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TEATRO DO OPRIMIDO

RAIZES E ASAS
O QUE É O TEATRO DO OPRIMIDO?
O Teatro do Oprimido é considerado um método teatral.
Neste método, tudo começa a partir de uma ação real e viabiliza a intervenção espontânea dos
espectadores e atores.
Neste método, os espectadores estão livres para intervir diretamente na cena, mudando sua
trajetória de ação. O objetivo desta atitude é permitir que o espectador, a partir de sua
intervenção, possa observar entender e buscar as alternativas de mudança desta realidade.
O Teatro do Oprimido tem sua metodologia estética, que sistematiza a democratização do
teatro através de jogos, exercícios e técnicas teatrais que buscam a espontaneidade física e
intelectual, possibilitando aos participantes condições práticas de expressão e de comunicação
direta entre ator e espectador.
Neste método estão adjuntas as seguintes técnicas de atuação: Teatro Jornal, Teatro Imagem,
Teatro invisível, Teatro Fórum, Teatro Legislativo e Arco Iris do Desejo. São estas técnicas as que
formam este método de teatro popular e espontâneo. Conheceremos agora em que momento
se desenvolve cada uma delas:
TEATRO JORNAL

Esta técnica começa com a leitura e debate dos eventos políticos e sociais mais
importantes do jornal do dia anterior. Com a explicação de seu significado se
percebe o tema.
O objetivo desta técnica é a desmistificação da imprensa burguesa e a discussão
de informações de notícias, que não foram publicadas nos jornais. Em muitos
espetáculos do Teatro Arena, de São Paulo era hábito dedicar as apresentações a
alguém ou a algum fato político.
Os atores em cena, diante dos espectadores, ofereciam a apresentação. A
pessoa ou o fato eram muitas vezes suficientes para provocar ideologicamente
ao ator para o que ele representava: um companheiro morto ou um chefe
sindical, que ia às prisões para debater sobre o momento político, denunciando
os abusos da ditadura.
TEATRO IMAGEM

O Teatro Imagem compreende a estética do Oprimido, que se concentra na


transformação da sociedade, por meio da criação de imagens formadas pelo
mesmo corpo.
Nesta técnica o que importa é a ideia concreta dos fatos. O Teatro Imagem é um
momento em que questões, conflitos e sentimentos são construídas imagens
como legítimas.
Nesta técnica se desenvolvem capacidades expressivas do ser humano, através
da imagem de seu corpo. Aprendemos como falar através de outras linguagens
que não sejam somente a palavra.
Neste momento se aplicam exercícios de criação de cenas e elaboração de
espetáculos.
TEATRO INVISÍVEL

Os atores ao praticar esta técnica do Teatro do Oprimido, escolhem um certo


veículo ou lugar, com antecedência:
Pode ser um ônibus, um trem, um metrô, um restaurante ou uma loja e neste
local desenvolvem seu Teatro Invisível. Por tratar-se de uma técnica espontânea,
as pessoas que estão com eles, em tal ocasião, jamais poderão imaginar que
estão participando de um espetáculo teatral.
O tema deverá transcorrer sem que as pessoas descubram que estão em uma
peça de teatro, mas isto é teatro. Desta maneira, a técnica do Teatro Invisível é
capaz de exortar ao espectador, para a ação e a reação daqueles que participam.
Os temas abordados são assuntos sociais e políticos da vida cotidiana. Boal crê
que, com o uso destas técnicas, estará ajudando na solução dos problemas.
TEATRO FÓRUM
Nesta vertente, os grupos de atores investigam os problemas
específicos de uma comunidade. Depois de realizar essa
investigação, vão a uma praça ou a uma rua e dramatizam a
situação previamente combinada. O espetáculo situa-se em
circunstancias reais, que são narradas pelas pessoas da
sociedade. Pouco a pouco, os espectadores intervêm na situação,
já que é possível modifica-la, dizer o que falta, falar e fazer uma
infinidade de intervenções. Desse modo, os espectadores
começam a intrometer-se na realidade, através da ação
dramática, modificando-a por meio de seus próprios propósitos.
TEATRO LEGISLATIVO
A partir de temas sugeridos por uma comunidade, a plateia é estimulada esclarecer proposições que se
transformam em propostas de lei. Seu objetivo é a solução da situação-problema, para que a plateia
consiga discutir e votar. Neste momento a sessão do teatro legislativo se instala. Os temas propostos
passam por um auxiliar legislativo e um advogado, especialista no assunto que adapta a linguagem do
povo à linguagem do legislativo. Depois regressam ao Teatro Legislativo e o público passa a ser o
legislador. O teatro se transforma em ação política, e as apresentações nas sessões solenes simbólicas.
Com a técnica do Teatro Legislativo também ocorreram sessões no Great London Council, em Londres,
com os advogados Lisa Jardine, Paul Heller e Tarik Ali. Em Bradford, na Câmara Legislativa da cidade, se
realizou uma sessão cujo tema tratava dos problemas enfrentados pelos portadores de síndrome de
down. Esta sessão aconteceu no salão da Comissão de Justiça de Rathaus – Prefeitura de Munich.
Todos estes resultados positivos, alcançados através do Teatro Legislativo, incentivam não somente a
democratização da política, mas também a democracia participativa. O projeto do Teatro Legislativo
está apoiado pela Fundação Ford, Fundação Böll, PROSARE, Ministério da Saúde e Ministério da Justiça
do Brasil. De 1993 a 1996, através da técnica do Teatro Legislativo, foram encaminhados aos concelhos
municipais do Rio de Janeiro, 33 projetos de Lei, dos quais 2, se transformaram em leis.
ARCO IRIS DO DESEJO
É uma técnica introspectiva do Teatro do Oprimido e foi elaborada em
1980, na França, por Augusto Boal e sua esposa, a psicóloga Cecilia
Boal. Conhece-se também esta técnica como Teatro Terapia, e
representa um conjunto de técnicas terapêuticas. Seu conteúdo se
baseia no uso de palavras e imagens.
A principal característica da técnica Arco Íris do Desejo é psicológica e
tem como objetivo trabalhar com as opressões sofridas por cada
participante. Ao construir esta técnica, Boal crê que as repressões
sofridas e registradas no íntimo do ser, têm referencias íntimas com a
vida social do participante.
DIDÁTICO OU PEDAGÓGICO?
O Teatro do Oprimido é um método estético com um arsenal de exercícios, jogos e diversas
técnicas teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual dos participantes.
O Método visa à democratização dos meios de produção teatral e a ampliação das
possibilidades de expressão de oprimidos e oprimidas. O objetivo é a busca coletiva de
alternativas para a transformação da realidade, `partir do diálogo teatral.
COMO SE DESENVOLVE?
O Teatro do Oprimido se desenvolve através de um processo estético-pedagógico que
desemboca em produção artística e anseia por um fazer político.
Enquanto método, o Teatro do Oprimido é estético.
Em seu processo de desenvolvimento é pedagógico.
Em sua finalidade é politico.
O caráter pedagógico do Teatro do Oprimido não o limita a uma didática, nem o transforma em
um teatro didático.
O CARÁTER PEDAGÓGICO DO TEATRO DO
OPRIMIDO
Esse caráter pedagógico é fundamental, pois se refere à necessidade de criação
de um ambiente propício e adequado para a produção coletiva de conhecimento,
para a aprendizagem coletiva. Isso não diz respeito a uma didática, que remete a
técnicas, formas e estratégias para proceder ao ensino de uma matéria especifica,
de um conteúdo, de determinado conhecimento para um grupo de aprendizes.
NÃO ESQUEÇA:
Coringa não é o professor.
A peça não é o conteúdo a ser ensinado.
A Plateia não constitui o grupo de estudantes.
E a sessão de Fórum não é a aula.
TEATRO DO OPRIMIDO É DIDÁTICO?

Para quem entende que o caráter essencial do Teatro do


Oprimido é didático, o que importa é colocar um tema em uma
discussão conduzida, ensinando à plateia o que deve ser feito.
Nesse caso, teatro não faz falta, basta uma mesa, duas cadeiras
e personagens que expliquem verbalmente o problema,
tentando reproduzir o que ocorre na realidade a ser discutida.
Nesse caso, a encenação pode se transformar em adorno para
a lição a ser ministrada.
A PEDAGOGIA TEATRAL DE BOAL

A pedagogia foi denominada por ele mesmo de, Teatro do Oprimido,


tomando emprestada a expressão utilizada por Paulo Freire para
designar sua radical proposta educativa (Pedagogia do Oprimido).
O Teatro do Oprimido consiste, basicamente, num conjunto de
procedimentos de atuação teatral improvisada, com o objetivo de, em
suas origens, transformar as tradicionais relações de produção material
nas sociedades capitalistas pela conscientização política do público
(Boal 1979).
CURINGA
É uma função polivalente.
Os atores curingas podem desempenhar qualquer papel da peça,
podendo até mesmo substituir o protagonista nos
"impedimentos" determinados por sua realidade "realista-
naturalista". "A consciência do ator curinga deve ser a de autor
ou adaptador que se supõe acima e além, no espaço e no
tempo, dos personagens".
Todas as possibilidades teatrais são conferidas à função curinga.
IMPROVISAÇÃO

- A notícia é improvisada teatralmente, experimentando-se suas


múltiplas possibilidades.
Histórico- A notícia é encenada paralelamente a outros dados, que
permitam identificar o fato ocorrido em diferentes momentos
históricos e contextos político econômicos e sociais.
- Reforço
A notícia é lida, cantada ou bailada, recorrendo-se ao auxílio de slides.
Jingles e material de publicidade a ela relacionados.
METODOLOGIA
Método que anseia pela possibilidade de estabelecer uma comunicação sensível, de criar um
processo de produção coletiva de conhecimento e provocar a intervenção concreta na
realidade.
DESENVOLVIMENTO: a partir de uma estética, baseada nos princípios humanistas e
democráticos do Teatro do Oprimido, elaborada a partir de condições objetivas e
possibilidades de cada grupo, é uma tarefa fundamental para praticantes do Método. É uma
questão politica, a teatralidade potencializa a discussão.
COMO? No Teatro do Oprimido utilizamos uma linguagem estética para expressar ideias,
questionamentos, e opiniões sobre a realidade e criar espaços de diálogo para que a plateia
também possa se expressar e não apenas consumir o que foi dito pelo elenco e pelo Curinga.
O teatro nos permite explorar diversos aspectos de uma questão, alguns dos quais só podem
ser percebidos sensorialmente.
Uma imagem bem elaborada pode ser tão ou mais potente para o entendimento do problema
encenado, do que um texto.
UTILIZAÇÃO DE LINGUAGEM ESTÉTICA PARA EXPRESSAR IDEIAS,
QUESTIONAMENTOS, E OPINIÕES SOBRE A REALIDADE E CRIAR
ESPAÇOS DE DIÁLOGO.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Teatro do Oprimido não se detém a buscar as formas mais


adequadas de ensino-aprendizagem. Sua meta essencial é criar
ambiente para o diálogo pleno, no qual opiniões diversas possam ser
expressas, respostas levantadas e novas perguntas provocadas.
Os novos rumos do Teatro do Oprimido exigem o desenvolvimento da
estética do Teatro do Oprimido, que valorize a identidade do método
em seus diferentes aspectos: processo estético-pedagógico, produção
artística e intervenção politica. Quanto mais reveladora for a
representação teatral, mais eficaz será a discussão que estimulará as
ações de desdobramento.

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