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CÊNICAs
Indaial – 2022
2a Edição
Elaboração:
Prof.ª Melize Deblandina Zanoni
Z33a
Impresso por:
ISBN 978-65-5663-811-9
ISBN Digital 978-65-5663-812-6
Como você pode ver, as artes cênicas são tão antigas quanto o ser humano e,
por isso, possuem uma longa história e inúmeras metodologias que demandam muito
tempo de estudo. Esta disciplina tem um caráter introdutório e um conteúdo
básico, cabendo a você aprofundar as temáticas, buscar mais conhecimento sobre
estas e outras temáticas das Artes Cênicas não apresentadas neste livro didático.
Esperamos que a partir desta leitura e das atividades propostas, você consiga
ter um norte para buscar novos conhecimentos e para aplicar o que você já aprendeu,
além de apreciar as artes cênicas com um olhar mais ampliado pelo conhecimento das
suas estruturas.
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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.
Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas m
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensad
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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - TEATRO-EDUCAÇÃO: DISCURSOS E PRÁTICAS EDUCATIVAS.......................1
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................69
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................140
TÓPICO 2 - DRAMATURGIA...............................................................................................159
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 159
2 A DRAMATURGIA AO LONGO DO TEMPO.....................................................................160
2.1 O LUGAR DO TEXTO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA.........................................160
2.2 O LUGAR DO TEXTO NA ÉPOCA MEDIEVAL, NO RENASCIMENTO E NO BARROCO....165
2.3 O LUGAR DO TEXTO NO TEATRO DOS SÉCULOS XVIII E XIX..................................................170
2.4 O LUGAR DO TEXTO NO REALISMO E NO NATURALISMO.................................173
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE.......................................................................................................................... 176
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................196
UNIDADE 1
-
TEATRO-EDUCAÇÃO:
DISCURSOS E
PRÁTICAS
EDUCATIVAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
Acesse o
QR Code abaixo:
UNIDADE 1 TÓPICO 1-
TEATRO-PEDAGOGIA E PEDAGOGIA
DO TEATRO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o ensino das artes, tema debatido
desde a Antiguidade Clássica, na qual grandes filósofos, como Aristóteles, já falavam
sobre o tema. Apesar disso, apenas no século XIX a expressão Arte-educação passa
a ser utilizada em documentos e textos sobre a temática. No entanto, foi no século
XX que a Arte-educação passou a ser estudada e debatida com maior ênfase. Como
veremos, no Brasil, a arte foi reconhecida como área do conhecimento no currículo
escolar apenas na década de 1990.
Hoje, como podemos ver nas escolas, a disciplina Arte ainda contempla
linguagens variadas, focando mais especificamente, as Artes Visuais, tanto
teoricamente, quanto na prática. Apesar disso, as outras linguagens estão ganhando
espaço no ambiente escolar. Alguns municípios brasileiros, no ensino público
municipal, adotam o oferecimento das quatro linguagens artísticas, ensinadas
separadamente. Assim também acontece em algumas escolas de ensino privado no
Brasil. Estas linguagens são ministradas por docentes com formação específica e o
aluno tem a possibilidade de escolher a linguagem com que mais se identifica para
aprofundar-se na disciplina Arte. Apesar dessa possibilidade, a maior parte das escolas
públicas e privadas oferece uma disciplina de Arte, cujo professor ensina um pouco de
cada linguagem, focando mais profundamente na sua área de formação e nos
conteúdos obrigatórios.
IMPORTANTE
É importante entendermos que a disciplina Arte era denominada Educação Artística e que a LDB de 1961, qu
Após alguns anos, o governo federal criou cursos para a preparação dos professores de Educação Artís
4
Na década de 1980, o movimento pela Arte-Educação no Brasil foi bastante
consistente e nomes como o da Professora Dra. Ana Mae Barbosa foram muito
importantes para a consolidação da Arte-Educação como área do conhecimento. O
termo arte-educador denomina uma categoria de profissionais da educação
licenciados em Arte e que empreenderam uma luta política em busca da inserção das
artes no currículo escolar.
IMPORTANTE
Cada modalidade artística envolve o estímulo de percepções sensoriais específicas e a utilização de
para o desenvolvimento humano como um todo: atenção, organização, percepção, memorização,
5
Como podemos perceber, o teatro é uma linguagem voltada para os trabalhos
em grupo, que empenha pessoas em funções ou objetivos coletivos e tem no cerne de
seu processo, o planejamento grupal, a divisão de tarefas, a troca de ideias. Além
disto, exercita a atitude analítica e a tomada de decisões.
6
Não somente no teatro, mas em qualquer área do conhecimento, os
pressupostos metodológicos devem proporcionar o conhecimento dentro de uma
estrutura teórico- prática. Por desconhecimento desses pressupostos, alguns
professores ainda reproduzem práticas pedagógicas, no que diz respeito ao ensino do
teatro, ligadas aos modelos da Escola Tradicional ou Nova.
NOTA
A Escola Tradicional ou Escola Nova são modelos educacionais que se desenvolveram no século X
8
As diferentes linguagens, pensamentos, costumes, tradições e formas de
expressar as emoções são propagados pela cultura, assim como a elaboração de
signos que nos diferenciam dos animais e de outras culturas. A linguagem é um desses
sistemas de signos historicamente construídos e é a partir da aquisição desta que
mudamos de patamar qualitativo em termos de pensamento. É por meio da linguagem
que complexificamos o pensamento e até a expressão das emoções. Todas essas
estruturas são compartilhadas e disseminadas de geração em geração.
Por ser o teatro uma linguagem artística que privilegia a interação social, o
uso da linguagem, o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, podemos dizer
que o teatro propicia experiências que podem ampliar a Zona de Desenvolvimento
Proximal. O teatro ainda utiliza as linguagens oral e gestual de forma singular.
9
Dentre as linguagens artísticas, o teatro oferece possibilidades de interação,
uso da palavra e expressão afetiva de forma intensa. Todas as artes, assim como o
teatro, mobilizam aspectos afetivos, motores, cognitivos e sociais dos sujeitos.
Além das aprendizagens envolvidas na prática e na fruição das artes e o
desenvolvimento das múltiplas inteligências do ser humano, “como qualquer vivência
intensa, a vivência estética cria uma atitude muito sensível para os atos posteriores e,
evidentemente, nunca passa sem deixar vestígios para o nosso comportamento”
(VYGOTSKY, 2004, p. 342).
O ensino das artes visuais tem como premissa, ensinar possibilidades para o
desvelamento das imagens. No teatro, o desvelamento se dá na imagem em
movimento, o qual conjuga diversas plataformas significativas (voz, corpo, ação).
Tanto atuantes quanto o público aprendem a organizar as informações e os
significados destas plataformas dentro do espetáculo teatral. Quanto mais os atores e
o público desenvolverem estes saberes, melhor será a comunicação entre si e melhor
será a experiência. Por isto, o ensino do teatro também é formador de público. Ator e
público aprendem mutuamente sobre a realidade e nessa relação dialética, agregam
conhecimento e experiência ao outro. Japiassu (1998, p. 9) afirma: “A qualidade das
interações intersubjetivas, culturalmente mediadas, interferem decisivamente no
processo de constituição dos sujeitos”.
NOTA
Jean William Fritz Piaget (1896-1980) foi um grande pensador do desenvolvimento humano, portanto, é
1
O prazer que o teatro proporciona aos jovens é um misto de brincar, jogar,
relacionar-se com o outro, construir sua personalidade por meio de outras
experiências, expressar-se, pensar e agir criativamente.
11
Trabalhar com atividades teatrais mobiliza capacidades e habilidades para a
vida da criança, não somente na escola, mas também fora dela. Dessa forma, o teatro
promove um desenvolvimento gradativo nas áreas cognitivas e afetivas do ser humano.
ESTUDOS FUTUROS
No próximo tópico, veremos diferentes metodologias que podem ser utilizadas tanto como instru
Como podemos ver, o teatro, no uso das linguagens orais e gestuais nas
representações, na mobilização da imaginação e da criatividade, na realização em
determinado tempo e espaço é um universo de interação social e de manifestação da
cultura, podendo cumprir diferentes objetivos.
1
5 PEDAGOGIA DO TEATRO
13
A pedagogia teatral anterior era baseada em procedimentos externos e,
muitas vezes, resultava em uma representação convencional e mecânica de estados,
sentimentos e de imagens.
ESTUDOS FUTUROS
Nos escritos de Stanislavski é possível observar que a atenção de suas inquietações vai distancian
15
Os estúdios, grupos e laboratórios teatrais foram fundamentais para o
surgimento de uma nova dimensão do trabalho do ator que revolucionou também a
maneira de se pensar o fazer teatral, expandindo as fronteiras do trabalho do ator e
do diretor-pedagogo.
ESTUDOS FUTUROS
Neste primeiro tópico, vimos os termos comumente utilizados para definir o ensino do teatro e passamos
desenvolvidas tanto com alunos iniciantes, quanto com alunos que já possuem alguma experiência na
1
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
17
AUTOATIVIDADE
1 Uma das principais realizações do teatro no século XX foram os espaços de
desenvolvimento e sistematização de pedagogias para a formação do artista de
teatro. Com a valorização do trabalho do ator como artista criador, veio a
necessidade de um artista de teatro apto para a criação de novas possibilidades
na cena e que desenvolvesse um treinamento constante com “...ênfase ao
desenvolvimento de suas qualidades, não somente físicas, mas também
intelectuais e morais, tendo por objetivo dotá-lo de uma ‘poética’ nova” (FÉRAL,
2003, p. 51). Sobre a pedagogia do ator no século XX, assinale a alternativa
CORRETA:
2 Reverbel (1997) afirma que o “ensino do teatro é fundamental, pois, através dos
jogos de imitação e criação, a criança é estimulada a descobrir gradualmente a si
própria, ao outro e ao mundo que a rodeia. Sobre o principal objetivo do ensino do
teatro no contexto escolar, assinale a alternativa CORRETA:
1
c) ( ) As Artes Visuais, o Artesanato, a Dança e o Teatro estão presentes nas salas de
aula do ensino fundamental, sendo a Dança e as Artes Visuais as linguagens
obrigatórias, pela LDB nº 9394/96.
d) ( ) As Artes Visuais, o Cinema, A Dança e a Música são as linguagens artísticas
ensinadas na escola, sendo a Dança a linguagem artística mais presente nos
conteúdos ministrados na disciplina de Arte.
19
2
UNIDADE 1 TÓPICO 2-
O JOGO E O LUGAR DO ESPECTADOR
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 2, nós veremos o jogo dramático, procedimento
inerente ao universo infantil e fundamental para o desenvolvimento integral do ser
humano.
21
2 O JOGO DRAMÁTICO
Peter Slade (1912-2004), pesquisador inglês, pioneiro nos estudos do teatro
para crianças, em O jogo dramático infantil (1978), apresenta diversas atividades
práticas, denominadas por ele como jogos dramáticos infantis.
2
Esse jogo ajuda no desenvolvimento das linguagens gestuais e orais, exercendo
influência importante na construção do ser, principalmente em seu comportamento
social e na sua capacidade de se adaptar ao meio em que vive. “A oportunidade de
jogar, portanto, significa ganho e desenvolvimento. A falta de jogo pode significar
uma parte de si mesmo permanentemente perdida” (SLADE, 1978, p. 20).
Respeitar as criações do grupo, não significa que o adulto mediador não possa
intervir e sugerir outro rumo ou inserir outros elementos, quando isto se fizer
necessário. “O importante é que se mantenha sempre a tensão necessária entre
liberdade de criação e interferência crítica do coordenador do processo, numa relação
em que os dois polos são fundamentais” (DESGRANGES, 2010, p. 98).
Dessa forma, consegue-se tornar o jogo dramático infantil uma atividade viva,
reflexiva, em que as crianças possam ser também criadoras e não somente jogadoras.
23
A seguir, iremos abordar os jogos teatrais, procedimentos com regras
claras, realizados por meio de improvisação, nos quais os jogadores buscam a
solução de problemas utilizando a atuação e, por meio destes, os procedimentos
teatrais também podem ser aprendidos.
3 O JOGO TEATRAL
FONTE: <http://eraumavezuem.blogspot.com/2012/09/ribeiro2004-considera-que-o-teatro.html>.
Acesso em: 1 maio 2021.
4 O ESPECTADOR PARTICIPATIVO
Quando falamos do espectador participativo e do teatro como forma de
questionamento, de ação e reflexão crítica, de educação política, não podemos deixar
de falar das propostas metodológicas do Teatro Didático do alemão Bertold Brecht e
do Teatro do Oprimido de Augusto Boal, diretor teatral brasileiro, autor, teórico ligado à
concepção da educação de Paulo Freire e maior representante do teatro participativo
no Brasil.
25
Bertolt Brecht foi um diretor teatral, dramaturgo e teórico alemão que
revolucionou a pedagogia do teatro, quando considerou que o público deveria tomar
um posicionamento crítico, “distanciado” em relação ao espetáculo. Diferentemente do
teatro realista, no qual o público identifica-se quase hipnoticamente com o
acontecimento cênico, o que o impede de pensar e analisar de forma crítica, a
proposta dramática do alemão Bertolt Brecht deriva da filosofia marxista e apresenta
uma solução para a atitude passiva do espectador, a fim de distanciá-lo do
embotamento das emoções e fazê-lo refletir na busca por resoluções concretas para
os problemas sociais.
NOTA
o socialista inglês e francês (socialismo utópico) e da economia Inglesa do século XIX. O marxismo,
27
As seis técnicas que estruturam o teatro do oprimido se ramificam na copa
da árvore simbólica. São elas: o Teatro Invisível, o Teatro Legislativo, o Teatro Fórum,
o Teatro Imagem, o Teatro Jornal e o Arco-Íris do Desejo.
Iniciado nos anos 1960, o Teatro Jornal, muito utilizado no Núcleo do Teatro
Arena, Núcleo em que Boal esteve à frente, tinha como objetivo, driblar e denunciar a
opressão imposta às artes pelo regime militar.
2
Boal (2013) concebe o teatro como instrumento de luta e emancipação social,
fazendo do teatro um recurso metodológico para que os participantes exercitem
uma postura crítica, reflexiva, autônoma e politizada. Instiga a tomada de posição e
a ação efetiva.
FIGURA 5 – BERTOLT BRECHT, EM 1941, ORIENTANDO A ATRIZ EM MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS, 2017
FONTE: <https://www.correiodeatibaia.com.br/opiniao/em-terra-de-brecht-ninguem-usa-oculos/>.
Acesso em: 2 jun. 2021.
29
Bertolt Brecht, dramaturgo, escritor, teatrólogo e diretor teatral viveu em um
contexto na Alemanha na transição entre o século XIX até a primeira metade do século
XX, em que a Alemanha possuía uma oligarquia financeira conquistada por meio de
uma concentração do capital industrial e bancário, formando grandes monopólios. A
classe operária passava por momentos difíceis e de tempos em tempos protagonizava
manifestações de revolta contra o regime burguês. Por este motivo, toda a obra de
Brecht é marcada pela luta contra o capitalismo e o imperialismo e pela profunda
reflexão sobre a divisão da sociedade em classes.
3
DICA
cht: um jogo de aprendizagem (1991), oferece uma aprofundada pesquisa sobre as peças didáticas de Brecht.
A segunda é uma fase tida como preparatória, intermediária, que reúne textos
de teatro didático ou de aprendizagem, foi considerada por alguns um projeto
inacabado, ou abandonado nos anos 1930, no qual Brecht aderiu aos princípios
marxistas, que o levam a designar seu teatro épico de teatro dialético. Nesta fase,
além de fragmentos reunidos sob o título de Teoria da peça didática, há uma
pequena, mas expressiva produção: apesar do caráter didático de todas as obras do
autor, as peças classificadas como “peças didáticas” geralmente, são: Baden-Baden
(1929), O voo sobre o oceano – peça didática radiofônica (1928/1929), Aquele que diz
sim e aquele que diz não – óperas escolares (1929/1930), A exceção e a regra
(1930/1938), A medida (1930), Os horácios e os curiácios – peça escolar (1934) e os
fragmentos Decadência do egoísta Johann Fatzer e O malvado Baal, o associal.
31
A terceira fase é relacionada às obras de Brecht que se tornaram “clássicas”
e que apresentam musicais, como: A vida de Galileu (1937-9/1943), Mãe coragem
(1938-39/1941), O círculo de giz caucasiano (1943-45/1948), A alma boa de Setsuan
(1939-42/1943).
3
A construção de uma representação teatral alicerçada no conceito de
distanciamento objetiva a clareza do caráter social e da possibilidade de mudança
daquilo que vemos. Essa visão marcou profundamente a história da dramaturgia e do
teatro mundial.
DICA
A obra de Brecht é vasta e complexa, assim como seus conceitos e procedimentos. Por esse motivo
A seguir, veremos um recurso pedagógico teatral que nasceu nos países anglo-
saxões e que hoje é utilizado em vários países do mundo, principalmente no contexto
escolar: o Drama.
33
5 O DRAMA COMO RECURSO METODOLÓGICO
ESTUDOS FUTUROS
Você poderá ler um artigo da professora Beatriz Ângela Cabral no final
desta unidade.
O Drama, nos anos de 1970, “passou a ser reconhecido como uma forma de
arte e praticado em países como Austrália, Inglaterra, Canadá, alguns países do norte
europeu e nos Estados Unidos”, como pontua O’Toole (1992, p. 4).
3
Nessa metodologia, os participantes entram em uma situação ficcional
sugerida pelo condutor/mediador do processo, agem como seres ficcionais ou
personagens e a partir dos estímulos (textos, objetos, imagens, entre outros),
constroem uma narrativa.
35
É
3
importante conhecer “[...] suas idades, gêneros, experiências, a situação social da
saúde do grupo, a cultura, o caráter da escola, o espaço onde o Drama está
acontecendo, as demandas curriculares e assim por diante” (BOWELL; HEAP, 2013, p.
23).
Essa ação permite encontrar focos de interesse que possam inspirar a criação
de contextos dramáticos. Cada processo de Drama é singular, já que tem como
foco gerador os interesses e necessidades do grupo.
37
drama em uma sessão (um encontro) ele pode dividir esse processo em cinco ou seis
3
episódios ao longo desse período. Todas as etapas contribuem com o aprofundamento
de uma mesma questão investigada em um mesmo episódio, cabendo ao condutor
escolher as estratégias que levem as crianças a perceberem a questão sobre
ângulos distintos. Uma nova questão ou novo problema origina um novo episódio.
DICA
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ATIVIDADE 1
39
PONTO DE OBSERVAÇÃO
1. Recomende aos jogadores para usarem muitos detalhes ao desenharem suas plantas-
baixas (por exemplo: portas, janelas, tapetes). O O quê deve ser mantido na forma
simplificada, sem qualquer tensão entre os atores (por exemplo: arrumando o cabelo
no cabeleireiro, assistindo à TV etc.).
2. Os jogadores devem levar suas plantas-baixas para o palco para consulta. Outra
planta- baixa deve ser desenhada no quadro-negro, para a plateia, [se houverem
outros jogadores assistindo]. Se não houver quadro-negro, deve ser fornecida uma
planta- baixa especial (sem indicações de relacionamento e O quê) para a plateia.
3. O exercício termina no momento em que ambos os atores tiverem estabelecido contato
com tudo o que há no Onde. Às vezes, é necessário anunciar: "Um minuto!" para
terminar o exercício, embora ele geralmente termine por si mesmo”.
ATIVIDADE 2
4
a um acordo – a pluralidade de sentimentos e
opiniões é que se torna estimulante e criativa.
Escolhe-se depois uma estrutura determinada,
que pode ser uma das que foram criadas ou
outra qualquer,
41
como, por exemplo, uma cadeira atrás da mesa diante de dois pares de cadeiras e mais uma no
que o segundo arrebatou. Depois, sempre que alguém conquista esse poder, permanece em cen
se aproveitá-lo ou não. (BOAL, 2006, p. 217).
4
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
43
AUTOATIVIDADE
1 “O jogo dramático infantil é uma forma de arte por direito próprio; não é uma atividade
inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos” (SLADE,
1978, p. 17). A respeito do jogo dramático, assinale a alternativa CORRETA:
2 No Teatro Invisível são realizadas cenas teatrais de protesto, sem que o público
identifique como ficção. O público acredita que o protesto está acontecendo e
a técnica se desenvolve em local público, permitindo que os atuantes não
sejam identificados como atores. A ficção se mistura com a realidade e imprime
uma visão crítica do momento presente. Por quem esse tipo de teatro foi
desenvolvido?
a) ( ) Viola Spolin.
b) ( ) Augusto Boal.
c) ( ) Bertolt Brecht.
d) ( ) Peter Slade.
a) ( ) Jogo dramático.
b) ( ) Drama.
c) ( ) Teatro do oprimido.
d) ( ) Teatro didático.
4
5 No livro Improvisação para o Teatro, Editora Perspectiva, 2008, páginas 226-227,
Viola Spolin demonstra a sua visão pedagógica sobre o ensino do teatro por meio do
jogo teatral, apresentando diversos exercícios práticos desenvolvidos ao longo
de seus anos em sala de aula. Spolin defende que as instruções feitas aos
estudantes devem ser concretas e não subjetivas. O estudante deve ter claro em
mente as instruções e o objetivo do jogo. Sobre a pedagogia de Viola Spolin,
assinale a alternativa CORRETA:
45
UNIDADE 1 TÓPICO 3-
A PEDAGOGIA DO ATOR NO SÉCULO XX
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 3, veremos a Pedagogia do Teatro, um dos
maiores acontecimentos do teatro do século XX. Preconizada por Stanislavski, a
Pedagogia do Teatro foi totalmente reformulada no início do século para atender às
perspectivas de um novo teatro, que consequentemente necessitava de um novo
ator e de uma nova pedagogia.
Para Grotowski (1971), a principal preocupação do teatro deve ser a relação com
a plateia, não com os objetos materiais (cenários, figurinos etc.). Estes, Grotowski reduz
ao essencial para que a obra aconteça, pois esses elementos materiais seriam apenas
muletas para deixar o ator dependente. Eliminar tudo o que é desnecessário para que
os atores pudessem encontrar o essencial em si e na relação com o outro, era o
objetivo de Grotowski e de seu “Teatro Pobre”.
Ler Artaud é ser impactado profundamente por uma obra intensa, visceral
e questionadora. Artaud não via a arte como entretenimento, mas como a única
possibilidade de se ter uma experiência única e transformadora. Suas propostas
dramáticas são descrições incríveis de obras de arte únicas e completamente
inovadoras.
4
Após o Tópico 3, ao final da unidade, você poderá ler um artigo da professora
Beatriz Ângela Cabral, uma das maiores estudiosas do Drama e quem difundiu no Brasil
esse procedimento pedagógico teatral.
2 O MÉTODO STANISLAVSKI
Constantin Stanislavski (1853-1938) fundou em 1897, juntamente com outros
colaboradores, o Teatro de Arte de Moscou. Depois de dedicar-se à direção teatral de
peças de grandes autores russos, como Anton Tchekov (1860-1904) e Maksim Gorky
(1868-1936) e de ter trabalhado com o projetista teatral britânico Edward Gordon Craig
e o encenador Vsevolod Meyerhold, os quais veremos mais adiante, dedicou-se a
formação de atores e diretores teatrais durante muitos anos, até o seu falecimento em
1938.
47
Stanislavski pregava o conhecimento da técnica para a liberdade na atuação, o
conhecimento profundo de si mesmo e o total domínio dos objetivos do personagem
e da cena. Os principais elementos trabalhados no “Sistema” são: o relaxamento para
a eliminação das tensões desnecessárias e a fluência dos movimentos corporais e
vocais, a observação ativa e a concentração nos objetivos (o círculo de atenção), a
ênfase nos detalhes, o foco na situação e a ação psicofísica, cuja ação leva a emoção
e não o contrário. O ator deveria encontrar por meio da técnica motivos internos que
justificassem a intenção e a motivação da personagem. Stanislavski revolucionou a
pedagogia do teatro, lançando importância para um trabalho contínuo de treinamento
e desenvolvimento do ator, que antes era voltado apenas para a criação de um
espetáculo.
4
O “Método das Ações Físicas” foi um termo cunhado após a morte de
Stanislavski, mas foi perceptível em todo o seu trabalho, que procurou transformar a
análise passiva da representação em análise ativa por parte do ator, resultante da
experiência do personagem.
49
3 GROTOWSKI E O TEATRO POBRE
5
Segundo Grotowski (1992), o cerne do teatro é a relação com a plateia, não
com os objetos materiais (cenários, figurinos etc.). Estes seriam apenas muletas para
deixar o ator dependente. Para ele era importante eliminar tudo o que é
desnecessário, deixando os atores vulneráveis e sem qualquer artifício que pudessem
ajudá-los, para que eles pudessem encontrar o essencial em si e na relação com o
outro e com o público. Seus espetáculos eram representados em um espaço pequeno
pintado de preto e com os atores utilizando roupas simples e neutras, muitas vezes
conjuntos pretos, sem uma área delimitada que separasse atores de público. Em
alguns espetáculos o público se sentava entre os atores, confundindo-se com eles.
NOTA
Arquétipo é um conceito da psicologia que representa padrões comportamentais, relacionados à um pe
5
Em 1964, com a estreia de A trágica história de Doutor Faustus, adaptação do
autor elizabetano Christopher Marlowe (1564-1593), utilizou poucos objetos na cena,
além de orientar os atores a representarem diferentes objetos, imprimindo diferentes
camadas semânticas, simbólicas, em suas obras.
Em 1965, ele levou sua companhia para Wrocław com o nome de Teatr
Laboratorium (Teatro Laboratório), fugindo também da censura imposta ao teatro
na época.
Segundo o autor Marco de Marinis, 1988, pode-se definir pelo menos quatro
fases ao longo dos anos no trabalho de Grotowski:
Resumidamente, a fase 1, período entre 1957 e 1961, pode ser descrita como
a fase do “Teatro de representação”, quando foi criado o Teatro das 13 fileiras e
quando Grotowski ainda era aluno da Escola Superior de Arte da Cracóvia. Esta fase
inclui os trabalhos de direção teatral nas peças: Las Sillas, 1957, de Ionesco, Tio Vânia,
de Checov, em 1958, Fausto, de Goethe, em 1960. Dirige também as primeiras peças
produzidas em Opole, com o seu novo Grupo: Orfeu, segundo Cocteau (1959); Caim,
segundo Byron
53
(1960); Mistério Bufo, segundo Maiakowski (1960); Sakuntala, segundo Kalidasa
(1960); Os antepassados, segundo Mickievicz (1961). Ao citar os autores das obras,
Grotowski os precedem com a palavra segundo, o que denotaria apenas um ponto de
vista por parte do autor, para sublinhar sua autonomia em relação à obra literária em
que se inspirou, se posicionando também como um “autor” da obra.
Na fase entre 1970 a 1979, a terceira, depois de uma longa estadia na Índia,
Grotowski anuncia que não voltará a preparar novos espetáculos, interrompendo a
atividade teatral. Passa então a investigar o “encontro” entre indivíduos. Estas
atividades receberam o nome de “parateatrais” e se desenvolveram durante toda a
década de 1970, especialmente entre 1975 e 1979.
5
4 EUGENIO BARBA E A ANTROPOLOGIA DO TEATRO
FONTE: <http://celula-diariodopesquisador.blogspot.com/2015/10/antropologia-teatral-e-pre.html>.
Acesso em: 2 jun. 2021.
55
Todos os integrantes do grupo trabalhavam durante o dia para garantir o seu
sustento e ensaiavam durante as noites. Dos doze atores, restaram apenas quatro.
Após um ano de trabalho, estreiam Ornitofilene, do norueguês Jens Bjurneboe. Com
dificuldades de sustentar-se, o grupo entra em um momento crítico, quando acontece
um convite para se mudarem para Holstebro, Dinamarca, em 1966. Em 1971, o Nordisk
Teaterlaboratorium, criado por Barba e seus atores, foi reconhecido pelo Ministério
da Cultura Dinamarquês como uma escola experimental de teatro, permitindo-lhes
expandir as pesquisas e as atividades pedagógicas, transformando o teatro laboratório
de Barba em um dos mais influentes do teatro contemporâneo.
5
Dilatação – Eugênio Barba diz que o corpo do ator deve ser “dilatado”.
Corpo decidido – “Sats” é a palavra usada por Eugênio Barba para designar
esta qualidade corporal: momento no qual o corpo está pronto para agir, o instante
que precede a ação, quando toda a energia já está presente, mas suspensa, e
compromete o corpo inteiro do ator.
Essa obra de arte total também foi perseguida por Antonin Artaud, um dos
influenciadores do pensamento de Eugenio Barba e teatrólogo que veremos a seguir.
57
5 ANTONIN ARTAUD E O TEATRO DA PESTE
FIGURA 9 – ARTAUD NO FILME A PAIXÃO DE JOANA DARC, 1928, POR CARL THEODOR DREYER – 2021
Artaud propunha um novo ator para um novo teatro, que tivesse uma
linguagem própria de gestos e sons, que mais do que ser visto e ouvido, fosse sentido
por todo o corpo do espectador. Esse “novo corpo” para o ator, seria um “corpo sem
órgãos”, um corpo desfeito para ser refeito e estimulado o tempo todo. “Quando
tiverem conseguido um Corpo sem Órgãos, então o terão libertado dos seus
automatismos e devolvido sua verdadeira liberdade. Então poderão ensiná-lo a dançar
às avessas como no delírio dos bailes populares e esse avesso será seu verdadeiro
lugar” (ARTAUD, 1983, p. 161-162).
Trata-se, para Artaud, de um corpo que abarca mitos e delírios, que significa
um duplo da crueldade, da peste, como potência de vida avassaladora. Um espectro
nunca acabado, que se destrói e se reconstrói por meio da identificação cruel com seu
corpo pleno.
5
Cruel para Artaud, é um teatro repleto de vida, de potência, um teatro visceral.
Por esse motivo, Artaud cria o Teatro da Crueldade.
É no México que Artaud encontrou uma cultura viva, que lhe permitiu
perceber que não há civilização nem cultura válidas sem a ideia de um mito que
vivifica os organismos, confrontando-os constantemente com símbolos universais.
59
O Tarahumara é aquele que abriga o coração, a seiva de sua época, que
possui uma percepção mais apurada da vida, um visionário. Quando realiza a sua arte
representa as angústias de sua época, interferindo neste mundo e transformando-
o através da magia, da comunicação constante entre o interior e o exterior, a ação
e o pensamento, o corpo e o espírito.
Artaud, apesar de ter sido um artista de muitas facetas, pois seu trabalho
ainda inclui ensaios, roteiros de cinema, pintura, literatura, peças de teatro, inclusive
uma ópera, e aparições em filmes, não foi um realizador. Artaud foi um problematizador
das questões teatrais, que instigou artistas de diversas áreas a “saírem da caixa”. A
refletirem sobre a arte de maneira diversa, não como uma mera cópia da realidade ou
como geradora de prazeres fugazes. A arte para Artaud, ao contrário, deveria chocar,
incomodar, tirar da “zona de conforto”.
6
Antonin Artaud dedicou seu corpo e sua mente a um fazer teatral repleto
de liberdade, um teatro ritual que extraía o indivíduo das “muletas”, que chocava e
proporcionava um desejo de viver. O corpo do ator deveria transmitir todas as suas
emoções e comunicá-las de maneira precisa ao público. Segundo Artaud, todo
trabalho de expressão, mesmo os detalhes mais sutis, pode ser treinado e expressado
pelo corpo precisamente, como uma partitura física. A produção literária de Artaud
foi vastíssima, na qual ele organizou e expôs seus pensamentos através de cartas,
peças, estudos e manifestos.
DICA
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
ATIVIDADE 1
61
295).
6
Uma proposta de exercício que pode ser utilizada com diferentes faixas etárias, com
diferentes níveis de complexidade, é a seguinte:
Exercício – Descrever um número específico de características de um personagem. Pode
ser um personagem de livro, filme, peça de teatro ou um personagem criado pelo próprio
aluno. Em seguida, escolher no máximo três características descritas (físicas, psicológicas,
comportamentais etc.) para materializar em ações que possam ser percebidas pelo
espectador. Caso a turma seja iniciante e ainda tenha dificuldades para se expor, todos os
alunos podem executar o exercício ao mesmo tempo.
Exemplo de características que podem ser fisicalizadas: Decidido, ágil, hostil...
ATIVIDADE 2
Na realidade, há um número
quase infinito de caixas de
ressonância, dependendo do
controle que o ator exerce
sobre seu instrumental físico
[...]. A possibilidade mais
frutífera está no uso de todo
o corpo
como caixa de ressonância. lsto
é obtido pelo uso simultâneo
da ressonância do peito e da
cabeça (GROTOWSKI, 1971,
106-107).
63
LEITURA
COMPLEMENTAR
O EQUILÍBRIO ENTRE O FAZER E O APRECIAR NO PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ARTES
6
observado. Em uma recente exposição de trabalhos de alunos em Santa Catarina, a
impressão que se teve é que a mostra se referia a uma coletânea de desenhos de
observação/modelo. A reprodução ou cópia, em si, não seria inadequada como parte
de um processo de criação, desde que ela não fosse a única experiência artística do
aluno nesta etapa de seu desenvolvimento. Aqui, como em todas as demais práticas
e/ou métodos, o acerto fica por conta do bom senso e da disponibilidade do professor.
6
Para falar em processo de construção do conhecimento é necessário considerar
o fator percepção e como o avanço de novas tecnologias nos coloca o desafio de
promover não só a leitura de criações artísticas de outras culturas, mas também a
necessidade de interações com métodos e processos de criação de origem diversa.
Este diálogo, entre grupos e/ou culturas diferentes, além de desafiar ações e
princípios geralmente não questionados, pode abrir novas formas de ver e
compreender. O desafio para o professor já está posto com a crescente globalização
(mesmo para aqueles que questionam esta ideia) à medida que o crescimento do
número de usuários de novas tecnologias se dá em uma velocidade que ainda nos é
difícil perceber e impossível acompanhar.
O que o relato acima tem a ver com a reflexão sobre o currículo? Qual sua
relação com a construção do conhecimento em artes e, mais especificamente, com
'fazer e apreciar'?
Será que nos perguntamos seriamente por que a internet consegue manter
o envolvimento da criança horas consecutivas com textos de Shakespeare e Dante,
enquanto nós, professores, com as vantagens de interações, materiais e sons, ao vivo,
67
achamos difícil manter sua atenção durante 50 minutos? Para responder a esta
pergunta não podemos deixar de refletir sobre a quantidade e a qualidade das
informações a que os usuários têm acesso através da internet, incluindo-se aqui os
jogos.
Este velho desejo de viver uma fantasia despertada pelo mundo da ficção é
atualmente intensificado pelo meio eletrônico, imersivo e participatório, cujos
detalhes enciclopédicos e espaços de navegação permitem que viajemos por locações
que há muito desejamos visitar. A experiência de ser transportado a um local
simulado, com tamanha precisão, é prazerosa em si, independentemente do conteúdo
de sua fantasia. A esta experiência chamamos 'imersão', uma metáfora derivada da
experiência física de submergir na água e ficar envolvido por uma realidade
completamente diferente (Murray, 1997:97-99).
6
O terceiro prazer dos ambientes digitais, segundo a autora, é o prazer da
transformação. O computador oferece inúmeras maneiras de alterar a forma e sugerir
processos, mesmo quando está apenas expondo informação. Esta força transformadora
torna-se particular- mente sedutora nos ambientes narrativos. Pode-se entender esta
nova forma narrativa através da metáfora do caleidoscópio. Como salientou Marshall
McLuhan, os meios de comunicação, no século XX, apresentam uma estrutura mosaica
em vez de linear. Jornais são compostos por muitas histórias chamando nossa atenção
em uma mesma página, filmes são compostos por um mosaico de tomadas individuais,
televisão é um mosaico através do controle remoto. Informações com esta forma de
mosaico acabaram por criar padrões de pensamento em forma de mosaico – estamos
acostumados a observar um jornal sem nos surpreender com este fato, porque
aprendemos a receber informações múltiplas com uma simples tomada instantânea.
Similarmente, anos como espectadores de cinema nos permitem associar suas imagens
descontínuas a um padrão mais amplo de continuidade. Fazemos isto porque sabemos
como leras convenções destes meios.
O que torna este envolvimento tão excepcional no ensino das artes? Eu diria
que são a quantidade e a qualidade das informações à disposição do aluno, ou seja, a
matéria prima para nutrir a imaginação da criança.
69
Face a este novo perfil do aluno, que alternativas metodológicas possui o
professor? Sabemos não poder competir com o computador; não o queremos e não
seria esta uma solução para compensá-lo das horas sentado frente ao teclado. Não
podemos, entretanto, evitar que isto aconteça nem negar o potencial da
aprendizagem adquirida com os meios eletrônicos.
7
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O corpo do ator, para Antonin Artaud, deveria traduzir as emoções de forma precisa
e concreta ao público. Segundo Artaud, todo trabalho de expressão, mesmo o mais
sutil, pode ser treinado e expressado pelo corpo precisamente, como em uma
partitura física.
71
AUTOATIVIDADE
1 Constantin Stanislavski (1863-1938) compreendeu em suas pesquisas que quaisquer
fossem as ações voltadas a uma transformação da atuação cênica, dependiam da
estruturação de uma metodologia diferenciada para a formação de atores. Sobre o
teatro de Stanislavski, assinale a alternativa CORRETA:
4 A carta ao ator D foi escrita por Eugênio Barba a um dos seus atores em 1967. É
publicada frequentemente em livros e revistas, para ilustrar a visão teatral de seu
autor e sua atitude para com um “novo ator”. Foi publicada pela primeira vez no
livro Synspunkter om Kunst – Pontos de vista sobre a arte, Copenhaque,1968. Após
a leitura da carta, disserte sobre os principais elementos relativos ao trabalho do
ator, considerados por Barba em suas críticas direcionadas ao ator D.
73
responsabilidade que sente, inerente a sua profissão, e que consiste em estabelecer
uma relação e em assumir a responsabilidade do que revela. Você tem medo da
seriedade deste trabalho, da consciência de estar no limite do que é permitido. Tem
medo de que tudo aquilo que faz seja sinônimo de fanatismo, de aborrecimento, de
isolamento profissional. Porém, num mundo em que os homens que nos rodeiam já
não acreditam em mais nada ou pretendem acreditar para ficarem tranquilos, aquele
que se afunda em si mesmo para enfrentar a sua condição, a sua falta de certezas, a
sua necessidade de vida espiritual, é tomado por um fanático e por um ingênuo. Num
mundo, cuja norma é o enganar, aquele que procura “sua” verdade é tomado por
hipócrita.
Deve aceitar que tudo no que você acredita, no que você dá liberdade e forma no seu
trabalho, pertence à vida e merece respeito e proteção. Suas ações, na presença da
coletividade dos espectadores, devem estar carregadas da mesma força que a chama
oculta no tenaz incandescente, ou na voz da sarça ardente. Somente então, suas
ações poderão continuar a viver no espírito e na memória do espectador, poderão
fermentar consequências imprevisíveis.
Enquanto Dullin jazia em seu leito de morte, seu rosto se retorcia assumindo as
máscaras dos grandes papéis que viveu: Smerdiakov, Volpone, Ricardo III. Não era só o
homem Dullin que morria, mas também o ator e todas as etapas de sua vida.
Se lhe pergunto por que escolheu ser ator, me responderá: para expressar-me e
realizar-me. Mas que significa realizar-se? Quem se realiza? O gerente Hansen que vive
uma existência respeitável, sem inquietudes, nunca atormentado por estas perguntas
que ficam sem respostas? Ou o romântico Gauguim que, depois de romper com as
normas sociais, terminou sua existência na miséria e nas privações de uma pobre
aldeia polinésia, Noa-Noa, onde acreditava ter encontrado a liberdade perdida? Numa
época em que a fé religiosa é considerada como neurose, nos falta a medida para
julgar o êxito ou o fracasso de nossa vida.
Sejam quais forem as motivações pessoais que o trouxeram ao teatro, agora que você
exerce esta profissão, você deve encontrar um sentido que vá além de sua pessoa, que
o confronte socialmente com os outros.
Somente nas catacumbas pode-se preparar uma vida nova. Esse é o lugar de
quem, em nossa época, procura um compromisso espiritual se arriscando com as
eternas perguntas sem respostas. Isto pressupõe coragem: a maioria das pessoas
não tem necessidade de nós. Seu trabalho é uma forma de meditação sobre si
mesmo, sobre sua condição humana numa sociedade e sobre os acontecimentos de
nosso tempo que tocam o mais profundo de si mesmo.
Cada representação neste teatro precário, que se choca contra o pragmatismo
cotidiano, pode ser a última. E você deve considerá-la como tal, como sua
possibilidade de reencontrar-se, dirigindo aos outros a prestação de contas de
seus atos, seu testamento.
Se o fato de ser ator significa tudo isto para você, então surgirá um outro teatro; uma
outra tradição, uma outra técnica. Uma nova relação se estabelecerá entre você e os
espectadores que à noite vêm vê-lo, porque necessitam de você”.
7
5 Artaud, apesar de ter sido um artista de muitas facetas, não foi um realizador.
Artaud foi um problematizador das questões teatrais e instigou artistas de diversas
áreas a pensarem a arte de forma diferente. A arte, para Artaud, deveria chocar,
incomodar, tirar o espectador da “zona de conforto”. Disserte sobre as principais
características do Teatro da Crueldade.
75
REFERÊNCIAS
ARTAUD, A. Escritos de Antonin Artaud. Tradução seleção e notas Cláudio Willer.
Porto Alegre: L&PM, 1983.
ARTAUD, A. O teatro e seu duplo. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
BOAL, A. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
BOAL, A. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
BOAL, A. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11, de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o
ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em:
https://www2.camara. leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-
357752-publicacaooriginal-1- pl.html. Acesso em: 24 mar. 2021.
7
BRECHT, B. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
BRECHT, B. A exceção e a regra. In: Teatro completo (12 vols). Vol IV. Rio de Janeiro:
Paz e Terra: 129-160. 1990.
EWEN, F. Brecht: sua vida, sua arte, seu tempo. São Paulo: Globo, 1991.
FÉRAL, J. Você disse “training”? O teatro transcende. Trad. e notas: José Ronaldo
Faleiro. Blumenau: n. 11, p. 49-58, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
77
Civilização Brasileira, 1992.
7
JAPIASSU, R. Jogos teatrais na escola pública. Revista Faculdade de Educação, v.
24, n. 2, São Paulo, jul./dez., 1998.
1995. O’TOOLE. J. The process of drama: negotiating art and meaning. Londres:
desenvolvimento infantil.
Psicologia em Estudo, Maringá, vol. 14, n.1, 2009.
1997.
79
STANISLAVSKI, C. A construção da personagem. Rio de Janeiro.
Civilização Brasileira, 29. ed., 2012.
8
STANISLAVSKI, C. Abordagem à criação do papel, descoberta de si mesmo no papel e o
papel em si mesmo. In: VÁSSINA, E; LABAKI, A. Stanislávski: vida, obra e sistema. RJ:
Funarte, 2015.
81
UNIDADE 2
-
ELEMENTOS
CONSTITUTIVOS DAS ARTES
CÊNICAS: CORPO,
VOZ, SOM E ESPAÇO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender as relações estabelecidas entre a voz, a música e o corpo nas Artes Cênicas;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que fa
8
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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83
UNIDADE 2 TÓPICO 1—
O CORPO E A VOZ NAS ARTES CÊNICAS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o corpo do ator, principal
elemento da cena teatral a partir do século XX, e a relação deste com a voz. Como
vimos nos tópicos anteriores, o trabalho criativo do ator, e a utilização dos
instrumentos de trabalho, como o corpo e a voz, ficaram no centro da cena a partir da
transição do século XIX para o século XX, centralidade que, anteriormente, era
ocupada pelo texto dramatúrgico, ou pelo trabalho do diretor/encenador teatral.
Dessa forma, foi preciso capacitar o ator para que ele assumisse o lugar de
centralidade criadora, fazendo-o conhecer, profundamente, os próprios instrumentos
e as relações com os outros elementos do espetáculo.
7
(UFV), publicado na revista O Percevejo Online.
76
A seguir, estudaremos a relação corpo-voz, fundamental no trabalho do ator.
A voz do ator é um prolongamento do seu corpo, instrumento de trabalho e veículo
de expressão direta. Por essa razão, o ator necessita de saúde vocal, treinamento e
conhecimento da técnica.
Bons estudos!
7
apropriada, como o espaço externo.
78
O espaço é um dado muito importante, pois geralmente, o ator não possui
mecanismos externos de projeção, como o microfone. O único recurso, na maior parte
das vezes, é a própria voz do ator.
ESTUDOS FUTUROS
No teatro pós-dramático, o qual veremos na última unidade, valorizam- se, também, os aspectos
7
Artaud almejava devolver a potência, o apetite de vida que transborda o
significado das palavras. A função das palavras e da enunciação, para Artaud, é uma
ocupação, quase física, da voz e de todos os aspectos não formais da fala nos espaços
da cena e da criação. A gestualidade e os sons compõem uma outra camada
dramatúrgica do “texto” teatral. No texto, enquanto tessitura, como afirma Eugenio
Barba, em sua antropologia teatral,
Os desafios relativos à técnica e à expressão vocal são muitos, assim, por sua
vez, abrangem o ensino da técnica vocal na formação do ator.
80
Ainda são poucos os estudos a respeito da voz no teatro, e, muitas vezes, as
escolas de formação de atores relegam a voz a um segundo plano, mas, nos últimos
anos, tem acontecido uma mudança gradativa para a valorização do treinamento
vocal, voltado à atores nos cursos de formação e nos processos criativos.
Uma boa dinâmica vocal se baseia em uma relação intrínseca entre o corpo
e a voz. A imagem vocal-corporal é impulsionada pelo desenvolvimento da acuidade
auditiva e da expressão corporal.
8
A voz é uma resposta a uma ação corporal, sem que haja esforço inadequado à
fonação, sobrecarregando-a.
82
ideologias libertárias da segunda metade do século lançaram forças para a relação
corpo e discurso político, contribuindo para a imagem de um corpo expressivo, com
muito potencial significativo. As Artes Cênicas, Visuais e Audiovisuais se hibridizaram
e a fisicalidade e o corpo tornaram-se catalizadores das artes da presença. A seguir,
estudaremos o Sistema Laban e a contribuição deste para as artes do corpo, como a
dança e o teatro .
8
Hoje, o Sistema Laban é compreendido como “[...] uma série de
desenvolvimentos realizados, até o momento, por profissionais das mais variadas
localidades, atualizados e divulgados em congressos e publicações periódicas”
(FERNANDES, 2006, p. 27).
Apesar de ser mais conhecida no âmbito da dança, a obra de Laban tem muita
influência nas artes dramáticas, pois Laban vê o teatro como uma “arte do
movimento”, que trabalha com uma estrutura rítmica, dinâmica, sensível e espacial
do movimento. Laban posiciona a mímica como um meio de representação simbólica.
84
Acredita que, na
8
vida, nem sempre observamos as origens e o valor de todos os nossos movimentos,
necessitando da arte dramática e das artes do movimento para contemplar e
compreender as relações entre os eventos externos, as ações funcionais, o
pensamento e o sentimento.
86
3.2 DANÇA-TEATRO
8
NOTA
. Atraía muito público para as casas de shows entre os anos de 1800 a 1930, nos Estados Unidos e no Canadá.
88
Pina Bausch utilizava um processo de busca pelo “eu” mais profundo do
intérprete, o qual se traduz no corpo e no movimento, e que vai ao encontro de uma
tendência contemporânea que borra as fronteiras do real e do ficcional. As Artes
Cênicas contemporâneas, a partir da primeira metade do século XX, foram ficando
cada vez mais voltadas a processos criativos que utilizam o real, a vivência, as
memórias e a biografia dos intérpretes.
Segundo Fernandes (1999, p. 3), nas obras de Pina, “dança e teatro são
trazidos, ao palco, como linguagens verbal e corporal, mas não como uma totalidade
de corpo-mente ou forma-conteúdo. A natureza linguística de ambos é explorada
como, intrinsecamente, fragmentada”. A fragmentação é um dos elementos mais
evidentes nas obras de Bausch. Sua coreografia é composta por improvisos de palco,
filtrados e formatados. As montagens são baseadas nas histórias pessoais dos atores-
bailarinos, mas, nas inúmeras repetições no palco, suscita uma despersonalização,
gerando significados que remetem ao universal.
8
utiliza muitos elementos orgânicos, como plantas, flores, água e terra. A técnica
de colagem de ações também é recorrente no trabalho de Bausch, a partir da qual
cenas ou sequências de movimentos são recortadas, alternadas e repetidas, como
em um processo de montagem no cinema.
90
FONTE: <http://www.cenahum.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2021.
9
Como vimos anteriormente, o corpo do ator se tornou, a partir do final do
século XIX, cada vez mais importante na criação da cena. O texto criado pelas ações
do ator passou a ser o ponto de partida da criação, e não mais o texto dramatúrgico.
Uma das manifestações artísticas, iniciada na Inglaterra, na década de 1970,
denomina-se de Teatro Físico (Physical Theatre), e se caracteriza, na sua origem, por
uma mistura entre teatro, dança, circo, mímica e outras artes performativas.
O nome pode parecer estranho, a princípio, pelo fato de todo teatro ser físico,
mas o Teatro Físico quer enfatizar, ainda mais, a presença corpórea, a dimensão
material. “A produção eclética, reunida pelo conceito teatro físico, é identificada como a
tensão que se apresenta no duplo legado do nome que a caracteriza: uma ação sobre
a fisicalidade, gerando uma certa disposição do corpo, em função de uma teatralidade
específica” (ROMANO, 2005, p. 16).
NOTA
o a síntese entre a palvra falada e a fisicalidade, sendo que o ponto de partida para a concepção do
92
Além disso, o teatro físico tem, como centro da ação, um ator-criador
que não assume um personagem específico, mas permanece entre a ficção e a
realidade, assumindo a própria persona, mesmo que a criação abarque elementos,
convencionalmente, utilizados no fazer teatral, como direção, cenografia, figurino, texto
dramatúrgico, e, até mesmo, o esboço de um personagem.
9
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
94
AUTOATIVIDADE
1 A pluralidade de personagens e de linguagens cênicas aumentou a necessidade
de uma forte plasticidade vocal, tornando-se necessário, para o ator, o estudo da
fisiologia do aparelho fonador, de técnicas para a voz falada, e, muitas vezes, para
a voz cantada. A respeito da utilização da voz do ator, é CORRETO afirmar:
3 Posterior a Rudolf Laban e aos discípulos dele, Mary Wigman e Kurt Joss, a bailarina
e coreógrafa alemã Pina Bausch ficou reconhecida, no mundo todo, pelos
espetáculos impactantes e, profundamente, elaborados, por meio de uma
linguagem cênica que mistura dança, teatro e performance, denominada de:
a) ( ) Psicodrama.
b) ( ) Teatro Físico.
c) ( ) Dança-Teatro.
d) ( ) Performance.
9
4 A Dança-Teatro, de Pina Bausch, ficou conhecida, em todo o mundo, pela
singularidade e pela beleza. Seus espetáculos híbridos, que misturam dança, teatro
e performance, cujo bailarino-intérprete transita entre as linguagens, apresentam
dois elementos principais que caracterizam toda a obra de Bausch, e que estão
presentes, também, no processo criativo. A respeito desses elementos, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) Esse tipo de teatro retira o corpo do centro da cena e passa a focar na relação
ator-texto dramático.
b) ( ) Essa arte, apesar de ser denominada de Teatro Físico, está mais focada nos
aspectos não materiais e subjetivos da encenação contemporânea.
c) ( ) Esse tipo de manifestação artística surgiu no final do século XX, e não possui
nenhuma correspondência com outras expressões artísticas ao longo da
história, caracterizando-se por elementos inéditos na arte teatral.
d) ( ) Essa linguagem teatral, apesar de ser reconhecida como espaço de resistência
a uma representação tradicional do cotidiano, não esconde as influências do
corpo cotidiano e parte delas para a criação cênica.
96
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
O SOM E A MÚSICA NO TEATRO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 2, estudaremos a trilha sonora, elemento
importante das Artes Cênicas e, ainda, pouco explorado em pesquisas e em livros. A
trilha sonora é um termo emprestado do cinema, mas, nas Artes Cênicas, o termo
abarca especificidades bem distintas do audiovisual.
Boa leitura!
9
2 TRILHA SONORA E SONOPLASTIA
A nomenclatura trilha sonora diz respeito à sonoridade no teatro, assim, a
função, no espetáculo, é essencial. O termo foi emprestado do cinema, e os signos
sonoros que compõem a sonoridade de um espetáculo são muito amplos. Vão desde os
ruídos até as músicas, incluindo, também, os sons, as falas, e os cantos proferidos
pelo ator.
98
Dependendo do tipo de teatro e do espaço, como o Teatro de Rua, que é
realizado em espaços públicos, ao ar livre, a trilha sonora, também, deve abarcar sons
involuntários, como os ruídos póprios da cidade, ou, até mesmo, os voluntários, que
partem do público, que está liberado a interagir, pois esse tipo de teatro necessita da
interação.
9
Para o teórico teatral e dramaturgo alemão Hans-Thies Lehmann, texto, voz e
ruído criam um “paisagem sonora”. Sobre Bob Wilson (1941), encenador norte-
americano contemporâneo, Lehmann escreve:
A trilha sonora pode ser gravada ou pode ser executada por músicos ao vivo,
opção que depende da linguagem do espetáculo e do que o diretor pretende para a
cena. Ao vivo, é possível ser feita pelo próprio compositor, pelos atores (que podem
cantar, tocar ou ambos) ou por outros músicos.
10
de preparação vocal específica.
1
3 MUSICAIS
Nos EUA, que levaram a fama de criadores dos musicais, o gênero surgiu
por acaso. Segundo David Ewen (1907-1985), no livro A História do Musical Americano
(1961), a população de Charleston, na Carolina do Sul, em 1735, reúne-se para
assistir a um espetáculo de teatro musicado, apresentado por um grupo de artistas. A
apresentação da ópera inglesa “Flora” não era o teatro musical, tal qual o
conhecemos atualmente, mas teria sido, segundo Ewen, o início do teatro musical
americano, com a união de música e de texto falado em um mesmo espetáculo,
herdando um tipo de obra que unia cantigas populares e poemas de amor.
10
Ao contrário de hoje, que tudo o que acontece no espetáculo está relacionado
à história a ser contada, naquela época, os números musicais do espetáculo e a letra
das músicas não ajudavam na compreensão do enredo. “O fato de a peça não fazer
muito sentido não aborreceu ninguém. O que importava era a surpreendente sucessão
de prodígios cênicos” (EWEN, 1961, p. 11).
Na entrada do século XXI, nos anos 2000, a Broadway traz uma nova
tendência, chamada de Jukeboox Musical. Os musicais traziam, como mote, a escolha
de músicas de sucesso, como em uma caixa musical, apresentando uma coleção de
músicas reconhecidas. Nos últimos anos, os musicais da Broadway alternam uma
programação de antigos musicais remontados (conforme as novas tecnologias) e de
novos, cada vez mais elaborados, mais caros e mais grandiosos.
1
americano e a Broadway é o maior mercado de musicais do mundo, exportando para
vários países, inclusive, para o Brasil.
10
O nosso país, por incrível que possa parecer, é um dos maiores produtores
mundiais de teatro musical, sendo, os maiores centros, EUA e Inglaterra.
O teatro musical faz parte da cultura brasileira desde o século XIX, com o
Teatro de Revista, que utilizava sátiras de costumes da época em uma mistura de
musical e comédia. Era a união de esquetes teatrais (peças curtas ou cenas)
alternadas com números musicais, diferentemente dos espetáculos musicais que
conhecemos hoje.
1
no Brasil.
10
Nos últimos anos, tem crescido o número de musicais que retrata grandes
intérpretes da música brasileira, como: Tim Maia, Elis Regina, Cassia Eller, Wilson Simonal,
Rita Lee, Cazuza, Luiz Gonzaga.
4 ÓPERA
1
Patrice Pavis (2005, p. 268) escreveu que,
NOTA
O libreto é um roteiro, ou um texto, a partir do qual as óperas são escritas.
10
Um texto teatral, para ser cantado, tem particularidades próprias, e não
tínhamos autores para essa especialidade dramatúrgica.
Como a ópera é a encenação com forte exigência vocal, muitos dos artistas de
ópera são cantores, e não atores, por isso, necessitam de longa preparação para
encenar.
NOTA
Alguns compositores brasileiros escreveram óperas, contando as nossas próprias histórias. Il Guarany,
1
A seguir, faremos um passeio pelos diferentes tipos de espaços teatrais ao
longo dos séculos. Dentre eles, veremos o palco à italiana, o tipo de espaço mais
conhecido, e, no qual, as óperas são apresentadas.
11
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
1
AUTOATIVIDADE
1 A trilha sonora é um dos elementos importantes das Artes Cênicas. Ela funciona de
forma diferente, dependendo do gênero e da linguagem do espetáculo, e é
necessário que haja um profissional especializado para concebê-la. A respeito da
trilha sonora no espetáculo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A ópera e o teatro musical são permeados por canções eruditas, mas é na ópera,
que a música é executada ao vivo .
b) ( ) Os atores, no teatro musical e na ópera, não dançam. As coreografias são
executadas por um balé à parte.
c) ( ) No teatro musical, salvo algumas exceções, as canções são alternadas com
diálogos falados. Já a ópera, em sua maioria, é constituída por uma sequência
de músicas.
d) ( ) A dramaturgia (roteiro) da ópera e do teatro musical é chamada de libreto.
11
4 A ópera é um gênero dramático-musical que não poderia ser realizado com a
ausência de alguns elementos fundamentais. Assinale a alternativa CORRETA,
que englobe esses elementos:
a) ( ) Orquestra e atores-cantores.
b) ( ) Bailarinos e cantores.
c) ( ) Orquestra e bailarinos.
d) ( ) Bailarinos e diretor musical.
a) ( ) Il Grarany.
b) ( ) Pedro Malazarte.
c) ( ) O Fantasma da Ópera.
d) ( ) Iracema.
1
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
O ESPAÇO CÊNICO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 3, veremos um dos mais importantes elementos
das Artes Cênicas: o espaço. Ao olharmos para o espaço teatral ao longo dos séculos,
podemos identificar diversas disposições e nomenclaturas, mas é impossível dissociar o
espaço da ação cênica do momento histórico.
Bons estudos!
11
2 ESPAÇO E LINGUAGEM: O LUGAR DA REPRESENTAÇÃO
AO LONGO DO TEMPO
Como afirmava Grotowski, os dois elementos imprescindíveis para o
acontecimento teatral são os atores e o público. Com esses elementos, o teatro pode
acontecer em qualquer momento e lugar, mas não se pode negar que um espaço de
cena construído para esses fins, e dotado de recursos técnicos, apropriados a
diferentes tipos de encenação, agrega possibilidades e desdobramentos à cena,
capazes de construir camadas significativas e criativas, e somar, ao conjunto, ou
inspirar a construção de novos caminhos.
O teatro grego foi, sem dúvida, uma das manifestações mais importantes para
a sociedade grega e para o desenvolvimento da cultura na Grécia antiga. A cultura e
as artes gregas influenciaram outros povos na antiguidade, como os romanos, e
continuam influenciando e inspirando o teatro no mundo. A seguir, estudaremos o
espaço teatral grego com toda a técnica, impressionante para a época, além da
arquitetura, arte extremamente desenvolvida na Grécia antiga.
NOTA
O termo teatro vem do grego théatron, que significa “local de onde se
vê”, ou “lugar para ver”, termo que se referia ao lugar da plateia.
1
2.1 ESPAÇO GREGO
11
O espaço cênico grego compreendia, principalmente:
1
A cenografia, nesses teatros, era reduzida às unidades de ação, de lugar e de
tempo da tragédia grega. “Os cenários se constituíam em fachadas de palácios, de
templos e de tendas de campanha” (MAGALDI, 1986, p. 37).
11
As arquibancadas podiam alojar centenas de espectadores, e os políticos
aproveitavam para fazer propaganda de si mesmos e transmitir os valores do
Império Romano.
1
Os atores saíam de trás da Skené e entravam no Proskenium, por meio de três
portas, sendo que, pela porta do meio, a central, chamada de “valva regia”, entravam os
atores principais, e os outros adentravam na cena pelas portas laterais, chamadas de
“valva hospitalarium”.
12
FIGURA 11 – GLADIADORES LUTANDO COM ANIMAIS - 2018
1
FIGURA 12 – FACHADA FRONTAL DO COLISEU - 2021
12
FIGURA 14 – AS ARQUIBANCADAS DO COLISEU - 2021
1
2.3 ESPAÇO MEDIEVAL
No início da época medieval, por volta do século VI, a Igreja passa a proibir as
apresentações profanas, ou que não estavam ligadas aos temas religiosos. Courtney
(1980) relata que apresentações teatrais eram proibidas, e quem acolhesse atores
sofria sérias punições. Mesmo assim, o teatro era muito popular, e acontecia,
essencialmente, dentro das igrejas. Os roteiros eram, em sua maioria, baseados na
Bíblia, e os espetáculos eram representações realizadas nas festas do ano litúrgico e
antes e após as missas, em um longo tablado.
12
Os milagres contavam a biografia dos santos, ou uma história que apresentava
uma intervenção divina para a resolução do problema. Os mistérios datam do início do
século XV, e se caracterizam por cenas realizadas em espaços separados, pequenos
palcos ou “mansions”, que ocupavam todo o espaço interior das igrejas, de acordo com
a ambientação pretendida. Duravam de seis a vinte e cinco dias, e eram apresentados
próximos às datas religiosas festivas, como Natal, Páscoa ou Pentecostes, com centenas
de atores.
1
As apresentações teatrais foram se tornando, cada vez mais, emancipadas
da liturgia da Igreja, passando a representar vícios e virtudes, como orgulho, piedade,
fúria, avareza, esperança e os traços da personalidade humana. “O teatro medieval
pós- Igreja é uma curiosa mistura: baseado no credo cristão, contém elementos de
mimo não religioso, assim como danças e costumes pagãos” (COURTNEY, 1980, p. 184-
185).
1
DICA
A Viagem do Capitão Tornado é um filme de 1990, dirigido pelo italiano Ettore Scola, uma adaptação d
O filme de Scola é uma bela e sensível homenagem ao teatro, além de uma incrível ilustração desse gêne
de uma trupe de comediantes que segue viagem pela Europa, ele nos
mostra o dia a dia e o trabalho desses artistas, como se relacionam e como os personagens que
1
Seguindo o princípio da verossimilhança, presente na Poética Clássica, de
Aristóteles, os arquitetos, os pintores e os cenógrafos passam a se aproximar, cada vez
mais da realidade, tendo, como aliada, a perspectiva, que causava um efeito ilusionista.
13
O teatro elisabetano surgiu durante o reinado da rainha Elisabeth I (1558 -
1603), em Londres. O teatro era extremamente popular na Inglaterra e em
Londres. Nessa época, existiam mais de dezesseis espaços teatrais em
funcionamento.
As apresentações nas ruas, nas praças, nos mercados eram muito frequentes.
Com o tempo, as trupes de teatro que viajavam pelo país e se alojavam em tavernas,
começaram a negociar, com os donos destas, para se apresentar nesses espaços, e, em
1574, a cidade de Londres começou a regularizá-los, para que recebessem,
oficialmente, essas atividades. O palco, segundo Raimundo Leão (2014, p. 160),
A maior parte desses espaços teatrais possuía três galerias, pátio central, um
palco elevado, que avançava com o proscênio para a plateia, e uma casa de cena,
na qual eram movimentados os cenários.
1
para a apresentação das próprias peças. O Globe foi fechado em 1642, após a vitória
dos puritanos na Guerra Civil
13
Inglesa (1642-1649), e foi reconstruído pelo arquiteto Theo Crosby, em 1996, após
uma intensa pesquisa. Foram acrescentadas escadas de acesso para o público e saídas
de emergência, atendendo, assim, a exigências de segurança e de acessibilidade dos
dias de hoje. A intenção era adicionar funcionalidade ao resgate histórico, para que o
teatro pudesse funcionar.
1
Na arquitetura dos espaços cênicos, apresentava muitos efeitos decorativos,
detalhes e colunas retorcidas, esculturas, intensos contrastes de luz e de sombra, e
pinturas realistas com efeitos ilusionistas.
13
A mecânica cênica, aos poucos, foi ganhando mais dinamicidade, e os
bastidores, os antecessores das varas de fixação de cenografia e de iluminação eram
presos por roldanas que deslizavam por trilhos no palco, seguros por contrapesos fora
da área de cena. As bambolinas, pequenas cortinas acima da boca de cena,
escondiam, do público, a maquinaria, para garantir a ilusão cênica.
A partir de 1789, como já vimos, a ópera, tipo de espetáculo que une música e
teatro, surgida na Itália, adquire, cada vez mais, notoriedade. Com o avanço tecnológico,
os cenários e a iluminação passaram a ser movimentados por meio de varas,
agora, com movimentos verticais. Hoje em dia, alguns teatros possuem essa
movimentação automatizada e controlada por um computador. A caixa cênica,
então, recebe o complemento do urdimento, uma espécie de grade para a fixação de
estruturas, como o cenário.
O Teatro Alla Scala foi inaugurado em 1778, em Milão, figura anterior, e foi
projetado por Giuseppe Piermarini. Com palco à italiana, a plateia, em forma de
ferradura, possui seis andares de camarotes e de balcões, com capacidade para quase
2000 pessoas. A arquitetura enfatizava o estereótipo do teatro burguês, e a plateia,
em U, garantia que não fossem vistos, apenas, os espetáculos artísticos, mas o
espetáculo da vida real, no qual a burguesia, com seus lindos trajes e binóculos, era
vista pelas classes inferiores, que ficavam na plateia do térreo.
1
O espaço cênico sofreu modificações muito importantes, como a eliminação
de painéis pintados com paisagens, e a criação de jogos de luz para volumes e
sombras, alterando a noção espaço/tempo no palco, e dando profundidade à imagens
planas.
NOTA
A Bauhaus foi uma escola de arte vanguardista fundada em 1919, pelo arquiteto alemão Walter Gropius, com
13
Já Edward Gordon Craig, arquiteto e cenógrafo, acreditava que o cenário era
o elemento mais impactante do teatro. Utilizava telas móveis e luz para recriar o
espaço, inovando, e com efeitos surpreendentes. Como teórico, formulou conceitos
acerca das principais questões relacionadas à cena.
1
LEITURA
COMPLEMENTAR
O ESPAÇO TEATRAL, O CORPO E A MEMÓRIA
1
Um dos mais conceituados filósofos do século XX, Maurice Merleau-Ponty,
dedica uma grande parte do seu livro, Fenomenologia da Percepção, ao esforço de
compreender, fenomenologicamente, o corpo (MERLEAU-PONTY, 1994: 1a parte).
O filósofo inicia as conceituações, considerando que o corpo nos permite centrar nossa
existência, mas, também, impede-nos de centrá-la em sua totalidade. Nessa visão
dialética, o corpo é, ao mesmo tempo, o “centro” e o “não centro” da existência humana,
ponto de chegada e de saída. Merleau-Ponty se refere ao corpo como “um objeto que
não me deixa” (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 133). Esse objeto seria capaz de
observar, inspecionar e manejar objetos exteriores a ele, mas seria preciso dispor de
um “segundo corpo”, para que pudéssemos observar o nosso próprio: “Ele tenta se
tocar tocando, ele esboça ‘um tipo de reflexão’, e bastaria isso para distingui-lo dos
objetos” (MERLEAU- PONTY, 1994, p. 137). Considerando a espacialidade do corpo,
Merleau-Ponty faz várias afirmações: “o seu contorno é uma fronteira que as relações
de espaço ordinárias não transpõem; o corpo está no mundo, e, suas partes,
envolvidas umas nas outras. Quando o corpo está em movimento, vê-se melhor como
ele habita o espaço e o tempo, porque
o movimento não se submete a eles; o corpo habita o espaço e o tempo” (MERLEAU-
PONTY, 1994, p. 133).
14
ambiente (sensível, simbólico), sendo, o próprio relacionamento em
si, do tipo analógico, nos dois casos (LYOTARD, 1989, p. 24).
1
O Espaço Teatral e o Corpo
14
A essas duas concepções antitéticas do espaço, correspondem duas
maneiras diferentes de descrevê-lo: o espaço objetivo externo e o espaço gestual.
Pavis considera o espaço objetivo externo como o espaço visível, frontal, muitas
vezes, preenchível e descritivo, onde ele distingue duas categorias:
Peter Brook lembra que o teatro elizabetano era “um buliçoso mercado [...],
o balcão era aquele nível superior [...], e a galeria superior era uma lembrança de que
a ordem do mundo é mantida por deuses, deusas, reis e rainhas” (BROOK, 2000, p.
24). Entretanto, naquele espaço teatral, todas as classes sociais estavam
representadas, e os espectadores que ficavam em pé (groundlings) podiam, até,
tocar, fisicamente, nos atores.
1
finalidade de criar um efeito de
14
profundidade ilusória. A perspectiva introduzida por Brunelleschi transformou o
mundo, e as dissecações de cadáveres permitiram traduzir, nas tintas dos afrescos e
nas telas, um corpo humano cada vez mais bem representado, como se estivesse em
uma caixa cênica. O teatro das praças públicas passa a ser abrigado no palco da
ilusão. Entretanto, esse espaço perspectivado, que distanciava o corpo do ator da
audiência, transformar- se-ia pelas vanguardas do século XX.
Pavis, também, identifica o espaço gestual, que interessa a esse ensaio, como
o espaço criado pela presença, pela posição cênica e pelos deslocamentos dos
atores: espaço emitido e traçado pelo ator, induzido pela corporeidade dele, espaço
evolutivo suscetível de se estender ou de se retrair. Veremos as seguintes
manifestações desse espaço gestual (PAVIS, 2003, p. 142). A experiência cinestésica
do ator é sensível em sua percepção do movimento, do esquema temporal, do eixo
gravitacional, do tempo-ritmo. Dados que só pertencem ao ator, mas que ele
transmite ao espectador. A subpartitura, na qual o ator se apoia, fornece um percurso
e um trajeto que se inscrevem no espaço, e esse espaço se inscreve neles. O espaço
centrífugo do ator se constitui do corpo para o mundo externo. O corpo se encontra
prolongado pela dinâmica do movimento. O corpo do ator, em situação de
representação, tende a expressar, o mais fortemente possível, as atitudes, as escolhas,
a presença dele. O espaço ergonômico, os ambientes de trabalho e de vida
compreendem as dimensões proxêmica (relação entre as pessoas), háptica (maneira
de tocar os outros e a si mesmo) e cinestésica (movimento do próprio corpo).
1
Notas
1
As virtudes morais constituem as excelências da alma, no mesmo sentido em que a
saúde, a força e a beleza são as virtudes do corpo. As excelências físicas e as virtudes
espirituais não são mais do que a “simetria das partes”. Cf. Werner Jaeger. Paidéia.
São Paulo: Martins Fontes, 1979, p. 496.
FONTE: LIMA, E. F. W.; CALDEIRA, S. P. O corpo entre memória e espaço teatral. 2011. Disponível em:
http://www.seer.unirio.br/opercevejoonline/article/view/1362/1130. Acesso em: 24 abr. 2021.
14
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O teatro medieval contribuiu muito para o enriquecimento das Artes Cênicas e das
principais estruturas delas, pois o cenário, os figurinos, os espaços teatrais
passaram a ter mais importância na concepção dos espetáculos, e alguns grupos
populares começaram a se organizar, improvisando palcos em carroças e se
deslocando pela cidade e pelos vilarejos próximos, o que, mais tarde, deu origem
aos grupos de Commedia Dell’Arte.
1
AUTOATIVIDADE
1 Ao longo da história da humanidade, o espaço cênico foi sofrendo modificações
e absorvendo os acontecimentos sociais da época, as novas conquistas técnicas
e as necessidades do momento. O teatro da Grécia antiga, sem dúvida, influenciou
o teatro de outros lugares do mundo, e segue influenciando e inspirando até hoje.
A respeito do espaço teatral grego, na Antiguidade Clássica, classifique as
sentenças em V, para as verdadeiras, e F, para as falsas:
a) ( ) A área de cena possuía uma configuração frontal, cercada por três paredes, o
que influenciou a formatação espacial do teatro romano, posteriormente,
chamado de Teatro “à italiana”, ou teatro italiano.
b) ( ) Próximo ao espaço central, destinado ao coro, era posicionado o thymele,
pequeno altar em honra ao deus Dionisio.
c) ( ) A orchestra, área destinada ao coro, era um espaço na lateral da área de
cena, próximo à plateia. O posicionamento era estratégico, e focava a atenção
do público, apenas, nos atores, que utilizam o corredor em frente à skené, o
proschenion, termo que deu origem à palavra proscênio.
d) ( ) Os atores trocavam de roupa atrás da Skené, espécie de parede que, com o
passar do tempo, passou a ser uma fachada, utilizada como ambientação
cenográfica.
14
3 No início da época medieval, por volta do século VI, a Igreja passa a proibir as
apresentações profanas, ou que não estavam ligadas aos temas religiosos. Courtney
(1980) relata que apresentações teatrais eram proibidas e quem acolhesse atores
sofreria sérias punições. Mesmo assim, o teatro era muito popular, e acontecia,
essencialmente, dentro das igrejas, ou no pátio destas, antes e após as missas,
sendo encenado em um longo tablado. A respeito dos espaços cênicos medievais,
analise as sentenças a seguir:
I- Os Milagres contavam a biografia dos santos ou uma história que apresentava uma
intervenção divina para a resolução do problema. Os Mistérios datam do início do
século XV, e se caracterizam por cenas realizadas em espaços separados, pequenos
palcos, ou “mansions”, que ocupavam todo o espaço interior das igrejas, de
acordo com a ambientação pretendida.
II- O Pageant consistia em uma espécie de “mansion” ambulante, montada sobre
carroções, apresentando uma única cena sem fala, pois não dava para ouvir com a
estrutura em movimento.
III- As Moralidades eram alegorias satíricas e educativas. Eram, geralmente, longas,
maçantes e de difícil compreensão. As farsas, precursoras da comédia de
costumes, eram baseadas em fábulas populares e apresentadas para divertir o
público entre os Mistérios.
1
c) ( ) Surgido sob o reinado da rainha Elisabeth I, o teatro elisabetano deu origem a
um espaço teatral projetado para a corte, por isso, os edifícios foram
projetados por grandes arquitetos da época, dando origem a espaços
rebuscados
d) ( ) No teatro elisabetano, os membros da corte e os senhores mais abastados
ficavam nos balcões aéreos, cuja visibilidade do espetáculo era melhor, devido
à altura.
( ) Appia utiliza a iluminação para ser capaz de projetar sombras, construir espaços
por meio de ilusões de volume e de tamanho, arredondando ou evidenciando os
ângulos, distanciamento e formas. As concepções espaciais criam formas cúbicas,
tablados, rampas e plataformas.
( ) Edward Gordon Craig, arquiteto e cenógrafo, acreditava que o cenário era o
elemento mais impactante do teatro, e utilizava telas móveis e luz para recriar o
espaço.
( ) Craig elaborou a teoria do super-ator, que deveria ter um corpo preparado
para responder, imediamente, às sugestões emotivas do texto dramatúrgico. Esse
super-ator deveria se relacionar com o espaço, de forma a se deixar afetar por
ele nas criações.
( ) Appia e Craig se voltaram mais para as relações espaciais promovidas pelo ator.
Assim, as influências não foram tão significativas nas concepções da luz sobre o
espaço cênico.
15
REFERÊNCIAS
ALEIXO, F. Corporeidade da voz: estudo da vocalidade poética I, Fernando Manoel
Aleixo. Campinas: [s.n.], 2004.
1
LABAN, R. Domínio do movimento. 5. ed. Edição organizada por Lisa Ullmann
[tradução: Anna Maria Barros De Vecchi e Maria Sílvia Mourão Netto]. São
Paulo: Summus, 1978.
de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2003.
15
VASCONCELLOS, L. P. Dicionário de teatro. Porto Alegre: L&PM, 1987.
1
15
UNIDADE 3
-
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que fa
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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UNIDADE 3 TÓPICO 1—
ESPAÇO CÊNICO E ILUMINAÇÃO TEATRAL
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 1, abordaremos dois elementos que são
indissociáveis na construção do espetáculo, e que são de extrema importância para a
constituição das dimensões estética e artística dele: o espaço cênico e a iluminação.
14
2 TEATRO E ARTES VISUAIS
ESTUDOS FUTUROS
No último tópico, estudaremos mais a respeito da performance. Termo provindo do inglês, esse g
performance é conceitual, restrita a pouco público, podendo, este, inclusive, não estar presente a
força durante as décadas de 1960 e de 1970.
2.1 CENOGRAFIA
FONTE: <https://www.mercurynews.com/2012/05/30/review-mary-poppins-at-the-san-jose-center-for-
the-performing-arts/>. Acesso em: 24 abr. 2021.
14
A cenografia é anterior à Grécia antiga, assim como o teatro, pois nascem com
a humanidade e as capacidades de comunicar e de criar ambientações para contar
histórias ou guardar memórias, mas a palavra cenografia, e a utilização desta como
elemento constituinte do espetáculo, originam-se na Grécia antiga, como vimos na
segunda unidade. O termo cenografia deriva, assim como a palavra cena, da palavra
grega skené, que dava nome aos painéis que escondiam as trocas de figurinos. A junção
das palavras Skené (cena) e graphein (desenhar, escrever) deu origem à palavra
skenographia (desenho, pintura) da cena. Com o passar do tempo, as skenés
começaram a ser pintadas ou transformadas em um cenário para a ambientação do
lugar onde o espetáculo se passava.
Podemos dizer que um espetáculo sem cenário possui cenografia? Sim! Neste
caso, a cenografia escolhida é a própria configuração espacial na qual está inserido.
Pode envolver a rua de uma cidade, uma sala fechada, uma praça. Os atores terão que
se comunicar com o espaço da mesma forma, e ele, também, criará sentido.
14
O cenógrafo deve estudar o espaço cênico no qual o cenário será inserido.
Para isso, pode utilizar as plantas baixas do espaço, fazer uma maquete para analisar
a tridimensionalidade da obra, assistir aos ensaios para compreender a movimentação
dos atores e as ações deles, além de compreender os objetivos do diretor.
NOTA
de Noiva, de Nelson Rodrigues, que estreou em 1943, marcando o surgimento do teatro brasileiro moderno.
sucesso.
15
No século XX, as configurações do espaço cênico foram sendo desconstruídas,
assim como o saber cenográfico, com as tradicionais formulações dele. As cenografias
e as organizações espaciais do espetáculo passaram a ser pensadas como uma forma
de quebrar a linearidade do espaço/tempo cronológico e literal, dando vazão às
explorações de espaços que, antes, eram vistos como não teatrais.
15
originária, alterar os conceitos de tempo e de espaço.
15
Nas últimas décadas, as novas tecnologias rompem as fronteiras entre o
presencial e o virtual, criando novas possibilidades de compor “realidades” e inúmeros
caminhos para a reformulação da cenografia e do trabalho do cenógrafo.
NOTA
O hipertexto é um termo que se remete a outro texto que abarca conjuntos de informações, como pala
15
3 LUZ CÊNICA
15
No final do século XVIII, a invenção da lâmpada de Argand, trouxe evoluções à
iluminação artificial, mas, no século XIX, um objeto, incandescente, sólido, que
poderia ser melhor direcionado, substituiu as chamas.
NOTA
es da luz elétrica, posicionavam-se velas e candelabros com esse fim. Hoje, a ribalta se encontra em desuso.
A partir do século XX, a luz começou a ser controlada com fins estéticos
e emocionais, pois esta possui as finalidades de impactar pelo efeito visual e de
criar o clima adequado para as emoções sugeridas pelo espetáculo. Passou
15
a “modelar, modular, esculpir um espaço nu e vazio, dar-lhe vida, fazer dele aquele
espaço do sonho e da poesia, ao qual aspiravam os expoentes da representação
simbolista” (ROUBINE, 1982, p. 22).
A luz, porém, não é um recurso de fora que é chamado para a cena só com
o objetivo de torná-la visível, embelezá-la, recortá-la, acrescentar-lhe
Por meio dessas invenções, a iluminação foi ganhando, cada vez mais, um
patamar artístico, somando-se à criação do espetáculo e auxiliando à dramaturgia,
elemento que veremos no próximo tópico.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
15
AUTOATIVIDADE
1 O cenário de um espetáculo, de um filme, de um comercial, ou, até mesmo, de
uma exposição de artes visuais, é a conjunção de vários elementos que podem
determinar a atmosfera, a linguagem artística, o espaço-tempo, a partir dos quais a
dramaturgia possa se manifestar, com as intenções de tirar o espectador do
ambiente real dele e de transportá-lo para o ambiente ficcional. A respeito da
cenografia de um espetáculo, é CORRETO afirmar:
3 A partir do século XX, as tendências são diversas no que diz respeito às concepções
do espaço cênico e da cenografia, pois acompanham a diversidade estética dos
diretores e as inovações artísticas deles, dissolvendo fronteiras entre o real e o
imaginário, além de ampliar os limites do teatro tradicional e ganhar novos espaços
não convencionais. Um desses profissionais que ficou conhecido pelo trabalho
diferenciado na criação cenográfica, a partir da década de 1980, foi:
15
a) ( ) Nelson Rodrigues.
b) ( ) Plínio Marcos.
c) ( ) Daniela Thomas.
d) ( ) Maria Clara Machado.
4 O cenógrafo suíço Adolphe Appia propôs uma visão inovadora acerca da iluminação
cênica, posicionando-a como principal elemento de criação da ambientação cênica.
O diretor Gordon Craig, igualmente inovador, levou adiante as ideias de Appia,
expostas no livro A Arte do Teatro, de 1905. A respeito do desenvolvimento da
iluminação, analise as sentenças a seguir:
a) ( ) Virtual e ciberespaço.
b) ( ) Lúdico e presencial.
c) ( ) Real e imaginário.
d) ( ) Ficcional e sensorial.
15
6 A primeira encenação de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, estreou em
dezembro de 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o grupo Os
Comediantes. Com direção do polonês Z. Ziembinski, a cenografia de Tomás
Santa Rosa foi realizada de forma inovadora, contemplando três planos dramáticos
estabelecidos pela dramaturgia. O texto, a encenação e as inovações dos
elementos visuais levaram alguns estudiosos a considerarem o espetáculo como
fundador do Teatro Brasileiro Moderno. Assim, explane as funções da cenografia em
um espetáculo teatral.
16
UNIDADE 3 TÓPICO 2-
DRAMATURGIA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 2, estudaremos a Dramaturgia, palavra originada
dos termos gregos drama (ação, feito) e dran (fazer, realizar), mais os termos ergos
(trabalhador, engendrador) e ergon (trabalho). Por esse motivo, a palavra dramaturgia
denomina os textos escritos para representarem a ação, e o dramaturgo é aquele que
escreve os textos dramatúrgicos.
A arte cênica é a arte da ação, e, por mais que o texto falado possa não ser
utilizado em alguns espetáculos, a arte cênica necessita de um roteiro que norteie as
ações do espetáculo. Neste tópico, estudaremos o lugar do texto literário
(dramatúrgico ou dramático) nos principais movimentos das artes cênicas ao longo do
tempo. Esse “lugar” determina mudanças significativas que reverberam na criação
cênica como um todo. A importância dada ao texto em cada época, a linguagem e a
dinâmica interferem, substancialmente, nos outros elementos criativos do espetáculo.
16
2 A DRAMATURGIA AO LONGO DO TEMPO
A história do teatro é indissociável da história da dramaturgia, da dimensão
literária. O texto dramático é um gênero literário de extrema importância artística, pois é
testemunho de uma época, memória de um povo, sendo que sobrevive aos séculos,
não somente, como escritura de palavras, mas como escritura da ação, da cultura.
FONTE: <http://teatro-tudosobreteatro403yahoo.blogspot.com/2010/05/o-primeiro-ator-da-grecia-
antiga-tespis.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.
16
Como visto anteriormente, o teatro grego teve início no século VI a.C., em
Atenas, onde passou a ocupar uma posição muito importante na sociedade. Por
consequência, o incentivo à escrita dramatúrgica era muito intenso, gerando,
inclusive, inúmeros concursos do gênero.
Os textos teatrais eram muito importantes para o teatro grego, e havia uma
forte interdependência entre dramaturgia e outros elementos do espetáculo, desde a
música até a ambientação cênica, assim como um grande envolvimento do público
com os textos, consumidos, com frequência, nos festivais competitivos, os quais
revelaram os grandes autores trágicos.
16
Geralmente, no início da peça, apresentava-se o herói trágico como um
homem jovem, forte e no ápice da prosperidade e do sucesso. Ele tenta equilibrar as
próprias virtudes e os defeitos durante todo o tempo. Um exemplo de herói é o
personagem Édipo, da tragédia de Sófocles.
O herói entra em contato com forças que não pode alterar, descobrindo a
impotência dele diante do que já está traçado. A tragédia é caracterizada pela
pequenez do ser diante do destino e dos deuses. O público, quando percebe que o
herói cometeu erros involuntários, apieda-se dele. Esse artifício da tragédia
16
Aristóteles (1987, p. 218) escreve, no capítulo XVIII, da Poética, que “o coro,
também, deve ser considerado como um dos atores; deve fazer parte do todo e da ação”.
NOTA
Aristóteles, filósofo grego do período clássico da Grécia antiga, foi aluno de Platão e professor de Alexa
nos dias de hoje. É uma teoria muito consistente, a qual envolve a tragédia e o teatro gregos, a es
• Eurípedes: Medéia (431 a.C.); Electra (420 a.C.); Héracles (416 a.C.); Ifigênia (414 a.C.);
As Bacantes (405 a.C.).
• Sófocles: Ajax (443 a.C.); Antígona (442 a.C.); Édipo Rei (427 a.C.); Édipo em
Colona (401 a.C.).
• Ésquilo: Os Persas (472 a.C.); Sete Contra Tebas (467 a.C.); As Suplicantes (463 a.C.);
Trilogia Agamêmnon; Coéforas e Eumênides (458 a.C.).
16
cômicos, utilizados para entreter a plateia.
16
Ao contrário da tragédia grega, as peças cômicas, do mesmo período,
ridicularizavam a mitologia e os membros da alta sociedade ateniense.
No século IV a.C., a “Nova Comédia” teve, como autor principal, Menandro (343
a.C. - 291 a.C.), que reformulou a dramaturgia cômica, pois sofreu restrições oficiais,
diminuindo a obscenidade e tornando a comédia mais tranquila e rebuscada. As
temáticas giravam em torno das questões familiares, do amor, das relações sociais. A
dramaturgia era focada na vida da elite grega, tratando de histórias despolitizadas
e desmitologizadas ao contrário da tragédia.
Nas terras de domínio romano, as peças gregas foram traduzidas para o latim.
Muitas tragédias da época romana antiga se perderam, restando completas algumas de
Sêneca, as quais, também, influenciaram o teatro renascentista inglês.
16
populares no século III a.C., na Roma antiga, cujos personagens-tipo se parecem com
os da Commedia Dell'Arte, manifestação teatral posterior, apesar de a influência não
ser comprovada historicamente.
Como podemos ver, peças criadas séculos antes de Cristo continuam a inspirar
o público contemporâneo, reforçando o caráter atemporal, por tratar de temas
universais. A seguir, estudaremos o texto dramatúrgico na Idade Média e no
Renascimento.
16
FONTE: <https://culturalarte.com/la-edad-media/>. Acesso em: 24 abr. 2021.
16
A época medieval, ou Idade Média, inicia com a queda do Império Romano
do Ocidente (476 d.C.), e se encerra com a tomada da capital do Império Bizantino
(Constantinopla), pelos turcos-otomanos (1453). A dramaturgia romana permaneceu
acessível, devido à língua oficial continuar sendo o latim. A dramaturgia clássica
continuou sendo o parâmetro de estrutura dramatúrgica, mas as manifestações
populares ganharam força, e, o mimo, apesar das proibições, manteve-se forte,
perpassando o mundo clássico. Os artistas ambulantes, os atores de feira, os
acrobatas, os menestréis, as tradições folclóricas e as festas pagãs se tornaram
populares e se espalharam por toda a Europa, ganhando, o teatro improvisacional,
importância semelhante ao teatro literário, cujo ponto de partida era o texto
dramatúrgico.
17
Como já visto, no século XV, três gêneros principais de dramaturgia se
desenvolveram: as Moralidades, com temáticas religiosas e sociais, com personagens
alegóricos representando a humanidade, a morte, o bem, o mal, dentre outros; os
Milagres, que narravam a vida dos santos; e os Mistérios, que eram voltados à
educação moral e versavam a respeito da história da religião, dos dogmas, dos
pecados capitais e dos valores éticos, decadentes na estrutura feudal.
17
Jean-
17
Baptiste Poquelin, conhecido como Molière (1622-1673), e de Shakespeare. Mais
adiante, as comédias de costumes, de Carlo Goldoni (1707-1793), na Itália, e os
personagens de Pierre Marivaux (1688-1763), na França. A dramaturgia e os
procedimentos da Commedia influenciam o teatro, como um todo, até os dias de hoje.
17
autor espanhol desse gênero.
17
Na Espanha, Lope de Vega era indiferente às normas clássicas, e foi criticado
por Cervantes, defensor do classicismo. Vega se justificou em Arte Nuevo de Hacer
Comedias en Este Tiempo (1609), livro no qual afirma conhecer as regras, mas ignorá-
las propositalmente, para não comprometer a própria liberdade de criação.
17
consciência da presença da plateia, e que, com frequência, dirige-
se a ela (HELIODORA, 1998, p. 20).
17
A dramaturgia moderna e atemporal de Shakespeare perpassa o tempo e
permanece influenciando o teatro em todo o mundo.
Os textos das peças eram escritos, em sua maioria, por homens que
eram chamados de cavalheiros, em virtude dos diplomas deles, de
Oxford ou Cambridge. [...] Uma companhia precisava de quinze ou
vinte peças novas por ano, o que impunha uma enorme demanda
sobre os escritores e sobre todo o cabedal de histórias e enredos
disponíveis na história e na literatura. Peças inovadoras e
estimulantes ajudavam a encher as galerias, para o desespero dos
adversários do teatro. A procura era tremenda por escritores
competentes, como os Gênios Universitários (University, Wits),
dentre os quais se incluíam homens, como Nashe, Greene, Peele,
Lodge e Thomas Watson (HONAN, 1998, p. 150-151).
17
FONTE: <https://www.artranked.com/topic/Theatre>. Acesso em: 24 abr. 2021.
17
Na figura anterior, vemos a obra de Giovanni Paolo Pannini, um óleo sobre
tela de 1747 (Museu do Louvre - Paris), que retrata o público aguardando o início
de uma ópera no período barroco, marcado pelo requinte e pelo rebuscamento.
Alinhada com a literatura clássica, a ópera francesa estava em alta entre os séculos
XVII e XVIII. Jean Baptiste Lully (1632-1687), compositor favorito de Luís XIV (1638-
1715), reformulou a ópera, estabelecendo as características que tornariam as
óperas francesas desse período concorrentes das óperas italianas.
17
Denis Diderot (1713-1784) despontou como o teórico do "drama burguês", um
gênero teatral realista, que retratava a vida social burguesa.
Também, nesse período, uma das fases mais profícuas do pensamento alemão,
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo, um dos representantes do idealismo
alemão, publica a obra Fenomenologia do Espírito (1807), que é tida como um marco
da filosofia mundial. As ideias de Hegel influenciaram, mais tarde, o marxismo, que
determinou as diretrizes do teatro político de Bertolt Brecht e de Erwin Piscator, e
influenciou Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900, filósofo, filólogo e crítico
cultural) e seu livro , O Nascimento da Tragédia pelo Espírito da Música (1872), no
qual afirmou que a tragédia nasce da tensão permanente entre a razão e os elementos
emocionais, instintivos e irracionais do homem. Escreveu críticas à religião, à moral, à
cultura e à ciência, demonstrando o próprio gosto pela metáfora, pela ironia e pelos
aforismos. Ainda, deixou muitas contribuições à análise do drama.
18
2.4 O LUGAR DO TEXTO NO REALISMO E NO NATURALISMO
18
O realismo sobreviveu com Ibsen e Bernard Shaw, e, após 1945, com as obras
dos filósofos e dramaturgos franceses Albert Camus (1913-1960) e Jean-Paul Sartre
(1905- 1980), e as chamadas “peças de tese”, que defendiam pontos de vista. O teatro
realista se desenvolveu, principalmente, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
18
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os textos teatrais eram muito importantes para o teatro grego, e havia uma forte
interdependência entre a dramaturgia e os outros elementos do espetáculo, desde
a música até a ambientação cênica, incluindo um grande envolvimento do público
com a dramaturgia, consumida, com frequência, nos festivais competitivos, os
quais revelaram os grandes autores trágicos.
18
AUTOATIVIDADE
1 A tragédia grega possuía, em sua maioria, o enredo inspirado nos mitos gregos,
os quais, frequentemente, faziam parte da religiosidade desse povo. As temáticas
giravam em torno dos direitos morais e dos dilemas trágicos da vida do herói,
principal elemento da tragédia, cuja retórica era exemplar e persuasiva.
descreve, no livro Poética, a configuração ideal da dramaturgia da tragédia grega,
que, quando realizada, produziria a , purificação das emoções dos
espectadores. A respeito das palavras relacionadas à tragédia grega, que
completam as lacunas anteriores, respectivamente, é CORRETO afirmar:
a) ( ) Sófocles e skené.
b) ( ) Eurípedes e cenografia.
c) ( ) Aristóteles e catarse.
d) ( ) Ésquilo e dramaturgia.
a) ( ) Miguel de Cervantes.
b) ( ) Harold Pinter.
c) ( ) Willian Shakespeare.
d) ( ) Thomas Norton.
18
4 O Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), nascido na Alemanha, foi um
movimento literário, com muita expressão no teatro, “um Pré-Romantismo
rebelado contra o Classicismo francês e desperto aos valores germânicos”
(GUINSBURG, 2005, p. 78). Com relação ao Sturm und Drang, analise as
sentenças a seguir:
18
6 A dramaturgia, escrita e estruturada formalmente, teve início na Grécia, e foi tratada
na Poética, de Aristóteles, uma obra que aborda a teoria dramática, e que foi
escrita por volta de 335 a.C. Analisando a tragédia, o filósofo definiu uma relação
entre personagem, diálogo e ação. Apresentou as ideias dele de estruturação do
texto e analisou as reações do espectador. Assim, mencione os principais elementos
da tragédia.
18
UNIDADE 3 TÓPICO 3-
DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no Tópico 3, estudaremos o teatro contemporâneo e os
grandes movimentos de vanguarda que ousaram romper com as manifestações
artísticas de reprodução literal da realidade e com as estruturas do teatro tradicional.
Após o Tópico 3, no fim da unidade, você poderá ler um artigo de Elen de Medeiros,
intitulado Fissuras do Real: Desvios da Mimese na Dramaturgia Brasileira Contemporânea.
18
multiplicidade de vozes nas manifestações cênicas, e altera
18
o lugar de importância dos elementos que constituem o espetáculo, processos
iniciados pelos movimentos de vanguarda nas Artes Cênicas. As características
fragmentárias do teatro pós-dramático alteraram, completamente, o tratamento da
escritura cênica e de tudo que abarca os aspectos textuais, redefinindo os papéis do
diretor e do dramaturgo, que não mais apresentam uma dependência recíproca ou
um posicionamento de centralidade em relação à criação. Assim, a seguir,
observaremos as vanguardas europeias, movimentos de cunhos artístico e cultural
que deflagraram rupturas com a arte desenvolvida no século XIX e que modificaram
conceitos importantes para a criação de uma estética que abrangesse os novos
desafios da sociedade contemporânea.
FONTE: <https://birdmenmagazine.com/2021/02/02/mejerchold-teatro-politico-rivoluzione/>.
Acesso em: 24 abr. 2021.
18
O futurismo foi iniciado na Itália, por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944),
escritor, poeta, jornalista e ativista político italiano, cujo manifesto foi publicado no
jornal parisiense Le Figaro, em 20 de fevereiro de 1909, movimento que abarcou a
maior parte das correntes não realistas das artes, inclusive, o teatro, como o
Dadaísmo, o Surrealismo, o Construtivismo, o Teatro do Absurdo e as manifestações
performáticas presentes após 1960. Os temas abordados por esse movimento eram
voltados à loucura, à contestação do sentimentalismo, à valorização da ação, ao
homem como máquina, aos aparatos industriais, à ruptura com a tradição e com o
passado, à rejeição ao moralismo, à revolução. Tudo isso incentivou a ruptura com as
regras tradicionais das artes, e os atores passaram a estabelecer novas formas de
contato com o público, interagindo ou se misturando, com ele, no mesmo espaço. As
dramaturgias rompiam com as regras clássicas estabelecidas, e as unidades de tempo
e de ação foram questionadas e apresentadas de formas diversas.
19
NOTA
ico e
O dramaturgo de vanguarda revoluciona pelas formas de pensar, de escrever e de conceber o teatro.
19
FIGURA 10 – MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS (1949) - BRECHT - S/D
FONTE: <https://www.akg-images.com/CS.aspx?VP3=SearchResult&VBID=2UMESQJIMH4QTC>.
Acesso em: 24 abr. 2021.
19
Absurdo. A peça Ubu Rei (1888), de Alfred Jarry (1873-1907), dramaturgo simbolista
francês, foi considerada a precursora desse movimento. O Teatro do Absurdo começou
a se desenvolver a partir da década de 1950 e do pessimismo pós-guerra. Dentre os
predecessores dele, estão Franz Kafka (1883-1924) e Albert Camus (1913-1960), que
apresentavam, nas próprias obras, a desolação da existência humana.
FONTE: <https://marracomunica.com.br/galeria-marra/teatro-espacos-culturais/teatro-cult-crowne/>.
Acesso em: 24 abr. 2021.
19
O Living Theater é uma companhia de teatro experimental fundada pela atriz
e diretora Judith Malina e seu marido Julian Beck (figura anterior), na cidade de Nova
York, ainda em 1947. A companhia se tornou mais conhecida durante os anos 1960, e
o ativismo político, sua principal característica, demonstrou ficar mais radical. O
grupo se destacou na luta contra a participação dos EUA na Guerra do Vietnã. No
teatro, o Living Theather defende a eliminação da separação entre palco e plateia,
incentivando o público a participar das apresentações dos espetáculos. A companhia
foi uma das mais importantes e influentes do século XX.
19
Lehmann escreve a respeito da rejeição do teatro burguês, realizado até
então, e analisa as novas formas teatrais e as relações diferenciadas que se
estabelecem entre a cena e a dramaturgia, devido à necessidade urgente de
estabelecer outras formas de diálogo com o público. Sublinha que essa
necessidade, também, decorre da necessidade de encontrar novas formas de
comunicação para concorrer com os meios de comunicação de massa e com as novas
mídias eletrônicas. Para Lehmann (2007, p. 33), o teatro pós-dramático “se vê
impelido a operar para além do drama, em um tempo após a configuração do
paradigma do drama no teatro. Ele não quer dizer negação abstrata, mero desvio do
olhar em relação à tradição do drama”. Apesar disso, Lehmann (2007) salienta que,
justamente, a partir da segunda metade do século XX, as novas tecnologias, também,
proporcionaram, ao teatro, a construção de possibilidades. O hibridismo é uma
característica da nova cena, agregando outras artes, como as audiovisuais, as
plásticas, o circo, dentre outras.
19
Na maioria das vezes, os artistas plásticos, ou artistas teatrais, são os
criadores e os atuantes das performances, e utilizam o próprio corpo como meio de
expressão. Por esse motivo, há uma preocupação com a potencialidade da presença do
atuante, com o movimento e a gestualidade dele. A linguagem é muito simbólica, e
não parte da palavra, mesmo que esta esteja presente, ou em argumentos lógicos.
Cabe, ao performer, agir conforme as circunstâncias, considerando o momento
presente, a variação do público e do espaço.
19
LEITURA
COMPLEMENTAR
FISSURAS DO REAL: DESVIOS DA MIMESE NA DRAMATURGIA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA*
Elen de Medeiros
19
Esse paradigma, que alicerçou o pensamento do teatro realista francês,
encontra ecos na produção dramatúrgica brasileira na segunda metade do século XIX,
particularmente, com José de Alencar, que entende a peça teatral como um
“daguerreótipo moral” em acordo com as normas morais do pensamento burguês
nascente. Detendo-se, mais precisamente, à construção do texto de teatro, vemos
que a estrutura dramática foi um dos maiores e principais elementos do teatro
nacional, e do qual nossos autores, raramente, distanciaram-se, ou seja, as bases do
drama convencional, embora questionadas em alguns períodos da história do teatro
nacional, pouco foram apagadas na formulação dramatúrgica, mesmo se tomarmos,
como referência, autores-chave da compreensão da nossa modernidade teatral, como
Nelson Rodrigues, Jorge Andrade, Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo
Vianna Filho e Ariano Suassuna. Os fundamentos primordiais do drama, a exemplo do
diálogo e da verossimilhança, sempre, estiveram na base da poética dos nossos
dramaturgos, seja para poder alcançar o público de forma efetiva (Jorge Andrade,
Guarnieri e Vianinha), seja para a subversão e o uso da ironia (tal como em Nelson
Rodrigues). Isso nos leva a pensar que, de alguma forma, a nossa dramaturgia não se
distanciou, efetivamente, da construção mimética da cena, mesmo que possamos
reconhecer movimentos de ruptura.
Transfigurações do Real1
A Mãe cuida de tudo, alheia aos detalhes, e eles vivem em sua superficialidade
cotidiana.
20
reconhecer a constituição familiar como estruturante para as narrativas do drama
convencional. É essa a primeira ruptura que a fala de Pequeno provoca, na medida
em que se desdobram, a partir de então, cargas simbólicas de forma assumida, dando
vazão a uma forma de representação subjacente, marcada, sobretudo, pelo irreal, ou
surreal, que é a presença do hipopótamo. Com esse simples desvio do caráter
simbólico, a família e a casa assumem outras características, funções e conotações.
“Tem coisas que foram feitas para se viver com elas”, e não importa o
quão ameaçadoras sejam e o quão estranhas pareçam. É, justamente, pelo desvio
do real, pela marca do estranhamento que a peça vai se projetar para além do espaço
privado e para além dos limites da sala de estar da casa. Diante desse jogo
provocativo, é possível estabelecer as relações entre o espaço do íntimo e o mundo
exterior, entre os medos particulares e as representações do outro. É aí que tudo se
rompe nessa dramaturgia.
FONTE: <https://www.researchgate.net/publication/330563020_Fissuras_do_real_desvios_da_mimese_
na_dramaturgia_brasileira_contemporanea>. Acesso em: 24 abr. 2021.
3
A caixa-alta é da própria dramaturgia.
20
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
20
AUTOATIVIDADE
1 A peça Ubu Rei (1888), de Alfred Jarry (1873-1907), dramaturgo simbolista francês,
foi considerada a precursora do , que começou a se desenvolver
a partir da década de 1950 e do pessimismo pós-guerra. Dentre os predecessores,
estão Franz Kafka (1883-1924) e Albert Camus (1913-1960), que apresentavam, nas
próprias obras, a desolação da existência humana. Um dos maiores representantes
foi o irlandês . Assinale a alternativa CORRETA, que
apresenta os nomes que complementam as frases:
a) ( ) Samuel Bechett.
b) ( ) Bertolt Brecht.
c) ( ) Luigi Pirandello.
d) ( ) Dante Alighieri.
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4 O teatro contemporâneo é marcado por inúmeros movimentos de vanguarda,
que rompem com as manifestações artísticas de reprodução literal da realidade e
com as estruturas do teatro tradicional. A respeito desses movimentos, analise as
afirmações a seguir:
20
d) ( ) V, V, V, V.
20
6 No século XX, diversas manifestações teatrais de vanguarda trouxeram inovações,
principalmente, dramatúrgicas. Assim, discorra a respeito dos principais
movimentos de vanguarda que aconteceram na Europa, em contestação aos
movimentos realistas e burgueses.
20
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Edipro, 2011.
2005.
BRANDÃO, J. S. Teatro grego: origem e evolução. São Paulo: Ars Poetica, 1992.
HONAN, P. Shakespeare: uma vida. Tradução de Sonia Moreira. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998.
20
LEHMANN, H. Teatro pós-dramático. Tradução Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac
Naify, 2007.
20
LOPES, R. França entre os séculos XVII e XVIII. São Paulo: Editora UNESP;
Cultura Acadêmica, 2015.
RABELO, A.; MAGALHÃES, Y. Do teatro realista ao teatro do real. Revista Sala Preta,
v. 19, n. 2, 2019.
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