Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 1
• A maior parte da literatura que trata de Fonética e Fonologia vem tentando
fazer uma distinção entre elas que não tem convencido aqueles que se
aventuram nos estudos sobre essas disciplinas da Linguística;
• Podemos também estudar a fala a partir dos sons gerados pelos órgãos,
chamados de fonadores, com base nas propriedades sonoras (acústicas)
transmitidas por esses sons. Podemos ainda examinar a fala sob a ótica do
ouvinte, ou seja, da análise e processamento da onda sonora quando
acontece a percepção dos sons, dando sentido aquilo que foi ouvido. Todos
esses aspectos são considerados pela Fonética;
• Essa vibração é realizada pelo que chamamos de pregas vocais (órgãos que
se encontram no pescoço, mais propriamente na laringe). O som sem essa
vibração é chamado de surdo ou não vozeado, e com essa vibração de
sonoro ou vozeado;
• Falaremos então de letras como 's', 'c', 'q', 'u', 'h', observando que
foneticamente elas têm comportamentos distintos;
• Considere, por exemplo, a pronúncia das palavras 'saco', 'asa', 'assa',
'cebola', 'quero', 'lua', 'hoje' e 'chato', que são exemplos dos grafemas <s>,
<ss>, <c>, <qu>, <u>, <h>, <ch>, e observe como são pronunciados esses
grafemas nessas palavras: [s]aco, a[z]a, a[s]a, [s]ebola, [k]ero, l[u]a, [ ]oje,
[ʃ]ato;
• Essa diferença tem a ver com a proeminência dada ao primeiro ‘a’, que
pertence a uma sílaba acentuada [a], parecendo nesse caso ter uma
pronúncia mais “clara” do que a do segundo ‘a’.
• Mas poderíamos ter como pronúncia desse ‘l’ final das palavras o som [1],
produzido, por exemplo, em regiões do Rio Grande do Sul; essa produção,
chamada de velarizada, soa como um ‘l’ realizado com a sensação de que
a língua se volta para trás, e assim podemos produzir, por exemplo, ['sal] e
['bolsɐ];
• Essa linha da Fonética tenta entender como os sons são tratados no aparelho
auditivo e como são decodificados pelo nosso cérebro (ou pela nossa
mente);
• A Fonética vai então descrever se os sons foram realizados como [t], [th] ou
[tʃ] e a Fonologia irá explicar o processo sistemático que gera as mutações
da realização de ‘t’ através de uma regra que explicitará por que isso
acontece e o que condiciona as variações em nossa pronúncia.
• Tomemos mais um exemplo: se pronunciarmos as palavras ‘faca’ e ‘vaca’,
realizadas, respectivamente, como ['fakɐ] e ['vakɐ], haverá diferença de
sentido entre elas, certo? E isso se dá pela diferença entre os dois sons
iniciais dessas palavras, [f] e [v], respectivamente;
• É claro que, para fazer isso, precisamos nos apoiar em algumas propostas
teóricas e cada teoria pode explicar as variações de sua própria maneira.
Então, uma análise fonológica deve ter uma teoria subjacente. Porém, nem
sempre uma única teoria dará conta de explicar todos os fenômenos de uma
determinada língua.
• É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de significado,
mas, para que isso ocorra, ela deve se constituir em uma atividade
sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é
dependente de cada língua, é considerado Fonologia;
• Por sua vez, palavras como (o) ‘olho’ (substantivo) e (eu) ‘olho’ (verbo)
(['oʎʊ] e ['ɔʎʊ], respectivamente) apresentam foneticamente vogais
diferentes, mesmo sendo grafadas com letras iguais;
• E ainda, como já vimos, a diferença entre [z] e [s] está na vibração ou não
das pregas vocais, encontradas na laringe, como se percebe nas palavras
‘caça’ ['kasɐ] e ‘casa’ ['kazɐ], respectivamente;
• Isso pode ser alargado para a observação atenta de que, na grafia das
palavras ‘mesmo’ ['mezmʊ] e ‘mescla’ ['mɛsklɐ], a letra 's' corresponde a
dois sons diferentes, conforme pode ser observado nas respectivas
transcrições fonéticas. Isso se deve à característica de vibração das pregas
vocais (ou, mais tecnicamente, de vozeamento) da consoante que segue a
letra ‘s’;
• No primeiro caso, o da palavra 'mesmo', a consoante que a segue é [m] que
é produzida com a vibração das pregas vocais (ou seja, ela é sonora ou,
usando um termo da área de acústica, ela é vozeada) e, no segundo caso, o
da palavra ‘mescla’, que tem na sequência o [k], ele é produzido sem a
vibração das pregas vocais (é uma consoante surda ou não vozeada);
• Por agora, basta entendermos que palavras grafadas com o mesmo grafema,
no caso <s>, podem ter esse grafema sendo produzido de maneira distinta
a partir de um processo natural da fala e assim adquirir valores fonéticos
distintos;
• No caso deste grafema, a “modificação” se deu por influência do som que
o sucede: em ‘mesmo’, o <s> se realizou como [z], ou seja, como sonoro,
porque depois dele havia um [m] que se realiza com vibração das pregas
vocais. O trato vocal já se antecipa e se configura para atender a demanda
do [m] e o ‘s’ assimila o vozeamento.