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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA .......... 3
2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA ......................................................... 8
3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA .................. 10
3.1 Fonética ............................................................................................................................ 16
3.2 - Fonologia ....................................................................................................................... 18
4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA ....................................................................... 20
4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe............................................................................... 22
4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe ................................................................................. 24
5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SONS DA FALA ........................................ 31
6.1 Consoantes ....................................................................................................................... 31
6 DESCRIÇÃO DOS SONS LINGUÍSTICOS ............................................................... 35
7 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL .............................................................. 37
7.1 Alfabeto Fonético da OTAN.............................................................................................. 39
7.2 Criação do alfabeto fonético .............................................................................................. 39
7.3 Funcionamento do alfabeto fonético ................................................................................. 39
7.4 Utilização do alfabeto fonético internacional ...................................................................... 40
7.5 Outros alfabetos fonéticos ................................................................................................. 40
8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS ............................................................... 41
8.1 Consoante ......................................................................................................................... 42
8.2 Vogais ............................................................................................................................... 43
9 AGRUPAMENTOS DE FONEMAS .......................................................................... 45
10 ESTRUTURA DAS SÍLABAS................................................................................. 49
10.1 Classificação das palavras quanto ao número de sílabas .............................................. 51
11 AS TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICOS DOS SONS LINGUÍSTICOS
...................................................................................................................................... 52
12 INTRODUÇÃO ÀS PREMISSAS DA DESCRIÇÃO E ANÁLISE FONOLÓGICA...... 54
12.1 A importância da fonologia para o ensino de línguas ...................................................... 54
12.2 Processos Fonológicos Básicos ..................................................................................... 56
13 PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA: SONS DA FALA, PROSÓDIA ........ 60
14 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS E ACÚSTICAS DOS SONS ...................... 61
15 NOÇÕES BÁSICAS DE FONOLOGIA...................................................................... 63
16 A ESTRUTURA FONOLÓGICA DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS .......................... 66
17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA........................................................................................... 70

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA

Fonte: www.radames.manosso.nom.br

A fonética apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons


da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. Suas principais áreas
de interesse são: Fonética Articulatória, Fonética Perceptiva e Fonética Acústica.

Fonética Articulatória:
É um ramo da fonética, em que estuda os sons utilizados na linguagem humana, onde
a fisiologia e articulação na produção são aspectos a serem analisados, além de realizar a
observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos na fala.

Fones e Articulação:
Há diversos sons na fala humana, cada um deles com suas características e
movimentos articulatórios (fones ou segmentos). A distinção entre as consoantes e vogais
acontece em nível de articulação e deve ser entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos
pulmões.

• Vogais: Sem obstrução da passagem do ar.


• Consoantes: Obstrução total ou parcial da passagem do ar.

Consoantes:
Âmbito profissional

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Profissionalmente a comunicação linguística é de suma importância em muitos ramos,


não apenas a comunicação em si mas a forma que as palavras são articuladas. Essa forma
de articular pode tornar um fone mais ou menos compreensível e consequentemente facilitar
ou dificultar a compreensão da mensagem.

O aparelho fonador e a produção de fala:


Para que a produção da fala se dê com êxito em um ser humano é necessário que haja
vibração das moléculas de ar, ou seja, é preciso que haja respiração. Enquanto estamos
falando, estamos controlando a saída de ar dos pulmões, pois somos dependentes dessa
corrente de ar para que a fala aconteça. Para que a fala ocorra é indispensável que as pregas
vocais transformem aquela corrente em um som audível (caracterizada fonação), acarretando
assim a vibração ou não das pregas.

Mecanismos de produção dos sons:


Os órgãos articuladores são aqueles envolvidos na produção da fala, podendo ser der
descritos como ativo ou passivo.

• Ativo: partes do aparelho fonador que se movimentam para que a produção de um


determinado som seja efetuada como língua (que se divide em ápice, lâmina e dorso),
lábio e dentes inferiores, véu do palato (que fecha a cavidade nasal) e pelas pregas
vocais que são as responsáveis pelo vozeamento.

• Passivo: abrangem todas as estruturas que, diferentemente das ativas, não se movem
para a geração da fala. (lábio superior, dentes superiores, e palatos duro e mole).

Fonação:
A fonação é a capacidade das pregas vocais de transformar a corrente de ar em um
som audível. Ocorrendo na laringe, através do movimento das pregas vocais. Quando as
pregas vocais estão separadas e a glote está aberta, realizam a produção de sons
desvozeados traço [- sonoro]. Quando as pregas estão juntas, dificulta a passagem de ar e
ocasiona a vibração das pregas, temos os sons vozeados traço [+sonoro]. Outra grande
influenciadora da fonação é a posição da cartilagem aritenoidea, que acaba influenciando
totalmente na posição das pregas vocais, no repouso ou no período de fala.
Para classificar as consoantes, as características são:

I. Vozeamento. II. .
Ponto de articulação III.
Modo articulatório.

Relação à vibração ou não das pregas vocais, são elas:

• Surdas ou não-vozeadas: Produzidas sem a vibração das pregas vocais.


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• Exemplos: pata, faca.

• Sonoras ou vozeadas: Produzidas com a vibração das pregas vocais.

• Exemplos: bode, zona.

A posição dos articuladores passivos e ativos quando produzem tais segmentos. os


lugares de articulação são subdivididos em:

• Bilabial- Exemplos: nas plosivas /p/, /b/ e na nasal /m/.

• Labiodental - Exemplos: as fricativas /f/ e /v/.

• Dental- Exemplos: nas plosivas /t/ e /d/.

• Alveola- Exemplos: as fricativas /s/ e /z/, a nasal /n/ e a líquida /l/ e /r/.

• Alveolopalatal.

• Palatal- Exemplos: Velar- Exemplos: as plosivas /k/ e /g/ e a líquida /R/ Glotal

Essa característica fonêmica está relacionada ao tipo de obstrução na corrente de ar


que determinado fone acarreta, devido aos órgãos articuladores envolvidos no processo. São
eles:

• Oclusivas- Fechamento total da glote, e o véu palatino fecha a cavidade nasal. São
denominadas Plosivas;

• Fricativas- Os articuladores de fala se aproximam a ponto de ocorrer uma fricção na


passagem do ar, sem obstrução total da cavidade oral; Nasal – total obstrução da
passagem de ar na cavidade oral, ocasionando no fluxo pela cavidade nasal;

• Tepe- Também denominada vibrante simples, ocorre quando o articulador ativo toca
rapidamente o articulador passivo, ocorrendo uma obstrução da passagem de ar na
boca;

• Vibrante Múltipla- É uma sequência de vibrações no mesmo ponto de articulação;

• Retroflexa- O ápice da língua é o articulador ativo, que vai ao encontro do palato duro
que é passivo;

• Laterais- O articulador ativo se encontra com o passivo, obstruindo a corrente de ar na


linha central do trato vocal;

• Africada- Esta classe na verdade é uma junção de uma plosiva com uma fricativa, que
devem necessariamente ter o mesmo ponto de articulação;
I- Ponto de articulação:
II- Vozeamento

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

III- Modo articulatório

Na atuação fonoaudiológica:
A fonoaudiologia é habilitada para tratar patologias que culminem em desvios
fonológicos ou fonéticos, onde os problemas com a articulação das palavras são tratados na
área da fonética. Respiração, fonação, ressonância e articulação são elementos necessários
para a produção da fala, eles funcionam em conjunto por tanto o comprometimento de um
fator altera o resultado final.
As alterações na fala têm origens diferentes, podendo ser elas neurológicas ou
resultantes de alteração óssea, muscular ou cartilaginosa.

Fonte: www.empresarialmaster.com.br

Vogais
Estes sons devem ser produzidos de modo que o estreitamento da cavidade oral,
devido à aproximação do corpo da língua e do palato não produza fricção.
Para identificação e descrição usam-se alguns parâmetros, como:

1. Altura da Língua
2. Avanço ou recuo da língua
3. Posição dos lábios
4. Vogais Nasais e Orais
5. Semivogais

Altura da Língua

• Altas;

• Médias-altas;

• Médias-baixas;
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• Baixas;

Avanço ou recuo da língua


• Anteriores;

• Posteriores;

• Centrais;

Posição dos lábios


• Arredondadas

• Não-arredondadas

Vogais Nasais e Orais


As vogais podem ser orais, pronunciadas na cavidade bucal apenas, ou nasais,
pronunciadas também nas cavidades nasais.

• Orais: a, e, i, o, u.

• Nasais: ã (an/am), ẽ (en/em), ĩ (in/im), õ (on/om), ũ (un/um)

Semivogais
Apresentam menor proeminência acentual se comparadas às vogais que
acompanham. Nesse caso, são representadas respectivamente pelos símbolos fonéticos j e
w.

2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.portugues.uol.com.br

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Como você deve ter observado, a linguagem humana se manifesta de várias formas.
Podemos nos expressar por meio de gestos, como na língua de sinais conforme ilustrado na
figura 1; por meio dos sons que emitimos ao falar e, ainda, por meio da escrita. Ao ler o poema
E agora José? De Carlos Drummond de Andrade, você experienciou a linguagem se
manifestando por meio da escrita.
Ao escutar ou cantar a canção, você utilizou a linguagem falada, seja quando fez uso
do seu aparelho vocal para emitir sons ao cantar, seja quando utilizou seu aparelho auditivo
para ouvir e perceber a mensagem. A linguagem falada se realiza por meio do canal
vocalauditivo, enquanto a linguagem de sinais utiliza um canal gestual-visual e a escrita, um
canal visual gráfico.
Apesar da existência dessas várias formas de manifestação, a linguagem humana tem
no canal vocal-auditivo a sua forma privilegiada de expressão, basta constatarmos que o ser
humano primeira fala e só depois aprende, ou não, a escrever. Uma comunidade só
desenvolve a linguagem gestual quando seus membros são privados de audição e a escrita,
embora tenha muito prestígio nas sociedades modernas, não existiu e nem existe em todas
as sociedades humanas. Há muitas línguas no mundo que só apresentam a modalidade oral,
são línguas sem escrita – línguas ágrafas. As línguas indígenas ainda hoje faladas no território
brasileiro são exemplos disso. Na sua evolução, os seres humanos privilegiaram o canal vocal
auditivo para a comunicação talvez em decorrência das vantagens que ele apresenta em
relação ao canal gestual-visual.
Comunicar-se por meio de sons, em vez de gestos, deixa o corpo livre para se
empreender outras atividades no momento em que se fala e exige relativamente pouca
energia física. Além disso, as mensagens podem ser enviadas e recebidas a uma certa
distância, sem necessidade de os interlocutores se olharem. Assim a comunicação pode
ocorrer no meio da escuridão ou numa floresta densa, por exemplo, (Aitchison).
A maior parte da literatura que trata de Fonética e Fonologia vem tentando fazer uma
distinção entre elas que não tem convencido aqueles que se aventuram nos estudos sobre
essas disciplinas da Linguística. Primeiramente, deve-se dizer que tanto a Fonética quanto a
Fonologia têm como objeto de estudo os sons da fala. Ou, melhor dizendo, tanto a Fonética
quanto a Fonologia investigam como os seres humanos produzem e percebem os sons da
fala. Em segundo lugar, deve-se observar que é bastante difícil fazer Fonologia sem antes
entender (ou fazer) fonética. É preciso então conhecer um pouco mais sobre o status de cada
uma dessas disciplinas, sem tentar fazer uma distinção simplista de suas funções ou modos
de ação. Podemos começar nossa reflexão lançando mão de uma discussão sobre Fonética
e Fonologia que se tornou muito profícua entre os pesquisadores da área, apresentada por
Clark e Yallop (1995).

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.diferenca.com

Introduzindo a Fonética e a Fonologia segundo essa reflexão, qualquer comunicação


realizada através de línguas orais com sucesso, seja ela um simples cumprimento ou um
elaborado discurso político, pressupõe alguns requisitos básicos com relação aos
interlocutores: um funcionamento físico adequado do cérebro, dos pulmões, da laringe, do
ouvido, dentre outros órgãos, responsáveis pela produção e audição (percepção) dos sons da
fala. Além desses, deve haver o reconhecimento da pronúncia de cada um dos interlocutores,
pois, mesmo que eles tivessem os órgãos da fala e da audição em perfeito estado, essa
comunicação poderia não ter sucesso se um deles não compreendesse a língua falada pelo
outro. Outro ponto importante a se considerar é a adequada interpretação das ondas sonoras
(sons) emitidas pelo falante e captadas pelo ouvinte.
Dessa maneira, observamos logo de início que a fala pode ser descrita sob diferentes
aspectos, uns estão mais próximos do que vai se convencionar chamar de Fonética, outros
mais próximos do que vai se convencionar chamar de Fonologia. Podemos estudar a fala a
partir da sua fisiologia, isto é, a partir dos órgãos que a produzem, tais como a língua,
responsável pela articulação da maior parte dos sons da fala, e a laringe, responsável
principalmente pela produção de “voz”, que leva à distinção entre sons vozeados (sonoros) e
não vozeados (surdos), por exemplo. Podemos também estudar a fala a partir dos sons
gerados pelos órgãos, chamados de fonadores, com base nas propriedades sonoras
(acústicas) transmitidas por esses sons.
Podemos ainda examinar a fala sob a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e
processamento da onda sonora quando acontece a percepção dos sons, dando sentido àquilo
que foi ouvido. Todos esses aspectos são considerados pela Fonética. A Fonética então é a
área que estuda a produção de fala propriamente dita, e isso significa dizer que ela levará em
consideração a variação linguística, a fisiologia dos indivíduos e as idiossincrasias relativas
às características individuais dos falantes.

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Dizemos que a Fonética Articulatória estuda o som do ponto de vista mais estritamente
fisiológico. Se você colocar a mão espalmada sobre o pescoço e produzir um ‘s’, ouvirá o ruído
desse som, mas não sentirá o pescoço vibrar. Mas se você produzir um ‘z’ e mantiver a mão
no pescoço, ouvirá um ruído e também sentirá o pescoço vibrar. Essa vibração é realizada
pelo que chamamos de pregas vocais (órgãos que se encontram no pescoço, mais
propriamente na laringe). O som sem essa vibração é chamado de surdo ou não vozeado, e
com essa vibração de sonoro ou vozeado. Então, algumas das tarefas da Fonética
Articulatória são: (I) observar se, durante a produção de um som, houve ou não vibração de
pregas vocais, definindo se ele foi realizado como sonoro ou surdo, e (II) descrever o
movimento de língua dentro do trato vocal e o movimento dos demais órgãos responsáveis
pela produção do som.
A Fonética Articulatória se encarrega de descrever a realização dos sons, levando em
consideração os parâmetros fisiológicos dos nossos articuladores.
Vejamos como isso pode ser feito. Por exemplo, pronuncie a palavra ‘sagu’ e perceba
como é realizada a vogal ‘a’. Nessa produção, há a livre passagem do ar pelo trato vocal – a
boca. Experimente pronunciá-la tomando consciência dos movimentos da língua, lábios e
mandíbula. Não há nenhum impedimento ou bloqueio enquanto essa vogal é realizada – o ar
simplesmente sai por sua boca.
Além disso, para a produção desse som, ou, mais tecnicamente, do fone [a], a língua
deve estar abaixada e centralizada na boca, e a mandíbula também deve se abaixar. Esses
movimentos, que a língua efetuou para a produção de [a], caracterizam essa vogal como baixa
e central. Notamos ainda que os lábios estejam abertos.
Vamos agora refletir sobre os movimentos necessários para a produção do ‘u’ final da
palavra ‘sagu’. Nesse caso, a parte posterior da língua (o dorso) deve fazer um movimento
para cima e para trás, o que caracteriza essa vogal como alta e posterior (note que “posterior”
aqui significa movimento “para trás”, indo dos lábios para o fundo da boca). Se você quiser
perceber ainda mais como se modifica a configuração de língua e lábios para a produção de
vogais distintas, pronuncie em voz alta a sequência [i, u].
Perceba que, para a produção de [i], você tem os lábios estirados e a língua
anteriorizada. Quando você produz [u], o dorso da língua faz o movimento para trás e os lábios
se prolongam, aproximando se. Faça isso com outras vogais e perceba quais modificações
ocorrem. Já refletiu? Então, vamos voltar para a palavra ‘sagu’. Sua representação sonora
será [saˈgu]; o símbolo [ˈ] identifica a sílaba tônica e deve precedê-la. Pronuncie desta vez a
palavra ‘tala’. Observe como a pronúncia do primeiro ‘a’ é diferente da produção do segundo
‘a’ dessa mesma palavra. Essa diferença tem a ver com a proeminência dada ao primeiro ‘a’,
que pertence a uma sílaba acentuada [a], parecendo nesse caso ter uma pronúncia mais
“clara” do que a do segundo ‘a’.
Por conta disso, transcrevemos foneticamente a palavra ‘tala’ como [ˈtalɐ], indicando
com símbolos diferentes os dois sons distintos de ‘a’. Note que colocamos novamente um
pequeno sinal [ˈ] antes da sílaba acentuada – lembre-se que esse sinal marca justamente a
maior proeminência dessa primeira sílaba, ou seja, a sílaba acentuada. Tomemos mais um
caso que a palavra, na maioria das regiões do Brasil, é realizada como uma vogal, ou seja, é
vocalizada. Por exemplo, as palavras ‘sal’ ou ‘bolsa’ são pronunciadas como [ˈsaw] e [ˈbowsɐ],
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

respectivamente. (O símbolo [w] soa como o som do grafema). Mas poderíamos ter como
pronúncia desse ‘l’ final das palavras o som [ɫ], produzido, por exemplo, em regiões do Rio
Grande do Sul; essa produção, chamada de velarizada, soa como um ‘l’ realizado com a
sensação de que a língua se volta para trás, e assim podemos produzir, por exemplo, [ˈsaɫ] e
[ˈboɫsɐ].
A diferença entre essas pronúncias tem a ver com a sequência de movimentos
articulatórios relacionados à produção de laterais que explicitaremos mais adiante no capítulo
“Fonética”. O que vimos nesses últimos parágrafos são exemplos de realização dos sons
distintos, levando em consideração modificações que acontecem no trato vocal, ou seja, que
são identificados a partir de uma descrição dos parâmetros fisiológicos dos nossos
articuladores. Considerando os diferentes falares que encontramos no Brasil, certamente
somos capazes de dizer se um indivíduo é nordestino ou carioca, além de sermos capazes
de dizer rapidamente se determinado som produzido pertence ou não à nossa língua.
Essa capacidade que temos de discriminar falares como sendo de uma região e não,
de outra, ou de identificar um som como sendo da nossa língua materna ou não, é objeto de
pesquisa da Fonética Auditiva ou Perceptiva. Essa linha da Fonética tenta entender como os
sons são tratados no aparelho auditivo e como são decodificados pelo nosso cérebro (ou pela
nossa mente). Quando, por exemplo, os foneticistas (aqueles que pesquisam sobre Fonética)
querem estudar mais a fundo as características dos sons da fala, eles gravam os informantes,
e as gravações são analisadas fisicamente, ou seja, são analisadas as propriedades do sinal
sonoro com o arcabouço teórico da Física.
Nesse caso, a produção sonora será investigada com o auxílio de equipamentos
tecnológicos e vai ser avaliada a partir de parâmetros acústicos; estamos assim adentrando a
Fonética Acústica. Se tomarmos os mesmos exemplos anteriores de pronúncia do ‘a’ ou a
vocalização/velarização do ‘l’ poderá analisar esses sons através de analisadores espectrais,
usando recursos digitais. Poderemos ainda visualizar esses sons a partir de seus pulsos
glotais (da vibração das pregas vocais) ou a partir das frequências de ressonância emitidas
pelo trato oral geradas na produção dos diferentes sons de ‘a’, como exemplifica a Figura.

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Fonte: www.infoescola.com

Figura 1: Sinal acústico da vogal [a] na palavra ‘pata’ ([ˈpatɐ]). No círculo, uma vibração
das pregas vocais ou, mais tecnicamente, um pulso glotal, referente à vogal [a] da sílaba
acentuada ([ˈpa]).
Toda essa informação tirada do sinal acústico nada mais é do que o registro do que foi
falado e é fruto de um processo que começa com o ar saindo dos pulmões. Tentando explicar
de uma maneira bem simples: os sons da maioria das línguas naturais, como os dos
portugueses brasileiros, nascem a partir do momento em que o ar sai dos pulmões; a
contração dos pulmões gera a expulsão do fluxo de ar que faz vibrar as pregas vocais; esse
fluxo de ar, passando pelas pregas vocais, excita o trato vocal que funciona como uma caixa
ressoadora e amplifica as frequências naturais desse tubo (o trato vocal), gerando os sons
que ouvimos.
O paulista, o sulista, os nordestinos falam de maneira distinta, mas isso não implica
impossibilidade de comunicação. Um bom exemplo para entendermos melhor onde atua a
Fonética e a Fonologia é o processo de palatização que ocorre na produção das palavras ‘tia’
e ‘dia’. Vamos explicar melhor: se um carioca produzir as palavras ‘tia’ e ‘tapa’, você irá
perceber que o ‘t’ que inicia essas palavras é produzido de uma forma particular. Diante de [i],
esse ‘t’ terá um ruído, uma fricção, que não ocorre quando o carioca produz o ‘t’ da palavra
‘tapa’. Diz-se, então, que para diferenciar palavras no português (não são fonemas, portanto),
já que [t]ia e [tS]ia têm o mesmo significado em PB. Como pudemos observar até agora, a
Fonética está preocupada em descrever articulatoriamente, percentualmente ou
acusticamente as produções que ocorrem de fato. Vimos também que as produções das
palavras do português brasileiro exibem muitas variantes.
Além disso, notamos que, mesmo algumas vezes havendo muitas diferenças entre as
produções, há compreensão entre os falantes. A Fonologia, no entanto, não está preocupada
em descrever ou identificar as variantes no fluxo contínuo da fala. Sua preocupação é tratar
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

de sons que distinguem o significado das palavras, além de organizar, postular regras e
entender como se dá a variação na realização efetiva dos sons. É claro que, para fazer isso,
precisamos nos apoiar em algumas propostas teóricas e cada teoria pode explicar as
variações de sua própria maneira.
Então, uma análise fonológica deve ter uma teoria subjacente. Porém, nem sempre
uma única teoria dará conta de explicar todos os fenômenos de uma determinada língua. É
consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de significado, mas, para que isso
ocorra, ela deve se constituir em uma atividade sistematicamente organizada. O estudo dessa
organização, que é dependente de cada língua, é considerado Fonologia. Assim, a Fonologia
pode ser vista como a organização da fala de línguas específicas segundo os postulados de
uma dada teoria. Logo, poderíamos dizer que uma descrição de como segmentos vocálicos
(vogais) individuais podem ser produzidos e percebidos seria fornecida pela Fonética, já uma
descrição das vogais ou do sistema vocálico do PB seria proporcionada pela Fonologia.
Vamos a mais alguns exemplos do que se pode investigar sobre o português brasileiro nesses
dois campos de estudo que se complementam mutuamente.
Antes de mais nada, é preciso relembrar que, quando falamos de vogais e consoantes,
referimo-nos a sons e não a letras. Assim, palavras como ‘cassado’ [kaˈsadʊ] e ‘caçado’
[kaˈsadʊ] possuem foneticamente as mesmas consoantes e vogais, apesar de serem grafadas
com letras e grafemas diferentes. Por sua vez, palavras como (o) ‘olho’ (substantivo) e (eu)
‘olho’ (verbo) ([ˈoʎʊ] e [ˈɔʎʊ], respectivamente) apresentam foneticamente vogais diferentes,
mesmo sendo grafadas com letras iguais. E ainda, como já vimos, a diferença entre [z] e [s]
está na vibração ou não das pregas vocais, encontradas na laringe, como se percebe nas
palavras ‘caça’ [ˈkasɐ] e ‘casa’ [ˈkazɐ], respectivamente. Isso pode ser alargado para a
observação atenta de que, na grafia das palavras ‘mesmo’ [ˈmezmʊ] e ‘mescla’ [ˈmɛsklɐ], a
letra ‘s’ corresponde a dois sons diferentes, conforme pode ser observado nas respectivas
transcrições fonéticas. Isso se deve à característica de vibração das pregas vocais (ou, mais
tecnicamente, de vozeamento) da consoante que segue a letra ‘s’.
No primeiro caso, o da palavra ‘mesmo’, a consoante que a segue é [m] que é
produzida com a vibração das pregas vocais (ou seja, ela é sonora ou, usando um termo da
área de acústica, ela é vozeada) e, no segundo caso, o da palavra ‘mescla’, que tem na
sequência o [k], ele é produzido sem a vibração das pregas vocais (é uma consoante surda
ou não vozeada). Assim, no primeiro caso, da palavra ‘mesmo’, teremos [z] que assimilou a
sonoridade do som [m] que o segue, e no segundo caso, da palavra ‘mescla’, temos [s], que
é surdo, como o som [k] que o segue. Basta entendermos que palavras grafadas com o mesmo
grafema, no caso, podem ter esse grafema sendo produzido de maneira distinta a partir de
um processo natural da fala e assim adquirir valores fonéticos distintos.
No caso deste grafema, a “modificação” se deu por influência do som que o sucede:
em ‘mesmo’, o se realizou como [z], ou seja, como sonoro, porque depois dele havia um [m]
que se realiza com vibração das pregas vocais. O trato vocal já se antecipa e se configura
para atender a demanda do [m] e o ‘s’ assimila o vozeamento. Para um último exemplo,
podemos verificar também, a partir de estudos apropriados desenvolvidos no âmbito da
Fonética, que vogais diante das consoantes [d] e [g] são mais longas do que diante das
consoantes [t] e [k], por exemplo, em palavras como ‘coda/gota’ ([ˈkɔdɐ]/ [ˈgotɐ],
respectivamente). Aquelas que dizem respeito às medidas de duração de vogais diante de
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

certas consoantes ou ao comportamento da laringe durante o vozeamento e as suas


consequências acústicas são julgadas abordagens mais fonéticas do que fonológicas.
Por sua vez, aquelas que tentam identificar as características que distinguem as
vogais do português brasileiro; classificar os sons como vozeados e não vozeados; formular
regras que têm por objetivo estabelecer padrões de vozeamento de consoantes surdas diante
de consoantes sonoras; ou ainda classificar os sons como fonemas de uma determinada
língua ou apenas variantes de um determinado fonema, são julgadas abordagens mais
fonológicas do que fonéticas. Você se lembra da explicação dada para a modificação de [s]
em [z] na palavra ‘mesmo’? A partir do momento que entendemos que essa modificação é
sistemática, ou seja, que todo som [s] diante de um som vozeado se torna sonoro por um
processo de assimilação de vozeamento, estamos montando uma regra, organizando o nosso
conhecimento, e então estamos entrando nos domínios da Fonologia.
Por isso, a dificuldade de separar as duas disciplinas, que se imbricam e se justificam
a todo momento. Parece que podemos considerar então que os foneticistas lidam com
medidas precisas, amostragem do sinal de fala, estatísticas, enquanto os fonólogos lidam com
a organização mental da linguagem, com as distinções sonoras concernentes a línguas em
particular, identificando os sons que servem para distinguir uma palavra de outra, ou as
regularidades de distribuição dos sons captadas a partir daquilo que o falante produz, ou ainda
os princípios que determinam a pronúncia das palavras, frases e elocuções de uma língua.
Outra tentativa de diferenciar Fonética e Fonologia estão relacionadas à característica de
universalidade concedida à Fonética, uma vez que ela trataria de aspectos mais gerais da
produção dos sons da fala, enquanto a Fonologia trataria de aspectos mais específicos das
línguas naturais em particular.
No entanto, essa tentativa cai por terra quando pensamos que mesmo a Fonologia tem
procurado estabelecer notações e terminologias universais para descrever a organização
sonora de várias línguas do mundo. E, mesmo sob um enfoque mais fonético, tem-se
estudado articulatória e acusticamente segmentos de línguas específicas, não somente
características gerais. Ainda outra maneira de diferenciar Fonética de Fonologia está
relacionada ao fato de que estudiosos da Fonética analisam como se dá a articulação de um
segmento (a Fonética Articulatória) ou que parâmetros acústicos caracterizam um
determinado sinal de fala (a Fonética Acústica) ou ainda como esse sinal de fala é percebido
pelos ouvintes (Fonética Perceptiva).
A Fonética é então empirista porque se apoia na experiência da fala, todavia, tanto a
investigação de sistemas linguísticos quanto a investigação da organização mental da fala
realizada pela Fonologia, também são baseadas na observação. Devido à reflexão que
acabamos de apresentar, vamos dizer que a separação que faremos neste livro da Fonética
e da Fonologia serve apenas como apoio didático para uma apresentação mais clara de todos
os aspectos envolvidos na construção de significados sob esses dois olhares. Como
adiantamos anteriormente, a língua que será evidenciada pela Fonologia será o português
brasileiro, e as características fonéticas discutidas também serão referentes a essa língua.

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

3.1 Fonética

Fonte: www.brasilescola.uol.com.br

Os sons vocais são, portanto, a base da nossa fala e compreendê-los é uma tarefa
importante para os profissionais da linguagem. Assim, criou-se uma ciência para estudá-los:
a Fonética, que você vai começar a estudar nesse curso. A Fonética é um dos campos de
investigação da ciência da linguagem – a Linguística – que tem como objeto de estudo os
sons da fala e como objetivo compreender de que forma esses sons são produzidos pelo
aparelho fonador humano, as suas características físicas e como se dá a percepção desses
sons pelo nosso aparelho auditivo.
Esse triplo objetivo faz surgir respectivamente três ramos de estudo da fonética: a
fonética articulatória, a fonética acústica e a fonética perceptiva ou auditiva. Essa divisão está
diretamente relacionada com a natureza do ato comunicativo. Como já deve ser do seu
conhecimento, qualquer ato de comunicação envolve, pelo menos, os seguintes elementos: a
pessoa que fala (falante/ emissor/enunciador), a pessoa que ouve (ouvinte/receptor) a
mensagem que ela transmite o código no qual a mensagem está cifrada (a língua) e o canal
ou meio físico que leva a mensagem do falante até o ouvinte. Pois bem, pensando neste
esquema de comunicação podemos ver que o estudo dos sons da fala pode ser feito
focalizando algum elemento deste esquema.
São basicamente três os elementos focalizados: o emissor, o meio físico e o receptor.
Quando o som é estudado do ponto de vista do emissor, procura-se explicar como ele é
produzido e as características que ele tem em decorrência da sua forma de produção.
É o que de faz em fonética articulatória – Área que se dedica ao estudo da anatomia e
da fisiologia da produção da fala, ou seja, descreve e observa a forma como os sons da fala
são articulados pelo aparelho fonador. Inclui alguns órgãos que são simultaneamente comuns
ao aparelho respiratório e ao aparelho digestivo, e que são responsáveis pela articulação da
fala humana. Sendo a maior parte dos sons das línguas, produzidos no momento da
expiração. O ar sai dos pulmões percorre os brônquios, a traqueia e a laringe, até que encontra

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

as cordas vocais na glote. Se essas membranas estiverem abertas, os sons articulados são
surdos ou não vozeados, como a consoante (S) da palavra (chá).
Em seguida, o ar passa pela faringe e encontra outro órgão que influencia a produção
sonora: o véu platino. Este órgão é responsável pela produção de sons nasais. Se for
levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar apenas pela produção de sons nasais. Se
for levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar apenas pela cavidade oral. Assim, se
produzem os sons orais (p), (b), (k), etc, que constituem a maioria dos sons da fala. Se, pelo
contrário, o véu palatino estiver baixado, o ar sai simultaneamente pelas cavidades oral e
nasal, produzindo-se sons nasais, como as vogais nasais e as oclusivas nasais (m), (n) e (N).
Área da fonética que se dedica ao estudo dos processos de audição da fala humana e
de processamento das suas características pelo cérebro humano. Estuda também a anatomia
e fisiologia do ouvido humano, a forma como são recebidas as ondas sonoras e como elas
são conduzidas pelos neurônios ao cérebro, onde são finalmente processadas e
reconhecidas. Quando o som é estudado do ponto de vista do receptor, procura-se explicar
como os sons são percebidos pelo ouvido humano, é a fonética receptiva. Por último, quando
estudamos o som levando em consideração o seu aspecto físico, estuda-se a onda sonora
para explicar as características físicas dos sons da fala importantes e necessárias para o
funcionamento da linguagem. Área da fonética que se dedica às propriedades acústicas dos
sons da fala, analisando tipos de ondas sonoras que a compõem, a sua produção e
propagação, os filtros que a modificam, ressoadores que a amplificam, etc. A fonética acústica
recorre a instrumentos de análise e de observação das características físicas dos sons,
análise essa que atualmente pode ser feita por ferramentas computacionais de análise de
sinais de fala. Este domínio da fonética estuda propriedades físicas como as durações, os
tipos de frequências formantes, o tom, a intensidade com que são produzidos os sons, a
amplitude das ondas e a energia.
Resumindo, a Fonética é a parte da Linguística que estuda os sons da fala. Subdivide-
-se em três ramos de estudo: fonética articulatória – estudo dos sons da fala do ponto de vista
de sua produção pelo aparelho fonador; fonética auditiva ou perceptiva – estudo dos sons da
fala do ponto de vista de sua percepção e fonética acústica – estudo das propriedades físicas
dos sons da fala.
O termo ‘Fonética’ pode significar tanto o estudo de qualquer som produzido pelos
seres humanos, quando o estudo da articulação, da acústica e da percepção dos sons
utilizados em línguas específicas. No primeiro tipo de investigação, torna-se evidente a
autonomia da Fonética em relação à Fonologia. No segundo tipo de investigação, porém, as
relações entre as duas ciências se tornam patentes.
A Fonética é o estudo dos aspectos acústicos e fisiológicos dos sons efetivos (reais)
dos atos de fala no que se refere à produção, articulação e variedades. Em outras palavras,
a Fonética preocupa-se com os sons da fala em sua realização concreta. Quando um falante
pronuncia a palavra 'dia', à Fonética interessa de que forma a consoante /d/ é pronunciada:
/d/ /i/ /a/ ou /dj/ /i/ /a/.
Fonética se diferencia da Fonologia por considerar os sons independentes das
oposições paradigmáticas e combinações sintagmáticas.
Observe no esquema:
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1- Oposições paradigmáticas: aquelas cuja presença ou ausência implica em mudança


de sentido.

Combinações Sintagmáticas: arranjos e disposições lineares no contínuo sonoro.


Troca na posição dos fonemas entre si. Ex: Roma, amor, mora, ramo.
3.2 - Fonologia

Fonte: www.mundoeducação.bol.uol.com.br

A Fonética, ao estudar os sons da fala, tem como objetivo descrever suas


características articulatórias e acústicas, bem como compreender como estas características
são percebidas pelo ouvido humano. A Fonética estuda, portanto, os sons da fala
independente das funções que possam desempenhar nas línguas. Você aprendeu, por
exemplo, que do ponto de vista articulatório o som [p] é uma consoante oclusiva, bilabial,
desvozeada.
Essa caracterização do som [p] independe de se ele é um som da língua inglesa, da
língua portuguesa ou da língua alemã. A Fonologia, ao contrário da Fonética, estuda os sons
para compreender como eles se organizam em uma língua, de modo particular, e nas línguas
de modo geral. À Fonologia interessa saber que função o som [p] desempenha na língua
inglesa, na língua portuguesa, na língua alemã ou em qualquer outra língua em que ele venha
a ocorrer.
Observe os exemplos abaixo:
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

No primeiro grupo de exemplo, temos a vogal [a] (baixa, central, oral) em 'cato e a
vogal [ə] (média, central, nasal) em 'canto'. São vogais foneticamente diferentes e essa
diferença fonética é suficiente para indicar a diferença de significado entre as duas palavras.
Em outros termos, é a alternância entre essas duas vogais que nos leva a interpretar cada
cadeia sonora como significando coisas diferentes. Compare, agora, a ocorrência de [a] e de
[ə] na primeira sílaba da palavra 'camada’, no segundo grupo dos exemplos. Veja que no
primeiro caso ocorre a vogal [ a ] e no segundo, ocorre a vogal [ ə]. Do ponto de vista fonético,
são vogais diferentes como no segundo, ocorre a vogal [ ə] em 'cato' e 'canto', mas a diferença
entre elas, no caso de 'camada', não cria diferença de significado.
Assim, podemos constatar que, dependendo do contexto em que ocorrem, vogais orais
e vogais nasais têm um funcionamento diferente na língua portuguesa, funcionam em nossa
. Nessa breve análise, vimos como dois sons, [ a ] e [ ə] língua e podemos expandir esse
raciocínio para as línguas de modo geral entendendo que os sons funcionam de forma
diferente de uma língua para outra. Isso significa que duas línguas podem ter os mesmos
sons, mas ainda assim elas serão diferentes porque os sons funcionarão de forma diferente
em cada uma delas e é isso que vai constituir a fonologia de cada uma.
A estrutura fonológica de uma língua é determinada pelo modo como os sons estão
organizados, ou seja, como eles se combinam para formar as sílabas e as palavras e como
eles funcionam para distinguir os significados.
Observe e analise os exemplos abaixo.

Os sons [ t ] e [ tʃ ] fazem parte tanto do conjunto de sons da língua portuguesa quanto


da língua inglesa. Contudo, o funcionamento deles é diferente em cada uma dessas línguas.
Em inglês, eles são empregados para diferenciar o sentido das palavras (veja os exemplos
acima), já em português, não. Em português [ 'tiɐ ] e [ 'tʃiɐ ] são formas diferentes de se
pronunciar a mesma palavra em dialetos diferentes. Podemos concluir que a Fonética
descreve os sons da fala em termos de suas características físicas.
Tem, portanto, um caráter descritivo e baseia-se nos processos de produção e de
percepção dos sons da fala. Já a Fonologia tem um caráter interpretativo, isto é, interpreta os

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

resultados obtidos por meio da descrição fonética estudando a função que os sons
desempenham nos sistemas sonoros das línguas. Tem por base, portanto, o valor dos sons
em uma língua particular. Identificar os sons e estabelecer o sistema fonético de uma língua
é objetivo de um estudo fonético. Fazer o levantamento dos sons que têm função opositiva e
distintiva, estabelecendo o sistema fonológico de uma língua é o objetivo de um estudo
fonológico.
Analisar fonologicamente uma língua é analisar os sons (segmentais e
suprassegmentais) que a constituem para descobrir como eles se combinam para formar as
sílabas, as unidades mínimas significativas (os morfemas) e, consequentemente, a palavra,
bem como para explicitar de que forma esses sons são utilizados para distinguir o significado
das palavras.
A Fonologia é o estudo dos Fonemas (os sons) de uma língua. Para a Fonologia, o
fonema é uma unidade acústica que não é dotada de significado. Isso significa que os fonemas
são os diferentes sons que produzimos para exprimir nossas ideias, sentimentos e emoções
a partir da junção de unidades distintas. Essas unidades, juntas, formam as sílabas e as
palavras.
A palavra 'Fonema' tem origem grega (fono = som + emas = unidades distintas) e
representa as menores unidades sonoras que formam as palavras. As palavras são a unidade
básica da interação verbal e são criadas pela junção de unidades menores: as sílabas e os
sons, na fala, ou as sílabas e letras, na escrita.
Os fonemas são classificados em vogais, semivogais e consoantes. Essa classificação
existe em virtude dos diferentes tipos de sons produzidos pela corrente de ar que sai dos
nossos pulmões e é liberada, com ou sem obstáculos, pela boca e/ou pelo nariz.

4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA

Fonte: www.slideshare.net

A anatomia humana é o campo da Biologia responsável por estudar a forma e a


estrutura do organismo humano, bem como as suas partes. O nome anatomia origina-se do
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

grego ana, que significa parte, e tomei, que significa cortar, ou seja, é a parte da Biologia que
se preocupa com o isolamento de estruturas e seu estudo. A anatomia utiliza principalmente
a técnica conhecida como dissecação, que se baseia na realização de cortes que permitem
uma melhor visualização das estruturas do organismo. Essa prática é muito realizada
atualmente nos cursos da área da saúde, tais como medicina, odontologia e fisioterapia.
A anatomia da laringe propriamente dita é composta por ossos, cartilagens, músculos,
membranas, ligamentos e mucosa. O conhecimento da anatomia e da fisiologia do aparelho
vocal é fundamental para o raciocínio clínico do terapeuta no tocante à conduta terapêutica
do sujeito. A Laringe está situada na extremidade superior da traqueia e na região infra
hioidea, logo abaixo da faringe. Está localizada na linha média, sua estrutura é ímpar e
formada por um arcabouço musculocartilaginoso. Na parte anterior da laringe, facilmente
palpável ao colocar os dedos na linha mediana do pescoço tem-se a incisura tireóidea, onde
estão localizadas posteriormente as pregas vocais.
As estruturas da laringe são derivadas do II, III, IV, V e VI arcos branquiais e cada arco
branquial é composto pelos três folhetos embrionários: endoderma, mesoderma e ectoderma
(Tucker, 1993 apud Behlau et. al, 2001) Sua formação está entre a 4ª e 10ª semana do
desenvolvimento e é nesse período que a laringe está sujeita a sofrer alterações. É
interessante ressaltar que nós não possuímos um aparelho próprio para a produção da voz.
O aparelho fonador é constituído por órgãos do aparelho respiratório, como os pulmões, e por
órgãos do aparelho digestivo, como a cavidade oral, a boca.
A seguir, encontramos uma representação do aparelho fonador:
Imagem I:

Fonte:www.letronomia.blogspot.com.br

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No processo de produção da fala, o ar expelido pelos pulmões atravessa a traqueia e


encontra as cordas vocais na laringe. Caso as cordas vocais estejam fechadas, haverá uma
pressão exercida por esse ar regressivo (que sai dos pulmões) e ocorre a vibração das cordas
vocais. Mira Mateus (et al. 2005) nos adverte que em algumas línguas ocorre a produção de
sons feitos com o ar ingressivo, o que entra nos pulmões. Esses sons são conhecidos como
cliques (é como aquele som que produzimos, no português brasileiro, para demonstrarmos
insatisfação com algo. Esse som é representado pela onomatopeia tsctsc. Se lembram?)
Bom, mas na maior parte das línguas os sons são produzidos justamente pela
vibração efetuada nas cordas vocais pelo a regressivo. Essa vibração produz o som que
conhecemos como voz. A partir desse ponto, o som produzido, sendo propagado através do
ar, encontra-se com o trato vocal, a parte formada pela faringe, boca (trato oral) e pelas fossas
nasais (trato nasal). Como cada pessoa possui uma anatomia diferente, um formato diferente
para cada um desses órgãos e mesmo pela constituição das cordas vocais, cada um possui
uma voz diferente da outra pessoa.
Observe abaixo uma imagem que retrata as cordas vocais:

Imagem II

Fonte:www.plus.google.com

As cordas, ou pregas vocais, são esses filamentos embranquecidos que, sendo


flexíveis, podem se encontrar abertos ou fechados. Essa abertura ou fechamento das cordas
vocais está estritamente relacionada à produção de sons surdos e sonoros.
4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe
O osso hioideo é uma estrutura de sustentação da base da língua e a estrutura de
ligação de alguns músculos extrínsecos da laringe. Logo, o osso hioideo suspende a laringe
por meio desses músculos, no entanto, não é um osso integrante da armação laríngea.

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Esse osso tem a forma da letra grega ípsilon minúscula (υ) parece com o nosso “u” e
não está ligado a qualquer outra estrutura óssea, na verdade, o osso hioideo mantém-se
suspenso por um sistema de músculos e ligamentos, que fazem dele uma estrutura totalmente
móvel.
As musculaturas da língua e do mento ligam-se ao osso hioideo por cima e pela frente,
ao passo que os músculos e ligamentos pertencentes ao osso temporal aproximam-se do
osso hioideo por cima e por trás. Já os músculos extrínsecos da laringe, da clavícula e do
externo chegam ao osso hioideo por baixo.
Os músculos extrínsecos da laringe são os músculos esterno tireóideo, os músculos
tiro hioideos e os músculo constritor inferior da faringe. O primeiro é responsável levar a
cartilagem tireoide para baixo, o músculo tiro-hioideo aproxima a cartilagem tireoide do osso
hioideo, já o músculo constritor inferior da faringe tem sua atividade principal durante a
deglutição e na fala forma a cavidade de ressonância vocal.
Esse conjunto de músculos que suspendem o osso hioideo é denominado por
músculos supra-hioideos.
Os músculos supra-hioideos são os músculos elevadores da laringe (o digástrico, o
estilo-hioideo, o milo-hioideo, o gênio-hioideo, o hioglosso e o genioglosso). Os músculos
hioglosso e o genioglosso são os músculos da língua e podem influenciar a laringe
indiretamente.

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Os músculos infra-hioideos localizam no pescoço, abaixo do osso hioideo. As funções


desses músculos são abaixar o osso hioide e a laringe, além de fixar o osso hioide para que
o músculo supra hioideos atuem abaixando a mandíbula. São conhecidos como "abaixadores
indiretos" da mandíbula.
A função dos músculos supra hioideos são: o músculo estilo-hioideo eleva e retrai o
osso hioideo; o digastrico eleva o osso hioideo e abaixa a mandíbula; o músculo milo-hioideo
eleva e projeta o osso hioideo e a língua; já o músculo gêniohioideo puxa a língua e o hioideo
para frente. Os músculos infra-hioideos são o esterno-hioideo, o omo-hioideo e o esterno
tireoideo.

4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe


Existem nove cartilagens laríngeas, sendo três cartilagens ímpares, uma
cartilagem par principal e duas outras cartilagens acessórias.

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As cartilagens ímpares são a tireoide, a cricóide e epiglote:

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a) Tireoide: é a maior cartilagem da laringe, é única e tem a forma de um livro aberto para
trás, parece o formato de um escudo com duas lâminas laterais, de forma quadrangular,
e dois pares de cornos posteriores. O limite superior externo encontra-se uma das
lâminas, encontra-se uma depressão conhecida como linha oblíqua, onde está inserido
alguns músculos laríngeos como o tíreo-hioideo, esterno-hioideo e o músculo constritor
inferior da faringe. Essa proeminência laríngea é conhecida vulgarmente como "pomo
de Adão". O ângulo entre as duas lâminas é diferente para cada sexo. Nos homens, o
ângulo está por volta de 90º enquanto que nas mulheres, o ângulo é maior, logo mais
aberto, por volta de 120º. Isso vai interferir na fisiologia vocal, pois ao mesmo tempo em
que influencia no tamanho das pregas vocais, contribui para definir a frequência da
vibração das pregas vocais.

b) Cricoide: essa cartilagem tem um formato circular, parecido com um anel. A região
anterior é mais estreita, já a região posterior é mais larga e mais elevada. Situase logo
abaixo da tireoide, onde está ligada pela membrana crico-tireoidea e possui formato de
anel, cujo engaste está voltado para trás. E está localizada logo acima do primeiro anel
da traqueia. Também existe uma variação entre os sexos no tocante ao formato da
cartilagem, nos homens é ovoide e nas mulheres é circular. Não se pode confirmar se
a fenda posterior, comumente encontrada nas pregas vocais femininas, está relacionada
com o formato circular da cartilagem cricoide nas mulheres.
c) Epiglote: é uma cartilagem única em forma de folha. Está localizada no orifício superior
da laringe, fixa-se através de um ligamento na superfície medial da cartilagem tireóidea,
na junção anterior de suas lâminas, o chamado pecíolo da epiglote.
A função da epiglote é proteger as vias aéreas inferiores durante a deglutição, por meio
do abaixamento e do fechamento do adito laríngeo. Durante a infância, essa cartilagem
encontra-se mais fechada passando a ter uma configuração mais aberta na puberdade.
Embora a epiglote movimenta-se bastante durante a fala, a cartilagem tem pouca participação
na produção vocal propriamente dita.

As cartilagens pares são as aritenoideas e as acessórias, as corniculadas


e as cuneiformes:

d) Aritenoideas: são duas pequenas cartilagens, uma para cada lado, em forma de
pirâmide triangular de grande eixo vertical, situa-se na margem inclinada da cartilagem
cricoide. As cartilagens aritenoideas são responsáveis pela função fonatória e
respiratória. Elas possuem uma forma geométrica piramidal: um ápice, três faces
verticais e uma horizontal. A base de cada cartilagem aritenoidea tem três ângulos: na
região mais anterior está o processo vocal; o ângulo póstero-lateral projeta-se para fora
da laringe e recebe o nome de processo muscular (onde se insere diversos músculos
que veremos adiante como o cricoaritenoideo posterior (CAP) e o cricoaritenoideo lateral
(CAL)). O ligamento vocal, uma parte importante das pregas vocais, está inserido no
processo vocal.

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Fonte: www.todamateria.com
e) Corniculadas: é uma cartilagem acessória, do tipo elástico-brancas, e também
denominadas de cartilagens de Santorini (nomenclatura antiga). Estão localizadas nos
ápices das cartilagens aritenóideas e lembra a forma de corno, por isso o nome de
cartilagens corniculadas. No ser humano, elas são estruturas vestigiais.

f) Cuneiformes: antigamente era conhecida por cartilagens de Wrisberg. Elas têm forma
de cunha e são do tipo elásticas, e estão incrustadas nas pregas ariepiglóticas. As
cartilagens cuneiformes proporcionam a sustentação para as pregas ariepiglóticas,
provavelmente auxiliam na constrição supra glótica anteroposterior (o fechamento do
adito da laringe pelo abaixamento da epiglote).

Distúrbios da linguagem são comuns na clínica neurológica de adultos devido à alta


frequência de doenças vasculares cerebrais. A Unidade de Neurologia Clínica do Hospital
Nossa Senhora das Graças fez um raro projeto de pesquisa na área de infartos cerebrais, que
se presta até hoje para discussões sobre o sempre atual tópico da linguagem. Antes, é
importante introduzir o conceito de lateralidade da função cerebral. O hemisfério cerebral
dominante é localizado no lado oposto a aquele que o ser humano prefere para atividades
motoras. Nas pessoas destras é o esquerdo.
Esse conceito é só parcialmente correto para as pessoas sinistras, já que a grande
parte dessa são sinistra incompleta, e têm dominância também à esquerda. Só naqueles que
são completamente sinistros o hemisfério dominante será o direito, uma minoria. Este conceito
de dominância cerebral é clássico, da época que considerava as funções verbais e de
intelectualidade racional as mais importantes.
Além das ideias clássicas do século XIX, as disfunções neurológicas do hemisfério
dominante eram de mais fácil entendimento para os médicos da época, como a linguagem.
As lesões do hemisfério não dominante produzem dificuldade de localização no espaço,
distúrbios de emoções ou musicalidade. Esta definição de dominância predomina até nossos

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

dias por sua tradição. O hemisfério esquerdo é ainda considerado o dominante, mesmo nos
tempos do MMA, do twitter e do funk.
Na porção inferior e posterior da caixa craniana está o cerebelo, envolvido com
organização motora. Alterações de suas funções levam à falta de controle motor, como
dificuldade na marcha, in-coordenação de membros superiores e inferiores, de língua, e da
musculatura envolvida com a produção da palavra.
Alterações cerebelares levam a um distúrbio de articulação da palavra (disartria).
Nestes casos, a organização intelectual está intacta, e clinicamente o que se nota é que o
paciente “enrola a língua”. O caso típico é o bêbado. Junto com o cerebelo, na parte inferior e
posterior da caixa craniana, está o tronco cerebral, por onde vão ao cérebro e voltam dele
para o resto do organismo fibras nervosas carregando todo tipo de informação e função.
Devido à grande convergência de fibras para uma estrutura de pequenas dimensões
como o tronco cerebral, qualquer lesão provoca uma sintomatologia exuberante. Um infarto
de tronco cerebral frequentemente leva o paciente a óbito, ou deixa sequelas, em geral são
grandes, como paralisia de um ou ambos os lados do corpo, alterações importantes de
fonação, de deglutição, de respiração, de movimentos oculares e faciais. Lesões no tronco
cerebral produzem disartria, por dificuldade na articulação da palavra.
O nome tronco cerebral foi dado devido à semelhança que esta estrutura tem com
vegetais, como árvores. O tronco cerebral é por onde circulam fibras que vão ou vêm dos
hemisférios cerebrais. Existem dois hemisférios cerebrais, o direito e o esquerdo. Cada
hemisfério cerebral é dividido em lobos frontal, temporal, parietal e occipital. Os lobos
occipitais controlam processos visuais. O lobo occipital esquerdo “enxerga” o campo visual
direito, composto por um hemi-campo nasal do olho esquerdo e um hemi-campo temporal do
olho direito.

Fonte: www.anatomiadocorpo.com

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

O lobo occipital direito controla o campo visual esquerdo, de maneira análoga. Os lobos
parietais têm função mais complexa. Na sua porção posterior, perto do lobo occipital, estão
áreas associativas, que controlam e integram processos visuais, auditivos, sensoriais e de
linguagem. Na sua porção mais anterior os lobos parietais controlam a sensibilidade provinda
de todo o organismo. O lobo parietal esquerdo controla a sensibilidade do hemicorpo direito e
o direito do hemi-corpo esquerdo.
Os lobos frontais também têm função complexa. Seus polos anteriores controlam o
nível de consciência, tanto em qualidade como em quantidade. As diferenças de
comportamento provocadas por lesões dos lobos frontais direito e esquerdo são de difícil
separação clínica. Nas suas porções posteriores existem as áreas motoras, vizinhas às áreas
sensitivas dos lobos parietais. Como com as outras funções já descritas, a área motora do
lobo frontal esquerdo controla o hemi-corpo direito e a do lobo frontal direito o hemi-corpo
esquerdo.
Na porção mais inferior da área motora do lobo frontal esquerdo fica o controle da
musculatura envolvida em deglutição e fonação (língua, boca, faringe e laringe). Esta parte é
envolvida com a articulação da fala, de maneira semelhante a regiões do tronco cerebral.
Lesões aí localizadas provocarão disartria, ou seja, distúrbios de articulação da palavra falada.
Os lobos temporais têm contiguidade anatômica com os frontais, parietais e occipitais.
As funções do lobo temporal esquerdo são mais conhecidas do que as do direito, por serem
mais óbvias ao exame clínico. O lobo temporal esquerdo congrega audição (percepção de
sons de qualquer tipo, inclusive palavra falada) e o processamento necessário para o
entendimento da palavra falada ou escrita. O lobo temporal direito parece ter uma função
importante na compreensão de sons musicais, além de também ter uma função auditiva.
Toda esta exposição sobre funções controladas por áreas cerebrais se relaciona ao
córtex, o manto de células que cobre os hemisférios. Por baixo dele está a substância branca,
composta de fibras que levam informações das células corticais e outras localizadas por entre
a substância branca, nos chamados gânglios de base, que atuam como estações de
transmissão e processamento de dados do córtex para o tronco cerebral e vice-versa.
Também localizados abaixo do córtex, acima do tronco, vizinhas aos gânglios da base, e
imersas na substância branca estão as estruturas que compõe o chamado sistema límbico,
que coordena comportamentos e emoções.
A fisiologia não obedece a padrões anatômicos como os já descritos. A recepção da
linguagem envolve audição de sons, transformação destes em padrões característicos de
linguagem (palavra falada) ou visualização de caracteres e sua posterior caracterização em
termos de linguagem (palavra escrita). O lobo occipital processa informações visuais e o
temporal processa informações auditivas e ambas convergem para uma área de associação
localizada entre os lobos temporal, occipital e parietal esquerdo. Estas informações são
passadas através do fascículo arcuado para a região de expressão de palavra na porção mais
inferior da área motora no córtex frontal esquerdo.
Lesões restritas ao lobo temporal produzirão uma afasia (distúrbio de fala) receptiva,
ou seja, de recepção de palavra. Estes pacientes têm capacidade de entender o que a eles é
dito. Quando perguntamos a uma pessoa com tal tipo de distúrbio, por exemplo, que dia é

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

hoje, a pessoa pode responder que ontem comprou um cachorro, da raça poodle, que é muito
lindo, que tem três anos de idade, que as crianças adoram o cachorro, etc., etc., etc.
Além da dificuldade para entender palavra falada, estes pacientes têm a característica
de falar excessivamente. O ritmo da palavra, a composição das frases, e a articulação de cada
palavra são corretas. Se ouvirmos uma dessas verborreias, sem termos conhecimento de que
foi perguntado ao paciente, teremos a impressão de que nada de errado há com ele.
Se a lesão se restringe a região frontal de expressão da palavra, o paciente terá uma
afasia expressiva. Esta pode ser extrema, de maneira que o paciente não consiga produzir
nenhum tipo de som. Pode ser menos severa, e o paciente produzirá sons ininteligíveis. Ou
ainda menos severa quando o paciente produzirá palavras mal pronunciadas. Nesses casos
pode haver confusão com disartria. O distúrbio da fala mais comum é misto, ou seja, nota-se
um distúrbio tanto de recepção como de expressão.
Isto porque o fascículo arcuado corre desde o córtex temporal (área receptiva), através
da substância branca do lobo parietal, até o córtex da porção inferior da área motora do lobo
frontal (área expressiva). Por sua extensão, é incomum que o fascículo arcuado não seja
lesado em tais pacientes. Os métodos de investigação para localizar alterações morfológicas
da estrutura cerebral são a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética.
O primeiro para urgências, e o segundo para detalhes, quando o paciente pode ficar
calmo durante longos períodos. As doenças cerebrovasculares isquêmicas, onde há
obstrução de artérias cerebrais, levam à necrose (morte) do tecido cerebral no território
irrigado por este vaso. O cérebro é suprido por duas circulações, a anterior e a posterior. A
circulação anterior é feita através das artérias carótidas direita e esquerda, que correm da
aorta torácica, através do pescoço e adentram a caixa craniana por trás do ângulo da
mandíbula. Logo após entrar no crânio cada artéria carótida se divide em artérias cerebrais,
anterior e média.
A artéria cerebral anterior irriga a porção mais medial dos lobos frontal e parietal. A
artéria cerebral média, de calibre bem maior, irriga a porção lateral e inferior do lobo frontal, a
porção lateral e posterior do lobo parietal, e o lobo temporal na sua quase toda totalidade. A
circulação posterior é feita através das artérias vertebrais, que, deixando a aorta torácica,
correm por entre a coluna vertebral cervical e adentram a caixa craniana pelo forame occipital.
Logo a seguir as duas artérias vertebrais se unem para formar a artéria basilar, que se situa
anteriormente ao tronco cerebral e suprem, além deste, o cerebelo.
Quando chega ao topo do tronco cerebral a artéria basilar se divide em duas artérias
cerebrais, posteriores, que suprem os lobos occipitais. Entre 1982 e 1985 cerca de 350
pacientes entraram neste Protocolo de Estudos em doenças cerebrais vasculares isquêmicas.
Um estudo semelhante a este só veio a ser replicado no Brasil no século XXI, 30 anos depois,
utilizando hospitais em dois estados ao mesmo tempo, e, mesmo assim, com falhas
metodológicas significantes.
Em média um paciente a cada três dias era admitido na Unidade de Neurologia Clínica
com um quadro de falta de vascularização cerebral. Esta pode ser transitória e reversível
(ataque isquêmico transitório), ou definitiva (infarto cerebral). Em 1983, com o objetivo de
apresentar dados no Congresso Pan-americano de Neurologia, em Buenos Aires, dados
iniciais em 119 casos coletados até a época foram estudados de maneira estatística. Dos 119
29
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

pacientes, 71 foram do sexo masculino mostrando uma predominância de em torno de 60%


dos casos para este sexo. Estes valores estão de acordo com estudos em outros países,
demonstrando que o sexo feminino é menos predisposto a doenças vasculares cerebrais
isquêmicas.
A média de idade dos 119 pacientes foi de 59.5 anos, com desvio padrão de 35 anos.
Novamente estes resultados corroboram dados de estudos internacionais, mostrando que é
na década dos 50 e 60 anos que ocorrem a maioria dos infartos cerebrais. O grande desvio
padrão, no entanto, mostra que esta patologia pode na verdade ocorrer em qualquer idade,
estando incluídos na casuística crianças de menos de 10 e pacientes acima de 80 anos de
idade.
Somente 13% dos pacientes apresentaram isquemia cerebral reversível, sendo que
nos outros casos os infartos ocorreram produzindo sequelas de maior ou menor severidade.
De especial interesse é o fato de que o território da artéria cerebral média esquerda foi atingido
em 35% dos casos, enquanto que o território da cerebral média direita foi atingido em 17%, o
das artérias cerebrais anteriores e posteriores conjuntamente em 12%, o da artéria basilar em
7,5%. Áreas de múltiplas artérias foram lesadas em 29% dos casos. Chegamos então à triste
conclusão de que em mais de 1/3 dos casos foi atingido o território nobre do hemisfério
cerebral esquerdo, aquele irrigado pela artéria cerebral média, que inclui as áreas de recepção
e expressão da palavra, além do fascículo arcuado, que conduz informações entre as duas
áreas.
Desta maneira grande parte (mais de 1/3) dos pacientes com infartos cerebrais têm
algum déficit de linguagem após a instalação desta doença. Partindo de que esta é a doença
que mais comumente leva um paciente a ser internado em um serviço de neurologia clínica,
vemos a importância extrema desses resultados, mostrando que doenças cérebro vasculares
afetam de maneira importante a linguagem do ser humano.
Dos 119 casos estudados, 15% foram a óbito, 6% permaneceram incapacitados no
leito com algum grau de afasia, 13% conseguiram deixar o leito, porém permaneceram
dependentes de familiares para funções básicas (alimentação, troca de roupa, necessidades
básicas) e 23% se tornaram independentes, porém tinham algum déficit. 43% dos pacientes
retornaram as suas atividades normais após o evento vascular. Deve ser enfatizado que estes
resultados são muito bons quando comparados a hospitais onde não haja um serviço de
neurologia ativo e bem preparado do ponto de vista tecnológico.
Por exemplo, sem tomografia axial computadorizada não é possível utilizar tratamento
anticoagulante, que melhora em muito o prognóstico destas doenças. De maneira que é de
se esperar um número ainda maior de pacientes com sequelas graves, frequentemente da
linguagem, em hospitais menos estruturados. A recuperação do déficit verbal produzido por
infarto cerebral ocorre como aquela de outros déficits neurológicos. O paciente que tem como
resultado de seu infarto uma afasia receptiva, expressiva ou mista, notará uma melhora
expressiva com o passar do tempo.
A maior melhora ocorre nas semanas imediatamente após o evento vascular.
Posteriormente, a melhora é muito mais lenta e o paciente atinge um “plateau”, após o
que não há mais progresso. É por este motivo que um tratamento agressivo na fase aguda do
evento vascular é recomendado. Mais recomendado ainda é que a classe médica e a
30
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

população em geral reconheçam que déficits transitórios de função cerebral são da maior
importância porque ocorrem antes de um infarto cerebral definitivo. Infelizmente, isso não
ocorre.
Desta maneira, pacientes que têm, como popularmente chamadas, “ameaças de
derrame”, não recebem tratamento adequado até que tenham tido o “derrame final”, quando
o que resta ao médico é remediar uma situação que poderia ter sido evitada. Até este tempo
nos concentramos no problema da linguagem, embora o tema solicitado tenha sido
“Linguagem e Mente”. Talvez a questão de mais difícil resposta no momento científico é
aquele referente a equação mente-cérebro.
Aqui emergem neurologia e psiquiatria, e por que não filosofia? Do ponto de vista
neurológico, mente é o produto final de todas as funções cerebrais, verbais, intelectuais,
emocionais e sensoriais. A mente não está localizada especificadamente em nenhuma área
cerebral. Novamente pacientes com infartos cerebrais se prestam como modelo para estudo.
O paciente que tem uma lesão na área de recepção ou de expressão da palavra, terá uma
alteração profunda no seu estado mental. Pacientes que têm infartos no hemisfério direito,
onde não há organização da palavra por si, demonstram alterações mentais. Infartos em áreas
de função visual criam uma nova imagem corporal, ou do mundo, para o portador.
Nos portadores de infartos no território das artérias cerebrais anteriores é que se nota
uma maior alteração mental. Esses comumente se tornam desinibidos, com euforia, ou, ao
contrário, ficam introvertidos, com depressão. Essa alteração de estado mental impede a
recuperação de outras funções, como paralisias, afasias, ou déficits visuais. Ocorre, no
entanto, que grande parte do progresso observado em neurologia nas últimas décadas se
deve a uma aplicação de métodos objetivos, de estudos controlados e análise estatística, a
grupos de pacientes com alterações de função que possam ser quantificadas. É bastante
óbvio que é muito mais difícil quantificar alterações mentais do que paralisias ou afasias, ou
déficits visuais.
5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SONS DA FALA
De acordo com a fonética articulatória, os sons produzidos na linguagem humana são
chamados fones ou segmentos. Esses sons podem ser divididos basicamente em três grupos:
consoantes, vogais e semivogais (ouglides).

6.1 Consoantes
As consoantes, ou segmentos consonantais, são sons produzidos com algum tipo de
obstrução no trato vocal, de forma que há impedimento total ou parcial da passagem de ar.
Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios:

1) Modo de articulação
2) Lugar de articulação
3) Vozeamento
4) Nasalidade / Oralidade

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

A notação dos segmentos consonantais é feita do seguinte modo:

• Modo de articulação + Lugar de articulação + Vozeamento + Nasalidade / Oralidade.

A notação dos segmentos vocálicos é feita do seguinte modo:

• Altura da língua + Anteriodade / Posterioridade da língua + Arredondamento dos


lábiospara ver como se dá a produção das vogais do Português.

As consoantes constituem diversas categorias, entre elas: surdas ou


sonoras; orais ou nasais; oclusivas ou fricativas (etc); mas são melhor descritas a
partir da especificação de seus pontos e modos de articulação. Os pontos de
articulação mais significativos (no Português) são os lábios, os dentes, os alvéolos
e o palato. As categorias de modo de articulação são oclusivas, fricativas, nasais,
líquidas e semiconsoantes.

• Oclusivas

São produzidas pelo bloqueio da pressão do ar em algum ponto do trato vocal que a
seguir é desfeito. Este ar pode ser bloqueado pela pressão dos lábios unidos ou pela pressão
da língua contra os alvéolos ou palato.

Fonte: www.oclusivas.com.br

Podemos produzir oclusivas (ou também conhecidas como plosivas) com lábios
(bilabiais), dentes (linguodentais) ou véu (linguopalatais).
Vejamos alguns exemplos de oclusivas orais:
• Bilabiais: /p/, / b/
• Linguodentais: /t/, /d/
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• Linguopalatais: /k/, /g/

Nasais
São produzidas pelo deslocamento do véu da parede posterior da faringe permitindo a
saída do ar que foi bloqueado em algum ponto da cavidade bucal. Essa obstrução pode-se
dar em 3 pontos articulatórios também, e são consideradas consoantes oclusivas.

Fonte:www.ericasitta.wordpress.com

Vejamos alguns exemplos de oclusivas nasais:


• Bilabiais: /m/
• Linguodentais: /n/

• Linguopalatais: /ƞ/

Fricativas
São produzidas pela constrição da corrente aérea em algum ponto do trato vocal,
determinando uma grande turbulência e produção de sons de alta frequência. Elas diferem
pelo ponto de articulação; podem ser produzidas por estreitamentos feitos entre os lábios e
os dentes (labiodentais) entre a língua e os alvéolos (línguo alveolares) ou entre a língua e o
palato (linguopalatais).

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Fonte:www.fricativas.com.br

Vejamos alguns exemplos de fricativas:


• Labiodentais: /f/, /v/
• Línguo-alveolares: /s/, /z/
• Linguopalatais: /ʃ/, /Ʒ/

Líquidas

Enquanto as consoantes citadas anteriormente receberam suas denominações em


decorrência de sua produção articulatória, as líquidas não seguem esse critério. Elas
compreendem as laterais e as vibrantes. As laterais se distinguem pela obstrução da corrente
expiratória em um ponto central e esse fato permite sua passagem pelas regiões laterais. A
obstrução é feita com a ponta da língua tocando a região alveolar (línguo-alveolar) ou a
ampliação dessa área de contato atingindo quase toda região anterior do palato
(linguopalatal). Outra característica dessa produção é a concavidade e distensionamento da
língua (mais acentuadas nas línguo-alveolares).
Vejamos alguns exemplos de líquidas laterais:

• Línguo-alveolares: /l/
• Linguopalatais: /ʎ/

São chamados de vibrantes os sons que se produzem quando um órgão elástico e


tenso executa um olu vários movimentos rápidos. Distinguem-se também pelo ponto em que
esta vibração se dá, podendo ocorrer na região alveolar (línguoalveolar) ou velar (uvulares).
Vejamos alguns exemplos de Líquidas vibrantes:

• Línguo-alveolares: /r/
34
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• Velar: /R/

Vogais
As vogais, ou segmentos vocálicos, são sons produzidos sem obstrução no trato vocal,
de forma que a passagem de ar não é interrompida. Esses sons são classificados de acordo
com os seguintes critérios:

1) Altura da língua
2) Anterioridade / Posterioridade da língua
3) Arredondamento dos lábios 4) Nasalidade / Oralidade
6 DESCRIÇÃO DOS SONS LINGUÍSTICOS

Fonte:www.sonslinguisticos.com.br

A fonologia tem por objetivo principal a definição dos sons que desempenham funções
linguísticas e a descrição e explicação dos processos fonológicos que os sons de uma língua
sofrem ou provocam. Desta forma podem-se dividir os sons da fala em propriedades de três
tipos diferentes: Articulatória, Acústicas, Perceptivas.
Deste modo o falante utiliza a propriedade articulatória, o ar transmite a propriedade
acústica, e o ouvinte utiliza a propriedade perceptiva. Só desta forma existe a comunicação
verbal, ou seja, o cérebro contém informação linguística que é transmitida pelo sistema
nervoso central. Este transmite a informação aos músculos e órgãos relacionados com a
produção de sons da fala. A este conjunto chama-se aparelho fonador. – Imagem fotocopia.
Numa primeira fase do som dá-se a expiração nos pulmões, isto significa que a massa
de ar passando pela laringe atinge as cordas vocais, fazendo-as vibrar. A isto dá-se o nome
35
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

de fonação. Finalmente na cavidade oral e nasal a massa de ar assume o formato de som de


fala (“articulação”).

Características articulatórias do som da fala:


Para definir os sons ou fonemas são essenciais as etapas de fonação e de articulação.
A etapa da fonação implica a produção de voz na laringe, assim, o ar atravessa a glote e as
cordas vocais podem ou não vibrar, produzindo assim sons vozeados ou sonoros consoante
a vibração das cordas vocais ou sons vozeados ou surdos que são produzidos sem vibração
nas cordas vocais.

Sons do português:
Os sons são transformados nas cavidades supraglotais: a cavidade faríngea, que
quase não desempenha papel na articulação dos sons em português, no entanto, a cavidade
nasal, permite distinguir os sons orais dos sons nasais. Os sons nasais podem passar em
simultâneo pela cavidade nasal e pela cavidade oral, dando-se o afastamento do véu palatino,
que quando se afasta produz sons nasais.
Foi realizada a palatografia e a linguografia para todos os sons estudados, ou seja, [s],
[z], [(], [y], [l], [r] e [k], em dois sujeitos com desenvolvimento típico de fala e linguagem nas
faixas etárias de cinco e sete anos, no dia da coleta de dados, não estava presente nenhum
sujeito na faixa etária de seis anos, que pudesse realizar a técnica. Estes sujeitos fizeram
parte do estudo, mas não apresentaram distorção, pertencendo ao GSTFSD. Foram
escolhidos aleatoriamente dentro deste grupo. A palatografia e a linguografia possibilitaram
uma comparação visual das produções adequadas e das comdistorção.
Todos os sujeitos com distorção de fala confirmada na prova para verificação de
distorção foram submetidos à palatografia e à linguografia para análise do som distorcido.
Explicava-se à criança o procedimento para a obtenção da palatografia. A ordem dada
à criança foi: “vou pintar sua língua com uma mistura preta que não tem gosto nem cheiro,
logo depois vou pedir para você falar uma palavra. Depois de falar você deve abrir a boca
para que eu coloque o espelho para ver como ficou seu ’céu da boca‘, e então vou tirar uma
foto”.
Para a linguografia, a ordem dada foi: “vou pintar seu ’céu da boca‘, com uma mistura
preta que não tem gosto nem cheiro, e logo depois vou pedir para você falar uma palavra.
Depois de falar você deve abrir a boca e colocar a língua para fora, e em seguida vou tirar
uma foto da língua”.
Para a palatografia, a língua dos sujeitos foi revestida com uma mistura de partes iguais
de azeite de oliva e carvão de lenha digestivo pulverizado (o azeite de oliva não tem sabor
ruim e o carvão é insípido), com um pincel largo e macio. Em seguida o sujeito deveria produzir
uma palavra que contivesse o som a ser investigado.
Após a produção da palavra, era solicitado que o sujeito abrisse a boca para a
introdução de um espelho com cantos arredondados, que refletia a região entre os molares
esquerdos e direitos da arcada dentária superior que foi contatada pela língua. Logo após, a

36
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

imagem refletida no espelho foi fotografada e todo o processo filmado. Ao término do registro
fotográfico, o sujeito foi instruído a utilizar a escova de dente e enxaguar a boca para que não
ficasse nenhum resíduo da mistura. A seguir, são mostradas as Figuras do material, mistura,
aplicação da mistura para realização da palatografia e linguografia, introdução do espelho
entre os molares e palatografia elinguografia.
Após a obtenção da palatografia, procedimento semelhante foi realizado para a
linguografia. A mesma mistura foi aplicada no palato duro, e após a produção da mesma
palavra utilizada na palatografia, o sujeito colocava a língua para fora para ser fotografada e
filmada para posterior análise (CASAES, 1992; LADEFOGED,2001).
O tempo gasto para a realização de cada palatografia e/ou linguografia entre instrução,
aplicação da mistura, produção e enxágüe foi ao redor de dois minutos. No entanto, 40% das
crianças referiram enjôo. Em alguns casos, na hora de fotografar a palatografia o espelho
embaçava enquanto procurava-se o melhor foco para fotografar a imagem. Além disso, para
as crianças menores houve dificuldade em se posicionar o espelho entre os molares, devido
ao tamanho reduzido da arcadadentária. Para a análise do palatograma e do linguograma
foram usadas as fotografias. Nesta análise estudou-se a arcada dentária, o palato duro e a
mancha observada. O Quadro 4 mostra as medidas analisadas para cada um dos
componentesestudados.
Durante a análise a criança poderia apresentar concomitantemente mais de um ponto
de contato (CASAES, 1990). As manchas poderiam ocorrer também em mais de uma região
do palato, sendo considerada como exemplo dento-alveolar, dentopalatal e dento-
alvéolopalatal. Da mesma forma, mais de uma região da língua também poderia estar
manchada, sendo classificada como ápico-laminar (AVELINO e KIM,2006). Para 20% das
palatografias e linguografias foram realizadas, além da análise da pesquisadora, uma segunda
análise das fotos, por uma fonoaudióloga mestre, que obteve 95% de acordo.
7 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL

O alfabeto fonético internacional foi criado em 1886 por professores de nacionalidades


francesa e inglesa, num projeto que teve a orientação do linguista Paul Passy. Mais tarde,
esse grupo foi denominado AFI - Associação Fonética Internacional - em inglês, International
Phonetic Association (IPA). Esse alfabeto especial, que compõe o que muitas vezes
encontramos como quadro fonético, passou por inúmeras mudanças em virtude dos estudos
promovidos por esse grupo. Sua última atualização data d 2005.

37
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

38
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

7.1 Alfabeto Fonético da OTAN


O alfabeto criado pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também é
chamado de alfabeto fonético internacional. Sua criação decorre da necessidade de garantir
que a troca de informações entre aeronáutica, marinha e exército fosse feita sem erros e sem
espaço para equívocos. O alfabeto da OTAN é de soletração, ou seja, uma palavra é soletrada
mediante um código, ou uma palavra chave, determinado para cada letra. Ele foi desenvolvido
e aperfeiçoado por ocasião da Segunda Guerra Mundial.
Antes do alfabeto da OTAN, a ICAO - Organização de Aviação Civil Internacional - já
havia criado um alfabeto de soletração, conhecido como o alfabeto radiotelefônico. O da
OTAN é, todavia, o mais conhecido. Este é utilizado até hoje não só pelo serviço militar, mas
pelo turismo.
Muitas pessoas nem devem ter reparado, mas outras já devem ter se perguntado o
que significam aquelas letras e símbolos dentro de colchetes que aparecem logo após a grafia
de uma palavra em dicionários de língua estrangeira, antes do seu significado na língua
portuguesa. Pois bem, para quem não sabe o que significa esse conjunto de letras e símbolos
que mais parece um código, saiba que ele integra o sistema chamado alfabeto fonético
internacional.
7.2 Criação do alfabeto fonético
O alfabeto fonético existe há muitos anos, sendo que passou por inúmeras mudanças
até chegar ao seu padrão atual. No entanto, ele sempre teve o mesmo objetivo, ou seja,
facilitar a pronúncia de outras línguas, sem a necessidade de conhecer o idioma
profundamente. Esse alfabeto foi criado em 1886, quando um grupo de professores ingleses
e franceses, tendo como líder o linguista francês Paul Passy, iniciou o que depois veio a se
chamar de Associação Fonética Internacional - AFI.
Foram esses profissionais da AFI os responsáveis pela criação e, posterior,
aperfeiçoamento do alfabeto fonético internacional. Depois de dois anos de início do
movimento, o grupo já havia padronizado o alfabeto fonético para todas as línguas, o que não
acontecia anteriormente, e apenas dificultava o objetivo de pronunciar os demais idiomas. Até
2005, quando ocorreu a última utilização, muitas alterações foram feitas, inclusive, no que diz
respeito a eliminar e adicionar novos símbolos.
7.3 Funcionamento do alfabeto fonético
Atualmente, grande parte das letras é derivada do alfabeto romano ou de uma língua
originária dele. No entanto, existem outras letras que também proveem do alfabeto grego e
há, ainda, aquelas que não integram nenhum alfabeto. No total, são 107 caracteres que
formam o alfabeto fonético internacional. Porém, nos dicionários de língua estrangeira, é
comum encontrar apenas pouco mais de 40 tipos de letras e símbolo, tornando mais fácil a
aprendizagem deste alfabeto.

39
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Já que muitas letras são conhecidas dos brasileiros, pois integram o alfabeto da língua
portuguesa, os interessados em aprender a usar o alfabeto fonético terão que aprender
apenas a pronunciar os demais símbolos. Além das letras, o alfabeto fonético possui símbolos
que se referem à maneira de pronunciar as palavras, como a entonação que deve ser dada.
Desta forma, é possível que uma pessoa se torne autodidata em conhecer outro idioma, ao
menos, em relação à pronúncia correta das palavras.

7.4 Utilização do alfabeto fonético internacional


O alfabeto fonético internacional é bastante utilizado pelos profissionais da área da
linguística, fonoaudiologia, tradução e professores de idioma. Mas também pode ser de
extrema importância para alunos de línguas estrangeiras, cantores e atores. Ou seja, qualquer
profissional que trabalha com a pronúncia e que a todo o momento está envolvido com
diferentes materiais escritos pode se valer do alfabeto fonético.
Um bom exemplo da necessidade do alfabeto fonético internacional é no caso de um
pesquisador conhecer uma tribo amazônica ou de qualquer outro lugar onde eles falem um
idioma desconhecido para os demais. Tendo conhecimento deste alfabeto, o pesquisador
pode transcrever o que os integrantes desta tribo conversam, podendo até traduzir, além de
servir como um material de grande valor para as pesquisas antropológicas.
7.5 Outros alfabetos fonéticos
Hoje em dia, é também comum encontrar na Internet informações errôneas sobre a
definição de alfabeto fonético, uma vez que eles são confundidos com os alfabetos
radiotelefônicos ou de soletração. Isso acontece em parte porque o alfabeto de soletração
mais usado é o chamado alfabeto fonético da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), sendo que existem outros que são utilizados para facilitar as comunicações realizadas
por meio de rádio ou telefone. Neste caso, são utilizadas palavras ao invés de letras para
soletrar uma informação.

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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Os alfabetos radiotelefônicos foram desenvolvidos ainda antes da Segunda Guerra


Mundial, quando foram aperfeiçoados para facilitar a comunicação entre exército, marinha e
aeronáutica, bem como a transmissão de informações entre os aliados. Depois de algumas
padronizações, ele foi uniformizado, sendo utilizado até hoje pelas forças armadas.
Assim como o alfabeto fonético internacional, qualquer pessoa pode fazer uso dos
alfabetos de soletração, desde que conheça a palavra que se refere a cada letra do alfabeto.
Essa lista é facilmente encontrada na Internet e apesar de existir mais de uma, assemelhamse
bastante. Com os números do alfabeto militar acontece a mesma coisa, no entanto, eles são
pronunciados na língua inglesa e alguns deles recebem uma variação para que não sejam
confundidos com outros números.

8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS
Há dois níveis de abordagem dos sons: aspectos segmentais e suprassegmentais. No
nível suprassegmental (só a partir de Bloomfield que se admitiu a existência do fonema
suprassegmental), trabalha-se sobretudo com os fenômenos de ritmo e de entoação. O
conceito de ritmo (CAGLIARI, 1981, p. 122) está ligado à ideia de tempo e duração, sendo
uma sequência de sílabas, ora longa, ora breve. Foneticamente falando, a sílaba é um pulso
torácico. A unidade usada para marcar a percepção da duração das sílabas recebe o nome
de mora. Ela mede as pausas entre as proeminências vocálicas.
Processos fonológicos segmentais são alterações de fones ou de fonemas. Por tratar
de unidades tanto da Fonética quanto da Fonologia, esse fenômeno deveria receber dois
termos: processos fonéticos e processos fonológicos. No entanto, convencionou-se usar
apenas a expressão “processos fonológicos”. Também é usado o termo metaplasmos
(processo que acrescenta, suprime ou transpõe fonemas numa palavra). Esses processos
podem ser percebidos tanto do ponto de vista sincrônico (num estágio da língua) quanto do
ponto de vista diacrônico (estágios sucessivos da língua).
Falamos emitindo uma série de sons de forma contínua, ininterrupta. Só as pausas que
fazemos regularmente durante a fala interrompem esse fluxo. Esse caráter contínuo do fluxo
da fala decorre da movimentação contínua e coordenada dos articuladores responsáveis pela
execução dos gestos articulatórios que produzem os sons, como estudamos nas atividades 3
e 4. Vimos que cada som, consonantal ou vocálico, é produzido por um gesto articulatório
específico.
O som [p], por exemplo, é produzido por um fechamento do trato vocal feito pelos
lábios, obstruindo momentaneamente a saída da corrente de ar; o véu palatino encontra-se
levantado fechando a passagem para a cavidade nasal, o que faz com que a corrente de ar
flua apenas pela cavidade bucal e as cordas vocais estão afastadas permitindo que o ar passe
sem causar vibração. Contudo, ao produzirmos uma sílaba como [pa] não produzimos cada
gesto isoladamente para emitir esses dois sons, ao contrário, coordenamos nossos gestos
articulatórios de modos que a explosão da consoante se dá simultaneamente à emissão da
vogal.
Esse caráter contínuo da emissão dos sons da fala faz com que antes de terminarmos
completamente a emissão de um som os articuladores já comecem a se movimentar para
produzir o gesto articulatório característico do som seguinte. Um exemplo disso é a
41
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

nasalização das vogais. Tomemos a palavra `cama`. Em português, a primeira vogal da


palavra é normalmente nasalizada por anteceder uma consoante nasal, o que não acontece
com a segunda vogal. A explicação é que ainda durante a articulação dessa primeira vogal o
véu palatino começa a se abaixar, preparando-se para a articulação da consoante seguinte,
que é nasal, e dessa forma a ressonância nasal atinge a vogal. Essas características
articulatórias que os sons adquirem em decorrência da articulação dos sons vizinhos são
exemplos de articulações secundárias
Na entoação (CAGLIARI, 1981, p. 160), analisa-se a tonalidade, ou seja, as variações
melódicas da fala dentro da tessitura tonal, medindo o som desde o tom mais baixo até ao
mais alto. Desse método advêm os tipos primários de frases: declarativo, interrogativo,
imperativo e exclamativo.
Embora os aspectos suprassegmentais ajudem a preencher as lacunas no processo
de construção do sentido, a linguística tem se interessado mais pelas características
segmentais da fala. Sendo as unidades elementares, esses segmentos podem ser divididos
em dois grandes grupos: consoantes e vogais.
A divisão tradicional entre vogais e consoantes em nível de articulação deve ser
entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos pulmões. Nas vogais, não há nenhum
impedimento a essa passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são produzidos com o
fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem obstáculos (obstruções ou constrições)
no trato vocal. Já as consoantes são articuladas a partir de alguma obstrução no trato oral,
seja ela parcial ou total. Uma outra diferença entre esses dois tipos de sons é que as vogais
são vozeadas, isto é, são produzidas com a vibração das pregas vocais, enquanto as
consoantes podem ou não ser produzidas com vibração das pregas vocais. Assim podem ser
vozeados ou não-vozeados.
Em termos de classificação fonética, as vogais são analisadas por meio dos seguintes
parâmetros: altura, avanço/recuo da língua e arredondamento dos lábios. Já, para as
consoantes, utilizam-se as características de ponto articulatório (lugar de articulação), modo
articulatório e sonoridade.

8.1 Consoante
A consoante é classificada com base em: modo de articulação, ponto (ou lugar)
de articulação e sonoridade. Exemplo: [ s ] = fricativa alveolar surda.

Modo de articulação: Define-se pelo grau de abertura (passagem de


ar).
• Oclusiva (bloqueio à corrente de ar): [p, b];

• Nasal (ressonância na cavidade nasal): [m,n];

• Lateral (corrente de ar escapa pelos lados da língua): [l, λ];

• Vibrante (causa vibração): [r] carro;

42
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• Tap: (vibrante simples; batida rápida da ponta da língua). Ex. [ſ]


Araraquara;

• Fricativa ou constritiva (pressiona a corrente de ar, produzindo fricção,


atrito ou ruído):
[s, f, z, ∫];

• Africada (há uma articulação simultânea na cavidade oral: oclusiva e


fricativa): [t∫] tia.

Ponto de articulação: Também chamado de “lugar de articulação”, indica


órgãos ou partes dos órgãos envolvidos na articulação. São dois tipos de
articuladores:

• Articuladores ativos (móveis): língua e lábios;

• Articuladores passivos (imóveis): lábio superior, dentes, alvéolo, etc.

Para a formação do nome “ponto de articulação”, considera-se o encontro ou


toque entre os articuladores ativos e os articuladores passivos:

• Bilabial (som produzido pelo contato dos lábios): [p, b, m];

• Labiodental (lábio inferior com dentes superiores): [f,v];

• Dental (ou linguodental): ponta da língua com dentes incisivos: [t, d, n, l];
• Alveolar (língua com alvéolo, situado logo acima dos dentes incisivos): [s, z, r]; • (v)
Retroflexa (encurvamento da ponta da língua em direção ao palato.
É o chamado “r” caipira);

• (vi) Palato-alveolar (língua toca alvéolo e palato): [∫] chá;

• (vii) Palatal (dorso da língua com palato ou céu da boca): [λ] palha;

• (viii) Velar (dorso da língua no véu palatino): [k, g];

• (ix) Uvular (som vem da úvula): [x] rua; (x) Glotal (som vem da glote): [h]
rota.

Sonoridade (ou vozeamento): Classificam-se os sons com base na


oposição surdo (ou desvozeado) e sonoro (ou vozeado). Os sons sonoros são
produzidos com vibrações das cordas vocais. Sem vibrações das cordas vocais
são os sons surdos. As vogais são os sons sonoros por excelência. Já as
consoantes podem ser surdas ou sonoras.
8.2 Vogais
Vogais são sons produzidos com o ar saindo dos pulmões (fluxo de aregressivo). Os
sons vocálicos se diferenciam dos consonantais pela inexistência de obstrução à saída de ar
43
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

no trato vocal. Eles devem ser produzidos de modo que o estreitamento gerado pelo
movimento dos articuladores não produza fricção. Sua emissão é realizada com a vibração
das pregas vocais, sendo por isso considerados sons vozeados ou sonoros. As vogais podem
ser ainda classificadas como orais e nasais. Na produção das orais, o véu do palato fecha a
passagem à cavidade nasal, fazendo com que o ar saia somente pelo trato oral. Nas vogais
nasais, o véu palatino encontra-se abaixado, permitindo que o ar passe também pelas
cavidades ressoadoras nasais.
Para a classificação articulatória das vogais, estão envolvidos o corpo da língua e os
lábios. O corpo da língua pode movimentar-se verticalmente, levantando-se ou abaixando-se,
ou horizontalmente, avançando ou recuando. A mandíbula auxilia na abertura do trato oral
para a diferenciação entre vogais abertas e fechadas. O parâmetro que define o movimento
vertical da língua é denominado altura e o que define o movimento horizontal (avanço/recuo)
denomina-se anterioridade/posterioridade. Há ainda a possibilidade de os lábios estarem
distensos ou arredondados.
O movimento de arredondamento dos lábios ocorre na produção de vogais ditas
arredondadas. As demais são articuladas com os lábios distensos e são classificadas como
não-arredondadas. Para que se pudesse fazer comparações entre as vogais de diferentes
línguas, foram determinados pontos ideais de articulação de vogais, que serviriam como
referência para a localização das vogais de diferentes línguas. Esses pontos são
estabelecidos a partir de limites articulatórios.
Essas vogais são chamadas de cardeais e, em princípio, não pertencem a nenhuma
língua específica.
Para o estabelecimento dos pontos de referência para vogais cardeais primárias, são
produzidas duas vogais. Conforme Cagliari (1981), a primeira (VC 1) deve ser pronunciada
com a ponta da língua para baixo e o mais elevado possível, sem causar fricção quando a
corrente de ar passar por esse estreitamento, ficando a maior constrição nas regiões palato
alveolar e palatal. A segunda vogal (VC-5) deve ser produzida com a língua na posição mais
retraída e abaixada possível na porção posterior do trato oral, também sem causar nenhuma
fricção. A região de maior constrição nesse caso é a faringe.
A partir da posição da primeira vogal e conservando sempre a língua na posição mais
avançada possível, marcam-se três pontos equidistantes, auditiva e articulatoriamente, sendo
que o terceiro deles determina a posição da língua mais avançada e abaixada possível.
Surgem então os vogais cardeais primárias VC-1, VC2, VC-3 e VC-4.
Com a posição da segunda vogal (VC-5), anteriormente mencionada, e conservandose
a língua a mais recuada possível, determinam-se mais três pontos equidistantes, auditiva e
articulatoriamente, em direção do palato, novamente sem causar fricção. Daí são
estabelecidos os vogais cardeais primárias VC-5, VC-6, VC-7 e VC-8.
Os vogais cardeais secundários articulam-se com a mesma posição da língua dos
vogais cardeais primários, porém com a posição dos lábios invertida. Surgem assim as vogais
VC-9, VC-10, VC-11, VC-12, VC-13, VC-14, VC-15 e VC-16. Por exemplo: a VC-9 tem a
posição da língua empregada na articulação da VC-1 (ponta da língua para baixo e o mais
elevado possível) e a posição dos lábios empregada para a articulação de VC-8 (protrusão

44
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

labial). Já a VC-16 apresenta a posição da língua utilizada na articulação da VC-8 e a posição


dos lábios empregada na articulação de VC-1.
Até agora, observamos o comportamento fonético de sons vocálicos produzidos com
o levantamento do véu do palato, tendo, como passagem para o fluxo de ar, somente as
cavidades orais. No entanto, existem segmentos vocálicos que são produzidos com o véu do
palato abaixado, levando a corrente de ar a passar tanto pela cavidade oral quanto pela nasal.
Esse tipo de articulação traz modificações mais acentuadas para umas vogais do que para
outras. As vogais articuladas com a língua em posição elevada, como as altas e , apresentam
um pequeno abaixamento do véu palatino. Assim, a configuração do trato oral para produção
dessas vogais orais

( e ) e nasais ( e ) são bastante similares.


A articulação de vogais nasais que são produzidas com a língua na posição mais baixa
necessita de um maior abaixamento do véu palatino para elas soarem como nasais. Nesse
caso, há uma diferença bastante grande entre a articulação de uma vogal baixa oral e uma
nasal. É o que ocorre com a vogal baixa central. Dessa forma, para representar a vogal oral
emprega-se o símbolo , no entanto, devido a essa diferença articulatória (e, portanto,
acústica), a representação de sua contraparte nasal seria mais adequada através do símbolo
fonético (SEARA, 2000).
As vogais que são realizadas com um gradual abaixamento da língua, como as médias,
terão, na produção de suas vogais nasais correspondentes, um abaixamento também gradual
do véu do palato. No caso do PB, existem apenas vogais nasais médias altas, e. No
francês, por exemplo, só ocorrem vogais nasais médias baixas.

9 AGRUPAMENTOS DE FONEMAS

Fonte: www.escolakids.uol.com.br

Os encontros vocálicos são agrupamentos de fonemas vocálicos da Língua


Portuguesa e são classificados em hiato, ditongo e tritongo. Os encontros vocálicos são
agrupamentos de fonemas formados por vogais ou semivogais em uma mesma sílaba ou
sílabas diferentes. Para compreendermos melhor o que são os encontros vocálicos, é
necessário retomar os conceitos de vogais e semivogais.
45
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Sabemos que as vogais são fonemas naturais formados pela corrente de ar que, vinda
dos pulmões, passa livremente pela boca ou pelo nariz, fazendo vibrar as pregas vocais. Elas
são a base, o núcleo das sílabas na Língua Portuguesa. Já as semivogais acontecem no
encontro entre duas vogais em uma mesma sílaba, em que uma é a vogal principal, com o
tom mais intenso, e a outra é a semivogal, que possui um papel secundário. Em um encontro
vocálico, a letra /a/ sempre será a vogal principal, as letras /i/ e /u/ serão sempre semivogais,
e as letras /e/ e /o/ podem assumir os papéis de vogal e/ou semivogal. Existem três tipos de
encontros vocálicos.
Veja:

Hiato
O hiato consiste na sequência de duas vogais (Vogal+ Vogal) que se separam durante
a divisão silábica, ficando cada vogal em uma sílaba distinta. Em virtude do contato de duas
vogais no interior de uma palavra, é possível reconhecer o hiato como sendo o encontro
vocálico por excelência.
Observe os exemplos:

• Saída: sa – í – da;

• Saúde: sa – ú – de;
• Oceano: o – ce – a – no;
• Cooperar: co – o – pe – rar.

DITONGO
O ditongo consiste no encontro de Vogal + Semivogal, chamado de ditongo
decrescente, ou de Semivogal + Vogal, que recebe o nome de ditongo crescente. Os ditongos
também podem ser classificados em orais ou nasais. É muito importante recordarmos que os
fonemas orais são aqueles que passam e saem pela cavidade bucal (boca), como: /a/, /b/, /t/;
já os fonemas nasais são aqueles que uma parte passa pela boca e a outra parte passa pelas
narinas (nariz), como: /m/, /n/, /ã/.
Observe os exemplos:

• Madeira: ma – dei – ra (ditongo decrescente oral);


• Paulista: pau – lis – ta (ditongo decrescente oral);
• Pátria: pá – tria (ditongo crescente oral);
• Sério: sé – rio (ditongo crescente oral);
• Mãe: mãe (ditongo decrescente nasal)
• Oração: o – ra - ção (ditongo decrescente nasal)

46
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Monotongação é o processo pelo qual o ditongo passa a ser produzido


como uma única vogal. Nesse caso, há um apagamento da semivogal.
Frequentemente, monotongam-se os ditongos, os dois primeiros quando diante
de, como em peixe, queijo e freira. Já o ditongo monotonga-se em qualquer
ambiente.

TRITONGO

Os tritongos são uma sequência de Semivogal + Vogal + Semivogal. Assim como os


ditongos, os tritongos também podem ser classificados em orais e nasais. Como apresentam
apenas uma vogal, na divisão silábica, não se separam os fonemas vocálicos do tritongo.
Observe os exemplos:

• Paraguai: Pa – ra – guai (tritongo oral);


• Enxaguei:en – xa – guei (tritongo oral);

• Cheguei:che – guei (tritongo oral); Quão: quão (tritongo nasal).

Além desse três, há dois outros encontros vocálicos importantes:

Iode
É o agrupamento de uma semivogal entre duas vogais. São aia, eia, oia, uia, aie, eie,
oie, uie, aio, eio, oio, uio, uiu, em qualquer lugar da palavra -começo, meio ou fim.
Foneticamente, ocorre duplo ditongo ou tritongo + ditongo, conforme o número de semivogais.
A Iode será representada com duplo Y: ay-ya, ey-ya, representando o “y” um fonema apenas,
e não dois como possa parecer. A palavra vaia, então, tem quatro letras (v – a – i – a) e quatro
fonemas (v – a – y – a), sendo que o “y” pertence a duas sílabas, não havendo, no entanto,
“silêncio” entre as duas no momento de pronunciar a palavra.

Vau = O mesmo que a Iode, porém com a semivogal


W.
Pi-au-í = Vau, com a representação fonética Pi-aw-wi.

Com o “w” ocorre o mesmo que ocorreu com o “y”, ou seja, representa um fonema
apenas. Ocorrem, também, na Língua Portuguesa, encontros vocálicos que ora são
pronunciados como ditongo, ora como hiato. São eles:

• Sinérese = São os agrupamentos ae, ao, ea, ee, eo, ia, ie, io, oa, oe, ua, ue, uo, uu.
Cae-ta-no, Cae-ta-no; ge-a-da, gea-da; com-pre-en-der, com-preen-der; Na-tá-li-a, Na-
tália; du-e-lo, due-lo; du-un-vi-ra-to, duun-vi-ra-to.

47
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• Diérese = São os agrupamentos ai, au, ei, eu, iu, oi, ui. re-in-te-grar, reinte-grar; re-unir,
reu-nir; di-u-tur-no, diu-tur-no.

Obs: Há palavras que, mesmo contendo esses agrupamentos não sofrem


sinérese ou diérese. Há que se ter bom senso, no momento de se separarem as
sílabas. Nas palavras rua, tia, magoa, por exemplo, é claro que só há hiato.

Encontro Consonantal: É o agrupamento de consoantes.

Há três tipos de encontros consonantais:

Encontro Consonantal Puro ou Próprio = É o agrupamento de


consoantes, lado a lado, na mesma sílaba. Ex.: Bra-sil, pla-ne-ta, a-dre-na-li-na

Encontro Consonantal Disjunto ou Impróprio = É o agrupamento de consoantes,


lado a lado, em sílabas diferentes. Ex.: ap-to, cac-to, as-pec-to

Encontro Consonantal Fonético = É a letra x com som de ks. Ex.: Maxi, nexo,
axila = maksi, nekso, aksila.

Não se esqueça de que as letras M e N pós-vocálicas não são consoantes, e, sim,


semivogais ou simples sinais de nasalização (ressoo nasal).

Dígrafo:
É o agrupamento de duas letras com apenas um fonema. Os principais dígrafos são
rr, ss, sc, sç, xc, xs, lh, nh, ch, qu, gu. Representam-se os dígrafos por letras maiores que as
demais, exatamente para estabelecer a diferença entre uma letra e um dígrafo.

Qu e gu só serão dígrafos, quando estiverem seguidos de e ou i, sem trema.


Os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc e xs têm suas
letras separadas silabicamente; lh, nh, ch, qu, gu, não.
Exemplo:

• arroz = ar-roz – aRos;


• assar = as-sar – aSar;
• nascer = nas-cer – naSer;
• desço = des-ço – deSo;
48
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• exceção = ex-ce-ção – eSesãw;


• exsudar = ex-su-dar – eSudar;
• alho = a-lho – aĹo;
• banho = ba-nho – baÑo;

• cacho = ca-cho – kaXo; querida = que-ri-da – Kerida; sangue


= san-gue – sãGe.

• Dígrafo Vocálico
É o outro nome que se dá ao Ressoo Nasal, pelo fato de serem duas letras com um
fonema vocálico.

sangue = san-gue – sãGe


samba = sam-ba – sãba

Não confunda, portanto, dígrafo com encontro consonantal, que é o encontro de


consoantes, cada uma representando um fonema.
10 ESTRUTURA DAS SÍLABAS

Fonte: www.alfabetizarbrincando.com.br

Diz respeito à organização das vogais (V) e das consoantes (C) na formação de sílabas
das palavras. As línguas apresentam diferentes estruturas silábicas. No caso do português,
há sílabas que são constituídas pela estrutura Consoante-Vogal, a sílaba CV, como as sílabas
da palavra sala (sa-la, que apresenta duas sílabas CV). Há outras estruturas silábicas

49
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

possíveis na nossa língua: V (u-va), VC (es-co-la), CVC (car-ta), CCV (pra-to), CCVC (cristal),
CVCC (pers-pec-ti-va).
Nessas diferentes estruturas, uma sílaba terminada por vogal é chamada de aberta,
enquanto uma sílaba terminada por consoante é chamada de travada. A presença da vogal é
obrigatória nas diferentes estruturas silábicas. Já a da consoante é opcional. Isso quer dizer
que todas as estruturas silábicas têm de apresentar vogal, de modo que há sílaba constituída
somente por vogal (sílaba V), mas não por apenas consoante.
Do ponto de vista da aprendizagem, as variadas estruturas apresentam diferentes
graus de complexidade. Estudos apontam a sílaba CV, chamada de sílaba canônica, como
sendo a mais frequente na língua portuguesa. Por esse motivo, os alfabetizados tenderiam a
aprender primeiro essa estrutura silábica. É comum, inclusive, que o aprendiz generalize o
uso de tal sílaba na escrita de outras estruturas silábicas que não domina. Isso poderia
ocorrer, por exemplo, na escrita de palavras como pedra (peda), porta (pota) e escola (secola),
em que as sílabas CCV (dra), CVC (por) e VC (es) são grafadas, respectivamente, como
sílabas CV (da, po e se).
Considerar as diferentes estruturas silábicas da língua é importante para o professor
alfabetizador, tendo em vista que os aprendizes da escrita precisam conhecer todas elas, a
fim de consolidarem seu processo de alfabetização. Um outro ponto importante é não
confundir a noção de sílaba na fala e na escrita. Se, do ponto de vista da escrita, a palavra
chave apresenta uma sílaba CCV e outra CV, do ponto de vista da fala, apresenta duas sílabas
CV, tendo em vista que é pronunciada como “xa-vi” na maior parte do país.
Desse fato é que pode ocorrer uma interferência da fala sobre a escrita do aprendiz,
de modo que ele grafe duas sílabas CV (“xavi”) e não uma CCV e outra CV para chave.
Seguindo esse raciocínio, a escrita da palavra xale – que tanto na fala como na escrita
apresenta a mesma estrutura silábica (duas sílabas CV) – tenderia a ser mais fácil do que a
escrita de chave. Acrescenta-se, ainda, a necessidade de reflexão sobre a divisão silábica
indicando os diferentes critérios que são aplicados na escrita e na fala. Um caso típico é o da
regra que indica que, na escrita, ao final de uma linha, quando dividimos uma palavra, os
dígrafos ‘rr’ e ‘ss’ não ficam na mesma sílaba.

Assim a palavra ‘carro’, por exemplo, seria dividida como ‘car-ro’. Essa divisão, no
entanto, não implica que, na fala, a primeira sílaba seja CVC. Aqui, como em vários casos de
convenções, tem-se um procedimento ortográfico e não fonológico.
Como sabemos, as sílabas são fonemas pronunciados por meio de uma única emissão
de voz e também que a base das sílabas da língua portuguesa são as vogais: a - e - i - o - u.
Assim, todo fonema pronunciado em uma única emissão de voz tem, pelo menos, uma vogal.
É importante ressaltarmos que, em algumas palavras, os fonemas /i/ e /u/ não são
vogais, já que aparecem apoiados a outra (s) vogal (is), formando uma só emissão de voz
(uma sílaba). Essas vogais que apoiam as outras são chamadas de semivogais. O que
diferencia as vogais das semivogais é o fato de que as últimas não desempenham o papel de
núcleo silábico. A palavra “papai”, por exemplo, é formada por duas sílabas (dissílaba), sendo
a segunda formada por uma vogal (a) e por uma semivogal (i). A par dessas informações,

50
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

podemos afirmar que, para saber o número de sílabas que compõem as palavras, basta
identificar quantas vogais há nessa palavra.
Vejamos os exemplos:

• Pipoca – pi – po – ca (emissão de três fonemas sequenciais que estão ligados a vogais);


• Aparelho – a – pa – re – lho (emissão de quatro fonemas sequenciais que estão ligados
a vogais);
• Pernambucana – per – nam – bu – ca - na (emissão de cinco fonemas sequenciais que
estão ligados a vogais.
10.1 Classificação das palavras quanto ao número de sílabas
Monossílabas: palavras que possuem apenas uma sílaba: pé, flor, mão.
Dissílabas: palavras que possuem duas sílabas: balão (ba-lão); suco (su-co); santo
(san-to). Trissílabas: palavras que possuem três sílabas: hóspede (hós-pe-de); lareira (la-
reira); sapato (sa-pa-to). Polissílabas: palavras que possuem quatro ou mais sílabas: literatura
(li-te-ra-tu-ra); amaciante (a-ma-ci-an-te); sambódromo (sambó-dro-mo).

Divisão silábica

→ Os dígrafos “ch”, “lh”, “nh”, “gu” e “qu” devem pertencer a uma única sílaba: chu
– va o – lho fe - char que – ri – do vo - zi – nho

→ Os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs” e “xc” devem ser separados em sílabas
diferentes.
car – ro - ça as – sas – si – no cres – cer nas – ceu ex – ce – ção

→ Ditongos e tritongos devem permanecer na mesma


sílaba. U – ru – guai ba – lai – o

→ Os hiatos devem ser separados em duas sílabas distintas.


di – a ca – de – a – do ba – ú

→ Os encontros consonantais devem ser separados, exceto aqueles cuja segunda


consoante é “l” ou “r”.
bru – to blu – sa cla - ro tra– go

→ Os encontros consonantais que iniciam palavras são mantidos juntos na divisão


silábica.
51
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

pneu – má – ti – co gno – mo

11 AS TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICOS DOS SONS LINGUÍSTICOS


A transcrição fonética é a representação dos sons da fala através de símbolos
fonéticos. Difere de região para região, de estado para estado e de pessoa para pessoa, uma
vez que representa os diferentes sotaques. Os símbolos fonéticos estão definidos no Alfabeto
Fonético Internacional (IPA - The International Phonetic Alphabet). Estão diretamente
relacionados com as letras do alfabeto, salvo algumas exceções. Nas transcrições, os
símbolos fonéticos são escritos dentro de colchetes [ ]. O uso do til indica a nasalização da
vogal e o uso do apóstrofo antes de uma sílaba indica a sua tonicidade.

Representação dos principais sons vocálicos:

[a] - som á - pá, gato, amigo.


[ɐ] -som ã - cama, cana.
[ɛ] - som é - pé, ferro, teto.
[e] - som ê - medo, regar, saber.
[i] - som i - ir, vida, sede.
[ɔ] - som ó - pó, mola, nova.
[o] - som ô - correr, morar, fome.
[u] - som u - uva, urubu, gato.
[j] - semivogal i nos ditongos - pai, leite, oito.
[w] - semivogal u nos ditongo - céu, pau, tênue.

Representação dos principais sons consonantais

[b] - som b - banana, bola, boca.


[p] - som p - pé, pato, pó.
[t] - som t - tábua, topo, tumulto.
[tʃ] - som t africado - tia, tigela, tintura.
[d] - som d - dado, dedo, data.
[dƷ] - som d africado - dia, ditado, dinheiro.
[k] - som c e qu - casa, comida, queijo, quintal.
[g] - som g e gu - gato, gola, guitarra, guerra.
[Ʒ] - som j - jeito, hoje, viagem, gim.
[f] - som f - fala, fome, foto.

52
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

[v] - som v - vida, volta, valente.


[s] - som s - sala, sapo, cinto, céu.
[z] - som z - zona, zebra, camisa, rosa.
[r] - som rr - carro, torre, rato.
[ɾ] - som r entre vogais - caro, faro, mero.
[m] - som m - madeira, moça, medo.
[n] - som n - nó, nada, neve.
[ɲ] - som nh - linho, tenho, ganho.
[ʃ] - som ch - chuva, xarope, listado, feliz.
[l] - som l - lado, luta, limão.
[ʎ] - som lh - telha, velho, milho.

Exemplos de transcrições fonéticas

asa - ['kazɐ] data - ['datɐ] faca - ['fakɐ] povo - ['povu] gema - [' Ʒemɐ] chato - ['ʃatu] caro
- ['kaɾu] carro - ['karu] palha - ['paʎɐ] uso - ['uzu] bola - ['bɔlɐ] táxi - [´taksi]

Exemplos de diferentes transcrições baseadas na pronúncia

tio - [' tʃiu] e ['tiu] dia - [´dƷiɐ] e [´diɐ] mal - ['maw] e ['maɬ] gol - ['gow] e ['goɬ] baixo -
['baʃu] e ['bajʃu] ouro - ['oɾu] e ['owɾu] queijo - ['keƷu] e ['kejƷu] chave - ['ʃavi] e ['ʃave]

Fomos apresentados ao sistema consonantal e vocálico do PB, através de seus


movimentos articulatórios, pelo olhar da fonética, e a partir de suas oposições, pela
representação fonológica. Vimos, no entanto, duas formas de notação dos segmentos aqui
tratados: (a) aquela que aparece entre colchetes quadrados [ ]) correspondente à notação
fonética, e que se baseia na produção do falante; e (b) aquela entre barras inclinadas (/ /), que
considera apenas os segmentos que têm a função de distinguir significados. No primeiro caso,
os segmentos transcritos são denominados fonese no segundo, fonemas.
Vejamos agora como seriam transcritas as palavras a seguir, segundo nosso próprio
dialeto (da autora), e depois como seriam consideradas na transcrição para o nível fonológico.
As teorias que tratam da nasalidade das vogais do PB são divergentes e serão melhor
esclarecidas no Capítulo 5 desta Unidade. Agora, você já é capaz de fazer suas próprias
transcrições fonéticas e fonológicas. Essa reflexão sobre as transcrições aqui apresentadas
vai ajudá-lo (a) a realizar as transcrições necessárias às suas pesquisas na área.

53
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

12 INTRODUÇÃO ÀS PREMISSAS DA DESCRIÇÃO E ANÁLISE FONOLÓGICA


Os percursos didáticos que se apresentam neste ponto assentam num conjunto de
pressupostos teóricos e metodológicos que convém explicitar. Em primeiro lugar, defende-se
que a aula de Português/Língua Portuguesa deve assumir a sua especificidade de aula de
língua, constituindo um espaço onde se deveria, como alerta Maria da Graça Pinto, «insistir
fortemente na prática oral e escrita da língua portuguesa. A não ser assim, no entender da
mesma autora, «essas aulas – ditas de Língua Portuguesa/Português – acabam por atingir os
mesmos objetivos linguísticos das de outras disciplinas. (Pinto 1998)
Essa especificidade deriva ainda, no entender de Fernanda Irene Fonseca, de um
outro fator, o de se institui a língua materna como objeto de conhecimento, sobre o qual
recaem práticas de análise e de construção de saber. Neste sentido preconiza-se uma
pedagogia da língua materna que «não pode (...) quedar-se nos usos transparentes ou
transitivos característicos da comunicação habitual. Deve ter também em conta os usos em
que a língua, flectindo-se sobre si própria, se Opacifica e se torna visível, abrindo a
possibilidade de uma relação de aprendizagem fundada numa motivação em que o motivo de
interesse é a própria língua, instituída em objeto de estudo e análise e também de fruição. »
(Fonseca 1994).
Tendo em conta estes pressupostos, caberá ao professor criar situações de
ensinoaprendizagem que, através de uma pedagogia da descoberta e da prática de atividades
de análise, conduza o aluno para a aquisição de saberes e para o desenvolvimento da
capacidade de resolução de problemas. As situações de ensino aprendizagem que aqui se
propõem assumem a forma de questionários escritos que procuram respeitar princípios
metodológicos como:

• A detecção de regularidades da língua a partir de situações de uso com um percurso


que parte da análise textual, se centra depois num trabalho oficinal de treino sistemático
de conhecimento linguístico e regressa de novo ao texto/discurso;

• A articulação dos diferentes domínios do ensino da língua materna (ouvir/falar, ler,


escrever e reflectir sobre o funcionamento da língua);

• A integração do trabalho gramatical em unidades didácticas dedicadas a conteúdos


programáticos próprios da leitura.

12.1 A importância da fonologia para o ensino de línguas


“A fonologia preocupa-se com a aquisição e a aprendizagem da pronúncia das línguas.
Na medida em que comparamos a aquisição da LM por crianças com a aprendizagem da LE
por adultos, tendemos a considerar que uma e outra ocorrem em graus diferentes. ”
(Sant’Anna, 2003, p.3). A partir dessa afirmação podemos perceber que a fonologia interfere
de maneira significativa na aquisição, tanto de língua materna, quanto de línguas estrangeiras,
pois a comunicação em uma determinada língua exige que dominemos os seus fonemas para
que ocorra a obtenção do sentido que se espera.

54
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

O docente de língua portuguesa como língua materna enfrenta desafios ao trazer a


gramática normativa para a sala de aula de ensino básico, pois, em muitas situações,
presenciadas constantemente, ele se depara com uma quantidade de regras que foram
estabelecidas por convenções que necessariamente têm que ser transmitidas ao aluno de LM.
Como exemplo disso, podemos citar a regra a qual todos nós decoramos e dificilmente
aprendemos o porquê de ela existir: “antes de P e B se escreve M”.
Com base no exemplo acima, podemos inferir que muitos de nós já nos perguntamos
um dia o porquê dessa regra e até já nos deparamos com falta de explicações por parte do
docente sobre ela. A fonética e a fonologia podem, em muitas situações, trazer uma
explicação que podem ajudar ao docente de línguas, a saber, como lidar com alguns
questionamentos desse sentido, pois, nesse caso, a dúvida a ser respondida ao aluno é de
caráter fonético-fonológico, onde cabe a nós, docentes, trazer a sala de aula uma maneira
adequada de dizer que isso é uma questão articulatória da língua, em que os três fonemas
estão em um mesmo ponto de articulação e por isso a língua tende a fazer por si, esse tipo
de articulação.
Saindo do campo das regras, trazendo a fonologia ao campo das línguas estrangeiras,
podemos citar como exemplo a forma com que os professores de inglês como LE trazem o
aprendizado dessa língua como forma decorativa de regras gramáticas e às vezes até
extinguem a oralidade das situações em sala de aula. Levando em conta o aprendizado por
meio do contato inicial com a língua falada e escrita, vemos a diferença que isso traz para o
aprendizado de uma língua. Com isso, destacamos que os “blocos” de uma fala; ou seja, a
junção de palavras formando uma só, em contexto oral; também devem ser trazidos para o
contexto escolar para que o aluno não fique restrito à escrita e a um contato totalmente artificial
com a LE.
Além disso, “as exigências, porém, são maiores no caso da Fonologia, porque seria
um problema absolutamente central, para uma LE, se um fonema ou um grupo de fonemas
fossem pronunciados incorretamente pelo aprendiz, pois a comunicação com pessoas nativas
poderia ser prejudicada. ”. Por isso, como nos traz Sant’Anna (2003), a fonologia é importante
também no sentido de aprendizagem e pronúncia das línguas. Essa, talvez, seja uma das
mais importantes contribuições da fonologia para o aprendizado de LE (línguas estrangeiras).
Com isso, destaco que o aprender de uma língua estrangeira ou língua materna está sempre
associado à prática da pronúncia dos fonemas corretamente, pois a falta disso pode causar
desvios até mesmo do sentido pretendido pelo falante e dificuldades do entendimento,
principalmente quando se trata de uma LE.
Sant’Anna apropriando-se das ideias de Steinberger (1985), destaca que no
aprendizado de uma LE “ a proximidade articulatória pode ser uma das primeiras dificuldades
do aluno quando ele tenta imitar os sons estranhos a sua LM ”. É por isso que o docente deve
observar em quais aspectos o aluno está equivocando-se ao pronunciar uma palavra que não
seja do seu idioma, como no caso da Língua Espanhola, erroneamente classificada como
parecida com o português. Sobre isso, destaco que os traços fonológicos da língua espanhola
possuem características semelhantes ao português por serem descendentes das línguas
neolatinas, e isso pode fazer com que o discente dessa língua possa trazê-los no momento
da aquisição.

55
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Podemos citar alguns exemplos no que se diz respeito às vogais de apoio no português
influenciando no aprendizado de LE. Nesse caso, os discentes de Língua Estrangeiras ao se
depararem com fonemas terminados em consoantes, tendem a associar às construções de
palavras portuguesas. E isso ocorre também na própria língua portuguesa, onde vemos
exemplos em palavras com travamento de sílabas em consoantes e seguidas de outra sílaba
iniciada com consoante. O que geralmente não acontece no português de Portugal, em que
seguem o caminho inverso a esse. A partir disso, podemos destacar a função do docente de
LE em interferir significativamente nesse processo, pois se precisa salientar que no português,
em sua maioria, não ocorre mudança significativa de sentido, mas em uma língua como o
inglês isso muda significativamente.
Para concluir, destaco outra importância da fonologia no processo de
ensinoaprendizagem de línguas, que é a consideração dos alofones como parte significativa
na distinção entre aprendizagem de LM e aquisição de LE. Pois, o docente precisa saber como
trazer essas alofonias portuguesas para a sala de aula de língua LI (língua inglesa) por
exemplo. O que em outras línguas fazem toda a diferença e são fonemas próprios das línguas,
como no caso das africadas portuguesas que são fonemas distintos no inglês. Isso pode
causar dificuldade para falantes da região sudeste do Brasil que falam dialetos compostos por
esses alofones em ambientes determinados ao contexto. Nesse sentido, nós docentes,
devemos considerar a fonologia como parte essencial do processo da aquisição tanto de LM,
quanto de LE, e também como parte fundamental de construção de significados quanto à
estrutura da Língua Portuguesa e o ensino de gramática dentro desse contexto.
O estudo da fonologia responde precisamente a este desafio: como é que o
falanteouvinte consegue reconhecer, numa infinidade de sons diferentes, o conjunto de cerca
de duas dezenas que constituem as unidades pertinentes, ou seja, aquelas unidades que
funcionam na língua como unidades do sistema e permitem a comunicação? Durante o
processo de aquisição da linguagem, a criança, embora exposta a inúmeras pronúncias
diversas das unidades da fala, vai reconhecendo progressivamente os sons com que, na sua
língua materna, se constroem as palavras que servem para comunicar com os outros. A pouco
e pouco, inconscientemente, ela vai apreendendo as relações que se estabelecem entre os
sons delimitando o campo de funcionamento de cada um. A pouco e pouco, portanto, vai
adquirindo o sistema fonológico da língua materna, que corresponde a um exercício de
abstração elaborado a partida realidade fonética.
12.2 Processos Fonológicos Básicos
As modificações sofridas pelos fonemas em início, no meio ou no fim da palavra
designam-se processos fonológicos e são as responsáveis pelas mudanças linguísticas, logo
pela evolução da língua. Os processos fonológicos são de diversos tipos:

1- Processos fonológicos por inserção de segmentos: adição de um segmento


a uma palavra.

No início da palavra – prótese

• speculu > espelho


56
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

• mostrare > mostrar > amostrar

No meio da palavra - epêntese


• humile > humilde

• umeru > umbro

No final da palavra – paragoge


• ante > antes

2- Processos fonológicos por supressão de segmentos: supressão de um


segmento na articulação de uma palavra

No início da palavra – aférese

• atonitu > tonto

• inamorare > namorar

No meio da palavra - síncope

• generu > genro

• veritate > verdade

No final da palavra – apócope

• crudele > cruel

• cruce > cruz


Na formação de novas palavras, pode ocorrer a supressão (haplologia) quando, da
junção da forma de base e do sufixo, resultam duas sílabas contíguas, iguais ou similares:

• bondad(e) + oso ® bondoso [em vez da forma bondadoso]

• trágico + cómico ® tragicómico [em vez da forma tragicocómico]

Ocorre também o processo de apócope quando existe truncação: cine por cinema; prof
por professor.

57
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

3- Processos fonológicos por alteração de segmentos: é a mudança sofrida


por alguns fonemas em resultado da influência de outros fonemas que lhe
estão próximos.

Assimilação: um som torna-se igual ou assemelha-se a outro que lhe é vizinho


Assimilação total:

• nostru > nosso - o /s/ assimilou o /t/ [chama-se assimilação progressiva porque ocorre da
esquerda para a direita]

• ipse > esse [chama-se assimilação regressiva porque ocorre da direita para a esquerda]

Assimilação parcial:

• chamam-lo > chamam-no - o /m/ tornou o /l/ também som nasal.

Dissimilação: um som diferencia-se de outro igual ou com o qual se assemelha:

• liliu > lírio

• calamellu > caramelo

Nasalização: uma vogal oral adquire nasalidade por influência de outro som
nasal seu vizinho:

• fine > fim

• manu > mãnu > mão

• lana > lãa > lã

Desnasalização: um som vocálico nasal perde a sua nasalidade:

• corona > corõa > coroa bona > bõa > boa

Vocalização: um som consonântico transforma-se num som vocal:

• octo > oito

• regnu > reino

Consonantização: um som vocálico ou semi-vocálico transforma-se num som


consonântico:
• Iesus > Jesus

• iam > já
58
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Ditongação: uma vogal ou um hiato originam um ditongo:


• arena > area > arei

• amant > amam

Crase: contração ou fusão de duas vogais numa só:

• legere > leger > leer > ler

• a+a>à

Sonorização: transformação de uma consoante surda em sonora:

• secretu > segredo

• maritu > marido

Palatalização: transformação de um ou mais fonemas numa consoante palatal:

• pl > ch: pluvia > chuva


• fl > ch: inflare > inchar

• li > lh: filiu > filho

• di > j: hodie > hoje

• ni > nh: ingeniu > engenho

Metátese: permuta de um som ou sílaba no interior de uma palavra:

• semper > sempre

• merulu > melro

• capiu > caibo

Redução vocálica: enfraquecimento de uma vogal em posição átona:

• Bolo > bolinho

• Medo > medroso


• Mata > matagal

59
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

13 PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA: SONS DA FALA, PROSÓDIA


Quando alguém fala, produz um contínuo sonoro cuja interpretação não pode ser feita
pelo ouvinte sem o conhecimento da língua utilizada. Por isso não somos capazes de distinguir
a sucessão de sons que formam uma palavra em línguas que desconhecemos. Esse contínuo
sonoro possui determinadas propriedades que estudamos na fonética e que estão presentes
em todas as línguas do mundo. O estudo dessas propriedades não explica, no entanto, como
podemos reconhecer o funcionamento dos sons de uma língua particular, que sequências
constituem palavras, que propriedades fonéticas são usadas com valor informativo.
O estudo da fonologia responde precisamente a este desafio: como é que o
falanteouvinte consegue reconhecer, numa infinidade de sons diferentes, o conjunto de cerca
de duas dezenas que constituem as unidades pertinentes, ou seja, aquelas unidades que
funcionam na língua como unidades do sistema e permitem a comunicação? Durante o
processo de aquisição da linguagem, a criança, embora exposta a inúmeras pronúncias
diversas das unidades da fala, vai reconhecendo progressivamente os sons com que, na sua
língua materna, se constroem as palavras que servem para comunicar com os outros.
A pouco e pouco, inconscientemente, ela vai apreendendo as relações que se
estabelecem entre os sons e delimitando o campo de funcionamento de cada um. A pouco e
pouco, portanto, vai adquirindo o sistema fonológico da língua materna, que corresponde a
um exercício de abstração elaborado a partir da realidade fonética. Os elementos do sistema
fonológico são denominados fonemas distinguindo-se neles três grandes classes: vogais,
consoantes e glides (ou semivogais). O progressivo domínio do sistema fonológico é
antecedido da aquisição do funcionamento do sistema prosódico da língua que se serve das
propriedades inerentes a todos os sons que são a altura, a intensidade e a duração.
A prosódia ocupa-se da correta emissão de palavras quanto à posição da sílaba tônica,
segundo as normas da língua culta. Existe uma série de vocábulos que, ao serem proferidos,
acabam tendo o acento prosódico deslocado. Ao erro prosódico dáse o nome de silabada.
Observe os exemplos.

1- São oxítonas:

60
Condor Novel Ureter

Mister Nobel Ruim


FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

2
- São paroxítonas:

Austero Ciclope Madagáscar Recorde

Caracteres Filantropo Pudico (dí) Rubrica

3- São proparoxítonas:
Aerólito Lêvedo Quadrúmano

Alcíone Munícipe Trânsfuga

Existem palavras cujo acento prosódico é incerto, mesmo na língua culta. Observe os
exemplos a seguir, sabendo que a primeira pronúncia dada é a mais utilizada na língua atual.

Acrobata - acróbata Réptil - réptil

Bálcãs - Balcãs Xerox - xérox

Projétil - projetil Zangão - zângão

14 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS E ACÚSTICAS DOS SONS


A fonologia é a parte da linguística que estuda os sistemas sonoros das línguas, ou
seja, a categorização de sons e os aspectos relacionados com a percepção. A fonologia inclui
o estudo de como os sons são usados sistematicamente em uma determinada língua,
incluindo padrões de entonação e prosódia, assim como a fonética. A fonologia dedica-se a
diferentes aspectos relacionados à sonoridade da língua. Há autores que se dedicam a
estudar fatores como entonação e acento considerando-os como autônomos em relação à
estrutura segmental da frase. Outros trabalham com a fonologia aplicada ao léxico.
Fonética acústica mostra como descrever e quantificar os sons da fala, e também como
a qualidade desses sons está relacionada com a forma de produzi-los. Com a finalidade de
descrever e quantificar esses sons precisamos conhecer algumas características relacionadas
ao som. São elas: vibração, intensidade, harmônicos, ressonâncias. Na função de relacionar
os sons da fala à sua forma de produção, vamos conhecer como se comportam as ondas
sonoras da fala em relação a estas propriedades sonoras gerais.

• Vibração
Para que possam existir ondas sonoras é necessário que ocorra vibração, pois as
ondas (distúrbios) são resultantes de vibrações. O som então consiste da propagação dessas

61
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

ondas. Quando elas se propagam pelo ar, a sua velocidade é de 340m/s (em outras matérias
(líquidos, sólidos, etc.) essa velocidade muda). As ondas criadas pela vibração podem ser
simples ou compostas, e ainda periódicas ou não periódicas. O exemplo clássico do fenômeno
da vibração é o movimento de um lado para o outro de um pêndulo.

• Intensidade
A intensidade tem relação com a amplitude de um som. A amplitude da vibração pode
ser entendida como a distância entre x e y. Ela representa a pressão exercida sobre as
partículas de ar durante a vibração, sendo sempre relativa à pressão exercida em um outro
som que serve de referência. A representação da amplitude em decibéis (dB) estabelece a
relação com as razões de pressão, facilitando sua medição. A sensibilidade do ouvido humano
para variações de intensidade depende da altura da frequência. Pode-se perceber que o
ouvido alcança o seu nível máximo entre 600 e 4000 Hz, diminuindo rapidamente abaixo e
acima dessas frequências. A faixa de audição do ouvido humano vai de 16 Hz a 16.000 Hz.

• Harmônicos
Falamos até agora em ondas simples, mas as maiores partes dos corpos geram ondas
complexas. Apresentamos um exemplo exibido em MALMBERG (1954:19) que esclarece
muito bem o que são ondas complexas. Um corpo em vibração faz vibrar todo corpo, mas
também cada uma de suas partes com velocidades que correspondem à relação entre a parte
em questão e o corpo todo. Assim, metade de um corpo vibrará com uma velocidade duas
vezes maior do que a que emprega para vibrar o corpo inteiro; um terço deste corpo vibrará
três vezes mais rápido e assim por diante. Esse exemplo demonstra que um corpo em
vibração gera sua frequência fundamental (a primeira frequência, referente ao corpo por
inteiro), mas também o que chamamos de harmônicos que são frequências múltiplas inteiras
da frequência fundamental.

• Ressonâncias
As ondas sonoras tendem a pôr em vibração os corpos que se encontram em sua
passagem quando eles possuem a mesma vibração (ao que chamamos de frequência
natural). Ou melhor, explicando: cada corpo possui uma frequência e quando encontra ondas
sonoras geradas por corpos que tenham a mesma frequência natural de vibração que ele,
passam a vibrar também, havendo um reforço desta frequência natural.
Há ainda estudiosos que se dedicam à organização de segmentos em palavras e há
autores que trabalham com o estudo da fala caracterizada em fonemas. Como podemos
perceber, o campo da fonologia é um campo amplo que trabalha com diferentes aspectos da
língua. Neste sentido, como cada língua apresenta características específicas de sonoridade,
seja considerando-se a articulação dos sons, seja a prosódia ou a entonação, acreditamos
haver muitas vantagens em trabalhar com fonologia em aulas/cursos de Inglês como língua
palavras ou pequenas sentenças. Raramente os alunos recebem informação sobre a
qualidade de sons, padrão de entonação e similares.

62
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Com isso, muitos aprendizes falam Inglês usando padrões de entonação errados e,
normalmente, pronunciam palavras simples de forma errada. Como resultado, muitos alunos
ficam frustrados com o seu processo de aprendizagem. Diante disso, entendemos que
conhecer os fundamentos do sistema fonológico do Inglês enquanto língua estrangeira pode
ser efetiva na busca de levar os alunos a tornar-se conscientes da pronúncia correta e capazes
de monitorar a própria fala. Se os alunos não tiverem a consciência fonológica da LE, eles não
saberão como monitorar seu discurso, sempre irão precisar de alguém para corrigir a sua
pronúncia.
Para o ensino de fonologia como ferramenta de ensino/aprendizagem de LE, devemos
considerar as características fonéticas de uma língua. A fonética é a parte da fonologia que
se dedica ao estudo articulatório e acústico da fala. Na fonética, o principal aspecto que nos
interessa é o inventário fonético internacional – ou IPA (International Phonetics Alphabet) –
que é o inventário de símbolos convencionais para representar os sons da fala. Nem todos os
sons do IPA estão presentes em todas as línguas. Segundo Silva (2012, p.117), “línguas
variam quanto aos seus inventários fonéticos”, ou seja, o inventário fonético de uma língua
não corresponde ao de outra, o que implica que há sons existentes em uma língua que não
existem necessariamente em outra. Assim, estudando fonologia da LE, os alunos podem
tornar-se conscientes das características fonéticas.
15 NOÇÕES BÁSICAS DE FONOLOGIA
Acentuar, pontuar, escrever, separar e pronunciar corretamente as palavras depende
muito deste capítulo gramatical.

Fonemas: Nossa língua pode ser escrita e falada. Na língua escrita, as


palavras são formadas por letras - denominadas símbolos gráficos; na língua
falada, por fonemas.

O Fonema é a menor unidade fônica distintiva da palavra. Definida como distintiva


porque a mudança de um fonema acarreta uma nova palavra. EX.: fama/lama, bota/bola. O
fonema se representa entre barras oblíquas: / /. Uma letra pode representar fonemas
diferentes: A letra s, por exemplo: sala - /s/ - lemos sê; asa - /z/ - lemos zê.
Dígrafo é o grupo de duas letras que representam um só fonema. Ex.: ch - chave, nh -
lenha, lh - velho, ss - massa, sc - nascer, xc - exceto, sç - nasça, xs - exsudato, gu - guerra e
qu - quilo.
Tipos de fonemas: pode ser vogal, consoantes e semivogais. Vogais são fonemas que
resultam da livre passagem da corrente de ar pela boca ou pelas fossas nasais. Na pronúncia
de a, e, i, o, u nenhum órgão da boca interrompe a passagem da corrente de ar. Consoantes
são fonemas que resultam da interferência de um ou mais órgãos na passagem da corrente
de ar. Na pronúncia do /p/, observamos que o contato dos lábios interrompe a passagem de
ar. todos os fonemas consonantais são produzidos com interferência de um ou mais órgãos
da boca. Semivogais são fonemas vocálicos que se agrupam com a vogal numa sílaba. Nossa

63
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

língua possui apenas duas semivogais: /y/ - representado pelas letras e, i, n e m; e /w/ -
representado pelas letras o, u, e m. Ex.: mãe, pai, hífen, jovem / magoa, mão, pão, falam.
A língua pode ser estudada sob diferentes perspectivas (descritiva, social, cognitiva,
etc.). Cada língua pode ser estudada como um sistema fechado, ou seja, focando o conjunto
da sua gramática e de seu léxico, assim como podemos achá-los nas descrições gramaticais
e nos dicionários, ou pode ser analisada em seu uso concreto, que é em boa medida diferente,
mais complexo e dependente de muitas variáveis não estritamente linguísticas.
Geralmente o estudo descritivo da linguagem é divido em vários níveis. Aqueles
tradicionalmente tidos como os principais são: o nível fonético-fonológico, o nível morfológico,
o nível sintático. Esses três níveis
Constituem a gramática de uma língua. A esses níveis deve-se acrescentar o léxico,
ou seja, o conjunto das palavras que compõem uma língua e que são usadas respeitando as
regras da gramática. O estudo dos significados das palavras e das frases (ou dos enunciados)
é objeto da semântica e dapragmática, dependendo se o foco está no estudo do significado
puramente linguístico ou da língua inserida em seu uso concreto.
A instrução direta da consciência fonológica, combinada à instrução da
correspondência grafo-fonêmicas, acelera a aquisição da leitura. No Brasil já foram realizados
estudos no intuito de desenvolver a consciência fonológica em crianças, demonstrando que,
também na ortografia da língua portuguesa, a consciência fonológica é um pré-requisito para
a aquisição de leitura e escrita (Capovilla&Capovilla, 1997; Capovilla, Capovilla&Silveira,
1998). Instruções de consciência fonológica e instruções fônicas mostraram-se eficazes em
melhorar a leitura e escrita quando introduzidas em diferentes níveis escolares.
Segundo Capovilla&Capovilla (2003), diversos trabalhos têm relatado que esta
habilidade se correlaciona com o sucesso na aquisição da linguagem escrita, de forma que a
importância da consciência fonológica para o processo de aquisição da leitura e da escrita
tem sido bem reconhecida. Desta forma, em diversos estudos já conduzidos no Brasil, foi
adotado um procedimento para desenvolver a consciência fonológica e ensinar
correspondências grafo-fonêmicas a escolares. Este foi aplicado em crianças de níveis
socioeconômico médio e baixo e mostrou-se eficaz em aumentar o desempenho em
consciência fonológica, leitura e escrita de crianças no início da alfabetização
(Capovilla&Capovilla, 2000a).
Este procedimento para desenvolver consciência fonológica e ensinar
correspondências grafo-fonêmicas abrange diversos níveis de consciência, desde a
consciência de rimas e aliterações até a consciência de fonemas (Capovilla & Capovilla,
2000b).
O procedimento consta de 38 atividades, distribuídas da seguinte forma: 13 atividades
de consciência de palavras, rima e aliteração; 10 atividades de consciência de sílabas; 5
atividades de consciência fonêmica; e 10 atividades de manipulação fonêmica. A partir da
atividade 24, a criança é submetida ao treino das relações grafofonêmicas sem, contudo,
precisar utilizar a escrita. Todo procedimento é realizado oralmente e os exercícios são feitos
por meio das correspondências entre o som das palavras e figuras que as representam.
Utiliza-se também de figuras geométricas com o objetivo de representar simbolicamente as
figuras, palavras, sílabas e fonemas trabalhados.
64
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Como exemplo de atividades propostas para esse treino em rima, propõe-se que a
criança identifique palavras que terminem com o som pedido pelo aplicador, por exemplo:
"Diga o nome de um animal que termine com to, ou diga o nome de uma fruta que termine
com ana". Nessa atividade é esperado que a criança demonstre, falando, que percebeu que
as palavras terminam com o mesmo som.
Em uma das atividades de aliteração, o aplicador começa contando uma história curta
com aliterações, em seguida deve fazer um jogo em que pede às crianças que falem itens que
comecem por um determinado som, por exemplo, palavras que começam com /a/; animais
cujos nomes começam com /má/, é necessário que possamos dizer à criança várias palavras
com uma mesma sílaba, para que ela possa compreender a atividade, espera-se que a criança
fale ao menos uma palavra que comece com o som solicitado.
Como exemplo de atividade de consciência de palavras e segmentação de frases, o
aplicador deve falar uma frase e depois a repete sem a última palavra, a criança deve dizer,
então, a palavra que faltou, por exemplo, /Eu passeio de bicicleta. Eu passeio de ____/. É
preciso salientar que, apesar do comando da atividade ser a segmentação de frases, o
aplicador não deve segmentar a frase, palavra por palavra. A frase deve ser enunciada por
inteiro, sem interrupções, no intuito de evitar a desnaturalização da fala.
A consciência de sílabas é trabalhada, por exemplo, em uma atividade em que o
aplicador e as crianças cantam músicas familiares batendo palmas a cada sílaba falada. A
consciência de sílaba pode ser trabalhada também em atividades que apresentem a síntese
silábica. Como exemplo pode-se usar um jogo com fantoches em que esses dizem palavras
separando as sílabas, sendo que as crianças devem dizer a palavra inteira, unindo as sílabas
faladas pelo fantoche.
A identidade fonêmica pode ser trabalhada em atividade na qual inicialmente, é
proposto à criança trabalhar com histórias em que um fonema aparece repetidamente em
várias palavras, mostrando-se a letra correspondente a esse fonema, sendo solicitado em
seguida à criança que repita as palavras ditas pelo aplicador e logo depois que faça a
identificação do fonema inicial de cada palavra.
Como exemplo de atividade de consciência fonêmica pode-se utilizar o teatro de
fantoches, em que um deles é caracterizado como aquele que fala "palavras bobas", ou seja,
fala palavras trocando um fonema, por exemplo, em vez de /menino/, dizer /benino/. As
crianças devem, então, assistir ao teatro de fantoches e interagir corrigindo as "palavras
bobas", dizendo as suas formas corretas. Sugestões Práticas 243 A atividade cobre tanto sons
consonantais como vocálicos.
A consciência fonêmica pode também ser trabalhada com a síntese de fonemas em
jogos nos quais o aplicador deve apresentar palavras ou pseud.palavras em que cada fonema
é representado por uma forma geométrica. Adicionam-se, então, formas geométricas no início,
fim e meio dos itens para formar diferentes palavras. O aplicador deverá apresentar os cartões
para as crianças e informar que cada um dos cartões irá representar um fonema distinto. Essa
atividade possui como principal objetivo mostrar que, pela modificação na arrumação dos
fonemas nas palavras podese formar outras palavras distintas.
No procedimento deverá ser feita no máximo uma atividade por dia, sendo realizado
também um treino do alfabeto em paralelo. É importante lembrar que sempre que trabalhar
65
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

com pseud. palavras deve-se dizer à criança que se trata de palavras inventadas. O treino
pode ser administrado individualmente ou em grupos em sessões no consultório por
psicólogos ou pelos professores nas classes, sendo estes capacitados para tanto.
No intuito de verificar a eficácia do procedimento descrito foram Capovilla (2003)
comparou-se o desempenho de crianças na habilidade de consciência fonológica, na
aquisição da leitura e escrita antes e depois de serem submetidas ao treino. As crianças que
participaram das atividades de consciência fonológica e de correspondência grafo-fonêmicas
apresentaram ganhos significativos, tanto em consciência fonológica quanto em leitura e
escrita quando comparadas às do grupo controle. Isto confirma a importância e a necessidade
de programas de ensino de leitura e escrita que incluam atividades de consciência fonológica.

16 A ESTRUTURA FONOLÓGICA DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS


A fala apresenta alguns princípios em sua organização sonora. Ainda segundo
Silva (ibid), “[T]ais princípios agrupam segmentos consonantais e vocálicos em cadeia
e de terminam a organização das sequências sonoras possíveis de uma determinada língua”.
Assim, cada língua apresenta uma organização sonora específica. Ainda segundo a autora,
todo falante possui uma intuição acerca do sistema sonoro de sua língua – poderíamos
acrescentar, obviamente, que, então, não o possuem em relação a línguas estrangeiras.
Diante disso, acreditamos ser necessário e produtivo que alunos de inglês como LE
conheçam o IPA. Apesar do trabalho em sala de aula para ensinar o IPA exigir mais tempo
que o habitual, estudando a fonética da LE, os alunos podem ter autonomia para procurar não
só o significado, mas também a pronúncia de palavras em dicionários, uma vez que estes
geralmente trazem a transcrição fonética das palavras. Por outro lado, pode-se argumentar
que é um pouco difícil porque há muitas convenções sobre a representação de sons e os
alunos não podem aprender todas as convenções. No entanto, quando o aluno estuda o
alfabeto fonético e sabe que há símbolos que representam sons da fala, é mais fácil entender
a transcrição nos dicionários.
Além disso, dicionários e livros didáticos de LE geralmente trazem na capa uma lista
de palavras e o som correspondente para ilustrar para o usuário dessas matérias, qual sistema
convencional foi seguido. Assim, o aluno não precisa aprender todas as convenções, mas
deve saber que existem símbolos para representar sons e como verificar esses símbolos no
material que irá usar. Não estamos argumentando aqui que se deve ensinar o IPA e cobrar
do aluno que conheça a diferença das consoantes em termos de classificação (fricativas,
lábio-dental, palatal). O que queremos dizer é que o IPA pode e deve ser usado como
ferramenta de aprendizagem para um aluno de inglês como LE, não somente para ajudar no
aperfeiçoamento da pronúncia, mas também para desenvolver uma autonomia no aluno em
relação a essa habilidade.
Outro item importante em que a fonologia poderia ser usada é no conhecimento de
sons que são distintivos em uma língua e não em outra. Por exemplo, em português o fonema
/t/ realiza-se foneticamente como [t] ou [tʃ], dependendo da posição em que ocorre na palavra:
se diante da vogal [i], teremos o [tʃ], como na palavra tia; se diante das demais vogais, o
fonema /t/ realiza-se [t] como na palavra teto. Entretanto, voltemos à palavra tia. Dependendo

66
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

da região do Brasil o /t/ nessa palavra poderá ser realizado como [t] ou [tʃ] não causando
nenhuma estranheza ou incompreensão a nenhum falante do português.
Por outro lado, na língua inglesa esses sons não podem ser usados como equivalentes.
Erro comum acontece na palavra teacher em que falantes brasileiros costumam pronunciar o
fonema /t/ que aparece [tʃ] ao invés de [t], que seria o correto na primeira ocorrência na palavra
em questão. Essa pronúncia, com [tʃ] é inaceitável no inglês e dificilmente seria reconhecida
por um falante nativo da língua. O DETYA (Departmentofeducation training andyouthaffairs)
desenvolveu um curso para o ensino de pronúncia e detectou que o ensino de fonemas e
prosódia, ambos parte da fonologia, são de fundamental importância para o ensino/ prática de
inglês como língua estrangeira.
Segundo Fraser (2001, p.5), é necessário focar tanto características como entonação
e ritmo quanto focar características fonéticas, inclusive porque muitas vezes as características
fonéticas irão interferir no ritmo e entonação. Além disso, a autora ainda enfatiza que a
fonologia pode ser ensinada a aprendida de forma eficiente. Segundo a autora, na prosódia,
assim como ocorre com os fonemas, a influência inconsciente de nossa primeira língua é
imensa na formação da nossa percepção e concepção, de forma que as pessoas de diferentes
origens linguísticas compreendem aspectos prosódicos de forma bastante diferente. FRASER
(2001, p30).
Com isso, delineia-se importante o ensino de aspectos da prosódia na LE de forma a
tornar o aluno consciente das características da língua que estuda. Ainda segundo a autora,
o ponto chave para a dificuldade de falar uma língua estrangeira (aqui nos referimos à
produção oral), está no fato de que os alunos não aprendem a falar apenas ao serem
apresentados a fatos a respeito da língua. Ao contrário, eles aprendem ao serem guiados por
experiências que os levem a construir conceitos a respeito da língua em seu subconsciente,
de forma a minimizar a influência da primeira língua quando se aprende uma língua
estrangeira. Gilbert (2008) pontua que o conhecimento da prosódia da LE por parte de
professores e alunos é fundamental para o desenvolvimento das habilidades de produção oral.
Assim, afirma o autor, Em Inglês, sinais rítmicos e melódicos servem como "sinais de
trânsito" para ajudar o ouvinte a entender as intenções do falante. Estes sinais comunicam a
ênfase e tornam clara a relação entre as ideias para que os ouvintes possam identificar
facilmente essas relações e entender o que o falante quer dizer. Infelizmente, quando os
alunos de língua inglesa falam em sala de aula, eles geralmente não pensam em como ajudar
os seus ouvintes a entender o querem dizer. Em vez disso, eles muitas vezes pensam sobre
como evitar erros de gramática, vocabulário, e assim por diante2 (GILBERT, 2008, p.2).
Isso nos mostra a importância do trabalho em sala de aula de aspectos prosódicos da
língua como forma de mostrar ao aluno como “falar corretamente”, não para parecer um
nativo, mas para ser compreendido por qualquer falante da língua inglesa. De acordo com
Pennington (1996), a fonética é muito útil para a prática de listening. O aluno, conhecedor da
fonética de uma língua, pode prestar atenção a sons específicos e reconhecer as palavras
mais facilmente, assim como reconhecer as palavras importantes em vez de tentar entender
todas as palavras e toda a frase.
Trata-se de aspecto importante e que ajuda muito, não só nas atividades de listening,
mas também em atividades de prática oral, como por exemplo, saber as diferenças básicas

67
FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

entre os sons como consoantes surdas e sonoras; vogais longas e curtas, porque estas
distinções raramente são ensinadas e estudantes de inglês como LE costumam ter
dificuldades para fazer essas distinções. Como exemplo, podemos citar as palavras it e
aet.Em que a primeira apresenta o som da vogal /i/ curto e a segunda um som longo da mesma
vogal. É uma diferença talvez muito sutil para um estrangeiro, mas para um nativo é bastante
diferente e significativo.
O não conhecimento dessas características pode causar estranhamento em interações
nativo/estrangeiro. Nesse sentido, se os alunos não conhecem essas pequenas diferenças
entre sons consonantais e sons vocálicos, é difícil entender algumas palavras e pronunciá-
las. Além disso, Pennington (1996, p.222) argumenta que sobre a pronúncia de sons
individuais podem aumentar a inteligibilidade das palavras individuais.
Como exemplo, para um falante do Português, é às vezes difícil de pronunciar o th em
palavras como think, that e with. Isso porque o [θ] e o [ð] são sons que não existem em
português, por isso, eles costumam pronunciar [s] [d] e [f], respectivamente. Para um brasileiro
falante do português conversando com outro brasileiro, talvez não haja problemas, mas para
um falante nativo da língua inglesa, esta troca de sons é considerável na compreensão da
fala. Dessa forma, conhecer o inventário de sons da fala inglês pode ajudar os alunos a
entender as diferenças entre sons e se auto-monitorar quando estiver falando a LE.
Além disso, os padrões de entonação do inglês ajudam o falante a demonstrar
interesse ou desinteresse na conversa. Trata-se, assim, de um aspecto importante na
construção do significado, quando tratamos da linguagem oral. Se os alunos não têm essa
consciência pode parecer chato e desinteressado. Como exemplo, podemos citar os casos de
entonação ascendente e descendente, que na língua inglesa expressam significados.
Assim, uma entonação ascendente em Really! Mostra que o ouvinte está interessado
na conversa e uma entonação descendente mostra o contrário, ou seja, desinteresse na
conversação. Se um aluno de inglês como LE não conhece essa diferença, quando usar a
língua estrangeira utilizando os padrões de entonação da própria língua, este pode causar
estranheza em seus interlocutores mostrando-se interessado o tempo todo ou parecer dar
muita atenção, sem necessidade, ou, ainda, parecer desinteressado na comunicação. Vale
ainda ressaltar a importância do uso da fonologia como ferramenta de ensinoaprendizagem
considerando-se as palavras tônicas nas sentenças.
Às vezes, podem-se causar incompreensões na fala uma vez que na língua inglesa as
palavras tônicas na sentença apresentam informações sobre o tema da conversa. Por
exemplo, em uma conversa em que alguém pronuncia a frase Wewenttothe cinema
yesterdaynight e a palavra acentuada seja cinema, indica que o tema da conversa é a
atividade de ontem à noite. Por outro lado, seria diferente se a ênfase fosse em night, pois
significaria que o tema de conversa seria quando ir ao cinema: à tarde ou à noite, por exemplo.
Assim, o aluno que não tiver essa informação pode ter dificuldades em compreender outros
falantes de língua inglesa e ter um lugar em uma conversa.
Dessa forma, a fonologia pode ajudar os alunos a adquirir fluência. Embora algumas
pessoas acreditem que a fluência pode ser adquirida apenas quando exposto à linguagem
oral em situação real, quer dizer, conversando com nativos, em um país que tenha o inglês
como língua oficial, isso não é verdade. Através de aspectos fonológicos mencionados

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anteriormente, associados à prática, os alunos podem adquirir fluência em sala de aula, que
os alunos que estudam a fonologia e a usam para praticar o Inglês fora da sala de aula,
adquiriram fluência com menos dificuldade que aqueles que apenas praticaram em sala de
aula e, também, aqueles que não estudaram fonologia.
Além disso, ele associa a aquisição de fluência à sua prática. Então, o que é
necessário para atingir essa meta? Basta praticar? A resposta é não. Isso porque praticando
a pronúncia errada não irá desenvolver fluência. É necessário que o aluno saiba/aprenda a
qualidade de sons em inglês, regras de padrões de entonação, sílabas tônicas e palavras
tônicas em sentenças. E esse conhecimento pode ser adquirido através do estudo de
fonologia. Em conclusão, ensinando fonologia, professores de inglês como LE têm muitas
vantagens, como ajudar os aprendizes não só na sua pronúncia, mas também em suas
habilidades de escuta e fala, permitindo aos alunos que verifiquem em dicionários a pronúncia
de palavras e estejam cientes das características fonológicas e padrões de entonação da
língua estrangeira que estão aprendendo.
Argumentamos que, estudando fonologia, os alunos podem desenvolver consciência
das características que envolvem os sons na língua estrangeira, das diferenças de entonação,
ou seja, algumas das ferramentas que irão auxiliá-los no desenvolvimento de habilidades
como a fala e a compreensão oral. A consciência fonológica pode ser entendida como um
conjunto de habilidades que vão desde a simples percepção global do tamanho da palavra e
de semelhanças fonológicas entre as palavras até a segmentação e manipulação de sílabas
e fonemas (Bryant &Bradley, 1985). Fazendo parte do processamento fonológico, que se
refere às operações mentais de processamento de informação baseadas na estrutura
fonológica da linguagem oral. Assim, a consciência fonológica refere-se tanto à consciência
de que a fala pode ser segmentada quanto à habilidade de manipular tais segmentos, e se
desenvolve gradualmente à medida que a criança vai tomando consciência do sistema sonoro
da língua, ou seja, de palavras, sílabas e fonemas como unidades identificáveis (Capovilla &
Capovilla, 2000b).
Enquanto a consciência de segmentos suprafonêmicos desenvolve-se de modo
espontâneo, o desenvolvimento da consciência fonêmica necessita da introdução formal a um
sistema de escrita alfabético (Morais, 1995). A precedência da consciência suprafonêmica em
relação à consciência fonêmica é devida ao fato de que sílabas isoladas são manifestadas
como unidades discretas da fala, o que não ocorre com os fonemas. Segundo Morais (1995),
para a consciência de fonemas são necessárias instruções expressas sobre a estrutura da
escrita alfabética, no intuito de familiarizar a criança com o mapeamento que está escrita faz
dos sons da fala. Vale ressaltar que as instruções para o desenvolvimento da habilidade de
manipular os sons da fala, bem como as instruções para desenvolver a habilidade de converter
esses sons em escrita e vice-versa, devem ser realizadas de modo a tornar explícito à criança
estas correspondências (Capovilla&Capovilla, 2003).
De acordo com Frith (1985), há três estratégias básicas para se lidar com a palavra
escrita. A primeira é a logográfica. O uso desta estratégia implica no reconhecimento das
palavras por meio de esquemas idiossincráticos. Desta forma, os aspectos críticos para a
leitura podem não ser as letras, e sim dicas nãoalfabéticas. A segunda estratégia é a
alfabética, e implica em analisar as palavras em seus componentes (letras e fonemas) e em
utilizar, para codificação e decodificação, regras de correspondência grafo-fonêmicas.
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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTGUÊS

Finalmente, a estratégia ortográfica implica na construção de unidades de reconhecimento no


nível alfabético. Com isso, partes das palavras podem ser reconhecidas diretamente, sem
conversão fonológica. Assim, resumidamente, segundo Morton (1989), a leitura se dá de
acordo com um modelo de duplo processo: o acesso ao som e ao significado pode ocorrer
por meio de um processo direto ou por meio de um processo indireto, envolvendo mediação
fonológica.
A rota fonológica, que se desenvolve com a estratégia alfabética, é essencial para a
leitura e a escrita competentes, pois faz uso de um sistema gerativo que converte a ortografia
em fonologia e vice-versa, o que permite à criança ler e escrever qualquer palavra nova,
apesar de cometer erros em palavras irregulares (Alegria, Leybaert, &Mousty 1997). A
geratividade, característica das ortografias alfabéticas, permite a autoaprendizagem pela
criança, pois ao encontrar um novo item a criança poderá fazer leitura/escrita por (de)
codificação fonológica. Esse processo contribuirá para a criação de uma representação
ortográfica do item que posteriormente poderá ser lido pela rota lexical.

17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Linguística Textual:


Introdução. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Objetos Teóricos. 6. ed.
São Paulo: Contexto, 2015.

FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Princípios de Análise. 5. ed.


São Paulo: Contexto, 2016

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística:


Domínios e Fronteiras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2012 – Volume 1

SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga;


LAZAROTTOVOLCÃO, Cristiane. Para Conhecer Fonética e Fonologia do
Português Brasileiro. Editora Contexto, 2015.

SCHWINDT, Luiz Carlos. Manual de Linguística - Fonologia, Morfologia e


Sintaxe.
Editora Vozes, 2014.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure. Petrópolis: Vozes, 2013.

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COUTO, Hildo Honório do. Fonologia e Fonologia do Português.


Brasília:
Thesaurus, 1998.

LYONS, John. Língua, Linguagem e Linguística. Rio de Janeiro: LTC, 1987.

MAGALHÃES, Izabel (org.). As Múltiplas Faces da Linguagem. Brasília: UnB,


1996.

MOTTA MAIA, E. No Reino da Fala: a Linguagem e seus Sons. São Paulo,


1995.

TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997.

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