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UERJ – FACULDADE DE FORMAÇÃO DE

PROFESSORES
Disciplina: Língua Portuguesa VIII

TÓPICOS

EM

FONÉTICA

FONOLOGIA

DO

PORTUGUÊS

Prof. Eduardo Kenedy


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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS

1 Cronologia
– A classificação dos sons em vogais e consoantes remonta aos filósofos estóicos
gregos no séc. IV a.C.
– A partir do Sec. XV: invenção de aparelhos que possibilitaram as primeiras
tentativas de descrição fisiológica dos sons da fala, em base experimental.
– Sec. XVI: valorização da oralidade.
– Sec. XVII: estudo biológico da linguagem.
– Sec. XVIII: Fonética, como parte das ciências naturais.
– Vários trabalhos contribuíram para o desenvolvimento dos estudos fonéticos:
dentre eles, em 1780, Wolfgang Hellwag estudou o timbre das vogais e apresentou a
configuração triangular para os sistemas que têm apenas uma vogal de abertura
máxima, como o sistema vocálico português. Em 1791, o húngaro Kempelen
idealizou uma máquina falante, a primeira imitação dos ressoadores do órgão
fonador.
– Sec. XIX: a descoberta do sânscrito trouxe grande desenvolvimento aos estudos
fonéticos. → Lingüística comparativa histórica. → Fonética articulatória.
→ Leis fonéticas; foneticismo descritivo, como ciência natural ligado à Física e
Fisiologia.
→ novos aparelhos: palato artificial, laringoscópio, quimógrafo.
– Sec. XX:
→ Fonética experimental, com base em aparelhos especializados; descrição mais
acústica. A fonética se aproxima da ciência da linguagem (descrição física e
psicológica dos sons minuciosa).
→ A lingüística adquire o status de ciência.
→ 1928: surgimento da Fonologia → I Congresso Internacional de Lingüistas, em
Haia: Trubetzkoy, Jakobson e Karcevsky, membros do Círculo Lingüístico de Praga.
→ Definição do objeto próprio de investigação.

2 Distinção entre Fonética e Fonologia


(Obs.: Para alguns lingüistas, há duas ciências distintas: Fonética – estudo da
substância sonora, disciplina que não faz parte da lingüística; Fonologia – estudo da
forma, única ciência pertencente à lingüística.)
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Fonética Fonologia
– “estudo da substância sonora, – “análise dos sons, do ponto de vista de
enquanto fenômeno físico”; estudo sua função na língua.”; “função
dos sons da fala, vistos sob diferentes lingüística do som”
aspectos.
– estuda o sistema de sons; a função do
– estuda os sons em geral; som dentro do sistema de uma língua
características físicas e articulatórias natural; função distintiva.
→ fone / substância fônica – → fonema / forma fônica
– uma primeira abstração: a
representação fonética não traduz o
fone em si.

 Deve-se atentar para a inter-relação, a complementariedade entre os dois ramos.


 Três tipos de Fonética:
– (1) articulatória ou fisiológica, que estuda os órgãos fonadores e a maneira como
esses órgãos produzem os sons;
– (2) acústica, que analisa a estrutura física dos sons vocais;
– (3) auditiva, que estuda a percepção dos sons pelo ouvido humano.

– Fonética geral – quando estuda o conjunto das possibilidades fônicas do homem


através de todas as línguas X Fonética descritiva – quando analisa as
particularidades fonéticas de uma determinada língua.
– Para Mattoso Câmara Jr., nesse caso, estar-se-ia tratando de FONÊMICA. À
Fonologia caberia o estudo mais teórico e geral dos conceitos relacionados à
função dos sons produzidos, à FONÊMICA caberia a tarefa de descrição dos
fonemas de um língua específica.
– Fonética instrumental ou experimental – quando utiliza aparelhos destinados à
análise dos sons.

 Conceituação de fonema: som vocal, considerado elementar num sentido


meramente lingüístico, capaz de manter uma relação opositiva entre dois ou mais
sons da fala, distinção significativa entre vocábulos da língua.
– um som que, no interior de um sistema fônico determinado, tem um valor
diferenciador, isto é, vai assegurar a diferenciação entre pelo menos dois
vocábulos.
– a menor unidade fônica sem significado nela própria, mas com valor distintivo.
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3 Conceitos básicos relacionados à noção de fonema

3.1 Alofone — variante de um fonema, som vocal elementar percebido de forma


diferente causado pelo ambiente fonético, pelo registro ou pelo estilo.
3.2 Arquifonema — o fonema que resulta de uma neutralização.
3.3 Neutralização — o desaparecimento do traço distintivo que caracteriza um dos
fonemas em face do outro. Os alofones da consoante nasal [n] alveolar (lenda.
venda); labial (campo, bamba); velar (sangue, banco); palatal (ganso, lenço) > N,
perdendo as características fonéticas não distintivas.
3.4 Debordamento ou harmonização vocálica — flutuação dentro do sistema, que
atrofia ou hipertrofia elementos dele; tendência a harmonizar a altura da vogal
pretônica com a da vogal tônica quando esta é alta. Exemplo: /koNpridu/
comprido (longo) X /kuNprido/ (de cumprir).
3.5 Variante posicional — assimilação aos traços dos outros sons contíguos ou um
afrouxamento ou mesmo mudança de articulações em virtude da posição fraca
em que o fonema se encontra. Exemplo: tira, ditado X tua, tela, docas.
3.6 Variante livre — quando os falantes divergem na articulação do mesmo fonema
ou um mesmo falante muda a articulação conforme o registro em que fala (não
interfere na compreensão). Pode ser determinada por fatores extra e
intralingüísticos de forma predizível (existe até no nível do idioleto). Exemplo:
[Ká~ru] ou [káhu] (carro).
3.7 Processos fonológicos — podem ser agrupados da seguinte maneira:
 processos que acrescentam traços:
– assimilação: nasalização (cama); palatalização (tira, dia);
– harmonização vocálica e metafonia: m[i]nino, f[u]rmiga; metu > medu
diacronicamente, f[o]rmosos, c[o]mpostos rejeitados pela norma culta;
 processos que inserem segmentos: ditongação, epêntese etc. rapa[y]z, ad[i]vogado;
 processos que apagam segmentos: síncope (meio), aférese (início) e apócope (fim):
o[kl]os, peraí, xí[kr]a;

Os diferentes modos por que o fluxo de ar é modificado permitem o


estabelecimento de duas grandes classes de sons: a classe das consoantes e a das vogais
(Callou & Leite, 1994).

4 Sistema consonantal da língua portuguesa do Brasil


Para dar início ao estudo do sistema consonantal da língua portuguesa,
apresento, em seguida, a tabela fonética consonantal do português de Silva (1999: 37),
bem como o um quadro ilustrativo com palavras em que figuram os segmentos da
referida tabela (op. cit.: 37-40) e uma reprodução da tabela fonética internacional (op.
cit.: 41).
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4.1Abordagem estruturalista para os fonemas consonantais do português

→ Estruturalismo europeu: discussão acerca de como os fonemas se organizam nos


sistemas fonológicos das línguas naturais.
→ Estruturalismo norte-americano: aplicação dos princípios estruturalistas de análise
à descoberta dos fonemas das línguas naturais.
– método mecanicista – dentre os sons, quais eram os distintivos para se descobrir o
sistema lingüístico.
– contraste (características simultâneas que identificam uma unidade êmica e a
distinguem de outras unidades), distribuição (ocorrência de uma unidade como
membro de uma classe, elemento numa seqüência de segmentos, e parte
funcional de um sistema); variação (unidades êmicas podem variar quanto às
suas manifestações éticas (livre ou condicionada).
– distribuição complementar: a presença de um traço num ambiente fonético indica
a ausência de um outro neste mesmo ambiente. (Ex.: onde se usa /t /, ocorre a
africação de t, não se usa /t/) – onde está um, o outro não está.
– par mínimo / par análogo tato e tatu.

– Consoantes são vibrações aperiódicas ou ruídos ocasionados pela obstrução total ou


parcial da corrente de ar devido à ação de dois articuladores, obstrução que se
traduz numa redução da energia total do espectro acústico.
– MIRADOR (verbete: Fonética e fonologia): consoante é um som que apresenta um
obstáculo parcial ou total à passagem do ar que atravessa as cavidades
supraglóticas.

MATTOSO CÂMARA JR. (1987):


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– O quadro de consoantes do português caracteriza-se por uma grande


predominância de consoantes oclusivas (oclusão de órgãos fonadores em qualquer
ponto da boca, e resultam de uma momentânea interrupção na emissão da corrente
de ar dos pulmões).

 Modo de articulação
– Oclusivas: resultam do fechamento total do canal expiratório por um dos órgãos da
fala (catástese - preparação dos órgãos para produzi-la; tensão - momento da
posição exigida para a sua realização; metástese - relaxamento dos órgãos). São
chamadas explosivas (no início da sílaba) e implosivas (no fim); oclusivas aspiradas
(quando produzidas com o sopro após a explosão).
– Fricativas: estreitamento da passagem de ar em um ponto qualquer do canal
expiratório, pela ação de um articulador em um dos vários órgãos da fala.
– Africadas: realização oclusiva mais fricativa, no mesmo ponto de articulação, é
quase simultânea. A metástese realiza-se lentamente, originando fricção. Inicia-se
como uma oclusiva e termina como fricativa (Callou & Leite, 1994).
– Nasais: uma parte da corrente do ar expirado passa pelas fossas nasais e outra, pela
boca. A ressonância nasal é contínua, a articulação bucal é momentânea.
– Laterais (contínuas): há um abaixamento dos lados da língua, liberando a passagem
do ar, enquanto a ponta ou dorso permanece em contato com o lugar de articulação
característica da consoante produzida.
– Vibrantes: caracteriza-se por uma articulação que compreende a saída livre do ar,
interrompida por uma ou várias oclusões, devidas às vibrações do órgão articulador
no momento da passagem de ar. Simples: uma só oclusão; múltipla: várias
oclusões. A realização ápicodental é a mais comum. Também há a realização velar
no RJ (múltipla velar passa a fricativa).

 Papel das cordas vocais (força articulatória: fortes e lenes) – surdas e sonoras.

 Pontos de articulação: bilabiais, labiodentais, apicodentais, ápico-alveolares,


dorsopalatais, dorsovelares, faringais, etc.

– Câmara Jr. (1953): as consoantes não constituem centro de sílaba e aparecem sempre
ao lado de uma vogal:
 consoantes pré-vocálicas (posição explosiva), ou pós-vocálica (posição
implosiva). Essas posições correspondem a uma diferença articulatória:
a) pré-vocálica: domina a fase articulatória final, em que se desfaz uma obstrução e é
superado o impedimento bucal à passagem da corrente de ar. Nessa posição, cabe
ressaltar a consoante entre duas vogais, em que ocorre um enfraquecimento
articulatório e o aparecimento de alofones (r, l, n - rr, lh, nh).
b) pós-vocálica: a articulação concentra-se na fase de cerramento, e o abrimento bucal,
que produziu a vogal silábica, se reduz ou anula para criar o elemento consonântico
de travamento da sílaba.

Outras classificações:
 CLARK & YALLOP (1990): os sons consonantais mostram uma maior constrição do
trato vocal do que os sons vocálicos e tem menos proeminência. As vogais são
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normalmente centrais e nucleares nas sílabas; as consoantes, marginais ou


periféricas.
– A diversidade de articulação das consoantes oferece menos possibilidades para se
construir uma estrutura semelhante a das vogais cardinais.
– As consoantes podem ser descritas segundo:
1) os pontos de articulação (da frente do trato vocal - anterior -, para o fundo -
posterior);
2) os modos de articulação (do cume para o fundo (da oclusão, com constrição
máxima, através das fricativas para várias consoantes produzidas com menos
constrição);
3) serem vozeadas ou desvozeadas.
– Esse esquema ignora alguns traços de articulação como postura da língua.

 PIKE — critica o IPA, procura dar conta de todos os mecanismos articulatórios que
são válidos para os humanos. Seu objetivo é observar todos os tipos de ruídos/sons
produzidos pelos humanos, mais do que descrever os sons conhecidos que ocorrem
nas línguas. Com relação aos mecanismos articulatórios, menciona possibilidades
exóticas com a produção de oclusão ingressiva.

 PETERSON & SOUP (1966) – usam uma descrição articulatória primária em termos
de ponto e modo, além de adicionar uma série de parâmetros secundários para
fornecer o detalhe descritivo necessário sobre o fluxo de ar, a corrente de ar e modo
de fonação. Diferem do IPA quanto ao ponto e modo de articulação, pois
estabelecem o modo de articulação de acordo com o grau de fechamento (do maior
para o menor) e especifica pontos de articulação horizontal (lábio para a glote) e
vertical (altura da língua). Esse sistema não tem sido amplamente usado.

 CATFORD (1977) seu objetivo é dar conta de todas as possibilidades articulatórias


do homem (antropofônica). Enfatiza a descrição da atividade aerodinâmica nos
processos articulatórios, e oferece categorias mais detalhadas para especificar
pontos articulatórios (língua e lábios) mais do que o usado
tradicionalmente. Considera a inconsistência de usar diferentes sistemas descritivos
para as vogais e consoantes, mas conclui que o método tradicional baseado em
vogais cardinais permanece o mais prático.

 Outras descrições: Jakobson et alii (1952), Jakobson & Halle (1956), Chomsky & Halle
(1968) e Ladefoged (1971/1982): usam ponto e modo de articulação, mais a teoria de
Pike, na tentativa de capturar tudo o que é fisicamente possível, para dar conta da
diversidade de sons observada nas línguas. Critérios utilizados para a descrição das
consoantes: local no trato vocal (labial, alveolar, pós-alveolar, palatal, velar, uvular,
faringal e glotal); posição da língua; modo de articulação; estreitamento; força (forte
e lene); duração (longas e breves); ascendência sonora (voice onset).

 Sobre o “s” implosivo: o processo de neutralização ocorre freqüentemente entre as


consoantes da língua portuguesa. Callou & Marques (1975), num estudo
sociolingüística da fala carioca, procuraram mostrar como se realiza o arquifonema
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na linguagem carioca, levando em conta os condicionamentos a que estariam


sujeitas as realizações. Os contextos:
a) posição final absoluta;
b) final de palavra, diante de consoante (ás de espadas);
c) final de sílaba, no interior de palavra (espadas);
d) final de palavra, diante de vogal (lápis azul).

– Concluíram que só é categórica a realização como fricativa alveolar sonora (z)


quando o segmento fônico se encontra em final de palavra diante de vogal  um
piri[z] e uma xícara.
– Em posição medial observam-se as seguintes realizações:
a) fricativa alveolar surda  e[ s ]quilo;
b) fricativa alveolar sonora  a[ z ]no;
c) fricativa palatal surda  ago[ s ]to;
d) fricativa palatal sonora  cis[ z ]ne;
e) fricativa laríngea (aspiração)  ja[ h ]mim;
f) zero fonético (tanto em posição final de palavra — óculo por óculos —, como em
posição medial — catiçal por castiçal —, o -s implosivo não é realizado).

– Portanto a realização da consoante está sujeita a uma regra de assimilação: o


segmento fônico se realizará como sonora diante de sonora (consoante ou vogal) e
como surda diante de consoante surda.

 Sobre a vibrante:
– CÂMARA JR. (1953) — o /r/ inicial apresenta como variante facultativa uma
realização velar.
– Já o /r/ brando (intervocálico) contrasta com o /r/ forte (caro-carro, muro-murro).
– Uma primeira solução seria distinguir dois fonemas vibrantes em português, que se
contrastam em posição intervocálica, e que, em posição inicial, se reduzem a um
arquifonema representado pelo /r/ forte. Segundo Mattoso, o /r/ forte pode ser
considerado um aspecto especial do /r/ brando, em virtude de um maior número
de vibrações (/r/ múltiplo).
– Sistema consonântico latino: havia um único /r/, que podia ser geminado como
qualquer outra consoante. Não se tratava de um /r/ múltiplo em contraste com um
/r/ simples, mas apenas um grupo de duas consoantes iguais, entre as quais incide
a fronteira silábica, à maneira de qualquer outra geminação. O /r/ consonântico do
português corresponde a um enfraquecimento do /r/ simples latino em
conseqüência da posição intervocálica. O /r/ múltiplo prolonga o /r/ latino,
mantido em posição inicial ou medial não-intervocálica (rei, Israel, genro, erra).
– Porém, a análise fonêmica não pode apoiar-se num plano diacrônico, mas no
sincrônico. Notem-se:
1) a ausência do /r/ brando em posição inicial ou medial não intervocálica
(diferentemente de /z/ e /s/ que figuram em início de vocábulo ou medialmente,
depois de sílaba fechada — zelo/selo —, o que os coloca como fonemas distintos);
2) a anulação fonética do primeiro elemento de uma geminação consonântica continua
a ser regra viva em português.
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– Em vista disso, o Câmara Jr. conclui que o /r/ brando é um mero alofone de posição
intervocálica.
– Fonemicamente, corresponde a um enfraquecimento, à maneira do que sofreu o
/b/, o /d/ e o /g/, determinado por essa posição.
– A vibrante /r/ apresenta, além do alofone posicional — /r/ brando —, uma
variação livre como velar, que no sistema da língua substitui a sua vibração anterior
múltipla.
– CÂMARA JR. (1987): é preciso se levar em conta a posição mais favorável ao
desdobramento de todo o elenco das consoantes. A posição preferencial é a de
primeira consoante antes da vogal da sílaba, mas a consoante pode se encontrar em
posição intervocálica, separando duas sílabas, ou não-intervocálica, quer no início
de vocábulo, quer medial, depois de outra consoante da sílaba precedente (caro,
rato, genro).
– Conclui o autor que as consoantes intervocálicas, em português, apresentam-se um
tanto enfraquecidas pelo ambiente vocálico, em cujo meio se acham. São, por isso,
alofones posicionais das não-intervocálicas correspondentes, de articulação muito
mais firme.
– Pode-se dizer que, em posição não-intervocálica, há neutralização das oposições
entre /r/ forte e /r/ brando. Não há nenhum /r/ brando inicial, ou seja, existem
duas vibrantes que só se opõem em posição intervocálica, com neutralização nas
outras posições.

– CALLOU & LEITE (1994) — Tradicionalmente, diz-se que há apenas duas espécies
de r que se opõem fonologicamente apenas em posição intervocálica (careta/carreta,
tora/torra) embora o r ocorra em outros contextos: a) inicial (rato); b) final de sílaba
no meio de palavra (corta); c) final de palavra (bilhar); d) como segundo elemento
de grupo consonântico (prato).
– A existência de apenas duas vibrantes que se opõem em posição intervocálica
implica em dizer que nos outros ambientes a oposição é neutralizada.
1) em posição inicial só corre o r forte (múltiplo);
2) como segundo elemento de grupo consonântico ocorre de preferência o r fraco
(simples);
3) em posição pós-vocálica pode ocorrer um ou outro.

– No RJ, parece predominar a ocorrência (3), a não ser quando se encontra seguida de
palavra iniciada por vogal, contexto em que se realiza como vibrante simples,
passando de pós-vocálica a pré-vocálica.
– Em posição final absoluta, a consoante é débil e a sua ausência é muitas vezes
compensada por uma maior duração da vogal precedente (cantá, falá, escrevê).
– Segundo Callou & Leite (1994), Câmara Jr. (1953) afirmou que existia um único
fonema vibrante. Mas, em trabalhos posteriores concluiu, com base na realidade
fonética, que existem duas vibrantes, que só se opõem em posição intervocálica,
com neutralização nas outras posições.
– Callou (1987): O r fraco realiza-se quase sempre como uma vibrante apical simples
(tepe alveolar sonoro), podendo ser realizada como retroflexo (como o seu
correspondente forte).
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– O r forte varia mais amplamente na sua realização e apresenta no falar culto carioca
as seguintes variantes:
1) vibrante múltipla anterior ápico-alveolar sonora [ r ];
2) vibrante múltipla posterior-uvular [ ρ ];
3) fricativa velar surda [ x ];
4) fricativa laríngea ou glotal (aspiração) surda [ h ];
5) zero fonético ou vibrante simples [ r ] quando a palavra seguinte se inicia por vogal.

– Informações históricas:
– As autoras reafirmam o que diz Câmara Jr. a respeito das geminadas /-rr-/:/-r-/: a
oposição era puramente quantitativa e só mais tarde passou a apresentar uma
diferenciação qualitativa.
– A substituição de vibrações apicais por vibrações uvulares e velares do /R/ em
português parece datar de fins do séc. XIX (Vianna, 1973).
– A articulação anterior do r forte foi substituída por uma realização posterior em
português e em outras línguas românicas.
– Explicações:
1) mudança em função da tensão necessária para articular as vibrações que produzem
um r ápico-alveolar;
2) outros lingüistas preferem ver na passagem da articulação velar vibrante para uma
velar fricativa e desta para uma aspiração um processo de relaxamento e
comodidade articulatória.

– As gramáticas atuais apontam as diversas realizações do “R” forte no português do


Brasil: normalmente velar no RJ, ápico-alveolar no RGS e linguopalatal velarizada
(retroflexo) no norte de SP e sul de MG (dialeto caipira).

– Em relação à oposição fonológica das duas vibrantes, em posição intervocálica


deve-se ressaltar que a marca de oposição entre / r / e / rr / consistia
fundamentalmente na quantidade de vibrações e que durante o processo de
evolução tal marca foi substituída por outra de natureza diversa.
– A oposição quantitativa foi substituída por uma do tipo qualitativo com a mudança
do ponto de articulação de anterior (alveolar) para posterior (uvular ou velar) e de
vibrante forte para fricativa. A mudança de modo de articulação, de vibrante
posterior para fricativa posterior, determinaria uma reestruturação do sistema
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consonântico do português do Brasil, pelo menos no RJ, que passaria a apresentar


mais uma oposição de caráter qualitativo (vibrante anterior X fricativa posterior).
– A explicação para a causa da mudança de vibrante para fricativa estaria talvez no
caráter consonântico definido e absoluto do som fricativo. As fricativas possuem
uma abertura articulatória mínima bem como uma energia articulatória e
intensidade muscular consideráveis, sendo sons que podem estabelecer um intenso
contraste fônico com os sons vocálicos em contato na sílaba (processo de
intensificação ou reforço do caráter consonântico, chegando a uma fricativa).
– Em posição final de vocábulo há mais de uma realização: vibrante simples anterior e
a realização zero (a não preservação do segmento fônico nesse contexto estaria
relacionada à linguagem popular, mas, na fala culta do RJ, verificou-se que essa
realização entremostra uma tendência à simplificação da estrutura silábica,
independente do tipo de linguagem utilizada, embora possa estar condicionada a
outros fatores de natureza lingüística e extralingüística). Exemplos: infinitivos -
vendê, torná.
– A realização fônica da consoante que ocorre com maior freqüência nesse contexto é
a aspiração (fricativa laríngea ou glotal - /x/ e /h/).

4.2 Abordagem gerativista para os fonemas consonantais do português

→ Gerativismo (Chomsky) – Sound Patterns of English → dentro da teoria


gramatical de Chomsky – competência fonológica internalizada.
– está centrado na competência lingüística internalizada.
– atribui uma interpretação fonética às descrições dos enunciados produzidos pelo
componente sintático de forma a garantir (em termos de produção e percepção) a
“conexão intrínseca” dos sons aos aspectos sintáticos e semânticos da linguagem.
– análise gerativa – estabelecimento de hipóteses → indícios para gramáticas
fonológicas, perspectiva processual: processo fonológico operante nas línguas
naturais.

– O sistema de traços:
→ A noção de traço distintivo foi proposta por Jakobson.
→ Assim como na Física tem-se o átomo subdividido, na Fonética, o fonema é
subdividido em um número mínimo de traços distintivos.
→ O sistema de traços, segundo JAKOBSON, FANT & HALLE (1951), é postulado
através de uma base acústica, acompanhada de uma definição articulatória.
– há um inventário universal de 12 traços distintivos que possuem correlatos
físicos precisos e que podem explicar quaisquer semelhanças ou diferenças entre
fonemas nas línguas do mundo.
– Os traços são entidades discretas (não-contínuas, pontuais) e dicotômicas
(ausência ou presença de uma determinada propriedade).
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Traços:
– anterior e coronal – ponto de articulação
– contínuo – relacionado ao modo de articulação
– sonoro – relacionado ao modo de emissão
– lateral, nasal e soante – traços de classe

 Quadro com matriz fonológica das consoantes do português

– Se comparado ao quadro da classificação fonética tradicional:


[+contínuo] reúne fricativas laterais e vibrantes (sons em cuja produção o ar sai sem
interrupção);
[+anterior] reúne as labiais, dentais e alveolares;
[+coronal] reúne alveolares e palatais;
[+soante], líquidas (laterais e vibrantes) e nasais (sons produzidos sempre com
vibrações das cordas vocais).

Exemplo da abordagem gerativa para a explicação da alofonia dos fonemas /t/ e /d/:

t  ts / _____i
d  dz / _____i

5 Sistema vocálico da língua portuguesa

Dois quadros são apresentados em seguida: o primeiro ilustra a relação entre


arredondamento (ou não) dos lábios e a altura da língua na articulação de segmentos
vocálicos; o segundo, os símbolos adotados pela Associação Internacional de Fonética
para a transcrição desses segmentos.
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5.1 Abordagem estruturalista para os fonemas vocálicos do português

 MATTOSO CÂMARA JR. – classificação toma por base a localização articulatória, a


elevação gradual da língua (correspondente ao abrimento bucal) e o arredondamento
dos lábios.
– Esse sistema completo de 7 vogais só funciona em sílaba tônica. Em relação às
átonas ocorre neutralização dependendo da posição que esta ocupa. Assim, temos o
seguinte quadro:
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a) Posição postônica final (atonicidade máxima): sistema reduzido a 3 vogais (/i/,


/a/, /u/) devido à neutralização de fonemas: /i/-/e/-/ / > / /; u/-/o/-/ / >
/ /. Exs.: júri – jure; anos – ânus;
b) Posição pretônica: sistema reduzido a 5 vogais em decorrência da neutralização
de fonemas /e/-/ / e /o/-/ /). No RJ, fixação da pronúncia /e/ e /o/. Exs.:
perigo – p[i]rigu (pronúncia nordestina).

– A instabilidade desse sistema de 5 vogais fica patente em exemplos como


“coruja”, “feliz”, “menino”, “gorila” em que passa a funcionar um sistema de 3
vogais semelhante ao de posição átona final.
– o quadro de vogais também se reduz devido ao debordamento:

 Neutralização X Debordamento:

– Debordamento: em certas posições da cadeia falada, cria-se uma flutuação na


escolha de um ou outro fonema da oposição; “flutuação dentro do sistema, que
atrofia ou hipertrofia elementos dele. Não há neutralização, uma vez que a
oposição se recria para fim de clareza comunicativa”(CÂMARA JR., 1987):
cumprido/comprido; pear/piar; soar/suar.

– A neutralização (uma espécie de debordamento levado ao seu grau máximo) vem


sempre de um processo de debordamento. Trata-se de um debordamento que já
tem seu grau fixo dentro do sistema.

– As vogais pretônicas dão margem a uma flutuação muito grande de pronúncia,


ou seja, o sistema das vogais pretônicas é muito instável no português do Brasil.

– O debordamento vai dar-se em posição pretônica. Em posição tônica, não há


qualquer tipo de neutralização.

c) Posição postônica não-final: sistema reduzido a 4 vogais (em


proparoxítonos). Exs.: mág[u]a, (crítica: exemplo comprometido por causa da
posição de hiato que favorece o alteamento), ób[u]lo (unidade de peso, esmola),
pér[u]la, íd[u]lo, man[a]da, núm[e]ro, dív[i]da, alfând[e]ga, almônd[e]ga, anáf[o]ra,
catáf[o]ra, Pitág[o]ras.

– CÂMARA JR. argumenta que a grafia com <o> ou <u> em “pérola” é uma mera
convenção e que uma pronúncia como núm[i]ro é logo rechaçada. Afirma que há
distinção entre /e/ e /i/, “embora seja difícil encontrar pares opositivos
mínimos”. Não há oposição de significado entre núm[i]ro ou núm[e]ro (as duas
realizações são possíveis).
– O que essencialmente caracteriza as posições átonas é a redução do número de
fonemas.

d) Posição subtônica: as 7 vogais vão ser realizadas: exs.: cafézinho, cipózinho,


certamente.
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– O quadro de 7 vogais só funciona completo em posição tônica ou subtônica.

5.2 Abordagem gerativista para os fonemas vocálicos do português

5.3 Interpretação dos segmentos vocálicos nasais/nasalizados do português

5.3.1 Considerações históricas


Na evolução do latim ao português, a queda da consoante intervocálica -n-
acarretou a nasalização da vogal precedente e gerou um grande número de palavras
com vogais contíguas em hiato. Tais hiatos foram desfeitos por diversos processos,
dentre eles, o desenvolvimento de uma consoante nasal entre as vogais como é o caso
de [ ] palatal surgida de [ ] em hiato:
vinu > vi-o > vinho; gallina > gali-a > galinha
Nos casos de vogais iguais, houve crase, formando uma vogal nasal, se uma
delas fosse nasal:
lana > lã-a > lã; tri-inta > trinta
Segundo TEYSSIER, tal evolução não acarretou mudanças profundas no
sistema fonológico, pois já havia tais fonemas: [ i, e, ã, õ, u], com exceção do [ ].
Por volta do séc. XIV, as formas am(an) ou on (om) convergem para -ão, tanto
nos nomes como nos verbos:
man, can, leon > mão, cão, leão; dan > dão; enton > então; non > não
Nessa fase, o til (~) na grafia já era utilizado como sinal de abreviação para
indicar a nasalidade da vogal, mas havia divergências ortográficas:
razõ, razom, razon

5.3.2 Abordagens tradicionais


No sistema atual, o ponto que problematiza a discussão sobre as nasais
centra-se na interpretação da nasalização portuguesa. A NGB e alguns estudiosos
consideram a existência de vogais nasais que se opõem às orais.
20

• BECHARA, (1987): descreve como são representadas em final de vocábulo; podem


figurar em sílaba tônica, pretônica ou átona; iniciais ou mediais; nasalidade é
expressa por m antes de p e b e n antes de outras consoantes.

• ROCHA LIMA (1996): (classificação quanto à ressonância das cavidades bucal ou


nasal: oral ou nasal). /ã/, /e/, /i/, /õ/, /u/ > produzidas com abaixamento do véu
do paladar, o que faz com que se divida a coluna de ar entre a boca e as fossas nasais,
produzindo uma ressonância nasal. São representadas na escrita por cinco letras (a, e,
i, o, u) seguidas de m ou n.

• CUNHA & CINTRA (1985): apresentam as vogais nasais, classificando-as quanto


ao ponto de articulação, arredondamento dos lábios e timbre. Menciona
interpretação Mattoso Câmara Jr., que se opõe à visão tradicional, em observação
sucinta.

A interpretação das gramáticas tradicionais e de alguns estudiosos


estruturalistas (Sten, 1944; Lüdke, 1953, Head, 1965 e Mata Machado, 1981)
acarretaria a ampliação do quadro vocálico para 7 vogais orais e 5 nasais.

5.3.3 Abordagens estruturalistas

 CÂMARA JR. (1987)


Interpreta a dita vogal nasal como a combinação de dois fonemas distintos:
vogal + elemento consonântico nasal. Considera o elemento nasal que trava a sílaba
como um arquifonema /N/ que apresenta diferentes realizações dependendo do
contexto subseqüente:
• consoante alveolar [n] (lenda, venda, lento)
• consoante labial [m] (campo, bamba, bomba)
• consoante velar [ ] (sangue, banco)
• consoante palatal [ ] (ganso, lenço)
• pausa 0

O autor refuta o argumento de que o falante/ouvinte sente a nasalidade que


envolve a vogal, mas não percebe o elemento consonântico pós-vocálico,
considerando-o um argumento de ordem psicológica, que não cabe à Lingüística
moderna. Deve-se pôr de lado qualquer argumento que apela ao “sentimento” do
falante, pois a língua é uma estrutura e os falantes podem ter uma compreensão
inexata ou deficiente dela.
Em favor de sua interpretação fonológica das vogais nasais, CÂMARA JR.
apresenta quatro argumentos, que são refutados por Callou & Leite (1990):
21

• Argumentos de Câmara Jr. (1987) • Contra-argumentos de Callou &


Leite (1990)
1) A inexistência do contraste entre 1) Para LÜDTKE, esse argumento não é
vogal oral, vogal nasal, vogal oral + válido para o PE: [‘vi]/[‘vi]/[‘vim] – vi,
consoante nasal do tipo do francês vim, vime.
[‘bo]/[‘bõ]/’[‘bon] – beau, bon, bonne.

2) A sílaba com a vogal “nasal” se 2) O exemplo. “jovem amigo” admite


comporta como sílaba travada por realização com ou sem nasalização,
consoante. Quando seguida de palavra ditongada ou não: [ ] ~
iniciada por vogal, não sofre crase. Ex.: [ ]~
lã azul, jovem amigo, bom homem. [ ]~
[ ].
“Quando numa seqüência o vocábulo
seguinte começa também por consoante
nasal podemos pressupor uma
pronúncia contrata dos elementos em
que a nasalidade da vogal se mantém,
por ex., em ‘recém-nascido’:
‘rec[e]nascido’.”

3) Depois de vogal nasal só se realiza 3) O /r/ forte também ocorre em


um /r/ forte e nunca o brando, próprio posição intervocálica.
de posição intervocálica.

4) No interior do vocábulo, não há em 4) Estudo diacrônico: tendência


português vogal nasal em hiato: a evolutiva da língua = perda da
nasalidade que envolve a vogal nasalidade da vogal em hiato. Registra-
desaparece (bom – boa) ou o elemento se, na fala popular, a forma [‘lua] em 11
consonântico nasal se desloca para a pontos do estado da Bahia, em homens
sílaba seguinte (valentão - valentona) e mulheres de áreas e faixas etárias
diversas. (cf. carta 1 do Atlas prévio dos
falares baianos)

 HALL (1943)
Considera a vogal nasal um alofone do fonema oral correspondente, ao qual
se sobrepõe a nasalidade. Trata-se de um fenômeno supra-segmental, um fonema
não-linear, que, do mesmo modo que o acento, poderia afetar os fonemas silábicos.

 CAGLIARI (1977, apud Callou & Leite, 1990)


Em estudo experimental sobre as vogais nasais na variante paulista mostra
que: (1) o condicionamento do som consonântico de transição pode variar a depender
da consoante subseqüente; (2) pode ocorre ou não segmento consonântico nasal e
22

quando ocorre não é detectável pelo ouvido; (3) é possível uma realização não
nasalizada da vogal seguida de um travamento consonântico ([fi ka]).

5.3.4 Abordagens gerativas

5.3.4.1 Interpretação monofonêmica


Para LEITE (1974), a vogal nasal está presente na representação de base, na
matriz fonológica. A autora postula não só vogais nasais subjacentes como também
vogais nasais derivadas. “Assim, sílabas terminadas em vogais nasalizadas como
‘lã’, ‘fim’, ‘botão’, ‘minto’, ‘lâmpada’ têm uma vogal nasal subjacente, e o travamento
nasal, que pode ou não ocorrer, se deve à aplicação de uma regra facultativa
meramente fonética” (CALLOU & LEITE, 1990: 89).
Com vistas a uma maior economia na representação lexical dos morfemas,
simplicidade de aprendizagem etc., no enfoque mais abstrato da fonologia gerativa a
vogal nasal portuguesa é interpretada como uma entidade fonética gerada por meio
de regra(s) a partir de uma vogal oral seguida de consoante nasal. A(s) regra(s)
fonológica(s) de nasalização, associada(s) à representação fonológica em que aparece
a consoante nasal, refletiria(m) a regularidade existente na língua, pois se espera que
os falantes reconheçam como a mesma entidade lingüística os morfemas que
alternam com a presença versus ausência de consoante nasal em ‘lã’ e ‘lanígero’, ‘tom’
e ‘tonal’, ‘som’ e ‘sonoro’.

• 1a regra de PERINI, 1971)

vogal torna-se nasal quando acentuada antes de consoante nasal;


quando acentuada ou não, antes de consoante nasal seguida de consoante;
ou antes de consoante nasal em final de vocábulo.

Tal regra dá conta de: c[ã]minha (cama pequena) X c[a]minha (3a. p. sing.
pres. do ind. de caminhar).

“Essa análise, pois, em lugar de admitir a nasalização da vogal nesses


contextos como condicionada pela consoante nasal considerará a consoante
nasal como condicionada pela consoante nasal. A consoante nasal seria,
assim, o resultado da coordenação dos movimentos articulatórios na
passagem de um som nasal a um não-nasal” (Callou & Leite, 1990: 89).

“Já a nasalidade em palavras como c[ã]mara, c[ã]minha, l[i]nha é produto


de uma regra fonética geral: V → [+ nasal] / –––[+ nasal].
A diferença entre o dialeto que nasaliza a vogal em sílaba não-acentuada se
deve a uma regra específica desse dialeto que diz:
V → [+ nasal] / ––––––– [+ nasal]” (p. 90).
[+ acento]
23

Obs.: a oposição “c[ã]minha (cama pequena) X c[a]minha (3a. p. sing. pres. do ind. de
caminhar)”, existente em posição pretônica no mesmo ambiente de consoante nasal,
foi usada por PONTES (1965) para defender a hipótese de que há vogal oral e vogal
nasal.

5.3.4.2 Interpretação bifonêmica

Para Mira Mateus (1975), Almeida (1976), Pardal (1977) e Wetzels (1991), a
vogal nasal é gerada por derivação fonológica a partir de vogal oral seguida de
consoante nasal na estrutura subjacente.

 MATEUS (1982: 45-46): “O problema que é necessário resolver em primeiro lugar,


nesta proposta de explicação do processo de nasalização em português, é o de
optar pelo estabelecimento das vogais nasais em representação de base ou pela
obtenção através de derivação fonológica”. Nesse sentido, há três alternativas:

1 “as vogais nasais existem sempre nas representações fonológicas das formas que
as manifestam em superfície”. Essa alternativa representa a inserção de cinco
elementos na matriz fonológica;

2 as vogais nasais estão presentes apenas nas representações fonológicas de certas


formas: aquelas cujas representações de superfície contêm uma vogal nasal final
ou um ditongo nasal. Nos outros casos obtêm-se por derivação, quando seguidas
de uma consoante nasal. Implica a inserção das vogais nasais na matriz
fonológica;

3 as vogais nasais nunca se encontram nas representações fonológicas, sendo em


todos os casos resultantes da presença de uma consonte nasal depois da
vogal. Alternativa preferível – simplifica a matriz fonológica, embora aumente o
no de regras, todavia essas regras devem ter caráter geral na LP e/ou em outras
línguas.

 PARKINSON (1983) atribui às vogais nasais status fonológico de ditongos, ou


seja, constituídas de Voral + Vnasal (e não V + Cnasal).

5.3.4.3 Nasalidade fonética

Além da nasalidade fonológica (lenda-Leda; lã-lá; junta-juta), contrastiva –


indicada normalmente na ortografia pela presença de consoante nasal na posição de
travamento da sílaba (campo, manto), também há, no português, nasalidade fonética
(alofônica), sem efeito para distinguir formas da língua (cama, ano) – devido à
presença de Cnasal no início da sílaba seguinte a da vogal nasalizada, de onde o
traço [+ nasal] se espalha regressivamente para a vogal anterior.
24

Para os gerativistas que adotam a interpretação bifonêmica, as duas


nasalizações resultam da aplicação de uma mesma regra. Há, entretanto, fatores que
sugerem tratar-se, na verdade, de processos independentes, advindos da aplicação
de regras distintas.

Nasalidade fonêmica X Nasalidade alofônica: “ocorre por assimilação à


vogal nasal da sílaba seguinte, porque o falante
tende a antecipar o abaixamento do véu palatino,
necessário à emissão da consoante da sílaba seguinte,
e emite já nasalada a vogal precedente”.
a vogal se nasaliza em parece resultar da aplicação de uma regra sensível a
qualquer posição da fatores como posição do acento, natureza da
palavra. consoante nasal e dialeto:
•vogais tônicas: mais facilmente nasalizáveis que as
átonas;
•diateto carioca: ocorre basicamente em posição
acentuada ou em pretônicas derivadas de
tônicas. Praticamente inexistente nas demais
pretônicas (exs. cama/camada; cano-caninho);
•em proparoxítonas: espraiamento regressivo da
nasalidade da átona final para a medial (exs.
diáfano; átona);
•tende a realizar-se no domínio mais forte do
vocábulo, isto é, no pé que contém a sílaba do
acento primário;
•mais influenciada pela consoante nasal palatal [ ]
(em cunhado) do que pelas não-palatais (acumular);
•fortemente condicionada pelo fator regional, sendo
a freqüência de aplicação da regra decrescente no
sentido norte→sul. No nordeste, maior índice de
aplicação, pois se nasalizam habitualmente tônicas e
pretônicas (m[ã]mão, b[ã]nana); no RJ, MG, ES,
apenas as tônicas sofrem nasalização (ou pretônicas
< tônicas); em SP, em geral, não se nasalizam vogais
tônicas (f[o]me, h[o]mem, Ant[o]nio).

No português do Brasil, “as vogais de campo e de cana apresentam, por vezes,


um grau de nasalidade semelhante; no português de Portugal, a nasalidade da vogal
em palavras como cana é bastante reduzida” (MATEUS, 1982: 92).

 NOBILING (1903) fala em graus de nasalidade.

– A nasalidade contrastiva deriva de uma representação bifonêmica (VN) ou


monofonêmica (V~)?1

1 Proposta de MORAES & WETZELS (1992): calcada na Fonologia Experimental – métodos experimentais que
fornecem evidências empíricas para o fonólogo que estuda as relações entre o componente fonológico e fonético.
25

5.3.4.4 Fonologia não-linear

• Ponto de partida: trabalhos de CLEMENTS & KEYSER (1981, 1983), no âmbito da


Fonologia não-linear (vertente conhecida por fonologia CV – camada silábica), em
que se considera a representação silábica uma seqüência sonora correspondente a
uma estrutura arbórea disposta em 3 camadas:
1 camada silábica
2 camada CV (esqueleto – intermedia a associação dos segmentos às sílabas)
3 camada segmental

Ex.: representação do termo “fonética” (* sílaba acentuada)


*
s s s s

C V C V C V C V

f o n Ε t i k a

camada CV:
distingue posições funcionais (pico/não pico) → dá conta do caráter
silábico/não silábico dos segmentos, dispensando tal traço (+/- silábico).
“define as unidades primitivas de ‘timing’ no nível sub-silábico da
representação fonológica”(CLEMENTS & KEYSER, 1983: 11 apud MORAES &
WETZELS, 1992: 156), ou seja, o tempo da organização segmental.

camada CV # camada segmental → permite que o conteúdo proposicional seja


apagado sem que tal fato acarrete a queda da unidade temporal. (ex.
processos como o alongamento compensatório)

• Hipótese no caso das nasais: se apenas a camada segmental da consoante nasal for
apagada na superfície (ou parcialmente apagado, em termos fonéticos), haverá,
conseqüentemente, um alongamento compensatório da vogal vizinha, que irá
então se associar à posição deixada livre, gerando um rearranjo do timing no
interior da sílaba em questão.

Se, por outro lado, as nasais já estivessem presentes na matriz fonológica,


teríamos, em um exemplo como “canta”, a estrutura CVCV no esqueleto, o que não
possibilitaria prever, do ponto de vista da representação fonológica, uma maior
duração da vogal nasal. Tem-se o mesmo caso na nasalização alofônica (ex. cana). A
vogal nasalizada ocuparia apenas uma posição no esqueleto.

Ponto de vista de CÂMARA JR. (1987: 47): deve-se “procurar esse traço
distintivo na constituição da sílaba. Em outros termos: a vogal nasal fica entendida
como um grupo de dois fonemas, que se combinam na sílaba – vogal e elemento
nasal”.
26

• Por meio da análise e do confronto da duração dos segmentos vocálicos nasais e


nasalizados (contrastiva vs. alofônica), por oposição à dos orais correspondentes,
com aporte teórico da Fonologia não-linear, MORAES & WETZELS (1992) indicam
a solução preferível no que se refere à interpretação mono- ou bifonêmica das
vogais nasais:

– Concluindo...
• Hipótese de interpretação bifonêmica das vogais nasais
1) A vogal nasal é efetivamente mais longa que a oral.
2) A vogal nasalizada é, em geral, ligeiramente mais breve que a oral, o que descarta
as explicações articulatória e co-articulatória2 para a maior duração das nasais,
reforçando a hipótese de serem dois processos distintos.
3) Os resultados da pesquisa experimental endossam a explicação fonológica de
alongamento compensatório para a maior extensão das nasais e confirmam a
realidade fonética da camada temporal (esqueleto) e da representação subjacente
das vogais nasais como V+ N.
a) A vogal nasal (constrastiva), tônica ou átona, corresponde a dois segmentos
na base, V e N.
b) O elemento nasal (N) nasaliza a vogal precedente.
c) Em um segundo momento, a consoante nasal cai, gerando um alongamento
compensatório da vogal precedente, agora já nasalizada, que passa então a
ocupar dois posições temporais.
d) “Uma regra atribuiria às vogais nasais (tônicas ou átonas) seguidas de
oclusivas parte do tempo da consoante subseqüente, o que explicaria, de um
lado, o fato de serem as nasais mais longas, neste contexto, que as vogais
orais correspondentes e, de outro, a perda da duração consonântica” (p. 164).

• “A outra alternativa, igualmente simples do ponto de vista formal, seria a de


propor a existência da vogal nasal na matriz fonológica, o que implicaria
entretanto abrir mão de evidências fonológicas tais como a) a impossibilidadade
de termos [r] brando após vogal nasal, b) impossibilidade de termos
proparoxítonos com a penúltima sílaba contendo vogal nasal, o que indica
tratar-se de sílaba pesada” (MORAES & WETZELS, 1992: 164).

– As 7 vogais (em posição tônica) reduzem-se a 5 diante de consoante nasal na sílaba


seguinte.

2 Explicação articulatória: as nasais apresentariam uma duração superior à das orais por exigirem um gesto
articulatório suplementar (abaixamento/elevação do véu palatino).
Explicação co-articulatória: em caso de V+ Cnasal, a vogal, oral ou nasal, seria mais breve; no caso de V + Cnão-
nasal, seria mais longa. (exs. candinha; cadinho; caninho)
27

5.3.5 Considerações finais

• “Nenhuma das propostas até agora apresentadas dá conta integralmente de fatos


comuns em falantes do português.
• “Há alguns que nasalizam a vogal pretônica em palavras como caminha (verbo) e
caminha (substantivo), mas não a nasalizam em Flamengo, lamento, elemento etc.,
tampouco os ditongos em Roraima, Jaime, faina, fauna, trauma.
• “Por outro lado, há falantes que nasalizam os ditongos em Jaime e Roraima mas não
os de fauna e trauma. Provavelmente, fenômenos como esses só serão totalmente
explicados com a realização de estudos de fonética experimental mais acurados,
pois o que se verifica é a possibilidade de uma nasalização do ditongo quando a
assilábica é o [y] e sua impossibilidade quando é o [w]” (Callou & Leite, 1990: 90).

Argumentos pró-interpretação monofonêmica Argumentos pró-interpretação bifonêmica


1) A contradição ao se postular, em 1) Moraes & Wetzels (1992): duração da
Fonologia Segmental, uma unidade sílaba (alongamento compensatório) > V
fonológica que não constitui um segmento. +N
Ex.: maçã
2) Vi, vim, vime (port. europeu) 2) Na articulação, desvio da corrente de
caminha (cama pequena) / caminha (andar) ar para a cavidade nasal devido à
3) ditongos nasais elevação do véu palatino

4) Não há um arquifonema consonântico que


se realize sem nenhum obstáculo
articulatório.

5) Tendência do português ao destravamento


silábico que não afeta o hipotético grupo
/VNS/. Exs.: constituição, perspectiva. O
português tende a eliminar os travamentos

6) Crase – o fato de não haver crase em lã


azul não constitui argumento para dizer que
há ou não um elemento consonântico. Ex.:
sofá azul.

5.4 Os ditongos

“As vogais mais altas das séries anterior e posterior podem ocupar posição
de núcleo ou de margem da sílaba. Teríamos, assim, um [i] e [u] silábicos
ou assilábicos [y] e [w]. Neste segundo caso têm-se os chamados ditongos
ou tritongos que contrastam com vogais simples” (CALLOU & LEITE,
1990: 90).

– [y]/[j] e [w] ocupam margem de sílaba.


Exs.: pá pai pau
cá cai cal
má mais mal
28

só sói sol

– Ditongos = encontro de uma vogal mais uma semivogal.


Em função da posição da semivogal: ditongo crescente (VCV) ou decrescente
(VVC).
– Tritongos = encontro de duas semivogais com uma vogal (CCV)

– Distinção entre vogais assilábicas que formam ditongos verdadeiros e aquelas que
podem surgir em fronteiras silábicas pelo encontro de uma vogal [+ alta] com
uma vogal [- alta]

– Ditongos verdadeiros: lei, quase, quais


– Ditongos fonéticos: lu[w]a (entre v [+ alta] + [- alta]), glóri[y]a

Neste caso, a qualidade da vogal assilábica é previsível: [y] depois de “i” e [w]
depois de “u”. “Pode-se dizer que é quase unânime a interpretação não-fonêmica
dessas vogais.” (CALLOU & LEITE, 1990: 91)

No caso dos ditongos verdadeiros, existe a possibilidade de as assilábicas


serem interpretadas como fonemas distintos das suas homorgânicas silábicas
(posição inicialmente defendida por Mattoso Câmara3), com base nos pares
opositivos abaixo:
coais quais
vôo vou
Rio riu
dê-os deus
soes (soar) sois (ser)

CÂMARA JR. reviu sua posição inicial devido ao baixo rendimento dessas
oposições e à própria redução do ditongo em exemplos como “vou”, “sou”. Os
ambientes em que /i/-/y/ e /u/-/w/ estabelecem diferença de significado são
pouco produtivos em Português, como pode ser observado nos exemplos acima.

– Ditongo — sílaba aberta (núcleo polifonemático) ou sílaba fechada – nesse caso,


ocupando a coda da sílaba — por paralelismo à distribuição de outras consoantes no
mesmo contexto.

Posição de BISOL (1994: 123): 2 tipos de ditongo em português

3 CÂMARA JR. – 2 posições:


1o. momento) inicialmente considerou [y] e [w] como fonemas, ou seja, as semivogais seriam fonemas
propriamente ditos.
2o. momento) [y] e [w] são variantes posicionais (alofones) de /i/ e /u/
dê - dei
lê - lei - leu
(Posição da Prof. Silvia Brandão: são fonemas uma vez que há contextos em que estabelecem diferença de
significados.)
29

• ditongo fonológico (ditongo verdadeiro — ocupa duas posições na camada CV,


também chamada prosódica) – invariante, está representado na estrutura
subjacente por duas vogais, como um autêntico ditongo (exs. reitor,
pauta). Assim, tem-se, então, um núcleo ramificado de duas vogais em que a
vogal alta dessa configuração manifesta-se foneticamente como glide. A segunda
vogal se consonantiza por silabação devido à formação do glide, uma instância
particular do processo de silabação.
• ditongo fonético (ditongo falso — ocupa uma só posição) — ora se manifesta, ora
não (peixe, feira, caixa), possui, na estrutura subjacente, apenas uma vogal,
formando-se o glide em nível mais próximo à superfície por assimilação de traços
da consoante. Trata-se do resultado de uma regra variável de expansão de traços
secundários da consoante (assimilação por espraiamento).

Bisol conclui, com o apoio da Teoria da Geometria de Traços, que classifica


consoantes e vogais pelos mesmos traços vocálicos de pontos de articulação e que
explica todos os processos de assimilação por espraiamento, ao mesmo tempo que
admite, de acordo com a tradição, que articulações secundárias são traços vocálicos
de consoantes: em todos os casos estudados (três-treis, fez-feiz; faxina-faixina,
bandeja-bandeija; peixe-pexe, caixote-caxote), é o glide coronal que se superficializa,
isto é, um segmento derivado da consoante vizinha por um processo de assimilação.
Os ditongos analisados pela autora não estão representados na estrutura
subjacente, pois são formados por regras pós-lexicais.

– Tradicionalmente, consideram-se os ditongos decrescentes a seguir:

• Exs.: ditongos orais com a semivogal [w]


[aw] mau, pau, *sal (decorrente da vocalização do /l/)
[ew] meu
[ w] céu, réu, *mel
[ow] sou (tendência a se monotongar  [so]), vou
[iw] viu, riu

Obs.: [ow] — tendência à eliminação desse ditongo (à monotongação) ; em


contrapartida há uma tendência à vocalização do [l] em final de sílaba (na maioria
dos dialetos do Brasil) como em gol, soltar, colcha que acaba por reestabelecê-
lo/revitalizá-lo. (V + V9 > V; V + l > VV9 )
Em função da vocalização do /l/, aparecem dois outros ditongos em
determinadas realizações:
* [ w] sol
* [uw] sul

• Exs.: ditongos orais com a semivogal [y]:


[ay] cai
[ey] lei, rei
[ y] aluguéis, réis
30

[oy] foi
[ y] dói, rói
[uy] fui

A eliminação da semivogal é fenômeno antigo no português e ainda hoje


constitui uma tendência em nossa língua. PAIVA (1986), em estudo das semivogais
em ditongos decrescentes, concluiu que:
ou > o = mudança praticamente concluída;
ey > e = redução que depende de fatores da composição fonética, como o
ponto e modo de articulação do contexto subseqüente (vibrante simples ou palatal
[ ] / [ ]).

[ey] > [e] [ey] > [ey] (final absoluto de sílaba)


peixaria, dinheiro, feira, cadeira, beijo lei, dei, rei, leito

O ditongo [ow] tende à montongação em qualquer situação. Isso ocorre


porque está previsto na deriva da língua. O sistema do Português é o mesmo tanto
em Portugal como no Brasil.
– Latim quase não havia ditongos: au > ou. Nossos ditongos decrescentes têm
origem românica:
– hiato > ditongo (deus, foi)
– queda das sonoras intervocálicas > hiato > dito
– redução da oclusiva que travava sílaba (lecto > leito; acto > auto)

• Exs. de ditongos nasais:


[ãw ] mão
[ãy ] mãe
[õy ] põe
[uy] muito, ruim
[ey ] tem, também

Para CÂMARA JR., ditongo + arquifonema /N/.

– “Os chamados ditongos crescentes ocorrem com menor freqüência – e são mais
instáveis – sempre antecedidos de consoante velar [k] ou [g] em formas como
qual, igual, freqüente, eqüestre, quinqüênio, ungüento, agüentar etc.. Os ditongos [wo]
e [wu] que ocorrem em formas como quotidiano e profícuo sofrem normalmente
redução. Numa forma como circuito é possível uma realização como ditongo
decrescente [uy] (mais freqüente) ou crescente [wi] (mais raro)” (CALLOU &
LEITE, 1990: 92).

– Tritongos orais
Exs.: [way] Uruguai
[wey] averigüei
[wow] averigüou
31

– Encontros vocálicos que podem ser pronunciados como hiatos ou ditongos, ou


ainda tritongos (leais, leões), em exemplos como: águia, série (nesse caso em que a
V silábica e a assilábica são correspondentes, pode haver redução), história, luar,
leal, fiel, tênue, glória.

– Fatores supra-segmentais como ritmo e velocidade de fala podem condicionar


essa variação.

– Tendência ao desenvolvimento da semivogal: praia — pr[ayya];

– “A diferença que a gramática estabelece graficamente entre formas verbais como


possui, influi (3a. p. pres. ind. 3a. conj.) e acentue, flutue, continue (1a./3a. p. sing.
pres. subj. 1a. conj.) não se justifica do ponto de vista fonético-fonológico. Os
constantes erros de ortografia com a troca de i pelo e e do e pelo i são indicativos
da não-existência de um contraste fônico.” (CALLOU & LEITE, 1990: 92)

6 Acento: um fonema supra-segmental

O termo “acento” é usado para proeminências que são realizadas como


desvios do que é considerado normal/neutro. Costuma ser definido em função de
três elementos supra-segmentais: duração, intensidade e freqüência fundamental.
Saliente-se, porém, que os correlatos físicos do acento são complexos e variados.
– Em português: acento de intensidade – papel distintivo em palavras como sabia,
sabiá e sábia.
– Variações de tom: função distintiva nas frases interrogativas e declarativas, por
exemplo.
– Quantidade: função expressiva: ma:::ravilhoso, go:::::l.
MASSINI-CAGLIARI (1993:213): “O acento em português é uma proeminência
atualizada foneticamente pela co-ocorrência de diversos fatores prosódicos”. Em
nível lexical, os correlatos do acento são (1) duração, (2) intensidade e (3) qualidade
vocálica. Em nível frasal, a variação do padrão entonacional se sobrepõe a uma
sílaba tônica a nível lexical.
O autor ressalta a importância da qualidade vocálica na percepção do acento,
principalmente das vogais [e], [o] e [a] que apresentam comportamentos distintos
conforme ocorram em sílabas átonas ou tônicas. Segundo ele, as vogais átonas
tendem à centralização e ao alteamento, por exemplo.
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