Você está na página 1de 18

Índice

Introdução......................................................................................................................2

Fonologia.......................................................................................................................3

Fonologia gerativa natural.............................................................................................4

Fonologia natural...........................................................................................................5

Fonemas e Alofones.......................................................................................................5

Segmentos fonológicos................................................................................................11

Processos fonológicos..................................................................................................13

Descrição articulatória das consoantes........................................................................14

Descrição das consoantes.............................................................................................14

Lugar de articulação das consoantes............................................................................14

Lugar de articulação das consoantes............................................................................14

Modo de articulação das consoantes............................................................................15

Conclusão.....................................................................................................................16

Referências bibliográficas............................................................................................18

1
Introdução
O presente trabalho surgiu da necessidade de mostrar a importância que a disciplina
fonética e fonologia tem na grade curricular de um aluno de ensino superior, É evidente
a necessidade de profissionais para atender as novas demandas e nos faz refletir sobre a
importância da qualificação dos profissionais que ocuparão os novos espaços de
trabalho, que a todo o momento se abrem. O que de fato o futuro professor de português
aprendeu de conteúdo sobre fonética e fonologia no ensino básico.

Como é sabido, a fonética tem por objetivo fornecer uma descrição física, dfisiológica e
psicocognitiva dos sons da língua. Já os estudos dos fonemas da língua e de suas
variantes livres e contextuais relacionam-se à área de estudos linguísticos que compete à
fonologia. Preparar o futuro professor para dominar a diferença que há entre a fronteira
de uma disciplina e outra é a talvez um grande desafio, senão o mais importante na sua
formação. Dessa forma, o presente artigo divide-se em dois momentos.

O primeiro aborda as necessidades específicas da disciplina fonética e fonologia para a


formação de professores de língua materna., visando traçar um perfil do profissional que
temos e o que teremos (ou queremos) no futuro. Assim, compreenderemos a
importância da disciplina fonética e fonologia que dará sustentação à formação e
suporte à prática docente, permitindo, dessa maneira, ao professor de língua materna
compreender a estrutura da língua que está ensinando e transmitir tal conhecimento aos
alunos que aprenderão não somente a língua falada, mas também a essência, a sua
estrutura e as diversas possibilidades de que a língua materna dispõe, verificando que a
disciplina fonética e fonologia é o cerne disso.

2
Fonologia
A fonologia é a área da linguística que estuda a gramática dos sons, isto é, o sistema de
sons da língua, ou seja, a fonologia como componente da gramática é o estudo dos
modelos sonoros de uma determinada língua. À fonologia cabe descrever os fonemas,
regras de combinação dos sons pata formarem unidades maiores, ais como a sílaba e as
regras de atribuição do acento prosódico. Segundo Mateus et al (2003), a fonologia tem
como objecto de estudo as mais pequenas unidades da língua, os segmentos
fonológicos, a sua organização em sistema e os processos e regras a que estão sujeitos
esses segmentos.

Ao estudar os segmentos (as consoantes e as vogais), a fonologia interessa-se pelo valor


que tais unidades linguísticas assumem em relação a outras no interior de um mesmo
sistema, ou seja, interessa-se pelo que é funcional na língua: o fonema.

O estudo da fonologia responde como é que o falante ou ouvinte consegue reconhecer


uma infinidade de sons diferentes, aquelas unidades que funcionam na língua como
unidade do sistema que permitem a comunicação e como são usadas pelos falantes na
transmissão de uma mensagem. A fonologia estabelece os princípios que regulam a
estrutura sonora das línguas, caracterizando as sequências de sons permitidas e
excluídas na língua em questão.

A fonologia interliga-se com a fonética na medida em que a fonologia faz uma


interpretação dos resultados apresentados pela fonética. A fonética, segundo Cagliari
(2002), descreve os sons, explicitando quais mecanismos e processos de produção de
fala estão envolvidos em um determinado segmento da cadeia sonora da fala. Neste
sentido, a fonética é primordialmente descritiva e a fonologia, interpretativa. Branco
(2007, p.13) salienta que a fonética e a fonologia são dois níveis de análise do som de
uma língua, primeiramente é necessário que saiba que a transcrição fonética é
representada entre colchetes, [], e a fonologia entre barras oblíquas l m disso a fonética
estuda o som da fala ou fone, enquanto a fonologia estuda os fonemas.

Os segmentos consonantais e vocálicos organizam-se em estruturas silábicas formando


palavras possíveis em uma determinada língua. Um dos objetivos centrais da fonémica/
fonologia é fornecer aos usuários o instrumento para conversão da língua oral em língua
escrita.

3
Fonologia gerativa natural
Autores como Vennemann (1972, 1972, 1973) e Hooper (1972, 1976), quando abordam
a fonologia gerativa natural defendem que o componente fonológico deve ocupar-se
com a transparência e com a motivação fonética e regular. Todas as outras regularidades
devem ser tratadas com informação do componente morfológico, buscando-se a evitar
soluções abstratas. Esta proposta define que as representações subjacentes são
equivalentes às representações fonéticas. As regras fonológicas podem ser de dois tipos:
regras motivadas foneticamente e regras não-produtivas. Um exemplo de regra
motivada foneticamente em português é a palatalização de oclusivas alveolares t/d
quando seguidas da vogal [i] e variantes (nasal e glide). Regras que têm motivação
fonética apresentam apenas informação fonética (quanto aos segmentos e à estrutura
silábica). Tais regras são produtivas e não apresentam exceções. Todas as unidades
presentes na representação subjacente nas regras motivadas foneticamente devem ter um
correlato fonético. Ou seja, devem estar envolvidas com processos físicos de
articulação. Excluem-se categorias vazias e as abstrações decorrentes das postulações
destas entidades.

O segundo tipo de regras é não-produtivo. Exemplo deste tipo de regra é a formação de


plural em “ão” (cf. “capitão; nação; cidadão”). Não há regularidade nestas regras e
propõe-se portanto que estas sejam tratadas de maneira distinta das regras motivadas
foneticamente. Postula-se “via-regras” (via rules) para a formalização de tais processos.
“Via-regra” refere-se às regras não-gerativas, sem caráter transformacional que ligam as
formas subjacentes às informações complementares (como, por exemplo, do
componente morfológico). Informações provenientes do componente morfológico
passam a ter status teórico dentro deste modelo (ao contrário do modelo gerativo
padrão). Uma “via-regra” não tem portanto caráter produtivo e sincrônico e deve ser
marcada como individual uma vez que não permite expressar generalizações. Tais
regras, ao contrário das regras motivadas foneticamente, não fazem parte da
competência linguística do falante. A fonologia gerativa natural busca definir os
princípios que regulam as regras foneticamente motivadas das regras não-produtivas.

Além de investigar como o léxico é estruturado, a fonologia gerativa natural investiga se


as restrições sequenciais devem ser definidas em termos dos morfemas. Hooper e
Venemman argumentam a favor de restrições impostas às estruturas silábicas. Enquanto

4
para Chomsky & Halle (1968), a sílaba é uma unidade presente na especificação dos
contextos das regras fonológicas, Venemman e Hooper propõem que a sílaba seja
incorporada à teoria fonológica. A aplicabilidade da fonologia gerativa natural para a
língua portuguesa é demonstrada nos trabalhos de Gnerre (1983).

Fonologia natural
Uma corrente alternativa denominada fonologia natural surge com a proposta de Stampe
(1980). Tal proposta é uma crítica à fonologia gerativa padrão e de certa maneira dá
continuidade às perspectivas teóricas levantadas em Chomsky & Halle (1968) quanto à
naturalidade das representações e processos fonológicos. Stampe (1980) propõe que na
organização do componente fonológico temos processos e regras. Processos referem-se
à capacidade inata do ser humano para aprender a linguagem. Regras regulam as
propriedades específicas de línguas particulares. A fonologia natural busca explicar a
natureza dos processos fonológicos e determinar as características das regras específicas
das línguas naturais.

De maneira análoga à fonologia gerativa natural, a proposta natural tem por objetivo
caracterizar aspectos dos componentes sonoros das línguas naturais que sejam mais
“naturais”. A fonologia gerativa natural e a fonologia natural surgem portanto como
uma proposta alternativa à Fonologia Gerativa Padrão oferecendo reflexões de aspectos
controvertidos na proposta de Chomsky & Halle (1968).

A diferença básica entre fonologia gerativa natural (discutida na seção anterior) e


fonologia natural é que o primeiro modelo busca a investigar a “naturalidade” das regras
fonológicas, enquanto que o segundo modelo tem por objetivo caracterizar a
“naturalidade” das representações e processos fonológicos.

Fonemas e Alofones
O fonema é considerado a menor unidade da língua. Cada língua apresenta um número
limitado e restrito de fonemas (em torno de vinte a cinquenta, conforme a língua) que se
combinam sucessivamente, ao longo da cadeia da fala, para constituir unidades maiores
(morfemas). O fonema é uma unidade que possui valor constrativo e é, portanto, capaz
de distinguir significado.

Silva (1999, p. 135), concebe Fonema como uma unidade sonora que se distingue
funcionalmente das outras unidades da língua. Método de identificação de um fonema:
par mínimo (ou análogo) e Alofone como uma unidade que se relaciona à manifestação

5
fonética de um fonema. Alofones de um mesmo fonema ocorrem em contextos
exclusivos. Método de identificação: distribuição complementar.

O fonema não deve ser confundido com a letra. Na língua escrita, representamos os
fonemas por meio de sinais chamados letras. Portanto, letra é representação gráfica do
fonema. Por exemplo, na palavra sapo, a letra s representa o fonema /s/ (lê-se sê); e na
palavra brasa, a mesma letra s representa aqui o fonema /z/ (lê-se zê). Às vezes, o
mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do
fonema /z/, que pode ser representado pelas letras z, s, x. Exemplos: zebra, casamento,
exílio. Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra x,
por exemplo, pode representar: o fonema sê (ex. texto); o fonema zê (ex. exibir); o
fonema che (ex. enxame); o grupo de sons ks (ex. táxi), etc. as letras m e n, em
determinadas palavras, não representam fonemas. Por exemplo nas palavras “compra” e
“conta.” Nestas palavras, m e n indicam a nasalização das vogais que as antecedem.

Os fonemas são considerados entidades opositivas porque retiram a sua significação da


oposição com todos os outros fonemas de uma língua. O que importa nos fonemas são
as diferenças, que servem para distinguir palavras. Esse é o único valor linguístico do
fonema. O valor de /p/ está em sua oposição a um /b/, a um /t/, a um /d/ como em pato,
bato, tato, dato, mato, cato, gato etc. Os fonemas são entidades relativas porque seu
valor está na relação entre eles, ou seja, os mesmos fonemas /m/, /a/, /l/, /a/ podem
formar tanto a palavra mala, quanto lama, quanto alma, se modificarmos apenas a
relação entre os mesmos fonemas. Os fonemas são entidades negativas porque não são
unidades possuidoras de significado. Um v não significa nada, mas se você trocar o v de
vela por b encontrará bela que tem significado diferente.

Com base na ideia de que o fonema era divizível em unidades menores, Jakobson define
o fonema como feixe de traços distintivos. O fonema /p/, por exemplo, é caracterizado
por quatro traços distintivos, a saber:

 Uma interrupção momentânea da corrente de ar determinada pelo fechamento


momentâneo da boca, o que torna o /p/ uma consoante oclusiva.
 Esse fechamento é determinado pelo encontro dos lábios, o que torna o /p/ uma
consoante bilabial.
 Uma abertura da glote, que permite o ar passar livremente pela laringe sem que
as cordas vocais vibrem, o que torna o /p/ uma consoante surda.

6
 Um fechamento da cavidade nasal, permitindo que o ar saia totalmente pela
boca, o que torna o /p/ uma consoante oral.

O fonema /p/ é, portanto, uma consoante, oclusiva, bilabial, surda, oral. Não existe
nenhum fonema que tenha apenas um desses traços, eles se realizam em feixes como diz
Jakobson. Não são conjuntos porque não têm organização. A unidade fônica é o
fonema, e as qualidades distintivas (oclusiva, bilabial, surda, oral) essas, sim, é que são
indecomponíveis. A relação de dois fonemas é complexa e susceptível de comportar
várias oposições simples; assim, em português, a distinção dos fonemas /p/ e /b/
comporta uma única oposição: a da sonoridade. Em outras palavras, os fonemas /p/ e /b/
são semelhantes em tudo (são consoantes, oclusivas, bilabiais, orais) e só se diferenciam
em relação à sonoridade, enquanto o /p/ é surdo, o /b/ é sonoro.

Jakobson afirma: “O único conteúdo linguístico, ou em termos mais amplos, o único


conteúdo semiótico do fonema é a sua dissimilitude em relação a todos os demais
fonemas de um dado sistema. Um fonema significa uma coisa diferente do que outro
fonema significa na mesma posição; é o seu único valor.” (Jakobson, 1977, p. 60).

O fonema pode variar na sua realização. Dependendo de certas circunstâncias da


enunciação, os traços distintivos dos fonemas podem sofrer alteração. Cria-se, assim, o
conceito de alofone ou variante. Alofones ou variantes são os vários sons que realizam
um mesmo fonema.

Se substituirmos o [a] de tapo por [i], obteremos tipo, uma outra palavra porque [a] e [i]
representam dois fonemas. Para alguns falantes da língua portuguesa (cariocas, por
exemplo), ocorre em tipo uma diferença fonética adicional: o som que precede o [i] não
é o mesmo que precede o [a]. Agora temos algo como tch, que será representado com o
sinal [t]. Em português, apesar de [t] e [t] serem dois sons vocais diferentes, não são
dois fonemas. Eles são unidades diferentes para a fonética, porque são dois sons
produzidos diferentemente, mas não correspondem a elementos distintos no sistema
fonológico do português, pois não estabelecem oposição entre palavras. Na língua
portuguesa, [t] é apenas uma outra pronúncia, ou seja, um alofone do fonema /t/, usado
em algumas regiões do Brasil como o Rio de Janeiro quando depois do /t/ vem um /i/.
Aqui em Sergipe há esta mesma realização, só que em outro contexto. Quando antes do
fonema /t/ vem uma semivogal anterior /y/, aqui em Aracaju, nós realizamos o fonema
/t/ como [t]. Palavras como oito são normalmente pronunciadas como ['o+t].

7
Identificamos os alofones ou variantes de um mesmo fonema através do método de
distribuição complementar. Em fonologia, dizemos que há distribuição complementar
quando duas unidades fonéticas não ocorrem nunca no mesmo contexto, ou seja, se
encontram em ambientes mutuamente exclusivos por isso mesmo não podem distinguir
palavras. Foi isso que vimos com as duas realizações do fonema /t/. Assim [t] e [t] se
encontram em distribuição complementar, e são reconhecidos como alofones do mesmo
fonema pelos fonologistas. Devemos observar que a aplicação do princípio da
distribuição complementar em geral corresponderá muito bem ao julgamento do falante
nativo, que não estudou fonética, a respeito do que é e do que não é o mesmo som. O
falante nativo aprendeu a reagir a certas diferenças fonéticas como funcionais na sua
língua e a ignorar outras como irrelevantes para a comunicação.

Na fonologia temos ainda o conceito de neutralização, que não deve ser confundido com
o de variação. A neutralização é um “termo usado na fonologia para descrever o que
acontece quando a distinção entre dois fonemas se perde em um determinado
ambiente.” (Crystal, 1988, p. 181). As palavras carro e caro se distinguem pela oposição
entre a vibrante múltipla /×/ e a vibrante simples /4/. Já em rio, ramo, rede só
empregamos a vibrante múltipla, e em bravo, prêmio, frevo usamos apenas a vibrante
simples. Esses exemplos mostram que somente entre vogais existe oposição entre a
vibrante simples - caro - e a vibrante múltipla - carro. Nas outras posições, a
oposição /R/r/ fica neutralizada, ou porque ocorre apenas uma delas (vibrante múltipla
em rio, ramo, rede e vibrante simples em bravo, prêmio, frevo), ou porque a ocorrência
de uma ou de outra não tem nenhum valor distintivo. Um americano falando português
vai ter sempre dificuldade de pronunciar a nossa vibrante múltipla em início de palavra
como em rio, mas nós o entenderemos porque não haverá distinção significativa.

Um dos objetivos de uma análise fonémica é definir quais são os sons de uma língua
que têm valor distintivo (servem para distinguir palavras). Sons que estejam em
oposição – por exemplo [f] e [v] em “faca” e “vaca” – são caracterizados como
unidades fonêmicas distintas e são denominadas fonemas” (Silva 1999, p. 126).

Para verificarmos o valor contrastivo de um segmento, utilizamos o princípio da


comutação, que consiste na comparação entre pares mínimos, isto é, duas palavras da
língua que diferem em seu significado apenas por um segmento. Para Silva (1999, p.
126), o procedimento habitual de identificação de fonemas é buscar duas palavras com
significados diferentes cuja cadeia sonora seja idêntica. As duas palavras constituem um

8
par mínimo. Assim, em português, definimos /f/ e /v/ como fonemas distintos (...) uma
vez que o par mínimo “faca” e “vaca” demonstra a oposição fonêmica. Dizemos que o
par mínimo “faca/vaca” caracteriza os fonemas /f, v/ por contraste em ambiente
idêntico. Desta forma, considera-se que um par de palavras é suficiente para caracterizar
dois fonemas.

Quando pares mínimos não são encontrados para um grupo de sons em uma
determinada língua, podemos caracterizar os dois segmentos em questão como fonemas
distintos pelo contraste em ambiente análogo (CAA). Assim, duas palavras que ocorram
em ambientes similares podem caracterizar o contraste em ambiente análogo, desde que
as diferenças entre os sons não seja atribuída aos sons vizinhos (devido a processos de
assimilação, por exemplo). Ilustramos o contraste em ambiente análogo com os sons [s]
e [z] em português. Sabemos que em posição intervocálica os segmentos [s] e [z] são
fonemas distintos, pois temos pares mínimos que demonstram o contraste em ambiente
idêntico entre estes dois sons: “assa/asa”.

Consideremos, contudo, o contraste entre [s] e [z] em início de palavra. Em situações


que não encontremos um par mínimo que demonstre o contraste em ambiente idêntico
entre [s] e [z] em início de palavra. Para prosseguirmos à análise fonémica, podemos
buscar um par de palavras bastante semelhante que caracterize a oposição fonémica em
início de palavra entre [s] e [z] por contraste em ambiente análogo. Um par de palavras
que demonstre o contraste fonêmico em ambiente análogo apresenta diferença
segmentai em relação a mais de um segmento (lembrando que em contraste em
ambiente idêntico há diferença apenas em um segmento em cada palavra do par
mínimo). Um exemplo para demonstrar o contraste fonémico em ambiente análogo
entre [s] e [z] em posição inicial é o par de palavras “sumir/ zunir”. Nota-se que em
“sumir/ zunir” além da diferença segmentai de [s] e [z] temos a diferença entre [m] e [n]
precedendo a vogal tônica. Não há razão para supormos que as consoantes nasais [m] e
[n] possam influenciar a ocorrência de [s] e [z] (por assimilação, por exemplo).
Portanto, o par de palavras “sumir/ zunir” demonstra o contraste em ambiente análogo
entre [s] e [z] em posição inicial. Outros exemplos seriam “sapato/Zapata;
“sambar/zombar”. Eventualmente encontraríamos o par de palavras “cinco/zinco” que
demonstra o contraste em ambiente idêntico entre [s] e [z] em posição inicial. Portanto,
os indícios do status de fonema dos segmentos [s] e [z] foram apontados pelo contraste

9
em ambiente análogo - “sumir/ zunir” - e confirmados por um par mínimo -
“cinco/zinco” - que demonstra o contraste em ambiente idêntico.

Nota-se, ainda, que no caso discutido para [s] e [z] encontramos um par mínimo para
demonstrar o contraste em ambiente idêntico (“cinco/ zinco”), embora tenhamos feito
preliminarmente o uso do contraste em ambiente análogo em nossa análise (“sumir/
zunir”). Trabalhar com uma língua que você conhece bem certamente contribui para que
os dados necessários para a análise sejam encontrados e quase que certamente pares
mínimos são identificados para todos os fonemas da língua. Contudo, o procedimento
metodológico de se fazer uso de contraste em ambiente análogo para a caracterização de
dois sons como fonemas faz-se útil em análises preliminares de línguas totalmente

Do ponto de vista de representação temos aqui dois níveis: o fonético e o fonémico.


No plano fonético temos fones que transcrevemos entre colchetes, por exemplo [a]. São
fones todos aqueles segmentos consonantais e vocálicos identificados na transcrição
fonética do corpus. Em outras palavras, fones são os segmentos encontrados no quadro
fonético. No plano fonémico temos fonemas que transcrevemos entre barras
transversais, por exemplo /a/. A determinação de fonemas se dá a partir da identificação
de pares mínimos para um grupo de dois segmentos. Uma questão que se faz pertinente
é se devemos buscar pares mínimos entre todos os segmentos da língua. Certamente
quanto mais conhecemos uma língua, mais disporemos de dados para identificar pares
mínimos para quaisquer segmentos desta língua. Entretanto, há grandes chances de que
segmentos como 1 e k sejam fonemas distintos em qualquer língua. Assim, mesmo que
não tenhamos encontrado ainda pares mínimos para eles, podemos postular que 1 e k
são fonemas distintos. Isto se dá porque 1 e k não têm nenhuma similaridade fonética a
não ser o fato de serem ambas consoantes. O segmento 1 é uma consoante líquida,
alveolar e vozeada e k é uma consoante Oclusiva, velar e desvozeada. A falta de
similaridade fonética nos leva a previamente interpretar 1 e k como fonemas distintos.
Em alguns casos não encontramos pares mínimos e a falta de similaridade fonética nos
leva a postular dois segmentos como fonemas distintos. Um bom exemplo para ilustrar
este ponto é a distribuição dos segmentos [h] e [q], em inglês. Enquanto o segmento [h]
ocorre em início de sílaba - “house (casa), hat (chapéu), home (lar)” - o segmento [q]
ocorre em final de sílaba - “king (rei), tongue (língua), uncle (tio)” (caso você não saiba
a pronúncia destas palavras, procure um falante de inglês e teste as suas habilidades de
transcrição fonética e verifique a ocorrência de [h] e [q]). Note que os segmentos [h] e

10
[q] ocorrem em ambientes exclusivos, ou seja, onde um ocorre o outro não ocorre.
Portanto faz-se impossível encontrar um par mínimo que caracterize o contraste
fonémico entre [h] e [q]. Contudo, devemos caracterizar [h] e [q] como fonemas
distintos em inglês devido à falta de semelhança fonética entre estes segmentos. Esta
particularidade - de caracterizar dois segmentos sem semelhança fonética como fonemas
apesar da ausência de pares mínimos - não se aplica ao português.
Vimos então que na busca de identificarmos os fonemas de uma língua listamos os
pares suspeitos (sons foneticamente semelhantes) de segmentos consonantais e
vocálicos. Passamos então a buscar um par de palavras que venha a constituir um par
mínimo para determinarmos os fonemas em questão. E evidente que a busca de um par
mínimo pode ser infrutífera. Assim, quando não encontramos pares mínimos (ou
análogos) para dois segmentos suspeitos, concluímos que os segmentos em questão não
são fonemas (note que aqui estamos considerando “sons foneticamente semelhantes”.
Isto exclui pares de segmentos sem similaridade fonética como [h] e [q] em inglês). Se
não conseguirmos caracterizar dois segmentos suspeitos como fonemas distintos
devemos buscar evidência para caracterizá-los como alofones de um mesmo fonema.
Alofones (ou variantes) de um fonema são identificados por meio do método de
distribuição complementar. Quando dois segmentos estão em distribuição
complementar, eles ocorrem em ambientes exclusivos. Em outras palavras, onde uma
das variantes ou alofone ocorre, a outra variante não ocorrerá. Esta distribuição deve ser
válida para todas as palavras da língua em questão

O termo fonologia passa a ser utilizado por modelos pós-estruturalistas que analisam a
organização da cadeia sonora da fala - ou componente fonológico. Portanto, ambos os
termos fonémica e fonologia referem-se a modelos que tratam do estudo da cadeia
sonora da fala.

Segmentos fonológicos
Mateus et al (2003, p. 990), nos seguram que os segmentos fonológicos situam-se num
nível asbtracto, o nível fonológico, que é subjacente em relação ao nível de superfície, o
nível fonético. A identificação dos segmentos baseia-se nos dados empíricos do nível
fonético, interpretados no quadro de uma teoria determinada cujos princípios orientam
as hipóteses explicativas da organização e dos processos da componente fonológica. O
resultado do funcionamento dos processos fonológicos, que actuam sobre as sequencias
de segmentos fonológicos, permite-nos obter as representações fonéticas de superfície

11
que correspondem à realidade perceptual constituída pelas sequencias de sons. Em
última análise, são os sons que dao materialidade física às categorias linguísticas dos
restantes níveis da gramática. Esses sons são divididos nas duas grandes classes de
vogais e consoantes.

As vogais da língua portuguesa, como de qualquer língua, além de possuírem as


propriedades inerentes de intensidade, altura e duração com valor constrativo no plano
da sequência fónica, ou plano sintagmático, têm uma qualidade especifica, o timbre, que
lhes permite oporem-se distintivamente umas às outras no plano paradigmático. Essa
oposição que não se dá apenas entre vogais, mas entre estas e as consoantes so existe
porque os sons estão organizados em sistema e constituem paradigmas que são
maximamente estruturados do nível abstracto da fonologia. No nível concreto da
fonética, existem variações dos elementos fonéticos que decorrem de peculiaridades
individuais, regionais ou sociais, ou do meio de comunicação utilizado. Os aspectos
comuns dessas variações fonéticas permitem, no entanto, que os falantes do português
as interpretem como pertencendo a um único elemento do sistema, o segmento
fonológico. Os segmentos fonológicos são os fonemas da tradição da linguística
estrutural.

Em português não existem pares mínimos que ponham em paralelo ditongos e


sequências de duas vogais (por exemplo, pai [páj] vs. * [pái], o que indica que a vogal e
a glide não contrastam fonologicamente. Não existem, portanto, glides no nível
fonológico do português.

Classificação dos sons

Os sons da fala são as mais pequenas unidades linguísticas e consideram-se indivisíveis


porque não podem segmentar-se. São, no entanto, unidades complexas por serem
formadas por um conjunto de características analisáveis no que respeita à sua produção
(nível articulatório), aos seus aspectos físicos (nível acústico) e às suas qualidades
perceptivas (nível auditivo ou perceptivo). A presença ou ausência dessas
características, que podem ser apresentadas sob a forma de traços distintivos, diferencia
as unidades fonéticas entre si. Os traços distintivos são binários e a sua presença ou
ausência indica-se, respectivamente, por [+] e [-]. Esta classificação das unidades
fónicas, em que as propriedades de cada uma são discriminadas e identificadas por
traços, distingue-se da classificação tradicional na qual as unidades são entendidas

12
globalmente e se distribuem por classes como as oclusivas, as fricativas ou as dentais e
palatais.

Em fonologia, os traços distintivos são entendidos como as propriedades que falantes


reconhecem intuitivamente como identificadoras dos elementos do seu sistema
fonológico. Pelo facto de constituírem uma classe universal, os traços reflectem as
capacidades humanas de produção e perceção da fala. Sendo identificados pelos
falantes, reflectem também os conhecimentos que o locutor-auditor tem da sua própria
língua. Assim, considera-se que os traços distintivos, embora partam das características
fonéticas dos sons, ao identificarem os segmento fonológicos são propriedades
fonológicas da língua.

Processos fonológicos
Mateus et al (2003. p. 1009), afirmam que a componente fonológica tem duas
componentes: a componente lexical – que integra os itens lexicais e onde funcionam
certos processos fonológicos, e a componente pós-lexical, onde funcionam outros
processos. Os processos fonológicos que pertencem à componente lexical admitem
excepcoes às regras gerais e tomam em consideração informações dos itens lexicais e da
estrutura interna das palavras. Em princípio, os processos lexicais também não podem
ser como resultado segmentos que não pertençam ao sistema da língua.

Ademais, na derivação da palavra, observa-se que estes processos lexicais actuam antes
da saída para o nível da sintaxe onde se aplicam os processos pós-lexicais. Estes
processos integram regras sem excepcoes, podem ter como resultado segmentos que não
pertencem ao sistema fonológico (por exemplo: em português europeu, o [ɐ] em da [dɐ]
ou o [ɨ] em de [dɨ] e têm em conta a realização das palavras na frase. Muitas vezes, as
regras que se aplicam na componente pós-lexical são especificas de cada dialeto de uma
língua.

É imprescindível dizer, nesta pesquisa, que um dos processos fonológicos lexicais do


português é o processo do vocalismo átono. Na senda de Mateus et al. (2003) neste
processo actuam regras gerais e existem excepcoes à realização regular das vogais
átonas do português, o que justifica que o consideremos como um processo pertencente
à componente lexical.

Um outro processo fonológico lexical, que funciona obrigatoriamente antes do processo


de vocalismo átono, é a atribuição do acento principal de palavra, visto que esse

13
processo toma em consideração as vogais marcadas lexicalmente como não-variáveis. A
nasalização é também um processo lexical. Neste processo, o traço [+nasal] funciona
como um segmento autonomo, incidindo sobre a vogal e nasalizando-a (como em irmã,
por exemplo), ou realizando-se como a consoante [n] em certas palavras derivadas,
quando a vogal está seguida de outra vogal (como acontece com irmanar).

Descrição dos segmentos sonoros

 Consoantes- sons produzidos com obstrução da passagem da corrente de ar.


 Glides-sons que não possuem propriedades bem definidas em relação a corrente
dos ar. (Também chamados de semivogais ou semiconsoantes)
 Vogais – sons produzidos sem obstrução da passagem da corrente de ar

Descrição articulatória das consoantes


1. Mecanismo da corrente de ar (pulmonar, glotálico ou velar);

2. Corrente de ar (egressiva ou ingressiva);

3. Posição do véu palatino (levantado ou abaixado);

4. Estado da glote (vozeado ou desvozeado);

5. Articuladores envolvidos (activo e passivo).

Descrição das consoantes


As consoantes são descritas por:

1. Lugar de articulação: ponto em que o articulador activo “encontra” o articulador


passivo.

2. Modo de articulação: como e em qual grau ocorre a passagem de ar quando os


articuladores se encontram.

Lugar de articulação das consoantes


 Bilabial – activo: lábio inferior, passivo: lábio superior.
 Labiodental – activo: lábio inferior, passivo: dentes superiores.
 Dental – activo: língua, passivo: dentes superiores.
 Alveolar – activo: língua, passivo: alvéolos.
 Alveolopalatal – activo: língua, passivo: palato duro.
 Palatal – activo: língua, passivo: palato duro.
 Velar – activo: língua, passivo: véu palatino/ palato mole.
 Glotal – músculos da glote.

14
Lugar de articulação das consoantes
 bilabial:[p], [b], [m]
 Labiodental:[f], [v]
 Dental /alveolar : [t], [d], [s], [z], [n], [l], [ɾ], [ɹ], [ ]
 alveopalatal :[ʧ], [ʤ], [ʃ], [ʒ]
 Palatal:[ɲ], [ʎ]
 Velar:[k], [ɡ], [x], [ɣ]
 Glotal:[h], [ɦ]

Modo de articulação das consoantes


 Oclusiva: obstrução completa da passagem de ar através da boca. Véu palatino
permanece levantado.
 Nasal: obstrução completa da passagem de ar através da boca, mas há
abaixamento do véu palatino.
 Fricativa: há fricção durante a passagem da corrente de ar.
 Africada: primeiro ocorre obstrução total da passagem de ar, depois fricção. •
Tepe: ocorre uma rápida obstrução da passagem de ar na cavidade oral.
 Vibrante: ocorrem várias vibrações.
 Retroflexa: “encurvamento” da língua em direcção ao palato duro.
 Lateral: obstrução do ar ocorre na lateral da boca.

15
Conclusão
O processo de ensino aprendizagem de qualquer língua quer materna, quer
estrangeira, requer do futuro professor algumas competências. Dentre elas estão os
conhecimentos de fonética e fonologia, pois, ao trabalhar com tal disciplina, ele
poderá avançar no conhecimento da língua ou da variedade linguística dos alunos e,
juntamente com eles, estabelecer quadros de correspondência entre os sons, fonemas
e grafemas. Além disso, deverá incentivar a leitura de bons textos representativos da
nossa literatura, tanto nacional quanto regional, bem como a produção de textos,
com vistas a possibilitar ao aluno um contato mais direto com a ortografia das
formas da nossa língua.

Através dessas atividades desenvolve-se a aprendizagem em ortografia. Nesse breve


relato sobre o ensino de fonética e fonologia, espera-se ter chamado a atenção para
as realidades linguísticas a que estas abordagens remetem, para que possibilitem ao
professor de língua promover em sala de aula um melhor acompanhamento do
desempenho linguístico dos alunos em relação à fala e à escrita. Um
acompanhamento que não se restringe a aspectos da forma linguística estritamente,
enquanto um fim em si mesmo, mas, sobretudo, que considere os significados,
valores e representações do mundo do falante. Acompanhamento capaz de
acrescentar algo novo e até mesmo de modificar o que existe, no intuito de encontrar
uma melhor adequação para o aperfeiçoamento do processo ensino aprendizagem.

A disciplina fonética e fonologia é, sem dúvida, um subsídio indispensável para um


professor de língua, principalmente, para o de língua portuguesa, que, no conjunto
dos estudos linguísticos tem uma precedência lógica sobre quase todas as demais,
por constituir os primeiros aspectos da comunicação verbal, com os quais se
deparam os falantes de qualquer língua. As habilidades linguísticas e de
conhecimentos específicos inerentes ao ensinoaprendizagem, como os de fonética e
fonologia, são indispensáveis à formação do professor de qualquer língua,
principalmente o de língua materna, pode-se declarar textualmente pela experiência
que se tem com a disciplina e pelas respostas apontadas que as dificuldades nessa
área de conhecimento se dão por inúmeros fatores, conforme eles já elencaram, tais
como falta de base no ensino regular (fundamental e médio), pouca atenção e tempo
(carga horária) dados aos conteúdos, falta de aprofundamento dos conteúdos, visto
que alguns são discutidos superficialmente. Acrescente-se aí que essa disciplina não

16
somente nessa Instituição de Ensino como em outras tanto públicas como privadas é
pouco valorizada, a começar pela carga horária destinada a ela, com exceção de
algumas que acrescentam no currículo a disciplina fonética acústica, além da
articulatória, mas em grande parte como disciplina optativa. Essas reflexões
apresentadas ponderaram sobre o ensino de fonética e fonologia, o que não significa
trazer soluções definitivas sobre a temática. A intenção foi única e somente
demonstrar algo que inquieta a pesquisadora, falta de uma maior valorização dessa
área de conhecimento nos currículos de Letras. Como solução a médio e longo
prazo, talvez seja oportuno criar possibilidades de uma formação continuada para
aqueles que pretendem seguir a empreitada nesse campo de atuação (do profissional
de Letras).

Sem isso, não se conseguirá resolver um dos grandes problemas do processo de


ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa, que é o desconhecimento sobre como
funciona, de fato, o sistema linguístico da língua materna. Para isso, é indispensável
que o futuro professor esteja informado sobre as diversas realidades linguísticas,
sobre como funcionam e para que servem, a fim de que, com consciência e
fundamentos adequados, busque as soluções para cada caso na sua atuação em sala
de aula. Em síntese, os aspectos sonoros de uma língua formam a primeira realidade
linguística com a qual se defronta um ouvinte, constituindo, por conseguinte, os
dados materiais de uma dada língua ou fala. Por esse motivo são estas disciplinas
que oferecem ao aluno, e futuro professor, a compreensão de conceitos
fundamentais que se referem não apenas aos atos de fala, mas também à estrutura do
sistema da língua que se pretende aprender.

17
Referências bibliográficas
CHOMSK.Y, Noam & HALLE, Morris (1968). The sound pattern of english.
Harper and Row. New York

CRYSTAL, David. Dicionário de linguística e fonética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editor, 2000.

HOOPER, Joan (1972). The syllable in phonological theory. Language. 48. p. 525-
540

JAKOBSON, Roman. Seis lições sobre o som e o sentido. Lisboa: Moraes Editora,
1977.

Mateus, M. H. M et al. Gramática da Língua Portuguesa. Caminho Lisboa, 2003.

SILVA, Thais Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e


guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2007.

STAMPE, David. (1980). Natural phonology. Garland. Nova York

VENNEMANN, Theo (1972). On the theory of syllabic phonology. Linguistische


Berichte. 18. p. 1-18.

_________ . (1973). Phonological concretcness in natural generative grammar. In:


Towards tomorrow linguistics. SHUY & BAILEY (eds). Georgctown University
Press. Washington.

18

Você também pode gostar