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Disciplina

Língua Portuguesa: Fonologia

Coordenador da Disciplina

Prof. José Alber Campos Uchoa

8ª Edição
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.

Créditos desta disciplina

Realização

Autor

Prof. José Alber Campos Uchoa

Colaborador

Profª. Ana Cristina Cunha da Silva


Sumário
Aula 01: Do mundo à língua e aos meios de expressão .......................................................................... 01
Tópico 01: Começo de conversa: o mundo, a língua ............................................................................. 01
Tópico 02: Questões modernas no estudo de fonologia e grafia............................................................ 06
Tópico 03: O que há para ver na fala? ................................................................................................... 09

Aula 02: A articulação dos sons ............................................................................................................... 12


Tópico 01: O aparelho fonador visto de perto........................................................................................ 12
Tópico 02: Você é quase uma orquestra ................................................................................................ 15
Tópico 03: Cesse a música e o ruído, repouse sua voz, por um instante ............................................... 19

Aula 03: Os Fonemas do Português e Suas Realizações ........................................................................ 23


Tópico 01: Ainda entre fones e fonemas ................................................................................................ 23
Tópico 02: Grafando sons ...................................................................................................................... 25
Tópico 03: Vamos colher feixes? ........................................................................................................... 27

Aula 04: Fonemas, sons e letras ............................................................................................................... 31


Tópico 01: Relações entre as unidades dos meios de expressão da fala e da escrita ............................. 31
Tópico 02: Bem dentro do sistema ......................................................................................................... 34
Tópico 03: Símbolos alternativos para fonemas .................................................................................... 38

Aula 05: Aplicações do conhecimento de fonologia ............................................................................... 40


Tópico 01: Variação, erro e preconceito ................................................................................................ 40
Tópico 02: Non Vitae sed scholae discimus .......................................................................................... 44
Tópico 03: De volta para a língua e o mundo ........................................................................................ 48

Aula 06: Questões segmentais e prosódicas na fala e na escrita ........................................................... 51


Tópico 01: Houve progresso em nossa fonologia tradicional? .............................................................. 51
Tópico 02: O que é prosódia? ................................................................................................................ 56
Tópico 03: A voz entre os mundos......................................................................................................... 61
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 01: DO MUNDO À LÍNGUA E AOS MEIOS DE EXPRESSÃO

TÓPICO 01: COMEÇO DE CONVERSA: O MUNDO, A LÍNGUA

MULTIMÍDIA
Ligue o som do seu computador!

OBS.: Alguns recursos de multimídia utilizados em nossas aulas,


como vídeos legendados e animações, requerem a instalação da versão
mais atualizada do programa Adobe Flash Player©. Para baixar a versão
mais recente do programa Adobe Flash Player, clique aqui! [1]

PALAVRA DO COORDENADOR DA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA:


FONOLOGIA

VERSÃO TEXTUAL

Eu sou Alber, professor de Linguística e de Língua Portuguesa da


UFC, e coordeno a disciplina Língua Portuguesa: Fonologia. Nesta
disciplina nós estudamos o sistema fonológico do Português, como ele
se manifesta na fala e como se relaciona com o sistema ortográfico.
Esta é a primeira disciplina de Língua Portuguesa, por isso nós vamos
tratar também o tempo todo das ligações entre ela e as disciplinas que
são dedicadas a outros temas de linguagem, além de abordarmos
constantemente a produção e a apresentação dos textos das atividades
propostas no curso de vocês. Você vai perguntar para que serve o
estudo de Fonologia? Bom, o objetivo geral é você vir a possuir
conhecimentos úteis a seu trabalho como profissional de Letras:
ajudando a escrever textos e a planejar discursos orais, assessorando
quem precisar de conhecimento especializado em linguagem e,
principalmente, ensinando português. Mais particularmente, em
primeiro lugar, você será capaz de compreender as relações entre as
unidades fonológicas funcionais (fonemas), os sons da fala e a escrita.
Provavelmente, você já percebeu que há a necessidade de comparar a
fala e a escrita. Mas talvez seja novo para você a ideia de que um
sistema fonológico guardado no cérebro, no sistema chamado língua
portuguesa, é algo necessário para produzir os sons da fala, que
estudamos como sendo fonética. Outro objetivo é o conhecimento dos
mecanismos fonológicos necessários ao aperfeiçoamento da escrita. O
que nós sabemos, consciente e inconscientemente, da pronúncia não é
o único fator nterferente no sistema ortográfico, mas é imprescindível
para se aprender bem a grafia de palavras e frases. você vai
compreender melhor essas variações, para ajudar as pessoas a se
livrarem dos preconceitos linguísticos e usarem a língua portuguesa
competentemente. Nós vamos trabalhar juntos para chegar a um
ótimo resultado neste estudo. Eu vou estar ao alcance de vocês,
colaborando com o pessoal da equipe técnica, colaborando com os
tutores virtuais da disciplina, com tutor e coordenação do polo. Podem

1
entrar em contato inclusive por mensagem eletrônica ou por telefone.
Até.

Iniciamos aqui o estudo da Fonologia e, com ela, o estudo da fonética e


da (orto)grafia de nosso código verbal, o português.

Esta disciplina é a primeira de Língua Portuguesa. Por isso, os três


tópicos da Aula 1 servem também para a discussão de assuntos em torno da
língua e da fonologia. No Tópico 1, discutimos as características da língua e
suas relações com o resto do mundo. No 2, a fonologia, enquanto
componente da estrutura (interna) do português e área de estudo. No último
tópico, ficamos bem dentro da fonologia e chegamos à fonética, que estará
conosco na próxima aula.

Travemos (no bom sentido), neste tópico, portanto, uma longa conversa.
Não é propriamente um monólogo, como você pode descobrir pesquisando
sobre o dialogismo, termo de Mikhail Bakhtin.

Pela disciplina que introduziu a linguística, deve ter percebido que a


linguagem verbal, quando tomada como objeto de estudo, é complexa, falta
muito para a compreendermos plenamente.

LÍNGUA COMO BEM CULTURAL

Fonte [2]

Não vamos dizer que as visões que se tem dos idiomas dependem dos
pontos de vista. Por um lado, a língua é um dos bens em nossa cultura (ou
nos grupos culturais nos quais estamos). Aí, junta-se à maneira como nos
vestimos, à religiosidade, às manifestações artísticas, à alimentação, aos
hábitos e exigências interativos com as outras pessoas, os outros seres
vivos e o mundo em geral, nossas atitudes com relação à diversão e ao
prazer, à doença e à saúde, à vida e à morte, ao trabalho, ao estudo (não
ligue para esta ordem).

Por outro lado, a língua é a principal forma de representar em nosso


interior todas essas coisas. É o código para registrar, transmitir nossas
manifestações sobre os outros itens culturais da(s) comunidade(s),
inclusive os mencionados acima. É o meio de representação, registro,
análise de si própria. As coisas relevantes para você, para um mais de um
dos grupos dos quais você faz parte, associam-se a elementos da língua que
as representam. Por isso, há comunidades nas quais há dezenas de palavras
para o conhecimento das uvas, e você desconhece, assim como talvez não

2
saiba mais o que é mangará, bredo, maturi, alguedar, trempe ou as
diferenças entre terreiro, oitão, quintal, jardim e canteiro.

PARADA OBRIGATÓRIA
Você tem ideia da quantidade de linguagens e meios que combina, ao
longo do dia?

Conseguimos registrar e transmitir melhor pela língua que por outros


meios – olhar, toque, expressão facial, gesto – o que percebemos,
sentimos, pensamos. A maior parte desses sentimentos, pensamentos,
sensações pode ser verbalizada, isto é, codificada em frases. As frases são
construídas básica e primariamente no meio fônico-auditivo,
secundariamente em meio gráfico-visual. No dia a dia, mais comumente,
misturam-se códigos verbais e não verbal. Não há como traduzir tudo o
que é linguístico para um código não verbal, mas tenta-se traduzir tudo
que é não verbal para o código verbal, a língua.

DE QUE É FEITA A LÍNGUA?

A representação e a expressão (duas funções abrangentes da linguagem)


do que dissemos acima é possível com a codificação em signos. Podemos
chamar o conjunto dos signos, ampliando o sentido mais comum da palavra,
LÉXICO. Se nos preocupamos com a análise do “conteúdo” dos signos, vendo
as relações entre os conceitos, os significados, estamos fazendo SEMÂNTICA.
Os significados e suas formas servem a diversos tipos de informações. Podem
mostrar a finalidade ao outro, a posição e a atitude dos interlocutores
(PRAGMÁTICA). Como os itens (lexicais) se associam para formar palavras e
como elas variam (MORFOLOGIA), como as palavras se agrupam até
chegarmos às frases (SINTAXE), podendo-se chamar ao conjunto dos dois
GRAMÁTICA (não discutimos agora os múltiplos sentidos da palavra).

Tudo isso seria invisível e sem ação, se não houvesse na língua também
um conjunto de “instruções” inconscientes que permite codificar tudo em
formas perceptíveis. No tipo de código que chamamos linguagem verbal, há
um componente chamado FONOLOGIA, que relaciona todo o sistema que
descrevemos acima a sons. O material da fonologia é constituído por sons
capazes de ser produzidos no aparelho fonador, de ser captados pelo
ouvidos, interpretados por programas apropriados, perpassarem todos os
outros componentes ou níveis, modificarem nossa atividade mental. Disso
trata a disciplina Língua Portuguesa: Fonologia.

SONS E RISCOS: COMO USAR OS MEIOS DE EXPRESSÃO, FALANDO E ESCREVENDO

Entre as propriedades da linguagem verbal que têm a ver


diretamente com a fonologia está a de transferência de meio. Imagine um
processo que começa quando alguém pensa, sente, experiencia algo,
codifica com a língua, produz sons e faz surgir no outro, que adquiriu o
mesmo código, um pensamento, experiência, sensação semelhantes. Se o
contato pelos sons diretamente não é possível, dá-se a transferência de
meio: o material fônico é substituído por material gráfico.

Algo transferido para a grafia pode ser retransferido, por exemplo,


quando alguém faz sinais com a mão para representar letras do alfabeto, ou
3
grava folha de papel com pequenos pontos em relevo para um cego ler em
braile. Neste último caso, um conjunto de informações basicamente oral-
auditivo foi transferido para um meio gráfico-visual e retransferido para
um meio táctil.

Retomando o que dizíamos, o sinal fonológico, que é oral (pela


produção) e auditivo (pela recepção), pode ser recodificado, com perdas
maiores ou menores, para o meio gráfico (produção) e visual (recepção).
Em todas as línguas, os sons e a linguagem falada são básicos, necessários
à existência das grafias e da linguagem escrita. Nas línguas cuja grafia tem
motivação principal fonológica, faz uso de silabários ou alfabetos.

É indiscutível a ligação entre a fonologia e a (orto)grafia. Entretanto,


há na linguagem falada características sem correspondência na escrita e,
na linguagem escrita, há elementos próprios, sem correspondência na
fonologia, inclusive ideográficos. Por isso, na vida real, na maior parte dos
gêneros de discurso, não fica bem apenas a transcrição de um meio para
outro, devendo haver, de fato, tradução. Comumente, não só há mistura
entre as duas modalidades falada e escrita da linguagem verbal, mas
também mistura entre diversos tipos de linguagem. No cinema, por
exemplo, pode haver expressões de fala e escrita, em um ou mais idiomas,
enquanto outros tipos de código são utilizados. Em sala de aula, alternam-
se a fala e a leitura, principalmente. Quando você conversa, normalmente,
usa a linguagem verbal, cantarola melodia, indica objetos do ambiente,
gesticula, “fala” com expressões visuais ou contato manual.

TEM MAIS EM NOSSA EXPRESSÃO DO QUE O QUE SE DIZ POR AÍ

Quando se estuda fonologia de forma conservadora, e vem sendo assim,


porque nessa área têm demorado a chegar o frescor trazido à linguística pelo
funcionalismo e a pelas análises do discurso, trabalha-se com uma
linguagem verbal mínima, circunscrita a gêneros discursivos como o
noticiário padrão, as comunicações oficiais em linguagem culta. Nessa
linguagem, há correspondência praticamente perfeita entre os códigos falado
e escrito. Se você quiser pensar a respeito, compare os discursos do teatro, da
literatura de vanguarda, das histórias em quadrinhos, com a maior parte dos
ensaios, dos artigos técnicos, dos documentos civis, oficiais, do trabalho, do
Direito.

Mesmo assim, não pense que tudo se restringe, na fala, a fonemas


segmentais e prosódicos, ou, na escrita, a letras e sinais de pontuação stricto
sensu: vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, pontos final, interrogativo,
exclamativo, reticências. Parte da escrita que você aprendeu não é alfabética,
mas ideográfica. Brasileiros e alemães compreendem a frase “2 x 32 = 64”,
porque aí há 5 ideogramas, ou seja, signos nos quais o sinal gráfico,
significante, liga-se diretamente ao significado (quantidades, operações),
sem a intermediação de sons. Escrevendo, brasileiros teriam “Duas vezes
trinta e dois é igual a sessenta e quatro”, alemães escrevem “Zweimal
zweiundreissig, gleich vierundsechzig”, pronunciado mais ou menos
'tsváimal tsvái-unt-dráissiç glaiç fiia-unt-tsvántsiç' (em tradução literal,
“doisvezes doisetrinta, igual quatroesessenta”).

4
Na fala, as unidades dessa linguagem estudada mínima são os fonemas
segmentais e suprassegmentais (ou prosódicos: acento lexical, entoação,
pausa). Na escrita mínima, são, para o português, 26 letras maiúsculas e 26
(esquecendo o c-cedilha) e os sinais de pontuação. Isso é o que gostamos de
repetir numa escola tradicional.

Numa situação média real, devemos contar pelo menos com os


caracteres do teclado do português brasileiro padrão, o ABNT-2. Esse texto
está sendo digitado em um teclado que permite a impressão de 97 caracteres,
com 48 teclas para caracteres normais imprimíveis, para espaço, inclusive,
todos utilizados com frequência, mais as opções normal, itálico e negrito.

Um escrevente de nível superior, e você é um deles, vale-se de mudança


de espaços (no texto, nos parágrafos, nas linhas, entre linhas, entre
palavras), tamanho e distanciamento de caracteres, troca de fontes, outros
sinais, inclusive, nesta disciplina, dos caracteres do Alfabeto Fonético
Internacional.

OLHANDO DE PERTO
Disso trata nossa disciplina. Veremos como funciona o que é
fonológico, regularmente codificado no português para a modalidade
falada. Como é a fonética, a percepção dos sons realizados, concretamente,
na fala.

Discutiremos as questões que têm a ver com as relações entre o fônico


e o gráfico, como esses meios são traduzidos um para o outro. Como
fonemas e grafemas, sons e letras, palavras, grupos de palavras, orações,
frases e discursos (não só fonemas e grafemas são sinalizados) são
construídos e mostrados, com seus materiais apresentados aos ouvidos e
aos olhos.

Sua tarefa, neste momento, é apenas REVER o conteúdo do tópico,


PENSAR E DISCUTIR a respeito, ORGANIZAR SUAS ANOTAÇÕES. Guarde-
as, por enquanto, com você.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.adobe.com/products/flashplayer/
2. http://www.bn.pt/images/agenda-foto-destaque-cplp.jpg
3. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 01: DO MUNDO À LÍNGUA E AOS MEIOS DE EXPRESSÃO

TÓPICO 02: QUESTÕES MODERNAS NO ESTUDO DE FONOLOGIA E GRAFIA

O estudo de fonologia não pode ser feito com perguntas simples que se
respondem rapidamente, e que perdem a validade no fim de uma disciplina.
Nosso objeto de estudo está bem no meio de mil (linguagem figurada: são
muitos mais) fenômenos que nos atingem no dia a dia.

MULTIMÍDIA
Você vai ver que, nos exercícios propostos e nas atividades avaliadas,
será exigida a observação da fala comum, a audição de gravações, a
audiovisão de diversos tipos de mídia. Por isso, precisa verificar seus
recursos no computador ou em outros aparelhos e descobrir como se
consegue o acesso a arquivos de áudio e vídeo.

Sugerimos que assista a tais mídias uma primeira vez, sem se


preocupar com as instruções das aulas, e anote suas impressões.

Nas outras vezes, leia as instruções da aula, anote seus comentários,


inclusive dúvidas e pontos de vista.

FÓRUM E CHAT PERMANENTES


Durante todo o período das aulas e em todos os momentos estão
abertos um ambiente de bate-papo e outro de fórum, para a discussão livre
entre você seus colegas, entre você e o professor.

Esses dois ambientes não serão avaliados nem contarão presença,


mas são bem úteis para o aprendizado geral, para ajudar nas atividades
avaliadas e para ter um bom desempenho no final do curso.

Você pode utilizá-los, inclusive, para pedir esclarecimento.

Note que, pelo menos no final de duas das aulas, concluído o fórum
obrigatório, o tutor e o coordenador vão chamar você para aprofundar e
revisar, no fórum livre e no chat, conteúdos das aulas anteriores.

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Observe, no vídeo indicado abaixo, a expressão facial e o que é
possível ver nos mímicos que apresentam a canção de Adriana Calcanhoto
[1].

Depois, peça ao amigo não participante do curso para ler pelo menos
um verso da canção e lhe pergunte o que é possível perceber sobre como
os sons correspondentes às palavras do verso são pronunciados: em que
partes do aparelho fonador são produzidos, como acontece a pronúncia, o
que pode ser facilmente observado e o que não pode. Seu trabalho vai ser o
relato disso tudo."

6
Seu trabalho deve ter cabeçalho (indicando pelo menos a disciplina, a
data e seu nome completo) e trazer no início a instrução acima
("Observando... da gravação"). O arquivo deve ter título, por exemplo:
LPFonologia_port1_Maria_Ester.

PARA UMA ESCRITA MAIS CLARA E FÁCIL

SUGESTÕES PARA SEUS ESCRITOS

Essas são as primeiras de uma série de instruções que têm a


finalidade de facilitar sua tarefa e colaborar para seu aperfeiçoamento
em comunicações por escrito.

1. Uma boa resposta é sempre bem compreendida por quem não leu o
enunciado que a motivou. Ao responder, retome as ideias centrais da
pergunta. Assim evitará, por exemplo, que a pergunta comece com “Por
que...”, e você inicie a resposta com “Quando...”

2. Cumpra as exigências do enunciado da questão. Estão lhe pedindo


opinião, comparação, que discorde, que explique?

3. Respostas têm partes, que correspondem a partes da pergunta. Uma


questão pode prever, por exemplo, que você se manifeste sobre duas coisas,
quanto a dois pontos de vista diferentes: neste caso, uma boa resposta deve
apresentar pelo menos quatro informações.

4. Se tiver dificuldade em escrever, imagine que conta o que viu a um


amigo. Pode ser melhor começar livremente, a esmo. Mas, no final, releia,
faça a revisão, você mesmo, de tudo que escreveu.

5. Sabemos que está aprendendo, e o erro é parte importante do


processo. Se considerarmos sua resposta inaceitável, entraremos em
contato e você poderá melhorá-la.

6. Note a diferença entre os dois usos de com, nesta afirmação: Os


falantes, ao dizerem a expressão do texto acima “com licença”,
pronunciam a palavra com com o véu palatino aberto. A sublinha (ou o
itálico) indica que a palavra é um objeto do que se está dizendo, não a
preposição com em sua função normal na frase.

7. Observe que, no item acima, expressão citada ficou entre aspas.


Mostre o que é discurso dos outros, dentro de seu discurso. E lembre que
citar é dizer de novo, repetir, não sinônimo de dizer, afirmar...

8. Para qualquer tarefa, é melhor fazê-la defeituosa, que não


responder à solicitação. E você pode até não conseguir concluí-la, mas tem
que começar. Se nada funcionar, escreva explicando por que não foi
possível, mas mantenha o contato!

Q. O que se quer dizer exatamente, quando se afirma ser um certo


som “arredondado”? Exemplifique.

R. Diz-se que um som é arredondado, porque, em sua pronúncia, os


lábios assumem formato arredondado. Isto fica claro, por exemplo, quando

7
comparamos a forma dos lábios nas pronúncias de [i] e [u], nas palavras
vive e luxo.

OBSERVE:

◾ A resposta poderia ser compreendida por quem não leu a pergunta, porque
foram retomados elementos-chave.
◾ A pergunta exigia duas unidades significativas (o que se quer dizer...,
exemplifique...), que foram atendidas.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.youtube.com/watch?v=A7SHfUXLK28
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 01: DO MUNDO À LÍNGUA E AOS MEIOS DE EXPRESSÃO

TÓPICO 03: O QUE HÁ PARA VER NA FALA?

Neste tópico, sugerimos que comece a observar a linguagem nas ruas,


em casa, no material que trouxemos para você e em outros que você vai
procurar, sem tarefa obrigatória.

O novo vídeo que assistirá será retomado no início da próxima aula, já


para o estudo de fonética. No período do tópico atual, muito interessante,
parece-nos, é despertar para a multiplicidade de informações agregadas
dentro e em anexo às unidades de linguagem verbal.

Agora, entre na página abaixo (ou use CD contendo o vídeo):

http://www.youtube.com/watch?v=A7SHfUXLK28 [1]

Escolha uma expressão com poucas palavras pareça formar


uma unidade na pronúncia, por exemplo:

"fogueira sem brasa"


"que ser assim"
"mil alto-falantes"

Depois discuta com seus colegas, sem reutilizar expressão ou


parte que um deles já tenha escolhido, sobre o que é possível
descobrir a respeito da produção dos sons, a partir:

(a) dos movimentos no rosto dos artistas;


(b) da pronúncia de Adriana Calcanhoto;
(c) do exame que você faz em seu aparelho fonador, quando tenta
repetir os sons.

Use espelhinho de mão para ver seu aparelho fonador, dos


lábios à úvula. Aí começa a faringe, de onde é possível a passagem
para as fossas nasais, para a laringe (na direção dos pulmões) e
para o esôfago (indo até o estômago).

9
Sinta toques e movimentos dos órgãos do aparelho fonador.

O professor interagirá com você e seus colegas, inclusive


esclarecendo pontos difíceis.

FÓRUM 1
O que lhe ocorre ao assistir ao vídeo, espontaneamente no início
(anote suas impressões) e depois, quando tenta dividir o que observa?

FÓRUM 2
Quando nos concentramos exclusivamente no que diz a canção ouvida
e em sua letra escrita, que itens diferentes podem ser considerados, da
língua, como isso é representados nos livros sobre a língua, em uma
gramática escolar e Internet, por exemplo?

Quando você leu livremente um conto, em casa, por sua iniciativa,


chegou a certas descobertas, conclusões, suas. Quando lhe entregaram um
conto, na escola, com a instrução "Mostre as três causas da reação do
funcionário à ordem que recebeu", o instrutor fechou, recortou sua
experiência, levando você a parar de pensar em quaisquer outras coisas, a
adotar um ponto de vista como o único permitido.

Quando você observa este vídeo livremente pela primeira vez, também
tem expectativas e descobertas abertas. Dependendo de suas experiências,
interesses, atitudes, vê coisas mais ou menos diferentes das que são vistas
por outras pessoas, inclusive por seus colegas.

Vamos fazer um recorte em suas impressões. Talvez estejamos excluindo


coisas nas quais você pensou, impingindo o que você não pensou, não
considera relevante.

Considere o que dizemos no quadro abaixo, observe o vídeo, pense no


que sugerimos, GUARDE SUAS ANOTAÇÕES PARA TRABALHAR NA
PRÓXIMA AULA.

O que é visto depende de QUEM vê. No vídeo, além de títulos,


inscrições na tela, cor de fundo, idade dos cantores, é possível perceber o
seguinte.

1. Movimentos corporais, de um ou dos dois cantores,


integradamente.

2. Expressões faciais, especialmente nos olhos, boca ou em todo o


rosto.

3. Gestos e outros movimentos das mãos ou dos braços, em parte


"desenhando" coisas ou sentimentos, às vezes apontando.

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4. Uma canção completa, com acompanhamento de instrumentos.
Mas você pode ouvir separadamente, abstraindo, certa percussão, certo
instrumento ou apenas a canção na voz de Adriana Calcanhoto.

5. Pode até deixar de notar a voz, abstraindo as notas e o que é


cantado, para ver apenas a "letra", o texto, com seus significados.

6. Agora, e estamos terminando essa enumeração, imagine ver como


as frases são construídas, que classes de palavras vêm em que lugares das
frases, como as palavras se flexionam.

7. E pode “ver” apenas as partes na quais vamos nos concentrar, no


tópico: (a) a pronúncia da cantora; (b) a parte da performance dos dois
artistas, que nada cantam, mas movem seus aparelhos fonadores de forma
ostensiva. Isto, agora, é FONOLOGIA.

O que você consegue descobrir sobre a produção dos sons, a partir


da pronúncia de Adriana Calcanhoto, dos movimentos no rosto dos
artistas, das tentativas de repetir tudo em seu aparelho fonador?

REFERÊNCIAS
MAIA, Eleonora M. No reino da fala: a linguagem e seus sons. São
Paulo: Ática, 1985.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.youtube.com/watch?v=A7SHfUXLK28
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 02: A ARTICULAÇÃO DOS SONS

TÓPICO 01: O APARELHO FONADOR VISTO DE PERTO

Nesta aula, temos atividades sobre a articulação dos sons baseadas


principalmente em vídeo, começando pelo que você viu no fechamento da
aula 1. O que há de mais teórico, você lê no texto sobre fonética
articulatória.

Alexander Graham Bell É possível descobrir muito sobre o aparelho fonador, pelos toques
sentidos quando se repete sons, ora da forma mais natural, ora cuidadosa e
lentamente. Pelo exame do rosto externamente enquanto alguém fala, pouco
se pode perceber.

A esposa de Alexander Graham Bell, escocês que ensinou nos Estados


Unidos fisiologia da fala e registrou em 1876 a invenção do telefone,
dominava tão bem a técnica da leitura labial, que sua surdez só foi
descoberta pela filha por acaso. Embora estivesse bem próxima da filha, a
mãe não atendeu ao seu chamado, por estar de costas. Esse tipo de leitura da
fala tem sido utilizado por técnicos que procuram interpretar frases
inaudíveis, espiões russos que, durante a Guerra Fria, adivinhavam
conversas com binóculos e só falavam uns com os outros em restaurantes
mantendo uma taça na boca, repórteres de esporte que tentam “ler” frases de
jogadores de futebol.

A compreensão só é possível, sem a audição, porque observamos gestos


e expressões visuais, conhecemos um contexto, já esperamos certas palavras
e prevemos certos sons, utilizamos estratégias de leitura, principalmente
pela expectativa de significados. Entretanto, ao ouvirmos, somos levados a
reproduzir em nosso aparelho fonador os sons que nosso interlocutor vai
produzindo.

Para os destaques feitos a seguir, além da observação do vídeo, é bom


ter espelho pequeno e o texto (“Os sons da fala” ) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.), onde está o desenho do aparelho fonador.
Chamamos sua atenção inicialmente para o estudo das cavidades (de
ressonância) e das posições da língua.

POSIÇÕES DOS LÁBIOS E CAVIDADE BUCAL

Observe os movimentos labiais, que, em certos casos, são traço


distintivo, ou seja, característica simples suficiente para distinguir um
fonema de outro(s), capazes, por sua vez, de distinguir palavras.

Esteja atento, principalmente, à vogal da sílaba tônica da última


palavra de cada frase. Essa posição é privilegiada, pois a sílaba acentuada,
além de mais forte, é mais longa. A última sílaba tônica de uma frase é
mais longa ainda, e nela há também a entoação decisiva para indicações
frasais como os tipos interrogativo e declarativo.

Observe, em:

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Avião sem asa,

Fogueira sem brasa,

como vai mudando, em cada verso, a abertura dos lábios na pronúncia


das vogais. Atente principalmente para as vogais das últimas sílabas
tônicas no final dos versos: asa, brasa. Note a abertura máxima dos lábios
e a grande visibilidade do interior da boca. Isso acontece porque o som
de /a/ em posição tônica tem como traços:

- a abertura máxima da boca, sem arredondamento dos lábios;

- a posição central da língua;

- a posição maximamente baixa da língua, contra o chão da boca.

Compare as aberturas mencionadas com as que ocorrem no som [e]


(como em “você”, “mesa”), também não arredondadas, e com a transição
de [e] para [u], em “eu”, esta última com arredondamento dos lábios, quase
“biquinho”.

Conclua a observação das aberturas, por enquanto, com a observação


dos rostos no verso:

“Piupiu sem frajola”.

POSIÇÃO DA LÍNGUA

Observe a imagem na pronúncia de “assim sem você”. A boca, aberta,


permite a visão de seu interior: tanto em [s] quanto em [e] a língua está
avançada, frontal, anterior, por isso fica visível. Compare essas pronúncias
com a de “asa“ e “brasa”. Compare, em sua pronúncia também, as alturas
da língua nas três ocorrências de [s] em “assim sem você”. Experimente
prolongar o som musical de [ê] com o ruído que nos dá a impressão de
fricção do ar porque a língua toca levemente os alvéolos ou os dentes.

Observe o que acontece nas vogais tônicas de "futebol sem bola".


Também aí se vê o interior da boca.

Compare o vídeo com o que sente em seu aparelho fonador. Repita


os sons de [ê], [á], [ó].

Por que não se vê a língua, na pronúncia do som grafado com “o” em


“futebol sem bola”, foneticamente [ó], ao contrário do que aconteceu em
[ê]?

Experimente pronunciar os sons da canção, enquanto observa o


diagrama abaixo. Sinta inicialmente as vogais cardeais:

• [i] - o som vocálico pronunciado na posição mais alta e mais frontal


possível;

• [u] - o som mais alto (falamos da altura na língua na boca) e mais


posterior possível, quer dizer, com a língua recuada ao máximo;

• [a] a vogal mais baixa, a língua apertada contra o chão da boca e com
a maior proximidade possível dos dentes inferiores.
13
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 02: A ARTICULAÇÃO DOS SONS

TÓPICO 02: VOCÊ É QUASE UMA ORQUESTRA

Carmen Miranda [1]

No texto “Os sons da fala”, ao falarmos das vogais, demonstramos que lá


havia só música. A voz, produzida na vibração das cordas vocais, ressoa de
modo diferente conforme nosso instrumento modifica o espaço da boca, mas
os sons vocálicos mais fechados (ou altos) não são tão fechados ou altos que
cheguem a provocar ruído.

Violão [2]

Bandolim [3]

Balalaica [4]

15
Banjo [5]

Se estivéssemos diante de um violão, um bandolim, uma balalaica


triangular, um banjo, a forma da caixa de ressonância não mudaria, a
abertura (um deles nem tem) seria sempre a mesma.

Seu instrumento vale muito mais, pois muda a ressonância do


vozeamento vindo das cordas vocais (que, de fato, são pregas).

As vogais distinguem-se pelas mudanças sem ruído, conforme alguns


parâmetros: posição assumida pelo deslocamento vertical, pelo
deslocamento horizontal, pelo formato da abertura dos lábios, por estar o
véu palatino levantado (nos sons vocálicos orais) ou abaixado (nos
nasalizados).

Pois o aparelho fonador humano não só pode mais, de certa maneira,


que os instrumentos musicais ao ter caixas de ressonância que se modificam,
como também é capaz de fazer não só as vezes de instrumento de corda e de
sopro, mas também de instrumento que produza ruído, de percussão.

Talvez você tenha ouvido Tic tac do meu coração, samba escrito por
Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva. Não, não é exatamente um
lançamento recente, Carmen Miranda cantou em 1942, ninguém que tenha
trabalhado neste texto era nascido, mas vai continuar sendo um clássico no
mundo.

A letra da primeira estrofe é assim:

O tic tic tic tac do meu coração

Marca o compasso do meu grande amor

Na alegria bate muito forte

E na tristeza bate fraco por que sente dor

Experimente ouvir ou dizer em voz alta, sentindo o que acontece em seu


aparelho fonador.

PRONÚNCIA DOS SONS CONSONANTAIS

Na pronúncia dos sons consonantais (porque esperava-se que eles só


soassem com uma vogal, nunca sozinhos), há ruído apenas (quando são
NÃO VOZEADOS) ou ruído e som musical (nos SONS VOZEADOS).

Os ruídos acontecem por causa de três graus de altura-fechamento,


que, modificados, fazem o parâmetro I das consoantes, o MODO DE
ARTICULAÇÃO, quer dizer, COMO a articulação acontece. Obviamente,

16
para que surja um som, é preciso que haja também um parâmetro II,
referente ao PONTO ou zona de articulação, ONDE e COM QUE ACONTECE
a articulação.

O maior grau de altura do articulador ativo, de fechamento do canal


articulatório, dá-se quando o falante mantém toque entre os dois
articuladores: ativo (lábio inferior, ponta, lâmina, dorso, raiz da língua) e
passivo (lábio superior, dentes superiores, alvéolos, palato (duro), véu
palatino, úvula). Assim, produzem os tipos de sons consonantais
PLOSIVOS (oclusivos), com fechamento completo (oclusão), como em [t],
para “tac” “tristeza”.), NASAIS, como em “m”, “n” acima iniciando sílaba, e
“nh” em “tenha”.

Há ainda o som classificado como TEPE, tradicionalmente “vibrante


simples”, como no som representado por “r” em “coração” e “alegria”, em
que o toque é uma leve batida, geralmente, aqui, da ponta da língua contra
os alvéolos.

No grau médio de altura-fechamento, o ar é forçado entre os


articuladores, lembrando uma de fricção. Acontece nos sons FRICATIVOS,
como no “r” em início de palavra. Se você não produz vibração, não diga
que seu som é vibrante só porque as gramáticas dizem. Esse som ocorre
antes de consoante e pausa (em linguagem muito cuidadosa) ou grafado
“rr”. Note acima “fo[h]rte”, “po[h] que sente do[h]”, aqui notados como
glotal não vozeado (explicamos mais no texto anexo). Acima há ainda sons
fricativos alveolar, labiodental e pós-alveolar (em “tri[s]teza”, com “s”
chiando semelhantemente a “ch”, de “cheiro”).

No grau mínimo de altura do articulador ativo nas consoantes se dá


nas chamadas semiconsoantes ou, semivogais, pois são intermediários.
Não há, é claro, um ruído, mas um movimento causado pela aproximação
entre os articuladores. Esses sons são oficialmente chamados de
APROXIMANTES. São os sons do “r” em inglês e, em português, os sons em
“me[w]”, “d[j] um atro[j]z viver”, “Nã[w] quer qu[j]_e_[w] tenha nessa
vida ma[j]s desilusã[w]”. Há muito mais a respeito, que você verá nos
textos já indicados.

PARADA OBRIGATÓRIA
Ah, você pode pegar a letra toda em:

O Tic-tac do Meu Coração - Letra. [6]

ou ver e ouvir (a imagem não poderia estar melhor) em:

Carmen Miranda - Tic-Tac Do Meu Coração

FONTES DAS IMAGENS


1. http://4.bp.blogspot.com/-HSW3AE3ZYUY/UjmtYzNwP0I/AAAAAAAB
dAU/AphyYlYuEb4/s640/carmen-miranda-ca-early-1940s-everett.jpg
2. http://3.bp.blogspot.com/-VqWGaVJSlVA/UXcmPEOpO1I/AAAAAAAA
AKQ/CS4uDO1Xfrk/s1600/godin_violao_motif_q1.jpg
3. http://www.semibreves.pt/Imagens%201/BANDOLIM.jpg

17
4. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/TenorBalalaika
1.jpg
5. http://musicalmart.net/shop/images/Banjo_Large(1).jpg
6. http://letras.mus.br/carmen-miranda/o-tic-tac-do-meu-coracao/
7. http://www.denso-wave.com/en/

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 02: A ARTICULAÇÃO DOS SONS

TÓPICO 03: CESSE A MÚSICA E O RUÍDO, REPOUSE SUA VOZ, POR UM INSTANTE

VERSÃO TEXTUAL

Na aula anterior, fizemos um exame rápido do aparelho fonador.


Nesta aula, discutiremos bastante a transcrição fonética, a
classificação dos sons do português e a variação fonética, chegando à
fonologia.

Neste tópico, tecemos algumas considerações, à guisa de revisão,


revendo fenômenos vistos.

Voltando à canção de abertura, tomemos dois versos. Vamos dividi-los


em sílabas, conforme o que se ouve, foneticamente, não conforme alguma
gramática que pensa em palavras isoladas. Poremos numa primeira linha os
sons que iniciam sílabas (aqui, todos consonantais) e, na segunda, os núcleos
das sílabas, sempre uma vogal, seguida ou não de uma semivogal:

Futebol sem bola,

Piupiu sem Frajola,

Seu aparelho fonador vai se mexendo de forma tão rápida, que teríamos
dificuldade em compreender sentidos de cada signo se nos concentrássemos
conscientemente nas mudanças. Inconscientemente, entretanto, você ouve e
re-produz sons, combinando muitos traços, e considerando um fonema
completamente diferente de outro, embora só um traço varie.

Nos sons do primeiro grupo (tente pronunciar isoladamente f – t – b


– s - b – l -), acontecem ruídos causados por obstáculos à passagem do ar.
Verifique onde os ruídos acontecem, o que causa obstáculo ao ar. Como,
com que, onde os ruídos acontecem? Em [f] e [s], o ar é forçado a sair com
aperto sem fechamento total (modo de articulação), entre o lábio inferior
(que se eleva) e os dentes superiores para [f], entre a coroa ou lâmina da
língua e os alvéolos, para [s]. Para [l], a ponta da língua fecha o centro do
canal nos alvéolos, enquanto o ar passa livremente pelos lados.

Nos sons correspondentes a u – i – ó – e – ó - a não há obstáculos,


apenas a voz, o tom, a nota que vem das cordas vocais ressoa
diferentemente, conforme mude o formato da boca e dos lábios, conforme
haja ressonância apenas na boca ou se abra a passagem para as fossas
nasais.

19
CONCLUSÃO:

O que fizemos durante essa aula foi pensar sobre quatro parâmetros,
quatro itens que podem variar para diferençar sons. No texto "Os sons da
fala”(clique aqui para abrir) (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.), você pode verificar os traços, as classificações para esses
itens. Vai ver O QUE se verifica, COMO e ONDE os sons são pronunciados; se
há nessa pronúncia ressonância nasal, se há ou não vozeamento, isto é,
vibração das cordas vocais.

SE VOCÊ CONSEGUIR TEMPO, FAÇA ESSA ATIVIDADE OPCIONAL...

EXERCITANDO
Converse com músico(s) sobre o que ele(s) sabe(m) das semelhanças
entre como uma pessoa fala e como vem a existir música em seu(s)
instrumento(s): violão, acordeom, gaita, flauta, violino, tambor, pandeiro
e outros. Algumas sugestões do que deve discutir com ele(s):

• Como é produzido o som em seu instrumento musical (o que vibra e


produz som)? Você sabe como é produzido em outros instrumentos? E na
gente, quando se está cantando, você sabe como o som é produzido?

• Para que serve a caixa do violão (do cavaquinho, do violino, da viola,


etc.)?

• O que acontece quando se segura uma corda mais perto das


cravelhas (no violão) ou mais perto do centro e da caixa do instrumento?

DICA
No texto desta aula, falamos mais ou menos que um ponto
privilegiado na fonologia da língua é a vogal da sílaba tônica.

Uma vogal assim, além de mais FORTE, é mais longa, quer dizer, tem
maior DURAÇÃO.

Se essa vogal é a última tônica antes de PAUSA, por exemplo, no fim


de uma frase, é ainda mais longa e também recebe o TOM, que caracteriza
uma ENTOAÇÃO frasal.

Finalmente, nesses pontos privilegiados, é maior a distinção entre os


TIMBRES das vogais.

Os termos destacados com negrito acima são utilizados por


profissionais da linguagem como professores de língua(s), gramáticos,
filólogos, linguistas.

FÓRUM
Com base no que você experiencia ao ouvir e ao sentir o que acontece
quando pronuncia sons de expressões (grupos de palavras) ouvidos na
canção informada a cima, classifique-os conforme modo e zona de
articulação, e o que acontece nas cordas vocais. Conte neste fórum as

20
experiências anotadas e colabore com seus colegas, ajudando-os a
compreender. Por exemplo, como é o som consonantal na sílaba inicial de
"relógio” pronunciado por um(a) cearense? Como podemos classificar esse
som?). Ele tem a mesma classificação de outros sons correspondentes à
letra 'r' na pronúncia cearense?".

GUARDE ESTE QUADRO PARA TÊ-LO TAMBÉM AQUI COM A AULA

ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (REVISÃO DE


2005)

Reduzimos os símbolos aos comumente usados para o português e


alteramos levemente colunas, linhas e termos, como descrevemos abaixo
do quadro.

• Foi excluída, depois da coluna das uvulares, uma das faringais. Depois
das fricativas, a linha das laterais fricativas. A linha das aproximantes
(semivogais) desceu, ficando mais próxima das vogais altas. A mudança
se justifica também para conferir maior coerência à iconicidade quanto à
abertura, pois nas laterais ainda há contato entre os articuladores.
• Quanto aos termos, no IPA original, ao lado do termo
“tap” (“batidinha”, “vibrante simples”) há o termo “flap”. Preservamos o
termo “plosivo”, que é substituído em português por oclusivo, porque
também as nasais são oclusivas (na boca, embora o ar fique livre em sua
passagem para as fossas nasais).

MULTIMÍDIA

21
“Transcreva foneticamente a palavra “Cachorro””:

Video transcrição fonética 1 prof Nelson Costa. [1]

Video transcrição fonética 2 prof Nelson Costa. [2]

Video transcrição fonética 3 prof Nelson Costa. [3]

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.youtube.com/watch?v=HQmCb2GLSZ8&feature=youtu.be
2. http://www.youtube.com/watch?v=iI3x01yauvc&feature=youtu.be
3. http://www.youtube.com/watch?v=aeJJCKfjQhA&feature=youtu.be
4. http://www.denso-wave.com/en/

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 03: OS FONEMAS DO PORTUGUÊS E SUAS REALIZAÇÕES

TÓPICO 01: AINDA ENTRE FONES E FONEMAS

Wir bezeichnen die Sprechaktlautlehre mit dem Namen Phonetik, die


Sprachgebildelautlehre mit dem Namen Phonologie. (Trubetzkoy, 1939, p.
7)

Designamos o estudo dos sons no ato de fala como fonética, o estudo


dos sons na estrutura da língua como fonologia.

Fonte [1]
Николай Сергеевич Трубецкой
Nikolai Sergeievich Trubetzkoy (Moscou, 1890 – Viena, 1938)

Você pode ver mais nesse site [2].

Até a aula passada, do conjunto de todos os sons, tomamos para estudo


exclusivamente os sons da fala, isto é, os que podem ser produzidos por um
aparelho fonador, reconhecidos pela audição humana e utilizados em
discurso (“paroles”). Das abordagens possíveis, preferimos a articulatória.
Sinais desse ponto de vista são a escolha de termos como “oclusivo”, baseado
na oclusão que ocorre no aparelho fonador; e “vozeado”, que quer dizer, com
vibração das cordas vocais.

Nosso intuito nesta aula é, depois de deixar mais firmes seus


conhecimentos sobre a transição entre o aspecto fonético e o aspecto
fonêmico dos meios de expressão, discutir o sistema fonológico do
português. É que falta ainda fortalecer seu conhecimento de fonética, de
classificação de sons, da transcrição e leitura do Alfabeto Fonético
Internacional. E aproveitamos para compreender melhor as
correspondências entre o que é fonético (relativo à pronúncia, aos fones,
sons da fala) e o que é fonêmico, do sistema, da língua.

Esta aula é mais teórica que as anteriores e que as próximas. Mas não
pode ser só de tentativa de compreensão de afirmações nossas, deve ser bem
acolhida para seu raciocínio, tem que fundamentar-se também no que você
vai observar em tarefas. Deve ser complementada pela leitura do texto
recomendado, mas avaliaremos a partir dessa aula, não do texto.

CHAT
O “chat”, sobre as convenções do Alfabeto Fonético Internacional,
deve ser combinado entre grupos de alunos e o professor. Importam na
discussão as dúvidas sobre as convenções na tabela do Alfabeto Fonético
Internacional, a compreensão dos termos que estão lá, para fins práticos.
Em uma direção, você deve ser capaz de, ouvindo um som, escolher um
símbolo. Na outra direção, precisa ser capaz de, vendo um símbolo,
pronunciar o som correspondente.

23
Note que este bate-papo não é obrigatório, não vale nota diretamente
nem conta para as presenças.

Sugerimos, entretanto, que você aproveite o ambiente para discutir


com seus colegas e com o professor o que propusemos acima e, ainda,
noções como “feixe de traços”, traço fonético.

Tenha em mão tabela do Alfabeto Internacional. Para usá-la bem,


experimente dois procedimentos. Em um, você deve ser capaz de, ouvindo
um som, escolher um símbolo. No outro, precisa ser capaz de, vendo um
símbolo, pronunciar o som correspondente.

FÓRUM
Veja a terminologia da classificação dos sons, baseada em traços
fonéticos (modo e ponto de articulação, uso das cordas vocais,
nasalização...) e aproveite para esclarecer ou pedir esclarecimento a seus
colegas, experimentando a pronúncia normal de palavras do português.
Por exemplo, pode-se dizer que o som consonantal na sílaba inicial de
“ritual” é “vibrante”?

FONTES DAS IMAGENS


1. http://static.newworldencyclopedia.org/thumb/4/47/Nikolai_Trubetzk
oy.jpg/180px-Nikolai_Trubetzkoy.jpg
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikolai_Trubetzkoy
3. http://www.denso-wave.com/en/

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 03: OS FONEMAS DO PORTUGUÊS E SUAS REALIZAÇÕES

TÓPICO 02: GRAFANDO SONS

VERSÃO TEXTUAL

Voltamos ao tema principal de nosso tópico, a transição entre


fonética e fonêmica, propondo a você um exercício. A finalidade da
tarefa é aumentar sua habilidade na percepção dos sons da fala e em
sua transcrição, levando-o a comparar os aspetos fonéticos e
fonêmicos da linguagem.

Ouça uma frase, dita num contexto em que três amigos estão famintos
em uma praia, sem dinheiro suficiente para pagar almoço em restaurante ou
barraca. Ouvir

Numa audição normal, você, provavelmente, nem se daria conta de que


aí há algo com características gramaticais, lexicais, fonológicas, porque a
língua é antes de tudo instrumento para a vida. Pensaria apenas na sugestão
alimentar. Num segundo momento, se lhe dizem “pense nesta frase”,
poderia até anotar, sem perceber algo notável. Finalmente, se lhe pedem que
atente para as características da pronúncia, talvez, conforme seu grau de
“consciência lingüística”, perceberia que algo não corresponde à pronúncia,
digamos, canônica (tem a ver com cânon).

Alguém treinado faria dessa massa fônica a seguinte transcrição:

Bom, estão aí as questões que vão guiá-lo mais especificamente no


exercício.

EXERCITANDO
1.Copie, melhor dizendo, desenhe os símbolos da transcrição,
traçando-os com base em duas linhas, como nos cadernos de ortografia.
Observe como os símbolos podem ter (1) corpo central apenas, contido
entre as duas linhas; (2) também corpo superior, acima da linha I, (3)
corpo central e inferior, abaixo da linha II; (4) corpo superior começando
acima da linha I, corpo central, e corpo inferior para baixo da linha II:

2. Anote o que chama sua atenção na frase transcrita. Verifique que


dúvidas tem quanto a que sons correspondem a cada símbolo, onde um
símbolo deve ser utilizado. Consulte as tabelas do AFI e os textos
disponíveis.

25
3. Observe, a representação fonêmica correspondente à transcrição
fonética já vista. Compare-as. Registre o que lhe parece notável ou
estranho.

4. Seu esforço neste exercício ajuda nos fóruns e atividades


indiretamente, prepara você para compreender melhor os próximos
tópicos, será decisivo na avaliação presencial. Por isso, guarde tudo bem
com você. Lembre: pode usar o fórum livre para comentários, dúvidas,
colaboração com seus colegas.

Chamamos sua atenção para a necessidade de representar graficamente


a pronúncia dos sons, quando, no trabalho de ocupados com atividades sobre
a linguagem, é necessária esta escrita técnica.

Talvez você esteja entre as pessoas que, cada vez mais, procuram evitar
“caprichar” no manuscrito. O problema já existia e deve ter-se intensificado
com o domínio, para muitos, completo, da escrita de teclado.

Se é comum a recusa ao aprendizado dos símbolos da escrita caligráfica,


típicos da escrita à mão, imagine dizer a você que terá que traçar símbolos
pormenorizadamente, de forma que não se confundam os símbolos do
Alfabeto Fonético Internacional.

A finalidade deste exercício é aumentar sua habilidade na percepção


dos sons da fala, na habilidade de traçar e “ler” esses símbolos em
representações fonéticas.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.denso-wave.com/en/

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 03: OS FONEMAS DO PORTUGUÊS E SUAS REALIZAÇÕES

TÓPICO 03: VAMOS COLHER FEIXES?

Talvez a proposta desse tópico nem lhe tenha trazido ideias


verdes, campestres, muito menos bucólicas (dicionário!).
Estamos tão longe dos campos, no tempo, no espaço e no gosto!
Depois, como colher feixes, se nossos antepassados enfeixavam o
que já havia sido colhido?

Um feixe é feito de coisas amarradas juntas, como pequenos


ramos com folhas ou talos de capim, de forma que, levando-se um
dos componentes, vão todos.

O termo metafórico foi utilizado, entre outros, pelos funcionalistas do


Círculo Linguístico de Praga, para quem o fonema não se define bem nem
por suas características psicológicas, nem por suas características físicas,
mas por sua função, e funciona para distinguir significados na língua
(Trubetzkoy, 1939; 41, apud Hyman, 1975: 67).

Quando você atribui certa característica a alguém de quem ouve dizer


que é “pabo”, em representação fonêmica /’pabu/, no dialeto culto, pábulo, é
porque seu cérebro interpretou traços, características de uma cadeia de fala.

SABE O QUE FAZ “PABO” DIFERENTE DE “PAPO”?

Falante do português, você consegue perceber a distinção entre dois


ruídos que podem ocorrer entre as vogais /a/ e /u/. Num deles, /p/, as
cordas vocais param um instante de vibrar; no outro, /b/, elas continuam
vibrando durante o fechamento e a explosão nos lábios. De resto, tanto
em /p/, quanto em /b/, há fechamento completo que impede a passagem
do ar. O ponto onde isso ocorre são os lábios - o véu palatino não permitem
que o ar ressoe na cavidade nasal.

Dizendo de outra maneira, /p/ e /b/ têm em comum os traços


[Oclusivo], [Bilabial], [Oral], mas são diferentes no traço referente ao
vozeamento: [Não-Vozeado] / [Vozeado]. Não há muita certeza quanto a
como os falantes da língua sabem que as cadeias de fala se distinguem. Não
se tem normalmente ideia clara de que uma imagem acústica é constituída

27
de alguns segmentos. E, se temos consciência dos segmentos, é porque os
vemos como feixes, sem visibilidade dos traços que os compõem.

PARADA OBRIGATÓRIA
De fato, traços, essas menores entidades, fones, fonemas e
arquifonemas (descubra o que é isso) são abstrações, conceitos
estabelecidos pelos linguistas, que os postularam na tentativa de decifrar
esse mistério que é a linguagem verbal.

E não se insurja contra os estudiosos da linguagem por isso. No outro


lado dessa história, estão conceitos considerados “pré-teóricos”, como os
de palavra: pessoas comuns falam dessas coisas e acham que sabem, mas
quem tenta estudar isso criteriosamente não consegue explicar com
clareza e facilidade.

E não fique triste. Nem os professores, o orientador, os construtores


deste texto compreendem, nem Saussure compreendia bem os fenômenos
naturais correspondentes ao que ensinamos. Não estivemos presentes na
hora em que as línguas começaram a existir.

Nem o esperanto [1], a língua internacional completamente


planejada, explica isso, porque foi construída com as características
naturais de línguas menos planejadas como o latim e o grego, o francês, o
inglês, o alemão, o polonês.

Veja os traços da sequência de segmentos /'pabu/. Note que, por serem,


cada um dos segmentos, um FEIXE de traços, sua cognição os toma como
unidade na maior parte do tempo, e você não tem consciência dos traços
atados juntos. As abreviaturas à esquerda são para MODO de Articulação,
PONTO ou zona de Articulação, cavidades de RESSONÂNCIA e
VOZEAMENTO:

[p] [a] [b] [u]


MODO [Oclusivo] [Livre] [Oclusivo] [livre]
[Posterior,
PONTO [Bilabial] [Central, Baixo] [Bilabial]
alta]
[Oral, [Oral,
- Arredondado + Arredondado
RESSONÂNCIA[Oral] [Oral]
+ Nasalizado] - Nasal]
VOZ [-Vozeado] (Vozeado) [Vozeado] (Vozeado)

SE VOCÊ QUER EXPLICAÇÃO SOBRE OS TERMOS

Diferenças entre esses termos e outros que você conhece devem-se a


tentativa nossa de reduzir as incoerências nas descrições tradicionais, que
repetem informações e obrigam à memorização, sem pensamento. Uma
dessas incoerências vem do tratamento de consoantes e vogais com
critérios diferentes e incomparados.

Quanto ao MODO de articulação, que é inerente ao ser “vogal”, as


vogais se opõem às consoantes por serem articuladas de forma livre, sem
impedimento que produza ruído. Quanto ao VOZEAMENTO, espera-se que
as vogais (de vocale, de vox, voz) sejam vozeadas, embora com frequência
esse traço mude, não sendo distintivo, como na maior parte das
consoantes, em português. Em muitos textos tradicionais e modernos, os

28
termos usados para “não vozeado” e “vozeado” são surdo e sonoro, mas
tais termos podem não ser adequados, pois tudo que tem som é sonoro.
Por exemplo, em dois sons não-vozeados fricativos pronunciados
demoradamente, um pós-alveolar e outro labiodental, o primeiro tem mais
sonoridade, chama mais a atenção: experimente pronunciar
cuidadosamente “enxada” e “enfado”.

Dois dos traços atribuídos às vogais, as posições da língua na boca,


horizontalmente (anterior ou frontal, central, posterior) e verticalmente
(alto / fechado, médio-fechado, médio-aberto, baixo ou aberto)
correspondem, nas consoantes, ao ponto ou zona de articulação. Os outros
dois traços têm a ver com a ressonância, ou seja, com as cavidades (faringe,
fossas nasais, formas internas da boca, lábios).

A ressonância é comumente ORAL, pois já determinada pelas formas


tomadas no espaço bucal em virtude das posições da língua. Além disso,
pode ter ressonância acrescida (a) nasal (Nasal, Não Nasal), combinadas
com a (b) labialidade (Arredondado, Não Arredondado). Isto acontece
porque os lábios, ao modificarem a forma da saída da cavidade bucal,
acrescentam ou não espaço, que cria caixa de ressonância.

A palavra pabo, acima, nos faz pensar em “pata”, “bata”, “tapa”, “taba”,
“Fado”, “pato”. Também em inglês, a oposição simbolizável por /p/ e /b/
existe. Entretanto, em português é importante na distinção o traço de
vozeamento (nas outras coisas, nos outros traços /p/ e /b/ são iguais), em
inglês é importante a aspiração. Daí o repetido exemplo do brasileiro que,
ouvindo “Go to the gate B” (pronunciado [geit pij], foi para o portão P... que
seria pronunciado [phij], ou seja com um sopro mais forte na explosão
bilabial.

Há falantes do inglês que distinguem os fonemas e em “mat”,


'esteira', e “met”, passado de 'encontrar', respectivamente, por pronunciarem
a vogal da primeira palavra de forma tensa, mas, a da segunda, de forma
lassa, relaxada. Línguas cariris distinguiam séries de vogais orais simples,
nasalizadas e faringalizadas; línguas semitas como o hebraico, o árabe e o
aramaico usam a faringalização para distinguir os ambientes “enfáticos” (o
aumento relativo da parte posterior da boca em comunicação com laringe
produz certo efeito de ressonância, uma consoante articulada assim
influencia o timbre da vogal). A maior parte dos traços é comum a muitas
línguas, mas elas os enfeixam de forma diferente.

A língua é vista como sistema com subsistemas, um dos quais é o


fonológico. E em cada sistema (isto é, língua, idioma... ou dialeto) há uma
fonologia específica desse sistema. Se você compara os sons de “pata”,
“bata”, “tapa”, “taba”, “fado”, “pato”, nota que a oposição entre [p] e [b] é
funcional, tem utilidade, e que a um dos fonemas é correlacionado o outro.
Se não fosse assim, teríamos licença para, em uma mesma palavra,
realizar /b/ ora com vozeamento, ora sem.

Da mesma forma, em italiano:

29
as frases significariam respectivamente 'Esta noite te vemos' e 'Esta
noite nos vemos'. Em português, entretanto, em 'Bom, nós te vemos lá' será
compreendido quer pronunciemos [ti], quer [tši]. Os sons são semelhantes
nas expressões dos falantes das duas línguas, mas cada sistema se organiza
diferentemente: ser um som alveolar ou dental simples ou africado,
começando com oclusivo e sendo liberado como fricativo, acontece nas duas
línguas. Em português, entretanto, é apenas fenômeno fonético, sem
distinguir significados. Empregamos acima o símbolo [š], para o som
correspondente a “chá”, e que surge também depois de “t”, em “tipo”. Veja a
que corresponde na tabela do AFI.

Classicamente, falantes de espanhol não distinguem dois timbres, “ó”,


médio-aberto, e “ô”, médio-fechado, mas os falantes de português, sim.
Falantes do japonês não distinguem [r] de [l], no sistema, embora os dois
sons existam em sua fala. Para o português, a existência ou a possibilidade de
virem a existir com significados diferentes os pares mínimos cujas formas
ortográficas são “avó” e “avô”, “bolo” (substantivo, com “o” fechado) e
“bolo” (verbo, com “o” aberto) são provas de serem esses SONS pertencentes
a dois FONEMAS diferentes em nosso sistema. Mas [tš] antes de [i] no Ceará,
ou depois de [i] em falares da Bahia, por exemplo, em “muito” e
“Eita!” [ejtša:] são ALOFONES de um mesmo fonema, coisa de fonética, não
de fonêmica.

REFERÊNCIAS
SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e fonologia do português. 5. ed.
São Paulo: Contexto, 2001.

TRUBETZKOY, Nikolaus S. Grundzüge der Phonologie. [Princípios


da fonologia] 7. ed., Göttingen (Alemanha): Vandenhoeck &
Ruprecht, 1989 [1. ed: 1939].

O nome pode ser pronunciado “trubetscói”. Há grande variação


nos nomes transliterados do russo para as línguas de alfabeto latino,
ora seguindo-se modelos franceses, ora ingleses, ora alemães.

No blogue abaixo há vínculos interessantes para a fonologia:

http://inter-lingua-gem.blogspot.com [2].

FONTES DAS IMAGENS


1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperanto#Hist.C3.B3ria
2. http://inter-lingua-gem.blogspot.com
3. http://www.denso-wave.com/en/

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30
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 04: FONEMAS, SONS E LETRAS

TÓPICO 01: RELAÇÕES ENTRE AS UNIDADES DOS MEIOS DE EXPRESSÃO DA FALA E DA ESCRITA

Esta aula trata de algo essencial a um profissional de linguagem, um


graduado em Letras: distinguir claramente os aspectos fonético, fonêmico e
gráfico da língua, conhecendo como se relacionam. É uma aula de tópicos
curtos, mas que necessita de tempo seu para o desenvolvimento do que está
proposto, inclusive no fórum e no portfólio. Você pode contar com os textos
do nosso material de apoio e com a consulta intensa aos tutores.

Ouça a música cantada nos anos de 1960 pelo então imaturo Chico
Buarque. Compare-a, se quiser, com a mesma canção na voz (esta, madura)
de Nara Leão, no mesmo vídeo. Você pode pegar cópia com seu tutor ou
entrar em:

A banda - Chico Ao vivo – 1966 [1]

FÓRUM
Nos trechos de A Banda, observe os símbolos da representação
ortográfica, os da transcrição fonética e os da representação fonêmica
apresentados abaixo, comparando-os atentamente e anotando o que você
vai pensando. Discuta com seus colegas no fórum, contando com as
indicações do professor, sobre os fatores de variação dos sons na produção
das frases em discursos (quer dizer, quando o conhecimento da língua
arquivado em sua memória é atualizado, por exemplo, ao cantar uma
canção ou conversar, em frases).

TRECHO

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Relate suas observações sobre a correspondência e a falta de
correspondência entre os fonemas do português e as unidades (letras e
sinais) que utilizamos em nossa escrita. Você deve discutir com professor

31
de sua cidade que não participa do Curso de Letras, relatar e comentar o
que ela ou ele diz.

MULTIMÍDIA
Algumas sugestões para completar sua formação nessa área:

Examine novas gramáticas, das que são normalmente indicadas para


as escolas ou estão nas livrarias, na parte de ensino médio. Anote o que
encontrar.

Veja mais sobre as dificuldades da língua, assistindo a vídeo com o


professor Cláudio Moreno. Pegue cópia ou entre em:

Prof. Moreno no Sem Censura [2]

"Sobre o novo acordo ortográfico, veja os vínculos (links”!) abaixo.

Acordo ortográfico de 1990. [3] (Visite a aula online para realizar


download deste arquivo.)

Para ter ideia geral dos acordos entre Brasil e Portugal:

Acordo ortográfico [4]

Sítio brasileiro onde muitos tentam tirar dúvidas:

Sua língua [5].

REFERÊNCIAS
Citamos no tópico as gramáticas:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed.,


revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. (1a. edição:
1961)

BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa.


Para o Ensino Médio e cursos preparatórios. 37. ed., revista e
ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

CIPRO NETO, PASQUALE, INFANTE, Ulysses. Gramática da


língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998.

CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português


contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. Todas
as gramáticas de Celso Cunha, em qualquer edição, interessam. Só
não as recomendamos para a área de fonologia.

NAVARRO, Tomás. Estudios de fonología española. New York:


[Sem informação de editora, v. Rocha Lima, acima, p. 10], 1946.

PASSOS, José Alexandre. Diccionário grammatical portuguez. Rio


de Janeiro: Antonio Gonçalves Guimarães, 1865. (p. 107)

32
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da
língua portuguesa. 29. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972,
1988.

RECOMENDAMOS:

◾ CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua Portuguesa.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1970.
◾ CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Para o estudo da fonêmica
portuguesa. Rio de Janeiro: Simões, 1953.
◾ Outras gramáticas, principalmente as que estão em uso nas escolas
ou à venda nas livrarias e distribuidoras, dependendo de seu exame.
◾ O blogue abaixo, no qual quase não há textos, mas têm vínculos
interessantes para fonologia, inclusive para a comparação entre o
português e o inglês.

Neste blogue há vínculos (“links”) interessantes para a


fonologia: http://inter-lingua-gem.blogspot.com [6]

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.youtube.com/watch?v=wFPPawLq_5Q
2. http://www.youtube.com/watch?v=4Ppus1hfmoY
3. http://www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf
4. http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=acordo
5. http://www.sualingua.com.br/
6. http://inter-lingua-gem.blogspot.com
7. http://www.denso-wave.com/en/

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 04: FONEMAS, SONS E LETRAS

TÓPICO 02: BEM DENTRO DO SISTEMA

Seu trabalho neste tópico é pensar, olhando três tabelas.

Primeiro, reveja o AFI adaptado por nós, tentando compreender o que


temos dito sobre traços fonéticos conforme os parâmetros Modo e Ponto de
Articulação, Ressonância e Vozeamento.

SONS MAIS HABITUALMENTE NOTADOS NO PORTUGUÊS


BRASILEIRO

Compare os símbolos dessa com os da próxima tabela.

DICA
Nela, ficaram em uma só célula os fones que se agrupam e são
sentidos como um só fonema. Cada fonema deve ser representado por um
símbolo, mas a escolha é de ordem prática: prefere-se tomar o mais
comum ou mais fácil de traçar, digitar.

OBSERVAÇÃO
Observe que não há uma ligação obrigatória entre a realidade fonética
e a percepção dos fonemas pelo falante-ouvinte, que é programado para
perceber os traços relevantes em sua língua. O fato de a aspiração de sons

34
oclusivos ou o alongamento de vogais não serem percebidos por um
brasileiro para distinguir significados não significa que os dois fenômenos
não aconteçam em português, que sejam difíceis de produzir. Podem
existir, e serem completamente irrelevantes, ou terem outras funções que
não a fonêmica, para mostrar atitudes e sentimentos, por exemplo. Você
pode ver mais sobre isto no texto distribuído.

FONEMAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ENQUANTO


GRUPOS DE SONS

Dois exemplos, para você conferir na tabela são os fonemas /a/ e /r/

Em /a/, os quatro símbolos fonéticos correspondem a variantes,


conforme o fonema ocorra em sílaba acentuada, antes de vogal
(foneticamente, semivogal, aproximantes), em sílaba átona final ou em
outras posições átonas. Entretanto, nada disso muda significado,
portanto as diferenças são irrelevantes fonemicamente.

EXERCITANDO
Transcreva as duas frases, localizando os símbolos do AFI, lembrando
que /r/ passa por forte assimilação: pode ser tepe (vibrante simples) ou
retroflexo, ou fricativo. Se for fricativo, tem forma vozeada antes de

35
segmentos vozeados, não vozeada antes de som produzido sem vibração
das cordas vocais. Talvez precise ler o texto.

Com base na tabela acima, perguntamos algumas coisas, para motivar


seu raciocínio. Se não conseguir respondê-las apenas olhando a tabela,
consulte o texto anexo distribuído, outros textos, colegas, seus tutores.

Finalmente, oferecemos, abaixo, diagrama com símbolos para os


fonemas. Uma representação fonêmica do português brasileiro não poderia
deixar de exibir menos que essas unidades. Por outro lado, uma transcrição
fonética muito ampla, dizendo de forma mais clara, vaga, sem pormenores,
teria que informar pelo menos essas mesmas unidades.

Você, sozinho, poderia chegar a esse inventário, usando a técnica de


pesquisa de pares mínimos. Egípcios, semitas, hindus não tinham curso de
Letras à distância e inventaram muito do que usamos hoje... Repetimos, a
pesquisa de pares mínimos é uma técnica para verificar se em uma língua
dois sons, fones, pertencem a um mesmo fonema ou se sua diferença é
distintiva, se estão em oposição, por servirem para distinguir significados. É
mais ou menos assim:

DESCUBRA A FONOLOGIA EM VOCÊ

Experimente tomar a palavra “mana” e substituir o segundo [n] por


[ñ], o som correspondente ao dígrafo “nh”. Você obtém a palavra que se
escreve “manha” e descobre que o novo segmento, sozinho, (permanecendo
“ma _ a”) é responsável por um novo sentido.

Tente com “manha” e “mama”. De novo há distinção. E com “mama” e


“mapa” (estamos simplificando, usando a escrita, mas estamos prestando
atenção aos sons, não às letras!)?

E entre “mapa” e “maba”? Você não conhece nada que se diga “maba”,
mas se ouvisse algo assim acharia que não é o mesmo que “mama”, nem
“mapa”, certo? Ou seja, intuitivamente você sabe que:

a. A nova palavra poderia existir e ser sentida como da língua


portuguesa.

b. Essa nova palavra teria novo sentido, dificilmente seria o mesmo


que “mapa” ou “mama”.

c. Isto aconteceria apesar de, entre [p] e [b] haver um único traço
diferente, a vibração das cordas vocais; entre [b] e [m] também haver um
único traço diferente, a abertura do véu palatino que permite a nasalidade.

Neste momento, concluímos que o português possui pelo menos os


fonemas que podemos simbolizar com /n/, /ñ/, /p/, /b/.

Vamos pensar nas vogais. Já deve ter notado que em “ele” (pronome) e
“ele”, nome da letra, há mudança na pronúncia que corresponde a
mudança no significado. Então, estão aí mais dois fonemas, que vamos
simbolizar com /e/ e /ε/.

36
Continuando, concluirá o inventário dos fonemas de sua língua. E seu
trabalho pode estar bem melhor que o exposto em muitas gramáticas.

Neste quadro, atendemos a critérios como ser um conhecimento de uso


mais geral (os manuais tradicionais, em geral, optam pela existência de 7
vogais orais e 5 nasais), falta de coerência nos argumentos das obras mais
reconhecidas pelos linguistas (não consideramos ser /i/ um fonema em
oposição a /y/, ser /u/ oposto a /w/).

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


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37
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 04: FONEMAS, SONS E LETRAS

TÓPICO 03: SÍMBOLOS ALTERNATIVOS PARA FONEMAS

PARA VER INFORMAÇÃO IMPORTANTE SOBRE SÍMBOLOS ALTERNATIVOS

SÍMBOLOS ALTERNATIVOS PARA FONEMAS

Vem-se procurando utilizar em transcrições fonéticas exclusivamente


os símbolos da versão mais recente do AFI, mas em certas obras e em
certos países faz-se muito uso de símbolos alternativos. Quando se trata de
representação fonêmica, o uso de símbolos de fontes comuns,
principalmente no ensino em cursos que não são de Linguística, pode ser
recomendável.

Podem ser usados, em vez de seis símbolos difíceis do AFI, os que


sugerimos nessas palavras:
Não é fácil encontrar
símbolos para o “o aberto”: aqui, tomamos um do cirílico, encontradiço nos
computadores, que parece com o do AFI, mas nas línguas eslavas indica
“e”. Compare-os cuidadosamente com os da tabela fornecida
anteriormente.

Aqui, deu-se preferência a fonte Arial, para destacar da Times New


Roman, e foi o usado o recurso Inserir... Símbolo. Tomaram-se, então, um
letra espanhola (ñ, basta digitar “til”, “n”), letras gregas e eslavas
.

Temos tentado até aqui, como é costume em cursos de linguística,


utilizar o Alfabeto Fonético Internacional. É possível adquirir fontes para
esses símbolos e inseri-los em meio aos das fontes mais comuns, por
exemplo, preferência Arial e Times New Roman.

Observe, na tabela que pusemos a sua disposição, que é possível reduzir-


se a quantidade de símbolos em uso pondo nas transcrições sinais
diacríticos. Tais sinais são úteis para mostrar, por exemplo, que, em
português brasileiros, sons como [t], [d] e [n] ora são realizados pelo contato
da língua com os dentes, ora esse contato acontece nos alvéolos. Além disso,
sons como [t] e [d] podem ser palatalizados (compreenda bem, depois de
consulta ou pesquisa, o que significa esse termo). Esses sinais são bons
também para indicar nasalização, duração maior ou menor, falta de
realização da liberação do ar, etc.

Quando isso não é prático ou possível, podem-se tomar sistemas mais


fáceis. Uma possibilidade é tomar outros símbolos previstos comumente,
como uma letra espanhola (para 'ñ', basta digitar 'til', 'n'), letras gregas ('ε',
épsilon, para 'é aberto'; 'λ', lambda, para o som de 'lh') e eslavas ('š' para ao o
som inicial em 'chá', 'ž' para o som inicial em 'jogo'). Camara Jr. empregou
para os sinais acima 'l,', 'n,', 's' e 'z'.

Quanto à nasalização, é possível em vez de 12, considerar-se símbolos


para apenas 7 vogais (orais), com um traço suprassegmental também

38
fonêmico acrescentado a cinco (correspondentes a [a], [ê], [i], [ô], [u]). Esse
traço pode ser grafado [~] ou [N]. `Para:

“São sons também”

ficaria:

['sa~u~ 'so~s ta~'be~i~]


['saNuN 'soNs taN'beNiN]

Um sistema chamado SAMPA usa exclusivamente símbolos do teclado,


inclusive algarismos e letras maiúsculas, facilitando também o uso dos
símbolos fonéticos na computação. Alguns símbolos ficam parecidos com os
do IPA: o som "reduzido", médio, xuá fica sendo "[6]" (parecido com o do
IPA, que parece letra "e" invertida); vogais abertas: [E] e [O]; fricativas pós-
alveolares: [S] e [Z]. A frase:

'Ele quer que Pelé finja que gosta de você'

ficaria:

['eli kEX ki pE'lE 'fi~Za ki 'gOSt6 dZi vo'se]

Quando você estiver ensinando ou exercendo outra atividade associável


à formação em Letras, é importante compreender que suas decisões ao
valer-se de mais ou menos símbolos, mais ou menos complexos, dependem
das características, interesses e aptidões das pessoas a quem se destina a
atividade.

SAMPA é o SAM Phonetic Alphabet, do projecto SAM (Speech


Assessment Methods). É comum chamar-se o Alfabeto Fonético
Internacional de IPA, mesma sigla da International Phonetic Association.

REFERÊNCIA
GLEASON JR, H.A. An Introduction to descriptive linguistics.
Revised edition. New York: Holt, Rinehart and Winston, Inc., 1955,
1961. Em português: Introdução à Linguística descritiva. 2. ed.
Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1985. Vem saindo por outra
editora. Pronuncie, em português brasileiro, “glíssan”.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.denso-wave.com/en/

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39
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 05: APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO DE FONOLOGIA

TÓPICO 01: VARIAÇÃO, ERRO E PRECONCEITO

Nesta aula vemos aplicações do conhecimento de fonologia do


português, ampliando e revisando conceitos já abordados. Trata-se, neste
primeiro tópico, do erro e do preconceito linguístico. No segundo tópico,
discutimos a variação em fonética e na fonologia do português, e aludimos
a falhas gráficas que podem ser motivadas pela variação fonológica. No
tópico 3, unindo fonética, fonologia e grafia, temos pequena ideia do que
se chama por vezes fonoestilística.

FÓRUM
Anote e discuta as variações na pronúncia, às vezes alterando até a
quantidade das sílabas das palavras, ouvidas na conversa comum no
município onde você mora.

Uma das coisas mais perturbadoras para os formados em letras é o que


os leigos e os profissionais de Letras com formação deficiente chamam
genericamente “erro”. Mostramos alguns fenômenos a você, mais
perguntando que afirmando.

Considere dois fatos, trazidos aqui sem prova.

(1) Conforme uma velha falácia sobre o a pronúncia nordestina, nós


nasalizamos mais que os falantes de outras regiões, e é ERRO a
nasalização das vogais antes de consoantes nasal, como em sena, rama,
clone.

(2) Há quem acredite, também, que a pronúncia boa para Roraima,


faina, Jaime é a que nasaliza a vogal, [Rorãima], por exemplo.

Você pode se perguntar mais. Por que a nasalização em (1) é “erro”, que
critério deve ser usado para o julgamento? Por que a nasalização em (2) é
“boa”? Se é mau nasalizar uma vogal que vem imediatamente antes de uma
consoante nasal, porque é bom nasalizar a vogal que vem duas casas antes da
consoante nasal, separadas a vogal e a consoante por uma semivogal? Por
que não é o contrário, a pronúncia (1) do Nordeste “boa”, a pronúncia (2) de
parte do Sudeste “errada”?

EXERCITANDO
Interaja com seus coletas no fórum livre, no chat, ao telefone, em
encontros reais.

Se, depois de tentar resolver o que propomos abaixo interagindo com


seus colegas, ainda for necessário algum esclarecimento, consulte o tutor à
distância, ou discuta com ele no último encontro presencial.

40
Dissemos acima que, em português, distinguem-se os fonemas /ε/
e /e/, /r/ e /R/, /š/ e /ž/, /s/ e /z/, /f/ e /v/. /v/ e /b/. Em algumas dessas
oposições, temos fonologia mais rica que o espanhol, o italiano, o francês,
o alemão e o inglês, o que explica as dificuldades que eles sentem, tratadas
acima. Pense, anote, discuta o seguinte.

◾ Essas oposições podem ser demonstradas com pares mínimos.


◾ Nesses pares mínimos, o que distingue dois “feixes” (porque se chama
assim?), dois sons, pode ser um único traço.
◾ Apresente a transcrição fonética e a representação fonêmica das palavras
que você sugere para formar os pares mínimos.
◾ Com relação à nasalidade, também se pode falar de pares mínimos? Em que
circunstâncias a nasalidade das vogais e ditongos é fonêmica, distintiva,
funcional, necessária? Quando é meramente fonética?

Há no mercado gramáticas, manuais de redação, apostilas de cursinhos,


revistas dedicadas à linguagem, “plantões gramaticais” que atendem por
telefone e, na Internet, páginas que cuidam também de dúvidas de
linguagem.

Vejamos inicialmente um trecho de um livro muitas vezes modificado


(citamos a 28ª edição). Para ler, clique abaixo.

CLIQUE AQUI PARA ABRIR

banana

Não é obrigatório, mas a melhor pronúncia desta palavra é bãnâna, e


não “bánâna”.

Sempre que houver uma consoante nasal após uma vogal, esta é
fechada. Note que estamos falando em PREFERÊNCIA de pronúncia, e não
em erro. Fazemos questão de fazer a ressalva, porque sempre há uns e
outros que, ansiosos pela crítica, desejosos do nosso sangue, querem logo ir
à veia, à jugular.

Recentemente, uma mulher foi a um programa de televisão de


entrevistas e cantou uma música da bossa nova, em cuja letra aparece
várias vezes a palavra banana. Foi “bánâna” para cá, “bánâna” para lá, para
dar e vender. Afeou a música.

Não erre mais (Sacconi, 2005: 107)

Saiamos um pouco de fonologia, entremos em semântica, pragmática,


análise do discurso. Veja uma lista das palavras de julgamento e atitude.
Umas são de ressalva, abrandamento, outras de imposição disfarçada: “não é
obrigatório”, “mas é melhor”; está falando de “preferência”, não de “erro”.
Quando alguém pronunciou da maneira criticada, “afeou a música”.

Para o autor, “sempre que houver uma consoante nasal, esta [a vogal
antecedente] é fechada”, ou seja, não pode acontecer a variação que é apenas
fonética, não prejudica a língua. Não há, nesta posição, no Brasil, oposição,
mudança de sentido, se alguém pronuncia .

Com certeza, estamos entrando para o rol dos “uns e outros” que estão
“ansiosos pela crítica”. Talvez, em nova edição, Sacconi pelo menos explique

41
por que, havendo duas vezes “an”, na palavra, na primeira sílaba deve haver
nasalização, mas, na segunda, apenas fechamento.

Bom, se você está curioso por essas questões, divirta-se procurando,


principalmente nos livros que corrigem a expressão das pessoas comuns em
situações comuns, negando-se a admitir formas de dizer diferentes em
situações e pessoas diferentes, e em fartos exemplos da Internet, inclusive
em comunidades do Orkut, “errando” e corrigindo.

Nossa opinião sobre o erro não é muito diferente da dos linguistas, bem
vista por John Lyons (1987). Façamos uma brincadeira, aliás, repetida por aí.

Leia o que se segue, descontraidamente (foram retirados os acentos


gráficos):

Vjea que mtouis dos nssoos aolnus qsuae cmoem os lorvis egodixis
plea eclosa, mas nao tem pezarr na luierta. Itso rudez a cecadidapae de
ednteer as cisaos.

Não sabemos se foi fácil, mas acreditamos que tenha sido possível.
Depois você, se ainda não conhecia o jogo, descobre o que é mantido nas
palavras, como se pode aumentar ou diminuir a dificuldade da decodificação.
O que queremos é perguntar se ocorre erro na grafia das palavras, no jogo
acima. Sim ou não?

SIM:

NÃO:

Se você quer um emprego em empresa cujo chefe detesta linguagem


formal e o perde por sofisticação, errou. Se fala conforme o registro mais
popular possível ao pedir emprego a quem exige correção beirando o
esnobismo, também erra. Se você diz tudo que é estigmatizado por aí para
alguém que exige correção exatamente porque queria chocar, fazer que
alguém se afaste, está certo.

42
PARADA OBRIGATÓRIA
Atenção, não estamos endossando (nem adoçando!) a afirmação de
que “o que importa é comunicar”. Não é preciso apenas “passar a
mensagem”. O aluno comum precisa esmerar-se no uso da língua,
conhecendo-a e ao seu uso sempre mais. O profissional de Letras precisa
saber mais que de linguagem.

Quando você disser ou escrever algo considerado por alguém “erro”,


deve saber que está usando algo contra o qual há restrições por parte de
algum grupo, estar consciente dos riscos e da adequação à finalidade de
seu enunciado.

SUGESTÕES PARA SEUS ESCRITOS


Para seu crescimento como perito (palavra de fora: "expert") em língua portuguesa, inclusive
quando tiver suas próprias turmas de Língua Portuguesa, note o uso de letras maiúsculas e minúsculas.
Falando da língua, usa-se minúscula, a não ser para enaltecimento, dignificação do conceito, como
gostavam de fazer os simbolistas. Quando se trata de nome de disciplina, é obrigatório começar com
letra maiúscula.
Por falar nisso, note que a maior parte das letras manuscritas é uma mistura dos tipos
propriamente manuscrito (como as caligrafias de escola), tipográfico (como letra de imprensa) e
pessoal (com formas próprias do escrevente). Um profissional de letras pode empregar qualquer uma,
desde que não confunda maiúsculas com minúsculas.
Não é uma questão só de tamanho, é também de forma [ó]. A letra de forma [ô] dos formulários
antiquados não é para nós de Letras. Se você ou um aluno seu tem esse problemas temos uma
sugestão. Todo dia, durante 5 minutos, tome um papel e copie nele um texto de jornal ou revista,
desenhando cuidadosamente as letras. Vai haver caligrafia, sem que se note o esforço.
No computador, isso é bem diferente, não falaremos disso agora. Este texto foi escrito com fonte
Comic Sans MS (pode ver lá em cima), que tornou o texto menos formal que se fosse Times New Roman
ou Arial, mas o deixou menos claro; tamanho 11, com trechos em normal e outros em negrito, espaço
interlinear de parágrafosimples.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

43
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 05: APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO DE FONOLOGIA

TÓPICO 02: NON VITAE SED SCHOLAE DISCIMUS

VERSÃO TEXTUAL

A fonologia e a gramática devem ser reformuladas cientificamente


para evitar-se o constrangimento do professor na sala de aula, perante
os alunos que, pelo menos inicialmente, esperam aprender a nossa
língua e confiam piamente nas suas palavras.

(José Rebouças Macambira)

O professor José Rebouças MACAMBIRA, nascido em Palmácia,


introduziu a linguística no Ceará e na UFC. Autodidata, estudou muitas
línguas, encerrou sua carreira ensinando Sânscrito. Do que dizia na sala de
aula e era anotado pelos alunos, veio a fazer diversos livros sobre a língua
portuguesa.

A afirmação do professor está no livro Fonologia do Português, na


página 7 da segunda edição, de 1987. A frase de Sêneca, o Jovem, que serve
de título a este tópico e significa Não é para a vida, mas para a escola, que
aprendemos, está nas Epistulae Morales (106, 12). A reformulação pedida
pelo mestre ainda não foi atendida. A constatação do filósofo romano
continua valendo. É maior a preocupação com as avaliações e seus
resultados, inclusive com os títulos, que com os conhecimentos e sua
aplicação na sociedade.

Uma das manifestações desse comportamento em fonologia, bem


enquadrado na “ficcão da homogeneidade” (Lyons, 1987: 35), é o tratamento
dispensado preconceituosamente aos “dialetos”, ao “regionalismo”. Em
Colônia, Köln, na Alemanha, viam-se no carnaval, nas festas escolares e em
colunas do principal jornal da cidade escrito em alemão padrão, o
Hochdeutsch, colunas em kölsh, que como outros chamados dialetos é uma
língua. É como escrever-se entre nós, às vezes, no dialeto dos convites de
quadrilha de São João.

Comumente, criam-se conflitos, porque é difícil separar o que é


“extralinguístico” do que é linguístico, já que os fatos linguísticos
desempenham funções na vida normal. Já falamos disso: há variações
espaciais (geográficas), de grupos (sociais), de registro (formal vs. informal,
culto, padrão, familiar, chulo), históricas.

Vemos abaixo um pouco de variação, um pouco do que raramente se


estuda, porque nem sempre vemos as coisas que são.

NASALIDADE, ÚLTIMA VEZ

O que vimos na Aula 4, em crítica a uma pronúncia de “banana”, foi


bom exemplo das mistura de julgamentos. Antes de consoantes nasais, a
mudança de timbre não distingue significado no dialeto do Sudeste.

44
Disseram a você que nós falamos nasalizando? Lembra-se da questão
da pronúncia nasalizada em andaime em certos lugares do Brasil? Pois
saiba que, misteriosamente, ao contrário do que dizem as gramáticas,
evitamos a nasalidade quando a consoante nasal vem, depois da vogal, em
outra palavra lexical ou morfema, como em calmamente, e distinguimos
expressões pela falta de nasalização. Note os dois verbos:

Se você/ã/masse...
me

Não /a/massemeu caderno.

Em todos os tempos (verbais), inclusive no infinitivo, nasalizamos o


verbo amar, mas não o verbo amassar, distinguindo-os.

VARIAÇÃO, DEFICIÊNCIA DE LEITURA E HIPERCORREÇÃO

Queremos concluir este tópico tratando de mais consequências práticas,


inclusive para o ensino, dos fenômenos classificados como “variação”.

PARADA OBRIGATÓRIA
Professor de língua que não sabe fonologia, linguística, é como
médico que achou desnecessário aprender anatomia (se deixassem
estudantes de Medicina escapar sem ler, sem estudar ciências). Não se
invente desculpas como “só gosto de literatura” ou “meu negócio é
inglês”, pois professores de inglês ignorantes são maus profissionais
também ensinando a língua estrangeira. Até por que, para lutarmos para
termos melhores salários, nós, profissionais do ensino e de linguagem,
vamos ter que ser bem formados.

Não se espera, no dialeto padrão, que os fenômenos de neutralização e


harmonização vocálica aconteçam nas palavras grafadas com “i”, “ei”, “ou”.
Em palavras como “estourar” não “deveria” haver a pronúncia média (“est
[ó]rar”, apenas a fechada (“est[ô]urar”, mas como quem lê pouco vai
adivinhar (com dois is), se só pode se guiar pela linguagem falada? Ouve-se
“Int[ε]ra a minha passagem” (de inteirar), “Não vai est[ó]rar a
bola” (estourar), “Man[ε]re com as críticas” (de maneiro, maneirar).

Curiosamente, acontecem as hipercorreções gráficas. Pessoas


conscientizadas de que pronunciam “ei” ou “ou” como “é” e “ó”, tentam
acertar escrevendo /e/, médio-alto, sistematicamente com “ei” (*seija). É
fenômeno semelhante ao de “você estar bem”, produzido por quem sabe que
erra em “não pude está em casa”. Para ajudar a essas pessoas, pode-se:

● Conseguir que leiam sobre assuntos de seu interesse (no singular e no


plural, na norma-padrão, /e/, não /ε/) e comentem por escrito, pois o
problema vem de quererem aprender a escrever sem verem textos escritos.

● Criar dicas de emergência: “Quando você puder substituir por


“permanecer”, que tem “r”, ponha “r”; quando termina como em
“permanece”, deixe “está”.

OLHANDO DE PERTO

45
Há pessoas e lugares no Ceará que dizem “a[i]s coisa[i]s bonita[i]s”.
Ditongam vogais átonas finais precedidas de “s”.

É hábito articulatório perfeitamente explicável. No lento caminho do


modo em que há articulação livre [a], passa-se pela área das aproximantes
[j], antes de chegar à área forçante, fricativa, de [s]. Deve ser o mesmo que
aconteceu em posição tônica final com inglês, mês, arroz, e que pode ter
começado com palavras em fim de frase, cuja vogal se alonga e fica
predisposta ao deslocamento durante a pronúncia. O fenômeno leva
cariocas e gaúchos a dizer 'Seria ela?', [ε:]la > [eε]la ou [Iε]la. É o mesmo
alongamento que levou franceses, italianos e espanhóis a ditongar: voile;
fierro, vuelo; fuoco, correspondem ao português véu, ferro, vôo, fogo
(perdemos consoantes, mantivemos vogais).

Surpreendemos essa pronúncia em pessoa vinda de perto de Aracati,


talvez de Fortim. Você está convidado a investigar, anotar lugares e
pessoas, informando (de forma reservada) se possível todos ou parte
desses dados: nome, data e local de nascimento, onde morou nos últimos
cinco anos, se passou mais tempo em outro lugar, grau de escolaridade,
profissão e nível socioeconômico aparente.

Antes de ir para o próximo tópico, se você tem tempo, sugiro que se


divirta um pouco com o que sugerimos a seguir.

PRESENTE PARA VOCÊ

Fonte [1]

A macambira, Bromelia laciniosa, cresce em lajedos, sem a água, que


falta até no terreno em torno, recolhendo pingos d’água para viver, mas é
útil e produtiva. Autônoma e forte, como o nosso Macambira e os alunos
do curso semipresencial.

REFERÊNCIAS
LYONS, John. Lingua(gem) e lingüística. Uma introdução. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.

Esta obra valiosíssima de John Lyons vem sendo confeccionada


por outra editora.

MACAMBIRA, José Rebouças. Fonologia do português. 2. ed.


Fortaleza: Imprensa Universitária [da UFC], 1987.

Outros livros de Macambira estão à venda nas livrarias. Este


está esgotado, mas ajudaremos você a consultá-lo ou a copiar
trechos.

46
FONTES DAS IMAGENS
1. http://flickr.com/photos/edgley_cesar/292574402/
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

47
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 05: APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO DE FONOLOGIA

TÓPICO 03: DE VOLTA PARA A LÍNGUA E O MUNDO

Você pode aprender mais sobre fones (sons do ponto de vista da


pronúncia apenas), fonemas (unidades cuja oposição distingue significados)
e grafemas (letras, meios gráficos). Também pode pensar nos sons quanto a
seus valores estilísticos, inclusive procurando na Internet, nas obras
indicadas neste curso e em outras (consulte sobre ‘estilo’, ‘fonoestilística’,
por exemplo).

Neste tópico, enquanto pensamos em sua revisão, vemos um pequeno


poema, e somos injustos em o vermos por tão pouco tempo, em vez de
desenvolvermos capítulo inteiro de fonoestilística, tratamos de questões
fono-gráficas úteis ao ensino, aludimos rapidamente a itens prosódicos.

Quanto ao poema, destacamos, da pequena coleção que está no segundo


texto, um haicai do autor cearense Sânzio de Azevedo, o número 11 em
Lanternas cor de aurora (Fortaleza: Imprensa Universitária, 2006). Você
pode também informar-se sobre o gênero haicai, o pequeno, gracioso e
profundo poema de origem japonesa, e sobre a vasta bibliografia do autor,
inclusive sobre a teoria do verso.

VELHA IGREJA

Tange ao longe o sino.

O templo resiste ao tempo

no alto da colina.

Como se relacionam os conteúdos no texto, no sentido saussureano, e as


formas que os representam? Talvez deva ir a uma cidadezinha onde ainda
soa e é escutado o sino de uma igreja, com as três chamadas e avisos
diversos.

Leia todo o poema em voz alta, ouvindo sua voz, prestando atenção a
seus sons.

Depois, concentre-se no primeiro verso:

“Tange ao longe o sino”

TAN ge_ao LON ge_o SI no

[TÃ]... [žiau]...[LÕ]... [žiu]...[SI~]

Começa com o golpe surdo do som [t], oclusivo, não vozeado, mas os
sons seguintes são todos duradouros (experimente prolongar oclusivas,
fricativas, a lateral) e, com exceção do último, vozeados. Note que a “líquida”
é soante, como as vogais. A fricativa vozeada, embora consoante, é muito

48
sonora (sonoridade e vozeamento são coisas diferentes, embora as vozeadas
sejam mais sonoras que as não vozeadas).

DICA
Note o ritmo como badalada e eco, com ritmo binário: FORTE...
fraco... FORTE... fraco, desaparecendo. A sensação de ritmo é reforçada
pela repetição do som fricativo [ž], que se alterna.

Procure em outros textos, inclusive nos nossos, destinados a esta


disciplina, material sobre a sílaba. Muito do que se considera questão
fonológica segmental é determinado por unidades linguísticas.

OBSERVAÇÃO
Por falar nisso, olhe no haicai o que acontece com “l”: só ou
combinado com “h” (dígrafo representando fonema específico
simbolizável com [λ], em velha); aparecendo em início de sílaba (longe,
colina), combinado com outra consoante antes de um núcleo silábico
(templo), encerrando sílaba, onde se confunde com “u” em nossa
pronúncia (alto).

O poema nos mostra também importantes características prosódicas das


unidades esquecidas pelo estudo comum.

Nós as alinhamos abaixo, mas está desenvolvido melhor no texto 2


(clique aqui para abrir) [1] (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.), pois não poderemos cobrar nem tomar mais seu tempo aqui, tendo
em vista que você vem revisando já muito da fonologia que vimos discutindo.

Mas volte, em breve, a tocar estes assuntos:

CLIQUE AQUI PARA ABRIR

● O acento pode ser estudado com o ritmo, e é muito interessante para a


consideração da escrita e da leitura, enquanto arte, belas e mais eficientes
quando encantam.
● Os segmentos, os fonemas, correspondentes mais ou menos aos
grafemas, às letras, não são a única classe de unidades fonológicas. Do
fonema à frase e ao texto, passando pelo sintagma e pela oração, elementos
prosódicos os caracterizam.
● É importantíssimo para muitas categorias linguísticas o estudo do
vocábulo fonológico, que deve ser estudado em Camara Jr., reestudado em
Macambira, pesquisado. Anexo a esse tema estão o ritmo binário, também
abordado pelo mestre cearense, e a distribuição dos clíticos: vocábulos sem
acento que se apoiam em vocábulos acentuados.

MULTIMÍDIA
Os vídeos abaixo, relembramos, podem ser úteis em seus exercícios de
fonologia:

1. Vídeo: “Amarante, Ana Júlia incomoda vocês?”

49
Entrevista - Amarante - Será que incomoda!? [2]

2. Alegria, Alegria – versões antiga e nova de Caetano Veloso.

1967-10-21 Festival MPB 6 Caetano. [3]

Caetano Veloso. [4]

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2004-mhmateus-prosodia.pdf
2. http://www.youtube.com/watch?v=Trh5p9rNz6U
3. http://www.youtube.com/watch?v=4tzSETbQcJk&feature=related
4. http://www.youtube.com/watch?v=R3jPbEPq2iE&feature=related
5. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

50
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 06: QUESTÕES SEGMENTAIS E PROSÓDICAS NA FALA E NA ESCRITA

TÓPICO 01: HOUVE PROGRESSO EM NOSSA FONOLOGIA TRADICIONAL?

E – Quinta lettra do alphabeto e segunda das vogaes. Tem


três sons puros: aberto (como em CEO, café), fechado (como em
breu, mercê), e surdo ou brevíssimo (como em lustre, arte).

Estes três sons se determinam ou pela posição da vogal, ou


pelo accentos, sendo o audo para o som aberto, e o circunflexo
para o som fechado; o e surdo porém não admitte accento algum.
V. Vogal e Accento.

Pelas observações que passamos a fazer, se conhecerá a


differença entre os sons longos d’esta vogal.

As palavras de José Alexandre PASSOS, na página 107 do Diccionário


grammatical portuguez, impresso no Rio em 1865, parecem-nos ótimas
para começar a discutir se temos aprendido, em nossas escolas, a juntar e
separar melhor nossos objetos de estudo, a fala e a escrita.

Nesta aula, sai do foco principal a separação abstrata da fonologia,


que engendrou nosso estudo na aula passada. A aula toda é permeada pelo
tema prosódia, inclusive quando se trata da pontuação, no sentido mais
geral.

Neste tópico, debatemos as abordagens da fonologia e da grafia,


incrédulos quanto ao avanço de nossas visões escolares a respeito. No
tópico 2, cuidamos mais claramente da prosódia. No tópico 3, aceitamos
de vez a inevitável heterogeneidade dos conteúdos na fonologia e na grafia.

Os itens abordados aqui não têm merecido tratamento especial no


ensino tradicional e no que chamamos “linguística tradicional”, ambos
dogmáticos e copiadores. Ou, se aparecem, ficam nos “etc.”, nas “tantas
coisinhas miúdas”, citadas na escola para serem logo excluídas, para mostrar
que não lhes é dado valor.

De fato, et coetera em latim significa "e outras coisas" (por isso, muitos
recomendam não escrever “e etc.”). As outras coisas às quais nos referimos
são como os peixinhos impedidos de viver no mar, para serem jogados fora
da água e do cesto do pescador. Ficam no fim das gramáticas, em apêndices,
entre capítulos, ou não ficam em lugar nenhum.

SE QUISER SABER UM POUCO MAIS SOBRE ISSO

DIONÍSIO, VARRÃO, CUNHA, BECHARA...

Descanse um pouco de fonologia... Falamos um pouco de algo de


interesse mais geral, a gramática que se chama tradicional, por ser
resultado de desenvolvimentos (termo impróprio para gramáticos atuais)
de ensinamentos greco-romanos. Para você ter ideia de como é tradicional

51
mesmo, é de praxe que muitos gramáticos ainda deem sempre como
modelo de verbo da primeira conjugação louvar, tradução do latim
laudare.

O que acontece com as gramáticas tradicionais no tocante às classes de


palavras (um tema de sua próxima disciplina de Língua Portuguesa) é bem
representativo do “etcetrismo” aludido acima.

A engenhosa divisão de todas as palavras em uma dezena de classes


por Dionísio o Trácio, copiada por Varrão, em torno do ano 100 a.C., tinha
que ser cumprida de alguma maneira pelos nossos gramáticos.

Até o respeitável Celso Cunha põe 6 grupos de “Palavras Denotativas”


em apêndice informal à classe dos advérbios, que, por sua vez, é a infeliz
junção de 7 tipos de palavras, sem razões para estarem juntas. E olhe que
há uma classe inteira dedicada a 2 palavras, os artigos. As pobres
denotativas incluem vocábulos como Eis, também, apenas, cadê e afinal e
exceto, ironicamente, denotativa de exclusão... Mas, pelo menos, fala do
assunto.

Os gramáticos continuam assim, em companhia de muitos linguistas,


a ter preconceito contra os “expletivos”, o que “é do discurso”, os
“adjuntos”, que “podem ser retirados sem fazer falta”. E fazem assim
também com a prosódia, as maiúsculas, a pontuação, o que poderíamos
chmar “sinais de agrupamento” (parênteses, colchetes, chaves, travessões,
aspas...). As “formatações” hoje imprescindíveis, itálico, negrito, sublinha,
os diversos tipos de fontes e espaços não são tocados por eles.

Tal qual Dionísio (veja o texto retrátil), José Alexandre cuidou primeiro
da “lettra”, mas age coerentemente, sem misturar conceitos fonológicos e
gráficos, como vieram a fazer gramáticos brasileiros “modernos”.

É sutil e adequado falar de som “puro”, oral, vendo o som nasal como
tendo esse traço de ressonância acrescentado ao que têm todas as vogais,
referente à ressonância oral. Elogiável também é a percepção dos timbres
aberto, fechado e “brevíssimo”, que são determinados “ou pela posição da
vogal, ou pelos accentos”. E nem escapou ao gramático o fato de serem esses
sons, além de fortes, também “longos”.

Finalmente, diz-nos Passos, com clareza que falta nas atuais gramáticas,
que, ao escolher acento gráfico, conta, em primeiro lugar o acento, distintivo
e mais importante que em outras línguas conhecidas. Só depois de tomada a
decisão quanto a acentuar ou não graficamente uma palavra, deve o usuário
optar por agudo ou circunflexo, com base no timbre da vogal, ficando a
chamada vogal “reduzida” impedida de receber acento, como você observa
nas vogais destacadas do exemplo abaixo:

Por incrível que pareça, não melhoraram os nossos gramáticos. Quanto


a suas atitudes com relação à fonologia, uma boa parte não age em
consonância com a divisão moderna, que distingue a (orto)grafia, para a
modalidade escrita, da fonologia, para a modalidade falada, e, nesta, faz

52
distinção ainda entre o fonológico (fonêmico) e o fonético. Em geral, podem
ser classificados conforme essas características:

SE QUISER SABER UM POUCO MAIS SOBRE ISSO

(a) Confundem, na “melhor” tradição de muitas gramáticas “clássicas”,


letra e som. Note que Passos, acima, junta os dois conceitos por vê-los de
forma abrangente, mas, em suas explicações, faz referência a questões
sonoras e gráficas de forma clara.

(b) Tratam apenas de letra e de som, ou de letra e de fonema, falando


ora de “sons da fala” (que deviam ter a ver com a fonética), ora de “sons da
língua” (já na fonologia ou fonêmica).

(c) Aludem, em pequenos trechos, explicitamente, à grafia e à


fonologia, com a divisão entre o que é fonológico e o que é fonético, mas,
na maior parte do texto, não ligam para a divisão. Se puder, veja, por
exemplo, Bechara, tanto na “Moderna” (1999, dita pelo editor “2004”)
quanto na “Escolar” moderna (2004); veja também Cunha (qualquer
edição, com ou sem Cintra).

Bechara e Cunha são ótimos em outras áreas, mas não tentaram fazer
muito na fonologia. Trazem algumas informações de cunho linguístico, mas,
por mais incrível que pareça, além de classificar os fonemas com base em
fonética, adotando termos da NGB como se o problema não existisse,
conseguem discordar um do outro. Rocha Lima (1972), outro respeitado
gramático, não difere muito dos supracitados, quanto, por exemplo, à
classificação dos fonemas, mas tem melhor introdução a conceitos teóricos,
citando para o de fonema Tomás Navarro (1946).

Se quiser, veja o que os dois classificam como “alveolar”,


“linguodental” (dental dá na mesma), “palatal”, “velar”. Foneticamente,
interessa saber se um som é apical ou laminar, dental (Cariri, parte do Vale
do Jaguaribe, grande parte do Nordeste) ou alveolar, velar (em gascão) ou
uvular (antes dos sons correspondentes a “o” e “u”), mas isso não é
fonêmico.

Pecam também nas copiadas listas de ditongos e tritongos, vistos não


informam se ali são tratados como sons ou fonemas. Os professores que os
elogiam ou não se interessam muito, também, pela fonologia, ou não tiveram
tempo de examiná-los quanto a esse nível de análise.

Os gramáticos supracitados são os mais conceituados nos meios de


Letras, na Universidade, mas, em fonologia, são superados por gramáticas
como a de “Pasquale e Infante”, compradas por indicação das escolas, apesar
da pouca fama do “professor Pasquale” na academia.

53
Esses autores, por exemplo, para a classificação de consoantes, tal qual
Bechara e Cunha, tentam seguir a NGB (Nomenclatura Gramatical
Brasileira). Entretanto, usam implicitamente o conceito de par mínimo
(“solitário” vs. “solidário”), como técnica para a descoberta de que “cada
letra representa no caso um fonema (Ou seja, uma unidade sonora capaz de
estabelecer diferenças de significado” (Cipro Neto e Infante, 1998:. 18-19)) , e
caracterizam os fonemas também como “sons CARACTERÍSTICOS DE UMA
DETERMINADA LÍNGUA” (Op. cit., p. 19). Semelhantemente, Cipro Neto e
Infante (1998: 18-19) definem fonema como "uma unidade sonora capaz de
estabelecer diferenças de significado”. Valem-se, portanto, de parte do que a
linguística considera ser atributo do fonema, evitando a difícil distinção
entre fonema (sistema) e sons (uso), difícil para o público leigo.

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Vamos aplicar o que aprendemos até aqui à observação da variação
entre: (a) a pronúncia costumeira sua ou de outras pessoas de sua geração
(melhor não mais que cinco anos menos ou mais que você), (b) a
pronúncia de pessoas de gerações anteriores (pelo menos 20, 40, 60 anos
menos) e (c) pessoas mais jovens (todos com mais de 10 anos de idade e
menos de 20).

Também neste trabalho, não se quer que seja simplesmente citada a


literatura disponível, impressa ou da Rede. Suas afirmações devem
mostrar o que você percebe ao observar as pessoas e conversar com elas a
respeito. É importante, na última parte de seu trabalho, discutir em que
casos cabe, ao tratar das variações, usar os conceitos de 'bom' ou 'mau',
'certo' e 'errado', justificando suas conclusões a respeito com base no que
estudamos nesta disciplina.

Deve ser feita grupos de 2 ou 3 alunos, mas pode ter também 4 ou 1


aluno apenas. Não se espera que façam trabalhos perfeitos, mas esperam-
se trabalhos úteis por trazer informações verdadeiras de sua comunidade.
Cópias e citações sem fontes informadas podem gerar notas nulas sem
direito de substituição do trabalho.

FÓRUM
Debate sobre as unidades gráficas e sua relação (ou falta de relação)
com as unidades da modalidade falada. Além das letras, o que mais se
percebe? O que se observa numa revista, em um cartaz, numa página
comum da Internet, além das "26 letras do alfabeto"?".

MULTIMÍDIA
Algumas sugestões para completar sua formação nessa área:

Examine novas gramáticas, das que são normalmente indicadas para


as escolas ou estão nas livrarias, na parte de ensino médio. Anote o que
encontrar.

54
Veja mais sobre as dificuldades da língua, assistindo a vídeo com o
professor Cláudio Moreno:

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 06: QUESTÕES SEGMENTAIS E PROSÓDICAS NA FALA E NA ESCRITA

TÓPICO 02: O QUE É PROSÓDIA?

Inicialmente, pensamos em pôr no título do Tópico 1 assim:

Τίς ή ροςωδία ´εστίν;

E ficamos imaginando que, se você dissesse “Pra mim, é grego”,


estaria certo.

Fonte [1]

Neste tópico, estudamos a prosódia. Daqui a algumas linhas, veremos o


que é. Entretanto, talvez você perceba que precisa aprender muito mais a
respeito deste tema de fonologia e de suas correspondências na linguagem
escrita. Deve, então, procurar os lugares onde tratamos disso no texto 2, Dos
sons aos fonemas do português.

Agora, fazemos uma digressão: tratamos de coisas só indiretamente


ligadas ao tema principal do tópico.

CLIQUE AQUI PARA ABRIR

Por que aludir aos helenos, numa aula de Língua Portuguesa?

Como dissemos em outro ponto, a própria denominação Letras lembra


γράμμα, “grámma”, ‘letra’, daí ideograma, tetratrama, e gramática, de
uma obra chamada Technê Grammatikê, cuja tradução pode ser “Arte (ou
técnica) das Letras”. Dionísio, dito da Trácia, que a escreveu, trabalhava
em Alexandria, no norte do Egito.

Os romanos tiveram seu império de Portugal às vizinhanças da Rússia


(por isso há o idioma chamado Romeno), do norte da África a partes da
Inglaterra e da Alemanha, mas, da Grécia ao Oriente, falava-se grego. O
judeus comuns não se comunicavam mais em hebraico. Quando os
apóstolos consultavam as escrituras, liam tradução para o grego, bem

56
diferente do aramaico que falavam com Jesus, aprendido sob os caldeus.
(Você estudou história, não é?) O hebraico, nessa língua ivrit, veio a ser
falado, reaprendido, somente no Israel instalado a partir de 1948.

Mudamos, nesta aula, a direção em que vínhamos seguindo.

Vamos nos deslocar das pequenas unidades que são os fonemas, vistos
na aula passada, em direção a outras camadas da língua e ao que há em torno
do código linguístico. Nossa finalidade é conseguir que, quando a última aula
da disciplina terminar, você se sinta pronto para ingressar em outra “região”
da língua portuguesa.

Durante algum tempo, fingimos que as unidades fonológicas segmentais


existiam por si, para si, sozinhas. Agora, nesta quarta aula, caminhamos com
você olhando de perto algumas conjunções (não no sentido da classe de
palavras; veja um dicionário).

Quer saber por que um elemento prosódico é também chamado


“SUPRASSEGMENTAL”? Você já entendeu a ilusão humana em pensar que
uma cadeia sonora é dividida em SEGMENTOS, certo? Pois veja, em
“ENTRA?”, dito pelo porteiro de um edifício, o acento é percebido como
estando não depois de alguma coisa, mas sobre um segmento, a vogal
nasalizada. Mais: a entoação ascendente também é posta "sobre" a sílaba
acentuada. Pense, e tente responder logo mais:

● Que diferenças há entre os “elementos segmentais”, pesquisados quase


com exclusividade nas teorias linguísticas mais comuns, e os elementos
prosódicos ou suprassegmentais?

● Como deve um profissional da linguagem posicionar-se quanto às


relações entre os itens fonológicos, segmentais ou prosódicos, e os itens
gráficos correspondentes?

● Veja que, se não são bastante discutidos, são discutíveis os problemas


ocorrentes no ensino por conta dessa relação.

Atente para a palavra-chave contida na expressão-título, Tís hê prosôdía


estín, que lembra o adjetivo grego “prosôdos”, que significou “que se canta
com acompanhamento” (Pereira, 1984, p. 499).

NÃO DISSERAM PARA VOCÊ, MAS A ESCRITA TEM A VER COM


FONOLOGIA E OUTRAS COISAS...

No próprio texto que você vem lendo, está o que queremos observar. São
elementos gráficos: espaços, vírgulas e pontos (imprescindíveis, hoje),
parênteses, “bolinha” chamando a atenção para início de tópico, itálico e
hífen. São todos sinais de pontuação lato sensu.

Stricto sensu, designamos como sinal de pontuação vírgula, ponto e


vírgula, dois pontos, pontos final, de interrogação e “de

57
admiração” (exclamativo). Um escrito simples pode ficar bem claro com dois
apenas: vírgula e ponto.

Note a grafia dessas expressões nas quais um substantivo vem depois de


outro (acaba de ver palavra-chave e expressão-título), qualificando-o:
moreninha-sensação (Luiz Gonzaga), menino-prodígio, conceito-chave
(conceito que é chave para alguma coisa). Discuta se são substantivos
compostos.

Quer ver mais, dessa ligação entre prosódia na fonologia,


correspondendo ou não a marcas na expressão gráfica? Observe, atento à
gradação da força na pronúncia nas sílabas, as duas frases abaixo. Anote o
que observa nas frases quando você ou outros as leem em voz alta da
maneira mais espontânea possível, quanto à variação acentual nas palavras
semelhantes das duas expressões:

Gato negro em campo de neve (obra de Érico Veríssimo)


Eu sou um negro gato de arrepiar (Roberto Carlos)

Compare o que achou acima, finalmente, com as pronúncias das


expressões sublinhadas em:

Apaixonado, toda a cidade para ele era uma nova Russas.


Saudoso, só pensava em voltar para Nova Russas.

Isto fica aí para você pensar em como na importância da prosódia e a


grafia, normalmente não estudadas ou vistas isoladamente, para a análise de
outros níveis da língua, inclusive a gramática e o léxico.

OBSERVAÇÃO
Se você já precisou consultar gramáticas sobre regras de uso da
vírgula, e as considerou pouco úteis, o que pensa, agora, considerando o
que dissemos?

Talvez uma das razões de se prezar pouco os elementos


suprassegmentais, isto é, a prosódia, seja que, mesmo não havendo itens
gráficos correspondentes aos das formas fonológicas, a mente de quem lê em
voz alta ou fala, pelo contexto, mostra-os na fala. Imagine que no mundo
antigo, em latim e grego, por exemplo, escreviam-se longos textos sem
qualquer sinal de pontuação e sem espaços entre as palavras! Também, eles
deviam ter mais tempo para decifrar os textos.

Entretanto, sem prosódia, nada compreenderíamos do que nos é


transmitido pelos elementos segmentais (fala-se de elementos prosódicos ou
suprassegmentais). Destacamos alguns pontos a respeito. Lamentavelmente,
o ensino tradicional brasileiro e uma parte dos linguistas não enxergam a
multiplicidade de funções da prosódia.

CLIQUE AQUI PARA ABRIR

É preciso considerar elementos prosódicos como acento, tom e


entoação, duração e pausa de muitos pontos de vista.

58
● Em primeiro lugar, podem os elementos prosódicos ser estudados quanto
à produção. Interessam, na fala, questões articulatórias, acústicas e
auditivas. Na escrita, questões gráfico-visuais.
● Depois, podem ser estudados quanto à correspondência, nem sempre
existente, entre fonologia e grafia (sinais de pontuação).
● Mais importante, ainda, é saber quais são os valores dos elementos
prosódicos, suas funções, significações.
É bem variável a extensão das partes das palavras, frases e textos atingidas
pelos elementos prosódicos e pelos sinais de pontuação lato sensu.
● O acento lexical, resultado, em português, da maior força relativa, que
toma uma sílaba mais longa, contribui para a distinção dos significados de
itens lexicais, “palavras”.
● Um tom ascendente sobre a última vogal acentuada de uma palavra,
correspondente a uma vírgula, na escrita, pode indicar ruptura. Assim,
uma expressão explicativa que é posta logo depois do sujeito, separando-o
do verbo, fica entre vírgulas. Ponto e vírgula e dois pontos também
marcam fenômenos dentro da frase. Procure exemplos neste e em outros
textos.
● Um tom ascendente, parte da entoação que caracteriza o contorno, que
vem com pausa, pode marcar toda uma sequência de palavras como frase
interrogativa. Da mesma forma, o tom descendente com pausa caracteriza
a frase declarativa.

As funções dos elementos prosódicos ou suprassegmentais nas línguas


variam bastante. Em línguas como o português, o acento tem função lexical,
distingue sentido de palavras. Da mesma forma, em muitas línguas, o
sentido lexical é distinguido por tons, notas musicais. A duração é distintiva
em alemão, húngaro, latim e grego (acima, ε, η, ο, ω correspondem a ě, ē, ŏ,
ō, breves – com bráquia, ou longos, com mácron [2]), mas em português não
tem valor lexical.

Passemos a observar como isso acontece em vídeo no qual um


compositor e músico é provocado por repórter. Divirta-se verificando até que
ponto seus colegas concordam com você, ao tentar transcrever as frases da
entrevista e atribuir notações escritas para o que percebem na linguagem
falada pelos participantes da entrevista.

MULTIMÍDIA
“Amarante, Ana Júlia incomoda vocês?”

Anote suas observações. Tente verificar como seriam pontuadas


interna (com vírgulas, por exemplo) e externamente as frases. Depois,
peça-nos uma versão escrita para comparar a nossa com a pontuação
sugerida por você. Assista:

REFERÊNCIA
PEREIRA, Isidro. Dicionário grego-português e português-grego.
6. ed. Porto: Apostolado da Imprensa, 1984.

59
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.portalbrasil.net/images/mapamundi.gif
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1cron
3. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

60
LÍNGUA PORTUGUESA: FONOLOGIA
AULA 06: QUESTÕES SEGMENTAIS E PROSÓDICAS NA FALA E NA ESCRITA

TÓPICO 03: A VOZ ENTRE OS MUNDOS

Superpostos à cadeia de palavras (ou seja, a parte VERBAL), em


qualquer enunciado falado, haverá dois tipos de fenômenos vocais mais ou
menos distinguíveis: PROSÓDICOS e PARALLINGUÍSTICOS. (...) Haverá
também, associada ao conjunto falado, toda uma série de fenômenos não
vocais (movimentos do olhar, movimentos de cabeça, expressões faciais,
gestos, postura, etc.) que determinarão mais profundamente a estrutura e o
significado do enunciado, podendo da mesma forma ser identificados como
parallinguísticos. (Lyons, J. 1987, p. 34)

Neste último tópico da Aula 6, deixamos você de volta na beira do


mundo linguístico, às portas do mundo “geral”, do qual saímos apenas
teoricamente. A entrevista com Amarante, que você pode reassistir, cabe
otimamente no que diz acima John Lyons.

Para o autor, são prosódicos acento e entoação. Parallinguísticos são o


ritmo e a altura. Acho que você concorda que só por preconceito poderíamos,
como antes do surgimento da linguística, considerar a linguagem falada
inferior à linguagem escrita. E é meio bobo ficar preocupado quanto a qual
das modalidades é superior, pois há razões para as duas existirem.

A LINGUAGEM VERBAL

A linguagem verbal humana presta-se admiravelmente à transferência


de meio. Já falamos disso: do que é articulado, produzindo algo acústico,
percebido pelo ouvido, passa-se ao que é manual, gráfico, visual,
mantendo-se as unidades, que independem desses meios. Você percebe por
que muito se insiste que fonemas e morfemas não são concretos,
substância, mas forma? Meros valores que independem dos suportes
físicos, sensíveis dos quais necessitam para sua transmissão?

Além de ser facilmente transferível, a linguagem verbal também se


combina sem atritos com outras linguagens, outros tipos de manifestação,
por conta do que é “paralinguístico” no sentido de Lyons, acima, do que é
real e presente nas enunciações, como as roupas, os móveis, os
acontecimentos.

O que se chamou enunciado é resultado da enunciação, processo no


qual informações dispersas e incoerentes entre si ganham sentido num
momento, num espaço, entre enunciador e enunciatários, em meio a
expectativas, finalidades, memória de outras enunciações e percepção de
papeis sociais.

Da noção de fonema às noções concretas não linguísticas, varia a


aplicabilidade das “quatro propriedades [linguísticas] gerais da
arbitrariedade, dualidade, descontinuidade e produtividade”, havendo nos
elementos prosódicos e parallinguísticos maior aproximação “dos traços
existentes nos vários tipos de comportamento animal” (idem, ibidem).

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Você está-se dando conta (no Brasil, vem-se preferindo “está se dando”,
sem hífen, sente-se que o “se” junta-se ao “dando”, não ao “está”) das razões
de dois fenômenos.

Primeiro Bebês, cães e gatinhos comunicam-se muito bem


fenômeno conosco sem falar ainda português.

Nós podemos jogar todos os nossos esforços fora ao


tentar conseguir alguma coisa falando ou escrevendo, se
formos competentes apenas na parte mais propriamente
Segundo
“linguística”, usando as palavras “corretas”, sem sermos
fenômeno
competentes no prosódico (e na pontuação), no
parallinguístico, nas coisas não vocais, na adequação ao
social, histórico, enunciativo.

DICAS
Se você quiser ver mais exemplo da riqueza da linguagem falada,
assista a vídeo onde político brasileiro apresente criatividade. Tente
Eduardo Suplicy, procurando em:

Youtube. [1]

Na Aula 1, oferecemos-lhe sugestões sobre produções escritas. Trazemos


mais algumas instruções, desta vez sobre referências bibliográfica e
expressões em latim.

SUGESTÕES PARA SEUS ESCRITOS, 02

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, COMO TEMOS USADO ATÉ AQUI...

As referências simplificadas no corpo do texto são feitas com o último


nome do autor, ano de publicação e página, assim: (Lyons, 1987, p. 34) ou
assim (...) Lyons (1987: 34). Há variação, mas devem ser informados esses
elementos.

Pode haver referência a ideia, ou referência com as mesmas palavras.


No primeiro caso, você indica a fonte do texto, mas não usa aspas; no
segundo, são obrigatórias as duas coisas.

Referências de 3 linhas ou mais, normalmente, são destacadas do


corpo do texto. Perdem as aspas inicial e final, porque a formatação já
indica que é citação. Ficam a uns 2 ou 3 cm além do ponto onde haveria
indentação (o espaço paragráfico à esquerda), em letra de tamanho menor
que a do corpo de texto, com espaço interlinear simples.

Observe como se indicam os nomes do autor, o formato do nome da


obra – muitos usam negrito, mas itálico gasta menos tinta e parece mais
elegante. Quando se trata de parte de obra, quer dizer, artigo, por exemplo,
dentro de livro ou revista, é o nome destes que se destaca com itálico,
ficando o nome da parte citada logo depois do nome do autor, mas em tipo
comum.

Note como se indicam edição (sempre com ponto e abreviatura: “33.


ed.”), nome de cidade (separada por dois pontos), editor, sem a expressão

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“editora” ou semelhantes, ano de publicação (mais uma letra, se o autor
publicou mais de uma vez no ano).

EXPRESSÕES LATINAS

Usamos, acima, também as expressões latinas e bibliográficas: idem, o


mesmo (autor, livro), e ibidem (no mesmo lugar, o ponto já citado). Muito
útil também é op. cit., “opere citato”.

Por falar nisso, lembra-se de stricto sensu e lato sensu, “em sentido
estrito” e “em sentido amplo”? Quando dizemos “pontuação lato sensu”,
podemos incluir no sentido do termo pontuação muitas coisas, como
parênteses e travessões, até formatos como o itálico. Tenha cuidado com
essas expressões, porque elas seguem regras latinas, inclusive a declinação.

De fato, “obra” em latim é opus, mas “da obra” é operis (pronuncie


‘óperis’) e a expressão bibliográfica significa “na obra citada”, com núcleo e
adjetivo no caso ablativo, forma que os substantivos tomam quando
funcionam como adjuntos adverbiais.

Seu curso é comandado a partir do campus do Pici, em Fortaleza.


Quem trabalha redigindo este texto fica no campus (universitário, sem
acento, por ser latinismo, e sem “s”, por ser singular) do Benfica. A UFC
possui campi em diversas cidades do Ceará.

Se você começar a recolher material sobre a pronúncia nas diferentes


gerações de sua região, vai formar uma coleção de dados, um corpus. E
pode vir a ter vários corpora, pronunciando ‘córpora’. Como em latim esse
“o” da penúltima sílaba é breve, o acento fica no “o” da antepenúltima
sílaba, que é longo.

Bom para quem quer entender expressões latinas é Não perca o seu
latim, de Paulo Rónai (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980). Você
encontra na Rede até jornais em latim.

REFERÊNCIAS
LYONS, John. Lingua(gem) e linguística. Uma introdução. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.

Esta obra valiosíssima vem sendo confeccionada por outra


editora, com o dobro do tamanho e novos preços, mas o mesmo
conteúdo da edição supracitada.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.youtube.com/
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Prof. José Alber Campos Uchoa


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

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