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Reflexões sobre o processo de surgimento da Escola de Serviço Social no Rio

Grande do Norte.

O surgimento da escola de Serviço Social em Natal-RN se dá em meio a uma


conjuntura regional, mas que seguia a uma serie de acontecimentos nacionais. No Brasil
estava acontecendo uma onda de incentivo para abertura de escolas de Serviço Social
com um caráter conservador, tradicional e de disseminação da doutrina católica. A
Igreja Católica se preocupava em levar o curso de Serviço social para as diversas
cidades principalmente devido ao avanço das idéias comunistas no Brasil.

Na década de 30 o agravamento das condições de vida em todo o Brasil, as


tendências autoritárias do Estado Novo de Vargas e o surgimento da Ação Integralista
Brasileira, em defesa de um Estado autoritário, nacionalista e anticomunista,
provocaram como reação a criação em março de 1935 da Aliança Nacional Libertadora
(ANL) que defendia objetivos democráticos, nacionalistas e reformistas. ANL teve
grande adesão popular com adesão de mais de 50 mil pessoas só na capital da republica,
sendo 1600 núcleos criados em todo o país. Mas rapidamente o governo federal
respondeu a iniciativa e fechou em 11 de julho os núcleos nacionais, passando a
perseguir com enorme repressão os seus membros e simpatizantes.

Com essa resposta do governo federal as facções de esquerda da ANL decidiram


então se organizar em um insurreição sob o comando de Luis Carlos Prestes, com idéias
de reformas populares, que melhorasse a vida do trabalhador o golpe foi deflagrado em
23 de novembro de 1935 na cidade de Natal, tomando o poder por 4 dias nesta cidade,
mas que foi contida e sufocada com muita repressão por parte do governo federal, com
ajuda de integrantes do governo infiltrados na ANL. A adesão por parte da população
Natalense à intentona comunista foi quase inexistente, o que ajudou ao governo a abafar
o episodio e fortaleceu a hierarquia católica no sentido de se criar um curso de Serviço
Social para conter as massas e manifestações.

A hierarquia católica ficou assustada após o episodio de 23 de novembro,


preocupada com o avanço das idéias comunistas entre as populações mais pobres,
passou a pensar medidas mais sistemáticas para assistir a população indigente que
chegava à época a Natal devido ao êxodo rural ocasionado por forte período de seca
(1930 e 1942), além das milhares de famílias que não cessou em chegar busca de
melhores condições de trabalho e estudos para seus filhos. Além disso na década de 40,
Natal devido a sua localização foi sede dos Estados Unidos na Segunda Guerra
Mundial, passando rapidamente por grandes transformações para abarcar o quantitativo
de americanos e equipamentos que chegavam em virtude da guerra, sendo construída
em Parnamirim a base aérea trampolim da vitoria.

Com o final da guerra, o retornos dos americanos e seus dólares, a pacata cidade
que era Natal não havia mais como voltar a ser, pois a população já tinha aumentado
bastante, o crescimento do comercio, e as mudanças urbanas agora careciam de atenção,
a economia não estava mais com aquele vigor e as necessidades populacionais ficaram
ainda maiores.

Em 1942 é criada em âmbito nacional a Legião Brasileira de Assistência (LBA),


fundada uma sede local em Natal ainda neste ano e criado ainda o Seras (serviço
Estadual de Reeducação e Assistência Social), a partir da iniciativa da Igreja Católica, a
qual visava atender as crianças abandonadas, pois havia crescido enormemente o
numero de mulheres grávidas e crianças abandonadas em Natal com a chegada dos
americanos.

Os dirigentes dessas duas instituições e o clero norte-rio-grandense


preocuparam-se com a situação de tensão social instalada na cidade e pensaram que
seria necessário profissionais especializados para lidarem com estas questões. Foi criada
então o Centro de Estudos Sociais, com o objetivo de conhecer os problemas sociais do
estado e promover a formação de técnicos para atuarem na realidade social. Logo, o
Serviço Social em Natal virá a nascer com forte influencia tanto do catolicismo, como
do Serviço Social europeu quanto do funcionalismo norte-americano e do Serviço
Social dos Estados Unidos, mesclando portanto um forte apelo religioso-moral com o
aspecto técnico com o estudo de caso e o desenvolvimento de comunidades.

Com a necessidade de profissionais para intervir na questão social cria-se cursos


de capacitação para profissionais aptos a lidar com os problemas sociais, instalou-se o
curso de visitadoras sociais, com duração de 45 dias, realizado na Escola Domestica
entre 1942 e 1943, a programação constava de aulas sobre assistência social,
alimentação, puericultura, enfermagem de socorro e economia. Tal curso foi noticiado
pelos jornais locais como sendo o primeiro de Serviço Social que se realizava no Rio
Grande do Norte. Um segundo curso foi realizado em 1943, com duração de seis meses,
sendo quatro de estudos teóricos e dois de estágios em Serviço Social e Enfermagem.
As aulas dos cursos foram ministradas por profissionais de outras áreas, médico e
advogado.

Em 1944 foram concedidas duas bolsas de estudo para que duas candidatas
fossem fazer um curso intensivo em São Paulo e um curso regular de Serviço Social no
Rio de Janeiro. Em 2 de junho de 1945 foi criado a Escola de Serviço Social de Natal
aos moldes das Escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro, que por sua vez recebiam
influencia direta das escolas da Europa. Nos primeiros períodos de criação da escola o
curso era todo coordenado pela Igreja Católica, sendo a equipe pedagógica também
fazendo parte da Igreja Católica, até que chega um momento em que a arquidiocese não
esta mais conseguindo manter e suprir as necessidades do curso e abrisse negociações
com a UFRN para que ela assumisse a Escola de Serviço Social.

Em 1951 a Escola de Serviço Social de Natal registrou-se no Conselho Nacional


de Serviço Social (CNSS) e em julho de 1953 com a Lei n° 1.889/53, instituiu-se o
ensino de Serviço Social como nível superior, regulamentada pelo decreto n° 35.311 de
2/4/1954. O processo de institucionalização vem trazer mudanças para a realidade da
escola de Serviço Social de Natal, não há mais um presidente, que antes era o arcebispo
auxiliar dom Nivaldo Monte, muda-se a estrutura administrativa, e a Escola passa a
pensar na construção do pensamento sócia, dos cursos e da prática profissional. Nesse
período também instala-se o vestibular, deixando de ser indicações de famílias como era
feito antes. Em 1958 passa a ser administrado pela UFRN, saindo das posses da
arquidiocese.

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