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CARIDADE E

ESTADO
DAS RESPONSABILIDADES, USOS SOCIAIS E O
PAPEL ESTATAL NO BRASIL
NUNES, Maria José Rosado. Freiras no Brasil. In: DEL
PRIORE, Mary; BASSANEZI, Carla Beozzo (Ed.). História
das mulheres no Brasil. Unesp, 2004
■ As mulheres se beneficiaram de algumas iniciativas católicas dessa época,
sobretudo no campo da educação, mas também com a criação das
associações femininas de piedade. Dessas iniciativas, a mais carregada de
efeitos para as mulheres foi a criação de uma rede formidável de escolas
católicas, sob a direção de religiosas estrangeiras. O século XIX presenciou
ainda um desenvolvimento bastante rápido das “escolas para meninas”, que
tiveram as religiosas como elementos fundamentais. (Pág. 515)
■ No Império, duas congregações femininas iniciam aqui suas
atividades: as Filhas da Caridade, em 1849, e as Irmãs de São José de
Chambéry, em 1858. A partir de 1891, intensifica-se a vinda de
religiosas estrangeiras, em sua maioria francesas e italianas. Entre
1872 e 1920, cinquenta e oito congregações europeias se estabelecem
em terras brasileiras; outras 19 também são fundadas no Brasil por
essa época. O trabalho educativo nos colégios, o cuidado dos doentes,
das crianças e dos velhos em orfanatos e asilos constituirão suas
principais atividades. (Pág. 516)
■ Dizem-me que estamos ameaçados de aninhar uma arribação de irmãs de
não sei que título, as quais trazem como passaporte uma ordem de expulsão
de outro país. Não sei de que congregadas se trata, mas além de que me
repugna receber de braços abertos o refugo de outras terras, acho que já
temos gente religiosa de sobra. Do que precisamos é de gente que trabalhe. A
lavoura precisa de braços. […] Já não há criadas: isto repetem
constantemente as donas de casa. Pois bem. Se tais senhoras e senhores de
congregações, arrependidos do que ‘não fizeram’ de mau para dar causa à
sua expulsão, querem vir aqui regenerar-se e serem verdadeiramente úteis a
si e à humanidade, que venham, pois serão bem-vindos. Há muita enxada
ociosa por aí afora, e as cozinheiras hoje em dia estão muito raras e caras, e
além disso não são boas, lá pelo que digamos. Mas se elas querem vir passar
a boa vida em santo ócio, em rezas e cantigas, temos conversado. Passem
por lá muito bem! (Apud: O Fluminense; Pág. 516-517)
■ Os liberais, opositores ferozes do conservadorismo
católico, expressam também sua crítica ao ensino
ministrado pelas religiosas. Insistem nos prejuízos
causados pela educação confiada a padres e freiras. No
entanto, o interesse da Igreja no campo da educação e o
apoio do governo tornaram possível às congregações
estabelecerem seus colégios. Elas conquistaram espaços
sociais cada vez maiores, seus efetivos se multiplicaram e,
enfim, a vida religiosa feminina solidificou suas raízes em
nosso país. Na segunda metade do século XIX, religiosas e
religiosos detinham praticamente o monopólio da
educação no Brasil: das 4.600 escolas secundárias
existentes, 60% pertenciam à Igreja e gozavam de enorme
prestígio. (Pág. 517-518)
■ Os colégios religiosos, por sua vez, veiculam uma educação de caráter
fortemente conservador, centrada na manutenção do modelo familiar
cristão tradicional. As devoções difundidas a partir das escolas e das
novas associações religiosas, das quais as mulheres são as maiores
divulgadoras, têm na supervalorização da figura da Virgem Maria uma de
suas principais características. O simbolismo da figura de Maria, virgem
e mãe, é marcante para as mulheres; concentra uma ambiguidade extrema
pela valorização concomitante da virgindade e da maternidade. Erigindo
a virgindade em culto, é o controle da sexualidade feminina e a
normatização dos comportamentos sexuais que a Igreja visa. Não foi por
acaso que, em 1920, o Grupo Feminino de Estudos Sociais, anarquista,
quis “combater sistematicamente e eficazmente, a escravização clerical, a
escravização econômica e a escravização jurídica que asfixiam, degradam
e aviltam o sexo feminino”. (Pág. 519)
■ O fim do século XIX até a década de 60 do século XX representou um
período de expansão e de estabilidade institucional para a vida
religiosa feminina. Os recursos advindos das próprias obras,
especialmente dos colégios, das doações de particulares, de incentivos
governamentais, na forma de não pagamento de impostos e de
benefícios suplementares, garantiam às ordens religiosas um certo
suporte financeiro, com o qual desenvolveram projetos próprios.
Consolidados, os diversos grupos apresentavam, no início do século,
um contingente significativo de membros, composto, em grande parte,
por vocações nativas, considerável número de propriedades e diversas
obras assistenciais e educativas. Sua dinâmica de expansão e de
afirmação institucional lhes permitia ter uma relativa autonomia em
face das Igrejas locais. (Pág. 519)
■ Enquanto predominou na sociedade uma visão sacralizada de mundo, foi
possível às religiosas, por esse título, exercerem tarefas para as quais não
estavam tecnicamente habilitadas. Por que eram “irmãs de caridade” podiam ser
professoras, enfermeiras ou assistentes sociais; nenhum diploma ou curso era
exigido delas. A mentalidade moderna exigia, no entanto, preparo profissional,
habilitação técnica específica para o exercício das diversas profissões. Além
disso, o Estado tornava-se cada vez mais presente no campo social, ampliando
os serviços de previdência social. Tornava-se então cada vez mais difícil para as
religiosas manterem seu trabalho nas diferentes obras a que se dedicavam. Ainda
assim, a participação delas na área da assistência social continuou a ser grande.
(Pág. 524)
ERA VARGAS – O MODELO DE
ESTADO CENTRALIZADO
O PRIMEIRO DAMISMO

■ Mato Grosso – Maria Arruda Müller


■ São Paulo – Leonor de Barros
■ Brasil – Ruth Cardoso
■ Brasil – Marcela Temer
■ Brasil – Michele Bolsonaro
O papel do Estado, a questão da coisa
Pública e o retorno da “caridade”
■ O que é e qual é o papel do Estado?

■ O que é a coisa pública e o que preconiza uma ideia de coisa pública?

■ O retorno da ideia de Caridade, agora pelas mãos do grande Capital.

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