Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2018
Brusque - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Glatz, Rosemari
Brusque – os 60 e o 160 : elementos da nossa
história / Rosemari Glatz. – Brusque : Ed. UNIFEBE,
2018.
280 p. : il. color. ; 21 cm.
ISBN 978-85-98713-18-2
CDD 981.64
Ficha catalográfica elaborada por Bibliotecária - CRB 14/727
Essa foi a sensação que tive anos da história de Brusque. nesta parte, com dados e ex-
após a leitura da obra. Imagens, ilustrações e fatos plicações minuciosas sobre
Alguém que passou muito inéditos inserem o leitor em economia, instituições, festas
tempo indo ao encontro de outros tempos, permitindo e tradições. Ah! E com breves
documentos, histórias e me- uma viagem pela Brusque de textos em alemão. Pois é justo
mórias e que conseguiu es- outrora. Que aliás era bem que, quem veio de diferentes
trategicamente compilar pre- maior! A cidade antes dos lugares, e até de além-mar,
ciosidades em curtos textos. imigrantes, os pioneiros des- envie notícias desta terra hos-
Exercício difícil! Arriscaria bravadores, as dificuldades pitaleira que hoje é tão nossa!
dizer, quase impossível para iniciais, as relações políticas, O sentimento que fica é de
muitos historiadores, e que a geográficas, econômicas e uma Brusque com múltiplas
autora fez com muito cuidado socioculturais são evidencia- identidades e em constante
e maestria. dos pela autora. Uma grande construção, que se orgulha
Na obra é possível verifi- inserção pela Brusque dos da sua organização atual, mas
car uma reunião de escrito- primeiros tempos. que conserva sobretudo suas
res, historiadores, músicos e A segunda parte preen- origens.
poetas que tiveram Brusque che uma grande lacuna, que Após a leitura, certamente
como tema de seus escritos, há muito esperávamos! Uma as praças, as ruas, os sobre-
permitindo um grande en- obra que nos apresentasse a nomes das pessoas, a dinâmi-
contro. Histórias, sentimen- cidade hoje, já que a chegada ca da cidade ganhará outras
tos, memórias e, principal- da tecnologia somada à cor- nuances.
mente, valores identitários... reria do dia a dia não mais Outra Brusque vai (re)
Em cada capítulo senti tudo nos permite conhecer e con- nascer pelos seus olhos!
isso vindo ao meu encontro! templá-la como de fato ela
Na primeira parte, cuida- merece. Como é a Brusque Aproveite e boa leitura!
dosamente fundamentada em atual? Em que contexto foi
documentos, é possível aden- sendo organizada? Perguntas Edinéia Pereira
trar nos primeiros sessenta como esta são respondidas da Silva Betta
Foto: Rosemari Glatz
Sumário
Parte 1: Os 60
O movimento colonizador para o Sul do Brasil..................................................................................................17
Quem já estava ocupando as terras........................................................................................................................19
A chegada dos primeiros imigrantes.....................................................................................................................23
No Porto de Itajaí: o Ancoradouro das Cabeçudas............................................................................................25
O deslocamento até Brusque...................................................................................................................................27
O barracão dos imigrantes........................................................................................................................................29
A moradia e a alimentação nos primeiros tempos...........................................................................................31
A relação da Colônia Itajahy-Brusque com o rio..............................................................................................33
Religião nos primeiros anos da Colônia...............................................................................................................43
Escolas nos primeiros anos da Colônia................................................................................................................57
A Stadtplatz e o polo gerador do plano urbano................................................................................................63
Xokleng, os indígenas em Brusque........................................................................................................................65
A imigração alemã........................................................................................................................................................75
A imigração polonesa..................................................................................................................................................85
A imigração italiana......................................................................................................................................................95
Participação de Brusque na Guerra do Paraguai..........................................................................................107
A Colônia Príncipe Dom Pedro.............................................................................................................................111
A emancipação da Colônia.......................................................................................................................................115
A evolução territorial e os desmembramentos...............................................................................................119
A evolução econômica da Colônia.......................................................................................................................131
A indústria têxtil em Brusque...............................................................................................................................143
A Guarda Nacional e os Coronéis de Brusque.................................................................................................153
Francisco Carlos de Araújo Brusque..................................................................................................................155
Barão Maximilian von Schneeburg.....................................................................................................................157
A Família de Pedro José Werner...........................................................................................................................161
João Bauer e a primeira usina de energia elétrica na região...................................................................163
Coronel Guilherme Krieger....................................................................................................................................167
A Família Renaux e a indústria têxtil..................................................................................................................173
A Família von Buettner e a indústria têxtil em Brusque..............................................................................181
A Família Schlösser e a indústria têxtil em Brusque.....................................................................................187
Folclore e tradições...................................................................................................................................................191
Palacete Renaux..........................................................................................................................................................197
Parte 2: O 160
Pórtico de Entrada na Rodovia Antônio Heil..................................................................................................202
Pórtico de Entrada na Rodovia Ivo Silveira.....................................................................................................203
Ponte Estaiada Irineu Bornhausen.....................................................................................................................204
Fórum Dr. Pedro Alexandrino Pereira de Mello.............................................................................................205
Câmara de Vereadores de Brusque.....................................................................................................................206
Prefeitura Municipal de Brusque.........................................................................................................................207
Observatório Astronômico de Brusque............................................................................................................208
RPPN Chácara Edith..................................................................................................................................................209
Fundação Ecológica e Zoobotânica de Brusque.............................................................................................210
Parque Leopoldo Moritz – Caixa D’água............................................................................................................211
Terminal Rodoviário Alvim Battistotti..............................................................................................................212
Terminal Rodoviário Urbano Balthazar Bohn................................................................................................213
Arena Multiuso Antônio Neco Heil.....................................................................................................................214
Pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof..........................................................................................215
Museu Histórico e Geográfico do Vale do Itajaí-Mirim/Casa de Brusque..........................................216
Instituto Aldo Krieger – IAK..................................................................................................................................218
Complexo de Azambuja............................................................................................................................................219
Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio....................................................................................................221
Museu Arquidiocesano Dom Joaquim...............................................................................................................222
Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux...........................................................................................223
Gruta de Nossa Senhora de Azambuja...............................................................................................................224
Seminário de Azambuja...........................................................................................................................................225
Morro do Rosário Azambuja..................................................................................................................................226
Villa Quisisana.............................................................................................................................................................227
Igreja Matriz São Luis Gonzaga............................................................................................................................228
Igreja Evangélica Luterana Paróquia Bom Pastor.........................................................................................230
Cemitério da Comunidade Evangélica Luterana...........................................................................................232
Antiga Maternidade Evangélica............................................................................................................................233
Tiro de Guerra de Brusque.....................................................................................................................................234
Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque................................................................................................................235
Casarão Dom Joaquim..............................................................................................................................................236
Clube Esportivo Paysandú......................................................................................................................................237
Complexo Histórico Indústrias Renaux............................................................................................................238
Villa Ida e seus mistérios........................................................................................................................................240
Villa Renaux: Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux.........................................................................242
Parque Internacional das Esculturas em Mármore Ilse Teske.................................................................244
Praça do Sesquicentenário....................................................................................................................................246
Praça Vicente Só..........................................................................................................................................................247
Praça da Cidadania.....................................................................................................................................................248
Praça Barão de Schneeburg...................................................................................................................................249
Praça Gilberto Colzani..............................................................................................................................................250
Praça Imigrantes de Karlsdorf..............................................................................................................................251
Praça dos Estudantes................................................................................................................................................252
Festa Nacional do Marreco.....................................................................................................................................253
Festa Nacional do Jeep.............................................................................................................................................254
Festa Nacional da Cuca: O doce sabor da tradição alemã..........................................................................255
Formação Administrativa de Brusque...............................................................................................................256
Dados demográficos..................................................................................................................................................258
Distâncias e principais vias de acesso...............................................................................................................259
Dados econômicos.....................................................................................................................................................260
O Brasão e a Bandeira de Brusque......................................................................................................................265
Hino do Centenário de Brusque...........................................................................................................................267
Hino de Santa Catarina.............................................................................................................................................268
Hino Nacional Brasileiro.........................................................................................................................................270
Agradecimentos..........................................................................................................................................................274
Sobre a obra e a autora............................................................................................................................................277
Os 60 e o 160................................................................................................................................................................278
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
13
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
14
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
15
Propaganda para atrair imigrantes alemães para o Sul do Brasil
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
O movimento colonizador
para o Sul do Brasil
A ideia de colonizar o ter- a venda de terras governa- se grupo de imigrantes até o
ritório catarinense se formou mentais a preços moderados final da primeira metade do
na Administração da Capi- para os colonizadores a fim século XIX, a ocupação do ter-
tania de Santa Catarina, em de incentivar imigração. O ritório catarinense com imi-
1793, quando o governador governo tratou de direcionar grantes foi pouco expressiva.
João Alberto de Miranda Ri- os imigrantes para o Sul do A situação mudou a partir de
beiro propôs a instalação de Brasil, onde havia extenso 1850 e o acréscimo na vinda
duas povoações nas margens vazio demográfico, o número de europeus para o Brasil, de
do Caminho das Tropas de de escravos era pequeno e o modo especial para o Sul do
São José a Lages. A mesma clima era mais favorável aos país, bem como para outros
ideia foi mantida e defendi- europeus. O modelo adota- países livres da América, ex-
da em proposições escritas, do foi a fundação de colônias pressava os desajustamentos
mais tarde, por Paulo José em regiões não ocupadas por sociais na Europa do século
Miguel de Brito e por João grandes proprietários, onde XIX.
Antônio Rodrigues de Carva- agricultores livres foram ins-
lho. Embora essas propostas
de povoação representassem
talados em pequenas pro-
priedades.
Impulsos para
uma área de apoio socioeco- Foi neste contexto que a emigração
nômico para a região e uma ocorreu o grande afluxo de da Europa para
base para qualquer operação imigrantes para o nosso esta-
militar, só vão ter seguimento do. O ingresso de imigrantes o Brasil
mais tarde (PIAZZA, 1994). europeus, não portugueses,
Após a independência do em Santa Catarina se dá com As guerras, as lutas políti-
Brasil, em 1822, o país passou a chegada das primeiras levas cas, o excessivo crescimento
a olhar a questão da imigração de imigrantes alemães que populacional, os altos impos-
sob uma nova perspectiva e a aconteceu no final do ano de tos e as terras concentradas
ideia da imigração europeia 1828 em Desterro (atual Flo- nas mãos de poucos deixa-
foi se fortalecendo. Durante rianópolis], com a chegada de vam os camponeses em situ-
algum tempo, o foco foi recru- um grupo de imigrantes que, ação econômica difícil na Eu-
tar soldados e marinheiros em 1829, foram assentados ropa, o que veio a favorecer
mercenários com o objetivo na Colônia São Pedro de Al- o desenvolvimento de novas
de formar o exército e a ma- cântara, a primeira colônia colônias no estado de Santa
rinha brasileiros. A partir de alemã do estado de Santa Ca- Catarina. Somando-se aos fa-
1830, a política imigratória tarina. tores sociais, havia também a
brasileira passou a promover A partir da chegada des- intensa atuação dos agentes
17
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
de emigração e companhias
de navegação que publicavam Quando o processo de ocupação das terras por imigran-
anúncios no jornal. O pesqui- tes europeus teve início, a Província de Santa Catarina se
sador Lothar Wieser (2014) resumia à cidade de Desterro e três vilas: Laguna, Lages e
informa que agentes regio- São Francisco e predominava a população de origem lu-
nais de grandes companhias sitana. A vinda dos primeiros alemães trouxe uma contri-
de navegação tinham formado buição de sangue novo para a província barriga-verde.
uma grande rede de subagen-
tes, que captavam emigrantes Era reiterada a informação vários países europeus ao
e os destinavam para a cha- de que era possível adquirir longo da sua história e que se
mada “América”. Recrutavam- terras a preços módicos e que fixaram por aqui. Começou a
se emigrantes com brochuras, fome ninguém passava. Gra- ser colonizada por imigran-
notícias e cartas para que se ças à fertilidade espantosa da tes alemães, aos quais se so-
estabelecessem em partes terra e ao clima favorável, a maram poloneses e, por fim,
desconhecidas do mundo, nas fartura e a prosperidade eram recebeu um grande grupo de
quais supostamente um ver- uma realidade para quem não italianos, os quais foram sen-
dadeiro Eldorado estava à sua tivesse preguiça de trabalhar. do instalados em regiões pró-
espera. A emigração tinha se Mesmo quem tivesse dinhei- ximas, de acordo com a sua
tornado um negócio lucrativo ro era atraído para as novas região de origem.
para muitas categorias profis- colônias, pois o investimento
sionais, para intermediários poderia trazer bom retorno
e agentes, correios e trens, financeiro em curto espaço
hoteleiros e fornecedores, de tempo.
Como resultado de uma
armadores e funcionários de
soma de fatores, a imigração
REFERÊNCIAS
navios.
Além da situação de misé- de europeus em Santa Cata-
PIAZZA, Walter Fernando.
ria decorrente do empobre- rina se torna uma realidade,
A Colonização de Santa Cata-
cimento massivo e da intensa principalmente na segun-
da metade do século XIX. O rina. 3ª edição. Florianópolis:
atuação dos agentes de emi-
maior volume imigratório Editora Lunardelli, 1994.
gração, também era relati-
de alemães em solo “barri- WIESER, Lothar. “Das hie-
vamente comum as pessoas
ga-verde” aconteceu entre sige Land gleicht einem Para-
receberem cartas de familia-
res ou amigos que já haviam os anos de 1840 e 1870; dos dies”: Die Auswanderung von
emigrado para as Américas, poloneses começou em 1869 Baden nach Brasilien im 19.
funcionando como incentivo e se intensificou nos anos Jahrhundert (“Esta terra é um
e provocando a emigração em de 1890, e os imigrantes ita- paraíso”: A emigração baden-
cadeia. Nestas cartas, além de lianos chegaram em grande se ao Brasil no século XIX).
dar notícias, se retratava um quantidade entre os anos de Volume 1. Badisch-Südbrasi-
pouco da situação dos emi- 1875 e 1880. Brusque é um lianische Gesellschft (BSG):
grados e das dificuldades e fa- exemplo clássico de colônia Karlsdorf-Neuthard: Verlag
cilidades nas novas colônias. que recebeu imigrantes de Regionalkultur, 2014.
18
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Quem já estava
ocupando as terras
Quando falamos de Brus- públicas. Nesta região fixa- planos de colonização. Após
que, 1860 é referenciado ram-se vários moradores ter trazido para as bandas de
como o ano de início da colo- que se dedicaram à pequena Itajaí muitas famílias de agri-
nização, pois, em 4 de agosto agricultura e ao corte de ár- cultores de outros pontos da
daquele ano chegou à Colônia vores para a serração. O sis- Província e, até mesmo colo-
Itajahy-Brusque o primeiro tema sesmarial perdurou no nos alemães - dos chegados
grupo de imigrantes alemães Brasil até 1822 e depois da em 1828 na Colônia São Pe-
destinados à colonização do independência, Agostinho dro de Alcântara -, conseguiu
território, conduzidos pelo Alves Ramos, um comercian- que fossem criadas, pela Lei
Barão Maximilian von Sch- te antes estabelecido em São nº 11 de 1835, duas colônias:
neeburg. No entanto, quando Pedro do Rio Grande do Sul e uma em Belchior, e outra às
os primeiros imigrantes che- posteriormente em Desterro margens do rio Itajaí-Mirim,
garam o território já estava (atual Florianópolis), resol- às cabeceiras do Ribeirão
ocupado, e dentre os que aqui veu transferir-se e edificou, Conceição.
estavam vamos encontrar o nas imediações do rio Itaja- A tentativa de 1835 não
pioneiro Peter Joseph Werner, í-Açu, uma casa de negócios logrou êxito como um núcleo
seu sogro e cunhados. Tam- que acabou por inaugurar colonial, e somente anos mais
bém Franz Sallenthien, Paul uma era decisiva para o de- tarde foi que o Presidente da
Kellner e Reinhold Gaertner senvolvimento da coloniza-
eram proprietários de terras, ção de toda a Bacia do Itajaí.
O local que acolheu
bem como o mais conhecido Ele veio acompanhado da
o primeiro grupo de
pioneiro, o lendário Vicente esposa e de um sacerdote e
Só. Mas, para compreender logo foram construídas uma imigrantes alemães fica
essa história é preciso “voltar capelinha e a casa de negó- em frente da Sociedade
um pouco no tempo” e, ao fa- cios. Ao seu entorno foi se Recreativa Bandeirante,
zê-lo, verifica-se que a funda- formando a freguesia “S. S. e em 2018 é conhecido
ção de Brusque, na verdade, Sacramento do Itajahy”, que como Praça Vicente Só.
se mistura com a própria fun- mais tarde viria a se tornar a A praça foi reinaugurada
dação de Itajaí. Vila de Itajahy. Homem bas- em 4 de abril de 2011
De acordo com José Ferrei- tante instruído, prestativo e e recebeu obras que
ra da Silva (1972), em 1819 industrioso, Alves Ramos tor- retratam o encontro de
já havia nas margens do rio nou-se, em pouco tempo, che- imigrantes alemães com
Itajaí-Mirim duas sesmarias fe político e conselheiro dos os indígenas e que foram
onde o governo da Capita- moradores. Eleito deputado esculpidas em 2002 pelo
nia mantinha um estabeleci- provincial em várias legisla-
artista David Rodrigues,
mento oficial que preparava turas, valeu-se do prestígio do
de Curitiba (PR).
madeira para as construções mandato em proveito de seus
19
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Pedro Werner e a esposa Catarina Palm, com os filhos Maria, Nicolau e Pedro. Acervo: SAB
20
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
21
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Era amigo de Paul Kellner. do Dr. Hermann Blumenau, tarde foi com a família mo-
Paul Kellner, ou Paulo Kell- era proprietário de imóvel na rar em Coloninha, Itajaí, onde
ner (em português), também região de Brusque. Conforme terminou os seus dias. Ayres
foi um dos precursores do Silva (1950), assim como Sal- Gevaerd (1980) complemen-
vale do Itajaí-Mirim. Era pro- lenthien e Kellner, Gaertner ta as crônicas a respeito de
prietário de engenho de ser- igualmente era de Brunswi- Vicente Só informando que,
rar madeiras instalado em ck, terra natal de seu tio, e como ninguém pode viver em
Pedras Grandes quando o pri- tinha 26 anos quando che- sonho eterno só contemplan-
meiro grupo organizado de gou. Era Cônsul do Ducado de do as belezas naturais, pos-
colonizadores alemães che- Brunswick, um ducado torna- sivelmente também ele teria
gou à Colônia Itajahy-Brus- do independente em 1815 no sido um garimpeiro de ouro
que. Congresso de Viena, cuja ca- na região da Colônia Itajahy
De acordo com José Fer- pital era a cidade de Brunswi- -Brusque.
reira da Silva (1950) Kellner ck. Coube a Gaertner a tarefa
também era de Brunswick, so- de guiar os primeiros colo-
brinho do Dr. Hermann Bruno nos, desde a Alemanha até a REFERÊNCIAS
Otto Blumenau, fundador da barra da Velha, em Blumenau.
cidade de Blumenau, e tinha Por vários anos se manteve GEVAERD, Ayres. Notícias
23 anos quando chegou em ao lado do tio, auxiliando-o de Vicente Só. Ano 4. Nº 14.
Blumenau. Pouco tempo de- nos seus trabalhos, comparti- Abril, maio, junho 1980.
pois de sua chegada, mudou- lhando dos seus insucessos e SILVA, José Ferreira da.
se para o local Barra do Rio, dos seus aborrecimentos. Es- História de Blumenau. Cen-
próximo a Itajaí, onde mon- tabeleceu-se, mais tarde, na
tenário de Blumenau. 1850-
tou um engenho de serra. povoação de Itajaí, de onde
1950. Blumenau. Edição da
Seu estabelecimento foi regressou a Alemanha, onde
Comissão dos Festejos: 1950.
atacado pelos índios, em desviveu.
1855, justamente quando se Outro nome mencionado SILVA, José Ferreira da.
construíam os fundamentos pelos historiadores é o de Vi- História de Blumenau. Floria-
desse engenho. Kellner foi cente Ferreira de Mello, mais nópolis: Editora EDEME - Em-
gravemente ferido por uma conhecido por Vicente Só. preendimentos Educacionais
flecha. Os cuidados médicos Consta que quando o primei- Ltda., 1972.
que lhe dispensou o sábio ro grupo de imigrantes ale- Blumenau em Cadernos.
Fritz Müller e a sua natureza mães chegou a Brusque, ele já O que havia no território de
robusta e sólida, auxiliaram- estava estabelecido no morro Brusque, Nova Trento e Blu-
no a refazer-se. Viveu longo onde agora se encontra edifi- menau. Blumenau em Cader-
tempo e desviveu no Rio de cada a Igreja Católica São Luis nos. Tomo II. Outubro 1959.
Janeiro, para onde se mudara Gonzaga, no Centro de Brus- Nº 10. Disponível em:< http://
nos derradeiros anos de sua que. Ele não possuía terras hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/
vida. na Colônia, e contam as crô-
blumenau%20em%20cader-
Do mesmo modo, Reinhold nicas que, andando a caçar,
nos/1959/BLU1959010_out.
Gaertner, ou Reinoldo Gaert- achou o lugar muito bonito
pdf> Acesso em 14 de setem-
ner (em português), sobrinho e se instalou na região. Mais
bro de 2018.
22
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A chegada dos
primeiros imigrantes
A primeira leva organiza- lônia, em 1860. Ao grupo pio-
da de colonizadores alemães O primeiro grupo orga- neiro logo se somaram novas
chegou à Colônia Itajahy nizado de colonizadores levas de imigrantes de diver-
(atual Brusque), no dia 4 de chegou a Brusque no dia sas regiões da Alemanha. A
agosto de 1860. O grupo era 4 de agosto de 1860. Era segunda turma de imigrantes
composto por 54 pessoas, composto por Augusto chegou poucos dias depois,
veio sob o comando do Barão Höffelmann, João em 19 de agosto, e era com-
Maximilian von Schneeburg, Wilhelm, Frederico posta, em sua maioria, por la-
primeiro diretor da Colônia, Guilherme Neuhaus, João vradores de Baden e do Reno.
e chegou acompanhado pelo José Scharfenberg, Mais tarde, juntaram-se a eles
Presidente da Província de Frederico Orthmann, outros colonizadores prove-
Santa Catarina, Dr. Francisco João Germano Boiting, nientes, sobretudo, das pro-
de Araújo Brusque. Era a se- Jacó Morsch, João víncias prussianas da Pome-
gunda vez que se tentava a Ostendarp, Daniel Walther rânia e Schleswig-Holstein.
colonização do Itajaí-Mirim. e Luis Richter. Eles foram Nos primeiros dias, o Di-
A primeira tentativa de colo- conduzidos pelo Barão retor da Colônia, Barão von
nização, em 1836, pela execu- Maximilian von Schneeburg, e as famílias de
ção da Lei Provincial nº 11, de Schneeburg, primeiro imigrantes se abrigaram no
05/05/1835 no lugar deno- diretor da Colônia, e rancho e no engenho de Pe-
minado Taboleiro, não tinha chegaram acompanhados dro José Werner, pois, exceto
dado resultado. por suas famílias. pela designação do local, ne-
De acordo com Cabral nhuma providência havia sido
(1958), o grupo levou seis onde os imigrantes deveriam tomada pelo Poder Público
dias para subir o rio, desde a seguir em canoas para o local para instalar os colonos. Tudo
sua barra (Itajaí) até o ponto destinado ao estabelecimento estava por fazer. Em seguida,
do seu desembarque em “Vi- da colônia. os colonizadores construíram
cente Só”. Estes imigrantes ha- Quando chegaram, os colo- um tosco rancho com troncos
viam saído de Desterro, a bor- nizadores encontraram a área de palmito e cobertura de pa-
do da “Belmonte”, canhoneira ocupada. Além dos nativos, a lha, onde durante nove meses
da marinha de Guerra do Bra- Colônia Itajahy-Brusque já ficaram alojados precaria-
sil, que fundeou na Barra do estava sendo explorada por mente até que pudessem ocu-
Rio, onde estava situado um outros imigrantes que haviam par definitivamente os lotes
armazém próprio para pouso se instalado na região antes que lhes foram designados.
provisório dos colonos e de da constituição oficial da co- Mesmo então, não consegui-
23
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
No Porto de Itajaí:
o Ancoradouro das Cabeçudas
No tempo em que teve iní- baldeados para pequenas gem, os imigrantes descansa-
cio a Colônia Itajahy-Brusque, embarcações e transportados vam alguns dias no barracão
o Porto de Itajaí ainda não até os barracões dos imigran- dos imigrantes da Barra do
existia, os navios aportavam tes. Construídos na foz do rio Rio antes de seguir viagem
no Ancoradouro das Cabeçu- Itajaí-Mirim, conhecido até para a Colônia. Nos primei-
das, local onde ancoravam as hoje como Barra do Rio, esses ros tempos, o rio é que era a
embarcações que transpor- barracões tinham capacida- estrada mais segura e fácil,
tavam imigrantes e as cargas de para abrigar de 160 a 200 e barcas, lanchões e canoas
para as colônias dos “Vales pessoas. eram utilizados para a viagem
do Itajaí”. De lá, os passagei- Ao chegar em terra firme, que demorava de três a cinco
ros e cargas precisavam ser exaustos pelos meses de via- dias entre Itajaí a Brusque.
25
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
A moradia e a alimentação
nos primeiros tempos
Quando os primeiros co-
lonizadores chegaram à Co-
lônia Itajahy-Brusque, não
havia sido providenciado su-
ficiente alimentação. De acor-
do com Buggenhagen (1941)
ainda estava vívido na memó-
ria dos velhos o que os pais
lhes contaram sobre as crises
provocadas entre eles pela
fome e penúria, e como, sen-
tados à margem do rio, eles
tinham chorado sua desven-
tura. Durante muito tempo,
uma opção fácil de alimenta-
ção foi o palmito. Se os tron-
cos e as folhas serviam para
a construção das moradias
primitivas dos colonizado-
res, o miolo do palmito juçara
servia para o preparo de ali-
mentos com carnes de aves. A
captura de pequenos animais
e as formas de caçada de aves
foram desenvolvidas, e assim
os colonizadores passaram
a fazer caçadas para abaste-
cer a dispensa. Era comum
encontrar porcos-do-mato,
jaguatiricas, antas e capiva- Moradia primitiva dos colonizadores assim que
ras, algumas das quais eram chegavam ao seu lote. Acervo: Rosemari Glatz
abatidas para servir de comi- secar. No mais, além das fru- era basicamente o que a roça
da. As carnes eram salgadas tas nativas encontradas em produzia, com pouquíssimas
e depois dependuradas para abundância, o que se comia exceções. E a carne é o que
31
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
REFERÊNCIA
BUGGENHAGEN, E.A. von.
História Econômica no Muni-
cípio de Brusque e a obra do
Cônsul Carlos Renaux. [SI].
Brusque, 1941. Não publica-
Casa de imigrantes nos primórdios da Colônia. Acervo: Rosemari Glatz do.
32
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A relação da Colônia
Itajahy-Brusque com o rio
Brusque foi fundada em
1860, mas os terrenos que
hoje integram o município
começaram a ser conhecidos
e palmilhados lá pelos fins do
século XVIII. É conhecido que
em 1799 foram feitas conces-
sões de sesmarias ao coman-
dante da fortaleza dos Rato-
nes, de uma légua em quadro
das terras que hoje fazem
parte do município e possi-
velmente alcançavam o seu
atual perímetro urbano. Mais
tarde, após a fundação de Ita-
jaí, viu-se gente requerendo
terras, lançando culturas nas Balsa para travessia central do Itajaí-Mirim em 1895. Acervo: SAB
margens do Itajaí-Mirim, até
grande altura de sua foz e de Patrianova (1989) informa que os rios sempre foram
seus afluentes mais próximos. topônimos da maior importância, tanto por parte dos
Agostinho Alves Ramos, pio- índios, que os utilizavam a partir da foz, como por qualquer
neiro do aproveitamento de outra espécie de marinheiro. Para ele, os diversos usuários
toda a fértil região, pôs o seu se preocupavam em nomear os rios adequadamente. Ao
prestígio de deputado à As- discorrer sobre a origem do nome Itajaí, Patrianova
sembleia provincial, de oficial informa que “Itajaí” recebeu alguns nomes, inclusive
de ordenanças, de negociante muitas corruptelas, como: - rio das Voltas, rio Tajahug, rio
ativo e culto, à tarefa de im- Taiahug, rio Tacahug, rio Tacuay, rio Tayahug, rio Tayaby,
pulsionar, pelo Mirim acima, rio Tajahug, rio Taiaiye, rio Tajay, rio Tujuy, rio Tamarandi,
a onda civilizadora que leva- enseada Tajay, rio Tajahi, rio Tahahy, rio Thajahi, rio
ra até as alturas de Belchior Itajahy, e, finalmente, rio Itajaí, rio Itajaí-Açu (açu = grande
e Gaspar. Várias tentativas, porte), rio Itajaí-Mirim (mirim = pequeno). O autor conclui
mais ou menos bem-sucedi- informando que o nome do rio Itajaí passou a denominar
das, se fizeram para colonizar a cidade, e no passado também já emprestou o nome para
terras tão bem situadas, dis- Brusque, então denominada “Colônia Itajahy-Brusque”.
33
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
pondo de grandes planícies permitisse começar as plan- ele que o Alferes João da Sil-
e aguadas em abundância. tações e a construção de ca- va Mafra, afazendado na fre-
Antônio Menezes Vasconce- sas para os colonos. guesia e, na sua falta, o Alfe-
los de Drummond, que esta- Passados alguns anos, nova res João da Cunha de Souza,
va em Santa Catarina como iniciativa. Boiteux (1958) eram as pessoas do seu co-
contratador dos reais cortes conta que, a 27/02/1836, o nhecimento mais aptas para
de madeira, solicitou o apoio Secretário do governo, Major a referida exploração. Mas,
governamental para a funda- José da Silva Mafra, oficiava somente no governo de Fran-
ção de uma colônia nas terras ao Major Agostinho Alves Ra- cisco Carlos de Araújo Brus-
de Itajaí. Pelo Aviso Real de mos para que, com a brevi- que, que administrou Santa
05/01/1820, o Rei D. João VI dade possível, informasse se Catarina de 21 de outubro de
autorizou que Drummond es- conhecia pessoa capaz de en- 1859 até 17 de abril de 1861,
tabelecesse uma colônia em carregar-se da exploração do foi que se concretizaram os
duas sesmarias reais junto do Itajaí-Mirim; quais os meios projetos que desde muito vi-
rio Itajaí-Mirim, na região da necessários a empregar em nham sendo elaborados para
agora Itaipava. Com a ajuda homens, transporte, ferra- se fundar, ali, um núcleo po-
de soldados dispensados de mentas, munições e despesa pulacional que marcasse o
um batalhão da sede da ca- provável, o tempo necessário início do aproveitamento real
pitania, Drummond iniciou à exploração, etc. e efetivo de todo o vale do Ita-
a derrubada das matas que A 15/03/1836, respondia jaí-Mirim.
34
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
do rio Itajaí-Mirim é conside- o rio Tijucas-Grande ao orien- gam, tornando-se para seus
rada um atrativo turístico de te, e segue o rumo de nordes- moradores, mais cômoda a
Vidal Ramos. te por uma extensão de cerca viagem por terra quando têm
Ao discorrer sobre o rio de 20 léguas com suas muitas de subir contra a violência de
Itajaí-Mirim e seus primei- e amiudadas voltas até de- sua correnteza. Devido a isso,
ros desbravadores, Boiteux sembocar na margem direita com certeza, deu-se início em
(1961) informa que o Itajaí- do rio Itajaí-Açu 2.850 braças 1855 a um caminho para co-
Mirim tem origem na Serra acima da sede da vila. Da na- municação dos seus morado-
que se prolonga entre o braço vegação até 10 léguas, porém res com o arraial da freguesia.
do sul do Itajaí ao ocidente, e tem muitas voltas que fati- O governo imperial, tendo em
vista o estabelecimento de
Foto: Rosemari Glatz
rim, que no seu segundo ter- impedem que se possa notar esquerda deste e, à montante
ço banha a vila de Brusque, que o curso deste rio siga um da barra deste, cerca de seis
tem um curso de cento e rumo mais igual na direção de quilômetros”.
trinta quilômetros. Vai bus- sudoeste para nordeste for-
car sua nascente na Serra do mando com o Itajaí-Açu um Plano
Mar, não muito longe das ca- ângulo muito agudo. Em seu
beceiras do Braço-do-Norte curso a caminho do litoral, construtivo
e corre sempre no vale for- recebe pela margem direita demarcado ao
mado pelas serras do Itajaí e doze destacados afluentes;
longo do rio
Tijucas. Correndo em terreno e, pela esquerda, um maior
muito acidentado, não ad- número deles. Não alcança o
Sob as ordens do Barão von
mira que apresente tão nu- oceano, lançando suas águas
Schneeburg, vários agrimen-
merosas voltas, mas que não no Itajaí-Açu, pela margem
sores tinham a incumbência
Lanchas Peruas, usadas para transporte de mercadorias e de pessoas. Acervo: Rosemari Glatz
de executar a medição dos lo- com tão impetuosa corrente, Os lotes eram demarcados
tes. Na exploração da colônia, que impossibilitava toda na- preferencialmente ao longo
tal como foi posteriormente vegação contra ela. dos rios (IPHAN, 2018). A de-
levada a efeito, prevaleceu o Do ponto de vista urbanís- marcação dos lotes foi o ele-
plano construtivo de demar- tico, é possível afirmar que mento básico da urbanização.
car, ao longo do rio, uma sé- os núcleos das colônias de Quase sempre, iniciou-se ale-
rie de lotes, fazendo frente imigrantes que se transfor- atoriamente a partir do local
estreita com o rio e estenden- maram em muitas das atuais onde o ingresso de imigran-
do-se, no fundo, até a altura cidades de Santa Catarina tes e mercadorias fosse faci-
dos morros. A partir do rio apresentam traçados diferen- litado por rios navegáveis ou
abriram-se, vales adentro, tes dos partidos luso-brasi- caminhos preestabelecidos.
largos travessões, em cujos leiros até então existentes no Abaixo dos contrafortes da
lados se delimitaram os lotes, estado. As cidades da região Serra do Mar, onde os rios são
de forma idêntica. No início, o de imigração, nascidas de em- abundantes, prevaleceu o es-
rio Itajaí-Mirim, em sua maior preendimentos rurais, têm tabelecimento de colônias às
extensão, era atravancado por seus traçados urbanos de- margens dos cursos d’água,
infinidade de árvores e raí- correntes da interação entre utilizados como vias prefe-
zes; ora seco, de modo a per- a geometria da demarcação renciais de acesso e comu-
mitir apenas a navegação de dos lotes rurais e a organici- nicação, partindo do litoral.
pequenas canoas, ora cheio e dade dos acidentes naturais. Assim ocorreu, por exemplo,
38
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
nos atuais centros urbanos de viabilizavam o comércio e que emoldura a igreja, como
Gaspar, Blumenau, Pomerode, abasteciam de gentes e de as cidades de Florianópolis e
Jaraguá do Sul e Joinville, São gêneros os nascentes em- Lages; outro, mais raro, adap-
João Batista, Nova Trento e preendimentos migratórios. ta-se ao relevo, partindo do
Brusque. A partir dos contra- Peluso, citado pelo IPHAN centro comercial, como, por
fortes da Serra do Mar, em di- (2018), na publicação sobre exemplo, Joinville, Blumenau
reção ao interior, os caminhos o patrimônio cultural do imi- e Brusque. Vemos aqueles nú-
prevaleceram como vias pre- grante, explica que o traçado cleos urbanos como cidades
ferenciais de penetração. urbano derivado desse con- portuguesas, e estes, como
Em Blumenau, Joinville e texto foi distinguido dos con- cidades alemãs, atribuindo
Brusque, os rios eram as vias gêneres luso-brasileiros. Se- seus planos, respectivamente,
naturais de acesso à região, gundo Peluso, estudando-se às culturas lusa e germânica.
inteiramente coberta por as cidades do estado de Santa
matas fechadas. As cidades Catarina, fundadas até mea- Brusque
nasceram a partir dos por- dos do século XIX, nota-se a
tos fluviais, escolhidos por persistência de dois tipos de como cidade de
permitirem o acesso tanto ao plano urbano: um, o mais di- porto fluvial
interior das colônias, quan- fundido, tem como elemento
to aos portos marítimos, que predominante a praça central Brusque é um bom exem-
Balsa para travessia do rio Itajaí-Mirim, nas imediações da atual ponte Estaiada. Acervo: SAB
39
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
do rio Itajaí-Açu, tem um cur- e espaçados uns dos outros, e sendo a mais dificultosa a pas-
so de 47.710 braças desde sua da Sepultura até a barra o Ita- sar, a da Figueira. O leito do
barra até o seu primeiro salto. jaí-Mirim atravessa uma bela rio é de areia até a serraria de
Esta extraordinária extensão é várzea. Os principais afluen- Pedro Fritz; desta serraria até
devido às suas numerosíssimas tes deste rio são: o ribeirão da o salto, de rochas e seixos. As
curvas, pois que, em linha reta, Guabiruba e do Cunhandaba. suas margens até o Cunhan-
não tem mais de 70.500 bra- O primeiro tem suas cachoei- daba são baixas, formadas
ças. Corre de sul, sudoeste oes- ras na paralela à dita meri- de areia misturada com pou-
te, a norte, nordeste leste. Sua diana, depois de ter sido deso- ca argila; deste ribeirão para
largura média é de 180 pal- bstruída dos numerosos paus cima, a argila vai pouco a pou-
mos. A velocidade da corrente caídos que a atravessam. O se- co predominando e os barran-
é muito variável; em certos lu- gundo é navegável igualmente cos vão ficando mais altos. Os
gares é de 0,95 palmos em um com canoas até 3.000 braças. terrenos nas várzeas são fer-
segundo de tempo; em alguns Além destes dois ribeirões, o tilíssimos; porém, quase que
de 2 palmos e em outros de 6 Itajaí-mirim recebe muitos não são aproveitáveis por mo-
palmos. O volume de água que córregos e ribeirões pequenos tivo das frequentes inundações
passa em 1 segundo foi calcu- que não dão navegação, mas no tempo das chuvas. Em par-
lado na barra, em seis marés, e que podem ser aproveitados te, poder-se-ia fazer desapare-
achou-se ser de 5.641 palmos para motores e alguns já o são. cer este grave inconveniente
acima do nível do mar. O rio, As embarcações que não cortando algumas das muitas
neste lugar, tem 18 braças de demandam mais de 12 a 15 agudíssimas curvas que exis-
largura. As águas correm com palmos d’água, podem subir tem, obra fácil e pouco dispen-
violência sobre e entre roche- o rio até o lugar denominado diosa, pois que será suficiente
dos; é mais uma cachoeira do Marechal Custódio, onde en- abrir valas de 5 a 6 palmos de
que um salto. contra-se a primeira itaipava largura com outro tanto de al-
Do salto até pouco mais ou (uma pequena queda d’água, tura, deixando ao mesmo rio
menos l.400 braças para bai- corredeira) formada por uma o trabalho de as aprofundar
xo, o Itajaí-Mirim segue entre grande rocha granítica. Deste e alargar. Existem curvas de
morros pedregosos que che- ponto para cima, a influência 600 braças que, para serem
gam até nas margens. Atraves- das marés ainda se faz sentir cortadas, exigirão somente a
sa depois uma grande várzea até pouca distância. De Mare- abertura de uma vala de 40
que para o norte se estende até chal Custódio até o engenho braças de comprimento. Tor-
o território medido. Daí um de Pedro José Werner, o Itajaí- no a repetir que são algumas
pouco acima do engenho do Mirim dá franca navegação das maiores curvas que seria
Paulo [Kellner], o terreno pelo a canoas; porém, deste enge- necessário fazer desaparecer,
rio torna-se de novo monta- nho para cima, aparecem as pois que, a querer cortá-las
nhoso até a serraria de Pedro itaipavas que obrigam, quase todas, a correnteza do rio au-
José Werner. Deste ponto até sempre, a arrastar as canoas, mentaria consideravelmente
o lugar denominado Sepultu- puxando-as sobre as pedras. e a sua profundidade poderia
ra, os morros são mais baixos São dezoito estas itaipavas, diminuir a ponto de prejudicar
41
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Vista de Brusque. À esquerda a igreja católica e à direita a luterana. No alto do morro, entre as
duas igrejas, a escola evangélica alemã, hoje Colégio Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB
Catolicismo
em Brusque
No início, a vida de igreja
acontecia no círculo familiar
e, segundo o Pe. Eder Clau-
dio Celva (2013), a referência
religiosa material era funda-
mental para a vida dos imi-
grantes inseridos num con-
texto exclusivamente agrário,
com uma visão sacral de ver
as coisas e o mundo. Embora
a construção de igrejas fosse
de responsabilidade do Go-
verno Imperial, em algumas
comunidades, como a de Gua-
biruba, onde predominava a
religião católica, não se co- A primeira capela católica de Brusque em gravura de Francine
gitou esperar por auxílio pú- Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
blico e, logo após a chegada o primeiro sino de Brusque, as pesquisas de Roque Luiz
dos imigrantes, um oratório em 1864, são da localidade de Dirschnabel (2018), a primei-
foi edificado ainda em fins de Guabiruba. Na Stadtplatz não ra capela foi construída no
1860, ano do assentamento havia capela, o que obrigava centro de Guabiruba, nas ter-
das primeiras famílias ale- o padre a celebrar no bar- ras de Franz Jakob Klein. De-
mãs. Guabiruba guarda muito racão dos imigrantes. Ao se nominada Mariahilfskapel-
pioneirismo. Pe. Eder Celva referir ao assunto, Oswaldo le (Capela Nossa Senhora do
conta que em abril de 1861, Cabral (1958) confirma que Perpétuo Socorro), foi cons-
os colonos já têm finalizada o primeiro templo católico da truída de espiques (caules)
uma capela apta para o culto Colônia Itajahy-Brusque foi o de palmito. O piso da capela
litúrgico, sendo que, quan- da então Guabiruba do Norte. era de chão batido e a cober-
do o padre Gattone, Vigário Ainda em meio à mata, os co- tura de palha.
de Gaspar, visitou Brusque lonizadores fixaram um tosco Existem referências de que
pela primeira vez em junho cruzeiro, que logo se trans- já no ano de 1862 existia uma
daquele ano, celebrou na ca- formou em ermida (pequena capela na Guabiruba do Nor-
pela de Nossa Senhora do igreja em lugar ermo), encos- te Alta (atual bairro Aymoré),
Perpétuo Socorro. A primeira ta acima, próximo à confluên- denominada Capela de San-
igreja de Brusque, a primeira cia do rio Pomerânia com o to Afonso. Em julho de 1862
escola paroquial, em 1862; e rio Guabiruba. De acordo com ocorreu a bênção desta cape-
44
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
O relatório correspondente
a 1862 registra a existência
na Colônia de quatro capelas,
três delas já abençoados por
Gattone.
Em 1864 o número de ca-
pelas subira a cinco. A 21 de
maio desse ano [1864] os
colonos Pedro José Werner
e Pedro J. Heil pediram à ad-
ministração da Colônia per-
missão para construir, com
recursos próprios e de outros
fiéis, uma igreja na sede. En-
caminhando o pedido ao pre-
sidente da Província, Schnee-
burg sugere a construção, por
razões que explica, no fim da
rua principal, em uma “colina
ainda com mato”. Entretanto,
segundo outro documento de
21 de maio, e como resultado
da reunião dos colonos cita-
dos e outros, foi resolvida a
construção no lugar demar-
cado pelo então presidente
Pedro Leitão da Cunha, “por
suas próprias mãos para a fu-
tura igreja do governo”. Essa
igreja, se é que se pode dar
essa denominação, tinha 42
palmos de frente por 72 de
Primeiro sino da colônia, instalado em Guabiruba em 1864. Acervo: SAB
fundos, construída com es-
teios, “palmos de plumo, en- Luis Gonzaga. Gevaerd (1973) do lado de fora. Gattone rezou
ripada e barreada”, foi solene continua informando: Disse o a missa e abençoou o sino, fa-
e festivamente abençoada nos barão em documento que a moso hoje, denominado “Ana
dias 17 e 18 de novembro de missa foi celebrada pelo pa- Suzana”, atualmente guarda-
1866 sob a invocação de Nos- dre Alberto Gattone estando do no Museu Arquidiocesano
sa Senhora das Dores, sendo presentes para cima de 300 Dom Joaquim, em Azambuja.
a semente da atual matriz São pessoas, além das que ficaram Pe. Celva (2013) complemen-
46
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
No passado, os livros pró- Eder Celva (2018) comple- O Pe. Alberto Gattone foi o
prios de registro eram so- menta informando que no primeiro vigário e chegou a
mente os originais, por isso fim do Padroado, foi criada Gaspar no ano de 1861 para
alguns se encontram bastante a Diocese de Curitiba, à qual atender religiosamente a po-
danificados pela ação do tem- Brusque passou a pertencer. pulação do lugar e fica lá até
po e, devido à qualidade da Foi a partir desse tempo que inaugurar, em 1867, a nova
tinta utilizada, muitos foram os párocos passaram a fazer capela de São Pedro Apósto-
restaurados para que não se o livro próprio do Tombo das lo, quando então se transfe-
perca esta fonte preciosa de paróquias; o da Paróquia de re para Brusque. Com a che-
dados. Todos os antigos livros São Luis data de 1892. Padre gada do Pe. Alberto Gattone
de batizados, casamentos e Eder conclui esclarecendo em Gaspar, Brusque começa
óbitos estão arquivados no que, desde que a Diocese de a ser atendida também por
Arcebispado, principalmente Florianópolis foi criada, em este sacerdote, duas vezes
os do século XIX. Os demais 1908, e até hoje, os municí- por ano. Pe. Bohn conta que,
se encontram nos arquivos pios de Itajaí e Brusque per- na Colônia Itajahy-Brusque
das respectivas paróquias. O tencem a ela. Gaspar, por sua as funções religiosas eram
Brasil viveu sob o regime do vez, quando da criação da realizadas num dos ranchos
padroado até a Proclamação Diocese de Blumenau, no ano de imigração. No entanto, a
da República, que tornou o de 2000, passou a pertencer a insistência popular era muito
país oficialmente laico. Pe. esta Igreja Particular. grande para que se construís-
48
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
se uma igreja. Pela demora do Ganarini, Pe. João Fritzen, e religiosa em Brusque, o Com-
Governo, os senhores Pedro o sempre lembrado Pe. Antô- plexo de Azambuja merece
Werner e Pedro Jacob Heil, em nio Eising, todos diocesanos. destaque especial. Pe. Celva
24/05/1864 tomaram a ini- A partir de 1904, começa o (2017) diz que em 1876 já se
ciativa da construção, sendo atendimento pastoral dos pa- pensava em construir ali uma
que dois anos depois foi inau- dres da Congregação do Sa- igreja. No centro natural da
gurada a igreja na sede da co- grado Coração de Jesus. Ain- linha, uma bela fonte parecia
lônia e também a eles coube a da conforme o Pe. Bohn, até indicar o local da igreja, mas
iniciativa de conseguir o sino. o ano de 1989 as seguintes no princípio a fonte de água
Pe. Gattone trabalhou 20 anos paróquias haviam sido des- foi apenas coberta e virou um
em Brusque, de 1861 a 1881, membradas da paróquia São oratório. No final de 1884 é
tendo se dedicado com amor Luis Gonzaga: Botuverá, cria- que a comunidade se uniu e,
ao magistério e ao ministé- da em 31/07/1912; Vidal Ra- em 26 de maio de 1885 foi ce-
rio pastoral. Com sua saúde mos, em 1951; Guabiruba em lebrada a primeira missa na
debilitada seguiu para o Rio 19/03/1963; Dom Joaquim, capela. Em 1892, uma nova
de Janeiro em 1882, onde fa- em 16/11/1969 e Santa Tere- igreja foi erguida, exatamen-
leceu a 28/01/1901. Outros zinha em 13/01/1974, estas te no lugar onde fica a parte
sacerdotes tiveram impor- duas últimas no município de interna do atual santuário. Pe.
tância no prosseguimento Brusque. Celva (2018) conclui infor-
dos trabalhos: Pe. Arcângelo No que se refere à questão mando que desde 1905 o tem-
49
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
50
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Pastor Sandreczki e esposa Elisabeth Groben em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
somavam aos que já estavam em seus relatos, encontramos l863, juntamente com o batis-
estabelecidos na Colônia. Os o registro de que a primeira mo da criança Heinrich Frie-
imigrantes luteranos haviam Ordem da Comunidade Evan- drich Kuhl, oficiado pelo pas-
trazido consigo a Bíblia, o gélica de Brusque foi aprova- tor Hesse. Sobre o primeiro
Hinário e o Catecismo Menor, da no dia l7 de abril de l863, culto da Igreja Evangélica de
e em Bateas a comunidade com a presença do pastor Brusque existem registros de
evangélica de confissão lu- Hesse, de Blumenau, sendo que tenha sido em 17 de abril
terana se reunia em uma pe- assim considerada como sen- de 1863, mesma data em que
quena casa primitiva coberta do a data oficial da fundação foi aprovada a primeira Or-
por folhas de palmitos, pare- da Comunidade Evangélica dem da Comunidade Evangé-
des de barro, sem assoalho e de Brusque. Mas, antes disso, lica de Brusque.
sem janelas, sendo o serviço no dia 1º de janeiro de l861 Nos primeiros tempos da
religioso praticado pelos pró- foi realizado, em caráter de Colônia Itajahy-Brusque, a
prios colonos. Os cultos eram emergência pelo estado da comunidade luterana se reu-
celebrados quando das visi- criança, o primeiro batismo nia para os cultos dominicais
tas do Pastor Hesse. de Heinrich Paul Gustav Phi- no barracão dos imigrantes,
Pelas informações deixa- lip Ludwig Sabel, o qual foi um rancho feito de palmitos,
das pelo pastor Sandreczki ratificado no dia 2l de abril de sem assoalho e sem janelas. O
51
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Igreja Evangélica de Confis- de estava sem casa de oração. Alemanha e rei da Prússia,
são Luterana de Brusque, em O Governo ajudou com uma que ainda hoje decora a casa
1866 o pastor Sandreczki re- pequena verba para a cons- de oração. A obra original se
quereu um lote de terras do trução da primeira capela encontra na Catedral de An-
Governo Imperial para cons- que, somada aos recursos da tuérpia, na Bélgica. A nova ca-
truir o templo e a casa paro- própria comunidade, possibi- pela foi inaugurada em 1872
quial na Stadtplatz. O pastor litou a construção da igreja, e, já naquele ano, no dia 14 de
Sandreczki agora já conhecia que não era suntuosa, mas julho, a diretoria da Comuni-
os membros da Comunidade digna. O principal ornamento dade resolveu que os cultos
Luterana, formada por 220 do altar dessa igreja era uma dominicais seriam realizados
famílias e acreditava ser pos- cópia do quadro “A descida na igreja da sede da Colônia.
sível iniciar a construção da da Cruz”, do famoso artista A medida se justificava pela
própria capela. Ao dar início alemão Peter Paul Rubens, otimização pela centralização
à construção da nova capela, doado pela Rainha da Prússia, do trabalho e a partir de en-
em 1869, o rancho onde se sua majestade Vitória Ade- tão a realização de cultos em
realizavam os cultos já havia laide Maria Luísa, esposa de outros lugares só seria auto-
desmoronado e a comunida- Frederico III, imperador da rizada em casos de extrema
53
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Igreja Evangélica Luterana, paróquia Bom Pastor. Brusque. Acervo: Rosemari Glatz
Em 3/05/l894 foi lan- das laterais e do altar, e en- também foi renovada toda
çada a pedra fundamental quanto a igreja era restau- a cobertura da igreja.
da igreja, construída du- rada e ampliada, os cultos A igreja recebeu mais
rante a estada do pastor dominicais eram realizados uma reforma, do piso
Czecus. Sua inauguração na Casa da Comunidade. ao telhado, de 1978 a
se deu no dia 6/01/l895 e, Durante os anos de 1959 28/10/1979.
mais tarde, para a alegria e 1960 foi efetuada uma Considerado o segun-
da Comunidade, foi inau- campanha para a compra do prédio mais antigo de
gurado o primeiro sino da de um novo órgão, encabe- Brusque, em 2014 o tem-
igreja. çada pelo então maestro plo da Igreja Evangélica
No dia 12/08/1928 foi Aldo Krieger. de Confissão Luterana de
comemorado o 65º ani- Este órgão ainda conti- Brusque (IECLB) passou
versário da Comunidade, nua embelezando as horas por uma restauração para
com a vinda do segundo de culto de louvor a Deus. que a história da comuni-
sino. A igreja foi renovada Sua inauguração foi no dia dade, e também de Brus-
em 1942, com ampliação 9/08/1960. No mesmo ano que, possa ser preservada.
55
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Escolas nos
primeiros anos da Colônia
Quando os primeiros imi- território. Os camponeses ale- cação nas colônias (IPHAN,
grantes alemães chegaram mães emigrados para o Brasil 2018). E assim, independen-
na Colônia Brusque tiveram eram, na sua maioria, alfabe- temente de ser na área agrí-
que enfrentar trabalho árduo tizados, pois, desde o início cola ou na Stadtplatz, desde
e penoso. Um grande número do século XIX, a escolarização os primeiros tempos uma das
de imigrantes não era agricul- infantil era obrigatória nos preocupações básicas dos
tor pois exerciam profissões Estados alemães. Foi comum imigrantes foi a questão da
urbanas, mas todos eram a organização de sociedades educação das crianças, pois a
igualmente denominados “co- escolares, as “Schulvereine”, família, a escola e a igreja se
lonizadores ou colonos”, pois com o objetivo de suprir as complementam e constituem
vieram para “colonizar” um deficiências relativas à edu- os principais pilares da socie-
57
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
um modelo alemão onde es- escolas vinculadas às igrejas (quando não era um religio-
cola e igreja existem em per- e pagas por particulares. Se- so). Além disso, ao contrário
feita simbiose. Elas estiveram gundo IPHAN (2018), são as do que acontecia na zona ru-
estreitamente unidas no sis- escolas comunais ligadas às ral, nessas escolas era ensina-
tema colonial, uma vez que comunidades religiosas cató- do o idioma português como
o governo deixou a educação lica e luterana, e desenvolve- uma das disciplinas do currí-
por conta e risco da iniciativa ram-se independentemente culo e segunda língua dos alu-
particular. dos governos, tanto do Brasil nos. O ensino geral, contudo,
Na escola da “Stadtplatz”, quanto da Alemanha. Pasto- era ministrado em alemão.
havia professores pagos pelo res, padres e freiras foram os A pesquisadora Emilia Ro-
Governo, mas em número in- principais responsáveis pela senbrock (2018, no prelo)
suficiente para atender toda sua estruturação, mas tais es- apresenta importante contri-
a população em idade esco- colas predominavam nos nú- buição sobre a educação pri-
lar. Assim, à medida que se cleos urbanos, na Stadtplatz. mária pública e particular nas
regulamentou a presença Nas escolas ligadas às igrejas, escolas nos primeiros anos
das igrejas católica e lute- o professor era uma pessoa da Colônia Itajahy-Brusque.
rana, com vigário e pastor qualificada para a função e O estudo, desenvolvido a par-
residentes, apareceram as vivia apenas da sua profissão tir do autor Cabral (1958) e
60
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
REFERÊNCIAS
DIRSCHNABEL, Roque
Luiz. Entrevista concedida a
Rosemari Glatz, por e-mail,
em 9 de julho de 2018. De
acordo com as pesquisas rea-
lizadas por Dirschnabel.
GEVAERD, Ayres. Primór-
dios do Ensino Primário em
Brusque: Centenário da Pri-
meira Escola Pública. Blume-
nau em Cadernos. Arquivo
Histórico José Ferreira da Sil-
va, Tomo IV, nº 7. Blumenau:
Alunos das escolas de Brusque em desfile cívico. Acervo: SAB
julho de 1961.
bairro Alsácia. As aulas acon- - 1903: é fundado o Grupo IPHAN. O patrimônio cul-
teciam duas vezes por sema- Escolar Santo Antônio (como tural do imigrante. Roteiros
na e em língua alemã. Escola Paroquial, hoje Colégio Nacionais de Imigração – San-
- 1886: criada a Escola Iso- São Luís) mantido pela Con- ta Catarina. Disponível em:<
lada Desdobrada de Guabiru- gregação das Irmãs da Divina http://portal.iphan.gov.br/
ba do Sul. Providência. O número inicial uploads/publicacao/PubDi-
- 1887: Fundada uma es- de matrículas foi de 14 alu- vImi_RoteirosNacionaisImi-
cola particular na localidade nos. gracao_SantaCatarina_v2_m.
de Águas Claras, na qual resi- - 1917: criadas as Escolas pdf>. Acesso em 13 setembro
diam imigrantes alemães, ita- Reunidas de Brusque, que 2018.
lianos e ingleses. eram constituídas por uma PIAZZA, Walter F. Álbum
- 1898: o Decreto nº 179, escola do sexo masculino, do Centenário de Brusque.
de 15 de dezembro, suspen- uma do feminino e uma mis- Edição Sociedade Amigos de
deu, a contar de 1º de janeiro ta. Em 1919, passou a funcio- Brusque, 1960.
de 1899, as subvenções que nar como Grupo Escolar Feli- ROSENBROCK, Emilia. A
recebiam diversas institui- ciano Nunes Pires conforme Roca do Idioma Alemão nos
ções escolares em Brusque: Decreto nº 1.200, art. 1º de Teares do Berço da Fiação
Escola Evangélica Alemã, Es- 11/02/1919. Catarinense: Considerações
cola Guabiruba do Sul, Escola - 1916: o município con- acerca do ensino da língua
de Guabiruba do Norte e a Es- tava com 2 escolas estaduais, alemã em Brusque/SC. Notí-
cola dirigida pelo Padre Antô- 17 municipais, 2 particulares. cias de Vicente Só – Brusque e
nio Eising. - 1920: De uma população Região nº 66. Edição Socieda-
- 1890: é criada a primeira de 13.203 habitantes, 4.548 de Amigos de Brusque. Brus-
escola na vila de Botuverá. pessoas sabiam ler e escrever. que, 2018. No prelo.
62
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Ao centro, o palacete da família Renaux. Ao fundo, a colina Evangélica e a igreja Luterana. Acervo: SAB
A Stadtplatz e o polo
gerador do plano urbano
Nos primórdios da Colô- mais importantes; era onde resolução de conflitos relati-
nia Itajay-Brusque, a sede da os imigrantes recém-chega- vos a limites de propriedade,
colônia, ou vila, era um novo dos ficavam aguardando a concessão de serviços aces-
núcleo formado por imigran- posse dos seus lotes e davam sórios vinculados à abertura
tes alemães que se estabele- informações da Alemanha. de picadas e estradas, tudo
ceram como colonizadores Era chamada de Stadtplatz. era resolvido na Stadtplatz
em áreas pioneiras que, dia A vila era ao mesmo tem- pelo Diretor e seus auxilia-
após dia, foram construindo po aldeia e cidade. Era a sede res. A partir da Stadtplatz,
uma sociedade inteiramente da administração da colônia temos o polo gerador do pla-
diversa da nacional. Na sede e, por isso mesmo, ponto de no urbano. Ao mesmo tempo
da colônia estavam as ven- passagem obrigatória para que ocorria a povoação, eram
das, as capelas católica e lute- todos os imigrantes que pre- abertos as picadas e os cami-
rana, o cemitério, as escolas, tendessem se estabelecer na nhos, construídas pontes e
a sociedade dos atiradores, a área. Quaisquer assuntos re- os ancoradouros para balsas,
administração da colônia e o lacionados à posse das terras, botes e barcos. Esta atividade
ancoradouro. atribuição de lotes, pagamen- era uma das mais importantes
Era para ela que conver- to de dívidas contraídas pe- para o desenvolvimento eco-
giam os caminhos coloniais los colonos com o governo, nômico e de suma importân-
63
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
cia para o progresso cultural Stadtplatz (de Stadt = cida- ficavam longe da Stadtplatz,
na nascente colônia. E, para de, e Platz = lugar), signifi- como a região de Botuverá,
manter as tradições trazidas ca centro urbano. Guabiruba e Dom Joaquim,
pelos imigrantes, uma impor- logo nos primeiros anos da
A vida social, econômica e
tante instituição do tempo de Colônia apresentaram um
religiosa dos colonos
colônia eram as festas: havia núcleo comercial ativo, muito
estava estreitamente
a festa anual de cada igreja, e antes que outras áreas mais
vinculada a ela, especial-
a grande festa do município, próximas, como a região do
mente a vida econômica.
chamada de Schützenverein, Maluche. Com o crescimen-
Durante muitos anos, Brus-
prestigiada por todas as famí- to, esses pequenos núcleos
lias. que foi uma pequena vila, urbanos e suas comunidades
Por ter sido colonizada por formada principalmente foram se transformando nos
imigrantes alemães, a Colônia por imigrantes europeus bairros que temos hoje, e al-
Itajay-Brusque obedeceu ao que acreditaram no va- guns se tornaram cidades in-
modelo usual das cidades que lor e nas riquezas deste dependentes, como Botuverá,
foram traçadas por alemães. vale, e apresentava certas Guabiruba e Nova Trento. As
O estudioso Peluso Júnior características e serviços primeiras picadas e cami-
(1991) esclarece que o mo- públicos que faziam dela nhos abertos transformaram-
delo alemão adotado em cida- uma cidade em miniatura se em ruas e são, hoje, im-
des catarinenses costumava – uma “Stadtplatz”. E, por portantes vias arteriais da
eleger a rua comercial como isso mesmo, era um ponto cidade, principais eixos de
polo gerador do plano urba- de atração para os colonos penetração para os bairros,
no. O ponto de partida para com suas atividades redu- como, por exemplo, as ruas
a demarcação dos lotes eram zidas à proporção de um São Pedro, 1º de Maio, Sete
as picadas traçadas ao longo pequeno lote colonial. de Setembro, Hercílio Luz, do
do curso dos rios e ribeirões. Cedro, entre outras.
Brusque, assim como outras
cidades catarinenses, cresceu
linearmente “entre o rio e a
montanha” ao longo da sua REFERÊNCIAS
rua comercial, a atual aveni-
da Cônsul Carlos Renaux, e de PELUSO JUNIOR, Victor
outras estradas e caminhos Antônio. Estudos de Geogra-
que penetravam em direção urbanização, locais em que se fia Urbana de Santa Catarina.
ao fundo dos vales e monta- destacavam as vendas, centro Editora da UFSC. Florianópo-
nhas. Ao se planejar a cidade, da vida econômica do lugar.
lis, 1991.
no cruzamento das picadas, Brusque se formou de
SEYFERTH. Giralda. A co-
ou em pontos estratégicos modo descentralizado, com
lonização alemã no vale do
das linhas coloniais, foram re- pequenas comunidades sur-
gindo em diversos pontos da Itajaí-Mirim. Um estudo de
servados lotes para a implan- desenvolvimento econômi-
tação de escolas e igrejas, for- região. Isto permitiu que, de-
vido ao sistema das linhas co- co. Editora Movimento. Porto
mando pequenos núcleos de
loniais, mesmo as áreas que Alegre. 1974.
64
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Xokleng, os
indígenas em Brusque
Na tradicional história do ligeira, que conhece todos
Vale do Itajaí-Mirim e de ou- os caminhos. Pela literatura
tras regiões dos vales do Ita- antropológica, os Xokleng/
jaí, os colonizadores são vis- Laklãnõ eram os índios que
tos pelo senso comum e pela habitavam a Colônia Itajahy
literatura local como heróis, -Brusque. Regionalmente, são
que enfrentaram diversas di- mais conhecidos como índios
ficuldades, uma dessas seria a “Bugres” e “Botocudos”. A de-
difícil vivência da colônia em nominação “Botocudos” está
contraste com os nativos que associada ao uso de um enfei-
se sentiam ameaçados pela te labial pelos homens, deno-
grande exploração dos mes- minado tembetá, ou “Bugres”,
mos, causando enfrentamen- designação que também foi
tos entre ambos, muitas ve- dada pelos brancos, mas
zes violentos com resultados com sentido pejorativo. Wiik
fatais. Mas, toda história tem (1999, citado por Garrote,
dois lados, a versão do ven- 2012) explica que a denomi-
cedor e a versão do vencido. nação Xokleng foi inventada
Sem entrar na questão de juí- pelos brancos, sendo também
zo de valor, pois não cabe aqui conhecidos como “Bugres”,
julgar quem foram os “moci- “Botocudos”, “Aweikoma”,
nhos” e os “vilões”, mas ape- “Xokleng”, “Xokrén”, “Kaigang
nas apresentar fragmentos de Santa Catarina” e “Aweiko-
da história de um determi- ma-Kaingang”.
nado ponto, pois todo ponto Os índios Xokleng/Laklãnõ
de vista é vista de um ponto, eram eram um povo migran-
este capítulo apresenta infor- te entre o litoral e o planalto.
mações que nos permitem co- Habitavam florestas que co-
nhecer um pouco mais sobre briam as encostas das mon-
os índios Xokleng/Laklãnõ, tanhas, os vales litorâneos e
moradores que os coloniza- as bordas do planalto no Sul
dores europeus encontraram do Brasil, vivendo da caça e
ao chegar às novas terras. Mãe e filha Xokleng que habitavam da coleta. A Floresta Atlânti-
Laklãnõ significa gente a região. Acervo: SAB ca e os bosques de pinheiros
65
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
(araucária) forneciam tudo formados por contingentes rem da caça e da coleta, que
o que necessitavam para so- de 50 a 300 indivíduos, apa- variava em seu território con-
breviver. Caçavam diferentes rentados entre si. Em cada forme a sazonalidade com-
tipos de animais e aves, co- grupo, as famílias eram cons- preendida para cada região:
letavam mel, frutos e raízes tituídas com base na monoga- litoral, região dos vales e pla-
silvestres. E tinham o pinhão mia, poliginia, poliandria e no nalto. A partir do crescimento
como um dos principais re- chamado “casamento conjun- dos núcleos coloniais como o
cursos alimentares. O territó- to”. Usavam pinturas corpo- de Brusque e Blumenau, os
rio que ocupavam não tinha rais que estavam associadas índios foram coagidos e pas-
contornos bem definidos. As a grupos de nomes e a cinco saram a ocupar áreas que an-
rotas de perambulação eram clãs, e a função dessas pintu- tes eles não ocupavam. Essas
frequentadas de acordo com ras era “afastar os Kupleng” - áreas eram afastadas dos no-
o seu potencial em suprir, isto é, o espírito dos mortos. vos colonizadores da floresta,
através da caça e da coleta, as O território dos Xokleng/ escondidas na proteção na-
necessidades alimentares do Laklãnõ passou a ser ocupa- tural de serras e vales, onde
grupo. Mantinham uma dis- do por povos não índios na ainda havia meios de sobrevi-
puta secular com o Guarani primeira metade do século vência através da caça e cole-
e o Kaingang, disputando o XIX, através de política de ta. Assim, a região da Serra do
controle desse território e re- ocupação de terras nos cam- Itajaí, que antes era um local
cursos. Ainda de acordo com pos de Lages em Santa Cata- de caça e coleta do indígena,
Garrote, antes do contato com rina, e regiões de Guarapuava passou a ser o novo habitat
o branco, o território tradi- no Paraná. Garrote (2012) dos colonizadores europeus.
cional dos Xokleng se esten- conta que uma carta Régia de O contato com o índio passou
dia do planalto até o litoral, Dom João VI declarou guerra a ocorrer com maior frequên-
aproximadamente de Porto aos bárbaros índios “Bugres” cia após a instalação de famí-
Alegre até os campos de Curi- e “Botocudos” dessas locali- lias de imigrantes nas terras
tiba e Guarapuava no Paraná, dades citadas. Aos poucos o onde os Xokleng já estavam
e incluía quase todo o centro povo indígena foi perdendo refugiados. O fato de não te-
-leste de Santa Catarina. Os seu território com as frentes rem alternativas de guarda-
planaltos eram de predomi- colonizadoras, que pelo ex- rem seus espaços de onde
nância da araucária, fonte de tremo sul no Rio Grande do provinha a sobrevivência,
alimento durante os meses de Sul avançavam para o Norte, e provocou confrontos com os
inverno para o Xokleng/Lak- pelo Paraná, avançando para colonos, e da mesma forma os
lãnõ, e de intrigas e disputas o Sul. Assim o índio passou a colonos com os índios. Com
com os Kaingang e Guarani se refugiar em terras de difí- isso, cada vez mais os índios
pelo pinhão e pela fauna. Em cil acesso, e menos ocupadas, passaram a ser encurralados
relação à organização social, adentrando as serras da Mata e perseguidos. Foram criadas
Santos (1965) escreve que Atlântica de Santa Catarina. expedições de bugreiros para
os Xokleng/Laklãnõ estavam Os Xokleng tinham um terri- caçar os índios, ato estimu-
divididos em grupos locais tório extenso por necessita- lado, aprovado e encoberta-
66
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Os Xokleng/Laklãnõ foram sendo envolvidos por frentes pioneiras que, originárias da Europa e incentivadas
pelo Governo local, estavam decididas a ocupar definitivamente suas terras. Acervo: SAB
tamos os diversos autores que o próprio Governo Provincial expansão dos primeiros nú-
se preocuparam com a his- iniciam campanhas no senti- cleos coloniais, os Xokleng/
tória do estado catarinense. do de “afugentar os bugres, Laklãnõ foram sendo envolvi-
Entretanto, os Xokleng/Lak- sem lhes fazer mal”. dos por frentes pioneiras que,
lãnõ somente “entram para As “tropas de pedestres” originárias da Europa e incen-
a história” em 1852, quando e as “patrulhas de bugreiros” tivadas pelo Governo local,
atacam a casa do Dr. Blume- passaram a acudir onde os estavam decididas a ocupar
nau, na colônia por ele criada, Xokleng/Laklãnõ apareciam, definitivamente suas terras.
e tem Fritz Müller como ex- e em pouco tempo iniciava-se E o esforço foi de tal ordem
positor dessa façanha. Dessa o extermínio dessa popula- que o Governo catarinense
data, numerosos relatos pas- ção. A cada ataque da tribo, financiou diversas incursões
sam a registrar as “tropelias” que dia a dia via seus territó- de “bugreiros”, e mesmo os
praticadas pelos membros da rios ocupados, passou a ser jornais da época chegaram
tribo contra os contingentes respondido com os ataques ao máximo de anunciar, com
migratórios que estavam a fi- inesperados e não menos antecipação, incursões puni-
xar-se nos vales do Itajaí. As sanguinários dos “bugreiros”. tivas que se faziam contra os
companhias colonizadoras e Com o desenvolvimento e a silvícolas.
68
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
69
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Garrote (2012) escreve que olhares, sem contatos físicos. ria e cultura dos povos indíge-
na região de Lageado Alto, em O índio era visto, percebido, nas pelo processo civilizador,
Botuverá, localidade coloni- e os contatos existentes eram uma vez que eram os gover-
zada predominantemente por de paz, sem uso da violência. nos e as agências de coloni-
imigrantes italianos, em en- O caso de Botuverá demons- zação que contratavam esses
trevista realizada por Garrote tra uma outra percepção so- assassinos para exterminar
com Jacó Venzon, este comen- bre o índio, remetendo a um os índios. O índio foi enten-
tou que “até depois da Segun- certo respeito à sua presença dido como um empecilho ao
da Guerra Mundial, quando no local. Já em outras regiões processo de colonização, os
voltou à localidade dos Lajea- próximas, algumas narrati- imigrantes chegavam na re-
dos, era frequente presenciar vas demonstram que índios, gião e vinham com um en-
índios”. Segundo suas me- ao entrarem em contato com tendimento preconceituoso
mórias, quando criança ele o não índio, agiram com vio- com o índio. No processo de
teve um rápido contato com lência. Por parte de colonos, colonização, os atos de con-
os Xokleng/Laklãnõ: “Era ín- e dos caçadores de bugres es- tatos violentos entre as etnias
dio por que ele estava nu, se tão presentes principalmente causaram mais malefícios ao
via que estava nu, era índio contatos violentos. A partir povo indígena Xokleng/Lak-
naquela época, eles não me dessas ações violentas dos lãnõ do que o indígena ao
fizeram nada por que o pa- nativos e dos colonos, enten- povo colonizador europeu,
pai sempre dizia: vocês não de-se que partiram da defesa conclui Garrote.
fazem nada, que eles não fa- do território, dos espaços, no
zem nada. O papai nasceu na caso do índio, de passagem
Itália, mas ele veio morar aqui ou de caça, até mesmo de
e dizia para a gente quando recursos, coleta de vegetais,
éramos pequenos: Pelo amor frutos e sementes, e por mui-
de Deus! Gente, deixa ele es- tas vezes terem esses espaços
tar, não mexe com eles. Eles destruídos pelas técnicas de
assoviavam de noite, um na ocupação, uso do solo e caça
banda de lá, outros na banda dos europeus. Na visão do co-
de cá”, contou Jacó Venzon. lono, o índio estaria em sua
Garrote acrescenta que, de propriedade, espaço onde
acordo com as entrevistas precisava ocupar, cultivar, ou
que fez com os moradores da buscar recursos da floresta,
região, é possível concluir que como madeira. Já os contatos
inicialmente houve contatos impostos pelos caçadores de
de paz, e anos depois conta- bugres, chamava atenção dos
tos mais violentos. Os relatos próprios sujeitos da história
dos antigos moradores des- pela violência atribuída aos
crevem um contato com o ín- índios. O que demonstra toda
Índio Xokleng que habitava
dio, mas apenas com troca de falta de respeito com a histó- a região. Acervo: SAB
70
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Famílias indígenas em casa de madeira coberta com telhas também de madeira. Acervo: SAB
Fragmentos de carta onde menciona que Paul Kellner foi atingido por uma flecha de índios em 1855.
pelo rio Itajaí-Mirim. Vários seguir os selvagens que ou- em Belchior, parece que se
foram os assaltos ao estabele- sassem molestar os colonos, preocuparam mais em tor-
cimento de colonos nas zonas veio a criação da Companhia nar-se, eles próprios, colonos,
de Camboriú e da margem de Pedestres de Itajaí, entre- donos de casas e plantações,
do Itajaí-Mirim. E quando, na gue ao comando de Henri- do que permanecer em guar-
primeira metade do século que Etur, militar que prestou da, observando o movimento
XIX, Agostinho Alves Ramos incontestáveis e assinalados dos selvícolas, para que os
se estabeleceu na foz do Ita- serviços na fundação e desen- colonos, que Alves Ramos ia
jaí-Açu, construindo capela volvimento das colônias de mandando de toda parte da
e agrupando moradores em Pocinho e Belchior, que a Lei província, se sentissem se-
povoado de que se originou nº 11, de 1835, inspirada e re- guros nos lotes que lhes des-
a cidade de Itajaí, e, dando digida por Alves Ramos, man- tinavam. Nisso fizeram bem.
expansão aos seus planos de dara estabelecer naqueles ri- Etur adquiriu lotes na sede da
exploração e aproveitamento, beirões e no Itajaí-Mirim. colônia, onde construiu casas
em grande escala, dos vales Os velhos documentos dos de morada, e mandou fazer
ubérrimos dos confluentes começos de Porto Belo, cuja roças em terras próximas.
do Itajaí, vieram também as câmara estendia sua jurisdi- Imitaram-no os “pedestres”.
primeiras providências dos ção por toda a Bacia do Itajaí, Se assim ganhava o progresso
poderes públicos, tendentes estão cheios de referências a da Colônia, aumentava a ame-
a acabar com o enorme entra- ataques de indígenas aos que aça que o indígena represen-
ve que o índio representava à ousavam abrir roças e plantar tava para outras zonas que
colonização, Depois dos pou- ranchos nas matas mais ou iam sendo colonizadas, como,
co eficientes postos de pedes- menos afastadas das praias. por exemplo, a novel Colônia
tres estabelecidos em alguns Silva (1959) escreve que lhe Itajahy-Brusque, que iniciara
pontos da estrada do litoral, faltam elementos para acom- às margens rio Itajaí-Mirim.
destinados, entre outras fi- panhar as atividades dos pe- Nem todos os coloniza-
nalidades, a enfrentar e per- destres de Etur. Estabelecidos dores europeus eram favo-
72
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
ráveis à violência contra os tinho nos pousos atacados nome a lugares e acidentes ge-
selvagens. Dr. Blumenau, por de surpresa e trazidos à civi- ográficos. Numa economia de
exemplo, condenava, em car- lização. Os homens, ou eram subsistência criou atividades
tas e relatórios, as “batidas” mortos, ou encontravam sal- e processos para a obtenção
sangrentas de que quase sem- vação na fuga desordenada de alimentos e provisão de
pre resultavam no massacre para as profundezas da mata. recursos que lhe garantisse
de infelizes índios, principal- E assim, aos poucos, vemos o a sobrevivência. Em proces-
mente de mulheres e crian- desaparecimento quase total so exaustivo de experiências,
ças, menos capacitadas para dos índios nas áreas de colo- soube transformar em boas
escapar à perseguição através nização europeia. as más qualidades de certas
do emaranhado das florestas. plantas (como, por exemplo,
Infelizmente, era o método Contribuição do a mandioca, tornando-a in-
em voga a que os escrúpulos dispensável à sua alimenta-
do filósofo alemão tiveram Índio ao Folclore ção); revelou as propriedades
também que se acomodar. Brasileiro terapêuticas de muitos vege-
Surgiram os piquetes volan- tais; descobriu a borracha,
tes de batedores, de “bugrei- Maria de Lourdes Borges indicou técnicas artesanais,
ros”, como eram conhecidos. Ribeiro (1979), ao escrever patenteou expressões artís-
Depois da extinção, em 1879, sobre a Contribuição do Ín- ticas e introduziu muito do
da Companhia de batedores dio ao Folclore Brasileiro, diz seu cotidiano, como o hábito
de mato, também na Bacia que o Folclore - sabedoria do de fumar o tabaco, o costume
do Itajaí houve necessidade povo - é uma resultante da di- de dormir em rede, o mutirão
de lançar-se mão desses pi- nâmica cultural no encontro (prática social destinada à es-
quetes, dentre os quais sa- das etnias e é inconfundível trutura da comunidade).
lientou-se o que deixou fama e significativo o valor da con- Em ligeiro sumário, Ribei-
em toda a região, pela valen- tribuição indígena. Era o ín- ro (1979) relaciona itens que
tia, coragem e tática de seu dio o dono da terra, quando representam alguns dos pon-
comandante, Martinho Mar- do descobrimento. A teoria tos que remetem à contribui-
cellino, mais conhecido por mais generalizada aponta o ção indígena ao folclore brasi-
“Martinho Bugreiro”. Suas norte da Ásia como seu pon- leiro:
“batidas” eram faladas, ecoa- to de origem e o estreito de Alimentação - mandioca
vam no próprio seio do gover- Bering como a porta de sua (carimã, tapioca); milho (can-
no central pela audácia com entrada no continente ame- jica, pamonha, curau); insetos
que se revestiam. Embora ricano. Acredita-se em mais (dentre os quais a tanajura
ponto controvertido, parece de 10.000 anos sua vinda ao ou içá); quelônios, mariscos,
que eram feitas com requin- Brasil. Neste longo período, crustáceos, peixes, aves, ca-
tes de crueldade, levantando conviveu, conheceu, explorou ças, palmito, mel, castanhas,
protestos violentos. Muitas e se utilizou dos produtos do pimentas, guaraná, amen-
mulheres e crianças índias meio, descobrindo as rique- doim, frutas nativas e seus
foram apreendidas por Mar- zas da fauna e da flora, dando sucos, moqueca, processo de
73
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
A imigração alemã
O Brasil foi descoberto
pela frota comandada por Pe-
dro Álvares Cabral, em 22 de
abril de 1500, mas só depois
de muitos anos é que Portugal
se dá conta das inúmeras ri-
quezas brasileiras e dá início
ao seu capitalismo comercial,
advindo também a ideia de
dividir o Brasil em capitanias.
O governo usou como
modelo a experiência do Ar-
quipélago de Açores e da
Madeira. De acordo com Pia-
zza (1994), se acreditava que,
criando-se o sistema de capi-
tanias hereditárias, era pos-
sível defender mais correta-
mente o Brasil das incursões
dos que pretendiam comer-
ciar com o pau-brasil.
Tem início o sistemático
povoamento do solo e desen-
volve-se, a partir daí, a econo-
mia açucareira, de alto valor
comercial, com a Europa. As
cartas de doação foram assi-
nadas em 1º de setembro de
1534. Itamaracá e outro qui-
nhão menor ao Sul couberam
a Pero Lopes de Souza e, pelas
cartas de doação assinadas
em 6 de outubro de 1534, São
Vicente e um segundo qui-
nhão mais ao Norte couberam
para Martin Afonso de Souza. Família Klein, imigrantes alemães. Acervo: Rosemari Glatz
75
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
que vieram de Baden, que até de grandes companhias de na- zes se resumia na concessão
a Unificação Alemã, em 1871, vegação tinham formado uma de abrigo e alimentação ao
era um Estado independente grande rede de subagentes trabalhador.
na União Alemã. Lothar Wie- que captavam emigrantes em Não bastasse a situação de
ser (2014), pesquisador da toda a Alemanha, destinando miséria decorrente do empo-
imigração badense no século -os para a chamada “América”. brecimento massivo e a in-
XIX, informa que os badenses Recrutavam-se emigrantes tensa atuação dos agentes de
emigravam para fugir da fome com brochuras, notícias e car- emigração, era relativamente
decorrente do empobreci- tas para que pessoas se esta- comum as pessoas recebe-
mento massivo em Baden. belecessem em partes desco- rem cartas de familiares ou
Segundo o autor, a emigra- nhecidas do mundo, nas quais amigos que já haviam emigra-
ção em massa do século XIX supostamente um verdadeiro do para as Américas. Nessas
pode ser explicada prepon- Eldorado estava à espera do cartas, além de dar notícias,
derantemente por condições emigrante. A emigração tinha se retratava um pouco da si-
econômicas e, em muitos se tornado um negócio lucra- tuação dos emigrados e das
casos, o Estado os apoiou fi- tivo para muitas categorias dificuldades e facilidades nas
nanceiramente para se livrar profissionais, para interme- novas colônias. Era reiterada
de aldeões pobres. Embora a diários e agentes, correios e a informação de que no Brasil
emigração fosse de interes- trens, hoteleiros e fornecedo- era possível adquirir terras a
se do Estado, pois os pobres res, armadores e funcionários preços módicos e que fome
eram uma carga para o poder de navios. ninguém passava.
público, o processo não era Enquanto em Baden a emi- Graças à fertilidade espan-
muito simples. gração era estimulada, essa tosa da terra e ao clima favo-
Para que a emigração fosse mesma situação nem sempre rável, a fartura e a prosperida-
autorizada, a pessoa precisa- era realidade em outras regi- de eram uma realidade para
va comprovar que não tinha ões, pois apesar do empobre- quem não tivesse preguiça
nenhuma dívida, seja com o cimento, a população baden- de trabalhar. E mesmo quem
poder público, seja com a ini- se muitas vezes tinha o seu tivesse dinheiro era atraído
ciativa privada. Uma vez cer- próprio pedaço de terra e um para as novas colônias, pois o
tificada a inexistência de dívi- pouco de patrimônio que era investimento poderia trazer
das, era emitida a autorização vendido para fins de emigra- bons retornos financeiros em
de emigração e, em seguida, o ção. curto espaço de tempo. Assim,
passaporte. De forma diversa se veri- como resultado de uma soma
Somando-se aos fatores ficava em algumas outras re- de fatores temos, finalmente,
sociais, havia também a in- giões da Alemanha, onde as a emigração de alemães para
tensa atuação dos agentes de terras pertenciam a latifun- Santa Catarina, sendo que o
emigração e companhias de diários que não tinham inte- maior volume emigratório
navegação que publicavam resse na emigração porque para o solo ‘barriga-verde”
anúncios no jornal. Wieser in- assim perderiam sua força de aconteceu entre os anos de
forma que agentes regionais trabalho, cuja paga muitas ve- 1840 e 1870.
77
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Família Krieger no início da colonização em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
a tal ponto que os homens de aliviar-lhes a vida, quan- midez dos recém-chegados
acabaram ameaçando um dos tia que não era insignificante diante das ocorrências mais
engenheiros com suas espin- naquele tempo. Buggenhagen inocentes e mesmo diante de
gardas, ao que este seguiu (1941) escreveu que, segun- pretos ou de índios pacatos.
para Itajaí, trazendo na volta do o que contavam as teste- Mas, não eram somente os
víveres e vinho para acalmar munhas presenciais daqueles perigos imaginários. Brusque
os ânimos. Agravava essa si- primeiros tempos, muitos de- era um lugar saudável; o tifo,
tuação a falta de trabalho, les teriam abandonado ime- a malária e outras moléstias
pois ainda não estavam par- diatamente o lugar se hou- demoraram a aparecer, mas
celadas as terras, tendo os ho- vesse uma possibilidade. A a tradição também fala dos
mens que esperar nove meses situação dos colonos não era colonos que sucumbiram ao
até poderem tomar posse de nada satisfatória. peso do trabalho no clima
seus lotes. Veio completar- A maioria dos imigrantes subtropical. Um perigo cons-
lhes os sofrimentos, prove- alemães eram lavradores, tante eram os animais selva-
nientes de uma organização gente simples. Embaraçava gens, sobretudo as onças e as
defeituosa, a perplexidade -os a natureza que desconhe- cobras que, de vez em quan-
diante dos problemas que ciam, e a vida que tanto se dis- do, ocasionaram a morte de
lhes reservava a mata virgem. tanciava da que lhes pintara o um homem ou de uma cabeça
Logo na chegada, a Diretoria agente que os convidou para de gado. Outra preocupação
subvencionou os imigrantes emigrarem. Por muito tem- eram os bugres que, nos pri-
com um auxílio de 30 a 60 po se contou, em Brusque, meiros tempos, ainda eram
mil réis por família, com o fim histórias que ilustravam a ti- em quantidade considerável
79
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
no Vale do Itajaí. Além desses grantes a chegar ano após Até 1874, a população era
riscos, havia outras contrarie- ano, mas é difícil indicar com bastante homogênea, cons-
dades. O que se comia não era números absolutos o total de tituindo-se predominante-
senão o que a roça produzia e imigrantes alemães que en- mente de camponeses oriun-
os colonos não podiam dedi- traram na Colônia durante o dos de Schleswig-Holstein
car todo o seu tempo à lavou- século XIX. Os imigrantes que e do Grão-Ducado de Baden
ra, pois as subvenções con- chegaram nos primeiros anos - quase metade dos imigran-
cedidas pelo governo tinham estão relacionados nos rela- tes alemães que coloniza-
que ser amortizadas por ser- tórios do Barão Maximilian ram as cidades de Brusque e
viços a serem prestados em von Schneeburg, com indica- Guabiruba era originária do
caminhos a serem abertos e ção do local de procedência e Grão-Ducado de Baden, hoje
pontes a serem construídas. profissão do chefe da família. Baden-Württemberg, sudo-
Nenhum obstáculo, porém, A partir de 1863, as listas es- este da Alemanha. A partir de
foi capaz de impedir o adian- tão incompletas, e após 1870 1875, as condições de com-
tamento da colônia. E, apesar as informações são dadas em posição da população altera-
de tudo, em pouco tempo a números globais. Nos primei- ram-se por completo. Navios
Colônia Itajahy-Brusque saiu ros 14 anos da Colônia en- e navios de imigrantes, em
da precária situação inicial. traram principalmente imi- quase totalidade italianos do
O povoamento da Colônia grantes alemães, com poucas Norte, eram desembarcados
aconteceu gradativamente, exceções, como os poloneses em Itajaí ou Desterro, e enca-
com pequenas levas de imi- que aqui chegaram em 1869. minhados à Colônia Brusque.
80
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
REFERÊNCIAS
BUGGENHAGEN, E. A. von.
História Econômica no Muni-
cípio de Brusque e a obra do
Cônsul Carlos Renaux. [SI].
Brusque, 1941. Não publica-
do.
CABRAL, Oswaldo R. Brus-
que: Subsídios para a história
de uma colônia nos tempos
Primeira Fábrica Renaux, na avenida 1º de Maio. Acervo: SAB do Império. Edição da Socie-
dade Amigos de Brusque co-
cia a partir do aumento dos era indispensável a existência
memorativa do 1º Centená-
seus esforços e diminuição do de capital e de braços.
rio da Fundação da Colônia.
seu próprio consumo se ne- Os vendeiros tinham fei-
Brusque, 1958.
cessário, algo extremamen- to bons negócios, chegando PIAZZA, Walter Fernando.
te importante em virtude do a fazer algumas economias. A Colonização de Santa Cata-
isolamento a que estava sub- A população da colônia tinha rina. 3ª edição. Florianópolis:
metido o colono. aumentado bastante. Nem to- Editora Lunardelli, 1994.
Tanto a indústria domésti- dos os imigrados que haviam SEYFERD, Giralda. A co-
ca quanto a indústria técnica, inicialmente se dedicado à lonização alemã no vale do
funcionavam sem grande ca- lavoura desejavam continu- Itajaí-Mirim. Um estudo de
pital, simplesmente porque ar nessa ocupação. Se lhes desenvolvimento econômi-
a matéria-prima abundava oferecia uma oportunidade, co. Editora Movimento. Porto
e exigia um beneficiamento. muitos estavam prontos a Alegre. 1974.
Paravam quando começava abandonar o trabalho na roça. SILVA, José Ferreira da.
Havia, pois, o que era impres- História de Blumenau. Floria-
a faltar a matéria-prima que
nópolis: Editora EDEME - Em-
provinha da roça. Nos pri- cindível.
preendimentos Educacionais
meiros 40 anos da Colônia A partir de então, vai ter
Ltda., 1972.
Itajahy-Brusque ainda não início a indústria têxtil que
WIESER, Lotar. “Das hiesi-
havia indústrias propriamen- marca a economia de Brusque ge Land gleicht einem Para-
te ditas, cujas produções em até a atualidade, e a primeira dies”: Die Auswanderung von
larga escala independessem iniciativa no segmento têxtil Baden nach Brasilien em 19.
das quantidades limitadas de coube à família Bauer, segui- Jahrhundert (“Esta terra é um
matérias-primas. Mas no úl- do dos Renaux, Buettner e, paraíso”: A emigração baden-
timo decênio do século XIX a finalmente, da família Schlös- se ao Brasil no século XIX).
economia de Brusque já havia ser. Novamente, foram os imi- Volume 1. Badisch-Südbrasi-
atingido um grau de adianta- grantes de origem alemã os lianische Gesellschft (BSG):
mento que permitia a criação responsáveis pelo impulso Karlsdorf-Neuthard: Editora
de uma indústria. Para tanto, econômico dado à região. Verlag Regionalkultur, 2014.
84
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A imigração polonesa
No processo de ocupação
do território catarinense por
imigrantes europeus, ocorri-
do a partir da independência
do Brasil em 1822, o país aco-
lheu vários imigrantes polo-
neses ao longo dos anos.
Mas o início da imigração
polonesa organizada no Bra-
sil começou por Brusque em
agosto de 1869, quando um
grupo de 16 famílias vindo da
aldeia de Siolkowice, próximo
à Opole, região que se encon-
trava sob o domínio prussia-
no, desembarcou no porto de
Itajaí. Este grupo foi instalado
na Colônia Príncipe D. Pedro,
concedendo a Brusque o títu-
lo de “Berço da Imigração Po-
lonesa no Brasil”.
Mas o que foi que motivou
os poloneses a deixar o Con-
tinente Europeu em busca da
terra prometida? Essa res-
posta só pode ser obtida co- Oração a Nossa Senhora
nhecendo alguns fatos impor-
de Czestochowa,
tantes da história da Polônia
que acabaram impulsionando Rainha da Polônia
o movimento emigratório e
contribuindo para a vinda do Virgem Santíssima Mãe de Deus, amada e venerada em
primeiro grupo de imigrantes Vosso Glorioso Templo de Jasna Gora, onde através dos
poloneses que se instalou em séculos foste a dispensadora de graças a Vosso povo fiel,
Brusque. vinde em nosso auxílio, salvai-nos, nós Vos suplicamos,
como livrastes de tantos perigos os nossos antepassados,
oh bendita Rainha da Polônia.
85
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
89
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
91
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
REFERÊNCIAS
DEUCHER. Celso. Brusque
Polonesa. S&T Editores, 2008.
GOULART, Maria do Carmo
Ramos Krieger. A imigração
polonesa nas colônias Itajahy
e Príncipe Dom Pedro: uma
contribuição ao estudo da
imigração polonesa no Brasil
meridional. Fundação Casa
Dr. Blumenau, 1984.
MINICOVSKY, Cléverson
Israel. O Imigrante de Polo-
nês. Editora: Biblioteca24ho-
ras; 2009.
PIEKAS, Mari Ines. Notícia
fornecida na palestra Sebas-
tião Edmundo Woś-Saporski
- Pai da Imigração Polonesa
O Pinhão: Monumento aos poloneses de Brusque e região. Acervo: SAB no Brasil. VII Seminário Te-
mático do Programa História
SAB. tabeleceu, em 2009, o dia 25 e Memória Regional 150 Anos
Houve, ainda, a instalação de agosto como o “Dia Muni- de Imigração Polonesa no
de outro monumento, inti- cipal da Imigração Polonesa Brasil. Centro Universitário
tulado “pinhão” (semente da para Brusque e no Brasil”. de Brusque – Unifebe. Brus-
árvore araucária), no qual Segundo Deucher (2009), que, 24 de agosto de 2018.
estava incrustada uma placa a data foi escolhida porque, SILVA, José Ferreira da.
em homenagem aos primei- em 25 de agosto de 1869, Blumenau em Cadernos,
ros imigrantes poloneses. poucos dias após a chegada Tomo XXXIX, 1998.
Esse monumento ainda existe dos imigrantes poloneses, Siołkowice, a História de.
e está implantando na Praça foi batizado em Brusque o Disponível em: <: http://sta-
da Cidadania. Uma iniciativa menino Estevão Sieniovski, resiolkowice.pl/historia/>.
bem-sucedida e que merece nascido em “o mar” no dia 3 Acesso em 25 de agosto de
ser reconhecida é a lei que es- de julho de 1869, a bordo do 2018.
94
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A imigração italiana
Nos primeiros anos de feita somente pelo elemento parados com a extensão dos
existência da Colônia Itajahy alemão e polonês. Os italia- pequenos núcleos de povoa-
-Brusque, a região foi ocupa- nos deram grande parcela de mento europeus, os resulta-
da com imigrantes alemães contribuição à formação da dos não eram animadores. A
que foram sendo instalados nova Colônia, e a chegada de- política oficial de colonização
na região central (Stadtplatz), les tem estreita relação com o era de 1820 e, com o térmi-
na Rua São Pedro, e em Guabi- Contrato Caetano Pinto. no da Guerra do Paraguai em
ruba. Em 1869, chegaram os A colonização do interior 1870, as atenções do Gover-
poloneses que foram instala- do Brasil era uma ideia anti- no se voltaram novamente
dos na Colônia Príncipe Dom ga, mas aplicá-la nem sempre para a questão da imigração,
Pedro. Mas a história da co- foi fácil. As dimensões do Im- numa tentativa de dinamizar
lonização de Brusque não foi pério eram grandes e, com- a política imigratória e po-
95
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
e do Açu, onde fica dois dias resistência até que todos si- seu contrato, ainda pode ou
à espera de uma condução, gam para o centro onde eles não aceitar, conforme for do
quer para a Colônia Itajahy- têm suas casas de negócios. seu agrado. E enquanto está
Dom Pedro, quer para a de Uma vez em Itajahy, o colono no barracão, o Estado lhe dá
Blumenau. Consultados sobre recebe de uma só vez todo o 2$000 (dois mil Réis) diários
o destino que desejam, gritam dinheiro para o seu estabe- para que ele vá trabalhar em
todos, em uma só voz: Itajahy, lecimento, fartura de casa, estradas, ficando a família a
desconfiados de que possam derrubadas (das matas), se- “abanar os braços”. Para Tau-
ser enganados na direção a mentes e transporte, de modo nay, representava o sistema
tomar e levados para Blume- que, se tiver três pessoas da mais irregular e antieconô-
nau. Aí aparecem agentes de família, recebe de pronto e de mico que se podia imaginar.
negociantes estabelecidos em uma só vez 148$000, ainda E dizia mais: “esse sistema é
Itajahy, e notadamente um que vá ficar oito ou mais me- filho das péssimas tradições
certo Pietro Beltramini, ho- ses dentro de um barracão de existentes na administração
mem audaz e possuidor de recepção à espera para que se da Colônia Itajahy-Brusque e
alguns bens, que aconselha localize num lote que ele, pelo Príncipe Dom Pedro (...)¨.
99
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
104
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
106
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Participação de Brusque
na Guerra do Paraguai
No dia 14 de outubro de tários, graças às atividades pois o diretor recebera, nos
1865, um sábado, partiram empreendidas pelo diretor primeiros dias de outubro,
da Colônia Itajahy-Brusque da colônia, Barão Maximilian ofício do presidente da Pro-
rumo à Capital da Província, von Schnneburg, junto aos víncia autorizando-o abrir o
os 25 voluntários que aten- colonizadores alemães que voluntariado. Houve uma sé-
deram à convocação da Lei detinham as condições neces- rie de pequenos incidentes
nº 3.371 de 7 de janeiro de sárias e qualidades exigidas relacionados à convocação.
1865, do Governo Imperial. para defender sua nova Pá- Schneeburg, entretanto, con-
Contando apenas cinco anos, tria. tornou diplomaticamente a
Brusque já ofereceu esse O alistamento foi rápido, situação, mantendo a digni-
apreciável número de volun- aproximadamente 15 dias, dade de seu cargo e da missão
107
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
orientadora do alistamento. mais tarde rumo a Desterro. sete que com ele seguiram no
Eugênio Rieger, Guido de Se- Schnneburg acompanhou os dia 8 de fevereiro de 1866.
ckendorf e Alexandre Rufe- seus voluntários até Desterro, São eles: Bernardo Josiger;
ner, médico na Colônia, foram confiando-os então a Guido Detlef Sacht; Antônio Boos;
os primeiros que se apresen- de Seckendorf, que naquele Henrique Sacht; Germano
taram, tendo Schneeburg, em momento já ocupava o posto Boos; Henrique Dorenkot
carta ao Presidente da Pro- de tenente. e Antônio Straub. Segundo
víncia, recomendando-os ao Os nomes dos voluntários Wiederspahn (1962), o esfor-
oficialato. Rufener, entretan- da Colônia Brusque constam ço militar do Império do Bra-
to, não seguiu, retirando mais da relação que inclui também sil neste maior conflito conti-
tarde sua inscrição. os voluntários das Colônias nental sul-americano havido
Realizaram-se algumas Dona Francisca, Blumenau, até nossos dias, correspon-
reuniões preparatórias e de Teresópolis e São Pedro de deu a 139.000 homens mobi-
esclarecimento, especialmen- Alcântara, e foi assinada por lizados para a guerra e envia-
te com relação aos benefícios Victor de Gilsa – capitão, Gui- dos ao Paraguai, sobre cerca
que teriam os conscritos e do Seckendorf – tenente, e de um total de 9.000.000 de
suas famílias. O governo con- Emílio Odebrecht – tenente. habitantes, isto é, cerca de
cedia abono de 300$000 a São eles: Roberto Schmidt; 1,5%, dos quais faleceram em
cada voluntário engajado e Ricardo Vollrath; Frederico campanha, aproximadamente
o Barão entendeu-se com o Moritz; Germano Klekenkam- 24.000 homens, inclusive os
Presidente da Província pe- per; Valentin Schaefer; Si- desaparecidos, ou 17% do to-
dindo para que cada um re- mão Habitzreuter; Eduardo tal em campanha.
cebesse, antes da partida, a Becker; Eduardo Bachmann; Quando foram recolhidos
metade daquela importância. José Schoren; Guilherme José os documentos que se en-
Outras quotas seriam conce- Olhafen; João Schwanberger; contravam no Departamento
didas mensalmente, destina- Antônio Dinkelberg; Emilio de Terras e Colonização, em
das às famílias e descontadas Puhlmann; Vicente J. Barth; Florianópolis, Ayres Gevaerd
de seus soldos. Cada volun- João José Hermes; José Schlin- acreditou que Raymundo Ro-
tário, ao partir, recebeu uma dwein; Augusto Jansen; João drigues, de cor preta, fosse
ajuda de 15$000. Ultimadas Zabel; Cosmo Vogel; Fran- o brasileiro cujo nome não
as providências em reunião cisco A. Day; Guilherme Oes- se achava registrado na lista
realizada numa taberna da trenger; Guido de Seckendorf assinada por Victor de Gilsa,
“Stadtplatz” (centro da co- – Tenente e Augusto Peters Emílio Odebrecht e Guido de
lônia), seguiram os volun- – cabo, e um brasileiro cujo Seckendorf. Gevaerd adquiriu
tários. O percurso, em uma nome não consta da relação. de Raymundo Rodrigues uma
lancha e duas canoas, deu-se Mais tarde, Eugênio Rieger, espada de cavalariano que
normalmente até a Barra do um dos primeiros que havia doou ao Museu de Azambuja.
Rio, de onde os voluntários se apresentado ao Barão, re- No entanto, anos mais tarde
marcharam até a sede da Vila cebeu autorização para unir Gevaerd se deparou com um
de Itajahy, embarcando dias novos voluntários e arrumou exemplar do jornal “Brusque
108
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Voluntário da Guerra do Paraguai em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz 109
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
direita do rio Itajaí-Mirim, di- Má gestão pública também de ser extinta quando chegou,
visando com a Colônia Itajahy. foi verificada. Com o fracasso em agosto de 1869, o primei-
Inicialmente, as terras foram da colonização, aos poucos a ro grupo de famílias de imi-
utilizadas para instalação de área foi sendo abandonada. grantes poloneses, rendendo
elementos ingleses e irlande- Apesar de ser área monta- a Brusque o título de “Berço
ses reemigrados dos Estados nhosa e pouco propícia ao da Imigração Polonesa no
Unidos, que permaneceram plantio da lavoura com arado, Brasil”. Foram instalados na
por pouco tempo. Segundo o território era de grande ri- linha “Sixteen Lots”, na Co-
José Ferreira da Silva (1972), queza florestal e havia muitos lônia Príncipe Dom Pedro e
essa Colônia não prosperou cursos d’água. Suas dificulda- substituíram, em parte, os ir-
já que, logo de início, foi mal des em termos de áreas pro- landeses. Em 1875, teve início
administrada pelo seu diretor pícias à agricultura eram se- a colonização com imigrantes
que foi demitido e processado melhantes a outras regiões do italianos.
por desvio de dinheiro e ou- estado de Santa Catarina. O Anos mais tarde, partes do
tras irregularidades. A dura- que faltou foi administração território da extinta Colônia
ção da Colônia foi efêmera e, e vontade de trabalhar. Con- Príncipe Dom Pedro deram
em 1869, foi anexada à Colô- forme dizia Ayres Gevaerd, origem aos municípios de
nia Itajahy. Depois suas terras as administrações da Colônia Nova Trento, Vidal Ramos,
foram utilizadas para instala- Príncipe Dom Pedro foram Presidente Nereu e Botuverá.
ção de colonos poloneses e, incapazes de promover o seu Uma parte do território conti-
mais tarde, por italianos. êxito, apesar de bem-inten- nuou pertencendo a Brusque.
cionadas.
Segundo Jacintho Antônio
O fracasso da de Mattos (1917) “aos pou- REFERÊNCIAS
colonização cos, esses colonos (ingleses
e irlandeses reemigrados dos LAUTH, Aloisius C. Colo-
A Colônia Príncipe Dom Estados Unidos) foram deser- nos Ingleses em Águas Claras.
Pedro custava a se desenvol- dando dos seus lotes, até que 2014.
ver. Os imigrantes ingleses e no aviso de 6 de dezembro de MATTOS, Jacintho Antônio
irlandeses, que haviam sido 1869, do Ministério da Agri- de. Colonização do Estado de
assentados no território, cultura, a Diretoria da Colônia Santa Catarina: dados históri-
eram avessos ao trabalho na foi anexada à Diretoria da Co- cos e estatísticos, 1917.
terra e logo se tornaram pen- lônia Itajahy”. A partir de en- SILVA, José Ferreira da.
sionistas do governo. Depen- tão, a correspondência oficial História de Blumenau. Floria-
diam do trabalho na abertura passou a ser dirigida à Dire- nópolis: Editora EDEME - Em-
de estradas, que era pago por toria da Colônia Itajahy-Brus- preendimentos Educacionais
diária. Nem sempre havia di- que e Príncipe Dom Pedro. Ltda., 1972.
nheiro do governo para con- As dimensões coloniais tam- SILVA, José Ferreira da. Blu-
tratação dos serviços e logo bém aumentaram, passando menau em Cadernos.1998.
passaram à ociosidade. Sur- a somar aproximadamente Brusque Memórias. Dispo-
giram inúmeros desacertos e 70.000 hectares. nível em:<http://www.brus-
distúrbios entre os imigran- A Colônia vivia completa quememoria.com.br>. Acesso
tes. anarquia e já estava em vias em 16 de agosto de 2018.
114
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A emancipação da Colônia
Em 1860, teve início a co- considerada colônia uma nias anexadas da freguesia do
lonização oficial do território zona que estava sendo povo- Santíssimo Sacramento (Ita-
da Colônia Itajahy-Brusque. ada por lavradores. No ano de jaí), formando-se a Freguesia
Por aquele tempo, Brusque 1881 a Colônia Itajahy-Brus- (paróquia), que normalmen-
consistia numa parcela de que alcançara um grau de te é o primeiro passo para a
“território” organizado, sob desenvolvimento que levou emancipação política e ad-
o comando de uma diretoria, o governo a dar-lhe o caráter ministrativa, e foi escolhido
para onde se encaminhavam de município. Essa elevação, como orago São Luis Gonzaga.
colonizadores alemães, in- porém, não se processou tão A data de 23/03/1881
cumbidos de explorá-lo. A inesperadamente; tivera seus marca a criação do municí-
princípio, dera-se a essa zona preliminares. Pela Lei Provin- pio de Brusque quando, por
a denominação “colônia” con- cial n° 693, em 31 de julho de força da Lei Provincial nº
ceito que nem compreende 1873, o então presidente da 920/1881, a Freguesia foi ele-
qualidades administrativas, Província, Pedro Afonso Fer- vada à categoria de Vila e mu-
segundo a Lei brasileira. Era reira, desmembrava as colô- nicípio, igualmente denomi-
115
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
nado de São Luiz Gonzaga. Foi Assembleia Provincial, a ad- foi eleito o comerciante Ger-
a emancipação político-admi- ministração da Câmara Mu- mano Willerding como o pri-
nistrativa de Brusque. Kons nicipal obedeceria às normas meiro presidente da Câmara
(2018) informa que a Vila constantes das posturas do do novel município. Os ad-
abrangia os territórios dos município de Itajaí. Segundo ministradores do Município
atuais municípios de Brus- Gevaerd e Gevaerd (1960), o de São Luiz Gonzaga durante
que, Guabiruba, Botuverá, primeiro administrador do o período monárquico foram
Vidal Ramos, Presidente Ne- Município de São Luiz Gon- Germano Willerding, Pedro
reu, Nova Trento e inclusive zaga foi Jacinto Adolfo A. Pan- Jacob Heil, Guilherme Krieger,
uma porção de São João Ba- toja, o nono e último admi- Germano Augusto Thieme e
tista (localidade de Crecker), nistrador efetivo da Colônia Guilherme Krieger.
pois a lei de criação da Vila Itajahy-Brusque, e o primei- Em 15 de novembro de
fixava os limites como sendo ro administrador do muni- 1889 é proclamada a Re-
os mesmos da Freguesia de cípio criado em 23 de março pública Brasileira, instau-
São Luis Gonzaga. Itajaí, Blu- de 1881, conforme pode ser rando a forma republicana
menau, Lages e Tijucas eram atestado por vários documen- presidencialista de governo
os municípios limítrofes. E, tos assinados por ele. no Brasil, encerrando a mo-
ao contrário de um gran- No período monárquico, narquia constitucional par-
de número de municípios, a os municípios eram adminis- lamentarista do Império e,
data magna comemorada em trados pelas câmaras muni- por conseguinte, destituindo
Brusque não é a efeméride de cipais, e os presidentes das e deportando o então chefe
sua emancipação político-ad- câmaras correspondiam aos de estado, Imperador Dom
ministrativa, mas sim o dia 4 superintendentes, o equiva- Pedro II. A proclamação ocor-
de agosto de 1860, data que lente ao cargo de prefeito de reu na Praça da Aclamação,
marca a chegada dos imigran- hoje. E para instalar e admi- atual Praça da República,
tes alemães liderados pelo nistrar o novo município, em na cidade do Rio de Janeiro,
primeiro diretor da Colônia 5/05/1883 foram eleitos os então capital do Império do
Itajahy-Brusque, Barão von vereadores. Assim, mesmo Brasil. Em 24/02/1891, o
Schneeburg. criado em 1881, o municí- Congresso Nacional Consti-
De acordo com a Lei pro- pio foi instalado apenas em tuinte decretou e promulgou
vincial nº 920/1881, tão logo 8/07/1883, com a solenida- a Constituição da República
os moradores tivessem pre- de de tomada de posse dos dos Estados Unidos do Bra-
parado a edificação em que primeiros vereadores e con- sil. E, pouco tempo depois,
a Câmara Municipal passaria sequente instalação do mu- em 11/06/1891, foi promul-
a atuar, seriam instalados o nicípio de Brusque. Com iní- gada a primeira Constituição
novo município e a Villa de cio às 10 horas, a solenidade Estadual de Santa Catarina.
São Luiz Gonzaga. Enquanto foi presidida pelo presidente Durante as primeiras déca-
não se aprovasse o próprio da Câmara Municipal de Ita- das do regime republicano, os
Código de Posturas e este jaí, advogado Luiz Fortunato municípios eram administra-
não fosse referendado pela Mendes. Após o juramento, dos pelos superintendentes
116
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
117
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
A evolução territorial
e os desmembramentos
Quando em meados do cabrosas dos cursos médio e rapidamente a prosperidade,
século XIX, se iniciara a colo- superior do rio Itajaí-Mirim, por meio de medidas artifi-
nização de Blumenau no Ita- onde não havia a lavoura, sen- ciais, em uma zona bastante
jaí-Açu, o governo se propôs do o resto montanhoso. abandonada de uma parte
criar finalmente um equiva- Escolhera-se como pri- pouco explorada do Brasil.
lente nas terras do Itajaí-Mi- meiro núcleo de exploração, A região do atual municí-
rim. Nas margens do curso a zona do atual município de pio, então ainda inexplorada,
inferior desse rio estendiam- Brusque, cuja colonização foi era de importância puramen-
se largas faixas de terrenos iniciada de acordo com um te geográfica, pois constituía,
planos e alagadiços que ofe- decreto de Dom Pedro II, da- dentro do vasto plano de po-
reciam vantajosas condições tado em 18/06/1860. O mo- voamento concebido pelo go-
para a lavoura e a criação do tivo político a que se deve a verno, a primeira estação do
gado nas sesmarias. O Gover- fundação de Brusque foi, no vale do Itajaí-Mirim. Quando
no Imperial entendia que era conjunto histórico mais largo, a colonização oficial da Colô-
preciso povoar as terras es- o propósito de desenvolver nia Itajahy-Brusque começou,
119
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
em 1860, a Colônia consistia cia, Pedro Afonso Ferreira, Apenas uma pequena parte
numa parcela de “território” desmembrou a Colônia Ita- do território continuou per-
organizado, sob o comando jahy-Brusque, que até então tencendo a Brusque.
de uma diretoria, para onde era anexa da freguesia do
se encaminhavam coloniza- Santíssimo Sacramento (Ita- Nova Trento
dores alemães incumbidos de jaí), formando a Freguesia
explorar o território (BUGGE- (paróquia) de São Luis Gonza- Após o fim do período co-
NHAGEN, 1941) ga. Em 1881 ocorre a emanci- lonial, Nova Trento, que na lei
Em 6 de dezembro de pação político-administrativa de criação do município de
1869, o território da colônia de Brusque. Por força da Lei São Luiz Gonzaga (Brusque)
Príncipe Dom Pedro, insta- Provincial nº 920/1881, de integrava seu território, pas-
lada à margem direita do rio 23/03/1881, a freguesia de sou a fazer parte do municí-
Itajaí-Mirim, e cortada pelo São Luiz Gonzaga das colô- pio de Tijucas. A comunidade
Ribeirão Águas Claras, Limei- nias Itajahy e Príncipe D. Pe- neotrentina foi emancipada
ra, Limoeiro, Cedro Grande, dro foi elevada à categoria de política e administrativamen-
Cedro Pequeno, Alferes e Cre- Vila e município, igualmen- te em 8 de agosto de 1892.
cker, foi anexada à Diretoria te denominado de São Luiz Conforme informações dispo-
níveis no site oficial da Prefei-
da Colônia Itajahy”. A partir Gonzaga. Só mais tarde, esse
tura de Nova Trento (2018), a
de então, a correspondência nome de município e vila foi
história do município inicia
oficial passou a ser dirigida substituído oficialmente pelo
muito tempo antes da chega-
à Diretoria da Colônia Ita- de Brusque, em homenagem da dos primeiros imigrantes
jahy-Brusque e Príncipe Dom a Araújo Brusque, antigo pre- trentino-italianos, provenien-
Pedro e as dimensões colo- sidente da Província de Santa tes da região norte da Itália,
niais também aumentaram, Catarina. Ao longo da sua his- a partir de 1875. No período
passando a somar aproxima- tória, alguns distritos foram de 1834 e 1838, esta região do
damente 70.000 hectares. incorporados à Vila e muni- Vale do Rio Tijucas havia sido
Muitos anos depois, partes cípio de São Luiz Gonzaga e ocupada por norte-america-
do território da extinta Colô- houve algumas modificações nos, com a intenção de explo-
nia Príncipe Dom Pedro de- e umas poucas deslocações rar a madeira abundante do
ram origem aos municípios das divisas, obedecendo, lo- local. Uma serraria foi mon-
de Nova Trento, Vidal Ramos, gicamente, ao ponto de vista tada próximo ao atual centro
Presidente Nereu e Botuverá. que faz o traçado das divisas da cidade, aproveitando-se
a correnteza do Ribeirão Al-
Uma parte do território conti- depender das condições na-
feres, Braço do Rio Tijucas-
nuou pertencendo a Brusque. turais de paisagem. Do terri-
Grande. Christóvão Bonsfield,
Guabiruba pertencia apenas tório que compunha Brusque
negociante estabelecido em
ao território da Colônia Ita- em 1892, tiveram origem os Nossa Senhora do Dester-
jahy-Brusque. municípios de Nova Trento ro, foi o grande propulsor do
Em 31 de julho de 1873, (1892), Vidal Ramos (1957), negócio. Porém, anos depois,
pela Lei Provincial n° 693, o Presidente Nereu (1961), Bo- devido às dificuldades encon-
então presidente da Provín- tuverá e Guabiruba (1962). tradas, o território foi aban-
120
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
121
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Imóvel da família Stoltenberg em Vidal Ramos. A construção teve início em 1928. Acervo: SAB
Em 1919, August Stol- longe de casa, os filhos o en- uma lata de café e fósforos e
tenberg chegou a Vidal Ramos terraram ali mesmo e sobre a seus vizinhos os procuraram
com seus dois filhos, Erich e sepultura do amado pai plan- para negociar. E assim surgiu
Karl. A família havia emigra- taram um pinheiro, hoje uma a Casa Comercial Stoltenberg
do de Kiel, na Alemanha. frondosa árvore. Irmãos, implantada no en-
Em 1920, fazia-se a pri- Em 1924 os irmãos Stol- troncamento das estradas
meira ligação Vidal Ramos tenberg abriram no local um de Botuverá, Vidal Ramos e
-Brusque, uma picada aberta comércio. Iniciaram com um Brusque, que ocupa uma área
por Martins e Jacinto Bugrei- pequeno rancho coberto de onde está o comércio enxai-
ro. Estando o pai e os filhos a folhas que mais tarde se cha- mel e uma grande construção
desbravar a mata da nascente mou “Stoltenbergs Caethebla- em madeira que era uma pou-
colônia, em 1923, August Stol- etterrach”. sada para viajantes.
tenberg faleceu subitamente. Sua primeira viagem a A construção da Casa Stol-
Como estavam no meio Brusque, trazendo merca- tenberg, localizada na praça
da mata, não havendo ainda doria num cavalo, levou dois Stoltenberg, teve início no
um cemitério, e sendo muito dias. Ao voltar, trouxeram ano de 1928, sendo concluí-
122
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Vidal Ramos na mesma área em que mais sede da fazenda de “Boa Es-
tarde seria criado o municí- perança”.
Segundo informações dis- pio de Vidal Ramos. Nesse No artigo intitulado Um
poníveis no site oficial da mesmo ano, o padre Augusto Pouco de História do Municí-
Prefeitura de Vidal Ramos Schwierling, acompanhado pio de Vidal Ramos publicado
(2018), a história do muni- de Nicolau Petry e Henrique na revista Blumenau em Ca-
cípio tem início por volta de Blomer, saíram de Capivari, dernos (1995) vamos encon-
1916, quando João Filomeno região sul do Estado, passan- trar mais algumas informa-
da Rosa, chefiando um grupo do pelas vilas de Angelina, ções sobre Vidal Ramos.
de caçadores, saiu de Bom Garcia e Boiteuxburgo, atra- Vejamos o que nos traz a
Retiro em direção aos sertões vessando o rio Alferes à pro- publicação: encravado entre
do hoje município de Vidal cura da parte mais alta da a Serra do Itajaí e a Serra do
Ramos, e marcaram sua pre- cabeceira do rio Itajaí-Mirim, Tijucas, o município de Vidal
sença na região, e por isso os sendo que o primeiro colono Ramos localiza-se na parte
primitivos moradores da ci- fixou morada no lugar deno- alta da Bacia do rio Itajaí-Mi-
dade, que conhecem a histó- minado “Molungú”, e o segun- rim, ocupando uma área de
ria local, os consideram como do na confluência dos rios Ita- aproximadamente 314 km2,
os desbravadores de Vidal Ra- jaí-Mirim e Santa Cruz. interligando-se por vias de
mos. Foi nesta época que foi acesso aos municípios de Itu-
No ano seguinte chega dado o nome dessa localidade poranga, Presidente Nereu,
outro grupo de caçadores, de Alto Itajaí-Mirim ou Rio da Brusque e Leoberto Leal. Por
desta vez vindos de Ribeirão Brusque, onde hoje está situ- volta de 1910, fixaram-se na
do Ouro (atual Botuverá). E, ada a sede de Vidal Ramos. região os primeiros coloni-
ainda em 1917, Walter Rho- Nos anos seguintes, outras zadores imigrados, principal-
de, comandando um grupo de famílias começaram a chegar mente, do Vale do Rio Capiva-
homens, veio de Bom Retiro e à região, à procura de terras ri.
começou a proceder ao mape- férteis, tendo uma delas – a de Bem-sucedida a fixação
amento e medição das terras Pedro Weber – se estabeleci- inicial do núcleo, a eles vie-
que formam a parte mais alta do na confluência do rio Santa ram juntar-se famílias oriun-
da cabeceira do rio Itajaí-Mi- Luiza com o Itajaí-Mirim e as das de outras regiões do Es-
rim. famílias Boeing e Vanderlinde tado. Entre os primeiros que
Toda aquela área de terras, fixaram-se naquelas proximi- enfrentaram os desafios de
na época, era propriedade do dades provindas da Região de desbravar as florestas e con-
Dr. Possidônio, do comenda- Capivari. quistar novas terras, desta-
dor Guimarães e de Dª Corá- Em 1923, o Dr. Constâncio caram-se, entre outras, as
lia Luz. Em 1919 foi criado, Krümmel adquiriu imensa famílias Weber, Petry, Boing
por lei estadual, o distrito de gleba de terras no local em e Stoltenberg. A história re-
Adolfo Konder que perten- que está hoje instalado o mu- gistra o nome de Rodolpho
cia ao município de Brusque, nicípio, com o fim de coloni- Pink, imigrante alemão, como
zar a região, denominando a primeiro professor local, en-
124
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
125
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
que Nova, Santa Rita, Boa tirem em busca de novas es- mente 1940, caracterizou-se
Esperança e Naufrágio, este peranças em novas terras. A pela agricultura de subsistên-
último para lembrar o naufrá- viagem, dura e demorada, era cia, exploração de madeira e
gio de um barco com imigran- feita por pequenos navios a ouro de lavagem.
tes que afundou no rio Ita- vela ou vapor, sem conforto, A segunda fase durou até
jaí-Mirim em que felizmente sem segurança. Chegava-se aproximadamente 1970, e se
todos se salvaram. Mais tarde a levar meses para chegar ao caracterizou pela agricultura
foi criado o distrito de Nilo Brasil. Doenças aconteciam e comercial do fumo, sendo que
Peçanha, pertencente a Vidal se a morte “batesse à porta” o algumas estufas ainda podem
Ramos. mar se tornava o túmulo. ser avistadas pelo interior da
Mas logo o nome mudou Durante a longa viagem, cidade, lembrando tempos de
novamente, dessa vez para amizades se estabeleciam, trabalho duro na colônia, em
Itaquá, que em tupi-guarani amores aconteciam e a can- que a família toda se reunia
significa “local pedregoso”. toria era comum como tribu- para colher as folhas de fumo,
Quando o município foi cria- to à pátria que os imigrantes fazer “as bonecas”, dependurá
do, em 30/12/1961, final- deixavam para trás. Chegando -las para secar com auxílio de
mente recebeu o nome atual, ao Brasil, após o desembar- calor e livre da umidade tão
numa homenagem a Nereu que, dirigiam-se às colônias característica na região, para,
Ramos, o único presidente da de destino. Em Brusque eram finalmente, vender a produ-
República nascido em Santa alojados em Barracões de ção, normalmente para a em-
Catarina. Imigrantes na localidade co- presa Souza Cruz.
nhecida como Águas Claras. A terceira fase, bem re-
Botuverá Depois de autorizados, os cente, caracterizou-se pelo
pioneiros subiam o rio Ita- fortalecimento do segmento
Conforme informações dis- jaí-Mirim com canoas e bal- industrial, especialmente o
poníveis no site oficial da Pre- sas improvisadas, se fixaram setor têxtil e de mineração.
feitura de Botuverá (2018), a nas terras que denominaram Com a chegada das primei-
história do município guarda “Porto Franco” e logo deram ras 33 famílias, em 1876, fun-
relação com o continente eu- início ao desbravamento das dou-se o povoado, denomina-
ropeu. As guerras, as crises matas, construíram seus no- do pelos próprios imigrantes
sociais e econômicas, provo- vos lares e deram início nos de “Porto Franco”, subordina-
caram a emigração de italia- trabalhos da agricultura, que do a Brusque.
nos, principalmente da região se tornou o marco econômico O território pertenceu à
norte, para o Brasil. da população botuveraense antiga Colônia Itajahy-Brus-
A miséria, o desempre- até a atualidade. que e Príncipe Dom Pedro.
go, a propaganda enganosa Ao longo de sua história, Para Botuverá emigraram
das agências de emigração, Botuverá viveu momentos principalmente lombardos
motivaram muitos italianos econômicos distintos: a pri- de Bergamo, Mântua e Tren-
a deixarem sua pátria e par- meira fase, que data de sua tinos.
fundação até aproximada- Não há fontes seguras dos
126
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
e suas frutas são consumíveis. do palmito, é possível que imigrantes se dedicaram à la-
A cidade de Guabiruba é re- também tenham servido de voura e à extração de madei-
pleta de nascentes e cursos alimento para as famílias dos ra, construindo ranchos para
de água, e os pés de guabiro- colonizadores logo após a sua seu abrigo. Muitos trouxeram
ba são facilmente encontra- chegada. E assim a árvore em- sua profissão de origem. Seu
dos, tanto nos vales como nas prestou seu nome à cidade, esforço, empreendedorismo e
encostas dos morros e mon- que, entre a população local, é coragem moldaram uma cida-
tanhas da cidade. chamada carinhosamente de de próspera.
A sua floração acontece “Guaba”. Depois dos primeiros em-
entre agosto e novembro, por De acordo com as infor- preendedores, comércios e
um curto período de tempo, e mações disponíveis no site indústrias têxteis, foi aberto
a maturação dos frutos tam- oficial da Prefeitura de Gua- o caminho para a moderniza-
bém é rápida, ocorre entre biruba (2018), os primeiros ção, com o início das fábricas
15 e 20 dias após a florada. imigrantes alemães, a maioria de malhas, confecções, tin-
Os frutos - doces, amarelos originária de Baden, chegou a turarias e metalurgias, que
e em forma de baga - amadu- partir de agosto de 1860. se deu a partir da década de
receram logo após a chegada Posteriormente chegaram 1970.
dos primeiros imigrantes ale- os italianos, os poloneses e O desenvolvimento propi-
mães e, assim como o miolo os austríacos. Inicialmente os ciou a vinda de novas famí-
129
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Vista do centro de Brusque nas primeiras décadas do século XX. Acervo: SAB
A evolução econômica
da Colônia
O comércio subsistência nas proprieda- recreativa e a educacional.
des dos agricultores, como Inicialmente, as vendas se
Na área colonial, o comér- sal, ferramentas, tecidos e ar- instalavam junto à adminis-
cio constituiu-se em mono- mas. Nos primeiros anos da tração da colônia e ao porto
pólio de um pequeno grupo Colônia Brusque, o sistema de fluvial, que dispunha de um
de pessoas estabelecidas na vendas estava ligado ao tipo trapiche de pedras, mastro
sede da vila, a “Stadtplatz”: de povoamento da área co- de madeira e guincho, e ficava
eram os vendeiros, isto é, os lonial. Implantado o núcleo, nas cabeceiras da ponte Iri-
proprietários de casas co- seu desenvolvimento era ba- neu Bornhausen (atual ponte
merciais, das “vendas”, onde lizado, como nas demais co- estaiada). Ali aportavam os
os colonos vendiam ou troca- lônias alemãs, pela fixação de barcos, as canoas, e lanchas
vam sua mercadoria por pro- um eixo comercial, a partir do que visavam o abastecimento
dutos da cidade que não eram qual se subordinavam outras da população que se fixava na
produzidos pela economia de funções, como a religiosa, a Colônia Itajahy-Brusque, ou
131
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
a saída dos produtos para o gos de estimação que facili- absolutos dos meios econô-
porto marítimo, em Itajaí. tam e embelezam a luta pela micos com que imprimiam
Os colonos se dirigiam à existência. O colono, superes- um cunho pessoal à vida em
vila para participar das festas timando o que encontra na sua zona de influência. Co-
e atividades religiosas, para venda, é incapaz de atribuir- nhecendo as necessidades
tratar de problemas legais, lhe justo valor em compara- de sua freguesia, o vendeiro
dentre outros. Mas, principal- ção ao de seus produtos na- procurava satisfazê-las, indo
mente, para trocar ou vender turais. É a psicologia da terra buscar as mercadorias nos
a produção excedente das bravia que decide; apaga-se a mais distantes centros pro-
suas colônias, pois era na Sta- noção do preço. O colono en- dutores e colocando nestes o
dtplatz que estavam a princi- trega ao vendeiro boa parte que sobejava na colônia. Essa
pais vendas, as “Kaufläden”. da abundância de produtos tarefa de intermediário, que à
Era lá que se realizavam as agrícolas; o vendeiro dá-lhe primeira vista parece tão fá-
maiores transações comer- em paga um pouco do pouco cil, exige um perfeito conheci-
ciais. A fertilidade da roça e a que tem na venda. Parafra- mento das praxes comerciais
viva atividade da venda carac- seando, com algum exagero, e mesmo um talento especial,
terizaram o sistema inicial, de o rifão, pode-se dizer que o tanto que só pouquíssimos
onde nasceu o progresso da colono “compra a ferradura, colonos conseguiram fazer os
nova comunidade colonial. pagando com o cavalo”. primeiros ensaios neste ramo
A lavoura e a venda, é preci- Os vendeiros eram conhe- de atividade.
so que se combinem em uma cedores do ramo a que se No terceiro ano após a fun-
unidade orgânica. dedicavam, e muitos deles dação, já se contavam quatro
A figura do vendeiro na se fizeram dignos da grati- casas comerciais na Colônia
mata virgem é, apesar de dão e da estima dos colonos. Itajahy-Brusque. Duas per-
tudo, a personificação das es- Além disso, eram eles os re- tenciam a imigrantes alemães
peranças do colono, e, indubi- presentantes do capital, o que haviam entrado na área
tavelmente, o facheiro da ci- que vale dizer que gozavam como colonos: a Hospedaria
vilização. Para Buggenhagen de uma posição privilegiada e Negócio de Philippe Krieger
(1941), é ele quem fazia che- entre aqueles que, dispondo e a Loja de P. Heil. Uma ter-
gar ao alcance do colono os apenas de valores materiais, ceira venda, que não funcio-
produtos da indústria moder- não tinham noção exata do nou muito tempo, pertencia
na: a pá, a enxada, o machado, capital. Eram os vendeiros a um brasileiro: J.P. Libera-
os pregos, a corda, a louça, a quem orientava as atividades to, de Itajaí. Giralda Seyferth
carne-seca, o bacalhau, o sal, agrícolas isoladas no sentido (1974) informa que, confor-
o toucinho, a farinha, a azei- de adaptá-las às necessida- me relatório do ano de 1862
tona, o queijo, o fumo, os pro- des da economia geral. Eram do Barão Maximilian von Sch-
dutos químicos, o chumbo, a eles quem encomendava as neeburg, a última das quatro
pólvora, etc. Esses artigos, no culturas mais vantajosas e, casas comerciais era a filial
mato virgem, não são simples estabelecendo os preços dos da firma La Roche & Cia. que
mercadorias; são antes arti- produtos, se faziam senhores também não durou muito
132
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
O colono produzia para o consumo da sua família e também para a venda e, por isto, es-
tava sujeito ao controle exercido através dos vendeiros. O agricultor cultivava basicamente
milho, aipim, feijão, arroz, cana-de-açúcar, fumo e batata, deixava na venda o excedente da
produção agrícola e levava sal, toucinho, ferramentas, óleo, tecidos e armas. Era de menor
importância a cultura de verduras e frutas, embora a boa horta completasse o bem-estar do
colono. As hortaliças preferidas eram: o repolho, a couve, a alface, o chuchu, pepinos, cenou-
ras, o nabo, a couve-flor, a raiz-forte, diversas espécies de feijão, a couve-roxa e tomates. As
frutas mais cultivadas eram: a banana, a laranja, o abacaxi, a tangerina, o pêssego, o limão, a
goiaba, o caqui, a carambola, a jabuticaba, o morango, a melancia, o figo e outras. Culturas de
menor importância eram as de amendoim e de diversas espécies de ervilhas. As pastagens
que ocupavam apenas pequena parte do respectivo lote estavam cobertas de gramíneas.
Preferia-se o capim gordura para terrenos secos, o capim branco para os pastos planos, e di-
versas espécies de grama para as pastagens situadas em terras montanhosas. Para preparar
as terras de plantio, usava-se, em geral, o arado, embora seu emprego encontrasse grandes
dificuldades nos declives. Em combinação com o arado fazia-se uso da carpideira (capina-
dor) e da grade. Onde o terreno não podia ser lavrado com o arado e, sobretudo, nas partes
montanhosas, trabalhava-se com a enxada. À variedade de culturas correspondia uma va-
riedade de criações, como a de gado cavalar, gado vacum e de aves. A criação de ovelhas era
incomum. O colono também produzia vinhos de uva e laranja. Abundavam peixes no rio e
ribeirões, os quais supriam as famílias com carnes, ao lado da produção de aves domésticas
e suínos, o que fazia que os colonos negociassem com os vendeiros apenas aqueles itens que
não conseguiam produzir. Mas se a policultura garantia em boa parte a independência do
colono, a área limitada de seu lote não deixava de obrigá-lo a produzir para o mercado, e a
venda era o local onde as transações comerciais se realizavam: as trocas aconteciam entre
uma pessoa que detinha nas mãos os mecanismos que regulam as transações, o vendeiro, e
os proprietários dos lotes coloniais, o agricultor.
133
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
tempo. Alguns anos depois, as Deus e o mundo, o vendeiro para levar seus produtos até
vendas mais importantes da impunha-lhes o seu modo de as vendas. O pombeiro quase
vila achavam-se nas mãos de pensar, juntamente com os sempre era um colono que,
imigrantes alemães. De acor- seus preços. Foi assim duran- em determinados dias do
do com Buggenhagen (1941), te anos e anos. mês, recolhia com sua carro-
um dos primeiros vendeiros Também existiam os pe- ça as mercadorias que os seus
de Brusque chamava-se Mota. quenos vendeiros do interior vizinhos podiam dispor para
Era um homem de boa índole, da colônia, conhecidos entre venda. Essas mercadorias
pouco ativo, porém, no ter- os imigrantes como “Hinter- eram trocadas ou vendidas
reno comercial. Os vendei- land”. Eram vendas peque- na “Stadtplatz” aos vendei-
ros propriamente ditos, isto nas, de importância secun- ros, ou de casa em casa para
é, aqueles que consideravam dária, que se localizavam nos os fregueses e, assim como os
seu dever explorar todas as entroncamentos de picadas donos das “Kaufläden” ou das
possibilidades que se lhes e tinham características de “Hinterland”, o “pombeiro” fi-
ofereciam, aproveitando-as entreposto de trocas, pois cava com os possíveis lucros
plena e conscientemente, es- na prática estes vendeiros dessas transações.
ses surgiram mais tarde e jus- - que também eram colonos A jovem Colônia Itajahy
tamente quando a capacida- e tinham como atividade su- -Brusque começou a florescer
de produtora da colônia era plementar, na sua residência, desde os seus primeiros dias,
questão resolvida. Sobressa- uma pequena venda - eram porque os dois fatores do pro-
em entre todas as vendas as intermediários dos vendei- gresso – lavoura e venda - se
de Krieger, Bauer, Buettner e ros da “Stadtplatz”. Nela se reuniram em perfeita harmo-
Willerding; esta última, que encontravam alguns produ- nia, criando, assim, a base se-
era apenas uma filial, passou tos de primeira necessidade, gura do bem-estar comunal.
às mãos de Carlos Renaux em como alimentos e pequenas A participação dos vendeiros
1886. ferramentas. O nível de tran- era muito importante na eco-
Era considerável o movi- sação comercial nessas ven- nomia da novel Colônia Ita-
mento de mercadorias entre das era muito baixo, e os esto- jahy-Brusque. Eles exporta-
a colônia e a venda. Dia após ques bastante reduzidos. vam madeira serrada, açúcar,
dia as carroças puxadas por Seyferth (1974) menciona farinha de mandioca, fumo
cavalos passavam rangendo ainda que havia um terceiro em folha e charutos. A aguar-
ou levando as mercadorias da elemento: o intermediário, dente, o arroz, a manteiga e
venda, um verdadeiro entre- chamado “pombeiro”, que fa- a banha também integravam
posto dos produtos da lavou- zia circular mercadorias en- o rol das exportações. Eram
ra e das mercadorias. As ven- tre os colonos e os vendeiros. importados ferragens, panos,
das eram, ao mesmo tempo, Muitos colonos, instalados vidros, louças, cimento, sal e
uma espécie de bolsa. Toman- em linhas coloniais distan- outros utensílios de uso do-
do café e comendo doces, os tes da vila, como Sternthal, méstico e de recreio. A econo-
colonos trocavam suas ideias, Holstein e Hochebene (Gua- mia encontrava-se alicerçada
e na conversa comum sobre biruba), tinham dificuldades nos engenhos de açúcar, de fa-
134
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
rinha de mandioca e de serrar vavelmente ao todo), uma fá- a pique, cobertas de folhas de
madeira. Além das destilarias brica de vinagre, dois hotéis, sapé; casas mais sólidas de
de aguardente, das atafonas, quatro casas de negócio, além uma vez ou outra armação
das fábricas de charutos, das de um serviço de viação flu- de madeira e enchimento de
olarias e das fábricas de cer- vial, contando com 15 canoas tijolo.
veja. E, assim, as transações e cinco lanchas para passa- Conseguira a colônia refa-
comerciais na colônia desde gens e transportes no Itajaí- zer-se, em pouco tempo, das
a sua fundação até a primei- Mirim. misérias dos primeiros anos.
ra década do século XX foram Com os novos imigrantes Os resultados obtidos com a
controladas pelos principais chegando, no decorrer dos colonização de Brusque eram
comerciantes de Brusque, e, anos, havia pessoas que, em bem animadores. A dualida-
entre os vendeiros de desta- vez de se dedicarem à lavou- de: colônia e venda, por pro-
que no final do século XIX e ra, preferiram exercer o ofício blemática que fosse durante
início do século XX, vamos en- que haviam aprendido. Em os decênios passados, não
contrar os Bauer, os Buettner, 1863 havia em Brusque: três deixou, com todas suas im-
os Krieger e os Renaux, den- ferreiros, dois marceneiros, perfeições, de produzir óti-
tre outros. dois padeiros, três moleiros, mos resultados. Foi ela que
dois construtores de carros, criou primeiro a abastança na
A indústria dois serradores, dois charu- colônia que assentou as bases
teiros, dois pedreiros, um jar- para o desenvolvimento da
Buggenhagen (1941) con- dineiro e um carniceiro. É de indústria.
ta que, a par dos bons resul- ver que já se notava alguma Foi só nos dois últimos
tados da lavoura, foi se desen- atividade industrial que com- decênios do século XIX, que
volvendo a respetiva pequena pensava os esforços dos que a a economia de Brusque atin-
indústria, embora em escala exerciam. giu um grau de adiantamen-
modesta. Assim, existiam já Assinala-se, até, para o to que permitia a criação de
em 1862 três engenhos para ano de 1863, uma exporta- uma indústria. Era indispen-
beneficiamento de milho, ção de 812 arrobas de fumo sável para tanto a existência
quatro engenhos de açúcar e e 48.000 charutos. As recei- de capital e de braços. O que
os de farinha, estes últimos tas provenientes das vendas era preciso havia-o, na Brus-
movidos à força de bois. Ha- começaram a cobrir a custo que de então, em modesta
via também alguns engenhos das mercadorias que vinham escala. Os vendeiros tinham
para beneficiamento de arroz. de fora: gêneros alimentícios, feito bons negócios, chegando
Abriram-se, ainda, outras em- ferragens, tecidos, louças, etc. a fazer algumas economias.
presas para acorrer às neces- Ao que se deduz das estatís- A população da colônia tinha
sidades gerais de população. ticas, a economia foi se de- aumentado o bastante. Nem
Existiam, já então, quatro cer- senvolvendo gradativamente; todos os imigrados que se
vejarias, com uma produção por toda parte foram surgin- haviam inicialmente dedica-
anual de 4.000 garrafas (pro- do novas casas, substituindo do à lavoura desejam conti-
as pobres construções de pau nuar nessa ocupação. Se lhes
135
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
João Bauer:
figura típica da época de transição
de predomínio da venda para o da indústria
Com os lucros tirados da colônia, os ven- buas que excediam o consumo local eram ata-
deiros conseguiram as somas necessárias das e amarradas em forma de jangada, sendo
para iniciar as indústrias. Dotados de ativida- conduzidas pelo rio Itajaí-Mirim abaixo, até
de comercial, conceberam novos projetos que a cidade de Itajaí, onde eram embarcadas
iam além dos moldes da venda. Começando para Santos ou Rio de Janeiro. O comércio de
pelas pequenas indústrias de beneficiamento madeiras ocupava um lugar especial na vida
dos produtos agrários, passaram para outras econômica, visto que o exercício do mesmo
maiores que aniquilaram por completo a in- pressupõe uma extraordinária mobilidade e
fluência da colônia e da venda. O representan- capacidade de adaptação.
te típico dessa época de transição é o Sr. João O comerciante de madeiras encontra-se
Bauer, que deu provas de extraordinária ativi- frequentemente, no exercício de sua profis-
dade em vários ensaios. são, diante de problemas tão complicados
No começo da colonização, trabalhou, ini- como raras vezes aparecem em outros ra-
cialmente, a 14 vinténs por dia, na constru- mos comerciais. Para vencer os obstáculos
ção de estradas. Tendo feito suas economias, do transporte desde o ponto de origem até o
abriu uma venda que ele dirigia, valentemen- mercado, é indispensável que o comerciante
te secundado por sua mulher. João Bauer era saiba encontrar continuamente novas solu-
vendeiro, mas toda a sua dedicação pertencia ções para as novas dificuldades que vêm sur-
ao comércio de madeiras. No último decênio gindo. Parece-nos bem provável fosse essa ca-
do século XIX, começou a desenvolver esse pacidade de adaptação multiforme que levou
ramo em uma escala bastante vasta em re- João Bauer a conceber muitos projetos que se
lação às condições do núcleo. Por toda parte afastavam bastante de seu raio de ação.
ainda havia ricas existências de madeiras em Bauer participou na navegação, manten-
rolos e das mais variadas qualidades, sobre- do com vários sócios um serviço de lanchas
tudo madeiras de lei. Havia abundância de no rio Itajaí-Mirim, onde ele dominava os
canela, peroba, de cedro e imbuia; menores transportes. Quando lhe surgiram, em Itajaí,
quantidades de cambará e óleo, e, raramente, dificuldades no transporte de madeiras para
pinho, cujo hábitat propriamente dito é o pla- o Rio de Janeiro, adquiriu, em Hamburgo, da
nalto de Santa Catarina. firma Augusto de Freitas, um vapor cargueiro
Bauer explorou as existências que, de outra de 600 toneladas, que então, fazia o transpor-
forma, seriam destruídas inutilmente na quei- te de madeiras para o Rio de Janeiro, trazendo
ma das roças. Mandou, para esse fim, instalar de lá mercadorias para a colônia. Mais tarde,
umas vinte serras alternativas, usando o siste- o vapor foi substituído por um veleiro de igual
ma Tissot para o desdobro de toras, na forma tonelagem. Outro grande projeto que chegou
de madeira serrada, e concedendo os respec- a realizar-se, foi o da montagem de uma usi-
tivos créditos aos colonos interessados. As tá- na elétrica, plano este que prova, pela execu-
136
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
ção, quão profunda era a compreensão de Sr. econômicas de Brusque e dos municípios
Bauer diante das necessidades que vinham se vizinhos. Algumas de suas concepções fo-
impondo, cabendo-lhe o mérito de iniciador ram produtivas, sendo realizadas por outros;
da eletrificação das fábricas e da iluminação umas poucas ele mesmo pôde executar com
de Brusque, que lhe devem também, e em boa sucesso. João Bauer é a figura típica da época
parte, abastecimento de água encanada. de transição de predomínio da venda para o
Esses empreendimentos desenvolveram- da indústria. Não conseguiu criar uma indús-
se satisfatoriamente; em vários outros João tria, mas foi inalcançável em suas tentativas
Bauer foi menos feliz. Em 1900, fundou, em de encontrar novas soluções para o problema
Itajaí, uma cervejaria que fabricava cerveja industrial.
de alta fermentação. O produto, porém, não A tarefa de realizar a transição coube a
correspondeu às expectativas, e a fábrica teve Carlos Renaux, que, em 1890, era proprietá-
de fechar. As jazidas de mármore em Cambo- rio de uma venda que ocupava o quarto lu-
riú, que hoje estão sendo exploradas, foram gar na sede do município. E essa evolução do
descobertas por João Bauer, faltando-lhe, en- município para uma forma mais aperfeiçoada
tretanto, o capital para realizar os planos res- de sua existência – convêm sublinhar o fato
petivos. Foi ele também o autor intelectual da – não seria possível, se o sistema da colônia
fabricação de féculas no município de Brus- e da venda não tivesse assentado as bases
que. E em 1913 encomendara, na Alemanha, (BUGGENHAGEN, 1941). E não seria exagero
o maquinário necessário para a fabricação. A afirmar que João Bauer reunia as principais
Guerra Mundial impediu a execução do pro- características de um empreendedor de su-
jeto. A vida de João Bauer caracteriza-se pela cesso: iniciativa, capacidade de planejamen-
atividade interrupta. Viajando muito, adqui- to, autoconfiança, liderança, perseverança e
rira profundo conhecimento das condições resiliência.
137
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Carlos Renaux com a esposa Selma Wagner e os filhos do casal. Acervo: Rosemari Glatz
naux. Eram todos “auslands- 1890: Bauer tas, foi Carlos Renaux, emi-
deuctche”, assim chamados os grado da Alemanha em 1882
imigrantes alemães que esta- A primeira tentativa de e que, depois de uma rápida
vam estabelecidos em territó- produção de tecidos no muni- passagem por Blumenau, em
rio polonês. cípio se desenvolveu com aju- 1884 viera estabelecer-se em
O fato, porém, de ter surgi- da dos imigrantes poloneses, Brusque. O jovem negociante
do uma indústria, e, sobretu- os conhecidos “tecelões de adotou e fez adotar no comér-
do, uma indústria têxtil, deve- Lodz”. Foi uma iniciativa do cio das vendas da pequena
se a um acaso. imigrante alemão João Bauer, praça, princípios até então
A historiadora Maria Luiza nascido na Baviera que havia desconhecidos. Ele acabou
Renaux (2010) escreveu que se estabelecido com a família com o sistema de troca entre
inicialmente o trabalho dos na região de Guabiruba, que colonos e vendeiros, único
tecelões poloneses em Brus- pertencia à Colônia Brusque. então em uso, adotando para
que era doméstico. Em teares Após a morte do pai, João grande parte de suas transa-
simples de madeira construí- Bauer se mudou para Brus- ções a base da moeda corren-
dos por eles próprios, teciam que e montou uma pequena te. A venda de Carlos Renaux
fios fornecidos pelos comer- loja. Comerciante e industrial foi aumentando cada vez
ciantes e, depois, revendiam bem-sucedido, era dono de mais a afluência da freguesia,
o pano pronto. Yankowsky, muitos empreendimentos, e de sorte que, em menos de
Kreibich e Petermann se es- foi pessoa atuante na comuni- dez anos, conseguira os meios
tabeleceram em terras no in- dade e na política. Em 1890, que o habilitariam a estudar a
terior de Brusque, acima do Bauer fez a primeira experi- realização de uma proposta,
centro de Guabiruba, no lugar ência de indústria de fiação e como a que lhe haviam sub-
chamado Sibéria. tecelagem em Brusque, mas metido os “tecelões de Lodz”.
Tietzmann esteve primei- o empreendimento têxtil não Se a venda por si não dispu-
ro em Blumenau, como tece- teve sequência. nha de bastante capital, em
lão da firma Hering. Depois compensação seu proprietá-
veio para Brusque, produziu rio gozava do crédito pessoal
tecidos para Carlos Renaux 1892: Renaux que tinha de negociantes ri-
em sua própria casa, até que, cos, e assim, em 1892, Carlos
mais tarde, este o financiasse De acordo com Buggenha- Renaux instalou, sob sua fir-
para abrir uma fábrica de ar- gen (1941), é provável que os ma individual, uma pequena
tigos de malha no centro da imigrantes alemães da região fábrica de tecidos. Eram seus
cidade. de Lodz tenham exposto a sócios Paul Hoepcke, irmão
Os demais poloneses, que- uma ou outra pessoa do lugar de Karl Hoepcke, do fundador
rendo transformar o caráter o seu projeto de fundar uma da conhecida firma comercial,
artesanal e doméstico de seu fábrica de tecidos, mas quem e August Klapoth. Um e outro
trabalho, procuraram Carlos lhes compreendeu o alcance retiraram-se, mais tarde, da
Renaux para que este consti- do plano e estava disposto a ir empresa. Na estrada dos Po-
tuísse uma fábrica de tecidos. ao encontro de suas propos- meranos, Renaux adquiriu
145
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
um terreno, o mesmo onde campo, ao ar livre, expostos nuais. Os fios vinham tingidos
hoje ainda se encontra a an- às inclemências da chuva e do da Europa. A importação re-
tiga fábrica. Não demorou a sol. Mal estavam montadas as presentava já por si um ônus
compra de 30 teares usados máquinas, quando surgiram bastante gravoso para o custo
e antiquados, na Inglaterra, as dificuldades do início, com dos produtos.
metrópole da indústria têxtil, maior evidência. Não eram No princípio, a fábrica pro-
os quais foram embarcados somente os problemas pura- duzia somente artigos sim-
num vapor para serem trans- mente técnicos que criavam ples, de acordo com as insta-
portados para o Brasil. dificuldades. Havia falta de lações imperfeitas. Eram os
A princípio, tudo parecia operários práticos, na colônia. chamados “suíços” que com-
falhar. A chegada das máqui- Os tecelões de Lodz tiveram preendiam o algodão xadrez
nas a Itajaí coincidiu com a que fazer um esforço espe- vermelho e branco e os risca-
revolta contra Floriano Pei- cial para encaminhar para o dos para camisas e calças para
xoto, ficando paralisada toda trabalho na tecelagem os ho- homens, destinados ao con-
a vida econômica e os servi- mens acostumados aos traba- sumo das colônias. Essa espé-
ços de transportes do país. lhos da lavoura. O maquinário cie de fabricados também era,
Os teares que, justamente se era incompleto, certos pro- talvez, a única que poderia
achavam no caminho de Ita- cessos maquinais tinham que ser vendida, na praça, com al-
jaí para Brusque, ficaram al- ser substituídos de maneira guma probabilidade de êxito.
gum tempo abandonados no primitiva, por operações ma- Os colonos não podiam deixar
146
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
fusos à firma Platt Bros & Co, pletando-se dessa maneira, Durante a Guerra Mundial ele
de Oldham, Inglaterra. Em organicamente a instalação. O comprou parte do algodão ne-
1900, montada a fábrica, não tingimento processava-se de cessário na América do Norte.
tardaram a surgir as mesmas uma forma primitiva. Tingia- Além dos embaraços criados
dificuldades que se haviam se em cubas os fios torcidos pela nova matéria-prima, já
verificado nos primeiros tem- em cordões e as opções de por si desagradáveis, sentia-
pos da fábrica de tecidos. cores eram poucas. Entretan- se sobretudo a já crônica fal-
A experimentação indis- to, é de constatar que, até a ta de capital para a cobertura
pensável das máquinas, fun- época após a Guerra Mundial, das despesas de movimento
cionando ainda sem o ma- os êxitos da fábrica não foram e para a aquisição de um ma-
terial de fabricação, levou muito satisfatórios, devido às quinário têxtil moderno. Na
pouco tempo, mas depois foi circunstâncias contrárias já expansão do mercado tudo
preciso iniciar a produção de citadas. dependia da qualidade dos
fios com homens que nunca Nascera, porém, nova difi- produtos. Os da fábrica Re-
tinham visto uma máquina de culdade, a de conseguir o al- naux não podiam rivalizar
fiação e menos ainda haviam godão apropriado. Buggenha- com a mercadoria estrangeira
manejado. Além disso, havia gen conta que antes de 1914 em padrões e apresentação.
as questões climáticas, ora ainda não se produzia algo- Distinguiam-se, porém, entre
muito úmido, ora muito seco. dão no estado de São Paulo, os produtos nacionais, pelos
A preparação inicial do algo- sendo plantado, apenas no preços módicos e a qualidade
dão para a fiação tinha que norte do Brasil. Esta tinha as superior, e, sobretudo, pela
ser feita à mão, por falta das fibras bastante heterogêne- boa coloração fixa que nas
máquinas apropriadas. O al- as, de sorte que se fazia mis- cores vermelha e preta criou
godão era pesado em peque- ter uma segunda preparação a fama dos tecidos Renaux.
nas balanças. Só aos poucos, na fiação. Ficou, assim, mui- A freguesia do artigo compu-
tudo foi se acomodando e os to prejudicada a capacidade nha-se, até então, principal-
operários foram se habituan- produtora da fábrica. Acres- mente de caboclos e colonos
do ao manejo das máquinas. cia que o algodão era forne- que trabalhavam no campo.
A fábrica de fiação de Renaux cido em estado sujo e cober- Buggenhagen (1941) in-
foi a primeira instalada em to de areia, resultando numa forma que um quadro com-
Santa Catarina. Prestara-se percentagem relativamente parativo demonstra que en-
um serviço extraordinário alta de resíduos. O comércio tre os anos de 1900 até 1918,
com essa instalação, pois de- de tipos de algodão ainda se efetivamente, se verificaram
ra-se, assim, uma base segu- achava nos começos, e, na lucros nas indústrias Renaux;
ra à fiação que pôde, desde prática, não merecia confian- embora não tenham sido ex-
então, dispensar os fios im- ça. Renaux comprava a ma- cessivos. A Guerra Mundial
portados a preço muito mais téria-prima, de preferência, também não pôde dar impul-
elevados. Alguns anos depois, por intermédio da firma Uss- so especial à novel indústria,
anexou-se à fiação Renaux laender que tinha seus agen- porque o poder aquisitivo
uma seção de tinturaria, com- tes compradores no Norte. da população rural se acha-
148
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
va bastante reduzido. Mas, mais velho do casal, Edgar, e De acordo com Renaux
mesmo assim, a Renaux con- guarda relação com a produ- (2010), graças ao empenho
seguiu liquidar, em 1917, os ção artesanal de aventais por pela qualidade, a partir de
grandes créditos da firma A. Albertine, toalhas de mesa, 1906 novas oportunidades
O. de Freitas, de Hamburgo, colchas e cortinas bordadas foram surgindo para a Buett-
que continuavam consumin- com máquinas à manivela por ner, que teve seus artigos es-
do os lucros da empresa, pre- Idalina, esposa do filho Edgar. peciais, as cortinas bordadas,
judicando o seu progresso. A origem da empresa encomendadas para as re-
Deve-se esse resultado, antes Buettner guarda relação partições públicas do Rio de
de tudo, à tenacidade e perse- com a produção artesanal de Janeiro (Palácio Monroe, Rio
verança de Renaux, seguido aventais e toalhas bordadas. Negro, do Catete, Biblioteca
pela boa qualidade dos seus Albertine foi quem iniciou a Nacional). Depois no merca-
produtos e, fator não menos primeira confecção em Brus- do local, que se estendeu pelo
importante: a feliz escolha que: talhava pessoalmente estado. O primeiro absorve-
dos seus colaboradores. aventais que mandava costu- dor dos tecidos bordados foi
rar por mulheres costureiras o Rio de Janeiro e, no Nordes-
1898: Buettner da vila. te, a Bahia.
Quando Eduard, seu espo- Seu mercado era constitu-
A segunda manufatura têx- so, desviveu, Albertine pre- ído principalmente por pes-
til de Brusque foi uma empre- cisou tomar as rédeas dos soas abastadas, mas também
sa de bordados finos, a “E. v. negócios da família. Com seu pela classe média, atendendo
Buettner e Cia.”, que durante filho mais velho, Edgar, fun- ao costume de presentear as
algum tempo manteve em pa- dou a E.v.Buettner e Cia., com filhas com guarnições borda-
ralelo aos negócios têxteis o a importação de armações das para o enxoval. Certo tipo
beneficiamento de produtos para sombrinhas – proteção de mercadoria era também
coloniais. Em 1873 Eduard imprescindível das peles cla- despachado para a Alema-
von Buettner havia se mudado ras das mulheres europeias nha, constando como atraen-
para Brusque com a família, em nosso país tropical - as tes os motivos brasileiros nos
onde foi proprietário de uma quais então eram forradas padrões. Com a expansão do
loja de fazendas, secos e mo- com filó – também importado mercado, o estabelecimento
lhados e armarinhos, além de – e bordadas com as máqui- fabril consolidou-se, deixan-
torrefação e moagem de café nas à manivela, trazidas por do de depender dos altos cré-
e serrarias. A “E. v. Buettner seu filho mais velho da Ale- ditos particulares. Em 1912 a
e Cia.”, precursora da Buett- manha, e instaladas em 1900. firma, sob influência do polí-
ner S/A Indústria e Comércio, A empresa começou pequena, tico itajaiense Lauro Müller,
surgiu em 1898, fundada por com duas máquinas a pedal então Ministro das Relações
Albertine Burow, esposa do nas quais se confeccionava Exteriores, obteve o primeiro
vendeiro Eduard von Buett- sombrinhas, aventais, corti- crédito bancário. Os borda-
ner, em sociedade com o filho nas, mosquiteiros e pano de dos da fábrica Buettner foram
bordar. várias vezes premiados em
149
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Fábrica da Buettner, localizada onde hoje está a Praça Sesquicentenário. Acervo: Rosemari Glatz
151
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
A Guarda Nacional
e os Coronéis de Brusque
Em 1831, D. Pedro I abdi- do país para os próprios cida- los presidentes de províncias.
cou ao poder, porém, como dãos. Assim, a Guarda Nacio- O brasileiro com idade entre
seu filho tinha apenas 5 anos nal foi criada com o propósito 18 e 60 anos, saudável e com
o Brasil foi governado por um de defender a constituição, renda mínima para ser elei-
sistema regencial. Depois de a integridade, a liberdade e tor, era obrigado a se alistar
três meses de uma Regência a independência do Império para a Guarda Nacional.
Provisória, em junho de 1831 Brasileiro. Os únicos que não estavam
teve início “Regência Trina A Guarda Nacional tam- incluídos nesta lista eram as
Permanente”. bém simbolizava a ordem autoridades administrativas,
Uma das primeiras me- elitista da sociedade, pois os judiciárias, policiais, mili-
didas do novo governo foi a cargos assumidos na insti- tares e religiosas. As tropas
criação, no dia 18/08/1831, tuição estavam diretamente não eram remuneradas, no
da Guarda Nacional, com base associados à renda e à cor entanto tinham as obriga-
na experiência da França, que da pele, sendo as patentes ções de prestar serviço até os
havia transferido a segurança mais elevadas nomeadas pe- 60 anos, de providenciar seu
153
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Francisco Carlos
de Araújo Brusque
Francisco Carlos de Araújo
Brusque foi nomeado Presi-
dente da Província de Santa
Catarina, em 06.09.1859, por
ato do Imperador, vindo a
substituir João José Coutinho.
Naquele tempo, Araújo Brus-
que era deputado da Assem-
bleia Geral Legislativa pela
Província do Rio Grande do
Sul. Acompanhado da família,
chegou a 20 de outubro de
1859, a bordo do vapor “Prin-
cesa de Joinville”. Desembar-
caram no trapiche da Alfân-
dega de Desterro, de onde
seguiram para o Palácio. To-
mou posse da administração
catarinense no início da tarde
do dia 21, com as formalida-
des de costume. Os festejos
de recepção envolvendo as
forças políticas duraram até
meia-noite.
A árvore genealógica de
Araújo Brusque revela ascen-
dência de alta fidalguia. Seu Francisco Carlos de Araújo Brusque, enquanto Presidente da Província
avô, Nicolau Bruscchi, era de Santa Catarina, acompanhou pessoalmente os primeiros imigrantes
à Colônia Itajahy, fundada em 4 de agosto de 1860. Em sua homenagem a
um nobre de Florença (re- cidade recebeu seu nome. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera.
gião da Toscana, Itália) que Acervo: Rosemari Glatz
se instalou em Portugal por
volta de 1762. Conquistou a Uma curiosidade: a família utilizou o sobrenome
confiança do rei e foi nome- Bruscchi até 1846, quando passou a assinar
ado Mordomo-Mor do Paço. a forma abrasileirada do nome: Brusque.
155
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Nicolau se casou em Lisboa tal, onde se filiou ao Partido acompanhado da família, dei-
com Ana Joaquina Vieira de Liberal. Católico praticante, xou Santa Catarina. Foi Minis-
Aguiar e Almada, que perten- casou-se com Cecília Amália tro da Marinha e interino da
cia à alta nobreza lusitana. O de Azevedo, com quem teve 7 Guerra. Retirou-se da política
nome de Nicolau Bruscchi foi filhos: Francisco Carlos; José; em 1875, passando a exercer
inscrito nos registros da fidal- Arthur; Raphael; Emma; Ho- a advocacia. Possuía os títulos
guia portuguesa, com direito ráclito; Cecília e Francisca. de Oficialato da Rosa, o Hábi-
de transmitir a todos os seus De estatura pequena, magro, to de Cristo e a Grã-Cruz do
descendentes os privilégios olhos pretos e vivos, seus ca- Leão Neerlandês.
decorrentes. belos escuros ao tempo de es- Brusque faleceu repenti-
Em 1808, a transferência tudante se tornaram brancos namente, na cidade gaúcha
da Família Real portuguesa já aos 40 anos. de Pelotas (RS), em 23 de
para o Brasil fez com que a Foi eleito deputado à As- setembro de 1886. Em 1998,
família Bruscchi se separasse. sembleia Provincial em 1849, com honras de Chefe de Esta-
Nicolau, o pai, permaneceu 1854 e 1856. Fez as campa- do, seus restos mortais foram
em Portugal, com a esposa nhas do Sul e obteve a meda- transladados de Pelotas para
e os filhos José Luís e Maria lha de mérito militar de ouro, Brusque por ocasião dos fes-
Amália, administrando os com honras de coronel. Como tejos dos 138 anos da cidade.
bens da Família Real. Dois fi- deputado à Assembleia Geral, Seus restos mortais foram de-
lhos, João e Vicente, militares, figurou pela sua Província de positados, sob os acordes do
acompanharam a Real Famí- 1856 a 1859 e pela Provín- pistão de Pedrinho Knihs, no
lia no seu êxodo para o Brasil. cia do Amazonas, de 1863 a monumento construído junto
Vicente foi incorporado ao 1866. De 1873 a 1875 vol- à Sociedade Amigos de Brus-
Exército do Vice-Reinado e, tou ao Parlamento ainda pela que e de Apoio ao Museu His-
em janeiro de 1818, foi pro- Província do Amazonas. tórico do Vale do Itajaí-Mirim
movido a Tenente-Coronel de Ocupou a Presidência da – SAB/CASA DE BRUSQUE,
Milícias. Na Capitania de São Província de Santa Catari- com a lápide original, esculpi-
Pedro do Rio Grande, Vicente na durante um curto espa- da em mármore de Carrara há
se casou com Delfina Carlo- ço de tempo, 21.10.1859 mais de um século.
ta de Araújo Ribeiro, filha do a 17.04.1861, mas na sua
Comendador José Antônio de gestão, além da Colônia Ita-
Araújo Ribeiro, de nobre as- jahy-Brusque, também foram
cendência lusitana. instaladas as Colônias de Te- REFERÊNCIA
Francisco Carlos de Araú- resópolis e Angelina, todas
jo Bruscchi, filho de Vicente em 1860. Atendendo aos ape- Álbum do 1° Centenário de
e Delfina, nasceu em Porto los do Imperador, em 20 de Brusque – Edição da Socieda-
Alegre no dia 24.05.1822. Di- março de 1861 Araújo Brus- de Amigos de Brusque. 1960.
plomou-se na Faculdade de que concordou em assumir a KONS, Paulo Vendelino. A
Direito de São Paulo em 1845 Presidência da Província do vinda do Conselheiro que deu
e depois voltou à terra na- Grão-Pará e em 22.04.1861 e o nome a Brusque. 2018.
156
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Barão Maximilian
von Schneeburg
Maximilian von Schnee-
burg (Maximiliano von Sch-
neeburg, em português), ca-
tólico, foi o primeiro diretor
da Colônia Itajaí-Brusque, ad-
ministrando-a honradamen-
te e com especial dedicação
desde a sua fundação, em 4
de agosto de 1860, até o seu
afastamento da função por
motivos de saúde, em abril de
1867. Organização e discipli-
na são palavras que descre-
vem adequadamente as suas
características enquanto ad-
ministrador.
Schneeburg pertencia a
uma antiga família nobre ger-
mânica, detentores do títu-
lo nobiliárquico de Freiherr,
cuja posição na nobreza lati-
na equivale-se à do barão. O
Freiherr, com significado de
Barão, pertenceu à nobreza
durante o Sacro Império Ro-
mano. Na Áustria e na Ale-
manha este título existia até
1919 e, com a abolição da no-
breza, são legalmente elimi-
nados do nome.
O pesquisador Dirschnabel
(2018) nos brinda com infor- O Barão Maximilian von Schneeburg foi o primeiro diretor da Colônia Ita-
mações relevantes sobre a jahy-Brusque. Minucioso na documentação, era um governante preocupado
família Schneeburg. Baseado e sempre voltado à responsabilidade que o cargo exigia. Em 15 de outubro
de 1865, acompanhou até a vila de Itajahy, os 25 “Voluntários da Pátria” que
no livro escrito em 1845 por partiram da colônia para lutar pela sua nova Pátria – Brasil - na Guerra do
Beda Weber, ele informa que Paraguai. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
157
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
ao pastor a direção da Colônia lônia em abril de 1867, com o -Húngaro, e hoje pertencente
quando, por força do cargo, “coração na mão”, para nunca à República Tcheca. O Barão
viajava a Itajaí ou Desterro. mais voltar. Quase cego, por- Maximilian von Schneeburg
Apesar de pedir com insistên- tador de afecção ocular, o foi sepultado no cemitério pa-
cia, ele rogar, de implorar até, primeiro diretor da Colônia roquial em Franzensbad, no
empregando uma linguagem Itajahy-Brusque foi conduzi- dia 18 de setembro de 1869,
simples e franca que lhe era do de canoa pelo colonizador e o padre St. Johan Wenig, de
característica, o nosso pri- Johann Kormann, imigrante Cheb, realizou a cerimônia fú-
meiro diretor não chegou a alemão instalado em Guabiru- nebre.
ver a Casa de Orações na sede ba, sacristão e acompanhante
da Colônia pela qual tanto se do padre Alberto Gattone, até
empenhou. a vila de Itajahy. Kormann le- REFERÊNCIAS
Mosimann (2010) conta vou von Schneeburg ao velei-
que não se sabe se o Barão ro que o conduziu até o Rio Blumenau em Cadernos.
costumava frequentar as ta- de Janeiro, e foi seu último Diário de Viagem do Imigran-
vernas, provavelmente não, amparo em terras catarinen- te Paul Schwarzer. Arquivo
e que o círculo de amizades ses. Depois de algum tempo, Histórico José Ferreira da Sil-
do diretor naqueles primór- sem encontrar os recursos va, tomo XXV, nº 9, 1987.
dios da colônia parecia res- médicos para o alívio de sua DIRSCHNABEL, Roque
Luiz. Entrevista concedi-
tringir-se aos raros homens doença, e pouco antes da sua
da à autora, por e-mail, em
diplomados da aldeia. Mas, morte, Schneeburg voltou
9/09/2018, a partir de tra-
segundo os próprios escritos para sua pátria de origem. Vi-
dução livre do alemão gótico
do Barão Maximilian von Sch- veu seus últimos dias junto à
para o português, de partes
neeburg, no início da noite sua meia-irmã, residindo em do livro de Beda Weber, “Me-
ele costumava sair um pouco, Franzensbad nº 15, onde des- ran und Seine Umgebungen,
vela de sebo na mão para ilu- viveu no dia 16 de setembro oder das Burggrafenamt von
minar o caminho, visitando de 1869, aos 70 anos. Naque- Tirol: Für Einheimische und
o agrimensor Germano Thie- la época, Franzensbad, Cheb Fremde”. Arquivo Nacional da
me, que morava bem próximo (Eger), pertencia ao Reino Áustria, 1845.
da casa da Diretoria, ou o Sr. da Boêmia, Império Austro GEVAERD, Ayres. Blume-
Ewert Knorring, marido de nau em Cadernos. Arquivo
Augusta von Knorring, pri- Em 1964, o Barão foi Histórico José Ferreira da
meira professora pública da homenageado quando a Silva. Blumenau. Diversas pu-
Colônia. Morando na própria praça central de Brusque blicações escritas a partir dos
casa da Diretoria, na Stad- passou a ser denominada documentos da então Colônia
tplatz, o Barão costumava ir Barão von Schneeburg. Itajahy-Brusque, disponíveis
jantar na casa particular do Em 2017, ele também na Casa de Brusque.
Dr. Eberhard, onde pagava foi homenageado como MOSIMANN, João Carlos.
pensão de alimentação. As famílias de Brusque, Gua-
Patrono da Academia de
Seriamente doente, o Ba- biruba e Botuverá – Nos me-
Letras do Brasil de Santa
rão Maximilian von Schnee- andros do Itajaí-Mirim. Flo-
Catarina, Seccional de rianópolis: Edição do autor.
burg deixou sua querida Co-
Guabiruba. 2010.
160
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Pedro Werner e a esposa Catharina Palm em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
161
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
João Bauer e a esposa Maria Olinger em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
Na época áurea da sua por João Belli, Osvaldo Gleich ração. (Livro de Contratos da
grande expressão co- e Guilherme Diegoli, objeti- Superintendência de Brusque
mercial, social e política, vando aproveitar o salto de - Arquivo da SAB).
a família de João Bauer Planície Alta que conduziria Em dezembro de 1912, com
oferecia bons banquetes. suas águas ao grupo de turbi- as obras em pleno andamen-
Naquelas oportunidades, nas e geradores instalado nas to, João Bauer realizou um pi-
os nomes e as assinaturas imediações. quenique nas imediações da
em autógrafos dos ilustres Aprovado o estudo foi Represa no qual participaram
convivas eram marcados montada a Usina com dois mais de 250 convidados e a
na ampla e alva toalha de conjuntos de turbinas e ge- Banda Musical «Concórdia».
mesa. Depois, essas assina- radores com 135 KWA cada Dava João Bauer um teste-
turas eram pacientemente um, totalizando 270 KWA. Se- munho público de sua grande
revestidas de fios bordados, guiu-se a linha de fios com 14 obra, em ambiente agradável
sem que escapasse qual- quilômetros com capacidade e festivo. Nos primeiros me-
quer detalhe. para transportar 5.000 volts ses de 1913 com os postes já
até a estação distribuidora instalados nas citadas ruas,
seda natural com teares de construída no início da rua a título experimental, foram
ferro, e uma fábrica de gelo, das Carreiras. Na Villa os pos- beneficiados os primeiros
possuindo também engenhos tes de ferro foram levantados consumidores: o famoso cine-
de serrar madeira, de arroz e nas ruas Barão de Ivinheima ma do Willy Strecker, o salão
de farinha. Como comercian- (Carlos Renaux), Carreiras, e o hotel do Schönen Wilhelm
te, possuía armazém e loja de Conselheiro Willerding (Ruy sede do Clube 4, o salão dos
fazendas e armarinhos. Barbosa), Lauro Müller (par- Atiradores, algumas casas e a
cial), Barão do Rio Branco iluminação pública, parcial.
A primeira (parcial) e 15 de novembro. Finalmente, no dia 13 de
Antes do Conselho Muni- novembro de 1913 foi inau-
usina de energia cipal conceder-lhe privilégio gurada oficialmente a Usina
elétrica na região para instalar eletricidade na hidroelétrica de João Bauer.
Vila (8 de junho de 1912 - Re- Exatamente às 18h30, o su-
De acordo com Ayres Ge- solução nº 39), João Bauer ti- perintendente Guilherme
vaerd (1973), em 1911 João nha iniciado a montagem. Krieger procedeu a ligação,
Bauer iniciou estudos para No dia 10 de agosto se- iluminando um belo lustro
instalar energia elétrica em guinte foi firmado o contrato instalado na Superintendên-
condições de movimentar as assinando o documento Gui- cia.
indústrias e o comércio, pro- lherme Krieger, Superinten- Na oportunidade discursa-
porcionar iluminação pública dente, e João Bauer, servindo ram as seguintes personali-
e particular na então Vila de de testemunhas Otávio de Oli- dades: Dr. Bento Portela, juiz
Brusque. Para tanto contra- veira e Godofredo Mosimann. de direito; Vicente Schaefer,
tou os serviços de um enge- O contrato, com 26 cláusulas, em nome do Superintenden-
nheiro, Max Selinke, auxiliado estabeleceu 30 anos de du- te; professor Trajano Marga-
165
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
rida; padre Henrique Müller, tada no ato pelo Sr. Cel. José
A grande contribuição
vigário, e o engenheiro Max Ramão Junqueira e Cel. Pe-
de João Bauer para o pro-
Solinke. As bandas “Concór- dro Christiano Feddersen e
gresso econômico de San-
dia” e “Liberdade” abrilhan- a Superintendência Munici-
ta Catarina foi aproveitar
taram a solenidade. Nesse pal de Brusque representada
o salto d’água da Planície
mesmo dia, 13 de novembro, pelo substituto em exercício
Alta, em sua fazenda na
João Bauer festejava mais um Carlos Gracher, entre outras
Guabiruba do Sul, para
aniversário de seu nascimen- cláusulas, obrigava a primei-
instalar a primeira usina
to. Apesar de sua avançada ra parte a respeitar o contrato
hidrelétrica e introduzir a
idade, João Bauer cuidou de celebrado com João Bauer e a
energia elétrica na região.
sua usina, durante nove anos. Superintendência em 10 de
A inauguração aconteceu
No início da década de 1920 agosto de 1912 com relação
no dia do aniversário de
a usina não tinha mais condi- ao fornecimento de energia
João Bauer, 13 de novem-
ções suficientes para suprir a elétrica a Brusque. Testemu-
bro de 1913 quando, às
cidade e suas indústrias. nharam o ato, João de Freitas
18h30, o superintendente
Alguns contratempos apa- e Adolfo Ulrich e como secre-
Guilherme Krieger acio-
receram com as condições da tário Francisco Adolfo Otto
nou a chave. Ao som de
represa e do canal condutor (GEVAERD, 1973).
bandas musicais, autorida-
de água, assim como aspectos
des e populares desfilaram
técnicos na rede.
pelas ruas de Brusque,
Teve dissabores sérios in-
agora iluminadas. Com
clusive uma ação penal que
disponibilidade de ener-
lhe moveu uma empresa que
gia elétrica, a atividade
se sentiu prejudicada com a
industrial recebeu grande
falta temporária de energia.
impulso e a demanda por
Não contando com pessoa ou
energia elétrica em Brus-
que foi aumentando. Logo
pessoas que se interessassem REFERÊNCIAS
na continuidade de suas or-
a usina já não tinha mais
ganizações e principalmente GEVAERD, Ayres. Blume-
capacidade para atender
de sua usina, João Bauer re- nau em Cadernos. Arquivo
a demanda, e no ano de
solveu negociá-la. Antes havia Histórico José Ferreira da Sil-
1922 Bauer transferiu a
reduzido as atividades indus- va, Tomo XIV, nº 9. Blumenau:
usina para a Empresa For-
triais e comerciais. setembro de 1973.
ça e Luz Santa Catarina.
A transação consumou-se O Estado. Florianópolis, 13
No local onde funcionou a
no dia 12 de agosto de 1922 de novembro de 1949. Dis-
usina ainda permanecem
com a Empresa Força e Luz ponível em: <http://hemero-
instalados alguns equi-
Santa Catarina, sediada em teca.ciasc.sc.gov.br/oestado-
pamentos, possibilitando
Blumenau. fpolis/1949/EST194910622.
uma verdadeira viagem
O termo de compromisso pdf>. Acesso em 3 setembro
no tempo.
entre a Empresa represen- 2018.
166
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Guilherme Krieger e esposa Carolina Jungblut em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
(2018), Wilhelm, Karl Johann, (1850-1892), casado em pri- (1860) e Wilhelm Karl (1865).
Jakob, e Johann Philipp eram meiras núpcias com Auguste O terceiro filho do casal
filhos de Carl Krieger, lutera- F.L. Kuchenbäcker e em se- Carl Krieger e Anna Elisabe-
no, nascido em 17/03/1793, gundas núpcias com Henriet- tha Cullmann era Wilhelm
em Hettstein, principado te E. Kuchenbäcker; Caroline Krieger, que nasceu em Al-
(Fürstentum) de Birkenfeld, (1851); Emilie (1853-1933), genrodt no dia 15/01/1824.
Grão-Ducado (Großherzo- casada com Wilhelm Müller; Por ocasião da chegada à
gtum) de Oldenburg, hoje Catherine (1854-1855); Carl Colônia Itajahy-Brusque,
comarca (Kreis) de Birken- (1855); Laura (1857-1908), Wilhelm declarou ser pa-
felf, Renânia Palatinado, Ale- casada com August Albert deiro e faleceu em Brusque
manha. Em 28 de agosto de Wilhelm Ristow; Charlotte em 11/10/1875. Era casado
1816, Carl Krieger se casou (1859) e Rudolf (1863 - an- desde 31/03/1846 com Ca-
com Anna Elisabetha Cull- tes de 1865). Segundo Mosi- tharina Reichardt, nascida em
mann, e faleceu em Algenrodt mann (2010), o grande maes- 1826, e falecida em Brusque
no dia 18/08/1839. Sabe-se tro Aldo Krieger, nascido em no dia 12/06/1897. Filhos
que Carl e Anna Elisabetha ti- Brusque em 1903 e fundador de Wilhelm e Catharina: Wi-
veram quatro filhos que, jun- do Conservatório de Músi- lhelm (1847-1932), conheci-
to com suas esposas e filhos, ca de Brusque, descendia de do como “Coronel Guilherme
emigraram para o Brasil. Gustav Phillip Krieger, segun- Krieger”, casado com Carolina
O mais velho dos quatro do filho de Jakob Karl Krieger. Jungblut, e sobre o qual vol-
irmãos Krieger, Johann Karl, Jakob Krieger (em por- taremos a tratar mais adian-
(em português: João Carlos tuguês: Jacó Krieger), nas- te; Caroline (1848-1851);
Krieger), nasceu em Hetten- ceu em Algenrodt no dia Gustav (1850-1851), Gustav
rodt no dia 04/06/1819. Por 01/08/1821. Não há dados (1851) casado com J. F. Alber-
ocasião da chegada declarou de quando e onde faleceu. Por tina Kreidlow; Helene (1854-
ser tintureiro. Faleceu em ocasião da chegada declarou 1866); Wilhelmine (1855);
Brusque em 20/09/1881. Era ser lapidário e recebeu terras Ferdinand (1858-1858);
casado desde 02/04/1845 em Weiherstrasse (atual bair- Eduard (1859), casado com
com Marie Caroline Krum- ro Aymoré), Guabiruba. Em Bertha Friedericke Maria Zir-
menauer, que nasceu em Het- 20/12/1842, se casou com cke; Ferdinand (1862-1866);
tenrodt no dia 13/11/1820, Louise Schmidt, nascida em Johan Karl Frederick (1865)
e faleceu em Brusque em 02/11/1822 em Algenrodt. e Maria (1868), casada com
07/01/1897. Filhos de Car- Filhos de Jacob e Louise: Lui- Leonardo Monegaglia.
los e Marie Caroline: Juliane se (1844-1928), casada com O mais novo dos quatro
(1844-1930), casada com Johan Ludwig Meyer; Ludwig irmãos se chamava Johann
José Galm; Karl (1845-1846); (1845), casado com Friederi- Philipp Krieger (em portu-
Wilhelm Philipp (1846- cke Müller; Jakob (1847), ca- guês: Felipe Krieger), nas-
1889), casado com Gertru- sado com Luise Conrad; Lina cido em Algenrodt no dia
des Kannengiesser; Caroli- (1851); Otto (1854-1856); 23/07/1832, e falecido em
ne (1848-1850); Jakob Karl Karoline (1857-1865); Otto Brusque em 23/11/l891. Por
168
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Casarão Krieger, depois vendido para a família Renaux. Atual avenida Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB
ocasião da chegada declarou setembro de 1863, trazendo nen Wilhelm”, casado com
ser boticário e lavrador. Era consigo a filha Charlotte. Se- Ida Scheurich, e que prosse-
casado desde 24/08/1854 gundo Krieger (2018) Johann guiu com os negócios de ho-
com Maria Catharine Sch- e Maria Catharine tiveram telaria do pai; Rudolf (1871),
midt, nascida em Elchweiler os seguintes filhos: Philipp casado com Therese Piets-
em 26/02/1837, e falecida (1856); Charlotte (1857- ch; Hermann (1875-1913),
em Brusque em 19/09/1891. 1903), casada em primeiras casado com Bárbara; Emil
Mosimann (2010) conta que núpcias com Hermann Wil- (1877-1877); Maria Luiza
Felipe era conhecido primei- lerding e em segundas núp- (1878-1878); Anna Gertrud
ramente como Bäker (padei- cias com Otto Moldenhauser; (1880-1880) e Johann Adrian
ro), depois foi dono do hotel Philipp (1859-1863); Heinri- Franz Ernest (1882, morreu
“Zum Deutscher Kaiser”, o ch Philipp (1864-1905), casa- antes de 1891).
primeiro hotel de Brusque, do com Emilie Maas; Gottlieb A família Krieger profes-
e que sua esposa, Maria Ca- August (1866-1896), casado sava a religião luterana e fez
tharine, chegou à Colônia com Elisabeth Jönk; Wilhelm parte das famílias que ajuda-
Itajahy-Brusque somente em Ludwig (1868-1914), “Schö- ram a estabelecer a Igreja Lu-
169
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
terana em Brusque. Conforme e serem confirmados, era ne- Nacional, por força do Decre-
informações do site da Igreja cessário deslocar-se até Blu- to Presidencial, assinado pelo
Evangélica de Confissão Lu- menau, onde o Pastor Oswal- Presidente da República Pru-
terana de Brusque (2018), do Hesse estava instalado. dente José de Morais e Barros
a história da Comunidade em 29/12/1897, e publicado
Evangélica de Brusque ini- Coronel na página 3 do Diário Oficial
ciou com a chegada dos imi- da União (DOU) de sábado,
grantes pioneiros em 04/08/ Guilherme 01/01/1898. Naquele tem-
l860. Com eles, chegaram as Krieger po, a Guarda Nacional sim-
famílias luteranas de Augusto bolizava a ordem elitista da
Hoefelmann, Frederico Gui- Wilhelm Krieger (em por- sociedade, pois os cargos as-
lherme Neuhaus, Frederico tuguês: Guilherme Krieger) sumidos na instituição esta-
Orthmann, Daniel Walther e nasceu em Ida, Algenrodt, vam diretamente associados
Luiz Richter, todos casados Oldenburg, em 1847. Era fi- à renda e à cor da pele, sen-
e com filhos. Esses imigran- lho de Wilhelm Krieger e de do as patentes mais elevadas
tes, ainda que não o tenham Catharina Reichardt e emi- nomeadas pelos presidentes
percebido, foram os respon- grou para Brusque em 1861, de províncias. As tropas não
sáveis por plantar a semente quando contava com 14 anos, eram remuneradas, tinham a
evangélica em Brusque, que acompanhando os pais, tios obrigação de prestar serviço
cresceu e floresceu. Os colo- e primos. Guilherme Krieger até os 60 anos, de providen-
nizadores foram acolhidos no casou-se, em Brusque, no dia ciar seu uniforme, fazer a ma-
galpão de Pedro José Werner 11/05/1869, com Carolina nutenção das armas e equi-
e, meses depois, foram esta- Jungblut, também de Algen- pamentos que utilizavam, e
belecidos à margem esquerda rodt, Oldenburg. Guilherme pagar contribuições em di-
do rio Itajaí-Mirim, na locali- Krieger foi membro da pri- nheiro. O Coronel Krieger era
dade de Bateas. À medida que meira Câmara Municipal de o mais abastado comerciante
chegavam novos coloniza- Brusque (1883) e durante de Brusque daquela época e
dores, os novos luteranos se cerca de um quarto de século assim também ocupou o mais
somavam aos que já estavam esteve envolvido com os des- elevado cargo da Guarda Na-
estabelecidos na Colônia e, tinos de Brusque, chegando a cional da Comarca de Brus-
em 1861, as famílias Krieger exercer a presidência do Con- que. Chegou a exercer a presi-
se uniram às famílias já exis- selho Municipal de Brusque, dência do Conselho Municipal
tentes. Os imigrantes lutera- acumulando as funções de de Brusque, acumulando as
nos haviam trazido consigo a chefe do executivo por dois funções de chefe do executivo
Bíblia, Hinário e o Catecismo quatriênios. Desviveu aos 85 por dois quatriênios.
Menor, e em Bateas foi cons- anos, em 05/05/1932. Augusta Carolina Ida (mais
truída a primeira casa de ora- Nomeado Coronel coman- conhecida como Ida), filha de
ção, sendo o serviço religioso dante da Guarda Nacional de Guilherme Krieger e Carolina
praticado pelos próprios co- Brusque, Guilherme Krieger Jungblut, nasceu em Brusque
lonos, mas para batizar, casar, passou a integrar a Guarda no dia 06/06/1886, casou-se
170
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
“Casarão Amarelo” ou “Casarão Dom Joaquim” pertenceu ao Coronel Guilherme Krieger. Acervo: Rosemari Glatz
172
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Carlos Renaux e a esposa Selma Wagner em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
A Família Renaux
e a indústria têxtil
Uma das mais importan- religião protestante, nasceu e se instalou em Blumenau,
tes famílias ligadas à história em Loerrach, Grão-Ducado onde, em fevereiro de 1884,
econômica de Brusque é a de Baden, Alemanha, no dia se casou com Selma Wagner,
Família Renaux, cuja história 11/03/1862. Frequentou a filha do bem-sucedido pionei-
começa em 1882 com a che- escola Pedagógico Graodu- ro alemão Peter Wagner.
gada, ao Brasil, de Carlos Re- cal e o Ginásio de Loerrach, Quando chegou no Brasil,
naux, um homem visionário, o equivalente ao atual ensino Carlos Renaux foi acolhido
negociador, empreendedor e médio. Entre 1879 e agosto pelos comerciantes de Blume-
político, e que com a família, de 1882 empregou-se como nau que lhe deram trabalho
prestou grande contribuição aprendiz no Banco Hipotecá- como caixeiro em uma casa
para a transição da Brusque rio de Loerrach – “Kreishypo- comercial, na época conhe-
colonial para a Brusque in- thekenBank”. Em setembro de cida como “venda”, onde co-
dustrial. 1882, emigrou para o Brasil nheceu a esposa. Após curta
Carlos Renaux, em alemão: com carta de recomendação permanência em Blumenau,
Karl Christian Renaux, de escrita pelo gerente do banco, graças à sua rara inteligência
173
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
o cargo de superintendente va (1972), neste período, Re- a Guarda Nacional, por força
(prefeito) em várias gestões. naux foi preso e submetido a do Decreto Presidencial, as-
Carlos Renaux foi um dos Conselho de Guerra que ter- sinado pelo Presidente da Re-
chefes republicanos locais da minou por condená-lo à mor- pública Prudente José de Mo-
Revolução Federalista que te por fuzilamento. Contudo, rais e Barros em 29/12/1897,
teve início em 02/02/1893 graças à enérgica interferên- e publicado na página 3 do Di-
e terminou em 23/08/1895, cia de seu ferrenho adversá- ário Oficial da União (DOU) de
quando a guerra civil espa- rio político - Elesbão Pinto da sábado, 01/01/1898. Carlos
lhou-se pelos estados do Rio Luz, a sentença foi anulada, e Renaux foi nomeado tenen-
Grande do Sul, Santa Catarina assim Renaux não se somou à te-coronel comandante do 7º
e Paraná, que durou 31 meses estatística dos mortos daque- Regimento de Cavalaria, e seu
e foi marcada por atrocida- la revolução. irmão, Oscar Renaux, foi no-
des contra civis e militares. Em 1898, Carlos Renaux e meado capitão assistente do
Segundo José Ferreira da Sil- seu irmão passaram a integrar Coronel comandante Guilher-
175
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
me Krieger. Naquele tempo, a ros teares da fábrica pioneira que rendeu a Brusque o títu-
Guarda Nacional simbolizava em Brusque foram acionados lo de “Berço da Fiação Catari-
a ordem elitista da sociedade, com os tecelões de origem ale- nense”.
pois os cargos assumidos na mã, vindos de Lodz, que pen-
instituição estavam direta- saram em estabelecer uma Família Renaux:
mente associados à renda e à pequena indústria de tecela-
cor da pele, sendo as patentes gem em Brusque. Necessita- esposas e filhos
mais elevadas nomeadas pe- vam, todavia, de uma pessoa de Carlos Renaux
los presidentes de províncias. que desfrutasse de conceito
As tropas não eram remune- na comunidade e que fosse Era 19/02/1884 e fazia
radas, tinham as obrigações homem de capacidade dinâ- pouco mais de um ano que
de prestar serviço até os 60 mica, capaz de tomar sobre Carlos Renaux havia chegado
anos, de providenciar seu si a responsabilidade do em- ao Brasil quando do se uniu
uniforme, fazer a manutenção preendimento. Renaux con- em matrimônio, na Igreja
das armas e equipamentos quistara reputação de traba- Luterana em Blumenau, com
que utilizavam, e pagar con- lhador eficiente e honesto e a bela Selma Wagner. Antes
tribuições em dinheiro. aceitou o desafio, mas, até en- disso, tinham anunciado pu-
tão, ele não conhecia o ramo blicamente o seu noivado,
Berço da Fiação de negócio a que iria, depois, em agosto de 1883. Selma
dedicar toda a sua existência. era filha de Peter Wagner e
Catarinense Para ampliar a empresa e Friedericke Metzner e nas-
adquirir máquinas, Renaux ceu em Blumenau no dia
Após atuar alguns anos tomou dinheiro emprestado 08/12/1865. Foi criada entre
como comerciante em Brus- de uma firma de Hamburgo os colonos pioneiros do Vale
que, Renaux conseguiu reu- e com esse aporte de recur- do Itajaí, e foi aprendiz de
nir economias e, da associa- sos as indústrias se desenvol- professora. Selma trouxe para
ção com colonos agrícolas veram e marcaram um novo o casamento um “Mitgift” –
da região, e com dinheiro de episódio na vida da cidade. um dote de 10 contos de réis,
alguns sócios, montou, em Brusque não poderia mais considerado uma quantia
1892, a primeira empresa manter-se como célula exclu- bastante significativa naquele
têxtil da família Renaux. Era sivamente agrícola, e estaria tempo e sólidas raízes na re-
11/03/1892 e Carlos Renaux condenada à decadência se gião.
estava completando 30 anos não fosse sua transformação No tronco familiar de Sel-
de idade. em parque industrial, e o pri- ma Wagner, vamos encontrar
Nesse dia, Carlos Renaux meiro passo desta transição os Baumgarten, Moellmann,
iniciou a primeira fábrica de coube ao visionário empreen- Hoepcke, Altenburg, Brü-
tecidos em sociedade com dedor Renaux. ckheimer, Hering, etc., que,
Paulo Hoepcke e Augusto Em 1900, Carlos Renaux casados com membros da
Klapoth, que mais tarde se re- instalou a primeira fiação de família Wagner, renderam a
tirariam da firma. Os primei- algodão de Santa Catarina, Carlos Renaux boas relações
176
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
empresariais e políticas. Após família passou a residir num Carolina, e oito homens.
o casamento, Selma e Carlos palacete construído no cen- O filho Otto Renaux foi
se estabeleceram em Brus- tro, de três andares, pintado o continuador da obra do
que. de rosa, terraços de ferro e pai. Sobre os filhos: (1) Wi-
A historiadora Maria Lui- um gramado circundado por lhelm Max Renaux nasceu em
za Renaux (1995) escreveu esculturas representando as 04/09/1884 e faleceu poucos
que, para a jovem esposa, os profissões. dias após. (2) Sophia, nasceu
primeiros anos em Brusque Foi a primeira casa em no dia 23/09/1885 e casou-
foram iguais aos de tantas Brusque servida por encana- se com August Bauer, filho de
outras mulheres casadas que mento, luz elétrica e depen- João Bauer, grande empreen-
dividiam sua atividade entre dências sanitárias com água dedor de Brusque e teve seis
o negócio familiar e o domicí- corrente. Não era mais uma filhos. (3) Maria casou-se com
lio. No início, o casal morava residência comum. Seguindo Gustav Büeckmann e teve
numa casa no centro, junto ao o modelo burguês da época, dois filhos. (4) Otto Reginald
pequeno comércio que ele ad- pelo qual os mais bem-suce- Renaux casou-se com Augus-
ministrava. didos buscavam possuir bens ta Carolina Ida Krieger, mais
Depois que Carlos Renaux imóveis em primeiro lugar – o conhecida como Ida, filha do
fundou a fábrica de tecidos, o palacete era o signo indispen- Coronel Guilherme Krieger e
local de trabalho passou a ser sável de distinção entre os também teve dois filhos (5).
separado da casa de moradia. burgueses – quando apare- Oscar nasceu em 10/03/1889
A casa e a venda permanece- cer era mais importante do e faleceu no dia 23/07 do mes-
ram no centro e a fábrica foi que ser. O palacete devia ser mo ano. (6) Carlos Júlio Re-
instalada a 3 km além, na Es- o símbolo do status alcança- naux nasceu em 16/08/1891
trada dos Pomeranos, atual do pelos Renaux. Crianças, e não teve descendentes. (7)
rua 1º de Maio. Guiada pelos hóspedes, negócios, tudo se Carlos Renaux Júnior nasceu
princípios simples de quem misturava naquela atmosfera. em 16/07/1893 e faleceu em
lida com a terra, Selma encon- Ali eram recebidas pessoas 09/1917, sem descendência.
trou no casamento com “um importantes, desde empresá- (8) Paulo Guilherme Renaux
moço da cidade”, ávido de rios até políticos influentes. nasceu em 1894, casou-se
refinamento e de progresso, E Selma, além de auxiliar nos com Alvina Haendchen e des-
momentos difíceis. O marido empreendimentos, devia ga- viveu em 1947, deixando cin-
viajava muito, e então Selma rantir a infraestrutura de hos- co filhos. (9) Luís nasceu em
era vista controlando as ins- pitalidade em casa. Dentro 1895 e teve dois filhos. (10)
talações da fábrica. No retor- desse ambiente confortável Guilherme (Willy) Renaux
no das viagens, Carlos Renaux e luxuoso, “trabalho e muito nasceu em 1896 e teve quatro
trazia em sua bagagem as in- trabalho” é o que Selma tinha filhos. E, finalmente, (11) Sel-
fluências da burguesia euro- pela frente todos os dias. ma Carolina Renaux nasceu
peia, às quais ela tinha de su- Selma e Carlos tiveram em 1898, casou-se com Al-
jeitar-se. onze filhos, sendo três mu- bert Wilhelm Gommersbach
No final do século XIX, a lheres: Sophia, Maria, e Selma e teve dois filhos.
177
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Selma Wagner Renaux era com “bons olhos”. Por volta de balsamado, transportado a
uma mulher inteligente, forte, 1918, para curar a doença da bordo do iate “Angela” até
saudável. Como mãe, costu- esposa, o casal se mudou para Itajaí, e está sepultado no
mava brincar com os filhos, a Holanda. Hanna desviveu Mausoléu da Villa Renaux, em
era amorosa e em tudo irra- com apenas 35 anos de idade, Brusque.
diava calor. Por sua amabili- no dia 31/12/1919, em Ar- No total, o Cônsul Carlos
dade, temperamento alegre e nhem, na Holanda. Renaux teve três esposas,
grande bondade para com os Passados sete meses da mas filhos teve apenas com a
necessitados, ela soube con- morte da segunda esposa, primeira, Selma Wagner.
quistar as simpatias de toda Carlos Renaux contraiu novas
a gente com que vivia. Sel- núpcias com sua governan- Cônsul Honorário
ma desviveu às 18h45 do dia ta, a holandesa Maria Lui-
29/09/1912, com 47 anos de za Auguste Lienhaerts - co- em Baden-Baden
idade, em sua residência em nhecida pelos brusquenses
Brusque, em consequência de como “Goucki”. Ela nasceu Em 1922, Renaux transfe-
leucemia. Em seu túmulo, en- no dia 26/12/1884, filha de riu residência com a esposa
contramos a epígrafe que re- Franz Leopold Lienhaerts e para Baden-Baden pois, no
sume sua vida: “Se a vida foi de Joanna Maria Hubertina tempo do Epitácio Pessoa, o
bela, foi trabalho e preocupa- Roosenboom. O casamento governo brasileiro o nome-
ção”. (Salmo 90, versículo 10) ocorreu no dia 10/08/1920 ara Cônsul Honorário (sem
Poucos meses após en- na terra natal da noiva, em ser funcionário de carreira
viuvar, Renaux se casou com Merkelbeek, Limburg, Holan- e sem remuneração) para o
a atriz europeia Johanna Ma- da. Goucki era considerada Consulado em Baden-Baden,
ria von Schönenbeck, filha de uma mulher inteligente, dis- para cuidar da transferência
Mathias Alois Josef Müllern ciplinada e falava várias lín- de imigrantes alemães para o
von Schönenbeck e de Joanna guas. Brasil logo após o término da
Mathilde Müllern von Schö- Em 1922 o casal se mudou I Guerra Mundial.
nenbeck, conhecida pelos para Baden-Baden pois, no Durante os anos em que es-
brusquenses como “Hanna”. tempo do Epitácio Pessoa, o teve morando na Europa, Car-
O casamento civil foi reali- governo brasileiro o nome- los Renaux manteve-se ativo
zado na residência do noivo ara Cônsul Honorário (sem nas atividades empresariais
no dia 20/06/1913 pelo Juiz ser funcionário de carreira no Brasil, delas se retirando
de Paz Mathias Moritz, tendo e sem remuneração) para o definitivamente só em 1937.
como testemunhas: Vicente e Consulado em Baden-Baden. Do período em que foi Côn-
João Schaefer. Ela tinha 29 e Goucki desviveu aos 54 anos sul em Baden-Baden, exis-
ele tinha 51 anos. Consta que de idade, no dia 27/06/1939, te carta que ele escreveu de
Hanna era uma artista vie- em São Paulo - onde estava Brusque para a esposa Gou-
nense, elegante, muito bonita internada para tratamento de cki que ficara na Europa en-
e que se expressava bem, e saúde. quanto ele, o Cônsul, viera ao
que o casamento não foi visto O corpo de Goucki foi em- Brasil inspecionar a expansão
178
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Fundação
Cultural e
Beneficente
Cônsul Carlos
Renaux
O Cônsul também deixou
feitos na área social e cultural
e, para financiar projetos que
trouxessem benefícios para a
região, em 1936 a família Re-
naux criou a Fundação Cultu-
ral e Beneficente Cônsul Car-
los Renaux, conhecida entre
nós como “Cultural”.
Dessa fundação veio o di-
nheiro para que Rudolfo Stut-
zer montasse a oficina onde
acabou sendo produzida a
primeira geladeira brasileira
– a geladeira Consul. Também
foi por meio da “Cultural” que
Cônsul Carlos Renaux em 1942. Acervo: Rosemari Glatz foram beneficiadas diver-
da Fábrica Renaux, então diri- naux mandou projetar, pelo sas outras instituições, como
gida por seu filho mais velho, engenheiro alemão Eugen igrejas, escolas e hospitais.
Otto: “todas as construções Rombach, sua residência em Em discurso proferido pelo
foram feitas de acordo com Brusque. Estava se prepa- Cônsul por ocasião da inaugu-
meu plano de 1929 e ficaram rando para retornar defini- ração do Hospital de Azambu-
grandiosas”. tivamente para o Brasil. A ja, a 11/03/1936, ele assim se
A partir do início da construção completa da “Villa expressou:
década de 1930, Carlos Re- Goucki”, como foi chamada “De modo algum quero eu
179
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
ser agradecido pelo que fiz ou 28/01/1945, aos 82 anos de como concebida pelo arquite-
dei em benefício desta obra. idade. to Eugen Rombach, deixando
De igual maneira, não quero Para o seu sepultamento, como legado o projeto do Mu-
ser louvado por atitudes de uma longa carreata composta seu Cônsul Carlos Renaux.
benemerência de igual ca- por membros da comunida-
ráter. Se a conquista de bens de, empregados, familiares, e
materiais realmente traz al- grandes nomes da economia
gumas facilidades na vida e o e da política de Santa Catari- REFERÊNCIAS
sucesso empreendedor des- na e de outros estados vieram
perta o reconhecimento so- para o último adeus. Estima- BUGGENHAGEN, E.A. von.
cial, por outro lado exige do se que cerca de 10.000 pes- História Econômica no Muni-
cidadão muito mais respon- soas compareceram ao seu cípio de Brusque e a obra do
sabilidade e compromisso funeral. Cônsul Carlos Renaux. [SI].
frente a sua comunidade. Eu Após a morte do Cônsul, Brusque, 1941. Não publica-
conheço muito bem tais obri- seus descendentes costuma- do.
gações pois, de início modes- vam se reunir na Villa Renaux Blumenau em Cadernos. A
to, minha vida foi de trabalho duas vezes ao ano, para ren- Família Renaux. Tomo III, nº
duro e repleta de sacrifícios e der homenagem aos antepas- 8, agosto de 1860.
de privações. É dentro desse sados: no dia 11/03, aniver- http://hemeroteca.ciasc.
mesmo espírito pois, e movi- sário natalício de Carlos, e em s c . g ov. b r / b l u m e n a u % 2 0
do pelo mesmo sentimento 8/12, aniversário natalício em%20cadernos/1960/
de gratidão, que minha oferta da sua esposa Selma Wagner, BLU1960008_ago.pdf. Acesso
se destina à terra a qual, há mãe de todos os 11 filhos de em 3 de setembro de 2018.
mais de meio século, deu-me Carlos Renaux. KONS, Paulo V. A Guarda
generosa acolhida e que um Durante muitos anos, Sel- Nacional de Brusque. Dis-
dia me abrigará em sono eter- ma Carolina, a filha mais nova ponível em: <https://www.
no (In: arquivo pessoal Villa de Carlos e Selma, residiu na brusquememoria.com.br/
Renaux). Villa Renaux, contribuindo site/noticia/17/A-Guar-
para a preservação do patri- da-Nacional-de-Brusque
O findar mônio. -em-1898>. Acesso em 10 se-
E, no início dos anos 1990, tembro 2018.
da vida a bisneta do Cônsul, a histo- RENAUX, Maria Luiza. O
riadora Maria Luiza Renaux – outro lado da história: o pa-
Depois de enviuvar pela conhecida como Bia, fixou re- pel da mulher no Vale do Ita-
terceira vez, em 1939, o Côn- sidência na Villa Renaux, em jaí, 1995.
sul Carlos Renaux morou ânimo definitivo. Bia desviveu SILVA, José Ferreira da.
sozinho em sua residência, no dia 05/01/2017, e durante História de Blumenau. Flo-
onde desviveu, de morte na- os cerca de 25 anos em que rianópolis: Editora EDEME -
tural, em decorrência de aci- morou no imóvel, se dedicou Empreendimentos Educacio-
dose colapso cardíaca, no dia a preservar a propriedade tal nais Ltda., 1972.
180
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Eduard von Buettner e esposa Albertine Burow em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
181
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
pedes e nela celebravam-se muito distante de Bunzlau. com a agregação dos segmen-
muitos saraus musicais. Ape- Edgar partiu de Hamburgo no tos de fiação, tecelagem e es-
sar de esforços para conservá dia 12/05/1899, em viagem tamparia e tinturaria.
-la, a mansão dos von Buett- de regresso ao Brasil, Rio de A esposa Albertine, além
ner acabou sendo demolida Janeiro, trazendo na baga- de excelente e enérgica mãe,
em 1987. gem duas máquinas de bor- dona de casa e anfitriã, foi uma
As lojas de secos e molha- dar à manivela, adquiridas das fundadoras do “Frauen-
dos em Brusque, chamadas na Bohemia, hoje República verein”, Grupo de Senhoras
de ‘vendas’, funcionavam tam- Tcheca. Auxiliadoras da Comunidade
bém como instituições finan- Em 1900, Edgar e sua mãe Luterana de Brusque. Como
ceiras, já que na época não Albertine, na qualidade de só- mulher, vivia nos bastidores,
havia bancos em Brusque. A cia comanditária, fundam a na função da esposa a dar
venda aceitava depósitos de empresa E.v.Buettner & Cia., um eficiente suporte às ati-
poupança e concedia créditos precursora da Buettner S/A vidades mais públicas de seu
para os colonos. Essa ativida- Indústria e Comércio. Vale marido que, além de seus em-
de era administrada pela sua destacar aqui, mesmo após preendimentos comerciais,
esposa Albertine, que tam- a expansão da sua empresa, tornou-se um dos fundadores
bém iniciou, junto com a sua da Escola Evangélica Alemã,
filha mais velha Mimi, a pro- As cortinas de filó da que viria a ser o atual colégio
dução de aventais e de panos empresa E.v. Buettner & Cônsul Carlos Renaux. Eduard
para sombrinhas, incluindo, Cia. alcançaram tal fama, também participou da funda-
provavelmente, a produção que o Palácio do Governo, ção do “Turnverein”, o Clu-
de mosquiteiros. no Rio de Janeiro, foi com be de Ginástica de Brusque,
Buettner (2018) conta elas guarnecido. Este ramo a atual Sociedade Esportiva
que, seguindo a orientação da industrial, que foi a primei- Bandeirante, tendo sido o seu
sua mãe, o primogênito Edgar ra e, durante muito tempo, Presidente. Eduard faleceu
viajou em 1896 para a cidade a única fábrica de borda- em 29/10/1902, o que forçou
de Bunzlau, na Silésia, Ale- dos e rendas no Brasil, aos Albertine e o seu primogênito
manha (hoje Polônia), onde poucos se transformou Edgar a assumirem as rédeas
vivia a sua tia Selma Buett- numa grande indústria de da família e dos negócios.
ner Neumann, que o acolheu cortinas, se especializando Albertine Burow von
e onde foi aprender o ofício também na produção de Buettner foi quem iniciou a
de bordar com máquinas de tecidos em geral, mosqui- primeira confecção em Brus-
bordar à manivela e a confec- teiros de filó, guarnições de que: talhava pessoalmente
ção de sombrinhas. A cidade mesa estampadas, e tecidos aventais que mandava costu-
de Plauen, um dos três polos de revestimento de móveis rar por mulheres costureiras
da indústria de bordados e estofados. Enquanto isso, a da vila. Com as duas máqui-
rendas na Europa (os outros jovem indústria continuava nas de bordado à manivela,
dois são Sankt Gallen, na Suí- em franco processo de cres- trazidas pelo seu primogênito
ça e Lyon, na França) fica não cimento e expansão. Edgar da Europa e instaladas
185
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Gustav Schlösser e esposa Nathalie Starnell em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz
A Família Schlösser e a
indústria têxtil em Brusque
A história da família menores, Hugo, Adolph, Carl lecidos em território polonês.
Schlösser no Brasil começa e Robert. Geograficamente, a família
em 1896, quando chegava a veio da Polônia, que, naquela
Brusque o imigrante Gustav época, era província da Rús-
Schlösser (em português: Da Polônia sia. Eles faziam parte de um
Gustavo Schlösser), um tece- para Brusque grupo de tecelões da Silésia
lão de Lodz, Polônia, contra- que haviam sido atraídos pelo
tado como técnico têxtil na A família de Gustav Schlös- governo russo para iniciar
Fábrica de Tecidos Carlos Re- ser fazia parte dos chamados a atividade têxtil em Lodz,
naux. “auslandsdeuctche”, assim Ozorków, Zgierz e adjacên-
Acompanhavam-no sua es- nominadoos os imigrantes cias, e estavam lá radicados
posa Natália e quatro filhos alemães que estavam estabe- desde o final do século XVIII.
187
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
mundial das indústrias têx- Gustav Schlösser e Natha- no dia 13/01/1896, e a Brus-
teis, possuíam 230.953 fusos, lie Starnell Schlösser saíram que no dia 02/02/1896. Após
10.954 retorcedeiras e 3.664 de Lodz, na Polônia, no dia a chegada a Brusque, mora-
teares na fiação de algodão. 08/12/1895 e, em Hambur- ram no bairro Águas Claras.
1885: Gustav Schlösser se go, Alemanha, embarcaram Gustav trabalhou como mes-
casa com Nathalie, da família no navio “Paraguassu” no dia tre de tecelagem na Fábrica
Starnell. Nathalie nasceu em 19/12/1895. de Tecidos Carlos Renaux.
1862, em Unikaw, Polônia, Chegaram ao Rio de Janeiro De 1898 a 1902 a família
e foi batizada em Wielum -
Polônia. Seu pai era moleiro,
Gustav Schlösser trabalhou cerca de 15 anos como mes-
mas faleceu cedo.
tre na fábrica de Carlos Renaux. Em 1911, formou sua
Em 1890, seguindo a tradi-
própria empresa em sociedade com seus dois
ção da família, Gustav Schlös-
filhos, Hugo e Adolph, a “G. Schlösser & Filhos”
ser começa a se aperfeiçoar
Destinada originalmente a artigos populares, a
na área têxtil. Ingressou no
tecelagem iniciou com dois teares manuais e crédito
grupo especial da tecelagem
concedido por Renaux. Considerada a terceira grande
da Escola Estadual da Indús-
empresa têxtil a iniciar operações em Brusque, em 1924,
tria na Monarquia Austro
foi instalada a tinturaria própria. Com seu crescimento,
-Húngara em Bielsko (Bielitz)
a Schlösser passou a fabricar toalhas de copa, mesa,
– escola técnica têxtil, no Sul
rosto e banho, além de tecidos em brim. No ano de
da Polônia, que então estava
1933, a firma é transformada em Sociedade Anônima,
sob o domínio da Áustria. Em
passando a ser denominada “Companhia Industrial
1891, ele se formou técnico
Schlösser” até o final da sua existência.
têxtil, e então retornou para
Zgierz.
1895: Gustav e Nathalie
Schlösser decidem emigrar
para o Brasil. Eles já tinham
quatro filhos, dos quais três
deles nasceram em Zgierz e o
último nasceu em Lodz. Gus-
tav tomou conhecimento das
oportunidades de trabalho
por intermédio de um agen-
te que contratava gente es-
pecializada, como técnicos e
tecelões, para atuar no desen-
volvimento da indústria têxtil
do vale do Itajaí-Mirim e do Escritório da Companhia Industrial Schlösser
Itajaí-Açu. na avenida Getúlio Vargas, centro. Acervo: SAB
189
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
morou na localidade do Cedro cação de teares de madeira, tear jacquard, adquirido com
(hoje bairro Dom Joaquim), alguns dos quais funcionaram o crédito concedido por Car-
onde Gustav Schlösser foi até o final do século XX. los Renaux, que se encarre-
professor na Escola Evangéli- Em muitas ocasiões difí- gou, também, do fornecimen-
ca Luterana do Cedro. Depois ceis na nova indústria, prin- to de fio e da distribuição do
se mudaram para o centro de cipalmente no setor técnico, produto em sua “venda”.
Brusque. Nathalie e Gustav era Gustav Schlösser que A firma Gustav Schlösser
Schlösser tiveram sete filhos, conseguia contornar e re- & Filhos foi a terceira grande
sendo que três deles, Hugo solver as situações. Gustav empresa têxtil a iniciar opera-
Adolph e Carl, nasceram em trabalhou na Fábrica Renaux ções em Brusque. No ano de
Zgierz. O filho Robert nasceu durante cerca de 15 anos e 1933, a empresa é transfor-
em Lodz, e os outros três, Ri- durante toda a sua vida exer- mada em Sociedade Anôni-
chard, Olga Anna e Otto, nas- cendo atividades na indústria ma, passando a ser denomi-
ceram em Brusque. têxtil. Entusiasta do esporte nada “Companhia Industrial
De acordo com Renaux amador, da arte e da cultura, Schlösser” até o final da sua
(2010), além de Gustav, os fi- Gustav Schlösser desviveu em existência.
lhos Hugo e Adolph Schlösser Brusque no dia 15/02/1935.
também trabalharam como
tecelões na fábrica de Carlos Gustav
Renaux por algum tempo,
mas, entre fevereiro e agosto Schlösser & Filhos
de 1908, Hugo e Adolph esti- REFERÊNCIAS
veram trabalhando no mesmo Em 1911, Gustav e os fi-
ramo no Rio de Janeiro, para lhos Hugo e Adolph fundaram GEVAERD, Ayres. Os Te-
uma firma de nome Prinz & uma pequena tecelagem, a celões de LODZ na História
Cia. empresa “Gustav Schlösser & de Brusque. Blumenau em
Decidiram voltar para Filhos”, cuja razão social mais Cadernos. Arquivo Histórico
Brusque, e ainda em 1908 tarde passou para Cia. Indus- José Ferreira da Silva, tomo V,
Hugo começou a tecer em trial Schlösser. nº 3, março 1962.
casa, em tear manual adquiri- Com a fundação da firma, RENAUX, Maria Luiza. Co-
do do tecelão Tietzmann, que Gustav e os filhos Hugo e lonização e Indústria no Vale
o trouxera de Lodz; Adolph foi Adolph voltaram a trabalhar do Itajaí: O Modelo Catari-
trabalhar na Empresa Indus- juntos em Brusque, desta vez nense de desenvolvimento.
trial Garcia, em Blumenau. por conta própria. O capital 2ª ed. Florianópolis: Instituto
Enquanto isso, Gustav inicial da empresa era de seis Carl Hoepcke, 2010.
Schlösser, o pai, trabalhava contos e a tecelagem iniciou SCHLÖSSER, Marcus. Do-
como técnico têxtil na Re- com dois teares manuais, um cumentos sobre a origem da
naux. Dotado de extraordi- deles provavelmente aquele família fornecidos por Mar-
nários conhecimentos de sua utilizado por Hugo na fabrica- cus Schlösser à autora em
arte, Gustav orientava a fabri- ção doméstica, e o outro, um 20/08/2018.
190
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Folclore e tradições
Desde os primeiros anos nova colônia. Um dos exem- Schützenverein:
de fundação, a então Colônia plos foi a fundação da primei-
Itajahy-Brusque já evidencia- ra sociedade de atiradores a Sociedade de
va, através das lideranças da (Schützenverein), e a vida Caça e Tiro
comunidade, o desejo de di- social que nos primórdios da
fundir sua cultura sob vários colônia se baseava nos encon- Uma instituição que sem-
aspectos. Dotados de espíri- tros familiares, religiosos e de pre foi muito importante en-
to comunitário admirável, as lazer, com o passar do tem- tre a população de origem
características culturais dos po foi estabelecendo outros alemã era a “Schützenverein”,
primeiros imigrantes do sé- elementos de identificação, a Sociedade de Caça e Tiro,
que existiu em áreas de colo-
culo XIX foram sendo trans- como as festas de igreja e da
nização alemã no sul do Bra-
mitidas através das gerações comunidade, as sociedades
sil.
que se sucederam, que soube- esportivas, as comemorações
A força da cultura aliada à
ram se unir e estabelecer os de Páscoa e do Natal e os pi- representatividade dos líde-
elementos de identificação da queniques.
191
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
res pioneiros deu vida e vi- festa tradicional que acontece Em Brusque, a “Schützenfest”
gor à Sociedade, permitindo a anualmente na região noroes- acabou evoluindo para a Fe-
estabilidade necessária para te da Alemanha, bem como na narreco.
se transformar no centro de Baviera. No Brasil, a “Schüt-
lazer e distração comunitá- zenfest”, era realizada pelas
ria, seja pela prática do tiro, sociedades de atiradores, e
Festas de Igreja
da dança, do canto, da músi- servia tanto para manter as
Desde os primórdios da
ca, do teatro, do consumo de tradições quanto para reunir
fundação de Brusque, nas fes-
cervejas e outras atividades a maior parte dos coloniza-
tas religiosas os participantes
recreativas originárias da ve- dores de origem alemã numa
não ficavam restritos ao gru-
lha Alemanha. Ainda no ano grande festa. Em Brusque
po da religião beneficiada. No
de fundação, a diretoria pro- também foi assim.
dia festivo, se estimulava a
videnciou a aquisição de ter- Ao tratar sobre o assunto,
participação fraternal de to-
reno e construção de ranchos Seyferth (1974) escreveu que
dos os membros da comuni-
para stand e guarda de mate- o formato da Schützenverein
dade e, assim, os resultados
rial de tiro. Na segunda-feira foi transplantado da Alema-
financeiros eram maiores.
de Páscoa do ano seguinte, nha para o Sul do Brasil tal
Para atrair o maior núme-
realizou-se a primeira “Schüt- como funcionava lá no sécu-
ro de participantes, a compra
zenfest”, com vasta programa- lo XIX, e, assim, além da festa
dos gêneros alimentícios, gu-
ção e a primeira disputa para anual de cada igreja, o maior
loseimas, utensílios e tudo o
o “rei do alvo”. Nascia assim evento da colônia era a festa
mais indispensável para a fes-
a festa dos atiradores, como do município “Schützenfest”,
ta, era feita nas diversas casas
a mais querida manifestação a festa do rei do alvo, da qual
comerciais da região próxi-
popular brusquense de todos a família toda participava,
ma, anulando, a priori, os res-
os tempos. Hoje a “Schützen- mesmo porque muitas vezes
sentimentos. Algumas vezes,
verein” se chama Clube de a parentela só se reunia nes-
mesmo a festa sendo da igreja
Caça e Tiro Araújo Brusque tas ocasiões, o que denota a
católica, o grupo financeira-
e se orgulha de ser um dos importância desses eventos.
clubes mais antigos do Bra-
sil (CAÇA E TIRO BRUSQUE,
2018).
Uma importante institui-
ção do tempo de colônia para
manter as tradições trazidas
pelos imigrantes eram as
festas. Havia a festa anual de
cada igreja e a grande festa do
município, a “Schützenfest”.
Ia toda a família, porque era a
festa dos alemães.
A “Schützenfest” (em por-
tuguês: Festa do Tiro), é uma Festa de igreja em Azambuja. Acervo: SAB
192
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
mente poderoso era o lutera- que, traduzindo, significa as- liar ao povo e à Pátria, e como
no e no costume local nunca sociação de ginastas, a atual algo pertencente apenas às
se menosprezava a contribui- Sociedade Esportiva Bandei- pessoas de alma livre (JAHN,
ção financeira. Também os rante. 1967).
negociantes se sentiam mais A “Turnverein”, ou as- No dia 16/06/1900, a es-
compromissados a compa- sociação de ginastas, tinha trela do esporte na cidade de
recer no evento quando ven- como símbolo os quatro F Brusque passou a brilhar com
diam para a festa, indistinta- da ginástica criada por Frie- mais força, quando foi criada
mente do lado religioso. drich Ludwig Jahn. Nos esta- a “Turnverein Brusque”. Essa
Esse tipo de festa, organi- belecimentos de ginástica, os fortaleza do esporte nasceu,
zado com zelo e esforço para bons costumes deveriam ser cresceu, desenvolveu-se, pro-
envolver e comprometer toda ainda mais cultivados do que jetou-se e atingiu sua maio-
a sociedade, muitas vezes ex- em qualquer outro lugar. As ridade como fruto do labor
plica como cada comunidade regras morais configurariam, de seus atletas, dirigentes e
conseguiu ter a sua escola, a conforme Jahn, o maior nor- funcionários, conquistando
sua igreja e o seu cemitério, o teador da vida de um ginasta, mares nunca navegados pelo
triângulo social característico e deste princípio surge o lema esporte do “berço da fiação
do povoado na área cultural “frisch, frei, fröhlich, fromm catarinense”.
da sociedade teuto-brasileira, ― ist des Turners Reichtum”. A Sociedade Esportiva Ban-
e também em Brusque. Os denominados “4F” de Jahn deirante (2018) surgiu com a
indicam que “a riqueza do gi- denominação inicial “Turnve-
nasta é ser vivo, livre, alegre rein Brusque”, nome dado por
Turnverein e devoto”. Jahn entendia que, seus 14 idealizadores e que,
Brusque enquanto houver a necessi- traduzida para o português
dade de uma vida corporal, significa associação de ginas-
De grande valor pedagó- haverá a necessidade de tra- tas. Por esse motivo, o Clube
gico, uma das atividades que balhar este corpo, dando-lhe também era conhecido por
tiveram notável desenvolvi- habilidade, resistência, per- Sociedade Ginástica, hoje po-
mento na organização diver- sistência, coragem, atributos tência esportiva fulgurante.
sional nas regiões de ocupa- sem os quais ele facilmente Cada mudança de nome, de
ção teuta foram as sociedades mergulharia nas sombras da Turnverein para Bandeiran-
de ginástica. Aqui também futilidade e do egoísmo. te, determinou a conclusão de
foi assim e, desde o início do O Turnen destaca-se, as- um estágio e início de outro,
século XX, um dos pontos al- sim, como um dos aspectos em busca do progresso, po-
tos da sociedade brusquen- mais essenciais da instrução rém, a ideia original jamais foi
se chamava-se “Turnverein” do indivíduo, como algo fami- podada ou desprezada.
193
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
196
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Palacete Renaux
Edificado no final do século XIX e implantado no cassem violino, violoncelo, piano e outros instrumen-
ponto mais nobre do coração de Brusque, no cruza- tos. As leituras eram feitas em torno da grande mesa
mento das ruas Monte Castelo e Barão de Ivinheima de jantar.
(atual Cônsul Carlos Renaux), o palacete foi constru- O palacete foi construído com modelo de arquite-
ído para servir de residência da família de Carlos Re- tura Historicista, com elementos neoclássicos. A casa
naux e Selma Wagner Renaux. Símbolo arquitetônico do industrial foi centro de inúmeros encontros e reuni-
de Brusque e dotado de características peculiares, o ões. Lá eram recebidas pessoas importantes, não só as
palacete era pintado de rosa, como outras constru- diretamente ligadas à atividade fabril, mas figuras pú-
ções nacionais de destaque na época. O terraço era de blicas influentes, cujo beneplácito se fazia necessário
ferro, e um gramado entrecortado por flores e árvo- para os empreendimentos nascentes. Carlos Renaux se
res circundava a casa. tornara político para poder afirmar seus valores e abrir
No alto do palacete residencial de três andares, as portas aos seus empreendimentos no Estado. Como
estátuas, em tamanho real, representavam o Comér- deputado, assinou a primeira constituição republicana
cio, a Indústria, as Artes, a Lavoura, e outras profis- do Estado de Santa Catarina em 1889, e foi também um
sões. A casa foi a primeira e, durante algum tempo, dos superintendentes (prefeitos) municipais de Brus-
a única de Brusque servida por encanamento e luz que. O Palacete Renaux foi demolido em 1949 e estava
elétrica. Dependências sanitárias com água corren- situado onde hoje é a praça Barão de Schneeburg. Na
te também foram uma inovação do palacete Renaux, compreensão da filosofia do Historicismo, que consi-
concluído em 1900. Essa novidade havia surgido nas dera as particularidades históricas como etapas ou fa-
residências finas da Europa nessa mesma época: a ses do desenvolvimento da humanidade e permeou o
descarga nos sanitários foi inventada na Inglaterra modelo construtivo da edificação, se não tivesse sido
em 1885. Na sala, os lustres iluminavam o espaço e a demolido, certamente o palacete seria considerado
madeira do assoalho era talhada como raios de sol e um dos patrimônios históricos mais significativos da
havia grandes espelhos nas paredes da sala. Um gran- região, pois foi o marco físico da transição da Brusque
de salão de música era utilizado para que os filhos to- colonial para a Brusque industrial.
197
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
REFERÊNCIA
PIAZZA, Walter F. Fol-
clore de Brusque: Estudo
de uma comunidade. Edi-
ção da Sociedade Amigos
de Brusque. Brusque,
1960.
198
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
199
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
200
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
201
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
O pórtico que marca a entrada tico apresenta duas torres de mação e crescimento da cidade,
de Brusque pela Rodovia Antô- mármore e granito, que emer- assim como o fio de algodão que
nio Heil representa a solidez da gem do piso da praça de maneira se transforma em tecido, e gerou
economia e da sociedade brus- sólida, forte e imponente, repre- grande desenvolvimento para a
quense, onde a forma orgânica sentando a solidez da sociedade cidade. Fazendo parte do cená-
dos fios de algodão marca sua brusquense e da sua indústria rio da praça, um espaço cria uma
história através das mais nobres têxtil. A segunda estrutura é uma atmosfera de contemplação do
linhas que caracterizam o teci- grande fita vermelha de concre- marco – uma praça seca contor-
do multiétnico que é Brusque. O to, que emerge do piso com um nada por um paisagismo colori-
projeto foi arquitetado por meio desenho retilíneo, de forma ho- do que garante a permeabilida-
de um concurso público nacio- rizontal, passando por entre as de, tanto física quanto visual.
nal e as obras foram viabilizadas duas torres, quando dá início a O pórtico marca a divisa de
por meio de uma parceria entre algumas ondulações, simulan- Brusque com o município de Ita-
a iniciativa privada e a Adminis- do uma fita em movimento, ao jaí.
tração Pública Municipal. vento. Essa fita de concreto re- Localização: Rodovia Antônio
A primeira estrutura do pór- presenta a liberdade, a transfor- Heil. Brusque.
202
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
O pórtico que marca a en- que fios de aço são tecidos povo, lembrando a grande
trada de Brusque pela Rodo- para formar uma fita, a arqui- importância das pessoas que
via Ivo Silveira simboliza um tetura remete ao mote de “Ci- a construíram. As ondulações
grande tear e foi arquitetado dade dos Tecidos”. Apresenta da longa fita vermelha de con-
por meio de um concurso pú- uma releitura da tecelagem creto simulam uma fita de te-
blico nacional. As obras foram artesanal de forma bastante cido em movimento, ao vento,
viabilizadas por meio de uma singela, reportando-se à cul- e representa a liberdade, a
parceria entre a iniciativa pri- tura e à economia do Municí- transformação e crescimento
vada e a Administração Pú- pio. da cidade.
blica Municipal, com diferen- Sua estética é de grande O pórtico marca a divisa de
tes empresas patrocinando o significado. A pedra, que dá Brusque com o município de
projeto. solidez e segurança, retrata Gaspar.
Feito de blocos de mármo- a base para a construção da
re que se transformam em cidade. O tecido simboliza o Localização: Rodovia Ivo
muro, ao mesmo tempo em trabalho e a inspiração do seu Silveira. Brusque.
203
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
205
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
A Chácara Edith é uma Re- Fundação de Amparo à Tec- da Biosfera da Mata Atlânti-
serva Particular do Patrimô- nologia e ao Meio Ambiente ca conferido pela Unesco. Lá
nio Natural – RPPN. Tem uma (FATMA) de Santa Catarina podemos encontrar córregos
área de 415,79 hectares, inse- premiou o esforço da família que nascem dentro da pro-
rida dentro de uma área total em defesa do meio ambiente, priedade e diferentes espé-
de 509,32 ha de propriedade. conferindo a Willy Hoffmann cies nativas, algumas delas
Aproximadamente 95% des- o Troféu Fritz Muller. No início raras como lontra, gato-mara-
sa área é de Mata Atlântica. de 2001, o prefeito da época cajá, bugio, tamanduá-mirim,
A RPPN Chácara Edith é baixou um decreto para desa- tatu-de-rabo-mole, gralha
fruto do histórico trabalho de propriar toda a área para fa- -azul, garça-moura, etc.
preservação da natureza feito zer ruas e loteamentos. Para Mediante agendamento
desde 1930 pelo jovem Willy manter o local preservado, a prévio, a Reserva recebe es-
Hoffmann, que convenceu seu família decidiu transformar a colas, universidades e pesqui-
pai, proprietário das terras, a propriedade em uma Reserva sadores para observação da
abandonar a exploração de Particular do Patrimônio Na- fauna e da flora, e para pes-
madeira e permitir a regene- tural. quisas científicas.
ração da mata nos locais de- Desde 2006, a RPPN Chá- Localização: Rua Carlos
vastados. cara Edith possui o título de Cervi nº 300. Centro II -Brus-
Em 5 de junho de 1982, a Posto Avançado de Reserva que.
209
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
211
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
O prédio do terminal ur- que, com seu “circular”, fazia um L, e a entrada é bem mar-
bano de transporte coletivo o transporte de operários das cada pelo volume central. As
foi inaugurado no dia 30 de fábricas durante as décadas telhas são do tipo germânica,
abril de 2005 e originalmente de 1940 e 1950. A edificação e a estrutura do telhado é fei-
denominado como Terminal foi projetada no estilo cons- ta por treliças. O local é reves-
Urbano Francisco Roberto trutivo pós-moderno. O Ter- tido por tijolinhos e suas es-
Dal´Igna. Pela lei nº 2.874, minal Urbano Balthazar Bohn quadrias são de cor marrom.
de 28 de setembro de 2005, veio para substituir o antigo A edificação é considerada
passou a ser denominado terminal urbano da cidade, um atrativo turístico de Brus-
Terminal Rodoviário Urbano um simples galpão, e sua ar- que.
Balthazar Bohn, em homena- quitetura buscou refletir a Localização: Rua Prefeito
gem ao pioneiro do transpor- cultura alemã do município. Germano Schaefer, 73. Cen-
te coletivo urbano de Brusque Sua forma assemelha-se a tro. Brusque.
213
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
A Arena Multiuso Antônio capacidade para 4.250 pesso- cidade para campeonatos es-
Neco Heil foi inaugurada no as sentadas e 12 mil pessoas taduais e regionais.
dia 16 de agosto de 2005 e re- em shows, quadras especiais O espaço, que já recebeu
cebeu esse nome em memó- para futsal e handebol, vôlei jogos da Superliga de Vôlei,
ria ao ex-prefeito de Brusque e basquete. Possui estaciona- jogos de futsal do Brasil, e jo-
Antônio Heil. mento para 7 mil veículos e gos de basquete e handebol,
A fachada da construção foi projetada com condições garante à comunidade brus-
é conhecida entre os arqui- de receber todos os tipos de quense um espaço próprio,
tetos como “falso enxaimel”, eventos esportivos, inclusive com infraestrutura adequada,
pois busca lembrar as antigas apresentações musicais. para a prática de esportes e
construções que utilizavam o A Arena já foi palco de realização de campeonatos
sistema de edificação empre- grandes eventos esportivos, de várias modalidades.
gado pelos alemães e, com como campeonatos nacionais A edificação é considerada
isso, reafirmar uma identida- de vôlei e futsal, além de se- um importante atrativo turís-
de e trazer à memória a his- diar jogos em nível nacional tico de Brusque.
tória da colonização de Brus- e internacional de campeo-
que. natos mundiais de basquete, Localização: Rua Deputado
O espaço conta com uma vôlei, futsal e handebol. Tam- Gentil Battisti Archer. Centro
área total de 14.000 m², com bém é o principal espaço da 2. Brusque.
214
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
O Pavilhão foi inaugurado edificação foi denominada vilhão possui uma área su-
em 1991 e sua construção foi Pavilhão de Eventos Maria perior a 12 mil metros qua-
impulsionada pelo sucesso da Celina Vidotto Imhof, em ho- drados de construção, amplo
principal festa de Brusque, a menagem à professora que espaço para estacionamento,
Fenarreco - Festa Nacional do fez parte do grupo que criou e hoje é o principal local para
Marreco, realizada pela pri- a Fenarreco e trabalhou nas eventos da cidade. O prédio
meira vez em 1986, no Clube primeiras edições da festa, passou por ampla reforma em
de Caça e Tiro Araújo Brus- ajudando na decoração, na 2018.
que. Após três edições, o es- contagem dos tickets e na co- A edificação é considerada
paço ficou pequeno e a quarta zinha. um dos principais atrativos
edição já foi realizada, embai- Com estrutura que busca turísticos de Brusque.
xo de lonas, no espaço onde lembrar as antigas constru-
viria a ser construído o pavi- ções que utilizavam o siste- Localização: Rua Deputado
lhão, que se tornou a sede ofi- ma de edificação usado pelos Gentil Battisti Archer, ao lado
cial da Fenarreco. alemães, e fachada que imita da Rodovia Antônio Heil. Cen-
Em setembro de 1992 a a técnica de enxaimel, o pa- tro 2. Brusque.
215
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
216
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Complexo de Azambuja
Der Gebäudekomplex von Azambuja beherbergt eine Reihe historischer Gebäude,
unter anderem die Azambuja Kirche, die Grotte, den Rosenkranzweg, das
Erzdiözesanmuseum, das Krankenhaus und das Priesterseminar. Das
Azambuja-Tal ist auch Wallfahrstort und empfängt jährlich tausende Pilger.
220
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Im Herzen des Azambuja-Tals gelegen, ist die Kirche ein wichtiger Wallfahrtsort
in der Region und wegen seiner Architektur und Repräsentation des katholischen
Glaubens ein wichtiger Teil der Identität der Stadt Brusque.
221
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
O Museu de Azambuja con- a mais que, ao contar a his- maiores e mais completo mu-
ta com um amplo espaço e as tória dos que habitaram a re- seu de Arte Sacra popular do
peças estão divididas entre gião e exibir artefatos usados Brasil.
os três andares do prédio. O no passado, contribuía para a Instalado em pleno cora-
primeiro andar é destinado formação integral dos futuros ção do Vale do Azambuja, o
à história natural. O segundo padres. Ao longo dos tempos Museu Arquidiocesano Dom
andar abriga os artefatos da os padres foram enriquecen- Joaquim é um local de grande
arte sacra. E o terceiro conta do o acervo, com coleções va- valor histórico e cultural. O
com peças históricas da colo- riadas. Na década de 1950 o prédio é um dos mais histó-
nização da região de Brusque. Pe. Raulino Reitz enriqueceu ricos e significativos de Brus-
O espaço do museu foi cria- o acervo ao acrescenter inú- que, pois serviu como primei-
do em 1933, com o propósito meras peças de artes sacras. ro hospital da cidade.
inicial de contribuir na for- Hoje o museu possui apro-
mação cultural e histórica dos ximadamente 4 mil peças, Localização: Rua Azambu-
seminaristas. Era um espaço sendo considerado um dos ja, nº 960. Bairro Azambuja.
222
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Em 1901 foi fundada, em ta Casa também abrigava um 11/03/1936. Com a nova edi-
Azambuja, a Santa Casa de asilo, um orfanato, escola pa- ficação, o hospital e o seminá-
Misericórdia para acolher roquial, escola catequética, e rio foram separados definiti-
pessoas doentes e toda sorte ala de psiquiatria. vamente.
de desvalidos. Mas os atendi- Em 1910, a seção hospi- Ao longo da sua história,
mentos passaram a ser mais talar da Santa Casa ganhou a edificação sofreu diversas
frequentes a partir de 1902 autonomia com a finalização alterações e ampliações. Ins-
quando as Irmãs da Divina de uma construção própria, talado em pleno coração do
Providência, recém-chega- e hoje o antigo prédio abriga Vale do Azambuja, o HACCR é
das da Alemanha, assumi- o Museu Arquidiocesano. O um local de grande valor his-
ram os cuidados do hospital. atual prédio do Hospital foi tórico e social para a comuni-
A casa foi inaugurada em erguido na administração de dade regional.
29/06/1902. Ainda não havia Dom Jaime de Barros Câmara.
médicos, e os atendimentos A construção, de 10.800 Localização: Rua Azambu-
eram realizados pelas religio- m², teve início em 1933. O ja, nº 1089. Bairro Azambuja.
sas. Além do hospital, a San- edifício foi inaugurado em Brusque.
223
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
No início, a fonte de Azam- A padroeira do Seminário de- para beber da água e levar
buja indicou o núcleo da lo- terminaria a escolha do título para casa, acendem velas
calidade, o ponto da coesão mariano da gruta: Nossa Se- para pagar suas promessas, e
comunitária. Ainda em 1876, nhora de Lourdes. oferecem flores. Uma fonte de
logo após a chegada dos imi- Sobre a gruta há uma ca- água natural corre sem cessar
grantes italianos, a fonte foi pela, em que encontramos o no interior da gruta. Instalada
coberta e virou oratório. A quadro de Nossa Senhora de em pleno coração do Vale do
Gruta, na forma em que se Caravaggio. A Gruta sempre Azambuja, a Gruta de Nossa
encontra hoje, foi construída foi muito frequentada pelos Senhora é um local de grande
entre 1927 e 1928. moradores de Brusque e pe- valor histórico e religioso.
A obra foi liderada pelo Pa- los visitantes em geral. Mui- Localização: Rua Azambu-
dre Jaime de Barros Câmara. tos devotos entram no local ja, nº 960. Bairro Azambuja.
224
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Seminário de Azambuja
Das Priesterseminar im Azambuja-Tal ist ein Ort von großer Bedeutung für die Erzdiözese Floria-
nópolis. Hier werden die zukünftigen Seelsorger ausgebildet und gehen von hier aus zu Missionen.
O Seminário Menor Metro- cesano, o seminário passou a 200 alunos, foi inaugurada
politano Nossa Senhora de ocupar todo o prédio onde já em 7/09/1964. O seminário
Lourdes, também conhecido se encontrava instalado. abriga duas etapas formati-
como Seminário de Azam- Em 15/08/1957 foi lan- vas na atualidade: Seminário
buja, foi criado por Dom Joa- çada a pedra fundamental Menor e Seminário Maior na
quim Domingues de Oliveira do novo prédio. A ideia, a etapa discipular.
em 11/02/1927. Visando ao responsabilidade pela capta- Instalado em pleno cora-
aprofundamento da vocação ção de recursos, e a alma da ção do Vale do Azambuja, o
cristã e o discernimento da construção do Seminário foi Seminário é um local de gran-
vocação presbiteral pela for- do padre alemão Guilherme de valor educacional, forma-
mação integral em todas as di- Kleine. O projeto foi assinado tivo, onde a Arquidiocese de
mensões humanas, foi trans- pelo engenheiro Antônio Ávi- Florianópolis tem o seu cora-
ferido de Florianópolis para la Filho e a execução coube a ção, pois dali sairão os sacer-
Brusque no dia 21/04/1927. João Martin Backes. Em agos- dotes para todas as missões
No início o Seminário ocu- to de 1960, com metade da desenvolvidas por padres na
pou o sótão do prédio do hos- obra concluída, os seminaris- Arquidiocese.
pital. A partir de 11/03/1936, tas passaram a ocupar parte
com a inauguração do prédio do novo prédio. A edificação, Localização: Rua Azambu-
próprio do Hospital Arquidio- com capacidade para abrigar ja, nº 1076. Bairro Azambuja.
225
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
Villa Quisisana
Die Villa Quisiana wurde 1932-1934 vom deutschen Architekt Simon Gramlich für die
Familie von Buettner erbaut. Flankiert von großen und imposanten Toren, die die Villa
schützen, behält die zweistöckige Residenz noch ihre ursprüngliche Struktur. Sie hat eine
große historische Bedeutung, sowohl wegen ihrer Architektur, als auch wegen der Möbel
und vor allem wegen der Uhren, die fast in allen Zimmern des Hauses zu sehen sind. Das
Bauwerk zählt zu den wichtigsten architektonischen Denkmälern der Stadt Brusque.
Construído entre 1932 e Ladeada por grandes cer- relógios que existem pratica-
1934, o palacete foi projetado cas e imponentes portões que mente em todos os cômodos.
pelo arquiteto alemão Simão protegem a mansão, a resi- O casarão foi centro de
Gramlich para servir de re- dência de dois pavimentos inúmeros encontros e reuni-
sidência da família de Edgar mantém a estrutura original, ões da sociedade brusquense,
Von Buettner. Dotada de ca- apesar de algumas pequenas e é de propriedade dos des-
racterísticas peculiares e im- reformas no sistema elétrico cendentes de Iris Renate Von
plantada em pleno coração de e energético, e possui gran- Buettner Pastor. A edificação
Brusque, a casa foi inspirada de relevância histórica, tanto é considerada um dos patri-
em uma residência na Grécia. pela sua arquitetura, quanto mônios históricos de Brus-
O imóvel foi batizado Villa pelo mobiliário, quanto pela que.
Quisisana, que significa Vila riqueza estética dos objetos Localização: Rua Rodri-
da Felicidade. antigos, principalmente os gues Alves, 270. Centro
227
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
228
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
231
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
232
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
234
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Por ser uma edificação ins- ao Presidente da Província famosas “carreiras”- corridas
talada numa das ruas mais de Santa Catarina que criou de carroça e cavalos e, por
tradicionais da cidade, a his- a Colônia Itajahy-Brusque em isso, no linguajar popular a
tória deste clube se funde com 1860. A rua onde está implan- via é conhecida por “rua das
a própria história de Brusque. tado o Clube invoca várias his- carreiras”.
Inicialmente conhecido tórias da cidade, tais como: é O espaço do clube foi pal-
como “Schützenverein”, o o local onde foi erguida a pri- co da primeira Fenarreco, que
clube tinha como principal meira “cadeia pública”; foi a mais tarde veio a ocupar es-
objetivo preservar a cultura rua de excelentes ferreiros, da paço privilegiado no calendá-
alemã e para isso anualmente cervejaria do Lauritzen, do ar- rio turístico da cidade.
realizava a tradicional “Schüt- mazém de secos e molhados Fundado em 14/07/1866,
zenfest”, a Festa dos Atirado- e padaria do velho Ristow, a é o mais antigo clube de caça
res. Por força da campanha rua da primeira queijaria, dos e tiro em atividade no país. A
de nacionalização, em 1941 carpinteiros, de pintores, e de edificação é um importante
o “Schützenverein Brusque” um famoso fabricante de car- patrimônio histórico de Brus-
passou a ser denominado de roças. A rua também era um que.
Clube de Caça e Tiro Araújo espaço de lazer nos finais de Localização: Rua Hercílio
Brusque, numa homenagem semana, pois lá aconteciam as Luz – 180. Centro.
235
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
237
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
Uma das mais importantes e o conhecimento dos tecelões dentre outros feitos, concedeu
famílias ligadas à história eco- de Lodz. Iniciou as atividades a Brusque o título de Berço da
nômica de Brusque é a Família fabris ao lado da sua casa de Fiação Catarinense.
Renaux, cuja história começa comércio, na principal rua da A importância arquitetôni-
em 1882 com a chegada, ao cidade, atual avenida Cônsul ca dos edifícios do Complexo
Brasil, de Carlos Renaux, um Carlos Renaux. Passado algum Industrial Renaux se evidencia
homem visionário, negociador, tempo, Renaux adquiriu um pela adoção de formas e orna-
empreendedor e político, e que terreno na “Estrada dos Po- tos típicos da arquitetura do art
com a família, prestou grande meranos”, hoje avenida 1º de déco, tais como marquises, pa-
contribuição para a transição Maio, no mesmo local onde redes com quinas arredonda-
da Brusque colonial para a ainda hoje se encontram as das e platibandas com formas
Brusque industrial. edificações da antiga Fábrica escalonadas. A elas se acresce a
Em 1892, Carlos Renaux de Tecidos Carlos Renaux S.A. predominância das linhas ver-
instalou uma pequena fábrica Ali a família passou a levantar ticais da arquitetura, a dispo-
de tecidos com a mão de obra um verdadeiro império que, sição das colunas e janelas de
238
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
abertura da edificação, dispos- rais adotado não ousou pela A torre da chaminé de 48
tas de forma rítmica e interca- leveza das estruturas moder- metros de altura marca o local,
ladas nas fachadas, assim como nas, ainda de uso restrito na com sua estrutura alta e impo-
os elementos decorativos com época, mas se sujeitou ao estilo nente revestida de tijolos.
releituras dos temas historicis- massudo e bem composto dos Os galpões possuem gran-
tas, como os capitéis das colu- estilos historicistas que se ade- des vãos, e o piso ao seu redor
nas do edifício mais recuado, quaram melhor à tecnologia a é feito em pedra paralelepípe-
que apesar de trazer um novo disposição naquele tempo. Os do em todo o complexo.
desenho decorativo, retoma as materiais revelam algo bas- O telhado shed, que permite
características da arquitetura tante subjetivo: por se tratar a entrada de luz natural no in-
clássica greco-romana. de construção maciça, que se terior dos galpões, faz a plásti-
Parte significativa dos pro- compreende na opção por tijo- ca do complexo das indústrias
jetos das edificações foi assi- los e concreto, representa o as- Renaux se apresentar contem-
nada pelo arquiteto alemão pecto de não transitoriedade, porâneo.
Eugen Rombach, que chegou a da solidez necessária a quem Apesar de todo o apogeu
Brusque no início da década de aqui veio para ficar. econômico vivido ao longo de
1930, a convite do Cônsul Car- Uma das características mais de 120 anos de existên-
los Renaux. Além de edifica- marcantes das edificações é o cia, a Fábrica de Tecidos Carlos
ções da fábrica, Rombach tam- tom laranja coral distintivo da Renaux teve sua falência decre-
bém projetou a residência do empresa, que cria a legibilida- tada em 2013.
Cônsul, hoje conhecida como de de ser propriedade dos Re- Em 2017, os bens da gigan-
Villa Renaux, e a antiga Mater- naux. te Renaux foram arrematados
nidade Evangélica, inaugurada em leilão e em 2018 passam
Foto: Rosemari Glatz
239
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Acervo: SAB
argamassa de areia, cal e ges- num desvão com maior apro- A partir da década de
so. Os belos jardins da man- veitamento. 1960, e até o encerramento
são eram uma atração à parte A mansão serviu como re- das atividades da empresa,
e compunham a estrutura da sidência da família de Otto em 2013, a bela e imponente
casa. A cor original do casa- Renaux até 1947, quando ele construção serviu como am-
rão era vermelho orgânico ficou doente e se afastou da bulatório da Fábrica de Teci-
escuro, e as esquadrias eram diretoria da empresa, passan- dos Carlos Renaux.
claras. do a compor apenas o conse- Passado um século desde
Uma característica impor- lho da fábrica. a sua construção, ainda hoje
tante da edificação é o telha- A edificação que é consi- a mansão, que já foi um dos
do escalonado, constituído derada um dos casarões mais maiores símbolos de poder
por ‘degraus’, em uma espécie emblemáticos de Brusque, de Brusque, pode ser admira-
de divisão em níveis, com a pois com a saída de Otto a da a partir da avenida Primei-
presença de mansardas, que mansão passou a ser a resi- ro de Maio.
consistem no vão entre a casa dência do sobrinho Ivo José A edificação é considerada
e o telhado, o sótão, que, pro- Renaux, principal persona- um importante patrimônio
vido de janelas, se transfor- gem do mistério que cerca histórico de Brusque e desde
mando em um último andar a Villa Ida. Nesta casa Ivo foi 2013 o pedido de tombamen-
habitável, pois as águas do encontrado morto com um to tramita junto aos órgãos
telhado são divididas em dois tiro na cabeça em um dos competentes.
caimentos, sendo o inferior quartos escuros e sombrios Localização: Avenida 1º de
quase vertical e o superior do 2° andar, na manhã de Maio, nº 1286. Primeiro de
quase horizontal, resultando 30/07/1949. Maio.
241
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
242
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
encontramos o espaço de la- Depois de um tempo fecha- Villa Renaux, tem recebido
zer voltado para o jardim e o da, a Villa Renaux foi habitada muitas visitas públicas, prin-
espaço reservado às máqui- por Selma, a filha mais nova cipalmente de estudantes e
nas pois a residência desde do Cônsul. Nas últimas déca- pesquisadores. As atividades
a sua construção já possuía das, quem residiu na Casa foi educacionais têm sido coor-
sistemas de aquecimento e de a bisneta do Cônsul, a histo- denadas pela Unifebe.
ar-condicionado central, con- riadora Maria Luiza (Bia) Re- Como está ligada à indus-
siderado o primeiro do esta- naux. trialização catarinense, em
do de Santa Catarina. Os sis- Bia manteve o uso residen- setembro de 2018 a Funda-
temas funcionam por dutos, cial da edificação e preservou ção Catarinense de Cultura
sendo o aquecimento feito os espaços tal como foram fez publicar a portaria de
por fornalha. A refrigeração concebidos pelo arquiteto promoção de tombamento
está embutida nas luminárias alemão Eugen Rombach, fa- da Villa Renaux, que será o
de cada cômodo, sendo que zendo da casa um verdadeiro primeiro imóvel em Brusque
tanto o aquecimento quanto a espaço de memória. A aten- declarado como patrimônio
refrigeração atingem todos os ção e esforço de Bia pela pre- histórico pela Fundação Cata-
cômodos da casa. servação da ambientação da rinense de Cultura.
A casa passou apenas por época chegou aos mínimos Localização: Avenida Pri-
duas reformas, uma por volta detalhes, com resgate de mo- meiro de Maio, nº 1000. Pri-
da década de 1990 e outra no biliário e peças originais, tais meiro de Maio.
ano de 2015 e se encontra em como louças e objetos de de-
ótimo estado de conservação. coração.
Uma revitalização também Após a morte de Bia Re-
se fez necessária em alguns naux, em janeiro de 2017, o
cômodos quando, em 2013, a possuidor do imóvel assinou
casa foi invadida por vânda- um Termo de Cooperação
los. para Cessão de Direitos de
Ao longo da sua história, a Uso de Imóvel e Acervo Docu-
casa abrigou três gerações de mental com o Centro Univer-
moradores. O Cônsul e a Con- sitário de Brusque – Unifebe.
sulesa Renaux, para quem foi A partir de então a Unifebe
construída a casa e que nela passou a ter acesso ao acervo
permaneceram até sua morte. documental histórico físico e
Após a morte do Cônsul, digital armazenado na Villa
em 28 de janeiro de 1945, Renaux, com o objetivo de
seus descendentes costuma- contribuir para a sistemati-
vam se reunir na Villa Renaux zação, preservação e sociali-
duas vezes ao ano, para ren- zação da memória, documen-
der homenagem aos antepas- tação visual da história e do
sados: no dia 11 de março, patrimônio cultural da cidade
aniversário natalício de Car- de Brusque e região.
los Renaux, e em 8 de dezem- Desde 2017, o Espaço de
bro, aniversário natalício da Memória Cônsul Carlos Re- Mausoléu onde está sepultada
a consulesa Goucki.
sua esposa Selma Wagner. naux, implantado dentro da
Foto: Rosemari Glatz
243
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
244
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
245
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
Praça do Sesquicentenário
Der “Praça do Sesquicentenário“ wurde 2010 zum 150-jährigen Bestehen der
Stadt Brusque eingeweiht. Der neue Platz ist ein Begegnungsort vieler Familien
mit Kindern und ein wunderbarer gemütlicher Platz zum Verweilen.
Praça Vicente Só
Der Vicente Só Platz liegt heute dort, wo im Jahr 1860 die ersten deutschen Einwandererfamilien
in der Mühle von Pedro Werner provisorisch einquartiert wurden. Die dort stehende Skulptur
weist auf die Begegnung zwischen den Einwanderern und den Ureinwohnern auf.
Praça da Cidadania
Der Platz ist nach dem ehemaligen Bürgermeister Paulo Lourenço Bianchini
benannt. Die Einweihung fand im August 2013 statt. Das Gelände beherbergt
die Stadtbibliothek und die Kulturstiftung der Stadt Brusque.
Criada pela Lei Municipal chaft - BSG, atendendo a uma nageando os imigrantes, doa-
nº 1.400, de 30/03/1988, resolução da Câmara de Ve- da pela BSG e pela Associação
a Praça fica na cabeceira da readores de Karlsdorf-Neu- Catarinense de Intercâmbio e
Ponte Estaiada. Durante os thard, trouxe a Brusque uma Cultura – ACIC.
primeiros anos de coloniza- muda de carvalho alemão. A
ção da cidade, a região serviu árvore tinha 1 metro de al- O carvalho plantado em
como porto fluvial de Brus- tura e foi plantada na praça 1988 foi atingido por pragas,
que. Ali aportavam os barcos, para simbolizar a origem dos sofreu os efeitos do clima, e
as canoas e as lanchas que imigrantes. O carvalho teve começou a morrer. Mas, assim
visavam ao abastecimento da um bom crescimento inicial e como os imigrantes alemães
população, e a saída dos pro- chegou a atingir cerca de 10 tinham esperança numa nova
dutos para o porto marítimo metros de altura. vida, também o carvalho ale-
de Itajaí. A Praça foi revitalizada em mão brotou outra vez. Agora
A praça recebeu este 2009. Para celebrar os 150 são dois novos ramos que,
nome em homenagem aos anos da imigração alemã, em lado a lado, crescem frondo-
imigrantes alemães originá- novembro de 2010 foi im- sos e saudáveis. Tal como o
rios de Karlsdorf, que che- plantado na praça um belo monumento implantado na
garam a Brusque a partir de monumento composto por mesma praça, os dois ramos
19/08/1860. duas colunas entrelaçadas podem simbolizar a velha e
Quando a praça foi inau- por uma fita, simbolizando nova Pátria dos imigrantes de
gurada, Egon Klefenz, à época Baden e o Brasil, e represen- Karlsdorf.
prefeito de Karlsdorf-Neu- tando a velha e nova Pátria Localização: confluência
thard e presidente da Badis- dos imigrantes. Também foi do Largo 4 de Agosto com a
ch-Südbrasilianische Gesells- descerrada uma placa home- Rua Hercílio Luz. Centro.
251
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
A praça privada de uso pú- conta com o apoio da Unifebe arte que convida a legibilidade
blico, que pertence ao Cen- para fins científicos. Denomi- da peça para além das aparên-
tro Universitário de Brusque nada carinhosamente de “Pra- cias das coisas, onde impera
- Unifebe, recebeu uma nova ça do Estudante”, pois não é um tipo de essência espiritual,
urbanidade e uso a partir da uma praça oficial, conta com uma força ou um ser imanente,
inauguração de uma das três uma escultura que integra o cuja manifestação nas formas
unidades da estação inteligen- Patrimônio Histórico do Muni- vivas é só parcial e convida a
te Smight instaladas em conti- cípio. A escultura “Sem Nome” eterna e incessante busca pelo
nente americano. de Fridel Steiner, traz uma pirâ- conhecimento, tão próprio do
Inaugurada em 17 de no- mide que emoldura oito rostos ambiente universitário.
vembro de 2017, a estação com olhos fechados e um nono Caminhos pavimentados,
inteligente Smight é um dos rosto com olhos abertos e, num bancos coloridos e canteiros
frutos do projeto “50 Parcerias deles, um coração, remetendo floridos complementam a am-
Municipais pelo Clima” firma- ao olhar da Mãe Terra que, com bientação do local.
do entre Brusque e o Distrito olhar vigilante acolhe, protege, Localização: Unifebe. Bairro
de Karlsruhe, Alemanha, e que orienta e ensina. É uma obra de Santa Terezinha.
252
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Foto: Diplomata FM
Chamada carinhosamen- sua identidade étnica. Muito Depois de três edições no Clu-
te de Fenarreco, é realizada famoso nas regiões do Vale do be, a Fenarreco foi realizada
anualmente no mês de outu- Itajaí, o marreco recheado é pela primeira vez no atual en-
bro e é o principal símbolo da servido acompanhado de re- dereço, mas sem o pavilhão.
vida social de Brusque. Seus polho roxo ou chucrute, bata- Duas grandes coberturas de
atrativos são os pratos à base tas e purê de maçã. lonas foram utilizadas para
de marreco, além do chope, Quando foi realizada a os bailes e a feira industrial e
apresentações de grupos fol- 1ª edição da Fenarreco, em outras menores abrigavam os
clóricos e bandas alemãs. 1986, a cidade possuía pouco serviços de restaurante e be-
A ideia da Fenarreco sur- mais de 50 mil habitantes e bidas. Somente em 1991, com
giu em 1985, após a cidade quase nenhuma tradição tu- a conclusão da construção, a
ter sofrido o efeito devasta- rística. Em Brusque não exis- festa pôde ser realizada em
dor das duas grandes cheias tiam locais para a realização dependências mais confortá-
de 1983 e 1984, mas sua pri- de eventos, e as primeiras edi- veis e suficientes para rece-
meira edição aconteceu só em ções da festa foram realizadas ber um grande público.
1986. Inspirada na criação da nas dependências do Clube de A Fenarreco é organizada
Oktoberfest, de Blumenau, a Caça e Tiro Araújo Brusque. O pela Secretaria de Turismo e
festa simboliza a superação, crescimento da festa foi in- acontece anualmente no mês
e representa um esforço para tenso e rápido, e o Clube não de outubro. É considerada a
manter e redefinir a identida- comportava mais a expectati- maior festa de Brusque, e uma
de do povo brusquense. va de um público maior. Então das maiores festas de outubro
O marreco recheado – ou a Prefeitura, em parceria com de Santa Catarina.
“gefüllte Ente”, como é conhe- a iniciativa privada, construiu Local: Pavilhão de Eventos
cido na Alemanha, é elemento o Pavilhão de Eventos que Maria Celina Vidotto Imhof.
fundamental da festa e serviu atualmente constitui o princi- Rua Deputado Gentil Battisti
para que Brusque reafirmasse pal local de eventos da cidade. Archer. Centro 2.
253
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira
256
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
257
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Dados demográficos
Foto: Rosemari Glatz
258
Foto: Jornal O Município
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
259
Foto: Daiane Benso
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
260
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Dados econômicos
Reconhecida pela sua característica
empreendedora, Brusque é destaque
nacional no quesito desenvolvimento
econômico.
Conhecida como “Berço da Fiação
Catarinense” e “Cidade dos Tecidos”, du-
rante muitos anos a base econômica foi
o têxtil.
Impulsionado pelo segmento têxtil,
a partir de 1960, o panorama industrial
da cidade foi sendo ampliado com a in-
serção da indústria metalmecânica.
Economia
A indústria é a base da economia lo-
cal, especialmente o setor têxtil e o me-
talmecânico, mas o comércio de vestu-
ário, cama, mesa e banho, e o turismo
também se destacam na geração de ren-
da da cidade.
Indústria [2015]:
Colocação no ranking entre as 295 ci-
dades catarinenses: 7º
Colocação entre as 5.570 cidades bra-
sileiras: 134º
Serviços [2015]:
Colocação no ranking entre as 295 ci-
dades catarinenses: 12º
Colocação entre as 5.570 cidades bra-
sileiras: 200º
261
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Trabalho
e Rendimento
Quando o assunto é o total de pessoas emprega-
das, os dados do IBGE apontam que em 2016 ha-
via 55.355 pessoas formalmente empregadas em
Brusque, distribuídas principalmente entre os se-
tores têxtil, metalmecânico e de serviços.
Salário médio mensal dos trabalhadores for-
mais: 2,4 salários mínimos
Pessoal ocupado: 55.355
População ocupada: 44%
Domicílios com rendimentos mensais de até
meio salário-mínimo por pessoa: 19,8%.
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM) [2010]: 0,795
REFERÊNCIA
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística. Panorama Brusque. Disponível em:<ht-
tps://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/brusque/pa-
norama>. Acesso em 12 outubro 2018.
262
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
263
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
264
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
266
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Hino do Centenário
de Brusque Foi aqui, neste vale tranquilo
Entre os montes e o rio escondido.
Brusque é das mais belas e próspe- Que, há cem anos atrás, um pugilo
ras cidades da Bacia do Itajaí. Prepa- De imigrantes surgiu destemido
rando-se para festejar o centenário da Dos heróis palmilhando o roteiro,
sua fundação, em 4/08/1960, as indús- Sobre o solo, que audaz desbravou.
trias, o comércio e o povo se uniram em Esse grupo invulgar, pioneiro,
torno de suas autoridades constituídas
A semente de Brusque plantou.
para dar às projetadas comemorações
o máximo de imponência. A Sociedade
Amigos de Brusque – Casa de Brusque, ESTRIBILHO:
que congregava em seus quadros, des- Salve Brusque imortal, no recesso
de a sua fundação, as mais altas expres- Dos teus vales, ressoa nos ares
sões culturais, econômicas e adminis- O cantar triunfal do progresso
trativas da região, procurou de todas as Pela voz singular dos teares.
formas revestir os festejos programa- Salve Brusque imortal.
dos não apenas do possível brilhantis-
mo, mas também do maior significado,
Sobre as áreas fecundas da terra.
de maneira a apresentar Brusque ao
Brasil, em toda a esplendente realida- Que ao vigor do trabalho se rendem,
de de uma comuna que, pelo trabalho Pela várzea do rio, pela serra,
e a indústria de seus homens, concorre Pouco a pouco as lavouras se estendem.
com elevado coeficiente para a grande- E do chão brota a casa modesta,
za física e moral do país. Construída de palha e de lenho,
Uma das iniciativas concretizadas Conquistada vai sendo a floresta,
foi o Hino do Centenário, letra do poe-
E enche os ares o canto do engenho.
ta itajaiense Eduardo Tavares, e música
do brilhante maestro Aldo Krieger, en-
tão diretor do Conservatório Brasileiro Do trabalho sem par do imigrante,
de Música. Também é da autoria desses Com bravura e ardor soberanos,
dois artistas o Hino do Centenário de Surge Brusque viril e gigante,
Blumenau. Já passados que foram cem anos.
Pela beleza dos versos e pela har- Terra minha. Só tens ocupado
monia e técnica da partitura, o Hino do Posição de relevo, altaneira,
Centenário de Brusque é um trabalho
E teu nome, entre mil, é citado
digno de orgulho.
Como exemplo à nação brasileira.
É esta a magnífica letra que Aldo
Krieger musicou:
267
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
268
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Da Liberdade adorada
No deslumbrante clarão
Banha o povo a fronte ousada
E avigora o coração
270
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
I II
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Deitado eternamente em berço esplêndido,
De um povo heroico o brado retumbante, Ao som do mar e à luz do céu profundo,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Iluminado ao sol do novo mundo!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do cruzeiro resplandece. - Paz no futuro e glória no passado.
271
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Foto: Rosemari Glatz
272
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
273
BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
Agradecimentos
Foram muitas as mãos que foram colocadas “na massa”. Juntas, essas “várias mãos”
possibilitaram dar forma à obra que agora se apresenta à comunidade. A elas cabe agradecer.
Agradeço:
A Deus.
Aos meus pais, aos meus avós e à minha madrinha Anna (todos em memória),
pela vida e estímulo ao estudo e à leitura, pois sem essa base as palavras não
sairiam da minha cabeça para se transformar em livro.
Às minhas irmãs Edda, Isolde e Zusana, e demais familiares. Vocês são mais do que especiais!
Aos jovens Egon Henrique Kohler Formonte; Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira, e
Sarah Beatriz Frainer. Vocês foram corajosos, encararam o desafio e conseguiram
contribuir de forma muito especial para que este livro se transformasse não apenas em
mais um livro de história, mas numa obra de arte colorida, descolada, artística e cultural.
Ao Tchê (Celso Deucher), pela paciente diagramação que permitiu esta obra
transmitir ao leitor o que o meu coração queria comunicar.
Ao Francisco Daniel Imhof, o famoso “Chico”, por sua dedicação na revisão dos textos.
Ao pastor Claudio Siegfried Scheffer e ao padre Eder Claudio Celva, por suas
contribuições nos textos referentes à religião.
À Francine Cavalheiro Carbonera que, com sua veia artística, foi capaz de dar
um rosto ao rosto que não conhecíamos, o Barão Maximilian von Schneeburg,
274
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
A Herbert Pastor, Edgar Ricardo von Buettner e Marga Helga Erbe Kamp, pelas
contribuições referentes à família von Buettner. Agradecimentos especiais
à Helga pelas informações primárias e fotografias.
À Astrid Renaux, a Gerd Albert Walter Gommersbach e a Vitor Renaux Hering, pelas
contribuições atinentes à família Renaux. Agradecimentos especiais a Vitor pois,
ao permitir o acesso ao acervo do Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux para
pesquisas, abriu as portas do passado e o franqueou ao presente e ao futuro.
A todos os que cooperaram com esta obra, ainda que não nominados expressamente.
Agradecimentos especiais:
Ao meu esposo Carlos, aos meus filhos Ariel, Luan, Anna Luiza, Marcele
e Sarah e à minha neta Helena Gabriela.
Estou mais agradecida do que sou capaz de dizer.
A compreensão e o estímulo de vocês foram indispensáveis para
que o sonho se transformasse em realidade.
Amo muito todos vocês!
275
Foto: Bruna Burigo BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz
276
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Leitor, viaje tranquilo e saboreie cada uma das páginas deste maravilhoso livro “BRUSQUE
- Os 60 e o 160: Elementos da nossa história”. Depois da última página, venha me falar do seu
encantamento.
Os 60 e o 160
Foto: Rosemari Glatz
278
Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história
Emancipou-se a colônia
E a vila ganhou um nome: Brusque,
Em homenagem à fonia
Do presidente da província, Araújo Bruscchi.
Em 1890,
As iniciativas têxteis se espalham
E o novo símbolo de riqueza emana.
O berço da fiação, com carinho chamam
Aquele que Brusque respeita e ama.