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AÍ VEM O TEMPORAL

Karl Valentin

Tradução e adaptação
Amarildo de Almeida
Personagens
ELIZABETE (ZARDO)
CARLOS (LUAN)

Elizabete: - Mas que ventania! Eu não disse que você tinha que trazer o seu guarda-chuva? Olha aí, já começou a chover! E
agora nós só temos o meu guarda-chuva!
Carlos: – De que adianta um guarda-chuva neste vento, Elizabete?
Elizabete: – Fica quieto e amarra o pacote! Não, pelo cordão não. Vai desamarrar.
Carlos: Não vai desamarrar! (pacote cai no chão)
Elizabete: – Viu? Eu não disse! Pega esse pacote de uma vez, senão vai molhar!
Carlos: Me dá o guarda-chuva! E pega meu chapéu, que vai voar.
Elizabete: - Chapéu não voa, Carlos!
Carlos: Pega meu chapéu, Elizabete!
Elizabete: – Já peguei! Agora junta o pacote!
Carlos: Pega o guarda-chuva que eu vou juntar o pacote.
Elizabete: Pega o chapéu que eu junto o pacote.
Carlos: Pega o guarda-chuva que eu vou juntar o pacote. Para, para, para! Vamos decidir quem pega o que.
Elizabete: Estou parada.
(Aumenta tempestade. Trovões)
Carlos: Uma tempestade horrorosa destas e nós parados no meio da rua!
Elizabete: Carlos, se nós estivéssemos dentro de casa, a tempestade seria exatamente igual.
Carlos: Claro, Elizabete, mas nós estaríamos secos.
Elizabete: Se você abrisse o guarda-chuva nós estaríamos secos.
Carlos: Então abre seu guarda-chuva!
Elizabete: – Como, Carlos? Estamos no meio de um tufão! (Mais ventania)
Carlos: É mesmo! Está relampejando. Vem aí um temporal!
Elizabete: – Quem é que vem?
(Relâmpago)
Carlos: Surda! Eu disse que vem vindo um temporal!
Elizabete: Quando?
Carlos: Agora!
Elizabete: A que horas?
Carlos: Imediatamente! Já está trovejando.
Elizabete: Deixa trovejar. Trovão não é perigoso. O raio sim. Do trovão a gente se protege, mas contra o raio não há defesa.
Carlos: É??
Elizabete: Claro, Carlos. Se o raio lhe pega, você vira carvão.
(Trovão)
Carlos: Vamos escapar daqui antes do raio! Lá vem o ônibus 17.
Elizabete: Ah, não. O 17 eu não pego. Dá azar. (Passa o ônibus)
Carlos: Pronto, lá vem o 28, que também serve. (Passa outro ônibus). Lotado. Elizabete, faça alguma coisa, eu estou
encharcado.
Elizabete: O que é muito lógico. É impossível ficar seco na chuva.
Carlos: Então vamos para casa! Vamos ser razoáveis.
Elizabete: As pessoas razoáveis foram para a casa antes do temporal. Mas você não é do tipo razoável.
Carlos: Como?
Elizabete: Se você fosse razoável, já teria colocado o seu chapéu. Pelo menos a sua cabeça estaria seca.
Carlos: E por que é que você não abre o seu guarda-chuva?
Elizabete: - Por que agora já estou toda molhada.
Carlos: Agora que estamos molhados, podemos ir para a casa a pé.
Elizabete: - Então pega o pacote e vamos.
Carlos: - Enfim, tudo resolvido.
(Saem caminhando na chuva)

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