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ANÁLISE DO TEXTO

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A
MORTA
de Oswald de Andrade
Escrita em
z 1937.

Última peça do poeta modernista.

Apresentada em três quadros:

O País do Indivíduo;

O País da Gramática;

O País da Anestesia.

Esta obra faz parte da “Trilogia da Devoração” do Teatro


Antropofágico de Oswald: O Rei da Vela e O Homem e o
Cavalo
A peça é uma inquietação do autor, possibilitando um experimento com a
linguagem.z O texto é um grito da humanidade para a humanidade.

Diante desse texto, o leitor tenta montar um mosaico, pois a peça é uma teia de
referências (intertextos).

PERSONAGENS: Eles não têm suas personalidades próprias, funcionam como


índices. Beatriz, a personagem central, que foi a musa inspiradora de Dante;

Horácio, grande poeta lírico;

O personagem Urubu, faz referência ao O Corvo de Edgar Allan Poe;

O Poeta, apresenta sua autópsia;

O Hierofante é uma espécie de bruxo que abre a peça e chama a plateia a


assistir a autópsia do indivíduo;

O personagem Uma Roupa de Homem, é quem dialoga com a vanguarda.


SOBRE O TEXTO
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O texto é grande metáfora. Ao assistirmos a autópsia do individuo, o autor
está revelando uma sociedade podre e, a partir daí, passamos a refletir
sobre ela. O mergulho subjetivo para a morte nos faz pensar na vida, é
preciso “visitar a morte” para conhecer a vida. Num jogo de
duelo novo vs antigo, metalinguagem e poética se fundem na peça (o
personagem O Poeta no primeiro ato lírico – O País do Indivíduo –
transmite a metalinguagem. O texto é de um grande valor poético e
metalingüístico. Reflete tanto os ideais de vanguarda, gramáticos – que
os modernistas atacaram.

No segundo ato lírico da peça, "O País da Gramática", o indivíduo preso a


essa “ordem conservadora”; vale lembrar também que a ruptura com
essa ordem conservadora gramatical foi defendida pelos futuristas, e
Oswald bebe muito do futurismo.
Veja abaixo,z a fala do Hierofante, personagem que abre a peça e nos convida para a
autópsia: (surgindo na avant-scène, senta-se sobre a caixa do ponto).

- Senhoras, senhores, eu sou um pedaço de personagem, perdido no teatro. Sou a moral.


Antigamente a moralidade aparecia no fim das fábulas. Hoje ela precisa se destacar no
princípio, a fim de que a polícia garanta o espetáculo. Esse estiole o ríctus imperdoável das
galerias. Permanecerei fiel aos meus propósitos até o fim da peça. E solidário com a vossa
compreensão de classe. Coisas importantes nesta farsa ficam a cargo do cenário de que
fazeis parte. Estamos nas ruínas misturadas de um mundo. Os personagens não são
unidos quando isolados. Em ação são coletivos. Como nos terremotos de vosso próprio
domicílio ou em vastas penitenciárias, assistireis o indivíduo em fatias ou vê-lo-eis social
ou telúrico. Vossa imaginação terá de quebrar tumultos para satisfazer as exigências da
bilheteria. Nosso bando precatório é esfomeado e humano como uma trupo de
Shakespeare. Precisa de vossa corte. Não vos retireis das cadeiras horrorizados com a
vossa autópsia. Consolai-vos em ter dentro de vós um pequeno poeta e uma grande alma!
Sede alinhados e cínicos quando atingirdes o fim do vosso próprio banquete desagradável.
Como os loucos, nos comoveremos por vossas controvérsias. Vamos, começai!
Cena de "A Morta", apresentada no Forum da Cultura. )
(1972
.

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Oswald de Andrade (1890-1954) foi um escritor e dramaturgo brasileiro. Fundou junto com Tarsila do
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Amaral o "Movimento Antropófago". Foi uma das personalidades mais polêmicas do Modernismo. Nasceu
em São Paulo, no dia 11 de janeiro de 1890. Filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês
Henriqueta Inglês de Souza Andrade.

Em 1918, Oswald de Andrade formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, mas nunca advogou.
Iniciou uma amizade com Mário de Andrade.

Oswaldo de Andrade era irônico e gozador, teve uma vida atribulada, foi militante político, foi o idealizador
dos principais manifestos modernistas. Ao lado da pintora Anita Malfatti, do escritor Mário de Andrade e de
outros intelectuais organizou a Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 18 de março de 1924, um dos mais importantes manifestos do Modernismo o Manifesto Pau-Brasil,


publicado no Correio da Manhã. O nome do manifesto, o autor diz "Pensei em fazer uma poesia de
exportação. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira exportada, denominei o movimento Pau-
Brasil".

Em 1926 casa-se com a pintora Tarsila do Amaral. Em 1927, radicalizando o movimento nativista, fundam
– na literatura e na pintura – o “Movimento Antropofágico” no qual propõe que o Brasil devore a cultura
estrangeira e crie uma cultura revolucionária própria. Em 1929 separa-se de Tarsila do Amaral. Filia-se ao
Partido Comunista, conhece a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu. 

Oswald de Andrade faleceu em São Paulo, no dia 22 de outubro de 1954.

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