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CENA 01 -

O DESENCONTRO

A - Boa tarde, sabe me dizer que horas são?


B (está jogando farelo aos pombos, o que pode ser em algum parque) - Não sai
dizer, boa tarde, mas acredito que deva ser a mesma hora de todos os
dias.
A - Que coincidência, não?!
B - Também não sei dizer se é coincidência ou não…. Pode me dizer que
dia é hoje?
A - Não posso!
B - Humm.. (abana a cabeça, com dúvida e desconfiança).
A - Normalmente, um dia pode ser após outro dia, ou um dia antes de
outro dia…(mudando de assunto) Sabia que é terminantemente proibido
alimentar os pombos? Pode ocorrer uma denúncia.
B - Esses pombos são meus, eu vendo pombos .... Algumas pessoas
acham que são galinhas. Você come pombo?
A - Eu não como carne, apenas batata.
B - Humm … as batatas realmente são saborosas -minha mãe fazia muita
sopa de batata- … mas não comer um pombinho…
A (rápido) - Quanto cada pombo?
B - Uma na mão é 50, duas voando eu faço por 60.
A - Reais?
B - Dólares!
A - Não comprarei nenhum pombo, desculpe.
B - Não se desculpe, já não se compram mais pombos como antigamente.
Esses já estão comigo há mais de 50 anos!
A (espantado-se) - Quanto tempo vive um pombo?
B - Esses, certamente, mais de cinquenta anos.
A - E você teria…
B - Ah, isso eu não….
A (interrompendo, completando) - …. isso você não sabe dizer. Eu já sabia.
B - Se sabia, então você me fez uma pergunta estúpida, estúpida como
uma porta. Boa tarde. (sai)
A - Bom, já que essa conversa terminou assim, é melhor eu ir pra casa,
além do mais, aí vem um temporal. (fazendo menção à cena seguinte, Aí Vem
um Temporal, de Karl Valentin)

CENA 02
AÍ VEM O TEMPORAL – Karl Valentin

(Ventania, trovoadas, chuva, vendaval, raios, barulhos de rua, buzinas, travadas,


batidas de carros, conversas, gritos, etc.)

Elizabeth - Mas que ventania! Eu não disse que você tinha que trazer o
seu guarda-chuva? Olha aí, já começou a chover! E agora nós só temos o
meu guarda-chuva!
Werner – De que adianta um guarda-chuva neste vento, Elizabeth?
Elizabeth – Fica quieto e amarra o pacote! Não, pelo cordão não. Vai
desamarrar.
Werner – Não vai desamarrar! (pacote cai no chão)
Elizabeth – Viu? Eu não disse! Pega esse pacote de uma vez, senão vai
molhar!
Werner – Me dá o guarda-chuva! E pega meu chapéu, que vai voar.
Elizabeth - Chapéu não voa!
Werner – Pega meu chapéu, Elizabeth!
Elizabeth – Já peguei! Agora junta o pacote!
Werner – Toma o guarda-chuva que eu vou juntar o pacote.
Elizabeth – Toma o chapéu que eu junto o pacote.
Werner - Para, para, para! Vamos decidir quem pega o que.
Elizabeth – Estou parada.
Werner – Uma tempestade horrorosa dessas e nós parados no meio da
rua!
Elizabeth – Se nós estivéssemos dentro de casa, a tempestade seria
exatamente igual.
Werner – Claro, Elizabeth, mas nós estaríamos secos.
Elizabeth – Se você abrisse o guarda-chuva nós estaríamos secos.
Werner – Então abre seu guarda-chuva!
Elizabeth – Como? Estamos no meio de um tufão! (Mais ventania)
Werner – É mesmo! Está relampejando. Vem aí um temporal!
Elizabeth – Quem é que vem?
Werner – Eu disse que vem um temporal!
Elizabeth – Quando?
Werner – Agora!
Elizabeth – A que horas?
Werner – Imediatamente! Já está trovejando.
Elizabeth – Deixa trovejar. Trovão não é perigoso. O raio sim. Do
trovão a gente se protege, mas contra o raio não há defesa.
Werner – É??
Elizabeth - Claro. Se o raio lhe pega, você vira carvão. (Trovão)
Werner – Vamos escapar daqui antes do raio! Lá vem o ônibus 534.
Elizabeth – Ah, não. O 1534 eu não pego. Dá azar. (passa o ônibus)
Werner – Pronto, lá vem o 28, que também serve. (passa outro ônibus)
Lotado. Elizabeth, faça alguma coisa, eu estou encharcado.
Elizabeth – O que é muito lógico. É impossível ficar seco na chuva.
Werner – Então vamos para casa! Vamos ser razoáveis.
Elizabeth – As pessoas razoáveis foram para a casa antes do temporal.
Mas você não é do tipo razoável.
Werner – Como?
Elizabeth - Se você fosse razoável, já teria colocado o seu chapéu. Pelo
menos a sua cabeça estaria seca.
Werner - E porque é que você não abre o seu guarda-chuva?
Elizabeth - Porque agora já estou toda molhada.
Werner - Agora que estamos molhados, podemos ir para a casa a pé.
Elizabeth - Então pega o pacote e vamos.
Werner - Enfim, tudo resolvido.
(Saem caminhando na chuva)

CENA 03
FAMÍLIA

A - Não lhe parece óbvio demais que o teto fique acima do chão e chão
abaixo do teto?
B - Assim como uma semana tem sete dias!
A - Que absurdo!
B - Por que esse espanto? Você sabe perfeitamente disso.
A - Os nossos diálogos são completamente absurdos desde que nos
entendemos por gente.
B - Oras…

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