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Apostila

de
Canto Black
Ton Carfi
O TOM DA VOZ
INTRODUÇÃO
Essa apostila tem o intuito de
esclarecer e ensinar noções
básicas sobre o sistema fonatório e
as técnicas exigidas no canto black.
Vamos estudar também
respiração, apoio, aquecimento e
todos os cuidados para se ter uma
boa saúde vocal.
É bom frisar que essa apostila é
direcionada apenas para técnica de
canto black, visto que as técnicas
usadas para outros tipos de canto
(lírico, MPB, rock...) são diferentes.
É importante para o aluno, ler e
seguir todas as instruções descritas
nessa apostila.
Dizemos também que a apostila e
os cds por si só não tem o poder
suficiente para ensinar o aluno às
técnicas descritas aqui. É sempre
recomendável a presença de um
professor para auxiliar e ajudar o
aluno.
Formação da Voz
O ar entra pela cavidade nasal ou oral
passando pela laringe, (onde estão as
pregas vocais abertas) traquéia e
pulmões. Quando espiramos é que
conseguimos falar, pois o ar volta, e
quando ele chega à laringe nós
fechamos as pregas vocais permitindo
que o fluxo de ar que passa por elas
forme assim um som, que é
amplificado em nossos ressonadores.
MÓDULO I
É muito importante que antes de
qualquer atividade vocal, seja ela
cantada ou falada aconteça o
aquecimento vocal. Sem o
aquecimento você pode ter
problemas sérios de lesões,
contraturas musculares, calos
(nódulos), que vão interferir
diretamente na sua qualidade vocal
podendo culminar na perda da voz.
Há 4 formas de aquecimento:
1ª. Vibração da língua
TRRRRRRRRR
2ª. Vibração de lábios
BRRRRRRRRR
3ª. Emissão de som em Z
ZZZZZZZZZ
4ª. Emissão de escalas ou
vocalizes
Todo o aquecimento deve ser feito
de forma crescente.
De um tom grave ate um agudo.
Deve durar no mínimo 5 minutos
antes da atividade vocal.
Desaquecimento:
É o mesmo processo, só que é feito
de forma decrescente.
Dos mais agudos aos
mais graves.
Respiração:
Muito se ensina sobre respiração.
Existem escolas que ficam meses
ensinando respiração. E então o
aluno se pergunta: “Tenho 24 anos,
ou seja, fazem 24 anos que eu
respiro, será que ainda não
aprendi”?...
Bom, o fato é que nós normalmente
respiramos de forma correta, mas
quando vamos cantar temos a
tendência de mudar a forma
achando que conseguiremos
puxar e armazenar mais ar
daquela forma.
Há 2 tipos de respiração:
1ª. Superior: Com a elevação
do tórax.
Função: Vital (pacientes doentes,
com asma ou em fase terminal,
pois a respiração fica mais forte), e
se recuperar de um cansaço físico
(uma corrida, ou outro exercício
físico que exige um fôlego maior).
2ª. Inferior: Utilizando o diafragma.
Função: Fonação (fala) e o canto.
Onde ocorre a dilatação das
costelas inferiores deixando o
pulmão com mais espaço para
armazenar mais ar. O tórax não se
eleva, pois quem vai trabalhar é o
diafragma, que é um músculo
auxiliador da respiração.
(ex.: a borracha da seringa)
Existem muitos alunos que
apresentam dificuldades na
sustentação de uma nota, ou num
só fôlego cantar uma série razoável
de palavras. Sua respiração esta
sendo realizada da maneira correta,
mesmo assim ele apresenta essa
deficiência.
Os motivos podem ser:

1.- A tonalidade da música ou da


nota está fora da tessitura vocal do
cantor (ponto mais grave e mais
agudo que o cantor alcança com
facilidade e sem prejudicar a voz).
2. - O cantor não está
armazenando a quantidade de ar
suficiente ou a forma que o cantor
está respirando não é correta.
3. - Não estudou direito a música
4. - Precisam vencer o psicológico,
que às vezes limita o cantor
(timidez).
5. - A forma que o cantor emite
a nota.
Ao contrário do que todo mundo
pensa, quando você emite um som
com um volume maior, você
consegue sustentar a nota por mais
tempo, pois as pregas vocais se
fecham diminuindo o fluxo de ar
que passa por elas.
Quando você canta com a voz mais
suave, ou com mais ar, com
certeza você não conseguirá
sustentar a nota por muito tempo.
É muito bom exercitar isso. Emita
um som e o sustente por no mínimo
19 segundos. Para a mulher o
tempo é de 15 segundos
no mínimo.
Apoio:
O apoio mais eficiente é a de
contração dos músculos
abdominais, que permite uma ação
maior do diafragma.
Sempre que você estiver cantando
tenha a precaução de sentir, se
você esta apoiando corretamente.
Nunca tencione os músculos
do pescoço, mesmo que a nota
seja aguda.
Agindo assim você obterá um maior
controle e volume da sua voz.
Terá mais firmeza também.
Cuidados:
Devemos cuidar da nossa voz pra
que não venhamos ter problemas
futuros como nas fotos a seguir:
Possíveis causas:
fatores anatômicos
predisponentes (fendas
triangulares),
personalidade
(ansiedade,
Nódulos agressividade,
perfeccionismo) e do
comportamento vocal
inadequado (uso
excessivo e abusivo da
voz). Tratamento dos
nódulos é fonoterápico.
Os pólipos são
inflamações
decorrentes de
traumas em camadas
mais profundas da
lâmina própria da
laringe, de aparência
Pólipos vascularizada. O
tratamento é cirúrgico.
A voz típica é rouca.
As causas podem ser:
abuso da voz ou
agentes irritantes,
alergias, infecções
agudas, etc.
Os edemas relacionam-se
com o uso da voz.
Normalmente são
localizados e agudos.
O tratamento é
medicamentoso ou através
Edemas de repouso vocal.
das Quando discretos, os
edemas podem ser tratados
pregas com medicamentos e
(cordas) fonoterapia, assegurando-se
vocais a eliminação de seu fator
causal; quando volumosos,
necessitam de remoção
cirúrgica, seguida de
reabilitação fonoaudiológica.
O que é bom para a sua saúde vocal
* Beber 7 a 8 copos de água por
dia
*Procurar atendimento
especializado se usar a voz na
profissão
*Pastilhas, sprays ou
medicamentos, só indicados por
Médicos
* Evitar auto medicação e

soluções caseiras (gengibre,


romã, etc).
* Repouso da voz, após cada
"apresentação" pública.
* Usar roupas leves e evitar
refrigerantes, gorduras e
condimentos.
*Realizar exercícios regulares
de relaxamento, avaliações
auditivas e fonoaudiológicas
periódicas.
*Manter a melhor postura da
cabeça e do corpo durante a
aula, a fala ou o canto.
O que é mau para a sua saúde vocal

* Fumo, álcool, drogas e poluição

* Tossir, gritar muito ou pigarrear

* Cantar ou gritar quando gripado


* Falar em locais barulhentos (o
professor, por exemplo...)
* Mudanças bruscas de
temperatura.
* Ambientes com muita poeira,
mofo, cheiros fortes,
especialmente se você for
alérgico.
MÓDULO II
Afinação:
Para alguns não quer dizer muita coisa,
para outros é o seu maior pesadelo.
Um teste para ver se a pessoa é
afinada é o teste de percepção.
Um som é emitido de um teclado
vibrando na freqüência de Dó (ou em
outra nota). Esse som entra pela orelha
externa média e interna chegando a
um órgão sensorial chamado: cóclea.
Esse órgão manda essa informação
através de neurônios até o SNC
(sistema nervoso central / cérebro).
Se a área musical estiver hábil,
conseguiremos reproduzir o som na
freqüência de Dó. S a área estiver
débil não conseguiremos obter
esse êxito na reprodução da nota.
* Esse caso normalmente não tem
solução.
* Extensão e Tessitura Vocal

Extensão: é o ponto mais grave e


o mais agudo que o cantor
consegue atingir.
Tessitura Vocal: É o ponto mais
grave e o mais agudo que o
cantor atinge com qualidade e
sem prejudicar a sua voz.
É bom lembrar que cada cantor
tem seu limite de extensão.
Nunca se deve forçar a voz em
busca de maior extensão. Isso só
irá lhe trazer prejuízos em sua
saúde vocal.
A extensão esta relacionada com
a espessura e a elasticidade de
sua prega vocal.
* Prega vocal mais grossa:
Homens: Barítonos e Baixos
Mulheres: Mesos e Contraltos

À medida que aumentamos a


tonalidade da nota, um músculo
estica a prega vocal deixando-a
mais fina e atingindo notas mais
agudas.
* Registros de Voz
Há vários registros de voz, mas
no canto os mais usados são:
Peito: Pregas vocais totalmente
encostadas uma na outra,
vibração na caixa toráxica.
Falsete: Pregas vocais com uma
fenda, vibração na cabeça.
Voz Cabeça: Pregas vocais
fechadas e vibração na cabeça.
Via Aérea e Via Óssea:
Um dos maiores pesadelos do
cantor é quando ele se ouve
cantar ou quando ouve a sua
própria voz na caixa postal do
celular. Normalmente achamos a
nossa voz esquisita, grave ou
aguda demais, muito anasalada,
estranha, etc.
Isso ocorre por falta de costume de
se ouvir.
Existem 2 vias pela qual se da à
audição:
- Via Aérea: Quando o som entra
por fora (orelha).
- Via óssea: Quando o som é
escutado por dentro (quando
falamos com as orelhas tapadas).
Estamos acostumados a nos ouvir
pelas duas vias ao mesmo tempo
quando falamos.
No momento em que escutamos
uma gravação de áudio da nossa
própria voz perdemos a sensação
de audição que a Via Óssea nos
proporciona, pois nós escutamos
apenas pela Via Aérea. Por isso
estranhamos a nossa voz.
MÓDULO III
Técnicas:
- Vibrato: É a arte de vibrar a voz.
Pode ser realizado de 2 formas:
- Laringe: com variação de ½ tom
em sua voz.
- Diafragma: pequenos golpes de
ar, proporcionando uma vibração
em sua voz.
O vibrato deve ser de total controle do
cantor, conseguindo faze-lo de uma forma
mais lenta, ou rápida, acentuada ou discreta
e manter uma freqüência com certa
regularidade.
O vibrato pode ser aplicado das seguintes
formas:
- Final das frases
- No meio ou em todas as palavras
- Com variações em sua velocidade
- Sustentando uma nota
Apogiaturas
Pequenos desenhos que servem
para enfeitar o seu canto.
Criada no Oriente Médio essa
técnica é muito utilizada no
canto black atual.
Yodel
É o chamado “choro” na voz.
É realizado quando o cantor passa do
registro de voz peito pra o falsete e
vice-versa.
Para realizar essa técnica com
perfeição é necessário que o cantor
esteja com sua voz bem limpa e
afinada. A ausência desses fatores
pode ocasionar situações
desagradáveis.
Timbre e Emissão de Voz
O timbre é a qualidade de voz de cada
cantor. É o nosso RG da voz.
Esta relacionado diretamente com as
características físicas de cada pessoa. É por
isso que quando o menino atinge certa
idade, sua voz fica parecida com a do seu
pai devido ao fato de possuírem as mesmas
características genéticas.
Nunca tente ficar com o timbre parecido com
o de outro cantor, pois você perdera sua
identidade musical. Tente sempre trabalhar o
seu próprio timbre.
Emissão de Voz
Existem várias formas de emitir uma
nota.
- Voz Sussurrada: Com muito ar.
Serve para deixar sua voz mais suave
proporcionado assim mais sentimento
em musicas melodiosas ou românticas.
- Voz Nasalada: Com uma projeção
maior para a cavidade nasal. Para
cantar musicas com o estilo mais
urbano.
- Drive: Ou voz metálica. Ataques
fortes na voz, proporcionando uma
agressividade maior em seu canto.
- Voz Central: Bem parecida com
sua voz falada. Deixa o seu canto
bem natural.
Variação do volume da voz
É uma forma de colocar mais
sentimento na voz. O aumento, ou
a diminuição do volume da voz de
acordo c a letra da música.
Também é bom lembrar que
terminar as frases diminuindo o
volume da voz faz com que o seu
canto fique mais suave. Ex: no CD
MÓDULO IV
*Improvisação:
É quando mudamos a melodia da
música, alterando os graus ou o
tempo das frases existentes na
mesma sem sair da tonalidade da
música.
Há 2 formas de improvisação na
musica:
- INTUIÇÃO:
Muitas vezes aprendemos a
improvisar quando ouvimos outras
pessoas improvisando. Temos
contato com musicas na qual os
cantores brincam e desenham
novas melodias com muita
facilidade. Ou às vezes cantamos
em corais ou grupos onde esse tipo
de improvisação é muito comum.
Daí, devido a essas referências
começamos a improvisar também.
Ou somos tipo “papagaios”... rs
sempre repetindo o que os outros
cantores fazem, mas não sabemos
o que eles estão fazendo. Não
entendemos a escala que ele esta
usando.
- TÉCNICA:
Essa sim é a forma correta de se
improvisar, onde conhecemos as
escalas e improvisamos de uma
forma consciente, conhecendo os
graus e sabendo onde estamos
dentro de uma harmonia.
Há varias escalas musicais, mas
para nós que cantamos as mais
utilizadas são:
Escala maior: DO RÉ MI FA SOL
LA SI DO
É a escala mais fácil de aprender e
de se improvisar. Usada em
musicas tocadas em tonalidades
maiores.
Escala menor: DO RÉ RÉ# FA SOL
SOL# LÁ# DO
Utilizada para improvisar em
musicas tocadas em tonalidades
menores. Experimente cantar uma
musica que esta numa tonalidade
maior mudando-a para menor. Ex:
(no cd)
Escala menor harmônica: DO RÉ
RE# FA SOL SOL# SI DO
Lembra muito uma as escalas
orientais. Dependendo da harmonia
da musica você pode aplicá-la. É
uma escala muito bonita de se
ouvir. Ex: (no cd)
Escala menor melódica: DO RÉ
RÉ# FA SOL LA SI DO
Também pode ser aplicada se a
harmonia favorecer. ex: (no cd)
Penta maior: DO RE MI SOL LA
DO
É tipo uma escala maior reduzida.
Facilita mais na hora de se
improvisar. Ex: (no cd)
Penta menor: DO RÉ# FA SOL LÁ#
DO
Utilizada em harmonia ou tonalidade
menor. Ex: (no cd)
Penta blues: DO RÉ# FA FA# SOL
LA# DO
Utilizada para se improvisar no blues.
Deixa seu improviso mais “malandro”
como os daqueles cantores de corais
negros americanos.
Alteração de escala:
É quando estamos improvisando numa
escala e de repente colocamos uma
nota que esta em outra escala. Tipo, as
vezes estamos improvisando na penta
blues de “dó” e colocamos o “lá” que
esta na penta maior. Ou quando
estamos improvisando em maior e o
acorde ou a harmonia da musica nos
possibilita a improvisarmos em notas
menores.
*MELISMA:
É quando fazemos mais de uma nota dentro
de uma palavra. Criado e utilizado muito no
canto oriental essa técnica foi trazida pelos
negros americanos.
Muitos evangélicos dizem que cantar
fazendo melisma não agrada a Deus e serve
para o exibicionismo. Bom em primeiro lugar
o melisma é muito usado pelos Judeus. E
Jesus era Judeu. É muito provável que
quando Jesus cantava, fazia melismas
devido a sua origem judaica.
Quando os negros vieram como
escravos para os Estados unidos
eles foram evangelizados, pois os
americanos foram colonizados por
protestantes ou evangélicos.
Quando os negros cantavam, eles
entoavam canções evangélicas
originado assim o canto “negro
espiritual”, que hoje é conhecido
como o canto Black
Os negros daquela época
cantavam com melisma porque eles
tinham muito sentimento em suas
canções, deixando suas musicas
mais alegres. É bom lembrar que
cantar fazendo melisma não é
cantar de uma forma displicente
sem respeitar a melodia da musica,
mas sim cantar com emoção e
alma.
Agilidade:
Para se ter uma boa definição e clareza nos seus
improvisos são necessárias também ter certa
agilidade em nossa laringe para conseguir fazer as
notas com uma velocidade maior. Às vezes ouvimos
alguém fazendo um melisma bem rápido e tentamos
fazer igual, mas logo vemos que nosso melisma saiu
meio embolado e sem definição alguma. Isto é
porque não temos velocidade ou agilidade na laringe
suficiente para reproduzir aquele melisma com
fidelidade. É bom começar a repetir escalas com um
metrônomo variando em sua freqüência começando
lentamente e aumentando a velocidade.
*Harmonia:
É quando temos o domínio da escala e
conseguimos abrir segunda, terceira,
quarta voz, etc. se dominarmos bem as
escalas teremos a possibilidade de
harmonizar vocalmente uma musica,
formando trios, quartetos, quintetos etc.
basta caminharmos dentro de uma
harmonia que também esta dentro das
escalas.
FINALIZAÇÃO
Bom galera espero ter contribuído com alguns de
meus conhecimentos em prol do seu
desenvolvimento vocal. Coloquei nesta apostila tudo
que sei sobre a técnica vocal black. É bem provável
que existam mais técnicas que, aliás, eu estou
buscando também. O importante é cantar com o
coração e com a alma. Cantem sempre como se
estivessem cantando pela ultima vez. Tentem
passar o máximo de sentimento e emoção para
aqueles que ouvem vocês, isso é que fará a
diferença. É sempre bom relembrar que se possível
tenha sempre um professor “competente” para te
ajudar.

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