Você está na página 1de 282

Esta publicação recebeu o patrocínio da Prefeitura Municipal de Brusque através da

Fundação Cultural de Brusque com recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura


Rosemari Glatz

2018
Brusque - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Copyright © 2018 by Rosemari Glatz

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer


meio ou forma, sem a prévia autorização da autora. Citações
com a devida identificação da fonte são permitidas.

Dezembro de 2018, Editora da Unifebe

Apresentação: Ricardo José Engel


Capa: Egon Henrique Kohler Formonte
Projeto Gráfico e Arte Final: Celso Deucher
Foto da autora: Bruna Burigo
Acervo: Sociedade Amigos de Brusque e de Apoio ao Museu
Histórico do Vale do Itajaí-Mirim– SAB/Casa de Brusque
Fotografias: Daiane Benso
Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
Rosemari Glatz
Gravuras: Francine Cavalheiro Carbonera
Poema: Sarah Beatriz Frainer
Prefácio: Edineia Pereira da Silva Betta
Revisão: Francisco Daniel Imhof
Tradução para o alemão: Emília Rosenbrock

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Primeira edição - dezembro de 2018
Tiragem: 1.000 exemplares.

Glatz, Rosemari
Brusque – os 60 e o 160 : elementos da nossa
história / Rosemari Glatz. – Brusque : Ed. UNIFEBE,
2018.
280 p. : il. color. ; 21 cm.

ISBN 978-85-98713-18-2

1. Brusque - História. 2. Santa Catarina – História.


3. Brasil – História. I. Título.

CDD 981.64
Ficha catalográfica elaborada por Bibliotecária - CRB 14/727

Esta publicação recebeu o patrocínio da Prefeitura Municipal de Brusque através da


Fundação Cultural de Brusque com recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura
Para minha Família,
Pilares da minha existência
Com amor e admiração.

E também para você...


Quem passou pela vida em branca nuvem
Foto: Rosemari Glatz

E em plácido repouso adormeceu,


Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, e não homem,
Só passou pela vida, não viveu.

Autor: Francisco Otaviano


Entrada principal da casa do Cônsul Carlos Renaux. Foto: Rosemari Glatz
Prefácio
Indo e vindo ao encontro...

Na obra é possível verificar uma reunião de escritores,


historiadores, músicos e poetas que tiveram Brusque como
tema de seus escritos, permitindo um grande encontro.

Essa foi a sensação que tive anos da história de Brusque. nesta parte, com dados e ex-
após a leitura da obra. Imagens, ilustrações e fatos plicações minuciosas sobre
Alguém que passou muito inéditos inserem o leitor em economia, instituições, festas
tempo indo ao encontro de outros tempos, permitindo e tradições. Ah! E com breves
documentos, histórias e me- uma viagem pela Brusque de textos em alemão. Pois é justo
mórias e que conseguiu es- outrora. Que aliás era bem que, quem veio de diferentes
trategicamente compilar pre- maior! A cidade antes dos lugares, e até de além-mar,
ciosidades em curtos textos. imigrantes, os pioneiros des- envie notícias desta terra hos-
Exercício difícil! Arriscaria bravadores, as dificuldades pitaleira que hoje é tão nossa!
dizer, quase impossível para iniciais, as relações políticas, O sentimento que fica é de
muitos historiadores, e que a geográficas, econômicas e uma Brusque com múltiplas
autora fez com muito cuidado socioculturais são evidencia- identidades e em constante
e maestria. dos pela autora. Uma grande construção, que se orgulha
Na obra é possível verifi- inserção pela Brusque dos da sua organização atual, mas
car uma reunião de escrito- primeiros tempos. que conserva sobretudo suas
res, historiadores, músicos e A segunda parte preen- origens.
poetas que tiveram Brusque che uma grande lacuna, que Após a leitura, certamente
como tema de seus escritos, há muito esperávamos! Uma as praças, as ruas, os sobre-
permitindo um grande en- obra que nos apresentasse a nomes das pessoas, a dinâmi-
contro. Histórias, sentimen- cidade hoje, já que a chegada ca da cidade ganhará outras
tos, memórias e, principal- da tecnologia somada à cor- nuances.
mente, valores identitários... reria do dia a dia não mais Outra Brusque vai (re)
Em cada capítulo senti tudo nos permite conhecer e con- nascer pelos seus olhos!
isso vindo ao meu encontro! templá-la como de fato ela
Na primeira parte, cuida- merece. Como é a Brusque Aproveite e boa leitura!
dosamente fundamentada em atual? Em que contexto foi
documentos, é possível aden- sendo organizada? Perguntas Edinéia Pereira
trar nos primeiros sessenta como esta são respondidas da Silva Betta
Foto: Rosemari Glatz
Sumário
Parte 1: Os 60
O movimento colonizador para o Sul do Brasil..................................................................................................17
Quem já estava ocupando as terras........................................................................................................................19
A chegada dos primeiros imigrantes.....................................................................................................................23
No Porto de Itajaí: o Ancoradouro das Cabeçudas............................................................................................25
O deslocamento até Brusque...................................................................................................................................27
O barracão dos imigrantes........................................................................................................................................29
A moradia e a alimentação nos primeiros tempos...........................................................................................31
A relação da Colônia Itajahy-Brusque com o rio..............................................................................................33
Religião nos primeiros anos da Colônia...............................................................................................................43
Escolas nos primeiros anos da Colônia................................................................................................................57
A Stadtplatz e o polo gerador do plano urbano................................................................................................63
Xokleng, os indígenas em Brusque........................................................................................................................65
A imigração alemã........................................................................................................................................................75
A imigração polonesa..................................................................................................................................................85
A imigração italiana......................................................................................................................................................95
Participação de Brusque na Guerra do Paraguai..........................................................................................107
A Colônia Príncipe Dom Pedro.............................................................................................................................111
A emancipação da Colônia.......................................................................................................................................115
A evolução territorial e os desmembramentos...............................................................................................119
A evolução econômica da Colônia.......................................................................................................................131
A indústria têxtil em Brusque...............................................................................................................................143
A Guarda Nacional e os Coronéis de Brusque.................................................................................................153
Francisco Carlos de Araújo Brusque..................................................................................................................155
Barão Maximilian von Schneeburg.....................................................................................................................157
A Família de Pedro José Werner...........................................................................................................................161
João Bauer e a primeira usina de energia elétrica na região...................................................................163
Coronel Guilherme Krieger....................................................................................................................................167
A Família Renaux e a indústria têxtil..................................................................................................................173
A Família von Buettner e a indústria têxtil em Brusque..............................................................................181
A Família Schlösser e a indústria têxtil em Brusque.....................................................................................187
Folclore e tradições...................................................................................................................................................191
Palacete Renaux..........................................................................................................................................................197

Parte 2: O 160
Pórtico de Entrada na Rodovia Antônio Heil..................................................................................................202
Pórtico de Entrada na Rodovia Ivo Silveira.....................................................................................................203
Ponte Estaiada Irineu Bornhausen.....................................................................................................................204
Fórum Dr. Pedro Alexandrino Pereira de Mello.............................................................................................205
Câmara de Vereadores de Brusque.....................................................................................................................206
Prefeitura Municipal de Brusque.........................................................................................................................207
Observatório Astronômico de Brusque............................................................................................................208
RPPN Chácara Edith..................................................................................................................................................209
Fundação Ecológica e Zoobotânica de Brusque.............................................................................................210
Parque Leopoldo Moritz – Caixa D’água............................................................................................................211
Terminal Rodoviário Alvim Battistotti..............................................................................................................212
Terminal Rodoviário Urbano Balthazar Bohn................................................................................................213
Arena Multiuso Antônio Neco Heil.....................................................................................................................214
Pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof..........................................................................................215
Museu Histórico e Geográfico do Vale do Itajaí-Mirim/Casa de Brusque..........................................216
Instituto Aldo Krieger – IAK..................................................................................................................................218
Complexo de Azambuja............................................................................................................................................219
Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio....................................................................................................221
Museu Arquidiocesano Dom Joaquim...............................................................................................................222
Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux...........................................................................................223
Gruta de Nossa Senhora de Azambuja...............................................................................................................224
Seminário de Azambuja...........................................................................................................................................225
Morro do Rosário Azambuja..................................................................................................................................226
Villa Quisisana.............................................................................................................................................................227
Igreja Matriz São Luis Gonzaga............................................................................................................................228
Igreja Evangélica Luterana Paróquia Bom Pastor.........................................................................................230
Cemitério da Comunidade Evangélica Luterana...........................................................................................232
Antiga Maternidade Evangélica............................................................................................................................233
Tiro de Guerra de Brusque.....................................................................................................................................234
Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque................................................................................................................235
Casarão Dom Joaquim..............................................................................................................................................236
Clube Esportivo Paysandú......................................................................................................................................237
Complexo Histórico Indústrias Renaux............................................................................................................238
Villa Ida e seus mistérios........................................................................................................................................240
Villa Renaux: Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux.........................................................................242
Parque Internacional das Esculturas em Mármore Ilse Teske.................................................................244
Praça do Sesquicentenário....................................................................................................................................246
Praça Vicente Só..........................................................................................................................................................247
Praça da Cidadania.....................................................................................................................................................248
Praça Barão de Schneeburg...................................................................................................................................249
Praça Gilberto Colzani..............................................................................................................................................250
Praça Imigrantes de Karlsdorf..............................................................................................................................251
Praça dos Estudantes................................................................................................................................................252
Festa Nacional do Marreco.....................................................................................................................................253
Festa Nacional do Jeep.............................................................................................................................................254
Festa Nacional da Cuca: O doce sabor da tradição alemã..........................................................................255
Formação Administrativa de Brusque...............................................................................................................256
Dados demográficos..................................................................................................................................................258
Distâncias e principais vias de acesso...............................................................................................................259
Dados econômicos.....................................................................................................................................................260
O Brasão e a Bandeira de Brusque......................................................................................................................265
Hino do Centenário de Brusque...........................................................................................................................267
Hino de Santa Catarina.............................................................................................................................................268
Hino Nacional Brasileiro.........................................................................................................................................270
Agradecimentos..........................................................................................................................................................274
Sobre a obra e a autora............................................................................................................................................277
Os 60 e o 160................................................................................................................................................................278
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

13
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Mapa de Brusque retratando os empreendimentos


Renaux. Autor: Eugen Rombach. Acervo: SAB

14
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

15
Propaganda para atrair imigrantes alemães para o Sul do Brasil
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O movimento colonizador
para o Sul do Brasil
A ideia de colonizar o ter- a venda de terras governa- se grupo de imigrantes até o
ritório catarinense se formou mentais a preços moderados final da primeira metade do
na Administração da Capi- para os colonizadores a fim século XIX, a ocupação do ter-
tania de Santa Catarina, em de incentivar imigração. O ritório catarinense com imi-
1793, quando o governador governo tratou de direcionar grantes foi pouco expressiva.
João Alberto de Miranda Ri- os imigrantes para o Sul do A situação mudou a partir de
beiro propôs a instalação de Brasil, onde havia extenso 1850 e o acréscimo na vinda
duas povoações nas margens vazio demográfico, o número de europeus para o Brasil, de
do Caminho das Tropas de de escravos era pequeno e o modo especial para o Sul do
São José a Lages. A mesma clima era mais favorável aos país, bem como para outros
ideia foi mantida e defendi- europeus. O modelo adota- países livres da América, ex-
da em proposições escritas, do foi a fundação de colônias pressava os desajustamentos
mais tarde, por Paulo José em regiões não ocupadas por sociais na Europa do século
Miguel de Brito e por João grandes proprietários, onde XIX.
Antônio Rodrigues de Carva- agricultores livres foram ins-
lho. Embora essas propostas
de povoação representassem
talados em pequenas pro-
priedades.
Impulsos para
uma área de apoio socioeco- Foi neste contexto que a emigração
nômico para a região e uma ocorreu o grande afluxo de da Europa para
base para qualquer operação imigrantes para o nosso esta-
militar, só vão ter seguimento do. O ingresso de imigrantes o Brasil
mais tarde (PIAZZA, 1994). europeus, não portugueses,
Após a independência do em Santa Catarina se dá com As guerras, as lutas políti-
Brasil, em 1822, o país passou a chegada das primeiras levas cas, o excessivo crescimento
a olhar a questão da imigração de imigrantes alemães que populacional, os altos impos-
sob uma nova perspectiva e a aconteceu no final do ano de tos e as terras concentradas
ideia da imigração europeia 1828 em Desterro (atual Flo- nas mãos de poucos deixa-
foi se fortalecendo. Durante rianópolis], com a chegada de vam os camponeses em situ-
algum tempo, o foco foi recru- um grupo de imigrantes que, ação econômica difícil na Eu-
tar soldados e marinheiros em 1829, foram assentados ropa, o que veio a favorecer
mercenários com o objetivo na Colônia São Pedro de Al- o desenvolvimento de novas
de formar o exército e a ma- cântara, a primeira colônia colônias no estado de Santa
rinha brasileiros. A partir de alemã do estado de Santa Ca- Catarina. Somando-se aos fa-
1830, a política imigratória tarina. tores sociais, havia também a
brasileira passou a promover A partir da chegada des- intensa atuação dos agentes

17
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

de emigração e companhias
de navegação que publicavam Quando o processo de ocupação das terras por imigran-
anúncios no jornal. O pesqui- tes europeus teve início, a Província de Santa Catarina se
sador Lothar Wieser (2014) resumia à cidade de Desterro e três vilas: Laguna, Lages e
informa que agentes regio- São Francisco e predominava a população de origem lu-
nais de grandes companhias sitana. A vinda dos primeiros alemães trouxe uma contri-
de navegação tinham formado buição de sangue novo para a província barriga-verde.
uma grande rede de subagen-
tes, que captavam emigrantes Era reiterada a informação vários países europeus ao
e os destinavam para a cha- de que era possível adquirir longo da sua história e que se
mada “América”. Recrutavam- terras a preços módicos e que fixaram por aqui. Começou a
se emigrantes com brochuras, fome ninguém passava. Gra- ser colonizada por imigran-
notícias e cartas para que se ças à fertilidade espantosa da tes alemães, aos quais se so-
estabelecessem em partes terra e ao clima favorável, a maram poloneses e, por fim,
desconhecidas do mundo, nas fartura e a prosperidade eram recebeu um grande grupo de
quais supostamente um ver- uma realidade para quem não italianos, os quais foram sen-
dadeiro Eldorado estava à sua tivesse preguiça de trabalhar. do instalados em regiões pró-
espera. A emigração tinha se Mesmo quem tivesse dinhei- ximas, de acordo com a sua
tornado um negócio lucrativo ro era atraído para as novas região de origem.
para muitas categorias profis- colônias, pois o investimento
sionais, para intermediários poderia trazer bom retorno
e agentes, correios e trens, financeiro em curto espaço
hoteleiros e fornecedores, de tempo.
Como resultado de uma
armadores e funcionários de
soma de fatores, a imigração
REFERÊNCIAS
navios.
Além da situação de misé- de europeus em Santa Cata-
PIAZZA, Walter Fernando.
ria decorrente do empobre- rina se torna uma realidade,
A Colonização de Santa Cata-
cimento massivo e da intensa principalmente na segun-
da metade do século XIX. O rina. 3ª edição. Florianópolis:
atuação dos agentes de emi-
maior volume imigratório Editora Lunardelli, 1994.
gração, também era relati-
de alemães em solo “barri- WIESER, Lothar. “Das hie-
vamente comum as pessoas
ga-verde” aconteceu entre sige Land gleicht einem Para-
receberem cartas de familia-
res ou amigos que já haviam os anos de 1840 e 1870; dos dies”: Die Auswanderung von
emigrado para as Américas, poloneses começou em 1869 Baden nach Brasilien im 19.
funcionando como incentivo e se intensificou nos anos Jahrhundert (“Esta terra é um
e provocando a emigração em de 1890, e os imigrantes ita- paraíso”: A emigração baden-
cadeia. Nestas cartas, além de lianos chegaram em grande se ao Brasil no século XIX).
dar notícias, se retratava um quantidade entre os anos de Volume 1. Badisch-Südbrasi-
pouco da situação dos emi- 1875 e 1880. Brusque é um lianische Gesellschft (BSG):
grados e das dificuldades e fa- exemplo clássico de colônia Karlsdorf-Neuthard: Verlag
cilidades nas novas colônias. que recebeu imigrantes de Regionalkultur, 2014.

18
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Quem já estava
ocupando as terras
Quando falamos de Brus- públicas. Nesta região fixa- planos de colonização. Após
que, 1860 é referenciado ram-se vários moradores ter trazido para as bandas de
como o ano de início da colo- que se dedicaram à pequena Itajaí muitas famílias de agri-
nização, pois, em 4 de agosto agricultura e ao corte de ár- cultores de outros pontos da
daquele ano chegou à Colônia vores para a serração. O sis- Província e, até mesmo colo-
Itajahy-Brusque o primeiro tema sesmarial perdurou no nos alemães - dos chegados
grupo de imigrantes alemães Brasil até 1822 e depois da em 1828 na Colônia São Pe-
destinados à colonização do independência, Agostinho dro de Alcântara -, conseguiu
território, conduzidos pelo Alves Ramos, um comercian- que fossem criadas, pela Lei
Barão Maximilian von Sch- te antes estabelecido em São nº 11 de 1835, duas colônias:
neeburg. No entanto, quando Pedro do Rio Grande do Sul e uma em Belchior, e outra às
os primeiros imigrantes che- posteriormente em Desterro margens do rio Itajaí-Mirim,
garam o território já estava (atual Florianópolis), resol- às cabeceiras do Ribeirão
ocupado, e dentre os que aqui veu transferir-se e edificou, Conceição.
estavam vamos encontrar o nas imediações do rio Itaja- A tentativa de 1835 não
pioneiro Peter Joseph Werner, í-Açu, uma casa de negócios logrou êxito como um núcleo
seu sogro e cunhados. Tam- que acabou por inaugurar colonial, e somente anos mais
bém Franz Sallenthien, Paul uma era decisiva para o de- tarde foi que o Presidente da
Kellner e Reinhold Gaertner senvolvimento da coloniza-
eram proprietários de terras, ção de toda a Bacia do Itajaí.
O local que acolheu
bem como o mais conhecido Ele veio acompanhado da
o primeiro grupo de
pioneiro, o lendário Vicente esposa e de um sacerdote e
Só. Mas, para compreender logo foram construídas uma imigrantes alemães fica
essa história é preciso “voltar capelinha e a casa de negó- em frente da Sociedade
um pouco no tempo” e, ao fa- cios. Ao seu entorno foi se Recreativa Bandeirante,
zê-lo, verifica-se que a funda- formando a freguesia “S. S. e em 2018 é conhecido
ção de Brusque, na verdade, Sacramento do Itajahy”, que como Praça Vicente Só.
se mistura com a própria fun- mais tarde viria a se tornar a A praça foi reinaugurada
dação de Itajaí. Vila de Itajahy. Homem bas- em 4 de abril de 2011
De acordo com José Ferrei- tante instruído, prestativo e e recebeu obras que
ra da Silva (1972), em 1819 industrioso, Alves Ramos tor- retratam o encontro de
já havia nas margens do rio nou-se, em pouco tempo, che- imigrantes alemães com
Itajaí-Mirim duas sesmarias fe político e conselheiro dos os indígenas e que foram
onde o governo da Capita- moradores. Eleito deputado esculpidas em 2002 pelo
nia mantinha um estabeleci- provincial em várias legisla-
artista David Rodrigues,
mento oficial que preparava turas, valeu-se do prestígio do
de Curitiba (PR).
madeira para as construções mandato em proveito de seus
19
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Pedro Werner e a esposa Catarina Palm, com os filhos Maria, Nicolau e Pedro. Acervo: SAB

Província de Santa Catarina Itajahy o primeiro grupo de no lugar denominado Vicen-


determinou nova colonização imigrantes alemães dirigidos te Só. Ali encontraram uma
para a região. Mas, entre 1835 pelo Barão Maximiliano von casa, um engenho de serra e
e 1860, alguns colonizadores Schneeburg, acompanhados um de farinha de mandioca
adquiriram terras às margens de Francisco Carlos de Araújo pertencentes a Pedro Werner,
do Itajaí-Mirim e ali se insta- Brusque, Presidente da Pro- e foi ele que alojou o grupo de
laram, de forma que já exis- víncia de Santa Catarina entre imigrantes em sua casa e en-
tiam na região três engenhos 21/10/1859 e 17/04/1861, genhos, pois nada estava pre-
de serra, pertencendo um ao e em sua homenagem a cida- parado para receber os colo-
industrial Werner; outro, ao de recebeu seu nome. Inicial- nizadores.
comerciante Sallenthien, e o mente, se instalaram no pon- Peter Joseph Werner, ou
terceiro era de Kellner. Assim to demarcado pelo Delegado Pedro José Werner (em portu-
como os colonos recém-che- de Terras Públicas da Provín- guês), pertencia a uma famí-
gados, todos eram alemães. cia de Santa Catarina, Major lia que fez parte do grupo de
Em 1860 chegou à Colônia João de Souza Melo e Alvim, imigrantes alemães que em

20
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

1828 aportou em Desterro Franz Sallenthien, ou Fran-


e, a partir de 1829, estabele- cisco Sallenthien (em portu-
ceu a primeira colmeia alemã guês), era vizinho de Pedro
em Santa Catarina. Situada José Werner e comerciante na
no Vale do Maruim, região de Barra do Rio, confluência dos
natureza exuberante próximo rios Itajaí-Mirim e Itajaí-Açú
a Florianópolis, São Pedro de (Itajaí). Segundo José Ferreira
Alcântara se mantém pacata da Silva (1950), Sallenthien
como nos primeiros tempos. era de Brunswick, terra natal
Ainda se fala alemão em mui- do Dr. Blumenau e tinha 24
tas casas, preenchidas com anos quando chegou a Blu-
móveis herdados dos ante- menau. Poucos anos após a
passados. Da colônia funda- sua chegada, mudou-se para
da em 1º de março de 1829, o local Barra do Rio, próxi-
muitos imigrantes saíram mo a Itajaí, onde estabeleceu Esposa e filhas de Franz Sallenthien
para implantar núcleos em um pequeno negócio. Ali o Dr. Acervo: SAB
outras regiões catarinenses. Blumenau comprara terrenos
Espalharam pelo estado o es- de Agostinho Alves Ramos os seus negócios comerciais.
pírito empreendedor e a per- e fizera construir barracões Sallentien auxiliava os patrí-
sistência exigidos aos que se para hospedagem dos imi- cios recém-chegados, acon-
propõem a desbravar um ter- grantes que, desembarcados selhando-os e instruindo-os.
ritório desconhecido. Dentre dos veleiros transatlânticos, Construiu, depois, um enge-
eles, vamos encontrar Wer- aguardavam transporte para nho de serrar madeiras, rio
ner, que, na década de 1850, a sua Colônia, rio acima. Ao Itajaí-Mirim acima, nos terre-
transmigrou para a região de mesmo tempo, eles já faziam nos que mais tarde passaram
Itajaí onde fixou residência e, a integrar a Colônia Itajahy
já em 15 de fevereiro de 1855, -Brusque. Foi um dos primei-
começou a movimentar em ros moradores e colonizado-
Brusque os seus engenhos. res de Brusque.
Membros da família da espo- Ayres Gevaerd (1980) es-
sa de Peter Joseph Werner, a creveu que Sallenthien tinha
família Palm, também haviam recursos materiais e era dota-
se instalado na região de do de cultura geral. Foi dono
Brusque. de engenho e grande proprie-
Os outros três alemães que tário de terras no local da fu-
já possuíam terras na Colô- tura sede de Brusque, no lu-
nia Itajahy-Brusque em 1860, gar conhecido como “Vicente
Sallenthien, Kellner e Gaert- Só”. A área era de 750 braças
ner, compunham o grupo dos de frente para o rio Itajaí-Mi-
17 imigrantes pioneiros que, rim, e 3.000 braças de fundo,
a 2 de setembro de 1850, fun- e foram vendidas por Sallen-
daram a Colônia Blumenau. thien para Pedro José Werner.
Franz Sallenthien. Acervo: SAB

21
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Era amigo de Paul Kellner. do Dr. Hermann Blumenau, tarde foi com a família mo-
Paul Kellner, ou Paulo Kell- era proprietário de imóvel na rar em Coloninha, Itajaí, onde
ner (em português), também região de Brusque. Conforme terminou os seus dias. Ayres
foi um dos precursores do Silva (1950), assim como Sal- Gevaerd (1980) complemen-
vale do Itajaí-Mirim. Era pro- lenthien e Kellner, Gaertner ta as crônicas a respeito de
prietário de engenho de ser- igualmente era de Brunswi- Vicente Só informando que,
rar madeiras instalado em ck, terra natal de seu tio, e como ninguém pode viver em
Pedras Grandes quando o pri- tinha 26 anos quando che- sonho eterno só contemplan-
meiro grupo organizado de gou. Era Cônsul do Ducado de do as belezas naturais, pos-
colonizadores alemães che- Brunswick, um ducado torna- sivelmente também ele teria
gou à Colônia Itajahy-Brus- do independente em 1815 no sido um garimpeiro de ouro
que. Congresso de Viena, cuja ca- na região da Colônia Itajahy
De acordo com José Fer- pital era a cidade de Brunswi- -Brusque.
reira da Silva (1950) Kellner ck. Coube a Gaertner a tarefa
também era de Brunswick, so- de guiar os primeiros colo-
brinho do Dr. Hermann Bruno nos, desde a Alemanha até a REFERÊNCIAS
Otto Blumenau, fundador da barra da Velha, em Blumenau.
cidade de Blumenau, e tinha Por vários anos se manteve GEVAERD, Ayres. Notícias
23 anos quando chegou em ao lado do tio, auxiliando-o de Vicente Só. Ano 4. Nº 14.
Blumenau. Pouco tempo de- nos seus trabalhos, comparti- Abril, maio, junho 1980.
pois de sua chegada, mudou- lhando dos seus insucessos e SILVA, José Ferreira da.
se para o local Barra do Rio, dos seus aborrecimentos. Es- História de Blumenau. Cen-
próximo a Itajaí, onde mon- tabeleceu-se, mais tarde, na
tenário de Blumenau. 1850-
tou um engenho de serra. povoação de Itajaí, de onde
1950. Blumenau. Edição da
Seu estabelecimento foi regressou a Alemanha, onde
Comissão dos Festejos: 1950.
atacado pelos índios, em desviveu.
1855, justamente quando se Outro nome mencionado SILVA, José Ferreira da.
construíam os fundamentos pelos historiadores é o de Vi- História de Blumenau. Floria-
desse engenho. Kellner foi cente Ferreira de Mello, mais nópolis: Editora EDEME - Em-
gravemente ferido por uma conhecido por Vicente Só. preendimentos Educacionais
flecha. Os cuidados médicos Consta que quando o primei- Ltda., 1972.
que lhe dispensou o sábio ro grupo de imigrantes ale- Blumenau em Cadernos.
Fritz Müller e a sua natureza mães chegou a Brusque, ele já O que havia no território de
robusta e sólida, auxiliaram- estava estabelecido no morro Brusque, Nova Trento e Blu-
no a refazer-se. Viveu longo onde agora se encontra edifi- menau. Blumenau em Cader-
tempo e desviveu no Rio de cada a Igreja Católica São Luis nos. Tomo II. Outubro 1959.
Janeiro, para onde se mudara Gonzaga, no Centro de Brus- Nº 10. Disponível em:< http://
nos derradeiros anos de sua que. Ele não possuía terras hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/
vida. na Colônia, e contam as crô-
blumenau%20em%20cader-
Do mesmo modo, Reinhold nicas que, andando a caçar,
nos/1959/BLU1959010_out.
Gaertner, ou Reinoldo Gaert- achou o lugar muito bonito
pdf> Acesso em 14 de setem-
ner (em português), sobrinho e se instalou na região. Mais
bro de 2018.
22
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A chegada dos
primeiros imigrantes
A primeira leva organiza- lônia, em 1860. Ao grupo pio-
da de colonizadores alemães O primeiro grupo orga- neiro logo se somaram novas
chegou à Colônia Itajahy nizado de colonizadores levas de imigrantes de diver-
(atual Brusque), no dia 4 de chegou a Brusque no dia sas regiões da Alemanha. A
agosto de 1860. O grupo era 4 de agosto de 1860. Era segunda turma de imigrantes
composto por 54 pessoas, composto por Augusto chegou poucos dias depois,
veio sob o comando do Barão Höffelmann, João em 19 de agosto, e era com-
Maximilian von Schneeburg, Wilhelm, Frederico posta, em sua maioria, por la-
primeiro diretor da Colônia, Guilherme Neuhaus, João vradores de Baden e do Reno.
e chegou acompanhado pelo José Scharfenberg, Mais tarde, juntaram-se a eles
Presidente da Província de Frederico Orthmann, outros colonizadores prove-
Santa Catarina, Dr. Francisco João Germano Boiting, nientes, sobretudo, das pro-
de Araújo Brusque. Era a se- Jacó Morsch, João víncias prussianas da Pome-
gunda vez que se tentava a Ostendarp, Daniel Walther rânia e Schleswig-Holstein. 
colonização do Itajaí-Mirim. e Luis Richter. Eles foram Nos primeiros dias, o Di-
A primeira tentativa de colo- conduzidos pelo Barão retor da Colônia, Barão von
nização, em 1836, pela execu- Maximilian von Schneeburg, e as famílias de
ção da Lei Provincial nº 11, de Schneeburg, primeiro imigrantes se abrigaram no
05/05/1835 no lugar deno- diretor da Colônia, e rancho e no engenho de Pe-
minado Taboleiro, não tinha chegaram acompanhados dro José Werner, pois, exceto
dado resultado. por suas famílias. pela designação do local, ne-
De acordo com Cabral nhuma providência havia sido
(1958), o grupo levou seis onde os imigrantes deveriam tomada pelo Poder Público
dias para subir o rio, desde a seguir em canoas para o local para instalar os colonos. Tudo
sua barra (Itajaí) até o ponto destinado ao estabelecimento estava por fazer. Em seguida,
do seu desembarque em “Vi- da colônia. os colonizadores construíram
cente Só”. Estes imigrantes ha- Quando chegaram, os colo- um tosco rancho com troncos
viam saído de Desterro, a bor- nizadores encontraram a área de palmito e cobertura de pa-
do da “Belmonte”, canhoneira ocupada. Além dos nativos, a lha, onde durante nove meses
da marinha de Guerra do Bra- Colônia Itajahy-Brusque já ficaram alojados precaria-
sil, que fundeou na Barra do estava sendo explorada por mente até que pudessem ocu-
Rio, onde estava situado um outros imigrantes que haviam par definitivamente os lotes
armazém próprio para pouso se instalado na região antes que lhes foram designados.
provisório dos colonos e de da constituição oficial da co- Mesmo então, não consegui-
23
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

ram dedicar-se integralmente


aos trabalhos agrícolas, pois (...). Aqui vivemos no meio da natureza e tu, meu avô, certa-
nos primeiros anos tiveram mente gostaria de viver aqui. O nosso lar, na casa onde moramos
que se dedicar à construção é coberta de folhas de palmiteiras, sem janelas e sem assoalho, e a
de estradas. uns trinta passos da mesma está a mata virgem entre as mais belas
Apesar das dificuldades flores e em volta das mesmas vê-se o beija-flor voando. O chão está
iniciais, Max Tavares D’Ama- coberto de baraços, nos quais muitas vezes corre-se o perigo de cair.
ral (1950) escreveu que o Do topo das árvores, os baraços enviam seus cipós até o chão, sendo
progresso da Colônia Itajahy que alguns deles são finos e outros chegam a ter a grossura de um
-Brusque foi surpreendente. braço. Deste cipó fazemos cordas que são mais fortes do que sisal.
Em 1861, a população já era Com estes cipós amarramos as paredes das casas.
de 657 colonos. Em 1863, Que passarinhos de cores e formas inimagináveis! Tangerinas,
atingia 938 habitantes, dos pêssegos, mamões e outras frutas para nos deleitarmos no verão....
quais 659 católicos e 279 Naturalmente para os que gostam de folguedos, estes faltam. Mas
protestantes. A população era também os temos aqui. Eu danço ao som de um violino e de um har-
quase toda teuta (alemã), vin- mônio, enquanto na Alemanha se ouvem orquestras e coros. Cada
do das mais variadas zonas terra com seus costumes. Nossos trajes são muito simples: os ho-
da Alemanha. Só mais tarde mens usam camisa azul e a calça é segurada por um cinto no qual
passaram a chegar outros po- penduram um facão de dois palmos. Nós mulheres, vestimos saia e
vos, como os poloneses, em blusa e em geral andamos descalças ou calçamos tamancos, e na-
1869, e os italianos, a partir turalmente somos alegres. Nos dias de festa vestimos nossas roupas
de 1875. trazidas da Alemanha, com as quais também vamos à igreja.
Os fragmentos da carta Em nosso pasto temos duas vacas, dois terneiros, e meu cavalo
que a imigrante alemã Rosa- Alazão que vale uma fortuna para mim, pois me leva nos domin-
lie (Roese) Auguste Sametzki gos à igreja que fica há uma hora de distância (...). Os bugres, aqui
escreveu a seus avós que resi- ninguém precisa temer, pois um tiro de espingarda os assusta logo.
diam na Alemanha, em agosto Porém, o que falta aqui é mão de obra qualificada ou pessoas que
de 1860, exatamente no mês trabalhem. (…). A comida é em geral feijão preto, farinha e carne
e ano em que teve início a co- seca. Nós já procuramos modificá-la. Fabricamos açúcar e cachaça
lonização de Brusque, falam (...). O nosso pão é de milho e é muito gostoso. Ah! Se vocês pudessem
sobre a região do Vale. viver aqui conosco para ver e provar do mesmo (...).
O texto foi publicado na Re-
vista Blumenau em Cadernos, REFERÊNCIAS
Tomo XXVI, 1985 e retrata, Álbum do 1° Centenário de CABRAL, Oswaldo R. Brus-
em pinceladas, alguns aspec- Brusque – Edição da Socieda- que: Subsídios para a história
tos da nossa região à época da de Amigos de Brusque. 1960. de uma colônia nos tempos
colonização de Brusque: D’AMARAL, Max Tavares. do Império. Brusque: Edi-
Contribuição à História da ção da Sociedade Amigos de
Colonização Alemã no Vale Brusque comemorativa do 1º
do Itajaí. São Paulo: Instituto Centenário da Fundação da
Hans Staden, 1950. Colônia, 1958.
24
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Transferência dos imigrantes dos veleiros para pequenas embarcações

No Porto de Itajaí:
o Ancoradouro das Cabeçudas
No tempo em que teve iní- baldeados para pequenas gem, os imigrantes descansa-
cio a Colônia Itajahy-Brusque, embarcações e transportados vam alguns dias no barracão
o Porto de Itajaí ainda não até os barracões dos imigran- dos imigrantes da Barra do
existia, os navios aportavam tes. Construídos na foz do rio Rio antes de seguir viagem
no Ancoradouro das Cabeçu- Itajaí-Mirim, conhecido até para a Colônia. Nos primei-
das, local onde ancoravam as hoje como Barra do Rio, esses ros tempos, o rio é que era a
embarcações que transpor- barracões tinham capacida- estrada mais segura e fácil,
tavam imigrantes e as cargas de para abrigar de 160 a 200 e barcas, lanchões e canoas
para as colônias dos “Vales pessoas. eram utilizados para a viagem
do Itajaí”. De lá, os passagei- Ao chegar em terra firme, que demorava de três a cinco
ros e cargas precisavam ser exaustos pelos meses de via- dias entre Itajaí a Brusque.
25
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A pesquisadora Thayse Fa-


gundes (2014), em sua Dis-
sertação de Mestrado escreve
sobre a “Enseada de Cabe-
çudas”, onde ficava o Anco-
radouro utilizado pelos imi-
grantes:

“Desde antes da funda-


ção do Município de Itajaí em
1860, a Enseada de Cabeçudas
já era conhecida dos navega-
dores que desejavam entrar no
rio Itajaí ou aportar na cidade.
Era comum que em dias com o
mar bravio e cheias as embar-
cações ancorassem em Cabe-
çudas (JORNAL O DIA, 1911).
Em 1862 uma embarcação
trazendo colonos que desem-
barcariam em Itajahy foi for-
çada pelo mau tempo a per- Mapa do litoral catarinense
manecer ancorada por três
dias naquela enseada (O MER- que em 1904, ao transportar REFERÊNCIA
CANTIL, 1862). material metálico para a pon-
O senhor José Rolino Alves te sobre o rio Itajaí-Mirim, nas FAGUNDES. Thayse. Ense-
Serpa, naquela ocasião, res- proximidades da sede da Vila ada de Cabeçudas: a forma-
ponsável pelos colonos, arcou de Brusque, teve que aguar- ção sócio espacial do Balne-
dar um vapor menor que faria ário. Dissertação submetida
com mais de 200 mil réis para
ao Programa de Pós-Gradua-
a alimentação do grupo (O a condução pelo rio (VAPOR,
ção em Urbanismo, História
MERCANTIL, 1862). 1904).
e Arquitetura da Cidade da
O requerimento para res- Linhares contou que alguns Universidade Federal de San-
sarcir sua despesa que fez ao navios aguardavam no mar ta Catarina para a obtenção
sr. Dr. Brusque, principal res- por horas e até por dias a au- do Grau de Mestre em Urba-
ponsável pela viagem, não foi torização para entrada no rio, nismo, História e Arquitetu-
esta resposta era dada por um ra da Cidade. Florianópolis
atendido de imediato. Não se
posto de sinalização que fica- 2014. Disponível em: < fi-
sabe exatamente como a com- le:///C:/Users/Rose/Down-
pra de mantimentos era reali- va na Atalaia, estendendo uma
loads/327815%20(1).pdf >.
zada nestas condições. bandeira vermelha” (LINHA- Acesso em 28 de agosto de
O vapor alemão “Numidia” RES, 1997, p.10). 2018.
26
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Imigrantes viajando da Europa para o Sul do Brasil

O deslocamento até Brusque


A viagem da Europa para o muitas vezes exaustos pelos Rio acima, a viagem durava
Brasil levava entre dois e três meses de viagem, os imigran- de três a cinco dias entre Ita-
meses de navio. tes descansaram alguns dias jaí a Brusque. Aqui chegando,
Chegando em Santa Catari- no barracão antes de seguir os colonizadores eram insta-
na, o Porto de Itajaí ainda não viagem para a Colônia. lados no Barracão dos Imi-
existia e as embarcações que Da barra do Porto de Itajaí, grantes, destinado ao abri-
transportavam imigrantes onde os imigrantes aporta- go provisório de imigrantes,
e as cargas para as colônias vam, até Brusque, o transpor- que ficava nas proximidades
aportavam no Ancoradouro te dos colonizadores e seus do atual Clube de Caça e Tiro
das Cabeçudas. pertences era feito pelo rio Araújo Brusque.
Em seguida, os passageiros Itajaí-Mirim. Era a opção mais Durante muitos anos, o rio
e as cargas eram transporta- segura e fácil para chegar à Itajaí-Mirim foi a principal
dos por pequenas embarca- Colônia. via de transporte, não só para
ções até os barracões dos imi- O percurso era feito usan- o deslocamento de pessoas,
grantes, na Barra do Rio. do botes, lanchões e canoas mas também para o transpor-
Ao chegar em terra firme, impulsionadas por remo. te de mercadorias.
27
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Partes do texto “Diário de Viagem do Imigrante Paul


Schwarzer”, que retrata uma experiência comum daque-
les que aqui chegaram nos primeiros anos da colônia. A
Família Schwarzer chegou na Colônia Brusque por volta
do ano de 1864.
A Vila Itajaí é bem situada numa planície de vale na foz
do Itajaí. A margem esquerda é muito baixa e coberta por
mata de palmeiras. A vila fica na margem esquerda, entre
laranjais, e diante dela, alguns navios. Velejamos com nos-
sa fragata um pedaço rio acima, até uma casa de recep-
ção destinada aos colonos. Desembarcamos com nossos
pertences e fomos até a casa de recepção. Achava-se ali,
naquela ocasião, o Diretor da Colônia Brusque, Barão von
Schneeburg, hospedado no hotel que ficava perto da casa
de recepção. Na manhã seguinte após a nossa chegada,
ele nos fez uma visita e se mostrou extremamente aten-
Canoas utilizadas para transporte de
cioso conosco. Era um homem idoso, bigode e cavanhaque
pessoas no rio Itajaí-Mirim, enquanto
brancos. Era do Tirol e foi oficial austríaco. Encontrava- não havia estradas. Acervo: SAB
se já há muitos anos nesta terra.
Depois de uma semana, chegou um bote da colônia
para transportar nossas coisas. Minha mãe e irmãs foram
acomodadas no bote, enquanto meu pai e eu seguimos
a pé até uma pequena hospedaria que fica perto do rio REFERÊNCIAS
Itajaí-Mirim, afluente do grande Itajaí, onde esperamos o
bote, que ancorou na manhã seguinte. O Barão von Sch- Blumenau em Cadernos.
neeburg, chegou em seguida, em sua canoa. Ele pagou a Diário de Viagem do Imigran-
todos um bom jantar. Na outra manhã, o diretor chamou te Paul Schwarzer. Arquivo
uma canoa com dois homens (um branco e um mulato), Histórico José Ferreira da Sil-
que iriam levar minha mãe, minhas irmãs e a mim até a va, tomo XXV, nº 9, 1987.
colônia (...). Viajamos, rio acima, com a canoa para a Co- CABRAL, Oswaldo R. Brus-
lônia Itajahy-Brusque. A maior parte da viagem era feita
que: Subsídios para a história
entre mata virgem, que me pareceu bem perto da mar-
gem do rio, num aspecto completamente novo. Do solo de uma colônia nos tempos
até acima nos altos das árvores enrolavam-se trepadei- do Império. Brusque: Edi-
ras num emaranhado tão denso que formava verdadeiras ção da Sociedade Amigos de
cortinas, que impediam a vista para o interior da mata, às Brusque comemorativa do 1º
vezes formando caramanchões naturais enfeitados com Centenário da Fundação da
belas flores. De vez em quando, víamos belas plantações Colônia, 1958.
de cana, milho, etc. Também passávamos por serrarias. D’AMARAL, Max Tavares.
Quando chegou a noite, e sendo muito tarde para conti- Contribuição à História da
nuar a viagem, nossos guias entraram em um ribeirão e
Colonização Alemã no Vale
amarraram a canoa. Na manhã seguinte seguimos via-
gem pelo rio (...). do Itajaí. São Paulo: Instituto
Hans Staden, 1950.
28
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Barracão de recepção dos imigrantes na Barra do Itajahy. Acervo: Rosemari Glatz

O barracão dos imigrantes


Nas colônias instaladas Os primeiros imigrantes vidência havia sido tomada
no estado de Santa Catarina que chegaram em 4 de agos- pelo Poder Público para ins-
a partir da segunda metade to de 1860 para colonizar a talar os colonos. Então, por
do século XIX, os imigrantes Colônia Itajahy-Brusque não um período de tempo o Dire-
que chegavam para colonizar conseguiram se abrigar no tor da Colônia, Barão von Sch-
o território eram acolhidos “Barracão dos Imigrantes”, neeburg, e os imigrantes se
nas chamadas “Casas de Imi- pois ele ainda não havia sido ajeitaram no rancho e no en-
gração”. Os imigrantes que construído e nenhuma pro- genho de Pedro José Werner.
aportavam no Ancoradouro Os dias seguintes à chegada
das Cabeçudas, em Itajaí, ini- foram destinados à derru-
cialmente eram acolhidos na A distância entre bada da mata e à construção
casa de recepção, que ficava o barracão da Colônia de um rancho de palha, que
na Barra do Rio. Ao chegar Itajahy-Brusque e o serviria como “Barracão dos
em terra firme, antes de se- barracão da Colônia Imigrantes”, onde ficaram até
guir viagem para a Colônia, os Príncipe Dom Pedro era que puderam ocupar definiti-
colonizadores descansavam de cerca de 4 km, distân- vamente os lotes que lhes fo-
alguns dias no barracão dos cia entre o início da Rua ram designados. E ali ficaram
imigrantes. O percurso até a do Cedro, no bairro Dom instalados precariamente du-
colônia onde seriam instala- Joaquim, até o Clube de rante longos nove meses.
dos era feito pelo rio, usando Caça e Tiro Araújo O primeiro barracão da
botes, lanchões e canoas im- Brusque, Centro. Colônia Itajahy-Brusque, ou
pulsionadas por remo. “Casa da Imigração” foi cons-
29
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Chegada dos imigrantes pelo rio Itajaí-Mirim. Acervo: SAB


truído em 1860, na região les construindo as primeiras zaga Steiner, Travessa Lagoa
onde está edificado o Clube casas provisórias, para que Dourada, nas proximidades
de Caça e Tiro Araújo Brus- as famílias dos imigrantes se do bairro Dom Joaquim, Brus-
que, rua Hercílio Luz, também instalassem provisoriamente que.
conhecida como “Rua das Os primeiros lotes coloniais
Carreiras” no bairro Centro, foram demarcados a partir
bem próximo do rio Itajaí-Mi- dos rios e ribeirões, abran-
rim. Era o espaço destinado à gendo, em média, 25 a 30 hec-
REFERÊNCIAS
recepção e hospedagem dos tares cada lote.
CABRAL, Oswaldo R. Brus-
colonizadores. Poucos anos depois, em
que: Subsídios para a história
Durante o tempo de prepa- 1867, foi construído mais um
de uma colônia nos tempos
ração do espaço que receberia barracão, este para acolher
do Império. Brusque: Edi-
a família, mulheres e crianças os imigrantes destinados à
ção da Sociedade Amigos de
ficavam instaladas no Barra- Colônia Príncipe Dom Pedro.
Brusque comemorativa do 1º
cão dos Imigrantes. O traba- Ali, em março daquele mes-
Centenário da Fundação da
lho de ocupação das terras mo ano, aconteceu o primeiro
Colônia, 1958.
era feito em mutirão, também acampamento dos coloniza-
NIEBUHR, Marlus. Orga-
chamado de “pixurum”, com dores no barracão provisório
nizador. Brusque 150 Anos:
grupos de homens abrindo as de Águas Claras, erguido no
Tecendo uma História de Co-
picadas, os claros na floresta terreno onde, em 2018, fun-
ragem. Fundação Cultural de
nativa, derrubando as árvo- ciona a Escola de Educação
Brusque, 2012.
res, delimitando os lotes e ne- Fundamental Padre Luiz Gon-
30
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A moradia e a alimentação
nos primeiros tempos
Quando os primeiros co-
lonizadores chegaram à Co-
lônia Itajahy-Brusque, não
havia sido providenciado su-
ficiente alimentação. De acor-
do com Buggenhagen (1941)
ainda estava vívido na memó-
ria dos velhos o que os pais
lhes contaram sobre as crises
provocadas entre eles pela
fome e penúria, e como, sen-
tados à margem do rio, eles
tinham chorado sua desven-
tura. Durante muito tempo,
uma opção fácil de alimenta-
ção foi o palmito. Se os tron-
cos e as folhas serviam para
a construção das moradias
primitivas dos colonizado-
res, o miolo do palmito juçara
servia para o preparo de ali-
mentos com carnes de aves. A
captura de pequenos animais
e as formas de caçada de aves
foram desenvolvidas, e assim
os colonizadores passaram
a fazer caçadas para abaste-
cer a dispensa. Era comum
encontrar porcos-do-mato,
jaguatiricas, antas e capiva- Moradia primitiva dos colonizadores assim que
ras, algumas das quais eram chegavam ao seu lote. Acervo: Rosemari Glatz
abatidas para servir de comi- secar. No mais, além das fru- era basicamente o que a roça
da. As carnes eram salgadas tas nativas encontradas em produzia, com pouquíssimas
e depois dependuradas para abundância, o que se comia exceções. E a carne é o que
31
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

mais fazia falta nos primeiros Moradia


tempos. A criação de porcos e
gado vacum iniciou-se só al- Nos primórdios da colônia,
guns anos depois da fundação as moradias eram simples
da colônia. barracos, feitos com troncos
A farinha de mandioca fer- de palmito juçara, cobertos
vida em água era o alimento de folhas de palmeiras trança-
por excelência; comiam esse das, e chão batido. Em alguns
pirão com toucinho em que casos, as frestas das paredes
se notavam os indícios da eram fechadas com barro. Fo-
longa viagem. Pão só havia ram tempos difíceis, e só com
quando chegava a lancha de muita fé em Deus e união é
Itajaí. Mas a quantidade não que as famílias conseguiram
dava até a próxima chegada suportar aqueles primeiros
da lancha; acontecia, então, tempos e prosperar em terras
que se ralava o milho para brasileiras.
servir de prato no domingo. Conforme a economia foi
Construção de tijolos tipo enxaimel
Era frequente a falta de sal; se desenvolvendo, por toda a
raspava-se, então, a crosta de Com o passar do tempo, parte foram surgindo novas
sal do toucinho amarelo de a situação econômica dos casas, mais sólidas, que iam
Minas Gerais, para temperar imigrantes foi melhorando.
Os barracos provisórios substituindo as pobres cons-
o produto do mato. Só com o foram sendo substituídos por truções de pau a pique. E, à
passar do tempo é que a situ- casas de madeira e, medida que foram surgindo
ação da alimentação foi me- em alguns casos, por
casas feitas com tijolos. as olarias que produziam os
lhorando. tijolos, começaram a apare-
cer as casas com armação de
madeira e enchimento de ti-
jolo, no estilo enxaimel, inau-
gurando um novo tempo, de
mais conforto e segurança.

REFERÊNCIA
BUGGENHAGEN, E.A. von.
História Econômica no Muni-
cípio de Brusque e a obra do
Cônsul Carlos Renaux. [SI].
Brusque, 1941. Não publica-
Casa de imigrantes nos primórdios da Colônia. Acervo: Rosemari Glatz do.
32
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A relação da Colônia
Itajahy-Brusque com o rio
Brusque foi fundada em
1860, mas os terrenos que
hoje integram o município
começaram a ser conhecidos
e palmilhados lá pelos fins do
século XVIII. É conhecido que
em 1799 foram feitas conces-
sões de sesmarias ao coman-
dante da fortaleza dos Rato-
nes, de uma légua em quadro
das terras que hoje fazem
parte do município e possi-
velmente alcançavam o seu
atual perímetro urbano. Mais
tarde, após a fundação de Ita-
jaí, viu-se gente requerendo
terras, lançando culturas nas Balsa para travessia central do Itajaí-Mirim em 1895. Acervo: SAB
margens do Itajaí-Mirim, até
grande altura de sua foz e de Patrianova (1989) informa que os rios sempre foram
seus afluentes mais próximos. topônimos da maior importância, tanto por parte dos
Agostinho Alves Ramos, pio- índios, que os utilizavam a partir da foz, como por qualquer
neiro do aproveitamento de outra espécie de marinheiro. Para ele, os diversos usuários
toda a fértil região, pôs o seu se preocupavam em nomear os rios adequadamente. Ao
prestígio de deputado à As- discorrer sobre a origem do nome Itajaí, Patrianova
sembleia provincial, de oficial informa que “Itajaí” recebeu alguns nomes, inclusive
de ordenanças, de negociante muitas corruptelas, como: - rio das Voltas, rio Tajahug, rio
ativo e culto, à tarefa de im- Taiahug, rio Tacahug, rio Tacuay, rio Tayahug, rio Tayaby,
pulsionar, pelo Mirim acima, rio Tajahug, rio Taiaiye, rio Tajay, rio Tujuy, rio Tamarandi,
a onda civilizadora que leva- enseada Tajay, rio Tajahi, rio Tahahy, rio Thajahi, rio
ra até as alturas de Belchior Itajahy, e, finalmente, rio Itajaí, rio Itajaí-Açu (açu = grande
e Gaspar. Várias tentativas, porte), rio Itajaí-Mirim (mirim = pequeno). O autor conclui
mais ou menos bem-sucedi- informando que o nome do rio Itajaí passou a denominar
das, se fizeram para colonizar a cidade, e no passado também já emprestou o nome para
terras tão bem situadas, dis- Brusque, então denominada “Colônia Itajahy-Brusque”.

33
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Desde logo o brusquense aprendeu a conviver com as enchentes. Acervo: SAB

pondo de grandes planícies permitisse começar as plan- ele que o Alferes João da Sil-
e aguadas em abundância. tações e a construção de ca- va Mafra, afazendado na fre-
Antônio Menezes Vasconce- sas para os colonos. guesia e, na sua falta, o Alfe-
los de Drummond, que esta- Passados alguns anos, nova res João da Cunha de Souza,
va em Santa Catarina como iniciativa. Boiteux (1958) eram as pessoas do seu co-
contratador dos reais cortes conta que, a 27/02/1836, o nhecimento mais aptas para
de madeira, solicitou o apoio Secretário do governo, Major a referida exploração. Mas,
governamental para a funda- José da Silva Mafra, oficiava somente no governo de Fran-
ção de uma colônia nas terras ao Major Agostinho Alves Ra- cisco Carlos de Araújo Brus-
de Itajaí. Pelo Aviso Real de mos para que, com a brevi- que, que administrou Santa
05/01/1820, o Rei D. João VI dade possível, informasse se Catarina de 21 de outubro de
autorizou que Drummond es- conhecia pessoa capaz de en- 1859 até 17 de abril de 1861,
tabelecesse uma colônia em carregar-se da exploração do foi que se concretizaram os
duas sesmarias reais junto do Itajaí-Mirim; quais os meios projetos que desde muito vi-
rio Itajaí-Mirim, na região da necessários a empregar em nham sendo elaborados para
agora Itaipava. Com a ajuda homens, transporte, ferra- se fundar, ali, um núcleo po-
de soldados dispensados de mentas, munições e despesa pulacional que marcasse o
um batalhão da sede da ca- provável, o tempo necessário início do aproveitamento real
pitania, Drummond iniciou à exploração, etc. e efetivo de todo o vale do Ita-
a derrubada das matas que A 15/03/1836, respondia jaí-Mirim.

34
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O aviso imperial de 18 de depois, Schneeburg escreve


Logo nos primeiros anos
junho de 1860 determinou que: “o desembaraçamento
da Colônia, duas terríveis
a fundação da Colônia Ita- do rio da Guabiruba foi feito
enchentes, de fevereiro de
jaí, demarcando-se uma área em tempo de chuvas; ago-
1861 e de agosto de 1862,
de quatro léguas em quadro, ra, porém, com águas baixas,
prejudicaram muito o
desmembradas da jurisdição que são as mais frequentes, é
desenvolvimento da nascente
da Freguesia do SS. Sacra- preciso limpá-lo novamente,
colônia. Com essas enchentes,
mento do Itajaí. Dando cum- em certos lugares tirar árvo-
alagaram grande parte das
primento a esse Aviso, Araú- res e mesmo cortar algumas
terras lavradas, destruindo as
jo Brusque providenciou o das muitas serpentinas, que
plantações e causando a morte
necessário para a fundação, tornam a sua navegação com
de vários homens. Mas os
tendo nomeado o Barão Maxi- canoas menores, muito difí-
imigrantes tinham noção da
milian von Schneeburg como cil, mesmo perigosa”. E assim,
importância que tinha
diretor da Colônia, e este, com desde o princípio, fica esta-
o rio Itajaí-Mirim para o
uma leva de 54 colonos, par- belecida a relação da Colônia
desenvolvimento da colônia,
tiu da Vila de Itajaí, a 31 de ju- Itajahy-Brusque com o rio.
indispensável para a navegação,
lho para, depois de cinco ator-
principalmente para o comércio
de madeira, pois que nas
mentados dias de viagem, de Onde nasce o rio
canoa, passando toda a sorte
margens do mesmo rio,
de trabalhos e privações, che- Itajaí-Mirim
já no início da Colônia
gar ao local em que Brusque
Itajahy-Brusque, estavam O rio Itajaí-Mirim nasce no
se eleva altaneira.
mais de uma dezena de município de Vidal Ramos. A
E ninguém melhor do que
serrarias, tocadas cidade já pertenceu ao terri-
o abnegado primeiro diretor
hidraulicamente, serrando tório de Brusque e, em 1919
da Colônia Itajahy-Brusque
grande quantidade de cedro, foi criado, por lei estadual, o
para nos contar como foi essa
canela, peroba e óleo. Era Distrito Adolfo Konder. Nesta
aventura. No primeiro relató-
consenso que, embora não fosse época, a região onde hoje está
rio enviado à presidência da
tarefa fácil, o melhoramento situada a sede de Vidal Ramos
província, von Schneeburg
da via fluvial, com a limpeza começou a ser denominada
informa: “Tenho a honra de
do rio de árvores e raízes de Alto Itajaí-Mirim ou Rio da
levar ao conhecimento de
poderia facilitar o seu Brusque.
V. Excelências que, em 4 de
trânsito e, ao mesmo tempo, Anos depois, a 3/12/1957,
agosto corrente, quinto dia de
diminuir a violência das na mesma área que corres-
viagem pelo rio Itajaí-Mirim
inundações, o grande flagelo pondia ao antigo distrito, foi
acima, cheguei com a primei-
da colônia que, em 3 anos criada a cidade de Vidal Ra-
ra turma de colonos com bom
de existência, sofreu duas mos que, na ocasião, engloba-
tempo e com muito zelo, con-
calamitosas cheias. va o Distrito de Itaquá, hoje
duzidos pelo contraente Pe-
(Brusque Centenária. município de Presidente Ne-
dro Werner (vulgo Pedro Mi-
Agosto, 1960). reu. Atualmente, a nascente
údo) ao lugar Vicente Só. Dias
35
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

do rio Itajaí-Mirim é conside- o rio Tijucas-Grande ao orien- gam, tornando-se para seus
rada um atrativo turístico de te, e segue o rumo de nordes- moradores, mais cômoda a
Vidal Ramos. te por uma extensão de cerca viagem por terra quando têm
Ao discorrer sobre o rio de 20 léguas com suas muitas de subir contra a violência de
Itajaí-Mirim e seus primei- e amiudadas voltas até de- sua correnteza. Devido a isso,
ros desbravadores, Boiteux sembocar na margem direita com certeza, deu-se início em
(1961) informa que o Itajaí- do rio Itajaí-Açu 2.850 braças 1855 a um caminho para co-
Mirim tem origem na Serra acima da sede da vila. Da na- municação dos seus morado-
que se prolonga entre o braço vegação até 10 léguas, porém res com o arraial da freguesia.
do sul do Itajaí ao ocidente, e tem muitas voltas que fati- O governo imperial, tendo em
vista o estabelecimento de
Foto: Rosemari Glatz

uma colônia de alemães às


margens do Itajaí-Mirim foi
encarregado da escolha e lo-
cação da mesma, o dinâmico
catarinense, militar e enge-
nheiro João de Souza Mello
e Alvim, então delegado das
obras públicas da província.
Isto aconteceu em 1859. O sí-
tio apontado como mais aco-
modado foi um longo estirão
à margem esquerda do rio,
fronteiro a uma propriedade
onde vivia Vivente Só. Ali tam-
bém já se encontrava outro
alemão, Pedro José Werner,
apelidado Pedro Miúdo, com
casa de moradia e engenho.
E, para finalizar a investi-
gação sobre o famoso rio Ita-
jaí-Mirim, Boiteux transcre-
ve um texto do General José
Vieira da Rosa, conhecedor
inigualável da “face geográfi-
ca” do nosso Estado, que, em
1909, nos deixou esclarecido
em sua preciosa “Coreografia
de Santa Catarina”. Segundo
Uma das muitas nascentes do rio Itajaí-Mirim. Acervo: Rosemari Glatz Rosa (1909): “O Itajahy-Mi-
36
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

rim, que no seu segundo ter- impedem que se possa notar esquerda deste e, à montante
ço banha a vila de Brusque, que o curso deste rio siga um da barra deste, cerca de seis
tem um curso de cento e rumo mais igual na direção de quilômetros”.
trinta quilômetros. Vai bus- sudoeste para nordeste for-
car sua nascente na Serra do mando com o Itajaí-Açu um Plano
Mar, não muito longe das ca- ângulo muito agudo. Em seu
beceiras do Braço-do-Norte curso a caminho do litoral, construtivo
e corre sempre no vale for- recebe pela margem direita demarcado ao
mado pelas serras do Itajaí e doze destacados afluentes;
longo do rio
Tijucas. Correndo em terreno e, pela esquerda, um maior
muito acidentado, não ad- número deles. Não alcança o
Sob as ordens do Barão von
mira que apresente tão nu- oceano, lançando suas águas
Schneeburg, vários agrimen-
merosas voltas, mas que não no Itajaí-Açu, pela margem
sores tinham a incumbência

Primeiro mapa conhecido da Colônia Itajahy-Brusque. Acervo: SAB


37
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Lanchas Peruas, usadas para transporte de mercadorias e de pessoas. Acervo: Rosemari Glatz

de executar a medição dos lo- com tão impetuosa corrente, Os lotes eram demarcados
tes. Na exploração da colônia, que impossibilitava toda na- preferencialmente ao longo
tal como foi posteriormente vegação contra ela. dos rios (IPHAN, 2018). A de-
levada a efeito, prevaleceu o Do ponto de vista urbanís- marcação dos lotes foi o ele-
plano construtivo de demar- tico, é possível afirmar que mento básico da urbanização.
car, ao longo do rio, uma sé- os núcleos das colônias de Quase sempre, iniciou-se ale-
rie de lotes, fazendo frente imigrantes que se transfor- atoriamente a partir do local
estreita com o rio e estenden- maram em muitas das atuais onde o ingresso de imigran-
do-se, no fundo, até a altura cidades de Santa Catarina tes e mercadorias fosse faci-
dos morros. A partir do rio apresentam traçados diferen- litado por rios navegáveis ou
abriram-se, vales adentro, tes dos partidos luso-brasi- caminhos preestabelecidos.
largos travessões, em cujos leiros até então existentes no Abaixo dos contrafortes da
lados se delimitaram os lotes, estado. As cidades da região Serra do Mar, onde os rios são
de forma idêntica. No início, o de imigração, nascidas de em- abundantes, prevaleceu o es-
rio Itajaí-Mirim, em sua maior preendimentos rurais, têm tabelecimento de colônias às
extensão, era atravancado por seus traçados urbanos de- margens dos cursos d’água,
infinidade de árvores e raí- correntes da interação entre utilizados como vias prefe-
zes; ora seco, de modo a per- a geometria da demarcação renciais de acesso e comu-
mitir apenas a navegação de dos lotes rurais e a organici- nicação, partindo do litoral.
pequenas canoas, ora cheio e dade dos acidentes naturais. Assim ocorreu, por exemplo,

38
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

nos atuais centros urbanos de viabilizavam o comércio e que emoldura a igreja, como
Gaspar, Blumenau, Pomerode, abasteciam de gentes e de as cidades de Florianópolis e
Jaraguá do Sul e Joinville, São gêneros os nascentes em- Lages; outro, mais raro, adap-
João Batista, Nova Trento e preendimentos migratórios. ta-se ao relevo, partindo do
Brusque. A partir dos contra- Peluso, citado pelo IPHAN centro comercial, como, por
fortes da Serra do Mar, em di- (2018), na publicação sobre exemplo, Joinville, Blumenau
reção ao interior, os caminhos o patrimônio cultural do imi- e Brusque. Vemos aqueles nú-
prevaleceram como vias pre- grante, explica que o traçado cleos urbanos como cidades
ferenciais de penetração. urbano derivado desse con- portuguesas, e estes, como
Em Blumenau, Joinville e texto foi distinguido dos con- cidades alemãs, atribuindo
Brusque, os rios eram as vias gêneres luso-brasileiros. Se- seus planos, respectivamente,
naturais de acesso à região, gundo Peluso, estudando-se às culturas lusa e germânica.
inteiramente coberta por as cidades do estado de Santa
matas fechadas. As cidades Catarina, fundadas até mea- Brusque
nasceram a partir dos por- dos do século XIX, nota-se a
tos fluviais, escolhidos por persistência de dois tipos de como cidade de
permitirem o acesso tanto ao plano urbano: um, o mais di- porto fluvial
interior das colônias, quan- fundido, tem como elemento
to aos portos marítimos, que predominante a praça central Brusque é um bom exem-

Balsa para travessia do rio Itajaí-Mirim, nas imediações da atual ponte Estaiada. Acervo: SAB

39
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

plo de cidade cujo início do dos para escoar as mercado- Descrição do


processo de urbanização se rias e também para o trans-
dá a partir do principal rio porte de pessoas. O porto que rio Itajaí-Mirim
e pode ser assim descrito: dispunha de um trapiche de em 1860
quando, em 1860, chegaram pedras, mastro de madeira e
os primeiros imigrantes, esses guincho, ficava nas cabeceiras O texto: Características
usaram o meio de transporte da ponte Irineu Bornhausen interessantes do rio Itajaí-
mais fácil na época, o fluvial. (atual ponte estaiada). Ali mirim e seus afluentes no
A colônia teve início no lugar aportavam os barcos, as ca- século passado, reproduzido
conhecido como “Vicente Só”, noas, e lanchas que visavam abaixo e originalmente pu-
e através do caminho aberto o abastecimento da popula- blicado na revista Blumenau
ao longo do rio começaram a ção que se fixava na Colônia em Cadernos em fevereiro
aparecer os primeiros sinais Itajahy-Brusque, ou a saída de 1992, apresenta caracte-
de comércio. Brusque inicia- dos produtos para o porto rísticas interessantes do rio
va-se, então, como cidade de marítimo, na atual cidade de Itajaí-Mirim e seus afluentes
porto fluvial. Itajaí. As lanchas-perua eram no século XIX, com base no
Implantado o núcleo, seu utilizadas para transporte de levantamento realizado pelo
desenvolvimento era baliza- cereais, como farinha de man- engenheiro Charles Philippe
do, como nas demais colônias dioca, milho, açúcar grosso, Garçon Rivière.
alemãs, pela fixação de um pipas de cachaça e, pelo rio O engenheiro firmou um
eixo comercial, a partir do Itajaí-Mirim, o percurso entre contrato com o governo im-
qual se subordinavam outras Brusque e Itajaí levava de sete perial em 16/06/1859 e, du-
funções, como a religiosa, a a oito horas, para ida, e um rante o 2º semestre de 1859
recreativa e a institucional. dia, para a volta. e começo do 1º semestre de
Nas colônias onde italianos 1860 levantou a planta do rio
Acervo:SAB

e poloneses predominaram Itajaí-Mirim e de seus afluen-


como, por exemplo, Botuverá tes.
e Nova Trento, a igreja desta- O resultado do trabalho
cou-se como elemento agluti- foi encaminhado pelo Eng.
nador principal, estruturador Rivière ao Ministro da Agri-
do plano urbano adotado e cultura em 06/06/1860, e
ponto de partida de seu de- encontra-se aqui reproduzido
senvolvimento. por apresentar uma descri-
Sendo o transporte fluvial ção bastante interessante do
o mais fácil na época, nos pri- rio baseado em levantamento
meiros decêndios da Colônia realizado ainda antes da ins-
Itajahy-Brusque, vários brus- talação oficial da Colônia Ita-
quenses possuíam lanchas jaí-Brusque, em 4 de agosto
-perua que faziam o percurso de 1860.
de Brusque a Itajaí. Eram usa- “O rio Itajaí-Mirim, afluente
40
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

do rio Itajaí-Açu, tem um cur- e espaçados uns dos outros, e sendo a mais dificultosa a pas-
so de 47.710 braças desde sua da Sepultura até a barra o Ita- sar, a da Figueira. O leito do
barra até o seu primeiro salto. jaí-Mirim atravessa uma bela rio é de areia até a serraria de
Esta extraordinária extensão é várzea. Os principais afluen- Pedro Fritz; desta serraria até
devido às suas numerosíssimas tes deste rio são: o ribeirão da o salto, de rochas e seixos. As
curvas, pois que, em linha reta, Guabiruba e do Cunhandaba. suas margens até o Cunhan-
não tem mais de 70.500 bra- O primeiro tem suas cachoei- daba são baixas, formadas
ças. Corre de sul, sudoeste oes- ras na paralela à dita meri- de areia misturada com pou-
te, a norte, nordeste leste. Sua diana, depois de ter sido deso- ca argila; deste ribeirão para
largura média é de 180 pal- bstruída dos numerosos paus cima, a argila vai pouco a pou-
mos. A velocidade da corrente caídos que a atravessam. O se- co predominando e os barran-
é muito variável; em certos lu- gundo é navegável igualmente cos vão ficando mais altos. Os
gares é de 0,95 palmos em um com canoas até 3.000 braças. terrenos nas várzeas são fer-
segundo de tempo; em alguns Além destes dois ribeirões, o tilíssimos; porém, quase que
de 2 palmos e em outros de 6 Itajaí-mirim recebe muitos não são aproveitáveis por mo-
palmos. O volume de água que córregos e ribeirões pequenos tivo das frequentes inundações
passa em 1 segundo foi calcu- que não dão navegação, mas no tempo das chuvas. Em par-
lado na barra, em seis marés, e que podem ser aproveitados te, poder-se-ia fazer desapare-
achou-se ser de 5.641 palmos para motores e alguns já o são. cer este grave inconveniente
acima do nível do mar. O rio, As embarcações que não cortando algumas das muitas
neste lugar, tem 18 braças de demandam mais de 12 a 15 agudíssimas curvas que exis-
largura. As águas correm com palmos d’água, podem subir tem, obra fácil e pouco dispen-
violência sobre e entre roche- o rio até o lugar denominado diosa, pois que será suficiente
dos; é mais uma cachoeira do Marechal Custódio, onde en- abrir valas de 5 a 6 palmos de
que um salto. contra-se a primeira itaipava largura com outro tanto de al-
Do salto até pouco mais ou (uma pequena queda d’água, tura, deixando ao mesmo rio
menos l.400 braças para bai- corredeira) formada por uma o trabalho de as aprofundar
xo, o Itajaí-Mirim segue entre grande rocha granítica. Deste e alargar. Existem curvas de
morros pedregosos que che- ponto para cima, a influência 600 braças que, para serem
gam até nas margens. Atraves- das marés ainda se faz sentir cortadas, exigirão somente a
sa depois uma grande várzea até pouca distância. De Mare- abertura de uma vala de 40
que para o norte se estende até chal Custódio até o engenho braças de comprimento. Tor-
o território medido. Daí um de Pedro José Werner, o Itajaí- no a repetir que são algumas
pouco acima do engenho do Mirim dá franca navegação das maiores curvas que seria
Paulo [Kellner], o terreno pelo a canoas; porém, deste enge- necessário fazer desaparecer,
rio torna-se de novo monta- nho para cima, aparecem as pois que, a querer cortá-las
nhoso até a serraria de Pedro itaipavas que obrigam, quase todas, a correnteza do rio au-
José Werner. Deste ponto até sempre, a arrastar as canoas, mentaria consideravelmente
o lugar denominado Sepultu- puxando-as sobre as pedras. e a sua profundidade poderia
ra, os morros são mais baixos São dezoito estas itaipavas, diminuir a ponto de prejudicar
41
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

a navegação. Contam-se neste rio: 12 en- REFERÊNCIAS


É preciso dia e meio de via- genhos de serrar; 7 engenhos
gem em canoa para descer da de fazer farinha; 2 de fubá; 1 BLUMENAU EM CADER-
Guabiruba à Freguesia e dois de socar arroz e uma olaria. NOS. Brusque Centenária.
dias e meio até três dias para A sua exportação anual é de Blumenau em Cadernos,
percorrer a mesma distân- 18.000 dúzias de tábuas; 8.000 Tomo III – Nº 8. Agosto de
cia, subindo o rio. Entretanto, alqueires de farinha; 400 al- 1960.
construindo-se na margem di- queires de arroz e alguns mi- BOITEUX, Lucas A. Itajaí:
reita uma estrada que talvez lhares de tijolos, perfazendo de Fazenda à Cidade. Blume-
não venha a ter mais de cinco tudo o valor de perto de 200 nau em Cadernos. Tomo I, nº
léguas de desenvolvimento, contos de réis, dos quais 150 7. Maio de 1958.
tornar-se-ia fácil e rápida a provém das madeiras. O gado BOITEUX, Lucas A.O Itajaí-
comunicação entre a Fregue- vacum empregado nestes di- Mirim: Seus primeiros des-
sia do Itajaí e a Guabiruba; as versos engenhos, orça em 900 bravadores. Blumenau em Ca-
terras medidas no território cabeças. A população do rio dernos. Tomo IV, nº 1. Janeiro
acharão compradores que até Itajaí-Mirim pode ser avaliada de 1961.
hoje se apresentaram em pe- em 2.000 almas, das quais 480 IPHAN. O patrimônio cul-
queno número por motivo da empregadas nos engenhos de tural do imigrante. Roteiros
dificuldade dos transportes. serrar. Nacionais de Imigração – San-
É também muito provável Ainda há muitas madei- ta Catarina O modelo de ocu-
que os proprietários das ter- ras de lei, porém já é preciso pação do território. Disponí-
ras situadas nas margens do ir procurá-las bastante longe vel em:< http://portal.iphan.
Itajaí, que todos sentem a falta das margens do rio. As princi- gov.br/uploads/publicacao/
de uma estrada, coadjuvassem pais madeiras são: cedro, ca- PubDivImi_RoteirosNacio-
o Governo na construção da nela, peroba, óleo, etc. Um pou- naisImigracao_SantaCatari-
tão útil obra. Calculo a superfí- co abaixo do Salto, numa das na_v2_m.pdf>. Acesso em 13
cie dos terrenos possuídos nas curvas do rio, existem ainda setembro 2018.
duas margens do Itajaí-Mirim vestígios de uma antiga lavra PATRIANOVA, Hermes Jus-
em 40.000.000 de braças qua- de ouro. Perto do mesmo sal- tino. O Rio Itajaí é o Rio do
dradas. À vista de tão grande to, em diversos poços acha-se Jaó de Pedra - Não é o Rio de
extensão de terras ocupadas ouro em pó em pequena quan- nenhuma aroídea. Blumenau
poder-se-ia supor que a lavou- tidade. Em todas as Itaipavas em Cadernos. Tomo XXX, nº
ra existe em grande escala. há muito quartzo opaco. 10. Outubro de 1989.
Infelizmente assim não acon- Rio de Janeiro, em 5 de ju- RIVIÈRI. Charles Philippe
tece, sendo isto devido princi- nho de 1860. - C. RIVIERY”. Garçon. Características inte-
palmente ao diminuto número ressantes do rio Itajaí-mirim
de proprietários de extensos OBS: A medida citada em e seus afluentes no século
terrenos e ao grande impulso braça corresponde a 2,20 me- passado. Blumenau em Ca-
que tem tomado a extração tros. A medida relativa ao pal- dernos. Tomo XXXV, nº 2. Fe-
das madeiras. mo é de 22 centímetros. vereiro de 1992.
42
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Vista de Brusque. À esquerda a igreja católica e à direita a luterana. No alto do morro, entre as
duas igrejas, a escola evangélica alemã, hoje Colégio Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB

Religião nos primeiros


anos da Colônia
A religião, a educação, a taque pela sua importância das escolas. Mas esse mode-
disciplina e o trabalho sem- no saudável desenvolvimento lo não foi adotado na Colônia
pre foram considerados fun- das comunidades. Em algu- Itajahy-Brusque, uma colônia
damentais para o imigrante mas colônias, a exemplo da governamental, onde os lotes
europeu e, assim como na Colônia Blumenau, uma colô- foram demarcados, os imi-
colônia Itajahy-Brusque, as nia privada, o triângulo social grantes assentados, mas sem
religiões, principalmente a “igreja, cemitério e escola” qualquer reserva para a igre-
católica e luterana, foram mo- desde o princípio da coloni- ja. A religião oficial do Brasil
las propulsoras que atuaram zação contou com a demar- era a católica e, em que pese
como alavancas nas novas co- cação e reserva de lotes para o luteranismo ser permitido,
lônias instaladas em solo bar- instalação e funcionamento a grande maioria vivia o cato-
riga-verde e mereceram des- das igrejas, dos cemitérios e licismo.
43
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Catolicismo
em Brusque
No início, a vida de igreja
acontecia no círculo familiar
e, segundo o Pe. Eder Clau-
dio Celva (2013), a referência
religiosa material era funda-
mental para a vida dos imi-
grantes inseridos num con-
texto exclusivamente agrário,
com uma visão sacral de ver
as coisas e o mundo. Embora
a construção de igrejas fosse
de responsabilidade do Go-
verno Imperial, em algumas
comunidades, como a de Gua-
biruba, onde predominava a
religião católica, não se co- A primeira capela católica de Brusque em gravura de Francine
gitou esperar por auxílio pú- Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

blico e, logo após a chegada o primeiro sino de Brusque, as pesquisas de Roque Luiz
dos imigrantes, um oratório em 1864, são da localidade de Dirschnabel (2018), a primei-
foi edificado ainda em fins de Guabiruba. Na Stadtplatz não ra capela foi construída no
1860, ano do assentamento havia capela, o que obrigava centro de Guabiruba, nas ter-
das primeiras famílias ale- o padre a celebrar no bar- ras de Franz Jakob Klein. De-
mãs. Guabiruba guarda muito racão dos imigrantes. Ao se nominada Mariahilfskapel-
pioneirismo. Pe. Eder Celva referir ao assunto, Oswaldo le (Capela Nossa Senhora do
conta que em abril de 1861, Cabral (1958) confirma que Perpétuo Socorro), foi cons-
os colonos já têm finalizada o primeiro templo católico da truída de espiques (caules)
uma capela apta para o culto Colônia Itajahy-Brusque foi o de palmito. O piso da capela
litúrgico, sendo que, quan- da então Guabiruba do Norte. era de chão batido e a cober-
do o padre Gattone, Vigário Ainda em meio à mata, os co- tura de palha.
de Gaspar, visitou Brusque lonizadores fixaram um tosco Existem referências de que
pela primeira vez em junho cruzeiro, que logo se trans- já no ano de 1862 existia uma
daquele ano, celebrou na ca- formou em ermida (pequena capela na Guabiruba do Nor-
pela de Nossa Senhora do igreja em lugar ermo), encos- te Alta (atual bairro Aymoré),
Perpétuo Socorro. A primeira ta acima, próximo à confluên- denominada Capela de San-
igreja de Brusque, a primeira cia do rio Pomerânia com o to Afonso. Em julho de 1862
escola paroquial, em 1862; e rio Guabiruba. De acordo com ocorreu a bênção desta cape-

44
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

na Capela de Santo Afonso foi


desativado por volta de 1867
(CELVA, 2013).
Ayres Gevaerd publicou
sobre a religião católica em
Brusque em 1973, trazendo
um registro das principais
ocorrências no campo espiri-
tual desde os primeiros dias
da Colônia até a data da Lei
que a elevou à condição de
Freguesia de São Luiz Gonza-
ga, o qual transcrevemos, em
partes: A primeira capela da
nascente colônia foi edificada
em Guabiruba, às expensas
da própria comunidade, logo
no início de 1861, e dedicada
a Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, e por isso é consi-
derada a primeira padroeira
da Colônia Itajahy-Brusque.
Um ano antes, em outubro de
1860, o diretor, Barão Maxi-
milian von Schneeburg, em
seu segundo relatório, enca-
Padre Alberto Francisco Maximiliano Gattone em gravura de recia a necessidade de um
Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz sacerdote para «confessar,
la pelo padre Gattone, ocasião ruba do Norte Alta, o colono casar e enterrar». No dia 9 de
em que também foi realiza- José Scharf esfacelou uma das junho de 1861 verificou-se a
da a primeira comunhão das mãos. Sua espingarda, que primeira visita de um padre,
crianças. Anexo à capelinha preparara para saudar o pa- Alberto Gattone, à Colônia, na
se encontrava o cemitério, dre, disparou acidentalmente. qual ficou por sete dias. No
ambos alocados em terreno Scharf precisou ir a Itajaí, em documento de 20 de agosto
doado por João Scharf.   No canoa, para medicar-se.  Com de 1862, Schneeburg infor-
início de 1863, quando da vi- o passar dos anos, a vida de ma que celebrou, mediante
sita do padre Gattone, entre fé e comunidade passou a ser contrato assinado, vários ca-
as manifestações de regozijo centralizada na Capela Nossa samentos que seriam abenço-
da parte de seus fiéis residen- Senhora do Perpétuo Socor- ados na próxima visita do pa-
tes na linha colonial de Guabi- ro, no centro. O culto litúrgico dre ou do pastor evangélico.
45
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

O relatório correspondente
a 1862 registra a existência
na Colônia de quatro capelas,
três delas já abençoados por
Gattone. 
Em 1864 o número de ca-
pelas subira a cinco. A 21 de
maio desse ano [1864] os
colonos Pedro José Werner
e Pedro J. Heil pediram à ad-
ministração da Colônia per-
missão para construir, com
recursos próprios e de outros
fiéis, uma igreja na sede. En-
caminhando o pedido ao pre-
sidente da Província, Schnee-
burg sugere a construção, por
razões que explica, no fim da
rua principal, em uma “colina
ainda com mato”. Entretanto,
segundo outro documento de
21 de maio, e como resultado
da reunião dos colonos cita-
dos e outros, foi resolvida a
construção no lugar demar-
cado pelo então presidente
Pedro Leitão da Cunha, “por
suas próprias mãos para a fu-
tura igreja do governo”. Essa
igreja, se é que se pode dar
essa denominação, tinha 42
palmos de frente por 72 de
Primeiro sino da colônia, instalado em Guabiruba em 1864. Acervo: SAB
fundos, construída com es-
teios, “palmos de plumo, en- Luis Gonzaga. Gevaerd (1973) do lado de fora. Gattone rezou
ripada e barreada”, foi solene continua informando: Disse o a missa e abençoou o sino, fa-
e festivamente abençoada nos barão em documento que a moso hoje, denominado “Ana
dias 17 e 18 de novembro de missa foi celebrada pelo pa- Suzana”, atualmente guarda-
1866 sob a invocação de Nos- dre Alberto Gattone estando do no Museu Arquidiocesano
sa Senhora das Dores, sendo presentes para cima de 300 Dom Joaquim, em Azambuja.
a semente da atual matriz São pessoas, além das que ficaram Pe. Celva (2013) complemen-
46
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ta informando que o primeiro Apóstolo (Gaspar) e Brusque. de 1874, a população católica


sino da Colônia Itajahy-Brus- Um documento de 6 de janei- da Colônia assistiu ao início
que havia vindo dois anos an- ro de 1871, de nº 4, anota que da construção da nova igreja,
tes, em 1864, e instalado na um abastado doutor do Tirol desta vez com planta da edi-
colônia alemã de Guabiruba, remeteu para a Igreja Cató- ficação previamente estuda-
possivelmente na Capela de lica da Colônia, paramentos, da e aprovada. Os luteranos
Santo Afonso, Guabiruba do atendendo pedido feito pelo já haviam inaugurado a sua
Norte Alta (atual bairro Ay- padre Gattone, a caritativos primeira casa de oração em
moré). De grande valor his- europeus. A 1º de agosto de 1872. A igreja católica só foi
tórico, desde 1978 este sino 1872 Paes Leme, diretor da abençoada em 1877. 
está na Capela Nossa Senhora Colônia, justifica junto aos No trabalho intitulado “As
Aparecida, no bairro Guabiru- seus superiores, o esforço de Primeiras Paróquias de Ita-
ba do Sul. seus colonos, católicos e lu- jaí, Gaspar, Brusque e Blume-
A 16 de abril de 1867 foi teranos, no sentido de edifi- nau”, o Pe. Antônio Francis-
criada, por Portaria Imperial, carem definitivamente, seus co Bohn apresenta uma rica
a Capelania, e nomeado o pa- templos. A 31 de julho de contribuição em relação às
dre Alberto Gattone primei- 1873 veio o desmembramen- quatro paróquias mais anti-
ro Cura com residência fixa. to pelo qual tanto trabalha- gas do Vale: a paróquia San-
Tranquilizou-se a Comunida- ram Schneeburg e Paes Leme, tíssimo Sacramento (Itajaí),
de católica. Afinal, tinha sua a Lei nº 693, assinada por fundada em 12/08/1833;
igreja, simples, modesta «de Pedro Afonso Ferreira, Presi- São Pedro Apóstolo (Gaspar),
palmos de plumo, enripada e dente da Província de Santa fundada em 25/04/1861;
barreada, com pequena torre Catarina, etc. São Luis (Brusque), fundada
e um sino de quase sete ar- Artigo 1° - Os Distritos das em 31/07/1873, e a paró-
robas, etc., e o seu Cura, para Colônias Itajaí e Dom Pedro quia de São Paulo Apósto-
“confessar, casar e enterrar” ficam desmembrados da Fre- lo (Blumenau), fundada em
na pitoresca expressão do guesia do Santíssimo Sacra- 31/07/1873. Ele informa
barão». E o “Ana Suzana” ia si- mento do Itajaí, para forma- que, ao longo dos anos, mui-
nalizando e regulamentando rem nova Freguesia, com a tas novas paróquias foram
a vida eclesial e social da Co- denominação de São Luiz, a sendo desmembradas destas
lônia. Pe. Eder Celva (2018) qual é criada precedendo li- primeiras. O Pe. Bohn (1989)
complementa dizendo que os cença do Ordinário, na forma conta que, quando chegou
sinos cumpriam uma impor- da Constituição do Bispado.  a Gaspar e, com a criação da
tante missão eclesial, huma- Artigo 2º - Os Limites da Freguesia (o termo paróquia
na, psicológica, sentimental e nova Freguesia são os mes- é mais recente, anteriormente
comunitária. mos dos atuais Distritos colo- o termo Freguesia era o mais
Conforme Gevaerd (1973), niais. usado), Pe. Gattone começa a
antes padre Gattone atendia Artigo 3º - Revogam-se as fazer anotações sacramentais
simultaneamente a Colônia disposições em contrário.  da região onde atuava, in-
dos Belgas (Ilhota), São Pedro Finalmente, a 21 de junho cluindo Brusque e Blumenau.
47
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Antiga igreja Matriz São Luiz Gonzaga. Acervo: SAB

No passado, os livros pró- Eder Celva (2018) comple- O Pe. Alberto Gattone foi o
prios de registro eram so- menta informando que no primeiro vigário e chegou a
mente os originais, por isso fim do Padroado, foi criada Gaspar no ano de 1861 para
alguns se encontram bastante a Diocese de Curitiba, à qual atender religiosamente a po-
danificados pela ação do tem- Brusque passou a pertencer. pulação do lugar e fica lá até
po e, devido à qualidade da Foi a partir desse tempo que inaugurar, em 1867, a nova
tinta utilizada, muitos foram os párocos passaram a fazer capela de São Pedro Apósto-
restaurados para que não se o livro próprio do Tombo das lo, quando então se transfe-
perca esta fonte preciosa de paróquias; o da Paróquia de re para Brusque. Com a che-
dados. Todos os antigos livros São Luis data de 1892. Padre gada do Pe. Alberto Gattone
de batizados, casamentos e Eder conclui esclarecendo em Gaspar, Brusque começa
óbitos estão arquivados no que, desde que a Diocese de a ser atendida também por
Arcebispado, principalmente Florianópolis foi criada, em este sacerdote, duas vezes
os do século XIX. Os demais 1908, e até hoje, os municí- por ano. Pe. Bohn conta que,
se encontram nos arquivos pios de Itajaí e Brusque per- na Colônia Itajahy-Brusque
das respectivas paróquias. O tencem a ela. Gaspar, por sua as funções religiosas eram
Brasil viveu sob o regime do vez, quando da criação da realizadas num dos ranchos
padroado até a Proclamação Diocese de Blumenau, no ano de imigração. No entanto, a
da República, que tornou o de 2000, passou a pertencer a insistência popular era muito
país oficialmente laico. Pe. esta Igreja Particular. grande para que se construís-
48
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Santuário de Azambuja, tendo ao fundo o Morro do Rosário. Acervo: SAB

se uma igreja. Pela demora do Ganarini, Pe. João Fritzen, e religiosa em Brusque, o Com-
Governo, os senhores Pedro o sempre lembrado Pe. Antô- plexo de Azambuja merece
Werner e Pedro Jacob Heil, em nio Eising, todos diocesanos. destaque especial. Pe. Celva
24/05/1864 tomaram a ini- A partir de 1904, começa o (2017) diz que em 1876 já se
ciativa da construção, sendo atendimento pastoral dos pa- pensava em construir ali uma
que dois anos depois foi inau- dres da Congregação do Sa- igreja. No centro natural da
gurada a igreja na sede da co- grado Coração de Jesus. Ain- linha, uma bela fonte parecia
lônia e também a eles coube a da conforme o Pe. Bohn, até indicar o local da igreja, mas
iniciativa de conseguir o sino. o ano de 1989 as seguintes no princípio a fonte de água
Pe. Gattone trabalhou 20 anos paróquias haviam sido des- foi apenas coberta e virou um
em Brusque, de 1861 a 1881, membradas da paróquia São oratório. No final de 1884 é
tendo se dedicado com amor Luis Gonzaga: Botuverá, cria- que a comunidade se uniu e,
ao magistério e ao ministé- da em 31/07/1912; Vidal Ra- em 26 de maio de 1885 foi ce-
rio pastoral. Com sua saúde mos, em 1951; Guabiruba em lebrada a primeira missa na
debilitada seguiu para o Rio 19/03/1963; Dom Joaquim, capela. Em 1892, uma nova
de Janeiro em 1882, onde fa- em 16/11/1969 e Santa Tere- igreja foi erguida, exatamen-
leceu a 28/01/1901. Outros zinha em 13/01/1974, estas te no lugar onde fica a parte
sacerdotes tiveram impor- duas últimas no município de interna do atual santuário. Pe.
tância no prosseguimento Brusque. Celva (2018) conclui infor-
dos trabalhos: Pe. Arcângelo No que se refere à questão mando que desde 1905 o tem-

49
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

plo de Azambuja é Santuário tais para a sociedade. Ou- Luteranos


Episcopal, ou seja, goza de tras obras foram surgindo...
direitos e deveres próprios. Atualmente, o Complexo de em Brusque
Em 2009 o Santuário tam- Azambuja ainda abriga o San-
bém foi erigido como paró- tuário de Azambuja, a Gruta, Com a chegada do primei-
quia. Ao longo da sua história, o Morro do Rosário, o Museu ro grupo de imigrantes que
Azambuja teve – e ainda tem Arquidiocesano, o Hospital deu início oficial à Colônia Ita-
– obras de importância: Santa e o Seminário, formando um jahy-Brusque também chega-
Casa de Misericórdia, Escola conjunto de instituições im- ram os primeiros imigrantes
Paroquial, Asilo, Hospício, Se- portantes. Devido ao seu im- alemães que professavam a
minário Episcopal e Primeiro portante complexo histórico, religião luterana. Assim, com
Hospital de Brusque. Azam- social, religioso e cultural, o base nas informações dispo-
buja começa a ser um local Vale de Azambuja é local de níveis no site da Igreja Evan-
importante para toda região, peregrinações de turistas e gélica de Confissão Luterana
pelas suas instituições, vi- devotos de todo o Brasil. de Brusque (2018), é possível
informar que a história da Co-
munidade Evangélica Lute-
Durante os seus primeiros 15 anos, a população rana iniciou com a chegada,
da colônia Itajahy-Brusque era quase toda em Brusque, dos imigrantes
teuta (alemã), mas de forma diversa do que pioneiros em 4 de agosto de
aconteceu com a Colônia Blumenau, onde as l860. Dentre eles, estavam as
primeiras levas de imigrantes alemães foram famílias luteranas de Augusto
exclusivamente de evangélicos luteranos. Se Hoefelmann, Frederico Gui-
em Blumenau os primeiros católicos começaram lherme Neuhaus, Frederico
a chegar de 1854 em diante, e sempre em Orthmann, Daniel Walther e
número diminuto em proporção ao de Luiz Richter, todos casados
protestantes, Brusque recebeu mais imigrantes e com filhos. Esses imigran-
da religião católica. O relatório da diretoria da tes, ainda que não o tenham
Colônia de 1863 assinala uma população percebido, foram os respon-
dividida em 204 casais, dos quais 139 casais eram sáveis por plantar a semente
católicos (68%), 53 eram luteranos (26%) e os evangélica em Brusque, que
demais eram mistos (6%). O relatório de 1866 cresceu e floresceu. Os colo-
aponta uma população com 931 nizadores foram acolhidos no
católicos (70%) e 402 luteranos (30%), galpão de Pedro José Werner
indicando a predominância quantitativa da e, meses depois, foram esta-
religião católica sobre a luterana. Essa belecidos à margem esquerda
predominância se acentuou ainda mais a partir do rio Itajaí-Mirim, na loca-
de 1875, com a chegada dos imigrantes lidade de Bateas. À medida
italianos, dentre os quais não havia luteranos. que chegavam mais coloni-
zadores, novos luteranos se

50
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Pastor Sandreczki e esposa Elisabeth Groben em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

somavam aos que já estavam em seus relatos, encontramos l863, juntamente com o batis-
estabelecidos na Colônia. Os o registro de que a primeira mo da criança Heinrich Frie-
imigrantes luteranos haviam Ordem da Comunidade Evan- drich Kuhl, oficiado pelo pas-
trazido consigo a Bíblia, o gélica de Brusque foi aprova- tor Hesse. Sobre o primeiro
Hinário e o Catecismo Menor, da no dia l7 de abril de l863, culto da Igreja Evangélica de
e em Bateas a comunidade com a presença do pastor Brusque existem registros de
evangélica de confissão lu- Hesse, de Blumenau, sendo que tenha sido em 17 de abril
terana se reunia em uma pe- assim considerada como sen- de 1863, mesma data em que
quena casa primitiva coberta do a data oficial da fundação foi aprovada a primeira Or-
por folhas de palmitos, pare- da Comunidade Evangélica dem da Comunidade Evangé-
des de barro, sem assoalho e de Brusque. Mas, antes disso, lica de Brusque.
sem janelas, sendo o serviço no dia 1º de janeiro de l861 Nos primeiros tempos da
religioso praticado pelos pró- foi realizado, em caráter de Colônia Itajahy-Brusque, a
prios colonos. Os cultos eram emergência pelo estado da comunidade luterana se reu-
celebrados quando das visi- criança, o primeiro batismo nia para os cultos dominicais
tas do Pastor Hesse. de Heinrich Paul Gustav Phi- no barracão dos imigrantes,
Pelas informações deixa- lip Ludwig Sabel, o qual foi um rancho feito de palmitos,
das pelo pastor Sandreczki ratificado no dia 2l de abril de sem assoalho e sem janelas. O
51
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

ali cheguei de surpresa, sem


cantos nem toques de sinos
de recepção pública e, no dia
25/02/1865, me apresentei
ao diretor da Colônia, o Barão
Maximilian von Schneeburg”.
O pastor recém-chegado deu
início às atividades que o es-
peravam. Citaremos alguns
fatos interessantes de como
prosseguiu sua jornada aqui
em Brusque. O primeiro se-
Igreja Evangélica (Evangelische Kirsche), no tempo do pastor Sandreczki. pultamento foi já no dia 23
Era igreja e ao mesmo tempo escola. Acervo: SAB de março de 1865, do jovem
primeiro barracão da Colônia dade passou a ter um pastor Gustavo Neuhaus. O primei-
Itajahy-Brusque, ou “Casa da residente. Seu pai era de des- ro grupo de confirmandos foi
Imigração” foi construído em cendência polaca, nascera na preparado a receber a Con-
1860, na região onde está edi- Baviera e desde muito jovem, firmação do Batismo, o que
ficado o Clube de Caça e Tiro Sandreczki teve contato com se deu no dia 9 de julho de
Araújo Brusque, rua Hercílio os ofícios religiosos. O pastor l865 com os seguintes jovens:
Luz, também conhecida como Johann Anton Heinrich San- Friedrich Johann Mohr, Elisa-
“Rua das Carreiras” no bair- dreczki foi ordenado pastor beth Krumenauer, Carolina
ro Centro, bem próximo do no dia 2l de fevereiro l864, Werner, Hans Todt, Augusto
rio Itajaí-Mirim. Era o espaço em Würtemberg e designado L. Werner, Loise Feige, Ger-
destinado à recepção e hos- pela missão da Basileia para trudes Kannengiesser, Sofia
pedagem dos colonizadores. ser pregador dos colonizado- Korb, Charlote Jungblut e Ana
Depois, os cultos dominicais res alemães no Brasil, especi- Wagner. O primeiro matri-
passaram a ser realizados em ficamente para ser pastor na mônio realizado pelo pastor
um galpão. Colônia Itajahy-Brusque. No Sandreczki foi de Johann W.
Até início de l865, os imi- dia 9 de outubro de 1868, o Wandrey e Maria Charlota
grantes luteranos de Brus- pastor Sandreczki se casou, Johanna Joenk, em 1º de no-
que foram periodicamente no Rio de Janeiro, com Elisa- vembro de 1865. No dia 25 de
servidos pelo pastor Oswald beth Groben, que acompa- novembro de 1865, a comuni-
Hesse, primeiro pároco de nhou seu esposo na vida pas- dade reuniu-se com o pastor
Blumenau. Depois de muitos toral em Brusque. Sandreczki e aprovou uma
pedidos, para alívio e ale- O pastor Sandreczki fez nova Ordem da Comunidade
gria dos fiéis, em fevereiro as seguintes anotações so- para que em todos os domin-
de 1865 chegou Johann An- bre a sua chegada a Brusque: gos fossem realizados Cultos.
ton Heinrich Sandreczki, o “Depois de quatro dias ca- Ainda conforme o histó-
primeiro pastor, e a comuni- valgando uma mula, sozinho, rico disponível no portal da
52
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Luterana no alto da colina. Acervo: SAB

Igreja Evangélica de Confis- de estava sem casa de oração. Alemanha e rei da Prússia,
são Luterana de Brusque, em O Governo ajudou com uma que ainda hoje decora a casa
1866 o pastor Sandreczki re- pequena verba para a cons- de oração. A obra original se
quereu um lote de terras do trução da primeira capela encontra na Catedral de An-
Governo Imperial para cons- que, somada aos recursos da tuérpia, na Bélgica. A nova ca-
truir o templo e a casa paro- própria comunidade, possibi- pela foi inaugurada em 1872
quial na Stadtplatz. O pastor litou a construção da igreja, e, já naquele ano, no dia 14 de
Sandreczki agora já conhecia que não era suntuosa, mas julho, a diretoria da Comuni-
os membros da Comunidade digna. O principal ornamento dade resolveu que os cultos
Luterana, formada por 220 do altar dessa igreja era uma dominicais seriam realizados
famílias e acreditava ser pos- cópia do quadro “A descida na igreja da sede da Colônia.
sível iniciar a construção da da Cruz”, do famoso artista A medida se justificava pela
própria capela. Ao dar início alemão Peter Paul Rubens, otimização pela centralização
à construção da nova capela, doado pela Rainha da Prússia, do trabalho e a partir de en-
em 1869, o rancho onde se sua majestade Vitória Ade- tão a realização de cultos em
realizavam os cultos já havia laide Maria Luísa, esposa de outros lugares só seria auto-
desmoronado e a comunida- Frederico III, imperador da rizada em casos de extrema

53
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

necessidade. va em uma sala anexa à casa sua estada, as atividades fo-


Em 1870 o pastor San- do pastor Sandreczki. Apenas ram intensas. Neste período
dreczki tomou algumas me- um ano depois, em 1873, a foi construída e inaugurada a
didas bastante fortes que não Escola já era frequentada por bela Igreja no topo da colina,
agradaram a Comunidade, 53 crianças. O primeiro pré- centro da cidade, a qual co-
a saber, a decisão de que só dio da escola foi concluído em nhecemos hoje.
crianças com 14 anos com- 1878 e o pastor Sandreczki Em 1º/03/l896 o pastor
pletos e que soubessem ler e foi professor até 1880. Até o Lange substituiu o pastor
escrever poderiam ser confir- ano de 1882 o Governo paga- Czecus, que foi transferido
madas. Mais tarde, essa medi- va o ordenado do pastor. Mas para Blumenau. A partir de
da se revelou uma verdadeira as famílias eram responsáveis 1903 o coral da Comunidade
bênção para a Comunidade. pelas demais despesas da Co- reuniu-se para seus ensaios e
Em 1871, foi construída a munidade e da Escola. para cantar louvores ao Cria-
primeira casa paroquial, sen- No final de agosto de 1880, dor nos cultos festivos. No dia
do de propriedade do pas- o pastor Johann Anton Hein- 11/06/1905 a Comunidade
tor Sandreczki e mais tarde rich Sandreczki deixou a co- Evangélica foi filiada à Comu-
transferida para a Comunida- munidade de Brusque para nidade Evangélica da Prús-
de. As primeiras casas pasto- assumir a comunidade de sia e, em 11/11/1907, foram
rais eram também o espaço Blumenau, mas continuou aprovados novos estatutos.
para a escola ou a doutrina. a dar assistência à Brusque Outro marco importante foi
A sala da casa pastoral torna- até agosto de l889, quando a a fundação da Associação de
va-se um recanto de ensino visitou pela última vez, trans- Damas de Caridade, hoje co-
e doutrinação, preparando ferindo-se, então, para os Es- nhecida como Ordem Auxilia-
para a vida de fé e para a ma- tados Unidos. dora de Senhoras Evangélicas
nutenção das tradições. Com a transferência do Damas de Caridade (OASE
A religiosidade, a educação Pastor Sandreczki a comuni- – CARIDADE), em novembro
e a disciplina sempre foram dade evangélica de confissão de 1907. Em julho de 1909 o
consideradas fundamentais luterana de Brusque ficou pastor Lange, por motivos de
para os alemães luteranos, e sem pastor residente. Du- saúde, deixou a Comunidade.
o relatório pastoral expressa rante 10 anos a comunidade A partir de 1º/01/1910,
a preocupação de a Comuni- evangélica luterana fora aten- o pastor Gerold Hobus assu-
dade ter uma Escola Evan- dida pelo pastor Sandreczki me, era o quarto pastor da
gélica, pois os filhos dos imi- que vinha mensalmente de Comunidade Evangélica Lu-
grantes não poderiam ficar Blumenau a Brusque. Depois terana de Brusque. Em 1911
sem o aprendizado da escrita de longa espera, finalmente a a Comunidade adquiriu um
e leitura. Graças ao esforço comunidade recebeu o seu 2º relógio, da Alemanha, que foi
conjunto dos membros da Pastor residente, P. Julius von instalado na torre da igreja
igreja, em 20/04/1872 foi Czecus, no dia 25/05/l890, no mesmo ano. Este relógio
fundada a Escola Evangélica que permaneceu em Brusque continua dando testemunho
que, inicialmente, funciona- até fevereiro de l896. Durante à população de Brusque, pela
54
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Evangélica Luterana, paróquia Bom Pastor. Brusque. Acervo: Rosemari Glatz

Em 3/05/l894 foi lan- das laterais e do altar, e en- também foi renovada toda
çada a pedra fundamental quanto a igreja era restau- a cobertura da igreja.
da igreja, construída du- rada e ampliada, os cultos A igreja recebeu mais
rante a estada do pastor dominicais eram realizados uma reforma, do piso
Czecus. Sua inauguração na Casa da Comunidade. ao telhado, de 1978 a
se deu no dia 6/01/l895 e, Durante os anos de 1959 28/10/1979.
mais tarde, para a alegria e 1960 foi efetuada uma Considerado o segun-
da Comunidade, foi inau- campanha para a compra do prédio mais antigo de
gurado o primeiro sino da de um novo órgão, encabe- Brusque, em 2014 o tem-
igreja. çada pelo então maestro plo da Igreja Evangélica
No dia 12/08/1928 foi Aldo Krieger. de Confissão Luterana de
comemorado o 65º ani- Este órgão ainda conti- Brusque (IECLB) passou
versário da Comunidade, nua embelezando as horas por uma restauração para
com a vinda do segundo de culto de louvor a Deus. que a história da comuni-
sino. A igreja foi renovada Sua inauguração foi no dia dade, e também de Brus-
em 1942, com ampliação 9/08/1960. No mesmo ano que, possa ser preservada.

55
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

sua robustez e pontualidade dos primeiros sínodos, que REFERÊNCIAS


até hoje. se uniram numa federação
O pastor Hobus desenvol- sinodal em 1949, que no ano BOHN, Pe. Antônio Fran-
veu suas atividades em Brus- de 1968 se transformou na cisco. As Primeiras Paróquias
que até março de 1914. A hoje conhecida IECLB (Igreja de Itajaí, Gaspar, Brusque e
Comunidade então se dirigiu Evangélica de Confissão Lute- Blumenau. Blumenau em Ca-
ao Conselho Mor em Berlim rana no Brasil), a comunidade dernos, Tomo XXX. Nº 11 e
(Alemanha), pedindo um su- evangélica luterana de Brus- 12. Novembro e dezembro de
cessor para o pastor Hobus que deixa de ser uma filial da 1989.
e este chegou no mesmo ano, Igreja na Alemanha, e passa a CELVA, Pe. Eder Cláudio.
na pessoa do P. Eberhardt ser uma das milhares de co- História da Igreja Católica em
Neumann, que permaneceu munidades que integram a Guabiruba: Cinquentenário
em Brusque até 1920. IECLB atualmente. da Paróquia, 2013.
Com a transferência do Ao longo de quase 160 CELVA, Pe. Eder Cláudio.
pastor Eberhardt Neumann anos, Brusque cresceu signifi- Informações fornecidas a Ro-
para Blumenau, foi eleito o cativamente, de sorte que ao semari Glatz, por e-mail, em
pastor Albert Bornfleth, que longo destes últimos 60 anos, outubro de 2018.
foi instalado em culto festivo com o crescimento da popula- CELVA, Pe. Eder Cláudio.
no dia 15 de agosto de 1920. ção nos diversos bairros e na Seminário de Azambuja – 90
Em 12 de junho de l921 foi região, a Igreja Evangélica de anos. Notícias de Vicente Só.
lançada a pedra fundamental Confissão Luterana no Brasil Sociedade Amigos de Brus-
da casa pastoral. Seria de dois também expandiu, e surgiram que. 2017.
pavimentos, a ser construí- mais cinco comunidades nos DIRSCHNABEL, Roque
da no mesmo lugar daquela bairros brusquenses: Dom Jo- Luis. Entrevista concedida a
construída em 1871. Nada aquim, Santa Luzia, Paquetá, Rosemari Glatz, por e-mail,
consta sobre sua inaugura- Bateas e Santa Terezinha. Nos em 9 de julho de 2018. De
ção, mas serviu aos pastores municípios vizinhos foram acordo com as pesquisas rea-
até l956. fundadas quatro comunida- lizadas por Dirschnabel.
Desde a sua fundação em des: Em Guabiruba: Holstein, GEVAERD, Ayres. Primeiro
1863 até o período sucessivo Lorena e um Ponto de Pre- Centenário da Freguesia de
à 2ª Guerra Mundial, a comu- gação no Sternthal. Em Nova São Luiz Gonzaga. Blumenau
nidade evangélica luterana Trento: Claraíba. em Cadernos. Tomo XIV, julho
de Brusque era uma filial da Recentemente foi iniciada de 1973, Nº 7.
Igreja Evangélica de Berlin – uma nova comunidade evan- LUTERANOS. Igreja Evan-
Alemanha. gélica de confissão luterana gélica de Confissão Luterana
Somente com a união das na cidade de São João Batista, de Brusque. Disponível em:
centenas de comunidades sob a responsabilidade da pa- http://www.ieclbrus.com.
evangélicas luteranas espa- róquia luterana brusquense: br/historia.html> Acesso em
lhadas no Brasil, especialmen- Unidos em Cristo (Paquetá). 23/09/2018.
te no Sul, com o surgimento
56
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Primeira escola pública feminina estabelecida na sede da Colônia. Acervo: SAB

Escolas nos
primeiros anos da Colônia
Quando os primeiros imi- território. Os camponeses ale- cação nas colônias (IPHAN,
grantes alemães chegaram mães emigrados para o Brasil 2018). E assim, independen-
na Colônia Brusque tiveram eram, na sua maioria, alfabe- temente de ser na área agrí-
que enfrentar trabalho árduo tizados, pois, desde o início cola ou na Stadtplatz, desde
e penoso. Um grande número do século XIX, a escolarização os primeiros tempos uma das
de imigrantes não era agricul- infantil era obrigatória nos preocupações básicas dos
tor pois exerciam profissões Estados alemães. Foi comum imigrantes foi a questão da
urbanas, mas todos eram a organização de sociedades educação das crianças, pois a
igualmente denominados “co- escolares, as “Schulvereine”, família, a escola e a igreja se
lonizadores ou colonos”, pois com o objetivo de suprir as complementam e constituem
vieram para “colonizar” um deficiências relativas à edu- os principais pilares da socie-

57
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

dade. da língua-mãe e à manuten-


Como raramente o Governo ção da identidade alemã.
se preocupava com a questão Sobre a questão do ensino
da educação – tão importante na Colônia Itajahy-Brusque,
para os imigrantes germâni- Ayres Gevaerd (1961) infor-
cos, que já tinham aprendido ma que era grande a preocu-
em sua terra de origem sobre pação do Barão von Schne-
a força da educação e da disci- eburg, com a extraordinária
plina para o desenvolvimento visão de que era dotado. Já
de uma sociedade, a iniciativa em 24 de outubro de 1860
para ministrar aulas foi assu- dirigia-se ao presidente da
mida pelos próprios coloniza- Província requerendo, com
dores. De acordo com IPHAN urgência, a implantação de
(2018), muitas escolas comu- escolas na nascente colônia.
nais foram erguidas por mu- Atendendo aos contínuos pe-
tirão pelos próprios colonos. didos do Diretor, em 30 de
Assim surgiram inúmeros julho de 1861 foi instalada a
conjuntos de “casa e escola” primeira escola pública da co-
do professor. Dezenas dessas lônia, dirigida pela professora
construções pontilhavam a Augusta Sofia von Knorring, Professora de Brusque, Augusta
Sofia von Knorring.
paisagem rural. As escolas co- mas ela atendia apenas crian- Acervo: SAB
munitárias eram elemento in- ças do sexo feminino. Ainda
dispensável na configuração segundo Gevaerd, no Relató- a professora de morar fora,
das colônias e representavam rio de 1º de janeiro de 1862, em um rancho particular que
a principal instituição da co- o diretor interino da Colônia, alugou. Em julho de 1862, o
munidade, destinada à manu- João André Cogoy Junior, re- Governo ordenava providên-
tenção e estímulo ao uso do clamou a criação de uma es- cias para a construção da casa
idioma. Eram caracteristica- cola para o sexo masculino, para a escola pública, possibi-
mente locais e sua figura cen- pois a feminina já fora cria- litando também moradia ane-
tral era o colono-professor da. É justo, salientou aquele xa para a professora. Em de-
que, muitas vezes, concentra- diretor interino, dar-se aos zembro daquele mesmo ano o
va também as tarefas religio- professores casa para a esco- edifício estava pronto, era de
sas e recreativas. Muitas ve- la, com cômodos suficientes “tijolos, barreada e rebocada”,
zes o professor era o chefe de para morada, pois a existente de acordo com o Relatório
alguma família da localidade, apenas serve para nela fun- de 1863. Essa casa achava-
e por isso sobrepunha sua ati- cionar a escola por ser so- se localizada na Stadtplatz.
vidade de ensino à atividade mente uma adaptação provi- No Álbum do Centenário de
agrícola. Além disso, as aulas sória de uma quarta parte de Brusque (1960) encontramos
ministradas em alemão eram um dos ranchos de recepção, diversas informações sobre a
uma garantia à sobrevivência sem outra capacidade, tendo questão educacional à Colô-
58
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Deutsche Evangelische, atual Colégio Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB

nia Itajahy-Brusque. Piazza tempo em que os imigrantes começou a funcionar ainda


comenta, no referido livro, chegaram, o Padre Alberto em 1862, nas imediações da
que em 1864 foi autorizada a Francisco Maximiliano Gatto- primeira capela – Mariahil-
criação de uma escola de ins- ne apostolava em Blumenau fskapelle, e com isso vem a
trução primária pública para e Gaspar quando foi chamado ser, de fato, a primeira escola
o sexo masculino na Colônia pelo Barão Maximilian von não pública da Colônia Itajahy
Itajahy-Brusque, com salário Schneeburg, Diretor da Colô- -Brusque. A escola tinha como
do professor pago pelo gover- nia, para atender ao crescente professor o sacristão Frederi-
no. Mas essa escola, instala- número de famílias católicas co Nützel que, antes de atuar
da no centro da Colônia, não da Colônia Itajahy-Brusque. como professor, já ministrava
atendia as comunidades do Face a ausência de professo- a catequese e escolarizava as
interior da Colônia e também res qualificados, o Pe. Gatto- crianças e os jovens, sob a co-
nessas comunidades a ques- ne estimulou alguns colonos ordenação do Pe. Gattone.
tão da educação das crianças para que ensinassem as pri- Outro tipo de organização
era uma das preocupações meiras letras em suas comu- escolar surgiu juntamente
básicas dos imigrantes. nidades e, assim, alguns colo- com as escolas rurais teu-
Um relato importante nes- nizadores mais esclarecidos to-brasileiras e, em muitos
te sentido é o de Dirschna- assumiram a nobre função casos, as substituiu. São as
bel (2018). Ele informa que, de ensinar. A primeira esco- “Schule und Kirche”, assim
segundo suas pesquisas, no la paroquial de Guabiruba chamadas a igreja e escola,
59
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Grupo Escolar Feliciano Pires. Alunos do primeiro ano masculino em 1920,


junto com a professora Reinalda Moritz. Acervo: SAB

um modelo alemão onde es- escolas vinculadas às igrejas (quando não era um religio-
cola e igreja existem em per- e pagas por particulares. Se- so). Além disso, ao contrário
feita simbiose. Elas estiveram gundo IPHAN (2018), são as do que acontecia na zona ru-
estreitamente unidas no sis- escolas comunais ligadas às ral, nessas escolas era ensina-
tema colonial, uma vez que comunidades religiosas cató- do o idioma português como
o governo deixou a educação lica e luterana, e desenvolve- uma das disciplinas do currí-
por conta e risco da iniciativa ram-se independentemente culo e segunda língua dos alu-
particular. dos governos, tanto do Brasil nos. O ensino geral, contudo,
Na escola da “Stadtplatz”, quanto da Alemanha. Pasto- era ministrado em alemão.
havia professores pagos pelo res, padres e freiras foram os A pesquisadora Emilia Ro-
Governo, mas em número in- principais responsáveis pela senbrock (2018, no prelo)
suficiente para atender toda sua estruturação, mas tais es- apresenta importante contri-
a população em idade esco- colas predominavam nos nú- buição sobre a educação pri-
lar. Assim, à medida que se cleos urbanos, na Stadtplatz. mária pública e particular nas
regulamentou a presença Nas escolas ligadas às igrejas, escolas nos primeiros anos
das igrejas católica e lute- o professor era uma pessoa da Colônia Itajahy-Brusque.
rana, com vigário e pastor qualificada para a função e O estudo, desenvolvido a par-
residentes, apareceram as vivia apenas da sua profissão tir do autor Cabral (1958) e
60
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

de outras obras literárias, é protelada. Evangélica Alemã (Deutsche


apresentado de forma linear - 1863: em 7 de julho, o Ba- Evangelische Schule, atual Co-
no artigo “A Roca do Idioma rão insiste na criação de mais légio Cônsul Carlos Renaux].
Alemão nos Teares do Berço escolas para a Colônia visto a As primeiras aulas foram mi-
da Fiação Catarinense”, partes necessidade da implantação nistradas pelo Pastor Johann
do qual reproduzimos abaixo, em localidades mais distantes A. Heinrich Sandreczki que
de forma resumida. da Sede da Colônia. Sugere a permanece à frente da escola
- 1860: demandas do dire- fundação de uma escola para até 1879 quando é transferi-
tor da Colônia Itajahy-Brus- atender 47 meninos no Vale do para Blumenau. Em 1873
que, Barão Maximilian von do Braço do Norte do Guabi- a escola alemã particular era
Schneeburg, junto ao presi- ruba, hoje Centro, e também frequentada por 53 crianças.
dente da Província de Santa para atender com escolas a - 1875: moradores das lo-
Catarina para a implantação localidade de Peterstraβe-Ba- calidades de Limoeiro e dos
de escolas. teas. Cunha solicitam escolas para
- 1861: em 30 de julho, é - 1864: foi autorizada em suas crianças. O Limoeiro re-
instalada a primeira escola 22 de abril, a criação da pri- ceberia sua primeira escola e
pública da colônia, dirigida meira escola primária pública a localidade dos Cunha já con-
pela professora Augusta Sofia para meninos na sede, sendo tava com uma escolinha.
von Knorring. A escola públi- professor Maximilian von Bo- - 1876: Frederico Dressel e
ca feminina estava estabeleci- rowsky. Virgínio Fantini continuavam
da na sede da Colônia. - 1867: um relatório da Co- com as suas escolinhas na
- 1862: o Barão de Schne- lônia informa que a frequên- zona colonial de Tijucas. As
eburg reitera seu pedido ao cia escolar havia aumentado e estatísticas do ano de 1876
Governo Provincial para a que três escolas particulares apresentam os seguintes nú-
criação de uma escola do sexo funcionavam nos distritos da meros: duas escolas públicas,
masculino na Colônia. Colônia. Acrescente-se a este uma para cada sexo e 10 esco-
- 1863: em seu relatório de número a escola pública femi- las particulares.
1º de janeiro, correspondente nina e a masculina; - 1878/1879: em 1879 o
ao ano de 1862, o Barão von - 1868: em 1º de fevereiro, Governo continuava a sub-
Schneeburg volta a insistir na começou a funcionar na loca- vencionar os professores com
necessidade de uma escola lidade de Guabiruba do Norte um auxílio mínimo para que
para o sexo masculino. Em ou- Alta, hoje Aymoré, uma escola mantivessem suas escolinhas
tro documento, Schneeburg particular. primárias nas linhas colo-
pede autorização para que os - 1869: haviam sido cons- niais. Houve exoneração de
sete meninos da Sede da Co- truídas cinco casas escolares professores por falta de alu-
lônia frequentem as aulas na na Colônia. Na Limeira havia nos e fechamento de escolas.
escola para o sexo feminino já 30 crianças em idade escolar - 1880: criada em Guabiru-
em funcionamento, uma vez e os moradores solicitavam ba do Norte a primeira escola
que a criação da escola para uma escola. particular alemã.
o sexo masculino havia sido - 1872: Fundação da Escola - 1885: primeira escola no
61
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

REFERÊNCIAS
DIRSCHNABEL, Roque
Luiz. Entrevista concedida a
Rosemari Glatz, por e-mail,
em 9 de julho de 2018. De
acordo com as pesquisas rea-
lizadas por Dirschnabel.
GEVAERD, Ayres. Primór-
dios do Ensino Primário em
Brusque: Centenário da Pri-
meira Escola Pública. Blume-
nau em Cadernos. Arquivo
Histórico José Ferreira da Sil-
va, Tomo IV, nº 7. Blumenau:
Alunos das escolas de Brusque em desfile cívico. Acervo: SAB
julho de 1961.
bairro Alsácia. As aulas acon- - 1903: é fundado o Grupo IPHAN. O patrimônio cul-
teciam duas vezes por sema- Escolar Santo Antônio (como tural do imigrante. Roteiros
na e em língua alemã. Escola Paroquial, hoje Colégio Nacionais de Imigração – San-
- 1886: criada a Escola Iso- São Luís) mantido pela Con- ta Catarina. Disponível em:<
lada Desdobrada de Guabiru- gregação das Irmãs da Divina http://portal.iphan.gov.br/
ba do Sul. Providência. O número inicial uploads/publicacao/PubDi-
- 1887: Fundada uma es- de matrículas foi de 14 alu- vImi_RoteirosNacionaisImi-
cola particular na localidade nos. gracao_SantaCatarina_v2_m.
de Águas Claras, na qual resi- - 1917: criadas as Escolas pdf>. Acesso em 13 setembro
diam imigrantes alemães, ita- Reunidas de Brusque, que 2018.
lianos e ingleses. eram constituídas por uma PIAZZA, Walter F. Álbum
- 1898: o Decreto nº 179, escola do sexo masculino, do Centenário de Brusque.
de 15 de dezembro, suspen- uma do feminino e uma mis- Edição Sociedade Amigos de
deu, a contar de 1º de janeiro ta. Em 1919, passou a funcio- Brusque, 1960.
de 1899, as subvenções que nar como Grupo Escolar Feli- ROSENBROCK, Emilia. A
recebiam diversas institui- ciano Nunes Pires conforme Roca do Idioma Alemão nos
ções escolares em Brusque: Decreto nº 1.200, art. 1º de Teares do Berço da Fiação
Escola Evangélica Alemã, Es- 11/02/1919. Catarinense: Considerações
cola Guabiruba do Sul, Escola - 1916: o município con- acerca do ensino da língua
de Guabiruba do Norte e a Es- tava com 2 escolas estaduais, alemã em Brusque/SC. Notí-
cola dirigida pelo Padre Antô- 17 municipais, 2 particulares. cias de Vicente Só – Brusque e
nio Eising. - 1920: De uma população Região nº 66. Edição Socieda-
- 1890: é criada a primeira de 13.203 habitantes, 4.548 de Amigos de Brusque. Brus-
escola na vila de Botuverá. pessoas sabiam ler e escrever. que, 2018. No prelo.
62
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Ao centro, o palacete da família Renaux. Ao fundo, a colina Evangélica e a igreja Luterana. Acervo: SAB

A Stadtplatz e o polo
gerador do plano urbano
Nos primórdios da Colô- mais importantes; era onde resolução de conflitos relati-
nia Itajay-Brusque, a sede da os imigrantes recém-chega- vos a limites de propriedade,
colônia, ou vila, era um novo dos ficavam aguardando a concessão de serviços aces-
núcleo formado por imigran- posse dos seus lotes e davam sórios vinculados à abertura
tes alemães que se estabele- informações da Alemanha. de picadas e estradas, tudo
ceram como colonizadores Era chamada de Stadtplatz. era resolvido na Stadtplatz
em áreas pioneiras que, dia A vila era ao mesmo tem- pelo Diretor e seus auxilia-
após dia, foram construindo po aldeia e cidade. Era a sede res. A partir da Stadtplatz,
uma sociedade inteiramente da administração da colônia temos o polo gerador do pla-
diversa da nacional. Na sede e, por isso mesmo, ponto de no urbano. Ao mesmo tempo
da colônia estavam as ven- passagem obrigatória para que ocorria a povoação, eram
das, as capelas católica e lute- todos os imigrantes que pre- abertos as picadas e os cami-
rana, o cemitério, as escolas, tendessem se estabelecer na nhos, construídas pontes e
a sociedade dos atiradores, a área. Quaisquer assuntos re- os ancoradouros para balsas,
administração da colônia e o lacionados à posse das terras, botes e barcos. Esta atividade
ancoradouro. atribuição de lotes, pagamen- era uma das mais importantes
Era para ela que conver- to de dívidas contraídas pe- para o desenvolvimento eco-
giam os caminhos coloniais los colonos com o governo, nômico e de suma importân-

63
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

cia para o progresso cultural Stadtplatz (de Stadt = cida- ficavam longe da Stadtplatz,
na nascente colônia. E, para de, e Platz = lugar), signifi- como a região de Botuverá,
manter as tradições trazidas ca centro urbano. Guabiruba e Dom Joaquim,
pelos imigrantes, uma impor- logo nos primeiros anos da
A vida social, econômica e
tante instituição do tempo de Colônia apresentaram um
religiosa dos colonos
colônia eram as festas: havia núcleo comercial ativo, muito
estava estreitamente
a festa anual de cada igreja, e antes que outras áreas mais
vinculada a ela, especial-
a grande festa do município, próximas, como a região do
mente a vida econômica.
chamada de Schützenverein, Maluche. Com o crescimen-
Durante muitos anos, Brus-
prestigiada por todas as famí- to, esses pequenos núcleos
lias. que foi uma pequena vila, urbanos e suas comunidades
Por ter sido colonizada por formada principalmente foram se transformando nos
imigrantes alemães, a Colônia por imigrantes europeus bairros que temos hoje, e al-
Itajay-Brusque obedeceu ao que acreditaram no va- guns se tornaram cidades in-
modelo usual das cidades que lor e nas riquezas deste dependentes, como Botuverá,
foram traçadas por alemães. vale, e apresentava certas Guabiruba e Nova Trento. As
O estudioso Peluso Júnior características e serviços primeiras picadas e cami-
(1991) esclarece que o mo- públicos que faziam dela nhos abertos transformaram-
delo alemão adotado em cida- uma cidade em miniatura se em ruas e são, hoje, im-
des catarinenses costumava – uma “Stadtplatz”. E, por portantes vias arteriais da
eleger a rua comercial como isso mesmo, era um ponto cidade, principais eixos de
polo gerador do plano urba- de atração para os colonos penetração para os bairros,
no. O ponto de partida para com suas atividades redu- como, por exemplo, as ruas
a demarcação dos lotes eram zidas à proporção de um São Pedro, 1º de Maio, Sete
as picadas traçadas ao longo pequeno lote colonial. de Setembro, Hercílio Luz, do
do curso dos rios e ribeirões. Cedro, entre outras.
Brusque, assim como outras
cidades catarinenses, cresceu
linearmente “entre o rio e a
montanha” ao longo da sua REFERÊNCIAS
rua comercial, a atual aveni-
da Cônsul Carlos Renaux, e de PELUSO JUNIOR, Victor
outras estradas e caminhos Antônio. Estudos de Geogra-
que penetravam em direção urbanização, locais em que se fia Urbana de Santa Catarina.
ao fundo dos vales e monta- destacavam as vendas, centro Editora da UFSC. Florianópo-
nhas. Ao se planejar a cidade, da vida econômica do lugar.
lis, 1991.
no cruzamento das picadas, Brusque se formou de
SEYFERTH. Giralda. A co-
ou em pontos estratégicos modo descentralizado, com
lonização alemã no vale do
das linhas coloniais, foram re- pequenas comunidades sur-
gindo em diversos pontos da Itajaí-Mirim. Um estudo de
servados lotes para a implan- desenvolvimento econômi-
tação de escolas e igrejas, for- região. Isto permitiu que, de-
vido ao sistema das linhas co- co. Editora Movimento. Porto
mando pequenos núcleos de
loniais, mesmo as áreas que Alegre. 1974.

64
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Xokleng, os
indígenas em Brusque
Na tradicional história do ligeira, que conhece todos
Vale do Itajaí-Mirim e de ou- os caminhos. Pela literatura
tras regiões dos vales do Ita- antropológica, os Xokleng/
jaí, os colonizadores são vis- Laklãnõ eram os índios que
tos pelo senso comum e pela habitavam a Colônia Itajahy
literatura local como heróis, -Brusque. Regionalmente, são
que enfrentaram diversas di- mais conhecidos como índios
ficuldades, uma dessas seria a “Bugres” e “Botocudos”. A de-
difícil vivência da colônia em nominação “Botocudos” está
contraste com os nativos que associada ao uso de um enfei-
se sentiam ameaçados pela te labial pelos homens, deno-
grande exploração dos mes- minado tembetá, ou “Bugres”,
mos, causando enfrentamen- designação que também foi
tos entre ambos, muitas ve- dada pelos brancos, mas
zes violentos com resultados com sentido pejorativo. Wiik
fatais. Mas, toda história tem (1999, citado por Garrote,
dois lados, a versão do ven- 2012) explica que a denomi-
cedor e a versão do vencido. nação Xokleng foi inventada
Sem entrar na questão de juí- pelos brancos, sendo também
zo de valor, pois não cabe aqui conhecidos como “Bugres”,
julgar quem foram os “moci- “Botocudos”, “Aweikoma”,
nhos” e os “vilões”, mas ape- “Xokleng”, “Xokrén”, “Kaigang
nas apresentar fragmentos de Santa Catarina” e “Aweiko-
da história de um determi- ma-Kaingang”.
nado ponto, pois todo ponto Os índios Xokleng/Laklãnõ
de vista é vista de um ponto, eram eram um povo migran-
este capítulo apresenta infor- te entre o litoral e o planalto.
mações que nos permitem co- Habitavam florestas que co-
nhecer um pouco mais sobre briam as encostas das mon-
os índios Xokleng/Laklãnõ, tanhas, os vales litorâneos e
moradores que os coloniza- as bordas do planalto no Sul
dores europeus encontraram do Brasil, vivendo da caça e
ao chegar às novas terras. Mãe e filha Xokleng que habitavam da coleta. A Floresta Atlânti-
Laklãnõ significa gente a região. Acervo: SAB ca e os bosques de pinheiros
65
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(araucária) forneciam tudo formados por contingentes rem da caça e da coleta, que
o que necessitavam para so- de 50 a 300 indivíduos, apa- variava em seu território con-
breviver. Caçavam diferentes rentados entre si. Em cada forme a sazonalidade com-
tipos de animais e aves, co- grupo, as famílias eram cons- preendida para cada região:
letavam mel, frutos e raízes tituídas com base na monoga- litoral, região dos vales e pla-
silvestres. E tinham o pinhão mia, poliginia, poliandria e no nalto. A partir do crescimento
como um dos principais re- chamado “casamento conjun- dos núcleos coloniais como o
cursos alimentares. O territó- to”. Usavam pinturas corpo- de Brusque e Blumenau, os
rio que ocupavam não tinha rais que estavam associadas índios foram coagidos e pas-
contornos bem definidos. As a grupos de nomes e a cinco saram a ocupar áreas que an-
rotas de perambulação eram clãs, e a função dessas pintu- tes eles não ocupavam. Essas
frequentadas de acordo com ras era “afastar os Kupleng” - áreas eram afastadas dos no-
o seu potencial em suprir, isto é, o espírito dos mortos. vos colonizadores da floresta,
através da caça e da coleta, as O território dos Xokleng/ escondidas na proteção na-
necessidades alimentares do Laklãnõ passou a ser ocupa- tural de serras e vales, onde
grupo. Mantinham uma dis- do por povos não índios na ainda havia meios de sobrevi-
puta secular com o Guarani primeira metade do século vência através da caça e cole-
e o Kaingang, disputando o XIX, através de política de ta. Assim, a região da Serra do
controle desse território e re- ocupação de terras nos cam- Itajaí, que antes era um local
cursos. Ainda de acordo com pos de Lages em Santa Cata- de caça e coleta do indígena,
Garrote, antes do contato com rina, e regiões de Guarapuava passou a ser o novo habitat
o branco, o território tradi- no Paraná. Garrote (2012) dos colonizadores europeus.
cional dos Xokleng se esten- conta que uma carta Régia de O contato com o índio passou
dia do planalto até o litoral, Dom João VI declarou guerra a ocorrer com maior frequên-
aproximadamente de Porto aos bárbaros índios “Bugres” cia após a instalação de famí-
Alegre até os campos de Curi- e “Botocudos” dessas locali- lias de imigrantes nas terras
tiba e Guarapuava no Paraná, dades citadas. Aos poucos o onde os Xokleng já estavam
e incluía quase todo o centro povo indígena foi perdendo refugiados. O fato de não te-
-leste de Santa Catarina. Os seu território com as frentes rem alternativas de guarda-
planaltos eram de predomi- colonizadoras, que pelo ex- rem seus espaços de onde
nância da araucária, fonte de tremo sul no Rio Grande do provinha a sobrevivência,
alimento durante os meses de Sul avançavam para o Norte, e provocou confrontos com os
inverno para o Xokleng/Lak- pelo Paraná, avançando para colonos, e da mesma forma os
lãnõ, e de intrigas e disputas o Sul. Assim o índio passou a colonos com os índios. Com
com os Kaingang e Guarani se refugiar em terras de difí- isso, cada vez mais os índios
pelo pinhão e pela fauna. Em cil acesso, e menos ocupadas, passaram a ser encurralados
relação à organização social, adentrando as serras da Mata e perseguidos. Foram criadas
Santos (1965) escreve que Atlântica de Santa Catarina. expedições de bugreiros para
os Xokleng/Laklãnõ estavam Os Xokleng tinham um terri- caçar os índios, ato estimu-
divididos em grupos locais tório extenso por necessita- lado, aprovado e encoberta-
66
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

do pelas autoridades locais,


Em uma carta enviada por Julius ao seu irmão Hermann império e república. Garrote
Blumenau, é relatado um ataque de “bugres” a uma resi- (2012) informa que na litera-
dência localizada próxima à serraria Sallentien e Gartner, tura da história local, vários
instalado em Pedras Grandes (Ribeirão do Cedro). O autor autores produzem uma histo-
da carta relata que os colonos não levavam a sério os pe- riografia onde está presente
quenos ataques dos nativos que são chamados de “bugres”, um discurso, que demons-
[...] “Antes aqui riam todos acerca dos bugres, como aqui são trava o que se configurava na
chamados, porque raramente apareciam, e quando isto acon- mentalidade do período da
tecia, era para roubar, não para matar” (BLUMENAU, 1855, colonização, de que o índio
p.1). É notável que alguns colonos não temiam os nativos, era um entrave ao processo
entretanto, um acontecimento singular mudou as concep- de colonização, um inimigo
ções de suas seguranças pessoais. No dia 9 de novembro de a ser vencido, assim como a
1855, oito ou nove nativos realizaram uma emboscada na floresta. Este discurso gerou
serraria de Sallentien e Gartner, que resultou na morte de conflitos físicos contra os ín-
dois operários e um ferido, esse último era Paul Kellner, um dios, em sua grande maioria,
dos 17 primeiros colonos de Blumenau e um dos precur- ditos violentos e dizimadores.
sores do vale do Itajaí-Mirim. Eles estavam escavando um O Prof. Silvio C. dos Santos
canal para escoar água da serraria quando foram atacados (1965), ao escrever o relatório
com flechas. Os cuidados médicos que lhe dispensou o sábio apresentado ao Departamen-
Fritz Müller e a sua natureza robusta e sólida, auxiliaram- to de História da Faculdade
no a refazer-se. No livro de Edith Kormann (1994), Blume- de Filosofia, Ciências e Letras
nau: arte, cultura e as histórias de sua gente (1850 – 1985) da Universidade de Santa Ca-
é citado o acontecido entre os nativos e colonos. Segundo tarina, informa que a tribo
a autora, Paul Kellner, sobrinho de Hermann Blumenau, e Xokleng/Laklãnõ que atual-
um dos primeiros imigrantes da região, não se limitou a um mente se encontra aldeada
simples lote colonial, adquirindo uma área maior na mar- no P. I. “Duque de Caxias”, no
gem do rio Itajaí-Mirim entre Itajaí e Brusque. município de Ibirama/SC era
considerada barreira cons-
tante para aqueles que dese-
javam incursionar pelos vales
litorâneos ou pelo planalto.
Sua mobilidade espacial, alia-
da ao fato de estar formada
por diversos grupos locais,
possibilitava o domínio das
florestas que cobriam a faixa
entre o litoral e a encosta do
planalto. Essa é a orientação
que obtemos quando consul-
67
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Os Xokleng/Laklãnõ foram sendo envolvidos por frentes pioneiras que, originárias da Europa e incentivadas
pelo Governo local, estavam decididas a ocupar definitivamente suas terras. Acervo: SAB
tamos os diversos autores que o próprio Governo Provincial expansão dos primeiros nú-
se preocuparam com a his- iniciam campanhas no senti- cleos coloniais, os Xokleng/
tória do estado catarinense. do de “afugentar os bugres, Laklãnõ foram sendo envolvi-
Entretanto, os Xokleng/Lak- sem lhes fazer mal”. dos por frentes pioneiras que,
lãnõ somente “entram para As “tropas de pedestres” originárias da Europa e incen-
a história” em 1852, quando e as “patrulhas de bugreiros” tivadas pelo Governo local,
atacam a casa do Dr. Blume- passaram a acudir onde os estavam decididas a ocupar
nau, na colônia por ele criada, Xokleng/Laklãnõ apareciam, definitivamente suas terras.
e tem Fritz Müller como ex- e em pouco tempo iniciava-se E o esforço foi de tal ordem
positor dessa façanha. Dessa o extermínio dessa popula- que o Governo catarinense
data, numerosos relatos pas- ção. A cada ataque da tribo, financiou diversas incursões
sam a registrar as “tropelias” que dia a dia via seus territó- de “bugreiros”, e mesmo os
praticadas pelos membros da rios ocupados, passou a ser jornais da época chegaram
tribo contra os contingentes respondido com os ataques ao máximo de anunciar, com
migratórios que estavam a fi- inesperados e não menos antecipação, incursões puni-
xar-se nos vales do Itajaí. As sanguinários dos “bugreiros”. tivas que se faziam contra os
companhias colonizadoras e Com o desenvolvimento e a silvícolas.
68
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Durante os primeiros decêndios da colonização de Santa Catarina pelos europeus, a his-


tória registra várias situações de confronto entre os primitivos moradores dos sertões ba-
nhados pelos vários Itajaís, causando grandes prejuízos e ceifando a vida de muitos índios
e também de colonizadores. Brusque não escapou a essa sorte. E há, a esse respeito, farta
documentação nos arquivos da Sociedade Amigos de Brusque.
Transcreveremos aqui dois ofícios do Barão Maximilian de Schneeburg, primeiro Diretor
da Colônia Itajahy-Brusque, datados de 1863, dirigidos ao Presidente da Província, Pedro
Leitão da Cunha, e publicados por José Ferreira da Silva em 1970. O inicial desses ofícios é
datado de 5/09/1863, e diz:
“Tendo-se mostrado de novo os índios (bugres) no Ribeirão do Cedro, lugar denominado
Pedra Grande, no Itajaí-Mirim, contíguo à Colônia, no mesmo lugar onde em março do corren-
te ano já pereceram três vítimas, levo ao conhecimento de V. Excelência, a reaparição desses
gentios e rogo a V. Excelência de mandar-me uma força de soldados com sua necessária mu-
nição que, batendo as matas seguindo as extensas e largas picadas dos bugres, os afugentem
e expilam dos seus estabelecimentos, estacionando nos lugares mais expostos aos ataques re-
pentinos dos bugres, protegendo e defendendo assim as vidas e propriedades das família, o que
os colonos, por si e sem disciplina regular, moradores em dispersos e distantes lotes, além de
grandes despesas, debalde tentariam alcançar”.
O outro ofício é de 10/12/1863: “Na noite seguinte à partida de V. Excelência desta Co-
lônia, reapareceram os bugres noturnamente, fazendo bulha no mato, batendo nas árvores e
imitando gritos de galinhas, no mesmo lugar em que V. Excelência foi reconhecer uma pessoa
nos lotes de João Jorge Schmitt e Carlos Mathus. Os animais e cães refugiaram-se, uivando,
para as casas dos ditos colonos e, assim, toda a gente está com medo e alarmada. Ontem, no
dia 9 do corrente mês, pela tarde, apareceu junto à casa de Gustavo Rose, um porco do mato
a toda brida e, pouco depois, a mulher do mesmo colono, viu as costas nuas, de cor castanho,
de alguém que abaixo engatinhou ao longo da cerca de sua roça para o rio Guabiruba, desa-
parecendo no mato. Envio gente armada para bater de frente e dos fundos destas situações os
matos e para perseguir os rastos, caso os encontrassem. Eu mesmo vou com um partido, e o
escriturário com outro. E quanto tenho com pressa de levar ao conhecimento de V. Excelência
para que determine as providências como bem julgar”.

69
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Garrote (2012) escreve que olhares, sem contatos físicos. ria e cultura dos povos indíge-
na região de Lageado Alto, em O índio era visto, percebido, nas pelo processo civilizador,
Botuverá, localidade coloni- e os contatos existentes eram uma vez que eram os gover-
zada predominantemente por de paz, sem uso da violência. nos e as agências de coloni-
imigrantes italianos, em en- O caso de Botuverá demons- zação que contratavam esses
trevista realizada por Garrote tra uma outra percepção so- assassinos para exterminar
com Jacó Venzon, este comen- bre o índio, remetendo a um os índios. O índio foi enten-
tou que “até depois da Segun- certo respeito à sua presença dido como um empecilho ao
da Guerra Mundial, quando no local. Já em outras regiões processo de colonização, os
voltou à localidade dos Lajea- próximas, algumas narrati- imigrantes chegavam na re-
dos, era frequente presenciar vas demonstram que índios, gião e vinham com um en-
índios”. Segundo suas me- ao entrarem em contato com tendimento preconceituoso
mórias, quando criança ele o não índio, agiram com vio- com o índio. No processo de
teve um rápido contato com lência. Por parte de colonos, colonização, os atos de con-
os Xokleng/Laklãnõ: “Era ín- e dos caçadores de bugres es- tatos violentos entre as etnias
dio por que ele estava nu, se tão presentes principalmente causaram mais malefícios ao
via que estava nu, era índio contatos violentos. A partir povo indígena Xokleng/Lak-
naquela época, eles não me dessas ações violentas dos lãnõ do que o indígena ao
fizeram nada por que o pa- nativos e dos colonos, enten- povo colonizador europeu,
pai sempre dizia: vocês não de-se que partiram da defesa conclui Garrote.
fazem nada, que eles não fa- do território, dos espaços, no
zem nada. O papai nasceu na caso do índio, de passagem
Itália, mas ele veio morar aqui ou de caça, até mesmo de
e dizia para a gente quando recursos, coleta de vegetais,
éramos pequenos: Pelo amor frutos e sementes, e por mui-
de Deus! Gente, deixa ele es- tas vezes terem esses espaços
tar, não mexe com eles. Eles destruídos pelas técnicas de
assoviavam de noite, um na ocupação, uso do solo e caça
banda de lá, outros na banda dos europeus. Na visão do co-
de cá”, contou Jacó Venzon. lono, o índio estaria em sua
Garrote acrescenta que, de propriedade, espaço onde
acordo com as entrevistas precisava ocupar, cultivar, ou
que fez com os moradores da buscar recursos da floresta,
região, é possível concluir que como madeira. Já os contatos
inicialmente houve contatos impostos pelos caçadores de
de paz, e anos depois conta- bugres, chamava atenção dos
tos mais violentos. Os relatos próprios sujeitos da história
dos antigos moradores des- pela violência atribuída aos
crevem um contato com o ín- índios. O que demonstra toda
Índio Xokleng que habitava
dio, mas apenas com troca de falta de respeito com a histó- a região. Acervo: SAB

70
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Famílias indígenas em casa de madeira coberta com telhas também de madeira. Acervo: SAB

Os indígenas da ao mar, deitando culturas e nos nas praias, junto às quais


entregando-se à pesca, os ín- os brancos tinham as casas e
Bacia do Itajaí dios foram-se internando nas as suas culturas.
matas, fugindo à companhia Em 1820, quando Saint’Hi-
José Ferreira da Silva do branco usurpador, votan- laire passou por Itapocu e
(1959), ao discorrer sobre do-lhe ódio e jurando vingan- Barra Velha, encontrou o
os indígenas da Bacia do Ita- ça pelas violências com que povo alvoroçado e certamen-
jaí, informa que os primeiros eram tratados. Mesmo depois te armando batidas pelas ma-
civilizados que aportaram à de muitos anos de posse efe- tas próximas, em perseguição
costa catarinense, aqui en- tiva de toda a faixa litorânea, de índios que haviam matado
contraram os índios e que as desde S. Francisco às terras dois moradores das redonde-
poucas praias que se podem de Laguna, para falar apenas zas. Silva conta que, por esse
contar como integrantes da no território catarinense, tempo, e mesmo antes, nos
Bacia do Itajaí, em sua peque- quando já então fora aberta a começos do século XIX, os
na orla marítima, certamen- estrada de ligação entre a Vila “bugres” eram uma constan-
te também eram povoadas de Nossa Senhora da Graça e te ameaça às tentativas que
desse gentio. Empurrados a de Santo Antônio dos Anjos, faziam os civilizados para se
pelos civilizados que iam vinham os índios do interior apossarem e cultivarem os
ocupando as terras próximas atacar, matar e roubar colo- férteis terrenos banhados
71
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fragmentos de carta onde menciona que Paul Kellner foi atingido por uma flecha de índios em 1855.
pelo rio Itajaí-Mirim. Vários seguir os selvagens que ou- em Belchior, parece que se
foram os assaltos ao estabele- sassem molestar os colonos, preocuparam mais em tor-
cimento de colonos nas zonas veio a criação da Companhia nar-se, eles próprios, colonos,
de Camboriú e da margem de Pedestres de Itajaí, entre- donos de casas e plantações,
do Itajaí-Mirim. E quando, na gue ao comando de Henri- do que permanecer em guar-
primeira metade do século que Etur, militar que prestou da, observando o movimento
XIX, Agostinho Alves Ramos incontestáveis e assinalados dos selvícolas, para que os
se estabeleceu na foz do Ita- serviços na fundação e desen- colonos, que Alves Ramos ia
jaí-Açu, construindo capela volvimento das colônias de mandando de toda parte da
e agrupando moradores em Pocinho e Belchior, que a Lei província, se sentissem se-
povoado de que se originou nº 11, de 1835, inspirada e re- guros nos lotes que lhes des-
a cidade de Itajaí, e, dando digida por Alves Ramos, man- tinavam. Nisso fizeram bem.
expansão aos seus planos de dara estabelecer naqueles ri- Etur adquiriu lotes na sede da
exploração e aproveitamento, beirões e no Itajaí-Mirim. colônia, onde construiu casas
em grande escala, dos vales Os velhos documentos dos de morada, e mandou fazer
ubérrimos dos confluentes começos de Porto Belo, cuja roças em terras próximas.
do Itajaí, vieram também as câmara estendia sua jurisdi- Imitaram-no os “pedestres”.
primeiras providências dos ção por toda a Bacia do Itajaí, Se assim ganhava o progresso
poderes públicos, tendentes estão cheios de referências a da Colônia, aumentava a ame-
a acabar com o enorme entra- ataques de indígenas aos que aça que o indígena represen-
ve que o índio representava à ousavam abrir roças e plantar tava para outras zonas que
colonização, Depois dos pou- ranchos nas matas mais ou iam sendo colonizadas, como,
co eficientes postos de pedes- menos afastadas das praias. por exemplo, a novel Colônia
tres estabelecidos em alguns Silva (1959) escreve que lhe Itajahy-Brusque, que iniciara
pontos da estrada do litoral, faltam elementos para acom- às margens rio Itajaí-Mirim.
destinados, entre outras fi- panhar as atividades dos pe- Nem todos os coloniza-
nalidades, a enfrentar e per- destres de Etur. Estabelecidos dores europeus eram favo-
72
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ráveis à violência contra os tinho nos pousos atacados nome a lugares e acidentes ge-
selvagens. Dr. Blumenau, por de surpresa e trazidos à civi- ográficos. Numa economia de
exemplo, condenava, em car- lização. Os homens, ou eram subsistência criou atividades
tas e relatórios, as “batidas” mortos, ou encontravam sal- e processos para a obtenção
sangrentas de que quase sem- vação na fuga desordenada de alimentos e provisão de
pre resultavam no massacre para as profundezas da mata. recursos que lhe garantisse
de infelizes índios, principal- E assim, aos poucos, vemos o a sobrevivência. Em proces-
mente de mulheres e crian- desaparecimento quase total so exaustivo de experiências,
ças, menos capacitadas para dos índios nas áreas de colo- soube transformar em boas
escapar à perseguição através nização europeia. as más qualidades de certas
do emaranhado das florestas. plantas (como, por exemplo,
Infelizmente, era o método Contribuição do a mandioca, tornando-a in-
em voga a que os escrúpulos dispensável à sua alimenta-
do filósofo alemão tiveram Índio ao Folclore ção); revelou as propriedades
também que se acomodar. Brasileiro terapêuticas de muitos vege-
Surgiram os piquetes volan- tais; descobriu a borracha,
tes de batedores, de “bugrei- Maria de Lourdes Borges indicou técnicas artesanais,
ros”, como eram conhecidos. Ribeiro (1979), ao escrever patenteou expressões artís-
Depois da extinção, em 1879, sobre a Contribuição do Ín- ticas e introduziu muito do
da Companhia de batedores dio ao Folclore Brasileiro, diz seu cotidiano, como o hábito
de mato, também na Bacia que o Folclore - sabedoria do de fumar o tabaco, o costume
do Itajaí houve necessidade povo - é uma resultante da di- de dormir em rede, o mutirão
de lançar-se mão desses pi- nâmica cultural no encontro (prática social destinada à es-
quetes, dentre os quais sa- das etnias e é inconfundível trutura da comunidade).
lientou-se o que deixou fama e significativo o valor da con- Em ligeiro sumário, Ribei-
em toda a região, pela valen- tribuição indígena. Era o ín- ro (1979) relaciona itens que
tia, coragem e tática de seu dio o dono da terra, quando representam alguns dos pon-
comandante, Martinho Mar- do descobrimento. A teoria tos que remetem à contribui-
cellino, mais conhecido por mais generalizada aponta o ção indígena ao folclore brasi-
“Martinho Bugreiro”. Suas norte da Ásia como seu pon- leiro:
“batidas” eram faladas, ecoa- to de origem e o estreito de Alimentação - mandioca
vam no próprio seio do gover- Bering como a porta de sua (carimã, tapioca); milho (can-
no central pela audácia com entrada no continente ame- jica, pamonha, curau); insetos
que se revestiam. Embora ricano. Acredita-se em mais (dentre os quais a tanajura
ponto controvertido, parece de 10.000 anos sua vinda ao ou içá); quelônios, mariscos,
que eram feitas com requin- Brasil. Neste longo período, crustáceos, peixes, aves, ca-
tes de crueldade, levantando conviveu, conheceu, explorou ças, palmito, mel, castanhas,
protestos violentos. Muitas e se utilizou dos produtos do pimentas, guaraná, amen-
mulheres e crianças índias meio, descobrindo as rique- doim, frutas nativas e seus
foram apreendidas por Mar- zas da fauna e da flora, dando sucos, moqueca, processo de
73
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

moquear, etc. ras de pele de animais, casca REFERÊNCIAS


Instrumentos Musicais de árvore, sementes e fibras;
- vários tipos de flautas, ma- processos de tinturaria com BLUMENAU, Julius. Carta,
racás, chocalhos, guizos, zu- corantes vegetais; armadilhas 7 de dezembro de 1855, Colô-
nidores, trocano, tambores, e processos de caça e pesca, nia Blumenau para Hermann,
buzinas, trombetas, bastões tipiti, aproveitamento de pe- Alemanha. 2 folhas. Ataque de
de ritmo, etc. les e couros, etc.; o emprego índios.
Religião - influência dos da borracha para diversos GARROTE, Martin Stabel.
astros sobre os viventes e os fins, etc. Os Conflitos Étnicos entre
vegetais, espíritos benfazejos Mitologia - caapora, anhan- Colonos e Índios no Sul de
e maus, gênios das águas, po- gá, saci, jurupari, cobra-gran- Blumenau/SC: Memórias. IX
deres ligados à natureza e aos de, iara, rei-da-mata, boitatá, ANPED SUL: Seminário de
fenômenos meteorológicos, curupira, etc. pesquisa em educação da re-
pajelança, etc. Transporte - vários tipos gião sul, 2012.
Armas de Guerra - tacape, de canoa e a rede; KORMANN, Edith. Blume-
espadas de pau, arco e fle- Danças - guerreiras, imi- nau: arte, cultura e as his-
cha, borduna- A ponta de fle- tativas, representativas da tórias de sua gente (1850 –
cha era embebida em curare, vida tribal, toré (nome tira- 1985). Florianópolis: Paralelo
substância preparada com do da trombeta que lhe fazia 27, 1994.
várias espécies vegetais, com o acompanhamento musical, RIBEIRO. Maria de Lourdes
efeito paralisante ou mortal, ainda em vigor no Nordeste) Borges. Contribuição do Índio
sobre o homem e o animal. E e outras inspiradoras das que ao Folclore Brasileiro. Bole-
hoje é usado na anestesia. são encontradas em vários tim da Comissão Catarinense
de Folclore. Nº 32. Ano 1979.
Artes Plásticas e Artesa- estados brasileiros: tapuia-
SANTOS. Silvio C. dos. Os
natos - cerâmica (marajoara, das, caiapós, caboclinhos, etc.
Xokleng, Hoje. Blumenau em
tapajônica, santarena); uten- O cururu e o cateretê são for-
Cadernos. Tomo VII. Nº 2.
sílios e objetos domésticos de mas com raízes indígenas e
1965.
cerâmica, fibras e madeira; foram largamente utilizadas
SILVA. José Ferreira da.
trançados de fios e fibras; ces- na catequese, pelos jesuítas.
Indígenas da Bacia do Ita-
taria; tecelagem de algodão e Medicina - a teológica,
jaí. Blumenau em Cadernos.
de fibras em tear rudimentar; exercida através do pajé, e a Tomo II. Nº4. Abril de 1959.
rede de algodão e de fibras; natural, com o emprego de SILVA. José Ferreira da.
pentes de osso e de chifre; elementos vegetais e animais. Sallentien, um dos pionei-
plumária (leques, mantos e Habitação - feitura de ca- ros. Blumenau em Cadernos.
adornos: pulseiras, testeiras, sas com armação de cipós, Tomo XI. Nº 5. Maio de 1970.
braçadeiras, perneiras, co- ripas ou troncos, entretecida SILVA. José Ferreira da.
lares, tangas, cocares, etc.); com folhas de palmeira, uti- Um pouco mais sobre os bu-
enfeites com penas, conchas, lizadas na cobertura, junta- gres. Blumenau em Cadernos.
sementes, dentes e unhas de mente com o sapé. Tomo XI. Nº 5. Maio de 1970.
animais, fibras. etc.; másca-
74
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A imigração alemã
O Brasil foi descoberto
pela frota comandada por Pe-
dro Álvares Cabral, em 22 de
abril de 1500, mas só depois
de muitos anos é que Portugal
se dá conta das inúmeras ri-
quezas brasileiras e dá início
ao seu capitalismo comercial,
advindo também a ideia de
dividir o Brasil em capitanias.
O governo usou como
modelo a experiência do Ar-
quipélago de Açores e da
Madeira. De acordo com Pia-
zza (1994), se acreditava que,
criando-se o sistema de capi-
tanias hereditárias, era pos-
sível defender mais correta-
mente o Brasil das incursões
dos que pretendiam comer-
ciar com o pau-brasil.
Tem início o sistemático
povoamento do solo e desen-
volve-se, a partir daí, a econo-
mia açucareira, de alto valor
comercial, com a Europa. As
cartas de doação foram assi-
nadas em 1º de setembro de
1534. Itamaracá e outro qui-
nhão menor ao Sul couberam
a Pero Lopes de Souza e, pelas
cartas de doação assinadas
em 6 de outubro de 1534, São
Vicente e um segundo qui-
nhão mais ao Norte couberam
para Martin Afonso de Souza. Família Klein, imigrantes alemães. Acervo: Rosemari Glatz

75
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A Pero Lopes de Souza, coube criação de colônias no inte- respectivamente. Naquele


a Capitania de Santo Amaro e rior do país, com indigentes tempo, a Província de Santa
Terras de Sant’Ana, que se di- e criminosos. Venceu o pleito Catarina se resumia à cidade
vidia em duas partes: uma no de Coutinho, pois outros le- de Desterro e três vilas: La-
rio de São Vicente até a barra gisladores acreditaram que a guna, Lages e São Francisco, e
do rio Juqueriquerê, e outra venda de terras governamen- predominava a população de
da barra do Paranaguá até as tais, a preços moderados, fa- origem lusitana. Com a che-
imediações de Laguna. Esta ria o Brasil mais atraente aos gada dos primeiros alemães
segunda porção correspon- imigrantes. Podia ser a solu- tem-se, a partir de 1828, uma
dia, portanto, ao litoral cata- ção do problema de incentivo contribuição de sangue novo
rinense. E assim teve início o à imigração e assim, a partir para a província barriga-ver-
povoamento do Brasil Meri- de 1830, a política imigrató- de.
dional e, particularmente, o ria passou a estimular a vinda Até o final da primeira me-
litoral de Santa Catarina. Mas de agricultores e artesãos, e tade do século XIX, a ocupa-
o povoamento da área não li- o governo tratou de direcio- ção do território da Província
torânea do nosso estado vai nar os imigrantes para o Sul de Santa Catarina com imi-
acontecer apenas no século do Brasil, onde havia extenso grantes alemães foi pouco ex-
XIX, após a proclamação da vazio demográfico, o número pressiva. A situação mudou a
independência do Brasil, em de escravos era pequeno, e o partir de 1850 e o acréscimo
1822. clima era mais favorável aos na vinda de alemães para o
A imigração alemã foi fruto imigrantes europeus. Brasil, de modo especial para
de uma decisão política e, du- O modelo adotado foi a o Sul do país, bem como para
rante alguns anos após a in- fundação de colônias em outros países livres da Amé-
dependência do Brasil, o foco regiões não ocupadas por rica, expressava os desajusta-
foi recrutar soldados e mari- grandes proprietários, onde mentos sociais na Alemanha
nheiros mercenários, com o agricultores livres foram ins- do século XIX. As guerras, as
objetivo de formar o exército talados em pequenas pro- lutas políticas, o excessivo
e a marinha brasileiros. Após priedades. Foi neste contexto crescimento populacional,
a abdicação de D. Pedro I em que ocorreu o grande afluxo os altos impostos e as terras
1831, e com o início do Perí- de imigrantes para Santa Ca- concentradas nas mãos de
odo Regencial, o país passa a tarina. O ingresso organizado poucos, deixavam os campo-
olhar a questão da imigração de imigrantes europeus, não neses em situação econômica
sob uma nova perspectiva. portugueses, para Santa Cata- difícil, o que veio a favorecer
Neste sentido, Piazza (1994) rina se dá com a chegada das o desenvolvimento de novas
informa que, em 1832, José primeiras levas de imigrantes colônias alemãs em solo cata-
Lino Coutinho já pleiteava a alemães, em 1828, quando, rinense.
promoção da imigração, en- nos dias 7 e 12 de novembro, Dentre os imigrantes ale-
quanto em 1835 Joaquim aportaram em Desterro (atu- mães que ajudaram a povoar
Vieira da Silva e Souza, de al Florianópolis), os veleiros e a desenvolver a Colônia Ita-
forma aberrante, propunha a Luiza e Marquês de Viana, jahy-Brusque, existem muitos
76
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

que vieram de Baden, que até de grandes companhias de na- zes se resumia na concessão
a Unificação Alemã, em 1871, vegação tinham formado uma de abrigo e alimentação ao
era um Estado independente grande rede de subagentes trabalhador.
na União Alemã. Lothar Wie- que captavam emigrantes em Não bastasse a situação de
ser (2014), pesquisador da toda a Alemanha, destinando miséria decorrente do empo-
imigração badense no século -os para a chamada “América”. brecimento massivo e a in-
XIX, informa que os badenses Recrutavam-se emigrantes tensa atuação dos agentes de
emigravam para fugir da fome com brochuras, notícias e car- emigração, era relativamente
decorrente do empobreci- tas para que pessoas se esta- comum as pessoas recebe-
mento massivo em Baden. belecessem em partes desco- rem cartas de familiares ou
Segundo o autor, a emigra- nhecidas do mundo, nas quais amigos que já haviam emigra-
ção em massa do século XIX supostamente um verdadeiro do para as Américas. Nessas
pode ser explicada prepon- Eldorado estava à espera do cartas, além de dar notícias,
derantemente por condições emigrante. A emigração tinha se retratava um pouco da si-
econômicas e, em muitos se tornado um negócio lucra- tuação dos emigrados e das
casos, o Estado os apoiou fi- tivo para muitas categorias dificuldades e facilidades nas
nanceiramente para se livrar profissionais, para interme- novas colônias. Era reiterada
de aldeões pobres. Embora a diários e agentes, correios e a informação de que no Brasil
emigração fosse de interes- trens, hoteleiros e fornecedo- era possível adquirir terras a
se do Estado, pois os pobres res, armadores e funcionários preços módicos e que fome
eram uma carga para o poder de navios. ninguém passava.
público, o processo não era Enquanto em Baden a emi- Graças à fertilidade espan-
muito simples. gração era estimulada, essa tosa da terra e ao clima favo-
Para que a emigração fosse mesma situação nem sempre rável, a fartura e a prosperida-
autorizada, a pessoa precisa- era realidade em outras regi- de eram uma realidade para
va comprovar que não tinha ões, pois apesar do empobre- quem não tivesse preguiça
nenhuma dívida, seja com o cimento, a população baden- de trabalhar. E mesmo quem
poder público, seja com a ini- se muitas vezes tinha o seu tivesse dinheiro era atraído
ciativa privada. Uma vez cer- próprio pedaço de terra e um para as novas colônias, pois o
tificada a inexistência de dívi- pouco de patrimônio que era investimento poderia trazer
das, era emitida a autorização vendido para fins de emigra- bons retornos financeiros em
de emigração e, em seguida, o ção. curto espaço de tempo. Assim,
passaporte. De forma diversa se veri- como resultado de uma soma
Somando-se aos fatores ficava em algumas outras re- de fatores temos, finalmente,
sociais, havia também a in- giões da Alemanha, onde as a emigração de alemães para
tensa atuação dos agentes de terras pertenciam a latifun- Santa Catarina, sendo que o
emigração e companhias de diários que não tinham inte- maior volume emigratório
navegação que publicavam resse na emigração porque para o solo ‘barriga-verde”
anúncios no jornal. Wieser in- assim perderiam sua força de aconteceu entre os anos de
forma que agentes regionais trabalho, cuja paga muitas ve- 1840 e 1870.
77
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A colonização tara, conseguiu que fossem ral pouco povoado.


criadas, pela Lei nº 11/1835, Narram as crônicas que os
de Brusque duas colônias: uma em Bel- alemães levaram cinco dias
por alemães chior e outra às margens do para subir o rio de Itajaí até
Itajaí-Mirim, às cabeceiras do o ponto de desembarque em
Em 1819 já havia, nas mar- Ribeirão Conceição, no lugar “Vicente Só”. Estes imigrantes
gens do Itajaí-Mirim, duas chamado Taboleiro. A tentati- haviam saído de Desterro, a
sesmarias onde o Governo va de 1835 não logrou êxito, bordo da “Belmonte”, canho-
da Capitania mantinha um e somente vinte e cinco anos neira da Marinha de Guerra
estabelecimento oficial que depois é que foi determinada do Brasil, que fundeou na
preparava madeira para as nova colonização para a re- Barra do Rio, onde havia um
construções públicas. Nesta gião. armazém próprio para pouso
região fixaram-se vários mo- A colonização de Brusque provisório dos colonos e de
radores que se dedicaram à teve início, de forma orga- onde os imigrantes deveriam
pequena agricultura e ao cor- nizada, em 1860, quando o seguir em canoas para o local
te de árvores para a serração. Governo Imperial ordenou a destinado ao estabelecimento
José Ferreira da Silva (1972), colonização do Itajaí-Mirim da colônia (CABRAL, 1958). E
ao escrever sobre a história ao Presidente da Província de assim fundou-se a Colônia Ita-
de Blumenau, conta que pou- Santa Catarina, Dr. Francisco jahy-Brusque, aos 4 de agosto
co depois da independência de Araújo Brusque. Toda a re- de 1860. Seu organizador e
do Brasil, em 1822, Agostinho gião designada pelo governo primeiro diretor foi o Barão
Alves Ramos, um comercian- ainda se achava coberta de Maximilian von Schneeburg,
te antes estabelecido em São densa mata virgem e pouco antigo oficial da cavalaria do
Pedro do Rio Grande do Sul e povoada. Já existiam na re- exército austríaco, que apor-
depois em Desterro, resolveu gião três engenhos de serra, tou no local indicado com 54
transferir-se e montou uma pertencendo um, a Pedro José colonizadores alemães.
casa de negócios que acabou Werner; outro, ao comercian- Pedro Werner, que con-
por inaugurar uma era decisi- te Sallentien; e o terceiro era cedeu o primeiro abrigo aos
va para o desenvolvimento de de Paulo Kellner. Também colonizadores quando eles
toda a Bacia do Itajaí. Eleito Reinhold Gaertner, sobrinho chegaram, não podia abrigar
deputado provincial, valeu-se do Dr. Blumenau, era pro- tanta gente em sua casa por
do prestígio do mandato em prietário de imóvel na região muito tempo. Foi preciso que
proveito de seus planos de de Brusque. Eram todos ale- os colonos passassem, por al-
colonização. Após ter trazido mães, e podem ser considera- gum tempo, as noites ao ar li-
para as bandas de Itajaí mui- dos os verdadeiros iniciado- vre na margem do rio, até que
tas famílias de agricultores de res da colonização alemã em pudessem ocupar os ranchos
outros pontos da Província e, Brusque, pois foram eles que toscamente acabados. Não se
até mesmo colonos alemães estabeleceram o primeiro havia providenciado suficien-
- dos chegados em 1828 na contato entre a zona deserta temente para a alimentação, e
colônia São Pedro de Alcân- da Brusque de então, e o lito- o descontentamento chegou
78
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Família Krieger no início da colonização em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

a tal ponto que os homens de aliviar-lhes a vida, quan- midez dos recém-chegados
acabaram ameaçando um dos tia que não era insignificante diante das ocorrências mais
engenheiros com suas espin- naquele tempo. Buggenhagen inocentes e mesmo diante de
gardas, ao que este seguiu (1941) escreveu que, segun- pretos ou de índios pacatos.
para Itajaí, trazendo na volta do o que contavam as teste- Mas, não eram somente os
víveres e vinho para acalmar munhas presenciais daqueles perigos imaginários. Brusque
os ânimos. Agravava essa si- primeiros tempos, muitos de- era um lugar saudável; o tifo,
tuação a falta de trabalho, les teriam abandonado ime- a malária e outras moléstias
pois ainda não estavam par- diatamente o lugar se hou- demoraram a aparecer, mas
celadas as terras, tendo os ho- vesse uma possibilidade. A a tradição também fala dos
mens que esperar nove meses situação dos colonos não era colonos que sucumbiram ao
até poderem tomar posse de nada satisfatória. peso do trabalho no clima
seus lotes. Veio completar- A maioria dos imigrantes subtropical. Um perigo cons-
lhes os sofrimentos, prove- alemães eram lavradores, tante eram os animais selva-
nientes de uma organização gente simples. Embaraçava gens, sobretudo as onças e as
defeituosa, a perplexidade -os a natureza que desconhe- cobras que, de vez em quan-
diante dos problemas que ciam, e a vida que tanto se dis- do, ocasionaram a morte de
lhes reservava a mata virgem. tanciava da que lhes pintara o um homem ou de uma cabeça
Logo na chegada, a Diretoria agente que os convidou para de gado. Outra preocupação
subvencionou os imigrantes emigrarem. Por muito tem- eram os bugres que, nos pri-
com um auxílio de 30 a 60 po se contou, em Brusque, meiros tempos, ainda eram
mil réis por família, com o fim histórias que ilustravam a ti- em quantidade considerável
79
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Casa enxaimel em ruinas. Acervo: Rosemari Glatz

no Vale do Itajaí. Além desses grantes a chegar ano após Até 1874, a população era
riscos, havia outras contrarie- ano, mas é difícil indicar com bastante homogênea, cons-
dades. O que se comia não era números absolutos o total de tituindo-se predominante-
senão o que a roça produzia e imigrantes alemães que en- mente de camponeses oriun-
os colonos não podiam dedi- traram na Colônia durante o dos de Schleswig-Holstein
car todo o seu tempo à lavou- século XIX. Os imigrantes que e do Grão-Ducado de Baden
ra, pois as subvenções con- chegaram nos primeiros anos - quase metade dos imigran-
cedidas pelo governo tinham estão relacionados nos rela- tes alemães que coloniza-
que ser amortizadas por ser- tórios do Barão Maximilian ram as cidades de Brusque e
viços a serem prestados em von Schneeburg, com indica- Guabiruba era originária do
caminhos a serem abertos e ção do local de procedência e Grão-Ducado de Baden, hoje
pontes a serem construídas. profissão do chefe da família. Baden-Württemberg, sudo-
Nenhum obstáculo, porém, A partir de 1863, as listas es- este da Alemanha. A partir de
foi capaz de impedir o adian- tão incompletas, e após 1870 1875, as condições de com-
tamento da colônia. E, apesar as informações são dadas em posição da população altera-
de tudo, em pouco tempo a números globais. Nos primei- ram-se por completo. Navios
Colônia Itajahy-Brusque saiu ros 14 anos da Colônia en- e navios de imigrantes, em
da precária situação inicial. traram principalmente imi- quase totalidade italianos do
O povoamento da Colônia grantes alemães, com poucas Norte, eram desembarcados
aconteceu gradativamente, exceções, como os poloneses em Itajaí ou Desterro, e enca-
com pequenas levas de imi- que aqui chegaram em 1869. minhados à Colônia Brusque.
80
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A população duplicou em um nização de algumas áreas da Pomeranos, atual rua 1º de


ano e, em 1877, o número de Alemanha. A primeira provi- Maio); Peterstrasse (atual rua
imigrantes italianos entrados dência do Barão Maximilian São Pedro, parte em Brusque,
já era 300% maior que o de von Schneeburg, diretor da parte em Guabiruba); dentre
alemães introduzidos em 15 Colônia, foi escolher o local outras.
anos de imigração. para estabelecer a sede admi- Como as casas se distribuí-
nistrativa, a “Stadtplatz”, de am ao longo de uma linha co-
O modelo de onde sairia a principal picada lonial transformada em estra-
que acompanhava o curso do da, o povoado tomava forma
povoamento da rio, o eixo do sistema colonial física alongada. Os lotes eram
Colônia Itajahy a partir do qual o agrimensor estreitos, paralelos uns aos
-Brusque marcava os lotes. outros, de ambos os lados das
Acompanhando os princi- picadas, dos rios ou dos ri-
pais afluentes, abriam-se as beirões e cada família recebia
O povoamento do vale do
picadas secundárias. Como os um lote de aproximadamente
Itajaí-Mirim apresentou ca-
terrenos eram montanhosos 25 hectares.
racterísticas peculiares a al-
e cobertos de vegetação, essa Esse modelo de proprieda-
gumas áreas de colonização
era considerada a forma mais des em lotes alongados é que
alemã em Santa Catarina e no
racional de penetração. As li- faz o sistema de povoamento
Rio Grande do Sul. Com pou-
nhas coloniais abertas pelos da Colônia Itajahy-Brusque
cas exceções, os colonos ale-
colonos serviram como vias se assemelhar a um modelo
mães povoaram os vales dos
de comunicação. de colonização existente em
rios, com terras cobertas pela
Nos cruzamentos das li- partes da Alemanha, onde
floresta atlântica, e aí ficaram
nhas coloniais, apareciam predominou a “Waldhufen-
isolados durante as primeiras dorf” - aldeia na orla da flo-
pequenos povoados reunin-
décadas da colonização. do residências, uma cape- resta ou, ainda, ao de uma
Nos primeiros 15 anos, la, casa de comércio, alguns “Strassendorf” - aldeia longa
a única via de comunicação engenhos e artesãos. Vários e estreita, características de
para a Vila de Itajaí era o rio, desses povoados podem ser algumas áreas da Alemanha.
navegável por pequenas em- assinalados na área colonial, Esse modelo de povoamento
barcações. A primeira estra- todos com as mesmas carac- disperso, associado a peque-
da, margeando o rio Itajaí-Mi- terísticas: Guabiruba Baixa, nos povoados espalhados na
rim, foi inaugurada em 1874, Guabiruba Sul e Guabiruba área colonial, é que torna as
pouco antes da chegada das do Norte (atual bairro Ay- regiões de colonização alemã
grandes levas de imigrantes moré), Hochebene (atual completamente diferentes
italianos. Outra característica Planície Alta); Holstein e Al- das áreas do Estado de Santa
peculiar a esse povoamento sácia, todos em Guabiruba. Catarina ocupadas por luso
é a forma que tomou a dis- Grosser Fluss (atual bairro -brasileiros e caracterizadas
tribuição das terras entre os Rio Branco); Cedro; Lageado; por latifúndios pastoris (SEY-
colonos, semelhante à colo- Pommerstrasse (estrada dos FERTH, 1974).
81
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

O despreparo ville. Nos relatórios do Barão Com um facão cortavam-se os


von Schneeburg, encontra- arbustos menores; a seguir,
para o que mos referências quanto às com uma foice abatiam-se as
iriam encontrar sementes fornecidas aos co- árvores menores e depois,
lonos (com informações de usando machado ou serra, se
Os colonos chegavam to- como plantá-las), bem como derrubavam as grandes árvo-
talmente despreparados para a cultivos experimentais com res. Os ramos eram deixados
explorar um lote de terras plantas europeias e seu pos- no solo para secar durante
coberto de floresta e isolado terior fracasso. Os vendeiros seis a oito semanas, enquanto
numa ampla área despovoa- também tinham interesse em a madeira melhor era retira-
da. Esse despreparo dizia res- ensinar aos colonos quanto da e usada na construção de
peito a tudo: nada sabiam das ao tipo de plantio e as plantas ranchos, cercas e como com-
técnicas agrícolas adequadas, melhor adaptadas na área. E, bustível. Após a secagem dos
do equipamento necessário já desde a década de 1860, ramos, estes eram queimados
ao desmatamento e ao plan- circulavam no Vale do Ita- e a cinza utilizada como adu-
tio, dos tipos de roupas ade- jaí-Mirim jornais semanais bo. A terra era então plantada
quados à região ou mesmo em língua alemã que traziam com milho, mandioca e feijão
da existência de animais do- algumas informações sobre nos primeiros anos, acres-
mésticos. Há relatos de imi- agricultura. É pouco prová- centando-se depois outras
grantes que traziam grossos vel que tenham aprendido a plantas, tendo por objetivo o
cobertores de penas de gan- plantar suas roças com bra- mercado. O colono, ao tomar
so e roupas de lã demasiado sileiros, pois os poucos agre- posse do seu lote, construía
grossas – que tornavam a ba- gados de Werner e Sallentien uma casa rústica, com madei-
gagem muito volumosa. Gas- (que já estavam na Colônia ra obtida na propriedade. A
tavam seu dinheiro no país Itajahy-Brusque em 1860) casa e outras dependências,
de origem com itens pouco trabalhavam a exploração da como os ranchos para guar-
úteis aqui e chegavam à área madeira e a zona litorânea de dar mercadorias e abrigar
de colonização sem nada para Santa Catarina fora coloniza- uns poucos animais domés-
começar a exploração do lote. da com açorianos, cuja ativi- ticos, se situavam próximo à
Na Administração da Colônia dade principal era a pesca. picada. No seu lote alongado
é que recebiam um machado, A exploração do lote co- e acidentado, o colono só dis-
enxada e um facão ou uma foi- lonial se caracterizou pela punha de 1/3, e às vezes até
ce para iniciar os trabalhos. policultura e pelo uso de téc- menos, de terras de várzea
Giralda Seyferth (1974) nicas agrícolas peculiares ao própria para a lavoura.
conta que as três principais sistema de coivara. O preparo
fontes de informação dos co- da primeira plantação tinha A indústria
lonos foram os administrado- início com a derrubada da
res da colônia, os vendeiros floresta, chamada de “Walds- O trabalho nos engenhos
e os jornais de língua alemã chlag”, que ocorria nos meses de açúcar e cachaça, a produ-
editados em Blumenau e Join- de maio, junho e novembro.
82
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ção de fubá e farinha de man-


Logo nos primeiros anos, o aumento anual da
dioca nas atafonas, a manufa-
população foi notável. Ao final de 1860, a Colônia
tura de charutos, a produção
Itajahy-Brusque já contava com 650 pessoas, em
de vinhos, banha, derivados
1865, com 1.227, em 1870, com 1.728 e, em 1874, com
do leite, e de um doce de fru-
2.891 habitantes. Até aquele ano, a população
tas, pastoso, chamado “muss”
era constituída basicamente de alemães, e de alguns
constituíam as principais ati-
poloneses. A partir de 1875, com a chegada dos imi-
vidades que rotulamos como
grantes italianos, a população passou para 4.568
“indústria doméstica”.
habitantes e, durante o ano de 1876, a população
Os colonos denomina-
aumentou em cerca de 4.000 pessoas. Em 1877, a
vam essa atividade como
Colônia Itajahy-Brusque já contava com uma
“Landwirtschaftlicheindus-
população de 11.089 habitantes.
trie” - indústria derivada da
lavoura – que designa a ati- cessário para contratá-lo. As apenas ligadas ao comércio
vidade realizada nos enge- atafonas e engenhos de fubá da madeira. As olarias aten-
nhos e atafonas. Nem todas e farinha de mandioca eram diam às necessidades locais
as propriedades possuíam em maior número, mas ainda produzindo telhas e tijolos. A
engenhos e atafonas, mas a assim, uma grande parte das produção de cerveja era mui-
subsistência das famílias de- propriedades não os possuía, to pequena, insuficiente até
pendia da transformação do e tinham de recorrer a seus para o consumo local e depen-
milho e da mandioca em fari- vizinhos mais afortunados ou dia de matéria-prima impor-
nha, e da cana-de-açúcar em aos vendeiros para transfor- tada da Europa. Até o final do
rapadura, açúcar e cachaça. mar o milho em fubá e o ai- século XIX, havia apenas duas
Os engenhos eram movidos pim em farinha de mandioca. cervejarias, que mais tarde
por força hidráulica, através Além das chamadas in- desapareceram. O número
do aproveitamento de peque- dústrias domésticas, também de pessoas que se ocupavam
nos cursos d’água represados havia as “indústrias técnicas”, desse trabalho e não se de-
e de uma roda d’água. As ata- que os colonizadores rotula- dicavam ao trabalho agrícola
fonas eram movidas por força vam de “Technischeindustrie”, era pequeno. Ou seja, durante
animal, com burros, bois ou que eram as outras ocupações os primeiros anos da Colônia
cavalos. Embora o colono, em que nada tinham a ver com a Itajahy-Brusque a agricultura
geral, tivesse condições de produção agrícola ou pecuá- era o recurso principal e es-
construir sua própria casa e ria: o trabalho nas serrarias, sencial dos colonos alemães.
os ranchos da propriedade, a cervejarias e olarias. Seyferth A produção da propriedade
construção dos engenhos era (1974) escreveu que as in- fornecia os meios básicos de
feita por um especialista, o dústrias técnicas não faziam consumo dando à família uma
carpinteiro, um dos serviços parte da atividade doméstica relativa independência e, ao
mais bem remunerados da dos colonos, principalmente grupo, uma relativa estabili-
colônia, e nem todos os co- as serrarias, que pertenciam dade. Em crise, estariam ap-
lonos tinham o dinheiro ne- a comerciantes ou pessoas tos para manter sua existên-
83
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

REFERÊNCIAS
BUGGENHAGEN, E. A. von.
História Econômica no Muni-
cípio de Brusque e a obra do
Cônsul Carlos Renaux. [SI].
Brusque, 1941. Não publica-
do.
CABRAL, Oswaldo R. Brus-
que: Subsídios para a história
de uma colônia nos tempos
Primeira Fábrica Renaux, na avenida 1º de Maio. Acervo: SAB do Império. Edição da Socie-
dade Amigos de Brusque co-
cia a partir do aumento dos era indispensável a existência
memorativa do 1º Centená-
seus esforços e diminuição do de capital e de braços.
rio da Fundação da Colônia.
seu próprio consumo se ne- Os vendeiros tinham fei-
Brusque, 1958.
cessário, algo extremamen- to bons negócios, chegando PIAZZA, Walter Fernando.
te importante em virtude do a fazer algumas economias. A Colonização de Santa Cata-
isolamento a que estava sub- A população da colônia tinha rina. 3ª edição. Florianópolis:
metido o colono. aumentado bastante. Nem to- Editora Lunardelli, 1994.
Tanto a indústria domésti- dos os imigrados que haviam SEYFERD, Giralda. A co-
ca quanto a indústria técnica, inicialmente se dedicado à lonização alemã no vale do
funcionavam sem grande ca- lavoura desejavam continu- Itajaí-Mirim. Um estudo de
pital, simplesmente porque ar nessa ocupação. Se lhes desenvolvimento econômi-
a matéria-prima abundava oferecia uma oportunidade, co. Editora Movimento. Porto
e exigia um beneficiamento. muitos estavam prontos a Alegre. 1974.
Paravam quando começava abandonar o trabalho na roça. SILVA, José Ferreira da.
Havia, pois, o que era impres- História de Blumenau. Floria-
a faltar a matéria-prima que
nópolis: Editora EDEME - Em-
provinha da roça. Nos pri- cindível.
preendimentos Educacionais
meiros 40 anos da Colônia A partir de então, vai ter
Ltda., 1972.
Itajahy-Brusque ainda não início a indústria têxtil que
WIESER, Lotar. “Das hiesi-
havia indústrias propriamen- marca a economia de Brusque ge Land gleicht einem Para-
te ditas, cujas produções em até a atualidade, e a primeira dies”: Die Auswanderung von
larga escala independessem iniciativa no segmento têxtil Baden nach Brasilien em 19.
das quantidades limitadas de coube à família Bauer, segui- Jahrhundert (“Esta terra é um
matérias-primas. Mas no úl- do dos Renaux, Buettner e, paraíso”: A emigração baden-
timo decênio do século XIX a finalmente, da família Schlös- se ao Brasil no século XIX).
economia de Brusque já havia ser. Novamente, foram os imi- Volume 1. Badisch-Südbrasi-
atingido um grau de adianta- grantes de origem alemã os lianische Gesellschft (BSG):
mento que permitia a criação responsáveis pelo impulso Karlsdorf-Neuthard: Editora
de uma indústria. Para tanto, econômico dado à região. Verlag Regionalkultur, 2014.

84
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A imigração polonesa
No processo de ocupação
do território catarinense por
imigrantes europeus, ocorri-
do a partir da independência
do Brasil em 1822, o país aco-
lheu vários imigrantes polo-
neses ao longo dos anos.
Mas o início da imigração
polonesa organizada no Bra-
sil começou por Brusque em
agosto de 1869, quando um
grupo de 16 famílias vindo da
aldeia de Siolkowice, próximo
à Opole, região que se encon-
trava sob o domínio prussia-
no, desembarcou no porto de
Itajaí. Este grupo foi instalado
na Colônia Príncipe D. Pedro,
concedendo a Brusque o títu-
lo de “Berço da Imigração Po-
lonesa no Brasil”.
Mas o que foi que motivou
os poloneses a deixar o Con-
tinente Europeu em busca da
terra prometida? Essa res-
posta só pode ser obtida co- Oração a Nossa Senhora
nhecendo alguns fatos impor-
de Czestochowa,
tantes da história da Polônia
que acabaram impulsionando Rainha da Polônia
o movimento emigratório e
contribuindo para a vinda do Virgem Santíssima Mãe de Deus, amada e venerada em
primeiro grupo de imigrantes Vosso Glorioso Templo de Jasna Gora, onde através dos
poloneses que se instalou em séculos foste a dispensadora de graças a Vosso povo fiel,
Brusque. vinde em nosso auxílio, salvai-nos, nós Vos suplicamos,
como livrastes de tantos perigos os nossos antepassados,
oh bendita Rainha da Polônia.

85
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fragmentos vez mais divergências entre rânia. Em 1793 aconteceu a


poloneses e lituanos e aca- “segunda partilha da Polô-
da história bou perdendo poder depois nia”. A Rússia dominou todo o
da Polônia de decisões equivocadas da resto da Ucrânia, enquanto a
nobreza, conflitos armados Prússia absorveu a Posnânia.
Segundo pesquisadores, o e perda de território para os Em 1794, o “Levante de Koś-
Estado polonês foi estabele- impérios vizinhos. Aos pou- ciuszko”, uniu todas as clas-
cido no ano de 966, quando cos, essa comunidade deixou ses sociais polonesas numa
Mieszko I, governante de en- de existir, e o território da insurreição contra o Império
tão, se converteu ao cristia- Polônia foi sendo partilhado Russo, porém, suas tropas
nismo, mas o Reino da Polô- entre os impérios Prussiano, foram suplantadas ao final
nia somente foi fundado em Austro-Húngaro e Russo. do mesmo ano. E, a história
1025. Em 1385, por meio do Minikovsky (2009) infor- registra que, finalmente, em
casamento do Grão-Duque ma que, na divisão do terri- 1795 ocorre a “terceira par-
Jagiełło, do Principado da Li- tório, o Império da Prússia, tilha”, e a Polônia desaparece
tuânia, com a Rainha Jadwiga, que já detinha parte de Bran- do mapa político da Europa
do Reino da Polônia, os dois denburg, ficou com o pro- por longos 123 anos.
países se uniram. Em 1569, longamento do território de Sob o domínio dos impé-
foi estabelecida uma associa- Brandenburg que ficava do rios da Rússia, Prússia e Aus-
ção política com o Grão-Du- lado polonês, e anexou a seu tro-Húngaro, no século XIX
cado da Lituânia ao assinar a território mais cinco provín- a Polônia sofria todo tipo de
União de Lublin, formando a cias polonesas. Em 1618 o dificuldades provenientes da
Comunidade Polaco-Lituana, Império Prussiano anexou ao falta de independência e ex-
a República das Duas Nações, seu território a Prússia Orien- ploração por parte dos opres-
também conhecida como Pri- tal e, em 1648, anexou a Po- sores. Sem as reformas ne-
meira República da Polônia, merânia. Em 1742, anexou cessárias na área rural, com
que existiu até 1795. a Silésia. Em 1772, anexou a grandes latifúndios e excesso
O território prosperou Prússia Ocidental e, finalmen- de mão de obra, começaram
militar e economicamente e te, em 1795, a Prússia anexou a surgir graves problemas
o século XVI ficou conheci- Poznam. sociais. Os movimentos em
do como o “Século de Ouro” A síntese das Partilhas da prol da independência, que
da Polônia. De acordo com Polônia é apresentada pela levaram ao sangrento e mal-
Piekas (2018), ao longo dos professora Piekas (2018), in- sucedido “Levante de Janei-
anos, a szlachta (nobreza) formando que em 1772 acon- ro” nos anos de 1863-1864,
polonesa, por meio de seu teceu a “primeira partilha da provocaram mais represálias
parlamento, o Sejm, começou Polônia”. A Áustria tomou a e fizeram com que muitos
a legislar em favor dos pró- Galícia, a Rússia conquistou poloneses procurassem fugir
prios interesses e retirar o a maior parte da Bielorrússia do país. Piekas (2018) infor-
poder do rei. A República das e a Prússia obteve o controle ma que o “Levante de Janeiro”
Duas Nações foi tendo cada do Sul do Báltico e da Pome- foi a mais longa insurreição
86
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

polonesa contra a ocupação e Austro-Húngaro estavam um padre polonês trabalhan-


russa. Combatentes italianos, profundamente comprometi- do na cidade vizinha, Gaspar,
húngaros e franceses se alia- dos com a guerra. Ao final dos o Padre Antônio Zielinski,
ram aos revoltosos poloneses conflitos, em 1918, esses im- que em 1867 havia substitu-
e até mesmo religiosos entra- périos haviam perdido vastas ído o Padre Alberto Francisco
ram para a resistência, mas extensões de seus territórios Maximiliano Gattone quan-
dois anos depois o levante su- ou deixado completamente do este foi transferido para
cumbiu e foi seguido de seve- de existir. As Legiões Polo- Brusque. O Pe. Zielinski con-
ras represálias. Centenas de nesas, comandadas por Jósef cebia ideias de colonizador e
revoltosos foram executados Piłsudski, aliadas a ações di- pretendia trazer para o Brasil
e milhares se viram condena- plomáticas, finalmente ga- famílias de patrícios seus que
dos e enviados para a Sibéria, rantiram a independência da viviam em situação pouco in-
na Rússia, para trabalhar em Polônia em 11 de novembro vejável, sob as bandeiras da
regime de escravidão. Após o de 1918. Rússia, da Prússia e do Im-
Levante, os impostos aumen- Ao mesmo tempo em que pério Austro-Húngaro, impé-
taram, propriedades foram se desenrolava a crise econô- rios entre os quais havia sido
confiscadas, conventos e mo- mica generalizada na Europa, repartida a Polônia. Também
nastérios foram fechados. o Brasil procurava meios e por aquele tempo, chegou à
A região ocupada pela pessoas para colonizar suas Colônia Blumenau o polonês
Prússia também foi atingida enormes áreas de terra e de- Sebastião Edmundo Woś-Sa-
por forte repressão. A língua senvolver no seu território porski, que mais tarde se tor-
polonesa foi proibida nas es- uma agricultura variada e naria o pioneiro da coloniza-
colas e na administração pú- relativamente moderna. Os ção polaca no Paraná.
blica. O serviço militar tinha imigrantes poloneses, em sua Saporski estabeleceu re-
que ser cumprido nas forças grande maioria agricultores, lações de amizade com o Pe.
armadas dos países ocupan- trabalhadores honestos e Zielinski e convenceu o ami-
tes. A miséria, a fome, a falta perseverantes, encaixavam- go a tentar junto à corte uma
de quaisquer esperanças de se muito bem nas necessida- concessão para a colonização
mudança na vida dos mais des do país. de terrenos brasileiros por
pobres também era um fator imigrantes poloneses. Decidi-
importante na procura de ram requerer ao Ministro da
uma nova “terra prometida”. O papel de Agricultura uma área de ter-
E, ao final do século XIX, a Saporski na ras que se obrigariam a po-
crise econômica generaliza-
colônia polaca voar com colonos poloneses,
da na Europa e agravada pela muitos dos quais já estavam
Guerra da Crimeia forçou os em Brusque esperando no Rio de Janeiro.
ocupantes a liberar a emi- Recebendo resposta afirmati-
gração de poloneses. Com o Na época em que chega- va, foi-lhes perguntado onde
início da 1ª Guerra Mundial, ram os primeiros imigrantes desejariam receber as terras
os impérios Alemão, Russo poloneses em Brusque, havia que pretendiam colonizar.
87
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Pensavam em Santa Catari-


na, mas quase todo o vasto

Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera


território da Bacia do Itajaí
já fora destinado à colônia do
Dr. Blumenau, e a maior par-
te das terras litorâneas havia
sido atribuída às colônias ofi-
ciais ou concedidas a parti-
culares. Pensaram, então, no
Paraná. Estando em Curitiba
desde 1870, Saporski persis-
tia no seu intento e teve con-
tato com o Padre Agostinho
Lima, vigário da cidade, que
levou suas intenções a Erme-
lino de Leão, Vice-Presidente
do Estado. As demandas de
Saporski tiveram êxito, pois
o próprio Presidente da Pro-
víncia do Paraná, Venâncio
de Lisboa, mostrou interesse
na proposta (Piekas, 2018).
Tendo obtido áreas de ter-
ras nos arredores de Curiti-
Sebastião Edmundo Woś-Saporski (ou Edmund Woś-Sa-
ba, planejava encaminhar os porski) nasceu no dia 19 de janeiro de 1844 em Stare
poloneses de Brusque para Siołkowice, a mais antiga das 12 aldeias que formam a
lá. Mas não era tarefa fácil a comuna rural de Popielów, localizada na província
transferência de imigrantes de Opole, pertence à região conhecida como Alta Silésia,
de uma para outra colônia e no sudoeste da Polônia. Saporski era um jovem de 20 e
só o próprio imperador podia poucos anos que, em sua terra natal sufocada por
autorizá-la. Saporski não de- estrangeiros, não vislumbrava qualquer perspectiva e
sistiu diante das dificuldades decidiu tentar a vida em outras paragens. Deixou a
surgidas e foi, pessoalmente, Polônia e, em junho de 1867, alcançou terras brasileiras.
à Corte advogar a causa dos Saporski viajou a bordo do veleiro “Emma”, que atracou
seus patrícios de Brusque. no porto de Paranaguá, no litoral do Estado do Paraná.
Inicialmente, nada conseguiu. Mas ele não desceu ali e seguiu viagem no navio, que
Então regressou ao Paraná, rumava para o Uruguai. Em Montevidéu ele conheceu um
alemão que estava vindo para o Brasil e o convidou para
onde fundou um colégio, na
voltar. Saporski foi para a Colônia Blumenau, onde por
atual Rua 15 de novembro,
alguns meses atuou como professor (Piekas, 2018).
em Curitiba.
88
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Primeiros Um pouco sobre o veleiro Victoria


poloneses
em Brusque O grupo dos primeiros imigrantes poloneses que che-
garam a Brusque no mês de agosto de 1869 viajou a bor-
Enquanto Saporski se em- do do navio Victoria - um veleiro do tipo barca, que tinha
penhava em conseguir obter como destino Dona Francisca e Blumenau. Foi conduzido
do governo imperial terras pelo Capitão Redlich e trazia, a bordo, 173 pessoas, sendo
para instalar os imigrantes 97 homens e 76 mulheres.
poloneses, em agosto de Conforme noticiado pelo Kolonie Zeitung (14/8/1869),
1869 o navio Victoria atracou 60 imigrantes ficaram na Colônia Dona Francisca, onde
no Porto de Itajaí, trazendo o foram recepcionados no dia 12 de agosto. Destes, 33 são
primeiro grupo de imigrantes provenientes da Prússia, 9 da Saxônia, 2 de Anhalt e 16
poloneses composto por 16 são provenientes da Boêmia. Segundo a idade: 36 pessoas
famílias originárias da Alta acima e 24 abaixo de 10 anos. Segundo a religião, 44 são
Silésia. Não tendo outra alter- protestantes e 16 católicos. Os demais seguiram viagem
nativa naquele momento, as para o Porto de Itajaí, com destino a Blumenau e Brusque.
autoridades do Departamen-
to de Imigração encaminha- Dados técnicos sobre aquela viagem do Veleiro Victó-
ram o grupo para a Colônia ria:
Imperial Príncipe Dom Pedro, Embarque dos passageiros em Hamburgo: dia 10 de
vizinha da Colônia Itajahy junho de 1869.
-Brusque. Nessa colônia havia Partida de Hamburgo no dia 11 de junho de 1869.
muitos lotes de terra dispo- Foi para o mar em 13 de junho.
níveis, pois o grupo de ingle- Chegada no Porto Dona Francisca no dia 11 de agosto
ses e irlandeses reemigrados
de 1869.
dos Estados Unidos que havia
Tempo de viagem até o Porto de Dona Francisca (São
sido assentado naquela área
Francisco do Sul): 58 dias.
não era muito afeito ao tra-
balho no campo e, depois de
causar muitos problemas à
administração da Colônia, ha-
via ido embora, liberando as
terras. Pouco depois da che-
gada dos imigrantes polone-
ses, 6 de dezembro de 1869,
a Colônia Príncipe Dom Pedro
foi extinta e o seu território e
os seus negócios foram então
incorporados à Diretoria da
Colônia Itajahy-Brusque.

89
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Conforme o original da notícias de que muitos tam- Brusque em 1869. A emigra-


lista de passageiros do Vic- bém emigraram ilegalmen- ção da região de Schalkowitz
tória emitida em Hamburgo, te. (SIOLKOWICE, 2018). No recebeu impulso no século
a maioria das famílias decla- tempo em que os primeiros XIX, principalmente devido
rou ser originária da aldeia imigrantes poloneses chega- ao desenvolvimento de meios
de Siołkowice (as famílias ram a Brusque, a sua região de comunicação, da ação
Wosch, Purkott, Kania, Pro- de origem estava sob o do- dos agentes de emigração e
dlo, Szjnowski, Gbur, Pollack mínio da Prússia (Alemanha) dos “incentivos estatais” dos
e Pampuch), a mesma aldeia e somente após a Segunda países que queriam atrair
de onde emigrou Saporski Guerra Mundial é que aquele imigrantes. A magia da ter-
em 1867. Uma família se de- território voltou a pertencer ra prometida gratuita atraiu
clarou originária de Poppelau à Polônia. Os nomes das al- milhares de pessoas e tam-
(Kania), e duas famílias de deias, antes em alemão, fo- bém os poloneses emigraram
Chrosczütz (Stempka e Otto), ram alterados para a variante (SIOLKOWICE, 2018), inclusi-
todas elas localizadas na pro- polonesa: Schalkowitz pas- ve Edmund Woś-Saporski que
víncia de Opole, Alta Silésia, sou a ser denominada Stare emigrou de Stare Siołkowice
no sudoeste da Polônia. Deste Siolkowice. Poppelau, atual- em 1867 e consta que, depois
primeiro grupo, apenas uma mente é chamada de Popie- dele, cerca de 200 pessoas o
- a família Weber-, se decla- lów, e Chrosczütz hoje é de- seguiram. Emigraram de lá
rou originária da aldeia de signada de Chróścice. com famílias inteiras, todas
Neuhamer. Os habitantes daquela re- para o Brasil. Tal informação
Nas últimas décadas do gião estão envolvidos na agri- é consistente com o ideal co-
século XIX, a tendência de cultura há muitos anos, e o lonizador de Saporskie de
emigração assumiu uma di- trabalho agrícola era a princi- sua pretensão de trazer para
mensão massiva na região pal ocupação da maior parte o Brasil famílias de patrícios
de Opole, e embora as auto- da população até meados do seus que viviam em situação
ridades tentassem contê-la, século XX. As terras eram mui- pouco invejável no seu torrão
inúmeras famílias decidiram to férteis sobre a larga bacia natal.
emigrar, inclusive para o Bra- do rio Odra, que atravessa a
sil. Muitos formalizaram o planície da Silésia, e inúmeras A transmigração
pedido de liberação da cida- vezes o rio Odra causou gran-
dania prussiana, justificando des estragos em suas enchen- de Brusque
o pedido com a intenção de tes. A atividade econômica para Curitiba
deixar a Prússia e de se esta- predominante era a atividade
belecer no Brasil e, depois de agrícola. Trabalhava-se como Além do grupo de 16 fa-
alguns dias, recebiam o cha- assalariado para os grandes mílias que aportou em Itajaí
mado “Entlassungsschein”, fazendeiros locais, ou então a bordo do navio Victoria,
que significa “passe livre” como pequeno artesão. Assim ainda em agosto de 1869
para a emigração para a Amé- era também com aqueles que chegaram mais algumas fa-
rica desejada. No entanto, há emigraram da Polônia para mílias polonesas à Colônia.
90
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Tal assertiva é confirmada


pela correspondência emi-
tida em 31/08/1869 pelo
Barão Maxmillian von Sch-
neeburg, Diretor da Colônia
Itajahy-Brusque e dirigida ao
Vice-Presidente da Província
de Santa Catarina, Coronel
Joaquim Xavier Neves. No do-
cumento, o Diretor submete
orçamento à Tesouraria da
Província “para as despesas Ovos de Páscoa ornamentados com figuras,
cores e símbolos poloneses tradicionais
a fazer com 94 colonos no-
vos, de nação polacos, aqui ao qual os patrícios estavam mais tarde, deslanchou no
chegados no corrente mês habituados, e muitas mon- processo imigratório polaco.
de agosto”. Mas a maioria dos tanhas cobertas com mata Ao se manifestar sobre o
poloneses não se adaptou por densa. Certamente, era uma assunto, o pesquisador José
aqui, seja por questões rela- região bem diferente daquela Ferreira da Silva (1998) es-
cionadas à topografia dos lo- com a qual os imigrantes po- creveu que, entre o exercício
tes, seja em função do clima loneses estavam acostuma- do magistério e a ideia fixa de
quente da região, ou em fun- dos nas planícies da Silésia. trazer os poloneses de Brus-
ção da tensa relação com os Somado a isso, também havia que para o Paraná, Saporski
alemães que já estavam insta- a pressão exercida por outras continuou as negociações
lados em Brusque, e eles logo correntes migratórias, afinal, junto ao governo daquela Pro-
passaram a demonstrar seu na Polônia eles já estavam víncia para obter a concessão
descontentamento. sob o jugo dos prussianos, é de área para a colonização
Em queixas junto à direção possível que não quisessem e também para concretizar
da Colônia, manifestavam seu continuar sob a administra- a transferência dos colonos.
desejo de mudar para outro ção dos alemães também Depois de superar entraves
ponto do país, o que veio a se aqui no Brasil, e Brusque era de toda sorte, afinal Sapor-
concretizar rapidamente sob uma colônia alemã. Saporski ski conseguiu a tão almeja-
o comando de Saporski, que envidou muitos esforços para da transferência. O governo
já estava no Paraná. Sapor- concretizar o seu ideal colo- paranaense se prontificou a
ski era agrimensor, e conhe- nizador e transladar seus pa- cobrir as despesas de trans-
cia as condições geográficas trícios para o Paraná e assim, porte dos poloneses de Itajaí
da região onde os imigran- em setembro de 1871, esses para Curitiba. Mas foi então
tes haviam sido assentados colonos foram transferidos que as coisas começaram a se
na Colônia Imperial Príncipe para Curitiba, onde os polo- complicar. Os carroções que
Dom Pedro: havia pouca ter- neses de Brusque deram iní- transportaram os poloneses
ra de vargem apta ao plantio cio à imigração polonesa que, de Antonina até Curitiba dei-

91
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

xaram os imigrantes à porta


do Colégio de Saporski, ale-
gando que o seu compromis-
so era levar os colonos até ali.
Nem um metro adiante. Sa-
porski conseguiu alojá-los em
casas particulares e em algu-
mas chácaras nas proximida-
des. Mas os colonos vinham
sem vintém, desprovidos de
tudo. Como manter-lhes a
subsistência? O governo da
Província tirava o corpo fora e
ia retardando de dia para dia,
a localização dos pobres po-
loneses que não tinham outro
recurso que se amontoar às
portas do Colégio de Sapor-
ski ou vadiarem pelas ruas da
capital. A Câmara Municipal
da cidade tomou sua defesa
e resolveu intervir. Curitiba Desenho para tear criado por um tecelão de Lodz para produção
tinha um vasto patrimônio na indústria têxtil em Brusque. Acervo: Rosemari Glatz
em terras ao redor da cidade. de Curitiba com esses e mais após a proclamação da Repú-
Improdutivo, esse patrimônio tarde com milhares de outros blica do Brasil em 1889, é que
até então inaproveitado seria colonizadores que pelos anos Brusque vai receber novas le-
mais para atrasar o desenvol- seguintes foram chegando, vas de imigrantes poloneses.
vimento urbano do que para abrindo uma era de extra- A leva migratória que corres-
o seu progresso. Resolveu, ordinário desenvolvimento ponde ao período entre 1890
por isso, a edilidade curitiba- para todo o estado do Paraná. e 1891 ficou conhecida na Po-
na localizar os poloneses de lônia como “febre imigratória
Brusque em Pilarzinho, onde
Saporski participou da divi-
Novo brasileira”. Por aquele tem-
po, caiu o preço dos cereais,
são e demarcação dos lotes movimento agricultores se endividaram e
e da sua distribuição. As pri- imigratório muitos venderam as suas ter-
meiras cartas de foro foram
passadas pela Câmara em 28
para Brusque ras. O agravamento dos pro-
blemas sociais e econômicos
de novembro daquele mes- na região, combinado com a
Anos mais tarde, já no final
mo ano de 1871. Iniciou-se, propaganda de imigração do
do século XIX, especialmente
assim, a colonização do rocio governo brasileiro, dissemi-
92
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

nada principalmente pelas “Neste lugar foi a sede da Co-


agências de navegação que lônia Príncipe Dom Pedro.
descrevia o país como uma Instalada em 1867, foi extin-
terra de oportunidades, im- ta e incorporada à Colônia
pulsionou a imigração maciça Itajahy (Brusque), em 1869.
de poloneses para o Brasil. SAB”. Alguns anos depois, a
Brusque também recebeu co- placa do marco – que se cons-
lonizadores poloneses que se titui num símbolo importante
dedicavam à agricultura, mas para a história da imigração
recebeu um tipo especial de polonesa e integrante do pa-
imigrantes: os profissionais trimônio histórico do muni-
da indústria têxtil. cípio -, foi encontrada aban-
A maioria desses imigran- donada próximo ao leito do
tes vinha de importantes cen- rio Itajaí-Mirim, e recolhida à
tros têxteis da Polônia, como sede da Casa de Brusque.
Lodz, e foram eles os respon- Um novo marco foi regis-
sáveis pela pioneira atividade trado 18 anos depois, em
da indústria têxtil em Brus- 31/07/1976, quando outra
que no final do século XIX. placa foi fixada com os dize-
Eles tinham formação técnica, res “Homenagem ao Imigran-
conheciam bem o oficio têx- te Polonês pela sua contribui-
til, e contribuíram, de forma ção ao progresso de Brusque”.
decisiva, para que Brusque Na gestão do prefeito Hilário
Marco dos 130 anos de imigração
recebesse, anos mais tarde, polonesa em Brusque. Acervo: SAB Zen, possivelmente em 1999,
o título de “Berço da Fiação foi descerrado um novo mo-
Catarinense”. Desta vez, os considerada o “Berço da Imi- numento, uma pedra de gra-
imigrantes poloneses vieram gração Polonesa no Brasil”, nito, que continha três placas.
para ficar e para mudar a his- não foge à regra e, ao longo Uma delas, era a mesma de
tória. da história mais recente, tem 1976. Outra, marcava os 130
criado alguns marcos para anos de imigração polonesa
Marcos em registrar os fatos relaciona- e continha, dentre outros di-
dos a essa história. Segundo zeres, a expressão “Obrigado,
homenagem Goulart (1984), como parte Polônia”, e, desta vez, o monu-
aos poloneses das solenidades alusivas ao mento foi instalado nas pro-
98º aniversário da fundação ximidades da antiga Câmara
Na história dos povos, fa- de Brusque, em 02/08/1958 de Vereadores (atual Praça da
tos importantes costumam a Sociedade Amigos de Brus- Cidadania, bairro Centro). De
ser registrados em marcos que – SAB instalou um mar- todos estes monumentos, só
que se incorporam ao pa- co de granito com placa de restaram algumas fotos dis-
trimônio coletivo. Brusque, bronze, contendo a inscrição: poníveis na Casa de Brusque/
93
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

veleiro Victoria, filho legítimo


de Thomaz Sieniovski e de
Maria Kovalska.

REFERÊNCIAS
DEUCHER. Celso. Brusque
Polonesa. S&T Editores, 2008.
GOULART, Maria do Carmo
Ramos Krieger. A imigração
polonesa nas colônias Itajahy
e Príncipe Dom Pedro: uma
contribuição ao estudo da
imigração polonesa no Brasil
meridional. Fundação Casa
Dr. Blumenau, 1984.
MINICOVSKY, Cléverson
Israel. O Imigrante de Polo-
nês. Editora: Biblioteca24ho-
ras; 2009.
PIEKAS, Mari Ines. Notícia
fornecida na palestra Sebas-
tião Edmundo Woś-Saporski
- Pai da Imigração Polonesa
O Pinhão: Monumento aos poloneses de Brusque e região. Acervo: SAB no Brasil. VII Seminário Te-
mático do Programa História
SAB. tabeleceu, em 2009, o dia 25 e Memória Regional 150 Anos
Houve, ainda, a instalação de agosto como o “Dia Muni- de Imigração Polonesa no
de outro monumento, inti- cipal da Imigração Polonesa Brasil. Centro Universitário
tulado “pinhão” (semente da para Brusque e no Brasil”. de Brusque – Unifebe. Brus-
árvore araucária), no qual Segundo Deucher (2009), que, 24 de agosto de 2018.
estava incrustada uma placa a data foi escolhida porque, SILVA, José Ferreira da.
em homenagem aos primei- em 25 de agosto de 1869, Blumenau em Cadernos,
ros imigrantes poloneses. poucos dias após a chegada Tomo XXXIX, 1998.
Esse monumento ainda existe dos imigrantes poloneses, Siołkowice, a História de.
e está implantando na Praça foi batizado em Brusque o Disponível em: <: http://sta-
da Cidadania. Uma iniciativa menino Estevão Sieniovski, resiolkowice.pl/historia/>.
bem-sucedida e que merece nascido em “o mar” no dia 3 Acesso em 25 de agosto de
ser reconhecida é a lei que es- de julho de 1869, a bordo do 2018.

94
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Matriz de Botuverá. Acervo: Rosemari Glatz

A imigração italiana
Nos primeiros anos de feita somente pelo elemento parados com a extensão dos
existência da Colônia Itajahy alemão e polonês. Os italia- pequenos núcleos de povoa-
-Brusque, a região foi ocupa- nos deram grande parcela de mento europeus, os resulta-
da com imigrantes alemães contribuição à formação da dos não eram animadores. A
que foram sendo instalados nova Colônia, e a chegada de- política oficial de colonização
na região central (Stadtplatz), les tem estreita relação com o era de 1820 e, com o térmi-
na Rua São Pedro, e em Guabi- Contrato Caetano Pinto. no da Guerra do Paraguai em
ruba. Em 1869, chegaram os A colonização do interior 1870, as atenções do Gover-
poloneses que foram instala- do Brasil era uma ideia anti- no se voltaram novamente
dos na Colônia Príncipe Dom ga, mas aplicá-la nem sempre para a questão da imigração,
Pedro. Mas a história da co- foi fácil. As dimensões do Im- numa tentativa de dinamizar
lonização de Brusque não foi pério eram grandes e, com- a política imigratória e po-
95
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

voar o interior. Como o fluxo de terrenos documentados, De acordo com o Contrato, os


imigratório havia diminuído, bem como pela fertilidade da lotes já deveriam estar de-
o Governo Imperial tratou terra, a Colônia Blumenau e marcados quando da chegada
de levantar as dificuldades a Colônia Itajahy-Brusque e dos imigrantes, mas a realida-
que emperravam a emigração Príncipe Dom Pedro, passa- de foi bastante diferente.
para o Brasil. E passou a to- ram a receber grande contin- Na Colônia Itajahy-Brus-
mar as providências cabíveis gente de imigrantes italianos que, o número de funcioná-
para incrementar novas cor- a partir de 1875, quase todos rios para a demarcação dos
rentes migratórias, medidas italianos, lombardos ou tiro- lotes era insuficiente para
que despertassem a atenção leses. atender ao número de imi-
do homem do campo euro- grantes recém-chegados.
peu para uma melhoria da O Contrato Em 1876, ano de entrada de
sua situação econômica nas grandes contingentes de imi-
terras do interior brasileiro. Caetano Pinto grantes italianos, lombardos
Com esse objetivo, foi elabo- e tiroleses, o engenheiro Pe-
rado um contrato, conhecido Roselys Izabel Correa dos dro Luis Toulois chefiava uma
como Contrato Caetano Pinto, Santos (1981) informa que, comissão responsável pela
que foi firmado entre o Impé- quando se lê as principais demarcação dos lotes na Co-
rio do Brasil e o Comendador cláusulas do Contrato Cae- lônia. Composta por Toulois e
Joaquim Caetano Pinto Júnior, tano Pinto, não se tem ideia pelos agrimensores Cristiano
registrado como o Decreto nº dos grandes problemas que Boaventura da Cunha Pinto,
5.663, de 17/06/1874. as mesmas acarretariam, tan- Germano Thieme e Sarmat du
As cláusulas do Contrato to para os imigrantes quanto Lauraux Bousquet, o trabalho
Caetano Pinto estimulavam a para o Brasil. As dificuldades de medição era demorado, e a
imigração europeia, pois eram estavam associadas ao gran- situação se agravava pelo alto
atrativas para as populações de número de imigrantes que índice de pluviosidade da re-
que na sua pátria sofriam deveriam ser introduzidos: gião, tornando a tarefa ainda
com os problemas decorren- 100 mil imigrantes dentro do mais dura. Mas as dificulda-
tes de uma situação econô- prazo de dez anos! A aplica- des de demarcação dos lotes
mica desfavorável, agravada ção das cláusulas do Contrato em tempo hábil não impedi-
pela exiguidade do espaço exigia infraestrutura para a ram que grandes levas de imi-
físico dos lotes. Na Itália, na sua aplicação, a fim de que os grantes continuassem a che-
maioria dos casos, o lote não objetivos fossem alcançados. gar e, para a administração
pertencia àquele que cultiva- No entanto, o pequeno espaço colonial, a acomodação dos
va a terra que, além de tirar de tempo entre a assinatura imigrantes se transformou
o sustento para a sua família, do contrato (17/06/1874) e a num grande problema.
ainda pagava aluguel pelo seu chegada das primeiras gran- Por não ser possível locali-
uso. Aliciados por agenciado- des levas de imigrantes já no zar os colonizadores nos seus
res e atraídos pela possibili- início de 1875, prejudicou respectivos lotes logo que
dade de serem proprietários bastante a sua aplicabilidade. chegavam, eles foram sendo
96
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

acomodados nos barracões


de recepção. Eram constru-
ções precárias, sem o mínimo
de conforto, como a maioria
das habitações da época: de
pau a pique, barreada, cober-
ta de folhas de palmito tran-
çadas. Essas acomodações
destinavam-se a abrigar os
colonos pelo prazo máximo
de oito dias, período em que,
conforme cláusula do Con-
trato Caetano Pinto, o Gover-
no concederia hospedagem e
alimentação aos imigrantes.
Tudo já deveria estar pronto
para recebê-los, mas não foi
assim.
A partir de 1876, os bar-
Mapa dos lotes coloniais em Porto Franco (Botuverá). Acervo: SAB racões de recepção estavam
apinhados, e a Colônia não
Eram novos tempos. Tempos de caos para a jovem
tinha mais condições de rece-
Colônia. Em relatório datado de 10/01/1877, o
ber novas levas, mas os imi-
engenheiro Pedro Luis Toulois, encarregado da distribui-
ção dos lotes na Colônia, relatou ao Presidente da Provín- grantes continuavam a che-
cia de Santa Catarina que em 1875, a população da Colô- gar. Com relação ao assunto,
nia Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro era de 4.568 o Dr. Alfredo D’Escragnolle
pessoas, e os lotes eram 724. Durante o ano de 1876, a Taunay, Presidente da Provín-
população aumentou em cerca de 4.000 pessoas, e foram cia de Santa Catarina, em ofí-
preparados 1.123 novos lotes. Em um ano, a população cio datado de 1876 e dirigido
da Colônia quase duplicou. Durante os primeiros 15 anos, ao Ministro da Agricultura,
entre 1860 e 1875, foram distribuídos 724 lotes, e só em
Comércio e Obras Públicas,
1876 foram preparados quase o dobro. Segundo o relató-
assim se manifestou: “Esta
rio da Administração, a situação estatística das Colônias
Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro a população em situação (...) é agravada de
1876 era de 8.110 habitantes, sendo 4.862 homens e modo evidente pela chegada
3.248 mulheres. Quanto à nacionalidade da população: contínua de novos imigrantes.
alemães: 2.620. austríacos (assim denominados os Acumula-se gente nos bar-
imigrantes vindos do norte da Itália, Tirol): 2.214. italia- racões de recepção, lá ficam
nos: 2.018. brasileiros: 996 pessoas. ingleses: 36. espa- seis ou mais meses a receber
nhóis: 25. portugueses: 18. belgas: 7. Outras subsídios do cofre público e
Nacionalidades: 154 habitantes (GEVAERD,1976).
à espera de lotes medidos,
97
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

onde serão localizados”. E a trabalho. A ocupação de jor- todas as Colônias. Na de Blu-


população da Colônia Itajahy naleiro não poderia exceder menau, por exemplo, o colono
-Brusque, que em 1875 era seis meses, findos os quais, só recebia as ajudas que lhe
de 4.568 habitantes, subiu a em tese, o colono já teria con- eram devidas quando ele já
8.110 pessoas até dezembro dições de tirar o seu sustento estava na propriedade do lote
de 1876. e o da família da sua própria no qual deveria se fixar, mas
No início de 1877, os barra- lavoura. na Colônia Itajahy-Brusque e
cões estavam completamente Príncipe Dom Pedro, as quan-
abarrotados, pois, só em ja- O poder de tias já lhe eram entregues
neiro e fevereiro daquele ano, quando ele ainda esperava
952 imigrantes haviam se atração da nos barracões pela demarca-
juntando à população que em Colônia ção dos seus lotes.
dezembro de 1876 já somava As razões de maior impor-
8.110 almas na Colônia Ita- A situação não era a mes- tância para o poder de atra-
jahy-Brusque e Príncipe Dom ma em todas as Colônias da ção da Colônia Itajahy-Brus-
Pedro. A administração tinha Província de Santa Catarina. que e Príncipe Dom Pedro são
dificuldades para localizar Santos (1981) conta que, em analisadas pelo Presidente da
tão grande número de imi- muitas delas, como no caso da Província de Santa Catarina,
grantes, e a situação se agra- Colônia Blumenau, existiam Dr. Alfredo D’Escragnolle Tau-
vava devido às cláusulas do lotes medidos e prontos para nay, em seu relatório encami-
Contrato Caetano Pinto, que serem ocupados, mas a gran- nhado ao Ministro da Agri-
davam ao colonizador o direi- de maioria dos imigrantes ita- cultura em outubro de 1876.
to de escolher o seu lote. Ele lianos preferiria a Colônia Ita- Segundo Taunay, eram razões
poderia rejeitá-lo, implicando jahy-Brusque e Príncipe Dom de maior importância o fato
numa situação bastante difícil Pedro. do elemento germânico, em
para o Governo, pois o fato de A causa novamente estava geral exclusivista, repelir a
o imigrante não aceitar o lote nas cláusulas do Contrato Ca- fusão com outras raças, e em
fazia com que o trabalho de etano Pinto, pois já na Europa Blumenau ele existir vivo com
agrimensura se perdesse - em o imigrante escolhia o lugar todos os seus defeitos e virtu-
parte – e, por outro lado, en- onde queria fixar-se no Bra- des; e, pelas cartas que eram
quanto não estivesse devida- sil e nada havia a fazer, a não encaminhadas pelos imigran-
mente estabelecido, cabia aos ser atender as prerrogativas tes que já estavam instalados
Cofres Públicos o seu susten- dos imigrantes. Dentre outros em Brusque, dirigidas aos
to. Mesmo vivendo em condi- fatores, a preferência dada seus patrícios na Europa, in-
ções precárias nos barracões, à Colônia Brusque dava-se dicando-lhes as regalias espe-
alguns preferiam a ocupa- pela forma como eram feitas ciais de que gozavam os colo-
ção de “jornaleiros”, quando as distribuições das ajudas nos logo à chegada.
o imigrante trabalhava na de custo para a compra de Chega o colono e é levado
conservação das estradas da sementes e ferramentas. Não para o barracão de recepção
Colônia e recebia por dia de havia uma norma comum a da Barra do Itajahy-Mirim
98
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Choupana dos colonos tiroleses em 1875. Acervo: SAB

e do Açu, onde fica dois dias resistência até que todos si- seu contrato, ainda pode ou
à espera de uma condução, gam para o centro onde eles não aceitar, conforme for do
quer para a Colônia Itajahy- têm suas casas de negócios. seu agrado. E enquanto está
Dom Pedro, quer para a de Uma vez em Itajahy, o colono no barracão, o Estado lhe dá
Blumenau. Consultados sobre recebe de uma só vez todo o 2$000 (dois mil Réis) diários
o destino que desejam, gritam dinheiro para o seu estabe- para que ele vá trabalhar em
todos, em uma só voz: Itajahy, lecimento, fartura de casa, estradas, ficando a família a
desconfiados de que possam derrubadas (das matas), se- “abanar os braços”. Para Tau-
ser enganados na direção a mentes e transporte, de modo nay, representava o sistema
tomar e levados para Blume- que, se tiver três pessoas da mais irregular e antieconô-
nau. Aí aparecem agentes de família, recebe de pronto e de mico que se podia imaginar.
negociantes estabelecidos em uma só vez 148$000, ainda E dizia mais: “esse sistema é
Itajahy, e notadamente um que vá ficar oito ou mais me- filho das péssimas tradições
certo Pietro Beltramini, ho- ses dentro de um barracão de existentes na administração
mem audaz e possuidor de recepção à espera para que se da Colônia Itajahy-Brusque e
alguns bens, que aconselha localize num lote que ele, pelo Príncipe Dom Pedro (...)¨.
99
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Ainda conforme Santos A realidade tiva de se tornar proprietário


(1981), Taunay emitia sua de terras, e também devido à
opinião quanto à razão da que os italianos propaganda corrente na Itália
preferência dada pelos imi- encontraram afirmar que o solo aqui era
grantes italianos à Colônia fértil. Eles tinham vontade de
Brusque: “O que se faz de Em 1875, ano da che- vencer, mas a realidade que
afogadilho em Itajahy, faz-se gada dos primeiros italianos, encontraram foi dura: as ter-
sucessivamente (aos poucos) Luis Paes Leme era o Diretor ras eram montanhosas, o iso-
em Blumenau. Assim, na Co- da Colônia Itajahy-Brusque lamento era quase total, alia-
lônia Blumenau o colono só e Príncipe Dom Pedro, e se do ao desconhecimento do
obtém o dinheiro para fazer viu obrigado a dar acolhi- espaço que os cercava. A con-
a casa quando entra na posse da aos imigrantes italianos sequência foi o desencanto, o
do seu lote, para derrubar (a após receber o telegrama de arrependimento, o desespero
mata) quando já tem casa, e 10/02/1875, em que o Mi- e a vontade de voltar. Houve
para sementes quando já tem nistro da Agricultura, José revoltas e motins em vários
área para plantar”. E termina a Fernandes da Costa Perei- pontos da Colônia e muitos
sua análise: “Uma vez de pos- ra Júnior, informava que em a deixaram, voltaram para a
se da soma que naturalmente breve chegariam à Colônia Itália ou foram em direção à
lhes é fabulosa, aqueles pro- 200 imigrantes Lombardos, e América Platina (Argentina,
letários da Europa começam que a Colônia deveria se pre- Paraguai e Uruguai).
os gastos em botequins e ca- parar para bem recebê-los. Os lotes junto à sede da
sas de cerveja, de modo que Paes Leme não teve dúvidas, Colônia já estavam ocupados
uma dessas, do cidadão Thies, e de pronto orçou as despe- pelos alemães, cuja chegada
vendeu em cinco dias 16.000 sas, distribuindo os devidos oficial se deu a partir de 1860.
garrafas de cerveja. Some-se valores entre mantimentos Das terras destinadas à colo-
a esta porção o que foi con- durante o transporte, manti- nização, restou a periferia e,
sumido em outros negócios mentos para dez dias, auxílio, principalmente, os terrenos
e, especialmente ao tal Pietro casas provisórias, sementes, da extinta Colônia Prínci-
Beltramini, e terá V. Ex.ª. uma ferramentas, etc. Os primei- pe Dom Pedro, quase todos
quantidade enorme de litros ros 108 colonos chegaram em montanhosos, com pequenas
de cerveja pagos pelo Gover- 4/07/1875. A partir de então, várzeas, onde a agricultura de
no do Brasil aos seus imigran- a região da Colônia Príncipe porte se tornou dificultada,
tes como saudação de feliz Dom Pedro, que depois de áreas às quais se adaptaram
chegada”. A Cervejaria de extinta, em 6/12/1869, havia melhor aqueles que já eram
Friedrich Wilhelm Thies es- sido anexada à Diretoria da lavradores em seu país de ori-
tava localizada na Stadtplatz Colônia Itajahy, passou a ser gem. Inicialmente, os imigran-
da Colônia Itajahy-Brusque, colonizada com imigrantes tes italianos receberam lotes
próximo da esquina da atual italianos. nas localidades de Poço Fun-
rua Rui Barbosa com a Hercí- Estes imigrantes vieram do e Águas Claras. A seguir,
lio Luz. para o Brasil com a perspec- foram distribuídos os terre-
100
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

nos que margeiam o Ribei-


rão Alferes, já no vale do Rio
Tijucas, onde, em 1875, havia
sido criado o núcleo de Nova
Trento, ligado administrativa-
mente à Colônia Brusque. A
partir de 1876, os imigrantes
que chegavam eram levados
para ocupar os terrenos mon-
tanhosos que faziam parte
da extinta Colônia Príncipe
Dom Pedro, no médio vale
do Itajaí-Mirim. Foi criado o
núcleo de Porto Franco, dis-
tando 30 km da sede colonial, Vinhedo em Nova Trento. Acervo: Rosemari Glatz
com colonos, em sua maioria, O número de imigrantes que deu entrada na Colônia
de origem italiana. Assim, as Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro, por força do
maiores áreas de concentra- Contrato Caetano Pinto, não é conhecido com exatidão,
ção de elementos italianos fo- mas é sabido que entre os anos de 1875 e 1877
ram as localidades de Cedro; entraram 5.616 imigrantes. Quanto à procedência,
Águas Negras, Porto Franco e a maioria dos imigrantes veio do norte italiano: Vêneto,
Ribeirão do Ouro (ambos em Piemonte, Lombardia e Trentinos, que eram chamados
Botuverá); Alferes (hoje Nova de tiroleses porque possuíam passaporte austríaco.
Alguns imigrantes eram bilíngues, falavam o
Trento) e um pequeno grupo
austríaco e o italiano, outros, somente o italiano.
foi instalado na localidade de
Lageado Alto (Guabiruba). da revista Blumenau em Ca- sociedade, aonde muito mal
Sobre os primeiros anos dernos em 1959. Vejamos as se poderia matar a fome. Um
após a chegada dos imigran- impressões do Padre Gana- vigário católico e um pastor
tes italianos, D. Arcângelo rini: Quando os imigrantes protestante exercitavam, ha-
Ganarini escreveu, em 1880, italianos chegaram à Colônia via já algum tempo, a cura das
um interessante texto intitu- Itajahy-Brusque e Príncipe almas dos seus correligioná-
lado “Notícias de Brusque e Dom Pedro, a própria sede da rios, que, a não ser pequenos
Nova Trento, isto é, das Co- Colônia contava uma dezena atritos, viveram sempre em
lônias Itajaí e Príncipe Dom de ranchos de madeira ou de boa paz. Em 1875, os nossos
Pedro na Província de Santa barro, cobertos de folhas. As Trentinos e Lombardos, fu-
Catarina Império do Brasil”, melhores construções eram gindo, como estes diziam, às
traduzido do italiano para a Capela católica, a Casa de misérias da pátria, começa-
o português por Lucas Ale- orações protestante e a Casa ram a encaminhar-se para o
xandre Boiteux, e publicado da direção. Existia uma úni- Brasil, cheios de douradas es-
ao longo de várias edições ca bodega, mantida por uma peranças, e Brusque recebeu
101
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

o seu contingente. os terrenos medidos, com ma coisa para vender.


Os primeiros chegados suas casas provisórias e um Brusque tornara-se o cen-
eram umas vinte famílias de trecho de floresta derrubado tro da vida, uma torre de Ba-
Valsugana e de Monza, que com suas estradas para loca- bel, onde os menos providos
não querendo adaptar-se às lizá-los, nada existia. Houve sentiam-se alegres em gastar
terras que lhes haviam sido necessidade de improvisar-se o dinheiro que hoje choram.
designadas na colônia Prín- grandes barracões com capa- Alfaiates, sapateiros, operá-
cipe D. Pedro, foram localiza- cidade para 50 a 60 famílias rios, carpinteiros, barbeiros,
das em melhor situação en- e neles abrigá-las provisoria- pintores, e talvez também
tre Brusque e Alferes (Nova mente, enquanto um monte algum poeta, todos se apli-
Trento). Coisa curiosa era de pseudoengenheiros me- cavam à mesma arte de nada
observar-se como os de Mon- tia-se nos matos em todas as fazer, enquanto os cidadãos
za, não entendendo o modo direções, medindo terrenos laboriosos, face àquela cres-
de falar dos de Valsugana, para toda aquela gente. Como cente ociosidade e àquela
os tomavam por alemães, ao houvesse interesse que o ser- felicidade tão dissipadora e
passo que os de Valsugana viço se prolongasse bastante, perigosa para os seus filhos,
pensavam o mesmo em rela- não havia grande pressa, nem suspiravam pelo momento de
ção aos de Monza. Também se olhava se os terrenos eram poder entrar em suas terras.
em Brusque não havia meios próprios à cultura, e por isso Desse tempo data o engran-
de se entenderem, pois ainda muitos colonos descontentes decimento de Brusque, agora
não tinham nenhuma práti- tiveram, com grande despesa, (1880) uma povoação à es-
ca da língua portuguesa. Por de mudar de sítio ou desgos- querda do rio, constituída de
felicidade, um dos chegados tosos retornar à pátria ou ir casa de estilo tudesco (ger-
conhecia o alemão, e este teve para a Argentina. Entremen- mânico), mais asseadas, co-
de servir de intérprete, e to- tes, todas aquelas famílias bertas de telhas, com alguns
dos passaram a recorrer a ele encontravam-se como que graciosos palacetes de dois
ao pretenderem fazer qual- acampadas, ociosas, em torno andares.
quer compra ou tratar dos de Brusque, excetuando-se Surgiram bodegas e casas
seus negócios com a Direto- as ocasiões em que a admi- comerciais e, quase por en-
ria. No ano seguinte, graças às nistração lhes proporcionava canto, construiu-se uma as-
boas informações prestadas alguns dias de trabalho na saz cara, ampla e bela igreja,
pelos primeiros aqui estabe- abertura de estradas. Eram, benzida a 21/06/1879 e de-
lecidos, foi um contínuo che- aproximadamente, cem con- dicada a São Luis Gonzaga.
gar de gente do Trentino, da tos mensais que o Governo Existem duas escolas públi-
Lombardia e do Vêneto e em despendeu durante quase cas católicas e uma particular
menos de três anos a popula- dois anos com a sua manuten- do pastor evangélico, agência
ção chegou a onze mil pesso- ção. Quase todo esse dinheiro do correio, tiro ao alvo, um
as. era derramado em Brusque e pequeno teatro, três fábricas
À chegada de tantas famí- nas tascas (tavernas) de anti- de cerveja, padarias, açougue,
lias, em vez de encontrarem gos colonos, que tinham algu- alfaiataria e todos os demais
102
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

artesãos necessários à vida


social. Uma cômoda estrada
carroçável à margem direita
do rio Itajaí-Mirim, de 38 qui-
lômetros, a põe em comuni-
cação com o porto de Itajaí, e
outra de 28 quilômetros, pas-
sando pelo Morro da Onça,
a põe em comunicação com
Nova Trento. Sobre o rio, fa-
zendo vez de ponte, duas bal-
sas transportam carros, ani-
mais e pessoas; e, em outros
pontos existem canoas para Casa de italianos em Guabiruba. Acervo: Rosemari Glatz
dar passagem às pessoas de
uma margem à outra. As áreas onde bom ponto pela facilidade de
comunicações com Brusque,
Padre Ganarini (1880) os imigrantes distante cerca de dez quilô-
prossegue, dizendo que as
melhores terras em torno de
italianos foram metros, e com o povoado de
Brusque estão ocupadas por instalados Gaspar, no Itajaí-Açu, onde há
a comodidade do vapor que
colonos tudescos (alemães),
As duas colônias, Itajahy faz o serviço três vezes por
enquanto os italianos, situa-
-Brusque e Príncipe Dom semana entre Itajaí e Blume-
dos mais distantes no fundo
Pedro, se desdobram em nau.
dos vales, nem sempre pu-
quatro distritos, em cada um O distrito de Porto Fran-
deram alcançar terras boas
dos quais há um engenheiro, co, atual Botuverá, situado
e planas. Havia montes es-
designado pelo diretor, que na parte superior do Itajaí-
cabrosos, próprios somente
distribui os trabalhos, faz os Mirim é habitado por imi-
para a plantação da mandio-
pagamentos e mantêm a boa grantes naturais de Cremo-
ca. E, particularmente os lom-
ordem. O distrito de Cedro na e de Mântua, com poucas
bardos, habituados à planura
Grande é o mais próximo de famílias de Trento. Ali existe
de sua pátria, com aquela an-
Brusque, e por isso é o mais uma capela, um cemitério e
tipatia que manifestavam à
bem-dotado de estradas, mas os colonos, satisfeitos com a
mandioca, vendo que o terre-
ao mesmo tempo o mais mes- fertilidade de suas terras, la-
no não se prestava ao milho e
quinho em terrenos, estando mentam encontrarem-se tão
a outros produtos a que esta-
os melhores ocupados pelos afastados de um sacerdote e
vam acostumados, tornaram-
colonos alemães e brasileiros. desejam ter um colado jun-
se indiferentes às suas terras
O distrito de Gaspar, com al- to deles. É o distrito que tem
e mudaram de sítio assim que
gumas exceções, possui terras maior falta de estradas, nem
o Governo lhes suspendeu a
excelentes, e está situado em há esperança de tão cedo en-
devida subvenção.
103
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

trarem carros em Porto Fran-


co. Nos anos passados todo o Ayres Gevaerd (1970) escreveu sobre a origem do nome
transporte era feito por água de Ribeirão do Ouro ao afluente do rio Itajaí-Mirim: por vol-
ou em lombos de muares; ta do início da década de 1840, quando toda a região que
pelo que se pagava um terço hoje constitui o município de Brusque era um sertão bravio,
a mais pelos gêneros do que habitado por bugres, apareceram aqui três irmãos vindos
em outra qualquer parte, e dos Estados Unidos da América. Chamavam-se eles Rober-
quem tinha milho ou outra to, Augusto e Leweson Leslie, e andavam à procura de mi-
coisa devia dá-los aos animais nas. Depois de terem cruzado todo o nosso sertão, perma-
por ser o preço do transpor- neceram durante alguns meses às margens de um córrego,
te muito alto. Agora se está afluente do pequeno Itajaí, e onde, segundo diziam, haviam
trabalhando com satisfação, encontrado ouro, tendo extraído e levado consigo uma boa
e espera-se em poucos meses quantidade desse metal. A notícia do fato espalhou-se e,
ter 22 quilômetros de estra- quando, anos depois, moradores foram se estabelecer perto
da carroçável, e antes do fim do ribeirão, junto ao qual os três irmãos americanos haviam
do ano poder-se-á alcançar a minerado, e batizaram o riacho com o nome de Ribeirão do
sede do distrito. Falava-se em Ouro, em virtude daquela tradição. Dos três mineiros, dois
uma mina de ouro e outra de voltaram logo depois para os Estados Unidos e o terceiro
carvão de pedra, tentando-se ficou por aqui. Era o velho Lessa, conforme todos aqui tra-
fazer escavações, mas mesmo tavam o Sr. Leweson Leslie, um abastado agricultor, falecido
que elas existissem, seriam com avançada idade, em Ilhota, no ano de1909. Deste modo
precisos outros meios de que se fica sabendo por que o pequeno curso de águas que con-
não poderiam dispor os co- flui no Itajaí-Mirim, próximo às nascentes deste recebeu o
lonos. O sítio é muito rico de nome de Ribeirão do Ouro.
madeiras de construção, e é
de esperar que a serraria re-
centemente montada possa
realizar bons negócios. Exis-
tem moinhos, piladores de ar-
roz, alguns engenhos de açú-
car e cachaça, e preparam-se
outros para a fabricação de
farinha de mandioca.
Nova Trento, sede do quar-
to distrito da Colônia Itajahy Terra preparada para o plantio no interior da Colônia
-Brusque e Príncipe Dom Pe-
dro, foi assim denominado Até 1876, o sítio onde hoje existente havia muitos anos.
por serem seus habitantes se levanta Nova Trento cha- Uma colônia de famílias ge-
e os das linhas adjacentes, mava-se do Alferes e também novesas, procedentes da Eu-
na maior parte, do Trentino. Serras, devido a uma serra aí ropa há cerca de 40 anos se

104
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

estabelecera ao longo do rio montes cujos cimos mais ele-


Tijucas, a qual com o andar vados podem alcançar sete-
do tempo passara para as centos metros acima do nível
margens do Braço e alcançou do mar. O ponto tomado para
por fim o Alferes. Ganarini se a passagem da estrada cha-
referia à primeira colônia de ma-se Morro da Onça, entre
italianos no Brasil, a Colô- cujas quebradas se penetra
nia Nova Itália, localizada no em uma garganta principal
vale do Rio Tijucas-Grande, flanqueada por outras, que
atual município de São João se poderia chamar a Suíça
Batista, fundada em 1836 dessas colônias. Em vários
por 132 imigrantes italianos lugares do distrito de Nova
que aportaram no porto do Trento os colonos ergueram
Desterro (hoje Florianópolis) ermidas, para que o padre a
em março de 1836. Ganarini elas concorresse algumas ve-
(1880) continua: os nossos zes no ano a fim de rezar a
colonos estabelecidos naque- santa missa, confessar a po-
les pontos encontraram ainda pulação, doutrinar as crian-
bananeiras e laranjeiras atu- ças e realizar alguns dias de
fadas na floresta que sobre- festa de acordo com o tempo
veio. A razão daqueles geno- disponível. Ganarini dizia que
veses abandonarem o local não basta um diretor e uma
da Colônia Nova Itália, com dezena de engenheiros para
exceção de poucas famílias, fazerem prosperar uma co-
foram as frequentes correrias lônia, faz-se preciso o padre,
dos selvícolas chamados “bu- natural propugnador da mo-
gres”, que assaltavam as ca- ral e da justiça do qual uma
sas para roubar, matando as única palavra basta para con-
pessoas. Foram enviados sol- solar muito mais do que os
dados para protegê-los; mas, favores do governo. Com um
mal estes se retiravam, os bu- engenheiro de menos e um
gres voltavam de novo, encar- sacerdote a mais, o governo
niçados contra os detestados ganharia bastante, e teria a
brancos, considerados inva- satisfação de ver frutificar os
sores das suas terras; diante muitos milhões gastos para
disso acharam mais pruden- colonizar o país.
te retirarem-se para São João Aos poucos, os imigrantes
Batista. Roda d´água, parte dos engenhos italianos foram se adaptan-
Entre Nova Trento e Brus- construídos pelos italianos. do ao meio, tirando a subsis-
Acervo: Rosemari Glatz
que existe uma cadeia de tência através da agricultura.
105
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Entre os principais produtos, cola, estabelecida em 1879, é REFERÊNCIAS


figuravam o milho, o feijão, a frequentada por bom núme-
batata, o aipim, e a cana-de ro de meninos. Eis aqui, pois, GANARINI, D. Arcângelo.
-açúcar. O excedente de pro- o que é a povoação de Nova Notícias de Brusque e Nova
dução era trocado nas “ven- Trento; uma pequena povo- Trento, isto é, das Colônias
das” por gêneros de maior ação com cerca de quarenta Itajaí e Príncipe Dom Pedro
necessidade, como querose- casas no máximo; pobre, se na Província de Santa Cata-
ne, trigo, açúcar, sal e equipa- se quiser, mas com um belo e rina Império do Brasil. Tren-
mentos agrícolas. querido nome, e com funda- to Estbl. Tip. G. B. Monauni,
Encontrando-se em Nova das esperanças de próspero Editora. 1880 Traduzidas do
Trento um bom número de futuro, conclui Ganarini. Italiano por Lucas Alexandre
colonos, logo apareceram ca- Boiteux. Blumenau em Cader-
sas comerciais, as chamadas Tempos nos. Tomo II. Várias edições
“vendas” com gêneros de pri-
meira necessidade. Depois depois do ano de 1959.
GEVAERD, Ayres. Blu-
alguns artesãos ali estabele- menau em Cadernos. Meu
ceram suas oficinas de calça- O ideal de melhoria eco-
Caderno de Recordações.
do, de alfaiate, de marceneiro. nômica e social dos imigran-
Tomo XI, nº 4, abril de 1870.
Durante a abertura da estra- tes italianos que, a partir de
Disponível em:< http://he-
da carroçável para Brusque, 1875, cruzaram o oceano e
meroteca.ciasc.sc.gov.br/
puseram-se em comunica- vieram buscá-lo nos aper-
blumenau%20em%20cader-
ção com São João Batista por tados vales do Itajaí-Mirim
nos/1970/BLU1970004.pdf>
meio do rio, de onde se tra- demorou para se concreti-
Acesso em 13 de setembro de
ziam açúcar, café, cachaça, zar, mas aconteceu. Passados
2018.
animais para o corte, feijões mais de 140 anos e várias ge-
GEVAERD, Ayres. Aconte-
que os genoveses e brasilei- rações depois, os milhares de
ceu em há 100 anos Brusque
ros ali estabelecidos vendiam descendentes dos quase seis
1876. Tomo XVII, nº 10, outu-
mais barato do que os encon- mil imigrantes italianos que
bro de 1876. Disponível em:<
trados em Brusque. se estabeleceram no territó-
http://hemeroteca.ciasc.
Também os negociantes rio da Colônia Itajahy-Brus-
s c . g ov. b r / b l u m e n a u % 2 0
e os artífices construíram que e Príncipe Dom Pedro,
em%20cadernos/1976/
boas casas e bastante cômo- território este que deu ori-
BLU1976010.pdf> Acesso em
das, dispostas regularmen- gem aos municípios de Botu-
13 de setembro de 2018.
te no povoado e com hortas verá, Nova Trento, Presidente
SANTOS, Roselys Izabel
nos fundos. Duas fábricas de Nereu e Vidal Ramos, podem
Correa dos. Colonização Ita-
cerveja já estão funcionando, lembrar a história dos seus
liana no Vale do Itajaí-Mirim,
uma alemã e outra de quatro antepassados com deferência
Florianópolis. 1981.
irmãos naturais de Rovere, e orgulho pois, afinal, corre
que sabem manter-se unidos em suas veias o sangue de um
e trabalhar de acordo. A es- povo vencedor.

106
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casa comercial de Wilhelm Thies no centro de Brusque. Acervo: SAB

Participação de Brusque
na Guerra do Paraguai
No dia 14 de outubro de tários, graças às atividades pois o diretor recebera, nos
1865, um sábado, partiram empreendidas pelo diretor primeiros dias de outubro,
da Colônia Itajahy-Brusque da colônia, Barão Maximilian ofício do presidente da Pro-
rumo à Capital da Província, von Schnneburg, junto aos víncia autorizando-o abrir o
os 25 voluntários que aten- colonizadores alemães que voluntariado. Houve uma sé-
deram à convocação da Lei detinham as condições neces- rie de pequenos incidentes
nº 3.371 de 7 de janeiro de sárias e qualidades exigidas relacionados à convocação.
1865, do Governo Imperial. para defender sua nova Pá- Schneeburg, entretanto, con-
Contando apenas cinco anos, tria. tornou diplomaticamente a
Brusque já ofereceu esse O alistamento foi rápido, situação, mantendo a digni-
apreciável número de volun- aproximadamente 15 dias, dade de seu cargo e da missão

107
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

orientadora do alistamento. mais tarde rumo a Desterro. sete que com ele seguiram no
Eugênio Rieger, Guido de Se- Schnneburg acompanhou os dia 8 de fevereiro de 1866.
ckendorf e Alexandre Rufe- seus voluntários até Desterro, São eles: Bernardo Josiger;
ner, médico na Colônia, foram confiando-os então a Guido Detlef Sacht; Antônio Boos;
os primeiros que se apresen- de Seckendorf, que naquele Henrique Sacht; Germano
taram, tendo Schneeburg, em momento já ocupava o posto Boos; Henrique Dorenkot
carta ao Presidente da Pro- de tenente. e Antônio Straub. Segundo
víncia, recomendando-os ao Os nomes dos voluntários Wiederspahn (1962), o esfor-
oficialato. Rufener, entretan- da Colônia Brusque constam ço militar do Império do Bra-
to, não seguiu, retirando mais da relação que inclui também sil neste maior conflito conti-
tarde sua inscrição. os voluntários das Colônias nental sul-americano havido
Realizaram-se algumas Dona Francisca, Blumenau, até nossos dias, correspon-
reuniões preparatórias e de Teresópolis e São Pedro de deu a 139.000 homens mobi-
esclarecimento, especialmen- Alcântara, e foi assinada por lizados para a guerra e envia-
te com relação aos benefícios Victor de Gilsa – capitão, Gui- dos ao Paraguai, sobre cerca
que teriam os conscritos e do Seckendorf – tenente, e de um total de 9.000.000 de
suas famílias. O governo con- Emílio Odebrecht – tenente. habitantes, isto é, cerca de
cedia abono de 300$000 a São eles: Roberto Schmidt; 1,5%, dos quais faleceram em
cada voluntário engajado e Ricardo Vollrath; Frederico campanha, aproximadamente
o Barão entendeu-se com o Moritz; Germano Klekenkam- 24.000 homens, inclusive os
Presidente da Província pe- per; Valentin Schaefer; Si- desaparecidos, ou 17% do to-
dindo para que cada um re- mão Habitzreuter; Eduardo tal em campanha.
cebesse, antes da partida, a Becker; Eduardo Bachmann; Quando foram recolhidos
metade daquela importância. José Schoren; Guilherme José os documentos que se en-
Outras quotas seriam conce- Olhafen; João Schwanberger; contravam no Departamento
didas mensalmente, destina- Antônio Dinkelberg; Emilio de Terras e Colonização, em
das às famílias e descontadas Puhlmann; Vicente J. Barth; Florianópolis, Ayres Gevaerd
de seus soldos. Cada volun- João José Hermes; José Schlin- acreditou que Raymundo Ro-
tário, ao partir, recebeu uma dwein; Augusto Jansen; João drigues, de cor preta, fosse
ajuda de 15$000. Ultimadas Zabel; Cosmo Vogel; Fran- o brasileiro cujo nome não
as providências em reunião cisco A. Day; Guilherme Oes- se achava registrado na lista
realizada numa taberna da trenger; Guido de Seckendorf assinada por Victor de Gilsa,
“Stadtplatz” (centro da co- – Tenente e Augusto Peters Emílio Odebrecht e Guido de
lônia), seguiram os volun- – cabo, e um brasileiro cujo Seckendorf. Gevaerd adquiriu
tários. O percurso, em uma nome não consta da relação. de Raymundo Rodrigues uma
lancha e duas canoas, deu-se Mais tarde, Eugênio Rieger, espada de cavalariano que
normalmente até a Barra do um dos primeiros que havia doou ao Museu de Azambuja.
Rio, de onde os voluntários se apresentado ao Barão, re- No entanto, anos mais tarde
marcharam até a sede da Vila cebeu autorização para unir Gevaerd se deparou com um
de Itajahy, embarcando dias novos voluntários e arrumou exemplar do jornal “Brusque
108
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Voluntário da Guerra do Paraguai em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz 109
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

-Presidente do Paraguai, Ge-


Em 2012, Brusque rendeu homenagem aos colonizadores
neral Francisco Solano López.
alemães que, em 1865, atenderam voluntariamente
Pouco se sabe sobre o re-
a convocação do Governo Imperial e foram lutar pelo
gresso dos sobreviventes da-
Brasil na Guerra do Paraguai. Em sua honra, a Lei
quele contingente de alemães
Ordinária nº 3.518/2012 denominou, no bairro
que atenderam à convocação
Tomás Coelho, a rua Voluntários da Pátria.
e lutaram como “Voluntários
da Pátria”. Muitos regressa-
ram doentes e alquebrados
pelos males que lhes abala-
ram a saúde para sempre, e
no coração, traziam a dor pe-
los companheiros caídos na
Guerra do Paraguai. A todos
esses bravos guerreiros, a co-
munidade da Colônia Itajahy
-Brusque tributou as honras
merecidas, mas o Governo
bem cedo os esqueceu. Aos
Zeitung”, de 1912, informan- Foram os seguintes: Antônio poucos, os “Voluntários da
do que naquele ano (1912) Dinkelberg, Germano Kleke- Pátria” foram desaparecendo
viviam em Brusque, Francisco nkamper, Guilherme Ostrin- e a história apenas guardou
A. Day e José Galiza, veteranos ger, Guilherme José Olhafen os seus nomes.
da Guerra do Paraguai. Então e Valentin Schaefer. Eles fa-
ele consultou pessoas idosas, leceram durante a Guerra do
contemporâneas dos dois ve- Paraguai, quer em consequ- REFERÊNCIAS
lhos soldados, que confirma- ência de doença adquirida em
ram a nota do jornal, inclusive campanha, quer em conse- GEVAERD, Ayres. Os Volun-
que José Galiza era brasileiro. quência direta das operações tários da Pátria de Brusque
E assim, ainda perdura a dúvi- militares em torno do Passo na Guerra do Paraguai. Blu-
da quanto à identidade do vo- da Pátria, na confluência dos menau em Cadernos. Arquivo
luntário brasileiro cujo nome rios Paraná e Paraguai, ligan- Histórico José Ferreira da Sil-
não consta da relação. do-se, assim, definitivamente va, Tomo VII, nº 7. Blumenau:
Alguns dos voluntários à história, irmanados aos de- 1965.
que deixaram a Colônia Ita- mais que lá tombaram para WIEDERSPAHN, Henrique
que a dignidade do Império e Oscar. Blumenau na História
jahy-Brusque entre 14 de
Militar Brasileira. Blumenau
outubro de 1865 e 8 de fe- a tranquilidade do nosso Con-
em Cadernos. Arquivo His-
vereiro de 1866 deram à tinente não mais sofressem
tórico José Ferreira da Sil-
nova pátria o máximo que tais agressões, como aquela
va, Tomo V, nº 6. Blumenau:
um homem pode dar, a vida: iniciada então pelo Ditador 1962.
110
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A Colônia Príncipe Dom Pedro


Nos primeiros anos da
colonização de Brusque, em
1860, os imigrantes alemães
foram sendo instalados na
margem esquerda do Itajaí-
Mirim. No correr dos anos,
juntaram-se a eles colonos
de outras nacionalidades. Os
resultados obtidos com a co-
lonização de Brusque eram
bem animadores e o governo
resolveu fazer um segundo
ensaio nas terras situadas
mais ao interior, ao curso su-
perior do mesmo rio. A explo-
ração seria mais difícil, mas
havia motivos para tentá-la e
fazia parte do programa go-
vernamental.
Mapa da Colônia Príncipe Dom Pedro com demarcação de lotes. Acervo: SAB
A Colônia Príncipe Dom
Pedro foi uma colônia impe- ampliar a Colônia, adquiriu a cão dos Imigrantes (instalado
rial formada com imigrantes gleba de Sallenthien e outras próximo ao Clube de Caça e
de língua inglesa reemigrados próximas, instalando ali os Tiro) em Brusque. Antes, um
dos Estados Unidos. Segundo imigrantes aliciados na Amé- ofício de 9 de fevereiro de
o historiador José Ferreira da rica do Norte. 1867, expedido pelo Presi-
Silva (1998), a Colônia Prín- dente da Província de Santa
cipe Dom Pedro foi implanta-
da em terras que o Governo O transporte de Catarina, solicitava ao Barão
Maximilian von Schneeburg,
adquirira de Francisco Sal- Itajaí e a chegada Diretor da Colônia Itajahy
lenthien, um dos integrantes
do grupo dos 17 imigrantes
em Brusque -Brusque, que fizesse descer
“as duas canoas da Diretoria
fundadores de Blumenau. e todas as lanchas de particu-
O Diretor Dr. Barzillar
Sallenthien, já em 1852, ha- lares que V. S.ª puder alugar
Cottle foi o primeiro diretor
via se transferido para as para este feito (...) para con-
da Colônia Príncipe Dom Pe-
margens do rio Itajaí-Mirim, duzir colonos agora mesmo
dro e fretou várias embarca-
para adiante do Ribeirão das chegados”. E lhe aconselhava
ções a remo e transportou os
Águas Claras, onde montou o Presidente da Província que
imigrantes rio acima da barra
uma serraria. Precisando o estivesse “pronto para rece-
do Porto de Itajaí até o Barra-
governo de mais terras para ber até 190 colonos no Barra-
111
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

cão dessa Colônia, destinado A data da sa Lagoa Dourada, nas proxi-


a semelhante mister”. midades do bairro Dom Joa-
O grupo de imigrantes in- fundação quim, Brusque.
gleses com os quais o Governo
Em 19 de janeiro de 1866,
Imperial deu início à colônia
agrícola Príncipe Dom Pedro o Decreto Imperial criou, ofi- O porquê
chegou ao Brasil a bordo do cialmente, a Colônia Príncipe do nome
Vapor Tartar. A intenção do Dom Pedro. Mas, de acordo
Governo Imperial era trazer com Aloisius C. Lauth (2014), O nome da nova colônia foi
correntes migratórias de mão os administradores usaram uma homenagem ao Príncipe
de obra livre e, acima de tudo, diferentes datas para marcar Dom Pedro, filho da Prince-
de mentalidade liberal e pro- o início da colônia. Para uns, sa Leopoldina e do Duque de
gressista, semelhante à mi- seria o dia 19 de janeiro de Saxe, nascido em 1866. Se-
gração aos Estados Unidos. 1867, quando o Decreto nº gundo Lauth (2014), a deno-
Foram três dias navegando 3.784 aprovou o Regulamen- minação Príncipe Dom Pedro
rio acima até alcançar a Co- to para as Colônias do Estado. deve-se a um brinde do libe-
lônia Itajahy-Brusque, onde Para outros, seria o dia 15 de ral Tavares Bastos no salão
o núcleo colonial – até então fevereiro de 1867, quando da nobre do Império, quando
constituído de alemães - se chegada da primeira leva de este homenageou a política
viu surpreendido com a pre- norte-americanos (aliciados nacionalista da Guerra do Pa-
sença dos colonizadores ree- pela Companhia de Navega- raguai. O Imperador estaria
migrados dos Estados Unidos. ção “United States and Brazil ocupando os territórios devo-
Ainda que a contragosto, Steamship”) ao Barracão dos lutos com uma nova colônia,
o Barão Von Schneeburg teve Imigrantes em Brusque. Para bem próximo das regiões de
que acatar a instalação da co- outros, seria o dia 1º de março onde partiram centenas de
lônia vizinha. E quando, sob o de 1867, quando da emissão soldados alemães, inclusive
comando do Diretor Dr. Cott- dos primeiros atos adminis- os 25 voluntários da Colônia
le, chegaram os imigrantes trativos que confirmariam a Itajahy-Brusque que atende-
destinados à nova colônia, o intenção do Governo Imperial ram à convocação do Governo
Barão colocou à disposição de fundar a Colônia. De acor- Imperial e, em 1865, partiram
dos chegados os animais de do com Lauth, a data mais rumo à Capital da Província
condução de carga pertencen- adequada para ser o marco da para defender sua nova Pátria
tes à Diretoria. Emprestou, fundação da Colônia Príncipe na Guerra do Paraguai.
também, as 12 espingardas e Dom Pedro seria o dia 10 de
março de 1867, pois foi nesse
a competente munição para
dia que se realizou o primeiro
A demarcação
espantar eventuais correrias
de bugres. E orientou o novo acampamento dos imigrantes dos lotes
Diretor Dr. Cottle sobre a pre- norte-americanos no barra-
venção de moléstias do clima, cão provisório de Águas Cla- A distância entre o barra-
oferecendo medicamentos da ras, erguido no terreno onde cão dos imigrantes da colô-
botica (farmácia rural de ma- em 2018 funciona a Escola de nia Príncipe Dom Pedro e o
nipulação caseira) da colônia. Educação Fundamental Padre barracão da Colônia Itajahy
Luiz Gonzaga Steiner, Traves- -Brusque era de cerca de 4
112
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

km (distância entre o início hectares cada. dentro da área pertencente a


da rua do Cedro, no bairro Formaram-se os primeiros Sallenthien, que fica entre o
Dom Joaquim, até o Clube de grupos de serviço assalaria- primeiro território da Colô-
Caça e Tiro Araújo Brusque, do, pagos por jornada diá- nia Itajahy e o segundo, que
Centro. ria. Outro grupo ocupou-se também lhe estava destinado,
A jornada de exploração e da abertura de picada para a mas que foi designado para
o levantamento topográfico Encruzilhada de Águas Cla- a nova colônia”. Ou seja, as
da colônia começaram logo ras e para o lugar chamado melhores áreas estavam loca-
após a chegada dos ingleses Rodger’s Road, na região de lizadas justamente nas terras
reemigrados dos Estados Cedro Grande. Uma picada se- particulares de Paul Kellner e
Unidos ao barracão dos imi- ria aberta da sede da Colônia de Franz Sallenthien que, na-
grantes. Uma parte abriu uma Príncipe Dom Pedro na dire- quele momento, as usavam
clareira na mata. Reconhe- ção das terras de Paul Kellner para exploração de madeira
cida a região, e com as infor- e Pedro José Werner, antigos e cujas terras estavam encra-
mações prestadas pelo Barão moradores, proprietários de vadas no seio do território in-
von Schneeburg, Diretor da terras em Pedras Grandes. corporado à Colônia Príncipe
Colônia Itajahy-Brusque, ao Dom Pedro. (LAUTH, 2014).
Dr. Cottle, Diretor da Colô-
A frustração Vencidas as dificuldades
nia Príncipe Dom Pedro, este iniciais, um bom trecho de
definiu as trilhas de acesso a do Diretor em caminhos foi aberto para o
partir de um porto aberto na relação ao trânsito de veículos de tração,
foz do Ribeirão Águas Claras e outros apenas para pessoas
e outro em Pedras Grandes,
território e animais de carga. Um ca-
até onde os barcos a remo po- minho de carroças ligava as
Já nos primórdios da de-
deriam navegar. Também foi colônias Itajahy-Brusque e
marcação, em 1867, a Dire-
preciso abrir uma picada do Príncipe Dom Pedro. Tendo
toria da colônia se dirigiu à
porto do ribeirão ao barracão em vista a grande utilidade
Presidência da Província, re-
coletivo, distante aproxima- clamando que “o terreno que proveniente da ligação direta
damente 1,2 km. foi destinado para esta colô- com a capital, que viria a faci-
O território da colônia nia, segundo a descrição feita litar o intercâmbio comercial,
Príncipe Dom Pedro era cor- pelo engenheiro que a demar- o Presidente da Província de
tado pelo Ribeirão Águas Cla- cou, devia conter boas terras Santa Catarina, Dr. Adolfo de
ras, Limeira, Limoeiro, Cedro para a cultura; as explorações, Barros Cavalcanti de Albu-
Grande, Cedro Pequeno, Al- porém, ultimamente feitas, querque Lacerda, autorizou,
feres e Creeker. Acima da foz por ocasião da divisão dos lo- em 1867, a abertura de uma
do Ribeirão Águas Claras, a tes, não confirmaram aquela picada até o núcleo de Tiju-
área era menos acidentada e informação, encontrando-se cas. O trabalho de abertura
não estava sujeita a tantas en- em quase toda parte estrei- era realizado pelos imigran-
chentes do rio. Os primeiros tos e montanhas escarpadas, tes e pago com recursos pú-
lotes coloniais foram demar- que não se prestam à cultu- blicos.
cados a partir dos ribeirões, ra, principalmente pelo ara- A Colônia Príncipe Dom
abrangendo, em média, 30 do; as melhores terras estão Pedro foi instalada à margem
113
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

direita do rio Itajaí-Mirim, di- Má gestão pública também de ser extinta quando chegou,
visando com a Colônia Itajahy. foi verificada. Com o fracasso em agosto de 1869, o primei-
Inicialmente, as terras foram da colonização, aos poucos a ro grupo de famílias de imi-
utilizadas para instalação de área foi sendo abandonada. grantes poloneses, rendendo
elementos ingleses e irlande- Apesar de ser área monta- a Brusque o título de “Berço
ses reemigrados dos Estados nhosa e pouco propícia ao da Imigração Polonesa no
Unidos, que permaneceram plantio da lavoura com arado, Brasil”. Foram instalados na
por pouco tempo. Segundo o território era de grande ri- linha “Sixteen Lots”, na Co-
José Ferreira da Silva (1972), queza florestal e havia muitos lônia Príncipe Dom Pedro e
essa Colônia não prosperou cursos d’água. Suas dificulda- substituíram, em parte, os ir-
já que, logo de início, foi mal des em termos de áreas pro- landeses. Em 1875, teve início
administrada pelo seu diretor pícias à agricultura eram se- a colonização com imigrantes
que foi demitido e processado melhantes a outras regiões do italianos.
por desvio de dinheiro e ou- estado de Santa Catarina. O Anos mais tarde, partes do
tras irregularidades. A dura- que faltou foi administração território da extinta Colônia
ção da Colônia foi efêmera e, e vontade de trabalhar. Con- Príncipe Dom Pedro deram
em 1869, foi anexada à Colô- forme dizia Ayres Gevaerd, origem aos municípios de
nia Itajahy. Depois suas terras as administrações da Colônia Nova Trento, Vidal Ramos,
foram utilizadas para instala- Príncipe Dom Pedro foram Presidente Nereu e Botuverá.
ção de colonos poloneses e, incapazes de promover o seu Uma parte do território conti-
mais tarde, por italianos. êxito, apesar de bem-inten- nuou pertencendo a Brusque.
cionadas.
Segundo Jacintho Antônio
O fracasso da de Mattos (1917) “aos pou- REFERÊNCIAS
colonização cos, esses colonos (ingleses
e irlandeses reemigrados dos LAUTH, Aloisius C. Colo-
A Colônia Príncipe Dom Estados Unidos) foram deser- nos Ingleses em Águas Claras.
Pedro custava a se desenvol- dando dos seus lotes, até que 2014.
ver. Os imigrantes ingleses e no aviso de 6 de dezembro de MATTOS, Jacintho Antônio
irlandeses, que haviam sido 1869, do Ministério da Agri- de. Colonização do Estado de
assentados no território, cultura, a Diretoria da Colônia Santa Catarina: dados históri-
eram avessos ao trabalho na foi anexada à Diretoria da Co- cos e estatísticos, 1917.
terra e logo se tornaram pen- lônia Itajahy”. A partir de en- SILVA, José Ferreira da.
sionistas do governo. Depen- tão, a correspondência oficial História de Blumenau. Floria-
diam do trabalho na abertura passou a ser dirigida à Dire- nópolis: Editora EDEME - Em-
de estradas, que era pago por toria da Colônia Itajahy-Brus- preendimentos Educacionais
diária. Nem sempre havia di- que e Príncipe Dom Pedro. Ltda., 1972.
nheiro do governo para con- As dimensões coloniais tam- SILVA, José Ferreira da. Blu-
tratação dos serviços e logo bém aumentaram, passando menau em Cadernos.1998.
passaram à ociosidade. Sur- a somar aproximadamente Brusque Memórias. Dispo-
giram inúmeros desacertos e 70.000 hectares. nível em:<http://www.brus-
distúrbios entre os imigran- A Colônia vivia completa quememoria.com.br>. Acesso
tes. anarquia e já estava em vias em 16 de agosto de 2018.
114
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Centro de Brusque no início do século XX. Acervo: SAB

A emancipação da Colônia
Em 1860, teve início a co- considerada colônia uma nias anexadas da freguesia do
lonização oficial do território zona que estava sendo povo- Santíssimo Sacramento (Ita-
da Colônia Itajahy-Brusque. ada por lavradores. No ano de jaí), formando-se a Freguesia
Por aquele tempo, Brusque 1881 a Colônia Itajahy-Brus- (paróquia), que normalmen-
consistia numa parcela de que alcançara um grau de te é o primeiro passo para a
“território” organizado, sob desenvolvimento que levou emancipação política e ad-
o comando de uma diretoria, o governo a dar-lhe o caráter ministrativa, e foi escolhido
para onde se encaminhavam de município. Essa elevação, como orago São Luis Gonzaga.
colonizadores alemães, in- porém, não se processou tão A data de 23/03/1881
cumbidos de explorá-lo. A inesperadamente; tivera seus marca a criação do municí-
princípio, dera-se a essa zona preliminares. Pela Lei Provin- pio de Brusque quando, por
a denominação “colônia” con- cial n° 693, em 31 de julho de força da Lei Provincial nº
ceito que nem compreende 1873, o então presidente da 920/1881, a Freguesia foi ele-
qualidades administrativas, Província, Pedro Afonso Fer- vada à categoria de Vila e mu-
segundo a Lei brasileira. Era reira, desmembrava as colô- nicípio, igualmente denomi-
115
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

nado de São Luiz Gonzaga. Foi Assembleia Provincial, a ad- foi eleito o comerciante Ger-
a emancipação político-admi- ministração da Câmara Mu- mano Willerding como o pri-
nistrativa de Brusque. Kons nicipal obedeceria às normas meiro presidente da Câmara
(2018) informa que a Vila constantes das posturas do do novel município. Os ad-
abrangia os territórios dos município de Itajaí. Segundo ministradores do Município
atuais municípios de Brus- Gevaerd e Gevaerd (1960), o de São Luiz Gonzaga durante
que, Guabiruba, Botuverá, primeiro administrador do o período monárquico foram
Vidal Ramos, Presidente Ne- Município de São Luiz Gon- Germano Willerding, Pedro
reu, Nova Trento e inclusive zaga foi Jacinto Adolfo A. Pan- Jacob Heil, Guilherme Krieger,
uma porção de São João Ba- toja, o nono e último admi- Germano Augusto Thieme e
tista (localidade de Crecker), nistrador efetivo da Colônia Guilherme Krieger.
pois a lei de criação da Vila Itajahy-Brusque, e o primei- Em 15 de novembro de
fixava os limites como sendo ro administrador do muni- 1889 é proclamada a Re-
os mesmos da Freguesia de cípio criado em 23 de março pública Brasileira, instau-
São Luis Gonzaga. Itajaí, Blu- de 1881, conforme pode ser rando a forma republicana
menau, Lages e Tijucas eram atestado por vários documen- presidencialista de governo
os municípios limítrofes. E, tos assinados por ele. no Brasil, encerrando a mo-
ao contrário de um gran- No período monárquico, narquia constitucional par-
de número de municípios, a os municípios eram adminis- lamentarista do Império e,
data magna comemorada em trados pelas câmaras muni- por conseguinte, destituindo
Brusque não é a efeméride de cipais, e os presidentes das e deportando o então chefe
sua emancipação político-ad- câmaras correspondiam aos de estado, Imperador Dom
ministrativa, mas sim o dia 4 superintendentes, o equiva- Pedro II. A proclamação ocor-
de agosto de 1860, data que lente ao cargo de prefeito de reu na Praça da Aclamação,
marca a chegada dos imigran- hoje. E para instalar e admi- atual Praça da República,
tes alemães liderados pelo nistrar o novo município, em na cidade do Rio de Janeiro,
primeiro diretor da Colônia 5/05/1883 foram eleitos os então capital do Império do
Itajahy-Brusque, Barão von vereadores. Assim, mesmo Brasil. Em 24/02/1891, o
Schneeburg. criado em 1881, o municí- Congresso Nacional Consti-
De acordo com a Lei pro- pio foi instalado apenas em tuinte decretou e promulgou
vincial nº 920/1881, tão logo 8/07/1883, com a solenida- a Constituição da República
os moradores tivessem pre- de de tomada de posse dos dos Estados Unidos do Bra-
parado a edificação em que primeiros vereadores e con- sil. E, pouco tempo depois,
a Câmara Municipal passaria sequente instalação do mu- em 11/06/1891, foi promul-
a atuar, seriam instalados o nicípio de Brusque. Com iní- gada a primeira Constituição
novo município e a Villa de cio às 10 horas, a solenidade Estadual de Santa Catarina.
São Luiz Gonzaga. Enquanto foi presidida pelo presidente Durante as primeiras déca-
não se aprovasse o próprio da Câmara Municipal de Ita- das do regime republicano, os
Código de Posturas e este jaí, advogado Luiz Fortunato municípios eram administra-
não fosse referendado pela Mendes. Após o juramento, dos pelos superintendentes
116
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A Certidão de Nascimento do Município


Em 23 de março de 1881, a freguesia de São Luiz Gonzaga das colônias Itajahy e Príncipe
D. Pedro foi elevada à categoria de Município, conforme a Lei nº 920, de 23 de março de
1881:
“O Dr. João Rodrigues Chaves, Juiz de Direito e Presidente da Província de Santa Cathari-
na. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou
e eu sancionei a lei seguinte:
Art. 1º - Fica elevada à categoria de município a freguesia de São Luiz Gonzaga das colô-
nias Itajahy e Príncipe Dom Pedro, com a mesma denominação.
§ 1º - A sede do dito município será a da referida freguesia, que fica também elevada à
Villa, e com a denominação de Villa de São Luiz.
§ 2°. Os limites do novo município serão os mesmos da freguesia de São Luiz.
Art. 2º - Logo que os moradores tenham preparado casa em que deva funcionar a Câma-
ra Municipal, serão instalados o novo Município e a dita Villa, devendo a Câmara reger-se
pelo Código de Posturas do município de Itajahy, até que organize o código pelo qual deva
reger-se, depois de aprovado pela Assembleia Legislativa Provincial.
Art. 3° - O novo município fará parte da comarca de Itajahy.
Art. 4° - Ficam criados no dito município os seguintes ofícios reunidos em um tabelião
do público, do judicial e notas, escrivão do cível e comercial, do júri e execuções criminais,
capelas e resíduos, de órfãos e ausentes.
Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida
lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O se-
cretário desta província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no palácio da Presidência
da Província de Santa Catharina, aos vinte e três dias do mês de março de mil oitocentos e
oitenta e um, sexagésimo da independência e do Império.
Palácio da Presidência da Província de Santa Catharina, 23 de março de 1881.

João Rodrigues Chaves

117
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

municipais, o equivalente ao Diretoria da Colônia Itajahy agosto de 1860.


atual cargo de prefeito muni- -Brusque e, a partir de então, - Em 23/09/1916, o gover-
cipal. Com a instituição do re- a correspondência oficial pas- nador Felipe Schmidt sancio-
gime republicano, o Governo sou a ser dirigida à Diretoria nou a lei nº 1.123, elevando a
do Estado de Santa Catarina da Colônia Itajahy-Brusque e Vila de Brusque à categoria de
extinguiu as Câmaras Muni- Príncipe Dom Pedro. cidade, marcando o dia dos 30
cipais constituídas e criou os - Em 31 de julho de 1873, anos de falecimento do Conse-
Conselhos de Intendência em pela Lei Provincial n° 693, o lheiro Imperial Araújo Brus-
que os conselheiros votavam então Presidente da Provín- que.
na presidência do Conselho. cia, Pedro Afonso Ferreira,
Com a promulgação da desmembrou a Colônia Ita-
nova Constituição Estadual, jahy-Brusque, que era anexa REFERÊNCIAS
de 26 de julho de 1928, ocor- da freguesia do Santíssimo Sa-
reram alterações administra- cramento (Itajaí), formando a BUGGENHAGEN, E. A. von.
tivas nas áreas municipais. O Freguesia (paróquia) de São História Econômica no Muni-
superintendente municipal Luis Gonzaga. Era o primeiro cípio de Brusque e a obra do
passou a denominar-se pre- passo para a emancipação po- Cônsul Carlos Renaux. [SI].
feito, o Conselho Municipal lítica e administrativa. Brusque, 1941. Não publica-
foi denominado de Câmara - Em 23/03/1881 ocorre do.
Municipal e os conselheiros a emancipação político-ad- SANTA CATARINA. Coleção
ministrativa de Brusque. Por das leis da Província de Santa
vereadores.
força da Lei provincial nº Catharina do ano de 1881. Rio
Ao longo da nossa histó-
920/1881, a freguesia de São de Janeiro.
ria, muitos cidadãos ilustres,
Luiz Gonzaga das colônias KONS. Paulo Vendelino.
habitantes de Brusque, foram
Itajahy e Príncipe D. Pedro foi Emancipação política admi-
vereadores e prefeitos e aju-
elevada à categoria de Vila e nistrativa: Brusque completa
daram a construir a cidade
município, igualmente deno- 137 anos hoje. Olhar do Vale.
que temos hoje.
minado de São Luiz Gonzaga. 23 de março de 2018. Dis-
- Em 4/08/1860, chega à
- Em 17/01/1890, através ponível em:< http://olhar-
Colônia Itajahy-Brusque o pri-
do decreto nº 77, outorgado dovale.com.br/novo/geral/
meiro grupo organizado de
pelo governador Lauro Seve- emancipacao-politica-admi-
colonizadores de origem ale-
riano Müller, o nome de vila e nistrativa-brusque-completa-
mã, acompanhados do Diretor
município de São Luiz Gonza- 137-anos-hoje/>. Acesso em
da Colônia Itajahy-Brusque, o
ga foi substituído oficialmente 19/09/2018.
Barão Maximilian von Schnee-
pelo de Brusque, em homena- GEVAERD, Cyro. GEVAERD,
burg, dando início à nova Co-
gem póstuma ao Conselheiro Evilásio Guilherme. Os Ad-
lônia.
Imperial Dr. Francisco Carlos ministradores de Brusque.
- Em 6/12/1869, pelo aviso
de Araújo Brusque, presidente Álbum do 1° Centenário de
do Ministério da Agricultura,
da Província de Santa Catari-
a Diretoria da Colônia Prínci- Brusque – Edição da Socieda-
na quando da fundação da Co-
pe Dom Pedro foi anexada à de Amigos de Brusque. 1960.
lônia Itajahy-Brusque, em 4 de
118
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Centro de Brusque no início do século XX. Acervo: SAB

A evolução territorial
e os desmembramentos
Quando em meados do cabrosas dos cursos médio e rapidamente a prosperidade,
século XIX, se iniciara a colo- superior do rio Itajaí-Mirim, por meio de medidas artifi-
nização de Blumenau no Ita- onde não havia a lavoura, sen- ciais, em uma zona bastante
jaí-Açu, o governo se propôs do o resto montanhoso. abandonada de uma parte
criar finalmente um equiva- Escolhera-se como pri- pouco explorada do Brasil.
lente nas terras do Itajaí-Mi- meiro núcleo de exploração, A região do atual municí-
rim. Nas margens do curso a zona do atual município de pio, então ainda inexplorada,
inferior desse rio estendiam- Brusque, cuja colonização foi era de importância puramen-
se largas faixas de terrenos iniciada de acordo com um te geográfica, pois constituía,
planos e alagadiços que ofe- decreto de Dom Pedro II, da- dentro do vasto plano de po-
reciam vantajosas condições tado em 18/06/1860. O mo- voamento concebido pelo go-
para a lavoura e a criação do tivo político a que se deve a verno, a primeira estação do
gado nas sesmarias. O Gover- fundação de Brusque foi, no vale do Itajaí-Mirim. Quando
no Imperial entendia que era conjunto histórico mais largo, a colonização oficial da Colô-
preciso povoar as terras es- o propósito de desenvolver nia Itajahy-Brusque começou,
119
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

em 1860, a Colônia consistia cia, Pedro Afonso Ferreira, Apenas uma pequena parte
numa parcela de “território” desmembrou a Colônia Ita- do território continuou per-
organizado, sob o comando jahy-Brusque, que até então tencendo a Brusque.
de uma diretoria, para onde era anexa da freguesia do
se encaminhavam coloniza- Santíssimo Sacramento (Ita- Nova Trento
dores alemães incumbidos de jaí), formando a Freguesia
explorar o território (BUGGE- (paróquia) de São Luis Gonza- Após o fim do período co-
NHAGEN, 1941) ga. Em 1881 ocorre a emanci- lonial, Nova Trento, que na lei
Em 6 de dezembro de pação político-administrativa de criação do município de
1869, o território da colônia de Brusque. Por força da Lei São Luiz Gonzaga (Brusque)
Príncipe Dom Pedro, insta- Provincial nº 920/1881, de integrava seu território, pas-
lada à margem direita do rio 23/03/1881, a freguesia de sou a fazer parte do municí-
Itajaí-Mirim, e cortada pelo São Luiz Gonzaga das colô- pio de Tijucas. A comunidade
Ribeirão Águas Claras, Limei- nias Itajahy e Príncipe D. Pe- neotrentina foi emancipada
ra, Limoeiro, Cedro Grande, dro foi elevada à categoria de política e administrativamen-
Cedro Pequeno, Alferes e Cre- Vila e município, igualmen- te em 8 de agosto de 1892.
cker, foi anexada à Diretoria te denominado de São Luiz Conforme informações dispo-
níveis no site oficial da Prefei-
da Colônia Itajahy”. A partir Gonzaga. Só mais tarde, esse
tura de Nova Trento (2018), a
de então, a correspondência nome de município e vila foi
história do município inicia
oficial passou a ser dirigida substituído oficialmente pelo
muito tempo antes da chega-
à Diretoria da Colônia Ita- de Brusque, em homenagem da dos primeiros imigrantes
jahy-Brusque e Príncipe Dom a Araújo Brusque, antigo pre- trentino-italianos, provenien-
Pedro e as dimensões colo- sidente da Província de Santa tes da região norte da Itália,
niais também aumentaram, Catarina. Ao longo da sua his- a partir de 1875. No período
passando a somar aproxima- tória, alguns distritos foram de 1834 e 1838, esta região do
damente 70.000 hectares. incorporados à Vila e muni- Vale do Rio Tijucas havia sido
Muitos anos depois, partes cípio de São Luiz Gonzaga e ocupada por norte-america-
do território da extinta Colô- houve algumas modificações nos, com a intenção de explo-
nia Príncipe Dom Pedro de- e umas poucas deslocações rar a madeira abundante do
ram origem aos municípios das divisas, obedecendo, lo- local. Uma serraria foi mon-
de Nova Trento, Vidal Ramos, gicamente, ao ponto de vista tada próximo ao atual centro
Presidente Nereu e Botuverá. que faz o traçado das divisas da cidade, aproveitando-se
a correnteza do Ribeirão Al-
Uma parte do território conti- depender das condições na-
feres, Braço do Rio Tijucas-
nuou pertencendo a Brusque. turais de paisagem. Do terri-
Grande. Christóvão Bonsfield,
Guabiruba pertencia apenas tório que compunha Brusque
negociante estabelecido em
ao território da Colônia Ita- em 1892, tiveram origem os Nossa Senhora do Dester-
jahy-Brusque. municípios de Nova Trento ro, foi o grande propulsor do
Em 31 de julho de 1873, (1892), Vidal Ramos (1957), negócio. Porém, anos depois,
pela Lei Provincial n° 693, o Presidente Nereu (1961), Bo- devido às dificuldades encon-
então presidente da Provín- tuverá e Guabiruba (1962). tradas, o território foi aban-
120
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

mais que desconheciam e os


índios (os bugres), os primei-
ros habitantes desta localida-
de. Em 1876, famílias inteiras
estavam estabelecidas nas
colônias Itajaí e Príncipe Dom
Pedro. A imigração intensi-
ficou-se nos anos seguintes,
inclusive com a vinda de ale-
mães, poloneses e outros po-
vos europeus. Estima-se que,
até 1880, cerca de 11 mil pes-
soas tenham sido instaladas
na colônia.
Em 18 de março de 1881, o
Decreto nº 8.455 emancipou
as colônias da região, inclusi-
ve aquela a que Nova Trento
pertencia. Em 02/01/1884
foi criado o Distrito Policial
Igreja Matriz de Nova Trento de Nova Trento, tendo como
donado e suas propriedades plantando tudo dá”, rios e ria- primeiro subdelegado de po-
passaram posteriormente a chos em abundância, moradia lícia, Hipólito Boiteux. Em
Pedro Kohn, que, na forma- e trabalho remunerado. 04/04/1884, o Dr. Francisco
ção da colônia Nova Trento, Do porto de Itajaí, os imi- Luiz da Gama Rosa, presi-
foram vendidas ao Governo grantes foram deslocados dente da Província de Santa
Provincial. Anos mais tarde, para regiões de mata virgem, Catarina, sancionou a Lei nº
a partir de 1875, começam a sem boas condições de comu- 1.074, criando a freguesia e o
chegar os primeiros grupos nicação. O grupo dos primei- Distrito de Paz de Nova Tren-
de imigrantes trentino-ita- ros imigrantes, cerca de 20 to. Em 08/08/1892, através
lianos. Eles deixaram para famílias originárias da Valsu- da Lei Provincial promulgada
trás um período de crise, gana, no Alto Vale do Brenta, pelo presidente da província,
fome, miséria e desesperan- no Trentino e de Monza, se tenente Joaquim Machado,
ça, na qual a Europa passava. estabeleceram a 16 quilôme- Nova Trento tornou-se muni-
O momento coincidiu com a tros da atual Nova Trento. cípio. Em 21 de dezembro de
vontade governamental bra- Abriu-se uma picada na linha 1892, foi criado o Conselho
sileira de povoar as terras Pomerânia (por Brusque), até Municipal para dirigir o mu-
localizadas ao sul. Aliciados a linha Tirol, e nos lotes mar- nicípio até as suas primeiras
pelas companhias de imigra- ginais as famílias foram se es- eleições, que ocorreram so-
ção, os imigrantes aportaram tabelecendo. Ao invés de ter- mente em 1894 com o voto
no Brasil com a promessa de renos limpos, encontraram indireto, elegendo Henrique
encontrar uma terra “onde se mata fechada, insetos, ani- Boiteux, primeiro prefeito.

121
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Imóvel da família Stoltenberg em Vidal Ramos. A construção teve início em 1928. Acervo: SAB

Em 1919, August Stol- longe de casa, os filhos o en- uma lata de café e fósforos e
tenberg chegou a Vidal Ramos terraram ali mesmo e sobre a seus vizinhos os procuraram
com seus dois filhos, Erich e sepultura do amado pai plan- para negociar. E assim surgiu
Karl. A família havia emigra- taram um pinheiro, hoje uma a Casa Comercial Stoltenberg
do de Kiel, na Alemanha. frondosa árvore. Irmãos, implantada no en-
Em 1920, fazia-se a pri- Em 1924 os irmãos Stol- troncamento das estradas
meira ligação Vidal Ramos tenberg abriram no local um de Botuverá, Vidal Ramos e
-Brusque, uma picada aberta comércio. Iniciaram com um Brusque, que ocupa uma área
por Martins e Jacinto Bugrei- pequeno rancho coberto de onde está o comércio enxai-
ro. Estando o pai e os filhos a folhas que mais tarde se cha- mel e uma grande construção
desbravar a mata da nascente mou “Stoltenbergs Caethebla- em madeira que era uma pou-
colônia, em 1923, August Stol- etterrach”. sada para viajantes.
tenberg faleceu subitamente. Sua primeira viagem a A construção da Casa Stol-
Como estavam no meio Brusque, trazendo merca- tenberg, localizada na praça
da mata, não havendo ainda doria num cavalo, levou dois Stoltenberg, teve início no
um cemitério, e sendo muito dias. Ao voltar, trouxeram ano de 1928, sendo concluí-

122
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

da em 1929. Naquela época o gs Caetheblaetterrach” já


projeto foi criado pelos pro- era uma casa ampla e bem Na tarde do dia 12 de ou-
prietários e pelo engenheiro sortida, tendo como meio de tubro de 2010, num trágico
Hans Prütter, agrimensor que transporte uma tropa de 20 incêndio, a casa foi pratica-
morava com eles enquanto mulas de cargueiro. mente destruída.
trabalhava para a Companhia Naquele tempo, para ir Os proprietários do imó-
Colonizadora Constâncio de Brusque até Vidal Ramos, vel, que ainda pertence à
Krummel. atravessava-se um sertão a Família Stoltenberg, acredi-
Toda a madeira utiliza- partir do Ribeirão do Ouro tam que o sinistro incêndio
da na obra foi derrubada, (Botuverá), onde se “pousa- foi causado por um curto-
serrada e aplainada à mão va” na casa do Sr. Ângelo Bar- circuito no sistema elétrico
- incluindo-se as janelas e ni, um italiano simpático e da construção, que infeliz-
portas. Para a confecção dos hospitaleiro. mente provocou a perda to-
tijolos foi construída uma pe- Depois de um dia de via- tal dos arquivos da empre-
quena olaria no local. Toda a gem pelo sertão no lombo da sa, assim como uma parte
estrutura da casa não possuía mula que muitas vezes enter- da história de Vidal Ramos
cimento, apenas argila, areia rava até a barriga, nos caldei- e região.
e cal. A cobertura do casa- rões de lama, abria-se o mato Mesmo com a destrui-
rão inicialmente foi feita com e encontrava-se um lugar ção quase total do histó-
tabuinhas rachadas à mão, aberto, onde existiam estra- rico imóvel, tombada pelo
sendo que os vidros, pregos das carroçáveis, escola, igreja, Iphan - Instituto do Patri-
e ferragens foram buscados além de casas de colonos. mônio Histórico e Artístico
em lombo de mula na cidade O primeiro professor da Nacional em dezembro de
de Brusque, através de uma Colônia foi o Sr. Rudolf Fink. O 2008, a família decidiu re-
picada. primeiro intendente de Vidal construir as ruínas do anti-
Participaram da constru- Ramos se chamava Augusto go casarão.
ção os pedreiros Hugo Ko- Klapoth, e o primeiro prefeito Em 2018, totalmente re-
chanscki e Josef Wessel, além nomeado foi Jorge Paulo Krie- construída, a estimada Casa
dos carpinteiros Heinrich ger. Stoltenberg continua sendo
Böing e Wendelino Böing. Após 80 anos de existên- um importante marco da
Com a construção da casa, cia desta casa, no local ainda história de Vidal Ramos,
tiveram início as atividades funcionava um bar e o escri- e a araucária que os filhos
comerciais da família, com o tório da empresa Irmãos Stol- Erich e Karl plantaram em
funcionamento de uma casa tenberg. 1923 para guardar a sepul-
de comércio, açougue e ser- (GEBLER, Geraldo. Dados tura do pai, o pioneiro Au-
raria, o que contribuiu muito Históricos de Vidal Ramos. gust Stoltenberg, continua
para o crescimento da econo- Notícias de Vicente Só. Socie- frondosa, simbolizando a
mia de Vidal Ramos por mui- dade Amigos de Brusque. Ano força do imigrante contra a
tas décadas. III. Nº 11. Julho, agosto e se- adversidade.
Em 1932, a “Stoltenber- tembro de 1979).
123
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Vidal Ramos na mesma área em que mais sede da fazenda de “Boa Es-
tarde seria criado o municí- perança”.
Segundo informações dis- pio de Vidal Ramos. Nesse No artigo intitulado Um
poníveis no site oficial da mesmo ano, o padre Augusto Pouco de História do Municí-
Prefeitura de Vidal Ramos Schwierling, acompanhado pio de Vidal Ramos publicado
(2018), a história do muni- de Nicolau Petry e Henrique na revista Blumenau em Ca-
cípio tem início por volta de Blomer, saíram de Capivari, dernos (1995) vamos encon-
1916, quando João Filomeno região sul do Estado, passan- trar mais algumas informa-
da Rosa, chefiando um grupo do pelas vilas de Angelina, ções sobre Vidal Ramos.
de caçadores, saiu de Bom Garcia e Boiteuxburgo, atra- Vejamos o que nos traz a
Retiro em direção aos sertões vessando o rio Alferes à pro- publicação: encravado entre
do hoje município de Vidal cura da parte mais alta da a Serra do Itajaí e a Serra do
Ramos, e marcaram sua pre- cabeceira do rio Itajaí-Mirim, Tijucas, o município de Vidal
sença na região, e por isso os sendo que o primeiro colono Ramos localiza-se na parte
primitivos moradores da ci- fixou morada no lugar deno- alta da Bacia do rio Itajaí-Mi-
dade, que conhecem a histó- minado “Molungú”, e o segun- rim, ocupando uma área de
ria local, os consideram como do na confluência dos rios Ita- aproximadamente 314 km2,
os desbravadores de Vidal Ra- jaí-Mirim e Santa Cruz. interligando-se por vias de
mos. Foi nesta época que foi acesso aos municípios de Itu-
No ano seguinte chega dado o nome dessa localidade poranga, Presidente Nereu,
outro grupo de caçadores, de Alto Itajaí-Mirim ou Rio da Brusque e Leoberto Leal. Por
desta vez vindos de Ribeirão Brusque, onde hoje está situ- volta de 1910, fixaram-se na
do Ouro (atual Botuverá). E, ada a sede de Vidal Ramos. região os primeiros coloni-
ainda em 1917, Walter Rho- Nos anos seguintes, outras zadores imigrados, principal-
de, comandando um grupo de famílias começaram a chegar mente, do Vale do Rio Capiva-
homens, veio de Bom Retiro e à região, à procura de terras ri.
começou a proceder ao mape- férteis, tendo uma delas – a de Bem-sucedida a fixação
amento e medição das terras Pedro Weber – se estabeleci- inicial do núcleo, a eles vie-
que formam a parte mais alta do na confluência do rio Santa ram juntar-se famílias oriun-
da cabeceira do rio Itajaí-Mi- Luiza com o Itajaí-Mirim e as das de outras regiões do Es-
rim. famílias Boeing e Vanderlinde tado. Entre os primeiros que
Toda aquela área de terras, fixaram-se naquelas proximi- enfrentaram os desafios de
na época, era propriedade do dades provindas da Região de desbravar as florestas e con-
Dr. Possidônio, do comenda- Capivari. quistar novas terras, desta-
dor Guimarães e de Dª Corá- Em 1923, o Dr. Constâncio caram-se, entre outras, as
lia Luz. Em 1919 foi criado, Krümmel adquiriu imensa famílias Weber, Petry, Boing
por lei estadual, o distrito de gleba de terras no local em e Stoltenberg. A história re-
Adolfo Konder que perten- que está hoje instalado o mu- gistra o nome de Rodolpho
cia ao município de Brusque, nicípio, com o fim de coloni- Pink, imigrante alemão, como
zar a região, denominando a primeiro professor local, en-
124
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

quanto que a mais remota Presidente


assistência religiosa à comu-
nidade era feita pelo Pe. Au- Nereu
gusto Schwirlling.
Território inicialmente co- De acordo com as infor-
nhecido sob o nome de Santa mações disponíveis no site
Luiza, foi com essa mesma oficial da Prefeitura de Presi-
denominação elevado à cate- dente Nereu (2018), a histó-
goria de distrito do município ria do município tem início na
de Brusque, pela Lei Muni- segunda metade da década de
cipal nº. 4, de 15/07/1928. 1920.
Logo em seguida, pela Lei Mu- Os primeiros moradores
nicipal nº. 8, de 21/11/1928, eram caçadores, oriundos de
o distrito mudou sua deno- São Pedro de Alcântara, pri-
minação para Adolfo Konder. meira colônia de imigração
Somente após a Revolução de alemã em Santa Catarina.
1930, por força do Decreto Es- Nesta mesma época, José da
tadual nº. 16, de 29/11/1930, Costa Miranda demarcou a
é que o distrito passou a de- colônia agrícola de Edelber-
nominar-se, definitivamente, to Brasilides de Oliveira e,
Vidal Ramos, cujo nome per- em 1928, Antônio Fernando
dura até os tempos atuais. Jönk fixou-se na região, sendo
A criação do Município considerado oficialmente o
se deu pela Lei Estadual nº primeiro morador. Na década
272, de 03/12/1956, e o novo de 1930, mais de 10 famílias
território passava a consti- de imigrantes italianos e ale-
tuir-se pelo próprio distrito mães formavam a comunida-
e abrangia o distrito de Ita- de, que pertencia à época a
quá (atualmente incorporado Brusque.
ao município de Presidente Em Presidente Nereu ain-
Nereu) e parte do distrito de da é possível encontrar mar-
Botuverá. A instalação oficial cas de seus colonizadores
é datada de 17/02/1957, e o nos hábitos e costumes da
ato contou com a presença de população. E, para preservar
Jorge Lacerda, então governa- e resgatar sua história, a ci-
dor do Estado. Por nomeação, dade tem o Centro Histórico
Jorge Paulo Krieger assumia Expedicionário Dionísio João
as funções de primeiro chefe Comandolli.
do Poder Executivo de Vidal A colônia teve diversos no-
Ramos. mes: Vila D’Alva, Gaspar, Brus-
Igreja Matriz de Presidente Nereu

125
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

que Nova, Santa Rita, Boa tirem em busca de novas es- mente 1940, caracterizou-se
Esperança e Naufrágio, este peranças em novas terras. A pela agricultura de subsistên-
último para lembrar o naufrá- viagem, dura e demorada, era cia, exploração de madeira e
gio de um barco com imigran- feita por pequenos navios a ouro de lavagem.
tes que afundou no rio Ita- vela ou vapor, sem conforto, A segunda fase durou até
jaí-Mirim em que felizmente sem segurança. Chegava-se aproximadamente 1970, e se
todos se salvaram. Mais tarde a levar meses para chegar ao caracterizou pela agricultura
foi criado o distrito de Nilo Brasil. Doenças aconteciam e comercial do fumo, sendo que
Peçanha, pertencente a Vidal se a morte “batesse à porta” o algumas estufas ainda podem
Ramos. mar se tornava o túmulo. ser avistadas pelo interior da
Mas logo o nome mudou Durante a longa viagem, cidade, lembrando tempos de
novamente, dessa vez para amizades se estabeleciam, trabalho duro na colônia, em
Itaquá, que em tupi-guarani amores aconteciam e a can- que a família toda se reunia
significa “local pedregoso”. toria era comum como tribu- para colher as folhas de fumo,
Quando o município foi cria- to à pátria que os imigrantes fazer “as bonecas”, dependurá
do, em 30/12/1961, final- deixavam para trás. Chegando -las para secar com auxílio de
mente recebeu o nome atual, ao Brasil, após o desembar- calor e livre da umidade tão
numa homenagem a Nereu que, dirigiam-se às colônias característica na região, para,
Ramos, o único presidente da de destino. Em Brusque eram finalmente, vender a produ-
República nascido em Santa alojados em Barracões de ção, normalmente para a em-
Catarina. Imigrantes na localidade co- presa Souza Cruz.
nhecida como Águas Claras. A terceira fase, bem re-
Botuverá Depois de autorizados, os cente, caracterizou-se pelo
pioneiros subiam o rio Ita- fortalecimento do segmento
Conforme informações dis- jaí-Mirim com canoas e bal- industrial, especialmente o
poníveis no site oficial da Pre- sas improvisadas, se fixaram setor têxtil e de mineração.
feitura de Botuverá (2018), a nas terras que denominaram Com a chegada das primei-
história do município guarda “Porto Franco” e logo deram ras 33 famílias, em 1876, fun-
relação com o continente eu- início ao desbravamento das dou-se o povoado, denomina-
ropeu. As guerras, as crises matas, construíram seus no- do pelos próprios imigrantes
sociais e econômicas, provo- vos lares e deram início nos de “Porto Franco”, subordina-
caram a emigração de italia- trabalhos da agricultura, que do a Brusque.
nos, principalmente da região se tornou o marco econômico O território pertenceu à
norte, para o Brasil. da população botuveraense antiga Colônia Itajahy-Brus-
A miséria, o desempre- até a atualidade. que e Príncipe Dom Pedro.
go, a propaganda enganosa Ao longo de sua história, Para Botuverá emigraram
das agências de emigração, Botuverá viveu momentos principalmente lombardos
motivaram muitos italianos econômicos distintos: a pri- de Bergamo, Mântua e Tren-
a deixarem sua pátria e par- meira fase, que data de sua tinos.
fundação até aproximada- Não há fontes seguras dos
126
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

nomes dos primeiros imi-


grantes, mas, de acordo com
informações dos mais anti-
gos, descendentes diretos dos
imigrantes, foi possível con-
firmar que entre os pionei-
ros vieram as famílias Bósio,
Bonomini, Pedrini, Molinari,
Tirloni, Aloni, Gianesini, Be-
tinelli, Raimondi, Rampelotti,
Dognini, Morelli, Tomio, Ma-
estri e Comandolli, num total
de 33 famílias.
Cada família procurou um
local para se estabelecer, de-
limitou e formou ali sua pro-
priedade. Outras levas de
imigrantes vieram. Ocupa-
Antigos fornos de cal em Botuverá. Acervo: Rosemari Glatz
ram outras localidades como
Águas Negras, Ribeirão do
Porto Franco, recém-instala- de nº 238, criando os muni-
Ouro e Lageado.
do, recebeu a 24 de julho, a cípios de Botuverá e Guabiru-
Em 14/02/1925, o supe-
visita do Cônsul da Itália Cav. ba, desmembrados do territó-
rintendente municipal de
Caetano Vechietti. rio do município de Brusque.
Brusque, João Schaefer, san-
Em 1945, Porto Franco foi Em 07/05/1962, através da
cionou a Lei n. 26 que criou
elevado à categoria de Dis- Lei nº 821, a Assembleia Le-
o Distrito de Paz de Porto
trito, e como primeiro Inten- gislativa do Estado de Santa
Franco com limites entre o
dente Distrital foi nomeado o Catarina homologou a criação
ribeirão das Águas Negras e a
Sr. Adão Bonomini, que per- dos municípios de Botuverá e
cabeceira do rio Itajaí-Mirim.
maneceu no cargo até 1952. Guabiruba.
Foi primeiro juiz o Sr. João
Quem assumiu como novo In- Em 09/06/1962, foi insta-
Merico e suplentes os Srs.
tendente foi o Sr. Augusto Ân- lado oficialmente o Município
Francisco A. Werner, José Fa-
gelo Maestri, que governou a de Botuverá, sendo consi-
chini e Pedro Colzani; escri-
intendência até maio de 1962. derada como data oficial de
vão o Sr. Humberto Mazzolli
Botuverá foi desmembra- emancipação política e admi-
e subdelegado o Sr. Adamo
da de Brusque em 1962. Em nistrativa. Nesta data assumiu
Bonomini.
28/04/1962, a Câmara Muni- provisoriamente como prefei-
A sede foi elevada à cate-
cipal de Brusque, sob a presi- to o Sr. Zeno Belli, até ser elei-
goria de Vila pela Lei Estadual
dência do Sr. João Batista Mar- to um prefeito efetivo, o que
nº 86 de 31/03/1938. Ainda
tins, sancionou a Resolução aconteceu em 03/10/1962.
em 1925, o Distrito de Paz de
127
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Guabiruba era feito em mutirão, também melhorando. Os barracos pro-


chamada de “pixurum”, com visórios foram sendo substi-
Segundo os relatórios do grupos de homens abrindo as tuídos por casas de madeira
Barão Maximilian von Sch- picadas, os claros na floresta e, em alguns casos, por casas
neeburg, primeiro diretor nativa, derrubando as árvo- feitas com tijolos. Foram tem-
da Colônia Itajahy-Brusque, res, delimitando os lotes e ne- pos difíceis, e só com muita fé
a primeira leva de coloniza- les construindo as primeiras em Deus e união é que as fa-
dores chegou à Colônia no casas provisórias. Eram bar- mílias conseguiram suportar
dia 4 de agosto de 1860 e foi racos de chão batido que ser- aqueles primeiros tempos e
instalada na sede de Brusque. viriam como moradia nos pri- prosperar em terras brasilei-
A partir da segunda leva, em mórdios da colônia, feitos de ras.
19 de agosto daquele mesmo troncos de palmito. Em alguns Quanto à origem do nome
ano, os imigrantes já passa- casos, as frestas das paredes da cidade, é de conhecimento
ram a ser instalados em dire- eram fechadas com barro. público que o nome Guabiru-
ção ao rio Guabiruba, e foi ali As folhas de palmeiras ba foi utilizado, pela primei-
que iniciou a história de Gua- eram trançadas para cober- ra vez, pelo Barão Maxmilian
biruba. tura do barraco e o miolo do von Schneeburg.
A viagem da Alemanha palmito servia para o preparo Outras referências ao
para o Brasil levava em tor- de alimentos com carnes de nome Guabiruba, também
no de três meses. Da barra caça. E assim, de forma comu- escrito como “Gabiroba” ou
do Porto de Itajaí, onde os nitária, os espaços eram pre- “Guabiroba”, são encontradas
imigrantes aportavam, até o parados para que as famílias já nos primeiros mapas da
Barracão dos Imigrantes na dos imigrantes se instalassem Colônia Itajahy-Brusque.
Colônia Itajahy-Brusque, o provisoriamente. Apesar de existirem mais
transporte dos colonizado- Durante o tempo de pre- versões para a origem do
res e seus pertences era feito paração do espaço que rece- nome, assumimos a versão
por embarcações a remo que, beria a família, mulheres e de que a origem do nome
rio acima, durava entre três e crianças ficavam instaladas Guabiruba é uma corruptela
cinco dias. Assim também foi no Barracão dos Imigrantes. do nome da árvore frutífera
com os colonizadores de Gua- Na mata virgem, os coloni- guabiroba, palavra de origem
biruba que, quando chegaram zadores, em famílias, planta- Guarani que significa árvore
à colônia, foram instalados no ram e viveram em plena na- de casca amarga.
Barracão do Imigrantes, que tureza, isolados de tudo e de Planta nativa, a guabiro-
ficava nas proximidades do todos. ba cresce naturalmente tan-
atual Clube de Caça e Tiro de A religiosidade foi funda- to em áreas planas como em
Brusque. mental para manter a união e encostas de morros, aprecia
Quando eles chegavam, a força do povo em inúmeros as proximidades de cursos de
tudo estava por fazer. O tra- momentos de provação e, com água e cresce em abundância
balho de ocupação das terras o passar do tempo, a situação na região. O seu tronco pode
econômica dos imigrantes foi chegar a 15 metros de altura,
128
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casa enxaimel em Guabiruba. Acervo: Rosemari Glatz

e suas frutas são consumíveis. do palmito, é possível que imigrantes se dedicaram à la-
A cidade de Guabiruba é re- também tenham servido de voura e à extração de madei-
pleta de nascentes e cursos alimento para as famílias dos ra, construindo ranchos para
de água, e os pés de guabiro- colonizadores logo após a sua seu abrigo. Muitos trouxeram
ba são facilmente encontra- chegada. E assim a árvore em- sua profissão de origem. Seu
dos, tanto nos vales como nas prestou seu nome à cidade, esforço, empreendedorismo e
encostas dos morros e mon- que, entre a população local, é coragem moldaram uma cida-
tanhas da cidade. chamada carinhosamente de de próspera.
A sua floração acontece “Guaba”. Depois dos primeiros em-
entre agosto e novembro, por De acordo com as infor- preendedores, comércios e
um curto período de tempo, e mações disponíveis no site indústrias têxteis, foi aberto
a maturação dos frutos tam- oficial da Prefeitura de Gua- o caminho para a moderniza-
bém é rápida, ocorre entre biruba (2018), os primeiros ção, com o início das fábricas
15 e 20 dias após a florada. imigrantes alemães, a maioria de malhas, confecções, tin-
Os frutos - doces, amarelos originária de Baden, chegou a turarias e metalurgias, que
e em forma de baga - amadu- partir de agosto de 1860. se deu a partir da década de
receram logo após a chegada Posteriormente chegaram 1970.
dos primeiros imigrantes ale- os italianos, os poloneses e O desenvolvimento propi-
mães e, assim como o miolo os austríacos. Inicialmente os ciou a vinda de novas famí-
129
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

lias, culturas e tradições, que REFERÊNCIAS


escolheram o município para
construírem seu lar. BOTUVERÁ. História do
A cidade está distribuída Município. Disponível em:<
em uma área de 195 km² e http://www.botuvera.sc.gov.
situa-se no Vale do Itajaí-Mi- br/historia-do-municipio/ >.
rim. A sede do município fica Acesso em 24 setembro 2018.
a uma altitude de 21 metros BUGGENHAGEN, E. A. von.
acima do nível do mar e a ci- História Econômica do Muni-
dade limita-se ao norte, com cípio de Brusque e a obra do
Gaspar e Blumenau; ao sul e Cônsul Carlos Renaux. [SI].
a oeste com Botuverá e a leste Brusque, 1941. Não publicado.
com Brusque. GUABIRUBA. Histórico. Dis-
Guabiruba foi desmem- ponível em:< https://www.
brada de Brusque em 1962. guabiruba.sc.gov.br/cms/pagi-
A criação do município ocor- na/ver/codMapaItem/15252
reu a partir da Resolução nº >. Acesso em 24 setembro
238, de 28/04/1962, aprova- 2018.
da pela Câmara Municipal de PRESIDENTE NEREU. Histó-
Brusque, com o voto minerva ria da Cidade. Disponível em:<
do seu presidente, João Ba- https://www.presidentenereu.
tista Martins. Encaminhada sc.gov.br/cms/pagina/ver/
para Assembleia Legislativa codMapaItem/61431>. Acesso
pelo deputado estadual Raul em 24 setembro 2018.
Schaefer, os termos da reso- VIDAL RAMOS. História.
lução foram ratificados pela Disponível em:< https://www.
Assembleia Legislativa, me- prefeituravidalramos.com.br/
diante a promulgação da Lei cms/pagina/ver/codMapaI-
n° 821, de 7/05/1962. tem/20729>. Acesso em 24 se-
Em 10/06/1962 foi rea- tembro 2018.
lizada, em sessão solene, a NOVA TRENTO. Histó-
instalação oficial do Muni- ria. Disponível em:< https://
cípio de Guabiruba, sendo www.novatrento.sc.gov.br/
considerada como data ofi- cms/pagina/ver/codMapaI-
cial de emancipação política tem/37323>. Acesso em 24 se-
e administrativa. Nesta data tembro 2018.
Henrique Dirschnabel tomou Um Pouco de História do
posse como prefeito, tendo Município de Vidal Ramos.
Igreja Nossa Senhora da
Imaculada Conceição,
permanecido no cargo até Blumenau em Cadernos, Tomo
Lageado Alto, Guabiruba. 30/01/1963.  XXXVI. Nº 4. Abril de 1995.
130
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Vista do centro de Brusque nas primeiras décadas do século XX. Acervo: SAB

A evolução econômica
da Colônia
O comércio subsistência nas proprieda- recreativa e a educacional.
des dos agricultores, como Inicialmente, as vendas se
Na área colonial, o comér- sal, ferramentas, tecidos e ar- instalavam junto à adminis-
cio constituiu-se em mono- mas. Nos primeiros anos da tração da colônia e ao porto
pólio de um pequeno grupo Colônia Brusque, o sistema de fluvial, que dispunha de um
de pessoas estabelecidas na vendas estava ligado ao tipo trapiche de pedras, mastro
sede da vila, a “Stadtplatz”: de povoamento da área co- de madeira e guincho, e ficava
eram os vendeiros, isto é, os lonial. Implantado o núcleo, nas cabeceiras da ponte Iri-
proprietários de casas co- seu desenvolvimento era ba- neu Bornhausen (atual ponte
merciais, das “vendas”, onde lizado, como nas demais co- estaiada). Ali aportavam os
os colonos vendiam ou troca- lônias alemãs, pela fixação de barcos, as canoas, e lanchas
vam sua mercadoria por pro- um eixo comercial, a partir do que visavam o abastecimento
dutos da cidade que não eram qual se subordinavam outras da população que se fixava na
produzidos pela economia de funções, como a religiosa, a Colônia Itajahy-Brusque, ou
131
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

a saída dos produtos para o gos de estimação que facili- absolutos dos meios econô-
porto marítimo, em Itajaí. tam e embelezam a luta pela micos com que imprimiam
Os colonos se dirigiam à existência. O colono, superes- um cunho pessoal à vida em
vila para participar das festas timando o que encontra na sua zona de influência. Co-
e atividades religiosas, para venda, é incapaz de atribuir- nhecendo as necessidades
tratar de problemas legais, lhe justo valor em compara- de sua freguesia, o vendeiro
dentre outros. Mas, principal- ção ao de seus produtos na- procurava satisfazê-las, indo
mente, para trocar ou vender turais. É a psicologia da terra buscar as mercadorias nos
a produção excedente das bravia que decide; apaga-se a mais distantes centros pro-
suas colônias, pois era na Sta- noção do preço. O colono en- dutores e colocando nestes o
dtplatz que estavam a princi- trega ao vendeiro boa parte que sobejava na colônia. Essa
pais vendas, as “Kaufläden”. da abundância de produtos tarefa de intermediário, que à
Era lá que se realizavam as agrícolas; o vendeiro dá-lhe primeira vista parece tão fá-
maiores transações comer- em paga um pouco do pouco cil, exige um perfeito conheci-
ciais. A fertilidade da roça e a que tem na venda. Parafra- mento das praxes comerciais
viva atividade da venda carac- seando, com algum exagero, e mesmo um talento especial,
terizaram o sistema inicial, de o rifão, pode-se dizer que o tanto que só pouquíssimos
onde nasceu o progresso da colono “compra a ferradura, colonos conseguiram fazer os
nova comunidade colonial. pagando com o cavalo”. primeiros ensaios neste ramo
A lavoura e a venda, é preci- Os vendeiros eram conhe- de atividade.
so que se combinem em uma cedores do ramo a que se No terceiro ano após a fun-
unidade orgânica. dedicavam, e muitos deles dação, já se contavam quatro
A figura do vendeiro na se fizeram dignos da grati- casas comerciais na Colônia
mata virgem é, apesar de dão e da estima dos colonos. Itajahy-Brusque. Duas per-
tudo, a personificação das es- Além disso, eram eles os re- tenciam a imigrantes alemães
peranças do colono, e, indubi- presentantes do capital, o que haviam entrado na área
tavelmente, o facheiro da ci- que vale dizer que gozavam como colonos: a Hospedaria
vilização. Para Buggenhagen de uma posição privilegiada e Negócio de Philippe Krieger
(1941), é ele quem fazia che- entre aqueles que, dispondo e a Loja de P. Heil. Uma ter-
gar ao alcance do colono os apenas de valores materiais, ceira venda, que não funcio-
produtos da indústria moder- não tinham noção exata do nou muito tempo, pertencia
na: a pá, a enxada, o machado, capital. Eram os vendeiros a um brasileiro: J.P. Libera-
os pregos, a corda, a louça, a quem orientava as atividades to, de Itajaí. Giralda Seyferth
carne-seca, o bacalhau, o sal, agrícolas isoladas no sentido (1974) informa que, confor-
o toucinho, a farinha, a azei- de adaptá-las às necessida- me relatório do ano de 1862
tona, o queijo, o fumo, os pro- des da economia geral. Eram do Barão Maximilian von Sch-
dutos químicos, o chumbo, a eles quem encomendava as neeburg, a última das quatro
pólvora, etc. Esses artigos, no culturas mais vantajosas e, casas comerciais era a filial
mato virgem, não são simples estabelecendo os preços dos da firma La Roche & Cia. que
mercadorias; são antes arti- produtos, se faziam senhores também não durou muito
132
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O colono produzia para o consumo da sua família e também para a venda e, por isto, es-
tava sujeito ao controle exercido através dos vendeiros. O agricultor cultivava basicamente
milho, aipim, feijão, arroz, cana-de-açúcar, fumo e batata, deixava na venda o excedente da
produção agrícola e levava sal, toucinho, ferramentas, óleo, tecidos e armas. Era de menor
importância a cultura de verduras e frutas, embora a boa horta completasse o bem-estar do
colono. As hortaliças preferidas eram: o repolho, a couve, a alface, o chuchu, pepinos, cenou-
ras, o nabo, a couve-flor, a raiz-forte, diversas espécies de feijão, a couve-roxa e tomates. As
frutas mais cultivadas eram: a banana, a laranja, o abacaxi, a tangerina, o pêssego, o limão, a
goiaba, o caqui, a carambola, a jabuticaba, o morango, a melancia, o figo e outras. Culturas de
menor importância eram as de amendoim e de diversas espécies de ervilhas. As pastagens
que ocupavam apenas pequena parte do respectivo lote estavam cobertas de gramíneas.
Preferia-se o capim gordura para terrenos secos, o capim branco para os pastos planos, e di-
versas espécies de grama para as pastagens situadas em terras montanhosas. Para preparar
as terras de plantio, usava-se, em geral, o arado, embora seu emprego encontrasse grandes
dificuldades nos declives. Em combinação com o arado fazia-se uso da carpideira (capina-
dor) e da grade. Onde o terreno não podia ser lavrado com o arado e, sobretudo, nas partes
montanhosas, trabalhava-se com a enxada. À variedade de culturas correspondia uma va-
riedade de criações, como a de gado cavalar, gado vacum e de aves. A criação de ovelhas era
incomum. O colono também produzia vinhos de uva e laranja. Abundavam peixes no rio e
ribeirões, os quais supriam as famílias com carnes, ao lado da produção de aves domésticas
e suínos, o que fazia que os colonos negociassem com os vendeiros apenas aqueles itens que
não conseguiam produzir. Mas se a policultura garantia em boa parte a independência do
colono, a área limitada de seu lote não deixava de obrigá-lo a produzir para o mercado, e a
venda era o local onde as transações comerciais se realizavam: as trocas aconteciam entre
uma pessoa que detinha nas mãos os mecanismos que regulam as transações, o vendeiro, e
os proprietários dos lotes coloniais, o agricultor.

Horta de família de imigrante no interior da Colônia. Acervo: Rosemari Glatz

133
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

tempo. Alguns anos depois, as Deus e o mundo, o vendeiro para levar seus produtos até
vendas mais importantes da impunha-lhes o seu modo de as vendas. O pombeiro quase
vila achavam-se nas mãos de pensar, juntamente com os sempre era um colono que,
imigrantes alemães. De acor- seus preços. Foi assim duran- em determinados dias do
do com Buggenhagen (1941), te anos e anos. mês, recolhia com sua carro-
um dos primeiros vendeiros Também existiam os pe- ça as mercadorias que os seus
de Brusque chamava-se Mota. quenos vendeiros do interior vizinhos podiam dispor para
Era um homem de boa índole, da colônia, conhecidos entre venda. Essas mercadorias
pouco ativo, porém, no ter- os imigrantes como “Hinter- eram trocadas ou vendidas
reno comercial. Os vendei- land”. Eram vendas peque- na “Stadtplatz” aos vendei-
ros propriamente ditos, isto nas, de importância secun- ros, ou de casa em casa para
é, aqueles que consideravam dária, que se localizavam nos os fregueses e, assim como os
seu dever explorar todas as entroncamentos de picadas donos das “Kaufläden” ou das
possibilidades que se lhes e tinham características de “Hinterland”, o “pombeiro” fi-
ofereciam, aproveitando-as entreposto de trocas, pois cava com os possíveis lucros
plena e conscientemente, es- na prática estes vendeiros dessas transações.
ses surgiram mais tarde e jus- - que também eram colonos A jovem Colônia Itajahy
tamente quando a capacida- e tinham como atividade su- -Brusque começou a florescer
de produtora da colônia era plementar, na sua residência, desde os seus primeiros dias,
questão resolvida. Sobressa- uma pequena venda - eram porque os dois fatores do pro-
em entre todas as vendas as intermediários dos vendei- gresso – lavoura e venda - se
de Krieger, Bauer, Buettner e ros da “Stadtplatz”. Nela se reuniram em perfeita harmo-
Willerding; esta última, que encontravam alguns produ- nia, criando, assim, a base se-
era apenas uma filial, passou tos de primeira necessidade, gura do bem-estar comunal.
às mãos de Carlos Renaux em como alimentos e pequenas A participação dos vendeiros
1886. ferramentas. O nível de tran- era muito importante na eco-
Era considerável o movi- sação comercial nessas ven- nomia da novel Colônia Ita-
mento de mercadorias entre das era muito baixo, e os esto- jahy-Brusque. Eles exporta-
a colônia e a venda. Dia após ques bastante reduzidos. vam madeira serrada, açúcar,
dia as carroças puxadas por Seyferth (1974) menciona farinha de mandioca, fumo
cavalos passavam rangendo ainda que havia um terceiro em folha e charutos. A aguar-
ou levando as mercadorias da elemento: o intermediário, dente, o arroz, a manteiga e
venda, um verdadeiro entre- chamado “pombeiro”, que fa- a banha também integravam
posto dos produtos da lavou- zia circular mercadorias en- o rol das exportações. Eram
ra e das mercadorias. As ven- tre os colonos e os vendeiros. importados ferragens, panos,
das eram, ao mesmo tempo, Muitos colonos, instalados vidros, louças, cimento, sal e
uma espécie de bolsa. Toman- em linhas coloniais distan- outros utensílios de uso do-
do café e comendo doces, os tes da vila, como Sternthal, méstico e de recreio. A econo-
colonos trocavam suas ideias, Holstein e Hochebene (Gua- mia encontrava-se alicerçada
e na conversa comum sobre biruba), tinham dificuldades nos engenhos de açúcar, de fa-
134
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

rinha de mandioca e de serrar vavelmente ao todo), uma fá- a pique, cobertas de folhas de
madeira. Além das destilarias brica de vinagre, dois hotéis, sapé; casas mais sólidas de
de aguardente, das atafonas, quatro casas de negócio, além uma vez ou outra armação
das fábricas de charutos, das de um serviço de viação flu- de madeira e enchimento de
olarias e das fábricas de cer- vial, contando com 15 canoas tijolo.
veja. E, assim, as transações e cinco lanchas para passa- Conseguira a colônia refa-
comerciais na colônia desde gens e transportes no Itajaí- zer-se, em pouco tempo, das
a sua fundação até a primei- Mirim. misérias dos primeiros anos.
ra década do século XX foram Com os novos imigrantes Os resultados obtidos com a
controladas pelos principais chegando, no decorrer dos colonização de Brusque eram
comerciantes de Brusque, e, anos, havia pessoas que, em bem animadores. A dualida-
entre os vendeiros de desta- vez de se dedicarem à lavou- de: colônia e venda, por pro-
que no final do século XIX e ra, preferiram exercer o ofício blemática que fosse durante
início do século XX, vamos en- que haviam aprendido. Em os decênios passados, não
contrar os Bauer, os Buettner, 1863 havia em Brusque: três deixou, com todas suas im-
os Krieger e os Renaux, den- ferreiros, dois marceneiros, perfeições, de produzir óti-
tre outros. dois padeiros, três moleiros, mos resultados. Foi ela que
dois construtores de carros, criou primeiro a abastança na
A indústria dois serradores, dois charu- colônia que assentou as bases
teiros, dois pedreiros, um jar- para o desenvolvimento da
Buggenhagen (1941) con- dineiro e um carniceiro. É de indústria.
ta que, a par dos bons resul- ver que já se notava alguma Foi só nos dois últimos
tados da lavoura, foi se desen- atividade industrial que com- decênios do século XIX, que
volvendo a respetiva pequena pensava os esforços dos que a a economia de Brusque atin-
indústria, embora em escala exerciam. giu um grau de adiantamen-
modesta. Assim, existiam já Assinala-se, até, para o to que permitia a criação de
em 1862 três engenhos para ano de 1863, uma exporta- uma indústria. Era indispen-
beneficiamento de milho, ção de 812 arrobas de fumo sável para tanto a existência
quatro engenhos de açúcar e e 48.000 charutos. As recei- de capital e de braços. O que
os de farinha, estes últimos tas provenientes das vendas era preciso havia-o, na Brus-
movidos à força de bois. Ha- começaram a cobrir a custo que de então, em modesta
via também alguns engenhos das mercadorias que vinham escala. Os vendeiros tinham
para beneficiamento de arroz. de fora: gêneros alimentícios, feito bons negócios, chegando
Abriram-se, ainda, outras em- ferragens, tecidos, louças, etc. a fazer algumas economias.
presas para acorrer às neces- Ao que se deduz das estatís- A população da colônia tinha
sidades gerais de população. ticas, a economia foi se de- aumentado o bastante. Nem
Existiam, já então, quatro cer- senvolvendo gradativamente; todos os imigrados que se
vejarias, com uma produção por toda parte foram surgin- haviam inicialmente dedica-
anual de 4.000 garrafas (pro- do novas casas, substituindo do à lavoura desejam conti-
as pobres construções de pau nuar nessa ocupação. Se lhes
135
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

João Bauer:
figura típica da época de transição
de predomínio da venda para o da indústria
Com os lucros tirados da colônia, os ven- buas que excediam o consumo local eram ata-
deiros conseguiram as somas necessárias das e amarradas em forma de jangada, sendo
para iniciar as indústrias. Dotados de ativida- conduzidas pelo rio Itajaí-Mirim abaixo, até
de comercial, conceberam novos projetos que a cidade de Itajaí, onde eram embarcadas
iam além dos moldes da venda. Começando para Santos ou Rio de Janeiro. O comércio de
pelas pequenas indústrias de beneficiamento madeiras ocupava um lugar especial na vida
dos produtos agrários, passaram para outras econômica, visto que o exercício do mesmo
maiores que aniquilaram por completo a in- pressupõe uma extraordinária mobilidade e
fluência da colônia e da venda. O representan- capacidade de adaptação.
te típico dessa época de transição é o Sr. João O comerciante de madeiras encontra-se
Bauer, que deu provas de extraordinária ativi- frequentemente, no exercício de sua profis-
dade em vários ensaios. são, diante de problemas tão complicados
No começo da colonização, trabalhou, ini- como raras vezes aparecem em outros ra-
cialmente, a 14 vinténs por dia, na constru- mos comerciais. Para vencer os obstáculos
ção de estradas. Tendo feito suas economias, do transporte desde o ponto de origem até o
abriu uma venda que ele dirigia, valentemen- mercado, é indispensável que o comerciante
te secundado por sua mulher. João Bauer era saiba encontrar continuamente novas solu-
vendeiro, mas toda a sua dedicação pertencia ções para as novas dificuldades que vêm sur-
ao comércio de madeiras. No último decênio gindo. Parece-nos bem provável fosse essa ca-
do século XIX, começou a desenvolver esse pacidade de adaptação multiforme que levou
ramo em uma escala bastante vasta em re- João Bauer a conceber muitos projetos que se
lação às condições do núcleo. Por toda parte afastavam bastante de seu raio de ação.
ainda havia ricas existências de madeiras em Bauer participou na navegação, manten-
rolos e das mais variadas qualidades, sobre- do com vários sócios um serviço de lanchas
tudo madeiras de lei. Havia abundância de no rio Itajaí-Mirim, onde ele dominava os
canela, peroba, de cedro e imbuia; menores transportes. Quando lhe surgiram, em Itajaí,
quantidades de cambará e óleo, e, raramente, dificuldades no transporte de madeiras para
pinho, cujo hábitat propriamente dito é o pla- o Rio de Janeiro, adquiriu, em Hamburgo, da
nalto de Santa Catarina. firma Augusto de Freitas, um vapor cargueiro
Bauer explorou as existências que, de outra de 600 toneladas, que então, fazia o transpor-
forma, seriam destruídas inutilmente na quei- te de madeiras para o Rio de Janeiro, trazendo
ma das roças. Mandou, para esse fim, instalar de lá mercadorias para a colônia. Mais tarde,
umas vinte serras alternativas, usando o siste- o vapor foi substituído por um veleiro de igual
ma Tissot para o desdobro de toras, na forma tonelagem. Outro grande projeto que chegou
de madeira serrada, e concedendo os respec- a realizar-se, foi o da montagem de uma usi-
tivos créditos aos colonos interessados. As tá- na elétrica, plano este que prova, pela execu-
136
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ção, quão profunda era a compreensão de Sr. econômicas de Brusque e dos municípios
Bauer diante das necessidades que vinham se vizinhos. Algumas de suas concepções fo-
impondo, cabendo-lhe o mérito de iniciador ram produtivas, sendo realizadas por outros;
da eletrificação das fábricas e da iluminação umas poucas ele mesmo pôde executar com
de Brusque, que lhe devem também, e em boa sucesso. João Bauer é a figura típica da época
parte, abastecimento de água encanada. de transição de predomínio da venda para o
Esses empreendimentos desenvolveram- da indústria. Não conseguiu criar uma indús-
se satisfatoriamente; em vários outros João tria, mas foi inalcançável em suas tentativas
Bauer foi menos feliz. Em 1900, fundou, em de encontrar novas soluções para o problema
Itajaí, uma cervejaria que fabricava cerveja industrial.
de alta fermentação. O produto, porém, não A tarefa de realizar a transição coube a
correspondeu às expectativas, e a fábrica teve Carlos Renaux, que, em 1890, era proprietá-
de fechar. As jazidas de mármore em Cambo- rio de uma venda que ocupava o quarto lu-
riú, que hoje estão sendo exploradas, foram gar na sede do município. E essa evolução do
descobertas por João Bauer, faltando-lhe, en- município para uma forma mais aperfeiçoada
tretanto, o capital para realizar os planos res- de sua existência – convêm sublinhar o fato
petivos. Foi ele também o autor intelectual da – não seria possível, se o sistema da colônia
fabricação de féculas no município de Brus- e da venda não tivesse assentado as bases
que. E em 1913 encomendara, na Alemanha, (BUGGENHAGEN, 1941). E não seria exagero
o maquinário necessário para a fabricação. A afirmar que João Bauer reunia as principais
Guerra Mundial impediu a execução do pro- características de um empreendedor de su-
jeto. A vida de João Bauer caracteriza-se pela cesso: iniciativa, capacidade de planejamen-
atividade interrupta. Viajando muito, adqui- to, autoconfiança, liderança, perseverança e
rira profundo conhecimento das condições resiliência.

Usina de energia elétri-


ca instalada por João
Bauer (de terno preto)
em Guabiruba impulsi-
nou a indústria têxtil de
Brusque. Acervo: SAB

137
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

oferecia uma oportunidade, A indústria imagens congeladas pelos re-


muitos estavam prontos a tratos fotográficos é possível
abandonar o trabalho na roça. da moda conhecer um pouco da moda
Havia, pois, o que era impres- de cada período e foi a par-
cindível para dar início a uma A evolução econômica de tir de fotografias das famílias
nova etapa econômica. Brus- Brusque não passou só pela brusquenses que Betta fez um
que, tendo começado como atividade agrícola, pela rela- comparativo com o vestuário
colônia estatal, teve maiores ção entre os colonos e os ven- em voga ilustrado em revistas
dificuldades para se desen- deiros e pela indústria têxtil, e a moda que esteve presente
volver economicamente do também existem outros ele- na Colônia Itajahy-Brusque já
que a vizinha Blumenau, uma mentos que se fizeram pre- nos primeiros tempos. E cons-
colônia particular. Mas os da- sentes. Um deles é a chamada tatou que não apenas as mu-
dos indicam que, tanto aqui “Indústria da Moda”. A histo- lheres e as crianças, mas tam-
quanto lá, os comerciantes de riadora Edineia Pereira da Sil- bém os homens em Brusque
maior porte eram imigrantes va Betta (2013), ao escrever tinham cuidado com o visual.
alemães, principalmente os sobre a história da moda, diz Estavam sempre alinhados
luteranos, e foram eles que que entre revistas e retratos, e sérios já que, no período,
assentaram as bases para o a moda permeava Brusque a atenção se voltava para as
desenvolvimento da indústria no século XIX. Segundo ela, mulheres. A moda para os ho-
têxtil. o constante contato com a mens estava atrelada ao com-
E, dada a relevância histó- Europa colocou a cidade em portamento. O século XIX foi
rica da indústria têxtil para a situação privilegiada. Diver- o período de ascensão para a
economia de Brusque, o tema sos produtos tinham que ser burguesia, que se destacava,
é abordado em capítulo pró- importados. Entre eles, as fa- uma vez que mais e mais pes-
prio. Brusque vivia um mo- zendas, como eram chamados soas se dedicavam ao comér-
mento de superação de uma os tecidos e os aviamentos, cio e às fábricas.
atividade econômica exclusi- que vinham acompanhados Entre os colonos e diversas
vamente rural. de cartões postais, revistas de profissões, eram os vendei-
Como bem afirmou o gran- moda e cartas. O que permitia ros os mais bem-sucedidos
de estudioso João José Leal que os modelos confecciona- na Colônia, foram os grandes
(2012), “aos poucos, as mãos dos na Colônia se aproximas- responsáveis pela economia
calejadas dos colonos aban- sem daqueles que, no perí- e pela transição da Brusque
donaram o machado, a en- odo, estavam fazendo moda agrícola para a Brusque in-
xada, a pá, a foice, para lidar na Europa. A moda é efême- dustrial. No final do século
com espulas e lançadeiras e ra. Nasce, vive rapidamente, XIX, quando começamos a ter
produzir o tecido, novo sím- dá frutos de beleza e morre. as indústrias têxteis, as ven-
bolo da riqueza desta comu- Betta conseguiu identificar das que mais se destacavam
nidade, emergindo no contex- diversos elementos presentes eram os Krieger, os Buettner,
to catarinense como o <berço na moda europeia nos trajes os Bauer e os Renaux, e via-
da fiação>”. dos brusquenses. Por meio de gens para a Europa era uma
138
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

realidade entre os comer- os empreendimentos Renaux


ciantes mais abastados e suas e visitar a família, contratava
famílias. Essas eram oportu- os serviços profissionais de
nidades para, além de visitar Gustavo Krieger para confec-
parentes, também participar cionar seus elegantes ternos.
de feiras, exposições e tratar Na Exposição Nacional, re-
de negócios. E, na volta, tra- alizada no Rio de Janeiro em
zer novas ideias para desen- 1908, Brusque foi destaque
volver a indústria e o comér- com seus tecidos de algodão,
cio brusquenses. meias, rendas e bordados e
No que se refere à indús- outros produtos, conquis-
tria do vestuário em Brusque, tando três grandes prêmios,
destaca-se o pioneirismo da 13 medalhas de ouro, 14 de
Alfaiataria Krieger, fundada prata e 14 de bronze (Kons,
em 1898, que iniciou sob a 2018). Já em meados do sé-
denominação de Alfaiataria culo XX, outro elemento de
Elegante e, com o passar do destaque eram as máquinas
tempo, se tornou uma co- de costura, verdadeiro obje-
nhecida confecção. O empre- to de desejo das mulheres.
endimento foi uma iniciativa Betta (2013) escreve que a
de Gustavo Krieger que, de- moda brusquense estava em
pois de aprender a profissão comum acordo com a moda
em Florianópolis, começa a apresentada no país. Além de
trabalhar como profissional, importantes revistas, a cida-
abrindo o seu próprio negó- de promovia cursos de moda
cio em Brusque. Na alfaiataria às mulheres, como os cursos
eram desenvolvidos ternos de corte e costura, que ofere-
sob medida e Gustavo Krie- ciam as ferramentas necessá-
ger se tornou conhecido pela rias para a confecção do pró-
perfeição na confecção de prio vestuário. Ao longo da
ternos. Ele se inspirava em história, dos corredores das
figurinos europeus e a fama fábricas, os tecidos foram às
da qualidade dos seus servi- passarelas da moda. Depois
ços era tamanha que Carlos vieram as feiras exclusivas
Renaux, mesmo no tempo em para o setor têxtil e a Festa
que era Cônsul do Brasil em do Tecido, que também mo-
Baden-Baden, em que tinha à bilizavam a cidade com des-
disposição o serviço de alfaia- files de moda. Novo impulso
tes europeus, quando vinha desenvolvimentista deu-se
Desfile de moda em Brusque. Acervo: SAB a Brusque para acompanhar a partir de 1980, através da
139
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

implantação da indústria de rado em 1º/08/1971, pelo recebendo melhorias, via-


malhas, quando inúmeras presidente da Fiesc, Carlos bilizando cada vez mais o
empresas do ramo de confec- Cid Renaux. transporte rodoviário, que
ções se instalaram em Brus- na década de 1930 já contava
que, provocando verdadeira Desenvolvimento com linhas regulares de cami-
revolução econômica, à medi- nhões e ônibus.
da que dezenas de operários econômico e meios Entre os meios de trans-
têxteis passaram à condição de transporte porte do incipiente núcleo
de empresários, descentrali- urbano, continua Engel, o
zando a renda. Nos primeiros anos, o predomínio era das carroças
Kons (2018) conta que, transporte na nascente Co- e dos carros de mola, pela via
após a Primeira Guerra Mun- lônia Itajahy-Brusque se dá terrestre, e das lanchas, atra-
dial, dois fatores conjunturais pelos rios e ribeirões. O co- vés do rio. Os raros automó-
favoreceram o processo in- mércio, representado pelas veis pertenciam aos membros
dustrial de Brusque: a ques- vendas, se instalava junto à da elite econômica. No tempo
tão da inflação brasileira e administração da colônia e ao da Brusque agrícola, os meios
a liberação da demanda, no porto fluvial. de transporte se resumiam às
mercado mundial, de produ- Ali aportavam os barcos, as carroças e aos carros de mola,
tos que haviam sofrido retra- canoas e lanchas que visavam pela via terrestre, e às lan-
ção no consumo, motivada o abastecimento da popula- chas, através do rio.
pela abrangência da guerra. ção que se fixava na Colônia À medida que, impulsio-
E assim, em 27/04/1925, foi Itajahy-Brusque, ou a saída nada pelas características da
fundada a empresa Indústrias dos produtos para o por- mentalidade do colonizador
Renaux S.A. (na atualidade to marítimo, em Itajaí, bem alemão luterano “protestan-
RenauxView), numa iniciativa como o transporte de pes- te, espírito empresarial, co-
de Otto Renaux, Otto Nietsch soas. Aos poucos vão sendo nhecimento técnico, pionei-
e outros sócios e, até o final abertas picadas e construídas rismo. (...), cuja mentalidade
da década de 1960, a empresa as estradas, e o transporte já se relaciona com a entrada
foi uma das principais forne- começa a ser feito também no capitalismo industrial na
cedoras nacionais de tecidos com carroças e aranhas (uma Alemanha” (SOUTO, 2000, ci-
para estofamentos, cortinas, espécie de carroça, com ape- tado por Engel, 2010, p. 82), a
toalhas de mesa e outras nas duas rodas, puxada por cidade deixa de ser agrícola e
aplicações domésticas. Outra um cavalo), mas o transporte passa para a fase industrial, e
iniciativa que teve grande im- pelo rio, embora com menor então vamos presenciar tam-
portância na transformação intensidade, continua sendo bém a evolução no sistema
da indústria têxtil de Brusque usado até 1922. de transporte. E os teares que
e região foi o Centro de Trei- O ilustre pesquisador Ri- ergueram e sustentaram o
namento Têxtil de Brusque, cardo José Engel (2010) in- desenvolvimento de Brusque,
com o Laboratório de Fiação forma que, aos poucos, as também vão se refletir no
e Tecelagem – Lafite, inaugu- estradas de rodagem iam desenvolvimento econômico
140
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

150 empregados. Buettner:


60 empregados. Tietzmann:
30 empregados. E o relatório
de gestão referente ao exer-
cício de 1919 dá conta que a
população era de 10.800 ha-
bitantes e a viação era assim
distribuída: Veículos: 3 auto-
móveis; Carroças: 357 par-
ticulares, puxadas por 2 ou
4 animais, 44 comerciais, 13
carretões, 14 carros de mola
de aluguel, 29 carros de mola
particulares, 7 bicicletas, 2
aranhas e 4 lanchas peruas.
Nas primeiras décadas do
século XX da história do povo
brusquense, a bicicleta cons-
tituía um artigo de luxo, con-
siderando que para adquirir
As primeiras bicicletas de Brusque eram um luxo uma, era necessário ter um
caro, sinônimo de status. Acervo: SAB bom dinheiro. Todas eram
das famílias. aluguel, um automóvel parti- importadas, principalmente
A partir de 1910, Brusque cular (pertencente a Augusto da Alemanha. Por essa razão,
começa a receber bicicletas, Bauer, filho do grande ven- as primeiras bicicletas a des-
originárias da Alemanha e da deiro João Bauer, casado com filar pelas ruas de Brusque
Itália, o que se justifica em a filha do grande industrial pertenciam às famílias de me-
face da origem dos imigrantes Carlos Renaux), um carro de lhor renda ou posse, tendo lu-
colonizadores da nossa re- aluguel (Guilherme Niebuhr: gar de destaque uma vez que
gião. E a chegada das primei- linha Brusque-Florianópolis), sinalizam a condição de abas-
ras bicicletas guarda estreita e oito exemplares de bicicleta. tança na vida social. Pedalar
relação com o processo de À medida que a indústria era sinônimo de status privi-
desenvolvimento da cidade. ia impactando no desenvol- legiado, um luxo caro, mate-
No início, ter uma bici- vimento econômico de Brus- rializando um privilégio para
cleta era o equivalente a ter que, também iam melhorando o cidadão brusquense.
um carro de luxo e, em 1915, as condições de transporte. E, à medida que a cidade
Brusque tinha cerca de dez Engel (2010) escreve que, crescia, tanto em termos de
bicicletas. Em 1917 podiam em 1919, o número de ope- desenvolvimento econômico
ser contados 18 carros de rários das principais fábri- quanto populacional, o núme-
mola particulares e seis de cas era o seguinte: Renaux: ro de bicicletas apresentava
141
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

maior expressão, mas ainda davia, nas décadas seguintes, REFERÊNCIAS


estava longe de ser o princi- finaliza Engel.
pal meio de transporte da ci- BETTA, Edineia Pereira da
dade. Mas logo se tornou um O início Silva (organizadora). Frag-
destacado meio de transpor-
te, utilizado, inclusive, pelos da indústria mentos da História da Moda e
do Têxtil em Brusque. Edito-
proprietários das indústrias metalúrgica ra Município Dia a Dia, 2013.
têxteis, um deles é o indus- BUGGENHAGEN, E. A. von.
trial Otto Renaux (filho mais Concomitante ao desenvol- História Econômica no Muni-
velho de Carlos Renaux), que vimento econômico impulsio- cípio de Brusque e a obra do
saía de casa para trabalhar, no nado pelo segmento têxtil, a Cônsul Carlos Renaux. [SI].
centro de Brusque, às 4h30 ampliação do panorama in- Brusque, 1941. Não publica-
da manhã e ia de bicicleta até dustrial de Brusque se dá a
do.
a fábrica, na rua Pomerânia partir dos anos 60, com a in-
ENGEL. Ricardo José. Pe-
(atual rua 1º de maio). serção do setor metalúrgico
dalando pelo tempo: história
A partir da Segunda Guer- na economia local.
da bicicleta em Brusque. Ita-
ra Mundial, no aspecto eco- De acordo com o historia-
jaí: S&T Editores. 2010.
nômico Brusque passa a ser dor Kons (2018), graças à ex-
KONS, Paulo Vendelino.
marcada efetivamente pela periência adquirida no ramo
Síntese história econômica
predominância das ativida- têxtil em função da proibição
à importação de maquinário de Brusque. Disponível em:<
des industriais sobre as ati- https://rc.am.br/homes/
vidades agrícolas. As indús- durante a guerra, fazendo
com que se desenvolvessem page_noticia/id_45839/>.
trias se expandem, o número Acesso em 9 setembro 2018.
soluções locais para o conser-
de empregos aumenta, e o LEAL, João José. Inaugura-
to das peças faltantes, e até
povo precisava de um meio ção da Primeira Ponte sobre
mesmo a criar maquinários,
de transporte barato, resis- o Rio Itajaí-Mirim: Crônica
inaugurando um novo e prós-
tente e econômico para se sobre um Fato que Marcou
pero ramo dentro da indús-
deslocar até o trabalho. A bi- a Vida Econômica, Política e
tria brusquense. Instalam-se
cicleta desponta como uma Social de Brusque. Notícias
em nossa cidade as metalúr-
solução possível. Aumentou o gicas Siemsen, Brusque, Ir- de Vicente Só. Ano 12, nº 59.
consumo de bicicletas. Se an- mãos Fischer, e outras. A Ir- 2012.
tes somente as famílias ricas mãos Zen, fundada em São SEYFERTH, Giralda. A co-
tinham acesso às bicicletas, Paulo em 1960, transferiu-se lonização alemã no vale do
agora também as classes as- para Brusque em meados da Itajaí-Mirim. Um estudo de
salariadas haviam adquirido década de 1970. O ramo me- desenvolvimento econômi-
poder de compra e andar de talúrgico atua na área auto- co. Editora Movimento. Porto
bicicleta passa a ser um tra- mobilística, eletrodoméstica, Alegre. 1974.
ço permanente da mobilida- construção civil, máquinas de
de brusquense nos anos de processamento gerais, fundi-
1950-1960, esvaindo-se, to- ção e serralheria.
142
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Carlos Renaux com a esposa Selma Wagner e os filhos do casal. Acervo: Rosemari Glatz

A indústria têxtil em Brusque


Brusque é conhecida como Brusque umas serrarias ins- provinha da roça. Não eram
“Berço da Fiação Catarinen- taladas por comerciantes de indústrias propriamente di-
se”, pois a fiação de Carlos Itajaí, e após 1860 surgiram tas, cujas produções em lar-
Renaux foi a primeira insta- vários empreendimentos que ga escala independessem
lada em Santa Catarina. Tam- se ocupavam com o beneficia- das quantidades limitadas de
bém foi em Brusque que teve mento e conservação de pro- matérias-primas, de cada vez
início um dos maiores polos dutos, de preferência, agrí- disponíveis na mesma praça,
têxteis do estado e do Brasil, colas. Mas todos eles tinham por tê-las garantidas em ou-
nascido a partir do último o caráter de improvisações. tras partes. A primeira inicia-
decêndio do século XIX. Ante- Funcionavam sem grande ca- tiva no segmento têxtil coube
riormente já houvera empre- pital, simplesmente porque à família Bauer, seguido dos
endimentos tendentes para o a matéria-prima abundava Renaux, Buettner e, finalmen-
ramo industrial. Mesmo antes e exigia um beneficiamento. te, da família Schlösser, res-
do início da colonização já ha- Paravam quando começava ponsáveis pelo novo impulso
viam funcionado na zona de a faltar a matéria-prima que econômico dado à região.
143
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Só nos dois últimos decê- to oposicionista contra as


Em agosto de 1869
nios do século XIX, ou seja, minorias alemãs. O pan-esla-
algumas famílias polo-
uns 20 a 30 anos depois da vismo, que foi um movimen-
nesas já haviam se esta-
fundação da colônia, é que a to político e sociocultural do
belecido em Brusque, o
economia de Brusque havia século XIX, estava em alta
que, anos depois, rendeu
atingido um grau de adianta- naquele tempo; o que era de
à cidade o título de “Berço
mento que permitia a criação origem alemã era olhado de
da Imigração Polonesa no
de uma indústria. Era indis- esguelha, no império dos cza-
Brasil”. Mas os que efetiva-
pensável para tanto a exis- res. As autoridades russas,
mente contribuíram para
tência de capital e de braços. por si impotentes contra a mi-
a transição da Brusque
O que era preciso havia-o, na noria alemã que era laboriosa
agrícola para a Brusque
Brusque de então, em modes- e industrialmente ativa, con-
industrial foram os que
ta escala. Os vendeiros tinham ceberam o plano de contra-
vieram entre 1889 e
feito bons negócios, chegando por-lhes os judeus, processo
1896, entre eles os
a fazer algumas economias. que surtiu o efeito desejado.
“Tecelões de Lodz”.
A população da colônia tinha Com as manobras da praxe
aumentado o bastante. Nem comercial, recomendada por
Brusque, orientada, até então,
todos os imigrados que se ha- Aschkenasim, a situação dos
para o trabalho na lavoura.
viam inicialmente dedicado alemães da região de Lodz
Esses imigrantes, geografica-
à lavoura, desejavam conti- foi piorando de maneira tal,
mente provenientes da Polô-
nuar nessa ocupação. Se lhes levando-as a emigrar a partir
nia, que era então província
oferecia uma oportunidade, de 1880.
da Rússia, eram, na verdade,
muitos estavam prontos a Buggenhagen (1941) con-
tecelões da Silésia e da Saxô-
abandonar o trabalho na roça. ta que em 1889 tinham emi-
nia, ali radicados desde o sé-
Havia, pois, o que era impres- grado, para o Brasil, vários
culo XVIII, atraídos pelo go-
cindível. tecelões da região de Lodz,
verno russo para iniciar, na
na Polônia. A pequena turma
região, a atividade têxtil. Em
Os tecelões decorrência disso, em Lodz,
daqueles imigrantes de Lodz
que aportou a Brusque estava
de Lodz Ozorkow, Zgierz e adjacên-
resolvida a exercer, também
cias, a indústria têxtil do algo-
aqui, o ofício de tecelão, pois
O início da atividade fabril dão desenvolveu-se acentu-
não eram adeptos do trabalho
em Brusque deve-se a um adamente. Com a adaptação
na roça. Dentre eles, vamos
pequeno grupo de pessoas dos teares manuais para en-
encontrar os Haacke, Hartke,
vindas da região de Lodz. Os grenagens mecânicas, depois
Kreibich, Petermann, Wilke,
“tecelões de Lodz”, como são de 1853, os tecidos de Lodz
Yescke e Yankowsky, mes-
rememorados localmente os entraram sempre mais em
tres na arte da tecelagem. Os
artesãos poloneses, foram os concorrência com a produção
Schlösser chegam mais tarde,
responsáveis pelo treinamen- de Moscou, o que motivou, a
em 1896 e já vêm contratados
to inicial da mão de obra em partir de 1875, um movimen-
para trabalhar na Fábrica Re-
144
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

naux. Eram todos “auslands- 1890: Bauer tas, foi Carlos Renaux, emi-
deuctche”, assim chamados os grado da Alemanha em 1882
imigrantes alemães que esta- A primeira tentativa de e que, depois de uma rápida
vam estabelecidos em territó- produção de tecidos no muni- passagem por Blumenau, em
rio polonês. cípio se desenvolveu com aju- 1884 viera estabelecer-se em
O fato, porém, de ter surgi- da dos imigrantes poloneses, Brusque. O jovem negociante
do uma indústria, e, sobretu- os conhecidos “tecelões de adotou e fez adotar no comér-
do, uma indústria têxtil, deve- Lodz”. Foi uma iniciativa do cio das vendas da pequena
se a um acaso. imigrante alemão João Bauer, praça, princípios até então
A historiadora Maria Luiza nascido na Baviera que havia desconhecidos. Ele acabou
Renaux (2010) escreveu que se estabelecido com a família com o sistema de troca entre
inicialmente o trabalho dos na região de Guabiruba, que colonos e vendeiros, único
tecelões poloneses em Brus- pertencia à Colônia Brusque. então em uso, adotando para
que era doméstico. Em teares Após a morte do pai, João grande parte de suas transa-
simples de madeira construí- Bauer se mudou para Brus- ções a base da moeda corren-
dos por eles próprios, teciam que e montou uma pequena te. A venda de Carlos Renaux
fios fornecidos pelos comer- loja. Comerciante e industrial foi aumentando cada vez
ciantes e, depois, revendiam bem-sucedido, era dono de mais a afluência da freguesia,
o pano pronto. Yankowsky, muitos empreendimentos, e de sorte que, em menos de
Kreibich e Petermann se es- foi pessoa atuante na comuni- dez anos, conseguira os meios
tabeleceram em terras no in- dade e na política. Em 1890, que o habilitariam a estudar a
terior de Brusque, acima do Bauer fez a primeira experi- realização de uma proposta,
centro de Guabiruba, no lugar ência de indústria de fiação e como a que lhe haviam sub-
chamado Sibéria. tecelagem em Brusque, mas metido os “tecelões de Lodz”.
Tietzmann esteve primei- o empreendimento têxtil não Se a venda por si não dispu-
ro em Blumenau, como tece- teve sequência. nha de bastante capital, em
lão da firma Hering. Depois compensação seu proprietá-
veio para Brusque, produziu rio gozava do crédito pessoal
tecidos para Carlos Renaux 1892: Renaux que tinha de negociantes ri-
em sua própria casa, até que, cos, e assim, em 1892, Carlos
mais tarde, este o financiasse De acordo com Buggenha- Renaux instalou, sob sua fir-
para abrir uma fábrica de ar- gen (1941), é provável que os ma individual, uma pequena
tigos de malha no centro da imigrantes alemães da região fábrica de tecidos. Eram seus
cidade. de Lodz tenham exposto a sócios Paul Hoepcke, irmão
Os demais poloneses, que- uma ou outra pessoa do lugar de Karl Hoepcke, do fundador
rendo transformar o caráter o seu projeto de fundar uma da conhecida firma comercial,
artesanal e doméstico de seu fábrica de tecidos, mas quem e August Klapoth. Um e outro
trabalho, procuraram Carlos lhes compreendeu o alcance retiraram-se, mais tarde, da
Renaux para que este consti- do plano e estava disposto a ir empresa. Na estrada dos Po-
tuísse uma fábrica de tecidos. ao encontro de suas propos- meranos, Renaux adquiriu
145
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fábrica Renaux na avenida 1º de Maio no início do seculo XX . Acervo: Rosemari Glatz

um terreno, o mesmo onde campo, ao ar livre, expostos nuais. Os fios vinham tingidos
hoje ainda se encontra a an- às inclemências da chuva e do da Europa. A importação re-
tiga fábrica. Não demorou a sol. Mal estavam montadas as presentava já por si um ônus
compra de 30 teares usados máquinas, quando surgiram bastante gravoso para o custo
e antiquados, na Inglaterra, as dificuldades do início, com dos produtos.
metrópole da indústria têxtil, maior evidência. Não eram No princípio, a fábrica pro-
os quais foram embarcados somente os problemas pura- duzia somente artigos sim-
num vapor para serem trans- mente técnicos que criavam ples, de acordo com as insta-
portados para o Brasil. dificuldades. Havia falta de lações imperfeitas. Eram os
A princípio, tudo parecia operários práticos, na colônia. chamados “suíços” que com-
falhar. A chegada das máqui- Os tecelões de Lodz tiveram preendiam o algodão xadrez
nas a Itajaí coincidiu com a que fazer um esforço espe- vermelho e branco e os risca-
revolta contra Floriano Pei- cial para encaminhar para o dos para camisas e calças para
xoto, ficando paralisada toda trabalho na tecelagem os ho- homens, destinados ao con-
a vida econômica e os servi- mens acostumados aos traba- sumo das colônias. Essa espé-
ços de transportes do país. lhos da lavoura. O maquinário cie de fabricados também era,
Os teares que, justamente se era incompleto, certos pro- talvez, a única que poderia
achavam no caminho de Ita- cessos maquinais tinham que ser vendida, na praça, com al-
jaí para Brusque, ficaram al- ser substituídos de maneira guma probabilidade de êxito.
gum tempo abandonados no primitiva, por operações ma- Os colonos não podiam deixar

146
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

de comprá-la, e, em compara- Não fosse a extraordinária


ção à concorrência estrangei- Emilie Abel Haacke, co- tenacidade de seu fundador,
nhecida em Brusque como
ra, o artigo fabricado na praça ela teria fechado as portas,
“Mutter Haacke” compu-
levava vantagem tanto pelo nha o grupo de imigrantes logo no princípio, diante da
gosto do comprador, como aqui chamados de “tecelões força das circunstâncias ani-
pela utilidade prática do te- de Lodz”. Foi um elemen- quiladoras. Renaux resistiu
cido, particularidades estas to muito importante nos até o extremo sem esmorecer,
que os fabricantes do lugar primórdios da industriali- conseguindo, dessa forma,
conheciam melhor do que os zação na região porque ela, acomodar, paulatinamente,
do estrangeiro. Como, porém, além de contribuir com seu tudo às circunstâncias e ad-
os produtos têxteis produzi- próprio trabalho, ensinava quirir a prática de que carecia
às novatas o mecanismo da
dos em Brusque não podiam no início. A fábrica, tal como
fiação. Devido à sua impor-
concorrer com os preços bai- tância dentro da indústria, se apresentava em 1900, não
xos do artigo estrangeiro, Re- ela tinha o privilégio de era uma empresa robusta; re-
naux muitas vezes precisou amamentar seus filhos nas sistira, apenas, às perigosas
mandar vender seus tecidos dependências do emprego, moléstias da primeira idade e
nas próprias zonas rurais por coisa incomum naquele prometia, para o futuro, algu-
empregados que iam com tempo (RENAUX, 1995). ma esperança de melhoras.
suas carroças de lote em lote, O ano de 1900 marca uma
oferecendo-os a preços com- de capital. A soma empatada nova etapa no desenvolvimen-
pensadores aos colonos que na montagem da fábrica foi to da firma. Sob vários aspec-
desconheciam os preços do muito além do orçamento, de tos, a situação começou a me-
mercado. sorte que parecia impossível lhorar, embora perdurassem
Devido às dificuldades de cobrir regularmente as des- ainda por muito tempo certas
venda, frequentemente a fá- pesas de movimento. A venda dificuldades. Coube a Renaux,
brica ficava parada, e às ve- Renaux não produzia os lu- primeiramente, a tarefa de
zes, durante semanas. Essa cros necessários para suprir a assegurar, com o acréscimo
circunstância se fazia sentir escassez financeira da fábrica de seu capital, as bases de sua
desagradavelmente na ques- e para mantê-la em movimen- empresa. Convencera-se ele
tão da conservação de uma to, era preciso recorrer a em- que, numa praça como a de
turma de operários experi- préstimos temporários, feitos Brusque, não poderia vingar
mentados. Ainda segundo Bu- por amigos, e aos créditos a fábrica de tecelagem sem
ggenhagen (1941), o fato de concedidos pelos fornecedo- possuir a sua própria fiação.
achar-se a colônia em pleno res de fios. De 1892 até 1900, Por essa razão propôs à firma
florescimento, foi o que criou a nova fábrica tinha um quê A. O. de Freitas, de Hamburgo,
condições de vencer os em- de grotesco no meio dos con- a montagem de uma fábrica
baraços criados pela falta dos tratempos em que se debatia, de fiação. Aprovado esse pla-
salários. O maior empecilho tanto que não se poderia ima- no, a firma Freitas fez um pe-
do desenvolvimento da em- ginar sua existência, senão dido de algumas máquinas de
presa era, no entanto, a falta longe dos grandes centros. fiação com um total de 1.000
147
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

fusos à firma Platt Bros & Co, pletando-se dessa maneira, Durante a Guerra Mundial ele
de Oldham, Inglaterra. Em organicamente a instalação. O comprou parte do algodão ne-
1900, montada a fábrica, não tingimento processava-se de cessário na América do Norte.
tardaram a surgir as mesmas uma forma primitiva. Tingia- Além dos embaraços criados
dificuldades que se haviam se em cubas os fios torcidos pela nova matéria-prima, já
verificado nos primeiros tem- em cordões e as opções de por si desagradáveis, sentia-
pos da fábrica de tecidos. cores eram poucas. Entretan- se sobretudo a já crônica fal-
A experimentação indis- to, é de constatar que, até a ta de capital para a cobertura
pensável das máquinas, fun- época após a Guerra Mundial, das despesas de movimento
cionando ainda sem o ma- os êxitos da fábrica não foram e para a aquisição de um ma-
terial de fabricação, levou muito satisfatórios, devido às quinário têxtil moderno. Na
pouco tempo, mas depois foi circunstâncias contrárias já expansão do mercado tudo
preciso iniciar a produção de citadas. dependia da qualidade dos
fios com homens que nunca Nascera, porém, nova difi- produtos. Os da fábrica Re-
tinham visto uma máquina de culdade, a de conseguir o al- naux não podiam rivalizar
fiação e menos ainda haviam godão apropriado. Buggenha- com a mercadoria estrangeira
manejado. Além disso, havia gen conta que antes de 1914 em padrões e apresentação.
as questões climáticas, ora ainda não se produzia algo- Distinguiam-se, porém, entre
muito úmido, ora muito seco. dão no estado de São Paulo, os produtos nacionais, pelos
A preparação inicial do algo- sendo plantado, apenas no preços módicos e a qualidade
dão para a fiação tinha que norte do Brasil. Esta tinha as superior, e, sobretudo, pela
ser feita à mão, por falta das fibras bastante heterogêne- boa coloração fixa que nas
máquinas apropriadas. O al- as, de sorte que se fazia mis- cores vermelha e preta criou
godão era pesado em peque- ter uma segunda preparação a fama dos tecidos Renaux.
nas balanças. Só aos poucos, na fiação. Ficou, assim, mui- A freguesia do artigo compu-
tudo foi se acomodando e os to prejudicada a capacidade nha-se, até então, principal-
operários foram se habituan- produtora da fábrica. Acres- mente de caboclos e colonos
do ao manejo das máquinas. cia que o algodão era forne- que trabalhavam no campo.
A fábrica de fiação de Renaux cido em estado sujo e cober- Buggenhagen (1941) in-
foi a primeira instalada em to de areia, resultando numa forma que um quadro com-
Santa Catarina. Prestara-se percentagem relativamente parativo demonstra que en-
um serviço extraordinário alta de resíduos. O comércio tre os anos de 1900 até 1918,
com essa instalação, pois de- de tipos de algodão ainda se efetivamente, se verificaram
ra-se, assim, uma base segu- achava nos começos, e, na lucros nas indústrias Renaux;
ra à fiação que pôde, desde prática, não merecia confian- embora não tenham sido ex-
então, dispensar os fios im- ça. Renaux comprava a ma- cessivos. A Guerra Mundial
portados a preço muito mais téria-prima, de preferência, também não pôde dar impul-
elevados. Alguns anos depois, por intermédio da firma Uss- so especial à novel indústria,
anexou-se à fiação Renaux laender que tinha seus agen- porque o poder aquisitivo
uma seção de tinturaria, com- tes compradores no Norte. da população rural se acha-
148
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

va bastante reduzido. Mas, mais velho do casal, Edgar, e De acordo com Renaux
mesmo assim, a Renaux con- guarda relação com a produ- (2010), graças ao empenho
seguiu liquidar, em 1917, os ção artesanal de aventais por pela qualidade, a partir de
grandes créditos da firma A. Albertine, toalhas de mesa, 1906 novas oportunidades
O. de Freitas, de Hamburgo, colchas e cortinas bordadas foram surgindo para a Buett-
que continuavam consumin- com máquinas à manivela por ner, que teve seus artigos es-
do os lucros da empresa, pre- Idalina, esposa do filho Edgar. peciais, as cortinas bordadas,
judicando o seu progresso. A origem da empresa encomendadas para as re-
Deve-se esse resultado, antes Buettner guarda relação partições públicas do Rio de
de tudo, à tenacidade e perse- com a produção artesanal de Janeiro (Palácio Monroe, Rio
verança de Renaux, seguido aventais e toalhas bordadas. Negro, do Catete, Biblioteca
pela boa qualidade dos seus Albertine foi quem iniciou a Nacional). Depois no merca-
produtos e, fator não menos primeira confecção em Brus- do local, que se estendeu pelo
importante: a feliz escolha que: talhava pessoalmente estado. O primeiro absorve-
dos seus colaboradores. aventais que mandava costu- dor dos tecidos bordados foi
rar por mulheres costureiras o Rio de Janeiro e, no Nordes-
1898: Buettner da vila. te, a Bahia.
Quando Eduard, seu espo- Seu mercado era constitu-
A segunda manufatura têx- so, desviveu, Albertine pre- ído principalmente por pes-
til de Brusque foi uma empre- cisou tomar as rédeas dos soas abastadas, mas também
sa de bordados finos, a “E. v. negócios da família. Com seu pela classe média, atendendo
Buettner e Cia.”, que durante filho mais velho, Edgar, fun- ao costume de presentear as
algum tempo manteve em pa- dou a E.v.Buettner e Cia., com filhas com guarnições borda-
ralelo aos negócios têxteis o a importação de armações das para o enxoval. Certo tipo
beneficiamento de produtos para sombrinhas – proteção de mercadoria era também
coloniais. Em 1873 Eduard imprescindível das peles cla- despachado para a Alema-
von Buettner havia se mudado ras das mulheres europeias nha, constando como atraen-
para Brusque com a família, em nosso país tropical - as tes os motivos brasileiros nos
onde foi proprietário de uma quais então eram forradas padrões. Com a expansão do
loja de fazendas, secos e mo- com filó – também importado mercado, o estabelecimento
lhados e armarinhos, além de – e bordadas com as máqui- fabril consolidou-se, deixan-
torrefação e moagem de café nas à manivela, trazidas por do de depender dos altos cré-
e serrarias. A “E. v. Buettner seu filho mais velho da Ale- ditos particulares. Em 1912 a
e Cia.”, precursora da Buett- manha, e instaladas em 1900. firma, sob influência do polí-
ner S/A Indústria e Comércio, A empresa começou pequena, tico itajaiense Lauro Müller,
surgiu em 1898, fundada por com duas máquinas a pedal então Ministro das Relações
Albertine Burow, esposa do nas quais se confeccionava Exteriores, obteve o primeiro
vendeiro Eduard von Buett- sombrinhas, aventais, corti- crédito bancário. Os borda-
ner, em sociedade com o filho nas, mosquiteiros e pano de dos da fábrica Buettner foram
bordar. várias vezes premiados em
149
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fábrica da Buettner, localizada onde hoje está a Praça Sesquicentenário. Acervo: Rosemari Glatz

exposições no Brasil e no ex- quais foram instaladas e de- 1911: Schlösser


terior. A guerra traria mudan- ram início à produção de te-
ças na organização interna da cidos mais sofisticados, como A terceira grande empresa
firma que, lentamente, pas- étamines, rendados e filó para têxtil a iniciar operações em
sou para o ramo da tecelagem, mosquiteiros. O ano de 1922 Brusque e se consolidar no
sem, contudo, abandonar os é considerado o ano da gran- mercado, pertencente à pri-
bordados. Dois teares foram de ofensiva têxtil e a firma se meira fase da industrialização
adquiridos para a fabricação transforma em sociedade de do Vale do Itajaí-Mirim, foi a
de tecidos e a atividade têx- capital e indústria com a ra- Gustav Schlösser & Filhos,
til teve início em 1915 com zão social de “E.v. Buettner & fundada em 1911 por Gus-
a instalação de uma pequena Cia.”. tav Schlösser, um tecelão de
tecelagem, branqueamento e A diversificação da sua li- Lodz, e seus dois filhos, Hugo
tinturaria do fio, objetivando nha de produção tornou-se e Adolph.
suprir as dificuldades exis- uma constante e a empresa Gustav Schlösser, o fun-
tentes, como falta de mão de tomou grande impulso. Mo- dador, chegou a Brusque em
obra especializada e alto cus- dernizando ainda mais suas 1896, contratado como técni-
to do material importado. instalações e ampliando con- co têxtil na Fábrica de Tecidos
Após o término da Primei- tinuamente os seus negócios, Carlos Renaux. Antes de emi-
ra Guerra Mundial, Edgar Von a empresa teve grande ascen- grar para o Brasil, em 1890,
Buettner viajou à Alemanha são e se transformou numa Schlösser estudou no grupo
e adquiriu novas máquinas das três principais indústrias especial da tecelagem da Es-
para tecelagem de algodão, as têxteis de Brusque. cola Estadual da Indústria na
150
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Monarquia Austro-Húngara ser haviam trabalhado como Adolph voltaram a trabalhar


em Bielsko (Bielitz) – escola tecelões na fábrica de Re- juntos em Brusque, desta
técnica têxtil, no Sul da Po- naux. Em 1908, Hugo e Adol- vez por conta própria, uma
lônia, que então estava sob ph estiveram entre fevereiro pequena tecelagem com a
o domínio da Áustria, onde e agosto no Rio de Janeiro denominação de “Gustavo
se formou técnico no ano de trabalhando no mesmo ramo Schlösser & Filhos”. O capital
1891. Por intermédio de um para uma firma de nome inicial era de seis contos. A
agente que contratava pesso- Prinz & Cia. Decididos a vol- tecelagem iniciou com dois
as especializadas como técni- tar para Brusque, ainda em teares manuais, um deles
cos e tecelões, Gustav Schlös- 1908 Hugo Schlösser come- provavelmente aquele utili-
ser decidiu emigrar para o çou a tecer em casa, em tear zado por Hugo na fabricação
Brasil para o desenvolvimen- manual adquirido do tecelão doméstica, e o outro, um tear
to da indústria têxtil do vale Tietzmann, que o trouxera de jacquard, adquirido com o
do Itajaí-Mirim. E assim, no Lodz; Adolph foi trabalhar na crédito concedido por Carlos
final do ano de 1895, Schlös- Empresa Industrial Garcia, Renaux, que se encarregou,
ser, a esposa e os quatro fi- em Blumenau. Durante cerca também, do fornecimento de
lhos embarcaram no porto de 15 anos, Gustav Schlösser, fio e da distribuição do pro-
de Hamburgo, na Alemanha, o pai, trabalhou como técnico duto em sua “venda”.
com destino a Brusque. têxtil na Fábrica Renaux. Os artigos produzidos por
Segundo Renaux (2010), Com a fundação da firma Schlösser, no início, eram to-
assim como o pai Gustav, os Schlösser, em 1911, Gustav alhas de mesa e rosto com
filhos Hugo e Adolph Schlös- Schlösser e os filhos Hugo e flores na bainha, de jacquard,

Fábrica da Schlösser na avenida Getúlio Vargas. Acervo: Rosemari Glatz

151
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

com base no mostruário da uma fase de crescimento.


As três grandes fábricas
tecedura trazido por Gustav Depois de 1918 a indús-
têxteis de Brusque chega-
Schlösser. A produção mensal tria têxtil do Brasil entrou em
ram a ser centenárias, mas
no início da fundação da em- sua fase decisiva. O governo
não existem mais em 2018.
presa – 1911, era de 400 me- começou a gravar os tecidos
A crise que levou ao fecha-
tros de tecido por mês. estrangeiros, em escala as-
mento das empresas co-
Além do negócio de Car- cendente, com direitos de
meçou com a abertura co-
los Renaux, a historiadora importação, o que veio pro-
mercial no Brasil, nos anos
Renaux (2010) informa que porcionar ótimas condições
de 1990. As indústrias não
Bauer e Buettner aparecem de desenvolvimento à indús-
conseguiram competir
como compradores. Pano tria nacional. Era natural que
com as importações. Com
de seda, com matéria-prima essa medida viesse favorecer
produção verticalizada,
fornecida pelos italianos de as empresas que já se haviam
faltou capital de giro para
Nova Trento, também era fa- adaptado e, efetivamente, es-
manter o negócio. O mo-
bricado e esse material era tavam em condições de sa-
delo dessas empresas con-
utilizado para a confecção de tisfazerem a parte que lhes
centrava na fábrica todo
lenços especiais para as ita- cabia no grande consumo do
o processo produtivo, da
lianas irem ao cemitério. Nos país. É o que se deu em rela-
compra do algodão à en-
anos seguintes, Renaux con- ção às indústrias têxteis de
trega da toalha ou tecido.
tinuou a ser o fornecedor de Brusque.
Isso faz com que o prazo
fios para a firma Schlösser.
entre o investimento nos
Esses fios eram importados
insumos e a receita com o
REFERÊNCIAS
pela empresa Carl Hoepcke. A
produto fique mais longo,
Empresa Industrial Garcia, de BUGGENHAGEN, E. A. von.
prejudicando a situação
Blumenau, também era forne- História Econômica no Muni-
do caixa. Outro golpe foi a
cedora de fios. cípio de Brusque e a obra do
crise do algodão, em 2011,
De 1913 em diante, as Cônsul Carlos Renaux. [SI].
que fez o preço da commo-
vendas foram efetuadas para Brusque, 1941. Não publica-
dity triplicar em um ano.
as companhias de Hoepcke, do.
Na época, as empresas en-
Wendhausen e outras de Flo- RENAUX, Maria Luiza. O
traram em recuperação e
rianópolis e também para Outro Lado da História: o
não conseguiram sair da
Blumenau e Joinville, vindo, a papel da mulher no Vale do
situação.
seguir, Jaraguá do Sul, Curiti- Itajaí 1850-1950. Blumenau.
ba e Pelotas. Em 1914, antes Editora da Furb, 1995.
do início da Primeira Guerra RENAUX, Maria Luiza. Co-
Mundial e quando em Brus- lonização e Indústria no Vale
que já havia energia elétrica – do Itajaí: O Modelo Catari-
fornecida pela hidrelétrica de nense de desenvolvimento.
João Bauer, a fábrica Schlös- 2ª ed. Florianópolis: Instituto
ser se expandiu, inaugurando Carl Hoepcke, 2010.
152
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Os coronéis de Brusque. Acervo: SAB

A Guarda Nacional
e os Coronéis de Brusque
Em 1831, D. Pedro I abdi- do país para os próprios cida- los presidentes de províncias.
cou ao poder, porém, como dãos. Assim, a Guarda Nacio- O brasileiro com idade entre
seu filho tinha apenas 5 anos nal foi criada com o propósito 18 e 60 anos, saudável e com
o Brasil foi governado por um de defender a constituição, renda mínima para ser elei-
sistema regencial. Depois de a integridade, a liberdade e tor, era obrigado a se alistar
três meses de uma Regência a independência do Império para a Guarda Nacional.
Provisória, em junho de 1831 Brasileiro. Os únicos que não estavam
teve início “Regência Trina A Guarda Nacional tam- incluídos nesta lista eram as
Permanente”. bém simbolizava a ordem autoridades administrativas,
Uma das primeiras me- elitista da sociedade, pois os judiciárias, policiais, mili-
didas do novo governo foi a cargos assumidos na insti- tares e religiosas. As tropas
criação, no dia 18/08/1831, tuição estavam diretamente não eram remuneradas, no
da Guarda Nacional, com base associados à renda e à cor entanto tinham as obriga-
na experiência da França, que da pele, sendo as patentes ções de prestar serviço até os
havia transferido a segurança mais elevadas nomeadas pe- 60 anos, de providenciar seu

153
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(DOU) no dia 1º/01/1898. O


DIARIO OFICIAL historiador Paulo V. Kons, que
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL conseguiu localizar a publi-
REPÚBLICA FEDERAL cação do Decreto, destaca a
ORDEM E PROGRESSO importância do achado pois,
segundo ele, os nossos coro-
ANO XXXVII – 10º DA REPÚBLICA – Nº 1 CAPITAL FEDERAL néis foram nomeados por um
SÁBADO 1º DE JANEIRO DE 1898 governo civil e constitucional.
  O primeiro desfile da Guar-
ATOS DO PODER EXECUTIVO da Nacional aconteceu no
Por decretos de 29 de dezembro último, foram dia 2/12/1832, celebrando
nomeados para a Guarda Nacional o aniversário de Pedro II que
completava sete anos de ida-
ESTADO DE SANTA CATARINA de. Após a Proclamação da
Comarca de Brusque República, em 1892, a Guarda
Coronel comandante: Guilherme Krieger Nacional foi integrada ao Mi-
Capitães-assistentes: Oscar Renaux e Manoel dos Santos Bittencourt nistério da Justiça e Negócios
Capitães-ajudantes de ordens: Germano Krieger e Antônio Werner Exteriores e, em 1918, passou
a ser subordinada ao Minis-
7º Regimento de Cavalaria tério da Guerra, quando foi
Tenente-coronel, comandante: Carlos Renaux tacitamente absorvida pelo
Major-fiscal: Carlos Gevaerd Exército.
Capitão-ajudante: João Francisco da Rocha A última atuação da Guar-
Tenente-secretário: Victor Gevaerd da Nacional foi sua participa-
Tenente-quartel-mestre: Arthur Germer ção do desfile do Centenário
da Independência do Brasil,
8º Regimento de Cavalaria em 7 de setembro de 1922.
Tenente-coronel, comandante: Nicolau Lauritzen
Major-fiscal: João Luiz Gonzaga
Capitão-ajudante: Tenrini Aquillino
Tenente-secretário: Augusto Maluche Filho REFERÊNCIA
Tenente-quartel-mestre: Emilio Raguse
KONS, Paulo V. A Guarda
Nacional em Brusque. Dispo-
uniforme, fazer a manutenção meada pelo Decreto Presiden- nível em <https://www.brus-
das armas e equipamentos cial assinado em 29/12/1897 quememoria.com.br/site/
que utilizavam, e pagar con- pelo Presidente da República noticia/17/A-Guarda-Nacio-
tribuições em dinheiro. Prudente José de Morais e nal-de-Brusque-em-1898>.
A Guarda Nacional para a Barros, e publicado na página Acesso em 11 de setembro de
Comarca de Brusque foi no- 3 do Diário Oficial da União 2018.
154
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Francisco Carlos
de Araújo Brusque
Francisco Carlos de Araújo
Brusque foi nomeado Presi-
dente da Província de Santa
Catarina, em 06.09.1859, por
ato do Imperador, vindo a
substituir João José Coutinho.
Naquele tempo, Araújo Brus-
que era deputado da Assem-
bleia Geral Legislativa pela
Província do Rio Grande do
Sul. Acompanhado da família,
chegou a 20 de outubro de
1859, a bordo do vapor “Prin-
cesa de Joinville”. Desembar-
caram no trapiche da Alfân-
dega de Desterro, de onde
seguiram para o Palácio. To-
mou posse da administração
catarinense no início da tarde
do dia 21, com as formalida-
des de costume. Os festejos
de recepção envolvendo as
forças políticas duraram até
meia-noite.
A árvore genealógica de
Araújo Brusque revela ascen-
dência de alta fidalguia. Seu Francisco Carlos de Araújo Brusque, enquanto Presidente da Província
avô, Nicolau Bruscchi, era de Santa Catarina, acompanhou pessoalmente os primeiros imigrantes
à Colônia Itajahy, fundada em 4 de agosto de 1860. Em sua homenagem a
um nobre de Florença (re- cidade recebeu seu nome. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera.
gião da Toscana, Itália) que Acervo: Rosemari Glatz
se instalou em Portugal por
volta de 1762. Conquistou a Uma curiosidade: a família utilizou o sobrenome
confiança do rei e foi nome- Bruscchi até 1846, quando passou a assinar
ado Mordomo-Mor do Paço. a forma abrasileirada do nome: Brusque.

155
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Nicolau se casou em Lisboa tal, onde se filiou ao Partido acompanhado da família, dei-
com Ana Joaquina Vieira de Liberal. Católico praticante, xou Santa Catarina. Foi Minis-
Aguiar e Almada, que perten- casou-se com Cecília Amália tro da Marinha e interino da
cia à alta nobreza lusitana. O de Azevedo, com quem teve 7 Guerra. Retirou-se da política
nome de Nicolau Bruscchi foi filhos: Francisco Carlos; José; em 1875, passando a exercer
inscrito nos registros da fidal- Arthur; Raphael; Emma; Ho- a advocacia. Possuía os títulos
guia portuguesa, com direito ráclito; Cecília e Francisca. de Oficialato da Rosa, o Hábi-
de transmitir a todos os seus De estatura pequena, magro, to de Cristo e a Grã-Cruz do
descendentes os privilégios olhos pretos e vivos, seus ca- Leão Neerlandês.
decorrentes. belos escuros ao tempo de es- Brusque faleceu repenti-
Em 1808, a transferência tudante se tornaram brancos namente, na cidade gaúcha
da Família Real portuguesa já aos 40 anos. de Pelotas (RS), em 23 de
para o Brasil fez com que a Foi eleito deputado à As- setembro de 1886. Em 1998,
família Bruscchi se separasse. sembleia Provincial em 1849, com honras de Chefe de Esta-
Nicolau, o pai, permaneceu 1854 e 1856. Fez as campa- do, seus restos mortais foram
em Portugal, com a esposa nhas do Sul e obteve a meda- transladados de Pelotas para
e os filhos José Luís e Maria lha de mérito militar de ouro, Brusque por ocasião dos fes-
Amália, administrando os com honras de coronel. Como tejos dos 138 anos da cidade.
bens da Família Real. Dois fi- deputado à Assembleia Geral, Seus restos mortais foram de-
lhos, João e Vicente, militares, figurou pela sua Província de positados, sob os acordes do
acompanharam a Real Famí- 1856 a 1859 e pela Provín- pistão de Pedrinho Knihs, no
lia no seu êxodo para o Brasil. cia do Amazonas, de 1863 a monumento construído junto
Vicente foi incorporado ao 1866. De 1873 a 1875 vol- à Sociedade Amigos de Brus-
Exército do Vice-Reinado e, tou ao Parlamento ainda pela que e de Apoio ao Museu His-
em janeiro de 1818, foi pro- Província do Amazonas. tórico do Vale do Itajaí-Mirim
movido a Tenente-Coronel de Ocupou a Presidência da – SAB/CASA DE BRUSQUE,
Milícias. Na Capitania de São Província de Santa Catari- com a lápide original, esculpi-
Pedro do Rio Grande, Vicente na durante um curto espa- da em mármore de Carrara há
se casou com Delfina Carlo- ço de tempo, 21.10.1859 mais de um século.
ta de Araújo Ribeiro, filha do a 17.04.1861, mas na sua
Comendador José Antônio de gestão, além da Colônia Ita-
Araújo Ribeiro, de nobre as- jahy-Brusque, também foram
cendência lusitana. instaladas as Colônias de Te- REFERÊNCIA
Francisco Carlos de Araú- resópolis e Angelina, todas
jo Bruscchi, filho de Vicente em 1860. Atendendo aos ape- Álbum do 1° Centenário de
e Delfina, nasceu em Porto los do Imperador, em 20 de Brusque – Edição da Socieda-
Alegre no dia 24.05.1822. Di- março de 1861 Araújo Brus- de Amigos de Brusque. 1960.
plomou-se na Faculdade de que concordou em assumir a KONS, Paulo Vendelino. A
Direito de São Paulo em 1845 Presidência da Província do vinda do Conselheiro que deu
e depois voltou à terra na- Grão-Pará e em 22.04.1861 e o nome a Brusque. 2018.
156
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Barão Maximilian
von Schneeburg
Maximilian von Schnee-
burg (Maximiliano von Sch-
neeburg, em português), ca-
tólico, foi o primeiro diretor
da Colônia Itajaí-Brusque, ad-
ministrando-a honradamen-
te e com especial dedicação
desde a sua fundação, em 4
de agosto de 1860, até o seu
afastamento da função por
motivos de saúde, em abril de
1867. Organização e discipli-
na são palavras que descre-
vem adequadamente as suas
características enquanto ad-
ministrador.
Schneeburg pertencia a
uma antiga família nobre ger-
mânica, detentores do títu-
lo nobiliárquico de Freiherr,
cuja posição na nobreza lati-
na equivale-se à do barão. O
Freiherr, com significado de
Barão, pertenceu à nobreza
durante o Sacro Império Ro-
mano. Na Áustria e na Ale-
manha este título existia até
1919 e, com a abolição da no-
breza, são legalmente elimi-
nados do nome.
O pesquisador Dirschnabel
(2018) nos brinda com infor- O Barão Maximilian von Schneeburg foi o primeiro diretor da Colônia Ita-
mações relevantes sobre a jahy-Brusque. Minucioso na documentação, era um governante preocupado
família Schneeburg. Baseado e sempre voltado à responsabilidade que o cargo exigia. Em 15 de outubro
de 1865, acompanhou até a vila de Itajahy, os 25 “Voluntários da Pátria” que
no livro escrito em 1845 por partiram da colônia para lutar pela sua nova Pátria – Brasil - na Guerra do
Beda Weber, ele informa que Paraguai. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

157
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

documentalmente os primei- de Ludwig, Hanns, era casado os anos de 1632 a 1646, Clau-


ros Schneeberger aparece- com Helena von Kripp e com dia von Medizis, juntamente
ram em 1370 no Tirol Austrí- ela teve onze filhos durante com um conselho, assumiu os
aco. O primeiro chamava-se a administração da casa de assuntos do governo, repre-
Peter Schneeberger de Zim- penhores de Ferdinand I, em sentando o seu filho menor
mers, para diferenciá-lo dos Hall, dos quais o filho mais de idade, Franz Karl, que só
Schneeberger de Trins que velho Rupert seria o mais pode assumir o poder ao atin-
se estabeleceram no Castelo importante. Rupert von Sch- gir a maioridade, em 1646.
de Schneeberg, pois, apesar neeberger durante o reinado Em 1664, Johann Wolfgang
de pairar uma certa confusão do Arquiduque Ferdinand II, von Schneeburg, já com a ida-
sobre os antepassados de Ma- fez por merecer o direito de de bastante avançada, rece-
ximilian von Schneeburg em construir uma residência no beu o título de Barão, pelos
Mills, no Hall, eles não tinham Tirol. Assim, em 1587, ele relevantes serviços de fideli-
nada em comum com os Sch- construiu o Castelo de Sch- dade prestados ao Imperador
neeburgers mais jovens. neeburg em Mils, e recebeu durante a Guerra dos Trinta
o sobrenome de Schneeburg. Anos no Tirol (1618-1664).
A partir de então as famílias 1771: As últimas gerações
Cronologia que originalmente se titula- da família Schneeberger de
vam Schneeberger passaram Trins que se estabeleceram
1524: A família Schneeber- a ser chamadas de “barões de no Castelo de Schneeberg,
ger atuou como administra- Schneeburg”. Em decorrên- praticamente desaparece-
dora da casa de penhores em cia da união matrimonial da ram em 1771, quando Karl
Hall, servindo ao Imperador nobreza, os von Schneeburg Joseph Schneeberg, o último
Karl V (1500-1558), uma das tiveram a junção da residên- Schneeberg, faleceu de tédio
personalidades dominantes cia de Rubein, em Obermais, e paixão, em seu Castelo Lich-
mais importantes da história resultando numa brilhante tenthurn de Hötting, e deixou
europeia. Herdeiro das três descendência, os quais eram o Castelo que pertencia aos
principais casas dinásticas titulados de “barões von Sch- Schneeburgers mais jovens
europeias, durante o império neeburg de Saltaus, no Plat- para Johann Maximilian von
de Karl V, a Europa se tornou ten e Rubein”. Schneeburg, trineto de Wolf-
o centro de um império mun- 1664: Johann Wolfgang gang. Johann Maximilian von
dial. E foi por aquele tempo von Schneeburg, filho de Lu- Schneeburg era tio de Maxi-
que, em 1524, Ludwig Sch- dwig, neto de Rupert e bis- milian von Schneeburg, o pri-
neeberger, casado com Anna neto de Hanns Schneeberger meiro diretor da Colônia Ita-
von Lingen, filho de Sigmund havia se tornado mordomo jaí-Brusque.
de Meran e sobrinho de Peter do Arquiduque Leopold V.,
Schneeberger, foi elevado ao marido de Claudia von Me-
posto de “Cavaleiro” como um dizis. Leopold V e Claudia se
Sobre o Barão
soldado corajoso e em reco- casaram em 1626 e tiveram
nhecimento pelos serviços de cinco filhos. Leopold morreu Maximilian von Schnee-
fidelidade prestados ao Impe- depois de apenas seis anos burg nasceu em 28/10/1799,
rador. de casamento e então, entre no Castelo de Schneeburg,
1587: O filho mais velho em Mils, Tirol, Arquiduca-
158
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

do da Áustria, Sacro Impé- certa abundância através da


O Barão passou gran-
rio Romano-Germânico. Era exuberância da terra, a assis-
de parte da sua vida no
filho do Joseph Johann von Brasil. Foram cerca de 40 tência espiritual por intermé-
Schneeburg, casado com Bár- anos dedicados ao gover- dio de igrejas e sacerdotes das
bara Limbeck von Lilienau, e no imperial, e os frutos de confissões católica e evangéli-
sobrinho de Johann Maximi- seus feitos aqui permane- ca e, finalmente, a assistência
lian, que herdara o Castelo de ceram. Em 26/01/1867, o cultural, embora rude ainda,
Schneeberg. Seu pai, Joseph, Governo por iniciativa de através de escolas. Gevaerd
morreu em combate na bata- Sua Majestade Imperial ainda acrescenta que, antes
lha de Taufers, em 1799, sem Dom Pedro II, lhe conferiu de vir para Brusque, von Sch-
conviver com o seu filho Ma- o título de Cavaleiro da neeburg residiu por muitos
ximilian que teria sido criado Ordem da Rosa. anos em Petrópolis, foi pro-
sob tutela militar. Bárbara, fessor do famoso Colégio Ca-
tar do serviço militar, sendo-
sua mãe, se casou novamente lógeras e Capitão do Exército
lhe concedido dispensa em
com outro barão, Schmidl-Se- Imperial do Brasil.
1828. Perdeu a patente mili-
eberg. Sobre a infância e ju- A Schneeburg cabe o méri-
tar e, nessa situação, aceitou
ventude de Maximilian nada to de ter organizado uma nova
o convite da Princesa Leopol-
se sabe. Ele não teve filhos, e Comunidade no seio da mata
dina, da Áustria, e do impera-
emigrou para o Brasil ainda virgem, imprimindo-lhe edu-
dor D. Pedro II, para integrar
jovem depois de se afastar do cação cívica, moral, espiritual
a cavalaria da Escola Militar
serviço militar. e cultural, aliada ao espírito
em Petrópolis, no Rio de Ja-
Ainda conforme Dirschna- de ordem e trabalho peculia-
neiro. Atuou como professor
bel (2018) baseado no livro res às etnias que então coloni-
do Colégio Militar Calógeras
escrito por Weber (1845), aos zavam o vale do Itajaí. Cabe a
e, finalmente, em 1856, tra-
16 anos Maximilian ingressou ele um preito de homenagem
balhou na Sociedade Agrícola
na Academia de Engenharia e justiça por sua extraordiná-
de Petrópolis. Depois disso,
de Viena, na Áustria. Após a ria obra, especialmente, com
aceitou o convite para insta-
conclusão da instrução, ele relação às duas Confissões
lar a colônia alemã no Vale do
foi nomeado Cadete do Cor- religiosas, católica e evangéli-
Itajaí-Mirim em 1860.        
po de Engenheiros Militares. ca, em Brusque, durante todo
O brusquense Ayres Ge-
Em 1821, foi promovido a o período de sua administra-
vaerd, em diversos escritos
Subtenente no Corpo de En- ção. Consolidando a Colônia,
publicados na revista Blume-
genharia e transferido para Schneeburg não descurou
nau em Cadernos conseguiu
Venedig, como 1º Tenente, em proporcionar à sua gente,
descrever com perfeição a
e, logo depois, para Josefs- indistintamente, assistência
trajetória do Barão Maximi-
tadt, na Boêmia, onde afas- moral e espiritual. Verifica-se
lian de Schneeburg enquanto
tou-se dos serviços por cau- em seus documentos, quando
este foi o diretor da Colônia
sas psicológicas. Ao retornar se referia à Igreja protestante,
Itajahy-Brusque. Segundo
foi transferido para Arad, na a confiança, dedicação e ami-
Gevaerd, o Barão von Schnee-
Hungria, onde sofreu nova zade que o ligava ao pastor
burg dedicou muito carinho à
crise mental. Maximilian von Henrique Sandrescky. Tanto
sua Colônia, procurando dar-
Schneeburg resolveu se afas- que, por várias vezes, confiou
lhe o sustento físico e com
159
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

ao pastor a direção da Colônia lônia em abril de 1867, com o -Húngaro, e hoje pertencente
quando, por força do cargo, “coração na mão”, para nunca à República Tcheca. O Barão
viajava a Itajaí ou Desterro. mais voltar. Quase cego, por- Maximilian von Schneeburg
Apesar de pedir com insistên- tador de afecção ocular, o foi sepultado no cemitério pa-
cia, ele rogar, de implorar até, primeiro diretor da Colônia roquial em Franzensbad, no
empregando uma linguagem Itajahy-Brusque foi conduzi- dia 18 de setembro de 1869,
simples e franca que lhe era do de canoa pelo colonizador e o padre St. Johan Wenig, de
característica, o nosso pri- Johann Kormann, imigrante Cheb, realizou a cerimônia fú-
meiro diretor não chegou a alemão instalado em Guabiru- nebre.
ver a Casa de Orações na sede ba, sacristão e acompanhante
da Colônia pela qual tanto se do padre Alberto Gattone, até
empenhou. a vila de Itajahy. Kormann le- REFERÊNCIAS
Mosimann (2010) conta vou von Schneeburg ao velei-
que não se sabe se o Barão ro que o conduziu até o Rio Blumenau em Cadernos.
costumava frequentar as ta- de Janeiro, e foi seu último Diário de Viagem do Imigran-
vernas, provavelmente não, amparo em terras catarinen- te Paul Schwarzer. Arquivo
e que o círculo de amizades ses. Depois de algum tempo, Histórico José Ferreira da Sil-
do diretor naqueles primór- sem encontrar os recursos va, tomo XXV, nº 9, 1987.
dios da colônia parecia res- médicos para o alívio de sua DIRSCHNABEL, Roque
Luiz. Entrevista concedi-
tringir-se aos raros homens doença, e pouco antes da sua
da à autora, por e-mail, em
diplomados da aldeia. Mas, morte, Schneeburg voltou
9/09/2018, a partir de tra-
segundo os próprios escritos para sua pátria de origem. Vi-
dução livre do alemão gótico
do Barão Maximilian von Sch- veu seus últimos dias junto à
para o português, de partes
neeburg, no início da noite sua meia-irmã, residindo em do livro de Beda Weber, “Me-
ele costumava sair um pouco, Franzensbad nº 15, onde des- ran und Seine Umgebungen,
vela de sebo na mão para ilu- viveu no dia 16 de setembro oder das Burggrafenamt von
minar o caminho, visitando de 1869, aos 70 anos. Naque- Tirol: Für Einheimische und
o agrimensor Germano Thie- la época, Franzensbad, Cheb Fremde”. Arquivo Nacional da
me, que morava bem próximo (Eger), pertencia ao Reino Áustria, 1845.
da casa da Diretoria, ou o Sr. da Boêmia, Império Austro GEVAERD, Ayres. Blume-
Ewert Knorring, marido de nau em Cadernos. Arquivo
Augusta von Knorring, pri- Em 1964, o Barão foi Histórico José Ferreira da
meira professora pública da homenageado quando a Silva. Blumenau. Diversas pu-
Colônia. Morando na própria praça central de Brusque blicações escritas a partir dos
casa da Diretoria, na Stad- passou a ser denominada documentos da então Colônia
tplatz, o Barão costumava ir Barão von Schneeburg. Itajahy-Brusque, disponíveis
jantar na casa particular do Em 2017, ele também na Casa de Brusque.
Dr. Eberhard, onde pagava foi homenageado como MOSIMANN, João Carlos.
pensão de alimentação. As famílias de Brusque, Gua-
Patrono da Academia de
Seriamente doente, o Ba- biruba e Botuverá – Nos me-
Letras do Brasil de Santa
rão Maximilian von Schnee- andros do Itajaí-Mirim. Flo-
Catarina, Seccional de rianópolis: Edição do autor.
burg deixou sua querida Co-
Guabiruba. 2010.
160
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Pedro Werner e a esposa Catharina Palm em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

A família de Pedro José Werner


Peter Joseph Werner, ou “Marquês de Viana” e seguiu imigrantes alemães que ha-
Pedro José Werner (em por- viagem do Rio de Janeiro para viam chegado a São Pedro de
tuguês) nasceu em Bremen, o seu destino final em solo Alcântara junto com a família
Alemanha, em 20.01.1822 e brasileiro: Desterro (hoje Flo- Werner. Após o casamento, o
faleceu em 10.01.1882 em rianópolis). Aportaram no dia jovem casal se mudou para o
Brusque. Era o filho mais 12 de novembro de 1828 e fo- território onde, poucos anos
velho do casal Johann Peter ram instalados na Colônia São depois, seria instalada a Colô-
Werner e Anna Werner, e, com Pedro de Alcântara, a primei- nia Itajahy-Brusque. De acor-
seus pais e irmãos, emigrou ra colônia alemã no estado de do com Tomio (2018), a famí-
para o Brasil ainda criança. Da Santa Catarina. lia Palm também se instalou
Alemanha até o Rio de Janei- Ainda em São Pedro de Al- na região e há registros de
ro, viajaram a bordo do navio cântara, em 29/12/1854, Pe- que, em 1846, Mathias Palm e
Johanna Jakobs. Compondo ter Joseph Werner se casou seu irmão Peter Palm reque-
um grupo de 359 pessoas, em com Catharina Palm, já nasci- reram meia légua em quadro
28 de outubro de 1828 a fa- da na mesma colônia, filha de no rio Itajaí-Mirim, nas pro-
mília embarcou no bergatim Mathias Palm e Maria Philippi, ximidades da atual cidade de

161
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Brusque. Visionário e em- Em 2018, poucos descen-


Pedro José Werner, ape-
preendedor, Pedro José Wer- dentes de Pedro e Catharina
lidado de Pedro Miúdo,
ner construiu engenhos de Werner residem em Brusque,
oriundo da colônia de
farinha, serraria, olaria, além porque todos os seus filhos
São Pedro de Alcântara,
de trabalhar como balseiro e foram ser fazendeiros em
latifundiário, proprietário
garimpeiro. Foi proprietário Lages. Catharina, já viúva,
de engenho de farinha
de grandes áreas de terras acompanhou seus filhos para
e serraria, acolheu em
requeridas junto ao Departa- Lages e lá está sepultada. Dos
seu galpão os primeiros
mento de Terras Públicas da descendentes do casal, ape-
imigrantes quando da sua
Província, e de outras que ele nas o seu neto Antônio Ma-
chegada a Brusque em
comprou de seu vizinho Fran- luche, filho de Maria Werner
1860, e foi um dos funda-
cisco Sallenthien. Mas Pedro Maluche, é que voltou para
dores do Clube de Caça e
não foi o único pioneiro da Brusque. Também Antônio
Tiro Araújo Brusque, em
área que viria a ser Brusque, Maluche fez história, princi-
1866 (GEVAERD, 1977).
pois vários outros possuíam palmente no que se refere ao
Brusque. terras nas proximidades, in- Clube Esportivo Paysandú.
Pedro e Catharina Wer- clusive o seu sogro Mathias
ner tiveram quatro filhos. A Palm e cunhados. Mas o ver-
primogênita, Maria Werner, dadeiro pioneiro, apesar de
nasceu aos 17/10/1855 e não possuir terras, foi Vicente
é considerada, por alguns, Ferreira de Mello, conhecido REFERÊNCIAS
como a primeira pessoa que por Vicente Só, que morou
nasceu em território brus- no local em que Pedro José http://www.familiaimhof.
quense. Maria se casou com Werner construiu suas ben- com.br/ath_peter_joseph_
feitorias. Foi com aquele se- werner_e_familia.htm. Aces-
João Augusto Maluche, um
so em 16 de agosto de 2018.
alemão descendente de espa- nhor de cor parda que Pedro
GEVAERD, Ayres. Política
nhol, músico e fundador da aprendeu a dominar melhor o
e Políticos de Antanho. Notí-
primeira orquestra da Colô- português e a habilidade para cias de Vicente Só, I, n. 2, abr
nia Itajahy-Brusque. Mathias a vida na selva, assim como li- -mai-jun, Sociedade Amigos
nasceu em 1856. Em 1859 dar com os índios.  de Brusque, 1977.
nasceu o terceiro filho, Nico- De acordo com a Paróquia PARÓQUIA SÃO LUIS GON-
lau, que se casou com Mada- São Luis Gonzaga (2018), ZAGA. Disponível em: http://
lena Imhof e, em 1862 nasceu Pedro José Werner é refe- www.paroquiasaoluisgonza-
renciado como um dos co- ga.com/historia/. Acesso em
o último filho do casal, Pedro
19 de agosto de 2018.
José, que se casou com Elisa- lonizadores que, junto com
TOMIO, Telmo. Disponí-
beth Westarb. Pedro Jacob Heil, solicitou à
vel em: <http://telmotomio.
Em 15/02/1855 come- administração da Colônia au- blogspot.com/2015/01/pos-
çaram a funcionar suas pri- torização para – com recur- t-114-familia-palm-de-itajai.
meiras indústrias no terri- sos próprios e de outros fiéis, html> Acesso em 19 de agos-
tório onde mais tarde seria construir uma igreja na sede. to de 2018.
162
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

João Bauer e a esposa Maria Olinger em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

João Bauer e a primeira usina


de energia elétrica na região
João Bauer nasceu em 13 café de casca de batata-do- to teve baixa lucratividade.
de novembro de 1849, na Ba- ce torrada. Mas o jovem João Após a morte do pai, o espíri-
viera. Emigrou para o Brasil Bauer queria mais e tinha to empreendedor e corajoso
aos 11 anos acompanhando muita força de vontade, então de João Bauer o trouxe para
seu pai, o viúvo Balthasar mudou-se para Itajaí onde o povoado de Brusque, onde
Bauer. A família se fixou na trabalhou por um tempo iniciou suas atividades em-
região de Guabiruba, que na- como auxiliar de padeiro. presariais com uma pequena
quele tempo pertencia à Colô- Com a ajuda do pai, jun- venda.
nia Itajahy-Brusque. taram algumas economias e Graças ao trabalho incan-
Enfrentaram a selva agres- conseguiram comprar uma sável, espírito perspicaz, e
te, vivendo inicialmente de propriedade em Guabiruba sempre com a ajuda de sua
palmitos, frutas silvestres, e instalaram um engenho de amada esposa, Maria, com o
alguma caça e fazendo o seu serra, mas o empreendimen- passar dos anos ele se tornou
163
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

o maior líder do comércio os produtos agrícolas em tro-


Em 3/11/1871, João Bauer nessa zona e o mais forte co- ca de mercadorias. Diversos
se casou com Maria Olin- merciante daquela época. foram os empreendimentos
ger, natural de Luxembur- João Bauer era jovial, sem- de João Bauer, que iam des-
go. Tiveram os filhos João, pre bem-disposto e pronto de estabelecimentos comer-
Leopoldo, Matilde, Jacob, a servir a qualquer hora do ciais até os veleiros “Tigre” e
Augusto (que se casou com dia ou da noite, em feriados e “Brusque” e o primeiro navio
Sophia Renaux, filha do mesmo aos domingos, quan- a vapor da região, o “Rudi”,
Cônsul Carlos Renaux) e do os colonos do interior, um misto de passageiros e
Maria Rosa. Sua primei- após a missa lhe traziam os cargas.
ra residência na sede de seus produtos agrícolas, em Construiu a primeira rede
Brusque foi uma casinha troca de mercadorias de seu de abastecimento d’água em
modesta, de tijolos, per- comércio. Itajaí e foi proprietário de
to da ponte Vidal Ramos Desde madrugada, até al- uma cervejaria e de um im-
(atual ponte estaiada). Já tas horas da noite, a sua casa portante armazém de despa-
na idade adulta, depois de abrigava hóspedes, gratuita- chos, principalmente de ma-
experiente comerciante, mente, dando-lhes café e co- deira.
João Bauer ainda aprendeu mida, servindo o pirão com Contando com a ajuda do
a ler e escrever e não deixa- carne-seca e o viradinho de tecelão polonês Yankowsky
va de cultivar a música. Na feijão com ovos e linguiça, para trabalhar manualmente
área pública, foi presidente um hábito alimentar da famí- teares circulares de madeira,
do Diretório do Partido lia Bauer. As turmas se suce- juntamente com outro ma-
Republicano e o segundo diam ininterruptamente, e a quinário para malharia e tri-
administrador de Brusque, família Bauer tanto abrigava cotagem, em 1890, Bauer fez
entre novembro de 1897 os colonos e caboclos do inte- a primeira experiência de in-
e março de 1898, função rior, como os nobres da Igreja dústria de fiação e tecelagem
na qual foi precedido por Católica, governadores e ho- em Brusque, mas o empreen-
Adriano Schaefer e suce- mens públicos. dimento têxtil não teve sequ-
dido por Nicolau Gracher. ência.
João Bauer desviveu a 30
de abril de 1931, com 81
Negócios Em Brusque, foi introdu-
tor do primeiro automóvel e
anos, e foi sepultado no instalou uma pequena rede
Graças ao espírito jovial e
Cemitério Católico de Brus- d’água particular. Dedicou-se,
sua disposição para servir, a
que, na fé que professava e ainda, à extração de mármore
sua pequena loja prosperava.
a cujas instituições apoia- em Camboriú e ao comércio
O comércio passou a servir a
va. O ritual das exéquias em Trombudo Central, onde
qualquer hora do dia ou da
foi realizado por seu neto, teve casa comercial e mon-
noite, abrindo aos feriados
o Monsenhor Harry Bauer, tou uma importante serraria.
e até mesmo aos domingos,
filho de Leopoldo Bauer e Bauer ainda instalou a pri-
quando os colonos do inte-
Evelina Guerreiro. meira fábrica de tecidos de
rior, após a missa, lhe traziam
164
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Na época áurea da sua por João Belli, Osvaldo Gleich ração. (Livro de Contratos da
grande expressão co- e Guilherme Diegoli, objeti- Superintendência de Brusque
mercial, social e política, vando aproveitar o salto de - Arquivo da SAB).
a família de João Bauer Planície Alta que conduziria Em dezembro de 1912, com
oferecia bons banquetes. suas águas ao grupo de turbi- as obras em pleno andamen-
Naquelas oportunidades, nas e geradores instalado nas to, João Bauer realizou um pi-
os nomes e as assinaturas imediações. quenique nas imediações da
em autógrafos dos ilustres Aprovado o estudo foi Represa no qual participaram
convivas eram marcados montada a Usina com dois mais de 250 convidados e a
na ampla e alva toalha de conjuntos de turbinas e ge- Banda Musical «Concórdia».
mesa. Depois, essas assina- radores com 135 KWA cada Dava João Bauer um teste-
turas eram pacientemente um, totalizando 270 KWA. Se- munho público de sua grande
revestidas de fios bordados, guiu-se a linha de fios com 14 obra, em ambiente agradável
sem que escapasse qual- quilômetros com capacidade e festivo. Nos primeiros me-
quer detalhe. para transportar 5.000 volts ses de 1913 com os postes já
até a estação distribuidora instalados nas citadas ruas,
seda natural com teares de construída no início da rua a título experimental, foram
ferro, e uma fábrica de gelo, das Carreiras. Na Villa os pos- beneficiados os primeiros
possuindo também engenhos tes de ferro foram levantados consumidores: o famoso cine-
de serrar madeira, de arroz e nas ruas Barão de Ivinheima ma do Willy Strecker, o salão
de farinha. Como comercian- (Carlos Renaux), Carreiras, e o hotel do Schönen Wilhelm
te, possuía armazém e loja de Conselheiro Willerding (Ruy sede do Clube 4, o salão dos
fazendas e armarinhos. Barbosa), Lauro Müller (par- Atiradores, algumas casas e a
cial), Barão do Rio Branco iluminação pública, parcial.
A primeira (parcial) e 15 de novembro. Finalmente, no dia 13 de
Antes do Conselho Muni- novembro de 1913 foi inau-
usina de energia cipal conceder-lhe privilégio gurada oficialmente a Usina
elétrica na região para instalar eletricidade na hidroelétrica de João Bauer.
Vila (8 de junho de 1912 - Re- Exatamente às 18h30, o su-
De acordo com Ayres Ge- solução nº 39), João Bauer ti- perintendente Guilherme
vaerd (1973), em 1911 João nha iniciado a montagem. Krieger procedeu a ligação,
Bauer iniciou estudos para No dia 10 de agosto se- iluminando um belo lustro
instalar energia elétrica em guinte foi firmado o contrato instalado na Superintendên-
condições de movimentar as assinando o documento Gui- cia.
indústrias e o comércio, pro- lherme Krieger, Superinten- Na oportunidade discursa-
porcionar iluminação pública dente, e João Bauer, servindo ram as seguintes personali-
e particular na então Vila de de testemunhas Otávio de Oli- dades: Dr. Bento Portela, juiz
Brusque. Para tanto contra- veira e Godofredo Mosimann. de direito; Vicente Schaefer,
tou os serviços de um enge- O contrato, com 26 cláusulas, em nome do Superintenden-
nheiro, Max Selinke, auxiliado estabeleceu 30 anos de du- te; professor Trajano Marga-
165
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

rida; padre Henrique Müller, tada no ato pelo Sr. Cel. José
A grande contribuição
vigário, e o engenheiro Max Ramão Junqueira e Cel. Pe-
de João Bauer para o pro-
Solinke. As bandas “Concór- dro Christiano Feddersen e
gresso econômico de San-
dia” e “Liberdade” abrilhan- a Superintendência Munici-
ta Catarina foi aproveitar
taram a solenidade. Nesse pal de Brusque representada
o salto d’água da Planície
mesmo dia, 13 de novembro, pelo substituto em exercício
Alta, em sua fazenda na
João Bauer festejava mais um Carlos Gracher, entre outras
Guabiruba do Sul, para
aniversário de seu nascimen- cláusulas, obrigava a primei-
instalar a primeira usina
to. Apesar de sua avançada ra parte a respeitar o contrato
hidrelétrica e introduzir a
idade, João Bauer cuidou de celebrado com João Bauer e a
energia elétrica na região.
sua usina, durante nove anos. Superintendência em 10 de
A inauguração aconteceu
No início da década de 1920 agosto de 1912 com relação
no dia do aniversário de
a usina não tinha mais condi- ao fornecimento de energia
João Bauer, 13 de novem-
ções suficientes para suprir a elétrica a Brusque. Testemu-
bro de 1913 quando, às
cidade e suas indústrias. nharam o ato, João de Freitas
18h30, o superintendente
Alguns contratempos apa- e Adolfo Ulrich e como secre-
Guilherme Krieger acio-
receram com as condições da tário Francisco Adolfo Otto
nou a chave. Ao som de
represa e do canal condutor (GEVAERD, 1973).
bandas musicais, autorida-
de água, assim como aspectos
des e populares desfilaram
técnicos na rede.
pelas ruas de Brusque,
Teve dissabores sérios in-
agora iluminadas. Com
clusive uma ação penal que
disponibilidade de ener-
lhe moveu uma empresa que
gia elétrica, a atividade
se sentiu prejudicada com a
industrial recebeu grande
falta temporária de energia.
impulso e a demanda por
Não contando com pessoa ou
energia elétrica em Brus-
que foi aumentando. Logo
pessoas que se interessassem REFERÊNCIAS
na continuidade de suas or-
a usina já não tinha mais
ganizações e principalmente GEVAERD, Ayres. Blume-
capacidade para atender
de sua usina, João Bauer re- nau em Cadernos. Arquivo
a demanda, e no ano de
solveu negociá-la. Antes havia Histórico José Ferreira da Sil-
1922 Bauer transferiu a
reduzido as atividades indus- va, Tomo XIV, nº 9. Blumenau:
usina para a Empresa For-
triais e comerciais. setembro de 1973.
ça e Luz Santa Catarina.
A transação consumou-se O Estado. Florianópolis, 13
No local onde funcionou a
no dia 12 de agosto de 1922 de novembro de 1949. Dis-
usina ainda permanecem
com a Empresa Força e Luz ponível em: <http://hemero-
instalados alguns equi-
Santa Catarina, sediada em teca.ciasc.sc.gov.br/oestado-
pamentos, possibilitando
Blumenau. fpolis/1949/EST194910622.
uma verdadeira viagem
O termo de compromisso pdf>. Acesso em 3 setembro
no tempo.
entre a Empresa represen- 2018.
166
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Guilherme Krieger e esposa Carolina Jungblut em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

Coronel Guilherme Krieger


Guilherme Krieger emi- naux. Nesse tempo, Guilher- Johann, Jakob e Johann Phi-
grou de Oldenburg para me Krieger possuía grande e lipp deixaram seu torrão na-
Brusque com 14 anos, em movimentada casa comercial, tal, em Oldenburg rumo ao
1861 e tornou-se comercian- exportava produtos agríco- Brasil. Jorge Paulo Krieger
te. Na virada do século XIX, las para os mais importantes (2018), bisneto do Coronel
era um dos mais prósperos centros comerciais do país e Guilherme Krieger, conta que
empreendedores da região. importava, em regular escala, a família Krieger viajou a bor-
Foi nomeado Coronel co- as mais variadas mercadorias do do navio Maria Thereza, e
mandante da Guarda Nacio- da Alemanha. que saíram do porto alemão
nal de Brusque e, no período A história da família Krie- em 20/12/1860. A viagem
compreendido entre 1890 a ger na Colônia Itajahy-Brus- foi longa e demorada, e, em
1915, um quarto de século, que começou em 1861, 1861 foram enviados para a
disputou a liderança política quando Wilhelm (Guilher- recém-criada Colônia Itajahy
de Brusque com Carlos Re- me) Krieger e os irmãos Karl -Brusque. Conforme Krieger
167
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(2018), Wilhelm, Karl Johann, (1850-1892), casado em pri- (1860) e Wilhelm Karl (1865).
Jakob, e Johann Philipp eram meiras núpcias com Auguste O terceiro filho do casal
filhos de Carl Krieger, lutera- F.L. Kuchenbäcker e em se- Carl Krieger e Anna Elisabe-
no, nascido em 17/03/1793, gundas núpcias com Henriet- tha Cullmann era Wilhelm
em Hettstein, principado te E. Kuchenbäcker; Caroline Krieger, que nasceu em Al-
(Fürstentum) de Birkenfeld, (1851); Emilie (1853-1933), genrodt no dia 15/01/1824.
Grão-Ducado (Großherzo- casada com Wilhelm Müller; Por ocasião da chegada à
gtum) de Oldenburg, hoje Catherine (1854-1855); Carl Colônia Itajahy-Brusque,
comarca (Kreis) de Birken- (1855); Laura (1857-1908), Wilhelm declarou ser pa-
felf, Renânia Palatinado, Ale- casada com August Albert deiro e faleceu em Brusque
manha. Em 28 de agosto de Wilhelm Ristow; Charlotte em 11/10/1875. Era casado
1816, Carl Krieger se casou (1859) e Rudolf (1863 - an- desde 31/03/1846 com Ca-
com Anna Elisabetha Cull- tes de 1865). Segundo Mosi- tharina Reichardt, nascida em
mann, e faleceu em Algenrodt mann (2010), o grande maes- 1826, e falecida em Brusque
no dia 18/08/1839. Sabe-se tro Aldo Krieger, nascido em no dia 12/06/1897. Filhos
que Carl e Anna Elisabetha ti- Brusque em 1903 e fundador de Wilhelm e Catharina: Wi-
veram quatro filhos que, jun- do Conservatório de Músi- lhelm (1847-1932), conheci-
to com suas esposas e filhos, ca de Brusque, descendia de do como “Coronel Guilherme
emigraram para o Brasil. Gustav Phillip Krieger, segun- Krieger”, casado com Carolina
O mais velho dos quatro do filho de Jakob Karl Krieger. Jungblut, e sobre o qual vol-
irmãos Krieger, Johann Karl, Jakob Krieger (em por- taremos a tratar mais adian-
(em português: João Carlos tuguês: Jacó Krieger), nas- te; Caroline (1848-1851);
Krieger), nasceu em Hetten- ceu em Algenrodt no dia Gustav (1850-1851), Gustav
rodt no dia 04/06/1819. Por 01/08/1821. Não há dados (1851) casado com J. F. Alber-
ocasião da chegada declarou de quando e onde faleceu. Por tina Kreidlow; Helene (1854-
ser tintureiro. Faleceu em ocasião da chegada declarou 1866); Wilhelmine (1855);
Brusque em 20/09/1881. Era ser lapidário e recebeu terras Ferdinand (1858-1858);
casado desde 02/04/1845 em Weiherstrasse (atual bair- Eduard (1859), casado com
com Marie Caroline Krum- ro Aymoré), Guabiruba. Em Bertha Friedericke Maria Zir-
menauer, que nasceu em Het- 20/12/1842, se casou com cke; Ferdinand (1862-1866);
tenrodt no dia 13/11/1820, Louise Schmidt, nascida em Johan Karl Frederick (1865)
e faleceu em Brusque em 02/11/1822 em Algenrodt. e Maria (1868), casada com
07/01/1897. Filhos de Car- Filhos de Jacob e Louise: Lui- Leonardo Monegaglia.
los e Marie Caroline: Juliane se (1844-1928), casada com O mais novo dos quatro
(1844-1930), casada com Johan Ludwig Meyer; Ludwig irmãos se chamava Johann
José Galm; Karl (1845-1846); (1845), casado com Friederi- Philipp Krieger (em portu-
Wilhelm Philipp (1846- cke Müller; Jakob (1847), ca- guês: Felipe Krieger), nas-
1889), casado com Gertru- sado com Luise Conrad; Lina cido em Algenrodt no dia
des Kannengiesser; Caroli- (1851); Otto (1854-1856); 23/07/1832, e falecido em
ne (1848-1850); Jakob Karl Karoline (1857-1865); Otto Brusque em 23/11/l891. Por
168
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casarão Krieger, depois vendido para a família Renaux. Atual avenida Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB

ocasião da chegada declarou setembro de 1863, trazendo nen Wilhelm”, casado com
ser boticário e lavrador. Era consigo a filha Charlotte. Se- Ida Scheurich, e que prosse-
casado desde 24/08/1854 gundo Krieger (2018) Johann guiu com os negócios de ho-
com Maria Catharine Sch- e Maria Catharine tiveram telaria do pai; Rudolf (1871),
midt, nascida em Elchweiler os seguintes filhos: Philipp casado com Therese Piets-
em 26/02/1837, e falecida (1856); Charlotte (1857- ch; Hermann (1875-1913),
em Brusque em 19/09/1891. 1903), casada em primeiras casado com Bárbara; Emil
Mosimann (2010) conta que núpcias com Hermann Wil- (1877-1877); Maria Luiza
Felipe era conhecido primei- lerding e em segundas núp- (1878-1878); Anna Gertrud
ramente como Bäker (padei- cias com Otto Moldenhauser; (1880-1880) e Johann Adrian
ro), depois foi dono do hotel Philipp (1859-1863); Heinri- Franz Ernest (1882, morreu
“Zum Deutscher Kaiser”, o ch Philipp (1864-1905), casa- antes de 1891).
primeiro hotel de Brusque, do com Emilie Maas; Gottlieb A família Krieger profes-
e que sua esposa, Maria Ca- August (1866-1896), casado sava a religião luterana e fez
tharine, chegou à Colônia com Elisabeth Jönk; Wilhelm parte das famílias que ajuda-
Itajahy-Brusque somente em Ludwig (1868-1914), “Schö- ram a estabelecer a Igreja Lu-
169
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

terana em Brusque. Conforme e serem confirmados, era ne- Nacional, por força do Decre-
informações do site da Igreja cessário deslocar-se até Blu- to Presidencial, assinado pelo
Evangélica de Confissão Lu- menau, onde o Pastor Oswal- Presidente da República Pru-
terana de Brusque (2018), do Hesse estava instalado. dente José de Morais e Barros
a história da Comunidade em 29/12/1897, e publicado
Evangélica de Brusque ini- Coronel na página 3 do Diário Oficial
ciou com a chegada dos imi- da União (DOU) de sábado,
grantes pioneiros em 04/08/ Guilherme 01/01/1898. Naquele tem-
l860. Com eles, chegaram as Krieger po, a Guarda Nacional sim-
famílias luteranas de Augusto bolizava a ordem elitista da
Hoefelmann, Frederico Gui- Wilhelm Krieger (em por- sociedade, pois os cargos as-
lherme Neuhaus, Frederico tuguês: Guilherme Krieger) sumidos na instituição esta-
Orthmann, Daniel Walther e nasceu em Ida, Algenrodt, vam diretamente associados
Luiz Richter, todos casados Oldenburg, em 1847. Era fi- à renda e à cor da pele, sen-
e com filhos. Esses imigran- lho de Wilhelm Krieger e de do as patentes mais elevadas
tes, ainda que não o tenham Catharina Reichardt e emi- nomeadas pelos presidentes
percebido, foram os respon- grou para Brusque em 1861, de províncias. As tropas não
sáveis por plantar a semente quando contava com 14 anos, eram remuneradas, tinham a
evangélica em Brusque, que acompanhando os pais, tios obrigação de prestar serviço
cresceu e floresceu. Os colo- e primos. Guilherme Krieger até os 60 anos, de providen-
nizadores foram acolhidos no casou-se, em Brusque, no dia ciar seu uniforme, fazer a ma-
galpão de Pedro José Werner 11/05/1869, com Carolina nutenção das armas e equi-
e, meses depois, foram esta- Jungblut, também de Algen- pamentos que utilizavam, e
belecidos à margem esquerda rodt, Oldenburg. Guilherme pagar contribuições em di-
do rio Itajaí-Mirim, na locali- Krieger foi membro da pri- nheiro. O Coronel Krieger era
dade de Bateas. À medida que meira Câmara Municipal de o mais abastado comerciante
chegavam novos coloniza- Brusque (1883) e durante de Brusque daquela época e
dores, os novos luteranos se cerca de um quarto de século assim também ocupou o mais
somavam aos que já estavam esteve envolvido com os des- elevado cargo da Guarda Na-
estabelecidos na Colônia e, tinos de Brusque, chegando a cional da Comarca de Brus-
em 1861, as famílias Krieger exercer a presidência do Con- que. Chegou a exercer a presi-
se uniram às famílias já exis- selho Municipal de Brusque, dência do Conselho Municipal
tentes. Os imigrantes lutera- acumulando as funções de de Brusque, acumulando as
nos haviam trazido consigo a chefe do executivo por dois funções de chefe do executivo
Bíblia, Hinário e o Catecismo quatriênios. Desviveu aos 85 por dois quatriênios.
Menor, e em Bateas foi cons- anos, em 05/05/1932. Augusta Carolina Ida (mais
truída a primeira casa de ora- Nomeado Coronel coman- conhecida como Ida), filha de
ção, sendo o serviço religioso dante da Guarda Nacional de Guilherme Krieger e Carolina
praticado pelos próprios co- Brusque, Guilherme Krieger Jungblut, nasceu em Brusque
lonos, mas para batizar, casar, passou a integrar a Guarda no dia 06/06/1886, casou-se
170
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Otto e, depois de ampliações,


funcionou ali a Loja Renaux e
hoje funciona a Casas Bahia.
O outro casarão – também
conhecido como “Casarão
Amarelo” ou “Casarão Dom
Joaquim” e que pertenceu ao
Coronel Guilherme Krieger,
no bairro Dom Joaquim, ain-
da existe. Não há data pre-
cisa, mas estima-se que este
casarão, construído por Hort
Davi, foi edificado entre 1875
e 1880 e hoje é um dos mais
antigos prédios construídos
no município. No térreo fica-
va uma grande venda, ainda
hoje em atividade. No andar
superior, funcionava a resi-
dência dos proprietários. O
casarão já teve diversos do-
nos e moradores ilustres, en-
tre eles Guilherme Krieger e
seu genro, Otto Renaux.
Guilherme Krieger foi um
grande comerciante e, na vi-
rada do século XIX, era um
Coronel Guilherme Krieger. Acervo: Rosemari Glatz
dos quatro mais prósperos
com Otto Reginald Renaux e em Brusque na atualidade, se empreendedores de Brusque.
teve dois filhos. O casamento misturou. Um deles é o casa- A localização do Casarão Dom
de Otto Renaux, filho mais ve- rão onde em 2018 funciona Joaquim era estratégica para
lho do cônsul Carlos Renaux, e uma loja de departamentos. os negócios do Coronel Krie-
Ida Krieger, em abril de 1910, A construção, do início do ger, que possuía uma fazenda
foi considerada uma união século XX, inicialmente per- em Endoenças, acima de Dom
inusitada, pois os pais dos tenceu à família Krieger. Com Joaquim, antigo Cedro, e em
noivos, Carlos Renaux e Gui- o casamento de Otto e Ida, Dom Joaquim ficava sua gran-
lherme Krieger, eram rivais as famílias se aproximaram de loja, instalada no pulmão
políticos. Com o casamento, e os negócios se misturaram. econômico de uma região rica
a história de dois dos poucos O local chegou a ser moradia pela produção de madeira
casarões que ainda existem de Paulo Renaux, irmão de serrada, farinha de mandioca
171
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

“Casarão Amarelo” ou “Casarão Dom Joaquim” pertenceu ao Coronel Guilherme Krieger. Acervo: Rosemari Glatz

e açúcar. Em 1915, Otto Re- ziam o transporte da madei- REFERÊNCIAS


naux foi residir no pavimento ra, desde Vidal Ramos, pelo
superior do imponente ca- rio Itajaí-Mirim. A madeira BUGGENHAGEN, E. A. von.
sarão Dom Joaquim com sua ficava “estacionada” na curva História Econômica no Muni-
esposa Ida e os dois filhos, do rio, e o Casarão ficava num cípio de Brusque e a obra do
Waldemar e Roland, e assu- ponto estratégico para que os Cônsul Carlos Renaux. [SI].
miu a direção dos negócios balseiros e colonos frequen- Brusque, 1941. Não publica-
do sogro no Cedro, pois havia tassem a venda do Coronel do.
se desentendido com seu pai, onde eram comercializados KRIEGER FILHO, Jorge
Carlos Renaux, em função da sal, açúcar grosso, milho, fa- Paulo. Entrevista concedi-
condução dos negócios da fa- rinha de mandioca, café, bata- da à autora, por e-mail, em
ta, banha, etc. Para escoar as 20/08/2018.
mília.
Igreja Evangélica de Confis-
Arrendatário de terras mercadorias, Guilherme Krie-
são Luterana de Brusque. Dis-
em toda a região, Guilherme ger tinha lanchas-perua que
ponível em: http://www.ie-
Krieger explorava a plantação iam até a barra do Cedro para
clbrus.com.br/historia.html>
de cana-de-açúcar e criação carregar os produtos agríco- Acesso em 20/09/2018.
de gado e também a extração las da região, e transportados MOSIMANN, João Carlos.
de madeira. No final do século pelo rio até a Stadtplatz che- As famílias de Brusque, Gua-
XIX e primeiros decêndios do gando a ir, inclusive, até Itajaí biruba e Botuverá – Nos me-
século XX, existia uma grande onde ele mantinha uma em- andros do Itajaí-Mirim. Flo-
demanda de balseiros que fa- presa de exportação. rianópolis. 2010.

172
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Carlos Renaux e a esposa Selma Wagner em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

A Família Renaux
e a indústria têxtil
Uma das mais importan- religião protestante, nasceu e se instalou em Blumenau,
tes famílias ligadas à história em Loerrach, Grão-Ducado onde, em fevereiro de 1884,
econômica de Brusque é a de Baden, Alemanha, no dia se casou com Selma Wagner,
Família Renaux, cuja história 11/03/1862. Frequentou a filha do bem-sucedido pionei-
começa em 1882 com a che- escola Pedagógico Graodu- ro alemão Peter Wagner.
gada, ao Brasil, de Carlos Re- cal e o Ginásio de Loerrach, Quando chegou no Brasil,
naux, um homem visionário, o equivalente ao atual ensino Carlos Renaux foi acolhido
negociador, empreendedor e médio. Entre 1879 e agosto pelos comerciantes de Blume-
político, e que com a família, de 1882 empregou-se como nau que lhe deram trabalho
prestou grande contribuição aprendiz no Banco Hipotecá- como caixeiro em uma casa
para a transição da Brusque rio de Loerrach – “Kreishypo- comercial, na época conhe-
colonial para a Brusque in- thekenBank”. Em setembro de cida como “venda”, onde co-
dustrial. 1882, emigrou para o Brasil nheceu a esposa. Após curta
Carlos Renaux, em alemão: com carta de recomendação permanência em Blumenau,
Karl Christian Renaux, de escrita pelo gerente do banco, graças à sua rara inteligência
173
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

adquiriu essa empresa sen-


do, para isso, fundamental a
herança recebida por sua mu-
lher, Selma Wagner. Era uma
venda pequena, mas o jovem
negociante adotou no comér-
cio os princípios que até en-
tão eram desconhecidos por
aqui: acabou com o sistema
de troca entre colonos e ven-
deiros e adotou a base da mo-
eda corrente para grande par-
te das transações.
Renaux começou a par-
ticipar nos acontecimentos
políticos e duas vezes tomou
parte em atos de suma im-
portância política: na redação
da Constituição do Estado de
Santa Catarina, em 1891, e
nas lutas da revolta contra
Floriano Peixoto, em 1893.
Bem relacionado e envolvi-
do na política, tinha grande
amizade com a família Mül-
ler, mais precisamente com
Lauro Müller, de Itajaí. Com
ele havia lutado em prol da
fundação do Partido Republi-
cano que elegeu Lauro Müller
No final do século XIX, a família Renaux fez construir primeiro governador republi-
o seu palacete no centro de Brusque, símbolo cano catarinense e, ele pró-
de prosperidade e poder - no local onde em 2018 prio, Carlos Renaux, deputa-
existe a Praça Barão de Schneeburg. do constituinte da Primeira
Assembleia Constituinte de
Santa Catarina em 1889. Em
e capacidade organizadora, ding em Brusque, atuante no 1890, Carlos Renaux foi no-
em 1884 Carlos Renaux as- comércio de exportação de meado pelo governo estadu-
sumiu o cargo de gerente da produtos coloniais em Itajaí. al para presidir o Conselho
filial de Asseburg & Willer- Um ano depois, em 1885, ele Municipal. Foi escolhido para
174
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Deputados da primeira Assembleia Constituinte de Santa Catarina em 1891. Acervo: SAB

o cargo de superintendente va (1972), neste período, Re- a Guarda Nacional, por força
(prefeito) em várias gestões. naux foi preso e submetido a do Decreto Presidencial, as-
Carlos Renaux foi um dos Conselho de Guerra que ter- sinado pelo Presidente da Re-
chefes republicanos locais da minou por condená-lo à mor- pública Prudente José de Mo-
Revolução Federalista que te por fuzilamento. Contudo, rais e Barros em 29/12/1897,
teve início em 02/02/1893 graças à enérgica interferên- e publicado na página 3 do Di-
e terminou em 23/08/1895, cia de seu ferrenho adversá- ário Oficial da União (DOU) de
quando a guerra civil espa- rio político - Elesbão Pinto da sábado, 01/01/1898. Carlos
lhou-se pelos estados do Rio Luz, a sentença foi anulada, e Renaux foi nomeado tenen-
Grande do Sul, Santa Catarina assim Renaux não se somou à te-coronel comandante do 7º
e Paraná, que durou 31 meses estatística dos mortos daque- Regimento de Cavalaria, e seu
e foi marcada por atrocida- la revolução. irmão, Oscar Renaux, foi no-
des contra civis e militares. Em 1898, Carlos Renaux e meado capitão assistente do
Segundo José Ferreira da Sil- seu irmão passaram a integrar Coronel comandante Guilher-
175
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

me Krieger. Naquele tempo, a ros teares da fábrica pioneira que rendeu a Brusque o títu-
Guarda Nacional simbolizava em Brusque foram acionados lo de “Berço da Fiação Catari-
a ordem elitista da sociedade, com os tecelões de origem ale- nense”.
pois os cargos assumidos na mã, vindos de Lodz, que pen-
instituição estavam direta- saram em estabelecer uma Família Renaux:
mente associados à renda e à pequena indústria de tecela-
cor da pele, sendo as patentes gem em Brusque. Necessita- esposas e filhos
mais elevadas nomeadas pe- vam, todavia, de uma pessoa de Carlos Renaux
los presidentes de províncias. que desfrutasse de conceito
As tropas não eram remune- na comunidade e que fosse Era 19/02/1884 e fazia
radas, tinham as obrigações homem de capacidade dinâ- pouco mais de um ano que
de prestar serviço até os 60 mica, capaz de tomar sobre Carlos Renaux havia chegado
anos, de providenciar seu si a responsabilidade do em- ao Brasil quando do se uniu
uniforme, fazer a manutenção preendimento. Renaux con- em matrimônio, na Igreja
das armas e equipamentos quistara reputação de traba- Luterana em Blumenau, com
que utilizavam, e pagar con- lhador eficiente e honesto e a bela Selma Wagner. Antes
tribuições em dinheiro. aceitou o desafio, mas, até en- disso, tinham anunciado pu-
tão, ele não conhecia o ramo blicamente o seu noivado,
Berço da Fiação de negócio a que iria, depois, em agosto de 1883. Selma
dedicar toda a sua existência. era filha de Peter Wagner e
Catarinense Para ampliar a empresa e Friedericke Metzner e nas-
adquirir máquinas, Renaux ceu em Blumenau no dia
Após atuar alguns anos tomou dinheiro emprestado 08/12/1865. Foi criada entre
como comerciante em Brus- de uma firma de Hamburgo os colonos pioneiros do Vale
que, Renaux conseguiu reu- e com esse aporte de recur- do Itajaí, e foi aprendiz de
nir economias e, da associa- sos as indústrias se desenvol- professora. Selma trouxe para
ção com colonos agrícolas veram e marcaram um novo o casamento um “Mitgift” –
da região, e com dinheiro de episódio na vida da cidade. um dote de 10 contos de réis,
alguns sócios, montou, em Brusque não poderia mais considerado uma quantia
1892, a primeira empresa manter-se como célula exclu- bastante significativa naquele
têxtil da família Renaux. Era sivamente agrícola, e estaria tempo e sólidas raízes na re-
11/03/1892 e Carlos Renaux condenada à decadência se gião.
estava completando 30 anos não fosse sua transformação No tronco familiar de Sel-
de idade. em parque industrial, e o pri- ma Wagner, vamos encontrar
Nesse dia, Carlos Renaux meiro passo desta transição os Baumgarten, Moellmann,
iniciou a primeira fábrica de coube ao visionário empreen- Hoepcke, Altenburg, Brü-
tecidos em sociedade com dedor Renaux. ckheimer, Hering, etc., que,
Paulo Hoepcke e Augusto Em 1900, Carlos Renaux casados com membros da
Klapoth, que mais tarde se re- instalou a primeira fiação de família Wagner, renderam a
tirariam da firma. Os primei- algodão de Santa Catarina, Carlos Renaux boas relações
176
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

empresariais e políticas. Após família passou a residir num Carolina, e oito homens.
o casamento, Selma e Carlos palacete construído no cen- O filho Otto Renaux foi
se estabeleceram em Brus- tro, de três andares, pintado o continuador da obra do
que. de rosa, terraços de ferro e pai. Sobre os filhos: (1) Wi-
A historiadora Maria Lui- um gramado circundado por lhelm Max Renaux nasceu em
za Renaux (1995) escreveu esculturas representando as 04/09/1884 e faleceu poucos
que, para a jovem esposa, os profissões. dias após. (2) Sophia, nasceu
primeiros anos em Brusque Foi a primeira casa em no dia 23/09/1885 e casou-
foram iguais aos de tantas Brusque servida por encana- se com August Bauer, filho de
outras mulheres casadas que mento, luz elétrica e depen- João Bauer, grande empreen-
dividiam sua atividade entre dências sanitárias com água dedor de Brusque e teve seis
o negócio familiar e o domicí- corrente. Não era mais uma filhos. (3) Maria casou-se com
lio. No início, o casal morava residência comum. Seguindo Gustav Büeckmann e teve
numa casa no centro, junto ao o modelo burguês da época, dois filhos. (4) Otto Reginald
pequeno comércio que ele ad- pelo qual os mais bem-suce- Renaux casou-se com Augus-
ministrava. didos buscavam possuir bens ta Carolina Ida Krieger, mais
Depois que Carlos Renaux imóveis em primeiro lugar – o conhecida como Ida, filha do
fundou a fábrica de tecidos, o palacete era o signo indispen- Coronel Guilherme Krieger e
local de trabalho passou a ser sável de distinção entre os também teve dois filhos (5).
separado da casa de moradia. burgueses – quando apare- Oscar nasceu em 10/03/1889
A casa e a venda permanece- cer era mais importante do e faleceu no dia 23/07 do mes-
ram no centro e a fábrica foi que ser. O palacete devia ser mo ano. (6) Carlos Júlio Re-
instalada a 3 km além, na Es- o símbolo do status alcança- naux nasceu em 16/08/1891
trada dos Pomeranos, atual do pelos Renaux. Crianças, e não teve descendentes. (7)
rua 1º de Maio. Guiada pelos hóspedes, negócios, tudo se Carlos Renaux Júnior nasceu
princípios simples de quem misturava naquela atmosfera. em 16/07/1893 e faleceu em
lida com a terra, Selma encon- Ali eram recebidas pessoas 09/1917, sem descendência.
trou no casamento com “um importantes, desde empresá- (8) Paulo Guilherme Renaux
moço da cidade”, ávido de rios até políticos influentes. nasceu em 1894, casou-se
refinamento e de progresso, E Selma, além de auxiliar nos com Alvina Haendchen e des-
momentos difíceis. O marido empreendimentos, devia ga- viveu em 1947, deixando cin-
viajava muito, e então Selma rantir a infraestrutura de hos- co filhos. (9) Luís nasceu em
era vista controlando as ins- pitalidade em casa. Dentro 1895 e teve dois filhos. (10)
talações da fábrica. No retor- desse ambiente confortável Guilherme (Willy) Renaux
no das viagens, Carlos Renaux e luxuoso, “trabalho e muito nasceu em 1896 e teve quatro
trazia em sua bagagem as in- trabalho” é o que Selma tinha filhos. E, finalmente, (11) Sel-
fluências da burguesia euro- pela frente todos os dias. ma Carolina Renaux nasceu
peia, às quais ela tinha de su- Selma e Carlos tiveram em 1898, casou-se com Al-
jeitar-se. onze filhos, sendo três mu- bert Wilhelm Gommersbach
No final do século XIX, a lheres: Sophia, Maria, e Selma e teve dois filhos.
177
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Selma Wagner Renaux era com “bons olhos”. Por volta de balsamado, transportado a
uma mulher inteligente, forte, 1918, para curar a doença da bordo do iate “Angela” até
saudável. Como mãe, costu- esposa, o casal se mudou para Itajaí, e está sepultado no
mava brincar com os filhos, a Holanda. Hanna desviveu Mausoléu da Villa Renaux, em
era amorosa e em tudo irra- com apenas 35 anos de idade, Brusque.
diava calor. Por sua amabili- no dia 31/12/1919, em Ar- No total, o Cônsul Carlos
dade, temperamento alegre e nhem, na Holanda. Renaux teve três esposas,
grande bondade para com os Passados sete meses da mas filhos teve apenas com a
necessitados, ela soube con- morte da segunda esposa, primeira, Selma Wagner.
quistar as simpatias de toda Carlos Renaux contraiu novas
a gente com que vivia. Sel- núpcias com sua governan- Cônsul Honorário
ma desviveu às 18h45 do dia ta, a holandesa Maria Lui-
29/09/1912, com 47 anos de za Auguste Lienhaerts - co- em Baden-Baden
idade, em sua residência em nhecida pelos brusquenses
Brusque, em consequência de como “Goucki”. Ela nasceu Em 1922, Renaux transfe-
leucemia. Em seu túmulo, en- no dia 26/12/1884, filha de riu residência com a esposa
contramos a epígrafe que re- Franz Leopold Lienhaerts e para Baden-Baden pois, no
sume sua vida: “Se a vida foi de Joanna Maria Hubertina tempo do Epitácio Pessoa, o
bela, foi trabalho e preocupa- Roosenboom. O casamento governo brasileiro o nome-
ção”. (Salmo 90, versículo 10) ocorreu no dia 10/08/1920 ara Cônsul Honorário (sem
Poucos meses após en- na terra natal da noiva, em ser funcionário de carreira
viuvar, Renaux se casou com Merkelbeek, Limburg, Holan- e sem remuneração) para o
a atriz europeia Johanna Ma- da. Goucki era considerada Consulado em Baden-Baden,
ria von Schönenbeck, filha de uma mulher inteligente, dis- para cuidar da transferência
Mathias Alois Josef Müllern ciplinada e falava várias lín- de imigrantes alemães para o
von Schönenbeck e de Joanna guas. Brasil logo após o término da
Mathilde Müllern von Schö- Em 1922 o casal se mudou I Guerra Mundial.
nenbeck, conhecida pelos para Baden-Baden pois, no Durante os anos em que es-
brusquenses como “Hanna”. tempo do Epitácio Pessoa, o teve morando na Europa, Car-
O casamento civil foi reali- governo brasileiro o nome- los Renaux manteve-se ativo
zado na residência do noivo ara Cônsul Honorário (sem nas atividades empresariais
no dia 20/06/1913 pelo Juiz ser funcionário de carreira no Brasil, delas se retirando
de Paz Mathias Moritz, tendo e sem remuneração) para o definitivamente só em 1937.
como testemunhas: Vicente e Consulado em Baden-Baden. Do período em que foi Côn-
João Schaefer. Ela tinha 29 e Goucki desviveu aos 54 anos sul em Baden-Baden, exis-
ele tinha 51 anos. Consta que de idade, no dia 27/06/1939, te carta que ele escreveu de
Hanna era uma artista vie- em São Paulo - onde estava Brusque para a esposa Gou-
nense, elegante, muito bonita internada para tratamento de cki que ficara na Europa en-
e que se expressava bem, e saúde. quanto ele, o Cônsul, viera ao
que o casamento não foi visto O corpo de Goucki foi em- Brasil inspecionar a expansão

178
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

pelo Cônsul em homenagem à


terceira esposa, envolvendo o
projeto, a construção, o mobi-
liário, os jardins e o lago, bem
como o mausoléu, foi concluí-
da por volta de 1935.

Fundação
Cultural e
Beneficente
Cônsul Carlos
Renaux

O Cônsul também deixou
feitos na área social e cultural
e, para financiar projetos que
trouxessem benefícios para a
região, em 1936 a família Re-
naux criou a Fundação Cultu-
ral e Beneficente Cônsul Car-
los Renaux, conhecida entre
nós como “Cultural”.
Dessa fundação veio o di-
nheiro para que Rudolfo Stut-
zer montasse a oficina onde
acabou sendo produzida a
primeira geladeira brasileira
– a geladeira Consul. Também
foi por meio da “Cultural” que
Cônsul Carlos Renaux em 1942. Acervo: Rosemari Glatz foram beneficiadas diver-
da Fábrica Renaux, então diri- naux mandou projetar, pelo sas outras instituições, como
gida por seu filho mais velho, engenheiro alemão Eugen igrejas, escolas e hospitais.
Otto: “todas as construções Rombach, sua residência em Em discurso proferido pelo
foram feitas de acordo com Brusque. Estava se prepa- Cônsul por ocasião da inaugu-
meu plano de 1929 e ficaram rando para retornar defini- ração do Hospital de Azambu-
grandiosas”. tivamente para o Brasil. A ja, a 11/03/1936, ele assim se
A partir do início da construção completa da “Villa expressou:
década de 1930, Carlos Re- Goucki”, como foi chamada “De modo algum quero eu

179
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

ser agradecido pelo que fiz ou 28/01/1945, aos 82 anos de como concebida pelo arquite-
dei em benefício desta obra. idade. to Eugen Rombach, deixando
De igual maneira, não quero Para o seu sepultamento, como legado o projeto do Mu-
ser louvado por atitudes de uma longa carreata composta seu Cônsul Carlos Renaux.
benemerência de igual ca- por membros da comunida-
ráter. Se a conquista de bens de, empregados, familiares, e
materiais realmente traz al- grandes nomes da economia
gumas facilidades na vida e o e da política de Santa Catari- REFERÊNCIAS
sucesso empreendedor des- na e de outros estados vieram
perta o reconhecimento so- para o último adeus. Estima- BUGGENHAGEN, E.A. von.
cial, por outro lado exige do se que cerca de 10.000 pes- História Econômica no Muni-
cidadão muito mais respon- soas compareceram ao seu cípio de Brusque e a obra do
sabilidade e compromisso funeral. Cônsul Carlos Renaux. [SI].
frente a sua comunidade. Eu Após a morte do Cônsul, Brusque, 1941. Não publica-
conheço muito bem tais obri- seus descendentes costuma- do.
gações pois, de início modes- vam se reunir na Villa Renaux Blumenau em Cadernos. A
to, minha vida foi de trabalho duas vezes ao ano, para ren- Família Renaux. Tomo III, nº
duro e repleta de sacrifícios e der homenagem aos antepas- 8, agosto de 1860.
de privações. É dentro desse sados: no dia 11/03, aniver- http://hemeroteca.ciasc.
mesmo espírito pois, e movi- sário natalício de Carlos, e em s c . g ov. b r / b l u m e n a u % 2 0
do pelo mesmo sentimento 8/12, aniversário natalício em%20cadernos/1960/
de gratidão, que minha oferta da sua esposa Selma Wagner, BLU1960008_ago.pdf. Acesso
se destina à terra a qual, há mãe de todos os 11 filhos de em 3 de setembro de 2018.
mais de meio século, deu-me Carlos Renaux. KONS, Paulo V. A Guarda
generosa acolhida e que um Durante muitos anos, Sel- Nacional de Brusque. Dis-
dia me abrigará em sono eter- ma Carolina, a filha mais nova ponível em: <https://www.
no (In: arquivo pessoal Villa de Carlos e Selma, residiu na brusquememoria.com.br/
Renaux). Villa Renaux, contribuindo site/noticia/17/A-Guar-
para a preservação do patri- da-Nacional-de-Brusque
O findar mônio. -em-1898>. Acesso em 10 se-
E, no início dos anos 1990, tembro 2018.
da vida a bisneta do Cônsul, a histo- RENAUX, Maria Luiza. O
riadora Maria Luiza Renaux – outro lado da história: o pa-
Depois de enviuvar pela conhecida como Bia, fixou re- pel da mulher no Vale do Ita-
terceira vez, em 1939, o Côn- sidência na Villa Renaux, em jaí, 1995.
sul Carlos Renaux morou ânimo definitivo. Bia desviveu SILVA, José Ferreira da.
sozinho em sua residência, no dia 05/01/2017, e durante História de Blumenau. Flo-
onde desviveu, de morte na- os cerca de 25 anos em que rianópolis: Editora EDEME -
tural, em decorrência de aci- morou no imóvel, se dedicou Empreendimentos Educacio-
dose colapso cardíaca, no dia a preservar a propriedade tal nais Ltda., 1972.
180
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Eduard von Buettner e esposa Albertine Burow em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

A Família von Buettner e a


indústria têxtil em Brusque
A segunda manufatura têx- a família, onde foi proprietá- sócia comanditária, e guarda
til de Brusque foi uma empre- rio de uma loja de fazendas, relação com a produção arte-
sa de bordados finos, a E. v. secos e molhados e armari- sanal de aventais por Alberti-
Buettner & Cia., que durante nhos, além de diversos ou- ne, toalhas de mesa, colchas
algum tempo manteve, em tros empreendimentos. A “E. e cortinas bordadas com má-
paralelo aos negócios têxteis, v. Buettner e Cia.”, precurso- quinas à manivela por Idalina,
uma loja de secos e molhados ra da Buettner S/A Indústria esposa do filho Edgar.
e o beneficiamento de produ- e Comércio, foi fundada pelo Edgar Ricardo von Buett-
tos agrícolas e florestais. seu filho primogênito Edgar ner (2018), filho de Edgar
Em 1873 Eduard von von Buettner, tendo sua mãe von Buettner, apresenta im-
Buettner havia se mudado de Albertine, esposa do vendeiro portante contribuição para a
Blumenau para Brusque com Eduard von Buettner, como história da família Buettner a

181
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

partir de documentos obtidos gust Ignaz Conde Lodzia-Po- 28/09/1844, também em


em fontes primárias, como ninski (Lodz-Prússia Oriental Sambor, e sua irmã mais
certidões e registros nos li- - 1750 – Siebeneichen–Silésia velha, Constance Condes-
vros de igreja e outras insti- - 1826), que teve o seu título sa Poninska (nascida em
tuições, como juntas comer- de nobreza reconhecido pela 17/02/1789 na Silésia, Prús-
ciais e associações de ofícios. Silésia, casado em segun- sia e falecida em 10/08/1878
Edgar Ricardo tem se dedica- das núpcias, com Friederi- em Blumenau). Constance
do ao estudo da história da cke Otilie Burggräfin e Con- Condessa Poninska acom-
família, desde 1997, quando dessa zu Dohna-Schlodien panharia sua irmã Marie Po-
visitou na Europa os lugares (13/06/1765 em Klein-Kot- ninska e sobrinhos e Eduard
relacionados à história da sua zenau – 16/12/1832 em Sie- von Buettner na sua viagem
família: Bunzlau e Kotzenau beneichen). de emigração para o Brasil,
na Polônia, Berlim, Potsdam, Ainda conforme Edgar em agosto de 1858, no verão
Leipzig, Dresden, Plauen e (2018), com a morte de Edu- europeu. Edgar ainda destaca
Hamburgo na Alemanha. ard Friedrich Buettner, em que já em julho de 1850, o ir-
De acordo com Ed- 24/06/1850, a viúva Marie mão Christoph havia emitido
gar (2018), Eduard Frie- Poninska decidiu mudar-se o passaporte de Marie para
drich Büttner nasceu em de Sambor (hoje Sambir, Po- que ela pudesse viajar com
16/10/1807 como filho do lônia) para Potsdam, sede do os seus dois filhos menores
ourives e conselheiro munici- Reino da Prússia, onde residia para o Rio de Janeiro, mas a
pal da cidade de Jauer, na Silé- o seu irmão, Christoph Hein- viagem só se concretizou oito
sia, Prússia, Friedrich Daniel rich Ludwig Conde Poninski anos mais tarde.
Büttner, de confissão lutera- (nascido em 24/02/1802 A família embarcou no
na. Faleceu em 24/06/1850 em Kreibau e falecido em porto de Hamburgo rumo ao
na cidade de Sambor, Reino 05/03/1876, em Breslau, Si- Rio de Janeiro, de onde seguiu
da Galícia e Lodoméria, que lésia, hoje Wroclaw, Polônia), para Santa Catarina, onde ini-
pertencia ao Império Austro o fundador do ramo evangé- cialmente se dirigiram para a
-Húngaro, deixando enluta- lico (luterano) da família e Colônia Dona Francisca. De-
da a esposa Condessa Marie membro do Conselho Supe- pois de algum tempo, muda-
Poninska Büttner, nascida rior de Administração do Rei- ram-se para Desterro (atual
no Castelo de Siebeneichen no da Prússia, com o título de Florianópolis), capital da pro-
(Sete Tílias), na Silésia em Oberregierungsrath. víncia. A jovem von Buettner,
10/11/1811 e falecida em Com Marie Poninska mu- inteligente e ativa, assentiu
06/07/1864, na Colônia São daram-se também os seus em ser professora e foi nome-
Pedro de Alcântara, municí- dois filhos, Christina Ottilie ada, pela resolução provincial
pio de São José, Santa Catari- Appolonia (chamada Lon- de 23 de março de 1861, inte-
na. ny), nascida em Sambor, Im- rinamente, para a cadeira de
Marie foi a filha caçula pério Austro-Húngaro, em primeiras letras na Colônia
de 11 filhos (sete homens 17/09/1841 e Friedrich São Pedro de Alcântara, re-
e quatro mulheres) de Au- Eduard Adolph, nascido em gião metropolitana de Des-
182
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

terro, hoje Florianópolis.


Após prestar os exames
exigidos pela lei, foi efetiva-
da no cargo. Acostumadas
ao conforto e à riqueza, não
se conformavam com a pre-
cariedade dos cômodos que
passaram a habitar, nos fun-
dos da casa da escola. Esta era
de madeira, mas os demais
compartimentos da moradia
eram de palmitos barreados.
Tantas contrariedades, tantos
desgostos sucessivos, que-
braram o ânimo da Condessa
Maria Poninska von Buett-
ner. Após curta enfermidade,
com apenas 45 anos de idade,
morreu em São Pedro de Al-
cântara, em 1864.
Em 1865, a jovem, mas de-
cidida, Appolonia von Buett-
ner, que havia sido contratada
por Francisco Carlos de Araú- Residência e Casa de Negócios dos von Buettner
jo Brusque, Presidente da no centro de Brusque. Acervo: Helga Kamp
Província de Santa Catarina, passou a viver com maior Guilherme Scheeffer. Este
aceitou o convite do Dr. Her- conforto, tomando parte ativa era viúvo de dona Clara Frie-
mann Blumenau, a assumir nos meios sociais, ainda mui- denreich, filha de um dos 17
como diretora, a primeira es- to restritos, mas nem por isso primeiros imigrantes funda-
cola pública do sexo feminino menos alegres e divertidos. A dores de Blumenau. Scheeffer
em Blumenau, tornando-se casa da escola fora construída residira em Campinas, São
assim, a primeira professo- na Rua do Imperador, a então Paulo, onde perdera a espo-
ra pública daquela Colônia. Kaiserstrasse, hoje Alameda sa, numa epidemia de varío-
A transferência se deu por Rio Branco. Era uma casa de la, tendo ficado com quatro
meio da resolução provincial enxaimel, com parte destina- filhos. Guilherme (chamado
de 30/08/1865. Appolonia da a sala de aulas e a outra à de Willy) e Appolonia não ti-
estava então com 24 anos a residência da diretora e sua veram filhos. Muito estimada
serem completados, em 17 de família. e benquista pelos alunos, foi,
setembro daquele ano. Já na casa dos trinta anos, por diversas vezes, home-
Em Blumenau, a família von Buettner casou-se com nageada por eles. Em 1894,
183
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

após 33 (trinta e três) anos de a profissão de serralheiro. 19/05/1878 onde também


magistério, requereu aposen- Como era bem letrada, faleceu, em 15/12/1977. Da
tadoria. Pouco tempo depois, Albertine recebeu o convite união de Eduard com Alber-
falecia o marido e ela então de ser a leitora para a ido- tine nasceram seis filhos: Ed-
transferiu sua residência sa Constance, Condessa Po- gar, Alice Maria Constância
para Brusque, indo morar em ninska, na época já quase (Mimi), Oswald Clarence, Ar-
companhia da família de seu cega. A condessa residia em thur Waldemar, Erna e Irm-
único irmão Eduard. Chris- Blumenau, em companhia de gard Wally.
tina Ottilie Appolonia von seus sobrinhos Apollonia e Após a fundação da loja de
Buettner faleceu aos 88 anos Eduard von Buettner, ambos secos e molhados, a chama-
de idade, em Brusque, no dia filhos de sua irmã Condessa da “venda Buettner”, Eduard
23/02/1929. Os seus restos Maria Poninska von Buettner, decidiu ir além da atividade
mortais encontram-se no ja- falecida em 1864 na Colônia comercial, que aprendera em
zigo da família von Buettner, São Pedro de Alcântara em Blumenau nos anos de 1864 a
no cemitério luterano em Santa Catarina. 1872.
Brusque. A atividade empresarial de
De acordo com Helga Erbe Os negócios Eduard incluiu também uma
Kamp (2018), Eduard von torrefação de café; uma casa
Buettner estabeleceu em A história da família Buett- de farinha; um alambique
Blumenau uma atividade co- ner em Brusque começa para produzir álcool e uma ou
mercial com Luiz Sachtleben, quando, em 1873, Friedrich mais serrarias. Em Brusque,
abrindo eles, em sociedade, Eduard Adolf von Buettner, Eduard desenvolveu uma sé-
uma casa de secos e molha- mudou-se de Blumenau para rie de atividades empresa-
dos. O jovem e bem-apes- Brusque. No mesmo ano, a riais. Em sociedade com João
soado Eduard, nascido em sua futura esposa, Albertine Bauer, adquiriu um veleiro,
Sambor em 28/09/1844, e Burow, também se mudou para o transporte dos seus
falecido em Brusque/SC em para Brusque, levando consi- produtos para Santos e Rio de
29/10/1902, acabou se apai- go o seu primogênito Edgar, Janeiro.
xonando pela culta e recatada filho de Eduard, que nascera Este, com toda a carga, aca-
Albertine Burow e com ela se em São Pedro de Alcântara, bou naufragando em um tem-
casou. Albertine nasceu em no dia 2 de junho daquele poral. Ele também construiu a
28/06/1851, em Klein Sats- mesmo ano (1873). mansão, que ficava ao lado da
pe na Pomerânia, hoje Zaspy Eduard e Albertine viriam Loja Buettner, na rua Barão
Małe, na Polônia, e era filha a se casar apenas cinco anos de Ivinheima, hoje av. Cônsul
de uma família de professo- mais tarde, quando celebra- Carlos Renaux, em frente à
res. Sua irmã, casada com o ram o batismo da primeira rua Alberto Torres, que faz o
serralheiro Krause, a convi- filha do casal, Konstance Ali- acesso pelo lado leste à Igreja
dou para acompanhá-la ao ce Maria, chamada Mimi, que Luterana. Esse imponente ca-
Brasil, onde sonhavam encon- nascera em Brusque, no dia sarão, no estilo de um palazzo
trar melhores condições para italiano, acolhia muitos hós-
184
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

pedes e nela celebravam-se muito distante de Bunzlau. com a agregação dos segmen-
muitos saraus musicais. Ape- Edgar partiu de Hamburgo no tos de fiação, tecelagem e es-
sar de esforços para conservá dia 12/05/1899, em viagem tamparia e tinturaria.
-la, a mansão dos von Buett- de regresso ao Brasil, Rio de A esposa Albertine, além
ner acabou sendo demolida Janeiro, trazendo na baga- de excelente e enérgica mãe,
em 1987. gem duas máquinas de bor- dona de casa e anfitriã, foi uma
As lojas de secos e molha- dar à manivela, adquiridas das fundadoras do “Frauen-
dos em Brusque, chamadas na Bohemia, hoje República verein”, Grupo de Senhoras
de ‘vendas’, funcionavam tam- Tcheca. Auxiliadoras da Comunidade
bém como instituições finan- Em 1900, Edgar e sua mãe Luterana de Brusque. Como
ceiras, já que na época não Albertine, na qualidade de só- mulher, vivia nos bastidores,
havia bancos em Brusque. A cia comanditária, fundam a na função da esposa a dar
venda aceitava depósitos de empresa E.v.Buettner & Cia., um eficiente suporte às ati-
poupança e concedia créditos precursora da Buettner S/A vidades mais públicas de seu
para os colonos. Essa ativida- Indústria e Comércio. Vale marido que, além de seus em-
de era administrada pela sua destacar aqui, mesmo após preendimentos comerciais,
esposa Albertine, que tam- a expansão da sua empresa, tornou-se um dos fundadores
bém iniciou, junto com a sua da Escola Evangélica Alemã,
filha mais velha Mimi, a pro- As cortinas de filó da que viria a ser o atual colégio
dução de aventais e de panos empresa E.v. Buettner & Cônsul Carlos Renaux. Eduard
para sombrinhas, incluindo, Cia. alcançaram tal fama, também participou da funda-
provavelmente, a produção que o Palácio do Governo, ção do “Turnverein”, o Clu-
de mosquiteiros. no Rio de Janeiro, foi com be de Ginástica de Brusque,
Buettner (2018) conta elas guarnecido. Este ramo a atual Sociedade Esportiva
que, seguindo a orientação da industrial, que foi a primei- Bandeirante, tendo sido o seu
sua mãe, o primogênito Edgar ra e, durante muito tempo, Presidente. Eduard faleceu
viajou em 1896 para a cidade a única fábrica de borda- em 29/10/1902, o que forçou
de Bunzlau, na Silésia, Ale- dos e rendas no Brasil, aos Albertine e o seu primogênito
manha (hoje Polônia), onde poucos se transformou Edgar a assumirem as rédeas
vivia a sua tia Selma Buett- numa grande indústria de da família e dos negócios.
ner Neumann, que o acolheu cortinas, se especializando Albertine Burow von
e onde foi aprender o ofício também na produção de Buettner foi quem iniciou a
de bordar com máquinas de tecidos em geral, mosqui- primeira confecção em Brus-
bordar à manivela e a confec- teiros de filó, guarnições de que: talhava pessoalmente
ção de sombrinhas. A cidade mesa estampadas, e tecidos aventais que mandava costu-
de Plauen, um dos três polos de revestimento de móveis rar por mulheres costureiras
da indústria de bordados e estofados. Enquanto isso, a da vila. Com as duas máqui-
rendas na Europa (os outros jovem indústria continuava nas de bordado à manivela,
dois são Sankt Gallen, na Suí- em franco processo de cres- trazidas pelo seu primogênito
ça e Lyon, na França) fica não cimento e expansão. Edgar da Europa e instaladas
185
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

e falecida em 14/01/1935 em A matriarca da família


Na área do Baú, a famí-
Brusque). Segundo Buettner von Buettner em Brusque,
lia von Buettner adquiriu
(2018), através da sua pri- Albertine Burow von Buett-
grandes áreas, sobretudo
meira esposa, sua irmã caçu- ner, faleceu aos 73 anos, em
para a extração de madei-
la, Irmgardt Wally (nascida 12/03/1924.
ra. Esta área, no ano 1960
em 20/03/1893 em Brusque
foi doada por seus her-
e falecida em 09/07/1981 em
deiros ao Parque Natural
Brusque) trava conhecimento
Municipal Morro do Baú,
com o técnico têxtil alemão
em Ilhota, cujos iniciadores
Heinrich (Heinz) Richard
foram o botânico Padre
Bruno Erbe (nascido em REFERÊNCIAS
Raulino Reitz, o botânico e
09/06/1892 em Thüringen, e
ecologista Roberto Miguel Blumenau em Cadernos.
falecido em 23/07/1952, em
Klein, de Itajaí, e o farma- Apolônia von Buettner. Tomo
Brusque), com quem se casa
cêutico Dr. Guilherme Gem- III, nº 11, novembro de 1960.
no dia 10/11/1920. Heinz
balla de Rio do Sul, casado Disponível em:< http://he-
Erbe é quem se encarrega de
com Wera von Buettner. O meroteca.ciasc.sc.gov.br/
agregar o segmento de tecela-
Parque Morro do Baú foi blumenau%20em%20cader-
gem à indústria Buettner, vis-
um dos pontos de amos- nos/1960/BLU1960011_nov.
to que os bordados e as ren-
tragem do Museu Botânico pdf > Acesso em 10 de setem-
das estavam sendo oneradas
Fritz Müller, de grande bro de 2018.
com impostos de 50% a 60%,
relevância histórica para a Blumenau em Cadernos.
tornando praticamente inviá-
Ciência brasileira. Os von Buettner. Tomo III,
vel a sua comercialização.
Também é Heinz Erbe nº 8, agosto de 1960. Dis-
em 1900 sobre a estrebaria ponível em: <http://he-
quem assume a expansão da
e cavalariça da família, mãe meroteca.ciasc.sc.gov.br/
indústria, agregando-lhe uma
e filho bordavam as telas de blumenau%20em%20cader-
fiação, instalada num prédio
filó importado, que cobriam nos/1960/BLU1960008_ago.
no centro de Brusque, cujo
as armações para sombri- pdf>. Acesso em 3 de setem-
projeto arquitetônico de 1934
nhas também importadas, bro de 2018.
ficou a cargo do renomado ar-
uma proteção imprescindível BUETTNER, Edgar Ricardo
quiteto alemão radicado em
das peles claras das mulheres von. Dados do arquivo pes-
Blumenau, Simão Gramlich.
europeias em nosso país tro- soal. Fornecido a Rosemari
Também a instalação de uma
pical. Glatz, por e-mail, no dia 14 de
tinturaria e instalações para
Em 20 de dezembro de outubro de 2018.
o alvejamento de tecidos no
1920, Edgar von Buettner KAMP, Marga Helga Erbe.
bairro Bateas foram conclu-
contrai núpcias, em Porto Dados do arquivo pessoal.
ídas em 1923, tendo como
Alegre, com a gaúcha Idalina Fornecido a Rosemari Glatz,
símbolo deste esforço de in-
Diemer Weiss (nascida em por e-mail, no dia 1º de março
dustrialização, uma enorme
20/02/1888 em Porto Alegre de 2018.
chaminé feita de tijolos.
186
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Gustav Schlösser e esposa Nathalie Starnell em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz

A Família Schlösser e a
indústria têxtil em Brusque
A história da família menores, Hugo, Adolph, Carl lecidos em território polonês.
Schlösser no Brasil começa e Robert. Geograficamente, a família
em 1896, quando chegava a veio da Polônia, que, naquela
Brusque o imigrante Gustav época, era província da Rús-
Schlösser (em português: Da Polônia sia. Eles faziam parte de um
Gustavo Schlösser), um tece- para Brusque grupo de tecelões da Silésia
lão de Lodz, Polônia, contra- que haviam sido atraídos pelo
tado como técnico têxtil na A família de Gustav Schlös- governo russo para iniciar
Fábrica de Tecidos Carlos Re- ser fazia parte dos chamados a atividade têxtil em Lodz,
naux. “auslandsdeuctche”, assim Ozorków, Zgierz e adjacên-
Acompanhavam-no sua es- nominadoos os imigrantes cias, e estavam lá radicados
posa Natália e quatro filhos alemães que estavam estabe- desde o final do século XVIII.
187
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Um pouco sobre a gene- sa região. O enorme desen- tos anos de permanência em


alogia histórica da família volvimento da indústria têxtil Ozorków, a família Schlösser
Schlösser, com base nas con- facilitou a abertura do mer- se mudou para a cidade de
tribuições de Marcus Schlös- cado russo para tecidos, um Zgierz, que geograficamente
ser (2018): mercado ainda inexistente no fica muito perto de Ozorków,
A Família Schlösser é ori- império dos Czares. No fim do e distante apenas 10 km de
ginária de Rothenburg, na Si- século, essa região tornou-se Lodz. Zgierz era considerado
lésia. Eles eram silesianos de grande núcleo da indústria um importante centro têxtil,
origem alemã, possivelmente têxtil da Polônia, sendo consi- com tradição histórica des-
imigrantes de outros estados derada a mais importante da de o ano de 1404, e possuía
da Alemanha. Dedicavam-se Europa. grande tradição na fabricação
ao ramo têxtil como fabrican- Gottfried Schlösser, moti- de tecidos. Em função da fa-
tes de tecidos de lã. vado pelo enorme desenvolvi- bricação de tecidos de linha
1789: Nasceu o avô de mento do ramo têxtil na Polô- mais nobre, Zgierz apresen-
Gustav Schlösser, Gottfried nia, emigrou de Rothenburg, tou ótimo desenvolvimento
Schlösser, filho de Christian Silésia, para a Polônia, e se econômico, compatível, inclu-
Gottfried e Anna Schlösser. radicou em Ozorków, primei- sive, com o desenvolvimento
Gottfried nasceu na cidade de ra cidade fabricante de teci- de Lodz.
Rothenburg, quando a Silésia dos do Reino. Naquela época, 1860: Nasceu Gustav
pertencia ao Reino da Prússia cada mestre era considerado Schlösser, em Zgierz, filho
(Rothenburg in Schlesien). “fabricante de tecidos”, ocu- de Karl Wilhelm Schlösser.
Naquela época, os silesia- pando-se da produção até a Para se ter ideia da força do
nos eram considerados pio- venda do tecido. O fio de lã têxtil na economia da região
neiros têxteis de alto gabari- era fiado manualmente. onde Gustav nasceu, em 1860
to, que procuravam expandir Em 1820, época em que Zgierz contava com 12.000
suas experiências como mão Gottfried Schlösser emigrou, habitantes e, destes, 1/3
de obra qualificada. A Polônia a cidade de Ozorków conta- eram alemães, havia 116 fa-
oferecia boas perspectivas de va com 403 teares manuais, bricantes de tecidos de lã e 32
sobrevivência e futuro desen- produzindo 4.000 peças de de tecidos de algodão.
volvimento da indústria têx- tecido. Existiam cinco fiações de lã
til, atraindo profissionais do 1829: Nasceu o pai de Gus- e algodão, e várias tinturarias.
ramo têxtil. Verificou-se uma tav Schlösser, Karl Wilhelm Nesta época foram instaladas
forte tendência para a imigra- Schlösser, filho de Gottfried as primeiras tecelagens com
ção, apoiada pelo próprio go- Schlösser. Nesse mesmo ano teares mecânicos importa-
verno da Prússia. de 1829, o Czar da Rússia, dos da Inglaterra e Bélgica,
O deslocamento de peque- Alexandre I, visitou Orzokow, provocando uma revolução
nos fabricantes e tecelões de considerada a primeira cida- na indústria têxtil. Zgierz é
lã centralizou-se na região de de têxtil na Polônia. vizinha de Lodz e, no ano de
Ozorków-Zgierz-Lodz, e em Vislumbrando melhores 1888, as fábricas Scheibler, de
outras pequenas cidades des- oportunidades, após mui- Lodz, um gigante no contexto
188
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

mundial das indústrias têx- Gustav Schlösser e Natha- no dia 13/01/1896, e a Brus-
teis, possuíam 230.953 fusos, lie Starnell Schlösser saíram que no dia 02/02/1896. Após
10.954 retorcedeiras e 3.664 de Lodz, na Polônia, no dia a chegada a Brusque, mora-
teares na fiação de algodão. 08/12/1895 e, em Hambur- ram no bairro Águas Claras.
1885: Gustav Schlösser se go, Alemanha, embarcaram Gustav trabalhou como mes-
casa com Nathalie, da família no navio “Paraguassu” no dia tre de tecelagem na Fábrica
Starnell. Nathalie nasceu em 19/12/1895. de Tecidos Carlos Renaux.
1862, em Unikaw, Polônia, Chegaram ao Rio de Janeiro De 1898 a 1902 a família
e foi batizada em Wielum -
Polônia. Seu pai era moleiro,
Gustav Schlösser trabalhou cerca de 15 anos como mes-
mas faleceu cedo.
tre na fábrica de Carlos Renaux. Em 1911, formou sua
Em 1890, seguindo a tradi-
própria empresa em sociedade com seus dois
ção da família, Gustav Schlös-
filhos, Hugo e Adolph, a “G. Schlösser & Filhos”
ser começa a se aperfeiçoar
Destinada originalmente a artigos populares, a
na área têxtil. Ingressou no
tecelagem iniciou com dois teares manuais e crédito
grupo especial da tecelagem
concedido por Renaux. Considerada a terceira grande
da Escola Estadual da Indús-
empresa têxtil a iniciar operações em Brusque, em 1924,
tria na Monarquia Austro
foi instalada a tinturaria própria. Com seu crescimento,
-Húngara em Bielsko (Bielitz)
a Schlösser passou a fabricar toalhas de copa, mesa,
– escola técnica têxtil, no Sul
rosto e banho, além de tecidos em brim. No ano de
da Polônia, que então estava
1933, a firma é transformada em Sociedade Anônima,
sob o domínio da Áustria. Em
passando a ser denominada “Companhia Industrial
1891, ele se formou técnico
Schlösser” até o final da sua existência.
têxtil, e então retornou para
Zgierz.
1895: Gustav e Nathalie
Schlösser decidem emigrar
para o Brasil. Eles já tinham
quatro filhos, dos quais três
deles nasceram em Zgierz e o
último nasceu em Lodz. Gus-
tav tomou conhecimento das
oportunidades de trabalho
por intermédio de um agen-
te que contratava gente es-
pecializada, como técnicos e
tecelões, para atuar no desen-
volvimento da indústria têxtil
do vale do Itajaí-Mirim e do Escritório da Companhia Industrial Schlösser
Itajaí-Açu. na avenida Getúlio Vargas, centro. Acervo: SAB

189
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

morou na localidade do Cedro cação de teares de madeira, tear jacquard, adquirido com
(hoje bairro Dom Joaquim), alguns dos quais funcionaram o crédito concedido por Car-
onde Gustav Schlösser foi até o final do século XX. los Renaux, que se encarre-
professor na Escola Evangéli- Em muitas ocasiões difí- gou, também, do fornecimen-
ca Luterana do Cedro. Depois ceis na nova indústria, prin- to de fio e da distribuição do
se mudaram para o centro de cipalmente no setor técnico, produto em sua “venda”.
Brusque. Nathalie e Gustav era Gustav Schlösser que A firma Gustav Schlösser
Schlösser tiveram sete filhos, conseguia contornar e re- & Filhos foi a terceira grande
sendo que três deles, Hugo solver as situações. Gustav empresa têxtil a iniciar opera-
Adolph e Carl, nasceram em trabalhou na Fábrica Renaux ções em Brusque. No ano de
Zgierz. O filho Robert nasceu durante cerca de 15 anos e 1933, a empresa é transfor-
em Lodz, e os outros três, Ri- durante toda a sua vida exer- mada em Sociedade Anôni-
chard, Olga Anna e Otto, nas- cendo atividades na indústria ma, passando a ser denomi-
ceram em Brusque. têxtil. Entusiasta do esporte nada “Companhia Industrial
De acordo com Renaux amador, da arte e da cultura, Schlösser” até o final da sua
(2010), além de Gustav, os fi- Gustav Schlösser desviveu em existência.
lhos Hugo e Adolph Schlösser Brusque no dia 15/02/1935.
também trabalharam como
tecelões na fábrica de Carlos Gustav
Renaux por algum tempo,
mas, entre fevereiro e agosto Schlösser & Filhos
de 1908, Hugo e Adolph esti- REFERÊNCIAS
veram trabalhando no mesmo Em 1911, Gustav e os fi-
ramo no Rio de Janeiro, para lhos Hugo e Adolph fundaram GEVAERD, Ayres. Os Te-
uma firma de nome Prinz & uma pequena tecelagem, a celões de LODZ na História
Cia. empresa “Gustav Schlösser & de Brusque. Blumenau em
Decidiram voltar para Filhos”, cuja razão social mais Cadernos. Arquivo Histórico
Brusque, e ainda em 1908 tarde passou para Cia. Indus- José Ferreira da Silva, tomo V,
Hugo começou a tecer em trial Schlösser. nº 3, março 1962.
casa, em tear manual adquiri- Com a fundação da firma, RENAUX, Maria Luiza. Co-
do do tecelão Tietzmann, que Gustav e os filhos Hugo e lonização e Indústria no Vale
o trouxera de Lodz; Adolph foi Adolph voltaram a trabalhar do Itajaí: O Modelo Catari-
trabalhar na Empresa Indus- juntos em Brusque, desta vez nense de desenvolvimento.
trial Garcia, em Blumenau. por conta própria. O capital 2ª ed. Florianópolis: Instituto
Enquanto isso, Gustav inicial da empresa era de seis Carl Hoepcke, 2010.
Schlösser, o pai, trabalhava contos e a tecelagem iniciou SCHLÖSSER, Marcus. Do-
como técnico têxtil na Re- com dois teares manuais, um cumentos sobre a origem da
naux. Dotado de extraordi- deles provavelmente aquele família fornecidos por Mar-
nários conhecimentos de sua utilizado por Hugo na fabrica- cus Schlösser à autora em
arte, Gustav orientava a fabri- ção doméstica, e o outro, um 20/08/2018.

190
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Festa dos Atiradores, a mais querida manifestação popular de todos os tempos.


Era realizada anualmente no Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque. Acervo: SAB

Folclore e tradições
Desde os primeiros anos nova colônia. Um dos exem- Schützenverein:
de fundação, a então Colônia plos foi a fundação da primei-
Itajahy-Brusque já evidencia- ra sociedade de atiradores a Sociedade de
va, através das lideranças da (Schützenverein), e a vida Caça e Tiro
comunidade, o desejo de di- social que nos primórdios da
fundir sua cultura sob vários colônia se baseava nos encon- Uma instituição que sem-
aspectos. Dotados de espíri- tros familiares, religiosos e de pre foi muito importante en-
to comunitário admirável, as lazer, com o passar do tem- tre a população de origem
características culturais dos po foi estabelecendo outros alemã era a “Schützenverein”,
primeiros imigrantes do sé- elementos de identificação, a Sociedade de Caça e Tiro,
que existiu em áreas de colo-
culo XIX foram sendo trans- como as festas de igreja e da
nização alemã no sul do Bra-
mitidas através das gerações comunidade, as sociedades
sil.
que se sucederam, que soube- esportivas, as comemorações
A força da cultura aliada à
ram se unir e estabelecer os de Páscoa e do Natal e os pi- representatividade dos líde-
elementos de identificação da queniques.
191
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

res pioneiros deu vida e vi- festa tradicional que acontece Em Brusque, a “Schützenfest”
gor à Sociedade, permitindo a anualmente na região noroes- acabou evoluindo para a Fe-
estabilidade necessária para te da Alemanha, bem como na narreco.
se transformar no centro de Baviera. No Brasil, a “Schüt-
lazer e distração comunitá- zenfest”, era realizada pelas
ria, seja pela prática do tiro, sociedades de atiradores, e
Festas de Igreja
da dança, do canto, da músi- servia tanto para manter as
Desde os primórdios da
ca, do teatro, do consumo de tradições quanto para reunir
fundação de Brusque, nas fes-
cervejas e outras atividades a maior parte dos coloniza-
tas religiosas os participantes
recreativas originárias da ve- dores de origem alemã numa
não ficavam restritos ao gru-
lha Alemanha. Ainda no ano grande festa. Em Brusque
po da religião beneficiada. No
de fundação, a diretoria pro- também foi assim.
dia festivo, se estimulava a
videnciou a aquisição de ter- Ao tratar sobre o assunto,
participação fraternal de to-
reno e construção de ranchos Seyferth (1974) escreveu que
dos os membros da comuni-
para stand e guarda de mate- o formato da Schützenverein
dade e, assim, os resultados
rial de tiro. Na segunda-feira foi transplantado da Alema-
financeiros eram maiores.
de Páscoa do ano seguinte, nha para o Sul do Brasil tal
Para atrair o maior núme-
realizou-se a primeira “Schüt- como funcionava lá no sécu-
ro de participantes, a compra
zenfest”, com vasta programa- lo XIX, e, assim, além da festa
dos gêneros alimentícios, gu-
ção e a primeira disputa para anual de cada igreja, o maior
loseimas, utensílios e tudo o
o “rei do alvo”. Nascia assim evento da colônia era a festa
mais indispensável para a fes-
a festa dos atiradores, como do município “Schützenfest”,
ta, era feita nas diversas casas
a mais querida manifestação a festa do rei do alvo, da qual
comerciais da região próxi-
popular brusquense de todos a família toda participava,
ma, anulando, a priori, os res-
os tempos. Hoje a “Schützen- mesmo porque muitas vezes
sentimentos. Algumas vezes,
verein” se chama Clube de a parentela só se reunia nes-
mesmo a festa sendo da igreja
Caça e Tiro Araújo Brusque tas ocasiões, o que denota a
católica, o grupo financeira-
e se orgulha de ser um dos importância desses eventos.
clubes mais antigos do Bra-
sil (CAÇA E TIRO BRUSQUE,
2018).
Uma importante institui-
ção do tempo de colônia para
manter as tradições trazidas
pelos imigrantes eram as
festas. Havia a festa anual de
cada igreja e a grande festa do
município, a “Schützenfest”.
Ia toda a família, porque era a
festa dos alemães.
A “Schützenfest” (em por-
tuguês: Festa do Tiro), é uma Festa de igreja em Azambuja. Acervo: SAB

192
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Sociedade Ginástica, atual Sociedade Esportiva Bandeirante. Acervo: SAB

mente poderoso era o lutera- que, traduzindo, significa as- liar ao povo e à Pátria, e como
no e no costume local nunca sociação de ginastas, a atual algo pertencente apenas às
se menosprezava a contribui- Sociedade Esportiva Bandei- pessoas de alma livre (JAHN,
ção financeira. Também os rante. 1967).
negociantes se sentiam mais A “Turnverein”, ou as- No dia 16/06/1900, a es-
compromissados a compa- sociação de ginastas, tinha trela do esporte na cidade de
recer no evento quando ven- como símbolo os quatro F Brusque passou a brilhar com
diam para a festa, indistinta- da ginástica criada por Frie- mais força, quando foi criada
mente do lado religioso. drich Ludwig Jahn. Nos esta- a “Turnverein Brusque”. Essa
Esse tipo de festa, organi- belecimentos de ginástica, os fortaleza do esporte nasceu,
zado com zelo e esforço para bons costumes deveriam ser cresceu, desenvolveu-se, pro-
envolver e comprometer toda ainda mais cultivados do que jetou-se e atingiu sua maio-
a sociedade, muitas vezes ex- em qualquer outro lugar. As ridade como fruto do labor
plica como cada comunidade regras morais configurariam, de seus atletas, dirigentes e
conseguiu ter a sua escola, a conforme Jahn, o maior nor- funcionários, conquistando
sua igreja e o seu cemitério, o teador da vida de um ginasta, mares nunca navegados pelo
triângulo social característico e deste princípio surge o lema esporte do “berço da fiação
do povoado na área cultural “frisch, frei, fröhlich, fromm catarinense”.
da sociedade teuto-brasileira, ― ist des Turners Reichtum”. A Sociedade Esportiva Ban-
e também em Brusque. Os denominados “4F” de Jahn deirante (2018) surgiu com a
indicam que “a riqueza do gi- denominação inicial “Turnve-
nasta é ser vivo, livre, alegre rein Brusque”, nome dado por
Turnverein e devoto”. Jahn entendia que, seus 14 idealizadores e que,
Brusque enquanto houver a necessi- traduzida para o português
dade de uma vida corporal, significa associação de ginas-
De grande valor pedagó- haverá a necessidade de tra- tas. Por esse motivo, o Clube
gico, uma das atividades que balhar este corpo, dando-lhe também era conhecido por
tiveram notável desenvolvi- habilidade, resistência, per- Sociedade Ginástica, hoje po-
mento na organização diver- sistência, coragem, atributos tência esportiva fulgurante.
sional nas regiões de ocupa- sem os quais ele facilmente Cada mudança de nome, de
ção teuta foram as sociedades mergulharia nas sombras da Turnverein para Bandeiran-
de ginástica. Aqui também futilidade e do egoísmo. te, determinou a conclusão de
foi assim e, desde o início do O Turnen destaca-se, as- um estágio e início de outro,
século XX, um dos pontos al- sim, como um dos aspectos em busca do progresso, po-
tos da sociedade brusquen- mais essenciais da instrução rém, a ideia original jamais foi
se chamava-se “Turnverein” do indivíduo, como algo fami- podada ou desprezada.
193
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Tradições e recheadas com amendoim Tradições


confeitado.
da Páscoa Costumamos ouvir que se Natalinas
trata de uma tradição alemã,
Na Alemanha, assim como mas essa é uma tradição que No livro Folclore de Brus-
na região de Brusque des- não existe na Alemanha. As que (1960), vamos encontrar
de o início da colonização, amêndoas açucaradas consti- uma literatura interessante
a Páscoa é um grande even- tuem uma tradição de Páscoa sobre São Nicolau, Pelznickel
to. As casquinhas de ovos são portuguesa e, como no Bra- e Christkind. Ao escrever so-
usadas para decorar as tra- sil não havia amêndoas, seus bre as festividades natalinas,
dicionais árvores de páscoa: descendentes as substituíram Piazza dizia que em Brusque
a “Osterbaum”, ou árvore de por amendoins. Assim, reche- e Guabiruba, além do São Ni-
Páscoa. Na Europa, é costu- colau, era comum certos tipos
ar as cascas de ovos decora-
me colocar a decoração cedo, populares trajarem-se com
das com amendoins confeita-
logo após o Carnaval, quando trapos e, conduzindo pesadas
dos é apenas um sincretismo
os galhos ainda estão quase correntes, representavam o
cultural entre as tradições
secos, apenas com os broti- Pelznickel, para atemorizar
portuguesas e alemãs no Bra-
nhos verdes, que florescem a garotada, o que, de certo
sil, e faz parte de uma cultura
com o passar dos dias, levan- modo, consistia num prepa-
mais recente.
do a primavera para os lares e ro psicológico para o Natal,
Mas um costume que exis-
preparando o clima de reno- como que avisando: os bons
te na Alemanha e em outras
vação da Páscoa. serão premiados e os maus
regiões da Europa, como a
Muitas pessoas também esquecidos.
montam a “Osterbaum” no Polônia, por exemplo, e que Para aguardar a passagem
jardim, decorando, com as ainda se preserva por aqui, é de São Nicolau no período na-
casquinhas coloridas, alguma a tradição de enfeitar as ces- talino na região de Brusque e
árvore ainda seca por conta tinhas e também de cozinhar Guabiruba, algumas famílias
do fim do inverno europeu. A ovos com anilina, beterraba costumavam colocar pratos
árvore de Páscoa traz em seu ou marcela para colori-lo na- na janela, ou nas mesas, para
contexto um conceito ligado à turalmente. que fossem enchidos com
religião, pois a cruz de Jesus No domingo de Páscoa, os guloseimas. Às vezes o São
Cristo também é feita de uma ovos cozidos e coloridos são Nicolau passava e, do centro
árvore. colocados em “ninhos” escon- da rua, ia atirando, pelas ja-
Na tradição cristã, Cristo didos na mata, ou em cestas nelas e portas abertas, nozes,
se fez a árvore da vida, e a de ovos e chocolates, para que amêndoas açucaradas, balas,
Páscoa simboliza a vitória da a criançada possa ir procurar doces secos, etc.
vida sobre a morte. quando acordar. Ainda de acordo com Piaz-
Outro elemento comum Até os adultos entram na za, a imagem de São Nicolau,
na Páscoa, tanto em Brusque brincadeira. Na tradição cris- comumente venerada na Eu-
como nas outras cidades de tã, o ovo é o símbolo de vida ropa Central e Nórdica, é de
colonização alemã na região que surge, uma vida nova que um bispo, com mitra na ca-
do Vale Europeu são as cas- se inicia, onde o ovo simboli- beça e báculo na mão. Entre-
quinhas de ovos decoradas za a ressurreição. tanto, na região de Brusque,
194
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Noel e Christkind, contando-


lhes as virtudes e diabruras
de cada um dos petizes da
casa e discutindo se mere-
ciam ou não os presentes de-
sejados. Quando o ‘suspense’
estava no auge, havia o gesto
de magnanimidade da Chris-
tkind, mandando o Papai Noel
distribuir os brinquedos e gu-
loseimas. A abertura do saco
de presentes era um estouro
de alegria. Feita a distribui-
ção, a família homenageava a
dupla benfazeja, dando-lhes
doces e bebidas” (PIAZZA,
1960).
Dentro das tradições nata-
linas da nossa região, vamos
encontrar lugar de destaque
para as canções folclóricas,
reflexo de um tempo e que
Pelznickel em Guabiruba em 1954. Acervo: Sociedade do Pelznickel
fornecem informações sobre
o que as pessoas pensavam e
a legenda popular regional de uma fotografia do criado sentiam.
o representa acompanhado, “Ruprecht”. Baron (2017), na sua obra
no dia da distribuição dos Em Brusque e Guabiruba Melodien von Guabiruba,
presentes, de um criado cha- o “Papai Noel” era comumen- compartilhou os resultados
mado “Ruprecht”, que aqui o te acompanhado pela Chris- de uma importante pesqui-
povo apelidou de “Pelznickel”, tkind -, uma criança vestida sa sobre as canções trazidas
a quem compete amedrontar com ampla camisola branca, pelos imigrantes alemães e
as crianças e, às malcompor- representando o Cristo crian- que são cantadas na região
tadas, ameaçar de castigo, ça, com um véu no rosto para na atualidade. A canção “Stil-
caso não se emendem até o evitar a identificação e uma le Nacht! Heilige Nacht! ”, que
Natal. sinetinha na mão, para anun- encontramos nas páginas 79
Dentre os relatos atribuí- ciar sua aproximação. A famí- e 80 do livro de Baron, com
dos ao Ruprecht, consta que lia, ouvindo a sinetinha tocar, letra e melodia iguais às que
foi dele que saiu a imagem do acendia as velas da árvore de ainda hoje se cantam na Ale-
Papai Noel que conhecemos Natal – o pinheirinho – e apa- manha, curiosamente é a can-
na atualidade, numa adapta- gava as demais luzes da casa e ção a que Piazza se referiu ao
ção do personagem desenha- cantava “Stille Nacht” (canção escrever sobre os natais pas-
do pelo alemão Thomas Nast “Noite Feliz’). Em seguida, a sados de Brusque e Guabiru-
no final do século XIX, a partir família recebia a dupla: Papai ba.
195
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Piqueniques que uniam REFERÊNCIAS


famílias e gerações BANDEIRANTE. Como e
quem originou a Sociedade
Em desuso atualmente, o piquenique reunia muitas famí- Esportiva Bandeirante. So-
lias aos domingos e dias de feriados e era uma das formas ciedade Esportiva Bandeiran-
encontradas pela população para desfrutar de uma tarde te. Disponível em:< http://
de lazer em Brusque e região. Os piqueniques costumavam www.sebandeirante.com.
acontecer durante os meses mais agradáveis do ano, como br/o_clube/?id=OA==&histo-
na primavera, em espaços próximos da natureza, como ria >. Acesso em: 22 setembro
montanhas e bosques, assim como também, nas regiões de 2018.
BARON. Sidinei Ernane.
cachoeiras no interior da cidade e nas prainhas formadas
Melodien von Guabiruba. Tra-
pelo Itajaí-Mirim.
dução de Úrsula Rombach;
O deslocamento muitas vezes se dava com bicicletas ou
ilustrações Cláudia Rieg Ba-
mesmo a pé, dependendo da distância. A refeição tinha ron e Maria Rejane dos Santos
como base as comidas de fácil preparo e transporte, como Gomes. Navegantes: Editora
sanduíches, frutas, ovos cozidos e bolachas, além de bebi- Papaterra, 2017.
das. CAÇA E TIRO BRUSQUE.
Tradicionalmente, os alimentos eram transportados até História do Clube. Clube de
o local do piquenique dentro de uma cesta e, para servir, Caça e Tiro Araújo Brusque.
eram dispostos em uma toalha apropriada, geralmente Disponível em:< http://www.
com motivos de estampa xadrez, sobre o solo, em torno dos cacaetirobrusque.com.br/
quais as famílias e amigos se acomodavam. Realizados ao ar historia.php >. Acesso em: 22
livre, sem restrições de horários, refeições feitas em meio à setembro 2018.
natureza, muitas vezes os piqueniques envolviam também JAHN, Friedrich Ludwig.;
atividades recreacionais. Eram momentos muito especiais, EISELEN, E. (1816) Die
Deutsche Turnkunst zur Ein-
de relaxamento e de integração entre amigos, famílias e ge-
richtung der Turnplatze. Stut-
rações.
tgart: Verlagsdruckerei Con-
radi & Co, 1967.
PIAZZA, Walter F. Folclore
de Brusque: Estudo de uma
comunidade. Edição da So-
ciedade Amigos de Brusque.
Brusque, 1960.
SEYFERTH, Giralda. A co-
lonização alemã no vale do
Itajaí-Mirim. Um estudo de
desenvolvimento econômi-
co. Editora Movimento. Porto
Alegre. 1974.

196
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Palacete Renaux
Edificado no final do século XIX e implantado no cassem violino, violoncelo, piano e outros instrumen-
ponto mais nobre do coração de Brusque, no cruza- tos. As leituras eram feitas em torno da grande mesa
mento das ruas Monte Castelo e Barão de Ivinheima de jantar.
(atual Cônsul Carlos Renaux), o palacete foi constru- O palacete foi construído com modelo de arquite-
ído para servir de residência da família de Carlos Re- tura Historicista, com elementos neoclássicos. A casa
naux e Selma Wagner Renaux. Símbolo arquitetônico do industrial foi centro de inúmeros encontros e reuni-
de Brusque e dotado de características peculiares, o ões. Lá eram recebidas pessoas importantes, não só as
palacete era pintado de rosa, como outras constru- diretamente ligadas à atividade fabril, mas figuras pú-
ções nacionais de destaque na época. O terraço era de blicas influentes, cujo beneplácito se fazia necessário
ferro, e um gramado entrecortado por flores e árvo- para os empreendimentos nascentes. Carlos Renaux se
res circundava a casa. tornara político para poder afirmar seus valores e abrir
No alto do palacete residencial de três andares, as portas aos seus empreendimentos no Estado. Como
estátuas, em tamanho real, representavam o Comér- deputado, assinou a primeira constituição republicana
cio, a Indústria, as Artes, a Lavoura, e outras profis- do Estado de Santa Catarina em 1889, e foi também um
sões. A casa foi a primeira e, durante algum tempo, dos superintendentes (prefeitos) municipais de Brus-
a única de Brusque servida por encanamento e luz que. O Palacete Renaux foi demolido em 1949 e estava
elétrica. Dependências sanitárias com água corren- situado onde hoje é a praça Barão de Schneeburg. Na
te também foram uma inovação do palacete Renaux, compreensão da filosofia do Historicismo, que consi-
concluído em 1900. Essa novidade havia surgido nas dera as particularidades históricas como etapas ou fa-
residências finas da Europa nessa mesma época: a ses do desenvolvimento da humanidade e permeou o
descarga nos sanitários foi inventada na Inglaterra modelo construtivo da edificação, se não tivesse sido
em 1885. Na sala, os lustres iluminavam o espaço e a demolido, certamente o palacete seria considerado
madeira do assoalho era talhada como raios de sol e um dos patrimônios históricos mais significativos da
havia grandes espelhos nas paredes da sala. Um gran- região, pois foi o marco físico da transição da Brusque
de salão de música era utilizado para que os filhos to- colonial para a Brusque industrial.

197
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Mapa área de influência das etnias no


Vale do Itajaí-Mirim de autoria do
Cartógrafo, C. Medeiros, do Departamento
Estadual de Geografia e Cartografia.

REFERÊNCIA
PIAZZA, Walter F. Fol-
clore de Brusque: Estudo
de uma comunidade. Edi-
ção da Sociedade Amigos
de Brusque. Brusque,
1960.
198
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

199
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Porque é conhecendo o passado


que podemos enxergar o futuro...

Mapa de Brusque retratando os empreendimentos


Renaux. Autor Eugen Rombach. Acervo: SAB

200
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

201
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Pórtico de Entrada na Rodovia Antônio Heil


Das an der Antônio Heil Landstraβe (SC-486) zwischen Brusque und Itajaí gelegene
Kunstwerk symbolisiert die starke Wirtschaft und die solide Gesellschaft der Stadt Brusque.
Zwei Türme aus Marmor und Granit, ein großes rotes Betonband, das für die Freiheit, die
Verwandlung und das Wachstum der Stadt stehen. Es versinnbildlicht das Baumwollgarn,
das zu edlem Stoff wird und die Stadt große wirtschaftliche Fortschritte brachte.

O pórtico que marca a entrada tico apresenta duas torres de mação e crescimento da cidade,
de Brusque pela Rodovia Antô- mármore e granito, que emer- assim como o fio de algodão que
nio Heil representa a solidez da gem do piso da praça de maneira se transforma em tecido, e gerou
economia e da sociedade brus- sólida, forte e imponente, repre- grande desenvolvimento para a
quense, onde a forma orgânica sentando a solidez da sociedade cidade. Fazendo parte do cená-
dos fios de algodão marca sua brusquense e da sua indústria rio da praça, um espaço cria uma
história através das mais nobres têxtil. A segunda estrutura é uma atmosfera de contemplação do
linhas que caracterizam o teci- grande fita vermelha de concre- marco – uma praça seca contor-
do multiétnico que é Brusque. O to, que emerge do piso com um nada por um paisagismo colori-
projeto foi arquitetado por meio desenho retilíneo, de forma ho- do que garante a permeabilida-
de um concurso público nacio- rizontal, passando por entre as de, tanto física quanto visual.
nal e as obras foram viabilizadas duas torres, quando dá início a O pórtico marca a divisa de
por meio de uma parceria entre algumas ondulações, simulan- Brusque com o município de Ita-
a iniciativa privada e a Adminis- do uma fita em movimento, ao jaí.
tração Pública Municipal. vento. Essa fita de concreto re- Localização: Rodovia Antônio
A primeira estrutura do pór- presenta a liberdade, a transfor- Heil. Brusque.
202
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Pórtico de Entrada na Rodovia Ivo Silveira


Der Portikus an der Ivo Silveira Landstraβe (SC-108) zwischen Brusque und Gaspar stellt
künstlerisch einen groβen Webstuhl dar. Er verweist auf die traditionelle Arbeit am Webstuhl und
auf die wirtschaftliche Basis der Stadt Brusque, die bundesweit als „Stadt der Tücher“ bekannt ist.

O pórtico que marca a en- que fios de aço são tecidos povo, lembrando a grande
trada de Brusque pela Rodo- para formar uma fita, a arqui- importância das pessoas que
via Ivo Silveira simboliza um tetura remete ao mote de “Ci- a construíram. As ondulações
grande tear e foi arquitetado dade dos Tecidos”. Apresenta da longa fita vermelha de con-
por meio de um concurso pú- uma releitura da tecelagem creto simulam uma fita de te-
blico nacional. As obras foram artesanal de forma bastante cido em movimento, ao vento,
viabilizadas por meio de uma singela, reportando-se à cul- e representa a liberdade, a
parceria entre a iniciativa pri- tura e à economia do Municí- transformação e crescimento
vada e a Administração Pú- pio. da cidade.
blica Municipal, com diferen- Sua estética é de grande O pórtico marca a divisa de
tes empresas patrocinando o significado. A pedra, que dá Brusque com o município de
projeto. solidez e segurança, retrata Gaspar.
Feito de blocos de mármo- a base para a construção da
re que se transformam em cidade. O tecido simboliza o Localização: Rodovia Ivo
muro, ao mesmo tempo em trabalho e a inspiração do seu Silveira. Brusque.

203
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Ponte Estaiada Irineu Bornhausen


In den Jahren 2002-2004 wurde über den Fluss Itajaí-Mirim die Brücke „Irineu
Bornhausen“ gebaut. Sie gilt als eines der Wahrzeichen der Stadt Brusque.

A Ponte Irineu Bornhau- de comprimento, e 36 metros Federal do Paraná – UFPR,


sen, mais conhecida como de altura. O pilar central tem que atribuía parte da respon-
“Ponte Estaiada”, foi constru- formato em A, de onde saem sabilidade das enchentes à
ída entre os anos de 2002 e quatro grupos de dois estais antiga ponte existente, que
2004, e inaugurada em 20 de cada, num total de 512 cabos, havia sido construída na dé-
abril de 2004. que correspondem a 4,6 mil cada de 1980 e possuía ape-
A ponte se destaca pela toneladas de força. nas 20 metros de vão, causan-
materialidade, o concreto O projeto arquitetônico é do um estrangulamento do
branco, sendo considerada de autoria de Mário de Miran- canal do rio e a retenção de
a primeira ponte estaiada da, inspirado em uma ponte resíduos sólidos nos pilares
construída com este material que leva ao aeroporto de Mal- da ponte.
no Brasil. pensa, na Itália, e o projeto A edificação é um impor-
A escolha do material se estrutural foi assinado por tante patrimônio arquitetô-
deu pelo aspecto estético Osvaldemar Marchetti. A op- nico de Brusque, e um dos
do mesmo, que permite um ção da técnica construtiva de principais cartões postais da
concreto aparente com uma estaiamento se deu por um cidade.
característica diferente da aspecto técnico evidenciado Localização: Avenida Lau-
convencional. Tem 90 metros num estudo da Universidade ro Muller. Centro. Brusque.
204
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rosemari Glatz

Fórum Dr. Pedro Alexandrino Pereira de Mello


Das heutige vom Amtsgericht genutzte Gebäude wurde im Jahr 1992 gebaut. Es befindet
sich auf dem Verwaltungsgelände neben dem Rathaus und dem Gemeinderatsgebäude.

A Comarca de Brusque foi A edificação foi inaugurada Considerado um impor-


instalada em março de 1892 em 28 de fevereiro de 1992. tante atrativo turístico de
e o primeiro juiz foi o Dr. An- A construção é belíssima, Brusque, ao lado da Câmara
tônio Wanderley Navarro e busca lembrar as antigas de Vereadores e da Prefeitura,
Pereira Lins. O Fórum da Co- construções que utilizavam o o falso enxaimel que permeia
marca de Brusque é denomi- sistema de edificação usado a construção contribui para
nado Dr. Pedro Alexandrino pelos alemães e, com isso, re- dar um ar europeu à cidade.
Pereira de Mello, que exerceu afirmar uma identidade e tra-
o cargo de Juiz de Direito na zer à memória a história da Localização: Rua Eduardo
Comarca entre 25/07/1898 e colonização de Brusque e ho- Von Buettner, Centro. Brus-
13/03/1902. menagear a imigração alemã. que.

205
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Câmara de Vereadores de Brusque


Die Gemeinderatssitzungen finden wöchentlich in dem 2008 erbauten Gebäude neben
dem Rathaus statt. Im Jahr 1883 wurde der erste Ortsgemeinderat gewählt und erster
Gemeinderatsvorsitzender war Hermann Willerding.

A história da Câmara de o primeiro presidente da Câ- exercendo apenas o Poder Le-


Vereadores remonta ao Bra- mara. gislativo, sendo responsável
sil Império. No período mo- No período monárquico, por fiscalizar e julgar os atos
nárquico, os municípios eram os municípios eram adminis- do Poder Executivo Munici-
administrados pelas câmaras trados pelas câmaras muni- pal.
municipais, e os presidentes cipais. Em 15 de novembro Também conhecida como
das câmaras correspondiam de 1889 foi proclamada a Re- “Casa do Povo”, a Câmara de
aos superintendentes, o equi- pública e instaurada a forma Vereadores de Brusque pas-
valente ao cargo de prefeito republicana presidencialista sou a funcionar em sua pri-
hoje. de governo no Brasil, encer- meira sede própria apenas
E para instalar e adminis- rando a monarquia consti- em 4 de abril de 2008. Está
trar o novo município, em 5 tucional parlamentarista do localizada ao lado da Prefei-
de maio de 1883 foram elei- Império. tura Municipal e do Fórum da
tos os primeiros vereadores. A Câmara Municipal de Comarca de Brusque.
A solenidade de tomada de Brusque atuou até 13 de ja-
posse foi realizada em 8 de ju- neiro de 1890, e somente no Localização: Praça das
lho de 1883, e o comerciante dia 20 de dezembro de 1947 Bandeiras, nº 65. Centro.
Germano Willerding foi eleito voltou a funcionar, porém Brusque.
206
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Prefeitura Municipal de Brusque


Das heutige Gebäude des Rathauses wurde im Mai 1992 eingeweiht. Die Konstruktion
ist schön und erinnert uns an die alten deutschen Fachwerkhäuser. Damit ehrt die
Stadt die Geschichte der deutschen Einwanderung nach Brusque.
O prédio da Prefeitura de Um dos principais pontos aparência das antigas casas,
Brusque foi inaugurado no turísticos da cidade, o estilo mas não utiliza a técnica.
dia 29 de maio de 1992, com de construção buscou recriar A edificação é considerada
projeto do engenheiro civil a aparência germanizada dos um dos principais atrativos
Rubens Aviz. A construção é primórdios da cidade. A fa- turísticos de Brusque.
belíssima, e procura reafir- chada, que imita a técnica
mar uma identidade e trazer de enxaimel, é conhecida en- Localização: Praça das
à memória a história da colo- tre os arquitetos como “falso Bandeiras, nº 77, em frente
nização de Brusque e home- enxaimel”, ou como neoen- à Praça do Sesquicentenário.
nagear a imigração alemã. xaimel, pois apenas simula a Centro. Brusque.
207
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Observatório Astronômico de Brusque


Die Sternwarte liegt im Kloster Heiliges Herz Jesu und wurde 1979 eröffnet.

O Observatório Astronômi- Em 1987 foi criado o Gru- O Observatório é bastante


co de Brusque foi inaugurado po de Estudos Astronômicos procurado por escolas, e fun-
em 3 de novembro de 1979, Antares, ligado ao Observató- ciona como um complemento
no Convento Sagrado Coração rio. do conteúdo visto em sala de
de Jesus, numa iniciativa dos Com o crescente interesse aula.
padres Pedro Canísio Rauber dos estudantes e da própria O Observatório Astronô-
e Tadeu Cristovam Mikowski. comunidade em torno das ati- mico é aberto ao público todo
Inicialmente foi denominado vidades do Observatório, em segundo e terceiro sábados
Observatório Kappa Scorpii, 19 de março de 1988, e com de cada mês, das 20h às 24h,
em alusão a uma das estrelas o apoio do então Pe. Tadeu se houver condição atmosfé-
representadas na constelação Cristovam Mikowski, foi fun- rica favorável, com entrada
do Escorpião. É considerado dado o Clube de Astronomia gratuita.
uma referência nacional na de Brusque - CAB, numa jun-
área de pesquisa e divulga- ção do Observatório Kappa Localização: Avenida das
ção da astronomia e ciências Scorpii e do Grupo de Estudos Comunidades, nº 111 – Cen-
afins.  Astronômicos Antares. tro. Brusque.
208
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

RPPN Chácara Edith


„Chácara Edith“ ist ein privates Naturschutzgebiet und hat eine Gesamtfläche von 509,32
Hektar. Ungefähr 95% dieses Gebietes ist vom Atlantischen Regenwald bedeckt.

A Chácara Edith é uma Re- Fundação de Amparo à Tec- da Biosfera da Mata Atlânti-
serva Particular do Patrimô- nologia e ao Meio Ambiente ca conferido pela Unesco. Lá
nio Natural – RPPN. Tem uma (FATMA) de Santa Catarina podemos encontrar córregos
área de 415,79 hectares, inse- premiou o esforço da família que nascem dentro da pro-
rida dentro de uma área total em defesa do meio ambiente, priedade e diferentes espé-
de 509,32 ha de propriedade.  conferindo a Willy Hoffmann cies nativas, algumas delas
Aproximadamente 95% des- o Troféu Fritz Muller. No início raras como lontra, gato-mara-
sa área é de Mata Atlântica. de 2001, o prefeito da época cajá, bugio, tamanduá-mirim,
A RPPN Chácara Edith é baixou um decreto para desa- tatu-de-rabo-mole, gralha
fruto do histórico trabalho de propriar toda a área para fa- -azul, garça-moura, etc.
preservação da natureza feito zer ruas e loteamentos. Para Mediante agendamento
desde 1930 pelo jovem Willy manter o local preservado, a prévio, a Reserva recebe es-
Hoffmann, que convenceu seu família decidiu transformar a colas, universidades e pesqui-
pai, proprietário das terras, a propriedade em uma Reserva sadores para observação da
abandonar a exploração de Particular do Patrimônio Na- fauna e da flora, e para pes-
madeira e permitir a regene- tural. quisas científicas.
ração da mata nos locais de- Desde 2006, a RPPN Chá- Localização: Rua Carlos
vastados. cara Edith possui o título de Cervi nº 300. Centro II -Brus-
Em 5 de junho de 1982, a Posto Avançado de Reserva que.

209
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Fundação Ecológica e Zoobotânica de Brusque


Brusque hat seit 1992 einen Tiergarten. Er umfasst eine Fläche von rund um 120.000m².
Der 3.200 Meter lange gepflasterte Weg zwischen Natur und Gehege bietet eine
schöne Möglichkeit zum Spaziergehen und zur Entspannung.

A Fundação Ecológica e compreende um complexo de Mais que opção de turismo,


Zoobotânica de Brusque, co- 120.000 metros quadrados. o Parque Zoobotânico traba-
nhecida como Parque Eco- Em meio à mata nativa, estão lha para conservar espécies.
lógico e Zoobotânico Padre inseridos recintos de exposi- O lugar é centro de pesquisas
Raulino Reitz em homenagem ção de fauna, exibindo desde científicas e acolhe animais
ao grande naturalista catari- répteis, aves e mamíferos na- silvestres vítimas de agressão
nense, foi inaugurada no dia turais desta região, até espé- e até mesmo animais livres se
19 de setembro de 1992. Lo- cies exóticas. abrigam e se reproduzem no
calizado em uma região estra- Por meio do programa de lugar. Uma trilha pavimen-
tégica da cidade, o Zoobotâni- educação ambiental, o Zoobo- tada de 3.200 metros, toda à
co está inserido em uma área tânico atende cerca de 40.000 sombra, fica entre os recintos
de vegetação específica da re- alunos anualmente, gerando dos animais que conferem
gião, que forma um corredor educação ecológica e visando uma beleza ímpar ao lugar e
ecológico que liga a cidade, do o despertar da consciência é uma boa opção de passeio.
bairro Guarani, até o municí- para o papel do indivíduo no Localização: Rua Manoel
pio de Guabiruba. contexto ambiental que lhe Tavares, s/nº. Centro - Brus-
O Zoobotânico de Brusque envolve. que.
210
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Parque Leopoldo Moritz – Caixa D’água


Der Park hat 22.000m² und ist ein beliebtes Ausflugsziel 
für die städtische Bevölkerung und für Touristen.
O Parque Leopoldo Mo- que garantem boa sombra, da cidade.
ritz, popularmente conhecido orquidário, bromeliário, ro- O Parque é um importante
como parque da Caixa D’água, das d’água, lago com peixes, atrativo turístico da cidade e
está localizado na região cen- ponte pênsil, parque infantil, recebe moradores, visitantes
tral da cidade, e desde 1960 é quiosques e sanitários. Uma e grupos escolares para ati-
um local de encontro e lazer das atrações é o Avião North vidades ao ar livre e piqueni-
dos moradores de Brusque. American T-6D, instalado na ques.
Com área de 22 mil m², o entrada do Parque e que já foi Localização: Rua Dr. Peni-
Parque é cercado por árvores um importante cartão postal do. Centro. Brusque.

211
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Terminal Rodoviário Alvim Battistotti


Der Busfernbahnhof wurde im Jahr 1990 gebaut und nach dem ehemaligen
Besitzer des „Expresso Brusquense“, Alvim Battistotti, benannt.

O prédio do terminal ro- elementos historicistas. Sua escada e do mezanino do se-


doviário foi inaugurado em estrutura é linear e marcada gundo pavimento – esses em
5 de agosto de 1990, e deno- por dois pórticos na fachada especial possuem travamento
minado Terminal Rodoviário principal. Possui detalhes que em X, o que remete ao enxai-
Alvim Battistotti, em home- se referem à cultura germâni- mel.
nagem ao proprietário do Ex- ca. A edificação é considerada
presso Brusquense, que fazia É revestido em partes por um atrativo turístico de Brus-
transporte entre cidades. pedras, e a cor verde-clara é que.
O projeto do terminal é do a utilizada em sua pintura. As Localização: Rua Manfredo
arquiteto Rubens Aviz e assu- esquadrias são marrons, as- Hoffmann, 92. Centro. Brus-
me caráter pós-moderno com sim como o guarda-corpo da que.
212
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Terminal Rodoviário Urbano Balthazar Bohn


Der Busbahnhof bekam seinen Namen zu Ehren von Balthazar Bohn.
Bohn besaβ in den 40er und 50er Jahren ein Busunternehmen,
das die Fabrikarbeiter zu ihren Arbeitsstätten fuhr.

O prédio do terminal ur- que, com seu “circular”, fazia um L, e a entrada é bem mar-
bano de transporte coletivo o transporte de operários das cada pelo volume central. As
foi inaugurado no dia 30 de fábricas durante as décadas telhas são do tipo germânica,
abril de 2005 e originalmente de 1940 e 1950. A edificação e a estrutura do telhado é fei-
denominado como Terminal foi projetada no estilo cons- ta por treliças. O local é reves-
Urbano Francisco Roberto trutivo pós-moderno. O Ter- tido por tijolinhos e suas es-
Dal´Igna. Pela lei nº 2.874, minal Urbano Balthazar Bohn quadrias são de cor marrom.
de 28 de setembro de 2005, veio para substituir o antigo A edificação é considerada
passou a ser denominado terminal urbano da cidade, um atrativo turístico de Brus-
Terminal Rodoviário Urbano um simples galpão, e sua ar- que.
Balthazar Bohn, em homena- quitetura buscou refletir a Localização: Rua Prefeito
gem ao pioneiro do transpor- cultura alemã do município. Germano Schaefer, 73. Cen-
te coletivo urbano de Brusque Sua forma assemelha-se a tro. Brusque.
213
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Arena Multiuso Antônio Neco Heil


Die Sporthalle hat eine Gesamtfläche von 14.000 m² und bietet insgesamt 12.000
Zuschauerplätze. In der Arena finden Konzerte, Shows und Sportveranstaltungen statt.

A Arena Multiuso Antônio capacidade para 4.250 pesso- cidade para campeonatos es-
Neco Heil foi inaugurada no as sentadas e 12 mil pessoas taduais e regionais.
dia 16 de agosto de 2005 e re- em shows, quadras especiais O espaço, que já recebeu
cebeu esse nome em memó- para futsal e handebol, vôlei jogos da Superliga de Vôlei,
ria ao ex-prefeito de Brusque e basquete. Possui estaciona- jogos de futsal do Brasil, e jo-
Antônio Heil. mento para 7 mil veículos e gos de basquete e handebol,
A fachada da construção foi projetada com condições garante à comunidade brus-
é conhecida entre os arqui- de receber todos os tipos de quense um espaço próprio,
tetos como “falso enxaimel”, eventos esportivos, inclusive com infraestrutura adequada,
pois busca lembrar as antigas apresentações musicais. para a prática de esportes e
construções que utilizavam o A Arena já foi palco de realização de campeonatos
sistema de edificação empre- grandes eventos esportivos, de várias modalidades.
gado pelos alemães e, com como campeonatos nacionais A edificação é considerada
isso, reafirmar uma identida- de vôlei e futsal, além de se- um importante atrativo turís-
de e trazer à memória a his- diar jogos em nível nacional tico de Brusque.
tória da colonização de Brus- e internacional de campeo-
que. natos mundiais de basquete, Localização: Rua Deputado
O espaço conta com uma vôlei, futsal e handebol. Tam- Gentil Battisti Archer. Centro
área total de 14.000 m², com bém é o principal espaço da 2. Brusque.
214
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof


Die Festhalle in Brusque ist eine 1991 erbaute repräsentative Mehrzweckhalle mit
über 12.000 m². Heutezutage findet jährlich in der Halle das Volksfest „Fenarreco“ statt.
Die Mehrzweckhalle wurde zu Ehren von Maria Celina Vidotto Imhof, ehemalige
Lehrerin und jahrelang Mitgestalterin des Festes, benannt.

O Pavilhão foi inaugurado edificação foi denominada vilhão possui uma área su-
em 1991 e sua construção foi Pavilhão de Eventos Maria perior a 12 mil metros qua-
impulsionada pelo sucesso da Celina Vidotto Imhof, em ho- drados de construção, amplo
principal festa de Brusque, a menagem à professora que espaço para estacionamento,
Fenarreco - Festa Nacional do fez parte do grupo que criou e hoje é o principal local para
Marreco, realizada pela pri- a Fenarreco e trabalhou nas eventos da cidade. O prédio
meira vez em 1986, no Clube primeiras edições da festa, passou por ampla reforma em
de Caça e Tiro Araújo Brus- ajudando na decoração, na 2018.
que. Após três edições, o es- contagem dos tickets e na co- A edificação é considerada
paço ficou pequeno e a quarta zinha. um dos principais atrativos
edição já foi realizada, embai- Com estrutura que busca turísticos de Brusque.
xo de lonas, no espaço onde lembrar as antigas constru-
viria a ser construído o pavi- ções que utilizavam o siste- Localização: Rua Deputado
lhão, que se tornou a sede ofi- ma de edificação usado pelos Gentil Battisti Archer, ao lado
cial da Fenarreco. alemães, e fachada que imita da Rodovia Antônio Heil. Cen-
Em setembro de 1992 a a técnica de enxaimel, o pa- tro 2. Brusque.
215
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Foto: Rosemari Glatz

216
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Museu Histórico e Geográfico do


Vale do Itajaí-Mirim/Casa de Brusque
Der Freundeskreis der Stadt Brusque ist der Träger des im Jahr 1953
gegründeten Historischen Museums „ Tal“. Das Museum beherbergt
eine Sammlung zahlreicher historischer Dokumente, Zeitungen
und Gegenstände aus der Zeit der Kolonisierung Brusques.

A Sociedade Amigos de diante agendamento. A edificação da Casa de


Brusque, que mantém o Mu- Em 1994, o Rotary Clube Brusque é uma remontagem
seu Histórico do Vale do homenageou Ayres Gevaerd no sistema construtivo en-
Itajaí-Mirim– SAB/Casa de com um busto de bronze, xaimel, sendo a única neste
Brusque, foi fundada em 4 de que se encontra implantando estilo no centro da cidade, e
agosto de 1953 por Ayres Ge- em frente à Casa de Brusque, representa uma das heranças
vaerd. A maior parte dos ar- onde também encontramos da imigração alemã. A cons-
tefatos foi adquirida nos anos a estátua feita em comemo- trução que abriga o Museu
de 1960 e 1970 e o acervo ração ao 50º aniversário da fica nos fundos do terreno.
está aberto à visitação públi- Fundação da Colônia, apeli- Localização: Avenida Otto
ca desde 1970. dada de Joana. Inicialmente, Renaux, 285. Centro.
A partir de 1973, o espa- a estátua havia sido implan- Foto: Rosemari Glatz

ço passou a ser denominado tada em frente ao Palacete da


Museu Histórico do Vale do Família Renaux, onde fica a
Itajaí-Mirim. No Museu está atual Praça Barão de Schnee-
guardada grande parte do burg.
acervo documental, fotográfi- Desde 1998, o Museu abri-
co, bibliográfico e de objetos ga os restos mortais de Fran-
da história do Vale do Itajaí- cisco Carlos de Araújo Brus-
Mirim, peças que retratam o que, Presidente da Província
cotidiano dos moradores des- de Santa Catarina quando da
de a colonização de Brusque fundação de Brusque, em 4 de
e região, bem como edições agosto de 1860. Seus restos
muito antigas de jornais que mortais foram transladados
já circularam no município. com honras de Chefe de Es-
Os acervos estão disponíveis tado de Pelotas para Brusque
para consultas e pesquisas, e por ocasião dos festejos dos
o Museu promove ações edu- 138 anos da cidade, e descan-
cativas para escolas públicas sam sob a lápide original, es-
e privadas e desenvolve visi- culpida em mármore de Car-
tas guiadas para grupos me- rara há mais de um século.
217
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Instituto Aldo Krieger - IAK


Die gemeinnützige Aldo-Krieger-Stiftung wurde am 05. Juli 2002 gegründet.
Die Stiftung fördert und pflegt das Andenken an den Dirigenten
Aldo Krieger und verwaltet den Nachlass seiner Werke.
O Instituto foi criado no o Hino de Brusque. posições originais, instru-
dia 5 de julho de 2002. É Desde sua inauguração, mentos, fotos, documentos,
uma entidade privada, sem o Instituto Aldo Krieger tem prêmios e tudo que lembra
fins lucrativos, que preserva servido como palco das mais o ilustre maestro e abre para
a história da vida e obra des- diversas ações em prol da visitações.
se grande músico, promove cultura e, ao mesmo tempo, Implantada na área cen-
e apoia atividades de manu- mantém viva a história do tral, a edificação é considera-
tenção, conservação e divul- músico brusquense, reco- da um importante patrimônio
gação do acervo e obra do nhecido e aclamado no país e histórico de Brusque, pois na
maestro, que na cidade ficou considerado um dos maiores casa viveu o maestro Aldo
conhecido por Aldinho. expoentes musicais da cidade Krieger.
Uma de suas obras é o e também é referência histó-
Hino do Centenário de Brus- rica para o município. Localização: Rua Paes Le-
que que acabou se tornando O espaço conta com com- mes, nº 63. Centro - Brusque.
218
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Acervo: Museu de Azambuja ???????

Complexo de Azambuja
Der Gebäudekomplex von Azambuja beherbergt eine Reihe historischer Gebäude,
unter anderem die Azambuja Kirche, die Grotte, den Rosenkranzweg, das
Erzdiözesanmuseum, das Krankenhaus und das Priesterseminar. Das
Azambuja-Tal ist auch Wallfahrstort und empfängt jährlich tausende Pilger.

Conhecido também como rio, o Museu Arquidiocesa- portante complexo histórico,


“Vale do Azambuja, Vale dos no, o Hospital e o Seminário, social, religioso e cultural, o
Milagres ou Vale de Graças”, o formando um conjunto de Vale de Azambuja é local de
Complexo de Azambuja abri- construções históricas mui- peregrinações de turistas e
ga o Santuário de Azambuja, to importantes para Brusque devotos de inúmeros lugares
a Gruta, o Morro do Rosá- e região. Devido ao seu im- do Brasil.
219
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

220
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio

Im Herzen des Azambuja-Tals gelegen, ist die Kirche ein wichtiger Wallfahrtsort
in der Region und wegen seiner Architektur und Repräsentation des katholischen
Glaubens ein wichtiger Teil der Identität der Stadt Brusque.

Desde 1876, sobre a fonte em 8/12/1939. A decisão comprimento, 16 metros de


que corre no interior da Gru- partiu dos padres, o respon- largura e 20 metros de altura.
ta de Nossa Senhora de Azam- sável foi o reitor, Padre Ber- O altar-mor em mármore,
buja havia um Capitelo; ali nardo Peters. dois altares – Sagrado Cora-
está o alicerce que embasou O projeto é do arquiteto ção de Jesus e Imaculada Con-
o santuário atual. A primeira alemão Simão Gramlich, e Hel- ceição e duas capelas laterais
capela foi edificada em 1884. muth Kress foi o responsável - São Judas e Santo Antônio,
Em 1892, é construída pelo alicerce. José Bolognini quatro confessionários, um
uma nova capela e este ano foi um dos responsáveis pelas púlpito, 72 bancos de madei-
também marca o paroquiato paredes, e Vicente Schöning, ra, são outros diferenciais.
do padre Eising. A partir da pela carpintaria. Várias colu- O interior da igreja é ador-
última década do século XIX, nas internas, com arcos entre nado por belíssimas pinturas
Azambuja começa a ser uma elas, remetem à Arquitetura no teto e um riquíssimo tra-
referência e centro de pere- Romântica. balho de marcenaria.
grinações. No exterior da igreja per- O altar em mármore, as
O Santuário de Nossa cebem-se as estruturas de- imagens dos santos e vitrais
Senhora de Caravaggio de nominadas de ambulatórios, coloridos nos mais diversos
Azambuja foi elevado à digni- que auxiliam na sustentação formatos trazem iluminação
dade de Santuário Episcopal das abóbodas e arcos, e de- e representações de cenas bí-
em 1º/09/1905, sendo o pri- marcam um local de circula- blicas.
meiro Santuário Episcopal de ção, um movimento que revi- Instalada em pleno cora-
Santa Catarina. ve características do gótico e ção do Vale do Azambuja, a
É considerado um pon- barroco. igreja é um importante local
to de parada obrigatório de A edificação conta com de peregrinação e parte im-
turistas de todo o Brasil que duas torres frontais de 40 portante da identidade de
pagam promessas e fazem metros de altura que marcam Brusque, por sua arquitetura
pedidos a Nossa Senhora, ou a face frontal da igreja. e a representação da fé cató-
param apenas para conhecer Outra característica é a lica.
o local. estrutura marcada pelas três
A pedra fundamental do naves, sendo a principal com Localização: Rua Azambu-
atual Santuário foi lançada dimensões de 45 metros de ja, nº 1076. Bairro Azambuja.

221
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Museu Arquidiocesano Dom Joaquim


Das „Dom Joaquim” Museum beinhaltet eine Sammlung von etwa 4.000 Objekten. Die
Sammlung lässt sich in drei unterschiedliche Bereiche teilen: Naturgeschichte, sakrale
Kunst und Geschichte der Einwanderung in Brusque und Santa Catarina.

O Museu de Azambuja con- a mais que, ao contar a his- maiores e mais completo mu-
ta com um amplo espaço e as tória dos que habitaram a re- seu de Arte Sacra popular do
peças estão divididas entre gião e exibir artefatos usados Brasil.
os três andares do prédio. O no passado, contribuía para a Instalado em pleno cora-
primeiro andar é destinado formação integral dos futuros ção do Vale do Azambuja, o
à história natural. O segundo padres. Ao longo dos tempos Museu Arquidiocesano Dom
andar abriga os artefatos da os padres foram enriquecen- Joaquim é um local de grande
arte sacra. E o terceiro conta do o acervo, com coleções va- valor histórico e cultural. O
com peças históricas da colo- riadas. Na década de 1950 o prédio é um dos mais histó-
nização da região de Brusque. Pe. Raulino Reitz enriqueceu ricos e significativos de Brus-
O espaço do museu foi cria- o acervo ao acrescenter inú- que, pois serviu como primei-
do em 1933, com o propósito meras peças de artes sacras. ro hospital da cidade.
inicial de contribuir na for- Hoje o museu possui apro-
mação cultural e histórica dos ximadamente 4 mil peças, Localização: Rua Azambu-
seminaristas. Era um espaço sendo considerado um dos ja, nº 960. Bairro Azambuja.

222
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux


Die im Azambuja-Tal gelegene Krankenhausanlage umfasste früher ein Altenheim,
ein Kinderhaus und ein Irrenhaus. Im Laufe seiner Geschichte wurde das Gebäude
mehrmals umgebaut und erweitert, um den Anforderungen neuer medizinischer
Geräte und Verfahren gerecht zu werden. Das Erzdiosänkrankenhaus wurde am 11.
März 1936 eröffnet. Das heutige Gebäude umfasst eine Fläche von 10.800 m² und
ist in drei Stockwerke aufgeteilt. Der ehrwürdige Unternehmer und Konsul Carlos
Renaux spendete eine bedeutende Summe für den Bau des Krankenhauses.

Em 1901 foi fundada, em ta Casa também abrigava um 11/03/1936. Com a nova edi-
Azambuja, a Santa Casa de asilo, um orfanato, escola pa- ficação, o hospital e o seminá-
Misericórdia para acolher roquial, escola catequética, e rio foram separados definiti-
pessoas doentes e toda sorte ala de psiquiatria. vamente.
de desvalidos. Mas os atendi- Em 1910, a seção hospi- Ao longo da sua história,
mentos passaram a ser mais talar da Santa Casa ganhou a edificação sofreu diversas
frequentes a partir de 1902 autonomia com a finalização alterações e ampliações. Ins-
quando as Irmãs da Divina de uma construção própria, talado em pleno coração do
Providência, recém-chega- e hoje o antigo prédio abriga Vale do Azambuja, o HACCR é
das da Alemanha, assumi- o Museu Arquidiocesano. O um local de grande valor his-
ram os cuidados do hospital. atual prédio do Hospital foi tórico e social para a comuni-
A casa foi inaugurada em erguido na administração de dade regional.
29/06/1902. Ainda não havia Dom Jaime de Barros Câmara.
médicos, e os atendimentos A construção, de 10.800 Localização: Rua Azambu-
eram realizados pelas religio- m², teve início em 1933. O ja, nº 1089. Bairro Azambuja.
sas. Além do hospital, a San- edifício foi inaugurado em Brusque.
223
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Gruta de Nossa Senhora de Azambuja


Neben der Kirche befindet sich auch die Grotte Unserer Lieben Frau von Lourdes. Aus der Grotte
entspringt eine Quelle, die schon 1876 von den italienischen Einwanderern sehr geschätzt wurde.

No início, a fonte de Azam- A padroeira do Seminário de- para beber da água e levar
buja indicou o núcleo da lo- terminaria a escolha do título para casa, acendem velas
calidade, o ponto da coesão mariano da gruta: Nossa Se- para pagar suas promessas, e
comunitária. Ainda em 1876, nhora de Lourdes. oferecem flores. Uma fonte de
logo após a chegada dos imi- Sobre a gruta há uma ca- água natural corre sem cessar
grantes italianos, a fonte foi pela, em que encontramos o no interior da gruta. Instalada
coberta e virou oratório. A quadro de Nossa Senhora de em pleno coração do Vale do
Gruta, na forma em que se Caravaggio. A Gruta sempre Azambuja, a Gruta de Nossa
encontra hoje, foi construída foi muito frequentada pelos Senhora é um local de grande
entre 1927 e 1928. moradores de Brusque e pe- valor histórico e religioso.
A obra foi liderada pelo Pa- los visitantes em geral. Mui- Localização: Rua Azambu-
dre Jaime de Barros Câmara. tos devotos entram no local ja, nº 960. Bairro Azambuja.
224
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Seminário de Azambuja
Das Priesterseminar im Azambuja-Tal ist ein Ort von großer Bedeutung für die Erzdiözese Floria-
nópolis. Hier werden die zukünftigen Seelsorger ausgebildet und gehen von hier aus zu Missionen.

O Seminário Menor Metro- cesano, o seminário passou a 200 alunos, foi inaugurada
politano Nossa Senhora de ocupar todo o prédio onde já em 7/09/1964. O seminário
Lourdes, também conhecido se encontrava instalado. abriga duas etapas formati-
como Seminário de Azam- Em 15/08/1957 foi lan- vas na atualidade: Seminário
buja, foi criado por Dom Joa- çada a pedra fundamental Menor e Seminário Maior na
quim Domingues de Oliveira do novo prédio. A ideia, a etapa discipular.
em 11/02/1927. Visando ao responsabilidade pela capta- Instalado em pleno cora-
aprofundamento da vocação ção de recursos, e a alma da ção do Vale do Azambuja, o
cristã e o discernimento da construção do Seminário foi Seminário é um local de gran-
vocação presbiteral pela for- do padre alemão Guilherme de valor educacional, forma-
mação integral em todas as di- Kleine. O projeto foi assinado tivo, onde a Arquidiocese de
mensões humanas, foi trans- pelo engenheiro Antônio Ávi- Florianópolis tem o seu cora-
ferido de Florianópolis para la Filho e a execução coube a ção, pois dali sairão os sacer-
Brusque no dia 21/04/1927. João Martin Backes. Em agos- dotes para todas as missões
No início o Seminário ocu- to de 1960, com metade da desenvolvidas por padres na
pou o sótão do prédio do hos- obra concluída, os seminaris- Arquidiocese.
pital. A partir de 11/03/1936, tas passaram a ocupar parte
com a inauguração do prédio do novo prédio. A edificação, Localização: Rua Azambu-
próprio do Hospital Arquidio- com capacidade para abrigar ja, nº 1076. Bairro Azambuja.

225
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Morro do Rosário Azambuja


Der Rosenkranzweg neben der Kirche stellt die fünfzehn Mysterien des
Rosenkranzes dar. Mit Kerzen und Rosenkranz in der Hand steigen Gläubige
die Berge hinauf und bitten Gott um Schutz für Familie und Haus.
Ao lado do Santuário de proclamação do dogma da Ascensão, a Vinda do Espírito
Azambuja, na encosta do mor- Imaculada Conceição, o con- Santo, a Assunção de Nossa
ro encontramos um caminho junto do Morro do Rosário es- Senhora, e a Coroação de Ma-
que reproduz os 15 mistérios tava completo. ria.
do rosário. Em cada um deles Os Mistérios do Rosário No Morro do Rosário ainda
encontramos uma estátua ou estão assim organizados: faltam os Mistérios Lumino-
grupos de estátuas feitas de Mistérios Gozosos: Anun- sos, instituídos pelo Papa São
cimento, em tamanho natural. ciação, Visita à Santa Isabel, João Paulo II em 2002.
A construção começou em Nascimento de Jesus em Be- Em 1990 as imagens fo-
1949 e foi concluída em 1954. lém, Apresentação de Jesus ram substituídas.
O Monumento que apre- no Templo, Perda e Encontro Em 2006, as imagens fo-
senta o último dos Mistérios de Jesus no Templo. Mistérios ram repintadas e o monu-
Gloriosos, a Coroação da Vir- Dolorosos: Agonia de Jesus no mento do 15º mistério - Co-
gem Maria pela Santíssima Horto, Prisão e flagelação, Co- roação de Nossa Senhora, foi
Trindade, implantado no alto roação de Espinhos, Carrega- restaurado.
da colina, foi inaugurado na mento da Cruz pelo Calvário, Localização: R. Padre Antô-
noite de 14/08/1950. Crucificação e Morte. Misté- nio Eising, 182. Bairro Azam-
Em 1954, centenário da rios Gloriosos: Ressurreição, buja.
226
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Villa Quisisana
Die Villa Quisiana wurde 1932-1934 vom deutschen Architekt Simon Gramlich für die
Familie von Buettner erbaut. Flankiert von großen und imposanten Toren, die die Villa
schützen, behält die zweistöckige Residenz noch ihre ursprüngliche Struktur. Sie hat eine
große historische Bedeutung, sowohl wegen ihrer Architektur, als auch wegen der Möbel
und vor allem wegen der Uhren, die fast in allen Zimmern des Hauses zu sehen sind. Das
Bauwerk zählt zu den wichtigsten architektonischen Denkmälern der Stadt Brusque.

Construído entre 1932 e Ladeada por grandes cer- relógios que existem pratica-
1934, o palacete foi projetado cas e imponentes portões que mente em todos os cômodos.
pelo arquiteto alemão Simão protegem a mansão, a resi- O casarão foi centro de
Gramlich para servir de re- dência de dois pavimentos inúmeros encontros e reuni-
sidência da família de Edgar mantém a estrutura original, ões da sociedade brusquense,
Von Buettner. Dotada de ca- apesar de algumas pequenas e é de propriedade dos des-
racterísticas peculiares e im- reformas no sistema elétrico cendentes de Iris Renate Von
plantada em pleno coração de e energético, e possui gran- Buettner Pastor. A edificação
Brusque, a casa foi inspirada de relevância histórica, tanto é considerada um dos patri-
em uma residência na Grécia. pela sua arquitetura, quanto mônios históricos de Brus-
O imóvel foi batizado Villa pelo mobiliário, quanto pela que.
Quisisana, que significa Vila riqueza estética dos objetos Localização: Rua Rodri-
da Felicidade. antigos, principalmente os gues Alves, 270. Centro
227
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

228
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Matriz São Luis Gonzaga


Der Bau der neuen katholischen Kirche wurde Anfang der 70er Jahren
fertig gestellt. Sie umfasst eine Fläche von 1.375m² und wurde
nach Plänen des Deutschen Gottfried Böhm gebaut.

A pedra fundamental foi tos da edificação, que mis-

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira


lançada em 4/04/1955, com tura características góticas
grande festa popular, mas so- e românicas, tira partido da
mente em 1962 é que as ce- topografia local e evidencia a
lebrações das Santas Missas monumentalidade da mesma.
começaram a ser realizadas A torre dos quatro sinos se
na nova Matriz. A obra foi conecta ao volume principal
concluída no início da década que é um prisma retangular.
de 1970, com a construção da A nave central tem 13 me-
Torre sobre a escadaria. tros de largura, sendo cober-
Com 1.375,05 m2 de área ta pela abóboda maior que
construída e capacidade para atinge 26,4 metros de altura.
abrigar duas mil pessoas, o A abóboda avança para além
projeto do arquiteto alemão da igreja, conectando-se com
Gottfried Böhm se destaca a torre dos sinos, somando da Reforma Litúrgica.
pelo arrojo da planta simples 82,3 metros de comprimento. A iluminação acontece por
e pela reinterpretação dos No interior da igreja há janelas pivotantes laterais,
elementos da liturgia católi- duas fileiras de pilares es- por vitrais frontais e traseiros
ca. beltos, e a sobriedade de ele- onde encontramos símbolos
A volumetria clara e bem mentos interiores atende a do cristianismo, e também
marcada são um dos atribu- características do Movimento pelas aberturas superiores.
As 25 mil pedras utilizadas
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

na construção são diferentes


entre si. O altar é uma peça de
arte em meio à igreja. Escul-
pidas em granito, as doze co-
lunas existentes representam
os doze apóstolos.
A edificação é considerada
um dos principais patrimô-
nios e atrativos turísticos de
Brusque.
Localização: Rua Padre
Gattone, 75. Centro.
229
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Igreja Evangélica Luterana Paróquia Bom Pastor


In der evangelischen Kirche kann man eine Kopie des Bildes „Kreuzabnahme Jesu“ des
Deutschen Malers Peter Paul Rubens bewundern. Es war ein Geschenk von Victoria
Adelaide, Königin von Preuβen, an die evangelische Gemeinde der Kolonie Brusque.
Die Kirchenorgel ist mit 1200 Pfeifen ausgestattet. Die evangelisch-lutherische Kirche
im Zentrum der Stadt zählt zu den ältesten Gebäuden Brusques.

Localizada na Colina Evan- inaugurada em 6/01/1895. 

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira


gélica, sua posição privile- Em 1942 foi renovada, com
giada fortalece o conceito de ampliação das laterais e do al-
ser um dos mais importantes tar. O projeto de ampliação foi
elementos de identidade de assinado pelo alemão Simão
Brusque, pois a sua história é Gramlich.
também a história da cidade. Um dos detalhes que mais
Uma cópia do quadro “A des- chama a atenção do projeto é
cida da Cruz”, do famoso artis- a acústica do espaço, que abri-
ta alemão Peter Paul Rubens, ga um órgão de 1.200 flautas,
doado pela Rainha da Prússia, inaugurado em 9/08/1960,
decora a casa de oração e foi o ano em que também foi reno-
principal ornamento do altar vada toda a cobertura.
da antiga igreja, inaugurada A igreja recebeu mais uma
em 1872. reforma, do piso ao telha-
Em 3/05/1894 foi lançada do, em 1978-79 e, no ano de
a pedra fundamental da atual 2014, foi realizado o restauro
edificação. A igreja, que conta do telhado, das paredes e do ligação com a cultura trazida
com dois sinos, um instalado forro. pelos alemães. Na edificação
em 1895, e outro em 1928, foi O estilo da arquitetura tem há evidências dos estilos ne-
oclássico, românico e neogó-
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

tico. Os vitrais próximos ao


altar, bem assim como a ro-
sácea, são características en-
contradas em igrejas góticas
que utilizam a luz para confe-
rir espiritualidade.
A edificação é considerada
um dos principais patrimô-
nios históricos de Brusque.
Localização: Avenida Mon-
te Castelo, 25. Centro.
230
Foto: Rosemari Glatz
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

231
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Cemitério da Comunidade Evangélica Luterana


Ein Besuch des Evangelischen Friedhofes lohnt sich. Einer der ältesten noch erhaltenen
Grabsteine stammt aus dem Jahr 1908. Mehrere Grabschriften sind in deutscher Sprache verfasst.

Um cemitério é um trar diversos epitáfios


Foto: Rosemari Glatz

registro da história e escritos em alemão.


cultura de uma cidade, É o mais antigo cemi-
e quando o primeiro tério do centro da cidade
grupo organizado de que ainda está preserva-
imigrantes alemães che- do, e nele estão sepul-
gou a Brusque, com eles tados vários imigrantes
vieram os luteranos, co- pioneiros da indústria
nhecidos como protes- têxtil de Brusque, desde
tantes. Naquela época, a o tecelão, até o indus-
religião oficial do Esta- trial.
do era a católica e, por Com relevância histó-
uma questão cultural, rico-social, uma visita ao
os protestantes não po- cemitério proporciona
diam ser sepultados no um turismo educativo
mesmo cemitério onde que contempla cultura,
estavam os católicos. Daí memória, identidade e
a necessidade de os lute- arte, entre outros tantos
ranos terem o seu pró- significados da vida so-
prio campo santo. cial.
A arquitetura do Ce- Pelos valores memo-
mitério Luterano é com- riais materiais e ima-
posta por túmulos de pe- teriais que encerra, de
queno porte, com pouca ampla significação his-
estatuária, e raros orna- tórica, social, ideológi-
mentos, com destaque ca, religiosa e política,
para os símbolos deco- este cemitério pode ser
rativos e esculturas. Há considerado um dos pa-
valorização da inscrição trimônios históricos de
de epitáfios - a escrita Brusque, inclusive com
de uma frase em relevo potencial turístico.
no túmulo. Nas lápides Localização: Rua Al-
anteriores à década de berto Torres, 140. Cen-
1940, é possível encon- tro.

232
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rosemari Glatz

Antiga Maternidade Evangélica


Die Bauarbeiten an der alten evangelischen Entbindungsklinik begannen 1937 mit
finanzieller Unterstützung des würdigen Konsuls Carlos Renaux. Am 20. März 1938 wurde
feierlich die alte evangelische Entbindungsklinik eröffnete. Im Jahr 1963 wurde der Neubau
der evangelischen Entbindungsklinik und des Krankenhauses eingeweiht. Die ersten
Krankenschwestern hieβen Margarethe Spieweg aus Deutschland und Frau Martha
Meinhoefer. Dr Carlos Moritz war einer der ersten Ärzte im evangelischen Krankenhaus. Da-
mals wurden die Geburten von Hebammen begleitet und der Arzt wurde nur bei
Komplikationen gerufen. Ein großer Teil der Bevölkerung von Brusque erblickte das Licht der
Welt in dieser Entbindungsklinik. Das alte Gebäude der Entbindungsklinik beherbergte ab
1963 andere Einrichtungen. Zwischen 1965 und 1976 diente das große Haus als „Bom Pastor“
Kindergarten und auch als Herberge für Schüler. Danach wurde es an INAMPS
(Bundesinstitut für soziale Sicherheit und medizinische Hilfe) vermietet.
Schließlich diente es bis 2013 als Stadtbibliothek.

Inaugurada em 20/3/1938, As primeiras “Schwester” entre elas, o Jardim de Infância


a antiga maternidade serviu à (enfermeiras) foram a alemã Bom Pastor, um albergue para
comunidade regional até 1963. Margarethe Spieweg, e a Frau estudantes, o INAMPS e por
A Comunidade Evangélica Martha Meinhoefer. fim, a Biblioteca Pública Muni-
doou o terreno à Associação Um dos primeiros médicos cipal Ary Cabral até 2013.
das Damas de Caridade para foi o Dr. Carlos Moritz. Os par- Arquitetonicamente, a edi-
a instalação da Maternidade tos eram realizados por partei- ficação é erudita e permeia
e em 5/01/1937 teve início a ras e o médico só era chamado entre os conceitos Art Deco e
construção. Em homenagem em casos complicados. Grande Protomodernista. A edificação
ao seu idealizador, a instituição parcela da população de Brus- é considerada um dos patrimô-
recebeu o nome de Associação que nasceu nesta maternidade. nios históricos de Brusque.
Hospitalar e Maternidade Côn- A partir de 1963 o casarão Localização: Rua Pastor
sul Carlos Renaux. abrigou diversas entidades, Sandrescky. Centro
233
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Tiro de Guerra de Brusque


In Brasilien besteht für Männer ab dem 18. Lebensjahr Wehrpflicht. Der Grundwehrdienst
dauert in der Regel zwölf Monate. In Brusque werden hauptsächlich Schützen ausgebildet.

O Tiro de Guerra de prefeitura. realizada no dia 4/09/1940.


Brusque foi fundado em A sede atual foi construída Em 1945, o Tiro de Guer-
8/12/1916. Denominado TG em 1941, e foi financiada por ra de Brusque passou a se
317, inicialmente ocupou a diversas empresas e pessoas. chamar TG 170. Em maio de
Sociedade de Caça e Tiro, o A edificação segue a linha da 1979, recebeu a denominação
“Schützenverein Brusque”. arquitetura oficial do Estado de TG 05-005, que permanece
O primeiro desfile do Tiro de Getúlio Vargas, o Art Déco. até hoje.
de Guerra foi realizado em Observa-se também influên- A edificação do Tiro de
15/07/1917. Suas atividades cias protomodernas. Ao longo Guerra é o primeiro imóvel
foram suspensas por apro- do tempo a edificação sofreu registrado no Livro de Tom-
ximadamente uma década algumas reformas, mas diver- bos de Brusque como Patri-
após a assinatura do armis- sas características ainda per- mônio Histórico material da
tício da I Guerra Mundial em manecem desde a construção, cidade. A solenidade de tom-
11/11/1918. Em 1928 foi como a frase “Tudo pela gran- bamento da construção como
reativado por organização da deza do Brasil” sugerida pelo patrimônio histórico ocorreu
própria comunidade brus- tesoureiro do Conselho De- em 12/12/2012.
quense, passando a ocupar liberativo, Erico Krieger, em Localização: Rua Felipe
uma das dependências da assembleia geral ordinária Schmidt, nº 455. São Luiz.

234
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rosemari Glatz

Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque


Gegründet im Jahr 1866 ist der Schützenverein „Caça e Tiro Araújo Brusque“ der älteste
noch bestehende Schützenverein Brasiliens. Der Verein liegt an der berühmten Hercílio
Luz Straβe in Brusque. Früher diente die Straβe als „Pferderennbahn“.

Por ser uma edificação ins- ao Presidente da Província famosas “carreiras”- corridas
talada numa das ruas mais de Santa Catarina que criou de carroça e cavalos e, por
tradicionais da cidade, a his- a Colônia Itajahy-Brusque em isso, no linguajar popular a
tória deste clube se funde com 1860. A rua onde está implan- via é conhecida por “rua das
a própria história de Brusque. tado o Clube invoca várias his- carreiras”.
Inicialmente conhecido tórias da cidade, tais como: é O espaço do clube foi pal-
como “Schützenverein”, o o local onde foi erguida a pri- co da primeira Fenarreco, que
clube tinha como principal meira “cadeia pública”; foi a mais tarde veio a ocupar es-
objetivo preservar a cultura rua de excelentes ferreiros, da paço privilegiado no calendá-
alemã e para isso anualmente cervejaria do Lauritzen, do ar- rio turístico da cidade.
realizava a tradicional “Schüt- mazém de secos e molhados Fundado em 14/07/1866,
zenfest”, a Festa dos Atirado- e padaria do velho Ristow, a é o mais antigo clube de caça
res. Por força da campanha rua da primeira queijaria, dos e tiro em atividade no país. A
de nacionalização, em 1941 carpinteiros, de pintores, e de edificação é um importante
o “Schützenverein Brusque” um famoso fabricante de car- patrimônio histórico de Brus-
passou a ser denominado de roças. A rua também era um que.
Clube de Caça e Tiro Araújo espaço de lazer nos finais de Localização: Rua Hercílio
Brusque, numa homenagem semana, pois lá aconteciam as Luz – 180. Centro.
235
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Casarão de Dom Joaquim


Das zwischen 1875 und 1880 erbaute Haus ist Zeuge vergangener Zeiten. Sein
Standort war strategisch im wirtschaftlichen Knotenpunkt der damaligen Kolonie
Brusque gelegen. Regionale Erzeugnisse wie Schnittholz, Maniokmehl und Zucker
fanden seinen Weg zu den Groβmärkten durch Cedro/Dom Joaquim.
Estima-se que o Casarão pavimento superior e assu- 1896, foi fundada a primei-
Dom Joaquim foi construído miu a direção dos negócios do ra igreja adventista em solo
por Davi Hort entre 1875 e sogro. O casarão teve outros brasileiro, em Braunschweig,
1880. Dividido em dois pa- moradores e até um pequeno Gaspar Alto, região que na-
vimentos e implantado no hotel para carroceiros e via- quele tempo pertencia a
pulmão econômico de uma jantes. Apesar do desgaste do Brusque. Por ser considerado
região rica pela produção de tempo, a estrutura da edifica- o “ninho” da Igreja Adventista
madeira serrada, farinha de ção se mantém firme. do Brasil, a União Sul Brasilei-
mandioca e açúcar, a localiza- O fato mais importante da ra da Igreja Adventista do Sé-
ção do casarão era estratégica sua história é sua ligação com timo Dia requereu ao Conse-
para negócios. a Igreja Adventista. Consta lho Municipal do Patrimônio
O Coronel Guilherme Krie- que no Casarão, entre os anos Histórico o tombamento do
ger, que possuía uma fazenda de 1879 e 1880 foi aberto o casarão. A edificação é consi-
acima de Dom Joaquim, com- primeiro pacote de literatura derada um importante patri-
prou o casarão. Entre 1915 e adventista no Brasil, o peri- mônio histórico de Brusque.
1917, Otto Renaux, genro do ódico Stimme der Warheit. Localização: Rua do Cedro.
Coronel Krieger, foi residir no A crença se espalhou e, em Dom Joaquim.
236
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Clube Esportivo Paysandú


Am 30. Dezember 1918 kam es zur Gründung des Fuβballvereins „Paysandu”. Im Jahr
1924 wurde das eigene Spielfeld offiziell eröffnet. Die Vereinsfarben sind grün und weiβ.

Fundado em 30/12/1918, Em 4/09/1927 a bandeira Bem no alto de sua facha-


nos primeiros tempos as reu- oficial do Clube “Mais Que- da, em alto relevo, lê-se Clube
niões aconteciam nas resi- rido” foi desfraldada pela Esportivo Paysandú e mais
dências dos membros da di- primeira vez, evidenciando abaixo, Arthur Appel, nome
retoria, nas casas de sócios ou as cores verde e branco ado- que foi conferido à sede social
ainda em salões particulares. tadas pelo Paysandú logo em 2005. O estádio, com capa-
Em 1920, o Clube adquiriu depois da fundação. No dia cidade para aproximadamen-
personalidade jurídica. 22/10/2005, o Clube reinau- te 3.000 espectadores, com-
Em 15/06/1924, o Paysan- gurou sua belíssima sede so- pleta o conjunto patrimonial
dú comemorou a inauguração cial. Novas reformas foram re- que em 2018 completou seu
do estádio próprio, que foi ba- alizadas nos anos seguintes. O centenário. O clube disputou
tizado de “Praça de Desportos Paysandú dispõe de uma área o Campeonato Catarinense de
Coronel Carlos Renaux”, mais superior a 16 mil m² e, pas- futebol profissional até 1987.
tarde denominado de Estádio sadas quase sete décadas da A edificação é considerada
Cônsul Carlos Renaux. Essa sua inauguração, a sede social um importante patrimônio
praça de esportes, que incluía permanece no mesmo ende- histórico de Brusque.
também um Pavilhão do Clu- reço. Um prédio imponente e Localização: Rua Pedro
be, marcou o começo das suas branco, com colunas frontais Werner, nº 129. Jardim Malu-
atividades. e detalhes em verde. che.

237
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Complexo Histórico Indústrias Renaux


Die Gebäude, aus dem sich das heutige„ Renaux Industriegelände“ zusammensetzt,
stammen aus den dreiβigern Jahren. Der Baustil ist vielseitig, aber es herrscht der Art Deco-Stil
vor. Eines der herausragenden Merkmale des Gebäudes ist die korallen-orangene Farbe.

Uma das mais importantes e o conhecimento dos tecelões dentre outros feitos, concedeu
famílias ligadas à história eco- de Lodz. Iniciou as atividades a Brusque o título de Berço da
nômica de Brusque é a Família fabris ao lado da sua casa de Fiação Catarinense.
Renaux, cuja história começa comércio, na principal rua da A importância arquitetôni-
em 1882 com a chegada, ao cidade, atual avenida Cônsul ca dos edifícios do Complexo
Brasil, de Carlos Renaux, um Carlos Renaux. Passado algum Industrial Renaux se evidencia
homem visionário, negociador, tempo, Renaux adquiriu um pela adoção de formas e orna-
empreendedor e político, e que terreno na “Estrada dos Po- tos típicos da arquitetura do art
com a família, prestou grande meranos”, hoje avenida 1º de déco, tais como marquises, pa-
contribuição para a transição Maio, no mesmo local onde redes com quinas arredonda-
da Brusque colonial para a ainda hoje se encontram as das e platibandas com formas
Brusque industrial. edificações da antiga Fábrica escalonadas. A elas se acresce a
Em 1892, Carlos Renaux de Tecidos Carlos Renaux S.A. predominância das linhas ver-
instalou uma pequena fábrica Ali a família passou a levantar ticais da arquitetura, a dispo-
de tecidos com a mão de obra um verdadeiro império que, sição das colunas e janelas de
238
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

abertura da edificação, dispos- rais adotado não ousou pela A torre da chaminé de 48
tas de forma rítmica e interca- leveza das estruturas moder- metros de altura marca o local,
ladas nas fachadas, assim como nas, ainda de uso restrito na com sua estrutura alta e impo-
os elementos decorativos com época, mas se sujeitou ao estilo nente revestida de tijolos.
releituras dos temas historicis- massudo e bem composto dos Os galpões possuem gran-
tas, como os capitéis das colu- estilos historicistas que se ade- des vãos, e o piso ao seu redor
nas do edifício mais recuado, quaram melhor à tecnologia a é feito em pedra paralelepípe-
que apesar de trazer um novo disposição naquele tempo. Os do em todo o complexo.
desenho decorativo, retoma as materiais revelam algo bas- O telhado shed, que permite
características da arquitetura tante subjetivo: por se tratar a entrada de luz natural no in-
clássica greco-romana. de construção maciça, que se terior dos galpões, faz a plásti-
Parte significativa dos pro- compreende na opção por tijo- ca do complexo das indústrias
jetos das edificações foi assi- los e concreto, representa o as- Renaux se apresentar contem-
nada pelo arquiteto alemão pecto de não transitoriedade, porâneo.
Eugen Rombach, que chegou a da solidez necessária a quem Apesar de todo o apogeu
Brusque no início da década de aqui veio para ficar. econômico vivido ao longo de
1930, a convite do Cônsul Car- Uma das características mais de 120 anos de existên-
los Renaux. Além de edifica- marcantes das edificações é o cia, a Fábrica de Tecidos Carlos
ções da fábrica, Rombach tam- tom laranja coral distintivo da Renaux teve sua falência decre-
bém projetou a residência do empresa, que cria a legibilida- tada em 2013.
Cônsul, hoje conhecida como de de ser propriedade dos Re- Em 2017, os bens da gigan-
Villa Renaux, e a antiga Mater- naux. te Renaux foram arrematados
nidade Evangélica, inaugurada em leilão e em 2018 passam
Foto: Rosemari Glatz

em 1938. por ampla reforma para se


A construção da Fábrica de tornarem o Centro Industrial
Tecidos Carlos Renaux data Renaux, mantendo algumas ca-
do início na década de 1930 e, racterísticas originais das edi-
apesar de os galpões não terem ficações, assim como o laranja
sido construídos todos de uma coral, a cor oficial da marca Re-
vez, as edificações possuem naux.
uma identidade arquitetônica Determinadas edificações
bastante homogênea. históricas do Complexo Indus-
Os dois prédios que con- trial Renaux, incluindo a torre
figuram a frente do conjunto da chaminé, são reconheci-
industrial para a avenida 1º de das pelo seu importante valor
Maio se enquadram no estilo histórico da sociedade brus-
arquitetônico art déco, recor- quense. Buscando proteger o
rente e vanguardista na arqui- patrimônio cultural de modo
tetura industrial do período a preservar a memória local,
de construção dos mesmos, o pedido de tombamento de
principalmente no Brasil. São algumas edificações tramita
verdadeiros ícones históricos, junto aos órgãos competentes
arquitetônicos e industriais da desde 2013.
sua época. Localização: Avenida Pri-
O sistema construtivo em meiro de Maio, nº 1286. Pri-
alvenaria e paredes estrutu- meiro de Maio.

239
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Acervo: SAB

Villa Ida e seus mistérios


Als Bühne eines groβen Skandals der Familie Renaux, ist die Villa Ida
heute eines der schönsten noch erhaltenen alten Häuser der Stadt.
Entre os belos casarões sar de suas conformações tí- destinado à área íntima da fa-
de Brusque vamos encontrar picas de chalé europeu, a edi- mília, contando com duas suí-
a Villa Ida, construída entre ficação inova essas definições tes, um quarto, uma sala de
o final da década de 1910 e ao expressar formas curvas leitura com varanda e o aces-
início de 1920 para abrigar a e orgânicas, predominantes so ao sótão.  Na suíte do casal,
família de Otto Renaux. Como no telhado, no torreão, e nos uma grande banheira, pias e
de costume, o casarão foi ba- volumes da fachada, similares espelhos individuais indicam
tizado com o nome da esposa, ao estilo conhecido por art- que ali era um ambiente de
Augusta Carolina Ida Krieger, nouveau. luxo.
mais conhecida como Ida. Na- O casarão conta com dois Ladrilho hidráulico foi uti-
quela época, o diretor precisa- pavimentos principais, mais lizado no piso da cozinha, no
va estar próximo da empresa o porão e o sótão. No térreo, jardim de inverno e nas áreas
para qualquer eventualidade, além do hall de entrada, en- molhadas, sendo que a maio-
e por isso a mansão foi cons- contramos as áreas sociais e ria dos cômodos recebeu as-
truída no terreno da fábrica. de serviço: um jardim inter- soalho de madeira. O revesti-
A edificação apresenta es- no, salas de estar, jantar e lei- mento externo é texturizado,
tilo alheio ao entorno, exibin- tura, cozinha e despensa, um e as paredes são de estuque
do traços peculiares e raros lavabo e um banheiro. - uma estrutura em madeira
no contexto brasileiro. Ape- O primeiro pavimento era preenchida e revestida com
240
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rosemari Glatz

argamassa de areia, cal e ges- num desvão com maior apro- A partir da década de
so. Os belos jardins da man- veitamento. 1960, e até o encerramento
são eram uma atração à parte A mansão serviu como re- das atividades da empresa,
e compunham a estrutura da sidência da família de Otto em 2013, a bela e imponente
casa. A cor original do casa- Renaux até 1947, quando ele construção serviu como am-
rão era vermelho orgânico ficou doente e se afastou da bulatório da Fábrica de Teci-
escuro, e as esquadrias eram diretoria da empresa, passan- dos Carlos Renaux.
claras. do a compor apenas o conse- Passado um século desde
Uma característica impor- lho da fábrica. a sua construção, ainda hoje
tante da edificação é o telha- A edificação que é consi- a mansão, que já foi um dos
do escalonado, constituído derada um dos casarões mais maiores símbolos de poder
por ‘degraus’, em uma espécie emblemáticos de Brusque, de Brusque, pode ser admira-
de divisão em níveis, com a pois com a saída de Otto a da a partir da avenida Primei-
presença de mansardas, que mansão passou a ser a resi- ro de Maio.
consistem no vão entre a casa dência do sobrinho Ivo José A edificação é considerada
e o telhado, o sótão, que, pro- Renaux, principal persona- um importante patrimônio
vido de janelas, se transfor- gem do mistério que cerca histórico de Brusque e desde
mando em um último andar a Villa Ida. Nesta casa Ivo foi 2013 o pedido de tombamen-
habitável, pois as águas do encontrado morto com um to tramita junto aos órgãos
telhado são divididas em dois tiro na cabeça em um dos competentes.
caimentos, sendo o inferior quartos escuros e sombrios Localização: Avenida 1º de
quase vertical e o superior do 2° andar, na manhã de Maio, nº 1286. Primeiro de
quase horizontal, resultando 30/07/1949. Maio.

241
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Villa Renaux: Espaço de


Memória Cônsul Carlos Renaux
Eine der auffälligsten Bauten der Stadt Brusque ist die Villa Goucki. Sie wurde zwischen
1932-1935 nach Plänen des deutschen Ingenieurs Eugen Rombach gebaut. Die Villa war
Wohn- und Repräsentationshaus des Konsuls Carlos Renaux in Brusque.

Denominada originalmen- a construção foi iniciada em cipal, destinada à família, e


te de Villa Goucki em home- 1932 e finalizada em 1935. uma menor, utilizada pelos
nagem à terceira esposa, a No jardim aos fundos da serviçais. As duas edificações
mansão foi construída para mansão, encontramos um pe- se interligam por uma espécie
ser a residência do Cônsul queno Mausoléu onde estão de ‘passarela’ que liga o andar
Carlos Renaux no seu regres- abrigados os restos mortais superior das duas edificações.
so de Baden, Alemanha e re- da terceira esposa do Cônsul, A arquitetura da Villa é art
presenta um marco para a a Consulesa Maria Luiza Au- déco, com linhas retas e sim-
história da região de Brusque guste Lienhaerts Renaux, a ples, seguindo o movimento
e de Santa Catarina. Goucki. artístico e arquitetônico.
Projetada pelo arquite- A edificação consiste em A residência principal tem
to alemão Eugen Rombach, duas casas separadas, a prin- 3 pavimentos. No subsolo

242
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

encontramos o espaço de la- Depois de um tempo fecha- Villa Renaux, tem recebido
zer voltado para o jardim e o da, a Villa Renaux foi habitada muitas visitas públicas, prin-
espaço reservado às máqui- por Selma, a filha mais nova cipalmente de estudantes e
nas pois a residência desde do Cônsul. Nas últimas déca- pesquisadores. As atividades
a sua construção já possuía das, quem residiu na Casa foi educacionais têm sido coor-
sistemas de aquecimento e de a bisneta do Cônsul, a histo- denadas pela Unifebe.
ar-condicionado central, con- riadora Maria Luiza (Bia) Re- Como está ligada à indus-
siderado o primeiro do esta- naux. trialização catarinense, em
do de Santa Catarina. Os sis- Bia manteve o uso residen- setembro de 2018 a Funda-
temas funcionam por dutos, cial da edificação e preservou ção Catarinense de Cultura
sendo o aquecimento feito os espaços tal como foram fez publicar a portaria de
por fornalha. A refrigeração concebidos pelo arquiteto promoção de tombamento
está embutida nas luminárias alemão Eugen Rombach, fa- da Villa Renaux, que será o
de cada cômodo, sendo que zendo da casa um verdadeiro primeiro imóvel em Brusque
tanto o aquecimento quanto a espaço de memória. A aten- declarado como patrimônio
refrigeração atingem todos os ção e esforço de Bia pela pre- histórico pela Fundação Cata-
cômodos da casa. servação da ambientação da rinense de Cultura.
A casa passou apenas por época chegou aos mínimos Localização: Avenida Pri-
duas reformas, uma por volta detalhes, com resgate de mo- meiro de Maio, nº 1000. Pri-
da década de 1990 e outra no biliário e peças originais, tais meiro de Maio.
ano de 2015 e se encontra em como louças e objetos de de-
ótimo estado de conservação. coração.
Uma revitalização também Após a morte de Bia Re-
se fez necessária em alguns naux, em janeiro de 2017, o
cômodos quando, em 2013, a possuidor do imóvel assinou
casa foi invadida por vânda- um Termo de Cooperação
los. para Cessão de Direitos de
Ao longo da sua história, a Uso de Imóvel e Acervo Docu-
casa abrigou três gerações de mental com o Centro Univer-
moradores. O Cônsul e a Con- sitário de Brusque – Unifebe.
sulesa Renaux, para quem foi A partir de então a Unifebe
construída a casa e que nela passou a ter acesso ao acervo
permaneceram até sua morte. documental histórico físico e
Após a morte do Cônsul, digital armazenado na Villa
em 28 de janeiro de 1945, Renaux, com o objetivo de
seus descendentes costuma- contribuir para a sistemati-
vam se reunir na Villa Renaux zação, preservação e sociali-
duas vezes ao ano, para ren- zação da memória, documen-
der homenagem aos antepas- tação visual da história e do
sados: no dia 11 de março, patrimônio cultural da cidade
aniversário natalício de Car- de Brusque e região.
los Renaux, e em 8 de dezem- Desde 2017, o Espaço de
bro, aniversário natalício da Memória Cônsul Carlos Re- Mausoléu onde está sepultada
a consulesa Goucki.
sua esposa Selma Wagner. naux, implantado dentro da
Foto: Rosemari Glatz

243
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Parque Internacional das


Foto: Rosemari Glatz

Esculturas em Mármore Ilse Teske


Der internationale Marmorskulpturenpark wurde am 24. April 2014 eingeweiht.
Der Park ist mit über 40 Skulpturen auf einer Ausstellungsfläche von 23.000 m² die
größte Sammlung von Marmorskulpturen in Lateinamerika. Die Anlage versammelt
einen Teil der Werke, die von renommierten Künstlern auf dem internationalen
Skulpturen-Symposium zwischen 2001 und 2007 in Brusque geschaffen wurden.
Unter den Exponaten befindet sich ein Werk der anerkannten japanischen Bildhauerin
Tomie Ohtake, sowie eines der letzten Werkes des verstorbenen Gio Pomodoro (Italien).
Der Skulpturenpark vereint Kunstwerke, wie eine Skulptur des Künstlers Amílcar
de Castro (Brasilien) und das vom Architekten Oscar Niemeyer entworfene Werk
„Tortura Nunca Mais“ (Foltern nie wieder), das auf die Zeit der brasilianischen Diktatur
anspielt. Besucher können auch Werke wie „Halia“ von Francisco Brennand und
„Fille de La Pluie“ (Tochter des Regens) von Juarez Machado betrachten, deren
Thema auf einer raffinierten, sinnlichen und poetischen weiblichen Figur basiert.
Der Skulpturenpark Ilse Teske befindet sich an der Valentim Maurici Straβe
und ist ganzjährig zugänglich. QR-Codes an den jewelligen Exponaten begleiten
den Ausstellungsbesuch mit Textbeiträgen.

244
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Inaugurado em 24 de abril Pomodoro. em mármore da América Lati-


de 2014, o Parque está im- O Parque congrega obras na e, tal qual um “espelho uni-
plantado em uma área de 23 como a única feita em már- versal”, o parque oferece ima-
mil m² onde estão expostas, more pelo artista Amílcar de gens da consciência coletiva
ao ar livre e em meio à natu- Castro, e a peça Tortura Nun- que estimulam o observador
reza, 40 esculturas em már- ca Mais, desenhada pelo ar- a reconstruir e reencontrar o
more. quiteto Oscar Niemeyer, e que seu lugar no universo.
O local reúne parte do faz alusão ao período da dita- Implantado às margens da
acervo deixado por artis- dura vivida no Brasil. Rodovia Antonio Heil, o Par-
tas renomados das edições Os visitantes também po- que está aberto para visitação
do Simpósio Internacional de dem encontrar obras de Jua- todos os dias, e as informa-
Esculturas de Brusque, que rez Machado, com a escultura ções referentes às escultu-
ocorreram de 2001 a 2007, Fille de La Pluie (A Filha da ras podem ser acessadas por
como a obra da artista japo- Chuva) cuja temática está ba- meio de QR Code.
nesa Tomie Ohtake, reconhe- seada numa figura feminina O parque é um dos prin-
cida internacionalmente, e sofisticada, sensual e poética. cipais atrativos turísticos da
raridades, como uma das últi- O local é considerado o cidade.
mas peças produzidas por Gio maior acervo de esculturas Localização: Rua Valentim
Maurici, 61. Centro II - Brus-
que.

245
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Praça do Sesquicentenário
Der “Praça do Sesquicentenário“ wurde 2010 zum 150-jährigen Bestehen der
Stadt Brusque eingeweiht. Der neue Platz ist ein Begegnungsort vieler Familien
mit Kindern und ein wunderbarer gemütlicher Platz zum Verweilen.

A Praça foi criada em ho- o mapa de Brusque. inaugurado o Ponto de Leitu-


menagem aos 150 anos de A praça também recebeu ra da Praça Sesquicentenário
Brusque e inaugurada em duas esculturas, a estátua de e, em 9/08/2013, foi inau-
21/08/2010. No mesmo dia Brusque, e o Monumento à gurado um novo módulo da
foi inaugurado o monumento Bíblia. A praça igualmente praça, que recebeu mais duas
intitulado “A Conquista dos recebeu árvores que foram quadras, uma poliesportiva e
150 anos”, um conjunto de transplantadas de um antigo uma de tênis, a pista de espor-
figuras geométricas em con- palacete que foi demolido na tes radicais e mais vagas para
creto e metal. As três torres avenida Otto Renaux. estacionamento. Um dos mais
representam os três poderes O local possui uma aca- novos cartões postais da cida-
do município, com uma linha demia para todas as idades, de, a Praça do Sesquicentená-
em ascensão. Os bonecos sim- pista de patinação, parque de rio é palco de vários eventos
bolizam o povo, e as engre- diversão infantil, internet ao e atrações e possui a primeira
nagens a indústria, principal ar livre, jardim e chafariz. A pista de patinação do Estado
responsável pelo desenvolvi- água para jardinagem, e que instalada a céu aberto.
mento econômico da cidade. também é usada no chafariz, Localização: Rua Eduardo
Os perfis encontrados em tor- é captada das águas da chuva. von Buettner, em frente à Pre-
no das engrenagens formam Em outubro de 2011, foi feitura. Centro.
246
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Praça Vicente Só
Der Vicente Só Platz liegt heute dort, wo im Jahr 1860 die ersten deutschen Einwandererfamilien
in der Mühle von Pedro Werner provisorisch einquartiert wurden. Die dort stehende Skulptur
weist auf die Begegnung zwischen den Einwanderern und den Ureinwohnern auf.

Inserida na programação ção também se procedeu à ce- do Centenário de Brusque, e


oficial do Centenário de Brus- rimônia das homenagens ao as esculturas representando
que, em 4/08/1960 foi inau- fundador da cidade, Dr. Fran- a chegada e o encontro dos
gurada a Praça Vicente Só, cisco Carlos de Araújo Brus- imigrantes alemães com os
assim denominada em home- que, ao 1º diretor da Colônia indígenas, são os principais
nagem a Vicente Ferreira de Barão Maximiliano de Schne- atrativos da Praça.
Melo, um dos primeiros mo- eburg, e aos primeiros coloni- A Praça Vicente Só está im-
radores da região. zadores, com a inauguração plantada no local onde Pedro
A cerimônia teve início às do Obelisco e respectivas pla- Werner acolheu, em sua casa
8 horas, com o hasteamento cas de bronze. O discurso foi e engenho, o primeiro grupo
da Bandeira Nacional no pa- proferido por um membro da organizado de colonizadores
lanque oficial, execução do Subcomissão do Monumento alemães em 4/08/1860. Em-
Hino Nacional e do Hino do ao Imigrante. bora pequena, proporciona
Centenário, executado pela Em 4/04/2011, a praça momentos especiais para os
Banda da Polícia Militar do foi reinaugurada e recebeu apreciadores da história e da
Estado, seguido de discurso 11 esculturas esculpidas em arte.
do Prefeito Municipal. 2002 pelo artista plástico Localização: Rua Getúlio
Durante o ato de inaugura- David Rodrigues. O obelisco Vargas. Centro. Brusque.
247
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Praça da Cidadania
Der Platz ist nach dem ehemaligen Bürgermeister Paulo Lourenço Bianchini
benannt. Die Einweihung fand im August 2013 statt. Das Gelände beherbergt
die Stadtbibliothek und die Kulturstiftung der Stadt Brusque.

Inaugurada em 17 de agos- mento do Samae, Sine, Pro- nitários e um espaço destina-


to de 2013, a Praça da Cida- con, Conselho Tutelar, Centro do aos artesãos brusquenses.
dania foi implantada com o de Referência Especializada Além dos serviços públi-
objetivo de facilitar a vida dos em Assistência Social, Centro cos, na Praça estão implan-
moradores ao reunir os prin- de Convivência Social, Centro tadas algumas obras de arte
cipais serviços públicos no de Serviços em Saúde, Centro que integram o Roteiro das
mesmo espaço. de Especialidades Odontoló- Esculturas, e o monumen-
A praça foi batizada de Pre- gicas, Centro de Referência de to intitulado “pinhão”, uma
feito Paulo Lourenço Bianchi- Especialidades (Policlínica), e homenagem aos imigrantes
ni, em homenagem ao político as farmácias Básica e de Me- poloneses que aqui aporta-
brusquense, e a sua inaugura- dicamentos Controlados. ram em 1869 e concederam a
ção fez parte dos eventos em No local também funciona Brusque o título de Berço da
comemoração aos 153 anos a Fundação Cultural de Brus- Imigração Polonesa no Brasil.
de Brusque. que, e a Biblioteca Pública
A praça possui um comple- Municipal Ary Cabral, e conta Localização: Rua Prefeito
xo de serviços públicos que com um palco para apresen- Germano Schaefer, nº 110.
abriga os postos de atendi- tações artísticas e shows, sa- Centro. Brusque
248
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Praça Barão de Schneeburg


1951 wurde der Platz unter seinem ursprünglichen Namen „Salgado Filho“ eingeweiht.
Eine Statue zu Ehren des Konsuls Carlos Renaux wurde im selben Jahr der Öffenlichkeit
übergeben. Nach dem Abriss des Palastes der Familie Renaux im Jahr 1949, wurde er in
einen öffentlichen Platz ungewandelt und wurde im Laufe der Zeit Zeuge verschiedener
Feiern, Demonstrationen und politischer Proteste. Im Dezember 1964 wurde der Platz auf
Vorschlag von Ayres Gevaerd in Freiherr von Schneeburg-Platz unbenannt.

Implantada no coração da memorações, manifestações e palavras que descrevem ade-


cidade, a praça foi inaugurada protestos políticos. quadamente as suas caracte-
em 1º/05/1951 e original- A partir de dezembro de rísticas enquanto administra-
mente foi denominada Praça 1964, a partir de uma suges- dor. 
Salgado Filho. Na mesma oca- tão de Ayres Gevaerd, a pra- Em pleno coração da cida-
sião também foi inaugurada ça passou a ser denominada de, próximo a vários pontos
a Estátua em homenagem ao Praça Barão von Schneeburg. turísticos e estabelecimentos
Cônsul Carlos Renaux, uma O Barão foi o primeiro dire- comerciais, a Praça Barão von
obra produzida por Agosti- tor da Colônia Itajaí-Brusque, Schneeburg tem enorme va-
nho Malinverni Filho. administrando-a honrada- lor social, político e estético,
O espaço foi transformado mente e com especial dedica- ponto ideal para acolhimento
em praça após a infeliz demo- ção desde a sua fundação, em tanto dos brusquenses quan-
lição do palacete da família 4/08/1860, até o seu afasta- to dos turistas.
Renaux, em 1949, e já passou mento da função por motivos Localização: Entre a Aveni-
por inúmeras transforma- de saúde, em abril de 1867. da Monte Castelo e a Avenida
ções, presenciou diversas co- Organização e disciplina são Cônsul Carlos Renaux. Centro.
249
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Praça Gilberto Colzani


Mit der Namensgebung dieses Platzes ehrt der Stadt die italienische Einwanderung
und seine Nachkommen. Auf dem Platz steht auch die Gedenktafel aus Bronze,
die zur 125-Jahr-Feier der italienischen Einwanderung errichtet wurde.

A praça foi denominada simbolizando a memória dos iluminação artificial permi-


Gilberto Colzani em 1994 e imigrantes italianos. tem oferecer um espetáculo
inaugurada em 19/12/1996. Para os italianos, as praças de luzes e cores à noite.
Implantada em frente ao Ter- não são apenas um espaço de A praça também conta com
minal Urbano de Brusque, e entretenimento e lazer, pois um lago artificial e com a es-
ao lado da cabeceira da Ponte contam a história do povo. cultura denominada “Famí-
Arthur Schlösser. São centros vivos, de discus- lia de Bugre”, que represen-
É uma das poucas praças sões, um lugar para encontros ta o imigrante e o habitante
da cidade com sobrenome ita- entre a vida pública e priva- nativo de nossa região que,
liano, apesar de o número de da, e um convite à meditação em alguns casos, formaram
imigrantes italianos ter sido sobre os monumentos, fatos famílias. A escultura é uma
muito superior ao de outras históricos e hábitos dos cida- obra do artista brasileiro José
etnias que colonizaram Brus- dãos. Ubaldo da Silva e foi esculpi-
que. Em 22/09/2000, o Cir- Em 6/08/2010, o chafariz da em 2001, no Simpósio In-
colo Italiano di Brusque fez da Praça Gilberto Colzani foi ternacional de Esculturas do
instalar a placa comemorati- reinaugurado. Trata-se de um Brasil.
va aos 125 anos de imigração atrativo inédito onde as cas- Localização: Rua Germano
italiana no Brasil na praça, catas d’água e chafarizes com Schaefer, nº 209. Centro.
250
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Praça Imigrantes de Karlsdorf


Der Platz wurde nach den ersten deutschen Einwanderern aus Karlsdorf in
Baden-Württemberg, Deutschland, benannt. Die ersten badischen Familien kamen
am 19. August 1860 in Brusque an. Die Mehrheit der Einwanderer hat sich in Richtung
des Guabiruba-Flusses niedergelassen. Seit 2009 ist die Gemeinde Karlsdorf-Neuthard
Partnerstadt der benachbarten Stadt Guabiruba.

Criada pela Lei Municipal chaft - BSG, atendendo a uma nageando os imigrantes, doa-
nº 1.400, de 30/03/1988, resolução da Câmara de Ve- da pela BSG e pela Associação
a Praça fica na cabeceira da readores de Karlsdorf-Neu- Catarinense de Intercâmbio e
Ponte Estaiada. Durante os thard, trouxe a Brusque uma Cultura – ACIC.
primeiros anos de coloniza- muda de carvalho alemão. A
ção da cidade, a região serviu árvore tinha 1 metro de al- O carvalho plantado em
como porto fluvial de Brus- tura e foi plantada na praça 1988 foi atingido por pragas,
que. Ali aportavam os barcos, para simbolizar a origem dos sofreu os efeitos do clima, e
as canoas e as lanchas que imigrantes. O carvalho teve começou a morrer. Mas, assim
visavam ao abastecimento da um bom crescimento inicial e como os imigrantes alemães
população, e a saída dos pro- chegou a atingir cerca de 10 tinham esperança numa nova
dutos para o porto marítimo metros de altura. vida, também o carvalho ale-
de Itajaí. A Praça foi revitalizada em mão brotou outra vez. Agora
A praça recebeu este 2009. Para celebrar os 150 são dois novos ramos que,
nome em homenagem aos anos da imigração alemã, em lado a lado, crescem frondo-
imigrantes alemães originá- novembro de 2010 foi im- sos e saudáveis. Tal como o
rios de Karlsdorf, que che- plantado na praça um belo monumento implantado na
garam a Brusque a partir de monumento composto por mesma praça, os dois ramos
19/08/1860. duas colunas entrelaçadas podem simbolizar a velha e
Quando a praça foi inau- por uma fita, simbolizando nova Pátria dos imigrantes de
gurada, Egon Klefenz, à época Baden e o Brasil, e represen- Karlsdorf.
prefeito de Karlsdorf-Neu- tando a velha e nova Pátria Localização: confluência
thard e presidente da Badis- dos imigrantes. Também foi do Largo 4 de Agosto com a
ch-Südbrasilianische Gesells- descerrada uma placa home- Rua Hercílio Luz. Centro.
251
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

Praça dos Estudantes


Auf dem Studentenplatz der Universität Unifebe wurde 2017, im Rahmen eines
Klimaschutzprojekts mit dem Landkreis Karlsruhe, ein intelligentes Straβenbeleuchtungssystem
installiert. Diese intelligenten Straßenbeleuchtungsanlagen sind mit einer Ladestation,
Notruffunktion, Umwelt- und Verkehrssensorik ausgestattet. Es handelt sich dabei um eine
von der EnBW entwickelte modulare Infrastrukturlösung namens „SM!GHT“. „SMIGHT“ ist eine
Unternehmung der EnBW Energie Baden-Württemberg AG und hat ihren Sitz in Karlsruhe.

A praça privada de uso pú- conta com o apoio da Unifebe arte que convida a legibilidade
blico, que pertence ao Cen- para fins científicos. Denomi- da peça para além das aparên-
tro Universitário de Brusque nada carinhosamente de “Pra- cias das coisas, onde impera
- Unifebe, recebeu uma nova ça do Estudante”, pois não é um tipo de essência espiritual,
urbanidade e uso a partir da uma praça oficial, conta com uma força ou um ser imanente,
inauguração de uma das três uma escultura que integra o cuja manifestação nas formas
unidades da estação inteligen- Patrimônio Histórico do Muni- vivas é só parcial e convida a
te Smight instaladas em conti- cípio. A escultura “Sem Nome” eterna e incessante busca pelo
nente americano. de Fridel Steiner, traz uma pirâ- conhecimento, tão próprio do
Inaugurada em 17 de no- mide que emoldura oito rostos ambiente universitário.
vembro de 2017, a estação com olhos fechados e um nono Caminhos pavimentados,
inteligente Smight é um dos rosto com olhos abertos e, num bancos coloridos e canteiros
frutos do projeto “50 Parcerias deles, um coração, remetendo floridos complementam a am-
Municipais pelo Clima” firma- ao olhar da Mãe Terra que, com bientação do local.
do entre Brusque e o Distrito olhar vigilante acolhe, protege, Localização: Unifebe. Bairro
de Karlsruhe, Alemanha, e que orienta e ensina. É uma obra de Santa Terezinha.
252
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Diplomata FM

Festa Nacional do Marreco


Das Entenfest ist eine der größten Veranstaltungen in der Region des Itajaí-Tals und
findet seit 1986 jährlich im Oktober statt. Überregionale Bekannheit erlangte das
Fest als gastronomisches Ereignis und als ein Fest für die ganze Familie.

Chamada carinhosamen- sua identidade étnica.  Muito Depois de três edições no Clu-
te de Fenarreco, é realizada famoso nas regiões do Vale do be, a Fenarreco foi realizada
anualmente no mês de outu- Itajaí, o marreco recheado é pela primeira vez no atual en-
bro e é o principal símbolo da servido acompanhado de re- dereço, mas sem o pavilhão.
vida social de Brusque. Seus polho roxo ou chucrute, bata- Duas grandes coberturas de
atrativos são os pratos à base tas e purê de maçã. lonas foram utilizadas para
de marreco, além do chope, Quando foi realizada a os bailes e a feira industrial e
apresentações de grupos fol- 1ª edição da Fenarreco, em outras menores abrigavam os
clóricos e bandas alemãs. 1986, a cidade possuía pouco serviços de restaurante e be-
A ideia da Fenarreco sur- mais de 50 mil habitantes e bidas. Somente em 1991, com
giu em 1985, após a cidade quase nenhuma tradição tu- a conclusão da construção, a
ter sofrido o efeito devasta- rística. Em Brusque não exis- festa pôde ser realizada em
dor das duas grandes cheias tiam locais para a realização dependências mais confortá-
de 1983 e 1984, mas sua pri- de eventos, e as primeiras edi- veis e suficientes para rece-
meira edição aconteceu só em ções da festa foram realizadas ber um grande público.
1986. Inspirada na criação da nas dependências do Clube de A Fenarreco é organizada
Oktoberfest, de Blumenau, a Caça e Tiro Araújo Brusque. O pela Secretaria de Turismo e
festa simboliza a superação, crescimento da festa foi in- acontece anualmente no mês
e representa um esforço para tenso e rápido, e o Clube não de outubro. É considerada a
manter e redefinir a identida- comportava mais a expectati- maior festa de Brusque, e uma
de do povo brusquense. va de um público maior. Então das maiores festas de outubro
O marreco recheado – ou a Prefeitura, em parceria com de Santa Catarina.
“gefüllte Ente”, como é conhe- a iniciativa privada, construiu Local: Pavilhão de Eventos
cido na Alemanha, é elemento o Pavilhão de Eventos que Maria Celina Vidotto Imhof.
fundamental da festa e serviu atualmente constitui o princi- Rua Deputado Gentil Battisti
para que Brusque reafirmasse pal local de eventos da cidade. Archer. Centro 2.
253
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Festa Nacional do Jeep


Was 1993 als Zusammenkunft von ein paar Dutzend Off-Road-Enthusiasten startete,
ist heute zu einem Spektakel geworden, das weltweit seinesgleichen sucht.
Fenajeep ist das gröβte Off-Road Festival Brasiliens.

Com o objetivo de possibi- equipamentos off-road e pos- a emoção de um esporte que


litar a confraternização entre sibilitava às empresas mos- agrega lindas paisagens e o
as famílias jipeiras e os di- trarem seus produtos e ser- espírito aventureiro. É na Fe-
versos Jeep Clubes do Brasil, viços. O evento foi crescendo najeep que, ano após ano, se
em 1993 nascia, do coração e conquistando cada vez mais conhece o campeão dos cam-
do Jeep Clube de Brusque, a adeptos e visitantes. Adquiriu peões do esporte.
Fenajeep. Quando a festa foi renome internacional quando A Festa Nacional do Jeep
criada, em Santa Catarina já a questão é off-road. é organizada pelo Jeep Clube
existia um Racing com 10 eta- A movimentação atrelada de Brusque e acontece anual-
pas, mas cada uma era realiza- à Fenajeep passou a incenti- mente no feriado de Corpus
da em um município diferen- var o turismo. O espetáculo Christi. É considerada a maior
te. A proposta dos criadores proporcionado pelas compe- festa off-road da América La-
da Fenajeep era concentrar tições, as novidades e as atra- tina, e uma das maiores festas
exposições, provas e compe- ções do salão off-road reú- de Brusque.
tições em um único evento, nem tanto o público ligado ao Local: Pavilhão de Eventos
de abrangência nacional, ao Jeep e amantes do 4x4, quan- Maria Celina Vidotto Imhof.
mesmo tempo em que divul- to aqueles que simplesmente Rua Deputado Gentil Battisti
gava lançamentos de novos buscam descontração, lazer e Archer. Centro 2.
254
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Foto: Rosemari Glatz

Festival Nacional da Cuca:


O doce sabor da tradição alemã
Das Kuchenfest findet jährlich statt und gilt als eine
touristische und kulinarische Attraktion der Stadt.

O Festival nasceu com o na sua bagagem, traziam amendoim, goiaba e goia-


objetivo de resgatar e valo- os tradicionais livros de re- bada, e incrementadas com
rizar a cultura alemã no mu- ceitas de família e, dentre as cobertura de nata. As cober-
nicípio. Foi realizado pela receitas preferidas, vamos turas de farofa, maça e quei-
primeira vez em 2014, numa encontrar as de “Kuchen”, as jinho se conservaram entre
promoção do Núcleo de Pa- nossas famosas cucas. os imigrantes e seus descen-
nificadoras e Confeitarias da Alguns ingredientes pró- dentes e até hoje a nossa cuca
Associação Empresarial de prios da receita original ale- tem “cheiro de casa, cheiro de
Brusque – ACIBr, em parceria mã, como cerejas, maçãs e família, e cheiro de amor”.
com a Prefeitura de Brusque e ameixas, raramente eram en- O Festival é realizado anu-
Secretaria de Turismo. Desde contrados, então as receitas almente no mês de julho,
sua primeira edição, o con- acabaram sendo regionali- sendo considerado um im-
curso “Cuca Nota 10 do Bra- zadas, com a substituição ou portante atrativo turístico de
sil” acontece durante o festi- inclusão de ingredientes bem Brusque.
val e atrai grande público de brasileiros. Local do Evento: Pavilhão
diversas regiões do país. As coberturas começaram de Eventos Maria Celina Vi-
O doce sabor da tradição a receber frutas tropicais, dotto Imhof. Rua Deputado
alemã guarda relação com a como abacaxi, banana, coco, Gentil Battisti Archer. Centro
chegada dos imigrantes que, uva e uva-passa, castanha, 2.
255
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Formação Administrativa de Brusque


Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira

Data de fundação: 04/08/1860.


Prefeito [2018]: Jonas Oscar Paegle.
Vice-prefeito [2018]: José Ari Vequi.
Nº de vereadores[2018]: 15.

256
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Formação instalado o novo município e tro distritos: Brusque, Nilo


Villa de São Luiz Gonzaga.  Peçanha, Porto Franco e Vidal
histórica 1890: Pelo Decreto Esta- Ramos. 
dual n.º 77, a vila de São Luiz 1943: Pelo Decreto
1873: A Colônia Itajahy Gonzaga passou a denominar- -lei Estadual n.º 941, de
-Brusque é transformada em se Brusque em 17/01/1890.  31/12/1943, o distrito de
Distrito subordinado a Itajaí. 1911: A vila Brusque é Porto Franco passou a deno-
Pela Lei Provincial n.º 693, constituída como distrito-se- minar-se Botuverá e o distri-
de 31/07/1873, o presiden- de em divisão administrativa. to de Nilo Peçanha, a denomi-
te da Província, Pedro Afonso 1916: Brusque é elevada à nar-se Itaquá. 
Ferreira, desmembrou as co- categoria de cidade e sede do 1955: Em divisão territo-
lônias anexadas da freguesia município pela Lei Estadual rial datada de 01/07/1955,
do Santíssimo Sacramento n.º 1.123, de 23/09/1916. o município é constituído de
(Itajaí), formando-se a Fre- 1925: Pela Lei Municipal quatro distritos: Brusque, Bo-
guesia (paróquia), subordina- n.º 26, de 08/02/1925, é cria- tuverá, Itaquá, e Vidal Ramos.
da à Igreja Católica, primeiro do o distrito de Porto Franco, 1956: Pela Lei Estadual n.º
passo para a emancipação e anexado ao município de 272, de 03/12/1956, são des-
política e administrativa da Brusque.  membrados do município de
localidade. Seguindo o cos-
1928: Pela Lei Municipal Brusque os distritos de Vidal
tume católico, a freguesia foi
n.º 4, de 15/07/1928, é cria- Ramos e Itaquá, para formar
dedicada ao patrono São Luis
do o distrito de Santa Luzia, o novo município de Vidal Ra-
Gonzaga, passando a denomi-
desmembrado do distrito de mos. 
nar-se Freguesia de São Luiz
Porto Franco, e anexado ao 1962: a partir da Resolu-
Gonzaga.
município de Brusque.  ção nº 238, de 28/04/1962,
1881: O Distrito (Fregue-
1928: Pela Lei Municipal aprovada pela Câmara Muni-
sia) foi desmembrado de Ita-
n.º 8, de 21/11/1928, o dis- cipal de Brusque e ratificada
jaí e elevado à categoria de
trito de Santa Luzia passou a pela Assembleia Legislativa
vila pela Lei Provincial n.º
denominar-se Adolfo Konder.  pela Lei Estadual n.º 821, de
920, de 23/03/1881, sob a
1930: Por Decreto Esta- 07/05/1962, Botuverá e Gua-
denominação de Vila de São
dual n.º 16, de 29/11/1930, biruba são desmembrados do
Luiz Gonzaga, marcando a
o distrito de Adolfo Konder município de Brusque, e ele-
sua emancipação político-ad-
passou a denominar-se Vidal vados à categoria de municí-
ministrativa. A lei de criação
fixava como limites da vila os Ramos. pio.
mesmos da Freguesia de São 1933: Em divisão admi-
nistrativa referente ao ano de
Luiz Gonzaga, abrangendo os
1933, o município é constitu-
REFERÊNCIA:
territórios dos atuais municí- IBGE.  Instituto Brasilei-
pios de Brusque, Guabiruba, ído de três distritos: Brusque,
ro de Geografia e Estatística.
Botuverá, Vidal Ramos, Pre- Porto Franco e Vidal Ramos.  Panorama Brusque. Disponí-
sidente Nereu, Nova Trento e 1936-1937: Em divi- vel em:<https://cidades.ibge.
uma porção de São João Batis- sões territoriais datadas de gov.br/brasil/sc/brusque/
ta (localidade de Crecker). 31/12/1936 e 31/12/1937, o panorama>. Acesso em 12 ou-
1883: Em 08/07/1883 é município aparece com qua- tubro 2018.

257
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Dados demográficos
Foto: Rosemari Glatz

Brusque está localizada no tiva de vida de 75 anos. 283.223 km².


Médio Vale do Itajaí, estado Apresenta um clima quen- Densidade demográfica
de Santa Catarina. te e temperado, com significa- [2010]: 372,51 hab./km²
É circundada por Gaspar, tiva pluviosidade distribuída IDHM Índice de desenvol-
Itajaí, Nova Trento, Canelinha, ao longo do ano. vimento humano municipal
Botuverá, Guabiruba, Cambo- A temperatura média é de [2010]: 0,795 
riú e Itajaí. 20 °C, e a sensação de calor Escolarização 6 a 14 anos
Considerada uma cidade pode ser intensificada quan- [2010]: 98 %
média, é a 12ª maior cidade do da presença do ar mais Gentilício: brusquense
em população de Santa Cata- úmido.
rina. A cidade é banhada pelo REFERÊNCIA
Brusque é considerada a rio Itajaí-Mirim.
cidade mais segura para se vi- População estimada IBGE.  Instituto Brasilei-
ver entre as cidades com mais [2018]: 131.703 pessoas ro de Geografia e Estatística.
de 100 mil habitantes, com População no último cen- Estatísticas. Disponível em:<
4,8 homicídios para cada 100 so [2010]: 105.503 pessoas, https://www.ibge.gov.br/
mil habitantes. sendo 50,3% do sexo femini- estatisticas-novoportal/por-
A população é composta no e 49,7% do sexo masculi- cidade-estado-estatisticas.
principalmente por descen- no, apresentando equilíbrio. html?c=4202909&t=desta-
dentes de alemães, poloneses População urbana: 97% ques >. Acesso em 13 outubro
e italianos, com uma expecta- Possui uma área de 2018.

258
Foto: Jornal O Município
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Distâncias e principais vias de acesso

259
Foto: Daiane Benso
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

260
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Dados econômicos
Reconhecida pela sua característica
empreendedora, Brusque é destaque
nacional no quesito desenvolvimento
econômico.
Conhecida como “Berço da Fiação
Catarinense” e “Cidade dos Tecidos”, du-
rante muitos anos a base econômica foi
o têxtil.
Impulsionado pelo segmento têxtil,
a partir de 1960, o panorama industrial
da cidade foi sendo ampliado com a in-
serção da indústria metalmecânica.

Economia

A indústria é a base da economia lo-
cal, especialmente o setor têxtil e o me-
talmecânico, mas o comércio de vestu-
ário, cama, mesa e banho, e o turismo
também se destacam na geração de ren-
da da cidade.

Indústria [2015]:
Colocação no ranking entre as 295 ci-
dades catarinenses: 7º
Colocação entre as 5.570 cidades bra-
sileiras: 134º

Serviços [2015]:
Colocação no ranking entre as 295 ci-
dades catarinenses: 12º
Colocação entre as 5.570 cidades bra-
sileiras: 200º

261
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira


Produto Interno Bruto (PIB)
O PIB representa a soma de todos os bens e ser-
viços finais produzidos no município. Em 2015, o
PIB per capita de Brusque, que é calculado pela
relação do PIB municipal pelo número de habitan-
tes, era de R$ 41.003,42.

PIB Per capita


Brusque [2015]: R$ 41.003,42  
Colocação no ranking entre as 15 cidades da
microrregião[2015]: 4º
Colocação no ranking entre as 295 cidades ca-
tarinenses[2015]: 37º
Colocação entre as 5.570 cidades brasileiras
[2015]: 417º

Trabalho
e Rendimento
Quando o assunto é o total de pessoas emprega-
das, os dados do IBGE apontam que em 2016 ha-
via 55.355 pessoas formalmente empregadas em
Brusque, distribuídas principalmente entre os se-
tores têxtil, metalmecânico e de serviços.
Salário médio mensal dos trabalhadores for-
mais: 2,4 salários mínimos
Pessoal ocupado: 55.355
População ocupada: 44%
Domicílios com rendimentos mensais de até
meio salário-mínimo por pessoa: 19,8%.
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM) [2010]: 0,795

REFERÊNCIA
IBGE.   Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística. Panorama Brusque. Disponível em:<ht-
tps://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/brusque/pa-
norama>. Acesso em 12 outubro 2018.
262
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

263
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

264
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O Brasão e a Bandeira de Brusque


Criado por Lei Municipal dos colonos alemães e 1881,
em 22 de dezembro de 1956, criação do município de Brus- REFERÊNCIA
pelo prefeito Carlos Moritz, o que.
Brasão de Brusque foi confec- A bandeira oficial do muni-
BLUMENAU EM CADER-
cionado pelo tenente-coronel cípio é composta pela repro-
Henrique Wiederspehn. dução do Brasão de Brusque, NOS. O Brasão de Brusque.
O escudo apresenta um es- estampado sobre um fundo Blumenau em Cadernos.
cudo português redondo, em de cor branca. Tomo I, nº 7. Maio de 1958.
verde, recordando as flores-
tas encontradas por nossos
primeiros povoadores a par-
tir de 1860. 
Aguado de prata em bar-
ra ondulada, representando
o rio Itajaí-Mirim, com uma
roda dentada à direita do on-
dulado, em homenagem às in-
dústrias e todas as demais ati-
vidades produtivas e sociais, e
uma machadinha à esquerda,
lembrando o trabalho pionei-
ro dos primeiros povoadores
e desbravadores, além dos co-
lonizadores germânicos e po-
loneses, ambos de ouro.
No centro da roda dentada,
uma cruz dourada simboliza
a fé cristã dos pioneiros e dos
atuais habitantes. Timbre, a
coroa mural de ouro da sede
do município, simbolizando
nossa filiação étnica primiti-
va. Dístico, em letras de prata
sobre listel de vermelho, cor
que representa o amor e o
entusiasmo dos brusquenses
por sua terra natal, os dizeres
Brusque, entre os milésimos
1860, ano em que Francis-
co Carlos de Araújo Brusque
permitiu o estabelecimento
265
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

266
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Hino do Centenário
de Brusque Foi aqui, neste vale tranquilo
Entre os montes e o rio escondido.
Brusque é das mais belas e próspe- Que, há cem anos atrás, um pugilo
ras cidades da Bacia do Itajaí. Prepa- De imigrantes surgiu destemido
rando-se para festejar o centenário da Dos heróis palmilhando o roteiro,
sua fundação, em 4/08/1960, as indús- Sobre o solo, que audaz desbravou.
trias, o comércio e o povo se uniram em Esse grupo invulgar, pioneiro,
torno de suas autoridades constituídas
A semente de Brusque plantou.
para dar às projetadas comemorações
o máximo de imponência. A Sociedade
Amigos de Brusque – Casa de Brusque, ESTRIBILHO:
que congregava em seus quadros, des- Salve Brusque imortal, no recesso
de a sua fundação, as mais altas expres- Dos teus vales, ressoa nos ares
sões culturais, econômicas e adminis- O cantar triunfal do progresso
trativas da região, procurou de todas as Pela voz singular dos teares.
formas revestir os festejos programa- Salve Brusque imortal.
dos não apenas do possível brilhantis-
mo, mas também do maior significado,
Sobre as áreas fecundas da terra.
de maneira a apresentar Brusque ao
Brasil, em toda a esplendente realida- Que ao vigor do trabalho se rendem,
de de uma comuna que, pelo trabalho Pela várzea do rio, pela serra,
e a indústria de seus homens, concorre Pouco a pouco as lavouras se estendem.
com elevado coeficiente para a grande- E do chão brota a casa modesta,
za física e moral do país. Construída de palha e de lenho,
Uma das iniciativas concretizadas Conquistada vai sendo a floresta,
foi o Hino do Centenário, letra do poe-
E enche os ares o canto do engenho.
ta itajaiense Eduardo Tavares, e música
do brilhante maestro Aldo Krieger, en-
tão diretor do Conservatório Brasileiro Do trabalho sem par do imigrante,
de Música. Também é da autoria desses Com bravura e ardor soberanos,
dois artistas o Hino do Centenário de Surge Brusque viril e gigante,
Blumenau. Já passados que foram cem anos.
Pela beleza dos versos e pela har- Terra minha. Só tens ocupado
monia e técnica da partitura, o Hino do Posição de relevo, altaneira,
Centenário de Brusque é um trabalho
E teu nome, entre mil, é citado
digno de orgulho.
Como exemplo à nação brasileira.
É esta a magnífica letra que Aldo
Krieger musicou:
267
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Hino de Santa Catarina


Adotado pela Lei 144, de 6/09/1895, no Governo de Hercílio Pedro da Luz, o hino de Santa
Catarina foi composto pelo poeta Horário Nunes de Pinto, nascido no Rio de Janeiro, e pelo
músico José Brazilício de Souza, pernambucano. A libertação dos escravos foi o tema chave que
permeou a composição do hino.

268
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Letra: Horácio Nunes


Música: José Brazilício de Souza

Sagremos num hino de estrelas e flores


Num canto sublime de glórias e luz
As festas que os livres frementes de ardores
Celebram nas terras gigantes da cruz
Quebram-se férreas cadeias
Rojam algemas no chão
Do povo nas epopeias
Fulge a luz da redenção

No céu peregrino da Pátria gigante


Que é berço de glórias e berço de heróis
Levanta-se em ondas de luz deslumbrante
O Sol, Liberdade cercada de sóis
Pela força do Direito
Pela força da Razão
Cai por terra o preconceito
Levanta-se uma Nação

Não mais diferenças de sangues e raças


Não mais regalias sem termos fatais
A força está toda do povo nas massas
Irmão somos todos e todos iguais

Da Liberdade adorada
No deslumbrante clarão
Banha o povo a fronte ousada
E avigora o coração

O povo que é grande, mas não vingativo


Que nunca a justiça e o Direito calcou
Com flores e festas deu vida ao cativo
Com festas e flores o trono esmagou

Quebrou-se algema do escravo


E nesta grande Nação
É cada homem um bravo
Cada bravo um cidadão
269
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Hino Nacional Brasileiro


O Hino Nacional tem uma por ocasião da coroação de acompanhar a melodia com-
melodia inconfundível, bas- Dom Pedro II. No Império, o posta quase um século antes
tam dois acordes para que Hino Nacional só podia ser pelo maestro Francisco Ma-
se reconheça de imediato. A cantado nos teatros, por artis- noel da Silva.
melodia vem do Império e a tas que dominassem a técnica
marcha que ouvimos hoje é de alongar os sons vocálicos
a mesma que Dom Pedro II e acomodar uma sílaba em REFERÊNCIA
ouvia nas cerimônias oficiais mais de uma nota, e só canto-
e foi concebida por volta de res líricos conseguiam entoar PLANALTO. Hino Nacional
1830, pelo maestro Francis- a música. Brasileiro: letra. Disponível
co Manoel da Silva. Os versos Com o golpe que derru- em:http://www2.planalto.
atuais, por sua vez, são a ter- bou o Império, em 1889, o gov.br/conheca-a-presiden-
ceira versão. novo governo se empenhou cia/acervo/simbolos-nacio-
Ao longo do Brasil monár- em sepultar os legados mo- nais/hinos/hino-nacional
quico, o Hino Nacional teve nárquicos e substituí-los por -brasileiro-1. Acesso em 28
duas letras diferentes, am- símbolos nacionais republi- setembro 2018
bas acompanhando a mesma canos. Durante as três pri- SENADO FEDERAL. Sena-
melodia triunfal que é tocada meiras décadas da República, do Notícias. Antes da versão
hoje em dia. A primeira letra o Hino Nacional não era can- atual, letra do Hino Nacional
do Hino Nacional tratava da tado, apenas ouvido. Somente bajulava Pedro II. Disponível
abdicação de Dom Pedro I, em 6 de setembro de 1922 o em:<https://www12.senado.
em 1831. O episódio foi deci- presidente Epitácio Pessoa leg.br/noticias/especiais/ar-
sivo por ter afastado de vez os assinou a lei que oficializou quivo-s/antes-da-versao-atu-
portugueses do Brasil e con- os versos do poeta Joaquim al-letra-do-hino-nacional-ba-
solidado a Independência. A Osório Duque-Estrada, es- julava-pedro-i>. Acesso em
segunda letra veio em 1841, critos em 1909, e que devem 28 setembro 2018

270
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

I II
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Deitado eternamente em berço esplêndido,
De um povo heroico o brado retumbante, Ao som do mar e à luz do céu profundo,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Iluminado ao sol do novo mundo!

Se o penhor dessa igualdade Do que a terra mais garrida


Conseguimos conquistar com braço forte, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Em teu seio, ó liberdade, “Nossos bosques têm mais vida”,
Desafia o nosso peito a própria morte! “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó pátria amada Ó pátria amada,


Idolatrada, Idolatrada,
Salve! Salve! Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do cruzeiro resplandece. - Paz no futuro e glória no passado.

Gigante pela própria natureza, Mas, se ergues da justiça a clava forte,


És belo, és forte, impávido colosso, Verás que um filho teu não foge à luta,
E o teu futuro espelha essa grandeza. Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada, Terra adorada


Entre outras mil, Entre outras mil,
És tu, Brasil, És tu, Brasil,
Ó pátria amada! Ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Brasil! Pátria amada,
Brasil!

271
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz

272
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

273
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Agradecimentos
Foram muitas as mãos que foram colocadas “na massa”. Juntas, essas “várias mãos”
possibilitaram dar forma à obra que agora se apresenta à comunidade. A elas cabe agradecer.

Agradeço:

A Deus.

Aos meus pais, aos meus avós e à minha madrinha Anna (todos em memória),
pela vida e estímulo ao estudo e à leitura, pois sem essa base as palavras não
sairiam da minha cabeça para se transformar em livro.

Ao meu sogro Geraldo Renato Meyer, o “Alter Meyer” (em memória),


e à minha sogra Elfrida Falk Meyer (Dª Elfi), pela confiança e orgulho.

Às minhas irmãs Edda, Isolde e Zusana, e demais familiares. Vocês são mais do que especiais!

Aos amigos e companheiros de caminhada na vida acadêmica, de modo especial


à Edineia Pereira da Silva Betta e ao Ricardo José Engel, pelo estímulo e orientações.

Aos jovens Egon Henrique Kohler Formonte; Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira, e
Sarah Beatriz Frainer. Vocês foram corajosos, encararam o desafio e conseguiram
contribuir de forma muito especial para que este livro se transformasse não apenas em
mais um livro de história, mas numa obra de arte colorida, descolada, artística e cultural.

Ao Tchê (Celso Deucher), pela paciente diagramação que permitiu esta obra
transmitir ao leitor o que o meu coração queria comunicar.

Ao Francisco Daniel Imhof, o famoso “Chico”, por sua dedicação na revisão dos textos.

Gratidão especial à mestra Emília Rosenbrock que, com sabedoria e conhecimento da


língua e cultura alemãs, conseguiu traduzir para o alemão a essência dos textos sobre O 160.

Ao Roque Luis Dirschnabel, pelas inestimáveis contribuições para escrever


a biografia do Barão Maximilian von Schneeburg. Sem seu empenho e espírito
público, não teria sido possível enriquecer a biografia deste homem que
se dedicou com tanto amor à Colônia que fundou.

Ao pastor Claudio Siegfried Scheffer e ao padre Eder Claudio Celva, por suas
contribuições nos textos referentes à religião.

À Francine Cavalheiro Carbonera que, com sua veia artística, foi capaz de dar
um rosto ao rosto que não conhecíamos, o Barão Maximilian von Schneeburg,
274
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

e também pelas demais gravuras.

Às jovens Bruna Burigo e Daiane Benso, pelas fotografias.

À Luciana Tomasi, por sua ajuda nas pesquisas na Casa de Brusque.

A Herbert Pastor, Edgar Ricardo von Buettner e Marga Helga Erbe Kamp, pelas
contribuições referentes à família von Buettner. Agradecimentos especiais
à Helga pelas informações primárias e fotografias.

Ao Jorge Paulo Krieger Filho, pelas contribuições primárias e fotografias


referentes à família Krieger.

À Astrid Renaux, a Gerd Albert Walter Gommersbach e a Vitor Renaux Hering, pelas
contribuições atinentes à família Renaux. Agradecimentos especiais a Vitor pois,
ao permitir o acesso ao acervo do Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux para
pesquisas, abriu as portas do passado e o franqueou ao presente e ao futuro.

Ao Marcus Schlösser, pelas contribuições com informações primárias


e fotografias referentes à família Schlösser.

Ao saudoso pastor Lindolfo Weingärtner (em memória) e sua querida esposa


Erna Joenk Weingärtner, por abrirem sua casa e seus corações contribuindo
com informações inestimáveis sobre as histórias reais da “Brusque Imortal”.

A todos os que cooperaram com esta obra, ainda que não nominados expressamente.

Aos pesquisadores e escritores que me antecederam e, mesmo sem saber, contribuíram


com subsídios para a escrita desta obra. Sem eles, este livro não existiria.

Cabe também agradecer às seguintes instituições:

Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE.


Fundação Cultural de Brusque, Conselho Municipal de Cultura e Prefeitura Municipal de Brusque.
Sociedade do Pelznickel.
Sociedade Amigos de Brusque e de Apoio ao Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim – SAB/Casa
de Brusque.

Agradecimentos especiais:
Ao meu esposo Carlos, aos meus filhos Ariel, Luan, Anna Luiza, Marcele
e Sarah e à minha neta Helena Gabriela.
Estou mais agradecida do que sou capaz de dizer.
A compreensão e o estímulo de vocês foram indispensáveis para
que o sonho se transformasse em realidade.
Amo muito todos vocês!

275
Foto: Bruna Burigo BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

276
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Sobre a obra e a autora


Esta é uma obra diferenciada. Que belo presente recebe o leitor! Ouro puro aos que valori-
zam a memória e a História, as coisas de nossa terra e de nossa gente.
Trata-se de um livro atrativo, descomplicado, ricamente ilustrado e colorido, que conduz o
leitor a uma instigante viagem de reconhecimento das identidades de Brusque, a partir de re-
presentações culturais que retratam a memória da coletividade regional. Um fantástico passeio
pela nossa história, pela nossa cultura e pelas nossas marcas. Tema para quem sabe pesquisar e
escrever, com qualidade e seriedade.
Vale, pois, dizer um pouco sobre a autora.

Rosemari Glatz é escritora, pesquisadora, funcionária pública federal aposentada e profes-


sora universitária. Nascida em Taió, Santa Catarina, é brusquense de coração. Sua formação
acadêmica é na área de Administração, mas há alguns anos descobriu sua grande paixão pela
história e desde então vem se dedicando à pesquisa e à escrita, principalmente aos temas re-
lacionados à imigração alemã, polonesa e italiana para os Vales do Itajaí e Itajaí-Mirim e para a
área do turismo regional.
A autora possui várias publicações em livros, jornais e revistas, onde destacamos:
1. Organizadora do livro História, Cultura e Gostosura: Receitas Culinárias de Família como
Expressão de Patrimônio Cultural Regional, lançado na modalidade e-Book pela Editora da Uni-
febe em 2018.
2. Coautora do livro: Famílias de Origem Alemã no Estado de Santa Catarina, lançado em
maio de 2017.
3. Publica uma coluna semanal no jornal O Município, de Brusque, desde 2015.
4. Publica no Anuário Notícias de Vicente Só, desde 2017.
5. Publica na Revista da ACIBr, desde 2018.
6. Participou dos Concursos e teve seus textos publicados nos livros: Histórias de Trabalho da
Receita Federal do Brasil nas edições dos anos de 2014, 2015 e 2016.
• 2014 (5ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa, onde obteve menção hon-
rosa, com o tema: Contribuinte do Futuro… a menina-moça que virou servidora.
• 2015 (6ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa com o tema: Histórico da
Criação da DRF Blumenau e Agências de Brusque, Rio do Sul e Timbó.
• 2016 (7ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa com o tema: O capuz e a
armadura: o servidor público como cobrador de impostos.

Leitor, viaje tranquilo e saboreie cada uma das páginas deste maravilhoso livro “BRUSQUE
- Os 60 e o 160: Elementos da nossa história”. Depois da última página, venha me falar do seu
encantamento.

Ricardo José Engel


Professor
277
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Os 60 e o 160
Foto: Rosemari Glatz

Há mais de 160 anos,


Adentraram nesta mata virgem
Os primeiros rostos mais pálidos.
Encontraram a terra selvagem
E um povo diferente e enraizado.

Depois vieram mais, subindo pelo rio.


Eram cinquenta e quatro, e o Barão
De Schneeburg era seu visionário:
Nas margens do pequeno Mirim, ia nascendo um clarão.

Desbravaram o terreno sem limites


E ali encontraram o povo Xokleng.
Os primeiros contatos foram interessantes,
Reduzidos como um grão de pólen.

278
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Com o passar dos anos, foram chegando:


Mais alemães, italianos, poloneses.
Foram povoando
E tornando a terra deles.

O rio se tornou uma estrada conceituada,


Por onde iam e vinham os colonizadores.
E a terra passou a ser cultivada,
Trouxe ouro, comércio e agricultores.

Emancipou-se a colônia
E a vila ganhou um nome: Brusque,
Em homenagem à fonia
Do presidente da província, Araújo Bruscchi.

A nova colônia floresceu


Desde os seus primeiros dias.
A venda prosperou e cresceu
E empresários acumularam economias.

Em 1890,
As iniciativas têxteis se espalham
E o novo símbolo de riqueza emana.
O berço da fiação, com carinho chamam
Aquele que Brusque respeita e ama.

Os povoadores que ocuparam


Valorizaram sempre a educação
E, entre dificuldades, se sustentaram
Honrando sua religião.

Brusque aos poucos foi ganhando uma identidade,


De povo trabalhador e empreendedor.
Homens e mulheres em reciprocidade
Criaram as bases de um contexto engrandecedor.

Hoje, aos 160,


Brusque é uma cidade próspera,
Com sua diversidade e história.
Tem atrações para o turista
E monumentos de memória.

A metalurgia se uniu à tecelagem,


Tornando Brusque grande em seu princípio.
Tem um povo de coragem
E é ilustre município.

Autoria: Sarah Beatriz Frainer 279


O que você deixa para trás não é o
que é gravado em monumentos de pedra,
mas o que é tecido nas vidas de outros.

Péricles, político grego, século V a.C.

Você também pode gostar