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3
Sumário
Apresentação
.....................................................................................
5
Capítulo
1 - Fonética
...........................................................................
7
Capítulo
2 - Fonética
versusfonologia 36
Capítulo
3 - Traçosdistintos 47
Capítulo
4 - Regras
e processos
fonológicos 59
Capítulo
5 - Fonética
.........................................................................
70
Recapitulando..................................................................................
83
Referências
.......................................................................................
85
Informações
sobreosautores 86
Fonologia, variação e ensino
PALAVRADOS
AUTORES
Apresentação AopensarmosFonologia,Variaçãoe Ensinocomoumadasdisciplinas
obrigatóriasda matrizcurriculardo MestradoProfissionalemLetras
A Linguísticapodeserdefinidacomoo estudocientíficodaestrutura
dalíngua.Elareúneestudosemdiversoscampos,dentreelesaMorfo-
logia,a
maioresdaSintaxe,a Semântica,
língua(palavra, que se preocupamcom
frase,relaçõesde as unidades
sentidoetc.),e a Fono-
logia,a qualsevoltaparaasunidadesmenores(fonemas).Osestudos
5
Este e-bookestá organizadoem 5 capítulos.No capítulo1,Fonética,
focalizaremos,
demododetalhado,afonéticaarticulatória,descreven-
ticasarticulatóriase acústicasdossonsfuncionamnasváriaslínguas
e como essas propriedadesrepresentamas atividadessimultâneas
queocorremno tratovocal,quandose dáa produçãodeumsom.
Nocapítulo4,Regraseprocessosfonológicos, destacaremos
osproce-
dimentosbásicosparaa formalizaçãode umaregra,seguindocoma
apresentaçãodosprocessosfonológicosmaisatuantesno português
brasileiro.
Parafinalizar,no
sílabanoportuguêscapítulo5, Aesuaestrutura
brasileiro sílaba, apresentaremos a descriçãoda
interna,combaseemum
modelode representaçãoarbórea.Por fim,trataremosdos ditongos,
quesãoumaformadereorganizaçãodasvogaisno interiordasílaba.
6
Capítulo 1
FONÉTICA
Introdução A Fonéticaé o estudosistemáticodos sons da fala,isto é, trabalha
com os sons propriamenteditos, levandoem consideraçãoo modo
comoelessão produzidos,percebidose quaisaspectosfísicos estão
Fonéticaarticulatória:
estudaos sons do pontode vistafisiológico,
descrevendoe classificando-os.
Assim,ao descrevermosa realizaçãode um som, por exemplo[p],
podemosafirmarquenasuaarticulaçãoquasenãohouvevibraçãodas
cordasvocais,por isso ele é não-vozeado;queo fluxodo ar seguiuo
caminhodotratovocal,nãodasfossasnasais,caracterizando-ocomo
oral;e quehouveobstruçãopelosdoislábios,porisso eleé oclusivoe
bilabial.Esteé o papeldaFonéticaArticulatória.
CapítuloI - Fonética 7
A análisedesse som e sua propagação,realizadacom o auxíliode programase softwares
específicos,sua amplitude,duração,frequênciafundamental,etc. estáno foco da Fonética
Acústica.
Fonéticaauditiva
: centralizaseusestudosnapercepçãodo aparelhoauditivo.
Muitasvezes,nãoconseguimospercebersonssupostamente iguaisdeformaidêntica.Sóuma
análisemaisacuradapermitiráidentificá-los.Esse tipo de estudocabeà Fonéticaauditiva,
campodepesquisamuitopoucoexplorado,principalmente no Brasil.
tar,entretanto,
que,parafazermosum
temosnecessidade estudomaisdetalhadoda produçãode
de recorrera estudosacústicos.Taisestudos,no algunssons,
passado,necessitavam
de aparelhosbemsofisticados,e, muitasvezes,de difícil acesso.Hoje,comum computador
bemequipadoe com“softwares”específicos,podemosrealizarexcelentesanálisesacústicas.
Considerandoas dificuldadesapontadas,aqui nos deteremosna articulaçãodos sons, ou
seja,na Fonéticaarticulatória,
a produçãodos sons,levandoemaquelaque,comoafirmamos anteriormente,
contaseu modode articulação, estávoltadapara
seu pontode articulação,
seucarátervozeadoou nãovozeadoe aindasuaconfiguraçãonasalou oral.
CapítuloI - Fonética 8
Aparelhofonador O ser humanonão possui um órgão ou um
sistemaque tenha como função primáriaa
serhumano.
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Vídeo1– Aparelhofonador.
CapítuloI - Fonética 9
Comose realizam Pararespondermosa essapergunta,temosqueentender
os sonsda fala? o caminhoque o fluxode ar seguena respiração.Impor-
tantelembrarmosque os sons,geralmente,não se reali-
zamno momentoda “inspiração”,masda “expiração”.O
oxigênio,vitalaoserhumano,chegaatéos pulmõespelos
brônquios.Emseu caminhode volta,aindaar,ele sofre a
primeiradeformaçãoao chegarà laringe.Todosos sons
dafalahumana– sejamvogais,consoantesousemivogais
(tambémdenominadasde glides) – são produzidosno
tratovocal.Essepodeserconsideradocomoumaparelho
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CapítuloI - Fonética 10
Sonssurdose O ar expelidopelospulmõeschegaà laringee atravessa
sonoros a glote,quefica na alturado chamadopomo-de-adãoou
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Vídeo3 – Cordasvocaisemmovimento.
CapítuloI - Fonética 11
Toque para ouvir
A distinçãoentresonssonorose surdospode
Observação ser claramentepercebidana pronúncia de
paresdeconsoantescomo:
CapítuloI - Fonética 12
Atividade
Identifique-oscomoSURDOS(SU)ou SONOROS
(SO).
SURDOS SONOROS
CapítuloI - Fonética 13
Atividade
va-asconformea classificação:
S H P F Y D V E R D A D E W L
U D C S E N L A W V A F I B L
H E B H U P A M T I A B M U I
A T T E P O W D R N U Y W N E
A I O E M N A A A P R M L O O
E C F U P R T M W D A S U Y T
H T R N U A C I A B O U N W M
H F O F L U T P G H O R D V O
B A C E P A S U N N L A B K L
G O U I V L H J C H I F R E E
P F I U M B H U T C N J J G Z
P L W P A N E L A A A O I M A
chifre
lataria
lhama
moleza
nadador
panela
rua
sapeca
CapítuloI - Fonética 14
tapete
verdade
Atividade
ta correta.
CapítuloI - Fonética 15
Aindaa produção Vamosseguiro fluxo de ar depoisde passar
dos sons da fala: pelaglote,queé ondeficamas cordasvocais,
assim,na produçãode
de [p]“pato” sons
, [t]“teto” orais,a
, [∫]“lixo”. exemplo
levantada,o nariz
boca e pelo que permiteque o ar saia
ao mesmotempo,a pela
exem-
plodasvogaisnasalizadas,comonaspalavras
CapítuloI - Fonética 16
Na figuraa seguir,podemosverificarcomose realizamos sons orais,
nasaise nasalizados.
CapítuloI - Fonética 17
Atividade
CapítuloI - Fonética 18
O tratovocal Depoisdafaringe,localondeofluxodoarvaidefinirsonsoraisenasais,
passemosagoraao tratovocal,ondese situamos articuladoresdos
sonsdafala,quepodemserclassificadoscomoativosou passivos.
Sãoarticuladoresativoso lábioinferior,a línguae o maxilarinferior.Para
aproduçãodossons,essessemovimentam nadireçãodosarticuladores
passivos,quesãoo palatomole,a úvulae os dentesincisivossuperiores.
CapítuloI - Fonética 19
Atividade
Indiqueos articuladoresenvolvidosnaproduçãodossonsa seguir:
CapítuloI - Fonética 20
Ossonsdafalapodemaindaserclassificadosquantoaomododearti-
culaçãoe quantoaopontodearticulação.Tomandocomobaseapenas
sonsproduzidosnaLínguaPortuguesa,vejamoscomoisso ocorre.
a)oclusivos:
paraa produçãodesonsoclusivos,o fluxodearquevem
dospulmõesé interrompidototalmenteemalgumpontodo tratooral,
sonscomo[p]“pato” ; [b]“bato”
; [t]“tatu”
; [d]“dado”
; [k]“cachor-
ro”, “queijo”
; [g]“gato”,“guerra” .
[z]“zebra”, “exame”
“rato”,[x]~[h] ;,[ʃ]“chave”,
“carta” ; [ʒ]“jaca”,“gente”
“xícara” ; [x]
[ɣ]~[ɦ]“carga”
.
c) africados:na realizaçãodessessons,ocorreumarápidaoclusão
seguidadefricção,comose fossea somadeumsomoclusivocomum
somfricativo.
São africados os sons:[tʃ]“tia”, [dʒ]“dia”.
em[m]“mata”
, [n]“nata”
, [ɲ]“nhoque”, .
“linha”
CapítuloI - Fonética 21
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Comessasdescriçõesarticulatórias,podemosclassificaros sons da
falaemgeral.Paraunificarastranscriçõesdossons,umavezquesuas
realizaçõespodemvariarde umalínguaparaoutra,foi criadoo Alfa-
beto FonéticoInternacional(InternationalPhoneticAlphabet– IPA).
A seguir,no Quadro1,o quadrodas consoantesdo AlfabetoFonético
Internacionalemsuaversãode2005.
Quadro1– AlfabetoFonéticoInternacional:consoantes.
Essesistema,aoserutilizadonatranscriçãofonética,tambémpermi-
te quequalquerfalanteconhecedorde seussímbolosrealizesons de
qualquerlíngua.
CapítuloI - Fonética 25
Atéaquitemosdescritocomose realizamas consoantes,segmentos
produzidoscomalgumainterrupção– parcial,intermitenteoutotal– na
“ilha”,“apito”,
“caqui”
“leve”,“moleque”,
“pente”
CapítuloI - Fonética 26
Assimcomoasconsoantes,asvogaisetodasassuaspossíveisrealiza-
çõestambémestãorepresentadasno IPA.Dispostasemumtrapézio,
é possívelidentificartodasas classificaçõesdessessegmentos.Veja-
mos,a seguir,a disposiçãodos sons vocálicosno AlfabetoFonético
Internacional:
Figura3 – AlfabetoFonéticoInternacional:vogais.
Fonte:Adaptadode <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/en/8/8f/IPA_chart_%28C%292005.pdf>.
Acessoem:15jun.2015.
Deve-seobservar,ainda,quequantomaisaltasas vogais,maisfecha-
das serão;e quantomaisbaixas,maisabertas.Isso permiteas esses
sonstambéma classificaçãoa seguir:
Vogaisfechadas=vogaisaltas
Vogaismeiofechadas=vogaismédiasaltas
Vogaismeioabertas=vogaismédiasbaixas
Vogaisbaixas=vogaisabertas
CapítuloI - Fonética 30
Finalmente,é possívelqueas vogaisrecebaminterferênciade algum
som nasal vizinho,tornando-senasalizadasem oposiçãoàs vogais
orais,comonosexemplosa seguir:
Vogaisorais:pato,lata,gelo,fita,pote
Vogaisnasalizadas:pano,lama,gema,fina,ponte
CapítuloI - Fonética 31
Atividade
1-Entreas palavrasa seguir,indiqueaquelasemquehácorrespondência
entrea letradestacadae o somqueelarepresenta:
CapítuloI - Fonética 32
Transcrição Paraanalisarmosa línguaoralutilizadaporumfalantesob o pontode
fonética vistafonético,é necessárioque façamossua transcrição.Para isso,
umapossibilidadeé lançarmosmãodossímbolosfonéticosquecons-
tituemo IPA.Essatranscrição,algumasvezes,podevariar,dependen-
do do sistemafonéticoqueestásendoutilizado.
<http://web.uvic.ca/ling/resources/ipa/charts/IPAlab/IPAlab.
htm>. Acesso em: 15 jun. 2015.
CapítuloI - Fonética 33
Atividade
Atualmente,existemdisponíveisna internetbancosde dadosde falade
diferentesregiõesbrasileiras,organizadosa partirdecoletasrealizadas.
Aseguir,elencamososlinksparaacessoaessesdados.Extraiaumtrecho
decadabancoe façaa transcriçãofonética:
Projeto VALPB:<http://projetovalpb.com.br/projetovalpb/>.
Acesso em:
15jun.2015.
Projeto Iboruna:<http://www.iboruna.ibilce.unesp.br/>.
Acesso em: 15
jun.2015.
ProjetoVarsul:<http://www.varsul.org.br/?modulo=secao&id=1>.
Acesso
em:15jun.2015.
CapítuloI - Fonética 34
Leia Mais
FONÉTICA& FONOLOGIA:Sonoridade
em Artes,Saúdee Tecnologia
.
UFMG.2008.Disponívelem: <www.fonologia.org>.
Acessoem: 15 jun.
2015.
SILVA,T.C.Dicionário
defonéticaefonologia
. SãoPaulo:Contexto,2011.
SILVA,T.C. Fonética
deexercícios. e fonologiaportuguês:
2003. roteirodeestudose guia
SãoPaulo:Contexto,
WEISS,H. Fonéticaarticulatória:
guiadeexercícios
. Brasília:Sil.1980.
CapítuloI - Fonética 35
Capítulo 2
FONÉTICA
VERSUS
FONOLOGIA
Introdução A estruturada línguase organizaem diferentesníveis,tais como o
fonológico,o morfológico,o sintático,o semântico,o lexicaletc.,todos
elesresponsáveisporaquiloqueenunciamosno nossocotidiano.
Há,comosabemos,dois ramosda linguísticaqueestãovoltadospara
àssuaspropriedades
articulatóriase/ouacústicas,
podemosestudarossonssemumareferência comotambémnão
àsuafunçãolinguística.
Nestecapítulo,retomaremos a gênesedosestudosfonológicoscomseus
principaisprecursorese,deformamaisespecífica,o conceitodefonema
e a realidadequeelerepresenta,semperderde vista,contudo,queé no
nívelfonéticoquea fonologiase
elementosfonológicosestivessemrealizade modoconcreto.É
armazenados comose
emnossamente– os
ouno
campogeral,socialda linguagem– e a formafonéticaestivessedo lado
externo,permitindoaemissãoconcretae audíveldaqueleselementos.
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 36
Gênesedos Atéo finaldoséculoXIX,a diferençaentrefonéticae fonologiaerauma
estudos discussãode pouco interesse,pois os estudosda épocapreocupa-
pelo falanteparaexpressaresse
que,ao conhecimento.
descrevero sistemalinguístico, Disso,depreende-se
o pesquisadordevese preocu-
parcomos elementosrelativosà língua,nãoà fala.
ParaSaussure,nalíngua,o sistemafônicoconstitui-sedeumconjun-
to de significantes,e a funçãodos elementosquecompõema estru-
ca;tampoucoháevidênciadequeestivessepreocupadocomo desen-
volvimentode umanoçãode representaçãofonéticaou fonêmicano
sentidoposteriormente
postuladopelosgerativistas.
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 37
A Escolade Praga No início do SéculoXX,váriosestudiosostrabalharamparaelaboraras
ideiasseminaisde Saussure.O grupoque,talvez,maisse destacoufoi
aquelecompostopelosrepresentantesdaEscoladePraga,incluindoNico-
layTrubetzkoye RomanJakobson.Elestentaramcombinarapreocupação
coma metodologiadescritivacomumaconsciênciasofisticadadasques-
tõesteóricaslevantadasporSaussuree outros.É no livrode Trubetzkoy,
PrincípiosdeFonologia,quepodemosencontrarumasíntesedessasideias.
AsdefiniçõesdefonologiaefonéticapelosestudiososdePragamostram
umatentativadevê-lasdiferentemente: a primeiracomoumadisciplina
funcionale a últimacomoumadisciplinaauxiliardalinguística,reconhe-
cendo,portanto,umaantítesequeSaussurenegou.TantoparaSaussure
comoparaa escoladePraga,asduasdisciplinastinhamdeestarsepara-
das.Issorepresentouumgrandeproblema:tentarestabelecerumalinha
deseparaçãoentreo que,pornatureza,pareceserindivisível.
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 38
Representação Umdos maisimportantesaspectosda concepçãode Trubetzkoyfoi a
fonêmicae “naturalidade”
da relaçãoentreas representaçõesfonêmicae fonéti-
pendentes;elesrepresentamgraussucessivosdeabstração.
Deformaampla,podemosdizerquea fonologiase voltaparaos sons
da língua,nãoparaos sons da fala,o queseriaobjetoda fonética.De
formamaisrestrita,a fonologiase voltaparaa função,parao compor-
tamentoe paraa organizaçãodossonsenquantoitenslinguísticos.
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 39
Umadasprincipaiscaracterísticasdofonemaé o fatodeeleservaziode
Fonema
significado,ouseja,umsegmentocomo/p/ ou/b/ nadasignificam.Outra
(i)comorealidadefonética;
(ii)comorealidadefonológica;
(iii)comorealidadepsicológica.
Cabeaofonólogodeterminarquaissãoossonsquepertencemàmesma
classe.Para alcançartal objetivo,ele deveexaminaras distribuições
dosparesmínimos,doisitenslexicaisquese opõemapenaspeladife-
rençade um som.Nos itens ‘ca/s/a e ca/z/a’ (‘caça’ e ‘casa’)temos
um par mínimo.Podemosobservarque a substituiçãode /s/ por /z/
alterouo significadodositens,logo,estamosdiantededoisfonemas.
Tambémpodemosdizerestarmosdiantedeparesmínimosnosseguin-
tesexemplos:
/p/atax /b/ata /ʃ/á x /ʒ/á
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 40
Fica claroquepodemosdistinguircadaum dessesparespor apenas
um segmento.Se a distinçãose der por mais de um segmento,não
teremosumparmínimo.Essessegmentosquetornamos signosdife-
rentessãodenominadosdefonemas.
• segmentoscom
ção:[p]e [t], [b]eoposiçãoapenasquantoao
[d], [t]e [k], etc. pontode articula-
• segmentoscomoposiçãoapenasquantoaomododearticulação:
Umaoutrapossibilidade
fonemaé verificandose deavaliarmosseestamos
os sonsestãoou ounãodiantedeum
nãoemdistribuiçãocomple-
mentar,ou seja,no lugaremqueum podeestaro outronãopode.No
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 41
Variação Nestemomento,é necessáriauma reflexãosobre pelo menosduas
formasde realizaçãodos fonemas:umaem variaçãocondicionadae
outraemvariaçãolivre.Vejamoscadaumaemseparado.
Variação
condicionada
Comecemosporobservaros seguintesexemplos:
- de[stʃ]
e >de[zdʒ]
e (deste>desde)
- dua[sk]amisas
>dua[zb]lusas (duascamisas>duasblusas)
- dua[sp]eras>dua[zu]vas (duasperas>duasuvas)
-se
issosonoro[z]nosdadosqueaparecemnasegunda
nãoocorrepelasimplesvontadedo coluna?Certamente,
falante,maspelocondiciona-
mentoprovocadopelosomsonoro[d,b,u]quesegueo [s]. A sonoridade
dessessegmentosespraia-separaosomanterior,condicionando-o
aser
tambémrealizadocomosonoro,emumprocessodevariaçãocondicio-
nadaa quechamamosassimilação.Emresumo,o segmentosurdoassi-
milaa sonoridadedosegmentoseguinte,tornando-setambémsonoro.
Variação
livre
- p[e]queno~p[i]queno~p[ɛ]queno
- p[o]mada~p[u]mada~p[ɔ]mada
- cu[s]to~cu[ʃ]to
- me[z]mo~me[ʒ]mo~me[h]mo~memo
- ga[x]fo~ga[ɽ]fo~ga[r]fo~ga[w]fo~ga[h]fo~ga[χ]fo~gafo
- esma[w]te~esma[r]te~esma[ɫ]te
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 42
variaçãonãoestejapresentenasformaslinguísticas– fonológicas,sintá-
ticas,morfológicaetc. –, ele poderáestarem fatoresextralinguísticos,
distinçãodesignificadoentreos signos.
Atreladaa essavisãoestáa noçãode neutralização,conceitofunda-
mental paraafonologia
conceito,recorremosaestruturalista.
Paracompreendermos
umexemplobastante bemesse
comumnoPortuguêsdo
Brasilnoquerespeitao sistemavocálico.Claramente,
naposiçãotôni-
Issodedáporqueaoposiçãoentre[e]e [ɛ]seperde,dandolugarapenas
a umdossegmentos.O mesmoprocedimentose verificaentre[o]e [ɔ].
Contudo,a formacomoesseprocessoocorrenão
as regiõesdo éitenscomo‘pesada’
Brasil.Parailustrar,podemosobservar uniformeem todas
e ‘porrada’.Há regiõesem que o resultadoda neutralizaçãofavorecea
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 43
Esquematicamente, podemosvisualizartodoesseprocessodeneutra-
lizaçãovocálicaa partirdo quadroseguinte,considerandoa fala da
regiãoSudestecomoexemplo:
Sílabapretônica: Sílabaátonafinal:
Sílabatônica:7 vogais
5 vogais 3 vogais
[i]pi.co [i]pi.ca.do
[ɛ]ve.la [e]ve.la.do
[ɔ]co.co [o]co.ca.da
[o]fo.rro [o]fo.rra.do [u]fo.co, mu.ro, so.co
[u]mu.ro [u]mu.ra.do
CapítuloII - Fonéticaversusfonologia 44
Atividade
a- boa[zm]vindas “duasmedidas”;
b- ca a “carga”
[ɣg]
c- ma[ɾa]
berto “maraberto”
CápituloII - Fonéticaversusfonologia 45
Leia Mais
BISOL,L.(Org.).Introduçãoa estudosdefonologia
doportuguês
brasi-
leiro.5. ed.PortoAlegre:Edicupcs,2010.
CAGLIARI,L. C. Alfabetização
e linguística
. SãoPaulo:Scipione,1989.
CAGLIARI,L. C. Análisefonológica:
introduçãoà teoriae à prática,com
especialdestaqueparao modelofonêmico.Campinas,SP: Mercadode
Letras,2002.(ColeçãoIdéiassobrea linguagem)
LEMLE,M. Guiateóricodoalfabetizador.
SãoPaulo:Ática.2000.
SILVA,T.C.Fonética
efonologia doportuguês:
roteirodeestudose guia
deexercícios.SãoPaulo:Contexto,2003.
CápituloII - Fonéticaversusfonologia 46
Capítulo 3
TRAÇOS
DISTINTIVOS
Introdução No primeirocapítulodeste livro,foram elencadasas propriedades
fonéticas dos segmentos.Aqui, ao tratarmosda fonologia,nosso
interessenaspropriedadesfonéticasestáemavaliarcomoas carac-
terísticasarticulatóriase acústicasdos sons funcionamnas várias
línguas.Essaspropriedadesrepresentamas atividadessimultâneas
queocorremno tratovocal,quandose dá a produçãode umsom,ou
seja,os traçosdistintivos.
Os processosfonológicosqueenvolvemalgumacaracterísticade [p],
porexemplo,o traçolabial,podemenvolvertodosos demaissegmen-
tos quecontenhamessemesmotraço,como[p,b, m].É o queocorre
comumaconsoantenasalantesde[p]e [b], queserátambémsempre
labial,comonosexemplosa seguir:
- ca[mp]
o,ta[mp]
a,te[mp]
o cf.*ca[mt]
o
Omodelo Aspropriedades
articulatórias
e acústicasdossegmentos
deramorigem
detraços a um importantemodeloteórico em linguísticadenominadoTeoria
de Traçosde Distintivos,implementadopor Chomsky& Halle(1968),
distintivos
emsuaobraTheSoundPatternoof English(SPE).Paraessesautores,
os traços distintivospossuem,basicamente,duas funções,a saber:
(a) capturaros contrastesfonológicosdas línguase (b) descrevero
conteúdofonéticodos segmentosderivadospor regrasfonológicas,
comotambémos segmentossubjacentes.
CapítuloIII - TraçosDistintivos 48
Classificação Vejamos,então,comosão apresentadosos traçosdistintivosno SPE,
dostraços dando destaqueapenasàquelesnecessáriospara a distinção dos
segmentosdo portuguêsbrasileiro.
Consonantal : o traço[+cons]
refere-seatodosossonsproduzidospelo
contatoentreum articuladore um pontode articulação– a exemplo
de /p,b,t,d,k,g/ – oucomumgraudeobstruçãoquepoderesultarem
umafricção– comoem/f, v,s,z/. Essetraçodistingueconsoantesde
vogaise glides.Portanto,no portuguêsbrasileiro,todosos fonemas
consonantais,e somente
sição,as vogaise eles,possuemo
os glidesrecebem traço[+cons]
o traço .
[-cons] ; emcontrapo-
Silábico
: [+sil]são todos os segmentoslicenciadosparaocuparemo
núcleodasílaba.Emalgumaslínguas,certasconsoantespodemocupar
a posiçãode pico de umasílaba,comoé o casodas nasaisemInglês,
comoem“rhythm” . (ritmo).
berãoo traço[+sil] Nessecaso,essasconsoantes
NoPortuguês, tambémrece-
contudo,apenasasvogaispodemser
núcleodesílaba,portanto,somenteelastêmo traço[+silábico].
Soante: [+soa]
são todosos segmentosquese caracterizampor apre-
sentaremsonoridadeespontânea.Dessaforma,nãoexisteumacontra-
CapítuloIII - TraçosDistintivos 49
Traçosde ponto Em relaçãoàs consoantes,temosos traçosde pontocoronal,ante-
de articulação rior,labiale distribuído
, necessáriospara distinguiras principais
posiçõesdearticulação.
Coronal
: [+cor]
caracterizaos sonsquese realizamcomo levantamento
Labial
: [+lab]caracterizaas consoantesque apresentamum estrei-
tamentofeito com os lábios.São labiaisas consoantes/p, b, m,f, v/.
Tambémsãolabiaisas vogais/u, o,ɔ/
Distribuído
: [+dist]caracterizaos sons quesão realizadoscomuma
obstruçãoque se estendesobreumaconsideráveláreaao longo da
linhaquedivideo tratooral.Essetraçonãoé necessárioparadistin-
guir fonemasno Português,os traçosde ponto[coronal] e [labial]são
suficientesparadiferenciarasfricativasalveolares/s,z/,quesão[+dist]
dasfricativaslabiais/f,v/, quesão [-dist]
.
CapítuloIII - TraçosDistintivos 50
Traçode modo Os traçosque distinguemos segmentos,considerando-seo modode
de articulação articulação,ouseja,aformacomoosarticuladoressemovimentampara
Nasal: [+nas]
sãoaquelessonsemqueo ar, ou parte dele, segue
seucaminhopelasfossasnasais.Sãocaracterizadas
comotraço[+nas]
as consoantes/m,n,ɲ/ e as vogaisnasalizadas.
Lateral
: [+lat]caracterizaas consoantesque, na sua articulação,
encontraobstruçãona partecentralda boca provocadapela frente
dalíngua,obrigandoo ara sairpeloslados.Assim,as consoantes/l, ʎ/
sãocaracterizadascomessetraço.
Metástase
retardada
: [+met.
ret.]caracterizaas consoantesquetêm
umasolturadepoisde umaobstruçãototal.É o traçoquecaracteriza,
por exemplo,as africadas[tʃ]e [dʒ], umavez que,na sua realização,
primeirotemosa obstruçãoe, em seguida,a fricção.Esse não é um
traço distintivono portuguêsbrasileiro,já que essas africadassão
apenasalofonesdosfonemas/t/ e /d/, respectivamente.
Traçolaringal Aliteratura,emgeral,apresentatrêstraçoslaringais,caracterizando
o esta-
dodaglote(gloteespraiada,gloteconstrita,vozeamento). ParaoPortuguês,
interessa-nos,principalmente,
o traçodevozeamento: .
[vozeado]
Vozeado
: [+voz]
esse traço opõe consoantesque,na sua realização,
CapítuloIII - TraçosDistintivos 51
CapítuloIII - TraçosDistintivos 52
Para identificaros pontosdas vogaisno PortuguêsBrasileiro,serão
Traçosde ponto
necessáriosos traços:Alto,Baixo,Posterior,
Arredondado, Tenso .
dasvogais
Alto: [+alto]
caracterizaa posiçãodalínguaemsuaelevaçãomaisalta
a partirde umpontoneutro.No Português,as vogais/i, u/ são consi-
deradasas maisaltase,portanto,portadorasdo traço .
[+alto]
Baixo: [+baixo]
caracterizaa posiçãomaisbaixaem relaçãoao ponto
neutro.No Português,a vogal/a/ é a únicaportadorado traço[+baixo]
.
Tenso : [+tenso]
caracterizaas vogais que são produzidascom um
esforçomaiorno avançodo corpoda línguaou de sua raiz do que o
encontradonas vogaisrelaxadas.Tem-sesubstituídoesse traçopor
outroquediz respetirodiretamenteaoavançoou à retraçãodalíngua
na producãodas vogais.Esse traço é o chamado[+ATR] (Advanced
ída”)caracterizaas vogaismédiasbaixas/ɛ,ɔ/.
Posterior
: [+post]
diz respeitoàquelessons que têm sua realização
Arredondado
: [+arred]
é o traçoque caracterizaas vogaiscom arre-
dondamentodoslábiosnasuaarticulação,a exemplode /u, o,ɔ/.
CapítuloIII - TraçosDistintivos 53
Vejamos,agora,a representação
dealgumasvogaisa partirdasmatri-
zesdetraços:
Acento
: [-ac]o acentonaslínguasnemsempreocupaa mesmaposição
na palavra.No Português,por exemplo,a tendênciaé que ele caia na
penúltimasílaba,e por isso dizemosqueesseé o padrãocanônicode
acentoparaoPortuguês.Omesmo,porém,nãoacontececomo Francês,
quetemseu padrãocanônicona últimasílaba.Às vogaisacentuadas,
atribuímoso traço[+ac]
; e às nãoacentuadas,o traço[-ac].
palavrassão denominadas
indígenasqueapresentam de línguas tonais. No Brasil, há línguas
essacaracterística.
CapítuloIII - TraçosDistintivos 54
Classes naturais,que,porsuavez,estãosujeitasasofreremprocessosfonológicos.
naturais
Uma classe naturalé um grupo de segmentosque compartilhamos
mesmosvaloresdos traços distintivos.Com isso, podemosdizer,por
exemplo,quetodasasconsoantespertencema umaclassenatural,pois
alveolares,precisaríamosdosseguintestraços:
[+cons]
[-soa]
[+cor]
[+ant]
[-cont]
necessáriosparadescrevê-la.Essacorrelaçãoinversa,decertaforma,
explicariaporqueos processosfonológicos,emgeral,envolvemmais
classesnaturaisdo quesegmentosisolados.
existenasalquesejalateral.Seumsegmentoé [+nas],elenãoprecisa
ser especificadocomo traço[+voz], pois todanasalé vozeada.Então,
paracaracterizaras nasais,precisaríamosapenasdo traço[+nas].
CapítuloIII - TraçosDistintivos 55
Atividade
/a t k w s l r v ɔ /
/p g y l z ʎ z i t s /
/v t o a p k d l r f /
/i a k x g b p s t o /
/l k u w y s z n r a /
CapítuloIII - TraçosDistintivos 55
Atividade
3)Paracadasegmentoaseguir,altereovalordotraçoentrecolcheteseidentifi-
queosegmentoresultante:
aquelequenãocompartilhadamesmaclassenaturalqueos demais.
(classe: obstruintes)/ t k f s n p b g /
(classe: vogais médias)/ e ɛ o ɔ a /
(classe: obstruintes)/ p b t d k g l ʃ ʒ /
(classe: não contínuas)/ d g v b k /
(classe: consoantes contínuas)/ f v s z p /
(classe: soantes)/ l r m n g ʎ ɲ /
CapítuloIII - TraçosDistintivos 56
Leia Mais
BISOL,L.(Org.).Introdução a estudosdefonologia
doportuguês
brasi-
leiro. PortoAlegre:Edipucrs,2005.
HAYES,B. Introductory
phonology
. Malden,MA:Willey-Blacwell,
2009.
ODDEN,D.Introducing
phonology
. London:CambridgeUniversityPress,
2015.
CapítuloIII - TraçosDistintivos 58
Capítulo 4
REGRASE
PROCESSOS
FONOLÓGICOS
Introdução Deacordocomosprincípiosdafonologiagerativa,conformedelineadano
SPE,o queexistenonívelfonéticoéo resultadodeaplicaçãoderegrasque
operamemumnívelinterno,denominado EstruturaProfundaouSubjacen-
te.Seguindoesseraciocínio,é comoseoindivíduodominasseumconjunto
finitoe bemdefinidode regrasfonológicasemsuamente,de modoque,
a partirda atuaçãodessasregras,fossemsendogeradasas represen-
taçõesno nívelda fala,o queincluia fonéticae possíveisvariações,por
exemplo.Portanto,umacriança,ao adquirirsua línguaou seu sistema
fonológico,estaria,naverdade,aprendendoumconjuntoderegrasecomo
operacionalizá-las.
seriamcapazes,por exemplo,
a criança,ao ser expostaa umdconjuntode
e fornecerumaavaliaçãosobrecomo
dados,constróia fonolo-
gia de sualíngua.Deummodogeral,as regrasfonológicasdevemter
Essesformalismossãovariadose,pormeiodeles,podemosrepresen-
taros diferentesprocessosfonológicos.
Osprocessosfonológicos,normalmente,
envolvemamudançaouo preen-
chimentodetraços.Noprimeirocaso,umsegmentocostumasofreralte-
raçãoemseustraçosemfunçãodostraçosdeumsegmentovizinho.No
segundocaso, um segmento,ainda não completamenteespecificado,
passaa terseustraçostotalmentepreenchidosporalgumaregrafonoló-
gica.Outrosprocessosaindapodemocorrerde
porexemplo:mudançadeposiçãodeumsegmento diferentesmodos,como,
napalavra
(metátese);
junturasintervocabulares
envolvendo
vogais– sândiexterno– (digontação,
elisão,degeminação);
inserçãodesegmentos(epêntese); apagamentode
segmentos,entremuitosoutros.Nãoé propósitodestecapítuloesgotar
os processosfonológicos,massimdardemonstraçãodealgunsdaqueles
quesãomuitocomunsnalíngua.É necessárioapontarquemuitosdesses
processosenvolvemníveisacimadafonologia,comoapalavraeafrase.
diferentesníveisquandonecessário.
lógico.Paraqueesseprocessoocorra,semprehaveráum gatilhoe um
alvo.Dogatilhoemanarãoostraçosrumoaoalvoquepodeestaràdireita
ouà esquerdadaquele.Assim,umpontoimportantea serdestacadonos
processosassimilatóriosé adirecionalidade
doprocesso,quepodegerar
assimilaçãoregressiva– maiscomum– ouprogressiva,menoscomum.
Naassimilaçãoprogressiva,
do alvo,enquanto o gatilhodaregraestarásempre
naassimilação àesquerda
regressivaocorreo inverso.
Portanto,
no primeirocaso,o elementoseguintese tornarámaissemelhanteao
i) Assimilaçãoregressiva
– alvoà esquerda
dogatilho
- de[st]
e >de[zd]
e
- dua[sk]amisas>dua[zb]lusas
Note-se que, nos dois exemplosanteriores,a consoante[+sonora]
- o o >o o
[jt] [tʃ]
- [muj]to>[mũj ̃
to]
iii) Palatalização
queaprovocouestálheseguindoeo processoédadireitaparaaesquer-
da.Se pensarmosemcasoscomo‘oito,jeito’,que,emalgumascidades
do Nordeste,se realizamcomo[oʧo], [jeʧo]
, dizemosquea assimilaçãoé
progressiva,poiso sentidoé daesquerdaparaa direita.
iv) Nasalização
observarqueesseprocessoacontecede formasdiferentes,
vênosexemplosa,be c a seguir.Ema)a vogal, comose
nasílabatônica,sempre
assimilaráo traço[+nasal]
daconsoanteadjacente;emb)a vogalocor-
a f[ĩ]no, t[ẽ]ma,c[ã]ma,s[õ]no,pr[ũ]mo
b f[i]nal/f[ĩ]nal;t[e]mático/t
[ẽ]mático;c[a]mada/c
[ã]mada;s[o]
nolento/s[õ] n olento;aprumado/apr m
[ũ] ado
v) Assimilação
dopontodearticulação
pelaconsoante
nasal
Emportuguês,comoemmuitasoutraslínguas,umsegundoprocessoque
envolveanasalidadedizrespeitoàassimilaçãodopontodearticulaçãoda
consoanteseguintepelanasalquea antecede.Empalavrascomo‘campo,
tombo,ponte,onde’,observarmosquea consoantenasaltemsempreo
traçodepontodaconsoanteseguinte.Dessaforma,seaconsoanteseguin-
te é umalabial,umadental/alveolar
ou umavelar,a consoantenasalque
antecedeserásemprelabial,dental/alveolar
ouvelar,respectivamente.
- ca[n]to,o[n]da
- ca[m]po,to[m]bo
Esse mesmo processo acontecerá quando as consoantes que seguem as nasais
vi) Assimilação
vocálica:harmonia
médiapretônica,comonosexemplosseguintes:
perigo > p[i]rigo
tradoem palavrascomo‘leste’e
muitopoucoprodutiva ‘desde’,no
a palatalização falarparaibano,
das oclusivas já que é
/t, d/ nessefalar.
Empalavrascomoasexemplificadas a seguir,o falante,emvezdereali-
zar a fricativa[s]como[+anterior]
, mesmacaracterísticadas oclusivas,
realiza-acomo[ʃ]e [ʒ], respectivamente,
ou seja,[-anterior].Comisso,
temosumprocessodissimilatório,o queimpedequeas consoantesno
mesmoambientefonológicosejamrealizadascomos mesmostraços.
de[zd]
e([([+anterior]
e[+anterior])
> de[ʒd]
e ([- anterior] e
[+anterior])
le[st]
e ([([+anterior]
e [+anterior]) > le[ʃt]
e ([- anterior]e
[+anterior])
Sândivocálico i)Degeminação:
junçãodeduasvogaisidênticasemfronteiradepalavras:
externo:
camisaamarela > ‘camis[a]marela’
degeminação,
elisãoe peleescura > ‘pel[i]scura’
iii) Ditongação:
nesse caso, a união das duas vogaispresentesna
fronteiradaspalavrasresultaemumditongo.
acercada língua.E o
seuscomponentes: isso porqueestamosfalandoapenasde
fonológico.No um dos
próximocapítulo,trataremosda
sílabano portuguêsbrasileiro.
1)Apontetodosos traçosquemudaramemcada
umadasseguintesregras:
[+anterior] → [- anterior]
c) /p/ → [f]
[-sonora] → [+sonora]
d)/o/ → [u]
f) /t/ → [tʃ]
[-contínuo] → [+contínuo]
g) /ʒ/ → [z]
[-contínua] → [+contínua]
h)/l/ → [ʎ]
[-nasal] → [+nasal]
a)O[z]aluno[ø]dedicado[ø]conseguemapr[ɔ]vação.
c) A gentesab[I]muitopoucodosba[ʃ]tidoresdo p[u]der.
[z] ditongação
[ø] alçamento
abaixamento
[ɔ]
alçamento
[ej]
palatalização
[dʒ]
palatalização
[I]
apagamento
[ʃ]
assimilação
[u]
BISOL,L.(Org.).Introdução a estudosdefonologia
doportuguês
brasi-
leiro. PortoAlegre:Edipucrs,2005.
HAYES,B. Introductory
phonology
. Malden,MA:Willey-Blacwell,
2009.
KENSTOWICZ,
M. Phonology
in generative
grammar
. Oxford:Blackwell
Publications,1994.
ODDEN,D.Introducingphonology
. London:CambridgeUniversityPress,
2015.
A SÍLABA
Introdução A sílabafigura,entreas entidadesfonológicas,como de fácil reco-
nhecimentoporpartedo falante.Nãose estranha,portanto,o fatode
umfalantenativo,emgeral,saberalgosobrea estruturasilábicadas
palavrasemsualíngua,sendocapazdeidentificaremseparadoa síla-
basdeumapalavra,o que,poroutrolado,podenãoacontecercomos
fonemas.Issolevaa crerqueo indivíduojátenhaumconhecimentoda
representaçãosilábicanamente,emborainconscientemente.
de representaçãoarbórea.Na sequência,trataremosdos
quesãoumaformadereorganização ditongos,
dasvogaisno interiordasílaba.
CapítuloV - A sílaba 70
Asílaba Dopontodevistadadescriçãolinguística,a sílabaéumdomínioneces-
esua sário para explicarinúmerosfenômenos.Vejamosa seguir alguns
paraa vogaldasílabapretônica.
col[ɛ]ga > c[ɔ]l[ɛ]ga pet[ɛ]ca > p[ɛ]t[ɛ]ca
b) Assimilaçãodevozeamento:a consoanteemfinaldesílabaassi-
milao traçodevozeamentodaconsoanteseguinte.
Todosos estudosatéentãorealizadossãounânimesaocompreende-
remquea sílabarepresentaumaescalade forçaentreos segmentos
que a compõemde modoa concluirque todasílabatemum pico de
sonoridade,ou seja,umelementomaissonoroe maisproeminente
auditivo que seus vizinhos. Seguindo esse raciocínio,
retomamos a descrição dos segmentosapresentadosnos
capítulosanterioresparademonstrarque uns são maissonorosque
os outrose
o pico que,portanto,
de sonoridade nemtodosestãoqualificadosparaocupar
da sílaba.Chamamosessa diferençade Escala
Sequênciade Sonoridade,conformeClements(1990),e atribuiremos
Nasais
: 1(/m,n,ɲ/)
Líquidas
: 2 (/l, ʎ,r,R/)
Glides
: 3 ([j,w])
Vogais
: 4 (/i, e,ɛ,a,ɔ,o,u/)
CapítuloV - A sílaba 71
A escala de sonoridade proposta por Clements (1990) é universal; portanto, refe-
re-se a todas as línguas do mundo. Há, contudo, variação, entre as línguas, no
comportamento que os segmentos assumem na sílaba. Por exemplo, no português
brasileiro, as vogais adjacentes ao núcleo dentro da mesa sílaba transformam-se
em glides, ocupando, assim, um grau de sonoridade menor do que as vogais que se
situam no núcleo.
O N L G V
[silábico] - - - - +
- - - + +
[vocoide]
[aproximante] - - + + +
[sonorante] - + + + +
Valordesonoridade 0 1 2 3 4
Quadro3 – Escaladesonoridade.
Fonte:
segmentosdemaiorsonoridade.Outraslínguas,comoo inglês,podem
ter segmentosmenossonorosque as vogaisno pico da sílaba.No
portuguêsbrasileiro,contudo,somenteumavogalpodeocuparessa
posição.Vejamos,pois,a seguir,comose configurao moldesilábico
emnossalíngua,emqueV equivalea vogal;C equivalea consoantee
o ponto(.)delimitaa fronteiraentreas sílabas:
a)SílabaV: a.ve,po.e.ta,cu.ri.ó
b)SílabaCV: ca.sa,pa.li.to,po.le.ga.da
c) SílabaVC: ar,al.to,as.ma
d)SílabaCVC: cor,por.tal,fer.vor
CapítuloV - A sílaba 72
e)SílabaCCV: flo.res.ta,cra.te.ra,la.cre
f) SílabaVCC: abs.tra.to,obs.tá.cu.lo
h)SílabaCVCC: subs.tan.ti.vo,pers.pi.caz
i) SílabaCCVCC: trans.pa.ren.te,claus.tro
Comosevê,então,nessesexemplosdoportuguês,asvogaissãoineren-
tementemaissonorasdoqueasconsoantesesóelasconstituemo pico
silábico.Outrofatoimportantesobrea sílabadoportuguêsdiz respeito
àsvogaisaltas/i/ e /u/ que,quandoaparecemnamesmasílaba,aolado
deoutravogal,perderãopartedesuasonoridadee nãofigurarãocomo
núcleo silábico.Nesses casos, elas se transformamem semivogais,
tambémdenominadasglides,formandoumditongo.É o queocorre,por
Hádiferentespropostassobrecomodarcontada
çãofonológica dasílaba.Aquiseráadotadaapenasmelhorrepresenta-
propostadeSelkirk
(1982),a partirda qualBisol (1999)traçouumestudoda sílabae seus
constituintesno portuguêsbrasileiro.
DeacordocomomodelopropostoporSelkirk,a sílabaérepresentada
numa
estruturaemformadeárvore
principalobedecem emqueosgalhosqueemanam
a umahierarquia. deumtronco
Nessaárvore,há cincoelementos,
a saber:o nóprincipal“σ”,queequivaleà própriasílaba;a Rima,
deondeemanao Núcleo“N”.
Essessãoos elementosobrigatóriosnasílaba.Há
aindao Ataque“A”,queequivaleao segmentoqueantecedeo Núcleoe
estádiretamente
ligadoaonódasílaba,e aCoda“Co”,quecorrespondeao
segmentoquesucedeo núcleo.
CapítuloV - A sílaba 73
O diagramaarbóreoa seguirrepresentaessahierarquia.Observemos
queos nósqueestãoentreparênteses(Ataquee Coda)sãoopcionais,
ouseja,hásílabasquenãopossuemesseselementos.Exemplosserão
apresentadosadiante.
Figura4 – Estruturaarbóreadasílaba.
Vejamos,detalhadamente,
a representaçãoda sílabano portuguêsa
partirdessaestrutura:
i) Núcleo
: comomencionadoantes,correspondeao pico da sílaba,ou
seja,a partedemaiorsonoridadenaestrutura.O núcleoestáanexadoà
Rimae,noportuguês,serásemprepreenchidoporumadassetevogais.
constituídaapenasdenúcleo,como“.e.”napalavra“mo.e.da”.
Figura5 – Representação
deumasílabaconstituídaapenasdenúcleo.
CapítuloV - A sílaba 74
iii) Ataque
: correspondeao elementoque antecedeo núcleo,tendo,
portanto,menorsonoridadequeasvogais.Emboraamaioriadassílabas
do portuguêsrequeiraAtaque,muitasdelasnãoo possuem.Háoutras,
contudo,quepossuemataquesramificados,ou seja,comduasconso-
antes;nessecaso,a consoantedaesquerdadeveráserdemenorsono-
ridadequeaconsoantedadireita,umavezque,rumoaonúcleo,a escala
desonoridadedeverásersempreascendente.Vejamosumexemplode
sílabaportadoradeAtaquecomplexo,comonapalavra“cru”.Figura6 –
Representação deumasílabaportadoradeAtaquecomplexo.
Figura7 – Representação
desílabaportadoradeCodacomplexa.
CapítuloV - A sílaba 75
A sílabanoportuguêsbrasileiroobedecea condiçõespróprias,umavez
quenemtodasas consoantesestãolicenciadasna línguaparaocupar
certasposições.Damesmaformaqueasconsoantesnãopodemocupar
aposiçãodeNúcleo,hárestriçõessobrequaisconsoantespodempreen-
cheras posiçõesde Ataquee Coda;ou aindaquaisconsoantespodem
ocuparasegundaposiçãodoAtaqueedaCoda,casosejamramificados.
Vejamos,a seguir,algumascondiçõesespecíficasdoportuguês:
CapítuloV - A sílaba 76
a) Ataques complexos formados pelas sequências ‘vl’ e ‘dl’
costumam aparecer no português brasileiro apenas em
nomes próprios, como “Vladimir” e “Adler”, consistindo,
pois, em ocorrências excepcionais.
b) Em palavras como “apto, psicologia, advogado, pneu”,
a estrutura silábica da língua será recuperada pela epên-
tese de uma vogal: ap[i]to, p[i]sicologia, ad[i]vogado/ad[e]
vogado , p[i]neu/p[e]neu.
dasílaba,poisnãoapresentamproeminênciaacentualparasero pico
doconstituinte.O portuguêsbrasileiroapresentadoissegmentosque
se caracterizamcomosemivogal:o [j], que,muitasvezes,é represen-
tadopelo[y], e o [w].
bo[j]/ bo[y]
pa[w]ta
me[w]
CapítuloV - A sílaba 77
Existe uma discussão em torno dessa questão: os glides devem ser considerados segmentos
vocálicos ou segmentos consonantais? Assumindo aqui a explicação de Câmara Jr., em seu
livro Estrutura da Língua Portuguesa, que usa como argumento o comportamento do ‘r’ na
palavra, consideramos o glide como um segmento vocálico, uma vez que, em fronteira silá-
bica, o ‘r’ é realizado como brando depois de vogal (ex.: mora) e forte depois de consoante
(ex.: honra). Nos casos de ‘r’ depois de um ditongo, este é realizado como brando (exe.:
Há também uma discussão sobre a existência e a classificação dos ditongos na Língua Portu-
guesa. Muitos linguistas (dentre eles Camara Jr., Leda Bisol) consideram que os verdadei-
ros ditongos são os decrescentes (formados por vogal + semivogal); eles defendem que os
ditongos crescentescom
variar livremente (semivogal
o hiato + vogal)
(ex.: não~existem
[swar] na Há,
[su.ar]). mente
nodo falante e, somente
português, portanto,um
podem
tipo
de ditongo crescente que não alterna com hiato: aquele tipo formado após as consoantes
oclusivas ou mais a semivogal , seguida de ou (ex.: “qual”;
[k] [g] [w] [a] [o] [kwaw] [igwaw]
CapítuloV - A sílaba 78
SegundoCâmaraJr., os ditongos existentesna Língua Portuguesa
classificam-seassim:
i)Ditongos
decrescentes:
[ej] “lei”
a[kwa]
tico “aquático”
a[gw]enta “aguenta”
tran[kwi]lo “tranquilo”
ling[gwi]ça “linguiça”
Algunsditongosdecrescentessofremvariaçãoe podemserrealizados
comoumaúnicavogalna fala,situaçãoemqueocorreo processoda
monotongação,isto é, quandoa semivogalda sequênciaé apagada.
Podemoschamá-losdefalsosditongos:
E x . :
c[aj]
xa ~ c[a]xa
f[ej]
ra ~ f[e]ra
c[ow]
ro ~ c[o]ro
qu[ei]
jo ~ qu[e]jo
CapítuloV - A sílaba 79
O processode monotongação,contudo,não ocorreem casos como
os exemplificadosa seguir,aos quais podemoschamarde ditongos
verdadeiros,emoposiçãoàquelesvistosanteriormente
e quechama-
mosdeditongosfalsos.
p[ej]to ~ *p[e]to
m[ej]ga ~ *m[e]ga
Para compreendermos
a sistematizaçãoda língua,é imprescindível
quelevemosemconsideraçãoo seurealfuncionamento. Nessesenti-
do,verificamosqueas pesquisasnaáreadaSociolinguísticaVariacio-
nista têm dadoumagrandecontribuiçãoparaos estudosda Língua
Portuguesano Brasil, revelandoo verdadeirocomportamentoda
língua(gem)usadaefetivamentepelaspessoasemcontextoconcreto.
CapítuloV - A sílaba 80
Atividade
1-Indique,pormeiodealgarismos,o graudesono-
ridadede cadaumdos segmentosquecompõem
a) pra.to
b) fal.ta
c) cau.le
d) re.ló.gio
e) pris.ma
f) es.col.ta
g) po.mar
h) car.ta
i) brin.co
j) cas.ta
k) e.di.fí.cio
l) mes.mo
CapítuloV - A sílaba 81
Leia Mais
BISOL,L.(Org.).Introdução a estudosdefonologia
doportuguês
brasi-
leiro. PortoAlegre:Edipucrs,2005.
CAGLIARI,L. C. Análisefonológica
. Campinas:MercadodeLetras,1997.
CapítuloV - A sílaba 82
RECAPITU
L ANDO
A distinçãoentre Fonéticae Fonologiadata do início do século XX,
principalmenteapósFerdinandde Saussureestabelecera dicotomia
dostraçosdistintivos.Nãodevemosesquecer,porém,queTrubetzkoy,
já na sua obra Principlesof Phonology,apresentaum conjuntode
oposiçõesque caracterizamos diferentesfonemas.As propostasde
Jakobsone seuscolaboradoresdãocontinuidadeaocaráteropositivo
presentenaobrade Trubetzkoy,procurandoassociarà suataxonomia
paraos traçoso aspectomaisacústicodo queo articulatório,estando
esteúltimoaspectopresentena propostade Chomskye Halle(1968).
Coma propostagerativistadessesúltimosautores,a Fonologiaassu-
Recaptulando 83
do mundono que concerneaos sons e suas interfaces.Nessarela-
çãoentreos sons,surgemnovosmodelosde análiseparalidarcomo
Recaptulando 84
Referências BISOL,L. Introduçãoa estudosdefonologiadoPortuguês
Brasileiro
.
6. ed.PortoAlegre:EDIPURS,2010.
CHOMSKY,N.;HALLE,M.Thesoundpatterns
ofenglish
. NewYork:Harper
andRow,1968.
HYMAN,L. M. Phonology:
theoryand analysis.NewYork:Holt,Rinehart
andWinston,1975.
1982.p. 337-383.
TRUBETZKOY,
N. S. Principlesof phonology.Berkley,Los Angeles:Univer-
sityof CaliforniaPress,1969[1939]
.
Recaptulando 85
INFORMAÇÕES DERMEVAL DAHORA : foi ProfessorTitularda UniversidadeFederalda
SOBREOS Paraíba;é ProfessorVisitanteda UniversidadeFederaldo Pará;possui
lica doestágiode
Bisol; Rio Grandedo Sul (PUCRS),sob
doutoradona orientaçãoda Profa.
TilburgUniversity(Holanda),
sobDr. Leda
super-
visãodo Prof. PhD Ben Hermans.Atuano Programade Pós-Graduação
Recaptulando 86