Você está na página 1de 31

MORGANA MORENO

LINGUAGEM
DO CHORO
7 DICAS SOBRE INTERPRETAÇÃO E
IMPROVISAÇÃO
MORGANA MORENO

LINGUAGEM DO
CHORO
7 DICAS SOBRE
INTERPRETAÇÃO E IMPROVISAÇÃO

1ª edição

SALVADOR, 2020
© 2020 by Morgana Moreno

ILUSTRAÇĀO DA CAPA
Alan Moreno

Moreno, Morgana
LINGUAGEM DO CHORO - 7 DICAS SOBRE INTERPRETAÇÃO E
IMPROVISAÇÃO / Morgana Moreno 
Salvador, 2020

www.morganamoreno.com
M O R G A N A M O R E N O

LINGUAGEM DO CHORO
7 DICAS SOBRE INTERPRETAÇÃO E IMPROVISAÇÃO

1   | Quantos choros você toca?

2   | Brincando com a melodia I

3     | Brincando com a melodia II

4     | Uma maneira fácil para começar a


improvisar

5     | Preenchendo os espaços

6     | As regras do jogo!

7     | Ampliando o vocabulário

www.morganamoreno.com
DICA 1

QUANTOS
CHOROS VOCÊ
TOCA?

LINGUAGEM DO CHORO | 04
DICA 1 | QUANTOS CHOROS VOCÊ TOCA?

FAÇA
REPERTÓRIO

Quanto mais músicas um repertório!


você tocar, mais
informações à respeito Comece pelos choros
do gênero e linguagem mais tradicionais. Alguns
você vai absorver!  exemplos são:

Depois de tocar um bom Doce de Côco e Noites


número de choros você Cariocas, do Jacob do
vai começar a perceber Bandolim;
o que há em comum: as
tonalidades mais Naquele Tempo e 1x0,
frequentes, o tipo de do Pixinguinha e
construção do fraseado, Benedito Lacerda;
as dinâmicas, a forma, os
finais, os caminhos Pedacinhos do Céu, do
harmônicos... Waldir Azevedo;

Todas essas informações Apanhei-te Cavaquinho,


nos vão servir de do Ernesto Nazareth;
vocabulário para
construirmos o nosso Tico-Tico no Fubá, de
próprio discurso logo Zequinha de Abreu;
mais.
entre outros.
Então, vamos construir

LINGUAGEM DO CHORO | 05
DICA 2

BRINCANDO
COM A
MELODIA I

LINGUAGEM DO CHORO | 06
DICA 2 | BRINCANDO COM A MELODIA I

ALTERANDO A
ESTRUTURA
RÍTMICA

Escutando diferentes distintas interpretações


versões da mesma dos 4 primeiros
melodia por diferentes compassos do choro
intérpretes, você vai Proezas de Solon, de
perceber que nenhuma autoria do Pixinguinha e
delas vai ser igual a Benedito Lacerda,
outra, embora se executadas por 3
mantenha a sua ideia diferentes solistas.
principal. Isso é muito
comum no choro. O primeiro exemplo é da
gravaçāo do Pixinguinha
A primeira maneira que e Benedito Lacerda; o
apresento aqui para segundo exemplo é do
brincar com a melodia Jacob do Bandolim; e,
sem perder a sua por fim, o terceiro, do
essência é alterando Manezinho da Flauta
sua estrutura rítmica. com o regional do
Evandro do Bandolim.
A seguir podemos
então comparar a
transcrição de 3

LINGUAGEM DO CHORO | 07
DICA 2 | BRINCANDO COM A MELODIA I

Exemplo 1: Pixinguinha e Benedito Lacerda

Exemplo 2: Jacob do Bandolim

Exemplo 3: Manezinho da Flauta

Analisando os 3 Flauta trazem um


exemplos, percebe-se contraste, com um
que as notas da melodia efeito mais melodioso
são as mesmas, porém a ou cantabile.
célula rítmica utilizada é
diferente. Jacob do Bandolim, no
exemplo 2, abordou a
Na versão do melodia com um efeito
Pixinguinha e Benedito de antecipação das
Lacerda, por exemplo, a notas dos acordes
melodia é mais seguintes. Essa é uma
sincopada pelo uso da figura rítmica presente
figura semicolcheia - em melodias de vários
colcheia - semicolcheia. choros e que muitas
vezes é imitada pela
E apesar de usar uma harmonia e ritmo,
divisão rítmica parecida trazendo uma
com a versāo do espontânea acentuação
Pixinguinha e Benedito, e balanço para
as tercinas empregadas interpretação.
pelo Manezinho da

LINGUAGEM DO CHORO | 08
DICA 2 | BRINCANDO COM A MELODIA I

Existem outras
possibilidades de
variações rítmicas. Você
pode tanto manter uma
mesma ideia por todo o
fraseado como também
combinar essas
diferentes possibilidades
na mesma frase.
Experimente!

LINGUAGEM DO CHORO | 09
DICA 3

BRINCANDO
COM A
MELODIA II

LINGUAGEM DO CHORO | 10
DICA 3 | BRINCANDO COM A MELODIA II

ORNAMENTOS
NA MELODIA

No capítulo anterior notas de passagem,


abordamos uma floreios e mordentes são
maneira de brincar com alguns tipos de
a interpretação: variando ornamentos que podem
apenas a estrutura ser utilizados para variar
rítmica e mantendo a e embelezar melodias.
mesma melodia, com as
mesmas notas, Os grandes mestres do
choro também fazem
A segunda ferramenta uso desse artificio, como
que podemos fazer uso vocês podem conferir
é a ornamentação. abaixo, tendo como
exemplo a parte B do
Bordaduras, apogiaturas, choro Proezas de Solon.

Exemplo 1: Pixinguinha e Benedito Lacerda

LINGUAGEM DO CHORO | 11
DICA 3 | BRINCANDO COM A MELODIA II

Exemplo 2: Evandro e Seu Regional

Exemplo 3: Jacob do Bandolim

Nos exemplos acima, mudança rítmica ou


que foram transcritos embelezamento, existe
das gravações de um respeito em manter
Pixinguinha e Benedito a essência da melodia
Lacerda, Evandro e seu escrita pelo compositor.
Regional e Jacob do
Bandolim, podemos No choro é muito
observar o uso de ambas comum que cada solista
as ferramentas até o coloque um pouco da
momento apresentadas: sua identidade na
variação rítmica e maneira de interpretar a
ornamentação, música. Essa brincadeira,
empregadas além de ser parte do
simultaneamente. estilo de tocar choro, é a
porta de entrada para
Perceba também que as improvisar dentro da
notas da melodia linguagem do gênero.
principal se mantém!

Ou seja, ainda que haja

LINGUAGEM DO CHORO | 12
DICA 4

UMA MANEIRA
FÁCIL PARA
COMEÇAR A
IMPROVISAR

LINGUAGEM DO CHORO | 13
DICA 4 | UMA MANEIRA FÁCIL PARA COMEÇAR A IMPROVISAR

ACORDE!

Apresentamos algumas dos choros, que grande


possibilidades de parte das melodias é
improvisação unida à composta apenas por
interpretação, ou seja, de notas do acorde ou
como improvisar com as arpejos. 
melodias de choro.
Então, com essa
Assim como acontece informação, sabemos
no jazz, o choro também que para tocar dentro da
possui momentos onde linguagem do estilo
o solista se distancia podemos também
completamente da utilizar arpejos e notas
melodia e pode criar a do acorde para construir
sua improvisação as nossas próprias
livremente. variações e melodias.

Como criar uma Podemos variar também


improvisação dentro da o tipo de desenho a
linguagem? Aqui é que partir das tríades ou
vamos aplicar um tétrades dos acordes.
conceito extraído do
primeiro capítulo!

Se você já formou um
repertório, pode ter
percebido, ao analisar a
construção do fraseado

LINGUAGEM DO CHORO | 14
DICA 4 | UMA MANEIRA FÁCIL PARA COMEÇAR A IMPROVISAR

Exemplo 1: Bem-te-vi Atrevido

Exemplo 2: Serpentina

Vamos analisar a Melodias compostas por


construção melódica notas do acorde podem
dos exemplos acima. aparecer nesse desenho
arpejado em
A primeira melodia sobreposição de terças
pertence ao choro Bem- (tônica - terça - quinta)
te-vi Atrevido, composto como nos exemplos
por Lina Pesce. O acima, como também
segundo exemplo é podem aparecer em
extraído da parte C do outras configurações.
choro Serpentina, de
Nelson Alves. Exemplos de choro com
melodias arpejadas e
Ambas as melodias tem notas do acorde são:
um desenho bastante
parecido: são Brasileirinho, de Waldir
basicamente arpejos, ora Azevedo;
tocando todas as notas
do acorde, ora ocultando Paulista, de João dos
uma nota ou outra. Santos;

LINGUAGEM DO CHORO | 15
DICA 4 | UMA MANEIRA FÁCIL PARA COMEÇAR A IMPROVISAR

Primeiro amor, de linguagem.


Patápio Silva;
Vamos conferir abaixo 2
André de Sapato Novo, trechos transcritos de
de André Victor Correa; solos, no momento onde
os solistas utilizaram
Naquele Tempo, de apenas arpejos e notas
Pixinguinha e Benedito do acorde.
Lacerda;
O primeiro exemplo é
No coreto, de Pedro do bandolinista Pedro
Amorim; Amorim, no disco
Arranca Toco 4 (2000),
entre outros. executando o choro Teu
Beijo / Hilda,
Portanto, como é uma composição de Mário
característica do gênero Álvares.
que as melodias podem
ser construídas a partir Já o segundo exemplo é
dos arpejos, se conclui da clarinetista Anat
que essa é uma Cohen e seu improviso
ferramenta que no choro de Fon-Fon,
podemos utilizar para Murmurando, no disco
improvisar dentro da Alegria da Casa (2016).

Exemplo 1: Pedro Amorim, em Teu Beijo

Exemplo 2: Anat Cohen, em Murmurando

LINGUAGEM DO CHORO | 16
DICA 5

PREENCHENDO
OS ESPAÇOS

LINGUAGEM DO CHORO | 17
DICA 5 | PREENCHENDO OS ESPAÇOS

ESCALAS DOS
ACORDES
No capítulo anterior mais ferramentas para
aprendemos a partir da trabalhar, com mais
análise das melodias dos notas, que preenchem
choros e improvisação os espaços entre esses
de intérpretes que faz intervalos do arpejo.
parte da linguagem o
uso de arpejos! Cada acorde pertence à
uma tonalidade. Por
Assim como há exemplo, G7 é um
melodias de choros que acorde dominante.
são construídas pelos Sabemos que o acorde
arpejos, também dominante é o quinto
existem exemplos de grau da escala. Portanto
fraseados ainda mais se Sol é o quinto grau,
melódicos, construídos a Dó é o primeiro grau, o
partir da escala! qual denomina a
tonalidade. Logo, a
Enquanto no arpejo escala que tocaremos
temos como opção 3 ou tanto em G7 quanto em
4 notas (tônica, terça, C será a mesma: a escala
quinta e eventualmente de Dó Maior.
sétima), a escala nos dá

Campo harmônico da escala de Dó Maior

LINGUAGEM DO CHORO | 18
DICA 5 | PREENCHENDO OS ESPAÇOS

Utilizamos apenas uma choro Sai da Frente, do


escala dentro de uma Abel Ferreira. Ambas
passagem com acordes melodias são
pertencentes ao mesmo construídas em um
campo harmônico. Com determinado padrão a
base nesse princípio, partir de apenas uma
temos a possibilidade de escala.
criar uma ideia que
pode ser repetida a O terceiro exemplo é a
partir de diferentes melodia da parte C da
graus da escala. valsa rápida O Voo da
Mosca, do Jacob do
Vamos tomar como Bandolim. Aqui há o uso
exemplo as melodias do padrão na construção
abaixo. O primeiro do fraseado, porém se vê
exemplo é a melodia da também alteração da
parte B do choro escala utilizada, o que
Ansiedade, do Rossini ocorre por causa das
Ferreira. O segundo pequenas modulações
exemplo também é que acontecem a cada 2
tema da parte B do compassos. Analise.
Exemplo 1: Ansiedade

Exemplo 2: Sai da Frente

LINGUAGEM DO CHORO | 19
DICA 5 | PREENCHENDO OS ESPAÇOS

Exemplo 3: O Voo da Mosca

O estudo de escalas em
intervalos e com
determinados desenhos
ou padrões é uma
prática comum na rotina
de instrumentistas da
música erudita e do jazz
que pode (e deve!) ser
aplicada ao estudo do
choro, uma vez que a
presença dessa
construção de fraseado
faz parte da linguagem
do gênero, como visto
nos exemplos acima.

LINGUAGEM DO CHORO | 20
DICA 6

AS REGRAS DO
JOGO!

LINGUAGEM DO CHORO | 21
DICA 6 | AS REGRAS DO JOGO!

CONHECENDO
A FORMA

Para entrar na roda é Exemplo:


importante conhecer as
regras do jogo!  AABBACCA

Agora que você É importante saber que


construiu um repertório, o choro possui uma
saberia responder qual a tonalidade principal,
estrutura formal do que rege a parte A, e
choro? também que modula
para tonalidades
Sua estrutura formal vizinhas ou para a
tem o nome de estilo tonalidade relativa nas
Rondó. Esta forma, partes B e C.  
herdada da música
clássica, funciona da Se, por exemplo,
seguinte maneira: a tocamos um choro na
parte A da música tonalidade de Dó Maior,
funciona como um a parte A será em Dó
refrão, e se repete Maior, a parte B será em
intercalada às outras Sol Maior (tonalidade
partes. vizinha) ou em Lá menor
(relativa menor) e a
O choro possui, em sua parte C será em Fá Maior
maioria, 3 partes, que se (tonalidade vizinha).   
repetem sempre duas
vezes cada.
LINGUAGEM DO CHORO | 22
DICA 6 | AS REGRAS DO JOGO!

Gadu Namorando, 1x0,


Flor Amorosa, Treme-
Treme, Picadinho à
Baiana e Espinha de
Bacalhau são exemplos
de choros em Dó Maior
com as modulações
acima citadas.

Saber sobre a forma e os


possíveis caminhos
harmônicos é grande
um atalho,
principalmente em
situações onde você
nunca tocou
determinada música e
deseja acompanhar ou
improvisar, o que é
muito comum em rodas
de choro.

LINGUAGEM DO CHORO | 23
DICA 7

AMPLIANDO O
VOCABULÁRIO

LINGUAGEM DO CHORO | 24
DICA 7 | AMPLIANDO O VOCABULÁRIO

ESCUTE,
TRANSCREVA E
REPRODUZA

Para tocar dentro da construir as suas


linguagem do choro e próprias!
criar ainda mais
vocabulário é Observe, por exemplo, as
importante ouvir as estruturas rítmicas
referências! utilizadas, os tipos de
ornamentação, a relação
Ao analisar os grandes do acorde com a
mestres, como Jacob do melodia: quais notas
Bandolim, Pixinguinha, foram escolhidas, se eles
Paulo Moura, entre usam arpejos, escalas ou
outros, é possível notar se a melodia foi
que cada um desenvolve desenhada a partir de
uma identidade, um algum padrão... 
estilo particular de
compor suas melodias.  Depois de transcrever e
analisar, utilize as
Transcrever as variações mesmas ideias que você
e improvisações que aprendeu em outras
esses músicos fizeram é músicas!
uma excelente maneira
de conseguir ideias para

LINGUAGEM DO CHORO | 25
DICA 6 | AS REGRAS DO JOGO!

Alguns discos para Tira Poeira - Tira Poeira;


conhecer mais do
repertório, solistas, Fernando César e
linguagem do choro e Regional - Tudo
seu desenvolvimento novamente;
através dos anos:
Hamilton de Holanda -
Jacob do Bandolim - Mundo de Pixinguinha;
Vibrações;
Yamandu Costa - Tocata
Paulo Moura - Mistura e à amizade;
manda;
Conjunto Época de Ouro
Paulo Moura e Raphael - De pai pra filho;
Rabello - Dois irmãos;
Rogério Caetano, Luis
Pixinguinha e Benedito Barcelo, Eduardo Neves
Lacerda (1966); e Celsinho Silva - Só
alegria;
Altamiro Carrilho -
Choros imortais; Zé da Velha e Silvério
Pontes - Só gafieira;
Os Carioquinhas - Os
Carioquinhas no choro; Trio Madeira Brasil - Trio
Madeira Brasil;
Joel Nascimento -
Chorando de verdade; Garoto - O Gênio das
Cordas.
Radamés Gnatalli -
Radamés interpreta
Radamés;

LINGUAGEM DO CHORO | 26
SOBRE A
AUTORA

LINGUAGEM DO CHORO | 27
SOBRE A AUTORA

MORGANA
MORENO

Flautista e compositora, categoria World Music /


vencedora do Festival da Jazz com o duo
Educadora FM 2014, em Morgana Moreno &
Salvador, na categoria Marcelo Rosário.
de "Melhor Música
Instrumental" com sua Bacharel em Flauta pela
composição Baião e 1º Universidade Federal da
Prêmio no Concurso Bahia e Mestra em
Internacional Leopold Música (Flauta Jazz) pela
Bellan 2013, em Paris, na Hochschule für Musik

LINGUAGEM DO CHORO | 28
SOBRE A AUTORA

und Tanz Köln, na parte de vários projetos


Alemanha.  relacionados.

Considerada Teve contato com


Embaixadora do Brasil grandes músicos de
na Alemanha, pela choro, como Luciana
Deutsche Welle Brasil, Rabello, Armandinho
durante o período que Macedo, Fernando César,
morou na Europa se Ronaldo do Bandolim, 
comprometeu em Pedro Paes, Antônio
disseminar o Choro, Rocha, entre outros,
lançando projetos como além de ter participado
a Choro Session, uma do tradicional regional
Roda de Choro didática baiano Os Ingênuos.
e itinerante que passou
por cidades como
Düsseldorf, Colônia e
Rotterdam.

Lecionou na Choro
School, filial da
referencial Escola
Portátil de Música em
Rotterdam, e foi
professora convidada na
Universidade de Artes
CODARTS, também na
Holanda. 

Desde seu primeiro


contato com o Choro,
aos 11 anos, Morgana se
dedicou em
especializar-se no
gênero, fazendo

LINGUAGEM DO CHORO | 29

Você também pode gostar