceitos que hoje nos são tão caros e estabelecendo os
sujeitos como protagonistas do discurso a partir de um esta-
tuto de parcerias estabelecidas a partir do campo situacional.
Além disso, me chamava muito à atenção o fato de aquilo que

147
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Charaudeau já batizava como Semiolinguística assumir um


caráter inter e transdisciplinar – requisito que me pareceu
bastante atraente, uma vez que sempre fui atravessada por
múltiplos interesses na área de humanidades.
Em relação aos autores que me serviram de inspiração,
além dos citados e, claro, do próprio Patrick Charaudeau,
outros me chegaram justamente durante os cursos frequen-
tados no mestrado e no doutorado e foram espécies de “refe-
renciais laterais”, por me apresentarem a abordagens que,
mais adiante, pude adensar quando entrei em contato mais
a fundo com a Teoria Semiolinguística do Discurso. Por
intermédio da leitura de Problemas de Linguística Geral I e
II, de Émile Benveniste (2021, 2023), tive acesso à Teoria da
Enunciação e a todo o atravessamento construído pela relação
intersubjetiva entre os interlocutores. Aliás, antes disso, com
Marxismo e Filosofia da Linguagem, eu me aproximava da
noção de dialogismo e da influência desse conceito bakhti-
niano sobre a construção do dispositivo enunciativo trazido
por Charaudeau.
Outra influência, que não poderia deixar de citar, foi a de
Oswald Ducrot, com quem entrei em contato, inicialmente,
a partir da leitura de Princípios de Semântica Linguística
(DUCROT, 2000) e, posteriormente, de O dizer e o dito
(DUCROT, 2020). Naquele momento, meu interesse era a

148
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

relação entre os níveis sintático e semântico das categoriais de


língua e suas implicações no discurso, o que, posteriormente,
eu pude acessar mais à miúde, quando compreendi a relação
estabelecida por Charaudeau entre os níveis situacional, dis-
cursivo e semiolinguístico no bojo da Teoria Semiolinguística.
Por fim, é necessário citar, como inspiração, Dominique
Maingueneau, uma referência sempre presente, não só porque
trabalha com conceitos também trazidos pela Semiolinguística
– como o de Ethos e o de Pathos, entre muitos outros que eu
poderia aqui citar -, mas também por ser um estudioso que
se aproxima dos estudos literários, área do saber com que eu
procuro dialogar nas minhas pesquisas.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Em relação às produções academicamente mais relevantes,
eu destaco seis publicações. Inicialmente enfoco dois artigos,
que foram desdobramentos da Tese de Doutorado, a qual
abordou o discurso de cartas numa perspectiva diacrônica:
o primeiro, publicado na Revista Diadorim em 2008: “O
gênero carta: estratégias enunciativas no discurso de cinco
séculos”, que estuda esse gênero sob o ponto de vista de um
largo espectro de temporalidade, a começar pela Carta de

149
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Caminha, desdobrando-se para cartas publicadas em jornais


de grande circulação do século XX. Nesse artigo, nas cartas
- abordadas como importantes discursos no campo da inter-
comunicação entre enunciadores –, observamos as marcas
enunciativo-discursivas que engendraram relações sociais e
discursivas entre sujeitos em um Brasil de cinco séculos. O
segundo artigo foi publicado em 2014 na Revista Linguagem
em (Re)vista, denominado “A correspondência e o discurso
de si: confissão ou ficção?”, em que são analisadas algumas
correspondências pessoais trocadas por autores da literatura e
entre esses autores e locutores de sua esfera pessoal, partindo
do pressuposto de que a carta é um gênero que congrega
uma série de estratégias discursivas entremeadas, tais como
pedidos, declarações, narrações, apresentando, muitas vezes,
um locutor que constitui um discurso de si “ficcionalizado”,
ainda que possa se apresentar em tom confessional. Assim,
buscamos justamente apontar o movimento pendular que o
discurso das cartas pessoais parece ter, ora aproximando-se
da confissão ora da ficção, em que, invariavelmente, o sujeito
pode colocar-se discursivamente como objeto. O terceiro
artigo selecionado como relevante foi publicado no e-book
em comemoração aos 25 anos do CIAD-Rio em 2018, “Dos
espaços à cena: o jogo enunciativo das cartas em perspectiva
paratextual”, em que é enfocada a relação entre os espaços
que envolvem a troca de correspondências entre autores da

150
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

literatura brasileira, calcando-se nas representações do duplo


espaço da encenação do ato de linguagem e ancorando-se nas
noções de Legitimidade e de Credibilidade (CHARAUDEAU,
2008) para a análise do jogo enunciativo dos sujeitos envol-
vidos na escritura-leitura das cartas a partir da construção
de estratégias que buscam um lugar de legitimação desse(s)
sujeito(s) na cena literária brasileira. Atestamos esse gênero,
assim, como uma espécie de “paratexto”, que contribuiria
para a construção do que Maingueneau (2006) considera o
“espaço associado”, em constante articulação com o “espaço
canônico”: aquele ocupado pela obra ficcional, desvelando
possibilidades de o sujeito escrevente das cartas construir
para si e para seu interlocutor identidades que se articulam
(ou se afastam) das construídas pela identidade narrativa da
obra ficcional.
Abordando discursos que orbitam em torno da cena polí-
tica do Brasil contemporâneo, o próximo artigo em destaque
foi publicado na Revista Gragoatá em 2019, em parceria com
a Professora Doutora Giselle Maria Sarti Leal: “O elogio à
crença: a construção da experiência política brasileira a partir
do período pré-eleições de 2018”. Nele, propomos uma análise
semiolinguística das construções discursivas decorrentes das
recentes experiências políticas do cidadão brasileiro, perpas-
sadas pelo uso da mídia social Twitter durante a campanha

151
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

presidencial de 2018, analisando quatro tweets produzidos


por sujeitos enunciadores que interpretam a experiência
política vinculada a uma “tópica da moralidade”, seja ela
associada à ausência de corrupção, seja a valores familiares,
cristãos, tradicionais, num movimento de supervalorização
das crenças, em detrimento da verdade factual. Ainda enfo-
cando discursos em torno da cena política brasileira, destaco,
a seguir, um artigo publicado na Revista Gláuks em 2021,
também em parceria com a Professora Doutora Giselle Maria
Sarti Leal: “O fio da navalha: na política das vozes sobrepostas
e dissonantes quando o medo entra em cena nos discursos
sobre a COVID-19”. Nessa publicação, que foi, também, uma
iniciativa que visava a abordar discursos que circularam na/
sobre a pandemia de Covid-19, analisamos a construção
discursiva do ex-Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,
acerca da problemática da pandemia em entrevista concedida
ao Programa Roda Viva da TV Cultura, no dia 12 de outubro
de 2020. A partir de fragmentos transcritos da entrevista,
observamos sobreposições e dissonância de vozes presentes
na narrativa de Mandetta, no que se referia às instâncias
técnica, política e midiática que ele representava em uma
gradual desidentificação com a postura política, ideológica e
discursiva do Presidente da República. Além disso, atestamos,
a partir da entrevista, a instauração de uma tópica do medo:

152
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

na fala de Mandetta, o medo da doença e da morte; e na fala


relatada do presidente, o medo do caos econômico.
Destaco, por fim, um artigo – ainda no prelo – escrito em
parceria com a Professora Doutora Patrícia Ferreira Neves
Ribeiro, “As vozes do feminino: identidade(s), representa-
ções e resistência”, resultado de comunicação apresentada
no Simpósio Temático coordenado por nós na III Jornada
Internacional Semântica e Enunciação, ocorrida na modalidade
remota, em abril de 2021, e promovida pelo IEL/UNICAMP.
No artigo, analisamos dois domínios de enunciação do/sobre
o feminino: o jornalístico e o artístico, considerando as vozes
de representação da mulher que circulam nesses diferentes
contratos comunicativos, estando, entretanto, essas vozes
vinculadas a imaginários de silenciamento da mulher. Os
resultados delineiam que o discurso feminino, em alguma
medida, vem sendo – historicamente – moldado pelo discurso
do “outro”: o outro identificado como “voz” do masculino.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
De acordo com Charaudeau (2008), ao considerarmos
a Semiolinguística como Ciência, já enfrentamos uma

153
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

problemática geral, que se refere à relação dos fatos da lin-


guagem a fenômenos psicológicos e sociais. Daí o estudioso
abordar as questões da ação e da influência, isto é, o tratamento
dado aos fenômenos de linguagem a partir da intervenção
de sujeitos em interação consigo próprios e com o “mundo”.
Enfocando essa problemática geral e compreendendo a
Semiolinguística não só interdisciplinar, mas também trans-
disciplinar – já que ela lida com o atravessamento de saberes
–, Charaudeau aponta a importância de percebermos a relação
entre determinados questionamentos que tratam do fenômeno
da linguagem: alguns, por vezes, mais externos (lógica das
ações e influência social), outros, por vezes, mais internos
(construção do sentido e construção do texto), por exemplo.
Assim, partindo de um ponto de vista abrangente e bas-
tante sumarizado, que é o que estamos adotando aqui, o
primeiro destaque trazido pela Semiolinguística, no bojo de
seus procedimentos teórico-metodológicos, é uma (1) análise
baseada em uma dupla articulação, chamada por Charaudeau
(2007, p.13) de “duplo processo de semiotização do mundo” a
partir do qual ocorre, primeiro, o processo de transformação
de um “mundo a significar” em um “mundo significado”
(o processo de transformação, que compreende, ainda, as
operações de identificação, qualificação, ação, causação) e,
depois, esse mundo significado passa a ser objeto de troca com

154
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

um outro sujeito, que é destinatário desse objeto (o processo


de transação, que se realiza de acordo com os princípios
de alteridade, pertinência, influência e regulação). A partir
desses princípios teórico-metodológicos, podemos engendrar
uma gama de possibilidades de análise e construir diferentes
dispositivos enunciativos – que, em última instância, levam
em conta os sujeitos interagindo na e pela linguagem a partir
de dois espaços: um espaço de restrições, que compreende as
condições mínimas às quais é necessário atender para que o
ato de linguagem seja válido, e um espaço de estratégias, que
corresponde às escolhas possíveis à disposição dos sujeitos na
mise-en-scène do ato de linguagem. É justamente na relação
entre esses dois espaços – o externo e o interno – que se
mobiliza outro procedimento metodológico adotado pela
Semiolinguística, que é (2) o modelo de estruturação em
três níveis: o situacional – o sujeito enquanto ser na situação
de fala, identificando sua finalidade, sua identidade e seus
saberes; o discursivo – o sujeito enquanto ser no discurso,
identificado na relação entre a legitimidade (externa) e a
credibilidade (interna) e submetido aos jogos de máscaras
do discurso e o semiolinguístico – o sujeito que se utiliza de
meios linguísticos, como categorias de língua, que vêm a se
transformar em categoriais de discurso quando influenciadas
pelo nível discursivo.

155
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Assim, para a Semiolinguística, é fundamental distinguir


entre duas categorias de análise que se complementam: as de
língua, oriundas de um olhar sobre a estrutura e a imanência
do texto, e as de discurso, oriundas dos modos de organização
do discurso de acordo com o projeto de fala dos enunciadores.
Numa tentativa de sintetizar o que expomos, é importante
enfatizar que os modelos trazidos acima baseiam-se, em
última instância, em um sujeito linguageiro que é, a um só
tempo, engajado no ato de linguagem, posicionado em relação
a esse ato de linguagem e situado em relação aos outros e ao
mundo. É a partir dessa configuração que os atos de linguagem
acontecem ancorados nos espaços de locução, de relação e de
tematização-problematização.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Diferentemente da abordagem pecheutiana de Análise do
Discurso (a AAD), em que, invariavelmente, a perspectiva
é a do assujeitamento em que o sujeito se situa a partir de
formações ideológicas e discursivas prévias – como sinalizei
na questão 1 desta entrevista – a abordagem Semiolinguística
congrega aspectos linguísticos a aspectos psicossociais, o
que confere ao sujeito a possibilidade de se “libertar” do

156
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

assujeitamento e construir estratégias linguístico-discursivas


em função de uma série de parâmetros teórico-metodológicos
específicos já salientados na questão 3. Na verdade, Pêcheux
traz para o campo dos estudos da linguagem a concepção
althusseriana de ideologia, definindo-a como uma estrutu-
ra-funcionamento que dissimula sua existência no interior
do seu funcionamento, produzindo um tecido de evidências
“subjetivas”, evidências nas quais se constitui o sujeito. Assim,
o sujeito pecheutiano, tal qual o althusseriano, é coletivo.
Já o sujeito, para a Semiolinguística, se preocupa com o
“como dizer” em função de um projeto de fala e, assim, ainda
que ele seja atravessado por formações ideológicas, já que todo
sujeito é um sujeito histórico, ele consegue se movimentar,
construindo estratégias subsidiadas a partir de um espaço de
restrições. Essa relação entre o externo e o interno à linguagem
confere à Semiolinguística uma abordagem singular.
Se pensarmos, por exemplo, na perspectiva da Análise
Crítica do Discurso (a ACD), proposta por Van Dijk, per-
ceberemos uma centralidade em aspectos cognitivos que
atravessam as construções discursivas, além, é claro, da
preocupação com a dimensão social da linguagem, como o
posicionamento político de grupos sociais e as relações de
poder subjacentes a esse posicionamento.

157
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Se considerarmos as teorias do texto no escopo da


Linguística do Texto, conseguimos notar uma distinção bas-
tante nítida entre essa abordagem e qualquer outra relacionada
aos estudos do discurso: o ponto de partida da imanência
textual. Em outras palavras, enquanto o ponto de partida da
Linguística do Texto é o próprio texto, já que a preocupação
central da área são os fenômenos que ocorrem na superfície
textual – a coesão e seus tipos, coerência e seus tipos ou a
construção de uma Gramática do Texto –, as abordagens de
Análise do Discurso têm como ponto de partida a situação,
o externo à linguagem e a sua relação com o texto.
Com todo o exposto, podemos constatar que as preocu-
pações específicas da Semiolinguística que a diferenciam
de outras teorias do texto giram em torno justamente da
construção de um aporte teórico-metodológico que consiga
mostrar como analisar os condicionamentos psicossociais que
levam a comportamentos linguageiros específicos (o “como
dizer”) em função de restrições segundo os tipos de situações
de troca (“os contratos”). Assim, fica evidente, para a Teoria
Semiolinguística, a dupla perspectiva em relação de reci-
procidade: que condições propiciam quais comportamentos
linguageiros possíveis, e quais comportamentos efetivos são
propiciados por quais condições. Esse recorte epistemológico
confere à Semiolinguística um caráter plural no tratamento

158
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

da análise: ela pode focar-se mais nas categorias de língua


ou mais na dimensão situacional condicionante dos demais
comportamentos, ou então pode focar-se nos dispositivos do
modo enunciativo a partir dos seus modos de organização, por
exemplo. É flagrante, pois, a abrangência dessa abordagem.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
Como já mencionado, a abordagem Semiolinguística
de Análise do Discurso permite o diálogo com inúmeras
áreas do saber, sendo, portanto, de natureza interdisciplinar.
Entendendo a Semiolinguística como parte de uma Linguística
de corpus, podemos evocar Charaudeau (2011), que nos diz
que o corpus não existe em si, mas depende do posicionamento
teórico a partir do qual é considerado. Os objetos de análise
de diversas ciências – seu corpus – são de natureza variada:
na Física pode ser “a força”, “o movimento”, na Química, “o
átomo”, “o carbono”, “o elemento químico”, na História, ‘”
tempo, os fatos (históricos)”, na Antropologia, “o homem”.
Nas ciências da linguagem, o corpus é “a linguagem” ou,
podemos dizer, “os dados linguísticos”, o que confere uma

159
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

dimensão metalinguística à abordagem de pesquisa. O caráter


interdisciplinar de qualquer estudo de linguagem de dimensão
não formal é nítido, entretanto, a abordagem semiolinguística
articula os parâmetros internos à linguagem aos externos,
sendo esses últimos relacionados não só à situação de troca
linguageira, mas também ao campo referencial/temático.
Assim, o sujeito, para a Semiolinguística, não é somente o
sujeito histórico ou ideológico nem tampouco o sujeito que
engendra relações de poder e de dominação. Trata-se do
sujeito sempre “situado” em relação a outro sujeito mediado
pelo “mundo” em um dispositivo de enunciação que relaciona
o evento único e irrepetível da troca linguageira a evento de
natureza regular, já que precisamos sempre considerar as
restrições, ou seja, o contrato que subsidia a troca.
De acordo com Charaudeau (2011, p. 13),

[...] os corpora devem ser construídos segundo certas


variáveis que permitam comparar tais sequências, quer
sejam variáveis externas ou internas. As variáveis externas
possibilitam contrastar conjuntos textuais ou discursivos
pertencentes a épocas diferentes (variável temporal): por
exemplo, a imprensa do século XIX comparada à atual
ou então, esses conjuntos podem ser oriundos de espaços
diferentes (variável espacial e cultural): por exemplo, a
publicidade francesa comparada à publicidade brasileira.
Ou ainda, podem pertencer a dispositivos situacionais

160
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

diferentes (variável de gênero): por exemplo, o discurso


político e o discurso publicitário, a fim de saber se as
estratégias de persuasão são as mesmas.

Como podemos perceber, a comparação/o contraste é o


procedimento adotado pela Semiolinguística, segundo certos
agrupamentos, para viabilizar o estabelecimento de certas rela-
ções, muitas das quais extrapolam os estudos da linguagem,
havendo, então, amplo diálogo/interface com áreas do saber,
como a Sociologia, a Filosofia, a História, além de áreas afins,
como a Literatura, a Educação, a Semiótica, os estudos sobre
a Imagem, a Publicidade, entre outras áreas (poderíamos,
aqui, por exemplo, arrolar uma vasta lista de Dissertações
e de Teses defendidas em que a Semiolinguística aparece
em interface com diversas outras áreas do saber, incluindo,
as áreas Exatas e Tecnológicas). Na visão de Charaudeau,
qualquer abordagem que se realiza através da linguagem
é digna se ser abordada pela Semiolinguística, sendo essa a
sua maior delimitação: o próprio corpus. Cabe ao analista,
então, como pesquisador que é, decidir como construir os
parâmetros de análise em função da seleção de seu corpus e
dos objetivos e hipóteses traçados.

161
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
A preocupação em articular os saberes da abordagem
semiolinguística com o ensino sempre foi um desejo e, embora,
na minha trajetória, eu não tenha focado inicialmente as
minhas produções no ensino, o diálogo com a Semiolinguística
sempre compareceu e reverberou nas minhas práticas docen-
tes, seja como professora de graduação, seja como orienta-
dora dos componentes curriculares atrelados aos Estágios
Curriculares de Licenciatura, seja na minha atuação nos
Projetos de Extensão e no Projeto PIBID.
Entretanto, é pela Extensão – caminho a que venho me
dedicando atualmente com bastante afinco e que creio ser
um diferencial da UNIRIO – que acredito poder trabalhar
os atravessamentos apresentados pela semiolinguística no
ensino. A partir de dois Projetos de Extensão: um coordenado
por mim – o Pré-Vestibular Social na área de linguagens, em
que recebemos estudantes em situação de vulnerabilidade
para que eles possam ter acesso à educação superior pública
de qualidade e outro de que sou colaboradora – o Remição
de Pena pela Leitura6, em que trabalhamos a mediação da
Leitura Literária para a população carcerária, de modo a

6 http://www.unirio.br/escoladeletras/remicao-de-pena-pela-leitura/
view

162
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

aproximar a Literatura dessas pessoas privadas de liberdade,


que conseguimos inserir experiências formativas com textos
em que a abordagem da semiolinguística comparece.
Algumas produções foram geradas advindas desses proje-
tos. A partir do Projeto de Extensão do Pré-Vestibular Social7,
nasceu a Revista Tropel8 – integralmente dedicada a promover
a aproximação da universidade à comunidade extracampi,
contando com produções artísticas, relatos de experiência,
entrevistas e artigos, muitos dos quais com contribuições que
a Semiolinguística traz para as salas de aula do Pré-Vestibular,
especialmente desmistificando a ideia de “Prova de Redação
do ENEM” em direção à construção de uma abordagem de
produção textual que incorpore saberes discutidos nas aulas
a respeito da mise-en-scène discursiva.
Para citar outra contribuição, essa relacionada ao Projeto
de Extensão Remição de Pena pela Leitura, cito o artigo
“Leitura e (re)ssocialização: as práticas de mediação pela
leitura9”, escrito por mim e pelo Professor Doutor Marcelo
dos Santos e publicado na Revista Leitura em Revista (L.E.R

7 O nome deste Projeto de Extensão é “Pré-Vestibular-Letras: olhar social


integrado e ações de inclusão” e o site é o https://prevestletrasunirio.
wordpress.com/.
8 https://prevestletrasunirio.wordpress.com/revista-tropel/
9 https://www.sumarios.org/artigo/leitura-e-ressocializa%C3%A7%-
C3%A3o-pr%C3%A1ticas-de-media%C3%A7%C3%A3o-pela-leitura

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LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

- PUC/RIO) em 2017, em que abordamos a leitura como um


processo de construção de significados e atribuição de senti-
dos, possibilitando a inserção social do indivíduo no exercício
pleno da sua cidadania, a partir de espaços de mediação
promovidos pelo encontro do professor de linguagem com
o leitor, nesse caso, o encontro se dá nos espaços de privação
de liberdade.
Em termos de pesquisa, durante a Pandemia de
Coronavírus e da necessidade de migração imediata do sistema
de ensino presencial para o sistema remoto, eu e a Professora
Doutora Giselle Sarti organizamos um Simpósio Temático
no I Congresso Internacional de estudos sobre a linguagem
(I CIELIN)10, que aconteceu remotamente em novembro de
2021, intitulado Rearranjos enunciativos dos interlocutores
no ensino remoto emergencial: os efeitos discursivos do dis-
tanciamento nas interações didático-pedagógicas mediadas
pelas tecnologias de informação e comunicação. No simpó-
sio, foram apresentados e discutidos os impactos da educação
remota tanto na educação básica quanto no ensino superior
por diversos professores de diversas regiões do Brasil. Ainda
no prelo, no artigo (que leva o título do simpósio) abordamos
e problematizamos o impacto do distanciamento nas relações

10 https://plataforma9.com/congressos/i-cielin-i-congresso-internacio-
nal-de-estudos-sobre-a-linguagem

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LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

escolares/ acadêmicas, mediante a observação dos formatos


de interação entre docentes e discentes emergentes em função
do cenário pandêmico atravessado a partir de março de 2020,
em interações mediadas pelas tecnologias de informação e
comunicação. Buscamos, também, debater e pensar sobre as
trocas mediadas por linguagens tanto do ponto de vista do
docente, que teve que adequar sua abordagem pedagógica em
função do evento da pandemia, quanto do discente, que, em
um país com desigualdade de oportunidades, tende a estar
alijado do acesso ao modelo de educação remota. Assim, o
artigo propõe uma reflexão sobre as novas demandas e sobre
os rearranjos no sistema educacional a partir de uma interface
entre os estudos de escopo semiolinguístico e as teorias sobre o
ensino, que continuam a reverberar hoje, ainda que o modelo
presencial tenha sido retomado.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Creio que os avanços que a Semiolinguística apresenta
na contemporaneidade estejam ligados a algumas questões
que se referem, de um lado, a aspectos temáticos e, de outro,
ao próprio domínio do campo teórico. Em relação ao campo

165
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

teórico, em artigo de 200511, intitulado “Uma análise semio-


linguística do texto e do discurso”, Charaudeau insiste nos
questionamentos a respeito da Semiolinguística que poderia
se definir como disciplina, como abordagem, como corrente
ou como subdomínio. Entretanto, o estudioso deixa claro ser
a Semiolinguística um campo disciplinar próprio, com seu
domínio de objetos, seu conjunto de métodos, de técnicas e
de instrumentos. Com pesquisas que reverberam desde fins
dos anos 80 e início dos anos 90 (sobretudo no Brasil), muito
já foi produzido e o que vimos fazendo até hoje é resultado
das diferentes maneiras de problematizar este estudo. Nesse
sentido, creio ser uma natural tendência da Semiolinguística o
diálogo com outras áreas do saber e os estudos de interface,
apresentando contribuições para ciências afins e para áreas
nem tanto afins assim, como, por exemplo, as ciências exatas.
Além disso, percebo uma natural inclinação que a
Semiolinguística precisa desenvolver – e isso já vem ocorrendo
a partir dos resultados de trabalhos de pós-graduação – no
atrelamento entre teoria e prática. Na área de ensino de língua
e de ensino de leitura, essa relação vem ocorrendo por meio
de excelentes publicações, seja de artigos, seja de capítulos
de livros, seja de livros organizados, como o Semiolinguística

11 http://www.patrick-charaudeau.com/Uma-analise-semiolinguistica-do.
html

166
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

aplicada ao ensino, organizado por MONNERATT, REBELLO


e XAVIER em 2021, por exemplo, para citar uma publicação
recente.
Outro desafio que a Semiolinguística precisa enfrentar
– e que já vem fazendo - é o de pensar a leitura de imagem
e os desafios impostos pela multimodalidade, que (junto
com a imagem) entrou de forma peremptória como catego-
ria de análise. Essa é uma preocupação de Charaudeau que
reverberou, inclusive, como atividade acadêmica a partir
do minicurso ministrado por ele no Instituto de Letras da
UFF em outubro de 2018, intitulado A verdade da imagem:
visível, não visível e invisível. Nesse sentido, percebemos
que os desafios da contemporaneidade, no que se refere à
Semiolinguística, também estão ligados às possibilidades
que essa abordagem pode nos trazer em relação à análise de
discursos menos “horizontais”, por exemplo.
Por fim, acredito que os maiores desdobramentos das
pesquisas em Semiolinguística na contemporaneidade este-
jam ligados a questões temáticas, que acabam reverberando
em estudos de interface. Questões ligadas, por exemplo, a
temáticas de estudos sobre as identidades de gênero – que
apresentam atravessamentos com estudos interdisciplinares
das Teorias Queer -, são um campo fecundo para análise,
assim como os estudos sobre o feminino, que apresentam

167
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

atravessamentos com os estudos feministas de base socioló-


gica. Há, ainda, temáticas emergentes e urgentes, que foram
aceleradas, inclusive, pelo contexto da pandemia e da pós-pan-
demia, como estudos relacionados a questões ambientais, em
franco diálogo com a área das ciências ambientais. Podemos
notar, então, a nítida vocação da Semiolinguística para a inter
e a transdisciplinaridade, como assevera o próprio Charaudeau
em vários de seus textos e conferências.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Diante da quantidade de publicações de artigos, resul-
tados de teses e de dissertações, promovo o recorte que a
mim me parece mais interessante aos iniciantes da Teoria
Semiolinguística. Em primeiro lugar, o próprio Linguagem
e discurso: modos de organização, na edição de 2008, em
português, organizada por Aparecida Lino Pauliukonis e Ida
Lúcia Machado, é um esforço em trazer a Semiolinguística
de forma densa, mas palatável, ao público de graduação e aos
estudantes de pós-graduação. Os pesquisadores envolvidos
nessa publicação entenderam que uma parte importante dos
estudos de Patrick Charaudeau ainda não estava ao alcance
do público brasileiro e, assim, a obra preenche essa lacuna
a partir de escritos de Charaudeau que espelham as linhas

168
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

gerais de sua teoria, com ampla exemplificação de autores


nacionais.
Gosto muito das publicações Discurso das mídias e Discurso
político de Charaudeau, que, embora não sejam seminais em
relação à Teoria Semiolinguística, são verdadeiros descorti-
namentos do aparato teórico-metodológico que envolve esses
discursos, apresentando ferramentas sólidas e parâmetros de
análise fundamentais para os estudos nessas áreas.
As outras publicações que destaco aqui estão ligadas
a pesquisas na área de Semiolinguística, especialmente as
desenvolvidas na UFF, mas também na UFRJ. Em Leitura,
Fruição e Ensino com os meninos do Ziraldo, Feres aborda o
desenvolvimento de habilidades que capacitam o leitor não
só para a interpretação, mas também para a fruição, sendo
uma importante contribuição para o ensino de leitura. Em
Leitura, fruição e ensino: a formação do leitor em debate,
as pesquisadoras oferecem debates em torno de temas que
relacionam leitura e escola, e texto e imagem, divulgando
pesquisas sobre esses temas. Já em Semiolinguística aplicada
ao ensino, há a reunião de reflexões em atrelamento a questões
práticas em sala de aula de língua portuguesa com exemplos
variados de análise propostos pelas pesquisadoras. A obra
também é uma importante contribuição para a construção
de uma gramática do sentido.

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LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

Uma publicação importante para iniciantes também é


o e-book que reúne artigos produzidos por membros do
CIAD-Rio – Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso
–, em comemoração aos 25 anos do CIAD-Rio, coroando uma
jornada de grande produtividade (GOUVÊA; PAULIUKONIS,
2018). A temática comum engloba estudos do discurso em
corpora diversificados, relacionados a produções midiáticas
em sua forma impressa e digital e a textos literários.
Outra obra recente, que merece destaque, é a Semiolinguística
e retórica: interfaces, organizada por João Benvindo de Moura
e Max Silva da Rocha, que, embora não se dedique a escrutinar
conceitos-chave da Semiolinguística, estabelece uma relação
importante entre conceitos seminais da Retórica Clássica aos
de ethos, pathos e logos e a Semiolinguística de Charaudeau a
partir da contribuição de diversos pesquisadores.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Essa questão teórica pode ser considerada um dos pilares
da Teoria Semiolinguística, justamente porque Charaudeau
(2008) trata esse conceito – o de “contrato comunicativo”,
juntamente com o de “situação de comunicação” e de “projeto

170
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

de fala”, como subsidiário para qualquer troca comunicativa.


Nesse sentido, para o estudioso, o contrato de comunicação
pode ser entendido como um contrato no qual são reconhe-
cidas as condições de concretização das trocas linguageiras,
que acontece de maneira tácita, a partir do momento em que
os sujeitos envolvidos na troca já sabem como devem agir, sem
precisar entrar em contato com regras prévias ou conselhos
de outros. É claro que, para que isso ocorra, os sujeitos da
enunciação precisam estar expostos socialmente a situações
em que trocas linguageiras correlatas tenham ocorrido.
Em outras palavras, o contrato de comunicação leva
em consideração a relação entre os espaços de produção, de
interpretação e de construção do discurso na medida em
que ele oferece um espaço de restrições. Assim, além das
restrições situacionais, há as impostas pelo contrato em uma
troca linguageira específica. É importante frisar que a noção
de contrato comunicativo advém justamente da articulação
entre os planos situacional e (semio)linguístico propostos
pela Teoria Semiolinguística e é a partir dessa articulação,
como já salientamos anteriormente nesta entrevista, que há
a construção do tão conhecido dispositivo dos sujeitos envol-
vidos nas trocas linguageiras. Assim, o “projeto de fala” do
sujeito comunicante, que se projeta no discurso como sujeito
enunciador só ocorre se esse sujeito acessar – tacitamente

171
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

– “as regras do jogo” dispostas no contrato de comunicação,


sabendo, logicamente, que tais regras estão sempre dispostas
a mudar.
Como mencionei anteriormente, é fundamental destacar
que o conceito de “contrato comunicativo”, construído no bojo
da teoria semiolinguística, muitas vezes é mais importante
do que o próprio conceito de “gênero discursivo”, no esteio
de Bakhtin e de outros estudiosos do discurso, razão pela
qual o próprio Charaudeau (2004) prefere o uso do sintagma
“gênero situacional”, interpretando, possivelmente que a
noção de contrato é suficiente para recobrir, muitas vezes, o
que concebemos por gênero.

10) Como se pode relacionar o conceito de “imaginários


sociodiscursivos”, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Essa é uma outra questão teórica digna de nota para a
Semiolinguística, já que evoca duas noções que também já
existem em outras abordagens, mas que não aparecem com o
refinamento trazido pela Teoria Semiolinguística: as noções
de “imagem” (imaginário) e de “emoção”. Na realidade, para
Charaudeau (2004), a imagem está menos ligada à noção pic-
tórica do que a “projeção”, ‘criação. Nesse sentido, o estudioso

172
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

define ethos como a “imagem” que o sujeito social projeta de


si no discurso que profere. Trata-se, como sabemos, de um
conceito advindo da Retórica Clássica, mas que o estudioso
refinou, criando uma abordagem própria de Ethos para sua
utilização nos estudos do discurso. No que concerne aos
“imaginários sociodiscursivos” – conceito também caro à
Semiolinguística – é importante dizer que se trata de projeções
criadas (os saberes e as crenças) a partir do discurso sobre os
sujeitos envolvidos na cena da enunciação em âmbito coletivo.
Assim, de acordo com Charaudeau (2006b, p. 117) “o sujeito
falante não tem outra realidade além da permitida pelas
representações que circulam em dado grupo social e que são
configuradas como imaginários sociodiscursivos”, o que nos
leva a inferir que o que consideramos por “realidade bruta”
não existe, estando todas as nossas experiências subsidiadas
pelos imaginários construídos a partir do discurso.
Nesse sentido, parece haver uma relação estreita entre as
noções de ethos e de imaginários sociodiscursivos, uma vez
que o sujeito projeta sobre si certa(s) imagen(s) – ethos - que
podem contribuir para a construção de certos imaginários:
imagem de força, de sabedoria, de confiabilidade, por exem-
plo. A grande questão é que os imaginários estão ligados a
aspectos mais coletivos da sociedade e, por isso, podem estar
mais arraigados/estruturados, não sendo relacionados a uma

173
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

decisão individual. De acordo com Charaudeau (2007), a cons-


trução dos imaginários sociodiscursivos está, então, ancorada
nos saberes de conhecimento, que tendem a estabelecer uma
verdade acerca dos fenômenos do mundo que independe da
subjetividade do sujeito e nos saberes de crença que perten-
cem a um modo de explicação do mundo, proveniente de
julgamentos, apreciações e valorizações dos sujeitos.
Assim como o ethos, a noção de pathos, refinada na Teoria
Semiolinguística pelo estudioso, está ligada à emoção, mas
não a uma “emoção bruta”. Trata-se de um projeto de influ-
ência que o sujeito do discurso constrói, que é dirigido a seu
interlocutor, com o intuito de captar sua atenção, de fazê-lo
aderir a seu projeto de dizer, de fazê-lo sentir algo, de levá-lo
a certo estado de emoção ou de mudança de comportamento,
captando-o, por exemplo, por meio das atitudes de polêmica,
de sedução ou de dramatização. Por isso mesmo, Charaudeau
prefere adotar terminologias, como “pathos”, “patêmico” e
“patemização” à de “emoção”, já que ele considera o discurso
a partir do qual os efeitos patêmicos são criados e não as
emoções diretamente coletadas do sujeito destinatário. É
nítida, então, a relação da ideia de pathos com a de imaginários
sociodiscursivos: o sujeito que constrói um projeto de influên-
cia sobre seu alocutário, o faz a partir da construção de certas
visadas patêmicas, estando subsidiado pelos imaginários a

174
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

partir dos quais tanto o ethos do enunciador quanto o pathos


do destinatário são postos em cena.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Responder a essa questão é como promover uma síntese
da própria Teoria Semiolinguística do discurso, uma vez que
é a partir de o “jogo de máscaras” engendrado pelos sujeitos
que Charaudeau cria o seu dispositivo enunciativo. Quando
falamos em “jogo de máscaras”, estamos fazendo alusão,
justamente, ao desdobramento do sujeito social em sujeito
discursivo, que pode incorrer em múltiplas possibilidades de
esse sujeito existir a partir do discurso. No âmbito da teoria,
o dispositivo que traz o espaço externo – o espaço do fazer –,
que acolhe o chamado sujeito social (ou comunicante/inter-
pretante), se articula com um espaço interno – o espaço do
dizer –, que acolhe o chamado sujeito discursivo (enunciador/
destinatário), e é nessa relação que se dá o jogo enunciativo/
a troca linguageira.
A funcionalidade desses conceitos que forjam o dispositivo
enunciativo é, então, crucial para a própria compreensão

175
LUCIANA PAIVA DE VILHENA LEITE

da Teoria Semiolinguística, muitas vezes mal acolhida por


outras áreas ou por áreas afins por ser interpretada como uma
abordagem apenas “interpretativa”, o que não condiz com a
realidade. Assim, empreender estudos do discurso, ancorados
na(s) materialidade(s) dos textos, é reconhecer que existem
parâmetros consistentes de base teórica e metodológica a
partir dos quais toda e qualquer análise semiolinguística é
empreendida. Para dar um exemplo prático, qualquer texto,
para ser analisado à luz da Teoria Semiolinguística, precisa
se “discursivizar” e dele serem desdobradas categorias de
análise sem as quais a análise se torna inviável. Sem o reco-
nhecimento do estatuto desses sujeitos sociais desdobrados
em discursivos e sem o reconhecimento dos “modos” com
que esses desdobramentos ocorrem não há como efetuar
qualquer análise nos moldes semiolinguísticos. Dito isso,
podemos perceber o quão a abordagem semiolinguística tem
um vasto território de atuação e de ampliação nos estudos
da linguagem.

176
MARIA EDUARDA GIERING
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
Lá pelo final da década de 1980, assisti, na PUC-RS,
a uma apresentação da professora (mestranda na época)
Marlene Teixeira sobre uma análise de texto com base na
Semiolinguística. Fiquei encantada com a força da teoria
e passei a estudá-la. Convidei Marlene para apresentar o
estudo no Curso de Letras da Unisinos, a fim de divulgar
o trabalho. Mais tarde, quando foi criado o Programa de
Pós-Graduação em Linguística Aplicada na Universidade,
convidei Marlene para trabalhar conosco. Trocávamos artigos
de Charaudeau e os discutíamos. Na época, no Sul do Brasil,
a teoria não tinha ainda grande repercussão e, sem internet,
não era muito fácil ter acesso aos artigos. Passei a trabalhar

177
MARIA EDUARDA GIERING

com a Semiolinguística no Grupo de Pesquisa que coordeno e


a divulgar a teoria por meio de traduções, do desenvolvimento
de projetos de pesquisa com essa base teórica e da publicação
de artigos.

2) Quais de suas produções em revistas ou livros impressos


ou eletrônicos você destacaria?
Destaco a publicação da primeira tradução que realizei de
artigo de Charaudeau e que consta na obra GIERING, M.E.;
TEIXEIRA, M. Investigando a linguagem em uso. Estudos
em Linguística Aplicada. São Leopoldo: Editora Unisinos,
2004. Trata-se do artigo “A argumentação talvez não seja o
que parece ser”. Também distingo a tradução que realizei
(em conjunto com Luciane Cavalheiro) do artigo “Sobre o
discurso científico e sua midiatização”, publicada no volume
14, n. 3 da revista Calidoscópio de 2016.
Aponto ainda os artigos que publicamos: “Contrato de
comunicação, estratégias enunciativas e organização do
discurso”, publicado na Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 39,
n.4, p. 9-17, 2004. “O ensino da argumentação escrita e as
condições enunciativas na atividade argumentativa”, Estudos
Linguísticos, Campinas, Unicamp, v. XXXIII, p. 1-12, 2004.
E o artigo intitulado “O discurso promocional em artigos de

178
MARIA EDUARDA GIERING

divulgação científica midiática para jovens leitores”, publicado


na revista Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v.
11, 2016, p. 52-68. Merece menção ainda a entrevista que
fiz com Charaudeau para a revista Calidoscópio: Entrevista
com Patrick Charaudeau. Calidoscópio (UNISINOS), v. 10,
2012, p. 328-331.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Charaudeau aponta, em artigo publicado pela ALED, vol.
1, n. 1, 2001, intitulado “De la competencia social de comuni-
cación a las competencias discursivas”, um modelo analítico
de três níveis, que correspondem às competências para o
sujeito, pensando o ato de linguagem dentro de uma situação
de intercâmbio específica, que determina parcialmente a
seleção dos recursos de linguagem de que o sujeito pode se
valer na interação: competência situacional, competência
discursiva e competência semiolinguística.
Esse artigo contribuiu sobremaneira para a organização
das categorias de análise do discurso pela Semiolinguística
de que passei a me valer nos estudos de texto. O modelo
permite focar categorias em cada nível e a inter-relação entre

179
MARIA EDUARDA GIERING

os níveis. Resumidamente, no nível situacional, situam-se a


noção de contrato de comunicação, a identidade psicossocial,
a tematização e o fim discursivo; no nível discursivo, salien-
tam-se as estratégias de encenação enunciativas e os modos de
organização do discurso; no semiolinguística, a composição
do texto considerando marcas linguístico-discursivas.

4) Quais as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Um aspecto diferencial da teoria, a meu ver, é sua capaci-
dade explanatória acerca do que está em jogo na encenação
discursiva, considerando os espaços interno e externo à lingua-
gem. O quadro que apresenta o dispositivo de encenação da
linguagem e os diferentes sujeitos presentes na comunicação
permitem compreender a existência de diferentes sujeitos: no
externo, o sujeito comunicante e o interpretante; no interno, o
sujeito enunciador e o destinatário. A teoria possibilita tratar
de como ocorre a relação entre esses sujeitos, os parceiros do
ato de linguagem e os protagonistas da enunciação, especial-
mente a relação assimétrica entre o sujeito destinatário e o
interpretante.
A noção de contrato de comunicação é outro postulado da
teoria que a diferencia das demais e oportuniza a compreensão

180
MARIA EDUARDA GIERING

da condição específica da situação de troca linguageira na


qual surge o discurso. O contrato de comunicação e a noção
de projeto de fala do locutor facultam relacionar as restrições
situacionais e discursivas ao desdobramento de estratégias
de composição do texto.
Também ressalto a construção das categorias presentes
no modo de organização enunciativo, especialmente as que
viabilizam descrever os procedimentos da construção enun-
ciativa: os comportamentos enunciativos e sua relação com
as categorias de língua.
O constructo teórico da Semiolinguística ilumina ques-
tões discursivas e enunciativas que elucidam estratégias de
organização genérica e textual.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
A Semiolinguística permite um estudo situado do texto
e, dessa forma, faz interface com teorias como a Linguística
Textual, possibilitando que o analista relacione as estratégias
textuais ao dispositivo de encenação discursiva.

181
MARIA EDUARDA GIERING

Sobre delimitações, como se trata de uma teoria pré-digital,


ela naturalmente se apresenta como uma teoria logocêntrica,
centrada no sujeito e que estabelece separação entre linguístico
e extralinguístico. Para o estudo dos discursos on-line, no
entanto, o tecnológico digital é objeto de análise juntamente
com o linguageiro, porque formam um compósito indisso-
ciável de linguagem e técnica. A análise do discurso digital
nativo exige, assim, uma perspectiva ecológica, que integra
tanto os dados linguageiros quanto os tecnodiscursivos. É
necessário estudar os discursos em rede, considerando o
conjunto dos elementos do ambiente.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Os estudos que desenvolvo a partir da teoria charaude-
ana voltam-se para o ensino de leitura e escrita no ensino
básico, na graduação e na pós-graduação. Na Universidade,
organizei disciplinas de leitura e produção de textos tendo
por base a teoria. Quando professora de Prática de Ensino
do Curso de Letras, orientei os planejamentos de ensino a
partir de concepções e metodologia da semiolinguística.
Ministro disciplinas na pós-graduação voltadas para a análise
de discurso com essa base teórico-metodológica relacionada
a questões textuais próprias da Linguística Textual. Produzi

182
MARIA EDUARDA GIERING

livros (em coautoria) sobre o discurso acadêmico voltado para


a graduação, com base igualmente em pressupostos da teoria.
Destaco ainda que, desde 2007, dedico-me ao estudo do
discurso de divulgação da ciência considerando fortemente
as contribuições de Charaudeau sobre o tema. Os resultados
dessas investigações têm contribuído para ampliação da com-
preensão das estratégias de organização discursivo-textual
de variados gêneros voltados à divulgação da ciência para
públicos não especializados. Esses estudos repercutem no
trabalho de professores de ensino básico de escolas da região
(a partir do Projeto LER: literatura e ciência https://projetoler1.
wixsite.com/website), de acadêmicos e pós-graduandos sobre
leitura e escrita de divulgação/popularização da ciência.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?

Avanços e desafios da Semiolinguística

Sobre os avanços, destaco:


• A noção de contrato de comunicação (devido a sua
importância, é sempre preciso mencionar), que pos-
sibilita atentar para a condição da situação de troca
linguageira na qual surge o discurso;

183
MARIA EDUARDA GIERING

• A concepção de gênero discursivo como algo que


solicita a observação da situação de comunicação,
que regula as restrições e liberdades do produtor do
texto. Penso ser muito operacional a noção de “gênero
situacional” proposta por Charaudeau (2010) para
destacar o fato de que os gêneros estão submetidos
às condições contratuais. Atualmente, com a prolife-
ração de gêneros discursivos cada vez mais híbridos,
essa noção charaudiana facilita, ao analista, o exame
das condições situacionais para compreensão das
composições textual-discursivas híbridas;
• A concepção do “modo de organização enunciativo”
e dos componentes da construção enunciativa. As
funções do modo enunciativo – elocutivo, alocutivo
e delocutivo –, que correspondem a comportamentos
enunciativos, organizam categorias que facilitam a
observação das estratégias enunciativas;
• Os estudos desenvolvidos por Charaudeau acerca
de domínios de comunicação específicos, como o
propagandístico, o midiático, o de midiatização da
ciência, o político, entre outros. Eles trazem refle-
xões, a partir do escopo teórico-metodológico da
Semiolinguística, sobre os diferentes contratos que se
estabelecem e as variadas estratégias que desenvolvem.

184
MARIA EDUARDA GIERING

Essas aplicações são extremamente ricas e alavancam


a teoria, interessando profissionais e analistas de
diversas áreas de conhecimento.

Os desafios

O maior desafio da teoria, assim como para as demais


Ciências da Linguagem, é tornar-se viva e relevante na era
digital – que apenas está começando, na qual os discursos
deixam cada vez mais de circular nas formas tradicionais
off-line para se tornarem discursos digitais nativos, endêmicos
do ambiente conectado, em que a integração linguagem-tec-
nologia é incontornável. Nesse novo cenário, muitos postu-
lados charaudeanos permanecem válidos, como as noções
de encenação, contrato, estratégias enunciativas, influência,
imaginários sociodiscursivos, ethos, entre tantos outros, no
entanto, eles necessitam de serem considerados no contexto de
uma tecnologia discursiva, ou seja, no âmbito de um conjunto
de processos de discursivização da língua em um ambiente
tecnológico.

185
MARIA EDUARDA GIERING

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Além dos artigos e livros publicados no âmbito do CIAD-
Rio e do Núcleo de AD da UFMG, indico a leitura de artigos,
capítulos de livro, verbetes de dicionário, bem como disserta-
ções e teses que orientamos no âmbito do PPG em Linguística
Aplicada da Unisinos.
Entre as teses, destaco a de Juliana Alles de Camargo de
Souza, que ganhou a menção honrosa da CAPES em 2013:
• Juliana Alles de Camargo de Souza. O infográfico e a
divulgação científica midiática (DCM): (entre) texto
e discurso. Tese (Doutorado em Programa de Pós-
Graduação em Linguística Aplicada) - Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, 2012.
Entre as dissertações de mestrado:
• Dieila dos Santos Nunes. Estratégias patêmicas em
artigos de popularização da ciência para crianças no
domínio midiático digital. Dissertação (Mestrado
em Programa de Pós-Graduação em Linguística
Aplicada) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
Unisinos, 2019.

186
MARIA EDUARDA GIERING

Dos livros, indico os publicados pela Coleção EAD


Unisinos visando ao ensino:
• GIERING, M.E.; ALVES, I. A. da R.; MELLO,
V.H.D. de. Leitura e produção de artigo acadêmico-
-científico. São Leopoldo, Unisinos, 2010;
• DAMIM, C. P. et al. Leitura e produção de textos de
comunicação da ciência. São Leopoldo, Unisinos,
2013.
• Os livros e os trabalhos de doutorado e mestrado
citados estão disponíveis no Repositório Digital
da Biblioteca da Unisinos: http://www.repositorio.
jesuita.org.br/.
Dos capítulos de livro, destaco:
• GIERING, M.E; SOUZA, J.A.C. de. Informar e
captar: objetos de discurso em artigos de divulga-
ção científica para crianças. In: Mônica Magalhães
Cavalcanti; Silvana Maria Calixto de Lima. (Org.).
Referenciação: teoria e prática. 1ed. São Paulo:
Cortez, v. 1, p. 205-232, 2013

187
MARIA EDUARDA GIERING

Entre os artigos:
• GIERING, M. E.; KLEIN-CALDAS, J.
Impeachment de Dilma Rousseff: estratégias
argumentativas em editoriais do jornal O Globo.
Linha D´Água, v. 34, p. 29-43, 2021.
• GIERING, M. E.; GLÜCK, E. P. Ethos discursivo e
o comportamento enunciativo: a construção de si
de comentaristas de notícias de divulgação cientí-
fica da revista Superinteressante online. Letras de
Hoje, v. 54, p. 385-394, 2019.
• GIERING, M. E. Divulgação científica midiática
para crianças e a visada de captação. Intersecções
(Jundiaí), v. 1, p. 85-97, 2014.
• GIERING, M. E. Contrato de comunicação, estra-
tégias enunciativas e organização do discurso.
Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 39, n.4, p. 9-17,
2004.
Os verbetes de dicionário relacionados a conceitos e
noções da Semiolínguística, encontram-se na obra:
FLORES, V. do N. et al (Orgs.). Dicionário de Linguística
da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2009.

188
MARIA EDUARDA GIERING

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Trata-se de conceito fundamental da teoria Semiolinguística
do Discurso, que possibilita contemplar a condição específica
da situação de troca linguageira na qual surge o discurso. A
partir da noção de contrato, é possível avaliar a legitimidade
da atividade de comunicação de cada participante da interação
e as estratégias textuais-discursivas de que se vale.
10) Como se pode relacionar o conceito de “imaginários
sociodiscursivos”, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Creio que a noção de imaginários sociodiscursivos e seus
desdobramentos contemplam a dimensão social do discurso,
pois fornecem subsídios para o relacionamento das constru-
ções de ethos e de pathos com o universo ideológico e social
em que se encontram os sujeitos interlocutores.

189
MARIA EDUARDA GIERING

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
O modelo que situa esses diferentes sujeitos sempre foi
muito elucidativo para a compreensão do que é preciso consi-
derar quando investigamos discursos em contextos situados.
Quando trabalhamos com a teoria para fins didáticos ou
analíticos, a explanação da diferença entre o sujeito social e o
sujeito discursivo é fundamental, pois ela permite, por exem-
plo, compreender as estratégias de encenação que o sujeito
comunicante, em determinada situação de comunicação, ao
se perguntar “como dizer”, projeta-se discursivamente como
sujeito enunciador. Igualmente a diferenciação e as relações
que se estabelecem entre a identidade social e a identidade
discursiva possibilitam melhor compreender a noção de
ethos discursivo. Saliento que essas categorias iluminam
a complexidade em jogo nas interações sociolinguageiras,
concedendo ao analista (e aos estudantes que se deparam com
a tarefa nada fácil de análise de textos) ferramentas potentes
para seus estudos.

190
MICHELLE GOMES ALONSO
DOMINGUEZ
Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
Para responder a essa questão, precisarei fazer uma breve
digressão. Fui aluna do curso de bacharelado em Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1997 a 2001. No
último período, quando cursei a disciplina Português 8, fui
apresentada às teorias semânticas pela professora da disciplina,
ninguém menos que a mestra Aparecida Lino Pauliukonis.
Eram aulas instigantes, repletas de humor e de ricos jogos de
palavras. Lembro-me de ser a primeira vez que enxerguei as
questões de língua com o mesmo encanto com que tratava
a literatura. Até aquele momento, o que me fascinava na
linguagem só tinha sido acessado pelo viés epistemológico

191
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

da teoria literária que, por questões óbvias, restringe-se às


expressões artísticas da linguagem.
Naquela disciplina, marcaram-me, especialmente, a con-
cepção de sujeito, de Émile Benveniste, e dos atos de fala, de J.
P. Austin. Com o primeiro, começou a se delinear para mim
a construção da imagem de um sujeito enunciador e a com-
preensão das possibilidades de sua inscrição na linguagem. A
passagem “na linguagem e pela linguagem que o homem se
constitui como sujeito”, dos Problemas de linguística geral II
(BENVENISTE, 1984, p. 286), ressoou-me profundamente. Do
mesmo modo, a descoberta de uma perspectiva pragmática
da linguagem, conforme apresentada por J. P. Austin (1962)
em Quando dizer é fazer: palavras e ação, tornou irrever-
sível a retomada de uma perspectiva representacionista da
linguagem. A partir daí, fui me enveredando pelas teorias
do discurso, inicialmente, a partir de nomes como Mikhail
Bakhtin e Michel Pêcheux, bem como de produções brasileiras
como as de Eni Orlandi e Beth Brait.
Durante o mestrado, as questões relacionadas à cons-
tituição dos sujeitos e da ação se reconfiguraram em uma
dissertação que se interessou pela investigação da construção
da identidade em contos angolanos pré e pós independência.
A cenografia e o ethos, conforme apresentados por Dominique
Maingueneau em obras como o Contexto da obra literária

192
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

(1995) e Pragmática para o discurso literário (1996), foram


os aspectos analisados nos contos. No entanto, a ausência
de uma fundamentação linguística que subsidiasse as con-
formações discursivas fez com que teóricos como Catherine
Kerbrat-Orecchioni e Oswald Ducrot tenham sido também
convocados.
Foi nessa falta que a teoria Semiolinguística se apresentou
para mim como um grande marco integrador das questões
sociais e linguísticas que fundamentam o discurso. Trata-se
de uma perspectiva que propõe concepções teóricas, mas
também oferece o encaminhamento metodológico no que
se refere ao tratamento dos dados linguísticos, matéria com
a qual nós, linguistas, trabalhamos. Nesse sentido, a pes-
quisa desenvolvida durante o doutorado (entre 2008 e 2011)
foi completamente fundamentada nas propostas de Patrick
Charaudeau, com o propósito de refletir sobre a contribuição
da Semiolinguística para a análise do discurso midiático
e sobre as adaptações teórico-metodológicas necessárias à
análise do que já se configurava como Webjornalismo.
De todos os nomes citados durante o percurso até o encon-
tro com a teoria Semiolinguística – incluindo ele – destaco o
de Maria Aparecida Lino Pauliukonis, que, além de grande
pesquisadora da área, dedicou-se à formação, na graduação
e na pós-graduação, de muitos dos pesquisadores que hoje

193
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

compõem o quadro de especialistas dessa teoria. Como minha


professora desde a graduação e orientadora de mestrado e
doutorado, trata-se, sem dúvida, de uma grande inspiração
e da principal responsável pela formação da profissional que
me tornei.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Destacarei quatro produções, elencadas em função de dois
critérios que considero relevantes: o primeiro deles diz respeito
à variedade de aproximações com a teoria Semiolinguística
que o conjunto é capaz de expressar, pois tece relações com
questões filosóficas, com uma diversidade de corpora e refle-
xões sobre o ensino; o segundo critério é a avaliação de que
os textos, apesar de nem sempre publicados em veículos de
grande circulação, apresentam alguma contribuição para a
área.
O primeiro artigo em destaque se intitula “Aproximações
e fugas entre o Ceticismo, Wittgenstein e a Semiolinguística”,
foi publicado na Revista Philologus, em 2008, e, apesar de
ser fruto de minhas primeiras leituras da Semiolinguística,
trata-se de um texto maduro que propõe relações pouco
comuns em trabalhos sobre a teoria no Brasil.

194
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

O estudo visou o estabelecimento de possíveis rela-


ções entre as propostas filosóficas do que se convencionou
denominar o “segundo Wittgenstein” e as perspectivas da
Semiolinguística, reconhecendo-as em seu caráter simulta-
neamente ante essencialista, mas de recusa cética. O artigo
identifica que a linguagem é reconduzida a seu berço, à
práxis, e se instaura, tanto para Wittgenstein quanto para
Charaudeau, nas suas diversas possibilidades de jogos e atos
realizados por sujeitos concretos, intersubjetivamente rela-
cionados. “Desconfigurada, portanto, qualquer possibilidade
de exterioridade no binômio língua/mundo, os sentidos da
linguagem só se instituem, para ambos os teóricos, no aqui/
agora das práticas linguageiras” (DOMINGUEZ, 2008, p. 20).
O segundo artigo que gostaria de destacar apresenta alguns
resultados de minha tese de doutoramento, cujo objetivo
principal era propor uma discussão sobre a manutenção
(ou não) dos parâmetros e relações contratuais do discurso
de informação midiática em produções webjornalísticas.
Intitulado “Estratégias linguístico-discursivas do jornalismo
atual: os lugares do impresso e da web como veículos de
comunicação”, o artigo, publicado em 2012, nos Cadernos do
CNLF, dedica-se à compreensão dos diferenciados usos lin-
guístico-textuais empregados em cada dispositivo midiático,

195
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

bem como de suas funções discursivas. A partir da análise de


notícias sobre um mesmo acontecimento, o artigo conclui:

[...] o discurso webjornalístico se constitui como instância


enunciativa que, através da construção discursivamente
objetiva do acontecimento de referência, reconhece e ao
mesmo tempo proporciona a autonomia de seu interlocu-
tor, gerando daí uma relação de parceria e credibilidade,
enquanto o impresso reelabora sua disparidade técnica na
construção de discursos enunciativamente mais marcados
frente aos fatos noticiados, orientando seu leitor a deter-
minado ponto de vista e, portanto, excedendo seu papel
informativo na formação de opinião (DOMINGUEZ,
2012, p. 2.830).

Pelo caráter diferenciado do seu corpus, destaco como


terceiro trabalho o artigo intitulado “Cantadas do amor con-
temporâneo: uma análise semiolinguística”, publicado na
Revista Humanidades, em 2015. Nele, são analisadas letras de
canções românticas brasileiras da contemporaneidade, com
vistas a identificar o sentido de “amor” construído nas letras.
Naquele momento, verifiquei que o amor contemporâneo não é
tratado como um sentimento com características previamente
definidas. Apesar disso (ou talvez por isso), observei a presença
constante de paradoxos como: o ser e o agir, o ficar e o fugir,
o preso e o livre, o velho e o novo, o eterno e o efêmero, a
união e a separação. Essa regularidade acaba definindo o

196
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

amor contemporâneo como uma mescla de sentimentos


contraditórios que, relacionada a uma memória discursiva
que canta o amor idealizado, eterno, sofrido, desconstrói o
amor mitificado da idolatria do outro, e, com isso, atualiza
nas relações amorosas contemporâneas um sentimento que
vivencia a desconfiguração de fronteiras entre o global e o
individual, o real e o virtual, o tempo e o espaço etc.
Destaco, por fim, o capítulo “Ensino de Língua Portuguesa
em perspectiva discursiva”, publicado em 2018, na obra Ensino
de Língua Portuguesa: teorias e práticas, em que proponho a
aplicação da teoria Semiolinguística para a análise de textos,
apresentando algumas possibilidades de relação entre conte-
údos gramaticais e função discursiva. O artigo é resultado de
um minicurso destinado a professores da Educação Básica,
oferecido durante o I Congresso Nacional de Ensino de Língua
Portuguesa (CONELP).

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Uma das características mais importantes da teoria
Semiolinguística é a clareza na relação entre elementos lin-
guísticos e funções discursivas. Patrick Charaudeau, em seus

197
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

diferentes escritos, prima sempre por esclarecer essa relação,


o que nos proporciona bastante tranquilidade para lidar com
os dados.
As principais categorias analíticas com as quais trabalhei
foram, sem dúvida, as relacionadas ao conceito de contrato
comunicativo (identidade dos sujeitos, a finalidade da troca, o
propósito e o dispositivo); conceito do qual me aproprio para
além da teoria, como princípio metodológico, pois meu olhar
para a análise de qualquer texto parte do levantamento dessas
categorias. Assim, sempre inicio minhas análises buscando as
informações básicas referentes àquele contrato comunicativo
para, a partir daí, identificar a manutenção ou quebra das
expectativas sociais do contrato, a estruturação dos modos
de organização do discurso empregados, a construção da
imagem dos sujeitos etc.
Minhas pesquisas têm cunho qualitativo como fim, mas
a quantificação de ocorrências sempre foi um procedimento
importante para o estabelecimento de determinadas relações,
além de ser uma forma mais concisa de apresentar dados
comparativos. Por exemplo, no trabalho referente ao contrato
comunicativo do jornalismo impresso e da web, identifiquei
por meio do levantamento quantitativo uma alteração nos
parâmetros de seleção das notícias (atualidade, socialidade
e imprevisibilidade), que sinalizou a maior inclinação do

198
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

webjornalismo em selecionar os acontecimentos pela atu-


alidade, enquanto o jornalismo impresso tendia a dar mais
relevância ao parâmetro da socialidade. No mesmo sentido, ao
comparar a frequência de elementos lexicais referentes a um
mesmo acontecimento, publicado por uma mesma empresa
jornalística, no impresso e na web, observei que no primeiro
havia maior frequência de ocorrência de um vocabulário que
desdobrava o acontecimento no tempo (antes e depois, causas
e consequências), enquanto a frequência lexical no webjornal
restringia-se ao momento do acontecimento.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
A Semiolinguística se apresenta não só como recusa ao
determinismo dos estudos linguísticos embalados pela tradi-
ção, mas também como alternativa aos próprios estudos dis-
cursivos que, desenvolvidos unilateralmente (seja em direção
à dimensão linguística, seja em sua contramão sociológica),
não satisfazem a condição proposta por Charaudeau como
princípio do estudo da linguagem: integrar o espaço externo
à linguagem como seu fundador, ao mesmo tempo em que
é construído por ela.

199
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

Construir o social em sociolinguageiro e o linguístico


em sociodiscursivo é um compromisso estrutural da teoria.
Observamos o imbricamento dessas relações desde a integra-
ção entre os espaços do fazer e do dizer na compreensão do ato
de linguagem, passando pelas relações implicadas no processo
de semiotização do mundo até os parâmetros envolvidos no
contrato comunicativo. Trata-se, definitivamente, de um traço
inescapável da teoria que, na minha perspectiva, constitui-se
como o grande diferencial da Semiolinguística.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
A Semiolinguística aborda o discurso como relação de
ação e influência que se dá pela linguagem. Nessa perspectiva,
a construção do sentido é psico-socio-linguageira porque é
procedida por um sujeito compreendido nessa integração.
Trata-se, portanto, de uma teoria transdisciplinar, que apoia a
análise linguístico-discursiva em conceitos de áreas diversas
como a psicologia, as ciências sociais e políticas, a antropo-
logia, a comunicação.

200
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

Essa articulação favorece variadas interfaces da semiolin-


guística com áreas afins. No entanto, deve estar claro que essas
relações se fazem de uma perspectiva estritamente linguística,
pois a teoria semiolinguística se restringe à linguagem ver-
bal, dedicando-se exclusivamente às funções discursivas das
línguas naturais. Talvez resida aí, além de uma delimitação,
uma limitação que deveremos transgredir frente a um mundo
cada vez mais icônico e imagético.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Acredito que toda produção que não seja exclusivamente
teórica contribui para o ensino de Língua Portuguesa porque
ajuda a esclarecer e a aprofundar nossos conhecimentos sobre
as categorias linguísticas e suas funções discursivas. Apesar
de não ser uma produção voltada à questão do ensino, estou
certa de que um artigo como “A língua portuguesa no discurso
jornalístico: estratégias de construção da verdade”, publicado
na obra Descrição e ensino de língua portuguesa: múltiplos
olhares (2019), contribui com o ensino, na medida em que
esclarece sobre as estratégias linguísticas articuladas pela
mídia para instituir a factualidade e construir valores de ver-
dade nos acontecimentos que noticia. Na minha perspectiva,
instruir nossos estudantes a lidar com a informação em um

201
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

mundo conectado, configurado em ambiente de pós-verdade


e atravessado por fake news é das tarefas mais fundamentais
e urgentes.
A questão que se coloca verdadeiramente, então, é o acesso
(ou melhor, a falta dele) dos professores a esses conteúdos.
Muito se produz na academia, mas pouquíssimo chega ao
nível básico. De um lado, temos majoritariamente professores
do ensino básico mal remunerados, que precisam trabalhar
muitas horas, em condições ruins, para ter algum retorno
financeiro; de outro, a academia, que, apesar de possuir
um corpo docente em melhores condições, valoriza mais a
pesquisa do que a extensão e está submetida a um sistema
produtivista enfraquecedor dos laços com a comunidade.
Nesse caldeirão de problemas se estabelece a desconexão entre
a academia e a educação que invisibiliza as contribuições que
a semiolinguística (e tantas outras teorias) podem oferecer.
Dito isso, gostaria de destacar o trabalho de um recente
Grupo de Estudos em Língua e Discurso (GELD – UERJ), do
qual participo, que tem como princípio fomentar o encontro
entre a produção acadêmica do ensino superior referente aos
estudos discursivos e a educação básica, bem como promover
encontros e trocas que produzam metodologias de ensino de
base discursiva que possam ser utilizadas no ensino básico.

202
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

Não tenho dúvidas de que a Semiolinguística tem grande


contribuição a dar nesse projeto.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Em 2013, Ida Lúcia Machado e Emília Mendes publicaram
um artigo intitulado “A análise semiolinguística: seu percurso
e sua efetiva tropicalização”, em que homenageiam Patrick
Charaudeau a partir das contribuições brasileiras à obra.
Refiro-me a esse texto porque acredito residir aí o principal
avanço da Semiolinguística: a possibilidade de reelaboração
teórica a partir de uma perspectiva não eurocêntrica. Nós,
pesquisadoras e pesquisadores do sul global, temos muito a
contribuir com as reflexões teóricas e metodológicas acerca
do texto-discurso e, para além da simples aplicação de uma
teoria vinda do além-mar, produzimos conhecimento local
sobre algo de que, nas palavras de Machado e Mendes (2013),
“antropofagicamente nos apropriamos, num movimento
bem similar ao que o próprio Charaudeau propõe para a
sua teoria”. Acredito, portanto, que os principais avanços da
teoria são produzidos num movimento caro e necessário à
contemporaneidade que é a decolonialidade.

203
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

Desse lugar, de quem acredita na produção de saberes local,


acredito que o principal desafio que se impõe é (re)pensar a
Semiolinguística a partir das novas formas de configuração
da comunicação. Seria a internet um espaço de comunicação
dialógico ou monológico? Esses dois conceitos, conforme
propostos na teoria de base, dão conta do tipo de relação
interlocutiva que se pode estabelecer online? Como enquadrar
os emergentes gêneros textuais da web? Há novos contratos
comunicativos? As estratégias que compõem os diferentes
modos de organização do discurso funcionam no online como
no offline? O conceito de dispositivo é suficiente para dar
conta do impacto da rede nas construções discursivas? Penso
que essas e outras tantas questões relativas à comunicação
no mundo contemporâneo são desafios conceituais que urge
enfrentarmos.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
“Uma análise semiolinguística do texto e do discurso” é o
primeiro texto que uso para apresentar a teoria aos estudantes.
Trata-se de artigo do próprio Charaudeau, publicado em por-
tuguês, em 2005, na obra Da língua ao discurso: reflexões para
o ensino, organizada por Pauliukonis e Gavazzi. O artigo está
disponível no site do autor – que, por sua vez, já se configura

204
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

como importante fonte bibliográfica para a teoria - e nele o


autor, além de justificar a elaboração da teoria, apresenta seus
principais pilares teórico-metodológicos, como o processo de
semiotização do mundo e o contrato comunicativo.
Apresentada à teoria pela leitura do artigo, a pessoa inte-
ressada na semiolinguística pode passar, então, a uma obra
de maior volume. Nesse sentido, Linguagem e Discurso me
parece uma excelente opção. Nessa obra, são aprofundados
alguns conceitos que fundamentam a teoria, bem como são
elaborados os modos de organização do discurso. Destaco
aqui o trabalho primoroso da organização da obra, que não
se restringiu a sua tradução, aplicando a teoria a exemplos
em língua portuguesa e fazendo as adaptações necessárias
a esse corpus.
A partir dessas leituras, já se tem um arcabouço teórico-
-metodológico básico da Semiolinguística e se pode proceder
às leituras de obras mais específicas, dedicadas às especifici-
dades discursivas dos domínios de interesse, como O discurso
midiático ou O discurso político.
Por fim, e não menos importante, é fundamental que
sejam lidos os trabalhos de pesquisadores brasileiros sobre
a teoria. Apesar de bastante completa, a Semiolinguística é
de base francófona e esse não é um fato irrelevante. Como
brasileiras e brasileiros, nossos corpora nativos apresentam

205
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

peculiaridades imprevistas na teoria original e há já uma


vasta produção realizada pelos pesquisadores e pesquisadoras
nacionais que propõem adaptações ou atualizações.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
A noção de contrato comunicativo pode ser definida
como um quadro de reconhecimento no qual se inscrevem
os parceiros, para que se estabeleça a troca e a intercompre-
ensão entre os sujeitos. Ele se compõe de dados externos e
internos (ou contextuais e linguísticos), agrupados em quatro
categorias: identidade, finalidade, propósito e dispositivo.
Assim, o contrato funciona como uma espécie de parâ-
metro implícito nas expectativas compartilhadas – e mais
ou menos institucionalizadas – sobre o modo de funciona-
mento dos vários tipos de encontros linguageiros. E, nesse
sentido, orienta toda troca comunicativa, pois os sentidos
ali construídos são sempre atravessados pelas regularidades
comportamentais dos indivíduos, das características cons-
tantes de cada troca e dos valores socialmente atribuídos.

206
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

10) Como se pode relacionar o conceito de “imaginários


sociodiscursivos”, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
O conceito de imaginários sociodiscursivos se apresenta
na Semiolinguística como representações que circulam em
determinado grupo social e que delimitam a construção/
compreensão da realidade pelos sujeitos. Esses imaginários,
partilhados pela sociedade, dão significado ao mundo, a partir
de relações afetivas e racionais de simbolização ancoradas
em dois tipos de saberes: os saberes de conhecimento, que
propõem uma representação racionalizada da existência
do mundo, na tentativa de torná-lo inteligível por meio de
categorizações estabelecidas em relações de semelhanças,
diferenças, hierarquias etc.; e os saberes de crença, criados a
partir da avaliação que se faz do mundo, do olhar subjetivo
que o sujeito lança sobre ele. Trata-se, portanto, das repre-
sentações criadas e veiculadas na sociedade que produzem
valores e justificam ações (individuais e coletivas). Nesse
sentido, relacionam-se diretamente à construção do ethos e
do pathos dos enunciadores.
Como imagem construída de si pelo enunciador em seu
discurso, o ethos se fundamenta nesses imaginários sociodis-
cursivos, pois disso depende sua eficácia. Da perspectiva do
enunciador, essas representações serão elaboradas em função

207
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

da imagem que quer criar; da perspectiva do coenunciador,


são elas que justificam sua adesão (ou não) ao projeto enun-
ciativo. Mesmo antes da tomada da palavra, os imaginários
sociodiscursivos já se manifestam na construção do ethos,
pois é ele que fundamenta a representação prévia que se faz
do enunciador – ethos prévio ou pré-discursivo -, a partir da
qual se constituirá o discurso, no sentido de sua consolidação,
desconstrução ou reelaboração.
Do mesmo modo, são os imaginários sociodiscursivos
que fundamentam o pathos. Como apelo emocional ao
interlocutor, as estratégias patêmicas são instituídas a partir
das representações que determinada sociedade constrói das
emoções. Assim, tópicos como o da dor e da alegria, da angús-
tia e da esperança, do amor e do ódio são discursivamente
construídos e, ao mesmo tempo em que apelam às emoções do
interlocutor, colaboram para o fortalecimento dos imaginários
sociodiscursivos em que se apoiam.

208
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Para a Semiolinguística, o fundamento de um ato de
linguagem não se estabelece na necessidade de se propor
uma descrição do mundo, mas sim na de entrar em contato
com o outro, por meio de uma troca comunicativa que pode
ou não servir para tal fim descritivo.
Se o ato de linguagem se fundamenta na necessidade de
relação com o outro, ele se inicia quando um sujeito, motivado
por um projeto de fala e visando determinados objetivos
comunicacionais, toma a iniciativa da palavra. A esse sujeito é
reservado um espaço de manobra que o possibilita escolher as
estratégias de fala mais apropriadas. A essa aparente liberdade
de escolha, entretanto, sobrepõem-se algumas limitações:
trata-se de um sujeito real, que se orienta em circunstân-
cias materiais específicas, define-se por uma identidade
psicossocial particular (Eu-comunicante) e cujas estraté-
gias são constrangidas por se dirigirem a um outro sujeito
(Tu-interpretante), também possuidor de uma identidade e
intencionalidade definidas. Implicados no ato de linguagem,
esses sujeitos são recobertos, respectivamente, pelas figuras de
um Eu-enunciador, que se dirige a um Tu-destinatário (por

209
MICHELLE GOMES ALONSO DOMINGUEZ

ele idealizado), ambos atores da mise en scène enunciativa. Em


outras palavras, ao entrarem no jogo comunicativo, os seres
sociais (do mundo do fazer) são revestidos de seres da palavra
(mundo do dizer) em função de seus projetos discursivos.
Imbuídos de suas máscaras discursivas, os parceiros do ato
comunicativo se empenham, então, em jogos de linguagem
desenvolvidos em encenação teatral – jogos de linguagem
e de máscaras que se desenrolam dinamicamente, sendo
redefinidos a cada lance/ato, cuja troca de papéis enunciativos
se faz em um jogo intersubjetivo.
A desconstrução do simulacro entre o ser e o parecer da
máscara promove a conjunção dos desdobramentos subjetivos
(Euc/Eue)-(Tui/Tud) ao mesmo tempo que reforça o caráter
interacional da linguagem. Na configuração desses jogos de
máscaras, variadas e variáveis, Charaudeau impõe a relevância
da dimensão da interação social, concebida como construtora
e construída na e pela linguagem.

210
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO
Universidade Federal Fluminense - UFF

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
No final dos anos 1990, já prestes a me formar no curso
de Letras/Português-Literaturas (Bacharelado e Licenciatura)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tive o privilégio
de ser aluna do professor José Carlos Santos de Azeredo.
Instigada por ele, um dos mais brilhantes professores de
Língua Portuguesa da história da Faculdade de Letras da
UFRJ, comecei a me interessar, àquela altura, por perspectivas
da linguística contemporânea cujo objeto maior de preocu-
pação era a atividade discursiva e o texto que a materializa.
Desse interesse, nasceu o desejo de conhecer as vertentes
que, na UFRJ, dedicavam-se aos estudos do discurso, sendo

211
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

uma delas a Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso,


criada, em 1983, pelo pesquisador francês Patrick Charaudeau.
Assim, tendo ingressado, em 1996, no Programa de Pós-
Graduação em Letras (Letras Vernáculas) da UFRJ para
cursar o mestrado, tratei logo de me inscrever na disciplina
intitulada Introdução à Pragmática, ministrada, à época, pela
professora Maria Aparecida Lino Pauliukonis, expoente da
área de Análise do Discurso no Brasil e fundadora, junto com
outros respeitados pesquisadores, do Círculo Interdisciplinar
de Análise do Discurso (CIAD/Rio), sendo eles: Agostinho
Dias Carneiro, Helênio Fonseca de Oliveira e Regina Célia
Cabral Angelim. Das magníficas aulas dadas pela Professora
Aparecida Lino – a quem escolheria como orientadora de
minha dissertação de mestrado e, posteriormente, de minha
tese de doutorado – à paixão por linhas de pesquisa voltadas ao
discurso, percorri um caminho natural em direção à Análise
Semiolinguística do Discurso, introduzida, em 1993, de forma
esplendorosa, no Rio de Janeiro, pelo professor Agostinho
Dias Carneiro, após contatos com o professor Charaudeau
em terras de além-mar. Assim, descortinava-se para mim
todo o arcabouço teórico-metodológico daquela análise do
discurso que passaria a ancorar, primordialmente, minhas
pesquisas acadêmicas.

212
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Esse breve percurso traçado só pôde ser pavimentado


em razão de autores que me serviram de grande fonte de
inspiração, cujo legado encontra-se em escritos dedicados
ao discurso em sentido amplo, como Bakhtin e Benveniste.
Naturalmente, os próprios trabalhos do professor Patrick
Charaudeau, com os quais tive contato logo no início do
mestrado, seja por meio de textos escritos, seja por meio
de palestras e conferências – todos assinalados por uma
inescapável vocação didática – foram (e são até hoje) muito
inspiradores em meu percurso de vida acadêmica. Além disso,
destaco também outros teóricos, cujos escritos e aulas foram
fonte de inspiração para minha filiação à Semiolinguística,
como: Agostinho Dias Carneiro, Helênio Fonseca de Oliveira,
Ida Lucia Machado, José Carlos Santos de Azeredo e, como
não poderia deixar de ser, a professora Maria Aparecida Lino
Pauliukonis.
Gostaria, ainda, de acrescentar que essa minha trajetória
em Semiolinguística continuou a ganhar fôlego por meio das
discussões provenientes das atividades sistemáticas do Grupo
de Pesquisa em Semiolinguística – Leitura, Fruição e Ensino,
liderado pela Professora Beatriz dos Santos Feres e por mim,
e estabelecido no Instituto de Letras da Universidade Federal
Fluminense (UFF) desde 2011. Aliás, à Semiolinguística é
dado especial destaque no Programa de Pós-Graduação em

213
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Estudos da Linguagem da UFF quando, por intermédio de


outra expoente pesquisadora da área, professora Rosane Santos
Mauro Monnerat, é alçada à condição de uma disciplina a
ser ofertada aos pós-graduandos em Letras.
Por fim, deixaria ainda registrado que muitas das ativi-
dades exercidas por mim no campo da Semiolinguística, ao
lado de colegas do Grupo de Pesquisa, ganham circulação em
ambiente digital por meio do site http://semiolinguistica.uff.br.

2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros


impressos ou eletrônicos você destacaria?
Já há alguns anos, tenho enveredado, ao longo de minha
atividade docente no ensino superior, por um duplo itinerá-
rio: o do estudo e análise dos discursos sociais, sobretudo o
midiático, e o da reflexão/proposição sobre/de ações para o
ensino de língua materna na educação básica. Em minhas
produções bibliográficas, essa dupla filiação ora se manifesta
de forma claramente sobreposta, ora apresenta fronteiras
mais bem delimitadas.
No escopo de uma vertente de textos mais voltada à prática
pedagógica, de preocupação mais geral com a necessária
articulação, nas salas de aula, entre categorias de língua e
categorias de discurso para o ensino integrado de leitura,

214
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

produção textual e gramática, destacaria as seguintes pro-


duções mais recentes:
• RIBEIRO, P.F. N. Uma Gramática da Expressão
e do Sentido In: XAVIER, G.; REBELLO, I;
MONNERAT, R. Semiolinguística Aplicada ao
Ensino. São Paulo: Contexto, 2021, v.1, p. 59-78.
• RIBEIRO, P.F.N. Nas malhas da referencia(ção):
tecendo leituras e produzindo textos. In:
VASCONCELOS, A.W.S. Linguística: Linguagem,
línguas naturais e seus discursos. Ponta Grossa:
Atena, 2021, v.1, p. 316-323.
• RIBEIRO, P.F.N. Multimodalidade constitutiva
e estratégias discursivas em práticas de leitura
mediada. Percursos Linguísticos (UFES), v.11, p.279
- 296, 2021.
• RIBEIRO, P.F.N. Práticas de leitura mediada no
ensino básico: entre situações sentidos e formas. In:
DIAS, A.; FERES, B.; ROSÁRIO, I. (orgs.). Leitura
e formação do leitor: cinco estudos e um relato de
experiência. Rio de Janeiro: 7Letras/FAPERJ, 2016.

215
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

• RIBEIRO, Patricia Ferreira Neves. Separando o


joio... do petismo moderado do trigo... da turma
radical: o substantivo em dimensão discursiva.
Revista de Estudos Linguísticos/GEL/USP, v.3, 2014.
Por sua vez, no âmbito de uma vertente de produções
mais inclinada à exploração do discurso midiático, consi-
derando, sobretudo, as estratégias linguístico-enunciativas
de construção de sentido, destacaria, sintetizando minhas
pesquisas, cinco publicações, sendo duas delas em coautoria,
conforme as listadas a seguir:
• FERES, B. S.; RIBEIRO, P. F. N.; MONNERAT, R.
S. M.
Discursos em rede: entre fatos, fotos e ditos. In:
MOURA, J. B.; LOPES. M. Discursos, imagens
e imaginários. São Carlos: Pedro & João Editores,
2021, v.1, p. 73-94.
• FERES, B. S.; REBELLO, I.; RIBEIRO, P. F. N.;
MONNERAT, R. Mimi de mulher em memes:
referenciação, estereotipagem e reenunciação.
Gragoatá. Revista dos Programas de Pós-
Graduação do Instituto de Letras da UFF, v.24, n.
comemorativo, 2019.

216
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

• RIBEIRO, P. F. N. Vozes espelhadas na mídia


impressa: reflexões em torno do dito relatado. In:
GOUVÊA, Lúcia Helena Martins; PAULIUKONIS,
Maria Aparecida Lino (org.) Estudos do discurso:
25 anos do CIAD-Rio. Rio de Janeiro: UFRJ, 2018.
E-book, p.298-341. Disponível em: https://ciadrj.
letras.ufrj.br/wp-content/uploads/2018/10/ebook-
CIAD-RIO-VERS%C3%83O-ATUALIZADA.pdf.
Acesso em: 20 mar 2022.
• RIBEIRO, P. F. N. A circulação de fórmulas
discursivas em livros ilustrados. Desenredo (PPGL/
UPF), v.9, p.416 - 429, 2013.
• RIBEIRO, P. F. N. Estratégias de persuasão e de
sedução na mídia impressa In: PAULIUKONIS,
M. A.L.; GAVAZZI, S. Texto e Discurso: mídia,
literatura e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006,
p. 110-120.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
Para uma breve exposição dos procedimentos metodológi-
cos e das principais categorias analíticas da Semiolinguística,

217
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

um bom ponto de partida, a meu ver, está no reconhecimento


de que, no interior das Ciências da Linguagem, esta teoria
de análise do discurso delineia-se como de feição empíri-
co-dedutiva. Isso decorre do fato de que a Semiolinguística
propõe que se analise a linguagem – aportada em um corpus
de textos relativamente homogêneo e efetivamente produ-
zido em situações reais de comunicação – para que sejam
descortinados os comportamentos linguageiros (verbais e
não verbais) dos sujeitos em interação.
A radiografia das características desses comportamen-
tos, correspondentes a modos de dizer (o “como dizer”), é
feita, à luz da Semiolinguística, com apoio em um modelo
metodológico de análise – bastante didático em minha opi-
nião – que conjuga parâmetros e categorias distribuídos por
três níveis: o situacional, o discursivo e o semiolinguístico.
Assim, recorrendo a essa tripla dimensão, o pesquisador em
Semiolinguística ingressa, em determinado corpus, objeti-
vando, em primeiro lugar, responder à pergunta sobre quais
seriam as condições situacionais para a evocação de certo
comportamento linguageiro. E essas condições seriam
provenientes das identidades dos parceiros das interações
sociais; da finalidade da troca comunicativa; do tema em
jogo; e dos dispositivos materiais utilizados.

218
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Dessa feita, tais condições estariam definidas por um


contrato de comunicação, uma das categorias de análise
centrais da Semiolinguística, que se define como um con-
junto de regras determinantes do que se pode ou não dizer
em dada atividade de produção e de interpretação textual.
Dependente da situação de comunicação que lhe deu origem,
o funcionamento de dado comportamento linguageiro é
examinado, sob a ótica da Semiolinguística, considerando
o quadro de impedimentos e de permissões – espaço de
coerções – advindas do contrato comunicativo em jogo.
Sob esse enquadramento, entretanto, é possível flagrar
traços de determinados comportamentos linguageiros que
podem romper certas condições contratuais, correspondentes
a verdadeiros mecanismos estratégicos. Em Semiolinguística,
as estratégias correspondem a outra categoria de análise
bastante produtiva, sendo definida como as possíveis escolhas
feitas pelos sujeitos no interior de uma encenação linguageira
específica. Ancorado nessas duas categorias analíticas (con-
trato comunicativo e estratégia discursiva), Charaudeau acaba
por delinear uma teoria do discurso que conjuga aspectos
linguísticos e elementos extralinguísticos, num jogo entre
vontades individuais e determinações sócio-históricas.
Retomando, agora, os três níveis propostos para exame de
dado objeto linguageiro em perspectiva semiolinguística, o

219
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

pesquisador assume também o papel daquele que, em segundo


lugar, deve responder à indagação sobre quais seriam os
procedimentos discursivos acionados pelo ato de linguagem
investigado. Nesse caso, o investigador debruça-se sobre o
nível discursivo de análise, correspondente aos procedimentos
de ordem (i) enunciativa, relacionados às distintas posições
dos sujeitos falantes; (ii) enunciva, relativos aos modos de
organização descritivo, narrativo e argumentativo, sob a égide
do enunciativo; e (iii) semântica, correspondentes aos saberes
de conhecimento e de crença que circulam em dimensão
interdiscursiva e intertextual.
De modo amplo, há todo um instrumental teórico-meto-
dológico fundamental à análise semiolinguística do discurso
que ecoa dos procedimentos supracitados. Em estudo voltado
às atitudes enunciativas (i), são chamadas à cena noções
analíticas retomadas da Retórica, como ethos (assumido
como imagem de si na interação verbal) e pathos (tratado
como um efeito visado sobre o interlocutor nas trocas comu-
nicativas); em relação ao enuncivo (ii), os componentes e os
procedimentos de cada lógica e encenação discursiva são
tomados como categorias analíticas bastante frequentes em
análises semiolinguísticas do discurso; relativamente aos
procedimentos de ordem semântica (iii), vislumbra-se o recru-
tamento dos imaginários sociodiscursivos (organizadores dos

220
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

saberes) como outra categoria analítica bastante operacional


em pesquisas em Semiolinguística.
Para finalizar, dialogando com o último nível – o semiolin-
guístico – o pesquisador diante de sua tarefa, sempre curiosa,
propõe-se a responder, em terceiro lugar, à pergunta a respeito
da formalização do texto. Nesta etapa, são examinadas tanto
as permitidas escolhas linguísticas, quanto as estratégicas,
as quais figuram em dimensão macroestrutural, segundo os
modos de organização de que nos servimos para nos comu-
nicarmos, e, em perspectiva microestrutural, de acordo com
o léxico empregado e as estruturas gramaticais selecionadas,
considerando as regras de combinação e os efeitos de sentido
produzidos.
Também desse nível destaca-se, sobretudo, como
categoria analítica bastante operacional na pesquisa em
Semiolinguística, o processo de semiotização do mundo
em sua dupla face: a transação e a transformação. Olhar os
corpora sob essa duplicidade é realizar estudos que articulem a
língua ao discurso, num deslizamento entre as determinações
da negociação comunicativa e as categorias de língua que
as realizam ou as transgridem, por apelo ao emprego de,
por exemplo, vozes verbais, de certos verbos e conectores,
construções proverbiais etc.

221
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Para fechar, ressaltaria, em síntese, que a Teoria


Semiolinguística de Análise do Discurso, sob uma visão
panorâmica de sua metodologia, tem reivindicado uma arti-
culação entre três problemáticas: a comunicativa – em que
a abordagem dos fatos discursivos se dá em nome, sobre-
tudo, das condições contratuais; a representacional – em
que a análise das estratégias discursivas deve remeter aos
imaginários sociodiscursivos que as orientam; e a cognitiva
– em que mecanismos e categorias linguageiras importam
sobremaneira para o desvendamento da articulação entre
condicionamentos sócio-históricos e liberdades individuais.

4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
De maneira singular, o próprio nome que, explicitamente,
batiza a Teoria guarda, segundo minha visão, traços que a
diferenciam de outras correntes teóricas voltadas ao texto/
discurso. O termo “Semiolinguística” evidencia que se trata
de uma análise que se propõe a examinar texto/discurso
em atenção a semioses (Semio-) linguageiras (-linguística)
diversas, as quais configuram diferentes construções textuais/
discursivas. Reconhecendo que, dos múltiplos sistemas semio-
lógicos, são gerados fatos linguageiros fundados numa relação
forma/sentido (sémiosis), a Semiolinguística preocupa-se, de

222
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

modo particular, com as construções de sentido decorrentes


dessa integração.
Além disso, determinados termos segredados na deno-
minação simplificada Semiolinguística acusam outras parti-
cularidades da Teoria na comparação com diferentes estudos
do texto/discurso. Assumindo ser a sua Teoria do Discurso
uma Análise também de dimensão “psico-socio-pragmática”,
o professor Charaudeau esclarece que as formas/sentidos
resultam de operações discursivas gerenciadas por sujeitos
em direção a outros sujeitos, com seus projetos de influência
social, e sobreterminadas por situações contratuais específicas
de comunicação. Assim, trata-se, singularmente, de uma
Análise do Discurso de base comunicacional/interacional,
que busca, de modo efetivo, conhecer o sentido comunicativo
dos fatos linguageiros, em sua relação forma/sentido, quando
selecionados por entidades subjetivas sob a regência de um
contrato comunicativo. Em outros termos, trata-se de uma
Teoria voltada a análises efetivamente discursivas.
Dessa afirmação, penso que podemos explicitar duas
outras preocupações singulares da Semiolinguística. A pri-
meira relaciona-se à abordagem das operações discursivas,
estabelecida, nesta Teoria, com mais atenção às condições
situacionais de produção do que, propriamente, a suas marcas
linguísticas. Dessa feita, a Semiolinguística confere enorme

223
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

importância ao social como instância efetiva de produção (e


não somente de mediação) do linguístico. Nessa direção, é que
Charaudeau afirma, por exemplo, que, ao tratar dos gêneros
pelo filtro do contrato comunicativo, acaba por considerar
suas características discursivas como resultantes das diferentes
situações-contratuais.
A segunda preocupação diz respeito ao papel dos sujeitos
da linguagem. Analisando, prioritariamente, os discursos
sociais (mas não só), semiolinguistas enfatizam a atuação
do sujeito em relação ao discurso que produz, ao social que
o instancia e ao interlocutor inscrito na troca comunicativa.
Desse modo, a instância subjetiva ganha destaque na Teoria,
sendo identificada a uma intencionalidade mais ou menos
consciente e, portanto, concebida como um sujeito, ao mesmo
tempo, coletivo (político-histórico) e individual.
Todo esse quadro descrito para a caracterização de algu-
mas das peculiaridades da Semiolinguística ecoa, a meu ver,
de inquietações precípuas de Charaudeau sobre: (i) o que
seria uma Linguística que nada pudesse explicar sobre os atos
linguageiros e (ii) o que seria uma Semiótica que negasse a
linguagem – em si mesma e através de si – como sua própria
ferramenta de análise.

224
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
Por sua própria designação, a Teoria Semiolinguística
já nasce timbrada como uma Análise do Discurso que se
estabelece em diálogo com outras teorias, como a Semiótica e
a Pragmática, conforme já aludi nesta mesma entrevista. Além
disso, resulta de um potente estreitamento entre, principal-
mente, as ideias fundantes de Bakhtin, Benveniste, Barthes,
Austin, Grice e Searle. Assim, a Semiolinguística, ao assumir
como objeto de análise um conjunto bastante heterogêneo de
discursos sociais, organizados em corpora diversos, põe não
só em diálogo diversas perspectivas teóricas, como também
estabelece rica interface com outros campos do conhecimento,
cujo instrumento principal é o discurso.
O próprio professor Charaudeau, ao propor o exame da
língua em funcionamento, advoga a favor de um estado de
espírito que operacionaliza o que chama de uma “interdis-
ciplinaridade focalizada”. Em outras palavras, ele reconhece
que sua abordagem de estudo, ao mesmo tempo em que deve
manter o rigor de uma disciplina (focalizada), não pode esca-
par de deixar acesa a filiação interdisciplinar dos fenômenos
sociais (interdisciplinaridade).

225
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Entre essas filiações ou interfaces, eu poderia destacar, por


exemplo, para a análise dos discursos das mídias, diálogos
com a Antropologia, a Comunicação Social, a Filosofia e a
Sociologia. Para responder a questões sobre o lugar do discurso
midiático nos espaços socioculturais, a Semiolinguística
alinha-se a pesquisas de cunho filosófico e antropológico;
para investigar os sujeitos em suas ações de produção e inter-
pretação, entra em diálogo com estudos de ordem psicosso-
ciológica. Ainda, em vista do exame dos discursos políticos, a
Semiolinguística coloca-se em interface com estudos advindos
da Psicologia Social e da Retórica Aristotélica, para exploração
dos conceitos de imaginários sociodiscursivos e das categorias
de ethos, pathos e logos, por exemplo.
Se essa vocação para uma positiva plasticidade das bases
teóricas da Semiolinguística parece evidente, também é pos-
sível afirmar que se trata de uma Análise do Discurso de
face bem delimitada. De certa forma, ao responder à questão
anterior, eu mesma já tratei disso. Assim, de modo bastante
sumário, poderia elencar as delimitações deste campo de
investigação, considerando que a abordagem analítica do
discurso de Charaudeau trata dos atos de linguagem situados,
que, gerenciados por atores da comunicação, em uma troca
comunicativa, resultam de encenações linguageiras ativadas
por restrições e estratégias. Dessa ideia resulta a inescapável

226
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

afirmação de que a Semiolinguística é um campo de investiga-


ção bem delimitado em torno da linguagem, tomada como um
veículo social de comunicação. Em outras palavras, trata-se
de uma Teoria, efetivamente, do discurso, delineada sob uma
dimensão comunicacional/interacional que lhe é peculiar.
Como o discurso é o eixo central da pesquisa semiolin-
guística, gostaria, por fim, de mencionar dois aspectos. Ao
mesmo tempo em que a Teoria Semiolinguística se distancia de
uma visão de língua tomada como mero instrumento de (de)
codificação de regras gramaticais e de uso automatizado do
léxico, ancora-se numa evidente base linguística, garantindo,
assim, credibilidade às análises decorrentes.

6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Como mencionei acima, tenho procurado produzir tra-
balhos acadêmicos que estejam em interface com o ensino.
Assim, são pesquisas que buscam promover deslizamentos
entre saberes teóricos e saberes aplicados, levando-se em conta
que tais propostas devem ser sempre adaptadas à realidade
pedagógica de cada espaço escolar, série, contexto etc., não
devendo, pois, ser impostas de modo sistemático e acrítico.

227
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Nessa perspectiva, indicaria dois tipos de contribuição: (i)


aquela advinda dos resultados de trabalhos voltados a uma
compreensão dos discursos sociais e, por consequência, de
um maior entendimento do país em que vivemos na relação
com as forças políticas, econômicas, culturais, midiáticas
etc.; e (ii) aquela resultante de pesquisas feitas para o ensino
de dada prática de linguagem, ora mais relacionada à leitura,
ora à produção textual, ora à análise linguística/semiótica.
Assim, com base nessa distinção, diria que os resultados
de trabalhos meus sobre a (re)enunciação de vozes sociais em
artigos de opinião, notícias jornalísticas, contos ilustrados,
memes e capas de jornal têm tentado contribuir para uma
reflexão sobre a nossa sociedade em termos dos imaginários
sociodiscursivos orientadores de comportamentos lingua-
geiros atinentes a temas como a política nacional, a política
local e o feminino.
Além disso, em relação ao segundo tipo de contribuição,
penso que os resultados alcançados em trabalhos voltados à
produção textual, à leitura e à análise linguística/semiótica
vêm se estabelecendo na tentativa de contribuir para um
ensino de língua cada vez mais contextualizado. Na proposição
de práticas de produção textual que articulem efetivamente
referências – trabalhadas a partir das memórias salientadas
pela Semiolinguística – a estratégias de referenciação – dadas

228
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

no interior da Linguística Textual – sob um modelo de ensino


específico, o da Sequência Didática, minhas pesquisas têm
procurado trazer contribuições para o ensino da produção
escrita na educação básica.
Também, na proposição de práticas de leitura que avan-
cem na relação entre o acionamento de uma tripla compe-
tência da linguagem (situacional, discursiva – incluindo a
semântica – e a semiolinguística) – considerada no seio da
Semiolinguística – frente à interpretação/compreensão de
textos, em atenção aos diferentes níveis de manifestação da
multimodalidade, meus estudos têm desejado contribuir para
o ensino da leitura na escola. Ainda a respeito de trabalhos
circunscritos à leitura, alguns resultados acerca da investiga-
ção sobre roteirizações narrativas jornalísticas entre matérias
afins, tanto em ambiente impresso quanto digital, têm buscado
trazer contribuições para o incremento das dinâmicas de
leitura mediadas nas salas de aula da educação básica.
Por fim, diante da sugestão de atividades voltadas mais
especificamente à análise linguística/semiótica, minhas
pesquisas têm almejado oferecer resultados que atestem a
produtividade de um ensino de língua centrado sobre a tríade
intencionalidade, expressão e sentido.

229
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Penso que esta resposta poderia contemplar avanços da
Semiolinguística, na contemporaneidade, situando-os tanto no
interior dos escritos do próprio professor Patrick Charaudeau,
quanto no escopo das pesquisas realizadas em outros territó-
rios, como o brasileiro. Esse panorama de avanços da pesquisa
em Semiolinguística me permite destacar quatro evidências
que atestam a atualização da Teoria.
A primeira pode ser vislumbrada a propósito do tema da
“compreensão e interpretação”, abordado, detalhadamente,
por Charaudeau em dois textos: um de 1995 e outro de 2017.
De um estudo a outro, o teórico trata de aprofundar suas refle-
xões sobre o mecanismo de construção do sentido no âmbito
das trocas comunicativas, revisando as distinções propostas
para os conceitos de “compreensão e de interpretação”, à luz
da hermenêutica e com base nas diferenças estabelecidas,
precisamente, entre os termos “sentido” e “significação”.
Além disso, ganha fôlego em seu novo texto um processo
multifacetado de inferência e, por seu turno, a atuação dos
sujeitos interpretantes circunscritos a situações-contratuais.
A segunda atualização a que gostaria de aludir faz refe-
rência ao livro Linguagem e discurso: modos de organização,
que remete à tradução, para a língua portuguesa, de partes

230
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

de duas obras de Patrick Charaudeau (Langage et discours e


Grammaire du sens et de l´expression). Esse livro atesta, a meu
ver, um avanço da Teoria no sentido de provar seu ajustamento
à realidade brasileira e, de certa forma, seu abrasileiramento.
Isso porque, não sendo somente uma obra traduzida para o
português, deixa como legado para os leitores da comuni-
dade lusófona uma reflexão acerca de conceitos centrais da
Semiolinguística com base em exemplos extraídos efetiva-
mente da realidade brasileira. Aliás, gostaria de mencionar
que, completando 30 anos de publicação neste ano de 2022, a
Grammaire du sens et de l´expression, lançada em 2019, ganha
nova edição, com revisões e com um novo prefácio do autor.
Como terceira atualização, destacaria algumas das
últimas publicações do Professor Charaudeau que, embora
bastante diversas, assumem o compromisso de se associarem
a temáticas da contemporaneidade, ligadas, por exemplo,
à problematização entre sexismo, discurso, linguagem e
expressão de gênero (La langue n’est pas sexiste: D’une inte-
lligence du discours de féminisation, 2021), à reflexão sobre o
discurso manipulador inscrito em uma sociedade em crise,
considerando atos de linguagem que circulam em largo eixo do
tempo (La manipulation de la vérité. Du triomphe de la néga-
tion aux brouillages de la post-vérité, 2020) e à compreensão
sobre o modo de abordagem da violência verbal, em atenção

231
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

a contextos particulares (em ambiente digital e analógico) em


que se manifestam relações sociais e relações de força que as
permeiam (Reflexões para a análise da violência verbal, 2019).
Por fim, a quarta atualização que julgo conveniente men-
cionar diz respeito aos avanços da Semiolinguística em pesqui-
sas brasileiras. Em cenário nacional, destaca-se a renovação de
eixos teóricos ligados, por exemplo, às instâncias subjetivas,
às semioses não verbais e às relações interdisciplinares. A
propósito, a edição nº 50, intitulada Análise Semiolinguística
do Discurso: concepções e interfaces (2019), da Revista Gragoatá
– Revista dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de
Letras da UFF – traz um bom panorama dessa atualização
em território nacional. Tal renovação ecoa de estudos que
fazem também a Semiolinguística avançar por ser subme-
tida a corpora menos habituais, como o do conto ilustrado,
do aconselhamento religioso, do funk, dos quadrinhos, da
charge, do meme etc.
Para fechar esta resposta, diria que, quanto aos desa-
fios para o futuro, essa é uma questão que aposta, de certa
maneira, em incertezas. Mas acho que, minimamente, duas
direções de pesquisa deverão/poderão ser enfrentadas, cada
vez mais, pela Semiolinguística. No âmbito do tecnodiscurso,
uma direção voltada a corpora de textos nativo digitais, que
estão em circulação nas redes sociais e que colocam questões

232
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

bastante pulsantes, a meu ver, como, por exemplo, aquela sobre


as instâncias subjetivas de construção dos sentidos (do ser
humano à máquina) e as multifacetadas estratégias de desin-
formação. Outra direção volta-se, no espaço das demandas
sociais, a uma articulação que poderá ficar cada vez mais
estreita entre estudos em Semiolinguística centrados sobre
os imaginários sociodiscursivos e os advindos de reflexões
sobre a decolonialidade no âmbito das Epistemologias do Sul.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos na Semiolinguística?
Para aqueles que desejam iniciar seus estudos em
Semiolinguística, segue uma sumária lista de referências
bibliográficas. Entre as publicações a seguir dispostas, há
ótimos estudos introdutórios sobre o tema, como também
excelentes produções vinculadas à multiplicidade de assuntos
explorados pela Teoria.
• CHARAUDEAU, P.; MONNERAT, R. Análise
Semiolinguística do Discurso: concepções e
interfaces. Gragoatá, 24(50), 703-716. 2020. https://
doi.org/10.22409/gragoata.v24i50.40537.
• CHARAUDEAU, P. Linguagem e Discurso: modos
de organização. São Paulo: Contexto, 2008.

233
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

• CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D.


Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo:
Contexto, 2004.
• CHARAUDEAU, P. Uma análise semiolinguística
do texto e do discurso. In: PAULIUKONIS, M. A.
L.; GAVAZZI, S. (orgs.). Da língua ao discurso –
reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna,
2005, p.11-30.
• CHARAUDEAU, P. Uma teoria dos sujeitos da
linguagem. In: MARI, H.; MACHADO, I. L.;
MELLO, R. Análise do discurso: fundamentos e
práticas. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da
UFMG, Núcleo de Análise do Discurso, 2001,
p.10-25.
• FERES, B. S.; MONNERAT, R. (Org.). Análises de
um mundo significado: a visão semiolinguística do
discurso. Niterói: Eduff, 2017.
• FERES, B.S.; MONNERAT; R.; RIBEIRO, P. F. N.
(Org.). Leitura, fruição e ensino: a formação do
leitor em debate. Niterói: SSP Gráfica Editora, 2017.
• GOUVÊA, L. H. M.; PAULIUKONIS, M. A. L.
(org.) Estudos do discurso: 25 anos do CIAD-Rio.
Rio de Janeiro: UFRJ, 2018. E-book, p.298-341.

234
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Disponível em: https://ciadrj.letras.ufrj.br/


wp-content/uploads/2018/10/ebook-CIAD-RIO-
VERS%C3%83O-ATUALIZADA.pdf. Acesso em:
20 mar 2022.
• GOUVÊA, L. H. M.; PAULIUKONIS, M. A. L;
MONNERAT, R. Texto, cotexto e contexto:
processos de apreensão da realidade. In:
MARQUESI, S; PAULIUKONIS, M.A.; ELIAS,
V.M. Linguística Textual e Ensino. São Paulo:
Contexto, 2017. p.49-68.
• MACHADO, I. L. As palavras de uma análise do
discurso. In: LARA, G.M. P.; MACHADO, Ida
Lúcia; EMEDIATO, W. Análises do discurso hoje:
volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008,
p.177-198.
• MACHADO, I. L. Uma teoria de Análise do
Discurso: a Semiolinguística. In: MARI, Hugo;
MACHADO, Ida Lúcia; MELLO, Renato.
Análise do discurso: fundamentos e práticas. Belo
Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, Núcleo
de Análise do Discurso, 2001, p.39-62.

235
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

• XAVIER, G.; REBELLO, I; MONNERAT, R.


Semiolinguística Aplicada ao Ensino. São Paulo:
Contexto, 2021.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Para explicar como se dá essa orientação do contrato
de comunicação sobre as trocas comunicativas, seria válido
recuperar, primeiramente, como essa noção se define em
Semiolinguística: trata-se de um conjunto de condições sob
as quais os atos de linguagem se realizam. Isso significa
dizer que o contrato comunicativo ou situação-contratual
corresponderia a um quadro de referência identificador de
permissões e de restrições impostas aos interagentes, em suas
ações de produção e interpretação de textos.
Dito isso, retomamos a ideia da relação entre contrato
de comunicação e troca comunicativa para destacar que os
interagentes devem estar cientes das autorizações e limitações
contratuais quanto aos seus comportamentos linguageiros.
Essa tomada de consciência é importante para que haja chance
de que o jogo comunicativo (atravessado por muitas expecta-
tivas) entre eles possa se dar efetivamente. Caso contrário, não

236
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

havendo obediência à relação contratual, corre-se o risco de


uma das instâncias subjetivas da troca ver-se negligenciada.
Enfim, essa espécie de acordo prévio (contrato) entre os sujei-
tos da troca comunicativa diz respeito a uma concordância
recíproca quanto às restrições situacionais (externas) e às
restrições discursivas (internas) atinentes a cada contrato
comunicativo.
As restrições situacionais dizem respeito a quatro condi-
ções de enunciação: identidade dos sujeitos da troca; finalidade
contratual; propósito temático; dispositivo comunicacional.
Essas restrições realizam-se discursivamente em três espa-
ços: de locução, isto é, de operacionalização discursiva das
identidades subjetivas; de relação, ou seja, de configuração
discursiva do vínculo entre o locutor e o interlocutor; de
tematização, isto é, de organização dos modos discursivos e
de circulação dos saberes.
Diante do exposto, com vistas a elucidar, brevemente,
como as situações-contratuais orientam as trocas comuni-
cativas, podemos colocar em cena dois exemplos que tocam
no tema da pandemia do novo coronavírus. Frente a uma
notícia de capa de jornal impresso sobre o tema, a troca
comunicativa que se estabelece entre a instância jornalística
e a instância cidadã é orientada por uma relação contratual
baseada numa visada de “fazer saber” sobre o assunto em tela.

237
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Nesse sentido, o jornal põe em cena informações sobre “o


número de mortes provocado pela doença no país”, sobre “as
mudanças na pasta da saúde” e sobre “o atraso na concessão
a auxílio-emergencial”.
Por sua vez, frente a um meme centrado no mesmo tema,
a troca comunicativa passa a ser orientada por um contrato de
comunicação entre as instâncias em interação que privilegia a
visada de “fazer sentir/rir”. Nessa direção, o meme se constrói
por apelo a uma semiose verbo-visual que associa o termo
“pandemia” não a informações sérias sobre a doença, mas a
algo inusitado, a saber: uma “escada lotada de pandas”.
Face à exemplificação apresentada, fica saliente, assim,
que a situação-contratual restringe, por um lado, os com-
portamentos linguageiros dos interlocutores em interação.
Por outro lado, pode lhes oferecer, ao mesmo tempo, uma
margem de manobra para uma atuação linguageira em um
espaço de estratégias mais singulares. Na capa do jornal antes
mencionada, é flagrante o uso de uma estratégia de captação
particular do público-alvo, fundada na finalidade de “fazer”,
agora, a instância cidadã também “rir”. Tal estratégia se cons-
trói com base na atividade lúdica da homonímia estabelecida
entre o título principal “Teich de brincadeira” (em referência à
queda, em menos de um mês, do segundo ministro da saúde,
Nelson Teich, durante a pandemia do novo coronavírus) e

238
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

aquilo que a expressão implicita (“(Es)Tais de brincadeira”)


sob claro quadro de uma cumplicidade humorística travada
entre as instâncias em interação.

10) Como se pode relacionar o conceito de “imaginários


sociodiscursivos”, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Sob um pano de fundo teórico que confere especial relevo
à existência de instâncias subjetivas que, assumindo diferentes
identidades/máscaras no jogo comunicativo, tentam se singu-
larizar, ainda que estejam, em parte, sobredeterminadas por
condicionamentos sociais, a Semiolinguística estabelece, a meu
ver, uma reflexão profícua e original acerca da relação entre
imaginários sociodiscursivos – conceito definido no interior
da própria Teoria – e ethos constituído – noção retomada da
Retórica e debatida, na contemporaneidade, por Charaudeau.
No âmbito do debate proposto em seu Discurso Político,
o teórico parte de um questionamento fundamental para
tratar do entrelaçamento entre a noção que faz referência à
construção de uma imagem de si (ethos) e aquela que salienta
uma organização social e linguageira dos saberes (imaginá-
rios sociodiscursivos). Esse questionamento indaga sobre
se o ethos diria respeito apenas ao sujeito enunciador, em

239
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

sua singularidade, ou poderia resultar também da mobili-


zação de imaginários sociodiscursivos, evocados por uma
coletividade. Para responder a essa indagação, seria preciso
considerar que os atos de linguagem, sendo oriundos de uma
intencionalidade representada pelo enunciador, são resultantes
de um dizer/fazer consciente por parte do sujeito produtor
do fato linguageiro e, ao mesmo tempo, são atravessados
por impactos do inconsciente e do contexto sócio-histórico.
Nesse sentido, é que afirmaria, com segurança, à luz da
Semiolinguística, que a construção de diferentes ethé de enun-
ciadores diversos resulta da fusão de julgamentos cruzados
entre, como postula Charaudeau, “o olhar do outro sobre
aquele que fala” e “o olhar daquele que fala sobre a maneira
como ele pensa que o outro o vê”. Sob esse cruzamento de
olhares, a imagem de si emerge de estratégias do próprio sujeito
que fala, quanto da imagem – fundada em dado imaginário
sociodiscursivo – que lhe é dada pelo interlocutor. Dessa feita,
poderia ressaltar que a eficácia do ethos – como larga estratégia
empregada nas encenações linguageiras para fins de adesão
do público-alvo – funda-se, largamente, na correspondência
estreita entre a imagem de si construída pelo enunciador –
como ser singular – e os imaginários sociodiscursivos que são
evocados pelos interlocutores para determinação da imagem
da instância subjetiva de produção como ser coletivo.

240
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

Para ilustrar essa correspondência que dialoga, afinal,


diretamente, com a pergunta elaborada, podemos rememorar
uma passagem enunciada por conhecido político brasileiro –
diante de instância aliada – sobre uma juíza carioca:

A juíza que fechou a Niemeyer, vocês precisam conhecer


ela [...] Ela tem um site na internet. O site chama ‘togadas
e tatuadas’ (risos). Ela ensina mulheres a se vestir, como
conseguir um namorado. É uma coisa interessante. Aquele
site dela é uma coisa interessante. Muito bem. Eu sou
engenheiro. Já fiz cem obras. Graças a Deus, nunca caiu.
(O Globo Online, 2019).

Da frase enunciada, resulta a percepção do desejo de


projeção de um ethos de credibilidade que emerge da imagem
“competente” de si, a qual o político procura promover (“Já
fiz cem obras”), em detrimento da enunciada para a instân-
cia adversária, que ele intenciona ridicularizar (“Ela ensina
mulheres a se vestir”). E esse jogo de imagens é fiador de
um imaginário sociodiscursivo (coletivo) de naturalização
da misoginia com o qual, inegavelmente, o referido político
compactua.

241
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
Os conceitos assinalados são, em minha concepção, alta-
mente aplicáveis ao estudo do texto e do discurso. Sobre
essa funcionalidade, irei discorrer em seguida, mas não sem
antes retomar, brevemente, o quadro dos sujeitos proposto
por Charaudeau, fundado sobre um modelo constituído por
uma pluralidade de vozes em dimensão social e discursiva.
Filiado a esse posicionamento polifônico sobre a enuncia-
ção, Charaudeau propõe que o sujeito seja desdobrado em um
ser social e em um ser discursivo, que figuram em espaços
distintos: o do fazer e o do dizer, respectivamente. Para ele,
todo ato de linguagem, comandado por circunstâncias sociais,
origina-se, em sua totalidade, de um jogo entre o dito circuito
externo à fala configurada (espaço externo/do fazer) – em que
figuram os sujeitos sociais comunicante e interpretante – e
o circuito interno da fala configurada (espaço interno/ do
dizer) – em que figuram os sujeitos discursivos enunciador
e destinatário.
Assim, o ato de linguagem, não é o resultado nem de
uma única intencionalidade representada por um enunciador
nem de um duplo processo simétrico entre os interagentes,

242
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

tratando-se, pois, de um ato de “coconstrução” de sentido.


Desse modo, sendo o ato de linguagem (texto/discurso) con-
cebido como a conjugação entre um fazer (extralinguístico) e
um dizer (linguístico), deve, pois, ser apreciado/estudado na
relação estabelecida com as identidades e papéis dos sujeitos
sociais e discursivos em articulação. Sob essa perspectiva,
integram concretamente a análise do texto – tomado aqui
como discurso – os traços identitários dos sujeitos sociais e
as vozes enunciativas que ora explicitam, ora escondem seus
posicionamentos; os imaginários sociodiscursivos evocados
em nome das identidades sociais dos sujeitos em interação;
os comportamentos linguageiros/enunciativos produzidos
em resposta às condições de comunicação.
Nessa direção, gostaria de enfatizar que estudos de texto/
discurso feitos segundo essa perspectiva, a dos desdobra-
mentos dos sujeitos em sociais e discursivos, permitem que
o emprego de uma forma linguística e não de outra seja
plenamente compreendido e justificado, uma vez que decor-
rem não apenas de uma reflexão sobre os enunciados em si
mesmos, mas acerca da situação psicossocial determinante
de uma enunciação. Do ajustamento entre intencionalidade
discursiva – flagrada também pelas identidades/papéis dos
sujeitos sociais/discursivos em interação, sob determinado
contrato comunicativo, – expressão linguística e efeitos

243
PATRÍCIA FERREIRA NEVES RIBEIRO

de sentido instaura-se uma análise do discurso, a meu ver,


bastante consistente.
Sem me estender muito, darei um breve exemplo para
elucidar esse último aspecto tratado. Para tanto irei reto-
mar duas frases publicadas por político favorável à política
antivacina do governo federal, salientado que a primeira
fora substituída pela segunda, em plataforma da rede social,
minutos depois de ter sido publicada. São elas: “Nossa arma
agora é a vacina” e “Nossa arma é a vacina”.
Uma análise de texto/discurso que se debruçasse somente
sobre o emprego, em primeiro lugar, e, depois, sobre o apaga-
mento do termo (expressão linguística) “agora” para evidenciar
seu caráter temporal (significado mais imediato) negligenciaria
a produção de sentido atada também à intencionalidade
discursiva. Em contexto de disputas discursivas muito claras,
como o do Brasil da pandemia de covid-19, tanto o uso quanto
o apagamento da expressão linguística “agora” devem ser
lidos com apoio na situação psicossocial determinante da
enunciação.

244
VERÔNICA PALMIRA
SALME DE ARAGÃO
Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte - UERN

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
Minha paixão pela Linguística Textual iniciou em uma
aula da professora Claudia Assad, em um curso de portu-
guês, ainda antes da graduação. Na graduação da UFRJ, o
prof. Mario Martelotta me apresentou à professora Maria
Aparecida Lino, coordenadora do CIAD, porque percebeu
o meu interesse pelos estudos do texto.
O meu primeiro desafio fora participar do II Simpósio
Internacional do Discurso, em 2002, na UFMG, no qual
estiveram presentes Patrick Chraraudeau e Dominique
Maingueneau. Foi uma experiência incrível, a partir da qual

245
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

tive certeza de que era esse o caminho da pesquisa que eu


queria seguir.
A iniciação científica sob orientação da professora Maria
Aparecida Lino me proporcionou a leitura de seus textos e
de outras autoras e autores vinculados ao CIAD (Círculo
Interdisciplinar de Análise do Discurso), coordenado por ela.
O grupo me possibilitou conhecer pesquisadoras e pesquisa-
dores da área, como André Valente, Agostinho Dias Carneiro,
Rosane Monnerat, Sigrid Gavazzi, Angela Correa, Leonor
Werneck dos Santos, entre outros fora do Rio de Janeiro,
como a professora Ida Machado, da UFMG.
Além da pesquisa na graduação, a professora Aparecida
Lino Pauliukonis foi a minha orientadora na Especialização
em Estudo do texto: leitura, escrita e ensino, em 2004, na
UFRJ, na qual tive a oportunidade de cursar disciplinas
com essas professoras e professores que atuam na área da
Semiolinguística, e integram o CIAD.
Em 2005, no mestrado da UFF, tive a oportunidade de
ser orientada pela professora doutora Rosane Monnerat.
Com isso, pude ampliar os meus conhecimentos da Teoria
Semiolinguística, sobretudo, no que diz respeito aos quadros
teóricos sobre compreensão e interpretação. O resultado foi a
dissertação intitulada O não-dito construído pelo viés do humor
nas charges, defendida em 2007, na qual analisei as charges

246
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

de quatro jornais do Rio de Janeiros: O Globo (Caruso), JB


(Ique e Liberati), O Dia (Jaguar e Aroeira) e Extra (Leonardo).
No Doutorado, retornei para a UFRJ, onde fui orientada
pela professora doutora Aparecida Lino Pauliukonis. Abordei
o conceito de ethos, da obra Discurso político, de Patrick
Charaudeau, que me proporcionou pesquisar o que eu desejava
naquele momento: o conceito de ethos. O conceito de “car-
navalização”, do Bakhtin também contribuiu bastante para
a compreensão do universo satírico das charges. O resultado
foi a tese intitulada A construção do ethos da presidente Dilma
Rousseff em charges jornalísticas, defendida em 2013.
O doutorado marcou o início das minhas pesquisas com
gênero, e, cada vez mais, tenho produzido projetos de pesquisa
na UERN (universidade em que leciono desde 2008), voltados
para a reflexão crítica da linguagem, com base na Teoria
Semiolinguística com interface no gênero e raça, como pode
ser observado em minhas última publicações.

2) Quais das suas produções em revistas e/ou livros impres-


sos ou eletrônicos você destacaria?
Dentre as publicações em revistas, destaco, em 2013, ano
em que defendi o doutorado, o artigo “A construção do ethos

247
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

nas charges”, na revista Ecos de linguagem, da UERJ, no qual


são apontados alguns resultados da pesquisa de doutoramento.
Atualmente, publico alguns artigos com estudantes da
graduação e pós-graduação, vinculados ao projeto de pesquisa,
articulado à Teoria Semiolinguística, gênero e raça. Destaco os
seguintes artigos, publicados com a estudante Camila Kayssa
Targino: “Legitimidade e credibilidade nas manifestações de
mulheres em Hollywood e na França” (2019), publicado na
Revista Saridh: Linguagem e discurso, da UFRN; e “Quem é
Marielle Franco? uma proposta de investigação das imagens
construídas pelos discursos midiáticos” (2020), da Revista
Colineares, da pós-graduação da UERN.
A publicação mais recente, de 2021, foi produzida apenas
por mim, e se intitula “Leitura, escrita e análise linguística:
uma proposta interpretativa antirracista”, publicada na Revista
Colineares, da pós-graduação da UERN.
Quanto a publicações de livros, em 2019, eu e Camila
publicamos “Uma investigação dos estereótipos veiculados
pelo discurso midiático sobre a ocupação da mesa do Senado
durante a reforma trabalhista em 2017”, na obra Letras,
Linguística e Artes: Perspectivas Críticas e Teóricas 2, pela
editora Atena, Ponta Grossa.

248
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

Também publicamos um trabalho, no mesmo ano, no


livro Direito e Marxismo: tempos de regresso e a contribuição
marxiana para a Teoria Constitucional e Política, pela editora
Lumen Iuris, no Rio de Janeiro, com o capítulo intitulado
“Uma releitura da ocupação da Mesa do Senado por senadoras:
nas perspectivas de gênero e classe”.
Novas parcerias vão surgindo, com estudantes da gradu-
ação e da pós, apesar do recente ingresso no corpo docente
do mestrado acadêmico. No momento, dois capítulos de livro
foram enviados para serem publicados em livro.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
A Teoria Semiolinguística envolve um suporte teórico-me-
todológico amplo que possibilita a análise dos mais diversos
gêneros, sejam literários ou não, valendo-se da materialidade
da linguagem e do projeto comunicativo do sujeito enunciador.
Um exemplo dessa proposta foi o trabalho de TCC, sobre
reescrita, da aluna Beatriz Lucena, em 2021, intitulado O
processo de reescrita do conto ´Maria´, de Conceição Evaristo:
uma proposta de sequência didática com base no letramento
crítico. No mesmo ano, a aluna Suzana Hilda pesquisou os

249
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

anafóricos, visando à descrição do conceito de indenização


dos países africanos colonizados, com o TCC, intitulado:
Contribuições dos processos referenciais para a abordagem
antirracista. Em ambos, propõe-se uma interface entre a
linguística textual e o feminismo negro e decolonial.
São propostas que também vem se efetivando no mes-
trado (profissional e acadêmico), em que as pesquisas unem
a linguística da língua com a linguística do discurso, visando
problematizar diferentes temas e gêneros discursivos (contos,
notícias, obras etc.). Para isso, são consideradas as práticas
sociais que envolvem credibilidade e legitimidade de diferentes
sujeitos do discurso, bem como os diferentes contratos comu-
nicativos e os projetos de influência do sujeito que enuncia.
No ano de 2021, o discente José Adjane Magalhães Holanda
defendeu a dissertação no Profletras/UERN, intitulada Uma
proposta didática de empoderamento: o contrato comunicativo
na obra infantil Amoras, do Emicida, que analisou o projeto
comunicativo do autor, com base na descrição do contrato
comunicativo, estabelecido na obra infantil. O discente aborda
a Teoria Semiolinguística, e o feminismo negro para tratar
de empoderamento de crianças (mulheres) negras.
Três mulheres do mestrado profissional defenderam, sob
minha orientação, essas temáticas, de gênero e raça, porém
sem a Teoria Semiolinguística. A primeira delas foi Maria

250
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

da Anuciação Brito Siebra, com dissertação intitulada O


gênero tira na perspectiva do letramento visual crítico, de
2019. Em 2020, orientei Ana Cristina Nogueira Marques,
com dissertação intitulada “Gênero na escola: uma prática
reflexiva para o letramento crítico”, e Janiele Alves da Silva,
com dissertação intitulada O ensino de língua portuguesa
com o rap à luz do letramento crítico.
Na iniciação científica da UERN, trabalho com a Teoria
Semiolinguística desde 2009, sempre observando personali-
dades políticas, sobretudo, mulheres, nos discursos midiáti-
cos. Nesse sentido, há diversas publicações em que a Teoria
Semiolinguística é abordada, juntamente, com discussões
feministas, algumas advindas do feminismo negro e deco-
lonial. Muitas delas foram publicadas em revistas e e-books,
bem como nos anais do Salão Pibic UERN.

4) Quais são as preocupações específicas da semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
Na minha concepção, a Teoria Semiolinguística nos faz
pensar sobre as problemáticas que advém de fenômenos
comunicativos, que são importantes fontes de informação,
sejam no âmbito da linguística ou da literatura. Nesse sentido,
a Teoria contribui não apenas para o domínio dos elementos

251
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

gramaticais, mas desperta o olhar crítico sobre o seu uso


como uma estratégia discursiva, capaz de persuadir ou apenas
seduzir o interlocutor.
Portanto, a análise do discurso oferece uma metodologia
que possibilita o reconhecimento dos projetos comunicativos
que norteiam os discursos, com o fim em alguma intencio-
nalidade, e construídos por sujeitos que nem sempre são
perceptíveis aos olhos. Nesse sentido, o conceito de contrato
comunicativo permite um olhar amplo dos fenômenos lin-
guístico-discursivos, porque possibilita uma reflexão sobre
os sujeitos visíveis e invisíveis aos discursos difundidos.
Esses conceitos basilares, quando associados a outros,
como os modos de organização do discurso, imaginários
sociais, discurso midiático e político possibilitam a ampliação
das pesquisas, como, por exemplo, por meio da abordagem
do conceito de ethos. Trata-se de um conceito que possibilita
a identificação da imagem discursiva por enunciadores sobre
sujeitos com intencionalidades. Foi a pesquisa que realizei
no doutorado sobre a ex-presidenta Dilma Rousseff, mas
também analiso outras mulheres de atuação política, como
a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que
são apresentadas pelos discursos midiáticos em diferentes
contextos.

252
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

É importante refletir sobre a baixa participação das


mulheres nos cargos parlamentares do Brasil. Mesmo com a
criação de cotas para as mulheres, o Brasil ainda está longe de
atingir a igualdade de participação entre homens e mulheres
nos parlamentos. Biroli e Miguel (2014, p. 12) ressaltam que:

[...] a decisão sobre leis e políticas que afetam diretamente


as mulheres é feita no Brasil, ainda hoje e como foi ao
longo de toda a nossa história, por homens. O sentido
dessa discrepância entre influência política e presença
na sociedade – as mulheres são, afinal, pouco mais de
50% da população – é um tema prioritário para a teoria
política feminista.

Após a morte da vereadora Marielle Franco, a presença


de mulheres candidatas aumentou, apesar ainda da presença
incipiente. O Brasil tem 15% de mulheres no parlamento,
enquanto no Afeganistão essa representatividade chega a 27%.
Na América Latina, o Brasil só fica atrás do Paraguai e Haiti,
conforme aponta o Portal da Câmara dos Deputados (2022).

253
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da semiolinguística?
As minhas pesquisas, sejam na graduação com a orienta-
ção de iniciação científica e TCC, ou no mestrado acadêmico
e profissional, têm por base a Teoria Semiolinguística, mas,
muitas vezes, explicita apenas o viés linguístico, semântico,
textual ou discursivo.
Além dessas interfaces, a preocupação com o ensino é pre-
sente nas pesquisas, que vê o aprendizado como um processo
importante para a autonomia e crítica, harmonizando-se com
a pedagogia da libertação, de Paulo Freire. Também considero
importante o desenvolvimento da crítica em relação aos
discursos midiáticos, políticos, humorísticos etc.
Na minha concepção, Teoria Semiolinguística, feminismo
negro e decolonial são ferramentas importantes na constitui-
ção de leituras críticas e um olhar atento aos discursos, por-
tanto, são contribuições para o ensino de língua portuguesa,
sobretudo, quando aliadas à aplicação de sequências didáticas.
A experiência demonstra o sucesso que é a construção con-
junta de um projeto em sala de aula. Professores e estudantes
constroem juntos os objetos de estudo, bem como os objetivos
do que se quer alcançar, com isso tornam o ensino motivador

254
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

e proporcionam autonomia à (o) s estudantes, contribuindo


ainda para o trabalho conjunto.

6) Do ponto de vista de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
A minha experiência no Profletras possibilitou algumas
pesquisas voltadas para a aplicação de sequências didáticas,
com base em teorias e metodologias distintas. O trabalho
com tiras, do Armandinho, um conto, de Paulina Chiziane,
e o rap em sala de aula, possibilitou a aplicação de sequên-
cias didáticas com resultados muito positivos em termos de
motivação, participação e produção de estudantes do ensino
fundamental.
Os últimos trabalhos não foram aplicados, devido à
disseminação da covid-19, contudo foram defendidas duas
dissertações em 2021, voltadas para a produção de material
didático sobre os gêneros infográfico e literatura infantil. A
última baseou-se nos conceitos de “projeto de influência”
e “contrato comunicativo”, de Charaudeau, para analisar a
proposta de empoderamento na obra “Amora”, do Emicida.
Dessa forma, buscou-se contribuir para um ensino-crítico que
leve para a sala de aula a reflexão-crítica de valores atribuídos
a pessoas de cor e empoderamento de crianças negras.

255
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

Em 2022, estou com duas orientandas (do mestrado acadê-


mico) e um orientando (do mestrado profissional). Pelo menos
uma delas quer trabalhar com a Teoria Semiolinguística,
com base no conceito de modo enunciativo do discurso para
analisar HQ sobre Angela Davis. A outra quer trabalhar com
a gramática do design visual e o último, com semântica.
Em todos eles, há a relação entre elementos linguístico-dis-
cursivos e a compreensão de um fenômeno social, seja ele o
reconhecimento de uma personagem negra e feminista, ou a
compreensão da narrativa sobre Angela Davis e a abordagem
da semântica nos livros didáticos do EF.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Os avanços que vejo são as contribuições para as diversas
áreas de estudo, como a literatura, a análise do discurso, o
ensino de língua portuguesa, possibilitando o diálogo inter-
disciplinar, como no meu caso com os feminismos (negro,
decolonial e interseccional) e a pedagogia de Paulo Freire.
Em 2017, participei de uma banca de doutorado na UFC,
orientado pela professora Mônica Cavalcante, em que a autora,
Francisca Tarciclê Pontes Rodrigues, analisou diálogos entre

256
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

Charaudeau e Foucault na tese A argumentação no discurso


científico de pesquisadores da Linguística, na UFC.
Acredito que o desafio seja ampliar o diálogo entre dife-
rentes pressupostos teóricos e a Teoria Semiolinguística, com
isso contribuir para a compreensão e interpretação crítica de
textos. Esse percurso teórico-metodológico também favorece
o ensino de escrita e leitura, tendo em vista a consciência do
uso da língua como um contrato comunicativo, voltado para
um projeto de influência.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos de semiolinguística?
Considero como textos basilares para a compreensão das
ideias de Charaudeau:
i. Artigo de Charaudeau (2005), na obra Da língua ao
discurso: reflexões para o ensino, organizado pelas
profas. Aparecida Lino Pauliukonis e Sigrid Gavazzi;
ii. Artigo de Charaudeau (1996), na obra O Discurso
da mídia, organizado por Agostinho Dias Carneiro
(1996); e
iii. a obra O contrato de comunicação da literatura infantil
e juvenil, da Ieda Oliveira.(2003)

257
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

Além dessas, utilizo o artigo “Diga-me qual o teu corpus


que te direi tua problemática”, no site de Charaudeau. Com a
atuação no mestrado acadêmico, tenho ampliado o trabalho
para o estudo dos modos de organização do discurso, com
iv. a obra Linguagem e discurso: modos de organização,
Discurso das mídias, devido à disciplina sobre o
discurso midiático e
v. Discurso político, que será tema da seleção da (o)
s estudantes, no programa de pós-graduação em
estudos da linguagem, UERN, em 2022.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
O conceito de contrato comunicativo revela a troca comu-
nicativa por explicitar como se relacionam espaços externo e
interno da linguagem, engendrados nos sujeitos desse ato, de
acordo com as condições de sua produção. Nesse sentido, os
distintos sujeitos externos, bem como internos, possibilitam
analisar de maneira crítica a cointencionalidade, presente
nesses atos, e, com base nisso, possíveis significações.
Outros sujeitos internos ou externos aos atos de linguagem
também são previstos no contrato comunicativo, portanto

258
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

cada ato de linguagem exige o exame do ato de linguagem e


a análise dos componentes que regulam esse contrato, sendo
capaz de revelar a complexidade desses atos, dependendo da
situação, dos participantes, da intencionalidade, dos modos
de organização do discurso, das seleções linguísticas. Trata-se
de um conceito que possibilita uma análise ampla dos fenô-
menos da linguagem, visando à percepção dos processos de
construção dos sentidos.

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e ou pathos dos enunciadores?
Ao tratar dos imaginários sociais, Charaudeau (2015)
discorre sobre os valores impostos pela sociedade, em função
da identidade e crenças dos participantes do ato comunicativo.
Nesse sentido, a abordagem dos fenômenos de legitimidade
e credibilidade possibilitam a inter-relação entre os aspectos
linguísticos e discursivos, contudo, dependendo do espaço
de interação, como no caso do político, há posturas visadas
pelo sujeito enunciador que caracterizam distintos ethos em
função do pathos visado.
O ethos é construído de acordo com esses imaginários
sociodiscursivos, resultantes de uma prática social, difundida

259
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

culturalmente, portanto são conceitos intimamente


relacionados, que contribuem para uma visão crítica, sobretudo
do discurso político, como propôs Charaudeau. Na minha
tese de doutoramento, destaquei o ethos de gênero, atribuído
à presidenta Dilma Rousseff em charges jornalísticas. Essa
prática social, presente nas charges, revelou um imaginário
social ainda repleto de manifestações machistas em nossa
sociedade.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
A importância de se considerar os diferentes sujeitos de
um ato enunciativo está na passagem do nível da compre-
ensão para o nível da interpretação do ato comunicativo,
pois interrelacionar esses elementos amplia a visão do texto,
enxergando-o como discurso. Trata-se da sistemática entre
os sujeitos reais e enunciativos, que se desdobra em diferen-
tes sujeitos, presentes em distintas instâncias enunciativas:
enunciado e enunciação. Por exemplo, no discurso midiático,
é interessante verificar marcas de um projeto comunicativo
que caracterizam diferentes suportes, como jornais, redes
sociais, sites, impressos etc. Entretanto, cada espaço desse

260
VERÔNICA PALMIRA SALME DE ARAGÃO

proporcional um tipo de interação específico, o que interfere


na informatividade e outros aspectos da linguagem, depen-
dendo dos sujeitos enunciadores.

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graduação em Linguística, 2017.

Portal da Câmara. Especialistas lamentam baixa representatividade


feminina na política. Disponível em: https://www.camara.leg.br/
noticias/800827-especialistas-lamentam-baixa-representatividade-
feminina-na-politica/. Acesso em: mar 2022.

263
WILLIAM AUGUSTO MENEZES
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais


autores lhes serviram de inspiração?
O meu primeiro contato com a Semiolinguística foi
na metade dos anos 1990. No período (1995), a Professora
Ida Lúcia Machado acabara de organizar dois Cadernos
de Pesquisa, pelo NAPq - Letras, sob o título Analisando
Discursos (nº 26, 1ª. Parte e nº 28, 2ª. Parte), contendo capítulos
sobre a Semiolinguística, escritos por docentes e estudantes
pesquisadores do grupo de AD. Este grupo já mantinha um
funcionamento regular, como Núcleo de Análise do Discurso
(NAD-UFMG), realizando reuniões de pesquisa e palestras
periódicas. Creio que aquele foi um momento inaugural da
apresentação pública, quando, também, acabara de ser apro-
vado um grande projeto internacional CAPES-COFECUB,

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

entre a UFMG e a Universidade de Paris XIII, sob a coorde-


nação da Professora Ida e do Prof. Patrick Charaudeau. Para
se ter uma ideia sobre a dedicação e entusiasmo acadêmico
entre os participantes, nos referidos Cadernos de Pesquisa os
artigos eram, predominantemente, em língua portuguesa, mas
também havia escrita em língua francesa - o que demonstrava
a busca por interlocução interinstitucional.
Eu havia concluído a graduação em História. Durante o
curso, me aproximei de abordagens que percebiam o discurso
enquanto objeto de trabalho do historiador, como sinalizou
o linguista J.-C. Chevalier (1976). Por outro lado, fazia, tam-
bém, leituras que percebiam o acontecimento como objeto
da Análise do Discurso. Havia lido, por exemplo, Terra à
Vista, da Professora E. Orlandi (1990) - que me tocou pro-
fundamente sobre a maneira de ler textos do passado. Eram
descobertas que me deixavam bastante empolgado... e, em
dúvida: Afinal, por onde seria possível continuar a minha
formação? O que fazer?
Foi nesse contexto que recebi um gentil convite da
Professora Ida para conhecer o grupo de Análise do Discurso
e a teoria Semiolinguística. Na ocasião, a querida “mestra”,
na melhor acepção da palavra, recomendou que eu fizesse
a leitura de três textos introdutórios: A Semiolinguística de
Patrick Charaudeau – uma interessante opção de análise do

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

discurso e A análise do discurso da “2ª geração”, com ênfase


para a Semiolinguística, e Des conditions de la mise en scène
du langage.
Tais leituras foram fundamentais no contato com a teoria
e aconteceram em um momento muito oportuno: próximo
à visita do Prof. Charaudeau, que esteve na UFMG, em sua
primeira missão do Convênio CAPES/COFECUB. Assisti à
sua palestra de apresentação da teoria, proferida de maneira
bastante didática e com um conteúdo encantador. Além disso,
na medida em que a conversação com a Professora Ida foi
evoluindo, ela colocou à minha disposição, como empréstimo,
um conjunto de outros artigos e obras da Semiolinguística –
inclusive, publicações de parceiros do CAD – FR e de docentes
vinculados ao CIAD – RIO.
Outro docente pesquisador que teve forte influência neste
processo foi o Prof. Hugo Mari. No início da década de 1990,
ele havia publicado, também, um interessante Caderno de
Pesquisa, pelo NAPq - Letras, intitulado “Os lugares do
Sentido”, cuja proposição central, em uma construção que
considera aportes da pragmática e da semânntica enuncia-
tiva, é que o sentido se articula a partir de três dimensões: o
sistema linguístico, a história e o sujeito. O estudo sistemá-
tico deste Caderno e outras publicações afins foi bastante
proveitoso. Ele possibilitou, ainda, o estabelecimento de um

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

amplo cronograma de trabalho (leitura e comentários) que


passou por capítulos da Por uma Análise Automática do
Discurso (M. Pêcheux, Cap. III-VII) e de História e Linguística
(R. Robin, 1975), por temas da pragmática e da linguística
da enunciação, bem como por artigos da semiolinguística,
como “Uma Teoria dos Sujeitos da Linguagem”, publicado
pelo NAD-UFMG. Todo este rico processo contribuiu, sem
dúvida, para uma decisão mais segura sobre o caminho que
seguiria em minha formação, com a entrada para o cenário
de Letras, principalmente, em áreas do discurso e produção
do sentido.

2) Quais das suas produções em revistas e/ou livros impres-


sos ou eletrônicos você destacaria?
Hoje, eu destacaria duas publicações. A primeira seria
Discours et action du parti d’extreme droite au Brèsil dans l’ère
Vargas: stratègies identitaires et rumeur politique. Trata-se
de um trabalho com corpus coletado a partir de registros
da historiografia sobre acontecimentos políticos no Brasil,
durante a década de 1930. O pano de fundo são as tramas
político-discursivas no período Vargas, com foco no discurso
e no imaginário mobilizado pelo integralismo, diante do
nazismo, do fascismo, da democracia e do comunismo. Há um
interesse, sobretudo, no acontecimento discursivo relatório

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

Plano Cohen e na sua construção imaginária pelo Serviço


Secreto do Partido Integralista, por políticos e parte da mídia,
como elemento “desestabilizador da democracia”, do ponto
de vista das práticas sociais e, sobretudo, discursivas – que
são aquelas que nos interessa analisar. Em meu entendi-
mento, desde esse episódio de rumor político e a instalação
da ditadura do Estado Novo, em 1937, o imaginário social
mobilizado pelo Plano Cohen parece se constituir como
memória discursiva da extrema direita no Brasil – algo em
torno de uma “permanente e necessária guerra contra o
(fantasma do) comunismo”. Essa memória esteve fortemente
representada, por exemplo, no golpe civil-militar que resultou
na Ditadura, entre 1964 e 1985; esteve presente, embora de
maneira mais discreta em 2014-2015, e se encontra bastante
recursiva no imaginário sociodiscursivo, desde 2018.
A segunda publicação tem por título Persuasão e repre-
sentações da memória em reencenações de lendas marianen-
ses. É uma publicação que integra o período mais recente
de pesquisa, marcado pela análise do discurso no campo
do patrimônio cultural – parte do trabalho com acervos
de textos escritos e orais (como lendas, contos populares,
arquivos regionais, memórias, crônicas e narrativas de vida),
produzidos na Região dos Inconfidentes, junto a indivíduos

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

que compõem um grupo especificado como “Guardiães da


memória regional”.
No caso deste artigo, realizo a análise de um corpus que
contém três entrevistas narrativas, com sujeitos distintos: um
Professor, uma Trabalhadora Doméstica e um Minerador
aposentado – envolvidos em atividades da Associação Cultural
Osquindô, em Mariana (MG). O objeto de estudo privilegiou o
conhecimento sobre as estratégias utilizadas por esses sujeitos
na contação de uma lenda, Maria Sabão – muito presente no
imaginário regional. Assim, a questão recortada nas entre-
vistas foi: “como você conta a lenda Maria Sabão”?
No exame do corpus, percebi que cada entrevistado, ao
dizer como contava a lenda, não apenas narra trechos da
sua contação, como também entremeia a lenda com partes
da sua história de vida, ou seja, a narrativa de vida dos nar-
radores se fazia presente na contação, de maneira relevante.
Observei, sobretudo, como eram evidentes as relações entre
o fazer profissional (mundo do trabalho) e o pano de fundo
da lenda que se contava – o que fazia com que cada um dos
narradores mobilizasse aspectos cognitivos e subjetividades
patêmicas (afetos sociais, inseguranças e angústias) viven-
ciadas no ambiente imediato da sua sobrevivência, levando
a uma espécie de abertura da lenda para caber, também, a
narratividade de vida do sujeito narrador. Com isso, parece

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

possível afirmar que, para aqueles narradores, a reencenação


era também um ato de fusão corpórea entre a sua narrativa
de vida e a do próprio mundo da lenda.

3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais


são os seus procedimentos metodológicos e suas principais
categorias analíticas?
A pesquisa que realizo tem se dirigido, quase sempre,
para o discurso político e para o discurso do patrimônio
cultural. No primeiro caso, ela tem priorizado uma abordagem
orientada para o modo argumentativo e, no segundo caso,
para o narrativo. Para facilitar a interlocução, procurarei dar
uma resposta com foco no discurso político.
Antes de mais nada, é importante realçar que a primeira
orientação metodológica se volta para que a análise se realize
com o exame de um corpus, constituído em uma situação
concreta de realização. Esse corpus, em meu trabalho sobre o
discurso político, tem sido recolhido como parte do discurso
da mídia impressa e/ou da mídia digital (jornais e revistas)
ou do discurso histórico (bibliográfico e biobibliográfico), ou
da mídia televisiva (Telejornais, debates e entrevistas) e, por
vezes, como material publicado, diretamente, por candidatos
e partidos.

270
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

A coleta do corpus se orienta para uma pesquisa que


contempla o exame contrastivo. Considerando, por exemplo,
um corpus do discurso político de campanha eleitoral, posso
pensar no exame de dados de uma declaração do candidato
A, em contraste com uma declaração do candidato concor-
rente B, sobre o mesmo tema. A contrastividade permite
o desenvolvimento de diversas iniciativas de exame, que
favorecem um vasto repertório na descrição de dados (como
as aproximações e as diferenças nas diversas estratégias) que
podem ser agrupados em uma planilha ou grade, de acordo
com os objetivos da pesquisa. Na medida em que o corpus é
resultado de uma situação determinada, a análise favorece
um movimento entre o geral e o específico e o contrário (a
“declaração”, por exemplo, equivale a um dizer, como variante
de gênero: um ato discursivo próprio do nível discursivo,
que resulta, no caso, do gênero situacional discurso político).
Essa dinâmica favorece o entendimento sobre o que é
próprio da situação de comunicação, espaço social, em que se
encontram o sujeito comunicante – EUc e o sujeito interpre-
tante – TUi, e o que diz respeito ao nível discursivo, espaço
do sujeito enunciador – Eue e do sujeito destinatário – TUd,
que se encontram no plano do dizer. Favorece, enfim, as
percepções em torno da Situação Geral de Comunicação e da
Situação Específica de Comunicação e, consequentemente,

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

das restrições e instruções discursivas do Contrato de


Comunicação, bem como as estratégias discursivas e o modo
de organização discursivo.
Em minha trajetória de pesquisa com o discurso político,
tenho centrado as atenções, sobretudo nas três dimensões
das estratégias: as estratégias de legitimação – que permitem
observar a autoridade do sujeito - que se mostra, por vezes,
como constituinte de um ethos de identidade. As estratégias
de credibilidade – ambiente especificamente apropriado
para orientações discursivas da persuasão, nas quais se dão,
também, a constituição de imagens de si, como ethos de
credibilidade. E, por fim, as estratégias de captação – ambiente
voltado para a colocação em cena de imagens que propiciam
a sedução, nas quais o sujeito falante constitui o seu discurso
para tocar o emocional, as paixões e afetos da instância de
interpretação – o que é realizado por meio de uma enunciação
dramatizante.
No modo argumentativo, tenho buscado perceber a arti-
culação dos procedimentos da encenação discursiva, com a
possibilidade de provar a validade de uma argumentação.
Estes procedimentos podem ser semânticos – que se relacio-
nam a valores nos domínios de avaliação (estético, hedônico,
ético, da verdade e pragmático); podem ser discursivos, que
se baseiam no uso de categorias linguísticas (da definição,

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

citação, descrição, comparação, narrativa, questionamento); e


podem ser de composição – que correspondem à organização
textual (composição linear e composição classificatória). A
escolha sobre qual classe de procedimentos devo analisar,
depende, geralmente, do corpus e dos objetivos da análise.

4) Quais são as preocupações específicas da semiolinguística


que a diferenciam de outras teorias do texto?
A meu ver, existem três preocupações importantes, que
são rearticuladas no campo da semiolinguística: a) o problema
da abrangência; b) a ruptura com uma visão determinista do
sujeito e essencialista do discurso; c) a visão como teoria em
constante processo de constituição.
A Semiolinguística tem obtido sucesso como teoria que se
propõe a ter abrangência suficiente para dar conta da discur-
sividade que circula na sociedade. Creio que esse sucesso se
torna possível, em parte, pelo entendimento de que a dimensão
externa e a dimensão interna da linguagem são partes de um
mesmo processo de comunicação – o que tem favorecido a
aproximação de pesquisadores dos vários campos de estudos,
interessados na pesquisa interdisciplinar.
A elaboração de uma teoria dos sujeitos, que rompe com o
determinismo social, parece ser outra diferença importante.

273
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

Na verdade, tanto na teoria quanto na prática de análise, a


semiolinguística demonstra que há, sim, um espaço de restri-
ções. Porém, este corresponde ao nível situacional da relação
discursiva, em que os sujeitos se colocam como parceiros No
entanto, ao aceitarem participar da relação, com observância
das restrições, mas com uma expectativa de sucesso ao seu
final, abrem-se as possibilidades de jogar com os dados e o
espaço de liberdade na elaboração de estratégias.
A terceira questão é quanto ao processo criativo da teoria.
Neste aspecto, costumo situar a semiolinguística como uma
teoria crítica e em constante processo de constituição. A meu
ver, ela é crítica na medida em que o analista é conclamado
a examinar o situacional e o discursivo, em uma atividade
que é, necessariamente, interdisciplinar, descritiva e inter-
pretativa. Por outro lado, há sempre algo novo na teoria,
como se pode observar pela abrangência da produtividade
que tem propiciado, a partir de Patrick Charaudeau (que
tem nos brindado, constantemente, com a ampliação da
pesquisa; como a abordagem recente, que se direciona para
problemáticas da pós-verdade; discursos de ódio e novos
cenários do discurso político).
Do ponto de vista das produções brasileiras, o mesmo
pode ser dito: a produção no campo da semiolinguística vem
sempre apresentando novidades, com permanente ampliação

274
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

das abordagens (por exemplo, para temas “quentes” da dis-


cursividade). Ela tem privilegiado, também, a emergência de
novos estudos (como o campo do patrimônio cultural) e a
constituição de novos objetos teóricos (a ironia, a paródia, a
narrativa de vida, etc.). Isso nos deixa sempre animados para
o desafio da novidade, em um bom cenário de pesquisas.

5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos


e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar
delimitações bem como interfaces da Semiolinguística?
Penso que a semiolinguística, como teoria de análise do
discurso que se volta para a dimensão psicossocial do ato
de linguagem ou como teoria sócio-comunicativa, possui
interfaces com, pelo menos, toda a área das ciências humanas
e sociais. É importante, então, que ela articule os seus pontos
de contato com as subáreas e se coloque como impulsionadora
das possibilidades de descrição e interpretação de questões
e objetos nestas áreas, quando for o caso, tendo bastante
clareza de que tais questões e objetos são aqueles que dizem
respeito ao discurso.
Uma ilustração dessa interdisciplinaridade e do cuidado
que se deve ter em relação ao trabalho conceitual se deu, pela

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

semiolinguística, no caso dos imaginários sociodiscursivos.


Como relata P. Charaudeau, isto se deu em um trabalho
amplo, que se desenvolveu no contato interdisciplinar em
movimentos teóricos que passaram pela noção de imaginários,
de saberes de crença e de conhecimento, representações sociais,
imaginários sociais e imaginários discursivos, chegando,
finalmente, aos imaginários sociodiscursivos.
Uma ilustração pessoal, que pode ser interessante, faz
parte da atividade no campo do patrimônio cultural e diz
respeito ao trabalho com a memória. Pela novidade na estru-
turação do campo, amplitude e diversidade na sua composição
(arqueólogos, historiadores, artistas, arquitetos, engenheiros,
museólogos etc.) e pelas relações interdisciplinares presentes,
é comum a presença de um conjunto amplo de noções sobre a
memória (memória social, cultural, biológica etc.). Sem desco-
nhecer essa realidade e a legitimidade das diversas subáreas,
a clareza da abordagem semiolinguística volta-se para outra
dimensão, que é o discurso, ou seja, o que nos mobiliza e nos
interessa é memória discursiva – envolvendo a memória de
signos, a memória de situações de comunicação e a memória
de discursos. Nas relações com os saberes internos no campo,
é preciso, muitas vezes, um trabalho de adequação e adaptação
nas elaborações em interface, nas subáreas diversas, a fim de
se chegar ao “discursivo”.

276
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

6) Do ponto de vista de seus trabalhos, seria possível indicar


contribuições para o ensino?
Em Lingua(gem), texto e discurso – entre a reflexão e a
prática (2006), há um capítulo de minha autoria, intitulado
“Estratégias discursivas e argumentação”, que se aproxima
dessa demanda. É um trabalho com foco em estratégias
argumentativas “mais brandas”, que se dão com o uso de
instrumentos linguísticos e encenação próprios dos modos
de organização descritivo e narrativo, agenciados como pro-
cedimento discursivo argumentativo. Trata-se, no caso, de
uma escrita relacionada à Semiolinguística em uma prática de
ensino (na disciplina Análise do Discurso), como proposta que
nasceu de um item programático da disciplina e cujo objeto foi
escolhido entre os alunos participantes. Não chega a ser algo
dirigido especificamente para o ensino (com recomendações
e exercícios, por exemplo), mas é a síntese de uma prática
possível (mesmo que ilustrativa), diante do conjunto teórico.

7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-


dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Eu destacaria alguns aspectos em duas das últimas publi-
cações de Patrick, que, a meu ver, são muito significativas.
A primeira, já traduzida para o português, sob o título A

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

conquista da opinião pública – como o discurso manipula


as escolhas políticas; a segunda, na edição francesa, tem
por título La manipulation de la veríté – Du triomphe de la
négation aux brouillages de la post-vérité. São obras que se
voltam para fenômenos presentes no discurso das mídias e
no discurso político. Porém, como os domínios discursivos
não são completamente autônomos na sociedade, o autor vai
muito além do repertório discursivo midiático e do repertório
político, com uma abordagem interdisciplinar que se volta para
filosofia, a psicologia, a sociologia, a história, a comunicação
e chega às ciências políticas, com uma segurança que se torna
um belo símbolo de ousadia teórica.
Em minha opinião, são obras que contêm contribuições
muito importantes para o tratamento de um conjunto de temas
“quentes”, da nossa contemporaneidade: a discursividade
cidadã, a manipulação do discurso, a manipulação da verdade,
o negacionismo e a pós-verdade no discurso. Creio que estas
sejam algumas preocupações que se encontram no cenário
discursivo francês, mas que também estão muito presentes
no cenário brasileiro e latino-americano.
Julgo que tais obras sinalizam para possíveis perspectivas
da semiolinguística (não as únicas), pois acredito que as
preocupações mais imediatas no período tenham o discurso
das mídias e discurso político como um espaço central.

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

Explico. Desde a virada do século, temos observado alguns


deslocamentos do discurso político, que têm relação com a
percepção de certa crise da democracia. Ao mesmo tempo,
vê-se ampliar uma espécie de crise da informação, conjugada
à expansão da revolução tecnológica e ampliação dos cenários
discursivos da mídia digital. Do meu ponto de vista, são
cenários discursivos ainda instáveis, mas com problemas
que têm se acumulado. Seria importante, assim, situá-los no
centro das atenções teóricas.

8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando


seus estudos de semiolinguística?
Temos ótimas possibilidades de conhecimento para o
iniciante, com uma bibliografia completa e de ótimo nível.
Entre as indicações, eu apontaria, em primeiro lugar, as obras
do próprio Patrick Charaudeau, que já se encontram dispo-
níveis no país. Começaria, sem dúvida, pelo livro Linguagem
e Discurso, que permite um quadro geral da teoria. A essa
referência “obrigatória”, agregaria, a depender do objeto de
interesse do iniciante, o Discurso Político e o Discurso das
Mídias, pois, cada uma contém, a seu jeito, uma ótima apre-
sentação do teórico quadro geral e específico da teoria. Faria,
também, a indicação de algumas publicações universitárias,
nas quais circulam textos fundamentais, seja como artigos

279
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

traduzidos, seja como novas abordagens de docentes pesqui-


sadores e pós-graduandos de instituições nacionais, que se
dedicam à investigação e à formação de analistas do discurso.
Neste âmbito das edições universitárias, é possível apontar,
com base no objeto de interesse do iniciante, artigos e capítulos
publicados sob a chancela de Núcleos, Grupos de Estudos e
Centros de Pesquisa em AD. Em geral, são publicações de
ótima qualidade, nas quais se encontram excelentes aborda-
gens e práticas de análise, com ênfase na semiolinguística.
Muitas dessas obras, inclusive, encontram-se disponíveis
online, como as publicações do NAD-UFMG e do CIAD-
RIO – o que pode facilitar o acesso.

9) De que maneira a noção de contrato de comunicação –


um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca
comunicativa?
Um pressuposto da noção de contrato é que existem con-
venções compartilhadas, e não necessariamente escritas, que
definem a estruturação da própria troca comunicacional,
funcionando como restrições que asseguram a estabilidade
e expectativas em relação aos comportamentos linguageiros.
É pelo reconhecimento desse quadro de restrições que, por
outro lado, o sujeito falante, pode jogar, com os próprios dados

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

da situação, na constituição de estratégias discursivas, para


atingir um certo objetivo. Nesse sentido, a Semiolinguística
prevê um conjunto de orientações da troca comunicativa nos
diferentes níveis de estruturação do contrato: o situacional,
o comunicacional e o discursivo.
O nível situacional corresponde ao âmbito do fazer. É o
lugar em que se encontram os dados do espaço externo ao
ato de linguagem. Nesse espaço, há um conjunto de restrições
que são levadas em conta na constituição desse ato. Elas
podem ser percebidas a partir de quatro condições, a serem
observadas pelos parceiros da troca: finalidade, identidade,
domínio do saber e dispositivo. Cada uma dessas condições
busca responder a uma questão que se relaciona ao fazer e
ao dizer. A condição de finalidade pode ser percebida como
uma resposta possível à questão: Estamos aqui para dizer/fazer
o quê? A condição de identidade dos parceiros é percebida
como resposta à questão: quem fala a quem? A condição de
domínio do saber, como uma resposta possível à pergunta:
Estamos aqui para dizer/fazer sobre o quê? E a condição de
dispositivo pode ser percebida como uma resposta à questão:
Em que ambiente físico se dará o nosso dizer/fazer?
O nível comunicacional é o lugar que orienta as questões
e dados do nível situacional em maneiras de dizer ou de
escrever. É nele que se determinam os papéis linguageiros

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

que os sujeitos falantes podem adotar, como resultado das


instruções do nível situacional. Como propõe Charaudeau,
uma pergunta básica a ser respondida neste nível pode ser
expressa em “Qual será o meu papel linguageiro quando
se definir a situação externa do ato comunicativo?”. Para a
escolha do papel linguageiro, o sujeito falante deve adotar
comportamentos que se desenvolvem nos espaços de locução,
de relação e de tematização. No espaço de locução, ele deve
justificar a sua “tomada da palavra” e identificar a quem se
dirige, como seu interlocutor. No espaço de relação, deve
construir a sua identidade de locutor e estabelecer relações
(de exclusão ou inclusão, de força ou de aliança, de agressão
ou conivência) com o interlocutor. No espaço de tematização,
deve se manifestar a partir do tema proposto no contrato de
comunicação, escolhendo um modo de intervenção e um
modo de organização do discurso para se comunicar.
O nível discursivo, enfim, é o espaço em que o sujeito dis-
põe de estratégias para realizar o seu projeto de fala e colocá-lo
em cena “organizando o discurso em função de sua própria
identidade, da imagem que tem de seu interlocutor e do que
já foi dito”, para atingir o seu objetivo junto ao destinatário. É
nesse nível que se dá, portanto, a colocação em cena do dizer,
organizado nos modos discursivos (narrativo, descritivo e
argumentativo), cujos procedimentos serão escolhidos como

282
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

as melhores opções do sujeito comunicante para a busca de


influência, no âmbito da persuasão e/ou da sedução.
Creio que se pode realçar, assim, como a noção de contrato
de comunicação ocupa um lugar central na semiolinguística,
pois ela está presente no conjunto das condições necessárias
para que se efetive um ato de comunicação, orientando-as.
Assim, para que uma relação discursiva possa se iniciar e
obter sucesso, é necessário que os parceiros compartilhem
entre si um universo de dados sobre como ocorrem as trocas
sociocomunicativas no âmbito da comunidade a que perten-
cem. E esse reconhecimento se coloca como uma condição
para que o sujeito falante possa jogar com os próprios dados
da situação e com as instruções discursivas, favorecendo a
constituição de estratégias de acordo com os objetivos da troca.

10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários


sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a
construção do ethos e ou pathos dos enunciadores?
A percepção do imaginário como imagem da realidade
permite que a realidade deixe de ser uma espécie de “massa
amorfa” e ganhe sentido em relações que envolvem pro-
cessos de semiotização com o uso da língua. A partir de
ações linguageiras, pelos processos de transformação e de

283
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

transação, fenômenos da realidade tornam-se integrantes de


um universo de significações, e participam de consensos em
torno desse universo. Assim, é pela relação discursiva que esses
imaginários se tornam possibilidades de acordos e, também,
de restrições que orientam as ações no âmbito do discurso.
Ethos e pathos são categorias que vêm da tradição retórica.
Desde a antiguidade, são percebidas, respectivamente, como
próprias à persuasão e à sedução do receptor. Para Aristóteles
e, também, a Semiolinguística, são categorias próprias do
processo de influência, que expressam imagens criadas na
encenação discursiva. O ethos corresponde às imagens de
si, do sujeito comunicante. O pathos diz respeito às imagens
daquilo que é capaz de tocar às emoções do sujeito interpre-
tante. Assim, o exame do ethos e do pathos nos remete sempre
ao imaginário como parte da problemática de influência.
Na semiolinguística, diante da análise de corpus em uma
situação concreta, há que se lembrar que uma problemática
da influência coloca em realce quatro princípios: alteridade;
influência, propriamente dita; regulação e pertinência. A
cada princípio corresponderá uma determinada instrução
discursiva que advém de um problema que se coloca no nível
comunicacional do contrato. Para o princípio da alteridade,
a questão é saber “como entrar em contato com o outro?” – o
que nos remete ao estabelecimento de uma relação entre o eu

284
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

e o tu. Para o princípio de influência, propriamente dito, a


questão é “como o sujeito falante deve se comportar para fazer
com que o outro entre em seu universo de influência?” – o que
nos remete à construção de imagens de si (ethos) como sujeito
digno de confiança (ethos de credibilidade) e/ou de admira-
ção (ethos de identificação). Para o princípio de regulação, a
questão a ser solucionada é: Como posso fazer para inibir as
iniciativas do outro em relação ao seu projeto? – o que leva
à busca de formas de sedução e/ou constrangimento da sua
ação, por meio da dramatização e imagens que despertem o
seu pathos (em tópicas do prazer e do medo, por exemplo).
Enfim, para o princípio de pertinência, a questão é saber como
realizar a descrição do mundo que se propõe ou impõe ao
outro – o que leva à busca de um processo de racionalização,
com o uso de recursos e modos discursivos que favoreçam a
escolha de procedimentos relativos ao logos ou imagens de
razoabilidade no discurso.
A descrição e análise do ethos e do pathos se dá, também,
no nível discursivo, no exame das estratégias discursivas de
legitimação, credibilidade e captação. A legitimação, nesse
caso, diz respeito à identidade do sujeito comunicante – o que
faz com que esta estratégia seja percebida como uma espécie
de alteração ou reforço da imagem de si anterior (aquela que
se apresentou no quadro das instruções discursivas, como

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WILLIAM AUGUSTO MENEZES

indicadora de seu ethos prévio). A credibilidade é uma estra-


tégia de persuasão que diz respeito à capacidade do sujeito
para se fazer crer - o que leva à construção de um ethos de
um sujeito digno de credibilidade. Já a captação diz respeito
à capacidade do sujeito em tocar o emocional do outro, ou
seja, de comover e seduzir por meio da dramatização, como
uma estratégia de pathos.
É importante reforçar que as categorias na retórica e na
semiolinguística guardam também equivalência quando se
fala em ethos prévio, como imagens de si criadas pelo orador
ou pelo sujeito comunicante antes dele tomar a palavra. O
ethos prévio, na retórica (romana, principalmente), apresen-
ta-se como uma imagem colada ao sujeito pela tradição, pela
condição social, pelo envolvimento em realizações notáveis
etc. No caso contemporâneo, ele pode ser criado pela mídia,
pelo dito em outras circunstâncias e, também, pelo estatuto
ou condição social do sujeito.
Por fim, tem importância, também, a percepção de traços
identitários e/ou sintomas coletivos que levam às imagens de
si institucionais e ou comunitárias – o que nos permite validar
com a semiolinguística a existência de um ethos coletivo e de
um ethos patemizado (afetos sociais). Por exemplo: quando se
diz em um discurso propagandista que “O brasileiro é aquele
que não desiste nunca!”, tem-se, geralmente, o destaque para

286
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

certas imagens que comportam traços “verossímeis” de se


vincular a esse “brasileiro”, e não a outras imagens, a depender
da situação e dos sujeitos envolvidos na relação discursiva.

11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva


em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto
e do discurso?
A meu ver, a Semiolinguística traz uma contribuição
original e muito relevante às ciências da linguagem sobre a
construção do texto e do discurso, ao propor os desdobra-
mentos da instância subjetiva em sujeitos sociais e sujeitos
discursivos. A dimensão social integra o ato de linguagem
desde a sua constituição e, também, o nutre nas relações do
quotidiano, como dimensão externa do ato de linguagem. Ela
caracteriza o espaço situacional do contrato, que tem papel
decisivo na definição dos parceiros, como sujeitos.
A semiolinguística propõe que esses parceiros, por estarem
implicados com os papeis sociais que desempenham, sejam
percebidos como sujeitos sociais na situação sociocomuni-
cativa. Eles são o sujeito comunicante EUc e o sujeito inter-
pretante TUi. Em relação de assimetria, eles se dispõem nas
instâncias do fazer, previstas pelo dispositivo: a instância de

287
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

produção, lugar social do EUc e a instância de interpretação,


lugar social do TUi. A cada um destes corresponderá, no seu
turno, um conjunto de atividades relativas à situação, à cons-
trução do sentido e às condições comunicativas relacionadas
às instruções discursivas que favoreçam o desenvolvimento
da interação
O sujeito comunicante tem a iniciativa de produção do
ato de linguagem. O sujeito interpretante, por sua vez, tem a
iniciativa de interpretação. Como todo ato de linguagem cor-
responde a uma expectativa de significação, os sujeitos devem
assumir determinadas condições relacionadas aos dados do
contrato, como identidade (que os reconhece como autorizado
para tomar a palavra), finalidade (que os vincula em termos
dos motivos da troca), de propósito ou domínio de saber (que
os coloca em termos de reconhecimento do macrotema, que
é objeto da troca) e de dispositivo (que os dispõe em relação
ao canal). Para isso, esse sujeito comunicante faz uso de uma
competência situacional, relacionada ao reconhecimento
de saberes relativos às práticas que compartilham e uma
competência semântica que permite organizar e tematizar
os seus saberes, no âmbito das instruções discursivas.
O sujeito interpretante, como parceiro correlato no espaço
situacional, deve ter competências similares no campo, numa
relação assimétrica. Tais competências (comunicacional e

288
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

semântica) são indispensáveis, mesmo porque o sujeito inter-


pretante deve estar em condições de avaliação dos dados
relativos ao fazer, vinculados à instância produtora (quando
recorre a imagens possíveis do sujeito no lugar da produção)
e, também, porque ele próprio poderá se tornar um produtor
(no caso de uma troca interlocutiva, em conformidade com
a condição de dispositivo).
E os sujeitos discursivos? Quais são? Como se caracteri-
zam? Quais são os papéis que desempenham na construção do
texto? Para a Semiolinguística, o nível discursivo corresponde
ao espaço interno de construção do ato de linguagem. Do
ponto de vista da subjetividade, é um espaço onde encon-
tram-se, também, dois sujeitos: o sujeito enunciador (EUe) e
o sujeito destinatário (TUd). No entanto, diferentemente do
situacional, em que o sujeito comunicante não exerce controle
sobre o destinatário, no discursivo, tanto o EUe quanto o TUd
são criados pelo sujeito comunicante (EUc). A base para esta
dupla criação se dá com os imaginários sociodiscursivos, de
onde o EUc constrói imagens ideais mais adequadas, ao seu
projeto de influência: O EUe corresponde a uma imagem
de si (ethos) que coloca em discurso o projeto de fala do
sujeito comunicante. O TUd corresponde a uma imagem
de destinatário ideal para o seu discurso. Esses sujeitos são
considerados os protagonistas da relação discursiva, pois

289
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

eles estão à frente nessa relação. Por estarem vinculados em


relação ao dizer, o EUe e o TUd são definidos como sujeitos
discursivos.
A produção do texto, em vista dos imaginários convo-
cados pelo EUc, pode ser pensada como uma encenação do
dizer. Como imagem de si do EUc constituída no discurso,
o protagonista (EUe) dispõe da possibilidade de desenvolver,
no seu texto, estratégias de legitimação, de credibilidade e de
captação, para a persuasão e a sedução do outro. As estraté-
gias acionadas, nesse âmbito discursivo, são articuladas em
texto, como uso dos modos de organização do discurso: o
enunciativo, o descritivo, o narrativo e o argumentativo – o
que pressupõe um movimento coerente e adequado no uso
das formas e dos sentidos, de acordo com a materialidade,
os objetivos e as competências discursiva e semiolinguística
dos sujeitos envolvidos no processo de encenação do ato de
linguagem.
Nada garante, a priori, que o sujeito comunicante, aquele
que deu início à constituição do ato de linguagem (texto ou
discurso) obtenha sucesso em seu projeto de fala e influência.
Para isso, certamente, o EUc joga com possibilidades e expec-
tativas que pareçam ser as mais adequadas nos imaginários
sociodiscursivos. Porém, a adesão depende, também, do
outro, o sujeito interpretante (TUi): do seu olhar avaliador;

290
WILLIAM AUGUSTO MENEZES

do projeto de palavra e de influência daquele que se encontra


no lugar de interpretação, como sujeito interpretante (TUi),
e que, também, participa na mesma encenação discursiva
(nesse caso, interlocutiva) ou de outros discursos, como EUc.
Em alguns, ele é sujeito, é interpretante; em outros, ele é
comunicante.
Para concluir, gostaria de realçar dois dos aspectos dessa
funcionalidade no desdobramento dos sujeitos, pela semiolin-
guística. O primeiro é que esse olhar teórico favorece e orienta,
com clareza, o exame do nível situacional e do nível discursivo.
Para isso, constitui um conjunto de categorias adequadas para
o exame discursivo – o que parece extremamente relevante,
pois favorece a segurança na análise e a observação crítica
dos fatos discursivos e fenômenos sociodiscursivos.
O segundo realça outra grande virtude na teoria, ao favore-
cer a observação do processo de individuação do sujeito. Situo
essa questão na possibilidade aberta pela semiolinguística
quanto à descrição e à interpretação do objeto, de acordo
com os objetivos da pesquisa e do corpus, considerando-o
em contraste com dizeres de outros sujeitos ou do mesmo
sujeito, em espaços e tempos distintos. Trata-se, aqui, de uma
metodologia que favorece o exame do social e do discursivo,
percebendo esses dois níveis como partes de uma realidade

291
e, ao mesmo tempo, como representações e produções do
imaginário sociodiscursivo.

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XAVIER, Glayci; REBELLO, Ilana; MONNERAT, Rosane (org.).


Semiolinguística aplicada ao ensino. São Paulo: Contexto, 2021.
As organizadoras

Lúcia Helena Martins Gouvêa


Fez graduação em Letras pela Fundação Universidade
Federal do Rio Grande (1980), mestrado em Letras pela
Universidade Federal Fluminense (1990), doutorado em Letras
(Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (2002) e pós-doutorado em Estudos da Linguagem
pela Universidade Federal Fluminense (2016). Atualmente é
Professor Associado IV da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em
Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes
temas: pathos, ethos, subjetividade, enunciação, argumenta-
ção, modos de organização do discurso, teoria semiolinguís-
tica do discurso e textos midiáticos. Desde 2017, atua como
coordenadora do CIAD-Rio - Círculo Interdisciplinar de
Análise do Discurso. ORCID: 0000-0002-8743-4033
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/9653839738089204

Maria Aparecida Lino Pauliukonis


Graduada em Letras, Português- Inglês, com mestrado em
Literatura, pela USP, doutorado em Língua Portuguesa, pela
UFRJ e pós- doutorado em análise do discurso, pela Université
Paris 13. É professora titular, emérita do Departamento de
Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da UFRJ. Atuou e
atua como Professora pesquisadora do Programa de Pós-
Graduação da UFRJ, “stricto e lato sensu”, na linha de pesquisa
“Discurso e ensino de língua”. Foi coordenadora do Grupo
de pesquisa CIAD-RIO (Círculo Interdisciplinar de Análise
do Discurso), por 17 anos. Desenvolve atualmente Projeto
Integrado de pesquisa em Língua e discurso, com publicações
na área. É membro do GT da ANPOLL Linguística de texto
e Análise da Conversação. ORCID: 0000-0001-8057-99.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/2045541091292921
Rosane Santos Mauro Monnerat
Professora titular do Curso de Letras da Universidade
Federal Fluminense, é doutora em Letras Vernáculas – Língua
Portuguesa – pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), com Pós-Doutorado em Estudos Linguísticos pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atua no
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da
UFF, mais especificamente, na Linha de Pesquisa “Teorias
do texto, do discurso e da tradução”. Desenvolve sua reflexão
teórica na interface linguagem, sociedade e mídia e ensino de
Língua Portuguesa, possuindo inúmeros trabalhos publicados
nessas áreas. É vice-coordenadora do grupo de pesquisa
CIAD (Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso, da
UFRJ), participando também do grupo Leitura, Fruição e
Ensino, na UFF (Leifen/UFF). É membro do GT de Linguística
de Texto e Análise da Conversação da ANPOLL. ORCID:
/0000-0003-2523-9088
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/9317686726910924

Entrevistados

Patrick Charaudeau é professor titular emérito da


Universidade de Paris-Nord (Paris 13) e fundador do Centre
d’Analyse du Discours (CAD) dessa mesma universidade.
Atua no CNRS (Centre national de recherche scientifique).
Criador de uma teoria de análise do discurso, denominada
Semiolinguística, é autor de vários livros, capítulos de livros
e de revistas, dedicados aos estudos discursivos. Mantém
convênios com Universidades e pesquisadores de vários
países, com quem sempre interage, participando de con-
gressos e de publicações conjuntas. Dentre suas principais
obras destacam-se: A conquista da opinião pública, Discurso
das mídias, Discurso e desigualdade social, Discurso político,
Dicionário de análise do discurso, Linguagem e discurso: modos
de organização e A manipulação da verdade, entre outras.
Endereço para o CV: http://www.patrick-charaudeau.
com/-Biographie-professionnelle-.html

Amanda Heiderich Marchon é graduada em Letras -


Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa - pela
Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia (2007), mestrado (2011)
e doutorado (2017) em Letras Vernáculas pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, com pesquisa de pós-doutorado em
Estudos da Linguagem, na Universidade Federal Fluminense
(2020-2021). É Professora Adjunta do Departamento
de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito
Santo e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da
mesma universidade. É líder do Grupo Estudos da Língua
em Uso - Grupo ELUs (UFES), pesquisadora do Núcleo de
Estudos do Português em Uso - PorUs (UFF) e do Grupo
de Pesquisa Conectivos e Conexões de Orações-CCO (UFF
argumentação.) Trabalha, principalmente, com os seguintes
temas: funcionalismo; hipotaxe circunstancial; conexão de
cláusulas e conectivos.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/7092607283921390
Beatriz dos Santos Feres é doutora em Letras/Estudos
da Linguagem pela Universidade Federal Fluminense, com
pós-doutorado na área da Teoria da Literatura e Literatura
Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Professora Associada de Língua Portuguesa no Instituto de
Letras da UFF, atua no Programa de Pós-Graduação em
Estudos da Linguagem da UFF, linha de pesquisa Teorias do
texto, do discurso e da tradução. É líder do Grupo de Pesquisa
em Semiolinguística: Leitura, fruição e ensino (GPS-LeiFEn/
UFF), além de ser membro do Círculo Interdisciplinar de
Análise do Discurso (Ciad-Rio) e do Grupo de Pesquisa
Encontros com a Literatura Infantil/Juvenil: ficção, teorias
e práticas (EnLIJ/UERJ). É membro do GT Linguística de
Texto e Análise da Conversação (LTAC/Anpoll).
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/3111310248072636

Helênio Fonseca de Oliveira tem graduação em Português


-Inglês pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1968),
mestrado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1974) e doutorado em Letras
(Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1989), onde atuou como professor na graduação e
na Pós- Graduação, no Departamento de Letras Vernáculas.
Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, atuando principalmente nos seguintes temas:
aplicação dos estudos da linguagem ao ensino da língua
materna, com ênfase ao discurso e à produção de textos.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/4722926940795406

Ida Lucia Machado é doutora ès Lettres e tem dois pós-


-doutorados em Análise do Discurso (AD), todos realizados
na França. Dedica-se a essa disciplina há cerca de 30 anos,
sempre enfatizando sua adesão às ideias divulgadas pela
Semiolinguística de Patrick Charaudeau. Há cerca de 12
anos pesquisa narrativas de vida e nestas, a noção de sujeito/
narrador transclasse. É professora permanente de AD no
PosLin/FALE/UFMG e tem uma vasta produção intelectual.
É pesquisadora 1D do CNPq. Contatos: idaluz@hotmail.fr
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/2114135234349130

Ilana da Silva Rebello é doutora em Língua Portuguesa


pela Universidade Federal Fluminense. Já atuou como profes-
sora de Língua Portuguesa na Educação Básica. Atualmente, é
professora Associada de Língua Portuguesa do Departamento
de Letras Clássicas e Vernáculas da UFF. Atua na Pós-
Graduação Stricto Sensu em Estudos da Linguagem e na
Lato Sensu em Língua Portuguesa. É membro do grupo de
pesquisa em Semiolinguística - Leitura, fruição e ensino
(GPS - LeiFEn/UFF/CNPq), do Círculo Interdisciplinar de
Análise do Discurso (Ciad-Rio) e do Grupo de Trabalho de
Linguística de Texto e Análise da Conversação da Anpoll. Tem
se dedicado a pesquisas com gêneros do domínio midiático,
sob o aparato teórico e metodológico principalmente da Teoria
Semiolinguística de Análise do Discurso.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/3408468123212172

João Benvindo de Moura – docente da graduação e


da pós-graduação em Letras da UFPI. Possui doutorado
e pós-doutorado em Linguística pela UFMG. Graduado
em Letras-Português com especialização e mestrado pela
UFPI. Editor da revista Form@re. Vice-diretor do Centro
de Ciências Humanas e Letras da UFPI. Coordenador do
curso de Letras-Português do Parfor/UFPI. Membro do GT
sobre Argumentação da ANPOLL. Foi fundador e é o atual
vice-coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Análise do Discurso – NEPAD/UFPI/CNPq.
Endereço para o CV na plataforma Lattes: http://lattes.
cnpq.br/3238089437081822

Luciana Paiva Vilhena Leite é mestre (2003) e doutora


(2008) em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atuou na Rede
Privada e na Rede Estadual do Rio de Janeiro, nos ensinos
fundamental e médio, e no Curso de Letras da Universidade
Católica de Petrópolis (UCP). Atualmente é Professora
Adjunta da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO). Coordenou o Curso de Licenciatura de 2015 a 2017
e o Subprojeto PIBID/Letras, até o ano de 2017. Participa do
Grupo de Pesquisa do CNPq -Literatura e Linguagens: fron-
teira, espaço, performance, memória; do Grupo de Pesquisa
LEIFEn - “Leitura, Fruição e Ensino”, da UFF e do Grupo
CIAD-Rio (Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso).
Atualmente, volta-se também para Projetos de extensão que
favorecem o diálogo entre a universidade e a comunidade
extracampi.
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Maria Eduarda Giering tem graduação em Letras-
Português e em Comunicação pela Unisinos, mestrado em
Teoria da Literatura e doutorado em Linguística, ambos
pela PUC-RS. Realizou pesquisa de pós-doutoramento na
Université Paris-Sorbonne, Paris IV, França. É professora
titular, pesquisadora do Programa de Pós-graduação em
Linguística Aplicada e no Curso de Letras da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Atua, principalmente
com os seguintes temas: divulgação científica, argumentação,
popularização da ciência, semiolinguística e organização
retórica. Coordena o Projeto “Comunicação da ciência e
organização retórica de notícias hipertextuais”. Possui várias
publicações em artigos de revista e pela Contexto é coautora
do livro Linguagem e Direito.
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Michelle Gomes Alonso Dominguez é professora


Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Departamento Língua e Literatura Portuguesa (LIPO).
Graduada em Letras Português- Literaturas, mestre (2004)
e doutora (2011) em Letras Vernáculas pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, com especialização em Literaturas
Portuguesa e Africanas de Língua portuguesa (2001). Fez
pós-doutorado em Linguística, na Universidade Aberta -
Portugal, sob supervisão da Professora Doutora Isabel Seara
(2021). Atua no ensino da graduação e na pós-graduação da
UERJ, com pesquisa relacionada à interface língua-texto-
discurso, a partir de pressupostos da Análise do Discurso. É
integrante do Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso
(CIAD-Rio).
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Patrícia Ferreira Neves Ribeiro é doutora em Letras


Vernáculas – Língua Portuguesa – pela UFRJ, com pós-dou-
torado supervisionado por Patrick Charaudeau, professor
emérito da Université Paris 13. É professora associada de
Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas da UFF. Atua no Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Linguagem na Linha de Pesquisa “Teorias do Texto,
do Discurso e da Tradução”. É vice-líder do GPS-LeiFen/
CNPq e membro do CIAD-Rio e do GTLTAC- ANPOLL.
Desenvolve pesquisas em Semiolinguística do Discurso, com
os seguintes temas: linguagem/mídia/política, com ênfase
nos processos enunciativos e imaginários sociodiscursivos; e
ensino de texto e língua/gramática em dimensão discursiva.
Tem publicações em revistas e em livros nestas áreas de estudo.
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Verônica Palmira Salme de Aragão é doutora em Língua


Portuguesa (Letras Vernáculas) pela UFRJ, mestra em Língua
Portuguesa, pela UFRJ, especialista e graduada em Língua e
Literaturas de Língua Portuguesa (UFRJ). Professora adjunta
de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas
da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN),
desde 2008. Coordena a pesquisa “Discurso, gênero e política
à luz da Teoria Semiolinguística do Discurso”, PIBIC/CNPQ/
UERN. Integra o corpo docente do Mestrado profissional em
Letras (Profletras) e atua no Programa de Pós- Graduação
“stricto sensu” em Ciências da linguagem: PPCL/UERN/
Mossoró e o GPELL/UERN.
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William Augusto Menezes é professor doutor, graduado


em História (UFMG), com mestrado (2000) e doutorado (2004)
em Estudos Linguísticos: Estudos do Texto e do Discurso.
Realizou pesquisa sanduíche junto à Université Paris 13, sob
a direção de Patrick Charaudeau (2001). Foi bolsista de pós-
-doutorado (PRODOC – CAPES, UFMG), trabalhando sob os
temas: “Discursos sociais e gêneros discursivos”, e “um estudo
discursivo em análise da narrativa”. Professor Associado da
UFOP, atua junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras:
Estudos da Linguagem, UFOP. Colabora, também, junto
ao Pós-Letras da PUC-MG (área de Linguística, Análise do
Discurso) e ao Poslin UFMG (área de Linguística do Texto
e do Discurso). Pesquisa e orienta trabalhos nas áreas de
Estudos Linguísticos e Estudos do Patrimônio Cultural, com
ênfase nos estudos discursivos.
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